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ANGELO TAZINAFFO NETTO ALLAN APARECIDO VILAÇA DOS SANTOS A ATUAÇÃO DA SIDERURGIA NO BRASIL NO SEGMENTO DE AÇOS LONGOS E A RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRASIL E CHINA São Paulo 2009

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ANGELO TAZINAFFO NETTO ALLAN APARECIDO VILAÇA DOS SANTOS

A ATUAÇÃO DA SIDERURGIA NO BRASIL NO SEGMENTO DE AÇOS LONGOS

E A RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRASIL E CHINA

São Paulo

2009

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ANGELO TAZINAFFO NETTO ALLAN APARECIDO VILAÇA DOS SANTOS

A ATUAÇÃO DA SIDERURGIA NO BRASIL NO SEGMENTO DE AÇOS LONGOS

E A RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRASIL E CHINA

Monografia de conclusão de curso de Pós Graduação Gestão Estratégica de Negócios, apresentado a Diretoria de Pós Graduação e Pesquisa UniSant’Anna, como requisito para a obtenção do título de Especialista em Gestão Estratégica de Negócios, sob a orientação do Prof. Mauro Anderlini.

São Paulo

2009

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ANGELO TAZINAFFO NETTO

ALLAN APARECIDO VILAÇA DOS SANTOS A ATUAÇÃO DA SIDERURGIA NO BRASIL NO SEGMENTO DE AÇOS LONGOS

E A RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRASIL E CHINA

Esta produção técnico-científica foi julgada adequada para obtenção do titulo de

Especialista em Gestão Estratégica de Negócios e aprovada pelo curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Gestão Estratégica de Negócios do Instituto

Santanense de Ensino Superior.

Prof. Mauro Anderlini Coordenador do Curso Pós-Graduação e

Orientador deste Trabalho de Conclusão de Curso

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os estudantes e

profissionais da ciência da administração de

empresas, que, como eu, são guiados por conceitos e

idéias de grandes pensadores, e que hoje, graças a

eles, exercem suas atividades com ética e sabedoria.

Ao meu amigo Andre Felipe Mello de Freitas que

incentivou a fazer a Pós-Graduação e ao Luiz Alberto

Ribeiro Chaves por colaborar com sua experiência

profissional.

Dedico também a minha esposa Priscila Berbet

Bolandine, a minha filha Bárbara Berbet Tazinaffo e

aos meus queridos pais Edward Tazinaffo e Judite

Pasotti Tazinaffo, que me ajudaram e me

incentivaram a concluir este trabalho.

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RESUMO

Esse estudo busca levar ao entendimento do leitor o comportamento do mercado siderúrgico de aços longo, tanto interno quanto externo, bem como a importância desta indústria e do aço para a economia brasileira e mundial. Foi dado um enfoque maior ao relacionamento do Brasil com a China, tendo em vista o grande crescimento do mercado asiático neste setor e, principalmente, no que diz respeito à concorrência dentro do contexto global - de que forma a China influencia na economia e no crescimento deste mercado de commodity. Para relatar e evidenciar o mercado siderúrgico no segmento de aços longos será abordado algumas empresas, dentro de um contexto atual, tendo como objetivo, levar ao conhecimento do leitor as grandes potências nacionais e como elas estão instaladas para atender à demanda de seu mercado. Adicionalmente, o estudo apresentará de forma simples e objetiva a estruturação da indústria siderúrgica nacional, sua escala de produção e sua infra-estrutura. O principal objetivo é poder ajudar de alguma forma no enriquecimento intelectual de estudantes e demais interessados em conhecer o mercado siderúrgico em cenário nacional e internacional. Palavras-chave: Siderurgia, Competitividade, China.

ABSTRACT

This work has as main goal let readers in general know about the behavior of internal and external Siderurgical Trade and how important this trade is to the Brazilian and world economy as well. It was focused on the relationship between Brazil and China, once that this market has grown in a quickly and strongly way. It’s going to show up how China can intervene on the economy’s development on the commodity trade. To clarify and understand the siderurgical trade, will be boarded some companies, into an actual scene, just to illustrate how big and important Brazilian companies are to supply and fulfill the high market demand nowadays. Additionally, this work is going to show, easy and objectively, the structures and capability, its production and efficiency. I may expect to help students, searchers and readers in general to find out and to know something else about this market and also let clear about the importance of this to our country and to the world. Key-words: Siderurgy, Competitiveness, China.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Forno Sueco usado por Eschwege ......................................................... 19

Figura 2: Acendimento do Primeiro Forno da CSN ............................................... 21

Figura 3: Organograma Cronológico da Siderurgia Brasileira ............................... 24

Figura 4: Acendimento do Forno da Usiminas por João Goulart ........................... 45

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Produção Siderúrgica Brasileira ............................................................ 34

Tabela 2 Produção de Aço Bruto por empresa (%) – 2008.................................... 56

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 9

1.1 Delimitação do Tema ........................................................................... 12

1.2 Justificativa ...................................................................................... 12

1.3 Problema ......................................................................................... 13

1.4 Hipótese ......................................................................................... 14

1.5 Objetivo ........................................................................................... 15

1.6 Metodologia .................................................................................... 16

1.7 Relevância Teórica ....................................................................... 17

2 HISTÓRIA DA SIDERURGIA BRASILEIRA ....................................... 18

2.1 A Primeira Siderúrgica: A Fábrica de Jean Monlevade .................. 19

2.1.1 Início do Desenvolvimento e Fortalecimento do Setor .................... 20

2.2 Minério de Ferro – Matéria Prima para a Fabricação de Aço Bruto.. 25

2.2.1 A Importância e Dimensão do Minério para o Setor Siderúrgico ........... 26

2.3 A Era Getúlio e a relação com a siderurgia nacional ..................... 29

2.3.1 Processo de Internacionalização da Siderurgia Brasileira ............... 30

2.3.2 A Expansão da Produção Siderúrgica Nacional ............................ 31

3 COMPORTAMENTO DO MERCADO INTERNO .................................. 34

3.1 O Processo de Fusões e Incorporações .......................................... 35

3.2 Perspectivas do Setor, mantida a atual Política Industrial ............. 37

3.2.1 Consumo ............................................................................................ 37

3.2.2 Produção ....................................................................................... 38

3.2.3 Emprego / Produtividade .................................................. 38

3.2.4 Exportações .................................................................................... 39

3.2.5 Importações ................................................................................. 39

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3.2.6 Balança Comercial ........................................................................ 39

3.2.7 Investimentos ................................................................................. 40

3.2.8 Inovação Tecnológica ..................................................................... 40

3.2.9 Fusões e Incorporações .................................................................... 40

3.3 Estratégia setorial para melhor competitividade ... 41

4 PRINCIPAIS SIDERÚRGICAS NACIONAIS ...................................... 44

4.1 USIMINAS – Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A ............... 44

4.2 CSN – Companhia Siderúrgica Nacional ......................................... 48

4.3 CST – Companhia Siderúrgica Tubarão ......................................... 49

4.4 Grupo Gerdau ......................................................................... 51

4.5 Belgo Mineira .................................................................................... 52

5 O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR SIDERÚRGICO 54

5.1 Fusões e Aquisições: O Caso Brasileiro .................................. 54

6 RELACIONAMENTO COMERCIAL: BRASIL X CHINA ....................... 57

6.1 Brasil e China: Trajetória Macroeconômica ....................................... 57

6.2 Relações Econômicas ....................................................................... 58

6.3 Os Acordos Político-Comerciais entre Brasil e China ...................... 60

6.4 A Importância do Aço Bruto para a China ..................................... 63

7 CONCLUSÃO ...................................................................................... 65

8 REFERÊNCIAS ............................................................................... 68

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INTRODUÇÃO

No atual estágio de desenvolvimento da sociedade, é impossível imaginar o

mundo sem o uso de ferro fundido e aço. A produção de aço é um forte indicador do

estágio de desenvolvimento econômico de um país. Seu consumo cresce

proporcionalmente à construção de edifícios, execução de obras públicas, instalação

de meios de comunicação e produção de equipamentos.

Esses materiais já se tornaram corriqueiros no cotidiano, mas fabricá-los

exige técnica que deve ser renovada de forma cíclica, por isso o investimento

constante das siderúrgicas em pesquisa e desenvolvimento. O início e o processo

de aperfeiçoamento do uso do ferro representaram grandes desafios e conquistas

para a humanidade. Por este motivo, grandes corporações ao redor do mundo estão

com seus olhos voltados para este comércio. O Brasil é um país extremamente

importante no cenário mundial e é detentor de uma grande parcela da produção

desta commodity1.

O mercado mundial está em pleno desenvolvimento, através de novas

tecnologias está sendo possível otimizar a produção, o que gera mais emprego e

crescimento do setor. Um exemplo bem atual deste crescimento mundial é a China,

que hoje é um dos maiores produtores de aço do mundo e conta com uma infra-

estrutura pesada além do baixo custo operacional que mantém para produzir em

grande escala.

É este descompasso que está sendo discutido e analisado por especialistas de

mercado e economia pelo mundo inteiro. A maneira como o mercado está

absorvendo a produção chinesa tem sido, há muito tempo, pauta de discussão em

várias partes do mundo, inclusivo entre os mega-blocos de comércio mundial, tais

como Mercosul, NAFTA2 e Comunidade Européia.

1 O termo commodity aplica-se àquelas mercadorias cujo preço é determinado em bolsas de mercadorias 2 North American Free Trade Agreement – Termo inglês que significa “Tratado Norte-Americano de Livre Comércio”, cujos membros são formados por Estados Unidos, Canadá e México.

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Para um melhor entendimento a fronteira entre o ferro e o aço foi definida na

Revolução Industrial, com a invenção de fornos que permitiam não só corrigir as

impurezas do ferro, como adicionar-lhes propriedades como resistência ao desgaste,

ao impacto, à corrosão, etc. Por causa dessas propriedades e do seu baixo custo o

aço passou a representar cerca de 90% de todos os metais consumidos pela

civilização industrial.

Basicamente, o aço é uma liga de ferro e carbono. O ferro é encontrado em

toda crosta terrestre, fortemente associado ao oxigênio e à sílica. O minério de ferro

é um óxido de ferro, misturado com areia fina.

O carbono é também relativamente abundante na natureza e pode ser

encontrado sob diversas formas. Na siderurgia, usa-se carvão mineral, e em alguns

casos, o carvão vegetal.

O carvão exerce duplo papel na fabricação do aço. Como combustível,

permite alcançar altas temperaturas (cerca de 1.500o Celsius) necessárias à fusão

do minério. Como redutor, associa-se ao oxigênio que se desprende do minério com

a alta temperatura, deixando livre o ferro. O processo de remoção do oxigênio do

ferro para ligar-se ao carbono chama-se redução e ocorre dentro de um

equipamento chamado alto forno.

Antes de serem levados ao alto forno, o minério e o carvão são previamente

preparados para melhoria do rendimento e economia do processo. O minério é

transformado em pelotas e o carvão é destilado, para obtenção do coque, dele se

obtendo ainda subprodutos carboquímicos.

No processo de redução, o ferro se liquefaz e é chamado de ferro gusa ou

ferro de primeira fusão. Impurezas como calcário, sílica etc. formam a escória, que é

matéria-prima para a fabricação de cimento.

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A etapa seguinte do processo é o refino. O ferro gusa é levado para a aciaria,

ainda em estado líquido, para ser transformado em aço, mediante queima de

impurezas e adições. O refino do aço se faz em fornos a oxigênio ou elétricos.

Finalmente, a terceira fase clássica do processo de fabricação do aço é a

laminação. O aço, em processo de solidificação, é deformado mecanicamente e

transformado em produtos siderúrgicos utilizados pela indústria de transformação,

como chapas grossas e finas, bobinas, vergalhões, arames, perfilados, barras etc.

Com a evolução da tecnologia, as fases de redução, refino e laminação estão

sendo reduzidas no tempo, assegurando maior velocidade na produção.

As usinas de aço do mundo inteiro segundo o seu processo produtivo classificam-se

da seguinte forma:

• Integradas - que operam as três fases básicas: redução, refino e laminação;

• Semi-integradas - que operam duas fases: refino e laminação. Estas usinas

partem de ferro gusa, ferro esponja ou sucata metálica adquiridas de terceiros para

transformá-los em aço em aciarias elétricas e sua posterior laminação.

Existem ainda unidades produtoras chamadas de não integradas, que operam

apenas uma fase do processo: redução ou laminação. No primeiro caso estão os

produtores de ferro gusa, os chamados guseiros, que têm como característica

comum o emprego de carvão vegetal em altos fornos para redução do minério. No

segundo, estão os relaminadores, geralmente de placas e tarugos, adquiridos de

usinas integradas ou semi-integradas e os que relaminam material sucatado.

1.1 Delimitação do Tema

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O mercado siderúrgico nacional no segmento de aços longos e sua relação

com o mercado mundial, tendo a China como principal “ator” no cenário

internacional.

1.2 Justificativa

Preocupação mundial em relação ao mercado siderúrgico, principalmente aço

longo (em função da importância da commodity), e China como uma tendência

mundial de fornecimento, conforme publicado no site do IBS – Instituto Brasileiro de

Siderurgia em 12/12/06, em entrevista de Marco Polo de Mello Lopes, vice-

presidente desta instituição:

[...] “Persiste no setor siderúrgico, porém, a preocupação com um possível desequilíbrio no balanço oferta vs demanda devido a um excesso mundial de capacidade de produção, principalmente na China. No entanto, essa ameaça só deverá produzir efeitos relevantes após 2008. Outra questão a considerar é o processo de consolidação em curso no setor. Fusões e aquisições entre as siderúrgicas mundiais ainda devem ser uma constante por algum tempo.” [...]

Com base no que diz Marco Pólo de Mello Lopes, nota-se a preocupação com

a qual o setor siderúrgico brasileiro passa em relação ao avanço econômico da

China num âmbito global. Sua capacidade produtiva pode acarretar num excesso de

demanda, fazendo com que o preço médio no setor caia de forma expressiva.

Colaborando com o mesmo raciocínio de preocupação em relação à China e

ao setor, disse Marcelo de Paiva Abreu, professor de economia da PUC-RJ , em

entrevista para o jornal O Estado de São Paulo, em 03/03/2005, Economia, B-14:

“[...] a siderurgia do País está vulnerável por causa do aumento de investimentos no setor, na China. A siderurgia chinesa, usando minério de ferro do Brasil, será uma temível competidora das brasileiras e é um mistério o Brasil ter tão poucas ações de defesa comercial contra a China.”

Entende-se então que, se não houver certa barreira comercial contra a

entrada da China no mercado siderúrgico brasileiro, a economia do país tende a

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sofrer certo definhamento, uma vez que os custos praticados pela China são

consideravelmente menores do que o do mercado interno, dando os consumidores,

preferência a importação dos produtos chineses ao invés de buscar tais produtos

dentro das fronteiras nacionais.

A manufatura de aplicações de aços longos está ligada diretamente e

diariamente no dia-dia de cada cidadão. É aplicada nos segmentos automobilísticos,

linha branca, linha marrom, utilidades domésticas, displays, ferragens, brinquedos,

agropecuária, eletrificação enfim uma infinidade de outras aplicações.

Como exemplo pode citar: parafusos, correntes, carrinhos de supermercados,

cestinhas de supermercados, espiral para cadernos, clipes, grampos de escritório,

prendedores de roupas, lã de aço, pinos, molas (diversos), fecho de sutiã,

expositores de salgados, gôndolas, containeres aramados, estantes aramadas,

prego, grampos para linha moveleira, rebites, grades de fogão, trempes de fogão,

grades de geladeira, raios da roda de moto, raios da roda de bicicleta, conduite de

freio da bicicleta, cabos de aço, arames para pneus, arames para soldagem, linha de

agropecuária como telas, alambrados, arames galvanizados etc.

1.3 Problema

Tendo em vista que a China é o país asiático que mais cresceu nos últimos

25 anos, ultrapassando Itália, França e Inglaterra, tornando-se a quarta maior

economia mundial e que sofre uma forte tendência de tornar-se a maior economia

mundial entre 2030 e 2040, desbancando, inclusive, os Estados Unidos da América,

chega-se a seguinte indagação:

De que forma a China, como potência mundial e em crescimento constante,

pode interferir no comércio mundial de aço e siderurgia?

Temos notado nos últimos anos a invasão de produtos acabados com preços

que nossas indústrias não conseguem competir e como conseqüência nossa

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indústria cada vez mais sofre com altos impostos, sendo em alguns casos inviável

“brigar” competir com os produtos importados. Temos criados barreiras para tentar

inibir as importações, porém são insuficientes em alguns casos.

1.4 Hipótese

O baixo custo operacional aliado a um crescimento econômico constante faz

com que a China tenha vantagem competitiva frente ao mercado mundial no setor

siderúrgico de aços longos. A mão de obra barata e o poder de compra deste país

lhes dão plenas condições de alavancagem comercial em nível mundial, como disse

o vice-presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, Sr.

Paulo Bastos3:

[...] “A grande competitividade da China está no baixo custo da mão de obra e na menor carga tributária. Um operário da Volkswagen, na China, ganha 50 vezes menos que na Alemanha. Isso acontece em toda a cadeia produtiva e torna a China absolutamente imbatível.” [...]

Tal argumentação vem de encontro ao exposto na justificativa deste trabalho

(vide item 1.2), que evidencia a preocupação do mercado siderúrgico com a

concorrência chinesa. Alguns empresários falam ainda que a China pratica a

concorrência desleal e defendem a idéia de “boicote” comercial com o país. O

empresário, dono da Coteminas, Josué Gomes da Silva, no seminário “A

Emergência da China – Oportunidades e Desafios para o Brasil”, realizada na Bolsa

de Mercadorias & Futuros (BM&F) e pelo conselho Empresarial Brasil-China abordou

o seguinte:

[...] “Em 2004 a balança comercial de manufaturados com a China já apresentou déficit, de US$ 1,6 bilhão. Este ano, poderemos ter um déficit comercial geral com a China. Os maiores crescimentos nas importações chinesas em 2004 foram de eletroeletrônicos (514%) e fios sintéticos (mais de 600%). A China respondia por 21% das importações brasileiras de têxteis e vestuário em 2002. Em 2004, a participação pulou para 61%. Importadores estão subfaturando produtos que trazem da China para não pagar impostos. No ano passado, entraram 60 milhões de luvas no Brasil, por R$ 0,04 cada uma, e calças masculinas a R$ 0,50. Os brasileiros

3 Em entrevista concedida à jornalista Mylena Fiori da agência Brasil. Matéria obtida através do link http://www.radiobras.gov.br/abrn/brasilagora/materia.phtml?materia=258462

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importam vestuário chinês a um preço médio 79% inferior ao conseguido por importadores americanos.” (Fonte: www.abit.org.br).

Apesar dos dados, por ele explanado, não dizer respeito à indústria

siderúrgica de forma direta, a presença da China mostra, para o empresariado

nacional, um grande descontentamento em termos de economia interna e

concorrência desleal. Tal argumentação reflete bem o sentimento de “impotência”

frente aos chineses, uma vez que, a custos tão menores, fica difícil concorrer de

forma direta.

De forma análoga, destaca a coordenadora da Unidade de Negociações

Internacionais da Confederação Nacional da Indústria, sra. Soraya Rosar (Fonte:

Vide nota de rodapé nº 3):

“[...] ainda que o baixo custo dos insumos e a escala de produção como fatores geradores de competitividade, sem sombra de dúvidas, a China hoje não é uma ameaça só para a indústria brasileira. A China sacudiu o mercado como um todo.” [...]

Sem sombra de dúvidas, de acordo com as opiniões aqui apresentadas, a

relação Brasil-China, não somente no âmbito siderúrgico, mas também em um

aspecto macro-econômico geral, pode trazer muitos aborrecimentos e problemas

para a economia. É de grande valia para a saúde econômica das empresas que o

governo tome ações para disciplinar e regular a entrada de produtos chineses

barreira adentro.

1.5 Objetivo

Alcançar com a execução desta pesquisa um modelo simples, didático e ao

mesmo tempo prático para levar ao conhecimento do leitor quão importante é o

mercado siderúrgico no segmento de aços longos e como ele afeta na economia do

Brasil e do mundo.

Apresentar uma introdução à história da siderurgia nacional, visando dar ao

leitor uma idéia geral acerca do tema a fim de facilitar o entendimento do restante do

trabalho.

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Abordar o mercado siderúrgico nacional no segmento de aços longos num

foco um pouco mais atual, mostrando o desenvolvimento interno, suas fusões e

incorporações e as perspectivas do setor em relação ao seu crescimento.

Trazer ao leitor o esforço de Getúlio Vargas no desenvolvimento industrial do

Brasil, principalmente em função da abertura do mercado, com expansão dos

investimentos externos e conseqüente otimização dos recursos energéticos e

siderúrgicos brasileiros.

Além disso, baseado nos acontecimentos atuais, em nível mundial, pretende-

se ilustrar de forma clara a participação da China como forte atuante na economia

mundial e de que forma essa participação pode afetar a economia brasileira e

impactar de forma direta no consumo da população. Dar-se-á ênfase também na

apresentação e breve histórico das maiores empresas brasileiras e mundiais

atuantes no mercado siderúrgico.

1.6 Metodologia

A metodologia a ser utilizada nesta monografia é a metodologia indutiva, pois

partir-se-á de experiências particulares e cases, utilizando-se dela através de

pesquisas em diversos livros e periódicos especializados na área, consultas a

órgãos voltados à área siderúrgica (através de seus sites na internet); serão

apresentadas planilhas, tabelas e figuras para demonstrar de forma mais simples ao

leitor o desempenho do setor na economia. Como material adicional, serão

apresentados artigos e publicações a respeito do tema, além de contar com

informações adicionais obtidas através da experiência adquirida no segmento da

siderurgia de aços longos.

1.7 Relevância Teórica

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O tema abordado tem grande importância para as indústrias nacionais e

internacionais, pois o giro da economia mundial depende, fundamentalmente, do

consumo e produção de vários países e da atuação destes no nosso mercado

interno.

Além disso, tendo em vista que uma grande gama dos produtos consumidos

contém a presença de aço (principal commodity do setor siderúrgico), é necessário

que o consumidor final tenha consciência e o mínimo conhecimento de como é a

atuação do mercado, afinal de contas, é na hora da compra que o consumidor sente

a reação do mercado. A relevância do setor siderúrgico no segmento de aços longos

na economia brasileira é enorme, uma vez que o setor movimenta milhões de

dólares e vem apresentando crescimento acentuado nos últimos anos, de acordo

com Newton de Mello, presidente da Abimaq:

“[...] o setor siderúrgico nacional tem uma importância fundamental e bilateral na economia, tanto para os fabricantes quanto para os consumidores no âmbito do mercado mundial. De um lado, representa um importantíssimo cliente para os fabricantes. Por outro, é um fornecedor de insumos para os construtores de bens de capital no Brasil.” [...]

Destaca-se nesta citação, proferida por uma autoridade do setor, a

importância do setor para o mercado de forma macro, ou seja, tanto para quem

compra quanto para quem vende. Basta olhar a volta que nota-se a presença do

setor, em casa, no trabalho, nos automóveis, enfim, a siderurgia está presente no

cotidiano das pessoas de forma direta e incondicional, daí a relevância na

abordagem do tema.

2 HISTÓRIA DE SIDERURGIA NO BRASIL

A metalurgia de ferro no Brasil foi iniciada logo após o descobrimento. O

padre Anchieta em 1554 relatava à Corte Portuguesa, as ocorrências de ferro e

prata. A primeira industrialização do metal foi iniciada em 1587, por Afonso

Sardinha, na Serra de Cubatão, no rio Jeribatuba, na antiga freguesia de Santo

Amaro, perto de São Paulo.

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A mina de Araçoiaba teve importância muito maior na história. Nos fins do

século XVI, dois fornos foram construídos para a produção de ferro com minério

extraído em solo brasileiro. A exploração continuou em pequena escala, com a

construção de várias forjas catalãs no estado de São Paulo. Gomes (1983:42)

Em 5 de Janeiro de 1785, um alvará proibia, de modo terminante, a existência

de fábricas no Brasil colônia. Era a febre do ouro que tudo absorvia e exigia a

dedicação de todos os recursos ao enriquecimento da metrópole. Somente com a

ascensão de D. João ao trono é que foi permitida a instalação de novas fábricas na

colônia. Em São Paulo, a atividade siderúrgica se reanimou com a instalação de

uma fábrica de ferro em Sorocaba. Foram construídos os fornos de Ipanema e do

Morro do Pilar. Dois nomes surgiram nessa época, ligados à siderurgia brasileira:

Eschwege e Varnhagen, metalurgistas e geólogos à serviço da Corte de Portugal.

Aqui chegaram em 1810.

Em 1811, o engenheiro Eschwege, implantou a usina Patriótica “Fábrica de

Ferro” (figura 1), em Congonhas do Campo (MG), em local bem próximo aos centros

mineradores de ouro. Em 1812 saiu de lá a primeira partida de ferro de qualidade

industrial no país. Em 1822, após a declaração da independência do Brasil,

Eschwege voltou para a Europa junto com a família real. Aos poucos, a Patriótica foi

se transformando apenas em ruínas, que até hoje estão em Congonhas do Campo.

Figura 1 - Forno sueco do tipo usado por Eschwege

Fonte: www.infomet.com.br

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2.1 A Primeira Siderúrgica: A Fábrica de Jean Monlevade

O nobre francês Jean Antoine Felix Dissandes de Monlevade chegou ao

Brasil em 1817. Com apenas 28 anos, recém-formado Engenheiro de Minas,

trabalhou em vários empreendimentos, inclusive na instalação de forjas catalãs na

fábrica Patriótica e também em missões de estudo e pesquisa. Em 1825, decidiu

construir sua própria fábrica de ferro. (Belgo:2004)

Adquiriu terras próximas ao arraial de São Miguel do Piracicaba, em Minas

Gerais, onde instalou uma forja catalã. Nos anos seguintes, adquiriu equipamentos

ingleses, consolidando a fábrica como uma das mais prósperas do Império.

Produzia enxadas, foices, machados, alavancas, pás, ferraduras, cravos, martelos,

puxavantes, freios para animais, moendas para engenhos de cana, entre outros

artefatos.

A qualidade de seus produtos logo ganhou fama, tornando-se fornecedor

preferencial de companhias estrangeiras que iniciavam empresas mineradoras no

Brasil. Jean Monlevade faleceu em 1872, com 83 anos. A fábrica ficou sob os

cuidados de sucessivos administradores, incluindo o filho e herdeiro de Monlevade,

até que, em 1890, as propriedades foram vendidas para a Companhia Nacional de

Forjas e Estaleiros, empresa fundada em 1845, por Irineu Evangelista de Souza, o

Barão de Mauá (1813-1889).

No final do século XIX, o Brasil observava uma próspera atividade industrial

que, por sua vez, impulsionou o debate sobre a necessidade de estimular a

siderurgia, já que o aço passava a ser insumo básico.

2.1.1 Início do Desenvolvimento e Fortalecimento do Setor

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20

Em 1907, foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, formado por

especialistas em grande parte egressos da Escola de Minas de Ouro Preto, com o

objetivo de realizar o levantamento do potencial das reservas de minerais do país.

Esse grupo realizou amplo estudo sobre as jazidas ferríferas do Brasil, que foi

apresentado em 1910, durante o X Congresso Geológico Internacional, realizado em

Estocolmo, Suécia. A partir daí, investidores de várias partes do mundo passaram a

adquirir terras em Minas Gerais. Gomes (1983:73;77).

Entre esses investidores, a empresa de capital inglês e norte-americano

Itabira Iron Ore Co. comprou extensa área no estado em 1911, dando início a uma

das maiores polêmicas em torno da siderurgia no Brasil, que se estendeu até o final

da década de 30.

Os planos iniciais da Itabira que, a partir de 1918, era representada pelo

controverso empresário Percival Farquhar, eram de apenas exportar minério de

ferro, utilizando a Estrada de Ferro Vitória a Minas para ligar as minas e o porto.

Segundo Roberto M. Couto a estrada se comprometia a realizar o transporte nas

condições exigidas pelo contrato com o Governo, e a Itabira, ficava obrigada a

construir em Aimorés, fornos elétricos de redução e refino, mas esta obrigação

nunca foi cumprida. Couto (1938:35).

Despertando a oposição nacionalista, principalmente de Artur Bernardes,

então presidente de Minas Gerais e, a partir de 1922, a Itabira Iron teve seus planos

fracassados, mesmo após tendo se comprometido em construir uma usina

siderúrgica em território nacional.

Segundo Francisco Magalhães Gomes, o governo de Getúlio Vargas, depois

de longas discussões resolveu construir uma usina de maior porte. Essa usina foi a

de Volta Redonda que teve importantes resultados. Foi construída e projetada com a

colaboração de norte-americanos e, em paralelo com a usina de Monlevade,

contribuiu para criar uma mentalidade siderúrgica em nosso país.

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Figura 2 - Acendimento do primeiro forno da CSN

Fonte: www.infomet.com.br

No início da década de 40, foi criado, a Cofavi – Companhia Ferro e Aço de

Vitória, no Espírito Santo. A partir dos anos 50, além da CSN, foram criadas outras

siderúrgicas com controle estatal. Em 1956 implantaram-se a Usiminas, em Minas

Gerais, e a Cosipa, em São Paulo. Juntas, CSN, Cosipa e Usiminas compuseram a

base siderúrgica montada pelo governo para sustentar o ritmo acelerado da

industrialização brasileira naquele período.

Mas, naquele período, o agravamento das dificuldades econômicas e sociais

gerou a “crise de 64”. Bastos (1972:55). Após um período de crescimento vertiginoso

seguiu-se a total retração do mercado, em especial para a construção civil, uma das

áreas que mais consumiam produtos de ferro e aço. O Brasil possuía então 41

usinas, controladas por 36 empresas, das quais cinco eram estatais.

O governo brasileiro buscou assim traçar um novo planejamento siderúrgico

para o Brasil, que resultou na edição, em 1967, do Plano Siderúrgico Nacional e na

criação do CONSIDER – Conselho Consultivo da Indústria Siderúrgica, subordinado

ao Ministério da Indústria e do Comércio, no ano seguinte.

Com a missão de definir uma política siderúrgica nacional, possibilitando a

retomada do desenvolvimento do setor, em parceria com o recém-criado Instituto

Brasileiro de Siderurgia, o CONSIDER decidiu pela criação de uma empresa holding

das empresas siderúrgicas pertencentes ao governo.

Em 1974, surgia a Siderbrás – Siderúrgica Brasileira S.A., que passou a

centralizar o planejamento da produção das empresas estatais.

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O plano traçado pelos governos militares durante os anos 70 estaria completo

em meados da década seguinte, com a entrada em operação da Companhia

Siderúrgica de Tubarão (1983), no Espírito Santo, e da Açominas (1986), em Minas

Gerais. Após o grande ciclo de desenvolvimento que marcou o período entre 1968 e

1974, novamente o Brasil viveu um período de grandes dificuldades, marcado pela

recessão e inflação.

Para a siderurgia, como para todos os setores econômicos, os anos 80

trouxeram a necessidade de profundas transformações, visando a sobrevivência.

Racionalizar custos, otimizar a produção, investir em capacitação e em marketing,

bem como aplicar novas tecnologias, eram princípios básicos de todas as empresas

do setor. No início da década seguinte, esse rearranjo interno das empresas

siderúrgicas foi fundamental para o novo panorama implantado a partir da

desestatização e da inserção da indústria siderúrgica brasileira no mercado global.

Após os grandes leilões de privatização, as principais empresas siderúrgicas

do Brasil têm buscado investir continuamente na busca da excelência, em novas

rotas tecnológicas e, principalmente, têm buscado parceiros internacionais, por meio

de fusões e joint ventures4, que têm tornado esse setor econômico brasileiro um dos

mais competitivos em escala global.

Segue um modelo cronológico do desenvolvimento da siderurgia no Brasil:

4 O termo refere-se a uma associação de empresas, não definitiva e com fins lucrativos, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica.

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Organograma Cronológico do Desenvolvimento Siderúrgico Nacional

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COFAVI1942

CVRD1942

CSN1946

USIMINAS1956

COSIPA1956

Criação do InstitutoBrasileiro de Siderurgia

USIBA1973

SIDERBRÁS1974

TUBARÃO1983

AÇOMINAS1986

Privatizações1988

Privatização da CVRD1997

Fusões e Incorpor.a partir de 2000

Fortalecimento da ChinaDias atuais

IBS1963

ACESITA1951

Belgo Mineira1921

Cia Siderúrgica Mineira1917

Figura 3 – Organograma cronológico da Siderurgia Brasileira Fonte: o autor, baseado em pesquisas, apontadas na bibliografia.

2.2 Minério de Ferro - Matéria Prima para a fabricação de aço bruto

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Os minerais estão presentes no cotidiano humano sob as mais variadas

formas: nas construções que nos abrigam; que vem multiplicando a produtividade da

agricultura moderna; na estrutura e nas cores de todos os utensílios e equipamentos

que utilizamos em nosso dia a dia e até mesmo neste pedaço de papel. O hábito

natural de valorizarmos os bens finais, os produtos acabados, associando a eles a

satisfação plena de nossas necessidades, é o que muitas vezes induz as pessoas a

não perceberem a importância dos minerais que utilizam. Quem por exemplo tem

consciência de que as cores da tela de seu televisor de última geração só são

possíveis por que o tubo de imagens é revestido de um composto obtido de um

mineral de terras raras? Ou que alguém teve de investir alguns milhões para

descobrir e instalar uma mina nas profundezas da terra, apenas para colher um

punhado de metais que participam de quase todos os mais singelos gestos de seu

cotidiano, como acender uma lâmpada, conversar ao telefone ou mesmo saborear

uma fruta”. Revista Mineração e Metalurgia (Edição N° 37, p.37)

Os recursos minerais formam o verdadeiro alicerce da civilização. O próprio

registro da história humana busca suas referências iniciais na dependência do

homem em relação aos recursos minerais. Assim é que a história antiga subdivide-

se em Idades da Pedra (Lascada e Polida), do Bronze, do Ferro, e mais tarde, em

períodos que podem, por analogia, ser referenciados como as Idades da Prata, do

Aço, dos Minerais Energéticos (carvão, petróleo e minerais radiativos) e, mais

recentemente, dos "Materiais do Futuro" (superligas, polímeros, compósitos,

cerâmicas avançadas, etc.), que apesar de sintéticos, ainda necessitam dos

minerais para sua elaboração.

A mineração é uma atividade que não atinge a plenitude de seus resultados

em curto prazo. Entre a descoberta de uma ocorrência mineral e o início da

produção da mina decorre normalmente mais de oito anos, não sendo incomum que

depósitos minerais complexos demandem décadas até se tornarem produtivos. Por

esta razão, a indústria mineral opera em cenários futuros de longo prazo e depende

de regras estáveis para ser bem sucedida e produzir os benefícios econômicos e

sociais que dela se exige.

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O minério de ferro é um recurso abundante em todo o mundo, porém as

melhores jazidas concentram-se em poucos países, cinco dos quais detêm 77% das

reservas totais. O Brasil possui a quinta maior reserva do mundo, equivalente a 20

bilhões de toneladas. As reservas do Brasil e da Austrália destacam-se, pois

apresenta o maior teor de ferro contido sendo superior a 60%.

2.2.1 A Importância e Dimensão do Minério para o Setor Siderúrgico

Em volume de reservas, o Brasil é superado apenas pela Rússia, Austrália,

Canadá e EUA. No entanto, as reservas brasileiras, além de vultosas, têm

características tecnológicas naturais que apresentam vantagem em relação a outros

países. Além disso, as jazidas são de fácil lavra e possibilitam a produção de

grandes volumes a custos baixos. As reservas brasileiras situam-se, principalmente,

no Estado de Minas Gerais e na Serra dos Carajás, no Estado do Pará. Nos anos

40, a siderurgia brasileira começou a se desenvolver chegando a produzir 1 milhão

de toneladas em 1947. Com a criação da CVRD Companhia Vale do Rio Doce, a

companhia, por acordo e solidariedade para com os aliados da 2a Grande Guerra,

exportou entre 1943 e 1945 perto de 300 mil toneladas anuais. O consumo interno,

nesta época, era praticamente atendido pela SAMITRI e pela Belgo-Mineira, que

abasteciam os fornos de gusa existentes no país (QUARESMA, 1987:78).

A partir de 1950, as exportações brasileiras começaram a ter um peso

significativo em relação à produção. A CVRD, depois de se consolidar como grande

empresa de mineração, concluindo a remodelação da estrada de ferro Vitória-Minas

(EFVM), a mecanização das minas e o aparelhamento do cais de embarque do

minério em Vitória, Espírito Santo, torna-se uma exportadora de minério de ferro,

que, de pequeno porte, transforma-se na principal empresa mineral exportadora do

mundo.

Nas décadas de 50 e 60, fatos importantes contribuíram para o aumento da

produção em relação ao mercado interno. O consumo de minério aumentou

consideravelmente com a demanda das grandes usinas siderúrgicas inauguradas:

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Manesmann (1954), USIMINAS (1962), COSIPA (1965) e com CSN atingindo o seu

1° milhão de toneladas de aço em lingotes (1960).

As exportações intensificaram-se com a SAMITRI e mais tarde com a

FERTECO, associando-se a CVRD, para utilização da estrada de ferro. Os anos

setenta posicionaram de vez o Brasil no contexto mundial, como grande produtor e

exportador de minério de ferro. (CETEM-Centro de Tecnologia Mineral)

A Companhia Vale do Rio Doce é maior produtora mineral brasileira com uma

produção de 89,7 milhões de toneladas de minério de ferro e 21,7 milhões de

toneladas de pelotas. A empresa atua em dois sistemas de produção: o Norte na

Serra dos Carajás, no Pará e o Sul em Itabira e Itabirito em Minas Gerais. A

produção mundial de minério de ferro, que atingiu 1 bilhão de toneladas desde 1995,

foi concentrada principalmente na China, Brasil, Austrália, Rússia e Índia. A China,

que era auto-suficiente, vem recorrendo a importações para atender à significativa

evolução de sua indústria siderúrgica. Austrália, grande produtora mundial, destina

quase toda a sua produção para o mercado externo enquanto o Brasil comercializa

internacionalmente quase 70% do minério produzido.

Em meados da década de 60, o consumo de minério de ferro concentrava-se

nos Estados Unidos e nos países da Europa Ocidental que participavam com 77%

do consumo mundial. Os fluxos eram regionais: Canadá, Venezuela e Chile

abasteciam os EUA, enquanto Suécia, Espanha e França supriam a Europa

Ocidental. No fim dos anos 60, com a desnacionalização das minas controladas por

siderúrgicas americanas, na América do sul, os EUA passaram a intensificar o uso

de seus recursos minerais próprios, além de aumentar as importações do minério

canadense. Assim os EUA construíram um parque siderúrgico mais consumidor de

pelotas, pois os minérios canadenses e americanos são pobres e finos bom para

fabricação de pallets. Nesta mesma época o Japão também surgiu como grande

produtor de aço e consumidor de minério de ferro abastecendo-se, principalmente,

na vizinha Austrália.

Atualmente as reservas mundiais de minério de ferro, medidas e indicadas,

estão na ordem de 310 bilhões de toneladas. O Brasil possui 6,8% dessas reservas

(21,0 bilhões de toneladas) e está em 5º lugar entre os países detentores de maiores

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volumes de minério (DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral). José

Flávio Viana, gerente da seção de convertedores da aciaria da usina Ipatinga da

Usiminas explanou o seguinte em entrevista concedida para a revista Mineração e

Metalurgia (Edição N° 37:29):

[...] “As usinas siderúrgicas brasileiras estão preocupadas com o crescimento do consumo de aço na China, porque provocou uma escassez na oferta de matérias-primas, especialmente sucata, elevando seus preços e trazendo a preocupação com a adaptação da estrutura de produção a alternativos de uso de escória, metálicos mais empobrecidos e materiais reciclados.”

As projeções de expansão da quantidade demandada têm como contra-

argumento, no caso do mercado interno, a capacidade instalada do parque

siderúrgico nacional, cujo limite, da ordem de 30 milhões de ton/ano, deverá esgotar-

se até o início da próxima década, indicando a possibilidade de haver uma

significativa importação de aço em médio prazo, o que deverá afetar negativamente

a expansão da demanda por minério de ferro.

Portanto, em que pese a coerência estatística do modelo empregado,

sobretudo a elevada correlação verificada para os índices aplicados nas projeções

referentes ao minério de ferro, superior a 97%, o pragmatismo da visão da tendência

dos segmentos consumidores, os altos valores envolvidos nos investimentos em

sidero-metalurgia e, principalmente, a amplitude dos ciclos investimento-produção

dos segmentos que influenciam o comportamento da demanda por minério de ferro,

levam à conclusão de que os valores resultantes da aplicação do modelo, no caso

específico do ferro, estariam superdimensionados, provavelmente por estarem

refletindo a correlação estatística dos índices de crescimento de um período

anômalo, em que os maciços investimentos efetuados pelos dois planos siderúrgicos

nacionais, e a consolidação das indústrias automobilística e de bens duráveis,

resultaram em uma relação mais que proporcional entre o desempenho global da

economia e a expansão da demanda mineral. (DNPM-Departamento Nacional de

Produção Mineral).

2.3 A Era Getúlio e a relação com a siderurgia nacional

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Getúlio Dornelles Vargas (São Borja, 19 de abril de 1882 – Rio de Janeiro, 24

de agosto de 1954) foi um político brasileiro, chefe civil da Revolução de 1930 que

pôs fim à chamada República Velha, e foi, por quatro vezes, presidente da

República do Brasil. Governou o Brasil de 1930 a 1934 no Governo Provisório; de

1934 a 1937 no governo constitucional, eleito pelo Congresso Nacional; de 1937 a

1945 no Estado Novo; e de 1951 a 1954 como presidente eleito pelo voto direto

(Fonte: http://www.wikipedia.org/).

Com seu idealismo da implantação da indústria no Brasil, que o perseguia

desde a revolução de 30, Getúlio Vargas necessitava acelerar o desenvolvimento

industrial no país, porém, um dos principais motivos que o brecava era a ausência

da produção siderúrgica em grande escala, além da insuficiência de energia elétrica

naquela época. Em entrevista concedida à imprensa em 1940 na estância de São

Lourenço Vargas afirmava que: COUTO (1938:128, 129)

[...] “A nossa produção siderúrgica atual é reduzida, cara e antieconômica, devido aos processos adotados. Trabalha com pequenos altos fornos a carvão de madeira. Ainda mais, o seu crescimento depende de reservas florestais, que vão diminuindo com o tempo e cuja reconstituição é demorada e custosa, sobretudo se considerarmos que só pode ser utilizado o carvão de madeira de lei.“

Vargas argumentava ainda que o uso de carvão vegetal na grande siderurgia

causaria grandes danos ecológicos:

“[...] a destruição das reservas florestais sem nenhuma garantia de que serão reconstituídas, quando o interesse nacional aconselha defendê-las e melhorá-las, a limitação de consumo interno de produtos siderúrgicos, que fica condicionado a um regime de preços altos pelas deficiências dos processos de produção...”. Sendo assim, para ele “a solução do problema está, portanto, na grande siderurgia.“

Naquela época, representantes do governo viajaram à Europa e Estados

Unidos buscando oportunidades de exportação de ferro e da instalação de

siderurgias de grande porte no Brasil. Seu principal representante foi o Major

Macedo Soares.

Macedo Soares vivera no exílio em Paris, antes da Revolução de 30, quando

estudara metalurgia. Como muitos militares integrantes do movimento tenentista,

acreditava que a chave para o progresso e o bem do estar do país estava na sua

industrialização e que a instalação da indústria siderúrgica seria estratégica para que

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o desenvolvimento industrial brasileiro pudesse tomar corpo e começar um

crescimento sustentável. COUTO (1938:132)

2.3.1 Processo de Internacionalização da Siderurgia Brasileira

Após algumas viagens de Macedo Soares, representando o comércio

brasileiro frente aos Estados Unidos, um grande grupo siderúrgico norte-americano,

chamado United States Steel, concordou em enviar técnicos ao Brasil para examinar

a possibilidade do investimento em uma planta para produção de aço no país. Em

agosto de 1939, por sugestão de Macedo Soares, Getúlio criou a Comissão

Preparatória do Plano Siderúrgico Nacional que veio a ser presidida pelo próprio

Macedo Soares. COUTO (1938:132)

Após a visita ao Brasil da missão americana, em janeiro de 1940, o governo

brasileiro foi informado da desistência da empresa americana de participar do

projeto, assim, Vargas decidiu constituir uma empresa de capital nacional para

implantar a grande siderurgia.

Vargas assinou o Decreto-lei 2054, em 4 de março de 1940, o qual criava a

Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional. A Comissão, composta de seis

membros e diretamente subordinada ao Presidente da República, detalhou o projeto

e escolheu Volta Redonda para sediar a usina. O Decreto considerava ser

indispensável organizar a indústria siderúrgica em bases definitivas e que o Estado

deveria contribuir para a constituição de indústrias que exigem grande concentração

de capitais, bem como ser imprescindível dar ensejo a que se formem quadros

nacionais para a organização e direção de grandes empreendimentos industriais.

COUTO (1938:134).

Desta forma, ele determina a realização de estudos técnicos finais para a

construção de uma usina siderúrgica destinada à produção de trilhos, perfis

comerciais e chapas e a organização de uma companhia nacional com a

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participação de capitais do Estado e de particulares para a construção e exploração

da usina siderúrgica.

Assim sendo ficava definido que a usina seria a coque e que deveria

empregar o mais possível o carvão mineral nacional. Segundo o Relatório elaborado

pela Comissão, o Brasil importava 261.800 toneladas de perfis, vergalhões, trilhos,

arame, arame farpado, tubos, chapas e folhas de flandres.

2.3.2 A Expansão da Produção Siderúrgica Nacional

A produção nacional realizada em 1939 era estimada em cerca de 133.703

toneladas, basicamente composta de ferro gusa, tubos fundidos e perfis laminados.

O consumo total de produtos siderúrgicos era estimado em 405.800 toneladas.,

tendo como principais atores deste cenário a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira,

a Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas e a Companhia Brasileira de

Mineração e Metalurgia. De gusa os produtores eram a Belgo Mineira, a Usinas

Metalúrgicas e a Usina Queiroz Jor (Esperança) e a Metalúrgica Santo Antônio. O

principal produtor de tubos era a Companhia de Ferro Brasileiro (Usina Gorceix).

COUTO (1938:135)

Dados da Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional estimava um

consumo em 1950 da ordem de 560.000 a 600 mil toneladas. Os produtores locais já

instalados responderiam por 244 mil toneladas e a nova empresa por cerca de 300

mil toneladas de aço. Dessa forma, imaginava-se que todo o aço a ser consumido

no país fosse produzido internamente. COUTO (1938:137)

Com as métricas do projeto bem definidas e aprovadas pelo presidente,

tratava-se agora de conseguir os recursos para realizá-lo. Em setembro de 1950,

Guilherme Guinle enviou uma correspondência para a Agência Federal de

Empréstimos do governo norte-americano consultando-a formalmente sobre a

concessão de um empréstimo para a construção da usina. Na carta, Guinle

solicitava um total de vinte milhões de dólares com uma contrapartida de 25 milhões

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de mil réis do Governo brasileiro. Informava que o capital da empresa seria misto, e

que contaria com a participação de caixas econômicas e de capitais particulares.

COUTO (1938:138)

A resposta dos americanos confirmava a disposição de conceder o

empréstimo com juros de 4% ao ano, com endosso do Banco do Brasil e garantia da

União Federal.

Com base nesta concessão norte americana, em janeiro de 1941 Getúlio

assinava outro decreto lei dispondo sobre a criação da Companhia Siderúrgica

Nacional. Em 9 de abril do mesmo ano realizava-se a assembléia de constituição da

companhia. A empresa foi criada como uma sociedade anônima de economia mista.

Guilherme Guinle foi eleito seu primeiro presidente ao lado de Ari Torres e Macedo

Soares como, respectivamente, vice-presidente e diretor técnico da companhia.

Logo em seguida, os diretores da recém criada companhia viajaram aos

Estados Unidos esperando concluir as negociações para obtenção de um crédito de

US$ 20 milhões junto ao Export and Import Bank, destinado à construção da usina

de Volta Redonda.

No entanto, para a surpresa dos brasileiros, o banco os informou que para

concessão do empréstimo seria necessária a anuência da United States Steel, o

grande grupo siderúrgico norte-americano. Por esse motivo, a diretoria da CSN

manteve uma reunião com a diretoria da empresa controladora do capital da United

States Steel. No encontro os executivos norte-americanos declararam que o

empréstimo não poderia ser concedido.

Naturalmente, a empresa norte-americana não via com bons olhos a

construção de uma empresa no Brasil cuja produção iria substituir as importações

brasileiras de aço dos Estados Unidos, produtos muitas vezes adquiridos da própria

United States Steel. Diante dessa posição, os diretores da CSN telegrafaram então

ao Rio de Janeiro, comunicando ao Governo sua volta ao Brasil. O telegrama foi

levado ao conhecimento de Getúlio num sábado. Vargas telegrafou imediatamente

ao Embaixador brasileiro em Washington, determinando que obtivesse com a

máxima urgência uma audiência com o Presidente Roosevelt para lhe transmitir uma

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mensagem pessoal sua. Vargas instruiu o Embaixador a dizer claramente ao

presidente norte-americano que caso o empréstimo não fosse concedido, o

Governo brasileiro não poderia, de seu lado, continuar a permitir o pouso de aviões

norte-americanos em Natal para a travessia do Atlântico Sul. COUTO (1938:140)

O então Ministro da Fazendo, Souza Costa viajou aos Estados Unidos para a

última negociação com os americanos visando à concessão dos créditos para a

aquisição de armamentos bem como o fornecimento de equipamentos e assistência

técnica para a implantação da indústria siderúrgica e de indústrias bélicas. Após

aprovado, começava a jornada para tirar o projeto do papel e iniciar os trabalhos.

Inaugurada em 12 de outubro de 1946, Vargas já havia sido deposto e Eurico

Gaspar Dutra era o Presidente. Getúlio não foi convidado para o evento por seu

sucessor, e nem mesmo foi citado no pronunciamento de Dutra.

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3 COMPORTAMENTO DO MERCADO INTERNO5

A indústria siderúrgica brasileira é composta por 21 empresas com usinas

localizadas em 10 Estados da federação, possuindo uma capacidade de produção

de 28,0 milhões de toneladas/ano de aço bruto. O recente processo de privatização

do setor foi um passo fundamental para a retomada do desenvolvimento de uma

indústria que estava se deteriorando, após anos de poucos investimentos.

A siderurgia brasileira é considerada hoje uma indústria competitiva em nível

mundial, apresentando um dos mais baixos custos de produção entre os principais

países produtores. Possui um parque industrial relativamente moderno e coloca no

mercado produtos com qualidade compatível com as exigências das indústrias

consumidoras, exceto para algumas linhas consumidas pelo setor automotivo.

Tem-se uma idéia do crescimento do setor no mercado interno através das

estatísticas publicadas pelo IBS para alguns dos principais produtos siderúrgicos6:

Tabela 1 – Produção Siderúrgica Brasileira Fonte: http://www.acobrasil.org.br/site/portugues/numeros/estatisticas.asp

5 Fonte: www.infomet.com.br; http://www.valoronline.com.br/valoronline/Geral/empresas/36.html 6 Estatísticas disponíveis para consulta no site http://www.ibs.org.br/estatisticas.asp

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Apesar da abertura do mercado brasileiro, o nível das importações de

produtos siderúrgicos tem se mantido bem baixo, enquanto as exportações possuem

elevada participação na produção do setor, o que leva a conclusão de que o

mercado interno ainda é o maior consumidor de aço para o Brasil. O valor agregado

dos produtos exportados, entretanto, ainda é baixo. (Fonte: IBS)

Alguns indicadores macro-econômicos do setor siderúrgico:

• participação no PIB: 2,2%

• participação na formação do produto industrial: 6%

• impostos recolhidos: US$ 1,6 bilhões /ano

• saldo da balança comercial do setor: médias de mais de US$ 3,0 bilhões/ano,

ocupando o 1º lugar entre os setores industriais.

Um dos problemas enfrentados pela indústria siderúrgica atualmente é a falta

de competitividade de alguns setores consumidores intensivos de aço, com

destaque para o setor de auto-peças, afetado, pela prática do global sourcing,

através da qual as montadoras de veículos se abastecem de fornecedores

internacionais, em detrimento do mercado nacional.

3.1 O processo de fusões e incorporações

A análise do processo de fusões e incorporações pressupõe abordar a

concentração no setor siderúrgico, que é hoje uma tendência mundial e está

associada à globalização dos mercados. Há que considerar, no caso brasileiro, que

o País tem forte posição exportadora (mais de 40% da produção) e expôs o mercado

interno a ampla competição, mediante redução generalizada de alíquotas e acordos

de liberação de comércio, além de ter feito concessões maiores para importações de

setores de elevada capacidade negocial, como foi o caso do setor automotivo.

(Fonte: IBS)

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Diante deste cenário e das aceleradas transformações tecnológicas em curso

na siderurgia mundial, as empresas produtoras que quiserem se desenvolver e

permanecer neste mercado terão de realizar vultosos investimentos para modernizar

suas instalações e adquirir escala adequada de viabilidade, que compreende não só

as escalas das unidades de produção, como também escalas associadas aos

sistemas de comercialização interna e acesso a mercados externos. Neste setor, as

grandes empresas reúnem melhores condições de mobilizar os vultosos recursos

para alcançar a melhoria da competitividade. O quadro mundial corrobora a

tendência indicada. No Japão sete empresas respondem por 74% da produção; na

França uma usina responde por praticamente 100%; o mesmo ocorre na Áustria. Em

termos de produção especializada, por exemplo, três empresas - Boehler Uddeholm,

Thyssen e Hitachi controlam mais de 50% da produção mundial de aço-ferramenta e

dispõem de redes extensas de distribuição. (Fonte: IBS)

Se o Brasil quiser preservar sua posição competitiva, num mercado aberto e

globalizado, as empresas produtoras têm que adquirir escalas adequadas e estar

preparadas para competir com concorrentes que operam em escala global. O

mercado interno e as empresas produtoras nacionais não podem ser o único

referencial. O Mercosul hoje é uma realidade e negocia acordos de livre comércio

com outros países. Consciente desta realidade, a siderurgia brasileira desenvolveu

um processo de associação de interesses, fusões e aquisições durante e logo após

o período de privatização do setor, onde se destacaram: (Fonte: Infomet)

• participação da Usiminas na Cosipa;

• participação da Mendes Júnior na Açominas;

• participação da Acesita na Villares e Cia. Siderúrgica de Tubarão;

• aquisição da Eletrometal pela Acesita e posterior fusão com uma empresa do

Grupo Villares, para constituição da Villares Metals;

• aquisição pelo Grupo Gerdau das empresas Pains e Piratini, com posterior

transformação desta última em unidade da Siderúrgica Riograndense;

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• além dessas operações, cabe mencionar o arrendamento da Mendes Júnior

Siderurgia pela Belgo Mineira, através da Belgo Mineira Participações, e da Gerdau

no Grupo Villares.

Cabe ainda mencionar que, como parte desse novo cenário, desenvolve-se

também um processo de associações que envolvem empresas brasileiras e

empresas do exterior, compreendendo aquisições e participações de empresas

brasileiras e empresas latino-americanas e vice-versa e aumento de participação de

empresas internacionais (Japão e Europa) no capital das siderúrgicas nacionais. No

Brasil, 80% do aço produzido procede de seis grupos empresariais. O país é o 7º

maior produtor mundial de aço e o 3º maior exportador líquido de aço. A despeito

dessa expressiva posição, a nossa maior usina, a CSN, figurou em 41º lugar no

ranking mundial, em 2005.

3.2 Perspectivas do Setor, mantida a atual Política Industrial

Mantida a atual política industrial, podem-se vislumbrar as seguintes

perspectivas para o setor, em relação às variáveis consumos, produção,

emprego/produtividade, exportações, importações, balança comercial,

investimentos, inovação tecnológica e fusões e incorporações. (Fonte: IPEA)

3.2.1 Consumo

Deverá crescer a taxas entre moderadas e altas, dependendo do crescimento

da economia (PIB E FBK). O crescimento deverá ser impulsionado pelos

investimentos em setores intensivos em aço: automotivo, bens de capital,

construção civil e infra- estrutura (portos, energia e estradas). Há preocupação da

siderurgia quanto às perspectivas de alguns setores que são importantes

consumidores de produtos siderúrgicos, mas que apresentam dificuldades para

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38

ajustar-se ao rápido processo de abertura comercial do País (autopeças, construção

naval, ferramentas etc).

3.2.2 Produção

Deverá crescer em níveis equivalentes ao consumo interno para os produtos

onde existe capacidade instalada de produção compatível com a demanda projetada

para os próximos anos. Para algumas linhas de produtos, como laminados a frio,

poderá haver a curto prazo restrições de crescimento, devido a insuficiente

capacidade de produção, até a complementação de projetos em curso. Em alguns

segmentos, particularmente no setor de aços especiais, as restrições a aumentos de

produção poderão advir do aumento das importações diretas e indiretas dos

segmentos beneficiados pelo regime automotivo associadas às dificuldades para

aumento de exportações nas condições vigentes de custos e câmbio.

3.2.3 Emprego/Produtividade

Associada ao processo de reestruturação em curso vem ocorrendo redução

dos empregos diretos do setor. Os conseqüentes aumentos da produtividade,

embora expressivos, não foram ainda suficientes para alinhar a siderurgia brasileira

aos padrões mais avançados da Siderurgia mundial (8 Hh/t no Brasil contra 4,5 a 5,0

Hh/t nos EUA, Japão e Alemanha).

3.2.4 Exportações

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39

Com a retomada do crescimento da demanda interna observa-se um

decréscimo das exportações de alguns produtos face à prioridade para atendimento

aos consumidores locais. Em outras linhas embora exista capacidade disponível, as

exportações decresceram devido às condições adversas de competitividade no

quadro atual de preços e condições de financiamentos internacionais cotejados com

os custos internos e a política cambial vigente. Dessa forma, em termos agregados,

não há previsão de crescimento das exportações de produtos siderúrgicos que

poderão, no máximo, manter-se nos níveis atuais, com forte predominância dos

produtos semi-acabados.

3.2.5 Importações

A tendência é de rápido crescimento em decorrência da abertura comercial,

financiamentos internacionais favoráveis, incentivos a setores consumidores e

aumento da oferta mundial em decorrência dos aumentos de capacidade que

devem, segundo estudos da OCDE, superar o crescimento da oferta e acirrar a

competição.

3.2.6 Balança Comercial

A tendência decrescente observada nos últimos anos deverá persistir nos

próximos diante da expectativa do aumento das importações e estagnação ou

decréscimo das exportações.

3.2.7 Investimentos

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O programa em curso permitirá à maior parte das empresas do setor concluir

seu processo de modernização tecnológica recuperando grande parte do atraso

acumulado, mas mantendo níveis de competitividade apenas satisfatórios, enquanto

persistirem as diferenças do Custo Brasil. O aumento da capacidade de produção de

aço da ordem de 15% (4 milhões de toneladas) até o ano 2000 permitirá o

atendimento à demanda interna em condições de crescimento moderado

(Crescimento do PIB da ordem de 5%), reduzindo-se ou no máximo preservando-se

os níveis atuais de exportações.

3.2.8 Inovação Tecnológica

O atual programa de investimentos prevê a implantação de diversas

tecnologias novas permitindo à maioria das empresas brasileiras atingir os padrões

operacionais das melhores usinas mundiais. Persistirão, no entanto, unidades

desatualizadas, cuja modernização exigirá ampliação dos investimentos previstos.

No que se refere à tecnologia e qualidade dos produtos, a siderurgia brasileira

estará apta a atender a quase totalidade das exigências do mercado, excetuando-se

itens especiais cuja escala de consumo interno não permite produção local em

bases competitivas.

3.2.9 Fusões e Incorporações

Deverão aumentar as necessidades de investimentos por parte das empresas

siderúrgicas para preservar sua competitividade num cenário de crescente abertura

comercial, acirramento de competição internacional e emergência constante de

novos produtos e processos. A siderurgia brasileira deve considerar ainda a

perspectiva da próxima retomada das negociações do Acordo Multilateral de Aço, a

nível mundial, do qual não poderá deixar de participar. Nessas condições o processo

de associações, fusões e incorporações, continuará representando parte importante

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41

da estratégia do setor para atingir escalas compatíveis com os demais concorrentes

mundiais.

3.3 Estratégia Setorial para melhor competitividade

O programa de investimentos em curso, de elevada expressão financeira,

sobretudo à vista da capacidade de mobilização de recursos do setor, vem sendo

suficiente apenas para recuperar a defasagem acumulada e assegurar condições

mínimas necessárias para acompanhar o crescimento do mercado interno, sem

redução significativa das exportações. A siderurgia brasileira tem, no entanto,

potencial para expandir-se e terá de ampliar seus investimentos, caso se confirme a

expectativa de crescimento econômico e a redução do Custo Brasil melhore as

condições tanto para exportações diretas do setor como indiretas pelas indústrias de

transformação. (Fonte: Infomet/IBS)

Para atender competitivamente à demanda interna em cenário de mercado

aberto e manter sua posição exportadora, a siderurgia pretende:

• viabilizar fonte de recursos a custos e prazos que permitam prosseguir o seu

programa de investimentos em modernização e atualização tecnológica, com vistas

a atingir padrões equivalentes aos dos maiores centros siderúrgicos do mundo;

• buscar escalas de produção e comercialização interna e internacional que

permitam manter posição de atendimento pleno à demanda interna e posição

exportadora da ordem de 20% do total da produção. Neste sentido além de

investimento que favoreça a adequação da capacidade deve prosseguir no processo

de aquisições, fusões e/ou associações envolvendo empresas tanto nacionais como

internacionais;

• dar continuidade ao enobrecimento da mistura de produtos em todas as linhas

onde a demanda interna atinja escalas mínimas que justifiquem produção

competitiva;

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• definir uma política de exportação como opção estratégica de vendas afastando-se

do modelo exportador de excedentes e buscando presença permanente em

mercados que exigem produtos de maior valor agregado. Para tanto são

necessários mecanismos de financiamentos e sistemas de comercialização

equivalentes aos que dispõem os nossos competidores internacionais;

• ampliar o processo de parceira com as indústrias de transformação prestigiando

seu esforço de capacitação para atender exigências dos mercados interno e externo,

oferecendo os mesmos produtos com maior valor agregado e serviços que reduzam

suas necessidades de processamento e libere recursos para investimentos nas suas

atividades específicas;

• ampliar o processo de parceria com fornecedores e contribuir para o surgimento de

um parque fornecedor de insumos competitivos, segundo padrões internacionais;

• adotar tecnologias adequadas e buscar índices operacionais que permitam às

unidades produtivas atingirem padrões de qualidade ambiental que atendam aos

reclamos da legislação e da sociedade e que contribuam para a obtenção, pelas

usinas, do certificado ISO 14000;

• ampliar investimentos destinados à melhor qualificação dos recursos humanos

para que as usinas possam alcançar índices de produtividade de padrão

internacional;

• desenvolver programas de apoio às comunidades, notadamente àquelas afetadas

por eventuais programas de redução de efetivos, a fim de encontrar alternativas que

atenuam o impacto dessa redução;

• reduzir custos portuários, de transporte e de energia através de participações

diretas nessas atividades de infra-estrutura e parceria com outras empresas com a

mesma finalidade, além do apoio à ação governamental de privatização e

desregulamentação;

• apoiar, em todas as instâncias ações destinadas à correção das deficiências da

estrutura tributária do País,para reduzir os encargos das empresas e eliminar as

assimetrias tributárias que em âmbito mais específico, afetam negativamente a

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competitividade dos produtos siderúrgicos e seus derivados em relação a materiais

concorrentes;

• apoiar e participar das ações governamentais e das negociações internacionais

destinadas a melhorar as condições de acesso dos produtos siderúrgicos aos

mercados externos, através de redução de barreiras tarifárias, particularmente na

América Latina, e eliminação de barreiras não tarifárias;

• apoiar a ação do governo e atuar diretamente ou em parceria com setores

consumidores de aço para defesa do mercado contra práticas desleais de comércio

tanto nos produtos siderúrgicos quanto em produtos de sua transformação. Ainda no

contexto das importações, buscar reciprocidade de tratamento nas negociações de

referências tarifárias que envolvam produtos siderúrgicos.

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4 PRINCIPAIS SIDERÚRGICAS NACIONAIS

Será abordado neste capítulo, alguns dos principais players do setor siderúrgico

nacional. A união destes atores, dentro do mercado siderúrgico doméstico,

representa 90% da produção do setor.

4.1 USIMINAS – Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A

A Formação da Usiminas

Uma vez sabida a importância da evolução da indústria siderúrgica nacional, na década de 50, um

grupo de idealizadores conscientes de que a indústria siderúrgica seria essencial para o país e para o mundo,

articulou um importante movimento para viabilizar a implantação da primeira grande usina de siderurgia de Minas

Gerais. Em 25 de abril de 1956, em um cenário brasileiro de euforia e otimismo gerados pelo Plano de

Desenvolvimento do governo Kubitscheck, fundava-se a Usiminas – Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A,

no Horto de Nossa Senhora, atual Ipatinga. Dois anos depois, em 1958, a Usiminas tornou-se uma joint venture,

com a participação de capital estatal em parceria com acionistas japoneses, permitindo um novo estilo de gestão

compartilhada – nos moldes da iniciativa privada. Com o aporte de capitais do Governo de Minas Gerais, do

Governo Federal e do Japão, significou, na época, a realização do ideal mineiro e, ao mesmo tempo, foi ao

encontro do desejo e da necessidade do Japão de demonstrar a presença e a marca de sua tecnologia no

mundo ocidental.

A Inauguração da Usiminas

No final da década de 50 e início dos anos 60, os trabalhadores que erguiam a Usiminas se mostravam

verdadeiros heróis. Chegavam de todas as partes do país, enfrentando dificuldades de toda ordem - nos

alojamentos, na alimentação e a distância da família. Enfrentaram, também, as dificuldades impostas por um

vilarejo que ainda não havia se constituído uma cidade – não havia transportes no Horto de Nossa Senhora, não

havia lazer e nem mesmo comércio. Mesmo diante disso, eles faziam a Usiminas pulsar. E no dia 26 de outubro

de 1962, João Goulart inaugurou a Usina Intendente Câmara. Algumas horas depois, iniciava-se a primeira

corrida de gusa, ou seja, a primeira produção industrial da Usiminas. Dessa forma, foi dada a largada ao

funcionamento de uma série de novas etapas e novas inaugurações. Transformava-se em realidade o grande

ideal: estava viva a Usiminas – grande e competitiva. Um dia depois da inauguração, com uma capacidade

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instalada capaz de produzir 500 mil toneladas anuais, iniciou-se a primeira corrida de gusa, dando início à

produção industrial da Usiminas.

Figura 4 – O Presidente João Goulart acende o Alto Forno nº 1, dando início às operações da Usiminas. Fonte: www.usiminas.com.br.

Expansão da Usina

Em 26 de outubro de 1969, a Usiminas iniciou a expansão de sua produção para 1 milhão e 400 mil

toneladas, com o lançamento do primeiro concreto das bases de três novos fornos de recozimento da Laminação

de Tiras a Frio.

Anos dourados para o país. Época do milagre brasileiro em que a economia se mostrava recuperada e

em franco crescimento, reflexo das novas medidas adotadas pelo governo federal. À Usiminas coube

desempenhar um papel fundamental neste processo, ficando responsável pelo fornecimento do insumo básico

para a reativação da indústria pesada – naval, automobilística e de construção civil. O sonho Usiminas se

expandia, alcançando, em 1971, capacidade de produção de 1 milhão de toneladas de aço ao ano. Isso garantiu

sua passagem para três novas fases de expansão, capacitando-a, ao final da década, a produzir 3,5 milhões de

toneladas anuais. A equipe de empreendedores da usina trabalhava decididamente voltada para a expansão da

produção de aço. Com passos firmes, avaliavam oportunidades e ameaças e, com a ousadia dos vencedores,

fizeram da Usiminas a mola propulsora para o crescimento do Brasil.

Os desafios em plena recessão

Se a década passada foi de muito crescimento, no início dos anos 80 o Brasil se recolhia. Palco de uma

profunda recessão, o país enfrentou dívidas, inflação galopante, desemprego e queda do PIB, lançando um novo

desafio à Usiminas: ajustar-se a esse conturbado quadro conjuntural.

Através de um gerenciamento inteligente e flexível, a Usiminas colocou em prática um rígido programa

de economia interna. Por isso, foi executado um sério controle sobre os novos investimentos em função da

manutenção de seu pessoal e melhor utilização de seus recursos físicos, financeiros e humanos. E quando o

período crítico chegou ao fim, abrindo novas perspectivas à indústria siderúrgica, a Usiminas, com sua economia

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normalizada, desenvolveu uma postura ágil e planejada, criando oportunidades para intensificar a busca por

tecnologias mais avançadas e por maior grau de automação de suas unidades produtivas.

O momento da privatização

A livre iniciativa marcou o início de novas etapas de expansão e

desenvolvimento para a usina. Um plano de metas foi programado envolvendo

investimentos da ordem de 2,1 bilhões de dólares - o maior volume já realizado por

uma siderúrgica brasileira. Os investimentos foram realizados visando a ampla

otimização da produção, a atualização tecnológica e a proteção ambiental,

fortalecendo a imagem da Usiminas como siderúrgica de ponta no segmento de

aços nobres. Em 1999, dentro do Plano de Otimização da Produção, com

investimento de 852 milhões de dólares, a Usiminas destacou o desenvolvimento de

dois projetos: a nova Linha de Tiras a Frio e criação da Unigal. Com estes projetos,

a Usiminas se capacitou para atender não só às necessidades de seus clientes com

produtos de alta qualidade, como também a uma nova demanda da produção

automobilística. A Usiminas fechou a década com o Plano de Modernização e

Atualização Tecnológica, visando a melhoria da qualidade, o enobrecimento do

produto, a redução do custo e a manutenção da capacidade produtiva. Assembléia

do novo conselho da Usiminas após a Privatização.

O Sistema Usiminas

Atualmente, a Usiminas, que ao longo de toda a sua trajetória investiu no aprimoramento da sua

capacidade produtiva, no aumento da produtividade, na formação de parcerias estratégicas e na gestão do seu

negócio - o aço, deixou de ser, apenas uma siderúrgica, tornando-se sinônimo de um sistema que atua em

siderurgia e em negócios onde o aço está presente, dentro e fora do Brasil. Em maio de 2005 a Usiminas - lider

do Sistema Usiminas - concluiu a operação de fechamento de capital da Cosipa, que passou a ser sua

subsidiária integral. Com o fim da operação, Usiminas e Cosipa dividem uma única diretoria, aumentando o

processo de integração entre as duas empresas. Assim, a capacidade de produção das siderúrgicas é estimada

em cerca de 9,5 milhões de toneladas de aço/ano.

Ainda em 2005, a Usiminas anunciou sua participação, em conjunto com o grupo Techint, em uma

grande empresa siderúrgica denominada Ternium, destinada a controlar as empresas Siderar (Argentina), Sidor

(Venezuela) e Hylsamex (México). A nova empresa dispõe de capacidade instalada de 12 milhões de

toneladas/ano e receitas de US$5 bilhões. Na operação, a siderúrgica mineira participa com suas ações na

Siderar (5,3%) e na Sidor (16,6%, através do Consórcio Amazônia), além de um aporte adicional de US$100

milhões, representando uma participação inicial de cerca de 16% do capital total da Ternium.

4.2 CSN – Companhia Siderúrgica Nacional

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Histórico

A Companhia Siderúrgica Nacional foi fundada em 9 de abril de 1941 e iniciou

suas operações em 1º de outubro de 1946. Como primeira produtora integrada de

aço plano no Brasil, a CSN é um marco no processo brasileiro de industrialização. O

seu aço viabilizou a implantação das primeiras indústrias nacionais, núcleo do atual

parque fabril brasileiro. Privatizada em 1993, e após mais de seis décadas de

atividade, continua a fazer história.

Empresa de capital aberto, com ações negociadas nas Bolsas de Valores de

São Paulo e de Nova Iorque (NYSE), a CSN é um dos maiores e mais competitivos

complexos siderúrgicos integrados da América Latina. Com capacidade de produção

anual de 5,8 milhões de toneladas e cerca de oito mil empregados, a CSN concentra

suas atividades em siderurgia, mineração e infra-estrutura. Oferece uma das mais

completas linhas de aços planos do continente, de alto valor agregado.

Privatização

A CSN foi privatizada em abril de 1993, e é líder no setor de siderurgia

brasileira, respondendo por mais de 18% da produção nacional de aço bruto. A

Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda, é a maior planta siderúrgica integrada

da América Latina. Atualmente possui uma capacidade anual de produção de 5

milhões de toneladas de aço bruto. Em 1998, 73% das suas vendas se destinaram a

atender o mercado interno e 27% exportados para mais de 60 países. Produz

bobinas e chapas a quente, a frio, zincadas, destinados às indústrias

automobilísticas, de eletrodomésticos e construção civil. Produz, ainda, folhas-de-

flandres e folhas cromadas, aplicadas principalmente na indústria de embalagens. É

a única no Brasil a produzir folhas cromadas e folhas-de-flandres, e a maior no

mundo a produzir folhas-de-flandres em uma única usina, superando 1 milhão de

toneladas por ano. Seus dois altos-fornos, atualmente em operação, somam uma

produção de 13.500 toneladas de ferro-gusa por dia.

A CSN é auto-suficiente em minério de ferro e fundentes (calcário e dolomita)

e todo o minério de ferro consumido pela Usina vem da mineração de Casa de

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Pedra, localizada em Congonhas, Minas Gerais; o calcário e a dolomita são

extraídos na mineração de Arcos, na cidade de Arcos, em Minas Gerais.

Expansão da CSN

A estratégia integrada e alinhada ao negócio principal assegura posição de

liderança no setor siderúrgico brasileiro. A aquisição dos ativos da Heartland Steel,

constituindo a CSN LLC, nos Estados Unidos, em 2001, marcou o início do processo

de internacionalização da CSN. Atualmente, entre seus ativos a empresa conta com

uma usina siderúrgica integrada, cinco unidades industriais, sendo duas delas no

exterior (Estados Unidos e Portugal), minas de minério de ferro, calcário e dolomita,

uma forte distribuidora de aços planos, terminais portuários, participações em

estradas de ferro e em duas usinas hidrelétricas. Com uma gestão firme e

inovadora, a empresa acredita na força empreendedora do capital nacional e no

enorme potencial brasileiro de competitividade no setor siderúrgico.

O aço da CSN está presente em diversos segmentos, entre os quais se

destacam o Automotivo, Construção Civil, Embalagem, Linha Branca e OEM,

fornecidos para clientes no Brasil e no Exterior.

4.3 CST – Companhia Siderúrgica Tubarão

Histórico

A CST, maior produtora mundial de semi-acabados de aço, foi constituída em

junho de 1976, como uma jointventure de controle estatal, com a participação

minoritária dos grupos Kawasaki, do Japão, e Ilva (ex-Finsider), da Itália. Porém a

sua operação começou em novembro de 1983. Nesse período, a CST criou e

consolidou sua liderança no mercado, passando por profundas transformações,

intensificadas após a privatização em 1992.

A partir daí, a Companhia passou a ser controlada por grupos nacionais e

estrangeiros. Com um programa de investimentos na ordem de US$ 1,8 bilhão até

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2002, voltado especialmente para atualização tecnológica, a CST vem aumentando

e enobrecendo o seu mix de produção, além de realizar melhorias operacionais e

ambientais. A Companhia diversificou a sua produção, em 2002, com a implantação

de um Laminador de Tiras a Quente (LTQ), que incorpora a mais avançada

tecnologia disponível no mercado. Já em 2004, a CST consolida a otimização da sua

produção para 5 milhões de toneladas/ano (placas e bobinas), com a finalização da

montagem da Central Termelétrica 4 (CTE 4), o que garante também a auto-

suficiência energética da CST, mesmo com a operação do LTQ.

Em 2003, teve início o Plano de Expansão da produção para 7,5 milhões de

toneladas/ano, projeto anunciado à sociedade com a presença do Presidente da

República, Luiz Inácio Lula da Silva. Serão investidos, ao todo, recursos da ordem

de US$ 1 bilhão, com a implantação de novas unidades industriais com vistas à

retomada do mercado internacional de placas de aço. A publicação do primeiro

Relatório Ambiental auditado no Brasil, além do início da Certificação de

empregados pela ABM dentro do Programa Nacional de Certificação de

Operadores(PNQC), também marcaram o ano de 2003. As obras de expansão da

CST, que envolvem alta tecnologia e eficiente sistema de controle ambiental

começam em 2004.No mesmo ano, acontece a consolidação do modelo energético

com a entrada em operação da Central Termelétrica 4 e do sistema de Recuperação

de Gás.

Em outubro de 2005 é criada a Arcelor Brasil. Resultado da união da

Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, da CST e da Vega do Sul, a Arcelor Brasil já

nasce como um dos maiores grupos industriais do Brasil e com capacidade anual de

produção de 11 milhões de toneladas de aço. No mesmo ritmo de crescimento, a

CST alcançou a Certificação do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde de

acordo com a Norma OHSAS 18001.

4.4 Grupo Gerdau

Histórico

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Johann Heinrich Kaspar Gerdau, um nativo de Hamburgo, Alemanha, imigrou

para o Brasil em 1869 e estabeleceu-se como um comerciante, administrando a

empresa João Gerdau & Cia, fundada em 1870 em Cachoeira do Sul, no estado do

Rio Grande do Sul. Por volta de 1900, Gerdau, que adotou o nome "João", mudou-

se para a capital Porto Alegre. Lá, ele entrou num novo negócio, comprando com

seu filho Hugo a fábrica de pregos Pontas de Paris no ano de 1901. No fim do

século XX, a companhia Pontas de Paris tornou-se a maior fabricante de pregos no

mundo.

A empresa, no entanto, enfrentou dificuldades em encontrar matéria-prima

nos anos 40, em razão da Segunda Guerra Mundial. O então presidente, Curt

Johannpeter (genro de Hugo e pai de Jorge Gerdau Johannpeter), liqüidou imóveis

da família para efetuar a compra da Siderúrgica Riograndense, que solucionou o

problema com matéria-prima.

Presença Mundial

O Grupo Gerdau ocupa a posição de maior produtor de aços longos no

continente americano, com usinas siderúrgicas distribuídas no Brasil, Argentina,

Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México, Peru, Uruguai. Possui também

40% de participação societária na empresa Sidenor, localizada na Espanha. Hoje,

alcança uma capacidade instalada total de 19,6 milhões de toneladas de aço por

ano.

Participa do desenvolvimento da economia brasileira há 105 anos, quando começou

a operar com a Fábrica de Pregos Pontas de Paris, na cidade de Porto Alegre, Rio

Grande do Sul. Ocupa a décima quarta posição entre os maiores grupos

siderúrgicos mundiais e emprega trinta e dois mil funcionários. As ações de suas

empresas estão nas Bolsas de Nova York, Toronto, Madrid e, naturalmente, São

Paulo.

4.5 Belgo Mineira

Histórico

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Na passagem para o século XX, o esgotamento das jazidas de ouro de Minas

Gerais e o incremento do setor industrial no país despertaram ainda mais o interesse

pelas reservas de ferro da região. Para Amaro Lanari, Cristiano Guimarães e Gil

Guatimosin, jovens engenheiros recém-formados da Escola de Minas de Ouro Preto,

esse interesse transformou-se em empreendimento. Em 21 de janeiro de 1917, eles

criaram – juntamente com outros pioneiros como o banqueiro e comerciante

Sebastião Augusto de Lima e o industrial Américo Teixeira Guimarães – a

Companhia Siderúrgica Mineira, na cidade de Sabará.

O projeto era ambicioso: construir um alto-forno com capacidade para

produzir 25 toneladas/dia de ferro gusa – seria o maior até então do Brasil e da

América Latina. Muitas dificuldades na implementação do projeto, em plena Primeira

Guerra Mundial, levaram ao atraso de sua conclusão. A primeira corrida de gusa só

aconteceu no final do ano de 1920. E as dificuldades não cessaram após o início

das operações, porque também era muito difícil colocar no mercado o produto

nacional, diante da concorrência estrangeira, alem do quê não havia apoio

governamental para a implantação da infra-estrutura necessária ao funcionamento

da usina e ao escoamento da produção. Por isso, Gil Guatimosim, um dos

fundadores da empresa, afirmaria anos depois que, naquela época, cada tonelada

de gusa custava “sangue, suor e lágrimas”.

Em 1920, o Rei Alberto I da Bélgica veio ao Brasil em visita oficial. A convite

do Presidente de Minas Arthur Bernardes, além de sua estadia na capital federal, o

rei foi a Belo Horizonte. A visita à capital mineira não era gratuita: empenhado que

estava na posição ao projeto da Itabira Iron, Bernardes recebeu o monarca com

todas as honras, tendo em mente a firme disposição de evidenciar o potencial

siderúrgico do estado e sensibilizar o rei, para que ele convencesse investidores

europeus a direcionarem também para Minas seus negócios. De fato, pouco tempo

depois da visita de Alberto I, o grupo belgo-luxemburguês ARBED enviou missão

técnica a Minas Gerais, que constatou a possibilidade do grupo se associar a uma

empresa brasileira já existente e a partir daí ampliar o negócio.

Assim, em 11 de dezembro de 1921, a Companhia Siderúrgica Mineira

realizou uma assembléia de acionistas para aumentar seu capital, que seria

subscrito pela ARBED. Com isso, a Companhia Siderúrgica Mineira passava a se

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denominar Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. No programa inicial da nova

empresa, previa-se transformar Sabará em uma usina piloto, destinada a prospectar

e experimentar a operação de uma grande usina no Brasil, treinando pessoal,

possibilitando o melhor conhecimento das matérias-primas nacionais e de toda a

logística operacional, abrindo caminho para aquele que já se delineava como o

grande salto da Companhia – a construção, em Monlevade, de uma moderna usina

siderúrgica, sem precedentes na história do país.

5 O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR SIDERÚRGICO

O processo de F&A (Fusões e Aquisições) no âmbito da siderurgia mundial

está cada vez mais rigoroso, alterando recorrentemente a escala empresarial

requerida para que seja viável a operação no setor. Estando intimamente

relacionado com a crescente internacionalização das empresas, tal processo muda o

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modus operandi da indústria siderúrgica mundial, e conseqüentemente da indústria

siderúrgica brasileira, e modifica a escala mínima e o caráter de um setor

tradicionalmente dominado por capitais domésticos, sejam eles privados ou estatais.

5.1 Fusões e Aquisições: O Caso Brasileiro

O intenso processo de reestruturação do setor siderúrgico, similar à tendência

no cenário mundial, provocou uma redução significativa do número de empresas. Se

até o final da década de 1980, o setor era composto por cerca de 30 empresas (ou

grupos), houve uma ampliação da capacidade com a reestruturação, mas também

houve um processo de concentração de mercado de proporções consideráveis.

Atualmente, cerca de 10 grandes empresas são responsáveis por cerca de 90% da

produção brasileira e as mesmas podem ser reunidas em cinco grupos principais:

CSN, Usiminas/Cosipa, Acesita/CST, Arcelor Mittal/Mendes Júnior e

Gerdau/Açominas.

A consolidação no setor siderúrgico brasileiro está também relacionada à

crescente internacionalização patrimonial das empresas. O baixo crescimento da

produção mundial e o aumento da concentração de fornecedores e consumidores

são fatores estimuladores das fusões e aquisições na siderurgia mundial, com

reflexos na siderurgia brasileira. Por exemplo, Acesita e CST receberam

consideráveis investimentos da francesa Usinor, em 1998, CST e Usiminas

receberam aumentos de participação da Kawasaki Steel e da Nippon Steel,

respectivamente, e a CSN associou-se com a Thyssen no segmento de aços

galvanizados (BNDES, 2001a). Houve, também, uma operação interna de grande

relevância relacionada à reestruturação financeira da Cosipa por parte da sua

controladora Usiminas, anunciada em novembro de 1998. Esta operação, ainda que

não tenha significado a fusão das siderúrgicas, objetivou uma considerável redução

do montante do passivo da Cosipa e a oportunidade de a Usiminas utilizar-se dos

prejuízos fiscais de sua controlada. O intuito foi o repasse de parte desta dívida à

Usiminas, originando uma nova empresa (Nova Usiminas), que emitiria as

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debêntures necessárias para o alongamento do endividamento da antiga Cosipa

(Andrade et al; 2004).

Outro fato interessante da siderurgia brasileira é que sua rentabilidade, tanto

em termos de lucro sobre o capital investido como em termos de lucro sobre vendas,

é bem maior quando comparada àquela observada no resto do mundo. Por outro

lado, as despesas financeiras das siderúrgicas nacionais são cerca de 6,5 vezes

superiores à média das grandes companhias globais. Toda a reestruturação aqui

relatada gerou pressões por racionalização de investimento, redução de custos

industriais e necessidade de busca (ou manutenção) de mercados consumidores.

Para o caso especifico brasileiro observa-se, no amplo processo de reestruturação

ainda vigente, um enfoque na especialização. A meta é o fortalecimento para a

competição tanto no mercado doméstico, mais aberto, quanto no mercado externo,

com o fornecimento de produtos de maior qualidade e com preços mais competitivos

(Andrade et alli, 2004).

Apesar de todo esse ganho de escala e da oitava colocação na produção

mundial, o Brasil ainda não possui nenhuma empresa entre as 20 maiores do

mundo. Significa que o processo de reestruturação do setor siderúrgico brasileiro

ainda não deu ao país a oportunidade de uma maior competitividade no cenário

global uma vez que o país ainda não atua de acordo com padrões mundiais de

largas escalas de operação.

Produção de Aço Bruto por empresa (%) - 2008

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Figura 5 - Produção de Aço Bruto por empresa (%) - 2008 Fonte:Instituto Aço Brasil http://www.acobrasil.org.br/site/portugues/biblioteca/Folder_Institucional_AcoBrasil.pdf

A mega-fusão que resultou na gigante mundial Mittal Steel não terá impacto

de curto prazo no setor siderúrgico brasileiro, ou seja, não há um desastre imediato

para as brasileiras Usiminas e CSN já que CST, Acesita e ArcelorMittal já estão

integradas à esfera global da européia Arcelor. Mas o país deve tentar melhorar sua

posição no cenário mundial de 3% da produção mundial do aço. No lado do setor

público, representado pelo BNDES, a intenção é criar pólos industriais gigantes,

como o do Maranhão, para 24 milhões de toneladas até 2010, e tentar convencer as

siderúrgicas nacionais a se unirem. A intenção vem em boa hora, mas toda esta

estratégia nacionalista pode dificultar a atração de investimentos estrangeiros para o

setor. Mas a situação da siderurgia brasileira e mundial pode mudar brevemente.

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6 RELACIONAMENTO COMERCIAL: BRASIL x CHINA

A relação econômica Brasil-China pode ser dividida em duas fases. Entre

1999 e 2003, estrutura-se um padrão de comércio que gera expressivos superávits

comerciais para o Brasil, por conta do ganho de mercado obtido pelas commodities

brasileiras no mercado chinês, mas também pelo efeito preço. Em torno do ano de

2004 (o que se estende até os dias atuais), observa-se uma mudança deste padrão

de comércio, a partir da expressiva redução dos saldos comerciais, e do ganho de

mercado dos produtos chineses no mercado brasileiro, especialmente nos setores

mais dinâmicos como eletrônicos e máquinas / equipamentos, sem perder a

dianteira adquirida nos segmentos mais tradicionais de brinquedos e vestuário, por

exemplo. Uma outra parte do texto, volta-se para as relações políticas e diplomáticas

mantidas entre os dois países. (Fonte: Câmara Brasil China http://www.ccibc.com.br)

6.1 Brasil e China: Trajetórias Macroeconômicas

Durante os anos noventa, as trajetórias macroeconômicas de Brasil e China

apresentaram comportamentos bastante divergentes. Se, por um lado, ambas as

economias aumentaram o seu grau de vinculação à economia internacional, pode-se

dizer que as políticas de inserção na globalização foram acionadas a partir de um

conjunto de premissas e políticas diversas e, às vezes, até opostas.

Além disso, a China tem realizado um upgrading das suas exportações, das

quais 91% são compostas de bens manufaturados e mais de ¼ de bens intensivos

em tecnologia, contra percentuais de 52% e 12% para o Brasil, respectivamente.

Isso significa que as vendas externas chinesas têm sido acompanhadas de uma

melhoria da oferta, enquanto o boom exportador brasileiro (que ocorreu no período

de 2004) foi, em grande medida, favorecido pela valorização das commodities. Nos

anos subseqüentes, o Brasil apenas voltou ao mesmo patamar de 1,1% do total das

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vendas externas globais, alcançado em 1989, portanto antes da abertura comercial

empreendida por este país.

Finalmente, os investimentos externos diretos (IEDs) na China, além de

serem mais expressivos, não diminuíram com a queda mundial presenciada pós-

2000, ao contrário do Brasil. Os fluxos de IEDs para a China são mais expressivos

devido ao fim do programa de privatizações e ao baixo crescimento econômico

verificado no país. Adicionalmente, e ao menos até 1999, o Brasil conviveu com

elevados déficits em transações correntes e níveis de endividamento externo, ao

passo que a China se destacou por incrementar as suas reservas internacionais. A

diferença essencial entre os dois países parece residir no nexo entre exportações e

investimento, que permitiu ampliar a capacidade produtiva na China, enquanto no

Brasil e demais países latino-americanos a volatilidade cambial trouxe alterações

bruscas nas taxas de crescimento e investimento, recorrendo estes países a

políticas monetárias rígidas. (Fonte: Câmara Brasil China - http://www.ccibc.com.br)

Segundo as categorias traçadas pela Unctad, a China poderia ser classificada

como um país de industrialização rápida, que presencia uma transformação

estrutural da sua base produtiva; enquanto no Brasil, se a abertura não trouxe a

desindustrialização, impediu que o país diversificasse a sua base industrial e

promovesse um salto de competitividade nos segmentos mais dinâmicos do

comércio internacional.

6.2 Relações Econômicas Brasil x China

Os impactos da expansão da economia chinesa sobre a brasileira podem ser

divididos em duas categorias: indiretos e diretos. No primeiro caso, encontram-se os

fatores relacionados ao vigor da economia internacional no período 2003-2005, mas

também ao fato de que a economia chinesa permitiu atenuar os efeitos da crise

internacional do triênio imediatamente anterior. Os superávits comerciais chineses –

na medida em que contribuem para preencher os déficits em conta corrente dos

Estados Unidos – favorecem a transferência de capitais para as economias

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emergentes, além de elevarem a demanda de outros países que importam produtos

brasileiros. Já os impactos diretos são aqueles vinculados à expansão da demanda

chinesa por commodities agrícolas e minerais, propiciando inclusive uma elevação

do seu preço no mercado internacional. De fato, quando se analisa o perfil das

importações chinesas, observa-se que 19% das importações chinesas de produtos

agrícolas e 7% das importações de produtos minerais são provenientes da América

Latina (OMC).

O Brasil ocupa um papel de relevância no mercado chinês, tendo respondido

por cerca de 48% das exportações latino-americanas para a China em 2006

(UNCTAD) . Por outro lado, em termos de participação chinesa no total das

exportações nacionais, o Brasil aparece em quinto lugar na região, “perdendo” para

Chile, Peru, Argentina e Cuba. O ano de 2003 representou o auge de um padrão de

comércio que tendo se mostrado conjunturalmente favorável ao Brasil, começaria,

entretanto a assumir feições estruturais diferenciadas já a partir de 2004,

estendendo-se aos dias atuais.

Vale lembrar que, entre 1999 e 2003, a corrente de comércio entre os dois

países multiplicou-se por 3,4 vezes. A partir de 2004, este número teve uma

estabilidade, principalmente em função do aumento da produção nacional, fazendo

com que o país importasse menos da China, comparado com os anos anteriores.

Concomitantemente, o Brasil presenciou, uma expressiva elevação do seu saldo

comercial, saindo de um resultado negativo pouco superior a US$ 100 milhões para

um superávit comercial de US$ 2,4 bilhões, o que representou 10% do saldo total

obtido pelo país. As exportações brasileiras para este país ampliaram-se neste

período 400%. A partir de 2004, um novo padrão de comércio passa a ser

desenhado. A corrente de comércio, em apenas um ano, se incrementa em quase

40%, ao passo que o superávit comercial brasileiro regride 27%.

Se a China consolidou a sua posição enquanto maior fornecedor brasileiro de

brinquedos, vestuário e de filamentos sintéticos; o que merece destaque, tanto em

termos de valor exportado como de ganho de market-share, é justamente o

desempenho nos segmentos dinâmicos. No caso das máquinas e aparelhos

elétricos, a China deixou de ser o sétimo exportador brasileiro para ocupar a

primeira posição, “deixando para trás” Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coréia

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do Sul. Desta forma, são poucos os produtos e segmentos com alto valor agregado

em que o Brasil se destaca como exportador para o mercado chinês. A presença de

produtos manufaturados nas exportações para a China situa-se em torno de 17,7%,

contra 54,9% quando se analisa o conjunto das exportações brasileiras

(Secex/Mdic).

Em segmentos como celulose/papel e ferro/aço, o Brasil tende a exportar

produtos do início da cadeia, tendo participação reduzida nas importações chinesas

de produtos acabados.

Estudo recente do IPEA revelou que o número de empresas brasileiras que

exportam para a China vem crescendo de forma acentuada a cada ano. Estas

empresas têm, em média, maiores níveis de produtividade e são mais intensivas em

tecnologia do que a média das empresas exportadoras brasileiras. O fato de que

estas empresas exportem produtos de menor valor agregado para a China deve-se

fundamentalmente à estratégia internacional das empresas chinesas - com elevada

escala de produção e priorizando a geração de valor agregado internamente - para o

que contribui a trajetória macroeconômica seguida pelo país nos últimos vinte anos.

6.3 Os Acordos Político-Comerciais entre Brasil x China

É grande a motivação do governo Lula em colocar as relações Brasil-China

em um novo patamar. Desde 1º de janeiro de 2003, data em que Lula assumiu a

presidência do Brasil, entraram em vigor 18 entendimentos nas áreas de ciência e

tecnologia, esportes, transportes, padrões sanitários e fitossanitários, vistos,

cooperação industrial e comércio e investimentos. Metade desses entendimentos

foram assinados durante a visita presidencial à China em maio de 2004.

Em contrapartida, ao longo dos oitos anos do governo FHC foram assinados

apenas 17 acordos em nove áreas distintas. O posicionamento da China contra a

entrada de novos membros no Conselho da ONU é apontado como a maior prova da

falta de reciprocidade nas relações entre os dois países, ainda que o objetivo tenha

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sido impedir que o Japão ingressasse no órgão e não necessariamente vetar as

aspirações brasileiras. O Brasil teria supostamente cedido no campo econômico e

político (daí a mudança de posição na Comissão de Direitos Humanos) para obter

vantagens políticas, as quais não foram entregues. Mesmo no caso da OMC, a

aliança entre o Brasil e a China no âmbito do G-20 parece se circunscrever ao tema

agricultura, tendendo os dois países a assumir posições crescentemente

divergentes, o que se explica pela diferenciação de suas trajetórias econômicas e

produtivas. Um exemplo é a adesão da China ao Information Technology

Agreement, enquanto o Brasil se recusa a assiná-lo.

Finalmente, nas várias reuniões do G-8, para as quais têm sido convidados os

chefes de Estado brasileiro e chinês, além de outros países em desenvolvimento,

não se tem afirmado uma posição convergente do Sul, capaz de impor políticas e

fazer exigências aos países do Norte.

O potencial de investimento por parte de empresas chinesas também é visto

como estratégico, seja por empresas que vislumbram oportunidades de parcerias,

ou por governos de todos os níveis da federação interessados na melhoria da infra-

estrutura para exportação. Não por acaso, a visita do presidente Lula à China em

2004 foi acompanhada por uma delegação de quase quinhentos empresários e

várias autoridades públicas. Além dos entendimentos em áreas políticas, foram

assinados quatorze entendimentos entre empresas brasileiras e chinesas. Entre

esses entendimentos destacam-se os seguintes acordos de cooperação:

• Entre a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a Shanghai Baosteel Group

Corporation, visando a criação de uma joint venture para a produção de aço no

Maranhão;

• Entre a CVRD e a Aluminium Corporation of China, sobre exploração de bauxita e

produção de alumina no Brasil para exportação ao mercado chinês;

• Entre a Petrobrás e a Sinopec, para exploração de petróleo em terceiros países;

• Entre a China National Machinery and Equipment Import and Export Corporation e

a Central Termelétrica do Sul para a construção de usina termoelétrica a carvão no

Rio Grande do Sul;

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• Entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e o Citic Group, para o

desenvolvimento de projetos de financiamento de joint ventures voltadas à

exportação.

Se na área política não são perceptíveis os resultados da investida

diplomática em favor dos chineses, na área econômica fica evidente a contribuição

dos chineses para os crescentes saldos positivos no balanço de pagamentos do

Brasil, ainda que se levando em conta as ressalvas sobre a pauta comercial

discutidas acima. A julgar pelos desdobramentos dos acordos empresariais, no

entanto, o Brasil também tem muito pouco a comemorar. Nenhum dos acordos

empresariais assinados em maio de 2004 se viabilizou até o momento.

Em síntese, pode-se dizer que os resultados econômicos positivos iniciais

estimularam o governo Lula a “apostar na China”, acreditando que os ganhos

econômicos para o Brasil seriam irrestritos, e que se poderia conceder vantagens

econômicas à China em troca de uma maior projeção da política externa brasileira

no cenário internacional, que contaria com o suposto apoio chinês. A partir de 2004,

aqueles ganhos econômicos foram atenuados, em virtude da configuração de um

novo padrão de comércio, gerando conflitos internos com parte do empresariado

nacional, como veremos adiante, além de não se ter obtido os dividendos políticos.

De qualquer maneira, foram lançadas as bases iniciais para uma parceria

estratégica, que depende, para ser consumada, de uma revisão dos objetivos e

interesses de ambas as partes tanto na arena política como na econômica.

6.4 A Importância do Aço Bruto para a China

Impulsionado pelo crescimento vigoroso dos setores industriais e da

construção civil, o gigante oriental, vem ajudando, desde 2003 até os dias atuais, a

alavancar o setor siderúrgico no mundo e, apesar de responsável por 25% da

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produção mundial, sua fortíssima demanda por aço elevou os preços do produto no

mercado internacional. INDA (2005)

Primeiro lugar no ranking de produtores de aço, a China precisa do produto

para quase tudo: instalar parques industriais, erguer prédios, fabricar automóveis,

entre outras coisas e exportar para o mundo. É exatamente por isso que importa

30% de todo o minério de ferro extraído no planeta; 31% de todo o carvão; e 27%

dos produtos siderúrgicos.

A demanda da China por matérias-primas como o minério de ferro decorre do

fato de o seu modelo de crescimento econômico ser baseado no uso intensivo de

tecnologia moderna e no baixo custo da mão-de-obra especializada. A questão do

suprimento de minério de ferro para a China é muito importante, pois esse produto é

usado na fabricação de aço, o qual possui intensa procura no país.

O minério produzido pelas minas chinesas contém apenas 30% de teor de

ferro, o que confere uma vantagem comparativa ao produto brasileiro no mercado

chinês. O crescimento econômico da China requer um enorme consumo de produtos

derivados do aço, cuja demanda em 2006 alcançou 260 milhões de toneladas

métricas. Por isso, a maioria das siderúrgicas estrangeiras dirigiu-se para o mercado

da China, o maior comprador mundial, com importações de 35 milhões de toneladas

métricas do produto. Os EUA são o segundo maior importador, com 33 milhões de

toneladas métricas.

As siderúrgicas brasileiras são competitivas nesse mercado, como por

exemplo: a Companhia Siderúrgica de Tubarão - (CST), a Usinas Siderúrgicas de

Minas Gerais -Usiminas e a Companhia Siderúrgica Nacional - CSN.

Durante milênios os processos siderúrgicos se difundiram pelo mundo e se

desenvolveram até atingirem o grau tecnológico que hoje o país oriental possui.

Desta forma, é imprescindível destacar que o aço é um das mais importantes

commodities em atividade na China, uma vez que ele é a base de todo um setor

siderúrgico que vem crescendo de forma exponencial e afetando a economia global

de forma bastante agressiva.

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7 CONCLUSÃO

A necessidade de utilização do aço e ferro no dia a dia das pessoas bem

como suas variedades e possibilidades de utilização fazem com que os

investimentos no setor siderúrgico cresçam constantemente e o mercado produza

cada vez mais. O mercado siderúrgico tem fundamental importância na economia

global, pois, através dele, movimenta-se uma gama enorme de outros produtos e

serviços derivados de sua exploração.

Historicamente, nota-se uma evolução gigantesca da siderurgia brasileira.

Desde o descobrimento houve investimentos pesados no setor, sempre pautado

pela idéia de desenvolvimento do Brasil. As várias etapas deste processo contaram

com personagens importantes como Eschwege e Varnhagen que implantaram os

primeiros fornos. Jean Monlevade teve um papel fundamental, pois sua fábrica,

instalada em Minas Gerais, figurava como uma das mais prósperas do império e,

através de produtos de qualidade, tornou-se um dos principais fornecedores de

empresas estrangeiras do setor.

As parcerias foram importantes para atrair os investimentos no Brasil, que se

encontrava estagnados em meados de 1911, a partir daí até a década de 30 foram

investidos milhões de dólares na construção e desenvolvimento do setor siderúrgico

brasileiro. Com isto em vista, Getúlio Vargas decidiu expandir a criou a importante

usina de Volta Redonda. Deu-se início então a criação de grandes corporações que

figuram, algumas delas, até hoje como players do setor.

Idealista por acelerar o desenvolvimento nacional, Getúlio Vargas teve papel

indispensável para o crescimento do país. Em seu governo negociou com

estrangeiros para investirem no setor siderúrgico nacional, o que segundo ele, era o

que brecava o crescimento do país. O ano de 1940 foi um ano decisivo para o Brasil,

pois nessa época foi assinado por Vargas um decreto que resultou na criação da

Usina de Volta Redonda, onde se deu início o desenvolvimento siderúrgico nacional.

Este foi um passo crucial pois a partir de então, os produtores locais passaram a

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dividir a produção nacional com a nova usina, o que deu mais poder ao país, uma

vez que tudo o que era consumido de aço na época era produzido internamente.

Outra parceria importante, porém conturbada, pois contou com um forte poder

político, foi a feita com os americanos, pois disponibilizaram recursos para a

construção da Companhia Siderúrgica Nacional.

Atualmente o setor siderúrgico nacional é composto de grandes empresas

com um poder competitivo muito grande frente aos concorrentes estrangeiros. Seu

parque industrial moderno proporciona um relativo conforto em nível mundial pois

tem capacidade produtiva alta e conta com produtos de alta qualidade. A produção

interna é praticamente suficiente para atender à demanda nacional, tendo o Brasil

que importar um número pequeno de aço de outros países, o que é muito positivo

em se tratando de balança comercial, pois as exportações permanecem num

patamar muito maior do que as importações.

O processo de fusões e aquisições proporciona maior poder de barganha aos

grupos brasileiros, pois unem e ganham forças para competir com grandes

corporações estrangeiras. Além disso, o investimento para atualização de parques

ou até mesmo expansão é diluído e proporciona uma viabilidade maior na escala de

produção e acessos a mercados externos, melhorando sua competitividade. Com a

abertura comercial dos livres mercados é quase que impossível uma companhia

sobreviver sozinha na competição com outras corporações de escala global, faz-se

então necessária a fusão de empresas para proporcionar uma maior competitividade

frente ao livre mercado.

Um exemplo claro da competitividade do setor foi a entrada da China, de

forma expressiva, na economia do setor. Com trajetória macroeconômica

ascendente, o gigante oriental, como é conhecido pelo mercado, vem absorvendo

cada vez mais uma parcela do mercado siderúrgico mundial, impulsionado pelo seu

baixo custo e alto poder de produtividade. As relações comerciais com o Brasil tem

sido muito próximas, uma vez que o país importa muitos produtos da China, além de

representar um dos principais exportadores para a China, conforme dados da

UNCTAD. Porém, como a China tem crescido de forma expressiva e ganhado

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market share em relação a outros países do mundo, torna-se ao mesmo tempo

parceiro e um grande risco para a economia brasileira e mundial.

O maior risco com relação à China está relacionado à produção de diversos

bens de aço contido como o automotivo, bens de capital, bens de consumo, como a

linha branca, os eletrônicos e embalagens. A ampliação da renda per capita da

população tende não só a elevar o consumo interno, incentivando o aumento da

oferta por parte das empresas domésticas, mas também a ampliar as escalas de

produção (o que as vezes pode requerer investimentos). A possibilidade de maior

exportação desses produtos pode colocar em risco empresas estabelecida no Brasil.

Vale ressaltar que diversas empresas multinacionais de vários setores (automotivo e

eletrônico) estão instaladas nos dois países e que as filiais concorrem entre si para

desenvolvimento e produção de novos produtos.

Desta forma, conclui-se que, não só o Brasil, mas toda uma economia global

deve direcionar seus olhos à China, pois, como principal player do setor mundial,

pode ocasionar diversos problemas às economias estrangeiras em função de seu

baixo custo e alto poder de barganha. Investimentos em otimização de processos

produtivos fazem-se necessários para tornar o Brasil mais competitivo frente ao

mercado mundial, redução de custos e ganhos em escala produtiva são fatores

fundamentais para o desenvolvimento e fortalecimento do setor.

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8 REFERÊNCIAS

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