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3 ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃO e RESTAURAÇÃO 2 ° Caderno de Resumos: Comunicações - v.2 São João del Rei - MG 2013

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ENCONTROLUSO-BRASILEIRO de CONSERVAÇÃOe RESTAURAÇÃO

Caderno de Resumos:Comunicações - v.2

São João del Rei - MG2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Biblioteca da Escola de Belas Artes da UFMG, MG, Brasil)

Caderno de resumos expandidos: comunicações- 2° Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração. (2. : 2013 : São João del-Rei)

2. Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração . agosto de 2013. - São João del-Rei: PPGA-EBA-UFMG, 2013- 94p. : Inclui Bibliografia ISBN: 978-85-88587-17-5

1. Artes, 2. Conservação-Restauração. I. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Belas Artes. II. Série

CDD: 700 CDU: 7

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2° Encontro Luso Brasileiro de Conservação e Restauração

Local: Teatro e Anfiteatro da Biblioteca do Campus Santo Antônio - UFSJEndereço: Campus Santo Antônio - Praça Frei Orlando 170 - Centro - São João del-Rei

Coordenação:Yacy-Ara Froner – UFMGLuiz Antônio Cruz Souza – UFMG Gonçalo de Vasconcelos e Sousa

Brasil:Grupos de pesquisa Arche e LacicorCECOREscola de Belas ArtesUniversidade Federal de Minas GeraisPortugal:Departamento de Arte e Restauroda Escola das Artes da UniversidadeCatólica Portuguesa (Porto).CITAR - Centro de Investigação emCiência e Tecnologia das Artes(EA-UCP-Porto).

Realização

Comissão Científica:BrasilAlessandra RosatoAna Panisset Antônio Fernando Batista SantosIsolda MendesJussara Vitória de Freitas Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares Roberto HeidenPortugalCarolina Barata Eduarda Vieira

FAPEMIGPAEP- CAPESPro-reitoria de Extensão - UFMGPro-reitoria de Planejamento - UFMGPro-reitoria de Pós-Graduação - UFMGPPGA-EBA - UFMGUniversidade Federal de São João Del ReyUniversidade Federal do Rio de JaneiroUniversidade Federal de Pelotas

Apoio

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PROGRAMA - SESSÃO DE COMUNICAÇÕES

Dia – 02/08/2013 - Sexta-FeiraComunicação 1 - O Valor da Conservação no Séc. XXI

Sessão de comunicações: Teatro Santo Antônio - UFSJ

16h00 – Ana Paula Correa Carvalho: O usuário como agente de degradação e peça chave da conservação Preventiva

16h20 – Edmar Moraes Gonçalves: Intervenções em livros raros: a necessidade de especialista

16h40 – Sonia Aparecida Nogueira: Conservação de bens culturais em tempos de crise: uma problematização na perspectiva do materialismo histórico

Sessão de comunicações: Anfiteatro Biblioteca – Campus Santo Antônio - UFSJ

16h00 – Rita Lages Rodrigues: Tempos passados, tempos presentes, tempos futuros: tempos dos objetos

16h20 – Enaile Flauzina Carvalho: Preservação e História: documentais manuscritos e a acessibilidade do historiador

16h40 – Fabiana de Lucca Munaier: Reflexões sobre a conservação do patrimônio cultural: valor contemporâneo e função social

Comunicação 2 - Políticas públicas e a gestão do Patrimônio Cultural

Sessão de comunicações: Teatro Santo Antônio - UFSJ

17h00 – Marcos José de Araújo Pinheiro: Política de preservação e gestão de acervos culturais: a experiência da casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz

17h20 – Marília de Azambuja Ribeiro: Hannah Levy e o “Barroco” de Heinrich Wölfflin na revista do Sphan

17h40 – Willi de Barros Gonçalves: Sustentabilidade ambiental: uma problemática contemporânea da ciência da conservação

Sessão de comunicações: Anfiteatro Biblioteca – Campus Santo Antônio - UFSJ

17h00 – Gilcy Rodrigues Marques: A implantação de políticas de preservação em instituições governamentais: o modelo instituído pela câmara dos deputados em Brasília

17h20 – Lara Melo Souza: Entorno da casa bandeirista do Tatuapé

17h40 – Francisco Jose Pinheiro da Silva: Patrimônio cultural: descartar ou restaurar?

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Dia – 03/08/2013 - SábadoComunicação 3 - Novas Tecnologias para a gestão do Patrimônio CulturalSessão de comunicações – Teatro Santo Antônio - UFSJ

13h00 – Thiago Sevilhano Puglieri: Novas estratégias para o monitoramento da degradação de bens culturais em ambientes internos: microbalanças de cristal de quartzo

13h20 – Veronica Coffy Bilhalba dos Santos: Preservação do patrimônio cerâmico: obtenção e análise de uma massa de restauração polivinílica processada por radiação eletromagnética

13h40 – Dora Roque: Processamento Digital de Imagem e Classificação Orientada por Objetos

Sessão de comunicações: Anfiteatro Biblioteca – Campus Santo Antônio - UFSJ

13h00 – Antônio Fernando Batista dos Santos: A pintura de seda fingida do salão nobre da Casa do Inconfidente Padre Toledo em Tiradentes Minas Gerais: conservação, prospecções, diagnósticos e proposta de apresentação

13h20 – Douglas Boniek Silva Navarro: Prospecção de micro-organismos relacionados ao processo de biodeterioração em elementos escultóricos de monumentos históricos de Minas Gerais

Comunicação 4 - O Papel da Ciência da Conservação na gestão do Patrimônio Cul-turalSessão de comunicações – Teatro Santo Antônio - UFSJ

14h00 – Jorge Eduardo Lucena Tinoco: Restauração de azulejos, mosaico e ladrilhos: cases de gestão de restauro

14h20 – Jandira Helena Fernandes Flaeschen: O método de atmosfera anóxia: tratamento atóxico para a desinfestação de acervos bibliográficos

Sessão de comunicações: Anfiteatro Biblioteca – Campus Santo Antônio - UFSJ

13h40 – Ana Maria Barbedo Marques: A análise científica na obra de restauração: o caso das cúpulas em cobre do pavilhão mourisco – Fiocruz

14h00 – Guilherme Alves da Costa Xavier: Contributos no trabalho de conservação inter unidades: tecnologias de tratamento de limpeza de obras em gesso

14h20 – Antonio Gonçalves da Silva: A cápsula do tempo e o uso da radiação ionizante na conservação de acervo documental

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Dia – 03/08/2013 - SábadoComunicação 5 - A Formação do Conservador-Restaurador: graduação e estudos pós-graduadosSessão de comunicações – Teatro Santo Antônio - UFSJ

14h40 – Silvana de Fátima Bojanoski: Elaboração de Terminologias: uma etapa necessária para a estruturação das disciplinas do campo da conservação-restauração

15h00 – Lucienne Maria de Almeida Elias: Análise Científica de Materiais e Técnicas de Esculturas de Aleijadinho: os Passos da Paixão do Sítio do Patrimônio Mundial de Congonhas Minas Gerais

15h20 – Jussara Vitória de Freitas: Degradação de materiais constitutivos da fotografia sobre vidro

Sessão de comunicações: Anfiteatro Biblioteca – Campus Santo Antônio - UFSJ

14h40 – Ana Paula Corrêa de Carvalho: Ensino da preservação na graduação em conservação e restauração de bens culturais móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ: algumas reflexões

15h00 – Maria Regina Emery Quites: Portfólio acadêmico: seis anos de experiência na implantação do Curso de Conservação-Restauração da UFMG

15h20 – Fabiano Cataldo de Azevedo: Da Biblioteca Nacional à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro: traços do ensino de conservação para bibliotecários

INTERVALO

Comunicação 6 - Laboratórios e Centos de Pesquisa voltados para Bens CulturaisSessão de comunicações – Teatro Santo Antônio - UFSJ

16h10 – Agesilau Neiva Almada: Procedimentos para a documentação científica por imagem de bens culturais utilizando luz visível e ajuste cromático

16h30 – Aurea Ferreira Chagas: Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio De Janeiro: um acervo ainda não revelado

16h50 – Daniele Baltz da Fonseca: Grupo de estudo e pesquisa em estuques: preservação do patrimônio cultural através do inventário dos estuques lustrados pelotenses

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O usuário como agente de degradação e peça chave da conser-vação Preventiva: um estudo de caso

Ms. Ana Paula Correa Carvalho – Professora do Curso de Graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ

Lisia Laranjeira Cardoso – Graduanda do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis na Universidade Federal do Rio de Janeiro

Jéssica Ohara Pacheco Chuab – Graduanda doCurso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis na Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ

Em uma das definições usadas atualmente, temos conservação como: “(..) o conjunto de esforços para prolongar ao máximo a existência dos objetos a partir de intervenções conscientes e controladas no ambiente externo ao objeto, como também de intervenções diretas no objeto.”(FRONER; SOUZA; 2008, p. 3.). Podemos entender que essa ampliação da vida útil da obra tem por objetivo fazê-la chegar até as próximas gerações com a mínima possibilidade de leitura, física, estética e histórica. Isso inclui a identificação dos danos existentes e dos possíveis, e o planejamento da prevenção dos mesmos.No caso de um espaço público como uma biblioteca, museu e arquivo, essa tarefa fica ainda mais complicada, pois além dos fatores intrínsecos do próprio material das obras e da instituição em si, ainda se conta com o quesito usuário que muitas vezes é visto em uma dicotomia de ser o objetivo pelo qual a instituição existe, ou seja, aquele que vai usufruir das informações existentes ali, e também ser um dos seus principais meios de degradação em diferentes níveis, desde a oscilação da umidade e temperatura à até mesmo o próprio vandalismo.Por causa disso em alguns casos medidas restritivas são feitas, o que em muitas vezes provocam uma melhor guarda do acervo, mas também a diminuição do número de visitas a determinados lugares e coleções. A questão é que “as instituições são as pessoas que dela participam” (MIRANDA, 1978, p. 4) e se o objetivo é que os acervos das instituições se valorizem e sejam reconhecidas é ilógico afastar os usuários seja conscientemente ou não, o certo é conscientizá-los da postura correta diante das obras.Temos isso mais claramente quando se trata de uma biblioteca universitária onde o fluxo de livros e pessoas é constante e alguns problemas e danos são mais visíveis. Nesses casos é comum culpar o usuário ainda mais, sendo muitas vezes visto como “inimigo” do acervo:

Acusa-se o usuário por sua ignorância e pune-se-o por sua inabilidade. Ao invés de treiná-lo e orientá-lo, prefere-se fechar-se-lhe o acesso às estantes e criar novos controles. Na biblioteca universitária brasileira os leitores são bem informados quantos aos seus deveres (através de regulamentos, vigilância, multas e suspensões) mas, jamais chega a precisar, claramente, quais são os seus direitos.(MIRANDA, 1978, p.7.)

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Dessa afirmação podemos tirar como um dos direitos do leitor ter um livro bem conservado, e outro de saber como contribuir para essa conservação, afinal:

Em uma instituição, tanto o público quanto os profissionais que pertencem ao quadro de pessoal devem estar continuamente formados e informados em relação aos procedimentos de preservação de seus acervos. (FRONER; SOUZA; 2008,p.4.)

Dentro disso é imprescindível que se conheça os danos causados pelo mau uso do acervo desse tipo de biblioteca e planejar campanhas que visem tanto a preservação do material como a in-formação do usuário. E é esse tipo de projeto que está sendo aplicado dentro da Biblioteca José Bonifácio da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro com o apoio do Núcleo de Pesquisa em Conservação e Restauração - NUPECOR da UFRJ.

A Conservação e a sensibilização do usuário dentro da biblioteca.Dentro desse universo da biblioteca universitária, o NUPECOR desenvolvendo um projeto que busca pesquisar os maiores danos causados pelos usuários, participando disso está a Biblioteca José Bonifácio. As duas instâncias entendem que para conservar o acervo é prioritário entender a sua degradação. Com esse enfoque o usuário foi escolhido como meio e fim dessa pesquisa. Meio porque é procurando pelos danos causados por ele é que vamos saber como ocorre a dete-rioração e fim porque é também por ele que isso está será feito, para que ele tenha total usufruto do acervo sem prejudicá-lo.

O projeto ocorrerá em seis etapas: Identificação dos livros mais procurados na biblioteca; análise dos danos causados pelo mau uso, baseada na literatura existente sobre isso; enquete a ser realizada com os usuários sobre o que eles entendem por conservação e como eles a prati-cam; compilação dos dados obtido com as pesquisas; proposta de conservação preventiva com foco no usuário; aplicação da proposta. No momento o projeto se encontra na primeira etapa, contando com o apoio de uma equipe solícita da biblioteca que já vinha notando a necessidade da sensibilização do usuário. Entendendo sempre que a conservação pode ser feita em um ob-jeto, mas visa pessoas.Através da percepção do que são conservação e conservação preventiva, e do para quem elas se dirigem é possível canalizar esforços para projetos que busquem a união da preservação do acervo e a valorização do usuário. Esse entendimento está sendo aplicado no trabalho dentro da Biblioteca José Bonifácio, ainda no inicio, mas mostrando a possibilidade de uma troca de conhecimentos para o mesmo objetivo: preservar.

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Intervenções em livros raros: a necessidade de especialista

Ms. Edmar Moraes Gonçalves – Fundação Casa de Rui Barbosa

Este trabalho trata do desenvolvimento de uma pesquisa na área de preservação de livros raros, através do estudo das encadernações e seus elementos estruturais na coleção Rui Barbosa. Apresenta os resultados de dissertação de mestrado defendida na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil em 2008 e sua aplicação atual nas intervenções ao acervo de livros raros da Fundação Casa de Rui Barbosa. Procura também dar um panorama atual da restauração de livros raros no Brasil, apontando a necessidade da criação de um curso de especialização em conservação-restauração de livros raros em uma instituição brasileira.

O objetivo da investigação foi criar uma tipologia que possa auxiliar na identificação das estruturas das encadernações de livros do século XIX no Brasil (GONÇALVES, 2008), tomando como estudo de caso os livros raros selecionados a partir da coleção Rui Barbosa, pertencentes à Fundação Casa de Rui Barbosa, órgão do Ministério da Cultura localizado no Rio de Janeiro, Brasil.

Como metodologia, foi feito um levantamento sobre as Tipografias e Oficinas de encadernações que funcionavam no Brasil durante o século XIX; foi realizada a caracterização da tecnologia de construção das encadernações existentes na Fundação Casa Rui Barbosa, incluindo ilustrações, demonstrando e detalhando diferentes estruturas das encadernações desse período presente na coleção; realização de estudo codicológico e estudo de manuais de encadernações desse período; estudo de seus elementos construtivos, como: fios de costura, cabeceados, cordões, barbantes, cadarços, materiais de reforços das lombadas, fechos etc.

No Brasil, existem grandes coleções de livros raros e podemos destacar como referência as coleções de livros trazidas pela família real que se encontram na Biblioteca Nacional, Gabinete Português de Leitura, Museu Nacional, Museu Histórico Nacional, Museu Imperial, assim como, em outras instituições de igual importância como a Biblioteca Mário de Andrade, Biblioteca de José Mindlin (doada para a USP) e Bibliotecas católicas, Bibliotecas Universitárias, coleções privadas, Bibliotecas Municipais e Estaduais. No entanto, não existe um levantamento tipológico das encadernações, nem tampouco dos materiais e técnicas empregadas. Isso representa um desafio para os conservadores-restauradores, já que é necessário um conhecimento detalhado sobre essas técnicas de encadernações para a execução de procedimentos de conservação e restauração em livros raros. Dessa maneira, por meio desta pesquisa, está sendo possível o desenvolvimento mais acurado de projetos de conservação-restauração de livros raros no Brasil a partir do conhecimento de sua tecnologia de construção e procura responder às questões dos conservadores-restauradores no que tange a uma lacuna específica dessa área de conhecimento: o conhecimento das técnicas de encadernação.

Existe uma carência muito grande na área de informação e conhecimento especializado de tecnologia de construção de estruturas de livros e de encadernações antigas. Diante dessa carência, as instituições públicas, privadas e colecionadores de livros raros, quando necessitam executar intervenções nessas obras, deparam com um problema nem sempre bem resolvido. Por conta disto, muitas obras acabam passando por tratamentos de intervenções feitos por pessoas não capacitadas, comprometendo sua originalidade e, com isso, perdem vestígios e testemunhos históricos para sempre.

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Alguns estudos sobre encadernações já foram realizados, mas em sua maioria dando ênfase apenas às ornamentações e decorações, com interesse especial em encadernações de luxo e quase nada sobre sua tecnologia de construção e estruturas (RUIZ, 2002).

Todo tratamento de conservação-restauração em livros raros somente deve ser desenvolvido por um conservador-restaurador especializado, que tenha conhecimento técnico-científico sobre a obra, seus materiais constitutivos e suas técnicas de construção. Deve também ser capaz de avaliar seu estado de conservação, as causas de deterioração e ter capacidade de intervir na obra, para solucionar o problema, utilizando critérios e técnicas adequadas para sua preservação. Essas intervenções devem ser as mínimas possíveis, sempre em busca da permanência e da manutenção das características originais da obra. Todos os processos devem ser executados utilizando materiais de qualidade de conservação e que possam ser reversíveis. A base conceitual definidora neste processo requer que não apenas se recupere a aparência externa do livro, mas que se preserve os indícios, as características e o próprio formato da tecnologia de construção da obra.

Apesar da existência de cursos técnicos e de graduação em conservação-restauração de bens culturais no Brasil, há uma lacuna na especialização de conservadores-restauradores de livros raros - faltam ofertas de cursos nesta área. O profissional que tem interesse precisa buscar a especialização muitas das vezes fora do Brasil.

São poucos os centros especializados existente no Brasil para manter a demanda cada vez mais crescente na execução de tratamento de livros raros. Os poucos especialistas estão concentrados nas instituições públicas que contam com laboratórios e, alguns deles, em atelier particular. A Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada no Rio de Janeiro, através de seu Setor de Preservação, é uma referência no tratamento de livros raros, atendendo às necessidades dos acervos e oferecendo cursos, seminários, estágios orientados e bolsas de pesquisas na área de preservação, mas isso ainda é muito pouco. Se levarmos em conta o universo de obras raras, que se encontram em todo o País necessitando de cuidados e de socorro urgente poderemos perceber o quão grave é a situação atual. Para resolver essa questão, estamos sugerindo a criação de um grupo de estudo, uma disciplina ou uma linha de pesquisa onde pudesse ser discutido a criação de uma especialização em conservação-restauração de livros raros dentro das universidades em parcerias com instituições de pesquisa ou em programas específicos de pós-graduação.

Referências » GONÇALVES, Edmar Moraes. Estudo das estruturas de encadernações de livros do século

XIX na coleção Rui Barbosa: uma contribuição para a conservação-restauração de livros raros no Brasil. UFMG/Escola de Belas Artes, 2008 (Dissertação de Mestrado em Artes).

» RUIZ, Elisa Garcia. Introducción a la codicologia. Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 2002.

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Conservação de bens culturais em tempos de crise: uma problema-tização na perspectiva do materialismo histórico-dialético

Dra. Sonia Aparecida Nogueira – Departamento de Patrimônio Histórico/COC/Fundação Oswaldo Cruz

Esta comunicação se refere a uma investigação de caráter teórico sobre a categoria profissional necessária para a realização do trabalho especializado de conservação e restauração de bens culturais, a partir da perspectiva do materialismo histórico-dialético, e da crítica ontológica da economia política, como se encontra no legado teórico e metodológico de Karl Marx.

A partir de uma historicização das determinações sociais, históricas e epistemológicas que consagraram o conceito de patrimônio cultural, se trata de uma problematização sobre seu estatuto jurídico conquistado na cultura ocidental moderna, desde suas origens no contexto da revolução liberal-burguesa no século XIX, chegando às contradições e desafios da realidade contemporânea, sob a hegemonia do sistema do capital em sua fase da globalização neoliberal. Ou seja, sobre as possibilidades de uma reflexão sobre o lugar do patrimônio cultural face aos impasses do mundo atual, sobretudo no contexto de crise do capitalismo e a conseqüente associação à crise da civilização.

Formação e trabalho de preservação dos bens culturaisDentre as questões que envolvem a preservação do patrimônio histórico-cultural, a ênfase nessa apresentação se refere à especificidade dos requisitos teóricos e práticos para a sua formação profissional, analisada do ponto de vista da centralidade do trabalho como é concebida pela teoria crítica, e da perspectiva da ontologia do ser social.

Apesar de muitos avanços, com diferentes graus de dificuldade entre os países, atualmente se pode assumir que a questão da transferência de conhecimentos e habilidades para a formação de recursos humanos adequados à responsabilidade da gestão, a conservação e restauração de bens culturais, ainda não está totalmente resolvida.

O trabalho do conservador-restaurador, concebido como uma categoria qualificada e reconhecida legalmente, que conta com os conhecimentos teóricos das humanidades e das ciências, e as habilidades manuais necessárias, tendo em vista as particularidades locais e nacionais, não tem existência equivalente à respectiva evolução da teoria que o justifica.

A presente análise objetiva uma especulação sobre o tema desse perfil profissional, seu papel social e ético, inserindo-o nas novas condições sociais e históricas que sustentam a chamada pós-modernidade. Contexto que subverte os fundamentos da Ilustração para a explicação dos fenômenos, consagrando a reificação da realidade, o efêmero, o consumismo exacerbado, o narcisismo, através de poderosos meios de persuasão da indústria cultural.

Desafios contemporâneos para a preservação do patrimônio culturalCom relação às mediações entre a economia política e as particularidades socioculturais, se destaca a intensificação da degradação das condições de trabalho e vida, a miséria material e espiritual, as desigualdades, e a reedição do termo que talvez melhor caracterize a civilização moderna: crise.

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A despeito de muitas ações e investigações em todo o mundo com respeito à proteção das coleções e monumentos, especailamente desde a criação da Lista do Patrimônio Mundial (1972), a lista de bens em perigo é alarmante. Na conjuntura atual, o poder do Comitê do Patrimônio Cultural é bastante limitado, a pesar de sua competência para inscrever candidatos à Patrimônio da Humanidade, assim como para promover eventos de sensibilização e mobilização na sociedade, em termos internacionais.

No âmbito da sociologia da cultura, a crítica do capitalismo tardio em torno às suas mudanças na base produtiva e da organização no mundo do trabalho no enfoque da formação ontocriativa e da objetivação dos indivíduos através do trabalho, permite tanto a explicação da invenção do patrimônio cultural, e a necessidade de sua preservação, como também identifica seu potencial transgressor, de acordo com a insistente defesa da emancipação humana. O que signica introduzir a dimensão política e ética nesse debate, face às contradições e encruzilhadas da sociedade liberal-burguesa e o modo de produção capitalista da existência.

Referencias » ANDERSON, Perry. As origens da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Editor,1999. Tradução: Marcus Penchel.

» CHOAY,Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, [1992] 2006. Tradução: Luciano Vieira Machado.

» FEILDEN, Bernard M. Introduction to conservation of cultural property. Rome: UNESCO, 1979.

» JAMENSON, Frederic. Pós-Modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Editora Ática, 2006.

» MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos [1844]. São Paulo: Boitempo, 2004. Tradução: Jesus Ranieri.

» ______, O capital. Livro I, Volume 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Tradução: Reginaldo Sant’Anna.

» ______, ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. . São Paulo: Martins Fontes, [1845] 2007. Tradução: Luis Claudio de Castro e Costa.

» NETTO. José Paulo. Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. São Paulo: Cortez, 2007.

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Tempos passados, tempos presentes, tempos futuros: tempos dos objetos

Dra. Rita Lages Rodrigues - Professora do Curso de Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis – EBA- UFMG

Introdução Por entender a importância da reflexão sobre o tempo das obras para a formação do conservador-restaurador, o trabalho a ser apresentado se propõe a discutir a dimensão temporal dos objetos. A discussão sobre o tempo nas obras deve estar sempre presente no trabalho do conservador-restaurador, em suas escolhas. A proposta desta comunicação é realizar uma discussão teórica-conceitual acerca do tempo em relação ao objeto. A discussão será realizada a partir dos textos de dois autores fundamentais da moderna teoria da restauração, Cesare Brandi e Viñas, e também de reflexões sobre o tempo realizadas pelo historiador Reinhart Koselleck.

A perspectiva temporal mostra-se fundamental para o conservador-restaurador que deve pensar o objeto no tempo, em sua tríplice dimensão, passada, presente e futura. A ação do conservador-restaurador, no presente, relaciona-se ao tempo passado do objeto, que deve ser pensado em sua existência temporal e na ação do tempo, e também ao tempo futuro, tendo em vista sua ação que busca a permanência do objeto.

Cesare Brandi (2004) fala sobre essa perspectiva temporal do objeto ao abordar a instância da historicidade, ao tratar da ruína, das adições e dos refazimentos e trata do tempo em um aspecto fenomenológico. A perspectiva temporal é abordada em três momentos diversos na obra de arte: “...em primeiro lugar como duração ao exteriorizar a obra de arte enquanto é formulada pelo artista; em segundo lugar como intervalo inserido entre o fim do processo criativo e o momento em que nossa inteligência atualiza em si a obra de arte; em terceiro lugar como átimo dessa fulguração da obra de arte na consciência.” (BRANDI, 2004, p. 54). Brandi defende a instância estética: “Além disso, uma instância similar, de conservação integral para todos os estados através dos quais a obra passou não deve transgredir a instância estética.” (BRANDI, 2004, p. 75).

A restauração, para Brandi, visa o restabelecimento da unidade potencial da obra, sem a produção do falso artístico e sem a remoção das marcas presentes na obra que caracterizam a passagem do tempo. Viñas diz que o processo de restauração não deve alterar os significantes de uma obra de arte, ao considerar seu valor simbólico e historiográfico.

As diversas temporalidades da obra de arte devem ser pensadas a partir da permanência. É Koselleck quem nos aponta as marcas do tempo histórico:

Quem procura encontrar o cotidiano do tempo histórico deve contemplar as rugas no rosto de um homem, ou então as cicatrizes nas quais se delineiam as marcas de um destino já vivido. Ou ainda, deve evocar na memória a presença, lado a lado, de prédios em ruínas e construções recentes, vislumbrando assim a notável transformação de estilo que empresta uma profunda dimensão temporal a uma simples fileira de casas; que observe também o diferente ritmo dos

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processos de modernização sofrido por diferentes meios de transporte, que, do trenó ao avião, mesclam-se, superpõem-se e assimilam-se uns aos outros, permitindo que se vislumbrem, nessa dinâmica, épocas inteiras. Por fim, que contemple a sucessão das gerações dentro da própria família, assim como no mundo do trabalho, lugares nos quais se dá a justaposição de diferentes espaços da experiência e o entrelaçamento de distintas perspectivas de futuro, ao lado de conflitos ainda em germe. (KOSELLECK, 2006, p. 13-14)

O historiador observa os objetos, temporaliza-os, reflete sobre o próprio tempo, sobre o próprio conceito de tempo que marca o seu fazer histórico. O trecho acima mais do que falar dos objetos, fala da existência humana em relação ao tempo. E as obras devem ser pensadas como frutos da produção humana e do tempo dos homens. O tempo dos homens no momento de produção da obra, de seu processo de significação ao longo do tempo e do tempo presente do conservador-restaurador, são essenciais para a reflexão sobre objetos e tempo, sobe homens e tempo.

Koseleck dimensiona o tempo a partir de uma reflexão antropológica, pela relação que o historiador estabelece entre passado e futuro, mostrando a constituição do tempo histórico a partir do “processo de determinação da distinção entre passado e futuro, ou, usando-se a teminologia antropológica, entre experiência e expectativa, constitui-se algo como um “tempo histórico.” (KOSELLECK, 2006, p. 16). O futuro também é parte integrante da relação do conservador-restaurador e do historiador com o tempo, enquanto expectativa.

A perspectiva temporal histórica é de fundamental importância para o fazer do conservador-restaurador. Existem vários pontos de aproximação entre as reflexões necessárias ao conservador-restaurador para restaurar os objetos e o historiador que reflete sobre o tempo dos documentos. A aproximação entre as reflexões sobre o tempo entre os dois campos, a conservação-restauração e a história, é essencial para a formação do conservador-restaurador que muito mais do que um executor de técnicas é alguém que reflete sobre o seu fazer e realiza escolhas a partir da reflexão.

Referências » BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.

» VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoría contemporánea de la Restauración. Madrid: Editorial Sintesis, 2004.

» KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, Editora PUC Rio, 2006.

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Preservação e História: documentais manuscritos e a acessibilidade do historiador

Ms. Enaile Flauzina Carvalho – doutoranda em História - FAFICH-UFMG

IntroduçãoAo longo de minha formação acadêmica venho desenvolvendo pesquisas com fontes manuscritas relacionadas ao Período Colonial do Brasil. Assim sendo, tal empreitada de pesquisa exige um constante retorno aos arquivos e leitura de fontes documentais manuscritas, o que exige um considerável tempo. Importante destacar que compete ao historiador identificar o que por ele será considerado como fonte, as circunstâncias de produção desses documentos, sua importância contextual, conferindo a finalidade e destino dos mesmos quando produzidos. Diante de objetos de pesquisas recuados aos séculos coloniais, surgem questões quanto o acesso às fontes primárias, bem como as dificuldades que envolvem a leitura de manuscritos. A presente exposição tem como propósito evidenciar questões que envolvem o trabalho do historiador na atualidade, bem como alguns mecanismos e técnicas voltadas a preservação e conservação de fontes manuscritas que apesar de num primeiro momento terem como foco a manutenção dos acervos documentais, transformaram o ofício do historiador.

Entre manuscritos e históriasDiante de farta documentação, redigida a mão e em português arcaico, cabe aqui destacar uma importante fase da pesquisa, muitas vezes ignorada pelos leitores do trabalho final, que seja a organização e leitura do corpo documental que servirá de fonte empírica na comprovação das questões impostas pela pesquisa do historiador. Evidenciar o trabalho conferido aos documentos se torna importante na medida em que os compreendo como base para a comprovação empírica de uma análise histórica (KARNAL & TASCH, 2009).

Com relação aos manuscritos, Arlette Farge (2009:59) assim os descreve:

Paciência de leitura; em silêncio, o manuscrito é percorrido pelos olhos através de numerosos obstáculos. Pode-se tropeçar no defeito material do documento: os cantos corroídos e as bordas danificadas pelo tempo engolem as palavras; o que está escrito na margem [...] geralmente fica ilegível, uma palavra que falta deixa o sentido em suspenso; às vezes as partes de cima e de baixo do documento sofreram danos e as frases desapareceram, isto quando não é na dobra [...] que se constatam rasgos, portanto ausências.

Pela citação evidenciam-se algumas das muitas dificuldades em se trabalhar com documentação manuscrita, dificuldades que aumentam, em muito, dependendo dos locais de guarda e a distância entre os mesmos. Destarte, o trabalho do historiador depende, em grande parte, da acessibilidade às fontes primárias. Pois, coadunando com Antoine Prost (2012:76), creio que:

[...] não há questão sem documento. O historiador nunca se limita a formular uma ‘simples questão’ – até mesmo quando se trata de uma questão simples – porque, em seu bojo, traz uma ideia das fontes documentais e dos possíveis

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procedimentos de pesquisa. Ela supõe já um conhecimento mínimo das diversas fontes eventuais e imagina sua utilização por métodos que já tenham sido experimentados em outras pesquisas... Voltamos a encontrar outro círculo vicioso: é necessário ser já historiador para ser capaz de formular uma questão histórica.

Portanto, o desenvolvimento de novas técnicas de preservação e de acessibilidade aos acervos permite facilitar a coleta e a leitura das fontes, realizadas no sentido de problematizar a história. Como expõe Certeau (2011:41): “[...] tornar pensáveis os documentos de que o historiador faz um inventário”. Em outro trecho, com relação à referida tendência do fazer história, continua o mesmo autor:

Esta perspectiva, cada vez mais comum hoje em dia, leva o historiador às hipóteses metodológicas de seu trabalho, à sua revisão através de intercâmbios pluridisciplinares, aos princípios de inteligibilidade suscetíveis de instaurar pertinências e de produzir ‘fatos’ e, finalmente, à sua situação epistemológica presente no conjunto das pesquisas características da sociedade onde trabalha (CERTEAU, 2011:41).

Assim, técnicas e metodologia de estudo das fontes se tornam indispensáveis para a produção historiográfica. Compete ao historiador fazer previamente um estudo da bibliografia produzida sobre o contexto que pretende analisar. Ou seja, aliando novas tecnologias e o fazer do historiador se garante tanto a preservação dos acervos manuscritos quanto o acesso as fontes, indispensáveis na pesquisa historiográfica.

Ao longo dos anos que venho frequentando arquivos observo o emprego das novas tecnologias de reprodução e divulgação de fontes históricas. Por um lado, tal fator favoreceu a pesquisa no sentido de permitir ao historiador acesso por meio digital de documentos, anteriormente apenas consultados in loco. Por outro lado, a corrida por digitalizar acervos documentais pode se tornar outro método de perda de informação quando tal técnica não se vincula com a confecção de um inventário informativo, que permita ao historiador um conhecimento prévio do conteúdo do acervo. Mesmo com resalvas, creio que o século XXI abriu novas perspectivas para a pesquisa histórica, facilitando o acesso e a consulta a vários acervos, apesar de muitos arquivos ainda se encontrarem de forma precária.

Referências » CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes. 3ª Ed. Rio de

Janeiro: Editora Forense, 2011.

» FARGE, Arlette. Lugares para a história. Trad. Fernando Scheib. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2011.

» _____. O sabor do Arquivo. Trad. Fátima Murad. São Paulo: Editora da Universidade de

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São Paulo, 2009.

» HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores veem. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

» KELMER MATHIAS, C. L. . Escrituras de procuração bastante: potencialidade e possibilidades de análise, o caso de Minas Gerais na primeira metade do século XVIII. In: III Simpósio Impérios e Lugares do Brasil: itinerários da pesquisa histórica. Métodos, fontes e campos temáticos, 2010, Mariana. Anais do III Simpósio Impérios e Lugares do Brasil: itinerários da pesquisa histórica. Métodos, fontes e campos temáticos, 2010. v. 1. p. 1-15.

» PINSKY, Carla Bassanezi & LUCA, Tânia Regina de (Orgs.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.

» PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

» REVEL, Jacques. A invenção da sociedade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

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Reflexões sobre a conservação do patrimônio cultural: valor con-temporâneo e função social

Fabiana De Lucca Munaier – UFMG (MACPS)

Introdução O patrimônio constitui registro de cultura, expressão artística e história. Por isso há de ser analisado com cautela e precisão, visando jamais comprometer sua integridade, além de conferir-lhe estabilidade. Os bens que formam o patrimônio cultural são modos de criar e fazer tradição que diferem um povo de outro e inclui a herança e os bens produzidos pelos segmentos hegemônicos em cada tempo histórico. Preservar a memória de fatos, personagens ou manifestações, por meio de construções que as comemoram, narram ou representam, é uma prática que diz respeito a todas as sociedades humanas, e se apresenta em cada uma delas nas mais variadas formas, que vão de acordo com seus valores.

Nesse sentido, torna-se importante discutir tal questão e como ela se posiciona a respeito da conservação nos dias de hoje. Essa ponderação ajuda a compreender como se articulam os discursos a respeito do patrimônio e a importância da conservação para a função social exercida pelos bens culturais. Com esse objetivo, a reflexão proposta será baseada em uma pesquisa de mestrado que teve como referencial empírico o Largo e a Capela do Ó em Sabará. Esta edificação, apesar de tombada, não possui representatividade sem considerar seu estado de conservação, a relação com a sociedade e o entorno. Como aponta Castriota (2009, p. 89), não há que se pensar apenas na edificação, no monumento isolado, mas, perceber as relações que os bens culturais apresentam entre si e como o meio ambiente urbano é fruto dessas relações. Na questão patrimonial em sua extensão contemporânea não interessa apenas o valor arquitetônico, histórico ou estético, mas sim, a articulação entre os elementos como um todo. Ou seja, preservar o equilíbrio da paisagem do ambiente urbano inter-relacionado e a própria paisagem natural que se trata de qualidade de vida e possibilidades de desenvolvimento do homem.

Neste contexto, é preciso também reconhecer a importância do valor intangível do patrimônio. Estamos diante de uma configuração espaço-temporal, onde a proxêmica se reassume em um novo entendimento, sob um patamar híbrido. Diferente da lógica cartesiana que produz dicotomias e coloca em lados opostos aquilo que na prática é inseparável, a concepção atual sugere um processo circular e de retroalimentação na geração dos bens materiais e imateriais. Os valores sociais, culturais e ambientais são fundamentais para a preservação, mas não podem ser dissociados (THROSBY, 2001, p.4). Eles servem para que a comunidade se aproxime das ações voltadas à conservação dos bens locais. Engessar a patrimonialização coloca em risco os valores contemporâneos e a continuidade dos mesmos. As ações que intervêm na manutenção do patrimônio precisam ser pensadas em conjunto. Assim, a conservação tende a fortalecer identidades, afastar o esquecimento e o sentimento de pertença.

Função social e valor do patrimônio cultural: a importância da conservaçãoPor que devemos conservar o patrimônio cultural? Qual é o valor desta prática na contemporaneidade? Quais seriam as funções sociais atreladas e desempenhadas pelo patrimônio conservado? E quais são os valores atribuídos atualmente ao patrimônio? Essa discussão acompanha o perfil da nação contemporânea que é impregnada de pluralismos. Choay (2001, p.17) considera que apesar de grandes obras e monumentos datarem de outros

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séculos, todas as questões levantadas em relação ao patrimônio são ainda muito atuais, tendo em vista a dificuldade em articular a diversidade estilística, política, social e econômica. Entretanto, ela coloca que apesar desse empecilho há possibilidade de um consenso a favor de valores científicos, estéticos, memoriais, sociais e urbanos.

Os valores são referências culturais socialmente reconhecidas, que direcionam os sujeitos na vida habitual, sobre como devem proceder. Eles mudam e manifestam conforme o que cada sociedade impõe como correto e ao mesmo tempo regem suas relações. Sua materialidade está atrelada às práticas sociais que exprimem modelos de comportamento. Estes podem ser prezados ou proscritos e acionam a identificação ou repulsa dos sujeitos. Conceitos, crenças e saberes partilhados, acabam por ser frequentemente reelaborados em função de reorganizações exigidas pela sociedade. Esse movimento reformula e atualiza valores preexistentes, resultando na modificação das “bases comuns”. Maffesoli (1996, p. 25) indica que há uma dinâmica sempre renovada e plural que exprime o politeísmo dos valores nas diversas situações sociais. Portanto, os valores são efêmeros e acompanham a visão de mundo, sejam ela fatos objetivos, normas sociais ou conteúdos subjetivos.

No âmbito do patrimônio cultural sua acepção acompanha a centralidade contextual de cada época onde a relação com o passado, com a memória e com a história altera-se. Choay (2001, p.14) comenta que a noção de monumento e práticas de conservação extravasou o limite europeu, onde por muito tempo ficaram circunscritas e tiveram origem. Para a autora, o patrimônio cultural indica bens destinados ao usufruto da comunidade ampliada a dimensões planetárias que congrega seu passado comum através da diversidade de objetos continuamente acumulados e remete a uma instituição e a uma mentalidade ao mesmo tempo. Ou seja, ele exerce funções que interferem na maneira de pensar a conservação, que mais contemporaneamente “tem buscado atender também outras questões ligadas ao uso e operação, como [...] seus impactos sócio-econômico-ambientais na vizinhança” Essa problemática complexa é abordada através de estratégias multidisciplinares que superam uma perspectiva linear de produção na arquitetura. (GONÇALVES, 2008). Enfim, atualmente o patrimônio possui também um papel social, tornando essencial a conservação, que garante sua permanência.

Apesar de divergências, lacunas em aberto e pontos ainda a esclarecer, existe um consenso no que diz respeito à importância da conservação. O tom contemporâneo é mais otimista para a busca e proposição de soluções eficazes. As falhas existem, são apontadas e duramente criticadas, mas o foco atual está também voltado para a tentativa de romper com paradigmas que não atendem os anseios mais recentes, e compreender o enredo das relações sociais, físicas e biológicas.

A mudança de valores que altera o foco rígido de sentir e perceber o patrimônio cultural é característica relevante quando se fala em hedonismo como uma propriedade transversal. Portanto, percebe-se que o discurso sobre a conservação alcançou mais uma fronteira, e para superá-la quer se desvestir de alguns valores e se apropriar de outros em uma mudança de postura mais condizente com o período em que vivemos.

Por tudo isso, a cooperação para preservação do estado da arte e suas formas de comunicação com o passado, preservando a memória, e com o presente, quando entende as transformações e acontecimentos atuais buscando um novo fazer, além de conhecimento da realidade concreta significa que qualquer contribuição feita no sentido de enriquecer o instrumental disponível, ou revelar aspectos previamente desconhecidos, será reconhecida como item fundamental para a conservação no século XXI.

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Referências » CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São

Paulo: Annablume, Belo Horizonte: IEDS, 2009.

» CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade: Editora Unesp, 2001.

» GONÇALVES, Willi de Barros, SOUZA, Luiz Antônio Cruz e FRONER, Yacy-Ara. CADERNO 6: Tópicos em Conservação Preventiva - edifícios que abrigam coleções. Escola de Belas Artes. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. MG, 2008.

» MAFFESOLI, Michel. No Fundo das Aparências. Trad. Bertha Halpern Gurovitz. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

» THROSBY, David. Sustainability in the conservation of the built environment: an economist’s perspective. In: TEUTONICO, J. M.; MATERO, F. Managing Change: Sustainable Approaches to the Conservation of the Built Environment. Los Angeles: The Getty Conservation Institute, p.3-10, 2001.

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Política de preservação e gestão de acervos culturais: a eperiência da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz.

Dr. Marcos José de Araújo Pinheiro - Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

Ms. Carla Maria Teixeira Coelho - Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

Ms. Liene Wegner - Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

Introdução A Casa de Oswaldo Cruz (COC) tem empreendido esforços para estimular uma abordagem sistêmica na gestão dos acervos sob sua guarda, para criar mecanismos que facilitem a aproximação entre as áreas responsáveis pelos acervos e que promovam a formação de recursos humanos e a pesquisa na área de preservação do patrimônio cultural.

Criada em 1985, a COC é a unidade técnico-científica da Fiocruz responsável pela preservação da memória da instituição e pelas atividades de pesquisa, ensino, documentação e divulgação da história da saúde pública e das ciências biomédicas no Brasil. Atualmente, sua equipe técnica atua na preservação de edifícios históricos, sítios urbanos, acervos arquivísticos, bibliográficos e museológicos que representam importante fonte de conhecimento.

Com o objetivo de estabelecer um novo patamar de organização e maior integração das ações entre os diferentes agentes institucionais, a unidade propôs e coordena desde 2010 o projeto Complexo de Preservação e Difusão dos Acervos Científicos e Culturais da Saúde – CPDACCS, cujo objetivo é estabelecer a infraestrutura necessária para a preservação do patrimônio científico e cultural da instituição, bem como contribuir para a gestão da qualidade e do conhecimento na Fiocruz (PINHEIRO et al., 2011).

Ainda em 2010 a COC criou o curso de Especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde, que reúne em seu corpo docente profissionais que atuam em diversas áreas da Fiocruz e em outras instituições, como Universidade Federal do Rio de Janeiro e Fundação Casa de Rui Barbosa. Através da interdisciplinaridade o curso, que oferece dois perfis de conclusão - patrimônio documental e patrimônio arquitetônico - busca qualificar profissionais, abordando as diferentes técnicas e as práticas de preservação e de gestão do patrimônio das ciências e da saúde.

Como resultado da maior integração observada entre as diferentes áreas da unidade foi identificada a necessidade de elaboração de uma Política de Preservação e Gestão de Acervos que estabelecesse princípios teóricos e diretrizes gerais comuns para os acervos da COC.

Processo de elaboração da Política de preservação e gestão de acervos culturais das ciências e da saúdeNo começo de 2012 foi instituído pela Direção da unidade um grupo de trabalho composto por integrantes dos diferentes departamentos e coordenado pela Vice-direção de Informação e Patrimônio Cultural. O GT é composto por profissionais com formação em arquitetura e urbanismo, arquivologia, biblioteconomia, engenharia, história, museologia e relações internacionais.

A partir das discussões iniciadas na Sub-câmara de Patrimônio Cultural da COC organizou-se

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uma agenda de reuniões semanais, um cronograma de validação do documento e a divisão do trabalho em três fases: a) levantamento, apresentação e discussão de textos de referência; b) definição da estrutura do documento; c) redação do texto.

O documento base elaborado, publicado no Portal da Casa de Oswaldo Cruz, propõe a gestão integrada dos acervos, estabelece diretrizes gerais norteadoras para programas e ações de médio e longo prazo, define responsabilidades e prevê sua atualização periódica (CASA DE OSWALDO CRUZ, 2013).

Foram definidos ainda seis programas de preservação e gestão comuns aos acervos, a serem desenvolvidos em uma etapa posterior do trabalho: Programa de incorporação; Programa de tratamento técnico; Programa de conservação e restauração; Programa de segurança; Programa de acesso, empréstimo e reprodução; e Programa de difusão cultural.

Considerações finaisA elaboração do documento base da Política de Preservação e Gestão de Acervos Culturais das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz é resultado de um longo processo que antecede a instalação do grupo de trabalho responsável por essa tarefa. É fruto do aprimoramento dos processos de trabalho e dos instrumentos de planejamento e gestão institucional da COC e da Fiocruz. Reflete ainda as discussões observadas no contexto externo à instituição, relacionadas à ampliação do conceito de patrimônio cultural e a necessidade de maior sistematização do conhecimento gerado pelas ações relacionadas à sua preservação.

O processo de construção coletiva do documento tem contribuído para uma maior integração entre as diferentes áreas da instituição envolvidas. O presente artigo busca apresentar o processo de elaboração da Política de Preservação e Gestão de Acervos Culturais das Ciências e da Saúde e refletir sobre as possíveis contribuições desse trabalho para o fortalecimento da preservação do patrimônio enquanto área de conhecimento.

Referências » CASA DE OSWALDO CRUZ. Política de Preservação e Gestão de Acervos Culturais das

Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz, 2013. Disponível em: <http://www.coc.fiocruz.br/patrimonio/images/stories/PDFs/politica_preservacao_gestao_acervos_coc.pdf>. Acesso em 19 abr. 2013.

» PINHEIRO, M. J. A. ; ELIAN, P. R. ; COELHO, C. M. T. . Complexo de Preservação e Difusão de Acervos Científicos da Saúde. In: Conference on Technology, Culture and Memory - CTCM. Strategies for preservation and information acess, 2011, Recife. Anais...Recife: LIBER/UFPE, 2011, p.1-12.

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Hannah Levy e o “Barroco” de Heinrich Wölfflin na Revista do Sphan

Dra. Marília de Azambuja Ribeiro – UFPE – Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco

Angélica Cristina de Paula Botelho – UFPE - Graduanda junto ao curso de Licenciatura em História da Universidade Federal de Pernambuco, bolsista de Iniciação Científica pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE).

Introdução Para os agentes do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Sphan-, o patrimônio nacional era concebido como um elo entre a “civilização” europeia e o Brasil, identificado a partir dos valores culturais universais segundo os padrões determinados pela historiografia produzida naquele continente. Portanto, assim como no contexto europeu, o patrimônio nacional devia remeter-se a um passado relacionado a eventos, símbolos e personagens representados materialmente e referentes a uma história considerada remota.

A história remota conveniente à reescritura do passado dentro do projeto do Estado-Nação brasileiro foi a do período colonial. Desta forma, foram as edificações – em sua maioria, edifícios religiosos construídos entre os séculos XVI e XVIII – que remetiam a esse passado colonial aquelas que, entre 1936 e 1946, foram escolhidas pelos agentes do Sphan para compor o Patrimônio Nacional.

A maioria desses edifícios tombados pelo órgão a partir de 1938, já havia sido considerada por outros autores dedicados ao estudo da arquitetura colonial como pertencentes ao estilo “barroco”.

As discussões em torno do caráter arquitetônico das edificações coloniais brasileiras ocorriam na Revista do Sphan, periódico anual em que eram publicados estudos técnicos e críticas especializadas dos agentes e colaboradores do Sphan, com o intuito de divulgar a arte e a cultura brasileira, assim como legitimar a atividade de preservação desenvolvida pelo órgão.

Nos artigos publicados entre os anos de 1938 e 1946 predominou a descrição das edificações religiosas, através de sua caracterização a partir dos modelos estilísticos europeus, na tentativa de definir um padrão arquitetônico brasileiro. Nesse sentido, afirmava-se definitivamente a tendência de considerar a arquitetura colonial brasileira como “barroca”.

No entanto, apesar da definição do caráter “barroco” das edificações coloniais, muitos dos agentes e colaboradores do órgão não atentaram para as discussões teóricas em torno do “barroco europeu”, nem para as diferentes possibilidades interpretativas que então circulavam acerca das manifestações do estilo no contexto da Europa.

Somente com o artigo A propósito de três Teorias sobre o Barroco, publicado em 1941 por Hanna Levy, – então responsável pelas pesquisas em História da Arte do Sphan – foi trazido à luz esse debate internacional acerca do estilo “barroco”.

Hannah Levy e o curso de formação em História da Arte para os técnicos do Sphan

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Neste subtema faremos um breve apanhado da relação de Hannah Levy com o Sphan, abordando especialmente a estrutura do curso de formação em História da Arte fornecido por ela aos técnicos do órgão. Através da análise do conteúdo trabalhado no curso, investigaremos as teorias e as características do estilo “barroco” mencionadas pela historiadora nesse contexto anterior à publicação de seus escritos na Revista do Sphan.

Hannah Levy na Revista do Sphan: algumas propostas para o estudo das teorias do “barroco” Uma das maiores contribuições de Hannah Levy ao longo dos anos em que atuou como colaboradora da Revista do Sphan foi a inserção de discussões teóricas acerca do estilo “barroco” no contexto do órgão. Tais discussões serão analisadas nesse subtema através dos artigos escritos pela historiadora, o que nos permitirá avaliar também a repercussão desses textos entre os outros colaboradores da Revista.

O “barroco” de Wolfflin sob o olhar de Hannah LevyApesar da vasta contribuição de Hannah para a Revista do Sphan, somente no artigo A propósito de três teorias sobre o Barroco foi ressaltada a importância que a autora atribui ao estudo das teorias do “barroco” para compreensão dos fundamentos do estilo definidor da arquitetura colonial brasileira. Dentre as três teorias apontadas pela historiadora alemã como fundamentais ao entendimento do “problema do barroco”, aqui nos interessará, especialmente, a sua interpretação da teoria de Heinrich Wolfflin. Dessa forma, será apresentada nesse subtema nossa análise da leitura da obra de Wolfflin formulada pela autora no mencionado artigo de 1941.

Assim, partindo dessa interpretação da abordagem teórica do estilo “barroco” formulado no contexto europeu nos artigos de Hannah Levy, pretendemos estudar a recepção das teorias sobre o barroco da historiografia internacional no contexto dos escritos dos agentes ligados ao Sphan – entre 1937 e 1946.

A análise dessas correspondências e diálogos acerca do estilo “barroco” no discurso produzido no velho continente e no Brasil é uma atividade essencial para compreensão dos fundamentos de um dos pontos mais importantes da História da Preservação do Patrimônio no Brasil, a defesa da arquitetura e do estilo “barroco”.

Referências » LEVY, Hannah. Valor artístico e valor histórico: importante problema da História da Arte.

Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n.4, pp. 181-192, 1940.

» _____________. A propósito de três Teorias sobre o Barroco. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n.6, pp. 7-80, 1941.

» _____________. A pintura colonial no Rio de Janeiro. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n.5, pp. 259-284, 1942.

» _____________. Modelos europeus na pintura colonial. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n.8, pp. 7-68, 1944.

» _____________. Retratos coloniais. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n.9, pp. 251-290, 1945.

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Sustentabilidade Ambiental: uma problemática contemporânea da Ciência da Conservação.

Ms. Willi de Barros Gonçalves – Doutorando pelo PPGA-EBA-UFMG; professor do Curso de Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis – EBA- UFMG; pesquisador do Laboratório de Ciência da Conservação, Escola de Belas Artes, UFMG.

Dr. Luiz Antônio Cruz Souza - professor do Curso de Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis – EBA- UFMG; coordenador do Laboratório de Ciência da Conservação, Escola de Belas Artes, UFMG.

Introdução Essa comunicação discute os rebatimentos do campo contemporâneo da Ciência da Sustentabilidade sobre o campo da Ciência da Conservação. Aborda aspectos do universo da sustentabilidade na Arquitetura e suas relações com a eficiência energética não só dos edifícios, mas também de materiais, produtos e processos utilizados na preservação do Patrimônio Cultural. Explora a temática da arquitetura bioclimática, com ênfase nos instrumentos auxiliares para as fases iniciais de projeto, que envolvem análise climática e recomendações arquitetônicas. Discute a problemática envolvida com o uso de sistemas ativos e passivos de climatização no gerenciamento ambiental de coleções. Por fim, levanta questões específicas da sustentabilidade ambiental no âmbito da conservação preventiva de coleções de bens culturais.

Sustentabilidade Ambiental em um contexto de mudanças climáticas globais A ascensão do pensamento ecológico culmina na década de 1990 com a Convenção da ONU sobre mudanças climáticas - ECO 92 - à qual se seguiu a negociação, ratificação e entrada em vigor do protocolo de Quioto de 1997 a 2005. Seguiram-se grandes conferências sobre mudanças climáticas em 2009 (COP15 – Copenhagen) e 2012 (RIO+20). Todo esse processo criou e difundiu um conceito que se tornou extremamente popular e que passou a permear praticamente todos os aspectos da vida contemporânea, cuja definição é difícil e ampla em função de sua abrangência: a Sustentabilidade Ambiental (CHUSID, 2010, p.44). Começa-se a discutir epistemologicamente um novo campo: a Ciência da Sustentabilidade (KATES, 2000). A comunicação proposta procura discutir, como na Arquitetura, a aplicação desse conceito converge para a revalorização e ressignificação contemporânea da Arquitetura Bioclimática.

Conservação “verde”: um recorte peculiar no campo da Sustentabilidade Ambiental O rebatimento de conceitos, preocupações e práticas da Ciência da Sustentabilidade sobre a Ciência da Conservação, particularmente sobre o Gerenciamento Ambiental, de vez em quando é chamado de “conservação verde” ou “preservação verde” - como transposição do termo “arquitetura verde” (LODI, 2010; SILVA, 2007) - ou também “preservação sustentável” (CARROON, 2010; HIMMELSTEIN e APPLEBAUM, 2007; PADFIELD et al., 2007a; POWTER e ROSS, 2005). A comunicação proposta explora as implicações desse rebatimento, particularmente nos temas envolvidos com o gerenciamento ambiental das coleções, visando a sua conservação preventiva.

Referências » CARROON, J. Sustainable preservation: greening existing buildings. New Jersey: John

Wiley & Sons, 2010.

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» CHUSID, J. M. Teaching sustainability to preservation students. APT Bulletin, v. 41, n. 1, p. 43-49, 2010. ISSN 08488525.

» HIMMELSTEIN, P. e APPELBAUM, B. Going Green in Museums: a Conservator’s View. In: Proceedings of Gray Areas to Green Areas: Developing Sustainable Practices in Preservation Environments Symposium. The Kilgarlin Center for Preservation of the Cultural Record, School of Information, The University of Texas at Austin, 2007.

» LODI, C. Sustentabilidade ambiental, econômica e social nos novos museus cariocas: Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio e novo Museu da Imagem e do Som. In: 2º Seminário Internacional Museografia e Arquitetura de Museus - Identidades e Comunicação. Rio de Janeiro, UFRJ, 16 a 19 de novembro de 2010.

» PADFIELD T. et al. The potential and limits for passive air conditioning of museums, stores and archives. In: Padfield and Borchersen (eds.) Museum Microclimates. National Museum of Denmark, Copenhagen, 2007b, p. 191-198.

» POWTER, A. e ROSS, S. Integrating environmental and cultural sustainability for heritage properties. APT Bulletin, V. 36, N. 4 (2005), p. 5-11.

» SILVA, V. G. Metodologias de avaliação de desempenho ambiental de edifícios: estado atual e discussão metodológica. In: JOHN, V. M. (coord.) Tecnologias para construção habitacional mais sustentável – Projeto FINEP 2386/04. (Documento 5) São Paulo, 2007.

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A implantação de políticas de preservação em instituições gover-namentais: o modelo instituído pela Câmara dos Deputados em Brasília

Ms. Carla Mabel S. Paula – Câmara dos Deputados

Ms. Juçara Quinteiros de Faria – Câmara dos Deputados

Gilcy Rodrigues Marques

IntroduçãoA questão da preservação de acervos pertencentes a órgãos públicos vem suscitando discussões a respeito das responsabilidades inerentes à sua manutenção, bem como gestão e conservação. Neste sentido, fazem parte deste contexto não apenas instituições públicas como museus, bibliotecas, centros culturais, mas também instituições cuja missão está direcionada a outros fins, como é o caso da Câmara dos Deputados, voltada à elaboração de leis e fiscalização dos atos da administração pública, produzindo durante a sua existência uma vasta quantidade de informações que retratam não só as suas atividades diárias, mas também uma época e seu contexto junto à sociedade (FARIAS, 2012, p.18). A proteção do patrimônio cultural destas instituições deve estar vinculada diretamente aos princípios que regem a Constituição Federal de 1988, que define de forma mais abrangente o significado de patrimônio cultural e a competência da União, Estados, Distrito Federal e Municípios perante estes bens, e ser subsidiada por uma política de preservação que estabeleça as diretrizes necessárias à implantação de medidas de conservação e a responsabilidade dos órgãos internos no que se refere à manutenção da integridade dos acervos.

Na Câmara dos Deputados, a criação de uma política de preservação que estabelecesse as normas e condutas referentes à conservação e segurança dos seus acervos, sempre foi um dos principais objetivos da Coordenação de Preservação de Bens Culturais – COBEC, órgão integrante do Centro de Documentação e Informação, responsável pela preservação do patrimônio cultural da Instituição, a qual foi implantada em 16/07/2012 através do Ato da Mesa nº 49. O texto aprovado foi elaborado de acordo com a missão da Instituição, seu público alvo e a tipologia de seus acervos, estabelecendo normas e critérios relacionados à preservação, alocação de recursos e criação de projetos.

O Patrimônio Cultural da Câmara dos DeputadosEm 1960, com a mudança da capital para Brasília, foi também transferida grande parte da documentação legislativa produzida durante o Império e após a Proclamação da República, além de obras de arte e peças decorativas oriundas das sedes anteriores. Dessa maneira, o Patrimônio cultural da Câmara dos Deputados é constituído por acervos de tipologias diversas, incluindo cerca de um milhão de documentos históricos que remontam ao século XIX, 4.000 livros raros datados a partir do século XVI, documentação audiovisual com registros de importantes momentos da história legislativa do País, além de um acervo museológico composto mais de 1.500 objetos, dentre cerâmicas, mobiliário, pinturas e esculturas. Destaca-se ainda, o próprio Palácio do Congresso Nacional, projetado na década de 1960, pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que representa um marco na modernização do País e conserva em seu interior uma concepção artística singela e rica em significado, valores e particularidades que expressam a história do

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poder legislativo brasileiro.

A partir da década de 1980, torna-se evidente a necessidade de adoção de medidas que pudessem garantir a preservação do patrimônio cultural da Instituição, e, em 1987, foi criado um setor destinado à preservação de seus bens culturais, hoje denominada Coordenação de Preservação de Bens Culturais. Em 2007, visando garantir seu alinhamento aos objetivos estratégicos da instituição, a COBEC passou a desenvolver ações que promovessem a otimização de seus processos de trabalho, adotando estratégias que oferecessem melhores condições aos bens culturais sob sua responsabilidade. Estas ações passaram a abranger a manutenção do patrimônio como um todo, ao invés de focar em intervenções específicas, buscando minimizar a ação dos agentes de deterioração que ameaçam sua conservação.

Ainda neste sentido, a COBEC desenvolveu a Política de Preservação, que além de garantir maior credibilidade a seus projetos, fomentou o diálogo entre as áreas e o comprometimento do público interno, por meio de campanhas de conscientização, seminários e oficinas. Destacando-se dentre estas atividades, a campanha “Arte por toda a Casa – este patrimônio também é seu”, que contou com a participação de cerca de dois mil servidores.

O objetivo deste trabalho é descrever e divulgar os diversos passos envolvidos nesta longa trajetória, a metodologia utilizada para o desenvolvimento da política de preservação, as estratégias utilizadas pela COBEC para obter uma maior contribuição e apoio das diversas áreas da Instituição e os benefícios que a participação, envolvimento e conscientização dos servidores trouxeram para a preservação dos bens culturais da Instituição.

Referências » constituição da república federativa do brasil (Texto promulgado em 05 de outubro

de 1988). Brasília: Senado Federal – Secretaria Especial de Informática, 2013. Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 29 abr de 2013.

» FARIAS, Juçara Quinteiros. Preservação da Memória Legislativa na Câmara dos Deputados. Brasília: Câmara dos Deputados, 2012.

» MEDEIROS, Valério Augusto Soares de. Momento de criação : a concepção de Brasília e do Congresso Nacional. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010.

» política de preservação de acervos institucionais. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências afins (MAST), 1995.

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Entorno da Casa Bandeirista do Tatuapé: Preservação do Patrimô-nio Ambiental Urbano, Tombamento e Atividade Imobiliária

Ms. Lara Melo Souza – Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico UPPH/ CONDEPHAAT SÃO PAULO

Sonia Manski – Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico UPPH/ CONDEPHAAT SÃO PAULO

Introdução Recentemente, na cidade de São Paulo, os pedidos de tombamento, assim como a regulamentação de áreas envoltórias vêm se transformando em instrumentos de barganha de interesses de diferentes setores, para interferir no zoneamento da cidade. Como afirma Meneses,

as contradições e fronteiras tênues entre preservação e, por exemplo, o zoneamento, deixam claro um descompasso essencial: a problemática do patrimônio ambiental urbano - por natureza, urbanística - nunca poderia ser resolvida a contento por uma legislação de patrimônio cultural autônoma e independente de uma legislação de uso e ocupação do solo (2006, p. 41).

As primeiras legislações que determinam a atuação do órgão de tutela estadual de São Paulo, criado em 1968, o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo), designavam um círculo com raio de 300m desenhado a partir do bem em questão, não importando sua natureza, tipologia ou implantação. Seja uma casa de fazenda, um parque urbano ou um arranha-céu, há de ser traçado o grande círculo, submetendo qualquer tipo de intervenção à análise.

Os desenhos das áreas envoltórias foram absorvidos quando da criação do CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo), em 1985, que tombou ex-officio todos os bens na cidade de São Paulo antes protegidos em nível estadual, e, conseqüentemente, suas áreas envoltórias. Segundo Ulpiano Meneses (2006), a legislação federal, nesse sentido, é muito mais eficaz, pois desde seu princípio fala apenas de “vizinhança”, o que permite a definição da proteção do entorno juntamente com a do bem propriamente dito.

O conceito de área envoltória ainda é um tema delicado e apresenta-se de forma turva para profissionais e teóricos. Este instrumento está diretamente ligado – ou de fato, somente pode existir – quando atrelado ao conceito de monumento isolado. A área envoltória foi o instrumento utilizado para delimitar uma zona de proteção no entorno próximo de um bem tombado, para sua boa visualização. Ao longo do tempo, porém incorporou uma visão mais abrangente da percepção do objeto dentro de um contexto. Assim, a intenção passou a ser preservar a relação do bem com o meio, mantendo uma ambiência para sua correta percepção.

A intenção deste artigo é discutir o alcance, a abrangência e as eventuais conseqüências da utilização do instrumento através do estudo de um caso concreto específico, o da Casa Bandeirista do Tatuapé, tombado em São Paulo nas esferas federal, estadual e municipal.

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Revisão da Área Envoltória da Casa do TatuapéNo âmbito municipal, em 2003, o Departamento do Patrimônio Histórico começou a se debruçou sobre a questão das áreas envoltórias de bens tombados. A partir de então, esses estudos se tornaram sistemáticos. O círculo com raio de 300m designado pela legislação de tombamento do CONDEPHAAT, incorporado pelo CONPRESP quando de sua instituição em 1985, já não fazia sentido para muitos bens. Os novos estudos têm o intuito de delimitar uma mancha mais real, ligada diretamente com a conformação do lugar.

Em 2004, foram feitos levantamentos para elaboração da regulamentação da Área envoltória da Casa do Tatuapé, imóvel bandeirista situado originalmente na área rural, às margens do rio Tietê, mas hoje espremido em um loteamento com elevado grau de urbanidade, ao redor do qual desponta uma nova paisagem, a verticalização promovida pelo mercado imobiliário em expansão. A demarcação da área envoltória da Casa do Tatuapé consistiu, então, de levantamentos de usos, gabaritos, estado de conservação, investigações históricas e de morfologia urbana, com estudos de visuais e ambiências. O resultado foi um perímetro bem menor que os 300m previstos na legislação, articulado com a malha urbana da cidade.

Ocorreu, no entanto, que o instrumento limitou-se a trabalhar com o bem e seu entorno e não com a cidade. Por mais que a nova área envoltória fizesse sentido dentro de uma visão da política de patrimônio, desarticulada do planejamento, que não pensa na mesma lógica, acaba não sendo eficaz como deveria. O Plano Diretor permite para a área uma ocupação de alta densidade verticalizada, ou seja, a partir dos limites estabelecidos pela regulamentação da área envoltória, pode-se construir como se a cidade existente não apresentasse nenhum valor de conjunto.

Ocorreu, no entanto, que o instrumento se limitou a trabalhar com o bem e seu entorno, e não com a cidade. Por mais que a nova área envoltória fizesse sentido dentro de uma visão da política de patrimônio, acabou não só não sendo eficaz como deveria, mas também provocou conseqüências não previstas. Desarticulada do planejamento, que abrange uma lógica diferente, com uma perspectiva advinda de outra escala, mostrou uma eficácia aquém da pretendida. Uma vez que a partir dos limites estabelecidos pela regulamentação da área envoltória, o Plano Diretor permitiu para a área uma ocupação de alta densidade, essa tendência de verticalização se configurou em um curto prazo. Ou seja, ao redor da mancha regulamentada, houve transformação como se a morfologia urbana anteriormente existente (que se pretendia conservar pelo instrumento da área envoltória) não apresentasse nenhum valor de conjunto, resultando em ruptura.

Referências » FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo: trajetória da política federal

de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ; MinC – IPHAN, 2005.

» GIOVANNONI, Gustavo. Vecchie città ed edilizia nuova. Torino: Unione tipográfico-editrice torinese, 1931.

» MAYUMI, Lia. Taipa, canela-preta e concreto: estudo sobre o restauro de casas bandeiristas. São Paulo: Romano Guerra, 2008.

» MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A cidade como bem cultural: áreas envoltórias e outros

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dilemas, equívocos e alcance da preservação do patrimônio ambiental urbano. In: MORI, Vitor Hugo et al. (org). Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo: 9ª SR/ IPHAN, 2006, pp. 33-76.

» RODRIGUES, Marly. Imagens do passado: a instituição do patrimônio em São Paulo

» 1969-1987. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.

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Patrimônio Cultural: descartar ou restaurar?

Francisco Jose Pinheiro da Silva – Instituição UFRJ

Guilherme Alves da Costa Xavier - Instituição UFRJ

Profª Ana Paula Correa de Carvalho - Instituição UFRJ

IntroduçãoConsiderado descarte por representantes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o livro “Recueil de têtes choisies de personnages illustres dans le lettres et dans les armes exactement dessinées et gravées de la grandeur des originaux par Paolo Fidanza peintre romain d’aprés lês peintures de Raphael D’Urbin et autres grands maitres existantes au Vatican et dans plusieres galeries de Rome”, uma produção ítalo-francesa, de propriedade da Biblioteca de Obras Raras do Museu D. João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi resgatado e submetido a tratamento na tentativa de recuperação e devolução de sua função original, retornando como parte integrante do patrimônio cultural brasileiro. O livro é formado por 90 gravuras feitas por Paolo Fidanza, a partir dos afrescos de Raphael Sanzio existentes nas salas do Vaticano.

A coleção é composta por volumes/tomos I e II tendo, cada um deles, 90 gravuras totalizando 180 pranchas como aparece escrito na folha de rosto. Somente o 1º tomo está sendo tratado nesse trabalho. O livro foi repassado à Coordenadora do Curso de “Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis” após visita realizada ao museu.

O livro encontrava-se em adiantado estado de degradação. Suas páginas formavam um bloco único. Após solicitação ao Museu D. João VI, o livro foi encaminhado à Profª Ana Paula, disciplina Papel II e deu-se, então, início ao processo de identificação, fichamento e desmonte para uma posterior avaliação do que poderia ser realizado como tratamento na tentativa de “salvar” o livro e devolvê-lo à sua função principal, a consulta e/ou manuseio.

Percebendo a possibilidade de resgate desse bem e sua devolução a função original, os alunos do curso de “Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis” da UFRJ, juntamente com a professora/orientadora Ana Paula Correa de Carvalho deram início ao processo de identificação, desmonte, higienização e pesquisas com o objetivo de devolver à Biblioteca, importante peça de seu patrimônio cultural.

Referências

» BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Ed. Artes e Ofícios, 2004

» MENDES, Marylka[et al]. Conservação: conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001.

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Novas estratégias para o monitoramento da degradação de bens culturais em ambientes internos: micro balanças de cristal de quart-zo

Ms. Thiago Sevilhano Puglieri – USP – Universidade de São Paulo

Dra. Dalva Lúcia Araújo de Faria – USP – Universidade de São Paulo

Dr. Andrea Cavicchioli – USP – Universidade de São Paulo

IntroduçãoA gestão ambiental para a conservação preventiva do patrimônio cultural é uma atividade complexa que envolve considerável número de variáveis e ferramentas. Considerando-se que bens culturais, assim como qualquer outro material, interagem com o meio ambiente com a possibilidade de se degradarem por um processo irreversível, o entendimento das condições climáticas, das condições microclimáticas e da composição química do ambiente no qual esses bens se inserem é essencial.

Diversas técnicas de monitoramento climático e da composição química do ar têm sido empregadas para avaliar as condições ambientais de locais que abrigam bens culturais a fim de possibilitar uma gestão mais eficiente (STRLIC et al, 2012). Desde a década de 1970, cupons de Pb, Cu e Ag tem sido utilizados para avaliar a agressividade de materiais à obras de arte (THICKETT e LEE, 2004). Embora essa metodologia, com a introdução de técnicas científicas para caracterização de materiais, também venha sendo utilizada para avaliar a agressividade de ambientes à obras de arte, novas tecnologias mais eficientes tem surgido.

Dentre essas tecnologias mais recentes estão os dispositivos baseados em Microbalanças de Cristal de Quartzo, QCMs (Figura 1). Simplificadamente, um cristal piezelétrico de quartzo, se submetido a uma diferença de potencial, oscila numa frequência definida, a qual tem uma dependência com a massa sobre sua superfície. Assim, se uma variação de massa ocorrer sobre a QCM, ou seja, se ocorrer um processo de degradação em sua superfície, a frequência de oscilação do cristal se modificará.

O dispositivo utilizado é um monitor que realiza aquisição simultânea de temperatura, umidade relativa, luminosidade e obtém informações acerca da qualidade do ar com o uso de QCMs. Essas microbalanças são usualmente revestidas com chumbo ou vernizes orgânicos (CAVICCHIOLI e DE FARIA, 2006), os quais reagem com poluentes do meio ambiente gerando um alerta de risco através da variação de massa/frequência de oscilação nas QCMs. Dentre as diversas vantagens desse dispositivo, destaca-se a obtenção de um alerta da presença de poluentes muito antes de um processo de degradação em obras de arte tornar-se visualmente perceptível.

Assim como em cupons metálicos, a camada de chumbo ou de verniz, após o processo de degradação, pode ser física ou quimicamente caracterizada por técnicas como microscopia Raman, espectroscopia de absorção no infravermelho (FTIR) e microscopia eletrônica de varredura acoplada à espectroscopia de dispersão de energia (SEM-EDS), a fim de proporcionar informações a respeito dos poluentes presentes no ambiente.

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Alguns exemplos de aplicações no monitoramento ambiental Estudos sistemáticos envolvendo a análise de produtos de corrosão por microscopia Raman e simulações de bancadas empregando cupons de Pb, com subsequente caracterização de produtos de degradação por técnicas espectroscópicas, permitiram identificar a causa de um acentuado processo de corrosão em esculturas de chumbo pertencentes ao Museu do Oratório (Ouro Preto, MG), assim como avaliar o risco proporcionado por produtos comerciais empregados em ambientes que contem bens culturais (DE FARIA et al, 2013).

Estudos comparativos entre cupons de chumbo e filmes finos desse metal (20 - 50 nm) depositados por sputtering sobre vidro delgado mostraram que os filmes são muito mais reativos e permitem a detecção de substâncias agressivas com tempos de exposição muito mais curtos (entre 20 e 40 h), permitindo a caracterização da camada de corrosão através das técnicas descritas acima. Tais dosímetros podem, portanto, ser empregados quando forem necessários diagnósticos rápidos da condição do microambiente de interesse.

Quando o monitoramento envolve intervalos de tempos maiores (de dias a meses), o equipamento apresentado na Figura 1 pode ser empregado, como no caso que envolveu a avaliação das condições ambientais com a perspectiva de conservação de orgãos históricos (Matriz de Santo Antônio em Tiradentes e Catedral da Sé em Mariana, MG). Os dados coletados pelo monitor permitiram observar a influência das variações climáticas do ambiente externo nas variações microclimáticas do interior, possibilitando a proposição de uma estratégia para a diminuição do impacto climático. (FREIXO e CAVICCHIOLI, 2010).

O prognóstico do uso de novas estratégias em conservação preventiva é bastante favorável e novas tecnologias tem se mostrado bastante eficientes na detecção precoce de fatores de risco. Essa é uma área de investigação que tem atraído a atenção de pesquisadores de diversas áreas para a qual se espera substancial crescimento no futuro.

Referências » CAVICCHIOLI, A.; DE FARIA, D. L. A. Impedance analysis of varnish-modified crystal

quartz resonators coupled with FT-IR and FT-Raman: Assessment of the environmental impact on artistic materials in conservation sites. Sensors and Actuators B: Chemistry, v. 115, p. 656-665, 2006.

» DE FARIA, D. L. A.; PUGLIERI, T. S.; SOUZA L. A. C. Polychrome Baroque lead sculptures: one case study of metal corrosion. Journal of the Brazilian Chemical Society, artigo aceito para publicação, 2013.

» FREIXO, E.; CAVICCHIOLI, A. Avaliação e perspectivas da abordagem à conservação do patrimônio organístico no Brasil. Anais do Museu Paulista, v. 18, p. 231-273, 2010.

» STRLIC, M. et al. Guidelines for Air Pollution Evaluation, Monitoring and Mitigation in Preventive Conservation of Cultural Heritage. Report. 2012.

» THICKETT, D.; LEE, L. R. Selection of Materials for the Storage or Display of Museum Objects. The British Museum Occasional Paper, v. 111, 2004.

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Preservação do patrimônio cerâmico: obtenção e análise de uma massa de restauração polivinílica processada por radiação eletro-magnética

Dr. Margarete Regina de Freitas Gonçalves – engenheira civil, PPGMP/UFPEL(coautora e orientadora)

Karen Velleda Caldas – conservadora e restauradora de bens culturais móveis, mestranda PPGMP/UFPEL (coautora)

Veronica Coffy Bilhalba dos Santos – conservadora e restauradora de bens culturais móveis, mestranda PPGMP/UFPEL, bolsista Demanda Social CAPES (autora e apresentadora)

IntroduçãoAs cerâmicas preservadas nos acervos brasileiros são tipologicamente variadas e apresentam causas e efeitos de degradação diversos. Muitas vezes os objetos encontram-se quebrados e requisitam restauração, haja vista que os interesses relacionados à preservação desse tipo de bem patrimonial estão quase sempre associados a uma integridade física e estética.

De um modo geral, ainda hoje, os procedimentos divulgados para o restauro cerâmico resultam de uma seleção de preferências técnicas e opções estéticas comuns à preservação de outras épocas (KOOB, 1998), mas são poucos os estudos práticos que observam as problemáticas do mundo contemporâneo, tal como indica Muñoz-Viñas, (2010).

Os materiais e técnicas aconselhados pela manualística que circula no país e as publicações de fácil acesso “online”, por exemplo, divulgam orientações gerais de intervenção, que parecem não refletir o conhecimento técnico interdisciplinar acumulado a partir dos últimos anos do século XX. Recomendam-se adesivos nitrocelulósicos e as resinas modernas (vinílicas, acrílicas e epoxídicos) para a etapa de colagem de partes soltas e os estuques de gesso comerciais ou artesanais para a recomposição de partes faltantes. Os materiais indicados são empregados, muitas vezes, concomitantemente e sua interação não é explicada. Além disto, alguns desses produtos já estão obsoletos, são de complicada aquisição, podem ser tóxicos e poluentes, apresentam manuseio e remoção difíceis e podem, também, causar reações com o suporte cerâmico, como observam Craft & Solz (1998) e Fantuzzi (2010) para os estuques de gesso.

Os problemas técnicos acima relacionados preocupam ainda mais quando se observa a situação de muitos acervos nacionais, que vivem em um cenário carente de verbas, de infraestrutura e de pessoal qualificado para solucionar as problemáticas da preservação. Nesse sentido, parece ser importante refletir sobre os argumentos de Kühl (2006), Botallo (2007), Tolin (2011) e Hannesch et. al. (2012) que indicam a necessidade de pesquisas direcionadas à área técnica da restauração brasileira. Segundo o que indicam esses autores, é preciso viabilizar tratamentos curativos e restaurativos de baixo custo, simples manejo, fácil aplicação, mínima toxidade e que respondam de maneira eficaz e adequada aos problemas particulares de cada objeto e acervo.

A pesquisa de mestrado que embasa o presente trabalho responde as expectativas dos autores brasileiros apresentando um método de recomposição estrutural de cerâmicas que procura equilibrar a importância entre os princípios da restauração. Analisa-se o comportamento de uma massa adesiva composta de emulsão de poliacetato de vinil (cola branca PVA) e cargas

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minerais definidas a partir dos constituintes dos objetos em restauração. O diferencial no trabalho é a desidratação da massa no preparado inicial por meio de radiação eletromagnética, ao contrário dos processos recomendados que são feitos a partir do ajuste da plasticidade pelo acréscimo de sólidos ou de líquidos. O procedimento é executado em um forno microondas em temperaturas que indicam não alterar as propriedades do adesivo. A escolha dos materiais envolvidos no trabalho baseia-se em referências da restauração, mas o processamento surge do conhecimento artístico contemporâneo, que permite conformar um produto vantajoso em muitos aspectos como se destaca mais adiante.

Desenvolvimento metodológicoA investigação divide-se em duas linhas de trabalho: a primeira envolve a fundamentação teórica do projeto de pesquisa; a segunda desenvolve-se através de um plano de trabalho experimental que busca esclarecer os efeitos da radiação nas massas polivinílicas e destacar seu desempenho técnico durante o trabalho de restauro. Dentro dessa perspectiva, a etapa experimental envolve: o acompanhamento de amostras durante sua secagem e em embalagem plástica; ensaios de aplicação das massas, testes de revestimento e de remoção de estruturas já secas; e exames de caracterização por termogravimetria (TGA e Der-TGA), microscopia ótica (MO) e eletrônica de varredura (MEV), ensaio de envelhecimento acelerado e análise de fluorescência.

A proposta de apresentação de comunicação oral para o 2º. Encontro Luso Brasileiro de Conservação e Restauração implica na apresentação da idealização do método, do planejamento da investigação e na informação de resultados parciais correspondentes aos testes iniciais.

Os primeiros resultados obtidos avalizam os materiais envolvidos na pesquisa e o processamento por radiação. É possível destacar que: as massas polivinílicas tornaram-se semelhantes à argila úmida, indicando facilidades para execução de um trabalho pontual, moldagem e correções; as alterações físicas que surgiram durante a secagem foram as esperadas; as amostras embaladas permaneceram com o pH neutro e não houve evidência de biocolonização; as estruturas finais produzidas com as novas massas apresentam semelhanças físicas com o suporte original e, ao mesmo tempo, diferenças sem o revestimento. O material de restauro não produz sujeira e seu descarte é mínimo porque pode ser embalado para posterior utilização durante algum tempo. Em resumo, o método oferece baixo custo, manejo simples, bom aproveitamento, sugere certa estabilidade em condições ambientais normais e permitirá que a intervenção transcorra empregando materiais adesivos de mesma classe em todas as fases da recomposição estrutural.

Referências » BOTALLO, M. Ética e Técnica: por uma Prática Consciente de Conservação e Restauração.

São Paulo: Revista Raízes, 2007. p. 59-60

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» FABBRI, B.; GUIDOTTI, C.R.. Ill Restauro de la Cerâmica. Itália: Nardoni Editore – Firenze , 2004. 3ª Ed.

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» HANNESCH, O. (et.al). Gestão da Conservação-restauração do Patrimônio Cultural: Algumas Reflexões sobre Teoria e Prática. In: 1º Seminário da Rede Conservação no Brasil – a Conservação do Patrimônio no Brasil: Teoria e Prática. Olinda, 2012. Anais disponível em: http://www.ceci-br.org/ceci/br/publicacoes/textos-para-discussao/631.html, acessado em 1/01/2013

» KÜHL, B. M. História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. São Paulo: CPC, nov. 2005/ abr. 2006. v.1, n.1, p. 16-40

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Processamento Digital de Imagem e Classificação Orientada por Objetos

Dra. Dora Roque – LNEC

Dra. Ana Maria Fonseca – LNEC

Dr. João Manuel Mimoso – LNEC

Introdução As fachadas de edifícios e monumentos e os paramentos das paredes em geral são frequentemente sujeitos a ações meteorológicas e humanas que provocam a sua degradação. As superfícies afetadas podem ser materialmente de diversos tipos, tais como revestimentos por pintura, rebocados, azulejados, ou outros. O mapeamento das anomalias é tradicionalmente realizado manualmente, num desenho à escala (Roque et al., 2012, p. 1). De forma a evitar uma análise subjetiva das anomalias alguns autores, como Vázquez et al. (2011, p. 1603) sugeriram a utilização de programas computacionais que apliquem técnicas de processamento digital de imagem sobre fotografias das superfícies.

O objetivo do trabalho proposto é a construção do Registo Gráfico de Danos de paramentos de paredes através da aplicação de técnicas de Processamento Digital de Imagem a fotografias das superfícies em causa. O método será exemplificado através de dois casos particularmente complexos, dada a não-continuidade dos revestimentos: os azulejamentos em fachadas de edifícios com repetição de um padrão, como ocorrem em muitas localidades do Brasil e de Portugal, e os painéis figurativos barrocos, geralmente utilizados nos claustros ou em interiores, cujas imagens não têm uma natureza repetitiva.

É apresentado um método para a correção geométrica das fotografias e descrita a estratégia utilizada para a sua classificação, baseada na analise de imagem orientada por objetos em vez de numa análise baseada nos pixeis (Roque et al., 2012). Este procedimento permite o mapeamento das anomalias de forma semiautomática, possibilitando a sua posterior classificação. O Registo Gráfico de Danos construído desta forma pode constituir um elemento fundamental para a elaboração de orçamentos para ações de conservação e restauro podendo até permitir a identificação de possíveis causas das degradações mapeadas.

Construção do Registo Gráfico de DanosO procedimento utilizado na aquisição das fotografias das superfícies, por exemplo dos paramentos azulejados, reflete-se na qualidade dos resultados obtidos, devendo ser adotados os métodos propostos em LNEC (2011, pp. 2-3) de modo a minimizar a existência de sombras ou reflexos na imagem que dificultam o processo de classificação.

A exactidão geométrica é particularmente relevante no caso de paramentos azulejados para evitar confusão entre juntas e fracturas. Para cada superfície azulejada é construída uma grelha em formato vetorial com a configuração dos azulejos com recurso ao software ArcGIS®. São selecionados vários pontos comuns entre os vértices da grelha e as interseções das juntas visíveis na imagem, sendo realizado o corregisto de cada ponto selecionado na fotografia com o vetor correspondente. Os pontos que não são utilizados no corregisto permitem a quantificação do erro, que se verificou ser inferior à largura da junta entre azulejos para as imagens testadas.

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As imagens corrigidas são segmentadas no programa Definiens® Developer, com o objetivo de aglutinar pixeis em objetos homogéneos, sendo utilizados parâmetros de segmentação distintos consoante as anomalias que se pretende mapear. São consideradas propriedades relacionadas com a cor, a forma e a textura dos objetos a fim de identificar quais as zonas que se encontravam danificadas. Os algoritmos para segmentar uma qualquer imagem em objetos a partir dalgumas propriedades já estão programados no Definiens® Developer, tais como, a homogeneidade dos valores radiométricos de um objeto ou a sua área. Contudo, foi necessário desenvolver índices radiométricos específicos, como por exemplo para os revestimentos azulejares o “Índice de Faltas de Vidrado” a partir dalgumas das propriedades já programadas.

Vários dos algoritmos utilizados conduzem a resultados semelhantes quando aplicados a azulejos de fachada e a painéis figurativos (Faltas de Vidrado, Poros no Vidrado, Juntas Abertas ou Refechadas). No entanto, alguns dos algoritmos (por exemplo, a identificação de azulejos rodados) aplicam-se apenas a revestimentos ou painéis em que ocorra um padrão que é repetido em toda a superfície como ocorre nos azulejos de fachada, nos chamados azulejos de padronagem do séc. XVII ou ainda nos Pombalinos do séc. XVIII.

Os procedimentos propostos permitem a construção do Registo Gráfico de Danos de forma semiautomática, facilitando o mapeamento de diversas anomalias, sendo aplicáveis, no caso dos revestimentos azulejares, tanto em padrões repetitivos, como em painéis figurativos. O procedimento adotado para a correção geométrica das fotografias conduz a um erro aceitável. Nos casos mais complexos o processo de classificação apresenta alguns erros que requerem ainda uma confirmação visual que se pretende tendencialmente minimizar. Com algoritmos ajustados a cada caso, o método é aplicávels a uma variedade de revestimentos de paredes essencialmente lisas ou cujos eventuais relevos tenham uma natureza repetitiva, como sucede com os azulejos cujas juntas formam uma malha regular.

Referências » LNEC. Memorando sobre a Inspecção Visual Assistida de Paramentos de Barragens. Lisboa:

Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 2011.

» ROQUE, Dora; MENDES, Marta; PEREIRA, Sílvia e FONSECA, Ana. Utilização de Técnicas de Processamento Digital de Imagem para Identificação de Patologias em Painéis de Azulejos. Lisboa: 3º Encontro Nacional de Geodesia Aplicada, 2012.

» VÁZQUEZ, María Auxiliadora; GALÁN, Emilio; GUERRERO, María Angeles and ORTIZ, Pilar. Digital Image Processing of Weathered Stone Caused by Efflorescences: A Tool for Mapping and Evaluation of Stone Decay. Construction and Building Materials, 25, pp. 1603-1611, 2011.

» ROQUE, Dora; FONSECA, Ana; MIMOSO, João Manuel. Deteção e mapeamento de anomalias em fachadas urbanas azulejadas com técnicas de processamento digital de imagem. ARQDOC2012

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A pintura de seda fingida do salão nobre da Casa do Inconf-dente Padre Toledo em Tiradentes Minas Gerais: conservação, prospecções, diagnósticos e proposta de apresentação.

Dr. Antônio Fernando Batista dos Santos – UPV – Doutor em Artes Visuais com concentração em Conservação e Restauração do Patrimônio Histórico e Artístico pela Universidade Politécnica de Valencia – Espanha.

Andre Luiz Andrade – UFMG – Graduando do Curso de Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes - Universidade Federal de Minas Gerais

Otávio Borges – UFMG - Graduado em Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes - Universidade Federal de Minas Gerais

IntroduçãoAs informações referentes à construção do imponente sobrado, residência do padre Carlos Correia de Toledo e Melo são poucas e presume-se que sua construção teve inicio em 1777, após a sua chegada à cidade. A primeira e única referência à edificação encontra-se no traslado do sequestro dos bens do vigário, em 25 de maio de 1789, por ocasião da Inconfidência Mineira. As informações contidas no documento esclarecem que o imóvel era de propriedade particular e composto de cavalariças e oficinas. O documento descreve ainda, já naquela data, a existência do torreão, local onde se localiza o considerado Salão Nobre da edificação, um dos espaços mais imponentes da casa com paredes revestidas por pintura decorativa em imitação de seda no mais requintado gosto rococó. Pela sofisticação do tratamento decorativo da sala, possivelmente este ambiente tenha sido originalmente os aposentos do pároco. Por longo tempo estas pinturas ornamentais ficaram recobertas por espessas camadas de cal e látex até que os anos 80 foram reveladas por meio de prospecções realizadas pelo IPHAN. Entre os anos de 2011 e 2012 a edificação passou por obras de conservação e restauro tanto na edificação como nos bens integrados e segundo diagnósticos as paredes em moledo do torreão apresentavam problemas de estabilidade e necessitavam trabalhos emergenciais de consolidação estrutural. Felizmente nenhum trabalho de consolidação estrutural das paredes foi iniciado antes de definida a proposta de tratamento para as pinturas parietais do salão nobre do sobrado.

Relevância e justificativa

Diante de tais diagnósticos e devido à necessidade e urgência de execução da consolidação das paredes em moledo do torreão e ainda visando preservar a importante pintura ornamental das paredes do sobrado, iniciou-se o trabalho de consolidação das áreas fragilizadas do moledo e do reboco e ainda a fixação dos estratos pictóricos em desprendimento. Paralelamente iniciou-se um trabalho de avaliação da pintura e definição de uma metodologia para realização de estudos estratigráficos visando uma análise mais apurada da pintura objeto de estudo. A ampliação das prospecções, conforme definido pela proposta, possibilitou diagnosticar, avaliar e identificar a extensão das pinturas ornamentais sobre os quatro panos de parede do edifício. A pintura, de autoria não identificada, remete à característica ornamentação de imitação de seda, comum na decoração de elementos do interior das edificações religiosas do período rococó em Minas Gerais, trabalho raro, para não dizer exemplar único, na ornamentação de edificações civis deste período.

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A apresentação deste trabalho tem como proposta principal divulgar esta importante edificação do período colonial mineiro e o seu requinte decorativo interior, um dos únicos exemplares em solo mineiro com estas características ornamentais. A apresentação tem ainda como proposta ressaltar a importância da realização de trabalhos de restauração interdisciplinares e a necessidade da realização estudos aprofundados das obras de acordo com metodologias previamente definidas, visando a busca de soluções simples e de maior adequação. Como proposta final, este trabalho pretende apresentar o projeto em sua fase atual, considerando que os painéis parietais mostram as grandes áreas de perdas na representação e que necessitam soluções de reintegração que possibilitem a leitura da representação pictórica no seu todo e o resgate do seu requinte ornamental primitivo.

Referências » Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados. Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional/Fundação Vitae. Belo Horizonte, 1988.

» SANTOS, Antonio Fernando Batista. Los tejidos labrados de la España del siglo XVIII y las sedas imitadas del arte rococó en Minas Gerais:Análisis formal y analogías.

» Tese de doutorado apresentada no Departamento de Conservação e Restauração de Benes Culturais da Universidade Politécnica de Valencia – Espanha – 2009.

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Prospecção de micro-organismos relacionados ao processo de bio-deterioração em elementos escultóricos de monumentos históricos de Minas Gerais

Msc. Douglas Boniek Silva Navarro – UFMG – Doutorando no Programa de Pós- Graduação em Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Dr. Antônio Fernando Batista dos Santos – UPV – Doutor em Artes Visuais com concentração em Conservação e Restauração do Patrimônio Histórico e Artístico pela Universidade Politécnica de Valencia – Espanha.

Dra. Maria Aparecida de Resende Stoianoff – UFMG - Professora Titular do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais

IntroduçãoO Estado de Minas Gerais nasceu e cresceu sob o estilo barroco em sua arquitetura, que sob a influência portuguesa, não só espalhou este estilo artístico como também uma peculiar experiência de vida e religião transmitida pela simplicidade da arte. Em solo mineiro, muitos dos maiores exemplos representativos da religião aliados à arquitetura civil foram construídos durante o período colonial brasileiro. Dentre eles, destacam-se o Santuário do Caraça, localizado na cidade de Catas Altas, e o Santuário Senhor Bom Jesus de Matosinhos, na cidade de Congonhas.

Objetos de EstudoO Santuário de Congonhas foi considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization), se apresentando, de forma singular, um bem de relevância nacional e mundial, além do grande destaque que recebe em função de importantes obras no seu acervo, como as esculturas de autoria de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

O Santuário do Caraça, considerado uma Reserva Particular no Patrimônio Natural (RPPN) também traz consigo uma grande importância histórica brasileira, sendo um local primeiramente destinado ao acolhimento dos peregrinos religiosos; posteriormente ele foi dedicado ao ensinamento e ao seminário dos estudantes católicos.

Relevância e JustificativaDiante deste cenário, questões a respeito da conservação e preservação de ambos os lugares de tamanha importância cultural e artística, vêm à tona no intuito amenizar os efeitos causadores do processo de deterioração por ação biológica e ambiental.

A cidade de Congonhas está sob a forte influência da poluição antrópica, bem como da poluição advindas das mineradoras que se situam às margens do município. Em contrapartida, a cidade de Catas Altas localiza-se em uma zona de livre de poluições industriais e antrópicas e por isso foi escolhida para ser a referência comparativa de Congonhas. No entanto, não são apenas fatores relacionados ao material particulado tóxico que causam a deterioração das esculturas expostas. Fatores biológicos estão diretamente relacionados aos desgastes dos bens culturais, bem como a ação dos micro-organismos colonizadores das superfícies pétreas que liberam ácidos orgânicos e polímeros complexos, comprometendo a fidelidade da obra esculpida pelo

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artista.

Deste modo, questões relacionadas com a poluição atmosférica, estabelecimento e colonização de micro-organismos e também fatores ambientais, como umidade, temperatura e direção dos ventos, são problemas graves que estão colocando em risco a integridade do acervo nas duas cidades em que se localizam os Santuários.

Neste contexto, essa explanação se baseia na questão de quais são os fatores envolvidos na deterioração das esculturas em pedra sabão. Assim, qual seria o grau de atuação dos micro-organismos em função da biodeterioração das esculturas pétreas? Quais são os micro-organismos diretamente relacionados com este processo? Os efeitos diretos dos micro-organismos sobre a pedra sabão seriam totalmente negativos ou preventivos?

Avaliar os parâmetros físico-químicos ambientais, aos quais as esculturas em pedra sabão estão expostas, torna-se uma ferramenta de fundamental importância, uma vez que estes efeitos agem não somente sobre a superfície pétrea, mas como também no metabolismo microbiano colonizador.

Diante destes questionamentos e dos dados obtidos, este trabalho almejou buscar soluções para a biodeterioração dos monumentos históricos dos Santuários de Congonhas e do Caraça e também reavaliar algumas das medidas já empregadas nos tratamentos contra a ação microbiana na superfície pétrea.

Referências » GAYLARDE, C. C., MORTON, L. H. G., LOH, K., SHIRAKAWA, M. A. Biodeterioration

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» WARSCHEID, TH; BRAAMS J. Biodeterioration of stone: a review. International Biodeterioration & Biodegradation, v. 46, p. 343-368, 2000.

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A arquitetura de ferro em Belém do Pará: edifícios e ornamentos metálicos dos séculos XIX e XX – dos minerais ao restauro

Ms. Flávia Olegário Palácios - Arquiteta e Urbanista; Mestra em Arquitetura e Urbanismo; Universidade Federal do Pará

Dr. Rômulo Simões Angélica - Geólogo, Doutor em Geologia e Geoquímica, Universidade Federal do Pará

Dra. Thais Alessandra Bastos Caminha Sanjad - Arquiteta e Urbanista; Doutora em Geologia e Geoquímica, Universidade Federal do Pará

O uso do ferro na arquitetura intensificou-se a partir da segunda metade do século XVIII na Europa, e sua influência estendeu-se a vários países em crescimento, como o Brasil. A instalação de edifícios de fácil construção, como os metálicos, foi necessária, e considerada sinal de modernidade por ser de simples montagem e transporte. Belém foi uma das cidades que recebeu maior número de edifícios e ornamentos importados nos séculos XIX e XX, provenientes da Inglaterra, França, Bélgica e Portugal. Atualmente, a capital paraense é a cidade com maior número de representantes do patrimônio arquitetônico em metais remanescente do país. Apesar de serem testemunhos relevantes do desenvolvimento de técnicas e de métodos construtivos, alguns desses edifícios foram desmontados em função do crescimento urbano, e permanecem no aguardo de ações de preservação e restauro.

Os estudos acerca dessas construções, atualmente, são mais voltados para as características históricas gerais e visuais, sem destaque para o entendimento dos materiais de construção utilizados. O conhecimento sobre esses materiais são importantes para o conhecimento aprofundado de 1) tipos de ligas metálicas utilizadas por diferentes fábricas; 2) compreensão dos diversos processos de proteção e aplicação de cores no decorrer dos séculos; 3) formas de intemperismo atuantes. Esses três fatores são fundamentais para ações de preservação e de futuros processos restaurativos. O objetivo principal desse trabalho consiste em compreender os materiais e os processos de degradação de edifícios e ornamentos metálicos dos séculos XIX e XX em Belém.

Dentre a grande quantidade de edifícios e ornamentos, foram escolhidos para a pesquisa o mercado de ferro do Ver-o-Peso, os três chalés de ferro, os galpões da Companhia das Docas do Pará (CDP), e o Cemitério Nossa Senhora da Soledade. Esse trabalho foi dividido em duas frentes de pesquisa, de acordo com os materiais mais comuns: 1) ligas metálicas; 2) tintas. Para a primeira, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: a) caracterização física, mineralógica e química das ligas e suas patologias; b) identificação dos diferentes tipos de ligas para estabelecimento dos vários tipos de produção e prováveis proveniências; c) identificação das diversas patologias, relacionando-as com as diferentes localidades dos edifícios e ornamentos. Para a segunda frente de pesquisa, os objetivos específicos são: a) caracterização física, mineralógica e química das tintas; b) determinação da quantidade e tipos de camadas aplicadas, entre pictóricas (cor) e de galvanização; c) identificação de ações intempéricas.

Os materiais são: 1) ligas metálicas sadias; 2) ligas metálicas com alterações intempéricas; 3) tintas em bom estado de conservação; 4) tintas com sinais de ação intempérica. Os métodos utilizados serão a microscopia ótica, e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) para a

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caracterização física; Difratometria de Raios-X (DRX) na identificação mineralógica; MEV e Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (FRX) para a caracterização química. Os resultados iniciais, voltados para o Mercado de ferro do Ver-o-Peso, indicaram: 1) ligas de ferro compostas majoritariamente por ferrita, mas com variações texturais, indicando quatro classificações: a) ferro fundido nodular para estruturas; b) ferro fundido cinzento tipo E para telhas; c) ferro forjado para ornamentos; d) ferro fundido cinzento tipo B, também para ornamentos; 2) predominância da corrosão como produto da alteração intempérica, que apresentam fraturas e perda de consistência, e constituídas principalmente por goethita e hematita; 3) tintas com variação no número de camadas pictóricas, mas resultados semelhantes em relação à cores, texturas, espessuras e composição mineralógica, que incluem: quartzo, calcita, muscovita, caulinita, pirofilita, anfibólios, e rutilo; 4) camadas de galvanização, formadas por zinco metálico, mas que apresentam alterações intempéricas representadas por zincita e hidrozincita.

Tais resultados são o início de um estudo comparativo entre as edificações e ornamentos escolhidos para o trabalho, com o intuito de enriquecer com informações físicas, químicas e mineralógicas a história e futuras ações restaurativas desta modalidade arquitetônica.

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Restauração de azulejos, mosaico e ladrilhos: Cases de Gestão de Restauro

Esp. Jorge Eduardo Lucena Tinoco - CECI

O CECI desenvolve pesquisas aplicadas na área dos materiais e das técnicas tradicionais da construção desde o ano de 2003, quando da aplicação da primeira edição do Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural - Gestão de Restauro. Participam dos estudos o corpo docente da Entidade composto por professores doutores, mestres, especialistas, artífices e artesãos que têm contribuído para a produção de novos conhecimentos de conservação nas áreas da cantaria, alvenaria, estuque, ferraria e fundição, pinturas, azulejos históricos, ladrilhos e mosaicos.

Para a aplicação das condutas, cujos princípios visam à garantia da integridade e da autenticidade dos componentes construtivos históricos, são necessários métodos de trabalho que deem suporte as operações de conservação. Neste sentido, a Declaração de Significância − DSig, as fichas de identificação de danos – FIDs, e os manuais de inspeções periódicas e de manutenções preventivas – MNs, são os documentos técnicos indispensáveis à gestão da conservação. A DSig fornece os valores que delineiam, no todo e nas partes, a excepcionalidade do bem, sendo também a fonte de informação sobre os riscos de alterações e as possibilidades de perdas (fragilidades). A DSig não pode ser considerada como um documento apenas eloquente ou como uma redoma de vidro sobre a edificação, o fato é que, sendo flexível e multivalente, dá as indicações suficientes do que deve ser preservado. As FIDs são os registros do antes e do durante das intervenções nos componentes construtivos que, reunidas num documento, serão a base de dados para as sequências das atividades de inspeções periódicas e manutenções preventivas. Essas atividades são norteadas pelos MNs, que se traduzem em ferramentas que informam os usuários sobre as rotinas de inspeções, as características técnicas dos componentes e equipamentos, os procedimentos para as manutenções preventivas, preditivas e corretivas, apontam as áreas e zonas de riscos de ocorrência de falhas e acidentes decorrentes de uso inadequado, enfim visam garantir a extensão da vida útil da edificação e de todos os seus componentes construtivos.

CasesOs cases de conservação e restauro de azulejos, mosaico e ladrilhos históricos são aqui apresentados para se submeter ao crivo das interpretações dos especialistas sobre a conciliação das antinomias da teoria em prática ou, mutatis mutandis, o fazer com as bases no saber − é valioso se aproveitar a experiência passada para se informar sobre a prática do futuro.

Os serviços foram executados com metodologias cujas linhas de conduta são os princípios da garantia da integridade e da autenticidade dos componentes construtivos históricos.

Os cases de conservação e restauro dos azulejos, mosaico e ladrilhos tiveram como linha de conduta os princípios da garantia da integridade e da autenticidade dos componentes construtivos das edificações onde estão inseridos. A adoção dessa atitude tem fundamento nos compromissos firmados por entidades e especialistas nos encontros interacionais e nacionais para a conservação do patrimônio cultural construído. Os cases amparam-se nos preceitos contemporâneos da significância do bem cultural e da sustentabilidade das intervenções (VIÑAS, 2005). A questão da significância respalda-se nos valores que o objeto carrega, nos

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atributos (estético, histórico, científico, social, espiritual etc.) intrínsecos à memoria coletiva ao qual tem pertencimento ou que foram declarados quando da sua classificação como bem cultural a ser preservado. A sustentabilidade, em termos práticos, consiste nas maneiras de se pensar e se agir sobre o patrimônio com a inteligência necessária à economicidade dos recursos associada às condutas da mínima intervenção e às ações de inspeções periódicas e manutenções preventivas. Esse item tem conexões importantes com a Academia na prática da conservação do patrimônio, pois a formação de quadros especializados de nível superior exige ações alinhadas com as diretrizes estabelecidas na Declaração do Rio. Entretanto, essa prática ainda é tímida nas universidades brasileiras. Apenas em algumas unidades ligadas às universidades têm realizado trabalhos e pesquisas aplicadas no campo da conservação integrada e sustentável.

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O método de atmosfera anóxia: tratamento atóxico para a desinfes-tação de acervos bibliográficos.

Esp. Jandira Helena Fernandes Flaeschen – FBN.

IntroduçãoO estudo apresentado neste resumo foi realizado para a elaboração da monografia de especialização, submetida ao corpo docente do Curso de Pós-Graduação em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins, em novembro de 2009. Seu objetivo foi analisar os métodos de tratamento por atmosfera modificada, como meios atóxicos para tratar infestações causadas por insetos. A pesquisa também identificou os agentes de biodeterioração mais encontrados nos acervos, verificou porque os tratamentos químicos podem ser prejudiciais aos itens e às pessoas, compreendeu como funciona um sistema integrado de pragas e utilizou o estudo de caso da Biblioteca Barbosa Rodrigues para analisar a aplicabilidade do método através do sistema estático.

Conservação de acervos bibliográficos e biodeterioraçãoOs agentes de biodeterioração podem causar grandes danos aos acervos bibliográficos, principalmente em conjunto com fatores de deterioração, como: umidade relativa, temperatura, poluição ambiental, iluminação.

Temos como agentes de biodeterioração os microorganismos (fungos e bactérias), os macroorganismos (roedores mamíferos) e os insetos. Os principais insetos que atacam os acervos bibliográficos e documentais, segundo Luccas e Seripierri (1995), são os roedores de superfície que atacam os itens externamente (baratas, traças e piolhos de livro) e os roedores internos que atacam o interior dos volumes (cupins e brocas). Neste estudo enfatizamos as principais características desses insetos.

Os acervos bibliográficos são constituídos por materiais orgânicos que são fonte de alimentação para estes seres vivos e as condições ambientais dos países de clima tropical mostram-se ideais para o seu rápido desenvolvimento. Estes fatores somados à falta de medidas de conservação preventiva e mau estado de conservação dos prédios das bibliotecas apresentam as condições favoráveis para sua proliferação.

Métodos de tratamentoProdutos químicos tóxicos já foram muito utilizados para tratar e conter infestações. Porém estes produtos possuem ação residual temporária e oferecem riscos de contaminação às pessoas, ao meio ambiente e ainda podem provocar danos físicos e químicos aos itens.

Sendo assim, os métodos atóxicos são os mais recomendados, pois eles irão tratar as infestações sem oferecerem riscos de contaminação. O congelamento e as atmosferas modificadas por oxigênio rarefeito são os métodos atóxicos mais conhecidos e promissores.

Vários especialistas, como Rust e Kenedy (1993), Selwitz e Maekawa (1998), Valentín (2001), Elert e Maekawa (2003), Schäefer (s.d.), Gonçalves (2006) e Beck (2009) veem estudando, testando e aplicando o método de atmosfera modificada. Os resultados mostram que são técnicas eficazes e consideradas seguras, ecológicas e totalmente inertes aos artefatos de origem orgânica, como papel, couro, madeira, tecido, associados ou não a materiais inorgânicos, desde

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que sigam protocolos específicos e utilizem equipamentos adequados.

O método de atmosfera modificada consiste basicamente na retirada do oxigênio do interior de um espaço estanque onde o objeto fica isolado durante o tratamento. Pode ser realizado com três variações de seu sistema: dinâmico – com a aplicação de dióxido de carbono ou um gás inerte (nitrogênio, argônio ou hélio); estático – com absorvedores de oxigênio ou dinâmico-estático – com os dois processos simultaneamente. Todos resultam na mortalidade das pragas em qualquer um de seus estágios evolutivos (ovo, larva, pupa e adulto). No artigo, o funcionamento de cada sistema é explicado.

Controle integrado de pragasApesar das vantagens do método, é necessário reconhecer que seu uso não impede que novas infestações aconteçam, exigindo monitoramento e controle pontual contínuo. A implantação de um programa de controle integrado de pragas (CIP) é recomendável, pois irá atuar como um método sistemático de prevenção de infestações e reinfestações nos acervos.

Estudo de casoPara validar o uso do método, a pesquisa analisou o Projeto de conservação da Biblioteca Barbosa Rodrigues do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O projeto realizou os procedimentos de higienização e desinfestação do acervo, através do sistema estático, ou seja, com absorvedores de oxigênio e implantou um programa de CIP. Verificamos que a metodologia foi eficaz no tratamento, controlando a atividade dos insetos e proporcionando a preservação do acervo, já o método de atmosfera anóxia teve um caráter curativo e o CIP, um caráter preventivo.

A pesquisa verificou que os métodos de atmosfera anóxia têm produzido resultados positivos no tratamento de infestações de acervos bibliográficos. O sistema utilizado no estudo de caso apresentou-se uma metodologia viável e sustentável em uma sistemática de tratamentos curativos, de grandes proporções, e em uma sistemática de controle, realizada em pequenos focos de infestação.

Constamos que por meio de ações integradas de preservação, envolvendo a higienização, a desinfestação atóxica, o controle ambiental e a implementação de medidas preventivas, podemos promover a salvaguarda dos acervos bibliográficos.

Referências » BECK, Ingrid. Desinfestação do acervo da Biblioteca Barbosa Rodrigues, do Jardim Botânico

do Rio de Janeiro. In: CONGRESSO ABRACOR, 2009, Porto Alegre, Anais... ABRACOR, 2009. p. 193-198.

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» GONÇALVES, Edmar M. Uso de Gás Inerte em Câmera Hermética de Fumigação: Tratamento de acervos atacados por pragas. Um estudo de Caso. In: CONGRESSO ABRACOR, 2006, Fortaleza, Anais... ABRACOR, 2006. p.479-482.

» LUCCAS, Lucy; SERIPIERRI, Dione. Conservar para não restaurar: uma proposta para preservação de documentos em bibliotecas. Brasília: Thesaurus, 1995.

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» RUST, Michael K., KENNEDY, Janice M. The feasibility of using modified atmospheres to control insect pests in museums. California: GCI Scientific Program Report, 1993.

» SCHÄEFER, Stephan. Desinfestação com métodos alternativos, atóxicos e manejo integrado de pragas (MIP) em museus, arquivos e acervos & armazenamento de objetos em atmosfera modificada. Disponível em <http://www.aber.org.br/v2/pdfs/artigo_Anoxia_ABER.pdf>. Acesso em 01 jul. 2009.

» SELWITZ, Charles; MAEKAWA, Shin. Inert Gases in the Control of Museum Insect Pests. Los Angeles: The Getty Conservation Institute, 1998.

» VALENTÍN, Nieves R.; PREUSSER, Frank. Controle de insetos por gases inertes em museus, arquivos e bibliotecas. In: Emergências com pragas em arquivos e bibliotecas. BECK, Ingrid (Coord.); trad. Elizabeth Larkin Nascimento e Francisco de C. Azevedo. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos/ Arquivo Nacional, 2001.

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A análise científica na obra de restauração: o caso das cúpulas em cobre do pavilhão mourisco – Fiocruz

Ms. Ana Maria Barbedo Marques – Casa de Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

Esp. Giovanna Martire – Casa de Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

Eng. Boris Marcelo Goitia Claros – AC Restauro - Consultoria técnica

IntroduçãoO Pavilhão Mourisco, construído na primeira década do século XX, é uma das edificações que compõem o Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos – NAHM da Fundação Oswaldo Cruz, localizado em Manguinhos, na zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Suas cúpulas em cobre coroam as duas torres que se destacam nas fachadas e apresentam pátinas oriundas de processos naturais de corrosão.

Durante os serviços de restauração das cúpulas iniciados em 2012 com a limpeza superficial, conforme as especificações iniciais de projeto, o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Casa Oswaldo Cruz (COC) promoveu a realização de análises científicas nas amostras de pátinas retiradas das superfícies em cobre (CILIBERTO; SPOTO 2000). Os resultados das análises laboratoriais forneceram dados importantes que fomentaram a elaboração de novos procedimentos de restauração e conservação testados em diversas etapas para comprovar sua eficiência.

Análises laboratoriaisForam realizadas análises de difração de raios X nas amostras coletas do metal que compõe as cúpulas e das pátinas de coloração verde e negra que cobrem suas superfícies, bem como análises de espectroscopia no infravermelho em amostras de manchas amarelas encontradas em algumas partes das cúpulas (ANTELO; BUESO, 2008).

Os resultados obtidos a partir das análises de difração de raios X indicaram que o metal é composto principalmente de cobre e óxido de cobre (cuprita), que a composição da pátina de cor verde é principalmente brocantita com presença menor ou maior de antlerita e a pátina de cor preta apresenta uma porcentagem maior deste mineral, sugerindo uma transformação da brocantita em antlerita com o acúmulo de partículas atmosféricas (carbonatos, cloretos e outros elementos em suspensão) e compostos orgânicos.

Os dados de espectroscopia no infravermelho mostram que as manchas amarelas analisadas são compostas principalmente de sulfatos de magnésio e alumínio, provavelmente originados pelos processos de corrosão em ambiente ácido dos pontos de solda utilizados nas esquadrias das cúpulas em intervenções anteriores.

Com base nos resultados e em pesquisas feitas em casos similares de referência foi possível estudar, elaborar e testar alguns compostos químicos para a limpeza e tratamento de partes da superfície das cúpulas cobertas pela antlerita escurecida. Desta forma espera-se que o impacto desta pátina negra no cobre seja minimizado, tanto no aspecto físico quanto estético, garantindo a sua estabilidade e o seu testemunho histórico.

O trabalho pretende mostrar a importância dos estudos específicos (FERRETI, 1993) e seus

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respectivos resultados analíticos empregados como evidências científicas para o desenvolvimento de protocolos e procedimentos de conservação e restauração das cúpulas do Pavilhão Mourisco, assim como potencializar o conhecimento no tratamento e preservação de superfícies de cobre em condições similares.

Referências » ANTELO, Tomás; BUESO, Miriam. La técnica radiográfica en los metales históricos.

Instituto del Patrimonio Cultural de España, 2008.

» CILIBERTO, E e SPOTO, G. Modern Analytical Methods in Art and Archaeology. New York, 2000.

» FERRETI, M. Scientific Investigations of Works of Arts. Rome, 1993.

» PINHEIRO, Marcos J. de Araújo et al. Metodologia e tecnologia na área de manutenção e conservação de bens edificados. Rio de Janeiro: Fiocruz, Casa de Oswaldo Cruz, 2009.

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Contributos no trabalho de conservação interunidades: tecnologias de tratamento de limpeza de obras em gesso

Guilherme Alves da Costa Xavier - UFRJ

Francisco Jose Pinheiro da Silva – UFRJ

Ms. Humberto Farias de Carvalho - UFRJ

IntroduçãoEsta comunicação trata do trabalho de conservação e restauro de parte do conjunto de obras pertencente ao acervo de esculturas em gesso do Museu de História e Artes do Estado do Rio de Janeiro (MHAERJ), mais conhecido como Museu do Ingá – Niterói. Foi realizado um convênio entre a Escola de Belas Artes – EBA/UFRJ, em especial o curso de “Conservação e Restauração de Bens Culturais Moveis” e o MHAERJ que contribui, de forma expressiva, para a formação dos alunos na disciplina de “Conservação e Restauro de Escultura I” possibilitando a aplicação dos conhecimentos teóricos e técnicos desenvolvidos ao longo do curso nas obras de autoria de Correa Lima pertencentes ao MHAERJ. O tratamento de parte da coleção de esculturas em gesso do MHAERJ, com tecnologia de limpeza com géis.

O artista Correa Lima possui grande importância artístico-histórica. Suas obras podem ser encontradas nos prédios públicos mais importantes da cidade do Rio de Janeiro.

O trabalho em questão foi realizado nos estudos propostos para a atual Câmara dos Vereadores da Cidade do Rio de Janeiro localizados nas torres frontais.

O conjunto de obras tratadas compreende um total de quatro estudos confeccionados em gesso, possivelmente na técnica de forma perdida, sem possuir pátina intencional do artista. Para tal tratamento optou-se por uma limpeza da superfície de gesso com a técnica pouco usual no Brasil, gel de limpeza AGAR-AGAR, que foi introduzida pela equipe de conservadores do laboratório de conservação e restauro da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Este trabalho inter unidades possibilitou uma rica discussão sobre os processos de tratamento de obras de suporte em gesso.

A aplicação de novas tecnologias auxilia a preservação, conservação e restauração de peças importantes para o patrimônio cultural. Os alunos do curso de “Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis” da UFRJ, juntamente com o professor/orientador Humberto Farias deram início ao processo de higienização, pesquisas e recuperação das esculturas em gesso com o objetivo de devolver ao Museu do Ingá, importante peça de seu patrimônio artístico cultural fortalecendo, assim, a iniciativa de formação acadêmica inter unidades.

ReferênciasBRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Ed. Artes e Ofícios, 2004

MENDES, Marylka[et al]. Conservação: conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001

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A Cápsula do Tempo e o uso da Radiação Ionizante na Conservação de Acervo Documental

Ms. Antonio Gonçalves da Silva - Coordenação de Preservação do Acervo - Arquivo Nacional

Há alguns meses foi divulgado na mídia, a descoberta da cápsula do tempo enterrada em subsolo encharcado do antigo traçado do Porto da cidade do Rio de Janeiro, onde está sendo realizada a revitalização da área. A abertura da cápsula do tempo que estava enterrada por mais de 100 anos foi realizada após a desinfecção dos documentos por radiação ionizante, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares de São Paulo-IPEN/USP.

O objetivo deste trabalho é descrever a aplicação da energia ionizante obtida através da emissão de radiação gama oriunda de elementos químicos radioativos, como por exemplo o Cobalto 60 (Co60 )na conservação de bens culturais. Possibilitando a desinfecção e a desinfestação por tratamento físico isento de resíduo de produtos tóxicos.

Na primeira parte deste trabalho descrevemos a mudança do paradigma em relação à radiação, já que após a segunda guerra mundial, a mesma passou a tratada pela humanidade como símbolo de destruição. Porém na vida moderna, a partir da segunda metade do século XX, existem diversas aplicações que utilizam a energia radiante para cuidar da saúde, realizar análises químicas e clinicas e também prolongar o prazo de alimentos.

No segundo capítulo descreveremos o histórico da radiação e posteriormente os seus tipos. Após a alguns exemplos da utilização da energia da irradiação na área de conservação de bens culturais, posteriormente, descreveremos a aplicação da radiação gama na desinfestação e desinfecção de bens culturais do banco Santos.

A seguir descrevemos a definição de cápsula do tempo. Na sequência o tratamento de radiação ou irradiação gama realizado na pedra fundamental do Cais do Valongo, que permaneceu enterrado por mais de uma década na cidade do Rio de Janeiro e do acervo encontrado no seu interior, possibilitando após a irradiação seu manueio e a restauração do acervo documental. A seguir descreveremos como a radiação gama extermina com seres vivos na desinfestação e na desinfecção com a descrição da quantidade de energia necessária para matar os contamintes biológicos dos bens culturais e os tipos de controles das empresas que irradiam.

Na natureza existem diversos tipos de radiação que emitem diferentes tipos energias. àquelas classificadas como radiação ionizante podem ser utilizadas na esterelização de materiais, como a radição gama descrita neste estudo.

Na área de conservação, a radiação é utilizada para várias finalidades, como por exemplo na caracterização de materias utilizados na produção de bens culturais, na desinfestação e na desinfecção dos materias lignocelulósicos.

O raio X foi descoberto nos experimentos realizados com materiais fluorescentes, recebendo este nome por ele ser desconhecido. Posteriormente, a radioatividade foi descoberta e em seguida a radiação alfa, beta e gama. Sendo estas representadas na natureza pelo espectro eletromagnético, podendo ser ionizantes ou não ionizantes.

A radiação ionizante é utilizada na área de conservação de bens culturais para realizar a

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desinfestação e a desinfecção de acervo documental, sendo diferente a quantidade de energia necessária ao extermínio dos organismos vivos contaminantes nestes tratamentos.

O acervo irradiado com a radiação gama não fica radioativo, podendo ser manuseado após este tratamento não acarretando em riscos a saúde.

Referências

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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA.Tecnologia permite ler papiros sem desenrolá-los. Disponivel em: <http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=tecnologia-ler-papiros-sem-desenrolar&id=010150130606&ebol=sim>. Acesso em: 10 jun. 2013.

MAGAUDDA, Giuseppe . The recovery of biodeteriorated books and archive documents throughgamma radiation: some considerations on the results achieve. Journal of Cultural Heritage. n. 5, 2004, p. 113-118. Disponivel em: <http:// patrimonioculturale.enea.it/ambiti-di-ricerca/diagnostica-avanzata-per-la-conservazione-ed-il-restauro/approfondimenti-e-immagini-per-gli-interventi-di-diagnostica/articolo%20Magaudda _pdf.pdf >. Acesso em: 10 jun. 2013

OAK RIDGE INTITUTE FOR SCIENCE AND EDUCATION – ORISE. Radiation Emergency Assistance Center – Training Site – REAC/TS. Basic of radiation. Guidance for radiation management. Disponivel em: <http://orise.orau.gov/reacts /guide/ define.htm >. Acesso em: 10 jun. 2013.

RADIATION EFFECTS RESEARCH FOUDATION. How radiation affects cells. Disponivel em: <http://www.rerf.jp/radefx/basickno_e/radcell.htm>. Acesso em: 10 jun. 2013.

RELA, Paulo Roberto. et al. Recuperação de um acervo: uso da Radiação Gama (Cobalto 60) na descontaminação de objetos do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros – USP. Revista do IEB, n 45, set. 2007. Disponivel em: < www.revistas.usp.br /rieb/ article/download/34609/37347‎ >. Acesso em: 10 jun. 2013.

SILVA, Fabiola A. et al. A arqueometria e a análise de artefatos cerâmicos: um estudo de fragmentos cerâmicos etnográficos e arqueológicos por fluorescência de Raios X (EDXRF)

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e transmissão Gama. Revista de Arqueologia, n. 17 p. 41-61, 2004. Disponivel em: <http://sabnet.com.br/revista/artigos/RAS_17/1524-1852-1-PB.pdf>. Acesso em:10 de jun. 2013

THE HISTORY of the Discovery of Radiation and Radioactivity. Disponivel em: <http://mightylib. mit.edu/Course%20Materials/22.01/Fall%202001/discovery%20of%20radiation.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2013.

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Elaboração de Terminologias: uma etapa necessária para a estru-turação das disciplinas do campo da conservação-restauração

Ms. Silvana de Fátima Bojanoski – Universidade Federal de Pelotas

IntroduçãoA comunicação a ser apresentada versa sobre a necessidade de elaboração de terminologias para a construção do processo epistemológico da disciplina de conservação e restauração, assim como sobre a sua importância para o fortalecimento do campo como, por exemplo, no processo de ensino e aprendizagem em sala de aula. Tais questões estão inseridas no projeto de pesquisa desenvolvido pela autora intitulado “Terminologia de conservação e restauração de bens culturais”. Trata-se de um projeto piloto, que aborda inicialmente a conservação e restauração de bens culturais em papel, com o objetivo de estabelecer uma metodologia para elaboração de terminologias e que possam ser posteriormente aplicada em outros tipos de bens culturais.

Porque precisamos de Terminologias?A discussão sobre terminologias especializadas está diretamente relacionada com o processo de construção epistemológico de uma disciplina, uma vez que a definição dos termos técnicos científicos utilizados pelos profissionais resulta no desenvolvimento e amadurecimento de um corpus científico consistente, facilitando não só o processo de comunicação entre os profissionais, mas também permitindo traduções mais criteriosas de trabalhos científicos e de textos técnicos produzidos em línguas estrangeiras.

A elaboração de ferramentas como glossários, dicionários e banco de dados terminológicos é fundamental para padronizar uma linguagem e reduzir a ambiguidade nos sentidos dos termos. Dessa forma garantem-se maior transparência e clareza, características essas básicas nas comunicações científicas, e também necessárias nos processos de ensino e aprendizagem. Deve-se considerar ainda que as terminologias, além da sua função em relação à fixação e divulgação de um saber científico específico, ao facilitar a comunicação entre profissionais, fortalece a identidade entre aqueles que atuam no mesmo campo.

Quais os caminhos para a elaboração de TerminologiasInicialmente serão discutidos os problemas relacionados com a falta de terminologias ou de padronização de termos técnicos, como por exemplo, a quase inexistência no Brasil de obras de referência na área de conservação e restauração, tais como glossários e dicionários técnicos, e de como isso dificulta a comunicação e a transmissão de conhecimentos, o processo de ensino e aprendizagem em salas de aulas, e até mesmo a utilização de textos em línguas estrangeiras.

Analisam-se então duas possibilidades de metodologias e abordagens para a elaboração de obras terminográficas. A primeira é colocada pelas ciências da informação, com o objetivo de elaborar vocabulários controlados e que resulta na elaboração dos tesaurus.

Uma segunda possibilidade, e que está sendo implementada no projeto de pesquisa citado inicialmente, é a metodologia desenvolvida pela disciplina de Terminologia, a qual se insere no campo da linguística e se caracteriza como um campo de estudo teórico e aplicado dedicado aos termos técnico-científicos.

Considerou-se essa segunda abordagem mais interessante porque além de estabelecer uma

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metodologia para a elaboração de produtos como dicionários, glossários e bancos de dados terminológicos, ela também possibilita o estudo dos repertórios de designação de uma determinada área do conhecimento. Ou seja, a partir da análise dos textos produzidos na área, é possível um maior entendimento das características e tendências do campo da conservação e restauração, ainda em processo de construção e amadurecimento no Brasil.

De fato, um aporte de conhecimento muito mais significativo pode ser alcançado com uma abordagem dos textos científicos que considere o contexto e a finalidade com que são produzidos, quem são os interlocutores, a que público destina-se, qual é a variação tipológica do texto, estabelecendo-se as diferenças formais entre uma tese, um artigo em revista especializada ou de divulgação para públicos mais amplos. A aplicação de tal metodologia, além de resultar em obras de referências necessárias para a melhor comunicação entre profissionais, também possibilita um maior entendimento de como o campo da conservação-restauração está se estruturando no Brasil.

Considerações finaisBusca-se nesta comunicação levantar discussões sobre a necessidade de metodologias mais criteriosas para a elaboração de terminologias especializadas, distanciando-se de visões simplistas de iniciativas individuais de elaboração de meras listas de palavras com seus significados, ou de traduções apressadas, como se tem encontrado até o momento em publicações brasileiras. De fato, para alcançar um trabalho de qualidade, é preciso aplicar metodologias e referenciais teóricos específicos, já desenvolvidos em outras áreas do conhecimento, e que podem ser apropriados para o desenvolvimento de terminologias específicas do campo da conservação e restauração de bens culturais, resultando em ferramentas fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem.

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» ICOM-CC. XV Conferência Trianual do International Council of Museums – Committee for Conservation (ICOM-CC). Terminología para definir la conservación del patrimonio cultural tangible. Nova Dheli, 2008. Disponível em: <http://www.icom-cc.org/54/document/terminology-to-characterize-the-conservation-of-tangible-cultural-heritage-spanish/?id=74>. Acesso em 10 mar. 2013.

» KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à Terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004.

» SALAZAR, Silvana Aranibar. Terminologia de Conservação de Papel: uma ferramenta necessária. 2011. 80f. Monografia, Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS.

» SOUZA, Luis A.C. Panorama brasileiro na relação entre ciência e conservação de acervos. In: Pós. Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 37 - 46, maio, 2008.

» UNESCO. Guidelines for the establishment and development of monolingual thesauri for information retrieval. UNESCO: Paris, 1970. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0000/000059/005951EB.pdf. Acesso em: 20 jun. 2011.

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Análise Científica de Materiais e Técnicas de Esculturas de Alei-jadinho: Os Passos da Paixão do Sítio do Patrimônio Mundial de Congonhas Minas Gerais.

Ms. Lucienne Maria de Almeida Elias - UFMG

Dr. Luiz Antônio Cruz Souza – UFMG

A complexidade dos processos de pesquisa que resultam em dados científicos referentes à autoria de obras de arte e bens culturais é tema de profundo interesse de pesquisadores e estudiosos. O Laboratório de Ciência da Conservação - LACICOR , da Escola de Belas Artes da UFMG, vem ao longo dos anos realizando estudos, aplicando métodos físicos e físico-químicos, bem como métodos de documentação científica por imagem, contribuindo fundamentalmente na produção de análise de dados científicos, que resultam em documentos comprobatórios para realização de pesquisas continuadas sobre materiais, técnicas e consequentes dados autorais de obras de arte, estabelecendo um processo interdisciplinar de estudo cujos resultados apontam informações singulares para a sociedade científica, assim como para demais instituições de guarda e proteção do patrimônio histórico.

A partir dessa estrutura operante para realização de pesquisas propomos o estudo analítico, científico de sete esculturas em madeira policromada, referente aos sete Cristos que fazem parte do conjunto escultórico composto por 64 esculturas que tratam do tema da Via-Sacra de Cristo, distribuídas em seis capelas, pertencente ao Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Minas Gerais, tratando de um conjunto que recebeu pela UNESCO o título de Patrimônio Mundial. As obras pertencem última fase do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Mestre Aleijadinho sendo executadas no período de 1796 a 1799. Partimos inicialmente do estudo do suporte das esculturas, buscando exames específicos referenciais para a análise da estrutura das obras, assim como técnicas aplicadas, ferramentas usadas.

A pesquisa tem como estudo de caso os sete Cristos dos Passos de Congonhas e a metodologia de estudo aplicada parte de elementos significativos da técnica do Cristo da Ceia, o qual apresenta dimensões menores e características construtivas diferenciadas dos demais, o que irá facilitar a análise das marcas de ferramentas utilizadas pelo artista para sua manufatura; em seguida os Cristos do Horto, Prisão e Flagelação (apresentam aspectos e características estéticas semelhantes); Cristos da Cana Verde e Cruz-às-Costas e a análise do Cristo da Crucificação. Estes grupos estão previamente formados para a pesquisa devido às características primárias da manufatura. A proposta engloba estudo da estrutura dessas obras e dos materiais constitutivos, e a possível análise das marcas de ferramentas.

Os resultados obtidos serão analisados comparativamente buscando assim características singulares de impressão da mão do artista na fatura dessas obras, os resultados servirão como base, para futuros estudos comparativo das obras, estabelecendo técnicas e materiais aplicadas no suporte. Contudo, buscamos preencher uma lacuna científica sobre as obras do Mestre Aleijadinho em Congonhas, pois os estudos realizados sobre o referido conjunto e sobre o escultor, não apontam análises científicas, documentadas e comprobatórias sobre aspectos da execução de sua obra e consequentes características singulares de seus traços aplicados.

Considerando que nosso objeto de estudo, as sete esculturas representando os Cristos dos

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Passos de Congonhas, não apresentam estudos e parâmetros de análise científica nas pesquisas desenvolvidas até nossos dias, nos deparamos com um universo ainda obscuro de investigação e análises, as quais poderão auxiliar em pesquisas de autoria ou atribuição ao escultor Aleijadinho. Tratamos de obras com singular importância no estudo e análise de materiais, sendo que nenhum estudo científico foi executado até nossos dias com o intuito de conhecer a fatura do artista, indícios de sua identidade no ato de executar sua arte e as possibilidades de documentar analiticamente materiais e técnicas utilizadas nesse acervo pelo escultor Esta pesquisa de caráter inovador permite apontar novas diretrizes para o estudo de sua obra, possibilitando geração de novos conhecimentos sobre o Mestre Aleijadinho, elaboração de protocolos comparativos para pesquisas e também embasamento para dar suporte a estratégias de análise de esculturas em madeira policromada do autor e de outros autores.

Tomamos também como relevância o início de estudo científico de obras de um conjunto autoral, cujo autor a cada ano é supostamente indicado como executor de inumeráveis obras, nos deparamos com novos catálogos que citam um quantitativo crescente e desgovernado atribuídas a Aleijadinho e estes estudos, em sua maioria, apresentam avaliação das obras a partir do estudo dos estilemas, formas repetidas, características do trabalho do escultor, não apresentando aspectos materiais e técnicos conclusivos. Portanto esta pesquisa vem somar informações científicas aos estudos já realizados sobre o escultor até então, permitindo aprimoramento do conhecimento desse Mestre escultor no âmbito dos estudos da História da Arte Técnica.

Referências » BAZIN, Germain. Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil, Rio de Janeiro: Record, 1963.

» GRAMMONT, Guiomar de. Aleijadinho e o Aeroplano: paraíso barroco e a construção do herói colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. 320 p.

» GRUZINSKI, Serge. La guerra de las imágenes: de Cristóbal Colón a “Blade Runner”(1492-2019). México: Fondo de Cultura Económica. 1999.

» MARTINS, Judith. Dicionário de artistas e artífices dos séculos XVIII e XIX em Minas Gerais. Rio de Janeiro: MEC, 1974. 2 v. (Publicações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 27).

» WITTKOWER, Rudolf. Escultura. Martins Fontes, São Paulo, 2001.

» OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de; SANTOS FILHO, Olindo Rodrigues; SANTOS, Antonio Fernando Batista dos. O Aleijadinho e sua oficina: catalogo das esculturas devocionais. São Paulo: Capivara, 2002.

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Degradação de materiais constitutivos da fotografia sobre vidro - complexidade de materiais e critérios de intervenções - caso Chi-chico Alkimim

Ms. Jussara Vitória de Freitas - UFMG

Dra.Yacy Ara Froner Gonçalves – UFMG

Dr. Evandro José Lemos da Cunha – UFMG

No período compreendido entre 1909 e 1955, segundo a tendência da época, o fotógrafo Chichico Alkimim utilizou-se de placas de vidro transparentes que eram emulsionadas de sais de nitrato de prata, processo também chamado de “colodial”. Após esse processo técnico, o fotógrafo retocava cuidadosamente as imagens, imprimindo arte à sua obra. Deste trabalho resultou um vasto acervo de negativos em vidro.

Esta pesquisa busca apresentar as peculiaridades das principais técnicas analíticas utilizadas para a caracterização de materiais, como a análise química por fluorescência de raios X, análise por microscopia eletrônica de varredura , análise de espectrometria por infravermelho e cromatografia líquida e gasosa. Pretende-se com este estudo uma maior compreensão dos resultados obtidos em cada uma das técnicas abordadas e estudar o processo de envelhecimento destes materiais, como são estas fotografias emulsionadas em suporte de placas de vidro para se propor novos métodos da conservação destes aglutinantes.

Esta pesquisa parte dessa base formal e procura realizar conexões do conhecimento científico experimental envolvendo métodos descritivos e de análise de resultados, para estabelecer os protocolos da análise científica desse acervo, apontando rigorosamente aspectos ainda estudados sobre este suporte.

Metodologia e análises:Os métodos iniciais propostos para o avanço dos estudos de conservação de fotografias implica em três etapas:

• Identificação dos problemas da obra

• Estudo histórico e estético da obra

• Realização de ensaios para compreender o estado de conservação da obra

A contribuição que ficará desta pesquisa se refere aos novos métodos de conservação dos componentes presentes na fotografia que refletirá após o estudo de novos materiais que garantirão a permanência deste suporte ao longo dos tempo.

Importante ressaltar que trata-se de uma pesquisa interdisciplinar por buscar estudos e inovações tanto na área da preservação da imagem, quanto nas tecnologias tratando a imagem como documento, esta última com estudos direcionados a produção e validação do conhecimento científico. A padronização e a reprodução dos signos fotográficos, bem como a análise de seus usos e suas funções sociais são questões recorrentes entre os estudiosos da história da fotografia e neste contexto apresenta-se de grande importância o estudo das técnicas

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utilizadas pelo fotógrafo Chichico Alkimim.

Esse panorama se estabelece, no entanto, num momento de mudanças fundamentais para a fotografia. Vivemos numa época em que a variedade de suportes e técnicas da preservação de fotografias significam um grande desafio. O acervo se constitui de exemplares desde o período da invenção da técnica – há cerca de 170 anos – como daguerreótipos, carte de visite em albumina, diapositivos estereoscópicos, negativos de vidro e uma gama de suportes flexíveis, até os atuais arquivos digitais, em seus diversos formatos.

Conservadores, cientistas da conservação, museólogos, curadores, historiadores da arte, arqueólogos e arquitetos reconhecem em sua maioria que o conhecimento sobre técnicas e materiais utilizados na confecção de objetos artísticos e culturais é necessário para a compreensão do contexto original destes acervos, que é possível com o auxílio das técnicas analíticas laboratoriais.

Para maior clareza as apresentações desses exames estão divididas em tópicos:

Como mecanismo de verificação desse estudo serão utilizados exames e conhecimentos desenvolvidos pelo Conservador-Restaurador, análise não destrutivas de materiais com equipamentos que possibilitem informações precisas, discussão e apoio técnico de profissionais da área de Artes, História, Química, pois empregando uma gama cada vez maior de ferramentas de análise, os pesquisadores das áreas de história da arte, conservação e ciência da conservação estão demonstrando a importância de trabalhar juntos de maneira interdisciplinar.

O envolvimento de diversos especialistas vindos de diversas áreas do conhecimento incluindo a ciência da conservação neste estudo permitirá que formulações mais fundamentadas que poderá gerar mudanças a respeito de algumas técnicas e materiais.

Referências: » FRONER, Y.A.; ROSADO, A; SOUZA, L.A. Tópicos em conservação preventiva. Belo

Horizonte: LACICOR-EBA-UFMG, 2008.

» GOMEZ, M. L. La restauración; examen científico aplicado a la conservación de obras de arte; 4ª ed. Madrid: ediciones Cátedra, 2004.

» KOSSOY, Boris. Origens e Expansão da Fotografia no Brasil – Século XIX. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

» SOUSA, Flander e FRANÇA Verônica Alkmim (orgs.). O Olhar Eterno de Chichico Alkmim/The eternal vision of Chichico Alkmim. Belo Horizonte: Ed. B, 2005.

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Ensino da preservação na graduação em conservação e restauração de bens culturais móveis da Escola De Belas Artes da UFRJ: algu-mas reflexões

Ms. Ana Paula Corrêa de Carvalho - Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Introdução

A função da universidade é uma função única e exclusiva. Não se trata, somente, de difundir conhecimentos. O livro também os difunde. Não se trata, somente, de conservar a experiência humana. O livro também a conserva. Não se trata, somente, de preparar práticos ou profissionais, ofícios ou artes. A aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas muito mais singelas do que as universidades.

Anísio Teixeira

Nesta reflexão, abordaremosquais são os principais desafios a serem vencidos no ensino da preservação no curso de conservação e restauração de bens culturais móveis. Tendo como elemento norteador o Projeto Pedagógico do Curso. Destacaremos a importância de despertar no aluno a mudança de uma consciência ingênua para uma consciência crítica e, desta forma, ressaltar que os mesmos poderão contribuir para consolidar a preservação e a conservação - restauração como campo disciplinar autônomo. O que será possível através de uma consciência crítica em relação à profissão e a própria sociedade. Pois além de uma questão técnica, a restauração é uma questão cultural, conforme afirma Miguel: “a história da conservação e da restauração está diretamente determinada pelas ideias religiosas, filosóficas, estéticas e políticas” (MIGUEL, 2002, p.13).

O projeto Pedagógico do Curso:O curso de Graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes/UFRJfoi criado no ano de 2008.

O Curso tem por objetivo criar uma estrutura didático-pedagógica adequada à formação de profissionais de nível superior capazes de conservar e restaurar o patrimônio artístico e cultural a partir dos mais altos valores éticos e estéticos. Tem, ainda, como meta realizar estudos e pesquisas teóricas referentes à preservação das artes plásticas em colaboração com áreas afins como História e Crítica da Arte, tendo em vista que a preservação do patrimônio envolve a compreensão e o conhecimento das leis de mercado de arte, as práticas de curadoria para exposições e a gestão de negócios relativos à cultura, necessitando também de uma base sólida de conhecimentos de novas linguagens artísticas.

O Projeto pedagógico do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes/ UFRJ, está fundamentado no conjunto da legislação determinada

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pelo Ministério da Educação e da Cultura, das diretrizes curriculares de cursos similares no Brasil e no exterior. Pretende oferecer à comunidade uma proposta de formação profissional em Conservação e Restauração condizente com o projeto da universidade pública, com conteúdo fortemente acadêmico e que tenha por objetivo atender parcialmente às demandas de preservação do patrimônio cultural móvel Brasileiro. Além disto, Segundo o Projeto Pedagógico o curso de Graduação em Conservação e restauração:“Pretende-se estimular o desenvolvimento de projetos de pesquisas, isto é, a produção e experimentação de processos metodológicos de cunho prático teórico, para assim sistematizar experiências de produção acadêmica que possam ser apresentados em eventos técnicos, científicos, artísticos e culturais”. (Projeto Pedagógico, 2008). Desta forma o aluno poderá também agregar uma série de atividades que diversificarão sua formação intelectual e contribuirão para a progressiva autonomia profissional buscada em eventos externos ao curso.

Na prática do ensino da preservação, é necessário considerar quais são as competênciase as habilidades para que os futuros profissionais possam atuar na sociedade. Durante muitos anos, a conservação e a restauração eram focadas apenas pelo viés técnico. Hoje, no entanto, com asnovas demandas sociais, é exigido deste profissional um conhecimento que vai além do domínio de suas habilidades técnicas. Então qual seria o papel da universidade e docurso de graduação na formação do aluno?

Referências » FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 31ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

» MIGUEL, Miguel Ana Maria Macarrón. Historia de laconservación y larestauración desde laantiguidad hasta elsglo XX. Editora tecnos. Marid. 2002

» Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ. Ano: 2010.

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Portfólio acadêmico: seis anos de experiência na implantação do Curso de Conservação-Restauração da UFMG

Dra. Maria Regina Emery Quites - UFMG

Ms. Leandro Gonçalves de Rezende - UFMG

O curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis começou a funcionar como graduação, em 2008, dentro dos princípios da flexibilização curricular aprovada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde o início, as turmas mostraram-se bem diversificadas, com múltiplos interesses, gostos e habilidades.

Como inovação pedagógica, o curso orienta que os alunos façam o portfólio acadêmico no primeiro período, dando continuidade ao mesmo no decorrer de sua formação. Esse consiste numa reflexão contínua do aluno sobre o seu desempenho, avaliando-se o processo de ensino-aprendizagem, os esforços, as dificuldades e os progressos, com o objetivo de transitar pelo currículo com responsabilidade e autonomia, visando elaborar um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) consistente, resultado dos ganhos educacionais obtidos no processo de formação.

Assim, no primeiro período, o portfólio apresenta para o aluno a sua grade curricular, bem como o instrui sobre o projeto pedagógico do curso de Conservação e Restauração. Devido à flexibilidade e interdisciplinaridade da estrutura curricular, os alunos transitam por diversas áreas do conhecimento, optando por percursos diferenciados. Pedagogicamente, o ganho educacional é inegável. Logo, o portfólio é uma ferramenta de orientação que ajuda o estudante a traçar metas, a contornar desafios e a fazer opções, tendo em vista uma formação consciente, embasada no espírito crítico, aliando teoria, prática, habilidades específicas e atitudes próprias do conservador-restaurador.

Nessa oportunidade, apresentaremos de forma sistemática o perfil desses alunos, refletindo sobre seus possíveis percursos a partir da experiência e da coleta de dados feita na disciplina de Portfólio de 2008 a 2013.

Referências

» GONÇALVES, Willi. O que é portfólio.

» VILLAS-BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, Avaliação e Trabalho Pedagógico. Papirus Editora, 2006.

» http://www.eba.ufmg.br/graduacao/conservacao/indexconservacao.html

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Da Biblioteca Nacional à Universidade Federal do Estado do Rio De Janeiro: traços do ensino de conservação para bibliotecários

Prof. Ms. Fabiano Cataldo de Azevedo – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

IntroduçãoO curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) teve origem há mais de cem anos na Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a partir do modelo de formação da École Nationale des Chartes, na França. Inferia-se, dado as caraterísticas do currículo francês, que havia, desde o início, uma preocupação com o tema “Conservação”. Em 2009, como resultado de uma pesquisa de dois anos feita na FBN a Profa. Dra. Simone da Rocha Weitzel (diretora da Escola de Biblioteconomia da UNIRIO), revelou, dentre outras imensas contribuições, que em 1917 no curso de formação de bibliotecários as disciplinas Bibliografia, ministrada por Constâncio Alves; Iconografia, ministrada por Aurélio Lopes de Souza e Numismática, ministrada por João Gomes do Rego possuíam no conteúdo programático vários elementos referentes ao tema Conservação. Dentre estes, formas de conservar moedas, livros, confecção de acondicionamento etc. Nos anos de 1940, ainda com o curso na FBN, na disciplina “Catalogação”, por exemplo, havia o tópico “Higiene e limpeza dos livros e das bibliotecas”.

Já fora da FBN, a partir de 1969, por um longo período, seguindo a tradição, o tema “Conservação” continuou a ser abordado no âmbito de outras disciplinas, como Organização e Administração de Bibliotecas (OAB) e Formação e Desenvolvimento de Coleções (FDC).

Em 2001 a Escola da Biblioteconomia da UNIRIO promoveu I Encontro Sobre o Ensino de Preservação, e dentre seus objetivos havia a necessidade de reflexão sobre a importância do ensino da Preservação como disciplina obrigatória nas áreas de Documentação. Como resultado deste esforço, em 2011 a disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos (PPAB) passou a compor a grade curricular das disciplinas oferecidas pelo Departamento de Estudos e Processos Biblioteconômicos.

Ponto de situação do ensino Conservação na Escola de Biblioteconomia da UNIRIO: uma prática interdisciplinar

Seguindo o histórico apresentado acima, esta comunicação tem por objetivo expor a metodologia que a disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos (PPAB) vem sendo aplicada desde 2011 na UNIRIO. Crê-se que a oportunidade de apresentar tal discussão em um fórum como este favorece o diálogo e contribui para reflexões necessárias ao aprimoramento.

Desde o início, esta disciplina tem primado por um caráter teórico com foco na formação de gestores, não de conservadores-restauradores. A disciplina é ensinada tendo como linha metodológica a Formação e Desenvolvimento de Coleções, algo já discutido por Hazen (2001). Busca-se uma relação interdisciplinar com conservadores-restauradores, seja por leitura e análise de textos produzidos por estes, seja convidando-os para oficiarem palestras. Acredita-se que esta relação deve ser fluída e pautada na ética, pois peremptoriamente um trabalho de gestão estará condicionado ao fracasso se o gestor se supuser soberano e suficiente.

Portanto, apresentar-se-ão algumas considerações acerca do conteúdo desta disciplina e reflexões de resultados (que se transformarão em pesquisa futura) deste ensino como

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componente curricular obrigatório. E ainda, o feedback que os alunos vem dando da relação dele com seus estágios, mercado de trabalho e como alguns deles estão buscando formação mais especializada afim de tornarem encadernadores e conservadores-restauradores.

O segundo interesse desta comunicação, será a apresentação de um projeto de pesquisa que deseja mapear a história e deslocamentos do ensino de Conservação para Bibliotecários e a prática em Bibliotecas.

No que tange ao primeiro ponto, ou seja, a discussão sobre ensino da disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos, o resultado destes dois anos que passou a ser obrigatória tem mostrado o envolvimento e interesse cada vez maior dos alunos. Se no início, percebia-se uma frustação dos discentes ao notarem que o escopo não era prático, agora compreendem a necessidade do conteúdo e há um número significativo que busca cursos para aprofundar o conhecimento da área. Além disto, há procura do tema como objeto de pesquisa nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Outro bom resultado é o estabelecimento de parcerias com a Biblioteca Central da UNIRIO.

Já o segundo ponto, historicizar o ensino da Conservação a Bibliotecários e a prática em Bibliotecas, no momento se está, com base no estudo da Profa. Simone Weitzel do período que o curso esteve na BN, perquirindo programas a partir de 1969. Quanto à prática em Bibliotecas, há uma investigação em andamento que procura identificar, com recorte cronológico no início do século XIX a primeira metade do XX, procedimentos que visavam à conservação, desde higienização até métodos de fumigação.

Referências » EVANS, G. Edward. Developing library and information center collections. 4th. ed.

Englewood, Colorado: Libraries Unlimited, 2000.

» FOOT, Mirjam M. Preservation of the National Collection. In: LUSENET, Yola de (Ed.). Preservation Management: between policy and practice. Amsterdam: European Commission on Preservation and Access, 2000.

» HAZEN, Dan C. Desenvolvimento, gerenciamento e preservação de coleções. In: PLANEJAMENTO de preservação e gerenciamento de programas. 2. ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 2001, p. 7-15.

» HERNAMPÉREZ, Arsenio Sánchez. Políticas de conservación en Bibliotecas. Madrid: Arco Libros, 1999.

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Procedimentos para a documentação científica por imagem de bens culturais utilizando luz visível e ajuste cromático: escultura em ma-deira – Pináculo

Dr Alexandre Cruz Leão – Escola de Belas Artes - Universidade Federal de Minas Gerais

Agesilau Neiva Almada - graduando do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, EBA/UFMG

IntroduçãoEste trabalho propõe apresentar e discutir os procedimentos de documentação por imagem como ferramentas essenciais no processo de conservação e restauração de obras de artes: a produção (captura) das fotos e o tratamento (processamento) das imagens.

No processo de produção das fotos descrevem-se os fatores necessários a produção de uma foto com qualidade que permita preservar todos os detalhes que são fundamentais no processo de análise, diagnóstico e intervenção em uma obra de arte. Ambiente adequado e devidamente preparado para a produção das imagens, contendo iluminação adequada, equipamentos fotográficos de alta qualidade, tripé e acessórios.

A luz no processo de produção fotográfica tem um papel de importância fundamental, porque ela é que vai definir e gerar imagens com qualidade. Para isto leva-se em conta a intensidade, o posicionamento, e a qualidade tanto do equipamento de iluminação, bem como do tipo de lâmpada utilizada. Para se fotografar objetos planos, bidimensionais, como é o caso das pinturas sobre tela, por exemplo, será necessária a utilização de uma fonte de luz de igual intensidade de ambos os lados (direito e esquerdo). No caso de objetos tridimensionais, como é o caso das esculturas, deverá ser utilizado fonte de luz com intensidades diferentes; sendo maior de um lado do que do outro, de forma a dar volume à imagem do objeto. Esse tipo de imagem aqui será denominada de imagem básica.

No que se refere ao equipamento fotográfico, o mesmo deve ser capaz de gerar imagens com grande resolução, formato de arquivo RAW e permitir o uso de objetivas intercambiáveis. Esse também deve permitir a configuração manual de velocidade, abertura de diafragma e ISO, além de outras importantes funções, como por exemplo: o balanço de branco.

O processo de produção de documentação fotográfica nesse trabalho aborda apenas as imagens geradas com fonte de luz visível, sendo que outras fontes são também utilizadas na geração de imagens científicas, porém não contempladas nesse momento. Além da imagem básica do objeto, é possível realizar, ainda sob luz visível, exames de luz rasante, reversa e fotografia de detalhes.

As fotos produzidas para a obra de arte, antes de compor por definitivo a documentação da obra, devem passar por uma segunda fase que é o tratamento das imagens.

Para esta etapa ajustes finos são realizadas nas fotos, através de softwares de tratamento de imagens e cartelas de referência cromática presente no momento da fotografia junto ao objeto. Esses ajustes objetivam melhorar a qualidade das imagens fotográficas e também torná-las mais próxima da imagem que se vê da obra de arte. Este processo não deve ser confundido

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com manipulação ou alteração da imagem, e sim de correção de possíveis perdas ocorridas decorrentes do processo de produção das imagens, seja através de uma distorção do processo de iluminação, seja pela perda natural de nitidez causada pelo equipamento fotográfico, ou até mesmo por alguns erros na configuração.

Os processos serão explicitados através de estudo da imagem gerada da escultura em madeira – Pináculo.

No processo de documentação fotográfica de uma obra de arte que está em processo de conservação ou intervenção é comum a produção de fotos que permita tão somente o registro de estado de conservação e etapas de restauro, sem muita preocupação com uma qualidade satisfatória destas imagens.

A produção de fotografias, utilizando métodos adequados tanto na produção, quanto no tratamento de imagens, é um fator de importância para garantir uma documentação fotográfica de qualidade e assim permitir que estas imagens estejam mais próximas da realidade, ou seja, que reproduza de forma confiável a obra.

Além disto, uma documentação de qualidade pretende facilitar o entendimento futuro dos processos de intervenção e também auxiliar na solução de possíveis problemas e/ou falhas de registro escrito dos processos.

A utilização de uma metodologia consistente é de fundamental importância para o sucesso da documentação fotográfica de uma obra de arte, visto que este processo além de auxiliar ao profissional da conservação-restauração no processo de intervenção, podem subsidiar no futuro possíveis estudos e novas intervenções que porventura a obra tenha que passar.

ReferênciasLEÃO, Alexandre C.; ARAÚJO, Arnaldo de A.; SOUZA, Luiz A. C.; Gerenciamento de Cores para Imagens Digitais. (Dissertação) Universidade Federal de Minas Gerais, 2005.

R-POZEILOV, Yosi A.; Digital Photography for Art Conservation. 2009.

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Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro: um acervo ainda não revelado

Dr. Diana Maul de Carvalho – CCS/UFRJ

Técnica em restauração Aurea Ferreira Chagas – CCS/UFRJ

Introdução Essa comunicação trata dos resultados da identificação e diagnóstico do acervo de pintura da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O desafio da instituição que tem como missão a integração entre ensino, pesquisa e extensão na área da saúde, em salvaguardar seu patrimônio.

Integração entre centros acadêmicosA pesquisa iniciada no laboratório de História Saúde e Sociedade, do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ através da linha de pesquisa: história do ensino das ciências da saúde toma novos rumos com a descoberta de cerca de 60 pinturas a oleo encaixotadas em ala destivada do HUCFF. A primeira providência tomada foi a guarda provisória da coleção dentro do laboratório. A partir da constatação dessa nova realidade foi criado o Programa de Acervos Históricos Culturais e Científicos, para dar proteção às ações que envolvessem esse conjunto.

Somente com a inserção de apoio técnico e a interface com o curso de Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes foram possíveis as ações interdisciplinares entre o corpo docente envolvido. A etapa de documentação das obras foi iniciada dentro do Proext 2012 e envolveu quatro cursos da EBA. Hoje são 175 obras catalogadas e a espectativa é de que esse número cresça atingindo o quantitativo de 250 unidades.

Os resultados preliminares dessa ação conjunta já se refletem em nova dinâmica administrativa que vislumbra a inserção de novos parâmetros cotidianos.

O alargamento de projetos específicos encontra agora planejamento metodológico mais adequado e que subsidia a aquisição de insumos e mão de obra especializada e fomenta a construção de núcleos técnicos e de pesquisa integrados a diversas áreas do conhecimento.

Referências » MAGALHÃES, Fernando. O centenário da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Rio

de Janeiro: Barthel. 1932.

» MAIA, Elias da Silva; CARVALHO, Diana Maul. Memória da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro: a proposta do Museu Virtual. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v.40, p.519-533. 2008.

» OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de; PEREIRA, Sônia Gomes; LUZ, Ângela Ancora da. História da Arte no Brasil: textos de síntese. Editora UFRJ. Rio de Janeiro. 2010

» SILVA, Maria Celina Soares de Mello (org). Segurança de Acervos culturais. Rio de Janeiro. Museu de Astronomia e Ciências Afins. 2012.

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GEPE - Grupo de estudo e pesquisa em estuques: preservação do patrimônio cultural através do inventário dos estuques lustrados pelotenses

Ms. Daniele Baltz da Fonseca – Professora do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro – UFPel;

Dr. Pedro Luis Machado Sanches – Professor do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro – UFPel;

Ms. Jeferson Dutra Salaberry – Técnico em Conservação e Restauro – UFPel.

Introdução Apesar da utilização dos meios legais para proteção do patrimônio, constata-se dificuldade em garantir a salvaguarda dos bens integrados aos imóveis em Pelotas/RS. Talvez pelo caráter privado de sua relação com as edificações, mas, sobretudo, pelo não reconhecimento dos bens integrados enquanto patrimônio cultural. Através do estudo e da pesquisa acerca do bem é possível atribuir-lhe significado e valor histórico e cultural e, com isto, buscar os mecanismos necessários para que sua preservação possa ser garantida.

Os revestimentos de estuques lustrados fingindo pedras ornamentais como o mármore, através de pinturas afresco ou meio fresco, são constantemente encontrados nos vestíbulos e corredores das casas pelotenses construídas entre o final do século XIX e a quarta década do século XX. Na cidade de Pelotas, estas composições são reconhecidas popularmente por escariolas (ALVES, 2011), variação lexical do termo escaiola, que indicava a técnica de fingimento de pedra pela incorporação de pigmentos à massa. O termo escaiola, contudo, foi equivocadamente utilizado tanto no Brasil como em Portugal e Espanha, confirma Aguiar: Em Portugal e em Espanha, perdeu-se o significado original do termo “escaiola”, que derivava da scagliola italiana e que, nos últimos dois séculos, por corruptela ou por simplificação, passou a designar, sem o ser, a técnica do stucco-lustro e até, por vezes, do stucco-marmo, situação que leva a algumas confusões terminológicas propagadas até aos nossos dias. (AGUIAR, 2002, p.258).

Estes estuques lustrados constituem-se, portanto, em bens integrados característicos da arquitetura pelotense. Todavia, quase não se encontram estudos sistematizados cujo objetivo seja caracterizar o revestimento fosse com relação à sua estética, sua técnica de execução, natureza material, contexto histórico-cultural e, principalmente, a abrangência da sua ocorrência pelas áreas urbanas de interesse preservacionista.

Frente às dificuldades de preservação dos estuques lustrados que, em virtude do seu caráter privado, não são conhecidos de forma sistematizada, embora sejam bens integrados ao patrimônio arquitetônico local, os professores do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis e Integrados da Universidade Federal de Pelotas, Daniele Baltz da Fonseca e Pedro Luís Machado Sanches, desenvolveram um projeto de extensão denominado GEPE – Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques. O GEPE constitui-se num esforço interdisciplinar voltado para o reconhecimento dos estuques lustrados pelotenses como bens de interesse cultural, buscando assim, formas de preservação relativamente simples, baseada no respeito, na apropriação e apreciação do objeto cultural pela comunidade.

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Ações desenvolvidas com respaldo do GEPEÉ possível afirmar que o grupo já superou a fase de implantação e agora se encontra em fase de expansão das atividades que desenvolve. As atividades iniciais constituíam-se em grupos de estudo com objetivo de ampliar o conhecimento de novos bolsistas e buscar bibliografia que auxilie na caracterização terminológica, histórica, técnica e descritiva desses bens.

A partir disto foi criada, no curso de conservação e restauro de bens culturais da UFPel, uma disciplina optativa sobre conservação e restauro de estuques. Com esta iniciativa foi possível aumentar a discussão sobre o tema estuques entre os alunos. Dentre as atividades práticas propostas pela disciplina restaurou-se parte do estuque lustrado do casarão da antiga Escola de Belas Artes, prédio que, na ocasião, era utilizado pelos cursos do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro (DMCOR-UFPel).

Através do GEPE, uma série de pesquisas vem sendo articulada para que se conheçam os estuques lustrados de Pelotas, visando entender a sua relação cultural com a cidade por meio da sua caracterização estética, seu modo de execução, a natureza de seus materiais constitutivos, as manifestações patológicas mais recorrentes, contexto sociocultural no qual se desenvolveu e a abrangência de sua ocorrência pelo casario histórico inventariado na cidade.

Com objetivo de fornecer informações para as diferentes pesquisas em andamento organizou-se um trabalho de levantamento sistemático dos estuques lustrados. O principal resultado deste trabalho será um inventário desses revestimentos que fornece um panorama da sua conservação de forma geral. O inventário é organizado em fichas onde se anotam, também, características a serem estudadas em outras pesquisas.

Atualmente o grupo participa como projeto no programa PROEXT 2013, com isto foram contratados nove bolsistas para a execução de parte do inventário. O escopo do grupo é completado com dois técnicos em restauração e dois professores do curso de conservação e restauro, além de estudantes voluntários.

O inventário encontra-se em fase inicial, com treinamento dos bolsistas e adaptações nas fichas. Um levantamento piloto foi aplicado em dez edificações. Diferentes equipes trabalharam nesses levantamentos iniciais e constatou-se dificuldade em manter um padrão de anotação de informações e tomada de fotografias. Agora o grupo trabalha também na conclusão de um manual do levantamento sistemático de estuques lustrados. O objetivo é minimizar a subjetividade da coleta de informações e padronizar procedimentos que deverão ser realizados durante e depois das vistorias.

Acredita-se que os trabalhos propostos pelo GEPE sirvam como medidas de conservação desses revestimentos na cidade de Pelotas. Através do reconhecimento enquanto bem cultural, busca-se sua preservação baseada no respeito e admiração da comunidade pelos estuques lustrados pelotenses.

Referências » AGUIAR, José. Cor e Cidade Histórica: Estudos Cromáticos e Preservação do Patrimônio.

Porto: FAUP, 2002.

» ALVES, Fábio G. Termos e modos de fazer relacionados ao estuque denominado de escaiola nos revestimentos de paredes no sec. XIX. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Conservação e Restauro de bens móveis e integrados, UFPel), inédito, 2011.

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O uso do gesso nas oficinas de escultura luso-brasileira entre o séculos XVIII e XX – analises comparativas dos materiais como fundamento para uma adequada intervenção de conservação

Dr. José Aguiar –Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa

Dr. Antônio Candeias – Laboratório HERCULES da Universidade de Évora

Doutorando – Alexandre Mascarenhas – UFMG - NPGAU | IFMG campus Ouro Preto

Dr. José Mirão – Laboratório HERCULES da Universidade de Évora

Introdução Apresentamos uma contribuição sobre o uso do gesso como material fundamental no processo escultórico dentro das oficinas dos artistas portugueses e ‘brasileiros’ entre os séculos XVIII e XX. O fazer construtivo e decorativo foi iniciado espontaneamente pela mão do homem em uma necessidade objetiva de materializar seus desejos e sentimentos. A escultura surge como elemento decorativo e simbólico, em funções de remates de colunas e frisos, em gárgulas, capitéis, relevos, estatuária tumular, imagens humanas e, sobretudo, religiosas alcançando diversidade nos materiais, na qualidade artística, técnica, iconográfica e conceitual ao longo da história. A partir do século XVIII, a maioria dos artistas e das oficinas dedicadas ao ofício da escultura utilizou os processos tecnológicos que abrangiam desde a execução do risco, do modelo em gesso, da produção de moldes e de moldagens a fim de construir o elemento final, seja uma escultura de vulto, um retábulo ou uma imagem de cunho religioso. Entre os escultores que utilizaram também este processo e as obras em gesso estudadas, objeto deste artigo, mencionamos Alexandre Giusti, Machado de Castro, Antonio Canova e Antônio Francisco Lisboa. A realização de análises no Laboratório HERCULES (Herança Cultural, Estudos e Salvaguarda) da Universidade de Évora foi fundamental para entendermos as diferenças constitutivas e construtivas do material – gesso e fibras – e, servirão como base para direcionar uma adequada intervenção de conservação ou restauro.

Breve histórico do uso do gesso na arte escultórica desde a Antiguidade Durante muitos séculos o homem vem desenvolvendo habilidades manuais para a confecção de abrigos, templos religiosos, figuras ritualísticas ou ornamentação. PINHEIRO ([19--], p.1) afirma que “nas ruínas dos castelos dos reis de Assíria encontraram-se em quantidade fragmentos de ornamentações em gesso, tais como corpos de esfinges e de touros, bocados de decorações com palmetas, consolos, capitéis, etc”. Os gregos ampliaram as possibilidades do uso do gesso aplicando este material para modelar esculturas e modelos de estudo, tal como vem sendo feito ainda hoje. A descoberta do grupo escultórico Laocoonte, durante o Renascimento, contribuiu para impulsionar a execução, a reprodução e a coleção de moldes e modelos em gesso. Essas réplicas em gesso eram encomendadas pelos ateliês dos artistas para a prática destes e de seus discípulos no estudo das proporções anatômicas do corpo humano. Entre meados dos séculos XVIII e XIX, a implantação de museus de monumentos | museu de moldagens prolifera pelos países da Europa, assim como o surgimento de numerosas gipsotecas. No que diz respeito ao uso do gesso no processo da técnica da modelagem, molde e moldagem, podemos considerar Viollet-le-Duc como o precursor em usá-la com fins de restauração, mesmo que este conceito fosse completamente distante dos critérios levados em consideração naquele período.

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Na França, as Maisons Raffl et Cie ou Bonnet foram responsáveis pelo trânsito intenso de cópias de estátuas, imagens religiosas e figuras clássicas entre Europa e Brasil.

Artífices e as oficinas do gesso em Portugal e no BrasilEm Portugal, nas oficinas de escultura, haviam os profissionais que modelavam o barro, a cera, o estuque, talhando santos em pedra e madeira. A modelagem, sobretudo para os escultores, era composta inicialmente pelo “modelo preparatório”, termo que designa o modelo em dimensões reduzidas que era apresentado ao cliente para sua apreciação que podia ser aprovado ou corria-se o risco de serem solicitadas algumas adaptações para compor a escultura final na dimensão encomendada. Em Portugal, será apenas a partir da Escola de Escultura de Mafra, dirigida por Alexandre Giusti, em meados do século XVIII quando se inicia a ‘criação’ propriamente dita de mão de obra portuguesa especializada nos ofícios da cantaria, imaginária e estatuária onde estabeleceriam em suas oficinas ou escolas vínculos hierárquicos entre ajudantes, aprendizes, desbastadores, entalhadores, modeladores, moldadores, fundidores, mestres ou oficiais. O processo escultórico por meio de esboços, modelos em barro ou em gesso, moldes e moldagens para então se iniciar a transposição da escultura em pedra ou madeira foi difundido também, em épocas distintas, por Machado de Castro, Soares dos Reis, Teixeira Lopes, Rafael Bordalo Pinheiro e Leopoldo de Almeida. Com base documental encontrada sobre o processo criativo e construtivo destes artistas portugueses, podemos considerar que Antônio Francisco Lisboa e outros escultores ou ornamentistas brasileiros tenham seguido a mesma linha de construção em suas esculturas ou ornamentos dentro dos ateliês destes ofícios existentes em Vila Rica nos séculos XVIII e XIX. Acreditamos na possibilidade de que Antônio Francisco, a partir de determinado momento de sua vida, executava apenas os modelos em barro ou gesso em dimensões reduzidas para serem transportados, em escala real, em cantaria, pelos oficiais de sua oficina. Dois fragmentos em barro cozido do acervo do Museu de Arte Sacra da Matriz do Pilar, em Ouro Preto, foram atribuídos a aleijadinho pela historiadora de arte Myriam Ribeiro de Oliveira. A Missão Artística Francesa, a partir de 1816 reinicia outra fase da escultura nacional por meio do ensino acadêmico sujeito aos modelos clássicos europeus, entretanto preservam a metodologia escultórica que inicia com a modelação do gesso. Entre as anos 1930 a 1970, parte da obra monumental do mestre escultor mineiro foi reproduzida em gesso por Eduardo Bejarano Tecles e Benjamim Meschessi. Amostras coletadas de modelos e moldagens de gesso da obra de Alexandre Giusti (século XVIII), Antonio Canova e Machado de castro (século XIX) e de Aleijadinho (século XX) foram analisadas no Laboratório Hércules da Universidade de Évora (fotografia com lupa binocular, metalização das amostras, SEM, Difração de raio X, FTIR) para conhecermos a constituição dos materiais usados em cada época e, com base nestes resultados podemos executar uma intervenção de conservação criteriosa.

O gesso foi o material constitutivo mais difundido nas oficinas de escultura fazendo parte das etapas essenciais para se alcançar o produto final, seja em pedra ou madeira. Procuramos sistematizar o conhecimento específico e a importância do estudo teórico, histórico e analítico das amostras de gesso oriundos de modelos e moldagens de distintas épocas e de autorias diversas. Desta forma pretende-se ainda divulgar este material, presente em um vasto contingente de peças escultóricas e consideradas obras de arte que estão expostas em museus do mundo todo e, desmistificar o preconceito em relação ao gesso - material essencial para a vida e obra dos anônimos e ilustres escultores. As análises laboratoriais contribuirão para uma melhor compreensão do comportamento deste material e direcionar intervenções de conservação adequadas. Finalmente, ressaltamos a sua valorização enquanto referência cultural, tanto na sua difusão quanto na sua contribuição como elemento de perpetuação e preservação de uma parte muito significativa da riqueza escultórica luso-brasileira.

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Referências » ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Do mestre aos discípulos do Aleijadinho. Rio de

Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória, 1986.

» COSTA, José Manuel Aguiar Portela. Estudos cromáticos nas intervenções de conservação em centros históricos. Tese de doutorado defendida em 1999, pela Universidade de Évora.

» LEAO, Manuel. Trabalhos em gesso no século XIX. In MVSEV. Publicação do Circulo Dr. Jose de Figueiredo. IV serie – N.15 (2006).

» MACEDO, Diogo de. A escultura portuguesa nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Edição da Revista OCIDENTE, 1945.135p.

» MASCARENHAS, Alexandre. Ornatos: restauração e conservação. Rio de Janeiro: In-folio, 2008.

» MINISTÈRE DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION. Inventaire General des monuments et des richesses artistiques de la France: la sculpture. Paris: Imprimiere Nationale, 1978.

» PINHEIRO, Thomaz Bordallo. Manual do formador e estucador. Lisboa: Livraria Bertrand, [19--].

» PINHEIRO, Thomaz Bordallo. Elementos de modelação de ornato e figura. Lisboa: Livraria Aillaud e Bertrand, [19--].

» SILVA, Eduarda Moreira da. Revestimentos decorativos tradicionais de cal e estuque em Portugal. In Actas 1º Seminário Internacional A Presença do Estuque em Portugal. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2007.p 131-147.

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Valorização dos bens integrados ao patrimônio arquitetônico: es-tuques em Relevo de Interiores

Cristina Jeannes Rozisky – mestranda da Universidade Federal de Pelotas | UFPel

Dr. Carlos Alberto Ávila Santos - professor Universidade Federal de Pelotas | UFPel.

IntroduçãoA noção de referência cultural está relacionada com a ampliação do universo de bens culturais e engloba “objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na construção de sentidos de identidade. São o que popularmente chamamos de raiz de uma cultura”, como consta no Inventário Nacional de Referências Culturais, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Nesse contexto, insere-se a crescente especialização dos conhecimentos e das práticas relativas à conservação e à salvaguarda desse patrimônio histórico, artístico e cultural. Na ampliação desse conceito, este trabalho coloca como instrumento de preservação, o inventário dos bens integrados à arquitetura. Neste caso, os estuques decorativos de revestimentos e em relevo de interiores existentes em bens imóveis ecléticos da cidade de Pelotas, construídos no período de 1870 a 1931. No Brasil, o conceito de bens integrados está associado ao de bens móveis. Desde 1980, os bens integrados são definidos como àqueles agregados às superfícies construídas, que se relacionam com o espaço circundante. A deterioração desses elementos deixa lacunas e a retirada dos mesmos, expressa a violência sofrida em interferências restaurativas.

A definição de estuque é muito ampla, em função da diversidade de técnicas empregadas, desde as proporções dos materiais utilizados na composição das massas até as traduções de termos técnicos empregados por teóricos da área. Isto acaba gerando confusões de nomenclatura e nos pareceres sobre esta tipologia de arte decorativa. O Dicionário da Arquitetura Brasileira, de Eduardo Corona e Carlos Lemos (1972), apresenta uma definição bem completa sobre o estuque. Segundo os autores, genericamente considera-se estuque toda a argamassa ou massa de revestimento ou decoração que, depois de seca, adquire grande dureza e durabilidade. É usada como vedação e também em baixos e altos relevos decorativos, podendo ainda receber pinturas a fresco e a fresco seco. A qualidade formal, compositiva e técnica encontrada nos exemplos investigados demonstram que, assim como autores pelotenses discorrem sobre a história da arquitetura local e comprovam a presença de construtores estrangeiros nas obras edificadas durante o período, artífices imigrantes também se fizeram presentes na ornamentação dos edifícios da cidade.

Objetivos da investigaçãoOs objetivos da investigação são: analisar a produção da estucaria em Pelotas; ponderar influências sofridas pelos artífices pelotenses de procedimentos desenvolvidos na Europa; efetuar leitura formal (WÖLFFLIN, 1989), iconográfica e iconológica (PANOFSKY, 2004) dessas peças; ressaltar as peculiaridades dos estuques decorativos nos ambientes interiores dos edifícios em estudo; valorização dos bens integrados ao patrimônio arquitetônico, bem como do trabalho do artesão.

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Desenvolvimento metodológicoPrimeiramente foi realizada revisão bibliográfica sobre o histórico das tradições, das técnicas, dos materiais e da iconografia utilizados e da preservação da estucaria em dois grandes centros de referência desta arte decorativa, que são Portugal e Itália (FOGLIATA e SARTOR, 1995; LEITE, 2008; MENDONÇA, 2009; AGUIAR, 2002).

Paralelamente, o registro fotográfico dos exemplares pelotenses, que fundamentam as análises: formal, iconográfica e de conservação das peças. A partir das fotografias, é feito estudo comparativo das composições ornamentais pelotenses com os estuques decorativos italianos e portugueses, evidenciando as semelhanças, assim como as particularidades da estucaria local.

A amostragem foi definida através da leitura pré-iconográfica das peças. Enfoca os seguintes prédios: as antigas residências do Barão de São Luis (Casarão 6) e do Barão de Cacequi (Casarão 8); a sede da Prefeitura Municipal; a edificação que hoje abriga o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), da UFPel. O parecer técnico das ornamentações de cada ambiente se valerá de dois eixos de observação: primeiro se avaliará a composição formal como um todo e, posteriormente, cada elemento de forma independente.

Na análise bibliográfica, constatou-se que o estuque foi conhecido e utilizado por diferentes culturas, desde a cidade neolítica de Çatal Hüyük, na Turquia (AGUIAR, 2002), a Mesopotâmia e o Egito (FOGLIATA e SARTOR, 1995). Uma arte milenar que ressurgiu na Itália no período do Renascimento, influenciada pelas escavações de Pompéia e Herculano. Nesse contexto, a Itália tornou-se referência e berço deste ressurgimento da arte da estucaria. Através da bibliografia utilizada, constatou-se que o estuque português também teve sua origem influenciada por estucadores italianos. O terremoto ocorrido em Lisboa no ano de 1755 e, a decorrente necessidade da reconstrução dos edifícios arruinados, levou a criação da Aula de Desenho e Estuque, em 1764, com o intuito de formar um número significativo de artífices hábeis para as obras de reedificação da cidade. A Aula de desenho e Fábrica de Estuques teve a direção do estucador italiano radicado em Portugal, João Grossi (MENDONÇA, 2009).

O histórico da estucaria proporciona a valorização fundamentada de uma arte que tem referências históricas há vários milênios, passando por alguns ciclos de esquecimento, ressurgimento e apogeu. Como consequência destes ciclos, a ornamentação estucada foi lentamente passando de moda e perdendo o interesse dos proprietários de imóveis, afastando, naturalmente, os artífices que a ela se dedicavam. Os exemplares desta técnica encontrados em Pelotas datam da mesma época que esta arte decorativa tem seu último ápice em Portugal e, paralelamente, se desenvolvia nas capitais do Brasil, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Belém e Belo Horizonte (LIMA, 2001; MACAMBIRA, 1985), oriunda do gosto pelo modismo arquitetônico eclético historicista europeu. As decorações de estuque brasileiras, na qual se inserem as pelotenses, mostram influências lusas, nas quais a miscigenação com a cultura local deu origem a trabalhos de grande originalidade e beleza. Muitos exemplares já desapareceram, outros estão em más condições de conservação e, sobre grande parte deles, o desconhecimento é praticamente total. Nesse contexto, este estudo contribui para a valorização, a classificação e a conservação desta arte milenar ainda pouco reconhecida.

Referências

» AGUIAR, José. Cor e cidade histórica: Estudos cromáticos e conservação do patrimônio.

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Porto: FAUP publicações, 2002.

» CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: EDART, 1972.

» FOGLIATA, Mario & SARTOR, Maria L. L’arte dello stucco a venezia. Roma: Edilstampa, 1995.

» LEITE, Maria de São José P. Os Estuques no século XX no Porto. A Oficina Baganha. Porto: Gráfica Maiadouro, 2008

» LIMA. Solange Ferraz de. Ornamento e Cidade Ferro, estuque e pintura mural em São Paulo 1870-1930. Tese (Doutorado em História Social) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2001.

» MACAMBIRA, Yvoti de M.P. Os Mestres da Fachada. São Paulo:C.C.S.P. Divisão de Pesquisas, 1985.

» MENDONÇA, Isabel M. G. Estuques Decorativos A evolução das formas (sécs. XVI-XIX). Lisboa: Príncipia/Terra Nova, 2009.

» PANOFSKY, Erwin. Significado nas Artes Visuais. 3ªed. São Paulo: Perspectiva, 2004.

» WÖLFFLIN, Heinrich. Conceitos fundamentais da história da arte. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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A importância da técnica e dos materiais utilizados nas pinturas da artista Lygia Clark

Giulia Villela Giovani – Mestranda PPGA - Universidade Federal de Minas Gerais

Dra. Yacy-Ara Froner - Universidade Federal de Minas Gerais

Dra. Alessandra Rosado - Universidade Federal de Minas Gerais

Introdução O presente estudo tem como intuito estabelecer uma análise sobre a importância do uso dos materiais e das técnicas empregadas nos trabalhos de pintura sobre madeira, realizados pela artista Lygia Clark. Trata de uma pesquisa em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação, Mestrado em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG. Tendo como ferramenta de análise três importantes trabalhos da segunda metade da década de 50, procura-se observar a sua forma de atuação e contribuição com o concretismo e neoconcretismo. Através de uma renovação da linguagem plástica, Lygia busca trabalhar as possibilidades compositivas do plano e do espaço pictórico. Neste sentido, o que se discute é como a técnica e as propriedades pictóricas exploradas pela artista interferem essencialmente na percepção e fruição da sua intencionalidade.

As obras analisadas têm como característica comum o uso da madeira como suporte, e a utilização da tinta industrial (líquida) e da pistola (aspersão) como veículos para as suas composições. Por meio do estudo dos trabalhos Superfície Modulada nº6, 1956; Superfície Modulada, 1957; Planos em Superfície Modulada, nº2, 1957, busca-se estabelecer um reconhecimento de características do processo artístico, marcada pelo campo perceptivo da apreensão da obra que decorre das sensações induzidas pelas linhas, cores, estruturas e profundidade, a exploração dos conceitos e reflexão sobre possíveis influências que marcaram a obra dessa artista.

DesenvolvimentoA primeira etapa do processo de análise desenvolvido para cada obra foi a descrição visual dos aspectos estéticos, como as linhas, formas, cores utilizadas, observação de padrões de repetições, ciclos gráficos, tamanhos de segmentos, irregularidades, entre outros.

Num segundo momento, procurou-se fazer uma proposição analítica baseada na técnica construtiva, observando principalmente como a artista trabalha o suporte (cortes, sulcos, e baixos relevos), e as tonalidades cromáticas para transmitir as suas descobertas. Este é o caso por exemplo da “linha orgânica”, aos poucos esta vai perdendo a função alusiva e torna-se a própria determinante estrutural do quadro.

Por fim, através de um entendimento estético e construtivo da obra chega o momento de fazer as análises perceptivas, as sensações dinâmicas despertas no expectador, como movimento, a modulação sistêmica dos planos, volumetria das formas, perspectivas, etc. É interessante ressaltar também o ponto como Lygia Clark imprime no título de suas obras a intencionalidade poética da abstração estética. Todos esses conjuntos de características fazem parte da proposição conceitual da artista.

A realização dos estudos das pinturas selecionadas permite exemplificar o modo como Lygia utiliza os materiais e os componentes físicos de construção de seus trabalhos como ferramentas

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fundamentais para concepção e transmissão dos resultados de suas pesquisas e seus propósitos. O contraste e as relações entre cores, a forma como o suporte é trabalhado, os cortes, a criação de baixos e altos relevos, são alguns dos mecanismos explorados para a criação de sensações e percepção da abstração geométrica.

Neste sentido, o estudo e a preservação destes aspectos materiais são fundamentais. Degradações em curso e/ou potenciais podem ser ameaças significantes para uma apreciação satisfatória dos trabalhos. Em alguns casos já podem ser observados danos eminentes, onde o suporte apresenta ondulações, existem desprendimentos de policromia e até mesmo de suporte, além de rachaduras que afetam diretamente a camada pictórica.

Entende-se, sobretudo, que é indispensável verificar a preservação da planaridade e integridade dos suportes utilizados nos trabalhos, assim como, é fundamental preservar a palheta de cores, uma vez que as nuances são intencionalmente alocadas para a organização rítmica do olhar. Para tanto, estudos analíticos devem ser realizados com a finalidade de criar mecanismos para a preservação e/ou resgate da intencionalidade original determinada pela artista e fundamentais para a apreensão estética das obras.

Referências » Análise de obra de Lygia Clark – Arte dos séc XX/XXI. Disponível em: <

» http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/frente/clark/ob

» ra.html> Acesso em 19 jan. 2013.

» ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

» Arte Abstrata e Neoconcretismo. Disponível em: <

» http://www.slideshare.net/ralfhdesigner/arte-abstrata-e-neoconcretismo-presentation-

» 909010>Acesso em 19 jan. 2013.

» Associação Cultural “Mundo de Lygia Clark”. Disponível em:

» <http://www.lygiaclark.org.br/defaultpt.asp>. Acesso em 15 jan. 2013.

» CLARK, Lygia; BORJA-VILLEL, Manuel J. Lygia Clark. Barcelona: Fundacio Antoni

» Tapies, c1998 364p.

» GULLAR, Ferreira. Etapas da arte contemporânea: cubismo a arte neoconcreta. 3. ed.

» -. Rio de Janeiro: Revan, 1999. 301p.

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A restauração do revestimento azulejar do Convento de Santo Antônio do Recife

Pérside Omena; Grifo Diagnóstico e Preservação de Bens Culturais; Recife; [email protected]

Introdução O Convento de Santo Antônio do Recife foi construído em área adquirida por doação e compra, entre 1606 e 1627, na parte norte da Ilha dos Navios, ou Antônio Vaz, cercado pelo encontro dos rios Capibaribe e Beberibe, local de parte do atual bairro de Santo Antônio, no Recife, Estado de Pernambuco, no Nordeste do Brasil. O Convento e sua Ordem Terceira de S. Francisco formam um extenso conjunto arquitetônico, cuja implantação estratégica original nomeou o tradicional bairro da cidade, com valiosos bens integrados, entre eles um rico acervo azulejar de produção portuguesa executada desde c. 1650 até c. 1780 e de origem holandesa, figura avulsa de fabricação seiscentista, objeto do projeto de restauração do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em execução pela Grifo Diagnóstico e Preservação de Bens Culturais.

Este artigo expõe os serviços executados entre 2009 e 2011, em 25 painéis figurativos pertencentes ao conjunto do Ciclo do Gênesis, localizados nos corredores do pavimento térreo do claustro do Convento, e nos painéis localizados na Capela Dourada da Ordem Terceira de S. Francisco, seis com cenas de caça, um deles assinado por António Pereira e dois de padronagem tipo tapete. Esse trabalho foi uma intervenção interdisciplinar de restauração que contemplou, além da intervenção direta nos azulejos, o saneamento do edifício, utilizando-se metodologia desenvolvida para o caso específico, com técnicas e materiais que minimizaram, mormente, o problema de umidade, uma das principais causas de deterioração.

O trabalho realizado foi uma intervenção interdisciplinar de restauração, que teve um resultado muito positivo, pois contemplou, além da intervenção direta nos azulejos, o saneamento do edifício, atenuando uma das principais causas de degradação, para garantir um maior tempo de vida a esse importante acervo. A leitura estética também foi restabelecida, conseguindo-se resgatar a beleza, a harmonia e o equilíbrio nos dois ambientes tratados, objeto desta exposição. Todos os procedimentos adotados na execução do trabalho foram previamente discutidos e aprovados pelo Iphan.

Referências » JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. OFM. Novo Orbe Seráfico Brasílico ou Chronica

dos Frades Menores da Província do Brasil. Recife: Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, 1980. 3 vols. em 1 (Parte Segunda). Fac-símile da edição de 1859, 1861, 1862.

» JARDIM, Luís. A pintura decorativa em algumas igrejas antigas de Minas. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, nº 3, pp. 63–102, 1939

» LEVY, Hannah. Modelos europeus na pintura colonial. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, nº 9, pp. 251–290, 1944.

» BARATA, Mário. Azulejos no Brasil – Séculos XVII, XVIII e XIX. Rio de Janeiro: UFRJ,

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1955.

» MUELLER, Frei Bonifácio. OFM (1890–1963). Convento de Santo Antônio do Recife 1606–1956. Recife: Província de Santo Antônio, 1956.

» SANTOS SIMÕES, J. M. Azulejaria Portuguesa no Brasil. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1965.

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Conservação da Coleção do Instituto Rubens Gerchman: discussão acerca dos parâmetros de intervenção utilizados

Dr. Claudio Valério Teixeira - CCBC

Ms. Humberto Farias de Carvalho - EBA/UFRJ

Introdução Esta comunicação trata da conservação e das intervenções restaurativas realizadas em trinta obras de autoria do artista Rubens Gerchman, pertencentes ao Instituto Rubens Gerchman (IRG), fundado com o intuito de preservar obras e documentos do artista, assim como divulgar a sua obra e a sua história.

Desafios da conservação de arte contemporâneaO Centro de Conservação de Bens Culturais (CCBC) foi convidado para se responsabilizar pelas intervenções necessárias. Para a realização desse importante trabalho, o CCBC contou com a colaboração do profissional Humberto Farias de Carvalho, que vem se especializando, desde seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em conservação de arte contemporânea. Também participou desse trabalho a conservadora Laura Macedo, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais e com experiência adquirida em instituições de arte contemporânea , que atuou especificamente nas restaurações das obras “caixas de charutos”, sob a supervisão do conservador Claudio Valério Teixeira.

A discussão a respeito dessas intervenções torna-se relevante na medida em que não é comum conservadores terem a oportunidade de trabalhar com uma coleção vasta de um só artista e que abranja diversas fases de sua produção, o que fornece ao profissional da conservação uma ampla visão material e estética da obra do artista, alargando assim o campo de discussões a respeito das possibilidades interventivas.

Nesta comunicação serão destacados alguns exemplos, como o objeto “Caixa de Morar”, no qual procurou-se preservar, na obra, elementos da passagem do tempo que não prejudicavam sua fruição estética, e “Barreira do Vasco”, em que se fez necessária uma intervenção de maior monta: a reconstrução de partes perdidas da estrutura de madeira, bem como a substituição de elementos apropriados pelo artista.

Os exemplos acima citados são ricos em informações que subsidiam um debate sobre as decisões adotadas em intervenções conservativas em arte contemporânea. O período em que se realizaram as intervenções em obras de Rubens Gerchman foi um momento fértil em termos de questionamentos acerca dos parâmetros adotados, participando deles toda a equipe do CCBC, bem como a equipe do IRG, através de sua diretora Clara Gerchman e de sua equipe de museólogos e pesquisadores, sempre prontos a fornecer documentos e informações necessários para o bom andamento dos trabalhos.

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O restauro do retrato do Infante Dom João, futuro Príncipe Regente e Rei de Portugal

Dr. Edson Motta Junior – UFRJ (Escola de Belas Artes)

IntroduçãoEm janeiro de 2013, a Família Imperial Brasileira enviou para restauro o único retrato de infância do Príncipe do Reino de Portugal e futuro Rei, Dom João VI. A pintura, feita com tintas a óleo sobre tela por Cyrillo Volkmar (1748-1823) em 1773, representa o futuro monarca aos seis anos, vestido em trajes de gala, ao lado do seu cão de companhia.

A composição é clara e equilibrada, embora constrangida pelas margens da tela visivelmente recortadas. Além disso, o rosto do príncipe, pintado em meio perfil, se desvia para fora da composição o que sugere que a obra pode ser um fragmento de uma composição maior, e que talvez contasse originalmente com outras figuras e elementos composicionais.

Ao ser examinado ficou claro que o estado de conservação da pintura era sofrível. Em algum momento de sua historia, provavelmente durante o exílio de Dom Pedro II, a partir de 1889, a obra foi submetida, na França, a uma transposição completa para outra tela, e suas dimensões foram ligeiramente aumentadas. Somou-se a isso uma ou várias extensas repinturas, que cobriram toda a área do fundo e boa parte do rosto do Infante e seu cão. A tinta original apresentava-se em descolamento e algumas lacunas causadas por seu desprendimento estavam à vista.

O restauro foi precedido de uma investigação da provável trajetória da obra desde sua criação em Portugal no final do século XVIII até sua incorporação à atual coleção de um dos membros da Família Real. Este teve como objetivo resgatar o pleno significado do retrato e a razão e a relevância das mutilações que sofreu.

Especial atenção foi dada ao estudo das técnicas francesas de transposição e re-entelamento e os perigos de sua reversão. Foram discutidas também as adequações históricas dos materiais modernos usados para o restauro de pinturas, e questões formais referentes à reintegração cromática de pinturas atmosféricas que apresentam claro/escuro acentuados; além disso, uma investigação da iconografia e da simbologia empregada pelo autor acompanhou a fase preparatória para o restauro e foi determinante para o completo entendimento do significado da obra e definição das ênfases nas fases de limpeza e reintegração cromática.

Referências » ZUCKER, Paul – Styles in Painting. New York: Dover Publications,Inc.1963

» MATTEINI, Mauro – Scienza e Restauro. Firenze: Nardini Editore, 1984

» MOTTA, Jr., Edson – La Utilizacion Del Sistema Colorimétrico CIEL *a**b* em La Evaluacion de los Barnices y Sistemas de Barnizado Empleados em La Restauracion de Pinturas. Valencia: UPV, 2004.

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Conservação e restauração da escultura Alegoria do Império Bra-sileiro

Ms. Benvinda de Jesus Ferreira Ribeiro – Museu D.João VI - Escola de Belas Artes/UFRJ

Ms. Maria de Fátima do Nasc. Alfredo – Artes Visuais – Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais/UFRJ

IntroduçãoA obra escultórica Alegoria do Império Brasileira de Francisco Emanuel Chaves Pinheiro artista brasileiro (1822-1884), passa pelo processo de conservação e restauração no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro entre os anos de 2008 e 2009.

O autor da obra, Francisco Emanuel Chaves Pinheiro foi discípulo de Marc Ferrez, que sofre forte influência da Escola Francesa na realização de suas obras. Sua obra é uma alegoria feita em terracota e em tamanho natural, o Império brasileiro é representado por uma figura de um índio ou caboclo. A obra foi executa no ano de 1874 para ser apresentada na Exposição Geral de Belas Artes e se encontra no Museu Nacional de Belas Artes. Inicialmente a escultura foi posta na escada do Prédio do Tesouro Nacional (demolido), mas assim que foi proclamada a República, a obra foi retirada e posta na nova sede da Escola Nacional de Belas Artes. Esta obra foi executada durante a terceira fase do movimento indianista (1870 – 1888), durante o Segundo Reinado. No período havia vários movimentos em formação, como o abolicionismo, o republicanismo. Além disso, era também muito significativo o intenso movimento migratório, que moldava a sociedade do período e contribuía para a construção do imaginário nacional, de cunho romântico.

A importância desta obra como referência histórica de um tempo e como objeto de exposições e de estudos acadêmicos constantes dentro do referido acervo, torna fundamental os procedimentos de conservação e restauração realizados para sua leitura estética e histórica.

No presente trabalho pretendemos expor o processo de conservação e restauração deste bem móvel, abordando a importância de se preservar a obra de arte através da utilização de técnicas de restauro artístico, descrevendo quais os métodos e os materiais utilizados para a preservação do bem em questão. Visando, sobretudo, demonstrar como o comprometimento com a essência dos elementos a serem restaurados, o domínio das técnicas, a pesquisa histórica da obra e compreensão dos conceitos de conservação definem os princípios e critérios a serem adotados antes do início da intervenção.

Cada época e estilo são agregados à arte escultórica, de maneira toda própria. Também as técnicas utilizadas variam segundo o material e os processos empregados.

O procedimento de conservação utilizado na busca da leitura da obra respeitou: a tecnologia da obra, ao tempo de sua criação (período histórico) e a sua passagem no tempo.

Referências » BRANDI, C. Teoria da Restauração. Trad. Beatriz Kühl. São Paulo: Atelier

» Editorial, 2004.

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» J.M. ANDRÉ, Restauration des Sculptures, Fribourg, 1977;

» KNAUSS, Paulo. A festa da imagem: a afirmação da escultura pública no Brasil do século XIX. In: Oitocentos – Arte Brasileira do Império à Primeira República. Orgs.: CAVALCANTI, Ana M.T., DAZZI, Camila e VALLE, Arthur. Rio de Janeiro: E.B. A / UFRJ, 2008.

» MIGLIACCIO, Luciano. A imagem do índio na escultura brasileira do II Império. In: O corpo humano nas artes figurativas e na arquitetura. Desígnio. Revista da Arquitetura e do urbanismo. São Paulo, n. 3. 2005.

» P.H.CLERIN, La sculpture, Toutes les techniques, Paris, 1988;

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A Restauração da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores de Paraty-RJ

Dra. Claudia R. Nunes - Conservadora e Restauradora; Superintendência Estadual do IPHAN Rio de Janeiro

O Centro Histórico de Paraty tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1947, tornou-se um dos mais importantes do Brasil, sendo intensamente visitado por turistas de todos os países do mundo. Este trabalho descorre sobre a restauração da principal Igreja do Centro Histórico, a Igreja Matriz de Paraty Nossa Senhora do Rosário, que foi restaurada no período de 2007 à 2011. O projeto de restauração envolveu obra civil, restauração artística do altar-mór e dos laterais, pinturas parietais e restauração de imaginária pertencente ao acervo da Igreja. A restauração foi possível ao empenho da ONG Angra Brasil, com patrocínio do BNDES e foi acompanhada pela então Chefe do Escritório Técnico Costa Verde do IPHAN, Arq. Cynthia Tarisse, e com Consultoria na área de restauração artística da autora e outros profissionais do IPHAN-RJ.

A Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário localizada na praça central do centro histórico de Paraty é um dos mais significativos monumentos de nosso Patrimônio Histórico. Fundada em 1745, foi tombada em 1947 pela então Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –SPHAN, atual IPHAN.

Em 1950 a Igreja passou por reforma do telhado e pintura externa realizadas pela SPHAN e em 1972, sofreu uma grande intervenção pois segundo documentação encontrada no Arquivo Noronha Santos, o monumento encontrava-se em péssimo estado de conservação, estando com a argamassa do revestimentos de parede na parte inferior, pisos de madeira e telhado comprometidos. O relatório de obras registra também a necessidade de obras no forro da Capela-mór, e na estrutura dos altares. A preocupação da comunidade Paratiana com o precário estado no qual o monumento encontrava-se também é descrito.

A Restauração da Igreja Analisando o referido Relatório de Obras, percebemos a preocupação em “recuperar” o monumento com a finalidade de manter a sua integridade e devolvê-lo para o uso da comunidade. O relatório registra com exatidão a quantidade de tábuas do piso a serem trocadas , a dimensão destas tábuas, a quantidade de pregos que foram utilizados, denotando apenas uma preocupação em anotar com precisão os materiais que estavam sendo substituídos e aonde eram substituídos entretanto, não há registros ou descrições conceituais sobre critérios éticos e estéticos de intervenção.

A nova abordagem e metodologia de intervenções nos monumentos históricos foram desenvolvidas a partir dos anos 80, com o desenvolvimento e elaboração de novos materiais e métodos de intervenção, e com a especialização dos técnicos do IPHAN tornando possível um maior conhecimento de técnicas de intervenção a partir do surgimento das novas normas das Cartas Patrimoniais que surgiram à partir dos anos 70. A abertura da estrada Rio-Santos, possibilitou um acesso mais rápido até à cidade, e o transporte de materiais.

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Na restauração de 1972, a argamassa de cal que encontrava-se em péssimo estado devido `a salinização que ocorre nas paredes da Igreja, pois a mesma encontra-se localizada muito próximo do mar, além da existência de um lençol freático no solo abaixo da Igreja, não havendo na época como superar as dificuldades geradas por esta questão, a argamassa de cal foi substituída por uma argamassa cimenticia com o intuito de que fosse uma argamassa resistente à salinidade e a umidade. Tábuas do forro da Capela-mór foram substituídas, o piso da Sala do Consistório foi trocado.

O registro fotográfico encontrado no Arquivo Noronha Santos sobre o estado da Igreja Matriz N.Senhora do Rosário e sobre a obra realizada em 1972 é surpreendente, levando-se em conta todas as dificuldades da época. São fotografias em preto e branco de excelente qualidade, realizadas pelo Arq. Jacinto Rabello da Sphan.

Concluímos que este projeto teve grande relevância para a comunidade Paratiense, que é muito interligada aos usos e rituais da Igreja Católica, e que realmente se utilizam do espaço divino para suas comemorações e festejos, e que nos motivou a tomar várias decisões, como a reconstrução de um altar que havia sido destruído por térmitas, mas que abrigava três imagens da Igreja em uma sala do segundo pavimento, com a finalidade que estas imagens retornassem ao seu local de uso da comunidade. E uma equipe interdisciplinar que trabalhou em conjunto para que todas as metas e objetivos do projeto fossem alcançados. Foi muito interessante também ver renascer o projeto inicial da decoração interna da Igreja, que se complementa com a pintura das cantarias de pedra. A Igreja foi reaberta ao público em Julho de 2011.

Referências: » ALBERNAZ, Maria Paula e LIMA, Cecília Modesto. Dicionário Ilustrado de Arquitetura.

São Paulo. Vicente Wissenbach, 1999.

» ANTONIL, André J. .Cultura e Opulência no Brasil. São Paulo. Ed. Melhoramentos. 1976.

» ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa no Rio de Janeiro” – Editora UFRJ, RJ, 1997”.

» AVILA, Afonso; GONTIJO, J..M..M. e MACHADO, R. G. Barroco Mineiro- Glossário de Arquitetura e Ornamentação . Rio de Janeiro. co-edição - Fundação Jõao Pinheiro e Fundação Roberto Marinho. 1979.

» BARRETO, Paulo T. . Casas de Câmara e Cadeia. In Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / IPHAN - 1997.

» BUNBURY, Charles James Fox. Narrativa da Viagem e um Naturalista Inglês ao Rio e Janeiro e Minas Gerais (1833 – 1835). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943.

» CADERNOS DE ENCARGOS, Monumenta/IPHAN, RJ .

» CARTAS PATRIMONIAIS, 3ª ed. ver. aum. Organização Isabelle CURY. Rio de Janeiro ; IPHAN,2004

» CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro: notícia histórica e descritiva da cidade. 2. ed., 2 v., Rio de Janeiro: José Olympio, 1952.

» DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. São Paulo: Livraria Martins,

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1967.

» LEITÃO, C. de Melo. O Brasil visto pelos ingleses. São Paulo: Editora Nacional, 1937.

» LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais no Brasil; tomadas durante uma estada de 10 anos neste país, de 1808 a 1818. São Paulo: Martins, 1942.

» PAREDES, Almir. Dicionário de Artes Plásticas . Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2005

» RABELLO, Jacinto. Relatório de Obras. Igreja N.Senhora dos Remédios - Paraty . Rio de Janeiro, datilografado, Arquivo Noronha Santos/IPHAN,1972.

» SANTOS, Luiz Gonçalves dos (Padre Perereca). Memórias Para Servir À História do Reino do Brasil. Rio de Janeiro, Editora Valverde, 1943. II Volumes. (o segundo começa na pág. 465)

» TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Rio de Janeiro e Antanho; impressões de viajantes estrangeiros. São Paulo: Nacional, 1942.

» TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Visitantes do Brasil colonial, séculos XVI e XVIII. São Paulo: Nacional, 1933.

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Primeira Missa no Brasil, de Candido Portinari: a importância da documentação na intervenção de conservação e restauração

Larissa Long - Coordenação de Conservação e Restauração, Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), RJ, Brasil

Elisabete Martelletti Grillo Pereira - Restauração de Pintura, RJ, Brasil

Geisa Alchorne de Souza - Restauração de Pintura, RJ Brasil

A realização de intervenções restaurativas em obras de grande dimensão tem sido permanentemente um ponto complexo de discussão entre os profissionais ligados à preservação de bens móveis. O aspecto dimensional exige tempo para análises mais profundas e especificidades em relação aos critérios a serem adotados em um processo de restauração. Portanto, um diagnóstico minucioso pode respaldar mais ações de conservação que evitem grandes e onerosas intervenções, atuando minimamente na obra com a preocupação com o ambiente onde está inserida e também com seus aspectos operacionais como: modo de exposição, manuseio, transporte e armazenagem. A obra em questão, intitulada “Primeira Missa no Brasil” (1948), de Candido Portinari, comprada pelo Instituto Brasileiro de Museus, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (IBRAM/Minc) e integrada ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), é uma pintura que possui medidas de 2,70 m x 5,00 m e é constituída pela técnica têmpera sobre tela. Em essência, o diagnóstico inicial, feito no local de origem, constatou o bom estado de conservação da obra necessitando de uma avaliação mais minuciosa para a definição de um tratamento adequado.

O tratamento realizado, supervisionado pela restauradora responsável pela Coordenação de Conservação e Restauração do MNBA, Larissa Long, buscou uma prática de conservação curativa que respeite a unidade visual, a estabilidade estrutural e, quando possível, a reversibilidade na escolha dos materiais e procedimentos. A metodologia procedeu as seguintes etapas: levantamento de informações técnicas, históricas e de tratamentos anteriores; realização de exames prévios (fluorescência de raios-X, realizado pela pesquisadora Cristiane Calza da COPPE UFRJ, fotografia com luz ultravioleta, fotografia com luz transversa, fotografia com luz rasante, fotografia com radiação infravermelho, avaliação organoléptica, teste para a remoção das sujidades); mapeamento de danos; tratamento (higienização, limpeza da camada pictórica, pequenos cuidados no suporte, apresentação estética).

O propósito maior para o desenvolvimento do trabalho foi de realizar um diagnóstico aprofundado das condições materiais/físicas da obra e também tratá-la com procedimentos que permitisse uma apresentação visual e estrutural adequada e segura a partir dos conceitos de autenticidade, legibilidade e subjetividade. Finalizando pontuou-se uma preocupação com práticas de conservação preventiva abordando ações específicas de monitoramento no que se refere ao manuseio, ao modo de exposição, a embalagem, ao transporte e, principalmente, as condições climáticas.papel, utilizando uma manta de membrana celulósica, composta por microfibrilas de celulose pura, formando um material de excelentes qualidades arquivísticas, economicamente viável e sustentável para o meio ambiente.

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