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2ª capaAnúncio Netafim

(fotolito)

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Maiorsustentabilidadedos agronegócios

Helvecio Mattana SaturninoEDITOR

E-MAILS: [email protected] e [email protected]

A visão de uma ponte inspira reflexões sobre a importância da junção de esforços,das conexões, das logísticas, do rompimento de barreiras e de muitos avançossocioeconômicos que as aproximações podem proporcionar. Tê-la sobre o rio SãoFrancisco, no pólo Juazeiro-Petrolina, inspira a integração nacional e internacional,tendo-se a água como vetor de desenvolvimento e a agricultura irrigada comoimpulsionadora de vantagens comparativas de diversos agronegócios, gerando-se riquezase empregos. Faz refletir também sobre as irregularidades climáticas de Norte a Sul doBrasil evidenciando a importância da irrigação, da drenagem, do controle de enchentes,do maior conhecimento sobre o clima, as possibilidades e as potencialidades do maioraproveitamento dos recursos hídricos. É diante do desafio das irregularidades climáticasque o XIV Conird estará perseguindo essa integração nacional e internacional em 2004,com a parceria do Rio Grande do Sul. Uma ponte rica de experiências, tradições econhecimentos. (Foto: Genoveva Ruisdias).

ortalecer o agronegócio da agricultura irri-gada, para gerar mais empregos e promovera reversão dos ciclos de pobreza em ciclos de

prosperidade, tendo o Rio São Francisco como arté-ria principal, traz à baila várias oportunidades a se-rem exploradas e muitas reflexões, que passaram peloamplo processo dialético do XIII Conird, em um ricoconvívio no pólo Juazeiro/Petrolina.

Com a abundância de luminosidade e de recur-sos de solo, água e biodiversidade, fica patente que odesafio está na capacidade de o homem saber agre-gar valores ao aproveitamento desses recursos natu-rais, com produtos que se diferenciem pelo domíniodo conhecimento nas cadeias produtivas, por vanta-gens comparativas e pela logística em tê-los disponí-veis para manter e conquistar mercados. No cernedessa questão está a pergunta: – como ser competiti-vo e gerar riquezas diante dos crescentes desafios emum mundo globalizado?

Quanto mais houver tecnologias incorporadasnos diversos elos dessas cadeias, como fruto de umacrescente capacitação brasileira, maior será a apro-priação nacional de riquezas. Esse é um firme cami-nho para melhor aquinhoar a sociedade com maisempregos permanentes e melhor qualidade de vida,abrindo-se perspectivas para democratização dasdecisões e uma justa distribuição do trabalho e dasriquezas, ocupando o mercado com mais competên-cia e maior agregação de valores a cada produto.

Não há como abordar esse desenvolvimento semo foco em uma ampla integração tecnológica, socio-econômica, comercial e ambiental, entre os organis-mos públicos e privados, envolvendo o setor produti-vo, empresas de equipamentos de irrigação, deinsumos, de serviços e uma sólida base de formaçãode recursos humanos.

Assim, merece destaque a matéria sobre a histó-ria da implantação e desenvolvimento da pós-gradu-ação no Brasil. Trata-se de um pilar a enriquecer per-manentemente a competência de todos esses setoresdo agronegócio, logrando-se mais soberania nas de-cisões econômicas, políticas e culturais, respaldan-do-as com constantes pesquisas, debates e estudos,para que se descortinem trocas mais justas no comér-cio exterior e no mercado interno. Quanto maior ajunção de forças com a pós-graduação, maior a mul-

tiplicação de valores e de ganhos em escala no pro-cesso científico e tecnológico, abrindo-se mais opor-tunidades para avanços que vão da ciência básica àaplicação dos conhecimentos às práticas comuns nacadeias produtivas. A Associação Brasileira de Irri-gação e Drenagem (ABID) fica cada vez maisenriquecida com as interlocuções em toda essa am-plitude.

O domínio tecnológico do agronegócio nos tró-picos, calcado nas demandas e oportunidades domercado, especialmente na região do Semi-Áridobrasileiro, que é única no mundo, vislumbra-se comouma grande alternativa de substanciais avanços so-cioeconômicos. Essas características diferenciadaspolarizam o desenvolvimento, abrindo mais chancespara novos empreendimentos e inovações, fazendoconvergir competências, multiplicando-se justamen-te o que as boas políticas públicas sempre almejam.

Daí aflora a importância dos investimentos estra-tégicos, perseguindo-se um mais equilibrado desen-volvimento.

Que o trabalho da ABID seja mais um vetor des-se nobre propósito! Que a mobilização em torno doXIV Conird e dos eventos internacionais encontrenas fortes tradições gaúchas a necessária força paraavançar celeremente nesta importante caminhada.

F

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CONSELHO EDITORIAL:CAIO TIBÉRIO DA ROCHA

CLÁUDIO AFFONSO AMORETTI BIER

FERNANDO ANTÔNIO RODRIGUEZ

HELVECIO MATTANA SATURNINO

HYPÉRIDES PEREIRA DE MACÊDO

JORGE KHOURY

JOSÉ CARLOS CARVALHO

SALASSIER BERNARDO

COMITÊ EXECUTIVO: ANTÔNIO A. SOARES; DEVANIR GARCIA DOS

SANTOS; FRANCISCO DE SOUZA; GENOVEVA RUISDIAS; HELVECIO

MATTANA SATURNINO; LUÍS ANTÔNIO DE LEON VALENTE.

EDITOR: HELVECIO MATTANA SATURNINO E-MAIL:[email protected]; [email protected]

JORNALISTA RESPONSÁVEL: GENOVEVA RUISDIAS (MTB/MG 01630JP). E-MAIL: [email protected]

ENTREVISTAS E REPORTAGENS: CARLOS LAERTE, GENOVEVA RUISDIAS

E GLÓRIA VARELA.

AUTORIA DOS ARTIGOS TÉCNICOS: ADEMÁRIO AFONSO DE ARAÚJO

FILHO, ÁUREO S. DE OLIVEIRA, DORACY PESSOA RAMOS,DURVAL DOURADO NETO, JOSÉ MONTEIRO SOARES, MÁRCIO

MOTA RAMOS, PEDRO FREITAS RAMOS, VINÍCIUS JOSÉ DE SOUZA

VIEIRA, WALTER FARIAS GOMES JÚNIOR.

REVISÃO: MARLENE A. RIBEIRO GOMIDE, ROSELY A. R. BATTISTA E

CIBELE PEREIRA DA SILVA (SUPORTE TÉCNICO).

INFORME TÉCNICO PUBLICITÁRIO: SENNINGER IRRIGAÇÃO DO BRASIL

LTDA E VALMONT COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA.

FOTOGRAFIAS: ARQUIVOS DA AGROVALE, CODEVASF, EMBRAPA

CERRADOS,EMBRAPA SEMI-ÁRIDO, FAEMG, SECRETARIA DA AGRICULTURA,IRRIGAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA DA BAHIA, SENNINGER IRRIGAÇÃO

DO BRASIL LTDA, ARGUS SATURNINO, CARLOS LAERTE, CÍCERO

BARBOSA FILHO, EVANDRO FIÚZA, FRANCISCO LOPES FILHO,GENOVEVA RUISDIAS, HELVECIO MATTANA SATURNINO, JOSÉ LUÍS

DE SOUZA, PEDRO FREITAS, ROSE AZEVEDO.

PUBLICIDADE: ABID, PELOS E-MAILS: [email protected] E

[email protected] OU PELO FAX: (61)274.7245.

PROGRAMAÇÃO VISUAL, ARTE E EDITORAÇÃO GRÁFICA: GRUPO DE

DESIGN GRÁFICO LTDA.(RUA CÔNEGO JOÃO PIO, 150, BAIRRO

MANGABEIRAS, BELO HORIZONTE, MG, FONE: (31) 3225.5065 E

TELEFAX: (31) 32252330.

TIRAGEM: 6.000 EXEMPLARES.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

IRRIGAÇÃO E DRENAGEM (ABID) – SCLRN 712, BLOCO C - 18,BRASÍLIA, DF, CEP: 70760-533 - FONE: (61) 273-2154 OU (61)272-3191; FAX: (61) 274-7245 E E-MAIL: [email protected]

PREÇO DO NÚMERO AVULSO DA REVISTA: R$ 10,00 (DEZ REAIS).

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ABID. A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL PODE SER FEITA, DESDE

QUE CITADA A FONTE.

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DIREITO DE EDITÁ-LAS, BUSCANDO NÃO ALTERAR O TEOR E

PRESERVAR A IDÉIA GERAL DO TEXTO.

ESSE TRABALHO SÓ SE VIABILIZOU GRAÇAS À ABNEGAÇÃO DE MUITOS

PROFISSIONAIS E AO APOIO DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS.

REVISTA TRIMESTRAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IRRIGAÇÃO

E DRENAGEM – ABID

Nº 60 - 4º TRIMESTRE DE 2003ISSN 0102-115X

ITEMITEMIRRIGAÇÃO & TECNOLOGIA MODERNA

LEIA NESTA EDIÇÃO:

Cartas dos leitores – Página 6

Publicações – Página 8

Opinião – Página 10

Necessidade de maior acesso do setorprodutivo às tecnologias da agricultura

irrigada

A realização do XIII Conird às margens do RioSão Francisco, em Juazeiro, fomentou a troca eatualização de informações e de políticas, entre

integrantes das cadeias dos agronegócios, e oestabelecimento de novos desafios para o setor da

agricultura irrigada do país. Página 12

A mobilização para o XIV Conird em PortoAlegre

Importantes parcerias impulsionam a organizaçãodo evento, que inclui o

I Encontro Interamericano de Irrigação, Drenageme Controle de Enchentes, de 24 a 29 de outubro de

2004. Página 16

Por onde deve começar a revitalização daBacia do Rio São Francisco

O professor da Universidade Federal de Viçosa,Márcio Mota Ramos, advertiu sobre os riscos,especialmente na região dos Cerrados, com a

drenagem das veredas. Página 18

Quantificação do uso e da eficiência dairrigação na bacia do São Francisco

De autoria de Márcio Mota Ramos, FernandoFalco Pruski, Lineu Neiva Rodrigues, Wallisson daSilva Freitas, Gessionei da Silva Santana e Rafael

de Almeida Ribeiro. Página 22

Estudo do Banco Mundial apontaresultados e desafios – Página 34

Irrigação como vetor do desenvolvimentosustentável e da conquista de mercados

A realização do XIII Conird no Pólo Juazeiro-BA/Petrolina-PE facilitou a interlocução entre várioselos das cadeias produtivas, indo da captação da

água para a irrigação até as gôndolas desupermercados europeus, com produtos como a uva

e a manga. Conheça uma visão econômicaatualizada sobre o que vem acontecendo com as

duas principais frutas produzidas nesse perímetroirrigado. Página 36

Exportador de frutas brasileiras fala sobreas exigências do mercado internacional –

Página 43

Quem faz a diferença no Pólo de Juazeiro/Petrolina?

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Uma entrevista com o economista Alberto Galvão, superintendente daValexport. Página 44

Novidades tecnológicas para a vitivinicultura do Vale do SãoFranciscoA pesquisa agropecuária tem boas notícias para os produtores de uvas dasregiões tropicais brasileiras, como o Vale do São Francisco, Norte de MinasGerais (Pirapora), Noroeste de São Paulo (Jales), Norte do Paraná(Marialva) e outras regiões emergentes, todas tendo a irrigação como basepara o desenvolvimento dos sistemas de produção. Quem conta as boasnovas é o economista José Fernando da Silva Protas, pesquisador, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho e secretário-executivo da Câmara Setorialde Vitivinicultura, Vinhos e Derivados. Página 50

Agrovale, uma experiência de 25 anos em irrigação dacana-de-açúcar na região do Submédio São FranciscoEm entrevista à Item, o engenheiro agrônomo Carlos Gilberto CavalcantiFarias, diretor-superintendente da Agroindústrias do Vale do SãoFrancisco S.A. (Agrovale) mostrou os planos traçados para a indústria nospróximos cinco anos. Além disso, os pesquisadores José Monteiro Soares,Vinícius José de Souza Vieira, Walter Farias Gomes Júnior e AdemárioAfonso de Araújo Filho descrevem num artigo o que foi mostrado no diade campo realizado na Agrovale durante o XIII Conird. Página 55

Certificação: a produção integrada de frutas já mostrou seuvalor. Como avançar mais na agricultura irrigada?Durante o XIII Conird, a ANA, representada pelo engenheiro agrônomoLairson Couto, apresentou um trabalho de certificação para o usoracional da água na agricultura irrigada desenvolvido desde 2001, comdiversos segmentos. Página 66

Informes Técnicos Publicitários da Senninger Irrigação do BrasilLtda e da Valmont Comércio e Indústria Ltda – Página 70

Brasil repete a “tragédia de uso comum” em relação àságuas dos riosA tragédia de uso comum é um conceito econômico da primeira metadedo século 19 e diz respeito à utilização de recursos naturais que sejam deuso comum. Quem explica esse conceito é Jerson Kelman, diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA). Página 77

Um pouco da história dos cursos de pós-graduação no Brasil

Em 1961, foram criados os dois primeiros cursos de pós-graduação, emnível de mestrado, de uma instituição brasileira de nível superior: os cursosEconomia Rural e Horticultura, ambos na UFV, que, na época,denominava-se Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (Uremg).Em 1968, essa universidade passou a contar com o curso de pós-graduaçãoem Extensão Rural, também em nível de mestrado e, a partir de 1972, como doutorado em Economia Rural. Conheça um pouco dessa história.Página 82

Inserção da Escola de Agronomia da UFBA no contexto douso racional da água – Página 88

Notas Técnicas – Página 92

Navegando na internet – Página 98

Classificados – Página 98

O XIII Conird reuniu representantes devários estados brasileiros e noveespecialistas do exterior em Juazeiro/BA,numa rica troca de experiências

O governador Germano Rigotto fez olançamento dos eventos enaltecendo opapel das cooperativas, da indústria deequipamentos e máquinas agrícolas, dospoderes municipais e de organizaçõescomo Irga, Emater e outras, na busca deavanços nos agronegócios calcados naagricultura irrigada junto à ABID

A implantação dos cursos de pós-graduação no Brasil foi determinante parao desenvolvimento dos agronegócios

O seminário sobre “Os impactos darevitalizaçãoe conservação de cursos d’água naagricultura irrigada: o caso do Rio SãoFrancisco” foi um dos temas maisimportantes do XIII Conird

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CARTASleitores

Uma visita virtual à Ilha Solteira“Aproveito esta mensagem para parabenizá-los

pela preparação e organização do XIII Conird e darevista ITEM, que realmente tem melhorado a cadadia. Aproveito para sugerir uma visita a nossa que-rida Ilha Solteira: aqui poderão ser encontradasuma das melhores Universidades Públicas do Bra-sil, uma das maiores usinas hidrelétricas do mun-do e, também, uma das cidades com melhor qua-lidade de vida. Se não der para vir pessoalmente,visite-nos de forma virtual, através do website daÁrea de Hidráulica e Irrigação da Unesp - Ilha Sol-teira.

http://www.agr.feis.unesp.br/irrigacao.php .Nosso website contém várias informações e estádividido em estações, onde os assuntos semelhan-tes estão agrupados.

Por exemplo, a estação pesquisas (http://www.agr.feis.unesp.br/pesquisas.php) contém algumas

Guardar a água e usá-la comsabedoria

“Parabéns pelo editorial da ITEM 56/57. Pre-cisamos sensibilizar os órgãos governamentais,especialmente no estado de Minas Gerais, sobrea necessidade de construção de barragens paraacumular e aproveitar melhor as águas das chu-vas. Não podemos perder as águas das chuvas.Cada hectare irrigado vale por mais de três hec-tares de sequeiro, pois podemos fazer três plan-tios no ano, com maior produtividade e menosrisco de perdas por seca.

Minas Gerais é cabeceira de duas grandes ba-cias hidrográficas, a do São Francisco e a do Paraná.Temos áreas excepcionais para a produção agro-pecuária e irrigação. Se soubermos explorar nos-sas potencialidades, com certeza podemos ser umestado grande produtor agrícola equiparado a ou-tros estados brasileiros. Assim nós, produtores, po-deremos aumentar nossa renda (veja o esforço queo secretário estadual da Agricultura, Odelmo Leão,vem empreendendo para aumentar a receita deMG).

No workshop sobre lepa realizado em Uberaba(ver matéria na página ao lado), tivemos a opor-tunidade de discutir com segmentos ligados a ir-rigação (produtores irrigantes, indústria de equi-pamentos, universidades, técnicos de órgãos go-vernamentais). Considero ser uma forma corretae rápida de resolver problemas.” JOSÉ CARLOSGROSSI (Engenheiro agrônomo, produtor e em-presário rural, Grupo Alto Cafezal, Patrocínio,MG).

Maior participação“Sua correspondência de agradecimentos pela

realização do Conird deve provocar uma avalanchede respostas como a minha. Sou sócio da Projetec,uma das mais tradicionais empresas de consultoriade engenharia de irrigação do Brasil. Temos 37 anosde fundação, a maior parte dedicada a projetosda Codevasf, Chesf (reassentamentos de Itaparica),Dnocs e Secretarias de Recursos Hídricos, de Irri-gação e de Agricultura. Confesso que, ao longodesses anos, fomos um pouco displicentes em ter-mos de publicação de nossos feitos e participaçãonos eventos da categoria. Em Juazeiro, publicamosum trabalho (André Leitão e Fábio Chaffin Barbo-sa) sobre otimização de contas de energia, que foimuito bem avaliado pelos interessados. Espero queessa experiência nos reaproxime dos eventos daprofissão. Estamos trabalhando em temas como oPPP da Irrigação e em vários outros que considera-mos de grande interesse. A falta de tempo é quemuitas vezes nos inibe de publicar. Parabenizo-ospela realização do Conird, retribuo os agradecimen-tos.” JOÃO RECENA (Projetec - Projetos TécnicosLtda. www.projetecnet. com.br – (81) 3467.9011ou (81) 9994.3121).

6 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

das pesquisas e projetos desenvolvidos pela nossaequipe (http://www.agr.feis.unesp.br/staff.php) .

Em galeria (http://www.agr.feis.unesp.br/galeria.php), disponibilizamos uma série de fotosligadas à agricultura irrigada e também a even-tos.

Em defesas (http://www.agr.feis.unesp.br/defesas.php), são apresentadas as dissertações demestrado e os trabalhos de graduação são divul-gados.

Em textos técnicos (http://www.agr.feis.unesp.br/textostecnicos.php),disponibilizamos textos li-gados à irrigação.

Na estação clima (http://www.agr.feis.unesp.br/clima.php), os dados climáticos (inclusive evapo-transpiração para auxílio no manejo da irrigação)das regiões Noroeste e Oeste Paulista, obtidos pe-las três estações climatológicas (Ilha Solteira, Jun-queirópolis e Marinópolis).

Por fim, destaco o Irriga-L (http://www.agr.feis.unesp.br/irriga-l.htm). Trata-se de um grupo de dis-cussão, em que estão inscritos, mais de uma cen-tena de profissionais, e pretende ser um fórum dediscussão em agricultura irrigada.” FERNANDOBRAZ TANGERINO HERNANDEZ (Faculdade deEngenharia de Ilha Solteira – Unesp (Defers - De-partamento de Fitossanidade, Engenharia Rural eSolos - Área de Hidráulica e Irrigação - Caixa Pos-tal 34 – CEP: 15.385-000 - Ilha Solteira – SP).

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A definição sobre o que represen-ta o uso eficiente da água é um dosatuais desafios da Agência Nacionalde Águas (ANA), que tem como com-petências regular, fiscalizar, permitire autorizar o uso de recursos hídri-cos, além de mediar conflitos pelouso da água. No mundo, a agricultu-ra irrigada é responsável pelo maiorpercentual de utilização da água doce– 69% – , enquanto que a indústriaresponde por 23% e a população por7%.

As perdas mundiais pelo usoindevido da água na agricultura irri-gada atinge a 45%, um índice que éum pouco mais alto no Brasil: 50%,dos quais 30% divididos igualmenteentre os sistemas de condução e dis-tribuição e 25% no sistema de apli-cação parcelar. Segundo DevanirGarcia dos Santos, gerente de Con-servação de Água e Solo da ANA, osesforços atualmente despendidospela pesquisa, pela indústria de equi-pamentos e pelo setor produtivo paraeconomia de água e de energia de-veriam ser ordenados em torno de re-ferências (quantidade de grãos pro-duzidos por metro cúbico ou por uni-dade de energia). No mundo, 17% daárea plantada são irrigados e produ-zem mais de 40% dos alimentos, en-quanto que no Brasil, a agriculturairrigada atinge 4% de área plantadae é responsável por 17% da produ-ção agrícola.

O setor produtivo destacou a im-portância do workshop coordenadopela ABID em Uberaba no último dia16 de fevereiro, onde foi debatido ouso de sistemas de irrigação comemissores tipo LEPA, tendo-se comoexemplo a cafeicultura. “Quem estáno campo, identifica com maior faci-lidade os benefícios e os problemasde um equipamento”, afirma o pro-dutor e engenheiro agrônomo JoséCarlos Grossi, proprietário do GrupoAlto Cafezal, pioneiro da implantaçãoda cafeicultura irrigada na região dosCerrados. Ele identifica problemas defertirrigação, de fumigação, de ero-são laminar e dificuldades relativas aosolo, com a manutenção de cobertu-

ra com o uso do sistema.“Em Barreiras, 80% dos cafeiculto-

res que se utilizam do pivô central, jáusam o sistema”, afirma Mário JosinoMeirelles, cafeicultor e diretor executi-vo da Fundação BA e conselheiro daAssociação dos Agricultores e Irrigan-tes do Oeste da Bahia (Aiba).

EM BUSCA DA ECONOMIAConsiderado um dos maiores cafei-

cultores de Minas Gerais, José CarlosGrossi mostrou no encontro deUberaba as experiências que tem de-senvolvido em suas propriedades, como uso da chamada “lepa caipira”. Coma utilização de uma bacia de plásticono lugar do equipamento produzidopela indústria de equipamentos, a águacai concentrada na copa do café. “Éum recurso barato, mas resta saber seseu uso é eficiente”, afirma o produ-tor, que atualmente colhe 50 mil sacasde café/ano. Ele conta com 11 pivôsem suas propriedades e com o atualciclo de preços baixos do café, especi-almente no mercado externo, ele tembuscado a diversificação de suas cul-turas, plantando também soja, feijão,trigo e milho.

“Não queremos ser o maior, masqueremos produzir com qualidade, ternome no Brasil e no exterior”, afirmao proprietário do Grupo Alto Cafezal,que também é ligado à Associação dosProdutores de Cafés Especiais do Bra-sil. Recentemente, ele foi classificadoem segundo lugar num concurso de ca-fés naturais para expresso realizado emRhimine, na Itália.

Os baixos preços do café tambémfizeram com que o produtor MárioJosino Meirelles erradicasse 150 hec-tares de café plantados em Altinópo-lis, SP e os trocasse pelo cultivo dacana-de-açúcar. Em Barreiras, ele de-verá colher a primeira produção de cafédos 276 hectares irrigados plantadosna Fazenda Oiti. A expectativa é de umaprodução de 18 mil sacas, o que daráuma média de 70 sacas por hectare, odobro da produtividade obtida com ocultivo do café de sequeiro.

Para Josino, o sistema lepa repre-senta a modernização da irrigação e

devido à sua eficiência, passou a seruma exigência na região da Superin-tendência de Recursos Hídricos daBahia. No Oeste da Bahia, os produ-tores utilizam as águas da Bacia do RioBranco para a agricultura irrigada epossuem um nível tecnológico consi-derado superior ao da média brasilei-ra. “Ainda não sabemos usar integral-mente esse sistema, mas entendemosque seu uso apresenta maiores vanta-gens. Estamos todos aprendendo”, fi-naliza ele.

Sob a coordenação do gerente-ge-ral da Embrapa Café, Antonio dePádua Nacif, um grupo interdiscipli-nar do Consórcio de P&D do Café par-ticipou ativamente desse processointerativo com produtores e represen-tantes da indústria de equipamentos,implementando a difusão de resulta-dos e refinando prioridades da pesqui-sa.

Além do representante da ANA,dos produtores e do presidente emexercício da Abid, Helvecio Saturnino,estiveram presentes ao workshop es-pecialistas de diferentes áreas de P&Dda cafeicultura, como os professoresLaércio Zambolim e Everardo C.Mantovani, da UFV; o professor Moa-cir de S. Dias Jr., da Ufla; o pesquisa-dor Júlio César de Souza, da Epamig;Paulo C. Afonso Jr., da Embrapa Café;e a equipe de representantes daUniube, sob a liderança de EduardoM. Palmério, formada pelos professo-res André L. T. Fernandes e Luís CésarD. Drumond.

Como representantes da indústriade equipamentos, estiveram presen-tes Cláudio Tomazela, da Senninger Ir-rigação do Brasil Ltda; Bernhard Kiepe Marcus V.V. Schmidt, da Valmont Co-mércio e Indústria Ltda. Alunos de pós-graduação da UFV (Adilson R. Soares,Alexandre S. Mudrik, Marcelo RossiVicente e Guilherme Ferreira e Souza),que conduzem trabalhos de pesquisa

Consórcio de P&D do Café:a busca pelo uso eficiente da água

4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 7

Rio de Janeiro, no Oeste Baiano

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8 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

PUBLICAÇÕESRevistaBahia Análise& Dados:RecursosHídricos

Em 2003, eleito pelaONU como o Ano Inter-

nacional da Água Doce , a Superintendência deEstudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) lan-çou um número especial da série “Bahia Análi-se & Dados”. Sob o tema Recursos Hídricos, apublicação discute a situação atual e as pers-pectivas futuras da água doce no Brasil e nomundo, seus múltiplos usos e experiências re-centes que visam otimizar o seu gerenciamen-to.

A revista é composta por 17 artigos, inclu-indo autores internacionais, entre eles: “Água,Ética, Segurança Alimentar e SustentabilidadeAmbiental” (Demetrios Christofídis), “Potenci-al de reuso da água no Brasil: agricultura, in-dústria, municípios e recarga de aqüíferos”(Ivanildo Hespanhol), “O controle social dasbacias hidrográficas no Brasil” (FernandoPedrão) e “Projeto de educação sanitária em co-munidade de baixa renda” (Abal Simões de Ma-galhães e Alberto de Magalhães Ferreira Neto).

Volume 13, número especial, 2003Número de páginas: 239 páginasValor: R$15,00

Como adquirir: diretamente na Biblioteca daSEI (Av. Luiz Viana Filho, 435 - 4ª Avenida – CAB– Salvador/BA, com funcionamento: de 2º a 6ºfeira, das 9h às 18h); ou através de fax (0xx71371- 1853) aos cuidados da SEI – GEBI, cons-tando:• rol das publicações desejadas• comprovante de pagamento do valor das pu-blicações desejadas com acréscimo dos servi-ços de contínuo e postagem simples (R$ 5,00),a favor de:Correntista: SEIBanco: Bradesco / Número do Banco: 237 / Agên-cia: Av. Estados Unidos - USA / Código da Agência:3567-0 / Conta Corrente: 10428-0 / CNPJ:00.575.607/0001-08.

Bahia AgrícolaRevista quadrimestral da

Secretaria da Agricultura, Ir-rigação e Reforma Agrária daBahia. Tem como objetivo di-vulgar estudos de interesseda agricultura baiana, produ-zidos pelo seu corpo técnicoe colaboradores externos.

Uma publicação para ser utilizada como material deconsulta por produtores e empresários rurais.

Esta edição, referente a julho de 2003, com 78páginas e farto material ilustrativo, traz matérias eartigos sobre: “O agronegócio flores na Bahia: o cul-tivo de helicônias”, “Irrigação: tecnologia e produti-vidade”; “Estimativa da radiação solar”; e “Oagronegócio de caprinos e ovinos no sertão da Bahia”.

Maiores informações: Seagri/Biblioteca, 4a Avenida,405, Térreo, Centro Administrativo da Bahia. CEP:41750-300, Salvador, Bahia.Telefax: (71) 370-2783.E-mail: [email protected].

Anuário Brasileiroda Uva e doVinho 2003

Uma publicação da Edito-ra Gazeta Santa Cruz, queteve como editor RomarRudolfo Beling. Com 136 pá-ginas e muitas fotos, a publi-cação, em português e em in-

glês, traz um interessante levantamento sobre o vi-nho nacional, com matérias atuais sobre o estado-da-arte da atividade nos principais pólos produtoresdo Sul ao Nordeste do País.

Número de páginas: 136Informações: Rua Ramiro Barcelos, 1.206, SantaCruz do Sul, RS, Caixa Postal 118, CEP: 96810-900.Fone: (051) 3715.7800. Fax: (051) 3715.7890.Site: www.anuarios.gazetagrupo.com.brE-mail: [email protected]

8 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

Page 9: 2ª capa (fotolito) - ABID · água para a irrigação até as gôndolas de supermercados europeus, com produtos como a uva e a manga. Conheça uma visão econômica atualizada sobre

4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 9

De autoria doprofessor DavidMár-cio Santos Ro-drigues, esse livro foipublicado em come-moração pelos 30anos do Instituto deGeociências Aplica-das (IGA), entidadeoficial do Estado de

Minas Gerais para os estudos e pesquisas geocar-tográficas e para a resolução das questões munici-pais, numa edição patrocinada pela Fapemig – Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estado de MinasGerais.

Durante três anos, o autor realizou pesquisase analisou os principais documentos geocartográ-ficos sobre Minas Gerais produzidos nos últimos70 anos, com destaque para as três últimas dé-cadas. Ricamente ilustrado, o livro exibe um con-junto de fotografias especialmente obtidas paraa edição, reproduzindo inúmeros mapas, fotosaéreas, imagens de radar e imagens orbitais.

Atendendo a este ponto de vista, o livro en-globa comentários sobre a tecnologia, gerencia-mento de informações geográficas e geomática;analisa seis dos principais documentos publica-

O Espaço Geográfico de Minas Gerais:uma Visão Cartográfica

dos sobre Minas Gerais entre 1930 e 1972 e fazum pequeno histórico sobre a produçãogeocartográfica do IGA ( 1972-2002 ). Em se-guida, tece comentários sobre a Descoberta doMeio Ambiente e descreve em pormenores oMega Projeto – Mapeamento e Monitoramentoda Cobertura Vegetal de Minas Gerais, coorde-nado pelo autor, quando diretor do IEF – Insti-tuto Estadual de Florestas, no início da décadade 90.

Nos três últimos capítulos, são indicadas asdiretrizes para a elaboração de um Plano Carto-gráfico para Minas Gerais, um comentário sobreo futuro e a busca de alternativas adequadas atra-vés de uma proposta inovadora para a cartogra-fia do Estado.No atendimento a estas proposições, segundo oautor, não podem ser esquecidas as estratégiase ações propostas pela Agenda 21 brasileira:gestão de recursos naturais, agricultura susten-tável ,cidades sustentáveis, infra-estrutura eintegração regional, redução das desigualdadessociais, ciência e tecnologia para o desenvolvi-mento sustentável.

Número de páginas: 176Para obtê-lo: entrar em contato com o autor,através do e-mail: [email protected] ou dostelefones: (31) 3224.6727 (Instituto de

Solos do Brasil

De autoria dopesquisador Héliodo Prado, do Cen-tro de Solos e Re-cursos Agroam-bientais do Insti-tuto Agronômicode Campinas. Tra-ta-se de uma pu-blicação com 275páginas e materi-al ilustrativo, com

fotos em cores sobre os principais perfis de so-los do Brasil, acompanhada por um CD-ROM,

que, didaticamente, permite o enquadramentodos solos na nova nomenclatura da Embrapa,nos níveis categóricos de ordem, subordem egrande grupo. Outro aspecto importante desteCD-ROM refere-se ao manejo de solos. A publi-cação é dividida em cinco partes: gênese,morfologia, classificação, levantamento e ma-nejo agrícola e geotécnico.

3a ediçãoRevisada e ampliada, acompanhada de CD-ROM.Preço: R$ 45,00 (sem despesas postais)Maiores informações para aquisição:[email protected]

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Opinião

“A realização do XIII Conird e da XIV Fenagriestabelece um diálogo permanente com a ciência e atécnica, entre a cidade e a cidadania regional, entreas comunidades da Bahia e de Pernambuco. Se háuma forma de salvar o mundo, de resolver os proble-mas da humanidade, só a técnica e a ciência podemnos dar essas alvíssaras, porque são, de fato, as pro-fecias de que só o saber pode. Qualquer outro poder

é eventual e temporário.Esses dois eventos repre-sentam a maior homena-gem que poderia ser feita adois representantes do Pólode Juazeiro/Petrolina, osquais se foram: MisaelAvelar da Silva e Paulo deSouza Coelho. Estamosaqui, de pé, trabalhando,mostrando que o que elespensavam, está-se tornan-do realidade e o futuro nãoestá tão longe.”

JOSEPH WALLACE BANDEIRA – prefeito do muni-cípio de Juazeiro, na abertura do XIII Conird

“O XIII Conird apresentou uma boa freqüência,com comentários positivos sobre o evento. Ao trocaridéias com autoridades participantes, observamos queo Conird deve ter dois espaços: um técnico e outromais extensionista, onde, futuramente, poderemostrazer as informações técnicas e fazer umadecodificação para quem vai levar a mensagem para

o campo. Espera-se que ofruto de todo esse esforçoem torno da cadeia produ-tiva da agricultura irrigadamaterialize-se em ambien-tes da ciência e da extensãorural. É preciso que fique-mos atentos e possamosatender ao desenvolvimen-to de tecnologias exigidaspelo mercado, mas que ohomem do campo as apli-que.”

ROBERTO ALVES NUNES – superintendente de Irri-gação da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Refor-ma Agrária da Bahia

“Tenho acompanhado os três últimos Conirds re-alizados em Fortaleza/CE, Uberlândia/MG e Juazei-ro/BA, e em cada um deles, observo uma evolução daprogramação e da participação do pessoal envolvidocom irrigação e drenagem. Nesse XIII Conird, consi-derei Juazeiro como um local estratégico e o sucesso

não poderia ser diferente. Aprogramação ocorreu dentrodo esperado, com minicur-sos, seminários, conferênci-as e dias de campo. As ses-sões pôster também foramboas, apesar de o espaço tersido pequeno, mas ocorreuum número muito maior detrabalhos em relação ao úl-timo Conird, em Uberlân-dia.”

WALDEMÍCIO FERREIRA DE SOUZA – pesquisa-dor da Embrapa Meio Norte

“Vejo o Conird como um evento que nos dá a pos-sibilidade de ter pessoas que trabalham na área daagricultura irrigada e precisam organizar informa-ções, analisar o passado e definir o que precisa serfeito em termos de iniciativas políticas e prioridadesfuturas de pesquisa. O congresso tem a função de unirpessoas de diferentes estágios profissionais, comoquem está iniciando, quem já está no meio da carrei-ra, quem está-se aposentando e mesmo pessoas quenunca param suas atividades. É um encontro impor-tante dos pontos de vista científico e político. Além

disso, considerei o local derealização do XIII Conirdmuito bem escolhido, porser esse um dos mais impor-tantes pólos de agriculturairrigada do país. Considerotambém que o congressopoderia ter sido mais dire-cionado para discutir o quese define como controleadequado da água, o quan-to e quando irrigar.”

DURVAL DOURADONETO – chefe do Departamento de Produção Vegetalda Esalq/USP e coordenador do Núcleo da ABID naregião de Piracicaba, SP

O XIII Conird teve como tema “o agronegócio da agricultura irrigada, comrevitalização hídrica, a chave para mais empregos e a reversão dos cíclos de pobreza

em cíclos de prosperidade”. Conheça a opinião de alguns participantes:

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“O Conird consegue juntar o lado acadêmico,os representantes do governo e a iniciativa priva-da. Com a ajuda de todos, temos que fazer comque os usuários de equipamentos tenham acesso àtecnologia. Percebe-se que o desenvolvimentotecnológico para irrigação é muito grande, temostodas as empresas líderes mundiais e nacionais etecnologia à disposição, mas falta o campo enxer-gar a viabilidade econômica dessa tecnologia. Te-mos que fazer uma agenda, buscar pontos em co-mum entre a ANA, Embrapa, Ministérios da Agri-cultura e Meio Ambiente e iniciativa privada, parafocar alguns assuntos nos próximos anos e esses as-suntos serem divulgados na mídia, para que o mé-dio produtor tenha acesso a eles. Temo pelaelitização da agricultura. Isso significa que poucosagricultores estão crescendo, concentrando a pro-dução, conseguindo descontos no volume de com-pra de insumos, sementes e equipamentos de irri-gação e expandindo a atividade. Mas o pequeno eo médio produtor não conseguem correr atrás dis-

so. Não é tanto uma ques-tão de financiamento,acho que é uma questão demaior conscientização quevai resultar no melhor usoda água, maior harmoniacom o meio ambiente, como uso do sistema de Plan-tio Direto e de outras me-todologias. Precisamostornar a participação doprodutor mais acessível.”

BERNHARD KIEP – diretor-presidente da Valmont/Valley

“Esse trabalho do Banco Mundial de avaliaçãodos pólos de irrigação apresentado durante o XIIIConird é fantástico. Mostra que os municípios de-senvolveram-se muito mais, onde a agricultura irri-gada se instalou. A evolução ocorreu em vários pon-tos: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), aparte de educação e os índices socioeconômicos avan-çaram mais, em relação aos municípios onde a ativi-dade não foi instalada. Mesmo aqueles próximos aos

que têm agricultura irriga-da, apresentaram índicesinferiores, mostrando que aagricultura irrigada favore-ceu o desenvolvimento eco-nômico e social das regiões.Há uma determinação dogoverno Lula de comple-mentação das obras inaca-badas antes de dar início aoutras. A Codevasf estábuscando cumprir isso.”

FRANCISCO GUEDESALCOFORADO FILHO – presidente da Codevasf

“Considero da maior importância o trabalho da

ABID, a qual tive oportunidade de presidir, em par-te, na década de 90. Sei que é uma Associação quetem como interesse maior a cadeia produtiva da irri-gação. Essa cadeia envolve o produtor agrícola, opoder público fomentador dessa atividade, os fabri-cantes de equipamentos, consultores e empresas in-teressadas, os empresários das áreas de exportação ede logística, que têm na agricultura irrigada seu moteprincipal. Além disso, a ABID também é uma vitrinede dimensão técnico-científica, com seminários, con-gressos etc., onde se vê o trabalho de uma cadeia que

beneficia a agricultura irri-gada. Que essa cadeia tenhacondições de ver a impor-tância da ABID, para queela possa fazer convêniospara cursos, fazer extensão,trabalhar na área de pós-graduação, dar uma contri-buição acadêmica, científi-ca e tecnológica.”

JORGE KHOURY – secre-tário de Estado do MeioAmbiente e Recursos

Hídricos da Bahia e vice-presidente do Comitê daBacia do Rio São Francisco. Ex-presidente da ABID

“O Conird tem que existir, por ser o único fórumonde se discutem políticas de irrigação e drenagem.Foi um encontro muito bom, extremamente repre-sentativo, com discussão e participação das maioresautoridades no setor. Estou aqui em nome da Aiba.Todas as vezes que participo de eventos como esse,deixo um relatório que é divulgado em um boletimmensal da associação e na página que temos nainternet. Nossos associados são informados e nin-guém deixa de ficar sabendo o que está acontecen-do. Mas, lamentavelmente, também sabemos que issonão acontece no país como um todo. Não é fácil criarassociações fortes, depende do produtor, da sua or-ganização, de seus interesses e da capitalização dosetor. Disso resulta sempre o desafio da chamada re-presentatividade do setor produtivo em eventos comoesse. Os produtores precisam exercitar formas de re-

presentações regionais e deinteriorizar as informações,sem se desligarem dos seuspróprios problemas, criandomecanismos de ratear e ra-cionalizar custos. Dessa for-ma, pode-se aproveitar mui-to de um trabalho tão bemelaborado como esse do XIIIConird.”

JOSÉ CISINO MENESESLOPES – diretor de MeioAmbiente da Associação de

Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba)

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Pontos de destaqueNa abertura do evento, o presidente do XIII

Conird, Helvecio Mattana Saturnino, salientou quea articulação entre os governos estadual, munici-pal e federal com a iniciativa privada foi funda-mental para a realização do evento. Ele ressaltouque a agricultura irrigada ainda tem grandes desa-fios. “Hoje, nossa meta é transformar essas dificul-dades em riquezas para a população, especialmen-te quando falamos do Semi-Árido”, afirmou.

Já o presidente da Agência Nacional de Águas(ANA), Jerson Kelman, lembrou aos participan-tes a importância do uso racional dos recursos hí-dricos. “O direito de utilização da água traz tam-bém a responsabilidade de fazê-lo adequadamen-te”, disse Kelman. No seu discurso, o secretário daAgricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia,Pedro Barbosa, falou do desenvolvimento da agri-cultura irrigada e cobrou do governo federalfinalização dos projetos de irrigação, cujas obrasestão paralisadas, ou não foram ainda iniciadas noEstado.

“Nos últimos 30 anos, a área irrigada cresceudez vezes na Bahia. Muitos desses projetos são dainiciativa privada. O governo estadual tem feito suaparte, mas não dispõe dos recursos necessários paraatender à grande demanda no setor. São projetos

A realização do XIII Congresso Nacional de Irrigação eDrenagem (XIII Conird), em Juazeiro, BA, um dos dois

municípios de um dos mais importantes pólos deagricultura irrigada, localizados às margens do Rio São

Francisco, representou a possibilidade de troca eatualização de informações e de políticas, entre

especialistas integrantes das cadeias dos agronegócios, e oestabelecimento de novos desafios para o setor da

agricultura irrigada do país. O principal desses desafios é,sem dúvida, criar condições para que as tecnologias

adaptadas e geradas para atender à agricultura irrigadasejam incorporadas pelo setor produtivo com a agilidade

que o mercado exige.

ma programação variada em torno do tema:“O agronegócio da agricultura irrigada,com revitalização hídrica: a chave para mais

empregos e a reversão dos ciclos de pobreza emciclos de prosperidade” garantiu, durante o XIIIConird, um rico debate entre técnicos e interessa-dos, gerando um documento com um resumo dosprincipais pontos debatidos (ver os cinco princi-pais pontos desse documento no boxe “Ao ensejodo XIII Conird, em Juazeiro, BA”).

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Necessidade de maior acessodo setor produtivo às tecnologias

da agricultura irrigada

Necessidade de maior acessodo setor produtivo às tecnologias

da agricultura irrigada

Uma platéia concorrida e interessada acompanhou a programação do XIII Conird

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grandes que precisam ter a larga participação dogoverno federal”, argumentou. Pedro Barbosa deDeus citou como exemplo o Projeto Salitre,implementado na região de Juazeiro, cujas obrasforam retomadas recentemente. “Não é por causade falhas em projetos antigos que vamos deixar deinvestir no setor”, enfatizou o secretário da Agri-cultura. Ele lembrou, que além da conclusão daconstrução do projeto, é preciso reforçar a infra-estrutura necessária ao seu funcionamento, comoestradas. “No caso da região, devemos trabalhartambém pela viabilização da hidrovia do São Fran-cisco, fundamental para o escoamento da produ-ção”.

O secretário do Meio Ambiente e RecursosHídricos da Bahia, Jorge Khoury, vice-presidentedo Comitê da Bacia do São Francisco, em sua pa-lestra sobre a revitalização do rio, apresentou da-dos sobre os danos gerados pela má utilização dosrecursos hídricos. “Relatório recente da ONUmostrou que apenas 50% da população mundialconta com água e saneamento básico de qualidadee a principal causa do problema é a má gestão douso em todo o planeta”. Ainda, segundo Khoury,o Nordeste, que tem 30% da população do país,conta apenas com 3% dos recursos hídricos dispo-níveis no Brasil. “Desse total, o São Francisco res-ponde por 75%. Daí, a importância do rio para aregião”. De acordo com Khoury, dentro de seismeses deverá estar concluído o Plano Hidrográfi-co da Bacia do São Francisco.

O DESAFIO MAIOR DA EXTENSÃO RURAL– Para o superintendente de Irrigação da Seagri/BA, Roberto Alves Nunes, o grande desafio, iden-tificado na cadeia do agronegócio da agriculturairrigada, a ser enfrentado pela extensão rural é ode fazer a ligação entre a ciência e tecnologia, aassistência rural e o setor produtivo. “Temos trei-nado pessoas, mas não estamos conseguindo mu-dar a realidade. Acho que a assistência técnica temque voltar para a escola e começar a trabalhar ho-meopaticamente, educando os filhos dos produto-res rurais, levando a mensagem do que é o negó-cio deles, mostrando-lhes quantas caixas de man-ga eles terão que vender para comprar uma cami-sa, um carro”, considera ele.

Nunes lembra ainda que na região de Juazei-ro/Petrolina, por exemplo, trabalha-se a fruticul-tura. “Será que as escolas estão preparando as cri-anças para essa realidade ou para o mundo globa-lizado? Somos um país onde a estrutura agrícolaestá modificando a realidade. Essa situação só serámodificada, se mudarmos a escola de base e tra-duzirmos também a mesma mensagem para as es-colas técnicas, para as de formação superior e parao mercado”, afirma ele, lembrando que os concor-rentes internacionais brasileiros fazem isso, por for-ça de lei ou de mercado.

Para o diretor- presidente da Valmont/Valley,Bernhard Kiep, ficou claro no Conird que a inicia-tiva privada tem soluções e tecnologias que aten-dem às necessidades do homem para usar bem aágua, mas está tendo dificuldades em implantar es-sas tecnologias. “Falamos muito em sustentabili-dade de água e do meio ambiente, mas o que éisso, exatamente? Como explicar isso para o ho-mem do campo? Precisamos ter a consciência deque nós detemos a tecnologia tropical da agricul-tura irrigada e criarmos os mecanismos pararepassá-la”, considera ele.

UMA QUESTÃO DE TREINAMENTO PARAO PEQUENO PRODUTOR – Para mostrar a ne-cessidade de uma maior aproximação entre o se-tor tecnológico e o produtivo, Kiep cita como exem-plo a situação enfrentada atualmente por produ-tores do Movimento dos Sem Terra, no Mato Gros-so do Sul, ao ocuparem metade da propriedade doantigo rei da soja, Olacyr de Moraes, localizadanaquele Estado. Os produtores tiveram dificulda-des para lidar com os equipamentos de irrigaçãoencontrados na propriedade. “Poderíamos, semmaiores problemas, colocar emissores que dimi-nuíssem a evapotranspiração e as perdas superfi-ciais de água. São detalhes, mas o mais importanteé justamente o devido treinamento dos colonospara usarem melhor o equipamento”, afirmaBernard Kiep, que teme pela elitização, cada vezmaior, da agricultura irrigada. Ele identifica nessedistanciamento tecnológico dos pequenos e médi-os produtores uma forma de distribuição concen-trada de renda, que pode gerar um desequilíbriosocial no campo.

“Precisamos conseguir com que o Ministérioda Agricultura e a ANA atraiam o Ministério doMeio Ambiente, para que possamos, sem agrediro meio ambiente e sem destruir os mananciais exis-tentes, aumentar a capacidade dos reservatóriosde água. Precisamos de manuais para construçãode reservatórios, sair da teoria e encontrar solu-ções práticas para o pequeno e médio produtores”,afirma o diretor-presidente da Valley/Valmont.

INTERCÂMBIO NECESSÁRIO – O professorJairton Fraga Araújo, diretor do Departamento deTecnologia e Ciências Sociais da Universidade Es-tadual da Bahia (Uneb), considerou da maior im-

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O secretárioPedro Barbosa

de Deus cobrouuma maior

participação dogoverno

federal nosgrandes

projetos deirrigação da

Bahia

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portância para o ensino superior da região, a rea-lização do XIII Conird em Juazeiro (BA), pelaoportunidade de a Universidade intercambiar ex-periências com a iniciativa privada e outros seg-mentos que compõem o agronegócio da agricultu-ra irrigada no Brasil. “Para os estudantes é muitoimportante encontrar respostas para várias deman-das próprias de sua formação, que, muitas vezes,não são satisfeitas pelo ensino universitário”.

Ele também atribuiu ao Conird a possibilidadede aperfeiçoamento dos sistemas de irrigação pra-ticados na região. “O Vale do São Francisco é con-siderado por muitos a capital brasileira da irriga-ção, pois formamos o maior pólo produtor e expor-tador de frutas tropicais do Brasil”, afirma ele, lem-brando a crise de água, vivida pelo planeta, e a ne-cessidade concreta de estimular a otimização do usoda água, gerenciando de forma mais competente oinsumo importante para a produtividade das cultu-ras, especialmente na região Nordeste.

Já o professor da Universidade Federal de Vi-çosa e diretor científico da Funarbe, Antônio AlvesSoares, considera um desafio levar a tecnologia eos avanços tecnológicos obtidos na cadeia produ-tiva para o campo. Segundo ele, somente quandose consegue mostrar ao produtor que ele pode ga-nhar dinheiro com a atividade, ele passa a prestaratenção e a se preocupa. “A programação do XIIIConird primou por atender tanto o pesquisadorcomo o produtor”, completou ele.

QUEM FOI AO XIII CONIRD – Um total de392 inscritos participou do XIII Conird, dos quaisnove representantes do exterior. A Bahia foi o Es-tado com a maior delegação (152), seguido porMinas Gerais (48), Ceará (46), Pernambuco (33),São Paulo (24), Paraíba e Distrito Federal (20), Riode Janeiro e Rio Grande do Sul (7), Piauí e RioGrande do Norte (6), Paraná, Santa Catarina eGoiás (3), Alagoas (2) e Mato Grosso, Sergipe eTocantins (1). A delegação internacional esteve re-presentada pelos seguintes países: Portugal, Equa-dor, Guatemala e Angola.

As dificuldades de acesso ao Pólo de IrrigaçãoJuazeiro/Petrolina chegaram a preocupar algumaspessoas como o professor Salassier Bernardo, ex-reitor da Universidade Estadual Norte Fluminen-se. “Para mim, o XIII Conird foi uma grata sur-presa. Cheguei a ficar preocupado com a repre-sentatividade em termos de Brasil, mas encontreicom pessoas de todas as regiões. Foi um sucessoimportante”, afirmou ele, especialmente devido àsdificuldades financeiras por que passa o país.Quanto à programação, ele considerou o tema cen-tral do XIII Conird importante, pois permitiu queo enfoque principal dos debates saísse da concen-tração técnico-científica. Por ser de interesse múl-tiplo, o tema atendeu a uma clientela mais ampla,na opinião do ex-reitor da Uenf.

XIV Fenagri, uma atraente parceriaDiferente dos demais anos, o XIII Conird foi promovido

tendo como uma de suas parcerias a XIV Feira Nacional deAgricultura Irrigada (XIV Fenagri), na formação da praça deirrigação e drenagem. Praticamente no mesmo período derealização do congresso, a Fenagri reuniu 407 estandes numaexposição que ocupou 78 mil metros quadrados no porto deJuazeiro. Considerada uma verdadeira vitrine da fruticulturairrigada do Nordeste, a feira contou com inúmeras atrações,como a realização de rodadas de negócios e a presença deinúmeras delegações estrangeiras.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com uma repre-sentativa delegação, esteve presente ao evento (dia 30/10),e em seu discurso à população da cidade, afirmou “ser ne-cessário tornar o rio São Francisco navegável para que parteda riqueza produzida no Nordeste seja transportada nesserio”. Lula afirmou ainda que este ano foi anunciada a maiorliberação de verba ( R$ 5,400 bilhões) para a agricultura fa-miliar e que brevemente o governo deverá estar concluindoa primeira etapa do Projeto Salitre, localizado em Juazeiro.

Oportunidades departicipação nos

dias de camposobre cana-de-

açúcar irrigada naAgrovale, de

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ministrado peloconsultor

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Padilla foramoferecidas aos

participantes doXIII Conird

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Ao ensejo do XIII, em Juazeiro, BA

O agronegócio da agricultura irrigada, comrevitalização hídrica: a chave para mais empre-gos e a reversão dos ciclos de pobreza em ciclosde prosperidade, como tema central do XIIIConird, ensejou uma ampla interlocução não sócom autoridades dos governos federal, estaduale municipal, mas também com profissionais deorganismos privados e públicos, estudantes, pro-dutores e diversos interessados nos agronegócioscalcados na agricultura irrigada, tendo o Rio SãoFrancisco como principal cenário para esse even-to.

Dessa interlocução, realizada de 26 a 31/10/2003, selecionaram-se cinco pontos:

1.1.1.1.1. Ao ensejo da Conferência de Abertura doXIII Conird, a proposição para fazer chegar a to-dos a Carta de Penedo. Nessa reflexão elaboradapelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio SãoFrancisco, onde a utilização da água para irriga-ção deve merecer um especial destaque comovetor de desenvolvimento, há necessidade de umapermanente mobilização das empresas de plane-jamento, de equipamentos de irrigação, de for-necimento de insumos e de outras organizaçõesligadas ao setor, em realizar, ao lado da ABID, umtrabalho mais ordenado, junto a esse comitê eaos de outras bacias, para que a agricultura irri-gada tenha seus devidos respaldos e inserções noâmbito desses colegiados.

2.2.2.2.2. Ao ensejo dos anúncios em favor de pro-gramas de apoio à agricultura irrigada, apresen-tar ao governo, especialmente aos ministérios daIntegração Nacional, da Agricultura e do MeioAmbiente, a importância da conclusão de proje-tos inacabados, tornando-os prioritários nos in-vestimentos e agilizando todas as providênciasnecessárias para que esses projetos tenham ascondições de se harmonizarem com o tema cen-tral do XIII Conird. Permear, da melhor formapossível, os pressupostos básicos para o fortale-cimento do setor produtivo da agricultura irriga-da, incluindo iniciativas que sejam indutoras emotivadoras de mais investimentos no desenvol-vimento tecnológico, na capacitação de recursoshumanos e na ampliação dessa atividade no Bra-sil, explorando as diversas vantagens comparati-vas em recursos naturais e de logística.

3.3.3.3.3. Ao ensejo do fomento da prática da con-servação e revitalização dos recursos hídricoscomo atividade permanente no manejo susten-tável das bacias hidrográficas, como pilar paramaior garantia de água para irrigação, continuara interagir com os organismos responsáveis pelosetor, a exemplo da ANA, no plano Federal, e daSRH, na Bahia. O projeto Salitre, motivo de visitapor ocasião do XIII Conird, tendo-se sua retoma-

da como uma referência em termos desses pro-pósitos, foi motivo de questionamentos sobreuma maior harmonização entre investimentos emobras e em gestão da bacia hidrográfica do RioSalitre, incluindo-se aí a implementação de pro-cessos produtivos em maior sintonia com a de-manda futura dos mercados, com a necessidadede geração de empregos e os arranjos financei-ros entre público e privado.

4.4.4.4.4. Ao ensejo de enaltecer, ficaram patentes,cada vez mais, a visão holística das bacias hidro-gráficas e a importância de ações solidárias juntoa todo o universo de produtores rurais inseridosnelas, enfocando a recarga dos aqüíferos e dan-do condições para que estes produtores tenhamcomo permanente o manejo sustentável dos re-cursos naturais, instrumentos como seguro agrí-cola de renda, pressuposto básico para implemen-tação de um programa que tenha como pilar mes-tre a conservação e a revitalização dos recursoshídricos. Assim, com o advento dos comitês debacias, os usuários da água para irrigação preci-sam ser ativos partícipes desse processo, juntan-do forças com as políticas voltadas para a maiorestabilidade dos produtores de cada bacia, ten-do-se um seguro que seja compatível com as ati-vidades da agricultura.

5.5.5.5.5. Ao ensejo de mobilizar esforços em todosos sentidos para dar continuidade a essa emprei-tada encetada pela ABID, onde os agronegócioscalcados na agricultura irrigada configuram-secomo sólidos caminhos em favor da maior eqüi-dade, principalmente quando se busca um maiorleque de explorações para geração de renda e deamplas oportunidades de empregos, incluindo-se aí a formação de cadeias agroindustriais, tor-na-se óbvia a necessidade de uma maior articula-ção para evidenciar essas oportunidades de in-vestimentos. É justamente assim que sedescortinam as alternativas de agregações de va-lores, com absorção de mão-de-obra, que vai doanalfabeto ao pessoal de sofisticada formação,com custos por emprego gerado que justificamuma altíssima prioridade para o setor, atenden-do aos grandes clamores da sociedade brasileira.�

Na mesa deconferênciasdo XIII Conird,Manfredo PiresCardoso (SRH/BA), PauloRoberto CoelhoLopes(EmbrapaSemi-Árido),Jerson Kelman(ANA) e PedroBarbosa deDeus (Seagri/BA)

FOTO FRANCISCO LOPES FILHO

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uas decisões sobre localização dos futurosConirds foram tomadas na Assembléia Ge-ral da ABID, realizada em Juazeiro, BA:

1ª) A delegação do Rio Grande do Sul, com repre-sentantes do governo, de empresas de equipamentosde irrigação, de professores de universidades e de or-ganismos de classe, apresentou a proposta, em nomedo governo do Estado, para sediar o XIV Conird,em 2004 em Porto Alegre, sendo aprovada por una-nimidade, após explanação do engenheiro agrôno-mo Luís Antônio de Leon Valente, da Emater/RS; 2ª) Obedecendo ao critério de realização dos Conirdsde dois em dois anos na região Nordeste, a propostado governador do Piauí, Wellington Dias, mobilizouuma ampla delegação, anunciada pelo presidente daCodevasf e apresentada pelo pesquisador WaldemícioFerreira de Souza, pesquisador da Embrapa MeioNorte, justificando a realização do XV Conird emTeresina, PI, em 2005.

O Rio Grande do Sul é um pólo representativo daABID, um universo de 25 mil irrigantes que cultivamuma grande diversidade de culturas e uma área deagricultura irrigada significativa, ou seja, um total de1,160 milhão de hectares, sendo 1,100 milhão ha pelosistema de superfície, 30 mil ha pelo sistema conven-cional, 25 mil ha pelo sistema de pivô central e 5 milha pelo sistema de irrigação localizada.

Um berço para fazer florescer a parceria seladaentre o governo gaúcho e a ABID. Em reunião noPalácio Piratini, que contou com uma expressiva co-mitiva, o governador Germano Rigotto garantiu abriro XIV Conird juntamente com o evento internacio-nal – I Seminário Interamericano de Irrigação, Dre-nagem e Controle de Enchentes –, no período de 24a 29 de outubro de 2004.

A parceria entre o governo gaúcho e a Abid, como respaldo da Federação das Indústrias do Estadodo Rio Grande do Sul (Fiergs) e outras organizações,já proporcionou o lançamento dos eventos e a jun-ção de forças do Sindicato das Indústrias de Máqui-nas e Implementos Agrícolas no RS (Simers), daEmater-RS e da Fundação Arthur Bernardes(Funarbe), secretaria técnica da ABID, perseguindo-se uma programação que estimule o preparo de tra-balhos que irão formar os anais do XIV Conird, asedições da revista ITEM, a apresentação dos diver-sos temas ligados aos recursos hídricos e ao desen-volvimento dos agronegócios calcados na agriculturairrigada.

Nessa interação tecnológica, ter-se-á um amploespaço para equipamentos, máquinas, insumos e ser-viços, ensejando um ambiente para bons negócios.

Já o XV Conird, a ser realizado em 2005, terácomo sede a capital do Piauí. Este estado apresentaum grande potencial hídrico, originário de cerca de2.650 km de rios perenes e mais 26 grandes lagoas,além de uma quantidade fantástica em águas subter-râneas, uma das maiores da América Latina. “É pre-ciso haver um aproveitamento integrado das águassubterrâneas e superficiais do Piauí. Estamos imbuí-dos da necessidade de termos um plano diretor deaproveitamento integrado desse potencial e, em pou-co tempo, alavancar o desenvolvimento do Estado,através da fruticultura irrigada”, afirma FranciscoGuedes Alcoforado Filho, então diretor-presidente daCodevasf. Ele vê na realização do XV Conird a opor-tunidade de a Codevasf ampliar e consolidar seu le-que de ações no Vale do Parnaíba, além das ativida-des já empreendidas no Vale do São Francisco. �

A mobilização para oXIV Conird em Porto Alegre

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O governador Rigotto celebrou a parceria do governo do Rio Grande do Sul e ABID, confirmando sua presença no XIV Conird eenfatizando a importância do evento para o estado, em solenidade no Palácio Piratini. Da esquerda para a direita: RodrigoRancheski, Antônio Carlos Maciel Monteiro, Nilson Schemmer, Bruno Artur Fockink, Cláudio Affonso Amoretti Bier, Pery FranciscoSperotto Coelho, Helvecio Mattana Saturnino, o governador Germano Rigotto, Luiz Antônio de Leon Valente, o secretário daAgricultura e Abastecimento do RS Odacir Klein, Caio Tibério da Rocha e Victor Hugo Cainelli

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revitalização da Bacia do São Fran-cisco passa necessariamente pelasmicrobacias que formam o rio, por

serem elas que concentram as áreas de recarga”.O engenheiro agrônomo e professor da Universi-dade Federal de Viçosa, Márcio Mota Ramos, prin-cipal palestrante do seminário sobre “Os impactosda revitalização e conservação de cursos d’água naagricultura irrigada: o caso do Rio São Francisco”,durante o XIII Conird, adverte sobre os “verdadei-ros crimes” que estão ocorrendo, especialmente naregião dos Cerrados, com a drenagem das veredas.“Isso vai-se refletir nos afluentes e, se for praticadaao longo de toda a bacia, a calha do rio principal vaiser afetada”, avisa ele, apontando como mais pro-blemáticas as sub-bacias do Rio Verde Grande, doRio Salitre e do Rio Paracatu, além das localizadasna cabeceira do Rio São Francisco. São sub-baciasmais intensamente exploradas, principalmente coma irrigação de olerícolas.

O secretário de Meio Ambiente e de RecursosHídricos da Bahia, Jorge Khoury, lembrou que oPlano da Bacia do Rio São Francisco deverá ficarpronto em abril de 2004. De acordo com a agendaestabelecida pelo Comitê da Bacia, em reunião dodia 4 de outubro de 2003, em Penedo, Alagoas, serápossível “sabermos o que temos, o que ainda po-deremos utilizar e fazer para ‘produzir’ mais água,no momento em que revitalizarmos o rio e recom-pusermos suas matas ciliares e a vegetação das mar-gens e das cabeceiras”.

Segundo Khoury, que também é vice-presiden-te do Comitê da Bacia do Rio São Francisco, o vice-presidente da República, José de Alencar, assu-miu o compromisso de que a “Carta de Penedo”(distribuída pela ABID para todos participantes eassociados) seria inserida, na íntegra, no relatóriodo grupo de trabalho que está tratando da trans-posição, denominado Programa São Francisco, aser entregue ao Presidente da República, LuizInácio Lula da Silva. “E nada deverá ser feito an-tes de o Plano da Bacia ficar pronto”, garantiu ele.

LENTIDÃO NA IMPLANTAÇÃO DE PROJE-TOS – Para Jorge Khoury, à luz do Plano de Bacia,haverá condições de tomadas de decisão mais cor-retas sob o ponto de vista hidrológico, ambiental,social e econômico. “Tudo tem que ser levado emconta, porque o Brasil de hoje não pode mais es-perar que as coisas dêem certo, por um mero aca-so. Todos os aspectos devem ser avaliados, poisinvestimentos vultosos já foram feitos em proje-tos, no país, e, infelizmente, não estão dando osresultados esperados”.

Khoury considera que o governo federal nãoestá priorizando devidamente a irrigação, o quetem provocado uma lentidão no processo de im-plantação da atividade no país. “Tudo que se temde irrigação no Brasil, conseguiu-se com o esforçode lideranças regionais e o que poderia ter sidoconseguido em dez anos, estamos levando 40 anospara implantar”, queixa-se ele. Refere-se, especi-almente, aos projetos de irrigação inacabados aolongo da Bacia do Rio São Francisco, como Sali-tre, Iuiú e Baixio de Irecê, na Bahia; Pontal, emPernambuco, e outros localizados em Minas Ge-rais. “O ritmo das obras e dos investimentos nosfaz ver que, nem em 20 anos, não teremos essesprojetos consolidados”, lamenta Khoury , lembran-do que os custos dessas obras para o país passam aser muito maiores, devido à lentidão e à necessi-dade de recursos a serem consumidos com a dete-rioração de obras.

Jorge Khoury destaca a irrigação como umaatividade econômica importante para a criação deempregos numa região tradicionalmente gerado-ra de emigrantes para outros centros mais desen-volvidos. “Estamos gerando emprego numa regiãoárida, a um custo baixo, que não exige qualifica-ções do indivíduo e numa atividade importantepara a balança comercial do país”, lembra ele. “Nãoé demais repetir que o São Francisco é o‘Mississippi’ brasileiro. Qualquer governante queconheça a questão tem que optar por priorizar osprogramas de irrigação”, finaliza.

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Márcio Mota Ramos

Jorge Khoury

FOTO GENOVEVA RUISDIAS

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Por onde deve começar a revitalizaçãoda Bacia do Rio São Francisco

Por onde deve começar a revitalizaçãoda Bacia do Rio São Francisco

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EXEMPLO DE RACIONALIDADE – O profes-sor Daker, que tem pós-graduação pela Universida-de de Michigan, cita como exemplo de racionalidadeo projeto de transposição do Rio Colorado, nos Es-tados Unidos. O rio passa por uma região inóspita, deterras montanhosas. Construíram, inicialmente, umabarragem de 220 metros de altura que gera energia (Bar-ragem do Bulda) e um pequeno dique com um desviopor gravidade para um canal (American Canal), para aCalifórnia, uma região rica e seca.

No Brasil, temos exemplos de outra transposição,de menor porte, porém considerada inteligente. É ocaso da transposição do Rio Paraíba do Sul, que geraenergia elétrica para São Paulo e é desviado, em par-te, para o Rio Guandu e abastece de água a cidadedo Rio de Janeiro.

Pelo que conhece do projeto de transposição doRio São Francisco, o professor Daker considera-o me-galomaníaco e faraônico. Citando uma entrevista dosecretário de Agricultura Irrigada do Ceará, CarlosMatos, publicada na revista ITEM no 51, Daker afir-ma que esse estado do Nordeste apresenta um po-tencial de 770 mil hectares irrigáveis, mas tem umaárea irrigada de 170 mil. Mesmo assim, a área irriga-da do Ceará pode ser equiparada à do Chile, que tem180 mil hectares, e à de Israel, que tem 200 mil hec-tares.

Três condições básicas para aviabilidade da transposição doRio São Francisco

“O Ceará poderia transformar-se num segundoChile ou Israel, se ocorressem mudanças na mentali-dade da elite nordestina. E, em vez de privilegiar so-mente obras de engenharia, passassem a investir maisem educação e em treinamento do irrigante”, finali-za o professor Daker.

UMA VISÃO DA REVITALIZAÇÃO, SEM PO-ESIA – “Para mim, o processo de revitalização deum rio deve atender dois pontos importantes: quan-tidade e qualidade da água. E, também passa pelamelhoria dos indicadores socioeconômicos”, afirmao professor Márcio Mota Ramos, da UniversidadeFederal de Viçosa (UFV), que desmistifica o lado po-ético do processo.

Segundo ele, muita gente pensa que revitalizarsignifica uma volta romântica às matas e à beira dorio, mas é preciso pensar, em primeiro lugar, no ho-mem. “Quando uma pessoa tem uma educação me-lhor, passa a preservar mais o meio ambiente. Umapessoa de barriga vazia, com fome, não pensa duasvezes para cortar uma árvore e vendê-la como car-vão para alimentar a si próprio e a sua família”, con-clui ele.

Ele afirmou que o Grupo Consultivo Internacio-nal em Pesquisa Agropecuária (CGIAR), órgão vin-culado ao Banco Mundial que congrega 16 centrosinternacionais de pesquisa agrícola no mundo, vaienfocar a Bacia do Rio Paracatu num próximo proje-to, onde deverão ser obtidos recursos da ordem deR$ 500 mil, para financiamento dos estudos. “Estáocorrendo uma série de problemas na Bacia doParacatu, como diminuição da precipitação, reduçãode vazão, grandes áreas irrigadas e um processo deocupação que degradou a Bacia. Estamos com espe-ranças de que os próximos editais do CGIAR tam-bém enfoquem a Bacia do Rio Verde Grande, consi-derada a mais problemática do São Francisco, e a doRio Grande, na Bahia”, afirma Mota Ramos.

A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA PLANTIO DI-RETO – O professor da UFV, Márcio Mota Ramos,observa que o sistema Plantio Direto, importantepara a recuperação do meio ambiente, ainda não écomum nos projetos de irrigação implantados no Valedo Rio São Francisco e que esse sistema precisa serdesenvolvido também para o sequeiro, atendendo-se a toda a bacia.

“Pelo fato de exigir investimentos, o produtor ge-ralmente descapitalizado, especialmente o pequeno,não tem recursos financeiros para fazer essa mudan-ça”, afirma o professor, que abre uma exceção paraos produtores empresários, muitos advindos de ou-tras atividades econômicas, que estão-se instalandono Oeste Baiano. Há também o concurso de produ-tores advindos do Sul, trazendo com eles o sistemaPlantio Direto e o princípio dos Clubes Amigos daTerra, articulado pela APDC, como muito bemenfatizou Pedro Freitas, pesquisador da EmbrapaSolos e um dos debatedores.

Nos projetos de irrigação ao longo do Vale do SãoFrancisco, existem áreas mais planas, de melhor to-pografia e o sistema Plantio Direto teria como prin-

Alberto Daker

Na opinião de um especialista em Engenha-ria Hidráulica, consultor internacional e profes-sor titular aposentado da Universidade Federalde Viçosa, Alberto Daker, são três as condiçõesbásicas para que haja viabilidade num projetode transposição de rio: 1ª) que haja uma baciacom muita terra plana e fértil, própria para irri-gação, mas que não tenha água; 2ª) que hajauma outra bacia contígua, que tenha água, masque não tenha terra apropriada para cultivo; 3ª)que essa transposição, obtida por gravidade oupequeno bombeamento, abranja aspectos de vi-abilidade econômica.

“Bastaria apenas que uma dessas condiçõesfosse negativa, para que o projeto torne-se in-viável. E, no caso da transposição do Rio São Fran-cisco, todas são negativas”, mostra o professorDaker, apontando a inviabilidade do projeto. Se-gundo ele, no Nordeste Setentrional, para ondese pensa em transpor a água do rio, existe muitaágua, resultado de 90 anos de construção de açu-des. A água existente dá para irrigar 600 mil hec-tares; no entanto, somente são irrigados 120 milhectares. Já na Bacia do Rio São Francisco, nãohá água sobrando e existem mais de 3 milhõesde hectares para serem irrigados.

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cipal função a manutenção da umidade do solo e ade não deixar ocorrer grandes perdas por evapo-ração. Ele relata os resultados de um trabalho ex-perimental comparativo entre Plantio Convencio-nal (PC) e Plantio Direto (PD), desenvolvido pelaUFV em área plana, com irrigação por pivô cen-tral. As culturas implantadas nesse trabalho foramde milho e de feijão e apresentaram como resulta-do um consumo de água 30% maior no PC, sendoque a maior economia foi obtida com a cultura domilho.

O sistema PD não apresenta restrições para ne-nhuma cultura. “Pelo fato de manter o ambientemais úmido com a utilização de matéria orgânica,o sistema contribui para o desenvolvimento de al-guns vetores de pragas e doenças. Mas podem-secombatê-los, mantendo-os num nível bastante to-lerável, com práticas de controle, que prevêem ocontrole biológico para não haver agressão ao meioambiente e nem prejudicar a produtividade da cul-tura”, afirma Mota Ramos.

MINAS MOSTRA PLANO DE REVITALIZA-ÇÃO DO SÃO FRANCISCO – O Programa de Re-vitalização e Desenvolvimento Rural Sustentável daBacia Hidrográfica do Rio São Francisco, um dosprojetos estruturantes do governo Aécio Neves, éuma proposta de enorme alcance social, uma vez quea área a ser revitalizada, cerca de 249 mil km2, atinge40% do território mineiro e uma população de, apro-ximadamente, 7 milhões de pessoas.

O projeto, a ser implantado a partir de 2004,foi desenvolvido pelo Sistema Operacional da Se-cretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (Ruralminas, Emater, Epamig e IMA),em parceria com a Secretaria de Meio Ambientee Desenvolvimento Sustentável (Igam, Feam eIEF). Envolve um conjunto de ações propositivas,que visam garantir a sustentabilidade das ativida-des antrópicas desenvolvidas na Bacia Hidrográ-fica do Rio São Francisco, aumentar a oferta deágua em quantidade e qualidade, recuperar e pre-servar o meio ambiente, conscientizar e promovera participação de usuários no processo derevitalização e proteção ambiental, gerar empre-go, ocupação e renda, desenvolvimento social, eco-nômico, político, tecnológico e ambiental na áreade abrangência da Bacia Hidrográfica do São Fran-cisco em Minas Gerais, reflorestamento de nas-centes, matas ciliares e de galeria, além do trata-mento de lixo e de esgoto.

As ações prioritárias setoriais e regionais vãobeneficiar 241 municípios do Estado, que cortama Bacia Hidrográfica do São Francisco. Elas estãoestruturadas em 14 programas a serem desenvol-vidos em curto, médio e longo prazos. São proje-tos que envolvem desde educação ambiental, ge-ração, difusão e transferência de conhecimento,tecnologia, implantação e obras hidráulicas,melhorias da infra-estrutura viária rural, recom-posição da cobertura vegetal, recuperação e pre-servação de áreas degradadas, manejo sustentáveldo solo e saneamento ambiental rural.

Vargem Bonita, localizada no Oeste de Minas Ge-rais, é a primeira cidade banhada pelo Rio São Francis-co, logo após seu nascimento na Serra da Canastra. É,também, a primeira a contribuir para a poluição da Ba-cia, o que pode ser constatado por qualquer pessoa quechega às margens assoreadas do rio. Na tentativa de aju-dar a resolver essa situação, as autoridades locais estãobuscando recursos para ajudar na revitalização do Ve-lho Chico, a partir da elaboração de um projeto de recu-peração de uma das primeiras sub-bacias, a do Córregodas Pedras, que faz parte da Bacia do Ribeirão do Prata,afluente do Rio São Francisco. Este córrego atinge umaárea de 18,29 km2 e apresenta vários problemas, que vãodesde a degradação das pastagens até a necessidade deimplantação de obras de saneamento rural.

O desmatamento ocorrido, principalmente nas últi-mas três décadas, para abertura de novas áreas agríco-las, apesar de algumas práticas de conservação de solo,prejudicou a preservação das microbacias hidrográficas,tornando importante desenvolver no município um pro-jeto piloto de sustentabilidade e preservação desses re-cursos hídricos. Para tal, a comissão gestora municipalcomposta pela Prefeitura Municipal de Vargem Bonita,Câmara Municipal, Emater-MG, IEF, IMA, Copasa eCMDRS, selecionou esse projeto piloto, que prevê o de-senvolvimento de ações de manejo integrado dos recur-sos naturais na sub-bacia, concentrando esforços na ex-ploração econômica e sustentável sem prejuízo ao meioambiente.

“A preservação da sub-bacia do Córrego das Pedras,tendo como ações principais a educação ambiental, ocontrole da erosão, a proteção de nascentes, a manu-tenção das estradas vicinais, o controle de voçorocas, arecomposição da mata ciliar e a canalização do rego, temcomo perspectiva principal a melhoria da qualidade daágua para abastecimento da comunidade”, afirma o en-genheiro agrônomo Enes Pereira Barbosa, da Ematerde Vargem Bonita, integrante da comissão gestora mu-nicipal.

A sub-bacia do Córrego das Pedras é considerada degrande importância para o município, devido a váriosfatores:� proximidade da sede do município;� sua malha hídrica é composta de diversas nascentes

de primeira e segunda ordem, que abastecem 21 fa-mílias de produtores, que desenvolvem várias explo-rações, como bovinocultura de leite, produção dequeijo Canastra, bovinocultura de corte e cafeicul-tura;

� necessidade de preservação da qualidade e da quan-tidade da água que abastece a comunidade;

� a bacia hidrográfica é formadora de um importanteafluente do Rio São Francisco, o Ribeirão do Prata.

EduardoBrandão, diretor-

presidente daRuralminas

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A implantação desse projeto piloto tem como jus-tificativas, através de ações de todos os órgãos que com-põem a comissão gestora, conscientizar a populaçãoem geral sobre a importância da preservação dos re-cursos naturais do município e buscar objetivos, taiscomo:� melhorar a qualidade de vida dos pequenos produ-

tores rurais, através da recuperação das áreas de-gradadas e do manejo adequado do solo e da água;

� melhorar a qualidade da água a ser utilizada pelapopulação da comunidade da Bacia do Córrego dasPedras;

� promover a educação ambiental entre os morado-res da Bacia, servindo também de modelo para oscidadãos do município;

� desenvolver um modelo de preservação de sub-ba-cia hidrográfica que poderá ser seguido em outrasáreas com características semelhantes.

Além desses objetivos, busca, também:� organizar os pequenos produtores rurais em asso-

ciações;� conservar, recuperar e manejar o solo e a água, com

práticas integradas que possam proporcionar o de-senvolvimento sustentável;

� possibilitar e enquadrar o produtor no programade produção de queijo Minas artesanal, com a ade-quação das propriedades, como a melhoria das ca-sas de queijo e estábulos, sanidade do rebanho ecapacitação dos produtores;

� conservar e recuperar a mata ciliar com essênciasnativas;

� usar adequadamente defensivos agrícolas e dar des-tino correto às suas embalagens, diminuindo a in-cidência de intoxicações e contaminação do meioambiente;

� proteger as nascentes com cercas, evitando o aces-so de animais domésticos;

� conservar as estradas vicinais, através de constru-ção de bacias de captação de enxurradas;

� sanear o meio rural, com a construção de fossassépticas e a canalização do rego d’água que abaste-ce a comunidade;

� recuperar e estabilizar voçorocas, através de cur-vas de nível e terraços;

� corrigir solos através de calagens e recuperação depastagens degradadas e de áreas de lavouras.

O projeto de recuperação e preservação de sub-bacias hidrográficas formadoras dos afluentes minei-ros do Rio São Francisco, proposto pela Agência Na-cional de Águas (ANA), conta com a participação e oenvolvimento de comunidades rurais e urbanas, pre-feituras, sociedade civil organizada e instituições par-ceiras. Irá selecionar 200 sub-bacias hidrográficasconsideradas piloto e estratégicas em 200 municípiosmineiros componentes da Bacia, por meio de consul-tas, estudos e forte mobilização das instituições e dasociedade. Para cada sub-bacia hidrográfica selecio-nada está sendo elaborado um projeto executivo decaracterização e manejo integrado, com vistas à re-cuperação, preservação e manejo sustentável dos seusrecursos naturais. �

Vargem Bonita – primeira cidade que recebe epolui as águas do Rio São Francisco

Em Vargem Bonita, o rio São Francisco mostra os primeiros sinais de degradação epoluição

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Introdução

Bacia do São Francisco compreende-seentre as latitudes 7O 00’ e 21O 00’ S e aslongitudes 35O 00’ e 47O 40’ W, esten-

dendo-se pelos estados de Minas Gerais, Bahia,Goiás, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, alémdo Distrito Federal. Da nascente, na Serra daCanastra, até a foz, no Oceano Atlântico, o RioSão Francisco percorre 2.700 km, drenandouma área de 639.219 km2, onde estão inseridos503 municípios e viviam, em 1999, 15.545.866habitantes (Codevasf, 2002b).

A Bacia do São Francisco tem uma área de64 milhões de hectares, sendo 25,6 milhões(40%) de terras aptas para a agricultura. No AltoSão Francisco e na região superior do Médio SãoFrancisco, onde as chuvas são mais abundantese regulares, a agricultura de sequeiro é a princi-pal atividade agrícola. No Submédio, esta ativi-dade é limitada, porque toda a região está in-cluída no Semi-Árido. A parte inferior do Mé-

1 Parte de trabalho executado pela Universidade Federal de Viçosa, como subprojeto do GEF São Francisco,financiado pelo PNUMA e coordenado pela OEA e ANA

MÁRCIO MOTA RAMOS

PROF. TITULAR, BOLSISTA DO CNPQ, DEP. DE ENG. AGRÍCOLA, UFV,36.570-000, VIÇOSA-MG. [email protected]

FERNANDO FALCO PRUSKI

PROF. TITULAR, BOLSISTA DO CNPQ, DEP. DE ENG. AGRÍCOLA, UFV,36.570-000, VIÇOSA-MG. [email protected]

LINEU NEIVA RODRIGUES

PESQUISADOR, CPAC- EMBRAPA, BRASÍLIA-DF

WALLISSON DA SILVA FREITAS

MESTRE EM ENG. AGRÍCOLA, DOUTORANDO EM ENG. AGRÍCOLA, BOLSISTA

DO CT-HIDRO/CNPQ, UFV, 36.570-000, VIÇOSA-MG

GESSIONEI DA SILVA SANTANA

MESTRE EM ENG. AGRÍCOLA, DOUTORANDO EM ENG. AGRÍCOLA, BOLSISTA

DO CNPQ, UFV, 36.570-000, VIÇOSA-MG

RAFAEL DE ALMEIDA RIBEIRO

ENG. AGRÔNOMO, UFV, 36.570-000, VIÇOSA-MG

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FOTO ARGUS SATURNINOLogo após o seu nascimento, o rio São Francisco começa a se tornar caudaloso em suas primeiras quedas (dezembro de2001)

Quantificação do uso e daeficiência da irrigação na bacia

do São Francisco1

Quantificação do uso e daeficiência da irrigação na bacia

do São Francisco1

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dio São Francisco também se localiza no Semi-Árido, tendo limitações idênticas às doSubmédio (Vale do São Francisco, 2002c). Dototal agricultável, 3 milhões de hectares são po-tencialmente irrigáveis, mas, atualmente, somen-te 300 mil hectares são irrigados (Vale do SãoFrancisco, 2002b). A demanda de água para ir-rigação na Bacia do São Francisco é de 160 m3/s, correspondendo a 71,4% da demanda total(ANA, 2002b).

A atuação do governo na Bacia do Rio SãoFrancisco é expressiva, sendo representada, prin-cipalmente, pela Companhia de Desenvolvimen-to do Vale do São Francisco (Codevasf), que temcomo missão principal promover o desenvolvi-mento da região por meio da agricultura irriga-da. A Bacia possui uma diversidade de climasmuito grande, passando de úmido, nas regiõesSul e Oeste, a árido na região do Pólo Juazeiro/Petrolina. Nesta região, as condições climáticassão ideais e singulares para a agricultura irriga-da, combinando temperatura e insolação eleva-das e baixa umidade relativa do ar. O déficithídrico, porém, é acentuado por causa do pe-queno total precipitado e pela sua distribuiçãoirregular.

Nos últimos trinta anos, as áreas irrigadas doSemi-Árido sofreram significativas transforma-ções, principalmente no que diz respeito às cul-turas ali produzidas. Os projetos de irrigação naBacia, tanto os públicos quanto os privados, nãoapresentam um planejamento adequado e, apóssuas implementações, não têm recebido um ma-nejo também adequado. Os estudos que vêmsendo realizados apresentam indicadores de sus-tentabilidade hídrica preocupantes, com relaçãoàs disponibilidades de água para usos múltiplos.

Algumas áreas já são consideradas críticas noque diz respeito à razão demanda/disponibilida-de.

No Quadro 1, são apresentadas as deman-das de água na Bacia do São Francisco, em quese observa que a irrigação é responsável por74,1% dos usos consuntivos.

Apesar de a Bacia do São Francisco ter apre-sentado um expressivo crescimento da ativida-de agrícola, os resultados não foram imediatospara a economia da região, pois a comercializa-ção da produção era descentralizada, os produ-tos ainda não tinham qualidade e padronizaçãosuficientes e não existia uma malha aeroviáriaque possibilitasse o acesso aos centros de distri-buição e de consumo.

Atualmente, pólos regionais têm-se destaca-do tanto na produção quanto na comercializa-ção dos produtos, havendo agora, pela instala-ção de agroindústrias, uma maior agregação devalor aos produtos na própria região. Algunsdestes pólos vêm-se destacando na Bacia porsuas localizações geográficas, por suas infra-es-truturas disponíveis e por suas grandes produ-ções.

O desenvolvimento atual da Bacia do SãoFrancisco deve-se, em grande parte, à implemen-tação dos projetos de irrigação públicos e priva-dos que mudaram e continuam a mudar a eco-nomia da região, porém esta mudança deu-seem um período relativamente curto, não possi-bilitando, de imediato, a adoção e o aprendiza-do das técnicas adequadas de manejo da irriga-ção, e nem a manutenção preventiva e corretivados equipamentos de irrigação.

Irrigações ineficientes e inadequadas resul-tam em desperdício de água e energia, recursosfinitos que estão cada dia mais escassos. Isso

QUADRO 1 – Demandas de água na Bacia do Rio São Francisco, por tipo e uso, no ano de1994

DEMANDAS DE ÁGUA NA BACIA DO SÃO FRANCISCO, POR TIPO E USO

TIPO DE Volume anual Em relação Em relaçãoUSO/DEMANDA demandado à demanda total ao uso

(bilhões de m3) (%) (%)

USO NÃO CONSUNTIVO 6,4 70,3 100,0Ecológica 6,4 70,3 100,0

USO CONSUNTIVO 2,7 29,7 100,0Irrigação 2,0 22,0 74,1Consumo urbano 0,3 3,3 11,1Cons. agroindustrial 0,1 1,1 3,7Pecuária 0,2 2,2 7,4Consumo industrial 0,1 1,1 3,7Consumo rural 0,0 0,0 0,0

TOTAL 9,1 100,0 –––

Fonte: Áridas (2002).

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24 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

releva a necessidade de avaliação da eficiênciacom que é praticada a irrigação na Bacia.

MetodologiaPara estimar a quantidade de água utilizada

na irrigação, com base em dados secundários,identificaram-se e estabeleceram-se contatoscom instituições governamentais e/ou privadascom o intuito de averiguar:

a) o tipo de dados existentes;b) a qualidade desses dados;c) o período a que os dados se referiam.Em um primeiro contato, selecionaram-se as

instituições que detinham bancos de informa-ções atualizados e, aparentemente, confiáveis,para a coleta e reprodução das informações. Fez-se, também, um extenso levantamento bibliográ-fico em teses de mestrado e de doutorado, li-vros, relatórios técnicos e artigos científicos, quepudessem ser utilizados como base de informa-ção. As informações coletadas foram organiza-das por assunto e, em alguns casos, foram con-feccionados gráficos e mapas.

A Figura 1 (a) ilustra a distribuição espacialdas áreas irrigadas na Bacia do Rio São Francis-co. Os dados apresentados nesta figura foramprovenientes do Instituto Mineiro de Gestão dasÁguas (Igam), do Plano Diretor de RecursosHídricos das Bacias dos Afluentes do São Fran-cisco para o Estado de Minas Gerais (PDRH),da Secretaria de Recursos Hídricos do Estadoda Bahia – SRH (Bahia, 2001) e de teses demestrado e doutorado defendidas na Universi-dade Federal de Viçosa (Bonomo, 1999).

Observa-se, ainda na Figura 1 (b), que ossistemas de irrigação por pivô central distribu-em-se ao longo de toda a Bacia, com uma maiorconcentração no Norte (Jaíba, Janaúba, Januáriae Manga) e no Noroeste de Minas Gerais (Unaí,Bonfinópolis de Minas e Paracatu) e no Oesteda Bahia (Barreiras, São Desidério e LuísEduardo Magalhães).

Os sistemas de irrigação por aspersão con-vencional concentram-se, principalmente, nas ci-dades de Jaíba, Itacarambi e Manga, em MinasGerais, e na sub-bacia do Rio Corrente, nas ci-dades de Bom Jesus da Lapa e São Félix doCoribe, no estado da Bahia. Já a irrigação pormicroaspersão está dispersa ao longo de toda aBacia, principalmente nas áreas de fruticulturairrigada. Observa-se pequeno número de áreasirrigadas por gotejamento.

No Quadro 2, apresentam-se os valores in-dicativos da relação vazão/área irrigada paracada método de irrigação nos estados de MinasGerais e Bahia, segundo dados do PDRH-SF e

FIGURA 1 – Bacia do Rio São Francisco:

(a) distribuição espacial das áreas irrigadas

(b) principais métodos de irrigação utilizados

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 25

do cadastro de usuários outorgados da SRH-BA,respectivamente.

Os maiores consumos de água por unidadede área irrigada em Minas Gerais foram obser-vados no método de irrigação por superfície,enquanto os menores foram obtidos nos siste-mas por gotejamento e mangueira. Na Bahia, asmaiores relações vazão/área irrigada foram ob-tidas para pivô central e aspersão convencionalenquanto as menores relações foram obtidas emsistemas de irrigação localizada, nos quais veri-ficaram-se valores inferiores a 1 L/s/ha.

O número de projetos de irrigação avaliadosem cada região foi estabelecido observando-se

midade de Christiansen (CUC), para os sis-temas por aspersão;

c) coeficiente representativo das perdas porderiva e por evaporação, para irrigação poraspersão;

d) eficiência de aplicação referente à média das25% menores lâminas (Eq), para sistemasde irrigação localizada;

e) eficiência de aplicação referente à média das50% menores lâminas (Eh), para sistemasde irrigação por aspersão;

f) índice de adequacidade atual e de projetoda média das 25% menores lâminas aplica-das, para os métodos por aspersão e locali-zada.O valor de CUD60% abaixo do qual a unifor-

midade de aplicação foi considerada inadequa-da para irrigação localizada, bem como o valorde CUD90% acima do qual ela foi excelente, comos valores de CUD resultantes das avaliaçõesrealizadas nos sistemas de irrigação localizada eo seu valor médio são apresentados na Figura3. Observa-se que a média dos CUDs foi 79,1%,valor inferior ao considerado excelente (90%).

Das 33 avaliações de sistemas de irrigaçãolocalizada apenas quatro (12,1%) apresentaramvalores de CUD menores do que o valor consi-derado inadequado para este sistema (CUD60%).Destas, duas (50%) apresentaram valores deCUD muito próximos do CUD60%, indicando quepequenas melhorias advindas da manutençãocorretiva seriam suficientes para elevar as suasuniformidades.

Os outros dois sistemas (50%) apresentaramvalores de CUD muito abaixo do mínimo reco-mendado. Esses baixos valores ocorreram porcausa de entupimentos dos emissores, indican-do claramente deficiências na manutenção pre-ventiva e corretiva do sistema. Ainda na Figura3, nota-se que dez (30,3%) dos sistemas avalia-dos obtiveram valores de CUD acima do valorconsiderado excelente, indicando que esses sis-temas foram bem dimensionados e estão sendomanejados adequadamente.

O valor de CUC abaixo do qual a uniformi-

RELAÇÃO VAZÃO/ÁREA IRRIGADA

MÉTODO DE IRRIGAÇÃO (L/s/ha)

MinasGerais Bahia

Sulcos 1,67 –––Inundação 2,05 –––Aspersão convencional 1,22 0,84Pivô central 1,07 0,90Autopropelido 0,84 –––Microaspersão / subcopa 1,20 0,55Gotejamento 0,83 0,66Mangueira 0,80 –––Fita perfurada ––– 0,79

QUADRO 2 – Relação vazão/área irrigadaem função dos métodos de irrigação paraMinas Gerais e Bahia

a diversificação dos sistemas de irrigação, dasculturas irrigadas, do tipo de fonte de água (rioou poço) e do nível tecnológico do produtor.

As avaliações foram conduzidas nos três Es-tados que detêm a maior parcela da área do Valedo São Francisco, Bahia, Minas Gerais e Per-nambuco. Foram avaliados 55 projetos, contem-plando os seguintes sistemas: gotejamento (8),microaspersão (25), aspersão convencional (13),canhão hidráulico (1) e pivô central (8), Figura2.

Na avaliação do desem-penho dos sistemas de irri-gação, utilizaram-se as me-todologias consagradaspara cada sistema (Kellere Bliesner, 1990, RodrigoLòpez, 1992):a) coeficiente de unifor-

midade de distribuição(CUD), para irrigaçãolocalizada;

b) coeficiente de unifor-

Na avaliaçãodos sistemasde irrigação, airrigação porgotejamentoapresentou omaiorpotencial deeconomia deágua

ART

E C

ARL

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ARE

LLI

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26 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

FIGURA 2 – Distribuição espacial dos sistemas de irrigação avaliados na Bacia do Rio SãoFrancisco, com destaque para as avaliações conduzidas em cada região.

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 27

dade de aplicação foi considerada inadequada(75%) para a irrigação por aspersão (Silva,1998), bem como o valor acima do qual ela foiconsiderada excelente (85%), com os valores deCUC resultantes das avaliações dos sistemas deirrigação por aspersão e o seu valor médio sãoapresentados na Figura 4.

Observa-se na Figura 4 que a média dosCUCs foi 78,6%, superior ao valor considerado

inadequado, mas inferior ao considerado exce-lente. Dos 22 projetos avaliados, cinco deles(22,7%) apresentaram valores de CUC meno-res do que o mínimo recomendado (CUC75%) esete sistemas (31,8%) acima do considerado ex-celente (CUC85%). Apenas dois sistemas apre-sentaram valores de CUC muito abaixo do mí-nimo recomendado, em decorrência da grandevariação na pressão de operação dos aspersores,

FIGURA 3 – Valores de CUD obtidos nos sistemas de irrigação localizada

FIGURA 4 – Valores de CUD obtidos nos sistemas de irrigação por aspersão.

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28 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

do grande espaçamento entre as linhas lateraise entre aspersores, e da alta velocidade do ven-to observada durante a condução dos testes.

As perdas por evaporação e arraste nos pro-jetos de irrigação por aspersão foram, em mé-dia, 10,9% (Figura 5), sendo maiores na asper-

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Número da avaliação

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)

Asp. convencional������������������������������������������������������ Pivô central Canhão hidráulico

Média pivô Média asp. convencional

são convencional do que em pivô central, con-forme pode ser comprovado pelo maior valormédio deste parâmetro: 12,6% para aspersãoconvencional e 8% para pivô central.

Os valores de eficiência de aplicação obtidosnos sistemas de irrigação localizada avaliados,

FIGURA 5 – Perdas por evaporação e arraste em aspersão convencional e pivô central,bem como os seus valores médios

FIGURA 6 – Eficiência de aplicação na irrigação localizada referente às 25% menores lâ-minas (Eq), seu valor médio e o valor considerado excelente para este parâmetro

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 29

referentes às 25% menores lâminas (Eq), bemcomo o seu valor médio e o considerado exce-lente (85%) para este parâmetro são apresenta-dos na Figura 6. Os valores variaram de 3,8 a97,7%, com média de 79,1%, a qual está abaixodo valor considerado excelente para irrigação lo-calizada. Este valor indica que de cada 100 li-tros utilizados para irrigação, 79,1 litros são efe-tivamente utilizados pela cultura, sendo o res-tante perdido por vazamentos, evaporação epercolação.

Já a eficiência de aplicação na irrigação poraspersão, referente às 50% menores lâminas(Eh), bem como o seu valor médio e aquele con-siderado excelente (80%) são apresentados naFigura 7. Os valores variaram de 41,1% a 86,2%,com média de 71,5%, a qual está abaixo do va-lor considerado excelente para irrigação por as-persão.

Observa-se nas Figuras 6 e 7 que, em mé-dia, a eficiência de aplicação da irrigação locali-zada foi superior à da irrigação por aspersão,em decorrência do fato de as perdas por evapo-ração e arraste serem consideravelmente altasna irrigação por aspersão e praticamente inexis-tentes na irrigação localizada. Outro fator a serconsiderado são os espaçamentos inadequadosentre laterais e aspersores que foram verifica-dos nas irrigações por aspersão.

Os índices de adequacidade atual e de pro-jeto para irrigação localizada e para irrigaçãopor aspersão são apresentados, respectivamen-

te, nas Figuras 8 e 9. O uso deste índice faz-senecessário, uma vez que se pode ter uma efici-ência de aplicação elevada em condições de ir-rigação deficitária, mascarando as análises. Oíndice de adequacidade atual indica se a irriga-ção foi em excesso ou em déficit. Um valor su-perior à unidade indica irrigação em excesso, umvalor igual à unidade indica irrigação ideal e umvalor menor indica irrigação deficitária.

Pode-se inferir, através da análise da Figura8, que em 27 casos (81,8%) a média das 25%menores lâminas aplicadas ( %25L ) foi inferiorà lâmina requerida, o que indica uma situaçãode irrigação deficitária. Em dois casos (6%)

%25L foi igual à lâmina requerida, indicandoque a irrigação foi adequada, e em quatro casos(12%) foi maior, indicando irrigação em exces-so. Em 19 casos (57,6%), verificaram-se índicesde adequacidade atual menores que os de pro-jeto, mostrando que o déficit atual foi maior doque o de projeto, em virtude de as irrigaçõesterem sido realizadas após a data prevista. Emapenas dois casos (6%) a irrigação foi feita nomomento programado. Por outro lado, em 12casos (36,4%) a irrigação foi realizada antes doprevisto, indicando déficit atual menor que o deprojeto.

Analisando-se a Figura 9, em relação ao ín-dice de adequacidade atual para os sistemas deirrigação por aspersão, pode-se inferir que emgeral (77,3% dos casos) a média das 25% me-nores lâminas aplicadas foi inferior à lâmina

FIGURA 7 – Eficiência de aplicação na irrigação por aspersão (Eh) referente às 50% meno-res lâminas, seu valor médio e o valor considerado excelente para este parâmetro

80%75%70%

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30 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

requerida, o que é indicativo de irrigações de-ficitárias. Tal fato pode ser comprovado poríndices de adequacidade menores que a unida-de. Em três casos (13,6%) a %25L foi igual àlâmina requerida, indicando que a irrigação foiadequada, e, em dois casos (9,1%), foi maior,indicativo de irrigação em excesso.

O manejo da irrigação permite identificar,

com base em critérios técnicos, o momento deinício das irrigações, bem como definir a quan-tidade de água adequada para atender às neces-sidades hídricas da cultura (Doorenbos e Kassan,1979), minimizando o consumo de energia,maximizando a eficiência de uso da água e man-tendo favoráveis as condições de umidade dosolo.

FIGURA 9 – Índices de adequacidade atual e de projeto para sistemas por aspersão

FIGURA 8 – Índices de adequacidades atual e de projeto para sistemas de irrigação localiza-da

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0

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 16 17 18 19 20 26 27 28 30 32 33 34 35 36 38 45 46 47 50 51 52 53 54 55

Número da avaliação

Lâm

ina

(mm

)

Déficit máximo permitido Lâmina necessária

A avaliação do manejo da irrigação foi feita,preliminarmente, comparando-se a lâmina apli-cada pelo irrigante durante uma irrigação de ro-tina, com o déficit atual de umidade no solo. Pos-teriormente, comparou-se o déficit atual com odéficit de projeto. Neste caso foi estabelecidoque a situação ideal seria aquela em que o défi-cit atual fosse igual ao de projeto.

Com os dados de solo e da lâmina média apli-cada foi possível diagnosticar as irrigações. A Fi-gura 10 apresenta os valores das lâminas médi-as aplicadas (em azul) e a lâmina d’água neces-sária para elevar a umidade do solo à de capaci-dade de campo (branca hachurado). Quando alâmina média aplicada é maior que a necessá-ria, há uma aplicação de água em excesso e, con-

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Número da avaliação

Lâm

ina

(mm

)

Lâmina aplicada

����������

Lâmina necessária Perdas por percolação Déficit atual após a irrigação

FIGURA 10 – Lâminas aplicada e necessária, perda por percolação profunda e déficit atual de água nosolo na irrigação localizada

FIGURA 11 – Representação dos déficits de projeto e atual de água no solo na irrigaçãolocalizada

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32 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

seqüentemente, perda por percolação, igual adiferença entre estas, representado pela coramarela na Figura 10. Caso contrário, ou seja,se a lâmina necessária é maior que a lâminamédia aplicada, tem-se um déficit atual de águano solo igual a diferença entre estas, imediata-mente após a irrigação. O déficit atual está re-

presentado na Figura 10 pela cor marrom.Quando a lâmina média aplicada é igual à lâmi-na necessária, não haverá perda por percolaçãoe nem a ocorrência de déficit atual de água nosolo.

Observa-se ainda, na Figura 10, que das 33avaliações realizadas em microaspersão e gote-

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Número da avaliação

Lâm

ina

(mm

)

Lâmina aplicada���������� Lâmina necessária Perdas por percolação Déficit atual após a irrigação

0

10

20

30

40

50

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 16 17 18 19 20 26 27 28 30 32 33 34 35 36 38 45 46 47 50 51 52 53 54 55

Número da avaliação

Lâm

ina

(mm

)

Déficit máximo permitido Lâmina necessária

FIGURA 13 – Representação do déficit de projeto e do déficit atual de água no solo nairrigação por aspersão

FIGURA 12 – Representação das lâminas aplicada e necessária, da perda por percolação profunda e dodéficit atual de água no solo na irrigação por aspersão

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 33

jamento, em 20 (60,6%) a lâmina aplicada foimenor que a necessária, caracterizando irriga-ções deficitárias, enquanto que em 13 avaliações(39,4%) houve aplicação de água em excesso,caracterizando perdas por percolação, em mé-dia, de 5,5 mm. O déficit médio de irrigação foide 24,6 mm, com um valor máximo de 89,7 mm.

Observa-se na Figura 11, referente aosdéficits atual e de projeto na irrigação localiza-da, que em 15 projetos (45,5%) avaliados o dé-ficit atual foi, em média, 15,9 mm maior que odéficit de projeto, indicando que as irrigaçõesforam realizadas após o momento recomenda-do. Em sete unidades avaliadas (21%), o déficitde água no solo no momento da irrigação foiigual ao déficit de projeto, caracterizando que airrigação foi realizada no momento certo. En-tretanto, as lâminas aplicadas foram superioresàs recomendadas em seis projetos e inferioresem um. Ainda nesta Figura verifica-se que em11 unidades, ou seja, 33,3% do total, o déficitatual foi inferior ao déficit de projeto, indican-do que a irrigação foi conduzida antes da hora.

Na Figura 12, evidencia-se que, das 22 ava-liações efetuadas nos sistemas de irrigação poraspersão, em 15 (68,1%), a lâmina aplicada foimenor que a necessária, caracterizando irriga-ção deficitária, em média 18,6 mm. Em duasavaliações a lâmina necessária foi aplicada cor-retamente, enquanto que em 22,7% dos proje-tos aplicou-se água em excesso, com valor mé-dio de lâmina excedente de 8 mm. Das avalia-ções realizadas nos sistemas de irrigação por

aspersão, observou-se que em quatro (68,2%) odéficit atual foi, em média, 8,2 mm maior que odéficit de projeto, enquanto que em sete (31,8%)o déficit atual foi inferior ao de projeto, indi-cando que a irrigação foi conduzida antes dahora (Figura 13).

Os percentuais de economia de água em re-lação ao total de água aplicado em cada projetoavaliado são apresentados nos Quadros 3 e 4

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convencional

Microaspersão Gotejamento

Lmaplicada LN Lmaplicada LN PEA(mm) (mm) (mm) (mm) (%)

4 49,0 43,8 - - 10,617 4,7 0 - - 100,027 3,7 0,7 - - 81,134 9,5 6,4 - - 32,635 15,9 14,2 - 10,745 - - 2,9 1,5 48,346 - - 74,1 57,0 23,150 6,2 0 - - 100,051 3,5 0 - - 100,052 8,9 0 - - 100,053 8,5 6,4 - - 24,754 - - 7,7 0 100,055 - - 6,7 0 100,0

Média 63,9*Avaliações com aplicações de água em excesso.

Númeroda

avaliação

QUADRO 3 – Lâmina média aplicada(Lmaplicada), lâmina necessária (LN) e poten-cial para economia de água ao ano (PEA)para os sistemas de irrigação localizada

FIGURA 14 – Potencial médio de econo-mia de água (mm) em cada irrigação

Aspersão ConvencionalNúmero Lmaplicada LN PEA

da avaliação (mm) (mm) (%)

10 21,8 16,2 25,713 6,6 6,4 3,014 12,2 3,4 72,121 18,2 2,0 89,023 29,8 16,6 44,337 15,9 12,0 24,5

Média43,1

*Avaliações com aplicações de água em excesso

QUADRO 4 – Lâmina média aplicada(Lmaplicada), lâmina necessária (LN) e potencialpara economia de água ao ano (PEA) para osistema de irrigação por aspersão convencio-n a l

Um lembrete:obras comouma pontenecessitam deoutorga.Um marco:primeiraponte, próximaà nascente doSão Francisco,ainda nomunicípio deSão Roque deMinas

FOTO GENOVEVA RUISDIAS

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34 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

nquanto no mundo, a área irrigada atinge a267,7 milhões de hectares (dados da FAO,de 1997), o Brasil tem cerca de 29,6 milhões

de hectares irrigados, dos quais 500 mil no Nor-deste, onde pelo menos dois terços são ocupados edesenvolvidos pela iniciativa privada. Ainexistência de uma política brasileira, consistentee clara para o setor, é um fator constante de gera-ção de insegurança e de dúvidas para os produto-res, de acordo com o artigo “O futuro da irrigaçãonos países de Terceiro Mundo”, dos professoresLuís Fernando Rossi Léo e Fernando BrazTangerino Hernandez, da Unesp - Ilha Solteira. Sãodiversos os indicadores evidenciando a importân-cia do trabalho de avaliação dos pólos de irriga-ção, que o Banco Mundial e o governo brasileiro,com o concurso do Ministério da Integração Na-cional, Banco do Nordeste, Codevasf e o BancoInteramericano de Desenvolvimento, estão reali-zando.

Esse trabalho, em fase de relatório final, pre-tende apontar diretrizes que poderão ser adotadaspelas autoridades brasileiras em relação aos perí-metros de irrigação, além de identificar até queponto a agricultura irrigada desenvolvida no Semi-

Árido tem contribuído para a redução da pobrezae das desigualdades regionais, para o aumento edistribuição da renda e para a geração de empre-gos de qualidade. Nesse estudo, foram considera-dos 11 perímetros públicos e áreas privadas de ir-rigação adjacentes a eles em pólos localizados emcinco Estados brasileiros (leia um resumo maiscompleto sobre esse trabalho na ITEM nº 59: “Pó-los de irrigação - Especialistas do Banco Mundialconsideram agricultura irrigada estratégica na ge-ração de impactos socioeconômicos e na reduçãoda pobreza no Semi-Árido brasileiro”).

OS DESAFIOS MOSTRADOS – Segundo o en-genheiro agrônomo e consultor do Banco Mundi-al, Elmar Wagner, um dos integrantes da equipeque trabalhou nesse projeto, foi levantada uma sé-rie de desafios nessas áreas irrigadas, que preci-sam ser vencidos. Entre esses desafios estão maiorconsciência e compromisso ambiental, mudança deenfoque de engenharia de obras para o negócioagrícola, mudança do foco de lote irrigado paracadeia de produção, mudança da ótica de planeja-mento de perímetro público de assentamento parapólo de desenvolvimento integrado, maior envol-vimento e comprometimento da iniciativa priva-da, atendimento ao conceito de múltiplos propósi-tos, além de envolvimento e comprometimento dascomunidades.

Comentando esse trabalho, o professor Salas-sier Bernardo, professor e ex-reitor da Universi-dade Estadual do Norte Fluminense, afirma que ageração de empregos diretos e indiretos em fun-ção da agricultura irrigada no Nordeste foi a açãogovernamental menos dispendiosa e mais efetivade inclusão social na região, que ajudou a reduzira pobreza e a migração.

“Todos sabem que detemos bons conhecimen-tos para ‘projetar’ e ‘construir’ sistemas de irriga-ção, etapas mais fáceis do projeto. E que, sem amenor dúvida, as etapas mais difíceis são a ‘sele-ção e locação de colonos’ nos assentamentos e a‘seleção de produtores empreendedores’ nos lotes

Estudo doBanco Mundial

aponta resultados edesafios

E

A experiência da irrigação no Brasil pode serconsiderada relativamente nova. É praticada há

100 anos na Região Sul, enquanto na RegiãoNordeste tem menos de 30 anos.

Ao contrário do Egito, onde a história registra aprática da agricultura irrigada há mais de 5 mil

anos, às margens do Rio Nilo, onde tambémocorreu a primeira obra de engenharia

relacionada à irrigação, com a construção dediques, represas e canais, que melhoravam o

aproveitamento das águas.

Salassier Bernardo Elmar Wagner

34 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 35

maiores, de modo que os aventureiros sejam evi-tados, bem como o estabelecimento da correntede comercialização, visando dar viabilidade e sus-tentabilidade aos projetos de irrigação”, lembra oprofessor Salassier Bernardo.

REDUÇÃO DA POBREZA – Para o professorSalassier, nas regiões onde se investiu em irriga-ção, ocorreu desenvolvimento econômico e sociale, conseqüentemente, redução da pobreza. Nota-damente, quando as ações foram integradas,seqüenciais e em tempo hábil, permitindo a con-solidação da corrente produtiva e a sustentabili-dade de mercado para os produtos.

Os resultados, principalmente os indicadoresde externalidades socioeconômicas, não aparecemimediatamente após a implantação dos projetos deirrigação. O conceituado professor de irrigação edrenagem considera que geralmente, esses resul-tados demandam um tempo de maturação de, nomínimo, 10 a 15 anos, em função de vários fatores,tais como: falta de capacidade do pessoal do “en-torno” em vislumbrar oportunidades; necessidadede capital e de mão-de-obra qualificada; introdu-ção de culturas e de novos sistemas de produçãona região, entre outros.

PRODUTOR, O PRINCIPAL ATOR – O enge-nheiro agrônomo Elias Teixeira Pires, diretor daPlena Consultoria e Projetos Ltda., que viveu doisrecentes momentos do desenvolvimento da agri-cultura irrigada no Brasil, considera que, entre osatuais desafios da atividade, existem questões es-senciais a serem respondidas. Depois de trabalharno novo modelo de irrigação, um projeto desen-volvido no governo passado, e de atuar na defesado Projeto Jaíba, ele aponta o principal interessa-do nessa questão, o produtor, que precisa ter suasnecessidades atendidas. “Existia tecnologia de fru-tas tropicais nessas regiões? Quem foi o responsá-vel pelo desenvolvimento de todo o processo?”,questiona o empresário.

Para o engenheiro agrônomo José Cisino, dire-tor da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigan-tes do Oeste da Bahia), o grande gargalo desse pro-cesso ainda é a situação de abandono do produtor.Já o diretor da Codevasf, Luís Drumond, consideraque faltam conhecimento e sensibilidade aos res-ponsáveis pela área financeira governamental deque os projetos públicos de irrigação necessitam deum orçamento para gerenciamento, após a conclu-são das obras. O presidente da Codevasf, FranciscoGuedes Alcoforado Filho, entende que o governodeveria atuar como uma agência promotora de de-senvolvimento regional, cuidando de todos os elosda cadeia produtiva, de forma integrada com a so-ciedade. Ele defende um trabalho de parceria entreo poder público e a iniciativa privada.

EMPREGOS MAIS BARATOS – Para o profes-sor Salassier Bernardo, outro ponto que não podeser esquecido é a importância da agricultura irri-gada para minorar a crítica situação social de desi-

gualdade econômica e financeira do país, nestaépoca de poucos recursos orçamentários governa-mentais. “Vale reafirmar que os investimentos ne-cessários para criar empregos são bem menores naagricultura irrigada do que no comércio e na in-dústria, principalmente na indústria química”.

Ele considera que as externalidades socioeco-nômicas somente serão positivas se os projetos deirrigação tiverem sustentabilidade econômica, so-cial e ambiental. “Em outras palavras, se foremeconomicamente viáveis, socialmente responsáveise ambientalmente sadios. Para tanto, os projetospúblicos de irrigação devem ser implantados como objetivo de amenizar os desníveis sociais e pro-mover o desenvolvimento regional, evitando oaprofundamento da concentração de riquezas e dasdesigualdades regionais, de modo que diminua operverso quadro econômico que vivenciamos nopaís”, analisa Salassier.

A LIÇÃO DOS SUCESSOS E DOS INSUCES-SOS – Mesmo considerando não ser fácilquantificar as externalidades socioeconômicas daagricultura irrigada em uma região, o professorSalassier cita alguns parâmetros do município e daregião que fornecem algumas indicações, taiscomo: crescimento demográfico; índice de pobre-za e de renda per capta; desenvolvimento econô-mico; taxas de emprego ou de desemprego; cresci-mento das atividades relacionadas ao comércio eao lazer, entre outros.

Para ele, o desenvolvimento socioeconômicoem função dos diversos projetos de irrigação po-deria ter sido melhor. Mas também analisa ser decapital importância que não haja generalização e,sim, que sejam analisadas as condições de cadaetapa do projeto para se chegar a avaliações “cons-trutivas” e não “destrutivas”. O professor Salas-sier considera que para se ter um crescimento sus-tentado, é necessário “focar no futuro”, utilizandocomo referência tanto os sucessos conseguidos,quanto os insucessos ocorridos. “Os insucessosdevem ser analisados para não ser repetidos e ossucessos alcançados devem ser utilizados comoconhecimentos gerados ‘na e para’ as nossas regi-ões. Uma análise objetiva sobre as causas dos su-cessos e insucessos é fundamental para o cresci-mento com qualidade e longevidade da agricultu-ra irrigada”, encerra o professor.

Nessa linha de ações, foram realizados dois diasde campo: o primeiro enfocando a uva irrigada, emque a empresa âncora, o Carrefour, que além deestar avançando para ter 3 mil empregados diretosem seu agronegócio de uva, já conta com 350 pro-dutores de uva e manga, numa integração que aten-de aos padrões requeridos por ela, para abastecer omercado europeu. O segundo dia de campo foi coma cana-de-açúcar irrigada, com diversos sistemas deirrigação, tendo-se a Agrovale como exemplo nageração de empregos e em uma alternativa de gran-de expansão da agricultura irrigada. �

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Um mercado promissorpara as uvas do Vale doSão Francisco

palavra de ordem é organização. Os pro-dutores de uva e vinho do Vale do SãoFrancisco estão investindo e se organi-

zando para abrir novos mercados. Há 11 anos,utilizando as chamadas “janelas de mercado”, umgrupo de pequenos produtores de uva da regiãocomeçou a exportar, aproveitando o intervalo dealgumas semanas do ano, quando faltava uva nosmercados dos EUA, Europa, Ásia e Oriente Mé-dio.

A princípio, agindo de forma desorganiza-da, eles enfrentaram muitos problemas, comorelatou o engenheiro agrônomo Arnaldo

Irrigação como vetor dodesenvolvimento sustentável e

da conquista de mercados

A realização do XIII Conird no PóloJuazeiro-BA/Petrolina-PE facilitou a

interlocução com vários elos das cadeiasprodutivas, indo da captação da água

para a irrigação até as gôndolas desupermercados europeus, com produtoscomo a uva e a manga. Isto evidencia a

importância do foco no mercado nomomento da concepção de cada

projeto, o que demanda muitaorganização e um pertinente e contínuo

trabalho de P&D para esse fim. Alogística, para que haja sucesso,

depende muito das atitudes e das açõesem favor das aglutinações de forças

para um inteligente ordenamento decomo explorar as vantagens

comparativas do Brasil, tendo-se asagregações de valores e o conhecimento

dos mercados interno e externo comobalizadores dos investimentos. Esse é

um complexo ambiente que nãocomporta amadorismos, despreparos

para produzir o que o mercado quer e,principalmente, falta de competência

para os mais adequadosdimensionamentos de cada projeto.

Uma boa base de P&D e uma forteintegração tecnológica, socioeconômica,ambiental e comercial, que envolvam os

diversos atores das cadeias produtivas,evidenciam-se como a lógica, para se ter

a irrigação como vetor dodesenvolvimento sustentável e da

conquista de mercados.

FOTO

FRA

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A Associação de Exportadores de Uva do Vale do São Franciscoé responsável pela exportação de 85% da uva produzida naregião

A

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Johannes Josef Eijisink, diretor de Agronegóciosdo Carrefour Brasil, em sua palestra durante oXIII Conird. Enquanto o Chile e a África do Sul,grandes produtores de uva, exportavam cerca de100 mil caixas dessa fruta para a Europa, noperíodo entre final de dezembro de 1991 e abrilde 1992, cada um dos produtores tentavacomercializar individualmente suas pequenasproduções nos intervalos de safra. Trabalhandodessa forma, perdiam no preço. Resolveramentão organizar-se e criar o Brazilian GrapeMarket Board (BGMB), ou seja, uma organiza-ção brasileira dos produtores de uva que visa omercado. Hoje, esta associação, que englobapequenos, médios e grandes produtores de uvado Vale do São Francisco, é responsável pelaexportação organizada de 85% da uva produzi-da na região, que exporta para a Ásia, abastecemercados da Tailândia, China e outros. Tambémchega à Europa, Oriente Médio e tem mercadogarantido nos EUA.

“Este é um recado para os produtores demanga da região: somente através de uma asso-ciação de exportadores é que os produtores con-seguem organizar o mercado”, aconselhaArnaldo Eijisink. Esta é uma saída para a crisede preço que os produtores de manga estão vi-vendo, em função da concentração da safra numdeterminado período e excesso de oferta desseproduto no mercado.

UMA ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL,RECONHECIDA MUNDIALMENTE

O BGMB, como é mais conhecido, ou Asso-ciação de Exportadores de Uva do Vale do SãoFrancisco, começou há 11 anos a partir de umacâmara setorial da Valexport, com um grupo desete produtores, que cresceu dentro de normasrígidas de comportamento técnico e profissio-nal. Hoje, atuando de forma completamente in-dependente, a Associação congrega 29 grandes,médios e pequenos produtores de uva da regiãoe tornou-se referência mundial de organização.Em 2002, completou 10 anos de funcionamento

e trouxe 30 importadores mundiais de frutas paraa região, fato que se transformou em matéria darevista Eurofruit Magazine, elaborada por umajornalista inglesa.

Para Avoni Pereira dos Santos, presidente doBGMB há seis anos, a diferença que marca estaAssociação de outras organizações de produto-res é justamente a forma de condução da entida-de. “Temos normas rígidas de fidelidade, padrõesde qualidade e assiduidade de informações. Quemnão as cumpre, está fora”, garante ele, que res-salta a responsabilidade que todos os produtoresassociados têm com os produtos comercializadoscom as duas marcas da BGMB, Copacabana Golde Máxima, com registros nacional e internacio-nal. “Cuidamos de questões ligadas à exportaçãoe dos interesses econômicos do grupo, o que nãoé fácil”, afirma ele, referindo-se ao caráterapolítico da instituição.

Cada um dos produtores envolvidos tem di-reito a um voto, com exceção das questões queenvolvem interesses comerciais, onde a repre-sentatividade passa a ser da quantidade produ-zida e comercializada por associado. Atualmen-te, devido ao seu crescimento, o BGMB está bus-cando uma melhor estruturação para não per-der seus objetivos.

“O grande desafio do agronegócio da fruti-cultura irrigada do Vale do São Francisco é in-serir o pequeno produtor no contexto de quali-dade exigida pelo mercado internacional”, rea-firma Avoni Pereira dos Santos, que, além depresidente do BGMB, é também diretor da Co-operativa Agrícola de Juazeiro (CAJ-BA, inte-grante da associação) e diretor-administrativoda Fundação Semi-Árido, uma entidade em for-

Vale do Vale doAno São Francisco Brasil Participação São Francisco Brasil Participação

(t) (t) (%) (US$ 1.000) (US$ 1.000) (%)

1997 3.700 3.705 100 4.700 4.780 981998 4.300 4.405 98 5.550 5.823 951999 10.250 11.083 92 7.910 8.614 922000 13.300 14.000 95 10.264 10.800 952001 19.627 20.660 95 20.485 21.563 952002 25.087 26.357 95 32.460 33.789 96

Fonte: Secex/DTIC - Valexport

Uva: a exportação e a participação do Vale do São Francisco

EXPORTAÇÕES DE UVA DO VALE

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

1997 1998 1999 2000 2001

EM TON.

EM US$000

EXPORTAÇÕES DE UVA DO VALE

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mação, que pretende atuar emparceria com a Embrapa, na ob-tenção de recursos para o desen-volvimento de pesquisasagropecuárias de interesse da re-gião.

CONSUMIDOR BRASILEIROAINDA NÃO CONHECE AUVA SEM SEMENTE

Para o engenheiro agrônomoPierre Santos Vilela, do departa-mento técnico da Federação da

Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Ge-

rais (Faemg), a grande vedete do mercado mun-dial de uva é, sem dúvida, as variedades sem se-mente. “Quem tem uva com semente, só conse-gue atuar em janelas de mercado onde a ofertade uva apirênica é menor”, comenta ele.

Vilela considera também que o consumidorbrasileiro teve poucas oportunidades de conta-to com a uva sem semente. “O mercado internobrasileiro ainda tem que ser desenvolvido e, nes-se processo, sem dúvida, deve ser levado em con-ta o preço do produto”, afirma ele, consideran-do que esse processo de abertura de mercadodeverá demandar muito tempo. Enquanto o con-sumidor externo de frutas in natura leva em con-ta outros valores agregados ao produto como

700.000

750.000

800.000

850.000

900.000

950.000

1.000.000

1.050.000

1.100.000

1.150.000

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Ano

Produção

Tendência

Produção brasileira de uva – 1993-2002 (em toneladas)Crescimento médio anual da produção: 4,88%

55.000

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61.000

63.000

65.000

67.000

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Ano

Área

Tendência

Área brasileira de uva – 1993-2002 (em hectares)Crescimento médio anual da área: 1,10%

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FOTO EVANDRO FIÚZA

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apresentação, embalagem, frescor e, por último,o preço, o mesmo não ocorre com o consumi-dor nacional.

Dos 175 milhões de brasileiros que compõema população, 45 milhões não têm renda paracomprar frutas. O mercado consumidor nacio-nal é composto por 130 milhões de habitantes,onde a classe média baixa, formada por 100 mi-lhões, consome a chamada cesta básica da fruti-cultura brasileira, isto é, banana, laranja e maçã,produtos mais baratos do mercado. Os 30 mi-lhões restantes da população conseguem diver-sificar um pouco mais e adquirem outras frutascomo pêssego, goiaba, nectarina, manga e uva.“Só que eles consomem um tipo de fruta de cadavez e as frutas acabam concorrendo entre elasmesmas”, considera Vilela.

A diferença de preços entre as uvasapirênicas e com sementes também deverá in-fluenciar na rapidez da implantação do merca-do consumidor interno no país, a não ser que opreço da primeira se torne competitivo.

O crescimento da área plantada e da produ-ção da uva brasileira demonstra que o vitivicultornacional está acreditando no sucesso da cultu-ra. Enquanto a produção nacional apresentou,nos últimos 10 anos, uma alta taxa de crescimen-to anual ( 4,88%), a área plantada também foipositiva, com um crescimento médio anual de1,10%.

Positivos também são os resultados aponta-dos pelos dados de exportação e importação deuvas in natura e secas, de acordo com os dadosapresentados pelo técnico da Faemg.

VINHOS E SUCOS, MERCADOSINTERESSANTES PARA A UVA

Pierre Vilela considera interessante para o

Exportações e importações brasileiras de uvas frescas e secas (em toneladas)

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

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1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Exportação

Importação

produtor a estratégia do vinho, uma fonteagregadora de alto valor à uva, onde o fator qua-lidade tem influência no mercado. “Com o con-trole da irrigação no Semi-Árido, existem van-tagens maiores para o setor produtivo, pois estatecnologia torna possível um controle melhor dobrix e a obtenção de uma homogeneidade mai-or do produto”, afirma o engenheiro agrônomo.

Além disso, ele considera o mercado de su-cos, uma forma de consumo da fruta preferidapelos mais jovens nos dias de hoje. “Normalmen-te, é difícil ver o jovem sentar-se na frente datevê e descascar uma fruta. Ele prefereterceirizar esta tarefa para a mãe ou para a avó”,comenta ele.

Enquanto isso, o consumo de sucos no Bra-

FOTO FRANCISCO LOPES FILHO

A uva semsemente aindanão éconhecida pelamaioria dosconsumidoresbrasileiros

4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 39

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sil apresenta uma alta taxa de crescimento: 20%ao ano, mesmo em tempos de recessão econô-mica. Para Vilela, o maior responsável por essaalta taxa de crescimento dos sucos é o mesmoconsumidor da faixa dos 30 milhões que podeconsumir uva e outros tipos de fruta e que estásubstituindo o produto in natura pelo suco.

Manga, um mercado emcrise sem final marcado

A produção de manga no Brasil, consideradairregular por ser uma fruta bianual, saiu de 740mil toneladas, em 1992, e chegou a 842 mil tone-ladas, em 2002. Seu crescimento médio anual foide 2,2% nesse período. Índice considerado altopara a fruticultura. “Crescer, a uma média apro-

ximada de 2% ao ano, significa a necessidade decriar mercado externo para o escoamento da pro-dução, em vez de confiar apenas no mercado in-terno”, afirma Pierre Santos Vilela, técnico daFaemg.

Um dos problemas para a ampliação do mer-cado interno está justamente no momento eco-nômico vivido pelo país, mesmo com os prog-nósticos otimistas por parte do governo federalpara este ano. A atual situação de queda de ren-da vivida pela maior parte da população brasi-leira é reflexo da manutenção da política eco-nômica dos dois últimos governos. Até 1997/1998, confiava-se na expansão econômica do paíscom os reflexos positivos dos resultados do Pla-no Real, depois de uma época de recessão e fra-casso de outros planos econômicos. A soma des-ses elementos dá como resultado principal a for-mação do mercado interno consumidor de fru-tas, formado, basicamente, por um universo de30 milhões de pessoas. Cerca de 90% da produ-ção brasileira de manga permanece no mercadointerno.

Enquanto o crescimento da produção damanga é considerado rápido, maior ainda é oritmo de crescimento da área plantada, a umamédia anual de 3,8%. A manga precisa de umperíodo de quatro anos para produzir de formaeconômica e existem muitos pomares, recente-mente plantados, que ainda não entraram emprodução.

Outro problema apresentado pela manga éo período de concentração da safra, de setem-bro a março. “Por todos esses motivos, conside-ro que o cenário tende a piorar nos próximosdois ou três anos. Se não houver recuperaçãodo poder de compra do consumidor nacional, o

Produção brasileira de manga – 1992-2002 (em toneladas)Crescimento médio anual da produção: 2,2%

700.000

750.000

800.000

850.000

900.000

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1.000.000

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Ano

Produção

Tendência

FOTO FRANCISCO LOPES FILHO

Cerca de90% da

produçãobrasileira de

mangapermanece

no mercadointerno

40 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

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mercado interno continuará estagnado por mui-tos anos, o que pode levar os produtores a in-vestirem menos em seus pomares e até mesmoa abandonarem a atividade”, esclarece Vilela.

O técnico da Faemg também considera omercado externo de difícil ampliação, devido àfalta de estratégias e à desorganização do setorprodutivo, que necessita de investimentos emaior compromisso por parte do governo e dainiciativa privada. Existem iniciativas na Amé-rica do Sul que concorrem e dificultam a aber-tura de novos mercados para a manga brasilei-ra, como as plantations do Equador e da Colôm-bia, que contam com o subsídio e o apoio norte-americano no combate ao narcotráfico. Frutascomo a banana, o maracujá, o mamão e, agora,a manga desses países competem com as do Bra-

Área brasileira de manga – 1992-2002 (em hectares)Crescimento médio anual da área: 3,8%

45.000

50.000

55.000

60.000

65.000

70.000

75.000

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Ano

Área

Tendência

Exportações brasileiras de manga in natura (em toneladas)Crescimento médio anual das exportações: 33,5%

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Ano

Exportação

Produção mundial de manga e projeção para 2010

Produção (t) 2002 2010

Índia 11.400.000 12.300.000China 3.342.875 6.300.000Tailândia 1.700.000 –––México 1.412.980 1.900.000Paquistão 1.037.145 –––

Mundo 25.754.509 30.700.000 Variação: 19,2%Fonte: FAO

4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 41

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42 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

sil para a ampliação de mercados.Apesar da quantidade da produção brasilei-

ra e mesmo sendo a manga a segunda fruta tro-pical de maior importância na cesta da fruticul-tura nacional de exportação, os númerosprojetados pela FAO, para a produção brasilei-ra em 2010, são negativos. Para esta instituição,a produção brasileira deverá decrescer 0,7% até

aquele ano, em relação à produção média obti-da entre 1998 e 2000. A produção mundial de-verá crescer 19,2%, até 2010.

Segundo a FAO, a estimativa de crescimen-to mundial da demanda por frutas tropicais é de8% ao ano, até 2010, chegando a um volume decomércio de 4,3 milhões de toneladas. Para amanga, esta taxa de crescimento deve alcançar9,7% ao ano. A manga representa cerca de 50%de toda a fruta tropical produzida no mundo(excluindo banana).

MAIOR ORGANIZAÇÃO PARA O MERCA-DO EXTERNO – Vilela considera importante aorganização dos produtores de Juazeiro/Petrolina para o atendimento do mercado inter-no, mas ruim para competir no mercado exter-no. Ele tece críticas à atuação do governo nasquestões relativas ao apoio ao produtor quedeseja exportar.

“É preciso rever o processo de participaçãonacional na exportação e parar de privilegiar gru-pos”, diz ele, referindo-se à política de atuaçãodo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) e daAgência de Promoção de Exportações (Apex),duas entidades de apoio ao processo de expor-tação de frutas brasileiras.

Segundo ele, o mesmo modelo e erros se re-petem no próprio Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento, no caso da implanta-ção do sistema de Produção Integrada de Fru-tas (PIF), que somente chega a determinadas

Vale do Vale doAno São Francisco Brasil Participação São Francisco Brasil Participação

(t) (t) (%) (US$ 1.000) (US$ 1.000) (%)

1997 21.500 23.370 92 18.600 20.182 921998 34.000 39.185 87 29.750 32.518 911999 44.000 53.765 82 28.600 32.011 892000 57.200 67.000 85 37.180 43.550 852001 81.155 94.291 86 43.443 50.814 852002 93.559 103.598 90 45.96 50.894 90

Fonte: Secex/DTIC - Valexport

Exportação de manga in natura

Produtos que contam com apoio da Apex e do Ibraf paraexportação:

Maçã (Santa Catarina) • Melão e Uva em Juazeiro/Petrolina (Bahiae Pernambuco) • Melão (Ceará e Rio Grande do Norte) • LimãoThayti (São Paulo e Piauí) • Manga (São Paulo) • Mamão (Bahiae Espírito Santo) • Banana (São Paulo e Minas Gerais)

Média Projeção para1998 - 2000 2010 VARIAÇÃO

Importação mundialde manga (toneladas) 525.000 1.452.000 176,5%

Fonte: FAO

FOTOS FRANCISCO LOPES FILHO

A manga representa cerca de 50% de todas as frutas tropicaisproduzidas no mundo, excluindo a banana

Frutas como a banana (produzida no Norte de Minas e SãoPaulo) e o melão (produzido no Ceará e Rio Grande do Norte)contam com o apoio da Apex e do Ibraf para exportação

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Page 43: 2ª capa (fotolito) - ABID · água para a irrigação até as gôndolas de supermercados europeus, com produtos como a uva e a manga. Conheça uma visão econômica atualizada sobre

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ma fruta para exportação deve ser firme, lisa,bem colorida e brilhante, sem manchas oumarcas, ter boa sanidade e ser doce. Esta é a

descrição das exigências estabelecidas pelo mercadocanadense de frutas relatada pelo exportador de fru-tas tropicais, Hélio Alves Desouza, presidente daSunshine International INC. Entre as frutas de desta-que, a empresa recebe do Brasil, semanalmente, 10mil caixas de mamão papaia, produzido no EspíritoSanto, e 5.080 caixas de manga, produzida no Pólode Juazeiro/Petrolina, que são exportadas e distribu-ídas em supermercados do Canadá e dos EUA. A em-presa conta com escritórios e estruturas montadosem Nova Iorque, Toronto e São Paulo, uma equipede 50 pessoas envolvidas diretamente nesta ativida-de e um faturamento bruto anual de US$ 15 milhões.“Recebo diariamente um contêiner de frutas e pro-duto perecível não pode esperar. Portanto, tenho queter uma logística bastante azeitada”, afirma Desouza,que esteve em Juazeiro, na Bahia, para visitar as ins-talações da empresa América, seu fornecedor demangas, quando tomou conhecimento da realizaçãodo XIII Conird.

O Canadá tem um site do Canadian Food Actions,onde o produtor acompanha a relação e os padrõesde pesticidas permitidos pelas autoridades sanitáriasdaquele país. “Nunca tivemos nenhum problema coma fiscalização local”. Desouza considera que a quali-dade da fruta brasileira tem melhorado muito. “Nãoé segredo para nenhum importador que o Brasil, ape-nas por uma questão de tempo, irá dominar no míni-mo 50% do mercado mundial de frutas frescas”, ga-rante ele, mesmo considerando que o país ainda en-frenta sérios problemas de logística.

MINEIRO E CRUZEIRENSE – Hélio AlvesDesouza é um canadense de alma brasileira. Maisprecisamente considera-se mineiro, pelo fato de terfeito curso superior de Administração de Empresasem Belo Horizonte, além de torcer para o Cruzeiro.O interesse por frutas começou pelo seu gosto pormamão papaia e pelo alto preço da fruta fora do Bra-sil. A idéia de importar a fruta surgiu como formade baratear seu preço. “Comecei com 300 caixas porsemana e hoje nos transformamos no maior impor-tador de papaia para o Canadá”, afirma ele, que contacom o apoio daquela que ele chama de braço direitona empresa, sua mulher, Vilma Francisco. Conseguiu

bons parceiros no Brasil e está sempre à procura denovos negócios, levando em conta o que ele chamade espírito “visionário”.

“Enfrentávamos problemas com a embalagem dasfrutas, que foi corrigido. Agora, restou a logística,para buscarmos a eficiência e menores custos no pro-cesso de importar do Brasil. Os portos não oferecemcondições adequadas e as estradas brasileiras estãoem péssimo estado”, queixa-se ele, lembrando queuma fruta com marcas fica a mercê do mercado.

CUIDADOS A SEREM TOMADOS – Desouzaconsidera a exportação interessante para o produtorde frutas, desde que ele não se esqueça do mercadointerno, pois um mercado alavanca o outro. Para ele,o Brasil deve tomar cuidado com outros países daAmérica Latina, como o Equador, que está investin-do muito na produção de frutas frescas.

“Devido à logística, temos que intercalar com al-guns produtos que o México produz. Trabalhamos naentressafra desse país, porque não temos preço paracompetir com a manga e o limão mexicanos, porexemplo. Além disso, em termos de proximidade demercados, o México está mais próximo dos EUA,Canadá e Europa. Os transportes aéreo e marítimoficam mais baratos”, explica ele.

O importador canadense acredita no domínio doBrasil no mercado mundial de frutas, pelo fato de opaís ter condições de produzir o ano todo. “Temosque corrigir a logística, mudar de Estado, voltar nos-sa produção para o Recife. Aí, então, teremos condi-ções de competir com o México”, explica. No caso detransporte marítimo, ele acredita que a partir do por-to de Roraima, o importador ganha três dias no cha-mado transit time.

O MUNDO ESTÁ ENGORDANDO – Desouzaacredita no futuro estrondoso do mercado de frutastropicais por uma simples razão: o mundo está cadavez mais obeso, um problema evidente na Américado Norte e em parte da Europa. Para ele, a maioriadas pessoas não conhece as frutas e alimenta-se mui-to mal.

Ele considera que o governo brasileiro deve darsuporte ao exportador e ao importador, pois é de in-teresse do país desenvolver o mercado externo. Alémdisso, o governo deveria financiar mais campanhasde divulgação de frutas fora do Brasil. �

Exportador de frutasbrasileiras fala sobre asexigências do mercado

internacional

Exportador de frutasbrasileiras fala sobre asexigências do mercado

internacional

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Hélio Alves Desouza

Coloridas,firmes,brilhantes, docese sadias sãoalgumas dasexigências domercado externoem relação àsfrutas brasileiras

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ITEM – Os estudos do BancoMundial apontaram o Pólo deIrrigação Juazeiro/Petrolina,como um bom exemplo de re-sultados socioeconômicos daagricultura irrigada. A que osenhor atribui isso?Alberto Galvão – O primeirofator é o que denominamosvantagens comparativas. Ocarro-chefe da economia regi-onal é a fruticultura irrigada.E as condições para que se te-nham resultados positivos nes-sa atividade são, especialmen-te, disponibilidade de água einsolação. A fruticultura irriga-da independe de chuvas equanto menos chuvas ocorre-rem, melhor para a atividade.Aqui temos um baixo índicepluviométrico, em torno de450 mm/ano, e uma concentra-ção de chuvas em determina-da época do ano. Isso propiciaa possibilidade de produzir atéduas safras e meia por ano.Com base nessas condiçõesedafoclimáticas, podemos pro-gramar o período de produçãoe o de exportação e, assim, ga-nhamos uma grande vantagemem relação aos nossos concor-rentes. Um exemplo disso é oMéxico, grande concorrentena produção de manga. Pelascondições edafoclimáticasapresentadas, os mexicanostêm condições de produzir noprimeiro semestre do ano.Como sabemos disso, progra-mamos nossas exportaçõespara os EUA para o segundosemestre, justamente quandoo México sai do mercado. Amesma coisa acontece com a

Quem faz a diferença noPólo de Juazeiro/Petrolina?

uva, temos grandes concorren-tes internacionais de uva queconcentram a sua produçãoexatamente no primeiro se-mestre. De posse dessa infor-mação, temos condições deprogramar nossa exportaçãode uvas para a Europa para osegundo semestre, notada-mente de outubro até a primei-ra quinzena de dezembro, jus-tamente quando nossos gran-des concorrentes não estão nomercado. Essas vantagenscomparativas nos propiciamvantagens competitivas.

ITEM – Quais são os pontosainda considerados de estran-gulamento para a atividade?Alberto Galvão – Apesar determos presentes na regiãocentros de pesquisas, a exem-plo da Embrapa, que sempreatenderam nossas demandas,

E N T R E

O Pólo Juazeiro/Petrolina iniciou suasatividades há cerca de 30 anos, a

partir de dois modestos projetos deirrigação, Mandacaru e Bebedouro.

Com a expansão desses projetos,mais quatro foram incorporados aeles, formando um dos mais bem-

sucedidos pólos de agriculturairrigada do país.

Com 15 anos de atividade na região,a Associação dos Produtores

Exportadores de Hortigranjeiros eDerivados do Vale do São Francisco

(Valexport), criticada por uns eelogiada por outros, é apontada

como um dos pontos de apoiopolítico e técnico dos produtores da

região. Ela surgiu a partir danecessidade de uma melhor

organização dos produtores demelão, uva e manga, que

começaram a exportar seus produtosde forma incipiente e precisavam de

profissionalização. Para explicar ofuncionamento da Associação no

Vale do São Francisco, osuperintendente da Valexport, o

economista Alberto Galvão,concedeu uma entrevista exclusiva à

ITEM.

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ainda existe uma grande carên-cia de recursos para a área. Afruticultura é uma atividadeque demanda pesquisas cons-tantes, sistemáticas e contínu-as e faltam recursos. O segun-do ponto é a questão dalogística. Nossas estradas nãosão boas e os custos logísticosmuito altos, além de prejudicara qualidade do produto. Nos-sos custos aeroportuários sãomuito grandes em relação aoutros portos do Brasil e a ou-tros lugares do mundo. Temosproblemas também no que dizrespeito à comercialização nomercado externo e poucos in-vestimentos destinados para apromoção, divulgação e conso-lidação das nossas frutas nosmercados internacionais. Exis-tem muitas regiões do mundoque não conhecem a nossamanga. Precisamos mostrar deuma forma mais profissional eincisiva o que produzimos noVale do São Francisco.

ITEM – Por que o mercadonão anda bom para a manga?Alberto Galvão – O atual mo-mento da manga é terrível. Tal-vez a região esteja passandopor um dos piores momentosno que diz respeito à produçãodessa fruta. O que aconteceuaqui na região? Por questõesclimáticas, acabou havendouma concentração da produ-ção num espaço muito curto detempo, basicamente no finalde setembro e durante o mêsde outubro de 2003. Foi justa-mente o período em que está-vamos mandando nosso pro-duto para os EUA e para a Eu-ropa. Com o aumento da ofer-ta, os preços caíram. Por nãotermos outros mercados, ospreços deram uma despencadaconsiderável. Talvez tenhamfaltado também mais pesquisaspara a parte de produção e ma-nejo. O produtor, apesar de es-tar produzindo na região há

vários anos, acabou sendopego de surpresa com esse pro-blema climático, que ocasio-nou a concentração da produ-ção num espaço de tempo mui-to curto.

ITEM – Como a Valexportpode atuar nesse controle domercado?Alberto Galvão – A Valexportnão tem o poder de chegarpara o produtor e dizer: – nãoplante, ou chegar para os agen-tes financeiros e determinar: –não financiem. Ela pode sen-sibilizar os governos, órgãos eentidades em busca de umareciprocidade de mercados.Independente da crise de 2003,o preço internacional da man-ga tem caído. Particularmente,acho que não devemos restrin-gir a oferta e sim, ampliar a de-manda, com novos mercados.Não só novos mercados inter-nacionais, mas fazer campa-nhas mostrando as qualidadesnutricionais do produto para omercado interno. Estaríamosgarantindo o escoamento daoferta atual, propiciando o au-mento de novas áreas e amelhoria dos índices socioeco-nômicos.

ITEM – Qual é o papel desem-penhado e o universo de atua-ção da Valexport?Alberto Galvão – A Valexporté uma associação sem fins lu-crativos que representa o seg-mento hortifrutícola da regiãodo Vale do São Francisco. Foicriada nos anos 80, quando aregião experimentava as pri-meiras experiências de expor-tação, notadamente com o me-lão. Nessa época, meia dúzia deprodutores começou a mantercontato com esse novo mundoexportador e, a partir das difi-culdades surgidas e com o in-centivo de órgãos como aCodevasf e a Embrapa, criou-

se a Valexport, em abril de1988. Com isso, começaram-sea desenvolver algumas açõestécnicas visando melhorar aqualidade dos nossos produtose atender às exigências de mer-cados internacionais. Uma dasexigências do mercado ameri-cano era a participação do pro-dutor no programa de monito-ramento da mosca-da-fruta.Em 1992, os mercados atacadis-tas dos países europeus passa-ram a procurar pela uvaapirênica e começamos, com oapoio de outras instituições, apesquisar variedades deste tipode uva adaptadas à região. Opapel da Valexport tem sido ode articular o atendimento deexigências do mercado externo.Atuamos diretamente no Vale

do São Francisco, mas existemalguns programas, como o deexportação de mangas para osEUA, em que o produtor temque estar ligado à associação.Com isso, passamos a ter umaatuação extra-regional, com aparticipação de empresas doOeste Baiano, do Piauí e do RioGrande do Norte.

ITEM – Qual é a vantagem daparticipação na Valexport deuma empresa que não estejalocalizada no Vale do SãoFrancisco?Alberto Galvão – Ela pode par-ticipar de programas, comoesse de exportação de mangas

V I S T A ALBERTO GALVÃO

“Independente da crisede 2003, o preçointernacional da

manga tem caído. Achoque não devemos

restringir a oferta esim, ampliar ademanda, com

novos mercados”

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para os EUA, e de informa-ções, principalmente, sobredemandas de importadores.

ITEM – O sistema de comer-cialização da manga, porexemplo, é sempre de consig-nação?Alberto Galvão – A manga estámuito vulnerável, sujeita à leida oferta e da procura. Exis-tem exportadores que consig-nam 70% a 90% da produção;outros, de 10% a 15%. AValexport não exporta o pro-duto, trabalha com a informa-ção e com gestões políticas e

institucionais, tendo comopano de fundo a melhoria daqualidade dos nossos produtose o incremento das nossas ex-portações. Com base nessepano de fundo, desenvolvemosvários programas técnicos,parcerias, gestões e ações, par-ticipamos de vários comitês,com o objetivo de mostrar oque pretendemos para escoarnossa fruta da melhor formapossível.ITEM – O senhor vê benefíciospara a exportação no porto eno aeroporto no Pólo Juazei-ro/Petrolina?Alberto Galvão – O porto te-ria o objetivo de receber a sojaque vem de Barreiras, no Oes-te da Bahia, seria umentreposto onde a fruta seriacolocada em contêiners etransportada, através de trans-

porte ferroviário, para os por-tos de Suape (PE) ou Salvador(BA). Seria uma forma desubstituição do transporte ro-doviário, modalidade que é apredominante na região.Já o aeroporto-indústria doPólo Juazeiro/Petrolina fica lo-calizado numa áreaeqüidistante de quase todas ascapitais do Nordeste. O preçodo transporte aéreo é muitoalto, mas à medida que tiver-mos produtos que chegam doexterior, será possível o retor-no com outros a um preçomenor de frete, aproveitandomelhor as chamadas “janelasde mercado”, que, muitas ve-zes, não é proporcionado pelamodalidade marítima, que levamais tempo no transporte des-ses produtos.

ITEM – Qual é o perfil do as-sociado da Valexport?Alberto Galvão – Temos pe-quenos, médios e grandes pro-dutores, com predominânciados dois últimos. Em câmarasespecíficas, como a de monito-ramento da mosca-das-frutas,contamos com grande partici-pação do mini e do pequenoprodutor. Para estes produto-res, fica caro manter umainfra-estrutura para exportarseus produtos. Ele participa daatividade com a própria estru-tura do médio produtor, atra-vés de cooperativas de peque-nos produtores (a exemplo daCooperativa Agrícola deJuazeiro, antiga Cotia) ouatravés de comerciais exporta-doras que atuam na região.Podemos encontrar, nos mai-ores mercados da Europa e dosEUA, a manga produzida pelopequeno produtor da região.ITEM – No caso desses proje-tos conduzidos em parceriacom a Valexport, o senhor po-deria situar a importância so-cioeconômica da fruticultura

irrigada para a região?Alberto Galvão – A fruticultu-ra irrigada tem característicasbásicas, de importância sociale de dinamização de empregosdiretos e indiretos na região.Um deles é o baixo investimen-to para a geração de empregos.Enquanto em outros segmen-tos, como a indústria química,de bens de capital e a automo-bilística, os investimentos sãoda ordem de US$ 50 a US$200mil/emprego, na fruticulturairrigada são necessários emmédia US$ 6 mil. O segundoponto é que a atividade tam-bém gera uma média de doisempregos diretos por hectareirrigado. Outro dado impor-tante é a relevante participa-ção da mão-de-obra no custodireto de produção. A culturada uva, por exemplo, tem 55%de seus custos de produção re-ferentes à mão-de-obra, en-quanto com a manga, essescustos são de cerca de 30% a35%. Além de gerar emprego,a fruticultura irrigada concen-tra o homem no campo.Outro fator social que vem ga-nhando destaque, por questãode exigências dos padrões in-ternacionais, é que muitos pro-dutores e exportadores estãoinvestindo na educação e esco-larização do trabalhador rural.A questão social de geração deemprego para a mulher no cul-tivo da uva também é impor-tante. Em determinadas ativi-dades do manejo agrícola, éconstatado um melhor desem-penho feminino, propiciandoum aumento médio da rendafamiliar.

ITEM – Qual tem sido o posi-cionamento da Valexport emrelação aos projetos e progra-mas voltados para o Rio SãoFrancisco?Alberto Galvão – Atualmente,essa é uma preocupação doprodutor e do exportador daregião sobre o grande manan-

E N T R EALBERTO GALVÃO

“A fruticulturairrigada tem

característicasbásicas, de

importância social ede dinamização deempregos diretos eindiretos na região”

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V I S T A ALBERTO GALVÃO

O desempenho da Valexportno Pólo de Juazeiro/Petrolina

A região apresenta asseguintes características:

� altitude média de 365 m;� temperatura média de 26ºC;� umidade relativa média de

50%;� precipitação média anual:

450 mm;� insolação de 3.000 horas/ano,

com 300 dias de sol/ano;� evaporação ao redor de 2.080

mm/ano;� hidrologia apoiada no Rio São

Francisco;� vazão jusante à barragem do

Sobradinho de 2.500 m3/s;� lago a montante com 4.214

km2 contendo, aproximada-mente, 34 bilhões de m3;

� predominância de ventos sudes-te com velocidade média de 4 m/s.

A região do Submédio São Francisco possui climasemi-árido tropical, com área de mais de 260 mil hec-tares irrigáveis, localizada a seguir no destaque emverde.Estas vantagens comparativas para a agricultura pro-piciaram a instalação de seis projetos de irrigaçãopúblicos, implementados principalmente nas décadasde 70 e 80, através da Codevasf, centrados no eixoJuazeiro/Petrolina. Atualmente, a área de cultivo ir-rigado implantada estende-se por 120 mil hectares,com predominância de frutas, cana-de-açúcar, toma-te, cebola e demais hortaliças.As principais culturas frutícolas são: uva, manga, ba-nana, coco verde, goiaba, melão, acerola, limão, ma-racujá, papaia e pinha entre outras frutas de menorexpressão, perfazendo um volume aproximado de pro-dução de frutas de 1 milhão de toneladas/ano.

Empregos e Infra-estruturaA atividade de fruticultura da região do SubmédioSão Francisco apresenta-se como uma grande gera-dora de empregos. Estima-se que são criados emmédia dois empregos por hectare irrigado, gerandoum total de 240 mil empregos diretos e 960 mil em-pregos indiretos.Estima-se que exista uma grande quantidade depackings houses na região, com cerca de 160 mil m2instalados, com investimentos de US$ 58,5 milhões,

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E N T R E

além de uma capacidade frigorífica de 68.200 m3, que en-volve investimentos de US$ 65,4 milhões.Contudo, este ainda é um grande ponto de estrangulamen-to para a produção regional, notadamente para os peque-nos produtores. A maioria dos packings é de uso próprio,praticamente inexistindo galpões prestadores deste servi-ço. Os raros existentes são privados.

Produto Total Em Produção Plena Produção Produçãoplantado formação crescente produçãodecrescente atual

(ha) (%) (%) (%) (%)

Manga 18.000 20 40 38 2 270.000 t

Uva 8.500 20 25 40 15 240.000 t

Banana 5.400 10 15 40 35 160.000 t

Goiaba 3.500 25 35 35 5 112.000 t

Coco Verde 12.000 30 50 20 –– 576 milhõesfrutos/ano *

Acerola 900 27 50 23 –– 22.500 t

Fonte: Codevasf/ Valexport (março 2002). (*) 48.000 frutos/ano/hectare

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ALBERTO GALVÃO

O desenvolvimento regional e anecessidade de organização dosprodutoresA fruticultura irrigada proporcionou uma significati-va mudança na estrutura econômica regional, com odesenvolvimento do Pólo Juazeiro/Petrolina. Este de-senvolvimento regional é demonstrado por alguns in-dicativos na área e serviços como a presença de 22agências bancárias, 42 concessionárias e revendas deveículos, 45 postos de gasolina, 28 hotéis com, aproxi-madamente, 1.500 leitos, 9 agências de viagens, 15 cur-sos regulares de ensino superior e 33 supermercadosinstalados nas cidades de Petrolina e Juazeiro.Os primeiros esforços de exportação datam de 1986,com o melão, e 1987, com a uva e a manga, em volu-mes considerados incipientes, demonstrando, na épo-ca, a fragilidade e o amadorismo dos produtores daregião. A necessidade de maior organização levou àcriação da Valexport, em 1988, com o objetivo de re-presentar o empresário hortifrutigranjeiro local, deforma institucional, intervindo junto aos poderes pú-

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCAS - 2001/2002

Janeiro a Dezezembro Janeiro a Dezezembro Janeiro a Dezezembro2002 2002 2001 2001 2001 2001

tonelada US$ (000) tonelada US$ (000) Variação VariaçãoFRUTA tonelada US$Manga 103.598 50.849 94.291 50.814 10 0Melão 98.690 37.778 99.434 39.297 1 4Uva 26.357 33.789 20.660 21.563 28 57Banana 241.038 33.574 105.112 16.036 129 109Maçã 65.927 31.403 35.786 18.139 84 73Papaia 28.541 21.624 22.804 18.503 25 17Lima ácida 21.826 9.891 14.811 7.635 47 30Laranja 40.374 8.125 139.582 27.538 71 70Tangerina 19.554 7.016 17.258 6.697 13 5Melancia 12.251 2.757 13.698 2.299 11 20Abacaxi 8.660 1.791 14.457 3.408 40 47Figo 622 1.093 633 1.086 2 1Outras frutas frescas 445 416 238 190 87 119Framboesas 60 307 64 372 6 17Abacate 570 276 606 345 6 20Morango 67 133 228 413 71 68Outros cítricos 54 63 1 17 4.021 274Coco 167 61 384 125 57 51Airelas, mirtilos 4 24 10 69 58 65Ameixas 19,75 22 5 5 264 315Kiwis frescos 35 20 13 11 168 93Pêssego 19,09 11 8 6 131 85Pêra 5,212 11 3 4 64 180Pomelos (grapefruit) 23 7 49 16 53 56Brugnons e nectarinas 0 0 0,35 0,10 100 100Total de exportações 668.906 241.042 580.137 214.590 15 12

* Caqui: Vide campo Outras frutas frescas / * Goiaba: Vide Manga (as estatísticas de Manga eGoiaba foram agrupadas) / * Limão: Vide Lima (as estatísticas de Limão e Lima foram agrupadas)

Datafruta/IbrafFonte: Secex/DTIC

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V I S T A ALBERTO GALVÃO

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blicos constituídos, sejam eles nacionais, sejam elesinternacionais. Seus sócios, atualmente 55 produto-res e exportadores, são juridicamente independen-tes, mas atuam conjuntamente numa associação decaráter mais cooperativo que competitivo utilizadana formulação de estratégias, visando atingir objeti-vos comuns. As relações de confiança e reciprocida-de assumem papéis importantes e fundamentais paraa obtenção de vantagens competitivas, pois a com-posição dos sócios representa, aproximadamente,70% de toda a produção frutícola do Vale e 80% desuas exportações. A Diretoria da Associação é com-posta por nove produtores da região, presidida, atu-almente, por José Gualberto de Freitas Almeida.

A ação da ValexportAtualmente, a Valexport tem em vigor dois planosde atuação, um estratégico e outro tático. O primei-ro é constituído por ações organizadas que catalisamtransformações para garantir a conquista de vanta-gens competitivas, com ênfase nas condições de fa-tores adiantados e especializados. Para o estabeleci-mento de uma política de fruticultura para o setor,foram propostas as seguintes metas:• fortalecimento às exportações;

• incremento à pesquisa de fruticultura irrigada;• adequação de infra-estrutura portuária e aeropor-

tuária com especialização para operações com fru-tas;

• integração da fruticultura, em nível nacional.

Em seu plano tático, a Valexport busca convergir os inte-resses negociais comuns entre os grupos de produtores,criando uma estrutura operacional adequada e moder-na para atendê-los, chamada câmaras setoriais.A característica básica dessas câmaras setoriais é quesejam formadas por grupos de associados com um inte-resse específico e comum, com resultados objetivos denegócio e auto-sustentado através de orçamento pró-prio. Cada câmara setorial conta com uma estruturaadministrativa enxuta e desburocratizada, com base emcompromissos e objetivos comuns. As principais são: aSIC Vale (Sistema Integrado de Comercialização), oGrupo de Vinho do Vale, o Programa de Monitoramen-to das Moscas-das-Frutas, o Projeto Uvas sem Semen-tes, o Programa de Monitoramento de Esporos, o Pro-grama de Produção Integrada de Frutas (PIF), o Con-vênio USDA/Mapa/Valexport para Exportação de Man-gas, o Laboratório de Solo e Plantas e as ConvençõesColetivas de Trabalho. �

IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCASJaneiro a Dezembro Janeiro a Dezembro Janeiro a Dezembro

2002 2002 2001 2001 Variação VariaçãoFRUTA US$ (000) t US$ (000) t US$ tPêra 34.755,78 92.472,87 49.518,02 117.648,68 29,81 21,40Maçã 17.956,98 53.486,67 29.234,27 79.394,00 38,58 32,63Ameixas 9.772,52 16.385,11 11.538,6 16.088,29 15,31 1,84Uva 7.166,00 11.039,09 6.080,01 7.456,90 17,86 48,04Kiwi 5.305,57 7.244,22 6.099,88 9.368,81 13,02 22,68Nectarina 2.950,78 5.014,89 3.244,48 4.670,01 9,05 7,38Cereja 2.570,77 960,44 3.423,76 1.031,10 24,91 6,85Pêssego 2.395,32 3.979,50 2.417,00 3.188,40 0,90 24,81Laranja 401,54 1.758,55 317,48 975,84 26,48 80,21Tangerina 364,80 1.006,25 251,41 625,50 45,10 60,87Outras frutas frescas 140,64 168,41 343,27 366,08 59,03 54,00Damasco 127,06 132,55 221,73 169,80 42,70 21,94Pomelos (grapefruit) 101,82 364,69 124,06 309,60 17,92 17,80Lima Ácida 55,21 226,07 41,86 111,53 31,90 102,70Marmelo 11,92 29,99 42,16 100,86 71,72 70,26Morango 9,46 8,03 5,50 8,78 71,97 8,53Framboesa 5,18 0,77 2,77 0,30 86,90 157,00Melão 3,68 17,25 0,16 0,60 2.201,88 2.774,67Banana 2,86 2,04 17,48 11,84 83,65 82,74Groselhas 2,55 0,35 2,00 0,17 27,46 110,84Airelas e Mirtilos 1,93 0,26 1,87 0,24 3,26 7,08Abacate 0,05 0,03 12,92 9,97 99,65 99,66Total 84.102 194.298 112.941 241.537 25,53 19,56

* Caqui: Vide campo Outras frutas frescas / * Goiaba: Vide Manga (as estatísticas de Manga eGoiaba foram agrupadas / * Limões: Vide Lima (as estatísticas de Limão e Lima foram agrupadas)

Datafruta/IbrafFonte: Secex/DTIC

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E N T R E

Após seis anos de pesquisas ede uma etapa de validação jun-to ao setor produtivo dos prin-cipais pólos produtores de uvasde mesa do Brasil, a EmbrapaUva e Vinho lançou, no finaldo ano de 2003, três cultiva-res de uvas sem sementes, sen-do duas brancas (que forambatizadas com os nomes de‘BRS Clara’ e ‘BRS Linda’) euma preta (‘BRS Morena’).Trata-se, portanto, das três pri-meiras cultivares de uvasapirênicas genuinamente naci-onais.Além disso, assim como jáaconteceu com os produtoresde vinho do Vale dos Vinhe-dos, no Rio Grande do Sul,dentro de três ou quatro anos,os produtores do Vale do SãoFrancisco também terão a pos-sibilidade de se tornarem maiscompetitivos nos mercadosnacional e internacional de vi-nhos finos. Os trabalhos dezoneamento vitivinícola, quehabilitarão a região a recebera Indicação Geográfica (con-cedida pelo Instituto Nacionalde Propriedade Industrial -

Novidades tecnológicaspara a vitivinicultura

do Vale do São FranciscoA pesquisa agropecuária tem boas notícias para os produtores de

uvas das regiões tropicais brasileiras, como o Vale do São

Francisco, Norte de Minas Gerais (Pirapora), Noroeste de São Paulo

(Jales), Norte do Paraná (Marialva) e outras regiões emergentes,

todas tendo a irrigação como base para o desenvolvimento dos

sistemas de produção. As primeiras novidades são em relação à

produção de uvas apirênicas (sem sementes).

Inpi), já estão em desenvolvi-mento sob a coordenação daEmbrapa Uva e Vinho e coma participação da EmbrapaSemi-Árido, do Itep e da Uni-versidade Técnica de Madri.Com isso, os vinhos da regiãopoderão receber a certificaçãode Indicação de Procedência(IP). Outras regiões do mun-do adotaram esse mesmo pro-cedimento há mais tempo,como Cognac e Champagne,na França, que reservaram es-ses nomes exclusivos para seusprodutos. A certificação é umagarantia da origem do produ-to, desde a matéria-prima, jáque 85% da uva utilizada naprodução do vinho deve seroriginária da região.O mercado de vinhos finos éconsiderado um dos mais com-petitivos no Brasil, onde o pro-duto importado ocupa um es-paço importante: em torno de50%. “Com a certificação deprocedência, o vinho galga umpatamar e um marketing dife-renciados, atraindo o consumi-dor que busca um produto dequalidade e com tipicidade,

com garantia de certificação”,afirma o economista José Fer-nando da Silva Protas, pesqui-sador e chefe- geral da Embra-pa Uva e Vinho e secretário-executivo da Câmara Setorialde Vitivinicultura, Vinhos eDerivados, prelecionista do se-minário “Tecnologias e pers-pectivas do agronegócio da uvairrigada” e debatedor na con-ferência “As cadeias produti-vas nos agronegócios: o exem-plo da vitivinicultura irrigada”,ambos realizados no XIIIConird. Numa entrevista ex-clusiva para a revista ITEM,esse pesquisador mostrou osprincipais resultados dos tra-balhos da pesquisa obtidospara a vitivinicultura nacional.

ITEM – O senhor poderia tra-çar um quadro sobre a cultu-ra da uva de mesa na regiãoSemi-Árida brasileira?Protas – Na verdade, a uva demesa no Brasil tem no Submé-dio São Francisco o seu prin-cipal pólo produtivo, emboraexistam outros pólos produto-res. A matriz produtiva conso-

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lidou-se com base na cultivarItália e suas variaçõessomáticas: ‘Rubi’, ‘Benitaka’ e‘Brasil’. Depois, vieram outrasuvas com sementes, mas o fatoé que essas uvas, nos últimosanos, têm enfrentado grandesdificuldades de comercializa-ção, principalmente porquenesse pólo, o mercado prefe-rencial é o externo, que estáexigindo, cada vez mais, uvassem sementes, daí a necessida-de urgente de viabilizarmos al-ternativas tecnológicas para amudança da matriz produtivavitícola da região, mantendo-a competitiva.

ITEM – Quais são as princi-pais soluções tecnológicas quea Embrapa tem encontradopara esse problema?Protas – A partir de 1994, aEmbrapa Uva e Vinho, a Em-brapa Semi-Árido e a iniciati-va privada, representada pelaValexport, passaram a buscarsoluções tecnológicas, com tra-balhos focados nas cultivaresapirênicas tradicionais como aThompson, Festival e outras,que nos primeiros anos, apre-sentaram problemas de baixaprodutividade, por serem cul-tivares próprias de regiõestemperadas. A partir de 1997,assumimos a responsabilidadede criar variedades adaptadasàs condições tropicais brasilei-ras. Em 1995/1996, quandoocorreu a paridade do real como dólar, houve muita importa-ção de uva sem semente(Thompson) do Chile, o quedemonstra que o brasileirotambém gosta do que é bom.Hoje, estamos com sete sele-ções de cultivares adaptadas,que estão sendo validadas, de-senvolvidas e selecionadas emcondições experimentais. Des-de 2000, elas estão sendo vali-dadas em três fazendas no Sub-médio São Francisco, em uma

unidade no Vale do Jaguaribe(CE), em outras propriedadesde Pirapora (MG), Jales (SP)e Marialva (PR). Vamos come-çar testes com cobertura plás-tica, em condições tempera-das, em Canguçu e Caxias doSul, no Rio Grande do Sul.Estamos concluindo este ano,um trabalho de avaliação domercado, junto ao consumi-dor. Há dois anos, estamoscom a Orgânica do Vale (dogrupo Carrefour) exportandopara a Europa e recebendofeedback. Das sete seleções emteste, lançamos três cultivaressem sementes, genuinamentenacionais, em dezembro de2003.

ITEM – E o que tem sido feitoem relação à produção de vi-nho?Protas – Estamos fazendo ozoneamento vitivinícola doSubmédio São Francisco, umgrande projeto que conta comas participações da EmbrapaUva e Vinho, Embrapa Semi-Árido, o Itep, a Valexport ecom financiamento da Finep.Buscamos detalhar aspectosambientais, enológicos e eda-foclimáticos e viabilizar o quejá fizemos em Bento Gonçal-

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SILVA PROTAS

ves (RS), a outorga pelo Inpide uma Indicação Geográfi-ca, para que os vinhos do Valedo São Francisco recebam umacertificação de Indicação deProcedência. Com isso, estare-mos concedendo um status dereconhecimentos nacional einternacional, aumentando opotencial de competitividade,dando um grande salto paraum novo patamar competitivopara os vinhos produzidos naregião.

ITEM – Quais são as vanta-gens dessa Indicação Geográ-fica para o vinho produzido naregião?Protas – É um projeto que vaipossibilitar que o Instituto Na-cional de Propriedade Indus-

“Se a tecnologia éimportante para a

qualidade e o custo doproduto serem

competitivos, temosque ter políticas

adequadas,comparáveis com as

praticadas por outrospaíses concorrentes”

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trial (Inpi) outorgue à regiãodo Vale do São Francisco a ti-tulação de Indicação Geográ-fica. A partir daí, estaremoshabilitando os vinhos da re-gião, que deverão se enqua-drar dentro de determinadosparâmetros técnicos.No Rio Grande do Sul, 80% dovinho produzido é do tipo co-mum, enquanto 20% são de vi-nhos finos. O mercado de vi-nhos finos é muito competiti-vo no Brasil, aproximadamen-te 50% do mercado nacionaldesses tipos de vinhos é abas-tecido por vinhos importados.Este é o cenário atual da viti-

pode fazer um marketing dife-renciado, atraindo o consumi-dor que vai em busca de um vi-nho de qualidade, com garan-tia certificada. Isso é o que cha-mamos de quarto estágio da vi-tivinicultura brasileira, pata-mar da organização onde a cer-tificação garante determinadascaracterísticas sensoriais equalitativas do produto. É oque o consumidor de vinhofino, cada vez mais exigente,está buscando hoje.

ITEM – Como o senhor clas-sifica o vinho produzido noVale São Francisco?Protas – Classifico o vinho daregião como típico. Já temosbons vinhos, com característi-cas bastante diferenciadas emarcantes, como aqueles fei-tos com a variedade Shiraz.Está sendo produzido um es-pumante Moscatel, aromáticoe de sucesso indubitável nomercado. Agora, com o proje-to de zoneamento, estamosavaliando mais 24 cultivares deuva de todo o mundo,selecionadas por sabermos doseu bom comportamento emregiões quentes. No final des-se projeto, provavelmente, en-contraremos cultivares aindanão existentes aqui, que darãovinhos de alta qualidade etipicidade. Não temos dúvidas

em relação ao potencial de su-cesso e espaço da vitivinicultu-ra no Vale do São Francisco.

ITEM – Quais são as razõesdo sucesso dos vinhos impor-tados no Brasil?Protas – Em 1993, apenas 19%do mercado nacional de vinhosfinos era ocupado pelo vinhoimportado. Na seqüência, coma implantação do plano real(que estabeleceu a paridadeentre o dólar e o real), coinci-diu uma grande campanha demarketing divulgando os bene-fícios do vinho tinto para a saú-de. Esta combinação de fato-res provocou uma grande mu-dança na preferência do con-sumidor brasileiro, que, atéentão, era um grande consumi-dor do vinho branco. Por ou-tro lado, como é evidente, acadeia produtiva brasileira devinhos finos estava estruturadapara abastecer o mercado comvinhos brancos. Assim, o incre-mento rápido na demandapelo vinho tinto, somado à po-lítica cambial favorável às im-portações, fez com que seabrissem as portas do merca-do brasileiro aos vinhos tintosdo exterior. Um exemplo em-blemático deste cenário é ofato de algumas empresas bra-sileiras instalarem-se no Uru-guai e passarem a engarrafaro vinho uruguaio com marcanacional.Outro ponto complicado en-frentado pelo produtor de vi-nho no Brasil é a nossa políti-ca tributária: hoje em torno de46% do custo do produto dosvinhos brasileiros é origináriode impostos em cascata, insti-tuídos desde a produção dauva. Isto é incompatível e pre-judicial à atividade, especial-mente quando comparamos asituação do Brasil, com a deoutros concorrentes. Os im-postos na Argentina represen-

“A região entre osmunicípios de Bento

Gonçalves, Garibaldi eMonte Belo do Sul,

denominada Vale dosVinhedos, recebeu do

Inpi o primeiro registrode Indicação de

Procedência”

E N T R EJOSÉ FERNANDO DA

SILVA PROTAS

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vinicultura brasileira em rela-ção aos vinhos finos, produzi-dos com castas européias, queé o caso específico do Vale doSão Francisco.Com a certificação de Indica-ção de Procedência, o vinho

A região localizada entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi eMonte Belo do Sul, denominada Vale dos Vinhedos, e que reúne 23 vinícolas,recebeu do Inpi o primeiro registro de Indicação de Procedência, estágioinicial para a obtenção da denominação de origem (DO) do Brasil. A importân-cia da certificação para atender à competitividade dos mercados interno e ex-terno pode ser sentida em outras regiões, que adotaram esse processo há maistempo.

Iniciativa semelhante foi adotada pela cidade de Garibaldi, que ostenta otítulo de Terra do Champanhe do Brasil, localizada a 10 km de Bento Gonçal-ves e lançou a Rota dos Espumantes, roteiro que inclui as oito principais em-presas do setor vinícola e de bebidas do município. Nessa rota, o visitantepode apreciar os espumantes elaborados na região, conhecer adegas e técni-cas de elaboração de vinhos, além da arquitetura típica de origem italiana.

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tam 17% e, em Portugal, 12%.Isso precisa ser revertido. Se atecnologia é importante para aqualidade e o custo do produtoserem competitivos, sabemosque não é suficiente; temos queter políticas adequadas, compa-ráveis com as praticadas poroutros países concorrentes.

ITEM – O que representa o vi-nho para a economia nacio-nal?Protas – Se analisarmos o PIBbrasileiro, o vinho tem poucaimportância. Mas, para a Re-gião Sul, por exemplo, repre-senta a sobrevivência e a per-manência de uma cultura queenvolve, no mínimo, 16 mil fa-mílias da Serra Gaúcha. O bra-sileiro consome uma médiaanual de 1,8 litro de vinho. Semelhorarmos o poder aquisi-tivo e aumentarmos o consu-mo de 1,8 litro para 2,5 litros/per capta/ano, poderemostransformar este setor num dosmais importantes geradores edistribuidores de emprego erenda da economia nacional.Uma família da Serra Gaúchaconsegue sobreviver com a ati-vidade desenvolvida em áreascom dois ou três hectares deuva (média da região), aprovei-tando a mão-de-obra familiardisponível no período de julho(época de poda), até a vindima(janeiro/fevereiro). A capacida-de de geração de renda e em-prego de um hectare de uvaabre um potencial para a agri-cultura familiar,que o Brasil não pode dispen-sar.

ITEM – O processo de certifi-cação do vinho é demorado?Protas – Não é demorado. De-pende muito da primeira eta-pa, que é a construção da inte-ligência, ou seja, do que a pes-quisa vai determinar como ne-cessário: estudos edafo-clima-tológicos, pedológicos,enológicos, sistemas de produ-

V I S T A

Pesquisadores da EmbrapaUva e Vinho prepararam umasérie de informações sobre astrês novas variedades de uvasem sementes genuinamente

nacionais, denominadas ‘Clara’,‘Linda’ e ‘Morena’.

Das circulares técnicas editadaspor eles, foram retiradas

algumas informações para osleitores da ITEM.

A ‘BRS Clara’ destaca-se pelo su-ave e agradável sabor moscatel, pelacoloração verde-amarelada das bagase pela textura crocante da polpa.Apresenta um elevado potencial glu-cométrico, chegando a mais de 20ºBrix, porém, o ponto de colheita re-comendável é quando atinge 18º Brixa 19º Brix, quando a relação açúcar/acidez (SST/ATT) situa-se em tornode 24. Apresenta boa conservação naplanta, o que favorece o retardamen-to da colheita, se houver interesse.Também comporta-se bem em relaçãoao rachamento de bagas causado pelaocorrência de chuvas durante o perí-odo de maturação. O cacho apresen-ta boa conformação, sendo natural-mente cheio, sem necessidade de ra-leio de bagas. Estas têm boa aderên-cia ao pedicelo, sendo bastante resis-tente à degrana, mesmo após a secado engaço. O engaço desidrata relati-vamente rápido após a colheita emcondições de ambiente natural.

Todavia, como o tamanho naturaldas bagas é relativamente pequeno,é interessante o uso de técnicas para

Novas variedades nacionais deuvas apirênicas fortalecem oagronegócio da agricultura irrigada

promover o aumento delas. A utiliza-ção de reguladores de crescimentopara aumento do tamanho das bagasnão produz efeitos relevantes, entre-tanto, com base em resultados expe-rimentais, é possível obter aumentosde diâmetro da ordem de 1 mm a 2mm.

A cultivar BRS Clara é recomen-dada para plantio na região Noroestedo estado de São Paulo, na regiãoNorte de Minas Gerais e no Vale doSubmédio São Francisco, onde foidevidamente testada. Os resultadosde comercialização da uva produzi-da nos ensaios de validação recomen-dam-na como alternativa para o mer-cado interno, onde teve boa aceita-ção por parte dos consumidores. Ain-da não foi suficientemente avaliada

BRS Clara, uma das três variedades de uva semsementes lançadas pela Embrapa

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E N T R E V I S T A

como opção para exportação.

A ‘BRS Morena’ é uma cultivar de vigor mo-derado, bem adaptada ao cultivo nas regiõestropicais onde foi testada. Em função do limi-tado vigor e da dificuldade na emissão de ne-tos, precisa de adubação reforçada no primei-ro ciclo para obter boa formação da copa. Apre-senta alta fertilidade, normalmente com doiscachos por ramo. Os cachos são soltos, exigin-do manejo específico para obtenção de boa fe-cundação. Pode chegar à produtividade da or-dem de 20 a 25 t/ha, desde que conveniente-mente manejada. É uma cultivar precoce, cujaexigência térmica, entre a poda e a colheita, éde 1.450 graus dia, o que, na região de Jales,equivale a um ciclo que varia de 95 a 110 dias,dependendo das condições ambientais reinan-tes durante o período de desenvolvimento. Emrelação às doenças fúngicas, tem comportamen-to similar à cultivar Itália, devendo ser adequa-damente protegida, com especial atenção parao míldio (Plasmopara viticola).

A uva ‘BRS Morena’ tem bom equilíbrio en-tre açúcar e acidez, o que lhe confere ótimosabor, muito elogiado pelos consumidores du-rante os testes de validação. Também é desta-que em qualidade pela textura firme e crocanteda polpa. Apresenta um elevado potencialglucométrico, chegando a mais de 20º Brix, po-rém, é recomendável que seja colhida com 18ºBrix a 19º Brix, quando a relação açúcar/acidez(SST/ATT) já é superior a 24. Apresenta boaconservação na planta, o que favorece o retar-damento da colheita, se houver interesse. Tam-bém comporta-se bem em relação aorachamento de bagas causado pela ocorrênciade chuvas durante o período de maturação. Aaderência ao pedicelo é fraca, recomendando-se cuidados especiais na manipulação durantea colheita e embalamento. O engaço desidratarelativamente rápido após a colheita, em condi-ções de ambiente natural. Em face do exposto,o embalamento deve ser feito em sacolas de plás-tico ou cumbucas, que depois são acondiciona-das em caixas, o que é uma providência impor-tante para a comercialização desta cultivar.

A cultivar BRS Morena é recomendada paraplantio na região Noroeste do estado de São

Paulo, na região Norte de Minas Gerais e noVale do Submédio São Francisco, onde foi de-vidamente testada. Os resultados de comercia-lização da uva produzida nos ensaios de vali-dação recomendam-na como alternativa de uvacolorida para o mercado interno, onde teve boaaceitação por parte dos consumidores. Aindanão foi suficientemente avaliada como opçãopara exportação.

A ‘BRS Linda’ é uma cultivar vigorosa, quemostrou muito boa adaptação e fertilidade nasregiões onde foi testada. Apresenta entrenóscurtos e folhas grandes, o que a condiciona auma vegetação fechada. A fertilidade é alta,normalmente dois cachos por ramo. Durante operíodo de validação, chegou a produzir o equi-valente a 47 t/ha, porém, com este volume deprodução, a qualidade da uva fica prejudicadaem aparência e em sabor. Os cachos são natu-ralmente cheios e apresentam conformação quedispensa o raleio de bagas. Sua exigência tér-mica, entre a poda e a colheita, é de 1.550 grausdia, o que, na região de Jales, equivale a umciclo que varia de 100 a 115 dias, dependendodas condições ambientais reinantes durante operíodo de desenvolvimento. É bastante sensí-vel ao oídio (Uncinula necator), exigindo cui-dados no seu controle. Em relação às demaisdoenças fúngicas, tem comportamento similarà cultivar Itália, devendo ser adequadamenteprotegida.

A uva ‘BRS Linda’ tem coloração verde, to-nalidade preferida em certos mercados, comoo inglês. O cacho atinge facilmente 450 g a 600g e o tamanho natural das bagas, em média, éde 18 mm x 23 mm. Apresenta limitado poten-cial glucométrico, normalmente na faixa de 14ºBrix a 15º Brix, e baixa acidez. O sabor é neu-tro, bem aceito pelo consumidor brasileiro que,normalmente, prefere frutas menos ácidas. Apolpa é firme, crocante. Destaca-se pela altaaderência ao pedicelo, com alta resistência àdegrana, e engaço forte, resistente aomurchamento, características importantes noperíodo pós-colheita.

A cultivar BRS Linda é recomendada paraplantio na região Noroeste do estado de SãoPaulo, na região Norte de Minas Gerais e noVale do Submédio São Francisco, onde foi de-vidamente testada. Os resultados de comercia-lização da uva produzida nos ensaios de vali-dação, recomendam-na como alternativa parao mercado interno, onde foi bem avaliada pe-

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Agrovale, umaexperiência de

25 anos emirrigação da

cana-de-açúcar naregião doSubmédio

São Francisco

JOSÉ MONTEIRO SOARES

PESQUISADOR, D.SC. ESPECIALISTA EM IRRIGAÇÃO, EMBRAPA SEMI-ÁRIDO, 56.302-970, PETROLINA,PE, E-MAIL: [email protected]

VINÍCIUS JOSÉ DE SOUZA VIEIRA2ENGENHEIRO AGRÔNOMO, ESPECIALISTA EM FRUTICULTURA TROPICAL, GERENTE DE PRODUÇÃO, USINA

AGROVALE, JUAZEIRO, BA, E-MAIL: [email protected]

WALTER FARIAS GOMES JUNIOR3ENGENHEIRO AGRÔNOMO, B.SC. DEPARTAMENTO DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM, USINA AGROVALE,

JUAZEIRO, BA, E-MAIL: [email protected]

ADEMÁRIO AFONSO DE ARAÚJO FILHO4ENGENHEIRO AGRÔNOMO, B.SC. GERENTE DE AGRONOMIA, USINA AGROVALE, JUAZEIRO, BA,

E-MAIL: [email protected]

Agroindústria do Vale do São Francis-c o

S.A. (Agrovale) é uma empresa álcool-açucareira, localizada na região do Sub-

médio São Francisco, Juazeiro (BA), coordena-das geográficas: 9O25' S, 39O39' W e altitude de370 m.

A Agrovale foi fundada em 1972. Sua pro-dução de açúcar e álcool iniciou-se em 1982, apartir de uma área piloto de 980 hectares decana-de-açúcar, sob irrigação por sulcos, combase nas pesquisas desenvolvidas pela EmbrapaSemi-Árido.

Atualmente, a área cultivada com cana-de-açúcar pela Agrovale é da ordem de 15 mil hec-tares, sendo 12.945,05 ha (86,30%), no ProjetoTourão, 1.482,77 ha (9,90%), no ProjetoManiçoba e 572,20 ha (3,60%), na captação pró-pria. A produção desta Empresa, no ano de 2003,foi de 2,7 milhões de sacas de açúcar e 26 mi-

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A produção da Agrovale em 2003 foi de 2,7 milhões de sacas de açúcar e 26 milhões de litros de álcool combustível

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lhões de litros de álcool combustível (anidro ehidratado), com um faturamento da ordem deR$ 90 milhões. Hoje, a Agrovale é consideradaa maior empresa privada empregadora de mão-de-obra do Nordeste, gerando 4.380 empregosdiretos no período de safra, os quaiscorrespondem a 1% da população do PóloJuazeiro - BA/Petrolina - PE.

A produtividade média da cana-de-açúcar naregião do Submédio São Francisco é superior a100 t/ha, com base num cultivo com vida útil desete a nove anos, enquanto nas regiões tradicio-nalmente produtoras de cana-de-açúcar (SãoPaulo, Zona da Mata do Nordeste do Brasil) aprodutividade média é de 60 t/ha, para um culti-vo de apenas quatro a cinco anos de vida útil.Esta supremacia pode estar associada às condi-ções climáticas reinantes nesta região, caracte-

rizadas por uma precipitação média anual de 400mm, concentrada no período de novembro/abril;evaporação média anual de 2.000 mm; tempe-ratura média anual 26,5OC; umidade relativamédia anual que oscila em torno de 67,8%; 3.000h de brilho solar e velocidade do vento de 2,3 m/s.

A Agrovale está adquirindo uma área esti-mada em 12 mil hectares no Projeto de Irriga-ção Salitre, Juazeiro (BA), para instalação deuma nova usina de açúcar e destilaria de álcool,com operacionalização prevista para meados de2006.

No estado da Bahia, a demanda atual de açú-car é estimada em 15 milhões de sacas, enquan-to a de álcool é de 320 milhões de litros. Consi-derando que este Estado produz apenas 3,45milhões de sacas de açúcar e 50 milhões de li-tros de álcool, dos quais 52% são provenientesda Agrovale, somente com a instalação de qua-tro a seis unidades produtoras é que a Bahiapoderá tornar-se auto-suficiente nesses produ-tos. Isto poderia acontecer, desde que o Gover-no Federal viabilizasse a instalação de uma infra-estrutura de irrigação de uso comum, para quenovas áreas agrícolas e indústrias pudessem serimplementadas. Segundo o diretor-presidente daAgrovale, a cana-de-açúcar na região Semi-Ári-da poderá tornar-se uma cultura muito rentá-vel, desde que a infra-estrutura de irrigação te-nha um financiamento em longo prazo, pelomenos 20 anos, com juros de 8,75% ao ano euma carência de cinco anos no período de im-plantação desta cultura e de instalação da in-dústria.

A Agrovale, além da produção dossubprodutos bagaço, bagaço hidrolizado, mela-ço e composto orgânico, também destaca-secomo uma empresa geradora de energia elétri-ca e produtora de frutas, com 385 hectares decultivo de manga.

Sistema de irrigaçãoEm decorrência das classes de solos predo-

minantes na região do Submédio São Franciscoe da topografia do terreno, a área irrigada pelaUsina Agrovale é constituída pelos sistemas deirrigação mostrados no Quadro 1.

Pode-se observar, por meio do Quadro 1,que nos solos de textura arenosa como osArgissolos (15% - 30% de argila) e osCambissolos (30% - 40% de argila), utiliza-seapenas o sistema de irrigação por aspersão dotipo pivô central ou linear e sulco, enquanto nossolos com predomínio de textura argilosa, comoos Cambissolos (30% - 40% de argila) e osVertissolos (40% - 60% de argila), destaca-se ouso da irrigação por sulco. Numa área de 50

QUADRO 1 – Composição dos sistemas de irrigação combase nas classes de solos predominantes por projeto deirrigação, Usina Agrovale, Juazeiro (BA)

Classes Sistema de ÁreaProjeto de Solo Irrigação (ha) Percentagem

Tourão Argissolo Sulco 4.078,52 31,51Gotejamento 89,13 0,69

Cambissolo Sulco 366,72 2,83

Vertissolo Sulco 8.359,98 64,58Gotejamento 50,70 0,39

Total 12.945,05 100,00Maniçoba Argissolo Pivô Central 283,78 19,14

Pivô Linear 1.198,99 80,86

Total 1.482,77 100,00Cambissolo Sulco 282,54 49,38

Vertissolo Pivô Central 289,66 50,62

Total 72,20 100,00

Total Geral 15.000,02

A produtividade média da cana-de-açúcar na região do Submédio São Francisco ésuperior a 100 t/ha, com um cultivo útil de sete a nove anos

FOTO ARQUIVO DA AGROVALE

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 57

hectares de solos da classe Vertissolo, encontra-se em fase experimental um projeto piloto comirrigação por gotejamento subsuperficial.

Os espaçamentos padrões utilizados são de1,5 m para Vertissolos e 1,3 m para Cambissolose Argissolos. Outros espaçamentos estão sendotestados, como o de fileira dupla com 1,5 m x0,50 m e 1,3 m x 0,70 m.

Sistema de irrigação poraspersão-pivô central e linear

A área total irrigada por aspersão é da or-dem de 1.029,29 hectares, sendo 91% (940,16ha) irrigados por pivô central e 9% (89,13 ha)irrigados por pivô linear. A área irrigada por pivôcentral é constituída de 23 unidades, enquanto

Pivô central circular e pivô linear, Usina Agrovale, Juazeiro (BA)

a área irrigada por pivô linear compreende ape-nas uma unidade (Quadro 2). A grande varia-bilidade relativa ao tamanho da área irrigada porpivô central é decorrente das dimensões dasmanchas de solos irrigáveis, bem como da topo-grafia do terreno, as quais condicionam o dimen-sionamento de pivôs com áreas que variam en-tre 12,57 ha e 105,68 ha (Quadro 2).

Sistema de irrigação por sulcosA área total irrigada por sulcos é da ordem de

13.869,17 hectares, sendo 75,48% (10.468 ha) ir-rigados por canais de terra, utilizando regadeirasou sifão e os 24,52% restantes (3.401,17 ha) irri-gados por politubo janelado.

O sistema de irrigação por sulcos comregadeiras é caracterizado pelo barramentod’água em pontos específicos do canal de terra,utilizando piquete de madeira, palha de cana eterra, bem como a abertura na parede lateral docanal por meio de enxadas, de modo que permi-

QUADRO 2 – Dados técnicos do sistema deirrigação por aspersão tipo pivô, Juazeiro (BA)

Número Número Raio Áreado pivô de torres do pivô por pivôcentral (m) (ha)

Total Cult ivado

1 8 384 46,32 39,94

2 5 210 13,85 13,32

3 5 200 12,57 12,30

4 6 260 21,24 19,86

5 6 345 37,39 31,62

6 7 400 50,27 46,73

7 5 295 27,34 23,61

8 5 250 19,63 18,39

9 5 295 27,34 26,95

10 6 315 31,17 29,15

11 5 280 24,63 22,60

12 5 290 26,42 23,27

13 6 265 22,06 21,86

14 9 470 69,40 67,28

15 12 530 88,25 82,91

16 9 465 67,93 67,53

17 8 470 69,40 66,06

18*

19 7 397 49,51 44,45

20 6 315 31,17 8,18

21 9 500 78,54 75,49

22 12 580 105,68 101,63

23 9 500 78,54 77,03

Pivô linear 12 576 104,23 89,13

Total 1.102,88 1.029,29

Obs: Canavieiros: 1, 19 e 20 e o Linear (Sistemas projetadosespecificamente para a cultura da cana-de-açúcar).* Pivô não existente.

FOTOS FRANCISCO LOPES FILHO

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ta a derivação d’água do canal para um conjun-to de cinco sulcos, que irrigam, simultaneamen-te, de cinco a oito conjuntos. No caso do siste-ma de irrigação por sulcos que utiliza sifão, aderivação d’água é feita por meio de tubos dePVC rígido, com duas polegadas de diâmetro por2 metros de comprimento, moldados de acordocom as dimensões do camalhão, paracondicionar uma dada carga hidráulica.

O sistema com politubo janelado compreen-de o uso de um tubo de PVC flexível, com 400micra de espessura, dotado de janelas reguláveise espaçadas de acordo com o espaçamento en-tre sulcos adotado para a área considerada e comvazão que varia entre 0,30 e 2,20 L/s. O compri-

mento do politubo pode variar de 100 a 300 m,uma vez que o comprimento de cada segmentoé de 100 m. O número de sulcos irrigados simul-taneamente também pode variar entre 25 e 40unidades. Neste sistema de irrigação, as extre-midades finais dos sulcos são interligadas, demodo que venha a formar uma microbacia, para,assim, uniformizar a lâmina d’água infiltrada nofinal do sulco, bem como minimizar as perdasde água por escoamento. O comprimento mé-dio dos sulcos é da ordem de 120 m, mas podevariar entre 50 e 300 m, dependendo do forma-to dos talhões e da localização dos canaisterciários. A declividade média dos sulcos osci-la entre 0,2% e 0,5%. De modo geral, a irriga-ção por sulcos é adotada em solos das classesVertissolo, Cambissolo e Argissolo, cujas textu-ras são muito argilosa, argilosa e areno-argilo-sa, o que condiciona a obtenção de perdas deágua por escoamento superficial e porpercolação profunda em maior ou menor grau,dependendo da textura do solo.

Sistema de irrigação porgotejamento subsuperficial

A área total irrigada por gotejamentosubsuperficial é da ordem de 50,70 hectares, portratar-se de uma área piloto, ainda em fase deestudo.

O sistema de irrigação passa por um cabeçalde controle, constituído por filtros de discos, tan-que para injeção de fertilizantes e por emisso-res da marca Naan modelo PAZ 25, espaçadosde 0,60 m, vazão de 1,56 L/h e pressão de servi-ço de 1,0 atm. A profundidade da linha lateral éde 0,25 m, situada imediatamente abaixo da fi-leira de plantas, com emissores posicionados nofundo do sulco. As extremidades finais das li-nhas laterais são interligadas a uma tubulaçãode PVC, que tem a função de escoar os resíduosorgânicos que se acumulam nos trechos finaisdas linhas laterais. O comprimento das linhaslaterais é da ordem de 140 a 280 m, tendo sidodividida a área em dois módulos, um com 3 mde espaçamento entre fileiras de plantas e ou-tro com 3,20 m.

Vale salientar que esta área piloto encontra-se implantada apenas em solos da classeVertissolo e que algumas limitações operacionaismerecem ser destacadas, tais como:a) lentidão no processo de umedecimento da ca-

mada superficial do solo, por ocasião do plan-tio, devido à presença de um elevado nívelde fendilhamento do solo, cujas fendas po-dem alcançar até 100 cm de profundidade;

b) rompimento da linha lateral por ocasião dasuspensão da irrigação, devido ao estressehídrico necessário, no período, para a

Sistemas de irrigação por sulcos utilizando politubo janelado, Usina Agrovale, Juazeiro(BA)

FOTO

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Canais paraatender

irrigação porsulcos com

sifões eregadeiras

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maturação da cana. No entanto, o segmentoda mangueira de polietileno que se tornaexposta pode ser queimada, no processo dequeima da cana para o corte;

c) entupimento dos emissores provocado pordeposição de resíduos orgânicos e pela pe-netração de raízes. Porém, estes problemasvêm sendo solucionados por meio de ajustesnas práticas culturais e operacionais do sis-tema de irrigação.

Manejo de águaO manejo de água na cultura da cana-de-açú-

car na Usina Agrovale é feito levando-se em con-sideração os parâmetros climáticos e fisiológi-cos da planta, físico-hídricos do solo e nos parâ-metros técnicos dos distintos sistemas de irriga-ção utilizados.

Dentre os parâmetros climáticos utilizadospara o cálculo da evapotranspiração da cultura(ETc), destaca-se a evaporação diária do tanqueclasse A, que é obtida a partir de estações eva-porimétricas, instaladas em locais distribuídosestrategicamente dentro da área cultivada, bemcomo nos valores do coeficiente de cultura (Kc)específicos para cada estádio fenológico da cana-de-açúcar. O Quadro 3 mostra um resumo doscálculos da ETc para as condições climáticas pre-dominantes na região do Submédio São Fran-cisco, levando-se em consideração a idade dacana-planta e da cana-soca, visando facilitar seuuso pelos técnicos/irrigantes.

Com base nos valores de ETc contidos noQuadro 3, nos parâmetros físico-hídricos do solo,profundidade efetiva da raiz da cana e nos parâ-metros técnicos dos distintos sistemas de irriga-ção, estimou-se o turno de rega para as áreasirrigadas pelos sistemas de irrigação por sulco(Quadro 4) e por pivô central (Quadro 5), queservem de referência para orientação prática domanejo de água.

A exemplo do uso dos cálculos do Quadro4, considerando uma evaporação diária de 7 mm,pode-se constatar, para o sistema de irrigaçãopor sulcos, que possibilita a infiltração de umalâmina d’água da ordem de 60 mm, que o turnode rega deve oscilar em torno de 10 dias parasolos da classe Vertissolo, para cana-planta comidade entre 6 e 12 meses e para cana-soca com 4a 10 meses de idade.

Exemplificando, também, o uso dos cálculosdo Quadro 5, pode-se constatar para um dia comevaporação da ordem de 7 mm, considerando opivô central no 5, cuja eficiência do sistema (Es)é de 84,06% e cuja lâmina precipitada é de 19,21mm, para uma condição de funcionamento de36h 20 min por volta (velocidade de 67%), queo turno de rega deve oscilar em torno de três

QUADRO 3 – Resumo dos cálculos da evapotranspiraçãoda cultura (ETc) determinados com base na evaporaçãodo tanque classe A (Et), coeficiente de tanque (Kp = 0,70)e no coeficiente de cultura (Kc), para um intervalo devalores de evaporação entre 4,5 e 10,5 mm/dia

Idade da cana-planta (meses)0 - 2 2 - 3 3 - 6 6 - 12* 12 - 13 13 - 14

Idade da cana-soca (meses)0 - 1 1 - 2 2 - 4 4 - 10* 10 - 11 11 - 12

Coeficiente de cultura - Kc**(mm/dia) 0,40 0,75 1,10 1,25* 0,90 0,70

Evapotranspiração da cultura (mm/dia) ETc = 0,70.Kc.Et

4,5 1,26 2,36 3,47 3,94 2,84 2,21

5,0 1,40 2,63 3,85 4,38 3,15 2,45

5,5 1,54 2,89 4,24 4,81 3,47 2,70

6,0 1,68 3,15 4,62 5,25 3,78 2,94

6,5 1,82 3,41 5,01 5,69 4,10 3,19

7,0 1,96 3,68 5,39 6,13 4,41 3,43

7,5 2,10 3,94 5,78 6,56 4,73 3,68

8,0 2,24 4,20 6,16 7,00 5,04 3,92

8,5 2,38 4,46 6,55 7,44 5,36 4,17

9,0 2,52 4,73 6,93 7,88 5,67 4,41

9,5 2,66 4,99 7,32 8,31 5,99 4,66

10,0 2,80 5,25 7,70 8,75 6,30 4,90

10,5 2,94 5,51 8,09 9,19 6,62 5,15

* Máximo crescimento vegetativo.** Fonte: Manual 56 da FAO.

Et

QUADRO 4 – Resumo dos cálculos do turno de rega (Tr)determinados com base na evapotranspiração da cultura(ETc), eficiência do sistema de irrigação, para o sistemade irrigação por sulco, em solo da classe Vertissolo, UsinaAgrovale, Juazeiro (BA)

Idade da cana-planta (meses)0 - 2 2 - 3 3 - 6 6 - 12* 12 - 13 13 - 14

Idade da cana-soca (meses)0 - 1 1 - 2 2 - 4 4 - 10* 10 - 11 11 - 12

(mm/dia) Turno de rega (dias)

5,0 21 23 16 14 19 24

5,5 19 21 14 12 17 22

6,0 18 19 13 11 16 20

6,5 16 18 12 11 15 19

7,0 15 16 11 10 14 17

7,5 14 15 10 9 13 16

8,0 13 14 10 9 12 15

8,5 13 13 9 8 11 14

9,0 12 13 9 8 11 14

9,5 11 12 8 7 10 13

10,0 11 11 8 7 10 12

* Máximo crescimento vegetativo.

Et

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dias, para uma cana-planta com idade en-tre 6 e 12 meses e para cana-soca com 4 a10 meses de idade. Vale salientar que asorientações contidas no Quadro 5 não sãolevadas em consideração por ocasião dasprimeiras irrigações e nos períodos em quea irrigação é realizada para a execução dasatividades de tratos culturais da cana, bemcomo por ocasião de quebra do equipamen-to (pivô).

Portanto, verifica-se que o turno de regaadotado para o sistema de irrigação porsulcos em solos da classe Vertissolo mos-tra-se três vezes maior que o turno de regapara o pivô central, considerando umacana com a mesma idade, sob uma deman-da evapotranspitométrica da cultura da or-dem de 7 mm/dia. Porém, vale salientar queisto é decorrente da classe de solo em queo pivô central encontra-se instalado (solosde textura arenosa), bem como das carac-terísticas hidráulicas do próprio pivô.

O manejo de água, com base nos parâ-metros de solo, é feito apenas durante astrês primeiras irrigações, visando elevar oconteúdo de água no solo à capacidade decampo, para ambos os tipos de sistemas deirrigação, ou quando ocorre avarias nos ca-nais terciários ou no próprio sistema de ir-rigação.

O desempenho de cada um dos 23 pivôscentrais utilizados na Usina Agrovale é de-terminado com base em testes de campo,que são repetidos a cada dois anos, visandoa otimização do manejo de água, conformeresumo apresentado nos Quadros 6 e 7.

Ao se fazer uma avaliação do desempe-nho operacional do sistema de irrigação porpivô central ou linear, podem-se constataros seguintes pontos:a) lâmina média precipitada – mostra uma

variação entre 53,39% e 100%, quandose utiliza a lâmina máxima precipitada(24,36 mm para um tempo de irrigaçãode 36 h por volta), como referência;

b) eficiência do sistema – tem oscilado en-tre 78% e 92%, portanto, enquadrando-se dentro de uma faixa aceitável de ope-ração (Quadro 6).Os testes de campo referentes ao desem-

penho de cada um dos pivôs mostram que alâmina média de água precipitada é da or-dem de 20,32 ( 2,87, cujos valores mínimo emáximo foram de 12,38 a 24,76 mm, consi-derando um tempo médio por volta de 36h, conforme Quadro 6. Mesmo obtendo-seum coeficiente de variação baixo (CV =14,11%), a realização periódica de testes de

QUADRO 5 – Resumo dos cálculos do turno de rega (Tr)determinados com base na evapotranspiração da cultura(ETc), eficiência do sistema de irrigação (Es), para osistema de irrigação por pivô central no 5, Usina Agrovale,Juazeiro (BA)

Idade da cana-planta (meses)0 - 2 2 - 3 3 - 6 6 - 12* 12 - 13 13 - 14

Idade da cana-soca (meses)0 - 1 1 - 2 2 - 4 4 - 10* 10 - 11 11 - 12

(mm/dia) Turno de rega (dias)

5,0 14 7 5 4 6 8

5,5 12 7 5 4 6 7

6,0 11 6 4 4 5 7

6,5 11 6 4 3 5 6

7,0 10 5 4 3 4 6

7,5 9 5 3 3 4 5

8,0 9 5 3 3 4 5

8,5 8 4 3 3 4 5

9,0 8 4 3 2 3 4

9,5 7 4 3 2 3 4

10,0 7 4 2 2 3 4

* Máximo crescimento vegetativo.

Evapora-ção dotanqueclasse A

QUADRO 6 – Características hidráulicas do sistema deirrigação por aspersão tipo pivô, Juazeiro (BA)

LâminaNúmero Vazão do média Tempodo pivô Lap Es sistema precipitação por voltacentral (mm/dia) (%) (m3/h) (mm/dia) (h e min)

1 9,34 92 198,00 18,67 35h36

2 8,66 85 69,00 17,31 35h45

3 6,61 81 62,75 13,22 36h06

4 8,07 90 104,00 16,14 35h58

5 11,43 84 229,93 22,85 36h20

6 10,29 86 309,00 20,58 35h52

7 10,09 80 170,13 20,18 36h02

8 8,70 79 126,81 17,40 35h48

9 10,15 80 170,13 20,29 35h58

10 10,54 83 195,25 21,07 36h01

11 10,92 82 154,88 21,83 35h56

12 12,33 80 155,88 24,66 35h53

13 9,48 86 109,00 18,96 35h50

14 11,48 80 330,69 22,96 36h13

15 9,94 82 356,30 19,88 35h45

16 11,08 80 330,69 22,16 36h28

17 12,38 80 316,40 24,75 35h45

18*

19 11,81 83 147,57 23,62 35h54

20 11,68 81 103,00 23,36 35h58

21 10,60 78 140,00 21,20 36h00

22 8,56 79 103,00 17,11 36h09

23 9,83 85 312,7 19,66 35h46

Linear 9,72 86 19,43 19,43 35h58

Obs.: Canavieiros: 1, 19 e 20 e o Linear.* Pivô não existente.

60 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

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campo para determinar a performance decada pivô mostra-se importante, para de-tectar problemas operacionais, em tempohábil e, assim, otimizar o manejo de águade uma área irrigada.

Exemplificando-se, ainda, o uso dos cál-culos do Quadro 7, pode-se verificar paraum dia com evaporação de 7mm, conside-rando que a eficiência de irrigação do gote-jamento é de 95%, que o tempo de irriga-ção varia de 2h e 32 min, para cana comidade entre 0 e 1 mês até 7h e 56 min paraos estádios fenológicos com máxima deman-da evapotranspirométrica, para uma fre-qüência de irrigação diária.

Ao se fazer uma análise da eficiência deuso da água (Eua) para os distintos siste-mas de irrigação, pode-se constatar que opivô central/linear e gotejamentosubsuperficial mostraram-se praticamenteiguais, com valores médios oscilando emtorno de 7,14 kg de cana-de-açúcar/m3 deágua de irrigação, enquanto, sob irrigaçãopor sulcos, esta eficiência tem sido de 4,90kg/m3, apresentando-se 31,37% menos efi-ciente, quando comparado com a irrigaçãopor aspersão (pivô) e por gotejamento(Quadro 8).

Fazendo-se uma avaliação do desempe-nho operacional do sistema de irrigação porgotejamento, têm-se constatado os seguin-tes problemas relativos à obstrução dosemissores:a) presença de restos de coleópteros de há-

bito aquático, que vivem no interior dastubulações, em processo de decomposi-ção e/ou já decompostos;

b) impurezas provenientes de fertilizantessólidos;

c) causas decorrentes do desenho hidráu-lico do sistema de irrigação, como porexemplo, a estrutura de filtragem, posi-cionamento do emissor na linha do go-tejo, práticas da fertirrigação, entre ou-tros.Algumas providências têm sido tomadas

para solucionar problemas decorrentes dainfra-estrutura de irrigação. Ou seja, a tu-bulação de drenagem instalada no final daslinhas laterais foi subdividida em três seg-mentos para aumentar a eficiência de lim-peza do sistema; instalou-se mais um filtrode disco para aumentar o nível de manu-tenção deles, inclusive do sistema de pré-filtragem; estão sendo feitas clorações acada 15 dias por um período de seis meses,intervalo este que pode ser aumentado para30 dias, caso obtenha-se uma melhoria

QUADRO 7 – Resumo dos cálculos do turno de rega (Tr),determinados com base na evapotranspiração da cultura(ETc), eficiência do sistema de irrigação, para o sistema deirrigação por gotejamento, Usina Agrovale, Juazeiro (BA)

Idade da cana-planta (meses)0 - 1 1 - 2 2 - 4 4 - 10* 10 - 11 11 - 12

Idade da cana-soca (meses)0 - 1 1 - 2 2 - 4 4 - 10* 10 - 11 11 - 12

(mm/dia) Tempo de irrigação (h e min)

5,0 01 e 37 03 e 03 04 e 29 05 e 06 03 e 52 02 e 51

5,5 01 e 48 03 e 24 04 e 59 05 e 40 04 e 18 03 e 10

6,0 01 e 59 03 e 44 05 e 29 06 e 14 04 e 44 03 e 29

6,5 02 e 10 04 e 04 05 e 59 06 e 48 05 e 10 03 e 48

7,0 02 e 21 04 e 25 06 e 29 07 e 22 05 e 36 04 e 07

7,5 02 e 32 04 e 45 06 e 59 07 e 56 06 e 01 04 e 26

8,0 02 e 43 05 e 06 07 e 29 08 e 30 06 e 27 04 e 45

8,5 02 e 54 05 e 26 07 e 59 09 e 04 06 e 53 05 e 04

9,0 03 e 05 05 e 47 08 e 28 09 e 38 07 e 19 05 e 23

9,5 03 e 15 06 e 07 08 e 58 10 e 12 07 e 45 05 e 42

10,0 03 e 26 06 e 27 09 e 28 10 e 46 08 e 11 06 e 01

* Máximo crescimento vegetativo.

Evapora-ção dotanqueclasse A

QUADRO 9 – Resumo dos custos de implantação dos sistemas deirrigação por sulco e por pivô central na Usina Agrovale, Juazei-ro (BA)

Custos de Implantação dos Sistemas de Irrigação (R$/ha*)

Discriminação Sulco com Sulco com Pivô Pivôcanal politubo central linear Gotejamento

1. Irrigação 450,00 1.513,13 5.869,77 6.562,37 6.242,61

Infra-estruturahidráulica 450,00 650,00 460,00 1.842,94 0,00

Edificações 0,00 0,00 394,48 0,00 394,48

Equipamentosde irrigação 0,00 863,13 4.719,43 4.719,43 5.552,27

Rede elétrica 0,00 0,00 295,86 0,00 295,86

2. Preparo dosolo e plantio3.246,26 3.246,26 2.872,75 2.872,75 3.246,26

Sistematização 747,03 747,03 373,52 373,52 747,03

Preparo do solo1.526,31 1.526,31 1.562,31 1.562,31 1.562,31

Plantio 936,92 936,92 936,92 936,92 936,92

3. Total 3.696,26 4.759,39 8.742,52 9.435,12 9.488,87

*1 US$ = R$ 2,90.

QUADRO 8 – Resumo dos parâmetros técnicos da operacionalizaçãoda irrigação por tipo de sistema de irrigação, Usina Agrovale, Jua-zeiro (BA)

Irrigação Irrigação Irrigaçãopor por pivô por

Discriminação Unidade sulcos central gotejamento

Produtividadeagrícola T/ha 97,81 129,71 116,38

Volume de água m3/ha.ano 19.957 18.143 16.328

Eficiência deuso de água Kg/m3 4,90 7,15 7,13

Energia elétrica kWh/ha.ano ––– 306,00 323,00kWh/t.ano ––– 2,00 3,00

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62 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

satisfatória do nível de obstrução dos emis-sores; o uso de fertilizantes com melhorgrau de pureza; e outras providências quese façam necessárias.

Análise de custosCUSTOS DE IMPLANTAÇÃOOs custos que compõem a irrigação

compreendem os seguintes fatores:a) infra-estrutura hidráulica – construção

QUADRO 10 – Análise comparativa dos custos de implantaçãodos sistemas de irrigação por sulco e com pivô central na UsinaAgrovale, Juazeiro (BA)

Sistemas de Irrigação por sulcos e scom o pivô central (%)

DiscriminaçãoSulco comSulco com Pivô Pivôcanal politubo central l inear Gotejamento

Infra-estruturade irrigação 7,67 25,78 100 111,80 103,35

Preparo dosolo e plantio 113,00 113,00 100 100 113,00

Total 42,28 54,44 100 107,92 108,54

QUADRO 11 – Custos de produção da cana-de-açúcar da safra 2003/2004, na Usina Agrovale, Juazeiro (BA)

Irrigação Irrigação Relaçãopor por pivô sulco x

Discriminação Unidade sulcos central pivô

Área cultivada ha 8.181,06 812,27 –––

Produtividadeagrícola t/ha 97,81 129,71 0,75

Volume de água m3/ha.ano 19.957 18.143 1,10

m3/t 204,04 139,87 1,46

R$/ha 683,27 663,74 1,03

R$/t 6,99 5,12 1,37

Energia elétrica kWh/ha.ano Inseridano volume 306,00 –––

kWh/t.ano Inseridano volume 2,00 –––

R$/ha Inseridano volume 33,24 –––

R$/t Inseridano volume 0,24 –––

Mão-de-obra R$/ha 251,48 83,79 3,00

R$/t 2,57 0,65 3,95

Tratos culturais R$/ha 784,71 1.466,69 0,54

R$/t 8,34 8,91 0,94

Colheita R$/ha 1.084,99 1.084,99 1,00

R$/t 10,77 10,77 1,00

Total R$/ha 2.804,45 3.332,45 0,84R$/t 28,67 25,69 1,12

*1US$ = R$ 2,90

de bueiros e estruturas de tomada deágua;

b) edificações – construção de casas debombas e de reservatórios;

c) sistema de irrigação – materiais e equi-pamentos do pivô central e linear, bemcomo o politubo para condução deágua.Os custos relativos ao preparo do solo e

plantio compreendem os seguintes elemen-tos:a) sistematização do terreno;b) preparo do solo – que compreende

aração e gradagens, dependendo dotipo de solo;

c) plantio – composto de sulcamento, adu-bação de fundação, corte da sementede cana, enchimento do caminhão etransporte, semeio e picote das varas decana e cobertura da semente.Esses custos estão resumidos nos Qua-

dros 9 e 10.Os custos relativos à infra-estrutura do

sistema de irrigação por sulcos, que utilizacanais de terra, e ao sistema de sulcos, queutiliza politubo janelado, são da ordem R$450,00/ha e de R$ 1.313,13/ha, quecorrespondem a 7,67% e de 25,78%, quan-do comparados com o sistema de irrigaçãopor pivô central, respectivamente. Quan-do se consideram os custos com preparodo solo e plantio da cana, observa-se queos custos do sistema de irrigação por sul-cos alcançam R$ 3.246,26/ha, que superamem 13% os correspondentes ao sistema deirrigação por pivô central (Quadros 9 e10). No cômputo geral, os custos totais dosistema de irrigação por sulcos, que utilizacanais de terra e da irrigação por sulcos compolitubo, são da ordem de R$ 3.696,26/ha ede R$ 4.759,39/ha, correspondendo a42,28% e 54,44%, respectivamente, em re-lação ao sistema de irrigação por pivô cen-tral (Quadros 9 e 10).

CUSTOS DE PRODUÇÃOO Quadro 11 apresenta um resumo

dos custos de produção da cana-de-açúcarna Usina Agrovale, correspondente à sa-fra 2003/2004, para os sistemas de irriga-ção por sulco e por pivô central.

Ao se fazer uma análise comparativados custos de produção entre os sistemasde irrigação por sulco e por pivô central,em termos de R$/tonelada de cana produ-zida, pode-se constatar que os custos doscomponentes: volumes de água, mão-de-

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 63

CARLOS LAERTE

CARLOS LAERTE É JORNALISTA DA CLAS COMUNICAÇÃO & MARKETING

Para os profissionais atentos àsoportunidades de investimento na

região, se a implantação de 300hectares de uva sem sementes, a partir

de 2004, já é uma boa perspectiva defuturo, imagine a aquisição de uma área

no Projeto Salitre, em Juazeiro, com 12mil hectares para constituição de uma

nova usina de açúcar e destilaria deálcool, com operacionalização prevista

até meados de 2006.

Estes são os planos traçados para os próxi-mos cinco anos pelo engenheiro agrônomoCarlos Gilberto Cavalcanti Farias, diretor su-perintendente da Agroindústrias do Vale doSão Francisco S.A. (Agrovale), empresa con-siderada hoje a maior empregadora privada doNordeste, com 4.360 empregos diretos.

Numa área de 15 mil hectares, com umaprodução atual de 1.380 milhão de toneladasde cana-de-açúcar, 2.950 milhões de sacas deaçúcar e 26 milhões de litros de álcool com-bustível (anidro e hidratado) e uma estimati-va de faturamento em 2003 da ordem de R$115 milhões, a Agrovale é hoje a única a culti-var cana-de-açúcar no Brasil em áreas total-mente irrigadas.

Constituída em 1970 e produzindo a pri-meira safra dez anos depois, em 1.980 hecta-res, a Agrovale tem perseguido o desenvolvi-mento tecnológico, o que lhe tem possibilita-do uma das maiores médias de produtividadedo mundo, acima de 100 toneladas por hecta-re. No Dia de Campo, ao ensejo do XIII

Conird, a empresa mostrou vários sistemas eações pioneiras, com áreas de mais de 50 hec-tares com fertirrigação por gotejamento sub-terrâneo.

Um outro detalhe que Carlos Gilberto fazquestão de evidenciar, também explica os al-tos índices de produção. “Enquanto no Semi-Árido nordestino, planta-se uma vez e colhe-se entre sete e nove anos, na zona tradicional(São Paulo e Zona da Mata nordestina), plan-tando também uma vez, colhe-se apenas entrequatro e cinco anos, com uma produtividadede 60 toneladas por hectare”.

Ao ser questionado acerca da rentabilida-de desta cultura, o diretor superintendente daAgrovale afirmou ainda que a cana-de-açúcarno Semi-Árido é muito mais rentável, desdeque a infra-estrutura de irrigação tenha finan-ciamento a longo prazo. “Pelo menos 20 anos,com juros avaliados no máximo de 8,75% aoano e com a devida carência do período deimplantação”, completou.

A Bahia produz 3.450 milhões de sacas deaçúcar e consome 15 milhões de sacas. Quan-do o assunto é o álcool, são produzidos 50 mi-lhões de litros, dos quais 26 milhões saem daAgrovale e o restante do Recôncavo Baiano.Mas para quem consome 320 milhões de li-tros, a auto-suficiência ainda vai levar um bomtempo, segundo Carlos Gilberto. “A Bahia sóatingirá a auto-suficiência em açúcar e álcool,se instalar entre seis a oito unidades produto-ras no Semi-Árido do São Francisco. E isto épossível, desde que o governo federal construauma infra-estrutura de irrigação para uso co-mum (canal principal), para que os empresá-rios possam montar as indústrias e implantara área agrícola irrigada”, concluiu o diretor su-perintendente, que ainda conta, em produçãona Agrovale, com mais 420 hectares de mangatipo exportação.

Agrovale,um

Projeto deFuturo

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 63

Carlos Gilberto Cavalcanti Farias

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obra e tratos culturais correspondentes à irriga-ção por sulco apresentam-se 37%, 395%, -0,06%,respectivamente, superiores ao do sistema deirrigação por pivô central, enquanto os custosrelativos à colheita da cana mostraram-se prati-camente iguais para ambos os sistemas de irri-gação. Quando se consideram os custos totais,sem a inclusão dos custos de energia na estaçãode bombeamento principal, observa-se que acana produzida por meio do sistema de irriga-ção por sulcos mostra-se 12% maior que no pivôcentral (Quadro 11). Quando se faz uma aná-lise em termos de R$/ha, verifica-se que os cus-tos das componentes: volumes de água, mão-de-obra e tratos culturais correspondentes à irriga-ção por sulco apresentam-se 3%, 300%, -0,46%,respectivamente, superiores ao do sistema deirrigação por pivô central, enquanto os custostotais, também, sem a inclusão dos custos de ener-gia na estação de bombeamento principal, mos-tram-se 16% inferiores na irrigação por sulco,quando comparados com o pivô central (Qua-dro 11).

Quando se analisa o parâmetro mão-de-obra,verifica-se, também, um certo grau de equiva-lência entre os sistemas de irrigação por pivô epor gotejamento, cuja relação é de 1 homem/dia, para 120 hectares, enquanto para o sistemade sulco com regadeira e politubo janelado sãoda ordem de 1 homem/dia, para 15 hectares ede 1 homem/dia, para 75 hectares, respectiva-mente. Ou seja, a irrigação por sulcos comregadeira necessita de uma equipe de operáriosrurais oito vezes maior que a dos sistemas poraspersão e por gotejamento, enquanto que parao sistema com politubo janelado esta necessida-de é de apenas 1,6.

Vantagens e desvantagens dossistemas de irrigação

PIVÔ CENTRAL VERSUS IRRIGAÇÃOPOR SULCOSO sistema de irrigação por pivô central apre-

senta as seguintes vantagens em relação ao sis-tema de irrigação por sulcos:a) mão-de-obra: 1 homem/dia para cada 118

hectares, sob irrigação por pivô central con-tra 1 homem/dia, para cada 15 hectares, sobirrigação por sulcos;

b) produtividade agrícola: 129,71 t/ha no pivôcentral versus 97,81 t/ha na irrigação por sul-cos;

c) longevidade da cana: obtenção de produti-vidade aceitável de cana com oito folhas, sobpivô central contra apenas seis sob irriga-ção por sulcos;

d) atividades mecanizadas: maior operaciona-

lidade das práticas de preparo do solo, adu-bação, controle de plantas daninhas, colhei-ta entre outras no sistema por pivô, que nosistema por sulcos;

e) operacionalidade: maior controle das ativi-dades mecanizadas (preparo do solo, aduba-ção, controle de plantas daninhas, colheitaetc.) e maior eficiência de irrigação.Dentre as desvantagens que a irrigação por

pivô apresenta em relação ao sistema de irriga-ção por sulcos, destacam-se as seguintes:a) perda de área: a irrigação por pivô

condiciona uma perda de área da ordem de15%, quando comparada com o sistema deirrigação por sulcos;

b) custo inicial de implantação: em termos mé-dios, o custo de implantação mostra-se48,66% mais elevado que para a irrigação porsulcos;

c) custo adicional: para pressurização do siste-ma de irrigação por pivô central, manuten-ção eletromecânica, elevação das torres de3,5 a 5 m para o pivô não canavieiro ecascalhamento do caminho do sistema derodagem das torres do pivô e das estradaspara tombamento da cana é da ordem de R$0,24/t;

d) vida útil do equipamento: corrosão das tu-bulações decorrente do uso da técnica da fer-tirrigação tende a aumentar os custos de ma-nutenção, bem como reduzir a vida do equi-pamento (não se tem utilizado a técnica dafertirrigação no sistema de pivô central);

e) classe de solo: restringe a instalação do pivôcentral em solos da classe Vertissolo.

IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTOSUBSUPERFICIAL VERSUS POR SULCOSO sistema de irrigação por gotejamento

subsuperficial apresenta as seguintes vantagensem relação ao sistema de irrigação por sulcos:a) operação do sistema de irrigação: 1 homem/

dia para cada 124 hectares sob irrigação porgotejamento contra 1 homem/dia para cada15 hectares, sob irrigação por sulcos;

b) eficiência de uso de água: 7,13 kg/m3 sob go-tejamento contra 4,90 kg/m3 sob irrigação porsulcos;

c) redução de mão-de-obra: nos tratos culturais,adubação;

d) produtividade agrícola: 116,38 t/ha no gote-jamento versus 97,81 t/ha na irrigação por sul-cos.

Dentre as desvantagens que a irrigação por go-tejamento apresenta em relação ao sistemade irrigação por sulcos, destacam-se as se-guintes:

a) custo de implantação: elevado;b) custo de manutenção: elevado (sistema en-

terrado);64 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

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66 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

sse Programa tem como objetivos conce-ber e desenvolver um referencial metodo-lógico de gestão da qualidade aplicável,

para o uso sustentável da água na agriculturairrigada. O Projeto, em fase final de execução,tem sido desenvolvido no âmbito do convênioANA/MBC, que usa o trecho da Bacia do RioPreto, no Distrito Federal, como referencial. Aagricultura irrigada nessa sub-bacia é bastantediversificada quanto a sistemas e a métodos deirrigação, culturas, tamanho das glebas irrigadas,com a demanda atual de água para irrigaçãosuperando a oferta. Esse modelo em desenvol-vimento considera a certificação do uso susten-tável da água como o reconhecimento pelo usode boas práticas na agricultura irrigada e é fa-cultativo. Como boas práticas, são preconizadosprocedimentos, regras de conduta e medidas decontrole no dia-a-dia de uma atividade ou ne-gócio. Até o momento, a idéia é utilizar nessemodelo de certificação os oito critérios do Prê-mio Nacional de Qualidade, ou seja, liderança eorganização, estratégias e planos, clientes, soci-edade, informação e conhecimento, pessoas,processos, resultados.

NORMALIZAÇÃO COMO ALAVANCA PARAO PROGRESSO – Para Valter Pieracciani, sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Em-presas e da Pritchett Rummler-Brache do Brasil,mestre em Administração de Empresas, a nor-malização como base para a certificação, a pro-dutividade e a inovação têm sido consideradaspelos países em desenvolvimento as grandes ala-vancas para o progresso. Segundo ele, a partirda evolução do processo de normalização, des-de a definição de melhores práticas, passandopela criação de uma estrutura adequada para aelaboração das normas brasileiras aplicáveis aoassunto, e chegando à certificação, estaremos

CERTIFICAÇÃOA produção integrada de frutas jámostrou seu valor. Como avançar

mais na agricultura irrigada?

Antecipando-se às exigências do mercadointernacional, o Brasil vem desenvolvendo trabalhos

de certificação para o uso racional da água naagricultura irrigada o que tem provocado polêmica no

meio científico e produtivo. Durante o XIII Conird, aAgência Nacional de Águas (ANA), representada peloengenheiro agrônomo Lairson Couto, apresentou no

seminário sobre “Barreiras Comerciais e Certificação daAgricultura Irrigada” um trabalho que vem sendo

desenvolvido desde 2001, com diversos segmentos.Nele incluem-se a Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) e o Instituto Brasileiro de Qualidade eProdutividade (IBQP), hoje transformado no

Movimento Brasil Competitivo (MBC), que visaestabelecer ações para o uso racional da água nessa

atividade. Desses estudos, surgiu uma proposta básicade Programa de Certificação da Sustentabilidade do

Uso da Água na Agricultura Irrigada.

E

Walter Pieracciani Washington Padilla

66 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 67

consolidando tecnologia e criando as bases parauma gestão justa, durável e competente dos re-cursos naturais. “O Brasil, além de suas grandesreservas de água, poderá ser referência interna-cional no campo da gestão e sustentabilidadedesse valioso recurso”, considera ele.

Para Pieracciani, a Bacia do Rio Preto, noDistrito Federal, poderá ser essa referência parao uso sustentável da água na agricultura e re-presentar uma primeira etapa da certificaçãoambiental da produção agrícola.

Importância da certificação paraa exportação

A certificação leva a um ordenamento e, nocaso de frutas in natura, é uma exigência de pa-íses da Europa e dos EUA, além de constituirum direito de qualquer consumidor. “Muitasvezes, pensamos que a qualidade das frutas deveexistir somente para os países para os quais ex-portamos, mas temos também os mesmos direi-tos de ter a qualidade das frutas para o nossomercado”, garante o especialista e professorequatoriano, Washington Padilla, gerente-geraldo grupo Clínica Agrícola de Quito. Para ele, anorma existe para produzir bem, com sucesso,dentro de um ordenamento e de uma disciplina.

No caso da certificação da água dos rios e oseu uso agrícola, Padilla é enfático ao justificarsua importância: “Temos que usar uma água que

tenha todas as características, para que não causedanos ao solo e ao meio ambiente”, garante ele.

Também considera que uma das vantagens dacertificação é a possibilidade de garantir melho-res preços para um produto normalizado. “É di-fícil para o setor produtivo aceitar a normaliza-ção. Não só no Brasil, mas também no Equadore em outros países da América Latina”, afirmaPadilla, mostrando que somente o Chile organi-zou-se e agora participa da economia americana,sem limitações.

Para Washington Padilla, o Brasil e o Equa-dor são países exportadores e a América Latinapode ser considerada, perfeitamente, a graneirado mundo. “Com ordenamento e um trabalhosistemático, poderemos nos transformar numaSuíça ou numa outra Alemanha do mundo. Epor quê? Porque são países que têm ordem”,afirma. Segundo ele, a implantação de um pro-cesso de normalização tem início através da edu-cação do produtor para levá-lo a adotar o que apesquisa e a assistência técnica estão preconi-zando.

Uma agenda para o uso racionalda água

Para Pedro Garcia, vice-presidente da Câma-ra Setorial de Equipamentos de Irrigação daAbimaq, a resistência às normas pode ser sinô-nimo de medo, por parte tanto de fabricantes,

1. Revisão e manutenção do equipamento deirrigação (aferição).

2. Dimensionamento adequado do equipa-mento.

3. Marcar o tempo de irrigação.4. Melhor horário para irrigação.5. Conhecer a necessidade de água para cada

cultura.6. Plantio direto e cobertura do solo.7. Manejo do solo (textura, umidade) em fun-

ção de cada tipo de solo, terraceamento,curva de nível.

8. Uso de tensiômetros.9. Escalonar plantios em épocas críticas.

10. Rotação de culturas.11. Aferição de lâmina (pelo menos a cada dois

anos).12. Controle de vazão de captação.13. Construção de barragens (acumulação de

água das chuvas) + infiltração (recarga dos

mananciais).14. Meio ambiente: não assoreamento dos

rios, preservar mata ciliar ou de galeria, re-florestar, respeitar a legislação.

15. Uso de mulching (olerícolas); gotejamen-to para hortaliças; bicos apropriados parapivôs.

16. Organização dos usuários para definir cri-térios na divisão da quantidade de águade um mesmo rego, córrego, canal entreeles.

17. Tanque enlonado, revestimento dos canais,manilhas e tubulações.

18. Uso de novas tecnologias: bicos de pivô,transposição de água.

19. Reeducação ambiental.20. Divulgação21. Criar conselho institucional entre órgãos

para outorgas.22. Melhor fiscalização por parte dos órgãos

que cuidam das águas.

PROJETO BACIA DO RIO PRETOA consolidação dos três grupos de trabalho gerou inicialmente 22 práticasque devem incorporar o referencial de certificação para o primeiro nível dequalificação – a aplicação prática em caráter individual (por usuário).

BOAS PRÁTICAS SUGERIDAS

4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 67

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68 ITEM • Nº 60 • 4º trimestre 2003

quanto de consumidores ou de produtores. “Anormatização cria a idéia de geração de custosmais altos e produtos mais caros e, nesse senti-do, dificulta a sua implantação”, acredita Garcia,que atribui esta dificuldade ao início de implan-tação do processo no país. “Criou-se a idéia deque normas técnicas iriam beneficiar um ou ou-tro fabricante, ou, exclusivamente, um”, afirmaele, lembrando que do processo de elaboraçãode uma norma participam comissões, que con-tam com representantes de toda a sociedade:fabricantes, usuários, consumidores, formado-res de opinião, instituições governamentais fe-derais, estaduais e municipais, universidades daárea agrícola.

Para Garcia, torna-se importantíssima a rea-lização de um seminário sobre barreiras comer-ciais e certificação na agricultura irrigada, prin-cipalmente num mercado onde o fator água émuito importante, além dos equipamentos. “Ofator água nos deixa preocupados, exatamentepor não existir uma norma, conceito ou cami-nho a ser seguido para usarmos a água com efi-ciência e racionalidade”, considera ele.

Bernhard Kiep, diretor-presidente daValmont/Valley e vice-presidente da Abimaq,teme pela elitização cada vez maior da agricul-tura irrigada. “Pessoalmente, considero acertificação o caminho correto. Mas precisamostomar cuidado para não termos uma tecnologiadisponível apenas para uma minoria, enquantoa grande massa dos agricultores continua a pro-duzir de maneira arcaica”, afirma. Ele propõeuma agenda junto à ANA para a criação de fo-lhetos sobre o uso racional da água.

Produção Integrada de Frutase a competitividade no mercadoexterno

O Sistema de Produção Integrada é consti-tuído por um conjunto de práticas agronômicas,selecionadas a partir daquelas disponíveis regi-onalmente, que asseguram a qualidade e a pro-dutividade das culturas dentro de uma base desustentabilidade. Neste contexto, as normas téc-nicas de Produção Integrada de Frutas (PIF)estabelecem critérios referentes a procedimen-tos obrigatórios, recomendados, permitidos comrestrição e proibidos para as seguintes áreastemáticas: capacitação de recursos humanos;organização de produtores; recursos naturais;material propagativo; implantação de pomares;nutrição de plantas; manejo e conservação dosolo; recursos hídricos e irrigação; manejo daparte aérea; proteção integrada da planta; co-lheita e pós-colheita; análise de resíduos; pro-cesso de empacotadoras; sistema de

rastreabilidade e cadernos de campo e assistên-cia técnica.

A certificação constitui um elemento diferen-ciador do produto no mercado, facilita sua iden-tificação, oferece garantias ao consumidor sobreo produto que adquire e não só aumenta a con-fiança do consumidor, como também facilita avenda do produto e sua introdução em novosmercados. Este processo deve ser de total im-parcialidade, transparência e objetividade, o quepermite que as empresas certificadas possamapresentar recursos, em casos dedesconformidade com as decisões da empresa decertificação. Na PIF, deve-se buscar a certifica-ção tanto do produto quanto do processo pro-dutivo.

Certificação da produção de frutas,uma experiência nova no Brasil

Para o superintendente da Valexport, AlbertoGalvão, existem diferentes formas de encarar aprodução integrada de frutas no Vale do SãoFrancisco. Segundo ele, existe uma vertente quevê a PIF como uma barreira ou exigência para aexportação, uma segunda, que a enxerga comouma questão de marketing, com o uso diferenci-ado do selo e, uma terceira, que considera a ques-tão dos três pilares da PIF: a preservação do meioambiente, a qualidade alimentar e a valorizaçãodo homem na produção. Mais do que isso é apossibilidade que a PIF propicia de o produtoraumentar a sua competitividade com a diminui-ção de custos, na medida em que ele vai usar osinsumos agrícolas numa escala menor.

Galvão considera que, atualmente, a PIF pas-sa por um momento muito importante em rela-ção à grade de agroquímicos. Isto é, todoagroquímico utilizado é estabelecido de acordocom uma grade, em que primeiro estão os pro-dutos aprovados no exterior, os necessários aoproduto e os registrados no Brasil. Nessa grade,existem muitos agroquímicos não registrados noMinistério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento (Mapa). “Estamos há dois anos numa lutapara que o Mapa, o Ibama e a Anfisa dêem pros-seguimento a esses processos de registro, paraque possamos obter o selo de produção integra-da da região. Existem processos parados noMapa há muito tempo e o nosso grande gargaloé o problema de registro”, considera o superin-tendente da Valexport.

Para o Brasil, a certificação de frutas é umaexperiência nova. O Instituto Nacional de Me-trologia, Normalização e Qualidade Industrial(Inmetro), em parceria com o Mapa e o setorprodutivo, está desenvolvendo um programapara a conformidade da PIF. Dessa forma, oInmetro deverá criar o perfil do organismocertificador, de modo que este atenda a todos os

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“Como convencer a sociedade que o usoadequado da água numa cultura deve ser deuma determinada forma, se os próprios téc-nicos não chegaram a um consenso”. Essequestionamento é do chefe do Departamen-to de Produção Vegetal da Esalq/USP, pro-fessor Durval Dourado Neto, engenheiroagrônomo e pós-doutorado em Física doSolo e Modelagem em Agricultura, referin-do-se à utilização dos coeficientes de cultu-ra (kcs), como forma de cálculo sobre quan-to e quando irrigar.

Dourado explica que existem várias ma-neiras de fazer esse cálculo e um conflito deentendimento de posições em função de ex-periências práticas. “Acredito ser importan-te procurar definir como vamos usar a água,em termos qualitativos e quantitativos. Mui-to se falou sobre o uso adequado da água,mas não se definiram os critérios efetivosdesse uso. Existem várias metodologias paraessa quantificação, mas falta o consenso téc-nico sobre como manejar melhor a água”,considera o especialista.

Para o consultor internacional da FAO eda Unesco, Luís Santos Pereira, se formoscapazes de ter, de um lado, um bom padrãoem termos de cálculo de evapotranspiraçãode referência e, de outro, coeficientes decultivo, bem estimados, poder-se-á saber,aproximadamente, qual é o consumo da cul-tura e, portanto, facilmente entrar no pro-cesso do balanço hídrico aplicado às variá-veis meteorológicas ou mesmo no processode balanço hídrico com observação de vari-áveis de solo ou de plantas, para reconhecero próprio estresse ou carência hídrica.

Ele explica que em Portugal e em nívelmundial, utilizam-se os coeficientes elabo-rados pela FAO. Esses coeficientes estão pu-blicados num livro da FAO, do qual ele éco-autor. “São índices muito bons, aplicá-veis em todo o mundo, mas é preciso traçara curva dos coeficientes culturais”, afirmaele, destacando um artigo sobre o assunto,“Coeficientes de cultivo das principais cul-turas anuais”, elaborado sob a coordenaçãodo pesquisador Paulo Emílio Pereira de

Albuquerque, coordenador da reunião téc-nica permanente da ABID sobre coeficien-tes de cultivos e da Embrapa Milho e Sorgo,nesse trabalho que a ABID está perseguin-do, como publicado na edição 52/53 da re-vista ITEM.

“É um trabalho grandioso, porque o Bra-sil é imenso e tem uma variedade climáticadiversificada e um grande número de cultu-ras”, afirma Santos Pereira, destacando seressencial ter uma estimativa adequada dascurvas de kc, fazer uma adaptação e passaressa informação à extensão rural e serviçosde atendimento ao produtor. Para isso, eleobserva que há necessidade de junção deesforços em torno desse trabalho da ABID,onde se detecta uma importante persistên-cia, perseguindo-se um objetivo que se ca-racteriza pelo associativismo em benefíciode todos.

VANTAGENS – Para o produtor que seutiliza da irrigação, a vantagem dessa orien-tação é ter um guia que lhe permita conhe-cer qual é, aproximadamente, o consumoque ele está esperando da cultura em desen-volvimento e, portanto, estabelecer um ca-lendário próprio de irrigação, dependendodo sistema utilizado por ele em sua proprie-dade.

“Isso é importante para o uso competiti-vo e eficiente da água”, afirma Santos Pe-reira, lembrando que a sociedade, de modogeral, pensa que a água é mal utilizada pelaagricultura irrigada. E, para que o uso agrí-cola seja considerado bom, é preciso aplicara água em condições de obter a produçãopotencial, diminuindo perdas e desperdíci-os. Ele lembra ser necessário conhecer tam-bém os níveis de evapotranspiração de refe-rência, a qualidade do sistema de irrigação,

Ainda falta consenso técnicosobre o uso adequado da

água em culturas irrigadas

SantosPereira:

a sociedade,de um modogeral, pensa

que a água émal utilizada

pelaagricultura

irrigada

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Irrigação localizadacom sistema pivô

central e linear:a nova fronteira dairrigação no Brasil

CLÁUDIO TOMAZELA

[email protected]

EVERARDO C. MANTOVANI E ANDRÉ LUÍS T. FERNANDES

COLABORADORES NA CAFEICULTURA IRRIGADA COM [email protected] E [email protected]

Uma variação do pivô central é o equipa-mento denominado linear, que utiliza a mes-ma estrutura de torres e de treliças, só quesubstitui o movimento circular por linear. Emtais circunstâncias, as áreas irrigadas por emis-sor são constantes, fazendo com que a inten-sidade de aplicação de água ao longo do equi-pamento seja também constante. Já no pivô,há necessidade de maiores atenções.

Inicialmente, os emissores utilizados eramdo tipo aspersor de impacto, com ângulo degiro de 23º, seguido de outros com ângulosmais baixos como 6º, para evitar perdas ex-cessivas com evaporação e deriva pelo vento.Em seguida, foram desenvolvidos emissoresdo tipo spray, visando sua utilização em altu-ras intermediárias entre a tubulação do pivôe a superfície das plantas, o que caracteriza

Emissores associados a novos sistemas de plantio e condução da cultura vêm permitindodefinir um novo conceito de irrigação, ou seja: irrigação localizada com pivô central.

Neste caso, associa-se a robustez, a operacionalidade e os custos mais competitivos dosistema pivô central, com a eficiência do uso da água e sua energia na aplicação localizada.

FIGURA 1 – Sistema LESA em pivô central

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ERos sistemas de aplicação classificados comoMESA¹ (medium elevation spray application).

Dentro do processo evolutivo e sempre ob-jetivando a redução nas perdas por evapora-ção e deriva pelo vento, surgiram emissoresmais eficientes em termos de distribuição deágua, como Wobbler, i-Wobbler, LDN etc.,pertencentes aos sistemas de aplicação deágua classificados como LESA¹ (low elevationspray application). (Figura 1).

O sistema LESA caracteriza-se por aplicara água em área total, porém em posição su-perior ou bem próximo à folhagem das plan-tas, conforme ilustrado na Figura 1. Nessesistema de aplicação de água, os emissoresficam posicionados a uma altura entre 0,45 e1,50 metro da superfície do solo, minimizan-do, assim, ainda mais as perdas por evapora-

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ção e deriva pelo vento. Há, porém, nessescasos, a necessidade da aproximação entre osemissores localizados na linha lateral do pivôpara permitir um adequado recobrimento dosjatos de água, mantendo elevada uniformi-dade de distribuição. Agricultores no Sul doTexas, nos EUA, utilizam-se de espaçamentosentre 2,43 e 3,05 metros com boa uniformi-dade, mesmo em culturas de milho.

O passo seguinte caracterizou-se pelo de-senvolvimento do conceito de irrigação LEPA²(low energy precision application), que gerouo aparecimento de emissores que procuramdistribuir a água de maneira localizada, emsulcos ou próximos às raízes das plantas, ele-vando ainda mais a eficiência na distribuiçãodessa água (Figuras 2 e 3).

O conceito LEPA de irrigação foi introduzi-do pelos engenheiros agrícolas Bill Lyle eJames Bordovsky, da Estação Experimental deAgricultura de Lubbock, Texas, EUA, em 1983.

A idéia básica era desenvolver um sistemade aplicação de água que pudesse reduzir asexigências de energia, aproveitar águas dechuva e permitir uma aplicação mais precisade água na irrigação. O sistema LEPA de irri-gação foi concebido para aplicação de águadiretamente em sulcos de infiltração, com asválvulas reguladoras de pressão e os emisso-res localizados a uma altura de, no máximo,0,45 metro do ponto de distribuição da água.Com emissores tipo spray ou LDN com man-gueiras ou “meias”, pode-se também aplicara água nos sulcos ou próximo ao sistemaradicular das plantas.

As eficiências de irrigação com esse siste-ma podem chegar a níveis de 95% a 98%. Aspressões utilizadas nos emissores LEPA são de4 a 8 mca. As plantas são dispostas de manei-ra circular em relação ao centro do pivô (Figu-

ra 4) e os sulcos são irrigados alternadamen-te.

Os sistemas LEPA caracterizam-se por apre-sentar elevadas taxas de precipitação que ge-ralmente excedem a taxa de infiltração dossolos. Assim, o conceito de utilização dosemissores LEPA exige manejo especial do solopara evitar o escoamento da água para forada área de interesse, o que causa estressehídrico e erosão. Desse modo, necessita-se daconstrução de bacias ou diques que servemde acúmulo de água até infiltrar naturalmen-te no solo.

Devido às elevadas taxas de precipitação eà limitada altura do emissor ao solo, os siste-mas LEPA são inadequados para serem insta-lados em terrenos ondulados e com topogra-fia, cuja declividade ultrapasse a 2%, salvo

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FIGURA 2 – Sistema LEPA com emissor QuadSpray em pivô central

FIGURA 3 – Sistema LEPA com Bubble LDN

Figura 4 – Sistema LEPA de irrigação em pivô central

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SISTEMA/EMISSORDescrição e características gerais do emissor

SPRAYEmissor utilizado em sistemas solid set (convencional)e pivô central, cuja forma de distribuição de água ca-racteriza-se como um spray fixo, podendo ser formadopor jatos discretos e direcionados ou em forma de ummanto de água, dependendo do tipo de placa de im-pacto utilizado. Aplica a água de maneira vertical aci-ma do emissor.

SUPER SPRAYEmissor com as características do spray, sendo fabrica-do pela Senninger.

WOBBLEREmissor Senninger com aplicação oscilatória (com vi-bração), conferindo elevada uniformidade na distribui-ção da água. É utilizado em sistemas solid set (conven-cional), para operar em posição vertical e distribuir águaacima do emissor.

I-WOBBLEREmissor Senninger com aplicação oscilatória (com vi-bração), conferindo elevada uniformidade na distribui-ção da água. É utilizado em sistemas solid set (conven-cional), para operar em posição vertical e distribuir águaabaixo do emissor (posição invertida).

LDNEmissor Senninger do tipo spray com 1, 2 ou 3 placasde impacto, aplicando água em jatos dirigidos e dis-cretos, conferindo elevada distribuição de água. É uti-lizado em sistemas pivô central, para operar em posi-ção vertical e distribuir água abaixo do emissor (ma-neira invertida).

BUBBLE LDNEmissor Senninger do tipo spray LDN com dispositivopara aplicar a água de maneira que venha a formar umbolha aerada, sem emitir jatos dirigidos e discretos. Éutilizado em sistemas pivô central para aplicação deágua diretamente em sulcos ou próximo ao sistemaradicular das plantas, conferindo elevada distribuiçãode água. Opera em posição vertical e distribui água naconfiguração LEPA (low energy precision application).

Quadro Explicativo dasDesignações dos Emissores e PeçasDescritas no Texto

FIGURA 5 – Sistema LEPA com emissor QuadSpray (bolha aerada)

FIGURA 8 – Sistema LEPA com emissor LDN emeia de manta butílica

FIGURA 7 – Sistema LEPA com emissor SuperSpray e meia de manta butílica e nylon

FIGURA 6 – Sistema LEPA com emissor LDNcom mangueira

cuidados especiais.Os sistemas LEPA podem ser constituídos

dos emissores Quad Spray (Figura 5) ou deemissores comuns (LDN ou Super Spray), po-rém com o uso de prolongadores (manguei-ras ou meias), que direcionam a água para osolo (Figuras 6, 7 e 8).

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INFORME TÉCNICO PUBLICITÁRIO

QUAD SPRAYEmissor Senninger utilizado em sistemas pivô centralpara aplicação de água na configuração LEPA (lowenergy precision application). Apresenta-se em qua-tro funções de distribuição de água, ou seja: irrigaçãoou irrigate (spray), bolha aerada ou aerated bubble(LEPA 2), bolha cheia ou bubble (LEPA 1) e quimigaçãoou chemigate (placa invertida) em uma única estrutu-ra.

LDN COM MANGUEIRAEmissor Senninger utilizado em sistemas pivô centralpara operar em posição vertical, com distribuição deágua na formação LEPA ( low energy precisionapplication). Utiliza-se de mangueira adaptada à ex-tremidade do emissor para localizar a água, de formadireta a sulcos ou próximo ao sistema radicular dasplantas, conferindo elevada uniformidade na distribui-ção da água.

SUPER SPRAY COM “MEIA”Emissor Senninger utilizado em sistemas pivô central,para operar em posição vertical, com distribuição deágua na formação LEPA ( low energy precisionapplication). Utiliza-se de um sistema de “meia”, sen-do essa adaptada à extremidade do emissor, para apli-cação de água na forma direta (arraste) a sulcos oupróximo ao sistema radicular das plantas, conferindoelevada uniformidade na distribuição da água.

SUPER SPRAY COM MANTA BUTÍLICAEmissor Senninger utilizado em sistemas pivô centralpara operar em posição vertical e com distribuição deágua na formação LEPA ( low energy precisionapplication). Utiliza-se de um sistema de “mantabutílica achatada”, sendo essa adaptada à extremida-de do emissor, para aplicação de água na forma direta(arraste) a sulcos ou próximo ao sistema radicular dasplantas, conferindo elevada uniformidade na distribui-ção da água.

FUN SPRAY 170ºEmissor Senninger do tipo spray com aplicação de águaem jatos dirigidos e discretos ou mesmo em forma de“nuvem” sobre a copa das plantas ou lateralmente aestas, formando um ângulo parcial de 170º. Adequa-dos à irrigação de culturas frutíferas ou mesmo paradirecionamento da água próximo às torres dos pivôsde maneira que venha a manter uma pista seca deirrigação, evitando-se atolamentos do equipamento.

ADAPTADOR GOOSENECKDispositivo confeccionado em plástico especial, comuma ou duas saídas em diâmetro de 3/4"e utilizadonas saídas dos tubos (outlets) para distribuir os emis-

Irrigação com Lepa nacafeicultura brasileira

No caso do Brasil, mais especificamente naregião de Barreiras, BA, foram feitas as primei-ras tentativas de uso do conceito de irrigaçãoLEPA na cultura do café, com algumas altera-ções, sendo mais semelhante a uma irrigaçãolocalizada em pivô central com emissores dotipo Fun Spray de 170º (Figura 9), e Quad Sprayna função bolha (Figura 10).

Quando se trata de dimensionar os siste-mas LEPA na cultura do café, com aplicaçãoda água sobre a copa das plantas, devem sertomados alguns cuidados básicos que se tra-duzem, no final, em elevadas eficiências de

FIGURA 10 – Emissores tipo Quad Spray(LEPA) em pivô central

uso da água (com ganhos de até 35% em re-lação ao sistema do pivô convencional).

Diferentes e intrigantes tentativas de usodo conceito LEPA de irrigação na cultura docafé foram feitas como, por exemplo: a dostubos de PVC recurvado e perfurado, bacias,baldes e sacos plásticos, entre outras. Porém,essas tentativas apresentaram sérios proble-

FIGURA 9 – Emissores tipo Fun Spray, utiliza-dos na irrigação de café com pivô central

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mas superficiais e desestruturação da super-fície do solo, devido ao impacto das gotas deágua contra ele.

Os emissores Quad Spray, que aplicamágua de maneira localizada na cultura do café(sobre a copa das plantas), têm sido muitoutilizados, principalmente em Barreiras, BA,e têm-se notado alguns problemasconceituais, principalmente em termos dodimensionamento do projeto. Em função dosbenefícios de tarifas reduzidas em determi-nados horários, muitos produtores solicitamprojetos dimensionados para aplicar toda aágua necessária diariamente, utilizando-seapenas do horário noturno. Tal solução, ra-zoável muitas vezes no sentido econômico,incorre em sérios problemas técnicos, associ-ados à ampliação dos valores muito elevadosde intensidade de aplicação instantânea so-bre as plantas e solo, causando escoamentosuperficial e, conseqüentemente, muitas per-das, baixos níveis de eficiência de irrigação,erosão etc.

Nos sistemas pivô central com LEPA , ocorreo aumento da precipitação instantânea, à me-dida que se vai do centro do pivô até a extre-midade final da linha lateral, agravando-semais em grandes equipamentos. Para cultu-ras como o café, que na fase inicial de desen-volvimento não apresenta cobertura vegetalsuficiente para proteger a superfície dos so-los do impacto das gotas de água, podemocorrer problemas de desagregação da super-fície desses e, conseqüentemente, escoamen-to superficial. Esse fenômeno ocorre no Oes-te Baiano, em solos desprotegidos e com ele-

vado teor de areia fina, devido às chuvas in-tensas de final e começo de ano (precipita-ções de 100 a 200 mm/h). Nesses casos, háuma lixiviação de areia fina e silte para pro-fundidades de até 2 a 3 cm e, ao mesmo tem-po, implica na formação de uma crosta im-permeável na superfície do solo (Figura 11),fazendo com que as chuvas subseqüentes, oumesmo as irrigações subseqüentes, escorramsobre a superfície, ao invés de infiltrar no solo.

O recente desenvolvimento do sistema dePlantio Direto nos trópicos configura-se comoalternativa para os condicionamentos físico equímico desses solos, aplicando-se, previamen-te, os insumos necessários com o cultivo deplantas de cobertura, dessecando-as quandono momento da marcação e Plantio Direto damuda de café, tendo-se os solos protegidos ecom maior capacidade de controle de erosão,de maior infiltração da água e aproveitamen-

FIGURA 11 – Formação de crosta superficial nos solosarenosos

FIGURA 12 – Superfície molhada pelo emissor LEPA

to dos nutrientes. Para isso, há necessidade deplanejamento para que se faça uma adequa-da seqüência de culturas, manejo de banco desementes de plantas de cobertura, etc., garan-tindo-se a cobertura do solo até que a própriaplanta do café venha cumprir essa função.Quanto mais bem executado for esse sistemade Plantio Direto, maiores serão a flexibilidadede aproveitamento de áreas com grandesdeclividades e a eficiência no uso da água emelhor o aproveitamento dos insumos aplica-dos na cafeicultura.

O plantio do café em pivô central irrigadocom LEPA é feito de maneira circular (Figura12) e a marcação das linhas de plantio é feitacom os próprios emissores. Após marcadasas linhas, são abertos os sulcos de plantio,

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onde colocam-se os insumos apropriados. Ou,como explicado anteriormente, optando-sepelo sistema Plantio Direto, minimizando-seesses revolvimentos dos solos.

Para uma região como Barreiras, BA, emque os solos são arenosos, forma-se nessessulcos de plantio uma camada, equivalente àprofundidade do solo, de material mais sol-to. Com o uso da irrigação na função LEPA(bolha normal ou aerada), desde a fase inicialde desenvolvimento da cultura do café, e comos problemas de elevadas taxas de precipita-ção e formação da crosta superficial nos so-los, há uma tendência maior de infiltração deágua nos sulcos de plantio, resultando na for-mação de um sistema radicular mais concen-trado, conforme pode ser visto na Figura 13.

O dimensionamento do projeto de irriga-ção deve ser feito com base nas exigências deágua da cultura em termos de volume (litros/planta/dia). O gerenciamento do uso da águaou manejo deve ser feito a partir damonitoração dos parâmetros solo-clima-plan-ta, com os métodos que melhor se adaptemà região e aos conhecimentos do produtor etécnico responsável.

O dimensionamento da lâmina máxima(maior consumo) deverá ser feito para o pe-ríodo crítico (ou porcentagem desse período),em função das disponibilidades de água ouexigências da cultura.

Como sugestão de dimensionamento dosprojetos de irrigação localizados via pivô cen-tral, devem-se:- caracterizar a área objeto da implantação

INFORME TÉCNICO PUBLICITÁRIO

da cultura e do sistema de irrigação com aobtenção das curvas de infiltração de águados solos e das capacidades de armazena-mento de água;

- caracterizar a topografia do terreno commapeamento planialtimétrico da área comoum todo;

- caracterizar o clima da região e determinara lâmina de pico de irrigação;

- especificar os espaçamentos a seremadotados na cultura do café e também oscomprimentos dos vãos do pivô, paraadequá-lo às condições do terreno (Figu-ra 14);

- efetuar o dimensionamento hidráulico dosistema, que busque a obtenção do menorcusto anualizado do sistema em função davida útil estimada de seus componentes .Todos esses parâmetros devem ser consi-

derados para o dimensionamento de qualquer

FIGURA 13 – Sistema radicular do café sobirrigação LEPA sem os devidos cuidados demanejo do solo

FIGURA 15 – Cobertura vegetal sobre o solo para proteçãocontra o impacto das gotas

FIGURA 14 – Layout de implantação da lavoura de cafécom emissores LEPA

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projeto de irrigação. No caso específico dosemissores LEPA, alguns parâmetros a mais de-vem ser considerados, a fim de obter a máxi-ma eficiência da irrigação.

Como o volume de água necessário àsplantas é aplicado apenas em uma faixa doterreno, podem ocorrer escorrimentos super-ficiais, se não forem tomadas algumas medi-das de controle, tais como:- dimensionamento dos volumes de água a se-

rem aplicados às plantas de acordo com osdiferentes estádios de desenvolvimento de-las. Isso poderá ser feito, alterando-se os di-âmetros dos bocais dos emissores e, se ne-cessário, variando-se o diâmetro dos rotoresdas bombas ou mesmo a bomba centrífugaem função da maior ou menor necessidadede água ao longo do ciclo das plantas. Podeparecer algo complicado, mas ainda assim o

retorno em termos de produtividade, devi-do ao melhor aproveitamento da água pe-las plantas é certo (Isto é irrigação na verda-deira concepção da palavra);

- manutenção da cobertura vegetal (Figura15) sobre a superfície do terreno, principal-mente nas áreas com elevado teor de areiafina (com comportamento de silte) e umcerto teor de silte, para evitar perdas exces-sivas de água por evaporação do solo (essematerial poderá ser roçado e os restos ve-getais direcionados às saias das plantas,principalmente nos dois primeiros anos decultivo, quando não há ainda massa foliarsuficiente para proteger o solo das chuvasintensas ou da irrigação direcionada);

- nunca fazer uso da função Buble (bolha) nosprimeiros anos de cultivos. Evita-se, assim,a formação da crosta superficial no solo;

- utilização dos dispositivos double barbgooseneck (adaptador de saídas duplas),para distribuir melhor a água na área (coma duplicação e afastamento dos emissoresem pelo menos 3 metros, distância aproxi-mada entre os tirantes dos vãos), para re-duzir pela metade a intensidade de precipi-tação instantânea (Figuras 16 e 17);

- procurar sempre utilizar a função Irrigatedo emissor LEPA no primeiro ano de cultivodo café, enquanto ainda não existe massafoliar suficiente para proteger o solo doimpacto das gotas da irrigação. Isso é be-néfico à irrigação da cultura, além de pro-teger a superfície do solo das chuvas inten-sas nessa fase do cultivo do café.Uma observação a ser feita: deve-se inves-

tir mais em pesquisa sobre os efeitos domolhamento das folhas das plantas (bichomineiro, queda de frutos, efeito sobre o con-trole da temperatura, abertura das flores etc.)e, a partir daí, procurar melhorar a maneirade aplicar a água na cultura do café em gran-des áreas como o Oeste Baiano, com baixoscustos, o que é perfeitamente possível atra-vés do uso dos sistemas pivô central e linear.

Vantagens do emprego dairrigação com Lepa nacafeicultura3

Comparando-se com o pivô central con-vencional (irrigação em área total), o pivô cen-tral equipado com emissores localizados, como plantio circular do café, apresenta as seguin-tes vantagens:

FIGURA 17 – Posicionamento dos pendurais nos tirantesdos pivôs (aumento do padrão molhado)

FIGURA 16 – Suporte de mangueira nos tirantes (truss rod sling),à direita, e adaptador dupla saída para pivô (gooseneck), àesquerda

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REFERÊNCIAS¹ GERSTON, J.: Low-Energy Applicators Boost Efficiency

of Pivot and Lateral Systems. The IrrigationAssociation. Irrigation Business & Technology,Palmdale, CA, EUA. volume VIII, n.2, Apr/May 2000.

2 NEW, L. y FIPPS, G.: LEPA: conversión y manejo. Agri-cultura de las Américas. Great Neck, NY, EUA. Año43, n.5. Septiembre/Octubre 1994.

³ SANTINATO, R. e FERNANDES, A. L. T.: Cultivo docafeeiro irrigado em plantio circular sob pivô central.1ª Ed., Belo Horizonte: O Lutador, 252p., il., 2002.

INFORME TÉCNICO PUBLICITÁRIO

1) No preparo do terreno ao plantioa) o pivô marca os sulcos com perfeição, fa-

cilitando o sulcamento e garantindo a dis-tribuição dos insumos de forma correta;

b) dispensa a mão-de-obra para marcação oualinhamento, e a operação mecânica deriscagem para a abertura dos sulcos.

2) No plantio dos cafeeirosa) marca a linha de plantio sobre o sulco

pronto com perfeição, evitando variaçãono espaçamento de rua (entre as linhas) eo desalinhamento entre as plantas quecausa inconvenientes na colheita, notada-mente na mecanizada;

b) dispensa a mão-de-obra para o alinhamen-to no plantio;

3) Na condução inicial da formação da la-voura (pós-plantio 0 a 6 meses)

a) permite a fertirrigação e a aplicação defungicidas e inseticidas sistêmicos ou nãosistêmicos a partir de 40 a 60 dias após oplantio, quando já ocorreu o enraizamentoinicial dos cafeeiros;

b) dispensa a mão-de-obra das adubações ini-ciais, manual ou com adubadora “de mi-lho”, e também a mão-de-obra das apli-cações de granulados com matraca;

c) dispensa mecanização para distribuiçãodos insumos, concentrando-os em um sóponto (no pé do pivô);

d) reduz em média de 20% a 25% as horasde máquinas nos tratos culturais, fitossa-nitários etc.

Comparativamente com aplicação em área to-tal para fertirrigação, fungigação e inseti-gação, no caso de o produtor optar poreste manejo, em plantios sob pivô centralnão circular e sim em linha ou nível, oscustos elevam-se em torno de 70%.

4) Na condução de formação e produçãoda lavoura (de 7 a 30 meses ou mais)a) na mecanização

– permitir a mecanização em círculo (ca-racol), evitando manobras e redução damarcha de trabalho o que reduz em mé-dia de 20% a 25% as horas de máquinanos tratos culturais, nutricionais efitossanitários, como: roçada, aplicação deherbicida, pulverizações, calagem, fosfa-tagem, matéria orgânica, aplicação de gra-nulados, além de outras práticas, como asubsolagem, escarificação, nivelamento ou

arruação, decote mecânico etc.Da mesma forma, a adoção do plantio circu-

lar chega a reduzir entre 25% e 30% ashoras máquina para colheita mecânica, tra-balhando em círculo com retorno nocarreador central.

b) nos insumos– economia de 20% a 30% dos nutrientesaplicados por fertirrigação localizada so-bre a copa dos cafeeiros, para N, P, K, S,Zn, B, Cu, Mn e também para Ca e Mg demanutenção;– redução em 50% do uso de herbicidaspós-emergentes no controle das plantasdaninhas no período da seca, pois as ruasnão são irrigadas;– redução de 30 a 40% no uso de insetici-das (insetigação) e fungicidas(fungigação), que são aplicados dirigidosna faixa de plantio.�

O sistemaPlantio Diretofavorece omanejo dairrigação, comproteção emelhorcondicionamentofísico e químicodos solos

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Irrigação com LEPA:a inovação que “pegou”

Como é feito hoje...Após diversos estudos e observações

de campo, chegou-se aos seguintes pa-râmetros para dimensionamento dessesequipamentos:* Espaçamento dos emissores, variável

em função do espaçamento do plan-tio da cultura (normalmente de 1,60ma 3,90m).

* Economia de água (redução de lâmi-na): da ordem de 35%.

* Faixa molhada pelo emissor: média de2m.

* Áreas circulares: limite de declividadedo terreno em 4%.

Um breve históricoPor volta de 1997, na Bahia, começou a ser difundido o sistema de irrigação tipo LEPA, usando-

se emissores Quad Spray da Senninger, para a cultura de café, em equipamentos tipo pivô central.Naquela ocasião, os produtores e os técnicos que orientavam e disseminavam o uso desse

sistema, simplesmente faziam o redimensionamento dos bocais e as adaptações necessárias àmudança, sem se preocuparem com o redimensionamento de motobombas e com a utilização dos

benefícios oriundos desse sistema. Com isso, os pivôs instalados com lâminas dimensionadasinicialmente para o plantio de grãos e para a irrigação total da área (8 - 12 mm/dia) passavam a terlâminas altíssimas em função da irrigação sobre a copa (localizada), com conseqüentes problemas

como: precipitação instantânea elevada e escoamento superficial, aeração do solo etc.

A marca demaior confiança

em irrigação

MARCUS V. V. SCHIMIDT

E-MAIL: [email protected]

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 79

INFORME TÉCNICO PUBLICITÁRIO

Soluções como esta, ajudam o Brasil!

� Aplicação precisa de água.� Possibilita praticar fertirrigação.� Baixo consumo de energia (ultrabaixa pressão).

� Economia de água, irrigando somente áreas de interes-se.

� Não necessita filtragem da água.� Emissores fáceis de inspecionar e sem problemas com

entupimentos.

� Adapta-se a cultura, espaçamento e altu-ra.

� Permite irrigar culturas entre as linhas.

� Versatilidade e mobilidade.� Facilidade e rapidez na instalação.� Vida útil maior que os outros sistemas.� Baixo custo de manutenção e operação.� Equipamento não danificado durante a

colheita e/ou tratos culturais.

EQUIPEQUIPEQUIPEQUIPEQUIPAMENTOS VALLEYAMENTOS VALLEYAMENTOS VALLEYAMENTOS VALLEYAMENTOS VALLEY, pivô entral, rebocável e lineares, equipados comLEPA, uma adaptação que solucionou e inovou a irrigação em café

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A próxima revista,ITEM 61,

1º trimestre 2004,já está em fase de

edição.

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Em 2001, uma ricaprogramação doXI CONIRD e 4th IRCEW,em Fortaleza, CE, registradana Item 50, com a ediçãodos 2 anais e de um livroem inglês e a inserçãointernacional da ABID.

Em 2002, o XII CONIRDem Uberlândia, MG, comos anais em CD e aprogramação na Item 55.

Em 2003, o XIII CONIRDem Juazeiro, BA,com os anais em CD e aprogramação na Item 59.

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ASSOCIAÇÃOBRASILEIRA DEIRRIGAÇÃO EDRENAGEMÉ O COMITÊNACIONALBRASILEIRO

DA

ICID-CIID

Porto Alegre24 a 26 de outubro de 2004

AGENDE ESSE ENCONTRO

com os agronegócios calcados

na agricultura irrigada.

Temas nacionais e internacionais

voltados para o uso sustentável

da água e a geração de riquezas

e empregos.

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tragédia de uso comum é um conceitoeconômico da primeira metade do século19 e diz respeito à utilização de recursos na-

turais que sejam de uso comum. Refere-se a um bemnatural, que é de domínio público, pertence a todose ninguém cuida, como é o caso dos mananciais dosrios. O risco que se corre é que esse recurso seja malutilizado e esgotado. A explicação é de JersonKelman, diretor-presidente da Agência Nacional deÁguas (ANA), que cita como exemplo outro recursonatural que passou pelo mesmo fenômeno. Na Eu-ropa, no passado, várias florestas foram devastadasexatamente por causa disso: ninguém cuidava e, por-tanto, todos avançavam e transformavam a madeiraem lenha.

“No Brasil, a maior preocupação a essa possíveltragédia diz respeito ao uso das águas, pois não exis-tem rios privados, são todos de domínio público”, afir-ma ele, para reforçar a tese sobre a necessidade de terregras para evitar o esgotamento dos rios, seja emquantidade, seja em qualidade das águas.

Cada bacia necessita de um sistema de outorga,de direito de utilização do rio, tanto para captar águapara irrigação, no caso da agricultura irrigada, quan-to para lançar algum poluente, no caso de uma cida-de ou indústria, por exemplo. E, esse conjunto de ou-torgas tem que observar qual é a demanda agregadade uso do rio, de forma que se evite a suasobreutilização. “Se os rios forem sobreutilizados, vaiacabar não tendo água para ninguém”, alerta o diri-gente da ANA.

UM PACTO MAIS DO QUE NECESSÁRIO –Jerson Kelman é engenheiro civil, com mestrado emHidráulica pela Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ) e Ph.D em Hidrologia e RecursosHídricos, pela Colorado State University. Sua experi-ência profissional acumulada ao longo dos anos pos-sibilitou-lhe uma ativa participação, transformando-o em um dos principais responsáveis pela política na-cional de recursos hídricos implantada no Brasil.

Ele relata que essa tragédia de uso comum dosrios brasileiros já está acontecendo em alguns pon-tos do país, como no Norte de Minas, na Bacia doRio São Francisco. Na sub-bacia do Rio Verde Gran-de, existe mais demanda para irrigação do que águadisponível, uma tragédia que teve início com o pri-meiro irrigante que achou que poderia tirar água dorio para sua lavoura e, sendo bem-sucedido, foi imi-tado por vários outros vizinhos. “Para evitar essa tra-gédia que pode ser estendida para toda a bacia, é quese cria um aparato para regular o uso dos rios. Senão houver um pacto sobre a quantidade de água que

pode ser utilizada para irrigação e outras atividadesno Rio São Francisco, esta mesma tragédia pode serepetir, porque o fator limitante para a expansão daagricultura irrigada não é a terra”, adverte ele.

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO –Jerson Kelman considera que o grande desafio paraos próximos 20 ou 30 anos, em relação aos recursoshídricos do Rio São Francisco, depende de dois pon-tos:

Primeiro, definir o montante global que se podeutilizar na bacia, para irrigação. Hoje, a Bacia do RioSão Francisco tem cerca de 330 mil hectares irriga-dos, com um consumo médio de 200 m3 por segun-do, enquanto que a vazão média da foz (em Penedo/AL) é de 2.700 m3 por segundo.

Mas torna-se necessário definir quanto se podetirar de cada ponto da bacia, da área de drenagem eestabelecer cotas para a irrigação. Além disso, ad-verte Kelman, é preciso diferenciar os bons irrigantesdos perdulários, ou seja, aqueles que produzem comeficácia, obtendo maior valor e criando mais empre-gos, com o menor uso de água.

No caso do projeto que está sendo elaborado pelogoverno federal para o Rio São Francisco sob a co-ordenação do vice-presidente da República, José deAlencar, Kelman resume a posição da ANA numaquestão de verificação de outorga, com uma eventu-al transposição.

Ele é taxativo ao afirmar que, do ponto de vistado uso da água para abastecimento humano, não hápor que diferenciar brasileiros que vivem à beira doRio São Francisco dos mais distantes. Todos têm igualdireito de uso do rio. Outro ponto, é o de uso da águapara outros fins, como para irrigação. Nesse caso, adecisão é mais de natureza política e a ANA é umaentidade de natureza técnica.

UMA QUESTÃO DE INVESTIMENTOS – O di-rigente da ANA entende também que, na realidade,está ocorrendo uma disputa pela prioridade de in-vestimentos em relação ao projeto de transposiçãodas águas do Rio São Francisco. “Alguém que morea 10 km do rio e não tem água pode, legitimamente,sentir-se prejudicado, se o governo privilegiar recur-sos para levar água a 400 km de distância. A verda-deira discussão está em torno das prioridades paraos investimentos”, considera ele.

Ele completa seu pensamento, afirmando queas boas notícias são de que o governo teve essa per-cepção em relação à discussão sobre a transposiçãodo Rio São Francisco e está tratando a questão, dan-do igual importância ao processo de revitalizaçãodo rio. �

A

Brasil repete a“tragédia de uso comum”em relação às águas dos rios

Jerson Kelman

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O PIONEIRISMO DE VIÇOSAssa história começou em 1961, quando fo-ram criados os dois primeiros cursos de pósgraduação, em nível de mestrado, de uma

instituição brasileira de nível superior: os cur-sos Economia Rural e Horticultura, ambos naUFV, que, na época, denominava-se Universi-dade Rural do Estado de Minas Gerais(Uremg), vinculada à Secretaria de Estado deAgricultura. Esse avanço foi possível, segundoo professor Edson Potsch, graças ao prestígiodesfrutado, na época, pelo Departamento deEconomia Rural da Uremg e ao apoio do go-verno federal e da Fundação Ford, que permi-tiram a construção de um prédio próprio parao departamento. Graças a esse prestígio e à vin-da de professores norte-americanos, por meiode um convênio da Usaid (The US Agency forInternational Development), o departamentopôde contar com a colaboração da Universida-de de Purdue, dos EUA. Em 1968, a Uremg

passou a contar com o curso de pós-graduaçãoem Extensão Rural, também em nível demestrado e, a partir de 1972, com o doutoradoem Economia Rural.

Alguns dos principais envolvidos neste epi-sódio histórico estão aposentados e afastados desuas atividades, sem, no entanto, perderem oalcance intelectual do assunto. Um acontecimen-to desse significado marcou a lembrança demuitos que participaram direta ou indiretamentedesse trabalho. “A Universidade Federal de Vi-çosa foi pioneira na titulação de mestrado e dou-torado, uma iniciativa determinante para a con-dução da pesquisa e para a melhoria das condi-ções tecnológicas”, afirma o professor EdsonPotsch Magalhães, 89 anos, que, na época, erareitor da UFV. Ele mesmo foi o segundo brasi-leiro na história a obter sua pós-graduação noexterior, junto a Ohio State University.

“Deve-se à sabedoria do velho Bernardes apreferência pelo pragmatismo americano, aoconservadorismo europeu”, afirma o professorPotsch, atribuindo o feito ao então presidenteArtur da Silva Bernardes, responsável pelo de-creto de 1922, que criou a Escola Superior deAgricultura e Veterinária, originando a Uremg.Essa Universidade foi federalizada em 15 de ju-lho de 1969, quando o professor Potsch aindaera reitor, constituindo a atual UFV.

O convênio firmado com a Universidade dePurdue permitiu a vinda, para o Brasil, de pro-fessores daquela instituição. Formou-se, então,um pequeno núcleo interdisciplinar, precursordessa incansável batalha em favor da criação doscursos de pós-graduação no Brasil. Muitos pro-fessores brasileiros foram treinados na Univer-sidade de Purdue, através desse convênio queteve a duração de 14 anos (de 1959 a 1973).

Outro ativo personagem desta história lem-bra e fala com carinho sobre o trabalho de umdos membros desse grupo de americanos, o pro-fessor Noller e a esposa Marylin: “A vinda delesfoi muito importante, porque representou a in-trodução da pós-graduação no estilo americanono Brasil”, relata José Alencar Carneiro Viana,professor de Nutrição Animal, por 44 anos, naEscola de Veterinária da UFMG. Na época, elefoi um dos ocupantes do cargo de secretário deEstado de Agricultura de Minas Gerais, suce-dendo a Roberto Resende. O governador eraMagalhães Pinto e a Universidade pertencia aoestado, vinculada diretamente à Secretaria deAgricultura.

MUDANÇA REVOLUCIONÁRIA – Hoje, aos86 anos de idade, o professor Carneiro Vianaainda se lembra das dificuldades da época. “Aproposição do estilo americano nos cursos depós-graduação, em vez do europeu, foi terrível,

E

Um pouco dahistória dos cursosde pós-graduação

no Brasil

O professor Edson Potsch Magalhães foireitor da UFV, na época dos primeirospós-graduados no sistema de créditosno Brasil

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Professor Carneiro Viana secretário deEstado da Agricultura, na época daimplantação da pós-graduação na UFV

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Quando do XII Conird, realizado em Uberlândia no anode 2002, o professor CARL NOLLER foi consultado sobresua disposição em participar dele. Pretendia-se ter esse ci-entista no seminário sobre Produção Intensiva de Pecuáriade Corte e de Leite em Pastagens Irrigadas, em meio aogrupo de empreendedores e pesquisadores que vêm de-senvolvendo e ampliando projetos de irrigação, em áreasde toda ordem de tamanho, com diversas forrageiras enas mais diferentes partes do Brasil. Seria um debatedorfazendo sua avaliação sobre esse agronegócio, que temna ciência da agricultura irrigada o desafio do domíniodos conhecimentos das indissociáveis relações solo-água-planta e o processo digestivo dos ruminantes.

Há um quarto de século, em 1958, esse silent leader,como o classifica o professor Carneiro Viana, chegava aoBrasil para compor o grupo que deu início à implantaçãoda pós-graduação. Sua missão era a de fazer florescer omodelo de créditos, como nos Estados Unidos, justamen-te em um berço já preparado pela visão do presidente mi-neiro, Arthur Bernardes, quando convocou o professorPeter Henry Holfs, da Universidade da Flórida, para orga-nizar e dirigir a Escola Superior de Agricultura e Veteriná-ria (Esav), em Viçosa. Nessa primeira estada no Brasil, quedurou dois anos, o professor Noller palmilhou as princi-pais áreas de pecuária e centros de estudos do país e rea-lizou quatro seminários sobre pastagens e nutrição de ru-minantes, em parceria com os professores Joaquim Cam-pos, da Universidade Federal de Viçosa (UFV, na épocaUremg), Paravicini Torres, da Esalq/USP, e Carneiro Viana,da Escola de Veterinária da UFMG. Registrou o estado-da-arte da nutrição dos bovinos àquela época e mostrou atodos a importância da estruturação da pós-graduação,para fazer frente às necessidades da pesquisa, do ensino eda assistência técnica.

Em seus retornos ao Brasil, ao longo desse um quartode século, diante dessa modalidade de exploração da pe-cuária bovina, que se tem mostrado interessante em di-versos sistemas de irrigação, o professor Noller, como amaioria dos brasileiros, seria naturalmente provocado aquestionar e debater o assunto com intensidade. Teria quedebater, perante exemplos de empreendimentos que já lo-gravam sucesso por vários anos, com detalhados acompa-nhamentos técnicos e depoimentos de produtores, inclu-sive atraindo investidores estrangeiros para o Brasil. Comoexemplos, estiveram naquele seminário de Uberlândia, alémde produtores brasileiros, experientes e grandes produto-res de leite e carne da Nova Zelândia e dos Estados Uni-dos, hoje com seus negócios no oeste da Bahia.

A nutrição de ruminantes tem, na dinâmica do proces-so de fermentação no rúmen, um fulcro a desafiar perma-nentemente os profissionais dessa área. O professor Noller,pela sua capacidade de ver e interagir imediatamente como ambiente de trabalho do mundo tropical, teve a sensibi-lidade para perceber as necessidades de aprofundar co-nhecimentos em como agregar valor à captação da ener-gia solar. A ciência de quebrar longas cadeias de carbono

da composição de forragens, fazendo da microbiologia eda bioquímica do rúmen ferramentas para transformar agrande massa vegetal, não consumida pelo homem, emuma nutrição equilibrada para os animais, é um grande ne-gócio, pois resulta em produtos de alto valor biológico paraa nutrição humana, com saudáveis reflexos no abastecimen-to interno ou na geração de divisas com exportações. Fazê-lo girar rapidamente com o uso da irrigação está sendo umaatração para muitos empreendedores e profissionais da Zoo-tecnia. Esse é um princípio que faz com que o pesquisadorque se debruça sobre a complexidade desse sistema nutriti-vo, tenha que tirar dele os maiores benefícios econômicos.Assim, se o professor Noller não tivesse tido restrições desaúde, teria vindo mais essa vez ao Brasil, enriquecido o Se-minário com suas colocações, sempre pertinentes, e traba-lhado na decodificação das experiências nessas indissociáveisrelações entre solo-água-planta e o processo digestivo dosruminantes. Isto faz a ciência da irrigação emaranhar-se nessecomplexo e desafiante mundo e apresentar muitos temaspara estudantes da pós-graduação, como deixou inspiradonaquele seminário do XII Conird.

Além de ter trabalhado na implantação do sistema dapós-graduação no Brasil, o professor Noller criou raízes econquistou muitos admiradores, seguidores e amigos. De-dicou-se a formar muitos deles no mestrado, doutorado epós-doutorado, tendo-os nas mais diversas partes do mun-do, mas, certamente, uma plêiade deles em vários centrosde ensino e pesquisa do Brasil, onde já fizeram multiplicar“netos” e “bisnetos”. A essência da pós-graduação estánessa capacidade de renovar e multiplicar recursos huma-nos, treiná-los de forma ordenada e engajá-los em traba-lhos que atendam a programas bem formulados, fomen-tando um ambiente rico em debates e inovações. Assim,nada mais justo que ter, no exemplo desse baluarte, umaintrodução para abrir o espaço de registros desse pilar desustentação do desenvolvimento científico e tecnológico,que é a pós-graduação, inserindo-se essas memórias no seioda ABID.

Inspirados, nesse fato e no quanto a ABID vivencia e seenriquece no ambiente científico e tecnológico da pós-gra-duação, entendeu-se oportuno esse registro, buscando odepoimento de alguns importantes atores daquela época,juntamente com profissionais da ativa. Esse acervo é umahomenagem aos precursores desse fundamental aconteci-mento para respaldar o desenvolvimento do Brasil. O regis-tro não se encerra com esses depoimentos, mas, abre maisespaços para o enriquecimento desse fantástico trabalho,juntando-se cada vez mais forças para difundi-lo, aprimorá-lo e engrandecê-lo. Na agricultura irrigada, onde a drena-gem e a engenharia da irrigação são o epicentro paraimpulsioná-la, não pode prescindir do registro de históriastão relevantes, como essa da pós-graduação no Brasil.

Quem é esselíder silenciosoQuem é esselíder silencioso

4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 83

O casal Noller – pioneiros na implantação da pós-graduação no Brasil

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provocou a oposição de muitos, apesar de tersido uma mudança boa para a área zootécnica”,considera ele.

Mesmo ponderando que a pós-graduação noBrasil ainda deixa muito a desejar, CarneiroViana considera a sua implantação uma verda-deira revolução. “Minha paixão ainda é o triân-gulo americano: extensão associada ao ensino eà pesquisa. Viçosa não conseguiu reproduzir isso,pois a pesquisa e a extensão não são dirigidaspela Universidade. Eles formam um todo, masum todo que não é homogêneo”, queixa-se ele.Admirador e amigo de Carl Noller, ele lamentaque nos últimos anos, por questões de saúde, nãotenha vindo ao Brasil, como fazia habitualmen-te até 2002.

O professor de Engenharia Hidráulica,Alberto Daker, 85 anos, com pós-graduado naUniversidade de Michigan/EUA, com larga ba-gagem como funcionário da OEA, atuado emalguns países da América do Sul e trabalhado

no Profir e no Provárzeas e ter sido coordena-dor técnico do Projeto Jaíba, enaltece o desen-volvimento da pós-graduação e reconhece o al-cance da atuação do grupo de professores ame-ricanos. Na época, conviveu com o professorNoller e viu florescer um projeto de incentivopara melhoria das universidades brasileiras.“Eles foram os responsáveis pela estruturaçãoda parte administrativa, pelo treinamento deprofessores em cursos de pós-graduação fora doBrasil e obtiveram bolsas de estudo no exterior.A Universidade de Purdue recebeu e apoiou aida, para outras universidades americanas, deprofessores de Viçosa, preparados para desen-volver a pós-graduação”, recorda-se ele.

MASSA CRÍTICA IMPORTANTEPARA O DESENVOLVIMENTOECONÔMICO-SOCIAL

“O conhecimento tecnológico transformadoem inovação é o mais importante fator de de-senvolvimento econômico-social dos povos, poisgera as vantagens que fazem as empresas vitori-osas na competição por mercados.” Esta afirma-ção é feita na abertura do artigo “O progressodas ciências agrárias no Brasil”, dos pesquisa-dores Eliseu Alves e Elísio Contini, da Embrapa.Nesse artigo, eles discorrem sobre o desenvolvi-mento da área científica brasileira. Para essespesquisadores, dois indicadores são utilizadospara medir esse

Veja mostrou o “bomexemplo na roça” em 1995

“Quando me convidaram para vir aqui, eu não fazia a menor idéiaem que parte do globo terrestre ficava Viçosa”, contou CARL NOLLER,integrante da turma de professores americanos, que veio para o Bra-sil em 1958 e foi a responsável pela criação do primeiro curso depós-graduação do Brasil, em entrevista à revista Veja. Em 1995, ele jáera professor emérito aposentado da Universidade de Purdue, de In-

diana.A Veja mostrou na matéria “Bom exemplo na roça”, publicada em cinco páginas, na edição de número 1.375,

de 29/03/1995, de autoria do jornalista Laurentino Gomes, os resultados obtidos pela Universidade Federal deViçosa no ensino de Ciências Agrárias. Relata quando Noller desceu no aeroporto da cidade vizinha de Ubá, coma mulher e dois filhos pequenos, e teve de enfrentar de jipe a estrada de terra para chegar à universidade. “Eraimpressionante. Pairava no ar uma nuvem de poeira avermelhada o tempo todo”, contou Noller. Purdue tornou-se famosa por ter formado 17 astronautas que a Nasa colocou em órbita até 1995, entre eles, Neil Armstrong, oprimeiro homem a pisar na lua em 1969. Inspirada nos land college americanos (aqui, o repórter referiu-se aoland grand college system, idéia filosófica voltada para democratização do ensino, que buscava atender principal-mente filhos de operários), escolas espalhadas pelo interior dos EUA, no final do século XIX, com o objetivo deestimular vocações específicas de cada região, em especial a agricultura e a pecuária, a UFV nasceu em 1927, numlance de paroquialismo da República Velha. Arthur Bernardes, presidente do Estado, era nascido em Viçosa edecidiu premiar sua cidade natal com uma escola de ensino superior. E, pediu ao governo americano que lheindicasse um especialista para ajudá-lo nessa tarefa. O escolhido foi o cientista Peter Henry Rolfs, diretor da Escolade Agricultura da Universidade da Flórida, entre 1915 e 1920. Ao chegar no Brasil, Rolfs decidiu montar um escolatendo como base o tripé ensino-pesquisa-extensão, um modelo diferente do que até então existia no país.

Na reprodução fotográficada revista Veja, oprofessor Noller em frentea um dos prédios daUniversidade Federal deViçosa, em 1995

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 85

Aos 89 anos, passos ainda firmes e decididos,o engenheiro agrônomo NORMAN BORLAUG,prêmio Nobel da Paz em 1970, cumpriu vastaagenda no Brasil. Primeiro com a Associação doPlantio Direto no Cerrado (APDC) e a FundaçãoAgrisus pela Agricultura Sustentável visitando aregião dos cerrados e o desenvolvimento do siste-ma Plantio Direto, proferindo palestra na EmbrapaCerrados. Em Piracicaba, SP, esteve nas comemo-rações dos 70 anos da Universidade de São Pauloe dos 40 anos de implantação dos cursos de pós-graduação na Escola Superior de Agronomia Luizde Queiroz. Desde sua implantação, a Esalq já ou-torgou 5.148 títulos, sendo 3.723 de mestre e1.425 de doutor. A implantação dos cursos de pós-graduação stricto sensu na Esalq aconteceu em1964 e decorreu da necessidade de aperfeiçoamen-to do seu corpo docente e do desenvolvimento deseus programas de pesquisa. Essa iniciativa, alémde representar uma antecipação aos dispositivoslegais emanados do Conselho Federal de Educa-ção em 1965 e 1969, foi também pioneira noâmbito da Universidade de São Paulo, onde a im-plantação formal da pós-graduação ocorreu em1970.

Em suas apresentações, Borlaug enfatizou opapel da agricultura irrigada de várias formas. Aomesmo tempo em que mostrou o impacto da in-trodução das novas variedades de trigo e arroz,quando de 1961 a 2000, aumentou em mais detrês vezes a produção desses cereais nos paísesasiáticos em desenvolvimento, evitando-se a mor-te por fome de um contingente estimado de ummilhão de pessoas, comentou: “Se quisermos quenossos filhos e netos vivam em um mundo mais

volvimento: primeiro, a evolução dos cursosde nível superior, graduação e pós-graduação e,segundo, a capacidade dos institutos de ciênciaaplicada.

Também, eles afirmam que as ciências agrá-rias tiveram um crescimento muito rápido noBrasil. Na fase de graduação, em 1950, haviaapenas 17 cursos na área, sendo 11 em Agrono-mia e seis em Medicina Veterinária, com umnúmero total de vagas de 2.100 e forte concen-tração na região Sudeste. Em 1998, esse núme-ro havia subido para 186, com 12.537 vagas,mantidas por 91 instituições de ensino superior,sendo 32 federais, 23 estaduais/municipais, 28particulares e oito regionais/comunitárias.

Já nos cursos de pós-graduação, ocorreu oavanço considerado mais espetacular. O

tranqüilo, temos que acabar com afome, a pobreza e a miséria”.

No mesmo quadro, a área irri-gada com esses dois cereais saltoude 87 milhões de ha em 1961 para175 milhões de ha em 2000. Assim,infere-se sobre o papel cada vezmais relevante do desenvolvimen-to da irrigação, drenagem e o ma-nejo sustentável das bacias hidro-gráficas, principalmente quando oDr. Borlaug mostra que 57% da pro-dução mundial de cereais já está sobirrigação e que 85% dos futurosacréscimos de produções virão deáreas que já estão sob cultivos. As projeções até2030 são de ampliar em mais 50 milhões os 275milhões de ha que hoje estão sob irrigação nomundo, com os países em desenvolvimento sen-do os principais atores dessa façanha.

Ao abordar o desenvolvimento do sistemaPlantio Direto, esse laureado cientista enfatizouque o mesmo controla a erosão e melhora a con-servação da água, diminui as operações mecâni-cas e a queima de combustíveis fósseis, facilita arotação de culturas e as operações, podendo re-duzir os requerimentos de água para irrigação de25 a 30%, quando há uma boa cobertura de pa-lha. Outro benefício é o de poder diminuir a quan-tidade de fertilizantes, principalmente com o me-lhor condicionamento físico e químico dos solos,incluindo-se aí a manutenção e mesmo o aumen-to dos teores de matéria orgânica. Diante esse qua-dro, o Cerrado, como uma das únicas fronteirasdo mundo ainda com áreas disponíveis para se-rem incorporadas, provocam especial entusiasmonesse cientista, considerado o pai da RevoluçãoVerde.

mestrado, que surgiu na década de 60 nas áreasde Economia Agrícola e Fitotecnia, já era emnúmero de 156 em 1998, dos quais 91 na regiãoSudeste, 28 no Sul e 25 no Nordeste. Os cursosde doutorado evoluíram mais lentamente, poisexigem universidades fortes e de sólida tradiçãocientífica. Eles começaram a surgir, em 1968, naárea de alimentos e, em 1998, representavam 54cursos.

Para esses dois pesquisadores, os quatrograndes desafios das ciências agrárias no Brasilsão: formar profissionais capazes de dar ao paísvantagens competitivas no mercado internacio-nal; superar o enorme fosso de conhecimentoexistente em relação aos países avançados; en-tender para solucionar as razões da pobreza daagricultura nacional e seu futuro e fazer crescera produção em condições de sustentabilidade.

O prêmio Nobel da Paz NormanBorlaug defende, em Brasília,o crescimento da produção dealimentos para a manutenção dapaz mundial

Alimento suficiente só com tecnologiaAlimento suficiente só com tecnologia

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Para o pesquisador e coor-denador do Labex da Embra-pa na França, Elísio Contini, umexemplo da operacionalizaçãoda estratégia do Brasil dosanos 60/70 de buscar conheci-mentos em outros países,como os Estados Unidos e aEuropa, foram os convêniosdas universidades brasileirascom as americanas, nas áreasde Ciências Agrárias. “O boomdo agronegócio brasileiro nãoé fruto do acaso, mas tem mui-to da contribuição dos conhe-cimentos adquiridos nos Esta-dos Unidos e em outros países.Um exemplo ilustrativo é asoja, cujo complexo lidera asexportações brasileiras. Suaprodução deverá estar próximaaos 60 milhões de toneladas,neste ano de 2004. Seu melho-ramento genético e sua adap-tação aos trópicos são tecno-logia brasileira, mas os funda-mentos científicos emetodológicos foram adquiri-dos no exterior”, afirma o pes-quisador.

Para Contini, dois princípi-os da economia do conhecimento são fundamen-tais para o processo de desenvolvimento de umpaís: a) o conhecimento aplicado é o insumo fun-damental para uma produção efetiva e para a com-petitividade; b) nenhum país pode ser auto-sufici-ente na produção destes conhecimentos, aindaque deva adquirir alta capacidade para adaptá-loe transformá-lo em bens e serviços para a socie-dade.

Segundo Contini, mesmo que o Brasil tenhafeito algum progresso na geração de conhecimen-tos, quase 90% destes são ainda produzidos emtrês grandes pólos: Estados Unidos, Europa e Sulda Ásia. A América Latina fez algum progresso,nos últimos anos, mas não produziu mais que 2,2%dos papers científicos do mundo.

“Se o Brasil quer ser uma nação desenvolvida,com bem-estar para seu povo, tem a obrigação

ainda de continuar a adquirir conhecimentos nospaíses que os desenvolvem. Continuam importan-tes o treinamento no exterior, de longa e curtaduração, viagens técnicas e consultorias. Mas háoutras formas de cooperação que o Brasil podeexplorar”, garante o coordenador do Labex Fran-ça.

Cursos de pós-graduação virarampré-requisito para quem quer ensinar

“Quando saí para fazer doutorado nos EUA,em 1974, dizíamos que existia meia dúzia de pes-soas que conversavam sobre irrigação e drenagemno Brasil. Fiquei surpreso ao retornar em 1977 ever a multiplicação do assunto através de umworkshop no Sul de Minas”, afirma o professorPaulo Afonso Ferreira, aposentado desde 1994, naUFV, mas ainda na ativa, ministrando aulas sobresalinidade, manejo de água/solo/planta e orientan-do teses de pós-graduação. Para ele, o país dispõehoje de uma massa crítica relativamente interes-sante sobre o assunto, mas falta emprego paraesses profissionais.

“Hoje, o doutorado é pré-requisito para aque-les que querem dar aula em cursos superiores”,afirma o professor Antônio Alves Soares, o primeiroengenheiro agrícola a completar o curso de dou-torado em irrigação, em 1984, na Utah StateUniversity, que contava com um centro internaci-onal de treinamento na área.

O professor Daker, ao salientar a dependênciaque a agronomia tem das condições edafoclimáti-cas e do comportamento de diferentes culturas,considera muito importante o desenvolvimento detecnologia própria, de adaptações e estudos regi-onais, onde o debate na pós-graduação pode en-riquecer-se muito.

Maior proximidade da pesquisacom as empresas

O professor Paulo Afonso considera que, parafalar em desenvolvimento tecnológico em irriga-ção e drenagem, é necessário abordar dois aspec-tos: primeiro, de engenharia de irrigação, que dizrespeito ao desenvolvimento; e, segundo, de ci-ência da irrigação, exatamente a interação solo/água/planta. A engenharia de irrigação diz respei-to ao desenvolvimento de equipamentos de irri-gação e é uma área que tem mostrado avançoscom emissores de água, tanto em nível degotejadores, irrigação localizada emicroaspersores.

“As empresas têm procurado as universidadese dado atenção aos dados experimentais, buscan-

Brasil entrou nocampo da geração deconhecimentos

Pesquisador e coordenadordo Labex da Embrapa naFrança, Elísio Contini

Professor Antônio AlvesSoares, primeiro engenheiroagrícola a completar o cursode doutorado em irrigação noexterior

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do melhorar os equipamentos e implementos deirrigação colocados no mercado. Em relação aoque tínhamos no mercado há 15 anos, temos hojeum produto nacional de melhor qualidade”, afir-ma o professor.

Ele também destaca os avanços obtidos na áreade manejo da irrigação. “Hoje, já se tem conheci-mento em relação a um grande número de cultu-ras, de acordo com a quantidade de água e tipode solo, em conseqüência da pesquisa básica de-senvolvida dentro das universidades e da mão-de-obra preparada nos cursos de pós-graduação”, des-taca ele.

Mesmo assim, o professor Paulo Afonso consi-dera que a pesquisa e a indústria ainda estão afas-tadas uma da outra, diferentes de outros lugarescomo nos EUA, onde, muitas vezes, o desenvolvi-mento tecnológico é bancado 100% por empre-sas interessadas. “No Brasil enfrentamos um pro-blema de credibilidade”, afirma ele, defendendoo desenvolvimento de um esforço maior por parteda comunidade científica, no sentido de buscaruma proximidade entre os dois setores, trabalhan-do-se esse assunto junto à pós-graduação.

A pós-graduação, odesenvolvimento do agronegóciocalcado na agricultura irrigada e asoportunidades para os jovensprofissionais

No caso da agricultura irrigada, a universidadetem hoje pesquisas e estudos de recursos hídricosem várias microbacias, além de estudos de água esolo, de engenharia e de manejo, onde a pós-gradução têm uma forte linha de atuação, comen-tou o professor Everardo Mantovani no workshopsobre sistemas de irrigação com emissores tipoLepa, realizado em Uberaba, em 16/02/2004.

“Manejo e otimização do uso da água estãoenquadrados em linhas atuais de pesquisa doagronegócio, no desenvolvimento de tecnologiasvoltadas para a redução de custos do produtor”,afirma Alexandre Silva Mudrick, estudante demestrado em Engenharia Agrícola da UFV, que in-tegra o Grupo de Estudos e Soluções para Agri-cultura Irrigada do DEA/UFV, que envolve profes-sores, bolsistas, estudantes de pós-graduação.

“Com o desenvolvimento de pesquisas na áreade cafeicultura irrigada, atende-se às exigênciasdo curso e às necessidades do produtor. Se o pro-dutor ganha, quem lucra é a sociedade”, conside-ra Adilson Rodrigues Soares, fazendo o doutora-do com linha de pesquisa voltada para a cafeicul-tura irrigada.

Mesmo considerando que ainda falta de umaformação mais voltada para o lado empresarial,

envolvendo áreas como gestão de pessoas e derecursos econômicos, os mestrandos Marcelo RossiVicente e Guilherme Ferreira e Souza consideramque as empresas têm buscado cada vez mais pro-fissionais com formação de pós-graduação.

Durante a realização do XIII Conird, o executi-vo Arnaldo Eijisink, diretor de Agronegócios doCarrefour Brasil salientou que pólos como os dePetrolina-Juazeiro carecem de profissionais de altaqualificação, com capacidade de solucionar pro-blemas na linha de frente.

Bolsas de estudo e financiamentoDesde a criação dos primeiros cursos de pós-

graduação no país na década de 60, o Brasil con-seguiu capacitar cientítica e tecnogicamente ape-nas a décima parte de seus recursos humanos comcurso superior. Qualitativamente, no entanto, eleestá entre os 20 países do mundo que conseguemproduzir novos conhecimentos. Para a Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-perior do Ministério da Educação (Capes/MEC), res-ponsável pela fiscalização dos 2.300 cursos demestrado e doutorado existentes nas universida-des e escolas de ensino superior do país, o princi-pal desafio é o de preparar o profissional para en-frentar a competitividade ditada pela globalizaçãoda economia.

A criação do CNPq e da Capes, em 1951, re-presentou a concretização de um velho sonho dacomunidade científica brasileira, acalentado des-de 1919: ver institucionalizadas a atividade de pes-quisa e a capacitação docente. A contribuição des-tas agências foi positiva desde o início, pois de-ram origem a uma política bem-sucedida de apoioà pesquisa e, principalmente, de formação de re-cursos humanos. Em 1962, foi criada a Fapesp, queinstitucionalizou o preceito de destinar parte da ar-recadação do Estado à pesquisa científica. Na dé-cada seguinte, em 1975, houve a aprovação do Pla-no Nacional de Pós-Graduação (PNPG), que previaa expansão dessa modalidade de ensino, em todoo país.

Atualmente, existem entidades ligadas aos go-vernos federal e estaduais que dão apoio para cur-sos de pós-graduação e projetos de pesquisa, atra-vés de bolsas de estudos e financiamentos, como:

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior (Capes), ligada ao Ministé-rio da Educação (http://www.capes.gov.br);

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministé-rio de Ciência e Tecnologia (htpp://www.cnpq.br);

Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), comfinanciamento de estudos pelo governo fede-ral (http://www.finep.gov.br);

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado deSão Paulo (Fapesp), ligada à área estadual deciência e tecnologia (htpp://www.fapesp.br);

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de

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ara o professor Áureo Oliveira, da UFBA,o XIII Congresso Brasileiro de Irrigação

eDrenagem (Conird), realizado em outu-

bro de 2003, na cidade de Juazeiro, Bahia, foium grande sucesso. “A Associação Brasileira deIrriagação e Drenagem (ABID) e a comissãoorganizadora estão de parabéns”, segundo ele.

Na oportunidade, todos os participantes pu-deram constatar, de perto, os significativos pro-gressos realizados pelo estado da Bahia, na am-pliação da área irrigada, com geração de empre-go e renda. Verificaram, também, que há aindamuito por fazer. De um potencial de 1,6 milhãode hectares irrigáveis, apenas 300 mil hectaresestão hoje sob irrigação em várias regiões doEstado, com destaque para os pólos de Juazeiro,Ponto Novo, Bom Jesus da Lapa, Itaberaba,Guanambi, Barreiras, entre outros. Irrigando,principalmente, pomares de frutas tropicais, aBahia ajuda o Brasil nos superávits da balançacomercial, com produtos de alta qualidade ecompetitividade. A preocupação com o meioambiente, com foco na revitalização hídrica dosmananciais superficiais, esteve também na pau-ta das discussões, como alerta para as comple-xas interações entre os múltiplos usuários deágua. Neste contexto, o panorama atual sinalizapara um aumento da demanda hídrica em todosos setores, especialmente o de agricultura irri-gada, o que poderá comprometer o abastecimen-to e a qualidade da água, se ações planejadasem todas as esferas de governo e da sociedadecivil não forem devidamente elaboradas econduzidas, mesmo para um país que detém 12%das reservas de água doce do mundo.

Esta é uma questão interdisciplinar e de inte-resse global e, nesse sentido, professores do De-partamento de Engenharia Agrícola da Escola deAgronomia da Universidade Federal da Bahia(UFBA) estiveram presentes, participando dasdiscussões e apresentando resultados de suas pes-

quisas.A Escola de Agronomia de Cruz das Almas

é a mais antiga instituição de ensino agrícola doBrasil e, provavelmente, da América do Sul. Suaorigem remonta ao Imperial Instituto Baiano deAgricultura, fundado em 1859, por D. Pedro II,na cidade de São Francisco do Conde. Depoisde funcionar na capital do Estado, a Escola foitransferida para Cruz das Almas, em 1943, ten-do completado, em 2003, 60 anos deinteriorização. Ao longo dos seus 144 anos, aadministração da Escola transitou entre os go-vernos estadual e federal, vindo a ser definitiva-mente incorporada à Universidade Federal daBahia, em 1967, por decreto presidencial. A co-munidade acadêmica consta de, aproximada-mente, 750 pessoas, entre funcionários, profes-sores e estudantes, estes em número de 550.

Além do curso de graduação em EngenhariaAgronômica, a Escola de Agronomia dispõe deum Programa de Pós-Graduação (PG) em Ci-ências Agrárias, atualmente com cinco áreas deconcentração: Fitotecnia, Produção Animal, De-senvolvimento Rural, Ciência do Solo e Enge-nharia de Água e Solo. Todos os professoresorientadores possuem título de doutor. A ins-crição para qualquer uma das áreas é anual esempre durante o mês de outubro. O Programade PG possui sólida parceria com a EmbrapaMandioca e Fruticultura, além de outras institui-ções estaduais e federais. Na área de Engenhariade Água e Solo, conta atualmente com sete alu-nos, regularmente matriculados.

Área de Engenharia de Água e SoloFILOSOFIA

Em sintonia com as demandas locais, regio-nais e nacionais, a área de concentração em En-genharia de Água e Solo tem como objetivo pro-porcionar ao profissional a atualização dos seusconhecimentos, através de estudos avançados do

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Inserção da Escolade Agronomia da

UFBA no Contextodo Uso Racional da

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A mais antiga do Brasil e, provavelmente, da América do Sul

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sistema solo-água-planta-atmosfera, desde umasimples parcela irrigada até as complexas inte-rações que envolvem o uso da água e do solo embacias hidrográficas. Para melhor compreensãoe intervenção neste sistema, são indispensáveisas ferramentas oferecidas pela engenharia, quepodem ser empregadas na elaboração, avaliação,estudos de viabilidade, monitoramento, plane-jamento e conservação de sistemas produtivossustentáveis em áreas agrícolas e ecossistemasnaturais.

CORPO DOCENTE EFETIVODepartamento de Engenharia Agrícola da Escolade Agronomia da UFBAAureo S. de Oliveira - UFBAPh.D., Universidade do Arizona, [email protected] Adriano de C. Pereira - UFBADoutor, Esalq, São [email protected] Pedro da Silva Paz - UFBADoutor, Esalq, São [email protected]

COLABORADORESPesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultu-raAntônio Maurício Coelho FilhoDoutor, Esalq, São [email protected]ênio Ferreira CoelhoPh.D., Universidade Estadual de Utah, [email protected] Teixeira de Castro NettoPh.D., Universidade do Arizona, [email protected]ávio de AlmeidaDoutor, Universidade de Valencia, [email protected] da Silva CardosoDoutora, Esalq, São [email protected]

A formação eclética, em nível de doutorado,de professores e colaboradores, em universida-des americanas, brasileiras e espanholas, temdado um significativo salto em qualidade noensino, pesquisa e extensão nas áreas de irriga-ção, drenagem, produção vegetal, manejo desolo e água, na Escola de Agronomia da UFBA.A vivência em diferentes centros de excelênciafora do Brasil traz para a realidade brasileirauma visão diferenciada de trabalho, em que seprocura por um lado adaptar as experiências quederam certo naqueles países e, por outro, de-senvolver as tecnologias que o Brasil necessitapara o incremento da produção agrícola. Os efei-tos positivos são percebidos igualmente no en-

sino e na pesquisa, tanto na graduação, quantona pós-graduação, através de indicadores comonúmero de teses defendidas e em andamento,número e qualidade dos projetos aprovados porvárias agências de fomento federais e estaduais,participação de estudantes de graduação, quedesde cedo trabalham seu perfil acadêmico, vi-sando dar prosseguimento aos estudos após gra-duarem-se, e participação de professores e es-tudantes em encontros científicos nacionais e in-ternacionais. Um corpo docente qualificado éfundamental para o fortalecimento da pós-gra-duação, não só através da captação de recursospara melhoria de infra-estrutura, mas tambémcomo atrativo para alunos de grande potencial,capazes de conduzir com eficiência a pesquisacientífica e atuar junto ao orientador na produ-ção de trabalhos científicos, na área de especia-lização.

O investimento em qualificação profissionaltem também o efeito de eliminar as diferençasem termos de competência instalada entre asdiversas regiões do país, pois, historicamente, oSul e o Sudeste do Brasil têm sido beneficiadoscom a maior parte dos recursos destinados aoensino e à pesquisa tecnológica. Ainda que estasituação, de certa forma, persista, já observamosatualmente a emergência de grupos de trabalhoem universidades e instituições de pesquisa, porexemplo, do Nordeste, e que vêm dando signifi-cativas contribuições ao desenvolvimentotecnológico da mencionada região, especialmen-te para o setor agropecuário. Neste contexto, osprofissionais de Engenharia de Água e Solo en-contram amplo campo de ação, tendo em vista aimportância da agricultura irrigada para o de-senvolvimento do semi-árido nordestino, já de-vidamente comprovada.

DISSERTAÇÕES DEFENDIDASInfluência da água salino-sódica na distri-buição dos sais na zona radicular e na pro-dutividade do cafeeiro irrigado na regiãode Brejões - Bahia. (2002)ORIENTADO: João Frederico SilveiraORIENTADOR: Dr. Francisco Adriano de C. Perei-raCOMENTÁRIOS: A região de Brejões é um dos pó-los de produção de café na Bahia. No entanto, ouso da irrigação é limitado em períodos secos,devido à qualidade da água disponível. O traba-lho objetivou avaliar os efeitos da água salino-sódica no desenvolvimento radicular e produçãodo cafeeiro.

Avaliação de métodos de estimativa da eva-potranspiração de referência em Cruz dasAlmas, a partir de dados obtidos por esta-

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ção meteorológica automática. (2002)ORIENTADO: Carlos Eduardo SantanaORIENTADOR: Dr. Francisco Adriano de C. Perei-raCOMENTÁRIOS: Procedeu-se a uma análise com-parativa de dados meteorológicos oriundos deestações manuais e automáticas, na estimativada evapotranspiração de referência. Tais estu-dos são significativos, na medida em que muitasestações manuais estão sendo substituídas porautomáticas e é preciso verificar os efeitos des-ta mudança na continuidade dos dados coletadose variáveis estimadas, a exemplo daevapotranspiração.

Uso e manejo da água na produção demanga nas condições subúmidas do meio-norte do Brasil. (2001)ORIENTADO: Francisco das Chagas OliveiraORIENTADOR: Dr. Eugênio Ferreira CoelhoCOMENTÁRIOS: A produção de manga irrigadano Piauí é uma atividade que requer grandes in-vestimentos. Sendo a água um dos componen-tes mais importantes no custo final do produto,este trabalho objetivou estudar alternativas deseu manejo, visando melhoria da qualidade e daquantidade de frutos, sem comprometimentodos mananciais hídricos da região.

DISSERTAÇÕES EM ANDAMENTOEvapotranspiração e rendimento de culti-vos solteiro e consorciado de milho e amen-doim sob diferentes lâminas de irrigação.(Previsão 03/2004)ORIENTADO: Leonardo da Costa Lopes, (75)621.5540, [email protected]: Dr. Aureo S. de OliveiraCOMENTÁRIOS: Milho e amendoim são culturasde grande importância regional, comumenteproduzidas sob regime dependente de chuva. Afalta do produto nas épocas mais secas motivoueste estudo em plantios solteiro e consorciado,como o uso de um sistema de irrigação por as-persão em linha (line source).

Avaliação do índice de estresse hídrico paraas culturas do milho e amendoim em culti-vos solteiro e consorciado. (03/2005)ORIENTADO: Ricardo Martins Santos, (75)621.5540 e 9965-5942, [email protected]: Dr. Aureo S. de OliveiraCOMENTÁRIOS: Este trabalho visa avaliar alter-nativas de manejo da irrigação do milho e amen-doim, na época seca no Recôncavo Baiano, emcultivos solteiro e consorciado.

Efeitos do uso da água salino-sódica notempo sobre a distribuição dos sais na zonaradicular e na produtividade do cafeeiro

irrigado. (02/2004)ORIENTADA: Célia Maria de F. dos Santos, (75)621.5540, [email protected]: Dr. Francisco Adriano de C. Perei-raCOMENTÁRIOS: Este trabalho dá continuidadeao do uso de água salino-sódica para a produ-ção de café irrigado na região de Brejões. Trata-se de uma pesquisa a longo prazo, na qual osefeitos de acúmulo de sais na zona radicular sãoavaliados.

Distribuição e uniformidade de aplicaçãode fósforo em irrigação localizada. (03/2004)ORIENTADO: Elves de Almeida Souza, (75)621.5540, [email protected]: Dr. Vital Pedro da S. PazCOMENTÁRIOS: Considerando as limitações en-volvidas na aplicação de fertilizantes fosfatadosvia água de irrigação, este trabalho analisa a dis-tribuição do referido nutriente em solo coesocultivado com mamão. Trabalho realizado nasdependências da Embrapa Mandioca e Fruticul-tura.

Parcelamento de potássio e sua distribui-ção no solo, sob irrigação localizada, nacultura do mamão. (04/2004)ORIENTADO: Tibério Santos Martins da Silva,(75) 621.5540, tibé[email protected]: Dr. Vital Pedro da S. PazCOMENTÁRIOS: Este trabalho analisa alternati-vas de aplicação de fertilizantes potássicos, tan-to em termos de dosagem quanto de época deaplicação, para produção de mamão. A Bahia eo Espírito Santo são os maiores produtores na-cionais de mamão. Trabalho desenvolvido nasdependências da Embrapa Mandioca e Fruticul-tura.

Avaliação da qualidade da água para irri-gação na Bacia do Rio Itapicuru. (03/2005)ORIENTADA: Greice Ximena Santos Oliveira,(75) 621.5540, [email protected]: Dr. Francisco Adriano de C. Perei-raCOMENTÁRIOS: Este trabalho vem ao encontrodos esforços empreendidos por instituições es-taduais, para elaborar planos de uso racional daágua no contexto das bacias hidrográficas dosrios baianos. Com 36 mil km2 e 10% da popula-ção baiana, a Bacia do Rio Itapicuru é uma dasmais importantes do ponto de vista econômicoe social.

Estudo da drenagem interna e parâmetroshidráulicos de solos coesos dos TabuleirosCosteiros. (03/2005)ORIENTADO: Edmilson Borges Magalhães, (75)

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6 2 1 . 5 5 4 0 ,[email protected]: Dr. Aureo S. de OliveiraCOMENTÁRIOS: Os solos dos TabuleirosCosteiros são conhecidos pelo carátercoeso do perfil e, dependendo do graude coesão, constitui impedimento à mo-vimentação de água e de nutriente, bemcomo ao desenvolvimento radicular.Este estudo objetiva analisar, com o usode uma sonda de capacitância etensímetros digitais, a dinâmica da águaneste tipo de solo.

GRUPO DE PESQUISA EM ENGENHARIADE ÁGUA E SOLO

O Grupo de Pesquisa em Engenha-ria de Água e Solo (GPEAS), sediadono Departamento de Engenharia Agrí-cola (DEA) da Escola de Agronomia daUFBA, encontra-se cadastrado na basedo CNPq, sendo constituído de profes-sores/pesquisadores da Escola de Agro-nomia da UFBA, Embrapa Mandioca eFruticultura e Universidade Federal deSergipe.

O GPEAS responde, no âmbito daPG da Escola de Agronomia, através dosprofessores Aureo S. de Oliveira, Fran-cisco Adriano de C. Oliveira e VitalPedro da S. Paz, pela área de concentra-ção em Engenharia de Água e Solo, doMestrado em Ciências Agrárias daUFBA.

Atualmente, este grupo está localiza-do numa ampla casa, com várias salas,contendo cozinha, sala de reuniões, ga-binetes, secretaria, sala de reprografia,laboratório de informática. A referidacasa foi totalmente reformada com re-cursos de projetos, constituindo-se namais moderna e eficiente infra-estrutu-ra para ensino, pesquisa e extensão exis-tente na Escola de Agronomia.

Nas dependências do DEA, oGPEAS conta ainda com sala de auladestinada à PG, bem como sala para es-tudantes de PG. Estão ainda, sob a res-ponsabilidade do GPEAS, dois labora-tórios, sendo um de Solos e Irrigação eoutro de Geoinformações para Agricul-tura.

Encontram-se associados ao GPEAS,um doutor (bolsista DCR do CNPq), seteestudantes de mestrado, três estudantesde graduação (PIBIC, Monitoria e Es-tágio Supervisionado).

Principais projetos de pesquisa comfinanciamento:• Estudo da Demanda Hídrica para

Pense nisto...

PENSE NISTO e compareçaContatos pelo e-mail:[email protected]

Na edição nº 51 da revista ITEM,mostrou-se como funciona oSistema de Suporte à DecisãoAgrícola, o Sisda, através de um

INFORME TÉCNICOPUBLICITÁRIO.Em quatro páginas, por iniciativados interessados, explicou-se oresultado de um trabalho de anosde pesquisa e como o setorprodutivo poderá obter proveitointegral de seu sistema deirrigação, com economia de água.Nessa mesma linha de mostrarseus produtos e serviços, já houveo concursoda Rain Bird (Item nº 48 e 51)

da Pivot Equipamentos deIrrigação Ltda (Item nº 51)

da Netafim do Brasil (Item nº 48)

da Carborundum Irrigação(Item nº 49)

da Polysac (Item nº52/53)

da Valmont (Item nº 54), eda Irrigaplan/NaanDan (Item nº 56/57).

O INFORME TÉCNICOPUBLICITÁRIO é uma formaque as empresas do setor deirrigação e drenagem têm paramostrar seu produto, seusserviços, explicando-os comdetalhes. Com esse instrumento,a ABID poderá ser sempre umaparceira, facilitandoentendimentos que favoreçam aspromoções de negócios.

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PEDRO LUIZ DE FREITAS2ENGENHEIRO AGRÔNOMO, PH.D. EM CIÊNCIA DO SOLO. PESQUISADOR

SÊNIOR DA EMBRAPA SOLOS (GOIÂNIA, GO – E-MAIL:[email protected]

DORACY PESSOA RAMOS3ENGENHEIRO AGRÔNOMO, DOUTOR EM CIÊNCIA DO SOLO. PROFESSOR

TITULAR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE (CAMPOS

DOS GOYTACAZES, RJ) E CHEFE-GERAL DA EMBRAPA SOLOS (RIO DE

JANEIRO, RJ) – E-MAIL: [email protected]

Água e solo, juntos com a flora e a fauna,são recursos naturais essenciais para a sustenta-bilidade do homem no planeta. A água é o com-ponente bioquímico dos seres vivos e meio devida de várias espécies vegetais e animais. O soloconstitui um fator fundamental à produção dealimentos. O Brasil possui, de acordo com aAgência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),a maior disponibilidade de água do planeta, aqual corresponde a 182 mil m3/s, embora estejaconcentrada em algumas áreas. O País possui edetém um amplo domínio sobre o conhecimen-to de manejo de solos e das técnicas de produ-ção nos trópicos. Associados, esses fatores con-cedem ao Brasil o maior potencial do mundopara a produção de alimentos.

O crescimento demográfico e o desenvolvi-mento socioeconômico são freqüentementeacompanhados de rápido aumento do uso dosrecursos naturais. Essa situação é bem pior nospaíses em desenvolvimento, nos quais a escas-sez da água tem sido intensificada e a saúde hu-mana gravemente afetada pela aceleração dacontaminação e da poluição.

O uso e o manejo inadequados dos recursosnaturais, sem o devido conhecimento das carac-terísticas pedoambientais, têm conduzido à de-gradação do solo, acelerando a erosão de suascamadas superficiais e colocando em risco apotencialidade agropecuária, com severos im-pactos sobre a qualidade de vida das populaçõese graves prejuízos para a sociedade (Quadro1). Isso tem promovido alterações significativasno ciclo hidrológico, pela diminuição na capaci-dade de infiltração da água da chuva no solo,propriedade integradora de características e pro-priedades intrínsecas do solo mais afetada pelaintervenção antrópica, pelo uso e o manejo(Roose et al., 1993; Blancaneaux et al., 1995).

Desfavorecida a infiltração, a recarga dosaqüíferos ocorre abaixo de níveis críticos, e a dis-ponibilidade de água superficial e subsuperficial

Revitalização econservação decursos d’água:

o caso doRio São Francisco1

Essa sessão da ITEM tem como objetivo divulgar informaçõessobre pro jetosNOTAS TÉCNICAS

e potencialidades sobre a agricultura irrigada, notícias de articulações permanentes em favor daorgan ização das in formações em dete rminadas á reas , enf im, abr igar assuntos de espec ia lrelevância que, se disponibilizados, podem ajudar aos leitores e provocar maior intercâmbio entre osi n t e r e s s a d o s .

(1) Apresentado no debate realizado sobre “Os impactos da revitalização e conservação de cursos d’água na agricul-tura irrigada: o caso do Rio São Francisco” realizado durante o XIII Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem(Conird), em Juazeiro (outubro de 2003).

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nos períodos de alta demanda para irrigação eoutros usos é prejudicada. Por outro lado, ou-tros problemas, resultantes das alterações no es-coamento superficial, como os altos índices deerosão, sedimentação dos cursos d’água e baixotempo de concentração dos rios de pequeno emédio porte, são verificados, implicando eminundações e destruição de obras de engenha-ria (pontes, estações de bombeamento, usinas,entre outras). Para a otimização da capacidadede infiltração do solo e da recarga de aqüíferos,é necessária a adoção de tecnologias e práticasque atendam aos princípios básicos do SistemaPlantio Direto (SPD), a partir da gestão inte-grada e sustentável dos recursos naturais(Freitas, 1994).

Para preservar e garantir o acesso das futu-ras gerações às reservas hídricas e àpotencialidade de produção de alimentos, o Bra-sil necessita urgentemente de ações governa-mentais que levem ao uso mais adequado des-ses recursos, com a recuperação de nascentes edas terras degradadas para o processo produti-vo e a despoluição dos cursos hídricos de super-fície e subsuperfície.

O caso do Rio São FranciscoO Rio São Francisco (RSF) é um dos maio-

res e mais utilizados corpos d’água do territóriobrasileiro, com marcante influência na vida daspessoas de cinco Estados. Mais de 14 milhõesde pessoas têm o rio e seus afluentes como pro-

jeto básico de vida e de sustentabilidade. Os re-cursos naturais, existentes nos mais de 640 milkm2 da sua bacia hidrográfica, são hoje respon-sáveis por grande parte da produção de frutas,grãos, fibras, açúcar e álcool, que servem de basepara a alimentação direta da população ou paraa obtenção de divisas no mercado externo. Emtermos pedoambientais, a Bacia do RSF apre-senta uma grande biodiversidadegeomorfológica, climática, edafológica,hidrológica e de cobertura vegetal (Embrapa,1976; Embrapa, 1977; MME, 1982).

Desde sua nascente na Serra da Canastra, atésua foz na divisa de Alagoas e Sergipe, o que se

QUADRO 1 –Estimativa de valoração dos impactoseconômicos anuais da erosão dos solos internos eexternos à propriedade no Brasil (Hernani et al.,2002)

Impactos econômicos devido Custos Anuaisà erosão do solo no Brasil US$ milhões R$ milhões

INTERNOS À PROPRIEDADE 2,872.8 7.182,0

Perdas equivalentes de macronutrientes 2,640.0 6.600,0

Perdas pela não adoção de sistemasconservacionistas (SPD) 232.8 582,0

EXTERNOS À PROPRIEDADE 2,158.6 5.396,5

Depreciação da terra 1,824.0 4.560,0

Tratamento de água para consumo humano 0.4 0,9

Manutenção de estradas 268.8 672,0

Reposição de reservatórios 65.4 163,6

TOTAL 5,031.4 12.578,5

Casca D’Anta, uma das primeiras quedas de água do Rio SãoFrancisco, na Serra da Canastra

Margensdo Rio SãoFranciscotingido demarromdurante aestaçãochuvosa

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verifica é um processo intensivo de desmatamen-to e degradação. Isso tem contribuído para a di-minuição das vazões de base, fundamentais paraa irrigação e produção de energia, e para o au-mento das vazões de pico, provocando enchen-tes e prejuízos às populações ribeirinhas.

Com águas de um azul intenso, verificado nasestações secas, quando, graças aos seus afluen-tes, é mantida uma vazão razoável, o rio tinge-se de um marrom intenso nas estações maisúmidas, resultado da erosão e degradação dasterras que compõem sua bacia. Mesmo com pou-co mais de 20% de sua área ocupada com ativi-dades agropecuárias, a Bacia Hidrográfica doRSF tem sofrido um desmatamento intensivo, oque compromete seu regime hídrico.

A degradação das terras e a erosão acelera-da de seus solos têm provocado um aumentosensível da carga sólida transportada pelo rioprincipal e seus afluentes, representando sériosriscos aos projetos de aproveitamento de águainstalados e em implantação (Carvalho, 1995).

Os principais esforços públicos em relação aoVale do RSF enfatizam a Região Semi-Áridacomo a principal usuária das suas águas, esque-cendo-se por completo do Alto e Médio RSF,regiões localizadas nos cerrados brasileiros, deelevado potencial para a produção de grãos. Oatual estádio de degradação da área da BaciaHidrográfica do RSF conduz a uma necessida-de urgente de ações de recuperação e de usoadequado dos recursos solo e água que inclu-em: recuperação das nascentes e das áreas derecarga, despoluição dos recursos hídricos su-perficiais e subsuperficiais, recuperação das ter-ras degradadas ao processo produtivo e adoçãode sistemas conservacionistas de manejo do solo.

Entre os sistemas mais adotados e conheci-dos, destaca-se o Sistema Plantio Direto (SPD),que se baseia em princípios conservacionistascomo: ausência de revolvimento do solo (restri-to à cova ou linha de semeadura); diversificaçãode espécies pela rotação de culturas; e cobertu-ra permanente do solo pelo uso de culturas paraa formação de palhada (resíduos vegetais). Res-peitando esses princípios básicos para a adoçãodo SPD, o agricultor promove a melhoria da di-nâmica da matéria orgânica do solo e da ativi-dade biológica, fatores considerados essenciaispara a sustentabilidade da produção agrícola nostrópicos, permitindo que esses solos exerçam asua função de filtro para a água que infiltra nosolo. A adoção do SPD, associado à integraçãolavoura-pecuária, tem permitido a recuperaçãoefetiva e duradoura de áreas degradadas, como

pastagens malconduzidas ou lavouras cultivadascom sistemas de manejo tradicionais (Platafor-ma Plantio Direto, 2000; Lara Cabezas &Freitas, 2000; Freitas et al., 2001).

Da mesma forma, o SPD tem marcantes efei-tos sobre a qualidade da produção, interferindoem diferentes cadeias, permitindo aosagricultures cumprirem os cronogramas de plan-tio recomendados, minimizando os riscos e pro-porcionando maior estabilidade na produção dealimentos (Saturnino, 1998; Saturnino e Freitas,2001). Diante essa gama de benefícios, o mo-mento enseja uma maior atenção sobre umaampla adoção do SPD e seus efeitos no manejosustentável das bacias hidrográficas, com a mai-or estabilidade decorrente da melhor regulari-zação do suprimento da água, considerando-seque a falta ou excesso dela compromete a esta-bilidade de produção de alimentos.

A efetividade de práticas conservacionistascomo o SPD, associadas ao manejo agrossilvi-pastoril adequado e sustentável (sistemas agro-florestais, recuperação e manejo de pastagens,integração lavoura-pecuária, reflorestamento deáreas de aptidão agrícola restrita etc.), tem sidodemonstrada nas inúmeras experiências ocorri-das nas últimas três décadas, em especial nosestados do Sul do País (Bragagnolo et al., 1997;Landers et al., 2001). Essas experiências mos-tram que a adoção de tecnologias e práticas es-sencialmente mecânicas, que visam a contençãoda água não infiltrada, não garante a recupera-ção efetiva da capacidade de recarga dos siste-mas hídricos e não pode ser considerada comouma etapa independente do processo de produ-ção agrícola. O enfoque sistêmico, tomando abacia hidrográfica como unidade de planejamen-to para ações que integram tecnologias e práti-cas vegetativas e mecânicas, é fundamental paraque o produtor rural seja considerado, pela so-ciedade, como o responsável pela quantidade equalidade da recarga dos sistemas hídricos, pas-sando de agente de destruição a produtor deágua limpa.

Experiência no estudo de solos naRegião Oeste do estado da Bahia:Formação Urucuia

Os Gerais Baianos, que compreendem as ba-cias hidrográficas dos afluentes da margem es-querda do RSF, garantem a disponibilidadehídrica para usos múltiplos do rio, com desta-que para os projetos de irrigação a jusante, as-sim como algumas usinas hidrelétricas do Nor-

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deste brasileiro. A associação de característicasfísicas favoráveis, baixos preços da terra e dis-ponibilidade hídrica, em particular nas áreas devegetação de cerrado, contribuíram para umarápida expansão agrícola daquela região. O fa-tor limitante para essa expansão encontra-se nagrande diversidade pedoambiental (solos, vege-tação e clima) e no altíssimo risco para a agri-cultura de sequeiro, demandando a irrigação ea disputa pela água.

Nessa região são registrados recordes de ex-tensão de áreas agrícolas, atingindo, aproxima-damente, 1,3 milhão de hectares, fora as áreasocupadas pela pecuária. Além disso, vastas áre-as de vegetação nativa ainda existentes permi-tem previsões de expansão desse uso para maisde 3 milhões de hectares.

Esse é um dado auspicioso em relação aodesenvolvimento, mas ambientalmentepreocupante em face da atual condiçãoagrossocioeconômica e cultural das regiões queempregam práticas de sistemas de uso e mane-jo de solos e da água muito pouco compatíveiscom a realidade das condições pedoambientaisregionais que implicam em perdas significati-vas de solos, matéria orgânica, nutrientes eágua. O uso não-planejado e inadequado dasterras, como a adoção de sistemas importadosde cultivo e o desmatamento desenfreado deáreas de recarga e matas ciliares, torna o solomenos permeável, impedindo que ele exerçaseu papel de filtro e de condutor de água. Con-seqüentemente, não ocorre a plena recarga dosmananciais hídricos, ficando os níveis de basecomprometidos e insuficientes para a manuten-ção da vida e para os usos múltiplos da água nolocal e a jusante (Freitas et al., 2001).

A Formação Urucuia constitui-se emaqüífero granular de grande pujança, com ex-pressiva contribuição para o escoamento super-ficial (Pimentel et al., 2000; Campos, 1996).Mesmo assim, esse aquífero é pouco conheci-do e justifica a realização de estudos e pesqui-sas que conduzam à sua caracterização, comênfase a sua dinâmica e a suas relações com aságuas superficiais. Estudos realizados pela equi-pe da Embrapa Solos na região, em colabora-ção com o Clube de Plantio Direto e o Sindica-to Rural de Luís Eduardo Magalhães, com osuporte da Associação de Plantio Direto noCerrado e do Ministério do Meio Ambiente,têm permitido verificar que os solos de texturaarenosa e média da região, quando submetidosa sistemas de manejo convencionais, incluindoo uso de arados e grades, apresentam diminui-

Perfis de solos detextura médiadescritos na RegiãoOeste da Bahia

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ção significativa na infiltração de água, decor-rente de mudanças de seu arranjo estrutural eporosidade. A alta dispersão de argila e a mu-dança no complexo de cargas são consideradasas causas principais dessa modificação.

Ensaios em realização pela equipe da Em-brapa Solos, em laboratório e no campo, pro-põem a recomendação de medidas práticas paraa otimização da infiltração e a recuperação dossolos da região às condições estruturais adequa-das.

Ações da Embrapa Solos na RegiãoA Embrapa Solos, diante da sua condição de

centro temático de pesquisa de solo, tevereformuladas, a partir do ano de 2000, suas atri-buições, estratégias e metas para o atendimentode sua nova missão, ou seja, de ser um centro deexcelência em Ciência do Solo e participar efe-tivamente da solução dos grandes problemasnacionais de uso e manejo dos recursos naturaissolo-água.

Com essa concepção estratégica, tem aumen-tado consideravelmente sua participação compesquisas e busca de parcerias que envolvam pro-jetos focados nos problemas de áreas degrada-das ao processo produtivo, em especial na rela-ção solo-água-planta (salinização, solodização,desertificação, recuperação de nascentes e dematas ciliares, entre outras).

Alguns desses projetos, já em pleno anda-mento, são listados a seguir:

Sistema Brasileiro de Classificaçãode Terras para Irrigação – enfoquena Região Semi-Árida

No Brasil, os projetos de irrigação implanta-dos até o momento utilizaram o sistema de clas-sificação das terras, preconizado pelo Burec(United States, 1984), de modo simplificado, sem

atentar, por falta de subsídios técnicos e em aten-dimento às urgências das políticas públicas paraa agricultura irrigada, para as ações que redun-davam em degradação das terras e/ou baixa taxade retorno, que, em alguns casos, afetaram opleno sucesso da implementação do projeto.

Para que as terras possam responder positi-vamente ao emprego da tecnologia de irrigação,faz-se necessária a existência de uma adequadaclassificação brasileira da potencialidade dessasterras para a irrigação. Essa classificação deveavaliar as características dos nossos solos e serajustada à realidade atual da tecnologia de irri-gação, à estrutura do mercado agrícola, de fáciloperacionalidade e, acima de tudo, susceptívela modificações, à medida que o conhecimentocientífico e tecnológico evoluem.

Muitos projetos de irrigação, principalmen-te no Semi-Árido nordestino, têm apresentadono decorrer dos tempos diversos problemascomo salinização, utilização de lâminas d’águaincompatíveis com o solo, entre outros. Propõe-se então estudar e apresentar soluções para es-ses problemas, dando continuidade à parceriaEmbrapa/Codevasf.

Por falta de uma classificação de terras paraa irrigação, adaptada às condições brasileiras,tem-se promovido ou uma superutilização dasterras, induzindo à sua degradação, ou a umasubutilização dela. Em ambos os casos, poderesultar em utilização inadequada dos já escas-sos recursos hídricos do Nordeste. Dessa forma,torna-se imprescindível definir, utilizando onovo Sistema Brasileiro de Classificação de So-los (Embrapa, 1999), quais variáveis pedológicasdevem ser estudadas, acrescidas de outras nãopedológicas, de forma que venham a produzirum sistema de classificação de terras adaptadoà realidade brasileira.

Neste projeto, adota-se como estratégia depesquisa a utilização de perímetros irrigados,onde problemas decorrentes do uso inadequa-do das terras já foram detectados, para análisede causas, efeitos e possíveis soluções e, ao mes-mo tempo, definição de parâmetros da relaçãosolo-água mais compatíveis com as condiçõesbrasileiras e que melhor definam característicasdiferenciais que servirão de base ao SistemaBrasileiro em desenvolvimento. Os perímetrosselecionados foram: Apolônio Sales (avaliaçãodas potencialidades dos NeossolosQuartzarênicos); Nilo Coelho ( alterações físi-co-químicas dos Luvissolos); Baixio do Irecê eFormoso A (avaliação da drenabilidade dosCambissolos Vérticos); Caraíbas (avaliação dodesempenho de drenos subterrâneos entubados

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observado emárea agrícolaapós preparointenso com

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plantio dacultura de soja

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4º trimestre 2003 • Nº 60 • ITEM 97

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UNITED STATES, 1984

em solos rasos).

Gestão integrada sustentável dosrecursos naturais da BaciaHidrográficado Rio Cabeceiras de Pedra naRegião Oeste do estado da Bahia

O projeto, apoiado pelo Prodetab/Embrapa,com recursos do Banco Mundial, visa a caracte-rização e a formulação de um plano de gestãopara a área do Rio Cabeceiras de Pedra, forma-dor do Rio de Ondas e do Rio Grande, afluen-tes do RSF. Serão levantados dados e informa-ções socioeconômicas e ambientais, com desta-que para os parâmetros hidrodinâmicos doAqüífero Urucuia. O plano de gestão integrada,a ser formulado, subsidiará os agricultores naadoção de práticas conservacionistas condizen-tes com as condições regionais e validadas lo-calmente. Por meio da modelagem das interven-ções antrópicas, será possível otimizar a ofertahídrica a partir do uso conservacionista na áreada bacia hidrográfica e de seu entorno.

Dessa forma, escolheu-se o Rio Cabeceiras dePedra para implementar o projeto proposto, oqual compreende uma área de drenagem parale-la que abrange 1.375 km2, com vazão mínima de11,48 m3/s. A Bacia Hidrográfica do Rio Cabe-ceiras de Pedra (BHRCP) tem valor relevante porsua localização estratégica e por ser fornecedorade água para o abastecimento urbano da cidadede Luís Eduardo Magalhães, sendo também oprincipal afluente do Rio de Ondas, responsávelpelo abastecimento da cidade de Barreiras. ABHRCP encontra-se atualmente em equilíbrionos seus usos múltiplos, atendendo 61 conjuntosde irrigação (6.100 ha), com a geração de energiaelétrica e, com a vazão restante, nas atividadesde lazer e turismo.

Conclusões e RecomendaçõesEsforços visando a revitalização e a conser-

vação de cursos d’água requerem a execução deações mais efetivas visando, de um lado, amelhoria e o controle de captação de águas nasnascentes e vertentes de drenagem e, de outro,o uso e a conservação das terras produtivas comfoco na melhoria de vida e da cidadania das po-pulações rurais e ribeirinhas.

Programas governamentais e iniciativas pri-vadas devem assumir, portanto, posição definiti-va, optando por ações profundas e efetivas, combase no conhecimento das características e docomportamento pedoambiental que melhor de-finam os sistemas de manejo do solo e da água,aumentando assim a oferta e a otimização dasdemandas, ao contrário do uso das ações corri-

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Navegando nainternetA informação é um instrumentoimportante para quem praticaqualquer atividade econômica. Paraquem quer se manter atualizado,algumas dicas de sites de interesseda agricultura irrigada:

.abrh.org.brSite da Associação Brasileira de RecursosHídricos, com fóruns de discussão sobregestão de recursos hídricos, informaçõessobre artigos científicos, notícias, ensinoe pesquisa e links de interesse.

.agricultura.gov.br Portal do Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento, onde se obtêminformações sobre a estrutura da insti-tuição governamental, legislação, recur-sos humanos, qualidade e notíciasatualizadas diariamente. Através dele,pode-se chegar aos sites de quaisquerórgãos ligados ao Ministério e às infor-

mações que eles trazem. Alguns deles:Embrapa, Instituto Nacional deMeteorologia (Inmet), Ceagesp, Agrofit,Proagro, Secretaria de Apoio Rural eCooperativismo (Sarc) e Serviço Nacionalde Proteção de Cultivares (SNPC) etc.

.agrisus.org.brSite da Fundação Agrisus pela Agricultu-ra Sustentável, da família do engenheiroagrônomo Fernando Penteado Cardoso,fundador do Grupo Manah, e consorcia-da à Fundação de Estudos Agrários Luizde Queiroz. Traz notícias, informações econsultas.

.ana.gov.brSite da Agência Nacional de Águas, cominformações atualizadas sobre a Políticade Recursos Hídricos, informações paraos produtores rurais em relação à legis-lação vigente.

.cprm.gov.brSite sobre o Serviço Geológico do Brasil,ligado à Secretaria de Minas e Metalur-gia do Ministério de Minas e Energia,

abrangendo as águas superficiais e sub-terrâneas, levantamentos e estudos so-bre recursos hídricos desenvolvidos nasdiversas sedes regionais.

.codevasf.gov.brSite da Companhia de Desenvolvimentodo Vale São Francisco e do Paranaíba, quetraz os programas de irrigação daCodevasf, além de informações sobreagricultura irrigada, barragens etc.

.folhadomeioambiente.com.brSite do jornal Folha do Meio Ambiente,atualizado mensalmente e sempre cominformações de interesse sobre meio am-biente e formação de comitês de bacias.

.funarbe.org.br/conirdSite da Fundação Arthur Bernardes, ligadaà Universidade Federal de Viçosa, que fun-ciona como secretaria executiva do XIVCongresso Nacional de Irrigação e Drena-gem (XIV Conird) e do I Encontro Intera-mericano de Irrigação, Drenagem e Con-trole de Enchentes, que acontecem de 24a 29 de outubro de 2004, em Porto Ale-gre, RS.

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