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Soluções comcredibilidadeem sistemasde irrigação

NaanDan IrrigaplanIndústria e Comércio Ltda

Rua Biazo Vicentin, 260,Cidade Jardim, Cep 13614-330

Leme – SPTel (019) 3571-4646Fax (019) 3554-1588

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www.irrigaplan.com.br

Soluções comcredibilidadeem sistemasde irrigação

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ITEM

Agricultura irrigada:um novo horizonte para o Piauí

A

Helvecio Mattana SaturninoEDITOR

E-MAIL: [email protected]

agricultura irrigada, para impulsionar odesenvolvimento do estado do Piauí,permeia esta edição da ITEM. Foram ela-

boradas entrevistas, tendo como especial desta-que o Plano de Ação para o Desenvolvimento In-tegrado do Vale do Parnaíba (Planap). Buscou-seharmonizar interesses, os mais diversos, entre go-verno e sociedade civil, perseguindo-se um com-prometimento de todos com metas a curto, médioe longo prazos.

Destaque maior é a constatação de que, prati-camente, todo o estado do Piauí está inserido nessabacia hidrográfica, cuja área passou a compor oterritório de abrangência da Codevasf, desde o ano2000. O Estado ocupa 98,3% dessa bacia de 330mil km2 e a formulação do Planap faz-se median-te todo um novo arcabouço, que é o da PolíticaNacional de Recursos Hídricos.

Ter a água como vetor do desenvolvimento, fazda irrigação, da drenagem e do manejo sustentá-vel das relações solo-água-planta poderosos ins-trumentos para conservação dos recursos naturaise para geração de riquezas e empregos. Com am-pla diversidade edafoclimática, ampliam-se os de-safios e as oportunidades, exigindo-se um acuradotrabalho voltado para uma logística que priorizeinvestimentos estratégicos, para que se encontreum virtuoso ciclo de retornos socioeconômicos.

É diante desse auspicioso cenário que a ABIDcelebra a parceria com o governo do Piauí, hospe-deiro do XV Conird. Será realizado junto ao Con-gresso, sob especial demanda do governadorWellington Dias, o Simpósio Internacional de Usodas Águas Subterrâneas na Agricultura Irrigada.Para tanto, conta-se com o concurso da experiên-cia do Banco Mundial, enriquecendo-se o proces-so dialético em torno da exploração de mais essemanancial hídrico. Há um amplo acervo de estu-dos sobre esses potenciais e os poços jorrantes a

provocarem os formuladores de políticas e planos.A CPRM, sob a égide desse novo planejamento,acaba de inventariar 27 mil poços no Piauí.

Do maior rio nordestino aos diversos açudesconstruídos pelo Departamento Nacional deObras Contra a Seca (Dnocs), as águas superfi-ciais, com suas diversas interligações com as águassubterrâneas e suas áreas de recargas, ensejam asmais variadas provocações, principalmente dian-te do perverso risco da atividade agrícola, tendo-se o déficit hídrico como o maior vilão. Asazonalidade das chuvas e os erráticos veranicosinspiram os mais diversos projetos de irrigação,maximizando a utilização dos fatores de produ-ção ao longo do ano e ampliando as garantias deum melhor abastecimento.

Seja com a irrigação em pequenas ou grandesáreas, em perímetros irrigados, seja em arranjoscomo dos cultivos protegidos, há um amplo acer-vo de conhecimentos, de competências, de equi-pamentos de irrigação, de trabalhos de consultoriae de pesquisas já realizadas e em andamento, queprecisa aflorar cada vez mais para contribuir paraum mundo com mais riquezas e mais eqüidade.Essa é a marca que se pretende indelével, paraque, a cada ano, o símbolo dos Conirds paire so-bre um Estado brasileiro. O Piauí tem abraçadoesses propósitos, com o governo do Estado com-prometido com essa importante jornada.

Fazendo a água adentrar e conquistar novasfronteiras, colocando-a ao alcance da irrigação, oscanais podem inspirar e retratar muitas histórias.Esse canal no Platôs de Guadalupe e as chamadasdessa capa trazem muitas reflexões sobre oconteúdo dessa edição, que contempla os n.o 65 e66 da ITEM. Forjar um equilibrado investimentoentre alocações de recursos em obras e fatores queas farão produtivas, faz de cada canal uma lição eum motivo de diferentes histórias que permeiampor perímetros públicos irrigados em todo Brasil.(Foto da capa: Codevasf).

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LEIA NESTLEIA NESTLEIA NESTLEIA NESTLEIA NESTA EDIÇÃO:A EDIÇÃO:A EDIÇÃO:A EDIÇÃO:A EDIÇÃO:

Cartas aos leitores ––––– Página 6

Publicações – – – – – Página 10

Em busca de um modelo de PPPs para aagricultura irrigada – O Ministério da

Integração Nacional quer colocar imediatamenteem operação cerca de 65 mil hectares ociosos em

12 perímetros públicos já selecionados, comoanunciou o secretário-executivo do MI,

Márcio Lacerda. Página 12

A polêmica transposição de águas ou aintegração do Rio São Francisco com bacias do

Semi-Árido setentrional: mãos à obra. Página 17

Biodiesel: produção irrigada de culturasoleaginosas e da cana-de-açúcar, uma alternativa

para o Piauí e o NE – Os participantes do XVCongresso Nacional de Irrigação e Drenagem e

do Simpósio Internacional de Uso das ÁguasSubterrâneas na Agricultura Irrigada terão a

oportunidade de conhecer o desempenho ediscutir a viabilidade da produção de diferentes

culturas energéticas com o uso da irrigação.Página 20

A CPRM faz o balanço do inventário de 27 milpoços e das águas subterrâneas, uma base para

a gestão de recursos hídricos no Piauí.Página 23

Universidade Federal do Piauí: XV Conird traráum choque tecnológico para o Estado.

Página 26

Convocação geral para o Piauí. Página 34

Oportunidade para a pequena irrigação está noPiauí – O secretário do Desenvolvimento Rural

do Piauí, Wilson Martins, está dando osprimeiros passos para a implantação de um

programa denominado “Quintal Produtivo”,voltado para a irrigação de áreas com menos de

1 hectare em 150 municípios do Estado. Página 36

Economia de água e energia na condução docafeeiro irrigado no Cerrado – Produtores do

Oeste baiano vão levar para a região a tecnologiamostrada em Dia de Campo sobre Café Irrigado

pela Embrapa Cerrados. Página 38

REVISTA TRIMESTRAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM – ABID

Nº 65/66 - 1.º E 2.º TRIMESTRES DE 2005ISSN 0102-115X

ITEMITEMIRRIGAÇÃO & TECNOLOGIA MODERNA

CONSELHO DIRETOR DA ABIDALFREDO TEIXEIRA MENDES; ALFONSO A. SLEUTJES; ANTÔNIO ALVES

SOARES; BERNHARD KIEP; DEVANIR GARCIA DOS SANTOS; DURVAL

DOURADO NETO; FRANCISCO NUEVO; HELVECIO MATTANA SATURNINO;RAMON RODRIGUES; VALDEMÍCIO FERREIRA DE SOUSA.

DIRETORIA DA ABIDHELVECIO MATTANA SATURNINO (PRESIDENTE E DIRETOR-EXECUTIVO);MANFREDO PIRES CARDOSO (VICE-PRESIDENTE); ANTÔNIO ALFREDO

TEIXEIRA MENDES; ANTÔNIO ALVES SOARES; DURVAL DOURADO NETO;RAMON RODRIGUES, COMO DIRETORES. DIRETORES ESPECIAIS:DEMETRIOS CHRISTOFIDIS E VALDEMÍCIO FERREIRA DE SOUZA.

SÓCIOS PATROCINADORES CLASSE I DA ABIDAMANCO; ASSOCIAÇÃO DO SUDOESTE PAULISTA DOS IRRIGANTES E

PLANTIO NA PALHA; NAANDAN IRRIGAPLAN; E VALMONT DO BRASIL.CONSELHO EDITORIAL DA ITEM

ADERSON SOARES DE ANDRADE JÚNIOR; ALFREDO TEIXEIRA MENDES;FERNANDO ANTÔNIO RODRIGUEZ; HELVECIO MATTANA SATURNINO;HYPÉRIDES PEREIRA DE MACEDO; JORGE KHOURY; JOSÉ CARLOS

CARVALHO; E SALASSIER BERNARDO.COMITÊ EXECUTIVO DA ITEMANTÔNIO A. SOARES; DEVANIR GARCIA DOS SANTOS; EDSON ALVES

BASTOS; FRANCISCO DE SOUZA; GENOVEVA RUISDIAS; HELVECIO

MATTANA SATURNINO.EDITOR: HELVECIO MATTANA SATURNINO

E-MAIL: [email protected]; [email protected] RESPONSÁVEL: GENOVEVA RUISDIAS (MTB/MG 01630 JP).

E-MAIL: [email protected] E REPORTAGENS: GENOVEVA RUISDIAS.COLABORADORES: ANTÔNIO FERNANDO GUERRA; DEMETRIOS

CHRISTOFIDIS E OMAR CRUZ ROCHA.REVISÃO: MARLENE A. RIBEIRO GOMIDE, ROSELY A. R. BATTISTA

CORREÇÃO GRÁFICA: ROSANGELA M. MOTA ENNES.FOTOGRAFIAS E ILUSTRAÇÕES: ARQUIVOS DA AGÊNCIA NACIONAL DE

ÁGUAS; DA AGENDA PROMOÇÕES; DA CODEVASF; DA CPRM; DA

EMBRAPA CAPRINOS; DA EMBRAPA CERRADOS; DA EMBRAPA MEIO-NORTE; DA FRUTAN BRASIL; DO GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ; DO

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL; DA SECRETARIA DE

AGRICULTURA IRRIGADA DO CEARÁ; DA SECRETARIA DE

DESENVOLVIMENTO RURAL DO PIAUÍ; ADALBERTO MARQUES;FRANCISCO GILÁSIO; FRANCISCO LOPES FILHO; GENOVEVA RUISDIAS;GILBERTO MELO; HELVECIO MATTANA SATURNINO; MARCELO PRATES.

PUBLICIDADE: ABID – E-MAILS: [email protected] OU

[email protected] OU FAX: (61) 3274.7245.PROJETO E EDIÇÃO GRÁFICA: GRUPO DE DESIGN GRÁFICO

TEL: (31) 3225-5065 FAX: (31) [email protected] – BELO HORIZONTE MG

TIRAGEM: 6.000 EXEMPLARES.ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM – ABIDSCLRN 712, BLOCO C, 18 – CEP 70760-533 – BRASÍLIA DFFONE: (61) 3273-2154 E (61) 3272-3191 – FAX: (61)3274-7245E-MAILS: [email protected] e [email protected]

PREÇO DO NÚMERO AVULSO DA REVISTA: R$ 10,00 (DEZ REAIS).OBSERVAÇÕES: OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS

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A FONTE.AS CARTAS ENVIADAS À REVISTA OU A SEUS RESPONSÁVEIS PODEM OU NÃO

SER PUBLICADAS. A REDAÇÃO AVISA QUE SE RESERVA O DIREITO DE

EDITÁ-LAS, BUSCANDO NÃO ALTERAR O TEOR E PRESERVAR A IDÉIA GERAL

DO TEXTO.ESSE TRABALHO SÓ SE VIABILIZOU GRAÇAS À ABNEGAÇÃO DE MUITOS

PROFISSIONAIS E AO APOIO DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS.

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A Embrapa Cerrados promoveu um dia de camposobre cafeicultura irrigada no Cerrado, que atraiucafeicultores interessados do Nordeste, comoBarreiras, BA. Incluindo o potencial do Piauí,evidencia-se uma ampla fronteira para a cafeiculturairrigada nacional.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,anunciou em cadeia de rádio e televisão o início emsetembro das obras de integração do rio SãoFrancisco com as bacias do Semi-Árido setentrional.Ignorando as vozes contrárias ao projeto, oMinistério da Integração Nacional classifica a obracomo um projeto de segurança hídrica.

O cultivo irrigado de culturas energéticas para aprodução de biodiesel está sendo visto como umaalternativa importante para o Piauí e será tema dedestaque do XV Conird, de 16 a 21 de outubrode 2005.

O presidente da Codevasf, Luiz Carlos Everton deFarias, mostrou em entrevista por que o Plano deAção para o Desenvolvimento Integrado do Vale doParnaíba (Planap) é de interesse direto do Estado doPiauí.

Manejo do Cafeeiro Irrigado no Cerrado, artigotécnico elaborado pelos pesquisadores daEmbrapa Cerrados, Antonio Fernando Guerra eOmar Cruz Rocha. Página 42

Quanto custa ser pioneiro, abrindo fronteiras naagricultura irrigada, em produção de frutastropicais no Brasil? – A Frutan Brasil, localizadapróxima à Teresina (PI), tornou-se, há 11 anos,uma das maiores exportadoras brasileiras delimão Tahiti para a Europa. O ex-ministro daAgricultura, Pratini de Moraes, costuma destacaro “limão produzido no Piauí”, quando quer darexemplos de qualidade de produtos brasileirosexportados. Mas tudo isso tem um preço, muitasvezes alto demais para quem é pioneiro.Página 48

Pastagens irrigadas e o desenvolvimento dacaprinovinocultura – O pesquisador AurinoAlves Simplício, médico-veterinário, commestrado e doutorado em Reprodução deRuminantes, aponta o desenvolvimento dacaprinocultura tecnificada como alternativa nageração de renda, bem-estar e na preservação domeio ambiente no Semi-Árido. Página 52

Fruticultura irrigada, uma alternativaimportante ao aproveitamento dos recursoshídricos do Piauí. Página 56

Um plano para o desenvolvimento do Vale doParnaíba – Enquanto o planejamento vai sendoconcluído, oportunidades são identificadas einiciativas começam a ser empreendidas a curtoprazo. É o que mostra a entrevista com opresidente da Codevasf, Luiz Carlos Everton deFarias. Página 58

Conheça a atual situação dos perímetrospúblicos irrigados do Piauí – O Dnocs classificaos perímetros públicos irrigados do Piauí em doisdiferentes grupos: os antigos e os mais novos, deacordo com o tipo de concepção, implantação eseleção de irrigantes. Página 68

Nota técnica – – – – – Página 71

Navegando pela Internet – – – – – Página 74

Classificados – – – – – Página 74

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6 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

CARTASleitores

Mais um prêmio para o GrupoMa Shou Tao

Os diretores do grupo Ma Shou Tao, do município deConquista, MG, receberam das mãos do ministro da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, oprêmio de destaque nacional, como resultado final doRally da Safra 2005. Esse título foi concedido, após visitada equipe Rally da Safra, depois de mais de 25 mil quilô-metros rodados pelas principais regiões agrícolas produ-toras de soja, milho, algodão e cereais do país, do RioGrande do Sul ao Maranhão e da Bahia ao Mato Grosso,que levou em consideração o alto nível do Grupo MaShou Tao nos critérios de produtividade agrícola, exce-lência agronômica e gestão do agronegócio. Na foto, daesquerda para a direita, a diretoria do grupo formadapor Ma Tien Min, Ma Shou Tao e Jônadan Ma, tendo aocentro o ministro Roberto Rodrigues. O grupo realiza,anualmente, concorrido encontro técnico de milho e soja,tendo-se como uma base de garantia e de estratégia, airrigação com pivô central.

Parabéns, ABID“Estou muito satisfeito em fazer parte da comunida-

de ABID. Sou sócio e gostaria de fazer algo mais por estainstituição que necessita de nosso apoio cada vez maisforte. Aproveito a oportunidade para parabenizar todasua equipe que desenvolve e produz publicações que sãoao meu ver, obras-primas em qualidade visual econteúdo.”(Alexsandro Castro, engenheiro de Aplicação,Amanco Irrigação, Maceió, AL).

“Sou estudante do curso de Engenharia Agrícola naUniversidade Luterana do Brasil, localizada em Canoas/RS. Gostaria de receber a revista ITEM. Numa aula de Irriga-ção e Drenagem, nosso professor falou e mostrou-nos arevista. Realmente, é fantástica, com matérias de interessepara o nosso curso.” (Maicon Bitelo Koch, de Canoas, RS).

ANA participa de pesquisainternacional

“A Agência Nacional de Águas (ANA) vaiparticipar do Gobacite (sigla em inglês paraGestão, Bacia, Cidadania), projeto internacio-nal de pesquisa sobre saneamento, coorde-nado pela Universidade de Oxford, que visaconhecer o impacto da gestão compartilhadados recursos hídricos e dos serviços de sanea-mento na qualidade da água, especialmenteno que se refere à saúde reprodutiva e a dacriança. Participam do Gobacite 18 universi-dades do mundo. A proposta é pesquisar ascondições e os requerimentos que fazem par-te da governabilidade na gestão integrada,para conhecer como as necessidades por águanos diversos usos – abastecimento, indústria,irrigação, consumo humano e animal etc. – eas conexões geradas por elas interferem nasaúde humana. Nesse quadro, a realidadereferencial emblemática é a bacia hidrográfica,já que todos os usuários e suas diferentes de-mandas estão conectados numa rede hídrica– a bacia. Países em desenvolvimento têm im-portância estratégica nesse estudo, pois, se-gundo relatório divulgado pela Comissão Eco-nômica para a América Latina e Caribe (Cepal),no último dia 20 de abril, cerca de 120 mi-lhões de pessoas no continente têm acesso àágua potável.”O projeto visa obter informa-ções que são correlatas com as ações que aANA já desenvolve”, declarou José Machado,diretor-presidente da ANA. Ele disse, ainda,que ao acolher a proposta, a ANA fornecerátoda a sua experiência no que se refere à ques-tão compartilhada, algo que está na base damissão da Agência, além dos estudos técni-cos que desenvolveu nas bacias hidrográficas,no que se refere aos usos e saneamento, porexemplo. Machado lembrou que acontrapartida do Gobacite é dar à ANA dadosfundamentais que serão usados nos progra-mas de políticas públicas de recursos hídricos.A ANA agora vai formalizar esse acordo pormeio da assinatura de um termo de coopera-ção técnica.” (Assessoria de Imprensa da ANA,Brasília/DF).

6 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 7

O Piauí é aqui“É curioso ver a crise política a partir de outros

ângulos que o do eixo Rio-São Paulo-Brasília, ouseja, longe de nosso umbigo. Na outra semana eume encontrava no Sul e, na atrasada, no Norte,ou ‘Meio Norte’ , onde se situa o Piauí, o Estadomais pobre da União. Não é que vista daqui a cri-se seja menor. Mesmo para quem viveu algumasdas piores crises do século passado – do suicídiode Getúlio Vargas à queda de Fernando Collor; darenúncia de Jânio Quadros à morte de TancredoNeves, entre outras – a de agora não é de se jogarfora. Ao contrário, é das mais graves, ainda queentre mortos e feridos, todos vão se salvar. Ou vocêacha que alguém vai parar na cadeia?

De qualquer maneira, embora de longe dê paraidentificar o que foi jogado no ventilador, pelomenos não dá para sentir o cheiro. Se eu fosse oLula, fugia do seu inferno astral para ver o queestá acontecendo no Piauí, governado por umcolega de partido, também ex-líder sindical (ex-bancário). Às voltas com escândalos, com sua po-pularidade em queda (na última pesquisaDatafolha, 65% das pessoas disseram acreditar emcorrupção no governo), ele ia ficar com inveja.

Apesar das dificuldades de um Estado que re-produz quase todos os problemas do País, o go-vernador Wellington Dias (um dos poucos do PT)está agradando, a julgar pelas pesquisaspublicadas no fim de semana. Mais de 75% dosentrevistados aprovaram seu desempenho pesso-al, enquanto 71% se declararam satisfeitos com aatual administração estadual. Um dos itens maisbem avaliados foi a educação, por causa do com-bate ao analfabetismo e da extensão da rede es-

colar. Hoje, todos os municípios piauienses possu-em escolas de nível médio. O governo daqui pre-ga – olha que bom exemplo – que ‘o caminho daerradicação da pobreza passa necessariamentepela educação’. Outro item que recebeu boa ava-liação foi a saúde.

Como o Brasil não conhece o Brasil, costumoter surpresas nessas viagens que venho fazendoultimamente, nem sempre agradáveis. A pior de-las é constatar que muitas das mazelas das me-trópoles estão chegando, quando já não chega-ram, às cidades menores, como a violência urba-na e o tráfico de drogas. Para quem vai do Rio oua São Paulo, não é fácil notar, mas é comum ouvir:‘Ah! Isso aqui já foi tranqüilo’, ‘a violência já che-gou’ (leio num jornal daqui que uma adolescentede 15 anos foi presa com três quilos de cocaína.Os traficantes já estão recrutando menores).

Mas há também boas novidades. Por exemplo,vim participar do 3o Salão do Livro do Piauí, sa-bendo o que podia esperar de um evento organi-zado por quatro professores, sem dinheiro, sempatrocínio oficial, numa cidade com carências maisprementes do que a leitura. Pois o que vi aqui emdois dias foi realmente notável. Já não falo da fre-qüência em seis dias de 70 mil pessoas (cerca de10% da população da cidade), a maioria de crian-ças e adolescentes.

O mais surpreendente foi assistir à noite à pa-lestra do escritor Moacyr Scliar, num auditório de800 lugares, completamente cheio. Ele falou uns40 minutos e em seguida abriu a palestra para aparticipação do público, formado predominante-mente por jovens. Alternando perguntas por es-crito e ao microfone, a platéia levantou questõescom relação à obra do autor, sobre a qual demons-traram conhecimento em detalhe. Falaram de per-sonagens e comentaram situações com uma inti-midade que o próprio autor não esperava. Masdebateram também temas como a escrita auto-mática dos surrealistas e se o uso de drogas, os“paraísos artificiais”, estimularam ou não acriatividade em escritores como Baudelaire.

O alto nível das perguntas serve para desmon-tar estereótipos criados por nosso etnocentrismo,como o preconceito de que fora do eixo Rio-SãoPaulo não existe vida inteligente.” (Artigo do jor-nalista e escritor Zuenir Ventura, publicado em 14/06/2005, no site “No mínimo” e enviado pelo pu-blicitário e piauiense Eli Pinheiro, do Ministério daEducação e Cultura).

A pacata Oeiras, primeira capital do Piauí

1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 7

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8 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Cevada cervejeira irrigada,alternativa para o Cerrado

“A cevada cervejeira é uma boa opção para oprodutor de culturas irrigadas no Cerrado. AEmbrapa Cerrados, em conjunto com a EmbrapaTrigo, tem desenvolvido pesquisas com a cevadacervejeira no sistema irrigado, demonstrando aviabilidade econômica, técnica e ecológica da cul-tura para a região. O pesquisador Renato FernandoAmábile chama a atenção para as vantagens eco-nômicas da cevada cervejeira, como economia deenergia elétrica, menor custo de produção e mai-or produção de palhada que outras gramíneasinseridas no sistema. O menor uso de defensivose a eficiência no uso de água também garantemvantagem ambiental à cevada.

Típica de clima frio, a cevada cervejeira ganhouespaço no Cerrado desde o final da década de 90,a partir do desenvolvimento, pela Embrapa dasprimeiras cultivares adaptadas às condições climá-ticas da região. Hoje, o Cerrado tem ampliado aárea plantada com cevada cervejeira, diminuindoa importação do cereal no Brasil, que aindacorresponde a 80,4% da cevada e do malte con-sumidos no País.

Este ano, a previsão da safra de cevada para oBrasil é de 140 mil ha e somente o estado de Goiásresponde por 1,4% dessa produção. Utilizada naalimentação humana na forma in natura ou debebida, desde o período antes de Cristo, a cevadaapresenta fermentação inferior ao trigo e menorteor de glúten.

Para se obter a qualidade exigida pela indús-tria, é necessário que a cevada seja cultivada du-rante o período das secas, com o uso de irrigação.O plantio deverá ser realizado até 30 de maio, paraque a colheita possa ser feita antes do início daschuvas, uma vez que o ciclo total da cultura é de,aproximadamente, 110 dias.

Os plantios antecipados, feitos em meses commaiores temperaturas médias do ar, favorecem oaparecimento de doenças, como a brusone e amancha-em-rede, além de não atender às neces-sidades fisiológicas da planta.

A BRS 180, com seis fileiras, foi a primeira cul-tivar de cevada desenvolvida pela Embrapa Cerra-

dos. É recomendada para o cultivo irrigado na re-gião do Cerrado de Minas Gerais, Goiás e DistritoFederal, em solos corrigidos e sem a presença dealumínio trocável, que afeta o crescimento e o ren-dimento de grãos dessa cultura. Essa cultivar apre-senta um potencial de produção de grãos superi-or a 6 t/ha de grãos e teor de proteína inferior a12%, atendendo às demandas dos agricultores eos padrões de exigência das indústrias de malte.A cultivar BRS 195, com duas fileiras, também re-comendada pela Empresa, além de ser semeadano Cerrado, é a variedade mais plantada no Brasil(em 59% das propriedades).” (Selma Beltrão, jor-nalista, Área de Comunicação e Negócios daEmbrapa Cerrados).

Primeiros resultados dacobrança pelo uso da água noParaíba do Sul

“No dia 28 de abril, a Prefeitura de Jacareí,município paulista com cerca de 220 mil habitan-tes, inaugurou a primeira obra concluída com re-cursos arrecadados pelo Comitê para Integraçãoda Bacia Hidrográfica da Bacia do Rio Paraíba doSul (Ceivap), com a cobrança pelo uso da água naBacia. Trata-se da Estação de Tratamento de Esgo-to (ETE), do bairro São Silvestre, obra executadapelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto deJacareí, que vai tratar 4% de todo o esgoto pro-duzido no município, elevando para 6% opercentual tratado antes de ser lançado no RioParaíba do Sul (Jacareí já tratava 2% de seu esgo-to antes da construção da nova ETE). O custo to-tal da ETE foi de R$ 2.013.300, sendo R$ 1.295.750oriundos da cobrança pelo uso da água na Baciado Paraíba do Sul, verba repassada para o municí-pio, pela Agência Nacional de Águas (ANA). Em2003 e 2004, foram arrecadados cerca de R$ 12milhões na Bacia. Desse total, aproximadamente,R$ 7 milhões e 800 mil já foram repassados a oitomunicípios dos três Estados da Bacia (São Paulo,Rio de Janeiro e Minas Gerais), para investimentoem obras de esgotamento sanitário e controle deerosão, ações definidas pelo Ceivap comoprioritárias para a recuperação ambiental da Ba-cia.” (Ceivap/Agevap, jornalista Virgínia Calaes,Resende, RJ).

8 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 9

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10 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

PUBLICAÇÕESMacrozoneamentoEcológico-Econômico da BaciaHidrográfica do Rio Parnaíba

Este estudo, con-densado em umapublicação de seispáginas e um CDcom mapas, fotose relatórios queabordam especial-mente a região doCerrado da Baciado Rio Parnaíba, é um dos diagnósticos técnicoselaborados pelo Plano de Ação para o Desenvolvi-mento Integrado do Vale do Parnaíba (Planap). EssePlano é considerado inovador em sua concepçãoe está sendo elaborado de acordo com ametodologia do planejamento participativo, emsintonia com a política de desenvolvimento regio-nal em execução pelo Ministério da IntegraçãoNacional.

O Macrozoneamento Ecológico-Econômico daBacia Hidrográfica do Rio Parnaíba analisa os efei-tos das atividades socioeconômicas, ambientais eculturais no território da Bacia. Em sua primeiraetapa, abrange os territórios de Tabuleiros do AltoParnaíba, dos Vales dos Rios Piauí e Itaueiras e daChapada das Mangabeiras nos estados do Piauí eMaranhão. Reúne e processa informaçõescartográficas, imagens de satélite, dados do cen-so e do cadastro urbano e rural em um banco dedados. Com base nesse estudo, estão sendo defi-nidas ações consideradas as mais eficazes na pro-moção do desenvolvimento econômico e socialsustentável da região.

Mais informações poderão ser obtidas na Codevasf.SGAN 601, Conj. 1, Ed. Dep. Manoel NovaesCep 70830-901 Brasília-DF.Fone (61) 223.8819 ou através dos seguintesendereços eletrônicos: www.codevasf.gov.br [email protected].

Café irrigado no Oeste baiano

O 5o Anuário de Pesqui-sa da CafeiculturaIrrigada do Oeste daBahia representa a con-solidação dos trabalhosdesenvolvidos nos cam-pos experimentais decafé da Associação deAgricultores e Irrigantesda Bahia, sob a coorde-nação da Fundação BA.Representa nove anos de pesquisa conduzida deforma sistematizada no Oeste baiano, considera-do hoje uma fronteira consolidada da cafeiculturairrigada nacional. Os primeiros plantios do caféirrigado começaram em 1987, sob a responsabili-dade do pioneiro João Barata. Atualmente, desen-volve-se na região uma cafeicultura consideradaempresarial, produtiva, organizada e altamentetecnificada, que responde por uma produção anualde 650 a 700 mil sacas beneficiadas de café e umaprodutividade de 50 a 60 sacas beneficiadas porhectare, considerada a maior do mundo.

Esta publicação traz os resultados de ensaios depesquisa concluídos e publicados, bem como aque-les que estão em avaliação, além de diversas in-formações técnicas sobre a cafeicultura do Oesteda Bahia, sendo de interesse direto de produto-res, pesquisadores e técnicos voltados para a ca-feicultura.

Mais informações: Associação de Agricultores eIrrigantes da Bahia (Aiba).Av. Ahylon Macedo, 11, Cep 47806-180Barreiras BA. Fone (77) 3613.8000.Endereços eletrônicos: www.aiba.org.br [email protected] .Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimen-to do Oeste Baiano (Fundação BA)Av. Ahylon Macedo, 11, Cep 47806-180Barreiras BA. Fone (77) 3613.8029.Endereços eletrônicos: www.fundacaoba.com.baou [email protected].

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Boletins Técnicos da Uniube

“Dimensionamento de Sistemas de Irrigação Localiza-da para a Cultura do Café”, “Análise dos Sistemas deCultivo do Café no Cerrado Mineiro”, “Compactaçãodo Solo em Cafeicultura Irrigada” são os títulos de trêsboletins técnicos da Universidade de Uberaba (Uniube),referentes aos meses de maio de 2003 , maio e setem-bro de 2004.

O primeiro, de maio de 2003, é de autoria dos profes-sores André Luís Teixeira Fernandes e Luís César DiasDrumond. Tem como objetivo levar informações a res-peito de todas as etapas que compõem a elaboraçãode um projeto de irrigação localizada, mais especifica-mente, de gotejamento, para a cultura do café. Sãoapresentados os componentes gerais de um projeto e,depois, a sua metodologia de cálculo.

O segundo, de maio de 2004, é de autoria dos profes-sores Paulo Veloso Rabelo, André Luís Teixeira Fernandes,Márcio Augusto de Sousa Nogueira e Mônica CoimbraRocha. Seu objetivo é o de levar aos cafeicultores, aórgãos de pesquisa e de ensino, à assistência técnica,ao planejamento, às cooperativas, às empresas de má-quinas e equipamentos e de insumos informações so-bre os diversos sistemas de cultivo do café praticadosno Cerrado mineiro e suas implicações socioeconômicas.

Já o terceiro boletim, de setembro de 2004, é de auto-ria dos professores Alberto Carvalho Filho, RouversonPereira da Silva e André Luís Teixeira Fernandes. Foi ela-borado com o objetivo de esclarecer os aspectos relaci-onados com a compactação do solo, os quais têm im-pacto direto na produtividade do café. A avaliação dosolo e a sua correção, de modo que venha a permitir opleno desenvolvimento da cultura, são de extrema im-portância para a produção do café e requerem conhe-cimentos e técnicas que são apresentados neste traba-lho.

Todas essas publicações tiveram o apoio do ConsórcioBrasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café.

Mais informações e exemplares dessas publicaçõespoderão ser solicitados ao Programa de Educação àDistância da Uniube.Av. Nenê Sabino, 1.801, Bairro UniversitárioCep 38055-500 Uberaba-MG.Fone (034) 3319-8800. Fax: (034) 3314-8910.

Manual de Irrigação

A crescente preocu-pação com a conser-vação dos recursoshídricos e energéticosno Brasil acentuou ascríticas sobre os pro-cedimentos de irriga-ção na produção agrí-cola, uma vez quemais da metade doconsumo de água noPaís é destinado às atividades agropecuárias.Embora diversas pesquisas já tenham conse-guido justificar o uso demasiado desses re-cursos, relacionando-o com o aumento daprodutividade de alimentos, os métodos deirrigação, quando mal aplicados, podem ge-rar grandes desperdícios para o produtor ru-ral e para o meio ambiente.

A 7a edição do Manual de Irrigação (EditoraUFV, 2005), de Salassier Bernardo, AntonioAlves Soares e Everardo Chartuni Mantovani,contém informações fundamentais para quemdeseja dimensionar projetos de irrigação comsegurança e eficácia. Desde a primeira edição,o livro tem sido considerado a grande refe-rência bibliográfica na área de agriculturairrigada brasileira e, nessa nova edição, atua-lizada e ampliada, mantém completa a linhade conhecimentos em engenharia e manejode irrigação, expandindo vários conceitos.

A obra descreve os diversos métodos de irri-gação, serve como fonte de informações paraos iniciantes e como referência para os vete-ranos que desejam atualizar-se na área. OManual de Irrigação traz os mais recentesavanços tecnológicos e científicos em siste-mas de irrigação, procura atender a técnicos,pesquisadores, professores, alunos e todosos demais interessados em implementar suaprodução agrícola.

Título: Manual de IrrigaçãoEdição: 7a – No de páginas: 611Preço: R$ 75,00Mais informações pelo sitewww.livraria.ufv.brou pelo telefone: (31) 3899-2234.Livraria Editora UFV, Prédio da BibliotecaCentral, Campus UFV, Cep 36570-000,Viçosa-MG.

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“N12 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

esses perímetros, como nos demais,o maior problema é a prevalência degrande ociosidade. Neles existem

áreas construídas e prontas para operar, que es-tão sem cultivar”, afirma Márcio Lacerda, se-cretário-executivo do Ministério da IntegraçãoNacional.

Essa situação foi constatada a partir de umlevantamento realizado em 73 perímetros de ir-rigação, no período de outubro de 2004 a janei-ro de 2005. Tais perímetros representam 250 milha dos 300 mil ha públicos existentes. Neles, fo-ram encontrados cerca de 103 mil hainexplorados, dos quais cerca de 60% nas mãosde produtores e 40% ainda por transferir. Essaárea corresponde a 3% da área irrigada nacio-nal e 34% da área construída com investimen-tos públicos, conforme pode ser visto no Qua-dro 2, que apresenta a escala da irrigação noBrasil no período de um ano, abrangendo 2003/2004.

“Uma área como essa, considerando investi-mentos da ordem de U$ 10 mil/ha, representaU$ 1 milhão de dólares em investimentos públi-cos dormentes; um fracasso estrondoso de ges-tão pública, que não gera emprego e renda, eque continua representando mais custos e exi-gindo mais recursos”, afirma Márcio Lacerda.

Segundo ele, o Ministro Ciro Gomes chamoupara si a coordenação desse processo e escolheuimplementar 12 dos 73 perímetros públicos emdiferentes regiões do País, cuja área ociosa re-presenta 65 mil hectares, quase 2% da áreairrigada nacional.

Em busca de um modelo de PPPspara a agricultura irrigada

Em busca de um modelo de PPPspara a agricultura irrigada

O perímetro públicode irrigação do Baixo

Acaraú (CE) possuiuma estrutura

construída para 8 milhectares cultivados,

mas com apenas 600hectares em operação

Com o propósito de expandir aparticipação empresarial na irrigação

por meio do modelo de parceriaspúblico-privadas (PPPs), o Ministério daIntegração Nacional, abriu um processo

de concorrência para consultoriaespecializada, com o objetivo de

selecionar a proposta mais convenientee que associe a expansão de áreas

irrigadas com sistema de concessão,para resolver inicialmente, a situação de

12 perímetros públicos de irrigação, cujaconclusão arrasta-se por vários anos.

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QUADRO 2 – A IRRIGAÇÃO NO BRASIL(período 2003/2004), em mil/ha.

DESCRIÇÃO ÁREA (1000 HA)

Projetos públicos

- existentes 300,0 (8,7%)

- em operação 162,1 (4,7%)

- ociosos1 137,9 (4,0%)

Irrigação privada 3.278 (95,0%)

Brasil 3.440 (100,0%)Fonte: Christofidis (Ministério da Integração Nacional), em 2005.1103 mil ha (3%), nos 73 projetos visitados.

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QUADRO 1 - PERÍMETROS IRRIGADOS INDICADOSPELO MI PARA CONCESSÃO E EXPANSÃO

MA Tabuleiros de São BernardoPI Tabuleiros Litorâneos

Platôs de GuadalupeCE Tabuleiros de Russas

Baixo AcaraúJaguaribe - Apodi 2.ª Etapa

PB Várzeas de SousaPE PontalBA Salitre

Baixio de IrecêMG Jaíba 3.ª EtapaTO São João

Márcio Lacerda:são cerca de103 mil hectaresociosos em73 perímetrospúblicos deirrigação

Pela Lei de Irrigação, a infra-estrutura de usocomum existente nesses perímetros é de propri-edade pública e não pode ser vendida. Mas, podeser concessionada e entregue a uma associaçãode produtores ou a uma empresa de gestão. “Emalguns desses perímetros, como o caso do BaixoAcaraú, no Ceará, é triste ver uma estrutura mo-derna e com sistemas automatizados construídospara ocupar 8 mil ha. com apenas 600 em ope-ração”, comenta ele.

Mudança de mentalidade

“Agora, estamos iniciando a reversão desseprocesso a partir de um novo conceito de priori-dades. Estamos com um volume de investimen-tos reduzido para a aplicação nos perímetros,cerca de R$ 60 milhões, que serão destinadospara agregar pequenas áreas em perímetros jáexistentes, sem construir nenhum projeto novoe, mais ou menos R$ 145 milhões para aplicarna entrada em operação dos perímetros ocio-sos”, anuncia ele.

Para o secretário-executivo, um dos proble-mas nesse processo é a existência de uma áreade cerca de 40 mil ha que ainda não foi licitada.Existem situações de áreas contínuas de 1 mil, 2

Mudança de modelo

Vivemos um tempo em que a capacidadede investir do Estado está exaurida. A dívidasocial e os déficits qualitativo e quantitativoda infra-estrutura econômica são de tal ordem,que o Estado, sozinho, não tem condições deatender. Passou-se a época em que a irrigação,na sua versão pública, foi alvo de um apreciá-vel volume de investimentos, no período de1975/1990, que redundou na formação de umestoque de infra-estrutura física da ordem de300 mil ha.

A maior parte desses investimentos foramrealizados num momento em que prevaleciamas idéias do desenvolvimento regional centra-lizado pelo poder público, com o Estado exer-cendo forte influência sobre as atividades eco-nômicas, envolvendo-se em todas as etapas dosprojetos, desde a elaboração dos planos dire-tores até o gerenciamento, e privilegiando a pre-dominância de lotes familiares.

Mas esse é um modelo que se tornou ana-crônico e que, nas circunstâncias atuais, coma economia globalizada e a predominância de

mercados altamente competiti-vos, não tem mais condições desubsistir.

O momento exige projetoseconomicamente viáveis, efici-entes e de alta competitividadee, por isso, é necessário que osjá implantados e os que estão emimplantação, bem como os no-vos projetos, sejam adequados àrealidade que hoje prevalece.Com isso, são necessários, tam-bém, ajustes importantes nos dis-positivos legais vigentes. Umnovo Projeto de Lei, embutindoas idéias do momento presente,já tramita no Senado Federal. Tal Projeto, alémde propor uma alternativa viável para o ajusteda irrigação pública, visa, também, promover asua inserção na modelagem econômica que pre-valece no mundo atual.

MÁRCIO LACERDA, SECRETÁRIO-EXECUTIVO DO MINISTÉRIO DA

INTEGRAÇÃO NACIONAL E EQUIPE.

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mil ou 3 mil hectares de extensão. A decisão paraesses casos consiste em lançar editais, com con-dições especiais, nos próximos dois a três me-ses. O vencedor da concorrência será aquele queoferecer mais ancoragem (assistência técnica,garantia de compra da produção etc.) para ospequenos produtores que já estiverem instala-dos na região, mas sem condições adequadas deprodução. Iniciativas dessa natureza serãoadotadas em alguns perímetros como Jaguaribe-Apodi, Jaíba e Tabuleiros Litorâneos, entre ou-tros.

À procura de um modelo dePPP para a agricultura irrigada

Márcio Lacerda não descarta o modelo dePPP e a participação do governo na assunção dealguns custos. “Isso vai ser examinado no traba-lho de consultoria que estamos contratando”,afirma ele, completando com a informação deque o grupo Odebrecht, em parceria com em-presários líbios, está trabalhando uma propostade um megaprojeto para o Baixio do Irecê (BA).

Além da Odebrecht, existe outro grupo quenão tornou público seu interesse e está anali-sando uma área de 15 mil ha no Jaíba para aimplantação de um complexo de produção ál-cool/açucareiro, que envolve produção e usina.Para áreas ociosas de maior porte, próximas aolitoral nordestino, existem vários grupos interes-sados, inclusive estrangeiros, que aceitam as no-vas regras do governo para investir no negóciode agricultura irrigada.

Para Márcio Lacerda, a forma de concessãopara ampliação dos perímetros vai depender docusto médio do ha encomendado, a ser ditadopela consultoria contratada: Quantos ha podemser incrementados a um custo atrativo para re-torno do investimento? Isso pode ser otimizadocom a concessão de área anexa, de propriedadedo governo, para ser expandida. “Temos algu-mas combinações possíveis. Pretendemos lançarainda este ano os primeiros editais, tanto paraconcessão envolvendo a expansão de áreasirrigadas, como, apenas, para a gestão”, explicao secretário.

No meio do caminho, tinhauma pedra...

Uma das recomendações feitas, em 2004,pelo Banco Mundial ao governo federal, a par-tir de avaliação realizada nos perímetros de irri-gação do Vale do São Francisco, refere-se à ne-

cessidade de se priorizar a conclusão e ocupa-ção dos perímetros de irrigação existentes, alémde se promover uma nova mentalidade de ges-tão, assuntos que já vêm sendo discutidos e pro-postos, desde a elaboração do Novo Modelo deIrrigação em 1997. (Ver matérias sobre o traba-lho do Banco Mundial publicadas na ITEM nºs59 e 60, além das conclusões do Novo Modelode Irrigação na ITEM nº 54).

Mas a titulação das terras está entre os gran-des empecilhos à implantação dessa nova men-talidade de gestão dos perímetros. O índice detitulação de terras dos perímetros ligados àCodevasf é de quase 100% , mas a situação doDepartamento Nacional de Obras Contra asSecas (Dnocs) é mais problemática, com cercade 10 mil lotes sem titularidade. A atual direçãodo Departamento está fazendo um esforço paracompletar esse processo, até o final de 2006.

Outra pedra a ser removida, esta bem maispesada, é o endividamento dos agricultores. Oprincipal agente financeiro – Banco do Nordes-te – mobilizou sua diretoria no sentido de en-contrar uma fórmula para renegociar as dívidasdos 12 perímetros públicos referidos. Existe umaproposta, em discussão com o governo, que re-presenta um alongamento da dívida dos produ-tores e, possivelmente, vai exigir a elaboraçãode uma Medida Provisória.

A decisão do ministro Ciro Gomes já estátomada em relação àqueles que compraram terraapenas para especular e os que perderam o in-teresse pelo investimento: “Vamos tomar a ter-ra de volta e pode ser até por desapropriação”,avisa Márcio Lacerda.

Uma nova legislação para aagricultura irrigada

Segundo Márcio La-cerda, o marco legal hojeexistente está centradona Lei nº 6662/79, Lei deIrrigação, concebida àépoca em que o Estadoexercia uma forte parti-cipação no domínio eco-nômico, o que significadizer que a irrigação estáainda regulada por umalegislação totalmente in-compatível com o papelesperado pela atividade,nos dias de hoje.

Pelo seu anacronismo, nas circunstâncias atu-ais, “é um inibidor da expansão da irrigação no

A primeira edição daRevista Item, de janeiro de1979, trazia informaçõessobre a Lei de Irrigação, de25/06/79, ainda em vigor.

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Autogestão e cidadania

“Não avança, um povo que vivedebaixo da saia do Governo”Hypérides Pereira de Macedo – Secretá-rio de Infra-Estrutura Hídrica doMinistério da Integração Nacional.

Em países com superior nível de cidadania,quando um grupo de produtores se associa emcondomínio organizado, sob um aparato jurídi-co-institucional, esta entidade é considerada pú-blica, pois são usuários de uma infra-estrutura degoverno e respondem pela manutenção e zelodesse patrimônio do Estado. Infelizmente, no Bra-sil, para as instruções normativas do governo fe-deral, o que é público é a instituição que se cons-titui numa autarquia, departamento ou compa-nhia do governo.

O Ministério da Integração, nesse momento,vem implementando esforços visando transferir agestão dos projetos públicos de irrigação para aresponsabilidade da sociedade envolvida no em-preendimento. Esta ação exige um modelo socialcapaz, eficiente, autônomo e maduro o suficientepara liderar este processo. Um exemplo desse mo-delo, talvez a única proposta de cidadania já con-

sagrada ao longo de 20 anos, é o projeto Camaquãda AUD*, no Rio Grande do Sul. Apesar do traba-lho desenvolvido durante todo esse tempo cui-dando da produção, finanças, comercialização,manutenção, pesquisa e tecnologia do projeto, aburocracia federal resolve proibir esta organiza-ção social de receber recursos governamentaispara ampliação de sua infra-estrutura. Para nossacultura legislativa, a AUD* é uma entidade parti-cular ou privada. Com esta decisão, fica excluídoda parceria público-privada um dos poucos insti-tutos de cidadania na área hidroagrícola. Nãoavança, um povo que vive debaixo da saia do go-verno.

*AUD (Associação dos Usuários do Arroio Duro),

localizada em Camaquã, no Rio Grande do Sul - moti-

vo de capa e reportagens na ITEM 64, conhecida pe-

los participantes do XIV Conird, em Dia de Campo que

fez parte da programação do evento.

Participantes doXIV Conird,realizado em 2004,no RS, tiveram aoportunidade deconhecer a represade Camaquã e aAUD

Canal de irrigação do Projeto Platôs de Guadalupe (PI), um dos 12 perímetros públicos de irrigação selecionados pelo MI para ser implementado deacordo com a nova filosofia

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Sinalizações que demonstram anecessidade de atualização daLei da Irrigação (Lei nº 6.662, de 1979)

País, num momento em que a expectativa é deque a agricultura irrigada representa um negó-cio que traz, em seu bojo, a visão globalizantedos mercados, o que exige maior participaçãodo setor privado, com uma característicainsofismável, a agricultura irrigada gera empre-gos a custos bastante inferiores aos de outrosalternativas. É um subsetor que maximiza as fun-ções tecnologia e emprego, ao contrário de ou-tros investimentos que trocam emprego portecnologia”, afirma o secretário.

“O ideal seria termos, até o final do governoLula, uma nova lei de irrigação aprovada”, afir-ma o secretário-executivo do Ministério daIntegração Nacional, Márcio Lacerda.

Portanto, os motivos para a mudança sãomuitos. A nova proposta, já em tramitação, pos-sibilita a criação de uma base de apoio para aatividade, com possibilidade de atualização dapolítica nacional e da dinâmica gerencial para aotimizar atividades político-legislativas ineren-tes; de apoio técnico-científico; de integração;de execução, ampliação e funcionamento de pro-jetos em parceria.

Como o senador Pedro Simon foi um dos úl-timos relatores do projeto de lei do Senado Fe-deral nº 229, que dispunha sobre a Política Na-cional de Irrigação e Drenagem, o Ministério daIntegração Nacional encaminhou a ele, propos-ta de uma nova legislação, fruto de discussõesde um grupo interministerial criado na seqüên-

• Constituição Federal de 1988, dominialidade das águas.

• Política Nacional de Recursos Hídricos: Lei 9.433 /1997.

• Indefinições envolvendo implementação dos projetos públicos estaduais, em cooperação. Acórdão do TCU.

• Demandas dos irrigantes e dos Distritos de Irrigação dos projetos públicos.

• Possibilidades de ampliar as parcerias com a iniciativa privada, alavancagem de recursos.

• Baixa consideração de aspectos como potencialidade, qualidade, agronegócio e desejo do consumidor.

• Ociosidade das áreas sob domínio de sistema de irrigação.

• Descrédito da política pública pela falta de recursos: em quantidade/oportunidade.

• Alta vulnerabilidade institucional por ocasião das mudanças administrativas.

• Projetos inacabados e com baixa consideração nos aspectos de funcionamento.

• Relatório do Banco Mundial.

• Inexistência de política de apoio e parceria com o setor privado.

• Relatório do Tribunal de Contas da União: auditoria operacional.

• Orientativos da FAO de transferência da gestão da irrigação.

(Compilado por Demetrios Christofidis, MI e ABID).

A fruticulturatropical é umdos principaisprodutos dairrigação noSemi-Árido

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cia de uma apresentação da matéria, pelo Mi-nistério, à Comissão de Infra-estrutura do Se-nado Federal, em maio de 2004.

O que se espera com novalegislação?

Para o Ministério, a irrigação privada vaimuito bem: o País tem cerca de 3,2 milhões deha em funcionamento. “Consegue-se fazer umairrigação eficiente e moderna por R$ 3 ou 4 milpor hectare, à beira de um rio”, diz Lacerda, lem-brando de uma visita ao Ministério do ex-pilotode Fórmula-1, atualmente empresário da agri-cultura, Emerson Fittipaldi, que falou dos nú-meros dos seus agronegócios, em São Paulo, ede sua vontade de ir para o Nordeste. “Enquan-to isso, o governo faz um negócio por U$ 10 milo ha para instalar um pequeno produtor. Soman-do todas as despesas, incluindo capital de giro,são consumidos mais R$ 23 mil, em média, paracolocar um ha em produção”, calcula ele.

Com a legislação proposta, a gestão da Polí-tica, além de estar inserida na competência doMinistério da Integração, assegurará ao Estadoo cumprimento das funções de promoção de in-vestimentos, em apoio às iniciativas de irriga-ção em todo o País.

FOTO: CODEVASF

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vê na integração a possibilidade de uso mais efi-ciente da água armazenada das chuvas a ser bom-beada no momento da escassez. Com isso, serápossível aumentar o uso de água para a irriga-ção naquela área.

“Por outro lado” – aponta ele – “esses canaisvão atravessar áreas com potencial para irriga-ção. Na área considerada de interesse públicopara desapropriação, são 2,5 km de cada ladodos canais, representando cerca de 300 mil ha.Desses, existem cerca de 70 mil ha de terras apro-priadas para a irrigação.”

Entre os problemas para a execução do pro-jeto estão a questão do financiamento pelo go-verno e a necessidade de estabelecer parceriaspara exploração da atividade na região. “Não te-mos isso devidamente formulado e vai-se levarum bom tempo antes de essa água chegar lá, poistemos outras prioridades”, considera Lacerda. Osecretário-executivo do Ministério da Integraçãoafirma que, no início deste ano, a iniciativa go-vernamental foi apontada como sendo um pro-jeto de especulação imobiliária para valorizar

A polêmica transposição de águas ou a integração doRio São Francisco com bacias do Semi-Árido setentrional

Mãos à obra!

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A despeito do clamor de inúmerasautoridades ligadas ao meio ambiente e

das iniciativas dos governos estaduaisda Bahia, Minas Gerais e Sergipe, o

Ministério da Integração Nacionalclassifica a integração do São Francisco

com as bacias do Semi-Áridosetentrional como um projeto de

segurança hídrica. “Estamos torcendopara que as obras de construção doscanais tenham início em setembro”,

declara o secretário-executivodo MI, Márcio Lacerda.

e você tem uma seca continuada, a águaarmazenada em centenas de barragenspode-se perder. Guarda-se essa água, em

função da segurança e ela acaba se perdendopela evaporação”, justifica Márcio Lacerda, que

Ponte sobre oRio São Francisco,que ligaJuazeiro (BA) aPetrolina (PE)

REPRODUÇÃO DE TELA DA SÉRIE “VELHO CHICO, UMA VIAGEM PICTÓRICA”, DE OTONIEL FERNANDES NETO

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terras de grandes proprietários. No entanto, emmaio de 2004, já tinha sido publicado o DecretoPresidencial, declarando de utilidade para de-sapropriação de toda aquela faixa de terra.

Pela revitalização do Rio SãoFrancisco

A tese do ministro Ciro Gomes é a de que oSão Francisco vem sendo depredado há 500 anos.Mesmo em Minas Gerais, onde nasce o rio, odesmatamento da Bacia para fazer carvão con-tinua acelerado e os órgãos ambientais estadu-ais não fiscalizam isso adequadamente.

“Existem dragas clandestinas de diamantetrabalhando em afluentes do rio de forma cri-minosa”, justifica o secretário-executivo do MI,afirmando que a obrigação de proteção erevitalização do rio, em primeiro lugar, é dosmunicípios e do Estado, com a área federal en-trando de forma complementar. Segundo ele, osrecursos destinados à revitalização do Rio SãoFrancisco não estão sendo utilizados devidamen-te. Em 2004, estavam disponíveis recursos daordem de R$ 25 a 30 milhões. “Foi a maior difi-culdade encontrar projetos para aplicação des-ses recursos. Uma boa parte deles foi repassadapara o governo estadual. Esse ano, entre o MI eo MMA, existem recursos da ordem de R$ 100milhões e estamos longe de conseguir projetospara a total aplicação”, considera ele.

A revitalização, segundo Márcio Lacerda, en-volve uma série de ações. A mais importantedelas é o saneamento básico dos municípios in-tegrantes da Bacia, para o qual o Ministério dasCidades, em 2004, comprometeu recursos da

Às vésperas do dia de São João(24/06), o presidente da República,Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou,em rede nacional de rádio e tevê, oinício ainda em agosto das obras fí-sicas de integração da Bacia do RioSão Francisco com as bacias doSemi-Árido setentrional. Além dis-so, previu para dois anos depois aconclusão do Projeto. No dia se-guinte, o ministro da IntegraçãoNacional, Ciro Gomes, concedeupor duas horas uma entrevista àRádio Nacional, quando afirmou

que esse Projeto representa uma importanteiniciativa para pôr fim à chamada indústria daseca, dando segurança hídrica para cerca de12 milhões de pessoas que vivem nas peque-nas, médias e grandes cidades da região.

Segundo o ministro, “a falta d’água é a gran-de razão histórica da migração que leva mi-lhões de nordestinos a deixarem suas terraspara viverem humilhados nos bairros pobresdas grandes cidades do Sul, do Sudeste e dopróprio Nordeste”. Os interessados em conhe-cer esta entrevista na íntegra, poderão acessaro site do Ministério da Integração Nacionalpela Internet: www.integracao.gov.br.

Obras de canalização ficarão prontas em 2007

ordem de R$ 600 milhões a serem aplicados aolongo dos próximos anos. Ele aponta uma gran-de disputa por recursos públicos existente noschamados Estados doadores. “Muitos achamque os recursos exigidos pela obra poderiam serutilizados em outros projetos”, afirma Lacerda.

Medidas de segurança emrelação ao São Francisco

Para o secretário-executivo do Ministério daIntegração Nacional, as obras a serem executa-das no Rio São Francisco são uma questão dejulgamento do governo, na medida em que asinstâncias com poder para tal, derem parecerfavorável. “Esse Projeto é para marcar governoe parte da disputa política tem a ver com isso”,analisa ele. E completa: “Considero que partedessa disputa tem a ver com a irrigação. E osprojetos de irrigação que o governo parou? Exis-tem dois ou três na Bahia e o Jaíba é um proble-ma em Minas Gerais”.

Márcio Lacerda afirma que o projeto deintegração de bacias não ameaça os projetos deirrigação instalados ao longo do Vale do SãoFrancisco, já que a soma existente de outorgasconcedidas fica em torno de 330 m3/s e está sen-do parcialmente utilizada.

Para maior segurança em relação à real de-manda da água da Bacia do São Francisco, estásendo elaborado um cadastro de usuários daágua do rio. Além disso, o secretário-executivodo MI afirma que poderá haver uma revisão dealgumas outorgas a partir de uma maior econo-mia no uso da água, com a adoção de sistemasde irrigação mais modernos.

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 19

Afinal, o que o governo planejou para o Rio São Francisco?

Foz do RioSão Franciscoem Alagoas

águas no Semi-Árido, com economia futura signifi-cativa de águas locais dos rios intermitentes.

Água a ser retirada – Segundo os responsáveispelo Projeto, será retirada do Rio São Francisco umavazão constante de 26 m³/s, correspondente aosconsumos humano e animal, mais um excedentemédio de 63 m³/s sempre que Sobradinho estivercheio ou vertendo.

No Eixo Norte, o bombeamento da água ven-cerá uma altura de 160 metros. Uma vez atingidoo divisor topográfico de águas entre bacias, o ca-nal seguirá por gravidade (sem bombeamento), ge-rando energia elétrica no percurso até à calha dosrios intermitentes. Como resultado, obombeamento equivalente será similar aobombeamento dos projetos de irrigação do Valedo São Francisco. O custo da água no Eixo Norte,em termos operacionais, será inferior ao do EixoLeste e, com o ganho de água decorrente da eco-nomia de parte das perdas por evaporação nos açu-des receptores, haverá viabilidade do uso múltiploda água.

No Eixo Leste, a altura de bombeamento é maiselevada (300 e 500 metros para a Paraíba e Agrestepernambucano, respectivamente). A água terá uti-lização no setor urbano, onde a capacidade de pa-gamento viabiliza a sua transferência.

O Plano Plurianual do Governo Federal 2004/2007 priorizou inúmeras ações no setor hídrico paraa Região Nordeste, com extensão prevista até o ano2015. O Plano é composto de quatro grandes ações:

(1) integração de bacias do Nordeste;(2) revitalização ambiental da Bacia do São

Francisco;(3) projetos de irrigação na região; e,(4) Proágua Semi-Árido, que visa o suprimento

urbano.

Para as obras de integração da Bacia do RioSão Francisco com as bacias do Semi-Árido seten-trional, já estão previstos R$ 624 milhões no Orça-mento Geral da União (OGU) de 2005. O custo to-tal do Projeto está estimado em cerca de R$ 4,5bilhões.

Serão construídos dois canais – um na direçãonorte, que demandará ao Ceará e Rio Grande doNorte, e outro, na direção leste, que levará águapara Pernambuco e Paraíba, beneficiando as áreasmais carentes do agreste e dos sertões desses Es-tados. Essas áreas têm como característica geoló-gica a predominância de terrenos cristalinos (70%de área), onde não é possível armazenar água sub-terrânea de forma permanente e nem desenvolvera açudagem intensiva, uma vez que poucos novosaçudes, de porte significativo, podem ser aindaviabilizados.

A potencialidade hídrica dos rios intermitentes,nessas áreas, já foi transformada em disponibili-dade garantida, ao longo do último século, o quepermitiu a vida, embora precária, de uma popula-ção de 14,6 milhões de habitantes no Polígono dasSecas (Censo de 2000), indicando que o NordesteSetentrional detém mais de 50% da população doPolígono. Em contrapartida, a soma das vazõesregularizadas garantidas por todos os açudes sig-nificativos do Nordeste setentrional representa ape-nas cerca de 5% da vazão garantida no Rio SãoFrancisco, pela Barragem de Sobradinho.

Dois eixos a serem construídos – As obras deintegração de bacias estão planejadas em dois ei-xos - Leste, que integrará o lago da Barragem deItaparica, no Rio São Francisco, com os Rios Paraíba(PB) e Ipojuca (PE), beneficiando regiões populo-sas, com baixa disponibilidade hídrica; e o Norte,que sairá do Rio São Francisco, próximo à cidadede Cabrobó (PE), e levará água até as Bacias dosRios Jaguaribe (CE), Piranhas-Açu (PB/RN) e Apodi(RN).

A integração do São Francisco com os açudesestratégicos do Nordeste setentrional viabilizaráuma nova regra operacional para essas barragens,que poderão operar de forma mais planejada. Ouseja, em vez de guardar água para um futuro dis-tante, esperando uma seca prolongada, poderádisponibilizar mais água para o uso social e econô-mico. Isso porque, em caso de seca, haverá sem-pre transposição de parte do volume retido emSobradinho para os açudes, garantindo os usosmais prioritários da água. O Projeto de Integraçãode Bacias significa um novo sistema de gestão de

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Participantes do XV Congresso Nacional de Irrigação eDrenagem (XV Conird) e do Simpósio Internacional de

Uso das Águas Subterrâneas na Agricultura Irrigadaterão a oportunidade de conhecer o desempenho da

produção de diferentes culturas energéticas com o usoda irrigação. Numa área de 4ha, na Embrapa

Meio-Norte, além de culturas oleaginosas para aprodução do biodiesel, como mamona, girassol,

pinhão-manso, dendê, soja, amendoim, gergelim eoutras, será mostrada também a cana-de-açúcar

irrigada, com todo o seu potencial, como planta C4,para aproveitar a ampla luminosidade da região.

Biodiesel: produção irrigadade culturas oleaginosas

e da cana-de-açúcar, umaalternativa para o Piauí e o NE

etc.). Pode ser usado puro ou misturado ao die-sel em diversas proporções. A mistura de 2% debiodiesel ao diesel de petróleo é chamado B2 eassim, sucessivamente, até o biodiesel puro, de-nominado B100.

O Programa Nacional de Produção e Uso deBiodisel (PNPB), lançado através da Lei no

11.097, de 13 de janeiro de 2005, estabelece aobrigatoriedade da adição de um percentual mí-nimo de biodiesel ao óleo diesel comercializadoao consumidor, em qualquer parte do territórionacional. Esse percentual obrigatório será de 5%oito anos após a publicação da referida lei, ha-vendo um intermediário de 2%, três anos apósa publicação da mesma lei. O PNPB é um pro-grama interministerial do governo federal queobjetiva a implementação, de forma sustentável,tanto técnica como economicamente da produ-ção e do uso do biodiesel, com enfoque na in-clusão social e no desenvolvimento regional, viageração de empregos e renda.

A formação deum pólo

sucro-alcooleiroirrigado é uma

alternativaeconômica de

importância para odesenvolvimento

do Piauí

Obiodiesel substitui total ou parcialmenteo óleo diesel derivado de petróleo emmotores ciclodiesel automotivos (cami-

nhões, tratores, camionetas, automóveis, etc.) ouestacionários (geradores de eletricidade, calor,

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 21

Agricultura irrigada comovertente do desenvolvimento

O governador do Piauí, Wellington Dias, esta-beleceu um projeto de médio e longo prazos paratransformar o Piauí num Estado desenvolvido ecapaz de erradicar a pobreza. Os desafios passampela eliminação do alto índice de analfabetismo dapopulação, até a construção de uma infra-estrutu-ra capaz de atrair investimentos externos. Segun-do Dias, o governo está trabalhando de forma pla-nejada e considera ser possível, em 20 anos, tornaro Piauí um Estado desenvolvido e capaz deerradicar a pobreza. O Estado foi dividido em 11macrorregiões, onde está sendo priorizado o po-tencial de cada uma delas, com foco nas áreas doagronegócio, da mineração e de serviços, com des-taque para o turismo.

A irrigação é uma vertente importante para oEstado, porque tem uma região de Semi-Árido commuita água de subsolo. Além disso, conta com 19rios totalmente, ou em parte, perenes ouperenizados, uma quantidade de reservatórios es-palhados que acumulam 4 bilhões de m3 de água eum lençol freático que é uma das maiores reservasde água doce de subsolo do planeta, como os len-çóis Cabeça, Serra Grande, Gurguéia e Canindé.

Para o superintendente estadual do Banco doNordeste, do Piauí, José Agostinho de CarvalhoNeto, as culturas energéticas apresentam possibi-lidades de crescimento. Dependendo da região, vaiocorrer o avanço do dendê, da mamona, do pinhão-manso. “É uma situação irreversível, porque o pe-tróleo é finito e o preço está cada vez mais eleva-do”, considera ele, lembrando também a questãoambiental que exige cada vez mais uso de combus-tíveis menos poluentes. Países da Europa com con-dições climáticas mais difíceis de produção, comoa Suíça, têm programas de biodiesel. Neto apontaas vantagens de solo e clima do Piauí e afirma queainda não estamos tirando proveito dessas vanta-gens. “Problemas existem, porque estamos come-çando. Mas isso aconteceu também com o álcool.Quem não se lembra do início do Proálcool?”, fri-sa ele.

Crédito para o biodieselpiauiense

Para José Agostinho de Carvalho Neto, o Piauíapresenta todas as condições para um avanço rápi-do da irrigação na área de biocombustível. “Se en-tramos numa área em que o mercado é bom, prin-cipalmente o de cana, onde temos um domíniomaior, com a tecnologia desenvolvida, aliada às

condições de solo e clima locais, não tenhodúvida de que o resultado será convenientepara todos os envolvidos, desde produtores,empresas fornecedoras de equipamentos eagentes financeiros. Espera-se que haja gera-ção de riquezas e empregos, porque os fato-res e condições competitivas estão disponí-veis”, acredita ele.

Segundo Neto, a oportunidade vinculadaao biocombustível deve ser aproveitada. Elelembra a existência de uma destilaria de ál-cool a 45 km de Teresina, onde se irriga boaparte da produção de cana, com água do RioParnaíba. A Codevasf com o governo do Es-tado está estudando uma série de ações paraa criação de um pólo sucro-alcooleiro na re-gião de Teresina para o Norte. “É uma regiãoabundante em água e reconhecida, onde aresposta da irrigação é altamentecompensadora em termos de produtividadee garantia de produção”, afirma ele.

Segundo Neto, existem linhas de créditoaté em condições diferenciadas para o setorprimário. Para o setor rural, variam de 6%até 10,65% ao ano, com prazo de 12 anos parapagar. Além disso, se a pessoa pagar em dia,recebe um bônus de adimplência que é umredutor da taxa de juros, que pode atingir a15%, se a região for fora do Semi-Árido ouaté de 25%, se o produtor estiver localizadono Semi-Árido. A carência pode ser de atéquatro anos. “São condições que não são tra-balhadas em nenhuma outra região do Bra-sil”, lembra Neto (ver quadro com as condi-ções de crédito oferecidas pelo Banco doNordeste).

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O governo doPiauí vê airrigação comouma vertenteimportante parao Estado, naparceria com aABID. Na foto,HelvecioSaturnino ao ladodo governadorWellington Dias

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Dificuldades tecnológicasda mamona

Em relação às culturas energéticas, amamona no Piauí está na fase de referência, masexistem dificuldades a ser superadas. Primeiro,vem a questão da semente de qualidade e de-pois, problemas de ajustes de tecnologia. O mai-or empreendimento do Piauí na área é o da Fa-zenda Santa Clara, a 500 km de Teresina, ondese está plantando pelo segundo ano. No primei-ro, não obtiveram a produtividade esperada. Nosegundo ano, houve um avanço da produtivida-de e vão ser colhidos, em média, 150 kg/ha deculturas de sequeiro e não há experiência algu-ma com irrigação.

“Existem dois perímetros de irrigação doEstado, Platôs de Guadalupe e Tabuleiros Lito-râneos. O primeiro apresenta mais dificuldadesna questão do gerenciamento. Já o segundo temboas condições para irrigação, poucos proble-mas de manutenção de sistema, o perfil doirrigante é diferenciado e os resultados sãobons”, afirma Neto. O Perímetro Tabuleiros Li-torâneos tem cerca de 500 ha irrigados implan-tados e 2.700 ha prontos para serem irrigados.O Banco do Nordeste está buscando condiçõesdiferenciadas em termos de garantia para aten-dimento de linhas de financiamento para os pro-dutores locais, porque os lotes ainda não têmum valor suficiente para cobrir o volume de cré-dito necessário para a exploração plena. O va-lor dos lotes é relativamente baixo, porque oprojeto não deslanchou. Em perímetros de con-dições semelhantes como Nilo Coelho, uma áreacom as mesmas características chega a valer cin-co vezes mais. “É uma valorização que se espe-ra que ocorra naturalmente a partir do momen-to em que o projeto comece a deslanchar.Estamos vendo a possibilidade de avançar rapi-damente tão logo se resolva essa questão de ga-rantia”, afirma o superintendente do Banco doNordeste.

CRÉDITO PARA PRODUÇÃO DE GRÃOSFonte de recursos: Fundo Constitucional de Financiamento do

Nordeste (FNE)Beneficiados: Produtores rurais (pessoas físicas e jurídicas), cooperati-

vas e associações de produtores rurais.Garantias: Hipoteca, penhor, fiança ou aval e alienação fiduciária

(garantias cumulativas ou alternadas).Juros: 6% a.a. para miniprodutores, cooperativas e associações;

8,75% para pequenos e médios produtores, cooperativas e associa-ções; 10,75% para grandes produtores, cooperativas e associações.

Tarifas: De acordo com a legislação vigente.Prazos: Máximo de até 12 anos, com o máximo de 4 anos de carên-

cia, dependendo da finalidade e em função da capacidade depagamento do mutuário.

Limites máximos de financiamento: 100% para o miniprodutor;90% para o médio produtor, 80% para o grande produtor.

Condições: Os financiamentos serão concedidos com base emprojetos técnicos. Para a compra isolada de bens e para mutuárioscom responsabilidades totais no BNB até R$ 5 mil, o projeto édispensado, adotando-se proposta simplificada de financiamento.

CRÉDITO PARA FRUTICULTURAFonte de recursos: Fundo Constitucional de Financiamentos do

Nordeste (FNE).Beneficiados: Produtores rurais (pessoas físicas e jurídicas), cooperati-

vas e associações de produtores rurais, em operações diretas comos cooperados ou membros da entidade).

Garantias: Hipoteca do imóvel beneficiado ou de outros imóveisrurais ou urbanos, próprios ou de terceiros outorgantes; penhorcedular de títulos de emissão dos cooperados: penhor de tratores,veículos, máquinas e equipamentos preexistentes; fiança ou aval ealienação fiduciária.

Juros: 6% a.a. para miniprodutores, cooperativas e associações;8,75% para pequenos e médios produtores, cooperativas e associa-ções; 10,75% para grandes produtores, cooperativas e associações.

Tarifas: De acordo com legislação vigente.Prazos: Máximo de até 12 anos, com o máximo de 4 anos de carên-

cia, dependendo da finalidade e em função da capacidade depagamento do mutuário.

Limites máximos de financiamento: 100% para o miniprodutor;90% para o médio produtor e 80% para o grande produtor.

Condições: Os financiamentos serão concedidos com base emprojetos técnicos. Para a compra isolada de bens e para mutuárioscom responsabilidades totais no BNB até R$ 5 mil, o projeto édispensado, adotando-se proposta simplificada de financiamento.

CRÉDITO PARA INDÚSTRIAFonte de recursos: Fundo Constitucional de Financiamento do

Nordeste (FNE).Beneficiados: Empresas de qualquer porte, cooperativas e associa-

ções (em crédito diretamente aos associados).Garantias: Hipoteca, alienação fiduciária dos bens financiados,

penhor de bens preexistentes e fiança ou aval.Juros: 8,75% a.a. para microempresa; 10% a.a. para pequena

empresa; 12% a.a. para média empresa; e 14% a. a. para grandeempresa.

Tarifas: De acordo com a legislação vigente.Prazos: Máximo de até 12 meses, com até 4 anos de carência,

dependendo da finalidade e em função da capacidade de pagamen-to do mutuário.

Limites máximos de financiamento: 90% para pequena e médiaempresas; 80% para a grande empresa; e 70% para a grandeempresa.

Condições: Os financiamentos serão concedidos com base emprojetos técnicos. Para a compra isolada de bens e para mutuárioscom responsabilidades totais no BNB até R$ 5 mil; o projeto édispensado, adotando-se proposta simplificada de financiamento.

Para Agostinho Neto, o Piauí apresenta todas as condições paraum rápido avanço da irrigação na área dos biocombustíveis

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Para Agamenon Dantas, diretor-presidente da Companhia de Pesquisade Recursos Minerais (CPRM), ocadastramento de poços de parte daregião do Semi-Árido, expandido para oPiauí e recentemente concluído, formouuma base de dados sobreaproximadamente 27 mil poços, cominformações que subsidiam os estudoshidrogeológicos no Estado e possibilitauma definição mais precisa dapotencialidade dos seus recursoshídricos subterrâneos.

ITEM – Qual é a importância do acervo de águassubterrâneas para o desenvolvimento da agri-cultura irrigada no estado do Piauí?Agamenon Dantas – Não obstante o Piauí serum estado que ainda não conseguiu atingir omesmo patamar de desenvolvimento de outrosestados brasileiros, está localizado sobre umaestância hidrogeológica das mais ricas, tanto emtermos qualitativos como quantitativos, para aexploração de água subterrânea. Entretanto, temque haver a gestão dos recursos hídricos para odesenvolvimento da agricultura irrigada, umavez que este tipo de uso consome água de formasignificativa. A irrigação deverá ser a mais efici-ente possível, com o uso de métodos que pro-porcionem a maior produção por cada unidadede água a ser captada dos mananciais subterrâ-neos.

ITEM – Quais são os limites a serem impostospara o uso indevido desse acervo?Agamenon Dantas – Os limites impostos estãorelacionados com uma gestão das águas que nãocomprometa a sua qualidade, pois a contamina-ção de um aqüífero é de difícil reversão, bemcomo, com um balanço equilibrado entre a cap-

A CPRM faz o balanço do inventáriode 27 mil poços e das águas

subterrâneas, uma base para a gestãode recursos hídricos no Piauí

tação das águas e a recarga do aqüífero, paraevitar super explotação. Para isto, é necessárioaplicar os instrumentos de gestão dos recursoshídricos, em particular, o de outorga do direitodo uso da água. O sistema quando implantado,deverá ser monitorado adequadamente paraevitar soluções de continuidade no fornecimen-to d’água.

ITEM – Quais são os principais objetivos dotrabalho de cadastramento dos poços do Esta-do do Piauí elaborado pela CPRM? Quais sãoos destaques importantes desse cadastramento?Agamenon Dantas – O cadastramento de poçosde parte do Semi-Árido, posteriormente expan-dido para o Estado do Piauí, foi executadoatravés de uma parceria entre o MME/CPRM,visando identificar poços tubulares que pudes-sem ser instalados utilizando sistemas de

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A CPRMcadastrou cercade 27 mil poçosde águassubterrâneasno Piauí

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24 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Mesmo sendo considerado um Estado ricoem águas subterrâneas e superficiais, o Piauítem uma das menores áreas destinadas à agri-cultura irrigada do Nordeste. Além de contarcom os 1.400 quilômetros de extensão do RioParnaíba, seus afluentes perenes e um grandenúmero de açudes e barragens, o Estadocontabiliza outra riqueza hídrica preciosa: seuacervo de águas subterrâneas. Recentemen-te, a Companhia de Pesquisa de RecursosMinerais (CPRM) completou um cadastra-mento essencial para a gestão dos recursoshídricos estaduais com o levantamento de,aproximadamente, 27 mil poços existentes nosmunicípios piauienses.

Ao longo de seus anos de experiência,Francisco Batista Teixeira, chefe da Residên-cia Especial de Teresina da Companhia dePesquisa de Recursos Minerais (CCPR), con-sidera que questões políticas associadas aoconhecimento impedem uma melhor avalia-ção e utilização das águas subterrâneas doEstado. “No Nordeste, especialmente noPiauí, a água tem sido usada como uma moe-da de troca eleitoral. Daí, o motivo pelo qualnão se conseguiu até hoje, em que pese o po-tencial fantástico que temos, sequer uma ava-liação segura desse potencial”, justifica ele, umespecialista na área.

“Piauí, um Estadomiseravelmente rico emáguas subterrâneas”

Segundo Batista, desde o início do séculopassado, o Piauí passou a ser fonte de estudosdos primeiros trabalhos de hidrogeologia doNordeste. E, a partir dos trabalhos iniciais de1912, elaborados por um geólogo americano,ele enumera uma série de trabalhos, come-çando pelo da Sudene, na década de 60, queapresentou uma nova fase dessas potencia-lidades. Na mesma década, por volta de 1967,o Estado recebeu a visita de uma missãohidrogeológica de Israel, tentando viabilizar

bombeamento acionados por energia solar, bemcomo localizar aqueles que, instalados anterior-mente, necessitassem ser revitalizados. Merecemdestaque os seguintes pontos:a) foi constituída uma rica base de dados sobrecerca de 27 mil poços, com informações que sub-sidiam os estudos hidrogeológicos no Estado, epossibilita a definição mais precisa dapotencialidade dos seus recursos hídricos sub-terrâneos.b) a base de dados cadastrada juntamente como Sistema de Informações de Águas Subterrâ-neas (Siagas) subsidia a política de recursoshídricos subterrâneos do Estado, na medida emque coloca à sua disposição uma ferramentavaliosa para tomada de decisão com vistas ao usoracional dos recursos hídricos.c) a base de dados e o Siagas fornecem subsídi-os para implantação de programas sustentáveisde aproveitamento dos recursos hídricos que,associados às outras políticas públicas, propor-cionarão o aceleramento do desenvolvimentodessa região.

ITEM – O que representará esse cadastramentopara o desenvolvimento da agricultura irrigadano Piauí?Agamenon Dantas – Através dos dados e infor-mações gerados pelo cadastramento e, comple-mentarmente pelo Siagas como ferramenta degestão, associados ao conhecimento do uso dosolo, certamente é possível definir-se um progra-ma racional para aproveitamento das águas sub-terrâneas, visando estimular o uso da agricultu-ra irrigada no Estado do Piauí e a utilizar prin-cipalmente os aqüíferos Cabeças e SerraGrande.

Águas subterrâneas,muitos estudos epouca prática

AgamenonDantas: a

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 25

o primeiro projeto de irrigação do Dnocs. Era oProjeto Lameira, localizado entre Floriano eOeiras, no Vale do Parnaíba. “Foi o marco inici-al desses estudos, que eu classificaria como aprimeira grande frustração”, afirma Batista, con-fessando-se cansado de tantos estudos.

Uma outra missão geológica, desta vez daAlemanha, deixou sua contribuição por volta de1977. Em seguida, vieram os trabalhos das gran-des consultoras nacionais, como Tecnosolo,Oesa, Eptsa, contratadas pelo Dnocs paraviabilizar os projetos Gurguéia, nos municípiosde Cristino Castro, Morro dos Cavalos, SimplícioMendes e adjacentes. Como resultado dessestrabalhos, o Estado recebeu outra missãohidrogeológica, desta vez vinda da Itália paratambém estudar o acervo de águas subterrâne-as do Piauí. A Universidade Federal de Recife,através do seu laboratório Labid e uma funda-ção existente na Universidade também apresen-tou um estudo sobre o Vale do Gurguéia, nadécada de 80.

“Eu destacaria um artigo publicado em OGlobo, do professor Aldo da Cunha Rebouças,sob o título: ´Piauí, um Estado miseravelmenterico em águas subterrâneas’, onde o Piauí foiclassificado como o mais rico do País em recur-sos hídricos subterrâneos, recorda-se ele.

Uma visão profissional sobreo acervo

Segundo Batista, que é geólogo e especialis-ta em engenharia de perfuração, o Piauí temáreas de concentração de poços, como é o casode Picos, onde ocorreram rebaixamentos regio-nais da água subterrânea. “Talvez, pela elevadaconcentração de poços no local”, considera ele.

“Mas temos outras regiões, onde poços con-tinuam sendo construídos. Através de um siste-ma misto de produção, talvez se consiga romper

esse ciclo”, arrisca ele. E completa: “Gurguéiaestá aí, com 36 anos de estudos e até agoranão resolveram a equação de que se tem ounão água para irrigar”. Para Batista, a popu-lação está cansada de esperar e a academiaprecisaria ouvir mais o clamor das ruas. “Temgente esperando por resultados desde quan-do foi descoberto o poço Violeto (considera-do o mais antigo do Piauí), achando que suavida fosse mudar”.

Foi feito então um projeto piloto no Valedo Gurguéia, na década de 70, com a cons-trução de 19 poços com bombas instaladas ecapacidade de vazão de 500 m3 por hora.Hoje, o número de poços chega a 40 nosmunicípios de Cristino Castro e ElizeuMartins, sendo que o último foi concluído emsetembro de 1987. Um projeto do Dnocs foiimplantado para irrigar 50 mil hectares e con-ta com apenas 2 mil hectares irrigados nosdias de hoje.

Escola para a formação dosprimeiros profissionais

Se não houve resultados práticos na utili-zação da água subterrânea, os estudoshidrogeológicos feitos no Nordeste transfor-maram-se numa escola para a formação dosprimeiros profissionais especializados do País.O convênio de cooperação firmado entre aUnesco e a Sudene fez com que os agrôno-mos formados no Brasil fossem para os EUAe, depois de algum tempo, voltassem comohidrogeólogos.

Foi assim que, na década de 60, iniciou-sea formação desses profissionais na Universi-dade Federal de Pernambuco, prática queacabou estendendo-se para todo o Brasil. Foiatravés dessa sistemática que surgiram nomesde expressão no setor, como Aldo CunhaRebouças e Paulo Sá. “O Piauí parece exau-rido de tantos estudos e, até agora, não seviu nenhuma medida mais concreta paraviabilizar esse potencial”, considera Batista.

Batista: osprimeirosestudos dahidrogeologiado Nordestedatam do iníciodo séculopassado

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26 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Universidade Federal do PiauíXV Conird trará um choquetecnológico para o Estado

A Universidade Federal do Piauí (UFPI), através de seuscursos de graduação e pós-graduação nas áreas de

Agronomia e Ciência Animal, deverá participarativamente do XV Congresso Nacional de Irrigação e

Drenagem (XV Conird) e do Seminário Internacional deUso das Águas Subterrâneas na Agricultura Irrigada, aserem realizados de 16 a 21 de outubro próximo. Foi

este sentimento repassado pelo reitor Luiz dos SantosSousa Júnior, em entrevista à revista ITEM. Segundo

ele, em 2005, a Universidade está pleiteando a criaçãode dois programas de doutorado. Um deles na área de

Ciência Animal, onde há uma mistura depesquisadores das áreas de Agronomia,

Zootecnia e Veterinária.

A usina piloto paraprodução de biodiesel

da UniversidadeFederal do Piauí já

testou, com sucesso, amamona e a soja, sob

a coordenação daprofessora

Carla Verônica

“V ejo a irrigação como uma motiva-ção para investidores e a Universi-dade tem que estar presente e in-

centivar nossos pesquisadores a desenvolvertecnologias para o Estado. O governo federal,em 2005, está dando mais incentivo às universi-dades federais e estamos tratando, no exatomomento, da reforma do ensino superior”, afir-mou o reitor. Além de campus localizados emTeresina, Picos e Parnaíba, a UFPI coordenacursos em três colégios agrícolas de formaçãotécnica na capital piauiense, Bom Jesus eFloriano. Neste último município, existe umagrande área, onde é possível conduzir trabalhoscom irrigação, da mesma forma que em Bom Je-sus. “Pretendo ser um incentivador para que airrigação e a drenagem sejam modelos na nossauniversidade”, afirma o reitor Luiz Santos.

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certa velocidade no município de SantaFilomena. A soja também é uma cultura em ex-pansão. “Essas três culturas já têm um bom de-senvolvimento no Piauí, principalmente no Cer-rado. Terão que ser testadas com a irrigação,porque não existe informação dessas culturas,nesta forma, no Estado”, afirma o professor queconsidera que essa vitrine dará apoio para di-fundir a importância da irrigação.

Ele considera importante levar em conside-ração o aspecto do retorno econômico dessasculturas irrigadas no Estado. “A irrigação temum custo e exige uma mão-de-obra mais especi-alizada. No Nordeste, temos áreas degradadas,devido ao manejo inadequado da irrigação. Massão problemas superáveis e a tecnologia está aípara isso”, completa o professor.

Adeodato Salviano analisa que, mesmo ten-do muita água, sol e terras com solos favoráveise relativamente baratas, há mais de 20 anos oPiauí conta com menos de 20 mil hectares irri-gados e não passa dessa marca. “Estamos preci-sando desse choque tecnológico e de conheci-mento empresarial para mudar. O Projeto Ta-buleiros Litorâneos, com 22 mil ha, está com ainfra-estrutura pronta há 15 anos e não temos200 hectares cultivados. A justificativa é de quenão havia energia elétrica para mover o Proje-to.”

Outro motivo de grande interesse no XVConird é o agronegócio de culturas energéticasirrigadas. Há dois anos, a Universidade está ten-tando colocar em funcionamento uma usina pi-loto para a produção do biodiesel, incluída nasiniciativas regionais do Programa Nacional deProdução e Uso de Biodiesel (PNPB). “A usinaestá pronta e estamos estabelecendo uma par-ceria para mostrar a viabilidade dessa explora-ção”, afirma o reitor. A idéia acadêmica que aUniversidade pretende colocar em prática é ado cultivo irrigado da mamona associado ao fei-jão-caupi.

Sob a coordenação técnica da professora deQuímica, Carla Verônica Rodarte de Moura, ausina tem capacidade para produzir 2.400 litros/dia de biodiesel, já tendo testado, sem proble-mas, óleos originários da mamona e da soja.Atualmente, a produção é destinada à empresaBrasil Ecodiesel, que ganhou a licitação paraoperar e comercializar o produto da usina. Obiodiesel produzido está sendo direcionado auma empresa mineradora da Bahia e a umaempresa de ônibus em Fortaleza. Nesse projetoda usina, estão envolvidos, atualmente, três pro-fessores, três alunos de mestrado, sete de inicia-ção científica e dois estagiários em final de cur-so de bacharelado em Química da UFPI.

Choquetecnológicopara mudar

O professor e pes-quisador do Departa-mento de Engenha-ria e Solos, da UFPI,Adeodato Ari Caval-cante Salviano , dou-tor em Ciência doSolo, acredita que avitrine de culturasenergéticas irrigadasprogramada para o XV Conird vai fazer com queos alunos de graduação e pós-graduação tenhammaior contato e convivência com o assunto.“Está-se falando muito nesses tipos de cultura,no biocombustível, e, com isso, vai haver umaligação mais prática com a teoria pregada emsala de aula”, considera o professor.

A mamona está em expansão no Piauí, atu-almente existe uma área superior a 10 mil hec-tares plantados e a expectativa é de aumentodeste cultivo de sequeiro. O algodão tambémtem uma grande área plantada na região de Cer-rado, que está começando a expandir com uma

A Universidade Federal do Piauí conta com cerca de 1 milalunos em cursos de graduação em Ciências Agrárias, alémde 60 em curso de pós-graduação de áreas afins. É tambémresponsável pela coordenação de mais 600 alunosvinculados aos cursos técnicos agrícolas.

Reitor Luiz dosSantos SousaJúnior: auniversidade quercolocar em práticao cultivo irrigadoda mamonaassociado aofeijão-caupi

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O governo federal, por meio doMinistério da Ciência e Tecnologia,mantém um site www.biodiesel.gov.br,administrado pela Secretaria deDesenvolvimento Tecnológico eInovação, que traz informaçõesimportantes sobre o Programa Nacionalde Produção e Uso de Biodiesel (PNPB),para produtores, empresários,pesquisadores e sociedade, de um modogeral. As dúvidas mais freqüentes sobreo biodiesel são as seguintes:

O que é biodiesel?

Biodiesel é um combustível biodegradável de-rivado de fontes renováveis, que pode ser obtidopor diferentes processos, tais como craqueamento,esterificação ou transesterificação. Esta última,mais utilizada, consiste numa reação química deóleos vegetais ou de gorduras animais com o ál-cool comum (etanol) ou o metanol, estimulada porum catalisador. Desse processo também se extraia glicerina, empregada para fabricação de sabo-netes e diversos outros cosméticos. Há dezenasde espécies vegetais no Brasil, das quais se podeproduzir o biodiesel, tais como mamona, dendê

(palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão-manso e soja, dentre outras.

O biodiesel substitui total ou parcialmente oóleo diesel de petróleo em motores ciclodieselautomotivos (de caminhões, tratores, camionetas,automóveis etc.) ou estacionários (geradores deeletricidade, calor etc.). Pode ser usado puro oumisturado ao diesel em diversas proporções. Amistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo échamada B2 e assim sucessivamente, até obiodiesel puro, denominado B100.

Quando e onde surgiu o biodiesel?

O biodiesel já vem sendo pesquisado e já éconhecido desde o início do século passado, prin-cipalmente na Europa. É interessante notar que,segundo registros históricos, o Dr. Rudolf Dieseldesenvolveu o motor diesel, em 1895, tendo leva-do sua invenção à mostra mundial em Paris, em1900, usando óleo de amendoim como combustí-vel. Em 1911, teria afirmado que “o motor dieselpode ser alimentado com óleos vegetais e ajudaráconsideravelmente o desenvolvimento da agricul-tura dos países que o usarem”. O que está se bus-cando fazer no Brasil é muito semelhante a isso,inicialmente com ênfase na agricultura familiar dasregiões mais carentes, como o Nordeste, o Nortee o Semi-Árido brasileiro.

Quais os países maiores produtores debiodiesel?

Apesar de o motor chamado ciclodiesel ter fun-cionado inicialmente com óleo vegetal, os baixospreços do petróleo acabaram adiando seu uso. Aintensificação das pesquisas e o interesse crescen-te por combustíveis substitutos do óleo diesel mi-neral têm sido crescentes depois dos choques dopetróleo. A necessidade de reduzir a poluiçãoambiental deu outro impulso importante a essaspesquisas. Em 2005, os países da União Européiadeverão usar pelo menos 2% de combustíveisrenováveis. Em 2010, esse percentual será de 5%e crescerá gradativamente. A Alemanha é respon-sável por mais da metade da produção européiade combustíveis e já conta com centenas de pos-tos que vendem o biodiesel puro (B100), com ple-

Dezenove perguntas mais freqüentes sobre o biodiesel

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A mamona,uma dasespéciesvegetais

importantespara a

produção dobiodiesel

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na garantia dos fabricantes de veículos. O totalproduzido na Europa já ultrapassa 1 bilhão de li-tros por ano, tendo crescido à taxa anual de 30%,entre 1998 e 2002. Essa tendência deverá conti-nuar, mesmo com taxas menores, o que poderáabrir um mercado importantíssimo para os pro-dutores de biodiesel, como se busca iniciar e con-solidar no Brasil.

“A competitividade com o óleodiesel passa pelo preço do barril depetróleo e pelos benefícios que oagronegócio dos biocombustíveisfaz refletir na geração de empregos,na segurança do abastecimento eem vários outros aspectos”

Qual é a experiência brasileira embiodiesel?

O Brasil já foi detentor de uma patente parafabricação de biodiesel, registrada a partir de es-tudos, pesquisas e testes desenvolvidos na Uni-versidade Federal do Ceará, nos anos de 1970. Essapatente acabou expirando, sem que o País ado-tasse o biodiesel, mas a experiência ficou e conso-lidou-se ao longo do tempo. Progressos crescen-tes vêm sendo alcançados em diversas universida-des, institutos de pesquisa de diversos Estados,havendo grande diversidade de tecnologias dis-poníveis no País. Existem também empresas quejá produzem biodiesel para diversas finalidades.Pode-se dizer que o Brasil já dispõe de conheci-mento tecnológico suficiente para iniciar e impul-sionar a produção de biodiesel em escala comer-cial, embora deva continuar avançando nas pes-quisas e testes sobre esse combustível de fontesrenováveis, como aliás se deve avançar em todasas áreas tecnológicas, de forma que venha a am-pliar a competitividade do produto. Em resumo, ésó usar e aperfeiçoar o que já temos.

Quais as vantagens que o biodiesel apre-senta para o Brasil?

Esse combustível renovável permite a econo-mia de divisas com a importação de petróleo eóleo diesel. Também reduz a poluição ambiental,

além de gerar alternativas de empregos em áreasgeográficas menos atraentes para outras ativida-des econômicas e, assim, promover a inclusão so-cial. A disponibilização de energia elétrica paracomunidades isoladas, hoje de elevado custo emfunção dos preços do diesel, também deve serinserida como forma de inclusão, que permiteoutras, como a inclusão digital, o acesso a bens,serviços, informação, cidadania e assim por dian-te. Há que se considerar ainda uma vantagem es-tratégica que a maioria dos países importadoresde petróleo vem inserindo em suas prioridades:trata-se da redução da dependência das importa-ções de petróleo, a chamada “petrodependência”.Deve-se enfatizar também que a introdução dobiodiesel no Brasil, aumentará a participação defontes limpas e renováveis em nossa matrizenergética, somando-se principalmente àhidroeletricidade e ao álcool, colocando o Paísnuma posição ainda mais privilegiada nesse aspec-to, no cenário internacional. A médio prazo, obiodiesel pode-se tornar importante fonte de di-visas para o País, somando-se ao álcool, como fon-te de energia renovável que o Brasil pode e deveoferecer à comunidade mundial.

Quanto o Brasil pode economizar emdivisas com o biodiesel?

Em 2003, o consumo nacional de diesel foi daordem de 38 milhões de m³. Desse total, cerca de10% foram importados a um custo de, aproxima-damente, US$ 800 milhões. Com o uso do B2 (mis-tura de 2%), o Brasil poderá substituir 760 milhõesde m³ por ano. A utilização de B10 permitiria asubstituição total do diesel importado. Mas essa éapenas uma parte da vantagem econômica, poistemos que considerar também o agronegócio vin-culado ao biodiesel, que abrange a produção dematérias-primas e insumos agrícolas, assistênciatécnica, financiamentos, armazenagem, processa-mento, transporte, distribuição etc. Juntas, essasatividades geram efeitos multiplicadores sobre arenda, emprego e base de arrecadação tributáriae alavancam o processo de desenvolvimento re-gional, o que pode ser potencializado, a médioprazo, com as exportações desse novo combustí-

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vel. Dados relativos ao agronegócio brasileiro in-dicam que cada real de produção agropecuáriatransforma-se em três reais, quando se consideraa média desses efeitos multiplicadores, os quaistendem a crescer, à medida que se avança no pro-cesso de produção e exportação de produtos commaior valor agregado.

Quais as vantagens ambientais de oBrasil produzir e usar biodiesel?

Reduzir a poluição ambiental é hoje um obje-tivo mundial. Todo dia tomamos conhecimento deestudos e notícias indicando os males do efeitoestufa. O uso de combustíveis de origem fóssil temsido apontado como o principal responsável porisso. A Comunidade Européia, os Estados Unidos,Argentina e diversos outros países vêm estimulan-do a substituição do petróleo por combustíveis defontes renováveis, incluindo principalmente obiodiesel, diante de sua expressiva capacidade deredução da emissão de diversos gases causadoresdo efeito estufa, a exemplo do gás carbônico eenxofre. Melhorar as condições ambientais, sobre-tudo nos grandes centros metropolitanos, tambémsignifica evitar gastos dos governos e dos cida-dãos no combate aos males da poluição, estima-dos em cerca de R$ 900 milhões anuais. Além dis-so, a produção de biodiesel possibilita pleitear fi-nanciamentos internacionais em condiçõesfavorecidas, no mercado de créditos de carbono,sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo(MDL), previsto no Protocolo de Kyoto.

Qual a relação entre biodiesel e o Proto-colo de Kyoto e quais as possíveis vantagensdesse mecanismo para o Brasil e para osprodutores brasileiros?

O mercado de créditos de carbono, previstono Protocolo de Kyoto, já vem realizando algumasoperações, mesmo sem a adesão da Rússia. A van-tagem consiste, basicamente, em financiar empre-endimentos que contribuam para reduzir a emis-são de gases causadores do efeito estufa, tais comoo gás carbônico e o enxofre, dentre outros. As-sim, os empreendimentos são financiados em con-dições especiais, como estímulo à sua contribui-ção para a melhoria das condições ambientais doPlaneta. Para os empreendimentos, as vantagenssão, portanto, indiscutíveis. Sob o ponto de vistado País, abre-se uma nova fonte de financiamen-

to do processo de desenvolvimento, em condiçõesmuito vantajosas, permitindo que o governoredirecione recursos para outras áreas prioritárias,como educação, saúde, infra-estrutura e assim pordiante. Não se pode deixar de mencionar, também,o impacto favorável sobre a imagem do País noexterior, na medida em que projetos brasileirossejam beneficiados com número crescente de fi-nanciamentos no âmbito do MDL. A atenção aomeio ambiente é uma das formas mais eficazes deprojetar o nome de um país no cenário internaci-onal, diante da visibilidade e da importância cres-cente do tema ambiental. A adesão da Rússia aoProtocolo de Kyoto, que permitiu sua entrada emvigor a partir de 16 de fevereiro de 2005, repre-senta, a um só tempo, o fortalecimento do mer-cado de carbono e um indicador indiscutível so-bre a importância crescente com que a comunida-de internacional vem tratando da questão ambi-ental. Cabe assinalar, a propósito, que a Rússia,embora se tenha negado, no início, a assinar oProtocolo, acabou decidindo mudar seu posicio-namento diante das repercussões negativas quevinha recolhendo no cenário internacional.

Por que o biodiesel promove a inclusãosocial?

Além das vantagens econômicas e ambientais,há o aspecto social, de fundamental importância,sobretudo considerando a possibilidade de concili-ar sinergicamente todas essas potencialidades. Defato, o cultivo de matérias-primas e a produção in-dustrial de biodiesel, ou seja, a cadeia produtiva dobiodiesel, têm grande potencial de geração de em-pregos, promovendo, dessa forma, a inclusão soci-al, especialmente quando se considera o amplopotencial produtivo da agricultura familiar. No Semi-Árido brasileiro e na Região Norte, a inclusão socialé ainda mais premente, o que pode ser alcançadocom a produção de biodiesel de mamona e de pal-ma (dendê). Para se ter uma visão geral sobre acriação de postos de trabalho, é suficiente registrarque a adição de 2% de biodiesel ao diesel mineralpoderá proporcionar o emprego de mais de 200mil famílias. Para estimular ainda mais esse proces-so, o governo está lançando também o selo Com-bustível Social, um conjunto de medidas específi-cas que visa estimular a inclusão social da agricul-tura nessa importante cadeia produtiva, que teráinício com o B2 e depois crescerá gradativamente.

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O Brasil vai produzir somente o biodieselde mamona e de dendê?

Empregar uma única matéria-prima para pro-duzir biodiesel num País com a diversidade do Bra-sil seria um grande equívoco. Na Europa, usa-sepredominantemente a colza, por falta de alterna-tivas, embora se fabrique biodiesel também comóleos residuais de fritura e resíduos gordurosos.No Brasil, temos dezenas de opções, como de-monstram experiências realizadas em diversos Es-tados com mamona, dendê, soja, girassol, pinhão-manso, babaçu, amendoim, pequi etc. Cada cul-tura desenvolve-se melhor dependendo das con-dições de solo, clima, altitude e assim por diante.A mamona é importante para o Semi-Árido, porse tratar de uma oleaginosa com alto teor de óleo,adaptada às condições vigentes naquela região,onde o cultivo já detém conhecimentos agronô-micos suficientes. Além disso, o agricultor famili-ar nordestino já conhece a mamona. O dendê será,muito provavelmente, a principal matéria-primana Região Norte.

Às vezes, comenta-se que o Brasil não vai pro-duzir biodiesel de soja, por exemplo. Na verdade,o objetivo do governo federal com o PNPB é pro-mover a inclusão social e, nessa perspectiva, tudoindica que as melhores alternativas para viabilizaresse objetivo nas regiões mais carentes do País são

a mamona, no Semi-Árido, e o dendê, na RegiãoNorte, produzidos pela agricultura familiar. Dian-te disso, será dado tratamento diferenciado a es-ses segmentos e os Estados também deverão fazê-lo, não apenas na esfera do ICMS, mas de outrasiniciativas e incentivos. Em Pernambuco, por exem-plo, já se cogita criar um pólo ricinoquímico naregião do Araripe, mas há vários outros exemplos.Entretanto, uma vez lançadas as bases do PNPB,como se está fazendo agora, todas as matérias-primas e rotas tecnológicas são candidatas em po-tencial. Isso vai depender das decisões empresari-ais, do mercado e da rentabilidade das diferentesalternativas. Ao governo não cabe fazer as esco-lhas, mas sim estimular as alternativas que maiscontribuam para gerar empregos e renda, ou seja,promover a inclusão social. Mas não há dúvida deque a soja, tanto diretamente, como mediante autilização dos resíduos da fabricação de óleo etorta, será uma alternativa importante para a pro-dução de biodiesel no Brasil, sobretudo nas regi-ões com maior aptidão para o desenvolvimentodessa cultura.

O biodiesel terá isenção tributária?

O Brasil dispõe de condições de solo e climaque possibilitam o cultivo de diversas oleaginosassuscetíveis de transformação em biodiesel, cadaqual com características próprias em termos deregião de plantio, necessidade de mão-de-obra,rendimento e custo de produção, dentre outras.Assim, é essencial a adoção de um modelo tribu-tário específico para o biodiesel. Na esfera fede-ral, esse modelo contemplará a redução a zero daalíquota do IPI incidente na comercialização dobiodiesel e tratamento diferenciado em termos dacontribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. Para es-timular a inclusão social, a carga tributária po-derá ser reduzida, com possibilidade de criaralíquotas específicas, diferenciadas em função damatéria-prima, do produtor-vendedor (agricultu-ra familiar) e da região de produção ou da combi-nação desses fatores. Haverá desoneração com-pleta de PIS/Cofins na produção de biodiesel demamona ou palma (dendê), oriundos da agricul-tura familiar nas Regiões Norte, Nordeste e Semi-Árido, por serem consideradas as regiões mais ca-rentes. A agricultura familiar das demais regiões eo agronegócio do Norte, Nordeste e do Semi-Ári-do também terão benefício, mas em nível menor.

A usina piloto da UFPI tem capacidade para produzir 2.400litros/dia de biodiesel

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O biodiesel é competitivo com o dieselde petróleo?

A diversidade existente no Brasil impossibilitao cálculo de um custo único para o biodiesel, por-que isso depende da rota tecnológica e das maté-rias-primas a serem utilizadas. Mesmo para umadeterminada oleaginosa, os custos são diferencia-dos nas diversas regiões em função do preço daterra, sementes, insumos, máquinas e equipamen-tos, mão-de-obra e assim por diante. Um estudofeito pelo Ministério de Minas e Energia com amamona mostrou que, considerando o preço dopetróleo na faixa dos US$ 35 por barril, o biodieselcom isenção tributária é competitivo em relaçãoao preço do diesel faturado pelas refinarias (comCide, Pis/Cofins e ICMS). O preço do petróleo estáem ascensão no mercado internacional e, nessascircunstâncias, o biodiesel pode ser competitivomesmo sem incentivos.

Entretanto, a competitividade deve ser anali-sada de forma mais abrangente. O custo do dieselde petróleo em regiões mais distantes das basesde distribuição, tanto para uso em veículos, quan-to em máquinas e equipamentos agrícolas e tam-bém para geração de energia elétrica, é muito ele-vado e, nesses casos, o biodiesel é competitivo semdúvida. Assim, não se pode generalizar. O que ogoverno tende a fazer é manter os tributos nor-mais sobre o diesel aditivado (B2) e conceder tra-tamento tributário diferenciado aos produtores debiodiesel, desde que tenham o certificado de Selode Combustível Social, fornecido pelo MDA aosempreendimentos que atenderem determinadascondicionalidades, principalmente o uso de maté-rias-primas oriundas da agricultura familiar.

Como o governo vai apoiar os agriculto-res familiares no cultivo de matérias-primaspara produção de biodiesel?

Existem basicamente dois mecanismos diretose um indireto para o apoio aos agricultores fami-liares. De um lado, eles terão acesso a linhas decrédito do Pronaf, por meio dos bancos que ope-ram com esse Programa, assim como acesso à as-sistência técnica, fornecida pelas próprias empre-sas detentoras do selo Combustível Social, comapoio do MDA por meio de parceiros públicos eprivados. De forma indireta, os agricultores fami-liares também serão beneficiados pelo selo Com-

bustível Social, na medida em que as empresasprodutoras de biodiesel terão tratamento tributá-rio diferenciado se adquirirem matérias-primasdesses agricultores. Nesse processo, as indústriasprodutoras de biodiesel terão que garantir a com-pra da matéria-prima, a preços preestabelecidos,oferecendo segurança aos agricultores familiares.Há, ainda, possibilidade de os agricultores famili-ares participarem como sócios ou quotistas dasindústrias extratoras de óleo ou de produção debiodiesel, seja de forma direta, seja por meio deassociações ou cooperativas de produtores.

“O Brasil dispõe de condições desolo e clima que possibilitam ocultivo de diversas oleaginosassuscetíveis de transformação embiodiesel, cada qual comcaracterísticas próprias em termosde região de plantio

Os fabricantes de biodiesel também te-rão tratamento diferenciado do governo?

De forma geral, as empresas poderão contarcom linhas especiais de financiamento do BNDES,para a instalação de indústrias de biodiesel, com-pra de equipamentos etc., atendendo suas neces-sidades de investimentos fixos. Adicionalmente, asindústrias que atenderem às condições para rece-ber do MDA o selo Combustível Social terão trata-mento tributário diferenciado sobre a compra dematérias-primas da agricultura familiar. Outra for-ma importante de apoio, que ainda precisa ser tra-balhada com cuidado, é a utilização dos chama-dos créditos de carbono, o que se traduzirá emfinanciamentos concedidos aos produtores debiodiesel com recursos de fontes internacionais, acustos bastante reduzidos, o que, de forma indi-reta, também vai beneficiar os produtores de ma-térias-primas engajados em projetos selecionados.

Qual a tecnologia recomendada pelo go-verno para produção de biodiesel?

Existem processos alternativos para produçãode biodiesel, tais como o craqueamento, a esteri-ficação ou a transesterificação, que pode ser etílica,mediante o uso do álcool comum (etanol) ou

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metílica, com o emprego do metanol. Embora atransesterificação etílica deva ser o processo maisutilizado, em face da disponibilidade do álcool.Ao governo não cabe recomendar tecnologias ourotas tecnológicas, como se diz tecnicamente,porque essas devem ser adaptadas a cada realida-de. Diante de nossas dimensões continentais e di-versidade, não precisamos e não devemos optarpor uma única rota. O papel do governo é o deestimular o desenvolvimento tecnológico na áreado biodiesel, como já vem fazendo, por meio deconvênios entre o Ministério da Ciência eTecnologia e fundações estaduais de amparo àpesquisa, para permitir que possamos produziresse novo combustível a custos cada vez meno-res. É preciso estimular o que usualmente se cha-ma de curva de aprendizado, permitindo que nos-so biodiesel seja cada vez mais competitivo, comoocorreu com o álcool, por exemplo, e com inúme-ros outros produtos.

Quando haverá o diesel aditivado combiodiesel nos postos de revenda? A que preço?

O que o governo busca com o PNPB é um pas-so importante, histórico, poderíamos dizer, portodas as razões mencionadas, de natureza econô-mica, ambiental, social e estratégica. Está sendolançado um conjunto de documentos legais enormativos que proporcionam as bases para o iní-cio da produção e uso comercial do biodiesel noBrasil. O que temos, até o momento, são experi-ências importantes que devem ser aproveitadas eaperfeiçoadas. Mas a venda da mistura diesel/biodiesel nos postos de combustíveis ainda depen-de da produção de matérias-primas em escala su-ficiente e sua transformação no novo combustí-vel. Isso será feito aos poucos, na medida em quea produção for crescendo e os revendedores fo-rem aderindo ao novo combustível, que será ven-dido em bombas separadas, como se faz com oálcool. Os preços da mistura diesel/biodiesel e dodiesel tradicional, comum, serão muito próximose provavelmente os mesmos.

Os usuários que abastecerem seus veícu-los com o diesel aditivado poderão perdera garantia dos fabricantes?

O respeito ao consumidor é um dos pontosfundamentais do PNPB, que, aliás, tem sido sem-pre enfatizado pelo Presidente, assim como a in-

clusão social e a questão ambiental. Análises fei-tas pela Universidade Federal do Rio de Janeiroindicam que o uso do B2 não causa nenhum danoaos componentes e, portanto, não requer qual-quer modificação nos motores. Ao contrário, aju-da no processo de lubrificação. A Associação Na-cional dos Fabricantes de Veículos Automotores(Anfavea) já se comprometeu a manter as garan-tias usualmente oferecidas aos veículos, desde queo B2 atenda às especificações técnicas estabele-cidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), quevai fiscalizar a qualidade do diesel aditivado ven-dido nos postos da mesma forma e com o mesmorigor com que fiscaliza os demais combustíveis.

Qual a proporção do óleo vegetal quecompõe o biodiesel?

O biodiesel é produzido pela reação do óleovegetal com um álcool de cadeia curta (metanolou etanol). Como regra geral, podemos dizer que100 kg de óleo reagem com 10 kg de álcool, ge-rando 100 kg de biodiesel e 10 kg de glicerina.

Qual é a cor e o odor do biodiesel?

A cor e o odor do biodiesel variam um poucoem relação ao óleo vegetal escolhido como maté-ria-prima. Em geral, o produto é amarelo, poden-do ser muito claro ou mesmo alaranjado. O odoré parecido com o do óleo vegetal de origem.

Fonte: www.biodiesel.gov.br

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A soja é umdos destaquesda agriculturado Piauí

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Convocação geral para o Piauí

De 16 a 21 de outubro de 2005, Teresina será pal-co de dois importantes eventos conjuntos para o de-senvolvimento do estado do Piauí e do Brasil: o XVCongresso Nacional de Irrigação e Drenagem (XVConird) e o Simpósio Internacional de Uso de ÁguasSubterrâneas na Agricultura Irrigada. Estão progra-mados seis conferências, seis seminários, duas ses-sões pôsteres, 15 minicursos organizados sob cincograndes temas, duas rodadas de negócios, além devisitas aos estandes de exposição de máquinas e equi-pamentos de irrigação. Na parte prática dos eventos,estão previstos dois dias de campo, sendo que no pri-meiro dia estão programadas três diferentes ativida-des, duas em Teresina e uma terceira próxima à capi-tal. O segundo dia de campo será realizado no Dis-trito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí,na cidade de Parnaíba, localizado nas proximidadesdo litoral piauiense.

Tudo pronto para o XV Conird e oSimpósio Internacional de Uso de ÁguasSubterrâneas na Agricultura Irrigada

HORÁRIO

5h

7h30 às10h

10h às 10h15

10h15 às 12h15

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14h às 16h

16h às 16h15

16h15 às 18h

18h às 19h

19h às 20h

20h

17/10 SEGUNDA

MINICURSOS

Intervalo – Visita a estandes

CONFERÊNCIAPolíticas e perspectivas do uso das águassubterrâneas no desenvolvimento daagricultura irrigada

Almoço – Visita a estandes

SEMINÁRIO IAproveitamento dos recursos hídricossuperficiais da região Nordeste

SEMINÁRIO IIAgricultura Irrigada no Plano Nacional deRecursos Hídricos

Intervalo

CONFERÊNCIAGestão sustentável de aqüíferos: caso doaqüífero Serra Grande

Sessão Pôster – Visita a Estandes

Rodada de negóciosVisita a estandes

18/10 TERÇA

MINICURSOS

Intervalo – Visita a estandes

CONFERÊNCIAQualidade da água subterrâneafins de irrigação

Almoço – Visita a estandes

SEMINÁRIO IO desenvolvimento da agricultirrigada no Pronaf

SEMINÁRIO IIFruticultura irrigada: experiêncVales do São Francisco, Açu e P

Intervalo

CONFERÊNCIAGestão de perímetros irrigados

Assembléia – ABID

Rodada de negócios Visita a estandes

16/10 DOMINGO

CredenciamentoRecepção eInformações

Conferência InauguralParcerias público-privadas naagricultura irrigada

Coquetel

O limão e opinhão-mansoirrigados fazemparte daprogramaçãodos dias decampo dos doiseventos

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PROGRAMAÇÃO CONJUNTA DO XV CONIRD e DO SIMPÓSIO INTERNA

34 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

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MinicursosMANEJO DE IRRIGAÇÃO1. Manejo de irrigação com base em estação

meteorológica automática e em série histórica dedados climáticos.

2. Lisimetria na determinação do consumo de águadas plantas.

3. Monitoramento de água no solo e na planta parafins de irrigação.

FERTIRRIGAÇÃO4. Manejo de irrigação e fertirrigação em fruteiras.5. Manejo de irrigação e fertirrigação em hortaliças.6. Manejo de água e nutrientes em pomares de limão

Tahiti e manga.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO SOB IRRIGAÇÃO7. Produção de pastagem irrigada.8. Produção de sementes e mudas sob irrigação.9. Produção de cana-de-açúcar sob irrigação.

GESTÃO DE RECURSOS DE SOLO E ÁGUA10. Outorga de uso de água superficial e subterrânea

para fins de irrigação.11. Licenciamento ambiental para irrigação.12. Comitês de bacias hidrográficas: conservação e uso

do solo e água.

SISTEMAS ALTERNATIVOS DE IRRIGAÇÃO PARAAGRICULTURA FAMILIAR13. A organização e gestão de perímetros irrigados

visando a integração da Agricultura Familiar.

14. Sistemas e equipamentos de irrigação parapequenas áreas.

15. A organização da assistência técnica, da produçãoe do manejo de irrigação.

Dias de Campo1. Vitrine de culturas energéticas irrigadas para

produção de matérias-primas parabiocombustíveisCulturas: soja, cana-de-acúcar, gergelim, amendoim,dendê, pinhão-manso, mamona e girassolLocal: Embrapa Meio-Norte, Teresina-PIData: 20/10/2005

2. Fruticultura IrrigadaCultura: Lima ácida TahitiLocal: Fazenda Frutan, em José de Freitas-PI(aproximadamente 40 km de Teresina)Data: 20/10/2005

3. Sistema de Pastoreio Rotativo sob IrrigaçãoLocal: Centro de Ciências Agrárias da UniversidadeFederal do Piauí, Teresina-PIData: 20/10/2005

4. Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos doPiauíCulturas: coco, goiaba, melancia e acerola orgânica.Neste dia de campo, haverá uma visita à estação decaptação de água e bombeamento.Local: Parnaíba-PIData: 21/10/2005

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19/10 QUARTA

MINICURSOS

Intervalo – Visita a estandes

CONFERÊNCIAO agronegócio das culturas energéticasirrigadas

Almoço – Visita a estandes

SEMINÁRIO IClassificação de solos para a irrigação eas áreas de recarga dos aqüíferosSEMINÁRIO IIIrrigação na produção debiocombustíveis: os exemplos dodendê e da cana-de-açúcar

Intervalo

Sessão Pôster – Visita a Estandes

Encerramento

Jantar de confraternização

20/10 QUINTA

DIAS DE CAMPO – Teresina1. Vitrine de matérias-primas para

biocombustívelEmbrapa Meio-Norte

2. Fazenda Frutan – fruticulturairrigada (limão Tahiti)

3. Sistema de pastoreio rotativosob irrigação – CCA/UFPI

Almoço – Visita a estandes

Sessão oral

DIAS DE CAMPODeslocamento para Parnaíba(ônibus 1)*

21/10 SEXTA

Deslocamento para Parnaíba(ônibus 2)*

DIA DE CAMPODistrito de Irrigação dosTabuleiros Litorâneos do Piauí

Almoço

Retorno a Teresina ou atividadepós-eventos com diversasoportunidades de visitas naregião do Delta do Parnaíba,além de outras atraçõesregionais

ACIONAL DE USO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA AGRICULTURA IRRIGADA

1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 35

(*) - O número de ônibus poderá seraumentado de acordo com o númerode inscrições para o dia de campo.

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36 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Oportunidade para pequenairrigação está no Piauí

Empenhada em tentar minimizar a questão da fome noEstado, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do

Piauí está dando os primeiros passos para aimplantação de um programa piloto denominado“Quintal Produtivo”. Esse Programa pretende dar

treinamento e assistência técnica em irrigação,iniciando com 800 famílias e utilizando áreas de um

hectare. “Com financiamento do Pronaf e daFundação do Banco do Brasil, em cada quintal, o

produtor vai manter uma parte para a produção defrutas e hortaliças irrigadas e, em outra, para a criação

de galinhas”, afirma Wilson Martins, secretário deDesenvolvimento Rural do Piauí. A comercialização será

garantida através de um outro programa, o “CompraDireta”, e, depois, doada ao Programa Fome Zero.

QUINTAL PRODUTIVO EM NÚMEROS

Famílias atingidas: 1.500.

Número de municípios: 150, localizados na região doSemi-Árido.

Financiamento necessário por família: R$4 mil a R$6mil por família.

Financiamento para investimentos: Pronaf eFundação Banco do Brasil.

Financiamento para custeio: Pronaf

Sementes, mudas, treinamento e assistênciatécnica: Secretaria de Desenvolvimento Rural doPiauí.

Produção: Frutas, legumes e galinhas para consumopróprio e venda do excedente.

Comercialização: Programa Compra Direta.

Distribuição: Programa Fome Zero.

Rendimento esperado por família: R$600,00 mensais

Falta a cultura da irrigação

Para o secretário de Desenvolvimento Ruraldo Piauí, Wilson Martins, mesmo sendo um Es-tado rico em águas de superfície e subterrâneas,a economia agrícola do Piauí está calcada prin-cipalmente na produção de sequeiro, onde osgrãos como soja, milho e arroz na região de Cer-rado atingem produtividades consideradas ex-celentes. Ele destaca como exemplo a produti-vidade do algodão no município de SantaFilomena, na colheita de 2004: 326 arrobas ou 5mil kg/ha. Na pecuária, ele mostra o crescimen-to da caprinovinocultura casada com a piscicul-tura e a maricultura, atividades que vêm sendoincentivadas pelo governo Wellington Dias.

Wilson Martins afirma que o Piauí é hojeconsiderado a maior e a mais recente fronteiraagrícola, especialmente na região de Cerrados.O potencial dos Cerrados cultiváveis no Estadoé de seis a oito milhões de hectares. “Temos plan-tado, atualmente, apenas 5% desse potencial. Aqualidade e a produtividade do algodão e da sojasão fantásticas”, afirma Martins.

Segundo o secretário de DesenvolvimentoRural, o piauiense não tem cultura para o de-senvolvimento da agricultura irrigada. “Temosalgumas experiências em parceria com a

A produçãoirrigada de frutas e

hortaliças casadacom a criação de

galinhas é o pontoforte do programa

“Quintal Produtivo”

o início, serão atingidas 100 famílias decada um de oito municípios localizados naregião entre Oeiras e Picos. Posterior-

mente, será estendido para 150 municípios doEstado “A partir dessa unidade piloto inicial,vamos ter um retrato para ampliar para mais 142municípios. A projeção é de que cada família, alémde sua subsistência, deva obter uma renda men-sal em torno de R$ 600,00”, afirma o secretário.

36 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 37

Embrapa e a Codevasf, como o plantio de uvasno município de Santa Rosa do Piauí. Existemplantios de caju, goiaba e mamão irrigados, compequenos produtores e de forma isolada. Nomeu entender, não há uma exploração adequa-da com irrigação no Piauí”, considera ele, des-tacando que o XV Congresso Nacional de Irri-gação e Drenagem (XV Conird) poderá dar umgrande incentivo à questão da fruticulturairrigada.

Para o secretário de Desenvolvimento Ruraldo Piauí, a reforma agrária é um ponto de des-taque no Estado. “Através do Programa de Cré-dito Fundiário do governo federal, o Piauí temfeito um número significativo de assentamentos,dando terra para quem precisa e sabe trabalhar.A SDR tem duas superintendências, uma deagricultura familiar e outra de agronegócios.Wilson Martins considera que o Estado tem cri-ado incentivos para atrair grandes empresas eprodutores: o Piauí tem água, clima e terras ba-ratas, além de estar revolucionando em termosde criação e manutenção de uma infra-estrutu-ra de estradas e energia necessárias ao desen-volvimento de agronegócios.

Preparativos da AssistênciaTécnica

As primeiras dificuldades para a implanta-ção do Programa “Quintal Produtivo” anuncia-do pelo secretário Wilson Martins devem come-çar dentro de casa. A Empresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural (Emater/PI), ligadaao sistema de desenvolvimento rural do Estado,está em processo de reestruturação, buscandorecuperar sua presença no Estado. Segundo odiretor-geral, Adalberto Pereira de Sousa, aEmater procura reativar sua estrutura e estáconvocando novos profissionais. Ainda em 2005,serão contratados 80 novos profissionais. Já fo-ram recuperados 16 Centros Regionais em 2003,80 escritórios em 2004, e, além de seu centro detreinamento, a Emater deverá recuperar mais80 escritórios até o final de 2005.

Para atender a esse Programa, o que existede concreto é a disponibilização de mudas defrutas para os agricultores. Mesmo com proces-so de reestruturação, o diretor-geral da Emateracredita que vai cumprir um papel importantena implantação, assistência técnica e acompa-nhamento desse Projeto. Ele considera o Pro-grama uma atividade complementar para o pro-dutor. “É uma cadeia de atividades que secomplementa. É um quintal com fruteiras, hor-taliças e galinha caipira, mas é também um ro-çado com feijão, milho, mamona e mandioca.

Estamos trabalhando para que aagricultura familiar possa elegerduas ou três atividades e que elaspossam garantir uma certa esta-bilidade”, considera ele.

“Temos muito a fazer em re-lação à capacitação do agricultorfamiliar para a irrigação. Isto estáposto como um desafio, para quea pequena agricultura venha a tera irrigação como uma alternati-va para produzir, tendo em vistao potencial que temos de água ea escassez da regularidade dechuvas”, afirma Adalberto Perei-ra de Sousa. Para ele, os agricul-tores piauienses ainda têm umacultura muito forte e grande de-pendência da boa vontade de SãoPedro.

Unidades de Transferência deTecnologia em Implantação - “Éuma mentalidade que está mu-dando aos poucos, na medida emque unidades de transferência detecnologia com uso da irrigaçãovão sendo instaladas”, afirma ele.Adalberto Sousa cita, comoexemplos, o município deValença, onde um projeto de uvairrigada com resultadossatisfatórios foi transformado emuma unidade de transferência detecnologia. “Estamos acompa-nhando produtores familiares nos perímetrosirrigados em Guadalupe, Pernambuco e Piripirie buscando parceria com o Dnocs para garantirassistência técnica em outros que estãoreativados, como Gurguéia e Morro dos Cava-los, em Simplício Mendes”, garante ele.

Estão sendo instaladas unidades demonstra-tivas de produção de caju, para transferência detecnologia e fornecimento de material deenxertia desse fruto na região de São Pedro, duasem escolas famílias agrícolas (uma que está sen-do instalada em Amarante e outra em Teresina),além de outra no Centro de Treinamento daEmater.

Em relação à produção de hortaliças, umahorta orgânica está sendo instalada nesse Cen-tro e, através da Fundação Banco do Brasil, mais28 hortas comunitárias irão orientar famílias daperiferia. “São esses espaços que iremos traba-lhar para estimular nossos agricultores e apoiá-los nessas atividades. Estamos fazendo o traba-lho de convencimento da nossa agricultura fa-miliar para que possa ter a irrigação como alter-nativa”, finaliza Adalberto Sousa.

1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 37

Enquanto osecretário WilsonMartins dá inícioa um programade irrigaçãodestinado àagriculturafamiliar,Adalberto Sousa,do Emater/PI,luta pelareestruturaçãoda assistênciatécnica no Estado

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38 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Economia de água e energiana condução do cafeeiro

irrigado no CerradoPesquisas conduzidas pela Embrapa Cerrados, com o

apoio do Consórcio Brasileiro de Pesquisa eDesenvolvimento do Café, mostraram resultados de

interesse na condução de cafeeiros irrigados,utilizando-se o chamado estresse hídrico assistido.

Consiste na suspensão das irrigações por um períodode 60 a 70 dias nos meses de junho a agosto, até o

potencial na folha do cafeeiro atingir -2Mpa(Megapascal), sincronizando o desenvolvimento das

gemas do café, de modo que venha a obter umafloração uniforme. Esta tecnologia associada a outras

práticas culturais, além de imprimir substancialmelhoramento da qualidade do café, possibilita a

economia de mais de 30% da água e da energiausadas na irrigação, exatamente no momento em que

outras culturas de agricultura irrigada estãocompetindo por esses insumos.

Uma maioruniformidade na

produção doscafeeiros aliada à

economia de água eenergia são algunsdos resultados das

pesquisas mostradaspelos pesquisadores

da EmbrapaCerrados

A tualmente, estima-se que a região doCerrado seja responsável por, aproxima-damente, 40% da produção nacional de

café. Essa tecnologia, que foi mostrada no Diade Campo na Embrapa Cerrados, realizado em10 de maio de 2005, faz do longo período seco,característico da região, um fator positivo paraa obtenção de alta produtividade e qualidade doproduto.

“Esse é o nosso principal gargalo”, afirma Má-rio Josino Meirelles, diretor-executivo da Funda-ção de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento doOeste Baiano (Fundação BA) e diretor do De-partamento de Café da Associação dos Agricul-tores e Irrigantes da Bahia (Aiba), referindo-seà necessidade de uma maior uniformidade daprodução dos cafeeiros na região. A FundaçãoBA está firmando um contrato de transferênciade tecnologia com a Embrapa Cerrados, visan-do à realização na região de Barreiras (BA) dostrabalhos de validações dos resultados das pes-quisas mostrados durante o Dia de Campo.

FOTO: EMPRAPA CERRADOS

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 39

Transferência de tecnologiapara outras regiões de Cerrado

Os pesquisadores da Embrapa Cerradosacreditam na possibilidade de extrapolar os da-dos dessa tecnologia para outras regiões queapresentem as mesmas condições ambientais doCerrado do Brasil Central, como no Oeste daBahia ou no estado do Piauí, onde será realiza-do o XV Conird. “O que precisamos para apli-car essa tecnologia? Precisamos estar numa re-gião típica de Cerrado, onde se tem de junho aagosto aquele período, em que você pode apli-car o estresse hídrico”, afirma o pesquisadorAntônio Fernando Guerra.

Outro pesquisador da área de Irrigação eDrenagem, Omar Cruz Rocha, considera que osestudos sobre o Cerrado do Piauí devem apre-sentar características semelhantes e o mesmopadrão climático da região Central. “Existemáreas do Piauí com um padrão igual de distri-buição de chuvas, quando se comparam dadoshistóricos. Creio que será possível estabeleceressa correlação, com a proposta de uma novatecnologia cafeeira para lá, com base em estudoespecífico”, considera ele.

“Atualmente, só não temos Cerrado no Suldo Brasil. Nos demais Estados, temos manchasou grandes áreas de Cerrado. A maioria dosdados gerados na região Central pode ser utili-zada, mas necessitamos de campos de validaçãode tecnologia regionais”, alerta o chefe-geral daEmbrapa Cerrados, Roberto Teixeira Alves, lem-brando a existência de vários desses campos noestado de Tocantins.

Já o pesquisador Wellington Pereira, do Con-sórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimen-to do Café, considera a importância de as pes-quisas serem regionalizadas. Ele destaca que,atualmente, o CBP&D do Café é composto de12 Núcleos de Referência, onde existem equi-pes de diferentes instituições que trabalham con-sorciadas. “Hoje, desenvolvem-se trabalhos comcafé na Região Norte, através da EmbrapaRondônia. No Piauí, ainda não temos trabalhosde café, pelo fato de termos relacionadas ques-tões como altitude e zoneamento”, afirma ele,apontando o Oeste da Bahia como um pólo agrí-cola de café que cresceu muito nos últimos anose onde o foco da pesquisa está voltado para aquestão da irrigação.

O interesse dos produtoresdo Oeste baiano

No Oeste baiano, existe um grande númerode empresas e produtores utilizando altatecnologia para café irrigado, contribuindo paraque a Bahia se consolide como quinto maiorprodutor, respondendo por 5% da produçãonacional (à frente da Bahia, destacam-se comomaiores produtores os estados de Minas Gerais,São Paulo, Espírito Santo e Paraná). No parquecafeeiro estadual predomina a produção de caféArábica, com 76% da produção, sendo 95% davariedade Catuaí. Os restantes 24% são de caféRobusta, com maior concentração no Sudeste.

Iniciada através do pioneirismo do cafeicul-tor João Barata (ver a ITEM no 48) com a pri-meira safra em 1990, a cafeicultura cresceu mui-to no Oeste baiano e, hoje, atinge 12.900 ha irri-gados por pivô e 700 ha irrigados porgotejamento. A região é produtora potencial de650 mil a 700 mil sacas beneficiadas de café aoano, com produtividades que variam de 55 a 65sacas beneficiadas por hectare.

“Atualmente, está ocorrendo uma queda naprodutividade dos cafeeiros, por causa da idadedas lavouras e não estamos sabendo conduzir apoda delas. Até a quinta safra, está havendo umaqueda de 10% na produtividade”, afirma MárioJosino.

Os pesquisadoresOmar Rocha eAntônio Guerraacreditam naextrapolação dosdados da tecnologiade café irrigadopara outras regiõescom as mesmascondiçõesambientais doCerrado do Brasilcentral

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40 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Tecnologia cafeeira noDia de Campo

A primeira estação do Dia de Campo so-bre Manejo do Cafeeiro Irrigado no Cerra-do contou com os pesquisadores AntônioFernando Guerra e Omar Cruz Rocha, queabordaram o tema “Manejo de irrigação euniformização da florada com o uso deestresse hídrico”.

Com o estresse hídrico assistido, foi pos-sível a obtenção de mais de 80% de grãoscereja no momento da colheita, resultadoque impressionou e atraiu os produtores doOeste baiano presentes no Dia de Campo.Eles se interessaram em levar as pesquisasali demonstradas para a região de Barrei-ras. Os resultados das pesquisas apontarampara a regularização da produtividade anu-al, melhoria da qualidade do produto e re-dução dos gastos com água e energia.

Para a aplicação eficiente e simples demanejo da irrigação, existe a possibilidadede o produtor usar o programa de irrigaçãodisponível na homepage da Embrapa Cer-rados (www.cpac.embrapa.br). Nesse caso,recomenda-se ao produtor acessar o progra-ma e fornecer a idade da lavoura e o tipo desolo, para que sejam calculados a lâmina lí-quida a ser aplicada e o turno de rega a seradotado.

Na segunda estação foram mostrados re-sultados obtidos com a adubação do cafeei-ro, com os pesquisadores CláudioSanzonowics e Gustavo Costa Rodrigues e,na terceira, o pesquisador João Batista Ra-mos Sampaio falou sobre o desempenho detrês cultivares de café em diferentesespaçamentos submetidos a diferentes re-gimes hídricos.

Integração lavoura-pecuária noCerrado, a solução para arecuperação das pastagens e oaumento da produção de leite,carne e grãos

O Cerrado ocupa 24% do Brasil ou 207 milhõesde ha. Dessa área, existem 50 milhões de hectarescom pastagens cultivadas e um percentual de 60%degradados ou em processo de degradação. “Aintegração lavoura-pecuária é a única maneira vi-ável de recuperar pastagens”, afirma RobertoTeixeira Alves, chefe-geral da Embrapa Cerrados.Em entrevista à ITEM, ele indicou a integraçãolavoura-pecuária como solução para recuperar opasto e aumentar a produção de carne, leite e grãosnuma mesma área que já vinha sendo utilizada.“Em vez de se ficar expandindo a fronteira agrí-cola e devastando áreas nativas de Cerrado, va-mos protegê-las, aumentando a produção em áre-as já utilizadas”, completa ele.

ITEM – Os resultados obtidos com as pesquisasde café na Embrapa Cerrados estão destinados aprodutores de cafés especiais?Roberto - A cafeicultura vem-se desenvolvendobastante, 40% da produção nacional vêm da re-gião de Cerrados e a qualidade aumenta a cadadia. Hoje, já existe um selo de qualidade do cafédo Cerrado e a tendência é de desenvolvimentode cafés especiais, de acesso ao pequeno, médio egrande produtor. Oferecemos tecnologia para todoo universo de produtores.

ITEM – Um pequeno produtor pode-se tornar oumesmo ser um produtor de cafés especiais?Roberto – Se ele for cuidadoso e seguir as orienta-ções necessárias para isso, o tamanho da explora-ção não é determinante. Temos trabalhado, atra-vés de cursos, com produtor de café orgânico, que,apesar das dificuldades, tem obtido sucesso prin-cipalmente em pequenas áreas.

ITEM – As pesquisas aqui desenvolvidas com acultura do café ofereceram resultados interessan-tes em relação ao controle de doenças e pragas docafé. Como entomologista, como o senhor descre-ve isso?Roberto – Em relação ao estresse hídrico do cafe-zal que é feito de forma intencional, com 60 a 65dias de interrupção da irrigação, ocorrerá falta defolhas, numa certa fase em que haveria folhas nocafé irrigado o tempo todo. Com essa falta de fo-

E N T R E V I S T A

Os cafeicultoresdo Oeste da Bahia

mostraraminteresse em levar

para a região astecnologias

mostradas no diade campo

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1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 41

lhas haverá uma quebra dosciclos das pragas e das doen-ças. O bicho-mineiro, porexemplo, precisa de alimento,ou seja, do hospedeiro, que éa folha do café. O mesmoocorre com as doenças. Ospatógenos precisam de folhascomo alimento. Comoentomologista, lembro tam-bém que a irrigação ajuda acontrolar o próprio bicho-mi-neiro, que usei como exem-plo, pois ele morre por afo-gamento dentro da folha.

ITEM – Como o senhor vê o desenvolvimentoda agricultura irrigada no Cerrado?Roberto – A água é um dos recursos naturaismais preciosos, sem ela não existe vida e, por-tanto, deve ser muito bem utilizada. Falando daregião e do nosso centro de pesquisa, o idealantes de usar uma área de Cerrado para produ-ção, é fazer um diagnóstico ambiental e um pla-nejamento de utilização dos recursos hídricos.Esse diagnóstico pode utilizar ferramentas quea Embrapa Cerrados dispõe, comosensoriamento remoto, interpretação de ima-gens de satélite e recomendações sobre áreas deuso mais convenientes para irrigação. Determi-nados esses fatores e áreas, a irrigação vai serum sucesso e deve ser incentivada, dentro decritérios técnicos para se evitar o uso excessivode água. Deve-se fazer esse diagnóstico com baseem bacias hidrográficas, utilizando a quantida-de existente no local e o planejamento do me-lhor equipamento de irrigação para determina-da cultura. É uma associação de informações.Mas, sem dúvida nenhuma, a irrigação mais doque dobra a produção de qualquer cultura e ga-rante a produção. Com isso, tem-se mais certe-za da colheita.

ITEM – A integração lavoura-pecuária temcomo fundamento básico o Sistema Plantio Di-reto e a rotação de culturas. Essa agenda é im-portante para a Embrapa Cerrados? Como re-verter o problema de assoreamento dos rios?Roberto – Em relação à qualidade da água e aoassoreamento dos rios principais e afluentes quevêm da região dos Cerrados e acaba chegandoaté o mar, temos cada vez mais que trabalharcom manejo e conservação de solos. Uma dasmaiores equipes dessa área está na EmbrapaCerrados, inclusive o experimento mais antigo

de Sistema de Plantio Diretono Cerrado está aqui. Temosque enfatizar esse trabalho eter uma maior integração coma extensão rural e assistênciatécnica pública e privada parapassar orientações para os pro-dutores. Existe muitatecnologia gerada, mas não seconsegue atingir totalmente oobjetivo na transferência dosresultados da pesquisa. Temque haver uma participaçãomaior de pesquisadores daEmbrapa e de técnicos de ou-

tras instituições voltadas para esse assunto na de-finição de políticas públicas, para não deixar queesses problemas aconteçam. No começo da ex-ploração dos Cerrados, muitos produtores vie-ram, por exemplo, do Sul, e desmataram muito,especialmente à beira dos córregos. Isso fez comque houvesse assoreamento e muitos prejuízos.Temos uma série de projetos ligada a áreas de-gradadas, de matas ciliares e de galeria. Temosum viveiro de produção de mudas para o Cerra-do, vendidas a preços acessíveis para os produ-tores da região, além de livros e publicações comtecnologia gerada para a recuperação de áreasdegradadas. Temos outra equipe com um proje-to chamado Conservação e Manejo daBiodiversidade do Bioma Cerrado (CMBBC), noqual se cuida do aspecto de recuperação de áreasdegradadas e da introdução de plantas nativas.

ITEM – Como o senhor vê o horizonte da utili-zação do Sistema de Plantio Direto nessa rela-ção água-agricultura irrigada e o conjunto debacia hidrográfica?Roberto – Com relação ao Sistema de PlantioDireto, principalmente na região de Cerrados,vejo com bons olhos. No acompanhamento anu-al de dados, cada vez mais produtores estão ade-rindo ao Sistema. Como tudo na vida, o SistemaPD apresenta vantagens e desvantagens, mas,sem dúvida, a primeira afirmação predomina.Entre as vantagens, temos a melhor conserva-ção do solo, a maior retenção dos nutrientes,diversas economias e ganhos de tempo nas ope-rações de plantio. Entre as desvantagens, comoo Sistema PD mexe menos com o solo, há maisproblemas com pragas e insetos de solo, comocorós, cupins, formigas e percevejos castanhos.Mas isso representa problemas para os quais apesquisa está gerando tecnologia. O Sistema PDveio para ficar e a tendência dele é de crescer.

ROBERTO TEIXEIRA ALVES

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42 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Manejo do cafeeiro irrigado no Cerradocom estresse hídrico controlado

ais, onde poderá ser validada a tecnologia, é oSul do estado do Piauí, onde existem extensasáreas de altitude, recursos hídricos, clima e solocompatíveis com as exigências da cultura. Issoseria uma alternativa de produção para a região,que pode representar aumento de postos de tra-balho e renda, o que contribuiria diretamentepara o desenvolvimento socioeconômico local.

A expansão da área irrigada de café no Cer-rado brasileiro, nos últimos 20 anos, reflete anecessidade inquestionável da irrigação paraviabilizar a atividade na região. Atualmente, oCerrado já responde por cerca de 40% da pro-dução nacional de café. No entanto, a necessi-dade de aumentar a produtividade e a qualida-de do produto é indispensável para darsustentabilidade a essa atividade, particularmen-te em épocas de baixos preços no mercado in-ternacional. Oscilações no preço do produto fa-zem com que novos produtores ingressem na ca-feicultura, quando os preços estão altos, e desis-tam da atividade ou deixam de cuidar das lavou-ras, quando os preços caem.

FERNANDO GUERRA, OMAR CRUZ ROCHA

E GUSTAVO COSTA RODRIGUESPESQUISADORES DA EMBRAPA CERRADOS

A Embrapadesenvolveu uma

alternativa simples eeficiente de manejo

da irrigação docafeeiro

A

O bioma Cerrado apresenta condiçõespropícias ao desenvolvimento da

cafeicultura nacional. O Cerrado doBrasil Central e o Oeste baiano

tornaram-se, devido às condiçõesedafoclimáticas existentes, regiões de

destaque na produção de cafés especiais(Coffea arabica).

tecnologia descrita neste trabalho pos-sibilita a maximização e a otimização daqualidade final do produto, já se encon-

tra estabelecida no Cerrado do Brasil Central evem sendo validada no Oeste baiano, com re-sultados bastante promissores. Outra região,com potencial para produção de cafés especi-

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Dentre os fatores de campo que afetam ne-gativamente a qualidade do café destaca-se adesuniformidade de floração. Normalmente, ocafeeiro apresenta frutos em diferentes estádi-os de desenvolvimento, desde verdes, passandopor cerejas, até passas e secos. Essas caracterís-ticas são resultantes do fato de, em condiçõesnormais, o cafeeiro produzir várias floraçõesdurante o ano. Com a tecnologia usada até en-tão, a porcentagem de frutos verdes no momen-to da colheita gira em torno de 50%. Esse resul-tado tem preocupado o setor produtivo, poiscompromete a rentabilidade das lavouras, devi-do à obtenção de grande porcentagem de caféde baixa qualidade com baixo preço de mercado.

A possibilidade de utilizar as característicasdo Cerrado, consideradas até então negativas,para otimizar a produtividade e a qualidade docafé, tornou-se um desafio para o ConsórcioBrasileiro de Pesquisa do Café (CBP&D). Em1999, esse consórcio, sob coordenação daEmbrapa Café, aprovou e apoiou o projeto,mantido atualmente com recursos próprios daEmbrapa Cerrados. Diante do padrão climáticobem definido da região, da baixa retençãohídrica e da fertilidade natural dos solos, desen-volveram-se tecnologias que resultaram em umsistema de produção, que possibilita aumentode produtividade, com obtenção de mais de 80%de grãos cereja no momento da colheita e comreflexos diretos na redução do custo de produ-ção das lavouras, economizando água, energiaelétrica e insumos.

O estresse hídrico controlado tem possibili-tado aumento de produtividade com obtençãode mais de 80% de grãos cereja no momento dacolheita do café, com reflexos diretos na redu-ção do custo de produção das lavouras, econo-mia de água, de energia elétrica e de diversosinsumos, o que resulta em produção anual daordem de 75 sacas beneficiadas/ha, com produ-to de melhor qualidade e expressivo valor nomercado.

Manejo de irrigação

Para o manejo adequado da irrigação, é ne-cessário suprir de forma integral as necessida-des de água nos diferentes estádios de desen-volvimento do cafeeiro. Para isso, a adoção deum ou mais métodos de manejo de irrigação tor-na-se indispensável. Os principais métodos demanejo de irrigação fundamentam-se no solo ouna atmosfera como suporte de referência. Paraos métodos de manejo de irrigação, com baseem medidas da tensão de água no solo, o inter-valo de tensão de 40 a 60 kPa, medida a 10 cm

de profundidade, pode ser usado como critériode decisão quanto ao momento de aplicação deágua para a cultura. Para os métodos que se ba-seiam em medidas na atmosfera os estudos in-dicam turnos de rega de 3 e 5 dias, para soloscom menos e com mais de 30% de argila, res-pectivamente. Quanto à definição da quantida-de de água a ser aplicada, recomenda-se usar,para cafeeiros com até dois anos de idade, coe-ficientes de cultura de 0,5 e 0,8, para os perío-dos de junho a agosto e setembro a maio, res-pectivamente. Cafeeiros com mais de dois anosrecomenda-se o uso de coeficientes de culturade 1,0 e 1,25 para os mesmos períodos. Com basenos trabalhos de pesquisa que geraram essasrecomendações e no histórico de pesquisa so-bre o Cerrado, a Embrapa desenvolveu uma al-ternativa mais simples e eficiente para auxiliaros produtores no manejo de irrigação. Trata-sedo Programa de Monitoramento de Irrigação,específico para Cerrado, disponível na Internetno endereço www.cpac.embrapa.br. Nesse sis-tema, as informações necessárias para obter alâmina líquida a ser aplicada por irrigação e oturno de rega a ser adotado são a idade da la-voura e o tipo de solo. Caso o produtor não dis-ponha de acesso à Internet, deverá ligar para oSAC da unidade ((61)388-9831), fornecer os

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Uniformidade dematuração nacolheita: café commaior qualidade evalor comercial

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dados necessários e solicitar ao funcionário queentre no sistema para o cálculo da lâmina e doturno de rega a ser seguido.

Uso de estresse hídrico parauniformização de florada

O estresse hídrico controlado consiste nasuspensão das irrigações até o momento em queo potencial de água na folha atinja valores emtorno de –2,0 MPa. A suspensão deve ocorrerno período de junho a agosto e o potencial de-verá ser medido na antemanhã com auxílio deuma bomba de pressão (Bomba de Scholander).O estresse hídrico impede que outros fatoresclimáticos provoquem a abertura dos botões flo-rais já desenvolvidos e permite a continuidadedo desenvolvimento das gemas reprodutivasmenos desenvolvidas, causando a sincronizaçãodelas e, consequentemente, a uniformização deflorada com o retorno das aplicações de água.O número de dias sem irrigação dependerá doclima e das características do solo. Desse modo,para potencializar a abertura de flores emflorada única, esse período deverá ser ajustadode forma que se encerre no final do mês de agos-to, uma vez que, normalmente, é o período emque ocorre a primeira florada no Cerrado. Acontinuidade da suspensão das irrigações alémdo mês de agosto deve ser evitada, pois as altastemperaturas e baixas umidades relativas do arpodem causar abortamento das flores com con-seqüências diretas na produtividade do cafeei-ro. A uniformidade de maturação obtida comessa tecnologia, superior a 80%, garante amaximização do preço do produto, pois possibi-

lita maior porcentagem de grãos com potencialpara cafés especiais.

Desenvolvimento do cafeeiroestressado no Cerrado

Devido a sua característica peculiar o cafe-eiro apresenta, simultaneamente, fases de cres-cimento vegetativo e reprodutivo. No Cerrado,quando irrigado adequadamente durante todoo ano, o cafeeiro apresenta baixa taxa de cresci-mento, porém contínua. Nessa situação, ocor-rem de três a quatro florações dependentes dasvariações climáticas. Quando o cafeeiro é sub-metido a estresse hídrico controlado, a taxa decrescimento vegetativo tende a zero, durante operíodo de estresse, porém ocorre crescimentocompensatório após o retorno das irrigações, oque resulta em crescimento vegetativo superiorao do cafeeiro irrigado durante todo o ano. Esse

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Bomba de Scholander: instrumento indispensável nasavaliações do potencial de água na folha do cafeeiro

Evolução do potencial de água na folha e momento para retornar a irrigação (-2 MPa)

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MOMENTO DE RETORNO DA IRRIGAÇÃO

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fator justifica o aumento e a regularidade naprodutividade. Sob condição de estresse hídricohá continuidade do desenvolvimento das gemasreprodutivas até sua completa formação. Porém,mudanças em outros fatores climáticos não pro-movem a abertura das flores, até o momento emque as plantas restabeleçam sua condiçãohídrica. Essa tecnologia favorece o sincronismono desenvolvimento das gemas reprodutivas ejustifica a uniformidade de floração que normal-mente ocorre após o retorno das irrigações.

Adubação do cafeeiro

Considerando que o cafeeiro é uma culturaperene e as deficiências nutricionais doslatossolos naturais do Cerrado, a correção comcalcário dolomítico, fósforo e gesso agrícola, combase na análise química e física do solo, deve serfeita de forma criteriosa antes da implantaçãodo cafeeiro, para garantir um adequado desen-volvimento inicial das plantas. Além disso, re-comenda-se aplicar doses de 100 kg/ha de P2O5,7,0 kg/ha de boro e de cobre, 15 kg/ha de zinco ede manganês no sulco de plantio. Adubações decobertura com 50 kg/ha/ano de P2O5 e quatrodoses de 50 kg/ha/ano de nitrogênio e de K2Omostraram-se adequadas para o cafeeiro nosdois primeiros anos de cultivo. Do terceiro anoem diante, o cafeeiro já em fase reprodutiva,responde consideravelmente à adubação, tantono crescimento vegetativo quanto na produtivi-dade. As mais expressivas produtividades resul-taram da cobertura com nitrogênio e potássio e,em menor escala, com fósforo. Portanto, resul-tados apontam que, para produtividade superiora 75 sc/ha de café beneficiado é necessária aaplicação de 500 kg/ha/ano de N e de K2O e 200kg/ha/ano de P2O5 em cobertura.

Resultado do estresse hídrico controlado na sincronização dodesenvolvimento das gemas reprodutivas do cafeeiro após oretorno das irrigações

16 e 17 de agosto de 2005

EQUIPE TÉCNICA: ANTÔNIO FERNANDO GUERRA, OMAR CRUZ ROCHA, CLAUDIO

SANZONOWICS, GUSTAVO COSTA RODRIGUES E JOÃO BATISTA RAMOS SAMPAIO

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Em 1998, teve início o Consórcio Brasileiro dePesquisa e Desenvolvimento do Café e consta-tou-se que havia, no País, uma equipe extrema-mente pequena de pesquisadores dedicados aocafé, insuficiente para atender às necessidadesde estudos e pesquisas relativas ao agronegóciocafé no Brasil. Menos de 50 pesquisadores fo-ram listados como dedicados ao café. Então,uma primeira providência foi conclamar novasinstituições e novos pesquisadores para se inte-ressarem por este produto. A Embrapa Cerra-dos respondeu bem a esse chamado e sua ade-são foi importante, visto que a unidade possuium corpo técnico de reconhecida competência.O ex-gerente-geral da Embrapa Café, Antôniode Pádua Nacif, fez uma avaliação das pesqui-sas apresentadas durante o Dia de Campo so-bre café irrigado no Cerrado.

ITEM – Quando da análise e aprovação desseProjeto, quais as perspectivas em termos de re-sultados?Nacif – A expectativa era de que as condiçõesedafoclimáticas da Unidade favorecessem essetipo de estudo, dada à ausência ou à baixa fre-qüência de chuvas no inverno na região dePlanaltina, onde se localizam os Campos Expe-rimentais. Aliadas a isso, a competência da equi-pe e as possibilidades de estabelecer controlestécnicos no ambiente de pesquisa levavam a crerque bons resultados adviriam dos trabalhos.Contudo, recebemos algumas críticas por essaaprovação. Especialmente alegava-se que o ca-feeiro não apresentava resposta à irrigação e quea equipe da Embrapa Cerrados estaria entran-do no Programa por mero oportunismo, sem ternenhuma afinidade ou compromisso com a ca-feicultura. Particularmente gosto de ter parcei-ros que não estejam pré-condicionados às tra-dições do café, ou seja, gente nova, visões no-vas, idéias novas, inconformismo com situaçõesdesfavoráveis reinantes, quebra de paradigmas,avanços científicos e tecnológicos, inovação doconhecimento.

ITEM – Hoje, após três colheitas, qual sua apre-ciação sobre esses resultados?Nacif – Apesar de ser necessário estender as pes-quisas por maior número de colheitas, conside-

ro os resultados, até então alcançados, excelen-tes. Primeiro, porque os ensaios foram bem insta-lados e bem conduzidos, dando confiabilidade aosresultados. Segundo, porque foram estabelecidoscontroles sobre os tratamentos, com medidas exa-tas e oportunas das variações climáticas, de solo,de água, de estresses hídricos, de precipitações eoutras mais que permitem uma análise acuradados resultados, com base em dados bem coletadose não em suposições ou “achismos”. Os dados sãoreais, fidedignos e as análises estão bem funda-mentadas. No início de 2004, tive a oportunidadede levar o Dr. Linneu Carlos Costa Lima, secretá-rio de Produção e Agroenergia do Mapa, o Dr.Vilmondes Olegário, chefe do Departamento deCafé do Mapa e outros dirigentes dessa secretariapara visitar esse experimento. O Dr. Linneu, emespecial, por sua larga experiência de cafeicultor,ficou muito bem impressionado com a conduçãodo trabalho e seus objetivos e, hoje, mediante osresultados alcançados, ele e sua equipe terão, porcerto, maiores motivos para ampliar seu apoio aoPrograma Café e ao Consórcio.

ITEM – Esse trabalho está quebrandoparadigmas? Está despertando a cafeiculturapara novos conhecimentos sobre a fisiologia defloração e da frutificação do cafeeiro?Nacif – Esta pergunta é muito importante e me-rece um comentário técnico um pouco mais ex-tenso. Os estudos existentes sobre estressehídrico no cafeeiro e sua relação com o controleda floração apresentam contradições. A maioriadeles foi realizada em condições de clima poucodiferenciadas com relação a déficits hídricos, comocorrências de chuvas nos períodos de inverno.Acrescente-se a isso as baixas temperaturas e in-versões térmicas nesses períodos, causandosobreposição de fatores e dificultando a expres-são dos tratamentos e interpretação dos resulta-dos. Assim é que os pesquisadores desejam rea-lizar esse tipo de investigação sob condições con-troladas, o que é um pouco dispendioso para ospadrões brasileiros de investimento em pesqui-sa, mas que nos tiraria desse incômodo e preju-dicial estado de ignorância.Quebra de paradigmas? Com relação ao déficithídrico para a melhor floração do cafeeiro, essapesquisa reafirma ou reforça o que foi estabeleci-

Para Nacif, os resultados são excelentes,mas é necessário estender as pesquisaspor um maior número de colheitas

E N T R E V I S T A

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ANTÔNIO DE PÁDUA NACIF

do – porém ainda hoje empiricamente contesta-do - ou seja, que “o estresse hídrico acelera amaturação das gemas que se encontram em está-dio atrasado, alinhando-as num ponto comum eótimo de desenvolvimento, para propiciar umaflorada mais uniforme, tendo como conseqüên-cia a almejada uniformidade de maturação”,como outros tipos de estresses também já indi-cavam. Há muito já se sabe que plantas que sedesenvolvem sob condições de maior estresse têmmaior capacidade adaptativa que aquelas quecresceram em condições de disponibilidadehídrica satisfatória. Isto sugere que o déficithídrico condiciona a resposta das plantas à irri-gação, provavelmente devido ao aprofundamentodo sistema radicular e ao aumento na permea-bilidade das raízes nas plantas estressadas.Uma importante observação ocorrida nesse tra-balho foi com relação ao desfolhamento quasecompleto dos cafeeiros, sem prejuízos para a pro-dutividade, ao contrário, trouxe até benefícios.Tínhamos conosco a necessidade de preservar adinfinitun as folhas do cafeeiro, pois elas são asunidades transformadoras de energia para a sus-tentação do crescimento e desenvolvimento daplanta. Isto é verdade para a fase de crescimentoacelerado da planta, uma vez que, nessa etapa, afotossíntese corrente exerce um importante pa-pel como fonte de carboidratos prontamenteassimiláveis, minimizando a dependência das re-servas do lenho. Além disso, as folhas, ao funcio-narem na estação quente como dissipadoras decalor pela transpiração, aceleram a absorção deágua e nutrientes em um solo úmido, o que é van-tajoso. Já na estação de “repouso vegetativo”, osfatores ambientais desfavoráveis ao crescimen-to, como menores temperaturas, modulam for-temente as atividades fisiológicas das plantasparalisando o crescimento, o que é essencial paraa ocorrência da iniciação floral. Desse modo, apresença ou não das folhas, sejam elas fontes decarboidratos, termorreguladoras, sejamestimuladoras da absorção, influenciará muitopouco nesse particular período. Nesse experimen-to, essa é uma situação que necessita ser bemexplicada e, principalmente, correlacionada como estado nutricional da lavoura. O sucesso do uso da técnica de estresse hídricomonitorado, objetivando altas produtividades ematuração uniforme, vai depender da capacida-de das plantas em acumular reservas, tantoinorgânicas como orgânicas. Desse modo, o ma-nejo adequado da lavoura leva as plantas a ar-

mazenarem reservas suficientes para garantiruma maior freqüência de lançamentos de novosprimórdios foliares no início da retomada do cres-cimento, até que a nova folhagem possa assumira função abastecedora do cafeeiro. Especialmen-te benéfica foi a exclusão das pragas e doençasfoliares, como o bicho-mineiro e a ferrugem.Quanto à segunda parte da pergunta, esses re-sultados, mais do que tudo, reforçam a necessi-dade de aprofundar os estudos e de não deixarde investir em pesquisas que possam melhorarnosso conhecimento e ampliar o poder desustentabilidade e competitividade doagronegócio café brasileiro nos mercados nacio-nal e internacional. Caso contrário, velhos desa-fios como esse e novos desafios que a toda horabatem à porta da cafeicultura brasileira, uma vezsem resposta, irão aos poucos nos tirando do ce-nário cafeeiro mundial. O Brasil, que já teve 70%do mercado de exportação do café e hoje con-corre com apenas 20% a 30%, deve-se alertar eprovidenciar para que essa tendência seja inter-rompida e invertida. Naquele tempo, não se po-dia imaginar que chegaríamos a tão pouco e hojedevemos cuidar para que não cheguemos a me-nos, a não ser por nossa opção e conveniência.Quero parabenizar a ABID* pelo seu incansávele itinerante trabalho, realizando os Conirds emparcerias com os Estados, fazendo despertar cadavez mais interesses por esse estratégico segmen-to do agronegócio brasileiro. A cafeiculturairrigada tem quebrado muitos paradigmas, avan-çando para o Nordeste, gerando riquezas e em-pregos. Assim, vejo nesse trabalho da EmbrapaCerrado, com o estresse hídrico, muita inspira-ção para o Piauí, palco do XV Conird, a realizar-se em outubro de 2005, quando, certamente, al-ternativas de negócios que geram riquezas e em-pregos, como os do café, haverão de aflorar.

* A ABID PUBLICOU A ITEM 48, TOTALMENTE DEDICADA À

CAFEICULTURA IRRIGADA.

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48 ITEM • Nº 65/66 • 1º e 2º trimestres 2005

Quanto custa ser pioneiro, abrindofronteiras na agricultura irrigada, em

produção de frutas tropicais no Brasil?

Como é produzir fruta tropical no Brasil? “É mais fácilfazer um transplante de rins”, responde num desabafo

um dos quatro sócios da Frutas do Nordeste do BrasilS/A – Frutan Brasil, o médico nefrologista e professor

universitário, José Alberto Coelho Paz. Ele entende sernecessário muito investimento em infra-estrutura,

educação e treinamento para o Piauí desenvolver-se naprodução irrigada de frutas. “Foi o que aconteceu no

Oeste da Bahia (Barreiras), em Pernambuco (Petrolina/Juazeiro) e com a própria Codevasf ao longo de

muitos anos”, afirma ele.

trias Exportadoras de Carne, costuma referir-seao “limão produzido no Piauí”, quando quer darexemplos de qualidade de produtos brasileirosexportados. Mas tudo isso tem um preço, mui-tas vezes alto demais para quem é pioneiro.

Apoio mais que necessário

Mesmo evitando falar no assunto, JoséAlberto Coelho Paz não pode esquecer as dívi-das a saldar, originárias do custo dos financia-mentos obtidos através do Fundo Constitucio-nal de Financiamento do Nordeste (FNE), fon-te de recursos gerida pelo Banco do Nordeste,na qual se apoiou para o desenvolvimento desuas atividades. “De 1990 para cá tivemos trêsplanos econômicos e a cada plano, o custo dodinheiro dobrava de valor da noite para o dia,por decisão do governo. Os negócios que deram

O limão produzidono Piauí é referência

internacional dequalidade

FRUTAN BRASIL S/A

A Frutan Brasil, localizada a 50 km deTeresina, tornou-se há 11 anos, uma dasmaiores exportadoras brasileiras de li-

mão Tahiti para a Europa. O ex-ministro daAgricultura, Pratini de Moraes, hoje presidentedo Conselho da Associação Brasileira das Indús-

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certo na região têm muita dificuldade de pagarsuas dívidas”, afirma ele, lembrando o alto índi-ce de inadimplência de quem financiou iniciati-vas, principalmente em projetos mais antigos.

Nos últimos quatro anos, foram fechadoscerca de 4 mil ha de fruticultura irrigada, próxi-mos à Teresina, os quais representavam a gera-ção de, aproximadamente, 1.400 empregos di-retos. “E ninguém tentou impedir esse fecha-mento”, diz o engenheiro agrônomo Lívio deSousa Moura, responsável técnico pela Frutando Brasil. Ele enumera: primeiro, foi a Canaã,com 400 ha irrigados (280 de manga e 120 decoco); seguiu-se a Mangal, com 200 ha de man-ga; depois, foi a vez da Tamboril Agropecuária,com 300 ha irrigados (150 de manga e 150 decoco). Depois veio o fechamento de mais 1.300hectares dos produtores de banana, além de to-dos os pequenos produtores de manga que es-tão com a “corda no pescoço”.

Lívio Moura lembra que os preços interna-cionais de frutas, como manga e limão, estão embaixa, enquanto os custos de produção elevam-se constantemente. “A tonelada da uréia estavaa R$ 160,00, há 10 anos, e hoje custa R$ 1.300,00.No mesmo período, o quilo do limão Tahiti nomercado interno, que valia R$ 0,10, continua omesmo. O salário mínimo era R$ 36,00 e hoje jáé R$ 300,00”, mostra ele, lembrando apenas al-guns números. E reclama: “O governo, de algu-ma forma, tem que agir, sem paternalismo, semsubsídios, mas alguma coisa tem que ser feita.”

O alto custo do pedágio dopioneirismo nacional

A Frutan detém hoje um dos maiores índi-ces exportáveis de limão Tahiti do País. Enquan-to a maioria das exportadoras brasileiras man-tém seus índices em torno de 14%, a Frutan ul-trapassa 50%, isto é, de cada tonelada produzi-da, exporta mais de 500 quilos.

José Alberto Paz lembra como o acaso aju-dou a atingir esse índice. Tudo ocorreu duranteuma visita à fazenda do consultor indiano, VinodKulkarni, hoje na FAO, que na ocasião traba-lhava em condições semelhantes às do Brasil, naAustrália. Com o comentário de José Paz sobreum problema de nutrição do limão, o indianoapenas recomendou que fosse colocado cálciona hora da florada. Bastou essa mudança paraque os índices exportáveis do limão começassema crescer na safra seguinte.

Outro caso considerado sem solução foi o do“lodo”, que entupia todos os filtros utilizadosno sistema de microaspersão. Já haviam sido

feitas várias tentati-vas sem sucesso,quando José Paztentou um último re-curso, ligando para aCarborundum. Con-versou com umapessoa aparente-mente simples querecomendou a solu-ção: “Isto não élodo, doutor, é alga.Basta colocar 5ppmde sal de cobre naágua do tanque”.

“O mais grave do pedágio do pioneirismo éque não se sabe aonde buscar a solução!”, desa-bafa José Paz. E, questiona: “Por que limão fun-ciona bem aqui e manga não? Na verdade, nãosei se manga não funciona bem aqui, o proble-ma maior é que a área plantada é enorme parao tamanho do mercado”, afirma José Paz, co-mentando as dificuldades em manter um packinghouse para produzir em um curto período e apro-veitar as chamadas “janelas” de mercado.

DADOS DA FRUTAN BRASIL

Localização: 50 km de Teresina (PI).

Área plantada: 280 ha plantados com limão Tahiti,sendo 150 em produção. Mais 120 ha plantadoscom manga de variedades americanas, comdestaque para a ‘Kate’ e a ‘Palmer’.

Número de empregos diretos: 136, mais 40 emépoca de safra.

Comercialização: mercados interno e externo.

Mercado externo: mil toneladas/ano para a Europa.

Mercado interno: mil toneladas/ano para as Ceasasde Belém, São Luís e Recife.

José Alberto Paz:as aventuras e asdesventuras de umpioneiro

Lívio Moura: naluta pela criaçãode uma área livrede exportação defrutas cítricasnos EUA

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Diversificar, uma soluçãopara o mercado da manga

Entrevista com o pesquisador AlbertoCarlos de Queiroz Pinto, da EmbrapaCerrados, especialista em frutastropicais e produtor de manga.

Item – As dificuldades apontadas em relação aocultivo da manga no Piauí são válidas?Alberto Pinto – Sim, são válidas. Tive a oportu-nidade de ser consultor da maioria das empre-sas que exploram manga no Piauí, até 1998. En-tre 1993 e 1996, o preço da manga no mercadointernacional estava muito atraente (média deUS$ 1.332,00/tonelada ou US$ 1,33/kg), e o dó-lar estava em alta naquela época. No período, acorreria para instalação de pomares de mangafoi muito grande, pois mesmo com dificuldadesno manejo e produção, devido à precipitação,temperatura e umidade relativa elevadas, resul-tando em maior custo de produção, conseguia-se ter um retorno econômico muito bom.Entre 1997 e 1998, o preço ainda estava bom(por volta de US$ 850,00/tonelada). Após 1998,começou a despencar, chegando, em 2001, a US$538,91/tonelada. Hoje, praticamente estabilizou-se. Mesmo em Petrolina (PE), a exploração damanga tem sido um problema na comercia-lização, pois o preço de mercado não é compatí-vel com os custos de produção. Imagine emTeresina! Os grandes produtores que possuemtecnologia e mercado garantidos lá fora têm-semantido de pé. Porém, com a queda do dólar, oproblema só vem piorando. Hoje, todas aquelasplantas que foram instaladas em 1996, no augeda correria (uma planta inicia a produção comtrês anos e aos seis atinge seu excelente pontode produção comercial), agora estão em plenaprodução. Ainda existem outras que foram ins-taladas entre 1998 e 2000 e que não entraramna fase de grande produção.Além do grande problema do mercado, outros,tais como a concentração de produção (apesarda indução, a produção ainda está muito con-centrada), a má qualidade das mangas ofereci-das por alguns produtores no mercado externo(temos exemplos claros acontecidos emTeresina) depreciou muito a manga brasileira láfora. A concentração de tecnologia (bonspacking-houses) nas mãos de poucos grandes

Pela área livre de exportaçãode cítricos para os EUA

O europeu usa o limão Tahiti para en-feitar e temperar pratos de saladas e peixes.Os ingleses e os alemães, principalmente,usam o limão em bebidas, especialmente naelaboração da caipirinha, com o sucesso deexportação da cachaça brasileira.

Até 1998, o Brasil exportava 3 mil tone-ladas/ano de limão Tahiti para a Europa. Osexportadores nacionais passaram a conside-rar o limão um bom filão e aumentaram seusnegócios com a fruta, chegando a enviarcargas sem contrato para o Porto deRotherdan. As exportações fecharam o anode 2004, com 34 mil toneladas, num cresci-mento considerado explosivo. Mas, com oexcesso de oferta, os preços caíram e a fru-ta chegou a ser destruída no próprio porto.

Outro mercado considerado importan-te é o árabe. Atraente mesmo é o mercadoamericano, mas para lá são feitas apenasexportações de sucos concentrados de fru-tas cítricas. “Quem opera o mercado agrí-cola está pleiteando uma área livre de ex-portação de frutas cítricas in natura nosEUA, um trabalho que começou há oitoanos no Estado e ainda está apenasengatinhando”, afirma Lívio Moura. Segun-do ele, por pouco dinheiro, deixou de fazero levantamento de pragas e doenças do Es-tado e a elaboração das barreirasfitossanitárias exigidas pelos americanos.“Não tem ninguém para financiar e fica di-fícil para a Frutan fazer isso sozinha”, afir-ma ele, considerando que a criação de umaárea como essa seria uma atração irresistívelpara empresários investirem no Estado.

E N T R E V I S T A

A Frutan Brasilatende aos

mercados internoe externo,

conforme suasvantagens e

exigências

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produtores/exportadores aumentou também ocusto para os que são apenas produtores. O custodos insumos continuou crescendo (oPaclobutrazol custava, em 1993, cerca de R$ 80,00a R$100,00/litro e hoje, não se compra por menosde R$ 250,00/litro). Além de todos esses proble-mas, o governo ainda trata os produtores e ex-portadores de manga com um desprezo impressi-onante, pois o acréscimo em taxas e impostos temsido constante. Portanto, a soma de tudo isso deuno que deu!

Item – O aumento da produção da manga estáprovocando uma crise entre os produtores. NoPerímetro Irrigado Juazeiro/Petrolina, a situaçãoé dramática. Qual seria a solução?Alberto Pinto – Sempre acreditei que as crises sãonecessárias para que surjam as grandes idéias esoluções. Seria muito bom se eu tivesse a soluçãopara resolver de imediato o problema e isto eunão hesitaria em transmitir para todos osmangicultores, pois sempre vivi e vivo dando tudode mim na área de pesquisa e desenvolvimentopela mangicultura nacional. Na verdade, possodizer-lhe que, igualmente às causas, as soluçõesdevem ser tomadas em diferentes frentes e du-rante fases diferentes. Porém, todos (governo,empresários, extensionistas, varejistas, consumi-dores, etc.) devem estar conscientes de seus pa-péis e cumpri-los de maneira correta. Caso con-trário, a situação permanecerá e outros paísesmais organizados (México, Equador, Peru, Áfri-ca do Sul) continuarão ganhando terreno.

Item – Como o senhor vê a tecnologia para a cul-tura da manga desenvolvida para o estado doPiauí?Alberto Pinto – O problema não é somentetecnologia. Os problemas são, basicamente, mer-cado, produtores, governo, varejistas e consumi-dores. Cada um tem que assumir o seu papel. Cla-ro que devemos desenvolver e aprimorartecnologias (para isso, precisamos de mais recur-sos para a pesquisa agropecuária), devemos di-versificar com o desenvolvimento e o uso de no-vos produtos da manga, principalmente os pro-cessados tecnológicos ou naturais. Por que o Mé-xico, o Equador, o Peru e alguns países asiáticos,como a Tailândia, estão crescendo com suas ex-portações e consumo da manga? Eles diversifica-ram. Tive a oportunidade de visitar alguns dessespaíses e vi exatamente isso que comentei em rela-ção à diversificação, ao desenvolvimento e ao usode processados de manga.

SOLUÇÕES APONTADAS PELO PESQUISADOR ECONSULTOR ALBERTO CARLOS DE QUEIROZ PINTO,PARA RESOLVER A CRISE DA MANGA:

1. aumentar e aprimorar o parque industrial nacional,incentivando a produção de processados, tais como sucos,polpa, geléias, manga desidratada, vinagre e vinho demanga, manga em pó, manga em fatias semiprocessadas,manga cristalizada etc., especialmente no Nordeste brasileiro(no eixo Juazeiro/Petrolina). A Del Valle (mexicana) veio parao Brasil e instalou-se em São Paulo e hoje, mesmo usando aTommy Atckins excedente para produção de suco (não é umavariedade adequada para tal), ganhou o mercado brasileiro;

2. introduzir e incentivar o consumo em escolas e dietasalimentares com o uso de propaganda (a manga é muito ricaem vitamina A) e marketing dos produtos, desde a fruta innatura até a vasta gama de produtos processados;

3. diminuir as taxas de exportação e importação (preço doPaclobutrazol) e aumentar os recursos na pesquisa em buscade variedades melhores (já temos algumas), comcaracterísticas comerciais e nutricionais destacadas esuperiores às existentes no mercado, que hoje está 80%concentrado na variedade Tommy Atkins, além de selecionaraquelas que respondem bem à indução floral, semnecessidade de altas doses de Paclobutrazol, mesmo emcondições tropicais úmidas como as do Piauí etc.;

4. melhorar a capacitação e treinamento da mão-de-obra juntoaos produtores e empresários, tanto no campo (área damanga orgânica), quanto na obtenção de produtosprocessados, como a manga desidratada. Temos cerca de3 mil horas de luz solar contra apenas cerca de 2 mil horasda Tailândia e, no entanto, os tailandeses são os maioresprodutores desse tipo de processados de manga e a estãoexportando muito bem para a Europa;

5. abrir novos mercadosexternos. Isso, ogoverno Lula pareceque vem fazendomelhor que o governoFHC. Essas sãoalgumas das soluções,porque existem muitasoutras que devem sertomadas a curto e alongo prazo.

ALBERTO CARLOS DE QUEIROZ PINTO

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Pastagens irrigadas e odesenvolvimento da caprinovinocultura“A solução para o Nordeste Semi-Árido passa pelo uso

racional da água. Há um déficit de distribuição,concentração de chuvas em determinados meses do

ano e muito o que fazer, já que temos uma flora euma fauna muito bem adaptadas.” A afirmação é do

pesquisador Aurino Alves Simplício, médicoveterinário, com mestrado e doutorado em

reprodução de ruminantes, que aponta odesenvolvimento da caprinocultura tecnificada comouma alternativa na geração de renda, bem-estar e na

preservação do meio ambiente regional.

gens usando uma forrageira adequada, a irriga-ção, o consórcio de animais com algumas frutei-ras, como por exemplo de ovinos com manguei-ra e cajueiro. O desenvolvimento da integraçãolavoura e pecuária, com atividades agrossilvi-pastoris sob irrigação configuram-se como opor-tunas e interessantes nas interlocuções tão bempromovidas pela ABID, principalmente nosConirds.

Aurino Simplício considera importante oaproveitamento de subprodutos da indústria dafruticultura irrigada, como o pedúnculo do caju,que serve como ração para os cordeiros, parafazê-los chegar ao mercado com mais qualidadee numa idade mais precoce. “Existem alternati-vas fantásticas. Há produtores de caprinos e ovi-nos fazendo a cria no Semi-Árido até o desma-me e fazendo a recria e o acabamento em con-dições mais favoráveis, onde não se usa aramefarpado e não há o espinho da caatinga paracomprometer as peles dos animais, danificando-as”, afirma o médico veterinário. Destaca a im-portância da fase de acabamento das crias, com

Os caprinos, comoruminantes de ampla

adaptação, têmgrande potencial de

desenvolvimento,especialmente como

alternativa para oNordeste Semi-Árido

do Brasil

“Nosso grande desafio é o Semi-Árido, par-ticularmente aquele mais distante dasfontes naturais de água”, afirma ele, lem-

brando que, na linha da caprinovinocultura, exis-tem raças de caprinos e ovinos bem adaptadas,sendo necessária a mudança do sistema de pro-dução para tecnificá-lo o máximo possível. Nes-sa perspectiva, destacam-se o cultivo de pasta-

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melhores condições de manejo, principalmentepelo uso de pastagens cultivadas, como um dospassos necessários para a produção de peles deboa qualidade.

De 100 peles encaminhadas ao curtume, nãochegam a 20% o percentual considerado de boaqualidade. Aurino Simplício destaca que hoje,tem-se um parque nacional promissor, respon-sável pelo processamento de cerca de 12 milhõesde peles/ano. “E o Brasil compra seis milhõesde peles/ano e apresentou um déficit em impor-tação de peles de caprinos e ovinos da ordem deUS$ 22 milhões, no período de 2000/2002”.

Segundo Aurino, a Embrapa contribuiu paraque a Belgo Mineira desenvolvesse uma telaadequada para a criação de caprinos e para acadeia produtiva do agronegócio da pele.

Caprinos como negócio

“Por que não tratar a caprinovinoculturacomo um negócio?”, indaga Aurino. Segundoele, existem empresas no Brasil que tratam aatividade como tal. No Rio Grande do Norte,existe a empresa Lanila, a 40 km de Natal; aMutum, no Mato Grosso do Sul; e o grupo Fari-as, na Bahia, que trabalha num projeto para 16mil matrizes só para produzir carne, além deoutras situações interessantes. “Mas existemmuitos produtores que não tratam a caprino-vinocultura como negócio e não dá mais paraabdicar disso”, considera ele.

Antigamente, diziam que a caprinovino-cultura era uma atividade de pobre, de nordes-tino do Semi-Árido. Hoje, isso não é mais ver-dadeiro. A atividade é praticada em todo Brasil.Estados como Mato Grosso do Sul, Tocantins,Pará, Maranhão, Bahia, São Paulo, Minas Ge-rais e Rio de Janeiro estão investindo na ativi-dade. “Para se ter uma idéia, a EmbrapaCaprinos, com sede em Sobral, criou o NúcleoSudeste de Caprinovinocultura, com sede emJuiz de Fora. Da mesma forma, vamos ter oNúcleo Centro-Oeste, com sede em CampoGrande e, estamos criando o Núcleo Norte, comsede em Palmas (TO)”, diz ele, mostrando o in-teresse da pesquisa para uma atividade econô-mica que está em fase crescente.

Questão da qualidade e doscustos de produção

“Temos uma empresa no Rio de Janeiro quetrabalha a questão de leite e derivados, que com-pra leite num raio de 350 km, pagando por qua-

lidade e constância da oferta. Isso é uma ques-tão de exigência de mercado”, afirma Aurino.

Segundo ele, existe um espaço enorme paraa atividade nos dias de hoje, que exige mudan-ças no sistema de produção. “A sociedade civilorganizada precisa entender que a pecuária decorte não se restringe a bovino de corte e gadode leite. Precisamos de gente que tenha a visãoempresarial, que invista na atividade.

Para Aurino Simplício a tecnificação da ati-vidade é o grande desafio do Nordeste Semi-Árido. Hoje, há produtores fazendo consórciode ovino de corte (para produção de carne epele), com vaca leiteira, com o objetivo demaximizar a questão da rentabilidade do solo,com a preservação do meio ambiente e a gera-ção de emprego. “Não temos que ter medo deganhar dinheiro”, mostra Aurino.

Existem 180 milhões de bovinos no País, lem-bra ele, comparando com a população de ovi-nos e caprinos no Brasil, em torno de 25 milhões.“É muito pouco. Temos uma enorme janela paracrescer. É questão de acreditar”, defende ele.

Em defesa da educação docaprinovinocultor

A ovinocultura, historicamente, divide-se emduas atividades: a ovelha sem lã, restrita ao Nor-deste, e a com lã, restrita ao Rio Grande do Sul,que tinha uma janela de exportação para o mun-do. “Com o advento dos derivados de petróleo,a lã brasileira perdeu seu espaço no mercadoexportador, porque não teve como concorrercom a Austrália, a Nova Zelândia e a própriaArgentina. Hoje, com o avanço da caprinocul-tura, temos ovino deslanado em todo Brasil, in-clusive no Sul. O mercado interno é compradorde carne ovina”, destaca Aurino.

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Aurino: por quenão tratar acaprinovinoculturacomo um negócio?

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A carne do ovino deslanado é mais magra,tornando-a mais atraente para o consumidor.Fortaleza importa 35% da carne que consome,além de São Paulo e Brasília. A pele do ovinodeslanado é de excelente qualidade e o parqueindustrial é considerado forte.

Aurino Simplício considera que há muito oque fazer para o crescimento e a melhoria do sis-tema de produção do rebanho ovino e caprino epara a educação do homem. E analisa o proble-ma da falta de assistência técnica e extensão ru-ral que permitiriam essa expansão, como aconte-ceu no passado com a avicultura. “Por que nãousar água no Nordeste para isso?”, indaga ele.“Temos que abandonar o arame farpado e traba-lhar com pastagens irrigadas”, considera Aurino.

Cuidados com a alimentação,a saúde e a nutrição

Os principais cuidados que o caprinovi-nocultor deve ter estão voltados para a alimen-tação e as questões sanitárias dos animais. Numaplanilha de custos, a alimentação representa de55% a 70% dos custos. A questão sanitária tam-bém requer atenção especial. Muitas das difi-culdades com doenças, deve-se a instalações ru-ins e deficiências nutricionais. O animal bemnutrido adoece pouco.

“Alimentação, saúde e nutrição são três pon-tos importantes”, destaca Aurino, lembrandoque as doenças mais sérias do rebanho são asverminoses. A causada por um verme chamadoEmoncus, que consome sangue é a principal; aEméria, que ataca, provoca diarréia, retarda ocrescimento das crias e provoca um alto índicede mortalidade. Temos a questão do “mal docaroço”, que danifica a pele. A Embrapa temtrabalhos voltados para o desenvolvimento deuma vacina para caprinos.

Outra doença que compromete o rebanho éa seratoconjuntivite, que muitas vezes, cega oanimal e costuma atacar todo o rebanho. Paraquem trabalha com caprinovinocultura de cor-te, existe a pododermatite ou doença do casco,provocada pela umidade excessiva e uma bacté-ria. “São essas as cinco doenças principais queprecisamos prestar a atenção, quando pensamosem explorar a caprinocultura de pasto”, lembra ele.

Depois de se aposentar pela Embrapa, Aurinopretende tornar-se um caprinocultor. “Quero serum selecionador de raça ovina, um produtor decarne e leite de caprino a pasto cultivado com ouso de irrigação. Se houver espaço, carne de ovi-no também. Pretendo ser um selecionador da raçaSomalis brasileira no Rio Grande do Norte e tor-nar-me um produtor empresarial”, afirma ele.

Brasil quer expandir criaçãode caprinos e ovinos

Com um rebanho de 25,8 milhões de cabe-ças de caprinos e de ovinos, o Brasil pretendeexpandir a criação desses animais para atenderà crescente demanda interna. A afirmação é dopresidente da Câmara Setorial da Cadeia Produ-tiva de Caprinos e Ovinos do Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento, Ricardo Fal-cão. O Brasil produz, anualmente, 38 mil tonela-das de carne de cabrito e 71 mil toneladas decarne de ovelha. De acordo com o presidente daCâmara Setorial, a Região Nordeste detém 94%do rebanho brasileiro de cabritos e 53% doplantel de ovelhas. A criação desses animaisestá, no entanto, estagnada há 20 anos, afirmaFalcão. Para ele, o desafio é garantir condiçõesaos novos criadores interessados. “Precisamosorganizar toda a cadeia produtiva, para que essecrescimento seja feito dentro de normas e possase dar com solidez e evitar que muitos criadorescomecem e desistam no meio do caminho”.NoNordeste, a criação de cabritos e ovelhas é aprincipal atividade econômica de muitas famíli-as, ligada principalmente à agricultura familiar.“O pequeno produtor de lá vem tendo essaatividade como sustento, onde a maioria tempequenos animais que resistem melhor à seca etem uma liquidez mais rápida do que o rebanhobovino”. Falcão lembra que existem poucos fri-goríficos especializados em caprinos e ovinos noNordeste e o consumo de carne clandestina émuito alto. A Câmara vai enviar uma carta aoministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, paratratar do Plano Nacional de Sanidade de Caprinose Ovinos. Na avaliação do secretário-executivoda Câmara Setorial, Raimundo Nonato BragaLobo, o produtor deve-se preocupar com ascondições sanitárias da criação e a alimentaçãodos animais. Fonte: www.agronline.com.br

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FOTO: EMBRAPA CAPRINOS

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A próxima revista, ITEM 67,3º trimestre de 2005,

já está em fase de edição.

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Em 2001, uma rica programação do XI CONIRD e4th IRCEW, em Fortaleza, CE, registrada na Item50, com a edição dos 2 anais e de um livro eminglês e a inserção internacional da ABID,incluindo-se a presença do presidente da ICID,como retratado na Item 50 e 51.

Em 2002, o XII CONIRD em Uberlândia, MG, comos anais em CD e a programação na Item 55.

Em 2003, o XIII CONIRD em Juazeiro, BA, com osanais em CD e a programação na Item 59.

Em 2004, o XIV CONIRD em Porto Alegre, RS, comos anais em CD e a programação na Item 63.

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ASSOCIAÇÃOBRASILEIRA DEIRRIGAÇÃO EDRENAGEMÉ O COMITÊNACIONALBRASILEIRO

DA

ICID-CIID

Teresina PI16 a 21 de outubro de 2005

AGENDE ESSE ENCONTRO com osagronegócios calcados na agricultura irrigada.

Temas nacionais e internacionais voltadospara o uso sustentável da água e a geraçãode riquezas e empregos.

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Fruticultura irrigadaUma alternativa importante no

aproveitamento dos recursos hídricos do Piauí “O estado do Piauí tem a possibilidade de investir e

explorar a fruticultura irrigada, com o aproveitamentode seus recursos hídricos superficiais e subterrâneos.”

A afirmação permeia pelas equipes da Codevasf,Dnocs, Banco do Nordeste, Embrapa Meio-Norte,

governo do Estado e de diversos outros organismospúblicos e privados. Eles consideram a possibilidade do

desenvolvimento dessa atividade no aproveitamentoda estrutura irrigada existente nos inúmeros projetos

públicos de irrigação do Dnocs, que ficaramparalisados durante muito tempo e serão reativadosnos próximos cinco anos, como uma das medidas decurto prazo estabelecidas pelo Plano de Ação para o

Desenvolvimento Integrado do Vale do Parnaíba (Planap).

irrigada, que há três anos foi o principal frutoda pauta de exportação do Estado.

“Hoje, além do limão e da manga, temos ococo, a goiaba, a melancia, que talvez ocupemuma das maiores áreas irrigadas do Estado. Te-mos também as fruteiras nativas que despontamnessa linha de irrigação”, exemplificam osinterlocutores, alertando ser necessária a com-preensão por parte da iniciativa privada e do go-verno, para o aproveitamento das oportunida-des oferecidas pelo Estado para a agriculturairrigada, especialmente a fruticultura.

Piauí, rico em águassuperficiais e subterrâneas

É denominador comum considerar que o es-tado do Piauí tem uma reserva de água signifi-cativa que pode ser aproveitada na agriculturairrigada. Parte dessa água está no subsolo e existeuma grande reserva de água no Centro-Sul doEstado, responsável por alguns poços jorrantes.Outra parte da reserva é formada por água desuperfície, originária dos Rios Parnaíba, Poti,Longá e Gurguéia, além das barragens e lagoas.

“Diante dessa reserva de água do Estado, épossível, dentro de uma programação que está

É sempre lembrado que alguns empresá-rios têm tido sucesso com a fruticulturacomo um negócio lucrativo, como no caso

do limão Tahiti. Em Teresina, há um empresáriocom cerca de 200 ha irrigados plantados com li-mão Tahiti e exporta o melhor limão para a Eu-ropa. Lembra-se também a cultura da manga

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A produção irrigadade frutas de

qualidade, umagrande alternativa

no uso dos recursoshídricos do Piauí

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partindo do governo, montar um programa derevitalização e de avanço da agricultura irrigadaestadual. Tivemos nas décadas de 80 e 90, o Pro-grama Nacional de Irrigação e o Programa deIrrigação do Nordeste que começaram a fazerprojetos como de Tabuleiros Litorâneos, Platôsde Guadalupe, além dos projetos menores doDnocs, que ficaram muito tempo paralisados. Apolítica de governo do Estado está voltada parao aproveitamento desses perímetros, com a es-trutura de irrigação toda montada, precisandoapenas da operacionalização, como expectativacomum da atualidade.

Qualquer atividade agrícola tem seus altos ebaixos. Pode ter uma situação mais estável, quan-do existe uma política de governo voltada paraessa atividade: questão do crédito, de infra-es-trutura de irrigação, de estradas, de comercia-lização etc. Assim, considera-se que falta maiorentendimento do setor privado com o setor go-vernamental, para possibilitar a logística, envol-vendo questões de comercialização. Há uma sig-nificativa estrutura tecnológica com o trabalhoda Embrapa e das universidades, entre outras.

Assim, parece consenso que não é possível otrabalho isolado. É preciso que o Programa dogoverno seja entendido pela iniciativa privada epelo setor público federal. Como exemplo, aspossibilidades de aproveitamento dos projetospúblicos de irrigação. Tem-se dois grandes perí-metros irrigados no Estado: o Tabuleiros Lito-râneos, que fica a 300 km de Teresina, próximoao litoral, e o Platôs de Guadalupe, que fica aosul do Estado, próximo ao Vale do Gurguéia. OTabuleiros tem hoje uma capacidade de instalar10 mil ha e está irrigando cerca de 1.200 ha. NoPlatôs, a infra-estrutura é para atender 20 milha, hoje não chega a 1 mil ha irrigados. Isso re-quer o entendimento com a iniciativa privada.

A iniciativa do governador, ao celebrar aparceria com a ABID para a realização do XVConird, representa o interesse em investir emagricultura irrigada no Piauí, como uma das prin-cipais alternativas econômicas para o Estado.“Temos uma série de vantagens para produzirfrutas de qualidade: a questão da água, solos comboa capacidade de drenagem, além do clima. Te-mos ainda a proximidade do Piauí a centros con-sumidores da Europa. Se o governo viabiliza aquestão do Porto de Luís Corrêa, no litoral, tere-mos uma possibilidade maior de colocar nossosprodutos a preços mais acessíveis”, destacaValdemício Ferreira de Sousa, chefe-geral daEmbrapa Meio-Norte, com o respaldo de todaa equipe envolvida na organização dos even-tos, considerando-se ainda que a facilidade paraa aquisição de terras no Piauí torna a atividademais interessante em termos de oportunidades.

Rodrigues anuncia que aEmbrapa coordenará oConsórcio Nacional deAgroenergia

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento, Roberto Rodrigues, anunciou, nasemana em que a Embrapa comemorou 32anos de sua fundação, a criação do Consór-cio Nacional de Agroenergia. O projeto serácoordenado pela Estatal, vinculada ao Minis-tério. “A Embrapa é a alavanca do processode desenvolvimento da agroenergia, novoparadigma da agricultura brasileira e mundi-al”, destacou o ministro.De acordo com ele,a Empresa será o principal ponto de apoio doconsórcio, que desenvolverá ações voltadasà produção de energia a partir de produtosagrícolas. A Embrapa já realiza pesquisas comoleaginosas como fonte energética. “Mas te-mos de avançar”, disse, ao convocar os pes-quisadores para apoiar a nova iniciativa dogoverno federal.Com o consórcio, explicouRodrigues, o Brasil deverá concentrar esfor-ços na produção de agroenergia e evitará adispersão de ações, recursos e tecnologias.Para ele, o País possui hoje a principal alter-nativa energética ao petróleo, ou seja, a pro-dução de energia a partir de produtos agrí-colas. “Com isso, temos também a chance dedar à agricultura um segundo Nobel da Paz”,assinalou - o primeiro foi concedido, em 1970,ao agrônomo norte-americano NormanBourlaug, um dos grandes responsáveis pelachamada Revolução Verde, ocorrida na agri-cultura, na segunda metade do séculopassado.Fonte: Embrapa.

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Um plano para o desenvolvimento do

Vale do ParnaíbaDesde o ano de 2000, através da Lei no 9.954, a

Codevasf ampliou sua área de atuação anteriormentelimitada ao Vale do Rio São Francisco para o Vale do

Rio Parnaíba, nos estados do Piauí, do Maranhão e doCeará, e passou a denominar-se Companhia de

Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e doParnaíba. A partir daí, recebeu o mandato de elaborar,

em colaboração com os demais órgãos públicosfederais, estaduais e municipais, planos de

desenvolvimento integrado da Bacia Hidrográfica doRio Parnaíba, considerado o maior rio nordestino,

indicando programas e projetos prioritários para odesenvolvimento regional.

O município deSanta Filomena

(PI) registrou, em2004, a maior

produtividade dealgodão do país:326 arrobas por

hectare

OMinistério da Integração Nacional, emparceria com a Organização dos Esta-dos Americanos (OEA), com o Banco

Mundial e com os governos estaduais do Piauí,do Maranhão e do Ceará, está preparando oPlano de Ação para o Desenvolvimento Integra-do do Vale do Parnaíba (Planap), que conta commetas de curto, médio e longo prazos. O proje-to de preparação desse Plano está sendo dirigi-do por um comitê-gestor presidido pelo Minis-tério da Integração Nacional/Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica, com a Codevasf atuandocomo secretaria técnica-executiva, tendo em vis-ta a experiência adquirida ao longo de seus maisde 30 anos de atividades na Bacia do Rio SãoFrancisco. Conta ainda com representantes daSudene, Sudam, Dnocs, dos governos e socieda-de civil dos três Estados envolvidos, além daUnidade de Desenvolvimento Sustentável eMeio Ambiente da OEA.

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FOTO: MARCELO PRATES

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Área do Planap – A Bacia do Rio Parnaíba tem uma área de, aproximadamente, 330 mil quilômetros quadrados,distribuídos em três Estados do Nordeste brasileiro: Maranhão, Piauí e Ceará.

BACIA DO RIO PARNAÍBA NO PIAUÍ, MARANHÃO E CEARÁEstado Área na Bacia em km2 % em cada Estado Área total do Estado em km2 % da Bacia incluída no EstadoPiauí 248.160(1) 75,2 252.378 98,3Maranhão 68.640 20,8 333.365 20,6Ceará 13.200 4,0 146.348 9,0 (1) área de litígio Ceará/Piauí é de aproximadamente 3 mil km2.

A área da Bacia incluída no Plano de Ação éde cerca de 317.800 km2, correspondentes à Ba-cia do Parnaíba nos estados do Piauí e Maranhãoe exclui a área referente ao estado do Ceará. ABacia do Parnaíba é dividida em três partes: oAlto Parnaíba, das cabeceiras até a confluênciacom o Rio Gurguéia, inclusive, o Médio Parnaíbaaté a confluência com o Rio Poti, em Teresina, eo Baixo Parnaíba, até o encontro com o oceanoAtlântico.

Um plano de grande interessepara o Piauí

O Planap abrange toda a Bacia Hidrográficado Rio Parnaíba e deverá ser conseqüência deuma ação integrada, que reflita a vontade polí-tica de órgãos federais e regionais, bem comode organizações locais da sociedade civil. Aformulação desse plano busca criar condiçõesnecessárias para o desenvolvimento, com aintegração e a ativa participação dos interessa-dos.

Considerando que 98,3% do território doPiauí estão localizados na Bacia do Rio Parnaíba,o Planap representa, de certa forma, um planode ação para o desenvolvimento do próprio Es-tado. O Vale do Parnaíba inclui ainda 20% doterritório do Maranhão e 4% do território doCeará.

O Planap proporá ações de médio e longoprazos para o desenvolvimento integrado doVale, tendo por base um diagnóstico da Bacia eem propostas de ações estratégicas para o de-senvolvimento sustentável. Um outro compo-nente dessa ação a ser implementado no Valedo Parnaíba será um plano de curto prazo (PCP),destinado a dar diretrizes para atender deman-das imediatas, aproveitando a infra-estruturaparcialmente disponível. Por isso mesmo, oenvolvimento do Departamento Nacional deObras contra a Seca (Dnocs) é considerado fun-damental, por ser ele responsável por diversosprojetos de irrigação e outras obras vinculadasao combate à seca no Nordeste, em particular,no Vale do Parnaíba.

Aproveitamento das estruturasdisponíveis a curto prazo

Na ampliação da área voltada para a agriculturairrigada, o plano de curto prazo deverá definir estraté-gias para que as iniciativas parcialmente implantadasno Vale, como os antigos perímetros públicos de irriga-ção, passem a gerar resultados mais efetivos, devido aovolume de recursos já investidos e ao potencial socialapresentado por eles.

Com o envolvimento das organizações responsáveis,a participação das comunidades de usuários, e tendopor base os projetos mencionados, cuja viabilidade pro-curar-se-á assegurar, para o setor privado, o PCP deve-rá contemplar:

• revisão da viabilidade das infra-estruturas hídricase dos recursos hídricos disponíveis dos projetos seleci-onados;

• desenvolvimento de sistemas de produção agríco-la ou agroindustrial integrados mais adequados em cadacaso, com análise e proposta de técnicas de produção,visando o uso eficiente dos recursos naturais de solo eágua, de força de trabalho, de energia e de infra-estru-tura produtiva para um maior benefício econômico eum menor impacto ambiental;

• integração às cadeias de comercialização nacio-nais e internacionais, com base em estudos de mercadoque identifiquem a demanda interna e internacional,bem como as técnicas de comercialização;

• formas de organização e funcionamentos social eempresarial nos diferentes níveis e de acordo com astendências de evolução para assegurar a viabilidade dosempreendimentos;

• geração de empregos, visando à inclusão dos jo-vens e da mulher nas cadeias organizacional e produti-va dos empreendimentos;

• demandas para infra-estruturas social e produtivae para estudos que visem complementar a infra-estru-tura física existente, com o objetivo de assegurar umamaior produtividade com menor impacto ambiental;

• necessidades de serviços sociais e para produção,assim como as formas de assegurar acesso a ambos;

• alternativas de financiamento disponíveis e a sele-ção das melhores oportunidades;

• estudos de viabilidades social, institucional, eco-nômica, financeira e ambiental de cada projeto incluí-do no PCP.

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Planap ficará prontono final de 2005Enquanto o planejamento vai sendoconcluído, oportunidades sãoidentificadas e medidas a curto prazocomeçam a ser empreendidas.

Até o final de 2005, o Ministério da IntegraçãoNacional estará concluindo a elaboração do Pla-no de Ação para o Desenvolvimento Integradodo Vale do Parnaíba (Planap), que representa oplanejamento de um conjunto de ações a ser ins-tituído regionalmente, em busca do desenvolvi-mento socioeconômico regional. Luiz CarlosEverton de Farias, presidente da Companhia deDesenvolvimento dos Vales do São Francisco edo Parnaíba (Codevasf), secretaria técnica-exe-cutiva do Planap, falou à ITEM sobre o assuntoe o que este plano representará para a região,especialmente para o estado do Piauí.

Item – Qual tem sido a atuação da Codevasf naregião do Vale do Rio Parnaíba?Luiz Carlos – A Codevasf passou a atuar no Valedo Parnaíba a partir do ano 2000, portanto, érecente a nossa presença na região. Como tal, aprimeira ação efetiva seria planejar a Bacia paraestabelecer os marcos e as diretrizes do que po-deríamos fazer na região. Por isso, foi aprovadoo Plano de Ação para o Desenvolvimento Inte-grado do Vale do Parnaíba (Planap), com o apoioda OEA, do Banco Mundial e dos governos dosestados do Piauí, Maranhão e Ceará. Esse Pla-no de Ação teve como primeiro objetivo mapeartodos os recursos hídricos existentes na Bacia.Depois disso, o estudo identificou 11 territóriosno Estado, que também têm intercessão com osterritórios identificados por diversos ministéri-os e instituições, como o Ministério de Desen-volvimento Agrário (MDA). Passou-se, então,ao estudo das atividades econômicas principaisali desenvolvidas. Foram feitas oficinas com li-deranças e técnicos em cada um dos territóriospara o mapeamento de todas as atividades eco-nômicas a serem desenvolvidas no Vale doParnaíba. Estamos na fase de transformar algu-mas dessas atividades em projetos executivos,que possam efetivamente alavancar o desenvol-vimento da região.

E N T R E V I S T A

“O Planap é um trabalho apolítico etécnico, sem conotação partidária,

fruto da discussão e do consenso detoda a sociedade. Foram promovidasoficinas nos 11 territórios do Estado

com formadores de opinião etécnicos regionais e de renomeinternacional contratados pelo

governo.”

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RIOS E POÇOS SUBTERRÂNEOS DO PIAUÍ

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Item – Fale um pouco sobre os projetos dessafase inicial e os efetivos investimentos a serempromovidos no Piauí e na região em 2005.Luiz Carlos – Um exemplo é o Programa deDesenvolvimento Florestal do Piauí, onde járealizamos o mapeamento, o zoneamento e aidentificação da variedade de eucalipto a serplantada no Estado. Esse Programa demonstrouque o Piauí tem um milhão de hectares em áre-as disponíveis para o plantio do eucalipto e nãoestava no Programa Nacional de Florestas. É umsetor dinâmico que responde por 1% da balan-ça de pagamento do Brasil, existe um déficit de600 mil hectares de florestas plantadas no País esinalizações de quase R$ 1 bilhão em investimen-tos privados de fundos de pensão e empresasamericanas e nacionais interessadas em vir parao Piauí.Outro programa que está surgindo é o de póloaqüícola do Parnaíba. Implantamos em junho de2005 o primeiro projeto piloto de piscicultura efaremos no Delta do Parnaíba o que vem acon-tecendo na Foz do São Francisco. A Codevasfinvestiu R$ 6,5 milhões na cadeia produtiva dapiscicultura. Inauguramos recentemente a Es-tação de Piscicultura de Nazária, recuperamosa Estação de Piscicultura de Caldeirão, emPiripiri. Vários tanques-rede foram colocadosem barragens e açudes, introduzindo essa novatecnologia no Estado.Temos também a questão da fruticultura. Intro-duzimos a uva no Semi-Árido piauiense, atra-vés dos projetos Santa Rosa e Marrecas, juntocom a Embrapa, onde estamos desenvolvendo etestando uma variedade adequada à região evamos colher agora as primeiras uvas plantadasno Estado. O Semi-Árido será um pólo de fruti-cultura do Estado, porque apresenta as mesmascondições de Petrolina/Juazeiro.

Item – A agricultura irrigada tem destaque noPlanap? Como a empresa vem conduzindo o seurelacionamento com a iniciativa privada?Luiz Carlos – Com certeza tem destaque e o casoda uva é um exemplo. Já existem diversos inves-tidores interessados em ir para o Estado. O nos-so papel como empresa pública é exatamente ode instalar um projeto piloto, mostrar que aquelaatividade é viável como forma de atrair o capi-tal privado para a região. E é o que está aconte-cendo, pois até em São João do Piauí, as agênci-as bancárias estão sinalizando para se instala-rem no município, pois sabe-se que o plantio de

uva revoluciona uma região. Outra ação daCodevasf é implantar alguns projetos pilotos deirrigação em grandes barragens e açudes do Es-tado, como Jenipapo, Morumbi e Salinas; alémde pequenos projetos de irrigação, usando nos-sa experiência de 30 anos no Vale do São Fran-cisco, como forma de viabilizar investimentosprivados.

Item – Empresários rurais do Oeste da Bahiaestão demonstrando interesse em investir noestado do Piauí, especialmente no Vale doGurguéia. Como está o relacionamento do go-verno com a iniciativa privada nesse sentido?Luiz Carlos – O governo do Estado é um gran-de parceiro da Codevasf e dos empresários. Bas-ta ver os investimentos de infra-estrutura quevêm sendo feitos, criando condições para queos empresários possam vir principalmente parao Cerrado. Está aí a mobilização que se fez paraa manutenção da Bunge no Estado. Por outrolado, entregamos ao governo o macrozonea-mento econômico-ecológico do Cerrado, umaferramenta poderosa de gestão, um grande ban-co de dados com imagens de satélite trabalha-das em parceria com o Ministério do Meio Am-biente e com o Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (Inpe), para melhor gerir e conhecero território. Por meio dele, serão conhecidas aslimitações, o quanto se pode expandir na áreade grãos, identificar os corredores ecológicosmapeados, entre outras ações.

Item – O Planap apresenta medidas de curto,médio e longo prazos. Em qual estádio deverãoestar esse Plano e o Estado do Piauí até o finaldo governo Lula?Luiz Carlos – O planejamento e a forma queestão empregados no Planap são inéditos. Sem

LUIZ CARLOS EVERTON DE FARIAS

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planejamento não se consegue mobilizar recur-sos nem demandas. O Planap está dando esseinstrumento poderoso ao Estado, a partir domomento que coloca essa visão de futuro e asações que poderão ser feitas nesse sentido. Paradesenvolver essas ações é preciso conhecer oEstado, seus recursos naturais e limitações, le-vantar os principais projetos alavancadores derecursos. Para se conseguir recursos, tanto fe-derais como internacionais, precisamos de pro-jetos. Para isso, temos que ter um trabalho cien-tífico que vem sendo feito por técnicos de altonível. O Planap nasceu com a chancela daCodevasf, da OEA, do Banco Mundial e dosgovernos estaduais, tal é a credibilidade que secoloca sobre o planejamento estratégico de umabacia hidrográfica. No final de 2006, o Estadovai ter uma plataforma muito importante de pla-nejamento para os próximos anos, que não irápara a prateleira. Ele está dando origens a pro-jetos que estão sendo identificados e lançados.O próprio Programa de Desenvolvimento Flo-restal foi fruto de uma ação do Planap. Um pro-jeto com capacidade de mobilizar recursos, nãosó de investidores interessados em florestas plan-tadas e seqüestro de carbono, mas de indústriasmadeireiras, do setor moveleiro e de produçãode carvão, que esgotaram áreas para plantaçãode florestas no País. O Piauí representa a últimafronteira de florestas do Brasil.

Item – O Piauí é um Estado que tem um acervorico em águas subterrâneas. Como a Codevasfvê o aproveitamento dessa riqueza para a agri-cultura irrigada?Luiz Carlos – Primeiro, é preciso fazer um estu-do sobre as recargas e a quantidade dessas re-servas. Qual é a capacidade de recarga desseslençóis? Uma ação extremamente positiva já foifeita: o fechamento dos poços jorrantes, que es-tavam jogando água fora, sem um projeto pro-dutivo. Marrecas também tem um poço, CapimGrosso, que jorrava 180 m3 sem um projeto deaproveitamento da água. Esse poço foi fechadoe a Codevasf canalizou essa água para projetosde irrigação. Assim também foi com o Violeto eoutros poços que eram tradicionais e históricosna região. O XV Conird a ser realizado em ou-tubro de 2005, em Teresina, servirá para ampli-ar a discussão sobre o uso das águas subterrâne-as, será importante e positivo para aconscientização da população, dos formadoresde opinião e levar a um debate mais efetivo so-bre essa questão.

Item – Outra proposta do XV Conird, além dogerenciamento das águas, é discutir alternati-vas e tecnologias de culturas e atividades daagricultura irrigada a serem implantadas no Es-tado. Qual é a contribuição que o Conird pode-rá dar para o Piauí na atual fase de desenvolvi-mento?Luiz Carlos – Acho importante que um eventode repercussão nacional seja realizado no Piauí,porque o Estado está-se transformando na gran-de fronteira agrícola do País, não só no regiãodo Cerrado, como também se coloca como po-tencial para a fruticultura irrigada. Vamos ter asmaiores autoridades do País desses setores, queirão conhecer e discutir essas importantes ques-tões para o Estado. Por outro lado, a Codevasf,em parceria com a Embrapa, vem buscando ou-tras variedades de culturas que podem ser ade-quadas à região. Agora mesmo, estamos impor-tando oliveiras e introduzindo no Semi-Áridobrasileiro, no Campo Experimental de Petrolina(PE). Se der tudo certo como planejamos, essasoliveiras poderão também ser alocadas para oPiauí. Aí, teremos um mercado de US$ 600 mi-lhões no País. Outras culturas exóticas como ocaqui e o abacate, que são frutas conhecidas nomercado internacional, poderão ser desenvolvi-das nessa região.

Item – No caso da sucessão presidencial em2006, quais são as expectativas em relação aoPlanap e ao Piauí?Luiz Carlos – No final desse ano, entregaremoso Planap pronto e qualquer gestor que assumao governo vai ter um instrumento poderoso paranortear suas ações. O planejamento dependesomente da sensibilidade do gestor enxergar oque está posto à disposição das instituições dogoverno. É um trabalho apolítico e técnico, semconotação partidária, fruto da discussão e doconsenso de toda a sociedade. Foram promovi-das oficinas nos 11 territórios do Estado, comformadores de opinião e técnicos regionais e derenome internacional contratados pelo governo.

“O XV Conird servirá para ampliar adiscussão sobre o uso das águas

subterrâneas, será importante e positivopara a conscientização da população, dos

formadores de opinião e levar a umdebate mais efetivo sobre essa questão.”

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Com o Planap, o Piauídeverá irrigar 60 milhectares

Colocar em plena produção 60 mil ha irriga-dos, econômica e ambientalmente corretos nãoé tão fácil. O Vale do São Francisco, com todo otempo de atuação da Codevasf, através de in-vestimentos públicos, conta atualmente com,aproximadamente, 140 mil ha irrigados, lembraHildo Diniz da Silva, superintendente da 7a Su-perintendência Regional da Codevasf, com sedeem Teresina, PI. Para ele, mesmo antes da con-clusão do Planap, a irrigação desponta comouma das alternativas de desenvolvimento maisrequisitadas regionalmente, com reivindicaçõesque contemplam a implantação de novos perí-metros públicos de irrigação, como, e principal-mente, a reabilitação dos perímetros irrigadosdo Dnocs, nos estados do Piauí e Maranhão,totalizando 20 mil ha irrigados. Hildo Diniz trazem sua bagagem mais de dez anos de experiên-cia e vivência no Projeto de Irrigação dePetrolina/Juazeiro, considerado pelo BancoMundial, como uma referência no desenvolvi-mento do Vale do São Francisco. Considera maisfácil a reabilitação dos perímetros públicos jáimplantados e em operação no Vale do Parnaíbacomo meta prioritária a ser executada em umhorizonte de cinco anos, prevista no Planap, oque, conseqüentemente, viabilizará a captaçãode recursos financeiros junto aos organismosnacionais e internacionais para implantação denovos perímetros irrigados, e dará a credibi-lidade necessária à iniciativa privada para inves-tir em irrigação no Vale do Parnaíba.

Paralelamente a essa fase de reabilitação dosperímetros irrigados, estudos e projetossocioeconômicos e ecologicamente viáveis esta-rão sendo executados, com vistas à implantaçãode mais 40 mil hectares irrigáveis num prazo deaté 15 anos. O alcance desta meta é significativopara o desenvolvimento sustentável do Vale doParnaíba. A introdução de novos conhecimen-tos tecnológicos em agricultura irrigada; estu-dos de mercados; linhas de crédito; infra-estru-tura de energia; estradas disponíveis; incentivosfiscais; aproximação dos portos do Pecém, noestado do Ceará e Itaqui no estado do Maranhãoetc. trarão, com certeza, novos e potenciais in-vestidores para o Vale.

Segundo ele, a atividade de irrigação no Valedo Parnaíba está técnica e evolutivamente emestágio embrionário, apesar do potencial dispo-nível de solo e água em plena região Semi-Ári-

da, superando em muito os estados do Ceará,Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.Vale ressaltar que a disponibilidade hídrica nãose constitui um fator limitante para o crescimen-to da agricultura irrigada no Vale do Parnaíba.

As fontes hídricas disponíveis constituem-sede águas de superfície e subterrâneas. A primeiratem o Rio Parnaíba, com fluxo médio de 400 m³/h, o seu principal manancial, auxiliado por vári-os tributários temporários e permanentes, des-tacando-se dentre estes os Rios Poti e Longá,no estado do Piauí e o Rio Balsas no estado doMaranhão. Compõem também águas de super-fície, os 2,7 bilhões de m³ de água armazenadaem lagoas e barragens. Somados os rios, lagoase barragens que formam a Bacia do RioParnaíba, há uma disponibilidade mínima de 3bilhões de m³/ano para usos diversos.

Quanto à reserva hídrica subterrânea – OVale detém o segundo maior lençol aqüífero doPaís, podendo ser comparado, em termos devolume acumulado, à quantidade de água exis-tente na Baía da Guanabara-RJ. O aqüífero éconhecido também pela quantidade de poçosjorrantes, merecendo destaque o Poço Violeto,situado no município de Cristino Castro, Valedo Gurguéia, com a impressionante vazão dejorro de 900m³/h. Hildo Diniz, porém, vê a utili-zação de aqüíferos em grande escala, com certareserva, uma vez que não se dispõe de conheci-mentos técnicos mais aprofundados sobre a ca-pacidade exploratória do aqüífero Parnaíba.Estudos nessa direção estão sendo propostos àCPRM e UFPI, objetivando dimensionar,quantitativamente e por região, a capacidade defornecimento d’água daquele aqüífero.

Mesmo a Bacia do Parnaíba, com todo o po-tencial aqüífero, seja subterrâneo ou superfici-al, anteriormente citados, e o complexo hídricogerado nesta região, apresenta a menor áreairrigada plantada no Nordeste, resumindo-se aos

Hildo Diniz levapara o Piauí mais dedez anos deexperiência evivência no Projetode Irrigação dePetrolina/ Juazeiro

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perímetros do Dnocs e algumas propriedadesprivadas. Um dos resultados disso é que a capi-tal Teresina chega a importar 60% doshortifrutigranjeiros consumidos por sua popu-lação.

Outro fator primordial e positivo no desen-volvimento das áreas irrigadas é o solo, ondecerca de 43% dos quase 252 mil km² do territó-rio do estado do Piauí são compostos porlatossolos. A luz natural é mais uma aliada paraas atividades agrícolas, principalmente para afruticultura, pois, incide anualmente nas terraspiauienses, em torno de 3 mil horas de sol. Essedetalhe, que pode parecer insignificante paraleigos, é um item fundamental no desenvolvi-mento vegetativo e reprodutivo da maioria dasfruteiras de significativo valor comercial, a exem-plo da uva.

“No que se refere ao potencial para irriga-ção no Nordeste, poderemos afirmar que o Piauíestá à frente inclusive de Pernambuco, hoje re-ferência nessa atividade. Pesa sobre tal afirma-ção o fato de o Estado representar atualmentea última fronteira agrícola em expansão, comsolo, sol e água disponíveis”, relembra HildoDiniz.

Alternativas de culturas para o Piauí –Pa-radoxalmente em relação ao potencial de solo eágua do Piauí, outros Estados do Nordeste bra-sileiro como Ceará, Pernambuco, Paraíba e RioGrande do Norte têm grandes áreas irrigadas efazem um bom aproveitamento da água, mes-mo com limitações de solo e água.

Os governos dos Estados que compõem aBacia do Parnaíba estão empenhados emimplementar ações que buscam o aproveitamen-to de todo o potencial hídrico, com destaquepara a agricultura irrigada. Em consonância aisto, a Codevasf, por meio do Planap, está fa-zendo o reconhecimento das áreas cultivadas,além de estudar toda a cadeia produtiva da Ba-cia do Parnaíba, dando ênfase à irrigação, bus-cando investimentos para essa área, afirma HildoDiniz. Segundo ele, há três anos no Estado, aCodevasf vem, por meio de parcerias, fazendo ozoneamento das áreas produtoras e estudandoo comportamento das culturas que se adaptama essas regiões. Tais experiências estão sendoimplementadas principalmente através do Pro-jeto Santa Rosa, na bacia do Canindé, desen-volvido em parceria com a Embrapa. NaquelaUnidade Experimental, estão sendo estudadasinicialmente dez culturas, entre elas o maracu-já, a uva, o limão Tahiti, a goiaba, a tangerina ea atemóia, além de outras culturas tradicionaiscomo a bananeira e o cajueiro. Técnicos e pes-quisadores estão tendo a oportunidade de ob-servar o comportamento dessas frutíferas emcondições controladas de irrigação, poda, adu-bação e principalmente no que tange às varie-dades mais adaptadas.

A perspectiva é ampliar o número de espéci-es estudadas. Pretende-se, ao final de cada ex-periência, gerar pacotes tecnológicos de infor-mações, especialmente voltados para as condi-ções de clima, relevo e solo, servindo de guiaprático para novos e antigos produtores rurais.É também meta dessa parceria o estudo de cul-turas como a cana-de-açúcar e algumas oleagi-nosas testadas sob condições de irrigação e altadensidade, entre elas o gergelim e o girassol. Oobjetivo é experimentar tais culturas como ma-térias-primas para o biocombustível, hoje impor-tante fonte alternativa no funcionamento de má-quinas e motores, que, além de ambientalmentecorreto, detém um papel fundamental na gera-ção de emprego e renda no campo.

Segundo Hildo Diniz, o Norte do Estadoapresenta características interessantes para pe-cuária, com destaque para os Tabuleiros Litorâ-neos e a parte de São Bernardo no Maranhão,onde existe também grande potencial para a fru-ticultura irrigada. A existência dos portosviabilizará bastante a exportação. Essa regiãoestá mais próxima de atingir seus objetivos doque as demais, em especial o Sudeste Semi-Ári-do piauiense, que, além do clima, depende deinfra-estrutura básica como estradas e energiaelétrica.

Hildo considera que para a região Semi-Ári-da, é necessário um controle maior da irrigação,

Solo, sol e águadisponíveis

fazem do Piauíuma das mais

atraentesfronteiras para a

agriculturairrigada

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com a utilização de sistemas de irrigação locali-zada e culturas mais nobres. E, em faixas doEstado, onde chove acima de mil milímetros, asolução poderá ser de culturas como o arroz.“Nas grandes várzeas das lagoas do Piauí, pode-remos pensar na produção do arroz irrigado como uso de sistemas de taipas, como no Rio Gran-de do Sul, consorciado com a piscicultura”, afir-ma ele.

Contribuição do XV Conird para o Piauí –“Considero a realização XV Conird no estadodo Piauí como um dos melhores eventos no se-tor de irrigação, traduzindo-se em uma oportu-nidade para se discutir a importância da Baciado Parnaíba no contexto do desenvolvimentosustentável regional e nacional”, afirma HildoDiniz, lembrando que a irrigação é uma grandealiada para a produção de alimentos, geraçãode emprego e renda com inclusão social. “Omomento é oportuno para a difusão de novastecnologias de irrigação e culturas irrigáveisadaptadas às diversas regiões que compõem aBacia, com suas respectivas potencialidades”,considera ele.

O superintendente da Codevasf elenca umasérie de assuntos importantes para a consolida-ção da agricultura irrigada na Bacia do Parnaíba,a serem discutidos durante o XV Conird, taiscomo:

• disponibilidade e utilização do aqüíferoParnaíba com objetivos de irrigação;

• zoneamento ecológico-econômico para finsde implantação de novos perímetros irrigados;

• ações da Agência Nacional das Águas paraa Bacia do Parnaíba;

• reabilitação dos perímetros públicos de ir-rigação na Bacia do Parnaíba;

• criação de Comitê e gestão dos recursoshídricos da bacia;

• seleção de culturas oleaginosas irrigadaspara geração de biocombustível, adaptadas àBacia do Parnaíba.

“Por fim, esperamos que o XV Conird moti-ve as classes políticas e empresariais a investi-rem no agronegócio Irrigação, visando além daintegração da Bacia do Parnaíba nas diversascadeias produtivas brasileiras, a geração de em-prego e renda, redução dos fluxos migratórios,redução dos efeitos econômicos e sociais dassecas e, concomitante a isso, a preservação dosrecursos naturais do Rio Parnaíba, seus afluen-tes, lagoas e aqüífero de modo geral, com con-seqüente melhoria da qualidade de vida dos ha-bitantes dessa região”, complementa HildoDiniz.

No município de Santa Rosa (PI), os resultados da produção deuvas apirênicas já são referência

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AS QUATRO MACRORREGIÕES DEDESENVOLVIMENTO DO PIAUÍ

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O Macrozoneamento Ecológico-Econômicoda Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba utilizoude tecnologias de geoprocessamento, reuniu eprocessou informações cartográficas, imagens desatélite, dados do censo e do cadastro urbano erural em um banco de dados, para identificar ascaracterísticas econômicas, sociais e ambientaisda bacia. A macrorregião do Cerrado abrangeos territórios de desenvolvimento de Tabuleirosdo Alto Parnaíba, dos Vales dos Rios Piauí eItaueiras e o da Chapada das Mangabeiras, nosestados do Piauí e do Maranhão. É um estudoque fornece subsídios para a otimização dos re-cursos destinados ao desenvolvimento regionalque identificou a estreita relação entre a econo-mia e a agricultura.

Segundo o coordenador nacional do Planap,Ivan Dantas Mesquita Martins, a conclusão daelaboração do Plano, no final de 2005, fará comque a Codevasf, os governos estaduais, as insti-tuições parceiras e a sociedade passem a contarcom três projetos produtivos prioritários incor-porados ao Plano de Ação, por iniciativa daspopulações dos 11 territórios de desenvolvimen-to. Haverá, portanto, 33 projetos prioritáriospara a Bacia. Entre esses projetos, alguns já con-cluídos, elencaram a agricultura irrigada comoatividade que deve ser prioritariamente fomen-tada. Em respostas formuladas à revista ITEM,Ivan Dantas dá alguns detalhes sobre o traba-lho ainda em andamento.

Como o estudo foi elaborado e que tipo de in-formação ele traz?O macrozoneamento ecológico-econômico daBacia do Parnaíba traz o resultado da justaposi-ção dos estudos socioeconômicos, ambientais,culturais e de uso da terra que estão sendo leva-dos a termo pela Codevasf em conjunto com osestados do Piauí, Maranhão e Ceará e em par-ceria técnica com as organizações que compõemo consórcio ZEE Brasil –Ministério do MeioAmbiente, universidades e centros de pesquisa.Esse processo é pro-ativo e contou com a parti-cipação da sociedade civil, que é parte indispen-sável do processo de construção.O macrozoneamento identifica e divide o terri-tório em áreas, de acordo com suaspotencialidades e limitações socioeconômicas e,principalmente, ambientais. O objetivo dessadivisão é disponibilizar subsídios informativos

Primeiras orientaçõesestão voltadas para aregião do Cerrado no PI

para os agentes sociais, de modo que as deci-sões em âmbito público e privado gerem o míni-mo de impactos negativos no território e facili-tem a sustentabilidade das atividades antrópicase a conservação da diversidade biológica namacrorregião.

O que o empresário vai saber?Já estão disponíveis as informações sobre a Aná-lise Multitemporal (2001/2003) do Uso da Terrapara a macrorregião de desenvolvimento dosCerrados da Bacia do Parnaíba. Preliminarmen-te, foi identificado o avanço da classe de uso daterra denominada agricultura mecanizada (soja,arroz, algodão), da classe agropecuária (pecuá-ria, agricultura na pequena e média proprieda-de) e da agricultura irrigada. Isso aponta paraum cenário de ocupação de, aproximadamente,10% da Macrorregião dos Cerrados por ativi-dades de impacto relevante. Estão também dis-poníveis mapas temáticos de solos, geologia, ve-getação e de socioeconomia, dentre outros. Éimportante afirmar ainda que já se encontra emfase final de elaboração pelo Planap, o estudoque identifica e faz o diagnóstico sobre a infra-estrutura hídrica existente na Bacia.

Qual é o espaço da agricultura irrigada nesseestudo?Na macrorregião do Cerrado, a agriculturairrigada é tímida. Ocupava, em 2001, uma áreade 5,5 mil ha e chegou, em 2003, a ocupar 6,1mil ha. Isso perfaz uma ocupação percentual de0,03% do território da macrorregião. Todavia, épossível vislumbrar, a médio prazo, o crescimen-to das áreas dedicadas à agricultura irrigada,desde que sejam implementadas melhor distri-buição de energia elétrica e infra-estrutura deescoamento para as safras.

Esse estudo será ampliado para as demais regiões?Como um plano estratégico para o desenvolvi-mento sustentável da Bacia, o Planap propõe-sea cobrir toda a área de influência do Parnaíba.Estão abrangidas, portanto, as quatromacrorregiões: o Semi-Árido, o Cerrado, o Li-toral e o Meio-Norte, que totalizam 278 muni-cípios – 20 do Ceará, 36 do Maranhão e 222 doPiauí.

Por que o eucalipto foi escolhido para ser usadono Plano de Desenvolvimento Florestal do Piauí?O gênero Eucaliptus foi suscitado como prefe-rencial na proposta do Programa Florestal, por-que o modelo de desenvolvimento da atividadeque se pleiteia, seja ele adotado pela população,empresários ou governantes, está vinculado a

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empresas âncoras produtoras de celulose. Essaatividade, para a qual as vantagens comparati-vas pelo uso do referido gênero florestal em ter-ras brasileiras são soberbas, desbanca inclusiveo gênero pinus em produtividade nas condiçõesedafoclimáticas da área do Programa. Nada im-pede, entretanto, que se possam desenvolverplantios industriais com espécies nativas comoo Paricá (Schizolobium amazonicum Herb.), vin-culadas a plantas de fabricação de compensa-dos, como já é feito no município deParagominas, no Pará. Dessa forma, a questão

dos preconceitos contra uma espécie ou outradeve ser tratada com muito respeito e cuidado,quando deriva de uma apreensão legítima dapopulação, até porque estamos fazendo plane-jamento para a promoção do progresso regio-nal e, na ótica do Planap e da Codevasf, o de-senvolvimento sustentável de uma região sóacontece, na medida em que sua população tam-bém se desenvolve para gerir plenamente seufuturo. E, para que isso aconteça, todos os as-pectos do processo devem estar totalmente es-clarecidos.

PLANAP: MAPA DE USO DOS CERRADOS DO PI EM 2003

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Conheça a atual situação dosperímetros públicos irrigados do Piauí

Os perímetros públicos irrigados do Piauí podem serclassificados em dois diferentes grupos, os mais

antigos e os mais novos, de acordo com o tipo deconcepção, de implantação e de seleção de irrigantes,

segundo o engenheiro agrônomo José CarvalhoRufino, coordenador estadual do Departamento

Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).

E ntre os antigos, um projeto visto como po-tencial, devido à sua localização, é o Perí-metro Irrigado do Vale do Gurguéia, na

região dos poços jorrantes, projetado para 1.800ha irrigados, quase todo utilizando aspersão con-vencional e água originária de bateria de 13 po-ços subterrâneos. Esse perímetro não chegou aser concluído e, hoje, opera com cerca de 400ha em condições de cultivo, mas tem condiçõesde disponibilidade hídrica para atingir 1.800 ha.No Vale do Gurguéia, trabalha-se atualmentena produção de grãos e sementes, mas o gover-no pretende abrir uma discussão sobre umamaior diversificação das culturas ali existentes,pelo fato de ele estar localizado numa região deCerrados (sul do Estado), considerada boa paraa agricultura.

Outro perímetro irrigado que se utiliza deáguas subterrâneas é o do Vale do Fidalgo, quefica na região do Semi-Árido. Diferente doGurguéia, apresenta limitações por causa dasalinidade da água. A discussão em torno delebusca dar um aproveitamento mais social aoperímetro, provavelmente com a ampliação daárea de assentados e a introdução da explora-ção da caprinocultura e da apicultura, em con-junto com a irrigação. No Vale do Fidalgo, es-tão assentados 120 irrigantes, que têm sua situ-ação fundiária regularizada. Apesar de o proje-to ter mais de 30 anos, até hoje essa questão nãohavia sido resolvida. “No Vale do Fidalgo são 70irrigantes, que operam 180 ha, trabalhando como cultivo de banana, coco, milho e feijão. Mas éum projeto previsto para 500 ha irrigados”, afir-ma Rufino.

Outro projeto localizado mais ao centro doEstado e próximo à Teresina é o Perímetro Irri-gado do Caldeirão. “Esse é um projeto, entre osantigos do Dnocs, que estamos elegendo comoprioritário”, destaca o coordenador estadual.Utiliza-se a água do açude de Caldeirão, comcapacidade para 56 milhões de m3. A irrigação équase toda feita por superfície, usando a dife-rença de nível e a gravidade para irrigar, comum consumo menor de energia. Um dos proble-mas do Gurguéia é justamente o custo da ener-gia para a captação de água, já que os poços têmcerca de 400 m de profundidade.

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dade produtora de beneficiamento de sementes.Lá, trabalha-se basicamente com grãos, soja,arroz e algodão para cultivo na região de Cerra-dos e, os pequenos agricultores, com fruticultu-ra. Estão assentados 70 irrigantes familiares,quatro empresários com pivô central, a SantanaSementes está-se instalando, além de mais 12empresários que adquiriram áreas por licitação.“Estamos apostando que, até 2006, toda essaárea de 3.196 ha estará em operação. Estamosnegociando com o governo federal e contandocom o apoio da iniciativa privada, através dasparcerias público-privadas (PPPs), para concluira segunda etapa”, afirma Rufino, lembrando quea área total do perímetro, em suas duas etapas,atingirá 8.500 ha.

Também o Projeto dos Tabuleiros Litorâne-os está previsto para 8 mil ha irrigados. A suaprimeira etapa está concluída, com 2.146 ha eexistem 450 ha em operação, especialmente comfruticultura. É considerado um projeto mais or-ganizado, com um distrito de irrigação consoli-dado com a participação de irrigantes familia-res e empresários. Também utiliza a água do RioParnaíba e sistemas de irrigação iguais ao deGuadalupe. Conta com áreas de plantação decaju-anão precoce irrigado, coco e goiaba. Nes-sa primeira etapa estão licitadas todas as áreasdestinadas a empresários.

Para Rufino, os Projetos Tabuleiros Litorâ-neos e Platôs de Guadalupe têm chances de tor-narem-se pólos de de-senvolvimento, comoaconteceu no Vale doSão Francisco. “Traba-lhamos em consonânciacom o governo estaduale elegemos a agricultu-ra irrigada, em especial,a fruticultura, como cen-tro de investimentos.Estamos apostando napossibilidade de produ-ção e de comerciali-zação, não só no merca-do interno como noexterno”, afirma ele.

Mudança de filosofia

O Dnocs fez 95 anos e é considerado umadas instituições públicas mais antigas do País. Osprimeiros perímetros públicos de irrigação eramentregues prontos ao irrigante. Ele recebia casa,toda estrutura de escritório, escola, igreja, naperspectiva de que o proprietário era o Estado,uma prática que mudou nos dias de hoje.

Por isso, Caldeirão passou a ser consideradoum bom exemplo de aproveitamento de umabarragem. Além de possibilitar a existência deum perímetro irrigado de 500 ha, com 380 haem operação, conta também com uma estaçãode piscicultura, a maior do Estado, com capaci-dade para produzir, após obras de reforma, de10 a 12 milhões de alevinos por ano. A barra-gem também é aproveitada para uma piscicul-tura artesanal e é importante para o abasteci-mento humano na região. “Ela é aproveitada deforma integral, o que normalmente não aconte-ce com outras barragens do Estado, que sãosubutilizadas”, considera Rufino. Em Caldeirão,cultivam-se feijão, melão, milho e melancia.

Outro perímetro irrigado antigo é o de La-goas, no município de Luzilândia, extremo nor-te do Estado. Esse Projeto teve toda a estruturade irrigação abandonada e sucateada. “Temosdiscutido com os irrigantes e a Prefeitura, quedestino dar a esse Projeto”, comenta Rufino,lembrando que é uma área de conflitos agrári-os. A população da periferia da cidade está sen-do empurrada para dentro do Projeto, que jácontou com 400 ha irrigados em operação e,como a irrigação foi ficando de lado, a área foiocupada pela pecuária. Os irrigantes foram em-purrados para as margens do rio e vazantes delagoa.

Meninas-dos-olhos do Dnocs

Classificados como os mais novos, são os doisprojetos apontados como as meninas-dos-olhosdo Dnocs: os Perímetros Irrigados Platôs deGuadalupe e Tabuleiros Litorâneos. O primeirofica no município de Guadalupe, aproveita aságuas do Rio Parnaíba e foi projetado para 13mil hectares irrigados. Atualmente, está sendoconcluída a primeira etapa do projeto, com 3.119ha, praticamente pronta para operar. Existem400 hectares em operação, uma área com pivôcentral de empresários e mais uma área compequenos irrigantes familiares. “Estamos comtoda esta área de 3 mil ha licitada para irrigaçãocom sistemas de gotejamento, microaspersão epivô central. Em 2004, o governo federal inves-tiu R$ 7 milhões na construção da primeira eta-pa, com a conclusão de obras da adutora, de re-des elétricas e de outras obras que faltavam. Ogoverno estadual está-se empenhando na atra-ção de investimentos, junto à iniciativa privada”,mostra Rufino.

A Santana Sementes, importante produtorade sementes que atua no Rio Grande do Nortee outros estados do Nordeste, adquiriu uma áreade 600 ha no projeto e está instalando uma uni-

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Rufino: TabuleirosLitorâneos e Platôsde Guadalupe sãoos dois projetos deirrigação do Piauí,considerados as‘meninas dos olhos’do Dnocs

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Anteriormente, não existia um processo deseleção para o irrigante e a maioria dos co-lonos selecionados não tinha relação com ir-rigação. Não se sentia parte do processo.“Isso já não ocorre com os projetos de Ta-buleiros e de Guadalupe, cujos irrigantesforam selecionados de acordo com uma ou-tra concepção, em que o paternalismo dei-xou de existir”, afirma Rufino.

Existe no Piauí uma outra questão im-portante: o da exploração das barragens. NoEstado, são 23 barragens administradas peloDnocs, que acumulam por volta de 2 milhõesde m3 de água. “Estamos chegando no finaldo verão com cerca de 1,5 milhão de m3 acu-mulados e verificando o subaproveitamentodessas águas”, afirma Rufino, lembrandoque na construção dessas barragens, nãoforam previstas adutoras para levar a águaàs comunidades e às pequenas cidades.

As barragens têm um papel social impor-tante, sob o ponto de vista econômico, deaproveitamento de suas áreas de vazantes.O Dnocs tem estabelecido contratos de con-cessão de uso com famílias para a explora-ção de determinadas áreas. Elas cultivamarroz, feijão e milho, sem uso de tecnologia,abrindo canais à enxada. “Se usassem algu-ma tecnologia, poderiam aproveitar melhoressas áreas, que têm um papel importantena economia do Piauí”, afirma Rufino. Lem-bra ainda, que atualmente vivem cerca de 5mil famílias no entorno dessas barragens,que sobrevivem da pesca artesanal ou docultivo das áreas de vazantes.

Segundo Rufino, uma parceria mais es-treita entre Dnocs e Codevasf irá possibili-tar maior viabilidade econômica aos proje-tos públicos de irrigação. “Estamos com umprocesso bem adiantado de diagnóstico des-ses projetos públicos do Nordeste e vai serproposto um plano de trabalho entre os ór-gãos públicos envolvidos”, finalizou ele.

Pense nisto...

PENSE NISTO e compareçaContatos pelo e-mail: [email protected]

Na edição nº 51 da revista ITEM,mostrou-se como funciona oSistema de Suporte à DecisãoAgrícola, o Sisda, através de um

INFORME TÉCNICOPUBLICITÁRIO.

Em quatro páginas, por iniciativados interessados, explicou-se oresultado de um trabalho de anosde pesquisa e como o setorprodutivo poderá obter proveitointegral de seu sistema deirrigação, com economia de água.Nessa mesma linha de mostrarseus produtos e serviços, já houveo concurso

da Rain Bird (Item nº 48 e 51),

da Pivot Equipamentos deIrrigação Ltda (Item nº 51),

da Netafim do Brasil (Item nº 48),

da Carborundum Irrigação (Item nº 49),

da Polysac (Item nº52/53),

da Valmont (Item nº 54, 60 e 61/62),

da NaanDan/Irrigaplan (Item nº 56/57, 61/62 e 64),

da Senninger (Item nº 60),

da Cemig (Item nº 61/62),

e da BASF (Item nº 64).

O INFORME TÉCNICOPUBLICITÁRIO é uma formaque as empresas têm para mostrar seusprodutos, seus serviços, explicando-oscom detalhes. Com esse instrumento,a ABID poderá ser sempre umaparceira, facilitando entendimentosque favoreçam as promoções denegócios.

O Piauí contacom 19 rios

totalmente, ouem parte,

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Estudos realizados sobre o desenvolvimento dairrigação no Piauí indicam um potencial quevaria entre 108 mil e 151,6 mil hectares. Esta éa principal conclusão do trabalho elaboradopelo professor Demetrios Christofidis, doMinistério da Integração Nacional e presidenteda Câmara Técnica de Ciência e Tecnologia doConselho Nacional de Recursos Hídricos, aoreunir informações de estudos elaboradossobre o Estado.

SÍNTESE DOS ESTUDOS DE ÁREAS POSSÍVEIS DEIRRIGAÇÃO NO ESTADO DO PIAUÍ

Área estudada(ha) Área irrigada(ha)Hierarquização de áreaspara irrigação privada 151.624 -Desenvolvimentosustentável da agriculturairrigada no Cerrado 108.000 -

Segundo Christofidis, a agricultura irrigada no Brasil al-cança uma área em produção da ordem de 3,6 milhões dehectares, constituindo-se em cerca de 12% do potencial esti-mado do País. Na Região Nordeste, ocorrem áreas irrigadascorrespondentes a cerca de 733 mil ha, dos quais 26.780 milno estado do Piauí, embora o potencial estimado seja, pelomenos, quatro vezes maior. Diversos estudos realizados paraa Região Nordeste permitem vislumbrar os cenários do poten-cial para desenvolvimento da irrigação no estado do Piauí.

Hierarquização

Os estudos para a Hierarquização de Áreas para IrrigaçãoPrivada na Região Nordeste, de 1989, constituíram na avalia-ção de informações disponíveis sobre o potencial dos recursosde água e solo, bem como de outros fatores agrossocioeco-nômicos, de forma que determinem níveis de prioridade para

investimento em infra-estrutura básica, para facilitar a execu-ção de projetos privados de irrigação na região.

As diversas informações foram agrupadas em três indica-dores, a saber: econômico (custos dos investimentos), agro-nômico (dados básicos de área agrícola) e social (dados sobreo elemento humano e infra-estrutura social).

Como indicador econômico, com peso de 60%, adotou-seo custo unitário resultante da capitalização dos investimentosem construção (irrigação, eletricidade, rodovias e armazena-gem), estudos e, ainda, custos anuais de operação, manuten-ção, reposição e energia.

O indicador agronômico, ao qual se atribui peso de 30%,foi integrado por parâmetro representativo da utilização dasterras, do uso da irrigação, da produção agrícola e da produ-tividade, do uso de fertilizantes e defensivos e das facilidadesde comercialização e de assistência técnica.

O indicador social, com peso de 10% foi composto de in-formações sobre a população, condição dos produtores ruraise situação dos serviços de saúde.

Na Região Nordeste, foram estudados e hierarquizados 54vales, para os quais foram identificados disponibilidade deágua, custos totais unitários e superfícies abrangidas.

O objetivo do estudo foi possibilitar uma escala de priori-dades de investimento, em diversas bacias hidrográficas daRegião Nordeste, com áreas de solos aptos próximas a ma-nanciais hídricos, ordenadas segundo sua capacidade de res-ponder à intervenção do poder público, para criar as condi-ções para o estabelecimento de projetos de irrigação do setorprivado.

A hierarquização procedida visava permitir que as açõesfossem direcionadas eficientemente, destinando recursos paraos vales, bacias hidrográficas, que, com maiores possibilida-des e melhores retornos, permitissem efetivamente a partici-pação das empresas privadas.

A integração da matriz de hierarquização resultou de umprocesso de compilação e análise da informação disponívelsobre cada um dos vales, representada pelo acervo de estudose levantamentos, que envolveram:

– fotografias aéreas em diversas escalas;– cartografia em escala 1:100.000;

Custos e potencial para odesenvolvimento da irrigaçãono estado do Piauí

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Essa sessão da ITEM tem como objetivo divulgarinformações sobre projetos e potencialidades daagricultura irrigada, notícias de articulaçõespermanentes em favor da organização dasinformações em determinadas áreas, enfim,abrigar assuntos de especial relevância que, sedisponibilizados, podem ajudar aos leitores eprovocar maior intercâmbio entre os interessados.

NOTA TÉCNICA

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– climatologia;– recursos de solos;– recursos hídricos de superfície;– recursos hídricos subterrâneos;– situação socioeconômica;– infra-estrutura básica;– infra-estrutura de apoio à produção.

Os seis primeiros itens permitiram definir e localizar o po-tencial hidroagrícola de cada área, representado pelas terrasclassificadas como irrigáveis, bem como pelos recursos hídricosdisponíveis, ou passíveis de serem mobilizados com a cons-trução de infra-estruturas hídricas, de suporte elétrico e detransporte à irrigação.

Uma vez realizado o balanço água-solo, obtido pelaintegração dos fatores anteriores, concebeu-se um plano deutilização dos recursos com base na agricultura irrigada. As-sim, selecionaram-se os solos adequados, alocou-se a cadaárea de solos aptos a parcela d’água necessária, escolheu-seum plano de cultivos apropriado às condições edafoclimáticas,de mercado e de disponibilidade de mão-de-obra e, finalmen-te, calcularam-se os custos das obras e equipamentos relati-vos aos sistemas de irrigação de uso comum e parcelares.

O conhecimento da situação socioeconômica, por meiode parâmetros como demografia, atividades econômicas dosetor primário, estágio de desenvolvimento da agricultura lo-cal, renda familiar, estrutura fundiária, saúde, permitiu a sele-ção e a ponderação de indicadores capazes de identificar osaspectos socioeconômicos de desenvolvimento ou estagna-ção na abrangência de cada área estudada.

As infra-estruturas hídricas, básicas e de apoio à produ-ção, foram levantadas para determinar as obras adicionaisrequeridas e seus custos, já se conhecendo as que estavamimplantadas e as necessidades originadas pelo estabelecimentode projetos e agricultura irrigada. Levaram-se em considera-ção as redes viárias, de transmissão e distribuição de energiaelétrica e a capacidade de armazenamento da produção agrí-cola. O dimensionamento das necessidades suplementares re-alizou-se com base nas demandas de potencial, da produçãode grãos ou cultivos planejada e da situação da área/vale comrelação à malha viária existente.

A adoção de critérios básicos para hierarquização teve porobjetivo uniformizar as informações procedentes das diversasáreas do estudo.

PESOS ADOTADOS PARA CADA INDICADORÁrea PesoIndicadores econômicos 0,6Indicadores agronômicos 0,3Indicadores sociais 0,1

Cada um dos indicadores da área resultou da integraçãode diversos parâmetros, que também foram ponderados en-tre si.

O Indicador Econômico foi representado pela soma decustos de construção estimados e dos custos de operação emanutenção capitalizados à taxa de 11% ao ano.

Os Indicadores Agronômicos resultam da ponderação de

diversas informações, agrupadas por ordem de importânciaem três níveis distintos, atribuindo-se pesos diferenciados pornível. Em destaque, apresenta-se o Indicador de Utilização dasTerras, uma vez que foi julgada fundamental a relação, ex-pressando a ocorrência de atividades pecuárias em detrimen-to da área das lavouras. Os parâmetros integrantes do indica-dor estão enumerados a seguir com indicação do seu peso.

PESOS ADOTADOS PARA OS INDICADORES AGRONÔMICOSIndicador Peso(%)Utilização das terras: área das lavouras/áreadas pastagens plantadas 21Uso da Irrigação 10Crédito Agrícola 10Produtividade agrícola/valor da produção 10Facilidades para comercialização 10Uso de defensivos vegetais 8Uso de força mecânica nas tarefas agrárias 8Uso de fertilizantes 8Área irrigada 5Classe de atividade econômica dosestabelecimentos agropecuários: agricultura 5Assistência técnica 5

Os Indicadores Sociais foram selecionados em dois gru-pos, referindo-se o primeiro ao elemento humano, em seusdiversos aspectos, e, o segundo, aos aspectos físicos ineren-tes. A pluralidade de fenômenos que compõem a vida socialdas populações afetadas, por influenciar diferencialmente cada“vale”, levou a haver, portanto, interpretação distinta de cadaum dos seguintes indicadores:

– Índice de Gini;– População rural;– População residente total;– Condição do produtor – porcentagem de proprietários;– Renda;– População economicamente ativa;– Pessoal ocupado nas lavouras;– Número de estabelecimentos de saúde por mil habitantes;– Número de médicos por mil habitantes;– Número de leitos hospitalares por mil habitantes.

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Estudos sobre o desenvolvimento da irrigação no Piauí indicam umpotencial entre 108 mil e 151 mil hectares

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Houve um total de 54 vales selecionados pelo estudo,dos quais 11 estão localizados no estado do Piauí:

ÁREAS / VALES ESTUDADOS NO ESTADO DO PIAUÍNo de Área/ Superfície Investimento Custo por áreaordem Vale(1) (ha) (Mil US$) (US$/ha)5 Longá 4.500 14.992 3.3327 Guaribas 1.600 7.895 4.9348 Mulato 787 4.087 5.19310 Parnaíba

(MA/PI) 122.970 513.918 4.17924 Itaueiras 660 2.610 3.95528 Gurguéia 16.010 70.431 4.39930 Piauí 12.600 58.776 4.66532 Matos 8.539 64.863 7.59637 Poti (CE/PI) 13.000 52.523 4.04045 Fundo 626 5.474 8.74454 Esfolado 265 5.766 21.759

Totais 181.557 801.335

Nota(1): O termo Vale adotado no trabalho, designa as terras aptasà prática da agricultura irrigada, situadas ao longo dos cursosd’água selecionados, a uma distância máxima de 20 km da fontehídrica e a uma diferença de nível igual ou inferior a 60 metros.

Convém destacar que em cada um dos Vales estudadosexistiram separações correspondentes a diversas “áreas po-tenciais”, cujos custos específicos de implantação variam con-sideravelmente. Como exemplo, citam-se as diversas áreasdo Vale do Parnaíba.

Das áreas que são passíveis de implementação no Piauí,a de maior custo ocorre no Vale do Esfolado.

O estudo destacou que havia uma parte das áreas dosVales, que não dispunha, à época (1989), de água suficiente,e apresentou para o Piauí as seguintes áreas sem disponibili-dade hídrica.

ÁREAS SEM DISPONIBILIDADE DE ÁGUA À ÉPOCA DOESTUDO: PIAUÍ (ORDENADAS POR VALE)Vale Área Superfície (SAU)(ha)Matos 21 6.7501.789Piauí 2 7.550Fundo 3 37

2 32Gurguéia 1 7.130

2 6.380Esfolado 1 265Total 29.933 SAU: superfície agrícola útil(1) Fazendo-se a eliminação das áreas sem disponibilidade de água eaquelas cujo custo apresenta-se superior a 10 mil US$/ha, pode-se concluirque existiam solos aptos para irrigação, num total de 151.624 ha.

Projeto de desenvolvimentosustentável da agricultura irrigadano Cerrado (1999)

Esse estudo foi desenvolvido pelo Ministério do MeioAmbiente (MMA), em 1999, no âmbito do Projeto de Coope-

ração com o IICA e procurou dar condições de conhecer aspotencialidades e condicionantes para o desenvolvimento sus-tentável das áreas de Cerrado com sistemas de irrigação.

O trabalho definiu pólos de irrigação em diversas regiõesbrasileiras. Na Região Nordeste foi considerada a Bacia do RioParnaíba, como sendo de média potencialidade (MMA/SRH,1999 b: 40), tendo adotado um cenário “desejável” com a indi-cação da possibilidade de implementar 27 módulos de 4 mil hacada, totalizando no pólo denominado Floriano (PI), 108 mil hacom vocação para o cultivo de grãos e fruticultura. Havia áreacomplementar no estado do Maranhão, que foi considerada,com estimativa de potencial para irrigar 116 mil ha (29 módulosde 4 mil ha).

O modelo proposto pelo estudo permitiu ampliar áreas nospólos, onde já existiam atividades produtivas, configurando umcenário tendencial onde investimentos privados ou investimen-tos indutores do setor público pudessem criar as condições di-nâmicas para ampliação do processo produtivo.

Assim, comenta o trabalho: “o pólo centrado em Floriano(PI), interagindo com Imperatriz e Balsas (MA), poderia seradensado com ações que agilizassem seu processo de desen-volvimento, seja vegetativo, seja estimulado por investimentosem obras comuns de infra-estrutura”.

O cenário proposto e de implementação do pólo teria umaárea inicial irrigada de 32 mil ha, envolveria um custo total porhectare de US$ 11.226 (1 US$ = R$ 1,60/jan.1999), dos quaiscerca de US$ 966,00 (8,6%) seriam de responsabilidade do go-verno e US$ 10.260,00 (91,4%), a cargo do setor privado.

Áreas de irrigação pública

O Ministério da Integração Nacional, responsável pela Polí-tica Nacional de Irrigação está desenvolvendo estudos de orga-nização institucional com objetivo de melhorar o desempenhodos projetos públicos de irrigação.

Neste intuito, foram realizados levantamentos em 2004 einício de 2005, para verificar a situação em que se encontravamos diversos sistemas de irrigação e seu potencial de melhorias.

Observou-se que no estado do Piauí, existem seis projetosde irrigação pública federal, cuja área total implantada é de9.305 ha.

Estes projetos estão com uma área em produção quecorresponde a 4.030 ha, embora, segundo estudos iniciais re-presentem um potencial da ordem de 32 mil ha.

PROJETOS PÚBLICOS DE IRRIGAÇÃO DO PIAUÍ: 2004/2005Projetos Áreaestudada Áreaimplantada Área emprodução

(ha) (ha) (ha)

Caldeirão 450 388 168

Fidalgo 470 219 219

Gurguéia 5.929 1.974 1.974

Lagoas do Piauí 2.100 1.088 347

Platôs de Guadalupe14.956 3.193 650

Tabuleiros Litorâneos 8.027 2.443 672

Totais 31.932 9.305 4.030

1º e 2º trimestres 2005 • Nº 65/66 • ITEM 73

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74 • Nº 64 • 4º trimestre 2004

Conheça os endereços eletrônicos deinteresse da irrigação

.agricultura.gov.brPortal do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, cominformações sobre a estrutura dainstituição governamental, legislação,recursos humanos, qualidade e notíciasatualizadas diariamente. Através dele,pode-se chegar aos sites de quaisquerórgãos ligados ao Ministério, entre eles:Embrapa, Instituto Nacional deMeteorologia, Ceagesp, Agrofit, Proagro,Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismoe Serviço Nacional de Proteção deCultivares etc.

.ana.gov.brSite da Agência Nacional de Águas, quetraz informações interessantes para ospraticantes e interessados na agriculturairrigada. Uma delas é a versão preliminarda cartilha de procedimentos para aobtenção de outorga do uso da água, queestá aberta para receber sugestões, atravésdo e-mail [email protected], com oenvio do endereço eletrônio e formas decontato.

.apdc.org.brSite da Associação Brasileira do PlantioDireto, com notícias sobre o Sistema dePlantio Direto e o jornal Direto no Cerrado.

. integracao.gov.brSite do Ministério da Integração Nacional,onde, através dele, pode-se chegar àsinformações da Codevasf (ou pelo sitecodevasf.gov.br), além de poder acessarpublicações como o Frutiséries e a revistaFrutifatos, com edição sob aresponsabilidade da Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica.

.mda.gov.brSite do Ministério do DesenvolvimentoAgrário, com notícias e informações deinstituições como o Incra (InstitutoNacional de Reforma Agrária) e o Nead(Núcleo de Estudos Agrários deDesenvolvimento Rural), além de notíciasde interesse do produtor rural.

.mec.gov.brSite do Ministério da Educação e Cultura,com notícias diárias na área de educação efinanciamento de projetos de pesquisas. Dáacesso às páginas da Capes e da Finep.

www.www.

LAVRAS IRRIGAÇÃOCOMÉRCIO EENGENHARIA LTDAAv. JK, 490 - CentroLavras MGCep: 37200-000Tel.: (35) 3821-7841E-mail: lavrasirrigacao@

uflanet.com.br

C L A S S I F I C A D O S

www.irrigaplan.com.br

Tel (34) 3318-9014 • Fax (34) [email protected]

www.pivotvalley.com.br

.mma.gov.brSite do Ministério do Meio Ambiente,com notícias sobre meio ambiente elegislação atualizadas diariamente.Através dele, pode-se chegar ainstituições ligadas como a AgênciaNacional de Águas, com a políticanacional de recursos hídricos e oIbama, com a política nacional domeio ambiente.

.prodiesel.gov.brEmpresários, pesquisadores,produtores, governo e sociedade emgeral podem consultor e trocarinformações sobre o ProgramaNacional de Produção e Uso deBiodiesel pela Internet. Está no ar umportal com informações sobre oprograma, a rede brasileira detecnologia de biodiesel e osprogramas estaduais desenvolvidosno setor. Ele é administrado peloMinistério da Ciência e Tecnologia,através da Secretaria deDesenvolvimento Tecnológico eInovação.

.senar.org.brSite do Serviço Nacional de ApoioRural, com informações na área deprevidência social rural.

.todafruta.com.brPortal da Fundação de Estudos ePesquisas em Agropecuária, MedicinaVeterinária e Zootecnia sobrefruticultura, com o objetivo dedivulgar e incentivar pesquisas sobreo assunto, divulgar encontros,seminários e simpósios, além dematérias jornalísticas. Trazinformações sobre as seguintesfrutas: abacaxi, acerola, anonáceas,banana, cacau, caju, caqui,carambola, citros, coco, frutasexóticas, figo, goiaba, graviola,guaraná, jabuticaba, laranja, lechia,limão, maçã, mamão, manga,mangostão, maracujá, pêra, pêssego,tangerina e uva.

.ufpi.brSite da Universidade Federal do Piauí,com informações sobredepartamentos, cursos, trabalhosrealizados, pesquisas, publicações eestrutura de uma importanteunidade de ensino superior do país.

Amanco Brasil S.A.Av. Amizade, 1700 - Vila Carlota

Cep 13175-490 Sumaré SP

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