196955767 curso-de-processo-penal-15ª-ed-eugenio-pacelli-de-oliveira

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Processo penal

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  • 1. Lumen~i~Jurisl~itora www.lumenjuris.com.br EditoresJoo de Almeida Joo Luiz da Silva Almeida Conselho EdilorialAdriano PUat Alexandre Fteitas Cmara Alcxandxe Motais da RosaAugustoM3.I'ISU1: Aw:y Lopes Ir. Bernardo Gonalves Femande6Cezar Roberto Bitencourt Cristiano Chaves de Farias Carlos Eduardo Adriano Japias,'l Oudio Carneiro Cristiano Rodrigues Daniel Sarmento Diego Araujo Campos Emerson GarciaFauzi Hassan O:!oulcr Felippe Borring Rocha Fir!y Nascimento Filho Frederico Pri~ Grechl Geraldo L. M. Prado Gustavo Snchal 'de GoffredoHelena Elias Pinto Jean Carlos Fernandes Joo Ca:rlos Souto Joo Maroo:lo de Lima AssafimLuiz Moreira Manoel Messias PeixinhoMarcellus Polastri Lima Maro) Aurlio Bezerra de Melo Marwso.ut Mnica-Gusmo Nelson Rosenvald Nilo Balista P~ulo de Bessa Antunes Paulo RangelJos dos Santos Carvalho FilhoRicardo Lodi RibeiroLcio Antnio o"aroon Junior Luigi Bonizz.atoRodrigo K1ippel Salo de Carvalho Srgio Andr RochaLuis Carlos AkofoxadoSidney Guerra Conselheiro benemritm Maroos Juruena Villela Souto (in ml1llmiam; Conselho Consullivolvaro M~yrink da CostaCesar FloresAmilton Bueno de CarvalhoFirly Nascimento FilhoAndreya Mendes de Almeida SdmtCr NavuooFlvia Lages de CaslTo Francisco de Assis M. TavaresArtur de Brito Gueiros Souza Caio de Oliveira LimaJOO Theotonio Mendes de Almeida Ir. Ricardo Mximo Gomes Ferraz Sergio Demoro Hanlton Trsis NametalaSatlo JorgeGisel!GltadinoVictor Gamcil:o DrummondLivraria Cultutal da Guanabara Ltda Centro Rua daAssernbl!a, lOj2a> andarl SI,. 2022 CEP: 20.0n-ooO Rio de Janeiro RI Tel: (21) 3505--S888 Fax: (21) S50S-5855 Fax Loja: (21) 3505-5872BSA SeIVio de Divulgao ttda, Rua da Assemblla, n" 10/ Sala 2022 Centro CEP: 20.011..(lOO Rio de Janelro Ri Tel: (21) 35055888Antonio Car!os Martins SoaresHumberto DIla Bernarmna de PinhoFlorianpolis. Lumen JUrls SC Livraria Culttu'al da Guanabar.t Ltda Centro Rua Santa F, n" 234 . Bain:o: InsIeses Rua da Assemblia, 10/Loja G/H F1orianpoli~ SC CEP: 88.058-345 CEP: 2{WIl-OW Rio de Janeiro RJ Tel: (48) 32S4-3114 (Fax) - (48) 33697624Te1: (21) 35QS..5888! 5854/5855/5856 Livraria e Edltoxa Lumen Juris Ltda" RJRua da Aswmblia, 36/2" Andar! SL. 201 204Centto CEP: 20.011..()OO Rio deJanclro" RJ Tel: (21) 2500-6591/2509-5118 Site: wwwJumenjuris.oom.br Depsito Lumen Juns RJ Av. Londres. 491 BonsucessoCEP: 21041-030 -Rio de Janeiro RJ Te): (2I) 3216-5688 Fax: (2l) 3216-5864 So Cristvo 2550.2907Brnsllia. L~en Juria O~ Scr.s Quadra 402 Bloco D " Loja 9 Asa Sul CEP: 70.235--540 - Braslia" DF Tel{Fax: (61)3225--$569 (S836) I (61) 32219146 Porio Alegre Lumen Jurl$ " RS Rua Pad!:e ChagaS, 66 Loja 06 Moinhos de Vento CEP: 90.570-080 Porto Alegre "RS Tel/Fax: (51Z3211.(}700/S228"~183So Paulo" LUllIenJurls - SPBelo Horizonte "Lumen Jurl$. MG Rua Araguari, 359 Sala 53 "2' andar BarroPro",CEP: 30.190"110" Belo Horizonte" MG Tel: (31) 3292-6371 Salvador" Lumen Juria. BA Rua Dr.Jos Peroba n"349 "Sala: 206 Costa Azul CEP: 41.77IJ..2S5 _SalVildor BATel: (71) 3341-3646/3012-6046 Vitria" Lumen Juris ES Rua Ooves Machado, n"176 " Loja 02 Enseada do Su CEP: 29.050.590 Vitria" ES TeI: (27) 3J4S.8?15/ Fax: (27) 3225--1659 Curitiba Lumen Juria " PR Rua. Treze de Maio, 506 Conj. 03 So Francisco, CEP: 80510-030 " Curitiba ~ PR TeI: (41)359&-9092Rua Correa Vasques, n"48 " Vila OemenlinoCEP: 04.OS8-010" So Paulo, SP Tel.: (11) 5908-0240 I (11) 50817772EDITORA LUMEN JURlS Rio de Janeiro 2011

2. Copyright 2011 byEugnio Pacelli de Oliveira Categoria: Processo Penal PRODUO EDITORIALLivraria e Editora Lumen Juris 'Ltda.A LIVRARIA E EDITORALUMEN JURlSLTDA. no se responsabiliza pelas opinies emitidas'nesta obra. proibida a reproduo total ou parcial/ por qualquer meio'ou processo,'inclusive quanto's caractersticas grficas e/ou editoriais. A violao-de-direitos autorais constitui crime (Cdigo Penal, art. 184 e , e Lei n' 10.695, del?/07/2003), sujeitando-se busca e apreenso e indenizaesdiversas:(Lei.n' 9.610/98).Todos-os direitos desta edio reservados Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.Impresso no Brsil Printed in BrazilCiP-BRASlL. CATALOGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ -"'--~---------------------------------------------------------------046c 15.ed.Oliveira, EugIO Pacelli de Curso deprocesso penal / Eugnio Pacelli de Oliveira. -15.ed.,rev..e.atual.-Rio.de Janeiro :LumenJuris,201L 974p. : 24cm Inclui bibliografia e indice ISBN 978-85-375-1064-3Agradecimentos especiais Anna e Renata, cuja dedicao na Procuradoria Regional da Repblica ocupa posio de destaque na. viabilidade desta edio.1. Processo penal - Brasil. L Ttulo. 11-3140. 31.05.1131.05.11CDU: 343.1(81) 026778A L, Pedro Ivo, Isabela e Gabriel, por todas as razes. 3. ,.,--SUMRIONota 15 edio............................................................................................................xvIntroduo ................................................................. :......... ~...........................................1Captulo 1 - O Processo Penal Brasileiro .............:....................................................... . 1.1. O Cdigo de Processo V.~llal ................................................................... ,.......... 1.2. A Constituio da~eplb'ca de 1988 e o processo Constitucional.............. 1.3. O Sistema Acusttl........................................................................................... 1.4. Sistemas ProceSSl,lais'!rijtjefites: O Modelo Brasileiro ...................................5 5 8 9 13Captulo 2 - Leis. e Processo Penal no Tempo e no Espao ....................................... 2.1. Tratados e Convel),ie!!.!;J.te~:js.1!e.lW? Internacionais ......................... ;................. 2.3. Leis Processu;isno'Et;p~s. engica ............. :.................................................... 3.3.1. O Justo Processo: lJevld6 Processo Legal.................................................. 3.3.1.1. Juiz natural....i ..: ..: ............:... :............ :..................................................... 3.3.1.2. Direito:ag Siln,io e No AutoIncrirnInao ....:.................................. 3.3.1.3. Contradilrio, .... ,.................................................................. ,.................. 3.3.1.4. Afipla Defes.......................................................................................... 3,3.1.5. Estd~ ';'sitao Jurdica de Inocticia............................................ 3.3.1.6. VedaodeR~vlso Pro Societate.......................................................... 3.3.1.7. Inadinissibilidd.e das Provas Obtidas Ilicitamente ..........................31 31 33 35 37 37 40 42 44 47Captulo 4 - AFase Pr-Processual: A Investigao CrimInal ............................ :.... 4.1. Inquritfollcia).......................................:........................................................... 4.1.1. Procedimehto................................................................................................. 4;1.2. Pode, dep~lcia e representao ao juiz: capacidade postulatria?........... 4.1.3. Arquivamento:...........,.................................................................................... 4.1.3.1. Arqujvarnerito.Inaireto .......~.................................................................. 4.1.3.2. Confl,ito de Atribuies no Ambito d ,MInistrio Pblico ............... 4.1.4. Inquno F'ol;icial e Extino d F'unibilidade ........................................... 4.2. Investigaes Administrativas ... :......:...............:................................................53 56 59vii48 5163 64 70 72 74 81 4. 5.2.3. Possibilidade jurdica do Pedido ............................................................... . 5.2.4. Condies de Procedibilidade .................................................................... . 5.2.5. A justa Causa ................................................................................................ .5.3. Pressupostos Processuais .................................................................................. . 5.3.1. Pressuposto de Existncia ........................................................................... . 5.3.2. Requisitos de Validade ............................................................................. . 5.4. Ao Penal Pblica Incondicionada ............................................................... ::: 5.4.1. Ao (penal) popular e crime de responsabilidade ................................. . 5.4.2. Obrigatoriedade ........................................................................................... . 5.4.3. Indisponibilidade e Outras Regras Processuais ...................................... . 5.4.4. Critrio de Definio da LegitimaoAtiva ............................................. . 5.4.5. Discricionariedade Regrada ...................................................................... 5.5. Ao Penal Pblica Condicionada................................................................... :: 5.5.1. Prazo Decadencial da Representao ........................................................ . 5.5.2. Capacidade ou Legitimao para Representar .............. :......................... . 5.5.3. Retratao ...................................................................................................... . 5.5.4. Legitimao Concorrente ou Alternativa? .............................................. .51:f.i1~ ;~i~ ~ ::i : i: : i:i: :i :: .i : : :i: : :i: :i : i : :: i: i:~ : :i: :5.6.2.2. Perempo e Desistncia .......................................................................d:t~~S:~~:~~~::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : 5.6.5. Crimes Contra a Dignidade Sexual ......................................................... .. 5.7. Ao Privada Personalissima ............. ;...................................... :....................... : 5.8. Ao Privada Subsidiria da Pblica ............................................................... . 5.9. Denncia e Queixa.............................. ;............................................. ~ ................. . 5.9.1. Crimes Coletivos e Individualizao da Conduta ................................... . 5.9.2. Acusao Genrica e Acusao Geral .......................... :............................. . 5;9.3. Aditamento .................................................................................................. 5.9.4. Litisconsrcio ................................................................................: ................ ..f~:g; .~ ~.: i: :i: : : : ::i: : : : : :i: :i: : :.~::i: : : .: : i: : :i :i..:::i:::::5.10. Extino da Punibilidade ................................................................................. . vi97 97 97 102 104 106 107 108 110 112116 119 119 121 123 123 126 128 129 130 133 136 136 137 139 140Captolo 6 - Ao Civil Ex Delicto ............................................................................... . 6.1. Generalidades ...................................................................................................... . 6.2. Prejudicialidade .................................................................................................. . 6.3. Objeto ................................................................................................................... . 6.4. Legitimao ......................................................................................................... .6.5. Sub9rdinao Temtica e Eficcia 'Preclusiva ................................................. . 6.5.1. Nas Decises Condenatrias ...................................................................... . 6.5.2. Nas Decises Absolutrias ....................................... , ................................. . . 6.5.3. A Negativa de Autoria ..........................................................................~ ...... . 6.6. Re~ponsabilidade Civil de Terceiros ................................................................ . 6.7. A Legitimao do Ministrio Pblico .................................................... ,......... . Captolo 7 - jurisdio e Competncia ....................................................................... . 7.1. jurisdio e Repartio de Competncia ......................................................... . 7.2. juiz Natoral e Competncia Absoluta: Competncia de jurisdio ............ . 7.3. Prerrogativa de Funo (ratione personae) ........................................................ . 7.3.1. Crimes Comuns e Crimes de Responsabilidade .................... :................. . 7.3.2. Critrio da Simetria ...................................................................................... . 7.3.3. Critrio de Regionalizao .......................................................................... . 7.3.3.1. Deputados Estaduais e Prefeitos ......................................................... . 7.3.3.2. A Extenso dos Foros Privativos nas Constituies Estaduais ....... . 7.3.4. Prerrogativa de Funo e Natureza do Crime ...........................,.............. .7.3.5. Processo e Procedimentos ...................... :.................................................... . 7.3.5.1. Competncia Originria ...................................................... :................ . 7.3.5.2. O Exerccio Efetivo do Cargo ............................................................... . 7.3.5.3. Foro Privativo e Procedimento ........................................................... .. 7.3.5.4. Prerrogativa de Funo, Concurso deAgentes e Concu~so de Cri-143mes .................................. .. .. .. .. .......................................... .146 146 149 150 152 157 158 1637.4. Imunidades Materiais e Imunidades Formais ou Processuais ..................... . 7.5. Competncia em Razo da Matria (ratione matmae) .................................... . 7.5.1. Competncia da justia Federal ................................................................. . 7.5.1.1. A Casustica Constitocional ................................................ ;.... ~ ............ . 7.6. Competncia da justia Militar e da justia Eleitoral .. ,................................. . 7.7. A Competncia Territorial ....................................................................... ;......... . 7.7.1. Competncia Relativa e Competncia Absoluta ...................................... . 7.7.2. Critrios de Determinao da Competncia Infraconstitocional .......... . 7.7.2.1. O lugar ............................................................................................. ;....... . 7.7.2.2. A Natoreza da Infrao ..................................................................... :... . 7.7.2.3. O Domicilio ou Residncia do Ru ..................................................... . 7.7.2.4. A Preveno ............................................................................................ . 7.7.2.5. A Distribnio ......................................................................................... . 7.8. Modificao de Competncia e Perpetuatio ]urisdictionis .............................. . 7.8.1. Desclassificao ............................................................................................ . 7.8.2. Conexo ......................................................................................................... . 7.8.3. Continncia ................................................................................................... . 7.8.4. Unidade de Processo e de julgamento .......................................... :........... .164 168 168 169 171 173 174 175 176 179 179ix185 185 189 190 191 192 192 193 195 197 199 203 203 206 207 208 210 216 217 218 224 226 226 227 229 229 234 237 238 247 260 262 263 265 265 267 270 271 273 273 279 284 286 286 5. 7.8.5. Eleio do Juizo Prevalente..........................................................................2889.2.3.4. Proibio do Testemunho .................................................................... ..7.8.6. Separao de Processos Co~exos e/ou Continentes .................................2917.8.7. Prorrogao de Competncia ............... :......................................................2929.2.3.5. Testemunhas, Declarantes, Informantes e Outros ............................ . 9.2.3.6. Regras Procedimentais Gerais .......... ;.................................................. .Captulo 8 - Das Questes e Processos Incidentes ..................... ,.................'.............2958.1. Das Questes Prejudiciais .................................................................................. 8.2. Dos Processos Iitcidentes .................................................................................... 8.2.1. Das Excees .................................................................................................. 8.2.1.1. Exceo de Suspeio, Impedimento ou Iucompatibilidade .......... :. 8.2.1.2. Exceo de Iucompetncia..................................................................... 8.2.1.3. Demais Excees ..................................................................................... 8.3. Do Conilito de Jurisdio .................................................................................... 8.4. Da Restituio de Coisas Apreendidas............................................................. 8.5. Das Medidas Assecuratrias .............................................................................. 8.5.1. Sequestro ........................................................................................................ 8.5.2. Especializao de Hipoteca ......................... :................................................ 8.5.3. Arresto............................................................................................................. 8.5.4. Me.idas Assecuratrias Previstas na Lei n' 9.613/98............................... 8.6. Do Iucidente de Falsidade .................................................................................. 8.7. Da Iusanidade Mental do Ausado ...................................................................295 298 298 300 303 305 306 314 316 317 319 321 321 323 324Captulo 9 .. Da Prova ........................................................................................... :........ 9.1. Teoria da Prova .................................................................................................... 9.1.1. O Mito eo Dogma da Verdade Real........................................................... 9.1.2. A Distribuio do nus da Prova e a Iniciativa Probatria do Juiz....... 9.1.3. O Livre Convencimento Motivado e a ntima Convico....................... 9.1.3.1. A Prova Tarifada ou Sistema das Provas Legais................................. 9.1.3.2. O Livre Convencimento Motivado: Persuaso Racional................... 9.1.3.3. Hierarquia e Especificidade de Provas ............................................ :... 9.1.4. Direito e Restries Prova ......................................................................... 9.1.4.1. A Iuadmissibilidade das Provas I1icitas............................................... 9.1.4.2. A Teoria dos Frutos da rvore Envenenada ................................. :..... 9.1.4.3. A Teoria do Encontro Fortuito de Provas ............................................ .9.1.4.4. A Prova ilegtima: a Prova Emprestada............................................... 9.1.4.5. O Aproveitamento da Prova com Excluso da Ilicitude ................... 9.1.4.6. O aproveitamento da prova ilcita: proporcionalidade, Proibio de excesso (vedao de proteo deficiente?) .................................... 9.2. Meios de Prova..................................................................................................... 9.2.1. Do Iuterrogatrio........................................................................................... 9.2.1.1. Direito ao Silncio e No AutoIucrlmIuao....................................... 9.2.1.2. Iutervenes Corporais .:........................................................................ 9.2.1.3. Procedimento........................................................................................... 9.2.2. Da Confisso .................................................................................................. 9.2.3. Da Prova Testemunhal.................................................................................. 9.2.3.1. Capacidade para Testemunhar ............................................................. '9.2.3.2. O Compromisso de Dizer i Verdade .................................... :.............. 9.2.3.3. Dispensa do Dever de Depor ............................................................... :327 327 332 334 339 339 340 341 343 344 363 367 370 371x375 381 381 390 394 403 415 416 417 417 4189. 2.3.7. Proteo Testemunha: Lei n' 9.807/99 .............................................. . 9.2.4. Da Prova Pericial .......................................................................................... . 9.2.4:1. O Exame de Corpo de Delito................................................................ . 9.2.4.2.0ulras Percias ........................................................................................ .9.2.4.3. Prova Pericial e Contraditrio,."",."" ........ ,......................................... . 9.2.5. Das Perguntas ao Ofendido ........................................................................ .9.2.6. Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas .......... ,...... ,................................ . 9.2.7. Da Acareao ......................................................... ,...................................... . 9.2.8. Dos Documentos ......................................................................................... .. 9.2.9. Dos Iudcios ............................................. ,.................................................... .. 9.2.10. Da Busca e Apreenso .............................................................................. .. Captulo 10 - Sujeitos do Processo .............................................................................. . 10.1. Partes e Relao Processual ............................................................................. . 10.1.1. Parte (no sentido) Formal e Parie (no sentido) Material .................. .. 10.2. Do Juiz ................................................................................................................. 10.2.1. imparcialidade ............................................................................................ . 10.2.2. Poderes Gerais e Iniciativa Probatria ....................................... :........... .. 10.2.3. Juiz Natural ............... ,...... :.... ,.................................................................... ..10.2.4. Princpio-da identidade fsica do juiz .............,...................................,... .. 10.3. D9 Ministrio Pblico ..................................................................................... .. 10.3.1. A Imparcialidade ........................................................................................ . 10.3.2. Suspeio, impedimento e Iucompahbilidade: consequncias ................ .. 10.3.3. O Promotor Natural.. ................................................................................ .. 10.3.4. Atividades Iuvestigatrias ....................................................................... .. 10.4. Do Acusado ....................................................................................................... . 10.5. Do Defensor .................................................................................. :.................... . 10.6. Da ssistncia ......................................... :........................................................ .. 10.6.1. Legitimao ................................................................................................ .. 10.6.2: O Assistente como Custos Legis ........................... ,.... ,.............................. .. 10.6.3. Faculdades Processuais ........ :................................... ,............................... .. 10.6.4. Recurso de Sentena Penal Condenatria....................... ,...................... .. 10.6.5. Procedimento ............................................................................................. ..10.7. Peritos, Intrpretes e Funcionrios da Justia: ............................................. .. 10.8. Ofendido? ......................................................................................................... ..Captulo 11- Da Priso, das medidas cautelares e da liberdade provisria ....... .. 11.1. As novas re~as das prises e da liberdade provis.ria: as medidas cautelares pessoals ..................................................................................................... . 11.2. As deterrnIuaes constitucionais da no culpabilidade .................................. .. 11.3. Principio fundamental das medidas cautelares: o postuiado da proporcionalidade ........................................................................................................ ..11.4. As medidas 'cautelares, dive.rsas das pris~es ................................................ . 11,4.1. Regras gerais da aplicao ....................................................................... .. xi419 421 423 427 429 432 434 434 436 438 438 439 441 442 445 445 449 450 450455 458 459 460 461 463 465 473 474 476 482 483 484 486 488489 490 492 493 493 496 500 506 516 6. 11.4.2. Procedimento das cautelares .................................................................... .11.5. A priso em flagrante ....................................................................................... . 11.5.1. Consideraes gerais ................................................................................. . 11.5.2. Flagrante esperado e flagrante preparado (provocado) ....................... . 11.5.3. Flagrante diferido (controlado) ................................................................ . 11.5.4. Misses!Funes da Priso em Flagrante ............................................... . 11.5.5. Priso em Flagrante e Situaes Especiais ....................,......................... . 11.6. Priso Temporria .................................................... ~ ....................................... .. 11.7. Priso Preventiva .............................................................................................. . 11.7.1. Requisitos fticos: situaes legais de risco persecuo penal ......... . 11.7.2. Requisitos normativos: definio dos crimes passveis de decretao de priso preventiva ................................ :................................................. . 11.7.3. Prazo: a construo jurisprudencial ........................................................ . 11.7.4. Priso preventiva ex offico ........................................................................ .. 11.7.5. Vedao Legal Priso Preventiva .......................................................... . 11.8. Priso Domiciliar .............................................................................................. . 11.9. O ato prisional: generalidades ........................................................................ . 11.10. Priso Especial ................................................................................................. . 11.11. Priso para extradio e priso civil ........................................................... .. 11.12. A liberdade provisria, com e sem fiana .................................................... . 11.12.1 Relaxamento da Priso ............................................................................. . 11.12.2. Liberdade Provisria com Fiana ......................................................... .. 11.12.3. A Restituio da Liberdade doArt. 283, 1', do CPP ......................... . 11.12.4. A inafianabilidade constitucional e a vedao ex lege liberdade: .. 11.12.5. Execuo Provisria ......................................... ,....................................... .521 528 528 530 535 536 537 538 543 546 553 554 557560 561 562 567 569 570 576 577585 585 592Captulo 14 - Dos Procedimentos .............................................................................. .. 14.1. Processo e Procedintento ................................................................................. . 14.2. Procedimento Comum .................................................................................... .. 14.2.1. Procedimento Ordinrio ................................. :.................................... ,.... . 14.2.2. Procedimento Sumrio ............................................................................. . 14.3. Da Suspenso dQ Processo .............................................................................. . 14.3.1. Suspenso do Processo: Direito ou Discricionariedade? ..................... .. 14.3.2. Revogao e Cumprimento da Suspenso ............................................. . 14.3.3. Ao Privada ............................................................................................... . 14.3.4. Cabimento: Concurso de Crimes, Tentativa, Causa de Aumento e de Diminulo .................................................................................................. . 14.4. Do Procedimento do Tribunal do Jri ........................................................... . 14.4.1. Anotaes Introdutras ............................................................................ . 14.4.2. Da acusao e da Instruo Preliminar ................................................... . . 14.4.2.1. Absolvio Sumria ............................................................................. . 14.4.2.2. Desclassificao ...... :............................................................................. .i!:!:;:!: ~I~::~~.::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::14.4.3. Da Fase de Julgamento .............................................................................. . 14.4.3.1. Da Preparao do Processo para Julgamento em Plenrio ............ . 14.4.3.2. Do Desaforamento ......... :..................................................................... . 14.4.3.3. Jurados: Recusas, Imparcialidade ...................................................... . 14.4.3.4. Da Reunio e das sesses do Tribunal. do Jri ..................:.........:.... . 14.4.3.5. Da Quesitao ....................................................................................... . 14.4.3.6. Da Instruo em Plenrio ........................................................ ~ .......... . 14.5. Dos Juizados Especiais Criminais .................................................................. . 14.5.1. Consideraes Gerais ................................................................................. . 14.5.2. Infraes de Menor Potencial Ofensivo ................................................. .. 14.5.3. A Transao Penal: Direito Subjetivo ou Discricionariedade? ............. . 14.5.4. Competncia e Atos Processuais .............................................................. . 14.5.5. O Rito nos Juizados Criminais ................................................................. .Captulo 12 - Das Citaes e Intimaes .................................................................... . 12.1. Das Citaes ...................................................................................................... 12.1.1. Espcies de Citao .................................................................................... . 12.1.2. Citao do Ru Preso ................................................................................. . 12.1.3. Citao do Incapaz ..................................................................................... . 12.1.4. Revelia e Suspenso do Processo e do Prazo PrescricionaL ............... .. 12.2. Das intimaes ....................................... ,.......................................................... .595 595 595 603 605 605 609Captulo 13 - Dos Atos Processuais e dos Atos Judiciais ......................................... . 13.1. Dos Atos Processuais ................................................................, ...................... .. 13.1.1. Dos Prazos Processuais ............................................................................. . 13.2. Dos'Atos Judiciais .......................................................................... :................ :.. 13.2.1. Decises Interlocutrias ............................................................................ . 13.2.2. Decises com Fora de Definitivas ......................................................... .. 13.2.3. Sentenas ......................................... ,........................................................... . 13.2.3.1. A Correlao entre Sentena e Pedido ............................................. ..613 613 615 620 62111.340106 ........................................................................................:................... . 14.6.1. Consideraes Gerais ............................................................. ,.................. . 14.6.2, Competncia Cvel e Criminal: Limitaes Constitucionais ...... ,......... . 14.6.3. Procedimentos e Medidas Cautelares ..................................................... . 14.6.4. Medidas Protetivas de Urgncia ............................................................ ,..62513.2.3.2. Emendatio Libelli .................................................................................... 13.2.3.3. Mulalio Libelli ........................................................................................ 13.2.3.4. Motivao e Dispositivo das Sentenas ............................................ . 13.2.3.5. Intimao da Sentena................................................................ ,........ . 13.2.4. Coisa Julgada em Matria Penal ......................................................~ ....... .630 634 642 64814.7. Processo e Procedim~nto~ Especiais ............................................................. .. 14.7.1. Dos Processos de Competncia Originria ............................................. . 14.7.2. Crimes Contra a Homa ............................................................................. . 14.7.3. Crimes de Responsabilidade de Funcionrios Pblicos ....................... . 14.7.4. Crimes de Trfico de Drogas .................................................................... . 14.7.5. Processo PenalEleitoral. ............................................................................ . 14.7.6. Crimes Falimentares .................................................................................. . 14.8. Procedimentos e Conexo e/ou Continncia ................................................. ,xii626628649657 657 661 663 681 683 694 .697 698 700 701 701703 707710 712 714 718 718 720 721 722724 728 733 733 735 740 743 74514.6. Juizados de Violncia Domstica e Familiar Contra a Mulher: Lei nxili758 758761 764 767 769 769 772 773776 800 805 808 7. Captulo 15 - Das Nulidades ...................................................................................... .. 15.1. Atos Inexistentes ............................................................................................... . 15.2. Nulidade Absoluta e Nulidade Relativa ....................................................... . 15.3. Nulidades: Efeito Devolutivo dos Recursos e Vedao da Refarmalia in811pejus ..................................................................................................................... . 15.4. A Regra do Interesse nas Nulidades .................................................... ,......... . 15.5. A Instrumentalidade das Formas ................................................................... . 15.6. Causalidade: Derivao das Nulidades ........................................................ . 15.6.1. Nulidade e Incompetncia Absoluta ............................ ,.......... " .......... ,... . 15.7. Convalidao ........... "", .. "", .... ,............. "" .. """" ...................... " .... "" .............. , 15,8, A Casustica do Cdigo de Processo Penal ................................................... .817 821 822 824 829 832 833Captulo 16 - Dos Recursos .......................................................................................... .839 839 843 84316.1. Teoria dos Recursos .......................................................................................... .16i~,i'.i.~In~~~;i;'G;~~::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::':, II' ~, !16,10.2. Recurso Especial ...................................................................................... .. 16.10.3. Recurso ExtraordInrio " .. ,.... ,.. ,.. ,......... ,........................ ,."., ................... . 16.11. AesAutnomas.,., ... ,.. " .... " ... ,... " ............... "" ............... ", ...... ,.. ,.... ,... ,....... .. 16.11.1, Mandado de Segurana ......................... ,...................... """ ... """ .. ,.......... . 16.11.2. Ao de Reviso CrimInal ....... ,:.', ............... ,........................................... .. 16,11.3. Habeas Corpus ,........... ", ........................ ,........ ,.... ,..... ,.......... ", ........... " .. ,.16.1.1.2. A Voluntariedade dos Recursos ........................................................ .. 16.1.1.3, A Unlrrecorribilidade .... ,........ ,......... "" ................................ ,...... ,...... .. 16.1,1.4, A Fungibilidade dos Recursos .......................................................... .. 16.1.1.5. A Vedao da Refarmalia in pejus ................................................... ,:.. .. 16.1.2. Regras: Suplementaridade, Complementaridade e Outras ........ :,:.:... .. :16,1,3. Disponlbilidade .... "" ................................... " .. " .. "" ........... " .......... " ... :.... .. 16.1.4, Efeitos dos Recursos .', ............. ,............................ ', .... ,................ "" ......... " 16,1,4,1, Efeito Suspensivo" ............ ,....................... ""., ....... ,......... ,..... ", ........... . 16,1.4.2. Efeito Devolutivo ................ ,................... ,.... """ .. ,......... " .................... . 16.1.4,3, Efeito Extensivo e Iterativo, ....................... ",:.. ,.. ", ....... " ......... ,.. ", ..... , 16.1.5, Oassficaes dos Recursos ...... " ...................... "",."., ......... ", .... """ ........ . 16.1.6, Juzo de Admissibilidade dos Recursos ................................................. .. 16.1.6.1. Requlsitos Objetivos .. ,......... ,....... ,.... " .............. """ .. " .................... ,.... . 16.1.6.2, Requlsitos Subjetivos", ........... ",., .. ", ............ " .... ,..... ,., .... ,.. ,..... ," ........ . 16.2. Da Apelao .... ,...... ", .. " ...... ,.... ,.......... """ .................. " ....... " .................. ", ...... .. 16.2,1, Cabimento " ...... ,............ ", ............ """ ...................... ", .... ",,' ... ', ............... ,.. . 16,2.2, Efeitos .... " .......... ;... " ........ ", .. ", .......... ,.. ,.. ,." .......... " ........ ", ....... ,........ " ........ . 16,2.3, Procedimento ,............... ,' .............. ,.. ,..... "" ....................... ", ... ", ...... ,.......... . 16.3. Do Recurso em Sentido Estrito ........................................................................ . 16.3.1, Cabimento .. ,.. ,............................................ ,.. ,.. ,................. " ...... ,......... ,..... .. 16.3.2. Procedimento ,......... ,.......... ,........... ,.......... ,.. ,.................... ,..... :............... ,.. .. 16.3,3. Efeitos .... " .... ,.. " .......................................... " ...... " .............. ", ........ ,............... . 16.4. Embargos fufrIngentes ou de Nulidade ........ " ... ,........................... ,....... "",: .. 16.5. Embargos Declaratrios, .......... ,.................... ,... "", .................... ,.... ", .............. . 16.6. Embargos de Divergncia ............................. ", ...................... " ......... ,.......; ..... .. 16.7. Carta Testemunhvel...."" ........ ,............................ " ........................ ", ........ "", .. 16.8. Agravo de Execuo ..... ",'.............................: .. ,.. """, ................ ", ... "", ........ ,... . 16.9. Correio Parcial."" ..... " .. " ............ "" ...... ,......... " .... ,......... ,....... " ......... ,........... , 16,10. Recurso OrdInrio, ExtraordInrio e Especial ........................................... .. 16.10.1. Recurso OrdInrio ... "" .. ,....... ,....................... " .... "., ................. ", .. ,.:: ... ,.. .. xiv812 813898 905 911 911 914 922943Captulo 17 - Relaes Intemacionas com Autoridade Estrangeira ..................... . 17.1. Cartas Rogatrias ... ,............ ,............ ,..... ,....... ,...... ,.... " ............. ,.................... " .. 17,2, Homologao das Sentenas Estrangeiras ................................................... ..947Referncias Bibliogrficas ..............................;'; ............................................................ .951844847 848 850 851 852 853 8.53 855 856857 858 860 864869 870873 876 882 884 889 890 890 891 893 893 894895 896896 xv945 8. Enfim, o processo penal brasileiro se abre saltemativas priso provisria, com a introduo da Lei 12.403, de 5 de maio de 2011 - com vigncia prevista para o dia 04 de julho - a prever diversas medidas cautelares diversas da priso. Trata-se da tardia aprovao - antes tarde do que nunca! - doantigoProjeto de Lei 4.208, do longnquo ano de 2001. A melhora do tratamento da matria sensvel. E, ao contrrio do que se insinua em um primeiro momento, no acabou a priso preventiva no pas. A sua restrio aos crimes com pena superior a quatro anos diz respeito, ~carnente, a sua aplicao autanoma, -isto , independentemente de qualquer outra providncia. No entanto, poder a preventiva apresentar ,carter substitutivo, prestando-se a garantir a execuo ,de outra medida cautelar nteriormente imposta e descumprida. Nesse caso, no se observar o 1irite do art. 313, I, CPP. Assim, a aprovao de um PL do ano de 2001 parece confinnar nossos receios quanto celeridade na apreciao do projeto de um novo Cdigo de Processo Penal. Se, agora, se vota e se aprova matria originria de anteprojeto gesta40 h mais de uma dcada, o que esperar do PLS 156? Ou melhor, quanto mais esperar? Essa a razo de uma nova edio. No entanto, fizemos uma reviso completa no texto, de modo a enxugar alguns pontos de abordagem excessiva ou relativa jurisprudncia jconsolidada, sem prejuzo do contedo, porm. E aproveitamos para corrigir e acrescentar outras consideraes Separata que lanamos comO anexo edio anterior,quando da imediata publicao da Lei 12.403/11. Estamos apenas no incio da compreenso de suas normas. S o tempo dir sobre os acertos e equvocos na leitura que fazemos das novas normas. Braslia, maio de 2011.o Autor xvI 9. INTRODUOiN a virada da primeira dcada do sculo XXI, nossa legislao processual penal permanece atrelada codificao elaborada no longnquo ano de 1941, o nosso ncansvel Cdigo de Processo Penal. Evidentemente, de l para c muito foi alterado.. No fosse isso, e certamente anda estaramos nas trevas de uma cultura confessadamente autoritria. Mas, continq.amos a aguardar uma reforma mais atualizada com os novos sopros da ps-modernidade. Nesse sentido, tramita no Congresso Nacional (Cmara dos Deputados) o PLS 156 (Projeto de Lei no Senado), cuidando da elaborao de um Novo Cdigo de Processo Penal, produzido a partir de anteprojeto gestado por uma Comisso de Juristas no ano de 2008, comisso essa a qual tivemos a honra de integrar. As mais .recentes modificaes trazidas com as Leis nOs 11.689, 11.690 e 11.719, todas de junho de 2008, e, tampouco, aquelas contidas nas Leis nOs 11.900/09, 12.015/09, 12.033/09 e 12.037/09, no foram e no sero suficientes para o ajuste estrutural que se faz necessrio. Urge uma modificao de conjunto, consolidando e unificando o sistema processual penal brasileiro, a partir dos horizontes fixados na Constituio da Repblica, sob as lentes, portanto, do Estado de Direito. Nosso Cdigo de 1941, o que, por si S, j explica o elevado grau da superao de seu contedo originrio. A aludida legislao codificada refletia uma mentalidade tipicamente policialesca, prpria da poca, em absoluto descompasso com a Constituio da Repblica, que j respirava ares de maior participao popular. Certamente por isso, a preocupao com a afirmao de direitos e garantias individuais mereceu captulo especifico na nova ordem onstitucional. Dentre as modificaes legislativas mais recentes, cite-se a Lei nO 11.689, de 10 de junho de 2008, modificando inteiramente o rito procedimental do jri; a Lei n Q 11.690, da mesma data, alterando o tratamento das provas, incluIndo 10. EUGNIO PACELU DE OUVEIRA 0000:preferir as medidas cautelares diversas daquelas (prises). A CONSTITUIO DA REpBLICA DE1988E O PROCESSO CONSTITUCIONALSe a perspectiva terica do CPP era nitidamente autoritria,. prevalecendo sempre a preocupao com a segurana pblica, como se o Direito Penal constitusse verdadeira poltica pblica, a Constituio da Repblica de 1988 caminhou em direo diametralmente oposta. Enquanto a legislao codificada pautava-se pelo princpio da culpabilidade e da periculosidade do agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas garantias indiViduais, a comear pela afirmao da situao jurdica de quem ainda no tiver reconhecida a sua responsabilidade penal por sentena condenatria passada em julgado: "ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgad de sentena penal condenatria." (ar!. 52, LVIT). A mudana foi radical. A nova ordem passou a exigir que o processo no fosse mais conduzido; prioritariamente"como mero veculo de aplicao da lei penal, ms, alm. e mais que isso, que se transformasse em um instrumento degarantia do individuo em face do Estado. O devido processo penal constitucional busca, ento, realizar Uma Justia Penal submetida exigncia de igualdade efetiva entre os litigantes. O processo justo deve atentar, sempre, para a desigualdade material que normalmente ocorre no curso de toda persecuo penal, em que o Estado ocupa posio de proeminncia, respondendo pelas funes investigatrias e acusatrias, Como regra, e pela atuao da jurisdio, sobre a qual exerce o .monoplio. Processo justo a ser realizado sob instruo contraditria, perante o juiz natural da causa, e no qual seja exigida a participao efetiva da defesa tcnica, como nica forma de construo vlida do convencimento judicial. E o convencimento dever'set:sempre motivado, como garantia do adequado exerccio da funo judicante e'para que se possa impugn-lo com maior amplitude perante o rgo recursal. Mais que isso, 9U junto a isso, deve ser um processo construdo sob os rigores da Lei e do Direito, cuja observncia imposta a todos os agentes do Poder '8::::P~blico, de maneira que a verdade ou verossimilhana (certeza, enfim) judicial seja o resultado da atividade probatria licitamente desenvolvida. Disso decorrer tambm a vedao das provas obtidas ilicitamente (ar!. 5, LVI, CF), no s como afirmao da necessidade de respeito s regras do Direito, mas como proteo aos direitos individuais, normalmente atingidos quando da utilizao ilcita de diligncias e dos meios probatrios. Uma vez que ao Estado deve interessar, na mesma medida, tanto a absolvi~o do inocente quanto a condenao do culpado, o rgo estatal responsavel pela acusao, o Ministrio Pblico, passou a ser, com a Constituio de 1988, uma instituio independente, estrllturado em carreira, com ingresso mediante concurso pblico, sendo-lhe, incmnbida a defesa da ordem jurdica, e no dos interesses exclusivos da funo C)lsatria. Nesse sentido o Ministrio Pblico, e no s o Poder Judicirio, eleve atuar com imparciali~ dade, reduzindo-se a sua caracterizao conceit,ual ,ele parte ao campo especfico da tcnica processual.No bastasse, a Lei 12.403/11 no deixa mais dvidas: nosso CPP vai se alinhando s determinaes -constitucionais, ao menos em ternas essenciais: as prises provisriasl agora, devem ser sempre a exceo, devendo o magistrado1.2.o::1.3. O SISTEMA ACUSATRIOfiI I. De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema prog!lwil irzquisi.!r~o d~ mod.elo a:usatrio pela ti.tuI:'!liidad.eatlmi:la aQrada pelo defensor. .. Oprocessopenalmoderno j superou o modelo do duelo, disputa:ou.deluta, no qua:!, a partir de uma suposta e ,discutvel premissadaiguahlade . e1itr~:as partes, vence aquele que atua melhor,ede maneira:maiseficiente. 'Para.ns, .este:ummodelo medieval, tpico de ambientes,.quesemtilizamdaretdca da:igualdade(que.ali sempreJorml):comoreforo.delegitimidade'deum sistema que saparentemente.democrtico. 'Maisse:dir sobre:o:temamo captuIo-atnente s. provas. . .Nessa ordem de :ideias, o 'interrogatrio do ru .no. poderiadixar: de .ser lanibmredimensionado,. como o fOi/j apartir daLei n.lO.?92f03,:parasecons- 15. :;E;;:UG~:;;N~IO;.P;.:A;;;C;;ELL:;-;.ID~E~O~LIVE.;;;:IRA~:;""~::_ _ _ _ _ _ _ _"4turso de Processo Penal. 15 edioEUO~NIO PACELLI DE OLIVEIRA. cc: : ::::: ::: :c: cctituir, efetivamente, em exclusivo meio de defesa, e no de prova, reservando-s,I?:~ ao acusado O juzo de convenincia e oportunidade quanto sua participao . ou no no referido ato processual. De seu silncio e de seu no-comparecimento no podero advir, obviamente, quaisquer prejuzos, exatamente por fora daII 1norma constitucional (ar!. 52, LXill, CF). A aplicao do princpio do direito ao silncio ainda mais relevante, como se ver, nos procedimentos do Tribunal do Jri, em que vigora a regra da intima convico, por meio da qual os jurados no tm o dever de motivar a sua deciso. Ali, deve-se permitir, como estratgia de defesa, o no-comparecimento sesso de julgamento, independentemente de se tratar de crime inafianvel, como era previsto na antiga redao d ar!. 451, 12 , CPP. No particular, aplausos Lei n 2 11.689/08, que deu nova redao ao ar!. 474 do CPP, permitindo ao acusado submetido ao Tribunal do Jri o no comparecimento, aplicando-se a ele as mesmas disposies relativas aos procedimentos em geral (do interrogatrio). Ainda voltaremos ao tema do sistema acusatrio umas tantas vezes ao longo deste trabalho, no s por sua manifesta relevncia, mas tambm por ser um dos pilares do sistema de garantias individuais postos pela Constituio de 1988. Mas que se deixe assentado: no ser o fato de se atribuir uma reduzida margem de iniciativa probatria ao juiz na fase processual, isto , no curso da ao, que apontar o modelo processual penal adotado. O juz inerte, como a regra no denominado sistema de partes do direito norte-americano, normalmente classificado pela doutrina como modelo acusatrio puro, encontra fundamentao em premissas e postulados valorativos absolutamente incompatveis, no s com nossa realidade atual, mas com a essncia do processo penal. . E isso porque a base ou estrutura sobre a qual repousa o aludid sistema , e como no poderia deixar de ser, a igualdade entre as partes. Mas no a igualdade material, na qual se examina as concretas possibilidades de exerccio de direitos e faculdades, mas unicamente a igualdade formal, isto , aquela segundo a qual todos so iguais perante a lei, ainda que, na realidade histrica, jamais se comprove semelhante situao (de igualdade). Em sistemas como este, do juiz inerte, h que se conviver, em maior ou menor grau, com a possibilidade de condenao de al$"m pela insuficincia defensiva, reputada, a priori, igual atividade acusafria. 12Captulo 1 - O Processo Penal Brasileiro1.4. SISTEMAS PROCESSUAIS INCIDENTES: O MODELO BRASILEIRO A doutrina brasileira costuma referir-se ao modelo brasileiro de sistema proces$ual, no que se refere definio da atuao do juiz criminal, como um sistema d natureza mista, isto , com feies acusatrias e inquisitoriais. Alguns alegam que a existncia do inqurito policial na fase pr-processual j seria, por si s, indicativa de um sistema misto; outros, com mais propriedade, apontam deterininados poderes atribudos aos juzes no cpp como a justificativa da conceituao antes mencionada (NUCCI, 2005, p. 101). No que se refere fase investigativa, convm lembrar que a definio de um sistema processual h de limitar-se ao exame do processo, isto , da atuao do juiz no curso do processo. E porque, decididamente,:inqurito policial no processo, misto no ser o sistema processual, ao menos sob tal fundamentao. De outra parte, .somente quando (se) a investigao fosse realizada diretamente perante o juzo (como ocorre no Juizado de Instruo francs, por exemplo) seria possvel vislumbrar contaminao do sistem~, e, mais ainda, e, sobretudo quando ao mesmo juiz da fase de investigao se reservasse a funo de j~igamento. No esse o caso brasileiro. A atuao judicial na fase de inqurito h de ser para fins exclusivos de tutela das liberdades pblicas. por essa razo que sempre sustentamos a impossibilidade de decretao de priso preventiva ex o!fieio na fase de investigao (item 11.7.4), embora a aceitemos no decorrer da ao penal. que, como o principal requisito para qualquer priso cautelar o da existncia de indcios veementes de autoria e materialidade, deve-se resentar referida valorao Ourdic6-penal) apenas para a fase de jurisdio, salvo provocao dos interessados, na mesma linha da proteo das liberdades pblicas. A Lei 12.403, de 5 de maio de 2011, caminha exatamente nesse sentido, ao permitir ao juiz, de fcio, na fase de processo - jamais na de investigao - a imposio de medidas cautelares pessoais diversas da priso, podendo, inclusive, substitui-las ou, em ltimo caso, decretar a preventiva (art. 282, 22, 42, CPP). que, em tal situao, no se pode compreender a decrl'tao da medida cautelar como de interesse exclusivo da parte. Observe-se que em matria penal no se disponibiliza a nenhum rgo do Estado a exclusividade na identificao do interesse pblico. Sendo pblica a ao penal, o Ministrio Pblico deve. submeter a questo ao Judicirio, desde que convencido da existncia do crime e da presena das condies da ao e pressupostos processuais. 13 16. Ii EUG~NIO PACELLI DE OUVEIRA;;:::;:;:::;:;:~;;;~~,;;:::;;::;;;::;;:;';;;;;;':~_:~::'_ _ _ _ _ _0::0;:",,::Curso de Processo Penal. I5 edio ~:;:c::::::::::::EUGNIO PACELLI DE OUVEIRA-------::X>QO Captulo 1- O Processo Penal Brasileiro_ _0:_~::0:::::::"';""""""",:'c:::c::cc::c'c::E mais:. ainda que o Ministrio Pblico, em alegaes finais, requeira a absolvio do acusado (ar!. 385, CPP); o juiz pode proferir sentena condenatria. Eis aqui regra expressa quanto no-exclusividade da imposio de resposta penal em mos do autor da ao, no horizonte de um Direito Penal de ultima rac tio, destinado proteo de direitos fundamentais. A opo de nOSSa legislao foi a adoo do princpio da obrigatoriedade ou da legalidade, segundo o qual o Ministrio Pblico deve agir movido pela objetividade (critrios da Lei). Pudesse ele retirar a acusao - se manifestando pela absolvio - no se conteria o juzo de discricionariedade, com violao ao modelo escolhido (da obrigatlJl'iedade da ao). Convm insistir que o inqurito policial, bem como quaisquer peas de informao acerca da existncia de delitos, destina-se exclusivamente ao 'rgo da acusao, no se podendo aceitar condenaes fundadas em provas produzidas unicamente na fase de investigao. A violao ao contraditrio e ampla defesa seria manifesta. As excees ocorrem em relao s chamadas provas irrepet/veis, necessariamente realizadas na fase de investigao ede (materiaimente) impossvel reproduo e repetio no processo. Alm disso, o fato de ainda existir juizes criminais que ignoram as exigncias constitucionais no justifica a fundamentao de um modelo processual brasileiro misto. Com efeito, no porque o inqurito policial acompanha a denncia e segue anexado ao penal que se pode conclur pela violao da imparcialidade do julgador ou pela violao ao devido processo legal. para isso que se exige, tambm, que toda deciSo judicial seja necessariamente fundamentada (art. 93, IX, CF). Deciso sem fundamentao racional ou com fundamento em prova constante unicamente do inqurito radicaimente nula. E , segundo nos parece, o quanto basta. por isso, alis, que no somos tributrios de quaisquer homenagens ao. Tribunal do Jri, no qual se decide por ntima convico. De todo modo, a Constituio da Repblica lhe d guarida (art. 52, XXXVIII), e . como garantia individual. Portanto, limitada a iniciativa probatria do juiz brasileiro ao esclarecimento de dvidas surgidas a partir de provas produzidas pelas partes rio processo - e no na fase de investigao - e ressalvada a possibilidade de produo ex o!ficio daquela (prova) para o esclarecimento de prova j produzida (exceo feita matria defensiva, para a qual no deve haver limitao atuao do juiz), pode-se qualificar o processo penal brasileiro como um modelo de natureza . acusatria, tanto em relao s funes de investigao quanto s funes de acusao, e, por fim, quanto. quelas de julgamento.Por certo que no se trata de um modelo adversary, ou de partes, tal como o modelo estadunidense, em que o juiz se afasta completamente de quaisquer funes probatrias, limitando-se ao controle de legalidade na instruo judicial. J o dissemos aqui e repetimos: tal modelo parece-nos medieval, tomando como premissa legitimadora uma suposta igualdade de partes. Essa igualdade, ainda que abstratamente comprovada, no pode justificar uma deciso condenatria fundada em uma insuficincia da defesa. Igualdade processual, abstrata ou concreta, justifica um processo de partes exclusivamente em matria no-penal, no bojo do qual se discute a titularidade de direitos subjetivos. Em processo penal, jamais. De todo modo, e, sobretudo, a partir da possibilidade de participao do acusado e de seu defensor no ato do interrogatrio, no vemos COmo no se reconhecer, ou no vemos porque abdicar de um conceito acusatrio de processo penal na atual ordem constitucional. No obstante, reconhece-se a inadequao de determinadas prerrogativas atribudas ao Ministrio Pblico, no que se refere, por exemplo, posio por ele ocupada na sala de audincia criminal. que, embora no se possa conceituar o parquet como parte parcial - despreze-se a redundncia -,a sua presena ao lado do juiz pode, com efeito, sensibilizar negativamente o acusado, produzindo-lhe, eventualmente, algum efeito intimidatrio. Todavia, no ser esse fato, por si s, suficiente para afetar a imparcialidade com que deve agir o magistrado, independentemente de suas relaes pessoais com o membro do Ministrio Pblico, estas sim, mais problemticas que o posicionamento cnico da audincia criminal.1415 17. Iljflu " ! .,li' Li1'1I, !'ICAPTULO i ! ~j2LEIS E PROCESSO PENAL NO TEMPO E NO ESPAOi M ~'i '~ ,,~i:~,:ft ~!l ,li ~II'':-,'hl&~~[;I'~ ;~, , "~'f~I if!i I,Se a interpretao de princpios constitucionais demanda grandes esforos no campo da hermenutica, sobretudo em razo das exigncias de acomodao de inmeros e distintos interesses de uma sociedade cada vez mais plural e complexa, as normas atinentes legislao processual penal oferecem espao muito mais reduzido de conflitos. Algumas alteraes trazidas pela Emenda Constitucional n 45/04, ora a esclarecer critrios a serem adotados em relao ao grau de 'positividade de normas previstas em tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos, ora a impor, ao Ivel constitucional, a submisso do Brasil s jurisdies internacionais, aliadas aos possveis proveitos didticos que podem ser obtidos a partir da separao temtica da matria, justificam uma abordagem mais detida da matria.!I"i ,'" II I " "~" i~~ ~I "II ,I2.1. TRATADOS E CONVENES INTERNACIONAIS-------------------------------------------------------A primeira questo est posta no atual 3, do art. 5, da Constituio da Repblica, com a redao dada pela citada EC n 45, a dispor que "os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais".Aludida norma, com efeito, presta-se a resolver antigo debate no mbito do Direito Internacional, mais precisamente acerca da qualiflde normativa dos comandos previstos em tratados e convenes internacionais subscritos pelo Brasil.'II17 18. I I1~UG"NIO PACELLl: ~:c~:fVE;,;;;;IRA;;;,_ __EUG~IO PACELU DE OLIVEIRA:: :>OOQOOOOO 46. EUOP..NIO PACEUI DE OLNElRA o:::;:::: ::::C :C:x~:~__,=:=:=:~c::_ _ _ _""')Curso de Processo Penal 15 edioEUGNIO PACELLJ QE OUVEIRA QOO'X::Captulo 4 - A Fase Pr-Processual: A Investigao Criminal ::::c:c~::::::::::Veja-se, ento, deciso da Suprema Corte, conferindo cores definitivas questo: "Atribuies do Ministrio Pblico. Conflito negativo entre MP de dois Estados. Caracterizao. Magistrados que se limitaram a remeter os autos a outro juzo a requerimento dos representantes do Ministrio Pblico. Inexistncia de decises jurisdicionais. Oposio que se resolve em conflito entre rgos de Estados diversos. Feito da competncia do Supremo Tribunal Federal. Conflito conhecido. Precedentes. Inteligncia e aplicao do art 102, I, 'f', da CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito negativo de atribclio entre representantes do Ministrio Pblico de Estados diversos. 2. COMPETNCIA CRIMINAL. Atribuies do Ministrio Pblico. Ao penal. Formao de opnio delicti e apresentao de . eventual denncia. Delito terico de receptao que, instantneol se consumou em rgo de trnsito do Estado de So Paulo. Matria de atribuio do respectivo Ministrio Pblico estadual. Conflito p.egativo de atribuio decidido nesse sentido. da atribuio do Ministrio Pblico do Estado em que como crime instantneo, se consumou terica receptao, emitir a respeito opinio deliro, promovendo, ou no, ao penal." (STF, Pet 3631/SP, ReL Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, Dl de 06/03/2008) lNesse mesmo sentido, registre-se a ACO n 889/RJ, ReI. Min. Ellen Gracie,Dl de 11/09/2008. 4.1.4. Inqurito Policial e Extino da Punibilidade---------------------------------------------------------I .1IPor fim, no regime anterior Lei n' 11.719/08, quando a hiptese fosse de prescrio pela pena em abstrato ou de quaisquer outras causas extintivas da punibilidade, o Ministrio Pblico no deveria requerer o arquivamento do inqurito ou das peas de informao, mas, sim, o reconhecimento judicial expresso da extino da punibilidade, para o que deveria, tambm, especificar detidamente em relao a quais fatos ela se estenderia, diante dos efeitos de coisa julgada material que dever acobertar tais provimentos judiciais (art. 61, CPP). Nesse terreno, a Lei n 2 11.719, de 20 de junho de 2008, tr~uxe, no minimo, alguns problemas com a revogao do art. 43, CPp, como j adiantamos. Embora tenha acertado na importante distino entre questes de mrito e questes preliminares, separando, nos arts. 395, CPp, e 397, CPp, as decises judiciais relativas atipicidade e relativas extino da punibilidade (art. 397, l i e IV) daquelas atinentes s questes processuais (art. 395 - pressupostos processuais e condies da ao, alm da justa causa), a nova legislao no contemplou bem a matria relativa deciso que reconhece a extino da punibilidade. Ao prever a absolvio sumria para a hiptese de extino da punibilidade, e, mms que isso, a necessidade de apresentao da defesa, com indicao de provas e tudo o mais (art. 396, art. 396-A, CPP), como fase antecedente deciso de absol-74:: c c: : c : :::vio sumria, surge a dvida acerca da atuao do Ministrio Pblico, quando diante de situao clara de prescrio ou de outra causa extintiva da punibilidade. No sistema anterior ( Lei n 11.719/08), o Ministrio Pblico apenas requeria o reconhecimento judicial da causa extintiva, por meio de sentena ou deciso terminativa, dependendo da classificao adotada (rt. 61, CPP). Em todo caso, quando no houvesse necessidade de citao e de apresentao de defesa do ru (prescrio, por exemplo), o Ministrio Pblico sequer apresentava a denncia, limitando-se descrio superficial dos fatos que estariam submetidos extino da punibilidade. Agora, pelo novo procedimento, a primeira impresso de que o Ministrio Pblico, mesmo convencido da extino da punibilidade, estaria obrigado a apresentar a denncia, e tambm o juiz, pelas mesmas razes, se veria obrigado a determinar a citao do acusado para a apresentao 'de defesa, no prazo de 10 dias (art. 396, CPP), para s ento absolver sumariamente o ru (art. 397, CPP). Ainda que se reconhea o mrito da medida, no ponto em que a apresentao da pea acusatria delimitaria com maior preciso os fatos objeto da extino da punibilidade, no se pode deixar de reconhecer, porm, que o procedimento pode se tornar extremamente burocrtico, com prejuzo a todos. Mms em relao defesa que propriamente ao dever de apresentao de denncia pelo Ministrio Pblico. E pior. Com a exigncia de citao e de apresentao de defesa escrita, muitas vezes o ru se ver na contingncia de ter que contratar advogado, tendo em vista seu desconhecimento tcnico sobre a matria. Procedimento oneroso, desnecessrio e dispendioso. Exatamente por isso somos de parecer que o problema dever ter o seguinte encaminhamento: a)quando o Ministrio Pblico entender j prescrito o fato, ou, de qualquer modo, extinta a punibilidade, dever ele requerer o arquivamento do inqurito policial ou das peas de informao, sob tal fundamen-b)quando houver o oferecimento de denncia e, posteriormente, sereconhece~ qualquer causa de extino da punibilidade, a soluo ser aquela preconizada no art. 396 e no art. 397, com a citao, defesa e absolvio sumria.tao;E no se estaria aqui criando qualquer novidade radical, no que respeita natureza preclusiva de uma deciso judicial de arquivamento. Sabe-se, por 75 47. EUG~NlO PACElli DE OUVElRA :: :~Curso de Processo Penal 15G edio :::c::::: ::EUGNIO PACELU DE OLIVEIRA voe : ~Captulo 4 ~ A Fase Pr-Processual: A Investigao Criminal :~exemplo, e j aqui O assentamos, que, nas hipteses de atipicidade manifesta, o Ministrio Pblico deixa de oferecer denncia e requer o arquivamento do inqurito. E ningum duvidava e nem duvida de que referida deciso (de arquivamento) tem eficcia preclusiva de coisa julgada material, precisamente em rzo do fato de tratar-se de soluo do mrito da causa penal. Entendimento contrrio obrigaria O Ministrio Pblico a oferecer denncia tambm nas hipteses de atipicidade manifesta, j que, pela nova sistemtica processual, a deciso que a reconhece igualmente a de absolvio sumria (art. 397, IV; CPP). E, convenhamos, essa seria uma alternativa que ignoraria a independncia funcional do parquet, de fundo constitucional. E mesmo do ponto de vista dos interesses do investigado - suposto autor - no se pode dizer que uma deciso judicial de absolvio seja socialmente mais revigorante que aquela do arquivamento. Absolvio pressupe acusao; arquivamento no. Mas que fique claro. A soluo aqui aventada no desconhece o mrito da inovao legislativa e nem a inadequao de um arquivamento fundado em causa de extino da punibilidade. Todavia, convenhamos: extino da punibilidade tambm no significa, rigorosamente; absolvio! Entre duas alternativas defeituosas, ficamos com aquela menos gravosa aos interesses de todos. E mais. No tendo havido revogao do art. 61, CPP, que diz que o juiz, a qulquer tempo, poder reconhecer a extino da punibilidade, como se daria a deciso, tendo em vista que, em tese, a constatao poder ocorrer fora da fase prevista no art. 397, CPP? A nosso aviso, a Lei n 2 11.719/08 tinha em mente os julgamentos nos Tribunais, nos quais, em preliminar, se reconhecia e se reconhece a extino da punipilidade sem o exame do mrito, o que termina por impedir uma possvel absolvio em segundo grau, sobretudo quando condenatria a sentena de primeira instncia. Por isso, pensrunos que, uma vez ajuizada a ao, deve-se privilegiar a ratio legis aqui declinada, impondo-se a deciso de absolvio sumria (art. 397, N), passvel de recurso de apelao (art. 416, CPP). E isso, independentemente da fase procedimental. No negamos a vigncia e a validade do art. 61, CPP, mas, segundo nos parece, impe-se uma unificao dos recursos. Admitir a deciso de simples extino da punibilidade, ao fundamento de no se encontrar o processo na fase do art. 397, CPP, implicaria tratamento recursal diverso a uma mesma deciso: recurso em sentido estrito, se aplicado o art. 61, CPP; apelao, se aplicado O art. 397, CPP.Por fim, antes da denncia, deve o juiz aguardar a manifestao do Ministrio Pblico, no sentido do arquivamento sob tal fundamentao. Evidentemente, no pode o juiz arquivar inqurito sem o requerimento do Ministrio7677Pblico. De se ver, tambm, que, agora, quando se pretender o trancamento de ao penal por meio de habeas corpus, com fundamento em atipicidade e/ou extino da punibilidade, o tribunal dever absolver sumariamente o acusado, valendo-se da parte dispositiva prevista no art. 397, III e IV; CPP. Ainda sobre o tema da extino da punibilidade, importante lembrar que a ~gente Lei n 2 9.249/95 prev, em seu art. 34, a extino de punibilidade dos crimes contra a ordem tributria quando o pagamento do dbito ocorrer antes do recebimento da denncia. Aos olhos do Superior Tribunal de Justia, pouco importa se o pagamento foi total ou parcial (parcelamento, por exemplo), para que haja a extino da punibilidade: "1. Coruonne lio do Ministro Nilson Naves, relator do AgRg no REsp 784.080(pR, o tema referente extino da punibilidade com base no art. 34 da Lei n2 9.249/95 j foi, inmeras ve?:es, discutido no Superior Tribunal, que entende finnemente no sentido de que, deferido o parcelamento de dbitos pelo Instituto antes do recebimento da denncia, extingue~se a pretenso punitiva do Estado, ainda que no haja seu pagamento integral. Precedentes. [ .. .]" (STI, AgRg no REsp 765.499/RS, ReI. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO T/IMG), SEXTA TURMA, julgado em 20/05/2008, Dle 09/06/2008)De outro lado, a Lei n' 9.96~, de 10 de abril de 2000, criou a inacreditvel figura da suspenso da pretenso punitiva (desde que a adeso ao parcelamento se d. antes do recebimento da denncia, conforme dispe o art. 15) - como se o . juizo de reprovao que alimenta o desvalor da conduta e do resultado do tipo penal pudessem ser temporariamente adiados -, relativameI).te aos crimes previstos nos arts. l' e 2' da Lei n' 8.137/90 e art. 95 da Lei n' 8.212/91. de se ver que este ltimo dispositivo (art. 95, Lei n' 8.212/91) encontra-se revogado pela Lei n' 9.983/00, que deslocou vrios dos tipos penais ali elencados para a Parte Especial do Cdigo Penal (por exemplo, art. 168-A e art. 337-A). A suspenso da pretenso punitiva (art. 15, Lei n' 9.964/00) ocorrer enquanto a pessoa jurdica (ou fisica, acrescentaramos ns) relacionada com o agente estiver includa no Refis (Plano de Recuperao Fiscal), isto , enquanto estiver submetida ao programa e enquanto estiver cumprindo regularmente o parcelamento do dbito tributrio e/ou previdencirio concedido empresa em 48. EUGNIO PACELLI DE OUVEIRAEUG~NIO PACELU DE OUVEIRA::,.x:. . :.: . ::w;;;m;;".,;;;;;>OOOOOOOCaptulo 4 - A Fase Pr-Processual: A Investigao Criminal ~:::::;:o::o::o>00C;;;',;;,::,;;,,;;,;;;;;;;;;;;;;.,.----~-------:~etUIO 5:- I?a AF~o Pen~l:: exceo do habeas corpus e da reviso criminal, o processo penal brasileiro impe, como regra, a exigncia de que somente deterrrnadas pessoas possam promover a ao penal. Impe, pois, a exigncia de legitimidade ativa para a promoo e o desenvolvimento de atividade persecutria. Como regra, tal atividade privativa d Estado, por meio do Ministrio Pblico (art. 129, CF), reservando-se a deterrrnadas pessoas, em situaes especficas, o direito atividade subsidiria, em caso de inrcia estatal, e inciativa exclusiva do particular, em ateno s peculiaridades de algumas infraes penais e das consequncias especficas que delas resultam.Mas, mesmo tratando-se de legitimidade do Ministrio Pblico, preciso que se faa, desde logo, uma distino: embora uno e indivisvel, no quer dizer que qualquer rgo do Ministrio Pblico possa validamente postular a aplicao da lei penal. A distribuio de atribuies do parquet tem sede na prpria Constituio Federal e feita, tal corno ocorre em relao ao princpio do juiz natural, segundo a matria e segundo a prerrogativa de funo do agente. Assim, a legitimao ativa para a instaurao de ao penal perante a Justia Federal atribuda ao Ministrio Pblico Federal, do mesmo modo que ao Promotor de Justia caber a iniciativa (e, por isso, a legitimao ativa) para a propositura de ao ou arquivamento de inqurito em tramitao perante a Justia Estadual. Mesmo no mbito dos tribunais, h a imposio de uma legitimao ativa, decorrente da atribuio constitucional, a determinados rgos do Ministrio Pblico. Assim, por exemplo, somente o Ministrio Pblico Federal tem legitimidade para oficiar nos Tribunais Superiores e, em consequncia, interpor recursos das. respectivas decises, conforme j acentuou o Supremo Tribunal Federal (HC n 80.463/DF, ReI. Min. Maurcio Corra. Informativo STP n 237). Afora isso, no campo processual penal, tendo em vista que o tema relativo autoria diz respeito, como vimos, ao prprio mrito da ao condenatria, a legitimidade ad causam, como condio da ao, somente oferece relevilncia quando em relao ao polo ativo, isto , no que se refere iniciativa da persecuo penal. Semelhante observao no se aplica, porm, s aes penais no condenatrias, como o habeas corpus, a reviso criminal e o mandado de segurana em matria penal, nas quais, sobretudo em relao s aes mandamentais (lmbeas corpus e mandado de segurana), necessrio apontar com exatido a autoridade que figurar no polo passivo. Tratando-se de ao penal pblica, condicionada ou incondicionada, a legi- . timidade ativa sempre do Ministrio Pblico, no s como regra imanente do nosso modelo acusatrio, mas tambm por fora expressa de norma constitu. cional (art. 129, I). Nas demais aes, ao penal privada ou privada subsidiria da pblica, como se ver, a lei atribui ao particular, e s a ele, a exclusividade da iniciativa penal. bem de ver ainda que o tema (1egitimatio ad causam) no pode ser tratado nas mesmas bases do processo civil, j que o Ministrio Pblico (em regra, o legitimado ativo) no pode ser considerado o titular da relao de direito material suscitada no juzo penal. O Estado, como vimos, ao vedar a soluo privada do conflito e ao retirar do particular a generalidade da iniciativa penal, assume a condio de tutor da ao penal, tal como ocorre em relao jurisdio, exer-108109Com efeito, diante da constatao, feita nos prprios autos do procedimento de investigao (inqurito policial ou qualquer outra pea de informao), da impossibilidade ftica de imposio, ao final do processo condenatrio, de pena em grau superior ao mnimo legal, possvel, desde logo, concluir pela inviabilidade da ao penal a ser proposta, porque demonstrada, de plano, a inutilidade da atividade processual correspondente. E assim ocorre porque, em tais hipteses, o prazo prescricional inicialmente considerado, isto , pela pena em abstrato (ar!. 109, CP), seria sensivelmente reduzido aps a eventual sentena condenatria (com a pena concretizada). Semelhante operao seria possvel antes mesmo do incio da ao penal, vista das condies pessoais do agente imputado ou das circunstilncias objetivas do fato, que impediriam, em sede de juzo prvio, a imposio de pena acima do mfnimo previsto no tipo penal adequado ao fato apurado na investigao. Por isso, entendemos perfeitamente possvel o requerimento de arquivamento do inqurito ou peas de investigao por ausncia de interesse - utilidade - de agir. H doutrinadores que tambm fazem meno ao chamado interesse-adequao, que seria o ajustamento da providncia judicial requerida soluo do conflito subjacente ao pedido. Percebe-se, porm, que, ao menos no processo penal condenatrio, a aventada adequao no ostenta qualquer utilidade, dado que, ainda que o pedido de imposio de determinada sano no corresponda efetivamente quela prevista na cominao legal pertinente ao fato imputado ao agente, nada impede o recebimento da denncia ou queixa e o regular processamento do feito, consoante o disposto no ar!. 383 do CPP.5.2.2. Legitimidade ---------------------- 64. EUG~NIO PACELLl DE OLIVEIRA;;:;;;:;;;;~:;;;;;:;;;~~:;:;;;::,;;::~---------::"'rturso de Processo Penal :lS fJ edio: ::::::: ::::::~:;;-;;;.,.,_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __9!!tulo ~ [)~ A~~o l'~~,a!:cendo a sua funo no interesse muito mais prevenlivo (no sentido da funo de preveno, geral e especial, da pena) que propriamente em favor de interesse prprio ou mesmo da vtima do fato delituoso (que, alis, algumas vezes, em aes pblicas, pode nem existir).5.2.3. Possibilidade Jurdica do Pedido -----~-------------~------------------------A transposio, para o processo penal, do conceito de possibilidade jurdica do pedido, tal qual se elaborou na teoria do processo civil, oferece algumas dificuldades, alis, tambm experimentadas no campo em que floresceu a aludida categoria jurdica. Normaimente, a doutrina processual penal refere-se possibilidade jurdic ca do pedido como a previso no ordenamento jurdico da providncia que se quer ver atendida. Ausente ela, o caso seria de carncia da ao penal, por falta de condio da ao. Entretanto, pelo menos nas aes penais condenatrias, bem de ver que, ainda que se requeira a condenao d acusado pena de morte, por exemplo (caso tpico de ausncia de previsibilidade da providncia requerida), nadaim" pede que a ao penal se desenvolva regularmente, porque ao juiz permite'se a correta adequao do fat norma penal correspondente, com a aplicao da sano efetivamente cominada, por fora da emendalio libelli prevista no ar!. 383 dO' CPP. Por isso, nO se podendo extinguir o processo pela impossibilidade jurdica.do pedidO assim aviado, no se pode, tambm, aceitar tal hiptese como de condio' da ao 'penal condentria. A observao que se impe, ento, desde logo, que; em tema de pedido, na ao penal condenatria, a exigncia de previsibilidade abstrata da providncia requerida' no constitui bice adrriissibilidade da ao e ao conhecimento d pretenso. E assim tambm porque a regra que se apresente ao juzo criminal o pedido de condenao do acusado, poucO'imprtand{)'oeventul descompasso entre a sanO'pretendida e aquela coi:nfudanotipo penal previsto para o fato imputado. No entantoi ainda que; aps a descrio da conduta tida por criminosa, o Ministrio Pblico requeira prOVidncia judicial distinta da condenao - por exemplo, pedido de natureza declaratria daaufOria e materialidade, sem qualquer pretenso'de'imposio de sno penal-i parece-nos, a soluo ser sempre a mesma: tratandO'-se de ao penal pblica; em'que a acusao dever do Estado, a s imputao a algum da prtica de um fato alegadamente delituoso 110000De outro lado, doutrina e jurisprudncia j vinham admitindo a justa causa tambm corno condio da ao (seja corno condio especfica, seja corno genrica), j que, nos termos do art. 648, !, do CPp, sempre se admitiu O habeas corpus para trancamento de investigao ou de ~o penal, sob o fundamento de ausncia de justa causa, tanto para a soluo de questes processuais (falta de prova mnima para lastrear a acusao, inpcia da nicial etc.) quanto para aquelas pertinentes ao prprio mrito da ao penal (prescrio ou qualquer outra causa extintiva da punibilidade, atipicidade manifesta etc.). de se ver recente deciso do Supremo Tribunal Federal nesse sentido, na qual se deferiu habeas corpus para trancar ao penal por ausncia de suporte mnimo de prova (STF - HC n 81.324/SP, 2' Turma,Rel. Min. Nelson Jobim, Dl 23.8.2002). No mesmo Supremo Tribunal Federal, decidiu-se que o "reconhecimento . da nocorrncia de justa causa para a persecuo penal [... ] reveste-se de carter excepcional. Para que tal se revele possvel, impe-se que nexista qualquer situao de liquidez ou de dvida objetiva quantos aos fatos subjacentes acusao penal" (STF - HC n Q 82.393!RJ, ReI. Min. Celso de Mello, Informativo nO 317,2003). Como se v, a ncluso expressa da justa causa como condio da ao, tal como se acha agora no art. 395, III, CPp, apesar de esclarecer a possibilidade de seu manejo em relao s questes processuais, no revogou o art. 648, !, CPP, com O que tambm questes de mrito, e particularmente a atipicidade e as causas extintivas da punibilidade continuaro a ser veiculadas em habeas corpus, como sempre foram. Sobre o ponto, alis, pensamos que, agora (a partir da Lei nO 11.719/08), a concesso de habeas crpus para fins de trancamento da ao penal, sob o fundamento de atipicidade ou de extino da punibilidade, implicar a absolvio sumria dos pacientes (rus). E, mais. At mesmo para o fim de impedir o ndiciamento no curso de nqurito policial, parece-nos possvel o manejo da ausncia de justa causa, quando absolutamente nexistentes ndcios probatrios para tal valorao (STF Inq. n Q 2.041/MG, ReI. Celso de Mello, em 6.10.2003). Alis, em sede de habeas corpus, para o qual previsto o manejo expressamente quando faltar justa causa (art. 648, !, CPP), pensamos ser cabvel o trancamento da ao ou do processo at mesmo em razo da ausncia de pressupostos processuais. Nesse caso, ,no se trataria, evid~cia, de,uma condio da ao, a no ser no lato sensu da matria processual. 118---==_::=:------Captulo 5 - Da Ao Penal~OIX'0oooooooOOOOOOCurso de Processo Penal.15 edioEUGNIO PACELL! DE OUVEIRA-=~-==-~--Desde logo, portanto, uma constatao: h distribuio de parcelas da jurisdio - competncias - derivada da prpria Constituio da Repblica, reunidas sob a proteo da clusula assecuratria de que "ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente" (art. 5', LIlI, CF). E, assim como ocorre em relao a qualquer repartio de competncias, a distribuio da jurisdio a diferentes rgos do Poder Pblico obedece a regras especficas de racionalizao da respectiva funo pblica, voltadas neCessria otimizao da aludida atividade. Surge, ento, nessa ordem de consideraes, o critrio da especializao do Poder Judicirio, a ditar a repartio constitucional de competncias em razo da matria dada ao conhecimento de cada rgo da jurisdio, delimitando-se, em um primeiro momento, a existncia de uma jurisdio penal, encarregada e especializada em matria criminaL A partir da, e sob o mesmo influxo, passa-se a repartir tambm a jurisdio penal a rgos anda mais especializados, tendo em vista a especificidade de determinadas matrias. Assim, estabelecem-se competncias distintas para O processo e o julga-servio, resultante da especializao por matria - que, de resto, ocorre emseja em relao titularidade do bem, valor ou interesse jurdico atingido, seja em relao natureza do crime. Na primeira hiptese, apresentam-se as jurisdies da Justia Comum, federal e estadual, escolhidas em razo da matria; na segunda, a jurisdio do Tribunal do Jri e a jurisdio especial da Justia Eleitoral e da Justia Militar, cuja opo tambm fundada na ratione materiae. Por isso, fala-se em competncia de jurisdio. Deve-se observar, tambm, que doutrina e jurisprudncia frequentemente adotam uma terminologia anda mais restritiva em relao jurisdio penal militar e Justia Eleitoral. Fala-se em Justia especializada, aparentemente em oposio jurisdio comum da Justia Federal e EstaduaL Note-se, porm, que, em quaisquer das jurisdies dotadas de competncias especficas, o critrio determinante da separao de poderes, no particular - Justia Comum e especializada -, foi precisamente o da especializao em razo da matria. Com efeito, atribui-se competncia especfica Justia Federal - Justia Comum - no porque o Juiz Federal seja abstratamente superior ou mais bem preparado que O Juiz Estadual, mas, unicamente, porque h o objetivo de bem operacionalizar a atividade jurisdicional, seja em ateno prpria distribuio dos feitos criminais, seja, sobretudo, em razo da otimizao dopraticamente todos os ramos do Direito e das demais atividades profissionais (Direito Administrativo, Constitucional, Penal, ou Oftalmologia, Pediatria, Cardiologia etc.). A terminologia Justia especializada, referida jurisdio penal militar e eleitoral, tem o propsito de realar ainda mais o alto grau de especializao das respectivas Justias, tendo em vista a prpria especificidade normativa de cada ramo do direito material ali aplicado. De fato, o Direito Penal militar apresenta caractersticas prprias e especiais em relao ao Direito Penal comum, at mesmo em decorrncia das particularidades das relaes jurdicas abrangidas pelos respectivos destinatrios - o civil e o militar -, razo pela qual os crimes militares obedecem expressa definio legal, reunidas, de modo geral, no Cdigo Penal Militar. O mesmo ocorre, em certa medida, em relao ao Direito Eleitoral - da a Jus.tia Eleitoral -, submetido s normas do Cdigo Eleitoral e da legislao eleitoral. Os chamados crimes eleitorais, em regra ali previstos, embora abarcados pelos princpios gerais do Direito Penal comum, apresentam a particularidade de tutelarem, tambm, a regularidade do processo eleitoral. Da por que perfeitamente admissvel - alis, com redobradas razes - a especificidade de seu tratamento. Em outra via, atendendo a outro critrio que no o da especializao e, por isso, no mais em relao matria, mas j ao prprio agente do crime, prevista a jurisdio colegiada, ou comp~tncia originria dos tribunais, estabelecida em razo das relevantes funes pblicas. exercidas pelo autor - ou acusado - da infrao penal, ou seja, foros privativos ratione personae. Em todas estas situaes impe-se o relevante princpio do juiz natural, entendido como o rgo da jurisdio cuja competncia, estabelecida anteriormente ao cometimento do fato, derive de fontes constitucionais, legitimado a partir da vedao, imposta ao legislador infraconstitucional, da instituio do juzo ou tribunal de exceo (art. 5, XXXV1l, CF). Legitimado, anda, pela exigncia de julgamento da causa pelo juiz ou tribunal ali indicados (rgo ou juiz especializado em razo da matria e rgo ou tribunal colegiado em razo da funo do imputado). Em uma e outra hiptese, estaremos diante de competncias absolutas, cuja determinao independe da vontade das partes processuais, acusao e defesa, diante da rigidez e da estatura da fonte normativa de uma e outra espcie, qual seja, a Constituio da Repblica.204205mento de crimes cuja configurao possa apresentar caractersticas distintas, 112. -EUGNIO PACELU DE OUVElRA:: ::: :>O>Curso de Processo Penal 15 edio ::7.2. JUIZ NATURAL E COMPETNCIA ABSOLUTA:~~~:~_~~~~_I~_I?!:I::'~_I~_I?!~_~~o princpio do juiz natural, conforme vimos ao tratarmos dos princpios fundamentais do processo penal, constitui verdadeira garantia individual estabelecida em favor de quem se achar submetido a processo penal, impedindo, assim, o julgamento da causa por juiz ou tribunal cuja competncia no esteja, previamente ao cometimento do fato, definida na Constituio. Desde logo, observamos que no nos parece adequado excluir a competncia da Justia Estadual da abrangncia do juiz natural, como ainda se encontra em alguns setores da doutrina. Embora residual a competncia da jurisdio estadual, isto , definida pela regra da excluso, no se pode perder de vista que se trata de competncia absoluta, isto , cujo afastamento somente poder ocorrer por forade aplicao de normas ou princpios constitucionais, quando firmada em razo da matria (crimes estaduais). Assim, do mesmo modo que o processo e o julgamento de um crime da competncia federal h de ocorrer no mbito daquela justia, sob pena de nulidade absoluta, tambm aquele, da competncia estadual, haver de desenvolver-se e ultimar-se naquela jurisdio, sob a mesma cominao de nulidade absoluta. E no infirma semelhante ponto de vista o fato de prevalecer a competncia da jurisdio federal, na hiptese de reunio obrigatria de processos da competncia federal e estadual, quando determinada em razo de conexo e continncia (Smula n' 122, S1J). Em tais situaes, em ateno sobretudo unidade da jurisdio, com o objetivo de afastar a possibilidade de decises contraditrias e permitir o amplo aproveitamento das provas de um e outro, a afirmao da competncia federal ocorre mais em razo do critrio constitucional de distribuio de competncias que propriamente do afastamento da justia Estadual da regra do juiz natural. Efetivamente, como a competncia da justia Federal expressa, enquanto a da justia Estadual residual, tem-se que a jurisdio estadual somente ter lugar quando previamente afastadas as demais competncias (militar, eleitoral e federal). Assim, se presente um crime da competncia federal i, por isso, afirmada, de plano, a sua competncia, no ter aplicao a regra de competncia residual, quando prevista em lei a reunio obrigatria de ambos os processos. Em outras palavras: em tais situaes, a competncia residual regra de aplicao subsidiria, condicionada ao afastamento prvio e anterior da competnciaexpressa. 206EUGNIO PACELU DE OUVElRA;;::;;m~::~::~:~:~,:=:=::=::=:=,=:_""'~-----_:=:::,_c: Captulo 7 _ Jurisdioe Competnciac::::)Como se v, o princpio do juiz natural, institudo ratione materiae e ratione personae, configura hiptese de competncia absoluta, inafastvel por vontade das partes processuais, revelando a natureza pblica do interesse em disputa, somente se admitindo a sua flexibilizao por oportunidade da aplicao de norma da mesma estatura, ou seja, de norma ou princpio igualmente constitucionais. Observe-se, porm, que a fundamentao do princpio encontra suas razes na vedao do juzo ou tribunal de exceo, quando se exige a identificao do rgo jurisdicional antes do cometimento do crime, e na regra do juiz constitucionalmente competente, institudo em razo da matria e em razo da prerrogativa de funo. No viola o juiz natural, por exemplo, a designao de dois ou mais juzes para atuao conjunta em determinado juzo, em regime de mutiro, tampouco as modificaes de competncia realizadas no mbito da mesma jurisdio - federal, estadual, eleitoral-, quando previstas em regras de organizao judiciria, com O objetivo de estabelecer varas ou juzos especializados (txicos, acidentes de trnsito, crimes ambientais etc.). O juiz natural deve ser identificado, ento, na qualidade da jurisdio, e no na pessoa do juiz. Sobre a competncia jurisdicional fixada em leis de