12. os princípios do direito processual do trabalho e a possibilidade de aplicação subsidiária...

Upload: miguel-dias

Post on 10-Jan-2016

1 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Princípios Do Direito Processual Do abalho e a Possibilidade de Aplicação Subsidiária Do CPC Quando Há Regra Expressa Da

TRANSCRIPT

  • OS PRINCPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DOTRABALHO E A POSSIBILIDADE DE APLICAO

    SUBSIDI`RIA DO CPC QUANDO H` REGRAEXPRESSA DA CLT EM SENTIDO CONTR`RIO

    Mauro Schiavi*

    SUM`RIO: Os princpios do direito processual do trabalho e sua autonomia; Daaplicabilidade do CPC ao processo do trabalho, inclusive quando h regra expressana CLT em sentido contrrio; Concluses.

    OS PRINCPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E SUAAUTONOMIA

    E nsina Celso Antonio Bandeira de Mello1 que princpio por definio,

    mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposiofundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o esprito

    e servindo de critrio para sua exata compreenso e inteligncia, exatamente pordefinir a lgica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tnicae lhe d sentido harmnico.

    Dentre os princpios que do autonomia e suporte ao Direito do Trabalho,destaca-se o princpio protetor, ou princpio da proteo tutelar.

    A obra de Amrico Pl Rodriguez2 um clssico sobre os princpios e exerceugrande influncia em toda a Amrica Latina.

    Ensina o referido professor uruguaio3 que o fundamento do princpio protetorest ligado prpria razo de ser do Direito do Trabalho. Historicamente, o Direitodo Trabalho surgiu como conseqncia de que a liberdade de contrato entre pessoascom poder e capacidade econmica desiguais conduzia a diferentes formas deexplorao. Inclusive as mais abusivas e inquas. O legislador no pde mais mantera fico de igualdade existente entre as partes do contrato de trabalho e inclinou-separa uma compensao dessa desigualdade econmica desfavorvel ao trabalhador

    * Juiz do Trabalho na 2 Regio. Mestrando em Direito do Trabalho pela PUC/SP. Professor Univer-sitrio.

    1 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 8. ed. So Paulo: Malheiros,1997. p. 573.

    2 Los princpios de derecho del trabajo, Montevidu, 1975.

    3 Rodriguez, Amrico Pl. Princpios de direito do trabalho. 3. ed. So Paulo: LTr, 2000. p. 85.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56182

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007 183

    D O U T R I N A

    com uma proteo jurdica a ele favorvel. O Direito do Trabalho respondefundamentalmente ao propsito de nivelar desigualdades. Como dizia Couture: oprocedimento lgico de corrigir desigualdades o de criar outras desigualdades.

    Mrio Pasco4 assim define o Direito Processual do Trabalho:O Direito Processual do Trabalho , por definio objetiva, um direito

    instrumental; sua finalidade de atuar, na prtica, tornando efetivo e realo Direito Substantivo do Trabalho (Giglio, 1984, p. 374). Para esse fim, oprocesso deve guardar adequao com a natureza dos direitos que nele secontrovertem; e se as controvrsias e conflitos trabalhistas so intrinseca-mente distintos das controvrsias comuns, indispensvel a existncia deum direito processual que, atento a essa finalidade, seja adequado naturezae caracteres daqueles.Ainda h acirradas discusses na doutrina sobre possuir o Direito Processual

    do Trabalho princpios prprios, e que seja um ramo autnomo da cincia jurdica.Para muitos, o processo do trabalho tem os mesmos princpios do Direito

    Processual Civil, mxime aps a EC 45/2004 que atribuiu competncia Justiado Trabalho para dirimir todas as controvrsias oriundas da relao de trabalho,no estando mais restrita sua competncia aos litgios entre empregados eempregadores (art. 114, da CF, antiga redao)5 .

    Para se aquilatar a autonomia de determinado ramo do direito, necessrioavaliar se este determinado ramo do direito tem princpios prprios, uma legislaoespecfica, um razovel nmero de estudos doutrinrios a respeito e um objeto deestudo prprio.

    Ensina-nos Jorge Luiz Souto Maior6 :O direito um conjunto de normas e princpios voltado regulao

    da vida social. Para falar de um direito autnomo, um ramo do direito distintodo direito comum, preciso que se tenha um razovel nmero de normasvoltadas para um fato social especfico e que se identifiquem nestas leisprincpios prprios que lhe dem uma noo de conjunto, fornecendo-lheuma lgica particular e uma finalidade distinta.

    O Direito Processual do Trabalho, como sendo um ramo do DireitoProcessual, deve observar os princpios constitucionais do processo, tais como:imparcialidade do juiz; igualdade, contraditrio e ampla defesa; motivao das

    4 PASCO, Mario. Fundamentos do direito processual do trabalho. Reviso tcnica de Amauri Masca-ro Nascimento. So Paulo: LTr, 1997. p. 51.

    5 A nosso ver, com a redao dada pela EC/45, o termo relao de trabalho, para fins da competnciamaterial da Justia do Trabalho abrange as lides decorrentes de qualquer espcie de prestao detrabalho humano, preponderantemente pessoal, seja qualquer a modalidade do vnculo jurdico,prestado por pessoa natural em favor de pessoa natural ou jurdica. Abrange tanto as aesprepostas pelos trabalhadores, como as aes propostas pelos tomadores dos seus servios.

    6 MAIOR, Jorge Luiz Souto. A fria. Revista Trabalhista Direito e Processo, Rio de Janeiro: Forense,p. 71, jul./set. 2002.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56183

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007184

    D O U T R I N A

    decises; publicidade; proibio das provas ilcitas; devido processo legal; acesso justia e a uma ordem jurdica justa, e inafastabilidade da jurisdio.

    Sob outro enfoque, segundo a moderna teoria geral do direito, os princpiosde determinado ramo do direito tm que estar em compasso com os princpiosconstitucionais do processo. Por isso, deve o intrprete estudar determinadoprincpio ou norma infraconstitucional, realizar a chamada filtragem constitucional,isto , ler a norma infraconstitucional com os olhos da Constituio Federal. Nessesentido, ensina Marcelo Lima Guerra7: Em toda a sua atuao jurisdicional, aatividade hermenutica do juiz submete-se ao princpio da interpretao conformea Constituio, no seu duplo sentido de impor que a lei infraconstitucional sejasempre interpretada, em primeiro lugar, tendo em vista a sua compatibilizaocom a Constituio, e, em segundo lugar, de maneira a adequar os resultados prticosou concretos da deciso o mximo possvel ao que determinam os direitos fun-damentais em jogo. No mesmo sentido, manifesta-se Willis Santiago Guerra Filho8:Princpio da interpretao conforme a Constituio, que afasta interpretaescontrrias a alguma das normas constitucionais, ainda que favorea o cumprimentode outras delas. Determina, tambm, esse princpio, a conservao de norma, porinconstitucional, quando seus fins possam se harmonizar com preceitosconstitucionais, ao mesmo tempo em que estabelece como limite interpretaoconstitucional as prprias regras infraconstitucionais, impedindo que ela resultenuma interpretao contra legam, que contrarie a letra e o sentido dessas regras9.

    Em razo disso, muitos autores j defendem a existncia de um chamadoDireito Constitucional Processual ou Processo Constitucional10 que irradia seus

    7 GUERRA, Marcelo Lima. Execuo indireta. So Paulo: RT, 1998. p. 52/53.

    8 GUERRRA FILHO. Willis Santiago. Processo constitucional e direitos fundamentais. 4. ed. SoPaulo: RCS, 2005. p. 80.

    9 Para J. J. Gomes Canotilho: O princpio da interpretao das leis em conformidade com a constitui-o fundamentalmente um princpio de controle (tem como funo assegurar a constitucionalidadeda interpretao) e ganha relevncia autnoma quando a utilizao dos vrios elementos interpretativosno permite a obteno de um sentido inequvoco dentre os vrios significados da norma. Da a suaformulao bsica: no caso de normas polissmicas ou plurissignificativas deve dar-se preferncia interpretao que lhe d um sentido em conformidade com a Constituio. Esta formulao comportavrias dimenses: (1) o princpio da prevalncia da constituio impe que, dentre as vrias possibi-lidades de interpretao, s deve escolher-se uma interpretao no contrria ao texto e programa danorma ou normas constitucionais; (2) o princpio da conservao de normas afirma que uma normano deve ser declarada inconstitucional quando, observados os fins da norma, ela pode ser interpretadaem conformidade com a constituio; 3) o princpio da excluso da interpretao conforme a cons-tituio mas contra legem impe que o aplicador de uma norma no pode contrariar a letra e osentido dessa norma atravs de uma interpretao conforme a constituio, mesmo atravs desta inter-pretao consiga uma concordncia entre a norma infraconstitucional e as normas constitucionais.Quando estiverem em causa duas ou mais interpretaes todas em conformidade com a Constituio dever procurar-se a interpretao considerada como a melhor orientada para a Constituio.(CANOTILHO, J. J Gomes. Direito constitucional e teoria da constituio. 7. ed. Coimbra: Almedina,2003. p. 1226/1226

    10 Alguns autores preferem a expresso Constitucionalizao do Processo.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56184

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007 185

    D O U T R I N A

    princpios e normas a todos os ramos do direito processual, dentre eles o processodo trabalho. Desse modo, atualmente, os princpios e normas do direito processualdo trabalho devem ser lidos em compasso com os princpios constitucionais doprocesso, aplicando-se a hermenutica da interpretao conforme a constituio,tambm denominada por alguns autores de filtragem constitucional. Sendo assim,havendo, no caso concreto, choque entre um princpio do processo do trabalhoprevisto em norma infraconstitucional e um princpio constitucional do processo,prevalece este ltimo.

    O Processo do Trabalho tambm segue muitos dos princpios do DireitoProcessual Civil, como por exemplos, os princpios da inrcia, da instrumentalidadedas formas, oralidade, impulso oficial, eventualidade, precluso, conciliao eeconomia processual.

    Autores h que no conseguem enxergar princpios prprios no DireitoProcessual do Trabalho, asseverando que seus princpios so os mesmos do DireitoProcessual Civil.

    Nesse sentido a posio, dentre outros, de Valentin Carrion11 : O direitoprocessual se subdivide em processual penal e processual civil (em sentido lato, ouno penal). As subespcies deste so o processual trabalhista, processual eleitoral,etc. Todas as subespcies do direito processual civil se caracterizam por terem emcomum a teoria geral do processo; separam-se dos respectivos direitos materiais(direito civil, direito do trabalho, etc.) porque seus princpios e institutos so diversos.So direitos instrumentais que, ele sim, possuem os mesmos princpios e estudamos mesmos institutos. Os princpios de todo os ramos do direito no penal so osmesmos (celeridade, oralidade, simplicidade, instrumentalidade, publicidade etc.),e os institutos tambm (relao jurdica processual, revelia, confisso, coisa julgada,execuo definitiva, etc.). Assim, do ponto de vista jurdico, a afinidade do direitoprocessual do trabalho com o direito processual comum (civil, em sentido lato) muito maior (de filho para pai) do que com o direito do trabalho (que objeto de suaaplicao). Assim acontece com o cirurgio de estmago, cuja formao principalpertence clnica cirrgica, mais do que clnica mdica, que estuda o funcionamentoe tratamento farmacolgico daquele rgo. Isso leva concluso de que o direitoprocessual do trabalho no autnomo com referncia ao processual civil e nosurge do direito material laboral. O direito processual do trabalho no possui princpioprprio algum, pois todos os que o norteiam so do processo civil (oralidade, celeridade,etc.); apenas deu (ou pretendeu dar) a alguns deles maior nfase e revelo.

    Wilson de Souza Campos Batalha sustenta uma autonomia relativa doprocesso do Trabalho. Aduz o jurista12 : O Direito Processual do Trabalho tem

    11 CARRION, Valentin. Comentrios consolidao das leis do trabalho. 30. ed. So Paulo: Saraiva,2005. p. 578/579.

    12 BATALHA, Wilson de Souza Campos. Tratado de direito judicirio do trabalho. 2. ed. So Paulo:LTr, 1985. p. 139.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56185

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007186

    D O U T R I N A

    caractersticas prprias que lhe asseguram relativa autonomia [...] Bastaria umareferncia ao art. 769 da nossa Consolidao das Leis do Trabalho para tornar forade dvida a relatividade da autonomia do Direito Processual do Trabalho [...]Autonomia, como obtempera De Litala (op, cit., p. 19), autonomia de uma disciplinajurdica no significa independncia absoluta em relao s outras disciplinas.Assim, no obstante dotado de autonomia, o direito processual do trabalho est emsituao de interdependncia com as cincias processuais particulares, notadamentecom o direito processual civil, com o qual tem muitssimos pontos de contato.

    De outro lado, h quem sustente que os princpios do Direito Processual doTrabalho so os mesmos do Direito Material do Trabalho, mxime o princpio protetor13 .

    Nesse sentido a posio de Trueba Urbina14 , tanto as normas substantivascom as processuais so essencialmente protecionistas e tutelares dos trabalhadores.

    Para Couture o primeiro princpio fundamental do processo trabalhista relativo ao fim a que se prope, como procedimento lgico de corrigir asdesigualdades criando outras desigualdades. O Direito Processual do Trabalho elaborado totalmente com o propsito de evitar que o litigante mais poderoso possadesviar e entorpecer os fins da Justia15 .

    No Direito Processual do Trabalho Brasileiro, Srgio Pinto Martins16 afirmaque o verdadeiro princpio do processo do trabalho o protecionista. Assim como

    13 Ensina Amrico Pl Rodriguez que o fundamento do princpio protetor est ligado prpria razo deser do Direito do Trabalho. Historicamente, o Direito do Trabalho surgiu como conseqncia de que aliberdade de contrato entre pessoas com poder e capacidade econmica desiguais conduzia a diferentesformas de explorao. Inclusive as mais abusivas e inquas. O legislador no pde mais manter afico de igualdade existente entre as partes do contrato de trabalho e inclinou-se para uma compensa-o dessa desigualdade econmica desfavorvel ao trabalhador com uma proteo jurdica a ele favo-rvel. O Direito do Trabalho responde fundamentalmente ao propsito de nivelar desigualdades. Comodizia Couture: o procedimento lgico de corrigir desigualdades o de criar outras desigualdades(Princpios de direito do trabalho. 3. ed. So Paulo: LTr, 2000. p. 85). O princpio protetor se desdo-bra em trs regras bsicas: a) regra da norma mais benfica: no choque entre duas normas que regula-mentam a mesma matria, deve se prestigiar a regra que favorea o empregado; b) regra da condiomais benfica ou de direito adquirido do empregado. Segundo Pl Rodriguez, trata-se de um critriopelo qual a aplicao de uma nova norma trabalhista nunca deve servir para diminuir as condiesmais favorveis em que se encontrava um trabalhador. Nosso direito do trabalho encampou esta regrano art. 468, da CLT e no Enunciado n 51 do C. TST; c) regra do in dubio pro operrio: quando anorma propiciar vrios sentidos de interpretaes possveis, deve se prestigiar a interpretao maisfavorvel ao empregado. Segundo a doutrina dominante, esse critrio no se aplica no terreno proces-sual, devendo um juiz em caso de dvida julgar contra o litigante que detinha o nus probatrio. Adoutrina alinha outros princpios fundamentais do direito do trabalho, como os princpios da primaziada realidade, da continuidade da relao de emprego, da irrenunciabilidade de direitos, da irredutibili-dade de salrios, da boa f, da razoabilidade, da dignidade da pessoa humana, da justia social e daeqidade.

    14 Apud NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Dos princpios do direito processual do trabalho. In: Estu-dos relevantes de direito material e processual do trabalho. Estudos em Homenagem ao ProfessorPedro Paulo Teixeira Manus. So Paulo: LTr, 2000. p. 26.

    15 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit, p. 27.

    16 MARTINS, Srgio Pinto. Direito processual do trabalho. 16. ed. So Paulo: Atlas, 2001. p. 66.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56186

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007 187

    D O U T R I N A

    no Direito do Trabalho, as regras so interpretadas mais favoravelmente aoempregado, em caso de dvida, no processo do trabalho tambm vale o princpioprotecionista, porm analisado sob o aspecto do direito instrumental. Prossegue ocitado autor: No a Justia do Trabalho que tem cunho paternalista ao protegero trabalhador, ou o juiz que sempre pende para o lado do empregado, mas a lei queassim o determina. Protecionista o sistema adotado pela lei. Isso no quer dizer,portanto, que o juiz seja sempre parcial em favor do empregado, ao contrrio: osistema visa proteger o trabalhador.

    A nosso ver, embora o Direito Processual do Trabalho, hoje, esteja maisprximo do Direito Processual Civil e sofra os impactos dos Princpios Consti-tucionais do Processo, no h como se deixar de reconhecer alguns princpiospeculiares do Direito Processual do Trabalho os quais lhe do autonomia e o distinguedo Direito Processual Comum.

    De outro lado, embora alguns princpios do Direito Material do Trabalho,tais como: primazia da realidade, razoabilidade, boa-f, sejam aplicveis tambmao Direito Processual do Trabalho, a nosso ver, os Princpios do Direito Materialdo Trabalho no so os mesmos do Processo, uma vez que o processo tem carterinstrumental e os princpios constitucionais da isonomia e imparcialidade, aplicveisao processo do trabalho impedem que o Direito Processual do Trabalho tenha amesma intensidade de proteo do trabalhador prpria do Direito Material doTrabalho. No obstante, no h como se negar um certo carter protecionista noDireito Processual do Trabalho, que para alguns so princpios peculiares do processodo trabalho e para outros caractersticas do procedimento trabalhista, para asseguraro acesso efetivo do trabalhador Justia do Trabalho e tambm uma ordem jurdicajusta.

    No nosso sentir, so princpios peculiares do Direito Processual do Trabalho:

    a) protecionismo do empregado a fim de facilitar seu acesso Justia e uma ordem jurdica justa17 . Encontramos exemplos no art. 844, da CLTque prev hiptese de arquivamento da reclamao trabalhista em casode ausncia do reclamante, mas, se o reclamado for ausente, haver arevelia; inverso do nus da prova em favor do empregado. Facilidadeno acesso justia, inclusive sem a presena de advogado (art. 791, daCLT) e a possibilidade de petio verbal (art. 840, da CLT). No se tratado mesmo princpio da proteo do Direito Material do Trabalho, e simuma intensidade protetiva do trabalhador a fim de lhe assegurar algumasprerrogativas processuais para compensar eventuais entraves que enfrenta

    17 Esta regra protetiva do processo tambm aplicvel no Direito do Consumidor a fim de facilitar oacesso real Justia da parte vulnervel na relao jurdica de consumo, com regras de inverso donus da prova. Nesse sentido, o art. 6, VIII, da Lei n 8.078/1990, in verbis: a facilitao da defesade seus direitos, inclusive inverso do nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critriodo juiz, for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias deexperincia.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56187

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007188

    D O U T R I N A

    ao procurar a Justia do Trabalho em razo da hipossuficincia econmicae, muitas vezes, da dificuldade em provar suas alegaes, pois via deregra, os documentos da relao de emprego, ficam na posse doempregador;

    b) informalidade. Embora o procedimento seja de certa forma informal,isso no significa que certas formalidades no devam ser observadas,inclusive sobre a documentao do procedimento, pois o procedimentoescrito uma garantia da seriedade do processo;

    c) celeridade. Embora no seja uma caracterstica do Direito Processual doTrabalho, neste ramo do Direito, tal caracterstica se mostra, vez que otrabalhador postula um crdito de natureza alimentar;

    d) simplicidade. No h como se negar que o Processo do Trabalho maissimples e menos burocrtico que o Processo Civil. Como bem adverteJlio Csar Bebber18 : Os formalismos e a burocracia so os piores vcioscom capacidade absoluta e entravar o funcionamento do processo. Ostentculos que deles emanam so capazes de abranger e de se instalarcom efeitos nefastos, pelo que exige-se que a administrao da justiaseja estruturada de modo a aproximar os servios das populaes deforma simples, a fim de assegurar a celeridade, a economia e a eficinciadas decises;

    e) oralidade. O processo do trabalho essencialmente um procedimentooral. Embora este princpio tambm faa parte do Direito Processual Co-mum, no Processo do Trabalho ele se acentua, com a primazia da pala-vra; concentrao dos atos processuais em audincia; maior interati-vidade ente juiz e partes; irrecorribilidade das decises interlocutrias eidentidade fsica do juiz19;

    f) um poder mais acentuado do Juiz do Trabalho na Direo do Processo.O art. 765 da CLT possibilita ao juiz do trabalho maiores poderes nadireo do processo, podendo ex officio, determinar qualquer dilignciaprocessual, inclusive so amplos os poderes instrutrios do juiz dotrabalho;

    g) procedimento mais gil, no havendo o processo de execuo, pois uma fase do processo (procedimento sincrtico20 ). Conforme o art. 878da CLT, a execuo da sentena trabalhista poder ser promovida deofcio pelo juiz do trabalho;

    18 BEBBER, Jlio Csar. Princpios do processo do trabalho. So Paulo: LTr, 1997. p. 132.

    19 Acreditamos que, com a extino da representao classista na Justia do Trabalho pela EC 24/1999,a Smula n 136 do c. TST, que diz no ser aplicvel Justia do Trabalho o princpio da identidadefsica do Juiz, restou tacitamente revogada.

    20 A Lei n 11.232 supriu a fase o processo de execuo para na execuo por ttulo executivo judicial.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56188

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007 189

    D O U T R I N A

    h) subsidiariedade. Na fase de conhecimento, o art. 769 da CLT asseveraque o direito processual comum fonte do Direito Processual do Trabalhoe, na fase de execuo, o art. 889 da CLT determina que, nos casosomissos, dever ser aplicada no Processo do Trabalho a Lei de ExecuoFiscal (Lei n 6.830/1980)21 .

    DA APLICABILIDADE DO CPC AO PROCESSO DO TRABALHO,INCLUSIVE QUANDO H` REGRA EXPRESSA NA CLT EM SENTIDOCONTR`RIO

    O art. 769 da CLT disciplina os requisitos para aplicao subsidiria doDireito Processual Comum ao Processo do Trabalho, com a seguinte redao:

    Nos casos omissos, o direito processual comum ser fonte subsidiriado direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatvelcom as normas deste Ttulo.

    Conforme a redao do referido dispositivo legal, so requisitos para aaplicao do Cdigo de Processo Civil ao Processo do Trabalho:

    a) omisso da CLT, ou seja, quando a CLT, ou a legislao processualextravagante no disciplina a matria;

    b) compatibilidade com os princpios que regem o processo do trabalho.Vale dizer: a norma do CPC, alm de ser compatvel com as regras queregem o Processo do Trabalho, deve ser compatvel com os princpiosque norteiam o Direito Processual do Trabalho, mxime o acesso dotrabalhador Justia.

    Atualmente, diante das recentes alteraes do Cdigo de Processo Civil,levadas a efeito, principalmente pelas Leis ns 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 1277/2006 e 11.280/2006, crescem as discusses sobre a aplicao subsidiriado Cdigo de Processo Civil ao Processo do Trabalho e se possvel a aplicao daregra processual civil se h regra expressa em sentido contrrio na CLT.

    Manoel Antonio Teixeira Filho se mostra frontalmente contrrio aplicaodo CPC quando a CLT tem regra prpria. Aduz o jurista22 :

    21 Como bem advertem Pedro Paulo Teixeira Manus e Carla Teresa Martins Romar: A aplicao danorma processual civil no processo do trabalho s admissvel se houve omisso da CLT. Ademais,ainda que ocorra, caso acaso preciso verificar se a aplicao do dispositivo do processo civil no geraincompatibilidade com os princpios e nem as peculiaridades do processo do trabalho. Se assim ocorrerh se de proceder aplicao do Instituto do processo comum, adaptando-o realidade. Tal circuns-tncia implica critrios nem sempre uniformes entre os vrios juzos, ensejando discusses e divergn-cias at certo ponto inevitveis (CLT e legislao complementar em vigor. 6. ed. So Paulo: Malheiros,2006. p. 219).

    22 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Processo do trabalho embargos execuo ou impugnao sentena? (A propsito do art. 475-J, do CPC), Revista LTr 70-10/1180.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56189

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007190

    D O U T R I N A

    Todos sabemos que o art. 769, da CLT, permite a adoo supletivade normas do processo civil desde que: a) a CLT seja omissa quanto matria;b) a norma do CPC no apresente incompatibilidade com a letra ou com oesprito do processo do trabalho.

    No foi por obra do acaso que o legislador trabalhista inseriu orequisito da omisso antes da compatibilidade: foi, isto sim, em decorrnciade um proposital critrio lgico-axiolgico. Desta forma, para que se possacogitar da compatibilidade, ou no, de norma do processo civil com a dotrabalho absolutamente necessrio, ex vi legis, que antes disso, se verifique,se a CLT se revela omissa a respeito do material. Inexistindo omisso,nenhum intrprete estar autorizado a perquirir sobre a mencionadacompatibilidade. Aquela constitui, portanto, pressuposto fundamental desta.

    Jorge Luiz Souto Maior23 favorvel aplicabilidade do CPC ao Processodo Trabalho, observados os requisitos da efetividade processual e melhoria daprestao jurisdicional trabalhista, com os seguintes argumentos:

    Das duas condies fixadas no art. 769, da CLT, extrai-se umprincpio, que deve servir de base para tal anlise: a aplicao de normas doCdigo de Processo Civil no procedimento trabalhista s se justifica quandofor necessria e eficaz para melhorar a efetividade da prestao jurisdicionaltrabalhista.

    [...] O direito processual trabalhista, diante do seu carter instru-mental, est voltado aplicao de um direito material, o direito do trabalho,que permeado de questes de ordem pblica, que exigem da prestaojurisdicional muito mais que celeridade; exigem que a noo de efetividadeseja levada s ltimas conseqncias. O processo precisa ser rpido, mas,ao mesmo tempo, eficiente para conferir o que de cada um por direito,buscando corrigir os abusos e obtenes de vantagens econmicas que seprocura com o desrespeito ordem jurdica.

    Pensando no aspecto instrumental do processo, vale lembrar que odireito material trabalhista um direito social por excelncia, cuja ineficciapode gerar graves distrbios tanto de natureza econmica quanto social.

    [...] Ainda nesta linha, de fixar pressupostos tericos necessriospara a anlise da questo da subsidiariedade do processo comum ao processodo trabalho, partindo do princpio de que se deve priorizar a melhoria daprestao jurisdicional, importante, por fim, deixar claro que sendo ainovao do processo civil efetivamente eficaz, no se poder recusar suaaplicao no processo do trabalho com o argumento de que a CLT no omissa.

    23 MAIOR, Jorge Luiz Souto. Reflexos das alteraes no cdigo de processo civil no processo do traba-lho. Revista LTr 70-08/920.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56190

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007 191

    D O U T R I N A

    Ora, se o princpio o da melhoria contnua da prestao jurisdicional,no se pode utilizar o argumento de que h previso a respeito na CLT,como forma de rechaar algum avano que tenha havido neste sentido noprocesso civil, sob pena de se negar a prpria inteno do legislador aofixar os critrios da aplicao subsidiria do processo civil. Notoriamente, oque se pretendeu (da o aspecto teleolgico da questo) foi impedir que airrefletida e irrestrita aplicao das normas do processo civil evitasse a maiorefetividade da prestao jurisdicional trabalhista que se buscava com a criaode um procedimento prprio na CLT (mais clere, mais simples, maisacessvel). Trata-se, portanto, de uma regra de proteo, que se justificahistoricamente. No se pode, por bvio, usar a regra de proteo do sistemacomo bice ao seu avano. Do contrrio, pode-se ter por efeito um processocivil mais efetivo que o processo do trabalho, o que inconcebvel, j que ocrdito trabalhista merece tratamento privilegiado no ordenamento jurdicocomo um todo.

    Em suma, quando h alguma alterao no processo civil o seu reflexona esfera trabalhista s pode ser benfico, tanto no prisma do processo dotrabalho quanto do direito do trabalho, dado o carter instrumental da cinciaprocessual.24

    A nosso ver, o direito processual do trabalho foi criado para propiciar ummelhor acesso do trabalhador Justia, bem como suas regras processuais devemconvergir para um clere e efeito acesso do trabalho Justia do Trabalho.

    Esses princpios basilares do Direito Processual do Trabalho devem orientaro intrprete a todo momento. No possvel, a custa de se manter a autonomia doprocesso do trabalho e a vigncia de suas normas, sacrificar o acesso do trabalhador Justia do Trabalho, bem como o clere recebimento de seu crdito alimentar.

    Diante dos princpios constitucionais que norteiam o processo25 e tambmda fora normativa dos princpios constitucionais, no possvel uma interpretaoisolada da CLT, vale dizer: divorciada dos princpios constitucionais do processo,

    24 Nesse mesmo sentido, fundamentando a possibilidade de aplicao da regra mais efetiva do CPC,mesmo no havendo omisso da CLT, com suporte nos princpios constitucionais do processo, aviso de lisson Miessa dos Santos, fundamentando a aplicao subsidiria do CPC, mesmo no ha-vendo omisso da CLT com suporte na prpria Emenda Constitucional n 45/2004, que introduziucomo direitos fundamentais os princpios da celeridade e efetividade processual e tambm no carterinstrumental da cincia processual (A multa do artigo 475-J do CPC e sua aplicao no Processo doTrabalho, Suplemento Trabalhista 103/06, p. 438/439).

    25 Como bem adverte Daniel Sarmento: Na verdade, os princpios no possuem fattispecie , razo pelaqual no permitem subsunes. Por isso, no podem ser aplicado mecanicamente, exigindo um esforointerpretativo maior do seu aplicador. Como afirmou Sagrebelsky, se o ordenamento no contivesseprincpios e fosse todo composto apenas por regras, seria vantajoso substituir todos os juzes por com-putadores, diante do automatismo do processo de aplicao do direito (Direitos fundamentais e rela-es privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 82/83).

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56191

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007192

    D O U T R I N A

    mxime o do acesso efetivo e real justia do trabalho, durao razovel do processo,bem como a uma ordem jurdica justa, para garantia acima de tudo, da dignidadeda pessoa humana26 do trabalhador e melhoria da sua condio social27 .

    Assim, como o Direito Material do Trabalho adota do princpio protetor,que tem como um dos seus vetores a regra da norma mais benfica, o DireitoProcessual do Trabalho, por ter carter protetivo e por ser um direito, acima detudo instrumental, com maiores razes que o direito material, pode adotar o princpioda norma mais benfica, e diante de duas regras processuais que possam ser aplicadas mesma hiptese, escolher a mais efetiva, ainda que seja a do Direito ProcessualCivil e seja contrria CLT.

    Para escolher dentre duas regras a mais efetiva, o intrprete deve se valerdos princpios da eqidade e razoabilidade e proporcionalidade. Adverte com

    26 Ensina Ingo Wolfgan Sartel: Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrnseca e distin-tiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e considerao por partedo Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamen-tais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, comovenham a lhe garantir as condies existenciais mnimas para uma vida saudvel, alm de propiciar epromover sua participao ativa e co-responsvel nos destinos da prpria existncia e da vida emcomunho com os demais seres humanos (SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humanae direitos fundamentais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. p. 60). Fbio KonderComparato, se referindo filosofia Kantiana, adverte com propriedade, ora, da dignidade da pessoano consiste apenas no fato de ser ela, diferentemente das coisas, um ser considerado e tratado, em simesmo, como um fim em si e nunca como meio para a consecuo de determinado resultado. Elaresulta tambm do fato de que, pela sua vontade racional, s a pessoa vive em condies de autonomia,isto , como ser capaz de guiar-se pelas leis que ele prprio edita. Da decorre, como assinalou ofilsofo, que todo homem tem dignidade e no um preo, como as coisas. A humanidade como espcie,e cada ser humano em sua individualidade, propriamente insubstituvel: no equivale, no pode sertrocado por coisa alguma (A afirmao histria dos direitos humanos. 3. ed. So Paulo: Saraiva,2004. p. 22). A dignidade da pessoa humana est prevista no art. 1, III, da CF, como um dos funda-mentos da Repblica Federativa do Brasil e constitui um legado incontestvel das filosofias de SoToms de Aquino e de Kant. O ser humano um fim em si mesmo e, jamais, um meio para atingirdeterminado fim. O ser humano um sujeito de direito e no objeto do direito. Alm disso, a nosso ver,o ser humano e o fundamento e o fim ltimo do Direito e de toda cincia humana. Por isso, em todaatividade criativa ou interpretativa do Direito, deve-se sempre adaptar o direito ao ser humano e no oser humano ao Direito. A Constituio brasileira assegura, em vrios artigos, a proteo do ser huma-no, seja fazendo referncia ao princpio da dignidade da pessoa humana, seja protegendo a vida, asade, garantindo a igualdade, a liberdade, a segurana e, as condies dignas de sobrevivncia pormeio da proteo maternidade e infncia. Igualmente, estende-se a proteo ao ambiente ecologica-mente equilibrado e sadia qualidade de vida a ser assegurada gerao presente e futura (arts. 1, III;5, caput; 203, I, e 225 da Constituio Federal de 1988).

    27 O Direito do Trabalho um produto do sculo XIX e surge para garantir a melhoria da condio socialdo trabalhador, nivelando as desigualdades entre o capital e o trabalho e, acima de tudo, consagrar adignidade da pessoa humana do trabalhador, bem como ressaltar os valores sociais do trabalho, comofundamentos para uma sociedade justa e solidria. Na clssica definio de Octavio Bueno Magano, odireito do trabalho conceitua-se como o conjunto de princpios, normas e instituies, que se aplicam relao de trabalho, tendo em vista a proteo do trabalhador e a melhoria de sua condio social(ABC do direito do trabalho. 1. ed. So Paulo: RT, 1998. p. 10. Ensina Magano que a referncia melhoria da condio social do trabalhador indica o fundamento do direito do trabalho, o fim para oqual convergem suas normas e instituies (Op. cit., p. 11).

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56192

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007 193

    D O U T R I N A

    propriedade Joo Batista Lopes, referindo-se ao princpio da proporcionalidade naseara processual: no campo do processo civil, intensa sua aplicao, tanto noprocesso de conhecimento como no de execuo e no cautelar. No dia-a-dia forense,v-se o juiz diante de princpios em estado de tenso conflitiva, que o obrigam aavaliar os interesses em jogo para adotar a soluo que mais se ajuste aos valoresconsagrados na ordem jurdica. O princpio da proporcionalidade tem ntima relaocom a efetividade do processo na medida em que, ao solucionar o conflito, segundoos ditames da ordem constitucional, est o juiz concedendo a adequada proteo aodireito e atendendo aos escopos do processo28 .

    Conforme sis de Almeida29 , se certo que um direito processual semprecontm princpios bsicos de fundo e de forma comuns a outras espcies de direitoadjetivo, certo, por outro lado, que, na interpretao e na aplicao dessesprincpios, o juiz ou jurista tem de levar em conta a ndole do direito substantivo aque correspondem s regras em exame. Torna-se, portanto, necessrio que seestabeleam normas de direito positivo capazes de delimitar a liberdade criativaque se outorga ao intrprete ou ao aplicador. No h direito especial sem juizprprio, nem matria jurdica especial sem um direito autnomo.

    Vale mencionar que h projeto de lei em trmite no Congresso Nacionalvisando alterao do art. 769 da CLT (PN 7.152/2006, que acrescenta o pargrafonico ao art. 769), com a seguinte redao:

    Pargrafo nico do art. 769, da CLT: O direito processual comum tam-bm poder ser utilizado no processo do trabalho, inclusive na fase recursal oude execuo, naquilo que permitir maior celeridade ou efetividade de jurisdio,ainda que existe norma previamente estabelecida em sentido contrrio.Nos parece que o presente projeto de lei vai ao encontro do que procuramos

    defender neste estudo. Nota-se que, se o projeto for aprovado, o legislador estardando um grande passou para a efetividade e celeridade do processo, bem comomelhoria do acesso do trabalhador Justia do Trabalho. No queremos defender adesconsiderao do processo do trabalho, ou a sua extino, at mesmo porque oprocesso do trabalho apresenta um procedimento simples, efetivo, e que tem obtidoresultados satisfatrios, mas sim aperfeio-lo, para que continue efetivo eproduzindo resultados satisfatrios.

    Por fim, cumpre destacar as lcidas palavras de Cndido Rangel Dinamarco30:Para o adequado cumprimento da funo jurisdicional, indis-

    pensvel boa dose de sensibilidade do juiz aos valores sociais e s mutaesaxiolgicas da sua sociedade. O juiz h de estar comprometido com esta ecom as suas preferncias. Repudia-se um juiz indiferente, o que corresponde

    28 LOPES, Joo Batista. Princpio de proporcionalidade e efetividade do processo civil. Estudos dedireito processual civil. Homenagem ao Professor Egas Dirceu Moniz de Arago. Coord. Luiz Gui-lherme Marinoni. So Paulo: RT, 2005. p. 135.

    29 ALMEDIA, sis. Manual de direito processual do trabalho. 9. ed. So Paulo: LTr, v. 1, 1998. p. 19.30 DINAMARCO, Cndido Rangel. A instrumentalidade do processo. 12. ed. So Paulo: Malheiros,

    2005. p. 361.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56193

  • Rev. TST, Braslia, vol. 73, n 1, jan/mar 2007194

    D O U T R I N A

    a repudiar tambm o pensamento do processo como instrumento meramentetcnico. Ele um instrumento poltico de muita conotao tica e o juizprecisa estar consciente disso. As leis envelhecem e tambm podem ter sidomal feitas. Em ambas as hipteses carecem de legitimidade as decises queas considerem isoladamente e imponham o comando emergente da merainterpretao gramatical. Nunca dispensvel a interpretao dos textoslegais no sistema da prpria ordem jurdica positiva em consonncia comos princpios e garantias constitucionais (interpretao sistemtica) esobretudo luz dos valores aceitos (interpretao sociolgica, axiolgica).

    CONCLUSES

    a) Embora o Direito Processual do Trabalho esteja hoje mais prximo doDireito Processual Civil e sofra os impactos dos Princpios Constitucionaisdo Processo, no h como se deixar de reconhecer alguns princpiospeculiares do Direito Processual do Trabalho, os quais lhe do autonomiae o distingue do Direito Processual Comum;

    b) Conforme o art. 769, da CLT, so requisitos para a aplicao do Cdigode Processo Civil ao Processo do Trabalho: a) omisso da CLT, ou seja,quando a CLT, ou a legislao processual extravagante no disciplina amatria; b) compatibilidade com os princpios que regem o processo dotrabalho. Vale dizer, a norma do CPC alm de ser compatvel com asregras que regem o Processo do Trabalho, devem ser compatvel com osprincpios que norteiam o Direito Processual do Trabalho, mxime oacesso do trabalhador Justia;

    c) Diante dos princpios constitucionais que norteiam o processo e tambmda fora normativa dos princpios constitucionais, no possvel umainterpretao isolada da CLT, vale dizer, divorciada dos princpiosconstitucionais do processo, mxime o do acesso efetivo e real justiado trabalho, da razovel durao do processo, bem como a uma ordemjurdica justa, para garantia acima de tudo, da dignidade da pessoahumana do trabalhador e melhoria da sua condio social. Assim, comoo Direito Material do Trabalho adota do princpio protetor, que tem comoum dos seus vetores a regra da norma mais benfica, o Direito Processualdo Trabalho, por ter carter protetivo e por ser um direito acima de tudoinstrumental, com maiores razes que o direito material, pode adotar oprincpio da norma mais benfica, e diante de duas regras processuaisque podem ser aplicadas mesma hiptese, escolher a mais efetiva,ainda que seja a do Direito Processual Civil e seja contrria CLT.

    TST_73-1.p65 07/04/2008, 12:56194