10 - fred didier (aula lfg)

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LFG – PROCESSO CIVIL – Aula 10 – Prof. Fredie Didier – Intensivo I – 08/04/2009 As hipóteses de cabimento de nomeação do curador especial estão previstas no art. 9º, do CPC: “Art. 9º O juiz dará curador especial: I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;” Se o incapaz não tem representante, o ideal é que você nomeie o representante dele, o tutor dele, o curador dele. Se você consegue isso, ele passa a ter representante e está resolvido o problema. Só que às vezes não dá tempo de fazer isso. Às vezes não dá tempo de você entrar com uma ação para nomear o tutor, o curador. Aí o juiz nomeia um curador especial que, como expliquei pra vocês, é um representante só para o processo. Se o incapaz não tem representante, o juiz pode nomear um curador especial para representá-lo só naquele processo. E também quando o incapaz está brigando com o seu representante. Ele tem representante, mas está em conflito com ele. Eu já vi dois casos interessantes sobre isso. O primeiro é o seguinte: o guri entrou com investigação de paternidade representado pela mãe. Depois a mãe desistiu da investigação de paternidade. Ora, a mãe é representante do guri, desistir disso é meio estranho. O que o juiz fez? Entendeu que a mãe, representante, estava contra os interesses do incapaz, e nomeou ao incapaz naquele processo um curador especial. O outro caso é o seguinte: o inventário é representado pelo inventariante, que era a viúva. O espólio é representado pelo inventariante que é a viúva. Olha o que ela fez: entrou com uma ação contra o espólio, ou seja, entrou com uma ação contra alguém que ela representa. O espólio estava em conflito com o representante. Aí o juiz teve que nomear curador especial para o espólio. “II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa”. Réu preso é, para o processo civil, alguém que não tem capacidade processual plena. O réu preso é considerado alguém que não consegue se defender sozinho. É preciso nomear a ele curador especial. É preciso nomear também curador especial ao réu revel citado por edital ou com hora certa. Se o réu foi revel, tendo sido 11 11

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Bibliografia:

LFG PROCESSO CIVIL Aula 10 Prof. Fredie Didier Intensivo I 08/04/2009

As hipteses de cabimento de nomeao do curador especial esto previstas no art. 9, do CPC:

Art.9O juiz dar curador especial:

I-ao incapaz, se no tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;

Se o incapaz no tem representante, o ideal que voc nomeie o representante dele, o tutor dele, o curador dele. Se voc consegue isso, ele passa a ter representante e est resolvido o problema. S que s vezes no d tempo de fazer isso. s vezes no d tempo de voc entrar com uma ao para nomear o tutor, o curador. A o juiz nomeia um curador especial que, como expliquei pra vocs, um representante s para o processo. Se o incapaz no tem representante, o juiz pode nomear um curador especial para represent-lo s naquele processo.

E tambm quando o incapaz est brigando com o seu representante. Ele tem representante, mas est em conflito com ele. Eu j vi dois casos interessantes sobre isso. O primeiro o seguinte: o guri entrou com investigao de paternidade representado pela me. Depois a me desistiu da investigao de paternidade. Ora, a me representante do guri, desistir disso meio estranho. O que o juiz fez? Entendeu que a me, representante, estava contra os interesses do incapaz, e nomeou ao incapaz naquele processo um curador especial. O outro caso o seguinte: o inventrio representado pelo inventariante, que era a viva. O esplio representado pelo inventariante que a viva. Olha o que ela fez: entrou com uma ao contra o esplio, ou seja, entrou com uma ao contra algum que ela representa. O esplio estava em conflito com o representante. A o juiz teve que nomear curador especial para o esplio.

II-ao ru preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa.

Ru preso , para o processo civil, algum que no tem capacidade processual plena. O ru preso considerado algum que no consegue se defender sozinho. preciso nomear a ele curador especial.

preciso nomear tambm curador especial ao ru revel citado por edital ou com hora certa. Se o ru foi revel, tendo sido citado por edital ou por hora certa, nomeia-se curador especial. A razo de ser aqui simples. Citao por edital e por hora certa so citaes fictas. No se sabe, verdadeiramente, se o cara foi citado. Se o sujeito recebeu a citao. Se ele foi revel, voc fica na insegurana. Para proteger o ru revel citado por edital ou por hora certa, o juiz nomeia curador especial para fazer a defesa dele.

Observem que ru preso e ru revel citado por edital ou por hora certa. Ou seja, no ru revel preso. Cuidado com essa pegadinha. O ru preso, revel ou no, tem curador especial. A doutrina critica muito isso. Diz que no tem sentido dizer que todo ru preso merece curador especial. Paulo Maluf ficou preso 45 dias. Ele merece curador especial? at estranho. Ele preso e nomeia um defensor pblico para ser curador especial dele? Ento, quando se fala em ru preso, leia-se ru preso com dificuldade de se defender, porque seno fica uma situao esdrxula.

Capacidade Processual das Pessoas Casadas

Eu disse que as pessoas casadas, embora sejam capazes civelmente, sofrem algumas restries em sua capacidade processual. Essas restries esto previstas no art. 10, do CPC, que tem, alm do caput, dois pargrafos. So trs dispositivos. Convm separar cada um no caderno porque so bem diferentes entre si. Os trs cuidam das restries capacidade processual das pessoas casadas, mas so bem diferentes. O caput diz respeito ao polo ativo:

Art.10.O cnjuge somente necessitar do consentimento do outro para propor aes que versem sobre direitos reais imobilirios.

Se o cnjuge quiser propor uma ao real imobiliria tem que ter o consentimento do outro. O consentimento pode vir por qualquer forma. livre. Percebam bem: pedir o consentimento de minha esposa, no significa que ela tenha que ir comigo. Os dois no precisam ir juntos. O caput do art. 10 no cuida de litisconsrcio necessrio ativo. Isso um erro que vocs costumam cometer. Eu tenho uma filha de 5 anos, quando fizer 15, ela vai se dirigir a mim e vai dizer: quero sair com meus amigos. Se eu autorizo, isso significa que tenho que ir com ela? No. Pedir consentimento no significa que os dois tenham que ir juntos. Pedir consentimento : posso ir? Pode! Ento eu vou. Vou sozinho. Podem ir em litisconsrcio? Podem, s que facultativo, e no necessrio. Essa regra decorre do direito civil. O Cdigo Civil determina isso e desde 1916 j determinava isso. O CPC apenas reproduziu. No novidade. decorrncia da legislao de direito material, que j existia desde 1916.

Agora vou falar uma pegadinha do mais alto gabarito: acontece que o Cdigo Civil de 1916, o CPC de 1973 e o Cdigo Civil novo de 2002. O que foi que aconteceu? O Cdigo Civil novo mudou o regramento que havia no Cdigo de 1916 e esqueceram de mudar o art. 10, do CPC. Ento, o que acontece? Hoje, o artigo 10, do CPC, tem que ser interpretado de acordo com o novo regramento do assunto que consta do Cdigo Civil. E onde est esse regramento? No art. 1647, que diz o seguinte: Diz que esse consentimento no mais exigido em caso de separao absoluta. A est a diferena. Antes o consentimento era exigido qualquer que fosse o regime de casamento. Agora, pelo art. 1647, do Cdigo Civil novo, mudou:

Art. 1.647. (...) nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao do outro, exceto no regime da separao absoluta:

Ento, o art. 10 tem que serinterpretado conjuntamente como art. 1647, do CC. E a vai a dica: vocs vejam que uma dica na hora de uma prova. O art. 10 fala de pessoas casadas, aes reais e imobilirias. H uma tendncia grande de que sempre que houver casamento e imvel no meio, s se ter a coisa perfeita se os dois estiverem participando. Vai propor uma ao real imobiliria? Os dois tm que participar. Isso repercute no Cdigo todo. Se penhora bem imvel, o cnjuge tem que ser intimado. Isso, ao longo de toda legislao assim. Tem imvel no meio? pessoa casada? Chama os dois para saber o que est acontecendo. Toda essa legislao que mistura imvel e pessoas casadas foi alterada por esse dispositivo. A participao do outro cnjuge, envolvendo imvel, est excluda se se tratar de regime de separao absoluta. Isso uma novidade. O sistema todo mudou. Penhorou bem imvel, vai intimar o outro cnjuge? Vai, salvo se o casamento for no regime de separao absoluta. Tudo isso mudou. uma mudana silenciosa, mas que todo mundo sabe. Tem que ficar ligadssimo com isso.

E se o cnjuge se recusar a dar ou no pode dar o consentimento? Ou ele se recusa porque est de birra ou no pode dar porque est na guerra. O que fazer? O cnjuge que no foi autorizado, quer porque o outro no podia autorizar, quer porque no quis autorizar, vai ao juiz de famlia pedir o suprimento da outorga para mostrar, por exemplo, que a recusa no foi justa. O juiz, pois, pode suprir o consentimento (art. 11, do CPC e art. 1648, do Cdigo Civil).

Se aplica unio estvel essa inteligncia? A lei no fala absolutamente nada. A questo : possvel tratar por analogia? H os que digam que sim (j que unio estvel equiparada a casamento), e h os que digam que no, porque embora a unio estvel se assemelhe a uma famlia, informal. Ela no tem documentao. No h registro. E porque no h registro j que as prprias pessoas envolvidas no quiseram isso, fica difcil saber quando foi que comeou a unio estvel, mas fica difcil precisar porque uma poca, um perodo (foi pelo carnaval que a gente comeou), no tem uma data certa. E por isso traria uma insegurana muito grande se voc exigir o consentimento na unio estvel. Ento, esses so os dois aspectos: proteger a familial (no sentido de que aplica) e proteger a segurana jurdica (no sentido de que no se aplica).

Meu ponto de vista: se houvesse nos autos notcia da unio estvel, eu mandava ouvir, para evitar problemas depois. Mas um problema sem soluo legislativa expressa. H quem faa, para minimizar isso, como eu sugiro: para mim, atualmente, a pessoa que vive em unio estvel, tem que declarar isso na inicial: Brasileiro, em unio estvel....

Imagine que o cnjuge proponha a ao sem o consentimento do outro cnjuge. Props indevidamente. Pergunto: pode o juiz indeferir a petio inicial por isso? Pode dizer que como no h consentimento nem admito a inicial? O juiz pode controlar ex officio a falta de consentimento? Essa eu reputo a pergunta mais difcil desse assunto, envolvendo pessoas casadas e processo. Por que? Porque a gente fica na cabea com a idia de que falta de pressuposto processual pode ser conhecida de ofcio. Nesse caso, no pode. Isso algo que diz respeito ao outro cnjuge. Isso um problema do lar. O juiz no tem nada com o fato de o outro no ter autorizado. O juiz no pode, de ofcio, no admitir a demanda. E como que voc sabe disso? Olhe para o art. 1649, do Cdigo Civil:

Art. 1.649. A falta de autorizao, no suprida pelo juiz, quando necessria (art. 1.647), tornar anulvel o ato praticado, podendo o outro cnjuge pleitear-lhe a anulao, at dois anos depois de terminada a sociedade conjugal.

Ou seja, s o outro cnjuge, s o cnjuge preterido pode pedir que o juiz desconsidere uma demanda sem autorizao. O que que o juiz tem que fazer? Diante da falta de autorizao, o juiz deve mandar intimar o outro cnjuge. E a o outro cnjuge intimado diz o que est a fim de fazer. Terminamos o polo ativo, vamos agora para o polo passivo, que est no 1, do art. 10. Esse artigo 10 figurinha fcil em concurso. Por isso tem que estar exaurido.

Nos casos previstos no 1, do art.10, o litisconsrcio tem que ser necessrio. A, sim, o caso do litisconsrcio necessrio. Ambos os cnjuges tm que ser citados. Trata do litisconsrcio necessrio passivo.

1Ambos os cnjuges sero necessariamente citados para as aes:

I-que versem sobre direitos reais imobilirios;

Mesma coisa, s que a ao que versa sobre direito real imobilirio no polo ativo exige o consentimento do outro. No polo passivo, ambos tm que ser citados. O cnjuge que queira propor uma ao real imobilirio exige o consentimento do outro. Agora, se a ao real imobiliria for proposta contra o cnjuge, ambos tm que ser citados.

II-resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cnjuges ou de atos praticados por eles;

Se eu alego que o ato foi praticado por ambos os cnjuges por fato que diz respeito a ambos os cnjuges, tem que citar ambos. Aqui o caso de responsabilidade civil por fato de terceiro, por fato da coisa e responsabilidade civil por ato prprio. A responsabilidade pode ser por ato ou por fato. Se a responsabilidade civil for por fato que diga respeito a ambos os cnjuges, ambos tm que ser citados. Se a responsabilidade civil diga respeito a ato praticado por ambos os cnjuges, ambos tm que ser citados. um caso de litisconsrcio necessrio em ao de responsabilidade civil.

III-fundadas em dvidas contradas pelo marido a bem da famlia, mas cuja execuo tenha de recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens reservados;

O inciso III est revogado. de um tempo que no mais o nosso. Alguns textos de lei so rinocerontes (algo esquecido pela evoluo e que foi ficando, ficando...). Esse inciso isso no existe mais. Como interpretar isso? um dispositivo que foi completamente alterado pelo Cdigo Civil novo. Se eu cobro dvidas contradas por um cnjuge em benefcio da famlia, ambos tm que ser citados. Se a dvida cobrada foi contrada para a economia domstica, ambos tm que ser citados. E a no importa quem contraiu. O dispositivo do Cdigo Civil relacionado a este texto o art. 1643.

IV(Devem ser citados nas aes) que tenham por objeto o reconhecimento, a constituio ou a extino de nus sobre imveis de um ou de ambos os cnjuges.

A ao que tenha por objeto nus sobre imveis exige litisconsrcio necessrio. a mesma histria do inciso I: Envolve imvel e tem cnjuge no polo passivo, cita os dois.

2Nas aes possessrias, a participao do cnjuge do autor ou do ru somente indispensvel nos casos de composse ou de ato por ambos praticados.

Vimos o caput e o caput fala do polo ativo, o 1 que fala do polo passivo. O 2 no cuida nem do polo ativo e nem do passivo. Cuida das aes possessrias, qualquer que seja. E a, em ambos os polos, ativo e passivo. O que participao aqui? Participao, se for no polo ativo, se d pelo consentimento. Se for no polo passivo, a participao se d pelo litisconsrcio. Por isso o legislador usou a palavra participao a. Para designar, tanto o polo ativo, quanto o passivo. Ativo, consentimento; passivo, litisconsrcio.

Tem um erro a: um s a mais (ato por ambos praticados). Algumas editoras j apagam o s. Eu estou coordenando um grupo para fazer uma limpeza, corrigir essas sujeirinhas do Cdigo, inclusive extirpar esse rinoceronte que o inciso III.

Terminamos capacidade processual. Agora falta o ltimo pressuposto processual: capacidade postulatria.

CAPACIDADE POSTULATRIA

Alguns atos processuais exigem da parte uma capacidade tcnica exigida alm da capacidade processual. Essa capacidade tcnica exigida para a prtica de alguns atos processuais a capacidade postulatria. E que atos processuais so esses? Os atos postulatrios, as postulaes em juzo. Qualquer ato postulatrio em juzo, exige da parte uma capacidade tcnica que a capacidade postulatria.

A capacidade postulatria um atributo dos advogados, defensores pblicos e membros do Ministrio Pblico. Eles tm capacidade postulatria, essa capacidade tcnica. Os que no esto a, no tm capacidade postulatria. Os leigos no tm, por isso tm que contratar advogados.

H, porm, situaes excepcionais em que a lei confere ao leigo capacidade postulatria. o caso dos Juizados Especiais, Justia do Trabalho, habeas corpus, exemplos mais famosos. Outros exemplos: ao de alimentos. A ao de alimentos pode ser sem advogado apenas para pedir alimentos. O juiz, examina o pedido e d os alimentos provisrios. Para continuar o processo, precisa de advogado. Mas s para pedir, no precisa. A lei de alimentos dispensa isso. Outro exemplo menos famoso o seguinte: o Supremo entende que o Governador do Estado tem capacidade postulatria em ADI e ADC. Isso jurisprudncia. Outro exemplo importante: Lei Maria da Penha. A mulher que se alega vtima ou que alega ser vtima de violncia domstica ou familiar, ela pode demandar sem advogado. a mesma coisa dos alimentos. Demanda sem advogado, pede uma medida de urgncia e depois vai precisar de advogado. A mulher pode tomar providncia ela mesma. Qualquer pessoa pode se proteger, basta saber se explicar. Tanto que a Lei Maria da Penha permite que essa postulao seja oral. Oral, perante a delegacia. Ela vai ao delegado e relata o abuso. O delegado recebe essa reclamao que pode gerar dois processos: um penal e um cvel. O delegado remete o processo ao juiz cvel, funcionando como uma espcie de serventurio.

No correto dizer que no Juizado se dispensa a capacidade postulatria. No isso. No Juizado se dispensa o advogado. No a capacidade postulatria que dispensada.

Eu quero que vocs aprendam a distinguir na capacidade postulatria duas situaes muito diferentes:

1. Ato postulatrio praticado por quem no advogado. Essa a primeira situao. E rigorosamente uma situao de falta de capacidade postulatria. Foi praticado por quem no tinha capacidade postulatria. Ato praticado por quem no tem capacidade ato nulo. Art. 4, do Estatuto da Ordem. Essa uma situao em que, rigorosamente, falta capacidade postulatria.

2. Ato praticado por advogado sem procurao. A o ato foi praticado por algum que tem capacidade, mas que no foi contratado para isso. Rigorosamente o problema aqui no a falta de capacidade postulatria, mas a falta de representao. Ele no foi constitudo como representante. Qual a natureza desse ato? a que entra uma situao bizarra, uma grande discusso sobre o assunto. Vejam o que diz o nico do art. 37:

Pargrafo nico.Os atos, no ratificados no prazo, sero havidos por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos.

Ento, o CPC considera essa situao uma situao de inexistncia. Vejam que situao esdrxula. So atos inexistentes, mas que podem ser ratificados. O ato no existe. Ele no existe, mas pode ser ratificado, pode ser confirmado. Realmente, um paradoxo. E tem mais: o ato no existe, mas o advogado responde por perdas e danos. um nada que causa responsabilidade do advogado por perdas e danos. Aquela histria de que o nada, nada causa, nesse ponto subvertida. Esse dispositivo uma excrescncia terica, uma bizarrice terica, mas por conta desse texto muitos doutrinadores colocam a capacidade postulatria como pressuposto de existncia e no de validade. O que um grave erro! No sei se vocs concordam comigo, porque essa situao, nem de capacidade postulatria se trata. No caso de falta de capacidade postulatria. O caso aqui de falta de procurao. S que a confuso to grande que alguns doutrinadores, assustados com esse dispositivo, colocam a capacidade postulatria como pressuposto de existncia e a misturam tudo.

Esse entendimento acabou repercutindo no STJ. Smula 115:

Na instncia especial inexistente recurso interposto por advogado sem procurao nos autos.

A smula se vale do nico do art. 37. O que a doutrina que examina o tema mais profundamente diz? Primeiro, que o nico no tem nada a ver com falta de capacidade postulatria, conforme eu disse, e, segundo, que ato praticado por quem no tem procurao no ato inexistente. Tanto existente que pode ser ratificado. Ato praticado por algum que no tem procurao ato que existe. Ele s ineficaz! E s ineficaz em relao ao suposto representado. Ele existe, mas ineficaz em relao ao suposto representado. Tanto assim, que o suposto representado pode ratific-lo. Tudo bem, eu no dei procurao, mas ele pode fazer o que fez. E quem regula isso, brilhantemente? O Cdigo Civil, que o ambiente propcio para isso. Isso no regra do CPC. regra do direito material. Art. 662:

Art. 662. Os atos praticados por quem no tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, so ineficazes em relao quele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.

Esse artigo, que cuida do assunto, diz totalmente diferente do nico do art. 37 e diz de maneira correta. Por isso, me parece que o 662 revogou o nico, do art. 37. texto expresso que cuida do mesmo assunto e posterior. A smula est a e voc tem que saber isso. H pouqussimo tempo atrs, uma assertiva dada como correta dizia que capacidade postulatria pressuposto de existncia, junto com jurisdio e capacidade de ser parte. Isso pode acontecer no concurso. Eu acho essa concepo bizarra. Eu preferia ficar calado, em vez de propagar bizarrice. Mas eu sei que, no obstante bizarra, ela pode cair em concurso. E voc tem que estar preparado para o que der e vier. E voc tem que colocar uma coisa na cabea: No existe uma resposta certa. Existem diversas concepes e a concepo correta a do examinador.

LITISCONSRCIO

um assunto dos mais importantes em tema de concurso e eu devo reconhecer que no dos mais fceis. Ento, fazer como ensinou Santo Agostinho: No oremos por fardos mais leves, mas por ombros mais fortes!

CONCEITO

Litisconsrcio a pluralidade de sujeitos em um dos polos da relao processual.

H litisconsrcio quando houver uma pluralidade de sujeitos em um dos polos do processo. Me parece que o nosso problema no com o conceito de litisconsrcio porque todo mundo sabe identificar quando vem um. Quando h dois autores ou dois rus, litisconsrcio.

CLASSIFICAO

Sempre que a questo do concurso envolver classificao do litisconsrcio, sempre lembrar das quatro classificaes. Voc tem que dar ao litisconsrcio quatro adjetivos. O litisconsrcio pode ser: ativo, passivo, misto. Essa a classificao mais simples.

1.1 Classificao

Litisconsrcio ATIVO no polo passivo.

Litisconsrcio PASSIVO no polo ativo.

Litisconsrcio MISTO em ambos os polos.

2.2 Classificao

litisconsrcio INICIAL ou ORIGINRIO

o litisconsrcio que se forma concomitantemente formao do processo. O processo j nasce em litisconsrcio, quer porque vrias pessoas pediram, quer porque contra vrias pessoas foi formulado o pedido.

Litisconsrcio ULTERIOR ou SUPERVENIENTE

o litisconsrcio que se forma ao longo do processo. o litisconsrcio que surgiu com o processo j em andamento. Isso no bem visto. O ulterior no um litisconsrcio bem-visto. No deve ser estimulado, sob pena de gerar um furduno muito grande, muitas mudanas subjetivas. Por isso, s cabe litisconsrcio ulterior em situaes determinadas. E so trs hipteses de litisconsrcio ulterior:

a) Conexo Pode decorrer da conexo, ou seja, a conexo rene os processos e, ao reunir os processos, gera um litisconsrcio. O litisconsrcio surge em razo da reunio dos processos.

b) Sucesso outro fato gerador do litisconsrcio superveniente ou ulterior. Imagine que o ru morre. Em seu lugar entram seus herdeiros. Surge o litisconsrcio em razo da sucesso. Morreu um, em seu lugar entram os herdeiros.

c) Interveno de terceiros algumas intervenes de terceiro geram litisconsrcio superveniente, como o caso do chamamento ao processo, como o caso da denunciao da lide, como o caso da assistncia litisconsorcial, oposio. Todas so interveno de terceiro que geram interveno ulterior. Vamos estudar interveno de terceiro na prxima aula. um tema que vamos tentar facilitar. um tema fcil. O que h uma mitificao em torno do assunto. Interveno de terceiro s cai de forma tranquila. Litisconsrcio, no. S cai de forma difcil.

Essas duas primeiras classificaes so tranqilas. As duas ltimas que so terrveis.

3.3 Classificao

Litisconsrcio SIMPLES

Litisconsrcio UNITRIO

Eu quero que vocs, nesse assunto, anotem por tpicos (vou usar letras).

a)Esta uma classificao do litisconsrcio de acordo com o direito material discutido.

Ou seja, se voc quiser saber se unitrio ou simples, preciso examinar o que est sendo discutido. Essa dica imprescindvel. No h como saber se unitrio ou simples sem examinar o que est sendo discutido porque aquilo que se discute em juzo que faz com que o litisconsrcio seja unitrio, ou seja simples.

Concurso MP/BA: A pergunta foi assim: classifique o litisconsrcio abaixo de acordo com o direito material. Qual era a classificao que ele queria? Simples ou unitrio.

b)No litisconsrcio unitrio, a deciso de mrito tem que ser a mesma para todos os litisconsortes.

No h como no ser a mesma. No h como resolver o direito material sem que essa soluo seja a mesma para todos os litisconsortes. Por isso, o nome litisconsrcio unitrio. Embora seja litisconsrcio, embora haja muita gente, quatro, cinco, seis litisconsortes, embora sejam muitos, sero tratados como se fossem um s. como se aquele grupo ali fosse uma coisa s porque a deciso vai ser a mesma para todos eles. E no vai ser assim porque o juiz quer, por opo do juiz, mas porque a natureza do direito material impe isso. Ento, olhe s: o litisconsrcio unitrio no o que parece ser. Ele no o que parece ser. Porque quando voc v aquela galera, voc v logo uns dez, parece que galera, mas na verdade, no o que parece ser. Porque poderiam ser dois ou mil. Se o litisconsrcio unitrio, vo ser tratados como se fosse um s. O tratamento que ser dispensado a ele, vai ser o de uma pessoa s. como se fosse uma unidade porque a deciso de mrito tem que ser a mesma para todo mundo.

c)No litisconsrcio simples, a deciso de mrito pode ser diferente para todos os litisconsortes.

O direito material permite que a deciso de mrito possa ser diferente para todos os litisconsortes. Ateno com o que vou dizer agora: a simples possibilidade de a deciso ser diferente j torna o litisconsrcio simples. Se possvel (nunca se esqueam disso) que o juiz d decises diferentes, o litisconsrcio simples. E eu digo isso porque vocs tm uma tendncia de nesse assunto raciocinar assim: se eu fosse juiz, daria a mesma coisa para todo mundo. Mas no simples assim. O raciocnio tem que ser: se eu fosse juiz e quisesse, a soluo poderia ser diferente para cada um? Se pode ser diferente, no unitrio. Unitrio tem que ser a mesma deciso de mrito para todos.

O litisconsrcio simples exatamente o que parece ser. Voc v aquela galera e uma galera mesmo. A galera vai ser tratada como galera. So mil? Ento so mil possveis decises diferentes. Se so 10 mil litisconsortes simples, h possibilidade de 10 mil decises diferentes.

O que eu disse at agora no novidade porque um conceito j bastante difundido. O problema est em saber quando o litisconsrcio unitrio e quando simples. Para isso, eu desenvolvi um mtodo: Mtodo Fredie Didier de identificao do litisconsrcio unitrio.

(Fim da 1 parte da aula)

Mtodo Fredie Didier de identificao do litisconsrcio unitrio

Como que se estrutura esse mtodo para identificar o litisconsrcio unitrio? voc tem de fazer duas perguntas. Para vocs saberem se o litisconsrcio unitrio, tero que fazer duas perguntas, na ordem que eu disser (no pode alterar a ordem!):

1)Os litisconsortes esto discutindo mais de uma relao jurdica? - Se a resposta a essa primeira pergunta for qualquer numero acima de 1, o litisconsrcio simples. No tem erro. Se a quantidade de relao jurdica discutida for maior do que um, o litisconsrcio simples. Os litisconsortes esto discutindo uma relao jurdica? A voc tem dvida. Mas se estiverem discutindo qualquer nmero acima disso, o litisconsrcio simples. Voc j sabe que simples. No precisa nem fazer a segunda pergunta. Se os litisconsortes estiverem discutindo mais de uma relao jurdica, simples. Se no souber dizer, ter que ir para a segunda pergunta. E voc s vai para a segunda pergunta se a primeira der um.

2)Essa nica relao discutida indivisvel? - Eu s estou discutindo uma relao jurdica. Se ela for indivisvel, litisconsrcio unitrio. Se s uma relao jurdica que no pode ser repartida, fracionada, o litisconsrcio unitrio. Imagine dois sujeitos que estejam discutindo uma relao que no permite fracionamento, a o litisconsrcio unitrio. Se for divisvel essa nica relao, o litisconsrcio simples.

Se voc tiver a humildade de, na hora da prova, se fazer essas duas perguntas, no tem como errar. Mas tem que parar para responder. Os litisconsortes esto discutindo quantas relaes jurdicas? Se for uma, tem que fazer a segunda pergunta. Se for mais de uma, o litisconsrcio simples. Acabou a discusso.

Alguns exemplos:

Vrias pessoas se litisconsorciam para pedir reajustes em suas contas de FGTS. Pergunta: Unitrio ou simples? Eles esto discutindo mais de uma relao jurdica? Sim. litisconsrcio simples. Nem precisa ir para a segunda pergunta. voc pode ficar pensando assim: mas todo mundo vai ganhar ou todo mundo vai perder, ento unitrio... No assim! Eu j falei, no assim! Vejam, por exemplo, que um desses sujeitos pode fazer um acordo com a CEF. Outro, no. Isso revela que a deciso pode ser diferente e se pode ser diferente, cada um vai discutir a sua relao jurdica. E se cada um vai discutir a sua relao jurdica, h vrias relaes jurdicas discutidas. No h dvida sobre isso. Esse um clssico concursal. No concurso, ao invs de aparecer litisconsrcio para o ajuste do FTGS, poder aparecer: litisconsrcio para no pagar tributo, para ter reajuste de benefcio previdencirio, litisconsrcio para ter reajuste no salrio, litisconsrcio para ser indenizado por um banco. litisconsrcio, cada um com sua relao. simples, sim. Qual a dica que esse exemplo nos d? Que litisconsrcio envolvendo causas repetitivas sempre um litisconsrcio simples.

O Ministrio Pblico prope uma ao de anulao de casamento. uma ao proposta contra ambos os cnjuges. O litisconsrcio a unitrio ou simples? Unitrio, porque no possvel anular para um e no anular para o outro. Da, unitrio. Qual a dica que a gente extrai desse exemplo? a seguinte: se a ao constitutiva e h litisconsrcio, unitrio. Marca de olhos fechados. Eu posso pensar um caso de ao constitutiva com litisconsrcio simples? Posso, mas vou precisar pensar uns trs minutos, mas to excepcional e to fora da regra, que no vale a pena. Seria uma hiptese esdrxula.

Imagine o caso do condmino. A gente j viu que cada condmino pode, sozinho, ir a juzo defender o condomnio. Imaginem que eles, condminos, vo em litisconsrcio. Repare que vai ser um litisconsrcio entre co-titulares de um direito. Unitrio ou simples? Unitrio porque, no caso indivisvel. Se for divisvel o bem, o litisconsrcio ser simples. A dica o exemplo: Se h cotitulares do mesmo direito em litisconsrcio ser unitrio se for indivisvel e ser simples se for divisvel.

Caso das aes coletivas. Nas aes coletivas, h vrios legitimados. Ministrio Pblico e uma associao podem propor uma ao coletiva. Reparem que so vrios legitimados extraordinrios, a propor ao coletiva. Se eles se litisconsorciarem, se houver litisconsrcio entre os legitimados extraordinrios para as aes coletivas, que litisconsrcio ser esse? Unitrio ou simples? O direito em jogo um direito coletivo. Direito coletivo divisvel? Os direitos coletivos so sempre indivisveis. Portanto, o litisconsrcio nas aes coletivas sempre unitrio. Litisconsrcio entre legitimados para ao coletiva um litisconsrcio unitrio. A dica aqui a seguinte? Se o litisconsrcio envolve dois legitimados extraordinrios, fique esperto:o caso de unitrio!

Guri e MP se litisconsorciam em uma ao de alimentos. Unitrio ou simples? Unitrio! Vocs tm que pensar. No h como o juiz dar uma penso de alimentos para o guri e o MP ter outra. A dica que esse exemplos nos d a seguinte: litisconsrcio entre o legitimado ordinrio e o legitimado extraordinrio sempre unitrio. No h exceo.

Dois credores solidrios se litisconsorciam para cobrar o crdito solidrio. Unitrio ou simples? Simples. Por que? Se envolve solidariedade, que uma pergunta muito frequente em concurso, a solidariedade implica unitariedade? Porque a solidariedade uma obrigao s, ela una, de forma que primeira pergunta, a resposta sim, ou seja, a discusso envolve uma relao jurdica apenas (discutem a mesma relao). Da, ser preciso fazer a segunda pergunta: A obrigao solidria divisvel ou indivisvel? Ambas discutem a mesma relao. Mas para saber se unitria, eu preciso saber se a obrigao solidria divisvel ou indivisvel. Depende. Pode ser divisvel ou indivisvel. a que a gente erra. Se voc tem a obrigao solidria de entregar dinheiro, divisvel; mas se for obrigao solidria de entregar um cavalo, indivisvel. A pergunta a seguinte: a solidariedade implica unitariedade? Depende. isso que eu quero que vocs aprendam.

O fato de o litisconsrcio ser unitrio ou simples, faz com que o tratamento processual dele seja diferente. A unitariedade e a simplicidade fazem com que o tratamento dado ao litisconsrcio mude, seja um ou seja outro. Veja como tem lgica: se o litisconsrcio unitrio, todos tm que ser tratados como se fossem um s, uniformemente. Se o litisconsrcio unitrio. como a deciso unitria tem que ser a mesma para todos, todos tm que ser tratados uniformemente. Ento, voc vai tratar todo mundo igual. No simples, no. Como a deciso pode ser diferente, cada um que se vire no litisconsrcio simples, cada um que cuide da sua vida.

Pequena digresso:

H uma classificao doutrinria dos atos das partes que, nesse momento muito importante e que j caiu (essa classificao) em concurso algumas vezes. Essa classificao divide os atos das partes em condutas determinantes e condutas alternativas.

Conduta determinante (Fixem bem esse conceito): a conduta que coloca a parte em situao de desvantagem. Por que o nome conduta determinante? Porque a conduta determinante determina uma situao de desvantagem, leva a uma situao de desvantagem. Exemplo: confisso, renncia, no recorrer, no contestar, desistir. Todas so condutas determinantes.

Conduta alternativa O que uma conduta alternativa? uma conduta que a parte toma para melhorar a sua situao. Aqui o contrrio. A parte pratica o ato para dar uma guaribada em sua situao. E por que alternativa? Porque pode ser que no acontea. Pode ser que no determine o resultado favorvel. Eu ajo para melhorar minha situao. Exemplo: recorrer, contestar, alegar, fazer prova. Todas so alternativas.

Aferidas as diferenas entre as duas condutas, vejam as trs regras bsicas que vocs no podem esquecer:

1 Regra bsica Conduta determinante de um litisconsrcio no prejudica o outro. Para isso no tem exceo. Agora, presta ateno: No caso do litisconsrcio unitrio, uma conduta determinante s pode produzir efeito, s eficaz se todos acreditarem. Se todos no recorrerem, se todos desistirem, se todos renunciarem. Porque se um s desistir, no adiantou nada. O processo vai prosseguir, afinal, unitrio. No unitrio, a conduta determinante s eficaz se praticada por todos os litisconsortes. J no simples, a conduta determinante prejudica quem praticou. No prejudica os outros. Quem a praticou fica prejudicado. No simples, aquele que no recorreu, se deu mal.

2 Regra bsica Conduta alternativa de um litisconsrcio unitrio aproveita o outro. Se um litisconsrcio unitrio recorre, aproveita aos demais porque conduta alternativa de litisconsrcio unitrio beneficia todos porque todos so tratados como se fossem um s.

3 Regra bsica Conduta alternativa de litisconsrcio simples no beneficia o outro. Cada um que se vire. H uma ponderao a ser feita nesta terceira regra. Existe um princpio, chamado princpio da comunho da prova. E diz que a prova produzida pertence ao processo e no a quem a produziu. Pelo princpio da comunho da prova, a prova que foi produzida no processo passa a pertencer ao processo como um todo. Se o litisconsrcio simples produz uma prova, qualquer sujeito processual se beneficia disso. Por que? Porque se o litisconsrcio simples produz a prova, a prova vai para os autos e entra na comunidade do processo e a comunidade inteira pode se valer dela. Produzir prova, embora seja uma conduta alternativa, qualquer um vai poder se beneficiar porque a prova produzida pertence ao processo.

Vamos ao CPC:

Art. 48. Salvo disposio em contrrio, os litisconsortes sero considerados, em suas relaes com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omisses de um no prejudicaro nem beneficiaro os outros.

Eu lhes pergunto: Esse dispositivo se aplica literalmente? Sempre! Os litisconsortes sempre so considerados litigantes distintos. E quanto aos atos e omisses de um no prejudicarem e nem beneficiam os outros, sempre assim? No. No caso do litisconsrcio unitrio, os atos de um beneficiam os outros. Ento, o art. 48 no pode ser aplicado literalmente a todas as espcies de litisconsrcio.

poca do Cdigo de 1939, a doutrina costumava dividir o litisconsrcio de acordo com a causa que justificava o litisconsrcio. E essa causa era o grau de vnculo que os litisconsortes mantinham entre si. Isso era usado para classificar os litisconsrcios. E a surgiu, poca, uma diviso do litisconsrcio em litisconsrcio por comunho, litisconsrcio em razo da conexo e litisconsrcio em razo da afinidade.

Eles diziam que o litisconsrcio podia surgir em razo da comunho dos litisconsrcios (quer dizer, os litisconsortes comungavam de uma mesma situao, faziam parte de uma mesma situao, comungavam do mesmo interesse). Quando eles tivessem interesses diversos, mas ligados entre si, amarrados, haveria um litisconsrcio por conexo. E se eles tivessem interesses diversos, parecidos, mas no ligados entre si, seria por afinidade. Aquele exemplo que eu dei, do FGTS e disse que pode ser aplicado poupana, previdencirio, etc., ali caso clssico de litisconsrcio por afinidade. O litisconsrcio por afinidade o litisconsrcio das causas repetitivas. O litisconsrcio por afinidade sempre simples. E os outros? No tem como estabelecer regra. Podem ser simples ou unitrios. Apenas o litisconsrcio por afinidade simples (sem exceo).

Pode vir no concurso com essa terminologia. poca do CPC de 1939, vejam que situao esdrxula, o ru tinha o direito de recusar o litisconsrcio por afinidade ativo. O ru tinha o direito de dizer o seguinte: no aceito ser processado por essa galera. No aceito. Eu no aceito a formao do litisconsrcio por afinidade. Por isso, se dizia o seguinte: o litisconsrcio por afinidade era recusvel. E alguns doutrinadores chamavam esse litisconsrcio recusvel, que era o por afinidade, de litisconsrcio facultativo imprprio.

O tempo passa, chegamos em 1973 e a previso de recusa desaparece. Muitos dizem: morreu o litisconsrcio facultativo imprprio, o litisconsrcio recusvel. A previso de o ru poder opor-se ao litisconsrcio recusvel desapareceu. No obstante, o fato de o CPC manter essa organizao. Nosso CPC atual mantm essa organizao: litisconsrcio por comunho, por conexo e por afinidade. Um resqucio da poca. Tudo no art. 46, do CPC. O inciso I trata do litisconsrcio por comunho. O art. 46, II e III, por conexo. O art. 46, IV, litisconsrcio por afinidade. Por isso essa terminologia ainda usada nos livros. que o art. 46 continua fazendo referncia a esses trs nveis de vnculo entre os litisconsortes: comunho, conexo e afinidade.

O que aconteceu entre 1973 e 1994? Esse perodo coincide com a divulgao do movimento de acesso justia, que pregava a idia de que a justia tinha que ser de todos. At ento, poucos sabiam que podiam ir ao Judicirio, o que fazer l e o que pedir. Era um local que pertencia aos ricos. Um marco disso o Juizado Especial. A primeira lei dos Juizados de 1984. As pessoas comearam a se estimular. Muita gente passou a demandar, numa poca histrica que comeam as leses de massa (todo mundo lesado pela previdncia, todo mundo que acessa a internet, todo mundo que tem acesso telefonia, etc.). Todo mundo passa a ter problemas muito parecidos. O que comeou a surgir? Litisconsrcio de multido no plo ativo. Multido no polo ativo (600, 700 pessoas), nunca existiu na histria. Surgiu esse problema que at ento no existia. Litisconsrcio de galera, de multido. No havia livro que previsse uma coisa dessa.

O que acontecia? O Ru tinha 15 dias para se defender de uma demanda proposta por 600 pessoas. O que fizeram? Em 1994, tiveram que buscar de volta, ele, que havia sido assassinado dentro do CPC: o litisconsrcio facultativo imprprio, para resolver um problema do litisconsrcio multitudinrio. Litisconsrcio de multido, repito, um problema do nosso tempo. Veio o legislador e resgatou o litisconsrcio facultativo imprprio: nico do art. 46:

Pargrafo nico. O juiz poder limitar o litisconsrcio facultativo quanto ao nmero de litigantes, quando este comprometer a rpida soluo do litgio ou dificultar a defesa. O pedido de limitao interrompe o prazo para resposta, que recomea da intimao da deciso. (Includo pela Lei n 8.952, de 1994)

Onde se l litisconsrcio facultativo, leia-se litisconsrcio facultativo por afinidade. Qual a peculiaridade neste dispositivo? A limitao tem que ser fundamentada. No mero capricho do ru. S se justifica limitar se comprometer a rpida soluo do litgio ou dificultar a defesa.

Agora, o juiz pode fazer de ofcio, como tem feito. uma regra que tem sido muito aplicada. Antigamente, o juiz no podia fazer de ofcio. Tinha que ser provocado para isso. Agora pode fazer de ofcio, mas tambm por provocao. E se for provocado pelo ru a fazer isso, vejam a pegadinha concursal: se o ru pede para que o juiz desmembre o litisconsrcio, esse pedido de desmembramento feito pelo ru interrompe o prazo de defesa que volta a correr a partir da deciso de desmembramento. Recentemente, caiu isso em concurso, mas o cara escreveu: suspende.

Pergunta de concurso para juiz em Rondnia (h uns cinco anos): O que litisconsrcio facultativo imprprio? Resposta: Tudo comeou no CPC de 39, que dividia o litisconsrcio em trs; depois, 1973: mudanas econmicas e sociais, veio o litisconsrcio de multido, que o litisconsrcio de multido, que o litisconsrcio por afinidade, hipertrofiado, que tornou invivel a defesa do ru e o examinador teve que resgatar o antigo instituto, s que resgatou com algumas diferenas, com aprimoramentos: o juiz pode de ofcio e tem que ter fundamentao especfica.

Vamos agora para a quarta classificao. aqui que o bicho

4.4 Classificao

Litisconsrcio NECESSRIO

Litisconsrcio FACULTATIVO

O prprio adjetivo j diz: necessrio aquele litisconsrcio cuja formao obrigatria. No h opo. Ele tem que ser formado. O facultativo, no. Ele se forma por opo dos litigantes.

A gente tem que saber quando ele necessrio porque se no for necessrio facultativo. Agora, todos prestando muita ateno: o CPC, no art. 47, estabelece os casos em que o litisconsrcio necessrio e estabelece dois casos: ser necessrio:

quando for unitrio ou

por fora de lei.

O legislador disse: se unitrio, ento necessrio. Regra geral. A lgica da lei a seguinte: se a deciso tem que ser a mesma para todos, ento, coloca todo mundo no processo. Esse o sistema do cdigo. Se unitrio, necessrio.

Mas o legislador, atento ao fato de que no pode pensar em tudo, disse que ser necessrio em situaes especficas previstas em lei. Pode ser que a lei, aqui e acol, exija o litisconsrcio. o caso dos cnjuges, como vimos no incio da aula.

Grande dica: Se, para o Cdigo, todo unitrio necessrio, o litisconsrcio necessrio por fora de lei simples. Vou explicar por qu: para que o legislador ia prever expressamente o litisconsrcio necessrio se o caso fosse unitrio? No haveria motivo. Porque se unitrio ali, j seria necessrio por fora da regra geral. Para o legislador cuidar expressamente de uma situao, porque simples. Porque se fosse unitrio, se aquela situao gerasse um litisconsrcio unitrio, o legislador no precisaria cuidar dela expressamente.

uma grande dica: Litisconsrcio necessrio por fora de lei simples.

Se voc partir desse pressuposto, dificilmente vai errar.

Caso do usucapio de imvel: litisconsrcio necessrio por fora de lei. Eu lhes pergunto: todo mundo prestando ateno na minha pergunta: Todo necessrio unitrio? Resposta: No! Existe necessrio simples. Qual? Necessrio simples por fora de lei. Isso tem que constar do seu caderno.

Todo litisconsrcio simples facultativo? a mesma pergunta! Eu coloquei de forma diferente para confundir. Todo litisconsrcio simples facultativo? No! Existe necessrio simples. Isso cai demais!

At aqui fcil. Mas olhem: Para o nosso CPC todo unitrio necessrio. para o Cdigo no art. 47, todo unitrio necessrio. S que isso est completamente equivocado. E este o ponto mais difcil do assunto. Porque aqui voc vai ter que juntar unitrio e necessrio e vai ter que se contrapor a texto expresso do Cdigo que diz que todo unitrio necessrio. Basta ver os exemplos: Ao coletiva (MP e associao unitrio. necessrio? No. Cada um pode propor sozinho). Ento, existe unitrio que no necessrio. Ento, nem todo unitrio necessrio. Isso est certssimo. O mistrio descobrir quando o unitrio no necessrio. Porque se voc for aplicar o Cdigo muito fcil (se unitrio necessrio), s que voc j viu um exemplo simples, banal que prova que nem todo unitrio necessrio.

Como saber? Eis a pergunta! Eu vou dizer a regra, mas s vou explicar na prxima aula.

fcil saber quando o unitrio no necessrio. Isso fcil. Quando o unitrio ativo, ele sempre facultativo. Sempre! Porque no existe litisconsrcio necessrio ativo. No existe necessrio ativo. Como no existe litisconsrcio necessrio ativo, todo unitrio ativo facultativo. Entendeu a lgica?