1 introduÇÃo · 2010 e 2012, e entre as condutas padronizadas, inclui-se o uso de...

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10 1 INTRODUÇÃO A violência sexual não depende de barreiras culturais, classes sociais, níveis socioeconômicos e limitações individuais, podem ocorrer tanto no espaço privado quanto no público e atinge todas as faixas etárias. A violência denominada violência de gênero, representa grave violação aos direitos humanos e é capaz de desencadear inúmeros agravos à saúde. Durante muito tempo, a violência foi considerada uma questão de polícia. Pela extensão que tem atingido, passou a ser igualmente um problema de saúde pública (DINIZ et al. 2007). Este tipo de violência manifesta-se de várias formas e diferentes graus de severidade de atos, inclusive o sexo sob coação, assédio sexual (incluindo favores sexuais em troca de favorecimento no trabalho ou de qualificação acadêmica), abuso sexual de menores, prostituição forçada e tráfico de seres humanos, casamentos precoces e atos de violência contra a integridade sexual das mulheres, como a mutilação genital e inspeções da virgindade obrigatória (OMS, 2002). A Lei Maria da Penha (Lei 11.340, Capítulo II, inciso III) delimita a violência sexual, considerando-a como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2010). Segundo Organização Mundial de Saúde (2002), em alguns países uma em cada quatro mulheres relatam terem sido vítimas de violência sexual, e até um terço das dolescentes têm iniciação sexual forçada, como é o caso do norte de Londres e Reino Unido. Valores semelhantes foram registrados no Guadalajara (México) (23%), Lima (Peru) (23%) e na província de Midlands, no Zimbabué (25%). No Brasil o tema ainda é pouco explorado, sendo

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  • 10

    1 INTRODUÇÃO

    A violência sexual não depende de barreiras culturais, classes sociais, níveis socioeconômicos

    e limitações individuais, podem ocorrer tanto no espaço privado quanto no público e atinge

    todas as faixas etárias. A violência denominada violência de gênero, representa grave violação

    aos direitos humanos e é capaz de desencadear inúmeros agravos à saúde. Durante muito

    tempo, a violência foi considerada uma questão de polícia. Pela extensão que tem atingido,

    passou a ser igualmente um problema de saúde pública (DINIZ et al. 2007).

    Este tipo de violência manifesta-se de várias formas e diferentes graus de severidade de atos,

    inclusive o sexo sob coação, assédio sexual (incluindo favores sexuais em troca de

    favorecimento no trabalho ou de qualificação acadêmica), abuso sexual de menores,

    prostituição forçada e tráfico de seres humanos, casamentos precoces e atos de violência

    contra a integridade sexual das mulheres, como a mutilação genital e inspeções da virgindade

    obrigatória (OMS, 2002).

    A Lei Maria da Penha (Lei 11.340, Capítulo II, inciso III) delimita a violência sexual,

    considerando-a como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou

    participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da

    força; que a induza a comercializar ou utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a

    impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao

    aborto à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou

    anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2010).

    Segundo Organização Mundial de Saúde (2002), em alguns países uma em cada quatro

    mulheres relatam terem sido vítimas de violência sexual, e até um terço das dolescentes têm

    iniciação sexual forçada, como é o caso do norte de Londres e Reino Unido. Valores

    semelhantes foram registrados no Guadalajara (México) (23%), Lima (Peru) (23%) e na

    província de Midlands, no Zimbabué (25%). No Brasil o tema ainda é pouco explorado, sendo

  • 11

    estimada taxa de 7% de violência sexual na população geral. (LOPES, et al., 2004; DREZETT

    et al., 1999). A subnotificação dos casos ainda faz com que os dados estatísticos disponíveis

    não reflitam a realidade.

    O estupro é o crime sexual predominante entre adolescentes e mulheres adultas

    (SQUIZATTO; PEREIRA, 2004). A vítima de violência sexual está exposta a diferentes

    riscos que podem comprometer a saúde física e mental. A violência sexual é capaz de

    provocar distúrbios psicológicos decorrentes do trauma, doenças de ordem física, como por

    exemplo, as lesões corporais, gravidez indesejada, abortos, doenças sexualmente

    transmissíveis (DSTs) e a infecção pelo HIV (DREZETT et al., 1999; DINIZ et al. 2007).

    Segundo Drezett (2002), 25 a 50% das vítimas da violência sexual são infectadas por alguma

    DST, e cerca de 80% das vítimas de violência sexual referem ter como principal preocupação

    a possibilidade de se infectar com o HIV.

    É dever do Estado fornecer serviços especializados apropriados para o atendimento necessário

    à mulher vitima de violência, por meio de entidades dos setores público e privado, inclusive

    abrigos, serviços de orientação para toda a família, quando for o caso, cuidado e custódia dos

    menores afetado (CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E

    ERRADICAR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, 1994; cap. III, art. 8, §4). No entanto,

    a garantia de atendimento a mulheres que sofreram violência sexual nos serviços de saúde

    representa, por conseguinte, apenas uma das medidas a serem adotadas com vistas à redução

    dos agravos decorrentes deste tipo de violência. A oferta desses serviços permite a

    adolescentes e mulheres o acesso imediato a cuidados de saúde, à prevenção de doenças

    sexualmente transmissíveis como o HIV (BRASIL, 2012).

    Diante dos agravos e repercussões da violência sexual para a saúde das pessoas, o Ministério

    da Saúde criou, em 1999, a primeira norma técnica de prevenção e tratamento dos agravos

    resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes, com vistas a padronizar o

  • 12

    atendimento das vítimas. Esta norma técnica passou por revisões nos anos de 2002, 2005,

    2010 e 2012, e entre as condutas padronizadas, inclui-se o uso de antirretrovirais para

    prevenir a infecção pelo HIV.

    A norma técnica do Ministério da Saúde recomenda a quimioprofilaxia antirretroviral do HIV

    para todos os casos de violência sexual em que tenha ocorrido penetração vaginal e/ou anal

    nas primeiras 72 horas após a violência, inclusive se o status sorológico do agressor for

    desconhecido. No entanto, a quimioprofilaxia do HIV deve ser considerada uma emergência e

    iniciada imediatamente após a violência, ainda nas primeiras 24 horas. O esquema deve ser

    mantido sem interrupção por quatro semanas consecutivas. (BRASIL, 2012).

    O direito de acesso universal à medicação é uma conquista importante, sendo considerado um

    avanço nas políticas voltadas para o HIV/Aids. A adesão à profilaxia antirretroviral é um dos

    fatores principais na redução do risco de transmissão da infecção pelo HIV. A falta de adesão

    ao esquema antirretroviral está diretamente relacionada ao risco de falha da profilaxia e de

    surgimento de cepas virais multirresistentes. (BRASIL, 2010b).

    O termo adesão ao tratamento deve ser observado dentro de um contexto em que a pessoa não

    apenas siga as orientações da equipe de saúde, mas entenda e concorde com a necessidade e

    os objetivos das mesmas e utilize os medicamentos prescritos (processo de responsabilidade

    compartilhada) (BRASIL, 2010b).

    Vários estudos nacionais e internacionais têm mostrado que a falta de adesão à

    quimioprofilaxia do HIV é frequente em mulheres vítimas de violência sexual, podendo estar

    associada a diversos fatores como: transtornos psíquicos ou emocionais, efeitos colaterais dos

    medicamentos, aspectos socioeconômicos e escolaridade das vítimas de violência sexual,

    qualidade do serviço de saúde, problemas de comunicação e falta de vínculo entre a vítima de

    violência sexual e o profissional de saúde, falta de entendimento das prescrições médicas

    (DREZET et al., 1999; STEEL-DUNCAN et al., 2004; SCHREMMER, SWANSON, KRAL,

  • 13

    2005; OLSHEM et al., 2006; DINIZ et al., 2007; RAMOS, MEDICI, PUCCIA, 2009;

    ABRAHAMS, JEWKES, 2010).

    Segundo Diniz et al. (2007), o abandono do tratamento pode ser justificado por

    inúmeras situações. Ingerir um comprimido para prevenir o HIV é acompanhado por uma

    série de fatores, como relembrar a violência sofrida ou tornar público algo que seria privado.

    A dificuldade econômica em ir ao serviço buscar o comprimido e o não entendimento do que

    seja o tratamento também são razões que justificam o fato de as mulheres não aderirem ao

    tratamento.

    De acordo com alguns autores, a adesão à quimioprofilaxia do HIV entre as vítimas de

    violência sexual tem variado de 16% a 85% (WIEBE et al., 2000; GARCIA et al., 2005).

    Poucos estudos têm sido realizados especificamente sobre o uso da quimioprofilaxia anti-HIV

    em adolescentes, sendo provável que adolescentes vitimas de violência sexual tenham

    problemas específicos complicando sua adesão ao tratamento.

    Conhecer as dificuldades de pessoas, relacionadas ao uso de antirretrovirais permite a melhor

    compreensão dos fatores que levam à falta de adesão ao tratamento nos serviços brasileiros.

    Tal conhecimento pode contribuir para melhorar as políticas dirigidas a esse grupo e auxiliar

    os profissionais de saúde a lidar com essas dificuldades. (MELCHIOR, NEMES, ALENCAR,

    BUCHALLA, 2007). Nesse sentido, este estudo objetivou conhecer os fatores relacionados à

    falta de adesão à quimioprofilaxia do HIV, em mulheres jovens e adolescentes vítimas de

    violência sexual.

  • 14

    2 REVISÃO DA LITERATURA

    Para compor este capítulo, foi realizada uma revisão integrativa da literatura sobre o tema

    “Adesão ao protocolo de quimioprofilaxia do HIV por vítimas de violência sexual”, cujo

    artigo científico produzido e ainda não submetido, encontra-se a seguir.

  • 15

    ARTIGO (01) - Artigo ainda não submetido.

    Adesão ao protocolo de quimioprofilaxia do HIV por adolescentes vítimas de violência

    sexual: Revisão integrativa

    Ericka Viviane Pontes Procópio*

    Camila Guerra Feliciano*

    Cintia Regina Tornisiello Katz**

    *Alunas do Programa do Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de

    Pernambuco.

    **Professora do Programa do Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de

    Pernambuco.

    Não há conflito de interesses.

    Endereço para correspondência:

    Ericka Viviane Pontes Procópio.

    Rua: Luiz Barbalho, 127, apto 101 – Boa Vista, Recife – PE. CEP: 50070-120.

    Fone: 55(81) 32236701.

    e-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]

  • 16

    RESUMO

    O objetivo deste estudo foi apresentar uma revisão da literatura explorando o tema adesão à

    quimioprofilaxia antirretroviral ao HIV em adolescentes vítimas de violência sexual,

    consolidando e pontuando os resultados existentes. Foi realizada uma busca dos artigos

    relacionados à temática de interesse, publicados em revistas indexadas nas bases de dados

    Medline, Lilacs, Scielo, Ibecs e Pubmed. Foram utilizados os seguintes descritores em

    português e inglês: violência sexual, quimioprofilaxia; pacientes desistentes do tratamento;

    adolescente, adesão ao tratamento medicamentoso e HIV. Houve concordância pelos autores

    com relação à indicação do início do protocolo de quimioprofilaxia do HIV para as vítimas de

    agressão sexual no período de até 72h após a agressão. Os estudos mostraram que 46 a 85%

    das vítimas não concluíram os protocolos quimioprofiláticos iniciados. Os fatores

    relacionados à falta de adesão ao tratamento mais citados foram: os transtornos psíquicos e ou

    emocionais; falta de entendimento da prescrição médica, efeitos colaterais; e a falta de

    recursos financeiros para retornar ao serviço. Diante da escassez de estudos voltados a

    população de adolescentes, verifica-se a necessidade de futuros estudos sobre as

    particularidades que levam essas vítimas a desistirem do tratamento, contribuindo para

    melhorar a qualidade da assistência oferecida a este grupo.

    Palavras-chave: adolescente, violência sexual, quimioprevenção, adesão ao tratamento

    medicamentoso.

    ABSTRACT

    The aim of this study was to present a review of the literature exploring the issue of adherence

    to HIV antiretroviral prophylaxis in adolescents victims of sexual violence, and consolidating

    existing scoring results. It was conducted a search for articles related to the topic of interest,

    published in journals indexed in Medline, Lilacs, Scielo, Ibecs and Pubmed. We used the

    following key words in Portuguese and English: sexual violence, chemoprophylaxis, patients

    dropped out of treatment; teenager, adherence to drug treatment and HIV. There was

    agreement by the authors regarding the indication of the beginning of the HIV

    chemoprophylaxis protocol for victims of sexual assault in the period until 72 hours after the

    assault. Studies have shown that 46 to 85% of the victims have not completed the protocols

    chemoprophylactic started. Factors associated with lack of adherence to treatment most

    frequently cited were: psychological disorders and emotional or; lack of understanding of the

    prescription, side effects, and lack of financial resources to return to service. Given the

    scarcity of studies aimed at adolescent population, there is a need for further studies on these

    particularities that lead victims to give up treatment, helping improve the quality of care

    offered to this group.

    Key words: Teenager, sexual violence, chemoprevention, medication adherence.

    INTRODUÇÃO

    A violência sexual é um evento capaz de provocar vários problemas de saúde por

    expor as vítimas a diferentes riscos que podem comprometer seu bem-estar físico e mental. Os

  • 17

    traumas físicos, a gravidez, as consequências psicológicas e a possibilidade de adquirir

    doenças sexualmente transmissíveis e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida são os mais

    importantes1,2

    .

    O Ministério da Saúde atento a estes agravos lançou em 1999 a primeira Norma Técnica

    (Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual Contra Mulheres e

    Adolescentes), a qual foi revisada nos anos de 2002, 2005 e 2010, e que padroniza o

    atendimento a estas vítimas entre as condutas sistematizadas e está a indicação e uso dos

    antirretrovirais1, 2

    .

    A garantia de atendimento a mulheres que sofreram violência sexual nos serviços de saúde

    representa, por conseguinte, apenas uma das medidas a serem adotadas com vistas à redução

    dos agravos decorrentes deste tipo de violência. A oferta desses serviços, entretanto, permite a

    adolescentes e mulheres o acesso imediato a cuidados de saúde, à prevenção de doenças

    sexualmente transmissíveis, ao HIV e à gravidez indesejada3.

    O risco de transmissão do HIV após a agressão sexual, embora seja pequeno após uma única

    exposição, pode ser significativo em certas circunstâncias, por isso é razoável que a profilaxia

    pós-exposição (PEP) seja oferecida, mesmo que existam evidências de que a mesma seja

    limitada. Para uma melhor resposta, normatizou-se que a sua administração seja feita dentro

    de 72h após a ocorrência da violência sexual e que a prescrição permaneça por 28 dias1,4,5

    .

    A prescrição do PEP está baseada na premissa de que a carga viral é pequena o suficiente no

    início do período após a exposição e que medicamentos antirretrovirais podem retardar ou

    parar a replicação viral e permitir que o sistema imunológico do corpo possa eliminar ou

    limitar os riscos de transmissão do HIV.

    Dentro do conceito de adesão ao tratamento, devemos observar todo um contexto, que passa

    desde o entendimento das orientações das equipes de saúde, os objetivos das mesmas até a

  • 18

    liberdade da escolha de utilizar ou não os medicamentos prescritos (processo de

    responsabilidade compartilhada).

    A adesão à profilaxia antirretroviral pelas vítimas de violência sexual é de fundamental

    importância para a redução do risco de transmissão da infecção pelo HIV. A falta de adesão

    ao esquema antirretroviral está diretamente relacionada ao risco de falha da profilaxia e de

    surgimento de cepas virais multirresistentes3.

    Considerando a relevância do tema, este estudo objetivou apresentar uma revisão integrativa

    da literatura sobre os artigos publicados que abordaram a falta de adesão à quimioprofilaxia

    do HIV em adolescentes vítimas de violência sexual.

    MÉTODOS

    Estratégia de busca

    Foi realizada uma busca dos artigos relacionados à temática de interesse, publicados

    em revistas indexadas nas bases de dados Medline (Literatura Internacional em Ciências da

    Saúde), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo

    (Scientific Electronic Library Online), Ibecs (Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la

    Salud), realizado diretamente no portal Bireme (BVS) e Pubmed, sem a utilização de limites

    temporal.

    Na estratégia para a captura de publicações, foram utilizados os seguintes descritores

    em português e em inglês: violência sexual; quimioprofilaxia; pacientes desistentes do

    tratamento; adolescente; adesão ao tratamento medicamentoso e HIV.

    Os critérios de busca foram aplicados para os títulos e resumos. Foram considerados

    os artigos publicados em português, inglês ou espanhol; não foi estabelecido limite temporal,

    dada a relevância da temática. Após a leitura do título e resumos foram excluídos os estudos

    não relacionados ao tema e os artigos em duplicidade nas bases de dados.

  • 19

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A estratégia de busca identificou 24 estudos, sendo 22 artigos e duas monografias

    (Figura-1). Após a análise dos títulos e resumos, quanto aos critérios de elegibilidade foram

    excluídos 15 estudos: oito repetições, três por não apresentarem resumo, três fora da temática

    proposta, duas monografias, restando apenas oito artigos para compor esta revisão.

    Figura 01 – Fluxograma de seleção dos artigos.

    Números de estudos encontrados

    Inicialmente na busca: Pubmed: 15; Lilacs: 09;

    Scielo 00; Medline: 00; Ibecs: 00.

    Excluídos por não possuírem resumo

    disponível nas bases de dados. (n=03)

    Artigos: 22; monografias: 02. (n= 24)

    Excluídos por duplicação. (n=08)

    Fora da temática. (n=03)

    Monografias. (n=02)

    Números de artigos selecionados para

    avaliação: (n=08)

    Selecionados para a pesquisa. (n=08)

  • 20

    Este estudo trata de um fenômeno atual e, diante de sua evidente complexidade, buscou-se

    realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema adesão ao tratamento profilático do HIV para

    vítimas de agressão sexual. A estratégia de busca possibilitou a seleção de oito artigos,

    embora nem todos tenham abordado diretamente o problema, contribuíram para a

    compreensão da temática. Estes estudos encontram-se sumarizados na Tabela 1.

    Tabela 1: Artigos que abordaram a temática adesão ao tratamento quimioprofilático do HIV

    em adolescentes vítimas de violência sexual

    Autores

    (ano) País Amostra

    Faixa

    Etária

    (anos)

    Desenho do

    Estudo

    Falta de adesão ao

    protocolo

    quimioprofilático

    Diniz et al.1

    (2007) Brasil 172 12 -19

    Transversal

    Retrospectivo

    46,1% das

    adolescentes;

    42,6% da amostra

    total

    Ramos, Medicci,

    Puccia2 (2009)

    Brasil 59 12 - 45 Transversal

    Retrospectivo 60,3%

    Olshen et

    al.5.(2006)

    EUA 145 12 - 22 Transversal

    Retrospectivo 85,0%

    Kerr et al.6 (2003) Inglaterra 673 11 - 66

    Transversal

    Retrospectivo 58,8%

    Abrahams,

    Jewkes8 (2010)

    África 29 16 a 73 Qualitativo 68,9%

    Schremmer,

    Swanson, Kral9

    (2006)

    EUA 2685 0- 18 Transversal

    Retrospectivo 76%

    Steel-Duncan et

    al.4 (2004)

    África 06 12 - 18 Série de

    Casos

    Nenhum caso

    recebeu a

    profilaxia anti-

    HIV.

    Rovi, Shimoni7

    (2002) EUA 160 1 - 91

    Transversal

    Retrospectivo

    Não avaliou

    adesão. Em 62,5%

    dos casos nenhum

    antibiótico foi

    prescrito.

  • 21

    Os estudos selecionados para esta revisão foram realizados com diferentes objetivos e

    enfoques metodológicos. Além do objetivo de verificar a taxa de adesão ao protocolo

    quimioprofilático, estes estudos também objetivaram relatar as experiências dos serviços

    especializados, avaliar os atendimentos realizados e relatar os efeitos secundários da

    profilaxia. Os caminhos metodológicos foram variados, entretanto, observou-se que a maioria

    foi de natureza transversal.

    Em todos os estudos o sexo feminino foi o mais acometido. Embora os estudos não tenham

    sido relacionados a uma faixa etária específica, por analisarem, na maioria das vezes, toda a

    clientela dos serviços ou atendimentos, a maioria mostrou maior predomínio de adolescentes

    entre as vítimas, confirmando assim este grupo como mais vulnerável pelas características

    intrínsecas à idade. O tipo de violência sexual mais citada pelas vítimas foi o estupro, seguido

    do atentado violento ao pudor 1,2,4,5,6,7,8

    .

    Os estudos mostraram altos percentuais de falta de adesão ao tratamento

    quimioprofilático, com percentuais variando de 46 a 85% dos casos com indicação do

    tratamento. Considerando os fatores relacionados à falta de adesão ao tratamento, os mais

    citados foram: os transtornos psíquicos e ou emocionais1,5,8

    , a falta de entendimento da

    prescrição médica, efeitos colaterais1,5

    ; e a falta de recursos financeiros para retornar ao

    serviço1,8

    .

    Diniz et al.1 analisaram os prontuários de atendimento médico dos meses de outubro a

    dezembro de 2003, do Serviço de Atenção a Pessoa em Situação de Violência em Salvador

    (BA). Os autores observaram que o estupro foi o tipo de violência sexual mais frequente,

    sendo a faixa etária de 12 a 18 anos a mais acometida. Neste estudo, cinquenta e quatro por

    cento das vítimas tinham indicação para uso dos antirretrovirais para prevenção do HIV,

    porém, entre as mulheres que iniciaram o tratamento, apenas 57,4% concluíram o protocolo.

    Entre os motivos mais apontados no estudo para a falta de adesão ao tratamento estavam os

    http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=DINIZ,+NORMELIA+MARIA+FREIRE

  • 22

    transtornos psíquicos (40%); a falta de entendimento do uso correto das medicações (30,0%);

    os efeitos colaterais secundários (20,0%) e a falta de recursos financeiros para retornar ao

    serviço (10,0%).

    Ramos, Medicci, Puccia2, ao avaliarem o atendimento prestado à luz dos procedimentos

    indicados segundo a Norma Técnica do Ministério da Saúde, baseados na análise dos

    prontuários médicos do Serviço de Saúde Pública do Município de Santo André entre os anos

    de 2005 e 2006, identificaram o predomínio de adolescentes entre as vítimas (36,7%). Quase a

    metade dos casos (48,0%) em 2005, foi vítima de estupro. Os autores observaram que em

    90% dos casos houve indicação do uso dos antirretrovirais, porém 40,7% das mulheres não

    concluíram o tratamento e 59,3% não realizaram o acompanhamento ambulatorial.

    Olshen et al.5, em estudo realizado em dois centros de pediatria de referência em Boston, no

    período de julho de 2001 a junho de 2003, observaram que 74,0% das vítimas relataram o

    estupro como a forma de agressão. Foram oferecidos os antirretrovirais para 129 mulheres

    (89,0% das vítimas), porém apenas 110 (76,0%) concordaram em iniciar o tratamento.

    Apenas 15,0% das pacientes completaram o curso de 28 dias de profilaxia e 37,0% relataram

    episódios de vômitos, 14% diarreia, 11% dor abdominal como entraves ao tratamento.

    Kerr et al.6, avaliando o primeiro ano de funcionamento de um serviço piloto na cidade de

    Londres, verificaram que dentre os 673 casos de violência sexual, dezesseis por cento tinham

    idades entre 11 e 15 anos. A média das idades neste estudo foi de 26 anos, e a grande maioria

    das vítimas era do sexo feminino. A profilaxia pós-exposição ao HIV foi oferecida para um

    total de 34 casos, porém 20 (58,8%) destes não retornaram para acompanhamento.

    Abrahams e Jewkes8 realizaram um estudo qualitativo com 29 mulheres atendidas em

    serviços de agressão sexual no Sul da África e verificaram que apenas nove mulheres

    completaram o protocolo de drogas prescritas. Os autores relataram como barreiras para

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Abrahams%20N%22%5BAuthor%5D

  • 23

    adesão ao tratamento: fatores individuais, como autoculpa e perturbação emocional; fatores

    sociais, como o medo de ser estigmatizada e de ser culpabilizada pelo estupro; e fatores

    relacionados a crenças sobre a medicação, como dificuldades com os esquemas posológicos,

    falta de conhecimento sobre a medicação, e incapacidade de ajustar a medicação na

    programação diária.

    Steel-Duncan et al.4 avaliaram uma série de casos na Jamaica, de crianças e adolescentes

    vítimas de agressão sexual. O estudo mostrou que apenas quatro das crianças estavam sob

    cuidados de proteção. O atendimento médico foi procurado após a agressão por apenas uma

    dessas vítimas, sendo este também o único evento que recebeu a profilaxia pós-exposição

    padrão para doenças sexualmente transmissíveis, porém sem incluir a profilaxia para o HIV.

    Os autores evidenciaram a importância da instituição do protocolo de quimioprofilaxia anti-

    HIV para as vítimas de violência sexual por meio do relato de que, após três meses, o caso

    citado apresentou sorologia positiva para o HIV. Os autores concluíram que o risco de

    transmissão do HIV após violência sexual, embora seja pequeno, como é relatado na

    literatura, pode ser significativo em certas circunstâncias, e por isso é razoável que a

    profilaxia pós-exposição seja oferecida.

    Rovi, Shimoni7 analisaram os dados da Pesquisa Nacional Americana de Assistência

    Hospitalar Ambulatorial Médica de 1994 a 1999, para identificar os casos de agressão sexual.

    Foram identificados 160 casos, sendo que 90% eram mulheres adultas ou adolescentes.

    Observou-se que 26,9% das vítimas tinham de dez anos de idade ou menos; 21,2% tinham

    entre 11 e 17 anos; 30,0% entre 18 e 30 anos; e 21,9% mais de 30 anos de idade. Neste

    estudo, nenhuma das vítimas recebeu o esquema completo de antibióticos para infecções

    sexualmente transmissíveis. Os autores verificaram que, mesmo com as recomendações para a

    instituição da profilaxia anti-HIV para as vítimas de violência sexual terem sido emitidas pelo

    Centro de Controle de Doenças (CDC) desde o ano de 2003, estas ainda não estavam sendo

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Rovi%20S%22%5BAuthor%5D

  • 24

    colocadas em prática, revelando a necessidade de instituir um padrão de atendimento para as

    vítimas de agressão sexual, juntamente com maiores investimentos na capacitação dos

    profissionais de saúde que atendem esta população.

    Embora os estudos tenham sido realizados em países bem diferentes com relação à

    distribuição dos casos de HIV, todos os estudos incluídos nesta revisão concordaram que o

    protocolo quimioprofilático deve ser oferecido às vítimas de agressão sexual nas primeiras

    72h e que o acompanhamento ambulatorial deve ter duração mínima de seis meses, com a

    realização de consultas médicas e coletas de exames laboratoriais, para melhor resultado do

    tratamento profilático. Estes dados estão de acordo com a Norma Técnica do Ministério da

    Saúde, em vigor desde o ano de 1999, para atendimento a vítimas de agressão sexual no

    território nacional.

    Olshen et al.5 relataram que a taxa de adesão ao protocolo varia de acordo com a percepção da

    população de risco em contrair o HIV. Entretanto, na tabela 1 foi possível observar que

    mesmo considerando a alta incidência de casos de HIV na população africana, altas taxas de

    falta de adesão ao tratamento são observadas. Neste contexto, destaca-se a importância do

    desenvolvimento do vínculo de comunicação entre a vítima e o profissional de saúde, visando

    o desenvolvimento de um processo educativo com as vítimas para melhorar a adesão ao

    protocolo e reduzir os casos de HIV nesta população.

    CONCLUSÃO

    As adolescentes são as principais vítimas de violência sexual e representam uma grande fatia

    dos atendimentos médicos desse setor. No entanto, poucos estudos foram voltados para esta

    população específica. Os estudos disponíveis mostraram altas taxas de falta de adesão ao

    tratamento quimioprofilático do HIV para as vítimas de violência sexual. Assim, verifica-se a

    necessidade de futuros estudos sobre as particularidades que levam as vítimas adolescentes a

  • 25

    desistirem do tratamento, com vistas a contribuir para melhorar a qualidade da assistência

    oferecida a este grupo.

    REFERÊNCIAS

    1-Diniz NMF, Almeida LCG, Ribeiro BCS, Macêdo VG. Mulheres vítimas de violência

    sexual: adesão à quimioprofilaxia do HIV. Rev Latino-Am Enfermagem [online] 2007; 15(1):

    7-12.

    2-Ramos CRA, Medicci VPG, Puccia MIR. Mulheres vitimadas sexualmente perfil

    sociodemográfico e análise do atendimento em um centro de referência. Rev Inst Ciênc Saúde

    2009; 27(1): 22-7.

    3-Brasil. Ministério da Saúde. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência

    sexual contra mulheres e adolescentes: Norma Técnica. 3. ed atual e ampl; Brasília, 2010.

    4-Steel-Duncan JC, Pierre R, Evans-Gilbert T, Rodriquez B, Christie CDC. HIV/AIDS

    following sexual assault in Jamaican children and adolescents: a case for HIV post-exposure

    prophylaxis. West Indian med j 2004 Oct; 53(5): 352-5.

    5-Olshen E, Hsu K, Woods ER, Harper M, Harnisch B, Samples CL. Use of Human

    Immunodeficiency Virus Postexposure Prophylaxis in Adolescent Sexual Assault Victims.

    Arch Pediatr Adolesc med 2006 Jul; 160(7): 674-80

    6-Kerr E, Cottee C, Chowdhury R, Jawad R, Welch J. The Haven: a pilot referral centre in

    London for cases of serious sexual assault. BJOG 2003; 110(3):267-71.

    7-Rovi S, Shimoni N. Prophylaxis provided to sexual assault victims seen at US emergency

    departments. J Am Med Womens Assoc 2002; 57(4):204-7.

    8-Abrahams N, Jewkes R. Barriers to post exposure prophylaxis (PEP) completion after rape:

    a South African qualitative study. Culture Health & Sex 2010; 12(5):471-84.

    9-Schremmer RD, Swanson D, Kraly K. Human immunodeficiency virus postexposure

    prophylaxis in child and adolescent victims of sexual assault. Pediatr Emerg Care 2005 Aug;

    21(8):502-6.

    http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=DINIZ,+NORMELIA+MARIA+FREIREhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis|database_name=TITLES|list_type=title|cat_name=ALL|from=1|count=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=West%20Indian%20med.%20jhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Rovi%20S%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Shimoni%20N%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12405238http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Abrahams%20N%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Jewkes%20R%22%5BAuthor%5D

  • 26

    3 PROPOSIÇÃO

    OBJETIVO GERAL

    Compreender os fatores ou eventos relacionados à falta de adesão ao protocolo de

    quimioprofilaxia do HIV em mulheres jovens e adolescentes vítimas de violência sexual.

    OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    a) Avaliar o perfil epidemiológico e os aspectos relacionados à adesão ao protocolo de

    quimioprofilaxia antirretroviral de jovens e adolescentes vítimas de violência sexual,

    atendidas em um serviço de apoio à mulher do Recife/PE.

    b) Conhecer a representação social da violência sexual e sua relação com a adesão ao

    protocolo da quimioprofilaxia do HIV em um grupo de mulheres jovens e

    adolescentes.

  • 27

    4 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

    4.1 DESENHO DO ESTUDO

    Este estudo foi composto de duas abordagens relacionadas ao tema Falta de adesão ao

    protocolo quimioprofilático do HIV em mulheres jovens e adolescentes vítimas de violência

    sexual: abordagem quantitativa, realizado através de um estudo transversal, e abordagem

    qualitativa.

    4.2 CENÁRIO DO ESTUDO

    Este estudo teve como campo da pesquisa o Serviço de Apoio a Mulher Wilma Lessa (SAM-

    WL) no Hospital Agamenon Magalhães anexo à emergência geral, que funciona desde 2001

    atendendo mulheres de qualquer idade, que tenham sofrido algum tipo de violência

    (doméstica, física, moral, sexual). O atendimento é realizado por uma equipe

    multiprofissional, formada por médicos, assistentes sociais, psicólogos e enfermeiras, que

    garantem o sigilo da paciente.

    O serviço conta com salas de recepção, serviço social, psicologia, sala de atendimento médico

    e de exames, quarto de repouso e copa.

    4.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA

    A Organização Mundial da Saúde circunscreve a adolescência à segunda década da vida (de

    10 a 19 anos) e considera que a juventude se estende dos 15 aos 24 anos. Esses conceitos

    comportam desdobramentos, identificando-se adolescentes (de 15 a 19 anos) e adultos jovens

    (de 20 a 24 anos) (BRASIL, 2005). Considerando esta classificação, fizeram parte deste

    estudo mulheres jovens e adolescentes na faixa etária de 10-24 anos.

    Foram incluídas no estudo as mulheres jovens e adolescentes que procuraram atendimento

    médico no Serviço de Apoio a Mulher Wilma Lessa do Hospital Agamenon Magalhães

  • 28

    (SAM-WL) dentro das primeiras 72 horas da violência e receberam quimioprofilaxia

    antirretroviral para infecção pelo HIV (terapia antirretroviral tríplice, com utilização de

    Zidovudina, Indinavir e Lamivudina).

    4.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

    4.4.1 ESTUDO QUANTITATIVO

    Foi realizada a análise dos prontuários de atendimento de mulheres jovens e adolescentes do

    Serviço de Apoio à Mulher Wilma Lessa, os quais incluíam dados da consulta de urgência e

    do seguimento ambulatorial, do período de janeiro de 2011 a Outubro de 2011. Este estudo

    objetivou obter as características sócio-econômico-demográficas das vítimas, as

    características da violência e do agressor; dados relacionados ao atendimento clínico;

    indicação da profilaxia e acompanhamento ambulatorial. Esses dados foram digitalizados e

    analisados no Programa de Estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na

    versão 17. Os resultados foram expressos através de percentuais. Para verificar associação

    entre duas variáveis categóricas foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste Exato

    de Fisher, a margem de erro utilizada nas decisões dos testes estatísticos foi de 5%.

    4.4.2 ESTUDO QUALITATIVO

    Para a realização deste estudo, aplicou-se a um grupo de pacientes do serviço, um roteiro de

    entrevista semi-estruturada, composta de cinco questões norteadoras, em um grupo de

    pacientes do serviço. As questões norteadoras foram: 1 - O que representou seu primeiro

    atendimento? 2 - Fale sobre a(s) orientações que você recebeu. 3 - Você sentiu dificuldade de

    fazer o tratamento em casa? 4 - Na sua opinião o que foi mais difícil durante o tratamento? 5 -

    Você parou ou desistiu do tratamento?

  • 29

    As entrevistas foram gravadas com gravador de voz digital e transcritas na íntegra, de forma

    detalhada, em um período não superior à 24hs.

    As jovens e adolescentes foram convidadas a participar da pesquisa nos dias agendados para

    as consultas de retorno. Após captação dos sujeitos através de convite individual, foi realizada

    explicação dos objetivos da pesquisa, e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido,

    pela adolescente e se necessário, pelo seu responsável (Apêndice A).

    O número de participantes do estudo foi definido mediante critério do índice de saturação do

    conteúdo abordado. Segundo Flick, (2009), o fechamento amostral por saturação teórica é

    operacionalmente definido como a suspensão de inclusão de novos participantes quando os

    dados obtidos passam a apresentar, na avaliação do pesquisador, certa redundância ou

    repetição, ou seja, não surgir mais nada novo.

    As informações obtidas por meio das entrevistas permitiu a análise segundo a técnica de

    análise de conteúdo, à luz do referencial teórico das representações sociais.

    Para Bardin, (2011), a análise de conteúdo, é um conjunto de técnicas de análise das

    comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de

    conteúdo das mensagens que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições

    de produção/ recepção dessas mensagens. Assim, os resultados foram apresentados,

    destacando-se as informações obtidas conforme a relevância, cuja análise procedeu-se com

    base em referenciais teóricos de autores que realizaram estudos relacionados à temática, sendo

    agrupadas em categorias para análise percorrendo os seguintes passos:

    1. Leitura inicial objetivando uma compreensão global do material. Esta é a fase de

    organização propriamente dita. Tem como objetivo sistematizar as ideias iniciais e

    explora de forma sistemática os documentos.

    2. Identificação das unidades de significado que emergiram das falas dos entrevistados e

    codificação. A codificação corresponde a uma transformação, efetuada segundo regras

  • 30

    precisas, dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e

    enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão.

    3. Descoberta de núcleos de sentido;

    4. Interpretação e discussão dos núcleos de sentido encontrados.

    Para garantir o anonimato das pesquisadas, nos fragmentos das entrevistas, foram utilizados

    os seguintes códigos: E (para entrevista) e, após esse código, os números correspondentes à

    sequência das entrevistas.

    4.5 ASPECTOS ÉTICOS

    A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Agamenom

    Magalhães, Recife/PE (CAAE- 0217.0.236.000-11). A participação das adolescentes e jovens

    esteve condicionada à assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e à

    anuência de seus responsáveis.

    De acordo com o Artigo 7º da Resolução 01/88, de 13 de junho de 1988, sobre as

    Normas de Pesquisa em Saúde, esta pesquisa se enquadra na classificação de Pesquisa Com

    Risco Mínimo, a qual engloba estudos prospectivos que empreguem o registro de dados

    através de procedimentos comuns em exames físicos ou psicológicos do diagnóstico ou

    tratamento rotineiros. Considerou-se nesta pesquisa o risco mínimo de algumas participantes

    se sentirem constrangidas em compartilhar informações pessoais durante a entrevista, ou até

    mesmo ao relembrarem a violência sofrida. Foi garantida às participantes a confidencialidade

    dos dados e das informações coletadas. Os resultados da pesquisa foram obtidos apenas para

    alcançar os objetivos da pesquisa, incluindo a sua publicação na literatura científica

    especializada.

  • 31

    Ao final das entrevistas, as participantes receberam orientações sobre a importância da

    realização do tratamento completo e do acompanhamento ambulatorial. Este estudo pretendeu

    contribuir com o conhecimento dos fatores que dificultam adesão à quimioprofilaxia do HIV

    em mulheres jovens e adolescentes vítimas de violência sexual, visando auxiliar na elaboração

    de estratégias para reduzir a falta de adesão ao protocolo quimioprofilático do HIV,

    importantes para a redução do risco de transmissão da infecção pelo HIV e o surgimento de

    cepas virais multirresistentes.

  • 32

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    5.1 ARTIGO (02) - Artigo enviado para o periódico: Revista Brasileira de Epidemiologia.

    Perfil epidemiológico e aspectos relacionados à adesão ao protocolo de quimioprofilaxia

    antirretroviral de adolescentes e jovens vítimas de violência sexual, atendidas em um

    serviço de apoio à mulher do Recife/PE.

    Epidemiological profile and aspects relating to adherence to antiretroviral

    chemoprophylaxis protocol for adolescents and young victims of sexual violence, attending

    a support service to women in Recife / PE.

    *Ericka Viviane Pontes Procópio

    *Camila Guerra Feliciano

    **Cintia Regina Tornisiello Katz

    *Alunas do programa do Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de

    Pernambuco.

    **Professora do Programa do Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de

    Pernambuco.

    Não há conflito de interesses.

    Endereço para correspondência:

    Ericka Viviane Pontes Procópio

    Rua: Luiz Barbalho, 127, apto 101 – Boa Vista, Recife – PE. CEP: 50070-120

    Fone: 55(81) 32236701. e-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]

  • 33

    RESUMO

    Este estudo objetivou avaliar o perfil epidemiológico e os aspectos relacionados à adesão ao

    protocolo de quimioprofilaxia anti-HIV de adolescentes e jovens vítimas de violência sexual,

    atendidas em um serviço de apoio à mulher do Recife/PE. O estudo foi do tipo transversal,

    com dados de 178 prontuários de atendimentos realizados com vítimas de 10 e 24 anos de

    idade. A análise estatística foi realizada no programa SPSS e os testes utilizados foram o Qui-

    quadrado de Pearson e/ou Exato de Fisher. A maioria das vítimas tinha entre 15 a 19 anos

    (36,5%), baixa renda (66,3%) e baixa escolaridade (63,5%). Mais da metade apresentou

    indicação para realização da quimioprofilaxia (58,4%); entretanto, apenas 40,0% realizaram o

    protocolo. Ressalta-se que em 50,0% das fichas não havia anotação do serviço sobre a

    conclusão do protocolo. Apenas 10,0% compareceram a todas as consultas de retorno. A

    conclusão do protocolo não foi associada com nenhuma das variáveis analisadas,

    evidenciando a importância de avaliar com maior profundidade os motivos que levam à falta

    de adesão à quimioprofilaxia anti-HIV em adolescentes, considerando os aspectos

    comportamentais característicos desta fase. Verificou-se também a necessidade de maior

    atenção ao preenchimento da ficha de controle e atendimento; e do aprimoramento do

    acompanhamento ambulatorial dos casos.

    Palavras chaves: adolescente, violência sexual, quimioprevenção, adesão ao tratamento

    medicamentos, HIV, pacientes desistentes do tratamento.

  • 34

    ABSTRACT

    This study aimed to evaluate the epidemiological profile and aspects relating to adherence to

    protocol chemoprophylaxis for HIV in adolescents and young victims of sexual violence,

    attending a support service to women in Recife / PE. A cross-sectional study was conducted

    with data from 178 medical records of care provided to victims of 10 and 24 years old.

    Statistical analysis was performed using SPSS and the tests used were the chi-square test and /

    or Fisher. Most victims were between 15 and 19 years (36.5%), low income (66.3%) and

    lower education (63.5%). More than half had indication for chemoprophylaxis (58.4%),

    however, only 40.0% completed the protocol. It is noteworthy that in 50.0% of the chips had

    not annotation service on completion of the protocol. Only 10.0% attended all follow-up

    visits. The conclusion of the protocol was not associated with any of the variables analyzed,

    highlighting the importance of assessing in depth the reasons that lead to non-adherence to

    chemoprophylaxis for HIV in adolescents, considering the behavioral characteristic of this

    phase. It was observed a need for greater attention to filling out the control and care, and the

    improvement of outpatient cases.

    Key words: adolescent, sexual violence, chemoprevention, medication adherence, HIV,

    patient dropouts.

  • 35

    INTRODUÇÃO

    A violência contra adolescentes é multidimensional e requer uma resposta multifacetada1.

    Atinge indistintamente todas as classes sociais, etnias, religiões e culturas, tornando-se,

    portanto, um fenômeno mundial. Sua verdadeira incidência é desconhecida, manifestando-se

    de múltiplas formas, nos diferentes momentos históricos e sociais, em acordo com aspectos

    culturais2,3

    . Acredita-se que é uma das condições de maior subnotificação e subregistro2.

    Segundo a Organização das Nações Unidas, toda a violência contra crianças e adolescentes é

    evitável. No entanto, esta violência existe em todos os países do mundo, e as iniciativas de

    combate costumam priorizar os sintomas e suas consequências, e não as suas causas1.

    Martins e Jorge4, em estudo com 186 registros de casos de abusos sexual nos Conselhos

    Tutelares e programas de atendimento do município de Londrina-PR, verificaram o grande

    impacto que a agressão sexual exerce na saúde física e mental das vítimas, deixando marcas

    profundas e causando danos irreparáveis em seu desenvolvimento, incluindo o impacto na

    vida reprodutiva e sexual. Os autores concluíram que, considerando os danos e agravos

    provocados e a sua estreita relação com as questões policiais e jurídicas, a violência constitui-

    se em um grande problema de saúde pública.

    Ramos, Medicci e Puccia5

    analisaram os prontuários de mulheres vítimas de violência sexual

    atendidas em um serviço de saúde pública do município de Santo André/SP entre os anos de

    2005 e 2006. Do total de 59 mulheres atendidas no biênio 2005-2006, metade eram

    adolescentes e jovens.

    Segundo a Organização Mundial de Saúde, em alguns países, uma em cada quatro mulheres

    relatam ter sido vítima de violência sexual, e até um terço das adolescentes tem sua iniciação

    sexual forçada, como é o caso do norte de Londres e Reino Unido. Valores semelhantes foram

    registrados em Guadalajara (México), Lima (Peru) e na província de Midlands (Zimbabwe)6.

  • 36

    Apesar de suas sérias implicações sobre a saúde da vítima, em vários países a violência sexual

    continua sendo ignorada e não é inserida como tema habitual dos programas de saúde sexual e

    reprodutiva. A necessidade de prestar atenção a este problema se justifica, não apenas por

    representar séria violação dos direitos humanos das vítimas, mas porque um atendimento de

    emergência adequado pode prevenir grande parte das consequências deste tipo de violência7.

    No Brasil, a abordagem da violência no âmbito da saúde pública encontra-se nas etapas

    iniciais. As informações, primordiais para o desenvolvimento de ações, no entanto, continuam

    inacessíveis, quer seja por limitações ou pelo silêncio acerca da temática violência8.

    Em 1999, o Ministério da Saúde lançou a primeira norma técnica de prevenção e tratamento

    dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes, com vistas a

    padronizar o atendimento das vítimas. Esta norma técnica passou por revisões nos anos de

    2002, 2005, 2010 e 2012, e de acordo com estas recomendações os serviços de saúde devem

    estar adequadamente preparados para avaliar os riscos envolvidos com a violência sexual em

    cada caso, oferecendo medidas de proteção e intervenção apropriadas. Contracepção de

    emergência, profilaxia para a hepatite B e proteção medicamentosa contra as doenças

    sexualmente transmissíveis não virais e contra o HIV são medidas que devem ser oferecidas e

    garantidas nos casos ocorridos há menos de 72 horas, além do aborto previsto em lei para

    alguns casos9,10

    .

    De acordo com alguns autores, a adesão à quimioprofilaxia do HIV entre as vítimas de

    violência sexual tem variado de 16% a 85%11,12

    . Poucos estudos têm sido realizados

    especificamente sobre o uso da quimioprofilaxia anti-HIV em adolescentes13,14

    , sendo

    provável que adolescentes vítimas de violência sexual tenham problemas específicos

    complicando sua adesão a tratamento.

    Apesar da atenção e adoção de políticas públicas, a violência sexual contra mulheres ainda

    permanece como grave ameaça às condições de vida, sobretudo quando se considera os

  • 37

    problemas relacionados à falta de adesão à quimioprofilaxia das doenças sexualmente

    transmissíveis em alguns grupos populacionais, fato merecedor de novos estudos. Em

    Pernambuco, como na maioria dos estados brasileiros, existem poucos dados disponíveis

    sobre a violência sexual, cuja ocorrência geralmente é subnotificada ou é registrada apenas

    nos serviços de pronto-socorro, não sendo possível conhecer com exatidão os casos de

    violência contra adolescentes.

    Neste sentido, este estudo objetiva avaliar o perfil epidemiológico e os aspectos relacionados

    à adesão ao protocolo de quimioprofilaxia antirretroviral de adolescentes e jovens vítimas de

    violência sexual, atendidas em um serviço de apoio à mulher do Recife/PE.

  • 38

    MÉTODO

    Realizou-se um estudo tipo transversal, que teve como população de referência adolescentes e

    jovens na faixa etária de 10 a 24 anos, que foram atendidas no Serviço de Apoio à Mulher-

    Wilma Lessa do Hospital Agamenon Magalhães no Recife, Pernambuco, de janeiro a outubro

    de 2011. Este serviço foi escolhido para a realização do estudo por ser referência no Estado,

    sendo responsável pelo atendimento da maioria das vítimas de violência de qualquer natureza.

    Neste estudo utilizou-se o critério de divisão de faixa etária estabelecido pela Organização

    Mundial da Saúde, a qual circunscreve a adolescência à segunda década de vida (de 10 a 19

    anos de idade) e considera que a juventude se estende dos 15 aos 24 anos15

    .

    As adolescentes e jovens foram acompanhadas ambulatorialmente de acordo com um

    protocolo estabelecido pela norma técnica do Ministério da Saúde para Prevenção e

    tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes, com a

    primeira consulta em 15 dias após o atendimento de emergência e as demais após 45, 90 e 180

    dias. Todos os dados deste estudo foram obtidos através dos prontuários de atendimento, os

    quais incluíam informações sobre a consulta de urgência e do seguimento ambulatorial.

    As variáveis da pesquisa foram organizadas quanto às características sócio-econômico-

    demográficas das vítimas, quanto às características da violência, características do agressor;

    dados relacionados ao atendimento clínico; indicação da profilaxia e acompanhamento

    ambulatorial.

    Os dados foram digitalizados e analisados no Programa de Estatística SPSS (Statistical

    Package for the Social Sciences) na versão 17. Os resultados foram expressos através de

    percentuais. Para verificar a associação entre duas variáveis categóricas foi utilizado o teste

    Qui-quadrado de Pearson ou o teste Exato de Fisher, a margem de erro utilizada nas decisões

    dos testes estatísticos foi de 5%.

  • 39

    Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Agamenom

    Magalhães, Recife/PE (CAAE- 0217.0.236.000-11).

  • 40

    RESULTADOS

    Neste levantamento foram identificados 468 atendimentos, sendo 285 registrados como

    violência sexual. Destes 178 atendimentos (38%) foram realizados em adolescentes e jovens

    na faixa etária de 10-24 anos. A média das idades foi de 16,8 anos.

    A Tabela 1 apresenta os resultados relativos aos dados socioeconômicos e demográficos das

    pesquisadas. Observou-se uma maior concentração de casos na faixa etária de 15 a 19 anos

    (36,5%). A maioria das pesquisadas se declararam como da cor parda (59,6%) e solteiras

    (96,1%). Quanto à escolaridade, a maioria tinha ensino fundamental (63,5%) e não

    trabalhavam (60,1%). Quanto à renda familiar, o maior percentual estava entre as famílias que

    recebiam até um salário mínimo (36,0%). Metade das pesquisadas era procedente da cidade

    do Recife; 17,4% eram das cidades que compõem a Região Metropolitana do Recife e 24,7%

    eram do interior do estado de Pernambuco.

    A Tabela 2 mostra os resultados relativos à violência sexual e o perfil dos agressores.

    Verificou-se que se a grande maioria (90,4%) sofreu penetração vaginal, com a ressalva que

    uma mesma pessoa pode ter sofrido mais de um tipo de agressão. Quanto ao local da agressão,

    aproximadamente 1/3 (34,3%) das pesquisadas foi agredida na própria residência e 57,9% foi

    agredida em outros locais diferentes dos relacionados. Em relação ao instrumento utilizado para

    intimidação da vítima os mais citados foram: arma (34,8%) e força maior (32,6%). Uma grande

    parcela das vítimas ainda não havia iniciado a atividade sexual (39,9%). Observou-se nos dados

    relativos ao perfil dos agressores, que o maior percentual correspondeu aos casos em que o

    agressor era desconhecido (47,2%), seguido daqueles em que o agressor era vizinho, parente ou

    outro (37,1%). Quanto à idade, a maioria das vítimas relatou que os agressores tinham entre 20

    e 29 anos (26,4%). Um grande percentual das vítimas relatou que os agressores tinham feito

    uso de álcool e/ou drogas (32,6%).

  • 41

    A Tabela 3 expressa os dados relativos à indicação e à adesão ao protocolo da quimioprofilaxia

    do HIV. Verificou-se que maioria das vítimas tinha indicação para realizar o protocolo

    (58,4%). Destaca-se que apenas 10,7% das vítimas compareceram a todos os retornos de

    acompanhamento no serviço de apoio à mulher; o maior percentual de adolescentes

    correspondeu aos que tiveram 2 a 5 retornos (41,0%), seguido de 29,8% que não tinham

    retornado e 18,5% que tinham retornado apenas uma vez. Dos 104 casos que realizaram o

    protocolo de quimioprofilaxia, 40,4% fizeram a conclusão do protocolo, 9,6% não concluíram

    o tratamento e, em 50,0% dos prontuários não havia esta informação.

    As Tabelas 4 e 5 avaliam a conclusão do protocolo de quimioprofilaxia do HIV de acordo

    com as variáveis sócio-econômico-demográficas e culturais das vítimas, com o perfil do

    agressor e tipo de agressão. Verificou-se que a conclusão do protocolo não foi associada com

    nenhuma dessas variáveis analisadas.

  • 42

    DISCUSSÃO

    Os resultados relacionados aos dados sociodemográficos obtidos neste estudo equiparam-se

    aos de outros estudos realizados16,17,18,19

    , porém não existe uma padronização no que se refere

    a faixa etária mais afetada; entretanto estes dados levam à observação de que quanto menor a

    idade maior o percentual de vitimização. Assim como encontrado em outros estudos

    brasileiros, a maioria dos casos de abuso sexual ocorreu entre menores de 19 anos,

    assinalando que estas são as principais vitimas de agressão sexual e a população mais

    vulnerável20,21,22

    . Segundo Oshikata, Bedone e Faunde23

    , uma possível explicação sobre a

    preferência dos agressores por mulheres mais jovens, não é apenas o suposto maior atrativo

    sexual, mas também a sua menor capacidade de reação em comparação com a mulher de

    maior idade.

    No concernente à raça, a literatura aponta que a raça negra aparece como a mais vulnerável

    para agressão sexual16,18

    . Porém, nos dados analisados, foi encontrado um maior predomínio

    da raça parda, o que pode estar relacionado com a metodologia empregada neste trabalho,

    sendo anotada a raça autodeclarada. Ramos, Medicci, Puccia17

    , revelaram em seu estudo que

    houve predomínio da raça branca, no entanto, ressaltam que podem ter ocorrido erros no

    preenchimento do formulário. Para Costa, Carvalho, Santa Bárbara, Santos, Gomes, Sousa24

    ,

    populações afrodescendentes e brancas ocupam lugares divergentes na sociedade e vivenciam

    experiências desiguais, infligindo aos negro/pardos diversas iniquidades sociais, com

    extremas desigualdades.

    Verificou-se que maioria das vítimas era de baixa renda e baixa escolaridade, assim

    semelhante ao encontrado em outros estudos, segundo os quais dificuldades econômicas,

    desemprego, famílias reconstituídas são fatores de risco para abuso sexual 21,25,26,27

    . No

    entanto, salienta-se que este tipo de violência pode estar sendo silenciado nas classes mais

    favorecidas26

    .

  • 43

    Considerando as adolescentes e jovens estudadas, verificou-se que o estupro foi o crime

    sexual predominante, o que está em consonância com outros estudos 16,17,22,23

    .

    Para as adolescentes a agressão em via pública ou local ermo foi o predominante e o agressor,

    desconhecido da vítima, desfecho encontrado nos resultados citados por Lopes, Gomes, Silva,

    Deus, Galvão, Borba21

    e Ramos, Medici, Puccia17

    . Portanto o fato de o agressor ser

    desconhecido, na maior parte dos casos, impede a determinação de sua condição sorológica

    para o HIV, fortalecendo assim um dos critérios para iniciar a quimiprofilaxia antirretroviral

    para o HIV 22

    .

    Assim como observado em outros estudos, grande parte das vítimas não sabia informar se o

    agressor estava sob o efeito de drogas o que pode ser justificado pela situação de terror a que

    estavam submetidas no momento da violência sexual. Além disso, o uso de armas e a

    intimidação por força física, pelo agressor, são fatores determinantes para anular a resistência

    da vítima 16,17,21,23

    .

    Os resultados apontaram que a maioria dos atendimentos realizados era de adolescentes e

    jovens procedentes do Recife, o que pode ser justificado pela localização do serviço, pela

    dificuldade das vitimas do interior do Estado para chegar até a capital ou a falta de serviços

    capazes de realizar um atendimento integral em outros municípios.

    Quanto à indicação de antirretrovirais, mais da metade das mulheres iniciou a profilaxia para

    o HIV quando recebeu o primeiro atendimento no serviço. Isto explica, em parte, a procura do

    serviço com rapidez, pelo temor da vítima em adquirir HIV em função de uma violência

    sexual. Entretanto, verificou-se uma taxa de adesão ao protocolo de quimioprofilaxia anti-

    HIV de 40,4%. Este valor foi menor do que o encontrado em outros estudos brasileiros 16,17

    ,

    indicando que pode haver uma maior necessidade, nas cidades do Nordeste do Brasil, em se

    trabalhar estratégias de orientação desta população para melhorar a adesão ao protocolo

    quimioprofilático.

  • 44

    Assim como a falta de adesão ao protocolo quimioprofilático, observou-se que a grande

    maioria das pesquisadas também não completou o período de acompanhamento clínico

    preconizado pela norma técnica do Ministério da Saúde, assim como observado por Ramos,

    Medici, Puccia17

    . Vale salientar que, de acordo com Olshen, Hsu, Woods, Harper, Harnisch,

    Samples18

    , a adesão ao protocolo de quimioprofilaxia anti-HIV é maior nos países com maior

    prevalência de HIV, como é o caso da África, pois a percepção do risco nestes países é mais

    elevada.

    Neste levantamento não foram encontradas associações significativas entre a

    conclusão do protocolo e nenhuma das variáveis sócio-econômico-demográficas analisadas; o

    que significa que a falta de adesão ao tratamento não dependeu da escolaridade das vítimas;

    da sua classe econômica ou das suas características sociais. Esses resultados evidenciam a

    importância de se avaliar com maior profundidade os motivos que levam à falta de adesão ao

    protocolo, principalmente na população de adolescentes, a qual está relacionada com aspectos

    comportamentais característicos da faixa etária. Alguns estudos têm indicado que a falta de

    adesão à quimioprofilaxia do HIV pode estar associada a diversos outros fatores como:

    transtornos psíquicos ou emocionais, efeitos colaterais dos medicamentos, qualidade do

    serviço de saúde, problemas de comunicação e falta de vínculo entre a vítima de violência

    sexual e o profissional de saúde, falta de entendimento das prescrições médicas 16,17,18,22,28,29,30

    .

    As limitações apresentadas neste estudo estão relacionadas à ausência de informações que

    deveriam ter sido registradas pelos profissionais no momento do atendimento. Além desse

    fator, por se tratar de uma pesquisa documental, não foi possível informar os agravos sofridos

    pelas vítimas devido à descontinuidade do atendimento. Assim, evidenciam-se as seguintes

    necessidades, comuns aos serviços de apoio à mulher: maior atenção ao preenchimento

    completo das informações básicas na ficha de atendimento; aprimorar o acompanhamento

    ambulatorial dos casos, buscando reduzir as desistências; realizar busca ativa dos casos, para

  • 45

    verificar os motivos da desistência; inserir a família no atendimento trabalhando a

    responsabilidade pelo acompanhamento e capacitação dos profissionais para o atendimento

    aos adolescentes vítimas de violência.

  • 46

    CONCLUSÕES

    O perfil epidemiológico encontrado na maioria das adolescentes pesquisadas foi de vítima de

    estupro, baixa renda e baixa escolaridade, procedente de locais próximos ao serviço, com

    indicação de realização do protocolo de quimioprofilaxia para o HIV, porém com grande

    tendência a não retornar às consultas de acompanhamento e de não aderir ao protocolo

    quimioprofilático.

    As adolescentes são a parcela mais vulnerável da sociedade para este tipo de violência. O

    atendimento médico após a violência foi mais elevado entre as adolescentes e jovens com

    maior grau de escolaridade, idade e renda familiar. Entretanto, estas variáveis não foram

    associadas à adesão ao protocolo quimioprofilático. Desta forma, sugere-se que estudos com

    abordagens qualitativas sejam realizados para contribuir com o conhecimento das variáveis

    que interferem na adesão ao acompanhamento ambulatorial e à quimioprofilaxia; assim como

    estudos que avaliem o impacto causado na saúde destas adolescentes, a médio e longo prazo.

  • 47

    REFERÊNCIAS

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  • 48

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  • 49

    17. Ramos CRA, Medicci VPG, Puccia MIR. Mulheres vitimadas sexualmente perfil

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  • 51

    Tabela 1 – Distribuição das vítimas de agressão pesquisadas segundo os dados sócio-

    econômicos e demográficos

    Table 1 - Distribution of assault victims surveyed according to the socio-economic and

    demographic

    Variável n %

    TOTAL

    178 100,0

    Faixa etária (anos)

    10 a 14 60 33,7

    15 a 19 65 36,5

    20 a 24 53 29,8

    Raça/cor (autodeclarada)

    Branca 40 22,5

    Negra 22 12,4

    Parda 106 59,6

    Não informou 10 5,6

    Estado marital

    Solteira 171 96,1

    Casada 7 3,9

    Escolaridade

    Analfabeto 7 3,9

    Ensino fundamental 113 63,5

    Ensino médio 51 28,7

    Universitário 7 3,9

    Profissão

    Estudante 107 60,1

    Do lar 14 7,9

    Doméstica 11 6,2

    Outras 46 25,8

    Renda (salários mínimos)

    Ate 1 64 36,0

    Mais de 1 a 2 54 30,3

    Mais de 2 24 13,5

    Não informado 36 20,2

    Procedência

    Recife 89 50,0

    Região Metropolitana do Recife 31 17,4

    Interior 44 24,7

    Outro Estado 12 6,7

    Não informou 2 1,1

  • 52

    Tabela 2 – Distribuição das pesquisadas segundo os dados relacionados à agressão os dados

    relacionados ao agressor

    Table 2 - Distribution of surveyed according to data related to aggression data related to

    offender

    Variável n %

    Tipo de violência sexual sofrida

    Penetração vaginal 161 90,4

    Penetração oral 57 32,0

    Penetração anal 50 28,1

    Não informou 8 4,5

    BASE(1)

    178

    Local da agressão

    Residência 61 34,3

    Outros 103 57,9

    Não informado 14 7,9

    Instrumento utilizado para intimidação da vítima

    Arma 62 34,8

    Força maior 58 32,6

    Ameaça 18 10,1

    Não informou 40 22,5

    Atividade sexual

    Sim 101 56,7

    Não 71 39,9

    Não informado 6 3,4

    TOTAL

    178 100,0

    Parentesco do agressor com a vítima

    Parceiro intimo/ Ex-parceiro/ Namorado e afins 26 14,6

    Desconhecido 84 47,2

    Vizinho/ Parente/ Outro 66 37,1

    Não informado 2 1,1

    Idade do agressor

    10 a 19 anos 23 12,9

    20 a 29 anos 47 26,4

    30 a 39 anos 32 18,0

    40 ou mais 29 16,3

    Não soube informar 47 26,4

    Uso de álcool e/ou drogas pelo agressor

    Sim 58 32,6

    Não 83 46,6

    Não soube informar 37 20,8

    TOTAL

    178 100,0

    (1): Considerando que uma mesma vítima tenha sofrido mais de um tipo de violência

    sexual, registra-se a base para o cálculo dos percentuais e não o total.

    (1): Whereas the same victim suffered more than one type of sexual violence, records

    become the basis for the calculation of percentages and not the total.

  • 53

    Tabela 3 – Distribuição das pesquisadas segundo os dados referentes à realização ou não do

    protocolo de quimioprofilaxia do HIV

    Table 3 - Distribution of surveyed according to data regarding whether or not the protocol of

    HIV chemoprophylaxis

    Variável n %

    Indicação para o protocolo de quimioprofilaxia

    Sim 104 58,4

    Não 74 41,6

    Retorno ao serviço de apoio à mulher

    Apenas um retorno 33 18,5

    Dois a cinco retornos 73 41,0

    Compareceu a todos os retornos 19 10,7

    Não retornou 52 29,2

    Não informou 1 0,6

    TOTAL

    178 100,0

    Conclusão do protocolo

    Sim 42 40,4

    Não 10 9,6

    Não informou 52 50,0

    TOTAL

    104 100,0

  • 54

    Tabela 4 – Avaliação da conclusão do protocolo segundo os dados sócio-demográficos

    Table 4 - Assessment of the completion of the protocol according to socio-demographic data

    Conclusão do protocolo

    Variável Sim Não TOTAL Valor de p

    n % N % n %

    Faixa etária (anos)

    10 a 14 9 81,8 2 18,2 11 100,0 p(1)

    = 0,392

    15 a 19 15 71,4 6 28,6 21 100,0

    20 a 24 18 90,0 2 10,0 20 100,0

    Grupo Total

    42 80,8 10 19,2 52 100,0

    Raça/cor

    Branca 9 75,0 3 25,0 12 100,0 p(1)

    = 0,535

    Negra 5 100,0 - - 5 100,0

    Parda 27 81,8 6 18,2 33 100,0

    Grupo Total

    41 82,0 9 18,0 50 100,0

    Estado marital

    Solteira 39 79,6 10 20,4 49 100,0 p(1)

    = 1,000

    Casada 3 100,0 - - 3 100,0

    Grupo Total

    42 80,8 10 19,2 52 100,0

    • Escolaridade

    Fundamental 20 71,4 8 28,6 28 100,0 p(1)

    = 0,086

    Médio/superior 22 91,7 2 8,3 24 100,0

    Profissão

    Estudante 24 77,4 7 22,6 31 100,0 p(1)

    = 0,788

    Do lar 6 100,0 - - 6 100,0

    Doméstica 2 100,0 - - 2 100,0

    Outras 10 76,9 3 23,1 13 100,0

    Grupo Total

    42 80,8 10 19,2 52 100,0

    Renda(salários)

    Ate 1 10 76,9 3 23,1 13 100,0 p(1)

    = 0,428

    Mais de 1 a 2 14 70,0 6 30,0 20 100,0

    Mais de 2 12 92,3 1 7,7 13 100,0

    Grupo Total

    36 78,3 10 21,7 46 100,0

    Procedência

    Recife 24 88,9 3 11,1 27 100,0 p(1)

    = 0,342

    RMR 7 70,0 3 30,0 10 100,0

    Interior 9 75,0 3 25,0 12 100,0

    Outro Estado 2 66,7 1 33,3 3 100,0

    Grupo Total

    42 80,8 10 19,2 52 100,0

    (1): Através do teste Exato de Fisher.

    (1): Through the Fisher Exact test.

  • 55

    Tabela 5 – Avaliação da conclusão do protocolo segundo o parentesco do agressor com a

    vítima e tipo de violência sofrida

    Table 5 - Assessment of the completion of the protocol according to the relationship of the

    perpetrator to the victim and type of violence suffered

    Conclusão do protocolo

    Variável Sim Não TOTAL Valor de p

    n % n % n %

    Parentesco do agressor

    Parceiro intimo/ Ex-parceiro/

    Namorado e afins 3 100,0 - - 3 100,0 p

    (1) = 1,000

    Assaltante/ Desconhecido 32 80,0 8 20,0 40 100,0

    Vizinho/ Parente/ Outro 7 77,8 2 22,2 9 100,0

    Grupo Total

    42 80,8 10 19,2 52 100,0

    Tipo de violência sofrida

    Penetração vaginal

    Sim 38 80,9 9 19,1 47 100,0 p(1)

    = 1,000

    Não 3 75,0 1 25,0 4 100,0

    Penetração oral

    Sim 21 80,8 5 19,2 26 100,0 p(1)

    = 1,000

    Não 20 80,0 5 20,0 25 100,0

    Penetração anal

    Sim 13 76,5 4 23,5 17 100,0 p(1)

    = 0,714

    Não 28 82,4 6 17,6 34 100,0

    Grupo Total

    41 80,4 10 19,6 51 100,0

    (1): Através do teste Exato de Fisher.

    (1): Through the Fisher Exact test.

  • 56

    5.2 ARTIGO (03) - Ainda não submetido.

    Representação social da violência sexual e sua relação com a adesão ao protocolo de

    quimioprofilaxia do HIV em mulheres jovens e adolescentes

    Social representation of sexual violence and its relationship to adherence to protocol

    chemoprophylaxis of HIV in young women and adolescents

    Ericka Viviane Pontes Procópio*

    Camila Guerra Feliciano*

    Kalina Vanderlei Paiva da Silva**

    Cintia Regina Tornisiello Katz**

    *Alunas do Programa do Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de

    Pernambuco.

    **Professoras do Programa do Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de

    Pernambuco.

    Não há conflito de interesses.

    Endereço para correspondência:

    Ericka Viviane Pontes Procópio

    Rua: Luiz Barbalho, 127, apto 101 – Boa Vista, Recife – PE. CEP: 50070-120

    Fone: 55(81) 32236701

    e-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]

  • 57

    RESUMO

    O objetivo deste estudo foi conhecer as representações sociais da violência sexual e sua

    relação com a adesão do protocolo da quimioprofilaxia do HIV em mulheres jovens e

    adolescentes. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, orientada pela teoria das representações

    sociais, através de entrevista gravada com 13 indivíduos sexo feminino, com idades entre 12 e

    23 anos. No grupo estudado, observou-se que as representações sociais construídas acerca da

    violência sexual exerceram uma considerável influência na adesão ao tratamento

    quimioprofilático. As pesquisadas elaboraram imagens nas quais as preocupações geradas à

    família, desconfortos causados pelos efeitos dos fármacos, a mudança de rotina, o medo de

    adoecer, de ser estigmatizada, ansiedade e raiva, apareceram como elementos constantes,

    podendo acarretar o abandono do tratamento. As reflexões sobre as experiências sociais

    ocorridas em decorrência da violência mostraram-se fundamentais para se compreender a

    situação dos entrevistados. Considerando a influência dessas representações no tratamento

    quimioprofilático, verifica-se a necessidade de uma maior atenção dos serviços de saúde com

    relação a estas possibilidades, dispondo de recursos para planejar sua assistência com base

    nestas diferentes necessidades. É preciso que, além do investimento em pesquisas com novos

    fármacos, exista um investimento em pesquisas qualitativas, que forneçam subsídios para um

    acompanhamento mais apropriado das vítimas/pacientes.

    Descritores: adolescente, violência sexual, quimioprevenção, adesão ao tratamento

    medicamentos, representação social.

    ABSTRACT

    The aim of this study was to understand the social representations of sexual violence and its

    relationship with the accession protocol chemoprophylaxis of HIV in young women and

    adolescents. A qualitative research was conducted based on the theory of social

    representations, through recorded interviews with 13 female subjects, aged between 12 and 23

    years. In the group studied, it was observed that the social representations about sexual

    violence exerted a considerable influence on treatment adherence chemoprophylaxis. The

    surveyed elaborated images in which the concerns generated the family, discomforts caused

    by the effects of drugs, change of routine, fear of getting sick, being stigmatized, anxiety and

    anger, appeared as constant elements, which can cause the abandonment of treatment. The

    reflections on the social experiences that occur as a result of violence proved to be

    fundamental to understanding the situation of respondents. Considering the influence of these

    representations on chemoprophylaxis treatment, there is a need for greater attention of health

    services in relation to these possibilities, and resources to plan your tour based on these

    different needs. In addition to investing in research on new drugs, there is a need to invest in

    qualitative research, providing subsidies to a more appropriate accompaniment for victims /

    patients.

    Key words: adolescent, sexual violence, chemoprevention, drug treatment adherence, social

    representation.

  • 58

    INTRODUÇÃO

    A violência sofrida em idade precoce muitas vezes acomete a mulher que ainda não

    iniciou a vida sexual. Este fenômeno determina uma importante elevação no risco de

    contaminação pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Nos casos de violência sexual,

    especificamente, o risco de infecção pelo HIV é intensificado pela possibilidade de ocorrerem

    rupturas e dilacerações da pele da região genital 1,2

    .

    A taxa de infecções após violência sexual chega até 60% dos casos, com prevalência

    de 0,8 a 1,6% para a infecção pelo HIV, sendo esta a principal preocupação das vítimas de

    violência sexual 1,2

    .

    O risco de transmissão do HIV após a agressão sexual, embora pequeno, pode ser

    significativo em certas circunstâncias, sendo, portanto, razoável que a profilaxia pós-

    exposição seja oferecida, embora existam evidências de que a mesma tenha limitações 3.

    Além disso, no caso de vítimas adolescentes as exigências de ordem psicológicas e jurídicas,

    além de médicas, são ainda mais preementes.

    Segundo o Ministério da Saúde, a quimioprofilaxia do HIV deve ser considerada uma

    emergência e iniciada imediatamente após a violência, ainda nas primeiras 24 horas. O

    esquema deve ser mantido sem interrupção por quatro semanas consecutivas. A adesão à

    profilaxia antirretroviral é um dos fatores principais na redução do risco de transmissão da

    infecção pelo HIV. A falta de adesão ao esquema antirretroviral está diretamente relacionada

    ao risco de falha da profilaxia e de surgimento de cepas virais multirresistentes 4.

    Um número significativo de mulheres inicia a profilaxia para o HIV quando recebe o

    primeiro atendimento no serviço de referência. Isto se explica, em parte, pelo temor da vítima

    em adquirir HIV em função de uma violência sexual. Entretanto, verifica-se que menos da

    metade das mulheres completaram a profilaxia antirretroviral, evidenciando a grande

    necessidade de reformulação da assistência a esta população, em especial no que se refere ao

  • 59

    seguimento ambulatorial dos casos5. Uma avaliação continuada do atendimento prestado deve

    ser efetivada para fins de identificação periódica dos casos de abandono do tratamento, na

    busca de alternativas viáveis para reduzir o risco de infecção pelo HIV 2.

    Vários estudos têm mostrado que a falta de adesão à quimioprofilaxia do HIV é

    frequente em mulheres vítimas de violência sexual, podendo estar associada a diversos fatores

    como: transtornos psíquicos, efeitos colaterais dos medicamentos, aspectos socioeconômicos,

    qualidade do serviço de saúde 1,2,3,5,6,7,8

    .

    Conhecer as dificuldades relacionadas ao uso de antirretrovirais permite a melhor

    compreensão da falta de adesão ao tratamento nos serviços brasileiros. Tal conhecimento

    pode contribuir para melhorar as políticas dirigidas a esse grupo e auxiliar os profissionais de

    saúde a lidar com essas dificuldades 9.

    Poucos estudos têm sido realizados especificamente sobre o uso da quimioprofilaxia

    anti-HIV em adolescentes. É provável que adolescentes vítimas de violência sexual tenham

    particularidades relacionadas a esta fase do ciclo da vida, que interfiram na adesão a este

    tratamento. Assim, esta pesquisa objetivou conhecer, através de um estudo qualitativo, a

    representação social da violência sexual e sua relação com a adesão do protocolo da

    quimioprofilaxia do HIV em adolescentes e jovens, visando contribuir pa