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INTERNAÇÃO DOMICILIAR NURSING HOME CARE Equipe de Internação Domiciliar do Hospital Dom João Becker Instituição: Hospital Dom João Becker Av. Dr. José Loureiro da Silva, 1561 - Centro - Gravataí/RS Fone: (51) 3043.8349 E-mail:[email protected] RESUMO Internação Domiciliar é um modelo de internação extra- hospitalar que presta serviços de assistência à saúde ao paciente que ainda necessita de cuidados especiais, mas pode ficar internado em seu domicílio. Tem como objetivo desospitalizar o paciente, criando condições familiares para que se continue o tratamento em seu domicílio. A metodologia dá-se através da avaliação da patologia, avaliação do pacientes, das condições familiares e domiciliares, além de acompanhamento semanal. Desde a implantação deste serviço, no Hospital Dom João Becker, observou-se que, nos pacientes atendidos, a grande maioria, levando em conta que todos possuem patologias crônicas, teve um retorno menor para o ambiente hospitalar após terem passado pela internação domiciliar, visto que, nas visitas, as equipes passaram a dar mais atenção para as necessidades dos pacientes, ensinando sua família e, principalmente, seu cuidador, a lidar com o paciente. Assim, este recebe um atendimento diferenciado e muito mais carinho, além de estar em seu próprio ambiente. Com a diminuição do número de reinternações e de internações prolongadas, pode- se proporcionar uma quantidade maior de atendimentos, em vista da liberação de leitos e redução do índice de infecção hospitalar. Concluímos que a internação domiciliar proporciona melhores condições psicológicas para o doente, pela integração médico-família-paciente, redução de reinternações, do tempo de recuperação, de mortalidade e de infecções hospitalares, além da comodidade e conforto por estar em seu ambiente. Ou seja, melhora a qualidade de vida dos pacientes crônicos, além de contribuir para a humanização do atendimento hospitalar. PALAVRAS-CHAVE Cuidadores, humanização, qualidade de vida. ABSTRACT Nursing home care is a model of extra hospital admission which helps the health assistance to the patient, who still needs special care but can have nursing home care. It aims at the patient's dehospitalization creating family conditions in order to continue the treatment at home. The methodology consists of the pathology evaluation, the patient's evaluation, the family and the home conditions, besides a weekly follow up. Since the implementation of this service at Dom João Becker Hospital, it was noticed that among the examined patients , the majority, taking into account that all these patients have chronic pathologies, there was a reduction in the number of readmissionsafter nursing home care due to the fact that, during the visits, the teams were able to give more attention to the patients needs, teaching the family, and mainly the carer how to deal with the patient. So, the patient has a differentiated care and much more affection besides being in his own environment. Decreasing the number of readmissions and long-term hospitalization a large number of nursing care can be provided, due to the increase of available beds in hospital and the reduction in hospital infection. We concluded that the nursing home care provides better psychological conditions to the patient, due to the integration of the physician- family - patient, reduction of readmissions, recovering time, , mortality rate and hospital infections besides the comfort in staying in his/her own environment. That is, it improves the life quality of chronic patients besides contributing to the humanization of hospital care. KEY WORDS Carers, humanization, life quality.

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INTERNAÇÃO DOMICILIAR

NURSING HOME CARE

Equipe de Internação Domiciliar do Hospital Dom João BeckerInstituição: Hospital Dom João Becker

Av. Dr. José Loureiro da Silva, 1561 - Centro - Gravataí/RSFone: (51) 3043.8349

E-mail:[email protected]

RESUMOInternação Domiciliar é um modelo de internação extra-hospitalar que presta serviços de assistência à saúde ao pacienteque ainda necessita de cuidados especiais, mas pode ficarinternado em seu domicílio. Tem como objetivo desospitalizaro paciente, criando condições familiares para que se continueo tratamento em seu domicílio. A metodologia dá-se atravésda avaliação da patologia, avaliação do pacientes, das condiçõesfamiliares e domiciliares, além de acompanhamento semanal.Desde a implantação deste serviço, no Hospital Dom JoãoBecker, observou-se que, nos pacientes atendidos, a grandemaioria, levando em conta que todos possuem patologiascrônicas, teve um retorno menor para o ambiente hospitalarapós terem passado pela internação domiciliar, visto que, nasvisitas, as equipes passaram a dar mais atenção para asnecessidades dos pacientes, ensinando sua família e,principalmente, seu cuidador, a lidar com o paciente. Assim,este recebe um atendimento diferenciado e muito mais carinho,além de estar em seu próprio ambiente. Com a diminuição donúmero de reinternações e de internações prolongadas, pode-se proporcionar uma quantidade maior de atendimentos, emvista da liberação de leitos e redução do índice de infecçãohospitalar. Concluímos que a internação domiciliar proporcionamelhores condições psicológicas para o doente, pela integraçãomédico-família-paciente, redução de reinternações, do tempode recuperação, de mortalidade e de infecções hospitalares,além da comodidade e conforto por estar em seu ambiente.Ou seja, melhora a qualidade de vida dos pacientes crônicos,além de contribuir para a humanização do atendimentohospitalar.

PALAVRAS-CHAVECuidadores, humanização, qualidade de vida.

ABSTRACTNursing home care is a model of extra hospital admissionwhich helps the health assistance to the patient, who stillneeds special care but can have nursing home care. It aimsat the patient's dehospitalization creating family conditionsin order to continue the treatment at home. Themethodology consists of the pathology evaluation, thepatient's evaluation, the family and the home conditions,besides a weekly follow up. Since the implementation ofthis service at Dom João Becker Hospital, it was noticedthat among the examined patients , the majority, takinginto account that all these patients have chronicpathologies, there was a reduction in the number ofreadmissionsafter nursing home care due to the fact that,during the visits, the teams were able to give moreattention to the patients needs, teaching the family, andmainly the carer how to deal with the patient. So, thepatient has a differentiated care and much more affectionbesides being in his own environment. Decreasing thenumber of readmissions and long-term hospitalization alarge number of nursing care can be provided, due to theincrease of available beds in hospital and the reduction inhospital infection. We concluded that the nursing homecare provides better psychological conditions to thepatient, due to the integration of the physician- family -patient, reduction of readmissions, recovering time, ,mortality rate and hospital infections besides the comfortin staying in his/her own environment. That is, it improvesthe life quality of chronic patients besides contributing tothe humanization of hospital care.

KEY WORDSCarers, humanization, life quality.

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BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

INTRODUÇÃO

Até não muito tempo atrás, a maioria dasintervenções médicas se dava na casa do pacien-te. O hospital de emergência tal como o conhe-cemos hoje soma apenas um século de vida. Noentanto, ao lado das inúmeras vantagens, resul-tantes dos avanços na ciência médica e do de-senvolvimento tecnológico, a “institucionali-zação” do atendimento traz também o pro-blema da desumanização, e modifica profun-damente a vida do paciente e de sua família,além de encarecer os serviços sanitários.

A internação domiciliar tem por caracte-rística principal a transferência, para o domi-cílio, dos recursos empregados aos cuidadosde um paciente em um hospital convencionalem circunstâncias ideais para a continuidadedos tratamentos, sem perda de qualidade eefetividade.

A chave deste tipo de assistência é o do-micílio, encarado em suas três dimensões: fí-sica (moradia e equipamento), psíquica (afe-to, sentimentos e recordações), e social (fa-mília, vizinhos e amigos). Estes fatores podemexercer uma função entre si, portanto, podemser considerados parte do “arsenal terapêuti-co”, caso reúna condições estruturais, higiê-nico-sanitárias, e proporcione uma convivên-cia sócio-familiar agradável. Neste sentido,podemos dizer que o lar é o “melhor ambien-te terapêutico”.

JUSTIFICATIVA

A Internação Domiciliar promove a huma-nização do atendimento a uma parcela da popula-ção que está quase à margem do sistema de saúdeatual.

Segundo Romano (1999), o hospital estreitouo seu compromisso com a comunidade, envolven-do-se não só nos problemas da doença de hoje,mas também cuidando de aspectos do amanhã,prevenindo-os durante a hospitalização. Antigamen-te, antes do século XX, a assistência em saúde erarealizada pelo médico da família, e beneficiava asclasses mais favorecidas.

Da mesma forma, a internação domiciliar visaa propiciar uma recuperação mais rápida do pa-ciente, que fica junto de seus familiares, gozandoda atenção e do carinho tão necessários nessemomento difícil de suas vidas. Diminui a incidên-cia de infecções hospitalares, possibilitando umtratamento específico de sua doença e, finalmen-te, libera leitos nos hospitais para pacientes querequeiram tratamento mais complexo. ConformeDuarte e Diogo (2000), a expansão do sistema desaúde gerou um custo muito alto no sistema públi-co e suplementar. A assistência domiciliar veio aten-der, dentre outras, também esta demanda, umavez que tende a reduzir de 20 a 70% os custosassistenciais, comparando-se as mesmas interven-ções realizadas em ambiente hospitalar.

É importante, no entanto, que se compre-enda o significado do cuidado ao idoso em seu

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ambiente doméstico, que muito se difere dequalquer outro ambiente institucional.

O paciente e sua família contam com umaequipe de profissionais qualificados, formada pormédicos, equipe de enfermagem, psicólogos enutricionistas, que dará assistência integral econtínua durante o período de Internação Do-miciliar, pois procuram atender da melhor for-ma possível. Para isso, realizam atendimentoshumanizados com participação e integração detodos os profissionais, respeitando as limitaçõesda família. A equipe tem como objetivo orien-tar e treinar os familiares.

Freitas, et al. (2000) mencionam que, deacordo com a Portaria número 73, de 10 de maiode 2001, que descreve sobre as “Normas de Fun-cionamento de Serviços de Atenção do Idoso noBrasil”, assistência/atendimento domiciliário “éaquele prestado à pessoa idosa com algum nívelde depedência, com vistas à promoção da auto-nomia, permanência no próprio domicílio, refor-ço dos vínculos familiares e de vizinhança”.

Na Internação Domiciliar, a família resgatao direito de cuidar de seus entes, auxiliando cominjeções de amor e carinho o trabalho dos pro-fissionais. Este serviço vem ocupar uma posiçãoimportante que faltava em nosso sistema de saú-de. Graças à Internação Domiciliar, pacientesque ficavam nos hospitais por longas tempora-das para receber cuidados médicos e de enfer-magem, mas que dispensavam a complexidadedos equipamentos hospitalares, agora, podemir para casa e continuar recebendo os cuidadosde forma sistematizada e profissional.

A má distribuição de leitos hospitalares, orisco de infecções hospitalares, a impessoalida-de no atendimento e o envelhecimento da po-pulação, aliados à limitação de recursos são al-guns problemas enfrentados pelo sistema desaúde do país. A internação domiciliar vem a seruma alternativa para otimizar estes fatores erecursos.

OBJETIVOS

A proposta da internação domiciliar é ofere-cer uma alternativa de assistência médica, tantoaos hospitais e UBS, quanto aos próprios usuários,em total conformidade com os princípios do SUS.Sua filosofia é promover a melhoria na qualidadede vida dos pacientes e familiares, através de umatendimento diferenciado e humanizado.

Objetivos específicos

– Acelerar o processo de recuperaçãoatravés da proximidade do ambientefamiliar;

– Reduzir custos com internações e re-internações;

– Diminuir os riscos de infecções hospi-talares;

– Proporcionar um ambiente mais hu-mano ao paciente;

– Diminuir a incidência de depressão porcausa da doença;

– Proporcionar conforto à família, já queno hospital só pode ficar um familiarde acompanhante por período;

– Aumentar a rotatividade de leitos;– Liberar leitos para pacientes críticos;– Aumentar a satisfação do cliente e da

família;– Reintegrar o paciente à vida normal;– Integrar médico-família-paciente, pro-

porcionando melhores condições psi-cológicas ao doente.

METODOLOGIA

A internação domiciliar deve, necessaria-mente, ter indicações médicas e seguir critéri-os de elegibilidades: consentimento informadoao paciente/família, avaliação das condições

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familiares e domiciliares e do cuida-do ao paciente, acesso geográfico.

Quando o paciente está apto paraalta hospitalar, ou seja, possui estabili-dade clínica e pode ter baixa domici-liar, seguindo os critérios de elegibili-dade, ele recebe o plano de atenção,onde será revisado pela equipe (nas vi-sitas), no decorrer do tratamento.

Durante o período da internaçãodomiciliar, o paciente recebe visitas se-manais programadas da equipe multidisciplinar,para avaliar e dar continuidade ao tratamento,esclarecer dúvidas e orientar a família.Todo esseprocesso é relatado no prontuário que fica nodomicílio. Em caso de intercorrência, o pacienteé atendido no hospital, havendo necessidade opaciente reinterna. O paciente recebe alta pormelhora, cura, ausência de cuidador e o não cum-primento do plano terapêutico, conforme a Por-taria número 2.416, de 23 de março de 1998 eregulamento técnico da ANVISA (Agência Nacio-nal de Vigilância Sanitária), aprovado pelo decretonúmero 3.029, de 16 de abril de 1999.

A equipe de assistência domiciliar no Hospi-tal Dom João Becker é composta por: médicos,equipe de enfermagem, psicólogos, nutricionis-tas e motorista.

O atendimento domiciliar beneficia pacien-tes internados pelo SUS (Sistema Único de Saú-de), e o público alvo é a população idosa, quenecessita de cuidados. O público atendido poreste serviço são pacientes com idade superior a65 anos, que apresentem pelo menos três inter-nações no ano pela mesma causa, pacientes por-tadores de patologias crônicas, pacientes acome-tidos por trauma com fratura ou afecção ósteo-articular em recuperação e portadores de neo-plasias malignas.

O panorama das faixas etárias atendidas, em2004, pelo serviço de internação domiciliar (SUS)do hospital estão no gráfico a seguir:

CONCLUSÕES

O serviço de atendimento domiciliar noHospital Dom João Becker busca atingir umaparcela da população que carece de assistên-cia à saúde, além de ser uma alternativa eco-nomicamente viável, como serviço específico,pela redução do período de internação e au-mento da rotatividade de leitos. É socialmentedesejável, contribuindo com a solução do gran-de problema da falta de leitos para internaçãopelo SUS, e grande benefício como formadorou preparador de sistema de auto-cuidado comresponsabilidade, e tecnicamente exeqüíveldesde que se cumpram todos os passos previs-tos de forma ética e responsável.

É uma alternativa humana que busca pro-piciar uma recuperação mais adequada ao pa-ciente, sem que o mesmo precise sair do seuambiente familiar, onde goza do carinho eatenção da família, além de ter à sua disposi-ção seus pertences, pois cada móvel, cada lo-cal tem sua história, trazendo consigo maissegurança ao paciente. Estando na residência,há diminuição dos riscos de infecções, há apossibilidade de um tratamento mais tranqüi-lo e também há a liberação de leitos, dandolugar a outros pacientes que requeiram cuida-dos hospitalares, além do cuidado específicoda equipe multidisciplinar, que passa a conhe-cer a realidade em que vive o paciente e cui-

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dar das suas necessidades específicas. A inter-nação domiciliar constitui-se em importantealternativa para os hospitais prestadores deserviço ao SUS, gestores públicos e sociedade.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÃNCIA SANITÁRIA.

Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br >Acesso em:

10 out. 2003

BEULKE, R. Gestão de custos e resultados na saúde:

hospitais, clinicas, laboratórios e congêneres. São Paulo:

Saraiva, 1997.

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www.saude.ov.br>. Acesso em 18 out. 2003.

. Disponível em <http://www.hospitalgeral.com.br>.

Acesso em: 02 out. 2003.

. Disponível em: <http://www.ccih.com.br/fo--

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jamento estratégico. Gravataí, 2003.

MINOTTO, Ricardo. A estratégia em organizações hos-

pitalares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

SINDICATO DOS MÉDICOS DO RIO DE JANEIRO. Dis-

ponível em: <http://www.sinmedrj.org.br/documentos/

lei8080.htm> Acesso em: 04 maio 2004.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTO-

LOGIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Disponível

em: <http://www.sbggrj.org.br/noticias/index.htm > Aces-

so em: 04 maio. 2004.

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LUDOTECA HOSPITALAR:RESGATE DO IMPULSO LÚDICO

HOSPITAL PLAY ROOM:RESCUE OF THE PLAYFUL PULSE

Gladis Salete Marafon RodegheriProfessora, especialista em Psicopedagogia, ludotecária, psicodramatista,

membro da Federeção Latino Americana de Ludotecas - FLALU.Instituição: Hospital Providência - Avenida Barão do Rio Branco, 1751. Marau/RS.

Caixa Postal 06 (54) 342.3455 - CEP 99.150-000.E-mail:[email protected]

RESUMOEste artigo apresenta a importância de abrir um espaço deexpressão que toma a vida com seus sentimentos, dores eemoções, que podemos manifestar quando experimentamos,convivemos, exploramos, jogamos para nos descobrir,retomando a vida em todas as suas dimensões, especialmenteem um momento frágil de nossa existência, quando internosem uma instituição hospitalar. Este enfoque remete-nos apensar em ações de humanização dos profissionais e instituiçõesde saúde em que o sujeito estácircunstancialmente doente.Neste contexto, desenvolvemos o Projeto Social da LudotecaHospitalar Florescer no Hospital Providência, em Marau,percebendo o ser humano em sua totalidade e não apenascomo a soma de órgãos, ou uma patologia ou um número, emque as aprendizagens são uma manifestação do viver, que estáimpulsionado pelo lúdico e orientado pelo crescimento. É umaresposta ao instinto de vida considerando que a condição inatade um organismo é a saúde, e que as atividades de expressãolúdica criativa são uma via da afirmação do sujeito.Desta maneiraconfirma-se o sujeito em seu instinto de vida, que é a primeirafonte de imunidade ante os agentes agressores que podemenvolvê-lo pela doença.

PALAVRAS-CHAVEHumanização, jogos e brinquedos.

ABSTRACTThis article presents the importance of creating anexpression place which takes the life with its feelings, painsand emotions, which we can manifest when weexperiment, we live together, we explore, we play todiscover ourselves, retaking the life in all its dimensions,especially in a fragile moment of our life, when in a hospital.This situation makes us think of some actions ofprofessionals and institutions of health humanization ,where is the subject is circumstantially sick. In this context,we developed the Social Project of Hospital Playroomcalled "Florescer", at the Providência Hospital in Marau.Noticing the human being in his totality, and not just as thaamount of organs, or a pathology or a number, wherelearning is a life manifestation, stimulated by the playfulconditions and guided by the growth. It is an answer tolife's instinct, considering that the innate condition of abody is health, and that the activities of creative playfulexpression are a way of the individual's affirmation . Thus,it is confirmed the individual in his life instinct, which is thefirst immunity source before the aggressor agents whichcan involve it by the disease.

KEY WORDSHumanization, games and plays

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INTRODUÇÃO

As transformações sociais, econômicas e cien-tíficas que vivemos, brindam-nos com novas possi-bilidades de nos inquietar ao olhar em nosso entor-no e buscar outra percepção de relações entre indi-víduos, que circunstancialmente estão doentes, e asinstituições de saúde que os acolhem, através dosprofissionais de saúde.

Com este olhar, relataremos a proposta daLudoteca Hospitalar Florescer, situada no Hos-pital Providência, em Marau (RS), que nasceu noinício do novo século. Descreveremos a gêneseda Ludoteca e sua situação atual, que tem porfinalidade humanizar o ambiente hospitalar, per-ceber o ser humano em sua totalidade, redimen-sionar a visão de hospitalização, considerando acondição inata do organismo: a saúde.

A INSTITUIÇÃO

O Hospital Providência, localizado em Ma-rau, à Avenida Barão do Rio Branco, 1751, emuma área de 20.000m² com mais de 5.000m² deedificações assim distribuídas: as Clínicas Data –Méd, que oferece serviços de ultra-som comimagem digital e Doppler a cores; Reabilitare,clínica de fisioterapia e o Exatus Laboratório.

O Hospital Providência atende, mensalmen-te, em nível ambulatorial, uma média de 900 usuá-rios, 300 internações hospitalares na área de clíni-

ca médica e pediátrica, 120 cirurgias geral eobstetrícia.

Pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o Hos-pital Providência interna, em média, 80 pacien-tes por mês, sendo que os pacientes de Marau eda região buscam este hospital (Camargo, Cas-ca, Gentil, Ibirapuitã, Itapuca, Mato Castelhano,Montauri, Nicolau Vergueiro, Nova Alvorada,Parai, Santo Antônio Palma, Nova Araçá, VilaMaria, Vanini, Serafina Correa, São Domingos doSul, Soledade, ...), todas cidades de pequeno por-te. A busca por nossa instituição deve-se à efici-ência e eficácia dos serviços prestados de formahumanizada, resolutiva em nossa complexidade,pois, ao mesmo tempo em que verificamos nosmeios de comunicação o descaso para com essaclientela, em nosso hospital, os usuários do SUSnão enfrentam qualquer tipo de diversidades nabusca dos nossos serviços, sendo eles a razão donosso trabalho. Na Ludoteca, a média de partici-pação é de 50 pacientes por mês, distribuídosentre crianças, jovens e adultos.

O nascer da Ludoteca Florescer

Esta experiência nasceu da inquietação dehumanizar o ambiente hospitalar, através de umespaço de expressão: expressão, esta, percebi-da como via de afirmação do sujeito, como ma-nifestação da alegria de viver. Abrir um espaçode expressão, que toma a vida com os senti-

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mentos, dores e emoções, que podemos mani-festar quando experimentamos, exploramos, jo-gamos para nos descobrir, e, assim, retomar a vida.No entanto, para iniciar a falar sobre espaço deexpressão e humanização do ambiente hospita-lar cabe perguntar: O que é uma ludoteca? Comose organiza? Por que em um hospital?

Segundo Dinello (1998, p.50), PresidenteFundador da Federação Latino Americana deLudotecas – FLALU:

As ludotecas são um espaço de expressão lúdi-ca criativa, de crianças, jovens e adultos.Tem aprincipal e global finalidade de favorecer o de-senvolvimento da pessoa em uma dinâmica deinteração lúdica. Especificamente estimula oprocesso de estruturação afetivo-cognitivo dacriança, socializa criativamente o jovem e man-tém o espírito de realização do adulto. É umaatividade que agrega os indivíduos, os quais sereencontram em sua alegria de viver, de expres-sar-se e de sentirem-se com ânimo para em-preender tarefas solidariamente: desde inven-tar jogos, fazer brinquedos até projetar melho-rias nas condições da vida pessoal e coletiva.

As ludotecas correspondem a uma concep-ção de educação integral, onde o protagonismode cada indivíduo o conduz a experimentar múl-tiplas atividades de expressão com outros parti-cipantes, atividades, essas, que são fundamen-talmente lúdicas, e que brindam concomitante-mente as possibilidades de experimentar, de for-ma criativa, a partir de múltiplos materiais.

As ludotecas surgiram em meados do sécu-lo XX, na Europa (Dinamarca – Suécia – Suíça)e nos Estados Unidos, semelhante às bibliote-cas, a fim de emprestar brinquedos às crianças“desprovidas” em um período de modernizaçãoindustrial (Ludo = jogos; teca = ordenamento).Em seguida, no III Congresso Mundial de Ludo-tecas, realizado em Bruxelas, em maio de 1984,

Raimundo Dinello apresentou uma nova concep-ção de ludotecas, inspirado em suas experiênciaspedagógicas latino-americanas. Em fevereiro de1986, na cidade de Uberaba, no “Circo do Povo”,com representantes da Argentina, Brasil, Colôm-bia e Uruguai, foi fundada a FLALU, confirman-do a nova concepção de ludotecas, ressaltandoo protagonismo de crianças que jogam, ficandoem enésimo plano o ordenamento e emprésti-mo de brinquedos, segundo as idades infantis.Posteriormente, tem-se compartilhado esta pro-posta com colegas europeus.

A ação da Ludoteca Florescer

A Ludoteca Hospitalar Florescer funcionaem uma sala ampla, bem arejada, em dois horá-rios semanais: segundas e terças-feiras das13h30min às 15h.

Os pacientes chegam à ludoteca, através doconvite (sempre chamados pelo nome) feito pelaequipe de voluntários, que, anteriormente, ha-viam perguntado, aos enfermeiros, quais os pa-cientes que poderiam sair de seus leitos. Nor-malmente, eles chegam preocupados, tensos.Entretanto, acreditamos que quem brinca, brin-ca pra valer; e, ao entrar no espírito lúdico, querjogando, dialogando, cantando, reencontra a ale-gria, porque se reencontra, sem críticas ou ex-pectativa de outros. E, nessa liberdade de seexpressar, vai-se co-educando.

A ludoteca é um momento de liberdade,onde cada um pode instalar-se livremente, or-ganizando os objetos a sua maneira, quer sejapara ler, ouvir música, cantar, brincar, jogar, ex-pressar-se com fantoches, fantasiar-se para fa-zer de conta, construir brinquedos..., tudo empermanente diálogo entre sujeito e objetos, es-timulando a afetividade na alegria de viver. É umambiente que proporciona a integração e a me-lhor inserção dos pacientes na instituição hos-

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pitalar. Nela, surgem propostas de expressão,criatividade, animação, jogos e brincadeiras.

Desenvolvemos atividades como jogos re-creativos, música, teatro, fantoches, pintura,contar histórias, lendas, utilizando objetos comoroupas velhas, pratos e bandejas descartáveis,pedaços de madeiras, papéis, tintas, pincéis,massa de modelar, revistas, livros, brinquedos,caixas de remédios, frascos de soros, mangueirasde equipos, cola quente, tampas de remédios einjeções, entre outros. A ludoteca propicia a par-ticipação, a alegria e integração social, que acon-tece através da interação com a heterogeneida-de de sujeitos e a diversidade de objetos.

Para animar as atividades lúdicas criativas emuma ludoteca, há que se ter uma arte pedagógi-ca, que acompanha a percepção de qualidadeeducativa do orientador e seguir os seguintescritérios: a) organizar um grande campo peda-gógico, com uma dimensão espacial, de acordocom o número previsto de participantes; b) as-segurar o início das atividades, para que os par-ticipantes se aproximem, conheçam e exploremas distintas propostas de expressão; c) convidarpara soltar as amarras, ou seja, liberar os braçoscruzados e mãos tensas, a fim de que tanto osadultos quanto as crianças possam ter a experi-ência com as múltiplas opções; d) abrir e fecharespaços de atividades, modificando as atividadese suscitando os participantes a criarem situaçõeslúdicas; e) organizar o encerramento e a despe-dida com a participação de todos, buscando umadinâmica coletiva com cantos que expressem aalegria compartilhada.

É de suma importância a equipe que anima aludoteca. No momento, somos um grupo multi-disciplinar assim constituído: psicopedagoga, pro-fessora de ensino fundamental e médio, músico,gaiteiro, enfermeira, técnica de enfermagem, es-tudantes universitários dos cursos de psicologia,fisioterapia, assistência social e um grupo de se-nhoras que freqüentam a terceira idade.

Organizar uma ludoteca, em um hospital, comfinalidade terapêutica, fundamenta-se no pensa-mento de que, ao jogar, o sujeito se conecta me-lhor com a vida, o que favorece sua recuperação.As ludotecas em hospitais podem ser excelentesparceiras na recuperação do ser humano hospita-lizado, pois a doença, a internação, o hospital são,para o sujeito hospitalizado, experiências difíceis,à medida que vivenciam a separação da família.Existe, ainda, a necessidade de se adaptar a outroritmo, outro espaço, e, também, há que confiarem pessoas que não lhe são conhecidas. As conse-qüências dessa situação são muitas, como proble-mas de alimentação, sono, dificuldades de adequa-ção, o que exige novos comportamentos.

Ao olhar o paciente em sua totalidade, per-guntamo-nos: por que não criar um espaço praze-roso, alegre, lúdico, de expressão, em que o sujei-to hospitalizado possa jogar, interagir com outrossujeitos neste período de internação, ocorrendo,então, sua inserção no contexto hospitalar?

O paciente continua com o direito de ter as-segurado seu desenvolvimento humano, mesmoquando internado, desenvolvimento humano en-tendido, difundido e promovido pelas NaçõesUnidas como “a ampliação permanente das opor-tunidades para que todos possamos ter uma vidaplenamente humana”. Podemos nos perguntar oque consideramos uma vida plenamente humana,quando hospitalizados? Esta questão remete-nos apensar na possibilidade de nos expressar enquan-to sujeitos, de nos comunicar na vitalidade lúdica,em uma vida digna, de respeito a si mesmo, dagarantia dos direitos humanos, percebendo o ho-mem enquanto um sistema vivo, em sua totalida-de, e não como um corpo que adoece, e a saúde,como um processo contínuo e flexível, e não comoausência de doença.

Os sujeitos hospitalizados não deixam de sersistemas vivos, enfrentando momentos difíceise envolvidos em sofrimento, apresentando sin-tomas psíquicos como:

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[...] a insônia, apreensão, angústia, traduzidapor uma sensação de alerta, preocupação ex-cessiva ou hipervigilância, sentimento de te-mor ou sensação de perigo, inquietude, irrita-bilidade, diminuição da capacidade de concen-tração, “déficit” de memória. Tristeza, ansie-dade, isolamento, apatia, idéias de morte, bai-xa auto-estima. (COUTINHO, apud NOVAES,1998, p.42).

No entanto, mantêm dentro de si um po-tencial lúdico que pode e deve ser explorado:podem dialogar, ouvir, escrever, ler, pintar, in-ventar, expressar-se criativamente e jogar.

Centrados na idéia de que frente a uma cri-se como o adoecer seguido de uma internaçãohospitalar, os jogos, as brincadeiras são ativida-des de expressão propícias, pois à medida queos sujeitos entregam-se ao jogo, segundo Dine-llo, facilitam-se-lhes uma ruptura com a realida-de dos conflitos, constituindo uma bela maneirade ultrapassar o estresse devastador, principal-mente quando as condições de vida não são fa-voráveis, e o sofrimento é tão global e confuso.

Nessa mesma óptica de compreender osjogos como oportunidade de se converter emoutro, a flexibilidade da passagem entre realida-de e imaginação, própria da atividade lúdica, ofe-rece-nos uma margem muito importante paratrocar de personagem, onde cada um pode ex-perimentar-se em outros papéis além daquelesconhecidos na vida social produtiva. Os jogosabrem, novamente, uma porta de liberdade, decomunicação e de expressão pessoal. (DINELLO,1998, p.51).

A ludoteca, através das atividades de expres-são, pode ser esta porta de liberdade, comuni-cação e expressão pessoal, no processo de nos-so vir a ser existencial.

Acreditamos que todo o ser humano nascepara crescer, aprender com alegria e ser feliz.Por que não continuar a fazê-lo enquanto hospi-

talizado? Afinal, este sujeito continua vivendo, eo impulso de vida está presente. Através dasanimações lúdicas (a origem está na pessoa queapresenta o desejo de brincar, desenvolvendo ocrescimento pessoal, partindo do impulso lúdi-co que existe no ser humano), as pessoas po-dem sair da situação difícil em que se encontram.

Percebemos que a alegria e o humor; o brin-car/jogar, a interação entre as pessoas não sãocomuns em instituições hospitalares.

As finalidades da Ludoteca Florescer

A Ludoteca Hospitalar Florescer tem comoobjetivo geral favorecer o desenvolvimento dapessoa em uma dinâmica através da interação lú-dica, especificamente estimula o processo de es-truturas afetivo-cognitivo da criança, socializacriativamente o jovem e mantém o espírito derealização do adulto. Tem ainda como finalidades:

– Proporcionar a interiorização e expres-são da vivência do sujeito interno pormeio do jogo: o paciente insere-se emum contexto no qual a cooperação éindispensável para a realização das ati-vidades. A interação com o outro e comos objetos, quando uma variedade desentimentos permeia as relações, pos-sibilita a construção de relacionamentosnas múltiplas situações que vivenciam.E o jogo é a via natural das aprendiza-gens, que permitem ao ser humanocrescer...

– Auxiliar na recuperação dos pacientes:visto que os pacientes recebem a me-dicação, os pedidos de exames e a ali-mentação, com melhor aceitação, apóssua participação na ludoteca. A manei-ra singular que cada interno tem deenfrentar a hospitalização repercutenos demais e é, ao mesmo tempo,

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transformada pelas ações destes . Isto sig-nifica dizer que são constituídos social-mente os processos de elaboração dacondição de paciente e de modos de sen-tir, conceber e atuar frente a questõesde doença e saúde;

– Suavizar o trauma da internação atravésde atividades lúdicas, oferecendo um es-paço destinado aos jogos: o impulso devida está presente em todos nós; neces-sitamos acessá-lo, podendo fazer isto atra-vés das atividades lúdicas, proporcionan-do aos pacientes que sejam eles mesmos,sem julgamentos, nem competições, masconvivendo uns com os outros, com osobjetos e consigo mesmo;

– Perceber o ser humano em sua totali-dade, humanizar o ambiente hospitalar;não pode haver humanização (remarcara caracterização do humano através damaneira de se relacionar e de ocupar ocosmos), nem reconhecimento do su-jeito, se este não tiver um espaço de ex-pressão, quer dizer, onde e como seexpressar; em definitivo, um afirmar-seno seu existir único, porque, ao se co-municar, o sujeito manifesta uma novasensibilidade a sua, que lhe é singular.

Consideram-se, então, a expressão e a cria-tividade, formas concretas no processo de apren-dizagens para reconhecer o ser humano. No quese refere ao sujeito interno, na sua forma inte-gral, como realizá-lo se não existir um espaço deafirmação, ou seja, um espaço onde possa mani-festar-se criativamente enquanto sujeito ímpar,porque a expressão criativa é inerente à naturezahumana e, através dela, manifestamos nossa ne-cessidade de crescimento.

Acredita-se que, assim, pode-se redimensio-nar a percepção de hospitalização, considerando acondição inata do organismo: a saúde.

A Clientela que faz a LudotecaHospitalar Florescer

As crianças preferem brincar com fantoches,momento em que colocam, através do teatro,suas angústias, emoções, medos e chamam osadultos à interatividade. Gostam muito de pin-tar, criar brinquedos com frascos de soro, man-gueiras, tampas de remédios e brincadeiras comtacos de madeira, massa de modelar e brinque-dos industrializados.

Já os pacientes adultos gostam muito decontar suas histórias, de serem escutados. Con-tam sobre a infância, tocam instrumentos musi-cais, dançam, quando podem, brincam com fan-toches para dizer o que lhes passa no corpo enas emoções. Há brincadeiras com balões e, nofinal de cada tarde, na ludoteca, dialoga-se so-bre os movimentos realizados. Neste momen-to, já é festa, riso, alegria. É o impulso de vidaque brota em cada um e a volta ao leito é dife-rente. O corpo está solto, há gana de viver, acon-tece a troca no estado de ânimo, e trocar esteestado de ânimo pode ser o conflito a resolver.

Todos os participantes, em interação uns comos outros e com materiais disponibilizados, en-contram seu espaço de co-educação para cres-cer e dar relevância ao seu direito, enquanto serhumano, de continuar seu processo de desenvol-vimento. A proposta pedagógica das ludotecasestá fundamentada na expressão lúdico-criativa,que assume grande relevância educativa, poispermite um espaço de recreação com alegria, deexpressão com identidade, de criatividade com en-volvimento, de interação com convivência, favore-cendo a utilização de jogos espontâneos que inte-gram as pessoas, os grupos humanos, as famílias,comunidades e diferentes gerações. A criatividadeaparece sob forma de pintura, escultura, desenhose brincadeiras.

A expressão se apresenta nas criações cê-nicas, no contar estórias, lendas e contos, nas

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gargalhadas de alegria, nos movimentos do cor-po e no ritmo das músicas, e, ainda, o uso de massade modelar, sucata, vestimentas, instrumentos,jogos, balões e inúmeros objetos que fazem daimaginação um convite para ser inteligente e ori-ginal. Por isso, esse espaço convida a cada um serele mesmo, o protagonista de seu desenvolvimen-to em interação com o outro e com os objetos,em uma proposta de educação lúdica criativa.A expressão criativa é uma via de manifestar aexistência, com forma de descobrimento e de-senvolvimento das reais potencialidades do serhumano, uma maneira de integração sócio-cultu-ral, um caminho para operacionalizar aprendiza-gens comportamentais e cognitivas.

Neste projeto, estão engajados, uma equi-pe multidisciplinar, com apoio da administraçãodo Hospital Providência, o corpo clínico e umgrupo de voluntários. Atentos com a responsa-bilidade social enquanto cidadãos, percebemosa educação como compromisso essencial coma espécie humana, seja com um grupo de alunosnas instituições de educação formal, seja comum grupo de pacientes, familiares, amigos emuma instituição de saúde.

Os cursos de medicina apresentam uma for-mação acadêmica do profissional da saúde, inde-pendente de sua especialidade, que prevê umdoente, um diagnóstico e a cura. Decorrem daí,aspectos importantes do funcionamento dos hos-pitais, que se preocupam com a cura física de seusinternos, pois a doença, o tratamento e, princi-palmente, as privações constituem fatores consi-deráveis de limitação e desajuste, o que podeocasionar, provocar ou agravar diversos desequi-líbrios, tanto no doente como na família.

Perceber o paciente por outro enfoque, quenão só o da doença, mas também o da saúde(mental, afetiva), é trazer, para a instituição hos-pitalar, outro olhar, é ver o ser humano na suatotalidade - isto é inovador, é reconhecer a ina-dequação de um enfoque apenas curativo no tra-

to do paciente. É visualizar a situação de inter-nação também como oportunidade singular deproporcionar situações de aprendizagens nasquais o sujeito possa desenvolver todas as suaspotencialidades, mesmo estando internado.

A experiência tem nos mostrado que essecontato traz benefícios tanto a seus familiares,que se mostram mais leves, alegres e participan-tes no auxílio aos seus como ao interno (incenti-vando o retorno à vida), pois retornam aos lei-tos com mais esperanças, confiantes, sorrindo,querendo viver, tendo, como resultado, a recu-peração mais breve do paciente e, conseqüen-temente, a redução do tempo de internação e are-inserção na sociedade. 

A ludoteca, ao trazer o impulso lúdico, queé um impulso de vida, oferece um meio impor-tante para o doente, seus familiares e amigossuperarem esta situação e, desta forma, buscarconsciente ou inconscientemente a recuperação,superando o instinto de morte que age atravésda doença; portanto é um apoio terapêutico emforma de alegria, de brincar e de se expressarcriativamente para todos, pois a doença é, emúltima instância, o conflito de viver. Trocar o es-tado de ânimo pode-se resolver este conflito.

Ousamos dizer que a criatividade e as ativi-dades lúdicas são um dos caminhos que aten-dem às novas exigências de formação da atualsociedade: a criatividade, pelo convite ao novo,que atende às necessidades de uma realidade;as atividades lúdicas, pelos benefícios que pro-porciona ao ser humano.

O sujeito hospitalizado necessita de educa-ção, expressar-se, sentir-se acolhido em todasas suas necessidades. Através da ludoteca, ini-cia-se um movimento de perceber o sujeito in-terno, com nome, com identidade, e não ape-nas um número, uma patologia ou a soma deórgãos. Os benefícios são para todos: o hospi-tal, o corpo clínico, enfermeiros, doentes, fami-liares, amigos, comunidade, município, estado,

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nação: a nossa contribuição, no sentido de mini-mizar os efeitos que advêm da doença e a suaaceitação, contribuindo para a recuperação, deforma breve, com menor período possível de in-ternação, sendo menos dolorosa e traumática apermanência hospitalar, assegurando a qualidadede vida.

A aprendizagem é uma manifestação de vida,que está impulsionada pelo lúdico e orientada pelocrescimento; é uma resposta ao instinto de vida.Participar da Ludoteca é estar em situação deaprendizagem, é estar entre sujeitos-objetos eoutros sujeitos, ou seja, é estar em situação deco-educação saudável, onde o usuário elege suasatividades expressivas, que lhes possibilitam ela-borar situações como a doença, a internação, aadministração de remédios, sair de seu cotidia-no, de seu convívio com a família, trabalho ... Par-ticipando das atividades na Ludoteca HospitalarFlorescer, o usuário se confirma sujeito em seuinstinto de vida, que é a primeira fonte de imuni-dade frente aos agentes agressores que o envol-vem durante a enfermidade.

Nestes quatro anos de participação na coor-denação da Ludoteca Hospitalar Florescer, acom-panhamos em torno de 2000 pessoas que parti-ciparam deste espaço de expressão. Tambémestamos nos desenvolvendo e as aprendizagense descobertas são muitas: aprendemos a perdero medo de envelhecer, pois a convivência com assenhoras da terceira idade nos brinda com o quede melhor existe nesta fase da vida, a vitalidadelúdica presente nelas e a alegria de viver são imen-sas; a adolescência, que é uma etapa de vida ma-ravilhosa: perceber o engajamento dos adolescen-tes e a convivência entre as gerações é algo subli-me, os profissionais que atuam como voluntáriosno momento que estão com os usuários deixamde ser professores, músicos, enfermeiros - sãopessoas que querem contribuir com as outraspessoas, e todos dão o melhor de si, há a solida-riedade, enfim, o amor como aceitação do outro

como o legítimo outro, e cada um de nós se ex-pressa à sua maneira, deixando fluir nossa saúde.Somos todos beneficiados com a participação naLudoteca, pois, ao iniciar as atividades, éramosum grupo com muita gana de ajudar os usuários;hoje, continuamos com esse espírito, porémmuito melhores, mais soltos e desenvolvidos. Osadolescentes contam histórias com desenvoltu-ra, constroem brinquedos com material alterna-tivo, as senhoras realizam teatro, danças folclóri-cas, cantam, contam lendas, sempre convidandoos usuários a participarem, e eles entram nessamagia e deixam brotar o que têm de melhor emcada um: pintam, contam histórias pessoais oulendas, cantam suas músicas preferidas, cons-troem brinquedos e todos brincamos juntos, oque possibilita uma comunicação com o impul-so de vida de cada um: esse é o retorno à vida,ao desejo de viver com qualidade. Chamamosisso de humanização.

VIVÊNCIAS

Lá na FlorescerPara a magia acontecerSurgem...

Frascos, mangueiras e alegria,Cola, tampas e poesia.

De todo lugar,Usuários, familiares, voluntários,Dos leitos, das ruas a chegar.

Tintas, pratos de papel,Esponja, algodão e pincel.Fantoches, bandejas de isopor,Interação e muito amor.

Histórias para ouvir e para contar,Sujeitos à espera de um “outro olhar”,

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Onde conjugarSentimento, dor e emoção.Com movimento, jogo e expressão,É sentir-se acolhido por inteiro,Não apenas um hospedeiro.

É ser sujeito respeitado,Em um hospital humanizado.

Gladis Marafon Rodegheri

Depoimento de pacientes

“Enquanto no mundo alguém se importar coma mais pura essência, os seres humanos nãoirão desanimar, pois o que fica nesta vida”marcado “são momentos como este”.

Um abraço, K. 29/05/01.

“Estamos hoje, aqui, internados no Hospital Pro-vidência com minha filha, Alexandra, um tantotriste por estarmos com doenças, mas, por outrolado, alegres por sabermos que existem pessoasinteressadas em fazer as pessoas sorrirem”.

Obrigado por isso, M. C.

Depoimento dos colaboradores da área daenfermagem

“A ludoteca é esperada pelos pacientes como ummomento de dar ânimo à vida”.

R. F., Técnica de Enfermagem

“Quando os pacientes voltam da ludoteca, elesdeixam puncionar a veia com mais tranqüilidadee a aceitação da medicação é muito melhor”.

A. B., Auxiliar de Enfermagem

“Cada vez mais, toma-se consciência e amplia-seo conceito do quanto é importante ter saúde com

qualidade. Para isso, é preciso ter um projeto hu-manístico, um olhar holístico para com o ser hu-mano, buscando, assim, a promoção integral dasaúde, aliviar sofrimentos, medos, angústias, es-tabelecendo com as pessoas um vínculo, reforçan-do sentimentos de cooperação, confiança e espe-rança. Por isso, o Hospital Providência oferece esteserviço, a Ludoteca Hospitalar Florescer, onde ousuário é convidado a sair do leito e participar dasatividades, expressando-se, garantindo melhorqualidade de vida, de bem-estar físico, mental eemocional, tanto de crianças, jovens, adultos eidosos, o que reverte na melhor aceitação da me-dicação, promovendo o retorno ao seu cotidianocom mais rapidez”.

H. B., Enfermeira

Depoimento dos médicos

“A Ludoteca Hospitalar Florescer é fundamentalpara que o paciente recupere a esperança de lutarfrente à doença, que recupere o desejo de viver”.

C. S., Médico

“A Ludoteca, enquanto espaço de expressão, é umapoio importante na recuperação do paciente,devido à melhor inserção hospitalar, aceitação damedicação, alimentação, diminuição da ansieda-de gerada pela internação, contribuindo para suarecuperação. Observamos, ainda, que as mães fi-cam mais tranqüilas, porque além de conversa-rem com outras mães brincam com seus filhos, oque favorece uma aproximação, que é fundamen-tal no processo de recuperação”.

E. F., Médico

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca por nossa instituição deve-se à efi-ciência e eficácia dos serviços prestados de for-

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ma humanizada, resolutiva em nossa complexi-dade. A participação e inserção do Hospital Pro-vidência no projeto de Política de Humanizaçãoe Assistência à Saúde, melhorando a qualidade eeficácia da atenção dispensada aos usuários, fun-damenta-se na valorização da vida do ser huma-no, capacitando os profissionais da saúde (quesão todos os envolvidos na instituição hospita-lar) e voluntários do Hospital Providência paradar continuidade ao projeto através do concei-to de atenção à saúde integral do ser humano.

Dentro da Política de Humanização da As-sistência à Saúde que estamos desenvolvendo noHospital Providência de Marau, apresentamos oProjeto da Ludoteca Hospitalar Florescer, pro-curando traduzir algumas ações em gestos con-cretos, realçando o valor da pessoa humana, nãoa reduzindo simplesmente como um corpo, ouuma soma de órgãos, mas trazendo esta visãoholística, o que torna este Projeto um grande egratificante desafio. O indivíduo é um todo, éuno, é indivisível, um nó de relações. Então, serhumano é possuir corporeidade, é ter psiquis-mo e coração, é conviver com os outros, culti-vando esperança, e crescer na perspectiva deser um indivíduo saudável em todas as dimen-sões e, assim, ser acolhido nas instituições desaúde. O individuo é sempre um ser humanoem evolução.

Vista, assim, a Ludoteca Hospitalar Flores-cer tem seu profundo significado ao brindar cadausuário com a possibilidade de se expressar en-quanto sujeito, de se comunicar na vitalidadelúdica, que suaviza o trauma da internação e aju-da na recuperação da saúde, diminuindo o pra-zo médio de internação e fortalecendo a culturado atendimento humanizado da saúde. Temoscomo missão proporcionar aprendizagens, cul-tura e educação para a Saúde, sendo que nossoobjetivo maior é desenvolver a humanizaçãohospitalar, observando a corporeidade que fala,por vezes, sem emitir palavras, trabalhando no

aqui e agora, lidando com as contradições, comas possibilidades de transformá-las em novasações, propiciando o desenvolvimento do serenquanto pessoa.

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O CUIDADO HUMANIZADO PARA PACIENTESPSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAL GERAL

THE HUMANIZED CARE OF PSYCHIATRIC PATIENTSIN GENERAL HOSPITALS

Jacqueline Fátima TrevisanPsicóloga

Eugélia WolmannEnfermeira

Edmundo Berni ReateguiMédico Clínico Geral

Instituição: Hospital dos Trabalhadores de Ronda AltaFone: (54) 364 14 96

E-mail: [email protected]

RESUMOO projeto de humanização do Hospital dos Trabalhadores deRonda Alta - RS teve início em outubro de 2003, e visa a atenderdiversos tipos de transtornos psíquicos, como esquizofrenia,retardo mental, depressão, dependência alcoólica e química,entre outros. O motivo para desenvolvermos este trabalho éamenizar o sofrimento psíquico dos pacientes através daassociação de procedimentos, que envolvem, de um lado, aação medicamentosa, a fim de modular certas respostas, e, deoutro, a psicoterápica que procura orientar os pacientes sobrecomo lidar com seu "problema". Além disso, através dapsicoterapia e dinâmicas de grupo, procuramos indagar o porque das respostas diferentes, dos medos, angústias, sentimentosnegativos e relacioná-los com o mundo externo. Entendemosque o tratamento deve contribuir para o bem-estar físico epsicológico do paciente - espírito e corpo, inteligência,sensibilidade, responsabilidade pessoal, entre outros.Acreditamos que todo ser humano deve ser preparado paraelaborar pensamentos autônomos e críticos, como tambémformular os seus próprios juízos de falar, decidir por si mesmo,bem como o seu modo de agir nas diferentes circunstânciasde vida. Podemos dizer que já estamos colhendo "bons frutos"através do nosso trabalho e empenho com estes pacientes,pois obtivemos um resultado satisfatório, com um índice de82,99% de êxito nos tratamentos, mostrando que, por seruma idéia nova, tem dado resultados positivos.

PALAVRAS-CHAVEHumanização, assistência ao paciente, saúde mental.

ABSTRACTThe humanization project of the Hospital dosTrabalhadores, from Ronda Alta - RS, began in October2003 and it aims at caring many kinds of psychic disorder,as schizophrenia, mental retardation, depression, alcoholand drug addiction, among others. This work aims atmitigating the patients' psychic suffering by associatingprocedures, which involve on one side, the medicationaction in order to modulate certain responses, and on theother, the psychotherapy which aims at orientating thepatients on how to treat his/her "problem". Besides,through the psychotherapy and group dynamics, we tryto ask the reason of different responses, the fears; anxiety,negative feelings and relate them with the external world.We know that the treatment shall contribute to thepatient's physical and psychological well-being - spirit andbody, intelligence, sensibility, personal responsibility, amongothers. We believe that every human being shall beprepared to have autonomous and critical thoughts, as wellas to formulate his own speaking judgments , to make hisown decisions, as well as his way of acting in the differentlife circumstances. We can say that we have already beentaking the credits with our work and pledge with thesepatient, because we have already obtained a satisfactoryresult -a rate of 82.99% of success with the treatments,showing that as new idea, it has been giving positive results.

KEY WORDSHumanization, patient care, mental health.

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INTRODUÇÃO

Sabemos que se faz necessário, em nossomeio, romper paradigmas em “saúde mental”,criar uma nova cultura, sem utopias, minimizan-do a exclusão decorrente das desigualdades so-ciais e econômicas e, desta forma, buscar a rein-serção do indivíduo na sociedade.

O Hospital dos Trabalhadores de RondaAlta – RS, construído na década de 90, apósum incêndio, atua a nível municipal e regional,e, preocupa-se com a socialização dos pacien-tes, fazendo, deste município, referência em tra-tamento psiquiátrico. Essa instituição vem de-senvolvendo, desde outubro de 2003, uma rela-ção de troca de experiências e serviços a paci-entes psiquiátricos, sendo pioneira neste tipo deprática. Por meio do projeto de humanização, oHospital vem ampliando o atendimento a diver-sos tipos de transtornos psíquicos, como esqui-zofrenia, retardo mental, dependência alcoólicae química, entre outros. Graças a uma parceriacom as Secretarias de Saúde e do Sistema Únicode Saúde (SUS), os pacientes recebem atendi-mento exclusivo e gratuito. Essa parceria possi-bilita um novo modelo de “saúde mental”, comênfase no ato de humanizar. Pequenos agricul-tores, com baixa escolaridade e baixíssimo po-der aquisitivo, na faixa etária de 20 a 60 anos,são o público alvo.

Neste contexto, ações, que envolvem cui-dado médico, de enfermagem e psicológico as-

sociadas ao tratamento do paciente psiquiátri-co, já estão revelando resultados positivos, pro-porcionando suporte essencial para o alcanceeficaz do tratamento.

A nossa idéia de cuidado humanizado temcomo base, estabelecer, com o paciente, umarelação pessoal e subjetividade na hora do aten-dimento individual, sendo que estes pacientes sãoencaminhados/estimulados tanto para trabalhosindividuais quanto em grupos, que são geralmen-te formados por pessoas com patologias e expe-riências de vida semelhantes, o que facilita a tro-ca de idéias e o fortalecimento da auto-estima.Para isso, disponibilizamos, aos nossos pacientes,um centro de diagnóstico moderno e uma equi-pe de profissionais preparados.

Através desta estratégia, foi possível perce-ber uma melhora significativa no que tange aocuidado com o usuário, bem como demonstrarque “ainda” podemos oferecer serviço públicoe gratuito, com qualidade e eficiência, uma vezque o atendimento se dá pelo SUS. Esperamosque a implementação dos resultados possa con-tribuir para ajudar no tratamento e no futurodestes pacientes.

Diante disso, acreditamos que nós, profis-sionais de saúde, possamos contribuir para apromoção do cuidado humanizado. Porém, te-mos que ter domínio teórico e prático, a fim dedesenvolvermos um trabalho construtivo, nosentido de proporcionar às pessoas bem-estare qualidade de vida.

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107O CUIDADO HUMANIZADO PARA PACIENTES PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAL GERAL

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

OBJETIVOS

Objetivo geral

Reinserção e socialização do paciente psi-quiátrico na família e na sociedade.

Objetivos específicos

– Proporcionar tratamento eficiente detranstornos psíquicos com técnicas emétodos alternativos;

– Proporcionar ao paciente a oportuni-dade de se integrar em um ambienteacolhedor e familiar;

– Promover diálogos que possibilitem to-mada de decisões e atitudes positivas;

– Oportunizar a auto-avaliação e a me-lhora da auto-estima.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada baseou-se empráticas alternativas como leituras, reflexões,encontros e discussões, trabalhos com jornaise revistas, filmes educativos, a fim de viabili-zar e proporcionar um tratamento humaniza-do e diferenciado aos pacientes.

Além destas atividades, os pacientes par-ticipam de atividades sociais, comoparticipação nas missas da comuni-dade, práticas esportivas com pro-fissionais voluntários da área deeducação física, atividades de mani-cure, pedicure, cabelereiro, realiza-das por profissionais voluntários,normalmente uma vez por semana.Além disso, os pacientes dispõemde um pátio, onde podem dialogar,jogar, “matear”, entre outras ativi-dades.

Convém lembrar que as ações desenvolvi-das visam a manter os pacientes informados noque diz respeito às novidades que surgem na áreade dependência e/ou algum transtorno psíqui-co, apoio e acompanhamento que fazem partedo processo de humanização com familiaresorientando sobre diagnóstico, tratamento eprognóstico. A realização de encontros de pre-venção, diálogo com resgate de valores e de in-clusão social, bem como a criação de um nívelde consciência exata de suas posições na socie-dade, constituindo-se em uma etapa crítico-re-flexiva da proposta.

Após a alta hospitalar, os pacientes são en-caminhados com seus respectivos pedidos de aju-da (pessoais, por correspondência, telefone, e-mail)para seus devidos municípios, que normalmentese responsabilizam e se comprometem com osusuários, apoiando seu tratamento. Desta forma,trabalhamos a contra referência na alta hospitalar,com o propósito de dar continuidade ao tratamen-to dos pacientes em suas comunidades/cidades.

RESULTADOS

O público, que já foi, ou está sendo atendi-do, corresponde a um total de 241 pacientes,sendo que, 82,99% destes tiveram uma reso-lutividade positiva no seu prognóstico. Estes dados

FIGURA 1: ÍNDICE DE RESOL UTIVID ADE DOS TRATAMENTOS REALIZADOS NESTAINSTITUIÇÃO

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108| JACQUELINE T REVISAN; EUGÉLIA WOLMANN; EDMUNDO REATEGUI

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

foram conseguidos através de informações sobreas internações e reinternações, sendo estas feitaspor telefone aos seus respectivos municípios.

CONCLUSÃO

Esperamos que este projeto e a imple-mentação de seus resultados possam contri-buir para ajudar no tratamento e no futurodestes pacientes.

Diante disso, acreditamos que nós, profis-sionais da saúde, possamos contribuir para a pro-moção do cuidado humanizado. Porém, temosque ter domínio teórico e prático, a fim de de-senvolvermos um trabalho construtivo, no sen-tido de proporcionar às pessoas bem-estar equalidade de vida.

REFERÊNCIAS

FRILLEN, Silvino José. Exercícios práticos de dinâmica de

grupo. 24.ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

. Exercícios práticos de dinâmica de grupo.

25.ed. Petrópolis: Vozes,1997.

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mica de grupo, relações humanas. 19. ed. Vozes, 2002.

MENEZES, Mara Silvia Carvalho. O que é o amor exi-

gente. 21. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

ROBERTO, Clarice Sampaio et al. Drogas e trabalho: uma

proposta de intervenção nas organizações. Psicologia:

Ciência e Profissão. Brasília, v.22, n.1, p.18-29, 2002.

ROSSI, Ana Maria. Estressado, eu? Porto Alegre: RBS,

2004.

SILVEIRA, Dartiu Xavier. Um guia para família. Brasília:

Secretaria Nacional Antidrogas, 2000. 36 p.

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O PACIENTE HOSPITALIZADOCOMO SUJEITO OU OBJETO

THE INPATIENT AS A PERSON OR A THING

Délio José Kipper, MD, PhDDoutor em Pediatria, Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisada Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS

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110| DÉLIO KIPPER

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

INTRODUÇÃO

O problema

Como realizar estas tarefas, sem desrespeitara dignidade das pessoas humanas, pacientes-sujei-tos do processo de ensino-aprendizagem?

O perfil do formando em medicina

A perspectiva do poder público

“Profissional com formação generalista, hu-manista, crítica e reflexiva, pautado por prin-cípios éticos adequados e deve estar capaci-tado a atuar no processo saúde-doença [...]com senso de responsabilidade social e com-promisso com a cidadania [...].”

Quanto ao conteúdo do curso

[...] compreensão ética, psicológica e humanísti-ca da relação médico-paciente.

Quanto ao treinamento em serviço

[...] inserido precocemente em atividades práti-cas relevantes [...].

A perspectiva dos alunos

Além da capacitação técnica, senso deresponsabilidade, por estarem lidando com

seres humanos, seus valores, desejos e sofri-mentos.

Desejam experiência prática, a fim de po-der cumprir sua tarefa social e aplicar seusconhecimentos em benefício dos pacientes.

A perspectiva dos educadores

A maneira mais eficiente e duradoura deadquirir conhecimento, habilidade ou atitude éexercitar ações que exijam tal conhecimento, talhabilidade ou tal atitude.

A perspectiva dos pacientes

Esperam atendimento humano, com efici-ência e eficácia (benefícios), com o mínimo deriscos e desconfortos, e anseiam por uma ótimacomunicação com a equipe de saúde.

PESQUISA

Childress: Condições para que a pesquisacom seres humanos seja moralmente aceitável:

– Deve existir uma razão moral impor-tante;

– Deve existir uma expectativa razoávelde que o conhecimento vai ser gerado;

– É uma questão de último recurso ou seseu uso é necessário;

– Análise favorável de risco/benefício;– Consentimento livre e esclarecido;– Eqüidade.

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111O PACIENTE HOSPITALIZADO COMO SUJEITO OU OBJETO |

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

RECOMENDAÇÕES PARA OATENDIMENTO HUMANIZADOE MORALMENTE ACEITÁVEL

– As instituições de ensino devem ade-quar-se ao processo pedagógico deter-minado pelo poder público, e criar sis-temas de avaliação permanente, visan-do a garantir que os objetivos técnicose pedagógicos estão sendo alcançados;

– As instituições de ensino devem favo-recer a formação pedagógica dos pro-fessores, já que uma das justificativaséticas para ter alunos participando doscuidados diretos ao paciente e residen-tes praticando atos médicos complexosé atingir competências mínimas para osprimeiros e a excelência profissionalpara os últimos, o que só será alcança-do sob uma supervisão técnica e didá-tica adequada;

– As instituições de ensino devem garan-tir um ambiente para o desenvolvimen-to dos conhecimentos, habilidades eatitudes apropriadas, com participaçãoprecoce dos alunos no sistema de saú-de, necessárias ao exercício profissio-nal e ao compromisso ético e social dofuturo médico;

– Estas instituições devem, sistematica-mente, se questionar se os alunos eresidentes não estão sendo pressiona-dos a realizar tarefas para as quais nãoestão capacitados, não só para prote-gê-los, mas também para ter uma ati-tude respeitosa e humana com aquelesque estão sendo preparados para se-rem humanos com seus pacientes;

– As instituições de ensino devem esta-belecer uma política para todos os as-pectos dos cuidados realizados por alu-nos, residentes e professores, e criar

mecanismos para a avaliação de comoesta política de atendimento aos paci-entes é implantada e a satisfação dosusuários com os cuidados oferecidos;

– Todos os pacientes devem ser informa-dos sobre a natureza de ensino e o fun-cionamento da instituição, previamen-te à sua admissão. Devem ser esclare-cidos os benefícios e os eventuais ris-cos existentes no ambiente de treina-mento profissional e estes devem serdistribuídos com eqüidade;

– No processo de obtenção do consen-timento, deve ser discutido, de modohonesto, o envolvimento de alunos eresidentes nos seus cuidados, deve seresclarecido que cada membro de equi-pe realizará as tarefas para as quais te-nha competência específica, sempresob supervisão de um médico experi-ente e plenamente capacitado.

– O consentimento do paciente para par-ticipar do processo de ensino deveráser específico para cada procedimentoou tratamento necessário, sob super-visão.

– A prática do consentimento informadonão é meramente uma obrigação éticaou legal, mas uma oportunidade apro-priada para treinar as habilidades téc-nicas de comunicação com os doentese suas famílias, para aprofundar a con-fiança na relação médico-paciente epara transmitir solidariedade, otimismoe esperança.

– As instituições de ensino devem ter po-líticas, normas e controles sobre a ob-tenção dos consentimentos e uma de-finição clara sobre quem será respon-sável por esta tarefa.

– O governo deve assegurar recursospara o bom processo educacional e não

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112| DÉLIO KIPPER

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

punir estas instituições pelos seus cus-tos operacionais mais elevados.

O QUE FAZEMOS

– Atividades Humanizadoras do HSL-PUCRS;

– Comitê de Defesa dos Direitos da Cri-ança e Adolescente e Cuidados Hos-pitalares;

– Recreação Terapêutica (Psicopedago-gia);

– Comitê de Bioética;– Grupo de Puérperas;– Madrinhas;– Voluntárias da Mama;

RECREAÇÃO TERAPÊUTICA(PSICOPEDAGOGA)

– Educação continuada;– Crianças especiais;– Hora do Conto;– Cuidando dos animais;– Educação ambiental;– Musicoterapia;– Voluntários (cantores infantis, mágicos

e teatros);– Passeios (Cinema, Museu e Jardim Botâ-

nico);– Festas em datas comemorativas;– Intervenção psicopedagógica.

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PROJETO ABRAÇO: UM PROJETO SOCIAL DAFAU-HE/UFPEL PROMOVENDO A QUALIDADE DE

VIDA DA COMUNIDADE PELOTENSE

HUG PROJECT: A FAU-HE/UFPEL SOCIAL PROJECT PROMOTINGLIFE QUALITY OF PELOTAS COMMUNITY

Tânia Laís BrizolaGerente de Recursos Humanos da FAU; Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pela Universidade Luterana do Brasil

Luiz Vicente Borsa AquinoDiretor Executivo da FAU; Especialista em Administração Hospitalar.

Vanessa Andina TeixeiraPsicóloga; Mestre em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas.

Instituição: Fundação de Apoio UniversitárioRua Professor Araújo, 433 - Cep: 96020-360 - Pelotas-RS

Fone: (53) 3284-4965E-mail: tâ[email protected]

RESUMOTem se demonstrado crescente a importância em se adotar aPolítica de Humanização da Assistência à Saúde e também daresponsabilidade social da empresa. O Hospital Escola - HE daUniversidade Federal de Pelotas - UFPel, e a Fundação deApoio Universitário - FAU são instituições que buscam cumprircom ambos os papéis: a humanização e a responsabilidadesocial. O Projeto Abraço é um projeto social, desenvolvidopelas referidas instituições a fim de promover uma integraçãojunto à comunidade de Pelotas/RS, através de ações educativas,preventivas e sociais. Diversas atividades já vêm sendodesenvolvidas e, até o momento, tanto o grupo que temrecebido este tipo de atenção, quanto o grupo que temoferecido seus serviços, têm se demonstrado satisfeitos comos resultados. A avaliação que fica é de que a qualidade de vidados sujeitos melhora através destas ações.

PALAVRAS-CHAVEHumanização, qualidade de vida, responsabilidade social.

ABSTRACTIt has been shown the increasing importance of adoptingthe Health-Care Humanization and the Company's SocialResponsibility Policies. The School Hospital of the StateUniversity of Pelotas - UFPel and the Foundation ofAcademic Support are institutions aiming at accomplishingboth purposes: the humanization and the socialresponsibility. The Hug Project is a social project,developed by the institutions listed above, in order topromote integration with the community of Pelotas/RSthrough educational, preventive and social actions. Severalactivities have already been developed and, so far, boththe group that has been receiving this kind of care, andthe group that has been offering its services, have shownto be satisfied with the results. The final evaluation is thatthe individual's life quality has improved with these actions.

KEY WORDSHumanization, life quality , social responsibility.

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114| TÂNIA BRIZOLA; LUIZ A QUINO ; VANESSA TEIXEIRA

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

INTRODUÇÃO

No ano de 2002, o Ministério da Saúde pu-blicou o Manual do Programa Nacional de Hu-manização da Assistência Hospitalar - PNHAH,no qual era reforçada a importância em se esta-belecer uma relação mais humana entre gesto-res, usuários e profissionais do atendimento hos-pitalar, além de estimular as instituições hospi-talares a implantar o programa e a se integra-rem à Rede Nacional de Humanização (RNH).

Os princípios fundamentais propostos provi-nham da experiência produzida pela implantaçãodo Programa Nacional de Humanização da Assis-tência Hospitalar (PNHAH), que se referiam à sin-gularidade dos hospitais e à estreita cooperaçãoentre os diversos agentes que compunham o Sis-tema Único de Saúde (SUS). A constituição deGrupos de Trabalho de Humanização (GTH) e aRNH seriam espaços para se promover a co-municação entre as instituições públicas de saú-de e consolidar o processo de humanização noshospitais.

O enfoque dado neste material referia-seao atendimento nos serviços hospitalares, mascolocava, também, como um desafio à melhoriada qualidade dos serviços prestados à popula-ção, em termos de eficácia e produção de saúde(Ministério da Saúde, 2002). Afirmava, ainda, quea possibilidade de eficácia do atendimento esta-va relacionada à forma como se dá a integração,a comunicação, o vínculo e reconhecimento

mútuo entre profissionais e usuários, equipes deprofissionais e gestores de diversas instâncias.

No presente ano, foi lançada, então, a Polí-tica de Humanização da Assistência à Saúde(PHAS), tendo propósitos semelhantes ao pro-grama citado anteriormente. No documentopublicado pela Secretaria de Saúde do Estadodo Rio Grande do Sul, o trabalho voluntário étratado como uma das formas mais efetivas daaliança da instituição com a comunidade, incor-porando, através do voluntariado, uma parcelade sua responsabilidade no atendimento reali-zado em saúde. Entretanto, neste sentido, pa-rece que este programa enfoca o desenvolvimen-to deste trabalho ocorrendo sempre dentro dainstituição hospitalar ou de atendimento.

Ao se encarar o hospital enquanto empre-sa, outros fatores se fazem presentes neste pro-cesso de humanização. Em 2001, a Social Accoun-tability International (SAI) publicou um documen-to sobre a responsabilidade social – o SA 8000.Trata-se de um padrão ético desenvolvido parapromover a idéia de uma empresa socialmenteresponsável, apresentando requisitos que pos-sibilitam à empresa desenvolver e manter umapolítica ética de responsabilidade social.

Sob este aspecto, Neto (1999) entende que,se a instituição obtém recursos da sociedade,ela deve também restituir, à mesma, não só emforma de produtos, mas, especialmente, atra-vés de ações educativas e sociais voltadas para asolução de problemas nas áreas que afligem esta

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115PROJETO ABRAÇO : UM PROJETO SOCIAL DA FAU-HE/UFPEL PROMOVENDO A QUALIDADE DE VIDA DA COMUNIDADE PELOTENSE |

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

mesma comunidade. Quando uma empresa decidecontribuir para a melhoria de um quadro social lo-cal, ela ganha internamente, pois gera motivação ededicação de seus colaboradores. A instituição pas-sa a ser vista com mais simpatia, e traduz uma ima-gem de comprometimento com a comunidade.

Enquanto instituição de saúde, percebemosque nosso produto é o bem-estar do usuário e,para tal, o processo de humanização é funda-mental. Entretanto, fomos além da humaniza-ção que se dá apenas no ambiente hospitalar, e,pensando em unir o nosso compromisso com asociedade enquanto empresa a este processo, éque surgiu então a idéia do Projeto Abraço.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Difundir a importância da gestão socialmen-te responsável pela instituição e seus colabora-dores através do desenvolvimento de ações edu-cativas, preventivas e sociais.

Objetivos Específicos

– Fortalecer o espírito da cidadania insti-tucional;

– Promover a satisfação e o respeito en-tre os colaboradores da instituição;

– Oportunizar a participação de colabo-radores em ações preventivas, educati-vas e sociais promovidas pela instituição;

– Promover laços que visem a mobilizar,capacitar e reconhecer as práticas deresponsabilidade social;

– Promover qualidade de vida à comu-nidade pelotense, a partir das deman-das trazidas pela mesma, via contatocom a instituição;

– Difundir a importância da gestão soci-almente responsável pela instituição eseus colaboradores, através do desen-volvimento de ações educativas, pre-ventivas e sociais.

METODOLOGIA

É importante destacar que o Hospital Es-cola - HE funciona com recursos exclusivamen-te provindos do Sistema Único de Saúde (SUS),não possuindo outros convênios, não visando afins lucrativos. Logo, para o desenvolvimento dealgumas ações, recursos financeiros por vezesforam buscados em outras instituições locais,promovendo uma aproximação com outrasempresas interessadas em colaborar.

Pretendendo-se, então, desenvolver ativida-des que promovessem uma integração entre insti-tuição e comunidade, levando, na medida do pos-sível, recursos que colaborassem para a qualidadede vida da comunidade de Pelotas de uma maneirahumanizada, fez-se necessária a seguinte logística.

Inicialmente, foi realizada uma divulgaçãointerna do projeto aos funcionários do hospital,informando-os sobre as atividades que poderiamser realizadas, formas de participação e inscrição,e maneiras como tais atividades poderiam seradaptadas ao horário de trabalho. Após esta eta-pa, ficou a cargo do Departamento de RecursosHumanos e Psicologia do Trabalho, o recruta-mento dos colaboradores interessados.

Uma divulgação externa também aconte-ceu, a fim de recrutar instituições da comunida-de com interesse no trabalho, visando a estabe-lecer vínculo e avaliar as necessidades dos gru-pos interessados.

Conforme dito anteriormente, a busca deparcerias com outras empresas aconteceu – e ain-da acontece - a fim de arrecadar recursos financei-ros, políticos e técnicos que o hospital não possua.

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116| TÂNIA BRIZOLA; LUIZ A QUINO ; VANESSA TEIXEIRA

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

Após o recrutamento, procedeu-se a apre-sentação dos programas e cronograma das açõesa serem desempenhadas, dentro das necessida-des previamente trazidas pelas instituições vin-culadas. Faz-se importante ressaltar que as ati-vidades se referem, em especial, às questões desaúde geral e educação, áreas nas quais a insti-tuição possui recursos técnicos.

Ao término de cada atividade, procedeu-seà avaliação das atividades desenvolvidas, objeti-vando um feedeback pela instituição e/ou comu-nidade beneficiada.

Destacamos que o público referenciado res-tringe-se à comunidade de Pelotas/RS, represen-tada ou não por instituições diversas, como asilos,escolas especiais, presídio municipal, bairros, etc.

CONCLUSÃO E RESULTADOS

Desde a implantação do projeto, diversasatividades foram realizadas pelos setores do HE/FAU. Os colaboradores da instituição efetivaramatividades vinculadas à sua área de atuação, re-forçando sua identidade com o trabalho contra-tado, veiculado ao desafio de ampliar sua práxiscomo ferramenta de transformação, vinculaçãoe intervenção, abrindo espaço para o conheci-mento e reconhecimento de diferentes sujeitose talentos, na produção coletiva em saúde.

A abordagem deste projeto reforça o apro-veitamento de habilidades próprias do colabo-rador, bem como a promoção de uma rede desuporte social entre grupos e instituições paratroca de informações, orientações e experiên-cias na busca de alternativas para possíveis mo-dificações, não só na esfera microssocial de saú-de, como também na ampla gama de fatoresmacrossociais que determinam e constituem arede básica de saúde.

Do ponto de vista social, é importante re-conhecer que têm sido privilegiados aspectos

relevantes em saúde, interagindo com esferasdo biológico , afetivo e social como também ainter-relação entre trabalho e saúde numa cons-trução recíproca.

A partir desta premissa, o Serviço de Nutri-ção do HE e alunos da Faculdade de Nutrição/UFPel atuaram em asilos e escolas especiais, ten-do como finalidade avaliar o estado nutricionaldos usuários destas instituições, com posteriorintervenção dietética e atendimento individuali-zado nos casos específicos, além de possibilitara capacitação de técnicos oriundos de tais lo-cais, incentivando os cuidados de higiene no pre-paro de alimentação, realizando diagnóstico nu-tricional e orientação aos gestores das institui-ções atendidas sobre questões referentes às ins-talações, equipamentos, sistema de exaustão erecolhimento do lixo.

Técnicos das áreas da medicina, psicologia,serviço social, enfermagem, comunicação, peda-gogia e outras, integraram-se em ações que ins-trumentalizavam os beneficiados do projeto so-bre os cuidados com o corpo e a mente. Foramrealizadas dinâmicas de grupos, palestras educa-tivas e preventivas, enfocando a importância deuma vida saudável e valorização do ser humano.

Atividades de estética e recreação também fo-ram desempenhadas, promovendo uma integraçãono âmbito interinstitucional e intrainstitucional.

Parcerias com outras instituições acontece-ram, objetivando buscar recursos humanos e eco-nômicos não disponíveis na instituição, mas quefaziam parte das demandas expostas, incluídas nocronograma das atividades.

Um dos dados marcantes para a instituiçãopromotora, bem como para os colaboradores,foi a experiência e convívio com outras realida-des e, ainda, a possibilidade de serem reconhe-cidos com diferentes habilidades que no traba-lho diário não era possível exercitar.

Todo o trabalho desenvolvido teve impor-tante participação para o exercício do papel social

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117PROJETO ABRAÇO : UM PROJETO SOCIAL DA FAU-HE/UFPEL PROMOVENDO A QUALIDADE DE VIDA DA COMUNIDADE PELOTENSE |

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

corporativo e para a aproximação e vinculação deindivíduos e/ou grupos de trabalho, que, por vezes,devido às exigências diárias, estavam distanciados.

Os esforços empreendidos pelo HospitalEscola/FAU, com o objetivo de nortear açõesno âmbito da saúde e qualidade de vida no mu-nicípio de Pelotas, vêm gradativamente sendoreconhecidos e valorizados pela população.

O Projeto Abraço tem comprovado estedado através de manifestações formais (ofícios deagradecimentos das instituições beneficiadas),bem como em publicações dos jornais locais que,além de divulgarem o projeto, informando à po-pulação sobre as ações realizadas, ainda avalia-vam as mesmas como positivas e muito válidasno processo de promover a qualidade de vida e asaúde da população. Além disso, depoimentospessoais e informais sobre o trabalho realizado, etambém avaliações realizadas após o término decada atividade, têm apontado as iniciativas comomuito satisfatórias para todos os envolvidos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Hu-

manização da Assistência Hospitalar - PNHAH. 2.

ed. rev. Brasília, DF, 2002.

HELMAN, C. G. Cultura, saúde e doença. 2. ed. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1994.

LART, I. B.; SAMPAIO, J. R. Psicologia do trabalho e

gestão de recursos humanos: estudos contemporâne-

os. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

MELO NETO, F. P.; FROES, C. Responsabilidade social

e cidadania empresarial: a administração do terceiro

setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pes-

quisa qualitativa em saúde. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1992.

NORMA SA 8000: responsabilidade social - 2001.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. Ma-

nual HumanizaSAÚDE. Porto Alegre: Escola de Saúde

Pública, 2004.

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PROJETOS DE HUMANIZAÇÃO DA INTERNAÇÃOPEDIÁTRICA DO HOSPITAL SÃO LUCAS DA

PUCRS VINCULADOS À COMISSÃO DOSDIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E

CUIDADOS HOSPITALARES

HUMANIZATION PROJECT OF THE "HOSPITAL SÃO LUCAS - PUC/RS" PEDIATRIC ADMISSION LINKED TO THE CHILD AND

ADOLESCENT RIGHTS COMMISSION AND HOSPITAL CARE

Maria Estelita GilMestre em Psicologia Clínica, Coordenadora da Comissão dos Direitos da Criança e Adolescente

Délio José KipperDoutor em Pediatria. Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa em Pesquisa da PUCRS

Magda Suzana FerreiraAssistente Social, Equipe da Comissão

Instituição: Hospital São Lucas da PUCRS - sala 228Av. Ipiranga, 6690, Jardim Botânico, Cep 90610-000

Fone: (51) 3320-3311E-mail: [email protected]

RESUMODireitos da Criança e do Adolescente e Cuidados Hospitalaresdo Hospital São Lucas da PUCRS.

PALAVRAS-CHAVEHumanização, direitos da criança, direitos do adolescente.

ABSTRACTThis work shows all the humanization projects linked tothe Child and Adolescent Rights Commission and hospitalcare of the Hospital São Lucas, PUC/RS

KEY WORDSHumanization, child rights and adolescent rights.

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120| MARIA GIL; DÉLIO KIPPER; MAGDA FERREIRA

BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

INTRODUÇÃO

A internação hospitalar é uma contingênciainevitável em certas condições de comprometi-mento orgânico e é sempre muito traumáticapara as crianças e adolescentes. Inúmeros são osônus e riscos a que são submetidos os pacientes.Dentre os mais conhecidos, no aspecto físico,podemos citar o risco de infecção hospitalar e osofrimento físico inerente aos procedimentos, àmudança da dieta, à perda do conforto de suacasa. No que tange aos aspectos emocionais,sobressaem a separação da família, o ambientehostil (desconhecido e agressor) e a convivênciacom o sofrimento alheio, além da perda dosobjetos lúdicos. No que se refere aos aspectossociais, sobressaem-se a perda do convívio fa-miliar, da escola, dos colegas e amigos.

JUSTIFICATIVA

Frente a todas estas questões, que são per-tinentes e que podem ser decorrentes de ummau trato institucional diante de uma doençainfantil, criamos, em 1989, um Programa quevisava a humanizar a internação em nossa Uni-dade Pediátrica, e que persiste até hoje e abran-ge o diagnóstico, a prevenção e o tratamentode maus tratos na infância e na adolescência,tendo como diferencial a prevenção de maustratos institucionais “inadvertidos”.

Gradativamente, foi agregada uma série deprojetos de humanização, dentre os quais des-tacamos: Cuidados na Admissão, Programa PaisParticipantes, Maternagem, Atendimento Siste-mático das Equipes de Apoio, Recreação, Edu-cação Continuada, Hora do Conto, Estantes Iti-nerantes, Cuidando dos Animais (peixinhos),Toque de vida, Musicoterapia.

OBJETIVO GERAL

Agregar e auxiliar os projetos de Humani-zação ligados à Comissão dos Direitos da Crian-ça e do Adolescente e Cuidados Hospitalares,visando a amenizar o sofrimento no período dainternação hospitalar.

Objetivos específicos

– Proporcionar, através do trabalho multi-disciplinar, a avaliação, o diagnóstico, prog-nóstico, e tratamento de maus tratos;

– Oferecer apoio social psicológico e psi-quiátrico aos pacientes e respectivasfamílias;

– Estabelecer rotinas que evitem os maustratos;

– Oportunizar o acesso a todos os pro-gramas de humanização;

– Encaminhar aos recursos da comunidade.

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METODOLOGIA

Os projetos vinculados à Comissão dos Di-reitos da Criança e do Adolescente e CuidadosHospitalares desenvolvidos a partir de 1989 se-guem a seguinte sistemática:

Cuidados na Admissão – recepção ade-quada das crianças e adolescentes, fazendo comque a equipe de saúde procure explicar, de modoacessível, a necessidade da internação, informarsobre o tempo provável da permanência no hos-pital e avaliar os hábitos da criança.

Programa Pais Participantes – apoio aospais nos aspectos referentes aos conceitos desaúde da Organização Mundial de Saúde e, naausência da família, buscar recursos para que opaciente não fique desassistido.

Maternagem – na ausência de mãe bioló-gica, buscar alguém da equipe que faça o papelde mãe substituta, até o momento da reintegra-ção da família nos cuidados à criança. Esta ativi-dade foi implantada pelo serviço de PsicologiaClínica, em 1989, quando não havia o Estatutoda Criança e do Adolescente, e os pais visitavamseus filhos apenas nos horários pré–determina-dos. Modificamos tal medida, liberando, já na-quela data, a presença permanente de um dosfamiliares junto aos pacientes.

Atendimento Sistemático pelas Equipesde Apoio – Serviço Social, Psicologia e Psiquia-tria, através de entrevistas individuais e grupaisde pacientes e familiares.

Recreação – a sala de recreação é um es-paço onde não se realizam exames e procedi-mentos, para preservar os aspectos lúdicos, eagrega uma série de projetos. É o espaço de“Brincar” “Lazer”, “Criatividade”, e “Se diver-tir” de modo dirigido ou autônomo, conformeas necessidades e desejos de cada paciente.

Educação Continuada – Programa com aFaculdade de Pedagogia para a continuidade da

aprendizagem das crianças que têm internaçõesprolongadas.

Hora do Conto – Iniciativa da Faculdadede Letras, com um trabalho sistemático de esti-mulação da leitura. É uma atividade pioneira, naqual os alunos desenvolvem a atividade sistemá-tica do conto de estórias, com as respectivas dra-matizações e com a participação das crianças edos familiares.

Estantes iItinerantes – Iniciativa da Facul-dade de Letras, com estantes de livros que cir-culam nos quartos. As crianças podem escolhera leitura que desejam fazer. Não é obrigatória adevolução dos livros.

Cuidando dos Animais (peixinhos) –A presença de um aquário na sala de recreaçãorepresenta a presença da “vida”. As crianças in-ternadas participam dos cuidados com os peixi-nhos e ajudam na sua alimentação, orientadaspor uma bióloga.

Toque de Vida – Animação com palhaços.Atividade semanal ou mensal, conforme a dis-ponibilidade do grupo de voluntários, para ale-grar os pacientes.

Musicoterapia – Atividade sistemática, rea-lizada por profissional musiocoterapeuta, com oobjetivo de estimular a livre expressão da música,através do contato com instrumentos musicais.

Preparo de lanche, com instruções sobrehigiene e valor dos alimentos

Festas nas Datas Comemorativas – Na-tal, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, São João,Semana da Criança. Estas festas são organizadascom antecedência e envolvem atividades de re-creação, teatro, música, palhaços, hora do con-to, distribuição de lanches e brinquedos.

Atendimento Integral às Crianças Por-tadoras da Trissomia do Cromossoma 21 –Esta atividade é desenvolvida por professores ealunos da Faculdade de Pedagogia e visa ao aten-dimento e estimulação precoce dos portadoresdesta alteração cromossômica.

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122| MARIA GIL; DÉLIO KIPPER; MAGDA FERREIRA

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Equipes de Apoio – Voluntários da Pediatria,Madrinhas, Padrinhos. Estas equipes de apoio auxi-liam-nos nas doações de brinquedos, livros e orga-nizam as festas previstas em nosso calendário.

PREVENÇÃO DE MAUS TRATOSINADVERTIDOS PELA INSTITUIÇÃO

– Exames e cirurgias canceladas;– Tempo de internação prolongado;– Integração com as especialidades;– Conforto mínimo para os pais acom-

panhantes.

Aspectos básicos, mas que, no dia-a-dia dequalquer instituição, podem ser esquecidos ouprotelados inadvertidamente.

PÚBLICO ATENDIDO

Crianças, adolescentes internados e respec-tivos familiares nas seguintes áreas da Pediatriae Obstetrícia:

– Internação SUS;– UTI Pediátrica;– UTI Neonatal;– Emergências Pediátricas;– Internação Particular e Convênios;– Alojamento Conjunto (maternidade);– Centro Obstétrico.

CONCLUSÃO

Os referidos projetos têm auxiliado noconforto e na amenização do sofrimento dospacientes hospitalizados, na medida em queestes têm a oportunidade de um atendimentovoltado não só para os aspectos físicos, maspara todos os aspectos contidos no conceito

de saúde da Organização Mundial de Saúde.Os mesmos são amenizados na medida em queo trabalho multidisciplinar das equipes dá o su-porte necessário em cada caso. Além disso, oprograma proporciona espaços e momentoslúdicos que visam ao resgate dos aspectos sau-dáveis, como o brincar, cantar, tocar instrumen-tos, ouvir histórias infantis, sorrir com os pa-lhaços, e tornar mais humanizada esta doença,que foi uma adversidade na vida destas crian-ças e adolescentes, que consideramos uma in-justiça da natureza.

REFERÊNCIAS

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fa-

das. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

BRUM, Daniele. A criança dada por morta: riscos psí-

quicos da cura. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.

CAMON-ANGERAMI, Valdemar Augusto (Org.). E a psi-

cologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira Thom-

son Learning, 1996. 213 p.

. Urgências psicológicas no hospital. São Pau-

lo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

COELHO, Betty. Contar história: uma arte sem idade.

São Paulo: Ática, 1997.

EIZIRIK, Cláudio Laks et al. Psicologia de orientação

analítica. Porto Alegre: Artmed, 2005.

ELENN, Jubes. Psiconálise e psicoterapia de crianças.

Porto Alegre: Artmed, 1992.

HORTA, Vera Mattos Almeida. A criança e o perigo da

morte. J. Pediatria, Rio de Janeiro, v.52, n.5, p. 357-360,

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KLAUS, M. H.; KENNEL, J. H. Pais / Bebê: a formação

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MORA, Marisa Decat de. Psiconálise e hospital. Rio de

Janeiro: Revinter, 2000.

RODRIGUES, Maísa; ARAÚJO, Mariza Sandra de Souza.

O fazer em saúde: um novo olhar sobre o processo de

trabalho na estratégia saúde da família. Disponível em:

<http://www.observatorio.nesc.ufrn.br>

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BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

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. O ambiente e o processo de manifestação.

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. Pensando sobre crianças. Porto Alegre: Artes

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ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola.

São Paulo: Global, 1982.

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A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO

DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE - PHAS

Rio Grande do SulSecretaria Estadual da Saúde – SES/RS

CARTILHA

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126| SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE

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INTRODUÇÃO

O setor da saúde caracteriza-se por disponibi-lizar serviços de consumo coletivo, que buscam aten-der a demandas complexas, por vezes indetermi-nadas, e que impõem práticas profissionais articula-das a saberes diversos e em instâncias também di-versas.

Essas práticas profissionais, norteadas pela di-mensão ético-politica, devem enfatizar o conheci-mento técnico-científico, as vivências cotidianas, queincidem nas especificidades sociais e culturais de cadaespaço, nas experiências dos sujeitos, suas crenças,estilos de vida e subjetividade.

A Política de Humanização da Assistência à Saú-de - PHAS preocupa-se com a qualidade da presta-ção de serviços de saúde, buscando garantir os as-pectos acima mencionados, bem como afirmar odireito universal e igualitário do acesso aos bens eserviços em saúde.

Para tanto, a PHAS pretende ampliar progra-mas/projetos já desenvolvidos como o ProgramaNacional de Humanização da Assistência Hospita-lar (PNHAH) e o Parto Humanizado, para que pos-sam servir de referência na implementação de no-vas ações no campo da humanização do sistema desaúde.

A Secretaria Estadual da Saúde entende ser fun-damental a humanização dos serviços da saúde e,sob a coordenação da Escola de Saúde Pública –ESP/RS, assume a responsabilidade de desenvolver,no Rio Grande do Sul a POLÍTICA DE HUMANI-

ZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE – PHAS, en-volvendo todos os agentes que integram o SistemaÚnico de Saúde – SUS, com o intuito de construirum serviço público cada vez mais humanizado.

POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO DAASSISTÊNCIA À SAÚDE - PHAS

O que é a PHAS?

É a política que, ao articular as práticas naárea da saúde, impõe, como característica ouqualidade fundamental, a humanização dessaspráticas em todas as instâncias.

Quais são as características principaisda PHAS?

Interagir com as instâncias da Rede do SUS,articulando as ações de humanização, corres-pon-sabilizando todos os atores envolvidos vi-sando a consolidar o SUS como direito univer-sal à saúde com qualidade.

Quem são os atores?

Representantes do Ministério da Saúde, daSecretaria Estadual da Saúde, das Coordena-dorias Regionais de Saúde, das Secretarias Mu-

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BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

nicipais de Saúde, do Controle Social, dos Pres-tadores de Serviço.

Quais são os princípios da PHAS?

– Apoiar, incentivar e propor ações quevisem à humanização do sistema de saú-de no RS.

Quais são os objetivos da PHAS?

– Melhorar a qualidade e a eficácia daatenção dispensada aos usuários

– Modernizar as relações de trabalho nosserviços de saúde pública.

– Capacitar os profissionais da saúde parao novo conceito de atenção à saúde.

– Estimular a realização de parcerias e in-tercâmbio de conhecimentos, experi-ências e pesquisas em humanização daassistência. Fortalecer e articular todasas iniciativas de humanização já existen-tes nos serviços de saúde.

– Conceber e implantar novas iniciativasde humanização que venham a benefi-ciar os administradores, os profissionaisde saúde e os usuários do sistema desaúde.

– Desenvolver um conjunto de parâme-tros de resultados e um sistema deincentivo ao serviço de saúde huma-nizado.

– Estimular o trabalho voluntário.

Como será desenvolvida a PHAS?

A PHAS será desenvolvida em regiões, res-peitando as dezenove Coordenadorias Regionais.Desta forma, busca-se garantir o respeito às ca-

racterísticas regionais e a organização já existen-te, com vistas à descentralização ética da saúde.A constituição das instâncias regionais de plane-jamento, acompanhamento, discussão e propo-sição são fundamentais e serão compostos por:

– Comitê Estadual– Comitês Regionais– Comitês Locais de Humanização– Grupos de Trabalho de Humanização

Qual a composição do Comitê Estadualda PHAS?

– Conselho Estadual de Saúde– Associação dos Secretários e Direto-

res da Saúde– Escola de Saúde Pública– Departamento de Coordenação das

Regionais– Departamento de Assistência Hospita-

lar e Ambulatorial– Ministério da Saúde

Qual a composição dos ComitêsRegionais da PHAS?

– Coordenadorias Regionais de Saúde– Hospitais Referenciais– Secretarias Municipais de Saúde– Conselho Regional de Saúde– Assedisa

Qual a composição dos Comitês Locaisda PHAS?

- Secretaria Municipal da Saúde- Entidades Prestadoras de Serviço- Conselho Municipal de Saúde

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BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

Qual a composição dos Grupos deTrabalho de Humanização (GTH)?

– Representante da gestão (Direção)– Representante das chefias dos serviços/

setores– Representante da área médica– Representante da área não médica (Téc-

nicos)– Representante do pessoal de apoio

Obs: Os componentes, que farão parte dosComitês, deverão ser indicados por Portaria naorigem, que será encaminhada à Escola de SaúdePublica – Coordenação da PHAS, para posteriorpublicação da composição destes Comitês.

DESENVOLVIMENTO DA PHAS NASINSTITUIÇÕES

1º Passo - Sensibilização da gestão quantoaos processos de trabalho.

2º Passo - Constituir dos Grupos de Traba-lho de Humanização.

3º Passo - Realizar diagnóstico situacionalquanto aos serviços de saúde.

4º Passo - Elaborar e implantar um planooperacional de ação de humanização.

5º Passo - Avaliar resultados da implanta-ção da política de humanização da assis-tência.

Atribuições dos GTHs

– Liderar a política de humanização nasinstituições.

– Traçar estratégias de comunicação/inte-gração entre setores.

– Avaliação de projetos em desenvolvi-mento ou a serem desenvolvidos, de

acordo com os parâmetros de humani-zação propostos.

- Estimular a participação da comunidade.- Promover a interação com o gestor mu-

nicipal (agenda/ ações).- Estabelecer os padrões de atendimento

ao usuário.- Participar dos encontros de humanização.- Coordenar voluntariado.

Parâmetros Para Humanização doAtendimento – Usuário

– Condições de acesso e presteza dosserviços.

– Qualidade das instalações, equipamen-tos e condições ambientais do serviço.

– Qualidade da relação entre usuários eprofissionais.

Parâmetros para a Humanização doTrabalho – Profissionais

– Gestão e participação dos profissionais.– Condições de trabalho.– Condições de apoio aos profissionais.– Qualidade da comunicação.– Relacionamento interpessoa.l– Valorização do trabalho e motivação

profissional.

VALORIZAÇÃO DA PHAS

A valorização e o reconhecimento de açõesde humanização são fundamentais no processode humanização dos serviços de saúde. Com estepropósito, a Secretaria Estadual da Saúde/Esco-la de Saúde Pública/RS institui o prêmio “HU-MANIZA SAÚDE”, ao qual poderá concorrer

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todo participante (instituições) da Política deHumanização da Assistência à Saúde, cuja pre-miação será anual e dividida em duas categorias:

A – Atenção hospitalar;B – Atenção Básica (OS, PAS, APHS, outros).

Premiação

As categorias terão premiação em três níveis:

Nível 1 – Certificação Categoria Bronze;Nível 2 – Certificação Categoria Prata;Nível 3 – Certificação Categoria Ouro.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Categoria “A” – Nível 1

– Ter desenvolvido os passos I, II, III, IVdo desenvolvimento do processo dehumanização.

– Ter instituído mecanismos básicos deescuta e participação do usuário e fun-cionários. (Ouvidoria).

– Ter estabelecido seus padrões de aten-dimento ao cidadão.

– Ter participado de treinamento / encon-tros de humanização.

– Ter realizado a pesquisa de satisfaçãodo usuário.

Categoria “A” – Nível 2

– Ter desenvolvido os cinco passos do de-senvolvimento do processo de huma-nização.

– Ter instituído o Serviço de Acolhimen-to ao Cliente/Cidadão.

– Ter estabelecido padrões de atendi-mento ao cidadão.

– Ter participado de treinamento/encon-tros de humani-zação.

– Ter realizado pesquisa de satisfação dousuário, que indique tendência de me-lhoria da satisfação.

– Ter criado agenda comum – ações de-senvolvidas com gestor municipal.

– Ter desenvolvido um plano de educa-ção permanente com temas de huma-nização.

– Ter desenvolvido voluntariado.– Ter realizado pesquisa do clima institu-

cional.

Categoria “A” – Nível 3 (Ouro)

– Ter desenvolvido os cinco passos do de-senvolvimento do processo de huma-nização.

– Ter instituído o Serviço de Acolhimentoao Cliente/Cidadão.

– Ter estabelecido padrões de atendimentoao cidadão.

– Ter participado de treinamento/encontrosde humanização.

– Ter realizado pesquisa de satisfação dousuário, que indique tendência de melho-ria da satisfação.

– Ter criado agenda comum – ações desen-volvidas com gestor municipal, que indi-quem melhoria dos indicadores de saúde.

– Ter desenvolvido um plano de educaçãopermanente com temas de humanização.

– Ter desenvolvido voluntariado.– Ter realizado pesquisa do clima institucio-

nal com ações e resultados positivos.– Ter desenvolvido projeto / experiên-

cia humanizadora com função multi-plicadora.

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BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004

REFERÊNCIAS

Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar

BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Política

Nacional de Humanização - PNH : documento para dis-

cussão. Brasília, DF, 2003. 20 p.