02 - estatuto das cidades - parte 1

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  • 8/17/2019 02 - Estatuto Das Cidades - Parte 1

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    ESTATUTO DA CIDADE

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    O QUE É O ESTATUTO DA CIDADE?

    Durante o processo de consolidação da Constituição de 1988,um movimento multissetorial e de abrangência nacional lutou para incluir no texto constitucional:

    In s t r u m e n t o s  

    Fu n ção s o c ial e d a p r o p r ied a d e  

    Retomando a bandeira da Reforma Urbana, este movimentoreatualizava, para as condições de um Brasil urbanizado, umaplataforma construída desde os anos 60 no país.

    No processo de construçãodas cidades

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    Gestão democrática

     As tentativas de construção de um marco regulatório a nível

    federal para a política urbana remontam às propostas de lei dedesenvolvimento urbano elaboradas pelo então Conselho Nacional deDesenvolvimento Urbano nos anos 70, resultou pela primeira vez nahistória:

    Instrumentosgarantia de cada município

    Inclusão de um capítulo específico paraa política urbana na Constituição(artigos 182 e 183).

    Direito à cidade sustantável

    Justa distribuição de ônus

    Direito à moradia

    Direito a Infraestrutura urbana

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    No entanto, o texto constitucional requeria uma legislaçãoespecífica de abrangência nacional;

    Para que os princípios e instrumentos enunciados naConstituição pudessem ser implementados, era necessária:

     por um lado, uma legislação complementar de

    regulamentação dos instrumentos;

     por outro, a construção obrigatória de planos diretores

    que incorporassem os princípios constitucionais em municípios com

    mais de 20.000 habitantes.

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    Iniciou-se, então, na esfera federal, um período de mais deuma década de:

    Esse projeto de lei (Projeto de Lei no 5.788/90), que ficouconhecido como o   Es t at u t o d a C id a d e  , foi finalmente aprovado em julho de 2001, e está em vigência a partir de 10 de outubro desse

    mesmo ano.

    Elaborações Negociações

    idas e vindasem torno de um projeto de leicomplementar ao capítulo de

    política urbana da Constituição.

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    O Estatuto abraça um conjunto de princípios, no qual

    expressa:Uma concepção de cidade;

    De planejamento urbano;

    De gestão urbano;

    Uma série de instrumentos que, como a própriadenominação define, são meios para atingir as finalidades desejadas.

    Delega para cada um dosmunicípios

    Um processopúblico e democrático

    Explicitação clara

    destas finalidades

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    É a definição da  “cidade que queremos”, nos Planos Diretoresde cada um dos municípios, que determinará a mobilização (ou não) dosinstrumentos e sua forma de aplicação.

    Estatuto da Cidade,funciona como:   Uma espécie de “caixa de ferramentas”

    Para uma política urbana local.

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    É, portanto, no processo político e no engajamento amplo (ounão) da sociedade civil, que repousará a natureza e a direção deintervenção e uso dos instrumentos propostos no Estatuto.

     Aqueles que estão engajados na transformação da cidade

    rumo: - À superação de uma ordem urbanística excludente;

    - Patrimonialista;

    - Predatória;

    Podem ter no Estatuto da Cidade

    Um instrumento importante.

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    Fazer a lei ser implementada, universalizando a aplicação deseus princípios na reconstrução do território do país, é o desafio quemarcará os primeiros anos de vigência do Estatuto da Cidade.

    JÁ É SABIDO ENTRE NÓS QUE:

    Aprovar um marco legal

    JAMAIS

    a conclusão de uma trajetória

    Apenas o começo

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    URBANIZAÇÃO DE RISCO: EXPRESSÃO TERRITORIAL DEUMA ORDEM URBANÍSTICA EXCLUDENTE E PREDATÓRIA

     A imensa e rápida urbanização pela qual passou a sociedadebrasileira foi certamente uma das principais questões sociaisexperimentadas no país no século XX.

    1960

    População Urbana44,7% da população total

    População Rural55,3% da população total

    1970

    População Urbana55,9% da população total

    População Rural44,1% da população total

    2000

    População Urbana

    81,2% da população total

    População Rural

    18,8% da população total

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    Essa transformação, já imensa em números relativos, torna-seainda mais assombrosa se pensarmos nos números absolutos, querevelam também o crescimento populacional do país como um todo:

    Entre1960 e 1996

    População urbana aumentou36 anos

    De 31 milhões / Para 137 milhões

    OU SEJA:As cidades recebem 106 milhões de novos moradores no período.

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     A urbanização vertiginosa, coincidindo com o fim de umperíodo de acelerada expansão da economia brasileira, introduziu noterritório das cidades um novo e dramático quadro:

    Da necessidade de evocar progresso ou desenvolvimento.

    Retratar e Reproduzir De forma paradigmática

    As injustiças e desigualdades da sociedade.

    Para tanto, passaram:

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    Estas se apresentam no território sob várias morfologias, todaselas bastante conhecidas:

    Nas imensas diferenças entre as áreas centrais e asperiféricas das regiões metropolitanas;

    Na ocupação precária do mangue em contraposição àalta qualidade dos bairros da orla nas cidades de estuário;

    Na eterna linha divisória entre o morro e o asfalto;

    E em muitas outras variantes dessa cisão, presentesem cidades de diferentes tamanhos, diferentes perfis econômicos eregiões diversas.

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    O quadro de contraposição entre: uma minoria qualificada euma maioria com condições urbanísticas precárias é muito mais do quea expressão da desigualdade de renda e das desigualdades sociais: elaé agente de reprodução dessa desigualdade.

    Uma minoria qualificadaUma maioria com condiçõesurbanísticas precárias

    É muito mais do que a expressão da desigualdade de renda e social

    Ela é agente de reprodução dessa desigualdade

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    Em uma cidade dividida entre: a porção legal, rica e com infra-estrutura e a ilegal, pobre e precária.

    Porção Legal.

    Rica e com infra-estrutura.

    E   .

    Porção Ilegal

    .

    Pobre e precária

     A população que está em situação desfavorável acaba tendo

    muito pouco acesso às oportunidades de trabalho, cultura ou lazer.

    .

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    Pois a sobreposição das diversas dimensões da exclusãoincidindo sobre a mesma população faz com que a permeabilidade entreas duas partes seja cada vez menor.

    Esse mecanismo é um dos fatores que acabam por estender a

    cidade indefinidamente:

    ela nunca pode crescer para dentro, aproveitandolocais que podem ser adensados, é   im p o s s ív el  para a maior parte daspessoas o pagamento, de uma vez só, pelo acesso a toda a infra-estrutura que já está instalada.

    Simetricamente

    Oportunidadesde crescimento

    Aqueles quevivem melhor 

    Circulam

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    Em geral, a população de baixa renda só tem a possibilidadede ocupar terras periféricas.

    Muito mais baratas Sem infra-estrutura

    Áreas ambientalmentefrágeis

    Teoricamente só poderiam ser urbanizadassob condições muito mais rigorosas eadotando soluções geralmente dispendiosas

    Exatamente oinverso do queacaba acontecendo

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    Este é um comportamento também do poder público quemuitas vezes tem reforçado a tendência de expulsão dos pobres dasáreas mais bem localizadas, à medida que procura os terrenos maisbaratos e periféricos.

    Desta forma, vai se configurando uma expansão horizontalilimitada, avançando vorazmente sobre áreas frágeis ou de preservaçãoambiental, que caracteriza nossa urbanização selvagem e de alto risco.

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    Esses processos geram efeitos nefastos para as cidades comoum todo.

    Ao concentrar todas asoportunidades de empregoem um fragmento da cidade

    E estender a ocupação aperiferias precárias e cada

    vez mais distantes

    Urbanização de risco

    Transporte de multidões Caos nos sistemas decirculação

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    Enquanto a ocupação das áreas frág eis  ou es trat ég ic as , sobo ponto de vista ambiental:

    Enchentes e Erosão

    Mais dificuldades

    aos habitantes desses locais

    Contaminação dosmananciais

    Processos erosivosmais dramáticos

    Geração de Mais ProblemasSociais

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     Além disso, a pequena parte melhor infra-estruturada   equalificada do tecido urbano passa a ser objeto de disputa imobiliária,o que acaba também gerando uma deterioração dessas partes dacidade.

    Este modelo de crescimento e expansão urbana, queatravessa as cidades de Norte a Sul do país, tem sido identificado, nosenso comum, como  “falta de planejamento”.

    Segundo esta acepção, as cidades não são planejadas e, por esta razão, são  “desequilibradas” e “caóticas”

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    O tema do controle da cidade  e da expansão urbana nascidades tem sido enfrentado  , em primeiro lugar, estabelecendo umacontradição permanente entre:

    Ordem urbanística(expressa no planejamento urbano e legislação) Gestão

    O planejamento   –   principalmente por meio de PlanosDiretores e de zoneamentos – estabelece uma cidade virtual, que nãose relaciona com as condições reais de produção da cidade pelomercado, ignorando que a maior parte das populações urbanas tembaixíssima renda e nula capacidade de investimento numamercadoria cara – o es p aço c o n s tr u íd o .

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    O planejamento urbano, e sobretudo o zoneamento, definepadrões de ocupação do solo  baseados nas práticas e lógicas deinvestimento dos mercados de classe média e de alta renda e destina oterritório urbano para estes mercados.

    Desta forma, os zoneamentos acabam por definir uma ofertapotencial de espaço construído para os setores de classe média ealta, gerando uma escassez de localização para os mercados debaixa renda, já que praticamente ignora sua existência.

    Desta forma, definem-se no âmbito local, destinando para os

    mais pobres   o espaço da política habitacional e a gestão dailegalidade.

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    Produzidos de forma autoconstruída nos espaços   “quesobram” da cidade regulada   –  ou seja, (como beiras de córrego,encostas, áreas rurais ou de preservação), os assentamentosprecários serão, então, objeto da gestão cotidiana.

    Os assentamentos precários serão:

    Objeto da gestão cotidiana.

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    Esta trata de incorporar, a conta gotas, as áreas à cidade.

    Regularizando UrbanizandoDotando de

    infra-estrutura

    Nunca eliminando definitivamente aprecariedade e as marcas da diferença em

    relação às áreas reguladas.

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    Esta dinâmica tem alta rentabilidade política. Separandointerlocutores, o poder público pode ser, ao mesmo tempo,  “sócio” denegócios imobiliários rentáveis e estabelecer uma base políticapopular nos assentamentos.

    Isto significa o tratamento da cidade nos planos como objetopuramente técnico, no qual a função da lei é estabelecer padrõessatisfatórios, ignorando qualquer dimensão que reconheça conflitos,como a realidade da desigualdade  de condições de renda  e suainfluência sobre o funcionamento dos mercados urbanos.

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    O Estatuto da Cidade responde de forma positiva a estedesafio de reconstrução da ordem urbanística, sob novosprincípios, com novos métodos e concepções e novas ferramentas.

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    Padrão de urbanização excludente e predatório

    • Cidadania ambígua e incompleta dos moradores de assentamentos urbanosinformais, irregulares e ilegais.

    • Expansão e   adensamento   das periferias urbanas   d istantes   produzindoassentamentos inf ra-equipado s  para os mais  p o b r e s .

    • Criação de novos eixos de expansão urbana para a classe média e alta comgeração de vazios urbanos e áreas sub-utilizadas.

    • Paradoxo entre a escassez de terras e infra-estrutura para os mais pobres e aexistência de terras e imóveis ociosos em áreas consolidadas.

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    Insustentabilidade da urbanização

    excludente e predatória• Depredação dos recursos naturais.

    • Risco de enchentes, deslizamentos e erosões.

    • Longos deslocamentos dentro das cidades.

    • Pressão sobre atividades agrícolas próximas das cidades.

    • Desperdício de infra-estrutura, equipamentos e serviços urbanos.

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    Efeitos políticos da urbanização excludente e

    predatória

    •   Arbitrariedade nos investimentos públicos para a consolidação dosassentamentos (não são realizados como um direito líquido e certomas uma opção do governante).

    •   Esta é a base do clientelismo e da   “cultura   do   favor”   nas relaçõespolíticas:   a obtenção de infra estrutura equipamentos e serviçosurbanos é paga pe lo voto.

    •   Inviabilidade na construção de uma condição pública democrática eincludente.

  • 8/17/2019 02 - Estatuto Das Cidades - Parte 1

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    Planejamento e controle do uso

    e ocupação do solo tradicionais

    •   Planejamento, regulação e controle do uso e ocupação do solosomente para a  “cidade formal” e portanto exclui o mercado popular.

    •   Pré-requisito para financiamento da casa própria:“contra-chequ e e co m pro vante de r esidênc ia …”  ! ! ! 

    •   Incapacidade para romper os ciclos de expansão periférica eocupação das áreas ambientalmente frágeis.

    •   Opera no sentido de concentrar renda e oportunidades na mão dequem já tem.