do estatuto das cidades ao plano diretor

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“Do Estatuto das Cidades ao Plano Diretor: apresentação de um modelo Democrático de gestão urbana na Cidade de Belém” Carlos Henrique Marinho Branco* [email protected] Resumo: Este artigo visa apresentar o processo de implementação do Plano Diretor de Belém e suas propostas de intervenção teórica na lógica produção do espaço urbano municipal. No bojo desse artigo buscou-se apresentar o caráter democrático do Plano Diretor Urbano de Belém a partir do entendimento do debate feito no processo de construção do mesmo. Ao longo do trabalho apresentamos fundamentações teóricas no que diz respeito ao entendimento de diversos autores sobre a questão do espaço urbano e as cidades, procurando travar debate com estes e a relação ao ato de planejar esses espaços. Palavras-Chave: Planejamento urbano, Gestão Local, Espaço urbano, Desenvolvimento, Políticas Públicas. Abstract: This article aims to discuss the process of implementing the Master Plan of Bethlehem and its implications for the production of the municipal urban space. In the midst of this discussion trying to discuss the democratic character of the Master Plan for Urban Bethlehem from the understanding of the debate made in the process of constructing the same. Throughout the work presenting theoretical arguments regarding the understanding of various authors on the issue of urban areas and cities, looking for halting debate with them and respect the act of planning these spaces. Keywords: Urban Planning, Local Management, Space urban, Development and Public Policy.

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Page 1: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

“Do Estatuto das Cidades ao Plano Diretor: apresentação de um modelo

Democrático de gestão urbana na Cidade de Belém”

Carlos Henrique Marinho Branco*[email protected]

Resumo:

Este artigo visa apresentar o processo de implementação do Plano Diretor de Belém e suas propostas de intervenção teórica na lógica produção do espaço urbano municipal. No bojo desse artigo buscou-se apresentar o caráter democrático do Plano Diretor Urbano de Belém a partir do entendimento do debate feito no processo de construção do mesmo. Ao longo do trabalho apresentamos fundamentações teóricas no que diz respeito ao entendimento de diversos autores sobre a questão do espaço urbano e as cidades, procurando travar debate com estes e a relação ao ato de planejar esses espaços.

Palavras-Chave: Planejamento urbano, Gestão Local, Espaço urbano, Desenvolvimento, Políticas Públicas.

Abstract:

This article aims to discuss the process of implementing the Master Plan of Bethlehem and its implications for the production of the municipal urban space. In the midst of this discussion trying to discuss the democratic character of the Master Plan for Urban Bethlehem from the understanding of the debate made in the process of constructing the same. Throughout the work presenting theoretical arguments regarding the understanding of various authors on the issue of urban areas and cities, looking for halting debate with them and respect the act of planning these spaces.

Keywords: Urban Planning, Local Management, Space urban, Development and Public Policy.

__________________________

* Professor de geografia, especialista em geografia da Amazônia: Sociedade e gestão dos recursos

naturais.

Page 2: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Do Estatuto da Cidade1 ao Plano Diretor: apresentação de um modelo

democrático de gestão urbana na cidade de Belém.

1 - Considerações Iniciais:

As gestões municipais têm enfrentado enormes desafios na regulação e

orientação da produção do espaço da cidade e na promoção do desenvolvimento sócio-

econômico. Belém, como em grandes cidades brasileiras, o crescimento se realiza sem

que haja um adequado ordenamento, dificultando as respostas às demandas dos diversos

atores sociais que interagem na cidade, comprometendo assim, a perspectiva de

construção de uma cidade mais justa e igualitária, no que diz respeito ao acesso de seus

moradores aos equipamentos urbanos.

O presente artigo faz referência a um novo modelo de gestão do espaço urbano

no Brasil: a implementação do Estatuto da Cidade, criado em 2001, pelo Ministério das

Cidades apresentou uma nova etapa, no que diz respeito à utilização, a finalidade e o

modelo de gestão dos espaços urbanos brasileiros. Aliados a isso, o Plano Diretor

(PD),a lei municipal que estabelece regras para o crescimento e o funcionamento da

cidade. Seu objetivo é a organização da cidade para que o interesse coletivo prevaleça

sobre o interesse individual ou de um determinado grupo. Trata-se de uma forma legal

de garantir a função social da cidade e da propriedade, através da justa distribuição entre

os moradores dos benefícios e dos custos dos investimentos municipais, conforme prevê

o Estatuto da Cidade e, por conseguinte, o Plano Diretor. Áreas metropolitanas como a

de Belém, e outras cidades de médio porte agregaram a maior parte da população

regional. No Pará, 66,51% da população reside em áreas urbanas. São 4.116.378

pessoas, de um total de 6.189.550 habitantes, com uma densidade demográfica de 4,96

hab/km², segundo o Censo 2000/IBGE:

Belém é uma das metrópoles brasileiras e a maior cidade da Região Norte. Sua região metropolitana é composta por seis municípios (Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Barcarena, este último recém incorporado a RMB) totalizando 1.794.981 habitantes, sendo que a maioria da população reside em zonas urbanas. Apenas o Município de Belém possui 1.279.861 habitantes.

1 O Estatuto das Cidades foi criado pelo Ministério das Cidades sob a Lei Federal n° 10.257, de 10/07/2001. O referido Estatuto visa coordenar a implementação de políticas de sustentabilidade nos municípios brasileiros, implementando ferramentas como o Plano Diretor.

Page 3: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

O Município de Belém está dividido em oito Distritos Administrativos e 71

bairros, com um território de 50.582,30 ha, sendo a porção continental correspondente a

17.378,63 ha ou 34,36% da área total, e a porção insular composta por 39 ilhas, que

correspondem a 33.203,67 ha ou 65,64%. O contingente populacional na área urbana

representa uma taxa de urbanização muito superior à observada para o conjunto da

Amazônia e para o Estado do Pará. Atualmente, Belém apresenta uma densidade

demográfica de 1.201,39 hab./km². (CODEM, 2000).

O crescimento e a expansão urbana do Município também podem ser notados

através do aumento de unidades imobiliárias cadastradas em sua área urbana, conforme

levantamento do Cadastro Técnico Multifinalitário – CTM. Em 1970 estavam

cadastradas 120.000 unidades. Atualmente existem 362.064 cadastros. Isto se reflete

também na taxa de urbanização do Município que atinge cerca de 99,53%, segundo

dados do Censo 2000. A concentração de grande parte da população ocorre onde a

altitude da porção continental acha-se em áreas de cotas inferiores ou iguais a 4 metros,

espaços tradicionalmente conhecidos por “baixadas”. Por apresentarem cotas inferiores

a 4 metros, estas áreas sofrem influência das 14 bacias hidrográficas existentes no

Município, o que lhes impõem a condição de ocuparem terrenos alagados

permanentemente, ou sujeitos a inundação periódica. (ANDRADE, 2002).

A realidade sócio-econômica de Belém está pontuada através de estrutura

produtiva na quais as atividades do comércio e serviços se apresentam como as mais

importantes alternativas de emprego e renda para a população. Além disso, a capital

concentra grande parte das atividades produtivas do setor terciário do Estado.

Importante lembrar que essa estrutura é fruto do processo histórico de inserção da

região na evolução da economia nacional e mundial.

De acordo com os dados da RAIS – Relação Anual de Informações Sociais –

Ministério do Trabalho, para o período 1998 a 2002, e fazendo uma análise muito

sucinta do número de empreendimentos legalmente instalados em Belém, observa–se

que o número de empresas existentes na capital cresceu 14,39%, enquanto que na

Região Metropolitana de Belém e no Estado, essa evolução foi de 19,30% e 37,23%

respectivamente. Já com relação ao comportamento da administração pública, as

atividades econômicas que apresentaram melhor desempenho foram o comércio com

19,69%, a construção civil com 13,86% e os serviços de apoio industrial que

registraram um desempenho positivo de 13,86%.

Page 4: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Outro aspecto importante a ser destacado é o nível de emprego de Belém em

relação à RMB e ao Estado: a RAIS do período analisado aponta que Belém detém

cerca de 51% de todo o emprego gerado no Pará, mesmo o crescimento sendo oriundo

dos setores de serviço e comércio na RMB. Refletindo o processo de desindustrialização

do Município de Belém, o segmento relativo à indústria de transformação se revela o

mais ineficiente na geração de emprego e renda, na medida em que neste setor – 1991 a

2000 – foi eliminado o total de 6.516 oportunidades de trabalho. O total de postos de

trabalhos destruídos na década pelo setor da indústria de transformação foi de 41,0% em

relação à eliminação das oportunidades de emprego em Belém. A partir destas

constatações, a análise das repercussões na dinâmica da cidade e qualidade de vida, uso

do solo, suporte à economia e questões sociais, apontam desafios a serem enfrentados

como forma de superação e/ou mitigação de problemas urbanos.

Estes desafios passam pela capacidade de criação dos instrumentos de gestão

como o Estatuto da cidade e do Plano diretor que sinalize para um diagnóstico das

demandas urbanas e assim, busque alternativas para estas demandas mais comuns às

áreas urbanas. A partir destas questões é que pretendemos apresentar neste trabalho a

forma de como está sendo implementado o Plano Diretor, e as mudanças que o plano

poderá contemplar a concepção e gestão do espaço urbano. Mais do que isso se procura

aqui compreender as transformações na dinâmica espacial e, por conseguinte na

participação das coletividades no Processo de produção do espaço urbano.

1.1 A questão urbana: Um cenário nacional

Nas cidades brasileiras vivem hoje cerca de 82% dos habitantes do país,

segundo o Censo 2000, do IBGE. Mas apenas uma pequena parte da população usufrui

boas condições de moradia, transporte, trabalho e lazer. A maioria vive em situação

precária, com baixo padrão de qualidade de vida e carente no atendimento das

necessidades básicas. Segundo FANI (2007), a cidade é um lugar de contraste, mas

também de encontro, representado pelos espaços de uso público, onde os moradores

convivem com a diversidade e o “jogo” de interesses, por isso, para viverem em

harmonia, estabelecem regras que deverão ser seguidas por todos. As cidades, sob a

égide capitalista, apontam o paradoxo de serem ao mesmo tempo reduto da estrutura

política e econômica que usufrui intensamente da mais valia urbana, seja pela

Page 5: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

demarcação do território através da exploração da propriedade ou pelo domínio do

poder político municipal, mas, por outro lado, é na cidade, o residir, o conviver de uma

classe sedenta pelo gozo dos benefícios urbanos.

O urbano é a obsessão daqueles que vivem na carência, na pobreza, na frustração dos possíveis que permanecem como sendo apenas possíveis. Assim, a integração e a participação são a obsessões dos não-participantes, dos não-integrados, daqueles que sobrevivem entre os fragmentos da sociedade possível e das ruínas do passado: excluídos da cidade, às portas do ‘urbano’. (LEFEBVRE, 1991, pág. 98)

Para a definição das regras de socialibilidade entre os indivíduos de uma

cidade, existe um conjunto de normas chamada de PD (Plano Diretor), documento este

onde a sociedade estabelece o que é melhor para toda uma coletividade. O PD retrata a

cidade desejada por todos e reflete as expectativas de seus moradores por melhor

qualidade de vida. Por isso, deve estar de acordo com as atuais necessidades da

população. A formação dos espaços urbanos e da constituição de cidades no Brasil não

é algo novo, ocorre desde o processo de formação territorial de nosso país. O fenômeno

de aglutinação e concentração nesses espaços é que há a necessidade de ser mais bem

estudado e entendido. Cabem a nós geógrafos e outros estudiosos do ambiente urbano,

esmiuçar modelos alternativos de gerir o espaço urbano. Segundo (Silva 2005, p. 09),

O crescimento acelerado e desordenado da década de 70 do século XX que coincide com um progressivo processo de majoração do intercambio econômico do país com outras nações, estabelecendo a necessidade de maior industrialização forçada para tanto, a concentração espacial de mão-de-obra barata, a instalação de melhor infra-estrutura física para o ciclo de produção, circulação e consumo dos produtos, uma moeda estável e um aparato político-institucional que garantisse o respeito e a continuidade de uma economia voltada para o interior dos grandes capitais, em partes internacionais.

Os efeitos desta política urbana são cotidianamente conhecidos, através do

crescimento de áreas de expansão da cidade, sem devido planejamento, da concentração

de equipamentos em determinados lugares em detrimento a totalidade da cidade, do

processo de favelização, da violência, do desemprego e de tantos outros. Por conta

desses males, o Poder Público Municipal, na perspectiva de reverter ou pelo menos

diminuir os problemas que atormentam as cidades brasileiras, programa o Plano Diretor

objetivando a criação de gestão democrática que melhor atenda os anseios dos

diferentes seguimentos da sociedade. Neste trabalho temos como objetivo abordar os

Page 6: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

artigos 432,44 e 45, da Lei 10257/2001, que se denominava “Estatuto da Cidade” e seus

desdobramentos nos Planos Diretores Urbanos (PDU), tomando como estudo de caso a

cidade de Belém.

Sem o plano diretor o Município não pode exigir do proprietário que ele cumpra o princípio constitucional da função social da propriedade. Isto porque cabe ao plano diretor – como lei introdutória de normas básicas de planejamento urbano – a delimitação das áreas urbanas onde pode ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsória, considerando a existência de infra-estrutura e de demanda para utilização (arts. 41, III, e 42, I, do Estatuto). (BUENO, 2003, pág. 92).

O Estatuto da Cidade é a denominação oficial da Lei 10.257 de 10 junho de

2001, que ficou incumbido de regulamentar e desenvolver políticas públicas no espaço

urbano no Brasil. O referido estatuto surgiu como projeto de lei em 1990, proposto pelo

então senador Pompeu de Souza, tendo sido aprovado apenas no ano de 2001, isto é,

após 11 anos de seu surgimento. O Plano Diretor3 conforme preconizado pela

Constituição Federal e pelo Estatuto da Cidade (Lei Federal Nº 10.257/01) é o

instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana e tem como

objetivo maior garantir ao cidadão o direito de acesso à Cidade.

Para tanto, em seu bojo o Plano Diretor da cidade de Belém4 deve: normatizar

os instrumentos definidos na Constituição Federal de 1988 e regulamentados pelo

Estatuto da Cidade e indicar como podem e devem ser aplicados, bem como, orientar as

prioridades de investimentos da cidade; coordenar as ações dos setores público e

privado, na direção de garantir a transparência da administração pública e a participação

da sociedade na gestão da cidade; compatibilizar os interesses coletivos; e distribuir de

forma justa os benefícios e os ônus da urbanização. Já o Estatuto da Cidade é a lei que

regulamenta o capítulo de política urbana da Constituição Federal de 1988 (artigos 182

e 183). Delega para os municípios e seus Planos Diretores a tarefa de definir, no âmbito

2 Os artigos referentes ao Estatudo da cidade tratam respectivamente: ordenamento jurídico-regulátorio de ação do Plano Diretor.3Segundo PINTO (2003), "a elaboração do plano diretor é privativa do profissional do urbanismo, que é uma especialização regulamentada pelo CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), por meio da Resolução nº 218/73". Mas é preciso lembrar que "o urbanismo trabalha a partir de insumos produzidos por outros especialistas, como o arquiteto ou engenheiro arquiteto (art. 2º), o agrimensor, o topógrafo (arts 4º e 6º), o geólogo (Lei 4.076/62) e o geógrafo (Lei 6.664/79)".

4 O Plano Diretor da cidade de Belém foi implementado pela Lei n° 7.603 de 13 de janeiro de 1993. Este plano apesar de ter mais de 15 anos, teve no bojo de suas ações pouca aplicabilidade no que diz respeito as suas diretrizes e objetivos.

Page 7: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

de cada Município, as condições de cumprimento da função social da propriedade e da

cidade. Disponibiliza para os governos municipais novos instrumentos de controle do

solo urbano e para os cidadãos instrumentos de participação direta nos processos de

planejamento e gestão municipal.

O Direito à Cidade pressupõe o cumprimento da função social da cidade, da

função social da propriedade urbana, assim como da Gestão democrática, princípios

preconizados pelo movimento da reforma urbana e legitimados no Estatuto da Cidade.

A obrigatoriedade da propriedade de ter função social, isto é, atender à coletividade, não

representa uma melhora na condição de vida da maioria da população da cidade, haja

vista, que há a necessidade de dotar essas comunidades de programas sustentáveis de

renda. A Função Social da cidade corresponde ao direito à cidade para toda a

população: direito a terra urbanizada, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-

estrutura e aos serviços públicos, ao transporte coletivo, à mobilidade e acessibilidade,

ao trabalho e ao lazer. Já a Função Social da propriedade urbana é entendida como um

elemento constitutivo do direito de propriedade, o que significa dizer que o próprio

direito de propriedade deixa de existir quando ela não cumpre sua função social.

A propriedade imobiliária deve cumprir as suas funções sociais, utilizadas

como suporte às atividades ou usos de interesse do município, a exemplo de: habitação,

bem como a habitação de interesse social; atividades econômicas geradoras de trabalho

e renda; preservação do meio ambiente cultural e natural. O uso e a ocupação do solo

deverão ser compatíveis com a oferta de infra-estrutura, saneamento e serviços públicos

e comunitários, levando em consideração o direito de vizinhança, a segurança do

patrimônio público e privado, a preservação e recuperação do ambiente natural e

construído (Estatuto das Cidades, 2001, p. 82).

Conforme apresentação acima citada, podemos perceber a que se propõe um

Plano Diretor, no caso da cidade de Belém, suas propostas são de pouca aplicabilidade

pelo órgão gestor, haja vista, que não há o cumprimento das propostas pertencentes ao

PD. Temos um dos piores índices de habitabilidade do país, conforme dados do

IBGE/2006. No espaço urbano de nossa cidade, a proposta de dotar nossas propriedades

de função social, está fora de nossa realidade. Os espaços ócios se proliferam na cidade,

em busca da especulação imobiliária, perdendo sua principal função: social.

No bojo da discussão de implementação de um ordenamento espacial para as

cidades brasileiras, a Constituição Federal de 1988, no que diz respeito a políticas

urbanas, regulamenta nos artigos 182 e 183, a criação do Estatuto das Cidades, que

Page 8: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

deverá nortear as políticas públicas no âmbito da função social, agindo em conjunto

com as leis orgânicas desses municípios. A junção das propostas do estatuto, juntamente

com a lei orgânica do município, nascerá o Plano Diretor Urbano, que terá a função de

dirigir e tornar prática as ações de uso do solo no âmbito legal de sua criação.

A referência feita à gestão democrática - significa a democratização dos

processos decisórios e o controle social sobre a implementação da Política Urbana,

estabelecendo mecanismos transparentes, conhecidos e legitimados pelos diferentes

setores da sociedade para a gestão urbana. Para atender a estes princípios, o Plano

Diretor pode utilizar mecanismos diversos, como indicação de planos setoriais,

definição de ações estratégicas e utilização de instrumentos, em especial os

instrumentos urbanísticos apontados pelo Estatuto da cidade. Instrumentos Urbanísticos

- os instrumentos definidos no Estatuto da Cidade, são regras que o poder público e a

iniciativa privada devem seguir para que a cidade e a propriedade urbana cumpram a

sua função social. Segue o organograma de constituição do processo de criação de

Planos Diretores e suas atribuições no que diz respeito a forma de utilização e de gestão

do espaço urbano.

Page 9: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Relação do Plano Diretor com as Leis e Planos de Ordenamento Jurídico

Fonte: Constituição Federal do Brasil.

2 - Plano Diretor de Belém

O Plano Diretor Urbano do Município de Belém (Lei Municipal nº 7.603, de

13 de janeiro de 1993), que possui diretrizes para as áreas urbanas do município. Apesar

de vigorar a 17 anos, muitas de suas propostas não foram realizadas, prejudicando o

atendimento adequado das necessidades da população, conforme dados de pesquisas

sócio-econômicas aplicadas pelo IBGE na capital do Estado.

No decorrer desse tempo, as áreas urbanas e rurais de Belém passaram por

grandes transformações, que afetaram a vida dos moradores da cidade e das ilhas: novas

comunidades surgiram, aumentou o número de habitantes, novas empresas foram

LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO

Conjunto de princípios que estabelecem normas para o desenvolvimento

municipal

Lei N° 10.257/01ESTATUTO DA CIDADE

Conjunto de princípios e instrumentos que visam garantir as funções sociais da

cidade e da propriedade

CONSTITUIÇÃO FEDERAL(Artigos 182 e 183)

Condiciona o direito de propriedade à função social

Lei de Uso e Ocupação do Solo Lei de Parcelamento do Solo

Planos SetoriaisOutras leis específicas

Legislação ambiental

Plano Diretor

Instrumento básico da política de desenvolvimento urbano que deve ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade. Dispõe sobre os princípios e

objetivos da política urbana e define os instrumentos urbanísticos a serem aplicados (Lei n 10.257/2001.

Page 10: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

instaladas e cresceram a procura pelos serviços oferecidos pelos poderes públicos, como

educação, saúde, segurança, transporte coletivo, coleta de lixo, etc. As ilhas de

Mosqueiro e de Caratateua (popularmente conhecida como Outeiro) também estão

contempladas com um Plano Diretor estabelecido pela Lei n° 7.684, de 12 de janeiro de

1994, que foi elaborado com o Plano Diretor de Belém, por se tratarem de distritos da

capital do estado do Pará.

O primeiro PD de Belém foi implementado na gestão do então prefeito Hélio

Gueiros5. Esse primeiro plano teve pouca ou quase nenhuma ação concreta, ficou

restrito ao âmbito documental, não atendendo ao que se propôs. Serviu apenas para

ampliar a discussão no que diz respeito ao planejamento e gestão das problemáticas

urbanas na cidade de Belém. Este plano fundamentou-se em quatro vertentes de

atuação: nas funções sociais da cidade, o da propriedade urbana, na sustentabilidade

social, econômica e política e na gestão democrática. (Fundamentos do Plano Diretor de

Belém, 2001, pág. 64). Durante os anos que se passou desde sua implantação, as

diversas administrações que vieram não fizeram as revisões devidas. Neste sentido, a

atual administração municipal de Belém, iniciou a revisão do atual plano e intensificou

os estudos em 2006 e 2007.

Neste último ano, foram realizadas consultas aos distritos6 de toda a cidade.

Neste mesmo ano, o projeto chegou a Câmara Municipal de Belém, para as devidas

apreciações dos vereadores da cidade. O seu Núcleo Gestor é formado por

representantes da sociedade organizada, e por representantes do governo, designados

conforme dispõe o Decreto Municipal nº 50.750/2006 de 22 de Março de 2006, alterado

pelo Decreto Municipal nº 50.854/2006 de 12 de abril de 2006, os quais expressam a

diretriz municipal de compartilhar com a sociedade organizada a responsabilidade pela

condução da Revisão do Plano Diretor do Município de Belém, em atendimento ao

disposto no art. 40 da Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001 – Estatuto da Cidade.

5 O Governo de Helio da Mota Gueiros corresponde ao período dos anos de 1992 a 1996. Neste período o referido prefeito solicitou o início dos trabalhos para implementação das ações contidas no Plano Diretor da cidade.

6 Na gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, como uma forma de melhorar a gestão e ações públicas na cidade de Belém, dividiu-se a capital em oito distritos administrativos: DAOUT – Distrito Administrativo Outeiro; DAMOS – Distrito Administrativo Mosqueiro; DAICO – Distrito Administrativo Icoaraci; DABEN – Distrito Administrativo Benguí; DAENT – Distrito Administrativo Entroncamento; DASAC – Distrito Administrativo Sacramenta; DABEL – Distrito Administrativo Belém; DAGUA – Distrito Administrativo Guamá. Conforme Lei n° 7.682, publicado no Diário Oficial do Município, em 05 de janeiro de 2004.

Page 11: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Em 2004, com atraso de três anos conforme reza a lei, que obriga aos gestores

municipais promover a realização de revisão desses planos, inicia a primeira atividade

de revisão do Plano Diretor de Belém que se daria de maneira compartilhada entre

governo e sociedade, representados em duas instâncias: uma Coordenação Técnica que

representa o conjunto de secretarias e órgãos da administração municipal; Um Núcleo

Gestor composto por membros do Governo e sociedade organizada e coordenação

Técnica feita pela Secretaria de Gestão e Planejamento-SEGEP, que teria o papel de

gerir o processo técnico da revisão. Desta forma, segundo a SEGEP, o Núcleo Gestor da

revisão do Plano Diretor tem a seguinte composição:

Poder Público (oito membros):

a. Um representante do Executivo Federal;

b. Um representante do Executivo Estadual;

c. Quatro representantes do Executivo Municipal;

d. Dois representantes do Legislativo Municipal.

Sociedade Organizada (12 membros):

a. Três representantes de entidades da classe de trabalhadores;

b. Três representantes de entidades da classe patronal;

c. Três representantes de entidades comunitárias e eclesiásticas;

d. Três representantes de entidades científicas, comunidades tecnológicas e

conselhos regionais de classe.

Page 12: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Síntese da Estrutura Gerencial do Plano Diretor de Belém

Fonte: SEGEP – Secretaria Municipal de Gestão e Planejamento da cidade de Belém.

A necessidade da gênese do Plano diretor de Belém nasce como fruto das

demandas apresentadas pela cidade. O crescimento do número de pessoas vivendo nas

cidades, a contínua sobrecarga nos recursos, infra-estrutura e instalações urbanas, além

de profundos impactos causados no meio ambiente tem por conseqüência principal, a

deteriorização da qualidade de vida nas cidades.

De forma muito clara o PD apresenta como justificativa para a implantação

deste o agravamento dos problemas urbanos que impulsionariam a adoção de

ferramentas inovadoras, que superasse as limitações dos atuais instrumentos de gestão.

SEGEPNÚCLEO GESTORPoder Público e Sociedade

Organizada

Coordenação Técnica

Articulação de parceiros e afiliados.

Avaliação e contribuição nos

documentos técnicos.

AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E ESCUTAS

PLANO REVISADO

Page 13: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Desta forma, o desenvolvimento de indicadores voltados a monitorar as condições de

mobilidade em cidades no Brasil, assume grande importância no processo de

planejamento e maior sustentabilidade ao espaço urbano.

Outra característica do PD é a preocupação com a sustentabilidade urbana que

envolve a promoção de desenvolvimento sustentável exigindo que sejam compreendidas

ações em todos os níveis e esferas do desenvolvimento urbano incluindo intervenções

no ambiente físico e estratégias político-administrativas. Através de estudos efetuados

pela entidade Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento (WCED, 1987), que

constatou em um relatório que as condições necessárias para o desenvolvimento

sustentável no ambiente urbano: Populações e desenvolvimento; Energia; Garantia de

alimentos e Indústrias. A questão das cidades, ou mais precisamente a questão urbana é,

portanto, uma questão chave para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Segundo MACLAREN (1997), as expressões “sustentabilidade urbana” e

“desenvolvimento urbano sustentável” possuem significados muitos próximos e tem

sido utilizado como forma de distinguir estas duas expressões, entretanto, é preciso

considerar a sustentabilidade como um estado desejável ou um conjunto de condições

que se mantêm ao longo do tempo. O Brasil cabe ressaltar o desempenho pelo recém

criado Ministério das Cidades, que, por meio da Secretária Nacional de Programas

urbanos, busca estimular o desenvolvimento de processos participativos e democráticos

que contribuem para melhor organização do espaço urbano. (Ministério das Cidades,

2003).

O referido plano dispõe de um conjunto de definições para políticas setoriais a

partir de diretrizes gerais e específicas para o desenvolvimento urbano e sócio-

econômico do município. O Plano desenvolvido a partir de uma demanda do Poder

Legislativo, segundo a Lei Orgânica do Município de Belém de 1990, foi construído em

um contexto favorável à reforma urbana, instituiu um variado conjunto de instrumentos

importantes de gestão urbanística. No entanto, dificuldades de ordens diversas não

permitiram a efetivação da implementação de suas determinações e utilização dos

instrumentos nele constantes. Destaca-se nesse sentido a falta de regulamentação de

seus instrumentos e a falta de maior empenho para a utilização do modelo espacial

definido no plano. Além da ausência de regulamentação, em nível federal, necessária de

alguns instrumentos.

Page 14: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Com a aprovação do Estatuto da Cidade houve o detalhamento dos

instrumentos de gestão urbana (a maioria já contemplada na Lei do Plano Diretor de

Belém), bem como a inclusão de novos procedimentos que deveriam ser adotados pelo

poder público municipal. O Estatuto dispôs, também, que a lei que instituísse o Plano

Diretor deveria ser revista, pelo menos, a cada dez anos. Desse modo tornou-se

necessária a revisão e atualização do Plano Diretor Urbano do Município de Belém,

atualmente com dezessete anos de vigência.

Segundo o próprio Plano Diretor de Belém, este está dividido em duas etapas

básicas. A primeira constituiu na elaboração de estudos e diagnósticos com base em

informações técnicas sistematizadas pelos membros da Equipe Técnica de Revisão do

Plano Diretor e consultores contratados; de seminários técnicos realizados nas

secretarias municipais; e de discussões com os técnicos dos municípios da Região

Metropolitana de Belém, por meio do Fórum Metropolitano, resultando no documento

base para discussão com a sociedade. A segunda etapa deverá consistir em um amplo

processo de discussão com a sociedade, configurando os diversos segmentos sociais,

por meio de seminários e audiências públicas, na perspectiva de elaboração coletiva do

texto final do Plano Diretor, o qual deverá ser transformado em projeto de lei a ser

encaminhado à Câmara Municipal.

2.1 – Etapas da revisão do PDUB – Plano Diretor Urbano de Belém

(Revisão – 2004)

Conforme a determinação do Plano Diretor, este deve passar por atualizações a

cada dez anos, para que o plano possa atender as mudanças ocorridas no espaço urbano

neste período de aplicações dos objetivos propostos no seio de sua construção. A

revisão do primeiro plano da cidade de Belém, só acontece após treze anos da

construção do mesmo. Abaixo, segue os objetivos propostos na revisão do primeiro

plano, além de direcionar as ações do segundo:

Identificar a nova realidade de Belém e seus problemas e verificar se o Plano

anterior (1991), ainda atende as necessidades do município;

Escolher os temas e os objetivos a serem trabalhados;

Escrever a proposta do plano;

Page 15: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

Enviar a proposta para a Câmara Municipal, para que os vereadores possam

discutir e aprovarem o referido documento;

Acompanhar a implementação do Plano.

Fonte: SEGEP – 2004.

2.2 – Como o Plano Diretor pode promover a regulamentação

fundiária e urbanização de áreas ocupadas por populações de baixa

renda:

Conforme o Estatuto da Cidade, o Plano Diretor deve garantir a todos o direito

de morar bem, no sentido de acomodação dos moradores que ali residem, ou seja,

proporcionar dignidade. Como sabemos, essa realidade é bem diferente, na cidade de

Belém essa realidade é bem verificável. Conforme dados da CODEM, grande parte da

população mora em áreas de situação muito ruim, ou melhor, áreas de risco como, por

exemplo: baixadas, loteamentos irregulares, ocupações precárias, sem o devido acesso a

serviços públicos de saneamento, saúde e educação. Alguns dessas moradias estão

localizadas próximas áreas de preservação ambiental, por exemplo, o Parque Ambiental

de Belém7.

A fim de proteger determinadas áreas da ocupação desordenada, além de

contribuir para determinar uma função social da terra, o Estatuto da Cidade via Plano

Diretor cria as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). Essas zonas visão justamente

destinar áreas para atender populações de baixa renda com a construção de moradias

populares. Essa regra facilita também, a regulamentação e a melhoria de áreas de

ocupação precária e loteamentos construídos de forma irregular. Um terreno vazio, por

exemplo, no centro da cidade, poderá virar uma ZEIS e servir para as construções de

centenas de casas populares. Além da criação de áreas de interesse social, o estatuto cria

outras zonas. Temos a criação das Zonas Especiais de interesse Econômico (ZEIE),

áreas estas que são reservadas não para construir casas populares, ou conjuntos

residenciais. Seu intuito visa o fomento a atividades econômicas, por exemplo, fábricas,

estabelecimentos comerciais.

O Estatuto da Cidade serve como um conjunto de macro zoneamento, que

podemos nos referir como sendo econômico e social. Estabelecendo espaços auto-

segregados dentro de uma cidade. Há uma clara política de contradição do sistema. Por

7 Área de preservação, criada para torna-se um cinturão verde, com objetivo de proteger os mananciais Água Preta e Bolonha, que abastecem a cidade de Belém.

Page 16: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

um lado, detêm-se áreas que são reservadas para aplicação social, que são a causa fim

de um sistema de produção concentrador e excludente. Por outro lado, criam-se espaços

que serviram para aprofundar mais essas mazelas, tornando-se reais zonas de interesse

econômico.

Outra ferramenta que o Plano Diretor visa implantar chama-se Estudo de

Impacto de Vizinhança (EIV), onde regulamenta que não poderá haver qualquer

construção de empreendimento, sem antes, um amplo estudo de impacto causado em

seu entorno. Por exemplo, se for se construir um Shopping Center, deverá ter um

estudo, que mensurará os impactos causados por aquele empreendimento, que analisa a

produção de ruindo, do fluxo de veículos e outras problemáticas que poderão ser

identificadas.

O Estatuto da Cidade visa fomentar a criação e a implementação dos Planos

Diretores Participativo para as cidades brasileiras, definindo uma série de instrumentos

urbanísticos que tem no combate a especulação imobiliária e na regularização fundiária

dos imóveis urbanos. O Estatuto da Cidade pode ser definido como uma lei inovadora e

audaciosa, pois, através dela, cria-se ferramentas que possibilitam uma intervenção mais

abrangente e efetiva do Poder Público no planejamento e desenvolvimento urbano nas

cidades. Conforme o Ministério das Cidades (2004), pela primeira vez no Brasil a

propriedade não é vista sob a ótica individualista e egoísta, mas com um novo conceito

de função social da propriedade. Implementa-se a visão coletiva e social do uso das

propriedades no país. Em um processo histórico enraizado na constituição de terras no

Brasil, os seus proprietários poderiam utilizar-se de seus bens imobiliários da forma que

se convenie. A manutenção de espaços ociosos, que serviam apenas para especulação,

visando lucro através dessas áreas, mesmo quando o poder público necessitasse dos

mesmos para atender as demandas sociais. Com o Estatuto da Cidade, seus proprietários

são obrigados por lei a utilizá-los com responsabilidade social.

De caráter obrigatório participativo, o PD deve ser elaborado pelas prefeituras

em conjunto com a Câmara de Vereadores e representantes da sociedade, por meio de

conselhos gestores, traçando as diretrizes de um município no que diz respeito às

políticas públicas. No Brasil, de um total de 5561 municípios, existem cerca de 30%,

ou seja, 1630 que se enquadram nas exigências de implementação de um Plano Diretor.

Segundo o Ministério das Cidades, apenas 100 municípios realizam o planejamento

urbano. O planejamento de áreas urbanas está mudando e evoluindo em virtude do

esforço da sociedade, dos administradores municipais e estaduais, com os conselhos

Page 17: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

regionais de engenharia e arquitetura, bem como os movimentos sociais urbanos, entre

diversos exemplos, podemos citar o MST (Movimento dos Sem Tetos).

Criar Planos Diretores, talvez não seja a tarefa mais difícil. O grande desafio é

implementá-lo, ou seja, dar aplicabilidade a teoria. O papel da sociedade na fiscalização,

na vigilância e aplicação desses planos é fundamental para a manutenção dos mesmos.

O Estatuto da Cidade é um marco no processo de transformação e modernização

da administração pública, e certamente se tornará um divisor na redefinição da função

de propriedade em nossa sociedade. As repercussões geradas no âmbito social e nos

costumes de aplicação democrática serão fundamentais para se reescrever o

planejamento urbano no Brasil, buscando atender de forma mais eficiente os anseios da

coletividade. Se for bem utilizado, o PD poderá corrigir algumas mazelas sociais no

espaço urbano brasileiro.

Ultimas palavras...

Ao longo do trabalho levantamos questões que considero relevantes para o

entendimento da produção do espaço urbano de Belém pós Plano Diretor. Destaca-se

aqui o caráter mais democrático de construção do espaço urbano resultante das políticas

urbanas para a cidade. Contudo, apesar dos avanços apresentados pela construção do

PDU, vale destacar que as ações previstas no mesmo, referentes ao transporte,

saneamento, meio ambiente, patrimônio histórico, ainda carecem de atenção especial.

Claramente vêem-se no espaço urbano, as contradições resultantes do modelo de

desenvolvimento capitalista que produz e utiliza o território de forma a atender

interesses específicos. Além disso, é preciso definir qual a condição das demandas

sociais no plano diretor. Estas aparecem ora como destaque, ora como prioridade,

impedindo a materialização objetiva da intervenção à realidade.

Page 18: Do Estatuto Das Cidades Ao Plano Diretor

3. Referências:

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Epoque. Pará: Kanga, 2ª Ed, 2002.

BUENO, Vera Scarpinella. Parcelamento, edificação ou utilização compulsório da

propriedade urbana. In: DALLARI, Adilson de Abreu. FERRAZ, Sérgio. Estatuto da

Cidade – comentários a Lei 10.257/2001. 1. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

CARLOS, Ana Fani A. A Cidade. Série Repensando a Geografia. São Paulo: Contexto,

2007.

FREITAS, José Carlos de. Plano Diretor como Instrumento da Política Urbana. São

Paulo: SP, 2003.

LEFEVBRE, Henry.O Direito à Cidade. São Paulo: Moraes, 1991.

MAGLIO, Ivan Carlos. O Plano Diretor e a Sustentabilidade Ambiental nas

Cidades. São Paulo: SP, 2006.

McLAREN, P. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, 1997.

SILVA, Márcio Luís da. A Gestão Democrática Municipal Diante das Possibilidades

e Restrições Trazidas pelo Estatuto das Cidades e pelo Plano Diretor. São Paulo:

SP, 2005.

SPÓSITO, Eliseu Savério. A Vida nas Cidades. Série Repensando a Geografia. São

Paulo: Contexto, 2004.

WECD, World Comission on Environment and Development. Our Common Future.Oxford, UK: Oxford University Press, 1987.

Lei Federal n° 10.257, de 10 de julho de 2001.

Decreto Municipal da cidade de Belém. N° 50.854/2006 – 12 de abril de 2006.

Decreto Municipal da cidade de Belém. N° 50.750/2006 – 22 de março de 2006.

SITES:

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm

www. estatuto da cidade .org.br