02 - direito civil - pablo stolze - aula 02

34
Página 1 de 34 LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12 O que é “restitutio in integrum”? Em um primeiro sentido, no âmbito da responsabilidade civil, pode significar a restituição integral devida a vítima em caso de dano. Em um segundo sentido, no âmbito da teoria geral, observa Clóvis Bevilaqua que restitutio in integrum seria um benefício ou privilégio conferido ao incapaz no sentido de poder invalidar um ato formalmente perfeito, simplesmente alegando prejuízo. O Código Civil de 1916 trazia proibição expressa deste benefício (art. 8º), já o de 2002 é silente, embora se entenda que a proibição continua. O restitutio in integrum consagraria a insegurança jurídica. Art. 8, CC/16. Na proteção que o Código Civil confere aos incapazes não se compreende o benefício de restituição.

Upload: thales-peixoto

Post on 05-Aug-2015

523 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 1 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

O que é “restitutio in integrum”?

Em um primeiro sentido, no âmbito da

responsabilidade civil, pode significar a

restituição integral devida a vítima em caso de

dano.

Em um segundo sentido, no âmbito da teoria

geral, observa Clóvis Bevilaqua que restitutio in

integrum seria um benefício ou privilégio

conferido ao incapaz no sentido de poder

invalidar um ato formalmente perfeito,

simplesmente alegando prejuízo. O Código Civil

de 1916 trazia proibição expressa deste benefício

(art. 8º), já o de 2002 é silente, embora se

entenda que a proibição continua.

O restitutio in integrum consagraria a insegurança

jurídica.

Art. 8, CC/16. Na proteção que o Código

Civil confere aos incapazes não se

compreende o benefício de restituição.

Page 2: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 2 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Obs.: O art. 119 do CC/02, em verdade, traz

situação diversa: a de conflito de interesses entre

representante e representado.

Art. 119. É anulável o negócio concluído

pelo representante em conflito de

interesses com o representado, se tal fato

era ou devia ser do conhecimento de quem

com aquele tratou.

Parágrafo único. É de cento e oitenta dias,

a contar da conclusão do negócio ou da

cessação da incapacidade, o prazo de

decadência para pleitear-se a anulação

prevista neste artigo.

Quais os principais efeitos da redução da maioridade civil?

Um dos principais efeitos da redução da maioridade civil se fez sentir no âmbito do direito

Page 3: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 3 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

aos alimentos, na medida em que se instalou controvérsia quanto à cessação ou não deste direito com o simples alcance da maioridade civil. Todavia, o STJ pacificou o entendimento no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia (REsp 442.502/SP, REsp 739.004/DF, HC 55606/SP, súmula 358 STJ)

O entendimento assentado é de que, regra geral, o pagamento da pensão deve ser feito até a conclusão dos estudos.

REsp 442.502/SP (05/12/04)

Pensão alimentícia. Filho Maior. Exoneração. Ação própria. Necessidade. Com a maioridade cessa o pátrio-poder, mas não termina, automaticamente, o dever de prestar alimentos. A exoneração da pensão alimentar depende de ação própria na qual seja dado ao alimentado a oportunidade de se manifestar, comprovando, se for o caso, a impossibilidade de prover a própria subsistência. Recurso especial conhecido e provido.

Page 4: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 4 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

REsp 739.004/DF (15/09/05)

ALIMENTOS. MAIORIDADE DO ALIMENTANDO. EXONERAÇAO AUTOMÁTICA DA PENSAO. INADMISSIBILIDADE. Com a maioridade, extingue-se o poder familiar, mas não cessa, desde logo, o dever de prestar alimentos, fundado a partir de então no parentesco. É vedada a exoneração automática do alimentante, sem possibilitar ao alimentando a oportunidade de manifestar-se e comprovar, se for o caso, a impossibilidade de prover a própria subsistência. Precedentes do STJ. Recurso especial não conhecido. HC 55606/SP (04/09/06) Habeas corpus. Prisão civil. Execução de alimentos. Precedentes da Corte. 1. O habeas corpus, na linha da jurisprudência da Corte, não constitui via adequada para o exame aprofundado de

Page 5: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 5 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

provas indispensáveis à verificação da capacidade financeira do paciente para pagar os alimentos no montante fixado. 2. A maioridade do credor dos alimentos não exonera, por si só, a obrigação do devedor. 3. A propositura de ação revisional de alimentos não impede a prisão civil do devedor de alimentos. 4. "O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo" (Súmula nº 309/STJ - atual redação aprovada em 22/3/06 pela Segunda Seção). 5. Ordem concedida em parte

Súmula 358 do STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

Page 6: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 6 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Um outro efeito que merece destaque é no âmbito previdenciário, pois, também houve discussão acerca da possibilidade de se cancelar pagamento de auxilio ou pensão previdenciária com o alcance da maioridade civil. Todavia, firmou-se o entendimento no sentido de que eventuais benefícios previdenciários devem ser pagos até o limite etário estipulado na lei previdenciária especial (Nota SAJ nº 42/03, Enunciado nº 3 da IJDC)

A Casa Civil da Presidência da República, por meio da Subchefia para assuntos jurídicos, emitiu NOTA SAJ nº 42/2003-JMF, com a seguinte conclusão: “é a presente NOTA no sentido da permanência do direito à pensão para os filhos, as pessoas a ele equiparadas ou os irmãos que não se emanciparam e que, apesar de já serem maiores, não completaram a idade de 21 (vinte e um) anos prevista em legislação especial, aí incluídos os que já adquiriram o direito à pensão quanto os que já vierem a adquirir, porquanto o novo Código Civil

Page 7: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 7 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

nada alterou, neste aspecto, a legislação previdenciária”

Enunciado nº 3 da IJDC – Art. 5º: A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial.

Emancipação

Nos termos do art. 5º do CC/02, a maioridade é atingida aos 18 anos completos, habilitando a pessoa a prática dos atos da vida civil.

Lembra Washington de Barros Monteiro que a maioridade é atingida no primeiro instante do dia do respectivo aniversário.

A emancipação, instituto também consagrado em outros Estados do mundo (Alemanha, Suíça,

Page 8: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 8 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Portugal). Permite a antecipação dos efeitos da capacidade plena, podendo ser: voluntária (art. 5º, parágrafo único, I, 1ª parte, do CC/02), judicial (art. 5º, parágrafo único, I, 2ª parte, do CC/02) ou legal (art. 5º, parágrafo único, II a V, do CC/02).

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles,

Page 9: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 9 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

A) Emancipação voluntária

A emancipação voluntária é aquela concedida por ato dos pais, ou por um deles na falta do outro, mediante instrumento público, em caráter irrevogável, independentemente de homologação judicial, desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos.

Logicamente, o fato de um dos pais deter a guarda não lhe dá o direito de sozinho, emancipar o filho, caso o outro genitor ou representante ainda esteja vivo e seja detentor do poder familiar.

O menor a ser emancipado, dada a sua incapacidade, não tem poder para autorizar ou desautorizar os pais. Todavia, é recomendável que participe do ato emancipatório, uma vez que repercutirá em sua própria esfera jurídica.

Obs.: é firme no direito brasileiro, não apenas na doutrina (Silvio Venosa), mas também, na própria

Page 10: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 10 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

jurisprudência (RTJ 62/108, RT 494/92, REsp 122.573/PR). O entendimento no sentido de que, na emancipação voluntária, os pais continuam responsáveis pelos ilícitos causados pelos filhos menores, até que alcancem a maioridade civil.

REsp 122.573/PR (22/06/1998)

Suspensão do processo. Justifica-se sustar o curso do processo civil, para aguardar o desfecho do processo criminal, se a defesa se funda na alegação de legítima defesa, admissível em tese. Dano moral. Resultando para os pais, de quem sofreu graves lesões, consideráveis padecimentos morais, têm direito a reparação. Isso não se exclui em razão de o ofendido também pleitear indenização a esse título. Responsabilidade civil. Pais. Menor emancipado. A emancipação por outorga dos pais não exclui, por si só, a responsabilidade decorrente de atos ilícitos do filho.

B) Emancipação judicial

Page 11: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 11 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

A emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha 16 anos completos.

C) Emancipação legal

A emancipação legal deriva da própria lei.

Hipóteses:

a) Casamento

O Código Civil é claro ao dizer que o casamento

emancipa. Mesmo que posteriormente a pessoa

se separe ou divorcie, continua emancipada.

Todavia, e se o casamento for invalidado, a

emancipação persiste?

Respeitável parcela da doutrina, conforme

veremos nas aulas de família, corretamente

Page 12: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 12 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

entende que a sentença de invalidade do

casamento tem eficácia retroativa para cancelar o

registro do matrimônio (Flávio Tartuce, Fernando

Simão, Zeno Veloso), caso em que, logicamente,

a emancipação queda-se ineficaz (ressalvada a

hipótese de reconhecimento da putatividade).

b) Exercício de emprego público efetivo

c) Colação de grau em curso de ensino

superior

d) Estabelecimento civil, comercial, ou

emprego, desde que tenha 16 anos e em

função disso economia própria.

O que se entende por economia própria?

Como se sabe o novo Código Civil adotou um

sistema aberto de normas, permeado de

conceitos abertos ou indeterminados e de

cláusulas gerais. “Economia própria” é um

conceito indeterminado ou vago, a ser

Page 13: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 13 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

preenchido pelo juiz segundo as

circunstâncias do caso concreto, à luz do

princípio da operabilidade (ver na parte final

da apostila texto do professor Miguel Reale

sobre o tema).

O princípio da operabilidade aponta no

sentido de que as normas jurídicas, na

medida do possível, devem conter conceitos

abertos para sua melhor aplicação ao caso

concreto.

O Código Civil de 2002, segundo o professor

Miguel Reale, também é informado pelo

princípio da socialidade (determina o respeito

à função social). E o outro princípio do CC/02,

segundo Miguel Reale, é o da eticidade (boa-

fé, ética).

Questões especiais envolvendo

emancipação:

a) O menor emancipado tem direito aos

alimentos?

Page 14: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 14 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

À luz do princípio da solidariedade familiar, é

admissível que o emancipado, em caso de

necessidade, tenha direito aos alimentos (AC

7001.142.9321 do TJ/RS).

Apelação Cível nº 70011429321, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Carlos Teixeira Giorgis, Julgado em 13/07/2005. EMBARGOS DE TERCEIRO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. PRAZO PRESCRICIONAL DE 5 ANOS. EMANCIPAÇÃO NÃO GERA EXONERAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS A SEREM SUPORTADOS POR METADE PELAS PARTES. 1. Considerando que a pensão alimentícia refere-se ao período de 1994 a 2001, e que, os embargos de terceiro foram protocolados em agosto de 2002, aplica-se o código civil de 1916; logo, o prazo prescricional é de 5 anos. 2. A simples emancipação do alimentado, por si só, não é causa para exoneração dos alimentos. Ademais, é questão objeto de discussão em ação própria, não em sede de embargos de terceiros,

Page 15: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 15 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

que restringe sua cognição à análise da turbação e/ou esbulho da posse. 3. O fato da sentença ter dado provimento ao pleito de que fosse resguardada meação da embargante, em razão da penhora sobre imóvel pertencente ao casal, custas e honorários devem ser suportados, por metade, pelas partes. Conheceram em parte e deram provimento.

b) O menor emancipado, segundo Paulo

Sumariva (“A lei de falências e a

inimputabilidade penal”), que exerça

atividade empresarial pode falir, e, se

cometer crime falimentar responderá com

base no ECA, uma vez que a emancipação

não antecipa a imputabilidade penal.

Obs.: O professor Luiz Flávio Gomes

observa que, embora o menor emancipado

não possa ser criminalmente preso por não

ter imputabilidade penal, pode sofrer prisão

civil, uma vez que é um meio coercitivo de

forçar o cumprimento de uma obrigação.

Page 16: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 16 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

c) A emancipação não autoriza a habilitação

para guiar veículo automotor, uma vez que

o art. 140, I, do CTB estabelece como um

dos requisitos para dirigir que a pessoa seja

“penalmente imputável”.

Art. 140. A habilitação para conduzir veículo automotor e elétrico será apurada por meio de exames que deverão ser realizados junto ao órgão ou entidade executivos do Estado ou do Distrito Federal, do domicílio ou residência do candidato, ou na sede estadual ou distrital do próprio órgão, devendo o condutor preencher os seguintes requisitos: I - ser penalmente imputável; II - saber ler e escrever; III - possuir Carteira de Identidade ou equivalente.

Extinção da pessoa física ou natural

O art. 6º do CC/02 é claro ao dizer que a

existência da pessoa natural termina com a

morte.

Page 17: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 17 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Nos dias de hoje, a comunidade científica

mundial reconhece que o critério

determinante do óbito, inclusive para fins de

transplante, é a morte encefálica (Resoluções

nº 1480/97 e 1826/07 do CFM). O óbito deve

ser declarado por um médico, e, em sua falta,

nos termos dos artigos 77 e seguintes da LRP

(Lei 6015/73) por duas testemunhas.

Art. 6º, CC/02. A existência da pessoa

natural termina com a morte; presume-se

esta, quanto aos ausentes, nos casos em

que a lei autoriza a abertura de sucessão

definitiva.

Art. 77, caput, LRP - Nenhum

sepultamento será feito sem certidão, do

oficial de registro do lugar do falecimento,

extraída após a lavratura do assento de

óbito, em vista do atestado de médico, se

houver no lugar, ou em caso contrário, de

duas pessoas qualificadas que tiverem

presenciado ou verificado a morte.

Page 18: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 18 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Resolução nº 1.826/07 do CFM

Art. 1º É legal e ética a suspensão dos

procedimentos de suportes terapêuticos

quando determinada a morte encefálica

em não-doador de órgãos, tecidos e

partes do corpo humano para fins de

transplante, nos termos do disposto na

Resolução CFM nº 1.480, de 21 de agosto

de 1997, na forma da Lei nº 9.434, de 4

de fevereiro de 1997.

§ 1º O cumprimento da decisão mencionada no caput deve ser precedida de comunicação e esclarecimento sobre a morte encefálica aos familiares do paciente ou seu representante legal, fundamentada e registrada no prontuário. § 2º Cabe ao médico assistente ou seu

substituto o cumprimento do caput deste

artigo e seu parágrafo 1º.

Art. 2º A data e hora registradas na

Declaração de Óbito serão as mesmas da

determinação de morte encefálica.

Page 19: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 19 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Trecho da Fundamentação da Resolução: “A morte encefálica equivale à morte clínica. Portanto, do ponto de vista ético e legal, após seu diagnóstico é dever do médico retirar os procedimentos de suporte que mantinham artificialmente o funcionamento dos órgãos vitais utilizados até o momento de sua determinação. A suspensão desses recursos não é eutanásia nem qualquer espécie de delito contra a vida, haja vista tratar-se de paciente morto e não terminal. O médico deverá, também, informar, de modo claro e detalhado, aos familiares ou representante legal, o falecimento do paciente, bem como preencher a Declaração de Óbito − caso esse não tenha sido ocasionado por meio violento − para as devidas providências pertinentes ao sepultamento.”

Resolução do 1.480/97 do CFM

Art. 1º. A morte encefálica será

caracterizada através da realização de

Page 20: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 20 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

exames clínicos e complementares

durante intervalos de tempo variáveis,

próprios para determinadas faixas etárias.

Art. 2º. Os dados clínicos e

complementares observados quando da

caracterização da morte encefálica

deverão ser registrados no "termo de

declaração de morte encefálica" anexo a

esta Resolução.

Parágrafo único. As instituições

hospitalares poderão fazer acréscimos ao

presente termo, que deverão ser

aprovados pelos Conselhos Regionais de

Medicina da sua jurisdição, sendo vedada

a supressão de qualquer de seus itens.

Art. 3º. A morte encefálica deverá ser

conseqüência de processo irreversível e

de causa conhecida.

Art. 4º. Os parâmetros clínicos a serem

observados para constatação de morte

encefálica são: coma aperceptivo com

ausência de atividade motora supra-

espinal e apnéia.

Page 21: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 21 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Art. 5º. Os intervalos mínimos entre as

duas avaliações clínicas necessárias para

a caracterização da morte encefálica

serão definidos por faixa etária, conforme

abaixo especificado:

a) de 7 dias a 2 meses incompletos - 48

horas

b) de 2 meses a 1 ano incompleto - 24

horas

c) de 1 ano a 2 anos incompletos - 12

horas

d) acima de 2 anos - 6 horas

Art. 6º. Os exames complementares a

serem observados para constatação de

morte encefálica deverão demonstrar de

forma inequívoca:

a) ausência de atividade elétrica cerebral

ou,

b) ausência de atividade metabólica

cerebral ou,

c) ausência de perfusão sangüínea

cerebral.

[...]

Page 22: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 22 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Hipóteses de morte presumida:

O Código Civil brasileiro admite duas

situações de morte presumida:

a) Em caso de ausência, quando for aberta a

sucessão definitiva.

Obs.: A ausência ocorre quando a pessoa

desaparece do seu domicílio, sem deixar notícia

ou representante que administre os seus bens.

Trata-se de um procedimento regulado nos

artigos 22 e seguintes do Código Civil (ver

detalhado texto complementar no material de

apoio).

TEXTO COMPLEMENTAR 01 – AUSÊNCIA

A ausência é, antes de tudo, um estado de fato,

em que uma pessoa desaparece de seu

domicílio, sem deixar qualquer notícia.

Visando a não permitir que este patrimônio fique

sem titular, o legislador traçou o procedimento de

Page 23: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 23 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

transmissão desses bens (em virtude da

ausência) nos arts.463 a 484 do CC-16

(correspondente aos arts. 22 a 39 do novo CC),

previsto ainda pelos arts. 1159 a 1169 do vigente

Código de Processo Civil brasileiro.

E por se tratar de matéria

minuciosamente positivada, sugerimos ao nosso

estimado aluno a leitura atenta das próprias

normas legais.

O CC-02 reconhece a ausência como uma morte

presumida, em seu art.6º, a partir do momento

em que a lei autorizar a abertura de sucessão

definitiva, consoante vimos em sala de aula.

Para se chegar a este momento, porém, um

longo caminho deve ser cumprido, como a seguir

veremos.

a) Curadoria dos Bens do Ausente.

A requerimento de qualquer interessado direto ou

mesmo do Ministério Público, será nomeado

Page 24: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 24 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

curador, que passará a gerir os negócios do

ausente até o seu eventual retorno.

Na mesma situação se enquadrará aquele que,

tendo deixado mandatário, este último se

encontre impossibilitado, física ou juridicamente

(quando seus poderes outorgados forem

insuficientes), ou simplesmente não tenha

interesse em exercer o múnus.

Observe-se que esta nomeação não é

discricionária, estabelecendo a lei uma ordem

legal estrita e sucessiva, no caso de

impossibilidade do anterior, a saber:

1) o cônjuge do ausente, se não estiver separado

judicialmente, ou de fato por mais de dois anos

antes da declaração da ausência;

2) pais do ausente (destaque-se que a referência

é somente aos genitores, e não aos ascendentes

em geral);

3) descendentes do ausente, preferindo os mais

próximos aos mais remotos

4) qualquer pessoa à escolha do magistrado.

Page 25: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 25 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

b) Sucessão Provisória.

Decorrido um ano da arrecadação dos bens do

ausente, ou, se ele deixou representante ou

procurador, em se passando três anos, poderão

os interessados requerer que se declare a

ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

Por cautela, cerca-se o legislador da exigência de

garantia da restituição dos bens, nos quais os

herdeiros se imitiram provisoriamente na posse,

mediante a apresentação de penhores ou

hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos,

valendo-se destacar, inclusive, que o § 1º do art.

30 estabelece que aquele “que tiver direito à

posse provisória, mas não puder prestar a

garantia exigida neste artigo, será excluído,

mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob

a administração do curador, ou de outro herdeiro

designado pelo juiz, e que preste essa garantia”.

Esta razoável cautela de exigência de garantia é

excepcionada, porém, em relação aos

Page 26: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 26 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

ascendentes, descendentes e o cônjuge, uma

vez provada a sua condição de herdeiros (§ 2º do

art.30), o que pode ser explicado pela

particularidade de seu direito, em função dos

outros sujeitos legitimados para requerer a

abertura da sucessão provisória, ao qual se

acrescenta o Ministério Público, por força do § 1º

do art.28 do CC-02.

Esta segunda hipótese se limita à previsão do art.

23 do CC-02: “Também se declarará a ausência,

e se nomeará curador, quando o ausente deixar

mandatário que não queira, ou não possa exercer

ou continuar o mandato, ou se os seus poderes

forem insuficientes”

Ressalve-se, todavia, que o art. 34 do CC-02

admite que o “excluído, segundo o art. 30, da

posse provisória poderá, justificando falta de

meios, requerer lhe seja entregue metade dos

rendimentos do quinhão que lhe tocaria”.

“Art. 27. Para o efeito previsto no artigo

antecedente, somente se consideram

interessados:

Page 27: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 27 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

I – o cônjuge não separado judicialmente;

II – os herdeiros presumidos, legítimos ou

testamentários;

III – os que tiverem sobre os bens do ausente

direito dependente de sua morte;

IV – os credores de obrigações vencidas e

não pagas.”Em todo caso, a provisoriedade da

sucessão é evidente na tutela legal, haja vista

que é expressamente determinado, por exemplo,

que os “imóveis do ausente só se poderão alienar

não sendo por desapropriação, ou hipotecar,

quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína”

(art.31), bem como que “antes da partilha, o juiz,

quando julgar conveniente, ordenará a conversão

dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a

extravio, em imóveis ou em títulos garantidos

pela União” (art.29).

Um aspecto de natureza processual da mais alta

significação, na idéia de preservação, ao

máximo, do patrimônio do ausente, é a

estipulação, pelo art.28, do prazo de 180 dias

para produção de efeitos da sentença que

Page 28: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 28 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

determinar a abertura da sucessão provisória,

após o que, transitando em julgado, proceder-se-

á à abertura do testamento, caso existente, ou ao

inventário e partilha dos bens, como se o ausente

tivesse falecido.

Com a posse nos bens do ausente, passam os

sucessores provisórios a representar ativa e

passivamente o ausente, o que lhes faz dirigir

contra si todas as ações pendentes e as que de

futuro àquele foram movidas.

Na forma do art. 33, os herdeiros empossados,

se descendentes, ascendentes ou cônjuges terão

direito subjetivo a todos os frutos e rendimentos

dos bens que lhe couberem, o que não

acontecerá com os demais sucessores, que

deverão, necessariamente, capitalizar metade

destes bens acessórios, com prestação anual de

contas ao juiz competente.

Se, durante esta posse provisória, porém, se

prova o efetivo falecimento do ausente,

converter-se-á a sucessão em definitiva,

considerando-se a mesma aberta, na data

comprovada, em favor dos herdeiros que o eram

Page 29: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 29 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

àquele tempo. Isto, inclusive, pode gerar algumas

modificações na situação dos herdeiros

provisórios, uma vez que não se pode descartar

a hipótese de haver herdeiros sobreviventes na

época efetiva do falecimento do desaparecido,

mas que não mais estavam vivos quando do

processo de sucessão provisória.

c) Sucessão Definitiva.

Por mais que se queira preservar o patrimônio do

ausente, o certo é que a existência de um longo

lapso temporal, sem qualquer sinal de vida,

reforça as fundadas suspeitas de seu

falecimento.

Por isto, presumindo efetivamente o seu

falecimento, estabelece a lei o momento próprio e

os efeitos da sucessão definitiva. De fato, dez

anos após o trânsito em julgado da sentença de

abertura de sucessão provisória, converter-se-á a

mesma em definitiva – o que, obviamente,

dependerá de provocação da manifestação

Page 30: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 30 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

judicial para a retirada dos gravames impostos –

podendo os interessados requerer o

levantamento das cauções prestadas.

Esta plausibilidade maior do falecimento

presumido é reforçado, em função da expectativa

média de vida do homem, admitindo o art. 38 a

possibilidade de requerimento da sucessão

definitiva, “provando-se que o ausente conta

oitenta anos de idade, e que de cinco datam as

últimas notícias dele”.

d) Retorno do Ausente

Admite a lei a possibilidade de ausente retornar.

Se este aparece na fase de arrecadação de

bens, não há qualquer prejuízo ao seu

patrimônio, continuando ele a gozar plenamente

de todos os seus bens.

Se já tiver sido aberta a sucessão provisória, a

prova de que a ausência foi voluntária e

injustificada, faz com que o ausente perca, em

Page 31: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 31 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

favor do sucessor provisório, sua parte nos frutos

e rendimento (art.33, parágrafo único). Em

função, porém, da provisoriedade da sucessão, o

seu reaparecimento, faz cessar imediatamente

todas as vantagens dos sucessores imitidos na

posse, que ficam obrigados a tomar medidas

assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a

seu titular (art.36). Se a sucessão, todavia, já for

definitiva, terá o ausente o direito aos seus bens,

se ainda incólumes, não respondendo os

sucessores havidos pela sua integridade,

conforme se verifica no art. 39, nos seguintes

termos:

“Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos

seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou

algum de seus descendentes ou ascendentes,

aquele ou estes haverão só os bens existentes

no estado em que se acharem, os sub-rogados

em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e

demais interessados houverem recebido pelos

bens alienados depois daquele tempo.

Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se

refere este artigo, o ausente não regressar, e

Page 32: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 32 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

nenhum interessado promover a sucessão

definitiva, os bens arrecadados passarão ao

domínio do Município ou do Distrito Federal, se

localizados nas respectivas circunscrições,

incorporando-se ao domínio da União, quando

situados em território federal.”

OBS. Olhe que interessante: Situação

interessante diz respeito ao efeito dissolutório do

casamento, decorrente da ausência, admitido

pelo novo Código Civil, em seu art. 1571, § 1o:

§ 1º. O casamento válido só se dissolve

pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio,

aplicando-se a presunção estabelecida neste

Código quanto ao ausente.

Fonte: Novo Curso de Direito Civil, Parte Geral,

vol. I– Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Folho (Ed. Saraiva).

e) Haverá morte presumida também, sem

decretação de ausência, nos casos previstos no

art. 7º do Código Civil.

Page 33: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 33 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

Art. 7º, CC/02. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

Comoriência

A comoriência traduz uma situação de morte simultânea, em que duas ou mais pessoas, na mesma ocasião falecem, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos (art. 8º do CC/02).

Art. 8º, CC/02. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se

Page 34: 02 - Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 02

Página 34 de 34

LFG – Intensivo I – Direito Civil – Pablo Stolze Aula 02 – 09/08/12

podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Não se confunde com premoriência que significa

pré-morte, morrer antes.

A presunção da comoriência (morte simultânea)

só deve ser aplicada se o examinador do

concurso não indicar a sequência cronológica

dos óbitos.

A presunção da comoriência resulta na ideia de

que as mortes ocorreram simultaneamente, ou

seja, ao mesmo tempo, caso em que são abertas

cadeias sucessórias autônomas e distintas, de

forma que um comoriente nada herda do outro.