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02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil SIMPÓSIO - Narrativas, contemporaneidade, rupturas

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02 a 05 setembro 2013

Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil

SIMPÓSIO - Narrativas, contemporaneidade, rupturas

Page 2: 02 a 05 setembro 2013³sios... · Caged Bird Sings, de autoria da escritora estadunidense Maya Angelou (1997), e Caroço de Dendê, de lavra da contista brasileira Mãe Beata de Yemonjá

INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)

A história como contramemória. Um olhar sobre a “inserção” do negro no projeto de construção discursiva de identidade nacional brasileira de Carl Friedrich Phillip von MartiusNathália Nicácio Ganzer Página 04

A literatura de um grupo entre dois contextos. O caso da literatura de imigrantes alemães no BrasilGerson Roberto Neumann Página 06

Construções identitárias em The Conjure-man Dies, de Rudolph FisherBatista Torres Página 11

Dany Laferrière: rupturas no real, o guia do cotidiano no pays rêvé Susana Fuentes Página 13

A tradução intercultural e as obras da diáspora africana no Brasil e nos Estados UnidosRenata Thiago Pontes Página 08

A contemporaneidade pela escrita de autoras negrasFelipe Fanuel Xavier Rodrigues Página 03

A literatura como anti-destinoGodofredo de Oliveira Neto

Página 05

Página 07

A mulher brasileira no relato de viagem de John Luccock, Notas Sobre o Rio de Janeiro e Partes Meridionais do BrasilMárcia Cristina de Oliveira Santos

Página 09

Aspectos ideológicos na presença de narrativas sobre os despossuídos no Rio de Janeiro em O cortiço, Clara dos Anjos, Inferno e Cidade de Deus: os ruídos do pretérito nas agruras contemporâneasAnderson Figuerêdo Brandão

Página 12

CYBERMIND: Da fábrica do mundo da Ficção Científica para questões do capitalismo tardioVítor Vieira Ferreira

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Identidades e resistências em “Amigos mexicanos”, de Juan VilloroVíctor Manuel Ramos Lemus e Iván Alejandro Ulloa Bustinza Página 14

Lucy: subversões pós-coloniais de um anjo caídoTarso do Amaral de Souza Cruz Página 14

Mãos sujas: os escravos no olhar dos viajantes germânicosRafael Chaves Santos Página 14

O deslocamento de MacabéaAdriane Camara de Oliveira Página 14

Os intelectuais como mediadores de discursos e experiências do subalterno: representação do mundo do crime e silenciamento nas periferias do Rio de Janeiro e Buenos AiresAry Pimentel e Thiago José Moraes Carvalhal Página 14

Quando o clarim soou: Considerações sobre literatura marginal/periférica, identidade, recepção e políticas públicasAline Deyques Viera Página 14

Reflexões no exílio: D. Pedro de Alcântara e sua Fé de OfícioMadalena Quaresma Lima Página 14

Representação literária como instrumento de ruptura: gerando novos discursos e possibilidades na Literatura Afro-AmericanaCristiane Vieira da Graça Cardaretti Página 14

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Este trabalho tem como objetivo discutir a categoria conceitual contemporaneidade vis-à-vis a

pesquisa discente no Programa de Pós-Graduação em Letras, Doutorado em Literatura Comparada,

na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tal pesquisa tem traçado as bases do estudo de obras

literárias tidas como contemporâneas, a saber, de modo prioritário, mas não exclusivo, I Know Why the

Caged Bird Sings, de autoria da escritora estadunidense Maya Angelou (1997), e Caroço de Dendê, de

lavra da contista brasileira Mãe Beata de Yemonjá (2008), focando no tema religião. Esta investigação se

adéqua, pois, a uma das linhas de pesquisa do programa, isto é, Literatura e Cultura Contemporâneas.

Do ponto de vista epistemológico, examinar a categoria contemporaneidade é vital para um trabalho

que culminará em uma tese que, dentro da perspectiva comparatista, terá lidado com literaturas e

escritoras de nacionalidades diferentes, revelando não só as peculiaridades de cada uma, mas também

os aspectos que as aproximam, como, exempli gratia, o fato de que a produção literária de ambas possa

ser classificada como contemporânea. É importante que se analise o fundamento conceitual desta

categoria, sobretudo por meio de suas configurações históricas, buscando responder a questão sobre o

que significa ser contemporâneo.

Trabalha-se com a hipótese de que as autoras em tela se inserem na categoria contemporâneas em

um sentido para além do estrito, ou catalográfico, dentro do qual seriam classificadas conforme

determinada época. Para além desta visão enciclopédica, que se preocupa em catalogar obras e autores

em certos períodos, está um sentido amplo de contemporaneidade, concernente muito mais ao gesto

perante uma época do que à época em si.

O corpus literário não é apenas o que importa, mas também o seu contexto, o seu lugar histórico, o

que se pode ter revelado pela atitude das escritoras enquanto agentes discursivos, que participam de

seus contextos culturais de onde suas produções literárias emergem. Tais produções são epítomes das

experiências das escritoras, enquanto mulheres negras, vivendo em países marcados pela questão racial.

Assim, a categoria contemporaneidade está problematizada por meio de uma discussão conceitual mais

ampla, isto é, capaz de abranger não só o texto, mas também o contexto. Com isso, são encontradas

possibilidades de arejar ideias em torno da questão sobre em que consiste o contemporâneo. No lugar

central que as autoras ocupam em suas obras, encontra-se uma postura de negação em relação a um

centro do mundo. Afinal, as escritoras partem de suas experiências, negando outra influência que não

seja sua própria história, de caráter contingente.

A CONTEMPORANEIDADE PELA ESCRITA DE AUTORAS NEGRAS

Felipe Fanuel Xavier Rodrigues

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Logo após a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, os sócios da instituição se

empenharam a fundo nas linhas mestras da elaboração da História do Brasil. O instituto ofereceu

um prêmio de trezentos mil réis a quem oferecesse um plano de se escrever a História do Brasil,

que compreendesse as partes política, civil, eclesiástica e literária. Neste concurso, destacou-se Carl

Friedrich Phillip von Martius, botânico alemão, que chegou ao Brasil na comitiva da Arquiduquesa

Leopoldina, em 1817.

Martius havia sido encarregado de estudar a flora e fauna brasileiras, as riquezas do subsolo e as

populações primitivas do Novo Mundo que despertavam grande interesse nos meios científicos

da Europa, ainda que fossem mal conhecidas. Durante quatro anos, o botânico viajou pelo Brasil,

recolhendo exemplares de manufaturas indígenas e catalogando numerosas espécies de animais

e vegetais. Além disso, Martius, junto com Spix, publicou o Atlas Zur Reise in Brasilien (Viagem

pelo Brasil), contendo 42 estampas e 11 mapas. Teve ainda excepcional importância na historiografia

brasileira ao ensinar Como se deve escrever a História do Brasil, trabalho publicado na Revista do

IHGB, Tomo 6º, número 24 e que direcionou e influenciou o trabalho de várias historiadores, como

Francisco Adolfo de Varnhagen.

Ao estudarmos o IHGB e as linhas mestras de Martius para se escrever a história do Brasil, podemos

notar, claramente, que há, nesse projeto político-ideológico, um projeto identitário que busca refletir

sobre a ideia de Nação e o que seria o “brasileiro” como indivíduo e como povo, traçando, assim, a

descrição de um passado comum e a projeção de um destino comum aos que aqui nasceram.

Contudo, este projeto traz consigo uma grande dificuldade: a heterogeneidade de um país com

dimensões continentais, que tinha o trabalho escravo como suporte, e por isso, uma grande quantidade

de negros, a população indígena que aqui já vivia e a presença do colonizador branco – europeu.

A HISTÓRIA COMO CONTRAMEMÓRIA. UM OLHAR SOBRE A “INSERÇÃO” DO NEGRO NO PROJETO DE CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DE IDENTIDADE

NACIONAL BRASILEIRA DE CARL FRIEDRICH PHILLIP VON MARTIUS

Nathália Nicácio Ganzer

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O escritor cria formas, não reproduz o real. Mas trabalha o seu próprio caminho a partir de obras

dos artistas que o precederam. Como então romper com o passado e criar novas formas? Como se dá

essa ruptura? A escritura do artista visa escapar do destino humano. A literatura é, assim, um anti-

destino, para usar um conceito de Malraux. A diferença entre o imaginário do artista e o imaginário

do sonhador é que o imaginário do artista é o domínio das formas. Não há criação sem forma estética.

Lima Barreto ou Machado de Assis mostraram mais as formas romanescas do seu tempo do que

propriamente a cidade do Rio de Janeiro.

A literatura representa não só a vitória do escritor sobre a vida, mas sobre a literatura que ele tem

internalizada. O leitor será o constante atualizador da obra (Iser). Definida como um sistema parasita

e secundário da linguagem (Barthes), a literatura só pode reenviar à linguagem e não ao real. Para a

efetiva ruptura, é indispensável levar em consideração os significantes literários, e não a análise dos

significados literários (Derrida).

A LITERATURA COMO ANTI-DESTINO

Godofredo de Oliveira Neto

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Literaturen ohne festen Wohnsitz (Literaturas sem local fixo) é o título do livro do romanista alemão

Ottmar Ette, da Universidade de Potsdam, obra que motiva a presente proposta, resultado de longo

tempo de pesquisas. O referido teórico trabalha, entre outros temas, a “Literatura em movimento”

e o “Saber Sobre(-)viver” sempre na tentativa de refletir expressões literárias em meio a transições e

buscas por definição, em luta contra preconceitos de todas as formas.

O diálogo entre Ette e outras referências nessa discussão, como Homi Bhabha, no seu “O local da

Cultura”, principalmente o capítulo III, quando aborda o “estereótipo, a discriminação e o discurso

do colonialismo.” Além disso, será importante dialogar com Stuart Hall, quando trata “Da diáspora.

Identidades e Mediações culturais.”Quando se aborda a temática da literatura de imigrantes alemães

no Brasil é importante mencionar o trabalho de Celeste Ribeiro de Souza, da USP, pela sua trajetória

na pesquisa em torno da “imagem do outro” nas relações literárias Brasil-Alemanha. Ribeiro de Souza

também é coordenadora do grupo de pesquisa “Relações lingüísticas e literárias Brasil-Alemanha

(RELLIBRA), do qual participo e a partir do qual se elabora esta reflexão. O referido projeto tem por

objetivo tornar “mais” acessíveis justamente as obras que compõem essa literatura sem identidade

definida. A partir dos teóricos acima apresentados, pretende-se discutir a expressão literária existente

no Brasil que ainda não conseguiu adquirir o seu espaço.

Trata-se da literatura produzida por imigrantes alemães no Brasil. Esta não é reconhecida como

brasileira por ser em língua alemã, e é dirigida a um público leitor reduzido, porém brasileiro. Apesar

de escrita em língua alemã, os temas dessa produção geralmente giram em torno da vida em solo

brasileiro. Isso, por sua vez, faz com que essa produção, publicada aqui a partir da segunda metade do

século XIX, não seja reconhecida como alemã. Acrescente-se que essa literatura aos poucos assume

termos da língua local, o que a distancia ainda mais da já distante Alemanha. É importante que se

ressalte que não se trata de uma produção de imigrantes de parca instrução e pouca experiência literária

(em sendo, já figuraria como preconceito), mas de autores com formação superior. Como exemplo,

citemos Georg Knoll (estudou Botânica em Geisenheim); Paul Aldinger (Doutorado em Filosofia);

Wilhelm Rotermund (Doutorado em Filosofia em Jena) e entre eles, talvez o mais conhecido no Brasil,

Karl von Koseritz, filho de nobres, não realizou estudos em nível superior, mas realizou expressivo

A LITERATURA DE UM GRUPO ENTRE DOIS CONTEXTOS. O CASO DA LITERATURA DE IMIGRANTES ALEMÃES NO BRASIL

Gerson Roberto Neumann

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trabalho cultural no Brasil.

No momento em se que busca respostas relativas à homogeneização cultural e quando se pensa

questões identitárias, cabe sempre lançar um olhar ao passado, que em suas problemáticas, muitas

vezes está bem próximo. Nesse sentido, quando os contatos entre as culturas se tornam cada vez mais

estreitos e as distâncias diminuem, as identidades tornam-se mais fluidas e móveis, cabe refletir sobre a

pluralidade de línguas nas expressões literárias ou então em literaturas sem lugar definido, expressões

literárias que não podem ser fixadas em um determinado local ou a uma determinada língua. Essa

reflexão será nosso objeto nessa comunicação.

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Os relatos de viagem eram obras que narravam a História do Brasil, tanto para europeus como

para brasileiros de então, e que surgiam a partir de uma viagem de cunho comercial ou científico.

Considerando que não existem discursos politicamente neutros, questiono: que práticas ideológicas

estariam engendradas nesses textos produzidos por estrangeiros sobre o Brasil? Como seria construído

tal discurso etnológico? Mais especificamente, como seria construída a “mulher brasileira” em tais

textos? Ecoariam esses discursos até a contemporaneidade?

Com isso em mente, penso ser valioso indagar, como já o fez Michel Foucault em sua aula inaugural

no Collège de France: “mas, o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de

seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde, afinal, está o perigo?” (FOUCAULT, 2011/

1970, p.8 ). Ou ainda, perguntar, como sugere Eni Orlandi (Orlandi, 1990/ 2008), que luz lançar

sobre os discursos da construção do outro? Suponho que, a partir de uma perspectiva colonialista/

imperialista, alguns escritores de tais crônicas inferiorizam negras e brasileiras brancas, ao contrastá-

las com os ‘desejáveis’ padrões estéticos e comportamentais europeus. Interpreto tais construções à

luz da chamada Linguística Aplicada Crítica, e assim, analiso trechos de um relato de viagem do

inglês John Luccock embasando-me no conceito de “zona de contato”, e na perspectiva transcultural,

dialógica e historicizada sugerida por Mary Louise Pratt. Nesta comunicação, observo de maneira

sucinta os contornos que o viajante inglês atribui à mulher brasileira em seu relato de 1820, intitulado

Notas Sobre o Rio de Janeiro e Partes Meridionais do Brasil. Ressalto que os fragmentos selecionados

engendram relações de assimetria estabelecidas entre o europeu-narrador e a mulher brasileira, alvo

de suas observações. Ao analisar o travelogue, enfatizo a maneira com que o autor homogeneíza a

alteridade colonial, e a inferioriza ao contrastá-la com os padrões europeus. De igual modo, saliento a

forma que o viajante constrói a mulher da ex-colônia como repulsiva a qualquer olhar não conterrâneo.

Por fim, concluo que o relato atua como prática social ao invalidar modos de vida locais, sobrepondo

um discurso europeizante ao viver da mulher autóctone, apagando seus sentidos, em uma tentativa de

silenciar, e civilizar essa mulher.

A MULHER BRASILEIRA NO RELATO DE VIAGEM DE JOHN LUCCOCK, NOTAS SOBRE O RIO DE JANEIRO E PARTES MERIDIONAIS DO BRASIL

Márcia Cristina de Oliveira Santos

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O objetivo deste trabalho é destacar aspectos importantes a respeito da literatura da diáspora africana

no Brasil e nos Estados Unidos e da tradução. Segundo Sherry Simon, era apenas uma questão de

tempo até que os Estudos Culturais “descobrissem” a tradução, pois desde a globalização dos meios

de cultura vivemos em mundos traduzidos. Os espaços de conhecimento que habitamos congregam

ideias e estilos de origens diversas, comunicações transnacionais e migrações frequentes transformam

cada cultura numa intercessão e num ponto de encontro. A hibridização de culturas diaspóricas

e a mobilidade de todas as identidades são centrais para os Estudos Culturais. A tradução é mais

frequentemente utilizada pelos teóricos dos estudos culturais como uma metáfora, uma figura retórica,

que por um lado descreve a crescente internacionalização da produção cultural e por outro o destino

daqueles que lutam para viver entre dois mundos e duas culturas.

As mulheres traduzem a si mesmas para a língua do patriarcalismo; os imigrantes lutam para traduzir

seu passado em presente. A tradução passou a simbolizar a dificuldade de acesso a língua, de uma

exclusão dos códigos daqueles que estão no poder. Para aqueles que se sentem marginalizados pelos

códigos autoritários da cultura ocidental, a tradução representa uma metáfora para sua experiência

ambígua na cultura dominante. Os imigrantes começam a definir a si mesmos como seres traduzidos.

Os Estudos Culturais trazem para a tradução um entendimento sobre as complexidades de gênero e

cultura e enfatizam a multiplicidade das línguas que circulam no mundo hoje, a competição entre o

global e o local, e a reatualização do formato das culturas. Eles inegavelmente colocaram de lado o

mito da diferença pura, mostrando que a passagem de um lugar a outro sempre envolve deslocamentos

e mudanças em relação a termos e pessoas (SIMON, 1996, 134-136).

O estudo de obras literárias dos escritores de origem Africana, suas traduções e os obstáculos que eles

encontraram e encontram são importantes para ajudar-nos a consolidar um comportamento crítico

e ativista que pode levar-nos a pensar sobre a condição dos afro-descendentes no mundo literário

e nas sociedades póscoloniais e da tradução no mundo de hoje. As traduções ocupam uma posição

extremamente importante no mundo do século XXI se as considerarmos “pontes culturais” ou até

mesmo “pontes interculturais”. Elas podem ser grandes ferramentas de intermediação cultural e é

necessário prestar mais atenção aos seus processos elaboração, as ideologias conectadas a eles e como

a recepção dessas traduções por seus leitores está acontecendo.

A TRADUÇÃO INTERCULTURAL E AS OBRAS DA DIÁSPORA AFRICANA NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS

Renata Thiago Pontes

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A presença dos despossuídos como elemento significativo nos romances brasileiros encontra, no

realismo, um momento de considerável importância. O cortiço marca a História da Literatura Brasileira

como um romance no qual o leitor obtém acesso ao mundo de pequenos trabalhadores, lavadeiras,

malandros, policiais descritos com uma verossimilhança consideravelmente fiel a tipos históricos da

segunda metade do século XIX. No entanto, a forma com que a narrativa identifica as classes menos

favorecidas demonstra um estratégico distanciamento das massas, como se tais ambiências e tipos

urbanos fossem apenas cenário e personagens necessários à naturalização de construtos ideológicos

indispensáveis à urdidura da tese realista/naturalista de Aluísio Azevedo.

Na literatura pré-modernista de Lima Barreto, os usos e costumes da população pobre nas primeiras

décadas do século XX são descritos com uma empatia considerável, o que demonstra indícios de

identificação do narrador com os despossuídos no Rio de Janeiro – fato inexistente em O cortiço.

Clara dos Anjos indica que as péssimas condições decorrem do tendencioso funcionamento da

máquina estatal voltada, por um lado, para suprir os bairros privilegiados e que, por outro, é omissa

às necessidades básicas nos subúrbios. Em tom de denúncia, a narrativa ressalta a intimidade entre a

elite carioca e o Estado na conservação e planejamento da Capital Federal.

Contemporaneamente, no romance Cidade de Deus também há constante denúncia sobre os elementos

controladores, punitivos e corruptos da máquina estatal. A perspectiva da narrativa de Paulo Lins

insere o leitor na lógica ultracapitalista dos traficantes de drogas. O leitor tem a sensação de que

está a perceber o mundo através das perspectivas ideológicas dos personagens e não através de um

observador distanciado da emergência dos atos urdidos na trama romanesca.

No coevo romance Inferno de Patrícia Melo, o tráfico de drogas também é descrito. No entanto, a

narrativa demonstra o posicionamento tradicional de não imersão da realidade imediata sob a ótica

dos despossuídos. Tal fato acaba por gerar uma narrativa cristalizada numa série de conceitos pré-

concebidos sobre os moradores das comunidades pobres. O non sense da vida dos personagens,

a repetição de fórmulas são maneiras de representar a não imersão nas subjetividades que são

representadas na trama. Esta comunicação pretende traçar considerações sobre construtos ideológicos

ASPECTOS IDEOLÓGICOS NA PRESENÇA DE NARRATIVAS SOBRE OS DESPOSSUÍDOS NO RIO DE JANEIRO EM O CORTIÇO,

CLARA DOS ANJOS, INFERNO E CIDADE DE DEUS: OS RUÍDOS DO PRETÉRITO NAS AGRURAS CONTEMPORÂNEAS

Anderson Figuerêdo Brandão

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por detrás de abordagem sobre a vida, os usos e os costumes dos despossuídos. Teremos como campo

de trabalho os romances O cortiço, Clara dos Anjos, Cidade de Deus e Inferno. Nossos referenciais

teóricos serão as obras de Edward Said, Istvan Mészáros, Walter Benjamin, Terry Eagleton, Leandro

Konder, entre outros, que nos auxiliarão a construir nossas considerações sobre alguns processos

ideológicos imanentes às narrativas das obras literárias citadas.

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Durante anos, o gênero literário Romance Policial ocupou os mais baixos degraus na escala da Literatura.

Embora sua criação tenha sido atribuída a Edgar Allan Poe, um dos mais conhecidos escritores norte-

americanos do século XIX, o gênero em questão não obtinha reconhecimento e importância como

arte, apesar de admirado e exaltado por seus escritores e fãs. Levou alguns anos para que o gênero

construísse uma base sólida através de Sir Arthur Conan Doyle e seu famoso detetive Sherlock Holmes.

Contudo, diversos escritores, principalmente nos Estados Unidos, fizeram e fazem uso do gênero em

pauta para discutir questões mais amplas de ordem social como, por exemplo, o racismo. A união

desta temática com o gênero policial é responsável pela criação de um subgênero denominado Black

crime fiction. Focalizando neste subgênero, portanto, destaca-se, nos Estados Unidos do século XX,

o precursor da união entre romance policial e questões raciais: Rudolph Fisher (1897-1934), escritor e

músico da época do florescimento cultural dos anos 20 e 30, em Nova York, período conhecido como

a Renascença do Harlem. Considerado um dos jovens escritores do movimento do Novo Negro, Fisher

obteve reconhecimento através de seus contos e de dois romances, sendo um deles The Conjure-man

Dies (1932). Este é um peculiar romance policial por incluir personagens negros, inclusive os detetives,

em um cenário característico da cultura negra: o Harlem. Atendo-se unicamente ao romance The

Conjure-man Dies e à época da Renascença do Harlem, o intento do presente trabalho é analisar a

questão identitária concernente a um dos personagens da obra – N’Gana Frimbo – cuja característica

inerente é possuir duas nacionalidades: a africana e a americana. Este aspecto é crucial para o

aprofundamento de questões identitárias conflitantes que, de maneira geral, atingem aqueles que

vivem em uma espécie de limbo, sem saber ao certo a qual lugar pertencem. Estudando-se, portanto,

esta dualidade de Frimbo que, ao decorrer do romance, revela outros elementos confrontantes, chama-

se atenção para características que, por extrapolarem a noção de temporalidade, são amplamente

discutidos e importantíssimos para estudos acerca das diferenças, problematizando o posicionamento

dos afro-americanos dentro da sociedade norte-americana.

CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS EM THE CONJURE-MAN DIES, DE RUDOLPH FISHER

Batista Torres

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Ainda que por vezes ofuscada pelos cânones literários, as obras pertencentes à então chamada de

literatura de Ficção Científica constituem um gênero, segundo a noção bakhtiniana, de considerada

relevância. Em determinadas obras, para além de um estudo que considere seu componente estético,

tornam-se também especialmente produtiva uma análise que compreenda o texto como um modo

de ação no mundo, ideologicamente orientado e agindo no sentido de questionar ou legitimar

discursos. Tendo como plano de fundo histórico o modo de organização político e social capitalista

contemporâneo, o trabalho se baseia na análise do conto O Trainee (2010) de Ubiratan Peleiro. A

narrativa tematiza as mega-corporações privadas, cujos poderes sobrepujam até os mais extremos

valores éticos humanos, ao apresentar em uma destas a produção de seres humanos anencéfalos com

interfaces cerebrais eletro-biológicas. Em um primeiro momento, trata-se de um simples exercício

ficcional de extrapolação, com motivos provenientes do desenvolvimento tecnológico humano

contemporâneo. Contudo, se compreendemos o fazer literário como inalienável das condições

históricas, sociais e econômicas, com as quais estabelece uma relação dialética, vemos justamente nesta

extrapolação, por sua vez, de valoração negativa, uma forma de questionamento de tais condições.

Torna-se então tarefa do pesquisador destacar o caráter crítico da obra e situá-lo em um contexto

maior de discursos que nela se encontram em tensão. É, portanto, objetivo deste trabalho, articular a

economia textual do conto selecionado e as estruturas sociais e políticas que nele são representadas,

em diferentes medidas, dentro da totalidade da qual dispõe o texto. Pois é neste fazer representacional

que o autor toma atitudes responsivas diante dos elementos de sua realidade histórica, fazendo de

seu texto uma prática social. Destarte, pretende-se destacar a partir da obra reflexões quanto à atual

separação entre diferentes segmentos da sociedade de acordo com o poder aquisitivo do qual dispõem,

o conflito entre o bem estar de uma ascensão social individual que se dá imbricada em uma lógica de

segregação social, às forças de coerção para com aqueles que se opõem de alguma forma a esta, dentre

outras questões mais. Colocam-se desta forma olhares alternativos sobre a vida social contemporânea,

de modo que, ao promover um fazer reflexivo e crítico dentro do espaço acadêmico, intervenções

possam ser vistas como possíveis; face a um capitalismo perverso que se impõe muitas vezes como o

estágio último do desenvolvimento humano.

CYBERMIND: DA FÁBRICA DO MUNDO DA FICÇÃO CIENTÍFICA PARA QUESTÕES DO CAPITALISMO TARDIO

Vítor Vieira Ferreira

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Ao se analisar a expressão país sonhado de Dany Laferrière, autor haitiano/quebequense, reinventor

da própria terra natal no romance Pays sans chapeau, captamos nuances da cidade graças ao narrador/

guia que nos passa anotações comuns, porém essas são essenciais para o leitor chegar à cidade e não

perdê-la de vista. Ali, um cotidiano sonhado e tornado possível a partir do poder da ficção. O poeta

escreve: enfants, ballon, voitures. Crianças, balão, carros. Com sua marca, Laferrière inscreve o que

permanecia invisível para quem está de fora. Na composição imagística, novas cartografias. Mapas

com sinais da alteridade, que se expandem em rizomas. Raízes em formação na diáspora – numa

diferença que se estabelece sempre outra, em relação com um outro novo e diferente. No movimento

de retorno ao Haiti, na volta em espiral à terra natal, uma nova origem. Nos trajetos da narrativa,

traduções de si, deste eu que é um outro. O ruído dos detalhes, e uma nova cidade se forma. Ver e

rêver. Ver e sonhar: de mundo habitual para mundo fabuloso, o aroma do café pode inebriar Laferrière

com ares do seu pays numa cafeteria em Québec.

O narrador anuncia: “J’approche la tasse fumante de mon nez. Toute mon enfance me monte à la tête”.

A partir do caráter ficcional do seu relato, neste “romance autobiográfico”, Laferrière distribui seus

fantasmas. O país real, dirá o pintor em Pays sans chapeau, não necessito sonhá-lo. “Le pays réel: la

lutte pour la survie. Et le pays rêvé: tous les fantasmes du peuple le plus mégalomane de la planète.”

Com efeito, um haitiano foi “o primeiro a pisar na lua”. O narrador, afinal, no retorno à sua terra

através da letra, fala com o corpo e tropeça nos detalhes, são eles que importam. Ali, em sua terra,

dans sa langue, ele nos enreda em sua trama. Para, de fio em fio, através do detalhe, nos transportar

àquele “distante” país do Caribe. Traduzir o outro é uma forma de caminhar até o lugar do outro.

E um modo de romper “as paisagens culturais do presente” e “pensar questões de ética, cidadania,

solidariedade”, como se coloca neste simpósio.

Assim, pode-se perceber no cotidiano imagístico de Laferrière algo da ordem da “narrativa simbólica”

de que se fala no discurso pós-colonial, a narrativa se desvela como estratégia de resistência, uma vez

que eventos “reais” passam a ocupar várias possibilidades de significados quando se rompe a visão

hegemônica do real (Ashcroft et al.). Ver e rêver. Ver e sonhar. Ver e rever, olhar novamente – ou

deter-se um pouco mais. A voz se forma a partir de onde fala, no movimento da diáspora, e em sua

especificidade fala do outro também. Interferência sonora, informa a paisagem, e a modifica, pois

DANY LAFERRIÈRE: RUPTURAS NO REAL, O GUIA DO COTIDIANO NO PAYS RÊVÉ

Susana Fuentes

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é um resgate de memórias ao mesmo tempo em que é a produção de identidades, é o olhar que se

demora o tempo suficiente para deixar que algo apareça e se inscreva no corpo, no espaço geográfico,

nos objetos, na palavra que se escreve onde antes era o silêncio.

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O atual período de globalização/imperialismo tem provocado duas frentes de resistência: por um lado,

a adaptação competitiva a ele; de outra, a resistência em grupos de coesão identitária.

Se por um lado parece esgotado o apelo à “globalização” que varreu o mundo desde os anos 70 do

século passado (visto que o receituário emanado do Consenso de Washington levou àqueles que o

adotaram à intensos períodos de crise, e no qual, do ponto de vista cultural, encontrava-se o apelo a

assumir com inteireza as “identidades liquidas” de uma pós-modernidade inevitável), a saída oferecida

pela Terceira Via (em uma idéia de capitalismo “consciente e responsável”, respeitoso da natureza,

das identidades de gênero ou de etnia) oferece-se como uma saída viável – ainda que seja necessário

discutir se isso consegue atentar contra os fundamentos das causas que provocam o apelo a uma ou

outra opção.Sendo um país de uma tradição cultural de mais de 3000 anos (se a civilização maia

for tomada como referência), o México é um país que, no imaginário, possui uma tradição e uma

“identidade” muito recalcitrantes, características e específicas.

No entanto, enquanto país “subdesenvolvido”, “do 3º mundo” ou “da periferia do capitalismo”, o

México é o país desse escalão geo-político e geo-econômico que se encontra na situação extrema

de fazer parte do bloco econômico (TLC ou NAFTA) em que se encontram os Estados Unidos da

América, grande hegemon do mundo após a queda da URSS e do Muro de Berlim. Isso, em uma

época que vê o descrédito dos PC’s, da esquerda neoliberal, dos sindicatos, da política parlamentar,

e em geral de toda forma de resistência baseada em noções de classe ou que atentam contra o modo

de produção capitalista Juan Villoro, filho do filósofo mexicano-catalão Luis Villoro (pertencente ao

grupo Hiperión e um dos formuladores da “filosofia do mexicano” que viu Octavio Paz como uma

de suas figuras mais célebres), constrói uma obra situada em um fim de século sem esperanças nem

utopias, que discute tanto a opção de render-se à globalização, assim como aquela que baseia sua

resistência em qualquer tipo de identidade grupal. Esta comunicação discutirá essas questões a partir

da obra deste escritor mexicano, com ênfase especial no relato “Amigos mexicanos”, do livro Los

culpables.

IDENTIDADES E RESISTÊNCIAS EM “AMIGOS MEXICANOS”, DE JUAN VILLORO

Víctor Manuel Ramos Lemus e Iván Alejandro Ulloa Bustinza

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O romance Lucy, da autora caribenha Jamaica Kincaid, é um emblemático exemplar da chamada

literatura pós-colonial e/ou diaspórica. Lucy, publicado em 1990, tem sua narrativa com forte cunho

autobiográfico baseada no relato da protagonista sobre sua adaptação à vida nos Estados Unidos,

após ter se mudado do Caribe. Nos Estados Unidos, a protagonista tem que lidar com uma série de

dificuldades a fim de se estabelecer, enquanto luta com questões relacionadas a gênero, etnia, classe e

a sua própria identidade. Muitas dessas questões estão intrinsicamente associadas à figura da mãe de

Lucy: uma presença que, ao mesmo tempo, é essencial para e assombra a vida da protagonista. Um

dos mais sintomáticos exemplos da turbulenta relação entre mãe e filha representada no romance diz

respeito à passagem em que a protagonista Lucy comenta sobre o porquê de sua mãe ter escolhido

seu nome: segundo sua progenitora, é uma abreviação de Lúcifer. O personagem Lúcifer ou Satã é a

principal figura das duas primeiras partes da épica obra-prima do poeta inglês John Milton, Paraíso

Perdido. É no início de seu longo poema que John Milton apresenta Lúcifer como um personagem

repleto das características de um herói épico. É possível argumentar que, em Lucy, Jamaica Kincaid

fez uma tentativa consciente de associar a protagonista de seu romance com o Lúcifer miltoniano

de modo subversivo. A comunicação pretende expor evidências de como algumas das estratégias

narrativas usadas por Kincaid para associar a personagem Lucy com o Lúcifer miltoniano podem

servir com excelentes exemplos do subversivo uso que a literatura pós-colonial e/ou diaspórica faz de

textos literários canônicos. Uma melhor compreensão das estratégias utilizadas por Kincaid em Lucy

pode contribuir não só para uma melhor apreciação do romance em si, mas também aprimorar o

entendimento da ficção postcolonial/diaspórica, em especial aquela cuja autoria é feminina. Além dos

textos literários primários, textos teóricos de autores tais quais Homi K. Bhabha, Carol Boyce Davies,

Stuart Hall, Linda Hutcheon, entre outros, serão tomados como referências para o desenvolvimento

da comunicação.

LUCY: SUBVERSÕES PÓS-COLONIAIS DE UM ANJO CAÍDO

Tarso do Amaral de Souza Cruz

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Os relatos de viajantes europeus no Brasil do século XIX têm sido objetos de análise de inúmeros

estudos historiográficos. Contudo, estes estudos limitam-se a examinar apenas os seus conteúdos

“históricos”, isto é, os “acontecimentos” e “personagens” contidos nestas narrativas, desconsiderando

a linguagem e as questões discursivas como problema específico. A comunicação proposta analisa as

representações dos negros no Rio de Janeiro do século XIX em relatos de viajantes de língua alemã,

mas tomando estes discursos como práticas sociais concretas, que buscavam interagir com outras

práticas sociais e modificá-las dentro do contexto onde foram produzidas. Nesta comunicação serão

apresentadas algumas passagens retiradas dos relatos de viagem que fazem referências à habilidade e

utilidade dos negros. Conforme grande parte dos viajantes de língua alemã, os negros têm habilidade

para o serviço pesado, para trabalhar nas plantações, principalmente de café, e para o trabalho ‘sujo’,

aquele ao qual o branco não se sujeita ou não quer fazer. Diferentemente das qualidades intelectuais

ou da aparência, neste caso, veremos que os adjetivos usados para qualificar os negros e sua força

física estão repletos de aspectos positivos: admirável, eficiente, inacreditável, incansável etc. Nos textos

analisados perceberemos descrições semelhantes que tinham por base principal o discurso científico

influenciado pelas descrições de Lineu, e, carregadas de valores burgueses europeus. A construção do

discurso é feita de modo comparativo colocando o modo de vida dos negros como inferior, diferente

do modo europeu, visto como padrão. A análise das obras de viagem que foram produzidas e escritas

ao longo do século XIX nos permitirá afirmar que não há muita mudança no padrão discursivo no

decorrer do tempo. A influência da linguagem naturalista de cunho cientificista também permaneceu,

um pouco menos presente; contudo, algumas descrições semelhantes foram encontradas em obras do

início e do final deste século. A intertextualidade, seja ela manifesta ou constitutiva, continuou a existir,

entre os textos dos escritores-viajantes. O principal propósito desta comunicação é, então, evidenciar

as estratégias de construção textual destes relatos como práticas ideológicas em um contexto histórico

determinado.

MÃOS SUJAS: OS ESCRAVOS NO OLHAR DOS VIAJANTES GERMÂNICOS

Rafael Chaves Santos

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O propósito deste trabalho é analisar a busca expressiva de Clarisse Lispector. Na obra A hora da

estrela, a autora denuncia a complexidade no deslocamento da personagem principal para os grandes

centros, através de uma expressão singular. A autora parece tentar uma aproximação cada vez maior

do tempo da escrita com o ato de pensar a própria escrita, utilizando a estrutura do texto para nos

aproximar da ficção. A análise de elementos sintáticos não seria pertinente, pois a autora não seguiria

a norma gramatical, seus romances estariam mais relacionados com a expressividade. O resultado

da aproximação do pensamento com a escrita nos direciona por caminhos obscuros, que emergem

com um movimento próprio. Provavelmente, a autora intencionasse contar essa história atingindo

a simplicidade, colocando-a numa dimensão mais próxima da realidade. Nesse contexto, a prosa se

torna intensa, carregada de poesia.

O narrador, Rodrigo S. M., revela o processo que antecede o ato da escrita, tornando mais complexo o

papel do narrador, que se parece com um crítico discutindo ideologias próprias daquela época. A hora

da estrela retrata a exclusão social, por isso Macabéa é descrita em seu apagamento pessoal: sem uma

estrutura familiar mínima como referência, vivendo um estado de permanente fome, numa rotina

monótona. Ou seja, um ser quase incapaz de sonhar. Quando começa a acreditar na vida e o mundo

parece conspirar a seu favor, o sistema a atropela, literalmente. Ela é suplantada pelo capitalismo,

talvez um sinal de que ela não pode, nem deve ser mais do que é. Concluímos que, como o narrador

precisa sofrer as mesmas consequências da personagem para contar essa história, a denúncia aqui não

é apenas da miséria. Ele hesita várias vezes entre continuar nesse caminho de aproximação ou rejeitar

essa ideia, por fim acaba contando não apenas a história de Macabéa, mas também a história dele. E

com esse romance, Clarice nos revela algo ainda maior: o processo filosófico do seu pensamento.

O DESLOCAMENTO DE MACABÉA

Adriane Camara de Oliveira

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Estudar a relação entre as representações do mundo delitivo e a atitude de jovens jornalistas que cruzam

a fronteira para investigar o mundo do Outro no Brasil e na Argentina é um bom caminho para

entender as renovadas possibilidades da atuação do intelectual como mediador no cenário cultural

e social. Para tanto, este trabalho analisa, numa perspectiva comparatista, as obras Abusado: o dono

do morro Dona Marta (2003), de Caco Barcellos, e Cuando me muera quiero que me toquen cumbia:

vidas de pibes chorros (2003), de Cristian Alarcón. Segundo Néstor García Canclini, chegamos a um

mundo no qual se faz necessário dar conta de uma diversidade que não se encontra apenas em terras

longínquas, mas dentro da própria cidade em que habitamos. No universo cada vez mais híbrido

das megacidades, observamos o esforço de atravessar a ponte entre dois mundos. Neste contexto se

situam trabalhos que poderíamos chamar de traduções culturais ou traduções extra-literárias. Os

textos híbridos de Cristian Alarcón e Caco Barcellos são dois bons exemplos destes discursos oriundos

de um deslocamento do escritor-jornalista para a “zona de contato”. Este seria um discurso de base

etnográfica no qual podemos observar as negociações entre estas duas instâncias assimétricas,

colocando em diálogo mundos e territórios que comumente estabelecem relações de conflito e tensão.

Ainda que produzida por nomes oriundos dos meios de comunicação de massa cujas narrativas atuam

como mediadoras das relações sociais e aparecem como principais responsáveis pela construção do

imaginário do medo que coloca a favela como local do crime, essa nova modalidade narrativa põe

em circulação uma determinada representação do diferente na qual os detentores de voz convertem

em diálogo narrativas que, no universo da mídia, mantinham-se monológicas. Juntamente com a

voz autoral surge uma imagem crítica da narrativa do crime, dando um novo lugar a sujeitos cujas

identidades os discursos da imprensa relegavam ao plano do refugo no espaço da falta. A partir da

problematização da emergência destas novas narrativas culturais sobre violência urbana e discursos

sobre a experiência do crime desde o lugar dos próprios marginais, procura-se analisar o papel do

autor como mediador e ver em que condições se processa a sua negociação com os sujeitos sobre os

quais fala, ou seja, interessa identificar se estes representantes da mediação que envolve o cruzamento

de fronteiras sociais, territoriais e cultuais trazem o foco para o ato de enunciação, silenciando a voz

OS INTELECTUAIS COMO MEDIADORES DE DISCURSOS E EXPERIÊNCIAS DO SUBALTERNO: REPRESENTAÇÃO DO MUNDO DO CRIME E SILENCIAMENTO

NAS PERIFERIAS DO RIO DE JANEIRO E BUENOS AIRES

Ary Pimentel e Thiago José Moraes Carvalhal

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daqueles que se enuncia (indivíduos que não narram, são narrados), ou se produzem as condições de

apagamento do mediador necessárias para que o subalterno representado possa assumir um espaço

verdadeiramente protagônico. Trilhando uma linha teórica que segue a perspectiva adotada pelos

estudos subalternos, optou-se, como base teórica para o estudo do lugar do escritor-jornalista nas

representações da violência urbana e da sua atitude diante das histórias e sujeitos que encontra nas

margens da cidade, por conceitos e categorias oriundas das obras de Edward Said, Homi Bhabha,

Ranajit Guha, Clifford Geertz e Mary Pratt.

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A literatura marginal/periférica atualmente atrai muitos olhares, uns com desconfianças e outros

com grande entusiasmo devido ao seu grande conteúdo político, social e cultural que aborda. A

universidade ainda resiste de certa forma a introdução desta forma literária, porém em alguns espaços

ela está totalmente habituada, até mesmo em escolas públicas, lugar onde ela já está sendo trabalhada.

A partir desta afirmação podemos referir à questão do culto e do popular, e qual a influência sobre

os cânones devido a estas divisões, como coloca o teórico Roger Chartier (1994). Chartier analisando

a conjuntura da separação entre o culto e o popular, aponta para duas problemáticas: a questão das

obras letradas e da separação entre essas duas culturas.

Quanto à separação da cultura, há como nos situa, o sociólogo Pierre Bourdieu, fato de tais

manifestações de dominação cultural serem dadas por uma dominação simbólica, que transforma o

que não corresponde a uma arte elitista em sub-culturas. A questão de se ter uma linha que represente

ambas as artes como um conjunto uno, torna-se um desafio. Há concepções simbólicas e imaginárias

que afastam ambas as culturas, o que acaba se referindo a muitos espaços se tornarem imagens de

exclusão devido a regras modernas. Contudo podemos considerar que artistas sempre existiram para

poder mudar este cenário de exclusão e formar uma concepção artística pertinente a todos e todas. Há

também a forte influência na atualidade de um sistema de consumo cultural.

No início da década de 90, desponta a tendência denominada ‘Arte Marginal’; ‘Literatura Marginal/

Periférica’; ‘Literatura Marginal feita por marginalizados’ ou outras tantas denominações já dadas

a este movimento, que trará uma nova definição para a literatura no Brasil no fim do século XX e

início do século XXI. Tendo em vista esta tendência é que temos o centro do objeto de estudo deste

trabalho, em que tem como pretensão apontar aspectos literários, sociais, culturais, a recepção e

políticas públicas referentes à Literatura marginal/periférica e como ela está sendo trabalhada e

vista em diversos âmbitos do saber e da cultura.O trabalho é construído através de entrevistas com

escritores marginais / periféricos da cena literária de São Paulo e em fontes teóricas referentes a

culturas de margem e a hibridização da cultura.Portanto, este trabalho, então, vem ao encontro do

simpósio: “Narrativas, contemporaneidades, rupturas”, devido à proximidade da temática abordada

pelo simpósio juntamente à temática que proponho, bem como o estudo que desenvolvo em Literatura

Comparada e suas rupturas na modernidade.

QUANDO O CLARIM SOOU: CONSIDERAÇÕES SOBRE LITERATURA MARGINAL/PERIFÉRICA, IDENTIDADE, RECEPÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Aline Deyques Viera

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No documento Fé de Ofício, considerado pelo visconde de Taunay um testamento político, ou antes,

um memorial, estão gravados em traços vigorosos os desígnios, ideais e preocupações do homem e do

estadista que governou o Brasil por quase meio século. O autor (Pedro de Alcântara / D. Pedro II) parece

situar-se na fronteira da narração ora entrando nela como personagem biográfica ora aproximando-se

do sujeito do auto-informe-confissão. Analisando as características específicas desse registro escrito

em Cannes durante o exílio (datado de 23 de abril de 1891), destacamos as contribuições que fornecem

elementos elucidativos para a compreensão do pensamento de D. Pedro de Alcântara, um cidadão

/ estadista no final do século XIX. Priorizando a produção de sentidos (o simbólico, o político) e

os sujeitos, nossa metodologia de análise estrutura-se fundamentalmente nas categorias centrais do

pensamento de Bakhtin desenvolvidas na obra Estética da criação verbal, além das contribuições de

autores como E. P. Orlandi, Ruth Amossy, Norbert Elias, J. Habermas, Roger Chartier, entre outros.

A relação com a interpretação é diferente em períodos de tempos diversos, assim como também

é diferente a forma de constituição do sujeito (autor / leitor) nos modos como ele se individualiza.

Considerando que só é possível compreender o ser humano a partir de sua historicidade, no documento

analisado, o autor deixa transparecer uma percepção crítica do que não fez, mas também aponta seu

saldo positivo, atitude demonstrativa de que só integra o auto-informe-confissão aquilo que é imanente

à consciência moralmente atuante.

O homem é um ser extraordinariamente maleável e variável. Cada aspecto da vida social deve ser

compreendido no contexto de um movimento perpétuo, no qual o indivíduo se aproxima ou se afasta

de outras pessoas na medida de sua própria situação e função social. D. Pedro de Alcântara em situação

de exílio forçado exterioriza em sua narrativa a situação de marginalização a que foi deslocado após o

golpe político que implantou a república no Brasil. Em cada texto há sempre um sujeito, uma visão do

mundo, um universo de valores numa enorme interação. O mundo entra no horizonte apreciativo dos

grupos humanos e dos indivíduos em cada momento de sua experiência histórica. Segundo Castoriadis,

a cultura humana é impossível de ser compreendida fora da categoria do imaginário, característica

que a remete ao simbólico. Ao interpretar as formas simbólicas, os indivíduos as incorporam na

própria compreensão que têm de si mesmos e dos outros, usando-as como veículos para reflexão e

autorreflexão.Um texto pode ser atravessado por várias formações discursivas que nele se organizam

em função de uma dominante, perpassando pela relação do real com o imaginário, na construção

REFLEXÕES NO EXÍLIO: D. PEDRO DE ALCÂNTARA E SUA FÉ DE OFÍCIO

Madalena Quaresma Lima

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da memória. “Fé de Ofício”, examinado na perspectiva da memória e centrado no sujeito, destaca-se

como forma de contar a experiência humana e deve ser entendido não apenas como um conjunto de

imagens fixas que transmitem lembranças ou recordações, mas como algo que retorna para repetir um

caminho nunca antes trilhado.

Os estudos historiográficos e culturais tornam-se cada vez mais enriquecidos com as contribuições das

análises linguísticas. O discurso histórico a respeito da imagem do estadista e do cidadão (D. Pedro

II / Pedro de Alcântara), ao ser revisto à luz das metodologias e articulações propiciadas pelos novos

campos interdisciplinares que hoje se instauram, permite reavaliar antigas práticas que cristalizaram

estereótipos, marginalizações e discriminações. A partir dessas reflexões acreditamos na contribuição

de nossa pesquisa para os estudos historiográficos e linguísticos na contemporaneidade.

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A ideia da presente comunicação surgiu após a leitura de uma carta escrita por María Soledad Sánchez

Gómez, intitulada “UN POCO MÁS SOLAS: MUERE ADRIENNE RICH (1929-2012).” Nela na qual

a escritora menciona e acentua a importância da escrita como um ato de resistência, bem como uma

ferramenta que possibilita ao excluído, ao oprimido, romper com o mundo pré-estabelecido. Desta

maneira, podemos admitir que escritoras e escritores, conscientes da relevância do ato da escrita como

passaporte para uma nova realidade e como forma de resistência à opressão e à dominação, acreditam,

de fato na escrita como ruptura com o discurso oficial. Para os negros, a escrita tem relevância histórica.

O ato da escrita funcionou como um complexo certificado de humanidade, que lhes permitiu se

assumirem como humanos em meio a uma sociedade racista e opressora. Considerando, portanto,

como um ato de resistência e de aquisição de poder, objetiva-se aqui destacar a Representação Literária

como um instrumento que habilita o povo negro, principalmente sua parcela feminina, a produzir

discursos alternativos. É através dessas novas possibilidades textuais que dão voz aos seus anseios,

esperanças e experiências e saem das margens para o centro de suas próprias histórias. De certa

forma, a escrita é a chave usada pelas mulheres para a preservação da sanidade, prevenção contra a

morte social e civil de seu povo e de suas experiências. Historicamente, as escritoras afro-americanas,

profundamente conscientes das imagens e ideias negativas disseminadas ao longo da história,

passaram a responder aos estereótipos e a resgatar a imagem da mulher negra através da literatura.

As autoras afro-americanas Frances E. W. Harper e Pauline E. Hopkins fizeram coro de artistas que

lutaram por dignidade, igualdade, respeito e autonomia para o povo afro-americano na virada do

século XIX para o XX. Através de seus romances Iola Leroy, or, Shadows Uplifted (1892) e Contending

Forces: a Romance Illustrative of Negro Life North and South (1900), respectivamente, Frances E. W.

Harper e Pauline E. Hopkins desconstruíram imagens racistas e sexistas da sociedade afro-americana,

rompendo com o discurso oficial e criando novas possibilidades e realidades para os afro-americanos,

principalmente para as mulheres negras.

REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA COMO INSTRUMENTO DE RUPTURA: GERANDO NOVOS DISCURSOS E POSSIBILIDADES NA

LITERATURA AFRO-AMERICANA

Cristiane Vieira da Graça Cardaretti