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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE RIO GRANDE DA SERRA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DE RIO GRANDE DA SERRA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por sua Promotora de Justiça abaixo assinada, legitimado pelos arts. 127, caput, 129, III, da Constituição Federal, arts. 91 e 111 da Constituição do Estado de São Paulo, art. 25, IV, b, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), art. 103, VIII, da Lei Complementar Estadual n.º 734/93 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo), art. 1º, IV, 4º, 5º, 12 e 21, da Lei Federal nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), com fundamento nas disposições da Lei Federal nº 8.429/92 (Lei de Improbidade dos Atos Administrativos), na Lei nº 9.791/99 (Lei das OSCIPs), e art. 54 da Lei Estadual nº 6.544/89, e nos arts. 186 e 927 Código Civil, EM DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE E LEGALIDADE ADMINISTRATIVA, promove a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR (indisponibilidade de bens) em face de: MUNICÍPIO DE RIO GRANDE DA SERRA, RAMÓN ÁLVARO VELASQUEZ 1 , 1 Ramon Álvaro Velasquez, RG nº (1)7.724.100-SSP-SP, CPF nº 080.178.078-05, filho de Euzebio Ramão Velasquez e Arminda Roman Quintana, nascido em São Paulo-SP, aos 19/02/1964, residente na Rua Prefeito Cido Franco, 1117, Vila Arnoud, RGS-SP, tel. 9996-2792, 8187-7908 e 4821-397. Rua Agostinho Cardoso, 176 - Vila Figueiredo - CEP 09450-000(11) Tel/Fax (11) 4821-4722 e-mail [email protected] 1

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE RIO GRANDE DA SERRA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DE RIO

GRANDE DA SERRA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por

sua Promotora de Justiça abaixo assinada, legitimado pelos arts. 127, caput, 129,

III, da Constituição Federal, arts. 91 e 111 da Constituição do Estado de São Paulo,

art. 25, IV, b, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), art.

103, VIII, da Lei Complementar Estadual n.º 734/93 (Lei Orgânica do Ministério

Público do Estado de São Paulo), art. 1º, IV, 4º, 5º, 12 e 21, da Lei Federal nº

7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), com fundamento nas disposições da Lei

Federal nº 8.429/92 (Lei de Improbidade dos Atos Administrativos), na Lei nº

9.791/99 (Lei das OSCIPs), e art. 54 da Lei Estadual nº 6.544/89, e nos arts. 186 e

927 Código Civil, EM DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE E

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA, promove a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM

PEDIDO DE LIMINAR (indisponibilidade de bens) em face de:

MUNICÍPIO DE RIO GRANDE DA SERRA,

RAMÓN ÁLVARO VELASQUEZ1,

MARIA LUIZA LEÃO SALERNO MALATESTA2 e

INSTITUTO ACQUA, AÇÃO, CIDADANIA, QUALIDADE URBANA E AMBIENTAL3,

pelos motivos de fato e de direito que passa a expor, com base no incluso Inquérito

Civil nº 03/07 com 10 volumes e 2.897 folhas.

1 Ramon Álvaro Velasquez, RG nº (1)7.724.100-SSP-SP, CPF nº 080.178.078-05, filho de Euzebio Ramão Velasquez e Arminda Roman Quintana, nascido em São Paulo-SP, aos 19/02/1964, residente na Rua Prefeito Cido Franco, 1117, Vila Arnoud, RGS-SP, tel. 9996-2792, 8187-7908 e 4821-397.2 Maria Luiza Leão Salerno Malatesta: RG nº 8.666.311, CPF nº 072.589.998-09, filha de Aidice Leão Salerno e Arnaldo Salerno, nascida em 01/01/57, residente e domiciliada na Rua Manicore, nº 609, Vila Floresta, Santo André-SP.3 Instituto Acqua, Ação, Cidadania, Qualidade Urbana e Ambiental: CNPJ nº 03.254.082/0001-99, sediado na Praça Sabará, nº 67, Jardim Santa Cruz, Ribeirão Pires – SP.

Rua Agostinho Cardoso, 176 - Vila Figueiredo - CEP 09450-000(11) Tel/Fax (11) 4821-4722e-mail [email protected]

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I. SÍNTASE DOS FATOS

No dia 02 de maio de 2002, os novos Conselheiros

Municipais de Saúde tomaram posse em solenidade formal4 (fls. 2046). Na

primeira reunião de trabalho destes recém empossados, realizada menos de uma

semana depois, sob a presidência da Secretária de Saúde, Maria Luiza, o primeiro

item da ordem do dia era o convênio para implantação do PSF – Programa Saúde

da Família a ser celebrado entre o Município de Rio Grande da Serra e o

Instituto Acqua, Ação, Cidadania, Qualidade Urbana e Ambiental. Ao final da

reunião, após bastante discussão, ficou acertada nova reunião, com a presença de

representantes do Instituto Acqua (fls. 2051). Isto ocorreu na sessão seguinte,

onde, após muitas informações erradas prestadas por membros oriundos da

municipalidade, a celebração do convênio foi aprovada por seis votos a quatro.

Foi o quanto bastou para ser remetido à Câmara Municipal

Projeto de Lei a respeito, que foi devidamente aprovado. Em 27 de junho de 2002,

o então Alcaide, Ramón, promulga a Lei Municipal nº 1.409, que autoriza o

Município de Rio Grande da Serra a estabelecer convênio com o Instituto

Acqua, destituída de finalidade de atuação na área da saúde, que desde aquela

época se intitulava falsamente OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse

Público, para a implantação do Projeto Saúde em Casa – Programa Saúde da

Família (fls. 53).

O procedimento interno administrativo para a implantação

do programa, no entanto, apenas foi aberto em julho daquele ano, a pedido da 4 Representantes dos usuários titulares: João Batista Dias, Irmã Gessi Vaz da Silva, Milton Luiz Rodrigues dos Santos, Maria Aparecida Rodrigues, Edileuza Tavares e Pedro Floriano. Representantes dos usuários suplentes: Elizabete Aparecida T. de Oliveira Marlene Barrios Santa Lucia e Maria José da Silva. Representantes dos prestadores privados: Maria José Pereira Zago titular. Representantes da Secretaria Estado de Saúde DIR II: Maria Aparecida Cesar (titular) e Silvana Tognini (suplente). Representantes dos trabalhadores: Marli Pereira Campos da Silva (titular) e Roberto Callegari (suplente). Segmento sindical: Luiz Carlos Cassiano (titular) e Antonio Carlos Cascardi (suplente). Representantes do Governo Municipal: Neuza Maria Gusmão Rezende (titular) e Sofia Duarte de Oliveira Scarpelini (suplente). Não tomou posse justificadamente a Secretária de Saúde e Presidente do Conselho, Maria Luiza Leão Salerno Malatesta.

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Diretoria de Saúde (fls. 51). Logo após, o Secretário da Administração, Marcelo

Batista Borges, dirigindo-se à Secretaria de Assuntos Jurídicos, pede a elaboração

do documento de convênio com aquele instituto, que acata o requerido, sem lançar

manifestação de mérito.

Ramón, então Prefeito, firma o convênio em nome da

Municipalidade com o Instituto Acqua, cujo objeto era:

“(...) promover a implantação do Projeto Saúde em Casa – Programa Saúde da Família, para o desenvolvimento de ações básicas de Saúde e assistência integral à Comunidade, bem como a execução de ações complementares de Vigilância Sanitária e Epidemiológica, objetivando a reorganização do gerenciamento, o aperfeiçoamento e a expansão da capacidade de operação do Sistema Único de Saúde do Município de Rio Grande da Serra.”

As irregularidades são muitas e extraordinárias, ficando a

má-fé dos requeridos Ramón, Maria Luiza e Instituto Acqua patente, conforme

será a seguir demonstrado.

Salienta-se, desde já, que diante de todas as irregularidades

constatadas, com a saída do requerido Ramón, ao final de seu mandato, o atual

Prefeito, Adler Alfredo Teixeira Jardim, em 25 de janeiro de 2005 rescindiu

unilateralmente o convênio em questão (fls. 84).

O objetivo da presente ação civil pública é a declaração de

nulidade do convênio celebrado5, bem como a condenação solidária dos requeridos

Ramón, Maria Luiza e Instituto Acqua em restituírem aos cofres públicos os

valores integrais repassados a este último, bem como a condenação deles às penas de

improbidade. Acrescente-se que, visando assegurar a execução da reparação do

dano, também é formulado pedido liminar de indisponibilidade de bens.

5 Em razão do pedido de nulidade do convênio é que o Município de Rio Grande da Serra foi incluído no pólo passivo da demanda.

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II. IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA –

TERCEIRIZAÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE – PRESTAÇÃO DO SERVIÇO EM

PÉSSIMA QUALIDADE E NÃO MEDIDO

II. a. Do Programa Saúde da Família – PSF

O Programa Saúde da Família – PSF foi criado pelo Governo

Federal, sendo que a responsabilidade pela implantação é dos Municípios,

mediante repasse de verba por aquele. Em apertada síntese, o referido programa

tem por base a atuação das equipes de saúde, formadas por pelo menos um médico

de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários

de saúde. A atuação destas equipes não é adstrita às unidades básicas de saúde,

estendendo-se também e principalmente às residências e à mobilização da

comunidade. Segundo o programa, cada equipe pode atender entre 3 mil a 4,5 mil

pessoas ou mil famílias de uma determinada área.

Detalhadamente, nos exatos termos expostos pelo Ministério

da Saúde em seu sítio na internet6, o PSF é tido da seguinte maneira (sem grifos no

original):

“Diretriz conceitualO acúmulo técnico-político dos três níveis de gestão do SUS, na implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e da estratégia de Saúde da Família, elementos essenciais para a reorientação do modelo de atenção, tem possibilitado a identificação de um conjunto de questões relativas às bases conceituais e operacionais do que se tem denominado "Atenção Básica à Saúde" no Brasil, e de suas relações com os demais níveis do sistema. Esta discussão fundamenta-se nos eixos transversais da universalidade, integralidade e eqüidade, em um contexto de descentralização e controle social da gestão, princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação constitucional e infraconstitucional.A expansão e a qualificação da atenção básica, organizadas pela estratégia Saúde da Família, compõem parte do conjunto de prioridades políticas apresentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde. Esta concepção supera a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em

6 http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php

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equipes, dirigidas às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade.Os princípios fundamentais da atenção básica no Brasil são: integralidade, qualidade, eqüidade e participação social. Mediante a adstrição de clientela, as equipes Saúde da Família estabelecem vínculo com a população, possibilitando o compromisso e a co-responsabilidade destes profissionais com os usuários e a comunidade. Seu desafio é o de ampliar suas fronteiras de atuação visando uma maior resolubilidade da atenção, onde a Saúde da Família é compreendida como a estratégia principal para mudança deste modelo, que deverá sempre se integrar a todo o contexto de reorganização do sistema de saúde.

GestãoO Departamento de Atenção Básica (DAB), estrutura vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde, no Ministério da Saúde, tem a missão institucional de operacionalizar essa política no âmbito da gestão federal do SUS. A execução dessa política é compartilhada por estados, Distrito Federal e municípios. Ao DAB cabe, ainda, desenvolver mecanismos de controle e avaliação, prestar cooperação técnica a estas instâncias de gestão na implementação e organização da estratégia Saúde da Família e ações de atendimento básico como o de Saúde Bucal, de Diabetes e Hipertensão, de Alimentação e Nutrição, de Gestão e Estratégia e de Avaliação e Acompanhamento

Saúde da FamíliaA Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS.(...)

Equipes de SaúdeO trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca permanente de comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os integrantes da equipe e desses com o saber popular do Agente Comunitário de Saúde. As equipes são compostas, no mínimo, por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes comunitários de saúde. Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental.Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3 mil a 4 mil e 500 pessoas ou de mil famílias de uma determinada área, e estas passam a ter co-responsabilidade no cuidado à saúde. A atuação das equipes ocorre principalmente nas unidades básicas de saúde, nas residências e na mobilização da comunidade, caracterizando-se: como porta de entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde; por ter território definido, com uma população delimitada, sob a sua

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responsabilidade; por intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade está exposta; por prestar assistência integral, permanente e de qualidade; por realizar atividades de educação e promoção da saúde.E, ainda: por estabelecer vínculos de compromisso e de co-responsabilidade com a população; por estimular a organização das comunidades para exercer o controle social das ações e serviços de saúde; por utilizar sistemas de informação para o monitoramento e a tomada de decisões; por atuar de forma intersetorial, por meio de parcerias estabelecidas com diferentes segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situações que transcendem a especificidade do setor saúde e que têm efeitos determinantes sobre as condições de vida e saúde dos indivíduos-famílias-comunidade.

Agentes Comunitários de SaúdeO Programa de Agentes Comunitários de Saúde é hoje considerado parte da Saúde da Família. Nos municípios onde há somente o PACS, este pode ser considerado um programa de transição para a Saúde da Família. No PACS, as ações dos agentes comunitários de saúde são acompanhadas e orientadas por um enfermeiro/supervisor lotado em uma unidade básica de saúde.Os agentes comunitários de saúde podem ser encontrados em duas situações distintas em relação à rede do SUS: a) ligados a uma unidade básica de saúde ainda não organizada na lógica da Saúde da Família;e b) ligados a uma unidade básica de Saúde da Família como membro da equipe multiprofissional. Atualmente, encontram-se em atividade no país 204 mil ACS, estando presentes tanto em comunidades rurais e periferias urbanas quanto em municípios altamente urbanizados e industrializados.”

II. b. Da terceirização do PSF –

Substituição ao modelo de prestação à saúde

A Administração Pública de Rio Grande da Serra, pelas mãos

do então Prefeito, Ramón, e da Secretária de Saúde, Maria Luiza, decidiu por

implantar o Programa de Saúde da Família e, ainda, terceirizar sua execução. No

entanto, não justificou porque a prestação do serviço diretamente pelo Município

de Rio Grande da Serra não era mais vantajoso.

É de se lembrar que um dos princípios básicos da

Administração é a motivação que, além de ser há tempos reconhecido pela

jurisprudência e doutrina, também está estampado no art. 111 da Constituição do

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Estado de São Paulo7. Especificamente no que se refere aos processos

administrativos, a Lei nº 9.784/99, que os regula no âmbito da Administração

Pública Federal e serve de norte às demais unidades federadas, também é expressa

ao exigir a obediência ao princípio da motivação.

Analisando o convênio celebrado, o ato de repasse da

execução do PSF à entidade privada não foi motivado e nem poderia de maneira

justa e razoável. A taxa de administração cobrada inicialmente era de 9,3%8, o que

representaria mais de 100 mil reais por ano.

Não bastasse isto, os requeridos Ramón e Maria Luiza

estabeleceram verdadeira substituição do vigente sistema de saúde na época pelo

PSF, que deveria, na verdade, ser implantado como acréscimo.

Em 2002 o Município era provido de uma unidade básica de

saúde – UBS – na região central e outras quatro nos bairros Vila Lopes, Vila Conde,

Santa Tereza e Parque América. Enquanto a UBS central era dedicada ao pronto-

atendimento, as dos bairros tinham a incumbência de atendimentos de consultas

previamente agendadas, contando com pelo menos um médico clínico geral, sendo

que em algumas ainda existiam pediatra e ginecologista, que são as especialidades

médicas de maior procura. Além disto, em todas as UBSs, existia estrutura de

apoio, com enfermeiros e auxiliares de enfermagem, bem como pessoal

administrativo.

Com a implantação do PSF, conforme previamente

planejado, os médicos, enfermeiros e auxiliares das UBSs dos bairros foram

contratados pelo Instituto Acqua, demitidos ou reaproveitados para a UBS

Central. Desmontou-se o sistema de atendimento então existente. Em substituição,

7 “Art. 111 - A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação, interesse público e eficiência” (sem grifos no original)8 Detalhes sobre o superfaturamento da taxa estão no item III.a.

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em cada unidade deveria ter sido designada uma equipe do PSF, ficando a UBS da

Vila Lopes com duas, uma destinada àquele bairro e outra para a Vila São João.

Apenas uma equipe, destinada à Vila Niwa, teria instalação própria.

Isto mostra que o papel do Instituto Acqua na prestação do

serviço de saúde do Município foi muito além do que simplesmente executar um

programa complementar de atenção à saúde. Tudo ocorreu, portanto, de maneira

inconstitucional, posto que se procedeu à verdadeira concessão com objeto

impossível de ser repassado a terceiros.

Esta verdadeira substituição da assistência à saúde prestada

pelo Município por intermédio do PSF, a cargo do Instituto Acqua, foi reconhecida

em ata do Conselho Municipal de Saúde, justamente quando se solicitou

explicações a respeito da diminuição do número de médicos que isto significaria

(fls. 2053/2054) (sem grifos no original):

“A Conselheira Marli questiona a Secretária de Saúde sobre a manutenção dos médicos nas Unidades Básicas de Saúde. A Secretária responde e lembra a aprovação da plenária final da I Conferência Municipal de Saúde que aprovou a mudança do molde assistencial do Programa Saúde da Família. Marli chamou a atenção dos demais dizendo que só haverá um médico para atender as famílias de cada território. A Secretária Maria Luiza esclareceu aos presentes novamente como funciona o Programa de Saúde da Família com um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde para o atendimento de aproximadamente de mil a mil e duzentas famílias de cada área de abrangência. Membros da comissão de saúde presentes lembraram que foi aprovado médico pediatra na Conferência. Foram esclarecidos por Maria Luiza que essa aprovação foi referente a pediatra plantonista para urgência/emergência. (...) todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) serão transformadas em USF – Unidades de Saúde da Família.”

Pior que isto. A terceirização como ocorreu deixou a

população simplesmente sem médicos especialistas. Quem precisasse de uma

consulta, neste caso, teria que se deslocar até Santo André (distante 20 Km) ou

Diadema (distante 35 Km), reconheceu a Secretária de Saúde, Maria Luiza, em

reunião com o Conselho Municipal de Saúde (fls. 2056) (sem grifos no original):

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“Questionada sobre a questão de médicos especialistas em Rio Grande da Serra a Secretária da Saúde objetivou que o sistema de saúde não comporta grande número desses profissionais, que são caros e a cidade não tem condições de arcar com tal custo. Lembrou que o Hospital Estadual de Santo André e Hospital Estadual de Diadema estão fazendo esse trabalho e que Rio Grande da Serra vem encaminhando para esses locais.”

A Constituição de 1988 inseriu expressamente o direito à

saúde no rol dos direitos fundamentais sociais (art. 6º), dispondo, ainda, que “é

direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas

que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal

igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (art.

196).

Com isto, preconizou que a prestação dos serviços de

promoção do direito à saúde é responsabilidade do Estado, compartilhada por

todos os entes federativos, conforme estabelecido no artigo 23, inciso II

(competência material comum).

Mas não é só. O constituinte de 1988 – vacinado pelas

frustrações aos direitos sociais – definiu, desde logo, que o dever estatal com a

saúde seria desincumbido através do Sistema Único de Saúde – SUS, nos termos do

artigo 198:

“Art. 198 – As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III – participação da comunidade.§ 1º - O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.”

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Ou seja, de antemão prescreveu que para cumprir o seu

dever, o Estado se valeria da política pública conhecida por SUS e que seguiria

determinadas diretrizes.

A Constituição de 1988, assim, não só reconheceu a saúde

como direito fundamental como, desde logo, definiu que a prestação dos serviços

públicos pertinentes ocorreria dentro de uma política pública única para todos os

entes da federação, a qual seguiria regras constitucionais e normas legais

(genéricas) estipuladas em lei federal.

Neste sentido, observa-se que o art. 24, XII, da Constituição

incluiu a saúde no rol das matérias sujeitas à competência legislativa concorrente.

Segundo o parágrafo primeiro do mesmo dispositivo isto significa que cabe à União

editar normas gerais, as quais vinculam os demais entes federativos.

No exercício dessa competência a União editou, em 1990,

dois diplomas legais que formam a estrutura orgânico-normativa do Sistema Único

de Saúde: as Leis nº 8.080/90 e nº 8.142/90.

É, portanto, a partir dessas fontes que devem ser

pesquisados os preceitos que regulam a iniciativa privada no âmbito do SUS.

Nesse particular, o próprio texto constitucional é muito claro

ao definir que o serviço público de saúde deve ser prestado DIRETAMENTE pelo

Poder Público.

O artigo 199 da Lei Fundamental trata da participação da

iniciativa privada na área da saúde. Inicialmente, reafirma que os serviços de saúde

não são exclusivamente públicos, ou seja, pode existir a prestação de serviços de

assistência à saúde em caráter particular. O Brasil, nesse ponto, não seguiu o

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modelo de vários outros países (v.g. Canadá) que vedam a atividade privada de

saúde.

Podemos, aliás, afirmar que no Brasil convivem três formas

de prestação de serviços à saúde: (a) a atenção particular tradicional, mediante

contratação pelo interessado do médico ou hospital, (b) a saúde suplementar,

prestada através de planos e seguradoras de saúde, também numa relação de

direito privado, e (c) o serviço público de saúde, que constitui o SUS (Lei nº 8.080,

art. 4º).

Em relação a esta última forma de prestação de serviço de

saúde, o constituinte reconheceu, mais adiante, que as estruturas públicas

poderiam ser insuficientes para acolher toda a demanda do SUS. Por esse motivo,

admitiu que o Poder Público pudesse COMPLEMENTAR a sua rede própria com

serviços privados contratados ou conveniados. Ou seja, instituições particulares

podem participar do SUS quando indispensável para satisfazer as

necessidades sociais. Essa participação, porém, será em caráter complementar,

pois a prestação do serviço público de saúde é responsabilidade direta do Estado.

Para a percepção dessa estrutura, vale transcrever o texto do

artigo 199, caput e § 1º:

“Art. 199 – A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.”

Neste mesmo sentido o legislador ordinário federal

prescreveu na Lei nº 8.080/90 que:

“Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada.

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Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público (grifos nossos).”

É evidente, pois, que o papel da iniciativa privada na

prestação de serviços do SUS, repita-se, é acessório, coadjuvante. Logo, toda e

qualquer tentativa ou medida de investir a iniciativa privada no papel de

protagonista da prestação do serviço de saúde pública se confronta com o texto

constitucional e com a Lei Orgânica da Saúde.

Essa é a lição da doutrina e da jurisprudência. Marlon

Alberto Weichert observa:

“Reconhecendo que a estrutura pública não seria suficiente para dar plena assistência a toda a população (especialmente pela herança de contratação de serviços privados no modelo do então INAMPS), a Constituição Federal permitiu a participação de entidades particulares no âmbito do Sistema Único de Saúde.Essa participação deve se dar de forma complementar à rede pública, ou seja, somente pode haver contratação de serviços privados quando forem insuficientes as estruturas do Poder Público. A simples menção a uma participação complementar permite concluir que a Constituição concedeu primazia à execução do serviço público de saúde por uma rede própria dos entes federativos. Atendimento público através de serviços privados deve consistir exceção, tolerável apenas se e enquanto não disponibilizado diretamente pelo Poder Público”.9 .

E conclui:

“Em tendência diametralmente oposta ao vetor constitucional, porém, algumas administrações públicas têm investido na terceirização ao setor privado dos seus próprios serviços. Ou seja, o Estado não só deixa de investir na ampliação da rede própria, como se demite do serviço que já vinha executando. Dupla inconstitucionalidade.”10

Maria Sylvia Zanella Di Pietro também endossa o mesmo

coro:

“É importante realçar que a Constituição, no dispositivo citado, permite a participação de instituições privadas 'de forma complementar', o que afasta a possibilidade de que o contrato tenha por objeto o próprio serviço de saúde, como um todo, de tal modo que o

9 “Saúde e Federação na Constituição Brasileira” – Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 199.10 Op. cit. p. 199-200.

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particular assuma a gestão de determinado serviço. Não pode, por exemplo, o Poder Público transferir a uma instituição privada toda a administração e execução das atividades de saúde prestadas por um hospital público ou por um centro de saúde; o que pode o Poder Público é contratar instituições privadas para prestar atividades-meio, como limpeza, vigilância, contabilidade, ou mesmo determinados serviços técnico-especializados, como os inerentes aos hemocentros, realização de exames médicos, consultas, etc.; nesses casos, estará transferindo apenas a execução material de determinadas atividades ligadas ao serviço de saúde, mas não sua gestão operacional.

A Lei nº 8.080, de 19.9.90, que disciplina o Sistema Único de Saúde, prevê, nos arts. 24 a 26, a participação complementar, só admitindo-a quando as disponibilidades do SUS 'forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área', hipótese em que a participação complementar deverá 'ser formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público' (entenda-se, especialmente, a Lei nº 8.666, pertinente a licitações e contratos). Isto não significa que o Poder Público vai abrir mão da prestação do serviço que lhe incumbe para transferi-la a terceiros; ou que estes venham a administrar uma entidade pública prestadora do serviço de saúde; significa que a instituição privada, em suas próprias instalações e com seus próprios recursos humanos e materiais, vai complementar as ações e serviços de saúde, mediante contrato ou convênio.” 11

No entanto, apesar da clareza dos princípios constitucionais

e da lei federal acima mencionada, o Município de Rio Grande da Serra renunciou à

parte da prestação direta do seu serviço de saúde pública que já funcionava a

contento, firmando convênio com a suposta OSCIP. O Instituto Acqua, portanto,

pelos termos do convênio, não se limitou a agir de maneira complementar, mas

exerceu, de fato, a gerência do serviço de saúde pública.

Para tanto, repassou significativa proporção da fatia do

orçamento destinado à saúde ignora o teor da Lei 8.080/90, que disciplina o SUS,

para admitir a terceirização dos serviços públicos de saúde.

No entanto, tal lei, de natureza infra-constitucional, por mais

inovadora que seja, jamais poderia afrontar o princípio constitucional de que os

serviços públicos de saúde devem ser prestados diretamente pelo Poder Público e

apenas complementados pela iniciativa privada.

11 “Parcerias na Administração Pública” – 5ª edição – editora Atlas, fls. 33 e 34. In obra já citada – 4ª. Edição – p. 186

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Neste sentido, aliás, já se manifestou o próprio Ministério da

Saúde: “as tarefas e competências fixadas pela Constituição Federal para a

Administração Pública, a serem executadas sob o regime jurídico de Direito

Público, somente podem ser alteradas por meio de emenda constitucional.

Qualquer tentativa de burlar referidos limites configurará fraude

constitucional, como ocorre com as organizações sociais e com as OSCIPs”.12

E prossegue afirmando que a terceirização seria

inconstitucional, vez que a Carta Magna estabelece que a saúde é “direito de todos

e dever do estado” (artigo 196), restando à iniciativa privada apenas a ação de

forma complementar. Segundo palavras do próprio Ministério da Saúde, a

terceirização compromete a gestão única do SUS e a hierarquização dos serviços de

saúde. E mais, dá oportunidade para direcionamento em favor de

determinadas organizações privadas, fraudes e malversação de verbas do

SUS.

II. c. Serviço mau prestado

Como se não bastassem todas as irregularidades, o serviço

foi mau prestado pelo Instituto Acqua. E não seria mesmo diferente,

principalmente tendo em vista que o conveniado não possuía, entre suas

finalidades, a prestação de serviços ligados à saúde.

O Instituto Acqua, Ação Cidadania, Qualidade Urbana e

Ambiental, com sede em Ribeirão Pires, foi constituído sob forma de associação

12 “As organizações da sociedade civil de interesse público – oscips como instrumento de gestão pública na área de saúde” Grupo de Trabalho sobre Oscips – Conselheiros: Eni Carajá Filho, Francisco Batista Júnior, André Luiz de Oliveira – Convidada: Conceição A. P. Rezende – Técnica: Maria Camila Borges Faccenda – Brasília, 28 de junho de 2004. Pág 09. Texto disponível na internet no sítio: “conselho.saude.gov.br/docs/Parecer/perecer.doc”

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civil sem fins lucrativos, em junho de 1999. Suas finalidades iniciais, nos termos do

art. 2º do seu Estatuto (fls. 491/492), era (sem grifos no original):

“A – promover, realizar e divulgar, pesquisas, estudos, projetos e programas nas áreas social, cultural e ambiental;B – Promover a integração social nas suas esferas de atuação, buscando formas para estabelecer um relacionamento de companheirismo, solidariedade e cooperação, estimulando a boa vontade e a ajuda mútua, como instrumentos para alcançar o bem-estar comum, nos esforços coletivos de defesa do interesse geral da sociedade, afim de garantir o pleno exercício da cidadania, em todos os seus aspectos;C – Atuar no campo das políticas sociais e desenvolvimento urbano, buscando a sustentabilidade local – global e a gestão democrática das cidades sob a ótica da qualidade de vida;D – Propor, defender, participar e contribuir para o desenvolvimento e implementação de ações e políticas de preservação ambiental, em especial da Mata Atlântica e Recursos Hídricos;E – Promover, apoiar e participar da Gestão Ambiental dos Recursos Naturais e da defesa dos patrimônios históricos, culturais, artísticos, estéticos e paisagísticos, em todos os níveis;F – Apoiar e participar de movimentos sociais, culturais e pacifistas;G – Prestar assessoria, consultorias e auditorias técnicas;I – Implementar e desenvolver projetos e ações de comunicação social;J – Apoiar e participar de campanhas e ações de fiscalização ligadas as áreas de atuação;K – Estabelecer convênios e parcerias com entidades civis e/ou órgãos públicos nacionais ou internacionais com a finalidade de implementar, complementar, desenvolver e apoiar as finalidades descritas anteriormente;L – Estimular o aperfeiçoamento e o cumprimento de legislação que instrumentalize a consecução dos presentes objetivos”

Foram feitas alterações do estatuto em 2001 (fls. 510/537) e

em 2002 (fls. 561/587), mas nada se alterou quanto às finalidades do Instituto que,

na época da assinatura do convênio, não guardava relação com a área da saúde.

O requerido Instituto Acqua ainda argumentou, em sua

defesa durante as investigações, que sua finalidade era compatível com o objeto do

convênio, destacando o item C do já transcrito art. 2º de seu estatuto, alegando que

o PSF se enquadra em “campo das políticas sociais” “sob a ótica da qualidade de

vida” (fls. 654).

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Não convenceu. Saúde não se confunde com diretos sociais,

no contexto da cláusula estatutária, muito menos está traduzida no conceito de

“qualidade de vida”.

Se o Instituto pretendesse prestar serviço de saúde, sem

nenhuma dificuldade teria incluído em seu estatuto a palavra “saúde”. Simples

assim. Mas isto não havia sido feito.

Verdade é que apenas no ano de 2007, portanto após a

rescisão unilateral do convênio em questão, é que o Instituto Acqua promoveu

alteração do seu estatuto, somando às suas finalidades a atuação na área da

saúde13. Assim, por óbvio, reconheceu expressamente que antes não tinha este

objetivo estatutário.

Sua incompetência à época não é atestada apenas pela falta

de finalidade, mas pelo próprio serviço prestado, de péssima qualidade.

Segundo os termos do convênio, o Instituto deveria

fornecer seis equipes, sendo cada uma com um médico, um enfermeiro, um auxiliar

de enfermagem e seis agentes comunitários.

Importante ressaltar que a quantidade de equipes já não era

suficiente para atender integralmente os munícipes, nos termos dos parâmetros

apontados pelo Governo Federal. Segundo dados do senso 2000, obtidos no site do

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística14, a população de Rio Grande

da Serra era de 37.091 pessoas. Portanto, para atingir a meta do Governo Federal –

uma equipe para cada 3 ou 4,5 mil pessoas – seriam necessárias entre 8 e 9

equipes.

13 “Art. 4 – São finalidades do Acqua: A. Promover, realizar e divulgar, pesquisas, estudos, projetos e programas nas áreas social, cultural e ambiental, saúde, urbanismo, desenvolvimento sócio-econômico, gestão pública, bem como desenvolvimento de relações interpessoais, visando integração de todos os gêneros e raças.” (fls. 1134)14http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/universo.php?tipo=31o/tabela13_1.shtm&paginaatual=1&uf=35&letra=R

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A par disto, as tais seis equipes praticamente nunca

estiveram completas.

Por hipótese, considerando que os pagamentos efetuados

pelo Município de Rio Grande da Serra ao Instituto Acqua referiam-se apenas a

serviços efetivamente prestados, considerando o valor que deveria ser pago

mensalmente pela prestação de 100% do contrato (R$ 116.906,84), verifica-se

que: dos 22 meses de convênio, em apenas 5 deles as 6 equipes estiveram

completas; nos outros 17 meses o número de profissionais não obedeceu ao

avençado. Em 3 meses foi cumprido o convênio no montante equivalente a 90% do

avençado; em 4 meses, na proporção de 80%; em 7 meses, na casa de 70%; em 2

meses, no montante de 60%; e, em 1 mês, em 50%. A média dos 22 meses de

pagamento teria sido o cumprimento do convênio em apenas 83,64%.

Como dito, o serviço foi mau prestado. As seis equipes já não

eram suficientes para atingir toda a população e, com os desfalques, ainda pior

ficou o serviço de saúde do município. Relembrando que o PSF significou

terceirização do serviço de saúde e não mero complemento, a situação revela ainda

maior gravidade.

Mas a situação é ainda pior.

Analisando a folha de pagamento do Instituto Acqua,

referente ao período de janeiro à novembro de 2004, verifica-se que, na verdade, a

média é ainda mais terrível: 65,15% de cumprimento do contrato. Isto porque,

enquanto aquele instituto entregava médicos em quantidade inferior ao

conveniado, entregava maior número de enfermeiros, auxiliares de enfermagem e

agentes comunitários. Entregar serviços a maior e ainda cobrar por eles é, além de

desvio de dinheiro público, má prestação de serviço.

Veja a tabela abaixo:

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Ao contrário do que se pode argumentar em defesa dos

requeridos, esta defasagem na contratação de médicos não ocorreu apenas nos

últimos meses de execução do convênio. Existem informações a respeito dos meses

de novembro de 2002 e julho de 2003, ocasião em que teriam estado trabalhando

número muito inferior de funcionários.

Anote-se ainda que, se o tal Instituto não foi capaz sequer

de contratar e manter trabalhando as seis equipes completas, é mais do que justo

concluir que a qualidade do trabalho daqueles que atuaram era abaixo do

esperado. Quer seja por não cumprirem a jornada de trabalho, como dito por

testemunhas, quer seja por incapacidade técnica.

Por fim, outro ponto que não se pode esquecer é que a falta

de médicos, que atua na “ponta” do sistema de saúde, afetava a prestação do

serviço da equipe com maior intensidade. Explica-se. O enfermeiro e o auxiliar de

enfermagem, no atendimento na unidade de saúde, dedicam-se a preparar o

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paciente para receber a consulta médica (triagem, v.g.) e, após ela, cumprem as

ordens emanadas pelo médico (execução de curativos e ministrando medicamento,

v.g.). Portanto, a ausência do médico praticamente aniquila toda a estrutura, que

passa a ficar ociosa. De outro lado, na ânsia de resolver os problemas gerados pela

má execução do contrato, há notícias obtidas por meio de testemunhas que

enfermeiros faziam as vezes de médicos, chegando até mesmo fazer consultas de

pré-natal.

Mas não é só. A seleção dos agentes comunitários de saúde

não obedeceu à Lei nº 10.507/02, vigente à época, que exigia como um dos

requisitos para a profissão ter concluído o ensino fundamental. No edital, o

requisito escolaridade mínima se contentava com a conclusão da 4ª série do ensino

fundamental (fls. 2007). A explicação do Município de Rio Grande da Serra era

(fls. 2066) (sem grifos no original):

“Angela Nunes15 rebateu dizendo que essa é a escolaridade que se adéqua ao nosso município e que isso não interfere no atendimento, já que existem muitos profissionais com nível superior que não se adaptam ao trabalho.(...) Sofia então colocou como esclarecimento a todos as exigências deitas pelo Ministério da Saúde para Agentes Comunitários: 18 anos completos, 1º grau incompleto (4ª série)16 (...)”

A má prestação do serviço, no caso, configura improbidade

administrativa, principalmente por ferir os princípios da eficiência do serviço

público e da continuidade, seu corolário – art. 37, caput, da Constituição Federal.

O serviço em questão prestado, saúde, é de natureza

genuinamente pública e essencial.

Inegável, também, que para a prestação deste serviço, a

organização vai dispor do repasse de dinheiro público. Logo, nada mais coerente

15 Presente na reunião apenas como ouvinte, portanto, não teria direito ao uso da palavra.16 Informação incorreta – contrária ao texto expresso da Lei.

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com a ordem jurídica que esta prestação de serviço público, com dinheiro público,

obedeça a todos os princípios do regime publicístico, tais como, os enunciados.

Do contrário, haveria uma verdadeira válvula de escape para

que o Administrador Público se livrasse de todas as formalidades legais que são

justamente as garantidoras dos princípios básicos da Administração.

A conveniência da parceria ou co-gestão com as OSCIPS e OS

não é aniquilar aquilo que os Administradores Públicos costumam enxergar como

“amarras”. A vantagem está em obter ajuda técnica, administrativa e até financeira

de entidades com finalidades não lucrativas e voltadas para a promoção do bem

comum.

Este é o espírito e a letra da Lei, no entanto, tão

desrespeitados. Mesmo com um sistema de garantias bem estruturado, a

malversação do dinheiro público é uma realidade constante no cenário político.

II. d. Da falta de medição do serviço prestado

Inacreditavelmente, o serviço prestado não foi medido ou

atestado pela municipalidade. Cópias integrais do procedimento relativo ao

convênio aqui tratado estão nos autos17, onde se verifica que os pagamentos

tiveram início em dezembro de 2002.

Analisando os autos, fica patente o total sentimento de

impunidade das pessoas envolvidas no dano ao erário. Não houve sequer

preocupação em dar ares de legalidade ao processo.

17 Processo nº 663/02 – de fls. 02/19 (fls. 51/68), de fls. 20/29 (fls. 207/216), de fls. 30/162 (fls. 992/1124), fls. 163 (fls. 2017) e de fls. 164/206 (fls. 120/161).

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A começar pela origem e tramitação do processo. Não houve

justificativa para aquele procedimento, de caráter absolutamente afeto à Saúde,

desenvolver-se na Secretaria de Administração.

A ausência de manifestações de pessoas importantes no

transcorrer do processo, como do Secretário de Administração (pasta do

procedimento), da Secretária de Saúde e do Secretário de Finanças, também

mostra irregularidade e traz como hipótese a vontade destas pessoas não se

comprometerem expressamente.

Vale a pena manusear o processo a partir de fls. 992 para

constatar o que já foi exposto nesta ação.

O primeiro pagamento, no valor de R$ 28.850,36, é liberado

mediante ordem do requerido Ramón (fls. 993), diante de mera tabela com

indicativos das quantidades de funcionários e valores recebidos, mais a taxa de

administração (fls. 994). Destaque para o número abaixo do contratado das

equipes.

Na seqüência, Ramón libera R$ 58.453,42 SEM NENHUMA

PRESTAÇÃO DE CONTAS (fls. 995).

Pior, o recibo entregue pelo Instituto Acqua à Prefeitura é

daqueles típicos vendidos em papelaria. Sem CNPJ do conveniado e sem carimbo

do funcionário que o firmou (fls. 996). Impossível não fazer uma pergunta básica:

será que os 9,3% de taxa de administração não foram suficientes para organizar o

setor financeiro do Instituto e providenciar o que se espera de uma “associação

séria e respeitada”?

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Esta seqüência se repete várias vezes. Ramón determina o

pagamento de R$ 119.366,91 (fls. 1003), novamente sem prestação de contas. E

novamente o Instituto Acqua apresenta novo e idêntico recibo (fls. 1004)...

Mas Justiça deve ser feita. Três meses depois, o Instituto

passou a apresentar recibos em folha timbrada (fls. 1019). Mas a prestação de

contas, mesmo, não veio.

E o que falar de recibos errados, com valores a menor? (fls.

1023, 1025/1026 e 1028). Ninguém percebeu? A única resposta plausível é:

ninguém fiscalizava o convênio.

Tudo isto justifica a devolução integral dos valores

repassados ao Instituto Acqua. Ora, se o conveniado não prestou as contas que

devia, nos autos de processo administrativo do Município de Rio Grande da

Serra; se o Administrador, Ramón, não cobrou isto e, ainda, liberou o pagamento,

não lhes beneficia a dificuldade de, agora, medir o quanto foi ou não fornecido. A

torpeza da dupla não lhes aproveita.

O único documento a respeito da qualidade dos serviços, na

gestão de Ramón, é da Secretária de Saúde, Maria Luiza, por ocasião do término

do prazo inicial de vigência de um ano. Sua manifestação serviu apenas para

justificar a prorrogação do ajuste, nada versando sobre as patentes irregularidades

(fls. 1029/1030). Maria Luiza, que teve atuação nos bastidores do processo

administrativo, finalmente manifestou-se de maneira expressa na ocasião da

renovação do convênio, reforçando as razões de sua inclusão também como

devedora solidária na reparação do dano.

Apenas durante o novo comando do Município de Rio

Grande da Serra é que atestados das irregularidades foram inseridos no

procedimento administrativo. Em 11 de janeiro de 2005, diligências na unidade da

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Vila Niwa revelaram a equipe contava com apenas 4 agentes comunitários, há

cerca de seis meses (fls. 2017). Na seqüencia, a Municipalidade rescindiu

unilateralmente o convênio.

III. DA ABUSIVIDADE DO CONVÊNIO

III. a. Taxa de Administração

O dinheiro público tem que ser tratado pelo Administrador

com o máximo de responsabilidade. Não parece ter sido assim no caso dos autos.

Optou-se pela terceirização do serviço de PSF, sem nenhuma

justificativa, ferindo o princípio da motivação, como já visto. Além dos valores que

o Município de Rio Grande da Serra teria que arcar com o pagamento dos

vencimentos dos funcionários, estava incluída no valor do convênio uma taxa de

administração de 9,3%.

Não se esclareceu nos autos porque era mais econômica à

Prefeitura a terceirização, mesmo com taxa tão alta. E não poderia. A taxa é

evidentemente abusiva. Tanto que foi, a partir de agosto de 2003, reduzida para

7,5% (fls. 1037). Tudo sem explicação e sem alteração dos termos do convênio

anterior.

O Tribunal de Contas se pronunciou a respeito,

compactuando com a conclusão da abusividade (fls. 357).

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III. b. Valores dos salários de médico e enfermeiro

Não são conhecidos os valores exatos dos vencimentos de

médico e enfermeiro na época dos fatos, o que será objeto de esclarecimento

durante o tramite da presente ação. No entanto, com base nos valores atuais, já se

percebe o superfaturamento do convênio.

Segundo a tabela de 2006, vigente nos dias de hoje, o médico

especialista, com carga horária de 20 horas semanais, recebe entre R$ 2.202,45 e

R$ 3.793,12; e o plantonista, entre R$ 550,61 e R$ 869,45. Apesar disto, o valor do

convênio apontava como salário do médico, que se pressupunha trabalhar 40

horas semanais, R$ 5.300,00.

Ainda que se dobrasse o valor inicial do médico especialista,

o resultado seria em torno de R$ 4.400,00.

Não se justifica, de maneira nenhuma, a abusividade

constatada. A título de comparação, este valor era maior do que o salário dos

Secretários do Município, que recebiam R$ 2.862,00 à época (fls. 2027 e 2029). E,

segundo informes, maiores até mesmo que o salário do Prefeito, o que era

impossível de ocorrer.

Isto já havia sido observado por uma das Conselheiras

Municipais de Saúde do Município, quando comparou o valor da remuneração do

médico do PSF com o valor do médico efetivo plantonista, que era de R$ 1.800,00

por vinte horas semanais. Na ocasião, a justificativa apresentada foi absurda (fls.

2053):

“Foi esclarecida quanto ao valor de mercado para esse profissional”

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Não se está diante de uma empresa privada. O assunto aqui é

Administração Pública. Os valores de remuneração dos servidores são fixados por

lei e devem respeitar os tetos legais. Nada interessa o “valor de mercado”, senão

para motivar a alteração legislativa, que não existiu.

Este acontecimento mostra como o dinheiro público era

tratado.

O mesmo diga-se com relação ao enfermeiro. O concursado

na Municipalidade recebe atualmente vencimentos entre R$ 1.345,94 e R$

1.835,38. O valor do contrato é de R$ 2.300,00!!! Mais de 25% acima do atual teto

do efetivo.

IV. DOS VALORES PAGOS FORA DO ACORDADO

Alguns valores pagos pelo Município de Rio Grande da Serra

não tiveram a devida justificativa nos termos do convênio.

Ora, se todo o valor depositado na conta bancária da

instituição deveria ter sido utilizado para gerir a execução do PSF e se a taxa de

administração cobrada destinava-se às despesas do Instituto com a esta execução,

por que há saques imputados como “Pensão Eduardo”, “Salário Tania”, “Salário Dr.

Ricardo”, “Mensalidade associados”, como os que aparecem a fls. 1259 e se

repetem no demais meses das prestações de contas?

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V. DA NATUREZA JURÍDICA DO AJUSTE ENTRE O MUNICÍPIO E ACQUA

Apesar de o ajuste em questão ter recebido nome de

“convênio”, por parte da Municipalidade, verifica-se que esta não é sua natureza

jurídica. Trata-se, realmente, de verdadeiro contrato de concessão de objeto

impossível de ser repassado pelo Poder Público a terceiros.

Veja a seguir destaques sobre convênios e parcerias com

OSCIPs, com a conseqüente conclusão de que nenhum destes dois modelos de

amolda ao caso.

V. a. Do Convênio

A figura do convênio está disciplinada pelo art. 116 da Lei de

Licitações e não constitui modalidade de contrato. É caracterizado pela união de

interesses e objetivos institucionais comuns, direcionados a um mesmo fim, com

mutua colaboração. Nele, todo o valor eventualmente recebido pela entidade do

Poder Público deve ser empregado para os fins do convênio e não perde a natureza

de dinheiro público.

Outro ponto importante é que o convênio entre Poder

Público e iniciativa privada não pode ter como objeto delegação de serviço

público, posto que incompatível com a sua natureza. Nos dizeres de Maria Sylvia

Zanella di Pietro18:

“O convênio não se presta à delegação de serviço público ao particular, porque essa delegação é incompatível com a própria natureza do ajuste; na delegação ocorre a transferência de atividade de uma pessoa para outra que não a possui; no convênio, pressupõe-se que as duas pessoas têm competências comuns e vão prestar mútua colaboração para atingir seus objetivos”

18 Direito Administrativo. 13ª Ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 286.

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No que se refere aos requisitos para a celebração do

convênio, veja o disposto naquele mencionado art. 116 da Lei de Licitações (sem

grifos no original):

“Art. 116.  Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, aos convênios, acordos, ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e entidades da Administração. § 1o  A celebração de convênio, acordo ou ajuste pelos órgãos ou entidades da Administração Pública depende de prévia aprovação de competente plano de trabalho proposto pela organização interessada, o qual deverá conter, no mínimo, as seguintes informações: I - identificação do objeto a ser executado; II - metas a serem atingidas; III - etapas ou fases de execução; IV - plano de aplicação dos recursos financeiros; V - cronograma de desembolso; VI - previsão de início e fim da execução do objeto, bem assim da conclusão das etapas ou fases programadas;

A exigência de licitação não se aplica aos convênios porque

não há viabilidade de competição, uma vez que não se cogita de preços ou

remuneração. No entanto, tendo em vista os princípios norteadores da

Administração Pública, especialmente os da impessoalidade e da igualdade,

existindo mais de uma entidade possível a celebrar o convênio, deve haver

concurso de projetos.

Por fim, importante anotar que, evidentemente, a análise da

documentação da entidade com quem a Administração Pública pretende celebrar o

convênio é necessária, visando verificar sua habilitação jurídica, qualificação

técnica, qualificação econômico-financeira e regularidade fiscal, sob pena de

entregar nas mãos de particular desqualificado a incumbência de desenvolver

determinada importante atividade e desperdício de dinheiro público. Esta

avaliação prévia é imposição do art. 27 da Lei de Licitações e se aplica ao caso, por

força do caput do art. 116.

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Diante de todos estes destaques, a conclusão é natural:

não se trata genuinamente de convênio, o ajuste entre Prefeitura e Instituto

Acqua, porquanto este instituto não pode ter como objeto delegação de serviço

público.

De qualquer modo, ainda que se conclua que se trata de

convênio, regras básicas foram absolutamente ignoradas, como: a) a

necessidade de concurso de projetos ; b) a prévia aprovação de competente

plano de trabalho; c) a análise da habilitação jurídica, da qualificação técnica,

da qualificação econômico-financeira e da regularidade fiscal.

No que toca ao concurso de projetos, vale ainda destacar que

a sua necessidade também advém do princípio da publicidade. A forma como foi

tratada a suposta seleção existente, pela ex-Secretária de Saúde, Maria Luiza, é

inadmissível. Não é o caso de buscar, em verdadeiro sistema “boca-a-boca”, se

existe algum interessado na execução do projeto. Deveria ter sido publicado edital

chamando as instituições interessadas, o que não ocorreu.

V. b. Termo de Parceria e Oscips

Na busca do equilíbrio pela salvaguarda das liberdades

individuais sem desprestigiar a meta da igualdade social se delineia, atualmente,

uma terceira concepção de Estado, descrita por alguns teóricos como Estado

Subsidiário ou Neoliberal.

Esta nova concepção de Estado tem a pretensão de ser o

equilíbrio entre o “Estado mínimo” e o “Estado megalômano”, ambos fracassados, e

prevê um papel fiscalizador para o Estado na busca do bem comum que deve ficar

reservado, com primazia, à iniciativa privada.

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Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o princípio da

subsidiariedade remonta à idéia de que “o Estado deve abster-se de exercer

atividades que o particular tem condições de exercer por sua própria iniciativa e com

seus próprios recursos”19. Surge, assim, a idéia de fomento da iniciativa privada que

prevê, em sua concepção, um Estado presente e ativo, embora de retaguarda.

Trata-se de um Estado que tem a humildade de reconhecer que está

sobrecarregado e que poderia se valer da força da iniciativa privada, a qual passa a

ser encarada como uma parceira, sem, no entanto, curvar-se a ela.

Neste contexto ideológico surgem as figuras das

Organizações Sociais (OS) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIPS).

As OS ou OSCIPs estão reguladas respectivamente nas Leis

Federais 9.637, de 15 de maio de 1998 e 9790, de 23 de março de 1999.

A diferença entre elas é mais terminológica do que

propriamente de essência. Ambos são qualificações ou títulos conferidos pelo

Estado, por meio do exercício do seu poder discricionário, depois que as

organizações não governamentais comuns do direito civil20, atendem a requisitos

dispostos nas legislações citadas. Dentre eles destaca-se o fato de serem entidades

criadas por particulares e habilitadas perante a Administração Pública depois de

comprovada capacidade técnica, financeira e jurídica, estando sujeita a um

controle de resultado por meio de um termo de parceria ou contrato de gestão que

contenha metas claras a serem atingidas, com critérios objetivos de avaliação, não

podendo, em hipótese alguma, obter lucro com o exercício de suas atividades.

Ora chamadas de “terceiro setor”, ora de “entidades

paraestatais”, estas organizações têm como objetivo instituir parcerias com o

19 “Parcerias na Administração Pública” – 5ª. Edição – editora Atlas. p. 33 e 34.20 Vide artigo 44 do Código Civil.

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poder público para prestar atividades que sejam típicas, mas não exclusivas do

Estado, nas áreas de ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico,

proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde.

Esta seria a fórmula perfeita de uma relação sadia entre

Estado, sociedade civil e indivíduo, na concreção ideal de um Estado Democrático

de Direito, não fossem os problemas que se têm presenciado ultimamente de

completa distorção da concepção inicial dos termos de parceria. Embora

idealizados para serem apenas instrumentos de maior eficiência na prestação de

serviços públicos, os termos de parceria estão correndo o risco de serem canais

para o mau uso do dinheiro público.

De todo modo, importante salientar que o vinculo entre

Poder Público e OSCIP é formado por um termo de parceria, nos termos dos arts.

9º e seguintes da Lei nº 9.790/99. E, para sua celebração, é indispensável a prévia

consulta, no caso de objeto ligado à saúde, ao Conselho Municipal de Saúde.

Além disto, quando o tema é a execução de serviço de saúde,

pressupõe-se que a OSCIP promova-a gratuitamente, segundo o art. 3º, IV, da Lei

nº 9.790/99.

“Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:(...)IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;”

E é o Decreto nº 3.100/99, que regulamenta a Lei de OSCIP

que explica o conceito de promoção gratuita da saúde (sem grifos no original):

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“Art. 6o  Para fins do art. 3o da Lei no 9.790, de 1999, entende-se:(...)II - por promoção gratuita da saúde e educação, a prestação destes serviços realizada pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público mediante financiamento com seus próprios recursos. § 1o  Não são considerados recursos próprios aqueles gerados pela cobrança de serviços de qualquer pessoa física ou jurídica, ou obtidos em virtude de repasse ou arrecadação compulsória.§ 2o  O condicionamento da prestação de serviço ao recebimento de doação, contrapartida ou equivalente não pode ser considerado como promoção gratuita do serviço.”

Portanto, em termo de parceria entre Poder Público e OSCIP,

visando prestação de serviços ligados à saúde, não é possível o repasse de dinheiro

público, sob pena de desnaturação do termo.

Mas o acordo em questão também não se encaixa no

conceito de termo de parceria, especialmente porque o Instituto Acqua NÃO

tinha título de OSCIP na área de saúde, por ocasião da assinatura e execução do

ajuste.

O Instituto Acqua apenas obteve tal reconhecimento no ano

de 2003 (fls. 2023/2024), portanto, no ano seguinte ao da assinatura do contrato.

Além disto, importantíssimo destacar que o título tem validade apenas na área

ambiental (fls. 2025).

De tudo isto, conclui-se que o Instituto Acqua, na época da

assinatura do convênio e durante toda sua execução, era simples associação

civil sem fins lucrativos, desprovida de título de OSCIP ou de qualquer outro

título de utilidade pública, além de não ter entre suas finalidades a atuação na

área da saúde.

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VI. A ESCOLHA DO INSTITUTO ACQUA

VI. a. Necessidade de procedimento licitatório

A celebração do convênio entre o Município de Rio Grande

da Serra e o Instituto Acqua, como se denota, deu-se ao arrepio da lei, a começar

pela forma de escolha.

Não se tratando de convênio e não se tratando de termo de

parceria, a realização do processo licitatório era obrigação inescusável.

Diz, de maneira cristalina, o artigo 37 da Constituição da

República (sem grifos no original):

"Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:(...)XXI- ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações".

Na mesma esteira, a Constituição do Estado de São Paulo

tratou de prescrever os princípios informativos da atuação administrativa no

âmbito deste Estado-membro, ampliando o rol apresentado pela Constituição da

República:

"Art. 111. A Administração Pública, direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos poderes do estado, obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação e interesse público".

Em outro dispositivo impõe o dever à Administração de

licitar (sem grifos no original):

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"Art. 117. Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas das propostas, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações".

As exigências constitucionais tornam obrigatórias, portanto,

a realização de regular procedimento formal da licitação antes da prestação de um

serviço público por terceiros. Por regular licitação entende-se a que é realizada

com perfeita obediência aos princípios norteadores da Administração Pública.

Desses, destaca-se o princípio da finalidade consagrado na

Carta Paulista, daí porque, em face desse primado, é clássico dizer-se que os atos

da Administração estão sempre vinculados ao desejado pelo interesse público, sob

pena de invalidação por desvio de finalidade.

A realização do certame licitatório, na forma preconizada na

lei, visa a garantir a moralidade administrativa, eficiência e economicidade, assim

como a impedir preferências a qualquer empresa ou particular que venha a

participar dos negócios da Administração Pública.

Reafirma-se que a desobediência ou desprezo aos princípios

que orientam o procedimento licitatório, geram, conseqüentemente, favoritismo de

particulares, em detrimento do patrimônio público, como aponta Celso Antônio

Bandeira de Mello21:

"O acatamento aos princípios mencionados empece - ou ao menos forceja por empecer - conluios inadmissíveis entre agentes governamentais e terceiros, no que se defende a atividade administrativa contra negócios desfavoráveis, levantando-se, ainda, óbice a favoritismos ou perseguições, inconviventes com o princípio da igualdade."

21 In obra já citada.

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Enfim, não há como se descartar a necessidade de prévia

licitação e antever os efeitos nefastos que a sua falta provoca para a garantia da

escolha de uma entidade idônea e apta a uma prestação do serviço de boa

qualidade e valor justo.

Daí porque a violação desses princípios deve ensejar

nulidade do termo de parceria firmado.

Neste sentido, aliás, o artigo 59 da Lei nº 8.666/93 é

absolutamente claro:

"A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente, impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos".

Em suma, a lesão é evidente, assim como os efeitos que

decorrem deste reconhecimento: anulação do ato ilegal, ressarcimento aos cofres

públicos e punição dos responsáveis.

VI. b. As razões para beneficiar especificamente o

Instituto Acqua

A conclusão de que existia vontade deliberada de beneficiar

o Instituto Acqua em detrimento de outras instituições é patente e constitui

decorrência lógica da inexistência de processo de licitação ou de qualquer

concurso de projetos, aliado a todas as outras irregularidades, em especial a

inexistência de finalidade de atuação na área da saúde por parte da conveniada.

Mas não é só.

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Em 15 de dezembro de 2004, o requerido Ramón, à frente

do comando do Município de Rio Grande da Serra, simplesmente cancelou mais de

um milhão e setecentos mil reais de restos a pagar, referentes a despesas

efetivamente devidas, isto é, ligadas a bens efetivamente entregues ou serviços

prestados. Concomitantemente, assinou documento unilateral prometendo o

pagamento em 14 parcelas mensais, a partir do mês seguinte quando, aliás, não

estaria mais na Administração. Mas este ato não atingiu 100% dos restos a pagar.

Uma pequena parcela não foi cancelada e estava devidamente amparada por saldo

em caixa. Entre os credores que se beneficiaram com a medida estava o Instituto

Acqua que, àquela altura, tinha para receber R$ 83.071,14 (fls. 2038/2044).

Os fatos estão sendo tratados em ação civil pública

autônoma – nº 512.09.004294-5 –, mas merecem destaque aqui porque

evidenciam a falta de impessoalidade do requerido Ramón e de sua Secretária

Maria Luiza frente à Prefeitura Municipal.

Buscando as razões íntimas que Ramón e Maria Luiza

tiveram para beneficiar o Acqua, chega-se à curiosa constatação de que a

esmagadora maioria dos ajustes travados entre o Instituto e Prefeituras ocorreu

em Administrações do Partido dos Trabalhadores – PT. O primeiro contrato que se

tem notícia, aliás, é de 2001, com o Município de Rio Grande da Serra de Santo

André, então sob o comando de Celso Daniel (PT). A fórmula foi depois “exportada”

a demais governos petistas.

Veja a lista detalhada em ordem cronológica:

a) Santo André : Convênio com o Município de Rio Grande da Serra nº 138/01 para PSF, Desratização, Central de Agendamento, Carências Institucionais, Educação em Saúde, Vigilância Epidemológica e Dengue. Processo Administrativo nº 32.612/1999-7. A partir de 28/11/01. Prefeito Celso Daniel (1996-2000) (fls. 751/757, 767 e 772)

b) Ribeirão Pires : Convênio para PACS e Dengue de maio de 2001 à maio de 2004. Prefeita: Maria Inês Soares Freire (2000-2004) (fls. 761/762)

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c) Ribeirão Pires : Convênio para obter cadastro multifinalitário de setembro à dezembro de 2001. Prefeita: Maria Inês Soares Freire (2000-2004) (fls. 759)

d) Mauá : Parceria com o Município de Rio Grande da Serra para “I e II Simposios Nascentes – O Rio e a Cidade”. Processos Administrativos nº 2923-5/2002 e 8063-2/2003. Prefeito Oswado Dias (2000-2004) (fls. 763)

e) Mauá : Parceria com o Município de Rio Grande da Serra para “Projeto Guapituba”. Processo Administrativo nº 8486-2/2003. Prefeito Oswaldo Dias (2000-2004) (fls. 758 e 765)

f) Ribeirão Pires: Convênio para Centro de Referencia Ambiental no Pq. Milton Marinho de Moraes. Processo Administrativo nº 123/04. Prefeita: Maria Inês Soares Freire (2000-2004) (fls. 764)

g) Santo André : Parceria nº 001/2005 – Processo Administrativo nº 16.699/2005 – Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação. Prefeito: João Avamileno (2004-2008) (fls. 766)

h) Santo André : Convênio nº 173/2006 – Secretaria de Saúde. João Avamileno (2004-2008) (fls. 775)

Outro ponto que se pode destacar é a ligação do PSF com a

suposta execução do Projeto R10 da Urbal (fls. 2153/2785).

Em 17 de junho de 2004, o Prefeito Ramón assinou um

“Contrato de Subvenção – Ajuda Exteriores”, com financiamento de “La Comissión

de lãs Comunidades Europeas”, para desenvolvimento do “Programa URB-AL –

Projeto Comum R10-A8-03: Manual de Políticas Públicas de Saúde para o Combate

à Pobreza e a Melhoria da Qualidade de Vida”. Pelo acordo, a Comissão Européia

entregaria à Prefeitura a quantia de 250 mil euros e, em contrapartida, o Município

de Rio Grande da Serra executaria o tal programa (fls. 2168/2172).

Em termos práticos, o Município de Rio Grande da Serra

tinha que implementar o projeto: a) instalando equipe técnica e definindo rotinas

para as atividades de suporte; b) construindo de portal na internet; c) criando

escola virtual e ensino à distância; d) executando seminários; e) desenvolvendo

atividades de suporte. Na seqüência: deveriam existir publicações das experiências

e pesquisas. Ao final, encerramento com seminário e publicação. Mês a mês havia

uma planilha de atividades que deviam ser desenvolvidas (fls. 2168/2222).

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No mês seguinte, o Município de Rio Grande da Serra

terceiriza a execução para a OSCIP IBRASTEC – Instituto Brasileiro de Saúde e

Tecnologia e Cidadania, mais uma vez repetindo o erro de não realizar prévio

concurso de projetos (fls. 2279/2284). Recebidos os valores da subvenção,

procedeu-se à liberação de verbas:

a) 150 mil reais em 01/11/04 (fls. 2293), a pedido de Maria Adelaide (coordenadora executiva) para “pagamento das passagens aéreas, estadia e evento do I Encontro Internacional para Execução do Manual de Políticas Publicas de Combate à Pobreza” (fls. 2295)

b) R$ 59.500,00 em 11/11/04 (fls. 2298), a pedido de Maria Adelaide (coordenadora executiva), para “pagamento dos técnicos responsáveis pelo projeto, e pelo preenchimento das rondas, do Brasil, Argentina, Chile, Espanha, Itália” (fls. 2300).

Segundo os dizeres da própria Secretária de Saúde, Maria

Luiza, os dois programas – PSF e Rede 10 da Urbal – não tinham relação direta,

mas porque o projeto da Urbal era “transversal”, incorporou-se ao Sistema de

Saúde do Município, com o envolvimento de todos. Inclusive agentes comunitários,

por exemplo, participaram de levantamento das famílias. Mas sem custos para o

projeto da Rede 10.” Ou seja, funcionários contratados pelo Instituto Acqua eram

utilizados na execução do projeto da Urbal, sem receber nada em troca (fls.

2150/2151).

Do projeto, o único item que parece ter sido cumprido “com

excelência” foi a realização de um encontro. A cidade escolhida foi Veneza, na Itália.

Os motivos eventualmente sérios e justos que fundamentaram a eleição daquela

cidade européia como sede do encontro são desconhecidos. Mas não guardam

relação com as cidades sócias da Rede, já que Veneza não fazia parte dela (fls.

2193).

Foram ao evento pelo menos 13 pessoas, cujas despesas

foram integralmente pagas com a verba advinda da subvenção e repassada ao

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IBRASTEC (fls. 2388/2389). O valor total gasto foi de mais de R$ 130.000,00 (fls.

2304/2305).

E toda esta introdução para se chegar à seguinte informação

importante e que mostra a ligação pessoal entre os Administradores Públicos e o

Instituto Acqua. Nesta viagem, participaram com as despesas integralmente pagas,

o Prefeito, a 1ª Dama e membros do projeto, entre eles, o médico Osvaldo da Silva

Campos, que havia deixado o Acqua em janeiro daquele ano. Também participou

do encontro em Veneza, com tudo pago, o representante do IBRASTEC, Fernando

Bernal. Ele havia sido contratado como médico pela Prefeitura, na época da

celebração do convênio com o Acqua. No entanto, não clinicava. Exercia papel de

consultor da então Secretária de Saúde, Maria Luiza, visando possibilitar a

realização do convênio.

VII. DAS DECISÕES JUDICIAIS SOBRE O CASO

O convênio em questão foi analisado por Juízes do Trabalho

e pela Justiça Estadual, em outras ações. Em todos os casos a conclusão foi a

mesma: ilegalidade do ajuste.

Em sede de ação monitória proposta pelo Instituto, a

sentença, que transitou em julgado (fls. 963/973), foi de improcedência,

destacando-se a seguinte fundamentação (sem grifos no original):

“Assim, a autora, quando da celebração do convênio, não poderia atuar na área da saúde por falta de previsão estatutária.Não assiste razão à autora quando afirma, na prestação de informações em inquérito civil público (fls. 1113), que seus estatutos previam a atuação na área de saúde que estaria incluída na expressão ‘políticas sociais’.É que a própria Leu 9790/99 que disciplinou as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (natureza jurídica da autora), ao defini os campos em que a entidade pode atuar, faz distinção entre a saúde e as demais áreas de atuação social, conforme se verifica em seu art. 3º:

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‘Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:I - promoção da assistência social;II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;V - promoção da segurança alimentar e nutricional;VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;VII - promoção do voluntariado;VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas configura-se mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins.’Só este fato já demonstra que foi lícita a rescisão contratual realizada pela ré.Além disto, conforme apontado pela ré, o serviço não foi prestado com as seis equipes a que se obriga a autora.Com efeito, à fls. 54 consta o número de profissionais necessários para a implantação e desenvolvimento do projeto, sendo: 06 médicos; 06 enfermeiros; 06 auxiliares de Enfermagem; 35 agentes comunitários de saúde; 01 coordenador, disgtribuidos em seus equipes de trabalho.Friso que a própria autora reconhece que prestou o serviço com redução de pessoa (fls. 1118).Na realidade, a prestação de serviço com menos profissionais que o previsto no convênio constou da própria prestação de contas da autora.Com isso, inequívoco que houve inadimplemento do convênio por parte da autora.O inadimplemento somado à ausência de previsão de atuação na área da saúde tornam regular a rescisão do convênio por parte da ré, sendo de se julgar procedente a reconvenção ajuizada pela Municipalidade para declarar que a rescisão do convênio ocorreu por culpa da autora.Ademais, como apontado por ambas as partes, a relação jurídica entre elas deu-se por meio de um convênio.

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(...)Desse modo, o único débito que pode ser considerado remanescente refere-se ao pagamento dos profissionais que prestaram os serviços.Porém, esses pagamentos são objeto de cobrança na esfera trabalhista.Então é nessa esfera, trabalhista, que deverá ser discutida a responsabilidade pelos serviços prestados em relação ao convênio, sendo nessa seara que se definirá a responsabilidade subsidiária (sentenças trabalhistas de fls. 474/600) ou solidária (sentenças de fls. 882/886) da ré.Saliento, mais uma vez, que não estamos diante de ‘remuneração’ a ser paga para a autora, mas sim diante de repasse de verba pública que seria objeto de pagamento dos profissionais prestadoras de serviço. Questão essa discutida na esfera trabalhista.”

Várias foram as sentenças trabalhistas que também

utilizaram, na fundamentação, a ilegalidade do contrato e, ainda, na culpa do

Município de Rio Grande da Serra pela não fiscalização do contrato (fls. 944/950,

1964/1970, 1980/1984, 1986/1992 e 1994/2000). Confira os seguintes trechos

extraídos das decisões mencionadas (sem grifos no original):

“Da própria defesa ofertada pela segunda reclamada evidencia-se a existência de culpa in eligendo e in vigilando .A Municipalidade teria contratado irregularmente uma entidade, vez que esta não estava habilitada nem apta a lhe prestar serviços na área da saúde (culpa in eligendo). Aliás, sequer se verifica que tal entidade tenha sido escolhida após regular certame licitatório.Por outro lado, a Municipalidade aduz que a primeira reclamada descumpria sistematicamente o contrato, fornecendo trabalho em quantidade muito inferior à pactuada. E o contrato, com diversas irregularidades, teria ainda assim sido mantido por mais de dois anos e meio (culpa in vigilando).” (fls. 1997)

VIII. DA BURLA AO CONCURSO PÚBLICO

Em última análise, a terceirização como ocorreu e em

substituição aos funcionários já contratados diretamente pelo Município de Rio

Grande da Serra, constitui verdadeira burla à regra do concurso público.

Pelo que se pode notar pelo exame dos autos e do próprio

objeto do convênio, a função do Instituto Acqua foi exclusivamente a de contratar

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os profissionais da área da saúde. Nada referente ao planejamento de uma

prestação mais eficiente do serviço público de saúde existiu.

Aliás, em reunião do Conselho Municipal de Saúde de Rio

Grande da Serra, a finalidade de mera contratação de pessoal pela terceira ficou

escancarada (sem grifos no original) (fls. ):

“Foi esclarecido pela Conselheira Sofia que o Conselho anterior era sabedor das dificuldades em se conseguir uma Instituição parceira para contratação dos Recursos Humanos”

Pior que isto. A própria Secretária de Saúde, Maria Luiza,

declarou abertamente que o modelo adotado foi a maneira que se encontrou para

verdadeiramente burlar a Lei de Responsabilidade Fiscal, no que se refere ao teto

de despesa com a folha de pagamento – limite de 54%, nos termos do art. 20, III, b

(sem grifos no original) (fls. 2132):

“Quanto à contratação do Instituto Acqua, a Sra. Maria Luiza explicou que o município encontrou uma forma de não estourar a folha de pagamento da Secretaria de Saúde, que pode utilizar até 54% em funcionários.”

Chega a ser um descaramento este tipo de declaração

registrada às escancaras em ata de reunião. Em vez de controlar a folha de

pagamento, procedendo a reduções, principalmente na parte administrativa,

enxugando o quadro de pessoal, o Município de Rio Grande da Serra preferiu

terceirizar o serviço de saúde.

Clara, pois, a fragilidade do trabalho desempenhado, muito

aquém da proposta do Ministério da Saúde e que se presta, tão somente, a

mascarar uma contratação nos moldes privados para a realização de um serviço

público.

Na ocasião, ainda foi utilizado o mentiroso e absurdo

argumento de que a contratação de agentes comunitários não poderia ocorrer

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diretamente pelo Município de Rio Grande da Serra, porque deles era exigido o

requisito da obrigatoriedade de residirem na área de atuação. Diziam que, caso o

Município de Rio Grande da Serra contratasse diretamente os ACSs, não teria como

demiti-los se mudassem de endereço. Foi o que constou em uma das atas do

Conselho Municipal de Saúde (fls. 2049):

“(...) sendo que a contratação dos agentes comunitários de saúde por um terceiro, que não o gestor público, é exigência do próprio Ministério da Saúde, pois o agente comunitário de saúde deve ser extraído da própria comunidade, sem ter vinculo empregatício com o Município de Rio Grande da Serra, pois se assim fosse, se o mesmo mudasse de bairro não poderia ser demitido do programa”

A pensar assim, o Judiciário e o Ministério Público agora

iriam contratar empresa para fornecimento de Juízes e Promotores de Justiça ao

Estado, diante do mandamento constitucional de que, em regra, devem residir na

comarca em que atuam – art. 93, VII, e art. 129, § 2º, ambos da Constituição

Federal.

A Portaria nº 1886/GM, de 18 de dezembro de 1997, do

Ministério da Saúde, em pleno vigor à época, bem determinava que a contratação

deveria ser direta e, ainda, apontava como uma das causas de substituição do

agente a sua mudança de endereço (item 8.10 do Anexo I).

Atualmente, por força da EC nº 51/06, a possibilidade de

perda do cargo do agente nesta hipótese resta indiscutível – art. 198, § 6º, da

Constituição Federal.

O provimento efetivo de cargos não é à toa. Impede as

perseguições políticas, o apadrinhamento, o clientelismo e o pessoalismo na

concessão de empregos públicos, cuja fórmula de repressão não é outra senão o

cumprimento fiel do artigo 37, caput, inciso I e II, da Constituição Federal.

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No que se refere aos enfermeiros, auxiliares de enfermagem

e agentes comunitários de saúde, inicialmente, pelo menos, teria havido concurso

realizado pelo próprio Instituto Acqua. No entanto, nas substituições dos que

saíram e com relação aos médicos, não há nenhum indicativo de realização de

processo seletivo. Ao contrário, segundo depoimento prestado pela ex- Secretária,

Maria Luiza, os médicos interessados, que ocupavam cargos comissionados no

Município de Rio Grande da Serra, teriam sido contratados diretamente pelo

Acqua. As demais vagas teriam sido ocupadas após análise de currículo.

IX. CONFIGURAÇÃO DE ATO DE IMPROBIDADE

Diante de todo o exposto, a conclusão não pode ser outra:

prática de atos de improbidade pelo ex-Alcaide Ramón e pela ex-Secretária de

Saúde, Maria Luiza, bem como pelo Instituto Acqua que, apesar de não ser agente

público, concorreu para a prática dos atos de improbidade e deles se beneficiou de

forma direta – art. 3º da Lei de Improbidade.

Os agentes públicos praticaram ato de improbidade que

causou lesão ao erário, posto que ensejaram o desvio e o malbaratamento do

dinheiro público, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92 ao: a) permitir que o

Instituto Acqua, pessoa jurídica privada, utilizasse verbas e valores integrantes do

acervo patrimonial do Município de Rio Grande da Serra, sem a observância das

formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie; b) dispensar a

realização de processo licitatório indevidamente; c) liberar verba pública sem a

estrita observância das normas pertinentes – sem prestação de contas. O Instituto

Acqua concorreu para tanto. Isto sem falar no desrespeito aos princípios da

Administração Pública, posto que os atos tomados atentam contra a honestidade, a

imparcialidade e a legalidade que deles se esperava e visaram fim proibido em lei –

art. 11 do mesmo diploma legal.

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Confira o inteiro teor das normas:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:(...)II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (...)VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;(...)XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;”

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência.”

As penas são as previstas no art. 12 daquela Lei de

Improbidade:

a) ressarcimento integral do dano;b) perda da função pública;c) suspensão dos direitos políticos;d) pagamento de multa civil; ee) proibição de contratar com o Poder Público e receber benefícios e incentivos fiscais e creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário.

X. DANO AO ERÁRIO – OBRIGAÇÃO DE REPARAÇÃO

Reconhecida a nulidade do convênio e mais do que

demonstrada a má-fé dos requeridos, a restituição do valor integral desembolsado

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pela Administração Pública (valor principal mais a taxa de administração),

acrescido de correção monetária e juros legais, é medida de rigor.

Veja, a respeito do tema, o seguinte julgado do Egrégio

Tribunal de Justiça:

Apelação Com Revisão 9020675000 Relator(a): Coimbra Schmidt Comarca: Rio Claro Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 05/10/2009 Data de registro: 26/10/2009 Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA I.) Os agentes políticos sujeitam-se às sanções civis por improbidade administrativa, que não se confundem com as de ordem administrativa, política ou criminal porventura incidentes sobre o mesmo fato. 2.) Sujeita-se a OSCIP aos mesmos princípios impostos à atuação da Administração quando ajusta parceria com o Poder Público. Em conseqüência, é obrigada a repor o que foi despendido em seu favor a propósito de parceria ajustada de forma ilegal , sem respeito a formalidades estabelecidas nas leis 8.666/93 e 9.790/99. Nulo o negócio, não incide o art. 79, § 2", da Lei 8.666/93, uma vez positivado dolo.

Vale reforçar que a tese, que costuma ser levantada pela

Defesa, de que a devolução aos cofres públicos do dinheiro gasto constituiria

enriquecimento sem causa do Município de Rio Grande da Serra não convence.

De nada adiantaria declarar a nulidade do contrato se, sob

este falacioso argumento não se pudesse determinar a recomposição dos valores

perdidos.

Ademais, nos dizeres de Sérgio Ferraz e de Lúcia Valle

Figueiredo:

“Quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo  por sua conta, risco e perigos. Pois, impugnada a despesa, A QUANTIA GASTA IRREGULARMENTE  TERÁ QUE RETORNAR AO ERÁRIO PÚBLICO. Não caberá a inovação, assaz deveras realizada, de enriquecimento da Administração. Ter-se-ia, consoante essa linha de argumentação, beneficiado com a obra, serviço e fornecimento e, ainda mais, com o recolhimento do responsável ou responsáveis pela despesa considerada ilegal.A presunção da lesividade desses atos ilegais é fácil de intuir. Se o ordenamento jurídico obriga o procedimento licitatório, para o cumprimento da isonomia e da moralidade da administração, o esquivar-se a esse procedimento constitui inequívoca lesão à

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coletividade. Será esta ressarcida pela devolução do dispêndio à revelia do procedimento legal. Aquele que praticou os atos terá agido por sua conta, riscos e perigos. Ainda que pronta a obra, entregue o fornecimento ou PRESTADO O SERVIÇO, se impossível de convalidação o ato praticado, impõe-se devolução. Não estaremos, consoante se nos afigura, diante do chamado enriquecimento sem causa. Isso porque o prestador de serviço, o fornecedor ou executor da obra serão indenizados, na medida em que tiveram agido de boa-fé. Entretanto, a autoridade superior que determinou a execução sem as cautela legais, provada sua culpa (erro inescusável ou desconhecimento da lei) deverá, caso se negue a pagar espontaneamente, em ação regressiva indenizar o erário por sua conduta ilícita”22

O Eminente Ministro Milton Pereira, do Superior Tribunal de

Justiça, assim abordou o tema:

 “A escusar-se a responsabilidade do administrador público, pela salvaguarda de que o empregado, em contraprestação, prestou serviços, será construir um estranho indene de impunidade em favor do agente político que praticou o ato manifestamente contra a lei – nexo causal das obrigações da relação de trabalho nascida de ato ilegal – criando-se inusitada convalidação dos efeitos de ato nulo; será estimular o ímprobo a agir porque, a final, aquela contraprestação o resguardará contra ação de responsabilidade civil”.23

 Há ainda que se considerar a questão do dano moral

sofrido, resultado principalmente da má prestação do serviço público essencial de

saúde pelo Instituto Acqua. Os munícipes de Rio Grande da Serra ficaram durante

todo o período da vigência do suposto convênio diante de uma ineficaz e precária

assistência à saúde básica, não havendo como se recompor este prejuízo causado.

O mal impingido à população local, que ficou à mercê dos

desastrosos atos de Ramón, Maria Luiza e Instituto Acqua, é irreparável. A

necessidade da atenção à saúde era instantânea e não há como retroagir no tempo

para sanar a sonegação da tal direito, devendo o Poder Judiciário levar isto em

consideração no momento da fixação das reprimendas pelos atos de improbidade

praticados.

22 “Dispensa e Inexigibilidade de Licitação”, Malheiros Editores, 1994, p. 93, 107 e 108.23 Resp. nº 34.272-0- RJ, julgado em 12.05.93 – STJ.

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Não se pode olvidar que o Alcaide, para cumprir os encargos

de seu mandato popular, deve se submeter à lei.

O administrador probo, velando por tais interesses, alcança,

por conseguinte, o respeito dos cidadãos, que passam não só a referendar os seus

atos, como também a apoiá-los.

Em contrapartida, inúmeros são os efeitos nefastos dos atos

de improbidade praticados por administradores inescrupulosos, dentre eles o

desrespeito dos cidadãos para com a lei, a má formação de novos líderes políticos,

que acabam assumindo os cargos preenchidos pelo sufrágio eleitoral, com a

intenção prévia de locupletação ilícita em detrimento do erário.

No caso em testilha não subsiste dúvida de que o requerido

Ramón e sua Secretária Maria Lucia, da Saúde, praticaram atos de improbidade

pela contratação manifestamente ilegal e imoral do Instituto Acqua. Este, por seu

turno, sabia que o dito convênio fugia de suas finalidades, mas mesmo assim,

assumiu o encargo, com fins mercenários. E prestou mau o serviço, não prestou

contas e recebeu mesmo assim. Ninguém pode valer-se de sua própria torpeza

para livrar-se do ressarcimento ao erário.

Em poucas palavras, não se trata de “serviço prestado,

serviço pago”. O caso é “serviço que não deveria ter sido prestado (e não o foi a

contento), não deveria ter sido pago”.

No que se refere especificamente ao Instituto Acqua, é bom

deixar às claras que não se trata de pessoa jurídica composta por indivíduos que

em tese trabalharam e receberam remuneração, oriunda dos cofres públicos. Não

se está falando de pessoas que, ao lado de sua jornada normal de trabalho,

dedicam-se a fazer o bem gratuitamente, doando horas de trabalho à consecução

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de um fim social. Associação sem fins lucrativos não significa pessoas trabalhando

de graça. É simplesmente a não distribuição dos lucros entre seus componentes.

O valor exato que se busca restituir será devidamente

apurado ao longo da demanda e, na impossibilidade, durante liquidação da

sentença. Este montante corresponde à totalidade dos valores repassados pelo

Município ao Instituto Acqua, acrescidos de correção monetária e juros de mora a

partir da data do desembolso, nos termos dos arts. 398 e 406, ambos do Código

Civil.

Entretanto, desde já é possível apresentar um valor

aproximado.

Considerado a auditoria realizada pelo próprio Instituto

Acqua, esta entidade recebeu o total de R$ 2.386.643,22 advindos dos cofres

públicos, no período de dezembro de 2002 a dezembro de 2005 (fls. 1205). Com os

acréscimos da correção monetária, segundo tabela do Egrégio Tribunal de Justiça,

e dos juros de mora – acumulado da taxa Selic –, o resultado que se obtém é R$

5.825.784,67 (fls. 2897).

XI. PEDIDOS

XI.a. Do pedido liminar Indisponibilidade

de bens

A indisponibilidade dos bens de Ramón, Maria Luiza e do

Instituto Acqua é a única maneira de garantir a futura recomposição dos danos ao

erário.

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Esta necessidade vem exposta expressamente na Lei nº

8.429/92, quando se refere aos atos de improbidade que importam dano ao erário

ou enriquecimento ilícito:

“Art. 7°. Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”

Providências acautelatórias servem como garantia ao Juízo,

procurando-se evitar que atos ruinosos ao erário fiquem impunes pela ação do

tempo e pela esperteza dos desonestos.

O limite da indisponibilidade deve ser o valor aproximado já

indicado no item X: R$ 5.825.784,67.

XI.b. Do pedido principal

Diante de todo o exposto, requer-se:

1. Que o autor seja dispensado do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85 (Lei de

Ação Civil Pública) e no artigo 87 da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do

Consumidor);

2. Autuada esta, seja concedida a medida cautelar, inaudita altera parts,

consistente na declaração da indisponibilidade dos bens de Ramón, Maria Luiza e

Instituto Acqua, até o limite de R$ 5.825.784,67 (cinco milhões, oitocentos e vinte

cinco mil, setecentos e oitenta e quatro reais e sessenta e sete centavos),

procedendo-se ao bloqueio via Sistema BACEN, bem como expedindo-se os ofícios

de praxe (DETRAN; Cartório de Registro de Imóveis de Ribeirão Pires, Santo André

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e Suzano; etc.). Requeiro forme-se um apenso para cada requerido a fim de efetuar

o acompanhamento da execução da medida, evitando-se tumulto processual. Neste

ponto lembrando que a prévia oitiva dos envolvidos colocaria em risco a eficácia

da própria medida, posto que os bens poderiam ser dilapidados antes mesmo de

sua concessão. Ao passo que, após a manifestação dos requeridos, a medida, se o

caso, poderá ser revista por este Juízo, ser causar prejuízos a eles;

3. Sejam notificados os requeridos para, nos termos do art. 17, § 17, da Lei nº

8.429/92, oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com

documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias;

4. Após o decurso do prazo para a defesa, seja recebida a presente inicial,

determinando-se a citação dos requeridos, com a autorização de que trata o artigo

172, § 2º, do Código de Processo Civil Brasileiro, para resposta no prazo legal,

anotando-se no mandado que, não sendo contestada a ação, operar-se-ão os efeitos

da revelia;

5. A produção de todas as provas admitidas em direito, notadamente juntada de

novos documentos, depoimentos pessoais dos requeridos, sob pena de confissão,

oitiva de testemunhas a serem indicadas no momento oportuno, realização de

perícias e inspeções judiciais.

6. Desde já:

6.1. Ofício à Prefeitura , para que informe:

a) Qual era o salário e a respectiva carga horária dos ocupantes de cargos

de médico, enfermeiro e auxiliar de enfermagem, em 2002, 2003 e 2004,

bem como quais os encargos mensais arcados pelo Município de Rio Grande

da Serra com cada trabalhador. Deverá ser remetida cópia da lei que fixou

tais vencimentos e jornada de trabalho;

b) Qual era o valor dos vencimentos do Prefeito e dos Secretários de

Município em 2002, 2003 e 2004, remetendo cópia da lei que os fixou;

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c) Qual era a estrutura da saúde no município antes da implantação do

Programa Saúde da Família em 2002, detalhando: quantas Unidades Básicas

de Saúde existiam e quais eram suas finalidades (pronto-socorro ou

consultas agendadas), bem como quantos médicos existiam em cada uma

destas unidades e qual a área de atuação (clínico, pediatra, ginecologista

etc);

d) Qual o valor gasto com folha de pagamento dos funcionários da ativa

(comissionados, contratados, efetivos...) em cada um dos meses do ano de

2002 e de janeiro à julho de 2004;

e) Qual a qualificação completa, inclusive com endereço, do ex-funcionário

Fernando Bernal, bem como para que cargo foi nomeado, em que forma

(efetivo ou comissionad) e em que período;

6.2. Ofício ao Ministério da Justiça , para que informe, com relação ao Instituto

Acqua, quando teve a declaração de OSCIP e em qual área é sua habilitação;

6.3. Visando analisar todos os repasses e despesas com relação ao convênio,

requeiro ofício ao Banco do Brasil para que, com relação à conta nº 4024-X, da

agência nº 869-924, via compact disk:

a) Remeta os extratos bancários do período de julho de 2002 até o seu

encerramento, bem como os dados cadastrais do titular, com informações

completas, inclusive a respeito da(s) pessoa(s) que era(m) autorizadas a

assinar cheques e a efetuar saques em nome do titular;

b) Remeta cópias das microfilmagens dos cheques compensados e emitidos;

c) Informe qual o destino (conta bancária, agência e banco) dos cheques

emitidos e ordens e pagamentos (Doc e Ted).

7. Ofício ao COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras, para que

remeta relatório detalhado, via compact disk, de eventuais movimentações

financeiras atípicas envolvendo o Instituto Acqua (CNPJ nº 03.254.082/0001-99),

24 Lembrando que, conforme o princípio da publicidade, conta bancária que movimenta exclusivamente dinheiro público não está amparada por sigilo, não necessitando decisão de quebra.

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Ramon Álvaro Velasquez (CPF nº 080.178.078-05) e Maria Luiza Leão Salerno

Malatesta (CPF nº 072.589.998-09);

8. Ofício ao Instituto Acqua para que:

a) Junte nos autos sua prestação de contas referente ao período de novembro

de 2002 à dezembro de 2003, incluindo referencias sobre cada movimentação

bancária e folha de pagamento detalhada, contendo os nomes e cargos dos

contratados e valores recebidos, bem como todos os encargos fiscais e

trabalhistas;

b) Junte nos autos documentos relacionados à seleção dos médicos – processo

seletivo ou esclareça como se deu a contratação, caso não tenha sido por

concurso;

c) Remeta lista contendo a qualificação completa (inclusive endereço) de

todos os contratados para prestar serviços em Rio Grande da Serra, com a

indicação dos seus respectivos cargos e período de contrato;

d) Apresente as notas fiscais dos serviços prestados decorrentes do convênio,

ou justifique o porque não as emitiu, inclusive indicando a base legal de

eventual isenção tributária, no que toca ao ISSQN (imposto sobre serviços de

qualquer natureza).

9. Ao final:

a. Seja declarada a nulidade do convênio travado entre o Município de Rio

Grande da Serra Municipal de Rio Grande da Serra e o Instituto Acqua;

b. Sejam condenados , de forma solidária, os réus Ramón, Maria Luiza e Instituto

Acqua ao ressarcimento ao erário , restituindo aos cofres públicos a

integralidade dos valores pagos em razão do convênio travado (principal

mais a taxa de administração), com os juros e correções monetárias

pertinentes, a ser apurado durante o decorrer da demanda, ou, na

impossibilidade, em sede de liquidação de sentença;

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c. Sejam condenados Ramón, Maria Luiza e Instituto Acqua às medidas

previstas nos artigos 11 e 12, da Lei 8.429/92, por terem incorrido nos atos

de improbidade administrativa, especialmente condenando-se aquele

conveniado às penas de proibição de contratar com o Poder Público;

d. A condenação dos requeridos ao pagamento das custas processuais e

eventuais honorários de assistente técnico e perito judicial;

VALOR DA CAUSA

Atribui-se à causa o valor de R$ 5.825.784,67 (cinco milhões,

oitocentos e vinte cinco mil, setecentos e oitenta e quatro reais e sessenta e sete

centavos).

Rio Grande da Serra, 11 de dezembro de 2009.

SANDRA REIMBERG

Promotora de Justiça

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SUMÁRIO

I.............................................................................................................SÍNTASE DOS FATOS

....................................................................................................................................................................... 2

II..........IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA – TERCEIRIZAÇÃO DO

SERVIÇO DE SAÚDE – PRESTAÇÃO DO SERVIÇO EM PÉSSIMA QUALIDADE E NÃO

MEDIDO..................................................................................................................................................... 4

II. a. Do Programa Saúde da Família – PSF.......................................................................4

II. b. Da terceirização do PSF – Substituição ao modelo de prestação à saúde6

II. c. Serviço mau prestado......................................................................................................14

II. d. Da falta de medição do serviço prestado..............................................................20

III....................................................................................DA ABUSIVIDADE DO CONVÊNIO

..................................................................................................................................................................... 23

III. a. Taxa de Administração.................................................................................................23

III. b. Valores dos salários de médico e enfermeiro...................................................24

IV.................................................................DOS VALORES PAGOS FORA DO ACORDADO

..................................................................................................................................................................... 25

V......................DA NATUREZA JURÍDICA DO AJUSTE ENTRE O MUNICÍPIO E ACQUA

..................................................................................................................................................................... 26

V. a. Do Convênio...........................................................................................................................26

V. b. Termo de Parceria e Oscips..........................................................................................28

VI.................................................................................A ESCOLHA DO INSTITUTO ACQUA

..................................................................................................................................................................... 32

VI. a. Necessidade de procedimento licitatório............................................................32

VI. b. As razões para beneficiar especificamente o Instituto Acqua.................34

VII.....................................................................DAS DECISÕES JUDICIAIS SOBRE O CASO

..................................................................................................................................................................... 38

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VIII.............................................................................DA BURLA AO CONCURSO PÚBLICO

..................................................................................................................................................................... 40

IX.................................................................CONFIGURAÇÃO DE ATO DE IMPROBIDADE

..................................................................................................................................................................... 43

X........................................................DANO AO ERÁRIO – OBRIGAÇÃO DE REPARAÇÃO

..................................................................................................................................................................... 44

XI................................................................................................................................PEDIDOS

..................................................................................................................................................................... 48

XI.a. Do pedido liminar Indisponibilidade de bens........................................................48

XI.b. Do pedido principal............................................................................................................ 49

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