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EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 1 VARA DA SUBSEO JUDICIRIA DE CCERES MATO GROSSO.

URGENTE

RICARDO COSME SILVA DOS SANTOS, j qualificado nos autos em epgrafe, comparece perante a honrosa presena de Vossa Excelncia, via de seu advogado que a esta subscreve, para REQUERER o que se segue, consubstanciado nas relevantes questes fticas e jurdicas adiante delineadas:

INFORMAES PREAMBULARES.

Excelncia, as questes que sero abordadas adiante so de ordem pblica e merecem um debruar atento, sob pena de convalidao a violaes legais e aos princpios constitucionais que regem a atividade persecutria estatal, assim como, para manter a integridade jurisdicional, que no pode permitir a futura nulificao do processo, que a cada dia vem ganhando um colorido que j pblico e notrio.

Cite-se, como exemplo: i) nulidade da audincia ocorrida no dia 01/12/2016, pois Vossa Excelncia determinou que o ato fosse realizado por meio de videoconferncia junto Penitenciria Central do estado de Mato Grosso, ocasio em que a defesa foi impedida de adentrar em referido presidio portando qualquer aparelho eletrnico, conforme consignado no incio da audincia; ii) cerceamento de defesa, que est sendo impedida de acessar elementos investigatrios, produzidos e manejados pelo Polcia Federal, em clara afronta smula vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal; iii) necessidade da oitiva de todas as testemunha arroladas pela acusao, uma vez que o Ministrio Pblico Federal comprometeu-se em no desistir de absolutamente nenhuma das suas testemunhas; iv) indiscutvel necessidade de se ouvir testemunha referida pelo depoente WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS, na audincia ocorrida no dia 01/12/2016; v) nulidade das interceptaes telefnicas, pois, de acordo com o depoimento da testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS, no haveria como indicar o USURIO VIGIA antes da deciso judicial, todavia tal campo j estava preenchido quando o pedido foi encaminhado ao Juzo; vi) revogao da priso do requerente por excesso de prazo.

Com a devida venia, o processo no pode ter continuidade diante de tantas nulidades.

Em tempo em que se expande cada vez mais o direito penal do inimigo, avulta a paranoia coletiva por punio indiscriminada e sumria daqueles sobre os quais recaem suspeitas de haverem cometido crimes.

No se pe em dvida que a criminalidade deva ser combatida com todas as energias e elevada mesmo altura de uma guerra santa.

Entretanto, no se pode faz-lo com sacrifcios de direitos fundamentais dos acusados. Ainda que comprovadamente culpados, ho de ser punidos dentro de um processo justo e legal, em que as regras do devido processo devem ser observadas e cumpridas rigorosamente.

Diante de uma cultura de vingana que assenhoreia a sociedade, que reclama seja o suspeito levado, sem delongas, ao cadafalso, cabe ao Juiz o cuidado de no se deixar arrastar pelas influncias da acusao ou da opinio pblica, afastando-se da autoridade do direito e da justia.

A JUSTIA se assemelha casa de Deus: tem muitas moradas, mas nela no h lugar para os juzes timoratos, para os que lavam as mos na bacia de Pilatos.

Com todo o respeito, Excelncia, o juiz que no corrige uma injustia, ou que com ela compactua, to ou mais culpado que o prprio criminoso. Rui Barbosa, no seu tempo, j dizia que no h tribunais que bastem para abrigar o direito, quando o dever se ausenta da conscincia dos magistrados (O justo e a justia poltica).

A verdade, senhor Juiz, que o requerente j pede clemncia, para que possa apenas se defender. Nada alm disso!!!

Do contrrio, caso a defesa continue sendo solenemente impedida de exercer o seu papel, em lugar onde sonegado o seu direito de que contraprovas s acusaes sejam produzidas, no existe qualquer motivo para que este advogado, ou o requerente acompanhe qualquer outro ato.

I NULIDADE DA AUDINCIA OCORRIDA EM 01/12/2016.

1. Pois bem, na data de 01/12/2016, ocorreu a oitiva da testemunha de acusao WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS, e tal ato foi realizado por meio de videoconferncia.

2. Sucede, contudo, que este Juzo determinou que o requerente participasse da aludida audincia nas dependncias da prpria Penitenciria Central do estado de Mato Grosso (Pascoal Ramos), o que ensejou, destarte, a necessidade de que sua defesa, este advogado que subscreve, para tal estabelecimento prisional se deslocasse.

3. No bastasse as precrias instalaes onde realizada a audincia dentro do presdio, que se afasta, e muito, de uma repartio minimamente salubre para que o advogado possa exercer o seu mister, no foi permitido que este advogado adentrasse portando qualquer equipamento eletrnico.

4. Essa questo foi levantada vrias vezes durante a audincia, no por mera vaidade da defesa, mas sim, pela clara violao ao exerccio do contraditrio e ampla defesa.

5. Bem se sabe da extenso da indigitada Operao Hybris, e foi explicado este Juzo que no havia qualquer possibilidade de se prosseguir no ato, pois as aproximadas 10.000 (dez mil folhas) que compem o inqurito Policial; A medida cautelar de interceptao telefnica; Medida Cautelar de busca e apreenso e prises; Incidentes processuais diversos, e; os 03 (trs) processos conexos em que o requerente foi denunciado, estavam arquivados em notebook, que, frise-se, a Direo do Presdio inadmitiu a entrada do simples equipamento.

6. Ora, Excelncia, quem decidiu que o ato seria realizado dentro da Unidade Prisional foi o prprio Estado-Juiz, e, bem por isso, que deveria, ao menos, assegurar o direito de o advogado, na ocasio, se utilizar dos meios necessrios para promover a defesa do seu constituinte.

7. No permitida a imposio de dificuldades ao sagrado exerccio da ampla defesa com medidas impraticveis, exigindo do advogado que o seu acesso aos autos no curso da audincia se desse por meio fsico, carregando no sol quente, aproximados 50 volumes de processo...

8. Tampouco, o ato poderia ser praticado sem que a defesa pudesse lograr acesso aos autos, como, de fato, e, ao arrepio da lei, ocorreu.

9. Muito menos, seria licito exigir que a defesa no acompanhasse, ombro a ombro, o requerente, que confiou a este advogado a defesa do seu bem mais precioso: a liberdade

10. Ou seja: no seria possvel transladar todos os documentos necessrios para a realizao da audincia, devido a extenso do processo; a defesa foi terminantemente proibida de adentrar para a audincia com qualquer aparelho eletrnico, e, por fim; este advogado jamais abandonaria o requerente sozinho em audincia, pessoa j fragilizada fsica e emocionalmente pelas mazelas da priso

11. Ento, questiona-se: Como formular perguntas? Como analisar eventuais contradies? Afinal de contas, como se defender?

12. Impossvel!!!

13. No por outras razes que a defesa, de maneira insistente, pediu para que o ato no fosse realizado daquela forma. A liberdade do requerente no pode ser trocada pela burocracia estatal, que sempre presume a m-f de advogados, por mais srios e honestos que sejam.

14. Do contrrio, qual a justificativa para tantas limitaes?

15. Veja bem Excelncia, a defesa, mais do que qualquer outra parte envolvida na demanda, a que mais enfrenta dificuldades na conduo de um processo que conta com acusados presos.

16. Todavia, o que no se justifica que sua atuao sejam impostas limitaes, pois a parte principal do processo.

17. Neste vis, se que existe paridade de armas entre acusao e defesa, e se realmente existe igualdade de tratamento entre advogado e membro do Ministrio Pblico, ento que os Promotores Pblicos Federais ou Procuradores de Justia, tambm acompanhem a audincia de dentro do presdio, sem manusear o processo.

18. Ou que o requerente seja recambiado para as dependncias da Justia Federal.

19. Ou um ou outro...

20. Alis, a defesa at sugere que os dignos Procuradores, realizem a audincia, nas mesmas condies em que este advogado realizou.

21. Isto , sem acesso ao processo; sentados em cadeira de madeira com uma das suas pernas quebradas; com mesas improvisadas, sujas e com farpas, para apoiar os braos; sem tomar gua; sem ir ao banheiro, e; torcendo para que o ar condicionado, j declarado putrefato, volte, por providncia divina, a funcionar.

22. Talvez assim, e somente assim, mais cuidados seriam envidados ao se denunciar e pedir priso de quem ainda um ser-humano presumidamente inocente.

23. Agora, colocar o advogado de defesa nestas condies, enquanto a acusao tem amplo e irrestrito acesso aos autos do processo, a computadores, tablets, celulares, ou a qualquer outro equipamento, do alto da sua confortvel cadeira articulada, giratria, almofadada e em couro, com direito a caf, gua, suco, no utilizando banheiro destinado ao pblico em geral, ABSURDO DIZER QUE EXISTE IGUALDADE ENTRE ACUSAO E DEFESA.

24. bvio, Excelncia, que os membros do Ministrio Pblico possuem suas garantias e prerrogativas funcionais, mas o tratamento dispensado ao advogado de defesa, no se aproxima do tratamento conferido acusao.

25. Ora... ora... ora...

26. Para tudo existe um limite!!!

27. Este advogado dispensa qualquer tipo de tratamento especial, inobstante, inadmissvel que sejam inobservadas as regras do devido processo legal.

28. acusao foi assegurado o direito de acusar, mas defesa no pode se defender.

29. Nem se diga, que a nulidade que est sendo demonstrada Vossa Excelncia absoluta, pois o requerente deseja fazer questionamentos outras testemunha de acusao ouvida no dia 01/12/2016.

30. Frise-se, tais questionamentos apenas no foram formulados no ato da audincia, pelo fato de que este advogado foi impedido de ter acesso aos autos.

31. Ademais, restou violado o disposto no art. 185, 8 e 9, do CPP, verbis:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciria, no curso do processo penal, ser qualificado e interrogado na presena de seu defensor, constitudo ou nomeado.

5o Em qualquer modalidade de interrogatrio, o juiz garantir ao ru o direito de entrevista prvia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferncia, fica tambm garantido o acesso a canais telefnicos reservados para comunicao entre o defensor que esteja no presdio e o advogado presente na sala de audincia do Frum, e entre este e o preso.

8o Aplica-se o disposto nos 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no que couber, realizao de outros atos processuais que dependam da participao de pessoa que esteja presa, como acareao, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirio de testemunha ou tomada de declaraes do ofendido.

9o Na hiptese do 8o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.

32. A lei no confere faculdade, ao contrrio determina que O JUIZ GARANTIR AO RU ENTREVISTA PRVIA COM SEU DEFENSOR, BEM COMO ACESSO A CANAIS TELEFNICOS PARA COMUNICAO ENTRE O DEFENSOR QUE ESTEJA NO PRESDIO E O ADVOGADO PRESENTE NA SALA DE AUDINCIA, QUANDO DA INQUIRIO DE TESTEMUNHA.

33. Qual defensor, dativo ou no, estava presente na sala de audincia, em favor do requerente, quando a testemunha foi inquirida?

34. Nenhum!!!

35. Com o devido respeito, este Juzo deveria ter nomeado outro defensor ad hoc para participar do ato. Neste sentido, o entendimento de Thiago Andr Pierobom de vila, Promotor de Justia do MPDFT, conforme artigo de sua lavra, veja-se:

O 8 do art. 185 estabelece que as normas do interrogatrio por videoconferncia tambm se aplicam analogicamente aos demais atos processuais a que pessoa presa deva participar, como testemunhos, acareaes e reconhecimentos de pessoa.

(...)

Nessa situao de testemunho por videoconferncia, o 9 assegura que o ru e seu defensor podero participar do ato processual. Apesar de o dispositivo ser omisso a que forma de participao ser essa, entendemos que dever ser a mais ampla possvel, ou seja, o defensor poder escolher estar presente no presdio para indagar algo testemunha e participar da audincia por videoconferncia (devendo o juiz nomear outro defensor ad hoc para participar presencialmente da audincia na sede do juzo). (VILA, Thiago Andr Pierobom de. Lei n 11.900/2009: a videoconferncia no processo penal brasileiro. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2022, 13 jan. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 14 dez. 2016.)

36. Como se v, o ato nulo por violar princpios de jaez constitucional, bem como por desrespeitar garantia expressa de lei que vigora em favor do requerente.

37. A esse respeito, j se pronunciou o Supremo Tribunal Federal, firmando entendimento no seguinte sentido, verbi gratia:

A exigncia de fiel observncia, por parte do Estado, das formas processuais estabelecidas em lei, notadamente quando institudas em favor do acusado, representa, no mbito das persecues penais, inestimvel garantia de liberdade, pois o processo penal configura expressivo instrumento constitucional de salvaguarda dos direitos e garantias assegurados ao ru. (STF, HC 101.474/SP, 2 T., Rel. Min. Celso de Mello).

38. Em suma, a oitiva da testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS, ato nulo que se encontra em descompasso com a lei e com os princpios constitucionais.

39. No se discute que as declaraes j prestadas possam, a critrio da defesa, e, apenas da defesa, serem convalidadas e utilizadas, entretanto, tambm no se discute a imbricada nulidade do ato, caso este Juzo no acate os argumentos ora gizados.

II VIOLAO SMULA VINCULANTE 14 DO STF ELEMENTOS COLIGIDOS E MANEJADOS PELA POLICIA NA FASE INVESTIGATRIA MAS QUE NO APORTARAM AOS AUTOS DIREITO DE ACESSO POR PARTE DA DEFESA.

40. Na ocasio em que a testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS foi inquirida, relevantes informaes foram trazidas ao processo, uma delas foi o fato de que, salvo melhor juzo, a Polcia Federal obteve acesso s ERBs (Estao Rdio Base) dos aparelhos telefnicos interceptados.

41. O mais curioso, que absolutamente nenhum documento referente a essa relevante questo foi juntado nos autos.

42. Alis, verifique-se, por oportuno, que informaes acerca das ERBs tambm no foram encartadas na Medida Cautelar de Interceptao, tampouco, no Inqurito Policial.

43. Ora Excelncia, os autos do processo indicam, e essa a acusao, que o requerente, supostamente, utilizava de um aparelho telefnico normal e de um aparelho telefnico da marca Blackberry. Sem poupar tinta, o Parquet acusa-o de crimes praticados atravs da troca de mensagens por meio deste ltimo.

44. Agora, este Juzo, com vistas ao direito da ampla defesa, poder chegar facilmente verdade real dos fatos... Para tanto, basta que os relatrios das ERBs sejam trazidos para o processo juntamente com a integra das interceptaes.

45. Isso porque, uma simples comparao entre a localizao dos aparelhos que se diz terem sido utilizados pelo requerente, ser possvel evidenciar se existe, de fato, justa causa para as aes penais em que acusado.

46. Isto , com o relatrio das ERBS tarefa fcil identificar a suposta localizao do requerente, j a integra da interceptao, determinar se o mesmo estava ou no utilizando do seu aparelho convencional no mesmo local de onde as supostas mensagens de Blackberry foram enviadas.

47. Com o devido respeito Excelncia, h a informao de que as ERBs foram analisadas pela Polcia, alis, o agente do Ncleo de Inteligncia da Policia Federal quem diz isso, foroso, portanto, que se junte todos os documentos relativos aos autos.

48. Para uma melhor compreenso, ilustra-se o funcionamento da ERB, nos mais variados tipos de telefonia:

49. Ora Excelncia, a estria (fantasiosa) narrada nos autos, a de que o requerente teria se evadido para a Bolvia; teria solicitado resgate depois de ser apenas abordado por Policiais Rodovirios Federais.

50. O requerente, com pouco mais de vinte anos de idade, est sendo acusado de liderar o narcotrfico, como se nesse tipo de atuao criminosa no houvesse uma acirrada concorrncia.

51. E a acusao se escora no fato de que o requerente melhorou de vida.

52. Jamais se viu algo to absurdo!!! A impresso que se tem a de que todo o processo foi desenhado num script de filme. Qual narcotraficante declara ou j declarou todos os seus bens ao imposto de renda?

53. Parece brincadeira. Uma infeliz brincadeira!

54. Mas, a verdade sempre aparece. chegada, enfim, a hora da verdade. Em quadro, porm, frontalmente contrrio a todos os postulados de um devido processo legal.

55. Pois bem, depois das ilustraes colacionadas acima, basta fazer o seguinte confronto: ERB dos Blackberrys que se disse pertencer ao requerente X ERB do aparelho telefnico que tambm seria de propriedade do requerente X Anlise da voz interceptada nas ligaes (caso isso tambm seja necessrio).

56. Acaso as ERBs sejam verificadas na mesma localidade, a tese da acusao ganha robustez. Caso contrrio, a acusao erra na denncia.

57. De to importantes que so as ERBs, as mesmas sempre foram citadas no curso da investigao, confira-se algumas passagens:

Folha 15 IP:

Folha 26 da MC de Interceptao:

Folha 169 da MC de Interceptao:

Folha 29 da MC de Interceptao (Parecer do MPF):

Folha 08 da MC de Interceptao (Pedido da Autoridade Policial):

Folha 36 da MC de Interceptao (Deciso Judicial):

58. Desde j, requer Vossa Excelncia que, de acordo com as declaraes prestadas pela testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS, determine que a Policia Federal traga aos autos todos os documentos relativos s ERBs, bem como, que sejam expedidos os ofcios necessrios s operadoras de telefonia para que forneam a este Juzo todas as informaes acerca das suas respectivas Estaes Rdio Base, de todo o perodo monitorado.

59. Como Vossa Excelncia o destinatrio final da prova, aguarda-se, enfim, que este pleito, seja, desta vez, atendido. Providncia que h muito reclama atuao de oficio.

60. Asfalta-se em dizer: a questo relativa s ERBs o maior e melhor meio de se promover um julgamento justo. Este fato comprovado nos autos.

61. J passando para a atuao de Vossa Excelncia, e isso deve ficar registrado, que eventual indeferimento do pleito, com a devida venia, ser compreendida como a mais clara hiptese de prejulgamento da causa.

62. inegvel: no determinar a juntada das ERBs, assim como da integra das interceptaes, significa que Vossa Excelncia no tem o mnimo interesse em desvelar a verdade.

63. E, se Vossa Excelncia no se interessa, porque no possui mais iseno de nimo para julgar, pois j condenou o requerente (tudo indica isso), tanto que a sua priso cautelar j possui todos os contornos de definitiva.

64. Caso Vossa Excelncia indefira esse relevante pleito, porque j formou convico de que o requerente culpado.

65. Nada mais oposto, com todo o respeito, iseno que um Magistrado deve ter ao julgar uma causa, ainda mais de natureza criminal.

66. Indeferir o acesso da defesa a importantssimos elementos de prova, neste trio processual, representar a incorporao do prejulgamento do requerente, de modo a nem mesmo dar a chance defesa de produzir provas capazes de contrariar as concluses contidas no decreto prisional do requerente, onde Vossa Excelncia elenca fatos tpicos que at hoje no foram objeto de denncia.

67. No basta prejulgar a causa, urge tambm manter o prejulgamento a salvo de qualquer contestao!

68. Sendo deferido, o requerente provar sua inocncia, sendo indeferido, requer a Vossa Excelncia que, desde j, reconhea de oficio, a prpria suspeio e encaminhe os autos a outro Magistrado.

69. Por fim, a smula vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal, bastante clara no sentido de que:

direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, j documentados em procedimento investigatrio realizado por rgo com competncia de polcia judiciria, digam respeito ao exerccio do direito de defesa.

70. Com efeito, em respeito autoridade do Supremo Tribunal Federal, a defesa protesta uma vez mais pelo deferimento do pedido, sem prejuzo de eventual reconhecimento de suspeio deste Juzo.

III OITIVA DAS TESTEMUNHAS ARROLADAS PELA ACUSAO COMPROMISSO DO MPF EM NO DESISTIR DAS SUAS TESTEMUNHAS.

71. Senhor Julgador, Vossa Excelncia j indeferiu praticamente todas as provas que o requerente pretende produzir. De igual modo, indeferiu a oitiva de quase todas as suas testemunhas de defesa.

72. Excelncia, ao menos as testemunhas de acusao devem ser inquiridas. Esse processo est se transformando, com o devido respeito, numa corrida pela condenao.

73. O requerente no pode produzir provas!

74. No pode ouvir suas testemunhas!

75. Agora, pergunta-se: tambm lhe ser retirado o direito de inquirir as testemunhas da acusao?

76. Com toda a licena, nunca se viu algo parecido.

77. Em primeiro lugar, a defesa insiste na oitiva da testemunha arrolada pelo Ministrio Pblico Federal, JANGO JOANILTON PIRES.

78. Segundo, a dispensa de tal testemunha, sem a aquiescncia ou concordncia da defesa, que apenas no a arrolou porque j indicada previamente pela acusao, causar srios prejuzos ao requerente. Se essa testemunha no fosse importante para o processo, porque o Ministrio Pblico Federal a arrolou na denncia?

79. Alis, o entendimento da jurisprudncia no seguinte sentido:

PENAL. PROCESSO PENAL. ART. 121, CAPUT, DO CP. ARGUIO DE NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. TESTEMUNHAS ARROLADAS OPORTUNAMENTE. PEDIDO DE OITIVA. OMISSO. DISPENSA FORMULADA SEM CONCORDNCIA DA PARTE CONTRRIA. PREJUZO DEMONSTRADO. PRELIMINAR ACOLHIDA. 1. Se a parte arrola as testemunhas em momento oportuno e o juiz deixa de manifestar-se acerca do pedido de expedio de ofcio para as respectivas intimaes, caracterizado est o cerceamento de defesa. 2. Desistindo, a acusao, da testemunha que tenha indicado, a defesa deve ser obrigatoriamente ouvida e, insistindo em sua oitiva, deve o depoimento ser colhido, em observncia ao princpio da comunho das provas. 3. Preliminar acolhida para declarar a nulidade do processo a partir do indeferimento da oitiva das testemunhas cujos depoimentos foram solicitados pela defesa, sem prejuzo das provas j colhidas durante a fase instrutria. (TJ-MA - RECSENSES: 304312010 MA, Relator: JOS LUIZ OLIVEIRA DE ALMEIDA).

80. A testemunha deve ser inquirida!

81. Por fim, eventual atraso na marcha processual no pode, em hiptese alguma, ser creditado defesa, que isso fique claro, pois na audincia de instruo do processo 0003855-58.015.4.01.3601, salvo juzo mais abalizado, a defesa iniciou alguns questionamentos relativos ao presente feito, inclusive pela conexo, mas, de fato impertinentes.

82. O MPF aparteou, dizendo que as perguntas no se relacionavam com os fatos vertidos naqueles autos, o que, de fato, verdade, todavia, a defesa questionou o membro do Parquet acerca de um possvel, futura e eventual desistncia.

83. A resposta foi imediata, o digno Procurador de Justia afirmou com todas as letras que no desistiria de absolutamente nenhuma testemunha em nenhum processo, em seguida, este Juzo, ressalvada hiptese de equivoco por parte deste advogado, consignou que, ainda que houvesse pedido de desistncia por parte do MPF, todas as testemunhas seriam ouvidas nem que fossem na condio de testemunhas do Juzo.

84. Ora, recentemente a defesa foi surpreendida com um pedido de desistncia formulado pela acusao e deferido pelo Juzo.

85. Esse processo no pode se transformar em um jogo sem regras. O compromisso deve ser cumprido, e isso no favor nenhum para a defesa, apenas a observncia de um devido processo leal.

86. Desta forma, diante do exposto, requer Vossa Excelncia se retrate da deciso, ofertando, inclusive, a possibilidade de a acusao pedir a reconsiderao, mas, em qualquer caso, a testemunha deve ser ouvida. Desse direito, a defesa no abre mo.

IV OITIVA DA DELEGADA DE POLICIA FEDERAL KAREN CRISTINA DUNDER PESSOA CITADA NA INTRUO TESTEMUNHA REFERIDA.

87. Em homenagem plenitude de defesa, que vem sendo to desacatada nos ltimos tempos, requer este Juzo:

88. Que, nos termos do art. 209, 1, do CPP, seja ouvida nestes autos, na condio de testemunha compromissada, a Delegada de Policia Federal, KAREN CRISTINA DUNDER pessoa referida durante a inquirio da testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS.

89. Curial salientar que de suma importncia a inquirio, uma vez que as investigaes corriam em sigilo, e se acreditava que a nica autoridade policial conhecedora do caso, seria o Delegado que presidiu o inqurito.

90. Tal fato causa insegurana, e merece ser esclarecido.

91. A questo tratada nos autos delicada. Trata-se de acusaes graves, e o valor da prova testemunhal de uma autoridade que no esteja participando de inmeras audincias pelo Brasil afora, pelo menos, assim acredita-se, incomensurvel.

92. Em analogia com orientaes tratadas em mbito eleitoral, o entendimento o seguinte:

MANDADO DE SEGURANA. ATOS DE MAGISTRADA. INDEFERIMENTO DE DILIGNCIAS EM AIME E EM AIJE. DESENTRANHAMENTO DE MDIA UDIO-VISUAL (CD) E INDEFERIMENTO DE SOLICITAO DE PERCIA NO CD E EM BILHETE. PEDIDO DE LIMINAR PARA SUSPENSO DE DECISO. DEFERIMENTO. INDEFERIMENTO DE OITIVA DE TESTEMUNHAS REFERIDAS. VALOR PROBANTE DA PROVA TESTEMUNHAL QUESTIONADO. INDEFERIMENTO DE JUNTADA DE DOCUMENTOS. DECISO NO FUNDAMENTADA. DIREITO LQUIDO E CERTO DEMONSTRADO. SEGURANA CONCEDIDA. - Admite-se excepcionalmente a impetrao de mandado de segurana contra deciso interlocutria proferida nos autos de Ao de Investigao Judicial Eleitoral e Ao de Impugnao de Mandato Eletivo, em razo da ausncia de previso legal de recurso apto a evitar dano irreparvel ou de difcil reparao (Precedente: RMS n 424, Rel. Min. Jos Augusto Delgado, Publicao do DJ de 19/06/2006.). - O indeferimento dos requerimentos formulados pelos autores, de realizao de percia, de oitiva de testemunhas referidas, apontadas como conhecedoras do fato que se quer comprovar, e de juntada de documentos, nesse ltimo caso sem exposio dos motivos que fundamentam a deciso, implicou, no caso, prejuzo prpria instruo processual, que dever ser direcionada preservao do interesse pblico de lisura eleitoral (art. 23 da LC 64/90). - Demonstrada a afronta a direito lquido e certo, em razo das ilegalidades apontadas pelos impetrantes. - Segurana concedida em definitivo, para confirmar a liminar que determinou a realizao de percia, e deferir os demais pedidos formulados pelos impetrantes. (TRE-PI - MS: 350021 PI, Relator: MARCELO CARVALHO CAVALCANTE DE OLIVEIRA)

93. o que desde j se requer.

V NULIDADE DAS INTERCEPTAES TELEFNICAS MEDIDA IMPLEMENTADA SEM AUTORIZAO JUDICIAL.

94. No fossem suficientes as inmeras nulidades e ilegalidades que j foram identificadas desde o incio de toda essa Operao Hybris, e, todas arguidas pela defesa, nova absoluta nulidade assombra o processo.

95. O Delegado de Polcia Federal, JOSEAN SEVERO DE ARAJO, para instaurar, por meio de portaria o Inqurito Policial n 0183/2013-4 SR/DPF/MT, serviu-se do Relatrio de Inteligncia Policial 01/2013.

96. De fato, chamou muito a ateno as informaes ali contidas, algumas de carter privado, no obstante, a testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS, disse que todas aquelas informaes haviam sido conseguidas atravs de fontes humanas e de um informante.

97. Absolutamente nada foi documentado. As fontes humanas (nova modalidade de ato investigatrio nominado), ningum sabe quem . O tal informante seria um traficante que j morreu.

98. Ponto!!!

99. Cadeia de custdia de prova coligida na investigao? coisa que ningum ousa enfrentar.

100. Em suma, tal relatrio de inteligncia, que seguiu anexo ao pedido de interceptao telefnica, gerou uma dvida (folhas 02 e ss. do IP), mais especificamente, no que diz respeito uma tabela que l foi desenhada.

101. Trata-se da seguinte:

102. Relembre-se que tal relatrio anterior prpria instaurao do Inqurito Policial, e de qualquer deciso Judicial.

103. A dvida: Porque estava preenchida a coluna USURIO VIGIA da tabela, apenas e to somente em relao s linhas de telefone mvel, que no eram da marca Blackberry?

104. A celeuma instalada foi o fato de se ter declinado, no relatrio de inteligncia, a indicao do USURIO VIGIA de nmeros telefnicos at ento no interceptados.

105. Neste particular, a defesa foi cautelosa e apenas questionou o motivo de nada constar na coluna USURIO VIGIA em relao aos aparelhos Blckberrys?

106. A resposta foi clara e direta: O motivo de estar em branco referido campo da tabela, seria em razo de que a medida de interceptao ainda no haver sido implementada.

107. Mas o mesmo campo USURIO VIGIA dos aparelhos telefnicos j estavam preenchidos. Foi uma afirmao feita pela defesa, mas a testemunha disse que no.

108. O Ncleo de Inteligncia da Polcia ento presumiu que a medida seria deferida? Ora, e se por ocasio do deferimento algum dos alvos houvesse trocado de operadora de telefonia?

109. Inclusive, esse um dos motivos para no existir USURIO VIGIA vinculado ao nmero antes da implementao da medida.

110. O depoimento foi claro no sentido de que no indicado USURIO VIGIA se no houver interceptao em curso.

111. Ora, isso o mesmo que dizer que j havia escuta ilegal.

112. Tambm ilegal o fato de se ter indicado duas pessoas diversas no pedido e que foram ilegalmente interceptadas.

113. Absurdo.

114. Para que no reste qualquer dvida, Excelncia, basta assistir audincia.

VI DO EXCESSO DE PRAZO DA PRISO PREVENTIVA REVOGAO.

115. Uma vez mais o requerente comparece para pedir a revogao da sua priso em razo do excesso de prazo, que j indisfarvel.

116. Noutras decises, este Juzo indeferiu os pleitos, com a reproduo, praticamente, da deciso que decretou a priso do requerente.

117. Sem maiores delongas, o caso de excesso de prazo, e a liberdade compulsria.

118. Ademais, se avizinha o recesso forense, e inmeras questes ho de ser decididas antes da continuao da instruo.

119. At quando, senhor Juiz, ser mantida a priso do Requerente?

120. Nem mesmo se ousa adentrar em requisito de priso, quando a priso se torna ilegal. Isto , ainda que estivem presentes todos os motivos ensejadores do crcere preventivo, a priso no poderia ser mantida.

121. Desta forma, requer Vossa Excelncia, digne-se a revogar a priso ilegal a que est submetido o requerente.

VII DOS PEDIDOS.

122. Diante de todo o exposto, requer digne-se Vossa Excelncia:

A). Suspender o trmite do processo at que aportem nos autos todos os documentos relativos interceptao telefnica, em especial relatrio das ERBs e a integra do monitoramento;

B). Determine que sejam trazidos aos autos, provas que no chegaram ao conhecimento da defesa (ERBs e ntegra da interceptao), de acordo com a smula vinculante 14 do STF;

C). Determine que a testemunha WILLIAM DE OLIVEIRA DIAS seja novamente inquirida, em respeito ampla defesa e ao contraditrio;

D). Designe data para a oitiva da testemunha de acusao JANGO JOANILTON PIRES;

E). Designe data para se inquirir a Delegada de Policia Federal, KAREN CRISTINA DUNDER, na condio de testemunha referida;

F). Declare a nulidade de toda a medida cautelar de interceptao telefnica, por ter sido implementada sem autorizao judicial;

G). Revogao imediata da priso do requerente, em razo do excesso de prazo.

123. Nestes termos, pede deferimento.

De Cuiab/MT para Cceres/MT, 19 de outubro de 2016.

VICTOR ALIPIO AZEVEDO BORGES

OAB-MT n 13.975