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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO NÚCLEO ESPECIALIZADO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Avenida Liberdade nº 32, 7º andar, Centro CEP: 01502-000 São Paulo/SP EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, por intermédio dos que esta subscrevem, com lastro nos artigo 5º, inciso LXXIV, artigo 129, § 1º, e artigo 134, todos da Constituição da República, artigo 5º, inciso II, Lei nº 7.347/85, artigo 4º, inciso XI, Lei Complementar Federal nº 80/94 e artigo 5º, inciso VI, alínea ‘d’, Lei Complementar Estadual nº 988/06, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA

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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULODEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULONÚCLEO ESPECIALIZADO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Avenida Liberdade nº 32, 7º andar, CentroCEP: 01502-000 São Paulo/SP

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO

PAULO, por intermédio dos que esta subscrevem, com lastro nos artigo 5º, inciso

LXXIV, artigo 129, § 1º, e artigo 134, todos da Constituição da República, artigo 5º,

inciso II, Lei nº 7.347/85, artigo 4º, inciso XI, Lei Complementar Federal nº 80/94 e

artigo 5º, inciso VI, alínea ‘d’, Lei Complementar Estadual nº 988/06, vem,

respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face da CONSULTARE CONSULTORIA

ADMINISTRATIVA LTDA. (PREV RÁPIDA CONSULTORIA E SERVIÇOS

PREVIDENCIÁRIOS), pessoa jurídica de direito privado, cadastrada no CNPJ/MF

sob o nº 12.130.394/0001-81, sediada na Rua José Paulino, 1.123, 5º andar,

conjunto 51, Centro, CEP 13.013-001, Campinas, SP, telefones (19) 3234-3596 e

3012-4134, pelas razões de fato e direito abaixo deduzidas:

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1. DOS FATOS

Mediante Portaria do Defensor Público Coordenador

do NUDECON – Núcleo Especializado de Defesa do Consumidor da Defensoria

Pública do Estado de São Paulo, após provocação da presidente da Associação

Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida, foi instaurado o

Procedimento Administrativo nº 03/2010, para apuração da prática de possível

publicidade enganosa, por parte da requerida Prev Rápida, e tomada das medidas

cabíveis.

Segundo relatou a Sra. Cláudia Marques Maximino,

presidente da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida,

além de outras práticas, a Prev Rápida ostenta logotipo extremamente parecido

com o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, em suas formas e cores, o que

ocasiona a possibilidade, real, dos potenciais consumidores de seus serviços

incidirem em erro.

Conforme documentos que seguem em anexo à

presente petição inicial, consistentes em impressões dos sites, tanto do INSS

quando da Prev Rápida, resta evidente a semelhança dos logotipos utilizados por

um e outra. Além da semelhança dos logotipos é inegável, também, a semelhança

do layout e do conteúdo dos sites de ambas as instituições.

Nota-se, também dos impressos que seguem, que a

Prev Rápida insere em seu site a Bandeira Nacional, imagem de uma Carteira de

Trabalho e Previdência Social, imagens de pessoas, em regra idosos, em nítida

alusão aos segurados do INSS, fazendo com que seu site, assim, não apenas tenha

visual muito similar e parecido com o do INSS, mas, também, que tenha visual que

sugira tratar-se de instituição estatal.

Lê-se, no site da Prev Rápida, notícias que dão conta de

que representante da empresa teria se dirigido a Brasília para participação da

posse dos Deputados Federais eleitos no ano de 2010, ocasião em ele que teria se

reunido com o próprio Ministro da Previdência Social e discutido com este os

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rumos da política do Governo Federal para a previdência social. Tais informações,

sem sombra de dúvida e de forma inegável, reforçam ainda mais a ideia já plantada

de que a Prev Rápida ostentaria algum tipo de ligação com o INSS, ou traços de

instituição estatal.

A Prev Rápida, ainda, faz constar em seu site que tem

por “missão”, e não como atividade lucrativa, trabalhar para garantia dos direitos

dos trabalhadores, “preservando integralmente o cidadão e sua família”.

Vale ressaltar, também, que consta logo na primeira

página do site a informação de que a “Prev Rápida se dedicou nos últimos anos a

estudar detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência Social brasileira”.

Contudo, conforme apurado em consulta realizada ao site da Junta Comercial do

Estado de São Paulo, a Prev Rápida iniciou suas atividades no mês de maio do ano

de 2010, e dedica-se à “atividade de consultoria em gestão empresarial, exceto

consultoria técnica específica”.

Ainda em âmbito administrativo, a requerida, Prev

Rápida, foi instada pelo NUDECON, a fim de que adequasse sua conduta à

legalidade, mediante a assinatura de TAC - Termo de Ajustamento de Conduta.

Regularmente notificada, a Prev Rápida manifestou

não ter interesse na assinatura de qualquer TAC, já que, segundo seu

entendimento, não pratica qualquer ilegalidade. Afirma a Prev Rápida, buscando

convencer da legalidade de sua conduta, em síntese: a) que não há qualquer

possibilidade de confusão entre ela e o INSS; b) que seus consumidores e

potenciais consumidores são esclarecidos a respeito da natureza do serviço por ela

prestado; c) que apenas sete de seus consumidores são integrantes da Associação

Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida.

As razões apresentadas pela Prev Rápida, contudo, não

convencem da legalidade de sua conduta. Pelo contrário.

Basta uma rápida análise do logotipo da empresa e do

layout de seu site na internet, para a conclusão de que é, não somente possível,

mas extremamente fácil, a ocorrência da confusão entre a Prev Rápida e o INSS,

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haja vista a similitude existente entre os logotipos e os sites de ambas as pessoas

jurídicas.

A par disso, a Prev Rápida realiza a divulgação dos

serviços que presta por meio de distribuição de panfletos em semáforos, etc., e por

meio do envio de correspondência aos segurados do INSS.

Cumpre notar que destes panfletos e

correspondências, contudo, em momento algum é feita a menção a que a Prev

Rápida é uma instituição privada, sociedade empresária que visa o lucro e que

presta assistência jurídica, mediante remuneração, aos consumidores de seus

serviços.

De outro lado, também o argumento de que apenas

sete dos consumidores dos serviços da Prev Rápida são integrantes da Associação

Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida deve ser afastado, afinal o

que se busca, inclusive com o ajuizamento da presente ação, é a salvaguarda dos

direitos dos consumidores em geral, ainda que a atuação da Defensoria Pública

tenha sido provocada pela mencionada associação, mormente se considerarmos a

notória hipossuficiência jurídica e econômica daqueles que buscam os serviços

previdenciários.

2. DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo é parte

legítima para a propositura de ação civil pública que vise tutelar direitos e

interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores do

Estado de São Paulo.

Tal premissa decorre diretamente de texto legal, seja

do artigo 5º, VI, g, da Lei Orgânica da Defensoria do Estado de São Paulo, seja do

artigo 5º da Lei nº 7.347/1985, ou, ainda, do próprio artigo 134 da Constituição

Federal de 1988.

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A atual Constituição Federal traçou as características

fundamentais do Estado Brasileiro, tornando expresso que se constitui num Estado

Democrático de Direito, tendo como objetivos a busca da promoção da cidadania, a

construção de uma sociedade justa, livre e solidária e a erradicação da pobreza e

redução das desigualdades regionais e sociais, garantindo a todos os necessitados

economicamente a prestação gratuita de assistência jurídica integral e gratuita,

judicial e extrajudicialmente (art. 5º, LXXIV).

Nesse cenário, com o intuito de dar concreção aos

postulados maiores da Carta Republicana, foi prevista, no seu art. 134, a criação da

Defensoria Pública, organizada no âmbito da União, Distrito Federal e Territórios, e

também dos Estados, com a garantia de provimento inicial dos cargos por meio de

concurso público de provas e títulos, e aos integrantes o reconhecimento da

inamovibilidade.

A Defensoria Pública, portanto, é instituição essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação e defesa, em todos os

graus, dos necessitados. É o órgão através do qual o Estado concretiza seu dever

fundamental de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiência de recursos, nos moldes dados pelo inciso LXXIV, do

art. 5º, da Magna Carta.

Trazendo agora a discussão para o nível

infraconstitucional, a Lei Complementar Federal nº 80, de 12 de janeiro de 1994,

que Organiza a Defensoria Pública da União, Distrito Federal e Territórios,

prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, entabula em seu art.

4º, XI:

“Art. 4º - São funções institucionais da Defensoria

Pública, dentre outras: (...) XI – patrocinar os direitos e

interesses do consumidor lesado; (...)”

Nessa mesma linha de inteligência, o art. 5º, VI, “d”, da

Lei Complementar Estadual nº 988, de 09 de janeiro de 2006, prescreve:

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“Art. 5º - São Atribuições institucionais da Defensoria

Pública do Estado, dentre outras: (...) VI – promover: d) a

tutela individual e coletiva dos interesses e direitos do

consumidor necessitado.”

Por fim, o art. 5º, II da Lei nº 7.347/85 – Lei da Ação

Civil Pública, com a modificação trazida pela Lei nº 11.448/07, confere ampla

legitimidade à Defensoria Pública para propositura de ação civil pública.

Diante dos dispositivos legais supra transcritos, infere-

se que a Defensoria Pública do Estado tem o necessário respaldo constitucional e

legal que lhe assegura válida a busca da proteção dos interesses dos consumidores

em juízo, seja individualmente, seja lançando mão dos modernos mecanismos de

tutela coletiva.

Ademais, impõe-se que a legitimação da Defensoria

Pública para propositura de Ação Civil Pública não pode ficar restringida à defesa

irrestrita dos hipossuficientes, mormente em se tratando de relações de consumo.

Essa interpretação violaria o princípio fundamental do

art. 5º, caput, da Constituição, qual seja, o princípio da isonomia, o da defesa dos

consumidores (art. 5º, XXXII) e do amplo acesso ao Judiciário (art. 5º, XXXV).

Parcela da doutrina que se debruçou sobre o tema da legitimação da Defensoria

Pública para ações coletivas, têm seguido o entendimento até aqui expendido. A

propósito:

“(...) a Defensoria Pública poderá ajuizar qualquer ação

para a tutela de interesses difusos, coletivos e individuais

homogêneos que tenham repercussão em interesses

dos necessitados. Não será necessário que a ação

coletiva se volte à tutela exclusiva dos necessitados, mas

sim que a sua solução repercuta diretamente na esfera

jurídica dos necessitados, ainda que também possa

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operar efeitos perante outros sujeitos.” (MARINONI,

Luiz Guilherme, e ARENHART, Sergio Luiz. Curso de

Processo Civil V.2. 6º ed. RT. p. 731-2).

Anote-se, outrossim, o entendimento de Fredie Didier

Jr. e Hermes Zaneti Jr. a respeito na obra CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL,

volume 4, Bahia: Juspodivm, 2007, página 216:

“É importante frisar que a defensoria atua mesmo em

favor de quem não é hipossuficiente econômico. Isto por

que a Defensoria Pública apresenta funções típicas e

atípicas. Função típica é a que pressupõe

hipossuficiência econômica, aqui há o necessitado

econômico (v.g., defesa em ação civil ou ação civil para

investigação de paternidade para pessoas de baixa

renda). Função atípica não pressupõe hipossuficiência

econômica, seu destinatário não é o necessitado

econômico, mas sim o necessitado jurídico, v.g, curador

especial no processo civil (CPC art. 9º, II) e defensor

dativo no processo penal (CPP art. 265).”

Ademais, não é outro o sentido de hipossuficiente

adotado por Cléber Francisco Alves, que, em sua obra “Justiça para Todos!

Assistência jurídica gratuita nos Estados Unidos, na França e no Brasil”, com

fundamento em abalizada doutrina, defende que:

“Mais ou menos nesse mesmo sentido, o processualista

gaúcho Araken de Assis afirma que o conceito de

necessidade, utilizado no art. 5º, LXXIV, da Constituição,

ostenta sentido amplíssimo, e não circunscreve,

rigorosamente, à insuficiência de recursos

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econômicos. Ele menciona a expressão ‘carentes

organizacionais’, que já fora anteriormente utilizada

por Mauro Cappelletti para designar essa ampla

categoria de pessoas que, nas sociedades de massas

contemporâneas, não podem ser excluídas da atenção do

Estado no suprimento de suas necessidades de

orientação e assistência para o pleno exercício de seus

direitos de cidadania.

Buscando uma interpretação sistemática do

ordenamento jurídico brasileiro, o Defensor Público

carioca José Augusto Garcia invoca dispositivos não

apenas do Código de Defesa do Consumidor, mas da

própria Constituição Federal para respaldar seu

entendimento de que o universo dos destinatários da

assistência jurídica integral e gratuita a ser prestada

pelo Estado, através da Defensoria Pública, não se reduz

àqueles ostensivamente carentes de recursos

econômicos, mas deve ser visto numa dimensão mais

larga para abranger outras espécies de carências e

necessidades de que justifiquem a intervenção do

Estado.”

A partir de uma filtragem constitucional, Adriana

Britto demonstra ser necessária a ampliação, para fins de atuação da Defensoria

Pública, do conceito de necessitado. Por se mostrar pertinente à presente

demanda, recorre-se a lição doutrinária, em que os grifos foram acrescentados:

“Surgiria então o conceito de necessidade jurídica, capaz

de ensejar a prestação da assistência jurídica pelo

Estado, por intermédio da Defensoria Pública. Ocorre

que a acepção acima apresentada ainda estaria

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vinculada, de certa forma, ao critério econômico, apenas

se afastando de um conceito reduzido que pretendesse

vincular à miserabilidade ou a determinado limite de

renda.

Torna-se relevante apresentar um outro

entendimento acerca do termo ‘hipossuficiente

jurídico’, esposado por ADA PELLEGRINI GRINOVER,

a partir da constatação de que, assim como o

conceito de assistência judiciária se renovou,

tomando dimensão mais ampla, teria se dilatado o

sentido do termo ‘necessitados’. Assim, ao lado dos

necessitados tradicionais – carentes de recursos

econômicos -, estariam os necessitados jurídicos –

carentes de recursos jurídicos (...)

Temos, então, caracterizada a pluralização do

conceito de carência, que dá uma nova dimensão ao

universo de excluídos e necessitados a partir do

momento em que vai considerar os diversos tipos de

carência existentes no mundo contemporâneo. Todos

eles devem ser protegidos, o que se coaduna com a visão

ampla que o princípio do acesso à justiça deve propiciar,

destacando-se as palavras de JOSÉ AUGUSTO GARCIA DE

SOUSA a respeito: ‘A idéia do acesso à justiça é mais

abrangente e generosa possível. Porfia-se para que

todos aqueles que padecem de algum tipo de

hipossuficiência, seja qual for a modalidade, possam

ver concretizados os seus direitos, rejeitando-se

exclusões’.”1.

1 BRITTO, Adriana. A evolução da Defensoria Pública em direção à tutela coletiva. In: SOUSA, José Augusto Garcia (coordenador). A Defensoria Pública e os processos coletivos. Comemorando a Lei Federal 11.448, de 15 de Janeiro de 2007. pp. 17-18.

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Portanto, a declaração da ilegitimidade da Defensoria

Pública para propor a presente ação civil pública prejudicaria, em última análise, a

população destinatária de seus serviços, ao passo que seria a própria negativa de

vigência às normas que dão vida à ação coletiva, bem como ao princípio maior do

acesso à justiça.

Nossos Tribunais já tiveram oportunidade de enfrentar

o tema da legitimidade da Defensoria Pública para casos tais, e o resultado tem

sido positivo à tese da possibilidade do manejo da ação civil pública. A seguir

ementa de recentíssimo julgado proferido pelo Tribunal de Justiça deste Estado de

São Paulo, em demanda coletiva atinente a Direito do Consumidor:

0251986-97.2009.8.26.0000 Agravo de Instrumento /

Fornecimento de Energia Elétrica

Relator(a): José Malerbi

Comarca: São José do Rio Preto

Órgão julgador: 35ª Câmara de Direito Privado

Data do julgamento: 03/05/2010

Data de registro: 06/05/2010

Outros números: 990.09.251986-7

Ementa: AÇÃO CIVIL PUBLICA - DEFENSORIA PUBLICA

DO ESTADO - DEFESA DOS CONSUMIDORES -

IRREGULARIDADE NO MEDIDOR - IMPUTAÇÂO DE ATO

ILÍCITO - COBRANÇA DE DÉBITO PRETÉRITO -

INTERRUPÇÃO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA

ELÉTRICA -LEGITIMIDADE E INTERESSE PROCESSUAL.

A Defensoria tem legitimidade ativa e interesse

processual para propor ação civil pública para a defesa

dos direitos difusos coletivos A Lei II 448/07 alterou o

inc II do art 5" da Lei 7 347/85, prevendo expressamente

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tal hipótese - AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO

NECESSÁRIO DA ANEEL - A ANEEL é agência reguladora

que não mantém relação jurídica direta com o

consumidor, assim como a concessionária não se define

como delegatária da agência, não havendo interesse da

União na demanda - PRESCRIÇÃO - A lei da ação civil

pública não dispõe a respeito de prazo prescricional No

caso concreto, não é possível valer-se de analogia à ação

popular, pois não se ti ata de objetos idênticos, uma das

hipótese do me LXXYIII do art 5"da CF, além da ausência

de termo inicial para contagem do prazo, se fosse o caso

- TUTELA ANTECIPADA RESTABELECIMENTO E NÃO

INTERRUPÇÃO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA

ELÉTRICA EM DECORRÊNCIA DE SUPOSTA

No âmbito de análise dos tribunais superiores, o

Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico quanto à legitimidade das

Defensorias Públicas Estaduais para lançarem mão da Ação Civil Pública para

defesa de direitos e interesses difusos e coletivos. A propósito, ementas de dois

julgados sobre o tema:

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

OMISSÃO NO JULGADO. INEXISTENCIA. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. DEFESA COLETIVA DOS CONSUMIDORES.

CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

ATRELADOS A MOEDA ESTRANGEIRA.

MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL FRENTE A DOLAR

NORTE-AMERICANO. INTERESSES INDIVIDUAIS

HOMOGENEOS. LEGITIMIDADE ATIVO DO ÓRGÃO

ESPECIALIZADO VINCULADO À DEFENSORIA PÚBLICA

DO ESTADO. I – O NUDENCON, órgão especializado,

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vinculado à Defensoria Pública do Estado do Rio de

Janeiro, tem legitimidade ativa para propor ação civil

pública objetivando a defesa dos interesses da

coletividade de consumidores que assumiram contratos

de arrendamento mercantil, para aquisição de veículos

automotores, com cláusula de indexação monetária

atrelada à variação cambial. II – No que se refere à

defesa dos interesses do consumidor por meio de ações

coletivas, a intenção do legislador pátrio foi ampliar o

campo da legitimação ativa, conforme se depreende do

artigo 82 e incisos do CDC, bem assim do artigo 5º, inciso

XXXII, da Constituição Federal, ao dispor,

expressamente, que incumbe ao Estado, na forma da lei,

a defesa do consumidor.” (STJ, RESP. 555.111-RJ,

Terceira Turma. Rel. Min. Castro Filho, j. 05/09/06).

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA

PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. ART. 5º, II, DA LEI Nº

7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.448/2007).

PRECEDENTE. 1. Recursos especiais contra acórdão que

entendeu pela legitimidade ativa da Defensoria Pública

para propor ação civil coletiva de interesse coletivo dos

consumidores. 2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-

se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º,

II, da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº

11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para

propor a ação principal e a ação cautelar em ações civis

coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos

causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico e dá outras providências. 3. Recursos

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especiais não-providos.” (STJ, RESP. 912849-RS, Primeira

Turma. Rel. Min. José Delgado, j. 26/02/2008).

Em suma, quando se analisa a qualidade do trabalho

desenvolvido pela doutrina atual e o teor dos julgados do Tribunal local e do

Superior Tribunal de Justiça, conclui-se que a discussão a respeito da legitimidade

da Defensoria Pública para propor Ação Civil Pública já foi superada, encontrando

aceitação unânime pela comunidade jurídica nacional a tese exposta nessa

exordial.

3. COMPETÊNCIA

Cuida-se, na presente ação, de publicidade enganosa

praticada pela requerida.

A veiculação de publicidade enganosa, sobretudo por

meio da internet, sem sombra de dúvida viola direitos difusos dos consumidores,

eis que é impossível delimitar a área de sua abrangência.

A indeterminação dos consumidores atingidos pela

publicidade da requerida é extraída dos documentos que instruem a presente ação.

A requerida presta serviços a consumidores

domiciliados em diversas cidades do Estado de São Paulo. A título de exemplo, a

requerida presta serviços para Carlos Alberto Milanes, André Ribeiro dos Santos e

Aline Cristina dos Santos, residentes em Piracicaba; Kayke da Silva Baleeiro,

residente em Guarulhos e Janete Godoi, residente em São José dos Campos.

Os advogados vinculados à requerida, também,

patrocinam ações judiciais em diversas Comarcas/Subseções Judiciárias do Estado,

tais como Guarulhos, Bauru, Piracicaba e São José dos Campos.

A amplitude territorial da atuação da requerida, por

certo, é resultado da publicidade por ela realizada, por meio da internet, do envio

de correspondências, de panfletagem, etc., o que evidencia que sua publicidade

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enganosa atinge vasta gama de consumidores, residentes em diversos Municípios

do Estado de São Paulo, violando direitos destes.

A par disso, segundo determinada o artigo 93, do

Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é

competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano,

quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito

Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional,

aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos

casos de competência concorrente”.

Por certo que os danos causados aos direitos dos

consumidores, pela publicidade enganosa da requerida, devem ser considerados

de âmbito regional, primeiro, pela própria natureza dos direitos violados, que são

difusos, e, segundo, porque evidenciado pela área territorial de atuação da

requerida que sua publicidade atingiu consumidores residentes em diversas

cidades do Estado de São Paulo.

Calha, neste momento, menção à doutrina

especializada. Segundo escreve Rizzatto Nunes, em seus Comentários ao Código de

Defesa do Consumidor:

“O legislador consumerista, quando fez referência à

região, certamente estava preocupado com um dano que

se alastrasse por várias cidades, e que, por não ser

possível determinar um local, município ou comarca

específica, preferiu que a demanda fosse ajuizada na

Capital do Estado.

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As dúvidas surgirão, mas podemos afirmar por tudo o

que dissemos que, em se tratando de várias cidades de

um mesmo Estado, o foro da Capital deste será o

competente.” (6ª edição, São Paulo: Saraiva, 2011, p.

897).

Por fim, recentemente, ao julgar situação de todo

semelhante à aqui discutida, em que violados direitos de consumidores residentes

em vários Municípios do Estado do Mato Grosso, o Superior Tribunal de Justiça

decidiu pela competência do foro da Capital para o processamento da demanda. Eis

a ementa:

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. DANO DE ÂMBITO REGIONAL. COMPETÊNCIA

DA VARA DA CAPITAL PARA O JULGAMENTO DA

DEMANDA. ART. 93 DO CDC.

1. O art. 93 do CDC estabeleceu que, para as hipóteses em

que as lesões ocorram apenas em âmbito local, será

competente o foro do lugar onde se produziu o dano ou

se devesse produzir (inciso I), mesmo critério já fixado

pelo art. 2º da LACP. Por outro lado, tomando a lesão

dimensões geograficamente maiores, produzindo efeitos

em âmbito regional ou nacional, serão competentes os

foros da capital do Estado ou do Distrito Federal (inciso

II).

2. Na espécie, o dano que atinge um vasto grupo de

consumidores, espalhados na grande maioria dos

municípios do estado do Mato Grosso, atrai ao foro da

capital do Estado a competência para julgar a presente

demanda.

3. Recurso especial não provido.

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(REsp 1101057/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,

TERCEIRA TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe

15/04/2011)”.

Conclui-se, assim, que é competente uma das Varas

Cíveis do Foro Central da Comarca da Capital, para o processo e julgamento da

presente Ação Civil Pública.

4. MÉRITO

A utilização, pela Prev Rápida, de elementos de

divulgação dos serviços que presta, que podem confundi-la com o INSS, ou, de

qualquer forma, induzir o consumidor a acreditar que trata diretamente com o

INSS ou com outra instituição vinculada ao Governo Federal, encontra vedação no

Direito do Consumidor. Basta relembrar, ainda que de maneira rápida, do teor das

seguintes disposições do CDC, em que os grifos foram acrescentados:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

III - a informação adequada e clara sobre os

diferentes produtos e serviços, com especificação

correta de quantidade, características, composição,

qualidade e preço, bem como sobre os riscos que

apresentem;

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e

abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,

bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou

impostas no fornecimento de produtos e serviços;

(...)”.

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“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou

serviços devem assegurar informações corretas,

claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa

sobre suas características, qualidades, quantidade,

composição, preço, garantia, prazos de validade e

origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos

que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”.

“Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou

abusiva.

 § 1° É enganosa qualquer modalidade de

informação ou comunicação de caráter publicitário,

inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer

outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir

em erro o consumidor a respeito da natureza,

características, qualidade, quantidade, propriedades,

origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e

serviços”.

Oportuna, também, a menção ao que prega a melhor

doutrina, especializada no assunto. Rizzato Nunes, comentando o Código de Defesa

do Consumidor, escreve que:

“Nenhuma forma de mensagem – informação,

apresentação escrita, falada, imagem, etc. -, direta ou

indiretamente, por implicação, omissão, exagero ou

ambiguidade, pode levar o consumidor a engano quanto

ao produto ou serviço anunciado, quando ao anunciante

ou seu concorrente, tampouco quanto à natureza do

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produto (se natural ou artificial), sua procedência (se

nacional ou estrangeira), sua composição e finalidade.

(...)

Para fins de aferição da enganosidade (e qualquer outro

componente) será observado o anúncio como um todo,

incluindo seu conteúdo e forma, testemunhas,

declarações ou apresentações visuais, ainda que tenha

origem em outras fontes (art. 47)” (Nunes, Luiz Antonio

Rizzatto, Comentários ao Código de Defesa do

Consumidor, 6ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p.496).

Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin, também

comentando o CDC, prega que:

“Na caracterização da publicidade enganosa não se

exige a intenção de enganar por parte do anunciante. É

irrelevante, pois, sua boa ou má-fé. A intenção (dolo) e a

prudência (culpa) só ganham destaque no tratamento

penal do fenômeno. Logo, sempre que o anúncio for

capaz de induzir o consumidor em erro – mesmo que tal

não tenha sido querido pelo anunciante -, caracterizada

esta a publicidade enganosa.

Assim ocorre porque o que se busca é a proteção do

consumidor e não a repressão do comportamento

enganoso do fornecedor. E, para fins daquela, o que

importa é uma análise do anúncio em si mesmo,

objetivamente considerado. Já para esta, diversamente, a

intenção ou culpa do agente é sopesada” (Ada Pellegrini

Grinover et al, Código Brasileiro de Defesa do

Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto,

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9ª Ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p.

340).

Há de se ressaltar, por fim, que a Prev Rápida, pela

própria natureza dos serviços que oferece e presta – assistência jurídica

previdenciária – volta-se a parcela dos consumidores que, por sua condição

(idosos, deficientes, incapacitados para o trabalho), são ainda mais vulneráveis, e

que, por isso, merecem especial proteção legislativa:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,

dentre outras práticas abusivas:

(...)

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do

consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,

conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus

produtos ou serviços;

(...)”.

Também a doutrina de Antonio Herman de

Vasconcellos e Benjamin se atenta a tal circunstância:

“A publicidade é enganosa mesmo que sua capacidade

de induzir em erro manifeste-se apenas em relação a

consumidores particularmente vulneráveis (os doentes,

as crianças, os idosos, os crédulos, os ignorantes, os de

pouca instrução). Assim, por exemplo, os consumidores

de uma região recém-afetada por incêndio são mais

vulneráveis a exageros publicitários de produtos contra

tal fenômeno. Em outras palavras, não se exige que a

‘maioria’ dos consumidores seja atingida pela

capacidade de induzir em erro.

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A regra é, pois, que na caracterização da publicidade

enganosa analise-se a natureza da mensagem

publicitária e a vulnerabilidade do consumidor. Usa-se,

portanto, um duplo critério de avaliação. O primeiro,

objetivo, tem a ver com o conteúdo do próprio anúncio. O

segundo, subjetivo, relaciona-se com o tipo de

consumidor atingido ou atingível. Por conseguinte, uma

mensagem não enganosa em relação a um determinado

alvo pode vir a sê-lo em função de outro público” (Ada

Pellegrini Grinover et al, Código Brasileiro de Defesa do

Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto,

9ª Ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p.

343/344).

O Tribunal de Justiça bandeirante já foi chamado, em

sede de demandas coletivas, a se manifestar a respeito de propaganda enganosa, e

assim decidiu:

0146659-71.2006.8.26.0000   Apelação Cível /

Responsabilidade Civil  

Relator(a): Francisco Loureiro

Comarca: São Paulo

Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Privado

Data do julgamento: 16/07/2009

Data de registro: 28/07/2009

Outros números: 0487022.4/8-00, 994.06.146659-5

Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Publicidade enganosa

do produto Cogumelo do Sol - Divulgação de qualidades

terapêuticas e curativas não comprovadas do produto -

Indução do público consumidor a erro - Vinculação de

qualidades medicinais e terapêuticas que se sabia não

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estarem comprovadas - Divulgação de estudos pseudo

científicos que corroboravam tais qualidades - Conduta

vedada pelo Código de Defesa do Consumidor - Danos

morais difusos - Valor da condenação respeita critério

de proporção às vantagens indevidas auferidas em razão

da publicidade enganosa e se adéqua às funções punitiva

e ressarcitória que deve observar a indenização - Danos

patrimoniais individuais homogêneos decorrem da

própria falsidade da publicidade, gerando o dever de

indenizar os consumidores que iludidos pelas falsas

qualidades curativas do produto - Necessidade de

veicular contrapropaganda para destruir a falsa

imagem que perdura na mente de um número

indeterminado de consumidores - Sentença parcialmente

procedente -Recurso dos réus improvido - Recurso do

autor provido.

Assim, ante tudo o quanto foi acima exposto, e

considerando os documentos que instruem a presente petição inicial, não há outra

conclusão possível senão a de que a Requerida, fazendo uso de logotipo

extremamente similar, em suas cores e formas, ao do INSS, e de site na internet de

layout também muito parecido com o da autarquia federal, pode fazer incidir em

erro os potenciais consumidores de seus serviços, restando configurada a

publicidade enganosa.

O mesmo ocorre com a consignação que faz a

requerida, em seu site, de que “se dedicou nos últimos anos a estudar

detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência Social brasileira” , eis que Prev

Rápida iniciou suas atividades apenas há poucos meses.

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5. DANOS MORAIS COLETIVOS

A cláusula geral de tutela da pessoa humana, constante

do art. 1º, inciso III, da Constituição Federal, trouxe à tona a existência de novos

danos reparáveis.

Segundo Flávia Tartuce, o dano moral coletivo também

surge como um candidato dentro da ideia de ampliação dos danos reparáveis (in

Direito Civil, Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil vol. 2).

Ademais, ao garantir como princípio fundamental a

indenização por danos morais, em seu art. 5º, V, CF, o Estado não faz restrição que

seja à esfera individual, uma vez que a possibilidade de indenização do dano moral

encontra-se elencada dentre os "Direitos e deveres individuais e coletivos".

Excelência, a própria tutela jurisdicional dos interesses

difusos, coletivos e individuais homogêneos foi instrumentalizada em nosso direito

pela ação civil pública, a qual se destina à responsabilização "por danos morais e

patrimoniais" (art. 1º, caput da Lei nº 7.347/85).

Conforme preleciona André de Carvalho Ramos, "com a

aceitação da reparabilidade do dano moral em face de entes diversos das pessoas

físicas, verifica-se a possibilidade de sua extensão ao campo dos chamados interesses

difusos e coletivos". (Ação civil pública e o dano moral coletivo, Revista de Direito

do Consumidor n° 25, p. 82).

Igualmente, preceitua o nosso Código de Defesa do

Consumidor, em seu art. 6°, VI, dentre os chamados direitos básicos dos

consumidores, "a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,

individuais, coletivos e difusos."

Assim, temos que as condutas da requerida Prev

Rápida, notadamente a publicidade dos serviços por ela prestados, que conta com

incomensurável potencial de induzimento dos seus possíveis consumidores em

erro, desrespeitando de forma sistemática as mais comezinhas disposições

imperativas do Código de Defesa do Consumidor, e até mesmo da Constituição

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Federal, têm o condão de ofender à massa de seus consumidores e não ensejam

apenas uma reparação moral à título individual.

Tratando-se de um dano que foge do âmbito particular,

patente a necessidade de condenação da ré a arcar com danos morais coletivos.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em caso

recente, também aplicou a condenação por danos morais coletivos, uma vez que

demonstrado o nexo causal entre o ato e o dano. Segue ementa, em que o grifo foi

acrescentado:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AGRAVO RETIDO. ILEGITIMIDADE

ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERESSES

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DISPONÍVEIS.

REVELÂNCIA SOCIAL. VENDA DE IMÓVEIS.

DESTINAÇÃO COMERCIAL. PUBLICIDADE DÚBIA E

ENGANOSA. CARÁTER RESIDENCIAL DO

EMPREENDIMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

DANO MORAL COLETIVO E DANO MORAL AOS

CONSUMIDORES LESADOS. MATÉRIA DE COMPETÊNCIA

RELATIVA. PRORROGAÇÃO. PODER-DEVER DE

FISCALIZAÇÃO. OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. A

RELEVÂNCIA SOCIAL DA MATÉRIA TRATADA NA

PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA JUSTIFICA A

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A

TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

INDISPONÍVEIS. É DÚBIA E ENGANOSA A VEICULAÇÃO

DE PUBLICIDADE QUE INDUZ O CONSUMIDOR A ERRO

QUANTO À REAL DESTINAÇÃO DO IMÓVEL, FAZENDO-O

ADQUIRIR IMÓVEL RESIDENCIAL QUANDO CLARA A

NATUREZA COMERCIAL DO EMPREENDIMENTO. POR

FORÇA DO CHAMADO DIÁLOGO DAS FONTES E DA

VULNERABILIDADE DAS QUESTÕES ANALISADAS, O

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INSTITUTO PROCESSUAL DA INVERSÃO DO ÔNUS DA

PROVA PODE SER APLICÁVEL ÀS DEMANDAS

COLETIVAS. O PEDIDO DE INDENIZAÇÃO CONSTITUI

MATÉRIA DE COMPETÊNCIA RELATIVA E, PORTANTO, É

PRORROGÁVEL AO JUÍZO QUE DETÉM A COMPETÊNCIA

MATERIAL PARA O EXAME DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

(VARA DO MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO

URBANO E FUNDIÁRIO DO DISTRITO FEDERAL).

MERECE SER JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO DE

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO E

INDIVIDUAL QUANDO DEMONSTRADO O NEXO

CAUSAL ENTRE O ATO ILÍCITO (VEICULAÇÃO DE

PROPAGANDA ENGANOSA) E O EFETIVO DANO À

COMUNIDADE E AOS CONSUMIDORES ADQUIRENTES

DE UNIDADES DO EMPREENDIMENTO

COMERCIALIZADO PELA RÉ. (TJDF - Apelação Cível:

APL 373495320098070001 DF 0037349-

53.2009.807.0001 Relator(a): NATANAEL CAETANO

Julgamento: 30/03/2011 Órgão Julgador: 1ª Turma

Cível Publicação: 01/04/2011, DJ-e Pág. 41).

Conforme explicitado anteriormente, a atuação

extrajudicial da Defensoria Pública não foi suficiente para coibir a violação à ordem

jurídica perpetrada pela requerida, eis que ela, mesmo notificada a fim de firmar

Termo de Ajustamento de Conduta, adequando sua conduta à legalidade, recusou-

se.

Assim é que o valor a ser arbitrado a título de danos

morais deve ter finalidade intimidativa, situando-se em patamar que represente

inibição à continuidade da prática de quaisquer atos abusivos por parte da

demandada.

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Continuamente, em se tratando de direitos difusos e

coletivos, a condenação por dano moral (rectius: extrapatrimonial) se justifica em

face da presença da conveniência social em sua preservação. Trata-se de mais um

instrumento para conferir eficácia à tutela de tais interesses meta-individuais,

considerando justamente o seu caráter não patrimonial.

Nem se objete que condenações de tal jaez, qual seja,

de função punitiva, gere enriquecimento sem causa, já que o valor pleiteado não se

reverterá em benefício do autor coletivo ou seus representados, mas será

convertido em benefício da própria comunidade, posto que será destinado ao

Fundo referido pelo art. 13 da LACP.

A jurisprudência não destoa das razões acima expostas.

Assim já decidiu o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. [...] DANO MORAL COLETIVO

CONFIGURADO, INDEPENDENTEMENTE DA PROVA DA

CULPA, BASTANDO A VIOLAÇÃO DE DIREITOS DIFUSOS

E COLETIVOS. A SANÇÃO PECUNIÁRIA TEM CARÁTER

PUNITIVO. O SEU VALOR DEVE SER ARBITRADO

MODERADAMENTE, PROPORCIONALMENTE ÀS

CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO [...]

Indenização por danos materiais e morais individuais e

danos morais coletivos. Pedido regular e legalmente

feito na vestibular. Possibilidade à inteligência do art. 3º

da Lei 7347/85 e dos arts. 6º VI e VII da Lei 8078/90, na

forma dos arts. 95 e 97 desta última. [...]

Dano moral coletivo, a ser revertido para o Fundo de

Reconstituição de Bens Lesados, que, de caráter

preventivo-pedagógico, visa a banir da sociedade mal

formada e mal informada, comportamentos antiéticos.

(5ª Câmara Cível - Apelação Cível nº: 2009.001.05452 -

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Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia –

Julgamento:24/06/2009).

A tese supra vindicada é tão séria e incisiva que o

Superior Tribunal de Justiça vem modificando seu entendimento, senão vejamos:

DANO MORAL COLETIVO. PASSE LIVRE. IDOSO. A

concessionária do serviço de transporte público

(recorrida) pretendia condicionar a utilização do

benefício do acesso gratuito ao transporte coletivo

(passe livre) ao prévio cadastramento dos idosos junto a

ela, apesar de o art. 38 do Estatuto do Idoso ser expresso

ao exigir apenas a apresentação de documento de

identidade. Vem daí a ação civil pública que, entre

outros pedidos, pleiteava a indenização do dano moral

coletivo decorrente desse fato. Quanto ao tema, é certo

que este Superior Tribunal tem precedentes no

sentido de afastar a possibilidade de configurar-se

tal dano à coletividade, ao restringi-lo às pessoas

físicas individualmente consideradas, que seriam as

únicas capazes de sofrer a dor e o abalo moral

necessários à caracterização daquele dano. Porém,

essa posição não pode mais ser aceita, pois o dano

extrapatrimonial coletivo prescinde da prova da

dor, sentimento ou abalo psicológico sofridos pelos

indivíduos. Como transindividual, manifesta-se no

prejuízo à imagem e moral coletivas e sua

averiguação deve pautar-se nas características

próprias aos interesses difusos e coletivos. Dessarte,

o dano moral coletivo pode ser examinado e

mensurado. Diante disso, a Turma deu parcial

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provimento ao recurso do MP estadual. REsp 1.057.274-

RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 1º/12/2009.

(grifos nossos)

Possível, então, a condenação da ré a arcar com a

indenização pelos danos morais coletivos, pois o desrespeito à legislação vigente

por ela praticado, ofendendo frontalmente o direito dos seus consumidores,

efetivos e potenciais, enseja o surgimento de danos morais passíveis de reparação

pecuniária.

A questão que pode emergir diz respeito à

quantificação desse dano moral coletivo. Este Juízo deve se pautar pelos princípios

da proporcionalidade e razoabilidade, sem olvidar da teoria do desestímulo, de

modo a fixar a indenização em valores significativos para a requerida ao mesmo

tempo em que repare a coletividade pelos danos suportados.

Como parâmetro para fixação do valor a ser recolhido

para ressarcimento dos danos morais coletivos, traz-se à luz recente julgado do

Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

Processo Apelação Cível 1.0702.02.029297-6/001    

292976-68.2002.8.13.702

Relator(a) Des.(a) Guilherme Luciano Baeta Nunes

Órgão Julgador / Câmara Câmaras Cíveis Isoladas / 15ª

CÂMARA CÍVEL

Comarca de Origem Uberlândia

Data de Julgamento 23/06/2006

Data da publicação da súmula 01/08/2006

Ementa

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO -

LEGITIMIDADE - DIREITO DIFUSO - PROPAGANDA

ENGANOSA -VIAGENS PARA QUALQUER LUGAR DO PAÍS

- DANO MORAL COLETIVO. A propaganda enganosa,

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consistente na falsa promessa a consumidores, de que

teriam direito de se hospedar em rede de hotéis durante

vários dias por ano, sem nada pagar, mediante a única

aquisição de título da empresa, legitima o Ministério

Público a propor a ação civil pública, na defesa coletiva

de direito difuso, para que a ré seja condenada, em

caráter pedagógico, a indenizar pelo dano moral

coletivo, valor a ser recolhido ao Fundo de Defesa de

Direitos Difusos, nos termos do art. 13 da Lei nº

7.347/85.

Do mesmo julgado, ainda, colhe-se trecho do voto do

Desembargador Relator Guilherme Luciano Baeta Nunes, que foi fundamento para

julgamento unânime:

“Vejamos as seguintes peculiaridades:

A repercussão da ofensa causada pela apelada deve ser

considerada em grau alto, bastando entender que o

dano em questão tem natureza coletiva.

A capacidade econômica da ofensora também deve ser

considerada em grau elevado, eis que, como ela própria

afirma, trata-se de empresa tradicional do ramo de

lazer, hotéis e camping, possuindo mais de 300.000

associados em todo o território nacional (f. 216).

O caráter pedagógico da indenização deve merecer

especial enfoque no caso, de modo a que a apelada não

mais permita, quer através de seus empregados, quer

através de seus representantes, a divulgação de

propagandas enganosas, com nefastos prejuízos para a

coletividade como um todo, que é induzida a acreditar

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que o milagre prometido pela empresa tornar-se-á uma

realidade.

Por outro lado, entendo que os esforços empreendidos

pela apelada, na tentativa de resolver os inúmeros

problemas causados na cidade de Uberlândia, devem ser

levados em consideração, de modo a reduzir o montante

dos danos morais.

Sopesadas essas circunstâncias, tenho por bem fixar os

danos morais em R$35.000,00 (trinta e cinco mil reais),

correspondendo, nesta data, ao importe de 100 (cem)

salários mínimos”.

Assim, considerando que a requerida, ao que parece, é

empresa que conta com grande número de consumidores, haja vista a teia de

relacionamentos que seus dirigentes mantêm - note-se que diretor da Prev Rápida,

conforme divulgado em seu site, participou da posse dos Deputados Federais no

início do ano, e reuniu-se pessoalmente com o Ministro da Previdência - mostra-se

como razoável a quantia de R$ 62.200,00, equivalente a cem salário mínimos.

6. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

No tocante à aplicação do instituto da inversão do ônus

da prova convém tecer as seguintes considerações.

O artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, em

seu inciso VIII, prevê ser direito básico do consumidor “a facilitação da defesa de

seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,

quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,

segundo as regras ordinárias de experiências”.

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A hipossuficiência do consumidor não pode ser

analisada apenas sob o enfoque econômico ou jurídico; ela também se reflete na

dificuldade de a parte obter informações necessárias a respeito do tema que é

discutido.

No mais, segundo as lições de Carlos Roberto Barbosa

Moreira, a inversão do ônus da prova pode ser determinada ex officio:

"A inversão poderá ser determinada tanto a

requerimento da parte como ex officio; tratando-se de

um dos ‘direitos básicos do consumidor’, e sendo o

diploma composto de normas de ordem pública (art. 1o),

deve-se entender que a medida independe da iniciativa

do interessado requerê-la. Aliás, a interpretação em

sentido oposto levaria ao absurdo de fazer crer que o

Código inovador em tantos passos, pela outorga de

novos e expressivos poderes ao Juiz, teria, no particular,

andado em marcha ré." (Notas sobre a inversão do

ônus da prova em benefício do consumidor, Doutrina,

v. 1, Rio de Janeiro, ID- Instituto de Direito, 1996, p.

300).

Temos que o sistema processual coletivo é composto

pela Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) e pelo Código de Defesa do

Consumidor.

Tratando-se de um mecanismo processual, a inversão

do ônus da prova é aplicável às demandas coletivas por força do chamado “diálogo

das fontes”, prática que permite a integração coerente dessas normas.

Plenamente possível a aplicação da inversão do ônus

da prova em ação civil pública. Neste sentido já decidiu o Superior Tribunal de

Justiça:

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“PROCESSUAL CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR.

DEFESA DOS INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS

HOMOGÊNEOS. DISPENSA DE PRÉ-CONSTITUIÇÃO PELO

MENOS HÁ UM ANO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

IMPOSSIBILIDADE DA AÇÃO COLETIVA SUPERADA. (...)

A regra contida no art. 6º/VII do Código de Defesa do

Consumidor, que cogita da inversão do ônus da prova,

tem a motivação de igualar as partes que ocupam

posições não-isonômicas, sendo nitidamente posta a

favor do consumidor, cujo acionamento fica a critério do

juiz sempre que houver verossimilhança na alegação ou

quando o consumidor for hipossuficiente, segundo as

regras ordinárias da experiência, por isso mesmo que

exige do magistrado, quando de sua aplicação, uma

aguçada sensibilidade quanto à realidade mais ampla

onde está contido o objeto da prova cuja inversão vai

operar-se. Hipótese em que a ré/recorrente está muito

mais apta a provar que a nicotina não causa

dependência que a autora/recorrida provar que ela

causa. (...) Recurso não conhecido.” (Resp 140097/SP,

Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 11/9/2000, p. 252).

Assim, há de ser invertido o ônus da prova, por ser a

medida que melhor realiza o direito do consumidor e a vontade do legislador

constitucional, expressa no artigo 5º, XXXII, da Constituição da República.

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7. TUTELA ANTECIPADA

Com efeito, a antecipação de tutela depende da

presença de dois requisitos para que seja concedida: a prova inequívoca da

verossimilhança da alegação (fumus boni iuris) e o fundado receio de dano

irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora).

O fumus boni iuris configura-se, in casu, pela prova

documental que instrui a presente petição inicial, e por todo o cabedal teórico que

a fundamenta, que encontra escoro na jurisprudência atual e na mais abalizada e

moderna doutrina.

O periculum in mora, por sua vez, é evidente e reside no

fato de que, fazendo uso de publicidade enganosa a requerida continua fazendo

incidir seus consumidores, e potenciais consumidores, em erro, conduta não

tolerada pelo Direito do Consumidor.

Desta forma, demonstrada a urgência da situação,

requer-se a concessão da antecipação de tutela para que a ré seja compelida a, em

prazo razoável a ser fixado por este Juízo, sob pena de pagamento de multa diária,

em valor também a ser fixado por este Juízo:

a) realizar as alterações necessárias em seu logotipo,

diferenciando-o daquele utilizado pelo INSS,

substituindo pelo novo o logotipo anterior, utilizado

em seu site na internet, panfletos, folders e similares,

destinados à divulgação de seus serviços, nas fachadas

de seus estabelecimentos e em qualquer tipo de

correspondência ou documento;

b) realizar as devidas alterações no layout de seu site

na internet, a fim de que também este reste

diferenciado daquele do INSS;

c) retirar de seu site na internet qualquer alusão a que

a “Prev Rápida se dedicou nos últimos anos a estudar

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Avenida Liberdade nº 32, 7º andar, CentroCEP: 01502-000 São Paulo/SP

detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência

Social brasileira”;

d) enviar aos consumidores que já tenham contratado

seus serviços, correspondência informando-os, de

maneira clara, simples e direta:

d1. de que ela, requerida, não guarda qualquer

relação com o INSS;

d2. de que ela, requerida, presta serviços

advocatícios, indicando, inclusive, a forma de

cobrança de seus honorários;

d3. que a contratação dos serviços dela,

requerida, não traz garantia de procedência da

pretensão, veiculada em ação judicial ou em

processo administrativo, nem tampouco garante

a aceleração e rápida solução destes

procedimentos; e

d4. de que a contratação dos serviços dela,

requerida, não exime o consumidor do

pagamento de honorários a outro advogado, que

porventura o consumidor tenha contratado

anteriormente, para o patrocínio de sua causa,

conforme acordado entre estes últimos.

8. PEDIDO

Por tudo quanto exposto, requer-se:

a) a concessão liminar da tutela pretendida, nos termos

do art. 84 e seus parágrafos do CDC, conforme exaustivamente exposto no item 7,

aqui reiterado;

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b) sejam determinadas, ex ofício e nos termos dos

arts. 1º e 84, caput, e § 5º, do CDC, quaisquer outras medidas que, em substituição

ou em complemento as aqui pleiteadas, assegurem o resultado prático da

demanda;

c) seja concedida a dispensa do pagamento de custas,

emolumentos e outros encargos, desde logo, à vista do que dispõem o artigo 18 da

Lei nº 7.347/85 e o artigo 87 da Lei nº 8.078/90;

d) a citação da demandada para, se o desejar,

apresentar resposta, sob pena de produção dos efeitos da revelia;

e) sejam julgados procedentes todos os pedidos

formulados, para que a requerida seja condenada ao pagamento do valor de R$

62.200,00 (sessenta e dois mil e duzentos reais), a título de danos morais coletivos,

valor este a ser recolhido ao Fundo referido pelo art. 13 da LACP, confirmando-se,

ainda, os efeitos da antecipação tutela pretendida, a fim de que a requerida seja

condenada a:

e1. realizar as alterações necessárias em seu logotipo,

diferenciando-o daquele utilizado pelo INSS,

substituindo pelo novo o logotipo anterior, utilizado

em seu site na internet, panfletos, folders e similares,

destinados à divulgação de seus serviços, nas fachadas

de seus estabelecimentos e em qualquer tipo de

correspondência ou documento;

e2. realizar as devidas alterações no layout de seu site

na internet, a fim de que também este reste

diferenciado daquele do INSS;

e3. retirar de seu site na internet qualquer alusão a que

a “Prev Rápida se dedicou nos últimos anos a estudar

detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência

Social brasileira”;

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e4. enviar aos consumidores que já tenham contratado

seus serviços, correspondência informando-os, de

maneira clara, simples e direta:

i - de que ela, requerida, não guarda qualquer

relação com o INSS;

ii - de que ela, requerida, presta serviços

advocatícios, indicando, inclusive, a forma de

cobrança de seus honorários;

iii - que a contratação dos serviços dela,

requerida, não traz garantia de procedência da

pretensão, veiculada em ação judicial ou em

processo administrativo, nem tampouco garante

a aceleração e rápida solução destes

procedimentos; e

iv - de que a contratação dos serviços dela,

requerida, não exime o consumidor do

pagamento de honorários a outro advogado, que

porventura o consumidor tenha contratado

anteriormente, para o patrocínio de sua causa,

conforme acordado entre estes últimos.

f) seja a ré condenada à obrigação de publicar, às

suas custas, em três jornais de grande circulação do Estado de São Paulo, em três

edições consecutivas, em tamanho mínimo de 20 x 20 cm, a parte dispositiva de

eventual sentença condenatória, a fim de que os consumidores tomem ciência da

sentença;

g) seja condenada a ré ao pagamento das custas

processuais e honorários de sucumbência, estes no percentual máximo previsto

em lei, em favor do Fundo da Escola da Defensoria Pública do Estado de São Paulo,

FUNDEPE;

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h) requer seja publicado o edital a que se refere o art.

94 do CDC;

i) requer a intervenção do Ministério Público para

acompanhar o presente feito na condição de custos legis.

j) requer, ainda, sejam as intimações dirigidas ao

NUDECON – Núcleo de Defesa do Consumidor, com endereço na Av. Liberdade, 32

Centro, São Paulo, pessoalmente e mediante a entrega dos autos com vista;

Requer, por fim, a produção de oral, prova documental,

documental suplementar e pericial, se necessária.

Dá à causa o valor de R$ 62.200,00.

São Paulo, 26 de janeiro de 2012.

HORÁCIO XAVIER FRANCO NETO

Defensor Público do Estado

Coordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor

RODRIGO EMILIANO FERREIRA

Defensor Público do Estado

Colaborador do NUDECON