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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULODEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULONÚCLEO ESPECIALIZADO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Avenida Liberdade nº 32, 7º andar, CentroCEP: 01502-000 São Paulo/SP
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO
FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO
PAULO, por intermédio dos que esta subscrevem, com lastro nos artigo 5º, inciso
LXXIV, artigo 129, § 1º, e artigo 134, todos da Constituição da República, artigo 5º,
inciso II, Lei nº 7.347/85, artigo 4º, inciso XI, Lei Complementar Federal nº 80/94 e
artigo 5º, inciso VI, alínea ‘d’, Lei Complementar Estadual nº 988/06, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
em face da CONSULTARE CONSULTORIA
ADMINISTRATIVA LTDA. (PREV RÁPIDA CONSULTORIA E SERVIÇOS
PREVIDENCIÁRIOS), pessoa jurídica de direito privado, cadastrada no CNPJ/MF
sob o nº 12.130.394/0001-81, sediada na Rua José Paulino, 1.123, 5º andar,
conjunto 51, Centro, CEP 13.013-001, Campinas, SP, telefones (19) 3234-3596 e
3012-4134, pelas razões de fato e direito abaixo deduzidas:
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1. DOS FATOS
Mediante Portaria do Defensor Público Coordenador
do NUDECON – Núcleo Especializado de Defesa do Consumidor da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, após provocação da presidente da Associação
Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida, foi instaurado o
Procedimento Administrativo nº 03/2010, para apuração da prática de possível
publicidade enganosa, por parte da requerida Prev Rápida, e tomada das medidas
cabíveis.
Segundo relatou a Sra. Cláudia Marques Maximino,
presidente da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida,
além de outras práticas, a Prev Rápida ostenta logotipo extremamente parecido
com o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, em suas formas e cores, o que
ocasiona a possibilidade, real, dos potenciais consumidores de seus serviços
incidirem em erro.
Conforme documentos que seguem em anexo à
presente petição inicial, consistentes em impressões dos sites, tanto do INSS
quando da Prev Rápida, resta evidente a semelhança dos logotipos utilizados por
um e outra. Além da semelhança dos logotipos é inegável, também, a semelhança
do layout e do conteúdo dos sites de ambas as instituições.
Nota-se, também dos impressos que seguem, que a
Prev Rápida insere em seu site a Bandeira Nacional, imagem de uma Carteira de
Trabalho e Previdência Social, imagens de pessoas, em regra idosos, em nítida
alusão aos segurados do INSS, fazendo com que seu site, assim, não apenas tenha
visual muito similar e parecido com o do INSS, mas, também, que tenha visual que
sugira tratar-se de instituição estatal.
Lê-se, no site da Prev Rápida, notícias que dão conta de
que representante da empresa teria se dirigido a Brasília para participação da
posse dos Deputados Federais eleitos no ano de 2010, ocasião em ele que teria se
reunido com o próprio Ministro da Previdência Social e discutido com este os
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rumos da política do Governo Federal para a previdência social. Tais informações,
sem sombra de dúvida e de forma inegável, reforçam ainda mais a ideia já plantada
de que a Prev Rápida ostentaria algum tipo de ligação com o INSS, ou traços de
instituição estatal.
A Prev Rápida, ainda, faz constar em seu site que tem
por “missão”, e não como atividade lucrativa, trabalhar para garantia dos direitos
dos trabalhadores, “preservando integralmente o cidadão e sua família”.
Vale ressaltar, também, que consta logo na primeira
página do site a informação de que a “Prev Rápida se dedicou nos últimos anos a
estudar detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência Social brasileira”.
Contudo, conforme apurado em consulta realizada ao site da Junta Comercial do
Estado de São Paulo, a Prev Rápida iniciou suas atividades no mês de maio do ano
de 2010, e dedica-se à “atividade de consultoria em gestão empresarial, exceto
consultoria técnica específica”.
Ainda em âmbito administrativo, a requerida, Prev
Rápida, foi instada pelo NUDECON, a fim de que adequasse sua conduta à
legalidade, mediante a assinatura de TAC - Termo de Ajustamento de Conduta.
Regularmente notificada, a Prev Rápida manifestou
não ter interesse na assinatura de qualquer TAC, já que, segundo seu
entendimento, não pratica qualquer ilegalidade. Afirma a Prev Rápida, buscando
convencer da legalidade de sua conduta, em síntese: a) que não há qualquer
possibilidade de confusão entre ela e o INSS; b) que seus consumidores e
potenciais consumidores são esclarecidos a respeito da natureza do serviço por ela
prestado; c) que apenas sete de seus consumidores são integrantes da Associação
Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida.
As razões apresentadas pela Prev Rápida, contudo, não
convencem da legalidade de sua conduta. Pelo contrário.
Basta uma rápida análise do logotipo da empresa e do
layout de seu site na internet, para a conclusão de que é, não somente possível,
mas extremamente fácil, a ocorrência da confusão entre a Prev Rápida e o INSS,
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haja vista a similitude existente entre os logotipos e os sites de ambas as pessoas
jurídicas.
A par disso, a Prev Rápida realiza a divulgação dos
serviços que presta por meio de distribuição de panfletos em semáforos, etc., e por
meio do envio de correspondência aos segurados do INSS.
Cumpre notar que destes panfletos e
correspondências, contudo, em momento algum é feita a menção a que a Prev
Rápida é uma instituição privada, sociedade empresária que visa o lucro e que
presta assistência jurídica, mediante remuneração, aos consumidores de seus
serviços.
De outro lado, também o argumento de que apenas
sete dos consumidores dos serviços da Prev Rápida são integrantes da Associação
Brasileira dos Portadores da Síndrome de Talidomida deve ser afastado, afinal o
que se busca, inclusive com o ajuizamento da presente ação, é a salvaguarda dos
direitos dos consumidores em geral, ainda que a atuação da Defensoria Pública
tenha sido provocada pela mencionada associação, mormente se considerarmos a
notória hipossuficiência jurídica e econômica daqueles que buscam os serviços
previdenciários.
2. DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo é parte
legítima para a propositura de ação civil pública que vise tutelar direitos e
interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores do
Estado de São Paulo.
Tal premissa decorre diretamente de texto legal, seja
do artigo 5º, VI, g, da Lei Orgânica da Defensoria do Estado de São Paulo, seja do
artigo 5º da Lei nº 7.347/1985, ou, ainda, do próprio artigo 134 da Constituição
Federal de 1988.
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A atual Constituição Federal traçou as características
fundamentais do Estado Brasileiro, tornando expresso que se constitui num Estado
Democrático de Direito, tendo como objetivos a busca da promoção da cidadania, a
construção de uma sociedade justa, livre e solidária e a erradicação da pobreza e
redução das desigualdades regionais e sociais, garantindo a todos os necessitados
economicamente a prestação gratuita de assistência jurídica integral e gratuita,
judicial e extrajudicialmente (art. 5º, LXXIV).
Nesse cenário, com o intuito de dar concreção aos
postulados maiores da Carta Republicana, foi prevista, no seu art. 134, a criação da
Defensoria Pública, organizada no âmbito da União, Distrito Federal e Territórios, e
também dos Estados, com a garantia de provimento inicial dos cargos por meio de
concurso público de provas e títulos, e aos integrantes o reconhecimento da
inamovibilidade.
A Defensoria Pública, portanto, é instituição essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação e defesa, em todos os
graus, dos necessitados. É o órgão através do qual o Estado concretiza seu dever
fundamental de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos, nos moldes dados pelo inciso LXXIV, do
art. 5º, da Magna Carta.
Trazendo agora a discussão para o nível
infraconstitucional, a Lei Complementar Federal nº 80, de 12 de janeiro de 1994,
que Organiza a Defensoria Pública da União, Distrito Federal e Territórios,
prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, entabula em seu art.
4º, XI:
“Art. 4º - São funções institucionais da Defensoria
Pública, dentre outras: (...) XI – patrocinar os direitos e
interesses do consumidor lesado; (...)”
Nessa mesma linha de inteligência, o art. 5º, VI, “d”, da
Lei Complementar Estadual nº 988, de 09 de janeiro de 2006, prescreve:
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“Art. 5º - São Atribuições institucionais da Defensoria
Pública do Estado, dentre outras: (...) VI – promover: d) a
tutela individual e coletiva dos interesses e direitos do
consumidor necessitado.”
Por fim, o art. 5º, II da Lei nº 7.347/85 – Lei da Ação
Civil Pública, com a modificação trazida pela Lei nº 11.448/07, confere ampla
legitimidade à Defensoria Pública para propositura de ação civil pública.
Diante dos dispositivos legais supra transcritos, infere-
se que a Defensoria Pública do Estado tem o necessário respaldo constitucional e
legal que lhe assegura válida a busca da proteção dos interesses dos consumidores
em juízo, seja individualmente, seja lançando mão dos modernos mecanismos de
tutela coletiva.
Ademais, impõe-se que a legitimação da Defensoria
Pública para propositura de Ação Civil Pública não pode ficar restringida à defesa
irrestrita dos hipossuficientes, mormente em se tratando de relações de consumo.
Essa interpretação violaria o princípio fundamental do
art. 5º, caput, da Constituição, qual seja, o princípio da isonomia, o da defesa dos
consumidores (art. 5º, XXXII) e do amplo acesso ao Judiciário (art. 5º, XXXV).
Parcela da doutrina que se debruçou sobre o tema da legitimação da Defensoria
Pública para ações coletivas, têm seguido o entendimento até aqui expendido. A
propósito:
“(...) a Defensoria Pública poderá ajuizar qualquer ação
para a tutela de interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos que tenham repercussão em interesses
dos necessitados. Não será necessário que a ação
coletiva se volte à tutela exclusiva dos necessitados, mas
sim que a sua solução repercuta diretamente na esfera
jurídica dos necessitados, ainda que também possa
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operar efeitos perante outros sujeitos.” (MARINONI,
Luiz Guilherme, e ARENHART, Sergio Luiz. Curso de
Processo Civil V.2. 6º ed. RT. p. 731-2).
Anote-se, outrossim, o entendimento de Fredie Didier
Jr. e Hermes Zaneti Jr. a respeito na obra CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL,
volume 4, Bahia: Juspodivm, 2007, página 216:
“É importante frisar que a defensoria atua mesmo em
favor de quem não é hipossuficiente econômico. Isto por
que a Defensoria Pública apresenta funções típicas e
atípicas. Função típica é a que pressupõe
hipossuficiência econômica, aqui há o necessitado
econômico (v.g., defesa em ação civil ou ação civil para
investigação de paternidade para pessoas de baixa
renda). Função atípica não pressupõe hipossuficiência
econômica, seu destinatário não é o necessitado
econômico, mas sim o necessitado jurídico, v.g, curador
especial no processo civil (CPC art. 9º, II) e defensor
dativo no processo penal (CPP art. 265).”
Ademais, não é outro o sentido de hipossuficiente
adotado por Cléber Francisco Alves, que, em sua obra “Justiça para Todos!
Assistência jurídica gratuita nos Estados Unidos, na França e no Brasil”, com
fundamento em abalizada doutrina, defende que:
“Mais ou menos nesse mesmo sentido, o processualista
gaúcho Araken de Assis afirma que o conceito de
necessidade, utilizado no art. 5º, LXXIV, da Constituição,
ostenta sentido amplíssimo, e não circunscreve,
rigorosamente, à insuficiência de recursos
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econômicos. Ele menciona a expressão ‘carentes
organizacionais’, que já fora anteriormente utilizada
por Mauro Cappelletti para designar essa ampla
categoria de pessoas que, nas sociedades de massas
contemporâneas, não podem ser excluídas da atenção do
Estado no suprimento de suas necessidades de
orientação e assistência para o pleno exercício de seus
direitos de cidadania.
Buscando uma interpretação sistemática do
ordenamento jurídico brasileiro, o Defensor Público
carioca José Augusto Garcia invoca dispositivos não
apenas do Código de Defesa do Consumidor, mas da
própria Constituição Federal para respaldar seu
entendimento de que o universo dos destinatários da
assistência jurídica integral e gratuita a ser prestada
pelo Estado, através da Defensoria Pública, não se reduz
àqueles ostensivamente carentes de recursos
econômicos, mas deve ser visto numa dimensão mais
larga para abranger outras espécies de carências e
necessidades de que justifiquem a intervenção do
Estado.”
A partir de uma filtragem constitucional, Adriana
Britto demonstra ser necessária a ampliação, para fins de atuação da Defensoria
Pública, do conceito de necessitado. Por se mostrar pertinente à presente
demanda, recorre-se a lição doutrinária, em que os grifos foram acrescentados:
“Surgiria então o conceito de necessidade jurídica, capaz
de ensejar a prestação da assistência jurídica pelo
Estado, por intermédio da Defensoria Pública. Ocorre
que a acepção acima apresentada ainda estaria
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vinculada, de certa forma, ao critério econômico, apenas
se afastando de um conceito reduzido que pretendesse
vincular à miserabilidade ou a determinado limite de
renda.
Torna-se relevante apresentar um outro
entendimento acerca do termo ‘hipossuficiente
jurídico’, esposado por ADA PELLEGRINI GRINOVER,
a partir da constatação de que, assim como o
conceito de assistência judiciária se renovou,
tomando dimensão mais ampla, teria se dilatado o
sentido do termo ‘necessitados’. Assim, ao lado dos
necessitados tradicionais – carentes de recursos
econômicos -, estariam os necessitados jurídicos –
carentes de recursos jurídicos (...)
Temos, então, caracterizada a pluralização do
conceito de carência, que dá uma nova dimensão ao
universo de excluídos e necessitados a partir do
momento em que vai considerar os diversos tipos de
carência existentes no mundo contemporâneo. Todos
eles devem ser protegidos, o que se coaduna com a visão
ampla que o princípio do acesso à justiça deve propiciar,
destacando-se as palavras de JOSÉ AUGUSTO GARCIA DE
SOUSA a respeito: ‘A idéia do acesso à justiça é mais
abrangente e generosa possível. Porfia-se para que
todos aqueles que padecem de algum tipo de
hipossuficiência, seja qual for a modalidade, possam
ver concretizados os seus direitos, rejeitando-se
exclusões’.”1.
1 BRITTO, Adriana. A evolução da Defensoria Pública em direção à tutela coletiva. In: SOUSA, José Augusto Garcia (coordenador). A Defensoria Pública e os processos coletivos. Comemorando a Lei Federal 11.448, de 15 de Janeiro de 2007. pp. 17-18.
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Portanto, a declaração da ilegitimidade da Defensoria
Pública para propor a presente ação civil pública prejudicaria, em última análise, a
população destinatária de seus serviços, ao passo que seria a própria negativa de
vigência às normas que dão vida à ação coletiva, bem como ao princípio maior do
acesso à justiça.
Nossos Tribunais já tiveram oportunidade de enfrentar
o tema da legitimidade da Defensoria Pública para casos tais, e o resultado tem
sido positivo à tese da possibilidade do manejo da ação civil pública. A seguir
ementa de recentíssimo julgado proferido pelo Tribunal de Justiça deste Estado de
São Paulo, em demanda coletiva atinente a Direito do Consumidor:
0251986-97.2009.8.26.0000 Agravo de Instrumento /
Fornecimento de Energia Elétrica
Relator(a): José Malerbi
Comarca: São José do Rio Preto
Órgão julgador: 35ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 03/05/2010
Data de registro: 06/05/2010
Outros números: 990.09.251986-7
Ementa: AÇÃO CIVIL PUBLICA - DEFENSORIA PUBLICA
DO ESTADO - DEFESA DOS CONSUMIDORES -
IRREGULARIDADE NO MEDIDOR - IMPUTAÇÂO DE ATO
ILÍCITO - COBRANÇA DE DÉBITO PRETÉRITO -
INTERRUPÇÃO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA -LEGITIMIDADE E INTERESSE PROCESSUAL.
A Defensoria tem legitimidade ativa e interesse
processual para propor ação civil pública para a defesa
dos direitos difusos coletivos A Lei II 448/07 alterou o
inc II do art 5" da Lei 7 347/85, prevendo expressamente
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tal hipótese - AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO
NECESSÁRIO DA ANEEL - A ANEEL é agência reguladora
que não mantém relação jurídica direta com o
consumidor, assim como a concessionária não se define
como delegatária da agência, não havendo interesse da
União na demanda - PRESCRIÇÃO - A lei da ação civil
pública não dispõe a respeito de prazo prescricional No
caso concreto, não é possível valer-se de analogia à ação
popular, pois não se ti ata de objetos idênticos, uma das
hipótese do me LXXYIII do art 5"da CF, além da ausência
de termo inicial para contagem do prazo, se fosse o caso
- TUTELA ANTECIPADA RESTABELECIMENTO E NÃO
INTERRUPÇÃO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA EM DECORRÊNCIA DE SUPOSTA
No âmbito de análise dos tribunais superiores, o
Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico quanto à legitimidade das
Defensorias Públicas Estaduais para lançarem mão da Ação Civil Pública para
defesa de direitos e interesses difusos e coletivos. A propósito, ementas de dois
julgados sobre o tema:
“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
OMISSÃO NO JULGADO. INEXISTENCIA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. DEFESA COLETIVA DOS CONSUMIDORES.
CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL
ATRELADOS A MOEDA ESTRANGEIRA.
MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL FRENTE A DOLAR
NORTE-AMERICANO. INTERESSES INDIVIDUAIS
HOMOGENEOS. LEGITIMIDADE ATIVO DO ÓRGÃO
ESPECIALIZADO VINCULADO À DEFENSORIA PÚBLICA
DO ESTADO. I – O NUDENCON, órgão especializado,
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vinculado à Defensoria Pública do Estado do Rio de
Janeiro, tem legitimidade ativa para propor ação civil
pública objetivando a defesa dos interesses da
coletividade de consumidores que assumiram contratos
de arrendamento mercantil, para aquisição de veículos
automotores, com cláusula de indexação monetária
atrelada à variação cambial. II – No que se refere à
defesa dos interesses do consumidor por meio de ações
coletivas, a intenção do legislador pátrio foi ampliar o
campo da legitimação ativa, conforme se depreende do
artigo 82 e incisos do CDC, bem assim do artigo 5º, inciso
XXXII, da Constituição Federal, ao dispor,
expressamente, que incumbe ao Estado, na forma da lei,
a defesa do consumidor.” (STJ, RESP. 555.111-RJ,
Terceira Turma. Rel. Min. Castro Filho, j. 05/09/06).
“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA
PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. ART. 5º, II, DA LEI Nº
7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.448/2007).
PRECEDENTE. 1. Recursos especiais contra acórdão que
entendeu pela legitimidade ativa da Defensoria Pública
para propor ação civil coletiva de interesse coletivo dos
consumidores. 2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-
se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º,
II, da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº
11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para
propor a ação principal e a ação cautelar em ações civis
coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos
causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico e dá outras providências. 3. Recursos
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especiais não-providos.” (STJ, RESP. 912849-RS, Primeira
Turma. Rel. Min. José Delgado, j. 26/02/2008).
Em suma, quando se analisa a qualidade do trabalho
desenvolvido pela doutrina atual e o teor dos julgados do Tribunal local e do
Superior Tribunal de Justiça, conclui-se que a discussão a respeito da legitimidade
da Defensoria Pública para propor Ação Civil Pública já foi superada, encontrando
aceitação unânime pela comunidade jurídica nacional a tese exposta nessa
exordial.
3. COMPETÊNCIA
Cuida-se, na presente ação, de publicidade enganosa
praticada pela requerida.
A veiculação de publicidade enganosa, sobretudo por
meio da internet, sem sombra de dúvida viola direitos difusos dos consumidores,
eis que é impossível delimitar a área de sua abrangência.
A indeterminação dos consumidores atingidos pela
publicidade da requerida é extraída dos documentos que instruem a presente ação.
A requerida presta serviços a consumidores
domiciliados em diversas cidades do Estado de São Paulo. A título de exemplo, a
requerida presta serviços para Carlos Alberto Milanes, André Ribeiro dos Santos e
Aline Cristina dos Santos, residentes em Piracicaba; Kayke da Silva Baleeiro,
residente em Guarulhos e Janete Godoi, residente em São José dos Campos.
Os advogados vinculados à requerida, também,
patrocinam ações judiciais em diversas Comarcas/Subseções Judiciárias do Estado,
tais como Guarulhos, Bauru, Piracicaba e São José dos Campos.
A amplitude territorial da atuação da requerida, por
certo, é resultado da publicidade por ela realizada, por meio da internet, do envio
de correspondências, de panfletagem, etc., o que evidencia que sua publicidade
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enganosa atinge vasta gama de consumidores, residentes em diversos Municípios
do Estado de São Paulo, violando direitos destes.
A par disso, segundo determinada o artigo 93, do
Código de Defesa do Consumidor:
“Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é
competente para a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano,
quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito
Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional,
aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos
casos de competência concorrente”.
Por certo que os danos causados aos direitos dos
consumidores, pela publicidade enganosa da requerida, devem ser considerados
de âmbito regional, primeiro, pela própria natureza dos direitos violados, que são
difusos, e, segundo, porque evidenciado pela área territorial de atuação da
requerida que sua publicidade atingiu consumidores residentes em diversas
cidades do Estado de São Paulo.
Calha, neste momento, menção à doutrina
especializada. Segundo escreve Rizzatto Nunes, em seus Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor:
“O legislador consumerista, quando fez referência à
região, certamente estava preocupado com um dano que
se alastrasse por várias cidades, e que, por não ser
possível determinar um local, município ou comarca
específica, preferiu que a demanda fosse ajuizada na
Capital do Estado.
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As dúvidas surgirão, mas podemos afirmar por tudo o
que dissemos que, em se tratando de várias cidades de
um mesmo Estado, o foro da Capital deste será o
competente.” (6ª edição, São Paulo: Saraiva, 2011, p.
897).
Por fim, recentemente, ao julgar situação de todo
semelhante à aqui discutida, em que violados direitos de consumidores residentes
em vários Municípios do Estado do Mato Grosso, o Superior Tribunal de Justiça
decidiu pela competência do foro da Capital para o processamento da demanda. Eis
a ementa:
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. DANO DE ÂMBITO REGIONAL. COMPETÊNCIA
DA VARA DA CAPITAL PARA O JULGAMENTO DA
DEMANDA. ART. 93 DO CDC.
1. O art. 93 do CDC estabeleceu que, para as hipóteses em
que as lesões ocorram apenas em âmbito local, será
competente o foro do lugar onde se produziu o dano ou
se devesse produzir (inciso I), mesmo critério já fixado
pelo art. 2º da LACP. Por outro lado, tomando a lesão
dimensões geograficamente maiores, produzindo efeitos
em âmbito regional ou nacional, serão competentes os
foros da capital do Estado ou do Distrito Federal (inciso
II).
2. Na espécie, o dano que atinge um vasto grupo de
consumidores, espalhados na grande maioria dos
municípios do estado do Mato Grosso, atrai ao foro da
capital do Estado a competência para julgar a presente
demanda.
3. Recurso especial não provido.
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(REsp 1101057/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe
15/04/2011)”.
Conclui-se, assim, que é competente uma das Varas
Cíveis do Foro Central da Comarca da Capital, para o processo e julgamento da
presente Ação Civil Pública.
4. MÉRITO
A utilização, pela Prev Rápida, de elementos de
divulgação dos serviços que presta, que podem confundi-la com o INSS, ou, de
qualquer forma, induzir o consumidor a acreditar que trata diretamente com o
INSS ou com outra instituição vinculada ao Governo Federal, encontra vedação no
Direito do Consumidor. Basta relembrar, ainda que de maneira rápida, do teor das
seguintes disposições do CDC, em que os grifos foram acrescentados:
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
III - a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços;
(...)”.
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“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou
serviços devem assegurar informações corretas,
claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidades, quantidade,
composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos
que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”.
“Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou
abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de
informação ou comunicação de caráter publicitário,
inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir
em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e
serviços”.
Oportuna, também, a menção ao que prega a melhor
doutrina, especializada no assunto. Rizzato Nunes, comentando o Código de Defesa
do Consumidor, escreve que:
“Nenhuma forma de mensagem – informação,
apresentação escrita, falada, imagem, etc. -, direta ou
indiretamente, por implicação, omissão, exagero ou
ambiguidade, pode levar o consumidor a engano quanto
ao produto ou serviço anunciado, quando ao anunciante
ou seu concorrente, tampouco quanto à natureza do
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produto (se natural ou artificial), sua procedência (se
nacional ou estrangeira), sua composição e finalidade.
(...)
Para fins de aferição da enganosidade (e qualquer outro
componente) será observado o anúncio como um todo,
incluindo seu conteúdo e forma, testemunhas,
declarações ou apresentações visuais, ainda que tenha
origem em outras fontes (art. 47)” (Nunes, Luiz Antonio
Rizzatto, Comentários ao Código de Defesa do
Consumidor, 6ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p.496).
Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin, também
comentando o CDC, prega que:
“Na caracterização da publicidade enganosa não se
exige a intenção de enganar por parte do anunciante. É
irrelevante, pois, sua boa ou má-fé. A intenção (dolo) e a
prudência (culpa) só ganham destaque no tratamento
penal do fenômeno. Logo, sempre que o anúncio for
capaz de induzir o consumidor em erro – mesmo que tal
não tenha sido querido pelo anunciante -, caracterizada
esta a publicidade enganosa.
Assim ocorre porque o que se busca é a proteção do
consumidor e não a repressão do comportamento
enganoso do fornecedor. E, para fins daquela, o que
importa é uma análise do anúncio em si mesmo,
objetivamente considerado. Já para esta, diversamente, a
intenção ou culpa do agente é sopesada” (Ada Pellegrini
Grinover et al, Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto,
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9ª Ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p.
340).
Há de se ressaltar, por fim, que a Prev Rápida, pela
própria natureza dos serviços que oferece e presta – assistência jurídica
previdenciária – volta-se a parcela dos consumidores que, por sua condição
(idosos, deficientes, incapacitados para o trabalho), são ainda mais vulneráveis, e
que, por isso, merecem especial proteção legislativa:
“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,
dentre outras práticas abusivas:
(...)
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do
consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus
produtos ou serviços;
(...)”.
Também a doutrina de Antonio Herman de
Vasconcellos e Benjamin se atenta a tal circunstância:
“A publicidade é enganosa mesmo que sua capacidade
de induzir em erro manifeste-se apenas em relação a
consumidores particularmente vulneráveis (os doentes,
as crianças, os idosos, os crédulos, os ignorantes, os de
pouca instrução). Assim, por exemplo, os consumidores
de uma região recém-afetada por incêndio são mais
vulneráveis a exageros publicitários de produtos contra
tal fenômeno. Em outras palavras, não se exige que a
‘maioria’ dos consumidores seja atingida pela
capacidade de induzir em erro.
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A regra é, pois, que na caracterização da publicidade
enganosa analise-se a natureza da mensagem
publicitária e a vulnerabilidade do consumidor. Usa-se,
portanto, um duplo critério de avaliação. O primeiro,
objetivo, tem a ver com o conteúdo do próprio anúncio. O
segundo, subjetivo, relaciona-se com o tipo de
consumidor atingido ou atingível. Por conseguinte, uma
mensagem não enganosa em relação a um determinado
alvo pode vir a sê-lo em função de outro público” (Ada
Pellegrini Grinover et al, Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto,
9ª Ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p.
343/344).
O Tribunal de Justiça bandeirante já foi chamado, em
sede de demandas coletivas, a se manifestar a respeito de propaganda enganosa, e
assim decidiu:
0146659-71.2006.8.26.0000 Apelação Cível /
Responsabilidade Civil
Relator(a): Francisco Loureiro
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 16/07/2009
Data de registro: 28/07/2009
Outros números: 0487022.4/8-00, 994.06.146659-5
Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Publicidade enganosa
do produto Cogumelo do Sol - Divulgação de qualidades
terapêuticas e curativas não comprovadas do produto -
Indução do público consumidor a erro - Vinculação de
qualidades medicinais e terapêuticas que se sabia não
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estarem comprovadas - Divulgação de estudos pseudo
científicos que corroboravam tais qualidades - Conduta
vedada pelo Código de Defesa do Consumidor - Danos
morais difusos - Valor da condenação respeita critério
de proporção às vantagens indevidas auferidas em razão
da publicidade enganosa e se adéqua às funções punitiva
e ressarcitória que deve observar a indenização - Danos
patrimoniais individuais homogêneos decorrem da
própria falsidade da publicidade, gerando o dever de
indenizar os consumidores que iludidos pelas falsas
qualidades curativas do produto - Necessidade de
veicular contrapropaganda para destruir a falsa
imagem que perdura na mente de um número
indeterminado de consumidores - Sentença parcialmente
procedente -Recurso dos réus improvido - Recurso do
autor provido.
Assim, ante tudo o quanto foi acima exposto, e
considerando os documentos que instruem a presente petição inicial, não há outra
conclusão possível senão a de que a Requerida, fazendo uso de logotipo
extremamente similar, em suas cores e formas, ao do INSS, e de site na internet de
layout também muito parecido com o da autarquia federal, pode fazer incidir em
erro os potenciais consumidores de seus serviços, restando configurada a
publicidade enganosa.
O mesmo ocorre com a consignação que faz a
requerida, em seu site, de que “se dedicou nos últimos anos a estudar
detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência Social brasileira” , eis que Prev
Rápida iniciou suas atividades apenas há poucos meses.
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5. DANOS MORAIS COLETIVOS
A cláusula geral de tutela da pessoa humana, constante
do art. 1º, inciso III, da Constituição Federal, trouxe à tona a existência de novos
danos reparáveis.
Segundo Flávia Tartuce, o dano moral coletivo também
surge como um candidato dentro da ideia de ampliação dos danos reparáveis (in
Direito Civil, Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil vol. 2).
Ademais, ao garantir como princípio fundamental a
indenização por danos morais, em seu art. 5º, V, CF, o Estado não faz restrição que
seja à esfera individual, uma vez que a possibilidade de indenização do dano moral
encontra-se elencada dentre os "Direitos e deveres individuais e coletivos".
Excelência, a própria tutela jurisdicional dos interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos foi instrumentalizada em nosso direito
pela ação civil pública, a qual se destina à responsabilização "por danos morais e
patrimoniais" (art. 1º, caput da Lei nº 7.347/85).
Conforme preleciona André de Carvalho Ramos, "com a
aceitação da reparabilidade do dano moral em face de entes diversos das pessoas
físicas, verifica-se a possibilidade de sua extensão ao campo dos chamados interesses
difusos e coletivos". (Ação civil pública e o dano moral coletivo, Revista de Direito
do Consumidor n° 25, p. 82).
Igualmente, preceitua o nosso Código de Defesa do
Consumidor, em seu art. 6°, VI, dentre os chamados direitos básicos dos
consumidores, "a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos."
Assim, temos que as condutas da requerida Prev
Rápida, notadamente a publicidade dos serviços por ela prestados, que conta com
incomensurável potencial de induzimento dos seus possíveis consumidores em
erro, desrespeitando de forma sistemática as mais comezinhas disposições
imperativas do Código de Defesa do Consumidor, e até mesmo da Constituição
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Federal, têm o condão de ofender à massa de seus consumidores e não ensejam
apenas uma reparação moral à título individual.
Tratando-se de um dano que foge do âmbito particular,
patente a necessidade de condenação da ré a arcar com danos morais coletivos.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em caso
recente, também aplicou a condenação por danos morais coletivos, uma vez que
demonstrado o nexo causal entre o ato e o dano. Segue ementa, em que o grifo foi
acrescentado:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AGRAVO RETIDO. ILEGITIMIDADE
ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERESSES
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DISPONÍVEIS.
REVELÂNCIA SOCIAL. VENDA DE IMÓVEIS.
DESTINAÇÃO COMERCIAL. PUBLICIDADE DÚBIA E
ENGANOSA. CARÁTER RESIDENCIAL DO
EMPREENDIMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
DANO MORAL COLETIVO E DANO MORAL AOS
CONSUMIDORES LESADOS. MATÉRIA DE COMPETÊNCIA
RELATIVA. PRORROGAÇÃO. PODER-DEVER DE
FISCALIZAÇÃO. OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. A
RELEVÂNCIA SOCIAL DA MATÉRIA TRATADA NA
PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA JUSTIFICA A
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A
TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
INDISPONÍVEIS. É DÚBIA E ENGANOSA A VEICULAÇÃO
DE PUBLICIDADE QUE INDUZ O CONSUMIDOR A ERRO
QUANTO À REAL DESTINAÇÃO DO IMÓVEL, FAZENDO-O
ADQUIRIR IMÓVEL RESIDENCIAL QUANDO CLARA A
NATUREZA COMERCIAL DO EMPREENDIMENTO. POR
FORÇA DO CHAMADO DIÁLOGO DAS FONTES E DA
VULNERABILIDADE DAS QUESTÕES ANALISADAS, O
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INSTITUTO PROCESSUAL DA INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA PODE SER APLICÁVEL ÀS DEMANDAS
COLETIVAS. O PEDIDO DE INDENIZAÇÃO CONSTITUI
MATÉRIA DE COMPETÊNCIA RELATIVA E, PORTANTO, É
PRORROGÁVEL AO JUÍZO QUE DETÉM A COMPETÊNCIA
MATERIAL PARA O EXAME DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA
(VARA DO MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO
URBANO E FUNDIÁRIO DO DISTRITO FEDERAL).
MERECE SER JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO E
INDIVIDUAL QUANDO DEMONSTRADO O NEXO
CAUSAL ENTRE O ATO ILÍCITO (VEICULAÇÃO DE
PROPAGANDA ENGANOSA) E O EFETIVO DANO À
COMUNIDADE E AOS CONSUMIDORES ADQUIRENTES
DE UNIDADES DO EMPREENDIMENTO
COMERCIALIZADO PELA RÉ. (TJDF - Apelação Cível:
APL 373495320098070001 DF 0037349-
53.2009.807.0001 Relator(a): NATANAEL CAETANO
Julgamento: 30/03/2011 Órgão Julgador: 1ª Turma
Cível Publicação: 01/04/2011, DJ-e Pág. 41).
Conforme explicitado anteriormente, a atuação
extrajudicial da Defensoria Pública não foi suficiente para coibir a violação à ordem
jurídica perpetrada pela requerida, eis que ela, mesmo notificada a fim de firmar
Termo de Ajustamento de Conduta, adequando sua conduta à legalidade, recusou-
se.
Assim é que o valor a ser arbitrado a título de danos
morais deve ter finalidade intimidativa, situando-se em patamar que represente
inibição à continuidade da prática de quaisquer atos abusivos por parte da
demandada.
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Continuamente, em se tratando de direitos difusos e
coletivos, a condenação por dano moral (rectius: extrapatrimonial) se justifica em
face da presença da conveniência social em sua preservação. Trata-se de mais um
instrumento para conferir eficácia à tutela de tais interesses meta-individuais,
considerando justamente o seu caráter não patrimonial.
Nem se objete que condenações de tal jaez, qual seja,
de função punitiva, gere enriquecimento sem causa, já que o valor pleiteado não se
reverterá em benefício do autor coletivo ou seus representados, mas será
convertido em benefício da própria comunidade, posto que será destinado ao
Fundo referido pelo art. 13 da LACP.
A jurisprudência não destoa das razões acima expostas.
Assim já decidiu o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. [...] DANO MORAL COLETIVO
CONFIGURADO, INDEPENDENTEMENTE DA PROVA DA
CULPA, BASTANDO A VIOLAÇÃO DE DIREITOS DIFUSOS
E COLETIVOS. A SANÇÃO PECUNIÁRIA TEM CARÁTER
PUNITIVO. O SEU VALOR DEVE SER ARBITRADO
MODERADAMENTE, PROPORCIONALMENTE ÀS
CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO [...]
Indenização por danos materiais e morais individuais e
danos morais coletivos. Pedido regular e legalmente
feito na vestibular. Possibilidade à inteligência do art. 3º
da Lei 7347/85 e dos arts. 6º VI e VII da Lei 8078/90, na
forma dos arts. 95 e 97 desta última. [...]
Dano moral coletivo, a ser revertido para o Fundo de
Reconstituição de Bens Lesados, que, de caráter
preventivo-pedagógico, visa a banir da sociedade mal
formada e mal informada, comportamentos antiéticos.
(5ª Câmara Cível - Apelação Cível nº: 2009.001.05452 -
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Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia –
Julgamento:24/06/2009).
A tese supra vindicada é tão séria e incisiva que o
Superior Tribunal de Justiça vem modificando seu entendimento, senão vejamos:
DANO MORAL COLETIVO. PASSE LIVRE. IDOSO. A
concessionária do serviço de transporte público
(recorrida) pretendia condicionar a utilização do
benefício do acesso gratuito ao transporte coletivo
(passe livre) ao prévio cadastramento dos idosos junto a
ela, apesar de o art. 38 do Estatuto do Idoso ser expresso
ao exigir apenas a apresentação de documento de
identidade. Vem daí a ação civil pública que, entre
outros pedidos, pleiteava a indenização do dano moral
coletivo decorrente desse fato. Quanto ao tema, é certo
que este Superior Tribunal tem precedentes no
sentido de afastar a possibilidade de configurar-se
tal dano à coletividade, ao restringi-lo às pessoas
físicas individualmente consideradas, que seriam as
únicas capazes de sofrer a dor e o abalo moral
necessários à caracterização daquele dano. Porém,
essa posição não pode mais ser aceita, pois o dano
extrapatrimonial coletivo prescinde da prova da
dor, sentimento ou abalo psicológico sofridos pelos
indivíduos. Como transindividual, manifesta-se no
prejuízo à imagem e moral coletivas e sua
averiguação deve pautar-se nas características
próprias aos interesses difusos e coletivos. Dessarte,
o dano moral coletivo pode ser examinado e
mensurado. Diante disso, a Turma deu parcial
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provimento ao recurso do MP estadual. REsp 1.057.274-
RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 1º/12/2009.
(grifos nossos)
Possível, então, a condenação da ré a arcar com a
indenização pelos danos morais coletivos, pois o desrespeito à legislação vigente
por ela praticado, ofendendo frontalmente o direito dos seus consumidores,
efetivos e potenciais, enseja o surgimento de danos morais passíveis de reparação
pecuniária.
A questão que pode emergir diz respeito à
quantificação desse dano moral coletivo. Este Juízo deve se pautar pelos princípios
da proporcionalidade e razoabilidade, sem olvidar da teoria do desestímulo, de
modo a fixar a indenização em valores significativos para a requerida ao mesmo
tempo em que repare a coletividade pelos danos suportados.
Como parâmetro para fixação do valor a ser recolhido
para ressarcimento dos danos morais coletivos, traz-se à luz recente julgado do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
Processo Apelação Cível 1.0702.02.029297-6/001
292976-68.2002.8.13.702
Relator(a) Des.(a) Guilherme Luciano Baeta Nunes
Órgão Julgador / Câmara Câmaras Cíveis Isoladas / 15ª
CÂMARA CÍVEL
Comarca de Origem Uberlândia
Data de Julgamento 23/06/2006
Data da publicação da súmula 01/08/2006
Ementa
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO -
LEGITIMIDADE - DIREITO DIFUSO - PROPAGANDA
ENGANOSA -VIAGENS PARA QUALQUER LUGAR DO PAÍS
- DANO MORAL COLETIVO. A propaganda enganosa,
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consistente na falsa promessa a consumidores, de que
teriam direito de se hospedar em rede de hotéis durante
vários dias por ano, sem nada pagar, mediante a única
aquisição de título da empresa, legitima o Ministério
Público a propor a ação civil pública, na defesa coletiva
de direito difuso, para que a ré seja condenada, em
caráter pedagógico, a indenizar pelo dano moral
coletivo, valor a ser recolhido ao Fundo de Defesa de
Direitos Difusos, nos termos do art. 13 da Lei nº
7.347/85.
Do mesmo julgado, ainda, colhe-se trecho do voto do
Desembargador Relator Guilherme Luciano Baeta Nunes, que foi fundamento para
julgamento unânime:
“Vejamos as seguintes peculiaridades:
A repercussão da ofensa causada pela apelada deve ser
considerada em grau alto, bastando entender que o
dano em questão tem natureza coletiva.
A capacidade econômica da ofensora também deve ser
considerada em grau elevado, eis que, como ela própria
afirma, trata-se de empresa tradicional do ramo de
lazer, hotéis e camping, possuindo mais de 300.000
associados em todo o território nacional (f. 216).
O caráter pedagógico da indenização deve merecer
especial enfoque no caso, de modo a que a apelada não
mais permita, quer através de seus empregados, quer
através de seus representantes, a divulgação de
propagandas enganosas, com nefastos prejuízos para a
coletividade como um todo, que é induzida a acreditar
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que o milagre prometido pela empresa tornar-se-á uma
realidade.
Por outro lado, entendo que os esforços empreendidos
pela apelada, na tentativa de resolver os inúmeros
problemas causados na cidade de Uberlândia, devem ser
levados em consideração, de modo a reduzir o montante
dos danos morais.
Sopesadas essas circunstâncias, tenho por bem fixar os
danos morais em R$35.000,00 (trinta e cinco mil reais),
correspondendo, nesta data, ao importe de 100 (cem)
salários mínimos”.
Assim, considerando que a requerida, ao que parece, é
empresa que conta com grande número de consumidores, haja vista a teia de
relacionamentos que seus dirigentes mantêm - note-se que diretor da Prev Rápida,
conforme divulgado em seu site, participou da posse dos Deputados Federais no
início do ano, e reuniu-se pessoalmente com o Ministro da Previdência - mostra-se
como razoável a quantia de R$ 62.200,00, equivalente a cem salário mínimos.
6. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
No tocante à aplicação do instituto da inversão do ônus
da prova convém tecer as seguintes considerações.
O artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, em
seu inciso VIII, prevê ser direito básico do consumidor “a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências”.
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A hipossuficiência do consumidor não pode ser
analisada apenas sob o enfoque econômico ou jurídico; ela também se reflete na
dificuldade de a parte obter informações necessárias a respeito do tema que é
discutido.
No mais, segundo as lições de Carlos Roberto Barbosa
Moreira, a inversão do ônus da prova pode ser determinada ex officio:
"A inversão poderá ser determinada tanto a
requerimento da parte como ex officio; tratando-se de
um dos ‘direitos básicos do consumidor’, e sendo o
diploma composto de normas de ordem pública (art. 1o),
deve-se entender que a medida independe da iniciativa
do interessado requerê-la. Aliás, a interpretação em
sentido oposto levaria ao absurdo de fazer crer que o
Código inovador em tantos passos, pela outorga de
novos e expressivos poderes ao Juiz, teria, no particular,
andado em marcha ré." (Notas sobre a inversão do
ônus da prova em benefício do consumidor, Doutrina,
v. 1, Rio de Janeiro, ID- Instituto de Direito, 1996, p.
300).
Temos que o sistema processual coletivo é composto
pela Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) e pelo Código de Defesa do
Consumidor.
Tratando-se de um mecanismo processual, a inversão
do ônus da prova é aplicável às demandas coletivas por força do chamado “diálogo
das fontes”, prática que permite a integração coerente dessas normas.
Plenamente possível a aplicação da inversão do ônus
da prova em ação civil pública. Neste sentido já decidiu o Superior Tribunal de
Justiça:
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“PROCESSUAL CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR.
DEFESA DOS INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. DISPENSA DE PRÉ-CONSTITUIÇÃO PELO
MENOS HÁ UM ANO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
IMPOSSIBILIDADE DA AÇÃO COLETIVA SUPERADA. (...)
A regra contida no art. 6º/VII do Código de Defesa do
Consumidor, que cogita da inversão do ônus da prova,
tem a motivação de igualar as partes que ocupam
posições não-isonômicas, sendo nitidamente posta a
favor do consumidor, cujo acionamento fica a critério do
juiz sempre que houver verossimilhança na alegação ou
quando o consumidor for hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias da experiência, por isso mesmo que
exige do magistrado, quando de sua aplicação, uma
aguçada sensibilidade quanto à realidade mais ampla
onde está contido o objeto da prova cuja inversão vai
operar-se. Hipótese em que a ré/recorrente está muito
mais apta a provar que a nicotina não causa
dependência que a autora/recorrida provar que ela
causa. (...) Recurso não conhecido.” (Resp 140097/SP,
Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 11/9/2000, p. 252).
Assim, há de ser invertido o ônus da prova, por ser a
medida que melhor realiza o direito do consumidor e a vontade do legislador
constitucional, expressa no artigo 5º, XXXII, da Constituição da República.
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7. TUTELA ANTECIPADA
Com efeito, a antecipação de tutela depende da
presença de dois requisitos para que seja concedida: a prova inequívoca da
verossimilhança da alegação (fumus boni iuris) e o fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora).
O fumus boni iuris configura-se, in casu, pela prova
documental que instrui a presente petição inicial, e por todo o cabedal teórico que
a fundamenta, que encontra escoro na jurisprudência atual e na mais abalizada e
moderna doutrina.
O periculum in mora, por sua vez, é evidente e reside no
fato de que, fazendo uso de publicidade enganosa a requerida continua fazendo
incidir seus consumidores, e potenciais consumidores, em erro, conduta não
tolerada pelo Direito do Consumidor.
Desta forma, demonstrada a urgência da situação,
requer-se a concessão da antecipação de tutela para que a ré seja compelida a, em
prazo razoável a ser fixado por este Juízo, sob pena de pagamento de multa diária,
em valor também a ser fixado por este Juízo:
a) realizar as alterações necessárias em seu logotipo,
diferenciando-o daquele utilizado pelo INSS,
substituindo pelo novo o logotipo anterior, utilizado
em seu site na internet, panfletos, folders e similares,
destinados à divulgação de seus serviços, nas fachadas
de seus estabelecimentos e em qualquer tipo de
correspondência ou documento;
b) realizar as devidas alterações no layout de seu site
na internet, a fim de que também este reste
diferenciado daquele do INSS;
c) retirar de seu site na internet qualquer alusão a que
a “Prev Rápida se dedicou nos últimos anos a estudar
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detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência
Social brasileira”;
d) enviar aos consumidores que já tenham contratado
seus serviços, correspondência informando-os, de
maneira clara, simples e direta:
d1. de que ela, requerida, não guarda qualquer
relação com o INSS;
d2. de que ela, requerida, presta serviços
advocatícios, indicando, inclusive, a forma de
cobrança de seus honorários;
d3. que a contratação dos serviços dela,
requerida, não traz garantia de procedência da
pretensão, veiculada em ação judicial ou em
processo administrativo, nem tampouco garante
a aceleração e rápida solução destes
procedimentos; e
d4. de que a contratação dos serviços dela,
requerida, não exime o consumidor do
pagamento de honorários a outro advogado, que
porventura o consumidor tenha contratado
anteriormente, para o patrocínio de sua causa,
conforme acordado entre estes últimos.
8. PEDIDO
Por tudo quanto exposto, requer-se:
a) a concessão liminar da tutela pretendida, nos termos
do art. 84 e seus parágrafos do CDC, conforme exaustivamente exposto no item 7,
aqui reiterado;
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Avenida Liberdade nº 32, 7º andar, CentroCEP: 01502-000 São Paulo/SP
b) sejam determinadas, ex ofício e nos termos dos
arts. 1º e 84, caput, e § 5º, do CDC, quaisquer outras medidas que, em substituição
ou em complemento as aqui pleiteadas, assegurem o resultado prático da
demanda;
c) seja concedida a dispensa do pagamento de custas,
emolumentos e outros encargos, desde logo, à vista do que dispõem o artigo 18 da
Lei nº 7.347/85 e o artigo 87 da Lei nº 8.078/90;
d) a citação da demandada para, se o desejar,
apresentar resposta, sob pena de produção dos efeitos da revelia;
e) sejam julgados procedentes todos os pedidos
formulados, para que a requerida seja condenada ao pagamento do valor de R$
62.200,00 (sessenta e dois mil e duzentos reais), a título de danos morais coletivos,
valor este a ser recolhido ao Fundo referido pelo art. 13 da LACP, confirmando-se,
ainda, os efeitos da antecipação tutela pretendida, a fim de que a requerida seja
condenada a:
e1. realizar as alterações necessárias em seu logotipo,
diferenciando-o daquele utilizado pelo INSS,
substituindo pelo novo o logotipo anterior, utilizado
em seu site na internet, panfletos, folders e similares,
destinados à divulgação de seus serviços, nas fachadas
de seus estabelecimentos e em qualquer tipo de
correspondência ou documento;
e2. realizar as devidas alterações no layout de seu site
na internet, a fim de que também este reste
diferenciado daquele do INSS;
e3. retirar de seu site na internet qualquer alusão a que
a “Prev Rápida se dedicou nos últimos anos a estudar
detalhadamente as regras e os órgãos da Previdência
Social brasileira”;
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e4. enviar aos consumidores que já tenham contratado
seus serviços, correspondência informando-os, de
maneira clara, simples e direta:
i - de que ela, requerida, não guarda qualquer
relação com o INSS;
ii - de que ela, requerida, presta serviços
advocatícios, indicando, inclusive, a forma de
cobrança de seus honorários;
iii - que a contratação dos serviços dela,
requerida, não traz garantia de procedência da
pretensão, veiculada em ação judicial ou em
processo administrativo, nem tampouco garante
a aceleração e rápida solução destes
procedimentos; e
iv - de que a contratação dos serviços dela,
requerida, não exime o consumidor do
pagamento de honorários a outro advogado, que
porventura o consumidor tenha contratado
anteriormente, para o patrocínio de sua causa,
conforme acordado entre estes últimos.
f) seja a ré condenada à obrigação de publicar, às
suas custas, em três jornais de grande circulação do Estado de São Paulo, em três
edições consecutivas, em tamanho mínimo de 20 x 20 cm, a parte dispositiva de
eventual sentença condenatória, a fim de que os consumidores tomem ciência da
sentença;
g) seja condenada a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários de sucumbência, estes no percentual máximo previsto
em lei, em favor do Fundo da Escola da Defensoria Pública do Estado de São Paulo,
FUNDEPE;
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h) requer seja publicado o edital a que se refere o art.
94 do CDC;
i) requer a intervenção do Ministério Público para
acompanhar o presente feito na condição de custos legis.
j) requer, ainda, sejam as intimações dirigidas ao
NUDECON – Núcleo de Defesa do Consumidor, com endereço na Av. Liberdade, 32
Centro, São Paulo, pessoalmente e mediante a entrega dos autos com vista;
Requer, por fim, a produção de oral, prova documental,
documental suplementar e pericial, se necessária.
Dá à causa o valor de R$ 62.200,00.
São Paulo, 26 de janeiro de 2012.
HORÁCIO XAVIER FRANCO NETO
Defensor Público do Estado
Coordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor
RODRIGO EMILIANO FERREIRA
Defensor Público do Estado
Colaborador do NUDECON