zé alexandre - redação uerj especifica- 03 e 06-06 - pronto

Upload: fernando-assis

Post on 11-Oct-2015

24 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 6

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    19. Considerando essa definio, pode-se concluir que o silogismo a que se refere o ttulo do texto encontrado em: (A) Boa parte da populao sobrevive com apenas um

    salrio-mnimo e o salrio-mnimo no d para viver; ento, h circunstncias que impedem o salrio de ser maior.

    (B) Precisamos manter nosso prestgio com a comunidade financeira internacional; temos homens honrados e capazes; ento, preciso resistir a apelos emocionais da sociedade.

    (C) Um salrio-mnimo maior prejudicaria o pas; o salrio-mnimo impe misria a grande parte da populao; ento, o pas necessita da misria de grande parte da sua populao.

    (D) O salrio mnimo no garante vida digna para a maioria da populao; o salrio no aumenta mais por exigncia do mercado internacional; ento, preciso alterar esse modelo econmico.

    20. O encadeamento entre pargrafos um dos aspectos a serem observados na construo de textos argumentativos pode se fazer de maneiras diversas. No texto de Luiz Fernando Verssimo, o segundo pargrafo liga-se ao primeiro por meio do seguinte mecanismo: (A) Retomada, por oposio, dos argumentos j

    apresentados. (B) Sequenciao, pelo emprego de conectivo, das ideias

    discutidas. (C) Reafirmao, por uma tica diferenciada, das

    informaes j levantadas. (D) Extenso, por referncia a novos exemplos, das

    afirmaes da introduo.

  • 5

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade.

    Em outras ocasies, a conversa a dois torna-se, como dissemos, uma perfeita estratgica militar, um combate.

    A palavra transforma-se ento numa espcie de zuavo

    11 pronto ao ataque. Os olhos so duas sentinelas,

    dois ajudantes-de-campo postos de observao nalguma eminncia prxima.

    O olhar faz as vezes de espio que se quer introduzir na praa inimiga. A confidncia uma falsa sortida; o sorriso uma verdadeira cilada. Isto sucede frequentemente em poltica e em diplomacia. (...) (ALENCAR, Jos de. Correio Mercantil, 13/05/1855). 15. O escritor Jos de Alencar publicou nos jornais vrias crnicas, poca chamadas folhetins. Ele inicia o folhetim A arte da conversa com um recurso retrico comum, que se pode descrever como: (A) Imprimir tom coloquial prpria conversa (B) Dizer que no vai fazer o que est fazendo (C) Negar a importncia do que acha importante (D) Invocar a autoridade de um autor j reconhecido 16. Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso, podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade. Alencar formula, no fragmento destacado, um argumento dedutivo, conhecido como: (A) Tese (B) Dilema (C) Sofisma (D) Hiptese 17. Digamos que um poltico em campanha eleitoral afirme: se um partido mais organizado, devemos votar nele; ora, o

    meu partido mais organizado; logo, vocs devem votar nos

    candidatos do meu partido; como um destes candidatos sou eu

    mesmo, no lhes parece bastante razovel que vocs votem

    em mim?

    Para apoiar sua tese, ele recorre a um professor de Lgica que, consultado, concorda que o argumento vlido. Entretanto, o argumento do candidato pode ser questionado. Este questionamento, segundo os mesmos princpios de Lgica, deve defender que: (A) quando se admite a validade de um argumento, no se admite ao mesmo tempo a sua verdade.

    11 Soldado argelino

    (B) uma vez que o professor de Lgica humano, ele pode estar to errado quanto o candidato. (C) j que o exerccio da democracia exige compromisso poltico, no se pode pautar o voto apenas pela lgica. (D) como o argumento do candidato beneficia todos os candidatos do seu partido, tanto faz votar nele como nos outros. 18. Em 1648, um qumico holands, chamado Jean Baptist von Helmont, argumentando indutivamente, relatou a seguinte experincia, para comprovar a tese da gerao espontnea: Faa um buraco num tijolo, ponha ali erva de manjerico bem

    triturada. Aplique um segundo tijolo sobre o primeiro e

    exponha tudo ao sol. Alguns dias mais tarde, tendo o

    manjerico agido como fermento, voc ver nascer pequenos

    escorpies.

    Hoje, sabemos que escorpies no nascem assim. A concluso do qumico pode ser refutada logicamente pelo argumento indicado em: (A) A experincia no resistiu passagem do tempo (B) Uma hiptese alternativa para o fenmeno no foi

    lembrada (C) O qumico no tinha competncia para a realizao

    da experincia (D) A gerao espontnea no pode ser comprovada com

    experimentos TEXTO VII - SILOGISMO

    Um salrio-mnimo maior do que o que vo dar desarrumaria as contas pblicas, comprometeria o programa de estabilizao do Governo, quebraria a Previdncia, inviabilizaria o pas e provavelmente desmancharia o penteado do Malan. Quem prega um salrio-mnimo maior o faz por demagogia, oportunismo poltico ou desinformao. Srios, sensatos, adultos e responsveis so os que defendem o reajuste possvel, nas circunstncias, mesmo reconhecendo que pouco.

    Como boa parte da populao brasileira vive de um mnimo que no d para viver e as circunstncias que o impedem de ser maior no vo mudar to cedo, eis-nos num silogismo brbaro: se o pas s sobrevive com mais da metade da sua populao condenada a uma subvida perptua, estamos todos condenados a uma lgica do absurdo. Aqui o srio temerrio, o sensato insensato, o adulto irreal e o responsvel criminoso. A nossa estabilidade e o nosso prestgio com a comunidade financeira internacional se devem tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos emocionais, mantm uma poltica econmica solidamente fundeada na misria alheia e uma admirvel coerncia baseada na fome dos outros. O pas s vivel se metade da sua populao no for. (...) (VERSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000) Silogismo: raciocnio dedutivo estruturado formalmente a

    partir de duas proposies (premissas), das quais se obtm por

    inferncia uma terceira (concluso).

  • 4

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Texto V CINCIA VERSUS RELIGIO Por que acredito mais na cincia do que na religio?

    Eu acredito na cincia porque ela no pede que acreditemos nela. A cincia nos diz honestamente que conhece apenas parte da natureza. Assume tranquilamente que no tem todas as respostas e que nunca as ter. A cincia no exige f, mas convencimento. Sabe ser reflexo de todos os preconceitos e fraquezas das sociedades que a produziram, mas procura transcend-los. Sabe que falha, limitada e mutvel, e nisso consistem sua fora e sua beleza. Por tudo isso, no que eu acredite na cincia. Eu, simplesmente, confio nela. (NOGUEIRA, Renata Nascimento. Folha de So Paulo, outubro de 2001). Por que acredito mais na religio do que na cincia?

    Coincidncia. Acaso. Destino. Tantas explicaes que no explicam muito, quando a gente fala de uma coisa que nos intriga e para a qual sabemos que no existe mesmo uma explicao. Acho que a religio supera em muito a cincia porque se apega capacidade mais indmita do ser humano a de acreditar.

    Gosto de saber que existe algum comigo o tempo todo, que me ouve, que me faz estar neste ou naquele lugar na hora certa por este ou aquele motivo. o inesperado, o salto no escuro. Quem no acredita, fica vagando somente entre as possibilidades.

    Eu prefiro contar com o impossvel que, convenhamos, vive cruzando nosso caminho. Alm do mais, a quem voc gostaria de recorrer na hora daquele aperto, a um Deus misericordioso que pode te ouvir e dessa vez s dessa vez! livrar sua cara ou ao Einstein, com aquela baita lngua de fora? (RODRIGUES, Angela Guagnelli. Folha de So Paulo, outubro de 2001). 11. Os textos acima formam uma espcie de debate, a partir de ttulos sugeridos por um jornal para seus leitores. A leitora Renata Nogueira questiona o prprio ttulo sugerido pelo jornal, em virtude da seguinte caracterstica que ela atribui cincia: (A) No se opor religio (B) No ser passvel de crena (C) Ser falha, limitada e mutvel (D) Ser mais honesta do que a religio 12. Para estabelecer a superioridade da religio sobre a cincia, ngela Rodrigues se baseia em: (A) Acasos do destino (B) Evidncias categricas (C) Explicaes suficientes (D) Necessidades humanas 13. A leitora partidria da religio recorre a duas metonmias para demonstrar melhor a sua posio. Essas metonmias esto indicadas na seguinte alternativa: (A) Deus e Einstein (B) Religio e Cincia (C) Acreditar e Contar (D) Coincidncia e Explicao

    14. Ao defender a religio, a leitora ngela Rodrigues constri um tipo de discurso diferente do cientfico, normalmente caracterizado por argumentos e provas. Essa diferena, na carta da leitora, marcada por: (A) Aluso a fatos inesperados (B) Registro de preferncias pessoais (C) Referncia a cientistas conhecidos (D) Meno a comportamentos sociais Texto VI A ARTE DA CONVERSA

    Estou hoje com bem pouca disposio para escrever.

    Conversemos. A conversa uma das coisas mais agradveis e

    mais teis que existe no mundo. A princpio conversava-se para distrair e passar o

    tempo, mas atualmente a conversa deixou de ser um simples devaneio do esprito.

    Dizia Esopo que a palavra a melhor, e tambm a pior coisa que Deus deu ao homem.

    Ora, para fazer valer este dom, preciso saber conversar, preciso estudar profundamente todos os recursos da palavra.

    A conversa, portanto, pode ser uma arte, uma cincia, uma profisso mesmo.

    H, porm, diversas maneiras de conversar. Conversa-se a dois, en tte--tte; e palestra-se com muitas pessoas, en causerie

    9.

    A causerie uma verdadeira arte como a pintura, como a msica, como a escultura. A palavra um instrumento, um cinzel, um craion

    10 que traa mil

    arabescos, que desenha baixos-relevos e tece mil harmonias de sons e de formas.

    Na causerie o esprito uma borboleta de asas douradas que adeja sobre as ideias e sobre os pensamentos, que suga-lhes o mel e o perfume, que esvoaa em ziguezague at que adormece na sua crislida.

    A imaginao um prisma brilhante, que reflete todas as cores, que decompem os menores tomos de luz, que faz cintilar um raio do pensamento por cada uma de suas facetas difanas.

    A conversa a dois, ao contrrio, fria e calculada como uma cincia: tem alguma coisa das matemticas, e muito da estratgica militar.

    Por isso, quando ela no um clculo de lgebra ou a resoluo de um problema, torna-se ordinariamente um duelo e um combate.

    Assim, quando virdes dois amigos, dois velhos camaradas, que conversam intimamente e a ss, ficai certo que esto calculando algebricamente o proveito que podem tirar um do outro, e resolvendo praticamente o grande problema da amizade clssica dos tempos antigos.

    Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso,

    9 Conversa em grupo

    10 lpis, giz

  • 3

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    cruciante e onmodo1 de minha cor... Nas dobras do

    pergaminho da carta, traria presa a considerao de toda a gente. Seguro do respeito minha majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida em fora. No titubearia, no hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam

    2 no meu

    crebro. O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida,

    oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria mascarado, disfarado...

    Ah! Doutor! Doutor!... Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances mltiplos, vrios polifrmicos... Era um pallium

    3, era alguma cousa como clmide

    4 sagrada, tecida

    com um fio tnue e quase impondervel, mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva afastar-se-iam transidas

    5 do meu corpo, no se animariam a tocar-

    me nas roupas, no calado sequer. O invisvel distribuidor de raios solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexorveis

    6, com o

    comum dos homens que no doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola, inflado

    7 e grosso,

    como um sapo-entanha antes de ferir a martelada beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praas, pelas estradas, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como est, doutor? Era sobre-humano!... (BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001). 9. O discurso do personagem-narrador manifesta uma nsia de reconhecimento social expressa em detalhes ou em pequenos objetos. Um exemplo desse procedimento narrativo est em: (A) faria os exames, ao fim dos quais seria doutor! (B) Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a

    considerao de toda a gente. (C) Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances

    mltiplos, vrios polifrmicos... (D) era alguma cousa como clmide sagrada, Texto IV FRUM DE DISCUSSO MENSAGEM 1: A cincia, para muitos, tem um lado maligno. Para alguns, estamos passando por uma nova Idade Mdia, onde a tcnica alienante faz as vezes da religio catlica. At agora, minha concluso pessimista: por mais que violentemos nosso pensamento, nossa razo ainda estar subordinada ao desejo. E assim, no h certo ou errado. A cincia nos d (ou melhor, vende) armas contra a natureza, que usamos contra ns mesmos, apenas isso.

    1 De todos os modos, irrestrito

    2 Agitavam

    3Manto

    4 Manto

    5 Assustadas

    6 Inflexveis

    7 Vaidoso

    No existe nada mais irracional que o trabalho cientfico dos dias atuais. MENSAGEM 2: Caro M., o que voc entende exatamente por cincia? Um orculo todo-poderoso e prepotente que diz aos pobres e tolos homens o que est certo e o que errado? Como pode dizer que ela nos d armas contra a natureza? No me vem cabea neste momento caracterstica mais prpria da natureza humana do que o modo cientfico de pensar. Voc no consegue encontrar nada de cientfico no mtodo de caa de um aborgene australiano? Ou ento no modo de um crenacarore

    8 do Amazonas tratar a

    terra para o cultivo? Voc est claramente confundindo aplicao da tecnologia com cincia. Muitos filsofos tm tido problemas para separar uma coisa da outra (e muitos cientistas tambm). Se voc acha que construir uma bomba atmica, por exemplo, um trabalho cientfico, est enganado. pura e simplesmente um trabalho tecnolgico. claro que ele depende do conhecimento cientfico, mas impossvel construir conhecimento cientfico visando sua aplicao imediata. Aqueles que, como voc, confundem Igreja Catlica da Idade Mdia com cincia, esquecem-se (ou no sabem) que esta ltima tem embutida em si um mecanismo de correo de erros, que o motor que a move. Nenhuma questo tratada pela cincia como fechada, nenhum conhecimento est imune de questionamento e dvida. Com certeza eu no concordo com muito do que a humanidade vem construindo atravs da aplicao do conhecimento cientfico; no entanto, a prpria cincia a arma mais poderosa que temos para enfrentar estas questes, e por isso critic-la um tiro pela culatra. Voc pode fazer como muitos histricos e criticar a cincia porque a Monsanto patenteou uma soja que tolera um nico pesticida, cinco vezes mais forte que os tradicionais, alm do fato de o pesticida ser da prpria Monsanto. Mas voc estar tambm sendo contra a salvao de milhares de vidas na frica, onde o nico modo de obter-se vacinas cultivando bananas transgnicas que contm antgenos. Para mim, isto que ser irracional. (Frum Ctico Brasileiro janeiro de 2002 http://www.nitnet.com.br) 10. O autor da mensagem 2, na sua resposta, emprega um sofisma: desvia-se da questo em debate e sugere uma desqualificao do oponente. Esse sofisma est contido na seguinte alternativa: (A) Caro M., o que voc entende exatamente por

    'cincia'? (B) Voc est claramente confundindo aplicao da

    tecnologia com cincia. (C) Se voc acha que construir uma bomba atmica, por

    exemplo, um trabalho cientfico, est enganado. (D) Voc pode fazer como muitos histricos e criticar a

    cincia

    8 Indivduo pertencente tribo indgena de mesmo nome

  • 2

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    grandes romancistas o segredo de fazer. Mas no a ambio literria que me move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas plidas Recordaes. Com elas, queria modificar a opinio dos meus concidados, obrig-los a pensar de outro modo, a no se encherem de hostilidade e m vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos que tinha h dez anos passados. Tento mostrar que so legtimos e, se no merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferena.

    Entretanto, quantas dores, quantas angstias! Vivo aqui s, isto , sem relaes intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou trs bacharis idiotas e um mdico mezinheiro, repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (...) Entretanto, se eu amanh lhes fosse falar neste livro - que espanto! Que sarcasmo! Que crtica desanimadora no fariam. Depois que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras, no falo das minhas lucubraes intelectuais a ningum, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:

    Vem dormir, Isaas! Deixa esse relatrio para amanh.

    De forma que no tenho por onde aferir se as minhas Recordaes preenchem o fim a que as destino; se a minha inabilidade literria est prejudicando completamente o seu pensamento. Que tortura! E no s isso: envergonho-me por esta ou aquela passagem em que me acho, em 30 35 que me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pblica... Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que s vezes acordo, vem dela, unicamente dela. Quero abandon-la; mas no posso absolutamente. De manh, ao almoo, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, s penso nela. noite, quando todos em casa se vo recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto captulo e ainda no me preocupei em faz-la pblica, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da opinio nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa tambm, amanh ou daqui a sculos, despertar um escritor mais hbil que a refaa e que diga o que no pude nem soube dizer.

    (...) Imagino como um escritor hbil no saberia dizer o que eu senti l dentro. Eu que sofri e pensei no o sei narrar. J por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a pgina, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido. (BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001).

    4. O texto de Lima Barreto explora o recurso da metalinguagem, ao comentar, na sua fico, o prprio ato de compor uma fico. Esse recurso est exemplificado principalmente em: (A) So em geral de uma lastimvel limitao de ideias, (B) Vivo aqui s, isto , sem relaes intelectuais de qualquer ordem.

    (C) Vem dormir, Isaas! Deixa esse relatrio para amanh! (D) J por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a pgina, achei-a incolor, comum, 5. O personagem Isaas Caminha faz crticas queles que ele denomina literatos. No primeiro pargrafo, podemos entender que os chamados literatos so escritores com a caracterstica de: (A) carecer de bons leitores (B) negar o talento individual (C) repetir regras consagradas (D) apresentar erros de escrita 6. O personagem parece julgar quase todos que o rodeiam, mas no se exime de julgar tambm a si mesmo. Um julgamento autocrtico de Isaas Caminha est melhor ilustrado no seguinte trecho: (A) Confesso que os leio, que os estudos, (B) Mas no a ambio literria que me move (C) Entretanto, quantas dores, quantas angstias! (D) Imagino como um escritor hbil no saberia dizer o que eu senti 7. s capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar,. Esse trecho se refere utilizao do seguinte mtodo de argumentao: (A) indutivo (B) dedutivo (C) dialtico (D) silogstico 8. Na descrio de sua situao e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adio. O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adio est em: (A) repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (B) me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pblica... (C) Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que s vezes acordo, vem dela, (D) Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa tambm, amanh ou daqui a sculos, despertar um escritor mais hbil. Texto III RECORDAES DO ESCRIVO ISAAS CAMINHA (Parte II)

    A minha situao no Rio estava garantida. Obteria um emprego. Um dia pelos outros iria s aulas, e todo o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!

    Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplcio premente,

  • 1

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Aula UERJ EQ1 - Exerccios Texto I - PRECONCEITO E EXCLUSO

    Os preconceitos lingusticos no discurso de quem v nos estrangeirismos uma ameaa tm aspectos comuns a todo tipo de posio purista, mas tm tambm matizes prprios. Tomando a escrita como essncia da linguagem, e tendo diante de si o portugus, lngua de cultura que dispe hoje de uma norma escrita desenvolvida ao longo de vrios sculos, [o purista] quer acreditar que os emprstimos de hoje so mais volumosos ou mais poderosos do que em outros tempos, em que a lngua teria sido mais pura. (...)

    Ao tomar-se a norma escrita, fcil esquecer que quase tudo que hoje ali est foi inicialmente estrangeiro. Por outro lado, fcil ver nos emprstimos novos, com escrita ainda no padronizada, algo que ainda no nosso. Com um pouco menos de preconceito, s esperar para que esses elementos se sedimentem na lngua, caso permaneam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza!

    Na viso alarmista de que os estrangeirismos representam um ataque lngua, est pressuposta a noo de que existiria uma lngua pura, nossa, isenta de contaminao estrangeira. No h. Pressuposta tambm est a crena de que os emprstimos poderiam manter intacto o seu carter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a lngua original poderia compreend-los. Conforme esse raciocnio, o estrangeirismo ameaa a unidade nacional porque emperra a compreenso de quem no conhece a lngua estrangeira. (...)

    O raciocnio o de que o cidado que usa estrangeirismos ao convidar para uma happy hour, por exemplo estaria excluindo quem no entende ingls, sendo que aqueles que no tiveram a oportunidade de aprender ingls, como a vastssima maioria da populao brasileira, estariam assim excludos do convite. Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situaes de maior consequncia, o uso de estrangeirismos seria um meio lingustico de excluso social. A instituio financeira banco que oferece home banking estaria excluindo quem no sabe ingls, e a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria fazendo o mesmo.

    O equvoco desse raciocnio linguisticamente preconceituoso no est em dizer que esse pode ser um processo de excluso. O equvoco est em no ver que usamos a linguagem, com ou sem estrangeirismos, o tempo todo, para demarcarmos quem de dentro ou de fora do nosso crculo de interlocuo, de dentro ou de fora dos grupos sociais aos quais queremos nos associar ou dos quais queremos nos diferenciar. (...) (GARCEZ, Pedro M. e ZILLES, Ana Maria S. In: FARACO, Carlos Alberto (org.). Estrangeirismos - guerras em torno da lngua. So Paulo: Parbola, 2001).

    1. Pode-se afirmar que o objetivo do texto defender uma opinio, a partir do estabelecimento de uma polmica com os que defendem outro ponto de vista. Esta polmica constri-se, nesse texto, pelo seguinte modo de organizao interna:

    (A) As duas posies so apresentadas por um nico enunciador

    (B) Os argumentos enunciados contrapem os usos oral e escrito da lngua

    (C) As opinies de cada lado so referendadas por testemunhos autorizados

    (D) Os defensores de cada posio alternam-se na defesa de seu ponto de vista

    2. O equvoco desse raciocnio linguisticamente preconceituoso no est em dizer que esse pode ser um processo de excluso. O fragmento acima inicia, no ltimo pargrafo, uma estratgia que busca demonstrar uma falha no raciocnio criticado pelos autores. Essa falha pode ser definida como: (A) Observao incompleta dos fatos (B) Apresentao de falso testemunho (C) Construo inadequada de silogismo (D) Ausncia de exemplificao suficiente

    3. s esperar para que esses elementos se sedimentem na lngua, caso permaneam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza! No contexto do segundo pargrafo, o trecho acima desempenha a funo de: (A) Reafirmar a certeza j apresentada de que as

    questes da linguagem devem ser tratadas com a devida objetividade

    (B) Exemplificar o comentrio contido nas frases anteriores ao mesmo tempo em que ironiza a preocupao dos puristas

    (C) Registrar estrangeirismos cuja grafia comprova que h necessidade de adaptao de novos termos s convenes do portugus

    (D) Demonstrar o argumento central de que no podemos abrir mo dos estrangeirismos e frases feitas na comunicao corrente

    Texto II RECORDAES DO ESCRIVO ISAAS CAMINHA (Parte I)

    Eu no sou literato, detesto com toda a paixo essa espcie de animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redao do O Globo, foi o bastante para no os amar, nem os imitar. So em geral de uma lastimvel limitao de ideias, cheios de frmulas, de receitas, s capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e s ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril e errneo critrio de beleza. Se me esforo por faz-lo literrio para que ele possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao esprito geral e no seu interesse, com a linguagem acessvel a ele. esse o meu propsito, o meu nico propsito. No nego que para isso tenha procurado modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das mos, tenho os autores que mais amo. (...) Confesso que os leio, que os estudos, que procuro descobrir nos

  • 6

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    19. Considerando essa definio, pode-se concluir que o silogismo a que se refere o ttulo do texto encontrado em: (A) Boa parte da populao sobrevive com apenas um

    salrio-mnimo e o salrio-mnimo no d para viver; ento, h circunstncias que impedem o salrio de ser maior.

    (B) Precisamos manter nosso prestgio com a comunidade financeira internacional; temos homens honrados e capazes; ento, preciso resistir a apelos emocionais da sociedade.

    (C) Um salrio-mnimo maior prejudicaria o pas; o salrio-mnimo impe misria a grande parte da populao; ento, o pas necessita da misria de grande parte da sua populao.

    (D) O salrio mnimo no garante vida digna para a maioria da populao; o salrio no aumenta mais por exigncia do mercado internacional; ento, preciso alterar esse modelo econmico.

    20. O encadeamento entre pargrafos um dos aspectos a serem observados na construo de textos argumentativos pode se fazer de maneiras diversas. No texto de Luiz Fernando Verssimo, o segundo pargrafo liga-se ao primeiro por meio do seguinte mecanismo: (A) Retomada, por oposio, dos argumentos j

    apresentados. (B) Sequenciao, pelo emprego de conectivo, das ideias

    discutidas. (C) Reafirmao, por uma tica diferenciada, das

    informaes j levantadas. (D) Extenso, por referncia a novos exemplos, das

    afirmaes da introduo.

  • 5

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade.

    Em outras ocasies, a conversa a dois torna-se, como dissemos, uma perfeita estratgica militar, um combate.

    A palavra transforma-se ento numa espcie de zuavo

    11 pronto ao ataque. Os olhos so duas sentinelas,

    dois ajudantes-de-campo postos de observao nalguma eminncia prxima.

    O olhar faz as vezes de espio que se quer introduzir na praa inimiga. A confidncia uma falsa sortida; o sorriso uma verdadeira cilada. Isto sucede frequentemente em poltica e em diplomacia. (...) (ALENCAR, Jos de. Correio Mercantil, 13/05/1855). 15. O escritor Jos de Alencar publicou nos jornais vrias crnicas, poca chamadas folhetins. Ele inicia o folhetim A arte da conversa com um recurso retrico comum, que se pode descrever como: (A) Imprimir tom coloquial prpria conversa (B) Dizer que no vai fazer o que est fazendo (C) Negar a importncia do que acha importante (D) Invocar a autoridade de um autor j reconhecido 16. Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso, podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade. Alencar formula, no fragmento destacado, um argumento dedutivo, conhecido como: (A) Tese (B) Dilema (C) Sofisma (D) Hiptese 17. Digamos que um poltico em campanha eleitoral afirme: se um partido mais organizado, devemos votar nele; ora, o

    meu partido mais organizado; logo, vocs devem votar nos

    candidatos do meu partido; como um destes candidatos sou eu

    mesmo, no lhes parece bastante razovel que vocs votem

    em mim?

    Para apoiar sua tese, ele recorre a um professor de Lgica que, consultado, concorda que o argumento vlido. Entretanto, o argumento do candidato pode ser questionado. Este questionamento, segundo os mesmos princpios de Lgica, deve defender que: (A) quando se admite a validade de um argumento, no se admite ao mesmo tempo a sua verdade.

    11 Soldado argelino

    (B) uma vez que o professor de Lgica humano, ele pode estar to errado quanto o candidato. (C) j que o exerccio da democracia exige compromisso poltico, no se pode pautar o voto apenas pela lgica. (D) como o argumento do candidato beneficia todos os candidatos do seu partido, tanto faz votar nele como nos outros. 18. Em 1648, um qumico holands, chamado Jean Baptist von Helmont, argumentando indutivamente, relatou a seguinte experincia, para comprovar a tese da gerao espontnea: Faa um buraco num tijolo, ponha ali erva de manjerico bem

    triturada. Aplique um segundo tijolo sobre o primeiro e

    exponha tudo ao sol. Alguns dias mais tarde, tendo o

    manjerico agido como fermento, voc ver nascer pequenos

    escorpies.

    Hoje, sabemos que escorpies no nascem assim. A concluso do qumico pode ser refutada logicamente pelo argumento indicado em: (A) A experincia no resistiu passagem do tempo (B) Uma hiptese alternativa para o fenmeno no foi

    lembrada (C) O qumico no tinha competncia para a realizao

    da experincia (D) A gerao espontnea no pode ser comprovada com

    experimentos TEXTO VII - SILOGISMO

    Um salrio-mnimo maior do que o que vo dar desarrumaria as contas pblicas, comprometeria o programa de estabilizao do Governo, quebraria a Previdncia, inviabilizaria o pas e provavelmente desmancharia o penteado do Malan. Quem prega um salrio-mnimo maior o faz por demagogia, oportunismo poltico ou desinformao. Srios, sensatos, adultos e responsveis so os que defendem o reajuste possvel, nas circunstncias, mesmo reconhecendo que pouco.

    Como boa parte da populao brasileira vive de um mnimo que no d para viver e as circunstncias que o impedem de ser maior no vo mudar to cedo, eis-nos num silogismo brbaro: se o pas s sobrevive com mais da metade da sua populao condenada a uma subvida perptua, estamos todos condenados a uma lgica do absurdo. Aqui o srio temerrio, o sensato insensato, o adulto irreal e o responsvel criminoso. A nossa estabilidade e o nosso prestgio com a comunidade financeira internacional se devem tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos emocionais, mantm uma poltica econmica solidamente fundeada na misria alheia e uma admirvel coerncia baseada na fome dos outros. O pas s vivel se metade da sua populao no for. (...) (VERSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000) Silogismo: raciocnio dedutivo estruturado formalmente a

    partir de duas proposies (premissas), das quais se obtm por

    inferncia uma terceira (concluso).

  • 4

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Texto V CINCIA VERSUS RELIGIO Por que acredito mais na cincia do que na religio?

    Eu acredito na cincia porque ela no pede que acreditemos nela. A cincia nos diz honestamente que conhece apenas parte da natureza. Assume tranquilamente que no tem todas as respostas e que nunca as ter. A cincia no exige f, mas convencimento. Sabe ser reflexo de todos os preconceitos e fraquezas das sociedades que a produziram, mas procura transcend-los. Sabe que falha, limitada e mutvel, e nisso consistem sua fora e sua beleza. Por tudo isso, no que eu acredite na cincia. Eu, simplesmente, confio nela. (NOGUEIRA, Renata Nascimento. Folha de So Paulo, outubro de 2001). Por que acredito mais na religio do que na cincia?

    Coincidncia. Acaso. Destino. Tantas explicaes que no explicam muito, quando a gente fala de uma coisa que nos intriga e para a qual sabemos que no existe mesmo uma explicao. Acho que a religio supera em muito a cincia porque se apega capacidade mais indmita do ser humano a de acreditar.

    Gosto de saber que existe algum comigo o tempo todo, que me ouve, que me faz estar neste ou naquele lugar na hora certa por este ou aquele motivo. o inesperado, o salto no escuro. Quem no acredita, fica vagando somente entre as possibilidades.

    Eu prefiro contar com o impossvel que, convenhamos, vive cruzando nosso caminho. Alm do mais, a quem voc gostaria de recorrer na hora daquele aperto, a um Deus misericordioso que pode te ouvir e dessa vez s dessa vez! livrar sua cara ou ao Einstein, com aquela baita lngua de fora? (RODRIGUES, Angela Guagnelli. Folha de So Paulo, outubro de 2001). 11. Os textos acima formam uma espcie de debate, a partir de ttulos sugeridos por um jornal para seus leitores. A leitora Renata Nogueira questiona o prprio ttulo sugerido pelo jornal, em virtude da seguinte caracterstica que ela atribui cincia: (A) No se opor religio (B) No ser passvel de crena (C) Ser falha, limitada e mutvel (D) Ser mais honesta do que a religio 12. Para estabelecer a superioridade da religio sobre a cincia, ngela Rodrigues se baseia em: (A) Acasos do destino (B) Evidncias categricas (C) Explicaes suficientes (D) Necessidades humanas 13. A leitora partidria da religio recorre a duas metonmias para demonstrar melhor a sua posio. Essas metonmias esto indicadas na seguinte alternativa: (A) Deus e Einstein (B) Religio e Cincia (C) Acreditar e Contar (D) Coincidncia e Explicao

    14. Ao defender a religio, a leitora ngela Rodrigues constri um tipo de discurso diferente do cientfico, normalmente caracterizado por argumentos e provas. Essa diferena, na carta da leitora, marcada por: (A) Aluso a fatos inesperados (B) Registro de preferncias pessoais (C) Referncia a cientistas conhecidos (D) Meno a comportamentos sociais Texto VI A ARTE DA CONVERSA

    Estou hoje com bem pouca disposio para escrever.

    Conversemos. A conversa uma das coisas mais agradveis e

    mais teis que existe no mundo. A princpio conversava-se para distrair e passar o

    tempo, mas atualmente a conversa deixou de ser um simples devaneio do esprito.

    Dizia Esopo que a palavra a melhor, e tambm a pior coisa que Deus deu ao homem.

    Ora, para fazer valer este dom, preciso saber conversar, preciso estudar profundamente todos os recursos da palavra.

    A conversa, portanto, pode ser uma arte, uma cincia, uma profisso mesmo.

    H, porm, diversas maneiras de conversar. Conversa-se a dois, en tte--tte; e palestra-se com muitas pessoas, en causerie

    9.

    A causerie uma verdadeira arte como a pintura, como a msica, como a escultura. A palavra um instrumento, um cinzel, um craion

    10 que traa mil

    arabescos, que desenha baixos-relevos e tece mil harmonias de sons e de formas.

    Na causerie o esprito uma borboleta de asas douradas que adeja sobre as ideias e sobre os pensamentos, que suga-lhes o mel e o perfume, que esvoaa em ziguezague at que adormece na sua crislida.

    A imaginao um prisma brilhante, que reflete todas as cores, que decompem os menores tomos de luz, que faz cintilar um raio do pensamento por cada uma de suas facetas difanas.

    A conversa a dois, ao contrrio, fria e calculada como uma cincia: tem alguma coisa das matemticas, e muito da estratgica militar.

    Por isso, quando ela no um clculo de lgebra ou a resoluo de um problema, torna-se ordinariamente um duelo e um combate.

    Assim, quando virdes dois amigos, dois velhos camaradas, que conversam intimamente e a ss, ficai certo que esto calculando algebricamente o proveito que podem tirar um do outro, e resolvendo praticamente o grande problema da amizade clssica dos tempos antigos.

    Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso,

    9 Conversa em grupo

    10 lpis, giz

  • 3

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    cruciante e onmodo1 de minha cor... Nas dobras do

    pergaminho da carta, traria presa a considerao de toda a gente. Seguro do respeito minha majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida em fora. No titubearia, no hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam

    2 no meu

    crebro. O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida,

    oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria mascarado, disfarado...

    Ah! Doutor! Doutor!... Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances mltiplos, vrios polifrmicos... Era um pallium

    3, era alguma cousa como clmide

    4 sagrada, tecida

    com um fio tnue e quase impondervel, mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva afastar-se-iam transidas

    5 do meu corpo, no se animariam a tocar-

    me nas roupas, no calado sequer. O invisvel distribuidor de raios solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexorveis

    6, com o

    comum dos homens que no doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola, inflado

    7 e grosso,

    como um sapo-entanha antes de ferir a martelada beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praas, pelas estradas, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como est, doutor? Era sobre-humano!... (BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001). 9. O discurso do personagem-narrador manifesta uma nsia de reconhecimento social expressa em detalhes ou em pequenos objetos. Um exemplo desse procedimento narrativo est em: (A) faria os exames, ao fim dos quais seria doutor! (B) Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a

    considerao de toda a gente. (C) Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances

    mltiplos, vrios polifrmicos... (D) era alguma cousa como clmide sagrada, Texto IV FRUM DE DISCUSSO MENSAGEM 1: A cincia, para muitos, tem um lado maligno. Para alguns, estamos passando por uma nova Idade Mdia, onde a tcnica alienante faz as vezes da religio catlica. At agora, minha concluso pessimista: por mais que violentemos nosso pensamento, nossa razo ainda estar subordinada ao desejo. E assim, no h certo ou errado. A cincia nos d (ou melhor, vende) armas contra a natureza, que usamos contra ns mesmos, apenas isso.

    1 De todos os modos, irrestrito

    2 Agitavam

    3Manto

    4 Manto

    5 Assustadas

    6 Inflexveis

    7 Vaidoso

    No existe nada mais irracional que o trabalho cientfico dos dias atuais. MENSAGEM 2: Caro M., o que voc entende exatamente por cincia? Um orculo todo-poderoso e prepotente que diz aos pobres e tolos homens o que est certo e o que errado? Como pode dizer que ela nos d armas contra a natureza? No me vem cabea neste momento caracterstica mais prpria da natureza humana do que o modo cientfico de pensar. Voc no consegue encontrar nada de cientfico no mtodo de caa de um aborgene australiano? Ou ento no modo de um crenacarore

    8 do Amazonas tratar a

    terra para o cultivo? Voc est claramente confundindo aplicao da tecnologia com cincia. Muitos filsofos tm tido problemas para separar uma coisa da outra (e muitos cientistas tambm). Se voc acha que construir uma bomba atmica, por exemplo, um trabalho cientfico, est enganado. pura e simplesmente um trabalho tecnolgico. claro que ele depende do conhecimento cientfico, mas impossvel construir conhecimento cientfico visando sua aplicao imediata. Aqueles que, como voc, confundem Igreja Catlica da Idade Mdia com cincia, esquecem-se (ou no sabem) que esta ltima tem embutida em si um mecanismo de correo de erros, que o motor que a move. Nenhuma questo tratada pela cincia como fechada, nenhum conhecimento est imune de questionamento e dvida. Com certeza eu no concordo com muito do que a humanidade vem construindo atravs da aplicao do conhecimento cientfico; no entanto, a prpria cincia a arma mais poderosa que temos para enfrentar estas questes, e por isso critic-la um tiro pela culatra. Voc pode fazer como muitos histricos e criticar a cincia porque a Monsanto patenteou uma soja que tolera um nico pesticida, cinco vezes mais forte que os tradicionais, alm do fato de o pesticida ser da prpria Monsanto. Mas voc estar tambm sendo contra a salvao de milhares de vidas na frica, onde o nico modo de obter-se vacinas cultivando bananas transgnicas que contm antgenos. Para mim, isto que ser irracional. (Frum Ctico Brasileiro janeiro de 2002 http://www.nitnet.com.br) 10. O autor da mensagem 2, na sua resposta, emprega um sofisma: desvia-se da questo em debate e sugere uma desqualificao do oponente. Esse sofisma est contido na seguinte alternativa: (A) Caro M., o que voc entende exatamente por

    'cincia'? (B) Voc est claramente confundindo aplicao da

    tecnologia com cincia. (C) Se voc acha que construir uma bomba atmica, por

    exemplo, um trabalho cientfico, est enganado. (D) Voc pode fazer como muitos histricos e criticar a

    cincia

    8 Indivduo pertencente tribo indgena de mesmo nome

  • 2

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    grandes romancistas o segredo de fazer. Mas no a ambio literria que me move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas plidas Recordaes. Com elas, queria modificar a opinio dos meus concidados, obrig-los a pensar de outro modo, a no se encherem de hostilidade e m vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos que tinha h dez anos passados. Tento mostrar que so legtimos e, se no merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferena.

    Entretanto, quantas dores, quantas angstias! Vivo aqui s, isto , sem relaes intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou trs bacharis idiotas e um mdico mezinheiro, repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (...) Entretanto, se eu amanh lhes fosse falar neste livro - que espanto! Que sarcasmo! Que crtica desanimadora no fariam. Depois que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras, no falo das minhas lucubraes intelectuais a ningum, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:

    Vem dormir, Isaas! Deixa esse relatrio para amanh.

    De forma que no tenho por onde aferir se as minhas Recordaes preenchem o fim a que as destino; se a minha inabilidade literria est prejudicando completamente o seu pensamento. Que tortura! E no s isso: envergonho-me por esta ou aquela passagem em que me acho, em 30 35 que me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pblica... Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que s vezes acordo, vem dela, unicamente dela. Quero abandon-la; mas no posso absolutamente. De manh, ao almoo, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, s penso nela. noite, quando todos em casa se vo recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto captulo e ainda no me preocupei em faz-la pblica, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da opinio nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa tambm, amanh ou daqui a sculos, despertar um escritor mais hbil que a refaa e que diga o que no pude nem soube dizer.

    (...) Imagino como um escritor hbil no saberia dizer o que eu senti l dentro. Eu que sofri e pensei no o sei narrar. J por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a pgina, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido. (BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001).

    4. O texto de Lima Barreto explora o recurso da metalinguagem, ao comentar, na sua fico, o prprio ato de compor uma fico. Esse recurso est exemplificado principalmente em: (A) So em geral de uma lastimvel limitao de ideias, (B) Vivo aqui s, isto , sem relaes intelectuais de qualquer ordem.

    (C) Vem dormir, Isaas! Deixa esse relatrio para amanh! (D) J por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a pgina, achei-a incolor, comum, 5. O personagem Isaas Caminha faz crticas queles que ele denomina literatos. No primeiro pargrafo, podemos entender que os chamados literatos so escritores com a caracterstica de: (A) carecer de bons leitores (B) negar o talento individual (C) repetir regras consagradas (D) apresentar erros de escrita 6. O personagem parece julgar quase todos que o rodeiam, mas no se exime de julgar tambm a si mesmo. Um julgamento autocrtico de Isaas Caminha est melhor ilustrado no seguinte trecho: (A) Confesso que os leio, que os estudos, (B) Mas no a ambio literria que me move (C) Entretanto, quantas dores, quantas angstias! (D) Imagino como um escritor hbil no saberia dizer o que eu senti 7. s capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar,. Esse trecho se refere utilizao do seguinte mtodo de argumentao: (A) indutivo (B) dedutivo (C) dialtico (D) silogstico 8. Na descrio de sua situao e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adio. O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adio est em: (A) repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (B) me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pblica... (C) Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que s vezes acordo, vem dela, (D) Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa tambm, amanh ou daqui a sculos, despertar um escritor mais hbil. Texto III RECORDAES DO ESCRIVO ISAAS CAMINHA (Parte II)

    A minha situao no Rio estava garantida. Obteria um emprego. Um dia pelos outros iria s aulas, e todo o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!

    Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplcio premente,

  • 1

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Aula UERJ EQ1 - Exerccios Texto I - PRECONCEITO E EXCLUSO

    Os preconceitos lingusticos no discurso de quem v nos estrangeirismos uma ameaa tm aspectos comuns a todo tipo de posio purista, mas tm tambm matizes prprios. Tomando a escrita como essncia da linguagem, e tendo diante de si o portugus, lngua de cultura que dispe hoje de uma norma escrita desenvolvida ao longo de vrios sculos, [o purista] quer acreditar que os emprstimos de hoje so mais volumosos ou mais poderosos do que em outros tempos, em que a lngua teria sido mais pura. (...)

    Ao tomar-se a norma escrita, fcil esquecer que quase tudo que hoje ali est foi inicialmente estrangeiro. Por outro lado, fcil ver nos emprstimos novos, com escrita ainda no padronizada, algo que ainda no nosso. Com um pouco menos de preconceito, s esperar para que esses elementos se sedimentem na lngua, caso permaneam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza!

    Na viso alarmista de que os estrangeirismos representam um ataque lngua, est pressuposta a noo de que existiria uma lngua pura, nossa, isenta de contaminao estrangeira. No h. Pressuposta tambm est a crena de que os emprstimos poderiam manter intacto o seu carter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a lngua original poderia compreend-los. Conforme esse raciocnio, o estrangeirismo ameaa a unidade nacional porque emperra a compreenso de quem no conhece a lngua estrangeira. (...)

    O raciocnio o de que o cidado que usa estrangeirismos ao convidar para uma happy hour, por exemplo estaria excluindo quem no entende ingls, sendo que aqueles que no tiveram a oportunidade de aprender ingls, como a vastssima maioria da populao brasileira, estariam assim excludos do convite. Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situaes de maior consequncia, o uso de estrangeirismos seria um meio lingustico de excluso social. A instituio financeira banco que oferece home banking estaria excluindo quem no sabe ingls, e a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria fazendo o mesmo.

    O equvoco desse raciocnio linguisticamente preconceituoso no est em dizer que esse pode ser um processo de excluso. O equvoco est em no ver que usamos a linguagem, com ou sem estrangeirismos, o tempo todo, para demarcarmos quem de dentro ou de fora do nosso crculo de interlocuo, de dentro ou de fora dos grupos sociais aos quais queremos nos associar ou dos quais queremos nos diferenciar. (...) (GARCEZ, Pedro M. e ZILLES, Ana Maria S. In: FARACO, Carlos Alberto (org.). Estrangeirismos - guerras em torno da lngua. So Paulo: Parbola, 2001).

    1. Pode-se afirmar que o objetivo do texto defender uma opinio, a partir do estabelecimento de uma polmica com os que defendem outro ponto de vista. Esta polmica constri-se, nesse texto, pelo seguinte modo de organizao interna:

    (A) As duas posies so apresentadas por um nico enunciador

    (B) Os argumentos enunciados contrapem os usos oral e escrito da lngua

    (C) As opinies de cada lado so referendadas por testemunhos autorizados

    (D) Os defensores de cada posio alternam-se na defesa de seu ponto de vista

    2. O equvoco desse raciocnio linguisticamente preconceituoso no est em dizer que esse pode ser um processo de excluso. O fragmento acima inicia, no ltimo pargrafo, uma estratgia que busca demonstrar uma falha no raciocnio criticado pelos autores. Essa falha pode ser definida como: (A) Observao incompleta dos fatos (B) Apresentao de falso testemunho (C) Construo inadequada de silogismo (D) Ausncia de exemplificao suficiente

    3. s esperar para que esses elementos se sedimentem na lngua, caso permaneam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza! No contexto do segundo pargrafo, o trecho acima desempenha a funo de: (A) Reafirmar a certeza j apresentada de que as

    questes da linguagem devem ser tratadas com a devida objetividade

    (B) Exemplificar o comentrio contido nas frases anteriores ao mesmo tempo em que ironiza a preocupao dos puristas

    (C) Registrar estrangeirismos cuja grafia comprova que h necessidade de adaptao de novos termos s convenes do portugus

    (D) Demonstrar o argumento central de que no podemos abrir mo dos estrangeirismos e frases feitas na comunicao corrente

    Texto II RECORDAES DO ESCRIVO ISAAS CAMINHA (Parte I)

    Eu no sou literato, detesto com toda a paixo essa espcie de animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redao do O Globo, foi o bastante para no os amar, nem os imitar. So em geral de uma lastimvel limitao de ideias, cheios de frmulas, de receitas, s capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e s ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril e errneo critrio de beleza. Se me esforo por faz-lo literrio para que ele possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao esprito geral e no seu interesse, com a linguagem acessvel a ele. esse o meu propsito, o meu nico propsito. No nego que para isso tenha procurado modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das mos, tenho os autores que mais amo. (...) Confesso que os leio, que os estudos, que procuro descobrir nos

  • 6

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    19. Considerando essa definio, pode-se concluir que o silogismo a que se refere o ttulo do texto encontrado em: (A) Boa parte da populao sobrevive com apenas um

    salrio-mnimo e o salrio-mnimo no d para viver; ento, h circunstncias que impedem o salrio de ser maior.

    (B) Precisamos manter nosso prestgio com a comunidade financeira internacional; temos homens honrados e capazes; ento, preciso resistir a apelos emocionais da sociedade.

    (C) Um salrio-mnimo maior prejudicaria o pas; o salrio-mnimo impe misria a grande parte da populao; ento, o pas necessita da misria de grande parte da sua populao.

    (D) O salrio mnimo no garante vida digna para a maioria da populao; o salrio no aumenta mais por exigncia do mercado internacional; ento, preciso alterar esse modelo econmico.

    20. O encadeamento entre pargrafos um dos aspectos a serem observados na construo de textos argumentativos pode se fazer de maneiras diversas. No texto de Luiz Fernando Verssimo, o segundo pargrafo liga-se ao primeiro por meio do seguinte mecanismo: (A) Retomada, por oposio, dos argumentos j

    apresentados. (B) Sequenciao, pelo emprego de conectivo, das ideias

    discutidas. (C) Reafirmao, por uma tica diferenciada, das

    informaes j levantadas. (D) Extenso, por referncia a novos exemplos, das

    afirmaes da introduo.

  • 5

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade.

    Em outras ocasies, a conversa a dois torna-se, como dissemos, uma perfeita estratgica militar, um combate.

    A palavra transforma-se ento numa espcie de zuavo

    11 pronto ao ataque. Os olhos so duas sentinelas,

    dois ajudantes-de-campo postos de observao nalguma eminncia prxima.

    O olhar faz as vezes de espio que se quer introduzir na praa inimiga. A confidncia uma falsa sortida; o sorriso uma verdadeira cilada. Isto sucede frequentemente em poltica e em diplomacia. (...) (ALENCAR, Jos de. Correio Mercantil, 13/05/1855). 15. O escritor Jos de Alencar publicou nos jornais vrias crnicas, poca chamadas folhetins. Ele inicia o folhetim A arte da conversa com um recurso retrico comum, que se pode descrever como: (A) Imprimir tom coloquial prpria conversa (B) Dizer que no vai fazer o que est fazendo (C) Negar a importncia do que acha importante (D) Invocar a autoridade de um autor j reconhecido 16. Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso, podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade. Alencar formula, no fragmento destacado, um argumento dedutivo, conhecido como: (A) Tese (B) Dilema (C) Sofisma (D) Hiptese 17. Digamos que um poltico em campanha eleitoral afirme: se um partido mais organizado, devemos votar nele; ora, o

    meu partido mais organizado; logo, vocs devem votar nos

    candidatos do meu partido; como um destes candidatos sou eu

    mesmo, no lhes parece bastante razovel que vocs votem

    em mim?

    Para apoiar sua tese, ele recorre a um professor de Lgica que, consultado, concorda que o argumento vlido. Entretanto, o argumento do candidato pode ser questionado. Este questionamento, segundo os mesmos princpios de Lgica, deve defender que: (A) quando se admite a validade de um argumento, no se admite ao mesmo tempo a sua verdade.

    11 Soldado argelino

    (B) uma vez que o professor de Lgica humano, ele pode estar to errado quanto o candidato. (C) j que o exerccio da democracia exige compromisso poltico, no se pode pautar o voto apenas pela lgica. (D) como o argumento do candidato beneficia todos os candidatos do seu partido, tanto faz votar nele como nos outros. 18. Em 1648, um qumico holands, chamado Jean Baptist von Helmont, argumentando indutivamente, relatou a seguinte experincia, para comprovar a tese da gerao espontnea: Faa um buraco num tijolo, ponha ali erva de manjerico bem

    triturada. Aplique um segundo tijolo sobre o primeiro e

    exponha tudo ao sol. Alguns dias mais tarde, tendo o

    manjerico agido como fermento, voc ver nascer pequenos

    escorpies.

    Hoje, sabemos que escorpies no nascem assim. A concluso do qumico pode ser refutada logicamente pelo argumento indicado em: (A) A experincia no resistiu passagem do tempo (B) Uma hiptese alternativa para o fenmeno no foi

    lembrada (C) O qumico no tinha competncia para a realizao

    da experincia (D) A gerao espontnea no pode ser comprovada com

    experimentos TEXTO VII - SILOGISMO

    Um salrio-mnimo maior do que o que vo dar desarrumaria as contas pblicas, comprometeria o programa de estabilizao do Governo, quebraria a Previdncia, inviabilizaria o pas e provavelmente desmancharia o penteado do Malan. Quem prega um salrio-mnimo maior o faz por demagogia, oportunismo poltico ou desinformao. Srios, sensatos, adultos e responsveis so os que defendem o reajuste possvel, nas circunstncias, mesmo reconhecendo que pouco.

    Como boa parte da populao brasileira vive de um mnimo que no d para viver e as circunstncias que o impedem de ser maior no vo mudar to cedo, eis-nos num silogismo brbaro: se o pas s sobrevive com mais da metade da sua populao condenada a uma subvida perptua, estamos todos condenados a uma lgica do absurdo. Aqui o srio temerrio, o sensato insensato, o adulto irreal e o responsvel criminoso. A nossa estabilidade e o nosso prestgio com a comunidade financeira internacional se devem tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos emocionais, mantm uma poltica econmica solidamente fundeada na misria alheia e uma admirvel coerncia baseada na fome dos outros. O pas s vivel se metade da sua populao no for. (...) (VERSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000) Silogismo: raciocnio dedutivo estruturado formalmente a

    partir de duas proposies (premissas), das quais se obtm por

    inferncia uma terceira (concluso).

  • 4

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Texto V CINCIA VERSUS RELIGIO Por que acredito mais na cincia do que na religio?

    Eu acredito na cincia porque ela no pede que acreditemos nela. A cincia nos diz honestamente que conhece apenas parte da natureza. Assume tranquilamente que no tem todas as respostas e que nunca as ter. A cincia no exige f, mas convencimento. Sabe ser reflexo de todos os preconceitos e fraquezas das sociedades que a produziram, mas procura transcend-los. Sabe que falha, limitada e mutvel, e nisso consistem sua fora e sua beleza. Por tudo isso, no que eu acredite na cincia. Eu, simplesmente, confio nela. (NOGUEIRA, Renata Nascimento. Folha de So Paulo, outubro de 2001). Por que acredito mais na religio do que na cincia?

    Coincidncia. Acaso. Destino. Tantas explicaes que no explicam muito, quando a gente fala de uma coisa que nos intriga e para a qual sabemos que no existe mesmo uma explicao. Acho que a religio supera em muito a cincia porque se apega capacidade mais indmita do ser humano a de acreditar.

    Gosto de saber que existe algum comigo o tempo todo, que me ouve, que me faz estar neste ou naquele lugar na hora certa por este ou aquele motivo. o inesperado, o salto no escuro. Quem no acredita, fica vagando somente entre as possibilidades.

    Eu prefiro contar com o impossvel que, convenhamos, vive cruzando nosso caminho. Alm do mais, a quem voc gostaria de recorrer na hora daquele aperto, a um Deus misericordioso que pode te ouvir e dessa vez s dessa vez! livrar sua cara ou ao Einstein, com aquela baita lngua de fora? (RODRIGUES, Angela Guagnelli. Folha de So Paulo, outubro de 2001). 11. Os textos acima formam uma espcie de debate, a partir de ttulos sugeridos por um jornal para seus leitores. A leitora Renata Nogueira questiona o prprio ttulo sugerido pelo jornal, em virtude da seguinte caracterstica que ela atribui cincia: (A) No se opor religio (B) No ser passvel de crena (C) Ser falha, limitada e mutvel (D) Ser mais honesta do que a religio 12. Para estabelecer a superioridade da religio sobre a cincia, ngela Rodrigues se baseia em: (A) Acasos do destino (B) Evidncias categricas (C) Explicaes suficientes (D) Necessidades humanas 13. A leitora partidria da religio recorre a duas metonmias para demonstrar melhor a sua posio. Essas metonmias esto indicadas na seguinte alternativa: (A) Deus e Einstein (B) Religio e Cincia (C) Acreditar e Contar (D) Coincidncia e Explicao

    14. Ao defender a religio, a leitora ngela Rodrigues constri um tipo de discurso diferente do cientfico, normalmente caracterizado por argumentos e provas. Essa diferena, na carta da leitora, marcada por: (A) Aluso a fatos inesperados (B) Registro de preferncias pessoais (C) Referncia a cientistas conhecidos (D) Meno a comportamentos sociais Texto VI A ARTE DA CONVERSA

    Estou hoje com bem pouca disposio para escrever.

    Conversemos. A conversa uma das coisas mais agradveis e

    mais teis que existe no mundo. A princpio conversava-se para distrair e passar o

    tempo, mas atualmente a conversa deixou de ser um simples devaneio do esprito.

    Dizia Esopo que a palavra a melhor, e tambm a pior coisa que Deus deu ao homem.

    Ora, para fazer valer este dom, preciso saber conversar, preciso estudar profundamente todos os recursos da palavra.

    A conversa, portanto, pode ser uma arte, uma cincia, uma profisso mesmo.

    H, porm, diversas maneiras de conversar. Conversa-se a dois, en tte--tte; e palestra-se com muitas pessoas, en causerie

    9.

    A causerie uma verdadeira arte como a pintura, como a msica, como a escultura. A palavra um instrumento, um cinzel, um craion

    10 que traa mil

    arabescos, que desenha baixos-relevos e tece mil harmonias de sons e de formas.

    Na causerie o esprito uma borboleta de asas douradas que adeja sobre as ideias e sobre os pensamentos, que suga-lhes o mel e o perfume, que esvoaa em ziguezague at que adormece na sua crislida.

    A imaginao um prisma brilhante, que reflete todas as cores, que decompem os menores tomos de luz, que faz cintilar um raio do pensamento por cada uma de suas facetas difanas.

    A conversa a dois, ao contrrio, fria e calculada como uma cincia: tem alguma coisa das matemticas, e muito da estratgica militar.

    Por isso, quando ela no um clculo de lgebra ou a resoluo de um problema, torna-se ordinariamente um duelo e um combate.

    Assim, quando virdes dois amigos, dois velhos camaradas, que conversam intimamente e a ss, ficai certo que esto calculando algebricamente o proveito que podem tirar um do outro, e resolvendo praticamente o grande problema da amizade clssica dos tempos antigos.

    Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso,

    9 Conversa em grupo

    10 lpis, giz

  • 3

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    cruciante e onmodo1 de minha cor... Nas dobras do

    pergaminho da carta, traria presa a considerao de toda a gente. Seguro do respeito minha majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida em fora. No titubearia, no hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam

    2 no meu

    crebro. O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida,

    oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria mascarado, disfarado...

    Ah! Doutor! Doutor!... Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances mltiplos, vrios polifrmicos... Era um pallium

    3, era alguma cousa como clmide

    4 sagrada, tecida

    com um fio tnue e quase impondervel, mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva afastar-se-iam transidas

    5 do meu corpo, no se animariam a tocar-

    me nas roupas, no calado sequer. O invisvel distribuidor de raios solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexorveis

    6, com o

    comum dos homens que no doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola, inflado

    7 e grosso,

    como um sapo-entanha antes de ferir a martelada beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praas, pelas estradas, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como est, doutor? Era sobre-humano!... (BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001). 9. O discurso do personagem-narrador manifesta uma nsia de reconhecimento social expressa em detalhes ou em pequenos objetos. Um exemplo desse procedimento narrativo est em: (A) faria os exames, ao fim dos quais seria doutor! (B) Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a

    considerao de toda a gente. (C) Era mgico o ttulo, tinha poderes e alcances

    mltiplos, vrios polifrmicos... (D) era alguma cousa como clmide sagrada, Texto IV FRUM DE DISCUSSO MENSAGEM 1: A cincia, para muitos, tem um lado maligno. Para alguns, estamos passando por uma nova Idade Mdia, onde a tcnica alienante faz as vezes da religio catlica. At agora, minha concluso pessimista: por mais que violentemos nosso pensamento, nossa razo ainda estar subordinada ao desejo. E assim, no h certo ou errado. A cincia nos d (ou melhor, vende) armas contra a natureza, que usamos contra ns mesmos, apenas isso.

    1 De todos os modos, irrestrito

    2 Agitavam

    3Manto

    4 Manto

    5 Assustadas

    6 Inflexveis

    7 Vaidoso

    No existe nada mais irracional que o trabalho cientfico dos dias atuais. MENSAGEM 2: Caro M., o que voc entende exatamente por cincia? Um orculo todo-poderoso e prepotente que diz aos pobres e tolos homens o que est certo e o que errado? Como pode dizer que ela nos d armas contra a natureza? No me vem cabea neste momento caracterstica mais prpria da natureza humana do que o modo cientfico de pensar. Voc no consegue encontrar nada de cientfico no mtodo de caa de um aborgene australiano? Ou ento no modo de um crenacarore

    8 do Amazonas tratar a

    terra para o cultivo? Voc est claramente confundindo aplicao da tecnologia com cincia. Muitos filsofos tm tido problemas para separar uma coisa da outra (e muitos cientistas tambm). Se voc acha que construir uma bomba atmica, por exemplo, um trabalho cientfico, est enganado. pura e simplesmente um trabalho tecnolgico. claro que ele depende do conhecimento cientfico, mas impossvel construir conhecimento cientfico visando sua aplicao imediata. Aqueles que, como voc, confundem Igreja Catlica da Idade Mdia com cincia, esquecem-se (ou no sabem) que esta ltima tem embutida em si um mecanismo de correo de erros, que o motor que a move. Nenhuma questo tratada pela cincia como fechada, nenhum conhecimento est imune de questionamento e dvida. Com certeza eu no concordo com muito do que a humanidade vem construindo atravs da aplicao do conhecimento cientfico; no entanto, a prpria cincia a arma mais poderosa que temos para enfrentar estas questes, e por isso critic-la um tiro pela culatra. Voc pode fazer como muitos histricos e criticar a cincia porque a Monsanto patenteou uma soja que tolera um nico pesticida, cinco vezes mais forte que os tradicionais, alm do fato de o pesticida ser da prpria Monsanto. Mas voc estar tambm sendo contra a salvao de milhares de vidas na frica, onde o nico modo de obter-se vacinas cultivando bananas transgnicas que contm antgenos. Para mim, isto que ser irracional. (Frum Ctico Brasileiro janeiro de 2002 http://www.nitnet.com.br) 10. O autor da mensagem 2, na sua resposta, emprega um sofisma: desvia-se da questo em debate e sugere uma desqualificao do oponente. Esse sofisma est contido na seguinte alternativa: (A) Caro M., o que voc entende exatamente por

    'cincia'? (B) Voc est claramente confundindo aplicao da

    tecnologia com cincia. (C) Se voc acha que construir uma bomba atmica, por

    exemplo, um trabalho cientfico, est enganado. (D) Voc pode fazer como muitos histricos e criticar a

    cincia

    8 Indivduo pertencente tribo indgena de mesmo nome

  • 2

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    grandes romancistas o segredo de fazer. Mas no a ambio literria que me move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas plidas Recordaes. Com elas, queria modificar a opinio dos meus concidados, obrig-los a pensar de outro modo, a no se encherem de hostilidade e m vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos que tinha h dez anos passados. Tento mostrar que so legtimos e, se no merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferena.

    Entretanto, quantas dores, quantas angstias! Vivo aqui s, isto , sem relaes intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou trs bacharis idiotas e um mdico mezinheiro, repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (...) Entretanto, se eu amanh lhes fosse falar neste livro - que espanto! Que sarcasmo! Que crtica desanimadora no fariam. Depois que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras, no falo das minhas lucubraes intelectuais a ningum, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:

    Vem dormir, Isaas! Deixa esse relatrio para amanh.

    De forma que no tenho por onde aferir se as minhas Recordaes preenchem o fim a que as destino; se a minha inabilidade literria est prejudicando completamente o seu pensamento. Que tortura! E no s isso: envergonho-me por esta ou aquela passagem em que me acho, em 30 35 que me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pblica... Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que s vezes acordo, vem dela, unicamente dela. Quero abandon-la; mas no posso absolutamente. De manh, ao almoo, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, s penso nela. noite, quando todos em casa se vo recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto captulo e ainda no me preocupei em faz-la pblica, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da opinio nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa tambm, amanh ou daqui a sculos, despertar um escritor mais hbil que a refaa e que diga o que no pude nem soube dizer.

    (...) Imagino como um escritor hbil no saberia dizer o que eu senti l dentro. Eu que sofri e pensei no o sei narrar. J por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a pgina, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido. (BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001).

    4. O texto de Lima Barreto explora o recurso da metalinguagem, ao comentar, na sua fico, o prprio ato de compor uma fico. Esse recurso est exemplificado principalmente em: (A) So em geral de uma lastimvel limitao de ideias, (B) Vivo aqui s, isto , sem relaes intelectuais de qualquer ordem.

    (C) Vem dormir, Isaas! Deixa esse relatrio para amanh! (D) J por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a pgina, achei-a incolor, comum, 5. O personagem Isaas Caminha faz crticas queles que ele denomina literatos. No primeiro pargrafo, podemos entender que os chamados literatos so escritores com a caracterstica de: (A) carecer de bons leitores (B) negar o talento individual (C) repetir regras consagradas (D) apresentar erros de escrita 6. O personagem parece julgar quase todos que o rodeiam, mas no se exime de julgar tambm a si mesmo. Um julgamento autocrtico de Isaas Caminha est melhor ilustrado no seguinte trecho: (A) Confesso que os leio, que os estudos, (B) Mas no a ambio literria que me move (C) Entretanto, quantas dores, quantas angstias! (D) Imagino como um escritor hbil no saberia dizer o que eu senti 7. s capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar,. Esse trecho se refere utilizao do seguinte mtodo de argumentao: (A) indutivo (B) dedutivo (C) dialtico (D) silogstico 8. Na descrio de sua situao e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adio. O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adio est em: (A) repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (B) me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pblica... (C) Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que s vezes acordo, vem dela, (D) Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa tambm, amanh ou daqui a sculos, despertar um escritor mais hbil. Texto III RECORDAES DO ESCRIVO ISAAS CAMINHA (Parte II)

    A minha situao no Rio estava garantida. Obteria um emprego. Um dia pelos outros iria s aulas, e todo o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!

    Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplcio premente,

  • 1

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Aula UERJ EQ1 - Exerccios Texto I - PRECONCEITO E EXCLUSO

    Os preconceitos lingusticos no discurso de quem v nos estrangeirismos uma ameaa tm aspectos comuns a todo tipo de posio purista, mas tm tambm matizes prprios. Tomando a escrita como essncia da linguagem, e tendo diante de si o portugus, lngua de cultura que dispe hoje de uma norma escrita desenvolvida ao longo de vrios sculos, [o purista] quer acreditar que os emprstimos de hoje so mais volumosos ou mais poderosos do que em outros tempos, em que a lngua teria sido mais pura. (...)

    Ao tomar-se a norma escrita, fcil esquecer que quase tudo que hoje ali est foi inicialmente estrangeiro. Por outro lado, fcil ver nos emprstimos novos, com escrita ainda no padronizada, algo que ainda no nosso. Com um pouco menos de preconceito, s esperar para que esses elementos se sedimentem na lngua, caso permaneam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza!

    Na viso alarmista de que os estrangeirismos representam um ataque lngua, est pressuposta a noo de que existiria uma lngua pura, nossa, isenta de contaminao estrangeira. No h. Pressuposta tambm est a crena de que os emprstimos poderiam manter intacto o seu carter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a lngua original poderia compreend-los. Conforme esse raciocnio, o estrangeirismo ameaa a unidade nacional porque emperra a compreenso de quem no conhece a lngua estrangeira. (...)

    O raciocnio o de que o cidado que usa estrangeirismos ao convidar para uma happy hour, por exemplo estaria excluindo quem no entende ingls, sendo que aqueles que no tiveram a oportunidade de aprender ingls, como a vastssima maioria da populao brasileira, estariam assim excludos do convite. Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situaes de maior consequncia, o uso de estrangeirismos seria um meio lingustico de excluso social. A instituio financeira banco que oferece home banking estaria excluindo quem no sabe ingls, e a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria fazendo o mesmo.

    O equvoco desse raciocnio linguisticamente preconceituoso no est em dizer que esse pode ser um processo de excluso. O equvoco est em no ver que usamos a linguagem, com ou sem estrangeirismos, o tempo todo, para demarcarmos quem de dentro ou de fora do nosso crculo de interlocuo, de dentro ou de fora dos grupos sociais aos quais queremos nos associar ou dos quais queremos nos diferenciar. (...) (GARCEZ, Pedro M. e ZILLES, Ana Maria S. In: FARACO, Carlos Alberto (org.). Estrangeirismos - guerras em torno da lngua. So Paulo: Parbola, 2001).

    1. Pode-se afirmar que o objetivo do texto defender uma opinio, a partir do estabelecimento de uma polmica com os que defendem outro ponto de vista. Esta polmica constri-se, nesse texto, pelo seguinte modo de organizao interna:

    (A) As duas posies so apresentadas por um nico enunciador

    (B) Os argumentos enunciados contrapem os usos oral e escrito da lngua

    (C) As opinies de cada lado so referendadas por testemunhos autorizados

    (D) Os defensores de cada posio alternam-se na defesa de seu ponto de vista

    2. O equvoco desse raciocnio linguisticamente preconceituoso no est em dizer que esse pode ser um processo de excluso. O fragmento acima inicia, no ltimo pargrafo, uma estratgia que busca demonstrar uma falha no raciocnio criticado pelos autores. Essa falha pode ser definida como: (A) Observao incompleta dos fatos (B) Apresentao de falso testemunho (C) Construo inadequada de silogismo (D) Ausncia de exemplificao suficiente

    3. s esperar para que esses elementos se sedimentem na lngua, caso permaneam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza! No contexto do segundo pargrafo, o trecho acima desempenha a funo de: (A) Reafirmar a certeza j apresentada de que as

    questes da linguagem devem ser tratadas com a devida objetividade

    (B) Exemplificar o comentrio contido nas frases anteriores ao mesmo tempo em que ironiza a preocupao dos puristas

    (C) Registrar estrangeirismos cuja grafia comprova que h necessidade de adaptao de novos termos s convenes do portugus

    (D) Demonstrar o argumento central de que no podemos abrir mo dos estrangeirismos e frases feitas na comunicao corrente

    Texto II RECORDAES DO ESCRIVO ISAAS CAMINHA (Parte I)

    Eu no sou literato, detesto com toda a paixo essa espcie de animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redao do O Globo, foi o bastante para no os amar, nem os imitar. So em geral de uma lastimvel limitao de ideias, cheios de frmulas, de receitas, s capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e s ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril e errneo critrio de beleza. Se me esforo por faz-lo literrio para que ele possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao esprito geral e no seu interesse, com a linguagem acessvel a ele. esse o meu propsito, o meu nico propsito. No nego que para isso tenha procurado modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das mos, tenho os autores que mais amo. (...) Confesso que os leio, que os estudos, que procuro descobrir nos

  • 6

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    19. Considerando essa definio, pode-se concluir que o silogismo a que se refere o ttulo do texto encontrado em: (A) Boa parte da populao sobrevive com apenas um

    salrio-mnimo e o salrio-mnimo no d para viver; ento, h circunstncias que impedem o salrio de ser maior.

    (B) Precisamos manter nosso prestgio com a comunidade financeira internacional; temos homens honrados e capazes; ento, preciso resistir a apelos emocionais da sociedade.

    (C) Um salrio-mnimo maior prejudicaria o pas; o salrio-mnimo impe misria a grande parte da populao; ento, o pas necessita da misria de grande parte da sua populao.

    (D) O salrio mnimo no garante vida digna para a maioria da populao; o salrio no aumenta mais por exigncia do mercado internacional; ento, preciso alterar esse modelo econmico.

    20. O encadeamento entre pargrafos um dos aspectos a serem observados na construo de textos argumentativos pode se fazer de maneiras diversas. No texto de Luiz Fernando Verssimo, o segundo pargrafo liga-se ao primeiro por meio do seguinte mecanismo: (A) Retomada, por oposio, dos argumentos j

    apresentados. (B) Sequenciao, pelo emprego de conectivo, das ideias

    discutidas. (C) Reafirmao, por uma tica diferenciada, das

    informaes j levantadas. (D) Extenso, por referncia a novos exemplos, das

    afirmaes da introduo.

  • 5

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade.

    Em outras ocasies, a conversa a dois torna-se, como dissemos, uma perfeita estratgica militar, um combate.

    A palavra transforma-se ento numa espcie de zuavo

    11 pronto ao ataque. Os olhos so duas sentinelas,

    dois ajudantes-de-campo postos de observao nalguma eminncia prxima.

    O olhar faz as vezes de espio que se quer introduzir na praa inimiga. A confidncia uma falsa sortida; o sorriso uma verdadeira cilada. Isto sucede frequentemente em poltica e em diplomacia. (...) (ALENCAR, Jos de. Correio Mercantil, 13/05/1855). 15. O escritor Jos de Alencar publicou nos jornais vrias crnicas, poca chamadas folhetins. Ele inicia o folhetim A arte da conversa com um recurso retrico comum, que se pode descrever como: (A) Imprimir tom coloquial prpria conversa (B) Dizer que no vai fazer o que est fazendo (C) Negar a importncia do que acha importante (D) Invocar a autoridade de um autor j reconhecido 16. Se forem dois namorados en tte--tte, que estiverem a desfazer-se em ternuras e meiguices, requebrando os olhos e afinando o mais doce sorriso, podeis ter a certeza que ou zombam um do outro, ou buscam uma incgnita que no existe neste mundo a fidelidade. Alencar formula, no fragmento destacado, um argumento dedutivo, conhecido como: (A) Tese (B) Dilema (C) Sofisma (D) Hiptese 17. Digamos que um poltico em campanha eleitoral afirme: se um partido mais organizado, devemos votar nele; ora, o

    meu partido mais organizado; logo, vocs devem votar nos

    candidatos do meu partido; como um destes candidatos sou eu

    mesmo, no lhes parece bastante razovel que vocs votem

    em mim?

    Para apoiar sua tese, ele recorre a um professor de Lgica que, consultado, concorda que o argumento vlido. Entretanto, o argumento do candidato pode ser questionado. Este questionamento, segundo os mesmos princpios de Lgica, deve defender que: (A) quando se admite a validade de um argumento, no se admite ao mesmo tempo a sua verdade.

    11 Soldado argelino

    (B) uma vez que o professor de Lgica humano, ele pode estar to errado quanto o candidato. (C) j que o exerccio da democracia exige compromisso poltico, no se pode pautar o voto apenas pela lgica. (D) como o argumento do candidato beneficia todos os candidatos do seu partido, tanto faz votar nele como nos outros. 18. Em 1648, um qumico holands, chamado Jean Baptist von Helmont, argumentando indutivamente, relatou a seguinte experincia, para comprovar a tese da gerao espontnea: Faa um buraco num tijolo, ponha ali erva de manjerico bem

    triturada. Aplique um segundo tijolo sobre o primeiro e

    exponha tudo ao sol. Alguns dias mais tarde, tendo o

    manjerico agido como fermento, voc ver nascer pequenos

    escorpies.

    Hoje, sabemos que escorpies no nascem assim. A concluso do qumico pode ser refutada logicamente pelo argumento indicado em: (A) A experincia no resistiu passagem do tempo (B) Uma hiptese alternativa para o fenmeno no foi

    lembrada (C) O qumico no tinha competncia para a realizao

    da experincia (D) A gerao espontnea no pode ser comprovada com

    experimentos TEXTO VII - SILOGISMO

    Um salrio-mnimo maior do que o que vo dar desarrumaria as contas pblicas, comprometeria o programa de estabilizao do Governo, quebraria a Previdncia, inviabilizaria o pas e provavelmente desmancharia o penteado do Malan. Quem prega um salrio-mnimo maior o faz por demagogia, oportunismo poltico ou desinformao. Srios, sensatos, adultos e responsveis so os que defendem o reajuste possvel, nas circunstncias, mesmo reconhecendo que pouco.

    Como boa parte da populao brasileira vive de um mnimo que no d para viver e as circunstncias que o impedem de ser maior no vo mudar to cedo, eis-nos num silogismo brbaro: se o pas s sobrevive com mais da metade da sua populao condenada a uma subvida perptua, estamos todos condenados a uma lgica do absurdo. Aqui o srio temerrio, o sensato insensato, o adulto irreal e o responsvel criminoso. A nossa estabilidade e o nosso prestgio com a comunidade financeira internacional se devem tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos emocionais, mantm uma poltica econmica solidamente fundeada na misria alheia e uma admirvel coerncia baseada na fome dos outros. O pas s vivel se metade da sua populao no for. (...) (VERSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000) Silogismo: raciocnio dedutivo estruturado formalmente a

    partir de duas proposies (premissas), das quais se obtm por

    inferncia uma terceira (concluso).

  • 4

    REDAO 03 e 06/06/14 PR-VESTIBULAR

    Prof. Jos Alexandre

    Texto V CINCIA VERSUS RELIGIO Por que acredito mais na cincia do que na religio?

    Eu acredito na cincia porque ela no pede que acreditemos nela. A cincia nos diz honestamente que conhece apenas parte da natureza. Assume tranquilamente que no tem todas as respostas e que nunca as ter. A cincia no exige f, mas convencimento. Sabe ser reflexo de todos os preconceitos e fraquezas das sociedades que a produziram, mas procura transcend-los. Sabe que falha, limitada e mutvel, e nisso consistem sua fora e sua beleza. Por tudo isso, no que eu acredite na cincia. Eu, simplesmente, confio nela. (NOGUEIRA, Renata Nascimento. Folha de So Paulo, outubro de 2001). Por que acredito mais na religio do que na cincia?

    Coincidncia. Acaso. Destino. Tantas explicaes que no explicam muito, quando a gente fala de uma coisa que nos intriga e para a qual sabemos que no existe mesmo uma explicao. Acho que a religio supera em muito a cincia porque se apega capacidade mais indmita do ser humano a de acreditar.

    Gosto de saber que existe algum comigo o tempo todo, que me ouve, que me faz estar neste ou naquele lugar na hora certa por este ou aquele motivo. o inesperado, o salto no escuro. Quem no acredita, fica vagando somente entre as possibilidades.

    Eu prefiro contar com o impossvel que, convenhamos, vive cruzando nosso caminho. Alm do mais, a quem voc gostaria de recorrer na hora daquele aperto, a um Deus misericordioso que pode te ouvir e dessa vez s dessa vez! livrar sua cara ou ao Einstein, com aquela baita lngua de fora? (RODRIGUES, Angela Guagnelli. Folha de So Paulo, outubro de 2001). 11. Os textos acima formam uma espcie de debate, a partir de ttulos sugeridos por um jornal para seus leitores. A leitora Renata Nogueira questiona o prprio ttulo sugerido pelo jornal, em virtude da seguinte caracterstica que ela atribui cincia: (A) No se opor religio (B) No ser passvel de crena (C) Ser falha, limitada e mutvel (D) Ser mais honesta do que a religio 12. Para estabelecer a superioridade da religio sobre a cincia, ngela Rodrigues se baseia em: (A) Acasos do destino (B) Evidncias categricas (C) Explicaes suficientes (D) Necessidades humanas 13. A leitora partidria da religio recorre a duas metonmias para demonstrar melhor a sua posio. Essas metonmias esto indicadas na seguinte alternativa: (A) Deus e Einstein (B) Religio e Cincia (C) Acreditar e Contar (D) Coincidncia e Explicao

    14. Ao defender a religio, a leitora ngela Rodrigues constri um tipo de discurso diferente do cientfico, normalmente caracterizado por argumentos e provas. Essa diferena, na carta da leitora, marcada por: (A) Aluso a fatos inesperados (B) Registro de preferncias pessoais (C) Referncia a cientistas conhecidos (D) Meno a comportamentos sociais Texto VI A ARTE DA CONVERSA

    Estou hoje com bem pouca disposio para escrever.

    Conversemos. A conversa uma das coisas mais agradveis e

    mais teis que existe no mundo. A princpio conversava-se para distrair e passar o

    tempo, mas atualmente a conv