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Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL - PLANEJAMENTO LOCAL E REGIONAL DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA URBANA: estudo de caso no bairro Planalto Paraíso na cidade de São Carlos-SP SOUSA, Isabel 1 SILVA, Denise 2 NUNES, Maiara 3 RUFINO, Rodrigo 4 CAPPARELLI, Taís 5 Resumo No intuito de realizar um levantamento das condições socioambientais de uma área localizada na cidade de São Carlos-SP, o presente trabalho expõe um diagnóstico ambiental urbano de um local com áreas verdes preservadas, diversos vazios urbanos e desigualdades sociais latentes, pontos suscetíveis a enchentes e alagamentos, mas com grande potencial para o desenvolvimento econômico. A metodologia utilizada foi a de revisão bibliográfica, onde foram consultadas informações presentes no Plano Diretor e em sua revisão, além de dados coletados durante visitação ao local e imagens aéreas. A partir dessas informações, foi possível montar uma matriz e um mapa de conflitos e potencialidade para a região, identificando os aspectos da área. Com esse estudo pretendeu-se compreender a situação socioambiental da área escolhida, e contribuir para um planejamento local e regional mais sustentável, através do reordenamento da paisagem. Palavras-chave:Diagnóstico Ambiental; Planejamento Urbano; Sustentável. Abstract In order to carry out a survey of the environmental conditions of an area located in the city of São Carlos-SP, the present work exposes an urban environmental diagnosis of a location with green areas preserved, several urban voids and latent social inequalities, points susceptible to floods and flash floods, but with great potential for economic development. The methodology used was bibliographical revision, where were queried information present in the master plan and its review, as well as data collected during visits 1 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos UFSCar. E- mail: [email protected]. 2 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos UFSCar. E- mail: [email protected] 3 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos UFSCar. E- mail: [email protected] 4 Graduando em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos UFSCar. E- mail: [email protected] 5 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos UFSCar. E- mail: [email protected]

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2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL - PLANEJAMENTO

LOCAL E REGIONAL

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA URBANA: estudo de caso no bairro Planalto Paraíso na cidade de São Carlos-SP

SOUSA, Isabel1 SILVA, Denise2

NUNES, Maiara3 RUFINO, Rodrigo4

CAPPARELLI, Taís5

Resumo

No intuito de realizar um levantamento das condições socioambientais de uma área localizada na cidade de São Carlos-SP, o presente trabalho expõe um diagnóstico ambiental urbano de um local com áreas verdes preservadas, diversos vazios urbanos e desigualdades sociais latentes, pontos suscetíveis a enchentes e alagamentos, mas com grande potencial para o desenvolvimento econômico. A metodologia utilizada foi a de revisão bibliográfica, onde foram consultadas informações presentes no Plano Diretor e em sua revisão, além de dados coletados durante visitação ao local e imagens aéreas. A partir dessas informações, foi possível montar uma matriz e um mapa de conflitos e potencialidade para a região, identificando os aspectos da área. Com esse estudo pretendeu-se compreender a situação socioambiental da área escolhida, e contribuir para um planejamento local e regional mais sustentável, através do reordenamento da paisagem. Palavras-chave:Diagnóstico Ambiental; Planejamento Urbano; Sustentável.

Abstract

In order to carry out a survey of the environmental conditions of an area located in the city of São Carlos-SP, the present work exposes an urban environmental diagnosis of a location with green areas preserved, several urban voids and latent social inequalities, points susceptible to floods and flash floods, but with great potential for economic development. The methodology used was bibliographical revision, where were queried information present in the master plan and its review, as well as data collected during visits

1Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. E-

mail: [email protected]. 2Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. E-

mail: [email protected] 3Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. E-

mail: [email protected] 4 Graduando em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. E-

mail: [email protected] 5 Graduanda em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. E-

mail: [email protected]

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to the site and aerial imagery. From this information it was possible to mount an array and a map of conflicts and potential for the region, identifying aspects of the area. With this study was to understand the social and environmental situation of the chosen area, and contribute to a more sustainable local and regional planning, through the reordering of the landscape.

Keywords: Environmental Diagnostics; Urban Planning; Sustainable. Introdução

Partindo do pressuposto de que o crescimento urbano e a ampliação das cidades

devam ser acompanhados da expansão do alcance e do acesso a todas as infraestrturas

necessárias (acesso universal aos bens, equipamentos, infraestrutura e serviços) para uma

satisfatória qualidade de vida,torna-se indispensável também o esforço de, ao promover-se

a urbanização, atentar-se para a geração de impactos, tanto sociais quanto ambientais, de

forma a minimizá-los, mediante um eficaz processo de planejamento e ordenação do

território, visto que, é mais recomendaável“evitar os males gerados pela urbanização ao

invés de corrigi-los posteriormente” (UGEDA JÚNIOR e AMORIM, 2012).

Adicionalmente, a garantia do bem-estar dos habitantes proporcionado por um

ambiente urbano adequado, é propiciada por uma gestão ambiental eficiente, que tem como

princípios a garantia do direito à cidade ambientalmente equibrada, socialmente justa e

democrática, em que a equidade no tratamento das diferentes classes se estende a uma

forma mais racional de tratamento dos recursos naturais, beneficiando tanto o crescimento

econômico quanto seus cidadãos.

Dentre as diferentes formas de se promover essa almejada gestão ambiental urbana,

destaca-se a elaboração e revisão do plano diretor, “instrumento básico da política de

desenvolvimento e expansão urbana e parte integrante do processo de planejamento

municipal” (ZANIN, 2002). A partir desse aparato técnico, é possibilitada a ampliação da

eficiente ação pública no ordenamento do território e da garantia do exercício da “função

social da cidade e da propriedade” (RODRIGUES, 2004).

Assim sendo, pautando-se no que foi anteriormente exposto, o presente artigo

objetiva apresentar um diagnóstico ambiental realizado para um bairro da cidade de São

Carlos, SP, utilizando-se de instrumentos como o Plano Diretor do município, imagens

aéreas, e visitas ao local.

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Desenvolvimento

Caracterização da área de estudo

Localizada no interior do Estado de São Paulo e com uma população estimada de

236.457 habitantes, a cidade de São Carlos possui uma área de 1.137,332 km2, e uma

densidade demográfica de 195,15 hab/km2(IBGE, 2014). O município possui um Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM de 0,805, considerado muito alto de acordo

com a Faixa de Desenvolvimento Humano Municipal, desenvolvida pelo Atlas do

Desenvolvimento Humano no Brasil em 20136.

Figura 1: Mapa com a delimitação do município de São Carlos, SP.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013).

A área estudada, o bairro Planalto Paraíso, localizado no município de São Carlos-

SP, é um local urbanizado, com um condomínio residencialfechado e de alta renda (Parque

Faber II), com vazios urbanos e conjuntos habitacionais populares, que se encontra

próximo ao Shopping Iguatemi.É uma área predominantemente residencial, com uso

industrial esparso do solo. O uso comercial está presente em alguns poucos locais.

Não é uma área com uma alta densidade demográfica (no geral exsitem de 45 até

96 hsb./ha.), apresentando uma média de 2 a 4 moradores por domicílio ocupado

(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS, 2013b).

6 São Carlos ocupava a 28ª posição em 2010, em relação aos 5.565 municípios do Brasil, sendo que 27 (0,49%) municípios estavam em situação melhor e 5.538 (99,51%) municípios estavam em situação igual ou pior. Em relação aos 645 outros municípios de São Paulo, São Carlos ocupava a 14ª posição na época, sendo que 13 (2,02%) municípios estavam em situação melhor e 632 (97,98%) municípios estavam em situação pior ou igual.

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Plano Diretor

Esta área abrange, segundo o Plano Diretor de 2005, a Zona 1 - Ocupação Induzida,

a qual é composta por áreas com predominância de uso misto do território com grande

diversidade de padrão ocupacional. Ela apresenta as seguintes características:

fragmentação e descontinuidade do sistema viário, presença de áreas com carência de

infraestrutura de drenagem, ocorrência de bolsões com deficiência de áreas públicas ou de

equipamentos públicos, ocorrência de bairros que exigem a transposição das barreiras da

mobilidade urbana em razão da ferrovia da Rede Ferroviária Federal e da Rodovia

Washington Luiz – SP 310, e ocorrência de loteamentos com uso misto consolidado

(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS, 2013a).

Figura 2: Imagem de

satélite com destaque

para a área estudada.

Fonte: Google Maps

(2013).

Indicadores socioambientais

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No entorno da área existem dois corpos hídrícos, um com sua respectiva Área de

Preservação Permanente(denominado Córrego do Mongolinho - uma área de Especial

Interesse Ambiental (EIA) que, de acordo com o Plano Diretor de São Carlos de 2005,

deve ser destinada a proteger e recuperar o manancial), e outra sem delimitação de APP e

denominado Córrego do Gregório.

Um trecho do Córrego do Monjolinho percorre o meio (canteiro central) da

Avenida Francisco Pereira Lopes, mas existe a preservação da mata ciliar.

Dentro da área de estudo encontram-se grandes áreas verdes, e existem fragmentos

de vegetaçãocomposta por araucárias.Entretanto, não existem parques ou praças públicas,

somente áreas verdes e de lazer nos condominios privados da região.

Não existem regiões industriais dentro da área. A indústria mais próxima (Engecer

Projetos e Produtos Cerâmicos) encontra-se ao norte, no Parque Santa Felícia.

Não existem equipamentos públicos urbanos na área, de acordo com a Revisão do

Plano Diretor de São Carlos (2011).

O acesso ao centro é feito, principalmente pelas Av. Francisco Pereira Lopes e Av.

Com. Alfredo Maffei, ambas em boas condições de infraestrutura, e contando com uma via

de mão-dupla com 2 faixas em cada sentido.

Enchentes

Por meio de consulta ao mapa “Deficiências do Sistema de Drenagem”, presente na

Revisão do Plano Diretor (2011), é possível notar que a drenagem da área de estudo possui

probabilidade de ocorrência de erosão, extravazamento do canal, e

alagamento/inundação/enchente, especificamente na chamada rotatória do Cristo e ao

longo do Córrego do Monjolinho, onde constantemente são noticiados casos de problemas

ocasionados por chuvas fortes, conforme demonstra as figuras 3 a 6.Entretanto, a região

apresenta duas obras de drenagem previstas.

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Figuras 3 a 6: Imagens de transbordamento do Córrego Monjolinho e na rotatória do Cristo após chuva

forte. Fonte:São Carlos Agora (2011).

Constata-se, portanto que, devido a pouca disponibilidade de vegetação em torno

dos cursos d’água (fora as APP’s), isto é, em função da alta impermeabilização do solo nas

áreas de entorno dos córregos, a região apresenta grande incidência de conflitos

relacionados a erosões, alagamento/inundação/enchente e transbordamento de canais.

Resíduos Sólidos

Atualmente, 99,96% dos resíduos domiciliares da cidade são coletados (ATLAS

DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL 2013), sendo que em 2% se utiliza a

queima, e em 1% ocorre o enterramento de resíduos.

A coleta seletiva é realizada de porta a porta no Programa de Coleta Seletiva da

Prefeitura Municipal de São Carlos.

De acordo com a Revisão do Plano Diretor de 2011, os resíduos hospitalares, da

contrução civil e de limpeza urbana são destinados da seguinte forma:

• Resíduos hospitalares – são incinerados ou autoclavados (esterilizados em

altíssima temperatura) em sua totalidade.

• Resíduos da construção civil e demolição – coletados em parceria com catadores e

dispostos no aterro de resíduos da construção civil localizado à Rua Regit Arab s/n, na

Cidade Aracy.

• Resíduos de limpeza urbana e poda de árvores – gerados pelo serviço de limpeza

municipal, são dispostos no aterro sanitário com tratamento e transformação em composto

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orgânico utilizado na Horta Municipal, localizada na Rodovia Guilherme Scatena, km 2,5,

próximo à UFSCar e ao Horto Municipal.

Uso e ocupação do solo

Conflitos de uso e ocupação do solo são perceptíveis ao se averiguar a presença de

vazios urbanos7 e formas de segregação de classes, sendo esta última gerada pela presença

de um condomínio de luxo ao sul da área, que conta com todos os tipos de infraestrutura

necessários, e a baixa ocupação dos demais espaços (públicos) para fins destinados à

população residente no entorno, tais como equipamentos urbanos e áreas públicas.

Do conflito ambiental pode ser destacada a escassa existência de mata ciliar ao

longo do trecho do Córrego do Monjolinho em alguns pontos, onde mesmo sendo

respeitada a delimitação mínima de APP, esta se torna insuficiente para a drenagem urbana

nas épocas de chuvas fortes.

Mobilidade Urbana

A predominância nos deslocamentos na região ocorre por meio de viagens

realizadas de automóvel, seguido pelos deslocamentos realizados de ônibus e a pé,

conforme pesquisa de origem-destino (O/D) de 2007/2008, presente na Revisão do Plano

Diretor de São Carlos de 2011.

Na área pode-se observar a ausência de infraestrutura adequada a vários modais de

transporte (falta de ciclovias e locais de acesso para pessoas com dificuldade de

locomoção), assim como o comprometimento da qualidade da infraestrutura existente,

tanto no que se refere às vias (pavimentação irregular), quanto às calçadas (obstruídas e

esburacadas). Tais problemas elencados dificultam a acessibilidade e estão em desacordo

com o que estabelece o item III do art. 7º da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei

nº 12.587, de janeiro de 2012)8:

Art. 7º A Política Nacional de Mobilidade Urbana possui os seguintes objetivos:

7 Para Gonçalves (2011), vazio urbano é “a criação de espaço destinado à especulação [imobiliária]”. 8BRASIL. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm>. Acesso em: out. 2013.

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III - proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade.

A proximidade da Av. Francisco Pereira Lopes com o Córrego do Monjolinho (e

sua respectiva APP) também constitui um conflito na região, visto que, pode comprometer

a qualidade da vegetação e a conservação do curso hídrico, resultando, possivelmente, até

na poluição e degradação do mesmo, através da contaminação pelo carreamento da água da

chuva da primeira lavagem do asfalto para o curso d’água (first flush).

Objetivo

Realizar um levantamento das condições socioambientais de uma área localizada na

cidade de São Carlos-SP, através de um diagnóstico ambiental urbano.

Metodologia

Em conformidade com as formas de classificação de pesquisa (Gil, 2002), do ponto

de vista da natureza do trabalho, a pesquisa caracteriza-se como aplicada, objetivando

gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigindo-se à contribuição para a solução de

problemas específicos. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, é

qualitativa, onde a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são as bases

do processo.

Do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa estrutura-se em duas fases

complementares: exploratória e analítica. Na fase exploratória são investigados, por meio

de revisão bibliográfica e documental, novos conceitos, ferramentas e modelos visando

buscar referências que apontem o aperfeiçoamento das experiências e instrumentos de

diagnóstico e planejamento ambiental urbano. Na fase analítica é estudado um caso

prático, a fim de demonstrar a evolução da aplicação dos instrumentos e ações

consideradas mais sustentáveis.

A metodologia desta pesquisa fundamenta-se, portanto, em revisão bibliográfica e

documental, assim como na análise prática, por meio de estudo de caso.

As revisões bibliográfica e documental consistem na pesquisa desenvolvida a partir

de material já publicado, constituído principalmente consultas às informações presentes no

Plano Diretor de 2005, e em sua Revisão de 2011, obtendo assim um levantamento das

práticas de planejamento urbano realizadas no referido local estudado.

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Como a pesquisa também se pauta na metodologia de estudo de caso, esta também

se baseia na análise de dados coletados durante visitação ao local e imagens aéreas.

Após esse processo de pesquisa e coleta de dados, os resultados compilados,

sistematizados e analisados alicerçam a construção de uma Matriz e um Mapa de Conflitos

e Potencialidades sobre os aspectos e características predominantes do local estudado.

Resultados

De acordo com o que foi averiguado durante a pesquisa, foi possível desenvolver os

seguintes instrumentos de análise:

Tabela 1 – Matriz de Conflitos e Potencialidades identificados na área de estudo.

MATRIZ DE CONFLITOS E POTENCIALIDADES

Conflitos Vazios urbanos Mobilidade Urbana Permeabilidade e drenagem

urbana

Aspectos Risco de

disseminação de

doenças,

propagação de

animais

peçonhentos, e

contaminação de

corpos hídricos.

Ausência de

infraestrutura

adequada a vários

modais de transporte

(falta de ciclovias e

locais de acesso à

pessoas com

dificuldade de

locomoção) e

comprometimento da

qualidade da

infraestrutura

existente, tanto no que

se refere às vias

(pavimentação

irregular), quanto às

calçadas (obstruídas e

esburacadas).

Devido à pouca disponibilidade

de vegetação em torno de cursos

d’água alé das APPs , isto é, da alta impermeabilização do solo

nas áreas de entorno de córregos

(Monjolinho), a região

apresentam grande incidência de

conflitos relacionados a erosões,

alagamento/inundação/enchente

e transbordamento de canais.

Potencialidades Tais espaços

inutilizados

podem vir a se

transformarem

em destino para

projetos

Boa qualidade das duas

avenidas principais (Av.

Francisco Pereira Lopes

e Av. Bruno Ruggiero

Filho).

A área apresenta grandes

potencialidade de infiltração da

água da chuva em função da

presença de vegetação natural,

APP’s e zo as pe eáveis, alé dos vazios urbanos que, apesar

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necessários ao

desenvolvimento

da região, tais

como:

equipamentos

urbanos; postos

de serviços

públicos (postos

de atendimento

médico,

delegacias de

polícia, pontos

de coleta de

resíduos da

construção civil

– eco pontos,

etc.); locais

públicos de lazer

(praças e áreas

verdes),

habitação

popular (geração

de moradia e

acesso à terra

urbanizada pela

população

carente - ZEIS).

de serem um problema de não

utilização do território,

contribuem para a

permeabilidade do solo,

auxiliando na diminuição de

enchentes e alagamentos.

Sugestão de

diretrizes

Destinação das

áreas ociosas à

aplicação do

IPTU progressivo

em terrenos

privados, e ao

parcelamento

compulsório do

solo.

Para viabilizar o

deslocamento dos

diferentes modais de

transporte, torna-se

necessário a presença

de uma infraestrutura

adequada para tal, que

seja segura, bem

sinalizada e que

promova a equidade

nos deslocamentos de

pessoas através do uso

compartilhado do

espaço público de

circulação, evitando

conflitos e possíveis

É necessário que haja um

planejamento cuidadoso da

ocupação dos vazios urbanos e

demais áreas com bons índices

de permeabilidade, além da

elaboração de um eficiente plano

de drenagem urbana para

eliminar os pontos de

inundações, algo que é abordado

na Revisão do Plano Diretor de

ao afi a ue a ga a tia das áreas verdes lindeiras aos

co pos d’água é u i po ta te fator de proteção às enchentes e

alagamentos, especialmente

naqueles períodos de chuvas

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acidentes. ais i te sas .

Mapa de Potencialidade e Conflitos

Figura 7: Mapa com a localização das potencialidades e conflitos.

Potencialidades:

1. Vazios urbanos: locais propícios para a implantação de novos emprendimentos ou

implantação de equipamentos urbanos

2. Mobilidade urbana: boa qualidade das vias principais;

3. Permeabilidade e drenagem urbana: presença devegetação contribui para a

infiltração da água da chuva e a consequete diminuição de enchentes e alagaentos.

Conflitos:

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1. Vazios urbanos: áreas ociosas com risco de desenvolvimeto de problemas de

saúde pública;

2. Mobilidade urbana: falta de equidade na infraestrutura destinada aos diversos

modais de transporte;

3. Permeabilidade e drenagem urbana: enchentes e alagamentos durante chuvas

fortes;

Conclusões

A partir da realização do diagnóstico ambiental proposto, foi possivel estabelecer os

principais conflitos e potencialidades da região estudada, evidenciando uma clara ausência

de infraestrutras para a população residente (exceto os moradores do condomínio fechado

que contam com todos os benefícios proporcionados por um modelo de moradia segregada

e isolada do convívio com o resto da população).

Cabe ressaltar que, mesmo com essa ausência de infraestruturas e serviços, a área

apresenta potencialidades que, se aproveitadas, garantiriam uma sensível melhora no

desenvolvimento econômico da região, através do aproveitamento dos espaços ociosos

(possibilidade de, por exemplo, transformar os vazios urbanos em pontos de comércio que

garantiriam os usos mistos para a região e contribuiriam para o adensamento populacional

e a vitalidade urbana). Entretanto, esse possível enfoque no desenvolvimento econômico

deve vir atrelado aos princípios e ideiais de desenvolvimento sustentável, de forma que a

ocupação dos vazios urbanos se dê em consonância com a provisão de serviços

infraestruturais essenciais (como transporte, locais para uso recreativo, coleta seletiva,

acesso à água e à coleta de esgotos, além de estratégias de drenagem urbana – uma

carência latente na região, conforme anteriormente apontado), visto que, de nada valeria

adensar a região com habitações e comércio sem o planejamento adequado para o

crescimento e expansão da área. Ademais, ainda que exista o déficit habitacional, não se

justifica um adensamento que inche o território e sature o ambiente, prejudicando o uso

dos recursos naturais (como os recursos hídricos, por exemplo, que apresentam uma

fragilidade intrínseca se não utilizados sabiamente).

Portanto, visualiza-se nessa região uma oportunidade de desenvolvimento

planejado do meio urbano, algo raro nas cidades atuais e que necessita de um incentivo,

que pode vir a ser dado pelo poder público, ao enxergar a área sob a ótica de suas

potencialidades, e ver em seus conflitos uma alternativa para a aplicação de políticas

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públicas e projetos modelo. Como sugestão, existem algumas alternativas (talvez utópicas

para a realidade brasileira atual, mas que não deixam de ser aplicáveis), como por

exemplo, a adoção de ciclovias na região (beneficiando um modal de transporte

historicamente negligenciado); instalação de parques e/ou jardins permeáveis (ou

wetlands) que funcionariam como locais para o escoamento da água da chuva, aumentando

a permeabilidade do solo e evitando as enchentes, além de ser uma ótima opção de

embelezamento e espaço de lazer; ocupação dos espaços ociosos por movimentos artísitcos

e culturais independenstes, assim como a instalação de hortas comunitárias.

Por fim, reintera-se que o presente trabalho não teve a pretensão de apontar

soluções para os problemas da região abordada, muito menos mostrar os caminhos corretos

para o desenvolvimento sustentável (o que seria impreciso e errôneo, visto que não existem

soluções prontas ou únicas, apenas alternativas para o direcionamento de um planejamento

e de uma gestão urbana menos impactante), mas sim fazer um levantamento das

características de uma área, identificando, consequentemente, seus principais aspectos e

impactos no meio ambiente, além de oferecer sugestões para diminuição de tais aspectos e

impactos e, talvez indiretamente, proporcionar uma melhora na qualidade de vida da

população local.

BIBLIOGRAFIA CITADA

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo. Editora Atlas, 2002. p. 41 - 142. GONÇALVES, J. C. A especulação imobiliária na formação de loteamentos urbanos. Rio de Janeiro: E-papers, 2011. v. 1. 188p. RODRIGUES, A. M.; BUENO, L. M. M.; FERNANDES, A. Participação em banca de Alessandra Cistina dos Santos. O Estatuto da Cidade e a função social da propriedade. 2010. Exame de qualificação (Doutorando em Ciências Sociais) - Universidade Estadual de Campinas. UGEDA JUNIOR, J.C. ; AMORIM, M. C. C. T.Diagnóstico ambiental na cidade de Jales-SP. Caderno Prudentino de Geografia, v. 2, p. 60-80, 2012. ZANIN, E. M. Caracterização e diagnóstico ambiental da paisagem urbana de Erechim, RS. Erechim/RS: EdiFapes, 2002. Fontes específicas da internet:

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XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL 2013. Perfil Municipal – São Carlos, SP. Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil/sao-carlos_sp>. Acesso em: out. 2013. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Cidades – São Carlos, SP. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=354890>. Acesso em: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS. Plano Diretor de São Carlos. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/utilidade-publica/plano-diretor.html>. Acesso em: out. 2013a. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS. Programa Municipal de Coleta Seletiva. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/utilidade-publica/programa-municipal-de-coleta-seletiva.html>. Acesso em: nov. 2013b. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS. Revisão do Plano Diretor de São Carlos. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/habitacao-morar/164830-164830-plano-diretor-estrategico.html>. Acesso em: nov. 2013c. SÃO CARLOS AGORA. Mais fotos do alagamento na rotatória do Cristo. Março de 2011. Disponível em: <http://www.saocarlosagora.com.br/cidade/fotos/2011/03/12/113/mais-fotos-do-alagamento-na-rotatoria-do-cristo/>. Acesso em: nov. 2013.