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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
MIGUEL MARX
TATIANA DE MENEZES
TERAPIA INTENSIVA: ABORDAGEM DA LEGISLAÇÃO ACERCA DA MORTE ENCEFÁLICA E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
JOÃO PESSOA - PB
2014
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MIGUEL MARX
TATIANA DE MENEZES
TERAPIA INTENSIVA: ABORDAGEM DA LEGISLAÇÃO ACERCA DA MORTE ENCEFÁLICA E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Tese apresentada ao Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, órgão credenciado à Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Terapia Intensiva.
Àrea de concentração: Medicina em Terapia Intensiva e Enfermagem em Terapia Intensiva
Orientador: Prof. Dr. Douglas Ferrari Carneiro
Co-orientadora: Profª. Drª. Zuleide Fernandes de Queiroz
JOÃO PESSOA - PB
2014
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Doar órgãos é sinal visível daquilo que Jesus
pregou, anunciou e viveu. Mateus 26.26ss
relata: “Jesus pegou o pão e o deu aos
discípulos... pegou o cálice e o deu...” Jesus dá
a si mesmo aos discípulos e, por extensão, a
toda humanidade.
Odair Braun – Teólogo
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RESUMO
Contextualiza as várias legislações nacionais no que toca à doação de órgãos
e tecidos. O trabalho, em sua elaboração, passou por uma fase de buscas on-
line com levantamento bibliográfico de produções científicas nacionais,
disponíveis nos resumos de artigos da Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando-
se o banco de dados SCIELO. A coleta de informações para este estudo
ocorreu entre os meses de janeiro de 2012 a janeiro de 2013. Nessa política de
saúde vê-se como agente principal o Estado, tanto no momento de definir a
legislação a ser aplicada, como cobrador das instituições hospitalares o
cumprimento da legislação atinente ao tema desde 1963, quando foi pela
primeira vez concretizada como lei e passando, portanto, a reger os assuntos:
retirada, autorização e impedimentos. Conclui-se, que a doação de órgãos se
trata de um dos mais importantes avanços médicos deste século, exercendo
uma atração na imprensa e na opinião pública maior do que outras tecnologias
ou formas terapêuticas e que, de fato há um esforço do Poder Legislativo na
medida em que busca ombrear-se aos avanços científicos bem como
acompanhar o amadurecimento da sociedade e ciências médicas.
Palavras-chave: Doação de Órgãos e Tecidos. Legislação. Transplante.
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ABSTRACT
Contextualizes the various national laws in relation to the donation of organs
and tissues. The work, in its preparation, went through a phase of searching
online bibliographic productions with national scientific abstracts of articles
available on the Virtual Health Library, using the database SCIELO. Data
collection for this study occurred between the months of January 2012 to
January 2013. In this health policy see the state as the main agent, both when
defining the rules to be applied, as collector of hospitals in compliance with the
legislation pertaining to the subject since 1963, when it was first implemented
as law and passing, so to govern issues: withdrawal, authorization and
impediments. It possible concludes therefore that organ donation it is one of the
most important medical advances of this century, exerting a pull in the press
and in public opinion more than other technologies or therapeutic forms and
that, in fact there is an effort of Legislative Power in that search it comparable to
the scientific advances as well as monitor the maturation of society and medical
sciences.
Key Words: Organs and human tissues donation. Legislation. Transplant.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADOTE Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos
ASSE Administração dos Serviços de Saúde do Estado
CF Constituição Federal do Brasil
CFM Conselho Federal de Medicina
CIHDOTT Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos
para Transplantes
CNNCDO Central Nacional de Notificação Captação e Distribuição de
Órgãos
CNCDO Central de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos
FNR Fundo Nacional de Recursos
IAMC Instituições de Assistência Medica Coletiva
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMAE Institutos de Medicina Altamente Especializados
INAMPS Instituto Nacional Assistência Médica e Previdência Social
ME Morte Encefálica
MELD Model for End-stage Liver Disease
OPOs Organização à Procura de Órgãos
OPA Organização Pan-americana da Saúde
OPCs Organização à Procura de Córneas
RGCT Registro Geral do Cadastro Técnico
SNT Sistema Nacional de Transplantes
SUS Sistema Único de Saúde
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 10
2 OBJETIVOS............................................................................................. 14
2.1 Objetivo geral........................................................................................ 14
2.2 Objetivos específicos............................................................................ 14
3 METODOLOGIA...................................................................................... 15
3.1 Delineamento do estudo....................................................................... 15
3.2 Processo da aquisição da literatura...................................................... 16
3.2.1 Fontes de informação........................................................................ 17
3.2.2 Critério de inclusão dos estudos........................................................ 17
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................... 19
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 30
REFERÊNCIAS.......................................................................................... 33
GLOSSÁRIO............................................................................................... 36
ANEXOS..................................................................................................... 39
ANEXO A – TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA........ 40
ANEXO B–QUESTIONÁRIO PARA DOADORES DE SANGUE................ 43
ANEXO C – CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA ABTO................................. 52
LEI 4.280/63................................................................................................ 47
LEI 5.479/68................................................................................................ 49
8
LEI 8.489/92................................................................................................ 52
LEI 8.501/92................................................................................................ 54
LEI 9.434/97................................................................................................ 56
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1 INTRODUÇÃO
O Código Penal atual iniciou sua vigência em sete de dezembro de
1940, veio, portanto, antes do primeiro transplante do Brasil que ocorreu em
São Paulo, no ano de 1965. Não havia, naquele período, uma legislação
apropriada que regulamentasse a realização de transplante. A retirada de
algum órgão de um cadáver, mesmo que para fins terapêuticos, podia constituir
uma violação da integridade física do ser humano e o ato ser considerado
crime, conforme a legislação que vigora até hoje. Tem-se: Art. 211 - Destruir,
subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três)
anos, e multa (BRASIL, 1940).
O instrumento legislativo pioneiro acerca dos transplantes de órgãos foi
a Lei 4.280, de 6.11.1963 que dispunha sobre a extirpação de órgãos ou
tecidos de pessoa falecida. Nove eram os artigos básicos que ajustavam a
conduta da retirada de órgãos e tecidos que, à época, eram retirados de
cadáveres, como os ossos, artérias e córneas. O diploma estabelecia que a
autorização, em vida e por escrito, do doador e seu desejo de dispor sobre seu
corpo bem como a não contestação dos familiares por causas religiosas
(BRASIL, 1963).
O Ato de doar poderia apenas ser feito ao individuo expresso em na
autorização ou à uma instituição e apenas seria permitida uma retirada de
órgão por cadáver. O diploma de 1963, com as restrições claras, restou
inviável após o aprimoramento das técnicas cirúrgicas e à exigência na
aquisição de maior número de órgãos para transplante (BRASIL, 1963).
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Surgiu a necessidade da utilização de órgãos/tecidos de doador ainda
vivo, assim, editou-se outra Lei para o caso em tela. O surgimento da Lei n.
5.479, de 10/08/1968 revogou a Lei n. 4.280 de 63 e disciplinou o seguinte: “[...]
a retirada e transplante de tecidos, órgãos e partes do cadáver para finalidade
terapêutica e científica e dá outras providências.“ (BRASIL, 1968). Em quinze
artigos esta Lei passou a regular o transplante e retirada órgãos e tecidos dos
cadáveres assim como a possibilidade da retirada ainda em vida, um claro
progresso legal, no entanto, algumas imperfeições foram apontadas, dentre
elas a ambigüidade de alguns termos, o que possibilitou o exame científico. É
certo que a Lei calou quanto aos critérios para determinação do momento da
morte, apenas estabeleceu que haveria a prova inconteste desta. (CHAVES,
1994).
Deve-se ressaltar que a Lei 5.479/68 já previa algumas precauções
como a não onerosidade da doação, a declaração expressa dos familiares do
falecido ou da pretensão do doador, a obrigação de instrumento público ao se
tratar do analfabeto ou relativamente incapaz, a impossibilidade do transplante
em caso de suspeita crime contra o doador, a necessidade de quadros
médicos e institutos capazes e autorizados para a feitura dos procedimentos,
assim como a autorização do legista nos tecidos/órgãos sob necropsia.
(CHAVES, 1994).
No diploma legal era visível que a intenção do doador e a guarda do
cadáver constituíam princípios jurídicos. No intuito de suplantar falhas o
Presidente da República, em outubro do ano de 1982, encaminhou um Projeto
de Lei acerca da remoção de órgãos/tecidos ou partes do organismo humano
para transplante ou qualquer intuito terapêutico. Contudo, alguns termos
continuaram ambíguos e eram muitas as omissões, tanto que o Projeto foi
rechaçado. (CHAVES, 1994).
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Em função do incremento no número de transplantes realizados já no
início da década de 1980, passou-se a exigir do mundo jurídico uma atenção
maior no sentido de coibir quaisquer atos que possuíssem um viés comercial e
enquadrando-os como crimes. Os debates tornavam-se cada vez mais
acalorados e muitas questões preenchiam o pensamento de legisladores e
médicos. Neste sentido, a Constituição de 88, artigo 199, § 4º asseverou que a
lei a Lei iria dispor sobre as condições e os requisitos que facilitassem a
remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante,
pesquisa, tratamento, bem como, a coleta, processamento de transfusão de
sangue e seus derivados, sendo vetado todo tipo de comercialização. (BRASIL,
1988).
A Carta Magna repeliu a comercialização do corpo humano, e passou a
reconhecer a necessidade dos tecidos e órgãos humanos para o progresso da
ciência. Neste período, vários foram os projetos de lei oferecidos no sentido
de disciplinar as práticas de remoção e doação dos órgãos para transplante
(BRASIL, 1988).
Apenas quatro anos depois da Constituição Federal veio a ser aprovado
pela Câmara dos Deputados o projeto de lei que propunha que, caso o
potencial doador manifestasse em vida o desejo de doar, não mais seria
necessária uma consulta aos familiares para a remoção de órgãos após o
óbito. Como instrumento capaz de inibir a comercialização de órgãos a
proposta de lei, exigia uma autorização judicial para os casos em que não
houvesse vinculação familiar entre doador e receptor. (BRASIL, 1992).
Leite (2000), ensina que, ao contrário da lei de 1968, seriam necessários
dois médicos não pertencentes ao staff dos transplantes para atestarem a
morte encefálica, quando a lei de 1968 exigia apenas um médico e silenciava
quanto ao fato de pertencerem ou não às equipes de remoção e transplante.
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O projeto descrito transformou-se na Lei 8.489 de 18.11.1992 que dispôs
acerca da “A retirada e transplante de órgãos, tecidos e partes do corpo
humano, com fins terapêuticos e científicos e dá outras providências.”
Em seguida, doze dias depois, ocorreu a publicação da Lei 8.501 que
abordou os detalhes da utilização dos corpos não reclamados, para fins de
pesquisa científica e estudo. Interessante que o esforço para uma produção
legislativa que respeitasse a vontade da família e doador sem ferir o princípio
da dignidade da pessoa humana se traduziu nos diversos projetos de lei
enviados ao Congresso (BRASIL, 1992).
No ano de 1997 ocorreu a publicação da Lei 9.434/97 (Lei dos
Transplantes) que tinha como nota característica o fato de tratar como doador e
todo aquele que não manifestasse expressamente o desejo de dispor de seus
órgãos.
Depois de publicada a Lei de Transplantes vem o Decreto nº 2.268 de
30.06.1997, o regulando. Da redação do primeiro artigo da Lei, vê-se que uma
das intenções era o claro aumento do número de doadores, vejamos: “A
retirada gratuita de órgãos, tecidos e partes do corpo humano em vida ou post
mortem, para fins de transplante e tratamento é permitida na forma desta lei.”
Ocorria que a lei afastava as possibilidades de experimentação científica
utilizando-se de tecidos e órgãos humanos, porém sabe-se que algumas
técnicas de transplante e terapias para afastar a possibilidade da rejeição ainda
estão em contínua evolução. Então como abordar a delicada questão se o
assunto já estava delimitado em lei?
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A Lei permitiu que, quando a intervenção curativa usar os métodos
padronizados, será classificada como um ato terapêutico e também, quando os
novos procedimentos tenham por objetivo a cura do paciente como última
esperança ou como intenção de debelar o sofrimento ou lesão corporal
(CHAVES, 1994, p 117).
Um fato curioso e até compreensivo de ter ocorrido foi o silêncio das leis
acerca dos xenotransplantes, ou seja, a retirada de tecidos ou órgãos de uma
espécie e sua posterior implantação em um organismo de espécie diferente.
Tal modalidade de transplante é encarada por muitos cientistas como uma
opção à carência de doadores. A possibilidade movimentou, principalmente, os
ânimos de filósofos, sociólogos, antropólogos e juristas.
Acrescente-se ainda que a legislação acerca das pesquisas
embriológicas que se dispunha à época, regulava apenas a retirada de parte da
medula óssea dos fetos vivos, caso a mãe consentisse e não existisse riscos
para quaisquer partes, mãe ou filho. Ao se tratar de natimortos, não havia
qualquer previsão legal.
Frente aos aspectos acima discutidos, percebeu-se que houve um
esforço e uma preocupação dos legisladores no sentido de não deixar uma
lacuna tão grande entre o que a ciência já colocava em prática e sua respectiva
previsão normativa, que se dava sob a forma de previsão legal.
Saliente-se ainda que o tema em estudo é motivo de interesse deste
pesquisador e converge conhecimentos das áreas jurídica e da saúde, as quais
temos prazer em nos debruçar.
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O trabalho torna-se especialmente útil, quando se tem em vista a grande
infraestrutura voltada para a transplantação que se instala na região do cariri
cearense, bem como proporciona um subsídio teórico para informações legais
a serem prestadas aos profissionais médicos, alunos das Faculdades de
Medicina situadas em Juazeiro do Norte e Barbalha, lembrando ainda da
atenção que igualmente deve ser dispensada às futuras equipes
multiprofissionais que nesta região estão se graduando e especializando.
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2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral:
Apresentar à sociedade, especialmente estudantes e profissionais de
saúde, o ordenamento jurídico relativo à regulação dos transplantes.
2.2 Objetivos Específicos:
Identificar as leis que regulamentam a doação de órgãos.
Compreender o impacto da evolução das leis nas políticas de doação.
Apresentar o estudo, realçando as mudanças práticas trazidas por cada
nova norma.
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3 METODOLOGIA
3.1 Delineamento do estudo
Este trabalho de revisão bibliográfica configura-se como um estudo
reflexivo, procurando aproximar-se ao máximo de uma revisão
consubstanciada por livros, artigos científicos e legislação brasileira. Para tanto
se utilizou da pesquisa documental, descritiva e comparativa, visto que
conforme Schneider (1998) a comparação aparece como sendo inerente a
qualquer pesquisa no campo das ciências, esteja ela direcionada para a
compreensão de um evento singular ou voltada para o estudo de uma série de
casos.
3.2 Processo da aquisição da literatura
Para elaboração deste trabalho foi consultada bibliografia, incluindo
livros especializados sobre o tema, no intuito de pesquisar diferentes enfoques
dos autores envolvendo a temática.
A seguir foi realizada uma busca on-line com levantamento bibliográfico
de produções científicas nacionais, disponíveis nos resumos de artigos da
Biblioteca Virtual em Saúde (www.bireme.br), utilizando-se o banco de dados
SCIELO (Scientific Electronic Library) onde se aplicou uma busca usando as
palavras Legislação, Doação e Transplantes.
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Tendo em vista que o tema é seguidamente explorado pela mídia, houve
a preocupação de se investigar a temática, também, em revistas e jornais.
A coleta de informações para este esboço ocorreu entre os meses de
janeiro de 2012 a janeiro de 2013. Assim, se procurou contemplar a atividade
legislativa de um espaço de exatos cinquenta anos, de 1963, quando da
publicação da primeira lei que tratava da doação de órgãos e tecidos até 2013,
data em que 20 comarcas paulistas adotaram a doação voluntária de sangue
como alternativa para a pena restritiva de direitos imposta a quem pratica
crimes de menor potencial ofensivo.
3.2.1 Fontes de informação
As informações são os meios fundamentais para o desenvolvimento da
pesquisa. Para Le Coadic (1996, p. 27):
A informação é o sangue da ciência. Sem informação, a ciência não pode se desenvolver e viver [...]. A atividade de pesquisa constitui, com efeito, a aplicação do raciocínio ao corpo de conhecimento acumulados ao longo do tempo e armazenados nas bibliotecas e centros de documentação.
Assim sendo, a disseminação da informação abrange vários tipos de
fontes como: relatórios, revistas, livros, trabalhos em eventos, vídeos, fotos,
além de vários suportes e formatos como multimídia, áudio, imagem fixa em
movimento entre outros.
As pesquisas científicas têm relação com as fontes de informação, pois
de acordo com Sales e Almeida (2007, p. 72):
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[...] todo conhecimento advém de uma fonte de informação. Para criar um novo conhecimento é imprescindível que este seja embasado por outro conhecimento já existente e devidamente comunicado em alguma fonte de informação, seja oral, escrita ou audiovisual.
Assim, dentro desta perspectiva e da classificação de fontes proposta
por Campello e Campos (1993, p. 20), o presente trabalho empregou as
seguintes fontes primárias: teses, artigos de periódicos e normas técnicas.
Como fontes secundárias de informação utilizou: dicionários, enciclopédias,
livros, tabelas e manuais todos devidamente elencados no rol das referências
bibliográficas.
3.2.2 Critério de inclusão dos estudos
Os critérios de inclusão desta revisão contemplam os seguintes
quesitos:
Trabalhos em língua portuguesa, publicados no período de 1963 à 2013, que
guardem relação e abordem um ou mais dos aspectos relativos à doação de
órgãos, legislação brasileira, regulação de transplantes, morte encefálica e
seus respectivos desdobramentos.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Almeida (2011) ressalta que para cada proveniência existe uma
intervenção adequada e, com respaldo nas Leis 9.434/97 é proclamada a
necessidade de permanência do doador em Unidade de Terapia Intensiva, até
a retirada dos Órgãos. Vale ressaltar que, o processo de doação/transplante de
órgão é algo complexo que deve ser desenvolvido em conjunto com a equipe
multiprofissional focando resultados satisfatórios.
O mesmo autor enfatiza que para melhor compreensão das questões
que envolvem a legislação, faz-se necessário um breve esclarecimento sobre a
temática. Como ponto de partida, evidencia-se a realização do primeiro
transplante cardíaco realizado pelo Dr. Zerbini em 1968, se esse procedimento
fosse analisado à luz da lei na época, poderia ser passível de penalização.
Ganhou espaço o altruísmo da doação, o perfil ético e moral do cirurgião, enfim
a realização do transplante com todos os critérios de beneficência. A partir de
então, legisladores e estudiosos da ética deveriam implantar as normas e os
critérios de Morte Encefálica (ME), para a doação de órgãos e, após uma longa
reflexão, definiu-se o novo conceito de morte.
Na intenção de contextualizar, vale dizer que, a existência jurídica dos
transplantes foi em decorrência da Lei 5.479, de 10 de agosto de 1968 e que
foi percursora no sentido de normatizar a retirada e os transplantes de tecidos,
órgãos e partes de cadáver para utilização terapêutica e científica.
Fundamentava-se em dois pressupostos: - primeiro: deveria ser precedida de
prova incontestável da morte; segundo: condicionava a retirada à manifestação
expressa da vontade do disponente ou familiares. Essa fase foi importante para
conferir existência jurídica ao doador vivo, permitindo-lhe dispor de órgãos e
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partes do próprio corpo para transplantes em pessoa indicada, relacionada ou
não, por laços parentesco.
Quando melhor analisada pode-se observar algumas lacunas, foi
incompleta a lei ao não se aprofundar a respeito dos critérios de morte.
Incompleta também em não declinar um mínimo de preocupação com uma
distribuição justa dos órgãos. Poderia um decreto suprimir falhas operacionais,
porém nunca houve regulamentação. Não se pode criticar, pois foi, entretanto,
o mínimo possível para realidade da época.
Na década de 1990, a lei se mostrou distante da realidade científica e
apartada da arte médica. Um novo texto legal foi sancionado em 18 de
novembro de 1992, sob nº 8.489, o qual continuou respeitando os dois
pressupostos fundamentais: considerar a vontade do doador e familiares,
porém não avançou na definição dos critérios de morte, embora no seu artigo
décimo segundo tenha tornado obrigatória a notificação, em caráter de
emergência, de todos os casos de ME. Quanto a doadores vivos, restringiu a
permissão para pessoa maior e capaz de dispor de órgãos e tecidos apenas
para familiares (receptores relacionados). O avanço foi em virtude do decreto
879, de 22 de julho de 1993, que regulamentou a lei. (ALMEIDA, 2011)
Procurando encontrar uma maneira de realizar uma distribuição mais
justa de órgãos e tecidos disponíveis, a lei e o decreto determinaram ampla
mudança na estrutura administrativa: criação de Centrais Estaduais de
Transplantes e Centrais de notificação de casos de morte encefálica e instituiu
a fila de espera única em nível estadual. Os hospitais, segundo o decreto,
deveriam ser cadastrados para a retirada e os transplantes de órgãos, depois
de vistoriados e considerados aptos, pelo Sistema Único de Saúde.
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Nessa segunda lei, houve a iniciativa de legislar importantes avanços:
principalmente quanto aos diagnósticos do fim da vida humana, às formas mais
justas de distribuir órgãos disponíveis e às medidas administrativas mais claras
no credenciamento de hospitais e equipes médicas envolvidas na retirada e
nos transplantes de órgãos (MARTINS, 2003).
Almeida (2011), acrescenta ainda que em um curto período de tempo,
cinco anos, ensejou nova iniciativa a respeito de transplante. Existiam dois
problemas: primeiro, o número de receptores com interesses nos órgãos de
cadáveres é sempre muito maior do que a oferta. O segundo dizia respeito à
filosofia do Direito: a relevância dos direitos coletivos em relação ao direito
individual. O que levou a refletir a quem pertence os órgãos de pessoas mortas
ou a quem pertence a decisão a respeito dos órgãos do cadáver.
Legisladores, almejando aumentar a oferta de órgãos, conseguiram
aprovar a Constituição de 1988 que determinava o estabelecimento de critérios
para facilitar as doações. Assim, em 05/02/1997 foi publicada, no Diário Oficial
da União, a lei que regulamenta a doação de órgãos, tecidos e partes do corpo
humano para fins de transplante e tratamento.
Refere-se à Lei nº 9.434, citada acima, intitulada “Lei de Doação
Presumida de Órgãos”, a qual contém vinte e cinco artigos, distribuídos em seis
capítulos, a saber:
I – Disposições gerais;
II –Disposição Post Mortem de Tecidos, Órgãos e Partes do Corpo Humano
para Fins de Transplante;
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III – Disposição de Tecidos, Órgãos e Partes do Corpo Humano Vivo para Fins
de Transplante ou tratamento;
IV – Disposições Complementares;
V – Sanções Penais e Administrativas;
VI – Disposições Finais.
Essa lei além de proibir a comercialização de órgãos, impediu qualquer
anúncio pela imprensa sobre a venda de órgãos e implantou a chamada
doação presumida. Novas discussões surgiram: caso o cidadão não
manifestasse ser contrário à doação,automaticamente passava a ser doador, e
o Estado teria direito sobre o corpo. O único intuito dessa nova lei era aumentar
o número de doação de órgãos, porém, as coisas não foram como imaginavam
que seriam, houve uma reação contrária da sociedade, que passou a registrar
em seus documentos a decisão de não doar.
O espírito da lei foi a criação do doador presumido, definido no artigo 4º,
§ 2º:
“Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta lei, presume-se autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de transplante ou terapêutica post mortem.” (BRASIL, 1997)
O novo contexto legal não atingiu o propósito de aumentar a oferta de
órgãos; pelo contrário, milhares ou milhões se cadastraram como “não doador”
em documentos oficiais e o Conselho Federal de Medicina publicou uma
resolução, determinando que a consulta aos familiares, nos casos de morte
encefálica, deveria ser mantida, contrariando o preceito legal. Assim, em março
de 2001, ocorreu nova mudança na lei: A autorização para retirada de órgãos
deveria ser decisão familiar. E para que isso ocorresse de forma digna, a
23
família deveria receber toda a informação necessária para a tomada de
decisão, sem qualquer coação ou constrangimento; deve prevalecer o
consentimento e a doação altruísta. (EMED, EMED; 2003).
A aprovação pelo Congresso Nacional à Lei 10.211 que deu nova
redação à Lei 9.434/97; restou assim o artigo 4º. §1º:
“A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica depende da autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecendo à linha sucessora, reta ou colateral, até segundo grau, inclusive, firmado em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.” (BRASIL, 1997)
Vale ressaltar que, o texto legal continua a lei 9.434, de 4 de fevereiro de
1997, com artigos revogados pela lei 10.211.
A atual Lei dos transplantes, além da fracassada figura do doador
presumido, inovou e modificou em outros capítulos. No artigo primeiro descarta
do seu âmbito o sangue, o esperma e o óvulo, disciplinados por estatutos
próprios e específicos.
Os casos nos quais é imprescindível a verificação da causa médica da
morte, a remoção somente poderá acontecer após autorização do médico
responsável pela necropsia, a qual também se estende aos cadáveres objetos
de retirada de órgãos e tecidos.
Quanto a doador vivo, permaneceu a possibilidade para receptores
relacionados; quanto a não parentes, só se permitiu a doação com autorização
judicial, com exceção para medula óssea.
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Para melhor organizar todo esse árduo processo, o decreto 2.268, de 30
de junho de1997 foi importante na estrutura administrativa com avanços
significantes. Criou o Sistema Nacional de Transplantes, as Centrais Estaduais
de Transplantes (CET), as Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de
Órgãos (CNCDOs).
Outro ponto alto foi a elaboração da Lista Única Nacional de receptores
e determinou que a morte encefálica fosse constatada e atestada por dois
médicos, um dos quais neurologista titulado.
Já no ano de 2001, por determinação da portaria GM/MS no 905/2000,
foram criadas as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos
para Transplantes (CIHDOTT’s), as quais, baseadas no modelo espanhol,
passam a ter importante papel no processo de doação-transplante (BRASIL,
2005).
O Brasil possui uma grande experiência legislativa na temática. E os
médicos e suas equipes de transplantes têm amparo legal suficiente para
prosseguirem no exercício adequado e ético da profissão. Assim como,
pacientes, familiares e a sociedade como um todo dispõem de um estatuto
minucioso e suficiente para enfrentar o drama dos transplantes com segurança
(MARTINS, 2003).
Neste sentido, vale destacar a importância de constantes atividades
educativas junto à equipe envolvida no processo, aproveitando toda estrutura
administrativa oferecida, no intuito de oferecer orientação adequada e efetiva
sobre o desenvolvimento do processo de doação de órgão, tanto nos
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procedimentos intra-hospitalar, quanto no esclarecimento populacional, o que
justifica a relevância do presente estudo.
A descrição realizada nesse estudo, referente às etapas do processo de
doação/transplante foi baseado nas Diretrizes Básicas para Captação e
Retirada de Múltiplos Órgãos e Tecidos da Associação Brasileira de
Transplante de Órgãos.
Todo o processo tem inicio com a identificação de um paciente
diagnosticado com morte encefálica. Então, a equipe intra-hospitalar deve
realizar a notificação às Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de
Órgãos. Após toda a avaliação realizada ao paciente e não identificado
contraindicações que podem apresentar riscos aos receptores, pode-se dizer
que há um potencial doador. Mantê-lo em perfeito estado para doação é tarefa
complexa, fazendo-se necessário a manutenção da estabilidade hemodinâmica
para garantir a viabilidade e a qualidade dos órgãos e tecidos.
Após a confirmação de morte é necessário comunicar à família. Logo em
seguida, deve ocorrer a entrevista familiar por profissional capacitado, para que
se possa obter o consentimento à doação. Caso haja concordância familiar à
doação, o profissional responsável pelo processo de doação-transplante e a
CNCDO correspondente passam a considerar os demais fatores para a
efetivação do potencial doador. Identificado o possível doador, a equipe
responsável pelo processo entra em contato com a CNCDO, a qual promove a
distribuição dos órgãos e tecidos doados e identifica as equipes
correspondentes para a retirada (MARTINS, 2003).
Para que se possa proceder com a retirada dos órgãos e tecidos, é
preciso o fornecimento da Declaração de Óbito, em situações de morte natural.
26
Quando se tratar de morte por causa externa, torna-se, obrigatório encaminhar
o corpo ao Instituto Médico Legal (IML), para serem realizados os
procedimentos recomendados. Então, ser emitido o Atestado de Óbito.
Levando em consideração a complexidade de todo esse processo, o mesmo
deve estar protocolado para evitar improvisações, as quais podem
comprometer sua efetividade e colocar em dúvida a conduta ética dos
profissionais envolvidos (MARTINS, 2003).
Para que todo o processo tenha resultado favorável, a adequada
avaliação clínica e laboratorial do potencial doador de órgãos e tecidos torna-se
fundamental, o que evitará a transmissão de enfermidades infecciosas ou
neoplásicas. As Diretrizes Básicas descreve as poucas contra indicações
absolutas para doação:
Tuberculose em atividade.
Sorologia positiva para Human T LymphotropicVirus (HTLV) tipo I e II;
Tumores malignos, com exceção dos carcinomas basocelulares da pele,
carcinoma in situ do colo uterino e
Tumores primitivos do sistema nervoso central;
Sorologia positiva para Human Immunodeficiency Virus (HIV);
Sepse ativa e não controlada;
Para que se possa alcançar um resultado satisfatório, é importante uma
adequada manutenção do paciente e o objetivo da manutenção do potencial
doador é otimizar a perfusão tecidual, assegurando a viabilidade dos órgãos,
para tal, recomenda-se:
27
Efetivo monitoramento cardíaco contínuo;
Monitoramento da saturação de oxigênio;
Monitoramento da pressão arterial;
Monitoramento da pressão venosa central;
Observância do equilíbrio hidroeletrolítico;
Manter o equilíbrio ácido-básico;
Controlar débito urinário;
Monitorar a temperatura corporal.
Durante a manutenção, se necessário, é importante controlar as
anormalidades através da reposição de volume; infusão de drogas vasoativas;
adequada oxigenação; manutenção do equilíbrio ácido-básico; manter
temperatura acima de 35ºC; prevenir e/ou tratar infecções. Tendo em mão o
diagnóstico de morte encefálica, e uma correta manutenção do paciente, cabe
então a abordagem à família solicitando a doação de órgãos e tecidos.
Mais recentemente, Freitas (2013), ensinou que no Brasil, as penas
restritivas de direitos foram disciplinadas pela primeira vez na reforma de
1984, limitando-se a infrações cuja pena não alcançasse o patamar de um
ano e às culposas. As penas restritivas previstas naquele momento histórico
eram de:
Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
Proibição de exercício de cargo, função ou atividade pública;
Proibição de exercício de profissão, atividade ou ofício;
28
Suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo;
Limitação de fim de semana; e
Multa.
Disciplinando ainda que o perfil de admissão de penas não privativas de
liberdade foi acentuado logo após, com a Constituição Federal de 1988. Em
seu art. 5º, XLVI, a Carta Magna garantiu fundamentalmente que a
individualização da pena seria disciplinada por lei ordinária e estabeleceu como
penas, entre outras:
A privação ou restrição da liberdade;
A perda de bens;
A multa; a prestação social alternativa; e
A suspensão ou interdição de direitos.
As penas restritivas de direitos, uma vez admitidas pela Lei Maior,
receberam, 10 anos mais tarde, relativa inovação através da Lei 9.714/98, que
alterou o Código Penal. O art.43 do Código Penal trata das penas restritivas de
direito se foi reescrito, passando a prever, além daquelas mencionadas acima,
as penas:
De prestação pecuniária,
Perda de bens e valores,
Proibição de frequentar determinados lugares e a
Prestação alternativa inominada.
29
Dentro desta última citada é que cabe falar da mais nova inovação
trazida do direito para a sociedade. Insere-se aqui a doação de sangue. E
esta, diferentemente de qualquer outra pena restritiva de direitos, pressupõe
contato pessoal entre o magistrado ou conciliador e o agente, para explanação
das nuances específicas desse ato de benevolência.
30
Em outros termos, a pena consistente na doação de sangue somente
pode derivar de transação penal1 e de suspensão condicional de processo2,
não de condenação por sentença. É pressuposto obrigatório o contato humano
entre juiz, promotor, agente e seu patrono.
Shecaira (1993) nos fala que o processo de aplicação da pena deve ser
dialógico.
Voltando ao campo prático de aplicação da doação de sangue como
pena alternativa, FREITAS (2013) explica-se: somente após o autor da infração
e seu advogado optarem, dentre as propostas ministeriais, por aquela
concernente à doação de sangue é que lhe será apresentado um questionário
inicial com as exigências mínimas para o ato (ANEXO B). Vencida esta etapa,
será lavrado o acordo a ser homologado judicialmente. Isto porque nem todos
estão aptos a doar sangue, fator que, por si só, inviabiliza uma sentença
judicial.
Ainda cercada por interessantes discussões éticas, a realização de
transplantes com órgãos provenientes de cadáveres é considerada por muitos
como a melhor opção. Com a utilização dessa terapêutica, mudou-se o
enfoque da morte, que não é mais pela parada cardiorrespiratória, mas
encefálica. Deve-se definir que o indivíduo está clinicamente morto, mesmo
observando que seu coração ainda pulsa e que, ao toque pode-se sentir o
1 "Acordo" em que o Ministério Público propõe ao infrator que não será dada continuidade ao processo criminal, desde que ele cumpra determinadas condições.
2 Forma de solução alternativa para problemas penais, que busca evitar o início do processo em crimes cuja pena mínima não ultrapassa 1 ano ( pena ≤ 1ano) quando o acusado não for reincidente em crime doloso e não esteja sendo processado por outro crime.
31
corpo com a temperatura considerada normal. Com a participação da
comunidade científica, o Conselho Federal de Medicina definiu os critérios para
caracterizar a morte encefálica, através da Resolução 1.480, de 8 de agosto de
1997. Então, a ME é estabelecida pela perda definitiva e irreversível das
funções do encéfalo (hemisférios cerebrais e tronco cerebral), de causa
conhecida e determinada de forma inequívoca. A especificidade do diagnóstico
é de 100%.
O indivíduo deverá ser submetido a duas avaliações clínicas e a um
exame complementar por dois médicos não participantes das equipes de
transplante, sendo que pelo menos um deles deverá ser neurologista ou
neurocirurgião ou neuropediatra. E os intervalos mínimos entre as duas
avaliações clínicas são definidos por faixa etária, conforme especificado no
Termo de Declaração de Morte Encefálica (ANEXO A). Nas duas avaliações
clínicas, deverá ser confirmada a presença de coma aperceptivo, com ausência
de atividade motora supraespinal e apneia.
A família deve ter a certeza de que foram utilizados todos os recursos
para a recuperação do paciente e que a eventual recusa não é motivo de
insatisfação. E o mais importante é sentirem que nada será diferente com
relação ao tratamento e aos cuidados necessários. Um fator importante na
decisão em doar os órgãos do paciente é a certeza que os órgãos não serão
utilizados para a comercialização ou para benefícios de indivíduos de maior
poder social ou econômico.
É preciso registrar que, existe um controle rigoroso durante todo o
processo, para que se diminuam as irregularidades e as desconfianças
referentes à atuação dos profissionais envolvidos. Pois, pode-se notar que,
com a implantação das centrais de transplantes nos Estados, houve um grande
avanço, uma vez que a notificação é obrigatória.
32
E para que esse processo continue evoluindo é de suma importância o
comprometimento de alguns profissionais, esse é muito heterogêneo e
dependente do estilo individual, de maior ou menor interesse na identificação
de potenciais doadores (EMED, EMED; 2003).
Em relação aos xenotransplantes é importante frisar que com o avanço
do estudo com genoma e com a introdução de genes modificados, poderíamos
dispor dessa fonte como potenciais doadores. Porém, antes de qualquer
atitude, deve-se entender melhor os mecanismos da genética, mas,
principalmente, estabelecer as normas éticas para esse procedimento (EMED,
EMED; 2003).
As transplantações heterólogas se deparam com diversos problemas. O
que ora nos importa, resta-nos dizer, qual o poder que temos sobre
procedimentos que impliquem na morte de animais para nosso próprio
benefício. O que nos leva a pensar sobre o momento em que o ser humano se
deparar com espécies em extinção, assim, faz-se importante refletir sobre o
direito à vida e à saúde de um paciente em conflito com a obrigação
constitucional de proteção dessas espécies. Sendo necessárias, restrições a
utilização de espécies em vias de extinção como fornecedores de tecidos e
órgãos. E outra questão que deve ser ponderada é não transformar os
receptores em objetos de pura experimentação, respeitando sua decisão de
recusa ao tratamento, no caso, o transplante (FLOR, 2004).
Partindo para a seara da religiosa, BRAUM (2004), nos fala de um
posicionamento luterano-católico, publicado na Alemanha em 1990, afirma que,
a partir da visão cristã, a disposição para a doação de órgãos é um sinal de
amor e solidariedade ao próximo. Que a vida e o corpo são dádivas de Deus
sobre as quais não podemos usufruir livremente, mas que após um cuidadoso
33
diálogo com a família, pode-se optar em doar os órgãos como um gesto de
amor. É o mesmo que dizer que a doação de órgãos não pode ser uma
imposição. Deve ser fruto do livre arbítrio de cada família envolvida.
Doar órgãos é sinal visível daquilo que Jesus pregou, anunciou e viveu.
Mateus 26.26ss relata: “Jesus pegou o pão e o deu aos discípulos... pegou o
cálice e o deu...” Jesus dá a si mesmo aos discípulos e, por extensão, a toda
humanidade. Assim, ele transforma sua morte em doação a favor da
humanidade. A fé em Jesus Cristo nos faz perceber que a morte não tem a
última palavra sobre a vida. Com a ressurreição de Jesus, a vida se torna
vitoriosa. Jesus mesmo deu a sua vida por nós.
34
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que o Sistema Nacional de Transplantes conseguiu alcançar
respeito na sociedade brasileira. Bem como comunidade transplantadora e
pacientes. Esta credibilidade deve-se em parte esforço que o Ministério da
Saúde tem empreendido nessa área, pela valorização, seriedade e
transparência que tem procurado passar aos brasileiros.
Interessante se faz sublinhar o estímulo que tem sido dado à atividade
de transplante no País. Reflexo dele é o fato de o Brasil figurar hoje na
segunda posição no ranking de país detentor do maior número absoluto de
cirurgias de transplantes ao redor do globo. Considerando a relação número de
transplantados e PIB, o Brasil ultrapassa todos.
Está mais do que comprovado que o transplante representa alternativa
terapêutica eficaz e, em muitas situações, o único tratamento para pacientes
com doenças onde há dano irreversível de algum órgão ou tecido.
A legislação, aos poucos, vem acompanhando os progressos da
medicina e da sociedade, uma vez que chegou a propor, como prova de uma
coletividade em amadurecimento, empregos para tecidos humanos em
substituição às penas alternativas.
Uma das principais dificuldades dos transplantes ainda é a negativa da
família. Responsável por grande parte da não efetivação da doação, a falta de
esclarecimento dos parentes transforma o trabalho de divulgação prioritário.
Restando provada a importância de que as pessoas entendam que o
35
diagnóstico de morte encefálica é seguro no Brasil. Pontuamos ainda que o
Ceará tem um crescimento anual de 1 a 1,5 de doação por milhão de
habitantes.
O número de cidades brasileiras com captação de órgãos tende a
crescer. Além de Fortaleza e Sobral algumas cidades do Cariri cearense
atualmente realizam a captação de órgãos.
Esse aumento foi atribuído principalmente a dois fatores. Primeiro a uma
melhor logística de todo o processo de doação nos hospitais e o segundo fator
são as campanhas de televisão. Assim, mais uma vez restou comprovada a
influência da mídia perante a sociedade em se tratando de doação e
transplantes.
Ademais a conscientização da sociedade como um todo, tarefa de longo
prazo, deve ser iniciada nas escolas, o centro ideal de formação integral dos
jovens, incluindo o exercício da cidadania. Neste sentido, a incorporação dessa
temática nos conteúdos curriculares dos diversos níveis de ensino é
determinante para se lograr uma atitude crítica que permita o debate e a
análise dos avanços científicos que influenciam a nossa saúde e determinam o
rumo da nossa existência. Afinal, os estudantes de hoje são os futuros
profissionais da saúde de amanhã e, quem sabe, não serão potenciais
doadores ou receptores de órgãos, beneficiários da admirável tecnologia dos
transplantes.
Em relação à inovação proposta de doação sanguínea em substituição
às penas impostas aos crimes de menor potencial ofensivo, recorremos à
FREITAS (2012), quando lembra o art.14 da Lei 10.205, de 21 de março de
2001que regulamentou o § 4º do art. 199 da Constituição Federal, que
36
disciplina as políticas de doação de sangue, e as elege como fundamento da
estratégia governamental, dentre outros, a universalização do atendimento à
população; a utilização exclusiva da doação voluntária, não remunerada, do
sangue, cabendo ao Poder Público estimulá-la como ato relevante de
solidariedade humana e compromisso social; e a proibição de remuneração ao
doador pela doação de sangue.
Deparando-nos com a devida atuação do Poder Judiciário em prol dos
que necessitam de sangue para se curar e/ou para viver vê-se que está em
harmonia com as políticas públicas correlatas ao espírito de solidariedade
humana e desprendimento individual, conclui-se que atende a duas vertentes a
viabilidade jurídica e o cunho humanitário.
37
REFERÊNCIAS
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38
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39
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41
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VAN MAANEN, J. Qualitative Methodology. 4. ed. Beverly Hills: Sage Publications Inc. 1985.
42
GLOSSÁRIO
ABTO
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, organização que congrega
profissionais que atuam na área de transplantes.
Alocação de Órgãos
Sistema que assegura que Órgãos e Tecidos para transplante são distribuídos
segundo critérios uniformes para os pacientes em lista de espera.
Aloenxertos
Ou enxertos alogênicos, comumente citados como enxertos. São os tipos mais
comuns de transplantes, feitos com tecidos da mesma espécie, mas não-
idênticos.
Auto-enxerto
Consiste em um enxerto extraído de um local do paciente para outro, como o
enxerto de pele.
CIHDOTT
COMISSÃO INTRA-HOSPITALAR DE DOAÇÃO DE ÓRGÀOS E TECIDOS
PARA TRANSPLANTES Comissão formada por Médicos, Enfermeiros,
Psicólogos, Assistentes Sociais e outros profissionais, para organizar, no
âmbito do hospital, o processo de captação de órgãos;
Crossmatch
Teste sanguíneo para determinar o grau de compatibilidade entre doador e
receptor. Crossmatch positivo indica incompatibilidade. Se o crossmatch for
"negativo," então o transplante pode ser realizado.
43
Diagnóstico de Morte Encefálica
A legislação sobre transplante e o Conselho Federal de Medicina estabelecem
um protocolo preciso que inclui dois exames clínicos, realizados por médicos
diferentes, sendo um deles neurologista, com intervalo mínimo de seis horas e
um dos exames complementares: ELETROENCEFALOGRAFIA,
CINTILOGRAFIA, ARTEROGRAFIA, DOPPLER TRANSCRANIANO,
POTENCIAL EVOCADO.
Doador Cadáver
É o doador com diagnóstico de ME, a qual é definida como a parada total e
irreversível da atividade do tronco e hemisférios cerebrais, respeitando-se a
resolução no 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina, sendo necessários
dois exames clínico neurológicos e um exame gráfico complementar. Nessa
situação a função cardiorrespiratória é mantida através de aparelhos e
medicações. Em relação ao doador com coração parado recente ou doador
sem batimentos cardíacos é possível a retirada de órgãos, em especial os rins.
Já o doador em coração parado tardio, trata-se de um cadáver com parada
cardíaca não recente (até 6 horas),nesse caso só poderão ser utilizados os
tecidos.
Doador Não Relacionado
Doador sem relação sanguínea com o receptor. Quase todos os doadores não
vivos são não relacionados
Doador Não Vivo
Termo preferencial em substituição a DOADOR CADÁVER.
Doador Relacionado
44
Um familiar que doa um rim, ou parte de um órgão para outro membro da
família. Pode ser geneticamente relacionado (pai, filho, irmão, etc.) ou
emocionalmente relacionado (cônjuge). Expressão mais utilizada quando se
trata de doação em vida.
Manutenção do Potencial Doador
A morte significa a imediata e progressiva deterioração de todas as funções do
corpo. Logo após o diagnóstico de morte encefálica são tomadas uma série de
decisões médicas com o objetivo de identificar e reverter todas as
complicações derivadas da morte e que ponha em risco a viabilidade dos
órgãos e tecidos transplantáveis. A manutenção do potencial do doador tem
duração indeterminada e começa com a sua definição como tal até o término
dos procedimentos de retirada dos órgãos e tecidos.
Morte Encefálica
Todas as pessoas morrem no momento em que o encéfalo (cérebro + tronco
cerebral) deixa de receber sangue, portanto, oxigênio, por causa de uma
parada cardíaca irreversível ou por dano crânio-encefálico resultante de um
AVC (acidente vascular cerebral) ou de um trauma (forte pancada na cabeça
em um acidente de automóvel, por exemplo, ou tiro de arma de fogo), ou por
causa de um tumor cerebral. A tecnologia médica atual permite que se defina a
morte como a perda das funções neurológicas e não das funções
cardiorrespiratórias que podem ser supridas artificialmente.
Potencial Doador
Pessoa em situação de morte encefálica, mantida em uma UTI, cujo
diagnóstico foi notificado para uma Central de Transplante, a família autorizou
a doação.
Potencial Receptor
Pessoa em lista de espera por um transplante
45
Retransplante
Devido à rejeição ou falha do órgão transplantado algumas pessoas
necessitam de um retransplante. Quem precisa de um retransplante de órgão
ímpar nas próximas 48 após o transplante tem prioridade na lista de espera.
Tecido
Estrutura integrada por células, que, por sua vez, tem diferentes qualidades e
funções, mas cuja integralidade permite a correta função dos órgãos. São
tecidos: sangue, pele, ossos, córneas. Válvulas cardíacas, vasos sanguíneos,
medula óssea, etc. Quase todos os tecidos podem ser doados para
transplante.
Transplante Heterotópico
Procedimento cirúrgico no qual o órgão doado é implantado em local diferente
do órgão original.
Xenotransplantes
É denominada como a utilização de órgãos ou tecido provenientes de animais.
Umadas primeiras experiências foi polêmica, e ficou conhecida como Baby
Fae. Em 1984 umapaciente pediátrica com insuficiência cardíaca terminal,
depois de utilizados todos os recursostécnicos, não obtendo um coração
humano, recebeu um coração babuíno na Universidade deLoma Linda, USA.
Mesmo com o conhecimento de que esse tipo de transplante não teriachances,
os médicos o fizeram com a perspectiva de aparecer um potencial doador.
46
ANEXOS
ANEXO A – TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA
Nome do HospitalTERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA
Res. CFM n° 1.400 08/08/1997
NOME: _____________________________________________________________________________
PAI: _____________________________________________________________________________
MÃE: _____________________________________________________________________________
IDADE: ______ANOS _____MESES _____DIAS DATA DE NASCIMENTO ___/____/____
SEXO: MF RAÇA: A B N Registro Hospitalar: _______________________
A -CAUSA DO COMA
A.1 – Causa do Coma:
A.2 – Causas do coma que devem ser excluídasdurante o exame
a) Hipotermia ( ) SIM ( ) NÃO
b)Uso de drogas depressoras do sistema nervoso central ( ) SIM ( ) NÃO
Se a resposta for sim a qualquer um dos itens, interrompe-se o protocolo
B. EXAME NEUROLÓGICO – Atenção verificar o intervalo mínimo exigível entre as avaliações clínicasconstantes da tabela abaixo:
47
IDADE INTERVALO
7 dias a 2 meses incompletos 48 horas
2 meses a 1 ano incompleto 24 horas
1 ano a 2 anos incompletos 12 horas
Acima de 2 anos 6 horas
(Ao efetuar o exame, assinalar uma das duas opções SIM/NÃO obrigatoriamente, para todos os itens abaixo
Elementos dos exame neurológico Resultados
1º exame 2º exame
Coma Aperceptivo ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
Pupilas fixas arreativas ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
Ausência de reflexo córneo palpebral ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
Ausênciade reflexo oculocefálicos ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
Ausência de respostas às provas calóricas
( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
Ausência de reflexo de tosse ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
Apneia ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO
C.ASSINATURAS DOS EXAMES CLÍNICOS – ( Os exames devem ser realizados por profissionais diferentes, que não poderão ser integrantes da equipe de remoção e transplante.
1. PRIMEIRO EXAME
DATA: ___/___/___HORA: ___________
NOME DO MÉDICO: _____________________
CRM:_____________ FONE:_______________
END.: ____________________________
ASSINATURA: __________________________
2. SEGUNDO EXAME
DATA: ___/___/___HORA: ___________
NOME DO MÉDICO: _____________________CRM: __________ FONE:_______________
END.: ____________________________
ASSINATURA: _________________________
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D. EXAME COMPLEMENTAR – Indicar o exame realizado e anexar laudo com a identificação do médico responsável
1. Angiografia cerebral
6. Tomografia por emissão de fóton único
2. Cintilografia Radiolsotópica
7. E.E.G
3.Doppler Transcraneano
8. Tomografiapor emissão de pósitrons
4. Monitorização da pressão intracraneana
9 . Extinção Cerebral do Oxigênio
5. Tomografia Computadorizada com xenônio
10. Outros (citar)
E. OBSERVAÇÕES:
I. Para o diagnóstico de morte encefálica, interessa exclusivamente a reatividade supraespinal.
Conseqüentemente, este diagnóstico não é afastasdo através da presença de sinais de reatividade infraespinal (atividade reflexa medular), tais como: reflexos osteolondinosos (reflexos profundos), cutâneos-abdominais, cutâneo-plantar em flexão ou extensão, cremastérico superficial ou profundo, ereção peniana reflexa, arrepio, reflexos flexores de retirada dos membros inferiores ou superiores, reflexo tônico cervical.
2. Prova Calórica
2.1 – Deve-se certificar que não há obstrução do canal auditivo por cerúmen ou qualquer outra condição que dificulte a correta realização do exame.
2.2 – Usar 50 ml de líquido (soro fisiológico, água, etc), em torno de 0ºC em cada ouvido.
2.3 – Manter a cabeça elevada em 30 (trinta) graus durante a prova.
2.4 – Constatar a ausência de movimentos oculares.
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3 – Teste da Apnéia
No doente em coma, o nível sensorial de estímulo para desencadear a respiração é alto, necessitando-se elevar a pCO2 até 55mmHg, fenômeno que pode determinar um tempo de vários minutos entre a desconexão do respirador e o aparecimento dos movimentos respiratórios, caso a região ponto-bulbar ainda esteja íntegra. A prova da apnéia é realizada de acordo com o seguinte protocolo:
3.1 – Manter o paciente no respirador com Fi 02 a 100%, por 10 minutos.
3.2 – Desconectar o tubo do respirador.
3.3 – Instalar cateter traqueal de oxigênio com fluxo de 6 litros por minuto.
3.4 – Observar o surgimento de movimentos respiratórios por 10 minutos, ou até atingir pCO2 = 55 mmlHg.
4 –O exame clínico deve ser acompanhado de um exame complementar, que demonstre a ausência de circulação sanguínea intracraniana, atividade elétrica ou atividade metabólica cerebral. Observar o disposto abaixo (itens 5 a 6), com relação ao tipo de exame e faixa etária.
5 – Em pacientes com dois anos ou mais, fazer 1 exame complementar entre os abaixo mencionados:
5.1 – Atividade circulatória cerebral: angiografia, cintilografia radioisotópica, dopplertranscraniano, monitorização da pressão intracraniana, tomografia computadorizada com xenônio, SPECT.
5.2 – Atividade elétrica: eletroencefalograma
5.3 – Atividade metabólica: PET, extração cerebral de oxigênio.
6 – Para pacientes abaixo de 02 anos:
6.1 – De 1 ano a 2 anos incompletos: o tipo de exame é facultativo. No caso de eletroencefalograma, são necessários 2 registros com intervalo mínimo de 12 horas.
6.3 – De 7 dias a 2 meses de idade (incompletos); dois eletroencefalogramas com intervalo de 48 horas.
7 – Uma vez constatada a morte encefálica, cópia deste termo de declaração deve obrigatoriamente ser enviada ao órgão controlador estadual (Lei 9.434, art. 13).
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ANEXO B – QUESTIONÁRIO PIONEIRO PARA SELEÇÃO DE DOADORES DE SANGUE IMPLANTADO NA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SOROCABA-SP.
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ANEXO C – CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA ABTO
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LEI Nº 4.280, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1963
Dispõe sôbre a extirpação de órgão ou tecido de pessoa falecida.
Faço saber que o Congresso Nacional decretou, o Presidente da República sancionou, nos têrmos do § 2º do art. 70 da Constituição Federal, e eu Auro Moura Andrade, Presidente do Senado Federal, promulgo, de acôrdo com o disposto no § 4º do mesmo artigo, da Constituição, a seguinte lei:
Art. 1º É permitida a extirpação de partes de cadáver, para fins de transplante, desde que o de cujus tenha deixado autorização escrita ou que não haja oposição por parte do cônjuge ou dos parentes até o segundo grau, ou de corporações religiosas ou civis responsáveis pelo destino dos despojos.
Parágrafo Único. Feito o levantamento do órgão ou tecido destinado à transplantação, o cadáver será devida, cuidadosa e condignamente recomposto.
Art. 2º A extirpação de outras partes do cadáver que não sejam a córnea deverá, ser especificada no regulamento da execução desta lei baixada pelo Chefe do Poder Executivo e referendo pelo Ministro da Saúde.
Art. 3º Para que se realize qualquer extirpação de órgão ou parte do cadáver, é mister que esteja provada de maneira cabal a morte atestada pelo diretor do hospital onde se deu o óbito ou por seus substitutos legais.
Art. 4º A extirpação para finalidade terapêutica autorizada nesta lei só poderá ser realizada em Instituto Universitário ou em Hospital reconhecido como idôneo pelo Ministro da Saúde ou pelos Secretários da Saúde, com aprovação dos Governadores dos Estados ou Territórios ou de Prefeito do Distrito Federal.
Art. 5º Os Diretores das instituições hospitalares ou Institutos Universitários onde se realizem as extirpações de órgãos ou tecido de cadáver com finalidade terapêutica remeterão, ao fim de cada ano ao Departamento Nacional de Saúde Pública, as relatórios dos atos cirúrgicos relativos a essas extirpações, bem como os resultados dessas operações.
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Art. 6º A doação da parte orgânica a extirpar só poderá ser feita a pessoa determinada ou a instituição idônea, aprovada e reconhecida peIo Secretário da Saúde do Estado e pelo Governador ou Prefeito do Distrito Federal.
Art. 7º Os Diretores de Institutos Universitários e dos Hospitais devem comunicar ao Diretor da Saúde Pública, semanalmente, quais os enfermos que espontaneamente se propuseram a fazer as doações post mortem, de seus tecidos ou órgãos, com destino a transplante, e o nome das instituições, ou pessoas contempladas.
Art. 8º A extirpação deve ser efetuada de preferência pelo facultativo encarregado do transplante e quando possível na presença dos médicos que atestaram o óbito. Só é permitida uma extirpação em cada cadáver, devendo evitar-se mutilações ou dissecações não absolutamente necessárias.
Art. 9º As despesas com a extirpação ou o transplante, fixadas em cada caso pelo Diretor da Saúde Pública, serão custeados pelo interessado, ou pelo Ministério da Saúde, quando o recebedor do enxêrto fôr reconhecidamente pobre.
Art. 10. Esta lei entrará em vigor na data de sua, publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, em 6 de novembro de 1963; 142º da Independência e 15º da República.
AURO MOURA ANDRADE
Presidente de Senado Federal
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LEI Nº 5.479, DE 10 DE AGOSTO DE 1968
Dispõe sobre a retirada e transplante de tecidos, órgãos e partes de cadáver para finalidade terapêutica e científica, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º A disposição gratuita de uma ou várias partes do corpo "post mortem", para fins terapêuticos é permitida na forma desta Lei.
Art. 2º A retirada para os fins a que se refere o artigo anterior deverá ser precedida da prova incontestável da morte.
§ 1º - ... VETADO
§ 2 - .... VETADO
§ 3º - ... VETADO.
Art. 3º A permissão para o aproveitamento, referida no art. 1º, efetivar-se-á mediante a satisfação de uma das seguintes condições:
I - Por manifestação expressa da vontade do disponente;
II - Pela manifestação da vontade, através de instrumento público, quando se tratar de dispoentes relativamente incapazes e de analfabetos;
III - Pela autorização escrita do cônjuge, não separado, e sucessivamente, de descendentes, ascendentes e colaterais, ou das corporações religiosas ou civis responsáveis pelo destino dos despojos;
IV - Na falta de responsáveis pelo cadáver a retirada, somente poderá ser feita com a autorização do Diretor da Instituição onde ocorrer o óbito, sendo ainda necessária esta autorização nas condições dos itens anteriores.
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Art. 4º A retirada e o transplante de tecidos, órgãos e partes de cadáver, somente poderão ser realizados por médico de capacidade técnico comprovada, em instituições públicas ou particulares, reconhecidamente idôneas e autorizadas pelos órgãos públicos competentes.
Parágrafo único. O transplante somente será realizado se o paciente não tiver possibilidade alguma de melhorar através de tratamento médico ou outra ação cirúrgica.
Art. 5º Os Diretores de Institutos Universitários e dos Hospitais devem comunicar ao Diretor da Saúde Pública quais as pessoas que fizeram disposições, para "post mortem", de seus tecidos ou órgãos, com destino a transplante e o nome das instituições ou pessoas contempladas.
Art. 6º Feita a retirada, o cadáver será condignamente recomposto e entregue aos responsáveis para o sepultamento.
Parágrafo único. A infração ao disposto neste artigo será punida com a pena prevista no art. 211 do Código Penal.
Art. 7º Não havendo compatibilidade, a destinação a determinada pessoa poderá, a critério do médico chefe da Instituição, e mediante prévia disposição ou autorização de quem de direito, ser transferida para outro receptor, em que se verifique aquela condição.
Art. 8º Os Diretores das instituições hospitalares ou institutos universitários onde se realizem as retiradas de órgãos ou tecidos de cadáver com finalidade terapêutica remeterão ao fim de cada ano, ao Departamento Nacional de Saúde Pública, os relatórios dos atos cirúrgicos relativos a essas retiradas, bem como os resultados dessas operações.
Art. 9º A retirada de partes do cadáver, sujeito por fôrça de lei à necropsia ou à verificação do diagnóstico causa mortis, deverá ser autorizada pelo médico-legista e citada no relatório da necropsia ou da verificação diagnóstica.
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Art. 10. É permitido à pessoa maior e capaz dispor de órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins humanitários e terapêuticos.
§ 1º A autorização do disponente deverá especificar o tecido, ou órgão, ou a parte objeto da retirada.
§ 2º Só é possível a retirada, a que se refere êste artigo, quando se tratar de órgãos duplos ou tecidos, vísceras ou partes e desde que não impliquem em prejuízo ou mutilação grave para o disponente e corresponda a uma necessidade terapêutica, comprovadamente indispensável, para o paciente receptor.
Art. 11. A infração ao disposto nos arts. 2º, 3º, 4º e 5º desta lei será punida com a pena de detenção de um a três anos sem prejuízo de outras sanções que no caso couberem.
Art. 12. As intervenções disciplinadas por esta lei não serão efetivadas se houver suspeita de ser o disponente vítima de crime.
Art. 13. As despesas com as retiradas e transplantes serão disciplinadas na forma determinada pela regulamentação desta Lei.
Art. 14. O Departamento Nacional de Saúde Pública será o órgão fiscalizador da execução desta Lei.
Art. 15. O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Lei no prazo de 60 (sessenta) dias, a partir da data de sua publicação.
Art. 16. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas a Lei nº 4.280, de 6 de novembro de 1963, e demais disposições em contrário.
Brasília, 10 de agôsto de 1968; 147º da Independência e 80º da República.
A. COSTA E SILVA
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Luís Antônio da Gama e Silva
Leonel Miranda
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LEI Nº 8.489, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1992
Dispõe sobre a retirada e transplante de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos e científicos e dá outras providências.
O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º A disposição gratuita de uma ou várias partes do corpo post mortem para fins terapêuticos e científicos é permitida na forma desta lei.
Art. 2º (Vetado)
Art. 3º A permissão para o aproveitamento, para os fins determinados no art. 1° desta lei, efetivar-se-á mediante a satisfação das seguintes condições:
I - por desejo expresso do disponente manifestado em vida, através de documento pessoal ou oficial;
II - na ausência do documento referido no inciso I deste artigo, a retirada de órgãos será procedida se não houver manifestação em contrário por parte do cônjuge, ascendente ou descendente.
Art. 4º Após a retirada de partes do corpo, o cadáver será condignamente recomposto e entregue aos responsáveis para sepultamento ou necropsia obrigatória prevista em lei.
Parágrafo único. A não-observância do disposto neste artigo será punida de acordo com o art. 211 do Código Penal.
Art. 5º (Vetado.)
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Art. 6º O transplante de tecidos, órgãos ou partes do corpo, somente poderá ser realizado por médicos com capacidade técnica comprovada, em instituições públicas ou privadas reconhecidamente idôneas e devidamente cadastradas para este fim no Ministério da Saúde.
Parágrafo único. Os prontuários médicos detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos serão mantidos nos arquivos das instituições referidas e um relatório anual, contendo os nomes dos pacientes receptores, será enviado ao Ministério da Saúde.
Art. 7º A retirada de partes do cadáver, sujeito por força de lei à necropsia ou à verificação diagnóstico causa mortis , deverá ser autorizada por médico-legista e citada no relatório da necropsia ou da verificação diagnóstica.
Art. 8º As despesas com as retiradas e transplantes previstos nesta lei serão custeadas na forma determinada pela sua regulamentação.
Art. 9º (Vetado)
Art. 10. É permitida à pessoa maior e capaz dispor gratuitamente de órgãos, tecidos ou partes do próprio corpo vivo para fins humanitários e terapêuticos.
§ 1º A permissão prevista no caput deste artigo limita-se à doação entre avós, netos, pais, filhos, irmãos, tios, sobrinhos, primos até segundo grau inclusive, cunhados e entre cônjuges.
§ 2º Qualquer doação entre pessoas não relacionadas no parágrafo anterior somente poderá ser realizada após autorização judicial.
§ 3º O disponente deverá autorizar especificamente o tecido, órgãos ou parte do corpo objeto da retirada.
§ 4º Só é permitida a doação referida no caput deste artigo quando se tratar de órgãos duplos, partes de órgãos, tecidos, vísceras ou partes do corpo que não impliquem em prejuízo ou mutilação grave para o disponente e
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corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.
Art. 11. A não-observância do disposto nos arts. 2º, 3º, 5º, 6º, 7º, 8º e 10 desta lei será punida com pena de detenção de um a três anos, sem prejuízo de outras sanções que no caso couberem.
Art. 12. A notificação, em caráter de emergência, em todos os casos de morte encefálica comprovada, tanto para hospital público, como para a rede privada, é obrigatória.
Art. 13. (Vetado)
Art. 14. O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta lei no prazo máximo de sessenta dias, a partir da data de sua publicação.
Art. 15. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 16. Revogam-se as disposições em contrário, particularmente a Lei n° 5.479, de 10 de agosto de 1968.
Brasília, 18 de novembro de 1992; 171° da Independência e 104° da República.
ITAMAR FRANCO
Maurício Corrêa
Jamil Haddad
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LEI N° 8.501, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1992
Dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científica e dá outras providências.
O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1° Esta Lei visa disciplinar a destinação de cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, para fins de ensino e pesquisa.
Art. 2° O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino e de pesquisa de caráter científico.
Art. 3° Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:
I -- sem qualquer documentação;
II -- identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de parentes ou responsáveis legais.
§ 1° Na hipótese do inciso II deste artigo, a autoridade competente fará publicar, nos principais jornais da cidade, a título de utilidade pública, pelo menos dez dias, a notícia do falecimento.
§ 2° Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será, obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente.
§ 3° É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa.
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§ 4° Para fins de reconhecimento, a autoridade ou instituição responsável manterá, sobre o falecido:
a) os dados relativos às características gerais;
b) a identificação;
c) as fotos do corpo;
d) a ficha datiloscópica;
e) o resultado da necropsia, se efetuada; e
f) outros dados e documentos julgados pertinentes.
Art. 4° Cumpridas as exigências estabelecidas nos artigos anteriores, o cadáver poderá ser liberado para fins de estudo.
Art. 5° A qualquer tempo, os familiares ou representantes legais terão acesso aos elementos de que trata o § 4° do art. 3° desta Lei.
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 30 de novembro de 1992; 171° da Independência e 104° da República.
ITAMAR FRANCO
Maurício Corrêa
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LEI Nº 9.434, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1997.
Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a que se refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo.
Art. 2º A realização de transplante ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde.
Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
CAPÍTULO II
DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS,
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ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.
Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
§ 1º Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos exames referentes aos diagnósticos de morte encefálica e cópias dos documentos de que tratam os arts. 2º, parágrafo único; 4º e seus parágrafos; 5º; 7º; 9º, §§ 2º, 4º, 6º e 8º, e 10, quando couber, e detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, serão mantidos nos arquivos das instituições referidas no art. 2º por um período mínimo de cinco anos.
§ 2º Às instituições referidas no art. 2º enviarão anualmente um relatório contendo os nomes dos pacientes receptores ao órgão gestor estadual do Sistema único de Saúde.
§ 3º Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da comprovação e atestação da morte encefálica.
Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 1º (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 2º .(Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
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§ 3º (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 4º (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 5º .(Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
Art. 5º A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa juridicamente incapaz poderá ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais.
Art. 6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas.
Art. 7º (VETADO)
Parágrafo único. No caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência de causa mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de verificação da causa médica da morte, a remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver para fins de transplante ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do patologista do serviço de verificação de óbito responsável pela investigação e citada em relatório de necrópsia.
Art. 8o Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será imediatamente necropsiado, se verificada a hipótese do parágrafo único do art. 7o, e, em qualquer caso, condignamente recomposto para ser entregue, em seguida, aos parentes do morto ou seus responsáveis legais para sepultamento. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
CAPÍTULO III
DA DISPOSIÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO VIVO PARA FINS DE TRANSPLANTE OU TRATAMENTO
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Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 1º (VETADO)
§ 2º (VETADO)
§ 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.
§ 4º O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada.
§ 5º A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização.
§ 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde.
§ 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto quando se tratar de doação de tecido para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua saúde ou ao feto.
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§ 8º O auto-transplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.
Art. 9o-A É garantido a toda mulher o acesso a informações sobre as possibilidades e os benefícios da doação voluntária de sangue do cordão umbilical e placentário durante o período de consultas pré-natais e no momento da realização do parto. (Incluído pela Lei nº 11.633, de 2007).
CAPITULO IV
DAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES
Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor, assim inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 1o Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
§ 2o A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por acidente ou incidente em seu transporte. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
Parágrafo único. Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida de sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais.
Art. 11. É proibida a veiculação, através de qualquer meio de comunicação social de anúncio que configure:
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a) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos, relativa a estas atividades;
b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para pessoa determinada identificada ou não, ressalvado o disposto no parágrafo único;
c) apelo público para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou enxerto em beneficio de particulares.
Parágrafo único. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do Sistema único de Saúde realizarão periodicamente, através dos meios adequados de comunicação social, campanhas de esclarecimento público dos benefícios esperados a partir da vigência desta Lei e de estímulo à doação de órgãos.
Art. 12. (VETADO)
Art. 13. É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde notificar, às centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos da unidade federada onde ocorrer, o diagnóstico de morte encefálica feito em pacientes por eles atendidos.
Parágrafo único. Após a notificação prevista no caput deste artigo, os estabelecimentos de saúde não autorizados a retirar tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverão permitir a imediata remoção do paciente ou franquear suas instalações e fornecer o apoio operacional necessário às equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante, hipótese em que serão ressarcidos na forma da lei. (Incluído pela Lei nº 11.521, de 2007)
CAPÍTULO V
DAS SANÇÕES PENAIS E ADMIMSTRATIVAS
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SEÇÃO I
Dos Crimes
Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.
§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.
§ 2.º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa
§ 3.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta para o ofendido:
I - Incapacidade para o trabalho;
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II - Enfermidade incurável ;
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.
§ 4.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.
Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação.
Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:
Pena - reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.
Art. 17 Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:
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Pena - reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a 250 dias-multa.
Art. 18. Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10 desta Lei e seu parágrafo único:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 19. Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 20. Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no art. 11:
Pena - multa, de 100 a 200 dias-multa.
Seção II
Das Sanções Administrativas
Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16 e 17, o estabelecimento de saúde e as equipes médico-cirúrgicas envolvidas poderão ser desautorizadas temporária ou permanentemente pelas autoridades competentes.
§ 1.º Se a instituição é particular, a autoridade competente poderá multá-la em 200 a 360 dias-multa e, em caso de reincidência, poderá ter suas atividades suspensas temporária ou definitivamente, sem direito a qualquer indenização ou compensação por investimentos realizados.
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§ 2.º Se a instituição é particular, é proibida de estabelecer contratos ou convênios com entidades públicas, bem como se beneficiar de créditos oriundos de instituições governamentais ou daquelas em que o Estado é acionista, pelo prazo de cinco anos.
Art. 22. As instituições que deixarem de manter em arquivo relatórios dos transplantes realizados, conforme o disposto no art. 3.º § 1.º, ou que não enviarem os relatórios mencionados no art. 3.º, § 2.º ao órgão de gestão estadual do Sistema único de Saúde, estão sujeitas a multa, de 100 a 200 dias-multa.
§ 1o Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que deixar de fazer as notificações previstas no art. 13 desta Lei ou proibir, dificultar ou atrasar as hipóteses definidas em seu parágrafo único. (Redação dada pela Lei nº 11.521, de 2007)
§ 2.º Em caso de reincidência, além de multa, o órgão de gestão estadual do Sistema Único de Saúde poderá determinar a desautorização temporária ou permanente da instituição.
Art. 23. Sujeita-se às penas do art. 59 da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962, a empresa de comunicação social que veicular anúncio em desacordo com o disposto no art. 11.
CAPÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 24. (VETADO)
Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário, particularmente a Lei n.º 8.489, de 18 de novembro de 1992, e Decreto n.º 879, de 22 de julho de 1993.
Brasília,4 de fevereiro de 1997; 176.º da Independência e 109.º da República.
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FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Nelson A. Jobim
Carlos César de Albuquerque