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Acreditação hospitalar e o processo de trabalho da enfermagem
Lucíola Silva Sandim1
Resumo
Objetivo: analisar, literaturas relacionadas à enfermagem no contexto da acreditação hospitalar. Método: revisão integrativa de literatura nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SciELO, de artigos publicados entre 2010 e 2016, em português, disponíveis na íntegra nos meios eletrônicos. Discussão: compuseram a amostra 11 artigos de periódicos, agrupados nas categorias: atuação do enfermeiro no processo de acreditação hospitalar e a influência do processo de acreditação hospitalar sobre o trabalho da enfermagem. Conclusão: Conclui-se que há aspectos importantes nos processos de acreditação hospitalar relacionados ao processo de trabalho da enfermagem que merecem ser considerados e aperfeiçoados, visando à melhoria da assistência prestada e que novos estudos devem ser realizados sobre o tema, bem como sobre a melhoria da assistência de enfermagem nessas organizações de saúde, pós Acreditação.
Descritores: Enfermagem, acreditação, acreditação hospitalar, hospitais.
Abstract
Objective: Analyze literature related to nursing in the context of hospital accredita-tion. Method: integrative review of literature in the base of data LILACS, MEDLINE, Scielo, of articles published between 2010 and 2016, in Portuguese, available in full in the electronic media. Discussion: the sample was made up of eleven articles of periodicals grouped in such. Classes: the acting of the nurse in the process of hos-pital accreditation and the influence of this process on the nursing work. Conclusion: it’s implied that there are important aspects in the processes of hospital accreditation related to the nursing work that deserve to be considered and improved, all of them having in view the improvement of the given assistance and that new studies should be done about in and about the improvement of the nursing assistance in health or-ganizations, after accreditation.
Descriptors: Nursering, accreditation, hospital accreditation, hospitals.
Title: Hospital accreditation and the nursing work process.
1 Enfermeira, mestranda em UTI pelo Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, especialista em UTI geral, Urgência e Emergência, Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde, Enfermagem do Trabalho, professora universitária. E-mail: [email protected]
1
Introdução
Na era da globalização da economia e da competitividade cada dia maior em
todos os seguimentos do mercado, os serviços de saúde que quiserem sobreviver
com sucesso deverão adotar um modelo de gestão que privilegie as práticas que
agregam a qualidade nos atendimentos. Nesse contexto as intuições de saúde que
não se adequarem correm o risco de não mais sustentaram os custos relacionados
com gastos elevados, processos ineficientes e despesas com retrabalho,
evidenciando a perda de clientes e de mercado. (MANZO et. al. 2011)
O movimento pela qualidade nos serviços de saúde se caracteriza como um
fenômeno mundial que, dada a necessidade de atender à crescente exigência dos
usuários por melhorias no atendimento, tem provocado numerosas discussões e
investigações. (BELLUCI JUNIOR; MATSUDA, 2011).
Os gestores dos serviços de saúde viram na gestão da qualidade um grande
desafio, no qual veem se dedicando a aprimorar os processos no desenvolvimento
das atividades de melhorias contínuas da qualidade, levando a sobrevivência dos
hospitais. A implantação da metodologia de acreditação encaminhando os hospitais
à enfrentarem mudanças organizacionais nos processos de trabalho, agregando
tanto o processo da qualidade no atendimento ao paciente quanto melhorias na
gestão de processos internos executados com mais eficiência e eficácia. (OLIVEIRA,
2012).
A qualidade de um serviço ou produto pode ser definida como um conjunto de
atributos que tem a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas ou
implícitas dos clientes, isto é, aquele que atende da melhor forma as necessidades
do cliente e que também valoriza sua equipe. (LACOMBE, 2009). A gestão da
qualidade necessita de pessoas motivadas e treinadas para obter produtos e
serviços de qualidade, bem como um contínuo sistema de controle e revisão, com
constante retorno para corrigir os desvios em relação as metas e padrões
estabelecidos. Além disso, o sistema deve ser revisto periodicamente para verificar a
possibilidade de se introduzirem aperfeiçoamentos. A gestão da qualidade é
responsabilidade de todos os níveis da organização e deve ser liderada pela alta
2
administração. Como em qualquer processo de mudança, é imprescindível não só o
apoio, mas também o envolvimento da alta administração. (LACOMBE, 2009).
De acordo com Manzo et al. (2012) a equipe de enfermagem é de suma
importância para o programa da qualidade, devido a grande quantidade de
profissionais e por sua atuação direta e ininterrupta com os clientes internos e
externos. Por meio de instrumentos de estrutura organizacional, como regimento
interno, organograma, rotinas, sistemas de comunicação e controle, interagindo
assim com todas as áreas de apoio com autonomia e responsabilidade.
A percepção da equipe de enfermagem no processo de acreditação hospitalar
é fundamental pois assume funções assistenciais e de gestão, fazendo parte da
busca da excelência na assistência de qualidade. (FERNANDES; PENICHE, 2015).
Os profissionais de saúde estão envolvidos nesse processo de melhoria contínua,
desenvolvendo papel primordial na garantia e manutenção do processo de
acreditação. (MENDES; MIROLA, 2015).
Em 1999 a Organização Nacional de Acreditação (ONA) foi fundada por
entidades públicas e privadas do setor de saúde, sem fins lucrativos, com função de
coordenar o sistema de acreditação. Instituições de saúde e governos começaram a
se preocupar fortemente com a avaliação dos serviços oferecidos à população na
década de 1990. Foi nesse período que surgiram as primeiras iniciativas regionais
de acreditação e o Manual de Acreditação de Hospitais para América Latina e
Caribe, publicado pela Federação Brasileira de Hospitais, Federação Latino-
americana de Hospitais e Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS.A
metodologia de avaliação da ONA foi desenvolvida a partir da revisão desses
modelos de acreditação regionais e dos manuais da América Latina e de países
como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Inglaterra. Desde sua criação, a ONA
coordena o Sistema Brasileiro de Acreditação - SBA, que reúne organizações e
serviços de saúde, entidades e instituições acreditadoras em prol da segurança do
paciente e da melhoria do atendimento. (ONA, 2014)
Definido pela ONA, o processo de acreditação hospitalar é um sistema de
avaliação voluntário, periódico e reservado, tem um caráter educativo, voltado para a
melhoria contínua, sem finalidade de fiscalização, com certificação de qualidade de
3
serviços de saúde, disposto em três níveis: estrutura e segurança (Nível 1),
denominado Acreditado; organização dos processos (Nível 2), denominado
“Acreditado Pleno”; e resultados (Nível 3), denominado “Acreditado com Excelência”
(ONA, 2014).
A acreditação pode ser vista como uma ferramenta para medir e comparar as
unidades de saúde nos níveis nacional e internacional. Trata-se de um processo
educativo permanente, que envolve todos os atores no cenário da instituição de
saúde. Nesse contexto, o profissional enfermeiro tem atuação fundamental junto à
sua equipe no processo de acreditação, uma vez que participa ativamente em
momentos decisórios, estratégicos e operacionais da instituição, envolvendo ações
direcionadas para as dimensões da assistência, administrar/gerenciar, ensinar e
pesquisar. (MENDES; MIRANDOLA, 2015). Compromisso institucional, relações
com outros profissionais de saúde e proximidade com os clientes são fatores
importantes a favor da enfermagem na implantação do processo de acreditação.
(FERNANDES; PENICHE 2015).
Assim o objetivo do presente estudo foi analisar, literaturas relacionadas com a
influência do processo de acreditação hospitalar sobre o trabalho da enfermagem e
a atuação do enfermeiro nesse processo.
Metodologia
Trata-se de uma revisão Integrativa da Literatura com coleta de dados em fontes
disponíveis online, a busca foi realizada no mês de fevereiro de 2016.
A revisão integrativa da literatura trata-se da construção de uma análise
ampla da literatura, colaborando para discussões sobre métodos e resultados de
pesquisas, assim como reflexões sobre a realização de futuros estudos. O designo
inicial deste método de pesquisa é obter um intrínseco entendimento de um
determinado fenômeno fundamentado em estudos anteriores. É necessário seguir
padrões de rigor metodológico, clareza na apresentação dos resultados, de forma
que o leitor consiga identificar as particularidades reais dos estudos incluídos na
revisão (BELLUCI JUNIOR; MATSUDA,2011).
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A revisão integrativa da literatura sugere o estabelecimento de critérios bem
definidos sobre a coleta de dados, análise e apresentação dos resultados, desde o
início do estudo, a partir de um protocolo de pesquisa previamente elaborado e
validado. Para tanto, foram adotadas as seis etapas indicadas para a constituição da
revisão integrativa da literatura: 1) seleção do tema e questionamento da pesquisa;
2) busca na literatura; 3) representação dos estudos selecionados em formato de
tabelas; 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa da literatura; 5)
interpretação dos resultados e 6) reportar, de forma clara, a evidência encontrada.
(LANZONI; MEIRELLES, 2011)
Etapa 1: seleção do tema ou questionamento da Revisão Integrativa da literatura
Formulou-se a seguinte indagação norteadora: "O que existe publicado na
literatura científica, no período de 2010 à 2016, relacionando à enfermagem no
contexto da acreditação hospitalar?".
Etapa 2: amostragem ou busca na literatura
Realizou-se a busca dos artigos no sítio da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS),
nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), biblioteca digital Scientific Electronic Library Online (Sci-ELO) e
base medical literature analysis and retrieval system online (MEDLINE).
As palavras-chave utilizadas foram: Enfermagem, acreditação, acreditação
hospitalar, hospitais. Os critérios para a escolha das palavras chave consistiram em:
pertencer aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e representar ao menos
em parte a temática do estudo. Os descritores foram combinados em cada base de
dados utilizando-se o operador AND, combinando os descritores aos pares e todos
ao mesmo tempo, até que fossem recuperados artigos em quantidade e
especificidade.
Etapa 3: representação dos estudos
Como critérios de inclusão dos artigos estabeleceram-se: artigos completos;
publicados no período entre 2010 a 2016; disponíveis no idioma português;
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indexados nas bases de dados mencionadas; que discorram sobre a enfermagem
no contexto da acreditação hospitalar.
Na categorização dos estudos as informações extraídas dos artigos
selecionados se referiram aos seguintes itens: títulos do artigo, informações sobre
as metodologias utilizadas, objetivos almejados e as conclusões a que os autores
chegaram.
Etapa 4: avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa da literatura
Foi realizada a busca inicial pelos resumos dos artigos que respondiam aos
descritores adotados e, selecionados aqueles que mencionavam fatores
relacionados à enfermagem no contexto da acreditação hospitalar.
Etapa 5: interpretação dos resultados
A partir de repetidas leituras dos resumos selecionados na fase anterior, se
extraiu aqueles estudos que discorresse sobre a enfermagem no contexto da
acreditação hospitalar.
Em relação ao tratamento dos dados, foi aplicado o método de Análise de
Conteúdo, que propiciou o agrupamento do conteúdo estudado em categorias
temáticas.
Fase 6- reportar, de forma clara, a evidência encontrada.
Após leitura do material selecionado, buscou-se estabelecer os pontos de
convergência e divergência entre os artigos, assim como, situar a relação entre os
achados e a questão de pesquisa. Os artigos foram agrupados nas seguintes
categorias: 1. Atuação do enfermeiro no processo de acreditação hospitalar; 2.
Influência do processo de acreditação hospitalar sobre o trabalho da enfermagem.
6
Resultados
Caracterização das publicações
Foram identificados 404 resumos, distribuídos de acordo com a figura 1 a seguir:
Figura 1 – Esquema de seleção de artigos para revisão integrativa adaptado de BELLUCCI JUNIOR J.A; MATSUDA L.M.;
Porto Alegre 2011.
Os onze artigos selecionados foram publicados em nove diferentes periódicos
nacionais. Destes 10 são inerentes à Enfermagem e um da Área de Engenharia de
Produção.
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Com relação a pesquisa realizada Enfermagem foi a profissão que mais
publicou resultados de pesquisa sobre a Acreditação no Brasil.
Na classificação dos estudos, quanto ao contexto em que se realizaram, o
ambiente hospitalar acreditado teve destaque, ao concentrar estudos (100%),
hospitais privados apresentaram cinco (45,45%), hospitais públicos (SUS) dois
(18,18%), e estudos que abordaram ambos (público e privado) foram quatro
(36,36%).
Os estudos selecionados foram classificados quanto à sua categoria de
publicação, conforme explicitado pelos periódicos, assim especificados: 100% (11)
pesquisas originais, sendo categorizadas abaixo.
1. Atuação do enfermeiro no processo de acreditação hospitalar
Os artigos agrupados nessa categoria estão sintetizados no Quadro 1 e se referem
as ações do enfermeiro no processo e manutenção da acreditação hospitalar. As
publicações em foco se relacionam a: Habilidades em gestão; Trabalho em equipe;
Educação permanente; Comunicação organizacional; Melhoria contínua.
Título Estudo/
Tipo
Objetivo Conclusão
Significado do
processo de
acreditação
hospitalar para
enfermeiros de
um hospital
público
estadual.
Estudo 1/
Descritivo e
exploratório
de
abordagem
qualitativa.
Compreender o
significado do processo
de acreditação hospitalar
para enfermeiros de um
hospital público estadual,
que vivenciam essa
prática.
Conclui-se que, com esse
processo, os enfermeiros
adquirem maior habilidade
no trabalho gerencial,
elaborando indicadores e
dados, proporcionando com
isso, ferramentas
indispensáveis ao profissional
atuante na assistência
qualificada ao paciente.
8
As percepções
dos
profissionais de
saúde sobre o
processo de
acreditação
hospitalar.
Estudo 2/
Estudo de
caso
descritivo de
natureza
qualitativa.
Conhecer as percepções
dos profissionais de
saúde sobre o processo
de acreditação hospitalar.
A realização do estudo
aponta a necessidade de
sensibilização e de
capacitação dos profissionais
envolvidos na acreditação,
considerando a
complexidade desse processo
e sua influência no trabalho
dos profissionais das
diferentes categorias e a
importância de que seja
assegurada a qualidade da
assistência.
Perfil e
competências
de gerentes de
enfermagem de
hospitais
acreditados.
Estudo3/
Descritivo de
abordagem
quantitativa.
Identificar o perfil e as
competências de
gerentes de enfermagem
de hospitais acreditados.
Conclui-se que a maioria dos
gerentes de enfermagem
possuía semelhanças quanto
ao perfil e competências,
compatíveis com as
expectativas de seus
superiores hierárquicos que
colaboram na seleção para o
cargo e na avaliação do seu
desempenho profissional.
Participação do
enfermeiro
gerente no
processo de
acreditação
hospitalar.
Estudo 4/
Estudo de
caso
qualitativo.
Compreender a atuação
do enfermeiro gerente no
processo de acreditação
hospitalar.
O enfermeiro tem assumido
funções gerenciais e
institucionais e adotando
padrões para o trabalho em
equipe. O trabalho gerencial,
assistencial e educacional é
desenvolvido dentro de uma
perspectiva processual e
indissociável.
9
Influência da
comunicação
no processo de
acreditação
hospitalar.
Estudo 5/
Estudo de
caso
descritivo de
natureza
qualitativa.
Analisar na perspectiva
de profissionais, as
principais barreiras de
comunicação vivenciadas
no decorrer do processo
de acreditação em um
hospital privado de
médio porte de Belo
Horizonte.
A comunicação
organizacional é uma
ferramenta eficaz para
subsidiar mudanças
importantes nas empresas,
como o alcance da
acreditação hospitalar.
Articulando a mudança de
forma concisa e clara no que
se refere à comunicação,
poderá ser alcançado
perenemente a padrão da
qualidade.
Estudo das não
conformidades
no trabalho da
enfermagem:
evidências
relevantes para
melhoria da
qualidade
hospitalar.
Estudo
6/Estudo de
abordagem
quantitativa,
de caráter
descritivo.
Identificar as não
conformidades relativas
ao trabalho da
enfermagem em hospitais
de Minas Gerais.
É necessário uma mudança
de cultura e a elaboração de
uma política organizacional
pelos dirigentes dos hospitais
que assegure à equipe
multiprofissional
oportunidades de discussão
das causas das não
conformidades e elaboração
de estratégias para promover
a melhoria contínua da
qualidade e segurança no
cotidiano dos hospitais.
Quadro 1 – Síntese dos artigos na categoria “Atuação do enfermeiro no processo de acreditação hospitalar”.
Fonte: Dados de pesquisa, 2016.
2. Influência do processo de acreditação hospitalar sobre o trabalho da enfermagem
Os artigos dispostos nessa categoria abordam como o processo de acreditação
hospitalar impacta na atuação do enfermeiro. As publicações em foco se relacionam
10
a: Melhorias na gestão de processos, satisfação dos clientes e desenvolvimento dos
profissionais envolvidos; estresse, pouca valorização dos profissionais; prejuízo nas
relações interpessoais; sobrecarga de trabalho; distanciamento dos pacientes;
burocracia. (Quadro 2).
Título Estudo/
Tipo
Objetivo Conclusão
Percepção da
equipe de
enfermagem do
Centro
Cirúrgico acerca
da Acreditação
Hospitalar em
um Hospital
Universitário
Estudo 7/
Estudo de
abordagem
quantitativa,
tipo
exploratório-
descritivo.
Analisar a percepção da
equipe de enfermagem
acerca do processo de
acreditação hospitalar no
centro cirúrgico em um
hospital universitário.
A atuação da enfermagem é
destaque no caminho para
acreditação hospitalar,
desempenhando atividades
de relevância para obtenção
de resultados positivos
Acreditação
hospitalar como
estratégia de
melhoria:
impacto em
seis hospitais
acreditados
Estudo 8/
Qualitativa e
descritiva,
método de
casos
múltiplos.
Analisar os impactos da
acreditação no
desempenho
organizacional de
hospitais.
Os resultados evidenciaram
que a acreditação hospitalar
tem capacidade de gerar
melhorias relacionadas à
gestão de processos,
satisfação dos clientes e
desenvolvimento de
profissionais de saúde.
11
A enfermagem
no processo de
acreditação
hospitalar:
atuação e
implicações no
cotidiano de
trabalho
Estudo 9/
Estudo de
caso
descritivo,
de natureza
qualitativa
Conhecer a atuação e as
influências da
enfermagem no processo
de acreditação hospitalar.
Os resultados mostraram que
a atuação da enfermagem na
acreditação envolve questões
assistenciais, administrativas,
educativas e de pesquisa.
Foram destacados aspectos
positivos como crescimento
pessoal e valorização do
currículo e aspectos
negativos como estresse e
pouca valorização
profissional.
Situações
potencialmente
geradoras de
estresse para
enfermeiros
segundo
condição de
acreditação
hospitalar
Estudo 10/
Estudo
transversal e
comparativo
Avaliar e comparar a
frequência de estresse
percebido/autodeclarado
por enfermeiros em
instituições hospitalares,
com e sem acreditação.
Conclui-se que enfermeiros
atuantes no hospital
acreditado perceberam /
autodeclararam mais
estressores em situações
relativas às relações
interpessoais.
Implicações do
processo de
Acreditação
Hospitalar no
cotidiano de
profissionais de
saúde.
Estudo 11/
Abordagem
qualitativa.
Analisar as implicações
do processo de
Acreditação Hospitalar no
cotidiano de profissionais
de saúde de um Hospital
privado de Belo
Horizonte.
Observou-se que o processo
de acreditação se configura
como uma possibilidade de
crescimento e de
desenvolvimento da
capacidade crítica dos atores
envolvidos. Contudo as sua
exigências impostas por este
processo desencadeiam
estresse profissional e
sobrecarga de trabalho.
Quadro 2 – Síntese dos artigos na categoria “Influência do processo de acreditação hospitalar sobre o trabalho da
enfermagem”.
12
Fonte: Dados de pesquisa, 2016.
Discussão
As autoras Manzo, Brito e Corrêa (2011) e Manzo et al. (2012) afirmaram que
os benefícios e desafios da Acreditação estão relacionados com a motivação dos
profissionais no processo de Acreditação. As autoras destacaram a face nebulosa
da Acreditação, que leva a percepções distintas e, muitas vezes, ambíguas dos
profissionais em relação ao processo de Acreditação, gerando estresse e relativo
distanciamento dos pacientes, pois a burocracia da implantação requer particular
atenção aos protocolos da certificação, sendo este último também apontado por
Mendes e Mirandola (2015) como um dos pontos negativos em que a acreditação
está associada à burocratização e outro ponto negativo apontado pelo autor seria
seus altos custos de implantação.
Engajamentos e resistências dos profissionais de saúde em relação à
acreditação têm sido observados. A alta direção é responsável por estabelecer o
propósito da organização e, no caso da acreditação, seu engajamento serve como
exemplo para os demais profissionais de saúde (Mendes; Mirandola, 2015). Os
autores concordam com Matos et al. (2006) declarando que poucos êxitos serão
alcançados caso não haja nítido envolvimento do corpo diretivo do hospital,
refletindo não somente nas recomendações escritas, mas também no exemplo de
atitudes. O papel estimulante dos líderes da instituição é um aspecto fundamental da
melhoria da qualidade e de acordo com Roquete, Santos e Viana (2015) os esforços
para a implantação da qualidade são mais aceitos quando orientados por uma
metodologia clara e consciente, trabalhada em harmonia por todos os integrantes do
processo.
Segundo Manzo et al. (2012) a forma de implementação da acreditação em
que a alta administração quem decide pela sua implementação sem haver informado
antecipadamente a proposta para a equipe de profissionais faz com que à medida
que os colaboradores não entendem o processo, eles ignoram seus objetivos e suas
propostas, os autores Manzo, Brito e Corrêa (2011) e Manzo, Brito e Alves (2013)
afirmam que a integralidade e a qualidade das informações a serem transmitidas aos
13
profissionais no início do processo de Acreditação fazem toda diferença no resultado
a ser alcançado acarretando temor aos profissionais que passam a agir sob tensão.
No que se refere à percepção positiva, observou-se que a Acreditação
possibilita o crescimento e satisfação no trabalho, despertando sentimentos,
relacionados ao compartilhamento da responsabilidade pela conquista da
certificação em excelência e pela otimização dos resultados financeiros. A
certificação em nível de excelência propicia um atendimento com qualidade para os
pacientes, com padronização de técnicas e respaldo na cientificidade do cuidado,
direcionando ações e práticas de saúde executadas de maneira segura (MANZO
et.al., 2012).
Mendes e Mirandola (2015) refere que um ponto de consenso em relação aos
impactos positivos da acreditação hospitalar é sua contribuição para o aumento da
qualificação dos profissionais de saúde, estimulando a realização de atividades de
treinamento e educação, o que contribuem para a capacitação dos profissionais de
saúde e o aprendizado organizacional.
Manzo et al. (2011) revela como desafio a ausência de reflexão por parte de
toda a equipe responsável em executar o processo de implantação da Acreditação
hospitalar e apresenta como benefício o fato de a metodologia ser uma forma de
avaliação dos processos e acompanhamento dos indicadores de melhoria da
qualidade dos serviços de saúde.
Higashi et al. (2013) afirmam que trabalhar em hospital acreditado protege
apenas da percepção/autorreferência de estresse relacionado a recursos (material,
humanos e físicos) e constitui fator adverso à saúde emocional de enfermeiros
quando se consideram aspectos relacionais e da complexidade do trabalho, vindo de
encontro com o exposto por Manzo et al. (2012) e Fernandes e Peniche (2015) em
que a equipe de enfermagem aponta o estresse e sobrecarrega de trabalho devido
as exigências do processo de acreditação a burocratização e a cobrança para
engajamento às metas institucionais.
Neste cenário Manzo et al. (2012) e Maziero e Spiri (2013) apresentaram a
influência e as ações da enfermagem no processo de Acreditação hospitalar nos
hospitais universitário, público e privado, no processo de Acreditação. As autoras
14
destacaram a realização das ações de enfermagem relativas, tanto às questões
assistenciais, quanto administrativas, sendo que nessa última, elas observaram um
enfoque maior na responsabilidade dos enfermeiros pelos processos de
Acreditação. Demonstrou-se, também, que a experiência da prática assistencial da
equipe de enfermagem possibilita o crescimento dos envolvidos no processo de
Acreditação e a melhoria dos fluxos de trabalho. Mendes e Mirandola (2015)
também apontam como relevante o envolvimento dos profissionais de enfermagem
nos processos de acreditação, assumindo funções técnicas e de gestão,
desempenhando uma posição-chave na acreditação.
Maziero e Spiri (2013) relatam que o enfermeiro participa do programa de
acreditação em diversos níveis hierárquicos. No decisório, determinando as
diretrizes e condições para que o serviço de enfermagem alcance os padrões de
qualidade; no estratégico, preparando a equipe de enfermagem para atingir a meta
da instituição acreditada; no operacional, realizando a supervisão da equipe de
enfermagem de forma sistematizada e fazendo parte da equipe de auto avaliação
das unidades na fase de pré-acreditação hospitalar.
Para efetivação da Acreditação Hospitalar há a necessidade do enfermeiro
desenvolver ações educativas que contemplem, além dos aspectos técnicos
científicos, a inclusão de temas voltados para o desenvolvimento integral dos
profissionais, a sensibilização para o problema do próximo, humanização e ética no
trabalho (Manzo et al, 2011). A autora concorda com Matos et al. (2006) ao analisar
que o desafio para a enfermagem, inserida nesse contexto de Acreditação e busca
pela qualidade, é investir em seus recursos humanos, utilizando-se da educação
continuada como ferramenta para promover o desenvolvimento das pessoas e
assegurar a qualidade do atendimento aos clientes.
De acordo com Furukawa e Cunha (2011) o enfermeiro deve
incessantemente empenhar-se em concretizar a competência em liderança,
buscando segundo Amestoy et al. (2012). compreender-se como pessoa que é
exemplo para equipe, dando suporte, segurança e apoio, em busca do mesmo
objetivo, ou seja, a qualidade da assistência. Há dois fatores que influenciam o
sucesso da liderança que são a autoridade fazendo com que o líder seja capaz de
elogiar e repreender, o segundo é o carisma fazendo com que o líder motive e
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inspire dando exemplo pessoal de compromisso para a melhoria da qualidade do
atendimento (Ribeiro et al., 2013).
Ainda em consenso sobre a liderança entre os diversos autores Matos et al.
(2006) afirma que caso se deseje que o enfermeiro seja eficaz em seu trabalho, é
necessária a liderança, bem como a administração em toda atividade de
enfermagem, conciliando teoria e prática, buscando o fortalecimento da equipe de
trabalho, bem como valorizando e reconhecendo a capacidade de cada membro,
motivando-os a agir.
O autor Furukawa e Cunha (2011) ainda destaca o trabalho em equipe,
fazendo com que haja maior interação dos membros da equipe em benefício a
melhores resultados e também é reforçado esta competência por Siman, Brito e
Carrasco (2014) afirmando que os objetivos de melhoria e segurança assistencial só
serão alcançados se o exercício desta competência estiver bem consolidado. Esta
competência também é ressaltada por Oliveira (2012) onde ressalta que para além
da necessidade genuína à profissão de se trabalhar em equipe, o processo de
acreditação exige uma potencialização desse tipo de trabalho, no qual os diversos
saberes e atores precisam se articular de forma harmoniosa para concretizar os
objetivos propostos.
O enfermeiro deve fundamentar sua prática aliando cuidado assistencial,
gerenciamento e processos educacionais. A função gerencial do enfermeiro é o
instrumento administrativo que tem a capacidade de mudar e organizar o cuidado
assistencial fazendo uso da educação permanente em busca da melhoria
assistencial e da acreditação hospitalar (Siman; Brito, Carrasco 2014).
Conclusão
Em busca da excelência, da competitividade e qualidade hospitais brasileiros,
decidem enveredar pelos caminhos do processo de Acreditação esbarrando-se em
desafios singulares como o a falta de comunicação no início e durante o processo, a
cobrança sem a devida orientação, a falta de comprometimento e envolvimento da
equipe, a escassez de recursos materiais e humanos, a falta de flexibilidade na
cultura das organizações e a gestão verticalizada, provocando insegurança e
estresse nos profissionais de saúde.
16
Nesta mesma ocasião o processo de Acreditação protagoniza ganhos ao
profissional envolvido sendo que hospitais acreditados prezam pela segurança dos
pacientes e profissionais, pela qualidade da assistência, pela capacitação e a
educação permanente do profissional; pelo fortalecimento do trabalho em equipe,
pela melhoria contínua e otimização dos processos do trabalho.
No processo de Acreditação os enfermeiros confirmam o desenvolvimento de
competências gerenciais durante o trabalho com a elaboração de indicadores e
dados fornecendo ferramentas ao profissional para atuar na assistência qualificada
ao paciente, bem como habilidades em liderança e trabalho em equipe.
Esta revisão integrativa da literatura ampliou o conhecimento sobre a
Acreditação hospitalar e o processo de trabalho da enfermagem, contribuindo com
os profissionais envolvidos no sentido de discutir e esclarecer aspectos a serem
deliberados no processo de Acreditação e elucidar as competências primordiais a
serem desenvolvidas pelos gestores para o êxito na condução dos processos de
implantação da melhoria da assistência hospitalar.
Sugere-se que novos estudos sejam realizados sobre a Acreditação
hospitalar e o processo de trabalho da enfermagem, bem como sobre a melhoria da
assistência de enfermagem nessas organizações de saúde, pós Acreditação.
Referências
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