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CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO DA RENDA NO NORDESTE DO BRASIL: uma análise a partir da Teoria do Capital Humano
RESUMOO presente artigo tem como principal objetivo analisar o impacto do capital humano (dimensionado por anos médios de estudo) como condicionante do crescimento do PIB per capita, no Nordeste brasileiro, de 2004 a 2012. Além do capital humano, foram utilizadas outras variáveis de controle: gastos com saúde, transferências de renda e agricultura. A análise de dados consistiu na estimação de coeficientes de regressão com dados em painel, por meio de Mínimos Quadrados generalizados (GLS). Os resultados permitiram concluir que o capital humano impacta positivamente no PIB per capita na região Nordeste. As outras variáveis utilizadas, tais como gastos com saúde, gastos com o programa Bolsa Família e gastos com agricultura também são estatisticamente significativas e impactam positivamente o PIB per capita da região analisada. Palavras-chave: Crescimento econômico. Capital Humano. Gastos públicos. Classificação JEL: J24
RESTRICTIONS GROWTH INCOME IN NORTHEAST BRAZIL: AN ANALYSIS FROM THE THEORY OF HUMAN CAPITAL
ABSTRACTThe aim of this study was to analyze the impact of human capital (scaled by average years of education) as determinant of GDP per capita growth in Northeast Brazil, from 2004 to 2012. Beyond the human capital, it was used other control variables: health spending, income transfers and agriculture spending. The data analysis consisted in the regression coefficients estimation with panel data through Generalized Least Squares (GLS). The results showed that human capital impacts positively the GDP per capita growth in the Northeast. The other used variables, health expenditure, Bolsa Família spending and agriculture spending, are also statistically significant and impact positively the GDP per capita growth of the analyzed region.Keywords: Economic growth. Human capital. Public spending.
JEL Classification: I 21
1 INTRODUÇÃO
Na teoria econômica, uma importante discussão está relacionada ao potencial de
crescimento de um determinado país ou região. Esse ramo de estudo procura entender os
principais mecanismos e fatores que condicionam o crescimento, buscando, assim, justificar
as desigualdades que se apresentam entre os países e regiões.
Os estudos voltados para crescimento econômico, até meados da década de 50,
explicavam o crescimento como função dos fatores de produção (recursos naturais, capital e
trabalho) existentes em cada país (SOLOW, 1956). Entretanto, com o avanço dos estudos
relacionados à teoria do crescimento econômico, verificou-se certa incongruência nessa
análise, pois o crescimento de alguns países não era uniforme em relação à utilização de
capital físico.
Nesse sentido, com a publicação dos estudos de Mincer (1958), Schultz (1964) e
Becker (1964), constatou-se que o Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia é gerado
pela junção de dois fatores que incrementam essa produtividade: capital físico e capital
humano. Os mencionados autores criticavam a abordagem clássica, que na sua análise
incorporava somente o capital físico para explicar o crescimento. Segundo eles, apenas
esse fator é insuficiente para explicar a elevação da produtividade e do crescimento que
ocorria em alguns países e regiões. Assim, evidenciou-se a necessidade de considerar o
estoque de capital humano como fator imprescindível nessa análise.
Não obstante, a literatura mais recente constata uma forte relação entre
crescimento econômico e capital humano, observada em determinadas regiões. Como
exemplo, podem ser citados alguns trabalhos empíricos realizados por Benhabib e Spiegel
(1994), Martin e Herranz (2004) e Permani (2008). Esses estudos evidenciaram que o
capital humano, dimensionado pelo nível educação da população, constitui-se uma
importante variável para explicar os modelos de crescimento econômico, pois os ganhos de
produtividade da população de uma determinada área geográfica, não estão somente
relacionados à acumulação de capital físico, mas também ao estoque de capital humano
que essa população detém.
No Brasil, diversos trabalhos buscam investigar essa temática, como, por exemplo,
Souza (1999), Nakabashi e Figueiredo (2008) e Araújo, Alves e Besarria (2013). Esses
estudos concluíram uma relação positiva entre capital humano, dimensionados por anos de
estudo e crescimento da renda. Contudo, não existem muitos estudos nessa área voltados
para o Nordeste.
Desta forma, o presente trabalho faz um estudo prospectivo e busca analisar os
impactos Capital Humano, dimensionado por anos médios de estudos, para o aumento do
PIB per capita na região Nordeste. Essa análise foi realizada controlando-se por outros
determinantes do crescimento apontados pela literatura como relevantes: gastos com
saúde, gastos com transferências de renda e gastos com agricultura, no período entre 2004
e 2012.
Esse trabalho justifica-se diante da necessidade de explorar uma alternativa para a
redução do abismo econômico e social ainda presente entre países e regiões, contribuindo
para o fortalecimento das economias regionais, o que gera ganhos à população, elevando a
produtividade do capital humano.
A principal contribuição deste trabalho foi o reconhecimento de que os
investimentos em capital humano são importantes determinantes para o crescimento
econômico, assim como instrumento de transformação social. Além disso, na abordagem
deste trabalho foram utilizados dados para modelagens de estimadores em painéis, que
atribuem robustez à amostra.
O artigo está dividido em cinco seções, incluindo esta introdução. A segunda seção
discute algumas definições sobre desenvolvimento social, relação entre gastos sociais e
crescimento econômico, teoria do capital humano, além de uma breve revisão sobre os
determinantes do crescimento econômico. A terceira seção apresenta uma discussão sobre
a base de dados e a construção das variáveis, assim como a especificação do modelo
econométrico. Na quarta seção são analisados os resultados da estimação do modelo. Por
último, a seção cinco apresenta as principais conclusões do trabalho.
2. REFERENCIAL TEÓRICO2.1 Teoria do capital Humano
De acordo com a teoria econômica existe uma relação positiva entre distribuição de
renda e crescimento econômico. Essa discussão ocupa espaço significativo no debate
acadêmico e já foi objeto de estudo de vários pesquisadores. O vínculo entre esses dois
fenômenos foi relatado por Kuznets (1955); Nakabashi e Figueiredo (2005) e Araújo, Alves e
Besarria (2013). No Brasil, esse movimento pode ser observado com a recuperação da
economia e a retomada do crescimento, sendo que os indicares sociais começaram a
responder positivamente.
Pode-se observar a resposta das novas medidas econômicas adotadas pelos
indicadores de crescimento auferidos pelo Brasil, a partir de 2005. No triênio 2006-2008, o
país cresceu, em média, de 5%, ante uma média anual de crescimento de 2,5%, no período
de 1990 e 2005. Em 2009 houve uma drástica redução para 0,2%, em função da crise
internacional e avançou para 7%, em 2010. Desde então, o crescimento tem sido menor, em
torno de apenas 1,8%, no biênio 2011-2012.
A teoria do Capital Humano foi formaliza por Schultz (1962) na década de 60, ele
apresenta a hipótese de que a inclusão do capital humano, tem relação positiva com o
aumento da renda, ou seja o aumento do estoque de capital humano aumenta a renda, já
em relação a inclusão Bens de produção - estruturas, equipamentos e estoques de capital,
tem vindo a diminuir em relação à renda. Se a razão de todo capital para a renda
permanece essencialmente constante, então o crescimento econômico inexplicável tem
origem, principalmente, do aumento no estoque de capital humano (SCHULTZ, 1962).
Essa teoria relaciona o crescimento econômico aos investimentos na capacidade
humana, ou na formação de capital humano. A partir desses pressupostos buscava mostrar
que os países em desenvolvimento como o Japão, que foram destruídos na Segunda
Guerra Mundial, conseguiram reconstruir suas economias em tão pouco tempo. Desse
período em diante passou a figurar a defesa de que o investimento na capacidade humana
pode implicar no desenvolvimento na área econômica e no campo competitivo de diversos
países (SCHULTZ, 1971).
A partir da década de 80, a teoria do capital Humano passou a ser objeto de estudo
de vários pesquisadores, passando-se a reconhecer o capital humano como o principal fator
na criação de novas ideias e, portanto, para o avanço tecnológico de uma forma geral.
Nesse período ocorreu um esforço no sentido de se entender quais forças internas
ao sistema econômico eram capazes de gerar o crescimento econômico de longo prazo
(BARRO, 1990). Na literatura internacional, diversos autores escreveram as teorias
relacionadas ao crescimento endógeno, podendo-se citar alguns dos principais expoentes
que postularam sobre essa temática: Romer (1986), Grossman e Helpman (1991) e Aghion
e Howitt (1992). Ademais, depreende-se da literatura internacional relacionada ao
crescimento econômico que fatores, como, por exemplo, o nível de renda inicial, são
responsáveis pelo comportamento das taxas de crescimento dos países (SOLOW, 1956).
Contudo, estudos mais recentes consideram outras variáveis como determinantes do
crescimento, como o nível educacional da população (LUCAS, 1988; MANKIW, ROMER e
WEIL, 1992).
Modelos de teoria do crescimento econômico vêm sendo criados recentemente, a
partir da estrutura teórica desenvolvida, conforme Barro e Sala-i-Martin (1995), que
destacaram os benefícios externos do capital humano, reconhecendo desempenhar este um
papel crucial no processo, uma vez que ajuda a evitar a tendência de retornos decrescentes
à acumulação de capital.
Barro (1991) realizou um estudo para 98 países no período compreendido entre
1960 e 1985. Concliu que a taxa de crescimento do PIB real per capita está positivamente
relacionada com a inicial de capital humano. Desse modo, fica evidenciado que o aumento
no investimento neste aspecto é um importante fator para o desenvolvimento econômico.
Estes investimentos podem aumentar a produtividade do trabalhador, gerando ganhos
econômicos e também sociais. Neste sentido, a próxima seção traz uma discussão teórica
acerca da relação entre aumento dos níveis educacionais e crescimento econômico.
2.2 Anos de estudo e crescimento Econômico
A educação é fundamental para produzir e/ou aumentar o capital humano. É um
processo permite aos indivíduos adquirir atitudes e conhecimentos que os capacitam para o
trabalho. Assim sendo, a educação é tida como um dos fatores que auxiliam no crescimento
de um país e na distribuição social de renda. Diversos estudos empíricos apontam que os
retornos dos investimentos em capital humano são elevados, tanto em países em
desenvolvimento, quanto nos desenvolvidos (DOWRICK, 2003).
Nesse sentido, existe uma grande quantidade de estudos microeconômicos
empíricos que corroboram com a teoria de que o capital humano é um elemento crucial para
o crescimento da renda de uma forma direta (DOWRICK, 2003). Na literatura internacional,
Lucas (1988); Mankiw, Romer e Weil (1992) foram os pioneiros em reconhecer a
importância do nível educacional da população para a teoria do crescimento econômico.
Quanto à eficiência da alocação dos recursos públicos, Cruz, Teixeira e Braga
(2010), chegaram à conclusão de que, no Brasil, os gastos públicos em infraestrutura física
e em capital humano são eficientes, gerando um aumento da produtividade do trabalho,
elevando o emprego e os salários. Seu estudo também apontou que públicos em capital
humano são eficientes, pois reduzem a pobreza e aumentam a renda per capita.
Cangusso, Salvato e Nakabashi (2010) concluíram em sua análise que o capital
humano possui papel fundamental na determinação do crescimento econômico em todos os
estados brasileiros e que o capital humano é essencial para explicar o diferencial de renda
entre os estados brasileiros. Assim, segundo os autores, o acesso à educação de boa
qualidade conduz os mais pobres a uma melhor posição no mercado de trabalho e a
romperem o círculo da pobreza e, consequentemente, a elevar os níveis de crescimento do
país.
A literatura mostra que, além dos anos de estudos ou volume de gastos investidos
em educação, é relevante investigar também a qualidade dos serviços de educação sobre o
crescimento econômico, a exemplo de Hanushek e Kimko (2000). Os mencionados autores
utilizaram como base teórica na análise empírica os modelos de crescimento endógeno em
que o motor do crescimento é a acumulação de capital humano. O diferencial do trabalho
supracitado está em analisar, não somente o estoque de capital humano, como também
pela introdução da variável que mede a qualidade do ensino. De fato, os resultados
encontrados apontaram uma forte relação entre qualidade da educação e crescimento da
renda per capita.
Além do investimento em capital humano como variável importante para determinar
o crescimento de um país, evidenciada nos trabalhos acadêmicos supracitados, a literatura
econômica aponta outras variáveis relevantes para compor o crescimento de um país ou
região. Na próxima sessão será feita uma breve revisão de literatura sobre a relação entre
gastos públicos, gastos com saúde, gastos com o programa bolsa família e gastos com
agricultura, como variáveis importantes para explicar o crescimento econômico.
2.3 Outras variáveis que explicam o Crescimento Econômico
2.3.1 Relação entre gastos do governo e Crescimento
Estudos sobre os efeitos dos gastos públicos no crescimento da economia são
recorrentes. Neste contexto, surgem diversos estudos que apregoam a divisão dos gastos
públicos em dois tipos: aqueles considerados improdutivos, pois não afetam o crescimento
de longo prazo; e os produtivos que, introduzidos na função de produção local, relacionam-
se positivamente com o crescimento econômico de longo prazo (SILVA, 2012).
Para uma administração pública eficiente, é necessário que haja uma boa gestão o
erário público. A despesa pública pode ser definida como um conjunto de dispêndios do
Estado ou de outra pessoa de direito público a qualquer título, com o objetivo de saldar
gastos estabelecidos na lei do orçamento ou em lei especial, visando sua realização ou
funcionamento, ou seja, despesas públicas são gastos destinados às várias atribuições e
funções governamentais (JUND, 2008).
Analisando o volume dos gastos sociais no Brasil, constata-se que estes são
bastante elevados. Em 2011, foram executados pelos órgãos públicos federais da área
social recursos da ordem de R$ 568 bilhões. Quanto à distribuição por órgãos, a absoluta
maioria dos recursos executados na área social (94,7%) ficou concentrada em apenas cinco
ministérios: Previdência Social (52,0%), Saúde (13,8%), Trabalho e Emprego (9,5%),
Educação (11,3%) e Desenvolvimento Social e Combate à Fome (8,1%) (CHAVES e
RIBEIRO, 2012).
Quanto à eficiência da alocação desses recursos, segundo Cruz, Teixeira e Braga
(2010), os gastos públicos focados em educação e saúde são mais eficientes. Corroboram
ainda com a perspectiva de que as diretrizes e políticas de gastos públicos devem ter como
principal objetivo assegurar uma trajetória de crescimento econômico sustentável, uma vez
que este é que é essencial para melhorar o perfil distributivo da renda.
Além do investimento em capital humano como variável importante para determinar
o crescimento de um país, evidenciada nos trabalhos acadêmicos supracitados, a literatura
econômica aponta outras variáveis relevantes para compor o crescimento de um país ou
região. Na próxima sessão será feita uma breve revisão de literatura sobre gastos com
saúde, transferências e com agricultura, como variáveis importantes para explicar o
crescimento econômico.
2.3.2 Saúde e crescimento Econômico
Problemas relacionados à saúde precária e renda per capita insuficiente, são
típicos de países subdesenvolvidos. Uma grande parte da população brasileira ainda
convive com problemas de saúde precária e pobreza, duas características marcantes do
subdesenvolvimento socioeconômico, caracterizado no Brasil. Assim, destaca-se a
importância da ampliação dos serviços de saúde, para o aumento do crescimento e
desenvolvimento de um país.
A associação entre crescimento econômico e o estado de saúde da população
pode ser pensada por meio de pelo menos duas categorias de análise. A primeira é por
meio da relação entre o estado de saúde médio da população e o estoque de capital
humano, que se trata do modelo Solow (1956), ampliado por Mankiw, Romer e Weil (1992),
que foram os pioneiros na introdução do conceito de capital humano na literatura do
crescimento econômico. A segunda categoria advém dos modelos de Lucas (1988) e de
Romer (1986), que trata da presença de externalidades em saúde, uma vez que o nível de
saúde individual também depende estado de saúde médio da sociedade.
Fein (1962) foi um dos pioneiros na abordagem da questão da relação entre saúde,
desenvolvimento e crescimento econômico. Ele apresentou, na primeira "Conferência sobre
a Economia dos Serviços de Saúde", um importante trabalho sobre as relações entre os
programas de saúde, desenvolvimento e crescimento econômico. Em sua apresentação, fez
uma revisão de estudos, desde o século XVII, que trata da temática do valor econômico da
vida humana. Introduziu também no seu discurso o conceito de "capital humano", além
dedicar especial atenção à importância dos investimentos em programas de saúde nas
nações subdesenvolvidas.
Observou questões pertinentes à discussão econômica e que investimentos em
programas de saúde reduzem não somente a mortalidade, mas contribuem tanto para o
aumento populacional, como também na redução da morbidade e, consequentemente,
contribuem para o aumento do Produto Nacional. As pessoas que gozam de boa saúde
diminuem suas ausências no trabalho e aumenta a relação homens/hora de trabalho, o que
gera maior eficiência da força de trabalho.
Fein (1962) também destacou, naquela ocasião, a importância dos investimentos
em saúde, pois eles repercutem diretamente sobre a educação. Há uma aceitação geral da
importância da educação para o crescimento econômico, pois, pessoas que não gozam de
boa saúde têm seu rendimento escolar prejudicado, comprometendo a acumulação do
estoque de capital humano.
Os trabalhos de Bhargava et al. (2001) e Bloom, Canning e Sevilla (2001), que
utilizam dados em painel para diferentes países, também evidenciaram uma relação positiva
entre saúde e crescimento econômico.
No Brasil, essa abordagem que relaciona saúde e crescimento econômico ainda é
recente. Foi abordada pela primeira vez em 2000, em um conjunto de trabalhos
apresentados à Organização Pan-Americana de Saúde1. Dentre esses trabalhos, pode-se
destacar Mora e Barona (2000) e Cermeno (2000).
Mora e Barona (2000), utilizaram o método de mínimos quadrados em três
estágios, incluindo a variável proxy para o estado saúde, utilizada por Barro (1996), para os
estados brasileiros. Os resultados encontrados foram significativos, apontando para uma
relação entre estado de saúde e crescimento econômico.
Cermeno (2000) replicou, em seu estudo, o modelo de crescimento proposto por
Mankiw, Romer e Weil (1992), utilizando a modelagem de dados em painel para um período
de quinze anos, entre 1980 e 1995, para todos os estados brasileiros. Apesar dos resultados
apontarem uma relação positiva entre saúde e crescimento econômico, o modelo mostrou-
se inconsistente, pois as demais variáveis de controle não apresentaram o sinal esperado.
Desse modo, tanto Cermeno (2000), quanto Mora e Barona (2000) atribuíram a pouca
robustez dos dados à dificuldade de obtenção de variáveis de controle mais consistentes.
Figueiredo, Noronha e Andrada (2003) investigaram o crescimento econômico
Brasileiro na década de 1990, a partir na análise do efeito indireto do estado de saúde sobre
o crescimento econômico, bem como sua relação com a escolaridade. Para a verificação
desses efeitos, foi adicionado uma proxy para o estado de saúde para identificar o efeito
direto dessa variável e se havia alteração no efeito da escolaridade sobre o crescimento
econômico. Os principais resultados encontrados mostraram que a saúde afeta
positivamente o crescimento econômico, especialmente por meio de sua interação com a
escolaridade.
As principais conclusões do trabalho de Figueiredo, Noronha e Andrada (2003)
apontaram que o estado de saúde contribui positivamente para o crescimento econômico.
Reduções nas taxas de mortalidade infantil aumentam a taxa de crescimento do PIB real per
capita, corroborando com a hipótese de significância dos gastos em saúde para produzir
maior renda em uma determinada região.
Segundo Cruz, Teixeira e Braga (2010), os gastos públicos focados em educação e
saúde são mais eficientes. Já Araújo, Alves e Besarria (2013) concluíram que os gastos com
saúde apresentaram uma variação na renda de (0,19%), dada uma elevação de 1%.
1 Conjunto de trabalhos sobre a relação entre Crescimento Econômico, Saúde e Desigualdade de renda nos países da América Latina e Caribe elaborado May er et all (2000) e submetido à OPAS para o Regional Competitions Investiment in Health and Economic Growth.
2.3.3 Programa Bolsa Família e crescimento Econômico
O Brasil implantou o Programa Bolsa Família em 2003, por meio da Medida
Provisória nº 132, de 20.10.03, que foi convertida na Lei nº 10.836/2004. O referido
programa é o resultado da unificação de diversos programas sociais (Bolsa Escola, Bolsa
Alimentação e Auxílio Gás). O programa começou atendendo um número mínimo de
pessoas, em 2003, quando ainda constituía o Bolsa Renda, implantado no Governo
Fernando Henrique Cardoso. Em 2004, no Governo de Luís Inácio Lula da Silva, tais
programas foram unificados e passaram a integrar o programa fome zero.
O Programa Fome Zero tem como objetivo assegurar o direito humano à
alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional, contribuindo para a
conquista dos direitos básicos da população mais vulnerável à fome e para a erradicação da
pobreza extrema. O Programa Bolsa família chegou em 2014 como uma das iniciativas de
maior cobertura de proteção social brasileira. Saltou de 3,6 milhões de famílias atendidas,
em 2003, para 13,8 milhões de famílias, em 2013 (MDS, 2014).
Um estudo realizado pelo IPEA (2013), em comemoração aos 10 anos de bolsa
família, constatou que o programa é a transferência de renda no Brasil que gera maior efeito
na dinâmica econômica. Em uma simulação realizada constatou-se que o PIB aumentaria
R$ 1,78 para um choque marginal de R$ 1 no Programa Bolsa Família.
Em relação ao efeito multiplicador para as famílias, o programa bolsa família é a
transferência com maior efeito direto e indireto. Um choque de R$ 1,00 no PBF leva ao
aumento de R$ 1,48 da renda disponível bruta. No caso das famílias, o multiplicador é um
pouco mais elevado, R$ 1,64 (NERI; VAZ; SOUZA, 2013).
Outros estudos também apontam o programa variável relevante para a expansão
da renda. Castro e Modesto (2010) identificaram a elevação da renda per capita do
brasileiro, após 2003, com a conjugação da retomada do crescimento econômico e a
expansão dos programas de transferência de renda, que promoveram significativamente a
expansão da renda per capita, 5% a.a, ante um crescimento de 1%, entre 1995 e 2003
(CASTRO; MODESTO, 2010).
No entanto, apesar do efeito multiplicador dos investimentos revertidos para o
programa, Araújo, Alves e Besarria (2013) concluíram que o programa é mais eficiente no
combate à pobreza, que no crescimento econômico. Assim, a elevação de 1% no valor do
Programa Bolsa Família repassado às famílias impacta negativamente a extrema pobreza,
em 0,22%.
2.3.4 Agricultura e crescimento Econômico
Schultz (1964) é considerado um dos principais expoentes, no que concerne aos
estudos relacionados à agricultura. Em sua obra ele trabalhava com a hipótese de que o
setor agrícola pode potencializar o crescimento econômico das nações pobres, desde que
estas modernizem suas técnicas produtivas, como ocorre nos países desenvolvidos.
Para o autor, a agricultura era tida como uma fonte de crescimento econômico e
sua análise consistia em frisar a importância de transformar a agricultura tradicional, por
meio de investimento, em um setor mais produtivo, com baixos custos de investimento,
obtendo um crescimento econômico elevado. Assim, ao observar a produção agrícola dos
países desenvolvidos, em relação à dos países pobres. Concluiu que os países que querem
crescer economicamente devem se industrializar.
Schultz (1964) teve sua obra reconhecida por ter analisado o crescimento
econômico a partir do setor agrícola, e por apreciar a agricultura nos países em
desenvolvimento, ao contrário de muitos de seus contemporâneos, que se restringiam ao
industrial.
Sob esta perspectiva Scarpin, Pinto e Silva (2007) analisaram os fatores
condicionantes do crescimento econômico da região Sul do país. Suas conclusões
apontaram que a despesa com agricultura, defasada em dois anos, mostrou-se significativa
e positiva para estado do Paraná, contudo, os resultados apontaram o inverso para Santa
Catarina.
Aragão et al. (2012) estudaram o impacto das despesas públicas por função sobre
o crescimento econômico do Brasil, no período compreendido entre 1980 e 2010. Como
método, utilizaram um modelo de regressão múltipla estimado pelo método de mínimos
quadrados ordinários. Em sua análise, os gastos com agricultura se mostraram
significativos, contribuindo para o crescimento do produto interno bruto (PIB).
3. METODOLOGIA
3.1 Base de dados
Os dados usados neste trabalho foram extraídos no sítio do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e Portal da
Transparência, entre 2004 a 2012, para todos os estados do Nordeste.
A variável PIB per capita foi obtida dividindo-se o PIB a preços correntes de cada
um dos estados pelo total de residentes do referido estado. A variável proxy de capital
humano foi obtida a partir da média dos anos de estudo, construída com dados do IBGE.2
Essa associação entre anos de estudo e capital humano, é bastante utilizada pela literatura
na área. Cangussu, Salvato e Nakabashi (2010), em seu trabalho, também utilizaram essa
aproximação.
Os estudos apresentados na seção 2.2 e 2.3 apontaram a importância dessa
variável para a produção de um crescimento econômico maior. O aumento dos níveis de
educação, em geral, contribui para aumentar renda da população. Dessa forma, a
correlação entre a PIB per capita e proxy de capital humano deve ser positiva.
As informações referentes aos gastos executados pelos Estados com saúde e
agricultura foram obtidas no sítio da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Nos diversos
estudos apresentados na seção 2.4.2 e 2.4.4, essas variáveis mostraram-se significativas
para o aumento da renda. Assim espera-se que a relação entre gastos com saúde e
agricultura seja positiva.
Os dados referentes à variável “gastos com bolsa família” foram extraídos do portal
da transparência. De acordo com os estudos apresentados na seção 2.4.3, essa variável
tem relação positiva com o aumento da renda, motivo por que se espera que essa relação
seja confirmada nesse estudo.
As variáveis foram logaritimizadas, além disso, todas as variáveis monetárias foram
transformadas em valores per capitas e deflacionadas para valores reais de 2012, utilizando
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
3.2 Modelo econométrico
3.2.1 Dados em Painel
A estratégia de estimação empírica consiste na aplicação do método de dados em
painel. Maddala (2003) define o termo dados em painel como um conjunto de dados sobre o
mesmo indivíduo, organizados ao longo do tempo. Consiste, portanto, na combinação de
dados de corte transversal e dados de séries temporais.
Na mesma direção, Loureiro e Costa (2009) apontaram as vantagens na utilização
de método, pois eles propiciam mais graus de liberdade e maior variabilidade na amostra,
em comparação com dados em cross-section ou em séries temporais, o que apura a
eficiência dos estimadores econométricos. Além disso, esse tipo de análise de dados
contém informações que possibilitam uma melhor investigação sobre a dinâmica das
2 O ano de 2010 é ano de Censo demográfico, não havendo disponível a variável anos de anos, para construção dessa variável para o ano de 2010, foi feito uma média ponderada do ano de 2009 e 2011.
mudanças nas variáveis, tornando possível considerar o efeito das variáveis não-
observadas.
O modelo simples de dados em painel pode ser apresentado da seguinte forma:
Y ¿= 𝛼𝑖 + βXit + U ¿ (1)
Em que:
𝑌𝑖𝑡 é a variável dependente; 𝑋𝑖𝑡 representa a matriz das variáveis explicativas; 𝛽 é o vetor
de coeficientes angulares a serem estimados; 𝛼𝑖 refere-se ao parâmetro de intercepto
desconhecido para cada indivíduo e representa a heterogeneidade não observada do
modelo; 𝑢𝑖𝑡 é o erro estocástico em que, por suposição 𝐸(𝑢𝑖𝑡𝑋𝑖,𝛼𝑖)=0. O subscrito i
denota i = 1, 2, ..., n, para as diferentes unidades observáveis e o subscrito t representa t =
1, 2, ..., t, para o período de tempo que será analisado.
Na equação (1) considera-se α e β como constantes, iguais para todos os
indivíduos, não considerando a heterogeneidade dos dados, assumindo, que a
heterogeneidade esteja incluída no termo de erro. Entretanto, depara-se com a
probabilidade de que o termo de erro esteja correlacionado com algumas regressões do
modelo, ou seja, aumenta consideravelmente a possibilidade de os coeficientes estimados
serem tendenciosos e inconsistentes.
Para Loureiro e Costa (2009), a questão da heterogeneidade não observada é um
dos problemas mais frequentes em dados em painel. Nesse caso, haveria fatores que
determinam a variável dependente, mas que não estariam sendo considerados na equação,
dentro do conjunto de variáveis explicativas, por não serem diretamente observáveis ou
mensuráveis. Levando em consideração a heterogeneidade não-observada, a equação (1)
pode ser reescrita da seguinte forma:
𝑌𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑋𝑖𝑡 + 𝑐𝑖 + U𝑖𝑡 (1.1)
Em que 𝑐𝑖 representa a heterogeneidade não-observada em cada unidade observacional
(no presente caso, cada estado), constante ao longo do tempo.
Para Wooldridge (2002), se 𝑐𝑖 for correlacionada com qualquer variável em 𝑋𝑖𝑡 e
tentar aplicar o modelo tradicional por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), nesse caso,
as estimativas serão, não só viesadas, como também inconsistentes. Precisa-se, portanto,
obter estimadores que sejam consistentes e eficientes, levando em consideração a
heterogeneidade. Para este fim foi estimado um modelo de efeitos fixos e efeitos aleatórios.
3.2.2 Modelo de Efeitos Fixos
Para que se possa estimar a equação (1) consistentemente, a abordagem mais
usual no contexto de dados longitudinais é a de Efeitos Fixos. Nesse método de estimação,
a ideia é eliminar o efeito não-observado, 𝑐𝑖. A estimação é feita considerando que existe
heterogeneidade entre os indivíduos e que ela é captada pela constante de modelo, que é
diferente de indivíduos para indivíduos. Ou seja, supõe-se que o intercepto varia de um
indivíduo a outro, mas é constante ao longo do tempo.
Em (2), tem-se a representação do modelo de efeito fixo, onde a estimação é
realizada considerando que a heterogeneidade será captada pela parte constante do
modelo, ou seja, o termo da constante será diferente de individuo para individuo:
Y ¿= α ¿ + βXit + U ¿(2)
O termo da constante α i é invariante no tempo e diferente para cada indivíduo.
3.2.3 Efeito Aleatórios
No modelo de efeito variável, a estimação é realizada introduzindo a
heterogeneidade no termo de erro. Neste caso trata-se a variável α i não como fixa, mas
como uma variável aleatória. Ou seja,
α i = α + ε i (3)
Onde εi é um termo de erro invariante no tempo e diferente para cada indivíduo.
Desta forma, pode-se escrever o modelo de efeito variável:
Y ¿= α + βXit +ε i+¿ U ¿ (3.1)
Portanto, a principal diferença entre os dois modelos está no fato de que o modelo
de efeitos fixos considera que as diferenças entre os indivíduos são captadas na parte
constante, enquanto no modelo de efeitos aleatórios, essas diferenças são captadas no
termo de erro.
3.2.4 Teste de Hausman
O teste de Hausman é o procedimento que faz inferência sobre a endogeneidade
dos repressores. Ele procura comparar estatisticamente dois estimadores 𝛽𝐸𝐹 e 𝛽𝐸𝐴 para o
mesmo modelo de vetor de parâmetros �̂�. Seja �̂� 𝐸𝐹 o vetor de estimativas de efeitos fixos
e 𝛽 ̂ 𝐸𝐴 o vetor de estimativas de efeitos aleatórios:
𝐻0: �̂� 𝐸𝐹 − �̂� 𝐸𝐴 = 0 (i.e efeitos aleatórios é válido),
a estatística:
𝐻 = [𝛽𝐸𝐹 − 𝛽𝐸𝐴] ′ [𝑉 (𝛽𝐸𝐹) − 𝑉 (𝛽𝐸𝐴) ]-1 [𝛽 𝐸𝐹 − 𝛽𝐸𝐴] (4)
Possui distribuição χ2 com k−1 graus de liberdade, Se essa estatística exceder o valor
tabelado, deve-se utilizar efeitos fixos.
Assim sendo, o Teste de Hausman determina qual o modelo adequado para cada
estimação. A hipótese nula (H0) do teste define que o efeito aleatório é mais adequado e a
hipótese alternativa (H1) define que o efeito fixo é mais adequado.
3.3 Especificação do Modelo
A relação entre o crescimento e seus determinantes é investigada por meio do
seguinte modelo de regressão para dados em painel:
lnpib¿=α+β1lnproxycaphumano¿+β2lngastsaude¿+ β3 lngastpbf ¿+β4 lnegastagricul .¿+ε¿ (5)
Em que:
lnpib¿ representa o logaritmo do PIB per capita no estado i no tempo t ;
lngproxycaphumano¿ representa logaritmo dos anos médios de estudo no estado i no tempo
t ;lngastsaude¿ representa o logaritmo dos gasto per capita com saúde no estado i no tempo
t ; lngastpbf ¿representa o logaritmo gastos com o bolsa família no estado i no tempo t ;
lnegastagricult ¿ representa o logaritmo dos gastos com agricultura no estado i no tempo t ;
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta subseção são apresentados os resultados estimados para a equação PIB per
capita em função proxy de capital humano e dos gastos com saúde, Programa Bolsa família
e agricultura. Desta forma, montou-se um painel de dados considerando os estados como
indivíduos que foram acompanhados pelo período de nove anos, o que permitiu a
construção de um painel com 81 observações, tornando mais confiável a inferência
estatística a ser aplicada na pesquisa. O método de estimação empregado foi o método de
GLS. O modelo supõe que a renda per capita tende a aumentar à medida que aumenta os
níveis de capital humano, os gastos em saúde, bolsa família e agricultura.
4.1 Estatística Descritiva
A Tabela 1 demonstra as estatísticas descritivas das variáveis analisadas neste
trabalho. Com relação ao PIB per capita, o estado que apresentou o maior valor foi Sergipe,
R$ 11.149,07. Já o menor valor foi encontrado no estado do Piauí, R$ 6.621,07.
Em relação aos gastos per capita com saúde, o estado do Rio Grande do Norte
registrou o maior valor, R$ 312,93. Já o Maranhão é o estado que apresenta o menor valor,
R$ 126,12. Já em relação aos gastos per capita em investimentos na agricultura, o
Maranhão registrou o menor valor, na ordem de R$ 2,80 e Sergipe apresentou o maior valor
de repasse, na ordem R$ 171,78.
Quanto aos gastos com o PBF, o estado da Bahia apresentou o maior valor de
repasse: R$ 2.631.586.716,02. O estado de Sergipe, por outro lado, apresentou o menor
repasse, R$ 971.373.349,96. Quanto à escolaridade média, verificou-se que o Piauí foi o
estado que registrou a menor média de anos de estudo: R$ 6,13. Os melhores resultados
estão no Rio Grande do Norte, R$ 7,5 e Pernambuco, R$ 7,45.
TABELA 1 - Estatística descritiva das Variáveis da Análise 2004-2012
VARIÁVEL MÉDIA DESVIOPADRÃO
MÍNIMO (Estado)
MÁXIMO (Estado)
PIB per capita 8.825,76 6.890,71 Piauí4258,36
Sergipe11.149,07
Gastos per capita em saúde
2344,68186,81
Maranhão126,12
Rio Grande do Norte312,93
Gastos per capita e Agricultura
32,81 168,98 Maranhão2,80
Sergipe171,78
Gastos com Bolsa família
801875605,80 1.660.212.766,06 Sergipe971.373.349,96
Bahia2.631.586.116,02
Anos de estudo
6,95 1,37 Piauí6,13
Rio G. do Norte7,5
Fonte: Elaboração com base nos dados da pesquisa.
4.2 Estimação e Resultados
Na Tabela 2, as colunas [b], [c] e [d] trazem os resultados das estimações da
equação definido no modelo. Na coluna [a] encontram-se as variáveis explicativas. Os
coeficientes da estimação da coluna [b] são referentes aos dados estimados com o modelo
de efeito fixo e os coeficientes da estimação da coluna [c] são referentes aos dados
estimados com o modelo de efeito aleatório.
No modelo definido, aplicou-se o teste de Hausman, que apresentou valor qui-
quadrado de 220,60 e a probabilidade de significância estatística de 1%. Desta forma, o
teste mostrou que o melhor modelo a ser aplicado de efeitos fixos, contudo, quando
testadas as hipóteses de heterocedasticide e autocorrelação, verificou-se violação em
ambos os pressupostos. Assim, optou-se pelo modelo Generalized Least Squares (GLS),
que corrige os problemas relacionados a heterocedasticidade e autocorrelação, que gera
estimadores com variância mínima, portanto, eficientes. Dessa forma, a discussão restringir-
se-a observar os coeficientes desse modelo.
Na coluna [d] verifica-se que todas as variáveis são significantes do ponto vista
estatístico a um nível de significância 5%. Todas as variáveis apresentam um sinal
esperado, ou seja, uma relação positiva com o crescimento do PIB. Sendo assim, o principal
objetivo deste estudo foi confirmado, haja vista que existe uma relação positiva entre
crescimento do PIB e aumento da proxy capital humano, definido como anos médios de
estudo.
Tabela 2 – Estimativas dos Modelos
PIB per capita[a]
Efeito Fixo[b]
Efeito Aleatório[c]
GLS[d]
Proxy de capitalHumano
-0.897*** -0.178 0.515**
(-6.54) (-0.94) (-2.8)
Gastos comSaúde
0.173*** 0.469*** 0.428***
(-3.75) (-9.15) (-9.48)
Gastos PBF 0.732*** 0.275*** 0.129***
(-13.82) (-6.27) (-5.58)
Gastos Agricultura -0.0113 0.0313 0.0883**
(-0.66) (-1.21) (-3.11)
constant -4.956*** 1.19 2.838***
(-6.55) (-1.74) (-6.14)R² ajustadoR² Whitin
R² BetweenR² Overral
- - -0,9599 0,9147 -0,0048 0,3422 -0,2075 0,7384 -
Observações 81Fonte: Elaboração própria dos autores.
Significância: * p < 0.05, ** p < 0.01, *** p < 0.001.
Teste t estatístico entre parênteses.
Assim, percebe-se que a proxy de Capital Humano tem forte impacto na variável
dependente aumentando, em média, 1% nos anos estudados e elevando-se o PIB per
capita em 0,51% ao ano. Tais resultados corroboraram com os estudos de Dowrick (2003),
Hanushek e Kimko (2000) e Cangussu, Salvato e Nakabashi (2010), que encontram em
seus estudos uma relação positiva entre capital humano e crescimento econômico.
A variável “gastos com saúde” também se mostrou bastante significante em explicar
o crescimento econômico. Um aumento de 1% nos gastos com saúde, aumenta o PIB per
capta em 0, 42% ano, corroborando com estudo de Figueiredo, Noronha e Andrada (2003),
que também apontou uma relação positiva entre essas variáveis.
Os trabalhos de Bhargava et al. (2001) e Bloom, Canning e Sevilla (2001), que
utilizaram dados em painel para diferentes países, também evidenciaram uma relação
positiva entre saúde e crescimento econômico. Não obstante, outros trabalhos que também
utilizando a metodologia de dados em painel, concluíram uma relação positiva entre saúde e
crescimento econômico. Entre eles, podem ser citados aqueles realizados por Mora e
Barona (2000) e Cermeno (2000). Este último replicou o modelo de crescimento proposto
por Mankiw, Romer e Weil (1992), para um período de quinze anos, 1980-1995, para todos
os estados brasileiros.
Os gastos com o programa bolsa família também se mostraram estatisticamente
significativos e com sinal positivo, o que denota uma relação positiva entre gastos com o
Bolsa Família e aumento do crescimento econômico. Os resultados revelaram que um
aumento de 1% nos gastos com o Programa Bolsa Família, aumenta o PIB per capita em
0,12%. Esses resultados vão de encontro com o estudo realizado pelo IPEA (2013), cujo
resultado mostrou que o PIB aumentaria R$ 1,78 para um choque marginal de R$ 1 no
Programa Bolsa Família.
Corroborando com os resultados desse estudo, Araújo, Alves e Besarria (2013)
também concluíram que os gastos com o programa tem uma relação positiva com o
crescimento econômico.
Por último, a variável “gastos com agricultura”, também apresentou seus
coeficientes estimados com os sinais esperados e estatisticamente significantes,
contribuindo para o aumento do PIB. As estimações do modelo revelaram que um aumento
de 1% nos gastos com agricultura, aumenta o PIB per capita em 0,08% por ano,
corroborando com a discussão realizada nas seções anteriores. Essa relação também foi
evidenciada no trabalho de Scarpin, Pinto e Silva (2007), cujas principais conclusões
apontaram que despesa com agricultura, defasada em dois anos, mostrou-se significativa e
positiva, para estado do Paraná. Contudo, os resultados apontaram o inverso para Santa
Catarina. Aragão et al (2012), também chegaram à conclusão de que os gastos com
agricultura se mostraram significativos, contribuindo para o crescimento do (PIB).
Contudo, como observou Paiva (1979), o setor agrícola no Brasil carrega diversas
limitações, tanto problemas relacionados aos impactos ambientais, quanto relacionados à
logística. O custo do transporte de mercadorias no país representa um grave entrave à
competitividade da agricultura em todo o Brasil, bem como na região Nordeste.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo analisar os impactos do Capital Humano,
dimensionado por anos médios de estudos, para o aumento da renda per capita na região
Nordeste. Essa análise foi realizada controlando-se por outros determinantes do
crescimento do crescimento econômico, como gastos com saúde, programa bolsa família e
agricultura. Para tal, foi montado um painel com os estados da região Nordeste, a partir de
dados anuais no período de 2004 a 2012.
Como principais conclusões obtidas a partir das estimações do modelo
econométrico, percebeu-se que a variável proxy de Capital Humano, é o principal
determinante do crescimento da renda per capita na região Nordeste, o que evidencia a
importância do aumento de investimentos e educação e da elaboração de políticas públicas
voltadas para essas área.
Embora a região Nordeste esteja experimentando uma nova dinâmica, com maior
crescimento econômico, diminuição da desigualdade de renda, e da extrema pobreza, muito
ainda precisar avançar, pois nessa região ainda há a maior concentração de pessoas
pobres e níveis educacionais mais baixos. Diante disso, revela-se a necessidade de estudos
que orientem na formulação de políticas públicas eficientes para alcançar o crescimento
econômico, aliado ao desenvolvimento social de forma sustentada, não apenas ações de
curto prazo que só amenizam o problema.
Os resultados obtidos pelas estimações do modelo indicam que as políticas
públicas para a região Nordeste devem levar em conta a importância do investimento em
educação, assim como saúde, agricultura e políticas de transferência de renda, como bolsa
família, fatores que se mostram significativos em relação a um maior crescimento
econômico no Nordeste.
É notório, portanto, que políticas econômicas direcionadas a essas áreas são de
extrema importância para aumentar o crescimento econômico e diminuir a desigualdade de
renda histórica entre a região nordeste e o restante do pais. Assim, a principal contribuição
do presente artigo para literatura nacional é atentar para a importância dos gastos públicos
produtivos e bem focalizados, que repercutem em maior crescimento econômico.
Por fim, o estudo não faz uma análise separando o meio rural do meio urbano que,
certamente, por suas especificidades, podem ter outros determinantes do crescimento. Este
tema pode, portanto, ser objeto de estudo em investigações futuras.
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