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IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 498 A FORMAÇÃO E COMPOSIÇÃO DA RENDA NOS ASSENTAMENTOS RURAIS NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ (RN) Leovigildo Cavalcanti de Albuquerque 1 Gerlânia Maria Rocha Sousa 2 Meire Eugênia Duarte 3 Janaildo Soares de Sousa 4 Resumo: Compreende a um estudo feito acerca dos principais aspectos da Reforma Agrária e dos Assentamentos Rurais do Rio Grande do Norte, fazendo inicialmente uma investigação sobre a origem da concentração fundiária brasileira. O objetivo consiste em analisar o processo de formação e composição de renda, seja por atividades desenvolvidas ou por gestão dos recursos dentro e fora dos assentamentos. O trabalho teve início com base em diversas pesquisas bibliográficas, levantamento de dados junto a órgãos oficiais e algumas entidades envolvidas diretamente com a reforma agrária, também contou com uma pesquisa de campo em 3 assentamentos de um total de 33 existentes no Município de Mossoró, que constou da aplicação de entrevistas junto as lideranças e famílias assentadas, resultando num maior conhecimento quanto a realidade dessas áreas que integram a Política de Reforma Agrária. Na tentativa de abordar a situação atual dos Assentamentos, investigamos alguns aspectos concernentes às condições de vida dos assentados, no qual os resultados obtidos apresentaram inúmeros problemas que vão desde a falta d’água até a precária infraestrutura, principalmente em relação à saúde, educação e serviços. Mostrando uma grande dependência em relação às rendas advindas de aposentadorias e previdência social. Palavras chaves: Assentamentos, Reforma Agrária, Renda. 1 INTRODUÇÃO O processo de reforma agrária se apresenta como um dos mais difíceis objetivos quanto de estudo, em função do número de variáveis que compõem a compreensão social, econômica, política e de organização produtiva. 1 Professor Dr da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN; telefone: (84) 91708784; e-mail: [email protected]; 2 Economista. Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Economia Rural - MAER, Universidade Federal do Ceará (UFC), telefone: (88) 97710020; e-mail: [email protected]; 3 Economista, Professora substituta da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN, telefone: (84)88320999; e-mail: [email protected]; 4 Economista, especialista, mestrando Curso de Pós-Graduação em Economia Rural - MAER, Universidade Federal do Ceará (UFC), telefone: (85) 81560513, e-mail: [email protected]

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  • IV Colquio Sociedade, Polticas Pblicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Cear-Brasil

    498

    A FORMAO E COMPOSIO DA RENDA NOS ASSENTAMENTOS RURAIS NO

    MUNICPIO DE MOSSOR (RN)

    Leovigildo Cavalcanti de Albuquerque1

    Gerlnia Maria Rocha Sousa2

    Meire Eugnia Duarte3

    Janaildo Soares de Sousa4

    Resumo: Compreende a um estudo feito acerca dos principais aspectos da Reforma Agrria e dos Assentamentos Rurais do Rio Grande do Norte, fazendo inicialmente uma investigao sobre a origem

    da concentrao fundiria brasileira. O objetivo consiste em analisar o processo de formao e

    composio de renda, seja por atividades desenvolvidas ou por gesto dos recursos dentro e fora dos

    assentamentos. O trabalho teve incio com base em diversas pesquisas bibliogrficas, levantamento de

    dados junto a rgos oficiais e algumas entidades envolvidas diretamente com a reforma agrria,

    tambm contou com uma pesquisa de campo em 3 assentamentos de um total de 33 existentes no

    Municpio de Mossor, que constou da aplicao de entrevistas junto as lideranas e famlias

    assentadas, resultando num maior conhecimento quanto a realidade dessas reas que integram a

    Poltica de Reforma Agrria. Na tentativa de abordar a situao atual dos Assentamentos, investigamos

    alguns aspectos concernentes s condies de vida dos assentados, no qual os resultados obtidos

    apresentaram inmeros problemas que vo desde a falta dgua at a precria infraestrutura,

    principalmente em relao sade, educao e servios. Mostrando uma grande dependncia em

    relao s rendas advindas de aposentadorias e previdncia social.

    Palavras chaves: Assentamentos, Reforma Agrria, Renda.

    1 INTRODUO

    O processo de reforma agrria se apresenta como um dos mais difceis objetivos

    quanto de estudo, em funo do nmero de variveis que compem a compreenso social,

    econmica, poltica e de organizao produtiva.

    1 Professor Dr da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN; telefone: (84) 91708784; e-mail:

    [email protected]; 2 Economista. Mestranda do Curso de Ps-Graduao em Economia Rural - MAER, Universidade Federal do

    Cear (UFC), telefone: (88) 97710020; e-mail: [email protected]; 3 Economista, Professora substituta da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN, telefone:

    (84)88320999; e-mail: [email protected]; 4 Economista, especialista, mestrando Curso de Ps-Graduao em Economia Rural - MAER, Universidade

    Federal do Cear (UFC), telefone: (85) 81560513, e-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]

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    A observao geralmente posta sobre o processo de reforma agrria que a mesma

    unicamente uma poltica de oferta de terras para famlias excludas do processo produtivo de

    mercado. Esta anlise em sntese equivocada, dadas as configuraes que permeiam o

    processo, que permitem a modificao de uma srie de elementos da sociedade nas mais

    diversas reas (social, ambiental, econmica, cultural).

    Neste sentido, o processo de reforma agrria um chamamento aos anseios de justia

    social que contemplam as sociedades atualmente, quanto dotao de diversos mecanismos

    de sobrevivncia, incluindo a posse de fatores de produo para as populaes consideradas

    excludas. O primeiro passo efetivo observado na sociedade brasileira d-se em 1985 com a

    elaborao do primeiro Plano Nacional de Reforma Agrria (PNRA), objetivando criar

    assentamentos para os trabalhadores rurais com vistas a mudar a estrutura agrria do pas e

    assegurar a qualidade de vida da populao rural.

    O Brasil adotou uma poltica baseada em Projetos de Assentamento, cabendo

    responsabilidade da administrao dos PAs (Projetos de Assentamentos) ao Instituto

    Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA), vinculado ao Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio (MDA). Os PAs so propriedades pblicas, de modo que os

    assentados recebem uma concesso de uso de parte do PA, geralmente chamado de lote, onde

    os beneficiados pelo programa no podem se desfazer ou vender seus lotes a terceiros.

    Muitas discusses so abordadas quanto forma de medir, aferir ou mesmo analisar a

    eficcia/eficincia das polticas pblicas no tocante viabilidade (social, econmica,

    ambiental) dos PAs, discutindo-se diversos parmetros quanto forma de utilizao da terra

    (prticas agrcolas), produtividade e integrao ao mercado. De todos os estudos de grandes

    magnitudes j utilizados, tem-se como aspecto inicial para anlise dos mesmos, a formao da

    renda, baseada em diversos extratos e fundamentadas em tipos de atividades produtivas

    desenvolvidas pelos assentados, dentro e fora de sua unidade produtiva.

    O universo da pesquisa composto por 33 (trinta e trs) assentamentos sob a

    responsabilidade do INCRA no municpio de Mossor, no qual aps uma srie de anlises,

    decidiu-se apenas escolher 03 (trs) dos 33 assentamentos (Paulo Freire, Sussuarana e

    Independncia). Desta forma, o objetivo deste estudo analisar a formao/composio de

    renda em reas de assentamentos no municpio de Mossor, buscando identificar novos

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    componentes e sua participao na composio de renda dentro das reas dos assentamentos

    Paulo Freire, Sussuarana e Independncia no municpio de Mossor/RN.

    Para a realizao desse estudo foi utilizada como metodologia uma pesquisa

    bibliogrfica ampla, alm de documentos e pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE), levantamentos realizados pelo Instituto Nacional de

    Colonizao e Reforma Agrria (INCRA), contou ainda com pesquisa quanti-qualitativa,

    utilizando o mtodo de abordagem indutivo pautada em fontes primrias e secundrias, de

    documentos oficiais e estatsticos governamentais, bem como de pesquisa de campo nos

    assentamentos com lideranas e com trabalhadores sem terra dos referidos assentamentos.

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.2 O Processo da reforma agrria no Brasil

    Desde o comeo da industrializao, a explorao dos recursos naturais vem crescendo

    cada vez mais, de modo que o agravamento desse quadro com a mundializao do

    acelerado processo produtivo aumentou a necessidade de um cuidado especial com o futuro

    da terra.

    As primeiras manifestaes sobre a questo agrria no Brasil iniciaram na dcada de

    1940 sinalizando para a necessidade de uma reorganizao da estrutura agrria no pas. Esta

    primeira iniciativa teve como mediao as ideias do Partido Comunista Brasileiro, o PCB. O

    mesmo apresentou um Projeto de Lei com uma proposta que tinha como princpio distribuir

    a terra para quem nela quisesse trabalhar. (NUNES et al., 2006)

    O Estatuto da Terra apontava para dois grandes eixos estratgicos para desenvolver o

    meio rural: a poltica agrria e a poltica agrcola. A poltica agrria, por um lado, definia o

    que era propriedade da terra no Brasil, e suas modalidades colocavam a desapropriao por

    interesse social, nos casos considerados necessrios, bem como a compra de terras pela Unio

    para efeito de reforma agrria. Por outro lado, a poltica agrcola permitia que as oligarquias

    agrrio-industrial acelerassem o desenvolvimento do capitalismo no campo, e sua

    interpretao possibilitou que o problema chave da questo agrria fosse modernizao do

    latifndio (TEIXEIRA DA SILVA, et al., 1999).

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    A reforma agrria deveria funcionar como um instrumento economicamente vivel,

    em que os agricultores familiares passariam a aquecer a economia a partir da formao de

    uma classe mdia rural com poder de consumo suficiente para dinamizar o mercado interno e

    produzir produtos mais baratos para o ambiente urbano. Dessa forma, a reforma agrria se fez

    necessria no Brasil, pois a estrutura fundiria em nosso pas muito injusta, dado que os dois

    primeiros sculos da colonizao portuguesa, a metrpole dividiu e distribui as terras da

    colnia de forma desigual. (VEIGA, 1991).

    Para corrigir esta distoro, nas ltimas dcadas vem sendo desenvolvido em nosso

    pas o sistema de reforma agrria. Embora lento, j tem demonstrado bons resultados. Os

    trabalhadores rurais organizaram o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)

    que pressiona o governo, atravs de manifestaes e ocupaes, para conseguir acelerar a

    reforma agrria e garantir o acesso a terra para milhares de trabalhadores rurais. Portanto, a

    Reforma Agrria um conjunto de medidas que visam promover a melhor distribuio das

    terras mediante modificao no regime de sua posse e uso, com a finalidade de atender aos

    princpios da justia social e promover a produtividade.

    2.3 A reforma agrria e os planos regionais no Rio Grande do Norte

    A economia nacional tem reflexos tambm no Rio Grande do Norte, e como no mbito

    nacional, marcada por desequilbrios regionais, os quais tambm se manifestam na

    diversidade socioeconmica dos Assentamentos Rurais.

    O Estado do Rio Grande do Norte encontra-se em um dos pontos extremos da Amrica

    do Sul, sendo o Estado do Brasil que est mais prximo dos continentes africano e europeu.

    Possuidor de uma rea total correspondente a 53.077,3 km, ocupando uma rea de 3,41% da

    Regio Nordeste e cerca de 0, 62% do territrio nacional.

    A estrutura fundiria do Rio Grande do Norte, semelhana do que ocorre no Brasil,

    apresenta um alto grau de concentrao, com uma condio relativamente privilegiada no que

    se refere disponibilidade de recursos no espao rural, mas carente de meios que possa

    transformar suas potencialidades em oportunidades sustentveis de desenvolvimento (MDA-

    RN, 2004, p.8).

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    Entre as reas de assentamentos no Rio Grande do Norte, 11 municpios concentram

    53% da rea total includas no INCRA, sendo o municpio de Mossor o que apresenta o

    maior nmero de assentamentos rurais no territrio do Estado, seguido dos municpios de

    Apodi, Cear-Mirim, Joo Cmara, Upanema, Carnaubais, Barana, Governador Dix-Sept

    Rosado, Bento Fernandes, Carabas e Touros. (COSTA, 2005, p. 86)

    Entre 1987 e 2009, segundo o INCRA, foram criados 275 assentamentos rurais no

    Estado do Rio Grande do Norte, que ocuparam 519.529,2583 ha de terras onde foram

    assentadas 19.755 famlias.

    Assim como em outras reas do Pas, o RN passou por um processo de criao de

    Assentamentos Rurais nos ltimos anos, mas ainda se mostra insuficiente para provocar

    grandes alteraes na estrutura fundiria do Estado. Para entender o processo de

    desapropriaes, ressaltam-se a crises agropecurias, geralmente associadas ocorrncia de

    vrias secas, fatores que levam alguns proprietrios de terras, por acharem ser mais vantajoso,

    venderem suas propriedades para o governo, com a finalidade de desapropriar para fins de

    Reforma Agrria, em troca de indenizaes elevadas pagas pelo INCRA (FERNANDES,

    2009, p 19).

    A luta pela terra atravs da construo dos assentamentos teve inicio no Rio Grande do

    Norte por volta da dcada de 1980, isso pode estar relacionado, principalmente ao

    fortalecimento da organizao e luta dos trabalhadores rurais motivados pela abertura poltica

    e pela expectativa criada com o anncio do primeiro Plano Nacional de Reforma Agrria pelo

    Governo da Nova Repblica, do ento presidente Jos Sarney.

    Na busca da eficcia e da necessidade de avano e reestruturao do processo de

    reforma agrria, foi elaborado no governo Lula, a partir do ano de 2003 o II Plano Nacional

    de Reforma Agrria. Estando diretamente associado a uma poltica de desenvolvimento

    regional, o principal objetivo era acabar com a idia que o modelo adotado para o

    desenvolvimento e instalao de Assentamentos deveria ser igual em todo pas, na realidade

    frisava que as polticas agrrias deveriam ser executadas de acordo com as potencialidades e

    caractersticas de cada regio (NUNES et al, 2006, p. 8).

    O processo de construo do Plano Regional no Estado do Rio Grande do Norte

    contou com a participao e contribuio de ONGs, movimentos sociais e instituies

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    governamentais e no governamentais que num processo de discusso elaboraram elementos

    acerca da necessidade de se construir um Plano que estabelea os eixos norteadores do

    programa de Reforma Agrria para o estado, seguido da definio da metodologia adequada

    para a construo do mesmo. (OLIVEIRA, 2009 p. 40).

    Entre as metas do Plano, baseando na recuperao dos projetos de assentamentos,

    constava atingir cerca de 23.000 famlias que se encontravam entre os 243 assentamentos no

    Rio Grande do Norte, sob a responsabilidade do INCRA, e para melhor caracterizao dos

    PAs a serem executadas estratgicas de ao, as reas de interveno foram divididas em 06

    reas de acordo com o espao geogrfico, sendo elas a rea Oeste, rea do Vale do Au,

    rea do Mato Grande, rea do Litoral, rea da Serra de Santana e demais reas que

    compreendem os projetos de assentamentos fora das reas reformadas. (ALBUQUERQUE

    NETO, 2011, p. 101)

    3 METODOLOGIA

    Diante das caractersticas histricas e de resgates necessrios no mbito social atravs

    da implantao da Reforma Agrria, compreendemos que o processo de reforma agrria

    fomenta o desenvolvimento local, evidenciadas especificamente nas reas de assentamentos

    sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) no

    Estado do Rio Grande do Norte, em especial o municpio de Mossor.

    Seguindo os parmetros base da FAO, mediante ao que propomos a analisar, a

    sustentabilidade em reas de assentamentos, da composio do trabalho/organizao

    produtiva, que contribuem para a formao/composio de renda e que se configura como uns

    dos elementos chaves para indicar uma possvel sustentabilidade do programa institudo

    pelo Governo Federal, sob a responsabilidade do INCRA.

    Como pressuposto base, utilizaremos a metodologia da FAO, onde a renda

    concebida como bom indicador de desempenho econmico, tanto em termos de eficincia

    como em termos comparativos, isto de custos de oportunidade.

    Segundo a FAO, a determinao da renda visualizada de vrias categorias, assim

    postas e definidas(ROMEIRO, 1994):

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    a) Renda Agrcola Lquida Monetria: a renda obtida com a venda dos produtos

    agrcolas, segundo os preos declarados pelos assentados (indexados pelo IGP/FGV-

    DI), diminuda dos correspondentes custos de produo, tambm avaliados pelos

    valores declarados nas entrevistas;

    b) Renda Animal Lquida Monetria: a renda obtida com a venda dos animais e

    derivados, diminuda dos seus correspondentes custos de produo (avaliao idem

    ao ponto anterior);

    c) Renda de Autoconsumo: a renda gerada pela atividade de consumo de sua

    prpria produo; as quantidades consumidas (segundo declarao) foram avaliadas

    de acordo com os mesmos preos de venda da produo; ou seja, trata-se da renda

    que o agricultor obteria se vendesse, ao invs de consumir esta parcela da produo;

    d) Renda de Outros Trabalhos: incluem-se aqui os salrios obtidos como

    remunerao por empregos temporrios ou permanentes dos membros da famlia;

    e) Renda de Outras Receitas: so as vendas ocasionais de produtos no-agrcolas,

    como por exemplo, madeira, carvo, extrativismo pequeno comrcio, artesanato.

    No tocante composio/obteno da renda, incluiremos duas outras categorias na

    composio, conforme ALBUQUERQUE NETO (2011):

    f) Renda Previdenciria: rendas oriundas de aposentadorias e/ou benefcios

    auferidos pelos membros da famlia.

    g) Renda Programas Sociais/Doaes: rendas oriundas de programas sociais e/ou

    doaes auferidas pelos membros da famlia

    O universo da pesquisa composto por 33 assentamentos sob a responsabilidade do

    INCRA no municpio de Mossor, que em sua totalidade perfazem uma rea de 68.700,0146

    (ha) e que esto assentadas 3.227 famlias.

    Aps uma srie de anlises, decidiu-se apenas escolher 03 (trs assentamentos) dos 33

    assentamentos. Dentro dos critrios que pudessem determinar esta escolha, podemos citar: a)

    antiguidade com 5 ou mais anos de existncia, quando no possa existir uma interferncia

    direta do INCRA quanto a formao/composio de renda daquele assentado; b) Capacidade

    produtiva instalada que mediante a emancipao do referido assentamento, os

    assentamentos teriam a possibilidade de produzir de forma autnoma; c) Localizao e/ou

    instalao onde os mesmos se encontram, onde preferencialmente estivessem localizados

    prximos ou a margem de BRs, que possam configurar em uma maior acessibilidade e

    consequentemente, maior grau de atrao das foras produtivas (mo de obra) das reas de

    assentamentos.

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    Desta maneira, foram escolhidos os seguintes assentamentos para pesquisa de campo:

    a) Assentamento Paulo Freire, criado em 2003, com uma rea de 1.585,0160 ha constitudo

    por 57 famlias, ficando a 13 km do centro de Mossor; b) Assentamento Independncia,

    criado em 1995, com uma rea de 1.061,9326 ha, constitudo por 38 famlias assentadas se

    distanciando a 12 km do municpio de Mossor; C) Assentamento Sussuarana, criado em

    2000, com uma rea de 313,7500 ha com 10 famlias assentadas localizados a 12 km do

    municpio de Mossor.

    Foram entrevistadas um total de 20% das famlias assentadas (por assentamento), com

    questionrios contendo perguntas abertas e fechadas, escolhidas de forma aleatrias dentro da

    distribuio espacial de cada assentamento. Alm disto, a aplicao de um questionrio

    fechado (com algumas questes abertas) a uma amostra aleatria estratificada dos

    assentamentos e a uma amostra aleatria do tipo sistemtico das famlias beneficirias. Para

    completar as informaes institucionais e de ordem qualitativa, ser aplicado um questionrio

    especfico para cada assentamento de carter institucional.

    Parte-se da hiptese que a formao do trabalho dos assentamentos constituda

    principalmente de trabalhos desenvolvidos fora das reas de assentamento, dada baixa

    capacidade produtiva (instalada) e de organizao produtiva existente.

    4 RESULTADOS E DISCUSSES

    No Estado do Rio Grande do Norte, o municpio de Mossor tem intensificado

    suapoltica de reforma agrria, contando hoje com 33 projetos de assentamentos, dos quais

    foram definidos trs Assentamentos do municpio Sussuarana, Paulo Freire e

    Independncia-, que cumpriam o enquadramento geral do estudo da FAO, com o intuito de

    contribuir para diagnosticar possveis entraves que possam sersuperados para a promoo do

    desenvolvimento rural sustentvel.

    A composio da base de dados se estabeleceu a partir de 20 famlias, correspondendo

    a um total de 20% do nmero total de famlias por assentamento. Com a realizao da

    pesquisa de campo, foi possvel verificar uma srie de problemas quanto ao funcionamento

    dos mesmos. O instrumento de coleta de dados estruturou-se em diversas partes. Na primeira

    parte coletamos os dados pessoais dos assentados, quanto ao local de moradia (tipo e

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    condies da residncia), idade, sexo, nvel de escolaridade, tempo no assentamento. Na

    segunda parte do questionrio, procuramos identificar onde foi gerado cada um dos tipos de

    rendas (dentro e fora do assentamento), assim como saber os diversos tipos rendas auferidas

    mediante transferncias governamentais. Na terceira parte, procuramos compreender as

    relaes produtivas do assentado e suas prticas agrcolas utilizadas usualmente; e na quarta

    parte, perguntas abertas sobre o processo de funcionamento dos assentamentos, bem como das

    prticas utilizadas pelos responsveis pela poltica de reforma agrria.

    No assentamento Independncia contamos com 7 (sete) famlias entrevistadas e o

    Paulo Freire com 11 (onze), j no Sussuarana foram entrevistadas 2 (duas) famlias na vila

    agrcola do assentamento, conforme distribuio espacial do referido assentamento, onde o

    quadro apresentado foi de preocupao, mediante o fato que dos assentamentos visitados,

    notamos que o mesmo dispunha da pior infraestrutura, principalmente quando verificamos o

    caso da falta de gua.

    No tocante ao perfil informal dos assentados, em sua maior parte tem idade igual e/ou

    superior aos 55 anos e possuem alguma renda vinda de aposentadoria/benefcio, e quase todos

    foram unnimes em que tinham experincia na lidado campo, e que j viviam ou trabalhavam

    na regio antes de irem morar no assentamento.

    A condio de moradia se constitui um dado significativo no processo de construo

    de um povo. No caso dos assentamentos da amostra todos so providos de casa de alvenaria

    em estado razovel de conservao, encontrando-se quase todas rebocadas, sendo algumas em

    estgio mais avanado de melhorias, seguindo um padro que oferece um conforto regular

    para a famlia do assentado, constando um nvel satisfatrio em quase todas as moradias.

    No que se diz respeito ao acesso a gua potvel, o seu abastecimento um dos maiores

    problemas enfrentados pelos estabelecimentos, mostrando-se precria em quase totalidade da

    amostra, sendo fato que mesmo nos assentamentos que possuem gua encanada o tratamento

    da gua ineficaz quanto qualidade e quantidade ofertadas em todos os assentamentos onde

    distribuda de forma escassa e sem periodicidade determinada e em alguns casos chegam as

    torneiras com qualidade salobra, conforme relato de uma assentada, no caso do assentamento

    independncia, a gua devido a salobridade, no podem se destinar a um tipo de irrigao

    mais intensiva, em razo de correr o risco de salinizar o solo ou at mesmo queimar a

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    plantao, o que chega a levar os moradores a procurarem gua em outras comunidades e at

    mesmo a comprar gua para seu consumo.

    Tabela 1: Tipo de moradia e infraestrutura nos assentamentos pesquisados (elaborao dos autores, 2011)

    Assentamen

    to

    Tipo de moradia e Infraestrutura disponibilizada na Vila dos

    Assentamentos

    Tipo de moradia

    (Alvenaria)

    Fornecimento de

    gua Encanada

    Saneament

    o Bsico

    Fornecimento

    de Energia

    Eltrica

    Com Reboco Sem

    Reboco gua

    Sem

    gua

    Sem

    Esgoto Energia

    Sussuarana 0% 100,00% 0,00% 100,00% 100,00% 100,00%

    Independnc

    ia 71,43% 28,57%

    100,00

    % 0,00% 100,00% 100,00%

    Paulo Freire 27,27% 72,73%

    100,00

    % 0,00% 100,00% 100,00%

    A energia eltrica esta presente em todos os assentamentos com ndices de 100%, fato

    este que pode proporcionar certo tipo de lazer aos estabelecimentos levando em considerao

    a compra de aparelhos de TV, ou at mesmo aparelhos eletrnicos e eletrodomsticos.

    Outro quesito no que se refere infraestrutura a ausncia de tratamento sanitrio

    tanto para os resduos lquidos quanto para os resduos slidos produzidos nas reas de

    assentamento. O problema se agrava devido contaminao de solos e disseminao de

    doenas em decorrncia do no tratamento dos dejetos ali produzidos. Esta condio de

    inexistncia de um tratamento dos dejetos responsvel por boa parte propagao de doenas,

    e ainda contam com a presena constante de animais prximos s residncias, o que no

    perodo de chuvas proporciona um verdadeiro criatrio de moscas e demais insetos. Todos

    estes elementos ficam potencializados, em razo de no existir dentro das reas de

    assentamentos uma poltica de sade preventiva alm de em muitos assentamentos no

    contarem com a existncia de nenhuma unidade bsica de sade.

    A educao e a sade tambm so indicadores sociais responsveis pela qualidade de

    vida da populao, nesse sentido h a existncia de escolas no mbito dos ciclos iniciais do

    ensino fundamental, onde os alunos do 6 ao 9 ano e os que precisam fazer o ensino mdio

    vo estudar na zona urbana deslocando-se em carros que so pagos pela prefeitura. Essa

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    508

    carncia quanto educao reflete de forma clara nos ndices de escolaridade da populao

    entrevistada, mostrando-se bastante baixo, onde nossa pesquisa de campo identificou que 13%

    eram analfabetos; 76% tinham apenas o 1 grau incompleto; 11% tinham 1 completo.

    Indicando que necessrio efetuar polticas de combate ao analfabetismo, principalmente no

    tocante a programas de alfabetizao para adultos.

    No tocante a sade, os assentamentos no contam com postos de sade onde as

    emergncias possam ser atendidas, apenas um mdico se apresenta ao estabelecimento uma

    vez por ms ou contam com um agente de sade que dependendo da necessidade encaminha o

    paciente para zona urbana ou comunidades rurais mais prximas com melhores

    condies.Embora relatos dos assentados informem que essas visitas so bastante irregulares

    nas quais podem ser quinzenais, mensais e em outros perodos mais longos.

    4.1 Composio de renda em reas de assentamento no municpio de Mossor

    Todo estudo ter como parmetro o salrio mnimo, como base de rendas auferidas

    pelas famlias no ano de 2011. Na pesquisa de campo realizada a utilizao desta unidade de

    referncia, facilitou a identificao dos valores percebidos, no apenas das chamadas

    transferncias diretas, mas tambm para mensurar o consumo, e a venda agrcola e animal

    (quando possvel de serem realizadas), ou mesmo da realizao de atividade remunerada fora

    do assentamento.

    Tabela 2: Renda mdia dos assentamentos em salrio-mnimo/percentual da renda por atividades (elaborao dos

    autores, 2011)

    Assentamento Renda Renda Renda Outros Outras Receita Receita Renda

    Agrcola Animal Consumo Trabalhos Receitas Previdenciria

    Programas Sociais

    e/ou Doaes Mdia

    Lquida Lquida

    Mensal

    Salrio Mnimo Salrio Mnimo Salrio Mnimo Salrio Mnimo Salrio Mnimo Salrio Mnimo Salrio Mnimo

    Paulo Freire 0,00 0,00% 0,21 11,42% 0,09 4,64% 0,73 39,51% 0,00 0,00% 0,73 39,51% 0,09 4,91% 1,84

    Sussuarana 0,00 0,00% 0,03 1,27% 0,14 6,61% 1,25 57,58% 0,00 0,00% 0,75 34,55% 0,00 0,00% 2,17

    Independncia 0,00 0,00% 0,08 4,83% 0,19 11,66% 0,29 17,33% 0,08 5,09% 0,86 51,98% 0,15 9,12% 1,65

    Media 0,00 0,00% 0,10 5,84% 0,14 7,64% 0,76 38,14% 0,03 1,69% 0,78 42,01% 0,08 4,67% 1,88

    Os sistemas produtivos locais operam com base em relaes de trabalho peculiares

    diretamente relacionadas com o ambiente social e com a estrutura econmica, permitindo,

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    509

    assim, uma articulao da produo agropecuria com o modo de vida local.A partir do

    momento em que as atividades no agrcolas se tornam a principal fonte derenda permanente

    da famlia, alm de se alterar a diviso do trabalho, redefine-se, tambm, uma srie de

    relaes.

    4.1.1 Renda agrcola

    A renda agrcola obtida com a venda dos produtos agrcolas, segundo os preos

    declarados pelos assentados, diminuda dos custos necessrios para sua produo. Na regio

    de semirido, dois tipos de prticas culturais agrcolas so mais utilizadas:so a cultura de

    sequeiro, considerada a tradicional, dependente da chuva, geralmente realizada no perodo

    de consolidao do inverno, onde se procura utilizar culturas com ciclo de produo curta; e a

    cultura agrcola irrigada que tem por objetivo o fornecimento controlado de gua para as

    plantas em quantidade suficiente e no momento certo.

    Nos assentamentos pesquisados nenhum deles possui o tipo de plantao irrigada, pois

    o estabelecimento no possui esse tipo de sistema implantado, o que predomina a prtica de

    sequeiro, no qual ocorre em frequncia em perodos de chuva, o que dificulta o sucesso em

    estabelecimentos que no tenha por base a tcnica da irrigao.

    A pesquisa foi efetuada baseando-se na produtividade do ano de 2011, procurando

    verificar o que tinha sido produzido no decorrer deste ano, em plantio de tipo sequeiro, porm

    os resultados obtidos no foram satisfatrios em razo da estao chuvosa no ter de fato

    acontecido. Por exemplo, colhemos muitos relatos, em que os agricultores se lamentam por

    plantios este ano que efetuaram e no vigoraram devido escassez de chuvas.

    Mesmo com alguns problemas de pluviometria, onde alguns assentados perderam

    quase tudo que plantaram. Os produtos na pauta da renda agrcola nos 3 (trs) assentamentos

    geralmente formado por culturas tradicionais (milho e feijo). A prtica agrcola destas

    culturas objetiva inicialmente suprir as demandas de consumo prprio e posteriormente do

    rebanho existente.

    Os assentamentos, de uma forma geral, apresentam uma dificuldade quase extrema de

    formar uma receita agrcola, sentimos que fundamentalmente a produo est baseada no

    acaso, em uma dependncia meteorolgica. Atrelado a este fator, temos a falta de

    http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81guahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Plantas

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    510

    escolaridade, formando uma barreira para a incorporao de prticas e meios alternativos na

    produo, o que ocasionar a utilizao de prticas agrcolas que degradam o meio ambiente e

    falta de comprometimento e engajamento em aes que possibilitem o trabalho comunitrio

    (associativismo e/ou cooperativismo).

    4.1.2 Renda animal

    A renda animal em geral, obtida atravs da venda dos animais e derivados,

    diminuda dos seus correspondentes custos de produo. Compondo-se de diversas

    caractersticas produtivas e tipos de animais, tais como bovinos, caprinos, ovinos, sunos,

    equinos, aves e, etc. Nas reas dos assentamentos produo animal apresentam algumas

    caractersticas gerais, onde os animais em geral no apresentam uma caracterizao racial

    uniforme, ou seja, sem padro definido, e que por esta razo apresentam uma taxa de

    converso alimentar baixa; so criados, em geral, de forma extensiva, soltos nos lotes

    individuais ou na parte coletiva, e em alguns casos adentram inclusive na rea de preservao

    ambiental; quase todas as instalaes so precrias, no possuem controle sanitrio,

    nutricional e veterinrio.

    Para uma anlise geral, apresentamos na tabela n 3 a composio de renda animal nas

    reas de assentamento pesquisadas no municpio de Mossor.

    Tabela 3: Composio da renda animal nos assentamentos no ano de 2011 (elaborao dos autores)

    Assentamento Renda

    Animal total em Salrios mnimos*

    Mdia Mensal

    por Assentado

    estimada**

    % da

    Renda

    Total R$

    Salrio

    Mnimo

    Paulo Freire 27,75 1375,00 0,21 6,90%

    Sussuarana 0,66 180,00 0,03 1,27%

    Independncia 6,69 520,71 0,08 4,83% Obs:* Valor nominal do Salrio Mnimo = RS 545,00.

    ** Mdia Mensal por Assentados = (Renda Animal total/N de assentados )/12 meses.

    Assim como acontece no plantio destinado tanto para venda como para consumo, a

    oferta de alimento aos animais condicionada pelas estaes de chuva, e que caracterizada

    por baixos ndices de rendimento por unidade de rea.

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    511

    Geralmente a utilizao das reas coletivas para a criao comum. Em nossa

    pesquisa ficou a produo animal apresenta como origem tanto o sistema extensivo (rea

    comunitria do assentamento e/ou rea de preservao), como o sistema intensivo (rea

    individual dos assentamentos). Onde em sua maior parte os animais nas reas de

    assentamento so vistos como um tipo de poupana viva, para uma eventual necessidade

    financeira ou como utilizao de consumo prprio, e no como um produto a qual sua maior

    finalidade seria o mercado.

    O criatrio de animais desenvolvido no assentamento Paulo Freire como nos demais

    assentamentos, o trip da base para a produo da renda ovino/suno/caprinos e aves,

    predominando neste caso a criao de caprinos, visualisando-se tambm a utilizao de cabras

    na venda do leite destes animais, que segundo afirma um dos assentados apresentam maior

    rentabilidade at mesmo que o leite de vaca.

    O assentamento Sussuarana, mesmo apresentando todas as dificuldades de

    infraestrutura, ainda se mostra capaz de produzir um mnimo para o prprio consumo de

    pequenos animais como ovinos, caprinos e aves.

    A pauta da renda animal no Assentamento Independncia apresenta a criao de aves

    (neste caso galinhas), ovinos e caprinos.

    Mesmo existindo a criao de animais de pequeno porte, encontramos praticamente as

    mesmas caractersticas entre os assentamentos: animais com baixa produtividade e soltos na

    zona comunitria, encontrando-se em diferente situao os sunos e as aves, pois precisam de

    uma ateno diferenciada.

    Portanto, os assentamentos se mostram no nosso entender, um baixo aproveitamento,

    no apenas no aspecto da renda agrcola, mas tambm no desenvolvimento da renda animal.

    Demonstrando fragilidade, quanto as principais atividades com capacidade de insero no

    mercado.

    4.1.3 Renda consumo

    A formao da renda consumo, no nosso entendimento, corresponde a mais importante

    parcela da renda total constituda dentro de um assentamento. a renda gerada pela atividade

    de consumo de sua prpria produo (produo de subsistncia); as quantidades consumidas

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    512

    (segundo declarao) foram avaliadas de acordo com os mesmos preos de venda da

    produo; ou seja, trata-se da renda que o agricultor obteria se vendesse ao invs de consumir

    esta parcela da produo.

    Os dados obtidos com a pesquisa quanto a renda autoconsumo podem ser vistos na

    tabela abaixo.

    Tabela 4: Composio da renda autoconsumo nos assentamentos no ano de 2011 (elaborao dos

    autores).

    Assentamento Renda

    Consumo em Salrios mnimos*

    Mdia Mensal

    por Assentado estimada** % da

    Renda

    Total R$ Salrio

    Mnimo

    Paulo Freire 11,25 558,64 0,09 4,64%

    Sussuarana 3,44 938,00 0,14 6,61%

    Independncia 16,15 1.257,14 0,19 11,66% Obs:* Valor nominal do Salrio Mnimo = RS 545,00.

    ** Mdia Mensal por Assentados = (Renda Autoconsumo total/N de assentados )/12 meses.

    O processo de formao da renda consumo nos estabelecimentos apresentaram dois

    tipos de atividades a criao de animais e a atividade agrcola.

    No assentamento Paulo Freire, a Renda Consumo tem uma formao composta por

    Criao de Animais (45,45%) e Atividades Agrcolas (54,55%).

    Quanto ao consumo de animais, temos um relativo consumo de pequenos animais

    (ovinos, caprinos e aves), significando uma dieta relativamente regular. No caso dos caprinos,

    esta frequncia maior, e ocorre geralmente em perodo de inverno, onde os animais esto

    mais gordos e so sacrificados, sendo consumida uma parte, armazenada outra e a parte

    restante vendida.

    No assentamento Sussuarana a renda consumo tem uma formao composta somente

    por criao de animais, em razo as irregularidades da chuva, prejudicando o plantio, e que

    apresentam a seguinte pauta na prtica do autoconsumo.

    A formao da renda consumo no assentamento Independncia composta por

    Criao de Animais (45,45%) eAtividades Agrcolas (54,55%).

    Compreendemos que a realizao de uma reforma agrria efetiva, passe

    necessariamente pelo fortalecimento, incentivo, bem como pela dotao aos assentados de

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    513

    meios e ferramentas para prtica do autoconsumo, alm do mais bvio, demonstrar ao

    assentado que isto geraria a ele uma melhor qualidade de vida.

    4.1.4 Renda de outros trabalhos

    Considerando que a maioria dos agricultores trabalham no assentamento em

    agricultura de subsistncia, dada as condies das irregularidades pluviais que no permitiram

    um bom aproveitamento na produo, estes no conseguiram obter renda suficiente para

    sobrevivncia da famlia, sendo necessario procurar uma outra fonte de renda alm das

    atividades agropecurias.

    O volume de renda gerada nos assentamentos carece de observaes particulares, tanto

    de sua forma de integrao, quanto de sua insero ao mercado laboral, de cunho urbano

    como demonstram a tabela n 5.

    Tabela 5: Composio da renda outros trabalhos nos assentamentos no ano de 2011(elaborao dos

    autores).

    Assentamento Renda

    Outros Trabalhos em Salrios mnimos*

    Mdia Mensal

    por Assentado

    estimada**

    % da

    Renda

    Total R$ S.M.

    Paulo Freire 96,00 4.756,36 0,73 39,51%

    Sussuarana 30,00 8.175,00 1,25 57,58%

    Independncia 24,00 1.868,57 0,29 17,33% Obs:* Valor nominal do Salrio Mnimo = RS 545,00.

    ** Mdia Mensal por Assentados = (Renda Outros trabalhos total/N de assentados )/12 meses

    A composio da renda deste tipo de atividade, tambm conhecida como renda no

    agrcola, fundamentalmente a um distanciamento das atividades produtivas voltadas aos

    produtos agrcolas e animal, gerando muitas vezes uma situao em que o assentado passa

    mais tempo fora do assentamento do que efetivamente nas reas de produo, em razo de em

    determinadas pocas do ano, dada a dificuldade em produzir o seu sustento. Incluem-se aqui

    os salrios obtidos como remunerao por empregos temporrios ou permanentes dos

    membros da famlia.

    Este tipo de renda se compe basicamente em trs categorias de trabalho, a) Diaristas

    e/ou autnomos, que so os trabalhos executados fundamentalmente em reas prximas aos

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    514

    assentamentos, de cunho agrcola ou que executam trabalhos com certa frequncia em

    atividades voltadas para a prestao de servios, alm dos que exercem atividades no setor

    informal; b) contrato temporrio, composta de pessoas que trabalham para as chamadas

    empresas prestadoras de servios e; c) trabalho permanente, que agrega os funcionrios

    pblicos, comercirios, ou empregados de setores industriais.

    A configurao da renda de outros trabalhos nos mostram que mesmo tendo

    praticamente consolidado o assentamento Paulo Freire, o mesmo ainda no foi capaz de criar

    uma base produtiva, voltada especificamente para as chamadas rendas agrcolas, o que

    pressupe uma srie de interferncias do meio urbano/programas de transferncia de renda, no

    processo produtivo dos assentamentos que leva, em suma, a vulnerabilidade extrema quanto a

    papel da terra como fator de produo.

    A gerao de renda oriunda de outros trabalhos no assentamento Independncia

    solidifica a contextualizao do novo rural e da consequente simbiose entre o rural e urbano,

    ficando cada vez mais difcil quantificar, determinar ou mesmo abstrair o que gerado ou

    produzido de atividades agropecurias.A facilidade de acesso para a sede municpio Mossor,

    contribui bastante para o deslocamento desses assentados em busca de empregos no meio

    urbano.

    A realidade do assentamento Sussuarana evidentemente aterradora, especialmente

    quando verificamos a desmobilizao produtiva (agrcola e animal), inclusive com a

    prerrogativa das condies de infraestrutura que desmotivam qualquer tipo de ao por parte

    dos assentados. Assim como os demais assentamentos, o assentamento Sussuarana passa por

    um processo de descaracterizao produtiva (agrcola e animal), o que leva a uma

    consequente dependncia de outros tipos de renda para garantir a sobrevivncia do assentado,

    nesse caso, voltados para o emprego formal, em especial, em atividades no agrcolas.

    A distribuio das ocupaes dos assentados centra-se especificamente em setores

    distintos da atividade agrcola. Tais resultados nos leva a expressar, na realidade, o

    descontentamento com as polticas pblicas, em especial as agrcolas, de forma eu

    praticamente obriga os assentados a incorporem em atividades que proporcionem algum

    tipo de rendimento.

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    515

    4.1.5 Renda de outras receitas

    A formao de rendas outras receitas so derivadas das vendas ocasionais de produtos

    noagrcolas, como por exemplo, madeira, carvo, extrativismo pequeno comrcio,

    artesanato.

    Conforme tabela n 6, apenas o assentamento Independncia realiza algum tipo de

    atividade que gera um tipo de renda.

    Tabela 6: Composio da renda outras receitas nos assentamentos no ano de 2011 (elaborao dos

    autores).

    Assentamento

    Renda

    Outras Receitas

    em Salrios mnimos*

    Mdia Mensal

    por Assentado estimada**

    % da

    Renda

    Total R$ S.M.

    Paulo Freire 0,0 - 0,00 0,0%

    Sussuarana 0,0 - 0,00 0,0%

    Independncia 7,05 548,54 0,08 5,09% Obs:* Valor nominal do Salrio Mnimo = RS 545,00.

    ** Mdia Mensal por Assentados = (Renda Outras receitas total/N de assentados )/12 meses.

    A atividade realizada nesta categoria foi extrao de pedra de calcrio, utilizada

    tambm como fonte de renda alternativa para subsistncia. Mostrando a vulnerabilidade dos

    assentamentos no que diz respeito utilizao dos recursos naturais.

    4.1.6 Renda previdenciria

    O processo de formao da Renda Previdenciria oriundo de aposentadorias/penses

    e ou auxlios auferidos pelos membros da famlia e se constitui no mais importante tipo de

    renda para os assentamentos pesquisados.

    Tabela 7: Composio da renda previdenciria nos assentamentos no ano de 2011(elaborao dos

    autores).

    Assentamento Renda

    Previdenciria total em Salrios mnimos*

    Mdia Mensal

    por Assentado

    estimada**

    % da

    Renda

    Total R$

    Salrio

    Mnimo

    Paulo Freire 96,00 4.756,36 0,73 39,51%

    Sussuarana 18,00 4.905,00 0,75 34,55%

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    Independncia 72,00 5.605,71 0,15 9,12% Obs:* Valor nominal do Salrio Mnimo = RS 545,00.

    ** Mdia Mensal por Assentados = (Renda Previdenciria total/N de assentados )/12 meses

    Conforme podemos ver acima, a aposentadoria serve como sustentculo familiar,

    principalmente como forma de diminuio da pobreza.A resposta a esta questo, afirmativa

    entre 90% dos entrevistados que a aposentadoria os motiva a permanecer na rea rural, deixa

    claro que o benefcio um fator fundamental para a permanncia de muitas famlias no meio

    rural, pois se constitui em poltica efetiva que garante renda mnima ao aposentado e sua

    famlia, impedindo o aumento do xodo rural. A garantia de renda mnima fundamental no

    meio rural, j que gera estabilidade, condio que a atividadeagrcola no proporciona devido

    s oscilaes climticas, pragas, crises econmicas, etc.

    A idade um dos requisitos utilizados para a concesso da aposentadoria ao

    trabalhador do campo, sendo 55 anos para as mulheres e 60 anos para os homens. Apesar do

    baixo valor da aposentadoria, esta poltica se apresenta como fator essencial para a

    permanncia do agricultor no campo.

    Os dados da tabela acima demonstram o peso das trs ltimas faixas etrias na

    formao da renda. A anlise procedente de tais dados demonstra o envelhecimento dos

    assentamentos, sem que haja necessariamente uma reposio da fora de trabalho a executar

    atividades agropecurias, estejam estas atividades ligadas a renda agrcolas ou no agrcolas,

    Tabela 8: Concentrao de renda por faixa etrianos assentamentos em 2011 (elaborao dos

    autores).

    Assentament

    os Paulo Freire Sussuarana Independncia Total

    Faixa Renda Renda Renda Renda Renda Renda Renda Renda

    Etria Total % Total % Total % Total %

    18-25 0,00 0,00%

    0,00% 19,34 13,96% 19,34 4,65%

    26-35 21,94 9,03% 0,00 0,00% 0,00 0,00% 21,94 3,01%

    36-45 5,79 2,38% 0,00 0,00% 0,00 0,00% 5,79 0,8%

    46-55 121,23 49,90% 0,00 0,00% 12,00 8,66% 133,23 19,52%

    56-65 36,55 15,04% 20,39 39,12% 32,77 23,66% 89,71 25,94%

    Acima de 65 57,45 23,65% 31,72 60,88% 74,41 53,72% 163,58 46,08%

    Total 242,96 100,0% 52,11 100,0% 138,52 100,00% 433,59 100,0%

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    517

    dentro do assentamento, levando em conta que muitos dos filhos de assentados buscam a vida

    na cidade ou migram para outros lugares, a procura de alternativas de renda, no

    possibilitando ao assentado de utilizar a chamada mo de obra familiar, to usualmente

    conhecida.

    A renda gerada a partir do processo de formao das rendas previdencirias, engloba

    quase toda a renda gerada dentro dos assentamentos, e por muitas vezes torna-se a nica renda

    a qual dispem os assentados, refletindo muitas vezes, na improdutividade das demais rendas.

    Do total dos assentados entrevistados 57,89% receberam algum tipo de renda previdenciria.

    Deste montante que recebeu algum tipo de renda previdenciria, 60% receberam uma renda e

    40% receberam duas rendas.

    A maioria das rendas geradas era de origem da aposentadoria rural (50%). Se

    verificarmos os dados da tabela acima, veremos que quase na totalidade percebe-se um valor

    prximo de um salrio mnimo por famlia.

    No Assentamento Paulo Freire comprova-se a elevada dependncia dos recursos da

    previdncia social (aposentadorias/auxlios/penses), advindas praticamente de

    aposentadorias rurais, com uma pequena exceo, um pequeno percentual de aposentadorias

    urbanas.

    O papel destas rendas no assentamento Sussuarana minimiza as vulnerabilidades

    econmicas para compensar a falta de formao de rendas agrcolas, j que a pouca produo

    existente se vincula ao consumo.

    Em razo do estado precrio do estabelecimento, a renda previdenciria representa

    praticamente o nico suporte dentro do assentamento. As maiores rendas do assentamento so

    formadas basicamente por pessoas que recebem aposentadorias e quando somados os

    benefcios/doaes e rendas de outros trabalhos, estes percentuais beiram quase a sua

    totalidade. O tipo de aposentadoria baseia-se praticamente em penso por invalidez, conforme

    o tamanho da amostra (20%).

    No processo de formao da renda previdenciria no assentamento Independncia,

    percebe-se um nmero elevado de aposentados, o que elevou em grande medida o valor total

    da renda auferida no assentamento.

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    518

    4.1.7 Renda de programas sociais e/ou doaes

    O processo de formao da renda procedente da transferncia monetria tem em sua

    concepo o objetivo de redistribuio efetiva, para permitir a reduo das desigualdades

    sociais do pas. Este processo de redistribuio, no combate o problema da pobreza em seu

    mago, apenas de forma pontual grupos de pobres, considerados excludos, que mesmo

    representando uma pequena parte da Renda Total, elas amenizaram a vulnerabilidade de

    algumas famlias no tocante a segurana alimentar. Muito embora, no conseguem garantir

    sustentabilidade e melhor qualidade de vida a longo prazo, tornando um certo tipo de

    dependncia destas polticas reducionistas.

    Tabela 9: Composio da renda programas sociais e/ou doaes nos assentamentos no ano de 2008.

    Assentamento Renda

    Benefcios total em Salrios mnimos*

    Mdia Mensal

    por Assentado

    estimada**

    % da

    Renda

    Total R$ S.M.

    Paulo Freire 11,93 591,27 0,09 4,91%

    Sussuarana 0,00 0,00 0,00 0,00%

    Independncia 12,64 984,00 0,15 9,12% Obs:* Valor nominal do Salrio Mnimo = RS 415,00.

    ** Mdia Mensal por Assentados = (Programas Sociais e/ou Doaes total/N de assentados )/12 meses.

    Baseando-se na tabela acima, verifica-se que a formao de renda programas sociais

    e/ou doaes nos assentamentos, mesmo acontecendo um volume de menor proporo, ainda

    est presente nos assentamentos.

    No tocante Composio da renda programas sociais e/ou doaes nos assentamentos

    pesquisados, todas foram de carter particular (familiares), como forma de complementao

    da renda e garantia do mnimo em termos de segurana alimentar na famlia. possvel que

    existam famlias que so contempladas com mais de um benefcio, porm at o momento da

    pesquisa, no foi identificado nenhum programa social diferente do Bolsa Famlia, que tem

    seus condicionantes em relao ao nmero de filhos em idade escolar.

    Por fim, as rendas apresentadas configuram uma exacerbao da vulnerabilidade a

    qual esto expostas as reas de assentamento, visualizando-se a necessidade de aprimorar as

    polticas de reforma agrria que contemplem a segurana alimentar, e primordialmente o

    fortalecimento da agricultura familiar.

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    519

    5 CONSIDERAES FINAIS

    A intensificao da luta pela terra ocorrida no Brasil nas ltimas dcadas contribuiu

    para o surgimento dos Assentamentos Rurais, est diretamente relacionado com a questo

    agrria brasileira, marcada pela estrutura fundiria concentrada e intervenes polticas que

    acentuaram as desigualdades sociais, pautada num desenvolvimento econmico voltado para a

    agroindstria em detrimento de aes que privilegiam a Reforma Agrria.

    A garantia de sucesso dos assentamentos no determinada apenas pelo acesso a terra.

    Para que seja possvel, necessrio desenvolver polticas no apenas de aspecto produtivo,

    mas tambm sociais, com acesso a infraestrutura produtiva e social. Torna-se fundamental que

    sejam estabelecidas polticas que diminuam os ndices de analfabetismo, que melhorem as

    condies de sade, acesso ao laser, maiores cuidados ambientais (no que se diz respeito ao

    cultivo da terra) que contemple o meio ambiente e o entorno das reas de assentamentos, bem

    como, de uma assistncia tcnica (item indispensvel para o sucesso produtivo destes) que

    tenha como objetivo no apenas a melhora da capacidade produtiva, mas tambm a incluso

    de novas tecnologias, que estejam ao alcance das famlias assentadas e que possam gerar

    renda.

    Os assentamentos devem ser encarados como elementos prticos de fixar o trabalhador

    no campo, contribuindo para sua autossustentao juntamente com sua famlia, mas o que a

    realidade agrcola mostra, na maioria das vezes, que os assentamentos no esto sendo

    capazes de produzir nem o suficiente para o autoconsumo, principalmente devido

    predominncia da tradicional prtica de uma agricultura de sequeiro e, como sabido, no

    municpio de Mossor, assim como em alguns estados do Nordeste, ocorre com frequncia

    perodos de escassez de chuvas e secas, que dificultam o sucesso num tipo de agricultura que

    no tenha a prtica da tcnica da cultura de irrigao.

    Dessa forma, inclui-se dentre as polticas que se qualificam como necessrias, uma

    poltica que leve em conta o no perodo da estiagem, para que assim sejam desenvolvidos

    programas que incorporem a mo de obra das reas de assentamento, para garantir uma renda

    que possibilite aos mesmos um pouco de recursos para investimento em insumos e

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    520

    equipamentos a serem aplicados no perodo de chuvas, considerando as condies de

    desenvolvimento nas reas de semirido.

    Ademais, cremos que a falta de conhecimento o principal entrave do

    desenvolvimento das reas de assentamento, no basta ser pobre ou sem-terra, necessrio ter

    tambm conhecimento, vontade e experincia. contundente que a tomada de decises sobre

    O desenvolvimento de estratgias de organizao produtiva/comercializao/gesto e

    efetivamente o xito de uma possvel emancipao nos assentamentos ser uma consequncia

    da incorporao de inovaes, ou propriamente, de como se fomentar localmente as

    estratgias e aes.

    Entretanto, quando abordamos a questo da reforma agrria, passa a ser preocupante,

    pois estas pequenas falhas aprofundam as vulnerabilidades dos assentamentos, dificultando

    uma possvel emancipao dos mesmos. A infraestrutura apesar de no ser totalmente

    determinante no processo de funcionamentos dos assentamentos, mas somando-se s

    dificuldades de estabelecimento na terra e quelas mais gerais enfrentadas pela agricultura

    familiar, tem efeitos graves sobre a vida dos assentados e sobre a produo, principalmente

    em relao ao assentamento Sussuarana que entre os trs pesquisados, foi o que apresentou

    maior precariedade no dispondo ao menos de gua encanada.

    No caso dos assentamentos pesquisados, verificou-se uma pequena participao do

    crdito agrcola, no caso especifico do PRONAF. Onde a obteno deste tipo de

    financiamento deveria ser destinada para investimentos ou custeio, porm, no caso de nossa

    pesquisa, foi constatado que parte dos recursos no so devidamente aplicadas na atividade e

    que so destinados para compra de bens de consumo durveis e semidurveis (geladeira,

    motos, foges, etc.). O que mais uma vez comprova a falta de uma conscincia produtiva e de

    doao completa por parte dos assentados, que os leva ao desvio de finalidade destes recursos,

    direcionando-os a outros fins que no atividade produtiva. Entretanto alguns relatos destes

    trabalhadores informam que o desvio acontece, em razo de experincias frustradas, dado que

    em outros casos, investiram e no tiveram o retorno esperado.

    Fica ainda comprovada a dependncia de um elevado nmero de famlias que obtinha

    recursos de rendas no agrcolas, em geral, provenientes de transferncias governamentais

    (rendas previdencirias e benefcios sociais). Sendo esta renda, principalmente a renda

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    521

    previdenciria, a nica fonte de renda de algumas famlias, em razo das inmeras

    dificuldades encontradas existentes no quesito de conseguir sobreviver somente das rendas

    agrcola, permitindo aos assentados a manuteno das famlias durante os perodos de

    frustrao de safra.

    Isto significa dizer que os assentamentos, de certa forma no se mostram ainda

    capazes de criar uma base produtiva, voltada especificamente para as chamadas rendas

    agrcolas, o que pressupe uma srie de interferncias do meio urbano e programas de

    transferncia de renda, no processo produtivo dos assentamentos que leva, em suma, a

    vulnerabilidade extrema quanto a papel da terra como fator de produo.

    interessante notar que mesmo diante todas as dificuldades existentes e descritas

    anteriormente, a maioria dos assentados se sentem felizes em morar e trabalhar no seu to

    almejado pedao de terra, donos de seu prprio terreno, e principalmente pela moradia.

    O acesso a terra permitiu s famlias entrevistadas, segundo relatos dos mesmos, os

    assentamentos proporcionaram uma melhoria das condies de vida, especialmente quando se

    considera a situao de pobreza e excluso social que caracterizava muitas destas famlias

    antes do seu ingresso nos projetos de assentamento.

    Nesse sentido, entende-se que a poltica agrria levada a efeito pelo governo brasileiro

    no atende s aspiraes da classe trabalhadora e representa de fato uma transformao na

    estrutura econmica do pas, ou seja, existe uma incompatibilidade entre as exigncias para

    insero e real situao dos usurios, cuja soluo o Estado no tem empreendido esforo

    necessrio, fazendo com que os inmeros obstculos relativos s limitaes dos prprios

    organismos de apoio, resultem principalmente em concesso de crdito inadequado e na

    prestao de assistncia tcnica insatisfatria.

    REFERNCIAS

    ALBUQUERQUE NETO, L. C. Composio de renda nas reas de assentamentos do

    INCRA no Estado do Rio Grande do Norte, no municpio de Mossor: um caminho ao

    desenvolvimento includente e sustentvel? Trabalho de Concluso de Curso (doutorado)

    Faculdade de Geografia e Histria - Universidade de Salamanca, Espanha, 2011.

    COSTA, M. J. Uma leitura geogrfica da Reforma Agrria potiguar. Universidade

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    FERNANDES, M. J. C. Dinmica scio econmica da reforma agrria e dos

    assentamentos rurais no territrio potiguar.XIX Encontro Nacional de Geografia Agrria,

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    terra no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro 2010.

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    LIMA, S. F.Impactos territoriais da criao de assentamentos rurais- o caso dos PAs Timb e

    Mata Verde Esprito Santo/RN. Joo Pessoa PB. 2010

    MDA - Ministrio do desenvolvimento agrrio- II Plano Nacional de Reforma Agrria:

    Paz, Produo e qualidade de vida no meio rural. 2004 - disponvel em:

    acesso em 25.01.2012.

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    524

    CAPITAL SOCIAL: ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAO DE

    PRODUTORES DE PEIXE EM TANQUE REDE DO MUNICPIO DE

    QUIXEL CE

    Dgina Cristina Nascimento5

    Denio Igor Silva de Pontes6

    RESUMO: Para alm do aspecto fundamental da subsistncia humana a pesca uma atividade econmica importante, geradora de outras atividades no s em gua, mas em terra. A piscicultura

    surge como alternativa economicamente vivel para a populao ribeirinha, que anteriormente tinha na

    pesca artesanal meio de subsistncia, ainda que precria. Atrelado a essa importncia da atividade

    necessrio conhecer o perfil do produtor dentro do contexto de associao, buscando conhecer o

    capital social. Assim dessa percepo pode-se agregar a dimenso local do desenvolvimento o

    conceito de capital social. Desse modo, faz-se necessrio apresentar os principais conceitos existentes,

    identificando ao mesmo tempo sua contribuio construo do mesmo. Cabe destacar que alm da

    indicao e abordagem dos elementos constitutivos do capital social, realizou-se uma abordagem

    relacional com a ideia de desenvolvimento. A nfase, nesse caso, esteve direcionada para as

    evidencias empricas da contribuio do capital social no processo de desenvolvimento. Logo, o

    objetivo deste estudo foi avaliar o capital social dos piscicultores do municpio de Quixel CE. O

    presente trabalho uma pesquisa descritiva analtica e foi realizada uma entrevista com os produtores,

    onde foi traado o perfil socioeconmico, alm da identificao do ndice de Capital Social (ICS)

    metodologia utilizada por DAMASCENO. Verificou-se alto nvel de capital social evidenciando a

    confiana em si e nos representantes locais. A produo de peixe em tanque rede, quando alinhada a

    dimenses de sustentabilidade pode modificar as concepes e o convvio no meio rural.

    Palavras-chave: Associao; Piscicultura; Brasil.

    ABSTRACT: Besides the fundamental aspect of human subsistence fishing is an important economic activity, generating other activities not only in water, but on land. Fish farming emerges as

    economically viable alternative to the local population, which previously had in artisanal fisheries

    livelihoods, however precarious. Coupled to this important activity is necessary to know the profile of

    the producer within the context of association, seeking to know the capital. So this perception can be

    5 Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: [email protected]. Tel: (88) 9656-5360 6 Professor do curso de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA) - Campus Iguatu; Mestre em

    Economia do Setor Pblico pela Universidade Federal do Cear (UFC), Mestre em Logstica e Estratgia pela

    Universidade Aix-Marseille e Doutorando em Cincia de Gesto pela Universidade Aix-Marseille. E-mail:

    [email protected]. Tel: (85)9970-8985

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    added to the local dimension of development the concept of social capital. Thus, it is necessary to

    present the main existing concepts, while identifying their contribution to the construction of the same.

    It is worth mentioning that besides the indication and approach to the constituent elements of social

    capital, held a relational approach to the idea of development. The emphasis in this case was directed

    to the empirical evidence of the contribution of social capital in the development process. Therefore,

    the aim of this study was to evaluate the social capital of the fish farmers of the municipality of

    Quixel - EC. This study is a descriptive analytical research and an interview with the producers,

    which was traced the socioeconomic profile was performed in addition to the identification of the

    Social Capital Index (ICS) methodology used by DAMASCENO. There was high level of social

    capital showing confidence in themselves and in local representatives. The production of fish in tank

    network, lined when the dimensions of sustainability can modify the conceptions and socializing in

    rural areas.

    Keywords: Association; Fish farming; Brazil.

    1. INTRODUO

    A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio (PNAD, 2010) indica que h no

    Brasil cerca de 60.071.024 milhes de pessoas sem rendimentos nominais mensais. Enquanto

    5.049.380 milhes de pessoas vivem com at 1/4 do salrio mnimo, o que equivalem a R$

    181,00/ms, ainda segundo dados da mesma pesquisa, os processos de gerao de emprego e

    renda so importantes instrumentos de incluso social que poderiam reverter esse quadro.

    A terceira revoluo industrial, em vigor, implacvel na medida em que aumenta

    espetacularmente a produtividade quase na mesma proporo em que dispensa mo-de-obra.

    Para Paul Singer (1999), o avano tecnolgico deveria, ao contrrio, beneficiar o trabalhador,

    liberando-o para o trabalho criativo e para o cio. Esta constatao tambm defendida pelo

    socilogo De Mais (2000) quando defende a tese do cio criativo.

    Para agravar a situao, muitos pases desenvolvidos fazem uso de polticas de

    subsdios incentivando a exportao ou simplesmente impedindo a importao; e de barreiras

    comerciais revelando incoerncia da prtica para o discurso liberal. Esse conjunto de polticas

    associadas vem produzindo profundas desigualdades na distribuio da riqueza no mundo. O

    Relatrio da Conferncia das Naes Unidas para o Comrcio e o Desenvolvimento (Unctad,

    2003) mostra que, nos ltimos 30 anos, o nmero de pessoas que vivem com menos de US$

    1,00 por dia duplicou nos pases menos desenvolvidos. Em algumas regies, principalmente

    na frica, parte da populao j tem um consumo dirio de 57 centavos de dlares, enquanto

    um cidado suo gasta por dia US$ 61,9.

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    O municpio de Quixel localizado no Estado do Cear, nordeste do Brasil, um

    exemplo de como a prtica associativista de trabalhadores rurais, em meio a um cenrio de

    excluso social, desenvolvem alternativas de enfrentamento das desigualdades e da

    marginalizao produzida pelo sistema social e econmico vigente.

    Desta forma, os trabalhadores organizados como produtores locais associados se

    reintegrarem diviso social do trabalho, podendo assim competir com empresas capitalistas.

    Os empreendimentos populares so assim chamados, por serem constitudos por pessoas das

    camadas mais pobres da sociedade, em geral possuidores de baixo estoque de capital, e por

    nascerem da iniciativa prpria da comunidade ou pela participao em programas de polticas

    pblicas.

    Dentro desse contexto, a piscicultura apresenta-se como uma atividade econmica

    capaz de absolver quantidade significativa de mo-de-obra na zona rural, criando assim, uma

    alternativa para a gerao de renda, alm de possibilitar uma dieta rica em protena animal.

    Assim, tendo em vista o potencial hdrico da regio, a piscicultura coloca-se como uma

    alternativa economicamente vivel para a populao ribeirinha.

    O Brasil possui um elevado potencial para a produo do pescado, atravs do

    aproveitamento dos audes pblicos, inclusive no Nordeste do pas, entretanto, essa

    capacidade pouco explorada. Acrescenta-se a esse potencial o fato de que o consumo

    brasileiro abaixo do mnimo recomendado pela Organizao das Naes Unidas para

    Alimentao e Agricultura (FAO). Desta forma, a produo em grande escala poder ser

    capaz de gerar benefcios tanto do ponto de vista econmico, como no tocante a segurana

    alimentar.

    Com isso, a aquicultura apresenta-se como alternativa exequvel de combate a

    carncia alimentar e uso racional e eficiente dos reservatrios de gua doce e salgada. Aos

    governos municipais e estaduais, assim como as organizaes da sociedade civil, caberia o

    papel de desenharem polticas voltadas para o setor. Polticas no de cunho paternalistas, mais

    fundamentadas no conceito de empreendimentos sociais, que visem manuteno e a

    permanncia do produtor no meio rural, sem comprometer os recursos naturais.

    Diante do exposto, o objetivo do artigo demonstrar a contribuio do capital social

    para ativar os processos produtivos de base local. Almeja-se tambm, ir mais alm, quando

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    ensejamos investigar o aspecto integral do sistema produtivo, abarcando-o em sua amplitude,

    onde o econmico interrelaciona-se com o social, o cultural e o poltico.

    2. Capital social e desenvolvimento

    Uma das questes mais intrigantes no estudo do desenvolvimento econmico das

    naes ou das regies aquela do porqu a histria facilita certas trajetrias e obstrui outras.

    Ainda a mesma questo, mas por um ngulo diferente, por que umas regies crescem e se

    desenvolvem e outras no? Embora muito difcil de medir, possvel afirmar que o capital

    social esteve por trs dos sucessos de crescimento e de desenvolvimento de muitas regies,

    assim como a sua ausncia esteve por trs de muitos fracassos. Nos debates recentes sobre o

    crescimento da economia cearense pouca ateno tem sido dada ao papel do capital social,

    enquanto coprotagonista desse crescimento.

    Capital social, fator intangvel por natureza, o acumulo de compromissos sociais

    construdos pelas interaes sociais em uma determinada localidade. Esse tipo de capital se

    manifesta atravs da confiana, normas e cadeias de relaes sociais e, ao contrrio do capital

    fsico convencional, que privado, ele um bem pblico.

    Para Robert Putnam (1996) algumas caractersticas de organizao social como

    confiana, normas e sistemas contribuem para aumentar a eficincia da sociedade e facilitar as

    aes coordenadas, alm disso a formao e crescimento de associaes introduzem hbitos e

    alimentam o esprito de cooperao e de solidariedade na sociedade, gerando condies

    propcias para o desenvolvimento local. A condio para isso que as organizaes e

    associaes tenham um formato horizontal, e no vertical, a exemplo da Mfia italiana.

    Entende-se por formato horizontal aquelas organizaes que do origem s cooperativas,

    clubes, sociedades de assistncia mtua, associaes culturais, sindicatos, enfim, organizaes

    desprovidas de hierarquia e regras rgidas. A vantagem das organizaes horizontais, em

    relao s verticais, que as primeiras criam redes de solidariedade e desenvolvem relaes

    generalizadas de reciprocidade, facilitando a cooperao espontnea e criando antdotos

    contra o clientelismo e o oportunismo, geradores de uma reciprocidade limitada e

    assimtrica.

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    O principal aspecto do capital social a confiana, construda socialmente atravs de

    interaes contnuas entre os indivduos. Segundo o Putnam (1996), os sistemas de

    participao cvica so a forma essencial de capital social, e quanto mais desenvolvidos forem

    esses sistemas numa comunidade, maior ser a probabilidade de que seus cidados sejam

    capazes de cooperar em benefcio coletivo. Por que ento os sistemas participativos exercem

    esse efeito virtuoso? Por quatro razes, segundo Putnam: (1) porque eles aumentam os custos

    potenciais para o transgressor, ou seja, o oportunista; (2) eles promovem slidas regras de

    reciprocidade; (3) eles facilitam a comunicao e melhoram o fluxo de informaes sobre a

    confiabilidade dos indivduos e (4) eles corporificam o xito em colaboraes anteriores,

    criando assim um modelo culturalmente definido para futuras colaboraes.

    Putnam, em seus longos anos de pesquisa sobre as regies italianas, constatou que as

    regies que apresentavam maior nmero e densidade de sistemas de participaes

    horizontais eram aquelas regies mais desenvolvidas da Itlia. Alm disso, o referido

    pesquisador constatou tambm que, ao contrrio de algumas teses, nas regies onde a

    sociedade civil apresentava maior grau de organizao eram exatamente aquelas regies que

    apresentavam governos fortes, democrticos, transparentes e organizados. Ou seja, sociedade

    forte-estado forte, pautado pela governana. Em outras palavras, isto quer dizer que a

    organizao da sociedade civil no concorre com o funcionamento normal do governo, pelo

    contrrio, ela passa a fazer parte desse funcionamento. Ademais, a construo da confiana,

    que resulta na cooperao e na eficincia coletivas, no implica na extino da competio

    entre os indivduos e os grupos sociais. Alis, a razo do sucesso dos renomados distritos

    industriais italianos, da regio de Emilia-Romagna, est fundada no binmio cooperao-

    competio entre os indivduos e as empresas. Ou seja, nem o homem puro e solitrio de

    Rousseau nem o homem selvagem e soberano de Hobbes.

    certo que as reformas estruturais ocorridas em nvel do Governo Estadual no Cear

    e as polticas pblicas que da nasceram, proporcionaram economia local um novo regime

    de crescimento econmico, dinmico ao ponto de produzir, nos anos recentes, taxas de

    crescimento do produto acima das taxas correspondentes ao do Nordeste e ao do Brasil.

    Apesar dessa correlao, muito aceita entre ns, legtimo considerar que o papel do capital

    social local foi de grande importncia na coordenao das aes coletivas e das decises dos

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    529

    agentes, no monitoramento das aes pblicas e consequentemente na sustentabilidade desse

    crescimento.

    3. Metodologia

    Este estudo foi realizado com base em dados primrios oriundos de entrevista

    semiestruturadas para levantamento de informaes qualitativas e quantitativas. A pesquisa

    teve uma amostra de 43 piscicultores, residentes em reas rurais do municpio de Quixel e

    que desenvolvem a atividade no aude pblico Juscelino Kubitschek.

    A rea de estudo se restringe ao municpio de Quixel que tem suas origens ligadas

    aos ndios Quixels, os quais resistirem colonizao branca do sculo XVII e se mantiveram

    na regio mesmo em perodos de grandes secas. No ano de 1985 o municpio passou

    categoria de cidade, at ento, distrito de Iguatu.

    Com uma populao de aproximadamente 15.500 habitantes. Destes, 4.929 pessoas

    residem na zona urbana e 10.071 pessoas esto na zona rural. Segundo dados do Instituto

    de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear (IPECE), em 2010 o PIB foi de R$ 66.707.000

    e renda per capita de 4.447.

    3.1 Materiais e Mtodos

    A anlise descritiva analtica foi utilizada no estudo para identificar e interpretar os

    dados referentes elevao na renda e/ou queda no desemprego a partir da produo de peixe

    em tanque rede no municpio de Quixel. Por meio dos dados coletados, possvel conhecer

    as principais caractersticas pessoais, socioeconmicas e culturais, tais como o sexo, idade,

    escolaridade, tempo que desenvolve a atividade, nvel organizacional e principais fontes de

    renda. Para determinarmos o ndice de Capital Social (ICS) utilizamos a metodologia de

    DAMASCENO (2009).

    O ndice de capital social foi elaborado a partir de variveis que expressam as

    relaes interpessoais dos piscicultores pesquisados. A acumulao de capital social

    intangvel foi mensurada com base no ndice de Capital Social, resultante da agregao dos

    seguintes indicadores: interesse dos dirigentes pelo bem-estar da comunidade; nvel de

    influncia dos produtores na comunidade; existncia de comunicao e convite para

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    participao em reunies/assembleias; frequncia dos produtores s reunies; participao dos

    produtores na escolha de lderes; satisfao dos produtores com relao ao processo de

    escolha dos lderes; aprovao das decises e apresentao de sugestes nas

    reunies/assembleias; execuo das decises tomadas; prestao de contas; participao com

    cota; confiana nos moradores, lderes comunitrios e lderes do poder executivo municipal;

    existncia de ajuda em momentos adversos; e participao na elaborao de eventos sociais.

    Assim, matematicamente, pode-se definir o ICS como:

    A contribuio de cada indicador no ICS do municpio poder ser obtida da seguinte

    maneira:

    (2)

    Em que:

    ICS = ndice de Capital Social;

    Cl = contribuio do indicador l no ndice de Capital Social;

    Eij = escore da i-sima varivel do indicador l obtida pelo j-simo piscicultor

    familiar;

    E max i = escore mximo da i-sima varivel do indicador l; i = 1,...., n (variveis

    que compem o indicador l) j = 1,...., m (piscicultores familiares); l = 1,...., s (indicadores

    que compem o ndice de capital social).

    O ndice de Capital Social pode assumir valores compreendidos de zero a um.

    Conforme Khan e Silva (2002), apud Damasceno (2009), o nvel de acumulao do capital

    social pode ser verificado a partir do seguinte critrio:

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    3.2 Amostra

    Utilizamos na pesquisa dados primrios, portanto, foi necessria a aplicao de

    questionrios com os piscicultores. As informaes cadastrais para a definio da amostra

    foram coletadas junto Secretaria de Agricultura do Municpio de Quixel.

    O banco de dados utilizado continha os beneficirios do seguro defeso para os

    piscicultores. Programa do governo Federal que disponibiliza recursos financeiros para os

    piscicultores em carter assistencial, na modalidade transferncia unilateral.

    De acordo Sampaio (2011), para calcular o tamanho da amostra para populaes

    finitas atravs da amostragem aleatria simples, utiliza-se a frmula a seguir:

    Onde:

    n = tamanho da amostra; Z = abscissa da normal padro; p = estimativa da proporo

    da caracterstica pesquisada no universo; q = 1- p;

    N = tamanho da populao; d = erro amostral.

    Admitindo-se a populao (N = 247)1; um erro de estimao de 10% (d = 0,1);

    abscissa da normal padro Z = 1,64, ao nvel de confiana de 90% e p = q = 0,5 (na hiptese

    de se admitir o maior tamanho da amostra, porquanto no se conhecem as propores

    estudadas), obteve-se um tamanho da amostra (n) igual a 43.

    4. Anlises dos Resultados

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    Com a realizao da coleta de dados foi possvel traar o perfil socioeconmico dos

    piscicultores analisados. Essa compilao de informaes nos permite conhecer as vrias

    nuances que percorrem a vida dos trabalhadores, objeto de estudo dessa pesquisa.

    A Tabela 1 apresenta a distribuio de frequncia dos piscicultores, considerando a

    diviso homem e mulher. Constata-se que a grande maioria dos entrevistados do sexo

    masculino. Sendo, 76,7% do sexo masculino e 23,3% do sexo feminino.

    Tabela 1 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, segundo o

    sexo.

    Sexo N de Beneficirios %

    Masculino 33 76,7

    Feminino 10 23,3

    Total 43 100

    Fonte: Dados da pesquisa.

    A baixa representatividade de piscicultores do sexo feminino pode estar relacionada

    ao fato de que nas localidades rurais estudadas o artesanato ocupa boa parte do gnero, sendo

    inclusive uma atividade tradicional de destaque municipal.

    De Acordo com a Tabela 2, dos 43 entrevistados, 58,1 % encontram-se com idade

    entre 40 a 58 anos, 30,2% tinham entre 26 a 39 anos e apenas 11,7 % tinham entre 16 e 25

    anos. O ponto mdio, ou seja, a idade mdia dos piscicultores de 34,1 anos. Atravs dos

    dados possvel verificar a diminuta presena de jovens no projeto.

    Isso pode estar relacionado com alguns fatores, tais como o fato da atividade exigir

    disponibilidade integral de tempo para o manejo dos tanques redes como, por exemplo,

    a alimentao dos alevinos. Ainda possvel afirmar, que os jovens esto dedicando uma

    maior parcela do tempo para as atividades escolares.

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    Tabela 2 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, por faixa

    etria.

    Idade N de Beneficirios %

    16 a 25 5 11,7

    26 a 39 13 30,2

    40 a 58 25 58,1

    Total 43 100

    Fonte: Dados da pesquisa.

    O estado civil dos piscicultores entrevistados (Tabela 3) ficou distribudo entre

    casados (48,8%), solteiros (11,6%) e outros, que incluem separados e vivos (39,6%). Esses

    resultados esto de acordo com os obtidos por Barreto (2004) apud Nascimento (2007)

    adaptado a piscicultura. Segundo o autor, o alto nmero de pessoas casadas reflete uma

    realidade de vida simples e pacata do interior, onde o sertanejo estabelece forte ligao com o

    lugar e mantm relaes conjugais duradoras.

    Tabela 3 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, segundo o

    estado civil.

    Estado Civil N de Beneficirios %

    Solteiro 5 11,6

    Casado 21 48,8

    Outros 17 39,6

    Total 43 100

    Fonte: Dados da pesquisa.

    De acordo com a Tabela 4, que apresenta os dados relacionados ao tamanho da prole,

    contata-se que 69,8 %, ou seja, 30 piscicultores entrevistados tm at 3 filhos, 20,9% no

    possuem filhos e 9,3 % tem mais 4 ou mais filhos.

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    Tabela 4 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, segundo

    quantidade de filhos.

    Filhos No Beneficirios %

    No 9 20,9

    1 at 3 30 69,8

    4 ou mais 4 9,3

    total 43 100

    Fonte: Dados da pesquisa.

    A escolaridade dos piscicultores (Tabela 5) mostra que 60,5 % possuem apenas o

    ensino fundamental, boa parte incompleto, 30,2 % nunca estudaram e apenas 9,3% possuem o

    ensino mdio completo. importante destacar, que na pesquisa existia a alternativa nvel

    superior, entretanto, nenhum dos piscicultores possuam curso superior. Os produtores em sua

    maioria so semianalfabetos (apenas assinam o nome).

    Tabela 5 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, segundo a

    escolaridade.

    Nvel de Escolaridade N de Beneficirios %

    Fundamental 26 60,5

    Mdio 4 9,3

    Nunca Estudou 13 30,2

    Total 43 100

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Em 2012 o municpio possua 26 unidades escolares distribudas na zona rural. Para

    Silva e Khan (1995) apud NASCIMENTO (2012), ao analisarem a importncia da educao

    para o agricultor rural, concluram que este fator tem influncia positiva para o

    desenvolvimento da atividade, proporcionando aumento expressivo na produo agrcola com

    o aperfeioamento de tcnicas. Concluram, portanto, que h uma correlao direta entre

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    produtividade e maior nvel educacional. Desta forma, o baixo nvel de escolaridade dos

    piscicultores revela um ponto de fragilidade e que deve ser melhor trabalhado.

    Tabela 6 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, segundo

    organizao produtiva.

    Organizao Produtiva N de Beneficirios %

    Associado com mais de 1

    ano

    29 67,4

    Associado com menos de 1

    ano

    14 32,6

    Total 43 100

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Com relao forma de organizao produtiva, destacada na Tabela 6, 67,4%

    participam da Associao de Piscicultores e Artesos do Municpio de Quixel h mais de 1

    (um) ano enquanto 32,6% esto com menos de 1 (um) ano inseridos na associao, ou seja,

    14 piscicultores. Esses entraram recentemente no projeto devido desistncia de outros

    membros, nos quais alegaram mudana de domiclio provocado pelo fenmeno do xodo

    rural.

    Tabela 7 - Distribuio da Frequncia dos Piscicultores entrevistados, segundo

    tempo/anos de atividade.

    Tempo/