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Introduçãoa Sociologia da Religião 1 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

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Introduçãoa Sociologia da Religião

1SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia

INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

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Introduçãoa Sociologia da Religião

PREFÁCIO

A introdução a sociologia da religião é um manancial de conhecimentos, que

veio somar satisfatoriamente para o crescimento dos nossos obreiros.

O Mestre na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Ev. Carlos Roberto Araújo,

esforçou-se exaustivamente por apresentar, em especial aos nossos obreiros, um

trabalho bem elaborado, que vale a pena compulsá-lo.

Companheiros e companheiras, alunos e alunas do nosso Seminário em

Teologia a nível Bacharel, vamos crescer no conhecimento! e juntos faremos da nossa

grande Igreja, uma potência mundial.

Juntos somos

fortes!!

Bispo Cordeiro

2SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO – Sociologia como análise

religiosa......................................................................................7

CAPITULO 1 – Sociologia, definições e

noções.............................................................................................7

CAPITULO 2– Noções gerais sobre

religião...................................................................................................

1

0

CAPITUL 3 – Métodos

sociológicos.................................................................................................................

2

1

CAPITULO 4 – Agrupamentos

sociais..............................................................................................................

2

3

CAPITULO 5– Origens da

sociologia................................................................................................................

2

6

CAPITUL 6 – A sociologia da

religião..............................................................................................................

2

9

CAPITULO 7 – Religião diante da perspectiva dos principais teóricos da

sociologia......................................

3

1

CAPITULO 8 – Religiosidade no Brasil, aspectos

sociológicos.........................................................................

4

8

1.

CONCLUSÃ

O....................................................................................................................................................

5

3

REFERÊNCIA

BIBLIOGRÁFICA........................................................................................................................

5

5

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AVALIAÇÃO

1.................................................................................................................................................

5

7

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INTRODUÇÃO – Sociologia como análise religiosa

Alguém pode com justiça, questionar por que estudar Sociologia em um curso

teológico. Embora a pergunta seja bastante pertinente, basta dar uma rápida olhada no

mundo e questionar como está à situação da chamada vida em sociedade, que de forma

ligeira se entenderá o motivo dopor que se estudar Sociologia na atual conjuntura1.

Segundo um grande sociólogo polonês ZygmuntBauman: “Percorrer com o olhar

a seção de sociologia das bibliotecas revela... consideráveis volumes de informação para

novatos na área queiram eles se tornar sociólogos ou apenas ampliar seu conhecimento

a respeito do mundo em que vivem” (BAUMAN, 2010, p.11). Evidentemente em um

curso superior de teologia, o objetivo não é tornar o calouro em um sociólogo, mas o

item dois da fala de Bauman é o que interessa e muito a um aspirante ao conhecimento

teológico: conhecimento a respeito do mundo em que vive. Eis o grande motivo do por

que estudar Sociologia em um curso teológico. Mas, como a Sociologia pode ajudar?

Através de sua análise das religiões.

A religião como fenômeno humano, isso será estudado mais afundo em capítulos

à frente, possui diversas características e percorre áreas diferentes do viver humano.

Uma dessas áreas é a vida em sociedade. Quando se procura compreender a

religiosidade humana, não se pode deixar de lado a existência dessa religiosidade e

como ela acontece no meio social. Porque alguém se comporta da forma que se

comporta enquanto religioso em determinada sociedade? Esse tipo de questionamento

só poderá ser respondido buscando o método correto dentre muitos métodos para análise

e esses, foram desenvolvidos por pensadores da disciplina Sociologia.

Portanto, o mais importante para o teólogo aqui, é desenvolver senso crítico

através do estudo da história, dos principais conceitos e métodos e dos pensamentos

sociológicos dos principais pensadores que a sociologia fez surgir ao longo de quase

dois séculos de existência como ciência.

CAPITULO 1 – Sociologia, definições e noções

1Combinação ou concorrência de acontecimentos ou eventos num dado momento; circunstância, situação.5

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A sociologia, como se verá adiante, é uma ciência, mas também é um conceito e

como tal, não é nada fácil de ser definido. Isso porque a expressão conceito deriva do

latim: concēptus,us 'ação de conter, pensamento etc, e é sabido que conter todo o

pensamento em uma única definição não é algo simples de se fazer. Dessa maneira, o

presente capítulo trará uma variedade de definições para que a partir das mesmas, uma

síntese mais geral seja expressa do conceito e da disciplina aqui estudada.

Em seu trabalho: “Sociologia e antropologia da religião”, Rogério de Moraes

Silva diz o seguinte:

...poderíamos dizer que a Sociologia é a parte da ciência social que

estuda o social como um todo, à medida que resulta de outros

fenômenos ou fatores sociais. Fenômeno decorrente da interação e

inter-relação sociais cristalizado em instituições, grupos, símbolos,

valores, ideias, normas, significações, enfim, em uma cultura, e que se

encontra situado em um meio geográfico e em um estrato social

(SILVA, 2016, p.21).

Dessa maneira, para Silva a sociologia é uma ciência que se preocupa com a

totalidade da parte social ou a integralidade do que acontece na interação entre as

gentes, o meio social. Essa inter-relação não pode ser reduzida a um aspecto da vida

social, como por exemplo, a religião (que nos interessa aqui pela natureza da disciplina

presente) ou a economia, antes, se aplica nas diversas esferas dessa interação que

acontece em dado espaço e tempo específico.

Na “Introdução à Sociologia” – obra de referência aos que estão iniciando a

busca por conhecimento nessa disciplina – do Mestre da USP Pérsio Santos de Oliveira,

irá trazer uma definição também bastante abrangente, pois já nessa vai apontar para boa

parte da subdivisão que a disciplina possui:

Ciência social que estuda as relações sociais e as formas de associação

dos seres humanos, considerando as interações que ocorrem na vida

em sociedade. A Sociologia estuda os grupos sociais, a divisão da

sociedade em camadas ou classes sociais, a mobilidade social, os

processos de mudança, cooperação, competição e conflito que

ocorrem nas sociedades, etc.; é a ciência social que estuda os fatos

sociais. (OLIVEIRA, 2010, p.288).

Algumas das principais parcelas da Sociologia é citada por Oliveira em sua

definição. Antes de prosseguir é bom dar uma rápida passada nesses conceitos 6

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(baseando-se nas noções a partir da obra citada de Oliveira) tão importantes para a

disciplina. Primeiro cita grupo social: basicamente a reunião a parir de duas pessoas que

por interação buscam objetivos similares; depois camada/classe social: também

chamada de estrato social, formada por um grupo onde os participantes se assemelham

em funções e renda numa sociedade hierarquizada, sendo classe no aspecto econômico

de produção da riqueza; sobre mobilidade social: é quando existe o movimento de

indivíduos de uma camada social para outra, independente se o mesmo ascendeu ou

descendeu socialmente; quando trata de mudança social: considera-se um fenômeno que

resulta em alterações estruturais na sociedade e pode ser Exógena 2quando uma

mudança social altera outros elementos ou Endógena3: ocorre a partir de processos

reprodutivos ou repetitivos; no caso de cooperação: é a interação social entre diferentes

pessoas, grupos ou comunidades buscando objetivos comuns e trabalhando por isso;

competição é: quando indivíduos ou grupos disputam bens e posições sociais escassas,

visando a manutenção de suas vidas, o que torna a competição inconsistente, impessoal

e permanente; finalmente o conflito: que é também uma disputa, só que a motivação não

é a sobrevivência, antes os indivíduos de forma consciente e emotiva, procuram derrotar

os demais por bens e/ou posição.

Outra obra que traz uma aproveitável definição de sociologia é a obra de Eva

Maria Lakatos “Sociologia Geral”, que diz:

Estudo científico das relações sociais, das formas de associação,

destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de

fenômenos sociais, fenômenos que se produzem nas relações de

grupos entre seres humanos. Estuda o homem e o meio humano em

suas interações recíprocas. A Sociologia não é normativa, nem emite

juízos de valor sabre os tipos de associação e relações estudados, pois

se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira

natureza dos fenômenos sociais. A Sociologia, desta forma, é o estudo

e o conhecimento objetivo da realidade social (LAKATOS, 1990,

p.22,23).

Lakatos deixa o aspecto científico em evidência em sua definição. Esse caráter

científico existe na análise que é feita das relações sociais, isto é, é possível levantar

hipóteses e desenvolverem-se teses a partir da observação e de experimentos sociais,

2Que provém do exterior, que se produz no exterior.3Que se origina no interior do organismo, do sistema, ou por fatores internos.

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que podem ser testados e repetidos, garantindo efeitos semelhantes aos da sociedade

estudada. Dessa maneira, a s sociologia terá condição como ciência, de forma segura

garantir saberes sobre o homem em interação social e isso de forma objetiva.

Para completar o quadro de definições de Sociologia estudadas nesse capítulo,

será apresentada a respeitada obra de Allan G. Johnson, doutor em Sociologia pela

Universidade de Michigan e que lecionou em importantes universidades norte-

americanas como Wesleyan, Harvard e Connecticut. Na obra “Dicionário de Sociologia:

guia prático da linguagem sociológica”, diz:

A sociologia é o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo

em relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as

consequências que produzem e sua relação complexa com a vida de

indivíduos (JOHNSON, 1997, p.217).

Na perspectiva de Johnson, torna-se objeto da Sociologia a própria convivência

e seus desdobramentos nas atitudes de certo grupo, debaixo de determinado sistema (por

exemplo, o capitalismo), objeto esse que diz muito mais respeito a necessidade de

compreensão do funcionamento desse grupo, do que apenas de conceito isolados.

Assim, a Sociologia, em síntese, estudará o homem em seu convívio social, bem

como os desdobramentos desse convívio nos mais diversos sistemas e as respostas que

os grupos envolvidos dão enquanto interagem entre si, gerando desde obediência e

servidão, até revolta e insurreição.

CAPITULO 2 – Noções gerais sobre religião

2.1 Definições básicas de religião

Na tentativa de melhor definir e entender religião, não se pode desconsiderar as

instâncias como a social, na qual se tornam múltiplas as experiências, pois são múltiplas

as sociedades. Dessa forma, questões como convívio, colaboração e padronização

devem ser consideradas, além da cultura, que se evidencia claramente no fenômeno

religioso das crenças, moral e costumes. Isso ocorre, pois, as instâncias citadas apontam

para a ideia de religião como a articulação das mesmas numa atmosfera que transita

entre o imanente e o transcendente. O dicionário de Filosofia redigido por Abagnano

define religião da seguinte forma:

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Omissis. (lat. religio) Em seu sentido geral e sociocultural, a religião é

um conjunto cultural suscetível de articular todo um sistema de

crenças em Deus ou num sobrenatural e um código de gestos, de

práticas e de celebrações rituais; admite uma dissociação entre a

"ordem natural" e a "ordem sacral" ou sobrenatural (ABAGNANO,

207, p. 239).

Ainda falando na definição do filósofo italiano Nicola Abbagnano, a religião

explica-se e entende-se na experiência de si mesma a qual traz luz ao seu principal

objeto. Como o principal objeto da religião é Deus, a religião é a compreensão humana

da revelação de Deus em sua experiência como aponta “... a Religião é a experiência do

divino e que, como toda experiência, revela a realidade de seu objeto” (ABAGNANO,

207, p. 847). Abbagnano, ainda entende religião como um processo de conhecimento

baseado na experiência, onde o indivíduo religioso é aquele que em sua experiência com

o sagrado, tem percepções que lhe atribuem compreensão do mundo em si e da

realidade como um todo, portanto um processo cognitivo “para todas essas correntes

filosóficas e sociológicas, a Religião é em sua origem, um fato cognitivo”

(ABAGNANO, 207, p. 849), isto é, passível de compreensão e entendimento para

aquele que nela está inserido.

A teóloga Karen Armntrong também contribui a análise aqui com seu

ajuizamento sobre o conceito de religião “Religião dá trabalho. Os insights religiosos

não são óbvios; é preciso cultivá-los da mesma forma que a apreciação das artes

plásticas, da música, da poesia”(ARMNTRONG 2011, p. 26).A instância religiosa não é

simples de ser entendida, provavelmente por isso que o seu significado maior acaba

aparecendo na subjetividade de cada indivíduo religioso, o qual a contempla como

quem contempla uma manifestação artística.

Giovanni Filoramo em seu livro “As ciências das religiões” defende que a busca

por entender o significado de religião, passa sem dúvida pelas definições dos clássicos

pensadores que estudaram cada área específica, é o caso de Durkheim, o qual

identificava religiosidade a uma espécie de solidariedade sagrada que se consolida nas

práticas morais principalmente das igrejas como mostra “(...) um sistema solidário de

crenças e de práticas relacionadas com coisas sagradas, isto é, separadas e interditas, as

quais unem numa única comunidade moral chamada igreja, todos aqueles que elas

aderem” (FILORAMO, 1999, p. 262).

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Para compreender um termo, às vezes podem ser utilizados questionamentos que

são fundamentais aquele termo. Isso não é diferente com o termo religião, o qual pode

ser perfeitamente compreendido a partir de questões indicadoras, essas permeiam tanto

fatores humanos quanto transcendentes ao mesmo tempo, as perguntas que se seguem

podem servir a esse fim:

Religião tem a ver com as questões fundamentais do homem: Quem

sou eu? De onde eu vim? Por que e para que eu vivo? O que devo

fazer? O que vai acontecer comigo depois da morte? São questões a

respeito do transcendente, do divino, do sagrado (SCHWIKART,

1997, p. 90).

O filósofo alemão Immanuel Kant, escreveu uma obra que buscava explicar

racionalmente o fenômeno religioso: “A religião nos limites da pura razão”. Nessa

famosa obra Kant trata, por exemplo, da questão subjetiva no conhecimento religioso.

Subjetivamente, ao ver de Kant, a religião é a projeção da moralidade humana, como

desejo divino “a religião (subjetivamente 4considerada) é o conhecimento de todos os

nossos deveres como mandamentos divinos”(KANT, 2008, p. 155).

Conhecendo uma última visão sobre religião, encontra-se no teólogo de Oxford,

Alister Mcgrath a visão sobre interioridade para atribuir significado a religião. Esta

estaria ligada mais a conscientização da vida interior e sentimental a partir da

experiência pessoal de cada indivíduo na luta contrária às condições que a vida exterior

ao indivíduo propõe e lhe estressa por vezes:

Esse termo veio a ser atribuído à vida interior das pessoas, por meio

da qual elas tornam-se conscientes de seus sentimentos e emoções.

Relaciona-se com o mundo interior e subjetivo da experiência, em

oposição ao mundo exterior, palco da vida cotidiana (MCGRATH,

2010, p. 232).

2.2 A religiosidade hoje

Fala-se de que a prática religiosa leva a moralidade de uma sociedade e de cada

indivíduo religioso em si, entretanto, existem críticas já antigas (como no caso de Hume

4Subjetividade: característica do que é subjetivo, que pertence ao sujeito pensante e a seu íntimo.

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no século XVIII (1711-1776) a essa asserção, que levam a entender que as condutas

morais estão mais ligadas ao dever à sociedade do que a qualquer divindade ou esquema

religioso:

Ainda no caso das virtudes que são mais austeras e mais dependentes

da reflexão, como o espírito público, o dever filial, a temperança ou a

integridade, a obrigação moral, tal como a compreendemos, descarta

toda a pretensão a um mérito religioso; e a conduta virtuosa não é

mais que aquilo que devemos à sociedade ou a nós mesmos (HUME,

2005, p. 118)

Para alguns pensadores que se espalham pelo mundo a forma de tratamento

religioso, em que as divindades possuem características próprias da humanidade, soa

como um reducionismo ou rebaixamento ontológico do que se entende por uma

divindade. Isso leva a crença de que tais seres divinais mais parecem com humanos

evoluídos do que propriamente daquilo que se entende hoje como deus, como aponta

David Hume “não é suficiente observar que em todos os lugares as pessoas rebaixam

suas divindades até torná-las semelhantes a si mesmas, e que as consideram

simplesmente uma espécie de criaturas humanas de algum modo mais poderosas e

inteligentes” (HUME, 2005, p. 117). Não é preciso muito esforço para enxergar na

prática de boa parte da religiosidade brasileira essa personificação das divindades,

deuses sendo tratados e exigidos como se fossem humanos. Outra característica que

Hume no século XVIII já denunciava no comportamento religioso e passados três

séculos ainda parece perdurar na sociedade chamada pós-moderna, é a atitude do

religioso que pelo sacrifício pessoal entende passar a possuir mais crédito perante sua

religião e seu deus “e se, por sua causa, sacrifica boa parte de seu bem-estar e de sua

tranquilidade, crê que seus méritos aumentam conforme se manifesta seu fervor e sua

devoção” (HUME, 2005, p. 118-119).

Dentro das denúncias que o filósofo inglês faz das religiões institucionalizadas,

também afirma algo pesado acerca da criminalidade de sua época, onde ela era exercida

principalmente pelos indivíduos mais crédulos, uma verdadeira negação da moralidade

que essas religiões propõem. Trata-se de uma abordagem que ainda é bastante atual,

pois não é difícil encontrar reportagens que falem da espiritualidade dentro dos

presídios e que essa espiritualidade se desenvolve facilmente, pois, muitos dos detentos

em algum momento, anterior ao aprisionamento, se envolveram de uma forma mais

séria com suas crenças “os que empreendem as ações mais criminosas e mais perigosas 11

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são em geral os mais supersticiosos”, como oportunamente observa um historiador da

antiguidade” (HUME, 2005, p. 119). Trata-se de uma espécie de apego no qual os que

são considerados delinquentes desenvolvem, talvez como forma de esperança que indica

um futuro mais favorável ou um tranquilizar da consciência.

Na tentativa de compreensão religiosa da atual conjuntura, Hume em seu tempo

ainda contribui com outro aspecto visível hoje. Trata-se da imagem que se possui da

divindade, essa imagem leva a uma devoção e respeito mais ou menos intensos. A

submissão no caso estaria para aqueles que possuem uma imagem mais severa do ser

que adoram, esses sedem facilmente as orientações dos seus líderes condutores,

enquanto que a liberdade e rebeldia passam a fazer parte da espiritualidade daqueles que

enxergam uma espécie de divindade mais benévola do que justiceira. Como mostra:

Quanto mais monstruosa é a imagem da divindade, mais os homens se

tornam seus servidores dóceis e submissos, e quanto mais

extravagantes são as provas que ela exige para nos conceder sua graça,

mais necessário se faz que abandonemos nossa razão natural e nos

entreguemos a condução e direção espiritual dos sacerdotes (HUME,

2005, p. 121).

Pensar o que existe sob as realidades religiosas, se mostra sempre desafiador,

afinal, ao trazer à tona o que há em cada religião, sempre se encontrará o ser humano

integral, em seu nível corporal e espiritual, com seus vícios e virtudes indissociáveis,

numa dicotomia que aponta escancaradamente para a evidência de humanidade, essa

que por vezes é uma junção de potência e fragilidade e é na fragilidade que faz seus

acessos aos saltos no escuro, à busca pela fé, Sobre isso Filoramo questiona:

Não se corre o risco, por essa via, de esquecer que, por trás dos fatos

religiosos, por trás das religiões, estão na realidade pessoas concretas,

com sua fé e sua humanidade, fé cuja intenção é preciso restabelecer,

humanidade cuja integridade é preciso captar, escondendo-se das

armadilhas de uma asséptica, morta e talvez mortal anatomia?

(FILORAMO, 1999, p. 16).

O comportamento desenvolvido dentro de uma estrutura religiosa se mostra de

um tipo que segue suas tradições. Tradições e costumes são normalmente relevantes no

contexto religioso brasileiro, tanto nas religiões chamadas afro-brasileiras e sua

ritualística, quanto nas igrejas pentecostais e sua liturgia, o que é acordado através de

estatutos e se estende na prática de seus membros. Pensa-se com isso permanências no 12

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comportamento, atitudes cristalizadas pela pratica que transpôs gerações e a partir daí se

tornou mais que prática, se tornou credo, se tornou dogma o qual se fundamenta no mito

que o fundou:

Como qualquer realidade humana, também a realidade das religiões

revela – na história milenar por nós conhecida –, junto com a mudança

contínua de ritos, de crenças, de formas sociais religiosas, a

persistência de estruturas e comportamentos: dos mitos aos processos

simbólicos, que desafiam o desgaste do tempo e a devastadora

relativização própria do devir histórico (FILORAMO, 1999, p.17-18).

No conhecimento religioso, daquilo que se pode conhecer de seu fenômeno, não

é exatamente o fenômeno em si, a religião tal como é, pois a mesma não é uma única

coisa, não vem desagregada de seu contexto, de sua historicidade e peculiaridades

culturais, pois aponta para um emaranhado de outras instâncias complexas por traz de

si. Isso, pois, não é possível dissociar a adoração daquele que adora, da religiosidade do

que a exerce, nem o que tem fé da influência da mentalidade coletiva dos que o cercam

(FILORAMO, 1999). A religião pode ser tomada também como algo ligado a

transcendência de uma deidade específica ou de várias, como poderia se pensar no caso

do hinduísmo em sua pluralidade de divindades, ou também como uma abordagem que

engloba uma cosmovisão, o que atinge diretamente a mentalidade coletiva de uma

determinada sociedade, complexa ou não, nesse caso pode não haver uma deidade

transcendente, podendo talvez ter apenas referenciais exemplares de uma prática que se

aperfeiçoa subjetivamente, como pode ser pensado o caso do budismo. Filoramo

discorre sobre, da seguinte maneira:

A distinção entre definições substantivas e definições funcionais nem

sempre é clara. No primeiro caso prevalece o recurso ao verbo ser,

com o relativo predicado nominal – “a religião é.…” – Onde, em

geral, há referência a entidades transcendentes. No segundo caso

prevalece a ideia de que a religião é uma concepção do mundo que

desenvolve um papel específico (individual e/ou social), sem que

necessariamente seja indicada a presença de uma entidade meta-

histórica (implícita ou subtendida): é a função que salta para o

primeiro plano (FILORAMO, 1999, p. 261).

No caso de Weber, talvez um dos pensadores contemporâneos que mais

aprofundou a importância social da religião, é mais importante à análise das 13

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Introduçãoa Sociologia da Religião

consequências de uma religião sobre uma dada sociedade, do que propriamente dizendo,

sua essência, porque seria difícil analisar esse fator por ser fruto das experiências

subjetivas de cada indivíduo, como Filoramo comentando essa ideia de Weber diz:

Não devemos, porém, em princípio, ocupar-nos da ‘essência’ da

religião, mas das condições e dos efeitos de determinado tipo de agir

em comunidade, cuja compreensão, também neste caso, só pode ser

tirada de experiências vividas subjetivas, de representações e objetivos

do indivíduo (FILORAMO, 1999, p. 263).

Além disso, algumas das coisas mais evidentes parecem ter sido comprovadas

também por renomados e reconhecidos estudiosos da área da religião como por exemplo

o fato de entenderem que a religião serve como consolo para aqueles que precisam de

ajuda sempre presente “uma religião que liga o homem, dentro da sociedade, aos seus

fundamentais fins e módulos de valor, através de algumas entidades e forças não-

humanas (FILORAMO, 1999, p. 268). Assim, sem dúvida alguma a religião também é

reconhecida por estudiosos como uma espécie de ligação para o indivíduo, com os

propósitos que o mesmo possui nessa vida, isso disponibilizado através da relação de

transcendência que possui com as entidades extramundanas ou as divindades que este

reconhece.

É reconhecidamente sabido que a religião se desenvolve através de afirmações e

antagonismos os quais dialeticamente são conduzidos no interior de uma mesma

expressão religiosa isso faz com que a religiosidade nos dias de hoje seja também vítima

da exploração que envolve os campos opostos ou supostamente opostos da fé e da razão

essa representada na tecnologia científica contemporânea (DERRIDA, 2000). É curioso

destacar que quando se fala de religião não se está necessariamente falando de uma

teologia religiosa, pois muitas vezes a religiosidade existe através de uma experiência

subjetiva em nível de senso comum, pensando nisso é possível uma espiritualidade

intramundana não necessariamente dependente de uma entidade transcendente onde a

santidade não existe no além, mas sim na própria existência do indivíduo:

A fé nem sempre foi e nem sempre será identificável com a religião,

tampouco com a teologia. Nem toda sacralidade e nem toda santidade

são necessariamente religiosas, no sentido estrito do termo, se é que

existe um (DERRIDA, 2000, p. 19).

Esse fragmento foi tirado do livro organizado por Jacques Derrida “A religião”

onde ele também comenta sobre o conceito kantiano de religião, para ele está possui 14

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Introduçãoa Sociologia da Religião

dois troncos religiosos ou como diz duas genealogias sendo uma religião de mero culto

que está voltada na busca dos favores de Deus e que por isso não tem uma ação prática

revolucionária no mundo, sua dedicação e busca encontram-se no campo do desejo e da

oração, não há uma necessidade do homem progredir, antes se centra em suas

necessidades, puramente existe. Também, segundo Kant, existe outra genealogia

religiosa, outro tronco, esse se trata de entender a religião como moralidade ou uma

religiosidade voltada para a conduta de vida. Isso leva o indivíduo a querer se tornar

melhor ao se subordinar as regras disseminadas por aquela religião específica, isto é,

seguem-se os princípios ou os valores estabelecidos o que traz a convicção ou pelo

menos a possibilidade de uma salvação pós-mundo, o fragmento a seguir esclarece bem

a ideia:

Com efeito, no entender de Kant – ele diz isso propositadamente – só

existem duas famílias de religião e, em suma, duas fontes ou dois

troncos da religião – e, portanto, duas genealogias a respeito das quais

ainda se deve perguntar por que motivo compartilham o mesmo nome,

próprio ou comum: a religião de mero culto (dês blossen cultos)

procura os “favores de Deus”, mas essencialmente, não age, limita-se

a ensinar a oração e o desejo. O homem não tem de se tornar melhor,

ainda que seja pela remissão dos pecados. Quanto a religião moral

(moralische), visa a boa conduta da vida (die Religion dês

gutenLebenswandels); comando o fazer, dissociando-o do saber o qual

lhe está subordinado, e prescreve o tornar-se melhor agindo para tal

fim exatamente onde “o seguinte princípio, conserva o seu valor: ‘Não

é essencial nem, por conseguinte, necessário, que alguém saiba o que

Deus faz ou fez para a sua salvação’, mas antes o que ele mesmo deve

fazer para se tornar digno dessa ajuda (DERRIDA, 2000, p. 20-21).

Dentro disso, vai lançar sua tese apontando para a existência de apenas um

fenômeno especificamente voltado a conduta, em outras palavras uma única religião

moral a qual também tem como meta a libertação intelectual. Assim, para Kant a

religiosidade Cristã é a única na permissão de uma racionalidade acerca da religião. O

filósofo, portanto, exclui as demais formas religiosas como promotoras de

possibilidades de tal feito (DERRIDA, 2000, p. 21-23). Derrida ainda comenta que:

A religião, hoje, alia-se à teletecnociência, à qual reage com todas as

suas forças. Ela é, por um lado, a mundialatinização; produz, explora, 15

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adapta-se ao capital e ao saber da telemidiatização (DERRIDA, 2000,

p. 64).

O aspecto religioso no ser humano contemporâneo, como não poderia deixar de

ser, alia-se aos avanços promovidos pela tecnologia e sua ciência, com isso,

principalmente através das várias mídias, um fenômeno religioso quando relevante,

deixa de ser apenas local e passa a ter aspectos universais.

O filósofo da PUC-SP, Luiz Felipe Pondé em seu livro “Crítica e profecia”,

expõe o pensamento sobre religião de Dostoiévsky, como uma espécie de contra crítica

ao pensamento que crítica à religião desde o iluminismo. Para Pondé, o pensador russo

falando em seu tempo responde perfeitamente algumas das inquietações de natureza

filosófica e religiosa da atual conjuntura, onde consegue desmontar argumentos que se

colocam como legítimos e firmes sobre as mesmas inquietações, mas que não superam,

nem substituem a resposta metafísica dada pela religiosidade humana, como mostra:

(...) sua crítica religiosa se apresenta como um instrumento poderoso e

absolutamente em harmonia com o vocabulário filosófico

contemporâneo, ainda que a raiz seja certamente estranha a um

pensamento pós-criticismo naturalista dogmático: Dostoievsky discute

relativismo, niilismo, individualismo, epistemologia etc. Minha

hipótese é que, nos limites do argumento desse dogmatismo

humanista-naturalista mentiroso, a Crítica religiosa de Dostoievsky

faz um razoável “estrago”, iluminando as inconsistências de um

mundo ridículo (PONDÉ, 2013, p. 18).

A religião possui um caráter difícil na visão de Pondé, que para ilustrar esse

pensamento cita um trecho do teólogo suíço Karl Barth, in: The EpidletotheRomans,

cit., 258:

Conflito e sofrimento, pecado e doença, o demônio e o inferno,

compõe a realidade da religião. Longe de libertar o homem da culpa e

do destino, ela mantém o homem sob seu controle. A religião não

possui a solução do problema da vida, aliás, faz desse problema um

enigma absolutamente insolúvel (PONDÉ, 2013, p. 20).

Um trecho onde Barth, deixa transparecer como na religião embora tenha um

discurso salvacionista, promove também a crença em alguns dos piores defeitos, se

assim forem pensados, no ser humano, o que permite que o indivíduo uma vez cativado

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por tal fé, não queira nem se isentar nem se opor, limitando-se a concordância quase que

absoluta.

Pondé também comenta como, a seu ver, é fruto de grande ignorância a inversão

que hoje acontece em relação a algumas divindades, onde essas são tidas mais como

uma espécie de servas do que deuses caem da categoria divina até a mais baixa

categoria de servo do qual se exigem todo tipo de coisas, mudando de orações piedosas

feitas com respeito e temor ao seu deus, considerado também Senhor, para um conjunto

de exigências imbuídas de ameaças de abandono feitas por um religioso que passa a

exigir fidelidade da entidade superior:

(...) ignorância presente, principalmente, quando se trata de autoajuda

“espiritual”, que submete “divindades” ao princípio natural da

continuidade entre essas “divindades” e o sucesso pessoal e a utilidade

(...) (PONDÉ, 2013, p. 21).

Diferente dos seguidores convencionais de religião, tais como os encontrados

hoje, segundo Pondé, existem seguidores especiais, os que podem receber e recebem o

nome de profetas, esses são de natureza única, pois seu diferencial encontra justamente

na preocupação que demonstram com o ser divinal que seguem, preocupando-se

sobretudo com o zelo da mensagem que entendem ser encarregados, esses atuam no

campo do misticismo “(...) o místico profeta é alguém que sabe o que Deus quer, que

conhece seus desígnios”(PONDÉ, 2013, p. 61).

Algo que é sempre digno de muita discussão está contido em uma citação de

Dostoiévzky, a qual leva a reflexão sobre quanto o ser humano consegue ser moral e

manter uma moralidade que seja respeitada por uma maioria de indivíduos sem a

experiência religiosa influenciando. Parece que, quanto à questão da moral, os diversos

indivíduos que todos conhecem, os quais não possuem religiosidade, mas, têm conduta

irrepreensível, parecem mostrar a possibilidade de virtudes sem religião, mas perdura a

dúvida sobre uma maioria, a qual ainda hoje refreia-se diante de possibilidades

perniciosas pelo simples fato de crerem que um ser superior lhes observa atentamente...

ao sairmos do universo religioso, entramos no universo do niilismo. Afinal de contas,

citando o próprio Ivan Karamázov, “se a alma é mortal e Deus não existe, tudo é

permitido” (PONDÉ, 2013, p. 67).

Ao pensar sobre a manifestação religiosa, Pondé aponta para a interioridade de

cada indivíduo, isto é, a religião se manifesta significativamente para cada um nesse

campo, onde a experiência se dá cognitiva e intuitivamente. Dado isso, aqueles que se 17

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dispõe ao trabalho intelectual na religião, são como tradutores dessa disposição interna

numa linguagem acessível. Para ele, a religião se apresenta no campo místico e por isso,

a questão racional da mesma, ainda que se apresente, vem secundariamente, não por

falta de esforço de várias mentes privilegiadas que racionalmente buscaram e buscam

dar uma explicação racional da religião pelo viés tanto da ciência quanto da filosofia

Pondé (2013). Entretanto, o filósofo reconhece que a religião consegue em certa medida

a partir da experiência que permite, desenvolver algum tipo de conhecimento, talvez um

conhecimento da interioridade humana “(...) no fundo, a religião pode seguramente

produzir ruído no conhecimento” (PONDÉ, 2013, p. 73).

Dentre as várias asseverações sobre religião, existem aquelas que a entendem

mais como uma espécie de resposta ao que o mundo oferece como um comportamento

reativo, do que como uma visão teórica da realidade externa, por exemplo “para Hare, a

religião não é um conjunto de supostas asserções sobre o mundo, sobre o destino do

homem ou sobre o sentido da história, mas uma postura em relação ao mundo”(PENZO,

1998, p. 538).Já para alguns filósofos, a compreensão de Deus, talvez o objeto máximo

da religião, está mais ligada ao sentido da vida e sua compreensão, pois a crença em um

deus tende a garantir algum sentido ou até muito sentido na existência do que crê, onde

as práticas religiosas passam a ser exercícios para a compreensão da própria vida, em

outras palavras, a religião traz sentido à vida humana (PENZO, 1998).

Uma das questões mais inquietantes no debate entre fé e razão, principalmente

da perspectiva dos crédulos, é a oposição que muitos acabam colocando entre uma e

outra, onde não se apresenta as evidentes distinções, mas se comenta impositivamente

uma suposta oposição, isso coloca imediatamente a religião em uma constrangedora

posição:

A fé não é contra a razão, nem a razão é contra a fé, porque “o

funcionamento racional da razão pressupõe uma confiança na própria

razão, que não pode ser justificada de maneira puramente racional”,

nem “a fé em Deus é um risco irracional, cego, mas antes uma

confiança justificável diante da razão e fundada na própria realidade

(PENZO, 1998, p. 570).

Religião também pode estar ligada a evidência da incapacidade que o ser

humano possui em prever, organizar (de forma perfeita) e determinar sempre o seu

futuro, sua incerteza a esse respeito o impulsiona a apelar para tudo aquilo que lhe seja

útil ou lhe sirva de esperança na lida desse terrível fato, a incerteza do amanhã como 18

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mostra Giorgio Penzo “uma das fontes primeiras do sentimento religioso está, por

comum reconhecimento, na incapacidade que os homens têm de determinar o seu

próprio destino” (PENZO, 1998, p. 571).

Um problema bastante comum e característico das religiões, é o problema da

posse da verdade a qual se torna contraditoriamente (isso na perspectiva das próprias

religiões) plural, uma vez que cada uma, normalmente, se considera a portadora da

verdade legada pela deidade que serve, sendo essa indubitavelmente a verdadeira ou

parte do grande conjunto das verdadeiras divindades, conforme atesta o filósofo Hilton

Japiassú “toda religião acredita possuir a verdade sobre as questões fundamentais do

homem, mas apoiando-se sempre numa fé ou crença” (JAPIASSÚ, 2001, p. 239). Outra

ideia a ponderar, é que a religião apesar de ser um fenômeno humano, onde sempre

existiu e provavelmente continuará existindo enquanto houver humanidade, vive sobre o

julgamento do fiel que lhe segue, o qual pode dar a sua própria vida se essa lhe legar o

sentido em que vive a buscar. Entretanto, caso a mesma falhe nessa fundamental tarefa,

o fiel absolutamente decepcionado lhe deixa, quando não, sua frustração lhe torna um

inimigo aponta Armntrong: O homo religiosos é pragmático só nesse sentido “se um

ritual já não lhe suscita uma profunda convicção sobre o valor último da vida, ele

simplesmente abandona esse ritual”(ARMNTRONG, 2011, p. 27).

Finalmente, é interessante olhar para Kant que denuncia a construção de uma

divindade a qual a sociedade moderna fez surgir para sua própria conquista, pautada na

cobiça e nos anseios mais eudemônicos de uma sociedade que já visava o lucro e as

vantagens sem maiores esforços:

(...) de fato, construímos então para nós um Deus no modo como

julgamos poder conquistá-lo com a maior facilidade para nossa

vantagem e ser dispensados do oneroso esforço ininterrupto de atuar

sobre o mais íntimo da nossa disposição de ânimo moral” (KANT,

2008, p. 170-171).

A única coisa que Kant acreditava que poderia o homem fazer na direção de

compactuar com a felicidade e alegria de Deus, era manter um padrão moral, uma

conduta imitável, ao ver do filósofo seria perca de tempo qualquer outra tentativa, seria

se precipitar na ilusão qualquer outra tentativa Kant (2008).

O filósofo alemão ainda acrescentou em sua obra uma crítica à ritualística dos

religiosos como meios de justificar o ser humano na ótica da divindade, para ele a

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liturgia não poderia melhorar o homem e aqueles que pensavam dessa forma

seguramente praticavam excessos inúteis e desnecessários.

A ilusão de mediante ações religiosas do culto obter algo em vista da

justificação perante Deus é a superstição religiosa; assim como a

ilusão de tal querer levar a cabo por meio do esforço em vista de um

suposto trato com Deus é o fanatismo religioso (KANT, 2008, p. 176).

Assim, Kant entendia que a religião precisa estar muito bem estabelecida em

princípios e para tanto, é necessário que se faça o uso da razão, para que os princípios

sejam coerentes e firmem-se, sendo essa a maneira que uma religião conseguiria escapar

da possível condição ilusória, algo como o que viria após ele ser chamado de alienação

“(...) a ilusão religiosa fanática é a morte moral da razão, e sem esta não pode em geral

haver religião alguma enquanto aquela, como toda a moralidade em geral, se deve

fundar em princípios”(KANT, 2008, p. 177).

CAPITULO 3 – Métodos sociológicos

Assim como outras disciplinas e áreas do saber, a Sociologia também possui

métodos muito específicos. Métodos esses que fazem com que essa disciplina se

aproprie de seu caráter científico e produza o conhecimento que seja proveitoso na

busca por compreensão da vida em sociedade.

Mas, antes de prosseguir, o que é um método? Segundo o dicionário Michaelis

online método é:

1. Emprego de procedimentos ou meios para a realização de algo, seguindo um

planejamento; rumo.

2. Processo lógico e ordenado de pesquisa ou de aquisição de conhecimento.

3. Qualquer procedimento técnico ou científico.

4. Conjunto de princípios ou técnicas de ensino.

Simplificando, método tem a ver com o caminho lógico, planejado e científico

que leva a um objetivo previamente estabelecido. A Sociologia é considerada uma

ciência pois utiliza métodos organizados e sistemáticos, que permitem a investigação e a

observação. A seguir, a partir de uma síntese do que diz Eva Maria Lakatos em sua obra

"Sociologia geral", vamos aprender sobre cada um dos principais métodos.

3.1 - Método histórico20

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Entende que as atuais formas de vida social, bem como os costumes e as

instituições que existem, possuem sua origem no passado. Dessa maneira, somente

quando se pesquisa as origens da vida social, se consegue compreender cada um desses

aspectos e a influência que possui na sociedade de hoje. Um exemplo é, compreender a

relação hoje de família e parentesco olhando para a história dessa relação.

3.2 - Método comparativo

Entendendo que é importante comparar a vida social, o método busca fazer

análise comparativa visando apontar tanto semelhanças, quanto diferenças, o que pode

ser feito entre grupos do passado, grupos do presente ou até entre grupos do passado e

do presente simultaneamente e em estágios diferentes de desenvolvimento. Um exemplo

é o modo de vida rural e urbano em São Paulo.

3.3 - Método monográfico

É o método que estuda indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos e

comunidades, buscando obter generalizações, isto é, examinando o tema escolhido e

observando tudo que o influenciou, buscando compreender todos os aspectos. Assim, o

método busca respeitar a totalidade do processo de desenvolvimento de cada grupo em

si, seja em sua totalidade, seja em sua particularidade. Um exemplo é o estudo de

delinquentes juvenis, outro é do papel social da mulher.

3.4 - Método estatístico

Esse método ao olhar para conjuntos sociais de difícil compreensão, extrai

representações simples e vê se essas têm relação com outras representações que foram

extraídas. Isso significa que o método faz uma redução de fenômenos sociológicos,

políticos, econômicos, dentre outros. Utiliza para isso a manipulação das estatísticas

para comprovar a relação dos fenômenos sociais entre si. Um exemplo é a correlação

entre número de filhos e a escolaridade.

3.5 - Método tipológico21

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Nutre certas semelhanças com o método comparativo, entretanto, quando o

pesquisador faz a comparação entre fenômenos sociais de difícil compreensão, cria tipos

ou modelos ideais a partir da essência que o fenômeno estudado apresenta. O ponto

principal desse método, é que ele cria tipos que não existem, mas servem apenas de

modelos que explicam a complexidade do fenômeno que se estuda. Como exemplo

pode-se pensar o estudo dos governos democráticos do passado e do presente para

estabelecer um tipo ideal de governo Democrático.

3.6 - Método funcionalista

Representa muito mais um método de interpretação do que de investigação,

como é o caso dos demais. Entende-se nele que a sociedade possui ou é composta por

partes que apesar das diferenças apresentam interdependência e estão inter-relacionadas

para cumprir funções fundamentais a vida social. Portanto, o método estuda a sociedade

a partir das funções que são colocadas a cada unidade responsável dentro de sua

organização. Um exemplo é a análise das principais diferenças de funções que precisam

existir em determinado grupo isolado para que consiga sobreviver.

3.7 - Método estruturalista

O método visa investigar um fenômeno concreto, a partir disso, se eleva o

mesmo a um patamar abstrato, onde se faz um modelo que represente o que é estudado.

Por fim, retorna-se ao concreto, que por sua vez tem uma realidade estruturada que leva

em consideração a experiência do indivíduo envolvido nessa sociedade. Pode ser

tomado como exemplo o estudo das relações sociais e como essas determinam a posição

para os indivíduos e seus grupos.

Esses métodos representam a síntese do trabalho inicial feito por um sociólogo,

que diante dos problemas que quer ajudar a resolver em certa sociedade, pode variar

entre um e outro método que melhor atenda sua demanda e represente maior benefício a

seu trabalho final.

CAPITULO 4 – Agrupamentos sociais

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Não é demais dizer que o homem é um ser que precisa viver em sociedade. A

história do pensamento mostra tanto na Filosofia, quanto na literatura que o convívio é

uma necessidade humana. Aristóteles, grande pensador e filósofo grego deixou o

conceito de que “o homem é um animal político”. O termo político vem de polis, a

cidade grega, sendo político todos que eram cidadãos da polis, que cooperavam para sua

existência. Para o pensador grego, porém, não se tratava apenas de cooperação, mas de

necessidade, o ser humano necessita viver em grupo. Esse pensamento aristotélico faz

lembrar de outra expressão, agora da literatura. Uma famosa expressão do poeta inglês

John Donne, diz: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do

continente, uma parte da terra”. Talvez, ainda mais específico do que Aristóteles, o

poeta com suas metáforas deixa claro que cada indivíduo precisa fazer parte de um todo

maior e sabe-se que esse todo é constituídos por grupos dentro da sociedade, ou seja,

grupos sociais. Mas, o que são grupos sociais?

4.1 - Definição

Agrupamento social ou grupo social está intimamente ligado ao que dizem

Rumney e Maier (Sociology. The Science of Society), com muita precisão, é, “durante

uma vida inteira, membro da sociedade e de grupos diversos, como a família, o Estado,

o partido político, a organização religiosa, o clube social e outros”(SILVA, p.36). Isso

mostra que estar em grupo é algo humano.

A definição como qualquer conceito importante é vasta, mas é possível pontuar

alguma coisa que seja mais geral. É o caso da definição de Silva: “Para nós, é o

conjunto, dotado de certa estabilidade, de indivíduos em interação unidos entre si por

um objetivo comum, distinto dos demais por certas relações e modos de conduta”

(SILVA, p.36). Em outras palavras, um agrupamento social é um grupo que pode ser

considerado conjunto, por causa de suas semelhanças da forma dos relacionamentos e

de conduta, e diferente de outros grupos também por causa da forma dos

relacionamentos e de conduta. Isso permite que esses grupos sejam observados e

consequentemente estudados.

4.2 – Como se classificam os grupos sociais?

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No final do século XIX, Tonnies reduziu os grupos sociais a duas formas

básicas: comunidade e sociedade. Comunidade,representa uma espécie de

espontaneidade praticamente instintiva, de longa duração e que possui uma cultura

compartilhada. Existe também uma natural integração, que afasta esse tipo de grupo de

individualismos generalizados. Nessa categoria por exemplo, temos a família, a tribo e a

a nação.

Quando se fala de sociedade, não existe a naturalidade encontrada em uma

comunidade, isso porque uma sociedade é sempre artificial, fabricada pensando na

utilidade que determinado grupo visa. Dessa maneira, os interesses particulares é o que

norteia ou guia um grupo societário. A voluntariedade é o que permite a existência de

sociedades, uma vez que no interior dessas, há pluralidade, trata-se sempre de um grupo

heterogêneo formado a partir de várias matrizes voluntárias.

Outros sociólogos complementaram a conceituação de Tonnies. É o caso de

Cooley que cunhou a conhecida divisão dos grupos sociais entre primários e

secundários. Sobre os grupos primários, são aqueles que exercem um papel fundamental

na formação inicial na socialização e nas ideias mais remotas do indivíduo.Podem fazer

parte desse grupo à família, amigos próximos e a vizinhança imediata, que são o tipo de

grupo dominado pela associação e a cooperação. Percebe-se, que esse conceito se

aproxima do já estudado conceito de comunidade.

No caso dos grupos secundários, são os demais grupos. Nesses não se fundem as

individualidades, por não se confundirem, mantendo suas identidades apesar do

convívio com o diferente. São normalmente formados de forma indireta em seus

contatos, caracterizando impessoalidade, distância, com unidades apenas no que tange

interesses comuns. O segundo grupo então, se aproxima do conceito de sociedade, da

vida em sociedade.

Existem ainda os chamados grupos de divisão, representados pelos ajuntamentos

que visam lutas por uma classe específica contra outras que lhes querem prejudicar, um

exemplo são os sindicatos e as associações de patrões. Outros são grupos de união,

unidos por laços fortes de solidariedade, amizade e completude, a família é o melhor

dos exemplos que pode ser dado. Grupos particulares são aqueles que surgem no

interior de outros grupos e quando esses grupos particulares se articulam formam

grupos globais ou sociedades globais. Grupos temporários são aqueles que surgem e

desaparecem com curta ou curtíssima duração, exemplo desse tipo de grupo são os

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comícios e as multidões. O contrário dos grupos temporários são os duráveis ou

permanentes, como exemplos temos os Estados e as nações.

Por fim, uma das divisões grupais mais utilizadas é a que aponta para grupos

organizados e grupos inorganizados. Um grupo inorganizado, é aquele que possui as

condições necessárias para exercer organização, porém não é organizado, é o caso das

classes sociais e das multidões – nesses grupos não existe consciência de grupo,

definição, direção e liderança. Já os grupos organizados possuem consciência, definição,

portanto identidade, direção e por isso liderança, como vemos em equipes esportivas,

partidos políticos e empresas.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

CAPITULO 5 – Origens da Sociologia

Pode-se dizer que a Sociologia, como pensamento social, como reflexão da vida

em sociedade, existe desde sempre. É possível enxergar na Antiguidade, nos pensadores

helênicos mais especificamente, reflexões que buscavam dar conta do relacionamento e

da vida em sociedade, isso perpassa os tempos históricos e alcança a Idade Média, a

Renascença até chegar ao crivo iluminista do século XVIII, saltando as reflexões para

outro nível, para por fim, no século XIX surgir como nova ciência.

5.1 – Pioneiros, os primeiros sociólogos

QUEM FOI?

Auguste Comte (1798-1857) foi um filósofo francês, considerado o fundador do Positivismo - corrente filosófica que propõe uma nova organização social. Foi o primeiro a empregar o termo sociologia. Comte dedicou-se integralmente à instituição da “Religião da Humanidade”, que teve muito adeptos e influenciou o pensamento de teóricos por todo o mundo. O filósofo impregnou-se de misticismo, criou um sacerdócio, sacramentos e orações, além de propor uma rígida disciplina para seus adeptos.

Fonte: https://www.ebiografia.com/auguste_comte/Em meados do século XIX, buscando nova definições para as ciências, um

pensador francês chamado August Comte, defendendo que as análises sociais que

podem ser levadas a sério, são apenas aquelas que possuem caráter científico, objetivas

e que não possuem metas, um estudo das relações humanas, isso geraria uma nova

ciência, que Comte chamou de sociologia. Essa nova ciência não deveria apenas fazer

análises, deveria também propor normas de comportamento, baseadas em estudos

claros. Por esses e outros motivos, a Sociologia no início, se chamava “física social”.

É característico de Comte, entre os aspectos que contribuiu, no início da

Sociologia como ciência, seu conceito (dentro de sua filosofia chamada de positiva)

clássico conhecido como “A Lei dos Três Estados”, que resumidamente diz:

Estado teológico ou fictício: explica os vários fenômenos através de causas

primeiras, normalmente personificando as necessárias explicações em

divindades.

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Estado metafísico ou abstrato: busca explicações em causas gerais ou

metafísicas, ideias que independente da veracidade, oferecem explicação sobre a

natureza das coisas e dos acontecimentos. As diversas ideologias são exemplos.

Estado cientifico ou positivo: visa as explicações que a observação científica e o

raciocínio dão com o objetivo de formular leis.

Outro pioneiro da Sociologia em seu início foi Herbert Spencer. Esse pensador

inglês na segunda metade do século XIX representa à linha da Sociologia que a tornou a

segunda ciência mais influenciada pela teoria de Darwin, que mais tarde seria conhecida

como teoria da evolução. Para Spencer, a sociedade é como um organismo biológico

que quanto mais a massa (totalidade do povo que habita) cresce, mais complexa se torna

sua estrutura. Isso significava que de forma evolutiva, a sociedade se desenvolve,

partindo de agrupamentos mais simples até os mais complexos, dos nômades as

sociedades industrializadas.

Ainda dentro do pioneirismo dos primeiros pais da Sociologia, estão as teses do

tão comentado Karl Marx (cuja sociologia da religião será abordada mais a fundo em

outro momento). De forma resumida, quando a Sociologia em seu início chega em

Marx, vai ser orientada a partir do pensamento que o determinismo econômico (que diz

ser a economia aquilo que mais influencia a sociedade, seja ela qual for), faz com que a

sociedade seja o que ela é. Tudo o mais que está na vida de uma sociedade, como:

política, cultura, direito, religião, ideologias, etc., existem do jeito que existem por

causa de sua condição material de existência, que é totalmente influenciada pela questão

econômica.

5.2 –O desenvolvimento da Sociologia, uma nova ciência

A partir do momento que os pioneiros desenvolveram a nova ciência da

Sociologia, arestas e muitas dúvidasainda pairavam a respeitoda nova forma de produzir

conhecimento sobre a sociedade. Para corrigir e ajustar os novos saberes, muitos outros

geniais personagens iriam surgir durante os séculos XIX e XX.

A escola sociológica francesa, assim como a filosófica deixou bases

fundamentais para a maneira de se fazer sociologia. Um de seus mais ilustres

pensadores, também considerado um dos pais da Sociologia, apesar de não ser um dos

pioneiros foi Émile Durkheim. Sua importância é tamanha, que para muitos ele é quem

transforma a Sociologia em uma ciência independente em relação as outras Ciências 27

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Sociais. Fez uma defesa do entendimento dos fatos sociais como coisas que por meio

de regras científicas determinou seus objetos de estudo.

Combateu algumas ideias de Spencer estabelecendo no lugar de uma evolução

determinista e quase cega da sociedade, conceitos importantíssimos como os da

consciência coletiva e a solidariedade mecânica e orgânica, conceitos que fizeram o

entendimento sociológico saltar para um novo momento. É importante reparar na síntese

desses conceitos:

Consciência coletiva: nesse conceito Durkheim soma as crenças, os sentimentos

e os pensamentos da média dos membros de uma comunidade, o que é

persistente e gera unidade naquele povo.

Solidariedade mecânica: surgida da necessidade primitiva de manter as

semelhanças no meio do povo, uma igualdade necessária a sobrevivência e,

portanto, justifica-se assim a coerção e severidade que exerce para cumprir suas

leis.

Solidariedade orgânica: nesse conceito agora invés da aposta ser nas

semelhanças, é feita na independência do indivíduo. A diversidade nesse caso é

bem-vinda e em forma de solidariedade colocando uma base sólida a autonomia

e a uma consciência individual mais livre.

O último grande representante das origens da ciência Sociologia, foi o sociólogo

alemão, Marx Weber. O pensador via a Sociologia como a interação cheia de

significados entre os indivíduos que vivem em sociedade. Dentre os principais conceitos

que Weber irá legar a Sociologia, estão os de: ação social, que entendia ser a conduta

pública ou não que leva o indivíduo a desenvolver significados pessoais; que o principal

objetivo da análise da Sociologia, é a formulação de regras sociológicas; para isso,

Weber desenvolveu um de seus principais conceitos, o tipo ideal, quando se estuda a

realidade a partir de relações causais no que se está estudando.

Muitos outros pensadores cooperaram para a origem da Sociologia, como: Georg

Simmel, Charles H. Cooley, Gabriel Tarde, Ferdinand Tonnies, Robert K. Merton,

Talcott Parsons, Vilfredo Pareto, Pitirim A. Sorokin, dentre outros que ajudaram nas

mais diversas áreas do pensamento social sendo:

Os fundamentos psíquicos das relações sociais;

Os processos sociais da repetição;

Oposição e adaptação;

A evolução social a partir da interação;28

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Introduçãoa Sociologia da Religião

As múltiplas relações recíprocas;

A sociedade como sistema de equilíbrio;

As características comuns as classes sociais;

O funcionamento das estruturas sociais e daí por diante;

Todos esses pensadores cooperaram profundamente como a origem e

desenvolvimento dessa que é uma das mais importantes ciências humanas.

5.3 - A sociologia no Brasil

Segundo Lakatos, no Brasil, a Sociologia teve três etapas.

5.3.1 - A primeira fase foi desde antes das origens até 1928. Influência do

positivismo (evidenciado na bandeira com a frase "ordem e progresso") e do

evolucionismo. Luta contra a escravidão.

5.3.2 - A segunda etapa, diante das novas realidades científicas, teve três fases:

a primeira que foi de 1929 a 1945, quando houve consolidação do estudo da sociologia

através do ensino escolar; a segunda de 1945 a 1954, a efervescência política leva a uma

intensificação dos estudos sociológicos, em meio a pós-guerra, fim do Estado Novo e

suicídio de Getúlio Vargas; a terceira de 1954 a 1964, nesse momento as vésperas de se

formar a burguesia no país e do golpe militar, se tornou necessário entender os aspectos

ideológicos e sociológicos do processo.

5.3.3 - Da terceira etapa, por causa da crise e da reação da ciência, surgiram duas

fases também: sendo, a primeira uma crise e tensão nessa área do saber pela pressão do

regime militar, entre 1965 e 1979; e na segunda fase, que reafirmou a necessidade e

significação da sociologia, reconhecendo a profissão de sociólogo em 1980.

CAPITULO 6 – A sociologia da religião

6.1 – O que é Sociologia da religião? Reflexões iniciais

Nas origens da Sociologia, se olhar para o pensamento de alguns dos fundadores

dessa ciência, por exemplo, Claude Saint-Simon, Auguste Comte e Émile Durkheim,

verá que havia hostilidade em relação ao cristianismo. Isso ocorria, pois, esses autores

pensavam que a Teologia seria, e estava sendo, substituída pela Sociologia, sobretudo

na área da ética, no direcionamento da conduta dos indivíduos. Não havia também por 29

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Introduçãoa Sociologia da Religião

parte da igreja bons olhos para quem buscava explicar o papel da religião nas

sociedades modernas.

Dessa relação dialética (entre negações e afirmações) com a Sociologia, as

teorias religiosas foram sendo analisadas, bem como as práticas de seus grupos e a partir

disso, nesse movimento surge à esfera de analise da religião dentro dos métodos

sociológicos ou como se chama, a Sociologia da Religião. Sendo assim, é possível

definir Sociologia da religião como a área da Sociologia que: “... busca colocar os

fenômenos religiosos em seu contexto social” (SINCLAIR & FERGUSON, 200...,

p.934). Essa área da Teologia e da Sociologia tem, portanto, o interesse em desvendar

os acontecimentos religiosos, enquanto em seus contextos sociais.

Nesse breve capítulo, é importante fazer algumas observações pertinentes ao

estudante de teologia, no que se refere ao campo da Sociologia da religião, campo esse

que intitula essa matéria presente no currículo. A reflexão se faz presente, pois já é dito

que “... a verdade das ciências sobre as religiões é socialmente mais verdadeira do que a

das religiões sobre as ciências” (CAMPOS, 2007, p.113). Assim, no diálogo Sociologia

e religião, a religião está em desvantagem. E nunca é demais lembrar que o cristianismo

é uma religião.

O que se encontra hoje em áreas como as da ciência das religiões e sociologia da

religião é uma busca constante a uma espécie de cientificismo nos campos (determinar

toda a verdade dessas áreas apenas pelo viés científico, a ciência como a verdade

última). Por outro lugar, a área das Ciências Sociais, não podem negar a importância da

religião no desenvolvimento da Sociologia. Dessa maneira, é possível afirmar que desde

o início da Sociologia, temos uma Sociologia da religião.

6.2 – O que estuda a Sociologia da religião?

Como a própria definição de Sociologia da religião citada anteriormente sugere,

ela estuda os fenômenos religiosos em seu contexto social, isto é, procura a

compreensão de como a religião existe e se manifesta na mentalidade coletiva e nas

práticas de um povo. Dois pontos importantes se sucedem a partir do que essa área

estuda:

Primeiro: a Sociologia da religião examina os efeitos do contexto sobre a

maneira e o direcionamento que uma religião assume dentro de uma dada

sociedade.30

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Introduçãoa Sociologia da Religião

Segundo: a Sociologia da religião analisa o impacto social que a religião produz.

Ao considerar qualquer fenômeno religioso, seria um grande erro pensá-lo

apenas em seu contexto místico ou teológico. Toda religião utiliza-se de seu

misticismo e de sua teologia para gerar influência e essa influência causa sempre

um impacto nas várias áreas da sociedade.

Terceiro: a Sociologia da religiãobusca meios para que a religiosidade do

pesquisador (que existe apesar da busca por neutralidade), não interfira tanto na

construção sociológica da religião.

Quarto: a Sociologia da religião procura impedir a manipulação de estatísticas

sagradas, que geram resultados que atendem apenas uma religião específica, mas

que se demonstram ilusórios, portanto, distantes da verdade.

Quinto: a Sociologia da religião trabalha com análise histórica e cultural, dessa

maneira, vai abordar questões como o padrão das ligações entre Igreja e Estado e

o tremendo crescimento dos “novos movimentos religiosos” tanto no Oriente

como no Ocidente, durante as últimas décadas.

CAPITULO 7 – Religião diante da perspectiva dos principais teóricos da sociologia

Esse capítulo é baseado na obra “Sociologia e religião”, dos franceses Danièle

Hervieu-Léger, diretora de estudos no EHESS, ondedirige o Centre d

´étudesinterdisciplinairesdesfaitsreligieux (CEIFR, EHESS/CNRS) e é redatora chefe da

Revista Archives de sciencessocialesdesreligions, e Jean-Paul Willame, diretor de

estudos EPHE, em que codirige o Goupe de SociologiedesReligionset de La Laicité

(GSRL, EPHE/CNRS). Dois autores do alto escalão de estudos em sociologia da

religião.

7.1 - KARL MARX (1818-1883) E FRIEDERICH ENGELS

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Introduçãoa Sociologia da Religião

QUEM FOI?

Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito e Economia.

Fonte: https://www.ebiografia.com/karl_marx/

1.1 – A análise marxista da religião, sua importância e suas limitações;

É mais comum o conhecimento e a impressão que se tem de Marx e de Engels

como críticos que de forma filosófica e política condenam a religião, do que enxergá-los

como sociólogos da religião. Para eles, a religião deixa opaca a visão do mundo social,

além de trazer legitimidade ao poder dominador, e isso tudo é perpassado pela *luta de

classes. Esses parâmetros de fato apontam, na visão desses sociólogos, para a religião

ser alienação.

Entretanto, não se pode dizer realmente que a análise marxista da religião seja

sociológica, isso porque os fatores filosóficos e políticos superam a sociologia através

da crítica nessa abordagem, abordagem que não se origina em Marx e Engels, mas no

que é representado pelo pensamento iluminista com seus resquícios na crítica do

cristianismo do filósofo alemão Ludwig Feuerbach. Feuerbach reduziu o principal

“objeto”de adoração da religião, Deus, em mera criação humana. Marx e Engels

migraram para sua análise econômica e social afirmando ser Deus, fruto da alienação

socioeconômica do ser humano, em outras palavras o ser humano cria deuses, quando

suas condições materiais de existência não dão conta de sua sobrevivência.

7.1.2 – Analise sociológica da religião, através da crítica política e filosófica;

Em “Crítica da filosofia do direito de Hegel” de 1844, Marx vai mostrar que,

uma vez sendo a religião objeto de estudo jácompreendido, agora cabe se fazer a crítica,

não a religião em si, mas a sociedade que a produz em forma de ilusão. A partir disso,

faz uma crítica altamente filosófica da sociologicidade da religião:

A religião é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem

coração, assim como ela é o espírito de condições sociais de onde o

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Introduçãoa Sociologia da Religião

espírito foi excluído. Ela é o ópio do povo. A abolição da religião

enquanto felicidade ilusória do povo é a exigência que formula sua

felicidade real. Exigir que ele renuncie a uma situação que tem

necessidade de ilusões. A crítica da religião é, portanto, em germe, a

crítica desse vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola. (...). A

crítica do céu se transforma, desse modo, em critica da terra, a crítica

da religião em crítica do direito, a crítica da teologia em crítica da

política (LÉGE & WILLAIME, 2009, p.20)

Assim, na compreensão marxista, a religião não a considerada como uma

realidade em si, antes é, para essa filosofia, sempre uma realidade fabricada a partir das

condições sociais determinadas. Porém, Marx e Engels, apesar da crítica, entendem que

a realidade do campo religioso surge como protesto, o protesto da miséria real que

assola o mundo, as más condições materiais de existência.

É possível dizer que antes de Marx e Engels o socialismo tinha bons olhos sobre

a religião, em especial sobre o cristianismo. Isso porque enxergavam a religião como

base e disso desenvolviam uma filantropia religiosa, onde Jesus não era apresentado

como o filho e o próprio Deus, mas como um revolucionário. Então Marx aparece

“santificando” o proletariado (classe dos trabalhadores) e “demonizando” os princípios

do cristianismo: “Os princípios sociais do cristianismo justificaram a escravidão antiga,

engrandeceram a servidão medieval e querem igualmente, caso necessário, defender a

opressão do proletariado, ainda que o façam com ar um tanto desolado” (LÉGER &

WILLAIME, 2009, p.24). É claro se trata de uma visão bastante atrasada sobre o real

trato cristão sobre a escravidão, mas, mostra como o pensador alemão considerava a

parte social cristã.

Os críticos alemães entendem que a religião no campo da sociedade pode

desempenhar um papel que seja tanto de limitação, quanto de emancipação. Isto é, a

religião pode se associar tanto com um sistema dominador e opressor, quanto com

ideias que conduzam a luta por liberdade desses mesmos sistemas. Sendo assim: “Os

efeitos sociopolíticos de uma religião – quer se trate do cristianismo, do islamismo ou

de uma outra religião – não estão lacrados para sempre, e uma mesma tradição religiosa

pode, conforme as épocas e os contextos, legitimar a dominação ou então legitimar o

protesto, quando não as duas coisas ao mesmo tempo” (LÉGER & WILLAIME, 2009,

p.25). A crítica marxista acentua-se justamente porque, a seu ver, sobretudo no

cristianismo, normalmente se opta pela legitimação do poder do detentor dos meios de 33

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Introduçãoa Sociologia da Religião

produção, sobre os trabalhadores assalariados, em síntese, do dominador sobre o

dominado.

7.1.3 – Analise sociológica da religião como contribuinte das ideologias;

O marxismo promove uma crítica as ideologias que, em sua ótica, são

tendenciosas e visam a manutenção do sistema, aquelas que tem a função de legitimar o

poder, em outras palavras, critica as ideologias que promovem a dominação coletiva, o

domínio do povo.

Para o marxismo, quando a ideologia assume sua forma mais elevada, ela se

apropria do Estado, tornando-o um Estado religioso, cheio de imperfeições surgidas por

causa da confusão que faz, tratando de forma política a religião e de forma religiosa a

política. Para Mar e Engels, parece claro, religião e política não devem se misturar,

portanto o Estado precisa ser laico nessa visão e às vezes atélaicista, eles, contudo

acreditavam não ser possível que o Estado se torne realmente laico, assim a solução

seria abolir o Estado.

Em uma das obras mais importantes dos pensadores alemães, “A ideologia

alemã”, falam ser a ideologia a representação invertida do real. Porque, quando a

ideologia produz suas representações, a realidade é travestida, a vida real escondida e o

mundo das ilusões e do ideal aparecem. É nesse ponto que a ideologia navega na

religião, que é tida como ilusão no marxismo.

7.1.4 – Crítica apologética ao marxismo;

Fica claro após essa breve exposição da sociologia marxista da religião, que um

cristão não pode aceitar essa cosmovisão sem cair em contradição. Existem movimentos

cristãos que se pretendem marxistas, mas o máximo que a igreja pode fazer é

desenvolver um diálogo naquilo que é comum, como por exemplo, os pontos que

buscam justiça aos pobres.

Por outro lado, são muitas as discordâncias. A seguir, serão expostos quatro

pontos que o teólogo de Oxford Alister Mcgrath descreveu na obra: “Apologética cristã

no século XXI: ciência e arte com integridade” (p.278):

a) O ateísmo de Marx é, no final das contas, uma hipótese não provada;

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Introduçãoa Sociologia da Religião

b) Na prática, a crítica de Marx à religião está toda ela baseada em sua visão sobre

a função social da religião na Alemanha do século XIX e, portanto, é inadequada

[isto é, antiquada];

c) Com o estabelecimento do Estado comunista em várias partes do mundo, a

religião não apenas sobreviveu; ela prosperou, apesar dos esforços planejados do

Estado para eliminá-la e fazer os eventos se conformarem à teoria [a

prosperidade de um Estado fez seu povo buscar a Deus e não a abandoná-lo

como erroneamente previu Marx];

d) Marx presume que se pode falar de “religião” em geral e, então, passa a criticar

religiões específicas. Marx nunca mostrou qualquer familiaridade real com os

aspectos específicos do cristianismo, fazendo, em vez disso, afirmações vagas

sobre religião em geral (em outras palavras, Marx não entendia de teologia

cristã, o que limitou fatalmente sua crítica);

Portanto, toda tradição marxista (em suas várias escolas) que segue a linha de

argumentação de seu mentor, erra, e além de errar, apresenta argumentos que são muito

mais emocionais e politicamente partidários, do que intelectuais e corretos.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

7.2 – ALEXIS DE TOCQUEVILLE

QUEM FOI?

Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador político e estadista francês. Foi considerado um dos grandes teóricos sobre a democracia americana. Especulou sobre a natureza essencial da própria democracia, suas vantagens e perigos. Interpretou o regime democrático como uma necessidade histórica resultando inevitavelmente da difusão da ideia de igualdade. 

Fonte: https://www.ebiografia.com/alexis_de_tocqueville/

7.2.1 – Religião e sociedades democráticas, crenças necessárias;

O pensador francês apoiou boa parte de sua produção no que chamou de livre

exame da dúvida metódica, da generalização da razão. Duvidar de tudo, para

Tocqueville, era tanto um direito quanto uma obviedade para todos aqueles que vivendo

em uma democracia, portanto em condição de igualdade, procuram a verdade por si

mesma.

A partir do ponto que o ser humano se utiliza da dúvida metódica, os homens

passam a adquirir crenças fundamentais partilhadas entre si, pensava Tocqueville. Essas

crenças são ideias que não podem ser colocadas no campo da dúvida metódica e

justamente por isso podem se apresentar como uma base forte dentro de uma dada

sociedade democrática. Claramente essas ideias para o pensador, são aquelas que estão

no campo da religião, como diz: “Para mim, duvido que o homem consiga jamais

suportar ao mesmo tempo uma completa independência religiosa e uma total liberdade

política; e sou levado a pensar que, se ele não tiver fé, é preciso que sirva, e, se for livre,

que creia” (LÉGER & WILLAIME, 2009, p.56). Portanto, a tal dúvida quando aparece,

ou obriga o homem a se entregar a fé ou ao serviço.

A sociologia da religião de Tocqueville entende que o ser humano por

necessidade precisa de crenças dogmáticas (certezas absolutas), ou seja, que possua

pontos que ele não possa discutir, que possuam uma confiança inabalável nesses. Essas

crenças são necessárias porque não existe, na concepção do sociólogo francês, nenhuma

sociedade que consiga prosperidade sem tais crenças, assim como não existe vida

sozinha que resiste também sem essas crenças, porque o homem nunca se força a provar

todas as verdades que são expostas todos os dias, portanto o salto de fé é evidente.36

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Introduçãoa Sociologia da Religião

Pela natureza das sociedades democráticas, onde cada indivíduo possui e pode

possuir um ponto de vista que lhe convém, existe a importância de que algumas crenças

e ideias gerais a respeito de Deus e a natureza humana, haja consenso entre seus

membros. É nessa necessidade de consenso que democraticamente, a mentalidade

coletiva aceita aspectos, crenças e crendices que surgem a respeito do divino e humano,

criando assim identidade própria. É dessa maneira que Tocqueville sustenta a chamada

tese da utilidade social da religião, a religião se coloca como base necessária a qualquer

sociedade, sobretudo as democráticas, uma espécie de religião civil, desobrigada de

instituições ou de dogmas transcendentes, antes, permitindo que vivam sem agir contra

sua liberdade dentro da coletividade.

7.2.2 – Estado e Igreja completamente separados;

Outro aspecto forte na sociologia da religião de Tocqueville, é que para o

pensador, tanto o espírito da religião, quanto o espírito da liberdade convivem muito

bem, devido o fator “separação entre Igreja e Estado”.

O pensador defende esse ponto, pois, para ele, mesmo sem o apoio do Estado a

religião possui um futuro, porque se apoia no campo da individualidade. Nesse ponto o

pensador declara que por isso, a incredulidade não passa de um acidente, porque o único

estado permanente da humanidade é a fé. Isso obriga as religiões estar no limite que a

ela está reservado, sem querer sair dele, pois quando assim o fazem, podem juntamente

com o Estado ser desacreditadas e perderem sua influência em ambos os campos, o do

Estado e no seu próprio, na religião.

Dessa forma, a religião para Tocqueville, está em lugar estratégico, pois possui

de forma muito eficiente à capacidade de moderar os desejos perigosos da democracia,

sem impor normas políticas, como se colocasse Deus sem diretamente se envolver com

posturas políticas humanas, deixando o lugar do poder livre, alimentando assim a partir

do religioso virtudes cívicas e um aguçado senso de solidariedade.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

7.3 – MAX WEBER

QUEM FOI?

Max Weber (1864-1920) foi um importante sociólogo e destacado economista alemão. Suas grandes obras são, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” e "Economia e Sociedade". Dedicou sua vida ao trabalho acadêmico, escrevendo sobres assuntos variados como o espírito do capitalismo e as religiões chinesas. Weber estudou a moral estabelecida por algumas seitas calvinistas dos séculos XVI E XVII, para mostrar que a Reforma Protestante havia criado, em alguns países ocidentais, uma cultura social mais favorável ao desenvolvimento econômico capitalista.

Fonte: https://www.ebiografia.com/max_weber

Sendo também um dos pais da sociologia, diferente de Marx, Weber emprega

em sua análise da sociedade uma considerável porção voltada para a religião. Não

apenas como crítica, mas reconhecendo, sobretudo o papal que a religião exerce dentro

da vida social e reconhecendo sua inegável influência.

7.3.1 – A sociologia da dominação religiosa weberiana

Segundo o pensamento de Weber, religião é um modo de agir particular em

comunidade. É esse modo de agir, que sua sociologia pretende estudar. Dessa forma, o

sociólogo alemão não enxergará na religião apenas um sistema de crenças, entende mais

como um sistema de regulamentação da vida.

A atividade religiosa está voltada para a regulação das relações das potências

“sobrenaturais” com a humanidade, ou seja, a religião é a mediação entre o divino e o

humano, o sagrado e o profano o atemporal e o temporal. Weber não trata a essência da

religião, pois entende que essa, está no campo da incompreensão, pois trabalha com

temáticas problemáticas como o mérito e o destino, a existência do sofrimento e a

realidade da morte. Assim, a sociologia weberiana pensa a religião aqui em baixo, não

lá em cima, tem muito mais a ver com a vida terrestre, do que celeste. Essa seria o que

chama de força motriz de todas as religiões.

O pensador alemão mostra que a os bens de salvação que são oferecidos pelas

religiões, desde as mais primitivas até as mais civilizadas, se pautam na utilidade para a

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Introduçãoa Sociologia da Religião

vida no aqui e no hoje, como: saúde, longa vida, riqueza, etc. Apenas a classe sacerdotal

visava uma salvação que extrapolava os limites do aqui e agora, para se interessar numa

vida extra mundo. Por esse motivo, muitas religiões ajudaram fazer aquilo que Weber

chama de desmagnificação e racionalização do mundo, isto é, uma visão que se pauta

mais nas necessidades sociais para a vida aqui, do que o apego metafísico ao além.

A partir disso Weber vai entender que os agrupamentos religiosos são

agrupamentos de dominação de forma particular, pois de forma particular exerce

domínio sobre os seres humanos.Portanto, nessa sociologia da religião, a religião como

modo de agir, gera duas características principais sendo a primeira o laço social e a

segunda o modo de poder que ela dá lugar é na segunda característica que a religião se

torna um instrumento de dominação podendo servir aos mais diversos fins, quer

positivos, quer negativos.

Então Weber vai entender que o poder religioso, a exemplo das demais formas

de poder é exercido de três formas que ele vai chamar de:

Legitimação racional-legal (na religião é o tipo ideal do sacerdote): o poder

é exercido pela autoridade administrativa, que é impessoal e se vale nos

regulamentos e nas funções.

Legitimação tradicional (na religião é o tipo ideal do feiticeiro): nesse caso

o poder é exercido pela força dos costumes e na transmissão das tradições

das funções e papais que se exerce.

Legitimação carismática (na religião é o tipo ideal do profeta): o poder é

exercido baseando-se na autoridade e na capacidade e habilidades aceitas por

uma sociedade de um determinado indivíduo.

7.3.2 – A religião e os meios sociais.

É considerável a atenção dada por Weber às diferenças sociais que são

observadas na religião. Ele entende que toda necessidade de salvação que existe no ser

humano, expressa uma espécie de miséria, dito isso, tanto a opressão econômica, quanto

a social estão na gênese ou deram origem as buscas por redenção nas crenças religiosas.

A essa altura alguém poderá pensar que esse discurso se parece muito com o discurso

marxista, porém, diferente de Marx, Weber não crê que essas fontes, apesar de fortes,

sejam as únicas ou que sem elas não se buscaria a redenção.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

O que Weber quer passar é que a religião vai dar conta tanto a necessidade de

redenção humana, quanto a vontade da legitimação do sucesso próprio, ou seja, não

apenas a possibilidade das bênçãos para o depois ou pós-morte, mas também a

possibilidade de uma vida vitoriosa aqui, como resposta da vontade divina sobre o

indivíduo, o que seria também redentor, para além disso, seria, na concepção da

sociologia da religião weberiana, a felicidade.

Outro contraponto que a sociologia weberiana apresenta frente a marxista, diz

respeito ao fato de Weber entender que “Uma religião de salvação pode muito bem

encontrar sua origem no seio de camadas socialmente privilegiadas” (LÉGER &

WILLAIME, 2009:99). Essa declaração mostra que weberianamente falando, a religião

não é fruto da alienação socioeconômica como diz o marxismo, não é um fenômeno

apenas dos mais empobrecidos ou menos abastados, isso porque em Weber o

econômico, nunca determina as atitudes religiosas (claro que nesse caso se entende as

legítimas atitudes religiosas e não as que se dizem verdadeiras, mas sua base é a

ganância).

Por ter essa afinidade com os meios sociais, Weber enxerga algumas coisas

importantes sobre o desenvolvimento e emergência do cristianismo que inicialmente

não passava de uma seita camponesa. Esse desenvolvimento está ligado, sobretudo ao

trato que ele empregava a questões de gênero e o tratamento das camadas mais

populares até as mais as abastadas. Em outras palavras, diferente, por exemplo, da

religião de Mitra (vem de mitraísmo, religião de mistérios nascida provavelmente no

século II a.C. no Mediterrâneo Oriental, maior que o cristianismo em sua origem e

ferrenha rival), que excluía totalmente as mulheres, o cristianismo apesar da cultura,

estava repleto de mulheres seguidoras fiéis e também não era difícil de encontrar entre

os discípulos cristãos de pescadores até publicanos, passando por senhoras que

possuíam fortunas e sustentavam o ministério de Cristo. Desse modo, ricos e pobres são

aceitos no cristianismo desde seu começo.

A sociologia weberiana das religiões se interessa bastante pelo que chama de

fenômeno das seitas. Isso porque Weber é o autor da ideia como tipo ideal de seita, além

disso, se interessa aquilo que esse modo de existência religiosa pode exercer no meio da

sociedade e o que pode provocar como fenômeno em dadas categorias da população,

como por exemplo, a solidariedade comunitária que pode exercer. Nesse ponto serve de

exemplo à solidariedade exercida de forma explícita pelos meios espiritualistas no

Brasil, sobretudo os de linha kardecista e ramificações da mesma. 40

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Introduçãoa Sociologia da Religião

Ainda dentro desse tópico, para Weber, as necessidades das massas exercem

uma espécie de obrigação sobre as religiões, a obrigação de se adaptar às necessidades

do povo enquanto faz a mediação facilitadora do acesso ao divino. Segundo o pensador

alemão, esse processo é inevitável, não tem como uma religião que se apresente as

massas ignorar. As únicas religiões que não se colocaram a essa inevitabilidade, foram o

judaísmo e o protestantismo.

7.3.3 – Uma ética protestante no espírito do capitalismo

Na introdução de “A Ética protestante e o Espírito do capitalismo” de Max

Weber pela editora Martin Claret, Silvio L. Sant’anna comenta a intenção de Weber ao

escrever este livro que é considerado um clássico, isto é, defender sua tese sobre o

capitalismo pautada no que ele chama de ética protestante. Sant’anna então descreve o

que é tal ética para o sociólogo alemão,“Ética protestante: há algo no estilo de vida

daqueles que professam o protestantismo que favorece o espírito do capitalismo. Neste

livro o autor se dedica a comprovar essa tese” (WEBER, p.11). Dessa maneira

comentaremos frases dos discursos de Bush e Obama sob o arcabouço teórico de Max

Weber.

A ideia de ética que a sociologia da religião weberiana traz, não é a

convencionalmente conhecida como o campo da filosofia que julga a moral. Aqui, é a

ideia de ethos, que nesse caso significa uma ética que se apresenta como prática ou uma

forma de pensar e de viver que leve a condução da vida. Trata-se de uma disposição que

leva a orientação para a ação e por fim finda em uma conduta de vida adequada.

Quando Weber fala de “espírito” do capitalismo, ele não quer descrever um

espectro ou um ente, um ser ou entidade, ele quer dizer com esse termo uma forma de

viver. Basicamente, buscando compreender o que motivou a ação racional e ascética dos

que olham para seu trabalho como uma verdadeira vocação.

Segundo Léger, o título do livro que se chama “A ética protestante e o espírito

do capitalismo”, poderia se chamar: “As afinidades do ethos puritano e do espírito do

empreendedor ocidental”(LÉGER & WILLAIME, p.115). Esse título mostra que para

Weber a Reforma demonstra uma forma específica de dominação religiosa, não uma

dominação direta, mas de forma indireta que faz com que o individuo tenha sua vida

controlada de forma estreita regulando toda sua conduta de viver.Em a “A ética

protestante e o espírito do capitalismo” discorre: “Junto à valorização positiva do 41

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Introduçãoa Sociologia da Religião

trabalho está também presente no espírito calvinista uma valorização positiva da riqueza

criada por esse trabalho... A riqueza criada deve ser reinvestida, deve servir de estímulo

para que sejam criadas novas formas de trabalho” (Catani, p.18). Nesse ponto, Weber

deixa claro que o protestantismo de linha calvinista, bem como sua teologia, foram

fortes embasamentos que mediaram a vida do trabalho e o desenvolvimento do capital

como sistema.

A pergunta que Weber vai tentar responder é, por que o capitalismo proliferou

no protestantismo? Para responder a essa questão, o sociólogo alemão mostra como o

capitalismo lutou para prevalecer e se impor. Não havia a naturalidade até a Reforma,

em o homem se dedicar de corpo e alma a sua profissão. É no contexto da Reforma

protestante que surge a ideia doutrinária, do trabalho como vocação, enviada por Deus e

exigida dos seus, em outras palavras, o homem deve trabalhar, exercer sua profissão,

não como para um patrão ou para uma empresa que lucrará, mas, como que para Deus, e

isso rotineiramente. Esse era o gancho que tanto precisava o novo sistema econômico

para se desenvolver sem precedentes.

É importante também dizer que dentro da sociologia da religião de Weber, a

compreensão do empreendedor capitalista, virou um “tipo ideal” daquele que não aceita

a ostentação do gasto de forma inútil, pois toma isso como o desperdício de seu

“poder”. Portanto, ele está interessado, no que o sociólogo descreve de forma não

ofensiva, como o sentimento irracional de ter realizado sua profissão. É como disse o

escritor Richard Baxter: “ser rico para Deus, não para a carne e o pecado” (LÉGER &

WILLAIME, 2009, p.118). Essa motivação religiosa, que chamou de “ascetismo

intramundano”, é o que está no coração do protestantismo, o que favoreceu e favorece o

capitalismo.

Por fim e de importância muito grande para fechar esse assunto, cabe um

comentário a seguinte citação de Weber: “De fato, não é mais necessário o suporte de

qualquer força religiosa, e percebe-se que as tentativas da religião de influenciar a vida

econômica, na medida em que ainda podem ser sentidas, são uma interferência

injustificada, tanto como uma regulamentação por parte do Estado”. (WEBER, p. 64).

Assim, ele deixa claro que não há mais qualquer influência do protestantismo ou de

qualquer outra religião na política econômica de países inseridos no âmbito ocidental,

isto é, a religião não possui o poder para transformar qualquer política

econômica.Weber dizia já em 1904/1905, época em que foram lançados os artigos de

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seu livro, o que leva a entendermos que hoje é muito mais complicado alguém afirmar

que a religião influencia ou tem o controle do sistema econômico.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

7.4 - GEORG SIMMEL

QUEM FOI?

Georg Simmel, (1858-1918) foi um sociólogo e filósofo alemão, considerado o fundador da Sociologia Formal ou Sociologia das Formas Sociais. Simmel foi batizado como luterano, mas retirou-se da igreja, apesar de manter interesse filosófico na religião.

Fonte: https://www.ebiografia.com/georg_simmel/

7.4.1 - A permanência e a fluidez da Religião

Simmel considerava e valorizava bastante o sentimento religioso e sua existência

no ser humano. Por esse motivo, não aceitava e até estranhava toda e qualquer tentativa

de declarar o fim desse sentimento ou até mesmo que a religiosidade humana está em

declínio, como o movimento iluminista supunha já havia duzentos anos. Criticava então,

as teorias sociais que visavam desacreditar o sentimento religioso, pois o movimento

ainda acontece hoje e se olhar de perto, a religiosidade está mais viva do que nunca.

O pensador entende que a religião se apresentará com diferentes formas de

socialização, o que ocorre devido os conteúdos serem idênticos, entretanto, a forma

como uma comunidade religiosa se apresenta é sempre peculiar a ela mesma o que torna

a manifestação religiosa bastante plural em manifestações, mas centrada nela mesma e

em suas leituras de mundo.

7.4.2 - Socialização da vida religiosa

Para Simmel, assim como outras áreas da vida social, a vida religiosa sofre a

influência do que o sociólogo chama de determinação quantitativa do grupo, isto é, a

quantidade de indivíduos, também determina a vida coletiva da religião. O poder de

influência do grupo em que uma religião está, para Simmel, exerce total influência

sobre ela. Um exemplo que ele procura dar é o de que quando o cristianismo se aliou ao

Estado Romano, o mudou por inteiro de sua constituição sociológica a sua vida

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Introduçãoa Sociologia da Religião

psíquica. Foi nesse momento que o cristianismo passou de seita (naquela época

significando pequeno grupo) para igreja ou religião institucionalizada.

A socialização da vida religiosa passa na sociologia da religião de Simmel ainda

pelo crivo sectário das sociedades secretas. Esses grupos, inquietam e provocam reações

diversas aos grupos que estão no poder político-religioso. Para o sociólogo na verdade,

essas sociedades não precisariam ser temidas, porém o são por causa da expressão que

carregam “secreta”, tal expressão parece apontar para um nível de subversão e de

desconhecimento que causa medo nos que dominam, pelo simples fato de não saberem

exatamente do que se trata, o aspecto secreto. Esse também, é um caso em que a vida

religiosa é estigmatizada por sua sociedade.

7.4.3 – Comparação histórica entre as religiões

Procurando trabalhar as várias formas de dominação, Simmel aponta para o que

a seu ver é um tipo específico de dominação religiosa, a dominação do monoteísmo

sobre as demais compreensões e cosmovisões, sobretudo sobre o politeísmo” (LÉGER

& WILLAIME, p.151). Segundo Simmel, o politeísmo dá muito mais liberdade que o

monoteísmo, uma vez que em sua pluralidade, dá plena liberdade ao seu fiel para se

quiser negar o deus atual por outro que considere mais relevante.

Aquelas chamadas por Simmel de religiões particulares (referência às religiões

da subjetividade, que não delimitam a divindade e não possuem livros de regras de fé e

doutrina), são tolerantes, pelo fato de que cada divindade se importar apenas com seus

fiéis e esses por sua vez não veem problema em outros acreditarem em deuses diferentes

dos seus. Já o cristianismo, por apostar nas singularidades de seu Deus, sua Palavra e

sua salvação, é tido por Simmel como intolerante, pois se refere apenas aos seus fiéis,

seus cultos, suas crenças, contrariando-se quando avistam adoração a outros cultos, pois

o Deus na visão cristã é Deus dos crentes e também dos não crentes, ainda que esses

nãos saibam disso. Porém, o cristianismo é tolerante no que se refere ao encontro com o

divino, que pode variar bastante, pensava Simmel.

Um conceito importante em Simmel na análise comparativa da religião, é o que

ele chama de “cruzamento dos círculos sociais”. Para ele a religião se mistura e/ou

nãose mistura com os interesses que a sociedade possui, os interesses da cultura, da

política, da economia, etnias etc. Isso significa que se misturando ou não a religião tem

interferência nos laços que ligam a sociedade a ponto de torná-los mai fortes, de 45

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sacralizá-los ou até de ruí-los. Para Simmel, todavia, de todos os intrincamentos

possíveis, o mais significativo é o que transcende os laços sociais através da

individualidade ou individualismo, como no caso do cristianismo, que leva o indivíduo

a superar as dificuldades dos laços da economia, cultura ou política, sem ser afetado

diretamente, ainda que influenciado, nesse momento é possível que a interferência desse

indivíduo individualizado em sua religiosidade, interfira decisivamente nos laços

sociais, independente de ser positiva ou negativa essa interferência.

7.5 – ÉMILE DURKHEIM

QUEM FOI?

Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês. É considerado o pai da Sociologia Moderna e chefe da chamada Escola Sociológica Francesa. É o criador da teoria da coesão social. Junto com Karl Marx e Max Weber, formam um dos pilares dos estudos sociológicos. Afirmou que não existem religiões falsas, que todas são essencialmente sociais. Definiu religião como “Um sistema universal de crenças e práticas relativas às coisas sagradas”.

Fonte: https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/

5.1 – O sagrado na religiosidade

Durkheim foi mais um daqueles ultra humanistas, provavelmente influenciado

pelo iluminismo, que realmente acreditou que na sociedade moderna, a visão das

religiões tradicionais (como cristianismo, judaísmo e islamismo), estava superada e por

isso a humanidade precisava e tinha toda capacidade necessária para exercer uma nova

religiosidade como um novo ideal. Essa visão de uma religião imbricada na sociedade e

cheia da natureza humana, era extremamente otimista, hoje seria considerada até

ingênua. Como característica a religião social da humanidade, faria do humano um deus

para o humano e da humanidade o que há de mais sagrado. Era, por assim dizer, uma

pretensão radical e que vinha acompanhada com outras posições igualmente

superotimistas, pois para chegar a esse ideal social a escola seria o local de difusão

dessa nova “religião do homem” (LÉGER & WILLAIME, p.164).

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7.5.2 – As formas elementares da vida religiosa

Entrando na sociologia da religião durkheimiana propriamente, temos uma obra

espetacular deixada pelo autor intitulada “Formas elementares da vida religiosa” de

1912. Entre outros pontos alguns podem ser destacados sobre a sociologia da religião de

Durkheim nessa obra. Para o sociólogo, religião não pode ser destacada apenas como

algo sobrenatural, o que não quer dizer que ele não leve em consideração que a maior

parte das religiões se pretendem sobrenaturais, pois se fizer isso, teria que descrever

religião como “o mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível” (LÉGER

& WILLAIME, p.164), o que sugere não ser possível jamais analisar o fenômeno social

religião. Isso não é bem-vindo em sociedades modernas onde tudo é examinável pelo

crivo das evidências.

O sociólogo alemão dará exemplos de algumas religiosidades que não abusam

das questões sobrenaturais, a isso cita grandes religiões como o budismo e o jainismo

que não possuem a ideia fixa de espíritos e deuses, são religiões ateias por assim dizer,

embora nutram crenças sobrenaturais, porém se pautam muito mais na alma humana.

Dessa maneira, Durkheim fixa a compreensão sociológica da possibilidade de existência

de rituais religiosos sem deuses, o que faz com que o objeto principal da ideia de

religião não seja apenas a divindade. Assim, a única forma de se estudar religião na

visão do sociólogo é decompondo suas partes, pois a religião é esse emaranhado de

partes feita de dogmas, ritos e cerimônias, como fenômenos elementares da vida social.

As crenças religiosas, não importando quais, possuem algo comum, trata-se da

suposição de coisas reais e ideais classificadas em dois gêneros, o sagrado e o profano.

Quando se fala de sagrado, está nesse grupo tudo aquilo que é caríssimo a uma tradição

ou experiência religiosa coletiva, por isso é variável, por depender de qual religião se

analisa. Já o profano é o totalmente outro, o oposto que causa estranheza quando diante

do sagrado. Desta maneira, o que determina o que é sagrado é o que é profano, na visão

durkheimiana é a vida social.

Religião tem a ver com a solidariedade aplicada de forma sistemática

envolvendo crenças no que é sagrado. Essas crenças envolvem a praticidade que traz

unidade moral a comunidade em elas estão inseridas. Isso é explicado por Durkheim

como fato religioso, um fato social levado extremamente a sério pelo sociólogo, pois é a

fonte que direcionou os homens em todas as épocas, impulsionando-os a viver.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

O sagrado vai se manifestar de forma externa ao ser humano, pois, embora

existam as religiões que atribuem a natureza e ao ser humano um caráter sagrado, nem

um, nem outro possuem um caráter sagrado em si, na concepção durkheimiana. Dessa

maneira, a humanidade buscou e busca na maioria das vezes outra fonte fora do humano

e fora do físico, como necessidade de resposta aquilo que tanto o humano, quanto a

natureza não dão conta e nem podem dar, pois está fora de suas esferas.

O fato religioso é compreendido através de um reconhecimento da consistência

dos fenômenos que amoldam dos costumes a vida social, o que tem uma profunda

relevância e influência na vida interior de cada indivíduo, que por sua vez reflete nos

grupos humanos de onde vem, o direcionamento da ação religiosa.

Durkheim então entendeu que não é possível interpretar a religião de forma

racional, a partir de uma postura irreligiosa, isto é, não se compreende religião

combatendo religião, pois seria a negação de um fato social, o fato religioso. O

sociólogo reconhece que esse fato pode ser compreendido ou não, mas não se pode

negá-lo, não se pode negar um fato social.

Apesar de sua visão pouco cristã ou nada convencional sobre a religião,

Durkheim entende que: “O homem que obedece a seu deus, e que, por esse motivo crê

tê-lo conseguido, aborda o mundo com uma confiança e uma energia maior” (LÉGER &

WILLAIME, p.190).Dentro desse pensamento, o ganho que a obediência a divindade

traz é o ânimo para uma vida melhor.

A partir da repetição da prática religiosa em uma vida, Durkheim entender que

provoca a persuasão do indivíduo a si mesmo de que existem dois mundos diferentes

que não podem ser confundidos. Um dos mundos é o da vida corriqueira e natural,

cotidiana. O outro é o mundo das coisas sagradas. O primeiro é o mundo da profanação,

o outro da sanidade sagrada.

7.5.3 – O sagrado e o institucional: os dois campos da religião

A ideia dos dois patamares ou dois mundos da religião em Durkheim, não é a

única maneira de se conceber a religião, existe também uma dimensão que se confunde

com a experiência emocional. Na relação com o sagrado, existe uma tentativa de

administração do mesmo, essa surge a partir da institucionalização da religião que

institucionaliza as emoções mais profundas, o que exclui o sagrado da vida íntima de

alguém. Durkheim entende que a administração do sagrado causa a perda da 48

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Introduçãoa Sociologia da Religião

religiosidade, cuja ultima etapa é a laicização da sociedade. Portanto, existe um desafio

enorme ao campo religioso, por causa da instituição.

Para o sociólogo, porém, a laicização e a descrença não poderão durar

eternamente:

Durkheim não pode crer que “esse estado de incerteza e agitação

confusa” possa durar eternamente. “um dia virá – escreve ele, nas

últimas páginas de formas –, em que nossas sociedades conhecerão de

novo horas de efervescência criativa no decorrer das quais novos

ideais surgirão, novas fórmulas se desprenderão, servindo, durante um

tempo como guia para a humanidade; e tais horas, depois de vividas,

os homens experimentarão espontaneamente a necessidade de revivê-

las de tempos em tempos pelo pensamento, ou seja, de manter sua

lembrança por meio de festas que revivificarão regularmente seus

frutos” (LÉGER & WILLAIME, p.201).

CAPITULO 8 – Religiosidade no Brasil, aspectos sociológicos

8.1 – MAURICE HALBWACHS

QUEM FOI?

Maurice Halbwachs (1877-1945) foi um sociólogo francês, destacado por seus trabalhos sobre a memória coletiva. De ideologia socialista, nesse mesmo ano, foi preso pelas tropas alemãs, após a ocupação nazista de Paris. Meses mais tarde, foi levado para o campo de concentração de Buchenwld, onde foi assassinado.

Fonte: https://www.ebiografia.com/maurice_halbwachs/

8.1.1 –A memória e a religião

Halbwachs entende que dentro do simbolismo que é típico dos grupos religiosos,

a religião reproduz uma história interna que traz migrações, fusão de diversas etnias e

outros aspectos que vem desde as origens sociais. Dinamicamente, uma religião

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Introduçãoa Sociologia da Religião

desenvolve a capacidade de gerenciar as heranças de crenças e ritos passados. Assim,

quando se estuda a religiosidade antiga, percebe-se que existem resquícios de tradições

que perdurara até hoje e esses resquícios são difíceis de ser detectados, por possuírem

variadas fontes por vezes estranhas a quem as identificam.

Não é natural que uma sociedade busque em sua memória resquícios de rituais

de religiões antigas, buscando ressuscitar essas antigas religiosidades. Contudo, a

religiosidade antiga reaparece sem ser evocada, se apropriando da preservação que

tradição religiosa traz.

Halbwachs, exclui a possibilidade de uma reaparição simplória da felicidade

antiga, quando reaparecem como reconstrução inovadora, , que surge pautada no antigo,

porém, respondendo os desafios contemporâneos da sociedade e da cultura. Essa

reaparição da religiosidade antiga, contem parcialmente na realidade, uma parte

pequeníssima da religiosidade rural da antiguidade. Mesmo nas religiosidades mais

populares como: peregrinações, cultos locais, práticas de cura, etc. A busca pelas

práticas religiosas mais primitivas, chamadas de tradicionais, são procuradas por uma

parcela pequena da sociedade que inclui: intelectuais médios, professores, agentes

sociais, intermediários culturais, técnicos e engenheiros. Dentro disso, não se pode dizer

que uma religiosidade contemporânea que parece inovadora, seja de fato inovadora.

Isso, porque uma inovação está subordinada ao imperativo da continuidade, tópico de

todo o pensamento religioso.

A continuidade que existe nas religiões, explica Halbwachs, se dá pelo fato da

religião herdar essa continuidade como herança da sociedade. Entretanto, essa

continuidade é ameaçada pela necessidade de mudança inovadora que uma religião

necessita para existir. O autor vai citar como exemplo de resgate da memória e das

lembranças o culto cristão que tem como principal alvo de seu culto, a reativação de

lembranças que fazem refletir sobre as situações passadas, presentes e futuras, dizendo

com que uma verdade surja, essa transformada em dogma.

A característica principal de uma crença em seu caráter religioso, está baseado

totalmente em resgate as lembranças que se referemàs verdades universais daquela

crença. Dessa forma, a constituição em si da religião, para Halbwachs, vem de

lembranças circunstanciais da história, as quais evocadas por lembranças acessadas na

memória sustentam gerações de crentes.

As verdades não religiosas, segundo o pensador francês, aparecem como

relativas e dependentes do momento histórico de onde surgem. Já as verdades, 50

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Introduçãoa Sociologia da Religião

religiosas são consideradas pelos seus adeptos, definitivas e imutáveis. O absoluto como

verdade religiosa, surge como fonte de memória conquistadora. Portanto, fica claro até

aqui que, na visão halbwachiana, A memória é uma necessidade para a religião, está

presente em toda ela, daí afirmo que, em toda a religião, a referência ao passado é

onipresente.

8.1.2 – Religião é memória?

O sociólogo francês, no tocante sua sociologia da religião, lhe interessa,

sobretudo a dinâmica da crença religiosa e o que impulsiona toda essa dinâmica de

crença religiosa é a memória. Mostra assim, que a memória religiosa trabalha com o

tempo em duas dimensões: a da história e a da eternidade. Isso acontece porque a

memória recorre à antiguidade que passou, mas se esforça o tempo inteiro para lembrar-

se de uma verdade eterna. É por isso que a religião tem a fama de parecer estar fora do

tempo.

A memória religiosa permite, na concepção de Halbwachs, manter unido um

povo, numa só crença religiosa. A construção dessa crença e a experiência emotiva do

divino ou o fenômeno religioso da presença de Deus. Tudo ligado pela memória junto

ao acontecimento histórico.

8.2 – HENRI DESROCHE

QUEM FOI?

Henri Desroche (1914-1994), sociólogo francês, deixou uma importante obra em Sociologia das religiões e do cooperativismo. Além disso, foi grande idealizador da pesquisa-ação e da educação permanente. Centrado nos temas da pesquisa-ação e do projeto cooperativo.

Fonte: https://www.martinsfontespaulista.com.br/pesquisa-acao-e-projeto-cooperativo-na-perspectiva-de-henri-desroche-222588.aspx/p

8.2.1 –Sociologia religiosa da esperança

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Introduçãoa Sociologia da Religião

O sociólogo entende que, como fenômeno social, esperança e desilusão dão

ritmo ao motor da história humana, por isso, ele busca contra todas as probabilidades

fazer uma síntese do cristianismo, marxismo e a pluralidade de socialismo, que juntos,

compreende o pensador, podem fazer o céu, chegar a terra. Uma esperança

absolutamente viva em sua sociologia.

Por causa de sua pretensão de fazer essa síntese improvável, a sociologia da

religião de Desroche, não pode ser outra se não uma sociologia do agir religioso, pois é

na ação humana que a coerência com o discurso surge. Poderia, portanto, diante de todo

esse impulso para a ação existente em sua sociologia, a sociologia da religião do

pensador francês poderia se chamar de Sociologia da práxis religiosa.

8.2.2 –A atenção marginal: a atenção do que não tem atenção

A sociologia religiosa desrocheana faz uma estrutura dos tidos como marginais

na religião, àqueles que não têm voz, nem vez, daqueles que se afastaram das grandes

convenções religiosas ou institucionais. As religiosidades alternativas, segundo

Desroche, são religiões de oposição diante da hegemonia das religiões consagradas e

aceitas.

Nas religiões existe uma capacidade explicita de fazer “o social”, pensa

Desroche, e isso deveria ser exercido para superar as dificuldades latentes nesse mundo,

em seu pensamento acredita que essa capacidade está: “... para além até da perda de

influência social e cultural das instituições religiosas nas quais se inscrevia sua

dominação hegemônica antiga sobre as consciências” (LÉGER & WILLAIME,

p.304).O olhar para os desvalidos, não é uma excentricidade nas comunidades

religiosas, é uma normalidade, faz parte do ser religioso o estender das mãos, o atender

o desprovido, mesmo que, ao fazer isso, o poder temporal dessa religião diminua. É

nesse instante, que se torna uma oposição aquele caráter religioso que se coloca apenas

como dominação e ao lado dos que dominam.

8.2.3 – A expectativa social religiosa

Para fechar as ideias principais da sociologia da religião desrocheana, cabe dizer

algo sobre a expectativa que a esperança religiosa traz. Dentro de perspectivas sociais, 52

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Introduçãoa Sociologia da Religião

não faz sentido ter uma religião que não traga “sal e luz” a esse mundo de corrupção e

injustiça. Se o campo religioso não apostar no avanço de comunidades de amor e justiça

mútuas, esse campo está fadado a desaparecer, pois somente sobrará a outra aba da

religião, a que atende aos interesses dos que dominam e isso não atende a sede humana

por religião.

O caso do messianismo é colocado como exemplo por Desroche, por se basear

na vinda de um redentor, que na perspectiva tanto judaica, quanto cristã, esse redentor

exercerá um domínio real que levará a paz e a uma vida que para muitos ainda é

utópica. Olhando a promessa da vinda do messias, Desroche adere a outro conceito

sócio-religioso, o milenarismo, que aponta o messias como personagem central de uma

sociedade futura de justiça. A junção de messianismo com milenarismo é o que

desenvolve uma sociologia da esperança.

8.3 – ZygmuntBauman 

QUEM FOI?

ZygmuntBauman (1927-2017) foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais padrão de referência.

Fonte: https://www.ebiografia.com/zygmunt_bauman/

8.3.1 – Religião e pós-modernidade

Para um dos mais bem-sucedidos pensadores do final do século XX, “A religião

pertence a uma família de curiosos e às vezes embaraçantes conceitos que a gente

compreende perfeitamente até querer defini-los” (BAUMAN,2013, p. 205). Em outras

palavras, para Bauman, religião se compreende perfeitamente no campo da

subjetividade, isto é, de forma individual, até querer discuti-la e compreendê-la de

forma coletiva, junto com os outros. Isso revela a crença da sociologia da religião do

pensador polonês, de que a pós-modernidade alcançou e influência as crenças religiosas

também.

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Introduçãoa Sociologia da Religião

8.3.2 – Fundamentalismo e religiosidade líquida

Bauman está no grupo de sociólogos que ao olhar para o que aconteceu com a

sociedade desde o iluminismo, com todo o avanço técnico-científico, percebeu que

invés do acompanhamento desse avanço por parte da moral e dos laços de humanidade,

o contrário ocorreu, cada vez mais frio, o ser humano cometeu atrocidades que nunca

antes tinha tido coragem de cometer. Isso mostrou que o vazio existencial não foi uma

opção, mas uma realidade, a desilusão com o desenvolvimento técnico-científico foi tão

grande após duas guerras mundiais, que a busca por religião teve seu fôlego renovado,

porém a religiosidade tem novos aspectos específicos diretamente proporcionais à pós-

modernidade.

O Sociólogo polonês entende que a pós-modernidade foi apropriada pela

religião, assim como tudo mais, o que adequou os discursos e as práticas religiosas no

interior de uma sociedade, buscando atender a demandas, socioculturais. Aponta que

surgiu uma nova característica da religião, que está voltada diretamente para as

necessidades dos indivíduos, enquanto o aspecto da modernidade que diz ser o ser

humano incompleto, insuficiente e que não controla seu destino, continua vivo trazendo

uma relação dialética e um movimento de síntese que mistura as duas concepções. É

nesse contexto que nascerá o fundamentalismo.Esse fundamentalismo, trás a público

todos os anseios de uma sociedade que rendida a pós-modernidade que impõe sobre as

liberdades individuais que se tornaram altamente exageradas e até insuportáveis diz

Bauman (BAUMAN, 2013, p. 228-229).

Num mundo em que todos os meios de vida são permitidos, mas

nenhum é seguro, elas mostram coragem suficiente para dizer, aos que

estão ávidos de escutar, o que decidir de maneira que a decisão

continue segura e se justifique em todos os julgamentos a que

interesse. A esse respeito ofundamentalismo religioso pertence a uma

família mais ampla de soluções totalitárias ou protototalitárias,

oferecidas a todos os que deparam a carga da liberdade individual

excessiva e insuportável. (BAUMAN, p.229, 1998).

O que mais intriga na análise da religião em Bauman, é que ele, ao mesmo

tempo em que revela a rigidez de algumas características da religião como o

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fundamentalismo, aponta que a religiosidade pós-moderna é imensamente fluída, o que

aponta para sua metáfora de liquidez:

Bauman escolhe o “líquido” como metáfora para ilustrar o estado

dessas mudanças: facilmente adaptáveis, fáceis de serem moldadas e

capazes de manter suas propriedades originais. As formas de vida

moderna, segundo ele, se assemelham pela vulnerabilidade e fluidez,

incapazes de manter a mesma identidade por muito tempo, o que

reforça esse estado temporário das relações sociais.5

Ao olhar para a religião hoje, não tem como não encontrar as similaridades com

a ideia de liquidez de Bauman, pois tomando como exemplo principal o protestantismo

evangélico brasileiro, os membros leigos das igrejas se adaptam em uma velocidade

enorme ao discurso, seja ele qual for, desde que atenda seus interesses. Ao mesmo

tempo em que você tem uma pluralidade tão grande que chega a ser impossível em

certos casos entender como uma igreja A e uma igreja B podem ser consideradas no

mesmo campo religioso tamanha diferença.

CONCLUSÃO

Ao termino dessa matéria, é importante analisar os ganhos que o estudante de

teologia adquiriu isso porque, como deve ter percebido, todo conhecimento que o

estudante adquire, influencia em sua prática ministerial, permitindo que possa fazer

leituras mais adequadas da realidade onde vide ou local, bem como da natureza dos

movimentos que surgem na igreja e no mundo.

O primeiro ganho que o estudante teve ao se deparar com a Sociologia foi a

compreensão melhor da construção e da vida em sociedade. Uma sociedade não nasce

pronta e acabada e também não existe de forma cristalizada sem mudanças, é dinâmica

e construída por uma série de fatores, dentre esses política, economia, direito, cultura e

claro, religião, que interagem nas relações humanas.

Um segundo ganho que o estudo da disciplina Sociologia da religião trouxe foi à

compreensão mais adequada do que é religião e seus desdobramentos. Num mundo

como o atual, onde a pluralidade religiosa se impõe, é primordial saber o que é religião,

para a partir dessa base estudar-se as religiões que disputam espaço com o cristianismo.

5 Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/12/3-reflexoes-para-entender-o-pensamento-de-zygmunt-bauman.html

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O terceiro ganho foi a compreensão dos principais conceitos que estão presentes

nas ciências sociais. Entender agrupamentos e fatos sociais, tipos ideais, instituições,

métodos sociológicos entre outros, permite o olhar técnico que dará autoridade ao

teólogo quando discutir as especificidades da realidade vigente.

O último e preciosíssimo ganho foi o contato com as principais ideias sobre

religião dos mais fundamentais sociólogos da história. Não será pego de surpresa o

estudante que de forma séria estudou os conceitos da Sociologia da religião aqui

contidos e que vez ou outra surgirão como respostas interpretativas da sociedade em que

esse estudante exerce seu ministério. Dar conta desses conceitos será muito útil ao

avanço do Reino.

Assim, o estudante que com destreza passou por essa disciplina, está preparado

para enfrentar desafios que o mundo secular apresenta, mantendo a cosmovisão cristã

sem permitir que o que é fundamental ao cristianismo, seja prejudicado pó movimentos

que a sociedade faz surgir vez ou outra ou que as variadas formas de cultura dentro dela,

tentam, indiretamente impor. O Cristão com noção de sociologia entrega a Deus toda a

glória e declara que a sociedade será amoldada a imagem e semelhança de Cristo

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.

Amém”. (Romanos 11:36).

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Nome: ____________________________________________nota___________

Prova n°01 – QUESTIONÁRIO

1. Pode-se dizer que a Sociologia, como pensamento social, como reflexão da vida em

sociedade, existe desde sempre. É possível enxergar na Antiguidade, nos pensadores

helênicos mais especificamente, reflexões que buscavam dar conta do

relacionamento e da vida em sociedade (...). Quem foi o filósofo francês,

considerado o fundador do Positivismo - corrente filosófica que propõe uma nova

organização social?

a) ( ) Karl Marx

b) ( ) Auguste Comte 

a) ( ) Émile Durkheim

b) ( ) Marx Weber

2. A Sociologia da religião procura a compreensão de como a religião existe e se

manifesta na mentalidade coletiva e nas práticas de um povo. Marque a

alternativa INCORRETA

a) ( ) A Sociologia da religião examina os efeitos do contexto sobre a maneira e

o direcionamento que uma religião assume dentro de uma dada sociedade.

b) ( ) A Sociologia da religião busca meios para que a religiosidade do

pesquisador (que existe apesar da busca por neutralidade), não interfira tanto na

construção sociológica da religião.

c) ( ) A Sociologia da religião não procura impedir a manipulação de estatísticas

sagradas e nem interfere no impacto social que a religião produz.

d) ( ) A Sociologia da religião analisa o impacto social que a religião produz. Ao

considerar qualquer fenômeno religioso, seria um grande erro pensá-lo apenas

em seu contexto místico ou teológico.

3. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do conhecimento, tais como

Sociologia, Política, Direito e Economia. Qual o nome do filósofo e revolucionário

socialista alemão que criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o

capitalismo?

a) ( ) Karl Marx 

b) ( ) Auguste Comte 

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Introduçãoa Sociologia da Religião

c) ( ) Émile Durkheim

d) ( ) Marx Weber

4. Para ele a religião se mistura e/ou não se mistura com os interesses que a sociedade

possui, os interesses da cultura, da política, da economia, etnias etc. Isso significa

que se misturando ou não a religião tem interferência nos laços que ligam a

sociedade a ponto de torná-los mais fortes, de sacralizá-los ou até de ruí-los. Qual o

nome do sociólogo e filósofo alemão, considerado o fundador da Sociologia Formal

ou Sociologia das Formas Sociais?

a) ( ) ZygmuntBauman 

b) ( ) Émile Durkheim

c) ( ) Auguste Comte 

d) ( ) Georg Simmel

5. Para um dos mais bem-sucedidos pensadores do final do século XX, “A religião

pertence a uma família de curiosos e às vezes embaraçantes conceitos que a gente

compreende perfeitamente até querer defini-los”. Ele também criou a expressão

“Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não

possuem mais padrão de referência. Qual o nome do sociólogo, pensador, professor

e escritor polonês, que foi uma das vozes mais críticas da sociedade contemporânea?

a) ( ) Émile Durkheim

b) ( ) Georg Simmel

c) ( ) ZygmuntBauman 

d) ( ) Auguste Comte 

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