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Introduçãoa Sociologia da Religião
1SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Introduçãoa Sociologia da Religião
PREFÁCIO
A introdução a sociologia da religião é um manancial de conhecimentos, que
veio somar satisfatoriamente para o crescimento dos nossos obreiros.
O Mestre na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Ev. Carlos Roberto Araújo,
esforçou-se exaustivamente por apresentar, em especial aos nossos obreiros, um
trabalho bem elaborado, que vale a pena compulsá-lo.
Companheiros e companheiras, alunos e alunas do nosso Seminário em
Teologia a nível Bacharel, vamos crescer no conhecimento! e juntos faremos da nossa
grande Igreja, uma potência mundial.
Juntos somos
fortes!!
Bispo Cordeiro
2SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO – Sociologia como análise
religiosa......................................................................................7
CAPITULO 1 – Sociologia, definições e
noções.............................................................................................7
CAPITULO 2– Noções gerais sobre
religião...................................................................................................
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0
CAPITUL 3 – Métodos
sociológicos.................................................................................................................
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CAPITULO 4 – Agrupamentos
sociais..............................................................................................................
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CAPITULO 5– Origens da
sociologia................................................................................................................
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CAPITUL 6 – A sociologia da
religião..............................................................................................................
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9
CAPITULO 7 – Religião diante da perspectiva dos principais teóricos da
sociologia......................................
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CAPITULO 8 – Religiosidade no Brasil, aspectos
sociológicos.........................................................................
4
8
1.
CONCLUSÃ
O....................................................................................................................................................
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3
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA........................................................................................................................
5
5
3SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
AVALIAÇÃO
1.................................................................................................................................................
5
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Introduçãoa Sociologia da Religião
INTRODUÇÃO – Sociologia como análise religiosa
Alguém pode com justiça, questionar por que estudar Sociologia em um curso
teológico. Embora a pergunta seja bastante pertinente, basta dar uma rápida olhada no
mundo e questionar como está à situação da chamada vida em sociedade, que de forma
ligeira se entenderá o motivo dopor que se estudar Sociologia na atual conjuntura1.
Segundo um grande sociólogo polonês ZygmuntBauman: “Percorrer com o olhar
a seção de sociologia das bibliotecas revela... consideráveis volumes de informação para
novatos na área queiram eles se tornar sociólogos ou apenas ampliar seu conhecimento
a respeito do mundo em que vivem” (BAUMAN, 2010, p.11). Evidentemente em um
curso superior de teologia, o objetivo não é tornar o calouro em um sociólogo, mas o
item dois da fala de Bauman é o que interessa e muito a um aspirante ao conhecimento
teológico: conhecimento a respeito do mundo em que vive. Eis o grande motivo do por
que estudar Sociologia em um curso teológico. Mas, como a Sociologia pode ajudar?
Através de sua análise das religiões.
A religião como fenômeno humano, isso será estudado mais afundo em capítulos
à frente, possui diversas características e percorre áreas diferentes do viver humano.
Uma dessas áreas é a vida em sociedade. Quando se procura compreender a
religiosidade humana, não se pode deixar de lado a existência dessa religiosidade e
como ela acontece no meio social. Porque alguém se comporta da forma que se
comporta enquanto religioso em determinada sociedade? Esse tipo de questionamento
só poderá ser respondido buscando o método correto dentre muitos métodos para análise
e esses, foram desenvolvidos por pensadores da disciplina Sociologia.
Portanto, o mais importante para o teólogo aqui, é desenvolver senso crítico
através do estudo da história, dos principais conceitos e métodos e dos pensamentos
sociológicos dos principais pensadores que a sociologia fez surgir ao longo de quase
dois séculos de existência como ciência.
CAPITULO 1 – Sociologia, definições e noções
1Combinação ou concorrência de acontecimentos ou eventos num dado momento; circunstância, situação.5
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Introduçãoa Sociologia da Religião
A sociologia, como se verá adiante, é uma ciência, mas também é um conceito e
como tal, não é nada fácil de ser definido. Isso porque a expressão conceito deriva do
latim: concēptus,us 'ação de conter, pensamento etc, e é sabido que conter todo o
pensamento em uma única definição não é algo simples de se fazer. Dessa maneira, o
presente capítulo trará uma variedade de definições para que a partir das mesmas, uma
síntese mais geral seja expressa do conceito e da disciplina aqui estudada.
Em seu trabalho: “Sociologia e antropologia da religião”, Rogério de Moraes
Silva diz o seguinte:
...poderíamos dizer que a Sociologia é a parte da ciência social que
estuda o social como um todo, à medida que resulta de outros
fenômenos ou fatores sociais. Fenômeno decorrente da interação e
inter-relação sociais cristalizado em instituições, grupos, símbolos,
valores, ideias, normas, significações, enfim, em uma cultura, e que se
encontra situado em um meio geográfico e em um estrato social
(SILVA, 2016, p.21).
Dessa maneira, para Silva a sociologia é uma ciência que se preocupa com a
totalidade da parte social ou a integralidade do que acontece na interação entre as
gentes, o meio social. Essa inter-relação não pode ser reduzida a um aspecto da vida
social, como por exemplo, a religião (que nos interessa aqui pela natureza da disciplina
presente) ou a economia, antes, se aplica nas diversas esferas dessa interação que
acontece em dado espaço e tempo específico.
Na “Introdução à Sociologia” – obra de referência aos que estão iniciando a
busca por conhecimento nessa disciplina – do Mestre da USP Pérsio Santos de Oliveira,
irá trazer uma definição também bastante abrangente, pois já nessa vai apontar para boa
parte da subdivisão que a disciplina possui:
Ciência social que estuda as relações sociais e as formas de associação
dos seres humanos, considerando as interações que ocorrem na vida
em sociedade. A Sociologia estuda os grupos sociais, a divisão da
sociedade em camadas ou classes sociais, a mobilidade social, os
processos de mudança, cooperação, competição e conflito que
ocorrem nas sociedades, etc.; é a ciência social que estuda os fatos
sociais. (OLIVEIRA, 2010, p.288).
Algumas das principais parcelas da Sociologia é citada por Oliveira em sua
definição. Antes de prosseguir é bom dar uma rápida passada nesses conceitos 6
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(baseando-se nas noções a partir da obra citada de Oliveira) tão importantes para a
disciplina. Primeiro cita grupo social: basicamente a reunião a parir de duas pessoas que
por interação buscam objetivos similares; depois camada/classe social: também
chamada de estrato social, formada por um grupo onde os participantes se assemelham
em funções e renda numa sociedade hierarquizada, sendo classe no aspecto econômico
de produção da riqueza; sobre mobilidade social: é quando existe o movimento de
indivíduos de uma camada social para outra, independente se o mesmo ascendeu ou
descendeu socialmente; quando trata de mudança social: considera-se um fenômeno que
resulta em alterações estruturais na sociedade e pode ser Exógena 2quando uma
mudança social altera outros elementos ou Endógena3: ocorre a partir de processos
reprodutivos ou repetitivos; no caso de cooperação: é a interação social entre diferentes
pessoas, grupos ou comunidades buscando objetivos comuns e trabalhando por isso;
competição é: quando indivíduos ou grupos disputam bens e posições sociais escassas,
visando a manutenção de suas vidas, o que torna a competição inconsistente, impessoal
e permanente; finalmente o conflito: que é também uma disputa, só que a motivação não
é a sobrevivência, antes os indivíduos de forma consciente e emotiva, procuram derrotar
os demais por bens e/ou posição.
Outra obra que traz uma aproveitável definição de sociologia é a obra de Eva
Maria Lakatos “Sociologia Geral”, que diz:
Estudo científico das relações sociais, das formas de associação,
destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de
fenômenos sociais, fenômenos que se produzem nas relações de
grupos entre seres humanos. Estuda o homem e o meio humano em
suas interações recíprocas. A Sociologia não é normativa, nem emite
juízos de valor sabre os tipos de associação e relações estudados, pois
se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira
natureza dos fenômenos sociais. A Sociologia, desta forma, é o estudo
e o conhecimento objetivo da realidade social (LAKATOS, 1990,
p.22,23).
Lakatos deixa o aspecto científico em evidência em sua definição. Esse caráter
científico existe na análise que é feita das relações sociais, isto é, é possível levantar
hipóteses e desenvolverem-se teses a partir da observação e de experimentos sociais,
2Que provém do exterior, que se produz no exterior.3Que se origina no interior do organismo, do sistema, ou por fatores internos.
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que podem ser testados e repetidos, garantindo efeitos semelhantes aos da sociedade
estudada. Dessa maneira, a s sociologia terá condição como ciência, de forma segura
garantir saberes sobre o homem em interação social e isso de forma objetiva.
Para completar o quadro de definições de Sociologia estudadas nesse capítulo,
será apresentada a respeitada obra de Allan G. Johnson, doutor em Sociologia pela
Universidade de Michigan e que lecionou em importantes universidades norte-
americanas como Wesleyan, Harvard e Connecticut. Na obra “Dicionário de Sociologia:
guia prático da linguagem sociológica”, diz:
A sociologia é o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo
em relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as
consequências que produzem e sua relação complexa com a vida de
indivíduos (JOHNSON, 1997, p.217).
Na perspectiva de Johnson, torna-se objeto da Sociologia a própria convivência
e seus desdobramentos nas atitudes de certo grupo, debaixo de determinado sistema (por
exemplo, o capitalismo), objeto esse que diz muito mais respeito a necessidade de
compreensão do funcionamento desse grupo, do que apenas de conceito isolados.
Assim, a Sociologia, em síntese, estudará o homem em seu convívio social, bem
como os desdobramentos desse convívio nos mais diversos sistemas e as respostas que
os grupos envolvidos dão enquanto interagem entre si, gerando desde obediência e
servidão, até revolta e insurreição.
CAPITULO 2 – Noções gerais sobre religião
2.1 Definições básicas de religião
Na tentativa de melhor definir e entender religião, não se pode desconsiderar as
instâncias como a social, na qual se tornam múltiplas as experiências, pois são múltiplas
as sociedades. Dessa forma, questões como convívio, colaboração e padronização
devem ser consideradas, além da cultura, que se evidencia claramente no fenômeno
religioso das crenças, moral e costumes. Isso ocorre, pois, as instâncias citadas apontam
para a ideia de religião como a articulação das mesmas numa atmosfera que transita
entre o imanente e o transcendente. O dicionário de Filosofia redigido por Abagnano
define religião da seguinte forma:
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Omissis. (lat. religio) Em seu sentido geral e sociocultural, a religião é
um conjunto cultural suscetível de articular todo um sistema de
crenças em Deus ou num sobrenatural e um código de gestos, de
práticas e de celebrações rituais; admite uma dissociação entre a
"ordem natural" e a "ordem sacral" ou sobrenatural (ABAGNANO,
207, p. 239).
Ainda falando na definição do filósofo italiano Nicola Abbagnano, a religião
explica-se e entende-se na experiência de si mesma a qual traz luz ao seu principal
objeto. Como o principal objeto da religião é Deus, a religião é a compreensão humana
da revelação de Deus em sua experiência como aponta “... a Religião é a experiência do
divino e que, como toda experiência, revela a realidade de seu objeto” (ABAGNANO,
207, p. 847). Abbagnano, ainda entende religião como um processo de conhecimento
baseado na experiência, onde o indivíduo religioso é aquele que em sua experiência com
o sagrado, tem percepções que lhe atribuem compreensão do mundo em si e da
realidade como um todo, portanto um processo cognitivo “para todas essas correntes
filosóficas e sociológicas, a Religião é em sua origem, um fato cognitivo”
(ABAGNANO, 207, p. 849), isto é, passível de compreensão e entendimento para
aquele que nela está inserido.
A teóloga Karen Armntrong também contribui a análise aqui com seu
ajuizamento sobre o conceito de religião “Religião dá trabalho. Os insights religiosos
não são óbvios; é preciso cultivá-los da mesma forma que a apreciação das artes
plásticas, da música, da poesia”(ARMNTRONG 2011, p. 26).A instância religiosa não é
simples de ser entendida, provavelmente por isso que o seu significado maior acaba
aparecendo na subjetividade de cada indivíduo religioso, o qual a contempla como
quem contempla uma manifestação artística.
Giovanni Filoramo em seu livro “As ciências das religiões” defende que a busca
por entender o significado de religião, passa sem dúvida pelas definições dos clássicos
pensadores que estudaram cada área específica, é o caso de Durkheim, o qual
identificava religiosidade a uma espécie de solidariedade sagrada que se consolida nas
práticas morais principalmente das igrejas como mostra “(...) um sistema solidário de
crenças e de práticas relacionadas com coisas sagradas, isto é, separadas e interditas, as
quais unem numa única comunidade moral chamada igreja, todos aqueles que elas
aderem” (FILORAMO, 1999, p. 262).
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Para compreender um termo, às vezes podem ser utilizados questionamentos que
são fundamentais aquele termo. Isso não é diferente com o termo religião, o qual pode
ser perfeitamente compreendido a partir de questões indicadoras, essas permeiam tanto
fatores humanos quanto transcendentes ao mesmo tempo, as perguntas que se seguem
podem servir a esse fim:
Religião tem a ver com as questões fundamentais do homem: Quem
sou eu? De onde eu vim? Por que e para que eu vivo? O que devo
fazer? O que vai acontecer comigo depois da morte? São questões a
respeito do transcendente, do divino, do sagrado (SCHWIKART,
1997, p. 90).
O filósofo alemão Immanuel Kant, escreveu uma obra que buscava explicar
racionalmente o fenômeno religioso: “A religião nos limites da pura razão”. Nessa
famosa obra Kant trata, por exemplo, da questão subjetiva no conhecimento religioso.
Subjetivamente, ao ver de Kant, a religião é a projeção da moralidade humana, como
desejo divino “a religião (subjetivamente 4considerada) é o conhecimento de todos os
nossos deveres como mandamentos divinos”(KANT, 2008, p. 155).
Conhecendo uma última visão sobre religião, encontra-se no teólogo de Oxford,
Alister Mcgrath a visão sobre interioridade para atribuir significado a religião. Esta
estaria ligada mais a conscientização da vida interior e sentimental a partir da
experiência pessoal de cada indivíduo na luta contrária às condições que a vida exterior
ao indivíduo propõe e lhe estressa por vezes:
Esse termo veio a ser atribuído à vida interior das pessoas, por meio
da qual elas tornam-se conscientes de seus sentimentos e emoções.
Relaciona-se com o mundo interior e subjetivo da experiência, em
oposição ao mundo exterior, palco da vida cotidiana (MCGRATH,
2010, p. 232).
2.2 A religiosidade hoje
Fala-se de que a prática religiosa leva a moralidade de uma sociedade e de cada
indivíduo religioso em si, entretanto, existem críticas já antigas (como no caso de Hume
4Subjetividade: característica do que é subjetivo, que pertence ao sujeito pensante e a seu íntimo.
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Introduçãoa Sociologia da Religião
no século XVIII (1711-1776) a essa asserção, que levam a entender que as condutas
morais estão mais ligadas ao dever à sociedade do que a qualquer divindade ou esquema
religioso:
Ainda no caso das virtudes que são mais austeras e mais dependentes
da reflexão, como o espírito público, o dever filial, a temperança ou a
integridade, a obrigação moral, tal como a compreendemos, descarta
toda a pretensão a um mérito religioso; e a conduta virtuosa não é
mais que aquilo que devemos à sociedade ou a nós mesmos (HUME,
2005, p. 118)
Para alguns pensadores que se espalham pelo mundo a forma de tratamento
religioso, em que as divindades possuem características próprias da humanidade, soa
como um reducionismo ou rebaixamento ontológico do que se entende por uma
divindade. Isso leva a crença de que tais seres divinais mais parecem com humanos
evoluídos do que propriamente daquilo que se entende hoje como deus, como aponta
David Hume “não é suficiente observar que em todos os lugares as pessoas rebaixam
suas divindades até torná-las semelhantes a si mesmas, e que as consideram
simplesmente uma espécie de criaturas humanas de algum modo mais poderosas e
inteligentes” (HUME, 2005, p. 117). Não é preciso muito esforço para enxergar na
prática de boa parte da religiosidade brasileira essa personificação das divindades,
deuses sendo tratados e exigidos como se fossem humanos. Outra característica que
Hume no século XVIII já denunciava no comportamento religioso e passados três
séculos ainda parece perdurar na sociedade chamada pós-moderna, é a atitude do
religioso que pelo sacrifício pessoal entende passar a possuir mais crédito perante sua
religião e seu deus “e se, por sua causa, sacrifica boa parte de seu bem-estar e de sua
tranquilidade, crê que seus méritos aumentam conforme se manifesta seu fervor e sua
devoção” (HUME, 2005, p. 118-119).
Dentro das denúncias que o filósofo inglês faz das religiões institucionalizadas,
também afirma algo pesado acerca da criminalidade de sua época, onde ela era exercida
principalmente pelos indivíduos mais crédulos, uma verdadeira negação da moralidade
que essas religiões propõem. Trata-se de uma abordagem que ainda é bastante atual,
pois não é difícil encontrar reportagens que falem da espiritualidade dentro dos
presídios e que essa espiritualidade se desenvolve facilmente, pois, muitos dos detentos
em algum momento, anterior ao aprisionamento, se envolveram de uma forma mais
séria com suas crenças “os que empreendem as ações mais criminosas e mais perigosas 11
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são em geral os mais supersticiosos”, como oportunamente observa um historiador da
antiguidade” (HUME, 2005, p. 119). Trata-se de uma espécie de apego no qual os que
são considerados delinquentes desenvolvem, talvez como forma de esperança que indica
um futuro mais favorável ou um tranquilizar da consciência.
Na tentativa de compreensão religiosa da atual conjuntura, Hume em seu tempo
ainda contribui com outro aspecto visível hoje. Trata-se da imagem que se possui da
divindade, essa imagem leva a uma devoção e respeito mais ou menos intensos. A
submissão no caso estaria para aqueles que possuem uma imagem mais severa do ser
que adoram, esses sedem facilmente as orientações dos seus líderes condutores,
enquanto que a liberdade e rebeldia passam a fazer parte da espiritualidade daqueles que
enxergam uma espécie de divindade mais benévola do que justiceira. Como mostra:
Quanto mais monstruosa é a imagem da divindade, mais os homens se
tornam seus servidores dóceis e submissos, e quanto mais
extravagantes são as provas que ela exige para nos conceder sua graça,
mais necessário se faz que abandonemos nossa razão natural e nos
entreguemos a condução e direção espiritual dos sacerdotes (HUME,
2005, p. 121).
Pensar o que existe sob as realidades religiosas, se mostra sempre desafiador,
afinal, ao trazer à tona o que há em cada religião, sempre se encontrará o ser humano
integral, em seu nível corporal e espiritual, com seus vícios e virtudes indissociáveis,
numa dicotomia que aponta escancaradamente para a evidência de humanidade, essa
que por vezes é uma junção de potência e fragilidade e é na fragilidade que faz seus
acessos aos saltos no escuro, à busca pela fé, Sobre isso Filoramo questiona:
Não se corre o risco, por essa via, de esquecer que, por trás dos fatos
religiosos, por trás das religiões, estão na realidade pessoas concretas,
com sua fé e sua humanidade, fé cuja intenção é preciso restabelecer,
humanidade cuja integridade é preciso captar, escondendo-se das
armadilhas de uma asséptica, morta e talvez mortal anatomia?
(FILORAMO, 1999, p. 16).
O comportamento desenvolvido dentro de uma estrutura religiosa se mostra de
um tipo que segue suas tradições. Tradições e costumes são normalmente relevantes no
contexto religioso brasileiro, tanto nas religiões chamadas afro-brasileiras e sua
ritualística, quanto nas igrejas pentecostais e sua liturgia, o que é acordado através de
estatutos e se estende na prática de seus membros. Pensa-se com isso permanências no 12
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comportamento, atitudes cristalizadas pela pratica que transpôs gerações e a partir daí se
tornou mais que prática, se tornou credo, se tornou dogma o qual se fundamenta no mito
que o fundou:
Como qualquer realidade humana, também a realidade das religiões
revela – na história milenar por nós conhecida –, junto com a mudança
contínua de ritos, de crenças, de formas sociais religiosas, a
persistência de estruturas e comportamentos: dos mitos aos processos
simbólicos, que desafiam o desgaste do tempo e a devastadora
relativização própria do devir histórico (FILORAMO, 1999, p.17-18).
No conhecimento religioso, daquilo que se pode conhecer de seu fenômeno, não
é exatamente o fenômeno em si, a religião tal como é, pois a mesma não é uma única
coisa, não vem desagregada de seu contexto, de sua historicidade e peculiaridades
culturais, pois aponta para um emaranhado de outras instâncias complexas por traz de
si. Isso, pois, não é possível dissociar a adoração daquele que adora, da religiosidade do
que a exerce, nem o que tem fé da influência da mentalidade coletiva dos que o cercam
(FILORAMO, 1999). A religião pode ser tomada também como algo ligado a
transcendência de uma deidade específica ou de várias, como poderia se pensar no caso
do hinduísmo em sua pluralidade de divindades, ou também como uma abordagem que
engloba uma cosmovisão, o que atinge diretamente a mentalidade coletiva de uma
determinada sociedade, complexa ou não, nesse caso pode não haver uma deidade
transcendente, podendo talvez ter apenas referenciais exemplares de uma prática que se
aperfeiçoa subjetivamente, como pode ser pensado o caso do budismo. Filoramo
discorre sobre, da seguinte maneira:
A distinção entre definições substantivas e definições funcionais nem
sempre é clara. No primeiro caso prevalece o recurso ao verbo ser,
com o relativo predicado nominal – “a religião é.…” – Onde, em
geral, há referência a entidades transcendentes. No segundo caso
prevalece a ideia de que a religião é uma concepção do mundo que
desenvolve um papel específico (individual e/ou social), sem que
necessariamente seja indicada a presença de uma entidade meta-
histórica (implícita ou subtendida): é a função que salta para o
primeiro plano (FILORAMO, 1999, p. 261).
No caso de Weber, talvez um dos pensadores contemporâneos que mais
aprofundou a importância social da religião, é mais importante à análise das 13
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consequências de uma religião sobre uma dada sociedade, do que propriamente dizendo,
sua essência, porque seria difícil analisar esse fator por ser fruto das experiências
subjetivas de cada indivíduo, como Filoramo comentando essa ideia de Weber diz:
Não devemos, porém, em princípio, ocupar-nos da ‘essência’ da
religião, mas das condições e dos efeitos de determinado tipo de agir
em comunidade, cuja compreensão, também neste caso, só pode ser
tirada de experiências vividas subjetivas, de representações e objetivos
do indivíduo (FILORAMO, 1999, p. 263).
Além disso, algumas das coisas mais evidentes parecem ter sido comprovadas
também por renomados e reconhecidos estudiosos da área da religião como por exemplo
o fato de entenderem que a religião serve como consolo para aqueles que precisam de
ajuda sempre presente “uma religião que liga o homem, dentro da sociedade, aos seus
fundamentais fins e módulos de valor, através de algumas entidades e forças não-
humanas (FILORAMO, 1999, p. 268). Assim, sem dúvida alguma a religião também é
reconhecida por estudiosos como uma espécie de ligação para o indivíduo, com os
propósitos que o mesmo possui nessa vida, isso disponibilizado através da relação de
transcendência que possui com as entidades extramundanas ou as divindades que este
reconhece.
É reconhecidamente sabido que a religião se desenvolve através de afirmações e
antagonismos os quais dialeticamente são conduzidos no interior de uma mesma
expressão religiosa isso faz com que a religiosidade nos dias de hoje seja também vítima
da exploração que envolve os campos opostos ou supostamente opostos da fé e da razão
essa representada na tecnologia científica contemporânea (DERRIDA, 2000). É curioso
destacar que quando se fala de religião não se está necessariamente falando de uma
teologia religiosa, pois muitas vezes a religiosidade existe através de uma experiência
subjetiva em nível de senso comum, pensando nisso é possível uma espiritualidade
intramundana não necessariamente dependente de uma entidade transcendente onde a
santidade não existe no além, mas sim na própria existência do indivíduo:
A fé nem sempre foi e nem sempre será identificável com a religião,
tampouco com a teologia. Nem toda sacralidade e nem toda santidade
são necessariamente religiosas, no sentido estrito do termo, se é que
existe um (DERRIDA, 2000, p. 19).
Esse fragmento foi tirado do livro organizado por Jacques Derrida “A religião”
onde ele também comenta sobre o conceito kantiano de religião, para ele está possui 14
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dois troncos religiosos ou como diz duas genealogias sendo uma religião de mero culto
que está voltada na busca dos favores de Deus e que por isso não tem uma ação prática
revolucionária no mundo, sua dedicação e busca encontram-se no campo do desejo e da
oração, não há uma necessidade do homem progredir, antes se centra em suas
necessidades, puramente existe. Também, segundo Kant, existe outra genealogia
religiosa, outro tronco, esse se trata de entender a religião como moralidade ou uma
religiosidade voltada para a conduta de vida. Isso leva o indivíduo a querer se tornar
melhor ao se subordinar as regras disseminadas por aquela religião específica, isto é,
seguem-se os princípios ou os valores estabelecidos o que traz a convicção ou pelo
menos a possibilidade de uma salvação pós-mundo, o fragmento a seguir esclarece bem
a ideia:
Com efeito, no entender de Kant – ele diz isso propositadamente – só
existem duas famílias de religião e, em suma, duas fontes ou dois
troncos da religião – e, portanto, duas genealogias a respeito das quais
ainda se deve perguntar por que motivo compartilham o mesmo nome,
próprio ou comum: a religião de mero culto (dês blossen cultos)
procura os “favores de Deus”, mas essencialmente, não age, limita-se
a ensinar a oração e o desejo. O homem não tem de se tornar melhor,
ainda que seja pela remissão dos pecados. Quanto a religião moral
(moralische), visa a boa conduta da vida (die Religion dês
gutenLebenswandels); comando o fazer, dissociando-o do saber o qual
lhe está subordinado, e prescreve o tornar-se melhor agindo para tal
fim exatamente onde “o seguinte princípio, conserva o seu valor: ‘Não
é essencial nem, por conseguinte, necessário, que alguém saiba o que
Deus faz ou fez para a sua salvação’, mas antes o que ele mesmo deve
fazer para se tornar digno dessa ajuda (DERRIDA, 2000, p. 20-21).
Dentro disso, vai lançar sua tese apontando para a existência de apenas um
fenômeno especificamente voltado a conduta, em outras palavras uma única religião
moral a qual também tem como meta a libertação intelectual. Assim, para Kant a
religiosidade Cristã é a única na permissão de uma racionalidade acerca da religião. O
filósofo, portanto, exclui as demais formas religiosas como promotoras de
possibilidades de tal feito (DERRIDA, 2000, p. 21-23). Derrida ainda comenta que:
A religião, hoje, alia-se à teletecnociência, à qual reage com todas as
suas forças. Ela é, por um lado, a mundialatinização; produz, explora, 15
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adapta-se ao capital e ao saber da telemidiatização (DERRIDA, 2000,
p. 64).
O aspecto religioso no ser humano contemporâneo, como não poderia deixar de
ser, alia-se aos avanços promovidos pela tecnologia e sua ciência, com isso,
principalmente através das várias mídias, um fenômeno religioso quando relevante,
deixa de ser apenas local e passa a ter aspectos universais.
O filósofo da PUC-SP, Luiz Felipe Pondé em seu livro “Crítica e profecia”,
expõe o pensamento sobre religião de Dostoiévsky, como uma espécie de contra crítica
ao pensamento que crítica à religião desde o iluminismo. Para Pondé, o pensador russo
falando em seu tempo responde perfeitamente algumas das inquietações de natureza
filosófica e religiosa da atual conjuntura, onde consegue desmontar argumentos que se
colocam como legítimos e firmes sobre as mesmas inquietações, mas que não superam,
nem substituem a resposta metafísica dada pela religiosidade humana, como mostra:
(...) sua crítica religiosa se apresenta como um instrumento poderoso e
absolutamente em harmonia com o vocabulário filosófico
contemporâneo, ainda que a raiz seja certamente estranha a um
pensamento pós-criticismo naturalista dogmático: Dostoievsky discute
relativismo, niilismo, individualismo, epistemologia etc. Minha
hipótese é que, nos limites do argumento desse dogmatismo
humanista-naturalista mentiroso, a Crítica religiosa de Dostoievsky
faz um razoável “estrago”, iluminando as inconsistências de um
mundo ridículo (PONDÉ, 2013, p. 18).
A religião possui um caráter difícil na visão de Pondé, que para ilustrar esse
pensamento cita um trecho do teólogo suíço Karl Barth, in: The EpidletotheRomans,
cit., 258:
Conflito e sofrimento, pecado e doença, o demônio e o inferno,
compõe a realidade da religião. Longe de libertar o homem da culpa e
do destino, ela mantém o homem sob seu controle. A religião não
possui a solução do problema da vida, aliás, faz desse problema um
enigma absolutamente insolúvel (PONDÉ, 2013, p. 20).
Um trecho onde Barth, deixa transparecer como na religião embora tenha um
discurso salvacionista, promove também a crença em alguns dos piores defeitos, se
assim forem pensados, no ser humano, o que permite que o indivíduo uma vez cativado
16SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
por tal fé, não queira nem se isentar nem se opor, limitando-se a concordância quase que
absoluta.
Pondé também comenta como, a seu ver, é fruto de grande ignorância a inversão
que hoje acontece em relação a algumas divindades, onde essas são tidas mais como
uma espécie de servas do que deuses caem da categoria divina até a mais baixa
categoria de servo do qual se exigem todo tipo de coisas, mudando de orações piedosas
feitas com respeito e temor ao seu deus, considerado também Senhor, para um conjunto
de exigências imbuídas de ameaças de abandono feitas por um religioso que passa a
exigir fidelidade da entidade superior:
(...) ignorância presente, principalmente, quando se trata de autoajuda
“espiritual”, que submete “divindades” ao princípio natural da
continuidade entre essas “divindades” e o sucesso pessoal e a utilidade
(...) (PONDÉ, 2013, p. 21).
Diferente dos seguidores convencionais de religião, tais como os encontrados
hoje, segundo Pondé, existem seguidores especiais, os que podem receber e recebem o
nome de profetas, esses são de natureza única, pois seu diferencial encontra justamente
na preocupação que demonstram com o ser divinal que seguem, preocupando-se
sobretudo com o zelo da mensagem que entendem ser encarregados, esses atuam no
campo do misticismo “(...) o místico profeta é alguém que sabe o que Deus quer, que
conhece seus desígnios”(PONDÉ, 2013, p. 61).
Algo que é sempre digno de muita discussão está contido em uma citação de
Dostoiévzky, a qual leva a reflexão sobre quanto o ser humano consegue ser moral e
manter uma moralidade que seja respeitada por uma maioria de indivíduos sem a
experiência religiosa influenciando. Parece que, quanto à questão da moral, os diversos
indivíduos que todos conhecem, os quais não possuem religiosidade, mas, têm conduta
irrepreensível, parecem mostrar a possibilidade de virtudes sem religião, mas perdura a
dúvida sobre uma maioria, a qual ainda hoje refreia-se diante de possibilidades
perniciosas pelo simples fato de crerem que um ser superior lhes observa atentamente...
ao sairmos do universo religioso, entramos no universo do niilismo. Afinal de contas,
citando o próprio Ivan Karamázov, “se a alma é mortal e Deus não existe, tudo é
permitido” (PONDÉ, 2013, p. 67).
Ao pensar sobre a manifestação religiosa, Pondé aponta para a interioridade de
cada indivíduo, isto é, a religião se manifesta significativamente para cada um nesse
campo, onde a experiência se dá cognitiva e intuitivamente. Dado isso, aqueles que se 17
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
dispõe ao trabalho intelectual na religião, são como tradutores dessa disposição interna
numa linguagem acessível. Para ele, a religião se apresenta no campo místico e por isso,
a questão racional da mesma, ainda que se apresente, vem secundariamente, não por
falta de esforço de várias mentes privilegiadas que racionalmente buscaram e buscam
dar uma explicação racional da religião pelo viés tanto da ciência quanto da filosofia
Pondé (2013). Entretanto, o filósofo reconhece que a religião consegue em certa medida
a partir da experiência que permite, desenvolver algum tipo de conhecimento, talvez um
conhecimento da interioridade humana “(...) no fundo, a religião pode seguramente
produzir ruído no conhecimento” (PONDÉ, 2013, p. 73).
Dentre as várias asseverações sobre religião, existem aquelas que a entendem
mais como uma espécie de resposta ao que o mundo oferece como um comportamento
reativo, do que como uma visão teórica da realidade externa, por exemplo “para Hare, a
religião não é um conjunto de supostas asserções sobre o mundo, sobre o destino do
homem ou sobre o sentido da história, mas uma postura em relação ao mundo”(PENZO,
1998, p. 538).Já para alguns filósofos, a compreensão de Deus, talvez o objeto máximo
da religião, está mais ligada ao sentido da vida e sua compreensão, pois a crença em um
deus tende a garantir algum sentido ou até muito sentido na existência do que crê, onde
as práticas religiosas passam a ser exercícios para a compreensão da própria vida, em
outras palavras, a religião traz sentido à vida humana (PENZO, 1998).
Uma das questões mais inquietantes no debate entre fé e razão, principalmente
da perspectiva dos crédulos, é a oposição que muitos acabam colocando entre uma e
outra, onde não se apresenta as evidentes distinções, mas se comenta impositivamente
uma suposta oposição, isso coloca imediatamente a religião em uma constrangedora
posição:
A fé não é contra a razão, nem a razão é contra a fé, porque “o
funcionamento racional da razão pressupõe uma confiança na própria
razão, que não pode ser justificada de maneira puramente racional”,
nem “a fé em Deus é um risco irracional, cego, mas antes uma
confiança justificável diante da razão e fundada na própria realidade
(PENZO, 1998, p. 570).
Religião também pode estar ligada a evidência da incapacidade que o ser
humano possui em prever, organizar (de forma perfeita) e determinar sempre o seu
futuro, sua incerteza a esse respeito o impulsiona a apelar para tudo aquilo que lhe seja
útil ou lhe sirva de esperança na lida desse terrível fato, a incerteza do amanhã como 18
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
mostra Giorgio Penzo “uma das fontes primeiras do sentimento religioso está, por
comum reconhecimento, na incapacidade que os homens têm de determinar o seu
próprio destino” (PENZO, 1998, p. 571).
Um problema bastante comum e característico das religiões, é o problema da
posse da verdade a qual se torna contraditoriamente (isso na perspectiva das próprias
religiões) plural, uma vez que cada uma, normalmente, se considera a portadora da
verdade legada pela deidade que serve, sendo essa indubitavelmente a verdadeira ou
parte do grande conjunto das verdadeiras divindades, conforme atesta o filósofo Hilton
Japiassú “toda religião acredita possuir a verdade sobre as questões fundamentais do
homem, mas apoiando-se sempre numa fé ou crença” (JAPIASSÚ, 2001, p. 239). Outra
ideia a ponderar, é que a religião apesar de ser um fenômeno humano, onde sempre
existiu e provavelmente continuará existindo enquanto houver humanidade, vive sobre o
julgamento do fiel que lhe segue, o qual pode dar a sua própria vida se essa lhe legar o
sentido em que vive a buscar. Entretanto, caso a mesma falhe nessa fundamental tarefa,
o fiel absolutamente decepcionado lhe deixa, quando não, sua frustração lhe torna um
inimigo aponta Armntrong: O homo religiosos é pragmático só nesse sentido “se um
ritual já não lhe suscita uma profunda convicção sobre o valor último da vida, ele
simplesmente abandona esse ritual”(ARMNTRONG, 2011, p. 27).
Finalmente, é interessante olhar para Kant que denuncia a construção de uma
divindade a qual a sociedade moderna fez surgir para sua própria conquista, pautada na
cobiça e nos anseios mais eudemônicos de uma sociedade que já visava o lucro e as
vantagens sem maiores esforços:
(...) de fato, construímos então para nós um Deus no modo como
julgamos poder conquistá-lo com a maior facilidade para nossa
vantagem e ser dispensados do oneroso esforço ininterrupto de atuar
sobre o mais íntimo da nossa disposição de ânimo moral” (KANT,
2008, p. 170-171).
A única coisa que Kant acreditava que poderia o homem fazer na direção de
compactuar com a felicidade e alegria de Deus, era manter um padrão moral, uma
conduta imitável, ao ver do filósofo seria perca de tempo qualquer outra tentativa, seria
se precipitar na ilusão qualquer outra tentativa Kant (2008).
O filósofo alemão ainda acrescentou em sua obra uma crítica à ritualística dos
religiosos como meios de justificar o ser humano na ótica da divindade, para ele a
19SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
liturgia não poderia melhorar o homem e aqueles que pensavam dessa forma
seguramente praticavam excessos inúteis e desnecessários.
A ilusão de mediante ações religiosas do culto obter algo em vista da
justificação perante Deus é a superstição religiosa; assim como a
ilusão de tal querer levar a cabo por meio do esforço em vista de um
suposto trato com Deus é o fanatismo religioso (KANT, 2008, p. 176).
Assim, Kant entendia que a religião precisa estar muito bem estabelecida em
princípios e para tanto, é necessário que se faça o uso da razão, para que os princípios
sejam coerentes e firmem-se, sendo essa a maneira que uma religião conseguiria escapar
da possível condição ilusória, algo como o que viria após ele ser chamado de alienação
“(...) a ilusão religiosa fanática é a morte moral da razão, e sem esta não pode em geral
haver religião alguma enquanto aquela, como toda a moralidade em geral, se deve
fundar em princípios”(KANT, 2008, p. 177).
CAPITULO 3 – Métodos sociológicos
Assim como outras disciplinas e áreas do saber, a Sociologia também possui
métodos muito específicos. Métodos esses que fazem com que essa disciplina se
aproprie de seu caráter científico e produza o conhecimento que seja proveitoso na
busca por compreensão da vida em sociedade.
Mas, antes de prosseguir, o que é um método? Segundo o dicionário Michaelis
online método é:
1. Emprego de procedimentos ou meios para a realização de algo, seguindo um
planejamento; rumo.
2. Processo lógico e ordenado de pesquisa ou de aquisição de conhecimento.
3. Qualquer procedimento técnico ou científico.
4. Conjunto de princípios ou técnicas de ensino.
Simplificando, método tem a ver com o caminho lógico, planejado e científico
que leva a um objetivo previamente estabelecido. A Sociologia é considerada uma
ciência pois utiliza métodos organizados e sistemáticos, que permitem a investigação e a
observação. A seguir, a partir de uma síntese do que diz Eva Maria Lakatos em sua obra
"Sociologia geral", vamos aprender sobre cada um dos principais métodos.
3.1 - Método histórico20
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Entende que as atuais formas de vida social, bem como os costumes e as
instituições que existem, possuem sua origem no passado. Dessa maneira, somente
quando se pesquisa as origens da vida social, se consegue compreender cada um desses
aspectos e a influência que possui na sociedade de hoje. Um exemplo é, compreender a
relação hoje de família e parentesco olhando para a história dessa relação.
3.2 - Método comparativo
Entendendo que é importante comparar a vida social, o método busca fazer
análise comparativa visando apontar tanto semelhanças, quanto diferenças, o que pode
ser feito entre grupos do passado, grupos do presente ou até entre grupos do passado e
do presente simultaneamente e em estágios diferentes de desenvolvimento. Um exemplo
é o modo de vida rural e urbano em São Paulo.
3.3 - Método monográfico
É o método que estuda indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos e
comunidades, buscando obter generalizações, isto é, examinando o tema escolhido e
observando tudo que o influenciou, buscando compreender todos os aspectos. Assim, o
método busca respeitar a totalidade do processo de desenvolvimento de cada grupo em
si, seja em sua totalidade, seja em sua particularidade. Um exemplo é o estudo de
delinquentes juvenis, outro é do papel social da mulher.
3.4 - Método estatístico
Esse método ao olhar para conjuntos sociais de difícil compreensão, extrai
representações simples e vê se essas têm relação com outras representações que foram
extraídas. Isso significa que o método faz uma redução de fenômenos sociológicos,
políticos, econômicos, dentre outros. Utiliza para isso a manipulação das estatísticas
para comprovar a relação dos fenômenos sociais entre si. Um exemplo é a correlação
entre número de filhos e a escolaridade.
3.5 - Método tipológico21
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Nutre certas semelhanças com o método comparativo, entretanto, quando o
pesquisador faz a comparação entre fenômenos sociais de difícil compreensão, cria tipos
ou modelos ideais a partir da essência que o fenômeno estudado apresenta. O ponto
principal desse método, é que ele cria tipos que não existem, mas servem apenas de
modelos que explicam a complexidade do fenômeno que se estuda. Como exemplo
pode-se pensar o estudo dos governos democráticos do passado e do presente para
estabelecer um tipo ideal de governo Democrático.
3.6 - Método funcionalista
Representa muito mais um método de interpretação do que de investigação,
como é o caso dos demais. Entende-se nele que a sociedade possui ou é composta por
partes que apesar das diferenças apresentam interdependência e estão inter-relacionadas
para cumprir funções fundamentais a vida social. Portanto, o método estuda a sociedade
a partir das funções que são colocadas a cada unidade responsável dentro de sua
organização. Um exemplo é a análise das principais diferenças de funções que precisam
existir em determinado grupo isolado para que consiga sobreviver.
3.7 - Método estruturalista
O método visa investigar um fenômeno concreto, a partir disso, se eleva o
mesmo a um patamar abstrato, onde se faz um modelo que represente o que é estudado.
Por fim, retorna-se ao concreto, que por sua vez tem uma realidade estruturada que leva
em consideração a experiência do indivíduo envolvido nessa sociedade. Pode ser
tomado como exemplo o estudo das relações sociais e como essas determinam a posição
para os indivíduos e seus grupos.
Esses métodos representam a síntese do trabalho inicial feito por um sociólogo,
que diante dos problemas que quer ajudar a resolver em certa sociedade, pode variar
entre um e outro método que melhor atenda sua demanda e represente maior benefício a
seu trabalho final.
CAPITULO 4 – Agrupamentos sociais
22SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
Não é demais dizer que o homem é um ser que precisa viver em sociedade. A
história do pensamento mostra tanto na Filosofia, quanto na literatura que o convívio é
uma necessidade humana. Aristóteles, grande pensador e filósofo grego deixou o
conceito de que “o homem é um animal político”. O termo político vem de polis, a
cidade grega, sendo político todos que eram cidadãos da polis, que cooperavam para sua
existência. Para o pensador grego, porém, não se tratava apenas de cooperação, mas de
necessidade, o ser humano necessita viver em grupo. Esse pensamento aristotélico faz
lembrar de outra expressão, agora da literatura. Uma famosa expressão do poeta inglês
John Donne, diz: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do
continente, uma parte da terra”. Talvez, ainda mais específico do que Aristóteles, o
poeta com suas metáforas deixa claro que cada indivíduo precisa fazer parte de um todo
maior e sabe-se que esse todo é constituídos por grupos dentro da sociedade, ou seja,
grupos sociais. Mas, o que são grupos sociais?
4.1 - Definição
Agrupamento social ou grupo social está intimamente ligado ao que dizem
Rumney e Maier (Sociology. The Science of Society), com muita precisão, é, “durante
uma vida inteira, membro da sociedade e de grupos diversos, como a família, o Estado,
o partido político, a organização religiosa, o clube social e outros”(SILVA, p.36). Isso
mostra que estar em grupo é algo humano.
A definição como qualquer conceito importante é vasta, mas é possível pontuar
alguma coisa que seja mais geral. É o caso da definição de Silva: “Para nós, é o
conjunto, dotado de certa estabilidade, de indivíduos em interação unidos entre si por
um objetivo comum, distinto dos demais por certas relações e modos de conduta”
(SILVA, p.36). Em outras palavras, um agrupamento social é um grupo que pode ser
considerado conjunto, por causa de suas semelhanças da forma dos relacionamentos e
de conduta, e diferente de outros grupos também por causa da forma dos
relacionamentos e de conduta. Isso permite que esses grupos sejam observados e
consequentemente estudados.
4.2 – Como se classificam os grupos sociais?
23SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
No final do século XIX, Tonnies reduziu os grupos sociais a duas formas
básicas: comunidade e sociedade. Comunidade,representa uma espécie de
espontaneidade praticamente instintiva, de longa duração e que possui uma cultura
compartilhada. Existe também uma natural integração, que afasta esse tipo de grupo de
individualismos generalizados. Nessa categoria por exemplo, temos a família, a tribo e a
a nação.
Quando se fala de sociedade, não existe a naturalidade encontrada em uma
comunidade, isso porque uma sociedade é sempre artificial, fabricada pensando na
utilidade que determinado grupo visa. Dessa maneira, os interesses particulares é o que
norteia ou guia um grupo societário. A voluntariedade é o que permite a existência de
sociedades, uma vez que no interior dessas, há pluralidade, trata-se sempre de um grupo
heterogêneo formado a partir de várias matrizes voluntárias.
Outros sociólogos complementaram a conceituação de Tonnies. É o caso de
Cooley que cunhou a conhecida divisão dos grupos sociais entre primários e
secundários. Sobre os grupos primários, são aqueles que exercem um papel fundamental
na formação inicial na socialização e nas ideias mais remotas do indivíduo.Podem fazer
parte desse grupo à família, amigos próximos e a vizinhança imediata, que são o tipo de
grupo dominado pela associação e a cooperação. Percebe-se, que esse conceito se
aproxima do já estudado conceito de comunidade.
No caso dos grupos secundários, são os demais grupos. Nesses não se fundem as
individualidades, por não se confundirem, mantendo suas identidades apesar do
convívio com o diferente. São normalmente formados de forma indireta em seus
contatos, caracterizando impessoalidade, distância, com unidades apenas no que tange
interesses comuns. O segundo grupo então, se aproxima do conceito de sociedade, da
vida em sociedade.
Existem ainda os chamados grupos de divisão, representados pelos ajuntamentos
que visam lutas por uma classe específica contra outras que lhes querem prejudicar, um
exemplo são os sindicatos e as associações de patrões. Outros são grupos de união,
unidos por laços fortes de solidariedade, amizade e completude, a família é o melhor
dos exemplos que pode ser dado. Grupos particulares são aqueles que surgem no
interior de outros grupos e quando esses grupos particulares se articulam formam
grupos globais ou sociedades globais. Grupos temporários são aqueles que surgem e
desaparecem com curta ou curtíssima duração, exemplo desse tipo de grupo são os
24SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
comícios e as multidões. O contrário dos grupos temporários são os duráveis ou
permanentes, como exemplos temos os Estados e as nações.
Por fim, uma das divisões grupais mais utilizadas é a que aponta para grupos
organizados e grupos inorganizados. Um grupo inorganizado, é aquele que possui as
condições necessárias para exercer organização, porém não é organizado, é o caso das
classes sociais e das multidões – nesses grupos não existe consciência de grupo,
definição, direção e liderança. Já os grupos organizados possuem consciência, definição,
portanto identidade, direção e por isso liderança, como vemos em equipes esportivas,
partidos políticos e empresas.
25SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
CAPITULO 5 – Origens da Sociologia
Pode-se dizer que a Sociologia, como pensamento social, como reflexão da vida
em sociedade, existe desde sempre. É possível enxergar na Antiguidade, nos pensadores
helênicos mais especificamente, reflexões que buscavam dar conta do relacionamento e
da vida em sociedade, isso perpassa os tempos históricos e alcança a Idade Média, a
Renascença até chegar ao crivo iluminista do século XVIII, saltando as reflexões para
outro nível, para por fim, no século XIX surgir como nova ciência.
5.1 – Pioneiros, os primeiros sociólogos
QUEM FOI?
Auguste Comte (1798-1857) foi um filósofo francês, considerado o fundador do Positivismo - corrente filosófica que propõe uma nova organização social. Foi o primeiro a empregar o termo sociologia. Comte dedicou-se integralmente à instituição da “Religião da Humanidade”, que teve muito adeptos e influenciou o pensamento de teóricos por todo o mundo. O filósofo impregnou-se de misticismo, criou um sacerdócio, sacramentos e orações, além de propor uma rígida disciplina para seus adeptos.
Fonte: https://www.ebiografia.com/auguste_comte/Em meados do século XIX, buscando nova definições para as ciências, um
pensador francês chamado August Comte, defendendo que as análises sociais que
podem ser levadas a sério, são apenas aquelas que possuem caráter científico, objetivas
e que não possuem metas, um estudo das relações humanas, isso geraria uma nova
ciência, que Comte chamou de sociologia. Essa nova ciência não deveria apenas fazer
análises, deveria também propor normas de comportamento, baseadas em estudos
claros. Por esses e outros motivos, a Sociologia no início, se chamava “física social”.
É característico de Comte, entre os aspectos que contribuiu, no início da
Sociologia como ciência, seu conceito (dentro de sua filosofia chamada de positiva)
clássico conhecido como “A Lei dos Três Estados”, que resumidamente diz:
Estado teológico ou fictício: explica os vários fenômenos através de causas
primeiras, normalmente personificando as necessárias explicações em
divindades.
26SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
Estado metafísico ou abstrato: busca explicações em causas gerais ou
metafísicas, ideias que independente da veracidade, oferecem explicação sobre a
natureza das coisas e dos acontecimentos. As diversas ideologias são exemplos.
Estado cientifico ou positivo: visa as explicações que a observação científica e o
raciocínio dão com o objetivo de formular leis.
Outro pioneiro da Sociologia em seu início foi Herbert Spencer. Esse pensador
inglês na segunda metade do século XIX representa à linha da Sociologia que a tornou a
segunda ciência mais influenciada pela teoria de Darwin, que mais tarde seria conhecida
como teoria da evolução. Para Spencer, a sociedade é como um organismo biológico
que quanto mais a massa (totalidade do povo que habita) cresce, mais complexa se torna
sua estrutura. Isso significava que de forma evolutiva, a sociedade se desenvolve,
partindo de agrupamentos mais simples até os mais complexos, dos nômades as
sociedades industrializadas.
Ainda dentro do pioneirismo dos primeiros pais da Sociologia, estão as teses do
tão comentado Karl Marx (cuja sociologia da religião será abordada mais a fundo em
outro momento). De forma resumida, quando a Sociologia em seu início chega em
Marx, vai ser orientada a partir do pensamento que o determinismo econômico (que diz
ser a economia aquilo que mais influencia a sociedade, seja ela qual for), faz com que a
sociedade seja o que ela é. Tudo o mais que está na vida de uma sociedade, como:
política, cultura, direito, religião, ideologias, etc., existem do jeito que existem por
causa de sua condição material de existência, que é totalmente influenciada pela questão
econômica.
5.2 –O desenvolvimento da Sociologia, uma nova ciência
A partir do momento que os pioneiros desenvolveram a nova ciência da
Sociologia, arestas e muitas dúvidasainda pairavam a respeitoda nova forma de produzir
conhecimento sobre a sociedade. Para corrigir e ajustar os novos saberes, muitos outros
geniais personagens iriam surgir durante os séculos XIX e XX.
A escola sociológica francesa, assim como a filosófica deixou bases
fundamentais para a maneira de se fazer sociologia. Um de seus mais ilustres
pensadores, também considerado um dos pais da Sociologia, apesar de não ser um dos
pioneiros foi Émile Durkheim. Sua importância é tamanha, que para muitos ele é quem
transforma a Sociologia em uma ciência independente em relação as outras Ciências 27
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
Sociais. Fez uma defesa do entendimento dos fatos sociais como coisas que por meio
de regras científicas determinou seus objetos de estudo.
Combateu algumas ideias de Spencer estabelecendo no lugar de uma evolução
determinista e quase cega da sociedade, conceitos importantíssimos como os da
consciência coletiva e a solidariedade mecânica e orgânica, conceitos que fizeram o
entendimento sociológico saltar para um novo momento. É importante reparar na síntese
desses conceitos:
Consciência coletiva: nesse conceito Durkheim soma as crenças, os sentimentos
e os pensamentos da média dos membros de uma comunidade, o que é
persistente e gera unidade naquele povo.
Solidariedade mecânica: surgida da necessidade primitiva de manter as
semelhanças no meio do povo, uma igualdade necessária a sobrevivência e,
portanto, justifica-se assim a coerção e severidade que exerce para cumprir suas
leis.
Solidariedade orgânica: nesse conceito agora invés da aposta ser nas
semelhanças, é feita na independência do indivíduo. A diversidade nesse caso é
bem-vinda e em forma de solidariedade colocando uma base sólida a autonomia
e a uma consciência individual mais livre.
O último grande representante das origens da ciência Sociologia, foi o sociólogo
alemão, Marx Weber. O pensador via a Sociologia como a interação cheia de
significados entre os indivíduos que vivem em sociedade. Dentre os principais conceitos
que Weber irá legar a Sociologia, estão os de: ação social, que entendia ser a conduta
pública ou não que leva o indivíduo a desenvolver significados pessoais; que o principal
objetivo da análise da Sociologia, é a formulação de regras sociológicas; para isso,
Weber desenvolveu um de seus principais conceitos, o tipo ideal, quando se estuda a
realidade a partir de relações causais no que se está estudando.
Muitos outros pensadores cooperaram para a origem da Sociologia, como: Georg
Simmel, Charles H. Cooley, Gabriel Tarde, Ferdinand Tonnies, Robert K. Merton,
Talcott Parsons, Vilfredo Pareto, Pitirim A. Sorokin, dentre outros que ajudaram nas
mais diversas áreas do pensamento social sendo:
Os fundamentos psíquicos das relações sociais;
Os processos sociais da repetição;
Oposição e adaptação;
A evolução social a partir da interação;28
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
As múltiplas relações recíprocas;
A sociedade como sistema de equilíbrio;
As características comuns as classes sociais;
O funcionamento das estruturas sociais e daí por diante;
Todos esses pensadores cooperaram profundamente como a origem e
desenvolvimento dessa que é uma das mais importantes ciências humanas.
5.3 - A sociologia no Brasil
Segundo Lakatos, no Brasil, a Sociologia teve três etapas.
5.3.1 - A primeira fase foi desde antes das origens até 1928. Influência do
positivismo (evidenciado na bandeira com a frase "ordem e progresso") e do
evolucionismo. Luta contra a escravidão.
5.3.2 - A segunda etapa, diante das novas realidades científicas, teve três fases:
a primeira que foi de 1929 a 1945, quando houve consolidação do estudo da sociologia
através do ensino escolar; a segunda de 1945 a 1954, a efervescência política leva a uma
intensificação dos estudos sociológicos, em meio a pós-guerra, fim do Estado Novo e
suicídio de Getúlio Vargas; a terceira de 1954 a 1964, nesse momento as vésperas de se
formar a burguesia no país e do golpe militar, se tornou necessário entender os aspectos
ideológicos e sociológicos do processo.
5.3.3 - Da terceira etapa, por causa da crise e da reação da ciência, surgiram duas
fases também: sendo, a primeira uma crise e tensão nessa área do saber pela pressão do
regime militar, entre 1965 e 1979; e na segunda fase, que reafirmou a necessidade e
significação da sociologia, reconhecendo a profissão de sociólogo em 1980.
CAPITULO 6 – A sociologia da religião
6.1 – O que é Sociologia da religião? Reflexões iniciais
Nas origens da Sociologia, se olhar para o pensamento de alguns dos fundadores
dessa ciência, por exemplo, Claude Saint-Simon, Auguste Comte e Émile Durkheim,
verá que havia hostilidade em relação ao cristianismo. Isso ocorria, pois, esses autores
pensavam que a Teologia seria, e estava sendo, substituída pela Sociologia, sobretudo
na área da ética, no direcionamento da conduta dos indivíduos. Não havia também por 29
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
parte da igreja bons olhos para quem buscava explicar o papel da religião nas
sociedades modernas.
Dessa relação dialética (entre negações e afirmações) com a Sociologia, as
teorias religiosas foram sendo analisadas, bem como as práticas de seus grupos e a partir
disso, nesse movimento surge à esfera de analise da religião dentro dos métodos
sociológicos ou como se chama, a Sociologia da Religião. Sendo assim, é possível
definir Sociologia da religião como a área da Sociologia que: “... busca colocar os
fenômenos religiosos em seu contexto social” (SINCLAIR & FERGUSON, 200...,
p.934). Essa área da Teologia e da Sociologia tem, portanto, o interesse em desvendar
os acontecimentos religiosos, enquanto em seus contextos sociais.
Nesse breve capítulo, é importante fazer algumas observações pertinentes ao
estudante de teologia, no que se refere ao campo da Sociologia da religião, campo esse
que intitula essa matéria presente no currículo. A reflexão se faz presente, pois já é dito
que “... a verdade das ciências sobre as religiões é socialmente mais verdadeira do que a
das religiões sobre as ciências” (CAMPOS, 2007, p.113). Assim, no diálogo Sociologia
e religião, a religião está em desvantagem. E nunca é demais lembrar que o cristianismo
é uma religião.
O que se encontra hoje em áreas como as da ciência das religiões e sociologia da
religião é uma busca constante a uma espécie de cientificismo nos campos (determinar
toda a verdade dessas áreas apenas pelo viés científico, a ciência como a verdade
última). Por outro lugar, a área das Ciências Sociais, não podem negar a importância da
religião no desenvolvimento da Sociologia. Dessa maneira, é possível afirmar que desde
o início da Sociologia, temos uma Sociologia da religião.
6.2 – O que estuda a Sociologia da religião?
Como a própria definição de Sociologia da religião citada anteriormente sugere,
ela estuda os fenômenos religiosos em seu contexto social, isto é, procura a
compreensão de como a religião existe e se manifesta na mentalidade coletiva e nas
práticas de um povo. Dois pontos importantes se sucedem a partir do que essa área
estuda:
Primeiro: a Sociologia da religião examina os efeitos do contexto sobre a
maneira e o direcionamento que uma religião assume dentro de uma dada
sociedade.30
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Segundo: a Sociologia da religião analisa o impacto social que a religião produz.
Ao considerar qualquer fenômeno religioso, seria um grande erro pensá-lo
apenas em seu contexto místico ou teológico. Toda religião utiliza-se de seu
misticismo e de sua teologia para gerar influência e essa influência causa sempre
um impacto nas várias áreas da sociedade.
Terceiro: a Sociologia da religiãobusca meios para que a religiosidade do
pesquisador (que existe apesar da busca por neutralidade), não interfira tanto na
construção sociológica da religião.
Quarto: a Sociologia da religião procura impedir a manipulação de estatísticas
sagradas, que geram resultados que atendem apenas uma religião específica, mas
que se demonstram ilusórios, portanto, distantes da verdade.
Quinto: a Sociologia da religião trabalha com análise histórica e cultural, dessa
maneira, vai abordar questões como o padrão das ligações entre Igreja e Estado e
o tremendo crescimento dos “novos movimentos religiosos” tanto no Oriente
como no Ocidente, durante as últimas décadas.
CAPITULO 7 – Religião diante da perspectiva dos principais teóricos da sociologia
Esse capítulo é baseado na obra “Sociologia e religião”, dos franceses Danièle
Hervieu-Léger, diretora de estudos no EHESS, ondedirige o Centre d
´étudesinterdisciplinairesdesfaitsreligieux (CEIFR, EHESS/CNRS) e é redatora chefe da
Revista Archives de sciencessocialesdesreligions, e Jean-Paul Willame, diretor de
estudos EPHE, em que codirige o Goupe de SociologiedesReligionset de La Laicité
(GSRL, EPHE/CNRS). Dois autores do alto escalão de estudos em sociologia da
religião.
7.1 - KARL MARX (1818-1883) E FRIEDERICH ENGELS
31SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
QUEM FOI?
Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito e Economia.
Fonte: https://www.ebiografia.com/karl_marx/
1.1 – A análise marxista da religião, sua importância e suas limitações;
É mais comum o conhecimento e a impressão que se tem de Marx e de Engels
como críticos que de forma filosófica e política condenam a religião, do que enxergá-los
como sociólogos da religião. Para eles, a religião deixa opaca a visão do mundo social,
além de trazer legitimidade ao poder dominador, e isso tudo é perpassado pela *luta de
classes. Esses parâmetros de fato apontam, na visão desses sociólogos, para a religião
ser alienação.
Entretanto, não se pode dizer realmente que a análise marxista da religião seja
sociológica, isso porque os fatores filosóficos e políticos superam a sociologia através
da crítica nessa abordagem, abordagem que não se origina em Marx e Engels, mas no
que é representado pelo pensamento iluminista com seus resquícios na crítica do
cristianismo do filósofo alemão Ludwig Feuerbach. Feuerbach reduziu o principal
“objeto”de adoração da religião, Deus, em mera criação humana. Marx e Engels
migraram para sua análise econômica e social afirmando ser Deus, fruto da alienação
socioeconômica do ser humano, em outras palavras o ser humano cria deuses, quando
suas condições materiais de existência não dão conta de sua sobrevivência.
7.1.2 – Analise sociológica da religião, através da crítica política e filosófica;
Em “Crítica da filosofia do direito de Hegel” de 1844, Marx vai mostrar que,
uma vez sendo a religião objeto de estudo jácompreendido, agora cabe se fazer a crítica,
não a religião em si, mas a sociedade que a produz em forma de ilusão. A partir disso,
faz uma crítica altamente filosófica da sociologicidade da religião:
A religião é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem
coração, assim como ela é o espírito de condições sociais de onde o
32SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
espírito foi excluído. Ela é o ópio do povo. A abolição da religião
enquanto felicidade ilusória do povo é a exigência que formula sua
felicidade real. Exigir que ele renuncie a uma situação que tem
necessidade de ilusões. A crítica da religião é, portanto, em germe, a
crítica desse vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola. (...). A
crítica do céu se transforma, desse modo, em critica da terra, a crítica
da religião em crítica do direito, a crítica da teologia em crítica da
política (LÉGE & WILLAIME, 2009, p.20)
Assim, na compreensão marxista, a religião não a considerada como uma
realidade em si, antes é, para essa filosofia, sempre uma realidade fabricada a partir das
condições sociais determinadas. Porém, Marx e Engels, apesar da crítica, entendem que
a realidade do campo religioso surge como protesto, o protesto da miséria real que
assola o mundo, as más condições materiais de existência.
É possível dizer que antes de Marx e Engels o socialismo tinha bons olhos sobre
a religião, em especial sobre o cristianismo. Isso porque enxergavam a religião como
base e disso desenvolviam uma filantropia religiosa, onde Jesus não era apresentado
como o filho e o próprio Deus, mas como um revolucionário. Então Marx aparece
“santificando” o proletariado (classe dos trabalhadores) e “demonizando” os princípios
do cristianismo: “Os princípios sociais do cristianismo justificaram a escravidão antiga,
engrandeceram a servidão medieval e querem igualmente, caso necessário, defender a
opressão do proletariado, ainda que o façam com ar um tanto desolado” (LÉGER &
WILLAIME, 2009, p.24). É claro se trata de uma visão bastante atrasada sobre o real
trato cristão sobre a escravidão, mas, mostra como o pensador alemão considerava a
parte social cristã.
Os críticos alemães entendem que a religião no campo da sociedade pode
desempenhar um papel que seja tanto de limitação, quanto de emancipação. Isto é, a
religião pode se associar tanto com um sistema dominador e opressor, quanto com
ideias que conduzam a luta por liberdade desses mesmos sistemas. Sendo assim: “Os
efeitos sociopolíticos de uma religião – quer se trate do cristianismo, do islamismo ou
de uma outra religião – não estão lacrados para sempre, e uma mesma tradição religiosa
pode, conforme as épocas e os contextos, legitimar a dominação ou então legitimar o
protesto, quando não as duas coisas ao mesmo tempo” (LÉGER & WILLAIME, 2009,
p.25). A crítica marxista acentua-se justamente porque, a seu ver, sobretudo no
cristianismo, normalmente se opta pela legitimação do poder do detentor dos meios de 33
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Introduçãoa Sociologia da Religião
produção, sobre os trabalhadores assalariados, em síntese, do dominador sobre o
dominado.
7.1.3 – Analise sociológica da religião como contribuinte das ideologias;
O marxismo promove uma crítica as ideologias que, em sua ótica, são
tendenciosas e visam a manutenção do sistema, aquelas que tem a função de legitimar o
poder, em outras palavras, critica as ideologias que promovem a dominação coletiva, o
domínio do povo.
Para o marxismo, quando a ideologia assume sua forma mais elevada, ela se
apropria do Estado, tornando-o um Estado religioso, cheio de imperfeições surgidas por
causa da confusão que faz, tratando de forma política a religião e de forma religiosa a
política. Para Mar e Engels, parece claro, religião e política não devem se misturar,
portanto o Estado precisa ser laico nessa visão e às vezes atélaicista, eles, contudo
acreditavam não ser possível que o Estado se torne realmente laico, assim a solução
seria abolir o Estado.
Em uma das obras mais importantes dos pensadores alemães, “A ideologia
alemã”, falam ser a ideologia a representação invertida do real. Porque, quando a
ideologia produz suas representações, a realidade é travestida, a vida real escondida e o
mundo das ilusões e do ideal aparecem. É nesse ponto que a ideologia navega na
religião, que é tida como ilusão no marxismo.
7.1.4 – Crítica apologética ao marxismo;
Fica claro após essa breve exposição da sociologia marxista da religião, que um
cristão não pode aceitar essa cosmovisão sem cair em contradição. Existem movimentos
cristãos que se pretendem marxistas, mas o máximo que a igreja pode fazer é
desenvolver um diálogo naquilo que é comum, como por exemplo, os pontos que
buscam justiça aos pobres.
Por outro lado, são muitas as discordâncias. A seguir, serão expostos quatro
pontos que o teólogo de Oxford Alister Mcgrath descreveu na obra: “Apologética cristã
no século XXI: ciência e arte com integridade” (p.278):
a) O ateísmo de Marx é, no final das contas, uma hipótese não provada;
34SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
b) Na prática, a crítica de Marx à religião está toda ela baseada em sua visão sobre
a função social da religião na Alemanha do século XIX e, portanto, é inadequada
[isto é, antiquada];
c) Com o estabelecimento do Estado comunista em várias partes do mundo, a
religião não apenas sobreviveu; ela prosperou, apesar dos esforços planejados do
Estado para eliminá-la e fazer os eventos se conformarem à teoria [a
prosperidade de um Estado fez seu povo buscar a Deus e não a abandoná-lo
como erroneamente previu Marx];
d) Marx presume que se pode falar de “religião” em geral e, então, passa a criticar
religiões específicas. Marx nunca mostrou qualquer familiaridade real com os
aspectos específicos do cristianismo, fazendo, em vez disso, afirmações vagas
sobre religião em geral (em outras palavras, Marx não entendia de teologia
cristã, o que limitou fatalmente sua crítica);
Portanto, toda tradição marxista (em suas várias escolas) que segue a linha de
argumentação de seu mentor, erra, e além de errar, apresenta argumentos que são muito
mais emocionais e politicamente partidários, do que intelectuais e corretos.
35SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
7.2 – ALEXIS DE TOCQUEVILLE
QUEM FOI?
Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador político e estadista francês. Foi considerado um dos grandes teóricos sobre a democracia americana. Especulou sobre a natureza essencial da própria democracia, suas vantagens e perigos. Interpretou o regime democrático como uma necessidade histórica resultando inevitavelmente da difusão da ideia de igualdade.
Fonte: https://www.ebiografia.com/alexis_de_tocqueville/
7.2.1 – Religião e sociedades democráticas, crenças necessárias;
O pensador francês apoiou boa parte de sua produção no que chamou de livre
exame da dúvida metódica, da generalização da razão. Duvidar de tudo, para
Tocqueville, era tanto um direito quanto uma obviedade para todos aqueles que vivendo
em uma democracia, portanto em condição de igualdade, procuram a verdade por si
mesma.
A partir do ponto que o ser humano se utiliza da dúvida metódica, os homens
passam a adquirir crenças fundamentais partilhadas entre si, pensava Tocqueville. Essas
crenças são ideias que não podem ser colocadas no campo da dúvida metódica e
justamente por isso podem se apresentar como uma base forte dentro de uma dada
sociedade democrática. Claramente essas ideias para o pensador, são aquelas que estão
no campo da religião, como diz: “Para mim, duvido que o homem consiga jamais
suportar ao mesmo tempo uma completa independência religiosa e uma total liberdade
política; e sou levado a pensar que, se ele não tiver fé, é preciso que sirva, e, se for livre,
que creia” (LÉGER & WILLAIME, 2009, p.56). Portanto, a tal dúvida quando aparece,
ou obriga o homem a se entregar a fé ou ao serviço.
A sociologia da religião de Tocqueville entende que o ser humano por
necessidade precisa de crenças dogmáticas (certezas absolutas), ou seja, que possua
pontos que ele não possa discutir, que possuam uma confiança inabalável nesses. Essas
crenças são necessárias porque não existe, na concepção do sociólogo francês, nenhuma
sociedade que consiga prosperidade sem tais crenças, assim como não existe vida
sozinha que resiste também sem essas crenças, porque o homem nunca se força a provar
todas as verdades que são expostas todos os dias, portanto o salto de fé é evidente.36
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
Pela natureza das sociedades democráticas, onde cada indivíduo possui e pode
possuir um ponto de vista que lhe convém, existe a importância de que algumas crenças
e ideias gerais a respeito de Deus e a natureza humana, haja consenso entre seus
membros. É nessa necessidade de consenso que democraticamente, a mentalidade
coletiva aceita aspectos, crenças e crendices que surgem a respeito do divino e humano,
criando assim identidade própria. É dessa maneira que Tocqueville sustenta a chamada
tese da utilidade social da religião, a religião se coloca como base necessária a qualquer
sociedade, sobretudo as democráticas, uma espécie de religião civil, desobrigada de
instituições ou de dogmas transcendentes, antes, permitindo que vivam sem agir contra
sua liberdade dentro da coletividade.
7.2.2 – Estado e Igreja completamente separados;
Outro aspecto forte na sociologia da religião de Tocqueville, é que para o
pensador, tanto o espírito da religião, quanto o espírito da liberdade convivem muito
bem, devido o fator “separação entre Igreja e Estado”.
O pensador defende esse ponto, pois, para ele, mesmo sem o apoio do Estado a
religião possui um futuro, porque se apoia no campo da individualidade. Nesse ponto o
pensador declara que por isso, a incredulidade não passa de um acidente, porque o único
estado permanente da humanidade é a fé. Isso obriga as religiões estar no limite que a
ela está reservado, sem querer sair dele, pois quando assim o fazem, podem juntamente
com o Estado ser desacreditadas e perderem sua influência em ambos os campos, o do
Estado e no seu próprio, na religião.
Dessa forma, a religião para Tocqueville, está em lugar estratégico, pois possui
de forma muito eficiente à capacidade de moderar os desejos perigosos da democracia,
sem impor normas políticas, como se colocasse Deus sem diretamente se envolver com
posturas políticas humanas, deixando o lugar do poder livre, alimentando assim a partir
do religioso virtudes cívicas e um aguçado senso de solidariedade.
37SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
7.3 – MAX WEBER
QUEM FOI?
Max Weber (1864-1920) foi um importante sociólogo e destacado economista alemão. Suas grandes obras são, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” e "Economia e Sociedade". Dedicou sua vida ao trabalho acadêmico, escrevendo sobres assuntos variados como o espírito do capitalismo e as religiões chinesas. Weber estudou a moral estabelecida por algumas seitas calvinistas dos séculos XVI E XVII, para mostrar que a Reforma Protestante havia criado, em alguns países ocidentais, uma cultura social mais favorável ao desenvolvimento econômico capitalista.
Fonte: https://www.ebiografia.com/max_weber
Sendo também um dos pais da sociologia, diferente de Marx, Weber emprega
em sua análise da sociedade uma considerável porção voltada para a religião. Não
apenas como crítica, mas reconhecendo, sobretudo o papal que a religião exerce dentro
da vida social e reconhecendo sua inegável influência.
7.3.1 – A sociologia da dominação religiosa weberiana
Segundo o pensamento de Weber, religião é um modo de agir particular em
comunidade. É esse modo de agir, que sua sociologia pretende estudar. Dessa forma, o
sociólogo alemão não enxergará na religião apenas um sistema de crenças, entende mais
como um sistema de regulamentação da vida.
A atividade religiosa está voltada para a regulação das relações das potências
“sobrenaturais” com a humanidade, ou seja, a religião é a mediação entre o divino e o
humano, o sagrado e o profano o atemporal e o temporal. Weber não trata a essência da
religião, pois entende que essa, está no campo da incompreensão, pois trabalha com
temáticas problemáticas como o mérito e o destino, a existência do sofrimento e a
realidade da morte. Assim, a sociologia weberiana pensa a religião aqui em baixo, não
lá em cima, tem muito mais a ver com a vida terrestre, do que celeste. Essa seria o que
chama de força motriz de todas as religiões.
O pensador alemão mostra que a os bens de salvação que são oferecidos pelas
religiões, desde as mais primitivas até as mais civilizadas, se pautam na utilidade para a
38SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
vida no aqui e no hoje, como: saúde, longa vida, riqueza, etc. Apenas a classe sacerdotal
visava uma salvação que extrapolava os limites do aqui e agora, para se interessar numa
vida extra mundo. Por esse motivo, muitas religiões ajudaram fazer aquilo que Weber
chama de desmagnificação e racionalização do mundo, isto é, uma visão que se pauta
mais nas necessidades sociais para a vida aqui, do que o apego metafísico ao além.
A partir disso Weber vai entender que os agrupamentos religiosos são
agrupamentos de dominação de forma particular, pois de forma particular exerce
domínio sobre os seres humanos.Portanto, nessa sociologia da religião, a religião como
modo de agir, gera duas características principais sendo a primeira o laço social e a
segunda o modo de poder que ela dá lugar é na segunda característica que a religião se
torna um instrumento de dominação podendo servir aos mais diversos fins, quer
positivos, quer negativos.
Então Weber vai entender que o poder religioso, a exemplo das demais formas
de poder é exercido de três formas que ele vai chamar de:
Legitimação racional-legal (na religião é o tipo ideal do sacerdote): o poder
é exercido pela autoridade administrativa, que é impessoal e se vale nos
regulamentos e nas funções.
Legitimação tradicional (na religião é o tipo ideal do feiticeiro): nesse caso
o poder é exercido pela força dos costumes e na transmissão das tradições
das funções e papais que se exerce.
Legitimação carismática (na religião é o tipo ideal do profeta): o poder é
exercido baseando-se na autoridade e na capacidade e habilidades aceitas por
uma sociedade de um determinado indivíduo.
7.3.2 – A religião e os meios sociais.
É considerável a atenção dada por Weber às diferenças sociais que são
observadas na religião. Ele entende que toda necessidade de salvação que existe no ser
humano, expressa uma espécie de miséria, dito isso, tanto a opressão econômica, quanto
a social estão na gênese ou deram origem as buscas por redenção nas crenças religiosas.
A essa altura alguém poderá pensar que esse discurso se parece muito com o discurso
marxista, porém, diferente de Marx, Weber não crê que essas fontes, apesar de fortes,
sejam as únicas ou que sem elas não se buscaria a redenção.
39SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
O que Weber quer passar é que a religião vai dar conta tanto a necessidade de
redenção humana, quanto a vontade da legitimação do sucesso próprio, ou seja, não
apenas a possibilidade das bênçãos para o depois ou pós-morte, mas também a
possibilidade de uma vida vitoriosa aqui, como resposta da vontade divina sobre o
indivíduo, o que seria também redentor, para além disso, seria, na concepção da
sociologia da religião weberiana, a felicidade.
Outro contraponto que a sociologia weberiana apresenta frente a marxista, diz
respeito ao fato de Weber entender que “Uma religião de salvação pode muito bem
encontrar sua origem no seio de camadas socialmente privilegiadas” (LÉGER &
WILLAIME, 2009:99). Essa declaração mostra que weberianamente falando, a religião
não é fruto da alienação socioeconômica como diz o marxismo, não é um fenômeno
apenas dos mais empobrecidos ou menos abastados, isso porque em Weber o
econômico, nunca determina as atitudes religiosas (claro que nesse caso se entende as
legítimas atitudes religiosas e não as que se dizem verdadeiras, mas sua base é a
ganância).
Por ter essa afinidade com os meios sociais, Weber enxerga algumas coisas
importantes sobre o desenvolvimento e emergência do cristianismo que inicialmente
não passava de uma seita camponesa. Esse desenvolvimento está ligado, sobretudo ao
trato que ele empregava a questões de gênero e o tratamento das camadas mais
populares até as mais as abastadas. Em outras palavras, diferente, por exemplo, da
religião de Mitra (vem de mitraísmo, religião de mistérios nascida provavelmente no
século II a.C. no Mediterrâneo Oriental, maior que o cristianismo em sua origem e
ferrenha rival), que excluía totalmente as mulheres, o cristianismo apesar da cultura,
estava repleto de mulheres seguidoras fiéis e também não era difícil de encontrar entre
os discípulos cristãos de pescadores até publicanos, passando por senhoras que
possuíam fortunas e sustentavam o ministério de Cristo. Desse modo, ricos e pobres são
aceitos no cristianismo desde seu começo.
A sociologia weberiana das religiões se interessa bastante pelo que chama de
fenômeno das seitas. Isso porque Weber é o autor da ideia como tipo ideal de seita, além
disso, se interessa aquilo que esse modo de existência religiosa pode exercer no meio da
sociedade e o que pode provocar como fenômeno em dadas categorias da população,
como por exemplo, a solidariedade comunitária que pode exercer. Nesse ponto serve de
exemplo à solidariedade exercida de forma explícita pelos meios espiritualistas no
Brasil, sobretudo os de linha kardecista e ramificações da mesma. 40
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Ainda dentro desse tópico, para Weber, as necessidades das massas exercem
uma espécie de obrigação sobre as religiões, a obrigação de se adaptar às necessidades
do povo enquanto faz a mediação facilitadora do acesso ao divino. Segundo o pensador
alemão, esse processo é inevitável, não tem como uma religião que se apresente as
massas ignorar. As únicas religiões que não se colocaram a essa inevitabilidade, foram o
judaísmo e o protestantismo.
7.3.3 – Uma ética protestante no espírito do capitalismo
Na introdução de “A Ética protestante e o Espírito do capitalismo” de Max
Weber pela editora Martin Claret, Silvio L. Sant’anna comenta a intenção de Weber ao
escrever este livro que é considerado um clássico, isto é, defender sua tese sobre o
capitalismo pautada no que ele chama de ética protestante. Sant’anna então descreve o
que é tal ética para o sociólogo alemão,“Ética protestante: há algo no estilo de vida
daqueles que professam o protestantismo que favorece o espírito do capitalismo. Neste
livro o autor se dedica a comprovar essa tese” (WEBER, p.11). Dessa maneira
comentaremos frases dos discursos de Bush e Obama sob o arcabouço teórico de Max
Weber.
A ideia de ética que a sociologia da religião weberiana traz, não é a
convencionalmente conhecida como o campo da filosofia que julga a moral. Aqui, é a
ideia de ethos, que nesse caso significa uma ética que se apresenta como prática ou uma
forma de pensar e de viver que leve a condução da vida. Trata-se de uma disposição que
leva a orientação para a ação e por fim finda em uma conduta de vida adequada.
Quando Weber fala de “espírito” do capitalismo, ele não quer descrever um
espectro ou um ente, um ser ou entidade, ele quer dizer com esse termo uma forma de
viver. Basicamente, buscando compreender o que motivou a ação racional e ascética dos
que olham para seu trabalho como uma verdadeira vocação.
Segundo Léger, o título do livro que se chama “A ética protestante e o espírito
do capitalismo”, poderia se chamar: “As afinidades do ethos puritano e do espírito do
empreendedor ocidental”(LÉGER & WILLAIME, p.115). Esse título mostra que para
Weber a Reforma demonstra uma forma específica de dominação religiosa, não uma
dominação direta, mas de forma indireta que faz com que o individuo tenha sua vida
controlada de forma estreita regulando toda sua conduta de viver.Em a “A ética
protestante e o espírito do capitalismo” discorre: “Junto à valorização positiva do 41
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Introduçãoa Sociologia da Religião
trabalho está também presente no espírito calvinista uma valorização positiva da riqueza
criada por esse trabalho... A riqueza criada deve ser reinvestida, deve servir de estímulo
para que sejam criadas novas formas de trabalho” (Catani, p.18). Nesse ponto, Weber
deixa claro que o protestantismo de linha calvinista, bem como sua teologia, foram
fortes embasamentos que mediaram a vida do trabalho e o desenvolvimento do capital
como sistema.
A pergunta que Weber vai tentar responder é, por que o capitalismo proliferou
no protestantismo? Para responder a essa questão, o sociólogo alemão mostra como o
capitalismo lutou para prevalecer e se impor. Não havia a naturalidade até a Reforma,
em o homem se dedicar de corpo e alma a sua profissão. É no contexto da Reforma
protestante que surge a ideia doutrinária, do trabalho como vocação, enviada por Deus e
exigida dos seus, em outras palavras, o homem deve trabalhar, exercer sua profissão,
não como para um patrão ou para uma empresa que lucrará, mas, como que para Deus, e
isso rotineiramente. Esse era o gancho que tanto precisava o novo sistema econômico
para se desenvolver sem precedentes.
É importante também dizer que dentro da sociologia da religião de Weber, a
compreensão do empreendedor capitalista, virou um “tipo ideal” daquele que não aceita
a ostentação do gasto de forma inútil, pois toma isso como o desperdício de seu
“poder”. Portanto, ele está interessado, no que o sociólogo descreve de forma não
ofensiva, como o sentimento irracional de ter realizado sua profissão. É como disse o
escritor Richard Baxter: “ser rico para Deus, não para a carne e o pecado” (LÉGER &
WILLAIME, 2009, p.118). Essa motivação religiosa, que chamou de “ascetismo
intramundano”, é o que está no coração do protestantismo, o que favoreceu e favorece o
capitalismo.
Por fim e de importância muito grande para fechar esse assunto, cabe um
comentário a seguinte citação de Weber: “De fato, não é mais necessário o suporte de
qualquer força religiosa, e percebe-se que as tentativas da religião de influenciar a vida
econômica, na medida em que ainda podem ser sentidas, são uma interferência
injustificada, tanto como uma regulamentação por parte do Estado”. (WEBER, p. 64).
Assim, ele deixa claro que não há mais qualquer influência do protestantismo ou de
qualquer outra religião na política econômica de países inseridos no âmbito ocidental,
isto é, a religião não possui o poder para transformar qualquer política
econômica.Weber dizia já em 1904/1905, época em que foram lançados os artigos de
42SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
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seu livro, o que leva a entendermos que hoje é muito mais complicado alguém afirmar
que a religião influencia ou tem o controle do sistema econômico.
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7.4 - GEORG SIMMEL
QUEM FOI?
Georg Simmel, (1858-1918) foi um sociólogo e filósofo alemão, considerado o fundador da Sociologia Formal ou Sociologia das Formas Sociais. Simmel foi batizado como luterano, mas retirou-se da igreja, apesar de manter interesse filosófico na religião.
Fonte: https://www.ebiografia.com/georg_simmel/
7.4.1 - A permanência e a fluidez da Religião
Simmel considerava e valorizava bastante o sentimento religioso e sua existência
no ser humano. Por esse motivo, não aceitava e até estranhava toda e qualquer tentativa
de declarar o fim desse sentimento ou até mesmo que a religiosidade humana está em
declínio, como o movimento iluminista supunha já havia duzentos anos. Criticava então,
as teorias sociais que visavam desacreditar o sentimento religioso, pois o movimento
ainda acontece hoje e se olhar de perto, a religiosidade está mais viva do que nunca.
O pensador entende que a religião se apresentará com diferentes formas de
socialização, o que ocorre devido os conteúdos serem idênticos, entretanto, a forma
como uma comunidade religiosa se apresenta é sempre peculiar a ela mesma o que torna
a manifestação religiosa bastante plural em manifestações, mas centrada nela mesma e
em suas leituras de mundo.
7.4.2 - Socialização da vida religiosa
Para Simmel, assim como outras áreas da vida social, a vida religiosa sofre a
influência do que o sociólogo chama de determinação quantitativa do grupo, isto é, a
quantidade de indivíduos, também determina a vida coletiva da religião. O poder de
influência do grupo em que uma religião está, para Simmel, exerce total influência
sobre ela. Um exemplo que ele procura dar é o de que quando o cristianismo se aliou ao
Estado Romano, o mudou por inteiro de sua constituição sociológica a sua vida
44SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
psíquica. Foi nesse momento que o cristianismo passou de seita (naquela época
significando pequeno grupo) para igreja ou religião institucionalizada.
A socialização da vida religiosa passa na sociologia da religião de Simmel ainda
pelo crivo sectário das sociedades secretas. Esses grupos, inquietam e provocam reações
diversas aos grupos que estão no poder político-religioso. Para o sociólogo na verdade,
essas sociedades não precisariam ser temidas, porém o são por causa da expressão que
carregam “secreta”, tal expressão parece apontar para um nível de subversão e de
desconhecimento que causa medo nos que dominam, pelo simples fato de não saberem
exatamente do que se trata, o aspecto secreto. Esse também, é um caso em que a vida
religiosa é estigmatizada por sua sociedade.
7.4.3 – Comparação histórica entre as religiões
Procurando trabalhar as várias formas de dominação, Simmel aponta para o que
a seu ver é um tipo específico de dominação religiosa, a dominação do monoteísmo
sobre as demais compreensões e cosmovisões, sobretudo sobre o politeísmo” (LÉGER
& WILLAIME, p.151). Segundo Simmel, o politeísmo dá muito mais liberdade que o
monoteísmo, uma vez que em sua pluralidade, dá plena liberdade ao seu fiel para se
quiser negar o deus atual por outro que considere mais relevante.
Aquelas chamadas por Simmel de religiões particulares (referência às religiões
da subjetividade, que não delimitam a divindade e não possuem livros de regras de fé e
doutrina), são tolerantes, pelo fato de que cada divindade se importar apenas com seus
fiéis e esses por sua vez não veem problema em outros acreditarem em deuses diferentes
dos seus. Já o cristianismo, por apostar nas singularidades de seu Deus, sua Palavra e
sua salvação, é tido por Simmel como intolerante, pois se refere apenas aos seus fiéis,
seus cultos, suas crenças, contrariando-se quando avistam adoração a outros cultos, pois
o Deus na visão cristã é Deus dos crentes e também dos não crentes, ainda que esses
nãos saibam disso. Porém, o cristianismo é tolerante no que se refere ao encontro com o
divino, que pode variar bastante, pensava Simmel.
Um conceito importante em Simmel na análise comparativa da religião, é o que
ele chama de “cruzamento dos círculos sociais”. Para ele a religião se mistura e/ou
nãose mistura com os interesses que a sociedade possui, os interesses da cultura, da
política, da economia, etnias etc. Isso significa que se misturando ou não a religião tem
interferência nos laços que ligam a sociedade a ponto de torná-los mai fortes, de 45
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Introduçãoa Sociologia da Religião
sacralizá-los ou até de ruí-los. Para Simmel, todavia, de todos os intrincamentos
possíveis, o mais significativo é o que transcende os laços sociais através da
individualidade ou individualismo, como no caso do cristianismo, que leva o indivíduo
a superar as dificuldades dos laços da economia, cultura ou política, sem ser afetado
diretamente, ainda que influenciado, nesse momento é possível que a interferência desse
indivíduo individualizado em sua religiosidade, interfira decisivamente nos laços
sociais, independente de ser positiva ou negativa essa interferência.
7.5 – ÉMILE DURKHEIM
QUEM FOI?
Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês. É considerado o pai da Sociologia Moderna e chefe da chamada Escola Sociológica Francesa. É o criador da teoria da coesão social. Junto com Karl Marx e Max Weber, formam um dos pilares dos estudos sociológicos. Afirmou que não existem religiões falsas, que todas são essencialmente sociais. Definiu religião como “Um sistema universal de crenças e práticas relativas às coisas sagradas”.
Fonte: https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/
5.1 – O sagrado na religiosidade
Durkheim foi mais um daqueles ultra humanistas, provavelmente influenciado
pelo iluminismo, que realmente acreditou que na sociedade moderna, a visão das
religiões tradicionais (como cristianismo, judaísmo e islamismo), estava superada e por
isso a humanidade precisava e tinha toda capacidade necessária para exercer uma nova
religiosidade como um novo ideal. Essa visão de uma religião imbricada na sociedade e
cheia da natureza humana, era extremamente otimista, hoje seria considerada até
ingênua. Como característica a religião social da humanidade, faria do humano um deus
para o humano e da humanidade o que há de mais sagrado. Era, por assim dizer, uma
pretensão radical e que vinha acompanhada com outras posições igualmente
superotimistas, pois para chegar a esse ideal social a escola seria o local de difusão
dessa nova “religião do homem” (LÉGER & WILLAIME, p.164).
46SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
7.5.2 – As formas elementares da vida religiosa
Entrando na sociologia da religião durkheimiana propriamente, temos uma obra
espetacular deixada pelo autor intitulada “Formas elementares da vida religiosa” de
1912. Entre outros pontos alguns podem ser destacados sobre a sociologia da religião de
Durkheim nessa obra. Para o sociólogo, religião não pode ser destacada apenas como
algo sobrenatural, o que não quer dizer que ele não leve em consideração que a maior
parte das religiões se pretendem sobrenaturais, pois se fizer isso, teria que descrever
religião como “o mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível” (LÉGER
& WILLAIME, p.164), o que sugere não ser possível jamais analisar o fenômeno social
religião. Isso não é bem-vindo em sociedades modernas onde tudo é examinável pelo
crivo das evidências.
O sociólogo alemão dará exemplos de algumas religiosidades que não abusam
das questões sobrenaturais, a isso cita grandes religiões como o budismo e o jainismo
que não possuem a ideia fixa de espíritos e deuses, são religiões ateias por assim dizer,
embora nutram crenças sobrenaturais, porém se pautam muito mais na alma humana.
Dessa maneira, Durkheim fixa a compreensão sociológica da possibilidade de existência
de rituais religiosos sem deuses, o que faz com que o objeto principal da ideia de
religião não seja apenas a divindade. Assim, a única forma de se estudar religião na
visão do sociólogo é decompondo suas partes, pois a religião é esse emaranhado de
partes feita de dogmas, ritos e cerimônias, como fenômenos elementares da vida social.
As crenças religiosas, não importando quais, possuem algo comum, trata-se da
suposição de coisas reais e ideais classificadas em dois gêneros, o sagrado e o profano.
Quando se fala de sagrado, está nesse grupo tudo aquilo que é caríssimo a uma tradição
ou experiência religiosa coletiva, por isso é variável, por depender de qual religião se
analisa. Já o profano é o totalmente outro, o oposto que causa estranheza quando diante
do sagrado. Desta maneira, o que determina o que é sagrado é o que é profano, na visão
durkheimiana é a vida social.
Religião tem a ver com a solidariedade aplicada de forma sistemática
envolvendo crenças no que é sagrado. Essas crenças envolvem a praticidade que traz
unidade moral a comunidade em elas estão inseridas. Isso é explicado por Durkheim
como fato religioso, um fato social levado extremamente a sério pelo sociólogo, pois é a
fonte que direcionou os homens em todas as épocas, impulsionando-os a viver.
47SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
O sagrado vai se manifestar de forma externa ao ser humano, pois, embora
existam as religiões que atribuem a natureza e ao ser humano um caráter sagrado, nem
um, nem outro possuem um caráter sagrado em si, na concepção durkheimiana. Dessa
maneira, a humanidade buscou e busca na maioria das vezes outra fonte fora do humano
e fora do físico, como necessidade de resposta aquilo que tanto o humano, quanto a
natureza não dão conta e nem podem dar, pois está fora de suas esferas.
O fato religioso é compreendido através de um reconhecimento da consistência
dos fenômenos que amoldam dos costumes a vida social, o que tem uma profunda
relevância e influência na vida interior de cada indivíduo, que por sua vez reflete nos
grupos humanos de onde vem, o direcionamento da ação religiosa.
Durkheim então entendeu que não é possível interpretar a religião de forma
racional, a partir de uma postura irreligiosa, isto é, não se compreende religião
combatendo religião, pois seria a negação de um fato social, o fato religioso. O
sociólogo reconhece que esse fato pode ser compreendido ou não, mas não se pode
negá-lo, não se pode negar um fato social.
Apesar de sua visão pouco cristã ou nada convencional sobre a religião,
Durkheim entende que: “O homem que obedece a seu deus, e que, por esse motivo crê
tê-lo conseguido, aborda o mundo com uma confiança e uma energia maior” (LÉGER &
WILLAIME, p.190).Dentro desse pensamento, o ganho que a obediência a divindade
traz é o ânimo para uma vida melhor.
A partir da repetição da prática religiosa em uma vida, Durkheim entender que
provoca a persuasão do indivíduo a si mesmo de que existem dois mundos diferentes
que não podem ser confundidos. Um dos mundos é o da vida corriqueira e natural,
cotidiana. O outro é o mundo das coisas sagradas. O primeiro é o mundo da profanação,
o outro da sanidade sagrada.
7.5.3 – O sagrado e o institucional: os dois campos da religião
A ideia dos dois patamares ou dois mundos da religião em Durkheim, não é a
única maneira de se conceber a religião, existe também uma dimensão que se confunde
com a experiência emocional. Na relação com o sagrado, existe uma tentativa de
administração do mesmo, essa surge a partir da institucionalização da religião que
institucionaliza as emoções mais profundas, o que exclui o sagrado da vida íntima de
alguém. Durkheim entende que a administração do sagrado causa a perda da 48
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Introduçãoa Sociologia da Religião
religiosidade, cuja ultima etapa é a laicização da sociedade. Portanto, existe um desafio
enorme ao campo religioso, por causa da instituição.
Para o sociólogo, porém, a laicização e a descrença não poderão durar
eternamente:
Durkheim não pode crer que “esse estado de incerteza e agitação
confusa” possa durar eternamente. “um dia virá – escreve ele, nas
últimas páginas de formas –, em que nossas sociedades conhecerão de
novo horas de efervescência criativa no decorrer das quais novos
ideais surgirão, novas fórmulas se desprenderão, servindo, durante um
tempo como guia para a humanidade; e tais horas, depois de vividas,
os homens experimentarão espontaneamente a necessidade de revivê-
las de tempos em tempos pelo pensamento, ou seja, de manter sua
lembrança por meio de festas que revivificarão regularmente seus
frutos” (LÉGER & WILLAIME, p.201).
CAPITULO 8 – Religiosidade no Brasil, aspectos sociológicos
8.1 – MAURICE HALBWACHS
QUEM FOI?
Maurice Halbwachs (1877-1945) foi um sociólogo francês, destacado por seus trabalhos sobre a memória coletiva. De ideologia socialista, nesse mesmo ano, foi preso pelas tropas alemãs, após a ocupação nazista de Paris. Meses mais tarde, foi levado para o campo de concentração de Buchenwld, onde foi assassinado.
Fonte: https://www.ebiografia.com/maurice_halbwachs/
8.1.1 –A memória e a religião
Halbwachs entende que dentro do simbolismo que é típico dos grupos religiosos,
a religião reproduz uma história interna que traz migrações, fusão de diversas etnias e
outros aspectos que vem desde as origens sociais. Dinamicamente, uma religião
49SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
desenvolve a capacidade de gerenciar as heranças de crenças e ritos passados. Assim,
quando se estuda a religiosidade antiga, percebe-se que existem resquícios de tradições
que perdurara até hoje e esses resquícios são difíceis de ser detectados, por possuírem
variadas fontes por vezes estranhas a quem as identificam.
Não é natural que uma sociedade busque em sua memória resquícios de rituais
de religiões antigas, buscando ressuscitar essas antigas religiosidades. Contudo, a
religiosidade antiga reaparece sem ser evocada, se apropriando da preservação que
tradição religiosa traz.
Halbwachs, exclui a possibilidade de uma reaparição simplória da felicidade
antiga, quando reaparecem como reconstrução inovadora, , que surge pautada no antigo,
porém, respondendo os desafios contemporâneos da sociedade e da cultura. Essa
reaparição da religiosidade antiga, contem parcialmente na realidade, uma parte
pequeníssima da religiosidade rural da antiguidade. Mesmo nas religiosidades mais
populares como: peregrinações, cultos locais, práticas de cura, etc. A busca pelas
práticas religiosas mais primitivas, chamadas de tradicionais, são procuradas por uma
parcela pequena da sociedade que inclui: intelectuais médios, professores, agentes
sociais, intermediários culturais, técnicos e engenheiros. Dentro disso, não se pode dizer
que uma religiosidade contemporânea que parece inovadora, seja de fato inovadora.
Isso, porque uma inovação está subordinada ao imperativo da continuidade, tópico de
todo o pensamento religioso.
A continuidade que existe nas religiões, explica Halbwachs, se dá pelo fato da
religião herdar essa continuidade como herança da sociedade. Entretanto, essa
continuidade é ameaçada pela necessidade de mudança inovadora que uma religião
necessita para existir. O autor vai citar como exemplo de resgate da memória e das
lembranças o culto cristão que tem como principal alvo de seu culto, a reativação de
lembranças que fazem refletir sobre as situações passadas, presentes e futuras, dizendo
com que uma verdade surja, essa transformada em dogma.
A característica principal de uma crença em seu caráter religioso, está baseado
totalmente em resgate as lembranças que se referemàs verdades universais daquela
crença. Dessa forma, a constituição em si da religião, para Halbwachs, vem de
lembranças circunstanciais da história, as quais evocadas por lembranças acessadas na
memória sustentam gerações de crentes.
As verdades não religiosas, segundo o pensador francês, aparecem como
relativas e dependentes do momento histórico de onde surgem. Já as verdades, 50
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Introduçãoa Sociologia da Religião
religiosas são consideradas pelos seus adeptos, definitivas e imutáveis. O absoluto como
verdade religiosa, surge como fonte de memória conquistadora. Portanto, fica claro até
aqui que, na visão halbwachiana, A memória é uma necessidade para a religião, está
presente em toda ela, daí afirmo que, em toda a religião, a referência ao passado é
onipresente.
8.1.2 – Religião é memória?
O sociólogo francês, no tocante sua sociologia da religião, lhe interessa,
sobretudo a dinâmica da crença religiosa e o que impulsiona toda essa dinâmica de
crença religiosa é a memória. Mostra assim, que a memória religiosa trabalha com o
tempo em duas dimensões: a da história e a da eternidade. Isso acontece porque a
memória recorre à antiguidade que passou, mas se esforça o tempo inteiro para lembrar-
se de uma verdade eterna. É por isso que a religião tem a fama de parecer estar fora do
tempo.
A memória religiosa permite, na concepção de Halbwachs, manter unido um
povo, numa só crença religiosa. A construção dessa crença e a experiência emotiva do
divino ou o fenômeno religioso da presença de Deus. Tudo ligado pela memória junto
ao acontecimento histórico.
8.2 – HENRI DESROCHE
QUEM FOI?
Henri Desroche (1914-1994), sociólogo francês, deixou uma importante obra em Sociologia das religiões e do cooperativismo. Além disso, foi grande idealizador da pesquisa-ação e da educação permanente. Centrado nos temas da pesquisa-ação e do projeto cooperativo.
Fonte: https://www.martinsfontespaulista.com.br/pesquisa-acao-e-projeto-cooperativo-na-perspectiva-de-henri-desroche-222588.aspx/p
8.2.1 –Sociologia religiosa da esperança
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Introduçãoa Sociologia da Religião
O sociólogo entende que, como fenômeno social, esperança e desilusão dão
ritmo ao motor da história humana, por isso, ele busca contra todas as probabilidades
fazer uma síntese do cristianismo, marxismo e a pluralidade de socialismo, que juntos,
compreende o pensador, podem fazer o céu, chegar a terra. Uma esperança
absolutamente viva em sua sociologia.
Por causa de sua pretensão de fazer essa síntese improvável, a sociologia da
religião de Desroche, não pode ser outra se não uma sociologia do agir religioso, pois é
na ação humana que a coerência com o discurso surge. Poderia, portanto, diante de todo
esse impulso para a ação existente em sua sociologia, a sociologia da religião do
pensador francês poderia se chamar de Sociologia da práxis religiosa.
8.2.2 –A atenção marginal: a atenção do que não tem atenção
A sociologia religiosa desrocheana faz uma estrutura dos tidos como marginais
na religião, àqueles que não têm voz, nem vez, daqueles que se afastaram das grandes
convenções religiosas ou institucionais. As religiosidades alternativas, segundo
Desroche, são religiões de oposição diante da hegemonia das religiões consagradas e
aceitas.
Nas religiões existe uma capacidade explicita de fazer “o social”, pensa
Desroche, e isso deveria ser exercido para superar as dificuldades latentes nesse mundo,
em seu pensamento acredita que essa capacidade está: “... para além até da perda de
influência social e cultural das instituições religiosas nas quais se inscrevia sua
dominação hegemônica antiga sobre as consciências” (LÉGER & WILLAIME,
p.304).O olhar para os desvalidos, não é uma excentricidade nas comunidades
religiosas, é uma normalidade, faz parte do ser religioso o estender das mãos, o atender
o desprovido, mesmo que, ao fazer isso, o poder temporal dessa religião diminua. É
nesse instante, que se torna uma oposição aquele caráter religioso que se coloca apenas
como dominação e ao lado dos que dominam.
8.2.3 – A expectativa social religiosa
Para fechar as ideias principais da sociologia da religião desrocheana, cabe dizer
algo sobre a expectativa que a esperança religiosa traz. Dentro de perspectivas sociais, 52
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Introduçãoa Sociologia da Religião
não faz sentido ter uma religião que não traga “sal e luz” a esse mundo de corrupção e
injustiça. Se o campo religioso não apostar no avanço de comunidades de amor e justiça
mútuas, esse campo está fadado a desaparecer, pois somente sobrará a outra aba da
religião, a que atende aos interesses dos que dominam e isso não atende a sede humana
por religião.
O caso do messianismo é colocado como exemplo por Desroche, por se basear
na vinda de um redentor, que na perspectiva tanto judaica, quanto cristã, esse redentor
exercerá um domínio real que levará a paz e a uma vida que para muitos ainda é
utópica. Olhando a promessa da vinda do messias, Desroche adere a outro conceito
sócio-religioso, o milenarismo, que aponta o messias como personagem central de uma
sociedade futura de justiça. A junção de messianismo com milenarismo é o que
desenvolve uma sociologia da esperança.
8.3 – ZygmuntBauman
QUEM FOI?
ZygmuntBauman (1927-2017) foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais padrão de referência.
Fonte: https://www.ebiografia.com/zygmunt_bauman/
8.3.1 – Religião e pós-modernidade
Para um dos mais bem-sucedidos pensadores do final do século XX, “A religião
pertence a uma família de curiosos e às vezes embaraçantes conceitos que a gente
compreende perfeitamente até querer defini-los” (BAUMAN,2013, p. 205). Em outras
palavras, para Bauman, religião se compreende perfeitamente no campo da
subjetividade, isto é, de forma individual, até querer discuti-la e compreendê-la de
forma coletiva, junto com os outros. Isso revela a crença da sociologia da religião do
pensador polonês, de que a pós-modernidade alcançou e influência as crenças religiosas
também.
53SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
8.3.2 – Fundamentalismo e religiosidade líquida
Bauman está no grupo de sociólogos que ao olhar para o que aconteceu com a
sociedade desde o iluminismo, com todo o avanço técnico-científico, percebeu que
invés do acompanhamento desse avanço por parte da moral e dos laços de humanidade,
o contrário ocorreu, cada vez mais frio, o ser humano cometeu atrocidades que nunca
antes tinha tido coragem de cometer. Isso mostrou que o vazio existencial não foi uma
opção, mas uma realidade, a desilusão com o desenvolvimento técnico-científico foi tão
grande após duas guerras mundiais, que a busca por religião teve seu fôlego renovado,
porém a religiosidade tem novos aspectos específicos diretamente proporcionais à pós-
modernidade.
O Sociólogo polonês entende que a pós-modernidade foi apropriada pela
religião, assim como tudo mais, o que adequou os discursos e as práticas religiosas no
interior de uma sociedade, buscando atender a demandas, socioculturais. Aponta que
surgiu uma nova característica da religião, que está voltada diretamente para as
necessidades dos indivíduos, enquanto o aspecto da modernidade que diz ser o ser
humano incompleto, insuficiente e que não controla seu destino, continua vivo trazendo
uma relação dialética e um movimento de síntese que mistura as duas concepções. É
nesse contexto que nascerá o fundamentalismo.Esse fundamentalismo, trás a público
todos os anseios de uma sociedade que rendida a pós-modernidade que impõe sobre as
liberdades individuais que se tornaram altamente exageradas e até insuportáveis diz
Bauman (BAUMAN, 2013, p. 228-229).
Num mundo em que todos os meios de vida são permitidos, mas
nenhum é seguro, elas mostram coragem suficiente para dizer, aos que
estão ávidos de escutar, o que decidir de maneira que a decisão
continue segura e se justifique em todos os julgamentos a que
interesse. A esse respeito ofundamentalismo religioso pertence a uma
família mais ampla de soluções totalitárias ou protototalitárias,
oferecidas a todos os que deparam a carga da liberdade individual
excessiva e insuportável. (BAUMAN, p.229, 1998).
O que mais intriga na análise da religião em Bauman, é que ele, ao mesmo
tempo em que revela a rigidez de algumas características da religião como o
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Introduçãoa Sociologia da Religião
fundamentalismo, aponta que a religiosidade pós-moderna é imensamente fluída, o que
aponta para sua metáfora de liquidez:
Bauman escolhe o “líquido” como metáfora para ilustrar o estado
dessas mudanças: facilmente adaptáveis, fáceis de serem moldadas e
capazes de manter suas propriedades originais. As formas de vida
moderna, segundo ele, se assemelham pela vulnerabilidade e fluidez,
incapazes de manter a mesma identidade por muito tempo, o que
reforça esse estado temporário das relações sociais.5
Ao olhar para a religião hoje, não tem como não encontrar as similaridades com
a ideia de liquidez de Bauman, pois tomando como exemplo principal o protestantismo
evangélico brasileiro, os membros leigos das igrejas se adaptam em uma velocidade
enorme ao discurso, seja ele qual for, desde que atenda seus interesses. Ao mesmo
tempo em que você tem uma pluralidade tão grande que chega a ser impossível em
certos casos entender como uma igreja A e uma igreja B podem ser consideradas no
mesmo campo religioso tamanha diferença.
CONCLUSÃO
Ao termino dessa matéria, é importante analisar os ganhos que o estudante de
teologia adquiriu isso porque, como deve ter percebido, todo conhecimento que o
estudante adquire, influencia em sua prática ministerial, permitindo que possa fazer
leituras mais adequadas da realidade onde vide ou local, bem como da natureza dos
movimentos que surgem na igreja e no mundo.
O primeiro ganho que o estudante teve ao se deparar com a Sociologia foi a
compreensão melhor da construção e da vida em sociedade. Uma sociedade não nasce
pronta e acabada e também não existe de forma cristalizada sem mudanças, é dinâmica
e construída por uma série de fatores, dentre esses política, economia, direito, cultura e
claro, religião, que interagem nas relações humanas.
Um segundo ganho que o estudo da disciplina Sociologia da religião trouxe foi à
compreensão mais adequada do que é religião e seus desdobramentos. Num mundo
como o atual, onde a pluralidade religiosa se impõe, é primordial saber o que é religião,
para a partir dessa base estudar-se as religiões que disputam espaço com o cristianismo.
5 Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/12/3-reflexoes-para-entender-o-pensamento-de-zygmunt-bauman.html
55SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
O terceiro ganho foi a compreensão dos principais conceitos que estão presentes
nas ciências sociais. Entender agrupamentos e fatos sociais, tipos ideais, instituições,
métodos sociológicos entre outros, permite o olhar técnico que dará autoridade ao
teólogo quando discutir as especificidades da realidade vigente.
O último e preciosíssimo ganho foi o contato com as principais ideias sobre
religião dos mais fundamentais sociólogos da história. Não será pego de surpresa o
estudante que de forma séria estudou os conceitos da Sociologia da religião aqui
contidos e que vez ou outra surgirão como respostas interpretativas da sociedade em que
esse estudante exerce seu ministério. Dar conta desses conceitos será muito útil ao
avanço do Reino.
Assim, o estudante que com destreza passou por essa disciplina, está preparado
para enfrentar desafios que o mundo secular apresenta, mantendo a cosmovisão cristã
sem permitir que o que é fundamental ao cristianismo, seja prejudicado pó movimentos
que a sociedade faz surgir vez ou outra ou que as variadas formas de cultura dentro dela,
tentam, indiretamente impor. O Cristão com noção de sociologia entrega a Deus toda a
glória e declara que a sociedade será amoldada a imagem e semelhança de Cristo
“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.
Amém”. (Romanos 11:36).
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Introduçãoa Sociologia da Religião
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Introduçãoa Sociologia da Religião
Nome: ____________________________________________nota___________
Prova n°01 – QUESTIONÁRIO
1. Pode-se dizer que a Sociologia, como pensamento social, como reflexão da vida em
sociedade, existe desde sempre. É possível enxergar na Antiguidade, nos pensadores
helênicos mais especificamente, reflexões que buscavam dar conta do
relacionamento e da vida em sociedade (...). Quem foi o filósofo francês,
considerado o fundador do Positivismo - corrente filosófica que propõe uma nova
organização social?
a) ( ) Karl Marx
b) ( ) Auguste Comte
a) ( ) Émile Durkheim
b) ( ) Marx Weber
2. A Sociologia da religião procura a compreensão de como a religião existe e se
manifesta na mentalidade coletiva e nas práticas de um povo. Marque a
alternativa INCORRETA
a) ( ) A Sociologia da religião examina os efeitos do contexto sobre a maneira e
o direcionamento que uma religião assume dentro de uma dada sociedade.
b) ( ) A Sociologia da religião busca meios para que a religiosidade do
pesquisador (que existe apesar da busca por neutralidade), não interfira tanto na
construção sociológica da religião.
c) ( ) A Sociologia da religião não procura impedir a manipulação de estatísticas
sagradas e nem interfere no impacto social que a religião produz.
d) ( ) A Sociologia da religião analisa o impacto social que a religião produz. Ao
considerar qualquer fenômeno religioso, seria um grande erro pensá-lo apenas
em seu contexto místico ou teológico.
3. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do conhecimento, tais como
Sociologia, Política, Direito e Economia. Qual o nome do filósofo e revolucionário
socialista alemão que criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o
capitalismo?
a) ( ) Karl Marx
b) ( ) Auguste Comte
59SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia
Introduçãoa Sociologia da Religião
c) ( ) Émile Durkheim
d) ( ) Marx Weber
4. Para ele a religião se mistura e/ou não se mistura com os interesses que a sociedade
possui, os interesses da cultura, da política, da economia, etnias etc. Isso significa
que se misturando ou não a religião tem interferência nos laços que ligam a
sociedade a ponto de torná-los mais fortes, de sacralizá-los ou até de ruí-los. Qual o
nome do sociólogo e filósofo alemão, considerado o fundador da Sociologia Formal
ou Sociologia das Formas Sociais?
a) ( ) ZygmuntBauman
b) ( ) Émile Durkheim
c) ( ) Auguste Comte
d) ( ) Georg Simmel
5. Para um dos mais bem-sucedidos pensadores do final do século XX, “A religião
pertence a uma família de curiosos e às vezes embaraçantes conceitos que a gente
compreende perfeitamente até querer defini-los”. Ele também criou a expressão
“Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não
possuem mais padrão de referência. Qual o nome do sociólogo, pensador, professor
e escritor polonês, que foi uma das vozes mais críticas da sociedade contemporânea?
a) ( ) Émile Durkheim
b) ( ) Georg Simmel
c) ( ) ZygmuntBauman
d) ( ) Auguste Comte
60SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia