a imaginação sociológica

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A imaginação sociológica • Desnaturalizar o mundo • Aquilo que encaramos como natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não ser bem assim. • Os modos como a vida social se organiza são arbitrários, fortemente influenciados por processos históricos.

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Ensaios sobre a imaginação sociológica.

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  • A imaginao sociolgicaDesnaturalizar o mundo

    Aquilo que encaramos como natural, inevitvel, bom ou verdadeiro pode no ser bem assim.Os modos como a vida social se organiza so arbitrrios, fortemente influenciados por processos histricos.

  • Norbert Elias (1897-1990)Socilogo alemo autor de inmeras obras, entre elas:O Processo Civilizador (1993) [1939]Mozart, a sociologia de um gnio (1994) [1991]A sociedade dos indivduos (1994) [1987]Os alemes (1997) [1989]A sociedade de corte (2001) [1969]

  • O processo civilizadorAo longo dos sculos que levam da Idade Mdia Idade Moderna, observa-se a elevao do patamar de embarao, vergonha e repugnncia, que faz de certos aspectos do comportamento individual, antes considerados naturais, desejveis e agradveis, fenmenos repugnantes, nojentos e desagradveis. Passam a gerar sentimentos de culpa, medo e vergonha.

  • O processo civilizadorUm conjunto de controles, proibies, regras e tabus imposto sobre as emoes, instintos e impulsos de vrios tipos. Como consequncia, diversos aspectos do comportamento humano so ritualizados e/ou relegados ao fundo da vida social.

  • Hbitos de comer Na sociedade medieval, as proibies em torno dos hbitos mesa so apenas suaves: sugere-se que a pessoa no deve fungar mesa nem assoar-se na toalha ou nos dedos; comer com outras pessoas no mesmo prato ou travessa visto como natural, devendo o indivduo evitar apenas jogar-se comida como um porco e devolver a comida mastigada travessa comum. Os talheres so em nmero limitado. O garfo tem uma funo apenas limitada, como instrumento para tirar o alimento de um prato de servir em comum. O leno e o guardanapo so opcionais. A sopa bebida na sopeira comum ou numa concha utilizada em comum. Animais inteiros so trazidos mesa para o trincho.

  • Hbitos de comer

  • Hbitos de comerNa transio para a sociedade absolutista de corte (sculos XVI, XVII e XVIII), eleva-se o patamar de repugnncia em relao a alguns aspectos desse comportamento: comer com as mos (especialmente alimentos gordurosos), em travessas ou pratos coletivos, levar animais inteiros mesa para o corte passam a ser considerados nojentos.

  • Hbitos de comerO uso do garfo e da faca (talheres em geral) materializou um padro especfico de embarao, nojo e repugnncia. Passou a ser considerado repugnante o ato de comer carne com as mos e sujar os dedos com gordura e limp-los grosseiramente no pano ou guardanapo.

  • Funes corporais (1)

  • Funes corporaisNa Idade Mdia, as funes corporais so acompanhadas apenas de leves sentimentos de vergonha. Na transio para a sociedade absolutista de corte, eleva-se a sensibilidade em relao a esses aspectos do comportamento humano. Essas funes so suprimidas da vida social. Surge, ento, um aparelhamento tcnico que permite isolar essas funes da vida social (leno, banheiro, divises entre cmodos, etc.)

  • Mudanas na agressividade Na Idade Mdia, a agressividade era franca e desinibida. A guerra era uma necessidade vital; era socialmente aceito que os indivduos liberassem seus impulsos violentos na vida social. O prazer de matar e torturar era grande, socialmente permitido e at til. Nas sociedades modernas, a agressividade limitada por inmeras regras e proibies. O uso da fora fsica passou a ser monoplio dos agentes pblicos. A vida social pacificada. Os indivduos so submetidos a controles rigorosos pelos quais os impulsos agressivos so controlados (ex.: esportes).

  • Como entender esse processo? As transformaes na estrutura de personalidade so causadas por mudanas na estrutura de relaes sociais. A inflexo do processo civilizador se d com o surgimento das sociedades absolutistas de corte e a formao dos grandes estados nacionais (centralizao do poder militar e tributrio).

  • Como entender esse processo? Nessa nova formao social, a distribuio de prestgio (honra) passou a depender mais do refinamento constante do comportamento (elevao do padro de sensibilidade) e menos da habilidade de guerrear (nobreza guerreira). Havia uma enorme presso entre os cortesos para o controle das emoes e impulsos e para a observao do comportamento alheio. Atravs do refinamento do comportamento, os cortesos buscavam distinguir-se das outras camadas sociais e competir por poder dentro da corte.

  • Como entender esse processo? Com a crescente diferenciao social e diviso do trabalho, aumentam os contatos entre as vrias camadas sociais (nobreza, burguesia, camadas populares). O comportamento da corte (que manifesta um padro mais elevado de sensibilidade) se difunde socialmente.

  • Civilizao e CidadaniaDemocratizao funcional a reproduo social das camadas dominantes torna-se mais intensamente dependente do trabalho e esforo das camadas dominadas (ex: comparao entre Nobreza e Terceiro Estado, e Burguesia e Proletariado).Civilizao elevao da identificao mtua entre os indivduos. Estes passam a considerar mais cuidadosamente o impacto que suas aes tm sobre as percepes alheias. O processo civilizador d origem a padres de comportamento que possuem afinidades com o individualismo moderno, que pressupe uma igualdade fundamental entre os indivduos.

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