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Uma espécie de apontamentos de Antropologia Social e Cultural por RMC Uma espécie de apontamentos de Antropologia Social e Cultural Por RMC (O virtuoso) Disclaimer e Avisos: -Estes apontamentos foram feitos durante uma manhã e uma tarde, sendo que à tarde houve umas imperiais à mistura, por isso não são de confiança -Ainda não estão totalmente completos, não têm o texto 4 pois eu tenho algumas dúvidas sobre esse, não têm o Lugares e Não-lugares porque esse vou fazer à parte, e não têm o texto 10, pois esse não está na minha colectânea. -Baseiam-se em alguns resumos, mas essencialmente nos textos de apoio, conhecimentos meus(duvidosos) e na matéria dada nas aulas, aquela que eu decorei porque não tirei apontamentos, mais uma vez não é de fiar -Foram escritos à pressa e não foram revistos, como tal erros tipográficos e de pontuação devem ser mais que muitos

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Uma espécie de apontamentos de Antropologia Social e Cultural por RMC

Uma espécie de apontamentos de

Antropologia Social e Cultural

Por RMC (O virtuoso)

Disclaimer e Avisos:

-Estes apontamentos foram feitos durante uma manhã e uma tarde, sendo que à tarde houve umas imperiais à mistura, por isso não são de

confiança

-Ainda não estão totalmente completos, não têm o texto 4 pois eu tenho algumas dúvidas sobre esse, não têm o Lugares e Não-lugares porque

esse vou fazer à parte, e não têm o texto 10, pois esse não está na minha colectânea.

-Baseiam-se em alguns resumos, mas essencialmente nos textos de apoio, conhecimentos meus(duvidosos) e na matéria dada nas aulas,

aquela que eu decorei porque não tirei apontamentos, mais uma vez não é de fiar

-Foram escritos à pressa e não foram revistos, como tal erros tipográficos e de pontuação devem ser mais que muitos

-Foram feitos pela minha cabeça e para a minha cabeça, como tal a organização lógica provavelmente não será a mais correcta

-Foram feitos por mim, como tal provavelmente detêm muita informação inútil e falta-lhes informação útil

-Quem não gostar, coma só as batatas!

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Uma espécie de apontamentos de Antropologia Social e Cultural por RMC

Dom í n i o s do p a r e n t e s c o do M a r c Au g é - t e x t o 1

Parentesco e Filiação:

O parentesco releva para a antropologia por ser uma área comum a todas as sociedades, e simultaneamente uma criação cultural que se revela essencial e determinante para a existência de sociedade.

O sistema de parentesco sofre profundas alterações de sociedade para sociedade, e mesmo dentro da mesma cultura não detém uma uniformidade absoluta, antes pelo contrário.

“Dois indivíduos são parentes se um descende do outro (laços de filiação directa) ou se ambos descendem ou afirmam descender dum (ou duma) antepassado(a) comum. Neste caso, o parentesco entre os dois indivíduos -- quer seja real (quer dizer, que o laço social que se estabelece assenta num laço biológico de consanguinidade) ou fictício (dizem-se parentes, consideram-se e comportam-se como tal mesmo se, de facto, nenhum laço de consanguinidade existe entre um e outro) -- é determinado pelo facto de provirem -- ou afirmarem provir -- de uma mesma filiação.”

Por outras palavras, o parentesco pode ser real, ou seja este laço assentar realmente num outro laço biológico de consanguinidade ou fictício, casos em que os sujeitos agem, consideram-se e interagem como se fossem parentes não tendo qualquer vinculo de consanguinidade entre si.

Também a filiação pode ser real (existe um ascendente a partir do qual se estabelece uma linha genealógica até ao sujeito) ou fictícia (descendentes de escravos, prisioneiros de guerra, que vêm a ser considerados como filhos do grupo que os comprou ou capturou).

A filiação pode ainda ser mítica, existir apenas na consciência dos homens, o que leva a comportamentos equivalentes, ao de uma filiação real, e como tal tem igual relevância sociológica, pois a importância (para a antropologia) centra-se nas relações de solidariedade cooperação etc que se estabelecem entre os sujeitos e não no laço biológico que os une- como exemplo deste parentesco existem os clãs de áfrica que serão analisados lá mais adiante, como quem diz daqui a uma página, mais coisa, menos coisa.

Ainda a propósito deste assunto importa apenas estabelecer a diferença entre Clã homogéneo (quando existe um parentesco real associado à ascendência), ou heterógeneo (quando não existe qualquer vinculo associado ao antepassado mítico). Esta distinção é apenas formal, na medida em que o funcionamento é exactamente o mesmo.

Parentesco e Consaguinidade:

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O parentesco vale sempre como relação social, não coincidindo nunca totalmente com a noção biológica que sustenta o mesmo, pois se assim fosse cada sujeito teria um número tão elevado de parentes que o grau de parentesco se tornaria de tal forma amplo e generalizado que seria inútil como base de classificação.

Há assim certas categorias excluídas do parentesco, assim culturalmente o parentesco pode estabelecer-se por:

-filiação unilinear: pode ser em linha paterna ou materna, onde o vinculo de parentesco é atribuído por associação apenas a uma das linhas de ascendência (exemplo de uma filiação unilinear pela linha paterna, ou seja patrilinear, seria no caso da Lyonce Viktorya ter um vinculo de parentesco apenas com os Djalós apesar de ter um vinculo de consanguinidade com a família Abreu).

-dupla filiação unilinear: consideram-se ambas as linhas atribuindo a cada uma delas funções distintas (o sujeito herda de cada uma das suas ascendências determinada “virtude”)

-filiação bilateral: reconhece-se ambas as ascendências de forma igual, e com a mesma relevância, é por isso diferente da dupla filiação unilinear. Neste caso o parentesco não terá normalmente uma função claramente distintiva e os grupos sociais irão definir-se, em principio, com base noutros factores.

MAS: importa notar que não existe em sociedade alguma, a filiação unilateral pura, o parentesco é sempre admitido nas duas linhas, sendo contudo colocado uma tónica especifica numa delas.

Parentesco e Alianças Matrimoniais:

A relevância das alianças matrimoniais também parece surgir em todas as culturas como uma universalidade de facto, pois todas as sociedades conhecem a proibição do incesto, que mais não é do que a expressão da necessidade que qualquer grupo tem de se expandir, e como tal de assegurar que o acasalamento é feito fora do grupo dos parentes.

As alianças matrimoniais, apesar de serem um factor exterior enxertam-se profundamente no parentescto em sentido restrito, e como tal tornam-se parte integrante do mesmo. O conceito de família, na sua génese engloba de igual forma o filho e o marido/mulher, não há distinção pela origem do vinculo, neste ponto. Assim e como diz o Sr. Augé: a filiação é o principio de constituição e organização interna de cada grupo de parentesco, enquanto as alianças são o principio de organização das relações externas entre os diferentes grupos, por força da exogamia”.

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Aproveito para fazer um pequeno à parte, alertando-me a mim próprio para o facto de se calhar estar a aprofundar isto um bocadinho em demasia, vou tentar ser mais sucinto no resto desta espécie de apontamentos, como pedido de desculpa deixo aqui um pato:

Distinção entre filiação e consanguinidade:

Ora bem, em traços gerais a filiação pode resumir-se a uma noção convencionada socialmente, ou seja um conceito definido pela sociedade que como vimos pode ser real ou fictícia, por sua monta a consanguinidade é uma noção biológica, sem nada que enganar, e que pode ser provada objectivamente por qualquer teste de ADN. Por consequência disto são consanguíneos todos os sujeitos que possam ser considerados parentes no sentido biológico independentemente do grau, já o vinculo de filiação não se estabelece dessa forma.

Grupos de Filiação

Li nh age m :

Grupo de filiação unilinear em que todos os membros se consideram como descendentes, quer em linha agnática (patrilinhagem) quer em linha uterina (matrilinhagem),dum antepassado comum conhecido e nomeado, e são, em princípio, capazes de descrever as ligações genealógicas que os ligam uns aos outros de forma a remontar ao antepassado por uma linha genealógica ininterrupta (mencionando todos os graus intermédios).

NERD ALERT (o parágrafo que se segue só interessa a quem for mesmo nerd, nem sequer está no texto original, creio eu)

Evans- Pritchard divide a linhagem em quatro tipos e considera que só a mínima é uma forma concreta de agrupamento: Mas, quando duas ou mais linhagens mínimas cooperam, deixam de se referir ao seu antepassado particular (em função do qual se opõem umas às outras, ou pelo menos estabelecem a sua independência e especificidade) mas remontam ao antepassado mais afastado, que lhes é comum, constituindo-se, assim, por um certo tempo, numa linhagem menor. Da mesma maneira, a um nível superior desta organização piramidal, duas ou mais linhagens

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menores podem fundir-se numa linhagem maior, quando resolvem cooperar entre si e/ou opor-se a uma outra linhagem maior. Quando as linhagens mínimas remontam ainda mais na sua genealogia comum, o número daqueles que se podem considerar descendentes dum mesmo antepassado é ainda maior: formam, então, uma linhagem máxima, o mais vasto grupo de filiação unilinear, para além do qual as linhagens mínimas já não conhecem nenhum antepassado comum.

Clã:

Congregação de todos aqueles que se consideram relacionados em virtude de uma relação genealógica presumível e indemonstrável, como descendentes em linha directa, dum antepassado comum, lendário ou mítico. Difere assim da linhagem onde o antepassado está nomeado.

Alguns conceitos só pela paródia, e também porque podem dar jeito:

Troca Matriominial: Noção de casamento mais ampla que se refere a um processo que envolve dois ou mais grupos exogâmicos numa rede de relações de trocas matrimonias. Ou seja direcciona-se aos princípios que presidem ao processo de circulação das mulheres entre os vários grupos.

Casamento: Complexo de normais sociais que sancionam as relações sexuais entre um homem e uma mulher e que os liga por um sistema de obrigações e direitos mútuos.

Divórcio: Processo através do qual um casamento socialmente reconhecido como valido, pode ser dissolvido em vida dos cônjuges.

Levirato: Quando um homem morre, o irmão coabita com a viúva, assumindo assim o papel de substituto do defunto.

Sororato: Com a morte da mulher o marido desposa a irmã da falecida, isto pode ser um direito ou uma obrigação para o viúvo.

B R U X A R IA , O R Á CU L O S E M A G I A d o sen h o r E V A N S - P R IT CH A R D - tex t o 2

Cumpre em primeira linha estabelecer aqui a distinção entre o pensamento cientifico e o pensamento mítico e mágico.

Cientifico- Baseia-se no pressuposto de aquisição de conhecimento com base num método, que conduz essa mesma aquisição a um principio empírico. Ou seja os factos explicam-se pela compreensão dos factos que os originam, essa compreensão poderá fazer-se com base em raciocínios dedutivos ou indutivos. Em suma, o pensamento

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cientifico exige sempre que a tese seja sustentada por provas bastantes, ou pelo menos pela inexistência de evidência contrária.

Mítico e Mágico- Estabelece relações entre acções dissociadas, criando um nexo causal aparente entre ambas, por exemplo utilizar determinada peça de roupa porque um dia se teve sorte com ela, ver um jogo do sporting no mesmo café porque da última vez que lá se viu o Sporting ganhou, e por aí fora. Este tipo de pensamento estabelece assim analogias entre factos que não detém relação entre si, e cria nessa relação uma norma.

Este tipo de pensamentos são cumulativos nas sociedades, e mesmo nas sociedades ditas “mais desenvolvidas” onde impera maioritariamente o pensamento cientifico, existe uma grande difusão do pensamento mítico e mágico, bem como do religioso.

No texto em analise, importa destacar alguns pontos:

Para os Azande a bruxaria é uma substancia que existe no corpo dos bruxos, e como tal é hereditária unilinearmente (os filhos herdam dos pais, mas não das mães e as filhas herdam das mães mas não dos pais). Os azande acreditam no entanto que apesar de um homem deter a substancia no seu corpo, ele pode optar por não a utilizar, deixando-a assim adormecida, não podendo ser classificado como bruxo se a sua bruxaria não funcionar.- Curioso que acha esta relevância atribuída ao livre-arbítrio do sujeito, digo eu.

Na doutrina Zande, a bruxaria, apesar de ser uma parte do organismo humano, consiste numa acção psíquica, a “alma da bruxaria” anula a distancia entre a vitima e o bruxo, por isso eles explicam a possibilidade de o bruxo estar num sitio diferente da vitima quando a “ataca”.

Nesta cultura, a bruxaria é a causa justificativa e explicativa de todos os infortúnios que assolam os sujeitos. Para os Azande a bruxaria é uma noção quotidiana, os azande não se surpreendem com a bruxaria, antes pelo contrário, esperam que ela aconteça, e não se assustam perante a mesma, simplesmente revoltam-se por alguém a ter lançado contra si.

Os azande, não estabelecem a teoria da causalidade baseada nas premissas aparentes, mas criam uma noção explicativa ampla que justifica determinada acção. Assim a bruxaria funciona como complemento à relação causa efeito, e explica o porquê dos acontecimentos e não a causa que os originou. A bruxaria irá sempre colmatar as lacunas que o pensamento cientifico e empiro não consegue preencher.

O POD E R EM C E N A DO S E N HOR G E O R G E S B A LA ND I E R - tex t o 3

A noção de poder politico existe em todas as sociedades conhecidas, bem com um sistema politico implementado independentemente do seu género. Parece ser assim de considerar que a organização politica é uma exigência básica para possibilitar e

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permitir a vida em comunidade. O poder está intrínseca e indissociavelmente relacionado com a hierarquia, todo o poder carece de uma hierarquização para que se imponha e funcione. Parte-se assim da noção de que o poder, carece de controlo social, e que como tal é sempre necessária a existência de manipulação. Como afirma Irvine Welsh : “Lê o jornal que te dão, vê o programa que eles passam, ouve o noticiário que eles declamam, e no fim de tudo isto grita: sou livre!”.

Balandier considera que o poder politico se funda numa teatrocracia, ou seja tudo se resume a uma constante dramatização, onde o político desempenha o papel de um protagonista em busca de legitimação. Ou seja, toda a cena politica se transforma numa cena teatral onde a noção subjacente ao poder e à sua imposição é transformada e desta forma se assegura que o mesmo se institua sem recurso à força, e que a legitimidade para o mesmo seja transmitida pelas próprias pessoas, em virtude de uma adesão emocional ao invés de uma adesão racional.

Por aqui se explicam todas as exaustivas regras de protocolo, todas as encenações que acompanham a vida de um político, todas as cerimónias, actos de campanha etc.

A Ordem e a Desordem Social:

A ordem social, estabelece os padrões: distingue, classifica, hierarquiza, traça limites, encerrando em si os modelos de comportamento que deverão ser adoptados pelos dominados. Esta ordem pode ser contestada, mas o corolário do seu controlo será quando a ameaça e a contestação servem para sustentar e reforçar ainda mais a sustentabilidade desta mesma ordem.

Tal proeza poderá conseguir-se com recurso à exposição ao ridículo e ao temor que assola as pessoas relativamente a essa possibilidade. Este temor é um dos meios mais eficazes de assegurar o a conformação. Baladier explora assim esta noção do escárnio como forma de controlo e “repressão” social, assegurando-se por ela a preservação do poder. O autor chega mesmo a fazer um paralelismo com o bobo cerimonial, personagem ambígua e quase paradoxal que rompe com a ordem e simultaneamente assegura a sua manutenção. Pois ele próprio ridiculariza os possíveis argumentos que permitiriam uma oposição à ordem instituída.

AGORA, E ANTES DE CONTINUAR, FAÇO O SEGUINTE APELO A TODOS:

Larguem isto, vão ao youtube e escrevam “Salto na caneca”, abram o primeiro vídeoque aparece e sejam felizes!

Met o do l o g i as d e I nvesti g aç ã o Ant i - R ac i sta s - t e x t o 6

Neste tema cruzam-se uma série de conceitos, como o a identidade étnica, o etnocentrismo, a diferença a inclusão etc.

A relevância da identidade racial é um elemento diferenciador entre indivíduos e grupos, como exemplo disto, temos os agrupamentos feitos em determinadas zonas das grandes cidades de vários sujeitos com identificação por virtude das suas

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semelhanças étnicas e culturais, que servem como forma de as minorias ganharem força pelo conjunto, e assim poderem exigir privilégios que sentem que lhes são vedados pelas maiorias.

Importa aqui diferenciar os conceitos de raça e etnia, considerando-se a raça como uma herança biológica, a etnia tem diversas derivações, Theodorson define grupo étnico como “um grupo com uma cultura e tradições comuns, e com um sentido de identidade que existe enquanto subgrupo de uma sociedade maior”. O grupo étnico apesar de no senso-comum estar associado a culturas “distantes” ou terceiro- mundistas, é um conceito muito mais generalista, por exemplo no Canadá os portugueses são considerados “grupo étnico minoritário”. Na definição do grupo étnico revela-se como essencial o estabelecimento de pontes comuns que ligam os sujeitos, como será a linguagem e a religião.

A diversidade cultural, como “plataforma” de contacto de culturas, assume também uma relevância especial, quer no desenvolvimento cultural, de cada uma das culturas individualmente consideradas, quer pela dinamização das mesmas por virtude de uma necessidade adaptativas às diferentes condições geográficas e sociais. Pela diversidade cultural surge a produção cultural, com esta dinâmica que as culturas vão adoptando, surge produção de novas especificidades que culturais que levam a que a esta mesma cultura se torne produto de um grupo e não uma realidade imutável, estagnada e definida à priori.

(escrevi cultura pelo menos 15 vezes nos últimos 2 parágrafos)

Vários tipos de etnografia:

Etnografia Clássica: Baseia-se num paradigma rígido, que define as regras para a recolha de dados e metodologia.

Etnografia Holística: Centra-se na consistência, selecciona a partir de uma variedade infinita de possibilidades comportamenteis, uma posição limitada que encaixa numa configuração. Incluindo o processo histórico.

Etnografia Comportamental: Analisa os comportamentos das pessoas estudadas com base na observação.

Etnografia Critica: Centra-se nas relações entre as estruturas sociais e os indivíduos e nas justificações dos mesmos na interpretação do seu mundo. É interventiva. É mais interpretativa que a clássica, e tem como objectivo derradeiro libertar os indivíduos de fontes de dominação e repressão.

Investigação Anti-racista:

Enquadra-se como modalidade da etnografia critica.

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A propósito desta questão surge imediatamente um debate interessante, que consiste em esclarecer a questão de quem está melhor preparado à priori para estudar determinado grupo: os membros desse grupo? Ou observadores externos?

Os membros do grupo, estão familiarizados com a cultura do mesmo, bem como da discriminação de que o grupo é ou pode ser alvo. Por outro lado não asseguram um distanciamento necessário à condução de uma investigação objectiva.Há quem sustente que os observadores externos partem de uma posição mais vantajosa para estudar o grupo, pois não ocupam uma posição dentro do mesmo e não têm um background cultural associado a esse grupo, defendem assim que qualquer pessoa pode estudar qualquer grupo onde quer que seja, e que as questões que realmente importam são: Competência, Objectividade, Neutralidade.

Os estudiosos anti-racistas rejeitam esta visão positivista e weberiana, da objectividade cega e da neutralidade de valores, uma investigação anti-racista assume logo um valor à partida, o da oposição ao racismo, como tal nunca poderá ser neutra. Afirmam contudo que os resultados se devem basear na realidade pois os esforços que visam a ascensão das pessoas, serão mais úteis se tiverem uma base empírica.

A investigação anti-racista centra-se na raça, usando esta como ponto de interligação entre outras formas de opressão baseadas na classe social, género etc. Considera que cada tipo de opressão está relacionado com outro, e que acabar com um deles, não acabará com a opressão.

A investigação anti-racista combate a noção de “outros” comum na prática sociológica desde o sec XIX, pois esta noção ao espartilhar dicotomicamente um grupo de pessoas, considerando-os como outros por oposição a um “nós” se traduz numa forma de inferiorização e subtrai legitimidade enquanto grupo e povo.

L E MATCH DE FOO T B A L L DO S ENHOR B R O MBE R G E R - t e x t o 7

O fenómeno identitário do futebol manifesta-se em variadas formas. Logo à partida cada clube detém no seu símbolo e no seu lema características que o definem e individualizam bem como a todos os que se centram em torno desse mesmo clube. Um clube representa a cidade do qual é originário e por consequência características históricas e sociológicas dessa mesma cidade. Nos três clubes utilizados como exemplo no texto é evidente a relevância da cidade de origem, O Marselha, a Juventus (Turim) e o Nápoles, são exemplos de três cidades que com o decorrer do tempo perderam alguma relevância para outras dentro do mesmo país e têm nos seus clubes representativos uma forma de afirmação perante as capitais e as cidades dominantes.

O futebol transcende em larga escala a mera actividade desportiva, gira em seu torno a reperesentação de uma identidade colectiva em virtude de um emblema. Usando como exemplo o Real Madrid e o Barcelona: cada disputa entre estes dois rivais, vai muito além do que se joga no campo, prende-se com uma identidade histórica de uma

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vontade independentista da Catalunha em relação à capital, e o poderio do Barcelona nas competições é uma forma de afirmação e de afronta da Catalunha perante a capital dominadora, Madrid.

Como entidade identitária os clubes detêm estilos próprios de jogo que os definem, e esses estilos absorvem as individualidades que os integram, um jogador que chega a um clube novo tem de se adoptar quer ao estilo do clube, quer ao estilo do país, que normalmente se cruzam (o que explica muito sobre o Van Wolfswinkel).

A identidade nacional também assume aqui um papel relevante, cada clube representa a sua própria identidade mas integrada numa identidade nacional maior, um clube quando joga no estrangeiro, não se representa só a si nem a sua cidade mas também ao seu país.

Esta capacidade aglomeradora do futebol estabelece poderosos elos de ligação que se cruzam directamente com a mensagem e com o lema que cada clube estabelece, estando inerente aos mesmos, profundas mensagens de união. Poderia usar como exemplo o “E Pluribus Unum” do Benfica, mas por questões clubísticas, de higiene e bom gosto, não o farei centrando-me assim no “You Will Never Walk Alone” do Liverpool. Subjacente a esta noção de entrega dos adeptos ao clube, está uma noção de solidariedade necessária para um objectivo. Só através da coesão que permite aliar o valor individual ao trabalho colectivo permitirá alcançar o objectivo.

Também o lema do grandioso Sporting Clube de Portugal “ Esforço, Dedicação, Devoção e Glória” tem subjacente este principio, a necessidade de superação individual em prol de um bem colectivo, para permitir a conquista das metas.

O futebol oferece também uma noção de diversidade, na mesma equipa alinham jogadores altos, baixos, europeus, sul-americanos, africanos, diferentes raças, diferentes vocações. Aliando a esta diversidade a noção de complementariedade pois cada jogador tem a sua função com base nas suas características, um jogador lento mas forte ocupará uma posição onde se faça valer da sua força e um jogador fraco mas rápido ocupará uma posição onde se faça valer da sua velocidade. Também nesta diversidade existe uma vertente identitária, os jogadores estrangeiros que jogam em cada país tem maioritariamente uma relação prévia com esse país que se relaciona com as próprias relações de proximidade, quer política, quer económica quer linguística entre as culturas. Em Portugal há muitos jogadores brasileiros, em Espanha muitos jogadores argentinos, chilenos, equatorianos, nos EUA muitos jogadores mexicanos, etc.

O que é que faz todo o sentido aparecer agora???

Exactamente, um cão com o equipamento do Barcelona:

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S EX O E TEM P ERAMENTO da S E NHO R A M ARGARET M E A D - t e x t o 8

A diferença entre homem e mulher e a determinação pelo género são conceitos sociais e imposições derivadas da mesma sociedade. Ou seja também estas são susceptíveis à passagem do tempo e evolução, bem como ao meio cultural em que se inserem os sujeitos.

Como exemplo deste facto, temos o caso das calças que antes era visto como imoral serem usadas por mulheres. Poderá considerar-se assim que existe uma criação humana e social adjacente a um facto biológico e que a determinação pela condição de género mais não é do que um resultado dessa criação social.

Assim as crianças são educadas tendo em vista a adopção de determinados comportamentos e padrões de conduta baseados no seu sexo. Será considerado incomum ver uma criança do sexo masculino a brincar às casinhas, ou a cozinhar comida de plasticina, está patente no ideário da sociedade que esses brinquedos se destinam às meninas.

A noção do corpo não é inerente nem deriva automaticamente do nascimento, é a sociedade que pressiona e condiciona o sujeito para lhe atribuir essa mesma noção e as diferenças que daí derivam.

Assim o papel social do sujeito em função do seu sexo é traçado desde muito cedo, quer pelas roupas, quer pela ocupação, quer pelos rituais. Esta padronização faz-se também ao nível do temperamento, através de presunções culturais que consideram certas atitudes tipicamente masculinas e certas atitudes tipicamente femininas. Assim é comum a noção de que “ o homem não chora” ou “o homem não tem medo”, como se estas características fossem típicas das mulheres por uma designação biológica.

Margaret Mead através do seu estudo comparativo vem evidenciar que o temperamento e a determinação do mesmo se prende com a educação e que através da mesma é possível aproximar do ponto de vista temperamental mulheres e homens.

Analisando assim as três tribos

A Tribo Arapesh- quer os homens quer as mulheres são educados com o intuito de assumirem um papel cooperativo, não agressivo, susceptível às necessidades e exigências alheias, algo que poderíamos estabelecendo um paralelismo com a nossa cultura como uma vertente maternal. Assim quer os homens quer as mulheres têm uma postura semelhante e homogénea, com estas características.

Tribo Mundugumor- quer os homens quer as mulheres são educados para agir como indivíduos implacáveis e agressivos. Mais uma vez se verifica esta homogeneização de comportamentos entre homens e mulheres, desta feita numa vertente quase diametralmente oposta da tribo arapesh. Mantém-se contudo a noção de proximidade comportamental determinada pela educação.

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Tribo Tchambuli- Neste caso já há uma diferenciação e um contraste sexual que não se verifica nas outras duas tribos estudadas, este constraste contudo funciona em sentido oposto ao da nossa cultura. Nesta tribo são as mulheres que assumem o papel de parceiro dirigente, dominador e impessoal. Assumindo o homem um papel de sujeito menos responsável e emocionalmente dependente, bastando-se com uma postura passiva e susceptível.

Daqui se retira que se as características que habitualmente definimos como maternais podem ser impostas aos homens (tribo arapesh) e retiradas às mulheres (Tribo Mundugumor) e ainda é possível a inversão total dos papeis como os conhecemos (tribo Tchambuli) então não há porque considerar que estes aspectos de comportamento supostamente ligados ao sexo, mais não são do que uma aprendizagem comportamental.

Atendendo ao desenvolvimento das crianças arapesh (com as características cooperativas e passivas referidas) e das crianças Mundungumor (com as características agressivas referidas) podemos concluir que a natureza humana tem um cariz maleável, e determinável socialmente.

Inadaptado Social:

Define qualquer individuo que por disposições inatas, acidente na primeira educação ou influencias contraditórias de uma situação cultural heterogénea, detém um comportamento cultural atípico. Releva aqui atentar no desajustado cultural e não no desajustado fisiológico (portador de deficiência).

Considera-se neste caso concreto como desjustado ou inadaptado aquele é condicionado pela sua afinidade temperamental com um tipo de comportamento considerado não natural ao seu próprio sexo e típico do sexo oposto. Perante os sinais de inadaptação a sociedade responde com um condicionamento pelo próprio sexo “isso não é comportamento de menina”, “uma menina não fala assim”, “oh luisinha não cuspas para o chão” etc.

Pode-se concluir que através da educação e do condicionamento social será possível definir os papeis de cada um dos géneros das mais variadas formas, quer através de uma espartilhação absoluta, onde um dos géneros domina integralmente o outro, quer através de uma igualidade tal, que origina uma uniformidade sexual, e comportamental. Para Margaret Mead uma cultura mais rica em valores contrastantes irá derivar do reconhecimento de toda a gama de potencialidades humanas e tecer uma estrutural social menos arbitrária na qual cada “dote” humano encontrará um lugar adequado.

O CORPO, AS E M OÇÕES E A PERFOR M ANCE NO F A D O do SR PA UL O VA L VERDE - t e x t o 9

O fado relaciona-se numa escala quase absoluta com a expressivade emocional.

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Uma espécie de apontamentos de Antropologia Social e Cultural por RMC

As emoções foram excluídas do estudo antropológico durante muito tempo, por serem consideradas quase um parente pobre da razão e do pensamento, que leva a uma inferiorização da emoção relativamente ao pensamento considerando-a como algo tendencialmente mau.

Será fascinante verificar no fado a forma como a articulação entre as emoções e os sexos, é nele radicalmente diferente. Importa relembrar que nas culturas ocidentais, existem complexos emocionais conflitivos.

O fado é uma teatralização do corpo, em que o corpo e os processos do corpo são actores principais, assim a vertente emocional do fado ultrapassa os tramites da linguagem e relaciona-se com a expressão interna do corpo das emoções, em termos antropológicos associa-se assim á autenticidade do “eu” que nesta concepção da emocionalidade só o interior do corpo pode deter. Como exemplo, as lágrimas.Esta utilização do corpo e dos órgãos do corpo é algo há muito notado pelos antropólogos e sociólogos.

(não sei se repararam que apareceu um perú no meio do texto, quem não tiver reparado é porque está mesmo muito desconcentrado a ler isto)

O discurso emocional do fado baseia-se em situações emocionais-limite, por exemplo a tragédia, que é uma forma cultural eficaz de gerar atracção ou repulsa, por outro lado também aqui se valoriza e se confirma a noção sugerida pela antropologia cognitiva de que as emoções podem permitir conhecimento e comunicação, contrariando assim a dicotomia emoção/razão, que postulava anteriormente.

As lagrimas podem operar não só como um agente de reconhecimento do belo, mas também como agentes na partilha de afectos. Esta afirmação opõe-se às associações mais características do complexo emocional burguês entre a masculinidade e a recusa das emoções.

Esta noção de recato emocional e de dever de esconder as emoções não é uniforme no tempo, nem universal. Nas palavras da historiador francesa Anne Vincent-Buffault, os dramaturgos franceses do sex XVIII, usavam as lágrimas do público como termómetros para medir o sucesso da peça.

Na primeira metade sec XIX emerge esta noção de economia dos sinais corporais, dos gestos e dos sinais emocionais, as lágrimas tornam-se uma manifestação privilegiada da subjectividade e do controlo da subjectividade. Entre os homens o seu controlo torna-se fulcral para manter as fronteiras entre o corpo e o espaço público, tornando- se assim as lágrimas uma experiencia de celebração e exaltação da sensibilidade feminina.

Page 14: Weeblyapontamentosispa.weebly.com › uploads › 6 › 0 › 6 › 4 › … · Web viewO conceito de família, na sua génese engloba de igual forma o filho e o marido/mulher, não

Uma espécie de apontamentos de Antropologia Social e Cultural por RMC

Na segunda metade do sec XIX, as lágrimas assumem-se como uma raridade nos homens, só devendo ser derramadas em casos extremos, em momentos de exacerbação da sensibilidade masculina, e em contrapartida a sensibilidade feminina torna-se excessiva e ironizada, as mulheres choram por tudo, a sensibilidade é assim substituída pela noção da pieguice.

O melodramatismo, importa notar, como um conceito de transfiguração violenta do real, que configura situações-limite em que os homens e as mulheres são desapossados pateticamente da duas capacidade de se controlarem a si próprios, porvirtude de entidades mais ou menos personificadas como a Morte, a tristeza, o destino etc.

Por fim importa elencar os 3 niveis em que, para Paulo Valverde, se desenvolvem as possibilidades de comunicação do fado:

1- Nivel experiencial em que no caso das letras pode ser configurado sob a forma de narrativas, histórias mais ou menos dramáticas do quotidiano

2- Nivel meta-cultural, esquemático de uma temporalidade emocional, envolvendo categorias e conceitos culturais relevantes: mãe, saudade, destino

3- Nivel sensorial, que não se relaciona com a narrativa mas com o contexto da forma musical que compõe o fado.

Despeço-me com um bacalhau: