1. génese do romance

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José Saramago José Saramago

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Page 1: 1. génese do romance

José SaramagoJosé Saramago

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Génese do RomanceGénese do Romance

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“Quando digo corrigir, corrigir a História, não é no sentido de corrigir os factos da História, pois essa nunca poderia ser tarefa de romancista, mas sim de introduzir nela pequenos cartuchos que façam explodir o que até então parecia indiscutível: por outras palavras, substituir o que foi pelo que poderia ter sido”.

José Saramago, “História e Ficção”, in JL, 1990

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Memorial do Convento foi concebido por José Saramago no início dos anos oitenta. Segundo o autor, a primeira intenção de criar esta obra ter-lhe-á ocorrido durante um passeio em que, olhando o mosteiro, diz aos que o acompanhavam: «Gostava de meter um dia isto dentro de um romance».

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Seguidamente, ao ler uma passagem de Camilo Castelo Branco ficou

bastante impressionado com a referência aos cinquenta mil

homens que sofreram para erguer o convento de Mafra.

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Todavia, a maior das inspirações surgiu quando o autor percebeu que havia uma coincidência cronológica entre a construção do convento e as experiências do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.

In Maria Alzira Seixo, Lugares de Ficção em José Saramago, INCM

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“A minha ideia, quando concebi o Memorial do Convento estava limitada à construção do convento e é depois que verifico que nessa mesma época um padre tinha a ideia de fazer uma máquina de voar. Então este facto modificou-o completamente… A partir daí, o romance tinha que ser diferente, completamente diferente. E toda a oposição entre o que cai e o que sobe, entre o pesado e o leve, o que quer voar e o que impede que voe; toda essa relação entre liberdade e autoridade, entre invenção e convenção, ganha uma dimensão que antes não estava nos meus propósitos e que modifica completamente o romance. Com essa figura que está entre os dois mundos, o que significa que está num terceiro, o mundo mais próximo da natureza, isto é, ao ser natural, se é que existe. Acho que não existe. Todos somos seres culturais, por um olhar, por um entendimento, conseguimos ir mais fundo que a superfície das coisas. E isso, esse aspeto complexo, é o que impede que o Memorial seja lido em linha reta, porque exige constantemente outras leituras e outras interpretações.”

José Saramago cit. por José Joaquim Parra Bañon, Pensamento Arquitectónico na Obra de José Saramago

A temática da construção, da obra, da ascensão, do sonho, do poder e do desejo.

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O propósito foi amadurecendo, e após muitas visitas ao nobre espaço, leitura aturada de documentos, recolha diversa de informações sobre a edificação do monumento, era publicado em Novembro de 1982 o romance Memorial do Convento.

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Disciplina: PortuguêsProf.ª: Helena Maria Coutinho

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Aproximam-se agora um homem que deixou a mão esquerda na guerra e uma mulher que veio ao mundo com o misterioso poder de ver o que há por trás da pele das pessoas. Ele chama-se Baltasar Mateus e tem a alcunha de Sete-Sóis, a ela conhecem-na pelo nome de Blimunda, e também pelo apodo de Sete-Luas que lhe foi acrescentado depois, porque está escrito que onde haja um sol terá de haver uma lua, e que só a presença conjunta e harmoniosa de um e do outro tornará habitável, pelo amor, a terra. Aproxima-se também um padre jesuíta chamado Bartolomeu que inventou uma máquina capaz de subir ao céu e voar sem outro combustível que não seja a vontade humana, essa que, segundo se vem dizendo, tudo pode, mas que não pôde, ou não soube, ou não quis, até hoje, ser o sol e a lua da simples bondade ou do ainda mais simples respeito. São três loucos portugueses do século XVIII, num tempo e num país onde floresceram as superstições e as fogueiras da Inquisição, onde a vaidade e a megalomania de um rei fizeram erguer um convento, um palácio e uma basílica que haveriam de assombrar o mundo exterior, no caso pouco provável de esse mundo ter olhos bastantes para ver Portugal, tal como sabemos que os tinha Blimunda para ver o que escondido estava... E também se aproxima uma multidão de milhares e milhares de homens com as mãos sujas e calosas, com o corpo exausto de haver levantado, durante anos a fio, pedra a pedra, os muros implacáveis do convento, as salas enormes do palácio, as colunas e as pilastras, as aéreas torres sineiras, a cúpula da basílica suspensa sobre o vazio. Os sons que estamos a ouvir são do cravo de Domenico Scarlatti, que não sabe se deve rir ou chorar... Esta é a história de Memorial do Convento, um livro em que o aprendiz de autor, graças ao que lhe vinha sendo ensinado desde o antigo tempo dos seus avós Jerónimo e Josefa, já conseguiu escrever palavras como estas, donde não está ausente alguma poesia: "Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu". Que assim seja.

José Saramago, Discurso perante a Real Academia Sueca, in Público, 8-12-1998

A história de um romance