watt ascensao

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    PREFCIO

    Em 1938 niciei um trabalho sobre a relao entre o crescimentodo pblico leitor e o surgimento do romance na Inglaterra do sculoXVIII; e em 7947esseestudo omou a forma de uma tesede ellowshippara o St. John's College, em Cambridge. Contudo dois problemasmais amplos no foram resolvidos.As mudanas do pblico leitor dafoca semdvida afetaram Defoe, Richardson e Fielding, porm comcerteza o que condicionou mais profundamente suas obras foi o novoilima de experincia social'e moral que eles e seus eitores do sculoXVIII partilharam. Nem sepoderia falar muito sobre a maneira comoesse lima serelacionavacom o surgimentoda nova forma literria semdefinir ascaractersticas specficas o romance. desses roblemas que trato no presente rabalho, e eles so toextensos ue demandamnecessariamentema abordagemseletiva.Porexemplo, limitei-me a uma referncia ncidental s tradies de ficomais antigas e aos precursorese contemporneosmais prximos deminhas figuras centrais; infelizmentetambm tive de abordar Fieldingde modo mais sucinto que Defoe e Richardson - como muitos dosnovoselementosdo romance haviam surgido, pareciasuficiente ana-lisar a forma como os conjugou com a tradio literria clssica. En-fim, procurei basicamenteelucidar de modo mais sistemticoas rela-esconstantesentre as caractersticas iterrias do romance e as dasociedade m quecomeoua florescer, clrmniro me linritei a isso:emparte'porqueeu tambm qucria aprcsctrtar nra tvalia

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    SnrrHlirlo Willianr Kimber and Co. por me permitir citar umIrr'r'lrrrlt ' Iltt)'ltttr"shtrtdan (A Londresde Mayhew), de PeterQuen-rrt,l l i rHlrrtf'tr irtrrbtrroseditores a Reviewof English Studiese dos/',r,rrrt,,rttt 'ri l icisttt por me deixaremutilizar - sobretudonos cap-Iukrs 1,. e fl - material originalmentepublicado em suaspginas.N;oposso le xar clemencionara competncia a dedicao e CeciliaSt'rrr'l it ' lrl tl l izabeth Walser, que se ricumbiram da datilografiae dat'r'iplogriria; sou profundamentegrato pela ajuda financeira, entreorrlr';rs, luc ccebi do St. John'sCollege, m Cambridge,do Common-u'c;rll lr irrrttlof New York e do presidente a Universityof California.A nraioria das ontes mencionadanas notas bibliogrficas, masrlt'vorrrurcionaro grande estmuloque no incio de minha pesquisa oiir lt'ilrrra cleFiction and the readingpublic, de Q. D. Leavis. Minhasorrllls dvidasso extensas.Mrs. A. D. M. de Navarro, Eric Twist ellrrgh SykesDavies nteressaram-seelo trabalho desdeo incio; souglato :r elese aos muitos estudiosos m vrioscamposde interessequeleranr e criticaram os diversos ascunhosque resultaram no presentelivro: nrissM. G. Lloyd Thomase missHortensePowdermaker,Theo-rkrrc Aclorno,Louis B. Wright, Henry Nash Smith, Leonard Broom,lcrtrand H. Bronson,Alan D. McKillop, Ivor Richards, Talcott Par-sons, l)eter Laslett, Hrothgar Habakkuk e John H. Raleigh. Devonrrrito a elese tambm quelesque numa posiomais formal pormigualnrenteamistosaorientaram meus estudos em vrios momentos eIrrgarcs: Louis Cazamiane ao falecido F. T. Blanchard, com os quaistrtbalhei por um breve perodo; e sobretudo a John Butt, Edwardlftxrker e GeorgeSherburn, cujo estmulo criterioso, combinado comrrnracrtica irrefutvel, pouparam-memuitos esforosnfrutferos.I, P, W.University f California,Berkeley,fevereiro e1956

    IO REALISMO E A FORMA ROMANCE

    Ainda no h respostas nteiramente satisfatriaspara muitasdas perguntas genricasque qualquer pessoa nteressada nos roman-cistas de incios do sculo XVIII poderia formular. O romance umaforma literria nova? Supondoque sim, como em geral se supe, e quese niciou com Defoe, Richardson e Fielding, em que o romance difereda prosa de fico do passado,da Grcia, por exemplo, ou da IdadeMdia, ou da Frana do sculo XVII? E h algum motivo para essasdiferenas erem aparecido em determinada poca e em determinadolocal?Nunca fcil abordar questes o amplas, muito menos res-pond-las,e nestecaso elas so particularmente difceis, pois a rigorDefoe, Richardson e Fielding no constituem uma escola iterria. Naverdadesuas obras apresentam o poucos ndicios de influncia rec-proca e so de natureza to diversa que primeira vista parccia quenossa uriosidade obreo surgimentodo romance dificilrrcntc crcon-traria algumasatisfao lm daquela ferecida elos crnros gnio" e"acidente", a dupla face desse anodo beco scnrs:r

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    rxcluit' l i l los dc narrativa anteriorese contudo bastante ampla paranbrrrttge turlo que em geral se classificacomo romance. Quanto a issoos nrtttlttcistasno nos ajudam muito. verdade que Richardson elrickling sc consideravamcriadoresde uma nova forma literria e viamcrrsulobra uma ruptura com a fico antiga; porm nem elesne mseuscontemporneosnos forneceramo tipo de caracterizaodo novogneroclo qual precisamos;na verdade sequer assinalaram a diversi-

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    enxlorr ccisivamentee suaherana lssica medieval ejeitandoorr teloncnoscntando ejeitar osuniversais.2('crtanrcnte moderno ealismo artedo princpiode queo indi-vltluopodcdescobrir verdade travs os sentidos:em suasorigensettr )cscartes Lockee foi formulado or ThomasReidem meados osculoXVIII.3 Mas a idia de que o mundoexterior real e que ossertidos osdoumapercepoerdadeira essemundonoesclarecenruitoo realismoiterrio;comopraticamenteodasaspessoasm to-rlus as pocas e viram foradas,de um modo ou de outro, a tirar al-gumaconcluso obreo mundoexteriora partir da prpriaexperin-cia, a literaturaem certamedidasempre steve ujeita mesma nge-nuidadeepistemolgica. lm dissoos princpioscaractersticosacpistemologiaealistae as controvrsias eles igadassoem geraldcmasiado specializadosa natureza ara ter grande elao om aliteratura.A importnciado realismo ilosficoparao romancemuitomenos specfica;rata-sedaposturageraldo pensamentoealista,dosmtodos e nvestigao tilizados,do tipo deproblema evantado.A posturageraldo realismo ilosfico em sido critica, antitradi-cionale inovadora; eumtodo em consistido o estudodosparticu-lares da experinciapor parte do pesquisadorndividual, que, pelomenosdealmente, st ivre do conjunto de suposiesassadas con-vicesradicionais; tem dadoparticular mportncia semntica,ao problema da naturezada correspondncia ntre palavrase reali-dade.Todasessas eculiaridades o realismo ilosfico m analogiascom os aspectos specficos o gnero omance analogiasquecha-mam a ateno arao tipo caracterstico e correspondnciantrevidae literatura obtida na prosa de fico desdeos romancesde Defoe eRichardson.

    (q )

    A grandeza de Descartes reside sobretudo no mtodo, na firmerle e rrrinaode no aceitarnada passivamente; seuDl'scarso obreomltxkt ( | 637) e slas Meditaes contriburam muito para a conceporrrorlernu a busca da verdade como uma questo nteiramente indivi-durrl, krgicamente ndependenteda tradio do pensamentoe que temrrraior'probabilidade e xito rompendo com essa radio.O lonrance a forma literria que reflete mais plenamenteessat't:rrrlerluio rrdividualista e inovadora. As formas literrias anterioreslefh.'l lurrrr cnrlncia eralde suas ulturasa conformarem-se prtica

    tradicional do principal teste da verdade: os enredos da epopia cls-sica e renascentista,por exemplo, baseavam-se a Histria ou na f-bula e avaliavam-seos mritos do tratamento dado pelo autor segundouma concepode decoro derivada dos modelos aceitos no gnero. Oprimeiro grande desafioa esse radicionalismopartiu do romance, cujocritrio fundamental era a fidelidade experincia ndividual - a qual semprenica e, portanto, nova. Assim, o romance o veculo iterriolgico de uma cultura que, nos ltimos sculos,conferiu um valor semprecedentes originalidade, novidade.Essanfasena novidade esclarece lgumas das dificuldades cr-ticas que o romance apresenta.Ao avaliarmosuma obra de outro g-

    nero, em geral importante e s vezesessencialdentificar seusmode-los iterrios; nossaavaliao dependemuito da anlise da habilidadedo autor em manejar as convenesormais adequadas.Por outro lado,certamenteprejudica o romance o fato de ser em algum sentido umaimitao de outra obra literria e parece que a razo a seguinte: queo romancista tem por funo primordial dar a impressode fideli-dade experinciahumana, a obedinciaa convenesormaispreesta-belecidass pode colocar em risco seu sucesso.Comparado tragdiaou ode, o romancepareceamorfo - impressoque provavelmentesecleveao fato de que a pobreza de suas convenes ormais seria o preocleseu ealismo.Entretanto a ausncia de convenes ormais no romance notem importncia diante de sua recusaaosenredos radicionais. Eviden-tementeo enredo no uma coisa simples e nunca fcil determinar ograu de sua originalidade; todavia a comparao entre o romance e asformas literrias anteriores revela uma diferena importante: Defoe eRichardsonso osprimeiros grandesescritores nglesesque no extra-ram seusenredosda mitologia, da Histria, da lenda ou de outras fon-tes iterrias do passado.Nisso diferem de Chaucer, Spenser,Shakes-l)caree Milton, por exemplo, que, como os escritoresgregose romanos,enr geralutilizaram enredos radicionais; e em ltima anlise o fizeraml)orquc tceitavam a premissa comum de sua poca segundo a qual,st'rtrhr Nttureza essencialmente ompleta e imutvel, seus elatos -lrlhlicos, e trlrrios u histricos constituemum repertriodefinitivor lncxpct ' i i 'nci l tutnana.lisrc;tottlo rlc visla persistiuat o sculoXIX; os adversrios lcl l i r l rrrr ' , ot r 'x r t t rgrkr ,r l i l ieuram-no ara idicularizar uapreocupairo( 'onr r ( ' l r l l { l r trk 'r 'ott l t ' t t t l tot ' i t tca- achavam les efnrcra. o rrrcs-tt to t ' t t tpl , ( 'o l t l t t ( lo ,l t 'st l t 'o ett l rscimentOavia uma tct t

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    ucnlc n substitui ra tradiocoletivapela experincia ndividual comorl lr i l lo rlecisivo la ealidade;e essa ransioconstituiria uma parteirrrportuntclo panoramacultural em que surgiuo romance.[i significativoo fato de a correntepartidria da originalidade terclrcorrtra

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    rlrs('r' \,ir(l(),uriro assunto arecer iferente e udoqueexiste o mun-tk'. Mus ssc citoo bompoeta o bompintordiligentementerocuramcvilirr. jlcsdetestamminudncia emem sinptrlaridade.sl i prrrsscguiu:

    O sinrples intor de rostos, a verdade,em pouco m comumcom opocta; ontudo, omoo simples istoriador, opiao queve minuciosa-rncnteraa ada ei cadamarca stranha.E concluiu, arrogante: diferente om homens nventivos".Entretanto, apesar da determinaode Shaftesbury, uma ten-rlnciaesttica contrria, favorvel particularidade, logo comeou asc firmar, em grande parte graas aplicao da abordagem psicol-

    gicade Hobbese Locke. Lord Kames oi talvezo porta-voz.mais ireto

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    t ' i t ' rrsrr lc ipos. De qualquermodo osnomes ituavamas personagensrro 'ol l lexlo r lc um amplo conjunto de expectat ivasormadasbasica-rrrt 'rr l t , i rlarlir da l i teratura passada, no do cont exto da vida con-lurrporirt tca.Mesmo na comdia, onde em geral as personagens oclirrrrhistlricas, mas sim inventadas, os nomesdeviam ser "caracters-licos", conlo nos diz Aristteles,14tenderam a permanecer omo talrnrrito lcpois o surgimentodo romance.'l'ipos mais antigos de prosa de fico tambm tendiam a utlizarnorcsprprios caractersticos,ou no particulares e de algum modoirrcal istas; omesque, como os de Rabelais,Sidneyou Bunyan, deno-tavam qualidadesparticulares ou que, como os de Lyly, Aphra Behn ounrrs. Manley, tinham conotaesestrangeiras, arcaicas ou literriasque excluam qualquer sugestode vida real e contempornea. Con-firma o cartterbasicamente iterrio e convencionaldesses omespr-prios o fato de que em geral eram um s - mr. Badman ou Eu-phues-; ao contrrio das pessoas eais, as personagens e fico notinham nomee sobrenome.Mas os primeiros romancistas romperam com a tradio e bati-'t:ram uaspersonagens e modo a sugerir que fossemencaradascomoindivduosparticulares no contexto socialcontemporneo.Defoeusaosromesprprios de modo displicentee s vezes ontraditrio; porm ra-ramenteescolhenomesconvencionais u extravagantes uma possvelexceo,Roxana, um pseudnimobem explicado -; e a maioria deseusprotagonistas,como Robinson Crusoe ou Moll Flanders, tm no-mese alcunhascompletose realistas.Richardsonprosseguiunessapr-tica, porm foi muito mais cuidadosoe deu nome e sobrenomea todass suaspersonagens rincipais, bem como maioria das secundrias.'l'ambm se defrontou com um problema menor, porm no desprovidodc importncia, na e laborao de um romance: escolher nomes sutil-rncnte adequadose sugestivos,ainda que paream banais e realistas.ssirrras conotaes omnticas de Pamela esbarram no sobrenomeconum de Andrews; Clarissa Harlowe e Robert Lovelaceso batizadosrudcquadamente; na verdade quase todos os nomes prprios de Ri-cltrrclson,de mrs. Sinclair a sir CharlesGrandison, parecemautnticoscr onclizentes om a personalidadede seusportadores.Como assinalouum crtico contemporneo,Fielding batizou suasl)crsonagens no com grandiloqentes nomes fantsticos, mas comn(lcsque embora s vezes enham alguma relao com a persona-genr, x)ssuemuma terminaomais nroderna".rs Heartfree, Allworthyc Sr;rrrr lc, crtamenteversesmodernizadas o nome de um t ipo, norlr.ixrtnt tr scr cortvincentes; esmo Westernou Tom Jonessugerem

    que o autor visava tanto ao tipo geral como ao indivduo particular.Isso, contudo, no contradiz o presenteagumento' pois com cettezah concordnciageral quanto ao ato de que os nomes de Fielding e naverdade oda a construo de suas personagens onstituem uma rup-lura com o tratamento habitual dessas uestesno romance' No que,cornovimos no caso de Richardson, no haja lugar no romance paralomesprprios que de algum modo so adequados personagememrlrrcslirit, orm essaadequaono deve nterferir na funo primor-r l i i r l lo nome:mostrar que a personagem eveservistacomouma pes-rorr l l t t ' l i cu lar . no comoum t ipo.Na verdadepareceque Fielding compreendeu sso quando escre-v(.uscu ltimo romance, Amelia: sua preferncia neoclssicapor no-ntcs lc tipos encontraexpresso penasem personagensmenorescomo.lrrst icc hrashere Bondum,o meirinho;e todasas personagensrinci-lxr is- os Booth, miss Matthews,o dr. Harrison, o coronelJames,osirlgcrrt,, tkinson,o capitoTrent e mrs. Bennet'por exemplo t m1()1csrsrrlis rap

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    nentc,daquela adeiade causas efeitos ue constituinosso elf ou1)css{)a".ressaposio tpica do romance;muitosromancistas, eStcrnea Proust, explorarama personalidade onforme definida nainterpenetraoesuapercepoassada presente.O tempo uma categoriaessencial m outra abordagem imilarpormmaissuperficialdoproblemada definioda individualidadedequalquer bjeto.O "princpiode ndividuao" ceitopor Lockeera oda existncianum local particular do espao tempo:pois, comoes-creveu,as dias e ornamgerais eparando-seelas scircunstnciasde empo lugar",zo ortantose ornamparticulares quandoessasduascircunstncias oespecificadas. a mesmaorma aspersonagensdo romancespodemser ndividualizadas eestosituadasnum con-textocom empoe ocalparticularizados.Na Grcia e em Roma a filosofia e a literatura receberampro-funda nfluncia da concepo latnicasegundo qual as FormasouIdiaseramasrealidades efinitivaspor trs dos objetosconcretos omundo emporal.Essas ormaseram concebidas omo atemporaisimutveiszt , assim, efletiama premissa sicade suacivilizaoemgeral:noaconteceu empodiaacontecer adacujo significado unda-mentalnofosse ndependente o fluxo do tempo.Tal premissa dia-metralmenteoposta concepo ue se imps a partir do Renasci-mentosegundo qual o tempo no s uma dimenso rucial domundo sicocomoaindaa foraquemoldaa histria ndividual e cole-tivadohomem.Em nadao romance to caracterstico enossa ulturacomonaformapelaqual refleteessa rientagopica do pensamentomoderno.E. M. Forster onsidera retratoda "vida atravs o tempo" comoafunodistintiva que o romanceacrescentou preocupaomais an-tiga da iteraturapelo etratoda "vida atravs osvalors";22pengleratribui o surgimentodo romance necessidadeue o homemmoderno"ultra-histrico" sentede uma forma literria capazde abordar ,a to-talidadeda vida"'23mais recentemente.{orthropFrye v a ,,alianaentre empoe homemocidental" comoa caractersticadefinidoradoromance omparado omoutrosgneros.2aJ examinamos m aspecto a mportnciaqueo romance tri-bui dimensoempo:sua ruptura com a tradio iterria anteriordeusarhistriasatemporais ara refletirverdadesmorais mutveis.Oenredodo romance ambmsedistingueda maior parte da ficoan-teriorporutilizara experinciaassadaomoa causa aao resente:tumaelao ausalatuandoatravs o temposubstituia confianaquenr norrativasmaisantigasdepositavani osdisfarces coincidncias.

    isso endea dar ao romanceuma estruturamuito mais oesa.Aindamais mportante, alvez,o efeitosobrea caractetizao a nsistnciado romanceno processoemporal.O exemplomais evidente extremo o romancede fluxo de conscincia,ue se propeapresentar macitaodireta do que ocorrena mentedo indivduo sobo impacto dofluxo temporal;em geral,porm, maisquequalqueroutro gneroite-rrio.o romance e nteressouelodesenvolvimentoe suaspersona-gens o cursodo tempo.Por fim, a descrio etalhadaqueo romancefazdaspreocupaesa vidacotidianaambmdepende e seupodersobrea dimenso empo: T. H. Greenmostrouque grandeparte davidado homem endia a serquasenacessvel representaoiterriadevidoa sua lentido; a fidelidade do romance experinciacoti-diana dependediretamentede seuempregode uma escala emporalmuito maisminuciosado queaquelautilizada pela narrativaanterior.O papeldo tempo na literaturaantiga,medievale renascentistacertamente ifere muito do que tem no romance.'Arestrioda aocla ragdiaa 24 horas,por exemplo, decantada nidadede tempo,na verdade quivalea uma negao a importncia da dimenso em-poralna vidahumana;pois,de acordo om a concepo a realidadepelomundoclssico subsistindo m universais temporais, im'plica que a verdadeda existncia ode se revelar nteiramenteno es-pnode um dia comono espao eumavida oda.As decantadaser-t1rnlicsesotempocomoo carroaladoou o sombrioceifeiro evelamutloconcepossencialmenteimilar.concentrama ateno o nofluxo emporal,masna morte,que atemporal; abe-lhes funodemlnur nossa ercepo a vida cotidianaa im de quenospreparemosp||roencarar eternidade. a verdade ssas ersonificaeseasseme-lhrm doutrina da unidade do tempopor serem undamentalmentee.histricas , portanto, picasda menor mportnciaatribuida di-mons[o temporal na maioria das obras literrias anterioresao ro-munce.A noode passado istricoem Shakespeare'or exemplo,multo diferentedaconcepomoderna.Tria e Roma,osPlantagenetaB x'l'uclor,nadaestsuficientementeongepara diferirmuito do pre-3ntc u entresi.Nesse specto hakespeareefletea concepoe suapoCn:Rorrerarinta anosantesde o termo"anacronismo" erusadon tngloterra elaprimeiravez26aindaestavamuito preso concep-() netlievul a Histria,segundo qual, no mporta o peroclo,frrrfr l cntpo eyolve smesmosxeniplaetetnamenteplicrvcis.lissu oncepo-histricastigada umasrtrprcott

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    - falta de interesse que levou o esquema temporal de tantas peas deShakespeare de muitos de seuspredecessores, partir de squilo,a aturdir editores e criticos. Na fico mais antiga a atitude com rela-oao tempo bastanteparecida; a seqnciade acontecimentos itua-se num continuum de tempo e espao muito abstrato e atribui bempouca importncia ao tempo como um fator dos relacionamentos hu-manos. Coleridge apontou a "maravilhosa independncia e a verda-deira ausncia magnativa de todo espaoou tempo particular em Thefaerie queene A rainha das fadas)";27e a dimenso temporal das ale-gorias de Bunyan ou das narrativas picas tambm vaga e no parti-cularizada.Logo, porm, a moderna noo de tempo comeou a permearmuitas reas de pensamento. O final do sculo XVII assistiu ao surgi-mento de um estudo da Histria mais objetivo e, por conseguinte, deuma compreensomais profunda da diferena entre passado e pre-sente. Newton e Locke apresentaram uma nova anlise do processotemporal;zs este se tornou um sentido de durao mais lento e mec-nico, determinado com precisosuficientepara medir a queda dos ob-jetos ou a sucessodos pensamentos.Essesnovos enfoques refletem-senos romances de Defoe. Suafico a primeira que nos apresenta um quadro da vida individualnuma perspectivamais ampla como um processo istricoe numavisomais estreita que mostra o processo desenrolando-se contra o pano defundo dos pensamentos e aesmais efmeros. verdade que as esca-las de tempo de seusromances s vezesso contraditrias em si mes-mas e em relao a sua suposta ambientao histrica, mas o simplesfato de existirem tais objeescertamente constitui um tributo ma-neira como o leitor sente o arraigamento das pesonagens na dimensotemporal. Evidentementeno pensariamosem levantar as mesmasob-jees quanto a Arcadia de Sidney ou The pilgrim's progress (A jor-nada do peregrino); a realidade temporal no seevidencia o suficientepara permitir qualquer tipo de discrepncias. Em Defoe essa ealidadese evidencia. Em seus melhores momentos ele nos convence inteira-mente de que sua narrativa se desenrola em determinado lugar e emdeterminado tempo, e ao lembrarmo-nos de seus romances pensamosba.sicamentenaqueles momentos intensos da vida das personagens,encadeadosde maneira a compor uma perspectiva biogrfica convin-cente. Percebemosum sentido de identidade pessoal que subsiste atra-vsda durao e no entanto sealtera em funo da experincia.Essa percepo mais intensa em Richardson, que teve o cui-dudo de situar os fatos de sua narrativa num esquema emporal de uma

    riqueza de detalhes sem precedentes: o sobrescrito de cada carta nosinforma o dia da semanae muitas vezesa hora do dia; e isso compeuma estrutura objetiva para o detalhe temporal ainda maior das pr-prias cartas - sabemos, por exemplo' que Clarissa faleceu numaquinta-feira, 7 de setembro, s dezoito horas e quarenta minutos' Oemprego da forma epistolar tambm leva o leitor a sentir que realmenteparticipa da ao,com uma intensidadeat ento indita. Richardsonsabia, conforme escreveuno "Prefcio" de Clarissa' que as "situaescrticas . . ) com o que sepode chamar de descries reflexes nstan-tneas" prendem melhor a ateno; e em muitas cenas o ritmo da nar-rativa diminui, graas a descriesminuciosas, aproximando-sebas-tante daquele da experincia real. Nessascenas Richardson conquistoupara o romance o que a tcnica do "close-up" de D. W. Griffith fezpara o cinema: acrescentou uma nova dimenso representao darealidade.Fielding tratou o problema do tempo em seus romances a partirde uma posio mais exterior e tradicional. Em Shamela zomba dotempopresenteutilizado por Richardson:Mrs. Jervise eu estamosna cama, a pota no est rancada;se meupatro hegar(...)escuto-ohegar porta.Vsqueescrevoo presente,comodizo pastorWilliams.Bem,eleest a cama,entrens.m

    Em Tom Jones ele ndicou sua inteno de ser muito mais seletivo queRichardsonao trabalhar a dimenso empo:Pretendemos...) perseguir mtododaqueles scritoresuedeclaramrevelaras revolues ospases, no mitar o historiadordifcil e pro-lixo que, para preservar regularidade e sua seqncia,ulga-senaobrigao e encher anto papelcomo detalhede meses anosem quenadadignodenotaocorreu uantoo queseutilizaparapocasotveisemqueasmaiores enas edesenrolaram o palcoda vidahumana.3l

    'arulelamente, contudo, Tom Jones introduziu uma inovao interes-tante no tratamento do tempo em obras de fico. Fielding pareceterdoum almanaque, essesmbolo da difuso de uma noo objetivado tcmpo pela imprensa escrita; salvo igeiras excees'praticamentetO{osgs fatos de seu romance possuem uma coerncia cronolgica nol ent relaouns aosoutros e pocaem que ocorreu cada estgiodavlagonr clnsvrias personagens de West Country a Londres, mas tam-bntonr rcluoa consideraes xternascomo as fasesadequadasdatua o a programaoda revolta acobita de 1745,ano em que presumi-veltttottlerunscorre ao.32

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    (e;No presentecontexto, como em muitos outros, o espao neces-sariamenteo correlativo do tempo. O caso ndividual e particular logi-camente definido com relao a duas coordenadas:espaoe tempo.Como Coleridge assinalou,psicologicamente ossa diii de tempo est"sempre misturada com a idia de espao".33Na verdadepara muitospropsitosas duas dimenses so nseparveis,como sugereo fato deas palavras "presente" e "minuto" poderem referir-se a qualquer di -menso; e a introspecomostra que no conseguimos acilmente vi-sualizarum momento particular da existnciasem situ-lo tambm emseucontexto espacial.Na tragdia, na comdia e na narrativa o lugar era tradicional-mente quase o genricoe vago quanto o tempo. Como nos informaJohnson,Shakespeare no consideraa diferena de tempo ou local";3ae a Arcadia de Sidney to solta no espaoquanto os limbos bomiosdo palco elisabetano. verdade que na picaresca,bem como em Bu-nyan, h muitas descries sicas,vvidas e particularizadas; so,con-tudo, incidentais e fragmentrias. Defoe parece ser o primeiro dos es-critores nglesesque visualizou o conjunto da narrativa como se esta sedesenrolasseum ambiente sico real. Seucuidado com a descriodoambiente ainda intermitente, mas os detalhesvvidos conquanto oca-sionais suplementam a contnua implicao de sua narrativa e noslevama relacionar muito mais completamenteRobinson Crusoee MollFlandersa seus espectivosmeiosdo que fazamos com as personagensde fico anteriores. Essa firmeza da ambientao destaca-se articu-larmente na maneira como Defoe trata os objetos mveisdo mundo f-sico:em Moll Flanders h muito linho e ouro, enquanto a ilha de Ro-binson Crusoeest cheia de roupase ferramentas.Novamenteno centro do desenvolvimento a tcnica da narrativarealista, Richardson levou o processoainda mais longe. Em seus ro-mances az poucas descries o cenrio natural, porm dispensacon:sidervelateno aos nteriores. As residnciasde Pamela em Lincoln-shiree Bedfordshire so prisesbastante reais; Grandison Hall des-crito com numerosos detalhes; e algumas descriesde Clarissa ante-cipam a habilidade de Balzac em construir o cenrio do romance demodo a conferir-lhe fora dramtica - a mansoHarlowe torna-seumambiente sicoe moral terrivelmente eal.Nesse specto ambm Fielding se afastaum pouco.da particula-rirlnde de Richardson. No nos apresenta nteriores completos, e suasfrccliientes escries e paisagens o bastante convencionais.No en-

    tanto Tom Jones contm a primeira manso gtica da histria do ro-mance;3s Fielding to cuidadosocom a topografia da aoquantocom a cronologia; cita o nome de muitos lugares percorridos por TomJonesem sua viagem a Londres e fornecevrios ndcios da localizaode outros.Em geral, portanto, embora no haja no romance do sculoXVIII nada que se guale aoscaptulos niciais de Le rougeet le noir (overmelhoe o negro) ou Le pre Goriot (O pai Goriot) - os quais ndi-cam de imediato a importncia que Stendhal e Balzac conferem aomeio ambiente em seuretrato total da vida -, sem dvida a busca daverossimilhana evou Defoe, Richardson e Fielding a iniciar aquelepoder de "colocar o homem inteiramenteem seucenrio fsico", o quepara Allen Tate constitui a caractersticadistintiva do gnero roman-cc;3 a considervel xtensode seusucesso o constitui o menor dosatores que os distinguem dos ficcionistas anteriores e explicam suairrrportnciana tradio da nova orma.

    (flPareceque todas as caracteristicas cnicasdo romance descritasrrr,ltttlcontribuem para a consecuo e um objetivo que o romancista(,0nrlurtilhacom o filsofo: a elaboraodo que pretende serum relatorrrrlrrrlicolas erdadeiras xperinciasndividuais.Tal objet ivoenvol-vli l rrrrrit ils utras upturascom as radies a fico,almdas men-,,lrrrrrrt las.mais mportante alvez a adaptao o est i loda prosa a

    lrrr rlc rltr uma impressode absolutaautenticidade tambm set,r,lnciottittt limamentecom uma das nfasesmetodolgicas ist int ivasrlu 'errlistuolosf ico.ssinrcomo foi o ceticismonominalista com relao linguagemtllt r,onte()u minar a atitude dos realistas escolsticosdiante dosI||rlver.srris.ssim ambm o moderno ealismo ogo se defrontoucom ogrru$etrru cntntico.Nem todasas palavras representamobjetos eais,tttr lro os rcprcsentam da mesma orma, e portanto a filosofia se viurllnttle kr lroblcntacledefinir sua gica.Os captulos inaisdo terceirof vrrr lrr lt,ru.tt.ottt'crninghuman understanding(Ensaio sobreo enten-rlltttelt ln tttttttttto). le Locke, constituemprovavelmente evidncialttt l lltpot,lltt lc r[:ssacorrenteno sculoXVII. Muitos dos coment-l lnr qllr lr ,o trso rrlcclttado las alavras xcluiriam boa parte da litera-lutrl, pllr, r 'ottto ,ockcconstata om tristeza, a eloqncia,al qual otr ir f rgl l " , r r rp l i t ' i r l r )r izeroso ngano.37or outro ado interes-26 27

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    sante notar que alguns dos "abusos de linguagem" especificados orLocke - como a linguagem figurativa, por exemplo - constituramuma caractersticada narrativa de fico, porm so muito mais rarosna prosa de Defoe e Richardson do que em qualquer ficcionista an-terior.A tradio estilstica da fico mais antiga no se preocupavatanto com a correspondnciaentre palavras e coisas quanto com asbelezasextrnsecasque o uso da retrica podia conferir descrioeao. A Aethiopica de Heliodoro estabeleceu tradio da ornamen-tao ingstica na narrativa grega e a tradio prosseguiuno eufus-mo de John Lyly e Sidney e nos conceitoselaborados, ou "phbus",de La Calprendee Madeleine de Scudry.Assim, mesmo que os novosficcionistas tivessemrejeitado a velha tradio de misturar poesia eprosa- tradio seguidaat em narrativas totalmente dedicadasa re-tratar uma vida desprezvel, omo o Satyricon, de Petrnio -, aindarestariaa forte expectativa iterria de que usariam a linguagem comouma fonte de interesseem si mesma e no como um simples veiculoreferencial.De qualquer modo evidentementea tradio crtica clssicaemgeralnovia utilidade na descrio ealista despojadaque tal empregoda linguagem mplicaria. Quando o nono Tatler* (1709) apresentoua"Description of the morning" (Descrio da manh) de Swift comouma obra em que o autor .segueum caminho inteiramente novo e des-creve as coisas al qual ocorreram", o tom era irnico. A suposioimplcita de escritorese crlticos cultos era a de que a habilidade de umautor se evelavano na fidelidade com que fazia suaspalavrascorres-ponderem aos respectivosobjetos, mas na sensibilidade iterria comqueseuestilo refletia o decoro ingstico adequado ao assunto.Assim, natural que devamos nos voltar para escritoresexternos aos crculosintelecfuaispara buscar nossosexemplosmais antigos da narrativa deficoelaborada numa prosa praticamenterestrita a um emprego des-critivo e denotativo da linguagem.Tambm natural que muitos escri-torescultos enham atacadoDefoee Richardsonpor sua forma canhes-tra e em geral descuidada.Por certo suas ntenesbasicamente ealistasdemandavamalgomuito diferentedospadresestabelecidos a prosa iterria. verdadeque o movimento em direo a uma prosa clara e fcil no final dosculoXVII contribuiu muito para a criao de um modo de expresso

    (t) 'fhe Tatler: peridico escrito, editado e publicado na Inglaterra, entre 1709 e| / I | , lxrr lichard Steele om a colaboraode JosephAddison. (N. T. )

    bem mais adequado ao romance realista do que aquele que existiaantes; enquanto a concepo ockeana da linguagem comeavaa re-fletir-sena teoria literria - John Dennis, por exemplo, baniu as ma-gensem determinadascircunstnciaspor julg-las no realistas: "Ne-nhum tipo de imagem pode expressda dor' Seum homem se amentapor smiles, eu rio ou durmo".38 No obstante a norma da prosa noperodo augustano* continuava sendo iterria demais para ser a voziratural de Moll Flanders ou Pamela Andrews: e embora a prosa deAddison, por exemplo, ou de Swift sejabastante simplese direta' suaordenadaeconomia tende a sugerir mais um resumo sucinto que umrclato completo.Assim, quando Defoe e Richardson rompem com os cnonesdocstilo da prosa, devemosconsiderar sua atitude no como uma falhaincidental, e sim como o preo que nham de pagar para man-ter-sefiis ao que descreviam.Em Defoe essa idelidade sobretudo fisica,crnRichrdsonbasicamente mocional,masem ambossentimosqueoltropsitoprimordial consisteem fazer aspalavras razerem-nosseuob-icto cm toda a sua particularidade concreta,mesmo que isso hes custerc1rcties,arnteses, erbosidade.EYidentementeFielding no rom-Iteucom as radiesdo estilo da prosaaugustanaou com a abordagemrln poca.Mas pode-sedizr que isso depecontra a autenticidade derrrrnsrrrrrativas. o ler Tom Jonesno imaginamos que estamosesprei-Inrrrkr rrrranova explorao da realidade; a prosa imediatamente nosItthrt'tttfiquc as operaesexploratrias erminaram h muito tempo'r;ilr' prrrh.lilusnos poupar o trabalho, e nos fornece um relato selecio-ttnrlo t ' l t tnrdasdescobertas.Aqrrihumacuriosaantinomia.PorumladoDeoeeRichard-lrr lrrlcxivclmenteaplicam a posio ealista estrutura da linguagemF dH tr(sn, lcsprezandooutrosvalores iterrios. Por outro lado as vir-lrtrlpi rstilslicas de Fielding tendem a interferir em sua tcnica detlriltnilrl$itl, lx)rque uma evidenteseleode viso destri nossacon-lhtte trfl roulitlade do relato ou pelo menos desvia nossaateno dot'rfftf;(lo tlu tttrrativa pata a habilidade do narrador. Parece haverllnli t,orrlrurlilkr nerenteentre os valores iterrios antigos e perma'tltltler o n tctticttnarrativa caractersticado romance'Sttlet'tr sstt tnt paralelo com a fico francesa' Na Frana a po 't lft1 lt l l letr . l rssica,om sua nfasena elegncia na conciso'per-

    I r l Arrg||r l i l rro .rl . r,cnteopcrodoneoclssicodal i teraturainglesa,naprimeiral l telarle l rr r rl i l XVl l l : o t ' r ' [ i l t t t t l tc t t l t ta profusode grandesescri toresembravam alt rr rlF At tgt l l l l , l l t t l ; t t ' t i t r lot tot t t i t l to (N '1")

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    ntanr(:cu ncontestadaat o advento do Romantismo. Em parte porissrr, alvez,a fico francesadesde a princessede Clves A princesarlc Clves) at Les liaisons dangereuses As ligaes perigosas) perma-rrcce margem da principal tradio do romance. Apesar de toda a suaacuidadepsicolgicae de sua habilidade literria, elegantedemaispara ser autntica. Nesseaspectomadame de La Fayette e Choderlosde Laclos soos opostosde Defoe e Richardson,cuja prolixidade tendea constituir uma garantia da autenticidade de seu.relato, cuja prosavisa exclusivamente ao que Locke definiu como o objetivo prprio dalinguagem, "transmitir o conhecimentodas coisas",3e cujos romancescomo um todo pretendem no ser mais que uma transcrio da vidareal - naspalavrasde Flaubert, "le rel crit",Parece,portanto, que a funo da linguagem muito mais refe-rencial no romance que em outras formas literrias; que o gnero un-ciona graas mais apresentao exaustiva que concentrao ele-gante.Esse ato sem dvida explicaria por que o romance o mais tra-duzvelde todos os gneros;por que muitos romancistas ncontestavel-mente grandes,de Richardson e Balzac a Hardy e Dostoivski,muitasvezesescrevemsemelegncia e algumas vezesat com declarada lulga-ridade; e por que o romance tem menos necessidadede comentriohistrico e literrio que outros gneros - sua conveno formal obri-ga-oa fornecer suasprprias notasde p de pgina.

    ilAt aqui tratamos das principais analogias entre o realismo nafilosofia e na literatura. No as consideramosperfeitas: a filosofia uma coisa e a literatura outra. Tampouco as analogias dependemdahiptesede a tradio realista na filosofia ter suscitado o realismo noromance. Provavelmentehouve certa influncia, sobretudo atravs deLockc, cujo pensamentopermeia o sculoXVIIL Entretanto, se existeuma relaocairsal de alguma importncia, provavelmente bem me-nosdireta: tanlo us rrovaesilosficasquanto as iterrias devem serencaradas onro rrirrrifcstaircsaralelas e uma mudana mais ampla- aquelavasta lunskrrnrtiio la civilizacl cidentaldesdeo Renas-cimentoque subslilrrirr visiiourrilica

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    rrlguns ealistase naturalistas de esqueceremque a transcrio fiel dareulicladeno leva necessariamente criao de uma obra fiel ver-

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    2O PUBLICO LEITORE O SURGIMENTO DO ROMANCE

    Acabamos de ver que o realismo formal do romance envolveuuma ampla ruptura com a tradio literria vigente. Vrios fatorescontriburam para que essa ruptura ocorressena Inglaterra antes emaiscompletamenteque em outro pas, e dentre eles eveconsidervelimportncia a mudana que se processouno pblico leitor do sculoXVIII. Em seu English liteTatureand society n the eighteenth century(Literatura e sociedadenglesano sculoXVIII), por exemplo,LeslieStephenafirma que "a extensogradual da classe eitora afetou o de-senvolvimentoda literatura a ela dirigida"t e aponta o surgimento doromance,bem como o do ornalismo, como exemplos undamentais doefeitodasmudanas no pblico literrio. Entretanto a natvreza da evi-clncia de tal ordem que uma anlise completa seria extremamentelonga e no esgotaria certas questes mportantes sobre as quais dis-pomos de informao escassa de difcil interpretao: assim, o queapresentamosaqui no passade uma abordagem sucinta de algumasclaspossveiselaesentremudanas na natureza e na organizaodopblico eitor e o surgimentodo romance.

    IMuitos observadoresdo sculo XVIII achavam que sua pocarrssistir"rum notvele crescente nteresse opular pela leitura. Po rorrlro ado provvelque, emboragrandeem comparao om pocas;rlll( 'r ' ir)rcs,pblico eitor estivesseongeda extenso ue tem hojeemrli:r.A provl nraisconvincente estatstica ressalvando-seue, en

    gt'rrtrsaliarlospormsempre onsiderveis,odasas estimativas ispo-Irlvcis irobcm poucoconfiveis de aplicao roblemtica. nica estimativa ontempornea a extenso o pblico eitorl'rri 'r ' ilano f inal do s culo: na dcada de 1790 Burke avaliou-oeml{0 rrril ndivduos.2 um nmero pequeno para uma populao deprlo rcnos milhese provavelmente eriaainda menor no perodode(llrcnr)s cupamos. o quesugere evidnciamais confivel ornecidaltt. lrr ilculao de ornais e peridicos:uma cifra, a de 43 800 exem-ltlrttr.s crrdidos emanalmente m 1704,3ndica menosde um compra-tkrt ' ltrrrir cm pessoas; utro nmero,o de 23673 exemplares endidosdlrtt ' irutrctrlem 1753,a ugereque, embora tivesse riplicado na pri-n1t' int ttctadedo sculo,o pblico compradorde ornais ainda era pe -rlrr,ilo e comparaocom o total da populao. Ainda que aceitemose tttuiorcslimativa contempornea e leitorespor exemplar - vinte,tegrrrrrfrrf z Addison no Spectator -, oS eitoresde ornal no soma-tlattt rtrrliomilho de pessoas no mximo uma entre onze na popu-lnflo olul; c como a estimativade vinte leitorespor exemplarparecetltttFxrgcromuito grande e no desinteressado),rovavelmente pro-Frrt;o rctl era a metade disso ou menos que uma pessoaem vinte. vcttda dos livros mais populares da poca sugereum pblicoeotllpt'n(l(r ue ainda se podecontar em dezenas e milhares.A maio-flr t lar lxrucasobras seculares ue venderammais de 10 mil exempla-ft fHilf trrnfletos obreassuntos o momento,como a Conductof thegllpl (( 'nrrrltrta os aliados) l7ll) , de Swift, que vendeu11 mil exem-;flfer,"c ts Ohservationson the nature of civit liberty (Observaesatfllt r nnlurcza da liberdade civil) (1776), de Price, que em poucosnlrer vcttrlcrr 0 mil exemplares.T maior nmero registradoparatltlls tinfe t oltra - 105 mil, para a Letter from the lord bishop of Lon-dtut ttt ltt clcrg.tt nd people of London on the occasionof the ateearth-{A r',r ( ( u 'tado senhorbispo de Londresao cleroe ao povode Lon-*lfr gtrrt 'ur' lsiio os ltimos terremotos) 1750),do bispo Sherlock8-ftlc|e re tt tttttplttf leto religioso m tanto sensacionalista,endomuitostettt;t lntr.s itkr

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    t r I pograf as"constantemente cupadas". 0Uma estimativamodernarll llublicao mdia anual de novos livros, exceto panfletos, sugereclrrco nmero praticamente se quadruplicou ao longo do sculo; entrel(166e 1756 a mdia anual foi inferior a cem e de 1792 a 1802 saltoutiva372.11Assim, possvel ue, ao falar de uma "nao de eitores",l2em1781,Johnson ivesseem mente uma situaoque em larga medidacomeara ocorrerdepoisde 1750,mas no convm omar suaspala-vras ao p da letra: o pblico leitor pode ter crescidoo bastanteparajustificar a hiprbole,porm a proporo ainda era muito limitada.Um breve exame dos fatores que afetaram a composiodo p-blico leitor mostrar por que ele se manteve to restrito segundo ospadresmodernos.O primeiro desses atores - e o mais evidente eram as imita-dssimasoportunidadesde nstruo - instruo no no sentido do s-culo XVIII, ou seja, de conhecimento das lnguas e literaturas cls-sicas, mormente a latina, mas na acepomoderna de capacidade deler e escrever lngua materna. At issoestava ongede seruniversal naInglaterra setecentista.Por volta do final do sculoJames Lackington,por exemplo, escreveuque "ao distribuir panfletos religiososdescobrique alguns lavradorese seus ilhos e tambm trs quartas partes dospobresno sabiam er"'13e h indciossuficientespara concluir que nocampo muitos pequenos agricultores, suas famlias e a maioria doslavradoreseram analfabetos e mesmo nas cidades alguns pobres -sobretudosoldados,marinheiros e o populachodas ruas - no sabiamler. Entretanto provvelque nas cidades ossemais comum o semi-analfabetismoque o analfabetismocompleto. Principalmente em Lon-dres: a difuso de nomesem lugar de sinais ndicando as ojas - o quearn 7782 surpreendeuo visitante suo Carl Philipp Moritz como algoinslito14 com certeza ndica que cada vez mais se supunha que acornunicaoescrita seria compreendidapor um nmero bastanteglande, inclusivepelos estrangeiros e Gin Lane, para valer a penarr l iz r - la .Pareceque havia boas oportunidades Ce aprender a ler, embora;rscvidncias ndiquem que a instruopblica era, quando muito,i ln 'grrl irrc espordica.No existia propriamente um sistemaeduca-r' iotr:r l , l ls unla rede de escolas e vrios ipos, mantidas ou no po rrhrlr irr ' r,obriao pas, exceo e algumas egi es urais mais distan-lcr r r'r'r' l lrs i

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    r clcsccnteemprego de crianas com mais de cinco anos para suprir arlcrrrarrclae mo-de-obrandustrial. O trabalho na fbrica no era tosujcito a fatores climticos e o longo expedientedeixava pouco ou ne-rrhum tempo livre para ir escola;por conseguinte, provvelque emalgumas egies abris o ndice de alfabetismo endeu a baixar ao longo

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    (lc quc pelo menosa maior parte deve er um lixo, bobagens, tc. En-trctantoservirpara passar tempo".3aMrs. Thrale, pertencente umnvelsocial bem mais baixo, conta que por ordem do marido "nodeviapensar em cozinha' e explica que em funo dessecio forado"voltou-sparaa literaturacomoo nicopassatempo".s-5Muitas mulheres menosabastadas ambm dispunham de maiortempo ivrequeantigamente. . L. de Muralt j constatara m 1694qu e"mesmo entre a gentedo povo os maridos raramente fazem as mulhe-res trabalharem"'36 outro visitanteestrangeiro,Csarde Saussure,observouem 1727que asesposas os comercianteseram "preguiosasepoucas azem trabalhos de agulha".:z Esse ipo de comentrio mostrabem a extensodo cio das mulheres, fruto de uma importante trans-formao econmica. J no eram necessrios s velhosdeveres dadona de casa, como fiar e tecer, f.azerpo e cerveja, fabricar velas esabo,entre outros, pois muitos artigos agora eram manufaturados epodiam ser compradosnas vendase mercados.Essa relaoentre oaumento do cio feminino e o desenvolvimento a especializao co-nmica foi registrada em 1748pelo viajante sueco Pehr Kalm, que sesurpreendeuao descobrir que na Inglaterra "dificilmente se v umamulher ocupadaem tarefasao ar l ivre"; e mesmodentro de casa,des-cobriu, "fiar e tecer tambm uma coisa rara na maioria dos lares.poisas muitas bricasaspoupamde al necessidade".3sProvavelmenteKalm exageraa extensoda mudana e de qual-quer modo refere-seapenasao meio urbano. Nas regies rurais dis^tantes de Londres a economia mudou em ritmo bem mais lento e amaioria das mulherescom certezacontinuou a dedicar-sequaseexclu-sivamentes vriasocupaes omsticas ue ainda mantinham a casaauto-suficiente.No obstante certo que o incio do sculo XVIII ocio feminino cresceumuito, embora provavelmenteapenasem Lon-drese seusarredorese nascidadesprovincianasde maior porte. aiticit determinar o quanto dessecio era dedicado leitura.As cidades, e sobretudo Londres, ofereciam numerosos entreteni-mentos:durante a temporadahavia peas,pera, bailesde mscaras,bailespblicos, reunies, enquanto os novos balnerios lotavam nosmeses ciososdo vero.Mesmo assim, at os mais ardentesdevotosdosprazeresda cidade deviam dispor de algum tempo livre para ler; e asntuitasmulheresque no queriam ou no podiam partilh-losdevianrlcr mais empoainda.As mulheres e ormaopuritana tambmvianrtta citr.rra ma distrao em mais ncua. saacWatts, um dissidentt.rrrrr i tonf luente o comeo o sculo vII I , estendeu-seobre todirs;rs rloloros:rs nefastasconseqncias o tempo perdido":s e rec()

    rrrerrrlou seuspupilos, ern geral mulheres,que ocupassem s horasot'iosas om eiturase discussesiterrias.a0No incio do sculoXVIII criticou-semuito a maneira como asr'lrrsscsrabalhadorasatraam a runa para si mesmase para o pasruspirtn

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    inrlrostoda janela, institudo no final do sculoXVII, reduziu-asaorrninro, e as que sobraramem geral eram undas e cobertasde papelou virlroverde. noite a iluminaoconstituaproblemasrio,pois asvclas,mesmoas de um vintm, eram um luxo. Richardson eorgulhavacle -lascomprado quando ainda era um aprendiz,4smas outros nopocliamadquiri-las ou us-las.JamesLackington, por exemplo, oiproibidopor seupatro, um padeiro,de ter luz no quarto e afirma qu el ia uz da ua aaHavia, no entanto, dois gruposgrandese importantesde traba-lhadores elativamente obresque deviam er oportunidadepara ler:os aprendizes os criados, sobretudoestesltimos. Em geral dispu-nham de tempo e de luz para ler; normalmentehavia livros na casa

    onde trabalhavane se no havia podiam compr-los, que no ti -nham de gastaro salriocom alimentao alojamento; comosempretendiama mitar o exemplodospatres.Muitas queixasda pocacontra o cio, os luxos e as pretensesliterriasdas camadas nferiores eferem-se os aprendizes aos em-pregadosdomsticos, obretudo acaiose camareiras.Ao estimar aimportncia it erria desteltimo grupo cabe embrar que constituauma classe umerosae destacada, endoprovavelmente maior grupoprofissionaldo pas no sculoXVIII, como de resto sempre o fora.Assirn,pode-se onsiderarPamelaa heronamtica de uma confr ariamuito poderosa e criadas etradase ociosas.Depoisde deixar mr. B.,suaprincipal exigncia o tratar um novoemprego oi ter "um tempi-nho para ler".a-s ssa nsistncia refiguravaseu riunfo, quando, se -guincloum caminho raro entre os pobres em geral porm menos emsua profissoespecfica,ela derrubou as barreiras sociais e literriascom seuhbil empregodo que sepoderiachamar de nstruonotvel,unr eloqente ributo extenso e seucio.Assim as evidnciasda disponibilidade do lazer e de seu uso con-lirrnam a descrio eral que izemosda composio o pblico eitorno incio do sculoXVIII. Apesar de sua considervel xpanso,emgclal esse blico descia a escala ocial at oscomerciantes donostlc krjas, om a importanteexceo os aprendizes criadosmais avo-lt 't ' irkrs.Hntretantohouveacrscimos, rovenientes obretudodosgru-;rrrs oci:tis adavez mais numerosos prsperos, ngajados o comr-r'io ' rrir rrrlrstria. sse um dado importante, pois pode ser que srssir rrrrtl irrraspecfica, indaquede proporeselativamentemeno-rr'r, r'rrlurrl lc:r'udo centro de gravidade o pblico leitor o suficiente

    prrlir, lcla primeira vez, colocara classemdia como um todo numaposiio l eclominante.Ao pesquisaros efeitosdessamudana na literatura no se devecsl)ct.itr cnhumamanifestaomuito diretaou extraordinriadosgos-loi tr rptides a classemdia, pois de qualquer modo sua predomi-Irittcin ntre o pblico leitor preparava-se avia mtlito tempo' Entre-lunl(r' l)itrece ue a mudana do centro de gravidadedo pblico eitorpr'(v(x'ou m efeito geral interessantepara o surgimento do romance'( ) lrrt0

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    O novo equilibrio de foras na literatura provavelmente tendia afavorecerdistrao fcil custa da obedinciaaospadrescrticos ra-dicionais, e com certezaessamudana de nfaseconstituiu um fator es-sencialpara as realizaesde Defoe e Richardson. Tambm pareceprovvel que essas ealizaesse devessem ainda a outras caractersti-cas mais positivasdos gostose atitudes dos novos eitores da poea: aposioda classemercantil, por exemplo, foi muito influenciada peloindividualismoeconmicoe pelo puritanismo algo secularizadoque en-contra expressonos romancesde Defoe; e o componente eminino dopblico, cada vez mais importante, encontrou muitos de seus eitoresexpressos or Richardson. Mas s analisaremosessas elaesdepois-de concluir o presenteexame do pblico leitor com um apanhado dasoutras mudanas no gostoe na organizao.

    ilA maioria dos ivros publicadosno sculoXVIII, como nos scu-los anteriores, refere-seassuntos eligiosos.Ao longo do sculopubli-caram-seem mdia mais de duzent as obras desse ip o por ano, Thepilgrim's progress - tratada com desdm pelos poucos autores erudi-tos que se dignaram a lhe dar ateno - chegoua.1792 com 160 edi-es;4pelo menos dez manuais de devoovenderam mais de trintaediesao longo do sculo XVIII e muitas outras obras religiosas edidticas gozayamde idntica popularidade.aeContudo essas endasenormesno contradizem o fato de que osleitores do sculo XVIII tinham gostoscada vez mais laicos. Para co-

    mear, parece que o nmero de obras religiosas no aument ou namesmaproporo da populao ou das vendasde outros tipos de publi-cao.s0Ademais,parece que os leitoresde obras religiosasno eramos mesmos dos livros seculares. "Ningum l sermes, a no ser osmetodistase dissidentes", declara em Humphrey Clinker (1771), deSmollett, o livreiro londrino Henry I)avis,st e corroboram sua afirma-o as escassasefernciasa obras populares nas cartas eruditas dapoca.Por outro lado muit os leitores, sobretudoaquelesproyenientesdecltuadas menos instrudas da sociedade,comearam com obras reli-giosasc passaram a nutrir interesses iterrios mais amplos. Defoe ellichurdson so iguras representativas essa endncia. Seusantepas-srrrkrs, onro os de muitos de seus eitores, praticamente liam apenasnbrns lc rlcvoo o sculoXVII; mas elesmesmosconjugavam nte-

    rt,rrt 's t' l igiosos aicos. )efoeescreveuomances tambm obraspie-rlrnrrs 'trrrro .'umily nstructor (O instrutor da famlia); Richardsonrrrllrcgrrirrransferirseusanseiosmoraise religiosos ara a fico,pre-rllttritr;urtclnente ecular.Esse meio termo entre os intelectuaise osrrlr,frrs rrslnrdos, ntreasbelas etrase a orientao eligiosa , talvez,a lrnrlirrcia nrais mportante da literatura setecentista encontrasu apt'itttt ' i t ' irxpresso as mais famosas novaesiterriasdo sculo,alt irrl ' lo lo'l-utlerem 1709e a doSpectatr,trm l7ll.l lsscsperidicos,publicados espectivamenters vezespor se -nlirrr (' lorklsos dias,continham ensaios obre emasde nteresse eralrlrrr rl lcliam o objetivodefendido or Steele m The Christianhero (Oll 't ' iri clisliro) 1701): entavam ornar o erudito religiosoe o religiosoetrrrl i lo, scu "saudvelprojeto de tornar o conhecimento ti l"s2 teveplctro xilo no s entre aspessoas ultascomo com outroscomponen-ler rf r rri lrl ico eitor. O Spectator o Tatler eram muito apreciados asrlr'srl(.nrils issidentess3em outrosgruposqueem geralno viam comItrrtrq llrosa literatura aica: e muitas vezeseram as nicas obras delllr,t 'rtlrrir ccularao alcance eprovincianosncultosque aspiravamaotl t l rcr ' .( ) cnsaioperidicocontribuiu muito para a formaode um gos-lrf rf lr o r()lnceambm satisfazia.Macaulay achava ue,seAddisonliversr, st'r' i lo m romance,este eria sido "superior a todos que te -ftrrrq";u' f. I l . Greenconsiderou Spectator

    n lirrrciro melhor epresentanteaquele sti io speciale iteraturarr irrir'uitcratura ealmenteopular enossa poca queconsistemlll;rl lo prblico obre i mesmo. humanidade captadaal comoserr ' l l r ' lcn vicla omum ...)e (.. .) copiada oma maisminuciosaide-l i r l r tr l t ' .5: '

    Fttltr' lrrtrlo r ransiodos de CoverleyPaperspara o romanceno foiInterllrrr, sobrctudo orqueos ornalistasde sucesso o tinham inspi-l ' tlfur' ro conseguiam riar uma galeriade personagensgualmentell l letrrrttttlt 's;o cssaorientao specfica a fico no prosseguiu ategunrlr gnrrrrlc novao ornalstica do sculoXVIII: a criao dolittttltntrttt 's Muguzine, em 1731, pelo jornalista e livreiro Edward[ ' : l t 'e. lrrrc irrrpoltanteperidicomensalno se imitava ao ornalisntopl l l l l r 'n, nrirs r l ) fcsentavaambmum variadocardpio i terhl io, qu cl rlc "Arr irrrpirr( ial iewo variousweeklyessays" Untl visiro ntpar-e..l* le, l ivet'sos rsaiossemanais) "select pieccsol poclly" (l)ocsiaselcrrrt trrr l rrs).' r rvcl)rocurou tender gostos inria r l r isvlr l iar los ue

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    i ( lu( ' lcs uc o J'peclrlor retendia atisfazer; lm de nformaosubs-lrrrrci:rl rl)resentava ma miscelnea e assuntos,que iam desde e-ccitas ulir.rrias t charadas.E tamb m obteveestrondoso ucesso;rlr. . lohnson alculouem dez nil exemplares circulaodo Magazinec dizia que vinte publicaes imitavam; em 174l Caveafirmou que ope idicoera "lido oncle e alasse lngua nglesa (...) reimpresso mvhrias ipograf iasda Gr-Bretanha,da Ir landae dasColnias".s6Duas das caractersticas o Gentleman'sMagazine - informa-oprtica sobre a vida domst ica uma conjugaode ensinamentocom distrao mais arde foram incorporadas o romance.Ademaisa transiodo Spectatorpara o Gentleman'sMagazine demonstraosurgimento e um pbl ico ei tor bastante ndependente os padresliterr ios radicionais que por issomesmopoderiaaceitaruma formaliterria no sacramentada eloscnones rticosestabelecidos; pr-pr io ornal, como o Grub Street ournal comentounum obiturio sat-r ico de Defoe, constitua um divert imentodesconhecido a pocadeAugusto".sr Contudo, embora o jornalismotivesse trado muitos lei-tores nteressados m temas aicos,o pblico ainda no havia encon-traclouma forma de fico que atendesse seu desejode informao,conhecimento, istrao eitura cil.

    IilO Gentleman'sMagazine representa ambm uma importantenrudanana composio o pblico eitor. O Spectatorera elaboradopelosmelhoresescritores a poca;atendia ao gostoda classemdia,mas por uma espcie e f i lantropia literria; Steelee Addison eramfavorveis o estilo de vida da classemdia, mas a rigor no pertenciama ela.Menosde uma geraodepois,entretanto,o Gentleman'sMaga-zine apresentavauma orientao social muito diferente: dirigido porrum ornalista e livreiro arrojado porm pouco instrudo, t inha comoprincipaiscolaboradores scribasde aluguel e amadores. Essa mu-

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    tlrrlos csultlrram em Donsescritosgraasa uma espciede Lei de( llcsiurnr, brigandoo pblico a "tomar sidra aguada ...) porquen osulre r produzir outra bebida".6rGrub Street* era outro sinnimo dessa fatal revoluo". Saints-brrry62 muitos outros no encontramdificuldadeem mostrar'queemccrrlo entido "Grub Street" um mito; na verdadeos livreiros susten-tavam mais autores com maior generosidadedo que os antigos me-cenas.Em outro sentido,porm, Grub Street ealmenteexistiu e pelaprimeira vez: o que amedrontavaPopee seusamigosera a sujeiodaliteratura s leis econmicasdo laissez-faire,sujeioque significavaqueos ivreiros, fossemquais fossemseusgostos,erarn obrigadosa ser"desonestospor profisso", como disseGeorge Cheyne numa carta aRichardson;63inham de obter dos paspalhosde Grub Street o que opblicopoderiaquerercomprar.O romanceera consideradoem geral como um exemplo tpico daespcie e literatura aviltada que os livreiros ofereciam ao pblico lei-tor. Por exemplo, JamesRalph, amigo e colaborador de Fielding, es-creveu mThe case fauthors (O casodosautores) 1758):

    A produo e ivros o negcio ue azo livreiroprosperar: s normasdo comrcio brigam-no comprar maisbaratopossivel vendermaiscaropossvel...) sabendo em que ipo de mercadoria aissepresta o mercado, le azsuas ncomendase acordo om sso;e toinflexvel o determinar prazoda publicao uantoao calcularo pa-gamenro.Isso sclarecerastante sparoxismosa mprensa: livreirosagazsente pulsodos empos , cleacordo om o ritmo, decide o curar.masestimular doena: nquanto paciente ontinua engolir, lecontinua ministrar; ao primeiro intoma e nuseas, udaa dose.Da acessaoe odos scarminativosoliticos a introduo ascan-tridas ob ormadecontos, ovelas,omances,tc.f l

    Na verdade, ntretanto, bastante mprovvelque o processoosse oconsciente direto como Ralph sugere.Ele escrevianuma pocaem11rrc,pso grandesucesso os romances e Richardsone Fieldinge asrrbseqentexpanso as bibliotecas irculantes, s escribas a GrubSllcr:tpassarama elabor ar romancese a traduzir originais rancesesrrrrnra scitla onsidervel or encomenda e ivreirose donosde biblio-lct rr; circulantes omo Francise John Noble. At ento, contudo, hl)()lr('()snrlcios e queos ivreiros ontribussem iretamente ara esti-( ') ( ;r 'r l Slrccl : rua cleLondreshabi tadaant igamente or numerosos scr i torcst,,r l ,r r . 'r r ' , , r i l r ;rs l t 'r r l r rgrrel ;lual Mi l ton Street . N. T. )

    |trulrl ir courposio e romances;ao contrrio, se.examinarmos snlrt'nslrrcos ivreirospromoveramde ato, verificaremos ue preferiamgt'rtttrlesrabalhos de informaocomo a Cyclopaedia 1728) de Eph-l'nlrrr ' lrirmbes,o Dictionary (1755)e a Livesof the poets (Vidas do s;rrrefrs) 1779-1781), mbos de Johnson,e muitas outras compilaesItl l lr'iclse cientficas, ue encomendavam m argaescala.i vercladeque dois ivreiros, Charles Rivington e John Osborne,perli lrrrrr Richardson que elaborasse m manual popular para re -rfnlrr lccartas familiares e com isso deram o impulso inicial para af olllf osiirode Pamela. i|;4.asamela oi quaseum acidente; muito soli-r' l lnrhrconro escritor, Richardsonsurpreendeu-se om seu "estranhomlrt sso"c vendeudois terosdosdireitos autoraispor vinte libras (comt'eln1'rrrrscusdoisltimos romances,porm, foi mais esperto).6s am-ffolfr( )rrrcceprovvel queJoseph Andrews, a experinciacrucial defrleklirrg, cnha resuitadode algum estmulopor parte dos livreiros.lf lr re t;rrc Fielding ficou estupeatoquando o livreiro Millar lhe ofe-I'ererr lrrzcntasibras pelo manuscritoe por algumasobras menores;66ff f (ltrel)rrrcce,aps o sucesso e Pamela Millar previa grandesvendaspntn u;rlirrrciro omancede Fielding, mas nem elenem ningumhaviaFflrrff'nfr(lo o autor de Tom Jones a tomar essanova direo literrialttletl lr{l(clucpoderiaser ucrativa.('trttludo, se os livreiros pouco ou nada izeram para promover ottrglnrento rlo romance, h alguns ndcios de que, ao retirar a litera-Itl l 'n ln rrlela closmecenas coloc-la ob o controle das eis de mer-tlu, les rr

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    g()sl() lo que esta. E do interesse e um pagar to pouco ao escritore dootrlroescrever mximo possvel".67 e certo modo corroboraa afir-rnao e Goldsmith o fato de que no incio do sculoXVIII tornou-serrrais u menoshabitual acusar-se m autor de escrever rofusamentepor motivos econmicos; ohn Wesley nsinuou, com certa maldade,que IsaacWatts escreviamuito paa"ganhar dinheiro".68Pode ser queessa endncia ambm tenha contribud o para o surgimento da novela,como sugerem acusaes emelhantes evantadas contra Defoe e i -chardson.O resultado mais evidenteda aplicao de critrios basicamenteeconmicos produo literria foi favorecera prosaem detrimento doverso.Em Amelia (1751),de Fielding, o esc ritorde alugueldeixa bemclaraessa elao: "Para os livreirosuma pgina uma pgina e noaz a menor diferena se em prosa ou em verso".6eConseqente-mente, achando que as rimas "so coisas ntratveis", o morador deGrub Street deixa de escreverpoesiapara as revistase dedica-se pro-duo de romances. Por dois motivos: porque a "narrativa o nicoramo de nossaatividade que vale a pena abraar" e porque "com cer-tezao trabalhomais cil do mundo; pode-se screv-la uase o de-pressa uantosepodecorrer a penapelo papel".Havia tempo que Defoe seguia nesse umo; no comeo da car-reira ele utilizou o meio vigente da stira versificada, mas depoispas-sou a dedicar-sequaseexclusivamente prosa. E essaprosa obvia-mente era fcil, prolixa, espontnea qualidades bem adequadasaoestilo de seus omancese maior compensao inanceira por sua la-buta. Elegncia verbal, estrutura complexa, execuo cuidadosa -tudo isso tomava tempo e podia exigir numerosas alteraes,pormDefoeparece evar a um extremo sem precedentesas implicaeseco-nmicasda situaodo escritor, considerandoque s se devia procedera revisomediante remuneraoextra. Pelo menos oi o que afirmou ocditor annimo da edio de 1 738 de The complete English tradesman(O perfeito comerciante ngls),de Defoe, que considerou as obras doarrlorde RobnsonCrusoe em termosgerais ...) demasiado rolixasellcrifrsticas"e acrescentou: para que uma obra completa sasse estrasnrosera precisodar-lhe tanto por pgina escrita a sua maneira; erlclroismais a metade (dessaquantia) para cortar as excrescncias ut'r crr l r-l ".70Mais ou menosa mesmacoisaocorriacom Richardson, mboraonrtrl ivrr conmicoprovavelmenteossebem menosurgente. Em 1739.,r'u rrrrigo, dr. GeorgeCheyne, ensurou-o or pensarem termosdeItvt'r' i lo ro rvaliar o preodo autor pelo nmero de pginas".tr Mais

    Irrlrlt.. cscrevendo sobre Clarissa, Shenstone disse que Richardson"prokrrrgouo livro desnecessariamente,om extravagante rolixidade(,..) o quc por certo no teria feito se no foss e m pressor alm deest'ri lor"'; continuou,prestando nconscienteributo ao realismo or-rrrrrl lc lichardson: "S ofato poderia autorizar anta mincla, e navclrl irtlcnem isso:apenasum tribunal de Justia".rz'l ' lvidentemente efoe e Richardsonno romperam com os crit-tios itcrirrios lssicos penasno estiloda prosa, mas em quase odosor rrsllcctos e sua visode mundo e das tcnicaspelasquais a trans-nril i lrrrn.Quanto a isso tambm so a expresso as profundas mu -+lrrrrirsro contexto social da literatura - mudanasque abalaram

    elrrrlrr rt is o prestgiodospadres rticos nstitudos.lirrr nreados o sculoXVIII haviaplenaconscincia a maneira1*'lu lrutlo novo equilbriode foras evolucionara recrutamentodef t' l l ir. 'rrsautores.SegundoFielding odo o universo iterrio ornava-se"unlr rlcrnocracia, u melhor, uma completaanarquia"; e no haviaItlttgrrttrlara impor asvelhas eis,pois, conforme escreveu o Coventthtt't lrrt ltturnal 1752),at os "cargosda crtica" foram ocupadospori'unr rrrrrl l lo ontingente rregular", admitido "no reino da crtica semelnlrr('e urnapalavradasvelhas eis".73Um ano depoiso dr. JohnsonlllEftrrrrrr o Adventurer qve esse rregulares ambm estavam nsta-Intlrrs'rrl lcos autores: A pocaatual bem pode serdenominada, omgtutrrh'pro;lriedade, era dos autores;pois alveznunca enha havidottl ln pocir m que homensde todosos nveisde capacidade, odo tiporle trrlt 'rriio,oda profisso emprego ededicaramcom tamanhoar -thrr prrluvra mpressa". Em seguida,enfatizandoo contrastecom oprrnrlo, rcrcscentou: Antigamente o domnio da escrita era reser-yotlorlrrclcs ue, peloestudoou pela aparncia o estudo,deviam errlqtrlr' lthrrtrr onhecimentonatingvelpara a parte atarefadada hu -l l l t t t l I l t t r l t" ' .{l ' t r tr t ' aqrrcles ue dif ici lmente eriam sido escri tores a' antigattl 'rlc'tt ' (Ir(' l)()rrco u nada sabiamdas"velhas eis" da literatura de-VFlrr '(i lr 't 't ' lcza ncluir dois representantes a parte atarefadadahrururtrirlrrtlt 'to sculoXVIII: Defoee Richardson.Suas dias e su aIutttltro li l icilnrcnteos levariam a es perarque os velhosrbitros dotlFrllttl l i lu'ririo ()saprovassem; ntretanto,quando embramos omo alirrrlflrr' l/rssicit a adversa s exigncias o realismo ormal, torna-seFtl t lett l r ' lu( ' suts cnclncias uito dist intasconsti tuantprovavel-l l lFltlr: l i lr/r 'ottrl iitrtssencial e suas novaesitcrrri its. l tlc Iato aEntir. lu\ i l r l r t t t t 's. 'haltoneno tocantea Richar

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    igrrrrante podemosagora receberalgo de original; cada mestre copiatqueles investidosde autoridade consagradae no olha para o objetonatural"'7s Defoe e Richardson por certo eram mais livres para apre-sentar o "objeto natural" como bem quisessemdo que os escritoresfranceses,por exemplo, pois na Frana a cultura literria ainda seorientavabasicamentepara a corte; e essa a provvelrazo pela qualfoi na Inglaterra que o romanceconseguiu omper mais cedoe de mdomaiscompletocom os temase o estiloda ficoanterior.Em ltima anlise,porm, a substituio dos mecenaspelos li-vreirose a conseqente ndependnciade Defoe e Richardson em re-Iaoao passado iterrio somerosreflexosde uma caracteristicamaisampla e ainda mais importante da poca a grandefora e a autocon-fiana da classemdia como um todo. Em funo de seusmltiploscontatoscom tipografia, venda de livros e jornalismo Defoe e Richard-sonestavambem a par dosnovos nteresses aptidesdo pblico leitor;porm ainda mais importante o fato de representarem nteiramente onovo centro de gravidade dessepblico. como profissionais ondrinosda classemdia, tinham apenasde consultar seusprprios padres deforma e contedo para assegurar-se e que aquilo que escreviamatrai-ria um pblico extenso.Provavelmente esseo efeito mais importanteda mudana na composiodo pblico leitor e do predomni dos li-vreirossobreo surgimento do romance; no tanto porque Defoe e Ri-chardsonsatisfizessem s nvasnecessidades e seus eitores,mas por-que podiam expressaressas ecessidadesom muito maior liberdade.

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    10o REALTSMO A TRAnrc.OPOSTERIOR:UM COMENTARIO

    Depois de Richard son eFielding o romance passoua ter um pa-pel de crescentemportncia no mundo literrio. A produo anual deobras de fico, que entre 1700 e1740 gftavaem torno de sete, subiupara uma mdia de cerca de vinte nas trs dcadasposterioresa 1740e esse mero duplicou-seno perodocompreendidoentre 1770e 1800.rAo aumento quantitativo no correspondia,porm, um aumento quali-tativo. Com raras excees fico da ltima metadedo sculoXVIII,emborapossa er algum interesse ata o estudo da vida na pocaou dcvrias tendncias iterrias efmerascomo o sentimentalismo ou o ter-ror gtico, possui pouco mrito intrnseco; em grande parte apenasrevela com bastante clareza aspressesexercidaspelos livreiros e admi-nistradores de bibliotecas circulantes no sentido de rebaixar o nvelliterrio a fim de atenders expectativas o pblico leitor, que em geralprocuravanos romances antasia e sentimentalismo.Houve, no entanto, vrios romancistasque se elevaram acima tlonvel da mediocridade,como Smollett, Sternee Fanny Burney. Smollcllpossui muitos mritos como reprter social e humorista, mas os dt 'feitos flagrantes das situaes centrais e da estrutura geral de todos osseus romances, exceto Humphrey Clinker (1771), no lhe permilcnrdesempenharum papel muito importante na principal tradio do gi 'nero. Sternej um casobem diferente: sua notvel originalidade lilcrria confere-lhe obra uma caracteristica muito pessoal, para tlrrdizer excntrica; entretanto seu nico romance, Tristram Shartdt'(1760-1767),apresentaboas soluespara os grandes problemas lor'nrtis levantadospor seuspredecessores; ois, por um lado Sternc errconlrlu um modo de conciliar o realismo de apresentao e Riclt:rlrl252 2s.

    son com o realismode avaliaode Fielding e, por outro lado, mostrouque no havia um antagonismo necessrio ntre os enfoques especti-vamente nterior e exterior com que abordaram aspersonagens.Sterne dispensa cuidadosa ateno a todos os aspectosdo rea-lismo formal: particularizao de tempo, local e pessoa;a uma se-qncia natural de ao; e criao de um estilo literrio que apre-senta o equivalenteverbal e rtmico mais exato possveldo objeto des-crito. Por conseguintemuitas cenasde Tristram Shandy possuemumaautenticidadeque rene a brilhante economia de sugestode Defoe e aminuciosa apresentaode pensamentos,sentimentose atitudes daspersonagens ncontradasem Richardson. Na verdade to seguroessedomnio da apresentao realista que, se o tivesseaplicado aos prop-sitos usuais do romance, Sterne provavelmente teria sido a figura su-prema dentre os romancistas do sculoXVIII. Porm Tristram Skandy no tanto um romance.comouma pardia de romance, e, com umaprecoce maturidade tcnica, Sterne volta sua ironia contra muitos m-todos narrativos que o novo gnero desenvolvera o tardiamente.Essa tendncia irnica centraliza-se no prprio heri. Fiel a umaconveno do realismo formal, Sterne explica como batizou sua perso-nagem e como o nome escolhido constitui um smbolo de seu infelizdestino; e no entanto o pobre Tristram permanece uma figura indefi-nvel, talvez porque a filosofia lhe ensinou que a identidade pessoalno uma questo o simples como em geral se pensa. Quando o comis-srio lhe pergunta quem , ele s consegue responder: "No me con-fundais",2 retomandoo teor dos cticospensamentosde Hume sobre oassunto no Treatise of human nature.3 Porm a principal raz,opelaqual o heri de Sternecontinua a nos escapar que o autor brinca como que provavelmenteo mais fundamental dos problemasdo realismoformal, o tratamento da dimenso empo na narrativa.\ A seqncia emporal deTristram Shund.v ascit-sc - nraisumavez em concordncia om as tendncias occrrtcsla fikrsofiana poca- no fluxo de associaosa consc:inciirlo rrurrtrlor. 'onto tudo qu eocorre na menteocorrc no prcscrrle,Slclrrc gxrtltr ornpor tlgunrts desuascenas om todo o vigor;rossibi l i l rrrhrrckr viv itkr esl i lo no pre-sente" de Richardsor;Ao nt(:snt()t.rrrpo, orrro l' t' istt'nnr lrtnclycstcontando a histria lc srrirpr'(rgrritrvirll c o1rirritlcs", lcrrrc unrbmpodemanejaraspersl lccl ivust' t t t l tot 'u istruis rrrpl ls lu ttentria uto-biogrfica e Defoc;alttt l isso, rrhrl irr rtovrrrkrl t r r i.;11in*o lrala-mento do tempo cc;tt i tc iottrtttr lorrns rrtcs' ir ' l ic irs 'onr lnr csqucnatemporalexteriur-- u crrrrrokrgirrl r r r rnr l i r r l rn rrr lyo i r r r . i r leonevcn-tos histricos oro tsb i t l i r l l r l rslt ' io l 'o lrycnr i l i r r r r l rcs .

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    Sterne,porm, no se satisfazcom essaengenhosa bordagem doproblema tempo e leva ao extremo lgico a premissa realista de umacorrespondnciaabsoluta entre literafura e realidade. Prope estabe-lecer um equivalente emporal absoluto entre seu romance e a expe-rincia do leitor com relaoao ivro, fornecendoum tema de uma horade leitura para cada hora da vida ativa de seu heri. Mas essa,eviden-temente, uma tentativa fadada ao fracasso, pois sempre Tristramlevar mais de uma hora para elaborar um relato de uma hora de suaprpria experincia, e, assim, quanto mais escrevee quanto mais le-mos, mais nossoobjetivocomum se distancia.Assim, em grande parte por adotar os requisitos temporais dorealismo formal mais literalmente do que j se tentara antes - oudesde ento - Sterne realiza uma reductio ad absurdum do prprioromance. Ao mesmo empo, contudo, essaardilosa subversodos obje-tivosprprios do gnero ecentemente onferiu aTristram Shandy umacerta atualidade pstuma. O tratamento bastante flexvel do esquematempo prenuncia a ruptura com a tirania da ordem cronolgicada nar-rativa realizadapor Proust,Joycee Virginia Woolf , e, assim,nos anos20Sterne passoua ser valorizado como precursor dos modernos. E issono tudo: Bertrand Russell, o maior expoentecontemporneodo rea-lismo filosfico, baseou-se m Tristram Shandy para formular sua teo-ria sobre a natureza problemtica do tempo e batizou seu paradoxocom o nome do heri infinitamente regressivo e Sterne.sO tratamento da dimenso temporal em Tristram Shandy temcrucial importncia ainda em outro contexto, pois fornece a base tc-nica para a conjugaode realismo de apresentao realismo de ava-liao. Como Fielding, Sterne era um erudito e queria ter total liber-dade para comentar a ao de seu romance ou qualquer outra coisa.Todavia, enquanto Fielding conquistara sua liberdade sacrificando averossimilhanada narrativa, Sterne conseguiu alcanar os mesmosobjetivos sem essesacrifcio graas ao simples mas engenhosoexpcdiente de situar suas reflexesna cabea do heri - assim, podia-st'atribuir a alusomais recndita s notrias incoernciasdos processosde associao e dias.O realismo de avaliao de Fielding atuava no s atravs th 'comentrio direto, mas tambm mediante a organizaoda seqrrcirrnarrativa num significativo contraponto de cenasque em geral sc t'cllt'tiam ironicamente umas nas outras, embora muitas vezes dantkr rt,,leitor a sensao e uma manipulao algo importuna. J Sterrrcpot|r'manipular vontade sem quebrar a autenticidadeda narrativit, tot',crr

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    de uma tendnciaposterior a equiparar o "realismo" no romance n-fase na sociedadee no no indivduo e a excluir da principal tradiorealista os autores que investigam a vida interior de suas personagens.No se pode negar a importncia dessa diferena na abordagem dapersonagem, e compreensvel que a perspectiva literria dos realistasfranceses enha influenciado de tal modo nossa acepo do termo queacabamos pensando que, se Balzac "realista", Proust precisa deoutra palavra pata defini-lo. Sem embargo a continuidade bsica datradio do romance torna-semais clara se embramos que essasdife-renas no mtodo narrativo so diferenas de nfase e no de tipo ecoexistemdentro de uma fidelidade comum ao realismo formal ou deapresentaoque, como j dissemos, caracteristico do gnero ro-mancecomo um todo.Esseproblema ctico particular tem um anlogo epistemolgico:o dualismo. significativo que Descartes, o fundador do moderno rea-lismo filosfico, tenha sido quem levantou a questodo dualismo e atransformou numa das preocupaes caractersticas do pensamentonos ltimos trs sculos. Evidentemente os dois problemas filosficostm estreita ligao, pois a tendncia epistemolgica da filosofia dosculo XVII eia a de concentrar a ateno na seguite questo: como amente individual pode conhecer qualquer coisa exterior a si mesma?Contudo, embora o dualismo enf.atizea oposio entre diferentes mo-dos de encarar a realidade, no leva completa rejeio da realidadedo ego ou do mundo exterior. Da mesma orma, diferentes omancistasatriburam diferentes graus de importncia aos objetos exteriores e in-teriores da conscincia, mas nunca rejeitaram inteiramente uns ou ou-tros; ao contrrio, os termos bsicosde sua nvestigao oram ditadospclo equivalente do dualismo na narrativa: a natureza problemtica darelao entre o individuo e seumeio.Pareceque Defoe ocupa uma posiocentral entre as endnciassubjetivase exterioresdo romancista : seu emprego do realismo formalconfere ao ego individual e ao mundo material uma realidade maiorque a existentena fico anterior. Na verdade o fato de seu enfoquenarrativo - o da memria autobiogrfica - revelar-se o adequadopara refletir a ten so existente entre os mundos interior e exterior su-gere que a mudana cartesianapara o ponto de vista do ego ndividualperceptivo oi calculadapara possibilitar um quadro mais nitidamentcdefinido do mundo exterior bem como do interior.Evidentemente romancistas posteriores abordaram essa duali-dade de modos divergentes,mas significativo que mesmo aquclcsque, a partir de Richardson, colocaram a maior nfasena clire

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    mrias como em Defoe ou de cartas como em Richardson - prova-velmente porque lhe restringia a liberdade de comentar e avaliar epreferiu contar suas histrias maneira de Fielding, como autor con-fesso. Contudo sua variante do narrador comentarista era to maisdiscreta que no afetou substancialmente a autenticidade da narra-tiva. As anlises das personagense de seus estadosde esprito e asirnicas justaposies de motivo e situao so to argutas quanto emFielding, mas parecem provir no de um autor que interfere na nar-rao, e sim de um augusto e impessoal esprito de compreenso sociale psicolgica.Ao mesmo tempoJane Austen modificou seu enfoque narrativo osuficientepara nos dar no apenascomentriosparalelos, mas muitoda proximidade psicolgica de Defoe e Richardson ao mundo subjetivodas personagens.Em seus omances h geralmenteuma personagemcuja conscincia recebeposio privilegiada e cuja vida mental ,apre-sentada de modo mais completo que a das outras personagens.EmPride and prejudce (Org:iho e preconceito) publicado em 1813), porexemplo, a histria contada substancialmentea partir do ponto devista de Elizabeth Bennett, a herona, mas o narrador, assumindo opapel de analista imparcial, atenua a identificao, e graas a isso oleitor no perde sua percepocrtica do romance como um todo. Amesma estratgia eferentea ponto de vista emprega da com brilhan-tismo em Emma (1816), um romance que rene a fora caractersticade Fielding ao transmitir o sensode sociedade omo um todo e algo dacapacidade de Henry James de localizar a continuidade estrutural es-sencial de seu romance na crescentepercepopor parte do leitor dacomplexidade da personalidadee da situao da personagematravsda qual a histria contada: a evoluodo ser nterior de EmmaWood-house tem muito do drama da revelaoprogressivacom que Jamesapresenta Maisie Farange ou Lambert Strether.Em suma, devemos ncarar os romancesde Jane Austen como assolues mais bem-sucedidas de dois problemas narrativos para osquais Richardson e Fielding forneceram apenas respostasparciais.Austen conseguiu conjugar numa unidade harmoniosa as vantagens dorealismo de apresentao as do realismo de avaliao,das abordagensinterior e exterior da personagem; seus romances tm autenticidaclcsem dispersonem artificios, sensatos omentrios sociaissem necessidade de um ensasta oquaz e uma percepoda ordem social qrrt'no conquistada s custas da individualidade e da autonomia daspersonagens.Os romancesde Jane Austen constituem tambm o clmax rlt

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    muitos outros aspectos o gnerono sculoXVIII. No tocanteao tema,apesarde algumasdiferenasbvias,retomam muitos interesses arac-tersticosde Defoe, Richardsone Fielding. Jane Austen encaramaisdiretamente ue Defoe,por exemplo,os problcrnas

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    gicose intelectuais restrio ue, desde ie lding, em afetado ou-cos romancesngleses om cert o estreitamento os imites da expe-rinciae da atitudepermitida.Assim, tanto no mtodo narrativo como no meio social, h'umagenunacontinuidade entre os romancistasde ncios do sculoXVIII eseusprincipais sucessores.Embora no possamosa rigor falar de umaescola de romancistas no sculo XVIII, se adotarmos uma perspectivamais ampla e tentarmos compar-los ou com ficcionistas mais antigosou com seus contemporneosem outros pases, podemos dizer queconstituem um movimento iterrio cujos membros tm muita coisaemcomum. J no comeo do sculo XIX os crticos de romance percebe-ram essaafinidade: Hazlitt, por exemplo, tendia a considerar Richard-son, Fielding e Sterne semelhantesem sua fidelidade sem precedentes"natureza humana tal como ".e Em outros pasespercebeu-semaisclaramente ainda esse r de amlia. Na Frana, como assinalouGeorgeSaintsbury, a relao entre literafura e vida na fico permaneceumuito mais distante e formal ao longo do sculo XVIII.t0 Conseqen-temente se admitiu a preeminncia inglesa no gnero a partfu de mea-dos do sculo,com Fielding, Sterne e sobretudoRichardsoncomo seusmaiores expoentes: Diderot chegou a expressar o desejo de que se en-contrasse algum nome novo p4ra distinguir os romances de Richardsondos"romans" da tradio francesa;1le pata muitos leitores rancesese alemesas grandesdiferenasentre Richardson e Fielding, por exem-plo, tinham importncia secundria diante do fato de que ambos erammuito mais realistas que suas contrapartidas estrangeiras.12Acompanham o testemunho francs da supremacia do romanceingls no sculoXVIII explicaesdo fenmeno que concordam subs-

    tancialmentecom as relaesque expusemosentre a mudana social eo surgimento do gnero. Assim o primeiro estudo importante do ro-mance em seu contexto social mais amplo, De la lttrsture, consi-dre dans ses apports avec es nstitutions socales Sobre a literatura,considerada em suas relaescom as instituies sociais) (1800), demadame de StaI, prenuncia muitos dos elementos da presente an-lise;13 em seu Du style et de la littrature (Sobre o estilo e a literatura)(1806), de Bonald - gu, segundo parece, foi o primeiro crtico a usara frmula "La littrature est l'expresson de la socit" (A literatura a expresso a sociedade) , apresentouum quadro muito semelhantedas causas histricas da reconhecida preeminncia dos inglesesno ro-mance. Para ele ponto pacfico que o romance se referia basicamenter vida privada e domstica: nada mais natural, portanto, que uma260 26r

    sociedade caracteristicamente mercantil, burguesa e urbana, queenl.atizava tanto a vida familiar e, ademais, era to pobre de for-mas mais elevadas de expresso iterria, triunfasse num gnero fami-liar e domstico.laA evoluo da literatura francesa fornece uma confirmao deoutro tipo para a importncia dos fatores sociais e literrios cuja re-lao com o desenvolvimento nicial do romance na Inglaterra apresen-tamos neste trabalho. A primeira grande florescncia do gnero naFrana, que comeoucom Balzac e Stendhal, ocorreu s depoisque aRevoluoFrancesa evoua classemdia a uma posiode poder sociale literrio que sua contrapartida inglesa havia conquistado um sculoantes, na Revoluo Gloriosa de 1689. E se na tradio do romanceeuropeu Balzac e Stendhal so figuras maiores que qualquer roman-cista ngls do sculoXVIII, certamente ssose deve, em parte, s van-tagens histricas que se lhes ofereciam: no s porque as mudanassociais com que se preocuparam encontraram expresso muito maisdramtica que na Inglaterra, mas porque, no campo literrio, eleseram os beneficiriosde seuspredecessoresnglesese tambm de umaatmosferactica muito mais favorvelao desenvolvimento o realismoformal que aquela do neoclassicismo.Um dos pontos principais do presente trabalho que o romanceest relacionado com a sifuao literria e intelectual geral muito maisintimamente do que se costuma lembrar e que a estreita ligao dosprimeiros grandes ealistas ranceses om o romantismo um exemplodisso. Caractenzava o romantismo a nfase no individualismo e na ori-ginalidade que encontrou sua primeira expresso iterria no romance:e muitos escritores romntcos pronunciaram-secom particular vigorcontra aqueleselementosda teoria crtica clssicaavessos o realismoformal. No prefcio das Lyrical ballads (Baladas lricas) (1800), porexemplo, Wordsworth proclamou que o escritor deve "ficar atento aoobjeto" e apresentar as experincias da vida comum na "verdadeiralinguagem dos homens"; enquanto a ruptura dos franceses om o pas-sado iterrio encontrousuaexpressomais dramtica na apresentaode Heman (1830), onde Victor Hugo desafiou os decorosconsagradosque restringiam a maneira como se devia retralar o objcto litcrrio.Essas oalgumasdas perspectivasitcrrrits nruisnnrplus uge-ridas pelos omancistas o comcodo sculoXVlll. ('untllurnclos omJaneAusten, ou com Balzace Stcnrllrtl, I)e oc, {icltnrrlson F'iclclingapresentam videntcs alhus cnicrs, listoricuntcnle,contudo, m abvia importncia dos cscrikrrcsqrrc corrtrilrrrlrnnr lc nrrxlo funda-mental para a criauda forrttu itcrrriu lrcrkrtttittuttlctos

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    sculos,e a importncia, de modo nenhum menor, resultante do fatode que, por serem novadoresessencialmentendependentes,seusro 'mances ornecem trs imagens muito bem definidas da forma em gerale constituem uma recapitulaocompleta das diversidadesessenciaisem sua radio posterior.Tambm exigiram mais de ns.No romance'talvez mais que em qualquer outro gnero literrio, as qualidades davida podem atenuar os defeitos da arte: e no h dvida de que Defoe,Richardson e Fielding mereceram uma imortalidade literria mais es-tvel que muitos romancistas posteriores dotados de maior sofisticaotcnica por expressarem sua prpria viso da vida com uma plenitudee uma c,rnvicomuito raraepela qual lhe somosgratos.

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    NOTAS

    ABREVIAOESELHHLQJEGP

    J. Comp.PsychologyMLNMLR

    Journal of English LiteraryHistoryHuntngton Library Quar-terlyJournal of English and Ger-manc PhilologyJournal of Comparative Psy-chologyModem Language NotesModern LanguageReview

    MPN& QPMLAPQProc.Amer.AntquarianJoc. 'R"'.tP

    Modern PhiloktgyNotes and QueriesPublicatns of lhc ModcrnLanguage Assot'iuln ttfAmericaPhilological QuailerlyProceedings of the AmericanAntiquarian SocietyReview of English StudiesStudies n Philology

    (5) Essay concerning human under'standing (1690), livro I, cap. 2, seoXV.(6) YerPosterioranalytics, ivro I, cap.24;livro[I, cap. 19.(7) Primeiro Dialogue belween |lylutiandPhilonous,1713(Berkelcy, Workr, atl,LuceeJessop(Londres,949), I, p. l()2).(8) ParteIV, seo3.(9) Ed iode1763, l l , pp. l() t -() .(I0) Idler, n9 79 ( 17.59).Ver lnttttrtttScottElledge, Tho blckglourrr lnrrr ldnvelopment n Englisltcr i l ie r t r to l l tc l tco t ' lnsof generali tyan r l ptr l icu lnr l ly", l 'Ml.,LX(1945),p lt . l(r l 74.(11\ (\ t rruyndcnce t i , l tmuel Ri 'chard,vrt , l t t {)4, , 1t .cxxxvll , Pcte oultoscomcnl ios r l t . c i orrr I r ' t rrcetcs 'r)nent"

    OREALISMOEAFORMAROMANCE(1) Ver Bernard Weinberg, Frenchrealisin: the critical reaction 1830-1870(Londres, 1937),p. 114.(2) VerR. I . Aaron, Thetheoryofuni-versals(Oxford,1952),pp. 18-41.(3) Ver S. Z. Hasan. Realsm (Cam-bridge, 1928),cap. e2.(4) Works (1773), V, p. 125; ver tam-bm Max Schelet, Versuchezu einer Sozio-logie des Wissens (Munique e Ieipzig,1924), pp. 104 ss.; Elizabeth L. Mann,"The problem of originalit-v in English lite-rary crit icism, 1750-1800", PQ, XVIII(1939), p.97-118.

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    porneos ver Joseph Texte, Jean-JacquesRousseauand the cosmopolitan spirt in l'terature Londres,1899),pp' 174-5.(12) N9578(1714).,13\ Leviathan 1651),Parte ' cap.4.(14\ Potica, caq.9.(15) Essayon the new speciesof writingfounded by mr. Fielding,1751, p. 18. Essaquesto abordada de modo mais com-pleto em meu trabalho "The naming ofcharacters n Defoe, Rchardsonand Fiel-d ing " , RES, XXV(1949), pp .322 -38 '(16) Ver Wilbur L. Cross,Hstory ofHenry Fielding (New Haven, 1918)' I, pp .342-3.(17) Partial porrrairs (Londres, 1888),p. 118 .(18\ Human understanding, livro II'cap.27,sees,x, x.(79) Treatiseof human nature, livro l,parte4, seo i.(20) Human understanding' livro III 'cap.3, seovi.(21) Plato no afirma especificamentequeas dias soatemporais'mas a noo,que data de Aristteles (Metafsica, livtoXII, cap. 6), est na base de todo o sis-tema de pensamentocom o qual so asso-ciadas.(22) Asbects of the novel (Londres'1949),pp.29-31.(23) Declne of the west, trad. Atkin-son Londres,1928) , , pp. 130 -1 .(24) "The four forms of Iiction" Ilud-sn Review, I ( 1950),p. 596.(25) "Estimate ol the value and in -fluence of works of iction in modern ti-mes" (1862), Works, ed. Nettleship (Lon-dres,1888) ,I I , p .36 .(26) Ver Herman J. Ebeling, "Theword anachronism", MLN, LII (1937), p.120-r.(27\ Selectedworks, ed. Potter (Lon-dres,1933) , .333 .(28) Ver G. N. Clark, The ater stuarts,t660-t714 (Oxlord, 1934), pp. 362-66;fcrr Wellek, The rise of English literaryl i , r tory Chape lHil l , 1941), ap .2.(2()) Vcr sobretudo Ernst Cassirer,

    "Raum und Zelt", Das Erkenntnispro'blem... (Berlim, 1922-23), l, pp. 339'74.(30 ) Carta6.(31) L ivroI I , cap . .(32) Conforme mostrou F. S. Dickson(Cross,Henry Fielding,ll, pp. 189-93).(33) Biographia literaria, ed' Shaw-cross Londres, 1907), , p. 87 .(34) Prefcio (1765), Johnson on Sha-kespeare,ed. Raleigh Londres, 1908),pP .2t-2.(35)VerWaren Hunting mith,4r-chitecture in English fictioz (New Haven,1934), .65.(36) "Techniques of Fiction", in Cri-tiques ans essays n modem fiction, 1920-1951, ed. Aldridge (Nova York, 1952),p.4t . (37) Livro III, cap. 10, seesxxiiixxxiv.(38) Prefcio, Thepassion of Byblis'critcal works, ed. Hooker (Baltimore,1939-43),, p.2.(39) Human understanding, ivro III'cap.10, eoxiii.(40) "Estimate",Works,I I I , . 37 .(41) "Burns", Critical and miscella-neousessals NovaYork, f899), I, pp.276-7.(42) Ver A. J.Tieje, A peculiar haseof the theoryof realism n pre-Richard-sonian prose-fiction", PMLA, XXVII(r9r3),pp.213-52.(43) "Elese ea descreverada bjetoe cada ransaoomo euma estemunhaocular ivessepresentadoconjunto omoprova" Lectures n heEnglsh omicwrit-ers(NovaYork,845), . 138).(44) Cartaa WalterWilson, 16 de de-zembrode 1822,Publicada n Wilson,Memoirsof the ift and timesof DanieldeFoe Londres,830,I I , p.428).

    2. OPBLICOLEITORE O SURGIMENTODO ROMANCT:(1) Londres, 904, . 2.Ver amhi'rrrHelen Sard Hughes, The mi

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    (44\ Memoirs, 1830'P. 65 '(45) Pamela, Everyman Edition' I' P'65.(46) N960.(47) E'd.1729,l ,P.xiv-(48) Frank Mott Harrison, "EditionsoI Pilgrm's progress", Lbrary, 43 srie,XXII (1941),p. 73.(49) Sou grato por essesdados a lvorW. J. Machin, "Popular religious works ofthe eighteenth century: their vogue andinfluence", tese de doutorado indita( 1939,Universityol London, pp. 14-5' 196-218).(50) Machin, P. 14.(51) Carta introdutria, 'To the rev.m. JonathanDustwick" '(52) Tatler,n9 64(1709).(53) Diary and correspondence of Phi'tip Doddridge(Londres, 1829), ' p. 152.(54) Literary essaysLondres, 1923)' p.651.(55) "Estimate of the value and in -

    fluence of works of fiction in modern ti-mes", Works,ed. Nettleship, ll, p. 27(56) Len'nart Carlson, The first maga'zine(Providence, . I . , 1938),pp.62-3,77(s7) N990(1731).(58) Ver StanleyMorison, The Englishnevrspaper Cambridge, 1932)' pp. 73-5'115,143-6;B. C. Nangle, The Monthlv Re-view. st.series, 749'1789 Oxford' 1934),p. 156.(59) Applebee'sournal, 31 de ulho de1725,c\t. William l-ee,Lift and writings ofDanelDefoe (Londres, 1869)' II, p. 410.(60) "The distressesof a hired writer",1761, n New essays,ed. Crane (Chicago'1927),.13s.(61)True atriot, P, 17 5-(62) "Literature, Social England, ed.H. D. Traill e J. S. Mann (Londres, 1904)'V, pp. 334-8.(63) Letters of doctor George Cheyne oRchardson, 1733-1743, ed. Mullett (Co-lumbia, Missouri ,1943), p. 48,51-2'(64) P.21.(65) Ver McKilloP, Richardson, PP.l(r . 27.2().1'4.

    (6) Cross, ieldng' , PP. 15'6.(67) Wo