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VOLUME 43ª RODADA

OPORTUNIDADES INTERFEDERATIVAS E METROPOLITANAS:DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO MUNICIPAL

DA RMBH

OPORTUNIDADES INTERFEDERATIVAS E METROPOLITANAS: Desenvolvimento Socioeconômico Municipal da RMBH

RODADAS DE ESTUDOS METROPOLITANOS

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PAINEL:PERSPECTIVAS ECONÔMICAS EDE DESENVOLVIMENTO PARA OSMUNICÍPIOS E A RMBH

AS RECENTES MUDANÇAS NA RMBH:CAMINHOS E PERSPECTIVAS

Ementa: Avaliação das perspecti vas econômicas e de desenvol-vimento para a RMBH e o Estado de Minas Gerais. Relevância da governança interfederati va das funções públicas de interesse comum para o desenvolvimento econômico e social da RMBH.Alexandre Magno Alves Diniz – Professor da Ponti fí cia Univer-sidade Católica de Minas Gerais – PUC/Minas e pesquisador do Observatório das Metrópoles

É preciso lembrar que a evolução de Belo Horizonte dentro do entorno da Região Metropolitana de Belo Horizonte teve forte infl uência do Estado. O Esta-do teve um papel preponderante no desenvolvimento da Região Metropolitana. Começamos com a própria transferência da capital de Ouro Preto para Belo Hori-zonte, em 1.897, fato que fez com que Belo Horizonte se consolidasse, ainda nos anos de 1920, como centro administrati vo estadual.

Um detalhe importante sobre Belo Horizonte é a sua posição geográfi ca pri-vilegiada, estando aí em proximidade muito grande com o quadrilátero ferrífero que, juntamente com o conjunto de incenti vos federais, fez com que houvesse nos anos de 1920 a 1930 uma expansão da siderurgia regional. Os anos de 1940 e os anos de 1950 foram muito importantes para o desenvolvimento metropolitano, uma vez que vários esforços foram feitos para fomentar o processo de industriali-zação, e destaca-se a implantação da Cidade Industrial, em 1.941, fato que enceta o processo de metropolização da RMBH. E esse processo de expansão industrial está vinculado a esse segmento minero-metalúrgico.

Nos anos de 1970, vivenciou-se na Região Metropolitana um momento mui-to importante, chamado de nova industrialização. Mais uma vez, com o apoio de diversas intervenções estatais, vários projetos de industrialização foram implantados na Região Metropolitana de Belo Horizonte. E destacam-se a expan-são da Cidade Industrial, a implantação do Parque Siderúrgico de Beti m e tam-bém a implantação da Cidade Industrial de Santa Luzia, todos voltados à produção de bens intermediários. Mas, em 1.976, foi vivenciado um marco. Um momento muito importante para o desenvolvimento econômico da Região Metropolitana: a instalação da FIAT. Com sua larga cadeia de fornecedores, acabou não só pro-movendo uma dinamização do processo de desenvolvimento econômico, como

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também uma reorientação da própria economia, uma vez que se passou a conso-lidar, o que podemos chamar de o Complexo Minério-metal-mecânico, em que se tem a manutenção da extração mineral, que está muito próximo do quadrilátero ferrífero, portanto, a siderurgia se mantem, e temos a fabricação de automóveis, caminhões, ônibus, ao lado da metalurgia de não-ferrosos, e esse Complexo per-manece até hoje.

Ao largo destas transformações, Belo Horizonte se consolida como um centro terciário muito importante e ainda o é. Nos anos de 1980 e 1990, viveu-se outro momento desse processo de desenvolvimento, marcado pela crise do aumento do desemprego e também do subemprego, com repercussões muito sérias na própria indústria da transformação, que foi afetada de maneira substanti va.

Nos anos 2.000, vive-se um processo de reprimarização da economia e, com a expansão do valor das commoditi es, a Região Metropolitana de Belo Horizonte acabou se inserindo nessa dinâmica neoliberal globalizada, como fornecedora de matérias primas e produtos primários. Então, isso é um detalhe muito importante neste processo recente de desenvolvimento da Região Metropolitana. Assiste-se também, em função dessa dinâmica, a uma modernização extremamente conser-vadora, uma vez que, inegavelmente, tem-se algum desenvolvimento econômico. No entanto, infelizmente isso não tem repercuti do em uma profunda transforma-ção social e, até certo ponto, a própria economia também não vem vivenciando uma grande reestruturação, uma vez que o modelo minério-metal-mecânico aca-bou sendo reforçado, nos últi mos anos, sobretudo em função da expansão das ati vidades da FIAT em Beti m e também em Sete Lagoas.

A evolução do emprego industrial deixa isso muito evidente. Nota-se que a curva referente a esse Complexo Minério-metal-mecânico sofre uma infl exão po-siti va, a parti r do ano 2.000, ao passo que a indústria tradicional está em constan-te decréscimo, reforçando, portanto, essa natureza conservadora, que vai reforçar também esse Complexo Minério-metal-mecânico, que se estabeleceu desde o iní-cio da industrialização da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Em função desse conjunto de transformações e deste contexto histórico, per-gunta-se: Que ti po de repercussões está havendo, no que diz respeito ao mercado de trabalho, à dinâmica demográfi ca, à mobilidade urbana, ao setor de transpor-tes, à estrutura socioespacial da rede metropolitana, ao mercado imobiliário? E a inserção na rede urbana da Região Metropolitana como um todo?

Com relação à questão do emprego e da renda, Belo Horizonte, como a Re-gião Metropolitana e também o Estado de Minas Gerais, vêm passando e vêm vivenciando um crescimento econômico expressivo, desde o início dos anos 2.000 até a metade dessa década. Todos sabem que a situação não anda muito boa, agora. Mas o que se assisti u foi uma expansão do número de postos no trabalho formal, o que foi muito positi va. Baixos níveis de desemprego, uma elevação geral dos rendimentos, mas uma alta concentração de todas essas benesses na região de Belo Horizonte, Contagem e Beti m, nessas áreas mais centrais da RMBH.

Um detalhe muito importante e que ajuda a entender a dinâmica metropo-litana, diz respeito à alta concentração do emprego formal em Belo Horizonte, Contagem e Beti m. Se forem analisados os dados de 2.010, verifi ca-se que quase

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90% do emprego formal da Região Metropolitana de Belo Horizonte encontra--se exatamente nestes três municípios. Isso vai ter repercussões muito sérias. Por exemplo: as viagens casa-trabalho, os movimentos pendulares, etc.

Do ponto de vista desta população, ocupada formalmente, temos um indi-cador interessante que revela esse poder concentrador do emprego formal da Região Metropolitana. Belo Horizonte, Contagem, Beti m e, em alguma medida também, Nova Lima, se destacam em população ocupada e contribuinte da Pre-vidência Social. Temos emprego formal e o contribuinte altamente concentrados nesta parte da região. Por outro lado, o que se nota, do ponto de vista de distri-buição de renda, é uma condição meio que polarizada. Esse é um indicador impor-tante e é bastante revelador dessas simetrias internas da Região Metropolitana, do ponto de vista da renda e do ponto de vista social também.

Dentre as famílias com renda per capita até um salário mínimo, se nota uma grande concentração destas famílias nos municípios mais periféricos e uma baixa concentração, do ponto de vista do emprego e também da renda obviamente, de pessoas com renda abaixo de um salário mínimo, exatamente naquelas regi-ões onde o emprego formal é maior: Belo Horizonte, Contagem, Beti m e também Nova Lima.

Neste ano, há profundas alterações, assim como no resto do Brasil, que dizem respeito à dinâmica demográfica - se vive um processo de envelhecimento da po-pulação como um todo, na Região Metropolitana. E com um detalhe importante: em 2.010, pela primeira vez na história, a população dos demais municípios da RMBH ultrapassou a população do município de Belo Horizonte. Então, Belo Ho-rizonte tem uma população ligeiramente inferior àquela do conjunto dos demais municípios desta região.

A Região Metropolitana, como um todo, vem passando por um processo de mudança demográfi ca na sua estrutura. O crescimento da população tem se dado de maneira muito intensa. O que se nota se forem comparadas as pirâmides de 1.980 e 2.010, é que em poucas décadas houve de fato uma reestruturação muito importante nesta composição populacional, mas também há algumas simetrias. Belo Horizonte está em um estágio mais avançado deste processo de envelheci-mento do que o restante da Região Metropolitana.

Outro aspecto fundamental para se entender a dinâmica metropolitana diz respeito ao exame das taxas de migração. Quando se analisa a Região Metropoli-tana como um sistema fechado e vê, exclusivamente, os movimentos migratórios que se dão entre os municípios da Região Metropolitana, nota-se um detalhe in-teressante: Belo Horizonte tem trocas líquidas negati vas com o restante da Re-gião Metropolitana. Ao analisar alguns períodos que o Censo dá como referência, verifi ca-se que Belo Horizonte, entre 1.986 e 1.991, perdeu 112.212 habitantes para a Região Metropolitana. Quem tem ganhado mais com essa história? Belo Horizonte está perdendo mais consistentemente de 1.986 a 1.991, de 1995 a 2000 e também de 2.005 a 2.010. Mas, os outros municípios têm ganhado mui-to, sobretudo aqueles da porção oeste, ou seja, Contagem, Beti m, em alguma medida, e o norte-central, Santa Luzia, Vespasiano e Ribeirão das Neves. O que vem acontecendo é que Belo Horizonte tem “expulsado” população para os mu-

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nicípios do entorno, fato que também vai acabar repercuti ndo na mobilidade interna na Região.

Em função deste crescimento populacional diferenciado, dessa “expulsão” de população, sobretudo de baixa renda, para os vários municípios do entorno, o que se assiste é uma intensifi cação do número de viagens casa-trabalho. Po-demos observar que de 1.992 para 2.010 houve uma expansão de 70% do nú-mero destas viagens diárias. Isso tem uma repercussão muito séria e nós todos vivenciamos isso diretamente. Destacamos dois vetores importantes de com-posição da Região Metropolitana: o Vetor Oeste - Contagem, Beti m e Ibirité, com seu Distrito Industrial, ao mesmo tempo em que recebe, também envia para outros municípios um número expressivo de trabalhadores. Ao passo que o Vetor Norte-central - Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano, também muito dinâmico, mas como cidades dormitório, ou seja, as pessoas vão lá para descansar e vão se deslocar para os municípios onde o emprego está localizado. Isso também é um detalhe importante.

Contagem, Ribeirão das Neves e Belo Horizonte aparecem em destaque, jun-tamente com Beti m e Santa Luzia, e estas pessoas estão indo para Belo Horizonte, Contagem, Beti m e Nova Lima, onde o emprego formal encontra-se concentrado. Tem-se um conjunto de elementos, que ao mesmo tempo em que fortalecem essa dinâmica, também, tem repercussões muito negati vas, sobretudo nos desloca-mentos, no trânsito.

Jupira Gomes de Mendonça – Professora do Núcleo de Pós-graduação em Ar-quitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e pesquisadora do Observatório das Metrópoles.

A parti r dessa dinâmica apresentada, percebe-se que há também uma dife-rença na forma de organização social dessa população no espaço metropolitano.

Falarei um pouco sobre a metodologia que o Observatório das Metrópoles tem usado, para tentar entender como a população está distribuída no território, qual a composição social desta população em cada lugar, qual é o grau de segrega-ção existente e se tem havido, ao longo do tempo, maior ou menor mescla social no espaço, ou maior ou menor segregação. Para fazer essa observação, trabalhou--se primeiro com uma informação que fosse comum para todas as regiões metro-politanas do Brasil. O Observatório é uma rede nacional e busca fazer, inclusive, comparações nessas dinâmicas existentes nas diversas regiões metropolitanas.

Em segundo lugar, era necessário ter uma representação da sociedade, dos diversos grupos sociais, de modo que se pudesse observá-los no território. E, para fazer isso, foi usada a variável ocupação do Censo Demográfi co, base de dados que existe para o Brasil inteiro. Ou seja, qual é o lugar do indivíduo no mundo do trabalho? Ele é empregador ou é empregado? Qual é o setor que ele ocupa? Ele é um operário do setor moderno ou tradicional? É um dirigente público, um dirigen-te privado ou um dirigente empregador? Então, foi organizado o grupo de pessoas que trabalha ou que trabalhou no ano anterior. No caso do Censo de 2.010, eles elegeram uma determinada semana, quer dizer, não dá para compararmos em números absolutos, mas dá para se comparar proporcionalmente, dentro desse conjunto de pessoas, como cada uma dessas categorias se comporta e esses gru-

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pos sociais foram recolhidos em oito grandes grupos, que mostraram ao longo das últi mas quatro décadas, determinado comportamento, que signifi cou, na verda-de, um resultado desta dinâmica que o Alexandre mostrou.

De modo geral, principalmente na últi ma década, esse é um comportamen-to que se apresenta no Brasil inteiro: os profi ssionais de nível superior cres-ceram muito. Não signifi ca que todos estão em ocupações de nível superior. Houve certa queda do número de trabalhadores do terciário e do secundário especializado. Há certa recomposição destes grupos e foi-se ver o que aconte-ceu com eles no território.

Esse mapa (apresentando um mapa em slide) mostra a composição social no território da Região Metropolitana por unidade territorial. O tamanho desta uni-dade vai variar de acordo com o número de pessoas que vive ali; são critérios estatísticos que têm a haver com um número mínimo de pessoas em um determi-nado território, para poder olhar os números, principalmente porque o IBGE tra-balha com uma amostra. Os dados não são para uma população inteira. No últi mo Censo, por exemplo, 5% da população foram entrevistados. Então, ao pegar um território muito pequenininho, aqueles dados podem não ser representati vos. Os municípios que são pouco populosos, por exemplo, prati camente representam um território em sua totalidade. Não dá para se olhar internamente, no muni-cípio, o que acontece. Mas o que se está buscando, principalmente, é ver esse comportamento na Região Metropolitana como um todo.

Aqui tem um mapa do ano de 2.000 e um mapa de 2.010 (novamente faz re-ferência a mapas apresentados nos slides). Esse trabalho vem sendo feito por nós desde 1.980. Não dá para comparar um mapa com o outro muito precisamente porque o IBGE mudou o desenho das áreas. Estamos trabalhando com uma área que o IBGE chama de: área de ponderação - que é a unidade que se usa para apre-sentar os dados do Censo. E o desenho dessas áreas mudou de 2.000 para 2.010, mas dá para, qualitati vamente, se entender onde esta população está e para onde ela foi.

De um modo geral, o que se tem visto, e isso, é mais ou menos comum em todas as regiões metropolitanas do Brasil inteiro, é essa configuração centro-periférica, em que juntamente com a concentração do emprego, da geração de riquezas e da renda, nas áreas centrais, tem-se também a concentração daqueles grupos sociais superiores na hierarquia social. É o lugar onde se concentram os grandes empregadores, os profi ssionais de nível superior, os dirigentes públicos e privados e parte de grupos ocupacionais médios, aqueles trabalhadores não manuais de nível médio.

À medida que se afasta em direção à periferia, vai havendo maior concentra-ção de trabalhadores menos qualifi cados: empregadas domésti cas, trabalhadores da construção civil, ambulantes etc. e nos espaços mais periféricos, há a concen-tração dos trabalhadores agrícolas. Ou seja, aquele 1% dos trabalhadores agríco-las da região metropolitana está localizado nesses municípios mais periféricos, que vêm se urbanizando. Ao longo do tempo, essa saída de população das áreas mais centrais para áreas mais periféricas, da qual Alexandre falou, está relacio-nada àqueles grupos sociais menos qualifi cados, sob o ponto de vista do mundo

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do trabalho, ou seja, com menor renda. São estes principalmente os que saem, e saem para lugares cada vez mais distantes.

Como resultado de toda essa dinâmica populacional, econômica, etc., há cer-ta expansão no território mais central e pericentral, de grupos de nível superior que se mesclam a grupos de nível médio. A novidade, já anunciada na década de 1980, mas que se fortalece nos anos 2.000, se chamando de certo aburguesa-mento daquele eixo industrial, principalmente, da região do centro do Barreiro, do Eldorado e de Beti m, assim como nesse espaço, que se está chamando de pe-ricentral. Há certa entrada, que também tem relação direta com a dinâmica imo-biliária, de profi ssionais de nível superior, em alguns casos de empregadores, se deslocando para esta região, provocando mescla social nesta periferia imediata da região de Belo Horizonte. E isso está relacionado com tudo que acontece no eixo da MG-30, em Nova Lima, com uma entrada para essa região. Os espaços mais periféricos se tornam mais populares, ou seja, esta estrutura centro-periférica permanece. Observa-se, aqui, uma permanente concentração destes grupos nos espaços mais centrais, que está ampliando e a permanente entrada desses grupos mais populares nos espaços mais periféricos, que são, na últi ma década, alguns dos espaços que mais crescem, principalmente com recepção de residentes que saem de Belo Horizonte.

Uma questão que se verá no horizonte é, mais uma vez, a marca da inter-venção estatal. Todo conjunto de investi mentos públicos que acontece e que vem acontecendo, que começou na metade dos anos 2.000, no Vetor Norte, vem anunciando uma nova forma de organização desse espaço, com alguns enclaves. Esses espaços, que historicamente são espaços periféricos, no sentido de serem espaços precários, com uma população muito pobre, etc., vêm agora recebendo novos empreendimentos. Ainda se coloca como alvo no horizonte porque o Censo não mostrou, não tem pessoas morando lá, mas tem aqueles empreendimentos em Pedro Leopoldo, Lagoa Santa, Vespasiano, como por exemplo, o Alphaville. En-fi m, empreendimentos imobiliários que acompanham alguns empreendimentos públicos, inclusive com uma expectati va de empreendimentos econômicos dessa chamada nova economia, de tecnologia mais avançada. Verifi ca-se certa mudança nas chamadas periferias, não só a norte, como a oeste também, com a chegada desses novos empreendimentos imobiliários e grupos hierarquicamente superio-res, reconsti tuindo certa composição ou alterando certa composição social, ao se olhar os espaços na sua localidade.

Também como fator associado a esta mescla de grupos sociais nesses espaços pericentrais, mais recentemente, começando em meados dos anos 2.000, está a dinâmica imobiliária, em que Tenda e MRV são as principais empresas, alcançando novos segmentos de renda, mas que se intensifi ca com o Programa Habitacional Minha Casa, Minha Vida e com empreendimentos imobiliários que vão se concen-trar, principalmente, em Contagem, Beti m e em alguns municípios ao norte. Essa transparência aqui, inclusive, é do Plano Metropolitano, que mostra um pouco esta concentração da intensidade de pressão imobiliária norte, sul e oeste, mas as que vêm, inclusive, trazendo um aumento muito importante naquela moradia do ti po apartamento e se verá mudança importante nas várias formas de morar.

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Aquela forma do lote isolado, a casa, um quintal como extensão da própria cozinha começa a mudar substancialmente com uma intensifi cação da moradia tipo apartamento que, até os anos de 1990, era tí pica dos grupos mais superiores da hierarquia social e que agora alcança todos os segmentos. Essa é uma ques-tão ainda a ser pesquisada: o que vem signifi cando essa nova forma de morar de alguns grupos sociais, que ti nham a casa e o quintal como moradia tí pica. Essa forma apartamento começa, inclusive, a se expandir, para esses segmentos de trabalhadores terciários, trabalhadores industriais, etc.

Ao mesmo tempo, a precariedade habitacional permanece. As favelas con-ti nuam com um grande crescimento populacional, não só dentro de Belo Hori-zonte, como há uma expansão na Região Metropolitana, inclusive com um in-cremento de domicílios o que o IBGE chama de domicílio subnormal. Uma parte desse crescimento diz respeito ao fato de que o IBGE começou a enxergar melhor aquilo que ele chamou de subnormal. Mas, de qualquer maneira, tem havido um grande crescimento, principalmente em Belo Horizonte, Santa Luzia e Vespasiano, naquilo que é essa habitação mais precária, com condições de infraestrutura pior.

Este é um trabalho que o Observatório fez também: entender o grau de in-teração do município ao processo metropolitano. Tem a haver com a mobilidade pendular, este fl uxo diário de gente, de mercadorias, com expansão de ati vidades urbanas, com crescimento populacional, etc. À medida que o tempo vai passando e que o processo de urbanização vai se ampliando no espaço, mais municípios vão se posicionando intensamente integrados ao processo de metropolização. Se no ano de 2.000 havia municípios muito fracamente integrados à metrópole, agora há uma quanti dade muito maior de municípios com alto e médio graus de integra-ção ao polo metropolitano, a Belo Horizonte, o que signifi ca intensidade de trocas, que se potencializam principalmente na década de 2.000. Dois municípios aumen-taram o grau de interação: Confi ns e Igarapé, que passaram de um grau baixo de interação para um grau alto, refl exo dessa dinâmica econômica e populacional que acontece na região norte. Confi ns, com investi mentos, com o polo industrial, etc. e Igarapé, como expansão do eixo industrial.

Nesta estrutura macro permanece, portanto, essa diferença entre concen-tração, centro de riqueza, de gente, de renda, com uma periferia cada vez mais distante, precária, etc., mas ao mesmo tempo há certa expansão, que no caso de Belo Horizonte, nas ulti mas décadas, contou com grandes investi mentos em infraestrutura. No nível metropolitano, pode haver esta contradição, da melhoria da infraestrutura, das condições de vida no município polo, que podem gerar mais saída de gente, principalmente porque o solo encarece.

Essa é a pesquisa do Observatório das Metrópoles, que tem sido feita ao longo dos últi mos anos e que foi consolidada recentemente, apresentando es-ses resultados.

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PERSPECTIVAS ECONÔMICAS EGOVERNANÇA INTERFEDERATIVA NA RMBH

Ementa: Avaliação das perspecti vas econômicas e de desenvol-vimento para a RMBH e o Estado de Minas Gerais. Relevância da governança interfederati va das funções públicas de interesse comum para o desenvolvimento econômico e social da RMBH.

Paulo de Tarso Almeida Paiva – Professor da Fundação Dom Ca-bral - FDC, ex-Ministro do Trabalho e do Planejamento e Orça-mento e ex-Secretário de Estado de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais.

Minha possível contribuição aqui é trazer algumas questões, principalmente sugerir alguns desafi os, para o planejamento da Região Metropolitana, olhando para o futuro. A equipe que me precedeu fez uma apresentação muito interessan-te, muito completa, ampla sobre a evolução da Região Metropolitana de Belo Ho-rizonte e eu quero dizer a vocês que a minha visão é bastante distante. Eu quero mais ou menos fazer uma comparação: estão olhando o conjunto das árvores e eu quero trazer aqui alguma ideia da tendência da fl oresta.

Desenvolvimento é um processo e em relação ao processo, vem mudança. Quero olhar um pouco à frente. Sugerir algumas tendências universais que afe-tam o processo de crescimento, consequentemente o desenvolvimento e que, certamente, irão afetar o desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Ho-rizonte no futuro. E para vocês, que têm a responsabilidade de planejar e gerir essa região, seria interessante colocar em refl exão alguns desses desafi os. Essa é a primeira parte.

A segunda parte eu gostaria de trazer também alguns desafi os, uti lizando al-gumas informações de desigualdades nessa região e termino sugerindo dois as-pectos que eu acho importante serem comentados, sob o ponto de vista da inclu-são. Eu estou sugerindo um desenvolvimento inclusivo sustentável e vou trazer uma observação mais específi ca sobre inclusão. Não vou discutir a questão da sustentabilidade. O tempo é pequeno e a discussão é muito ampla, então fi z uma escolha de olhar apenas um aspecto desse tema.

Nos últi mos 50 anos, de 1.962 a 2.012, a economia mundial cresceu bastante e, consequentemente, nesse embalo, a economia brasileira também cresceu, im-pulsionada basicamente por dois fatores. Um deles é o crescimento da moeda, o crescimento da população, que trouxe um crescimento da mão de obra e uma es-trutura em que tem peso maior a população mais jovem. Durante esse período de 50 anos, a população mundial mais do que duplicou. O segundo fator é o aumento da produti vidade. O valor de bem, o serviço produzido pelos trabalhadores (em 2.012 um trabalhador produzia quase duas vezes e meia mais que um trabalhador

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em 1.962). Esses são os dois fatores, os dois propulsores do crescimento econô-mico. E aí a minha primeira pergunta é se crescimento econômico e urbanização caminharam juntos. O que os dados consolidados mostram é a renda per capita e a urbanização no mundo em 1.980 e em 2.011 e há uma correlação bastante alta entra as duas coisas. Crescimento econômico e o aumento da renda per capita es-tão associados ao processo de urbanização, ou seja, à concentração da população nas regiões urbanas. Mas a taxa de crescimento econômico quando não associada ao nível de renda, não é tão claramente correlacionada com a urbanização, o que signifi ca que o crescimento não é necessariamente concentrado aonde há maior população urbana, mas há uma mudança nesse processo ao longo do tempo.

Então, no processo de urbanização, além desse crescimento da proporção da população de um determinado país, que vive nas zonas urbanas, nós temos outro processo, o processo da metropolização: concentração ou a inter-relação de vá-rios municípios, em que a ati vidade econômica concentra pessoas, os municípios próximos passam a ter uma inter-relação e a ati vidade econômica passa a ser tão imbricada entre eles, que se dá a isso o nome de metropolização.

Com relação ao desenvolvimento, quero chamar a atenção, olhando para trás, mas principalmente olhando para frente. A história para trás, no caso da Região Metropolitana, foi muito bem sinteti zada de maneira muito precisa pelo Alexandre e pela Jupira. O crescimento econômico é sinônimo de industrializa-ção, a industrialização, sinônimo de urbanização e, basicamente aqui, no caso do Brasil, esse processo se deu através de uma estratégia chamada industriali-zação via substi tuição de importações, em que você teve políti cas de incenti vos fi scais. O Alexandre contou aqui pra nós, rapidamente, mas com precisão clara sobre o que aconteceu nessa região metropolitana. No primeiro processo, nós separamos um pedaço do município, criando contraste para dar incenti vos fi s-cais para o processo de industrialização. Num outro momento, nós trouxemos uma empresa como a FIAT, que se concentrou em Beti m e demos incenti vos. Dentro da dinâmica deste processo de industrialização, através de mecanismos por incenti vos fi scais, o indicador para medir o desenvolvimento é a renda per capita. Quanto maior a renda per capita, maior é o grau de desenvolvimento para determinado país. Como mudanças, que não cabe aqui discuti rmos, olhan-do pra frente, esse processo é muito mais complexo. O crescimento da renda per capita é uma pressão necessária, mas não é sufi ciente. A renda cresceu, mas cresceu mais para umas do que para outras pessoas. Houve aumento da desigualdade.

Por outro lado, esse processo de industrialização está afetando as condições ambientais dos países de tal forma que, possivelmente, o nosso aumento da renda per capita hoje pode comprometer a possibilidade da renda per capita das gerações que irão nos suceder. Então, o crescimento hoje tem, além do cres-cimento econômico, essa dimensão da inclusão e a dimensão da sustentabilida-de. Isso muda profundamente o conceito de desenvolvimento, que leva a mudar as escolhas de políti cas públicas, que leva a mudar o papel do governo e o papel da sociedade civil, tanto do setor privado quanto das organizações do chamado Terceiro Setor, nesse contexto.

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E pra emiti r isso, já no fi nal dos anos 1980, início dos anos de 1990, um eco-nomista, Amartya Sen, juntamente com outras pessoas no Banco Mundial desen-volveram um indicador que poderia medir o lado principalmente do bem estar e da qualidade das capacidades e das oportunidades que eram dadas as pesso-as, o Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. E aqui no Brasil, basicamente a Fundação João Pinheiro, juntamente com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, desenvolveram esse mesmo indicador para os municípios, de tal forma que se pudesse medir e não apenas do ponto de vista do país, mas do ponto de vista dos municípios e dentro dos municípios, através de unidades, que é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH-M. Quero, na segunda parte, olhar um pouco as desigualdades da Região Metropolitana, uti lizando esse indicador.

Olhando pra frente, quais são as principais tendências? Quais tendências estão afetando o processo de desenvolvimento no mundo? Que afetam e que certamente afetarão as condições de desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte? São tendências que nós não temos controle sobre elas. Não serão decisões nossas que vão alterar essas tendências. E uma delas, inclusive, já foi mencionada, a questão do crescimento demográfi co e, associadas ao pro-cesso de urbanização, as mudanças tecnológicas e a globalização. Há trabalhos muito interessantes do McKinsey Global Insti tute que analisa essas questões. No caso demográfi co, nós já mencionamos o envelhecimento da população, mas eu queria chamar atenção para quais são as perspectivas disso, ou seja, o que vai acontecer pra frente. Esse processo de envelhecimento está se dando pela redução do crescimento da população e redução do número de fi lhos por mulher na idade fértil, representadas pela taxa de fecundidade total. As pessoas tendo menos fi -lhos, consequentemente diminui o número de pessoas que entram na população.

Então, se tomando a população sob o seu ponto de vista total, a parti cipa-ção relati va de cada idade nos dá uma estrutura etária, a pirâmide etária. Esse processo levará a população brasileira, em algum momento, a se estabilizar, pa-rar de crescer. Entre 1.900 e 2.000, no caso o Brasil, nós passamos de 17 milhões de pessoas para 173 milhões de pessoas, ou seja, crescemos dez vezes. Entre 2.000 e 2.040, nós vamos chegar a 228 milhões de pessoas. Esse será o total da população. Nós vamos estabilizar a população brasileira em aproximadamente 2.040. Isso é projeção, não necessariamente um número exato, mas nós vamos estabilizar uma população de 228 milhões de pessoas, que será uma população com uma estrutura etária, como já foi mostrado aqui, com parti cipação muito maior das populações de idade mais jovem. Nós vamos ter uma população de quase 230 milhões de pessoas e, basicamente, uma população mais velha. Esta vai ser a estrutura etária.

Quais são as implicações disso, sob o ponto de vista do crescimento econô-mico? Um dos fatores que puxou o crescimento econômico foi o crescimento da população. Então nós vamos, provavelmente, ter um impacto sobre a potenciali-dade de crescimento da economia, se nós não entrarmos na produti vidade. E eu gostaria que vocês guardassem na cabeça esse termo. Nós, para mantermos uma taxa de crescimento, para aumentar a renda per capita, não tendo crescimento da

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população, nós temos que ter crescimento da produti vidade. E isso vai me levar ao meu ponto fi nal que é o tema da educação. Do ponto de vista da urbanização nós vamos chegar em 2.040 com cerca de 230 milhões de brasileiros. E a tendên-cia da urbanização será mais ou menos essa. Nós temos mais ou menos 80% de população urbana, nós vamos chegar em 2.040 com 90%.

Então, nós vamos estabilizar nossa população em 230 milhões de pessoas, dos quais 90% estarão morando em cidades, o que signifi ca que nós vamos ter apro-ximadamente 205 milhões de pessoas em 2.040 morando em cidades. Duzentos e cinco milhões de pessoas é aproximadamente ou exatamente a população que nós temos hoje. É como se toda essa população de hoje fosse se mudar para a cidade. E o que vai ser necessário serão as pessoas que conti nuarão morando em zonas rurais. Temos esse processo: estabilização do crescimento e envelhecimen-to da população e a concentração da população em zonas urbanas. Essas são as duas primeiras tendências.

A terceira tem a haver com tecnologia, com a transformação. Vocês mais jo-vens talvez não consigam perceber o que tem acontecido, porque já nasceram em um mundo de tecnologia muito mais avançada. Quando eu estava chegando aqui, atravessei e vi aquela máquina a vapor (referindo-se à locomoti va exposta no mu-seu Abílio Barreto), que no início do século passado era uma máquina a vapor que nós tí nhamos aqui. Nós estamos caminhando para uma situação de se ter um au-tomóvel dirigido sem necessitar de motorista. Temos hoje celulares que têm uma capacidade de armazenamento e de processamento de dados muito maior que os mainframes que tí nhamos há 30 anos. Não só se tem mudanças muito profundas, mas a velocidade de transformação é muito rápida.

Uma das implicações disso, do ponto de vista do emprego, que nos foi mos-trada aqui, é que, possivelmente, quando nós chegarmos em 2.040, daqui a 25 anos, os empregos que teremos lá não serão os empregos que temos hoje. Possi-velmente 50% dos empregos que temos hoje serão substi tuídos pelas máquinas. Essa transformação tem impactos sobre a economia, impactos que eventualmen-te nós não conseguimos nem mensurar e nem nos planejar para eles, mas nós temos de ter consciência que esse processo, uma avalanche da nanotecnologia sobre o mundo, vem acontecendo.

E o quarto, que também foi mencionado aqui sob o ponto de vista da mobili-dade, é que nós temos um processo de conecti vidade (de colocar as pessoas, os fl uxos comerciais, os fl uxos de conexão entre as pessoas) crescendo numa veloci-dade tão grande e tão transformadora que você não necessariamente precisa ir a uma loja para comprar uma coisa. Hoje se pode comprar uma coisa que foi produ-zida nos Estados Unidos, que foi produzida na China ou em outro lugar do Brasil sem sair de casa. Tem-se uma transformação de circulação, como o comércio de bens e serviços, o fl uxo de investi mentos e capitais, a expansão internacional das empresas. A Prefeitura de Belo Horizonte tem um programa de internacionaliza-ção de BH que mostra exatamente essas transformações.

Nesse mundo que estou olhando à frente, olhei para a Região Metropolitana de Belo Horizonte e vi o que o IDH-M está me dizendo: do ponto de vista das pro-fi ssões dessa população, nós temos avanços importantes. Em 1.991, a maioria dos

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municípios ti nha esse índice muito ruim. O índice varia de 0 a 1, no qual 1 é o mais elevado. Então, nós tivemos um avanço importante, se olharmos que em 2.010, Belo Horizonte e Nova Lima têm o valor mais alto. Confi rmam-se todos os dados que foram mostrados, de que a periferia tem as condições piores de vida.

Agora, o que é importante e que eu queria chamar atenção é para a variação de 1.991 a 2.010 do IDH-M. Considerando os níveis, verifi ca-se que há uma ten-dência de que a variação é tanto maior quanto mais baixo é o nível. O que isso sig-nifi ca? Há uma tendência de redução da desigualdade nesse indicador. O IDH-M tem três indicadores: renda per capita, expectati va de vida ao nascer e educação, que são alguns indicadores quanti tati vos de parti cipação de jovens e jovens na escola. Olhando a diferença entre Belo Horizonte e Raposos, por exemplo, o valor máximo nesses três indicadores: renda, longevidade e educação, verifi ca-se que a diferença, em 2.010, de Belo Horizonte para Raposos é menor na longevidade, nos indicadores de mortalidade, das condições de saúde da população e é bem menor em educação. Há uma defasagem na educação. Se eu for olhar Belo Ho-rizonte e São Joaquim de Bicas é a mesma coisa. Verifi ca-se que a educação aqui é bem mais baixa. Os retângulos de condições de longevidade, de expectati va de vida são mais ou menos mais próximos. Em São Joaquim de Bicas e Raposos tam-bém a educação é mais baixa e Nova Lima, índice mais alto, também se verifi ca a diferença de educação. Enfi m, o que eu quero chamar atenção é que a diferença maior é de educação. Se nós olharmos, somando as unidades de desenvolvimento humano, que não é o município, mas são as unidades onde foram medidas, a mais alta é a região dos bairros de Santo Agosti nho e Lourdes, de Belo Horizonte, onde o IDH-M é quase 1, mais precisamente é 0,995, o de renda é 1, o de longevidade é 0,94, e de educação é 0,92. O mais baixo deles, eu peguei duas regiões que são exatamente iguais, que é a Vila Baronesa e Vila das Acácias, no bairro São Benedi-to, em Santa Luzia, e a Vila Ferraz, que é uma zona rural de Santa Luzia. Verifi ca-se que esses mais baixos têm 62% do índice de Belo Horizonte. Com relação à renda, 61%. Com relação à longevidade, 77.6%, no qual há muito mais aproximação. Na educação é quase a metade.

Do ponto de vista desses indicadores o que eu quero chamar atenção é que o que mais temos necessidade coleti vamente, solidariamente, é de atuarmos do ponto de vista de uma ação coordenada dos municípios da Região Metropolitana, com parti cipação dos entes do Estado e da União, para reduzir a diferença de edu-cação. Isso tem um efeito importante para melhorar a qualidade de vida da po-pulação de um lado e, de outro lado, tem um efeito importante porque é através da educação é que se têm condições de melhorar a produti vidade. Se eu não ti ver uma mão de obra mais produti va, não vou conseguir fazer face ao enfrentamento dessas mudanças, que estão aparecendo na nossa frente.

Para concluir, quero falar um pouco sobre quais são os papeis do setor público e do setor privado nesse campo. Eu acho que no crescimento econômico o papel do setor privado é gerar emprego e renda. Depois o Ricardo vai mostrar a possibilidade da captação e da participação dos recursos privados para investimentos, porque o setor público está limitado, não tem condições sozinho de fazer face a tudo isso. Isso foi no passado, hoje não é mais assim. Nós temos problemas de economias

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de escalas com os grandes empreendimentos industriais. Nós não vamos trazer outra FIAT para colocar aqui dentro, não há espaço pra isso. Nós não vamos criar outra Contagem. Isso já passou. Nós temos de ver os impactos das novas tecnolo-gias e identi fi car potencialidades e oportunidades desse novo mundo que está se oferecendo para nós.

Do ponto de vista do governo, quais são os papéis do governo? Fundamen-talmente são dois. De um lado, garanti r um ambiente de negócios favorável aos investi mentos. Esse é um papel fundamental do governo, em suas três esferas. Quem gera renda é o setor privado. Quem gera emprego é o setor privado e tem--se que criar condições de espaço, de estabilidade, de previsibilidade para que possam ocorrer os investi mentos e planejar e executar as políti cas públicas, que são funções do governo. E aqui eu quero chamar atenção para isso, porque que eu estou falando da educação, que nós temos duas questões. A primeira é que a renda per capita, a renda das pessoas, dos assalariados, se elevou nesse país nos últi mos vinte anos de uma maneira extraordinária. Mas não houve o acompa-nhamento da melhoria das políti cas públicas. A educação é um indicador disso. Nós melhoramos o nível de renda, mas não melhoramos a qualidade das políti cas públicas. É desnecessário eu mencionar isso, mas vou mencionar que as mani-festações populares de junho de 2.013 exigiam exatamente melhor qualidade de políti cas públicas. Esse é um desafi o que está na nossa mão. Nós temos que saber como enfrentá-los, como melhorar a qualidade de vida das pessoas. Quais são as escolhas estratégicas para reduzir desigualdades e melhorar a qualidade de vida? Eu quero apresentar duas sugestões relati vamente simples. Eu acho que é um pouco a coordenação da ação do setor público com o setor privado e envolve essas dimensões, envolve a inclusão social que eu estou chamando atenção, en-volve mobilidade urbana, envolve preservação ambiental.

Mas eu queria falar então, fi nalmente, quais são os desafi os que eu poderia sugerir à governança interfederati va nesse ponto. Eu acho que há necessidade de ações cooperati vas, isso é fundamental. Ninguém está sozinho nesse mundo e nessas condições ninguém vai resolver esses problemas, sozinho. Tem-se que ter em cada unidade federati va a coordenação das políti cas públicas dentro de cada estado. Há ações que se pode arti cular tanto com a Secretaria de Saúde, com a Secretaria de Educação, com a Secretaria de Ação Social. É uma ilusão imaginar, mas se pudesse transformar o orçamento em orçamentos-programas, em que se ti vesse uma ação coordenada das diferentes Secretarias com metas a serem cumpridas, isso poderia arti cular melhor essa ação entre os entes fe-derati vos e também com os setores privados, com o setor privado empresarial, mas também, e muito importante, com o Terceiro setor, com insti tuições e or-ganizações que têm compromisso com determinados programas que afetam a qualidade de vida das pessoas.

Olhando os planos estratégicos que serão elaborados, eu gostaria de dar duas sugestões: a primeira delas é para reter, para reduzir a desigualdade na educação, que é introduzir, também, metas qualitati vas como resultado do Censo de avalia-ção, por exemplo. No IDH-M nós temos indicadores de cobertura, de acesso à es-cola, mas possivelmente os municípios poderiam se comprometer em estabelecer

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para melhorar a educação também ter metas do ponto de vista do resultado do IDEB e que todos os municípios se comprometeriam em ajudar a todos a ati ngi-rem esses resultados.

E o segundo, que é um pouco mais técnico: acho que nós precisaremos desen-volver um indicador para avaliar a qualidade das políti cas públicas, não só ter um indicador que é a renda per capita, mas um indicador também que pudesse mos-trar como as políti cas públicas estão melhorando, como a qualidade de vida das pessoas melhora. Você tem uma região onde se tem um avanço da qualidade de vida, certamente se tem condições de melhorar as oportunidades de investi men-tos, geração de emprego e da sustentabilidade da vida das pessoas nesse lugar.

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INTERSETORIALIDADE, INTEGRAÇÃO ECOMPLEMENTARIEDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICASNA RMBH

Ementa: Importância do planejamento estratégico das políti cas públicas municipais e regionais da RMBH, considerando a inter-setorialidade, a integração e a complementaridade. Vantagens e desafi os da governança interfederati va e entre as políti cas públi-cas para o desenvolvimento da RMBH.

Cláudio Veras – fundador e atual vice-presidente da PRODES-COM, sócio-diretor da Veras Consultoria, consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, co--autor da Metodologia LIDERA RIO do SEBRAE RJ, reconhecida pela ONU como ‘Boa Práti ca em Políti cas Públicas’.

Quando se fala da questão do desenvolvimento, é importante reforçar o quanto que nós, do Sebrae Nacional, abordamos essa questão. Pode-se até ver que a origem eti mológica da palavra desenvolvimento: de no início, prefi xo de negação; envolvere, que vem do Lati m, movimento que é feito para dentro. Então, signifi ca ir ao contrário do movimento pra dentro, isto é, algo que vai para fora. E o paradigma que se trabalha é o seguinte: só é possível se desenvolver se você deixar de fazer, estar envolvido, com a forma atual de fazer as coisas. Você só con-segue se desenvolver se passar a fazer de uma forma diferente e é dentro dessa proposta, é dentro desta linha, que o Sebrae tem abordado a questão e, dentro do tema, também a intersetorialidade, a integração de políti cas públicas.

Não vamos tratar tanto da Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas va-mos falar da nossa experiência, do nosso fazer, do nosso prati car, como Sebrae Nacional em vários estados do país com o que temos feito nesse senti do. O Sebrae tem se aproximado da Prefeitura de Belo Horizonte, principalmente a parti r do momento em que o Prefeito Marcio Lacerda assumiu a Frente Nacional de Prefei-tos e temos discuti do isto com uma frequência maior sobre a possibilidade, inclu-sive, de trabalhar esse método, que faz parte de nossa estratégia nacional nesse senti do, que chamamos de: Líder – Liderança para o Desenvolvimento Regional.

O que é o Programa Líder? E como é que ele nasce? Bom, eu tenho que fazer um breve histórico do Sistema Sebrae nesse tema, como é que viemos tratando, até porque isto faz parte do desenvolvimento do Líder. Nós vamos buscar um pou-co destas experiências, com aquilo que ti nha dado certo, com aquilo que ti nha dado errado; todos os casos têm coisas boas, coisas ruins. E que aprendizados são ti rados disto.

Começamos em 1994, com o PRODER – Programa de Desenvolvimento de Emprego e Renda, em que o Sebrae, atuava nos territórios de forma mais pontual,

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focado no município. Avançamos, em 1996, com uma experiência poderosa, for-mamos no Brasil mais de vinte e seis mil idealistas. O Sebrae Ideal é um processo de formação de lideranças. Boa parte dos líderes que se tem hoje à frente dos municípios, à frente das instituições, parti ciparam do Sebrae Ideal. Eu costumo de vez em quando, quando estou fazendo palestras, perguntar assim: Levanta a mão aí se aqui têm idealistas! E, certamente, se tem uma boa parcela desse público, que foi idealista. Trabalharam muito forte a questão da liderança. Em 2.000, a es-tratégia de trabalhar com o Programa Sebrae Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável, também com foco no território, começa a se ampliar um pouquinho, já com uma visão um pouco mais microrregional. Experiência em 2.002, do Sebrae Ideal começa a aproximar a insti tuição com as políti cas públicas em São Paulo, porque o Sebrae tem foco nas micro e pequenas empresas e aí, durante muito tempo, foi paradigma trabalhar a questão pública, trabalhar com os municípios.

Conseguimos romper com alguns pontos. A própria visão do Tribunal de Con-tas da União - TCU, quando aplicávamos recursos em ações que envolviam os municípios, era assim: “Não, mas vocês não estão aplicando os recursos para o negócio do Sebrae, para o foco do Sebrae no desenvolvimento das empresas.” Foi gasto um tempo para se poder mostrar que, a parti r do momento que nós come-çávamos a trabalhar políti cas públicas, se melhorava o ambiente de negócios e, portanto, estávamos trabalhando para as micro e pequenas empresas, também ati ngindo o nosso foco, mas com uma estratégia diferenciada.

Em 2.003, um outro projeto: Estudos Avançados para Líderes Públicos, no Pa-raná, e o lançamento da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Esta Lei nos jo-gou, defi niti vamente, na realidade dos municípios. O Sebrae, então, através desta Lei Geral entra para viver o dia-a-dia dos municípios, das difi culdades dos municí-pios, dentro da proposta de se implementar os aspectos da região. Nós passamos a conhecer, entender, o que vivem os municípios.

Mas, em 2.005, no programa Gestão Municipal Empreendedora, processo no Rio Grande do Sul de capacitação de novos prefeitos, o Sebrae se lançou neste desafi o de capacitação. Capacitamos inúmeros gestores públicos, em destaque os novos prefeitos, vez que essas foram as eleições que ti veram a maior mudança de prefeitos no país. O índice chegava a 70% de novos prefeitos, gente que estava entrando, que não conhecia, não sabia o que era o município, como isso funciona e tudo mais e o Sebrae fez um grande trabalho no Brasil inteiro, nesse senti do.

Em 2.006, um programa que ti ve a felicidade de coordenar tecnicamente foi o Programa Lidera Rio, premiado pela Organização das Nações Unidas - ONU. Uma estratégia do Rio de Janeiro e que, inclusive, foi uma das bases inspiradoras do Líder, que se tornou depois nacionalmente uma estratégia.

Bom, essa realidade, esse vivenciar a situação dos municípios de uma manei-ra muito intensa, a parti r de 2.003, nos fez vivenciar algumas questões, algumas constatações. Primeira: o desenvolvimento ainda não é uma prioridade no co-ti diano da Administração Pública. O que o nosso contato com os municípios do Brasil inteiro, dos portes mais variados, permiti u ver é que o prefeito sabe tudo de saúde, sabe tudo de educação, sabe tudo de segurança, mas quando se pergunta: Mas e o desenvolvimento? O desenvolvimento é sempre uma agenda secundária

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e quando existe. Claro que, naturalmente, nos maiores municípios ela existe, mas nos municípios médios, pequenos e em alguns grandes, essa não é uma agenda existente, ou seja, se trata o desenvolvimento como coisa não planejada, ela é decorrente, não é uma ação causa-efeito.

O desenvolvimento também não é planejado federati vamente. A nossa opor-tunidade em trabalhar, inclusive, junto ao Governo Federal, em um determinado projeto, para determinado Ministério, que foca a questão do desenvolvimento, foi assim: ao chegar naquele território para poder trabalhar, conversando com o pre-feito, ele fala assim: Nossa, mas ontem eu recebi um colega seu. E falei: Ah é, me fale sobre isso. Na realidade, no mesmo Ministério, mas em outra diretoria, ti nha estado naquele território, um dia antes, um colega para fazer algo muito parecido. E há estratégias, existe um Comitê Interministerial e pode-se imaginar que loucu-ra é coordenar isto em nível federativo, de cima para baixo. A desintegração das demandas locais dos municípios, das microrregiões, regiões metropolitanas e a dispersão das ofertas comprometem a efi cácia das políti cas de desenvolvimento.

Quantas vezes o prefeito está despachando e chega um deputado e fala as-sim: Eu tenho uma verba, uma possibilidade de verba, uma emenda para isso. Aí o prefeito fala assim: Eu a quero, não vou perder esta oportunidade, mas, para o que mesmo é a verba? Em que eu posso uti lizá-la? Cai como um paraquedas, totalmente desintegrado, desalinhado. Eventualmente, até há a necessidade real de aplicação, de aquilo ser algo que possa gerar resultados efeti vos, transformado o IDH-M daquele local. Mas se conhece o resultado depois, aquela obra que fi ca abandonada, aquela ambulância que não tem como se viabilizar e esse cenário todos já conhecem.

Grandes empreendimentos são importantes por gerar riquezas e divisas es-truturais para uma economia regional e nacional, ou seja, deve-se ter em foco valorizar a importância do grande negócio para o desenvolvimento. Mas da mes-ma forma, também, as pequenas empresas são importantes para prover serviços, para gerar emprego, distribuir renda, diversifi car e dinamizar a economia local.

Como representante do Sebrae posso afi rmar que, nos momentos de cri-se, quem ainda conti nua gerando emprego, quem proporcionalmente gera mais emprego são os pequenos negócios. Eu estou apenas aqui chovendo no molha-do, mas é importante lembrar o papel dinamizador que a pequena empresa tem na economia. Costumo dizer que a grande empresa gera, atrai as riquezas, mas quem distribui quem faz rodar é o pequeno negócio, que está associado a esse grande negócio.

Outra constatação nossa: abordagens microrregionais tratam com relações e interesses reais e tangíveis entre os atores, favorecem a densidade regional, grupal e a formação de um capital social, sendo que há iniciati vas isoladas, num determinado município sozinho, tentando fazer alguma coisa e, se caminhar, será muito mais difí cil. Alcançar os resultados é um processo mais lento e muitas vezes não se consegue chegar ao sucesso. As estratégias que tratam abordagens micror-regionais e isto inclui uma região metropolitana, por exemplo, são estratégias que têm sido mais bem sucedidas ao longo do tempo. Isto a Literatura e quem traba-lha com documentos já falam disso, mas estamos falando de constatações nossas,

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do Sebrae, rodando o território nacional e vendo as coisas acontecerem. E uma boa governança pressupõe a parti cipação equilibrada entre os setores: público, privado e terceiro setor.

Ao levantar e estudar as iniciati vas, tendo em conta nossas próprias experi-ências do Sistema Sebrae de processos de desenvolvimento, se comprova que a boa governança, aquele processo que dura, que tem um bom capital social, objeti vos defi nidos no longo prazo, isto é, uma constância de propostas na bus-ca dessa boa governança, normalmente tem essa parti cipação equilibrada, essa parti cipação ati va. Isso nos leva a oti mizar recursos e produzir resultados trans-formadores. Na hora que se consegue juntar micro regionalmente, perceber o que se tem de demanda comum, o que se pode priorizar, então se juntam e se organizam as demandas e, a parti r daí, fi ca muito mais fácil pra se atender com uma políti ca pública, seja em nível federal, estadual, ou mesmo de uma região metropolitana. Fica mais fácil trabalhar, a parti r do momento que estas coisas se encontram alinhadas. E, fi nalmente, o que reúne pessoas e insti tuições é o interesse comum em torno de objeti vos comparti lhados. Acho que é óbvio falar isso, mas às vezes temos que repeti r o óbvio para poder lembrar o acordado em determinadas situações.

Diante disso, surge a proposição de uma estratégia para poder trabalhar essa dinamização, a questão do desenvolvimento em microrregiões e regiões metro-politanas. E o que é essa proposta? O Líder é uma tecnologia de arti culação, pla-nejamento e de gestão regional. Como é que isso funciona? Trabalha, no primeiro momento, a mobilização, a qualifi cação e a integração de lideranças no desen-volvimento de uma região. Mobilizadas, qualifi cadas e integradas vai se trabalhar um alinhamento dessas demandas nos planos locais e, a parti r daí, facilitar a con-vergência, a integração das políti cas de fomento estaduais, nacionais, ou aquelas que existi rem para que o desenvolvimento dessa região possa estar acontecendo. Como é isso na práti ca? Desenhando. O cenário que se tem hoje, ao se trabalhar uma determinada região, é que as demandas às vezes são parecidas, às vezes coincidentes, às vezes exige-se alguma complementaridade e fi cam aquelas polí-ti cas também das mais variadas, malucas. O ministério tal com a políti ca tal, outro ministério com a políti ca muito parecida, só muda o nome. Esse é o cenário que o Sebrae encontra na realidade dos municípios do Brasil. A proposição é fazer essa mudança acontecer.

Na realidade, é um processo inverso. Não se está propondo começar por cima, porque esta estratégia já foi tentada. A proposta é começar alinhando por baixo, pela população, pelas lideranças como modelo representati vo. A parti r do alinhamento dessas demandas, se desenvolve uma sensibilidade para que se pos-sa, naturalmente, também se fazer um alinhamento, uma convergência dessas políti cas públicas em relação àquele território. O fundamental e importante é que as pessoas do território defi nam suas prioridades e que essas prioridades sejam atendidas por meio de uma políti ca pública. Muda-se o paradigma daquela polí-ti ca pública, feita no gabinete, distante da realidade ou fazendo a leitura da reali-dade de forma fria. Traz-se esse protagonismo ao processo - de envolvimento da-queles que estão no território. Como se faz isso? Envolvendo gestores municipais,

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empresários e gestores do terceiro setor. É um processo representati vo, com perfi l de liderança e potencial de atuação no desenvolvimento regional sustentável.

Nesse processo de envolvimento, o que é importante e o que se tem: atu-ação integrada dos líderes, lideranças mais fortes e empreendedoras, pois se esti mula isso e o Sebrae sabe fazer isso muito bem, tem muita competência para fazer isso no âmbito do empreendedorismo. E não estou falando somente em negócio, mas na busca do empreendedor social, empreendedor em todos os senti dos, daquele que tem que fazer acontecer, empreender, defi nir e sa-ber aonde chegar e quando chegar, ou seja, estamos falando de metas; saber como chegar estou falando de um plano. Criar ferramentas, planos, projetos, instrumentalizar o pessoal para fazer isto acontecer e implementar e manter, no senti do de ter estrutura e insti tuições e, fi nalmente, monitorar, medir, corrigir, melhorar, aperfeiçoar esse processo.

De uma maneira geral, essa é a abordagem estratégica. Começa a se trabalhar no nível microrregional e, nessa abordagem é que entra o método Líder, de onde sai um programa de desenvolvimento regional. Na etapa, Encontro de Oportuni-dades de Arti culação e Negociação, traz-se do nível estadual e do nível federal, todas aquelas políticas públicas que, eventualmente, existem e são sintonizadas com aquilo que a própria região já começou a trabalhar. Então, a região passa a ter a visão do que existe de políti cas públicas teoricamente disponíveis e isso é um dos impulsos para que ela possa defi nir suas prioridades de desenvolvimento. Porque se parte também de um processo técnico em que se levanta tecnicamen-te, com a ajuda de especialistas, quais são as potencialidades que aquela região tem que dinamizar. Mas é importante fazer esse casamento e é esse casamento que acontece nesse momento, para que depois o grupo possa trabalhar, defi niti -vamente, as escolhas do futuro. E esse é um processo que se retroalimenta, traz um banho de realidade para aquele gestor público, para aquele que vem apresen-tar determinada políti ca pública, sobre o que está acontecendo, de quais são as necessidades do território. E isso também serve como retroalimentação para o avanço do desenvolvimento desse processo.

Esse desdobramento do programa de desenvolvimento microrregional se dá, em seguida, no nível municipal, em que o Sebrae ajuda a levar empreendimentos âncoras para o município, para o poder público e a sociedade civil. O empreen-dimento âncora tem que parti cipar desse processo de dinamização da economia, desse processo de desenvolvimento. E aí esse processo se desdobra num plano de desenvolvimento municipal, que está alinhado às prioridades do município, mas também com as prioridades da microrregião, com aquilo que a microrregião defi niu. E a nossa experiência tem sido riquíssima no senti do que, sozinho, nin-guém consegue nada. Mas na hora que se reúne 30, 22, 77 municípios, passa-se a ter voz, passa-se a ser escutado, se consegue fazer coisas que, sozinho, não se conseguiria. Vejam, por exemplo, obras de infraestrutura. Qual município sozinho consegue viabilizar uma determinada obra de infraestrutura? Mas na hora que se une, se mostra a prioridade, que está encadeada com uma série de outras ações, que vão ajudar a dinamizar a economia, gerar impostos, o poder de argumenta-ção e a capacidade de realizar é outra. Então, trabalhamos com três fases: pré-

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-operacional, que antecede a formação do grupo; operacional; e pós-operacional. Na fase pré-operacional, se identi fi ca a situação regional, a parti r de diag-

nósti cos que já existem. A riqueza de diagnósti cos que já existem é grande, não é necessário se fazer um novo. Se entende, a parti r daí, como funciona, como é a realidade dessa região. Começamos, em seguida, a trabalhar no processo de sensibilização e formação do grupo de líderes, uti lizado um método para poder identi fi car estas lideranças no território. Lideranças efeti vas e reais, pessoas que podem, efeti vamente, fazer diferença naquele processo. E aí, na fase operacional, são realizados oito encontros de 12 horas, espaçados de 15 a 30 dias. O projeto, como um todo dura nessa fase cerca de oito meses. Cada encontro tem, preferen-cialmente, manhã de um dia ou tarde de um dia e no outro o dia inteiro, normal-mente é isso. Esses encontros podem acontecer de forma iti nerante, se for uma escolha do grupo.

Sempre há uma confraternização, acelerando o processo de integração grupal, para se criar esta identi dade. Às vezes, se vive ali há anos, mas não houve a opor-tunidade de se conhecer o município que está a alguns quilômetros, conhecer a realidade dele e criar essa identi dade. Isso vai criando uma força muito grande na capacidade de transformação e mobilização daquele grupo. No primeiro encon-tro, o Sebrae constrói a coalizão e a identi dade grupal. É um encontro basicamen-te todo comportamental. Através da coalizão daquele grupo, do que os une, do que os faz estar juntos e trabalhar nesse processo, se começa a ter a percepção de como é que aquela região se percebe, começa o processo de autopercepção.

No Segundo Encontro: gestão comparti lhada da mudança. O que é a mudan-ça, como é um processo de mudança, como essa mudança acontece no individuo e como acontece coleti vamente. Explica-se, para eles, como se trabalha para cata-lisar esse processo, para entender e facilitar esse processo. A cada encontro, sem-pre convidamos “gente que faz”. Sempre tem o depoimento de um líder, gente que está fazendo a coisa acontecer no Brasil.

Já Encontro Três: trabalhamos o fenômeno da liderança com a questão do empreendedor em ação, para mostrar a força, para mostrar que eles são capazes de realizar juntos coisas que, a princípio, nem imaginavam. É uma dinâmica muito interessante, em que eles têm 24 horas para transformar uma determinada reali-dade em que estão inseridos. É um processo poderoso.

No Encontro Quatro: oportunidades de negociação e arti culação. Esse é um momento em que eles começam a receber os especialistas, os inputs, aquelas informações das políti cas públicas que existem. Começam a receber informações para começar a pensar o então futuro daquela região.

Já Encontro Cinco: fazem a escolha do futuro da região. Na realidade, como um processo que vem acontecendo desde o primeiro encontro, se começa a de-fi nir as potencialidades que vão ser, naquele momento, eleitas como prioridade para aquela região, sempre dentro de uma visão de longo prazo. Não se trabalha com menos de 10 anos, como visão de futuro.

No Sexto Encontro: a formulação das estratégias de desenvolvimento, quan-do se começa a planejar efeti vamente; eles são apoiados dentro desse processo, de como é que isso vai acontecer.

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No Encontro Sete: elaboração de um plano de ação. O quê, quem, quando, onde, como, quanto vai custar, quais são as metas, quem é o responsável por cada ação, como é que isto vai acontecer. Estão neste momento desdobrando em nível prático e possível de ser gerido, para que possam acompanhar e mo-nitorar estas metas.

E, no Oitavo Encontro: insti tucionalização e governança de uma região. A cada caso que vem sendo apresentado, em cada situação, eles vão conhecendo mode-los diferentes de insti tucionalização. Dependendo das prioridades, da forma e da consequência do objeti vo, como irão se organizar? Eles vão se organizar por con-sórcio? Essa é uma possibilidade. Depende do que foi defi nido como prioridade para aquela região. Vão se organizar como fórum? Ok, também é uma possibilida-de. Essa dinâmica vai acontecendo e um modelo de insti tucionalização é definido, um modelo de governança para a gestão daquele plano de desenvolvimento re-gional estabelecido.

Entra-se fi nalmente na fase pós-operacional em que, basicamente, é feito o monitoramento do cumprimento dos compromissos regionais e o Sebrae vai apoiando, porque é natural o processo de melhoria e aperfeiçoamento contí nuos. O Sebrae com seus especialistas, vem dando suporte para que isso possa acon-tecer. Acontece um fórum depois dos primeiros seis meses; um segundo, com 12 meses; um terceiro fórum, com 18 meses; um quarto, com 24 e, fi nalmente, um, com 36 meses. O Sebrae vai saindo desse processo, deixando cada vez mais segui-rem o caminho deles; é o momento de protagonismo deles, mas dando um apoio para que isso possa acontecer.

Bom, e qual é essa nossa visão de resultados? Lideranças regionais unidas em torno de um objeti vo comum. A região sabe o que quer e a políti ca pública come-ça a fi car, de alguma maneira, fácil de ser reorientada, redefinida ou até mesmo criada, se não existe, porque aquele território começa a saber o que está acon-tecendo. É estabelecer uma visão de futuro regional, não municipal; é criar uma agenda estratégica regional, é implantar e operar a insti tuição e o modelo de ges-tão nesse plano estratégico regional, que é defi nido e operado por um grupo ges-tor de desenvolvimento da região. Em Minas Gerais, são 18 Líderes já aplicados.

Temos uma experiência curiosa recente, no Rio Grande do Sul, de 2015. E ti vemos uma experiência anterior lá, de 2012. Estávamos na região da fronteira oeste, da Campanha Gaúcha, que tem, se eu não me engano, nove municípios grandes. A parti r de planos prontos, que se desdobram, naturalmente, em ações das mais variadas, que envolvem educação, ensino de empreendedorismo nas es-colas, tudo que possa dinamizar uma visão bem macro e vamos reunir três grupos dessa região e essa será uma estratégia de governo do Rio Grande do Sul junto com o Sebrae Rio Grande do Sul. Esses três grupos irão fazer agora a integração dos seus planos de desenvolvimento, integrando todo o extremo sul do Rio Gran-de do Sul, ou seja, a coisa foi tão interessante para o governo, facilitou tanto esse alinhamento, que agora nós vamos fazer a integração dessas três regiões num grande encontrão, nos dias 10 e 11 de dezembro, em Pelotas.

Qual é a nossa visão? O Sebrae sempre esteve muito preocupado em ajudar o Brasil a mudar essa situação, a transformar, mas o momento presente torna

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isso ainda mais críti co. Estamos falando do crescer sem medo, grande tema desse período. E entendemos que a importância de você oti mizar os recursos, de você alinhar as políti cas públicas e integrá-las é fundamental. Os recursos não podem ser mais desperdiçados, da forma como vinha sendo feito e surge essa estraté-gia: uma proposta de trabalhar para que, efeti vamente, possa ter essas lideranças como mobilizadoras desse novo processo de desenvolvimento, que faz mudar de lugar, que dá ânimo no senti do de alma, sopro de vida para que possa fi nalizar esse processo.

Um pouco dessa contribuição é o que o Sebrae traz para a Região Metropoli-tana de Belo Horizonte.

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PAINEL:INSTRUMENTOS PROPULSORESDE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICOINTERFEDERATIVO

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ODESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICOMUNICIPAL E INTERFEDERATIVO

Ementa: Avaliação dos instrumentos e das novas formas de mo-delagem de soluções de políti cas para o desenvolvimento socio-econômico local e interfederati vo, bem como para a interação entre os setores público e privado.

Ricardo Augusto Simões Campos – Presidente da PBH Ati vos S.A.

O tema que me traz aqui hoje são as políti cas públicas para o desenvolvimen-to sócio-municipal e interfederati vo e, dentro dele, o que cabe é discuti rmos um pouco sobre os instrumentos e as formas de modelagem, que podem propiciar a interação da iniciati va privada, no senti do de propor soluções de políti cas públicas para o desenvolvimento socioeconômico.

Inicialmente, necessitamos nos reportar um pouco ao Estatuto da Metrópole, para aquilo que ele dispõe sobre a questão da governança interfederati va das regiões metropolitanas. O Estatuto estabelece que devam ser respeitados alguns princípios e, aqui, destaquei alguns: a prevalência do interesse comum sobre o interesse local; a promoção do desenvolvimento urbano integrado; as peculiari-dades regionais e locais; a efeti vidade no uso de recursos públicos; o desenvolvi-mento sustentável. Além disso, estabelece também, que devam ser observadas algumas diretrizes e, entre elas, destaco aqui: o processo permanente e compar-ti lhado, de planejamento e tomada de decisão; o sistema integrado de alocação de recursos; o comparti lhamento das funções de interesse comum, com a parti -cipação da sociedade civil, no que diz respeito ao planejamento e à execução das obras; a compati bilização dos planos plurianuais.

Trago isto aqui para poder colocar o tamanho do desafi o que está aqui impos-to ao poder público. É um desafi o que exige do poder público o estabelecimento de um arcabouço políti co insti tucional que cria a ambiência necessária para a prá-ti ca dessa governança; que se estabeleça uma competência técnica capaz de de-senvolver processos que deem sustentação a essa governança; e por fi m, mas não

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menos importante, o desenvolvimento da capacidade econômico-fi nanceira, o qual, já foi dito várias vezes, fi ca extremamente limitado no que diz respeito à disponibilidade dos recursos públicos, principalmente limitados às receitas or-çamentárias. Hoje, as receitas estão extremamente limitadas, a sociedade está ati ngindo o seu limite de geração de receita. Foi colocada aqui a nossa incapaci-dade, dentro da região metropolitana, de nos desenvolvermos industrialmente, o que poderia vir a gerar novas receitas; a capacidade de endividamento limi-tada dos municípios que, com isso, difi culta a obtenção de fi nanciamentos; e a questão de convênios, que possam vir a ser fi rmados, com o governo estadual e com o governo federal, que muitas vezes vem alocar recursos em áreas que, de repente, não estão contempladas dentro das prioridades estabelecidas nos planejamentos firmados.

Sob o ponto de vista da execução, fi ca o poder público limitado no seu pró-prio corpo funcional, que tem limitações que todos nós conhecemos, sem poder caminhar na direção da terceirização ou da contratação de obras públicas. Nos projetos em que os recursos não são sufi cientes, há a necessidade e a oportu-nidade de se buscar estes recursos com o capital privado, que traria toda a sua capacidade de endividamento, que hoje ainda é bastante considerável, que tem uma disponibilidade grande, apesar da crise, das difi culdades de fi nanciamento. É uma situação transitória e, portanto, hoje existe essa disponibilidade para ser uti -lizada e trazendo, inclusive, formas de execução que possibilitem a parceria com o poder público, em que, para a implantação de empreendimentos de infraestrutu-ra, poderia se contar com as parcerias público-privadas ou as concessões ou, até mesmo, em determinadas situações, a privati zação propriamente dita.

Inicialmente, quando falamos de concessão, estamos falando de concessão comum e é necessário que se diferencie essas modalidades de parceria. A conces-são comum é aquela em que o poder público delega ao privado a execução de de-terminada ati vidade pública, em que a práti ca dessa ati vidade, desta prestação de serviço gerará receita sufi ciente para dar a sustentabilidade ao empreendimento, não havendo necessidade de nenhum aporte por parte do poder público, ou seja, o serviço se alto sustenta. Então, o serviço é delegado por um determinado prazo e, ao fi nal desse prazo, retorna ao município.

Outra condição seria a privati zação direta, ou seja, o poder público enten-de que tem determinada ati vidade que foge do escopo da ati vidade pública e, portanto, não deve ser manti da dentro do rol de preocupações do ente público. Então, aliena os ati vos ao privado e, daí para frente, passa aquela ati vidade a ser uma ati vidade eminentemente privada. Foi o que, em um determinado momento, o governo federal fez com o sistema de siderurgia, quando vendeu a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, e ela passou a ser uma empresa privada, assim como fez com o sistema de telefonia e outros setores dentro da economia brasileira.

A outra alternati va seria as Parceiras Público-Privadas - PPP. A PPP pode ser de característi ca eminentemente administrati va, e neste caso, o serviço é, nada mais, nada menos, que delegar ao privado a responsabilidade pelos investi mentos e pela prestação do serviço, mas esse serviço não gera receita, portanto, é neces-sário que a remuneração do privado se dê por meio de aporte do poder público,

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através de contraprestação, que vai remunerar o investi mento feito e o serviço prestado. A PPP patrocinada tem característi ca muito semelhante, entretanto, a ati vidade é capaz de gerar recursos, mas não sufi cientes para poder bancar total-mente o empreendimento. Desta forma, a parte que não é coberta pela receita gerada pela prestação do serviço é aportada pelo poder público, que complemen-ta a remuneração necessária para a sustentabilidade do empreendimento.

As grandes vantagens de uma PPP, ou de uma Parceria Privada, porque não se restringe estritamente à Parceria Público-Privada se estende também ao modelo de concessão, seria a aceleração do atendimento às demandas de infraestrutura do município, em que o município tem uma capacidade muito maior de empre-ender, no momento em que traz um parceiro, que passa a atuar junto com ele na prestação do serviço público e no desenvolvimento das ati vidades públicas. A ati -vidade ganha em efi ciência e qualidade e, com isso, o recurso público passa a ser melhor uti lizado, uma vez que está sendo dedicado em prol de uma prestação de serviço mais efi ciente, com melhor qualidade. Há um comparti lhamento racional dos custos. O privado faz o investi mento, assume a responsabilidade pelo inves-ti mento e, ao concluir, a responsabilidade sobre o investi mento não se estanca no momento em que a obra for concluída, passa a perdurar durante todo o prazo da concessão, em que ele é responsável pela prestação dos serviços gerados por aquele investi mento.

A responsabilidade do fi nanciamento passa a ser do ente privado, portanto, aumenta tremendamente a capacidade de fi nanciamento do setor público, uma vez que agregou a capacidade do privado. Os recursos públicos, hoje extrema-mente escassos, podem ser dirigidos às áreas prioritárias, mas as demais áreas passam a ter maior alternati va de serem contempladas e os empreendimentos e as obras têm condição de serem feitos de imediato. Dar o resultado e traduzir a prestação do serviço no imediato, mas, na verdade, o dispêndio com ela por parte do poder público, é diluído ao longo de toda a concessão.

Os instrumentos que nós temos para poder estabelecer essa parceria têm que ser trabalhados e é um envolvimento técnico que exige enorme competência. Nós estamos falando de algo extremamente complexo, porque será necessário mode-lar um negócio que tem duração de até 35 anos. Os riscos e a forma como esse negócio vai se desenvolver têm de ser previstos, porque a relação vai se estabe-lecer ao longo de todo este período, portanto, os estudos técnicos, os estudos de viabilidade econômico-fi nanceira que são necessários, a elaboração dos planos de negócio e toda a modelagem jurídica em termos da elaboração do edital, que vai gerar a licitação e o contrato, orientarão a relação ao longo da concessão.

Isso pode ser feito internamente, ou seja, com o município ou o poder público desenvolvendo com sua própria equipe e, para isso, ele precisa desenvolver uma experti se interna, para poder fazer esse ti po de modelagem, ou ele vai lançar mão de consultoria especializada, que traga para ele essa experti se sob gestão interna, ou ainda vai trabalhar isso de forma terceirizada. E para trabalhar isso de forma terceirizada, ou se trabalha com os procedimentos de manifestação de interesse, em que a iniciati va é do poder público, ou através de manifestação privada de interesse, em que a iniciati va é do ente privado. Em ambos os casos as vantagens

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que se tem aqui é que toda a parte de levantamentos, estudos técnicos, investi ga-ções, pesquisas é executado pelo privado. Todos os estudos que são gerados den-tro desse processo não necessariamente têm que ser uti lizados pelo poder pú-blico. Ele vai uti lizar esses estudos na totalidade, parcialmente, ou apenas como referência para efeito de produzir o edital e o contrato que moti varão a licitação.

A abertura ou aceitação de uma proposta de manifestação de interesse priva-do não traz qualquer obrigatoriedade do município em levar aquele empreendi-mento à licitação. Os direitos autorais destes estudos são todos transferidos para o município e, por outro lado, o município não tem qualquer compromisso com relação ao recebimento desses estudos, ou seja, quem fez os estudos, fez por sua conta e risco, e, portanto, não fi ca o município com a responsabilidade de dar a esse ente privado qualquer vantagem ou privilégio num procedimento licitatório público futuro, e nem poderia. E os interessados, que são autorizados a desenvol-ver os estudos, são responsáveis por todos os custos financeiros, não cabendo ao município qualquer espécie de despesa em relação a esses estudos feitos.

As principais vantagens para o poder público de lançar mão de procedimentos de manifestação de interesse ou de manifestação de interesse privado seriam: primeiro, a elaboração dos estudos independe de orçamento público para serem realizados, como eu já disse, o custo é de quem os faz. Confere maior celeridade ao processo, pelo fato de que, ao se lançar um processo de procedimento de ma-nifestação de interesse e receber os estudos ou de se aceitar uma manifestação de interesse, não se passa pelas exigências legais da Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993, ou seja, não é necessário fazer procedimento licitatório para isso. Assegura que o modelo de negócio proposto pelo privado está aderente com o mercado, ou seja, é o mercado que está trazendo a proposta, portanto, é uma proposta que vem na linha daquilo que o mercado aceitaria, portanto, a proba-bilidade de termos uma licitação de sucesso à frente aumenta enormemente. O governo oti miza os seus recursos disponíveis, ou seja, ele está usando uma mão de obra adicional, sem necessidade de arcar com essa mão de obra. Assegura a viabilização de projetos em setores inovadores, uma vez que, o mercado vai prospectar o que tem de melhor e a forma tecnologicamente mais avançada para poder se desenvolver esse serviço e aumenta a disponibilidade de diálogo entre o poder público e o privado, uma vez que, o canal é criado diretamente e de uma forma extremamente objeti va. Para as empresas existe melhor entendimento da óti ca pública, ou seja, o privado começa a conversar diretamente com o poder público e, desta forma, passa a entender de forma mais clara o que é prestar um serviço público. Ao ter a alternati va de parti cipar no desenho do modelo, não re-cebe o modelo de forma imposta. Ao se insti tuir a relação de confi ança, aumenta--se o diálogo e, quando se aumenta o diálogo, melhoram as condições de aces-sibilidade. Amplia a atuação do universo de negócio, uma vez que, ao se ampliar a perspecti va de atuação da iniciati va privada, abrem-se outros horizontes, com possibilidade de o privado atuar diretamente. E, amplia, também, a capacidade de diferenciação e inovação com relação a outras proponentes, ou seja, quem faz a proposta realmente tem uma capacidade maior de se desenvolver em termos da proposta feita.

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Finalmente, eu acho que é importante dizer que, ao se buscar o desenvol-vimento sustentável dos municípios, os recursos públicos poderão não ser sufi -cientes, situação que se vive hoje. Cada vez mais o setor público é demandado em investi mentos e empreendimentos para prestação de serviços que, se são extremamente complicados de ocorrerem, mais complicados ainda são os re-cursos necessários para se sustentar a manutenção com qualidade desses ser-viços prestados.

Todos nós sabemos que construir um hospital é uma tarefa extremamente árdua, extremamente cara, um investi mento extremamente alto, agora, manter um hospital funcionando signifi ca gastar por ano o que ele custou. Isso é extre-mamente complicado, quer dizer, você a cada ano tem que gerar receita para sus-tentar o novo hospital, no preço do hospital. Isso vale para a escola, isso vale para penitenciária, ou seja, isso vale para diversas áreas do setor público. Portanto, hoje é uma questão extremamente complicada, mantermos a prestação de ser-viço público com qualidade. Difi cilmente haverá recurso público sufi ciente para garanti r essa condição. A parti cipação privada é uma solução apresentada para superar este obstáculo, de forma que se possa garanti r a realização dos serviços de infraestrutura e a qualidade na prestação dos serviços, ou seja, se delega o in-vesti mento e a prestação de serviço, e o poder público passa a assumir a condição de ente regulador.

As parcerias com os privados são um importante instrumento de gestão pú-blica uti lizada amplamente em diversos países desenvolvidos, inclusive na esfera municipal. Hoje, isso é práti ca mundial, buscar a parti cipação privada para uma ati vidade pública. No Brasil, felizmente isso começa a se desenvolver porque efe-ti vamente é uma alternati va para que se possa caminhar na direção da melhoria da qualidade do serviço público.

Os Procedimentos de Manifestação de Interesse – PMI e as Manifestações de Interesse Privado - MIP têm se mostrado como uma alternati va para o po-der público, no senti do de desenvolver, de forma mais rápida, essas ati vidades. A parceria privada tem hoje um desenvolvimento bastante razoável e caminha a passos largos para cada vez mais se desenvolver de forma efeti va sobre aquelas ati vidades de cunho local, aqueles serviços locais. Porém, é necessário que haja a conscienti zação para que o grupo de municípios que consti tuem as regiões me-tropolitanas possa ter a alternati va de trabalhar com as parcerias privadas, não de forma isolada, mas começar a pensar nessa alternati va de forma ampla, de forma metropolitana, em que os ganhos de escala certamente se traduziriam em benefí cio a todos os cidadãos dos municípios, e daí, é importante o conceito da governança interfederati va na região metropolitana.

Um dos grandes desafi os que o Estatuto da Metrópole trouxe e que ainda não está devidamente equacionado. Avança-se de forma razoável em direção à parce-ria privada em cada município, mas ainda não se descobriu uma forma de se bus-car esse importante instrumento de forma comum, que é uma prática possível de ser obti da. Em Belo Horizonte, está em curso, contratada e implantada, aquilo que nós chamamos da PPP da Educação. Foram construídas cinco unidades de ensino fundamental e 46 unidades de ensino infanti l, em que a parte pedagógica cabe ao

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município e a parte de suporte e apoio é entregue ao privado. O aterro sanitário, que hoje é responsável pela disposição fi nal de resíduos sólidos no município de Belo Horizonte, é de operação privada. O Hospital Metropolitano, o privado cons-truiu o hospital, equipou o hospital. Toda parte assistencial, ou seja, a parte mé-dica vai fi car a cargo do município e toda parte de suporte e apoio será entregue ao privado, durante um período de 20 anos. Serão reformados e construídos 77 Centros de Saúde ao longo do município dentro dessa mesma concepção: a parte assistencial fi ca por conta do município e a parte de suporte e apoio, por conta do privado. Além disso, nós temos em desenvolvimento a PPP da Iluminação Pú-blica, em que a gestão dos serviços de iluminação pública do município de Belo Horizonte vai ser delegada a um privado, que terá a responsabilidade de colocar em todos os pontos a iluminação prevista na norma brasileira e, ao fi nal de cinco anos, assegurar uma economia de energia para o município de Belo Horizonte da ordem de 45%.

O projeto de gestão do Zoológico, do Parque Vereda, Parque Santa Lúcia, Par-que Municipal das Mangabeiras e a implantação do Centro de Convenções de Belo Horizonte, que nós devemos publicar edital de licitação, enfi m, todos esses são empreendimentos com a parti cipação da iniciati va privada. Os empreendi-mentos que demonstrei, que já estão contratados, representam 1 bilhão de reais, trazidos da iniciati va privada para a prestação de serviço público no município nas áreas de Educação, Saúde e Saneamento. É extremamente relevante e acredito que simboliza uma alternati va concreta, da qual se precisa lançar mão. É funda-mental que elas sejam também prati cadas nas ati vidades de cunho comum.

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DESENVOLVIMENTO INTERFEDERATIVO:INTEGRAÇÃO ENTRE OS SETORES PÚBLICO E PRIVADO

Ementa: Avaliação dos instrumentos e das novas formas de modelagem de soluções de políti cas públicas para o desenvolvi-mento socioeconômico local e interfederati vo, bem como para a interação entre os setores público e privado.

Teodomiro Diniz Camargos – Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais -FIEMG, Sócio-fundador e Diretor do Insti tuto Horizontes, ex-Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais - Sindus-con-MG, ex-Presidente do Serviço Social da Indústria da Cons-trução Civil no Estado de Minas Gerais - Seconci-MG; ocupou cargos na Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC.

Nós estamos saindo de um período que eu chamaria de Planejamento 2D e passando para um Planejamento 3D. O 3D refere-se à parti cipação da socieda-de, o seu envolvimento, para que haja desenvolvimento. A fundamentação do 3D está no Estatuto das Metrópoles, é uma das relações e, talvez, seja a parte mais sensível do processo, a mais difí cil e será necessário aplicar em tecnologias de desenvolvimento e o SEBRAE está fazendo isso, usando tecnologias de diálogo com a população. Esse é o ponto: dar sustentação e sustentabilidade a projetos de localidades, de cidades, de projetos metropolitanos e projetos de estado. Essa construção de tecnologias, que visam trazer a população para dentro do projeto, é o que cabe na questão do planejamento urbano metropolitano.

Nós passamos por uma fase muito longa de construção de planos diretores par-ti cipati vos, mas desenvolvemos muito pouco a interação, o envolvimento da popu-lação na questão do desenvolvimento urbano. Nós agora entramos nessa fase do metropolitano e precisamos aplicar o 3D. Acho que o envolvimento da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG na construção do Plano Diretor de Desenvolvi-mento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte - PDDI RMBH, já é um avanço. Consti tuiu aí um momento parti cipati vo, mas agora o grande desafi o é ti rar isso do papel e levar isso para as regiões, envolver os agentes de fato, para cons-truir as prioridades e, a parti r dessas prioridades, criar os planos de obra e aplicar os instrumentos. Então, diria que nós saímos de uma posição anterior, que era: dinheiro público abundante e a licitação como elemento de desti nação daquele dinheiro em obras, seguindo, às vezes, planos diretores em 2D e não 3D. Esse é um momento anterior e estamos entrando no momento presente, que é um novo ambiente, em que há uma convicção plena, em todas as falas isso fi ca patente, sobre a necessidade de se criar planos sustentáveis para que isso possa ser imple-mentado. Diante desse novo momento, essas tecnologias se fazem fundamentais.

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Nós estamos vivendo, nestes dias, um movimento chamado de “virada cria-ti va”. Fizemos um trabalho no Vetor Oeste: o Plano de Ações Imediatas do Vetor Oeste. Concluímos com a proposta de criação de um fórum permanente do Vetor Oeste. É muito importante criar um fórum permanente de desenvolvimento, in-tegrando aquela comunidade, prioridades, empati as e sinergias conti das naquela região, como forma de agrupar as pessoas em torno de metas e projetos para fa-zer um avanço daquelas comunidades, de uma forma integrada, potencializando tudo que eles têm. Quer dizer, são tecnologias, são processos que visam exata-mente ti rar do papel e transformar em 3D, transformar em realidade.

Precisamos pensar muito na qualifi cação da parti cipação social, estruturar. Vejo, por exemplo, a grande difi culdade que nós temos em ter cadastro de orga-nizações sociais, por exemplo. O primeiro ponto que nós estamos levantando no Vetor Oeste é desenvolver, buscar, fazer cadastro de todas as enti dades e todos os agentes que atuam naquela região, para poder criar uma mobilização e estruturar a rede. Ou seja, nós estamos iniciando este processo. Nem mesmo o poder públi-co tem isso de forma bem estruturada. Na Conferência Metropolitana, apresenta-mos a necessidade de construção desses cadastros e foi um dos itens aprovados, para que se tenha um ponto de parti da de mobilização, de estruturação. Depois, quando se consegue o cadastro, se verá que há muita difi culdade em trazer essas pessoas, trazer essas lideranças regionais para uma mesa de diálogos, mesmo que por assuntos específi cos. O SEBRAE deve viver isso permanentemente com essa tecnologia, que foi mostrada aqui hoje.

A fundamentação dessa mudança de paradigma é criar a defi nição dos pro-jetos prioritários da região, para que nós possamos chegar à fase de projetos que sejam de interesse prioritário da comunidade e expor as ferramentas, as tecnolo-gias para fi nanciá-los.

Foi dito aqui que o recurso público é fi nito, mas o recurso privado também é fi nito e é disputado de forma global, não é mais disputado de forma local. Então, nós temos que estabelecer estruturas de capitação que sejam competentes e que sejam viáveis, em termos de competi ção intercidades, inter-regionais e até mesmo globais. Fazer isso é criar um ambiente de negócios, um ambiente de in-teração em que se tenha, em primeiro plano, transparência. Nós falamos dos ins-trumentos PPP e de outros poderosos e importantes, que já começam a ser apli-cados, mas nós não criamos ainda um ambiente estruturado e transparente para que esses instrumentos sejam mais bem aplicados e com uma velocidade maior. Nós não podemos esquecer que estes instrumentos não podem fi car limitados aos grandes projetos, às grandes empresas, porque temos projetos de todos os tamanhos, de toda natureza. Eles precisam ser democrati zados e, para que isso possa acontecer, nós precisamos criar ambiência transparente e de formatação de aculturamento, não só do poder público, mas do setor empresarial.

Estamos vivenciando, na PPP, ofertas a parti r de análises pontuais feitas por empresas nos municípios, mas que não estão em consonância. Às vezes, aquelas ofertas são efi cientes mercadologicamente, possíveis de serem feitas, quer dizer, economicamente viáveis, mas não são prioridades daquele município. Vai se co-mer primeiro a cereja do bolo, a tendência é sempre essa. Se um ambiente não

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ti ver formatado, se um plano de obras não ti ver uma prioridade muito clara para submeter ao mercado, o mercado primeiro vai buscar a cereja do bolo. Primeiro vamos faturar, depois veremos se a obra é de interesse ou não. É muito comum já haver hoje ofertas de PPP para construção de Centros Administrati vos em cida-des mineiras. Será que isso é a prioridade? Será que esse é o uso do instrumento adequado que nós precisamos? Em minha opinião, faltam estruturas de apoio, de divulgação e democrati zação e de informação.

Eu diria que nós precisamos criar agências de parti cipação empresarial e pú-blica de desenvolvimento, de inteligência, de qualifi cação de processos, de de-senvolvimento de garanti as, de agências que vão democrati zar a informação e a capacitação para fazer as PPP. As PPP têm que estar de olho, para que sejam socialmente justas e mercadologicamente adequadas. Primeiro, elas têm que estar ligadas a planos de desenvolvimento de cidades, de regiões e de estado. Num segundo momento, entrando no mercado, elas precisam estar permeáveis em todas as camadas da população, como conhecimento e, principalmente, em todas as camadas empresariais. Não podemos esquecer que a PPP pode ser para executar uma grande obra, um grande centro de convenções, um grande centro de eventos, mas pode também servir para manutenção de duas ou três escolas de uma cidade pequena. Temos que criar esse ambiente.

O ponto que se coloca para a Região Metropolitana é a criação desse ambien-te de desenvolvimentos, de estudos e de desenvolvimento de informação para democrati zar os instrumentos de PPP e os instrumentos de possibilidades de uso do dinheiro privado e do dinheiro, às vezes, da própria comunidade, em torno de um projeto social interessante. Unir a sociedade e a comunidade, especifi camen-te, em torno de um projeto que interessa a todos e unir todos que se interessam em investi r um pouco de dinheiro naquele projeto, desde que esteja bem estru-turado, com a sociedade bem mobilizada em torno do que ela quer, do que é o caminho para seu próprio desenvolvimento.

A grande preocupação nesta questão da PPP é a democrati zação, a informa-ção e a criação de mecanismos permanentes de inter-relacionamento. Não po-demos esperar que o empresário, com qualquer capital, venha para um ambien-te que não tenha absoluta transparência e conhecimento amplo. Se não houver transparência, o capital em geral não vai se apresentar. Os grandes capitais, às vezes sim, porque eles conseguem buscar o caminho, o diálogo, a demanda, mas com certeza, nos tempos em que nós vivemos todo mundo já entendeu que esse não é o caminho. As organizações públicas não podem mais se ater a fazer par-cerias público-privadas com grandes players. Têm que enxergar todo o mercado como ele é. A maior preocupação é que a PPP precisa ser democrati zada, para que possa ser efi ciente e de fato responder a todas as demandas que possa e deva responder. A transparência e as negociações para a construção de uma PPP são fundamentais. O estado, mesmo que queira fazer internamente, tem que fl uir com esse debate, nos possíveis grupos interessados e no mercado. Deve haver, desde o principio, esta troca, caso contrário, nós chegamos a elementos que vão apresentar licitação vazia. Quem vai investi r quer saber, desde o princípio, qual será toda a trilha do negócio.

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Tivemos a visita da Prefeitura de Ourem Fáti ma, de Portugal. Vieram com um plano estratégico de obras prioritárias e uma linha muito bem determinada do que o município queria do seu desenvolvimento. Fiz uma pergunta ao Prefeito de Ourem: Prefeito, como foi a parti cipação da sua comunidade em torno desse pla-no estratégico, do qual o senhor já vem com as obras, com viabilidade econômica, com um desenho muito bem feito, todo muito bem estruturado? A resposta foi relati vamente simples: O sistema parti cipati vo municipal é bem estruturado. Tra-mitado no Sistema Câmara Municipal e nos Conselhos Públicos, se criou o plano. A parti r daí, o plano foi estruturado com empresas privadas, dialogando, pesqui-sando o mercado e fechando em obras bem estruturadas. E vem disputar o nosso mercado de capital, para levar o dinheiro para Portugal, mostrando claramente onde é que nós estamos nos metendo, nesta questão de buscar recursos privados. Nós vamos competi r com o mundo, claramente com o mundo. Nós não temos competi ção local, nem uma área especifi ca para isso. Desenvolvimento via PPP tem que buscar capital de forma aberta e o mundo já aprendeu isso. E para que isso possa ser possível, nós temos que ser absolutamente transparentes, absolu-tamente competentes e desenhar modelos que vão ser competi ti vos com o mun-do. Nós estamos entrando numa nova tecnologia, numa nova forma, que para nós é nova, mas para o mundo, nem tanto.

A título de exemplo: uma missão de Brisbane, Austrália, esteve em Belo Ho-rizonte, em um convênio da universidade de Brisbane com o Governo do Estado e, durante a visita em que foram apresentados alguns projetos, foi mostrado um projeto que exemplifi ca a potencialidade da questão PPP: um parque público em Brisbane, que conseguiu estabelecer uma PPP vitoriosa, que dotou o parque de uma gestão competente, obtendo a sati sfação dos usuários e de todo mundo que está no entorno daquele parque, em torno da qualidade da gestão que se im-plementou naquele parque. Fazendo um paralelo sobre a difi culdade de nossa população quanto a equipamentos, a quanti dade de parques que nós temos hoje fechados na Região Metropolitana e que não estão abertos ao público, é possível ver que nessa área de qualidade de vida a PPP tem muito que fazer, na prestação de serviço público de qualidade.

Quero apostar também na assunção, por parte dos empresários e da popu-lação, de planos estratégicos e planos de desenvolvimento de cidades e a FIEMG vai fazer um trabalho nesta linha. Eu acho que para a Região Metropolitana nossa aposta é neste Vetor da Região Oeste, mas para as cidades mineiras, o exemplo que Maringá está aplicando, e que nós já temos em Minas, em Uberlândia e Patos de Minas, que são planos estratégicos formatados pelas enti dades e lideranças da cidade. Esses planos são submeti dos à assinatura e concordância por parte dos candidatos e, a parti r da eleição, os prefeitos fi cam submeti dos a trilhar esses planos, que são planos da comunidade. Penso que, mais uma vez, são tecnologias importantes para o desenvolvimento de planos, para se chegar em PPP que sejam sustentáveis.

Em Patos de Minas, eu ti ve a sati sfação de estar na abertura do evento, eles ti nham uma cidade de 150.000 habitantes. Eles ti nham lá 25 enti dades no Salão e 1.100 pessoas da cidade. Uma mobilização maciça em torno do que queremos

OPORTUNIDADES INTERFEDERATIVAS E METROPOLITANAS: Desenvolvimento Socioeconômico Municipal da RMBH

RODADAS DE ESTUDOS METROPOLITANOS

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para Patos de Minas. Eles estão produzindo um projeto de planejamento da cida-de de Patos de Minas, que vai ser acompanhado e trilhado pela própria popula-ção, independente do poder público. Estes são alguns casos já vislumbrados, do que se espera para o futuro, para chegarmos a PPP melhores.