vogue | edição especial rio de janeiro

2
VOGUE BRASIL 189 Em berço de tinta Jaime Portas Vilaseca, Ricardo Kimaid, Filipe Masini, João Sobral, Gustavo e Guilherme Carneiro nasceram entre quadros e molduras, compraram a primeira obra de arte antes dos 22 anos e se tornaram jovens galeristas que estão agitando a cena contemporânea carioca POR BETA GERMANO FOTO: VICENTE DE PAULO PRODUÇÃO DE MODA: ANDREA KANTER 188 VOGUE BRASIL ico de olho em tudo. Fui treinado para isso”, diz sem ro- deios Jaime Portas Vilaseca, so- bre os nomes que está começan- do a representar. Ele faz parte de uma nova leva de galeristas que está despontando no Rio de Ja- neiro e que inclui ainda Ricardo Kimaid (Galeria Movimento), Gustavo e Guilherme Carnei- ro (Galeria Inox), Filipe Masini (Athena Contemporânea) e João Sobral (Galeria Tramas). Os seis nasceram cercados por arte, compraram a primeira obra an- tes dos 22 anos e estão chacoa- lhando a cena cultural do Rio. Ricardo Kimaid Jr. está na es- trada há mais tempo. Seu artista- -xodó, Toz, assistiu de camarote seus grafites valorizarem quase 40 vezes em cinco anos (passan- do de R$ 1.000 a R$ 40 mil). Ricar- do faz parte da terceira geração de galeristas da família. Seu avô, Rachid Kimaid, abriu em 1936 a Galeria Rachid, que tinha obras de Volpi, Di Cavalcanti e Porti- nari. Seu pai e tio expandiram o negócio – fazendo molduras e restauração – e inauguraram, na década de 70, a Rembrandt Artes e Molduras. Quando terminou a faculdade de design gráfico, Ricardo se juntou a eles para fazer os catálogos e os convites das exposições organizadas pela família. Em seguida, assumiu a Galeria Rembrandt – especiali- zada em nomes já consagrados que pararam de produzir. Aos 30 anos, abriu a Galeria Movimen- to, dedicada à arte de rua, que re- presenta nomes como Toz, Br e Tinho (considerado por alguns o pai do grafite). Começar a carreira traba- lhando com molduras, como foi o caso de Ricardo e também do colega Jaime Portas Vilaseca, permite um contato muito pró- ximo com artistas e coleciona- dores. A mãe de Jaime, Lucia, é artista plástica. Seu pai, de quem ele herdou o nome, é moldurei- ro há 41 anos – desde que Clari- ce Lispector visitou o ateliê de marcenaria dele e sugeriu que Da esquerda para a direita: Jaime Portas Vilaseca com obras de Jonas Aisengart e Alê Souto; Ricardo Kimaid Jr. com peça de Toz; Filipe Masini com criação de Anna Paola Protasio; João Sobral com quadro de João Machado; e os irmãos Gustavo e Gulherme Carneiro com pintura de Smael fala - se de arte usasse sua sensibilidade para engrandecer outras obras –, ten- do trabalhado com estrelas como Antonio Dias e Iberê Camargo. Jaiminho (como os amigos o chamam) aprendeu o ofício com o pai enquanto exercia seu lado agitador cultural – com o Men- tes Urbanas, reuniu 16 artistas de rua em um grande evento na boate 00,em 2007 e em 2008; com o Embaixada Pernambuco, uniu música e poesia do estado à uma exposição de novos artistas de todo o Brasil, caso do desenhista Gabriel Giucci, hoje representa- do por ele. Depois de revitalizar uma loja da família no Museu da Repúbli- ca e abrir uma filial meio moldu- raria, meio galeria no Leblon, em 2009, Jaiminho alçou voo solo. Nascia a Galeria Jaime Portas Vi- laseca, que tem em seu portfólio jovens sucessos como Antonio Bokel e Heberth Sobral. “Procu- ro essencialmente artistas com produção de qualidade e dedica- ção,como é o caso da pintora Ana Freitas”, diz, orgulhoso, mostran- do o livro que a carioca fez para participar de uma residência em Nova York, no ano que vem. Para 2012, Jaime está or- ganizando uma mostra só de gravuras, reunindo todos os ar- tistas que representa. “Vamos montar 40 álbuns com dez gra- vuras cada. Assim, será possí- vel comprar por um preço mais acessível obras de Bokel, Pedro Meyer ou Amador Perez (que está com uma exposição na ga- leria até o dia 3 de dezembro).” Do grupo de novos galeristas, João Sobral, de 31 anos, é o que tem o histórico familiar ligado à arte menos diretamente: “Meus pais e tios eram colecionadores, mas não faziam isso profissio- nalmente. Frequento leilões desde pequeno e acabei me interessando profundamente pelo assunto. Comecei a montar minha própria coleção e decidi seguir carreira na área”. Sua Ga- leria Tramas, no Shopping Cassi- no Atlântico, tradicional reduto artsy no Rio, abriu as portas em setembro de 2010 com exposi- ção do concretista Osmar Dillon. Diferentemente dos outros do grupo, Sobral não se limita à arte contemporânea e representa integrantes do movimento con- cretista, sua verdadeira paixão. O veterano Paiva Brasil também faz parte de seu time ao lado de apostas como Renato Santana (em exposição neste mês). “É bacana acompanhar artistas em formação, mas comprar e vender obras daqueles que tiveram um percurso sólido e que não produ- zem mais é também muito pra- zeroso”, compara Sobral. inha só 20 anos quando comprei um quadro do Smael na lendária Galeria Haus. Dei- xei de fazer muita coisa para juntar esse dinheiro”, conta Gustavo Carneiro, de 29 anos, que na época iniciava sua co- leção. A Haus foi um fenôme- no na cidade, e seu idealizador, Marco Aurélio, é citado por to- dos os jovens galeristas como exemplo pela capacidade de identificar novos talentos e conseguir vendê-los. “Ele era mestre em convencer as pesso- as a comprarem seus quadros, mesmo estando com o preço acima do mercado”, diverte-se Gustavo, que trabalha com o irmão, Guilherme, de 27 anos. T “F

Upload: portas-vilaseca-galeria

Post on 08-Mar-2016

218 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Clipping Portas Vilaseca Galeria | Revista VOGUE.; Edição Especial Rio de Janeiro. Novembro de 2011.

TRANSCRIPT

Page 1: VOGUE | Edição Especial Rio de Janeiro

Vogue Brasil 189

Em berço de tintaJaime Portas Vilaseca, Ricardo Kimaid, Filipe Masini, João Sobral, Gustavo e Guilherme Carneiro nasceram entre quadros e molduras, compraram a primeira obra de arte antes dos 22 anos e se tornaram jovens galeristas que estão agitando a cena contemporânea cariocapor beta germano fo

to: V

iCe

Nte

De

Pau

lo P

ro

Du

ÇÃo

De

Mo

Da:

aN

Dr

ea

KaN

ter

188 Vogue Brasil

ico de olho em tudo. Fui treinado para isso”, diz sem ro-deios Jaime Portas Vilaseca, so-bre os nomes que está começan-do a representar. Ele faz parte de uma nova leva de galeristas que está despontando no Rio de Ja-neiro e que inclui ainda Ricardo Kimaid (Galeria Movimento), Gustavo e Guilherme Carnei-ro (Galeria Inox), Filipe Masini (Athena Contemporânea) e João

Sobral (Galeria Tramas). Os seis nasceram cercados por arte, compraram a primeira obra an-tes dos 22 anos e estão chacoa-lhando a cena cultural do Rio.

Ricardo Kimaid Jr. está na es-trada há mais tempo. Seu artista--xodó, Toz, assistiu de camarote seus grafites valorizarem quase 40 vezes em cinco anos (passan-do de R$ 1.000 a R$ 40 mil). Ricar-do faz parte da terceira geração de galeristas da família. Seu avô, Rachid Kimaid, abriu em 1936 a Galeria Rachid, que tinha obras de Volpi, Di Cavalcanti e Porti-nari. Seu pai e tio expandiram o negócio – fazendo molduras e restauração – e inauguraram, na década de 70, a Rembrandt Artes e Molduras. Quando terminou a faculdade de design gráfico, Ricardo se juntou a eles para

fazer os catálogos e os convites das exposições organizadas pela família. Em seguida, assumiu a Galeria Rembrandt – especiali-zada em nomes já consagrados que pararam de produzir. Aos 30 anos, abriu a Galeria Movimen-to, dedicada à arte de rua, que re-presenta nomes como Toz, Br e Tinho (considerado por alguns o pai do grafite).

Começar a carreira traba-lhando com molduras, como foi o caso de Ricardo e também do colega Jaime Portas Vilaseca, permite um contato muito pró-ximo com artistas e coleciona-dores. A mãe de Jaime, Lucia, é artista plástica. Seu pai, de quem ele herdou o nome, é moldurei-ro há 41 anos – desde que Clari-ce Lispector visitou o ateliê de marcenaria dele e sugeriu que

Da esquerda para a direita: Jaime portas Vilaseca com obras de Jonas Aisengart e Alê Souto; ricardo Kimaid Jr. com peça de Toz; Filipe Masini com criação de Anna paola protasio; João Sobral com quadro de João Machado; e os irmãos Gustavo e Gulherme Carneiro com pintura de Smael

fala-se de arte

usasse sua sensibilidade para engrandecer outras obras –, ten-do trabalhado com estrelas como Antonio Dias e Iberê Camargo. Jaiminho (como os amigos o chamam) aprendeu o ofício com o pai enquanto exercia seu lado agitador cultural – com o Men-tes Urbanas, reuniu 16 artistas de rua em um grande evento na boate 00, em 2007 e em 2008; com o Embaixada Pernambuco, uniu música e poesia do estado à uma exposição de novos artistas de todo o Brasil, caso do desenhista Gabriel Giucci, hoje representa-do por ele.

Depois de revitalizar uma loja da família no Museu da Repúbli-ca e abrir uma filial meio moldu-raria, meio galeria no Leblon, em 2009, Jaiminho alçou voo solo. Nascia a Galeria Jaime Portas Vi-

laseca, que tem em seu portfólio jovens sucessos como Antonio Bokel e Heberth Sobral. “Procu-ro essencialmente artistas com produção de qualidade e dedica-ção, como é o caso da pintora Ana Freitas”, diz, orgulhoso, mostran-do o livro que a carioca fez para participar de uma residência em Nova York, no ano que vem.

Para 2012, Jaime está or-ganizando uma mostra só de gravuras, reunindo todos os ar-tistas que representa. “Vamos montar 40 álbuns com dez gra-vuras cada. Assim, será possí-vel comprar por um preço mais acessível obras de Bokel, Pedro Meyer ou Amador Perez (que está com uma exposição na ga-leria até o dia 3 de dezembro).”

Do grupo de novos galeristas, João Sobral, de 31 anos, é o que

tem o histórico familiar ligado à arte menos diretamente: “Meus pais e tios eram colecionadores, mas não faziam isso profissio-nalmente. Frequento leilões desde pequeno e acabei me interessando profundamente pelo assunto. Comecei a montar minha própria coleção e decidi seguir carreira na área”. Sua Ga-leria Tramas, no Shopping Cassi-no Atlântico, tradicional reduto artsy no Rio, abriu as portas em setembro de 2010 com exposi-ção do concretista Osmar Dillon. Diferentemente dos outros do grupo, Sobral não se limita à arte contemporânea e representa integrantes do movimento con-cretista, sua verdadeira paixão. O veterano Paiva Brasil também faz parte de seu time ao lado de apostas como Renato Santana (em exposição neste mês). “É bacana acompanhar artistas em formação, mas comprar e vender obras daqueles que tiveram um percurso sólido e que não produ-zem mais é também muito pra-zeroso”, compara Sobral.

inha só 20 anos quando comprei um quadro do Smael na lendária Galeria Haus. Dei-xei de fazer muita coisa para juntar esse dinheiro”, conta Gustavo Carneiro, de 29 anos, que na época iniciava sua co-leção. A Haus foi um fenôme-no na cidade, e seu idealizador, Marco Aurélio, é citado por to-dos os jovens galeristas como exemplo pela capacidade de identificar novos talentos e conseguir vendê-los. “Ele era mestre em convencer as pesso-as a comprarem seus quadros, mesmo estando com o preço acima do mercado”, diverte-se Gustavo, que trabalha com o irmão, Guilherme, de 27 anos.

“T“F

Page 2: VOGUE | Edição Especial Rio de Janeiro

foto

s: D

iVu

lgaÇ

Ão

190 Vogue Brasil

Galeria MovimentoSob tutela de ricardo Kimaid, o artista multimídia Bruno Bogossian (vulgo Br) é integrante do Fleshbeck Crew e foi um dos responsáveis pelo boom do grafite no rio. Acima, Macro Sistema

Galeria Jaime Portas Vilaseca

Antonio Bokel, representado por Jaime portas Vilaseca, mostra

sua nova série Equilibrista (acima)

Galeria InoxSucesso na Artrio com a instalação Mil Corações

(abaixo), Adriana Eu injeta feminilidade ao

time de Gustavo e Guilherme Carneiro

Galeria Tramaso concretista osmar Dillon, de 81 anos, é um dos destaques de João Sobral, que já é fã do movimento. Ao lado, a obra Tu EuGaleria Athena Contemporânia Conhecido por pintar os esgotos de São paulo e fotografar o resultado, Zezão é represenado no Brasil unicamente por Filipe Masini de 22 anos. Abaixo, Gold #2

fala-se de arte

em arte contemporânea e mo-derna da America Latina, em Nova York. Tanta precocidade tem explicação: Filipe é filho de Liecil Oliveira, dono da Galeria Athena, que atua com força no mercado de arte moderna desde 1994. Nessa carreira, o apoio dos pais faz muita diferença (prin-cipalmente na hora de adqui-rir a primeira obra), mas Filipe diz querer seguir um caminho diferente. “Quero representar artistas novos e com qualidade. Quero crescer com eles.” As úl-timas aquisições de sua Athena Contemporânea mostram que ele entende do riscado: é o único representante do artista de rua Zezão no Brasil; descobriu o ar-gentino Abel Ventoso; e, neste mês, exibe obras da arquiteta Anna Paola Protasio, que já ex-pôs na Casa França Brasil, no Museu de Belas Artes e, em 2012, tem mostra agendada no MuBE.

Sem dúvidas, você ainda vai ouvir falar muito desses no-mes. Melhor, portanto, apostar neles desde já.

Os dois decidiram montar sua própria galeria meio que por acaso, em 2009. “Descobrimos o trabalho do Orion em um livro de street art, mas foi tão difícil encontrá-lo que resolvemos representá-lo”, explica o caçu-la. Ambos estudaram direito, mas logo se dedicaram exclu-sivamente à Inox, com acervo de artistas conhecidos e repre-sentação de novos nomes. O pai deles, Gilberto Affonso, é dono de um antiquário. Foi a mãe, no entanto, que os levou para o caminho das artes. Teresinha Carneiro é marchand no cha-mado “mercado secundário” (que negocia obras de artistas que já não produzem) e foi refe-rência na educação dos filhos.

Mais novo do grupo, Filipe Masini também se formou em outra área (economia, na PUC) antes de se dedicar às artes in-tegralmente. Ele tem apenas 22 anos, mas em sete meses de tra-balho já participou de duas fei-ras de peso: a da Hebraica (em São Paulo) e a Pinta, especialista