editorial casa vogue

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166 CASAVOGUE.COM.BR Vista do tanque e do pavilhão dos fundos. Na pág. ao lado, o terraço junto ao jardim de inverno, com móveis feitos de fibra e alvenaria e acessórios com tecidos africanos e provençais ESTA CONSTRUÇÃO FICA NO SUL DA FRANÇA, MAS PODERIA ESTAR NUMA PARAGEM DA ARGÉLIA, COM SEUS ARES DE MESQUITA, UMA MARCANTE CÚPULA E EXTRAVAGÂNCIA ORIENTAL. A BELEZA DAS PEÇAS ANTIGAS ENCONTRADAS NO INTERIOR MISTURA-SE À EXUBERANTE ÁREA EXTERNA POR ROBERT COLONNA D’ISTRIA | FOTOS JEAN-FRANÇOIS JAUSSAUD O ORIENTE VAI À PROVENCE FRANÇA

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Trabalho realizado para revista Casa Vogue

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Vista do tanque e do pavilhão dos fundos. Na pág. ao lado, o terraço junto ao jardim de inverno, com móveis feitos de fibra e alvenaria e acessórios com tecidos africanos e provençais

Esta construção fica no sul da frança, mas podEria Estar numa paragEm da argélia, com sEus arEs dE mEsquita, uma marcantE cúpula E Extravagância oriEntal. a bElEza das pEças antigas

Encontradas no intErior mistura-sE à ExubErantE árEa ExtErna por robErt colonna d’istria | fotos JEan-françois Jaussaud

O Oriente vai à PrOvence

frança

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Móveis Napoleão III, como a cadeira vermelha, e peças orientais, caso da mesa síria incrustada de madrepérola, compõem o jardim de inverno. O piso quadriculado estende-se até o terraço, ao fundo

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vende-se uma vila mourisca do século 19.” O anúncio da propriedade localizada na região da Provence, na França, aguçou a curiosidade do decorador Frédéric Méchiche, que visitou o lugar. “Foi amor à primeira vista”, lembra o francês. “Muito bonita, a casa correspondia perfeita-mente à arquitetura de Argel, onde passei a infância, na época otomana,

ou seja, uma arquitetura simplificada, pura”, diz. Ele a comprou. Um arquiteto suí-ço instalara ali, em meio a vinhas e oliveiras, o pavilhão em forma de koubba. Essa palavra árabe designa uma cúpula e, por extensão, os prédios que fazem parte dela. Diferentemente de muitas construções de apelo oriental, essa não era simplesmente ornamentada com elementos daquela região. Segundo o profissional, sua inspiração, planta e alma eram orientais.

A pureza e harmonia originais haviam sido desfiguradas por acréscimos sem in-teresse, como varandas, pavimentos cobertos com lajes modernas, alpendres e cores agressivas. Para recuperá-las, os trabalhos foram longos e difíceis. A sorte do deco-rador, nessa empreitada, foi contar com o suporte de uma equipe de jovens artesãos competentes, apaixonados e entusiastas.

Encontram-se no lugar, ao mesmo tempo, um pé-direito muito alto, sob a cúpula, e outros bem baixos. Da mesma maneira, há portas altíssimas e outras pelas quais só se pode atravessar abaixado. A planta da construção é labiríntica. A casa não é muito grande, mas, semelhante a um palácio das mil e uma noites, parece ter sido feita pa-ra sonhar, passear e se perder, com seus desníveis, passagens, átrios... Cômodos são abertos uns para os outros, assim como os três dormitórios ligam-se ao exterior, a ter-raços e pátios. Por vezes, chega a ser difícil afirmar se são os interiores ou os jardins.

À dir., numa das paredes do jardim de inverno, destacam-se o espelho sírio e candelabros do século 19. Na pág. ao lado, as portas de metal abrem-se para o estar, monumental em razão de sua cúpula

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Ao lado, no estar, objetos antigos do Oriente Médio ficam sobre a mesa desenhada por Méchiche, como os sofás. Abaixo, uma das várias passagens, com seus desníveis. Na pág. ao lado, o quarto, cuja cama tem cabeceira feita com a parte frontal de um baú sírio do século 18

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À esq., o pequeno salão árabe tem, em primeiro plano, na parede, porta--turbante sírio do século 18 com vaso Meissen, cadeira e poltrona Napoleão III, além de fotos orientais antigas. Na pág. ao lado, a esculpida fonte no pátio ligado ao salão árabe

Essa dúvida é alimentada pelos pisos, que lembram um tabuleiro de xadrez, em preto e branco, e cobrem indistintamente terraços e salões.

Frédéric Méchiche associou peças orientais e mobiliário Napoleão III para mo-biliar a casa. Na pesquisa de peças de coleção, como cerâmicas e bronzes iranianos do século 10, ou elementos do século 19, ele percorreu os antiquários das regiões que compõem “seu” Oriente: desde Argel até Samarcanda, passando por Cairo, Damasco, Beirute, Jerusalém, Istambul e Ispahan. Sem falar de Londres, Paris ou da região da Côte d’Azur. “Comecei a procurar objetos antes do início dos trabalhos. A busca, em-bora tenha, por vezes, atingido as raias da obsessão, foi sempre um grande prazer”, observa. Durante as pesquisas, Méchiche encontrou algumas maravilhas, como por-tas antigas hoje instaladas no salão sob a cúpula e portas de cedro do século 18.

Batizada com o nome de Aziyadé – heroína do romance assinado pelo francês Pierre Loti, que simboliza o Oriente sonhado pelos europeus e sempre fascinou o proprietário –, a casa não seria nada sem o jardim que a prolonga e protege. Frédéric Méchiche o projetou à maneira dos jardins do norte da África, com ornamentos, fon-tes, pequenos quiosques, lugares para repousar, salões de verão. Ao mesmo tempo que restaurava a construção, plantou no terreno espécies como nespereiras, romãzei-ras, jasmins, além de palmeiras e roseiras. Ele traçou o jardim de maneira particular: chega-se à propriedade por meio de uma longa rota num campo seco e, depois, vem o deslumbre, já nas proximidades da casa, do frescor da profusão de vegetação, com di-reito a um tanque com chafariz, que faz as vezes de piscina. O jardim é uma aparente confusão de plantas emaranhadas, como se estivessem ali há muitos anos, embora te-nham sido trazidas pelo decorador. n