vivências urbanas na cidade de serrinha ba (1917-1919)

43
1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV COLEGIADO DE HISTÓRIA RAFAELLA DE LIMA CAPISTRANO VIVÊNCIAS URBANAS NA CIDADE DE SERRINHA - BA (1917-1919) Conceição do Coité BA 2010

Upload: uneb

Post on 30-Jun-2015

2.926 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

1

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV

COLEGIADO DE HISTÓRIA

RAFAELLA DE LIMA CAPISTRANO

VIVÊNCIAS URBANAS NA CIDADE DE SERRINHA - BA

(1917-1919)

Conceição do Coité – BA

2010

Page 2: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

2

RAFAELLA DE LIMA CAPISTRANO

VIVÊNCIAS URBANAS NA CIDADE DE SERRINHA - BA

(1917-1919)

Monografia apresentada ao Curso de

Licenciatura em História da Universidade do

Estado da Bahia – UNEB - Campus-XIV,

como requisito parcial para obtenção de grau

de Licenciada em História.

Orientador: Prof. Ms. Rogério Silva.

Conceição do Coité – BA

2010

Page 3: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

3

TERMO DE APROVAÇÃO

RAFAELLA DE LIMA CAPISTRANO

VIVÊNCIAS URBANAS NA CIDADE DE SERRINHA - BA

(1917-1919)

Monografia apresentada ao Curso de graduação em História, Departamento de Educação - Campus

XIV, Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada

em História, pela seguinte banca examinadora:

Aprovada em ___/____/2010

_________________________________________________

Professor - Examinador 01

Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus XIV

_________________________________________________

Professor - Examinador 02

Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus XIV

________________________________________________

Professor Ms. Rogério Silva- Orientador

Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus XIV

Conceição do Coité – BA

2010

Page 4: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

4

RESUMO

A discussão sobre o estudo das cidades no Brasil durante o século XX foi caracterizado por

uma sociedade pautada na idéia de progresso e transformação. Com o advento da República

surgiu uma nova dinâmica social, política e econômica que influenciou diretamente nas

reformas urbanas. Sendo assim, a formação da concepção de modernidade surge com a

remodelação de grandes cidades como o Rio de Janeiro que foi modelo para as outras capitais.

As reformas urbanas também tinham como objetivo copiar os modelos urbanísticos europeus

a maioria dos projetos envolveu o saneamento de ruas, a inserção de novas tecnologias e

higienização. A presente monografia tem como intuito analisar as transformações urbanas e

sociais ocorridas na cidade de Serrinha entre os anos de 1917 e 1919. Para isso foi necessário

traçar um breve histórico das mudanças experimentadas no município durante a intendência

de Luiz Nogueira sendo que, através da narrativa do Jornal de Serrinha e a partir da

compreensão das imagens produzidas nesse período foi possível identificar alguns aspectos da

ideologia moderna da época.

Palavras-chave: urbanização, reformas urbanas, modernidade, Serrinha.

ABSTRACT

The discussion on the study of cities in Brazil during the twentieth century was characterized by a

society based on the idea of progress and transformation. With the advent of the Republic has come a

new dynamic social, political and economic influence in the country that directly in urban reforms.

Thus, the formation of the conception of modernity comes with the remodeling of large cities like Rio

de Janeiro that was the model for the other capitals. The urban reforms also were intended to copy the

European urban models, most projects involved the rehabilitation of streets, the insertion of new

technologies and hygiene. This thesis has the intention to examine the urban and social

transformations that occurred in the city of Serrinha between the years 1917 and 1919. This required a

brief history of the changes experienced in the city during the stewardship of Luiz Nogueira is that

through the narrative of the Journal of Serrinha and from the understanding of images produced during

this period was possible to identify some aspects of the modern ideology of the time.

Keywords: urbanization,urban reforms, modernity,Serrinha.

Page 5: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus por ter me dado força espiritual para superar

todos os obstáculos durante a elaboração deste trabalho.

Aos meus pais e tios que são o alicerce de minha vida, pelo apoio que foi oferecido

durante minha caminhada na universidade, aos meus irmãos pela compreensão e ao meu

namorado pelo ombro amigo durante os momentos de incertezas.

Aos professores que contribuíram para minha formação acadêmica, em especial a

Rogério Silva que me acompanhou durante todo o processo desde a elaboração a conclusão

do trabalho.

Aos colegas Edcarla, Arlete, Cristian, Gislani e Samara que dividiram comigo as

alegria e tristezas e que estarão presentes nas boas lembranças dessa etapa de minha vida.

Page 6: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7

CAPÍTULO I-A CIDADE NO OCIDENTE. ....................................................................... 12

CAPÍTULO II-REFORMAS URBANAS EM SERRINHA. .............................................. 21

CAPÍTULO III-IMAGENS DA URBANIZAÇÃO. ............................................................ 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 38

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 40

FONTES .................................................................................................................................. 42

Page 7: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

7

INTRODUÇÃO

Lewis Mumford (1991), afirmava que a cidade foi "a mais preciosa invenção coletiva

da civilização‖ (p.63). Neste cenário o homem construiu seus templos, constituiu as relações

sociais e descobriu nesse espaço a oportunidade de concretizar seus sonhos. Refletir sobre as

urbes tem sido um caminho árduo para muitos dos historiadores que optaram por esse desafio.

Entretanto, com o aperfeiçoamento das abordagens teóricas, as novas pesquisas têm

contribuído para ampliar a percepção do homem sobre a dimensão do cotidiano urbano.

Ao lado do capitalismo a Revolução Industrial construiu um novo cenário para as

antigas cidades, o século XIX e a primeira metade do século XX foram marcados por

inumeráveis transformações e entre elas estão às reformas urbanas1. Ainda neste período se

inicia as primeiras tentativas de construção da urbe que atendesse ao imaginário da sociedade

burguesa, as autoridades das principais capitais do mundo foram responsáveis por tentarem

materializar o progresso da vida moderna e civilizada.

Elemento obrigatório aos estudiosos que tem como objeto de pesquisa as práticas

modernas, as cidades são essências para compreensão desta dinâmica, logo que é neste espaço

que as pessoas vivenciaram as inovações.

De acordo com Mumford a cidade é fruto do instinto humano, a consolidação dos

laços fraternos transformou pequenos grupos em aldeias, o autor atribuiu às mulheres ―o

desejo de construir cidades para poderem dar a luz e proteger seus filhos‖ (FREIGAT, 2002,

p.2) o que inicialmente trouxe um caráter feminino. Porém, com o aprimoramento das novas

atividades que requeriam força e trabalho braçal, as aldeias tornaram-se cada vez mais

masculina.

O teórico também afirmou que a cidade possui um caráter transformador inigualável,

composto de aspectos urbanos marcados por seus autores em cada tempo; as urbes abrigam a

todos sem distinção de gênero, classe e raça e é por essa urbanização que as mesmas

cresceram ao longo da história construindo um conjunto de relações sociais e valores.

1 Compreende-se como reformas urbanas o conjunto de interferências no espaço e na estrutura de uma cidade

que intervêm diretamente nas relações políticas, econômicas e socioculturais.

Page 8: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

8

O debate sobre os tempos modernos que ganhou força no final do século XIX

buscou entender as limitações e implicações deste tema chegando à conclusão que não um

consenso para defini – lá, dividindo as correntes intelectuais em dois campos: o espiritual e o

material2. Para Marshall Berman (19186) a modernidade seria o conjunto de experiências e

instabilidades vividas por uma sociedade. De acordo com o escritor marxista ser moderno é

―encontra-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento,

autotransformação e transformação das coisas em redor, mas ao mesmo tempo ameaça a

destruir tudo o que sabemos e somos‖ (p.15). Portanto, o processo das reformas urbanas não

compreende apenas aos estudos das edificações e monumentos é perceber através do que

autor chama de ―turbilhão da vida moderna‖ – a evolução da sociedade por meio dos aspectos

sociais, políticos e econômicos. Jean-Jacques Rousseau foi o primeiro a usar a palavra

moderniste, ―no sentindo em que as gerações do século XIX e XX a usarão ―(BERMAN,

1986, p.14). Em sua novela Nova Heloísa, o autor relata a história de Saint-Preux, um jovem

que sai do campo para morar numa metrópole e descreve nas cartas a sua amada Julie a

experiência de adapta-se ao que lhe parece estranho e agitado.

Em meio ao conturbado início do século XX, os intelectuais e artistas questionaram

alguns conceitos inerentes para a civilização ocidental como a razão e espiritualismo. A

desestabilização política, bem como as péssimas condições sociais foram fatores que

contribuíram para enfraquecimento do discurso. Deste modo os tempos modernos tendem a

rejeitar as questões ligadas à tradição. Segundo Friedrich Nietzsche o homem retirou Deus de

seu papel norteador da vida o ser divino perde sua acuidade para a natureza e o

individualismo. Como refere o filósofo, a inversão de valores e o momento conturbado que a

sociedade encontrava-se culminou numa crise da moral cristã e das verdades absolutas3. Em

seu livro Além do Bem e do Mal (2004), Nietzsche desenvolveu parte de sua obra tecendo

críticas a razão e a ciência refletindo sobre a origem dos vários conceitos.

No Brasil, o século XX é considerado o século da modernidade. É durante esse

período que se realizou o processo de reformas urbanas em várias capitais, as mesmas

tentaram mudar a imagem do país, ―a fim de adaptá-las aos novos ideais modernos e

2 O primeiro diz respeito ao modernismo que esteve presente nas manifestações intelectuais e artísticas, já os

materialistas acreditam que o moderno está no conjunto de estruturas urbanas e sociais. 3 Sendo a modernidade o período de decadência espiritual, esse momento em que os homens desprezam os

dogmas católicos é chamado por Nietzsche de a ―morte de deus‖. Se tratando da negação de condutas éticas e

morais, o filosofo denomina de ―niilismo‖ essas ausência de valores e crise existencialista.

Page 9: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

9

higiênicos, decorrente do avanço científico, de novas tecnologias e de novas ideologias‖.

(PINHEIRO, 2002, p.25)

A reforma de maior repercussão foi desempenhada por Pereira Passos no Rio de

Janeiro entre os anos de 1902 e 1906. Os melhoramentos trouxeram para a cidade vários

benefícios: são instalados bondes elétricos, serviços de limpeza, opções de lazer e atividades

culturais. O aperfeiçoamento da imprensa também é reflexo deste momento, os jornais e as

fotografias são incorporados pela modernidade e foram capazes de fornecer a dimensão do

seu cotidiano.

Assim como no Rio de Janeiro, a sociedade brasileira se defronta com a ideologia

modernizadora que não tinha apenas o intuito de alterar a feição das cidades. Modificar e

controlar os costumes e o modo de vida dos habitantes, também fez parte do projeto, pois para

estes a civilidade não se daria somente com a reestruturação urbana, seria preciso à

reeducação das pessoas. Desta forma o governo usou da censura, da imposição e da repressão

para fazer valer os novos hábitos defendidos pelas elites. As práticas religiosas e culturais da

população também foram proibidas pela lei por representarem a transgressão da sociedade.

Portanto, para a construção da imagem de um país mais moderno a elite utilizo-se

de elementos como valores e hábitos que foram incorporados até mesmo por pequenas

cidades como o município de Serrinha.

As reformas urbanas implantadas durante o governo do intendente Luiz Nogueira

(1916-1920) prometiam elevar o município ao patamar de um dos locais mais importantes da

região. Nomeado intendente de Serrinha pelo governador J.J. Seabra, o Tenente- coronel foi

responsável pela implantação do primeiro plano urbanístico da cidade e o segundo no interior

da Bahia4.

O município começou a adquiriu maior prestígio comercial e econômico deste modo

foram remodeladas praças e ruas, houve a construção de açudes para o abastecimento de água,

e a chegada da iluminação na forma de acetileno, sendo que os movimentos culturais também

ganharam maior dimensão.

Os melhoramentos urbanos que modificaram a dinâmica da sociedade serrinhense

foram registrados principalmente por meio do jornal. No ano de 1917 foi criado por

Reginaldo Cardoso o Jornal de Serrinha: seminário imparcial, noticioso, literário, comercial

e agrícola onde estão descritos os fatos e os eventos da época.

4 Segundo Tasso Franco, o primeiro plano urbanístico do inteiro da Bahia foi implantando em Santo Amaro.

Page 10: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

10

As transformações urbanas foi um momento que marcou a história de Serrinha.

Entretanto, não há nenhum estudo a respeito do tema proposto. Deste modo, o presente

trabalho propiciará um esclarecimento sobre o processo de modernização, desenvolvimento e

reforma urbana neste município, que deverá contribuir para a construção da identidade local,

preenchendo assim algumas lacunas referentes à sua história.

Para o desenvolvimento da pesquisa, trabalhamos com a bibliografia disponível no

acervo das Bibliotecas Professor José Carlos dos Anjos5 e Julieta Carteado

6 a fim de

compreender o processo das reformas e identificar algumas características nas transformações

sofridas na cidade. Partindo do pressuposto que o jornal é um importante instrumento de

narrativa da sociedade consideramos o periódico como principal documento para esse estudo.

Portanto, foram analisadas 60 edições do Jornal de Serrinha entre os anos de 1917 e 1919 que

pertencem ao Museu Pró-memória de Serrinha um dos pouco locais que possui alguma fonte

sobre este período.

Em relação à documentação iconográfica, as fotos foram utilizadas como suporte

para a pesquisa, as imagens foram empregadas para entendermos como a sociedade tentou

representar o município na modernidade. O acervo iconográfico também está disponível no

Museu Pró-memória de Serrinha.

No capítulo I, intitulado- “A Cidade no Ocidente” – discorremos sobre a questão

das reformas urbanas em Paris durante seu Segundo Império; as transformações e a inserção

das idéias modernas na cidade do Rio de Janeiro durante a gestão de Pereira Passos e por sua

vez o processo de remodelação em Salvador realizada no governo de J.J. Seabra entre os anos

de 1912 e 1916.

O capítulo II, que tem como titulo -“Reformas Urbanas em Serrinha”- discutimos

a história da cidade e identificamos alguns aspectos da modernidade presente no discurso do

Jornal de Serrinha: seminário imparcial, noticioso, literário, comercial e agrícola, através

deste percebemos como se encontrava a dinâmica da sociedade diante das reformas implantas

por Luiz Nogueira.

E por fim no capítulo III, -―Imagens da Urbanização”-foram analisadas algumas

imagens da cidade no inicio do século XX, fotos dos principias lugares mencionados no jornal

5 A biblioteca Professor José Carlos dos Anjos está localizada em Conceição do Coité-BA na Universidade

Estadual da Bahia, Campus XIV 6 A Biblioteca Central Julieta Carteado está localiza em Feira de Sanata-BA e pertence a Universidade Estadual

de Feira de Santana.

Page 11: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

11

como a Praça Luiz Nogueira centro dos melhoramentos promovidos pelo intendente e a

estação férrea, primeiro sinalizador de mudança no município.

Page 12: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

12

CAPÍTULO I

A CIDADE NO OCIDENTE.

Page 13: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

13

As reformas urbanas implantadas durante a segunda metade do século XIX fizeram de

Paris um das cidades mais importantes da Europa. Porém, ―as intervenções urbanas realizadas

para a abertura de ruas e de novos espaços em centros densamente construídos não são uma

invenção de Haussaman‖ (PINHEIRO,2002,p.65). Foi da Londres do contexto de Revolução

Industrial que Napoleão III espelhou-se para promover as modificações parisienses. Segundo

Pesavento, a capital francesa foi símbolo da modernidade e citando Caillois se refere à

metrópole como um ―mito‖ que atrai até hoje os olhares de diversos artistas, escritores e

fotógrafos.

Entendemos, todavia, que Paris se constitui no paradigma da cidade moderna,

metonímia da modernidade urbana, isso se deve, em grande parte, á força das

representações construídas sobre a cidade, seja sob a forma de uma vasta produção

literária, seja pela projeção urbanística dos seus projetos. (PESAVENTO, 2002,

p.31)

De fato, Paris não foi à primeira cidade a promover melhorias urbanas, mas as suas

reformas são referências não somente no continente europeu como no restante do mundo.

Nomeado por Napoleão III, Georges-Eugène Haussmann (1853-1870) ostentou o

desafio de transformar a cidade numa metrópole que se adequasse a modernidade e aos novos

costumes da burguesia parisiense. Foi a partir desse contexto que tem início o fenômeno

chamado de haussmannização7.

Paris estava passando por várias complicações em sua estrutura como as ruas estreitas que

dificultavam a circulação, a falta de higiene, precária iluminação e transtornos na distribuição de

água. Para tentar solucionar estes problemas investiu-se em redes de esgoto, abastecimento de

água, construção de edifícios para órgão públicos, serviço de transporte, áreas de lazer como

parques e praças além da construção de ruas amplas que facilitavam a movimentação.

Símbolo das transformações huassmaisnas os bulevares, são exemplos dos novos padrões

de urbanização. Os mesmos foram vistos como modelo das edificações modernas e logo se

constituíram num grande centro econômico e comercial além de contribuir para a estética do

ambiente.

7 Projeto de modernização e embelezamento estratégico da cidade realizado pelo Barão de Haussmann

Page 14: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

14

Os bulevares de Napoleão e Haussmann criaram novas bases – econômicas, sociais,

estéticas – para reunir um enorme contingente de pessoas. No nível da rua, elas se

enfileiravam em frente a pequenos negócios e lojas de todos os tipos e, em cada

esquina, restaurantes com terraços e cafés nas calçadas. Esses cafés, como aqueles

onde os amantes baudelarianos e a família de farrapos se defrontam, passaram logo a

ser vistos, em todo mundo, como símbolos de la vie parisiense (BERMAN,1986.p.147).

As intervenções mudaram a dinâmica e o pensamento da população parisiense, as

transformações receberam várias críticas com relação as suas construções. A maioria das

reclamações questionava o excesso de gatos financeiros, a falta de habitação para os populares e a

exclusão social que crescia cada vez mais como refere Pinheiro:

Todo esse movimento tem um outro lado. A cultura popular é excluída dos novos

espaços; teatros populares são demolidos, e os pobres perdem seus espaços de lazer.

As demolições no centro provocaram uma crise de habitações, favorecem a

especulação e agrava a segregação social, uma das conseqüências reformas

hussamannianas. (PINHEIRO, 2002, p.82)

Dentre os principias artistas que refletiram sobre esse contexto de contradições,

Baudelaire foi um dos poucos escritores que conseguiu absorver a fusão das formas matérias e

espirituais, percebendo assim a interdependência entre o homem e o ambiente moderno. Uma

das características marcantes desse artista esta em classificar o sentido da vida moderna em

algo difícil e vago para se determinar, portanto a arte deveria acompanhar essas inovações.

Baudelaire refletiu sobre o espírito e a forma dessa nova sociedade que deparava-

se com os diferentes hábitos. O mesmo tinha duas visões sobre o tema: a primeira a que

denomina de modernismo pastoral (BERMAN,1986) uma visão mais romântica que são

representados pelas obras Salão de 1846 e O Pintor da Vida Moderna (1859). O segundo

momento vai ser caracterizado pelo modernismo anti-pastoral uma visão critica um

distanciamento entre o espiritual e o material que estão nos ensaios de 1855.

Através da poesia de Baudelaire, Walter Benjamin (1994), refletiu sobre o ―mito‖

em que Paris constituiu-se, dentro desse contexto nasceu à figura do flâuner que passava a

maioria de seu tempo vagando pelas ruas e observando o que acontecia ao seu redor. O

flâuner seria aquele que captaria de modo sensível o sentido da vida, a dinâmica da cidade e o

comportamento do homem.

Page 15: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

15

Para o perfeito flâuner... é um prazer imenso decidir morar na massa, no ondulante...

Estar fora de casa; e, no entanto, se sentir em casa toda parte; ver o mundo, estar no

centro do mundo e ficar escondido no mundo, tais são alguns dos menores prazeres

desse espírito independentes, apaixonados, imparciais que a língua só pode definir

inabilmente. (BENJAMIN, 1994, p.221)

O modelo haussmaniano trouxe beleza e vigor à ―Cidade Luzes‖, entretanto suas

remodelações ainda provocam discussões entre os teóricos sobre as limitações e implicações

adotadas em seu processo de reformas.

No Brasil o século XIX, segundo Emilia Viotti (2007), foi o período em que as ações

políticas e econômicas influenciaram diretamente em seu desenvolvimento urbano. As

autoridades que promoveram as intensas mudanças tinham como objetivo transformá-las ou

igualá-las ao patamar das urbes européias. ―A transferência da sede do governo português

para o Brasil, abertura dos portos em 1808, rompendo o sistema de monopólios ate então em

vigor, e finalmente a independência criaram novas condições para o processo de urbanização‖

(p.242) Com a chegada da Família Real os vários problemas de organização, estrutura e

higiene que assolavam as várias cidades despertam a preocupação com imagem do país.

De acordo com Caio Prado Júnior (1996) as primeiras idéias no sentido de

modernização podem ser observadas desde o Império, mas foi na República que o conceito

esteve mais presente. Desta forma o novo regime que tinha se instalado possibilitou uma

maior abertura comercial para que os governos estaduais investissem em infra-estrutura. Em

consequência disto no século XX surgiram muitas inovações tecnológicas como a

eletricidade, os novos meios de transporte e indústrias. Apesar das capitais ainda não se

constituírem uma metrópole de fato as novidades invadiram o dia-a-dia das pessoas

oferecendo conforto para aqueles que poderiam usufruí desse prestígio (SEVCENKO, 1998).

Podemos dizer que o conceito de modernidade esteve interligado ao processo

urbano, ou seja, a organização do espaço foi de suma importância para afastar a imagem

negativa que a falta de insalubridade e as péssimas estruturas tinham proporcionado.

Com o desenvolvimento da industrialização a Capital Federal transformou-se no

centro econômico de grande prestigio atraindo imigrantes até mesmo do exterior. Conduzida

por Francisco Pereira Passos entre os anos de 1902 e 1906 a cidade sofreu intensas reformas

urbanas, com inovações tecnológicas até então nunca vista antes no país.

Page 16: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

16

[...]O desenvolvimento dos novos meios de comunicação, telegrafia sem fio,

telefone, os meios de transporte movidos a derivados de petróleo, a aviação, a

imprensa ilustrada, a indústria fonográfica e o cinema intensificarão esse papel da

capital da República, tornando-a eixo de irradiação e caixa de ressonância das

grandes transformações em marcha pelo mundo, assim como no palco de sua

visibilidade e atuação em território brasileiro. O Rio passa a ditar não só as novas

modas e comportamentos, mas acima de tudo os sistemas de valores, o modo de

vida, a sensibilidade, o estado de espírito e as disposições puncionais que articulam

a modernidade como uma experiência existencial e íntima (In: SEVCENKO

2008(org.). SEVCENKO p.522).

Pereira Passos que estava estudando na França acompanhou de perto alguns aspectos

da Belle Époque parisiense. De acordo com Pinheiro, podemos afirma que as transformações

promovidas por Haussaman em Paris influenciaram diretamente no processo de reformas urbanas

do Rio de Janeiro.

As capitais de modo geral tinham a insalubridade como ponto em comum. Esta

situação prejudicou bastante o comércio nestes locais, pois a falta de higiene afastou o

interesse dos estrangeiros nos principais portos. O rápido crescimento demográfico também

foi um dos fatores que afetou bastante o desenvolvimento urbano, logo que sua estrutura física

não estava preparada para essa demanda.

A má situação higiênica e sanitária tornou-se o principal motivo de críticas entre

médicos e higienistas. Portanto, se fez entender que seria necessário à criação de um projeto

que visasse o combate a insalubridade, incentivasse mudanças na estrutura física e criassem

uma política de coerção a chamadas ―causas sociais‖ 8 da insalubridade. O lixo e a sujeria

eram encontrados em vários pontos inclusive nos locais que foram reformados devido o

descompromisso das construtoras na manutenção dos locais durante as obras, situação esta

que era provocada não só pelas empresas, mas também pelo descaso do governo.

O Plano de Melhoramento da cidade assim chamado pelo prefeito e sua comissão teve

como objetivo a criação de um novo porto, construção de redes de esgoto, o abastecimento de

água, revigoramento de bondes elétricos, construção de praças e principalmente construção de

ruas e avenidas.

8 Para os higienistas as ―causas sociais‖ seriam ações que intensificavam a proliferação dos fatores naturais

como hábitos e moradias praticados pela classe pobre.

Page 17: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

17

Portanto, o processo de urbanização não foi apenas sinônimo de progresso também

representou um momento de rupturas e segregação social, o governo usou da censura, da

imposição e da repressão para fazer valer os novos hábitos defendidos pelas elites.

Á normatização da vida e regulamentação dos usos do espaço públicos segui-se a

grave questão da higiene, com as medidas de vacinação contra a febre amarela,

levada a efeito pelo médico Oswaldo Cruz. A campanha, que motivou a conhecida

Revolta da Vacina, sobre a qual muito se tem escrito, é mais um exemplo do

confronto de concepções diferenciadas entre espaço publico e espaço privado, ordem

e desordem. O caráter de verdadeira operação militar, por parte do governo ao

aplicar a vacina, e a revolta popular conta a medida são um exemplo cabal de que

aquilo que, para um grupo, era uma norma racionalizadora e necessária, para os

demais eram o caos social. (PESAVENTO, 2002, p.176)

De acordo com Chalhoub (1996) para a elite burguesa a classe pobre representava

perigo de contágio. Os higienistas chegaram à conclusão que suas moradas eram nocivas a

sociedade sendo um local fértil de propagação de vícios. Sendo assim, como os pobres

representavam um problema para o controle social os cortiços ameaçavam as condições

higiênicas da cidade, o que resultou na destruição das casas populares que não se

enquadravam nas regras estabelecidas. A demolição mais conhecida é a do cortiço Cabeça-

de-Porco , no dia 26 de janeiro de 1893, pela Inspetoria Geral de Higiene da então capital.

O processo de urbanização no Rio de Janeiro foi reflexo das transformações estruturais

de ordem política, econômica e social do regime republicano, que realizadas pela elite

burguesa carioca iniciou um processo de desintegração acentuando a exclusão social no país.

Eloisa Pinheiro resume os principais aspectos destas intervenções.

Três aspectos se destacam como os mais importantes da reforma Passos. Ela

constituiu um exemplo típico de como uma nova conjuntura na organização social

determina novas funções na cidade. É o primeiro exemplo de intervenção estatal na

qual o urbanismo se reorganiza em novas bases segundo as quais os pobres são

expulsos da área mais valorizada da cidade. Finalmente, é uma demonstração de que

a resolução das contradições do espaço gera outras novas contradições na organização social, como a nova estruturação especial e a segregação social e

funcional, a exemplo da formação das primeiras favelas, que se desenvolvem em

conseqüências das reformas. (PINHEIRO,2002,p.65)

Page 18: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

18

Assim como na capital, Salvador também passou por grandes transformações

urbanas. A má condição de higiene da capital baiana foi alvo de buliçosas críticas por parte de

médicos e principalmente da imprensa local.

De acordo com Alberto Heráclito Filho (1999) até o final do século XIX o espaço

público de Salvador foi marcado pela insalubridade e espaços irregulares. Os prédios antigos

eram vistos com sinônimo de atraso e a todo o momento recordavam seu passado colonial.

Como refere Leite (1996), no início do século XX Salvador era a terceira maior

cidade do país e apesar de não ter sofrido intenso crescimento demográfico como no Rio de

Janeiro e São Paulo o aumento de sua população foi suficiente para comprometer a dinâmica

da cidade, logo que sua estrutura permaneceu quase a mesma.

As péssimas condições de saúde associado à falta de salubridade só agravavam a

situação, as ruas eram verdadeiros lixos a céu aberto além de apresentarem vários problemas

como falta de alinhamento e iluminação.

Saindo as ruas da cidade, agora na República, o viajante trafegava, do mesmo modo,

por vias estreitas e desalinhadas, onde a circulação do ar e a penetração da luz se

andavam com dificuldade; diga também que elas eram mal calçadas. Seguindo os

seus caminhos observam-se detritos e dejetos depositados em plena rua, terrenos

baldios acumulando lixo e excrementos de animais espalhados, devendo exalar dali

um insuportável mau cheiro. O serviço de esgoto era inexistente, viam-se apenas

canalizações que levavam diretamente para as ruas ou fundos das casas os detritos

produzidos nos lares, escritórios de negócios e estabelecimentos comerciais. O

abastecimento de água, por sua vez, era ainda, na sua maior parte, feito através de

fontes, sendo o fornecimento por encantamento uma raridade (LEITE, 1996.p.29)

Foram poucos os planos realizados na tentativa de melhorias para esses problemas

como o projeto de Teodoro Sampaio que visava melhorar o abastecimento de água da cidade.

Os transtornos habitacionais também faziam parte desse quadro às construções e os edifícios

eram realizados sem nenhuma medida de precaução desprezando fatores externos como o

próprio relevo.

Com caráter agroexportador seu comércio declinou junto com os preços, mesmo não

sendo mais o centro econômico a capital baiana possuiu um dos maiores portos da época. A

expansão do comércio juntamente com a crescente industrialização também foi favorável para

mudanças na estrutura física, na construção de novas ferrovias, instalação de empresa de

transporte entre os quais estava o bonde elétrico e sistema bancário.

Page 19: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

19

O governo republicano de J.J. Seabra foi responsável pela reforma urbana em

Salvador durante os anos de 1912 a 1916. Esse período é marcado pela assinatura de decretos

que autorizam o financiamento das primeiras obras de remodelação como a construção da

Avenida Sete de Setembro.

Segundo Suely Puppi (2009) dois projetos foram escolhidos para remodelar o centro

de Salvador: Melhoramento de Partes da Cidade de Salvador e Melhoramentos da Sé, mas

apesar das modificações a estrutura urbana no geral não sofreu grandes alterações e as obras

favoreceram apenas os bairros importantes. A prioridade de determinadas áreas (as mais

nobres) no processo de remodelação foi alvo de duras criticas por parte de alguns segmentos

sociais. Os jornais noticiavam os problemas gerados pelas obras como falta de habitação,

paralisação entulhos espalhados pelas ruas e muitas construções inacabadas.

O sentimento de frustração da população foi reflexo dos péssimos serviços oferecidos

depois da remodelação que havia prometido melhorias que nunca ocorreram. A falta de água,

de energia e problema com o transporte público eram apenas alguns dos transtornos existentes

na cidade até mesmo os serviços primários e essenciais para a sobrevivência mal conseguiam

atender as necessidades da população.

Além da implantação de projetos que visasse o combate aos agentes naturais das

―niasmas‖ 9·,a elite soteropolitana também acreditava na importância da criação de

campanhas que incentivassem a mudanças de hábitos das pessoas.

Dentre estes tinha-se a preocupação com as questões sociais, que podia ser

representado, por um lado, no cuidado com a habitação e o transporte popular, e por

outro lado, no cuidado com a assistência pública, com casas correcionais e escolas

profissionalizantes para a infância desvalida, casas correcionaras para vadios e

criminosos, abrigos noturnos apara indigentes e miseráveis, hospitais para alienados,

entre outros. Tinha-se, ainda um anseio pela extensão de instrução pública. Havia,

também, uma expectativa da adoção de estilo de vida e hábitos cultos ou elegantes,

que abrangiam desde a moda á cultura dos indivíduos, ou seja, ‖uma vida nova, de

relações sociais, de solução com espírito de palestras e graça no vestir-se‖. E mais,

mecanismos de controle sobre os modos de vida populares e algumas das tradições

deveriam caracteriza-se por comedimento e racionalidade. (LEITE,1996,p.42)

9 o pensamento higienista teve inicio com o inglês Thomas Syndenham, O médico acreditava que o meio natural

e as doenças possuíam intensas relações. A partir da revolução industrial a teoria ganhou mais credibilidade. os

principais responsáveis pelas pandemias eram os pântanos e atmosfera. O primeiro considerado elo de ligação

entre as ―entranhas da terra‖ , o segundo ambiente acumulava a matéria orgânica e produzia vapores chamados

de niasmas que espalhava a doença.

Page 20: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

20

Os novos hábitos da população que agora se encontravam em uma cidade dita

civilizada, vivenciaram as conseqüências e rupturas do progresso. Um bom exemplo eram os

hábitos culturais adquiridos pelas elites com novas formas de divertimento, enquanto que as

classes populares conservavam algumas práticas tidas como incultas.

Os costumes africanos e alguns valores herdados do período colonial e imperial

contribuíram bastante para isso, especialmente porque o modo de vida a ser seguido deveria

ser o europeu. Práticas como jogo, bebida, samba entre outros eram tidos como prejudiciais a

sociedade, mas também reconhecidos por alguns jornais – muitas das vezes – a única forma

de diversão para grande parte da população e justamente por isso muito difícil de ser

combatido; isso sem falar que muitos dos que deveriam manter a ordem e coibir essas práticas

por vezes também participavam delas, a exemplo dos policiais.

Não chega a ser um fato totalmente estranho que guardas e policias de baixa patente

participassem de divertimentos envolvendo jogos, bebidas, musicas e onde

prostitutas tomassem parte. Originários das baixas camadas da população

compartilhavam da cultura popular e das vicissitudes típicas da maior parte dos

trabalhadores pobres urbanos. Eles também deviam sofrer com as precárias opções

de lazer existentes na cidade. Não lhes restavam, portanto, outras alternativas, nem

lhes eram possível possuir códigos e valores tão diferenciados que tornassem viáveis

condutas sócio-culturais distintas daquela que eram as mais comuns e praticadas

pelos indivíduos de sua classe. (LEITE,1996,p.121-122)

O processo modernizador foi apenas o começo das mudanças pensadas para

alcançar a civilização. Mesmo não tendo almejado o sucesso esperado na época, o projeto

urbanístico foi de fundamental importância para o crescimento e progresso da capital baiana,

que a partir de então ganhou novos ares, novas ruas e avenidas, em fim, uma nova aparência

gerando grandes esperanças para o futuro baiano. Os problemas de infra-estrutura associados

à má qualidade dos serviços oferecidos foram os grandes causadores de transtornos, no

entanto Leite (1996) evidencia que não se pode esquecer a imposição das transformações

culturais que se fez na época, sento talvez o maior empecilho e resistência da população no

ideal pretendido pelas elites.

Page 21: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

21

CAPÍTULO II

REFORMAS URBANAS EM SERRINHA.

Page 22: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

22

A República Velha teve início com a promulgação da Constituição em 1891. Nesse

período a sociedade brasileira passou por mudanças nos campos sociais, políticos

econômicos. A economia que desde os tempos coloniais tinha como característica o comércio

agroexportador prosseguiu com as mesmas atividades, persistindo o latifúndio e à mão -de -

obra escrava as poucas indústrias existentes limitavam-se à produção de bens de consumo nos

setores têxtil e alimentar.

Após a abolição o desenvolvimento da industrialização substituiu o trabalho escravo

pelo assalariado permitindo que o capital destinado à compra de negros fosse utilizado em

fábricas e na comercialização de novos produtos. O setor cafeeiro contribuiu bastante para o

crescimento da economia sua expansão permitiu que os grandes fazendeiros aderissem a

novas atividades fomentando o mercado interno e também trazendo investimentos

estrangeiros .Como refere Viotti (2007) o processo de urbanização brasileira foi

―característico de áreas de economia colonial e periférica as quais não se ajustam ao modelo

clássico‖ (p.235-236).

Foi nesse contexto que o município de Serrinha desenvolveu-se. Seus primeiros

habitantes foram os índios da nação Cariri. Com a chegada dos portugueses entre 1621 e

1891,a fazenda Serrinha que foi um importante ponto de encontro e descanso para os

viajantes foi comprada por Bernardo da Silva em 1723. As rotas de boiadeiros foram

essenciais para ocupação territorial e para a fixação da população nordestina ―ao longo dessas

estradas, pousos de tropeiros, ranchos, vendas, estalagens, hospedarias e registros deram

origens a arraiais e povoados que se desenvolveram e mais tarde alcançaram o status de vilas

e de cidades‖. (CAMPOS, 2007.p.2)

O pequeno vilarejo cresceu em três rumos: em direção ao tanque da bomba, no

sentido da estação de trem e para o lado da estação da usina de energia (Praça Miguel

carneiro). A localidade foi passagem obrigatória da estrada de Salvador- São Francisco em

direção ao Piauí sendo este um ponto estratégico e expressivo para o comércio. As

principais lideranças do município eram ligadas ao partido conservador de D. Pedro II,

portanto, após a Proclamação da República e intensos conflitos políticos na Bahia em 24 de

novembro de 1889 a elite da cidade mesmo não apoiando elaborou um documento de adesão

ao novo regime e em 30 de junho de 1891 a Vila foi elevada à categoria de cidade.

O contexto do município não é diferente do nascimento da maioria das pequenas

cidades do interior. Segundo Emilia Viotti, praticamente a urbanização no período colonial

esteve ligada à auto-suficiência do latifúndio, baixo padrão de vida do trabalhador

Page 23: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

23

atrapalhando o desenvolvimento das manufaturas e inibindo o crescimento das funções

urbanas. As principais atividades serrinhenses foram à pecuária e o comércio, desenvolvendo

também algumas atividades agrícolas seus principias produtos eram a mandioca e o milho, o

desenvolvimento urbano teve maior ênfase com a chegada da ferrovia.

O transporte ferroviário nasceu na mesma década que o Império do Brasil e logo

despertou o interesse do Estado que tinham como objetivo integrar o vasto território, e

fortalecendo o poder. A estrada de ferro era sinal do progresso, tornando muito mais rápido e

eficiente o transporte de pessoas e mercadorias, gerando uma vasta rede de empregos diretos

ou indiretos, proporcionando o contato com outros locais, assim desencadeando o

povoamento e urbanização da região.

A chegada da ferrovia mudou totalmente a rotina dos locais por onde passava,

interferindo em vários setores da vida: na moda, no uso das expressões inglesas

abrasileiradas, no modo de habitar, no uso do ferro e do vidro nas construções.

Ocorreu uma europeização dos costumes, que foram disseminados em todo o Brasil

onde as ferrovias alcançassem. ( FERNANDES,2006, p.199)

A implantação das ferrovias na Bahia como consta no livro de Francisco Zorzo

(2001) aconteceu no ano de 1850. As estradas de ferro tinham como objetivo superar a crise

vivida na região através da ligação das zonas produtivas no interior com os portos do litoral.

Era, portanto, um meio de controlar o espaço mercantil baiano.

A ferrovia trouxe uma nova mentalidade nas relações sociais e trabalhistas,

melhorou o abastecimento de água construindo açudes da estação e da bomba, este

último dotado de uma bomba a vapor que puxava água pra abastecer as locomotivas

e ainda gerava energia. (FRANCO, 1996.p.74)

Em 1939, foi construída a garagem e oficina dos trens e em 1943, data do

aniversario de Getulio Vargas, inaugurou-se a nova estação de passageiros10

, onde consta uma

placa comemorativa na estação que diz:

A gratidão dos filhos de Serrinha aos grandes brasileiros Dr.Getulio Dórnelas

Vargas, Presidente da República, General João de Mendonça Lima, Ministro da

10

Atualmente funciona uma pequena administração da ferrovia.

Page 24: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

24

Viação, engenheiro Lauro Farine Pedreira de Freitas pelos mais assinalados e

valiosos serviços prestados a cidade entre os quais, esta magnífica

estação.(FRANCO,1996,p.74)

Uma nova cultura surgiu na medida em que muitas famílias de outras regiões

chegavam para morar na cidade. O centro urbano girava em torno das localidades próximas a

ferrovia, foram construídas escolas como a Graciliano Ramos que funciona até hoje, a

instalação de hotéis de pequeno porte para atender a demanda dos viajantes além de várias

casas construídas para os trabalhadores da ferrovia. Os movimentos culturais ganharam maior

dimensão com a primeira Filarmônica e o Centro de Cultura em 1896. A partir de então o

município entrou numa nova fase do processo de urbanização, as primeiras tentativas de

remodelar a cidade tem inicio em 1917.

O tenente- coronel Luiz Osório Rodrigues Nogueira foi nomeado 8º intendente de Serrinha

pelo governador J.J. Seabra no ano de 1916. Sua administração durou quatro anos sendo

indicado por duas vezes para o mesmo cargo. O intendente era filho de Michelina Carneiro

Ribeiro Nogueira e Antônio Rodrigues Nogueira, foi casado com Áurea Ribeiro Nogueira e

―chegou no município para trabalhar na construção da estrada de ferro Água Fria-Serrinha no

ano de 1878‖ (FRANCO, 1996,p.55). Decorrente de sua amizade com o presidente Epitácio

Pessoa e com o governador Seabra, Luiz Nogueira tornou-se forte líder político e nomeou

parentes para encargos públicos.

Em 1918 foi novamente nomeado pelo governador Antonio Ferrão Moniz de Aragão

que pertenceu ao Partido Republicano Democrático. De acordo com Franco o tente-coronel

enfrentou resistência por parte das oligarquias locais, segundo o autor sua nomeação

representou a quebra do domínio dessas oligarquias e enfrentou muitas dificuldades. Mesmo

assim, Luiz Nogueira que era ligado ao partido do governador, foi responsável pelo primeiro

plano urbanístico da cidade.

Em sua maioria as reformas realizadas durante sua administração são de ordem

estética, ou seja, o principal objetivo do plano foi embelezar a cidade dando ao município uma

nova fisionomia através da construção de praças calçamento de ruas mais largas e

arborizadas. Também foram tomadas atitudes para o melhoramento do saneamento a fim de

evitar a propagação de doenças por falta de higiene.

Foi construído um jardim decorado com palmeiras e outras espécies de arvores,

Page 25: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

25

chafarizes e portões de entrada e saída, bem como foram colocados postes com

globos e luz a aceitilene, uma grande novidade da época. A praça recebeu

calçamento de pedras cabeça-de-negro e esgotamento sanitário, e plantão de oitis em

todo seu redor. O paço municipal recebeu melhoramentos e foi colocado no topo do

prédio uma águia. (FRANCO,1996,p.93)

As Principais obras promovidas pelo Intendente correspondem à remodelação das

principias praças do município: Manoel Vitorino e Praça do Amparo. Em 1918 por ordem do

conselho a Praça Manoel Vitorino passou a se chamar Luiz Nogueira e Praça do Amparo

recebeu o nome de Miguel Carneiro nessa mesma ocasião também foi construída uma estrada

para ligar as duas localidades. Nas últimas três décadas do século XX, o processo de

formação e consolidação do espaço esteve ligado às proximidades das praças Luiz Nogueira e

Miguel Carneiro. É a partir do centro econômico localizado nestas duas praças que a cidade

cresceu e constituiu novos bairros.

Entendemos que a reforma urbana no município sofreu influência das transformações

ocorridas na capital, logo que nesse período o governador J. J. Seabra também aplicava suas

obras e manteve forte ligação política com Luiz Nogueira que tinha como objetivo

apresentar Serrinha ao mundo mais moderno e civilizado idéia matriz das reformas em

Salvador.

A partir dos melhoramentos a população vivenciou um processo de alteração de

valores sociais e políticos. As ações e reações a esses novos costumes foram expressos

principalmente por meio da narrativa do jornal local, período em que a imprensa teve papel

importante para a memória desse novo cotidiano.

A imprensa brasileira teve nascimento tardio em comparação com seus países

vizinhos. Segundo Sodré (1999) a ausência do capitalismo e da burguesia foram fatores

condicionantes para o seu desenvolvimento.Dois momentos são considerados importantes

para o nascimento da imprensa: a circulação do Correio Braziliense, em Londres e a criação

do primeiro jornal brasileiro a Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de setembro, ambos de 1808.

Entretanto os historiadores têm contestado a importância dos dois jornais em função das datas

e locais que circulavam.

A influência do Correio Braziliense, pois, foi muito relativa. Nada teve de

extraordinário. Quando as circunstâncias exigiram, apareceu aqui a imprensa

adequada. E por isso é que só por exageros se pode enquadrar o Correio Braziliense

no conjunto da imprensa brasileira. (SODRÉ,1999,p.28)

Page 26: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

26

Após a independência a imprensa passou por momentos de efervescência devido ao

contexto político e a inserção da idéias liberais que já faziam parte do imaginário brasileiro.

No período da República Velha (1889-1930) além da repressão muitos jornalistas foram

corrompidos e viviam a serviço de políticos que geralmente utilizava-se dos recursos públicos

para patrocinar o noticiário.

Através da utilização de novas máquinas incluída a de escrever houve o aumento do

número de tiragens e da qualidade. A partir do século XIX o jornalismo brasileiro adquiriu

características no ramo cultural ligada a literatura, onde grandes escritores utilizavam o

periódico como meio de divulgação de suas obras em forma de novelas ou folhetins.

A imprensa em Serrinha tem inicio no ano de 1907 com edição de seu primeiro jornal

local: O Clarim, escrito a mão e distribuído por Reginaldo Cardoso o folhetim tinha o humor

como principal característica. Ainda em 1915 é lançando A Tribuna e após dois anos nasce o

Jornal de Serrinha: seminário imparcial, noticioso, literário, comercial e agrícola.

Editado entre os anos de 1917 -19 o periódico foi publicado semanalmente, possuía

entre 8 a 12 laudas e figuras com anúncios em sua maioria de medicamentos. As crônicas,

publicadas no texto de abertura tinham como tema principal o cotidiano do município.

Durante três anos de circulação Reginaldo Cardoso que era cego ocupou o cargo de roteirista,

diretor e proprietário. Foi durante o governo de Luiz Nogueira casado com sua irmã Áurea

Nogueira que Reginaldo recebeu ajuda e fundou a Typografia de Serrinha.

O periódico surge como algo inovador e de destaque na região. O noticiário foi à

principal fonte de informação para a população, logo que os carros auto-falantes e as

emissoras de rádio só chegaram respectivamente em 1952 e 1969. Escrito pelo professor

Ferreira da Cunha este discurso sinaliza uma Serrinha que tinha pretensão de se inserir entre

as cidades modernas e desenvolvidas da Bahia

Passei por Serrinha a primeira vez em 1909, e si não tivesse acompanhado a

remodelação daquela cidade verdadeiramente encantadora, talvez não a conhecesse

hoje, depois principalmente dos dois últimos quatriennios administrativas idéias em

operosidade incansável. Terra feliz a Serrinha, por que os seus filhos a adora-a de

verdade, e procura cada dia apresentá-la ao mundo mais modernista e merecendo as

maiores provas de respeito e admiração.(Edição,21 de Outubro de 1917)

Page 27: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

27

O desejo jornalístico de fazer parte da nova fase em que o município estava

vivenciando foi expresso em sua primeira edição do dia 12 de outubro de 1917 que tinha

como título ―O nosso lemma‖ onde o autor chama de verdadeiro espírito o desejo jornalístico

de contribuir para a modernização.

Tem a honra de apparecer n´esta‖ bella cidade sertaneja‖, como serrinhense, cheio

de vida e coragem para o trabalho do bem e da verdade, concorrendo para seu

engrandecimento. Sobra aos trilhos de serrinha o amor ao trabalho, o devotamento á

honra, o estremecimento pelo torrão natal, o respeito á lei, ás suas autoridades o

empenho ao file cumprimento dos deveres:_ e assim tudo marcha para o fim

desejado. E virá em que Ella adornada com beleza de suas construções, balouçada

pela briza suave que acaricia seu ambiente, perfumada pelo aroma subtil de seus

campos, será a mais attrante das bellas cidades da Bahia.( Edição,12 de Outubro de

1917)

De acordo com Traquina (2005), o desenvolvimento da imprensa no século XIX foi

marcado pelo surgimento do jornalismo informativo. Este modelo agregou novos valores as

suas reportagens que abandonavam cada vez mais o caráter das produções ficcionais. A partir

de então os jornalistas adotaram em suas reportagens características como a autonomia e

imparcialidade o que fez muitos jornais da época se apresentar como defensores do povo e da

vida pública da cidade. Portanto, com a ascensão de governos democráticos o ideal de

liberdade que fazia parte da nova república foi incorporado pela imprensa como importante

fator para a definição do papel do jornalista na sociedade.

O esquema tradicional de vinculação política que foi marcante na formação de

muitos noticiários no Brasil também pode ser percebido no jornal de Reginaldo Cardoso, essa

afirmativa tem como base o seu próprio processo de fundação. O mesmo foi acusado por

várias vezes pela oposição de favorecer a gestão de Luiz Nogueira, apesar das críticas o

noticiário ressaltava sempre seu papel íntegro e indiferente comprometido com vida do povo.

A política partidária não tem posto no nosso programa. Não nos preocupemos com

esse choque de interesses que trás os partidos militantes em e terna dobradoira, que

p!anta a sizania entre os homens , que semeia o pomo da discórdia, dissolve das ôas

normas e relações sociaes, que rompe com as tradições amistosas, que aggride e

asphixa a verdade quando contrataria aos seus interesses, que nega justiça a seos

adversários, com a politicagem ou ―politicalha‖. Escarpallaremos os factos com

independência sem partididarismo. (Edição,20 de setembro de 1918)

Além da tendência política, o jornal que se auto- intitulava ―porta-voz do interesse

da coletividade‖ produziu freqüentemente reportagens que tinham como tema acontecimentos

Page 28: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

28

jurídicos e sociais. Em algumas edições podemos observar algumas críticas aos serviços

públicos, porém sem culpar ou ofender a figura do intendente.

De acordo com seu lema o noticiário estava a serviço do progresso, o que significava

para seus idealizadores reclamar por melhoramentos materiais, reformas e denunciar tudo que

representa um entrave para a cidade como na edição de 20 de Setembro de 1918 quando a

Chemin de Fer alterou o horário e aumentou em vinte por cento o preço das viagens.

Ao expormos a nossa opinião com a do povo o fazemos na convicção de cumprir o

nosso dever, do contrario renunciaria. Nos de logo o logar. modestíssimo que nos

cabe no seio do jornalismo; em contrario, veríamos por terra a prerrogativa de porta

voz dos interesses da coletividade. A reforma de horário é mais um aborto da

Chemis e a elevação de tarifas um entrave, um peia á lavoura, a insdutria e ao

comércio da zona e alem de tudo iníqua, depostica! Pobre Bahia!(Edição, de 20 de

Setembro de 1918)

O município estava passando por mudanças e sensível a estas modificações o

noticiário se sente no dever de publicar e manter o leitor sempre bem informado. Surgiram

seções especializadas, dedicadas às mulheres, esportes, lazer, vida social e cultural. Assim

como o crescimento econômico era sinônimo de desenvolvimento, as noticias do setor

cultural também faziam parte do caminho para a modernidade (Sevcenko,1998)· Os passeios,

os eventos, as festas de aniversários eram divulgados semanalmente como forma de

entretimento com o público exemplo disto foi o concurso lançado pelo noticiário no ano de

1918 quando houve a eleição da mocinha mais simpática de Serrinha.

Salientamos que no mesmo ano através do jornal na edição de 30 de Novembro de

1917 o Intendente convidou a população para festa de inauguração dos melhoramentos da

cidade. Em 27 de Janeiro de 1918, realizou-se a festa de inauguração das três novas praças

(Praça Matriz, Praça Manoel Vitorino, Praça do Amparo) onde estiveram para representar o

governador Edgar Sanches ,o senador J.J. Seabra e sua comitiva.

Como foi visto no capitulo I, umas das características marcantes do projeto

modernizador esteve relacionado à higiene das cidades. É válido ratificar que as ações da

ideologia moderna e seu processo remodelador agiram diretamente sobre os espaços públicos

com intuito de afastar a feição de cidade antiga. Em Serrinha também percebemos esse

combate aos aspectos ditos não-civilizados, em algumas edições que contestam a conduta de

desleixo dos fiscais da intendência e abandono de alguns espaços da cidade:

Page 29: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

29

Passou, a 2 do corrente, o dia de finados; o cemitério desta cidade, o único que Ella

possúe, contunúa ainda no mesmo estado anti-hygienico, inesthtico, horrorosamente

feio. Como era natural, um dos nossos representantes foi ate lá no dia consagrado

aos mortos: e a sua impressão foi tal maneira que nestas linhas elle deixa registrado

o desasseio e o descuido da administração, que é a ecclesiastica, como si o local em

questão, e ainda mais quase no coração da cidade, não fosse um dos que a hygiene

se tornar mister!( Edição, 8 de novembro de 1918)

Os jornalistas consideravam que diante do progresso alcançado não seria plausível a

permanência de alguns hábitos da população. Sendo assim, o plano higienizador no município

de Serrinha também tinha como objetivo, não só resolver os entraves relacionados aos

ambientes públicos, mas também estabelecer novos costumes. A edição de 1º de novembro de

1918 trouxe uma nota alertando as pessoas de uma medida coercitiva que seria aplicada a

aqueles que despejassem lixo e dejetos nas ruas da cidade.

Justo era, portanto que á fiscalização municipal fosse dado o direito de agir, o que

vem fazendo de agora por diante, cm a applicação de multas áquelles que

demonstrarem essa negação completa a uma causa tão útil quanto proveitosa- a

hygiene-. Ficarão, pois d´ora avante todos scientes da resolução tomada pelo

município que leva nisso o interesse único de zelar pela saúde nossa e

conseqüentemente de uma cidade bella e remodelada. Serão multados todos aqueles

que se conduzirem de modo contrario as regras estabelecidas pela hygiene, sendo

muito luvavel o procedimento do chefeado executivo aqui. (Edição, 1 de novembro

de 1918)

Entre os problemas relatos nos jornais também estavam os animais soltos nas principias

avenidas como cães e galinhas que prejudicavam o embelezamento e ordem pública do município.

Não sabemos por que, ainda a vice- jam as flores dos jardins públicos desta cidade,

uma vez que a fiscalisação municipal vai a descaso tremendo ás posturas municipaes

em vigor. Certo é que nas ruas principais desta cidade que têm todas as suas casas

com quintais cercados, não é licito que o município consinta á solta a criação de

galinhas, gansos e animais outros pastam desabrigados, desfazendo assim Serrinha

dos foros de cidade civilizada. (Edição, 1 de novembro de 1918)

As análises dos jornais compravam que as transformações implantadas pelo intendente

Luiz Nogueira procuraram inserir a cidade num mundo moderno e civilizado. As reformas

Page 30: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

30

urbanas contribuíram em grande parte para o crescimento do município e a reorganização do

espaço, implicando na totalidade de relações sociais, políticas e econômica.

Page 31: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

31

CAPÍTULO III

IMAGENS DA URBANIZAÇÃO.

Page 32: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

32

Os documentos, de modo geral, apontavam somente o pensamento oficial dos grupos

dominantes. Os historiadores apenas utilizavam os textos oficias como fonte de pesquisa e

em sua grande maioria os trabalhos concentravam-se em relatar os acontecimentos políticos,

militares, diplomáticos, entre outros. No entanto, com o surgimento da Revista dos Annales

em 1929, seus principias autores, Lucien Febvre e March Bloch, trouxeram uma nova

perspectiva documental que ressaltavam a importância e a necessidade da utilização de outras

fontes, foi nesse período de quebra de paradigmas que a fotografia, lentamente, começava a

ganhar espaço nesse campo de atuação.

Durante sua história a iconografia tem se destacado num espaço predominante

ocupado por textos adquirindo diversos formatos e funções. As várias questões que envolvem

o estudo das imagens tem sido objeto de um crescente conjunto de investigações no campo o

que tem contribuído para o desenvolvimento de pesquisa entre a fotografia e o conhecimento

científico, mesmo assim ainda é pouco utilizada pelos historiadores.

As imagens revelam seu significado quando ultrapassamos sua barreira

iconográfica; quando recuperamos as histórias que trazem implícitas em sua forma

fragmentária. Através da fotografia aprendemos, recordamos, e sempre criamos

novas realidades. Imagens técnicas e imagens mentais interagem entre si e fluem

ininterruptamente num fascinante processo de criação/construção de realidades - e

de ficções. São essas as viagens da mente: nossos "filmes" individuais, nossos

sonhos, nossos segredos. Tal é a dinâmica fascinante da fotografia, que as pessoas,

em geral, julgam estáticas. Através da fotografia dialogamos com o passado, somos

os interlocutores das memórias silenciosas que elas mantêm em suspensão. (KOSSOY, 2005, p.36)

Todo pesquisador que utiliza a fotografia como fonte deve saber que além de ser um

documento a foto é um instrumento da memória e ideologia. As imagens estão diretamente

relacionadas ao seu contexto cultural e isto implica em observar as intenções, usos e

finalidades que nortearam sua produção. Muito se debateu sobre sua veracidade e

subjetividade, entretanto os questionamentos não colocam em xeque a idéia de imagem como

documento.

Segundo Susan Sontag (2004) ―o inventario teve início em 1839, e desde então,

praticamente tudo foi fotografado‖ (p.51). Quando se transforma em documento histórico a

foto passa a adquirir características que vai além de sua função primária fornecendo indícios

das relações sociais, modo de vida, etc. O retrato de uma família não se limita a sua função

original de registrar seus membros, por meio dela o pesquisador pode obter informações como

Page 33: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

33

identificar o grau de parentesco de cada pessoa e relações, que podem ser confrontados por

outros documentos. Assim, ―as fotos não podem criar uma posição moral, mas podem reforçá-

la e podem ajudar a desenvolver essa posição moral (SONTAG, 2004, p.56)‖. Nesse sentido,

fazer a história sem algum tipo de tendência viciosa não se adéqua as imagens sendo assim é

preciso desestruturar o documento para descobrir suas condições de produção e é necessário

que o pesquisador fique atento a estas questões, logo que interpretar as imagens como única

verdade seria cometer um grande equívoco.

Partindo do pressuposto que a fotografia histórica é importante objeto a ser

analisado na construção de uma narrativa de uma sociedade, propomos aqui uma amostra de

algumas fotos da Praça Luiz Nogueira que auxiliaram na compreensão do processo de

urbanização nas primeiras décadas do século XX no município de Serrinha.

Fotos 1 e 2 - Praça Manuel Vitorino atual Praça Luiz Nogueira

Fonte: Museu Pró-memória de Serrinha.

A foto do início do século XX passa mensagem de uma cidade bastante organizada

ruas limpas e ordenadas. Entendemos que a foto foi feita com o intuito de mostrar a beleza do

município seu progresso e ordenamento, podem ser observadas elementos ditos pelos jornais

como os melhoramentos realizados na avenida principal que foi calçada com pedras. Vale

ressaltar que a aparência das pessoas trajada em roupa elegante e clara também é um aspeto

da modernidade. Porém, sabe que a maioria da população desta época não se vestia sempre

assim.

Uma das principais características da fotografia é registrar o aparente, construindo

assim realidades a partir dessa aparência. A imagem tem o privilegio de selecionar, à

Page 34: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

34

realidade dos fatos, das emoções e das coisas do mundo e nos mostra uma determinada versão

iconográfica do objeto representado. Quando este é relacionado ao comportamento, percebe-

se que a uma grande diferença entre ambos, logo que a substancia não pode ser captada pela

subjetividade das imagens. Assim,

As imagens revelam seu significado quando ultrapassamos sua barreira

iconográfica; quando recuperamos as histórias que trazem implícitas em sua forma

fragmentária. Através da fotografia aprendemos, recordamos, e sempre criamos

novas realidades. Imagens técnicas e imagens mentais interagem entre si e fluem

ininterruptamente num fascinante processo de criação/construção de realidades —

e de ficções. São essas as viagens da mente: nossos ―filmes‖ individuais, nossos

sonhos, nossos segredos. Tal é a dinâmica fascinante da fotografia, que as pessoas,

em geral, julgam estáticas. Através da fotografia dialogamos com o passado, somos

os interlocutores das memórias silenciosas que elas mantêm em suspensão

(KOSSOY, 2005,p.49).

Em Serrinha a Praça Luiz Nogueira (Foto 1 e 2) foi um dos espaços urbanos de

grande destaque em sua história, no período colonial seu papel foi fundamental nas relações

políticas e sociais. Juntamente com as ruas, as mesmas serviram de inspiração para escritores

e pintores do século XX que vivam nesses espaços de transformação. Assim, a praça foi o

centro das reformas urbanas na cidade supracitada. Esse ambiente foi essencial para o

desenvolvimento da vida urbana tornando-se um ícone social onde podem ser encontrados

vários elementos da ideologia modernizadora conforme descrito na edição de 27 de janeiro de

1918. Por ser um local pequeno, a praça é o núcleo do município, o ponto de encontro de

diversos segmentos sociais, nela aconteciam constantemente às festas, os encontros políticos

citados no jornal. Inicialmente a praça Manoel Vitorino era murada e as pessoas entravam por

um pequeno portão, mas em 1918 em homenagem ao seu intendente recebeu o nome de Luiz

Nogueira.

Assim, as reformas no espaço público tinham como principal objetivo embelezar a

cidade fazendo com que a mesma alcançasse a estética de grandes urbanos do interior baiano.

Podemos perceber nas fotos (3,4 e 5) que as praças são bastantes aborrizadas e limpas de

acordo com Leite (1996) estes elementos podem ser apontados como componetes da ideoliga

modernizadora.

Foto 3- Jardim da Praça Manoel Vitorino quando era murada.

Page 35: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

35

Fonte: Museu Pró-memória de Serrinha.

Foto 4- Igreja Matriz Velha

Fonte: Museu Pró-memória de Serrinha.

Segundo Viotti a igreja foi umas das entidades mais importantes no período colonial,

além de sua influencia e das práticas religiosas a igreja fez parte da vida cultural e social do

país. Assim também aconteceu no município que cresceu em volta da antiga matriz hoje

chama de igreja velha. Na igreja devota a Nossa Senhora Santana aconteceram várias

celebrações importantes, a mesma fica em frente ao correto, que foi muito utilizado para a

realização de festas na cidade e discurso dos políticos.

Page 36: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

36

Foto 5 e 6- Coreto de Serrinha

Fonte: Museu Pró-memória de Serrinha.

A estrada de ferro é o primeiro sinal da inserção da modernização no Brasil. A

chegada do trem na cidade como foi relatado no segundo capítulo II vai modificar seu

cenário. Nesse momento apresentavam-se profundas alterações na sociedade, a população

crescia e o espaço urbano transformava-se. Em volta dos trilhos criou-se um bairro chamado

Estação. No local foi construído um hotel para receber os viajantes que chegavam à estação e

hoje abriga um hospital estadual.

Foto 7- Inicio do seculo XX do antigo hotel que hoje situa-se o hopistal estadual

Page 37: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

37

Fonte: Museu Pró-memória de Serrinha.

Foto 8 - Inicio do seculo XX da Antiga Estação

Fonte: Museu Pró-memória de Serrinha.

Portanto, as imagens do inicio do século XX mostram um município, sempre bem

cuidado e limpo. A Praça Luiz Nogueira e a Estação de Trem principais locais da época

desejam transmitir a mensagem de uma cidade civilizada e inserida no mundo moderno. O

papel da fotografia tem sido imprescindível para a reconstrução da história de muitas cidades.

Para elucidar algumas questões e discussões as imagens se tornam indispensáveis, pois muitas

vezes só elas possuem informações que permitem um maior entendimento sobre seu objeto de

estudo.

Page 38: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

38

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos às primeiras tentativas para remodelar a cidade teve inicio em 1917

com a administração de Luiz Nogueira. Nomeado intendente de Serrinha pelo governador J.

J. Seabra, o Tenente- coronel foi responsável pela implantação do primeiro plano urbanístico

da cidade e o segundo no interior da Bahia. Nesse mesmo período, promovido pelo então

governador, a capital baiana passou por reformas em sua estrutura. Sendo assim, podemos

afirmar que as modificações urbanas no município sofreram influência direta das

transformações na capital.

No referido estudo, foram identificadas algumas práticas modernas que estiveram

presentes durante o processo de reforma urbana. Além de ser visto como algo inovador que

iria elevá-la ao patamar de moderna e civilizada os melhoramentos foram responsáveis por

alterar a dinâmica do município. As atividades no campo cultural que também foram

consideradas elementos importantes para a inserção na modernidade se intensificaram cada

vez mais. A partir de então a imprensa será criada, os encontro políticos serão freqüentes, as

festas e os eventos cresciam em grande número sendo que uma das grandes atrações foi à

fanfarra da Filarmônica 30 de Junho que sempre esteve presente nos dias de festas.

As principais reformas da cidade estavam nos espaços públicos como ruas, praças,

calçadas o que demonstra uma preocupação por parte da intendência pelo embelezamento do

ambiente. As mudanças de feição dos espaços mais arborizado, com jardins e flores deixava a

cidade cada vez mais bonita o que fazia com que os políticos e principalmente a imprensa

representada pelo jornal, acreditassem que a partir destas mudanças; Serrinha estava no

caminho do progresso, do crescimento material e o mais importante da modernização.

Entretanto, não foram apenas os espaços públicos que sofreram alteração, muito

comum no projeto modernizador de varias regiões as medidas coercivas foram utilizadas para

a mudança de hábitos e costumes o que também se fez presente no município. A população

serrinhense teve que se adequar às transformações sociais e para garantir que as normas

fossem cumpridas os fiscais do município tinham como função vigiar e controlar a cidade,

Page 39: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

39

pois só através deste e das multas a intendência acreditava que as pessoas cumpririam com os

novos hábitos e assim protegeria o ambiente e proporcionaria uma cidade mais higiênica.

Símbolo de progresso e crescimento intelectual, o Jornal de Serrinha é um dos

poucos documentos sobre a memória local nesse período, durante três anos de edição o

tablóide foi responsável por divulgar, criticar e defender a vida pública, além de registrar

informações sobre os eventos culturais e políticos. Foram observados neste documento

elementos citados por Nelson Traquina(2005) como características do jornalismo moderno

podem perceber a inserção de caricatura e figuras, o discurso que tinha como propósito se

distanciar da ―politicagem‖ e o gênero informativo que foi identificado através das

reportagens com cunho social em defesa do povo.

Sendo assim, a circulação do Jornal de Serrinha exerceu papel importante para

entendermos da narrativa desta sociedade e como os cronistas da época refletiam sobre as

mudanças urbanas ocorridas no município e percebiam a dinâmica de uma nova sociedade

com valores que sinalizaram a modernidade no século.

Portanto, ficou explicito que as instituições públicas e suas repartições assim como

os intelectuais e principalmente a imprensa foram responsáveis pelo projeto modernizador no

município. Desta forma, características como: as idéias de modernização, embelezamento,

higienismo, normatização e moralização de costumes presente no discurso civilizatório da

modernidade do Brasil no século XX também estiveram presentes durante os processos de

reformas urbanas no município de Serrinha.

Page 40: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

40

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,

1975.

BERMAN, Marshall. Tudo Que é Sólido Desmancha No Ar: A Aventura da

Modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

BETHELL, Leslie. História da América Latina, volume VI : a América Latina após 1930

: economia e sociedade. São Paulo: EDUSP; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão,

2005.

COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia À República: Momentos Decisivos. 8. ed São

Paulo: Editora UNESP, 2007.

CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. SãoPaulo:

Companhia das Letras, 1996.

FERNANDES, Etelvina Rebouças. Do Mar da Bahia ao Rio do Sertão: Bahia and San

Francisco Railway. Salvador: Secretária da Cultura e turismo, 2006.

FRANCO, Tasso. Serrinha – A colonização portuguesa numa cidade do interior da

Bahia. Salvador: EGBA, 1996.

FREITAG, Barbara. Projeto Itinerâncias Urbanas ,Rio de Janeiro , Set. 2002.

Disponívelhttp://vsites.unb.br/ics/sol/itinerancias/resenhas/freitag_barbara.html>.Acessado

em: 13 Set.2009.

Kossoy, Boris. Relógio de Hiroshima: reflexões sobre os diálogos e silêncios das

imagens.Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 25, nº 49, p. 35-42 – 2005.

MUNFORD, Lewis. A Cidade na história. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Imaginário da cidade: visões literárias do urbano. 2. ed

Porto Alegre: UFRGS, 1999.

PINHEIRO, Eloísa Petti. Europa, França e Bahia: difusão e adaptação de modelos

urbanos. Salvador: EDUFBA, 2002.

Page 41: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

41

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 23.ed. São Paulo:

Brasiliense, 1996.

SEVCENKO, Nicolau. História da vida privada no Brasil: república: da Belle époque á

era do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SHORSKE, Carl E. Viena Fin-De-Siècle: Política E Cultura. São Paulo: Companhia das

Letras, 1988.

SODRÉ, Nélson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4.ed. Rio de Janeiro : Mauad,

1999.

SONTAG,Susan.Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras,2004.

TAVARES, Luís Henrique Dias. 1926 – História da Bahia. São Paulo: Unesp: Salvador,

BA: Edufba, 2001.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo – Porque as notícias são como são. 2.ed.

Florianópolis : Insular,2005. Vol.I

VAINFAS, Ronaldo (ogr.) Domínios Da História: Ensaios De Teoria E Metodologia. Rio

de Janeiro: Campus, 1997.

WILHELM, Friedrich Nietzsche.Além do Bem e do Mal. São Paulo:Hemus,2004.

Page 42: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

42

FONTES

JORNAL:

Jornal de Serrinha:

-Edição, de 12 de Outubro de 1917.

-Edição, de 21 de Outubro de 1917.

-Edição, de 28 de Outubro de 1917.

-Edição, de 16 de Novembro de 1917.

-Edição, de 23 de Novembro de 1917.

-Edição, de 30 de Novembro de 1917.

-Edição, de 07 de Dezembro de 1917.

-Edição, de 14 de Dezembro de 1917.

-Edição, de 21 de Dezembro de 1917.

-Edição, de 28 de Dezembro de 1917.

-Edição, de 04 de Janeiro de 1918.

-Edição, de 11 de Janeiro de 1918.

-Edição, de 18 de Janeiro de 1918.

-Edição, de 25 de Janeiro de 1918.

-Edição, de 01 de Fevereiro de 1918.

-Edição, de 15 de Fevereiro de 1918.

-Edição, de 22 de fevereiro de 1918.

-Edição, de 08 de Março de 1918.

-Edição, de 29 de Março de 1918.

-Edição, de 05 de Abril de 1918.

-Edição, de 19 de Abril de 1918.

-Edição, de 26 de Abril de 1918.

-Edição, de 03 de Maio de 1918.

-Edição, de 17 de Maio de 1918.

-Edição, de 24 de Maio 1918.

-Edição, de 14 de Junho de 1918.

-Edição, de 21 de Junho de 1918.

-Edição, de 28 de Junho de 1918.

Page 43: Vivências urbanas na cidade de serrinha   ba (1917-1919)

43

-Edição, de 05 de Julho de 1918.

-Edição, de 12 de Julho de 1918.

-Edição, de 27 de Julho de 1918.

-Edição, de 09 de Agosto de 1918.

-Edição, de 17 de Agosto de 1918.

-Edição, de 30 de Agosto de 1918.

-Edição, de 13 de Setembro de 1918.

-Edição, de 04 de Outubro de 1918.

-Edição, de 12 de Outubro de 1918.

-Edição, de 25 de Outubro de 1918.

-Edição, de 01 de Novembro de 1918.

-Edição, de 08 de Novembro de 1918.

-Edição, de 15 de Novembro de 1918.

-Edição, de 27 de Dezembro de 1918.

-Edição, de 01 de Janeiro de 1919.

-Edição, de 17 de Janeiro de 1919.

-Edição, de 24 de Janeiro de 1919.

-Edição, de 27 de Janeiro de 1919.

-Edição, de 07 de Fevereiro de 1919.

-Edição, de 21 de Fevereiro de1919.

-Edição, de 24 de Março de 1919.

-Edição, de 27 de Março de 1919.

-Edição, de 04 de Abril de 1919.

-Edição, de 18 de Abril de 1919.

-Edição, de 09 de Maio de 1919.

-Edição, de 30 de Maio de 1919.

-Edição, de 13 de Junho de 1919.

-Edição, de 20 de Junho de 1919.

-Edição, de 29 de Junho de 1919.

-Edição, de 10 de Agosto de 1919.

-Edição, de 24 de Agosto de 1919.

-Edição, de 31 de Agosto de 1919.

-Edição, de 07 de Outubro de 1919.