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VIVEIRO DE MUDAS FLORESTAIS COM ESPÉCIES DE
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA E ECONÔMICA EM
ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA
RELATÓRIO ANUAL 2007
RESUMO
Durante o ano de 2007 foi desenvolvido o projeto de extensão UFRGS, em
conjunto com o Grupo de Apoio à Reforma Agrária, chamado Projeto Viveiros. O
viveiro de mudas nativas foi desenvolvido no assentamento da reforma agrária
Herdeiros de Oziel que localiza- se no município de São Jerônimo, RS. O grupo que
desenvolveu o projeto englobou estudantes dos cursos de Ciências Biológicas,
Agronomia, Relações Públicas e História em conjunto com professores da Ufrgs
(Agronomia e Ciências Biológicas).
O projeto foi discutido e avaliado junto à comunidade, de maneira que todos os
processos e atividades ficaram bem esclarecidos. O acesso às mudas arbóreas de
espécies nativas diversas, com poucos recursos, fez com que os assentados trabalhassem
em conjunto com os estudantes, desde a coleta de sementes à construção do viveiro.
Figura 1. Discussão do projeto do viveiro junto à comunidade do assentamento da
reforma agrária Herdeiros de Oziel localizado no município de São Jerônimo, RS.
RESULTADOS
A primeira etapa foi a apresentação do projeto do viveiro à comunidade, sendo
que a necessidade e a demanda por espécies nativas pela comunidade facilitou todo o
processo (Figura.1). Junto às primeiras visitas e conversas também se refletiu sobre o
local para a construção do viveiro e as áreas-alvo do zoneamento agroecológico.
A necessidade de mudas nativas e a recepção positiva do projeto fez com que
aparecessem vários locais para a implementação do mesmo. Mas, depois de várias
análises, levando em conta, principalmente a localização de uma fonte de água, o
viveiro foi implementado em um lote do assentamento Herdeiros de Oziel que ficou
localizado centralmente permitindo o acesso de todos os moradores (Figura 2).
Figura 2. Açude localizado próximo ao lote onde está o viveiro do assentamento da
reforma agrária Herdeiros de Oziel localizado no município de São Jerônimo, RS.
A construção do viveiro foi realizada pelos próprios extensionistas em conjunto
com os assentados, sendo que os recursos foram disponibilizados pelas bolsas de
extensão e as demais estruturas, como a madeira, pelos moradores (Figura 3).
Figura 3. A construção do viveiro com recursos das bolsas de extensão e dos próprios
moradores no assentamento da reforma agrária Herdeiros de Oziel localizado no
município de São Jerônimo, RS.
A construção do viveiro promoveu ações de educação ambiental e humana,
reforçando a ligação do grupo com a comunidade. Também promoveu a capacitação de
agentes para a conservação e a utilização da agrobiodiversidade através de ações que
permitiram ao grupo conhecer mais sobre adubação, compostagem e conservação do
solo.
A etapa seguinte à construção foi a preparação do solo para a semeadura (Figura
4). Só que antes precisávamos também de sementes. A coleta, a principio tinha como
referência à região, para a manutenção do pool genético. As áreas escolhidas foram: o
próprio assentamento, as vias públicas, as matas ciliares, parques públicos, etc. Estas
coletas se deram através de saídas de campo com alguns assentados e moradores de São
Jerônimo. Outras sementes foram doadas por outros viveiristas, como o viveiro do curso
de Biologia da Universidade administrado pelo diretório acadêmico (DAIB).
Figura 4. Preparação do solo do viveiro para a semeadura no assentamento da reforma
agrária Herdeiros de Oziel localizado no município de São Jerônimo, RS. Na capina os
extensionistas do projeto com o proprietário do lote.
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Figura 5. Almoço durante a coleta de sementes realizada na mata-ciliar do Arroio
Forqueta, localizado na região. Feita pelos extensionistas e do assentamento da reforma
agrária Herdeiros de Oziel localizado no município de São Jerônimo, RS.
Além da formação sócio-ambiental horizontal no assentamento, a troca de
conhecimento entre os diversos atores envolvidos, tanto assentado/viveirista e vice-
versa, houve a preocupação de um maior contato com outros viveiros e suas rotinas.
Para isso, alguns assentados participaram de cursos de formação para viveiristas e de
coleta de sementes na região de Mata Atlântica, no município de Maquine, RS. O curso
foi oferecido pelo DESMA (Núcelo de Estudos em Desenvolvimento Rural Sustentável
e Mata Atlântica) e PGDR (Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural) da
Ufrgs.
As primeiras semeaduras foram em setembro, aproveitando o clima favorável da
primavera. A continuação das atividades se deu pela aquisição de novas sementes de
mais espécies e manutenção do viveiro com a formação ambiental da comunidade.
O espaço do viveiro serviu como núcleo de biodiversidade e fonte de inspiração
comunitária, para a construção de novos espaços, como hortos medicinais e
paisagísticos. Iniciou-se a produção de mudas florestais para serem utilizadas em
recuperação ambiental, frutíferas e não frutíferas como as espécies: Allophylus edulis
(chal-chal), Eugenia uniflora (pitangueira), Myrciaria trunciflora (jaboticaba),
Tabebuia pulcherrima (ipê-amarelo), Parapiptadenia rigida (angico-vermelho), Luehea
divaricata (açoita-cavalo), Campomanesia xanthocarpa (guabiroba), Eugenia
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involucrata (cerejeira), Euterpe edulis (palmito ou palmeira-juçara), Syagrus
romanzoffiana (gerivá ou coqueiro-do-mato).
As atividades de construção e manutenção do viveiro refletiram na comunidade
em uma maior autonomia, com menos dependência do mercado, através da
diversificação de culturas e do trabalho comunitário, utilização de materiais
simplificados, assim como a valorização histórico-cultural dos agentes/assentados
envolvidos. Além disso, houve o confronto com o atual modelo de desenvolvimento
econômico proposto pelo agronegócio monocultural e exportador, que exclui e
inviabiliza a produção familiar em pequena escala.
O projeto neste período de 2007 contou com mutirões em que alunos de outros
cursos da UFRGS que não estão envolvidos diretamente com o viveiro e também
estudantes de outras universidades, passaram o final de semana no assentamento
trabalhando no viveiro e vivenciando a rotina da comunidade local.
A nossa última etapa realizada foi o processo de repicagem das mudas que
apresentaram um tamanho maior como as da espécie Parapiptadenia rigida (angico-
vermelho) e Euterpe edulis (palmito ou palmeira-juçara). As mudas foram
acondicionadas em caixas de leite e suco (Tetra Pak) adaptadas e foram posteriormente
organizadas por espécie (Figura 6). Juntamente à repicagem os extensionistas, com a
ajuda de ferramentas disponibilizadas pelos moradores do lote, arearam a terra e
prepararam-na para receber mais sementes.
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Figura 6. Repicagem de mudas para recipientes reciclados (Caixas Tetra Pak) no viveiro
do assentamento da reforma agrária Herdeiros de Oziel localizado no município de São
Jerônimo, RS.
CONCLUSÕES
O término de uma primeira grande etapa, que foi a construção do viveiro até as
primeiras mudas encerrou um ciclo no projeto, passando por várias etapas menores
(planejamento, discussão, local do viveiro, coleta de sementes, semeadura, repicagem,
etc) (Figura 7). Agora, novo ciclo se abrirá, através da produção de mudas de muitas
outras espécies e o plantio delas nos locais escolhidos e apropriados.
Foi acordado entre os extensionistas e a comunidade que ainda faltam muitas
etapas para a concretização do projeto. Falta o plantio de diversas outras espécies bem
como a ampliação da área de abrangência das mudas. A cada mês mais estudantes da
universidade e pessoas próximas, bem como as do próprio assentamento vão aderindo
ao projeto e auxiliando no mesmo. Cada vez mais também cresce a expectativa de todos
em ver as mudas se desenvolvendo e a mudança da paisagem local que antes desmatada
e habitada por Eucaliptus spp. e Pinus agora com perspectivas de povoamento de
espécies nativas que conseqüentemente atrairão a fauna e servirá de base para o
desenvolvimento de outras espécies de flora.
Figura 7. Vista do viveiro concluído no assentamento da reforma agrária Herdeiros de
Oziel localizado no município de São Jerônimo, RS.
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Acreditamos que o projeto serviu também para aproximar os moradores e os
estudantes criando um clima de amizade, aprendizagem e também a necessidade de
organização e cooperação por ambos os lados. As relações entre a vida campesina e
urbana e a troca de hábitos culturais certamente foram um dos pontos positivos que
precisam ser mencionados. Comidas típicas da terra e atividades culturais também
fizeram parte do projeto (Figura 8).
Figura 9. Atividade musical do músico peruano “Luís” durante a coleta de sementes
para o viveiro do assentamento da reforma agrária Herdeiros de Oziel localizado no
município de São Jerônimo, RS.
No último mês em prol da infraestrutura do viveiro, foram pintados os moirões e
construída uma placa com o nome do viveiro: GARRA NATIVA, nome que tem pelo
menos três interpretações: GARRA na ativa, referindo-se ao grupo de apoio à reforma
agrária; NATIVA – significando as mudas, espécies nativas e a cultura; e GARRA
NATIVA, representando todos os ideais e a luta para avançarmos na reforma agrária e a
busca para um mundo sustentável (Figura 9).
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Figura 9. Construção da placa do viveiro em 15/12/2007 no assentamento da reforma
agrária Herdeiros de Oziel que localizado no município de São Jerônimo, RS.
Portanto, pelo sucesso da iniciativa, pelas novas etapas futuras e o financiamento
de todas as atividades, desde deslocamento até a estrutura do viveiro, existe uma
necessidade da continuidade de bolsistas e sua renovação para podermos que sabe no
final de 2008 termos um projeto concluído com todos os objetivos alcançados,
principalmente a autonomia e independência do viveiro em relação aos extensionistas e
dos assentados na produção de suas próprias mudas.