visões e percepções tradicionais

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  • 8/19/2019 Visões e Percepções Tradicionais

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    Visões e Percepções Tradicionais por Honorat Aguessy.

     Neste estudo, Aguessy investiga o que compõe a visão tradicionalista das culturasnegras africanas, suas visões, seus modos de transmissão, etc. in História Geral da

     África. São aulo! Ática, "#$" volume "

    «Não se conhece tudo. Tudo o que se conhece é uma parte de tudo.»Pensamento Peu.!uando se começa a tratar da cutura na "uropa# a primeira atitude consiste em procurar re$er%ncias noutros autores& o con'unto dos escritos dos di(ersos autores de$ine o campocutura que o homem cuto tem necessariamente de conhecer e dominar.Tratando)se da *$rica# da *$rica em gera# procede)se de outro modo& a dominante emmatéria de cutura desoca)se do escrito para o ora. "sta mudança não pode dei+ar deimpicar conseq,%ncias particuares não s- no que se reaciona com as $ontes dos(aores cuturais mas tamém no que se re$ere ao estatuto e ao destino pr/tico dascondições e dos (igentes de transmissão do modo de concepção do mundo.!ua é então o proprium a$ricanum da concepção do uni(erso# da (ida# da sociedade01eria surpreendente pensar que as sociedades não a$ricanas nunca ti(essem tido idéias

     peo menos simiares 2s dos A$ricanos sore estes assuntos.1er)nos)/ permitido $aar# desde o princ3pio# de in$u%ncia e+terior 4hip-tese que sempreocecou aguns escritores europeus etnoc%ntricos50 1eria demasiado $/ci# de cada (e6que as sociedades humanas re(eassem certas simiaridades# recorrer 2 hip-tese queinspira a reação actua de $orças# e+camando& «Não7 "sses o'ectos de arte não podemter sido produ6idos por A$ricanos no sécuo V8 a. 97 9ertamente que hou(e# nesse ugar#

     passagem e in$u%ncia de europeus7» :econhece)se aqui o tipo de re$e+ão que um semn;mero de europeus $a6 quando se hes $aa dos o'ectos de arte de No proprium a$ricanum de(e ser procurado no meio amiente cutura 4incuindo aecoogia5 diaecticamente trans$ormado.@i6emos diaecticamente trans$ormado porque h/ uma troca entre o meio amiente e ointeecto# trans$ormação do meio amiente peas produções do inteecto# reapropriação

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    do inteecto trans$ormado peo meio amiente 4incuindo# e(entuamente# as mudançasque impicam os contactos com outras sociedades5.

     Nestas condições# ser/ necess/rio ter em conta di$erentes (ari/(eis para de$inir o propr3um a$r3canum. !uais são0"m prieiro ugar destacam)se as condições te;ricas 4cima# estações# cheias e regime

    de chu(as5 e# de um modo gera# eco-gicas& as poss3(eis (ariações de acordo com a(egetação# a sa(ana# a $oresta cerrada# a hidrogra$ia# podem 'usti$icar as modaidadesde po(oamento e de comunicação e os pontos ne(r/gicos do modo de pensar a$ricano.9onseguiu)se assim determinar o pen)amento dos pantadores da sa(ana# dos caçadoresdas estepes# dos pastores 4asro# Nuer# 1hiu

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    =ouis) Vincent Thomas mostra como tr%s idéias mestras podem e+primir o car/cter domodo de pensar a$ricano# que e(a a uma espécie de percepção impressionista domundo&?5 Fma certa contaminação ao n3(e dos conceitos 4entre o materia e o espiritua# pore+empo5

    G5 Fma repugnCncia em coocar os proemas reati(os 2 nature6a e 2 ordemI5 Fma not-ria incapacidade em passar da ideoogia 2 operação -gica.

     Na maior parte dos traahos que tentam apro$undar o campo cutura a$ricano destaca)se a e+traordin/ria compe+idade da (isão unit/ria que *$rica tem do mundo. @i$erentesn3(eis de e+ist%ncia e di$erentes seres encontram)se unidos pea «$orça)(ita». "ssesdi$erentes seres são& o 1er supremo# os seres sorenaturais 43doos e esp3ritos5# as amasdos de$untos 4antepassados pr-+imos dos homens5# os homens (i(os# os uni(ersos(egeta# minera e anima e o uni(erso m/gico.

     Nesta perspecti(a# tudo se passa como se o mundo pudesse ser representado por umtriCnguo que mostrasse& ?5 no cimo e por $ora# o 1er supremo G5 na ase# os poderes

    m/gicos in$eriores I5 nos dois outros ados# os seres sorenaturais5 por um ado# e osantepassados5 por outro J5 por dentro# o homem5 representado no interior de um c3rcuorodeado por todos os ados peo uni(erso materia.Assim se apresenta o esquema desse mundo onde o uni(erso# a (ida e a sociedade estãoine+trica(emente igados e simioticamente en(o(idos.Poder)se)/ apro+imar essa $orça da $orça (i(a que =eini6 di6 ser «quaquer coisa dedi$erente do tamanho da $igura e do mo(imento# e poder)se)/ assim 'ugar que tudo oque é conceido no corpo não consiste unicamente na e+tensão e nas suas modi$icações#como os modernos estão persuadidos. @este modo# somos origados a restaeeceraguns seres ou $ormas que ees aniram» 4@iscurso de eta$3sica50 1er/ necess/rio

    compar/)a ao impuso (ita ergsoniano# que se mani$esta peo desdoramento noespaço da aparição das espécies# ou como simpes tend%ncia que mantém acompe+idade das reai6ações da geneaogia dos seres0>u pensar essa $orça (ita como a e+pressão dinCmica das contradições $ecundas que osseres escondem01empre que os pensadores tratam deste assunto ser) (em)se de uma pro$usa (ariedadede met/$oras.9itemos Kanhein6 Kahn 4I5# que escre(e& «Ntu é o termo que designa o centro$undamenta das $orças# o uni(erso energético origina ee não é# em si pr-prio# o'ectode (eneração. > representante m3tico desse uni) (erso energético# a que chamamosL@eusL# Nya)urunga o LDrande 9riadorL >orum# Amma# Vidye# 8mmane# ou umquaquer outro nome# tamém não pode entrar em reação directa com o homem.»«Ntu# precisa ee# é a $orça uni(ersa enquanto ta# pura e simpesmente. Ntu é a $orça noseio da qua o ser e o ente coincidem. No seio de Ntu estão ausentes as contradiçõescom que André Breton se deate# e o LpontoL a. que ee se re$ere não é de modo agumLong3nquoL# é antes e peo contr/rio pr-+imo. Ntu é as pr-prias coisas e não umadeterminação que se hes 'unta.»Fm a ingu3stica que ser(e de eemento de comparação a um outro autor para precisar osentido desta $orça (ita& «Poder)se)ia comparar a $ioso$ia assim (i(ida a uma $rase queenunciasse uma mensagem origina& ea compõe)se de di(ersos eementos 4(ero#su'eito# compementos# ad'ecti(os# ad(ério# etc.5 e cada um dees é indispens/(e paraa signi$icação tota# mas separados numa an/ise -gica não representam senão uma

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    @eus de *gua 4di/ogos com >gotemm%i e :aposa P/ida5 arce Driaue de$ende ae+ist%ncia de $ioso$ia em *$rica. > seu interocutor dogon# >gotemm%i# representa

     para ee o testemunho mais incontest/(e de ta $acto. 9om e$eito# >gotemm%idesen(o(eu# a prop-sito do uni(erso# da (ida# da sociedade e da génese do mundo#idéias que mara(iharam Driaue.

    "is a amiguidade termino-gica com que =.V. Thomas# por seu ado# e+põe a suaopinião sore o proema& «A originaidade da escoa etno-gica moderna consiste emter e(idenciado as $ioso$ias a$ricanas compar/(eis e mesmo superiores ) di6em)nos ) 2smeta$3sicas grega 4. Driaue5 ou cartesiana 4:. P. Tempes5. 1em dei+ar de re$erir aignorCncia reati(a que estas atitudes mani$estam 4e(idente no caso de :. P. Tempes5em reação 2s $ioso$ias européias# não podemos tamém dei+ar de considerarsemehantes pretensões como e+cessi(as. H/# por certo# um sentido ato da paa(ra$ioso$ia que considera $i-so$o quaquer pessoa que re$icta um pouco# que se es$orce

     por ter idéias de con'unto sore o mundo e reacione o seu comportamento mora comaguns ee) mentos cosmog-nicos. @este ponto de (ista# h/ uma $ioso$ia dioa porque

    h/ um modus (i(endi dioa. 1em d;(ida que a concepção dinCmica do uni(erso# ahierarquia das $orças# a ei de antecipação 4...5 t%m poder e pro$undidade mas uma(erdadeira $ioso$ia impica a idéia de sistema& o que supõe simutaneamente a s3ntese ea astracção# duas caracter3sticas que não parecem ser $requentes na *$rica negra 4...5A?ém disso# uma (erdadeira $ioso$ia e+ige uma 'usti$icação -gica# uma distanciaçãodo pensamento perante si mesmo a $im de se 'ugar ora o esp3rito cr3tico não é umaquaidade essencia da ama a$ricana# mais sensua que re$ectida# mais m3stica queepistemo-gica 4...5 > compe+o das tradições e das concepções negro)a$ricanasconstitui um con'unto que raramente podemos quai$icar como $ioso$ia propriamentedita# se considerarmos como $ioso$ia a aceitação da in(estigação onto-gica e+pressa

    num sistema conscienciosamente eaorado 4R5.»> deate não $ica por aqui. Porque Kanhein6 Kahn# ao empregar a e+pressão «$ioso$iatradiciona» no cap3tuo quarto da sua ora 4Ntu5# precisa que ea é a «pedra anguar dacutura a$ricana» escre(e&«Poderemos ser reatidos ao di6erem)nos que o pensamento $ios-$ico postua umatomada de consci%ncia de que não encontramos e+empo e+p3cito no passado de *$rica#que nos o$erece apenas mitos 4S5 .»as para ee ta o'ecção '/ $oi re$utada. @esde que ha'a consci%ncia# a imagem domundo que era o'ecto de crença# de intuição e de e+peri%ncia (i(ida trans$orma)se em$ioso$ia. «Todas as coisas t%m a sua $ioso$ia» escre(eu Eriede# ou mais e+actamente&«Todas as coisas são $ioso$ia. A tare$a do homem é procurar a idéia que se encontraescondida em cada coisa# pesquisar em cada coisa > pensamento que he d/ $orma.»9oncuindo# Kanhein6 K ahn decara& «9omo se trata de uma $ioso$ia a$ricana e não deuma (ariedade da $ioso$ia européia# torna)se e(identemente perigoso e+pressar esta$orma de pensamento com as usadas no mundo do (ocau/rio europeu.»"sta contro(érsia é $ero6mente mantida peos especiaistas estrangeiros# mas não tem#ao que parece# quaquer e$eito sore as cuturas a$ricanas. Não é peo $acto de umin(estigador ter decarado que *$rica tem $ioso$ias superiores ou mesmo semehantes2s conhecidas na "uropa ou noutra parte do mundo que o estatuto das cuturastradicionais a$ricanas ser/ posto em e(id%ncia. " tamém não #é por um pensador# pormuito eminente que se'a# ter decarado que não h/ $ioso$ia em *$rica e que apenase+istem (isões e percepções do mundo# idéias esparsas despro(idas de s3ntese e de

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    mito# ainda que se'a necess/rio tomar em consideração a causaidade econ-mica eacrescent/)a a esta re$e+ão."sse preconceito do «miagre grego»L que ocecou muitos $i-so$os ocidentais#especiamente Hege# Heidegger# Husser# não de(e ser(ir para $asear a an/ise doestatuto das di$erentes cuturas.

    !ue di6er agora sore a posição dos que recamam nomes de grandes $i-so$osa$ricanos# ou se'a# pensadores que ti(essem indi(iduamente eucidado os proemasmeta$3sicos e(idenciando o seu «eu» e não diuindo)o no anonimato da tradição0 om

     poder assinar um te+to inteiramente redigido e conceido por n-s saer que ao assinarou não um te+to não se é inteira e totamente o autor# é mehor ainda.>s pensadores são# sem somra de d;(ida# os escritores das suas oras mas serãoautores e+cusi(os0 !ua a reação entre a ora assinada peo «eu pensante» e a oraan-nima dita tradiciona0 Parece)nos que o modo como se aorda este aspecto do

     proema do estatuto das cuturas ditas tradicionais encerra amiguidades e escondeuma certa $ata de in$ormação em reação a *$rica.

    Tentaremos# no nosso traaho de descoerta de uma metodoogia apropriada ao campocutura a$ricano# precisar os pontos que nos parecem mais importantes.9omecemos peo $aso proema que representa o ugar do «eu» na ora."m todo o modo de produção cutura# quer se trate de escrita ou de oraidade# os(aores que se tornam de consumo p;ico passam sempre# nem que se'a apenas porinstantes# peo indi(3duo. as o indi(3duo não se opõe 2 coecti(idade# ao grupo. !ueseria desse indi(3duo na sociedade sem a 3ngua# por e+empo# ou sem a gram/ticamodada pea coecti(idade e o (ocau/rio que ea he ega0 1e cada indi(3duo secaracteri6a por um estio# quer di6er# por um ensaio parcia sempre inadequado paraapresentar uma ora sempre inacaada# isto de(e)se ao $acto de ee se mo(er num

    conte+to em que a tradição $i+a a ordem do sim-ico# que d/ um sentido a tudo o que oindi(3duo reai6a e produ6.Aém disso# a tradição# contrariamente 2 ideia $i+ista que se tem dea# não poderia ser arepetição das mesmas sequ%ncias não poderia tradu6ir um estado im-(e da cutura quese transmite de uma geração para outra. A acti(idade e a mudança estão na ase doconceito de tradição. H/# pois# entre o indi(3duo e o grupo# mi aços entretecidos que

     permanecem indestrut3(eis. assim peo menos que se (i(e a reação indi(3duo)sociedade em *$rica. Não h/ uma ess%ncia da sociedade e esta ;tima não tem umanature6a $i+a# atempora. As sociedades a$ricanas mo(em)se num quadro dinCmico#onde a migração dos grupos constitui simutaneamente uma met/$ora e uma meton3miasigni$icati(as. Ao ongo dessas mudanças e mo(imentos# sin-nimos de enriquecimentodiaéctico# o indi(3duo nunca dei+ou de estar igado 2 coecti(idade. surpreendente que esta caracter3stica# super$icia) mente notada# tenha sido su$iciente

     para que certos oser(adores a$irmassem# de maneira dogm/tica# que o «eu» não e+isteem *$rica# que o indi(3duo est/ su'eito 2 coecti(idade. Trata)se de uma e+trapoaçãoausi(a que tende para o paraogismo.

     Não ser/ por o «eu» ocupar um ugar tão preponderante nas cuturas ocidentais que ososer(adores a que nos re$erimos o opõem ao «eu» A$ricano01igamos# a prop-sito# a re$e+ão de 9. =é(i)1trauss no Homem Nu& «A consist%ncia doLeuL# preocupação maior de toda a $ioso$ia ocidenta# não resiste 2 sua apicaçãocont3nua ao mesmo o'ecto que o in(ade inteiramente e o impregna do sentimento(i(ido da sua irreaidade. Porque esse pouco de reaidade que ousa ainda pretender é o

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    de uma singuaridade# no sentido que os astr-nomos dão a esse termo& ugar de umespaço e momento de um tempo reati(os em reação um ao outro# onde se passaram# se

     passam e se passarão acontecimentos cu'a densidade# esta tamém reati(a em reação aoutros acontecimentos não menos reais mas mais dispersos# permitem circunscre(%)aapro+imati(amente# desde que o n- de acontecimentos passados# actuais ou pro(/(eis

    não e+ista como sustrato# mas que unicamente a3 aconteçam coisas e que essas pr-priascoisas# que se entrecru6am# sur'am de muitos outros ados e as mais das (e6es sem sesaer de onde...4?G5.»"m atenção aos que recamam nomes de $i-so$os a$ricanos correspondentes a Patão#Arist-tees# @escartes# Mant# Hege# etc.# e que negam a autenticidade de toda a cuturaque ião % conhecida por oras indi(iduais e+cepcionais# emramos este pensamento domesmo autor&«As oras indi(iduais são todas mitos em pot%ncia# mas é a sua adopção num modocoecti(o que actuai6a# em ta circunstCncia# o seu LmitismoL4?I5.» .Ao contr/rio# nunca se encontrou um mito que não ti(esse tido por autor um indi(3duo#

    como centro inicia de imaginação e de narração. o que 9. =é(i)1trauss e+primecaramente na seguinte passagem& «Porqu%... marcar uma ta retic%ncia em reação aosu'eito quando se $aa de mitos# quer di6er# de narrati(as que não puderam nascer semque num dado momento# geramente inacess3(e# cada um dees tenha sido imaginado enarrado por um indi(3duo em especia0 1- as pessoas $aam# e cada mito de(e# em;tima instCncia# ter a sua origem numa criação indi(idua 4?J5.»

     Numa paa(ra# «por um ado# coocando no ugar do LeuL um outro an-nimo e# poroutro# um dese'o indi(iduai6ado 4senão ee nada designaria5# não du(idamos de que

     astaria 'untar os dois e re(irar o todo para reconhecer no interior esse LeuL de quem#com grande insist%ncia# se procamou a aoição. 1e h/ um momento poss3(e para o

    reaparecimento do LeuL# é ap-s ter acaado a sua ora# que o e+cu3a do princ3pio ao $im4'/ que# ao contr/rio do que se poderia 'ugar# era menos o autor da ora do que a

     pr-pria ora# enquanto ea se escre(ia# que se torna(a o autor de um e+ecutante que s- eapenas (i(ia por ea5 4?O5.»Preconceitos deste género# que e(am a contestar o car/cter $ios-$ico das cuturasa$ricanas e especiamente a sua concepção do mundo# considerada como uma $onte de(isões ius-rias e incoerentes# de(iam ser emradas antes de precisar# de modo maiscircunspecto# aquio que se designa pea e+pressão «(isões e concepções tradicionais4do uni(erso# da (ida e da sociedade5.»Para mais# os paraogismos encontrados nas decarações $eitas sore este assuntoindicam)nos a (ia que o nosso estudo de(e seguir para ser pertinente.

     Não nos compete decarar# por nossa (e6# que as (isões e percepções tradicionais soreo uni(erso são isto ou aquio# que as (isões e percepções tradicionais da (ida consistemem tais ou tais mani$estações... Não $ar3amos mais do que acrescentar no(as asserções atodas as outras '/ conhecidas pea maioria dos eitores. "m compensação# parece)nos;ti insistir no dom3nio e nas condições de produção dos (aores a$ricanos."m primeiro ugar# emramos que uma das caracter3sticas das cuturas a$ricanastradicionais# a sua caracter3stica essencia# é a oraidade. "nquanto# no quadro da escrita#as $ontes de (aores são os «autores» e as suas oras# o que cria re$e+os cuturais quee(am os pensadores a negar quaquer réstea de pensamento onde não encontrem orasescritas# de(emos ho'e reconhecer que a oraidade pode produ6ir oras cuturais muitoricas. Poder)se)/ a$irmar que a *$rica nunca conheceu a escrita0

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    1- uma in$ormação de$iciente sore o campo cutura a$ricano poderia e(ar a di6er quea *$rica não criou sistemas de escrita pictogr/$ica 4escrita de idéias ou escrita de

     paa(ras5 ou $onética 4escrita si/ica ou escrita a$aética5.9omo ho'e em dia se reconhece# toda a sociedade humana dispõe de um meio de$i+ação espec3$ico que he permite uma certa apropriação do tempo. as# para / desta

    a$irmação gera que (ae para toda a sociedade# con(ém precisar que apesar do uso daescrita pea sociedade amun 49amarões5# apesar da e+ist%ncia da escrita (ai 41erra=eoa5# da escrita nsidii 49aaar# Nigéria >rienta5# das escritas aa emende 41erra=eoa e =iéria5# as sociedades re$eridas não $i6eram dea o mesmo uso que a ci(ii6açãochinesa ou a ci(ii6ação orienta.1e aegarem que os sistemas de escrita a que $a6emos ausão são recentes e datamapenas do sécuo W8W ou# na mehor das hip-teses# do sécuo WV888# de(eremos insistirno $acto de a escrita eg3pcia $igurar# 'untamente com o sistema sumério e o chin%s# entreas tr%s mais importantes e mais antigas escritas «de paa(ras». "# toda(ia# em *$rica $oi

     por meio de aquisição e transmissão orais que os (aores cuturais se perpetuaram.

    Portanto# quando $aamos de oraidade como caracter3stica do campo cutura a$ricano# pensamos numa dominante e não numa e+cusi(idade. Neste sentido# a oraidade numacutura permite pri(iegiar o aspecto ora na aquisição e transmissão dos conhecimentose dos (aores# dispondo de um meio de $i+ação espec3$ico.A o'ecção que a seguir se e(anta é a de que nunca se escre(eu quaquer ora cient3$icaou iter/ria no campo cutura a$ricano7 Para responder a isto con(inha e+aminar um

     pouco mais a dinCmica cutura pr-pria do continente a$ricano. Não insistiremos nas e+traordin/rias produções cuturais das escoas do "gipto antigo#encru6ihada uni(ersit/ria onde se encontra(am os homens cutos do mundo inteiro eque dei+ou a sua marca na e(oução das idéias e instituições. @epois de Her-doto de

    Haicarnasso# no sécuo V a. 9.# puicar nessa 6ona da *$rica# «d/di(a do rio»# estudosque escarecem a atmos$era cutura# muitos outros s/ios e eruditos $aaram de taisestudos. indispens/(e# no entanto# emrar aqui que o patrim-nio cutura eg3pcio $a6 parteintegrante do patrim-nio cutura a$ricano. 9omo Voney escre(e 4?Q5# «$oi nessas

     paragens 4...5 que nasceu a maior parte das opiniões que nos go(ernam de / (ieram asidéias reigiosas que in$uenciaram tão poderosamente a nossa mora po3tica e pessoa#as nossas eis# todo o nosso estado socia. 1er/ pois interessante conhecer os ugaresonde nasceram essas idéias# os usos e os costumes em que se aseiam# o esp3rito e ocar/cter das nações que os consagraram. interessante e+aminar até que ponto esseesp3rito# esses costumes# esses usos se ateraram ou conser(aram procurar saer quaisas poss3(eis in$u%ncias do go(erno# do cima# as causas dos h/itos& numa paa(ra#

     'ugar peo estado presente qua ter/ sido o estado de antigamente». ineg/(e que nessa /rea do campo cutura a$ricano não tenham e+istido orasescritas. Notemos contudo que nem toda a gente est/ de acordo em integrar esta

     produção cutura na /rea cutura tradiciona de *$rica. !ue assim se'a# poder3amosrepicar aos que se opõem. A 6ona eg3pcia da *$rica seria a ;nica onde se conceeramoras cuturais por escrito08n(estigando# descore)se que o uso da escrita te(e uma certa (oga noutras regiõesa$ricanas. Ta é o caso dos "stados da «ci(ii6ação circun(i6inha da Nigéria»#(erdadeiro mosaico de po(os onde as popuações targui# moura# songai e mandinga seencontra(am ado a ado.

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    >s traahos de 8n Mhadun 4?R5 e de 8n Batuta 4?S5# autores /raes a que se 'untameruditos sudaneses tais como "s1aadi 4?5 e Mati ohammed 4GU5# dão)nos imensos

     pormenores não s- sore a (ida econ-mica mas tamém sore a irradiação cuturadessa região.> (igor inteectua e mundia da Fni(ersidade de Tomuctu do sécuo W ao sécuo WV8

    é um dos traços cuturais mais marcantes desse desen(o(imento. 9omo oser(am 8.Ma

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    "ste estio sudan%s não escapou 2 atenção dos maiores s/ios do sécuo WV8# uma (e6que Ahmed Baa era# por e+empo# con(idado peos grandes mestres da inteigentsia dearr/que+e.

     Numa paa(ra# hou(e numerosos pensadores a$ricanos que desen(o(eram por escrito edurante sécuos os (aores produ6idos pea sociedade e os $rutos das suas pr-prias

    inspirações e eaorações.Poder3amos# em ugar de $a6er re$er%ncia a esta /rea cutura da 6ona do N3ger entre ossécuos W e WV8 4/rea in$uenciada peo 8são5# insistir antes nos grandes doutoresa$ricanos que $oram Tertuiano# >r3genes# Arn-io# 1anto Agostinho# 1ão 9irio deAe+andria# 1ão 9ipriano# 1ão Eirminiano# produtos da /rea cutura da *$rica# desdemuito cedo in$uenciada peo cristianismo. Não esqueçamos Ter%ncio# que te(e o

     pri(iégio de enunciar uma (erdade em que todo o homem se de(eria inspirar& «Homosum& humani nihi a me aienum puto.» Todos ees deram 2 humanidade uma importantesoma de re$e+ões muito eaoradas desde os primeiros sécuos da era cristã.Tamém poder3amos ter e(ocado nomes de pensadores etiopes que se tornaram céeres

     peas suas oras escrita.X5. as ao $a6%)o estar3amos a $aciitar a cr3tica aos queredu6em a cutura tradiciona a$ricana a qua) quer coisa de inde$in3(e e de $utuante#assimi/(e aos seus $antasmas ou 2 6ona de somra do seu pr-prio ser. 9om e$eito# a$ormação destes s/ios esta(a pro$undamente poari6ada na /rea cutura cristã eespeciamente romana. Tomar em consideração as suas contriuições como $a6endo

     parte integrante do patrim-nio cutura tradiciona a$ricano não ser/ 'ogar demasiadocom a dimensão geogr/$ica0"is uma no(a interrogação que impica pYr em questão o conceito de «tradição»... >que é tradiciona na concepção do mundo de um po(o0 Aquio que é ree) gado para o

     passado muito antigo desse po(o0 Não ser/ antes o que não dei+a de mani$estar a marca

     particuar do po(o considerado e que# despre6ado peo modernismo# (em sempre ao decima0 A tradição# em ugar de tradu6ir um per3odo (o(ido da (ida de um po(o# emugar de tradu6ir o seu «ter sido»# não tradu6ir/ antes o seu «ser» permanente# não nosentido de de$inição da ess%ncia de uma cutura# mas ) na medida em que uma tradução

     pode sempre apresentar um te+to não importa em que 3ngua ) não tradu6ir/ a tradição.#não importa em que con'untura actua# o estio te+tua dessa cutura0 Assim# a cuturatradiciona $a6)se# des$a6)se e re$a6)se. um sin-nimo de acti(idade e não de passi(idade.

     Não é uma moda passageira como o modernismo. 1- ea caracteri6a uma cutura e adistingue de uma outra cutura. 9omo '/ dissemos# a tradição não é uma repetição dasmesmas sequ%ncias em per3odos di$erentes# ou uma $orça de inércia ou deconser(adorismo arrastando os mesmos gestos $3sicos e inteectuais para um imoiismode esp3rito# incapa6 de se reno(ar 4GI5.

     Nestas condições# o proprium da concepção do mundo de *$rica pode ser determinado peas di$erentes mani$estações do seu modo de apreensão das coisas# dosacontecimentos# e que o mais pro$undo do modernismo e+igente# coerci(o e muitas(e6es super$icia se desoca sem parar# não s- de um dom3nio para outro mas tamém deum per3odo para outro. ani$esta)se nos comportamentos mais actuais como nos gestosmais antigos# nas acti(idades manuais re$e+as e re$ectidas# nas acti(idades puramenteinteectuais# nas reações com os outros nas atitudes indi(iduais# etc."+aminemos agora esses dom3nios e per3odos de $orma mais rigorosa.Apesar de certas mani$estações dos (aores a$ricanos# repetimos que a caracter3sticaessencia das cuturas a$ricanas é a oraidade. Porque# mesmo quando se utii6a a escrita#

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    a tradição# que dissemos ser sin-nimo de acti(idade# apenas se e+pande autenticamente#na maioria dos A$ricanos# pea oraidade. ai/s esta aertura ao maior n;mero que e+pica o $acto de a oraidade ter (encido aresist%ncia da escrita na ci(ii6ação da 6ona do N3ger.@urante sécuos de (ida inteectua intensi(a e inter) nacionamente conhecida#

    reconhecida e respeitada em que a Fni(ersidade de Tomuctu mani$estou a suaautoridade# a cutura aseada na escrita $oi uma acti(idade citadina e minorit/ria.!uanto mais os grandes doutores a$ricanos domina(am os di$erentes campos da ci%nciae do saer do seu tempo tanto mais as massas se contenta(am com o aspecto ora da(ida cutura quotidiana. A cutura dos doutores# muito e(ou3da# permanecia contudorigorosamente purista do ponto de (ista ingu3stico& s- o /rae# a 3ngua do 9orão# podiatradu6ir a (erdade. Por $ata de apoio das massas# essa rihante (ida cutura não tardoua desmoronar)se.>ser(emos# de passagem# que a $oresc%ncia da cutura eitista aseada na escritarequer uma ase econ-mica s-ida. Pri(ada da mina de sa de Tegha6a# coiçada por

    arrocos mas muito importante para os sudaneses# pri(ada do ouro das minas deBamuque# de Bure e de Bito# que «durante sécuos $oi uma das armas decisi(as do8são ocidenta»# a cutura sudanesa desen(o(ida no conte+to da escrita desapareceu

     ruscamente. Assim# «aurora do >cidente dos tempos modernos# o sécuo WV8 $oi ocrep;scuo da ci(ii6ação da *$rica negra»# depois de ter o$erecido# com a geração deAhmed Baa# as maiores promessas de renome mundia."m todo o caso# no pano metodo-gico# quando se quer conhecer a concepção domundo na cutura a$ricana tradiciona pode)se e com interesse tirar partido dos traahos

     produ6idos por e nesse per3odo# porque é necess/rio e(itar um certo n;mero deost/cuos# em especia a iusão retrospecti(a que e(a a representar a /rea cutura atr/s

    anaisada 2 u6 do estado actua dessa região# pois o A$ricano tem tanta autoridade comoquaquer outro po(o para poder a$irmar como Vaéry& «N-s# as ci(ii6ações# saemosque somos mortais.»A iusão retrospecti(a e(a iguamente ao esquecimento do conte+to de prosperidadeecon-mica que $a(orecia a troca e o estado cuturais# de acordo com o que Huert@eschamps escre(e& «Atra(és do 1ara# as cara(anas de cameos dirigiam)se para o1udão >cidenta# em usca de ouro 4minas de Bamuque# de Bure# de Bito5# de mar$im#de pees e de escra(os. =e(a(am para / o sa do 1ara 48d'i# Tegha6a# Bima5 e os

     produtos da *$rica do Norte& trigo# tCmaras# ca(aos# roupas de ã e de seda# core# prata# missangas. >s mercadores ar/ico)ereres residiam no 1udão. Fma estradaatra(essa(a a auritCnia# uma outra ia até 2 6ona do N3ger# uma terceira# partindo deDadamés ou de Tr3poi# chega(a a Air ou ao 9hade. "stas acti(idades comerciaisti(eram sem d;(ida uma grande importCncia no aparecimento dos primeiros reinosnegros do 1udão# por (ota dos sécuos V888 e 8W 4GJ5.»Fm outro ost/cuo consiste em acreditar que a oraidade não se ser(e de agum meioque impique a utii6ação de sinais especiamente indicados para a'udar a mem-ria.9omo '/ precisamos mais acima# $aar de oraidade é suinhar a e+ist%ncia de umadominante em que pre(aece a comunicação ora não é de modo agum designar ae+cusi(idade da comunicação ora pro(eniente de uma hipotética incapacidade do usoda escrita. A oraidade é tanto e$eito como causa de um certo modo de ser socia.@enuncia as reações sociais espec3$icas pri(iegiando certos $actores de estrati$icaçãoou de di$erenciação socia# tais como a detenção da paa(ra# que é sina de autoridade# a

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    iniciação a conhecimentos que constituem uma espécie de saer m3nimo garantido# quequai$ica o indi(3duo.

     Nestas condições# os di$erentes dom3nios a in(estigar para de$inir o proprium cuturaa$ricano (ão da reigião ao quotidiano mais ana. Podemos reparti)os assim&?. As pr/ticas reigiosas a$ricanas

    G. As produções art3sticas& a escutura# a arquitectura# o uranismo# o (estu/rio...I. A disposição e a trans$ormação da nature6aJ. As produções de oraidade& ditados# pro(érios# m/+imas# adi(inhas# contos# endas#mitos

     Não procederemos aqui a uma in(estigação competa di(ersi$icada de todos estesdom3nios de e+pressão e de concreti6ação da concepção a$ricana do mundo."studaremos# modestamente# agumas das mani$estações da atitude que certos po(osa$ricanos t%m em reação ao uni(erso e 2 sociedade.>s Kogos"+perimentemos começar por um dom3nio geramente menospre6ado peos especiaistas

    ou entendidos# porque ignoram# de(ido 2 sua $ormação e aos seus preconceitos#importante ensinamento que o 'ogo pode suscitar na mentaidade da sociedade.Fm destes 'ogos con$irma a pertin%ncia da noção de unidade a$ricana e re(ea# na asede certos princ3pios comuns# (ariantes que enriquecem a concreti6ação desses

     princ3pios& trata)se do 'ogo a que aguns europeus chamam Kogo A$ricano dos Dodés eos nomes# (ari/(eis de uma sociedade para outra# são certamente ainda maissigni$icati(os.

     No @aomé e no Togo chamam)he «a'i» na Aiss3nia utii6a)se o nome «gamada» no1enega é o nome «ouri» que caracteri6a este 'ogo os asai chamam)he «dodoi»«manrienta 4GO5.

    9assi$ica)se este 'ogo# que se pratica de "ste a >este e de Norte a 1u da *$rica# nacategoria dos 'ogos de c/cuo. > seu car/cter a$ricano continenta $e6 com que $icasseconhecido como The Nationa Dame o[ A[rica 4> Kogo Naciona da *$rica5 4GQ5.9om e$eito# trata)se e$ecti(amente de um 'ogo naciona# e esse car/cter de(e conotaruma mentaidade simiar naquees que o praticam. A prop-sito disto pYde umin(estigador escre(er& «A comparação entre os 'ogos de c/cuo euro)asi/ticos e osman

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    depois a noção de quantidade ao manipuar as pedras do 'ogo]# escre(e5# se um outrooser(ador notou que# no @aomé# «as cominações desse 'ogo# muitas (e6es de(erascompicadas# e+igem uma enorme tensão de esp3rito»# de(emos suinhar que o $acto deser o 'ogo pre$erido pea grande massa dos a$ricanos# sem nenhum eitismo# ésigni$icati(o no pano socio-gico.

    Trata)se de um 'ogo onde não é origat-rio ha(er um (encedor# enquanto os 'ogosnoutros pa3ses do mundo e+igem que ha'a um (encedor em cada partida.Por consequ%ncia# não e(a $atamente uns a enri) quecer e outros a arruinar)se.A competição ;dica# enquanto acti(idade agn-stica# não (isa imediatamente aeiminação de um ad(ers/rio com pouca sorte. A sua mecCnica assemeha)se ao 'ogo desociedade estudado por 9. =é(i)1trauss# que escre(e# a prop-sito& «> 'ogo apareceentão como di'unti(o& termina pea criação de uma separação di$erencia entre 'ogadoresou campos indi(iduais# que 2 partida nada e(a(a a pensar serem desiguais. No entanto#no $im da partida# distinguem )se os (itoriosos e os (encidos 4GS5.»

     No man

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    Primeiramente# os pro(érios não são oras secund/rias e# aém disso# re(eam)se comosendo eos «resumos» de ongas e amadurecidas re$e+ões# resutado de e+peri%nciasmi (e6es con$irmadas. > car/cter an-nimo dos pro(érios tradu6 a sua pro$undainserção no Cmago da e+peri%ncia e da (ida coecti(a# depois de ongas rodagens ee+peri%ncias.

    "sta $orma de e+pressão ac-nica dos resutados de um sem n;mero de e+peri%ncias nasociedade# na (ida# no uni(erso# não é a maioria das (e6es um pensamento simpes ecaro."is porque# em ugar de apresentar aqui uma ista de #pro(érios# ditados e m/+imasa$ricanas# pre$erimos insistir sore os aspectos que se seguem.Para começar# seria om que# a prop-sito de ta ou c ta pro(ério respeitante aocomportamento socia# mora ou po3tico# nos interrog/ssemos sore a categoria sociadonde emergiu e se cristai6ou semehante pensamento. Não esqueçamos# com e$eito#que nem sempre poderemos considerar os pro(érios como a e+pressão de umasaedoria eterna e uni(ersa. H/ aguns que se encontram em todos os pa3ses e a todo o

    momento. H/ outros que# peo contr/rio# tradu6em a atitude espec3$ica de uma categoriasocia no conte+to de um pa3s ou de um con'unto de pa3ses. *$rica# sa(o se a (irmoscomo a e+pressão de um $antasma onde a unanimidade quai$icaria eternamente asreações sociais# não pode ser considerada como o ugar de um entendimentomiracuoso e sem contestação entre os cidadãos."m seguida# onde quer que se encontre a e+pressão do mesmo pensamento atra(és de3ngua di$erentes e em di(ersos pa3ses# seria indicado reunir e con$rontar esses«resumos» de ongas e amadurecidas re$e+ões.A este respeito achamos particuarmente interessante a recoha de pro(érios $eita peonosso coega A. >. 1anda 4G5 e incidindo sore di$erentes temas& a paci%ncia

    considerada como uma (irtude# a honestidade considerada como uma (irtude# a gratidãoe a ingratidão# a cooperação e a reciprocidade nas reações humanas# a ignorCncia# a$ata de in$ormação# a e+peri%ncia considerada como a escoa da (ida# o eadership# orespeito peos mais (ehos# a saedoria# a discrição e o respeito que se espera dos mais(ehos# o respeito por si que os mais (ehos esperam dos outros# as representações# a$orça da gra(idade# a esperança e a perse(erança# o e$eito de oomerang.> que con(ém notar em primeir3ssimo ugar nestes pro(érios que surgem de di$erentessociedades a$ricanas é a unidade do modo de pensar a$ricano.@escorimos nesse n3(e de e+pressão do inteecto e nesse modo de mani$estação dare$e+ão que a unidade não nasce da repetição das mesmas imagens e das mesmas

     paa(ras para e+primir a mesma idéia# mas consiste num dinCmico es$orço demeta$ori6ação onde se e(idencia a criati(idade de cada grupo.Apesar desta aus%ncia de monotonia ou de repetição das mesmas imagens e das mesmas

     paa(ras# a $eitura destes «resumos» da re$e+ão é simiar. Assim# o recurso 2 oposiçãomaior ato)ai+o tradu6 o ine(it/(e# sem utii6ar as mesmas paa(ras em iorua# emhaussa e em ashanti.Vemos de maneira mais n3tida nos pro(érios que se re$erem ao respeito por si# que osmais (ehos de(em possuir# que se empregam di$erentes imagens para e+primir amesma idéia& um homem idoso não $a6 de si pr-prio um o'ecto de esc/rnio das pessoas) di6 o 8orua#ao passo que o E-# o Mi

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    atra(essar o rio quando um dos mais (ehos de(ora a comida toda com a(ide6# ter/ deser ee a arrumar a mesa. As quatro imagens utii6adas não são as mesmas e# no entanto#a identidade ou a simiaridade do pensamento e+presso não dei+a d;(idas.

     Numa paa(ra# a unidade de pensamento não conota a repetição dos mesmos gestosinteectuais ou manuais# das mesmas imagens ea é a e+pressão de uma mentaidade

    dinCmica que# em $ace de um proema ou de uma situação simiares# reage e re$ectesimiarmente."is como# no dom3nio dos pro(érios# é poss3(e ter acesso 2 (isão do mundo dosA$ricanos.1aientamos a prop-sito que h/ mais do que uma (isão h/ uma concepção# umaconcepção equiirada# adaptada aos meios e aos $ins que a sociedade estaeece. nesta perspecti(a que# ho'e em dia# se reai6am os traahos mais con(incentes sore aconcepção do mundo em *$rica.

     Nestas condições# ser/ pertinente perguntar& a tentati(a de recoha e compreensão dos pro(érios a$ricanos ser/ uma questão de moda# ou reconhece)se que ea é reamente

    importante0Tomando como e+empo um determinado pa3s poderemos anaisar o proema commais pormenor.9onsideremos o caso do 1enega. Tanto quanto nos autori6am as in$ormações queoti(emos# h/ mais de um sécuo que se recohem os pro(érios deste pa3s. 9om e$eito#dispomos não s- das E/uas 1enegaesas 4?SGS5 )e neste caso o autor# :oger =e Baron4IU5# te(e uma acção muito importante na e+pressão das $/uas recohidas )# mastamém os Bosque'os 1enegaeses 4?SOI5# onde o escritor Boiat 4I?5 nos apresentanumerosos pro(érios senegaeses.Boiat d/)nos mesmo nomes de «aguns $i-so$os antigos» Foo$. "scre(e a prop-sito

    dos Foo$& «As suas con(ersas t%m por o'ecto os pro(érios de certos $i-so$os antigos4...5# os enigmas e as $/uas. A hist-ria dos seus $i-so$os é tão interessante que nãodei+o de citar aguns $actos. > mais not/(e de entre ees é 9othi)Barma. >s rihantesconceitos deste $i-so$o poderiam per$eitamente constituir matéria para uma grande ora4IG5.»Boiat $icou (i(amente impressionado com o modo de comunicação e de e+pressão dosFoo$ e anotou as passagens mais surpreendentes."is uma deas& «9othi conser(a(a na caeça de seu $iho quatro tu$os de caeo 4osFoo$ tinham por costume rapar a caeça de todas as crianças5. 9ada um desses tu$os#di6ia# representa uma (erdade mora que s- eu e minha muher conhecemos. 1ua muher tinha# por seu ado# um $iho do primeiro casamento que# como todas as outras crianças#tinha a caeça rapada. > @ame 4II5# cheio de curiosidade# procurou durante muitotempo# mas sempre em (ão# descorir o segredo. Einamente# recorreu 2 ast;cia.andou chamar a muher do $i-so$o e con(enceu)a 2 $orça de presentes.«> primeiro tu$o signi$ica(a que o rei não é um parente# nem um protector. > segundo#que um $iho do primeiro casamento não é um $iho mas uma guerra intestina. >terceiro# que é necess/rio amar a esposa# mas não con$iar nea. > quarto# que numaregião um (eho é sempre necess/rio 4IJ5.«9ondenado 2 morte peo rei# que se encoeri6ara com o primeiro s3moo# e sa(o dae+ecução por um (eho muito in$uente 'unto do rei# 9othi $oi condu6ido 2 presença dorei# a quem respondeu sem quaquer comoção& Não ser/ (erdade que um rei não é

     parente# nem protector# '/ que# por causa de um segredo que não (os contei e que tinha o

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    direito de guardar para mim# me condenaste 2 morte# esquecendo os ser(iços que (os prestei e a constante ami6ade de nos iga(a desde a in$Cncia0«Não ser/ (erdade que se de(e amar a esposa mas não con$iar totamente nea# uma (e6que a minha muher# a quem eu re(eara o segredo# para pYr 2 pro(a a sua $ideidade# metraiu em troca de (is presentes0

    «Não ser/ (erdade que um $iho do primeiro casamento não é um $iho# mas uma guerraintestina# '/ que# quando de(ia chorar o pai condenado 2 morte# não pensa(a# peocontr/rio# senão em e+igir)he roupas que recea(a perder0«Não ser/ $inamente (erdade que um (eho é ;ti num pa3s# '/ que sem um (eho s/ioe prudente# cu'a gra(idade soue dominar a (ossa pai+ão# eu '/ não estaria (i(o a estahora# mas sim morto# (3tima da (ossa in'usta c-era0 4IO5.»Boiat nota que «se atriuem a 9othi mais de cinco mi ad/gios ou m/+imas». @e umoutro $i-so$o Foo$# asseni# neto de 9othi# ee transcre(e os quatro ad/gios seguintes&?. «Aquee que despre6a a sua condição é um homem sem honra.»G. «!uando um $iho não se contenta com o tecto paterno é porque a sua mãe é

    impaciente.»I. «> pore que receia o 1o# receia um parente 4um en$eitor5.»J. «Aquee que (ai a casa dos outros pedir esmoa $a6 ma para a construir# o

     propriet/rio traahou e so$reu muito.»"n$im# a prop-sito de um terceiro $i-so$o Foo$# Biram Thiam)@ema# Boiat descre(eum outro modo de e+pressão que pertence 2 oraidade& os enigmas# que são contados emamiente de reunião.«"sse homem ) escre(e ee ) s- se ocupou a $a6er enigmas para di(ertir os ociosos.Apesar disso# os haitantes de 9ayor e+atam a sua sutie6a. ^ noite# ao uar ou emredor da $ogueira# reunidos em grupo# os Foo$# rindo)se muito# interpeam)se uns aos

    outros com perguntas e respostas que são (erdadeiros te+tos de $ioso$ia.«9ada um interroga por sua (e6# e quando aguém adi(inhou a resposta# toda a gentegrita& _enc neu dug7 4"e disse a (erdade.5 1e a coisa parece di$3ci# seguram o quei+o ee+camam& Bissimiay @hiame7 4A (erdade# por amor de @eus75 4IQ5.»Boiat egou)nos uma oser(ação importante acerca das categorias dos pro(érios.1egundo ee# os Foo$ utii6am duas espécies de pro(érios& os pro(érios trinit/rios eos pro(érios (ugares.>s pro(érios trinit/rios saientam tr%s coisas# o'ectos ou considerações. Por e+empo&«Tr%s coisas são necess/rias neste mundo# os amigos# o e+terior e sacos de dinheiro»ou& «Tr%s coisas são as pre$eridas neste mundo# possuir# poder# saer» ou ainda& «Tr%scoisas o conser(am neste mundo# a sa;de# estar de acordo com os (i6inhos e ser amado

     por todos».>s pro(érios (ugares aarcam todas as $ormas de pro(érios& «Fma 3ngua insoente éuma m/ arma» ou& «9onhecer)se a si pr-prio (ae mais do que sa%)o peos outros»ou ainda& «As interrogações reiteradas tornam)nos indiscretos».> ensinamento que se pode tirar da ora de Boiat incide especiamente na antiguidadeda sua tomada de consci%ncia do (aor dos pro(érios# considerados como umae+pressão da concepção do mundo dos A$ricanos.Ta(e6 o $acto de os primeiros estrangeiros que se interessaram peos pro(ériosa$ricanos não terem tese «de escoa $ios-$ica» a de$ender e se contentarem emmencionar o seu espanto# os tenha e(ado a atriuir aos pro(érios um (aor importante.Ainda ho'e# poucos são os homens de cutura a$ricana que se desinteressam destes

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     proemas quando se es$orçam por compreender a sua pr-pria sociedade.A arte@epois dos 'ogos e dos pro(érios# dom3nios de oser(ação ;teis para o estudo queempreendemos# ser/ necess/rio agora aordar o dom3nio da arte.!uer se trate da estatu/ria e da escutura# cu'a pure6a e rigor são testemunho de um

    ee(ado (aor estético que tem por ase a re$e+ão# quer se trate da arquitectura# deuranismo# de coreogra$ia# de m;sica# do modesto entrançamento dos caeos# etc.# aatitude dos A$ricanos em reação ao uni(erso# 2 (ida e 2 sociedade e+prime)se não de$orma especuati(a# mas so a $orma de acti(idade socia criati(a e iertadora.1e "rin Pano$s

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    A tentati(a de de$inir a origem $a6)se atra(és do mito 4paa(ra# por e+empo5# que não éo discurso $aso ou com intenção de enganar# mas o discurso $undamenta em que se

     aseiam todas as 'usti$icações da ordem e da contra)ordem sociais. Assim# aquee quete(e acesso 2s re(eações ou mani$estações que a iniciação concede '/ não é um simpes$igurante os E-# por e+empo# di6em que ee tem «a oreha $urada» 4e to to5.

    as a iniciação não concede todo o saer durante uma cerim-nia de tempo imitado eacontinua depois com o enriquecimento mora# cient3$ico e po3tico# que s- o tempo

     prodigai6a e apenas ao homem perse(erante um es$orço constante que desemoca numcerto estio de (ida# numa atitude em reação 2 (ida# 2 sociedade e ao uni(erso# e quenão se redu6 2 aquisição de agumas receitas."is porque diremos que o saer prodigai6ado pea iniciação é de ordem quaitati(a enão quantitati(a& trata)se de aprender a (i(er e não de capitai6ar conhecimentos.Aguns testemunhos de s/ios poderiam competar estas oser(ações. A prop-sito doMoumen A. HampCté BC e D. @ieteren escre(em& «A iniciação é conhecimento& de@eus e das regras que ee instaurou conhecimento de si# porque se apresenta como uma

    ética iguamente conhecimento de tudo o que não somos 4I5.» " esta ci%ncia de(eatingir o uni(ersa# cada um dos seus eementos e dos aspectos que $a6em parte de umtodo. >s Peu di6em& «Não se conhece tudo. Tudo o que se conhece é uma parte detudo.» A iniciação 4di6 um te+to peu5 começa ao entrar no curra e acaa na tuma.»Para compreender em este a$orismo é necess/rio saer que «a (ida de um Peu#enquanto pastor iniciado# começa com a LentradaL e termina com a Lsa3daL do curra#que tem ugar aos QI anos. 8mpica tr%s sequ%ncias# de G? anos cada uma& G? anos deaprendi6agem# G? anos de pr/tica e G? anos de ensino».«Sair do curral» é como uma morte para o pastor; chama então o seusucessor: o mais apto, o mais dedicado dos iniciados ou o seu flho. Faz-

     chupar a sua língua porue a sali!a é o suporte da pala!ra», uer dizer, do

    conhecimento, depois diz-lhe ao ou!ido o nome secreto do "o!ino.

    #ais adiante, um pormenor importante: «$$ graus correspondem aos $$

    %onemas da língua peul, mais $ graus superiores ue são inaudí!eis; são os

    da &pala!ra não %ormulada&, mas sempre presente, chamada &pala!ra

    desconhecida& '()*.»

    "ste testemunho $a6 aperceer o pape insustitu3(e da iniciação# e+ceente escoa que

    educa cada cidadão# não s- ao ensinar)he os conhecimentos técnicos requeri) dos peasua pro$issão mas tamém instruindo)o acerca da estrutura do uni(erso# sore aquio

    que o homem pode esperar e o que pode $a6er.

    Fm te+to asa 4J?5 49amarões5 eogia os méritos de semehante educação e desen(o(e

    as idéias sore a concepção asa do homem& «> homem é como uma /r(ore# nasce

    direito e apenas começa a cur(ar)se mais tarde com o peso dos (entos deste mundo. Ta

    como a /r(ore# podemos e(ant/)o quando ainda é no(o. Assim como um (eho tronco

    torcido não pode ser endireitado# tamém um aduto (icioso di$icimente é recuperado.

    A criança nasce isenta de todo o (3cio. No entanto# a sua inoc%ncia desaparece 2 medida

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    que cresce e aprende de tudo. @epois de ter tomado consci%ncia de si pr-pria# descore

    o mundo que a rodeia e que age sore ea. Pea sua curiosidade e o seu gosto de

    a(entura depressa descore o ma. >ra# nessa idade ainda não est/ pre(enido em reação

    a nada. >s seus $amiiares mais (ehos# que possuem uma maior e+peri%ncia da (ida#

    t%m origação de a educar e instruir para que ea possa e(itar o ma e procurar o em. >

    educador é simutaneamente um /ritro e um treinador. "e pr-prio pode não ser um

     om 'ogador. as conhece todas as regras do 'ogo# de ta maneira que pode ensina)as a

    outros e orig/)os a adaptar)se a eas.»

    XA mora assim ensinada ao educando peo educador s- toma o seu (aor de paa(ra

    respeit/(e e imperati(a no quadro das pr/ticas reigiosas# onde tudo merguha no

    sagrado.

    "is porque# ao $a6er uma prospecção do dom3nio reigioso# se re(earão os preciosos(eios de idéias sore as «(isões e precepções tradicionais».

    interrogando as teoogias e cosmoogias eaoradas nos cen/cuos que nos daremos

    conta# ta como arce Driaue# que o conhecimento dogon# por e+empo# é «com)

     posto por GG categorias de ?G eementos# ou se'a# GQJ# e cada um est/ 2 caeça de uma

    ista de GG pares... esta construção de ?? Q?Q sinais e+prime todos os seres e todas as

    situações poss3(eis (istas peos machos. As das muheres# de igua importCncia#

    correspondem)hes». Veremos assim que os @ogon ou outros A$ricanos «constru3ram

    uma e+picação pr-pria das mani$estações da nature6a 4antropoogia# otCnica# 6ooogia#anatomia e $isioogia5# assim como dos $actos sociais 4estruturas sociais# reigiosas e

     po3ticas# técnicas# artes# economia# etc.5 4JG5.»

    > dom3nio reigioso re(ea)nos outras caracter3sticas da concepção que os A$ricanos

    t%m do uni(erso# da (ida e da sociedade.

    assim que o tratamento do corpo# que inter(ém na reação do homem com a

    di(indade# pro(a a inadequação do pensamento reigioso duaista# em que o corpo é

    eiminado em pro(eito do esp3rito. As técnicas do corpo desempenham uma $unção tão

    importante que é ta(e6 peo corpo que se mani$esta a di(indade. "sta não é s- um

    o'ecto de demonstração atra(és do con$ronto de escoas teo-gicas. uma

    mani$estação presente no rego6i'o coecti(o e não a concusão de um siogismo. Na

    unidade corpo)esp3rito# indi(3duo)coecti(idade# recohimento)';io# (eneração)

    $amiiaridade# é o homem tota igado 2 sociedade que mani$esta a di(indade ao assumir 

    e suimar tudo o que o constitui como homem.

    8mpõe)se uma outra oser(ação& di6 respeito 2 mutipicidade de nomes que um deus

     pode ter. um ardi em que caem muitas (e6es aquees que t%m pressa de descorir o poite3smo por todo o ado# em todos os ugares que não $a6em parte da "uropa. V%em

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    na mutipicidade dos nomes de um deus a con$irmação de uma idéia preconceida. >ra#

    situando esse modo de nomeação da di(indade no quadro cutura da oraidade#

    compreende)se mehor a atitude em causa.

    9om e$eito# nesse enquadramento# a proi$eração dos nomes de um ser ) homem# deus#

    etc. ) é um sina que suinha a sua importCncia. A criança otém desde a sua nascença

    (/rios nomes& nome secreto# nome corrente e outros nomes que he são uteriormente

    atriu3dos# estaeecendo as etapas importantes da (ida. A proi$eração de nomes do

    indi(3duo tradu6 a consteação de dese'os dos seus pais# dee pr-prio# da sua igação

    m3tica com os antepassados# da sua posição $amiiar# do modo como ee (eio ao mundo

    4primeiro a caeça# ou os pés# ou o cordão umiica 2 (ota do pescoço# etc.5# das

     peripécias da sua idiossincrasia# etc.

    A proi$eração dos nomes da di(indade de(e ser compreendida nesta -ptica. @ar (/riosnomes 2 di(indade ou a @eus é o mehor meio de cantar a sua g-ria e o seu poder.

    Ainda neste caso# a di(indade não se demonstra# é nomeada. Vemos# assim# que um

    estudo que considerasse a proi$eração dos nomes de uma di(indade como sintoma de

     poite3smo condenar)se)ia a seguir uma pista errada.

    > mito

    9omo escre(3amos mais acima# o mito não é o $aso discurso enganador# mas sim o

    discurso $undamenta em que se aseiam todas as 'usti$icações da ordem e da contra)

    ordem sociais.1e ap-s a reigião aordamos agora o dom3nio do mito é porque ee tem aguma reação

    com o dom3nio reigioso. Neste sentido de(eremos distinguir as di$erentes categorias de

    narrati(as.

    >s que empregam indi$erentemente as paa(ras $/ua# conto# mito# não podem

    apreender o estatuto espec3$ico do mito e daquio que ee nos ensina sore «as (isões e

     percepções tradicionais» que di6em respeito 2 concepção do mundo dos A$ricanos.

    =éopod 1édar 1enghor es$orçou)se por pYr ordem nestes empregos inde$erenciados das

     paa(ras que designam di(ersas categorias de narrati(as. 8n$ei6mente# não anaisou a

    comparação entre o conto e a $/ua. 1egundo ee# o conto supõe uma narrati(a sem

    inter(enção de animais# enquanto a $/ua $a6 inter(ir os animais como principais

    actores da narrati(a.

    Dostar3amos de saer em que condições ee dese'aria que se empregasse o termo mito.

    @e resto# podemos perguntar)nos se a distinção que ee $a6 entre conto e $/ua ser/

    operat-ria no conte+to a$ricano.

    A presença ou aus%ncia de animais ser/ um critério determinante no conte+to cuturaa$ricano0 Não ha(er/ outros critérios que entram em inha de conta# como o dia# a noite#

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    o per3odo do dia em que se conta a narrati(a0

    Para e(itar o impasse criado no conte+to europeu por simpes an/ises conceptuais das

     paa(ras $/ua# conto# enda# mito# con(inha estudar as paa(ras Xque designam

    di$erentes categorias de narrati(as na terminoogia a$ricana.

     No i(ro de Boiat 4JI5# puicado h/ mais de um sécuo 4?SOI5# emos o seguinte& «>s

    Foo$ chamam aie aos pro(érios# m/+imas# ad/gios# enigmas e $/uas propriamente

    ditas# porque tanto de umas como de outras se pode e+trair uma ição de mora.

    « geramente 2 noite# ao uar# em $rente da entrada das suas casas# ou sentados na areia#

    no meio da praça p;ica da adeia# que os Foo$ contam as $/uas. > contador est/

    coocado no centro do c3rcuo não despre6a nada que possa di(ertir os seus auditores

     pondo em cena os homens e os animais# tenta imitar os seus gritos# as suas caretas e o

    seu tom de (o6 canta# de (e6 em quando# e a asseméia repete o re$rão com miapausos# acompanhados do som do tamor 4...5 > contador nunca e+picita a mora&

    compete ao audit-rio tirar as concusões. »

     Neste caso# gostar3amos iguamente de saer qua o termo que os Foo$ dessa época

    usa(am para designar o mito.

    9onsideremos uma /rea cutura a$ricana onde os termos que designam os géneros de

    narrati(a são mais numerosos. Trata)se da /rea cutura $- 4@aomé5.

    "ncontramos na sua inguagem haitua as paa(ras W-# t2 W-'o+- # huenu+-.

    !ue signi$icam estes termos0 uitas e+picações $oram dadas acerca deste assunto poreminentes autores 4JJ5.

    W- queria di6er «hist-ria# acontecimento# not3cia» tC «hist-ria (erdadeira respeitante ao

     passado $amiiar» +-'o ` «narrati(a hist-rica# dat/(e» õW- «conto de $adas» gu

    «conto# $/ua# anedota» +e+- «conto»# ao passo que huen;+- signi$icaria

    4pro(isoriamente5 «narrati(a (erdadeira ou end/ria» 4JO5.

    :etomando estes termos para apro$undar o emprego (ugar que dees se $a6#

    apresentando agumas perguntas 4em que per3odo do dia se conta esta ou aquea $orma

    de narrati(a0 !uem di6 ou conta a narrati(a0 A quem se conta a narrati(a0 !uando

    inter(ém a e+ig%ncia ou o critério de (erdade ou de $asidade05 conseguiremos ta(e6

    determinar o estatuto do mito e precisar os ensina) mentos que ee encerra.

    > termo ind3gena huen;+- con(iria para designar o mito. > mito 4huen;+-5 pode ser

    contado não importa em que per3odo do dia. "st/# em contrapartida# sumetido a

    restrições a dois n3(eis& por um ado# ao n3(e daquees que são suscept3(eis de receer a

    mensagem comunicada# por outro# ao n3(e dos que estão haiitados a recitar ou

    reactuai6ar a mensagem. No que respeita 2 primeira restrição# est/ estaeecido que para uma quaquer pessoa

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    não é necess/rio que a mensagem se'a narrada por um especiaista. Para a segunda#

    digamos que se trata de especiaistas em matéria de pr/ticas reigiosas 4peo menos no

    sistema de adi(inhação5.

    Fma outra caracter3stica do huenu+- 4mito5 consiste em ser asurdo considerar as

    categorias do (erdadeiro e do $aso. Aqui inter(ém o princ3pio de autoridade e de

    reação de soidariedade e$iciente entre o ocutor e o inteocutor.

     No mito# um praticante tenta tomar conhecimento da narrati(a $undadora que permitiria

    eucidar um proema e+istencia angustiante.

     Neste cima de reação# de soidariedade e$iciente# a paa(ra mani$esta)se como acto. A

    (o6 cooca# num conte+to sim-ico# o proema da reaidade enquanto o'ecto

    considerado# aqui e agora# entre o ocutor e o interocutor.

    btima caracter3stica do mito 4$-# peo menos5& o especiaista não o narra por simpesgosto de con(ersar e com a preocupação de di(ertir espera que o seu auditor tire da

    narração a ição de(ida# que siga a (ia que a narrati(a aponta e otenha satis$ação.

    Por outras paa(ras# o mito tem conseq,%ncias na medida em que o auditor)consutante

    é a$ectado peas concusões a que a narrati(a condu6.

    Assim# é o huenu+- 4mito5 que se distingue por mui) tos ind3cios do tC 4narrati(as

    hist-rico)m3ticas5# do +e+- 4conto de $adas5# do gu 4anedotas sore não importa que

    assunto da (ida5# etc.

    1e todas essas $ormas de narrati(a apresentam de comum o $acto de terem apenas por$undamento a paa(ra 4mythos5# é no entanto importante suinhar que s- o huenu+-

    consegue toda a sua e$ic/cia pea paa(ra.

     Não podemos aqui dei+ar de pensar em Pa(o(# para o qua a paa(ra «entra em reação

    com todas as e+citações e+ternas e internas que chegam aos hemis$érios cererais#

    guarda)as todas# sustitui)as e por essa ra6ão pode pro(ocar as mesmas reacções que as

    suscitadas por esses mesmos e+citantes» 4JQ5.

    A utii6ação da (o6# do gesto e do ritmo con$ere 2 paa(ra narrati(a do mito e 2 paa(ra)

    mensagem que emana da narrati(a uma $orça e um estatuto tais que o mito 4heunu+-5

    4JR5 nada tem a (er com o aspecto puramente ;dico e di(ertido das outras $ormas de

    narrati(a conceidas pea teoria ind3gena.

    Para nos $a6ermos compreender numa outra inguagem# diremos que o mito a$ricano

    4mesmo quando dissimua a sua ci%ncia e o seu poder «na prega dos $arrapos com que

    são re(estidos»5 tem origem na ordem do sim-ico.

    A ordem do sim-ico# ta como a entendemos# distingue)se da ordem do «imagin/rio»

    e da ordem do «rea»# para usar a inguagem da escoa $reudiana de Paris.Para . Kacques =acan 4JS5# che$e desta escoa psicana3tica# o sim-ico é o que d/

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    are(iado# por dar tudo a conhecer ao eitor# pro(ocando a sua inter(enção quer# en$im#

    se ance ou se impante num espaço sem e+picação# o «semidito» di6 astante sore os

     princ3pios essenciais da sociedade a que nos re$erimos. Trata)se de uma sociedade onde

    o uni(erso e a (ida não poderiam ser assumidos por um indi(3duo redu6ido ao

    soipsismo. > «outro» est/ sempre impicado e integrado no que condiciona# quando

    não determina con'untamente o «eu»# o «n-s»& a anterioridade ou# peo menos# a

    simutaneidade da comunidade# a partir do momento em que surge o «eu».

    esta dimensão priorit/ria que o mito teori6a na inguagem $undadora que representa.

    "+trair destes di$erentes dom3nios as (isões e percepções tradicionais a$ricanas é em

    mais instruti(o do que e+aminar as decarações e estados de esp3rito deste ou daquee

     pensador# aceitando ou negando a e+ist%ncia de uma $ioso$ia a$ricana.

     No $undo# não serão todas as $ioso$ias constitu3das por (isões e percepções mais oumenos em articuadas# e atra(és das quais se tradu6 o $antasma de um grupo ou de um

    indi(3duo0

    1- é eg3timo admitir os pensamentos interpretati(os do mundo# pensamentos por (e6es

     rihantes# mas tamém por (e6es deirantes# e que a sociedade não sae o que $a6er

    dees na sua tentati(a de trans$ormar o mundo# não ser/ tamém eg3timo tomar em

    consideração os pensamentos que germinam na trans$ormação do mundo e nas

    di$erentes acti(idades quotidianas0 As (o6es de mani$estação da -gica e do pensamento

    são muito (ariadas de(emos e(itar todo o dogmatismo preguiçoso# es$orçando)nos porconsider/)as a todas.

     Notas

    4?5 9aude =é(i)1trauss# Anthropoogie structurae# pp. GOJ)GOO.

    4G5 1r arie de Pau Neiers# =a phiosophie de queques trius de a région de Kos

     Nigeria ) Théoogie# 9osmoogie# Anthropoogie 4tese de$endida em ?RJ5.

    4I5 Kanhein6 Kahn# untu# Xhomme a$ricain et a cuture néo)a$ricaine# Paris# =e 1eu

    4tradução de Briau de artinoir5# p. ?GR.

    4J5 Kanhein6 Kahn# op. cit.# pp. ??G# ??# ?G?.

    4O5 =. V. Thomas# =es reigions de XA$rique Noire# p. ?J.

    4Q5 1r arie de Pau Neiers# op. cit.# p. IUI.

    4R5 =. V. Thomas# "ssai dXanayse $onctionee sur une popuation de Basse)9asamance#

    8E AN# @acar# p. SG?.

    4S5 Kanhein6 Kahn# op. cit.# p. GO.

    45 Adeayo Adesanya# orua étaphysica Thindu O# 8adan# ?OS# p. J?.

    4?U5 9i. 9outurat# que considera «estranha 2 $ioso$ia de Patão toda a passagem deaspecto m3tico» 4no @e Patonicis ythis# Paris# ?SQ5# e V. Dodschmidt# para quem os

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    mitos patYnicos apenas ser(em de ase ao método supremo que é a diaéctica.

    4??5 K.)P. Vernant# ythe et pensée che6 es Drecs# aspéro# Paris# ?QO.

    4?G5 =é(i)1trauss# =XHomme Nu# 8V# Einae# p. OO.

    4?I5 8d.# iid.# 8V# Einae# p. OQU

    4?J5 8d.# iid.# 8V# Einae# pp. OO)OQU.

    4?O5 =é(i)1trauss# =XHomme Nu# 8V# Einae# p. OQI.

    4?Q5 9. E. Voney# Voyage en 1yrie et en Bgypte# ?RSI# ?RSJ# ?RSO# @essene# V8# p. ?O.

    4?R5 8n Mhadun# Histoire des Bereres et des dynasties musumanes de A$rique

    septentrionae 4tradução do arão 1ane5 # Arge# ?SOJ# t. G.

    4?S5 8n Batuta# Voyage dans Ze 1oudan 4tradução de arc Duc

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    8nternaciona sore a Autocompreensão 9utura das Nações# 8nsruque# Austria# Kuho#

    ?JR.

    4IU5 :oger =e Baron# Eaes sénégaaises# ?SGS.

    4I?5 Boiat# "squisses sénégaaises# ?SOI.

    4IG5 Boiat# "squisses sénégaaises# pp. IJO)IJQ.

    4II5 @ame# o che$e# o rei.

    4IJ5 Boiat# "squisses sénégaaises# p. IOG.

    4IO5 Boiat# "squisses sénégaaises# pp. IOJ)IOO.

    4IQ5 Boi8at# "squisses sénégaaises# pp. IOJ)IOO.

    4IR5 "rin Pano$s