percepções e vivencias

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    Ano 3, número 5, semestral, setembro 2013

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br

    Lugar: percepções e vivências- estudos de Portugal Pequeno e São Domingos, Niterói

    Lugar: percepciones y experiencias- estudios en Portugal Pequeno y São Domingos, Niterói

    Place: perceptions and experiences- studies about Portugal Pequeno and São Domingos, Niterói

    Heloisa Bueno Rodrigues

    Resumo:

    Este ensaio busca, através da compreensão dos espaços urbanos eseus usos, identi car e entender a cidade como um espaço de encontros,fortalecedor de vivências, formador de identidades e de pertencimento,permeado de sentido e memória, compreendendo o espaço para além dasua construção física e da visão técnico-cientí ca-hierárquica de algunsurbanistas e pesquisadores. O enfoque, portanto, pretende construir umavisão mais humana da cidade indo de encontro aos modelos de cidades“vazias”, cidades cenários, cidades shoppings, en m, cidade espetáculo,e ao encontro das mais modernas correntes de pensamento sobre oolhar da(na) cidade, que humanizam os estudos sobre elas.

    Com base neste fundamento e tendo como recorte a cidade de Niterói,escolhemos como núcleos para esta pesquisa, Portugal Pequeno,

    pequena faixa litorânea, localizada no bairro de Ponta d’Areia, queteve grande participação na história da formação da Cidade e, em umaanálise paralela, trabalhamos também, o bairro São Domingos comfoco no espaço circundante à Praça Leoni Ramos, conhecida comoPraça da Cantareira, que, assim como o anterior, possui grande valorhistórico para Niterói.

    Palavras chave:

    Lugar

    Errâncias

    Cidade cenário

    Requali cação/revitalização

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    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

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    Resumen:

    Este ensayo pretende, según la comprensión de los espacios urbanos ysus usos, identi car y entender la ciudad como un espacio de encuentroy experiencias generadoras de identidad, pertenencia, signi cado ymemoria, examinando el espacio más allá de su construcción física ytécnico-cientí co-jerárquica que apoya la visión de algunos plani cadoresurbanos. El enfoque, de este modo, tiene la intención de construir unamirada más humana de la ciudad en oposición a los modelos de ciudades“vacías”, ciudades escenarios, ciudades shoppings, o aun ciudadesespectáculos, valiéndose para tal de las corrientes más modernas delpensamiento sobre la ciudad y su humanización.

    Siguiendo este fundamento, y teniendo como campo de estudio laciudad de Niterói, se eligió como núcleo de esta investigación, Portugal

    Pequeno, pequeña franja costera, situada en el barrio de Ponta d’Areia,que tomó gran interés en la historia de la formación de la ciudad. En unanálisis paralelo, se ha estudiado también el barrio de São Domingos,en redor de la plaza Leoni Ramos, conocida como Praça da Cantareira,que, al igual que la anterior, tiene un gran valor histórico para Niterói.

    Abstract:

    This essay seeks, through understanding of urban spaces and theiruses, identify and understand the city as a meeting space, empowererof experiences, forming identities and belonging, traversed by memoryand feelings, understanding the space beyond its physical constructionand the scienti c-technical-hierarchical vision of some urban andresearchers. Therefore, the main purpose of this paper is to builda more humane vision of the city, going against “empty” city models,scenario cities, town malls, nally, city spectacle, and trending themodern currents of thought about the look of the city, which humanizesthe studies on them.

    On this basis, and taking as analysis sample the city of Niterói, wechose as nuclei for this research, Portugal Pequeno, small strip seaside,located in the district of Ponta d’Areia, who had great contribution tothe city construction and, in a parallel analysis, we also worked on SãoDomingo neighborhood focusing in the surrounding space of LeoniRamos Plaza, known as Cantareira Plaza, which thus as the previous

    onde, has great historical value to Niterói.

    Palabras clave:

    Lugar

    Andanzas

    Ciudad escenario

    Reconstrucción/revitalización

    Keywords:

    Place

    Wanderings

    City sceneRedevelopment/revitalization

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    Ano 3, número 5, semestral, setembro 2013

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    Lugar: percepções e vivências- estudos de Portugal Pequeno

    e São Domingos, Niterói

    O texto a seguir é fruto de umprocesso de pesquisa desenvolvi-do junto à UFF (Universidade FederalFluminense), com o apoio da FAPERJ(Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado do Rio de Janeiro). Embora jápassados alguns anos, entendemosque as reflexões aqui desenvolvidasainda são muito atuais, o que justificasua publicização.

    O conhecimento do lugar, a iden-tificação de seus espaços de uso coleti-vo e o entendimento de suas potencia-lidades como espaços de convivências,trocas e do fazer cultura (entendendo acultura como o cultivo de práticas queenvolvem grupos) e não como umaplanta baixa do espaço físico foi outronorteador da pesquisa.

    Buscou-se reconhecer, atravésda vivência, as potencialidades dosespaços públicos e entender se açõesde arte e entretenimento podem forta-lecer esses espaços enquanto uso, ouse são usados apenas como marketingpara atrativos. Buscou-se, ainda, anali -sar os discursos e práticas dos morado-

    res e transeuntes a fim de captar quaisos usos que eles fazem dos espaços eo que eles de fato pensam sobre o lu -gar onde moram ou frequentam, tendocomo objetivo entender a simbologiadas práticas e dos discursos daquelesque dão vida ao lugar. Além disso, com-preender a construção e a desconstru-ção das identidades e das memóriasdo lugar, definindo um diagnóstico quepudesse mapear símbolos e discursos,identificando os valores e a vocaçãodos espaços.

    Para alcançar tais objetivos, de -nimos nossa metodologia por meio de

    estratégias de apreensão e uso do es-paço. Buscamos o estudo e a análise do

    espaço urbano experimentado, a práticade errâncias urbanas (como propostopor Paola Berenstein Jacques), uma for -ma particular de compreensão e apro-priação do espaço urbano, que buscaromper com a super cialidade das aná -lises e que foge a obviedade dos riscose análise super ciais de alguns estudio -sos. A prática de errâncias constitui o atode vivenciar o lugar para além do esté-tico, numa postura crítica, propositiva,subjetiva, que inibe o olhar espetaculare permite que na lentidão da vivência asuper cialidade seja superada e as prá -ticas reais sejam en m desvendadas:

    a lentidão do errante não se referea uma temporalidade absoluta e ob - jetiva, mas sim relativa e subjetiva,ou seja, signi ca uma outra formade apreensão e percepção do espa-ço urbano, que vai bem além da re -presentação meramente visual. Sãoos homens lentos, como dizia Mil-ton Santos, que podem melhor ver,apreender e perceber a cidade e omundo, indo além de suas fabula -ções meramente imagéticas.... (JA -CQUES, 2007, p.99)

    Definimos, portanto esta práticacomo nossa linha guia metodológica e

    sendo assim, é a partir dela que pes-quisamos, refletimos e readequamos aaplicação das demais ferramentas, an-teriormente definidas, que estão na des-crição a seguir: mapeamentos de espa-ços e vivências, com visitas ao local emaior compreensão do espaço e seupulsar; análise para além dos cenários;tratamento do corpus documental (jor -nais e mapas), com materiais sobre osbairros e/ou trechos a serem estudados;uso da observação participante e de en -trevistas em profundidade, buscando a

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    compreensão de suas práticas urbanas;e aplicação de questionário, definindouma análise quantitativa e estatísticaquanto à ocupação dos espaços pú -

    blicos e o pensamento daqueles que opraticam.

    Entendendo a cidade

    Para trabalhar o conceito de ci -dade e a compreensão mais ampla deuma análise de usos e de pesquisa decampo, a leitura de “Quando a rua viracasa” (SANTOS et al., 1985) se mostraessencial. Este livro tece uma compa-ração entre dois territórios, Catumbi eSelva de Pedra (Leblon), no Rio de Ja -neiro, realizando um estudo etnográficodas práticas e usos dos espaços públi -cos nesses lugares. Conceitos como asdimensões simbólicas na construçãodo cotidiano, os valores, o entendimen-to de que a “etnografia de um espaçosocial não pode ser senão a etnografiado que se passa nele” e a defesa dadiversidade de usos do espaço comofator primordial para a construção deuma cidade e sociedade saudável,contrapondo-se a moda pós-modernade isolar e restringir cada vez mais asrelações, definiu uma primeira linha ló-gica para a pesquisa.

    A leitura de “Não lugares: Intro-dução a uma antropologia da supermo-

    dernidade” (AUGÉ, 1994) possibilitououtro entendimento, complementar, daconstrução do espaço. Trabalhandocom os conceitos e de nições de lugare identidade, na história e na antropo-logia, apresenta um novo conceito queao ser assimilado permite um mergulhoainda maior no observar da realidade,sendo este o conceito de não-lugares .Contrapondo-se ao entendimento deque um lugar possibilita a construção derelações, de identidade, pertencimento ea construção de uma história, Augè des-

    creve o não-lugar como o exato oposto,um espaço que não comporta nenhumadessas características. No entanto, dei-xa claro que nenhum lugar está livre de

    se tornar um não-lugar, assim como docontrário também. A rmativa explícita notrecho que segue:

    Na realidade concreta do mundo dehoje, os lugares e os espaços, oslugares e os não-lugares misturam--se, interpenetram-se. A possibili-dade do não-lugar nunca está au-sente de qualquer lugar que seja. Avolta ao lugar é o recurso de quemfreqüenta os não-lugares (e quesonha, por exemplo, com uma re-sidência secundária enraizada nasprofundezas da terra). Lugares enão-lugares se opõem (ou se atra -em), como as palavras e as noçõesque permitem descrevê-las. (AUGÉ,1994, p. 98)

    Outra fonte importante foi o livrode Stuart Hall “A identidade cultural napós-modernidade”, que nos possibi -litou a compreensão da configuraçãodas identidades, culturas híbridas eos reflexos que os processos de glo-balização proporcionam às sociedadesque estão inseridas na lógica contem-porânea de consumo e fluidez de tro-cas econômicas e culturais nem sem-pre de igual para igual. Entendemosque ao mesmo tempo em que pensa-

    mos na identidade como meio de reco-nhecimento, seja de pessoa ou lugar,esse meio não é estático, mas estáem processo, como aponta o autor:“Assim, em vez de falar da identidadecomo uma coisa acabada, deveríamosfalar de identificação, e vê-lo como umprocesso em andamento.”

    O conceito de “espetaculariza -ção ” das cidades, introduzido por GuyDebord, ainda na década de 60 com olivro “Sociedade do Espetáculo” foi ou-

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    tro ponto considerado. O autor apresen-ta sua discordância com o modelo desociedade do consumo que estava seconstruindo, e que foi adaptado, ade-

    quadamente, por teóricos para a ten-dência contemporânea de transformaras cidades em produtos de consumopara turistas, que mantém relações su-perficiais com o local que transitam.

    As áreas de estudo

    A pesquisa ora relatada trabalhou doisespaços da cidade Niterói/RJ: Portugal Pe -

    queno, no bairro de Ponta d’Areia, e a Praçada Cantareira, no bairro de São Domingos.

    Vejamos as caracterizações e re e -xões sobre cada uma delas.

    PORTUGAL PEQUENO

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    Reconhecidamente tranquilo, porseus moradores e visitantes, o bairro dePonta d’Areia se con gura como um es-paço rico em história e singularidades, um

    lugar diferenciado dentro da malha urbanada cidade. Com uso majoritariamente resi-dencial e algum comércio de primeiras ne-cessidades, Ponta d’Areia tem como fron-teiras os bairros do Centro, Santana e emsua maior extensão, a Baía de Guanabara.O bairro teve sua ocupação original ligadaà pesca de baleias, e logo após despontouem sua vocação industrial com a instalaçãode estaleiros, sendo os principais: EstaleiroMauá, sob os investimentos do então Barãode Mauá, a Companhia de Comércio e Na-vegação, sob os investimentos do CondePereira Carneiro e o Estaleiro Barcas S/A.

    Além disso, o bairro teve uma fortepresença de imigrantes em sua história,principalmente de portugueses, que funda-ram uma colônia e garantiram à região asmargens da Baía de Guanabara, o nomede Portugal Pequeno. Essa tradição e in-

    uência portuguesa motivaram em 1998um projeto municipal de revitalização:

    A revitalização da área partiu de umaproposta que envolveu interessadosna recuperação do patrimônio arquite-tônico e urbano da área: Prefeitura deNiterói, governo português, comunida-de e várias instituições. O projeto foiparte integrante das comemoraçõesdos 500 anos do Descobrimento do

    Brasil. O local, devidamente revitaliza-do, foi entregue a população durante oevento Encontro com Portugal, orga-nizado pela Prefeitura em 1998, tendoa frente Marcos Gomes, Secretário deCultura da época e do atual governo. 1

    No entanto, as bases e motivaçõesdesta revitalização, assim como o envolvi-mento dos moradores da região, se mostra-ram frágeis demais para resistir ao tempo,como vamos buscar comprovar na conclu -são da pesquisa que apresentamos a seguir.

    Mapeamento

    Em uma análise físico–territorial dePortugal Pequeno, observamos um terri -

    tório com caráter residencial e um comér-cio pouco desenvolvido, sendo em suagrande maioria bares e lanchonetes querespondem basicamente às necessidadesdos funcionários dos estaleiros localiza-dos na região. Casas antigas, sendo trêsimóveis tombados pela Prefeitura Munici-pal de Niterói, exibem um ar de abandonoe, em alguns casos, graves processos dedeterioração, o que surpreende o visitanteao se pensar que, em 1998, esta regiãofoi revitalizada e recuperada pelo governomunicipal e parceiros, para a comemora-ção do evento “Encontro com Portugal”. Além das casas e bares, uma fronteira/limite marcante deste espaço é o Morroda Penha que, de acordo com algumasentrevistas, é uma ocupação tranquila,onde a violência e o trá co de drogas nãose destacam. Tendo como limite territoriala Baía de Guanabara, Portugal Pequenopossui ainda um píer, para ancorar bar -cos de pesca e quiosques a beira mar,estes também deteriorados. Além disso,destacam-se também os paredões quedelimitam as áreas de estaleiros e que,aparentemente, não dialogam com o am-biente externo, a não ser nos momentosde entrada e saída de seus funcionários. Atualmente, estão ativos no local os esta-leiros Mac Laren, Barcas Rodriquez, Wil-son e Estaleiro Mauá.

    Nas visitas a campo foram identi -cados alguns grupos sociais, sendo eles:grupos de pescadores, que saem bemcedo do píer para áreas mais distantesda baía e voltam para Portugal Pequenoonde “atracam” seus barcos e comerciali -zam o pescado; grupos de comerciantes,que mantém em torno de si grande partedos usuários locais; grupos de moradores,e por m, grupo de operários, frequenta-dores assíduos do lugar, devido aos em-pregos nos estaleiros.

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    O projeto de recuperação de PortugalPequeno

    Para compreendermos como se

    deu o projeto de recuperação de PortugalPequeno e seus desdobramentos, busca -mos conversar com pessoas que vivencia-ram este processo, da parte política, so-cial e alguns moradores que vivenciaramas mudanças propostas pelo projeto.

    Além disso, buscamos documentosque apresentassem o projeto e suas pro-postas de recuperação, assim como repor-tagens jornalísticas da época, que serviramcomo importantes fontes de informaçãopara a compreensão do que estava sendodito e discutido. Algumas reportagens me-recem destaque como: Exposição mostracomo cará Portugal Pequeno (O GLOBO,01/02/1998), Invasão bem-vinda chega dealém mar (O GLOBO, 29/03/1998),Reabili -tação de Portugal Pequeno atrai atenção dosturistas do mundo inteiro (NITERÓI esporte,lazer, turismo e cultura – ano I nº4, junho1998) e Portugal Pequeno espera a conclu -são de reformas (O GLOBO, 06/09/1998).

    Em um catálogo do projeto Encon-tro com Portugal – Brasil 500 Anos, rea-

    lizado pela Prefeitura de Niterói, tivemosacesso a uma breve descrição da propos -ta de intervenção realizada por este proje-to para Portugal Pequeno, que -segundo

    o documento- pretendia “ preservar o es - paço urbano e recuperar a qualidade devida da área ”. A seguir, trecho referente aoprojeto e imagens deste catálogo:

    A reabilitação se divide em vários as-pectos: a recuperação do cais existen-te; revisão do posteamento elétrico;criação de um novo píer de atracação,que permitirá que turistas cheguem debarco aproveitando as belezas da Baíade Guanabara; colocação de bancospara descanso e contemplação e re-manejamento dos quiosques (barra -cas) atuais com a construção de outrospadronizados. O asfalto será retirado esubstituído pelos paralelepídeos comooriginalmente. As fachadas e os re-vestimentos das casas recuperadosseguindo as cores do início do século.Serão colocados toldos nos estabele -cimentos comerciais em substituiçãoàs marquises e serão tombados aIgreja de Nossa Senhora de Fátima ealguns prédios que ainda apresentambom estado de conservação. 2

    Fonte: Catálogo do evento “Niterói Encontro com Portugal – Brasil 500” realizado pela Prefeitura de Niterói em 1998

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    Com esta revitalização, PortugalPequeno se tornou o grande estandartedeste evento, explicitando ao máximoas relações de Niterói com Portugal, e

    justificando, com isso, a realização des-te grande evento e a consequente en-trada de recursos na Cidade, cumprindoa repetida lógica de intervenções urba -nas pontuais.

    Errâncias em Portugal Pequeno

    Em incursões na região, percorre-mos ruas um tanto vazias, espaços ex-tremamente calmos, que causam grandedescon ança e estranhamento a quemestá acostumado com a correria e a im-paciência dos centros urbanos.

    Não demora muito e alcançamosa Rua Miguel de Lemos, “portal” da nos-sa área de pesquisa. Longos paredõesde concreto nos indicam que estamos naárea dos estaleiros, e estes parecem seimpor como barreiras aos frequentadoresda região, delimitando seus espaços e es-tabelecendo ordem e controle de acessoaos espaços, abrindo suas portas para asaída ou a entrada de seu grande quan-titativo de funcionários, que nesses horá-rios tornam a região um lugar de ocupa-ção predominantemente masculina. Poreste motivo, e por estar claro àqueles queme observavam que minha presença nãose tratava de uma presença comum na re-

    gião, tive grande di culdade em me apro-ximar das pessoas sem despertar descon-ança, o que me impossibilitou de realizar

    “entrevistas informais” sem me identi carcomo pesquisadora. Percebi então quãoraro era a presença de mulheres, que ameu ver seria um meio pelo qual mais fa-cilmente eu conseguiria “entrar” naqueleterritório, e sentia que a todo o momentoestava sendo observada.

    Além dos estaleiros, que ocu-pam praticamente toda a área às mar-

    gens da Baía, compreendendo a área dopíer, Portugal Pequeno tem, na margemoposta à Baía, uma grande extensão debares, sempre prontos para receber os

    operários que tem ali um bom lugar paraalmoçar, descansar e também encontraros amigos ao nal do expediente. Emminhas visitas à região, identi quei es-tes bares, embora muitos tenham estru -tura precária, como áreas potenciais deconvivência, espaços de trocas sociais,culturais e simbólicas, onde as pessoasconversam, dançam e se relacionam comoutros, no entanto, na minha percepçãoseus clientes são quase exclusivamen-te funcionários dos estaleiros, o que foicon rmado por meio de entrevistas rea-lizadas: quando ao perguntar quais eramos espaços utilizados pelas pessoas parase encontrarem, recebia como respostasempre a referência de um bar.

    Um bar que merece nossa aten -ção especial é o “Decolores”, bar cente -nário, famoso por suas sardinhas fritase pela tradição em frutos do mar e pra-tos com bacalhau, tendo sido inaugura -do com o nome de Café Vila do Conde,quando a região ainda abrigava uma co -lônia de portugueses. Atualmente o barcontinua com suas portas abertas e estánas mãos dos irmãos Marcelo e Ângela Alves, mas a colônia portuguesa já nãoexiste mais, e o bar, assim como todo oseu entorno, parece viver uma fase dedecadência (possivelmente, pela falta

    de diversidade de usos da região, atual-mente majoritariamente industrial, o quereduz a circulação de pessoas e a vidasocial no local).

    Muitos dos bares ocupam o térreode antigos sobrados, belos exemplaresda arquitetura eclética de cunho resi-dencial e comercial, que -somados aomar da Baía- garantiriam à região um arbucólico, transportando o visitante a umtempo passado, fazendo-o esquecer quea algumas poucas ruas está o agitado

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    centro urbano de uma das maiores cida -des do estado do Rio de Janeiro. No en-tanto como já citado anteriormente, estecenário vive atualmente um período de

    decadência, com agressivas interven-ções na arquitetura tradicional, perden-do sua singularidade, e o que deveriaser um reduto cultural na cidade, se tor-nou um espaço de completo abandonopelas autoridades políticas, as mesmasque há tão pouco tempo zeram deleseu estandarte para a realização de umgrande evento na cidade.

    Destes exemplares arquitetôni-cos, pesquisamos os bens tombados everi camos a existência-persistência deum Cortiço de 1930, ainda hoje em uso;a Igreja Nossa Senhora de Fátima, de1940, considerada uma das mais anti-gas do Brasil dedicadas a esta Santa,que abre suas portas todos os dias paraos éis participarem de suas missas; eum sobrado do início do século XX, co-nhecido também como “Casa Verde”que, atualmente, está em posse de umaempresa privada.

    Vivenciando Portugal Pequeno,pude observar que grande parte dospassantes, quando não funcionáriosdos estaleiros, eram moradores do Mor-ro da Penha e de residências da região,e não exerciam um uso daquele espaçocomo um lugar de convivência ou tro-cas culturais, e sim como um lugar de

    passagem ao centro da cidade, e tudo oque ele oferece.

    Ao contrário das expectativascriadas pelas leituras dos recortes de jornal e do histórico da região, que mefaziam acreditar que encontraria um re-canto culturalmente rico, assim comoum público de turistas e curiosos, naverdade não foi com essa realidade queme deparei. Não tive a oportunidadede encontrar nenhum descendente dosportugueses que colonizaram a região:

    em entrevistas realizadas, essas refe-rências eram sempre distantes ou depessoas já falecidas, alguns entrevis-tados nem mesmo sabiam da existên -

    cia de portugueses ali, sendo uma re-ferência a um passado longínquo. Alémdisso, pude verificar que a revitalizaçãourbana e cultural realizada pelo projetoda prefeitura em 1998, não pôde se sus-tentar ao longo dos anos. Assim comooutras intervenções urbanas, pensadasdentro da lógica das cidades-espetácu-lo, a revitalização de Portugal Peque-no foi uma ação a mais para entrar naprogramação do evento, e não uma realmanutenção e fortalecimento dos hábi -tos sociais e culturais da região.

    Constatamos hoje um abandonoque atinge e diminui em muito o potencialsocial, artístico e cultural de Portugal Pe-queno, com intervenções que alteram oudescaracterizam as fachadas originais,sucateamento dos quiosques e dos es-paços de convivência, destruição do píere abandono, inclusive, no que diz respei -to ao sistema de coleta de lixo e limpe-za urbana. Tal abandono foi con rmadopor entrevistas, pois quando questioneiaos entrevistados o que pensavam doprocesso de revitalização realizado naregião, a maioria daqueles que haviamacompanhado o processo responderamque foi bom, mas que depois do eventonão houve nenhuma outra ação de manu-tenção por parte da Prefeitura.

    No entanto, não posso deixar derelatar minha impressão quanto às po-tencialidades da região, pois situado àsmargens da Baía, em um bairro de fácilacesso, relativamente seguro, próximoao centro da cidade e historicamenteimportante, Portugal Pequeno não deviaestar abandonado à própria sorte, masdevia ser valorizado e cuidado por todospara que não seja mais um reduto deexperiências e vivências culturais a seperder com o tempo.

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    Registro fotográ co das errâncias 3

    Bem tombado municipal “CASA VERDE” - Imóvel situado naRua Barão de Mauá, 296 – Pontad’Areia – Niterói – RJ.

    Bem tombado municipal Cortiço - Imóvel situado na Rua Barãode Mauá, 322 – Ponta d’Areia

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    Bem tombado municipal Igreja Nossa Senhora de Fátima -Imóvel situado na Rua Barão de Mauá,274 – Ponta d’Areia – Niterói – RJ.

    Presença dos estaleirose da indústria naval.

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    Vista da Baía de Guanabara com a presença da indústria e a PonteRio-Niterói ao fundo.

    Bares e pessoas

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    Vistas do Morro da Penha.

    Abandono, descaracterizaçãoe deterioração da área.

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    SÃO DOMINGOS(PRAÇA LEONI RAMOS)

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    Panorama histórico

    O bairro de São Domingos é umdos mais antigos e menores bairros da ci -

    dade, tendo sua fundação ocorrida aindano período colonial. Sua área apresentafronteiras com a Baía de Guanabara, ecom os bairros do Centro, Ingá, Boa Via-gem e Gragoatá.

    Área pertencente às Sesmarias dosÍndios que foi ocupada pelo colonizadorportuguês. A proximidade com o Rio deJaneiro e as características geográ casnaturais se mostraram pontos importantespara o desenvolvimento de um povoado,que seria conhecido como Largo de SãoDomingos. Além disso, São Domingostinha uma ponte de atracação para osbarcos que realizavam os trajetos maríti -mos do Rio de Janeiro para as terras deNichterói (neste mesmo local foi instaladoo Estaleiro e Estação das Barcas da Com -panhia Cantareira e Viação Fluminense).

    Em 1816, D. João VI acompanha-do por outros membros da Corte, passouuma temporada em São Domingos. Paramelhor abrigá-lo, um rico comerciante deescravos, proprietário de vários imóveis,presenteou o monarca com um casarão detrês andares, que passou a ser chamadode Palacete — no largo de São Domingos.

    Esta visita de D. João VI foi um fatomarcante para o desenvolvimento de

    Niterói, facilitando o processo de ele-vação do povoado à condição de VilaReal. O Alvará Régio estabelecia quea sede da Vila deveria ser erguida “nolugar chamado de São Domingos daPraia Grande”. Em virtude do acanha-do espaço do largo de São Domingospara erigir o Pelourinho (símbolo daautonomia), a Casa da Câmara e aCadeia, a sede da Vila foi deslocadapara outro local, o antigo Campo deDona Helena, na parte voltada para arua da Conceição.

    Mesmo não tendo sido escolhido comosede da Vila, por todo o séc. XIX e iní-cio do séc. XX, São Domingos conti-nuou sendo um dos locais de maior

    signi cação da cidade de Niterói.4

    Com a criação e a instalação daVila Real da Praia Grande em 1819, SãoDomingos começa a se destacar dos ou-tros povoados recebendo membros daCorte, e posteriormente abrigando as resi -dências de políticos e importantes perso-nagens da história da cidade.

    Esta herança permitiu que, ao lon-go dos anos, o bairro se desenvolvessecom a instalação de comércios, escolas,hospital, pensões, e o consequente au-mento do número de moradias.

    Com a expansão urbana em direçãoa outros pontos, principalmente aosbairros da Zona Sul (Ingá, Icaraí, SãoFrancisco, etc), ocorreu uma certa es -tagnação no bairro, reforçada com o

    m do bondes elétricos, cujas linhaspassavam obrigatoriamente pela Pra -ça, para que somente ao m da déca -da de 1990 começasse a apresentarsinais de reversão.

    A partir da década de 1990, os antigoscasarões do entorno do antigo Largode São Domingos, atual praça Leo-ni Ramos, passaram a transformar--se em bares e restaurantes, devido

    à presença do Campus do Gragoatáda Universidade Federal Fluminenseinaugurado no início dessa década. 5

    Com signi cante concentração debens tombados, o bairro apresenta hojegrandes contrastes entre o passado históri-co e o presente, sensação intensi cada pe -las agressivas intervenções da especulaçãoimobiliária, que constrói condomínios e gran-des prédios onde antes eram casarios, e pelocrescimento desordenado da cidade, com aintensi cação dos processos de favelização.

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    Mapeamento

    Em nossas primeiras incursões aSão Domingos, tomamos como ponto de

    partida a realização de um mapeamentofísico-territorial dos elementos que con gu-ram a Praça Leoni Ramos e seu entorno.Em uma análise geral, o bairro se caracteri -za como majoritariamente residencial, comcomércios de pequenas necessidades eforte presença de escolas e universidades.

    Desta maneira, iniciamos nosso ma-peamento buscando identi car os bens tom -bados pelo município e suas relações com ohistórico do bairro e o presente vivido.

    O lugar conhecido popularmentecomo Cantareira é constituído pela Pra-ça Leoni Ramos (nome dado em home -nagem ao prefeito Carolino de Leoni Ra-mos, que governou a cidade nos anos de1905/1906) e pelo conjunto arquitetônicode seu entorno. Tal nome se deve à mar-cante presença do Portal da Estação Can-tareira, hoje uma casa de shows cedida àiniciativa privada, mas que teve grande im-portância histórica para o desenvolvimen-to econômico, social e cultural do bairro,sendo cenário de marcos históricos, comoa instalação do Estaleiro e Barcas em SãoDomingos; o incêndio da estação causa-do pela Revolta das Barcas em 1959; areutilização -após o incêndio- como gara-gem dos bondes; ponto de partida para arealização do aterro em 1970; e ponto de

    encontro de jovens e ativistas culturais daregião a partir dos anos 1990, abrigandodiversos grupos culturais da cidade comoo Movimento Pop Goiaba, o Arte JovemBrasileira e o Araribóia Rock.

    Outro importante bem tombado,com grande participação histórica no de-senvolvimento do bairro, é a Igreja de SãoDomingos, hoje descaracterizada devidoàs diversas intervenções e obras realiza -das, mas que teve sua fundação em 1652,ainda na Sesmaria dos Índios.

    Com a realização do aterro em1970, houve a expansão das terras deSão Domingos para a Baía de Guana -bara, e parte deste terreno criado foi

    cedido à Universidade Federal Flumi-nense, onde hoje temos o campus doGragoatá, que abriga diversos cursosda Universidade, sendo um dos prin-cipais responsáveis pela circulação depessoas nesta região.

    A instalação do campus da UFFprovocou grande mudança na dinâmicadeste espaço, e hoje, vimos que a quasetotalidade dos casarios preservados ao re-dor da Praça Leoni Ramos foram adapta-dos como bares e restaurantes, buscandocom isso atender às necessidades dessenovo “público” que passou a frequentar olugar. Como exceções a estes usos, identi-

    camos a existência de um armarinho, umbrechó, uma Igreja Assembleia de Deus,uma borracharia e uma copiadora. 6

    Por m, estendemos nosso mape -amento a uma pequena continuidade dasruas que cortam a Praça e identi camosainda o campus da FAMATH (Faculda-des Integradas Maria Thereza); um pré -dio moderno com in uência da arquiteturainternacional, com marcante presença depanos de vidro espelhados, onde funcionaa sede da empresa AMPLA; imóveis comaspecto de abandono e ocupação comocortiço, o Museu Petrobrás de Cinemaque juntamente com outras obras compõe

    o famoso Caminho Niemeyer (até o mo-mento da nalização desta pesquisa aindase encontrava em construção), e outrasresidências e pequenos comércios.

    Em relação aos grupos sociais,identi camos moradores permanentes dobairro (pertencentes à classe média) –observamos que estes, geralmente, nãose xam na praça, mas passam por elapara se deslocar pelo bairro e para outroslugares- e moradores sazonais (tambémpertencentes à classe média) – são uni -

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    versitários que ocupam o bairro nas di-versas repúblicas e imóveis alugados du -rante o período de aulas, mas que voltampara suas casas nos ns de semana e fé -

    rias; estudantes e universitários; profes-sores e funcionários das instituições doentorno, como UFF, FAMATH e AMPLA.Há, ainda, moradores de rua – veri ca-mos que alguns grupos vivem e dormemna Praça e nas ruas laterais, sendo eles areclamação de alguns moradores- mora-dores dos imóveis “abandonados” carac -terizados como cortiços, além de turistas,visitantes e pessoas de outros bairros dacidade que se deslocam para a Praçapara encontrar os amigos.

    O projeto de revitalização deSão Domingos – proposta para a praçaLeoni Ramos

    Assim como a região de PortugalPequeno, a Praça Leoni Ramos e seu en-torno também foram objeto de projeto derevitalização por parte da Prefeitura.

    Segundo o projeto denominado“Projeto de Revitalização de São Domin -gos – Proposta para a Praça Leoni Ramos

    – 2004 ”, as ações propostas eram:

    Como primeiro enfoque, o projetoprevê a reformulação da Praça LeoniRamos, que se constitui num dos prin-cipais polos culturais do bairro. Loca-

    lizada em frente à antiga Estação daCantareira, a praça abriga o busto deD. Pedro II, tombado pelo município, ereúne no seu entorno edi cações pre -servadas utilizadas como residências,bares, restaurantes, ateliês, sedes deONGs e associações, além do cam-pus de Universidade Fluminense.O projeto abrange também a recupera -ção das fachadas das edi cações pre -servadas, a padronização do desenhode piso das calçadas, bem como dosengenhos publicitários, além do rema -

    nejamento do ponto de táxi, atualmen-te localizado na Praça Leoni Ramos,para a Rua Alexandre Moura, após aEstação da Cantareira, e a colocação

    de semáforo na Av. Rio Branco, antesda entrada para o Campus da UFF(Gragoatá).7

    Tal “reformulação” indicada no iní-cio do trecho supracitado consistia em in-tervenções estéticas, como troca de pos-tes, pisos, árvores e mobiliário urbano, enivelamento da praça com instalação derampas para facilitar a acesso.

    No entanto, como podemos ler na Ata da reunião do dia 22 de abril de 2007 doConselho Comunitário da Orla da Baia reali-zado na Praça Leoni Ramos, moradores nãoestavam de acordo com o projeto propostopara a Praça, e denunciavam que este haviasido aprovado sem a participação deles:

    Abertos os trabalhos e estabelecida àmesa, sendo presidida pelo Diretor, Sr.Carlos Augusto Valdetaro da Cunha esecretariado pelo Sr. José de Azeve-do, Presidente do CCOB.

    O Presidente fez um breve relato sobreas irregularidades na condução de todoo processo de elaboração do projetoda Praça, tendo em vista que os mo-radores em nenhum momento foramconsultados e em assim sendo, não ti-veram a oportunidade de opinar sobre o

    projeto, conforme prevê o Estatuto dasCidades. Que na última e única reunião,realizada esta semana pelo Secretário André Diniz, onde a comunidade nãofoi chamada, este Secretário admitiupublicamente que infelizmente houveuma falha daqueles que conduziram oprocesso anteriormente. Mas que infe-lizmente embora ele estivesse apresen -tando o projeto, este não mais poderiasofrer qualquer tipo de alteração, porparticipação dos moradores. Nesta reu-nião, houve muitas reclamações, prove-

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    nientes dos moradores que “souberam”da reunião e em ali estando, demons-traram todo o seu repúdio quanto à reu -nião ser ESCONDIDA e sendo ouvido

    apenas um segmento daqueles queusavam a Praça, que eram os donos debares, mais uma vez desrespeitando osmoradores de São Domingos.

    Houve várias reclamações quanto àdesordem que o bairro foi submetido,por conta da Prefeitura não fazer cum-prir a lei e defender a desordem, ondeos bares dominavam a situação, explo -rando o espaço público ao seu bel pra -zer e conveniência, estando, portanto apraça privatizada e a serviço de pou-cos comerciantes que não se preocu-pavam com o sossego da comunidade,não respeitando o código de posturasmunicipal, nem tão pouco a lei do silên-cio o que vem levando os moradoresao desespero quando colocam o somalto não deixando as pessoas dormi-rem e que e tal a altura do som que asvidraças das casas chegam a vibrar. Além de serem realizados bailes gays,onde para espanto da comunidade, épraticado sexo em locais públicos, bemcomo cenas libidinosas na presença in -clusive de crianças do bairro.8

    Esta insatisfação por parte dos mo-radores aparentemente não foi ouvida, poisconstatamos as mesmas queixas apresen-tadas nesta reunião nas entrevistas que re-

    alizamos com alguns moradores. A Praçafoi executada tal qual a proposta pelo pro- jeto, o que nos comprova que, pouco, ouquase nada, das reclamações dos morado-res foi levado em conta em sua execução.

    Errâncias: relato de incursões e per -cepções de São Domingos

    Caminhando pelo bairro alcança-mos lentamente o território da Cantareira ea Praça Leoni Ramos, um ambiente singu -

    lar que remete a cidades do interior, um lar-go que assim como Portugal Pequeno nosremete a um “cenário” de lmes antigos.

    No entanto, ao observar os “perso -nagens” que circulam por estes espaços,vamos aos poucos compreendendo a di-nâmica do lugar e o papel que cada umexerce na formação deste território.

    Diferentemente das incursões rea-lizadas a Portugal Pequeno, não senti ne-nhum incômodo por estar naquele lugar,pois ninguém que por mim passava pare-cia estranhar minha presença. Era apenasmais uma aluna da universidade que porali passava, estando misturada com tan-tos outros que circulavam de um campus a outro, em um intervalo de almoço ouida para o ponto de ônibus. Desta forma,minha presença se diluía entre os outrosuniversitários e me sentia segura e confor-tável para vivenciar aquele espaço.

    Sabendo das diferentes ocupaçõesda praça ao longo dos dias da semana ehorários, me programei para realizar a pes-quisa em dias e horas diferentes. Destaforma, pude observar que pela manhã aregião sempre estava mais esvaziada, eapesar de haver na Praça equipamentos eáreas destinadas às crianças, a presençadestas nunca foi marcante (diferentemen -te de outra praça próxima, localizada nobairro do Ingá, que é reconhecida por to -dos como uma praça em que pela manhã é

    “dominada” pelas crianças, mães e babás).Pelas manhãs, observamos que a Praça secon gura mais como um lugar de passa -gem, universitários e pessoas indo para otrabalho, e as únicas presenças constantesneste horário são as dos moradores de rua,que encontramos dormindo nos bancos.

    Conforme a manhã vai passandoveri camos uma maior circulação de pes-soas, e os restaurantes começam a abrirsuas portas para servir o almoço a alunos,professores e funcionários das instituições

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    do entorno. Exceto nos ns de semana enos períodos de férias, onde ocorre umsigni cativo esvaziamento deste lugar,esta dinâmica praticamente não se altera.

    No entanto se esta dinâmica fun-ciona para o dia, à noite a Cantareira é umpouco diferente. Com a chegada do mda tarde e início da noite os bares e res -taurantes colocam suas mesas e cadei-ras nas ruas e recebem diferentes per sde clientes. Identi camos que em algunsbares há apresentações ao vivo de artis -tas locais e ofertas de cardápios diferen-ciados como rodízios e culinária japonesa. Ao conversar com algumas pessoas sou-bemos também que houve uma época emque a própria Secretaria Municipal de Cul-tura realizava eventos gratuitos na Praça,o que juntamente com outras característi-cas, fortaleceu a identi cação de uma vo -cação cultural da região.

    Mas há um dia na semana em que aocupação da Praça Leoni Ramos e entornoé realmente impressionante. Às quintas-fei-ras a aglomeração de pessoas na Praça enos bares assusta quem estava acostumadocom a movimentação da Praça durante o dia,como dito por um entrevistado: “é a Quinta -reira, o dia em que a Cantareira bomba ”.

    Cheguei com uns amigos que ti-nham o hábito de frequentar o lugar, eainda tímida me pus a observar os gru -pos que se misturavam naquela multidão.

    Eram muitas pessoas, mas parecia exis-tir uma organização natural entre aquelesque ali estavam, todos muito entrosadosentre conversas e bebidas. Fui aos pou -cos, conversando com diferentes pessoase percebendo as relações que con gura -vam aquele espaço naquele momento. Noentanto, foi um “entrevistado” que reveloua mim uma ordem que ainda não tinha per-cebido e que somente ele, frequentadorassíduo poderia me revelar. Este rapaztrabalhava como divulgador, entregando

    lipetas de outros eventos que aconteciam

    na cidade, durante todas as quintas feiras(perguntei a ele: por que não nos outrosdias? e como já esperava, ele informouque esse é o dia de maior movimento na

    Praça), e com isso circulava em todos osgrupos que formavam aquela multidão.

    Com o depoimento deste informan-te, identi camos que os grupos se organi -zam por a nidades e também por poderde consumo. Desta forma ele apontou asáreas ocupadas e seus respectivos gru-pos, sempre referenciados por um bar ourestaurante, ou pela não presença destes.Tentarei explicar verbalmente este mape -amento.

    Em uma das pontas que compõem o“quadrado” da Praça temos a presença doTribus bar, que para meu informante mar-ca o espaço da ocupação LGBT na praça;nos bares ao lado do Tribus , ele identi cacomo a área de ocupação dos heterosse-xuais “que não se incomodam com a pre -sença dos homossexuais ”; do outro lado daPraça ele identi cou como sendo área deocupação de quem tem maior poder aqui-sitivo, e “ pode pagar caro pela cerveja ”,“onde os professores da UFF cam ”, emfrente à Praça, no lado oposto da EstaçãoCantareira, há o Bar São Don Don, que porele foi identi cado como a área do pessoalque gosta de MPB; e no centro da Praçaele identi cou como a área do pessoal al -ternativo, e mais “barra pesada”, havendoconsumo de drogas em alguns casos.

    Além destes, temos a presençatambém dos vendedores ambulantes debebida, cachorro-quente, hambúrguer, eoutros, que muitas vezes são a salvaçãodo pessoal que não tem condições deconsumir nos bares e restaurantes.

    Circulei um pouco entre os grupose ao conversar com algumas pessoas,perguntei sempre onde moravam, e paraminha surpresa, ninguém morava em SãoDomingos, alguns moravam em bairros

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    vizinhos ou mesmo no município vizinhode São Gonçalo, mas muitos moravam noRio e estavam ali para confraternizar comos amigos. Destes, grande parte eram alu-

    nos, professores e funcionários da UFF,outros eram de outras faculdades, mas ti-nha também a presença de funcionáriosda AMPLA e de visitantes que acompa-nhavam outros amigos.

    A noite se estende até bem tarde, ea região é conhecida para alguns como a“Lapa de Niterói”. Deixei o local uma horae meia da manhã e não tinha dúvidas deque aquela grande festa ainda demorariamuito a acabar.

    Ao retornar para casa cou a ques -tão, por que o grande movimento se dá naquinta e não na sexta feira? Esta questão foirespondida por um outro informante, em ou-tra situação, quinta-feira é o último dia para

    os alunos que não moram em Niterói. Noperíodo de aulas, é o melhor dia para sair ànoite, pois na sexta eles voltam para a casa.

    No dia seguinte, a quantidade delixo denunciava a festa da noite que pas-sou. Sendo esta uma das queixas dos mo-radores, além de outras como excesso debarulho, insegurança, “comportamentoslibidinosos ” e consumo e vendas de dro-gas na região, que são intensi cados porestas “festas” na Praça.

    Com a prática das errâncias pu-demos ver que a impressão de um localcalmo e tranquilo, onde a população vivesatisfeita, é, na verdade, uma grande ilu-são que o cenário físico e as relações su-per ciais colocam para o observador.

    Registro fotográ co das errâncias:

    Museu Petrobras de CinemaCaminho Niemeyer.

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    Bem tombado municipal Portal da Cantareira – Rua AlexandreMoura 2 – São Domingos.

    Bem tombado municipal Busto de Dom Pedro II – Praça LeoniRamos – São Domingos.

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    Bem tombado municipal Igreja de São Domingos Gusmão –Rua Alexandre Moura, 29

    – São Domingos.

    Bem tombado municipal Imóvel situado na Rua AlexandreMoura, 1, 3 e 5 – São Domingos

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    Casarios abandonados nas ruas doentorno a Praça Leoni Ramos.

    Presença dos bares no entorno daPraça Leoni Ramos.

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    motivações bastante diferentes. Enquantoem Portugal Pequeno a motivação de umprojeto de “revitalização” se deu a partir deuma ligação histórica com o “mote” de um

    grande evento realizado pela Prefeitura deNiterói (Niterói encontro com Portugal –Brasil 500), e com consequente abandonoapós a realização do evento e o passar dotempo, vimos em São Domingos uma ou-tra motivação: segundo consta no projeto,seriam ações para “garantir o conforto e asegurança dos usuários”.

    No entanto, em nossa pesquisa,veri camos que a Praça não foi “desocu-pada” durante as obras, mesmo estandocercada por tapumes e não permitindoque as pessoas a ocupassem. As pessoascontinuavam a ocupar os bares e as ruasao redor da praça, o que nos prova que os“usuários” como o projeto se refere, nãoestavam muito preocupados com o con-forto e a segurança, mas sim em encon-trar os amigos e poder desfrutar daqueleespaço público signi cado.

    Outro ponto que aproxima essasduas regiões são os usuários e os interes-ses que detém maior poder nas decisõese ações realizadas na região. Em ambosos lugares, veri camos que os moradorestêm pouca ou quase nenhuma participa-ção (de ocupação e de decisão) nestesespaços (vimos que a ocupação no nalde semana destes lugares é bastante es -vaziada), ao mesmo tempo em que as de -

    cisões são tomadas pela Prefeitura semconsultar as comunidades, estabelecendodiálogos somente com as instituições, co-mércios e empresários que estão xadosnestes espaços.

    Após toda esta análise e resgatan-do as leituras produzidas ao longo da pes-quisa, concluímos que para que PortugalPequeno e São Domingos tenham seususos e espaços valorizados, não bastauma ação da Prefeitura para isso aconte-cer. Primeiramente, deve-se ouvir a popu-

    Conclusão comparativa

    A partir do aprofundamento dasquestões levantadas pela pesquisa por

    meio das leituras e visitas a campo, pude-mos estabelecer uma análise comparativaquanto aos usos percebidos destes territó -rios, construindo pontos que se aproximame outros que afastam quando comparadasas realidades de Portugal Pequeno e SãoDomingos.

    Estes dois territórios tiveram suafundação e desenvolvimento relaciona-dos ao período colonial e a presença dosportugueses, e foram “abandonados”quando a cidade começou a crescer paraoutras regiões e bairros. No entanto, estamudança na ocupação da cidade, por umlado, foi positiva para estes lugares, poiseste abandono colaborou para a preser -vação de uma “ambiência histórica” ebucólica das duas regiões, o que, pos -teriormente, viria a ser “redescoberto” evalorizado.

    As duas áreas que pesquisamosfazem fronteira com o bairro Centro ecom a Baía de Guanabara, no entanto,essa característica física-territorial nãocondiciona uma igualdade na dinâmicadestes territórios. Percebemos que a di -versidade de usos em São Domingos,com escolas, faculdades, residências,empresas, ateliers, bares e restaurantes,proporciona uma ocupação mais dinâmi-

    ca da Praça da Cantareira (embora tam -bém tenhamos questionamentos quantoa esta ocupação) do que a ocupação quetemos em Portugal Pequeno, que com apresença massiva de estaleiros e indús -tria naval, deixa pouca abertura para ou -tros usos, sendo estes limitados à pesca,bares e restaurantes e às residências doMorro da Penha.

    Além disso, essas duas regiões fo-ram objeto de projetos de “revitalização” re-alizados pela Prefeitura, mas que tiveram

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    VARELLA, Marcos Vinícius.Vila Pereira Car -

    neiro: um paraíso em Niterói: 1918 – 2008 . Ni-terói/ RJ: Niterói Livros, 2008.

    1 Retirado de (http://www.felipepeixoto.com.br//index2.php) – período do acesso: fev/2009

    2 Texto de apresentação do projeto de reabilitação dePortugal Pequeno, retirado do catálogo do evento “Nite-rói Encontro com Portugal – Brasil 500” realizado pelaPrefeitura de Niterói em 1998.

    3 Todas as imagens, quando não identi cadas as fon -tes, são da autora.

    4 Retirado de http://ddp-fan.com.br/bairros/sao_domin-gos.htm

    5 Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Cantareira_ (Niter%C3%B3i)

    6 Importante enfatizar que, em todo o bairro existem ou-tras instituições e usos, no entanto, restringimos nossomapeamento ao entorno da Praça Leoni Ramos.

    7 Trecho retirado do texto de apresentação do “Projetode Revitalização de São Domingos – Proposta para aPraça Leoni Ramos – 2004”, adquirido no Departamentode Preservação e Reabilitação do Patrimônio Cultural daSecretaria Municipal de Cultural de Niterói.

    8 Retirado de: http://www.conselhoorlaniteroi.xpg.com.br/50.html - data de acesso: jun/2009

    lação para que ela aponte as intervençõesque realmente são necessárias e que real-mente precisam de atenção. Obras de fa -chada, com o objetivo de integrar lógicas

    espetacularizadas ou de cunho eleitoral,não contribuem para o desenvolvimentodos lugares, apenas contribuem para a re -alização e caz de uma maquiagem que otempo, sabiamente, retira.

    Bibliogra a

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