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Vinhos finos: rumo à qualidade 7 Vitivinicultura brasileira: regiões tradicionais e pólos emergentes José Fernando da Silva Pretas' Umberto Almeida Camargo? Loiva Maria Ribeiro de Mello' Resumo - A viticultura brasileira ocupa uma área de, aproximadamente, 71 mil hectares, com vinhedos estabelecidos desde o extremo sul do País até regiões situadas muito próximas à linha do equador. Em função da diversidade ambiental, existem pólos com viticultura característica de regiões temperadas, com um período de repouso hibernal; pólos em áreas subtropicais, onde a videira é cultivada com dois ciclos anuais, definidos em função de um período de temperaturas mais baixas, no qual há risco de geadas; e, pólos de viticultura tropical, onde é possível a execução de podas sucessivas, com a realização de dois e meio a três ciclos vegetativos por ano. Como zonas de viticultura temperada destacam-se as regiões da Fronteira, Serra do Sudeste e Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul; a região do Vale do Rio do Peixe, no estado de Santa Catarina; a região Sudeste do estado de São Paulo e, a região Sul do estado de Minas Gerais. A região Norte do Paraná é tipicamente subtropical. As regiões Noroeste do estado de São Paulo, Norte do estado de Minas Gerais e Vale do Submédio São Francisco caracterizam-se como zonas tropicais. Além desses, novos pólos produtores estão surgindo em diferentes regiões do País, seja sob condições temperadas (região de São Joaquim, no estado de Santa Catarina), tropicais (Santa Helena, Goiás e Nova Mutum, Mato Grosso) ou subtropicais (Rolândia, Norte do Paraná). Palavras-chave: Vitis vinifera. Uva. Viticultura. Produção. Vinho. Pólo produtor. INTRODUÇÃO A viticultura brasileira nasceu com a chegada dos colonizadores portugueses no século 16. Permaneceu como cultura do- méstica até o final do século 19, tomando- se uma atividade comercial a partir do início do século 20, por iniciativa dos imigrantes italianos estabelecidos no Sul do País, a partir de 1875. As videiras de origem americana, prin- cipalmente cultivares de Vitis labrusca, fo- ram a base para o desenvolvimento da viti- vinicultura brasileira. Destacaram-se as cul- tivares Isabel, como uva para a elaboração de vinho, Niágara branca e Niágara rosa- da, como uvas para consumo in natura. Outras uvas importantes na vitivinicultu- radaépoca foram 'Jacquez' e 'Herbemont', ambas cultivares de Vitis bourquina, e a híbrida interespecífica 'Seibel 2', entre outras de menor importância. As castas européias (Vi tis vinifera), apesar dos es- forços envidados para seu cultivo, não ti- veram expressão nos primórdios da viti- vinicultura comercial brasileira, devido às perdas causadas pela incidência de do- enças fúngicas, especialmente pelo míldio (Plasmopara viticola) e pela antracnose (EIsinoe ampelina). Com o advento dos fungicidas sintéti- cos, efetivos no controle dessas doenças, a partir de meados do século 20, as videiras européias ganharam expressão com o culti- vo de uvas para vinho no estado do Rio Gran- de do Sul e com a difusão da uva 'Itália', especialmente no estado de São Paulo. 1Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Uva e VinhoIIBRAVIN, Caixa Postal 130, CEP 95700-000 Bento Gonçalves-RS. Correio eletrônico: [email protected] 2Eng" Agr", M.Sc., Pesq. Embrapa Uva e Vinho, Caixa Postal 130, CEP 95700-000 Bento Gonça1ves-RS. Correio eletrônico: [email protected] 3Economista, M.Sc., Pesq. Embrapa Uva e Vinho, Caixa Postal 130, CEP 95700-000 Bento Gonça1ves-RS.Correio eletrônico: [email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.234, p.7-15, set./out. 2006

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Vinhos finos: rumo à qualidade 7

Vitivinicultura brasileira:regiões tradicionais e pólos emergentes

José Fernando da Silva Pretas'Umberto Almeida Camargo?

Loiva Maria Ribeiro de Mello'

Resumo - A viticultura brasileira ocupa uma área de, aproximadamente, 71 mil hectares,com vinhedos estabelecidos desde o extremo sul do País até regiões situadas muitopróximas à linha do equador. Em função da diversidade ambiental, existem pólos comviticultura característica de regiões temperadas, com um período de repouso hibernal;pólos em áreas subtropicais, onde a videira é cultivada com dois ciclos anuais, definidosem função de um período de temperaturas mais baixas, no qual há risco de geadas; e,pólos de viticultura tropical, onde é possível a execução de podas sucessivas, com arealização de dois e meio a três ciclos vegetativos por ano. Como zonas de viticulturatemperada destacam-se as regiões da Fronteira, Serra do Sudeste e Serra Gaúcha, noestado do Rio Grande do Sul; a região do Vale do Rio do Peixe, no estado de SantaCatarina; a região Sudeste do estado de São Paulo e, a região Sul do estado de MinasGerais. A região Norte do Paraná é tipicamente subtropical. As regiões Noroeste doestado de São Paulo, Norte do estado de Minas Gerais e Vale do Submédio São Franciscocaracterizam-se como zonas tropicais. Além desses, novos pólos produtores estãosurgindo em diferentes regiões do País, seja sob condições temperadas (região de SãoJoaquim, no estado de Santa Catarina), tropicais (Santa Helena, Goiás e Nova Mutum,Mato Grosso) ou subtropicais (Rolândia, Norte do Paraná).

Palavras-chave: Vitis vinifera. Uva. Viticultura. Produção. Vinho. Pólo produtor.

INTRODUÇÃO

A viticultura brasileira nasceu com achegada dos colonizadores portuguesesno século 16. Permaneceu como cultura do-méstica até o final do século 19, tomando-se uma atividade comercial a partir do iníciodo século 20, por iniciativa dos imigrantesitalianos estabelecidos no Sul do País, apartir de 1875.

As videiras de origem americana, prin-cipalmente cultivares de Vitis labrusca, fo-ram a base para o desenvolvimento da viti-

vinicultura brasileira. Destacaram-se as cul-tivares Isabel, como uva para a elaboraçãode vinho, Niágara branca e Niágara rosa-da, como uvas para consumo in natura.Outras uvas importantes na vitivinicultu-radaépoca foram 'Jacquez' e 'Herbemont',ambas cultivares de Vitis bourquina, ea híbrida interespecífica 'Seibel 2', entreoutras de menor importância. As castaseuropéias (Vi tis vinifera), apesar dos es-forços envidados para seu cultivo, não ti-veram expressão nos primórdios da viti-

vinicultura comercial brasileira, devidoàs perdas causadas pela incidência de do-enças fúngicas, especialmente pelo míldio(Plasmopara viticola) e pela antracnose(EIsinoe ampelina).

Com o advento dos fungicidas sintéti-cos, efetivos no controle dessas doenças, apartir de meados do século 20, as videiraseuropéias ganharam expressão com o culti-vo de uvas para vinho no estado do Rio Gran-de do Sul e com a difusão da uva 'Itália',especialmente no estado de São Paulo.

1Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Uva e VinhoIIBRAVIN, Caixa Postal 130, CEP 95700-000 Bento Gonçalves-RS. Correio eletrônico:[email protected]

2Eng" Agr", M.Sc., Pesq. Embrapa Uva e Vinho, Caixa Postal 130, CEP 95700-000 Bento Gonça1ves-RS. Correio eletrônico:[email protected]

3Economista, M.Sc., Pesq. Embrapa Uva e Vinho, Caixa Postal 130, CEP 95700-000 Bento Gonça1ves-RS.Correio eletrônico:[email protected]

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.234, p.7-15, set./out. 2006

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Desde seu início até a década de 60, aviticultura brasileira ficou restrita às Re-giões Sul e Sudeste, mantendo as ca-racterísticas de cultura de clima tempera-do, com ciclo vegetativo anual e períodode repouso definido pela ocorrência dasbaixas temperaturas dos meses de inver-no. A partir de então, o cultivo da uva 'Itália'foi levado, com sucesso, para a região Semi-Árida do Vale do Submédio São Francis-co, marcando o início da viticultura tropi-cal no Brasil. Sempre com base na uva'Itália', a viticultura tropical expandiu-serapidamente, com a consolidação do pólodo Norte do Paraná, na década de 70, e dospólos do Noroeste de São Paulo e do Nortede Minas Gerais na década seguinte. Apartir de 1990, surgiram diversos pólosvitícolas, alguns voltados à produção deuvas para consumo in natura, outros di-recionadosà elaboração de vinho e suco.

Este artigo apresenta a viticultura brasi-leira, com descrição das regiões tradicio-nais e emergentes na produção de uva.

PANORAMA GERAL DAVITICULTURA BRASILEIRA

A viticultura, no Brasil, ocupa urna áreade, aproximadamente, 71 mil hectares, comvinhedos estabelecidos desde o extremosul do País, em latitude de 30" 56' 15"S, atéregiões situadas muito próximas à linhado equador, em latitude de 5° 11' 15"S. Emfunção da diversidade ambiental, existempólos com viticultura característica de regiõestemperadas, com um período de repousohibernal; pólos em áreas subtropicais, ondea videira é cultivada com dois ciclos anuais,definidos em função de um período de tem-peraturas mais baixas, no qual há risco degeadas; pólos de viticultura tropical, onde épossível a realização de podas sucessivas,com a realização de dois e meio a três ciclosvegetativos por ano. A produção de uvas éda ordem de 1,2 milhão de toneladas/ano.Deste volume, cerca de 45% são destina-dos ao processamento, para elaboração devinhos, sucos e outros derivados, e 55%comercializados como uvas para consumo innatura.

Do total de produtos industrializados,60% são vinhos de mesa e 21 % sucos deuva, ambos elaborados a partir de uvas deorigem americana, especialmente cultiva-res de Vitis Jabrusca, Vitis bourquina ehíbridos interespecíficos diversos. Cercade 10% são vinhos finos, elaborados comcastas de Vitis vinifera; o restante (9%),dos produtos industrializados, é para ou-tros derivados da uva e do vinho. Grandeparte da produção brasileira de uvas e de-rivados da uva e do vinho é destinada aomercado interno. O principal produto deexportação, em volume, é o suco de uva,sendo cerca de 30% do total destinado aomercado externo. Apenas 5% da produçãode uvas para consumo in natura é des-tinada à exportação e menos de 1% dovinho produzido é comercializado fora doPaís (Quadro 1).

PRINCIPAIS REGiÕESPRODUTORAS

A viticultura é uma atividade tradicio-nal em nove regiões brasileiras. Como zonasde viticultura temperada destacam-se asregiões da Fronteira, Serra do Sudeste e SerraGaúcha, no estado do Rio Grande do Sul; aregião do Vale do Rio do Peixe, em SantaCatarina; a região Sudeste de São Paulo e aregião Sul de Minas Gerais. A região Nortedo Paraná é tipicamente subtropical. Asregiões Noroeste de São Paulo, Norte deMinas Gerais e Vale do Submédio São Fran-cisco caracterizam-se como zonas tropicais,com sistemas de manejo adaptados às suascondições ambientais específicas. Alémdesses, novos pólos produtores estão sur-gindo em diferentes regiões do País, sejasob condições temperadas, tropicais ousubtropicais.

QUADRO 1- Produção, importações, exportações e consumo de uvas no Brasil, no período1990-2004 (em toneladas)

Importação Processamento ConsumoAno Produção Exportaçãoin natura

1990 786.218 1.845 14.682 490.930 308.125

1991 648.026 2.882 12.131 339.369 317.906

1992 800.112 6.877 4.786 398.089 399.932

1993 785.958 12.552 4.508 401.472 376.442

1994 800.609 7.092 8.384 450.561 351.340

1995 836.545 6.786 23.891 455.772 397.878

1996 730.885 4.516 56.817 313.331 442.945

1997 855.641 3.705 23.222 414.485 460.673

1998 736.470 4.405 26.492 348.523 410.034

1999 868.349 8.083 8.599 469.870 398.870

2000 978.577 14.343 9.903 549.306 424.831

2001 1.062.817 20.660 7.457 469.098 580.516

2002 1.120.574 26.357 11.003 506.799 598.421

2003 1.054.834 37.601 7.612 425.946 598.899

2004 1.281.802 28.815 6.072 624.450 634.609

FONTE: Mello (2006).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.234, p.7·15, set./out. 2006

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A viticultura brasileira desenvolvidasob condições temperadas segue, no geral,os mesmos procedimentos utilizados empaíses tradicionais no cultivo da videira.Já nas regiões de clima quente, adaptaram-se técnicas de manejo a cada situação es-pecífica. Os ciclos vegetativo e de produ-ção são definidos em função das condiçõesclimáticas e das oportunidades e exigênciasdo mercado. Sob condições subtropicais etropicais são utilizadas técnicas específicaspara a indução da brotação, superação deproblemas, devido à dominância apical,indução da ontogênese floral em cultiva-res com problemas de adaptação, controledo vigor vegetativo e manejo fitossanitá-rio. Os principais problemas de ordem fi-tossanitária são similares, tanto nas re-giões temperadas como nos climas maisquentes,destacando-se o míldio (Plasmoparaviticola), pela sua agressividade em to-das as regiões. Outras doenças fúngicasimportantes são o oídio (Uncinula necator),nasregiões quentes, e a antracnose (Elsinoeampelina), nas temperadas.

Viticultura de climatemperado

É uma viticultura tradicional, con-centrada nos estados do Sul e do Sudestedo Brasil, representando cerca de 88% daárea de vinhedos do País e mais de 98%da uva utilizada para processamento devinhos, sucos e outros derivados. Váriossão os sistemas de manejo utilizados, de-pendendo da região e do tipo de produto-objeto da produção. Em sua maioria sãousados cultivares e porta-enxertos con-vencionais, oriundos de outros países. En-tretanto, algumas novas cultivares, obtidasno Brasil, estão em fase de expansão.

Campanha e Serra do Sudestedo Rio Grande do Sul

Localizada na metade Sul do Estado, éuma região de campo, com topografiaondulada, apta à mecanização, cuja si-tuação geográfica está entre 29°45' 23" SI57°05'37"W (município de Uruguaiana) e31°33'45"S/53°26'15"W (município de

Pinheiro Machado), com altitude variandoentre 75 e 420 m. A temperatura média naregião varia entre 17,6°C e 20,2°C, a pre-cipitação média varia entre 1.367 e 1.444mm,e a umidade relativa do ar, em média, situa-se entre 71 % e 76%. Essa diversidadeambiental propicia a produção de uvas queoriginam vinhos com diferentes carac-terísticas de tipicidade dentro da própriaregião, de acordo com as condições climá-

ticas específicas de cada local de produção.A microrregião de Campanha, hoje com,aproximadamente, l.500 ha (Gráfico 1),consolidou-se como produtora de vinhosfinos na década de 80 a partir de um Projetoimplantado por uma empresa multinacio-nal localizada no município de Santanado Livramento, na fronteira com o Uruguai.Na Serra do Sudeste (Gráfico 2), a viti-vinicultura veio a ganhar importância

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

I o Viníferas 518,0 535,1 530,9 561,7 563,3 585,0 666,0 773,8 883 ,6 993,6

I. Total 518,0 535,1 530,9 562,7 564,4 586,1 670,0 777,6 890 ,5 1,003

Ano

Gráfico 1 - Evolução das áreas com videira na microrregião de Campanha

FONTE: Mella (2001, 2005),

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50 tliTIU1lf1Jlf11fOlJ 1 11 ••O1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

1 o Viníferas 33,72 33,72 33,72 40,54 40,54 40,54 53,54 110,5 223,9 256,0

1 -Total 35,22 35,22 35,22 42,04 42,04 42,04 53,54 110,8 246,7 270,1

Ano

Gráfico 2 - Evolução das áreas de cultivo na microrregião da Serra do SudesteFONTE: Mello (2001, 2005).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v,27, n,234, c.z-rs. set./out. 2006

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econômica mais recentemente a partir deinvestimentos efetuados por vinícolaslocalizadas na Serra Gaúcha, onde elabo-ram os vinhos com as uvas produzidas naregião. Em ambos os pólos produtores sãocultivadas exclusivamente castas de Vitisvinifera, com predominância das uvastintas 'Cabernet sauvignon', 'Merlot',"Iannat', 'Cabernet franc' e 'Pinot noir";entre as uvas brancas destacam-se 'Char-donnay', 'Sauvignon blanc' e 'Ugni blanc'('Trebbiano'). O principal porta-enxertoutilizado na região é o S04. Os vinhedossão conduzidos em espaldeira simples,espaçamento de 3,5 m x 1,5 a 2,0 m, podaem cordão esporonado tipo Royat ouGuyot. O período vegetativo começa emsetembro, com poda realizada em agosto, ea colheita transcorre em janeiro e fevereiro.A produtividade dos vinhedos na regiãositua-se entre 8 e 12 tlha, dependendo dacultivar e da safra.

As uvas produzidas originam prin-cipalmente vinhos tranqüilos, embora venhacrescendo em importância a produção deuvas das castas 'Chardonnay' e 'Pinot noir' ,para elaboração de espumantes.

Serra Gaúcha

A Serra Gaúcha está localizada no Nor-deste do estado do Rio Grande do Sul, cujascoordenadas geográficas e indicadoresclimáticos médios são: latitude 29°S,longitude 51°W, altitude 600-800 m, pre-cipitação 1.700 mm, temperatura 17,2°C eumidade relativa do ar 76%. É a maiorregião vitícola do País, com cerca de 32 milhectares de vinhedos. Trata-se de uma vi-ticultura de pequenas propriedades, poucomecanizada, devido à topografia aciden-tada, onde predomina o uso da mão-de-obra familiar. A poda é realizada em julho-agosto e a colheita concentra-se nos mesesde janeiro e fevereiro. Mais de 80% daprodução da região origina-se de cultiva-res de uvas americanas (V Iabrusca, Vbourquina) e híbridas interespecíficas,sendo 'Isabel', 'Bordô' (Tves'), 'Niágarabranca', 'Concord', 'Niágara rosada', 'Jac-quez' e 'Seibel1077' as de maior expressãonesse grupo. Referente às castas de Vitis

vinifera (5.376 ha), destacam-se as cul-tivares de uvas brancas 'Moscato bran-co', 'Riesling itálico', 'Chardonnay' e'Trebbiano' ('Ugni blanc'); entre as tintas,as principais são 'Cabernet sauvignon','Merlot', 'Cabernet franc', 'Tannat', 'An-cellota' e 'Pinotage'. São utilizados maisde dez porta-enxertos, predominando o'Solferino' (seleção local de V berIandierix V riparia) e o' 1103 Paulsen'. No Gráfi-co 3, são apresentados os dados relativosà área, em hectare, ocupada por grupo decultivares na Serra Gaúcha.

A densidade de plantio situa-se entrel.600 e 3.300 plantas por hectare e pre-domina o sistema de condução em latadaou pérgola (horizontal), proporcionandoprodução de 10 a 30 tlha, de acordo com acultivar e as condições climáticas da sa-fra. A maior parte da uva colhida é destina-da à elaboração de vinhos, sucos e outrosderivados. As uvas de origem americanasão utilizadas sobretudo para elabora-ção de suco e de vinho de mesa, produtosmuito bem-aceitos no mercado interno,devido a sua tipicidade de sabor e aroma,característicos das uvas labruscas, e pre-

ços acessíveis. No que se refere aos vinhosfinos, merece destaque a produção de es-pumantes de alta qualidade, além dosvinhos tranqüilos, brancos e tintos. De-tentora de alta tecnologia enológica, essaregião vem crescendo, sobretudo no seg-mento de vinhos finos e de qualidade. Umaevidência da evolução organizacional davitivinicultura da região foi a criação daIndicação Geográfica Vale dos Vinhedos,em 2002, iniciativa que motivou outrosgrupos de produtores da região a segui-rem o mesmo caminho. Dado o adianta-do estádio dos estudos desenvolvidos pelaEmbrapa Uva e Vinho, espera-se, para ospróximos anos, o surgimento de mais duasIndicações Geográficas na Serra Gaúcha.Embora com menor expressão econômica,uma pequena porcentagem da produção deuvas, especialmente de uvas americanas,como 'Niágara rosada' e 'Isabel', é des-tinada ao mercado de uvas para consumoin natura.

Vale do Rio do Peixe

Localizada no estado de Santa Catarina,latitude de 27°S, longitude 51°W, altitude

Ano

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I 1-20_ - - - - - f--- f--- - I---

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O1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

DViníferas 3,93 4,09 3,99 4,10 3,74 3,97 4,15 4,24 4,54 5,07

I"!l Americanas 8,31 8,68 8,95 9,72 9,70 10,42 11,08 11,34 11,91 12,58

D Híbridas 9,59 9,72 9,81 10,16 10,0 5 10,31 10,58 10,82 11,24 11,97

• Total 21 ,97 22,61 22,89 24,20 23,7 5 25,10 26,28 26,61 27,87 29,73

Gráfico 3 - Evolução das áreas com videiras na região da Serra Gaúcha

FONTE: Mello (2001, 2005).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.234, p.7·15., set./out. 2006

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600-800 m, a região do Vale do Rio do Peixeapresenta como indicadores climáticosmédios 1.800 mm de precipitação anual,temperatura de 17,1°C e umidade relativado ar de 80%. A viticultura ocupa cerca de1.800 hectares. Apresenta grande simi-laridade com a região da Serra Gaúcha,quanto à estrutura fundiária, topografia etipo de exploração vitícola, que se baseiano uso da mão-de-obra familiar voltada àprodução de uvas, em sua maioria, paraprocessamento agroindustrial (vinhos esucos). A cultivar 'Isabel' ocupa cerca de75% da área de vinhedos, seguida poroutras cultivares de V Iabrusca e híbridasinterespecíficas como 'Niágara branca','Niágara rosada', 'lves' e 'Couderc 13'.Predomina o sistema de condução em lata-da e a densidade de plantio situa-se entre1.600 e 3.000 plantas por hectare. A regiãoconsolidou-se produzindo vinhos de mesa,à base de uvas labruscas, destinados aomercado interno. Entretanto, é evidente atendência de um redirecionamento na es-trutura produtiva do setor, a fim de aumentara produção do suco de uva em detrimentodo vinho de mesa.

Nessa região, a produção de uvas vi-níferas não chega a 5% do volume totalproduzido, entretanto chama a atenção ofato de que os projetos implantados nes-se sentido são recentes e há a manifestaintenção de produtores tradicionais devinhos de mesa migrarem para a produçãode vinhos finos. Esse programa, que sepode considerar de reconversão parcial, temo apoio da Estação Experimental de Videirada Empresa de Pesquisa Agropecuária eExtensão Rural de Santa Catarina (Epagri)e deverá promover nos próximos anos,juntamente com o crescimento da produ-ção de suco de uva, uma mudança signi-ficativa na estrutura produtiva desse pólovitivinícola. Entretanto, a acirrada com-petitividade existente nos mercados internoe externo de vinho fino é elemento deter-rninante do ritmo dessa mudança.

Leste de São Paulo

Situada a 23°S 47°W e entre 700 e 900 mde altitude, a região Leste do estado de

São Paulo apresenta médias anuais de1.400 mm de precipitação, temperatura de19,soC e umidade relativa do arde 70,6%. Éuma região onde a altitude compensa alatitude, condicionando à prática de umaviticultura de clima temperado. O invernoé ameno, porém sujeito à ocorrência degeadas, e com baixa precipitação. O verãoé quente e chuvoso, propiciando a inci-dência de doenças fúngicas como míldio,oídio, podridões do cacho, entre outras. Aárea de vinhedos é da ordem de 7.250hectares e a produção vitícola da regiãoestá distribuída em três categorias. Des-taca-se, num primeiro grupo, a produçãode uva americana para consumo in natura,com predomínio absoluto da 'Niágararosada' . Com uma área de parreirais de cercade 5.025 ha, este grupo representa 44% daárea cultivada da região. Os vinhedos sãoconduzidos em espaldeira simples, numadensidade de 4.000 plantas/ha, enxerta-dos sobre porta-enxertos 106-8 Mgt ouIAC 766. A produtividade média nesse sis-tema é de 8 a 10 t/ha e a colheita é con-centrada em dezembro-janeiro. No segundogrupo estão as uvas européias para con-sumo in natura, representadas pela cultivarItália e suas mutações 'Rubi' e 'Benitaka',com uma área de parreirais de cerca de2.170 ha, este grupo representa cerca de34% da área total cultivada na região. Osvinhedos são conduzidos em latada, com330 a 625 plantas por hectare, enxertadassobre os porta-enxertos 420A ou IAC 766.A colheita concentra-se nos meses de fe-vereiro e março. A produtividade situa-seem tomo de 30 t/ha. Em terceiro lugar, estãoas uvas destinadas à elaboração de vinho,representando, aproximadamente, 0,7%do total, todas americanas e híbridas, comdestaque para a 'Seibel 2'. Os vinhedos,em geral, são enxertados sobre os porta-enxertos 106-8 Mgt ou IAC 766. Tambémexistem áreas plantadas em pé-franco. Osistema de condução mais utilizado é o deespaldeira simples. São fortes os indíciosde que a atividade vitícola, voltada à ela-boração de vinho na região, tem os diascontados. Tomando como exemplo o muni-cípio de São Roque, importante pólo viní-

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cola da região, onde estão instaladas 15vinícolas, estima-se que existam, atual-mente, apenas 35 ha de parreirais. Cerca de12 milhões de litros de vinho, engarrafadospelas vinícolas da região, são importadosa granel do Rio Grande do Sul. Estão naorigem desse fato a exploração imobiliária,que alavancou os preços das terras na re-gião, o envelhecimento da sua populaçãorural e a existência de uma estrutura deprodução de vinho de mesa na Serra Gaú-cha voltada a abastecer os engarrafadoresdo centro do País com preços competitivos.

Sul de Minas Gerais

A região do Sul de Minas situa-se a210S 400W e altitude de 1.150 m. O climacaracteriza-se por precipitação média de1.500 mm, temperatura média anual de 19°Ce umidade relativa do ar de 75%. É tradicio-nal no cultivo de uvas de origem americana( Vitis Iabrusca e Vitis bourquina), com áreade produção estabilizada em tomo de 350 ha.As principais cultivares utilizadas são 'Bordô'(localmente conhecida por 'Folha de figo'),'Jacquez', 'Ives', 'Niágararosada' e 'Niágarabranca' .A latitude é compensada pela altitu-de, onde se pratica uma viticultura de climatemperado, com poda em julho e agosto ecolheita em dezembro e janeiro. O perfil doviticultor da região é de agricultura familiare tradicional. Os parreirais são conduzidosno sistema de espaldeiras e grande parteimplantado em pé-franco (sem o uso de porta-enxerto). Nessas condições, a produtividademédia da região gira em tomo de 8 toneladasde uva por ha. Recentemente, têm sido im-plantadas novas áreas de vinhedos com baseem tecnologia melhorada, com maiorescuidados no aspecto sanitário do material aser utilizado e com o uso de porta-enxertos.Entretanto, na maioria dos casos são in-vestimentos com base na cultivar Niágararosada, cuja produção é destinada ao con-sumo in natura. Existem diversas ações depesquisa e desenvolvimento, lideradas pe-la EPAMIG em seu Núcleo TecnológicoEPAMIG Uva e VInho, em Caldas, MO, comobjetivos de introduzir novas variedadespara a produção de vinho de mesa ('MoscatoEmbrapa') e de fazer seleção clonal das cul-tivares tradicionais ('Bordô').

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Quanto à produção de vinho na região,que em grande maioria (95%) é vinho demesa, estima-se que cerca de 2,4 mil to-neladas das uvas processadas anualmentesejam produzidas na região, às quais sesomam mais de 2 mil toneladas de uvas(principalmente 'Bordô' e 'Isabel'), adqui-ridas no Rio Grande do Sul. Portanto, ovolume de vinho processado no pólo é decerca de 3 milhões de litros, adicionadosmais 700 mil litros de vinho importado agranel do Rio Grande do Sul. Embora ha-ja uma manifesta vontade de técnicos eprodutores de tornar a região auto-su-ficiente na produção de uvas e de vinhos,cuja defasagem hoje é de cerca de 150 hade parreirais, o que se vê é uma lentidão noprocesso de renovação dos parreirais an-tigos e investimentos em novas áreas deprodução de uvas, sem incentivos gover-namentais.

A característica mais marcante na re-gião é a grande proliferação de pequenascantinas produtoras- de vinhos artesanais,que produzem individualmente volumesde vinhos que variam de 1 aS mil litros, co-mercializados no local. Relativamente, aestrutura tecnológica para produção de vi-nhos existe em apenas três cantinas locais,que apresentam bom nível, as demais aindase utilizam de processos artesanais tecno-logicamente defasados. Embora a viti-vinicultura do pólo de Caldas e Andradasseja focada na produção de vinhos de me-sa e suco de uva, existem ações de empre-sários e da própria EPAMIG para incentivara produção de uvas viníferas, não tanto nopólo em questão, que apresenta problemascom altos índices pluviométricos no ve-rão, mas principalmente em regiões maissecas como no Cerrado mineiro. Entretan-to, há vinícolas na região que adquiremuvas viníferas no Rio Grande do Sul, comas quais elaboram, localmente, vinhos finos.Essas vinícolas recentemente têm realizadoinvestimentos na implantação de parreiraiscom cultivares viníferas.

No que se refere às ações de merca-do, verifica-se na região, principalmente porparte das principais vinícolas, um forte fo-co em ações de enoturismo, embora nesse

caso, diferentemente do pólo de São Ro-que, as ações não tenham apoio direto dosgovernos municipal e estadual.

Pólos emergentes

Destaca-se como pólo emergente da vi-ticultura brasileira de clima temperado aregião de São Joaquim no estado de SantaCatarina. Situada a 28°S e 49°W, com al-titude variando entre 950 m e 1.400 m, essepólo produtor está voltado exclusivamen-te ao cultivo de castas de Vitis vinifera,para a produção de vinhos finos, parti-cularmente vinhos tintos. Os primeirosvinhedos foram plantados na região em2001, chegando, em 2005, a uma área totalde 180 ha. A principal cultivar plantada naregião é a 'Cabernet sauvignon' , em cercade 90% da área, seguida pela 'Merlot' (7%),e os demais 3% são ocupados pelas culti-vares Pinot noir, Chardonnay, Cabernetfranc, Malbec e Sauvignon blanc. O obje-tivo dos empreendimentos da região é aprodução de vinhos finos de alta qua-lidade, utilizando estruturas industriaismodernas, recém-instaladas ou em fase deinstalação. Atualmente, encontram-se ins-taladas e em operação as cantinas do Pro-jeto Vila Francione (pioneiro na região), comcapacidade para 300 mil garrafas/ano (oequivalente à produção de uva dos 50 hade videiras previstos no Projeto), e a doProjeto da Cooperativa Agrícola de SãoJoaquim (Sanjo), com capacidade inicialpara processar 100 toneladas de uva/ano,e também uma pequena cantina particulardo Projeto Quinta Santa Maria, que pro-cessou cerca de 15 toneladas de uva em2005 e prevê expansão para mais 10 tone-ladas a partir do ano de 2006. Segundo asestatísticas e previsões da Estação Expe-rimental de São Joaquim da Epagri, no anode 2004 foram processadas na região 90toneladas de uva, em 2005, aproximada-mente, 300 toneladas e, em 2006, cerca demil toneladas.

Viticultura subtropical

A viticultura subtropical brasileira, pro-priamente dita, desenvolveu-se apenas noNorte do estado do Paraná, onde predo-

mina o cultivo de uvas finas para consumoin natura. Essa região tem um papel im-portante no abastecimento do mercadointerno de uvas para consumo in natura.

Norte do Paraná

As coordenadas geográficas dessa re-gião vitícola são: latitude 23°S, longitu-de 51°W e altitude variando entre 250 e800 m. Trata-se de uma região tipicamentesubtropical, cujos indicadores climáticosmédios são de 1.600 mm de precipitação,temperatura de 20,7°C e 73% de umidaderelativa. A temperatura média dos mesesmais frios (junho e julho) situa-se em tornode 16,7°C, havendo risco de geadas nesseperíodo. A precipitação concentra-se entreoutubro e abril. Entre maio e setembro, asmédias são inferiores a 100 mm mensais,havendo necessidade de irrigação. Pre-dominam as pequenas propriedades com ouso da mão-de-obra familiar. O principalproduto da região são as uvas finas paraconsumo in natura, destacando-se a culti-var Itália e suas mutações coloridas 'Rubi' ,'Benitaka' e 'Brasil', com uma área aproxi-mada de 3.300 ha, em vinhedos conduzidosem pérgola e com densidade de plantio quevaria de 400 a 800 plantas/ha. Também re-presenta grande importância econômicapara a região a produção de uvas labrus-cas para consumo in natura, com cerca de700 ha de 'Niágara rosada', em vinhedosconduzidos em espaldeira e com alta den-sidade de plantio (4 mil plantas/ha). Osporta-enxertos mais usados são 420 A e IAC766. Normalmente, são colhidas três sa-fras a cada dois anos, com podas emjunho/julho e janeiro/fevereiro. Nesse sistema, hánecessidade de tratamento para induzir euniformizar a brotação das gemas. A co-lheita ocorre em dezembro-janeiro e abril-maio, respectivamente.

Pólos emergentes

O Projeto Vitivinícola de Rolândia de-senvolve-se no âmbito da CooperativaAgroindustrial de Rolândia (Corol) e estáfocado, exclusivamente, na produção desuco de uva concentrado, já que se origi-nou da necessidade de viabilizar uma al-

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ternativa para utilização da estrutura agro-industrial já existente, produtora de sucode citros concentrado, que ficava ociosacerca de seis meses por ano.

Atualmente, estão implantados 260 hade parreiras com as variedades Isabel,Concord e BRS Rúbea, em 35 municípiosda região Norte do Paraná. Cada produtorpossui, em média, cerca de 2 ha de parrei-rais. A meta do Projeto é de ter implanta-do, até 2008, cerca de 1.000 ha de parreiras.O sistema de condução recomendado noProjeto é o GDC, que permite o uso de má-quinas e equipamentos utilizados na re-gião para outros cultivos, sem prejudicara produtividade. Entretanto, há produ-tores que estão utilizando o sistema delatada. No ano de 2005, ocorreu a primeiracolheita que girou em torno de 40 tone-ladas de uvas. A expectativa é de que nasafra de 2006 sejam colhidas cerca de 300toneladas de uva.

Viticultura tropicalA viticultura tropical, apesar de rela-

tivamente recente, alcançou significativaevolução tecnológica no Brasil. Da pro-dução inicial de uva 'Itália', praticamen-te única opção até a década de 90, a vi-ticultura tropical brasileira ingressou noséculo 21 com tecnologia para a produçãode 'Niágara rosada', antes restrita ao Suldo País, para a produção de uvas finas (Vitisvinifera), visando à elaboração de vinhosde alta qualidade em regiões tropicais, paraa produção de uvas labruscas de alta qua-lidade, próprias para a elaboração de sucosob condições tropicais. Com base em no-vas cultivares e porta-enxertos, desen-volvidos pelos programas brasileiros depesquisa em viticultura, especificamentepara o ambiente tropical e usando técnicasde manejo finamente ajustadas, viabili-zararn-se e consolidaram-se as regiõesdescritas a seguir, ao mesmo tempo em quese criaram fortes perspectivas de sur-gimento de novos pólos de produçãovitícola nos trópicos do Brasil.

Noroeste de São PauloEssa região que tem como município-

pólo Jales, está localizada a 20oS, 500W ealtitude que varia de 450 a 550 m. O climacaracteriza-se por uma estação chuvosa,entre novembro e abril, e uma estação seca,entre maio e outubro, sendo a irrigação umaprática indispensável. A precipitação médiaanual é da ordem de 1.300 mm e a tem-peratura média anual de 22,3°C. As tem-peraturas são elevadas ao longo do ano,com riscos mínimos de ocorrência degeadas, viabilizando ciclos vegetativossucessivos. Em função da distribuição dachuva, são feitas duas podas anuais, umapara produção entre março e junho e outrapara formação das plantas entre outubro edezembro. Assim, o período de colheita naregião vai de agosto a novembro, sendoos meses de agosto e setembro mais fa-voráveis à qualidade em função da baixaprecipitação no período. A área de vinhe-dos está em torno de 900 ha, com pre-domínio absoluto de uvas para consumoin natura. A principal cultivar é a 'Itália',seguida por suas mutações 'Rubi' e 'Beni-taka' , entre as uvas finas (Vi tis vinifera). A'Niágara rosada' (Vitis labrusca), antes au-sente nos vinhedos da região, vem cres-cendo em área cultivada a partir do ano de2000, estimando-se que atualmente existamcerca de 250 ha dessa cultivar em produ-ção na região. O 'IAC 572' é o porta-enxertomais utilizado. Com menor expressão, apa-recem o 'IAC 313' e o '420A'. Os vinhedossão conduzidos em pérgola e apresentamprodutividade elevada, entre 25 e 40 tlha. Éuma viticultura desenvolvida em pequenaspropriedades, com base na mão-de-obrafamiliar complementada por parcerias, cujotrabalho é remunerado com porcentagenssobre a produção. O destino da produçãoregional é o mercado interno.

Norte de Minas GeraisEste pólo produtor está às margens do

Rio São Francisco, a 17°S, 44°W e a umaaltitude média de 470 m. A quantidade mé-dia anual de chuvas é de aproximadamen-te 1.050 mm e a temperatura média anual éde 23°C. A área de vinhedos é de cerca de500 ha, com produção totalmente voltadapara o mercado de uva para consumo in

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natura. A base da produção ainda é a uva'Itália' e suas mutações 'Rubi', 'Benitaka'e 'Brasil'. Entretanto, vem crescendo o cul-tivo da 'Niágara rosada' e de cultivares deuvas sem sementes, principalmente cul-tivares brasileiras ('BRS Clara', 'BRSMorena' e 'BRS Linda'). São utilizados osporta-enxertos tropicais, 'IAC 313', 'IAC572' e 'IAC 766'. Os vinhedos são condu-zidos em pérgola e realizados dois ciclosvegetativos e apenas uma colheita/ano, noperíodo de julho a outubro, aproveitan-do a estiagem, que se estende de maio aoutubro. Grande parte da produção é parao abastecimento do mercado brasileiro,porém, tem ocorrido exportação de peque-nas partidas para os países vizinhos daAmérica Latina.

Vale do Submédio SãoFranciscoSitua-se no trópico Semi-Árido bra-

sileiro, em latitude 90S, longitude 400W ealtitude em torno de 350 m. Apresenta in-dicadores climáticos médios de 500 mrn deprecipitação, concentrada entre dezembroe março, temperatura de 26°C e 50% deumidade relativa do ar. É a principal regiãovitivinícola tropical brasileira, com cercade 10 mil hectares de vinhedos, distribuídosnos estados de Pernambuco e Bahia. Aestrutura produtiva da região compõe-sede pequenos produtores, vinculados aosprojetos de colonização e associados emcooperati vas, e de médios e grandes pro-dutores que atuam em escala empresarial.Cerca de 95% da área plantada com vi-nhedos visa à produção de uvas para con-sumo in natura, com destino tanto paraabastecimento do mercado interno, como,principalmente, para exportação. A uva'Itália', cultivada em grande escala prin-cipalmente pelos pequenos produtores,vem cedendo espaço para as uvas semsementes, mais valorizadas no mercadointernacional. Entre as uvas sem semen-tes destacam-se pela área de cultivo as cul-tivares Festival (Sugraone ou Superior),Thompson seedless e Crimson seedless,todas de plantio recente e responsáveispelo aumento das exportações brasilei-

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ras nos últimos anos, conforme pode serobservado no Quadro 1. A viticultura vol-tada à produção de vinhos concentra-seno cultivo de castas de Vitis vinifera, comdestaque para as cultivares Syrah, Ca-bernet sauvignon e Ruby cabernet, entreas tintas, e Moscato canelli e Chenin blanc,entre as brancas. Atualmente, estima-se aexistência de uma área de 500 ha de par-reirais com estas cultivares que dão origema, aproximadamente, 6 milhões de litrosde vinho/ano, sendo 80% vinho tinto e 20%branco. Os porta-enxertos mais utilizadossão 'IAC 572', 'IAC 313', 'IAC 766', de-senvolvidos especialmente para regiõestropicais do Brasil, além de 'Harmony','S04' e outros de importância menor. Agrande maioria dos vinhedos é conduzi daem pérgola, embora algumas vinícolasestejam implantando novas áreas com ouso do sistema em espaldeira. Iniciativasrecentes, a partir de 2004, buscam também odesenvolvimento da viticultura para a pro-dução de suco de uva, utilizando novascultivares de Vitis labrusca desenvolvidaspara as condições tropicais do Brasil.

Regiões tropicais emergentes

Existem iniciativas vitícolas em váriasregiões do Brasil tropical, com destaque pa-ra a Região Nordeste, nos estados de Per-nambuco, Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí,Região Centro-Oeste, nos estados do MatoGrosso e Goiás e Região Sudeste, nos es-tados de Minas Gerais e Espírito Santo. Emsua maioria são ainda empreedimentos depequeno porte, voltados principalmente àprodução de uvas para consumo in natura.

Santa Helena (GO)

O pólo vitivinícola do município deSanta Helena (GO) surgiu a partir de umprojeto de empresários tradicionais pro-dutores de vinho de mesa na Serra Gaúcha,os quais optaram por investir no Centro-Oeste, por entenderem que, no seu ramode negócio (produção de vinho de mesapara venda a granel a engarrafadores docentro do País), a localização lhes dariadiversas vantagens em relação à SerraGaúcha, como por exemplo baixo preço

da terra, topografia mecanizável, pos-sibilidade de duas safras anuais e con-dições favoráveis de logística. No ano de2002, foram instalados 40 ha de parreirascom as variedades Isabel, Isabel Precoce,BRS Rúbea e, mais recentemente, BRSCora. No ano de 2004, foi inaugurada avinícola com capacidade para elaborarum milhão de litros de vinho/ano. A metado projeto era criar uma estrutura comcapacidade para elaborar 33 milhões delitros de vinho/ano. A produtividade dosparreirais tem girado em torno de 25 tone-ladas de uva/ha/safra, ou seja, 50 tonela-das de uva/ha/ano. O grau glucométricoda uva, na safra de verão (novembro e de-zembro), é em média de 16° Babo e, na sa-fra de inverno (junho e julho), varia entre18° e 20° Babo. Na safra de verão de 2004,foram elaborados cerca de 250 mil litrosde vinho e, na safra de inverno de 2005, emtorno de 600 mil litros de vinho. O proje-to da vinícola Centro-Oeste contemplatambém a instalação de uma linha paraprodução de suco de uva, a meta é de queem 2008, essa linha já esteja em operação.A política da empresa e das liderançaslocais é de incentivar os produtores daregião para a produção de uva, entretantocomo se trata de uma atividade poucoconhecida e ainda em fase de adaptaçãono plano tecnológico, verifica-se umaatitude de cautela por parte dos produtoresnativos.

Nova Mutum (MT)

Há alguns anos, o município de NovaMutum (MT) possuía em torno de 30 hade parreirais distribuídos entre diversospequenos produtores, na maioria des-cendentes de italianos emigrados do suldo País. A produção era com base na cul-tivar Niágara rosada, destinada ao mer-cado de uva para consumo in natura. De-vido a problemas de ordem tecnológica,relacionados com o manejo da cultivar emcondições tropicais e outros como, porexemplo, a deriva do produto 2-4D, utilizadocomo herbicida nas plantações de soja ealgodão existentes em grande escala naregião, praticamente todos os produtores

do município abandonaram a atividadevitícola.

O projeto que hoje sustenta o pólovitivinícola de Nova Mutum pertence àAgropecuária Melina Ltda. Iniciou-se noano de 2001 numa parceria entre os pro-prietários e a Embrapa Uvae Vinho. O projetoestá focado exclusivamente na produção deuvas americanas e híbridas para elaboraçãode suco de uva. O projeto conta atualmentecom uma área total de 35 ha de parreirais,conduzidos no sistema de latada, assimdistribuídos: 9 ha de 'Isabel'; 22 ha de 'IsabelPrecoce'; 2,5 hade 'Cora' e 1,5hacom novasseleções da Embrapa Uva e Vinho ainda emavaliação. São realizadas, anualmente, duassafras, uma nos meses de junho e julho eoutra nos meses de novembro e dezembro.A produtividade varia entre 35 e 40 tone-ladas/ano e o grau glucométrico está entre18°e 22°, na safra de inverno, e 16°e 20°, nasafra de verão. O suco de uva elaborado énatural e integral, sem adição de açúcar ouconservantes. O resultado do projeto, comoito ha de videiras que entraram em pro-dução em 2005, é de cerca de um milhão dequilos de uva, o que corresponde, apro-ximadamente, a 1,5 milhão de garrafas de500 mL de suco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário atual de vitivinicultura bra-sileira, fortemente marcado pelo surgimentode novos pólos produtores em regiões nãotradicionais, também evidencia um pro-cesso que envolve, respectivamente, açõesde modernização, reconversão e diversi-ficação da produção nos pólos tradicio-nais. As mudanças em andamento nospólos tradicionais originam-se, sobretu-do, da necessidade de uma melhoria qua-litativa e competitiva de seus produtos. Apressão exercida pela crescente presençade vinhos importados no mercado bra-sileiro, principalmente argentinos e chi-lenos, que inicialmente concorriam e afe-tavam exclusivamente a competitividadedo vinho fino nacional, nos últimos doisanos (2004 e 2005), dado os baixos preçoscom que são colocados no mercado, come-çaram a competir também com o vinho de

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mesa (comum). Por outro lado, o mercadodo suco de uva, tanto interno quanto ex-terno, tem demonstrado grande potencialde crescimento. Apenas no ano de 2005, ovolume desse produto, comercializado nomercado interno, apresentou um cresci-mento acima de 50%, confirmando umatendência já verificada nos anos anterio-res. Com base nesse cenário, constata-se,não só o surgimento de novos pólos vi-tivinícolas voltados à produção de suco(Nova Mutum e Rolândia), mas tambémnovos investimentos (Serra Gaúcha e Va-le do Submédio São Francisco) e redire-cionamento da produção (Vale do Rio doPeixe). Relativo ao surgimento de novospólos vitivinícolas em regiões tropicais esubtropicais, é importante que se registrea grande evolução tecnológica na viticul-tura brasileira, principalmente no que dizrespeito à adaptação e definição de sistemade produção para variedades americanas e

híbridas, viabilizando técnica e econo-micamente tal atividade. Diante do novomapa/cenário da vitivinicultura brasilei-ra, com pólos produtores espalhados porgrande parte do território nacional, é dese esperar que a cultura do vinho e dosderivados da uva e do vinho também se-ja disseminada e que o consumo per capitaevolua dos baixos níveis atuais 1,7 litro devinho; 0,37 litro de suco de uva e 3,52 quilosde uva, para patamares bem mais altoscomo, por exemplo, 9 litros de vinho percapita em 2025 (valor estimado e esta-belecido como meta no Programa de De-senvolvimento Estratégico da Vitivini-cultura do Rio Grande do Sul- Visão 2025).

REFERÊNCIAS

MELLO, L.M.R. de (Ed.). Cadastro vitícola doRio Grande do Sul 1995-2000. Bento Gonçalves:Embrapa Uva e Vinho, 2001. I CD-ROM.

_______ . Cadastro vitícola do Rio Grandedo Sul 2001-2004. Bento Gonçalves: EmbrapaUva e Vinho, 2005. I CD-ROM.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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___ : CAMARGO, U.: MELLO, L.M.R. de.A vitivinicultura brasileira: realidade eperspectivas. Bento Gonçalves: Embrapa Uva eVinho, 2002. Disponível em: <http://www.cnpuv.embrapa.br/pu b Iical arti goslvitivinicultura/» Acesso em: 10 jan. 2006.

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