vila cruzeiro do sul

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARFOR INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS FACULDADE DE HISTÓRIA HORLEANDRO SOUZA BARREIRA MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990 A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA MARABA PA 2014/2

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO

PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO

BÁSICA – PARFOR

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS

FACULDADE DE HISTÓRIA

HORLEANDRO SOUZA BARREIRA

MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990

A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA

MARABA – PA

2014/2

2

HORLEANDRO SOUZA BARREIRA

MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990

A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em

Licenciatura Plena em História pela

Universidade Federal do Pará e

PARFOR como forma de obtenção de

grau de licenciado.

Professora Orientadora: Drª Edilza Joana

Oliveira Fontes

MARABA – PA

2014/2

3

HORLEANDRO SOUZA BARREIRA

MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990

A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em

Licenciatura Plena em História pela

Universidade Federal do Pará e

PARFOR como forma de obtenção de

grau de licenciado.

Marabá, ____ de ____________ de __________.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Professor (a)

Presidente da Banca Examinadora

________________________________________________

Professor (a)

Membro da banca examinadora

DATA DA AVALIAÇÃO ___/___/______. Aluno regularmente matriculado no curso de

Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR/UFPA turma ______ Campus

Universitário de Marabá- PA.

4

DEDICATÓRIA

A Deus por minha existência, a meus amados pais pela crença no potencial de seu filho, aos

adoráveis amigos Rosivânia Franco, Josilene Ribeiro e Arnaldo Barbosa Rodrigues, aos meus

familiares que sempre me apoiaram nos momentos que precisei, aos meus professores, em

especial Leila Mourão, Pere Petitt e Edilza Fontes. Dedico este estudo.

5

AGRADECIMENTOS

A DEUS...

Que me concedeu a vida e sabedoria, oportunizando vivenciar esse momento tão especial.

AOS PROFESSORES...

Pelas sugestões apresentadas, orientações e informações da qual sou grato e sentir-me

preparado para o mercado de trabalho.

AOS MEUS FAMILIARES...

Que tão pacientes sentiram minha ausência e nunca reclamaram apenas me incentivaram e

apoiaram em todos os momentos.

AOS COLEGAS DE CURSO...

Pela amizade da qual levarei para toda vida.

A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ; GOVERNO FEDERAL – PARFOR

A todos que, direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

Sinceramente, muito obrigado!

6

Você vai... Vai à busca... E eu vim! Pra mim foi um desafio...estou colhendo hoje, o que

eu plantei ontem e com certeza eu vou colher amanhã, o que estou plantando hoje!

Nem sempre a gente planta coisas boas... Más... Nós somos humanos e temos que ir

em busca do que a gente quer.

(Deusilene de Carvalho Silva, migrante)

7

RESUMO

Esta pesquisa tem como intuito descrever sobre “Migração, Economia e Sociedade na Vila

Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no município de Itupiranga – PA” com objetivo de

compreender mais sobre as contribuições que a migração proporcionou nesta Vila e suas

transformações ao longo da história destacando suas influências políticas, sociais e

econômicas em seu processo histórico até ser inserida na lista dos novos municípios que serão

criados no estado do Pará. A necessidade de estarmos pesquisando sobre a importância e

contribuição da migração é justamente por entendermos que o mundo atual foi moldado em

grande parte pelos impactos culturais, sociais e econômicos provocados pela migração de

populações de uma região para outra. A metodologia da presente pesquisa provém de um

estudo bibliográfico e de campo, dentro das abordagens qualitativa quantitativas do tipo

exploratória, em que realizamos uma pesquisa de campo com migrantes que chegaram a Vila

de Cruzeiro do Sul e alguns dos políticos que se elegeram como vereadores com perguntas

previamente elaborados, na sequência fizemos um levantamento através de leituras em livros,

revistas, artigos, dentre outros materiais, procurando desenvolver nossa observação, análises e

conclusões a respeito do tema e, por fim, a elaboração deste trabalho de conclusão de curso.

Os teóricos que embasaram este estudo, entre outros, são: Pimentel (2007), Thompson (2001),

Nunes (2005), Costa (1996), Castro (2003), Cancela (2010), Filho, Júnior e Neto (2001) e

Revel (2010). Contribuições bem significativas para que tivéssemos a informações adequadas

na elaboração e finalização deste trabalho de conclusão de curso. Nossas conclusões são que

os fluxos migratórios são fundamentais para formação de novas vilas, comunidades, cidades e

estados, com relação à Vila de Cruzeiro do Sul a procura pela terra, emprego em madeireiras

foram principais para atrair um número bem grande de famílias que ali chegaram fazendo

com que se destacasse no município de Itupiranga como a principal vila.

Palavras-chave: Migração, Influências, Política e sociedade.

8

ABSTRACT

This research is aiming describe on "Migration, Economics and Society in Vila Cruzeiro do

Sul from 1990 to 2013 in the city of Itupiranga - PA" in order to understand describe about

the contributions that migration provided in this village and its transformations throughout

history highlighting their political influence, social and economic conditions in its historical

process to be added to the list of new municipalities to be created in the state of Pará. The

need we are researching the importance and contribution of migration is precisely because we

believe that the world today was shaped largely by cultural, social and economic impacts

caused by the migration of people from one region to another. The methodology of this

research comes from a literature study and field, within the quantitative qualitative approaches

exploratory, where we conducted a field research with migrants who arrived in the Southern

Cross Village and some of the politicians who were elected as councilors with questions

prepared in advance, following a survey done by reading in books, magazines, articles, among

other materials, trying to develop our observation, analysis and conclusions on the subject and

finally design the course conclusion work. Theoretical that supported this study, among

others, are: Pimentel (2007), Thompson (2001), Nunes (2005), Costa (1996), Castro (2003),

Cancela (2010), Son, Junior and Neto (2001) and Revel (2010) and significant contributions

to that we had the appropriate information in the preparation and completion of this course

conclusion work. Our conclusions are that migration flows are essential for formation of new

villages, communities, cities and states, in relation to the Southern Cross Village of demand

for land, employment in logging were key to attract a very large number of families who

arrived making them stand out in Itupiranga municipality as the main village.

Keywords: Migration. Influences. Policy. Society.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………………….…………………..10

1. O DEBATE DE MIGRAÇÃO NA HISTORIOGRAFIA DA AMAZÔNIA

CONTEMPORÂNEA............................................................................................16

1.1. Contribuições da migração na formação da população amazônica................19

1.2. A importância da migração na formação da Vila Cruzeiro do Sul no município de

Itupiranga-Pa...................................................................................23

2. A IMPORTÂNCIA DO PODER POLÍTICO PARA A SOCIEDADE..................29

2.1. A ausência do Poder Político na Vila Cruzeiro do Sul no município de

Itupiranga-Pa..........................................................................................................32

2.2. A influência e participação política na Vila Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no

município de Itupiranga-Pa............................................................................34

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................38

REFERÊNCIAS..........................................................................................................41

ANEXOS.....................................................................................................................42

APÊNDICES...............................................................................................................51

10

INTRODUÇÃO

As últimas décadas do século XX foram marcadas pela mobilidade populacional no

Brasil em que todo cenário se transforma no momento em que o homem começa a provocar

mudanças e com isso passa a vivenciar o processo migratório. A presente pesquisa tem como

temática: “Migração, Economia e Sociedade na Vila Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no

município de Itupiranga-Pa”, com objetivo de descrever sobre as contribuições que a

migração proporcionou nesta Vila e suas transformações ao longo da história destacando as

influências políticas no período de 1990 a 2013. Neste sentido, temos a compreensão de que

os fluxos migratórios para a formação de vilas, cidades e grandes centros urbanos são muito

importantes durante suas formações e que a Vila Cruzeiro do Sul foi criada e formada, hoje é

uma das principais vilas na lista a se tornar um dos novos municípios do Estado do Pará.

O interesse em pesquisar esta temática parte do entendimento de que os movimentos

populacionais são, hoje, um elemento importante para melhor refletir sobre as tendências

relacionadas ao desenvolvimento de uma vila, um povoado, uma cidade ou até mesmo um

estado ou nação. Desta forma, temos a clareza que a presente pesquisa despertou nosso

interesse justamente por esta dinâmica e podermos compreender sobre a importância da

migração na formação e distribuição equilibrada da população por todo um determinado

território.

A necessidade de estarmos pesquisando sobre a importância e contribuição da

migração é justamente por entendermos que o mundo atual foi moldado em grande parte pelos

impactos culturais, sociais e econômicos provocados pela migração de populações de uma

região para outra. O Brasil é um exemplo desta afirmação, em face da forte influência da

emigração europeia e da emigração forçada de africanos. Assim, no momento em que

estaremos descrevendo sobre as migrações ocorridas na Vila Cruzeiro do Sul no município de

Itupiranga no Sudeste do Pará irá proporcionar exploração e ampliação de conhecimentos e

fatos que ocorreram para que esta Vila viesse a tornar-se uma das principais do referido

município.

As contribuições proporcionadas pela presente pesquisa perpassam pela identificação

e compreensão do que sejam migrações e suas reais contribuições para formação de vila,

cidades, municípios e até mesmo grandes nações. Contudo, se entende que as reais

11

contribuições serão adotadas na futura prática profissional como historiadores preocupados

com as transformações ocorridas no cenário local, municipal, regional, estadual e nacional.

Desta forma, temos a compreensão de que as principais contribuições desta pesquisa e de

podermos vivenciar situações práticas de aprendizagem em que estaremos conhecendo muito

mais sobre a importância da migração na formação das populações e comparar teoria e prática

como futuros profissionais de história para que no momento de assumirmos nossa docência

termos elementos que embasem nossa prática pedagógica.

A importância desta pesquisa está voltada para as observações e análises nas

entrevistas realizadas com alguns migrantes que chegaram a Vila Cruzeiro do Sul e deram

suas contribuições na formação da referida Vila. Assim, se pretende através desta pesquisa

descrever sobre o processo migratório, assim também as influências políticas para que a

mesma viesse a tornar-se uma das principais vilas do município de Itupiranga no estado do

Pará.

Ao considerar a temática estudada, foi definido como objetivo geral compreender o

processo migratório, econômico e social na formação de Cruzeiro do Sul e suas influências

políticas no período de 1990 a 2013. Para que se tivesse uma melhor especificação deste

processo de formação, foram elaborados os seguintes objetivos específicos: a) compreender a

importância do processo migratório na formação da Vila Cruzeiro do Sul; b) identificar as

contribuições politicas para Vila Cruzeiro no período de 1990 a 2013; c) descrever as

transformações da Vila através do processo migratório da região. As questões que nortearam a

pesquisa para que tivéssemos um melhor caminho a ser seguido foram: 1) Como podemos

definir o que é o conceito de migração? 2) Quais as principais contribuições do processo

migratório na formação da Vila de Cruzeiro do Sul? 3) Quais as influências e contribuições

políticas ocorreram no período de 1990 e 2013 para que a Vila venha ter sua emancipação

política?

Os teóricos que embasaram este estudo, entre outros, são: Pimentel (2007), Thompson

(2001), Nunes (2005), Costa (1996), Castro (2003), Cancela (2010), Fontes e Meireles (2012),

Filho, Júnior e Neto (2001) e Revel (2010) contribuições bem significativas para que

tivéssemos a informações adequadas na elaboração e finalização deste trabalho de conclusão

de curso.

As entrevistas realizadas nesta pesquisa foram com alguns migrantes que chegam a

Vila Cruzeiro do Sul com objetivos diferentes e vindos de diversos estados brasileiros sendo

que 03 vieram do estado do Maranhão, 01 do Piauí, 01 do Espirito Santo e 01 de Minas

Gerais ambos chegam do ano de 1974 a 1999 com intuito de conseguirem terras para

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agricultura, pecuária, outros chegam à busca de trabalhos na educação e na Serraria dos

Irmãos Carneiros.

Com o intuito de compreender o processo de migração, economia e sociedade ocorrido

na Vila de Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no município de Itupiranga sudeste do Pará foi

necessário que realizássemos esta pesquisa de campo em que iremos realizar as análises e

discussões sobre a mesma a seguir.

Tentaremos, ainda que enquanto ensaio, compreender a origem dos migrantes

considerando que a grande maioria são oriundos dos seguintes Estados: Maranhão, Piauí,

Minas Gerais e Espírito Santo Tocantins e Bahia, de modo geral todos tinham seus objetivos

diferentes, porém com alguns pontos em comum devido à procura daquele povoado com a

informação de que tinha muita terra e prosperidade de dias melhores. Assim, tivemos o

entendimento de que ambos chegaram a Vila Cruzeiro do Sul com intuito de buscarem

conquistas, trabalhos e esperança de melhores dias para suas famílias.

Conforme Cancela (2010) afirma:

(...) a expectativa das pessoas que migram é encontrar melhores condições de vida,

uma nova terra para viver e trabalhar, um novo mundo onde possa fazer fortuna ou

escapar dos problemas que as afligiam no lugar de origem (p. 108-109).

De fato, durante as entrevistas realizadas tivemos essa compreensão de que todos os

migrantes que chegaram para a Vila Cruzeiro do Sul eram por melhores condições de vida

devido às informações de que a comunidade tinha muita terra para plantar, criar e

prosperidade de uma nova terra.

Como declara a professora Deusilene C. Silva:

“Os meus pais vieram em busca de uma vida melhor, porque eles moravam lá

sempre trabalhando em fazenda. Como o irmão dele já tinha vindo embora pra cá e

chegou lá contando que o Pará era o melhor lugar do mundo pra se viver, convenceu

meu pai a vir”. Neste sentido, temos a compreensão de que tais motivos foram bem

pertinentes para que as demais famílias ali chegassem e começassem a formar a Vila

de Cruzeiro do Sul.

É importante dizer que os anos que tais migrantes chegaram são relevantes, pois

contribuíram significativamente com esta pesquisa, pois, em 1974 chega o senhor Isnaldo O.

Gomes, em 1988 Abrão Martins chega com sua família e no período de 1993 a 1999 chegam

às famílias de Deusilene C. Silva, Farley C. Machado, Aldeires B. Rosa e Reginaldo Silva.

Desta forma, podemos descrever que tais migrantes foram fundamentais para que tivéssemos

informações e declarações de como aconteceu o processo migratório na Vila Cruzeiro do Sul.

13

É importante dizer que os motivos que trouxeram os migrantes para a Vila

contribuindo para o processo de povoamento e surgimento da mesma e que a procura pela

terra é um dos principais motivos que as famílias ali chegaram com intenção de adquirirem

um pedaço de chão para plantar e criar, seguidos da procura por emprego na Serraria dos

Irmãos Carneiro que na época era a principal atividade econômica da região a extração de

produtos vegetais da floresta e que existiam em abundância, famílias e mais famílias

chegavam com esperança de emprego.

Conforme declara Farley C. Machado em entrevista:

Nós chegamos a morar ali próximo de Marabá, numa vila pertinho da Vila Santa Fé,

moramos ali alguns meses apenas. Meu pai comprou uma terra próximo da Santa Fé,

mais pra lá um pouco chamado de Café. Café porque tem um rio chamado Café.

Comprou lá 10 alqueires, daí teve que sair também por que não tinha escola por perto.

Assim como Farley declara, as demais famílias também começam a chegar ao

território do sul Pará que atraia as pessoas com informações de muita terra, emprego e

prosperidade para todos. É importante também destacar com o inicio da Serraria dos Irmãos

Carneiro na Vila atraiu muitas famílias devido a grande extração de madeira atingiu uma

produção que exigia turnos durante o dia e a noite como declara Reginaldo Silva:

CONCREM já existia uma firma que trabalhava com laminados também estava

contratando muito para fornecer matéria prima para Tramontina, logo depois a

Serraria Irmãos Carneiro chegou para contratar. Em Dezembro de 2000 consegui

fichamento na Serraria chegando a ter mais de 600 funcionários. Sendo que em 2005 a

Serraria parou de funcionar por conta de fiscalização do IBAMA.

Desta forma, percebemos que a atividade madeireira na região contribuiu

significativamente para atrair muitas famílias que chegavam com interesse em arrumar

emprego para seus familiares e ao mesmo tempo conseguirem um pedaço de terra para plantar

e criar.

Os entrevistados destacam as principais características da região e Vila Cruzeiro do

Sul na época que chegaram declarando que o acesso pelas estradas e vicinais eram muito

difícil, na realidade não existia estradas e sim muitos buracos e poeira demais no verão e lama

no inverno. O transporte que existia eram principalmente os carros madeireiros e aos poucos

que os carros de linha (transporte alternativo) começavam a entrar nas vicinais. As escolas

eram poucas e com o aumento da população o poder público precisou criar mais escolas para

atender a demandas de alunos existentes. Uma das principais características destacadas pelos

entrevistados foi sobre a abundância de terra existente no território da Vila sendo iniciada

sobre cruzamento de quatro vicinais que davam acesso a Itupiranga, Marabá e outros

municípios.

14

Em 1999 quando cheguei só tinha professor Osmir e professora Rosilma e no resto

do ano substituí na turma. No ano de 2000 já deu uma crescida rápida que isto aqui

cresceu. Como uma vez o Benjamim disse: “que as outras cidades crescem como um

carrinho de mão e aqui cresce como um avião”. Por que aqui teve uma explosão

demográfica muito rápida. Em 99 tinha apenas quatro turmas, em 2000 teve um

número quase dobrado de turmas a Secretaria de Educação mandou o professor

Carlos Cardoso pra assumir a direção da escola e ele veio com sua esposa Vilma.

(FARLEY).

Compreende-se então que a população aumentou consideravelmente sendo

considerado pelo gestor municipal da época Benjamim Tasca reeleito em 2012, um

crescimento muito rápido sendo necessário o aumento de mais salas de aulas e uma direção

para a Escola Municipal Jose Inocente Júnior sendo que o senhor Carlos Cardoso passou a ser

o diretor.

De modo geral informamos que 83% dos entrevistados declararam que o poder

político influenciou positivamente na criação do Projeto de Emancipação da Vila e que

Cruzeiro do Sul consta na relação dos próximos municípios do estado do Pará e apenas 17%

informaram que os políticos não têm tanto interesse na emancipação da Vila devido alguns

pertencer a grupos de grandes fazendeiros e pecuaristas que são contra tal emancipação.

Assim, podemos compreender que os representantes políticos (vereadores) que já foram

eleitos e os atuais demonstram um interesse muito grande principalmente porque desejam

disputar as eleições na Vila.

Os entrevistados declararam as principais mudanças ocorridas no período de 1990 a

2013 foram que com o fechamento da Serraria dos Irmãos Carneiro principal fonte econômica

da época muitas famílias foram embora, devido ao desemprego ter sido muito alto. Assim, o

fluxo de extração de madeira diminuiu consideravelmente sabendo-se que ainda existe a

exploração e extração de madeira nas madeireiras escondidas na mata. A vila cresceu

consideravelmente tendo muitas lojas, bancos, cooperativas e associações, mas que precisam

que o poder político administrativo esteja mais presente devido à sede do município

Itupiranga ser muito longe e ficam isolados tendo que a Vila seja dominada pelo poder dos

mais fortes (fazendeiros, pecuaristas, donos de lojas, dentre outros).

A pesquisa será estruturada em dois distintos capítulos os quais procuram contemplar

as intenções constantes da mesma. No primeiro capítulo é descrito conceitos, contribuições e

importância da migração na formação de populações, especificamente na Vila Cruzeiro do

Sul.

No segundo capítulo será apresentado a importância do poder político para a sociedade

em sua formação e viabilização de políticas públicas a que venha favorecer o crescimento de

um povo. Ainda neste capitulo, o primeiro sub. tópico será descrito sobre a ausência do poder

15

politico na Vila de Cruzeiro do Sul e no segundo sub. tópico será apresentado à influência e

participação politica na referida vila durante o período de 1990 a 2013. Ainda, a metodologia

da pesquisa em que serão destacados os demonstrativos da mesma, assim como: dados,

análises e discussões com intuito de compreendermos melhor como aconteceu o processo

migratório, econômico e social na formação de Cruzeiro do Sul no município de Itupiranga-

Pa.

Na parte final deste trabalho de conclusão de curso será descrito as considerações

finais, referências e anexos com intuito de concluir e chegar a possíveis respostas sobre os

questionamentos iniciais.

16

CAPITULO 1: O DEBATE DE MIGRAÇÃO NA HISTORIOGRAFIA DA

AMAZÔNIA CONTEMPORÂNEA.

A história da evolução e transformações da espécie humana no planeta Terra já vem

sendo marcada há mais de 2,5 milhões de anos, pois no momento que o homem passou a se

entender como pessoa humana e perceber que não estava sozinho iniciou seu processo de

migração, ou seja, passou a ir e vim para onde achar que deve ir.

Uma migração é toda movimentação (ou deslocamento) da população que ocorre de

um lugar (de origem) para outro (destino), e que implica uma mudança de residência habitual

no caso das pessoas ou de habitat no caso das espécies animais. Neste sentido, podemos

compreender a migração como a forma que o homem descobriu para ir resolver e transformar

tudo aquilo que lhe convier.

Segundo Cancela (2010) descreve:

Se pararmos por um momento para pensar que os primeiros indivíduos de nossa

espécie – Homo Sapiens – se desenvolveram no continente africano e, a partir de lá,

colonizaram todo o globo terrestre, cruzando mares e oceanos, teremos a exata

dimensão da aventura migratória dos seres humanos (p. 9).

Contudo, de acordo as descrições da autora podem compreender que esse Homo

Sapiens, mesmo sem entender começou a realizar o seu fluxo migratório, justamente pela

necessidade que sentia de sair para buscar caminhos que ainda desconhecia e aqueles que já

conheciam em busca de algo que lhe convinha. Neste sentido, o homem passou a usufruir da

migração e a partir daí, começa a transformar os espaços que descobria.

A migração é um fenômeno presente ao longo de toda a história da humanidade.

Diversas culturas e religiões têm como referência algum tipo de migração, como é o caso do

êxodo do povo judeu do Egito. As causas das migrações humanas podem ser políticas,

econômicas, por catástrofes naturais, etc. A autora descreve ainda sobre o processo migratório

no Brasil:

Moramos em um país de migrantes. Para cá vieram portugueses, africanos, alemães,

italianos, espanhóis, japoneses, entre outros. Da mesma forma, brasileiros imigrantes

estão presentes em quase todos os países do mundo. Estima-se que cerca de 100

milhões de pessoas ou 2% da população do globo viva longe de seus países de

origem (p. 10).

O que podemos compreender nesta citação, é que nosso País é um território extenso e

diverso, assim também uma terra rica em recursos naturais que desde o seu descobrimento em

1.500 vem despertando o interesse em migrantes que chegam a todo o momento para explorar

seus recursos naturais e em alguns casos acabam se instaurando e formando diversas

comunidades, vilas, cidades, dentre outros. Sabe-se também que atualmente, os brasileiros são

17

imigrantes em muitos outros países, pois desde que o homem entendeu que pode migrar e

imigrar os fluxos migratórios foram sendo constituídos e a cada dia cresce mais e mais,

fazendo com que a população mundial cresça numa proporção sem medida.

Quando a sociedade moderna introduziu a máquina como instrumento de trabalho, no

final do século XVIII, e absolutizou a propriedade privada, estava reforçando a raiz geradora

da atual mobilidade humana, o que aparece especificamente nas migrações em que

destacamos: êxodo rural, exploração do trabalho de homens, mulheres e crianças, crescimento

e inchaço das cidades com periferias que confinam os excluídos sem a mínima infraestrutura

de esgotos, transporte, habitação, trabalho, escolas e de serviços comunitários básicos.

De outra parte, o século XIX possibilitou um aumento demográfico, seja pela ausência

de guerras, seja pelo progresso econômico, seja pelo transporte fruo da revolução industrial,

que alteraram profundamente o processo produtivo de então, fortalecendo as cidades surgidas

ao redor de fábricas e portos; introduzindo a agricultura empresarial (deixando a de

subsistência e artesanal em segundo plano) e iniciando o processo de globalização econômica.

Neste sentido, o Brasil apresentou saldos migratórios positivos durante esses séculos

em que ficou marcado na história desde o final do século XIX ao início do século XX.

Atualmente, entretanto, os fluxos migratórios são preferencialmente das regiões em

desenvolvimento para as já desenvolvidas e o Brasil não foge a regra geral, nas últimas

décadas, o país tem absorvido menos imigrantes do que tem perdido emigrantes para os

demais países do mundo.

Partindo desse contexto, corroborando com Fontes (2012), podemos perceber que o

processo migratório, político e econômico de alguns municípios do estado Pará como Abel

Figueiredo e Itupiranga foram resultado da construção da rodovia Transamazônica, que teve

uma grande participação de migrantes vindos de vários estados vizinhos como Maranhão,

Ceará e Espírito Santo, cujos vinham acreditando que haveria terras para todos O Governo

Federal para fortalecer o processo migratório na região informava em rádios, televisão que

haveria “terras sem homem para homens sem terras”, essa frase era o carro chefe da

propaganda do governo para atrair famílias para região.

18

Figura 1: Inicio da construção da Transamazônica nas proximidades de Itupiranga Pará Inicio de 70 tem como perspectiva mostra como ocorreu a abertura da estra que

vira ser frequentada pelos migrantes chegar a Vila Cruzeiro do Sul antiga 4 Bocas https://www.google.com.br/ Acesso em 28\01\2014

De acordo Saquet apud Cancela 2010, descreve:

O território significa natureza e sociedade, economia, politica e cultura; ideia e

matéria, identidades e representantes; apropriação, dominação e controle; des-

continuidade; conexão e redes; domínio e subordinação; degradação e proteção

ambiental; terra, formas espaciais e relações do poder; diversidade e unidade (p. 96).

Com esse intuito o Governo Federal começou a divulgar em toda mídia nacional

colocando todo território amazônico de portas abertas para que os migrantes de todas as partes

do Brasil e do mundo chegassem aqui para usufruir e se apropriarem dos recursos naturais

existente na Amazônia. Dessa forma, as migrações no contexto do território do sudeste

Paraense com dinâmicas bem expressivas para época. A respeito desta dinâmica Cancela

(2010) descreve:

A dinâmica agraria da microrregião de Marabá ate a criação do Território Sudeste do

Pará se deu articulada a diversas frentes de expansão do capital à região. De acordo

com a política de construção do Território Sudeste do Pará, ele é visto como unidade

e assim é considerado para as ações de desenvolvimento para ele planejadas (p. 97).

Podemos compreender perfeitamente de que forma aconteceu à dinâmica de ocupação

do território paraense com as migrações sendo viabilizada por ações de desenvolvimento do

Governo Federal a microrregião de Marabá é criada e expandindo cada vez mais a cada

migrante ou famílias migrantes que aqui chegavam.

19

Figura 2: Traçado da Rodovia Transamazônica. (Veja 24/06/1970. 32p. il. color.),

http://www.revistageonorte.ufam.edu.br/attachments/article/14/RODOVIA%20TRANSAMAZ%C3%94NICA%20FAL%C3%8ANCIA%20DE%20UM%20GRANDE%20PROJETO%20

GEOPOL%C3%8DTICO.pdf acesso dia 24/07/2014.

As migrações para o que hoje é considerado o Território do Pará – formado por sete

municípios: Marabá, Itupiranga, Eldorado dos Carajás, São Domingos do Araguaia,

Parauapebas, Nova Ipixuna e São João do Araguaia – merecem destaque, do ponto de vista

social, econômico e político, por possibilitarem, entre outros aspectos, a formação de uma

densidade populacional no campo, que organizou politicamente ao longo da história de luta

pela terra no território, expressa pela atuação de sindicatos, de associações e de cooperativas,

atrelados a movimentos sociais do campo, como a Federação dos Trabalhadores na

Agricultura (FETAGRI) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre

outros (CANCELA, 2010, p. 97).

1.1. Contribuições da migração na formação da população amazônica.

O Pará é o terceiro destino migratório do país, legiões de esperançosos trabalhadores

ou ferozes aventureiros o buscam, atraídos por suas bugigangas tecnológicas e de capital

intensivo, “os grandes projetos”. Como efeito perverso de uma lógica perversa, boa parte dos

imigrantes chega de outros estados sem família, sem regras, sem limites, dispostos ao

enriquecimento, de qualquer maneira, por isso sem trazer família (que virá se derem certo),

prontos para a loteria da fronteira, atrasada no tempo em relação às partes modernas do país e

do mundo (SCHMINK & WOOD, 2012).

O fenômeno migratório é social, assume a dimensão de classe social, que estaria

respondendo aos processos social, econômico e político ao migrar. As migrações internas são

20

sempre historicamente condicionadas, sendo o resultado de um processo global de mudança,

do qual elas não devem ser separadas (SINGER, 1980, p. 217).

As políticas públicas voltadas para a Amazônia nos últimos quarenta anos

promoveram transformações que afetaram o modo de vida de muitas populações que antes

lidavam com o extrativismo e tinham nos rios um meio natural de locomoção e de

sobrevivência. Tais transformações se aceleraram a partir da década de 1960 com a abertura

de estradas e as políticas públicas que pretendiam promover a ocupação e o desenvolvimento

da Amazônia. A ideia que serviu de ponto de partida para essas ações do Governo Federal,

sobretudo na vigência do Regime Militar de 1964 a 1985, baseava-se no princípio de que a

Amazônia era um grande “espaço vazio”, necessitando ser povoada e integrada ao resto do

país.

Sobre as promoções do Governo Federal e incentivos fiscais visando atrair o capital

privado para a região para desenvolver a Amazônia, Schmink & Wood (2012) descrevem:

O militar, então no poder a quase uma década, pôs-se a povoar a região e a explorar

seus recursos naturais por meio de uma serie de esquemas de desenvolvimento,

amplamente divulgados. O governo federal promoveu créditos e incentivos fiscais,

visando atrair o capital privado para a região e financiar a construção da rodovia

Transamazônica – uma estrada não pavimentada que se estendia por cerca de cinco

mil quilômetros, partindo do Maranhão e Pará no leste, cruzando a inexplorada bacia

amazônica, chegando ate o estado do Acre no extremo oeste, na fronteira com a

Bolívia (p. 35).

Com essa intenção o governo federal promoveu ações e incentivos para atrair os

migrantes de todas as partes do Brasil e do mundo para a Amazônia, tais incentivos seriam

impostos menor e em alguns casos isenção total. Neste sentido, para que empresas, imigrantes

pudessem chegar até aqui seria necessária à abertura de rodovias e assim surge a construção

da rodovia Transamazônica que vem ligar o extremo norte ao oeste brasileiro.

Esse pressuposto não levou em consideração as especificidades da sua natureza, das

sub-regiões que constituem o seu imenso território e da própria história das populações que lá

viviam. Não se tratava, portanto, de um “espaço vazio”, mas de uma região com baixa

densidade populacional. Ao mesmo tempo, ganhavam força os objetivos geopolíticos de

também efetivar a ocupação da região, que estaria ameaçada por interesses internacionais.

Note-se que 63% da bacia hidrográfica amazônica se encontram no Brasil, bem

como 60% da floresta amazônica. O bioma amazônico cobre 49,3% do território

brasileiro, sendo o de maior extensão no país. Depreende-se, assim, a fundamental

relevância da Amazônia para o desenvolvimento do Brasil e dos países amazônicos

para sua inserção regional e mundial. (SOARES, 2003, p. 3).

Como podemos perceber o território amazônico sempre despertou o interesse do

governo federal principalmente pela sua enorme extensão e diversidade de recursos naturais

21

que poderiam lhe render muitos lucros. Assim, as imigrações iniciaram a partir do momento

que as rodovias, em especial a Transamazônica começou a ser construída viabilizando as

primeiras vilas, povoados e depois cidades amazônicas.

A descoberta de minério de ferro em Carajás em 1967 tornou o município de Marabá

uma área de interesse estratégico para o governo federal. A cidade deveria dar suporte ao

trabalho de exploração da mina no sentido de oferecer serviços e mão-de-obra. Com início da

construção da rodovia Transamazônica facilitou o fluxo migratório na região, em função da

falta de terrenos disponíveis e do custo elevado dos aluguéis à população migrante começou a

ocupar os terrenos próximos ao bairro.

A história recente dessa parte da Amazônia – sudeste do estado do Pará – é marcada

pelos movimentos e trajetórias individuais e coletivas de migrantes, portadores de

expectativas e necessidades diversas e conformadores de territórios distintos, por vezes,

concorrentes. Mais do que a ocupação física de novos espaços do território nacional, a

segunda metade do século XX, nesta região, foi o espaço da urdidura de trajetórias de vidas,

experiências sociais e imaginários. E também um território de possibilidades e alteridades. A

política oficial de ocupação da Amazônia, a partir da década de 1960, foi fundada em

interesses de controle geopolítico e de exploração econômica do território, foi adotada

medidas que visavam integrá-la ao mercado nacional capitalista, sob a hegemonia do centro-

sul do País, mas que se articulava com estratégias de distensão social noutras regiões

brasileiras.

Por meio do projeto Operação Amazônia e das iniciativas relacionadas, órgãos

federais encorajaram investidores brasileiros a se habilitarem às vantagens fiscais e

creditícias oferecidas. As politicas de desenvolvimento da Amazônia, por isso,

tornaram-se um meio pelo qual o regime militar buscou reconstruir a ampla aliança

política que outrora o tinha alçado a poder. De maneira similar, para se contrapor à

acusação de entreguismo ao capital estrangeiro, preocupações geopolíticas

proporcionaram a justificativa para o extraordinário plano de desenvolvimento

(SCHMINK & WOOD, 2012, p. 50-51).

Neste sentido, o Projeto de Operação Amazônia para integrar e desenvolvê-la sempre

foram interesse do governo federal, viabilizando vantagens fiscais, ou seja, para algumas

empresas e imigrantes isentavam os mesmos para que pudessem chegar e instaurarem suas

empresas de exploração dos recursos naturais. Assim, podemos compreender de que o plano

do governo deu certo e até os dias de hoje a Amazônia é explorada cada vez mais a colocando

numa situação grave e podendo ser totalmente devastada e seus recursos extintos.

Em 1953, o Presidente Vargas criou a Superintendência do Plano de Valorização

Econômica da Amazônia (SPVEA), visando implementar programas de desenvolvimento

financiados por um fundo especial designado pela Constituição de 1946. Sob o governo

22

Vargas e seu sucessor, Juscelino Kubitschek, a SPVEA alcançou apenas algumas de suas

metas. A mais importante delas foi à construção da rodovia Belém-Brasília (1956-1960), que

possibilitou a primeira conexão por terra entre a capital e o sul do Brasil. Outras estradas

financiadas pela SPVEA ligaram comunidades dentro da região, como a estrada concluída em

1965 que conectou Itacoatiara à cidade de Manaus (SCHMINK & WOOD, 2012).

A construção da rodovia Transamazônica nasce a partir de uma combinação de fatores

que culminaram na abertura da mesma, ligando o litoral nordestino à floresta Amazônica. A

construção da BR-230, por exemplo, proporcionaria uma forma de comunicação dentro da

região amazônica, distinguindo da realidade anterior à construção da rodovia, um ambiente

tolhido, que não conseguia fazer escoar suas riquezas, desde minerais até a produção agrícola.

Uma das funções básicas atribuídas aos meios de comunicação é possibilitar o

desenvolvimento econômico, outras funções podem igualmente ser-lhes atribuídas, como unir

os diferentes pontos regionais, viabilizar a integração nacional e ocupar os espaços

Amazônicos.

Dentre os planos de estabelecer políticas territoriais na Amazônia, estavam o processo

de ocupação das áreas às margens da estrada Transamazônica tornando-se políticas de atração

populacional, através de projetos institucionais de colonização, políticas essas dirigidas

preferencialmente às populações nordestinas.

A presença de nordestinos nos núcleos colônias agrícolas se intensifica,

principalmente a partir de 1877 em razão da estiagem que atingiu o nordeste

brasileiro. 17 A seca que assolou as províncias de Ceará, Piauí, Pernambuco,

Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Maranhão, e que nos dizeres de José

Joaquim do Carmo “esterilizou a terra, empobreceu e lançou na miséria o homem”,

18 motivou o deslocamento de uma grande quantidade de retirantes para a

Amazônia. A administração provincial do Pará procurou aliar os interesses da região

com a necessidade de garantir abrigo aos que desejassem migrar para o Pará. No

entanto, observamos nos pronunciamentos do governo provincial a necessidade de

regular e controlar a migração nordestina. Em pronunciamento apresentado a

Assembleia Legislativa o Presidente do Pará destaca “a necessidade de regularizar o

serviço, dando lhe certa organização” (NUNES, 2006, p. 04).

As rodovias planejadas e “implementadas”, segundo os discursos de resolver os

empecilhos já citados, também favoreciam a circulação, abastecimento e ocupação nas

fronteiras do Brasil, na qual se projetou a Perimetral Norte que se conecta com a

Transamazônica pelas rodovias secundárias, o entusiasmo com a abertura da Transamazônica

é expresso por, da seguinte forma melhoramento da importação e exportação dos produtos

econômicos.

Desde a segunda metade do século XIX até a segunda década de XX, a castanha-do-

pará foi pelo seu valor total, o terceiro produto mais importante das exportações da

Amazônia brasileira, somente superado pelas de borracha e de cacau (PETIT, 2003,

p. 50).

23

A criação de novos municípios, em 1961, adicionou ainda outra dimensão às

transformações em curso. No Sul do Pará, uma parte do município de Conceição do Araguaia

tornou-se Santana do Araguaia, e São Félix do Xingu foi separado de Altamira. O processo

de desmembramento de antigos municípios em vários menores foi importante porque a

criação de novas burocracias e orçamentos municipais se traduzia em novos recursos

disponibilizados para a patronagem política, incluindo a distribuição de empregos urbanos

que proviam modestas, mas estáveis, remunerações monetárias. Serviços e empregos em

recém-criados municípios, tais como em Gurupá, Limoeiro do Ajuru e São Félix do Xingu,

atraíram pessoas das áreas rurais circunvizinhas (SCHMINK & WOOD, 2012).

O propósito de desenvolver a região Amazônica que teve inúmeras cidades que foram

assoladas pela crise da borracha e de outras economias que tiveram períodos curtos de

esplendor. Uma dessas cidades é Altamira e Marabá dentre outras, que viveu o apogeu da

borracha e depois se tornou pobre e decadente, e passou a ser interligada pela BR 230 -

Transamazônica que resultou em grandes polos econômicos da região.

Contudo, os objetivos do governo federal foram atingidos, pois os imigrantes aqui

chegaram iniciando o processo migratório da Amazônia em que milhares municípios

paraenses surgiram e com eles em 1948, o município de Itupiranga surge no cenário paraense

emancipando em 14 de Julho do referido ano, sendo um dos grandes municípios e prósperos

do estado do Pará.

1.2. A importância da migração na formação da vila cruzeiro do sul no município de

Itupiranga – PA.

Como definir a história política da Vila Cruzeiro do Sul, localizado no município de

Itupiranga, sudeste do estado do Pará, um tema de grande importância para conhecer,

inclusive as propostas de emancipação da Vila Cruzeiro do Sul para construir um novo

município, a qual é o 5º da lista dos novos municípios brasileiros e paraenses.

A colonização da Amazônia no início da década de 70 estava centrada na integração

econômica e de desenvolvimento regional tornando-se uma estratégia sobre o domínio de

território.

O plano seguinte formulado pelo governo, o Programa Estratégico de Governo

(1968 a 1970), mantém basicamente as diretrizes contidas no Plano Decenal, no

tocante às políticas territoriais. Assim, permanece a ênfase à necessidade de

‘‘integração nacional’’, com medidas específicas para a ação regional na Amazônia,

principalmente, destacando-se a atenção especial à estratégia de desenvolvimento

24

regional com base na concentração das medidas governamentais em ‘‘polos’’

selecionados. (COSTA, 1996, p. 63).

No cenário em que as tomadas de políticas territoriais estavam sendo o marco do

governo, a aplicação de projetos de desenvolvimento intensivo extensivo do capitalismo na

indústria e agricultura, transformou a Amazônia em fronteira do capitalismo brasileiro e

estrangeiro. Provocou uma espécie de reintegração da Amazônia na economia capitalista, e a

diversificação da economia no setor da agropecuária, do extrativismo e da mineração (IANNI,

1979, p. 121).

Na Amazônia, o que tem ocorrido ao longo do tempo é um processo de colonização

que atraiu mão-de-obra excedente de outros estados e favoreceu a concentração fundiária, e

de renda, além da expansão do setor agropecuário em grande escala. Esse processo acaba

impedindo que a reforma agrária aconteça, embora em alguns casos tenha acontecido como

resposta às pressões dos agricultores sem terra.

A transferência de contingente populacional atendia a uma demanda social, questão

esta que estava presente principalmente no Sul e no Nordeste do Brasil, nas quais os conflitos

sociais no campo eram latentes. Dentro desta migração dirigida pelo INCRA acreditava-se na

promoção da tão almejada justiça social proposta no Estatuto da Terra.

Competia, também, ao INCRA o exercício de demarcação das terras, ou seja, depois

que os colonos eram assentados em determinada região, cabia-lhe a tarefa de identificar as

famílias e emitir, inicialmente, o título provisório e, posteriormente, o título definitivo de

posse de propriedade. Mas, o processo de regularização das terras não era fácil, assim como

ocorreu o processo de demarcação, pois na demarcação o INCRA deveria identificar e

reconhecer as terras devolutas, indígenas, invadidas, ocupadas, griladas, frequentemente no

ato de realização da definição do perímetro das terras está presentes os interesses de cada

setor envolvido e devido a isso era quase inevitável certas mudanças. Os conflitos armados

“envolveram indígenas e posseiros, por um lado, os grileiros, jagunços e pistoleiros, por

outro”.

Diante dessa perspectiva politica e social é que foi criada Vila Cruzeiro do Sul,

Distrito do município de Itupiranga a qual a Vila é popularmente conhecida como Vila Quatro

Bocas. Trata-se de uma antiga área da União com partes predominadas ao INCRA. Fundada

no ano de 1991, em consequência da exploração da madeira, pecuária e a reforma agrária.

Origina-se o nome pelo fato de serem construídas as primeiras casas da Vila em quatro

estradas em forma de um cruzeiro, por tanto a vila distrital denomina-se Cruzeiro do Sul.

25

Antes da fundação da Vila, existia a exploração da Castanha - do - Pará, pele de animais e em

seguida a exploração da madeira.

Figura 3: Construção da Transamazônica nas proximidades de Itupiranga Pará - Expansão da Transamazônica nas proximidades da floresta https://www.google.com.br/ Acesso em

28\01\2014.

Situado a noroeste da cidade de Itupiranga, o acesso se dá pela estrada do rio preto,

ficando 176 km de Itupiranga e 186 km de Marabá, 160 km para Parauapebas, 350 km para

São Felix do Xingu e 205 km para Novo Repartimento. Cruzeiro do Sul conta

aproximadamente com 18 mil habitantes (IBGE, 2010) dividido entre a sede da vila e a zona

rural. Segundo o Funcionário do INCRA, senhor Raimundo Farias relata que a área de

Cruzeiro do Sul fazia parte da União Federativa que ficava conhecida como área de posseiros

(pessoas que chegava e pegava um pedaço de terra sem título), tendo como fator toda área foi

apossada por migrantes do estado do Maranhão, Tocantins, Goiás, Espírito Santo, Ceará

dentre outros.

O INCRA só passou a atuar nessa área, quando já estava formado politicamente o

assentamento local, sendo que os agricultores tinha livre arbítrio de escolher os locais para

construções de casas do projeto administrado pelo INCRA. Como e o caso do assentamento

da PA Buritirana, PA Frutão, PA Volta Grande, PA Volta Do Itapira pé, PA Bandeirante, PA

Cabanagem, PA Maravilha, PA Cupu, PA Estrela do Norte e PA Serra Azul, conforme figura

abaixo:

26

Figura 4: Fonte dada pelo INCRA-Mapa demográfico das PAS, na Proximidade de Vila Cruzeiro do Sul.

A principal fonte de economia da Vila Cruzeiro do Sul é produção agrícola e pecuária,

sendo que produção agrícola familiar é composta por arroz, feijão, milho, mandioca, banana,

café, cupuaçu, maracujá, açaí e outros. Podemos perceber que era como um jogo

político/econômico, essa realidade ainda se encontra presente até hoje nas áreas rurais

proposta pelo INCRA com seus diversos projetos para favorecer o “colono” que subentende

como o cultivo agrícola e pecuário, como fomento e habitação, administrada pelo sistema

brasileiro econômico.

A importância da migração populacional e o interesse econômico que se vem

acontecendo na Amazônia desde o início de século XIX até 1970, sendo que na criação da

Vila Cruzeiro do Sul, distrito de Itupiranga no sudeste do Pará ocorreu também à evolução da

economia, sendo que essa evolução foi causada pelo consumo da extração da castanha, da

produtividade agrícola familiar e a movimentação pecuária, com esses e outros produtos que

também se subdivide com o decorrer da queda dos produtos que ocorre anualmente, que

servia como fonte de renda local tornando-se o capital vegetal natural uma grande estabilidade

na construção estrutural para a população da Vila Cruzeiro do Sul.

O objetivo de várias famílias era construir uma nova cultura familiar dentre essas e

outra perspectiva, e em diferentes momentos históricos, mais ou menos pautados pela coleta

de castanha, agricultura, pecuária e atividades de extração e beneficiamento de madeira.

Conforme dados fornecidos pela ADEPARA (Agencia de Defesa Agropecuária do

Pará), a Vila Cruzeiro do Sul consta uma quantidade de 3.193 de propriedade de terra 425.037

cabeças de bovinos cadastrada no escritório, observa-se que baseando na estatística entre as

cidades de Itupiranga, Marabá e Novo Repartimento, o município de Itupiranga está como

27

uma estimativa de 817 propriedades de terras e 106.072 de bovinos existentes, sendo na

perspectiva de 24,95% na questão propriedade terrestre e pecuária.

A Vila Cruzeiro do Sul é caracterizada como zona rural, distante cerca de duzentos

quilometro da sede municipal. É o maior curral eleitoral de Itupiranga, e tornou-se

um caso especial para o estudo de práticas coronelista no município de Itupiranga

(CARNEIRO, 2003, p. 43).

Diante de tais pressupostos, o autor pretende descrever o domínio político existente na

Vila de Cruzeiro do Sul no período eleitoral, pois os grandes proprietários de terras,

fazendeiros e agricultores juntam-se as lideranças políticas e elegendo os representantes

políticos tais como: vereadores e prefeitos conforme acordo políticos. Assim, temos o

entendimento de que o voto de cabresto ainda existe naquela Vila devido à região existir um

número muito alto de eleitores do município de Itupiranga.

Não seria surpresa se falássemos que o dono do local onde funciona a escola

municipal é o neocoronel “Dominguinhos”, sendo que o local alugado para o poder

executivo não oferecia o mínimo de estrutura para o ensino-aprendizado.

(CARNEIRO 2003 pág. 47).

De fato, tais práticas sempre foram cotidianas na pequena Vila de Cruzeiro do Sul

como forma de domínio político e econômico, pois apenas aqueles que tinham influência e

poder.

Figura 5: Desenvolvimento do espaço terrestre da Vila Cruzeiro do Sul - Vista aérea de Vila Cruzeiro do Sul, 28/01/2014.

28

A economia da Vila Cruzeiro do Sul é constituída pela pecuária, agricultura e um

comércio bem movimentado como: lojas, supermercados, açougues, laticínios, farmácias,

fazendas, oficinas de motos carros, postos de combustíveis, Casa da Roça e Santa Fé vendem

materiais para toda população local, existe ainda clínicas de odontologia, laboratório de

exames médicos, posto de saúde, escritórios de contabilidades, dentre outros. Assim, podemos

perceber que este distrito de Itupiranga possui sua própria independência econômica, faltando

apenas sua emancipação politica.

29

CAPÍTULO 2: A IMPORTÂNCIA DO PODER POLÍTICO PARA SOCIEDADE

DE CRUZEIRO DO SUL.

O termo Política deriva do adjetivo grego Pólis (politikós), que significa tudo o que se

refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil e público. Na sua origem o termo

Política assume uma significação mais comum de arte ou ciência do governo, com intenções

descritivas e/ ou normativas. Como podemos perceber o termo política está ligado diretamente

ao ser humano, que precisa entender e poder usufruir do seu poder político, ou seja, está

contribuindo com suas opiniões acerca de tudo aquilo que está ao seu redor. No âmbito deste

significado, o termo Política é, também, utilizado para designar obras dedicadas ao estudo da

esfera de atividade humana que se refere às coisas do Estado. Em certa medida é uma

influência da obra Política de Aristóteles, o primeiro grande marco na abordagem da natureza,

funções e divisão do Estado.

Segundo Marx (1983) o termo Política incorpora o sentido de conflito ou luta de

classes. Com isto, ocorre um deslocamento ontológico da abordagem Política da esfera

pública para a sociedade diferenciada socialmente. A esfera pública passa a ser concebida

como realidade determinada pelo conflito ou luta de classes. Assim, entendemos que a

política desde que foi compreendida pelo homem passou a ser vivenciada cotidianamente, ou

seja, o homem passa a dominar tudo aquilo que tiver na linha de seus interesses.

Política pode ser definida como o campo de práxis e o conjunto de meios que permite

aos homens alcançarem os objetivos desejados. Para alcançar estes objetivos a Política lança

mão do poder, isto é, de uma relação entre sujeitos, dos quais um (ou alguns) impõe ao outro

(ou outros) a própria vontade e determina o seu comportamento. Forma-se o poder político,

ou seja, uma forma específica de poder, que se distingue do poder que o homem exerce sobre

a natureza e de outras formas de poder que o homem exerce sobre outros homens (poder

paterno, poder despótico, etc.). O poder político na tradição clássica ocorre apenas nas formas

corretas de Governo. Nas formas viciadas o poder político é exercido em benefício dos

governantes, o que significa um poder não político.

Bobbio, descreve:

(...) o que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação à

totalidade dos grupos que atuam num determinado contexto social. Exclusividade

esta que é o resultado de um processo de monopolização da posse e uso dos meios

com que se pode exercer a coação física. Este processo de monopolização

acompanha o processo de incriminação e punição de todos os atos de violência que

não sejam executados por pessoas autorizadas pelos detentores e beneficiários de tal

monopólio (1992, p. 956).

30

O Estado, na perspectiva liberal, é concebido como uma empresa institucional de

caráter político. Um aparelho político-administrativo que leva avante, em certa medida e com

êxito, a pretensão do monopólio da coerção física como ato legítimo, com vistas ao

cumprimento das leis em um determinado território. Enquanto a perspectiva liberal oculta o

fato de que o monopólio da coerção física é relativa a um determinado grupo social, o

marxismo parte justamente deste ponto no tocante a sua concepção de Estado.

O Estado, na perspectiva marxista, é concebido como um instrumento da classe

poderosa economicamente para que a mesma possa tornar-se a classe dominante

politicamente, de forma a adquirir os meios fundamentais para dominar e explorar a classe

oprimida. O poder político sob uma hegemonia social busca alcançar a exclusividade, isto é,

não permitir, no âmbito de seu domínio, a formação de grupos armados independentes ou de

infiltrações ou agressões oriundas do exterior, bem como de debelar ou dispersar os que

porventura vierem a se formar; a universalidade, isto é, a capacidade que têm os detentores do

poder político de tomar decisões legítimas e eficazes para toda a coletividade, no que diz

respeito à distribuição e destinação dos recursos materiais e culturais; a inclusividade, isto é, a

possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as esferas possíveis da atividade dos

membros do grupo e de encaminhar tal atividade ao fim desejado ou de desviá-la de um fim

não desejado, por meio de instrumentos de ordenamento jurídico (Bobbio, 1992, p. 957).

Ao se identificar o elemento específico da Política pelos meios de que ela se serve,

caem as definições teleológicas da Política, ou seja, definições que se apoiam numa

articulação necessária entre o fato e sua causa final, ou, ainda, pelo fim ou fins que ela

persegue. Os fins que se pretende alcançar pela ação dos agentes políticos são aqueles que, em

cada situação, são considerados primordiais para uma determinada classe ou grupo social, ou

para amplos setores sociais: em épocas de lutas sociais e civis, por exemplo, o fim poderá ser

a unidade do Estado, a concórdia, a paz, a ordem pública, etc.; em tempos de paz interna e

externa, o fim poderá ser o bem-estar; em tempos de opressão por parte de um Governo

despótico, o fim poderá ser a conquista dos direitos civis e políticos.

A Política não tem fins perpetuamente estabelecidos e, muito menos, um fim que os

englobe a todos e que possa ser considerado como o seu único fim. Os fins da Política variam

de acordo com os interesses de classes, o tempo e as circunstâncias. Esta rejeição do critério

teleológico não significa que não se possa falar de um fim mínimo na Política.

A própria leitura de Maquiavel (1999) nos indica como fim básico da política a ordem

pública nas relações internas, a defesa da integridade nacional de um Estado em relação a

outros Estados e a proteção do povo em face dos poderosos. Este fim é o fim mínimo porque

31

é condição necessária para a consecução de todos os demais fins, conciliável, portanto, com

eles. Mesmo um estado de “desordem social” desencadeado por um partido ou movimento

revolucionário não é o seu objetivo final, mas um objetivo conjuntural necessário para a

mudança da ordem social e política vigente e criação de uma nova ordem.

A superação das concepções teleológicas de Política acarreta, ainda, a superação de

recomendações políticas prescritivas, isto é, que não definem o que é concreta e normalmente

a Política, mas indicam como é que ela deveria ser para ser uma boa Política. Obviamente, tal

superação tende a valorizar a ação concreta conduzida pelos atores políticos em aliança e/ou

conflito, no cotidiano, onde a práxis se realiza.

Finalmente é necessário superar as definições de Política que a concebem como uma

forma de prática de poder que não tem outro fim senão o próprio poder, isto é, onde o poder é

um fim em si mesmo. A concepção de Política que concebe o exercício do poder pelo poder

decorre, por um lado, do fato de que não há um objetivo específico da política que se

convertesse em um guia da ação política, do outro, da própria construção de uma

representação subjetiva de quem ocupa o poder e de quem teoriza esta ocupação,

relativizando/banalizando a importância do poder de forma a sacrificar o seu sentido público e

instrumentaliza-lo por meio de uma ação volta da para os seus próprios interesses pessoais ou

corporativos.

Caso o fim da Política fosse realmente o poder pelo poder, de nada serviria a Política.

Esta concepção de política, que se materializa na prática do homem político “maquiavélico”,

busca respaldo por meio de uma leitura parcial e deturpada de Maquiavel.

Maquiavel exemplifica isto quando afirma que:

Nas ações de todos os homens, sobretudo dos príncipes, quando não há tribunal à

qual recorrer, deve-se considerar o resultado. Assim, um príncipe deve conquistar e

manter um Estado. Os meios serão sempre considerados honrados e por todos

louvados (Maquiavel, 1999, p. 108).

Do ponto de vista da Moral a recomendação de Maquiavel não vale, já que uma ação,

para ser julgada moralmente boa, pode ser praticada com o único fim de cumprir o próprio

dever. O critério do seu julgamento, neste caso, seria o da ética da convicção, geralmente

usado para julgar as ações individuais. O critério do seu julgamento, neste caso, seria o da

ética da responsabilidade que se usa ordinariamente para julgar ações de grupo, ou praticadas

por um indivíduo, mas em nome e por conta do próprio grupo, seja ele a classe, o povo, a

nação, a Igreja, o partido.

32

2.1 A ausência do poder político na vila cruzeiro do sul no município de Itupiranga –

PA.

É sabido que o poder é uma das formas que o homem encontrou para monopolizar os

setores da sociedade. Neste caso, o poder político é exercido pelos governantes, no Brasil a

forma de poder político é proporcionada pelo sistema de governo a Democracia, em que a

população passa por momento de voto secreto para eleger seus governantes.

Debater as questões referentes ao jogo político, com ênfase nas suas configurações e

reconfigurações, é também uma forma de entendermos a constituição política e

social acerca dos discursos em favor do desmembramento do território de São João

do Araguaia e da posterior emancipação de Abel Figueiredo do Município de Bom

Jesus do Tocantins (FONTES, MALHEIROS e MESQUITA, 2012, p. 75).

Neste caso, podemos perceber o poder político e vivenciado através das lutas pela

emancipação dos municípios do estado do Pará com intuito de assumirem o comando das

forças políticas naqueles territórios. Assim, podemos compreender que o poder político é

fundamental para que os grupos políticos venhas dominar os territórios e determinarem suas

devidas formas de governo de um povo.

A Vila Cruzeiro do sul começa e vivenciar uma grande estabilidade na construção

estrutural para a população da Vila Cruzeiro do Sul, pois no ano de 1990 já se tinha uma

escola para garantir os estudos das crianças de famílias migrantes.

Esta situação era constante nos anos 70 com a construção da rodovia Transamazônica esse

afastamento era constante, então tornava como fator principal a falta de produtividade, pois os

colonos tinham que plantar produtos como se fosse para pagar as terras dadas pelo INCRA,

pois a produtividade era passada de certa forma “50%” dada ao INCRA, que repassava para o

Banco do Brasil. Podemos perceber que era como um jogo politico econômico. Acontece que

essa realidade ainda se encontra presente até hoje nas áreas rurais proposta pelo INCRA com

seus diversos projetos para favorecer o “colono” que subentende como o cultivo agrícola e

pecuário, como fomento e habitação que era administrada pelo sistema brasileiro e

econômico.

Diante do exposto podemos perceber que a Vila já se encontrava bem desenvolvida e

que muitas ações e necessidades que as pessoas precisavam era necessárias que tivessem um

grupo político, ou seja, líderes que viabilizasse ações, serviços básicos a população para que

ambos pudessem ter seus direitos garantidos pela Lei.

Em certos momentos ocorre esse processo onde o poder aquisitivo predomina muito

no cotidiano do poder político e familiar de Cruzeiro do Sul, pois a ideologia política e um

33

jogo onde os próprios supostos “coronéis” são as pessoas em que os políticos si apoiam, com

interesse em patrocínio (dinheiro) para os gastos da sua própria politica, pois até então em

alguns casos que prefeitos não têm dinheiro o suficiente para banca sua política, então se une

com os empresários em torno de patrocínio, e muitas das vezes os funcionários apoiam por

motivo de seu patrão então tenho isso como um jogo que a própria população tem seu direito

de escolha mediante todos esses processos como por exemplos pessoas que apostam muito

alto pelo seu Prefeito como teve casos de pessoas apostarem motos, fazendas, gados, carros e

ETC.

Não seria surpresa se falássemos que o dono do local onde funciona a escola

municipal é o neocoronel “Dominguinhos”, sendo que o local alugado para o poder

executivo não oferecia o mínimo de estrutura para o ensino-aprendizado.

(CARNEIRO 2003 p. 47).

Esse controle político na época na Vila de Cruzeiro do Sul era bastante perceptível

aonde apenas às pessoas que detinham algum tipo de poder econômico, conforme descrito

pelo autor o senhor Dominguinhos uma influência política da Vila fazendo com que se

compreendessem atitudes de antigos coronéis vivenciados ao longo da história brasileira.

Assim, podemos perceber o tamanho da Vila na época conforme imagem a seguir.

Figura 6: Vista aérea da Escola de Vila Cruzeiro do Sul - fotógrafo desconhecido, 28/01/2014.

Contudo, diante de tais fatos o poder político que acontecia na Vila de Cruzeiro do Sul

intervia diretamente na contratação de funcionários para compor o quadro da escola o que

predominava era o voto de cabresto, ou seja, se a pessoa votasse no candidato teria a vaga,

caso contrário ficaria desempregado. As diversas outras atividades trabalhistas existentes

atualmente na Vila são: lojas, supermercados, açougues, laticínios, farmácias, fazendas,

34

oficinas de motos carros, postos de combustíveis, entres outros com a Casa da Roça e Santa

Fé que são empresas que vendem materiais para saúde do gado, a economia local sendo que

também existem clínicas de odontologia, laboratório de exames médicos, posto de saúde,

escritórios de contabilidades.

Figura 7: Algumas lojas com aumento economia da Vila de Cruzeiro do Sul – Foto de Jonas Souza Barreira.

Assim, a vida política da Vila Cruzeiro do Sul aconteceu a partir do interesse de

alguns políticos que se iniciaram o processo de “desenvolvimento” estrutural e econômico da

Vila, sendo que não foram tão influentes as decisões políticas no início, pois, foi somente no

ano de 2005 que a política local se torna um fator primordial na vida de cada família e de cada

religião local como um todo.

Contudo, a Vila Cruzeiro do Sul também passava por dificuldades de transportes

terrestres, devido sua localização estando a mais de 200 (duzentos) quilômetros da sede do

município de Itupiranga, as urgências da comunidade precisavam ser enviado ao município

vizinho, ou seja, era mais fácil chegar a Marabá do que em Itupiranga, pois a principal

dificuldade era o acesso devido às estradas que não se tinha um acesso muito difícil

acontecimentos marcados na década de 90.

2.2 A influência e participação política na vila cruzeiro do sul de 1990 a 2013 no

município de Itupiranga-PA

Os processos de criação de novos Estados brasileiros passam por diferentes trajetórias

ao longo da história da formação do território brasileiro. Ação de atores se materializa em

fortes discursos ligados aos territórios emancipacionistas, tendo como elemento, a base

territorial e a constituição de sua identidade.

35

A Vila foi fundada em 1990, em consequência da exploração da madeira, pecuária e

reforma agrária. Origina-se o nome pelo fato de serem construídas as primeiras casas da Vila

em quatro estradas em forma de um cruzeiro, portanto a Vila distrital denomina-se Cruzeiro

do Sul.

A Amazônia por sua grande dimensão geografica estabelece essas novas formas

reivindicatórias onde é composta por Unidades Federativas com grandes extensões territoriais

(Estados Amazonas e Pará) onde ultimamente esses discursos ganham força. Além da

extensão territorial a densidade demográfica, as diferenças regionais estabelecem uma coesão

do discurso emancipacionista, que devem ser levadas em conta dentro do contexto territorial

brasileiro, onde o tema espacial passa a ser um elemento chave na constituição da

representatividade parlamentar ligada a interesses políticos de origem até mesmo nacional ou

local.

Em Marabá, as forças deflagradas pela abertura de novas estradas atuaram

diferentemente. As terras às quais se chegava pelo rio Tocantins, tanto rio acima

como abaixo de Marabá, já haviam sido ocupadas por pequenos agricultores e

pecuaristas do Nordeste. Ao contrario dos caboclões amazônicos, esses imigrantes

estabeleceram-se em terras desocupadas mais distantes dos rios (SCHMINK &

WOOD, 2012, p. 208-209).

Com tais ações apresentadas pelo Governo Federal na ocasião da colonização e

ocupação da Amazônia iniciaram o processo de aberturas de rodovias para que viabilizassem

a vinda de migrantes para região. Diante de tais pressupostos, alguns imigrantes não

ocuparam as terras próximo ao rio Tocantins, adentraram esse território e foram formando as

“Vilas”.

A Vila de Cruzeiro do Sul na ocasião de sua ocupação era chamada de 4 (quatro)

bocas, por ficar localizada em quatro vicinais formando uma rotatória de estradas e bem no

centro começaram a ser erguidas as primeiras casas. Assim, podemos perceber que aquela

pequena vila aos poucos vai crescendo numa proporção gigantesca até chegar aos anos 90

com uma população bem considerada e ser inserida na relação dos novos municípios

paraenses. É importante dizer, que tais conquistas aconteceram de forma lenta e aos poucos os

imigrantes começaram a se organizar e elegem representantes políticos para viabilizarem

diante do poder legislativo e executivo melhorias para a Vila.

A política se constitui em torno de lideranças, não em torno de partidos. As

lideranças têm em volta de si os nichos econômicos, que estabeleceram discursos

particulares de diferenciação ou de rejeição de etnicidade (FONTES, MALHEIROS

e MESQUITA, 2012, p. 138).

De fato, a política se constitui por lideranças que são escolhidas pelos grupos sociais e

que estes tem a função de representar os demais frente ao poder político executivo, judiciário

36

e legislativo. Com relação à temática descrita nesta pesquisa às influências políticas na Vila

de Cruzeiro do Sul, distrito de Itupiranga-Pa foi fundamental para que esta viesse está inserida

na relação de criação dos novos municípios paraense.

As influências que citamos acima são conquistas realizadas ao longo da história de

formação populacional daquela Vila e que gostaríamos de destacar algumas delas que

consideramos importantes para o que representa atualmente a Vila de Cruzeiro do Sul no

cenário paraense.

A Lei nº 005/97 – De 28 de Fevereiro de 1997, dispõe sobre a regularização do

Sistema de fornecimento de água e energia dos Distritos e Vilas do município de Itupiranga

na gestão do Prefeito Benjamim Tasca, uma conquista para Vila da qual toda população

necessita de infraestrutura para ter melhor qualidade de vida.

Em 2002 por meio do Processo nº 000878/2002 – elaborado pela Comissão Pró-

Emancipação do Distrito de Cruzeiro do Sul do Pará tendo como presidente Sr. Waldivino

Pereira da Silva, Giovani Martins Dias (1º secretario), Domingos Martins dos Santos

(Tesoureiro – morador da Vila) juntamente com mais 06 assinaturas de moradores da época.

Os representantes políticos que comporão a Comissão Municipal Pró-Emancipação da

Câmara Municipal de Itupiranga, aprovada na reunião ordinária dia 05 de abril de 2005 foram

os seguintes vereadores: Adelino Ribeiro Gonçalves Filho, Domingos Martins dos Santos

(morador da Vila), Edson Coelho Lara, Ivanildo Rodrigues Maracaípe, Lady Anne de Souza,

Nilton Moura Araújo, Osvaldo Rodrigues Salomão, Raimundo Marques dos Santos, Wanderil

de Jesus Ribeiro Lima, Marivan Oliveira Sousa (Prefeito em exercício).

Com as transformações ocorridas na Vila os representantes políticos começam a se

reunirem para criação do futuro município de Cruzeiro do Sul, assim através do ofício ao

Presidente da Câmara dos Deputados em 30/03/2005 – Enviado e recebido em 20/04/2005 na

presidência da câmara ao Exmº. Sr. Severino Cavalcante em Brasília – DF, os representantes

políticos que assinaram pela Comissão Pró-Criação de Municípios no Sul do Pará foram: João

Cardoso Silva (presidente), Raimundo Alves Silva Filho (vice-presidente) e Manoel Cordeiro

Neto (1º secretario).

Lei nº 002/2007 – Dispõe sobre o nome de Rua na Sede do Distrito de Cruzeiro do

Sul, ficando denominado os nomes das Avenidas, Ruas e Travessas da referida Vila em 10 de

março de 2008 assinada na presidência da Câmara Municipal de Vereadores o vereador

Wanderil de Jesus Ribeiro Lima. Neste sentido, percebemos que aos poucos Cruzeiro do Sul

ia sendo organizada conforme requer uma futura cidade paraense.

37

A Lei Municipal nº 005/2008 – Dispõe sobre denominar o nome do Cemitério da Vila

Distrital de Cruzeiro do Sul como “Cemitério Campo da Paz” na gestão do prefeito Adécimo

Gomes, mais uma influência e contribuição política para a Vila uma vez que já se encontrava

bem grande e precisa urgente de reforma no cemitério e denominação do mesmo.

O Projeto de Emenda Modificativa nº 01/2008 – Dispõe Emenda Modificativa aos art.

2º e 3º da Lei Municipal nº 24/07 de 06 de Dezembro de 2007 que fica limitada a quantidade

máxima de motocicletas autorizadas aos transportes de que trata esta Lei, sendo que Cruzeiro

do Sul ficou com 40 motos autorizadas a realizarem transporte de moto-táxi no referido

Distrito, o projeto foi assinada na presidência do vereador Wanderil de Jesus Ribeiro Lima.

Com tal projeto os serviços de transporte moto-táxi ficam regulamentado para circularem nas

ruas da Vila.

O Projeto de Lei nº 002/2009 – PL – Fica reconhecido como de utilidade pública para

o município de Itupiranga a Associação de Mulheres do Distrito de Cruzeiro do Sul, projeto

assinado na gestão do Prefeito Benjamim Tasca e responsável pelo requerimento do mesmo o

vereador Antônio Marruaz da Silva.

A Recuperação da iluminação pública na Vila Distrital de Cruzeiro do Sul de autoria

da vereadora Ildenizaura Silva Cabral por meio do Requerimento nº 015/2009 – (moradora da

Vila), uma contribuição bastante significativa para Cruzeiro do Sul.

O Projeto de Lei nº 005/2011 – Dispõe sobre a denominação do Campo de Futebol,

conhecido como Campo Batatal no Distrito de Cruzeiro do Sul passando a ser denominado

como “Felipe Moreira Rocha”, requerimento de autoria do vereador Elias Lopes da Cruz.

A Moção nº 002/2013 – A Câmara Municipal de Itupiranga faz inserir na ata dos seus

trabalhos, Moção de Apoio ao Distrito de Cruzeiro do Sul no município de Itupiranga-Pa, pela

implantação de uma agência Bancária no referido Distrito. A moção foi assinada na

presidência da câmara do vereador Raimundo Costa Oliveira (presidente), Jailton Santos da

Silva (vice-presidente), Elias Lopes da Cruz (1º secretário – morador do Distrito) e demais

vereadores: Ildenizaura da Silva Cabral (moradora do Distrito), Jhonnatan Baima

Vasconcelos, Manoel de Jesus Borges da Silva, Izaias Pereira Alves, Derimar Ferreira da

Silva, Nilton Moura Araújo, Wagno da Silva Godoy, Raimundo Nonato Meireles;

A vereadora Ildenizaura Silva Cabral eleita na última eleição de 2012 assume sua

representação na Câmara Municipal de Itupiranga apresentado um número bem considerado

de requerimentos no exercício de 2013 e que destacamos:

Requerimento nº 001/2013 – Solicitação de uma Sessão Itinerante na Vila de Cruzeiro

do Sul, juntamente com uma ação social com expedição de documentos: certidão de

38

nascimento, médicos, campanha de vacinação. Requerimento nº 002/2013 – Agilização das

obras de asfaltamento das ruas que estava previsto para a Vila de Cruzeiro do Sul.

Requerimento nº 025/2013 – Solicitação de construção de um Posto de Saúde avançado na

Vila Distrital de Cruzeiro do Sul. Requerimento nº 036/2013 – Solicitação de audiência

pública na Vila de Distrital de Cruzeiro do Sul. Requerimento nº 037/2013 – Solicitação de

agilidade e convocação da audiência pública na sede do município para discutir o problema

do desemprego. Requerimento nº 059/2013 – Solicitação de um aparelho de ultrassom para o

posto de saúde da Vila. Requerimento nº 060/2013 – Solicitação da construção de um posto

de arrecadação fiscal na divisa de Marabá e Itupiranga na região da Vila de Cruzeiro do Sul.

Requerimento nº 068/2013 – Construção de uma sala de informatização e arquivos dos

pacientes no posto de saúde da Vila. Requerimento nº 069/2013 – Providências que seja

implantado as torres de telefonia móvel na Vila. Requerimento nº 070/2013 – Construção de

uma sala de observação dos pacientes no posto de saúde da Vila. Requerimento nº 086/2013 –

Providências de carteiras escolares e móveis para as salas da diretoria e secretaria da Escola

Municipal Jose Inocente Júnior. Requerimento nº 109/2013 – Solicitação de lotes aos

moradores das pequenas vilas e assentamentos de Novo Progresso (Panelinha), PA Cinturão

Verde II, Vila Nova Jerusalém, PA Buritirana, Vila Casarão e Vila Batatal.

Diante das descrições acima citadas podemos perceber a participação de alguns

representantes políticos do município contribuindo com as transformações e desenvolvimento

da Vila de Cruzeiro do Sul, sabendo-se que os representantes da referida comunidade que

mais aparecem nos documentos oficiais da Câmara Municipal de Vereadores são o ex.

vereador Domingos Martins dos Santos, Elias Lopes da Cruz (atual presidente da câmara) e

vereadora que nesses últimos anos mais influenciou foi Idenizaura Silva Cabral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O povoamento da Amazônia deu-se principalmente com ações desenvolvidas pelo

Governo Federal a partir da década de 1970 com abertura das principais rodovias federais,

sendo que a Construção da Rodovia Transamazônica – BR 230 contribuiu significativamente

para criação de muitos municípios paraenses e um dos principais resultados desta pesquisa foi

após muitas leituras em livros, revistas e artigos científicos e as entrevistas realizadas nos

permitem descrever que a Vila de Cruzeiro do Sul surge no município de Itupiranga através

do processo migratório existente a partir da década de 1980.

39

É sabido também que a partir do inicio das atividades madeireira desenvolvida

principalmente pela Serraria dos Irmãos Carneiro e CONCREM que trabalhavam com a

matéria prima existente na região castanheiras e celulose para laminados passaram a contratar

muitas pessoas atraindo um número muito grande de pessoas que chegavam todos os dias por

emprego na Serraria.

A notícia que naquele território denominado “Quatro Bocas” futuramente Cruzeiro do

Sul chegavam para muitos que existia um lugar que tinha muita terra e que o INCRA estava

dando terra para todos aqueles que ali chegavam. Dessa forma, compreendemos que Cruzeiro

do Sul pertence ao PA Buritirama um assentamento legalizado pelo INCRA através do titulo

de “Terra Legal” em que todas aquelas famílias que recebiam o crédito para construírem suas

casas, resolveram fazer naquele cruzamento sendo originado a Vila de Cruzeiro do Sul.

A pesquisa aponta também que a Vila hoje está mais organizada, com alguns

benefícios como bancos, lojas, escolas. Com relação ao poder político acreditam que ainda

existe um domínio de determinado grupo social que controla o poder econômico, politico e

social. A diferença de 1995 a 2013 em termos de agricultura não plantam quase mais nada, a

pecuária e a principal atividade econômica da região, hoje a economia de Cruzeiro do Sul

para os entrevistados tem um padrão excelente, sendo a pecuária a maior atividade econômica

e a Vila ter um movimento grande. A emancipação para Vila poderá contribuir com alguns

benefícios como bancos, representantes mais perto da sociedade devido à distância entre

Itupiranga e Marabá, não veem Cruzeiro do Sul expandir com a emancipação, podem esperar

um pequeno município, porém é melhor para algumas prioridades, vai melhorar em questão

de educação, saneamento básico, saúde, dentre outros.

O processo de migração, economia e sociedade na Vila de Cruzeiro do Sul no

município de Itupiranga no sudeste do Pará no período de 1990 a 2013 se deu muito rápido

devido a diversos fatores como procura pela terra, emprego na Serraria Irmão Carneiro,

formação de novas famílias, dentre outros foram fundamentais para a sua atual situação

demográfica para o município e estado do Pará.

A mobilidade da população, reflexo do novo momento histórico para a maioria das

famílias que chegavam naquela pequena comunidade para o que se percebe atualmente pode-

se afirmar que o processo migratório ocorreu de forma assustadora principalmente para o

poder político administrativo que não apresenta um plano de governo que venha atender as

reais necessidades da Vila devido à distância existente e o acesso para Itupiranga ser um dos

principais dificuldades das famílias que residem em Cruzeiro do Sul.

40

Esta pesquisa nos permite concluir que o Distrito de Cruzeiro do Sul é uma antiga área

da União com partes predominadas ao INCRA, fundada em 1990, em consequência da

exploração da madeira, pecuária e a reforma agrária. Origina-se o nome pelo fato de serem

construídas as primeiras casas da Vila em quatro estradas em forma de um cruzeiro, portanto

a Vila distrital denominou-se Cruzeiro do Sul. Está localizado a noroeste da cidade de

Itupiranga – PA, o acesso dar-se-á pela estrada do Rio Preto, ficando a 176 km da sede de

Itupiranga e 186 km para Marabá, 160 km para Parauapebas, 350 km para São Félix do Xingu

e 205 km para Novo Repartimento. Atualmente o Distrito de Cruzeiro do Sul conta com

aproximadamente 18.000 habitantes, divididos entre a sede do Distrito e zona rural e sua

principal produção é agrícola e pecuária.

Através das diversas leituras e análises pudemos concluir também que o surgimento e

criação da Vila de Cruzeiro do Sul aconteceram devido ao fluxo migratório ter sido muito

grande devido à chegada de pessoas através de terras, emprego visando um futuro melhor para

eles e suas famílias. Neste sentido, temos o entendimento de que a Vila foi crescendo numa

proporção muito grande até chegar aos dias de hoje sendo uma das maiores do município de

Itupiranga.

O processo de emancipação da Vila de Cruzeiro do Sul (5º da lista) atualmente tramita

na ALEPA 51 propostas de criação de novos municípios, sendo que 24 deles estão prontos

para aprovação imediata, por cumprirem todas as novas exigências contidas no texto acatado

ontem pelos senadores. Em todo o País, estima-se em 410 novos municípios, elevando o

número de 5.980 cidades. O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) destacou da tribuna, que a

aprovação vai beneficiar diversas localidades no interior do Estado. “O projeto não cria

despesas, porque o Fundo de Participação dos Municípios definido para o Estado vai ser o

mesmo”. Desta forma, podemos concluir que tal emancipação já passou pelo primeiro veto da

presidente Dilma sendo reinserido no cronograma de debates e análises pela Câmara Federal e

Senado para que seja alcançado sua emancipação os habitantes da Vila de Cruzeiro do Sul

ainda precisam esperar pelos tramites legais da burocracia brasileiro sabendo-se que vão

depender da representatividade de seus vereadores, deputados para irem conquistar o desejo

da maioria da população daquela comunidade.

Com relação à economia existente na Vila atualmente é restrita a atividade pecuária

em que um grupo seleto de grandes propriedades de extensas terras cria gados para

exportação e abate para consumo da região seguido de uma agricultura que ainda precisa de

incentivos tanto municipais, estaduais e federais, pois precisam de estradas para escoar seus

produtos para serem vendidos em outros municípios. Aquela Vila pacata e sem vida de antes

41

não existe mais fazendo com que seu comércio exista sem precisar de Itupiranga sua sede e

Marabá município mais próximo.

Contudo, a Vila já apresenta um comércio bem forte de lojas, supermercados, bancos,

lotérica, igrejas, duas escolas na sede e nas comunidades ciclo vizinhas para atender a

demanda de alunos que a cada ano só aumenta. Assim, temos a compreensão de que o

processo de migração foi fundamental para o surgimento e desenvolvimento desta Vila e

todas as famílias que residem sentem-se muito satisfeito com a realidade existente.

Enfim, além disso, sob o ponto de vista acadêmico, os trabalhos que procurem discutir

este tema, podem constituir-se em importantes instrumentos para o aprimoramento dos

conhecimentos sobre as condições de vida das pessoas que vivem nos territórios rurais. Além

disso, podem contribuir de forma determinante para a reversão das tendências de

esvaziamento e fragilização socioeconômica destas regiões.

REFERÊNCIAS

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CANCELA, Cristina Donza. Migrações na Amazônia. Belém: Açaí: Centro de Memória

Amazônia/PPGA, 2010.

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território e o poder. HUCITC e Edusp: São Paulo, 1996.

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Broni de. Na estrada da memória: a história do município de Abel Figueiredo Pará (1960-

2011). Belém: Paka – Tatu, 2012.

________. Maquiavel, a política e o Estado Moderno. 7ª edição, Rio de Janeiro: Civilização

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MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1983.

42

NUNES, Francivaldo Alves. Migração Nordestina e a luta pela terra. XII Encontro

Regional de História. UFPA. Rio de Janeiro, 2006.

SCHMINK, Marianne; WOOD, Charles H. Conflitos Sociais e a Formação da Amazônia.

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SINGER, P. Migrações internas: considerações teóricas sobre seu estudo. In: Moura, H.

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SOARES, W. A emigração valadarense à luz dos fundamentos teóricos da análise de

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PETIT, Pere. Chão de promessas. Elites políticas e transformações econômicas no Estado

do Pará pós-64. Belém: Paka-Tatu, 2003.

ANEXOS

ENTREVISTA UTILIZADA NA PESQUISA DE CAMPO

1. QUAL FOI O MOTIVO DA SUA VINDA PARA VILA CRUZEIRO DO SUL?

_________________________________________________________________________________

2. QUAL SUA CIDADE DE ORIGEM?

3. COMO FICOU SABENDO SOBRE A Vila Cruzeiro Do Sul?

_________________________________________________________________________________

4. DURANTE O TEMPO QUE MORAS NA VILA CRUZEIRO DO SUL O QUE VOCÊ ACHA QUE

MUDOU O PROCESSO ECONÔMICO?

_________________________________________________________________________________

5. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE OS GOVERNOS ANTERIORES A 1990?

_________________________________________________________________________________

6. QUAL SUA IDÉIA SOBRE O GOVERNO ATUAL?

_________________________________________________________________________________

7. QUAL A PRINCIPAL FONTE DE RENDA QUE CIRCULA NO COMÉRCIO?

_________________________________________________________________________________

8. COMO O GOVERNO LOCAL E REGIONAL INTERFERE NO COMÉRCIO LOCAL?

43

_________________________________________________________________________________

9. A RENDA É COMPATÍVEL COM SEUS GASTOS?

_________________________________________________________________________________

COMO DEFINIRIA A SOCIEDADE DA VILA CRUZEIRO DO SUL PELO TEMPO QUE MORAS AQUI?

_________________________________________________________________________________

10. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O PROCESSO ELEITORAL NA VILA CRUZEIRO DO SUL?

INFLUENCIA SUA ECONOMIA?

_________________________________________________________________________________

11. QUAIS AS INTER-RELAÇÕES NA POPULAÇÃO DA VILA CRUZEIRO DO SUL?

________________________________________________________________________________

Entrevistas.

i) Deusilene de Carvalho Silva

Os meus pais vieram em busca de uma vida melhor, porque eles moravam lá sempre trabalhando em

fazenda. Como o irmão dele já tinha vindo embora pra cá e chegou lá contando que o Pará era o

melhor lugar do mundo pra se viver, convenceu meu pai a vir. (2013).

ii) Farlei da Cruz Machado

Venho de uma família baiana. Meu pai, minha mãe, meus irmãos, todos são baianos é... A gente veio

da cidade né... Itanhém, Bahia, próximo de Teixeira de Freitas é... Meu pai veio pra cá em busca de

melhorias né... Lá era uma terra já bem... Ele fabricava cachaça. Era feita da cana, com a terra já

estava um pouco... (gesticula) gasta, não tinha como crescer. Também, ele soube que aqui, o Pará

tinha muita terra e muita... Muita coisa a oferecer, ai ele resolveu (2013).

iii) Isnaldo Oliveira Gomes

O meu nome é Isnaldo Oliveira Gomes, eu nasci no município de Carlos Chagas em Minas Gerais.

Com nove anos nós fomos para o Espírito Santo, pra uma cidade de vinhático. De Vinhartico nós

mudamos pra Pinheiro... No Vinhartico eu fiz o 1º, 2º e 3º ano primário. Sempre eu morei em roça. É...

Aquele negócio! Caçar vida melhor. Depois que o pai morreu, ele deixou uma herança, eu fiquei de

menor, acabou a herança... E meus avôs moravam aqui e eu vim. Daí eu desenvolvi a trabalhar com

caminhão. Eu sempre fui invocado a trabalhar com caminhão, com máquina. Aprendi no carro que o

pai comprou. Aperfeiçoei em caminhão, em máquina pesada, trabalhei 15 anos de empregado. Em 15

anos eu consegui comprar meu próprio caminhão, que foi justamente aquele próprio Chevrollett que

eu tinha (2013).

iv) Rosirene Ribeiro

Digo sempre que nada é por acaso. Somos de Formoso do Araguaia – Estado do Tocantins, lá meu

esposo Ronaldo trabalhava também com comercio, ramo atacadista em geral. Já tinha vindo amigos

nossos pra cá e sempre falavam que precisavam de um comerciante que montasse e ficasse variedade

44

de preços...daí o desafio; viemos. Graças a Deus deu tudo certo, estamos já com 12 anos, e crescemos

muito e rápido tivemos muitas oportunidades e soubemos aproveita-las. (2014)

2. Documentos

i) Lei nº 005/97 regularização do sistema de fornecimento de água e energia elétrica dos

distritos e vilas do município de Itupiranga – Pará.

A lei acima citada, aprova e sanciona o sistema de fornecimento de água e energia elétrica. No

entanto, é importante dizer que o sistema de fornecimento de água nunca foi concluído nesta

localidade. No entanto o sistema de energia elétrica funciona desde sua implantação no ano de

2003.

ii) Processo nº 000878, de 14 de fevereiro de 2002 EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

ADMINISTRATIVA DO DISTRITO DE CRUZEIRO DO SUL – ITUPIRANGA –

PARÁ.

O projeto acima citado, foi vetado pela presidenta Dilma Rulssef.

iii) Projeto de Lei nº 002/2009 criação da ASSOCIAÇÃO DE MULHERES DO DISTRITO

DE CRUZEIRO DO SUL. Em 10 de março de 2009.

A associação está paralisada por motivos não divulgados, até os dias atuais.

45

INTRODUÇÃO

A entrevista com a Srª Deusilene de Carvalho Silva foi realizada em duas etapas. Sendo que a

primeira etapa consistiu em uma conversa informal com o depoente e a apresentação da

metodologia do trabalho. Essa etapa foi realizada no dia 10 de maio às 14hs e durou cerca de

2hs e 30min.

A segunda etapa da entrevista aconteceu no dia 17 de maio às 15hs e durou 36min. Durante a

entrevista estava presente sua filha mais nova, uma criança de dez anos de idade, foi

solicitado que ela não interrompesse durante o diálogo.

A entrevista foi realizada na cozinha da depoente, um ambiente quente, porém, havia um

ventilador ligado. Estávamos frente a frente, em volta de uma mesa de madeira grande com

oito cadeiras. Foi utilizado um telefone celular com fone/microfone embutido pra fazer a

gravação.

A depoente expôs sua história de vida sem questionar às perguntas, estava um pouco nervosa

perante a gravação, mas isso não atrapalhou.

No decorrer da entrevista ela se emocionou ao contar seus sofrimentos, nesse momento pedi à

sua filha que trouxesse um copo com água para sua mãe.

Ao final, agradeci pela colaboração.

Dados do colaborador: Deusilene de Carvalho Silva

Data e local de nascimento: 14/04/1978 em Amarante - MA

Endereço atual: Rua Nossa Senhora de Aparecida nº 32

Bairro: Vila Cruzeiro do Sul Cidade: Itupiranga Estado: PA

Profissão atual: Professora/vice-diretora.

Entrevistador: Jonas Souza Barreira.

A entrevista com a Srª Deusilene de Carvalho Silva foi realizada em duas etapas. Sendo que a primeira

etapa consistiu em uma conversa informal com o depoente e a apresentação da metodologia do trabalho.

Essa etapa foi realizada no dia 10 de maio às 14h e durou cerca de 2h e 30min.

A segunda etapa da entrevista aconteceu no dia 17 de maio às 15hs e durou 36min. Durante a entrevista

estava presente sua filha mais nova, uma criança de dez anos de idade, foi solicitado que ela não

interrompesse durante o diálogo.

A entrevista foi realizada na cozinha da depoente, um ambiente quente, porém, havia um ventilador

ligado. Estávamos frente a frente, em volta de uma mesa de madeira grande com oito cadeiras. Foi

utilizado um telefone celular com fone/microfone embutido pra fazer a gravação.

A depoente expôs sua história de vida sem questionar às perguntas, estava um pouco nervosa perante a

gravação, mas isso não atrapalhou.

No decorrer da entrevista ela se emocionou ao contar seus sofrimentos, nesse momento pedi à sua filha

que trouxesse um copo com água para sua mãe.

Entrevistador: Conte sua história de vida?

Deusilene de Carvalho Silva: __Meu nome é Deusilene de Carvalho Silva, vim de Itupiranga pra Cruzeiro do Sul mais ou menos no ano de

1999. Antes quero falar um pouco da minha trajetória de vida.

Eu nasci no ano de 1978, em Amarante do Maranhão, não bem dentro da cidade do Amarante no Maranhão, mas digamos em uma zona

rural, e lá eu vivi por uns quatro ou cinco anos. Depois agente veio morar na cidade Amarante, e aos meus 7 anos meu pai decidiu vir pro

estado do Pará em busca de melhoria de vida.Quando ele veio agente foi morar numa fazenda, tinha uma escola próximo.

Entrevistador: Quantas pessoas são na sua família?

Deusilene de Carvalho Silva: __Meu pai, minha mãe, na época tinha meus irmãos Deusdete, Deusimar, Deusivaldo e Deusivania, os outros

nasceram depois. A gente ficou morando nessa fazenda por um tempo. Na seqüência, no ano seguinte o dono vendeu. Meu pai olhava o gado

Figura 1 Entrevistada

46

e pegava também algumas “diárias”, também conseguiu ganhar alguns gados, esses gados ele trocou em uma terra. É a qual agente tem até

hoje, há mais de 20 anos.

Entrevistador: Por que saíram do Maranhão?

Deusilene de Carvalho Silva: __ Os meus pais vieram em busca de uma vida melhor, porque eles moravam lá sempre trabalhando em

fazenda. Como o irmão dele já tinha vindo embora pra cá e chegou lá contando que o Pará era o melhor lugar do mundo pra se viver,

convenceu meu pai a vir.

Entrevistador: Vocês não tinham terra?

Deusilene de Carvalho Silva: __Não!... Morávamos nas fazendas dos outros, nas terras dos outros. Como os demais que ficaram por lá

vivem até hoje. Nessa seqüência que meu pai veio aqui pro Estado do Pará. Ele trabalhou um ano nessa fazenda, e o que ele adquiriu nesta

fazenda que foi alguns gados, ele trocou em uma terra, no ano seguinte nos mudamos para essa terra sem nada só pra uma barraquinha...

(se emociona). Na época a gente ficou lá morando, como os meus pais moram até hoje. Dificuldade

para estudar essa era a parte mais difícil. Como era muito longe pra estudar tinha que morar na

casa dos outros, mesmo sendo zona rural, longe um espaço um do outro. Pra estudar a gente tinha

que ficar na casa das pessoas.

Eu no ano de 87, pra estudar a 1ª série, eu tive que morar na casa de umas pessoas mais próximas

que era a Dona Domingas e Seu Henrique que eu passei a morar na casa deles.

Em 87 eu estudei a 1ª série na escola Tomé de Souza que, ainda existe essa escola que apesar de ser

do Estado nunca foi construída desde 87. Na época eu estudei com um professor chamado José

Humberto... E eu passei pra 2ª série em 88, eu fui morar em Cajazeiras. Com a minha avó nesse

período que eu fiquei lá é muito difícil morar com parente, eu fiquei uns seis meses com minha avó,

depois eu fiquei uns seis meses com minha tia, passei pra 3ª série, a escola reabriu e eu voltei pra

zona rural novamente, pra onde meu pai mora, fui morar com minha família, em 89 estudei a 3ª

série e passei pra 4ª em 90 e voltei pra Cajazeira de novo, estudei a 4ª série lá.

Entrevistador: Você trabalhava?

Deusilene de Carvalho Silva: __Não! Morava com minha avó nessa época e também era muito pequena. Em 90 estudei a 4ª série, em 91 a

5ª série, e 92, comecei a 6ª. Logo na seqüência eu vim pra Itupiranga morar na casa da professora Marli. Eu estudei 92, 93, 94, 95, 96 e 97

que foi o ano de conclusão do meu magistério. Eu estudei um pouco no Jarbas (escola) e a seqüência dos outros anos na Albertina Barreiros

(escola estadual), foi onde eu terminei o magistério.

No final de 96, eu engravidei da minha filha mais velha, Krisna. Quando eu comecei a estudar o 3º ano em 97, foi um ano muito difícil, sem

emprego, grávida, logo eu me separei do pai da minha filha, acabei descobrindo que não ia dar certo... Eu abri mão disso, não fui atrás,

quando fiquei grávida a gente brigava muito, de repente ele foi embora, alguns colegas falavam:

__Ah se fosse eu, iria atrás!

__É o pai da tua filha!

Não fui!... Optei por estudar, porque eu sabia que dali nasceria um fruto. Eu iria ter uma filha, eu ia me formar,... Eu ia trabalhar e criar

essa filha da melhor maneira possível...

Em setembro, a minha filha nasceu eu tive o apoio da turma, toda turma do 3º ano ficaram do meu lado o tempo inteiro fizeram um baby-

chá pra minha filha. Todas as coisas que uma criança tem direito ela teve. Em janeiro agente teve uma formatura, fomos pra São Luis.

Passamos uma semana passeando, curtindo!... Alguns queriam fazer festa e nós optamos por uma viagem porque era mais tranqüilo, mais

agradável.

Depois do nosso retorno teve um concurso público, ninguém da viagem passou porque ninguém estudou. Todos tinham acabados de

terminar o curso... Aquela euforia achava que sabiam tudo... Enfim... Não passou ninguém no concurso. Nós fizemos uma reunião na época

em que o Benjamim era prefeito. Ele disse que os concursados ficariam na zona urbana e os não concursados que quisessem ficariam na

zona rural...

Eu comecei a trabalhar foi o meu primeiro ano em 98. Eu trabalhei seis meses na escola Airton Sena... Eu fiquei lá por seis meses... Poucos

alunos. Mês de junho a escola fecha, pelo numero mínimo de aluno. Vim pra Itupiranga e o Paulinho (secretário de educação) me orientou:

__Deusilene leva as transferências. Os pais procuram um lugar e você vai ser transferida pra algum lugar.

Na seqüência, no período de férias em julho de 98. Surgiu a escola Mario Quintana, precisando de um professor, o professor de lá tinha

saído no mês de maio, eu fui pra essa escola no mês de julho...

Então eu conheci meu ex-esposo de uma família que me acolheu de braços abertos e lá eu trabalhei um ano e seis meses. O restante de 98 e

o inicio de 99 eu pedi pro Paulinho pra vir embora.

Ele disse:

__OK! Vou arrumar uma escola pra você ir.

Surgiu uma vaga aqui em Cruzeiro do Sul, em agosto de 99. Eu não queria vim porque as pessoas falavam que era longe que era de difícil

acesso, mas... Uma filha pra criar. Você vai!... Vai à busca! Você quer serviço!... E eu vim. Na época eu vim fiquei na casa de um professor

Osmir.

Entrevistador: Você já conhecia alguém nessa região?

Deusilene de Carvalho Silva: __Não conhecia ninguém, vim sem conhecer ninguém só vim orientada pelo colégio e professor que na época

e vim pra substituir ele aí eu fiquei na casa dele e substitui-o por seis meses.

Ele não quis mais voltar pra sala de aula por opção dele mesmo, que queria fazer uns cursos em Brasília, acabou que ele não fez esses

cursos.

Então eu fiquei 99, quando eu cheguei só tinha ele professor Osmir e professora Rosilma. Então no resto de 99 eu o substituí na turma. No

ano de 2000 já deu uma crescida rápida que isto aqui cresceu... Como uma vez o Benjamim disse: “que as outras cidades crescem como um

carrinho de mão e aqui cresce como um avião”. Por que aqui teve uma explosão demográfica muito rápida.

Figura 2 Pais da Entrevistada

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Em 99 tinha apenas quatro turmas, em 2000 teve um número quase dobrado de turmas. Em 2000 a Secretaria de Educação mandou o

professor Carlos Cardoso pra assumir a direção da escola e ele veio com sua esposa Vilma.

Entrevistador: Como a vila cresceu?

Deusilene de Carvalho Silva: __Acredito que foi o fluxo da madeireira. A serraria Irmãos Carneiros foi a época em que ela surgiu e isso fez

com que a Vila crescesse. Instalaram também a CONCREM que trabalhava com compensado. Isso deu uma explosão demográfica muito

grande e de repente surgiu aluno que ninguém sabe de onde.

Montaram a vila CONCREM e a Vila Cabeludo. Eram serraria e CONCREM funcionando 24 horas. A CONCREM funcionava tinha

funcionários á noite e durante o dia e isso fez com que crescesse.

Em 2000 ficou eu, como professora, a professora Rosilma, o professor Carlos, e Vilma, professora Nesina. No ano de 2000 foi também o

primeiro ano de 5ª série e só éramos nós três professores: Eu, Carlos e a professora Nesina, que davam aula nessa turma de 5ª série a noite,

mesmo com alunos menores de idade, fomos autorizados a dar aulas á noite com alunos de 11 e 12 anos que estavam na 5ª série. Não tinha

como montar uma turma durante o dia. No ano seguinte eles implantaram o modular.

Entrevistador: Como era a Vila antes da chegada da serraria e como ela ficou depois?

Deusilene de Carvalho Silva: __Quando eu cheguei já tinha serraria, em 99 ela já estava só no ano seguinte que deu essa explosão rápida

de muitos alunos.

Só tinha a rua principal e o comercial do João do Fumo e Seu Djalma. Só tinha esses dois comércios que eu consiga me lembrar.

Do lado de lá era mata e do lado de cá também. Em 2000 o Benjamim comprou aquela área de lá (aponta para o centro da Vila) Quando

ele comprou aquela área ele me deu um lote, eu fui a única professora a ganhar um lote do lado de lá. Dois anos depois ele comprou a área

daqui e loteou então cresceu com essa parceria do Benjamim. Ai logo foi enchendo de casas e separou a área da escola e deu um lote pra

cada funcionário.

Em 2002 teve o vestibular, agente começou estudar em agosto e ainda era modular aqui. Quando foi no inicio de 2003, o Paulinho disse que

era hora de desvincular o modular e implantar o regular, já que nós estávamos na faculdade. Porque na época eles colocavam o modular

alegando que nós só tínhamos o magistério e não podíamos trabalhar de 5ª a 8ª séries. Como já estava todo mundo... Tinha um grupo

grande. Então são vocês que estão na faculdade que vão assumir a 5ª série. Novamente voltou a ser regular como é até hoje.

Desde quando eu cheguei aqui eu fiquei trabalhando de 1ª a 4ª série em 99, em 2000 de 5ª a 8ª série á noite, e também o EJA. Por que

naquela época eu fui convidada pra ir pra Belém, fazer um treinamento de alfabetização solidaria. Nesse período eu estava graduando

comecei em 2002 e terminei em 2005 eu fiz um curso e letras pela UNAMA. Comecei a trabalhar nas turmas de 5ª a 8ª série Português,

Artes e Inglês...

Entrevistador: O que mudou na vila nesse período de 2003 a 2005, no período em que você se formou?

Deusilene de Carvalho Silva: __A única coisa que mudou foi a construção da escola, que demorou menos de Dois anos para construir essa

escola.

A escola foi inaugurada dia 9 de agosto de 2003. Antes funcionava uma sala próxima a antiga delegacia, uma sala na Igreja Católica, mas

duas salas construídas lá embaixo (aponta), onde hoje é a Igreja Católica, mais quatro salas lá onde eram do Seu Dominguinhos.

Entrevistador: Fale um pouco da sua vida familiar.

Deusilene de Carvalho Silva: __Os meus pais continuam morando lá até hoje. Em 98, quando eu fui pra Vila Juruna, trabalhar, eu conheci

o Ronaldo (ex - marido). Foi muito rápido não teve um processo de namorar seis meses, um ano, foi tudo muito rápido. Porque éramos dois

adultos, já sabiamos o que queríamos e combinamos de morar juntos, se der certo bem se não a gente separa. Eu fiquei morando com o

Ronaldo por seis meses lá, no ano seguinte a gente veio pra Cruzeiro do Sul. Na época ele não tinha escolaridade nenhuma, ele era

desistente da 2ª série e eu percebi o interesse dele por estudar. Eu fui a Itupiranga, lá tem um sistema que oferecia um provão de 1ª a 4ª

séries. Pra pessoas que tinham perdido documentação e pra pessoas que já estavam de idade e queriam avançar nos estudos. Eu fui lá

inscrevi o Ronaldo, peguei a lista de conteúdos e orientei-o. Deixei ele em Itupiranga estudando. Ele fez a prova tirou a média 8 ou 8,5.

A escola Albertina Barreiros deu um documento pra ele, que poderia entrar na 5ª série, através desse classificatório e de 5ª a 8ª série ele fez

no modular na Unidade Supletiva de Ensino. Ele se matriculou, trazia os livros e estudava em casa. Sempre que eu podia estava orientando

dentro das minhas possibilidades, ele fez Ensino Médio aqui no modular. Logo depois ele se formou e trabalhou na escola. Trabalhou como

vigia por um tempo, 2001 e 2002, a partir de 2003 ele foi promovido pra secretaria, trabalhou até 2007, foi na época em que nós nos

separamos e ele foi embora.

Nesse relacionamento tivemos uma filha... Uma benção (risos), que nasceu também no dia da inauguração dessa escola, a idade dela é a

idade dessa escola. É a Kailany, filha minha e dele, que nasceu no dia 9 de agosto de 2003. Quando nós nos separamos ela tinha quatro

anos. Hoje ela está com 10 a minha outra filha tinha nove anos, hoje vai fazer 16.

Tenho essa duas filhas, estou há mais de cinco anos sozinha, continuo trabalhando muito pra criar essas meninas. A mais velha já

concluindo o 3º ano do Ensino Médio, já está fazendo o curso de Pedagogia também, apesar da idade, de ter pouca idade teve essa

faculdade que deu essa oportunidade, abriu uma exceção pra pegar os alunos do 2º ano, ela começou no ano passado. Fez um teste que foi

uma redação. Pra entrar na faculdade tinha que fazer essa redação. Ela fez, foi classificada e está cursando desde 2012, começou em

agosto de 2012.

Vai concluir esse ano o 3º ano do ensino médio, já está fazendo o segundo período de Pedagogia, a outra tem 10 anos e já está fazendo a 5ª

série. Durante esse tempo, fiquei em 2005 e 2006, trabalhando na coordenação á convite do meu colega Arnaldo, que assumiu a direção da

escola, na época acabei saindo por problemas políticos, por não aceitar idéias de outras pessoas, eu tinha minha idéia própria,

principalmente partidária e isso me fez ficar fora da coordenação nos dois últimos anos da gestão do Arnaldo, na gestão do prefeito

Adécimo Gomes...

Na seqüência o Benjamim ganhou pra prefeito e a Cleide assumiu a direção do estado em 2008, e me convidou pra ser vice-diretora...

Fiquei 2008 e 2009 como vice. Mais uma vez por questões políticas, saí novamente, não foi bem política briga, mas política pra ajeitar a

vida dos outros e você ceder... Eu sou muito de ceder, se for pra te ajudar eu vou automaticamente, se eu puder ceder parte da minha carga

horária pra te ajudar eu faço. E na época eles tentaram ajudar a Ivonete, que... Entre aspas é um problema...

Então ficaram 2010 e 2011 quando foi em agosto de 2012, eu fui convidada pra assumir a direção do ensino médio, cedida pelo município

mais uma vez e... Pra mim foi um desafio... (respira fundo) como está sendo. Fiquei o restante de 2012, na vice-direção do ensino médio,

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esse ano, inicio de 2013, o Paulinho me convidou novamente e me perguntou se eu queria continuar, eu aceitei o desafio sabendo que lá não

havia professor de Português. O prédio não tem estrutura física adequada, lá é desumano... Mas é um desafio estar lá. No inicio do ano

trabalhei nas turmas do 1º e 3º ano nos meses de janeiro e março no total de 50 horas cada mês. Por incrível que pareça eu encontrei uma

colega aqui da escola aqui do fundamental, pra falar que isso não era trabalho voluntário isso tinha outro nome era “puxa-saquismo”.

Eu me pergunto:

__Eu vou “puxar-saco” de quem?E pra quê?... Eu não preciso disso!...

Eu vou puxar o saco de quem? Se eu sou a vice–diretora!... Isso não faz parte de mim, da minha pessoa, não concordo com essas coisas e eu

acho que as pessoas têm que serem humanas, saber ajudar as pessoas na hora certa, e eu fiz por amor. Alguns alunos questionaram:

__E as outras turmas?

Eu simplesmente não poderia trabalhar 340 horas, mas eu poderia trabalhar 50 horas durante dois meses. Enquanto um colega me criticou

eu tive mais de 60 alunos que me agradeceram... Alunos de paz!

Pra mim foi gratificante como pessoa, como ser humano, como profissional. Eu ouvi muitas criticas, mas eu fiquei “passada” de partir de

um colega que ta ali do teu lado... Assim como a gente ouve de outros colegas de nível diferente que são níveis 1 e 2, fundamental 1 e

fundamental 2, e por incrível que pareça num ambiente de trabalho, eu acredito que toda e qualquer escola exista divergências.

Muitas pessoas já se perguntaram, eu já ouvi comentários de terceiros:

__Por que não fulano?

E a Deusilene?

E a minha resposta foi:

__Eu estou colhendo hoje, o que eu plantei ontem e com certeza eu vou colher amanhã, o que estou plantando hoje!

Isso é tanto profissional quanto pessoal. Nem sempre a gente planta coisas boas... Más... Nós somos humanos e temos que ir em busca do

que a gente quer.