vigiar e punir wikipédia
TRANSCRIPT
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 1/7
Vigiar e punir (em francês: Surveiller et Punir: Naissance de la prison) é um livro
do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tida como
uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É
um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças
que se produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicadoà análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais
(hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses, mas as questões
sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma
obra seminal que teve grande influência em intelectuais, políticos, activistas sociais e
artistas.
Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a prisão é uma forma humanista
de cumprir pena, assinalando seis princípios sobre os quais assenta o novo poder de
castigar:
Regra da quantidade mínima
Regra da idealidade suficiente
Regra dos efeitos (co)laterais
Regra da certeza perfeita
Regra da verdade comum
Regra da especificação ideal
A partir destas, o delinquente pode ser definido em oposição ao cidadão normal,
primeiro como louco, depois como meliante, malvado, e finalmente como anormal.
O livro tem quatro partes, intituladas "Suplício", "Punição", "Disciplina" e "Prisão".
VOGIAR: accion y o acciones que se realizan a un costado de el voga
Primeira Parte: Suplício
I. O corpo dos condenados
II. A ostentação dos suplícios
Segunda Parte: Punição
I. A punição generalizada
II. A mitigação das penas
Terceira Parte: Disciplina
I. Os corpos doceis
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 2/7
A arte das distribuições
O controle da atividade
A organização das gêneses
A composição das forças
II. Os recursos para o bom adestramento
A vigilância hierárquica
A sanção normalizadora
O Exame
III. O panoptismo
Quarta Parte: Prisão
I. Instituições completas e austeras
II. Ilegalidade e delinqüência
III. O carcerário
[editar]Detalhadamente
[editar]Suplício
Foucault inicia o livro expondo o contraste entre duas formas de punição:
1. O suplício público, violênto e caótico, de Robert François Damiens, condenado
por (tentativa de) regicídio[1], contra Luís XV de França, no final do século XVIII;
2. a pontual programação diária prevista para os internos em uma prisão do inicio
do século XIX.
Este exemplos contrastam vividamente as vastas mudanças em menos de um séculonos sistemas penais ocidentais. O autor nos impulsiona a interrogar sobre quais seriam
os motivos de transformações tão radicais.
A resposta é procurada em um exame da tortura pública em si. Sustenta o autor que
este tipo de espetáculo constituía um tipo de “teatro em praça pública” que
correspondia à diversas funções e efeitos (desejados e indesejados) na sociedade.
As funções desejadas eram:
Refletir a violência do delito sobre o corpo do condenado, à vista de todos;
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 3/7
Por em ato a vingança do soberano – lesado pelo crime (apenas idealmente, e
excluso o caso do regicìdio) – sobre o corpo do culpado. A tese de Foucault é
que a lei era considerada uma extensão do corpo do soberano, portanto era
totalmente lógico que a vingança encarnasse na violação da integridade física
(corpo) do condenado.
Alguns dos “efeitos colaterais” (naturalmente indesejados) eram:
Fornecer ao corpo do condenado um palco cênico sobre o qual receber
simpatia e admiração;
Transformar o corpo do condenado em um "campo de batalha" entre
a massa e o soberano. O autor observa , a propósito, que muitas vezes as
execuções terminavam em tumultos em apoio ao condenado.
Portanto, conclui Foucault, a execução pública se revelava improdutiva e anti-
econômica. Além disso essa era aplicada em modo heterogêneo, irracional e quase
casual. Conseqüentemente o seu custo político era muito alto. Era a antítese dos mais
modernos interesses do Estado: ordem e generalização.
[editar]Punição
A passagem para a prisão não foi imediato. Houve uma mutação gradual, ainda que
relativamente rápida. A prisão foi precedida historicamente por uma forma diferentede espetáculo público. O teatro do suplício público cedeu seu lugar a acorrentados
condenados a trabalhos forçados. A punição torna-se “gentil”, mas não por motivos
humanitários, segundo a tese já antecipada por Foucault. Ele afirma que os reformistas
estavam insatisfeitos com a natureza imprevisível e iniquamente distribuída da
violência do soberano sobre o corpo do condenado. Uma maior racionalização de todo
este “processo produtivo”[2] era desejada pelos reformistas, também com relação ao
princípio que o poder do Estado deva (pelo menos deveria) ser uma forma de poder
público. Para Foucault, tudo isto concernia mais à paixões dos reformistas do que aos
argumentos humanitários.
Além desse movimento em direção à punição generalizada, teriam sido criados
milhares de “mini-teatros” de punição nos quais os corpos dos condenados teriam sido
expostos em espetáculos ubíquos, controlados e eficazes. Os prisioneiros teriam sido
obrigados a desempenhar trabalhos que refletiam os seus crimes, de certo modo
prestando à sociedade uma reparação pelos danos causados. Isto teria permitido ao
público ver os condenados cumprindo suas condenações e assim refletir sobre os
crimes cometidos. Mas estas experiências duraram menos de vinte anos.
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 4/7
Foucault sustenta que esta teoria da punição “gentil” representou o primeiro
distanciamento da excessiva força do soberano, em direção a meios de punição mais
generalizados e controlados. Porém, sugere que a mudança em direção à prisão que se
seguiu foi o resultado de uma nova “tecnologia” e ontologia voltada ao corpo que teria
sido desenvolvida no século XVIII: a tecnologia da disciplina e a ontologia do “homemcomo máquina”.
No plano mais estritamente sócio-político, o autor parece sugerir claramente a tese
que a reforma do sistema penal (quase contemporânea à revolução Francesa) esteja a
serviço dos interesse da classe burguesa que – não por acaso – está afirmando seu
crescente papel hegemônico naquela época. Há um modo diverso de reprimir
firmemente a violação dos bens (típico da plebe, principalmente nas suas formas
marginais: furtos, roubos, homicídios) respeito a violação dos direitos (típico da casta
burguesa: estelionatos, corrupção e símiles):
Um sistema penal deve
ser concebido como um
instrumento para gerir
diferencialmente as
ilegalidades, não para
suprimi-las a todas[3]
— Michel
Foucault,Vigiar
e Punir
[editar]A nova “linguagem” do punir
Entre as páginas 90 e a 99, o autor enuncia uma espécie de “decálogo”
("Semiotécnica", com o qual reformadores tentam influenciar com eficácia universal os
comportamentos sociais)[4] da política criminal, interessante pela sua evidente
atualidade, mesmo no contexto contemporâneo[5]:
Regra da quantidade mínima: visto que a pena deve ter um efeito preventivo, é
oportuno que esta porte ao culpado um dano apenas um pouco maior da
vantagem que o réu tenta conseguir com o delito.
Regra da idealidade suficiente: Segundo as novas idéias, não é mais o caso de
sustentar o suplício, porque é melhor mostrar a idéia (imagem mental) da
pena, ao invés que sua escarnação sobre o corpo do condenado.
Regra dos efeitos (co)laterais: a pena deve produzir o próprio efeito de
“prevenção geral” sobretudo em confronto de quem não cometeu o delito (se
chega ao paradoxo de afirmar que – se si fosse seguro que o culpado não
recaísse mais na própria conduta – seria suficiente convencer aos outros que
ele tenha sido realmente punido, e a pena efetiva não seria nem mesmo
necessária).
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 5/7
Regra da certeza perfeita: É aquilo que os juristas chamam “certeza da pena”:
quem erra, deve saber preventivamente que será quase que certamente
punido, e oportunamente seria, por outro lado, abolido o poder de graça,
tradicionalmente reivindicado pelos soberanos.
Regra da verdade comum: abandono das provas legais, a repulsa à tortura,
necessidade de uma demonstração lógica da existência do delito,
estruturalmente análoga à metodologia da demonstração matemática.
Regra da especificação ideal : “É então necessário um código, e que seja
suficientemente preciso para que cada tipo de infração possa estar claramente
presente nele.”[6]
[editar]Disciplina
Segundo Foucault, o afirmar-se da prisão como forma generalizada de sanção para
todo tipo de crime é resultado do desenvolvimento da disciplina registrado nos séculos
XVIII e XIX. As analises do autor se voltam a criação de formas particularmente
refinadas de disciplina, tendo como objeto os mais pequenos e detalhados aspectos do
corpo de cada pessoa. Sugere também a idéia que a disciplina tenha gerado uma nova
economia e uma nova política dos corpos. As instituições modernas pediam que os
corpos fossem individualizados segundo os seus escopos, e também para o
adestramento, a observação e o controle. Portanto, sustenta, a disciplina criou uma
forma de individualidade totalmente nova para os corpos, que lhes permitiu adimplir o
dever nas formas das organizações econômicas, políticas e militares que emergiam na
idade moderna e ainda continuam.
Esta disciplina das individualidades constrói para os corpos que controla quatro
características, e constrói por reflexo uma individualidade que é:
Celular – determina a distribuição espacial dos corpos;
Orgânica – assegura que as atividades requeridas para os corpos sejam
“naturais” para eles;
Genética – controla a evolução no tempo da atividade dos corpos;
Combinatória – faz com que a força combinada de mais corpos si fundam em
uma força de massa.
Foucault sugere que esta individualidade possa ser integrada em sistemas oficialmente
igualitários, mas que utilizam a disciplina pra construir relações de poder desiguais.
“ Historicamente, o processo pelo qual a burguesia se tornou no decorrer do século XVIII
a classe politicamente dominante, abrigou-se atrás da instalação de um quadro jurídico explícito, codificado, formalmente igualitário , e através da organização de um
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 6/7
regime de tipo parlamentar representativo. Mas o desenvolvimento e a generalização
dos dispositivos disciplinares constituíram a outra vertente, obscura, desse processo. A
forma jurídica geral que garantia um sistema de direitos em princípio igualitários era
sustentada por esses mecanismos miúdos, cotidianos e físicos, por todos esses
sistemas de micropoder essencialmente inigualitários e assimétricos que constituemas disciplinas”.
O Pan-óptico , metáfora e pesadelo da escuta-vigilância .
Segundo o autor, a disciplina cria “corpos dóceis”, ideais para as exigências modernas
em questões de economia, política, guerra – corpos funcionais em fábrica, nosordenamentos regimentais, nas classes escolásticas. Mas, para construir corpos dóceis,
as instituições que promovem a disciplina devem conseguir:
1. Observar e registrar os corpos que controlam;
2. Garantir a interiorização da individualidade disciplinar nos corpos que são
controlados.
Ou seja: a disciplina deve impor-se sem uma força excessiva, através de uma atenta
observação, e graças a tais observações os corpos si forjam na forma correta. Distoderiva a necessidade de uma peculiar forma de instituição que – segundo – Foucault é
bem exemplificada pelo Pan-óptico de Jeremy Bentham.
O Pan-óptico era a suma encarnação de uma moderna instituição disciplinar. Consentia
uma constante observação caracteriza pela “vista desigual”. Efetivamente, talvez a
mais importante característica do Pan-óptico resida em seu design[8], graças à qual o
recluso não poderia nunca saber quando (e se) efetivamente era observado. De tal
forma a “vista desigual” determinava a interiorização da individualidade disciplinar, e o
corpo dócil requerido pelos internados. Isto quer dizer que se é menos induzido a
transgredir leis ou regras se se acredita observado, mesmo quando na realidade a
7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia
http://slidepdf.com/reader/full/vigiar-e-punir-wikipedia 7/7
vigilância não é (momentaneamente) praticada. Portanto, a prisão, especialmente se
veste o paradigma do pan-óptico, oferece a forma ideal de punição moderna. Segundo
Foucault, este é o motivo pelo qual a punição generalizada, “gentil”, das cor rentes e
trabalhos forçados teve que ceder lugar ao cárcere. Este último era a modernização
ideal da punição, e era, portanto, natural que com o passar do tempo prevalecesse.
Fornecida a demonstração lógica do triunfo da prisão sobre outras formas punitivas,
Foucault dedica o resto do seu livro ao exame preciso da sua forma e função na nossa
sociedade, para por às claras as razões do seu uso continuo, e para analisar os
supostos efeitos de tal emprego.
[editar]Prisão
Ao examinar a construção da prisão como meio central da punição criminal, Foucault
cria uma moldura à idéia que a prisão tenha se tornado parte de um mais amplo“sistema carcerário”, que tornou-se uma instituição soberana – que tudo hegemoniza
– na sociedade moderna. A prisão pertence a uma rede mais vasta, compreendendo
escolas, instituições militares, hospitais e fábricas, que materializa uma sociedade pan-
óptica para seus próprios membros.[9] O sistema cria “carreiras disciplinares” para
quem aceita permanecer “na linha” que lhes foram predeterminadas. O
funcionamento de um tal sistema é propiciado pelas autoridades científica da
medicina, psicologia e criminologia. É fundamental o principio que o sistema “não
pode criar outro, senão, delinqüentes”. A delinqüência, com efeito, se produz quando
a micro-criminalidade social (por exemplo, furtar lenha do latifúndio de um grandesenhor) não é mais tolerada, e se cria uma classe de “delinqüentes” especializados que
agem como sub-rogados da policia na vigilância da sociedade