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Vigiar e punir (em francês: Surveiller et Punir: Naissance de la prison) é um livro do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tida como uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças que se produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicado à análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais (hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses, mas as questões sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma obra seminal que teve grande influência em intelectuais, políticos, activistas sociais e artistas. Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a  prisão é uma forma humanista de cumprir pena, assinalando seis princípios sobre os quais assenta o novo poder de castigar:  Regra da quantidade mínima  Regra da idealidade suficiente  Regra dos efeitos (co)laterais  Regra da certeza perfeita  Regra da verdade comum  Regra da especificação ideal A partir destas, o delinquente pode ser definido em oposição ao cidadão normal, primeiro como louco, depois como meliante, malvado, e finalmente como anormal. O livro tem quatro partes, intituladas "Suplício", "Punição", "Disciplina" e "Prisão". VOGIAR: accion y o acciones que se realizan a un costado de el voga Primeira Parte: Suplício I. O corpo dos condenados II. A ostentação dos suplícios Segunda Parte: Punição I. A punição generalizada II. A mitigação das penas Terceira Parte: Disciplina I. Os corpos doceis

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7/31/2019 Vigiar e punir Wikipédia

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Vigiar e punir (em francês: Surveiller et Punir: Naissance de la prison) é um livro

do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tida como

uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É

um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças

que se produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicadoà análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais

(hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses, mas as questões

sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma

obra seminal que teve grande influência em intelectuais, políticos, activistas sociais e

artistas.

Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a prisão é uma forma humanista

de cumprir pena, assinalando seis princípios sobre os quais assenta o novo poder de

castigar:

  Regra da quantidade mínima

  Regra da idealidade suficiente

  Regra dos efeitos (co)laterais

  Regra da certeza perfeita

  Regra da verdade comum

  Regra da especificação ideal

A partir destas, o delinquente pode ser definido em oposição ao cidadão normal,

primeiro como louco, depois como meliante, malvado, e finalmente como anormal.

O livro tem quatro partes, intituladas "Suplício", "Punição", "Disciplina" e "Prisão".

VOGIAR: accion y o acciones que se realizan a un costado de el voga

Primeira Parte: Suplício 

I. O corpo dos condenados

II. A ostentação dos suplícios

Segunda Parte: Punição 

I. A punição generalizada

II. A mitigação das penas

Terceira Parte: Disciplina 

I. Os corpos doceis

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A arte das distribuições

O controle da atividade

A organização das gêneses

A composição das forças

II. Os recursos para o bom adestramento

A vigilância hierárquica

A sanção normalizadora

O Exame

III. O panoptismo

Quarta Parte: Prisão 

I. Instituições completas e austeras

II. Ilegalidade e delinqüência

III. O carcerário

[editar]Detalhadamente

[editar]Suplício

Foucault inicia o livro expondo o contraste entre duas formas de punição:

1.  O suplício público, violênto e caótico, de Robert François Damiens, condenado

por (tentativa de) regicídio[1], contra Luís XV de França, no final do século XVIII;

2.  a pontual programação diária prevista para os internos em uma prisão do inicio

do século XIX. 

Este exemplos contrastam vividamente as vastas mudanças em menos de um séculonos sistemas penais ocidentais. O autor nos impulsiona a interrogar sobre quais seriam

os motivos de transformações tão radicais.

A resposta é procurada em um exame da tortura pública em si. Sustenta o autor que

este tipo de espetáculo constituía um tipo de “teatro em praça pública” que

correspondia à diversas funções e efeitos (desejados e indesejados) na sociedade.

 As funções desejadas eram:

  Refletir a violência do delito sobre o corpo do condenado, à vista de todos;

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  Por em ato a vingança do soberano – lesado pelo crime (apenas idealmente, e

excluso o caso do regicìdio)  – sobre o corpo do culpado. A tese de Foucault é

que a lei era considerada uma extensão do corpo do soberano, portanto era

totalmente lógico que a vingança encarnasse na violação da integridade física

(corpo) do condenado.

 Alguns dos “efeitos colaterais” (naturalmente indesejados) eram:

  Fornecer ao corpo do condenado um palco cênico sobre o qual receber

simpatia e admiração;

  Transformar o corpo do condenado em um "campo de batalha" entre

a massa e o soberano. O autor observa , a propósito, que muitas vezes as

execuções terminavam em tumultos em apoio ao condenado.

Portanto, conclui Foucault, a execução pública se revelava improdutiva e anti-

econômica. Além disso essa era aplicada em modo heterogêneo, irracional e quase

casual. Conseqüentemente o seu custo político era muito alto. Era a antítese dos mais

modernos interesses do Estado: ordem e generalização.

[editar]Punição

A passagem para a prisão não foi imediato. Houve uma mutação gradual, ainda que

relativamente rápida. A prisão foi precedida historicamente por uma forma diferentede espetáculo público. O teatro do suplício público cedeu seu lugar a acorrentados

condenados a trabalhos forçados. A punição torna-se “gentil”, mas não por motivos

humanitários, segundo a tese já antecipada por Foucault. Ele afirma que os reformistas

estavam insatisfeitos com a natureza imprevisível e iniquamente distribuída da

violência do soberano sobre o corpo do condenado. Uma maior racionalização de todo

este “processo produtivo”[2] era desejada pelos reformistas, também com relação ao

princípio que o poder do Estado deva (pelo menos deveria) ser uma forma de poder

público. Para Foucault, tudo isto concernia mais à paixões dos reformistas do que aos

argumentos humanitários.

Além desse movimento em direção à punição generalizada, teriam sido criados

milhares de “mini-teatros” de punição nos quais os corpos dos condenados teriam sido

expostos em espetáculos ubíquos, controlados e eficazes. Os prisioneiros teriam sido

obrigados a desempenhar trabalhos que refletiam os seus crimes, de certo modo

prestando à sociedade uma reparação pelos danos causados. Isto teria permitido ao

público ver os condenados cumprindo suas condenações e assim refletir sobre os

crimes cometidos. Mas estas experiências duraram menos de vinte anos.

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Foucault sustenta que esta teoria da punição “gentil” representou o primeiro

distanciamento da excessiva força do soberano, em direção a meios de punição mais

generalizados e controlados. Porém, sugere que a mudança em direção à prisão que se

seguiu foi o resultado de uma nova “tecnologia” e ontologia voltada ao corpo que teria

sido desenvolvida no século XVIII: a tecnologia da disciplina e a ontologia do “homemcomo máquina”. 

No plano mais estritamente sócio-político, o autor parece sugerir claramente a tese

que a reforma do sistema penal (quase contemporânea à  revolução Francesa) esteja a

serviço dos interesse da classe burguesa que  – não por acaso  – está afirmando seu

crescente papel hegemônico naquela época. Há um modo diverso de reprimir

firmemente a violação dos bens (típico da plebe, principalmente nas suas formas

marginais: furtos, roubos, homicídios) respeito a violação dos direitos (típico da casta

burguesa: estelionatos, corrupção e símiles):

Um sistema penal deve

ser concebido como um

instrumento para gerir 

diferencialmente as

ilegalidades, não para

suprimi-las a todas[3] 

— Michel

Foucault,Vigiar 

e Punir  

[editar]A nova “linguagem” do punir 

Entre as páginas 90 e a 99, o autor enuncia uma espécie de “decálogo”

("Semiotécnica", com o qual reformadores tentam influenciar com eficácia universal os

comportamentos sociais)[4] da política criminal, interessante pela sua evidente

atualidade, mesmo no contexto contemporâneo[5]: 

  Regra da quantidade mínima: visto que a pena deve ter um efeito preventivo, é

oportuno que esta porte ao culpado um dano apenas um pouco maior da

vantagem que o réu tenta conseguir com o delito.

  Regra da idealidade suficiente: Segundo as novas idéias, não é mais o caso de

sustentar o suplício, porque é melhor mostrar a idéia (imagem mental) da

pena, ao invés que sua escarnação sobre o corpo do condenado.

  Regra dos efeitos (co)laterais: a pena deve produzir o próprio efeito de

“prevenção geral” sobretudo em confronto de quem não cometeu o delito (se

chega ao paradoxo de afirmar que  – se si fosse seguro que o culpado não

recaísse mais na própria conduta  – seria suficiente convencer aos outros que

ele tenha sido realmente punido, e a pena efetiva não seria nem mesmo

necessária).

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  Regra da certeza perfeita: É aquilo que os juristas chamam “certeza da pena”:

quem erra, deve saber preventivamente que será quase que certamente

punido, e oportunamente seria, por outro lado, abolido o poder de graça,

tradicionalmente reivindicado pelos soberanos.

  Regra da verdade comum: abandono das provas legais, a repulsa à tortura,

necessidade de uma demonstração lógica da existência do delito,

estruturalmente análoga à metodologia da demonstração matemática.

  Regra da especificação ideal : “É então necessário um código, e que seja

suficientemente preciso para que cada tipo de infração possa estar claramente

 presente nele.”[6] 

[editar]Disciplina

Segundo Foucault, o afirmar-se da prisão como forma generalizada de sanção para

todo tipo de crime é resultado do desenvolvimento da disciplina registrado nos séculos

XVIII e XIX. As analises do autor se voltam a criação de formas particularmente

refinadas de disciplina, tendo como objeto os mais pequenos e detalhados aspectos do

corpo de cada pessoa. Sugere também a idéia que a disciplina tenha gerado uma nova

economia e uma nova política dos corpos. As instituições modernas pediam que os

corpos fossem individualizados segundo os seus escopos, e também para o

adestramento, a observação e o controle. Portanto, sustenta, a disciplina criou uma

forma de individualidade totalmente nova para os corpos, que lhes permitiu adimplir o

dever nas formas das organizações econômicas, políticas e militares que emergiam na

idade moderna e ainda continuam.

Esta disciplina das individualidades constrói para os corpos que controla quatro

características, e constrói por reflexo uma individualidade que é:

  Celular – determina a distribuição espacial dos corpos;

  Orgânica  – assegura que as atividades requeridas para os corpos sejam

“naturais” para eles;

  Genética – controla a evolução no tempo da atividade dos corpos;

  Combinatória – faz com que a força combinada de mais corpos si fundam em

uma força de massa.

Foucault sugere que esta individualidade possa ser integrada em sistemas oficialmente

igualitários, mas que utilizam a disciplina pra construir relações de poder desiguais. 

“ Historicamente, o processo pelo qual a burguesia se tornou no decorrer do século XVIII

a classe politicamente dominante, abrigou-se atrás da instalação de um quadro jurídico explícito, codificado, formalmente igualitário , e através da organização de um

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regime de tipo parlamentar representativo. Mas o desenvolvimento e a generalização

dos dispositivos disciplinares constituíram a outra vertente, obscura, desse processo. A

 forma jurídica geral que garantia um sistema de direitos em princípio igualitários era

sustentada por esses mecanismos miúdos, cotidianos e físicos, por  todos esses

sistemas de micropoder essencialmente inigualitários e assimétricos que constituemas disciplinas”. 

O Pan-óptico , metáfora e pesadelo da escuta-vigilância .

Segundo o autor, a disciplina cria “corpos dóceis”, ideais para as exigências modernas

em questões de economia, política, guerra  – corpos funcionais em fábrica, nosordenamentos regimentais, nas classes escolásticas. Mas, para construir corpos dóceis,

as instituições que promovem a disciplina devem conseguir:

1.  Observar e registrar os corpos que controlam;

2.  Garantir a interiorização da individualidade disciplinar nos corpos que são

controlados.

Ou seja: a disciplina deve impor-se sem uma força excessiva, através de uma atenta

observação, e graças a tais observações os corpos si forjam na forma correta. Distoderiva a necessidade de uma peculiar forma de instituição que  – segundo – Foucault é

bem exemplificada pelo Pan-óptico de Jeremy Bentham. 

O Pan-óptico era a suma encarnação de uma moderna instituição disciplinar. Consentia

uma constante observação caracteriza pela “vista desigual”. Efetivamente, talvez a

mais importante característica do Pan-óptico resida em seu design[8], graças à qual o

recluso não poderia nunca saber quando (e se) efetivamente era observado. De tal

forma a “vista desigual” determinava a interiorização da individualidade disciplinar, e o

corpo dócil requerido pelos internados. Isto quer dizer que se é menos induzido a

transgredir leis ou regras se se acredita observado, mesmo quando na realidade a

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vigilância não é (momentaneamente) praticada. Portanto, a prisão, especialmente se

veste o paradigma do pan-óptico, oferece a forma ideal de punição moderna. Segundo

Foucault, este é o motivo pelo qual a punição generalizada, “gentil”, das cor rentes e

trabalhos forçados teve que ceder lugar ao cárcere. Este último era a modernização

ideal da punição, e era, portanto, natural que com o passar do tempo prevalecesse.

Fornecida a demonstração lógica do triunfo da prisão sobre outras formas punitivas,

Foucault dedica o resto do seu livro ao exame preciso da sua forma e função na nossa

sociedade, para por às claras as razões do seu uso continuo, e para analisar os

supostos efeitos de tal emprego.

[editar]Prisão

Ao examinar a construção da prisão como meio central da punição criminal, Foucault

cria uma moldura à idéia que a prisão tenha se tornado parte de um mais amplo“sistema carcerário”, que tornou-se uma instituição soberana – que tudo hegemoniza

 – na sociedade moderna. A prisão pertence a uma rede mais vasta, compreendendo

escolas, instituições militares, hospitais e fábricas, que materializa uma sociedade pan-

óptica para seus próprios membros.[9] O sistema cria “carreiras disciplinares” para

quem aceita permanecer “na linha” que lhes foram predeterminadas. O

funcionamento de um tal sistema é propiciado pelas autoridades científica da

medicina, psicologia e criminologia. É fundamental o principio que o sistema “não

pode criar outro, senão, delinqüentes”. A delinqüência, com efeito, se produz quando

a micro-criminalidade social (por exemplo, furtar lenha do latifúndio de um grandesenhor) não é mais tolerada, e se cria uma classe de “delinqüentes” especializados que

agem como sub-rogados da policia na vigilância da sociedade