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Seminário A Tributação das Telecomunicações na Era da Economia Digital
Realização: Secretaria Estadual de Fazenda
Patrocínio: Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID
Moderação: Flávia Oliveira
Abertura: Flávia Oliveira convoca os participantes para compor a mesa de abertura
Vice-governador - Francisco Dorneles
Secretário de Estado de Fazenda - Julio Bueno
Presidente da Anatel - João Rezende
Presidente da Febratel – Eduardo Levy
Superintendente de Receita Federal – Marcus Vinícius Vidal Pontes
Vice-presidente da Firjan – Antônio Cesar Berenguer
Flávia Oliveira dá a palavra aos participantes
Antônio Cesar Berenguer, vice-presidente da Firjan – Bom dia a todos. Eu queria
elogiar a iniciativa da Secretaria de Fazenda em fazer este evento extremamente
oportuno, tratando de um tema que é a infraestrutura que mais cresce hoje, e é a mais
importante. Trata-se do tráfego de dados e da velocidade da informação, que são a
infraestrutura com a qual os países têm se destacado e crescido enormemente e,
como o secretário vinha dizendo, perdendo receita com o enorme crescimento. É uma
incongruência, mas é o cenário atual.
Nós sabemos que as empresas e o mercado dependem desse tráfego de informação
e de dados. Sabemos da importância desse tema, e esse é um grande desafio a
vencer. Quem melhor pode fazer o tráfego de dados e de informação são as empresas
e o mercado. Todos nós vivemos disso. Então eu elogio a iniciativa e tenho certeza de
que o seminário será um sucesso e espero que, daqui, possamos ter melhores
conclusões e melhores receitas para o estado, sem que isso nos onere ainda mais.
Marcus Vinícius Vidal Pontes, superintendente de Receita Federal – Bom dia a
todos. Gostaria de agradecer o convite e trazer uma informação interessante quanto à
tributação voltada para as empresas que atuam na economia digital. Há dois anos, o
Brasil, e, mais especificamente, a Receita Federal, começou a discutir, no âmbito dos
países do G-20 e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), uma política e um alinhamento internacional para o combate à erosão da
base tributária de empresas que atuam transnacionalmente.
Uma das vertentes do Projeto BEPS (Base Erosion and Profits Shifting) - acrônimo de
Combate à Erosão da Base Tributária e à Transferência de Lucro para o Exterior -, é
justamente a economia digital e toda a sua amplitude. Diversos estudos foram feitos.
Na verdade, o projeto já se encerrou, em setembro de 2015, e vai se transformar num
tratado internacional que alterará todos os acordos tributários internacionais. Uma das
vertentes é a economia digital e discutiu-se muito tanto a tributação direta quanto a
indireta de empresas estrangeiras, ou não residentes, que atuam nos mercados numa
situação de competição diferente. A discussão foi muito interessante. Ainda há muito a
se evoluir nessa área de economia digital, os interesses econômicos são muito
grandes.
A Receita Federal está consciente desse problema da economia digital e a competição
desigual entre as empresas e continua discutindo, em diversos fóruns, a melhor forma
de tributar de uma maneira mais justa as operações de todos os atores.
Eduardo Levy, presidente da Febratel – Bom dia a todos. Eu conheço o amigo
Dorneles há 30 anos e esta é a primeira vez em que tenho a oportunidade de, ao
participar de uma abertura, fazer a saudação a todos em nome dele e aproveitar para
agradecer a forma atenciosa e o apoio que ele sempre nos deu. Represento a
Federação Brasileira de Telecomunicações, que reúne dez sindicatos envolvendo toda
a categoria de telecomunicações no Brasil, aquela que, efetivamente, recolhe os
impostos. Somos absolutamente essenciais para o mundo de hoje e somos
insubstituíveis, não há ninguém que possa substituir naquilo que que fazemos. E mais
que isso, o uso de nossos serviços faz com que as economias possam realizar as
suas missões de forma mais barata, rápida e ativa.
Esse setor no Brasil, com o que compra de insumos, de ativos, que trabalha, e com os
500 mil empregos que tem, gera uma riqueza fantástica que é distribuída aos seus
empregados, acionistas e àqueles que nos prestam serviços. Mas 59% da riqueza
distribuída, é distribuída para os governos, que não têm riscos no seu recolhimento.
Isso é absolutamente irracional se nós observarmos sob o ponto de vista do trabalho.
Além disso, na prestação direta de um serviço, nós recolhemos 43% de impostos.
Quem tiver uma conta de telefone de R$ 143, R$ 100 é o serviço e R$ 43 é o imposto.
O vice-governador Dorneles é mineiro e conhece bem a história da Inconfidência
Mineira e do “quinto dos infernos”, que eram os 20% dos impostos cobrados pela
coroa portuguesa, um quinto. Os 43% são mais do que dois “quintos dos infernos”.
Nós precisamos encontrar uma forma de atender à necessidade dos estados de obter
recursos para fazer frente às suas despesas, que são absolutamente obrigatórias, e
uma das fontes principais são os impostos. E nós, telecomunicações, somos um dos
três maiores arrecadadores de ICMS do estado. Mas se formos olhar a iniciativa de
alguns estados de aumentar em 50% o ICMS da TV por assinatura, eu diria que eles
estariam neste momento atendendo os reclames do Netflix, que não paga
absolutamente nenhum imposto. Então quem aumentar em 50% o ICMS de uma TV
por assinatura está dizendo para o cliente: “Saia da TV por assinatura e vá para o
Netflix”. É um movimento de uma certa forma meio esquizofrênico aumentar o imposto
daquele que você tem oportunidade de recolher, fazendo com que o cliente tenha a
opção de buscar outro serviço. É exatamente isso que vai acontecer, de uma forma ou
de outra, se não se encontrar uma maneira sábia de se tributar, no futuro, essa
tecnologia digital.
Nós, empresas de telecomunicações, estamos sofrendo muito com a migração dos
nossos serviços que dão acréscimos de receitas, para serviços que são comprados
por mês. Nós prestamos um serviço de dados por um valor mensal, e todos os
serviços que são criados agora em cima dessa plataforma de dados retira e não
acrescenta nenhuma receita daquilo que é tarifado e tributado.
É importante termos uma discussão profunda sobre isso, porque também somos, do
lado da economia, o setor que mais rapidamente consegue responder, não por sua
capacidade financeira, ou qualidade de mão de obra, nada disso, e sim porque a
natureza do setor faz com que o estímulo ao investimento faz com que ele se
transforme em receita em meses. Quando um determinado estado ou município assina
uma legislação em que permite que a implantação de uma estação radio-base seja
feita de uma forma mais rápida, mais barata e etc, em três ou quatro meses, são
colocadas ali as estações radio-bases, que estavam represadas há anos, e que
passam a gerar a receita adicional e melhor qualidade do serviço para a população.
Então, é muito importante essa discussão e gostaríamos que nós conseguíssemos
chegar a tal ponto no país que nós pudéssemos destravar o desenvolvimento.
Estamos tendo perda de clientes, dificuldade de obter receitas, crescimento dos
custos, pois os maiores insumos que temos é energia elétrica e a compra de
equipamentos é em dólar. A consequência, como estamos vendo em nossos
relatórios, é a redução da arrecadação dos impostos. Esse evento vem numa hora
espetacular, porque a situação econômica do país pede por isso. E a situação das
empresas também pede por isso.
João Rezende, presidente da Anatel – Bom dia a todos. Queria saldar o vice-
governador Francisco Dorneles, que é também um especialista na área tributária e
conhece todos os embates sobre o tema no Congresso. Esse debate eu considero
fundamental para o país. Nós temos uma perspectiva importante: o setor de telecom
corresponde a 4% do Produto Interno Bruto e, em relação às outras infraestruturas,
tem puxado o crescimento dessa área.
A questão tributária é uma questão extremamente importante de ser tratada, porque
nós temos de inserir a pauta do desenvolvimento econômico. Isso se insere, no caso
de um estado importante como o Rio de Janeiro, num debate mais amplo de uma
reforma tributária no Congresso Nacional. É fundamental que tenhamos uma pauta
para isso, porque não dá para imaginar que a Receita Federal, ao tributar, possa
engessar a inovação tecnológica. Essa é a grande preocupação do país. Nós tivemos
medidas em outros tempos, por exemplo, como a Reserva de Informática, que atrasou
o país em algumas décadas.
Então é importantíssimo que nós déssemos uma boa olhada nessa questão da
economia tradicional versus economia digital. Olhando os avanços e de que forma
como conseguiremos fazer uma reforma tributária coerente, atendendo os anseios.
Agora, de fato, se nós olharmos para o mundo de carga tributária – ICMS, PIS e
Cofins – sobre uma fatura de telefone, o Brasil só é comparável à Cingapura. Em
alguns estados, a tributação chega a 50% e aí, evidentemente, quanto mais caro a
telefonia, mas difícil o cidadão gastar , menor a arrecadação e mais difícil o
investimento.
Então, é preciso pensar com muita parcimônia, viu Levy? Não dá para imaginarmos
que vamos discutir uma tributação da economia nova e da economia moderna nos
patamares da economia tradicional. Isso seria um desastre para o desenvolvimento
tecnológico e econômico do país.
Julio Bueno, secretário de Estado de Fazenda – Bom dia a todos. Esse seminário
surgiu de uma discussão que a gente tem feito, ao longo do tempo, nesses nove
meses como secretário de fazenda, da análise dos dados que a gente faz,
periodicamente, e o entendimento de que as receitas das telecomunicações vêm
caindo. Como qualquer secretário de fazenda, a sanha arrecadadora sempre faz com
que a gente queira elevar o imposto. Mas o governador é diferente, disse: “Não vamos
aumentar imposto”. Secretário de fazenda nunca presta (risos), falo isso com
tranquilidade, porque fui secretário de desenvolvimento econômico durante oito anos
no Rio. Agora desselado aqui, no qual temos de arranjar recursos, a motivação para
aumentar tributos é mais forte. É evidente que temos uma questão a ser discutida no
setor de telecomunicações. Aumentar imposto nem sempre é a coisa mais importante.
O governador nos colocou essa questão: o que podemos fazer para retomar a
arrecadação? E, mais que isso, entender o que está acontecendo. Vi um dado
impressionante na revista The Economist: as operadoras internacionais de
telecomunicações cobraram 450 bilhões de minutos de ligações internacionais em
2014. O Skype teve 250 bilhões. Já, já, o Skype vai passar as operadoras.
Então temos, portanto, uma questão contemporânea. Os estados precisam arrecadar,
mas há movimentos tecnológicos acontecendo, e a gente precisa discutir o que fazer.
Como a gente faz para ter uma simetria competitiva? Hoje temos uma assimetria com
o Skype, Netflix e WhatsApp.
Portanto - concordando com o governador Pezão, com o Levy da Febratel e o
presidente da Anatel - não dá para aumentar tributos impunemente. A gente precisa
fazer uma discussão com o setor e entender qual a melhor forma. Então esse
seminário tem esse objetivo. Também queria agradecer ao BID. Espero que a gente
tenha discussões que a gente possa aparar e até ter sugestões de como podemos
fazer a tributação nesse novo paradigma.
Francisco Dorneles, vice-governador – Eu quero cumprimentar o secretário Julio
Bueno pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo à frente da secretaria.
Gostaria de cumprimenta-lo pela excelente iniciativa para discutir a tributação das
telecomunicações e todas as modificações que vêm ocorrendo e desejar a todos um
grande seminário. E que cheguemos a uma conclusão sobre uma matéria
extremamente complexa.
Flávia Oliveira agradece a participação de todos na abertura e pede que todos retomem seus lugares na plateia. E convoca o secretário Julio Bueno para a apresentação da primeira palestra do dia:
“As telecomunicações e o ICMS no Rio de Janeiro, desempenho da arrecadação do estado”
Julio Bueno – Eu separei alguns dados sobre o Rio de Janeiro e, evidentemente, eu
não poderia deixar de falar da questão fiscal do Rio. A imprensa aqui vai ficar satisfeita
que a gente fale sobre isso e divida e mostre as nossas agruras. No cenário
econômico, a gente passa por uma depressão importante no Brasil. Há a perspectiva
de menos 3% no PIB este ano. Para 2016 a projeção é de menos 1%, mas a
expectativa, infelizmente, é pior, também da ordem de 3%.
O Rio de Janeiro sofre mais profundamente que a maioria dos estados brasileiros. Em
primeiro lugar, por conta da desaceleração econômica. Toda a questão macro
econômica afeta o estado, o Rio não é uma ilha: todas as vezes em que há
desaceleração econômica em certas indústrias – hoje eu vi, por exemplo, uma notícia
de que a siderurgia está demitindo e o Rio tem o maior parque siderúrgico; as
montadoras demitindo, os estaleiros demitindo –, evidentemente, isso se reflete na
arrecadação do Rio de janeiro. Em segundo lugar, os preços do barril do petróleo
caíram. E em terceiro, o efeito Petrobras e da retração da empresa se refletem
fortemente na economia do Rio de Janeiro, que é a capital da energia.
Aqui estão as projeções de royalties e participações especiais: tivemos uma queda, de
2014 para 2015, de um montante de quase R$ 9 bilhões para R$ 6 bilhões - e nem vai
dar R$ 6 bilhões, vai dar menos. Só aí perdemos cerca de R$ 3,5 bilhões de
arrecadação em royalties e participações especiais. Aqui a arrecadação desabando.
Em outubro de 2014, tivemos R$ 3,1 bilhões, em outubro de 2015 R$ 2,9 bilhões,
menos 16% de arrecadação.
Isso após um período absolutamente exitoso. De 2007 a 2014, a arrecadação de
ICMS cresceu 7% ao ano real. E não tem jeito, todas as projeções orçamentárias
levam em consideração o passado recente. As projeções para 2015 levavam em conta
o crescimento da arrecadação.
O ICMS de Janeiro a outubro de 2015: observe a quantidade de números abaixo da
linha horizontal, o que mostra a queda. Aqui a arrecadação das telecomunicações: em
2010 a participação das telecomunicações na arrecadação era de quase 17%. Hoje é
de 13,4%. Observe que o valor nominal também vem caindo: em agosto de 2104, era
R$ 3,935 bilhões. E não é uma característica do Rio, mas de todos os estados da
federação.
Tem um fato também importante: se pegarmos a receita total de ICMS do Rio de
Janeiro e dividirmos pelo PIB total do estado a gente vai ver que é da ordem de 5,5%.
Se compararmos com São Paulo é 7,4%, ou Minas, 7,6%. Ou seja, temos uma
arrecadação do ICMS menor do que os estados com os quais nós podemos nos
comparar. Por que isso? Por causa do petróleo, que é taxado no destino e não na
origem. E o petróleo tem um peso muito importante para o nosso PIB.
Isso implica que a Secretaria de Fazenda do Rio seja sempre compelida a pensar em
aumentar tributos que a gente sabe que é de arrecadação certa, como o de
telecomunicações. É importante que a gente entenda isso. A arrecadação de ICMS do
Rio é mais baixa do que de outros estados da federação porque o petróleo é taxado
no destino.
Uma tese que também eu defendo, dada a importância e a qualificação da matéria, é
que há uma maneira de a gente resolver o problema da complicação de imposto no
Brasil. Especialmente o imposto de valor adicionado, como o ICMS, que é sempre
complicado. Todo imposto de valor adicionado deveria ser taxado no destino. Quando
se fizer isso, estará tudo resolvido no Brasil.
Essa reflexão eu faço sempre nas matérias, para que a gente faça um proselitismo a
favor do Rio de Janeiro, que é um estado importador. Mas, enfim, a explicação para o
fato de o secretário de fazenda ser compelido a lutar pelo aumento de tributos é que a
carga tributária efetiva do Rio de Janeiro acaba sendo menor que a carga tributária de
outros estados.
Aqui está a agrura do estado. Esses são números do início do ano. O Estado tinha
uma previsão de arrecadação, já ajustada em 2015, de R$ 53 bilhões e tinha de
despesa total R$ 66 bilhões. O que dava uma necessidade de se obter receitas
extraordinárias de R$ 13 bilhões. Fizemos R$ 12 bilhões. Só que, como as receitas
caíram fortemente, o buraco hoje é de R$ 4 bilhões, R$ 16 bilhões no total. Isso é para
entenderem a dificuldade e a importância, e por que o secretário de fazenda é a favor
de aumentar o imposto de telecomunicações. É brincadeira (risos).
O Governador Pezão tem sido o campão de aumentar receitas extraordinárias,
fazendo coisas absolutamente impensáveis quando a gente começou. Um exemplo é
a liberação de depósitos judiciais administrativos ou não tributários, com o qual
conseguimos entre R$ 6,5 bilhões e R$ 7 bilhões. Também negociação de débitos
com contribuintes. Não sou fazendário, sou peladeiro na fazenda. O que me
surpreendeu muito é a cultura fazendária de pouco diálogo com o contribuinte. Por
meio da negociação, abrimos esse viés de negociar diretamente com os contribuintes
e fomos bem-sucedidos. o que nos permitiu gerar uma arrecadação importante. Houve
outras ações como securitização da dívida ativa, seção de débitos e direitos
creditórios.
Na verdade, temos feito um monte de medidas de obtenção de receitas extraordinárias
não recorrentes, num quadro de extrema dificuldade, em que o ímpeto inicial é
aumentar tributos. Telecomunicações, portanto, é importante a gente discutir, por
conta da queda da arrecadação. E, evidentemente, o mundo digital só aumenta a sua
atividade e a gente precisa discutir como se tributa de maneira que os estados possam
pagar bombeiro, polícia, hospital, e essas coisas que são fundamentais.
Flávia Oliveira inicia o primeiro painel da manhã:
“O mercado de Telecomunicações, visão de Futuro”.
Participantes:
João Rezende, presidente da Anatel
Leonardo Costa – auditor fiscal da receita estadual do Rio e especialista da Fundação Getúlio Vargas.
João Rezende, presidente da Anatel – Vou fazer uma reflexão sobre o futuro do
mercado de telecomunicações, mas também apontando oportunidades. Eu acho que o
estado do Rio de Janeiro também tem a oportunidade de fazer avançar essa
infraestrutura, que é importante para o desenvolvimento e as pessoas. E também
entendendo as necessidades e os desafios que tem um secretário de fazenda de um
estado importante como o Rio de Janeiro para equilibrar suas receitas e buscar arcar
com compromissos que são necessários. As demandas também são sempre
crescentes e, evidentemente, as pressões no caixa são sempre muito grandes.
Iniciando aqui um panorama, muito rapidamente, vamos fazer um diagnóstico do setor.
É importante dizer que, hoje, em todos os setores de telecomunicações, nós temos um
grau razoável de competição importante, tanto na telefonia fixa, na TV e
especialmente no serviço móvel é mais presente, pois é o segmento mais dinâmico de
telecomunicações. Mas, se nós olharmos a telefonia fixa, há muito tempo temos um
cenário de estagnação. O serviço de voz tradicional perde de 8% a 10% de minutos ao
ano no mundo inteiro. Há uma migração muito grande para dados. Se nós olharmos
para banda larga fixa, temos, no Brasil, 66 milhões de domicílios; se somarmos os
estabelecimentos comerciais, ultrapassa 90 milhões de estabelecimentos. E temos 25
milhões de assinantes de banda larga fixa. É evidente que este número também segue
nossos indicadores de desigualdade regional. Existe uma penetração maior da banda
larga no Sul e uma bem menor no Norte/Nordeste.
Temos então um mercado gigante para o crescimento da banda larga fixa, assim
como da TV por assinatura. O Levy falou da questão da Netflix, é verdade: os vídeos
sob demanda estão pressionando o modelo tradicional da TV por assinatura. Isso está
acontecendo também nos EUA, as pessoas estão trocando os pacotes de 200 canais
– e aqui vai uma crítica: ninguém assiste a 200 canais. Mas, mesmo assim, ainda
existe um grande potencial de expansão no segmento de TV por assinatura, talvez
num modelo diferente.
No serviço móvel, temos cinco empresas competindo no mercado, mais duas
empresas regionais. Existe um grau de competição importante, e, para a Anatel, é
importante que haja competição, pois isso tem impactos importantes no processo
inflacionário. Se nós olharmos para um fato que o secretário de fazendo está
preocupado, de 2012 a 2015, o crescimento do tráfego de dados foi de 272%. É um
crescimento exponencial, comparado com a redução do volume de SMS que,
evidentemente, está sendo substituído pelo WhatsApp, por exemplo.
As empresas reclamam bastante do WhatsApp, mas eu tenho uma visão diferente,
pois o usuário paga dados ao utilizar o WhatsApp. O único serviço que a Anatel
controla preço é telefonia fixa. Nem celular, nem dados, nem TV por assinatura, a
Anatel fixa preços. Então, se existe um problema de rentabilidade dos dados é do
modelo de negócios das empresas e não pelo modelo regulatório.
Um amigo meu contou que quando surgiu o carro, em Londres, os cocheiros ficaram
muito preocupados, então foi feita uma lei determinando que as pessoas poderiam
usar carros, desde que tivesse uma pessoa que fosse na frente sinalizando. O que
quer dizer que a economia, com seu dinamismo, está sempre substituindo a economia
tradicional. Se nós olharmos o surgimento da mensagem no celular, que também não
foi regulada, quebrou um segmento inteiro, que eram as empresas de pager. As
empresas têm de se preparar para este cenário de mudança permanente na forma de
comunicação.
Se nós olharmos outro dado que acho fundamental, falando um pouco de demanda e
investimentos, evidentemente, hoje, a demanda cresce e pressiona os investimentos,
porque cresce o número de usuários da internet, aumenta a penetração e a base de
clientes. Existe uma transformação no uso, não é mais apenas o computador: o
grande desejo do usuário hoje é a internet no celular. Existe o crescimento no número
de dispositivos e aplicativos que circulam na internet, que provoca uma pressão
natural sobre a infraestrutura.
Então, as empresas têm de buscar prever essa pressão constante e aumentar a
capacidade, além da questão da segurança e da quebra de privacidade. É preciso
ampliar o espectro, e a Anatel tem feito isso constantemente. Fizemos o leilão da faixa
de 700 Mhz. Agora, estamos fazendo outro leilão para ampliar infraestrutura porque
existem uma demanda crescente por transmissão de dados. É preciso haver redes
robustas e inteligentes, com capacidade e segurança. E a empresa que não estiver
investindo em capacidade e qualidade, certamente terá problemas.
Outra coisa que a Anatel se preocupa, e o setor reclama, é a qualidade, que é um
quesito que não há como abrir mão: o cidadão quer o serviço e quer com qualidade e
a preço adequado. Em 2012, tivemos uma paralisação de comercialização por conta
de estrangulamento de rede. Havia, de fato, um aumento do tráfego de dados e as
empresas não se prepararam para os investimentos. Hoje achamos que tem havido
uma melhora positiva; inclusive muitas prefeituras ajudando a liberar licenças mais
rápidas de antenas e sites. Sabemos da dificuldade de as vezes passar uma fibra na
cidade. Se não tivermos infraestrutura, não teremos serviços.
Temos outra coisa importantíssima, que acho que pode ser uma oportunidade de
ampliar a arrecadação, que é a Internet das Coisas. É a comunicação máquina a
máquina, que permite que as seguradoras coloquem um chip nos veículos, ou casas
que permitem ligar e desligar todos os equipamentos. Esse é o cenário do futuro: não
haverá mais praças de pedágio, pois o carro terá um chip e a concessionária da
estrada vai calcular quantos quilômetros o carro andou e vai cobrar o pedágio. Então o
número de aplicativos no futuro, máquina a máquina, com certeza, será um campo
infinito de possibilidades.
Outro ponto importante são as cidades inteligentes. Existe uma defasagem entre os
investimentos do setor público e do setor privado. O Estado é muito bom para
arrecadar: na Receita Federal hoje se entregam 26 milhões de declarações do imposto
de renda. Há uma distribuição de recursos automaticamente para estados e
municípios. Enfim, há uma série de exemplos que mostram que o Brasil tem
capacidade tecnológica na arrecadação e na eleição.
Mas, no outro lado, para o atendimento ao cidadão, ainda estamos distantes. Não há
ninguém aqui que não vê que nós não temos uma rede conectada de postos de
saúde; os semáforos não têm conectividade nenhuma e nem os serviços públicos, de
uma maneira geral. Temos uma defasagem muito grande na área pública no uso da
tecnologia em todos os níveis da federação: União, estados e municípios. Quando
interessa, corre-se atrás: vamos arrecadar. Se é para gastar, ainda aplicamos muito
mal em tecnologia, que poderia servir, inclusive, para reduzir custos de gestão da
máquina pública. Nós temos ainda um caminho muito grande, há vários exemplos, no
mundo, de monitoramento de uma série de processos.
Sobre o mercado máquina a máquina, calcula-se que, no mundo, haverá US$ 600
bilhões de faturamento em 2019. No Brasil, registramos, em julho, 11 milhões de
acessos. E nós não tínhamos uma velocidade maior, porque um celular pagava R$ 27
para ser habilitado e mais R$ 13, por ano, para manter a linha. E o gasto médio de
uma linha pré-paga é de R$ 9. Então gastava-se R$ 40 para manter a linha. Para
fomentar o mercado máquina a máquina, diminuímos a tributação: a taxa de
habilitação caiu de R$ 27 para R$ 5 e a de manutenção caiu de R$ 13 para R$ 8.
Inclusive, o governo federal está de olho nisso também. Nós fizemos um trabalho e
mandamos para o Planejamento e a Fazenda a nossa posição contrária ao aumento
desses valores, porque significa que vai tirar gente do mercado. O mercado do pré-
pago é extremamente sensível, qualquer impacto tributário vai ter problema.
Quando falei, lá atrás, da importância da competição eu falei sobre o impacto na
inflação. Se nós olharmos o IPCA, nos últimos 12 meses, enquanto o IPCA médio foi
9%, o setor de telecomunicações cresceu menos de 1%. De 2012 para cá, são 30%
de inflação e menos de 2% de aumento em telecomunicações, por conta da
competição. Onde tem competição o impacto inflacionário é menor.
Alguém me perguntou há pouco sobre consolidação, eu tenho minhas reservas,
evidentemente, quanto mais competição, melhor para a economia. No setor de
telecom, onde só tem controle de preço na telefonia fixa, nós percebemos que a
competição consegue segurar preços que seriam repassados aos usuários. E se nós
olharmos os preços monitorados, que são acompanhados pelo IBGE, por exemplo,
energia elétrico, houve um crescimento de 54%, telefone fixo redução de 2,6%. Tanto
a Anatel tem agido, como as concessionárias vêm sofrendo a competição das
autorizadas, aqui no Rio deve ter a GVT e a Embratel.
Se olharmos a importância da banda larga no PIB, segundo o Banco Mundial, a cada
10% de investimento no setor de telecomunicações, há 1,3% de incremento no PIB.
Aumenta a produtividade e o crescimento econômico. Muitos países vêm fazendo
investimento não só para incrementar a infraestrutura, mas também para dar um
fôlego à economia.
Agui entra uma questão que eu vou ter que provocar. Se nós olharmos a carga
tributária brasileira, embora eu saiba da agonia do secretário de fazenda, que todo
mês tem de fechar a folha de pagamento. Os estados do Norte e do Nordeste são os
de menor penetração, mas são os que mais cobram ICMS. Somando ICMS, PIS e
Cofins, no Pará a carga tributária é de 50%, no Mato Grosso 55%, Rondônia 63%. Não
há condições de se viver com uma carga tributária desse tamanho.
A última reforma tributária do Brasil foi em 1988. Nós abandonamos a perspectiva de
tributação do patrimônio, por exemplo, mas nenhum país do mundo tem esse
percentual de carga tributária sobre consumo. Se nós não resolvermos numa reforma
tributária ampla, dificilmente vamos sair desse nível. Se olharmos numa comparação
internacional da carga tributária, o Brasil tem uma carga tributária de 43%, em média.
Somos igual a Turquia. China tem 3%, Índia 12%, EUA 17%, Indonésia 10%. Somos
igual a Turquia e menos apenas de Bangladesh, com 50%.
É muito difícil levar desenvolvimento para regiões mais distantes com uma carga
tributária deste tamanho. Infelizmente, tributos indiretos ocorrem em países em
desenvolvimento, preferem tributar o consumo. E quanto menor a renda, mais pesa o
tributo para o cidadão. Nós temos uma dificuldade, que não sei se resolve no curto
prazo. Agora, com um tamanho de carga tributária dessa, fica difícil. Mas,
evidentemente, não culpa dos estados ou da União e sim de todos nós, que não
conseguimos fazer uma reforma tributária desde 1988.
Eu só queria deixar essas mensagens, dizendo que sobre o amplo espectro de
possibilidades e de avanços no setor de telecom. Temos muita coisa para fazer em
termos de infraestrutura no setor, e é evidente que o Brasil precisa pensar sobre sua
carga tributária. Não vou nem discutir a questão da economia digital, pois é preciso
tomar muito cuidado. Se começarmos a tributar nesses patamares as inovações que o
mercado está querendo adotar, vamos acabar engessando esse mercado. Eu acho
que é preferível que nos buscássemos, pelo menos, uma média disso, porque tributar
os pequenos provedores com 25% de ICMS não tem condições. Acho que temos de
buscar uma fórmula na qual os estados possam se sentir mais confortáveis com essa
questão. Mas o aumento seco de qualquer desses serviços com certeza resolve o
problema de curto prazo, mas, no médio prazo, com certeza a arrecadação vai cair.
Telecom é um setor dinâmico, tem o seu processo evolutivo e nós precisamos pensar
numa alteração na carga tributária por meio de uma reforma tributária.
Leonardo Costa, auditor fiscal da receita estadual do Rio e especialista da Fundação Getúlio Vargas – Já com uma pré-compreensão do tema, a questão da
nova economia, das telecomunicações e da tributação é um problema de natureza
multidimensional, e que não tem saída simples. O meu primeiro recado é que as
coisas vão piorar, por uma questão simples que é tecnologia. Ao final da minha
apresentação, isso vai ficar muito claro. Eu procurei segmentar em três subitens. Em
primeiro lugar, voltar um pouco para o passado, porque a gente só pode vislumbrar o
futuro examinando o passado e as características do presente no que se refere aos
planos tecnológico, jurídico e tributário.
Para depois falarmos sobre o fato de que o futuro já bate à porta, que é a internet das
coisas com a interconexão de todo os elementos inclusive com adaptações humanas,
objetos, convergência digital, big data e nuvem. E aí a gente vai ver que não vai ter
como sair de um desafio da era digital: conversar sobre um elemento - que pouco se
fala sobre a tributação, sobretudo do ICMS - que é o marketing e a propaganda e os
valore subjacentes.
Esse é o grande problema que está por trás na discussão quanto à base tributária, que
é uma discussão antiga: se a gente deve priorizar renda, patrimônio ou consumo. Só
existem essas três bases de tributação, e é importante mencionar que a renda é o
substrato primário, ou seja, da renda é extraído o patrimônio e a possibilidade de
tributação do consumo. Sob o ponto de vista econômico, a gente tem dupla, tripla,
quadrupla tributação. Essa é a realidade dos fatos. Quando se tributa patrimônio hoje
com o ITBI, está se tributando renda, que já foi auferida no passado. Então a
discussão sobre a bitributação não se dá do ponto de vista econômico, e sim do ponto
de vista jurídico.
Inicialmente, vou fazer um retorno no tempo. Os Estados lideraram a
internacionalização e fixaram os regimes jurídicos-regulatórios-tributários nacionais e
formularam a multilateralidade. Lembro de um artigo do professor Dorneles, da época
do IGP Tax Program, falando sobre a Liga das Nações, na qual começaram todos os
tratados internacionais. Aqui a gente tinha forças de cada Estado e de cada pais
estabelecendo o seu regime tributário, porque havia pouca influência mesmo nas
economias externas sobre o modelo de tributação nacional. A gente vai ver que isso
não é o que ocorre no mundo de hoje.
Num passo subsequente, as empresas passam a liderar os processos de
globalização. Lideram fragmentando a atividade econômica e domesticando a energia,
que é o principal bem de produção inclusive para telecomunicações, da qual é o
principal insumo. É a domesticação da energia que vai propiciar toda a revolução
tecnológica que nós temos desde que o homem é homem. E essa produção de bens e
serviços passa a não ser apenas local. E isso vai ensejar o grande problema futuro
que a gente vai ter, que está relacionado à fragmentação da atividade econômica, que
passa a ser global. Para participar das cadeias globais, não preciso mais ter todas as
etapas da cadeia produtiva num mesmo Estado ou país, posso descentralizar a
produção.
E os bens e serviços não são mais apenas bens tangíveis como o automóvel, o aço. O
problema é que a gente vem migrando, ao longo do tempo, de uma sociedade dos
tangíveis para os intangíveis e essa migração se dá de uma forma muito interessante.
Quando a gente fala em intangível, tem de pensar primeiro nas patentes, que são os
registros da propriedade intelectual. Num segundo momento, os intangíveis são
associados a bens tangíveis. Imagino uma pessoa que tenha uma camiseta branca
que custe R$ 10. Coloca-se um emblema do Fluminense. Se o símbolo valesse R$ 10,
e se formos ver a conexão do símbolo com a camiseta, teria o valor de R$ 20. No
entanto, quando o intangível (símbolo) se conecta ao tangível (camisa), a camisa vai
valer R$ 200. Então, o mistério do valor na sociedade moderna está na conexão entre
o tangível e o intangível.
Posteriormente, a gente pensa que consegue controlar o intangível separadamente,
mas isso não será mais possível no futuro. Com a impressora 3D, já será possível que
você formalize a produção de um bem na sua própria casa, um bem que foi idealizado
em outro local. Ou seja, o cenário para o futuro é muito mais complexo, pois ele não
diz respeito apenas às dificuldades relacionadas à comunicação ou aos serviços, que
são eminentemente intangíveis. A dificuldade chegará também para a tributação dos
bens tangíveis, porque eles serão desmaterializados e se materializarão nas casas
onde tem uma impressora 3D.
No que se refere ao modelo de negócios há um artigo interessante do início da década
de 70 e 80 “Net heads – Bell heads” que trata do fato de que as telecomunicações no
início era monopólio estatal. Quem tinha dinheiro para montar infraestrutura de
telecomunicações era o Estado. A metodologia que foi inicialmente formulada, tanto do
ponto de vista técnico da engenharia, quanto do ponto de vista do negócio, era
completamente diferente naquele mundo inicial, em que o Estado é que deu o passo
inicial. Então sob o ponto de vista da conectividade, para as empresas de
telecomunicações estabelecerem a comunicação com as empresas e as pessoas, a
operadora mantém uma linha dedicada, para poder bilhetar quanto tempo aquela
pessoa está utilizando-se dessa linha.
Por outro lado, tem os Nethead, que são as pessoas que começaram a formular, com
a revolução da computação, um modelo de criação de redes de diversas
universidades, inicialmente, e depois no que se espalhou a e a gente conhece hoje
como World Wide Web. E a mentalidade é completamente diferente: a arquitetura não
é centralizada, de cima para baixo, com pontos de controle e de facilitação de
bilhetagem. O modelo da internet com TCP/IP é totalmente baseado em pacotes, e aí
não tem como fazer um controle central e a bilhetagem se dá por média, pelo uso
mensal e não por volume.
Aqui está o segundo problema: porque a sociedade quer cada vez mais internet e quer
dar um chega para lá no Estado. Chega de controle. E isso está diretamente
associado com à percepção da sociedade sobre o que é feito com os recursos
arrecadados. E aí está o segundo passo do problema: é impossível, no mundo futuro,
resolver o problema da tributação da base consumo, sem que haja alguma conexão
com a sociedade e a percepção de que a sociedade tem de participar do processo
arrecadatório.
Sob o ponto de vista técnico-tributário, a gente já vai enfrentar esse problema agora,
em janeiro de 2016, com a entrada em vigor da emenda constitucional 87. Isso
porque, toda tributação vai ser feita a retenção na origem, quando o destinatário for
não contribuinte do imposto, só que a atribuição da retenção da arrecadação será no
estado de origem. Só o que, quem garante que, quando chegar este produto no
destinatário, o produto será realmente tributado e será feita a arrecadação?
Talvez uma forma seja partir para uma novidade impensada até hoje, que é atribuir a
responsabilidade solidária ao consumidor final, que, em tese, não tem relação
tributária com o fisco. Isso já é feito de maneira indireta na própria energia elétrica,
quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) admitiu, no contrato de demanda
contratada, que o consumidor final requeresse a restituição de débito, sem que ele
tivesse qualquer tipo de relação jurídico-tributária com o fisco.Esse é um problema que
vou tentar tratar o mais rápido possível.
Primeiro, eu tenho de voltar ao passado para tratar da diferença entre comunicação e
telecomunicações. Comunicação é um conceito muito mais amplo do que
telecomunicações. O tele tem a ver com a ligação telemática. Só que a comunicação
pode se fazer de diversas formas: com sinal de fumaça, com tambor, com mensageiro,
com pombo correio, e depois temos até o desenvolvimento dos sinais que deram
origem ao código Morse, com as primeiras conexões de fios e cabos que
interconectaram, inicialmente, as sociedades europeias e americanas, dando origem à
criação, há 150 anos, do International Telecommunication Union, com a criação do
telégrafo.
Posteriormente, a gente pode ver o cabeamento não apenas entre Inglaterra e França,
mas também entre os continentes europeu e americano. E esse é o embrião do que
temos hoje com a World Wide Web. Nessa época, após o código Morse, a gente
consegue falar à distância, por meio de fios, com a invenção de Gran Bell, que enseja
o primeiro problema de tributação internacional. Onde a patente está registrada? O
que vai de encontro ao BEPS, o projeto de erosão da base tributária.
Com o monopólio natural, temos essas duas fileiras de comutação telefônica manual.
E aí, já em 1895, a radiodifusão e a possibilidade de se comunicar ainda com fios, mas
à distância. O processo técnico-científico de domesticação da eletricidade é que
propiciou a transmissão sem fio já em 1900.
Aqui há uma grande controvérsia: quem foi o primeiro humano a transmitir voz sem o
auxílio de fios? No site da União Internacional de Telecomunicações (UIT) está um
canadense que teria sido o responsável pela primeira transmissão. Se você entra em
outro site que fala de patentes, está o italiano Marconi, que venceu o Prêmio Nobel e
ganhou a titularidade. Só que Tesla, um austríaco que morava nos EUA, ajuizou uma
ação e houve um contencioso enorme, só para descobrir o verdadeiro inventor.
Estudando um pouco melhor a história do Brasil, fica escondida a história do padre
Roberto Landell de Moura, que, heroicamente, tentou lutar pelo reconhecimento de
que era sua a invenção, que foi o primeiro passo a ensejar a interconexão por meio de
dispositivos de luz. No site da Unicamp, tem uma frase muito interessante de que a
invenção do rádio é atribuída a Lumes pelos americanos, Hatz pelos alemães, Popov
pelos russos, Marconi pelos italianos e Loyds pelos ingleses. Para os brasileiros, essa
primazia cabe ao Padre Roberto Landell de Moura, considerado o pai dos
radioamadores.
Aqui temos uma charge de Santos Dumont e Landell se questionando “será que é
porque somos brasileiros?”. Não é por isso e sim pela questão jurídica e de acesso a
patentes, que foi um modelo totalmente criado pelos EUA e que favorece o modelo de
patenteamento das invenções americanas.
Seguindo o modelo, em 1925, temos a primeira televisão sendo transmitida à
distância. Depois, em 1993, a aplicação de uma tecnologia para rádio e astronomia.
Na era espacial, em 1957, os russos colocando o Sputinik no espaço. Depois, em
1962, os americanos colocando o primeiro satélite, o Bell Star. A invenção do modem.
E posteriormente a interconexão das redes nas universidades americanas, o que é o
embrião da Internet. Depois, em 1980, saímos do mundo analógico para o digital até
chegar ao mundo do que a gente tem hoje com a World Wide Web e as transmissões
via satélite. Isso se dá prioritariamente com cabos e tem muito problema de
rompimentos de cabos em alto mar.
Qual seria o modelo que a gente tem hoje numa casa? Temos a ligação por fio, por
cabo e por rádio e transmissão sem fio, que geram uma certa complexidade sob o
ponto de vista da tributação. Recente dado aponta a queda vertiginosa da venda de
computadores e PCs, não associada à nossa crise econômica. Está a associada ao
perfil da utilização à medida em que cresce o uso de smartphones - chegamos a uma
base de 76 milhões de smartphones.
A migração para os aparelhos sem fio é sem volta. Os tablets e smartphones
proporcionaram o conforto da mobilidade e da usabilidade, pois fazem tudo o que o
computador faz e ainda permite a comunicação gratuita pelo WhatsApp, tirar fotos e
gravar vídeos. Além disso, pesa o fator custo: o smartphone já ganhou ares de escova
de dentes, cada um tem o seu e não se empresa para ninguém.
A próxima fronteira tecnológica será um relógio e uma pulseira que vai projetar no
próprio corpo e você vai poder digitar e, inclusive, entrar na água. O que vem com
certeza é a Internet das Coisas e a interligação de todos os elementos. Hoje o número
de dispositivos conectados à Internet ultrapassou a população humana: 13 bilhões em
2013, de acordo com a Cisco. E haverá 50 bilhões de dispositivos interconectados até
2020. A segurança será um grande problema. Quando se entra na parte dos
pagamentos e das remunerações será um nó para os governos. Vamos entrar no
problema dos bitcoins.
A energia para tudo isso é a grande pergunta. Já temos notícias de que as próprias
empresas de telecomunicações vão criar sua energia, como a Oi, que já tem projeto
para o desenvolvimento, em 2016, de três fazendas para geração de energia elétrica,
que corresponde a 30% dos custos das empresas. Há pouco tempo, já foi anunciada a
parceira da Intel com o agronegócio, fazendo a integração da internet das coisas e a
agricultura.
Esse é o cenário que vamos ter. Trata-se de um problema para as empresas de
telecomunicações pois temos no setor a questão da infraestrutura de um lado e
serviços de outro. A infraestrutura, como já citei, começou como um monopólio estatal
fazendo os investimentos, que são necessários para a realização das transmissões e
a prestação dos serviços. Só que a infraestrutura para aquelas empresas over the top,
os chamados OTTs, eles começam hoje a imaginar outras formas de conexão, como é
o caso do Facebook, que já tem projeto de colocação de aviões movidos a energia
solar para a comunicação. Além dos cabos submarinos e da radiofrequência, haverá a
possibilidade de transmissão área sem ser por satélite.
Voltando ao desenho inicial, examinando não mais sob a perspectiva tecnológica e
sim da tributação. Para falar de tributação, temos de falar de dinheiro. Inicialmente,
tínhamos o padrão ouro, para garantia da moeda. Quando os EUA rompem com o
padrão ouro, na década de 70, o dólar passa a não ter mais lastro em metal. E ai
passa a haver a criação de moedas em outros locais: veio o cartão de crédito, que
facilita o comércio, tanto no plano normal dos bens materiais como no plano virtual
com o consumidor estando em outro país e receber os bens e serviços com
pagamento via cartão de crédito internacional.
Depois veio o bitcoin que surgiu como a grande novidade. Em agosto de 2013, foi
anunciada a prisão do CEO da principal empresa de bitcoin do mundo. Existem alguns
monopólios estatais como a emissão de moedas e o bitcoin representa uma ameaça a
todos os Estados. E o problema do sigilo e das garantias é muito complicado. O
recente relatório da OCDE, de outubro de 2015, faz menção ao bitcoin e à questão da
fragmentação econômica.
Voltando à questão tributária, não é um tema simples, não dá para falar de tributação
em dez minutos. Mas, basicamente, a tributação enfeixa trade offs, ou seja, há ganhos
e perdas, independentemente da política tributária que se escolha.
Sob o ponto de vista da segurança jurídica, igualdade formal e eficiência econômica,
obviamente, se adotaria a base de consumo, porque se tem a maior acumulação de
capital, o que permite maior investimento e geração de renda e riqueza. Se não houver
estabilidade de negócio, e se não houver investimento, não tem criação de emprego e
renda.
Por outro lado, sob o ponto de vista de justiça fiscal, você visualiza a igualdade
material: tributar mais quem pode mais. E aí a tributação sobre o patrimônio e sobre a
renda, são as melhores opções. Para poder fazer redistribuição de renda e riqueza.
O problema é que a tributação tem outros elementos, como adequação administrativa
do tributo. E aí a beleza da CPMF, que é muito fácil de cobrar. No entanto, existem
outros elementos, como a sustentabilidade multidimensional da tributação, seja do
ponto de vista orçamentário, do ponto de vista do meio ambiente e das formas de
estado.
E o Brasil consegue fazer tudo mais complexo do que deveria ser, porque a tributação
já é um problema complexo. A sociedade vive uma transformação de elevada
complexidade, como a gente está vendo. Mas o Brasil, com sua tripartição de União,
estados e municípios, todos com competência para tributar, o problema fica
potencializado. E, além disso, há a maior inter-relação do plano internacional dos
sistemas tributários. Em termos tributários, o cidadão contribuinte fica perplexo com
tanta complexidade.
Passo seguinte: caráter conciliatório da política tributária. É interessante conversar
com pessoas que lidam com tributação, elas têm muitas certezas “tem que ser assim,
tem que ser assado”. O problema é muito mais uma análise de custo benefício: quais
são os ganhos e quais são as perdas? Porque verdades em tributação elas são uma
coisa muito relativa. É preciso ver quem ganha e quem perde.
Lá em 1988, nos EUA, foi editado o Internet Tax Freedom Act, que determinou que,
durante três anos, ninguém cobraria tributos sobre acesso à internet; não seria
cobrado tributo sobre volume, nem nenhuma tributação discriminatória sobre o
comércio eletrônico. Como a tributação nos EUA é estadual, houve exceções, alguns
estados foram excepcionados. Essa moratória foi estendida até novembro de 2014 e
atualmente está no Congresso americano. Já foi aprovada na câmara dos deputados e
agora está no senado, uma proposta de prorrogação perpétua. Não será mais
temporária, e será aplicada em todos os estados.
Tributos sobre telecomunicações no Brasil são muito altos, como já disseram. No Rio
de Janeiro, tínhamos uma alíquota de 25%, com o fundo de combate à pobreza,
chegamos a 29%. Na área de petróleo, já estamos em 31%. Então, o espaço para o
aumento de alíquota, que é a primeira reação, é muito curto no Rio de Janeiro.
Ponto importante para finalizar: o Supremo Tribunal Federal tem uma decisão antiga
que os juristas e meus amigos advogados esquecem, não gostam de conversar sobre
este assunto comigo, porque é desagradável. O jurista, no Brasil, tem muita
dificuldade, porque eles têm que acertar os problemas criados pelo nosso sistema que
é complexo demais, e os advogados ficam tentando criar teses muitas vezes
estapafúrdias. Mas o Supremo, no que se refere à telecomunicações e comunicação,
já tem decisão em Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), porque o Distrito
Federal tentou colocar a sua Lei Orgânica, afastando a tributação do ICMS de todos
os serviços de comunicação fixados no artigo 21 da Constituição: radiodifusão sonora
e de sons e imagens (TV aberta e rádio). Houve uma ação direta de
inconstitucionalidade no Supremo, que teve de enfrentar a questão.
E o Supremo decidiu que o DF não poderia editar tal regra na sua Lei Orgânica,
porque isso é um benefício fiscal e tem de ter convênio. Sem convênio, não é possível.
E declarou a inconstitucionalidade, já que está em vigor a Lei Complementar 87, cujo
artigo primeiro reitera a incidência de ICMS sobre todo e qualquer serviço de
comunicação, que é gênero. Se eu faço uma propaganda num um outdoor e tem
alguém cobrado por isso, é o fato gerador da incidência onerosa do ICMS.
Logo depois da decisão do Supremo, foi editado o convênio 80/2000, por meio do qual
o DF foi autorizado a dispensar, a conceder remissão, perdão total, de todo o ICMS
incidente na veiculação onerosa de mensagens de terceiros por empresas de
radiodifusão de som e imagem.
O que foi colocado depois dessa decisão do Supremo e do convênio, foi a emenda
constitucional 42, que colocou no campo da não incidência apenas a transmissão de
radiodifusão para os receptores, porque aquela transmissão é livre e gratuita. Mas, o
que está por trás, que é a veiculação de mensagens, que é paga por terceiros, essa é
uma prestação onerosa de serviços de comunicações. Inclusive o STJ, implicitamente,
reconheceu isso no recurso do embargo de declaração de agravo regimental
1056/686, em que o litigante procurou fazer com que o tribunal reconhecesse a
hipótese de não incidência no caso concreto. E o STJ não embarcou na tese e
manteve o fato de que havia a dispensa em razão do convênio e não da lei.
Então, a comunicação pela veiculação de publicidade -, que muito se discute na
doutrina e meus amigos juristas ficam discutindo -, está muito tranquilo que é o ICMS.
Isso porque, se pegarmos a Lei Complementar 116/2003 que disciplina o ISS, na
própria mensagem de veto estendida no item 17.07, que o presidente da república
vetou, dizia, colocando no campo de incidência do ISS, “veiculação e divulgação de
textos, desenhos ou outros materiais de propagando e publicidade, por qualquer
meio”. Disse o presidente da república, com base no pronunciamento do ministério da
Justiça:
“O dispositivo em causa, por sua generalidade, permitiu ao limite de incidência de ISS
por exemplo, mídia impressa, que goza de imunidade. Vale destacar que a legislação
vigente excepciona a incidência do ISS a veiculação e divulgação de textos, desenhos
e outros materiais, o que sugere ser vontade do projeto permitir uma hipótese de
incidência inconstitucional.
Ademais, o ISS incidente sobre serviços de comunicação, quando perpassa as
fronteiras de um único município, surge, então, a primeira competência da União, a
teor da jurisprudência RE 90749.
Só que a jurisprudência que ele cita é anterior a Constituição de 1988, porque o ICM
(o antigo ICMS) não tinha na sua base de incidência a comunicação e as
telecomunicações, cuja competência era federal nos impostos únicos federais
incidentes sobre telecomunicações, comunicações, minerais, transportes e
combustíveis. Só que, após 1988, ainda aplicável ao teor do inciso 2 do artigo 155 da
Constituição, que é o fundamento normativo do ICMS.
Por fim, só para deixar uma provocação, está a questão dos OTTs (Over The Top,
serviços que são prestados sobre as redes de telecomunicações por outras empresas
que não as operadoras). O presidente da Vivo, Amos Genis, disse recentemente que o
WhatsApp de voz é um serviço pirata. Por outro lado, disse o representante da Anatel
a seguinte frase: “Eles não são ilegais. O Skype faz ligações por fora de sua rede e
tem uma licença de telefonia fixa. Esse é o modelo de hoje”.
Como se faz para capturar a tributação do WhatsApp? O que está por trás do
WhatsApp? Se você pegar o contrato fica claro. Eles foram comprados por US$ 19
bilhões pelo Facebook, e ninguém paga U$ 19 bilhões por nada. Só que eles não
cobram pelas mensagens. Então como ganham dinheiro com isso?
Informação tem valor. Os seus dados têm valor, o quanto você comprou, onde
comprou, qual o seu perfil de consumo, o que você faz. Tudo isso tem valor. E hoje,
com a capacidade de processamento, o que se faz? Compila-se todas essas
informações e vende-se para propaganda e marketing. Você tem o perfil de todos os
consumidores tabulados. Na minha opinião, não há mais nenhuma discussão.
E, para terminar, há a discussão relativa ao provedor de internet, que seria a
associação absoluta da incidência do ICMS - como os juristas nacionais pensam - à
disciplina regulatória da Anatel. As primeiras decisões do STJ em relação aos
provedores de internet foram todas favoráveis ao fisco. ICMS incide sobre
comunicação.
Depois acabou valendo e sendo editada uma súmula do STJ dizendo que ICMS não
incide sobre provedor de acesso à internet, por ser um serviço de valor adicionado,
que pela regulação da Lei Geral de Telecomunicações, Lei 9472, não é serviço de
telecomunicações, logo, não pode ser tributado. Isso porque não necessita de
concessão, permissão ou autorização para ser prestado, conforme determina o artigo
21 da lei. O arrazoado do STJ, portanto, é que, se precisar de autorização, concessão
ou outorga, tem ICMS. Se não precisar, não tem incidência de ICMS.
Só que, no ano passado, pela resolução da Anatel 614/2013, quando editou a
resolução relativa aos serviços de comunicação multimídia, o conceito foi alterado e
passou a ser considerado um serviço de telecomunicações. Agora olha a falta de
lógica, porque não houve nenhuma alteração legal, isso foi uma alteração da
regulação da Anatel quanto ao seu entendimento do que é serviço de valor
adicionado. Jamais poderia ser baseado um conceito na regulação, para definir
incidência ou não do tributo. Porque telecomunicações não é comunicação, que é
mais abrangente. Muito obrigado.
Flávia Oliveira anunciou que faria uma pequena mudança no planejamento do painel para ouvir o Governador Luiz Pezão. Na sequência, após o coffee break, seria realizado o debate.
Luiz Fernando Pezão – Governado do Estado do Rio de Janeiro – Bom dia a
todos. Eu tenho uma angústia tremenda com este setor, e com outros, e queria
entender mais a tributação. O Julio me chamou, mas eu queria mais estar ali no lugar
dele ouvindo e aprendendo. Eu queria parabenizar o nosso auditor, que abriu a minha
cabeça para uma série de questões, por isso eu quis ficar para ouvir. Eu tenho muita
dúvida, muitas angústias, desde a minha época de prefeito.
Eu estava num seminário do Tribunal de Contas da União com o Ministro Nades e o
Ministro Jonas, colocando algumas questões em que tenho muitas dúvidas, desde os
tempos em que fui prefeito. Na prefeitura, em relação os impostos que me cabiam que
era o ISS. Havia muitos setores em que se cobrava ISS, mas o estado achava que era
ICMS. Vai passando o tempo, eu tenho mais três anos e um mês de mandato e a
gente continua com dúvidas e sempre dependendo da Justiça que demora a decidir
sobre questões que afligem os governantes.
Ontem eu saia do STF às 22hs, com a ministra Carmen Lúcia e o ministro
Ricardo Lewandowsk, discutindo algumas questões sobre os nossos royalties do
petróleo. Nessa dificuldade imensa em que a gente vive, ainda tem estados e
municípios querendo tirar nossos royalties. Eu e Paulo Hartung estávamos tentando
resolver. Querem tirar os royalties, o que não vai resolver para ninguém e ainda vai
quebrar o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. São as angústias que a gente vive no
exercício do cargo. Ainda bem que tenho o dr Dorneles do meu lado, que já viu de
tudo, e vai me tranquilizando e me explicando como é esse país.
Mas acho que esse é um setor que a gente tem de discutir muito e conhecer
profundamente. Não dá para penalizar a população, acho que temos de ter formas
inteligentes de fazer a tributação. Mas precisamos de tentar e resolver, porque as
angústias e as aflições dos governantes em períodos de crise são muito grandes. É
muito fácil, mas tem de ter limites para se aumentar impostos. A gente precisa fazer
um grande exercício. Eu discuto muito com o Julio, com o Dorneles e o Joaquim Levy,
da gente ver o que podemos fazer.
O estado tem quase R$ 80, R$ 90 bilhões de dívida ativa. Vamos tentar vender a
nossa dívida ativa de impostos. Temos quase R$ 7 bilhões informados pelas
empresas que iriam recolher esses recursos e não recolheram. O estado foi muito
incapaz ao longo dos anos de não ter se modernizado, se preparado para fazer essas
cobranças. É muito fácil dever ao estado. E é todo o Estado: o governo federal tem R$
1,3 trilhão de dívida ativa. É fácil dever ao Estado. É melhor pegar o valor que se tem
a recolher e aplicar no mercado financeiro, ainda mais com essas taxas que temos.
Então eu me angustio muito com isso. O Julio deve ter colocado aqui o nosso cenário,
que acabei de mostrar no Tribunal de Contas e falo isso com muita tranquilidade. Eu
sempre discuti, primeiro na prefeitura em que o Tribunal de Contas tinha uma sala
onde implementou tudo o que havia de controle quando começou a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Nós fomos cobaia por Piraí ser uma cidade com inclusão
digital muito forte, a ideia é que aquilo se propagasse para outros municípios do
estado. Piraí foi piloto para a implantação de diversos mecanismos de controle da Lei
de Responsabilidade Fiscal.
Mas eu sempre questionei muito o fato de que é muito fácil fazer a lei e não ir para a
vida real. Eu colocava as dificuldades naquela época, como presidente da associação
dos prefeitos e como vice-presidente da Confederação Nacional dos Municípios, eu
colocava as angústias que tinha um gestor que perdeu uma parte de seu território.
Piraí perdeu uma parte do território para Volta Redonda. Isso desequilibra a
arrecadação, a população e os parâmetros que você está enquadrado dentro da lei.
Eu tive a sorte um pouco porque saiu população como um dos critérios. Mas e aqui
agora que está se discutindo entre Macuco e Cantagalo, na divisão dos territórios, as
cimenteiras passarem todas para Macuco e Cantagalo perde mais de 60% da sua
arrecadação. Não tem nenhum mecanismo na Lei que preveja como esse município
se adequa dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Numa crise econômica, nada disso foi previsto. Eu tenho certeza: mais de 90% dos
municípios, acho que do pais, nas do Rio de Janeiro tenho certeza, não vão se
enquadrar dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal, nesse último ano, quando tem
uma série de exigências para os municípios se adequarem dentro dos parâmetros da
Lei.
Um estado que enviou para a Assembleia Legislativa seu orçamento com o preço do
barril do petróleo a US$ 115 e recebeu repasses o ano inteiro a US$ 42, US$ 44, US$
45, quase um terço do que era previsto. Como faz? Aonde corta? Nossas obrigações
são fixas. O serviço da nossa dívida é fixo. É uma maluquice pagar IGP-DI mais 6%,
mais 9%, mais 11% como os estados pagam hoje da sua receita corrente líquida para
esse serviço da dívida, que quando foi negociado era uma inflação de quase 10%,
12% ao mês e nós, que negociamos em 1997 nossa dívida de R$ 22 bilhões, já
pagamos R$ 45 bilhões e devemos R$ 66 bilhões. Essa conta não fecha.
Então ontem eu alertava o ministro Lewandowsk – eu já havia conversado com ele, e
ele me pediu que eu fosse lá – que todos nós vamos ter muitas dificuldades. Tivemos
uma reunião com seis governadores do Movimento Brasil Competitivo, em São Paulo,
nós mostrávamos isso: todos os estados estão com esses números.
Como pode um estado que no ano que vem terá R$ 16 bilhões do Rio Previdência
para cuidar de 233 mil pensionistas e inativos, e tem R$ 18, R$ 19 bilhões para cuidar
de segurança, saúde, educação, de todos os investimentos e mais R$ 8 bilhões, R$
8,5 bilhões de serviço da dívida. Essa conta não fecha, não temos arrecadação para
isso.
Nós tínhamos um déficit projetado para este ano de R$ 13,5 bilhões. Fizemos um
esforço com a ajuda da Assembleia Legislativa e aprovamos mais de 11 leis
econômicas - algumas como ontem, em menos de uma semana, uma pró-atividade
incrível do legislativo -, que nos possibilitou ter mais de R$ 13,2 bilhões de receitas
extraordinárias, num esforço imenso da fazenda de criar essas receitas. Mas isso tem
limite. Eu brinco que não é mais tirar coelho da cartola. Não tem é mais cartola para se
tirar coelho.
Isso tem limite. Ou o Brasil discute a renegociação da dívida, discute aposentadoria
pública, ou não dá. Hoje, quase todos os coronéis da Polícia Militar se aposentam com
48, 49 anos com o auge dos salários. Não sou contra a pessoa ganhar bem, mas isso
tem que ter limite. A pessoa vai viver até os 80, a expectativa de vida hoje é de 85
anos. Não é só a PM, tem os bombeiros e todas essas corporações que tiveram
ganhos em uma outra época, mas não dá para se manter isso. Isso tem limite.
Eu peço muito ao Julio e a todos os secretários, porque nós somos passageiros. O
mandato tem data para começar e para terminar. Fazer demagogia à frente de um
mandato é a coisa mais fácil do mundo, quebrar, não pagar, ir empurrando, isso é
fácil. Difícil é encarar as questões que o país tem de enfrentar.
O que posso dizer é para a gente sentar numa mesa e discutir. Fico feliz que a classe
empresarial está fazendo esse movimento junto aos governadores de ir para dentro do
Congresso Nacional desarmar a pauta bomba e fazer uma pauta para o pais, que crie
o bom ambiente dos negócios.
Não tem como o estado sobreviver sem a economia estar girando, sem investimentos,
com empregabilidade, não há nada melhor do que ter emprego. Estamos indo para
uma taxa de dois dígitos de desemprego. Ninguém aguenta isso. Esse filme a gente já
viu no país. Então eu acho que a gente ainda tem tempo, de ir com a classe produtiva
do país dentro do Congresso Nacional com um pauta que nos leve a crescer, gerar
emprego, gerar renda. Porque, se a gente continuar na mesma toada, vamos quebrar
todos.
Do Alckmin, de São Paulo, ao Rio Grande do Sul, todos nós estamos com demandas
grandes, que são naturais que a população exija. A nossa matrícula cresceu, porque
as pessoas não aguentam mais pagar escola particular. A matrícula aumentava 10%,
13%, está aumentando 20% este ano com as transferências para a nossa rede. Na
saúde, temos um problema sério porque temos os hospitais federais, mas, no ano,
durante quatro meses, enfrentamos duas greves nos hospitais federais,
sobrecarregando a nossa rede. As pessoas que não estão tendo dinheiro para
continuar a pagar planos de saúde vêm para a nossa rede com um nível de exigência
muito grande. E nós temos limites nos nossos recursos.
Então esse chamamento, nesse fórum tão apropriado, no qual podemos ver formas
inteligentes de se tributar, eu deixo esse recado. Eu não quero onerar, mas também
nós temos limites, pois temos obrigações a cumprir este ano e o ano que vem que,
infelizmente, se avizinha como muito difícil também. Não podemos ficar imóveis e
parados e não reagir.
Aqui está a classe produtora, que veio fazer as suas palestras. Vejo esse setor caindo
a arrecadação tremendamente e chamei o Julio para vermos o que podemos fazer na
telefonia fixa como uma forma inteligente de taxar para induzir que o telefone fixo seja
usado de novo. É essa criatividade que precisamos para atravessar esse momento.
Temos um país maravilhoso, um estado maravilhoso, mas a gente precisa fazer o
dever de casa para honrar com nossos compromissos junto à população. Muito
obrigado e bom seminário.