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APRESENTAÇÃO: UTILIZANDO CENÁRIOS PARA ALINHAR-SE AO FUTURO inda são poucos os executivos que perguntam-se uma questão fundamental: “Queremos ou não controlar nosso próprio futuro?” Para aqueles que respondem afirmativamente, cenários têm um valor incalculável. Cenários são como sondas para o futuro. Seu valor está em sensibilizar os executi- vos para possibilidades que eles dificilmente perceberiam de outra forma. Cenári- os reduzem as chances de surpresas indesejáveis e capacitam os executivos a tomar melhores decisões, em melhor timing. O propósito essencial de cenários é apresentar aos executivos uma imagem signi- ficativa de futuros prováveis, em horizontes de tempo diversos. A partir dos cená- rios os executivos podem projetar o interrelacionamento de sua organização com o ambiente daqui há alguns anos. Eles podem, também, projetar formas de alterar esse relacionamento, visando a assegurar um posicionamento mais favorável da empresa no futuro. É importante que se faça uma distinção clara entre cenários e previsões. Freqüentemente previsões não passam de simples extrapolações de tendências. Cenários, por sua vez, são sistemas complexos, que buscam revelar sinais preco- ces de alterações do futuro. MAS, O QUE CONSTITUI UM “BOM” CENÁRIO? (1) Bons cenários afetam o julgamento dos executivos sobre como o futuro deve ser. Muitas vezes cenários são desenhados para serem profecias auto-realizá- A Coletânea “Cenários” Utilizando Cenários para Alinhar-se ao Futuro Apresentação

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APRESENTAÇÃO:

UTILIZANDO CENÁRIOSPARA ALINHAR-SE AO FUTURO

inda são poucos os executivos que perguntam-se uma questão fundamental:“Queremos ou não controlar nosso próprio futuro?” Para aqueles que respondemafirmativamente, cenários têm um valor incalculável.

Cenários são como sondas para o futuro. Seu valor está em sensibilizar os executi-vos para possibilidades que eles dificilmente perceberiam de outra forma. Cenári-os reduzem as chances de surpresas indesejáveis e capacitam os executivos atomar melhores decisões, em melhor timing.

O propósito essencial de cenários é apresentar aos executivos uma imagem signi-ficativa de futuros prováveis, em horizontes de tempo diversos. A partir dos cená-rios os executivos podem projetar o interrelacionamento de sua organização como ambiente daqui há alguns anos. Eles podem, também, projetar formas de alteraresse relacionamento, visando a assegurar um posicionamento mais favorável daempresa no futuro.

É importante que se faça uma distinção clara entre cenários e previsões.Freqüentemente previsões não passam de simples extrapolações de tendências.Cenários, por sua vez, são sistemas complexos, que buscam revelar sinais preco-ces de alterações do futuro.

MAS, O QUE CONSTITUI UM “BOM” CENÁRIO?

(1) Bons cenários afetam o julgamento dos executivos sobre como o futuro deveser. Muitas vezes cenários são desenhados para serem profecias auto-realizá-

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Apresentação

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veis (positivas ou negativas). Por isso, a arte de preparar e interpretar umcenário é apenas o primeiro passo para alterar o futuro.

(2) Bons cenários reconhecem que ainda que passado e presente sejam importan-tes no estabelecimento de direções para o futuro, o objetivo último de executi-vos é transformar as tendências, o que requer visões de um futuro radicalmen-te diferente. Em outras palavras, eles levam em conta a dinâmica do futuro e opoder de ação humana para moldá-lo.

(3) Bons cenários permitem a tradução de declarações sobre o futuro em insightssobre riscos/probabilidades para o tomador de decisões. Cenários de qualida-de guiam os executivos em “cálculos” mentais sobre o que pode acontecer e asinterrelações entre os fatos e suas decisões.

(4) Bons cenários testam todos os elementos de um sistema mais amplo e suasinterações com o ambiente. Por isso, eles levam em conta, de forma abrangentee equilibrada, aspectos econômicos, tecnológicos, sociais, políticos, psicológi-cos, culturais, espirituais etc.

(5) Bons cenários oferecem descrições tão vívidas do futuro que os executivospodem colocar-se na situação e compreender esse futuro de uma maneira quenão seria possível apenas por meio de números ou gráficos. Algumas vezes atéartistas são utilizados para dotar cenários dessas qualidades.

(6) Bons cenários dão “pistas” que podem ser verificadas anos antes da ocorrênciados eventos que elas sinalizam. Essa é uma diferença fundamental entre cená-rios de qualidade e meras especulações futurísticas sem fundamento.

(7) Bons cenários são resultado de reflexões de pessoas com referenciais intelec-tuais, culturais e sociais diversos. A diversidade de opiniões assegura a riquezados futuros idealizados e dá margem aos executivos para optar pelo futuro queeles desejam construir.

Esta coletânea “Cenários” consolida artigos publicados em Idéias Amana sobretendências de futuro e paradigmas emergentes que, certamente, atendem a essesrequisitos. Mas ela vai além ao trazer artigos que sugerem como esses cenáriosde futuro afetam o presente das organizações e dão as bases para muitas dasdecisões correntes. Obviamente os cenários aqui descritos não são a visão defuturo, mas representam algumas visões de futuro. Cabe a cada executivo prepa-rar, a partir dos referenciais aqui apresentados, a sua visão de futuro, levando emconta seus referenciais, sua experiência e as especificidades de sua empresa eramo de atuação.

Esta coletânea inicia-se com uma apresentação de dez megatendências para osanos 90 identificadas e descritas por John Naisbitt e Patricia Aburdene. Essasmegatendências são, na verdade, dez cenários de futuro em áreas diversas daatividade humana como economia, estilos de vida, cultura, tecnologia,espiritualidade, ética e outras. A descrição de cada cenário é seguida por umconjunto de questões que visam a estimular a reflexão e auxiliar os executivos apreparar seu próprio cenário em cada área e refletir profundamente sobre suaempresa e sua própria pessoa em cada um desses cenários.

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Ainda pode ser fonte de hesitação para alguns o fato dessas megatendênciasserem terem sido descritas por analistas americanos. É importante lembrar queessa troca multi-cultural/global — que tem recentemente se acelerado com apoiodas telecomunicações — é não apenas uma forma de “comprimir o espaço”, mastambém uma forma de “comprimir o tempo”: se pudermos reconhecer uma criseou oportunidade futura para nossa sociedade numa crise ou oportunidade atualem outra sociedade estaremos sensibilizados para agir desde já.

O artigo “Megatendências e o Brasil”, que se inicia à página 58 foi preparado comesse espírito, mostrando que, além de globais, os cenários são fontes inesgotáveisde aprendizagem. Neste artigo as reflexões sobre como as megatendências exercemsuas forças em nosso país são seguidas de questões que buscam auxiliar a reflexãodo executivo sobre os efeitos das tendências em sua comunidade e empresa.

Essa transição dos cenários sociais amplos para os cenários específicos e relevan-tes para a situação particular da empresa é uma das responsabilidades centrais domanagement. O artigo “Megatendências e a Administração como Arte”, apresen-tado às páginas 66 a 71, é uma reflexão sobre como essa transição dos cenáriospara a ação deve ocorrer e porque ela faz da administração uma arte. Mais do queisso, o artigo estimula os executivos a não apenas descrever cenários de futuro,mas ousar moldá-los a partir de sua própria iniciativa.

São diversas as empresas que já estão atuando nesse sentido e têm conseguido, noprocesso, produzir vantagens competitivas vis-à-vis seus competidores, que perma-necem estagnados. O artigo “Reinventando a Organização” (páginas 72 a 74) trazuma amostra do que algumas dessas empresas estão fazendo em relação a cenáriosespecíficos de futuro. Ele é seguido por um conjunto de tópicos curtos (“Cenáriosde Futuro Requerem Ações no Presente”, página 75) que trazem mais algunsexemplos e idéias de como empresas podem processar essa transição para o futurode maneira mais vantajosa e benéfica para todos seus públicos internos e externos.

Uma forma alternativa de discorrer e refletir sobre os cenários de futuro é obser-var com profundidade os paradigmas — formas de descrever, pensar e compreen-der a realidade — que estão emergindo rapidamente hoje. A compreensão profun-da desses paradigmas tem como conseqüência natural a formulação de cenáriosabrangentes para hoje e para o futuro, em diversos horizonte temporais. O artigo“Novos Paradigmas”, apresentado à página 78, analisa como esses paradigmasestão emergindo e que tipo de influência eles têm sobre as empresas, na análiseda pensadora Marilyn Ferguson. Esse artigo é seguido por 6 páginas de quadrosque descrevem de forma vívida os paradigmas emergentes em três áreas-chavepara as organizações: política, educação e management.

Mais uma vez, não basta apenas descrever os cenários de futuro ou dialogar sobreeles de forma superficial. Esse é um exercício inútil, incapaz de gerar as mudan-ças necessárias em empresas, comunidades e países. A descrição de um cenário éapenas o ponto de partida para uma reflexão profunda que conduza ao essencial:ação. Esse é o objetivo central do artigo “Mudanças: Tendências e ReflexõesVisando à Ação”, apresentado à página 87. Nele são descritos 17 cenários demudanças acompanhados por questões que visam a estimular uma reflexão pro-funda sobre seus significados para a empresa. Cada conjunto de cenário e ques-

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tões para reflexão é acompanhado por um desafio que é a essência da ação que osexecutivos devem desencadear desde já.

Finalmente, é preciso motivação para agir. Esta coletânea é concluída pelo artigo“Tempo de Renascer”, apresentado à página 97, um texto inspirador que dedica-sea mostrar que vivemos uma época ímpar na história da humanidade, uma era emque pessoas comuns podem ser capacitadas a realizar façanhas notáveis quandobem lideradas. Um texto que descreve vividamente um cenário que todos nóscertamente desejamos e podemos construir.

Vivemos em um período de transição. Os que estiverem dispostos a lidar com aambigüidade inerente a esse período de verdadeiros “parênteses” e buscaremantecipar o que será a nova era terão uma fantástica vantagem, um verdadeirosalto à frente daqueles que permanecem agarrados ao passado. O tempo de “pa-rênteses” é um tempo de mudanças e dúvidas. Mas é também um tempo deoportunidades excepcionais…

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As Megatendências para os Anos 90e os Novos Paradigmas

AS MEGATENDÊNCIASPARA OS ANOS 90E OS NOVOS PARADIGMAS

aptar e compreender as grandes tendências que estão se delineando para ospróximos anos é tão vital para as organizações quanto gerenciar os problemas dodia-a-dia. Uma empresa “sonhadora”, descolada da realidade presente, pode trope-çar em obstáculos mais imediatos e sucumbir. A organização dirigida sem umolho no amanhã corre o risco de ser apanhada de surpresa por transformaçõesnos consumidores, na competição, no ambiente como um todo, muitas vezes semter como reagir de forma eficaz

Conseguir se colocar acima das turbulências de curto prazo e enxergar as trans-formações mais amplas e consistentes que ocorrem no ambiente é algo essencialaos executivos e empreendedores nos dias de hoje.

Apesar do bom senso inerente a esse raciocínio, é comum encontrar nas empre-sas uma distância grande entre o cotidiano e o processo de construir o longoprazo. Especialmente em ambientes conturbados como o brasileiro, e em funçãodos constantes bombardeios em termos de informação, o executivo corre ainda orisco de perder a visão global de longo prazo de sua empresa.

Como montar o quebra-cabeça formado pelos milhares de eventos internos eexternos à empresa? Como encaixar os pequenos fatos do micro-mundo da em-presa no todo maior de uma sociedade em contínua transformação?

O estudo das grandes tendências de mudanças – as megatendências – ofereceuma boa resposta a essas questões. As megatendências apresentam uma estrutu-ra, um framework, que tem o poder não apenas de sinalizar eventos significativos

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em emergência, ajudando a distinguir o que é do que não é relevante, comotambém de encaixar estes eventos num todo coerente. A análise dasmegatendências transforma dados em informações e conhecimentos, dando signi-ficado às coisas e revelando os desafios que as organizações têm pela frente.

São desafios que não devem ser encarados apenas como “mais problemas”, mascomo algo estimulante, positivo, nutriente. Transformações trazem sempre fantás-ticas oportunidades.

Ao mesmo tempo em que traz à tona as oportunidades que o futuro estará geran-do, o estudo das megatendências permite a monitoração da congruência entre oque a empresa faz e as forças que estão moldando o ambiente maior: “estamosalinhados com o processo maior de transformação da sociedade?”

O alinhamento das forças da organização com as tendências de mudança doambiente permite às organizações um uso mais racional das energias disponíveis.A empresa que trabalha em sintonia com as mudanças em curso tem o impulsoadicional da “maré a favor” e multiplica suas possibilidades de sucesso. Essasintonia com o ambiente maior pode vir a ser o principal diferencial competitivode empresas num mercado em contínua transformação. É a diferença que existeentre ser levado pelas mudanças e interagir com elas, na busca de constantesinovações que por sua vez alteram continuamente o próprio ambiente.

Longe de ser algo “distante”, existe um caráter extremamente realista na atitudede se tentar olhar para o futuro. Não se trata de prever o que vai acontecer. Oobjetivo básico é o de buscar compreender profundamente o contexto político,social, econômico, tecnológico e competitivo em desenvolvimento. A partir dessacompreensão, é possível cruzar as informações sobre mudanças externas, abstrairo processo de transformação ao longo do tempo, visualizar tendências e formularquestões estratégicas relevantes para a construção do futuro.

Como identificar as tendências a partir da “avalanche” de dados e informaçõesque caracteriza a sociedade atual? Como distinguir as grandes tendências dasondas que são passageiras?

Poucas pessoas têm conseguido, em todo o mundo, ser tão bem sucedidas quantoJohn Naisbitt nessa complexa tarefa de filtrar, cruzar e ordenar o emaranhadodiário de notícias e informações e extrair delas ilações globais sobre o curso dasociedade em seus diversos aspectos. Em 1982, Naisbitt destacou-se mundialmen-te ao descrever em seu livro Megatrends as tendências que deram forma aos anos80. 0 sucesso editorial e o acerto das projeções de Naisbitt, conforme se compro-vou ao longo do tempo, consolidaram sua posição como um dos mais requisitadosespecialistas sobre tendências de mudança.

Ele identificou, na época, a passagem da sociedade industrial para uma sociedadede informação, visualizando, entre outros aspectos, o desencontro do antigo siste-ma educacional com as novas necessidades em termos de conhecimentos e habili-dades. Também em Megatrends, Naisbitt já chamava atenção para o crescimentoda interdependência entre as nações, o novo arranjo em formação na economiaglobal e a explosão do entrepreneurship.

As Megatendências para os Anos 90e os Novos Paradigmas

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As megatendências decli-neam cenários de futuro quepermitem às organizaçõesposicionar-se e usar melhoras energias

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A nova obra de Naisbitt, Megatrends 2000 – As Megatendências para os Anos 90,escrito a quatro mãos com Patricia Aburdene, sua principal colaboradora, mostraas transformações mais importantes que irão se consolidar na próxima década e ainfluência que a passagem do milênio terá sobre as pessoas e a sociedade comoum todo.

Algumas das tendências, como a explosão econômica global, a emergência deuma nova forma de liderança e a ascensão dos países do Pacífico, são de importân-cia evidente para o andamento dos negócios, isto é, têm “aplicação imediata” paraa montagem das novas equações estratégicas para as empresas. Outras mudan-ças, referentes a novas correntes de pensamento e formas alternativas de viver emsociedade, embora a princípio não pareçam tão diretamente vinculadas ao dia-a-dia das organizações, não merecem menos atenção: estarão transformando o am-biente no qual as empresas estão inseridas, exigindo inovações e movimentosestratégicos igualmente significativos. Independentemente de sua aparente“aplicabilidade imediata”, é o conjunto completo dessas tendências que formacenários capazes de sensibilizar os executivos. Tais cenários são um convite àreflexão e à busca de novos referenciais sobre os quais construir organizaçõescompatíveis com os rumos e valores dos anos 90.

As Megatendências para os Anos 90e os Novos Paradigmas

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Megatendência 1:A Explosão Econômica Global

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CONFLUÊNCIA DE FATORES POTENCIALIZANDO CRESCIMENTO

A EXPLOSÃOECONÔMICA GLOBAL

a década de 90, o mundo estará entrando num período favorável do ponto devista econômico. O crescimento terá como base uma extraordinária confluênciade fatores. Um desses fatores é a tendência de globalização da economia. Omundo estará movendo-se do atual comércio entre países para uma economiaúnica, como a composta pelos estados de um mesmo país. Esse é o próximo passonatural na história econômica da civilização.

Na economia global, considerações econômicas quase sempre irão transcenderdiferenças políticas e ideológicas.

A economia global – um mercado único – gerará um comércio absolutamentelivre entre as nações. Indícios disso já são observáveis, como o acordo entre EUAe Canadá, a unificação européia prevista para o final de 1992 e os debates sobreum acordo de livre comércio entre os EUA e o Japão.

O processo de unificação da Europa é o indício mais avançado do processo deglobalização. As duas coisas mais importantes a seu respeito são:

(1) 1992 é uma resposta européia à crescente competição com a América do Nortee Ásia. Separados, os países europeus não têm muita chance. Juntos, passam aser uma das maiores potências do mundo;

(2) 1992 é parte de uma tendência de globalização a longo prazo, dentro da qual oprotecionismo é uma contratendência menor, de curto prazo.

NMegatendência 1:Contrariando previsões pes-simistas, a economia globalexperimentará durante adécada de 90 um período deacentuado desenvolvimen-to, com forte estímulo aocrescimento das empresas eexcepcional demanda portalentos.

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A TRANSCENDÊNCIA AOS “LIMITES AO CRESCIMENTO”

O movimento em direção à economia global é potencializado pela tecnologia –principalmente pela tecnologia de telecomunicações – e por uma adesão crescenteaos mecanismos de mercado.

Isso permite deduzir que a explosão econômica dos anos 90 transcenderá os“limites ao crescimento” tão alardeados no passado.

• Haverá abundância de recursos naturais durante os anos 90: os produtos novosgastarão cada vez menos material e menos energia. Não há qualquer possibili-dade de um novo choque do petróleo: o mundo está usando cada vez menosenergia e produzindo cada vez mais.

• A crescente preocupação por redução de impostos também ajudará a expandir aeconomia global durante os anos 90 pelo fortalecimento dos mercados internose expansão da base de consumidores.

• Outro importante fator que leva a uma economia verdadeiramente global é oefeito de “redução de porte do output econômico”: o menor volume e peso dosprodutos toma mais fácil sua movimentação entre nações.

• A inflação será reduzida pela busca mundial de melhores preços e qualidade. Astaxas de juros serão contidas em função da abundância de capital e concorrên-cia para emprestar.

• A expansão das economias dos países asiáticos estará também contribuindo parao crescimento econômico global e colocando novos consumidores no mercado.

CONDIÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS FAVORÁVEIS

A redução de guerras no mundo (a Europa recentemente completou 43 anos semguerras – um recorde histórico), aliada à distensão entre as superpotências repre-senta também fator relevante ao desenvolvimento de uma economia global.

Adicionalmente, a mudança de regimes autoritários para democracias em muitasregiões no mundo vem preparando o terreno para o crescimento econômico devários países.

O mundo obviamente não estará totalmente livre de problemas (como o cresci-mento populacional, especialmente em países pobres, e as questões ambientais).Mesmo esses problemas parecem estar sendo reconhecidos e trabalhados inten-samente em boa parte do planeta.

É importante reconhecer que todas essas forças operando em favor do crescimen-to econômico não são elementos aleatórios: estão relacionadas umas com as ou-tras e reforçam-se mutuamente, numa confluência de forças.

A perspectiva colocada por esse novo mundo é de que a economia global não éum jogo de soma zero, no qual se algum país ganha, outros têm que perder. Aeconomia global possibilitará uma expansão inusitada, na qual todas as economiaspoderão crescer.

Megatendência 1:A Explosão Econômica Global

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RECURSOS HUMANOS: O DIFERENCIAL COMPETITIVO

Na explosão econômica dos anos 90, os recursos humanos serão a principal forçaem atuação no ambiente. A qualidade e capacidade de inovar dos recursos huma-nos responderá pelo diferencial competitivo das organizações e países.

A sociedade da informação e serviços estará produzindo um extraordinário núme-ro de empregos desafiadores e bem remunerados. Para desempenhar esses traba-lhos as pessoas têm que ser altamente qualificadas. Os empregos da economia dainformação requerem tal grau de treinamento e competência que não há atualmente,e nem haverá num futuro próximo, recursos humanos suficientes para preenchê-los. Isso demandará investimentos significativos na formação de pessoal e saláriosmais altos. As novas economias resultantes serão mais afluentes e capacitadaspara um crescimento cada vez maior.

Megatendência 1:A Explosão Econômica Global

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Refletindo sobre a Megatendência 1:Preparando a Empresa para o Crescimento Global

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REFLETINDO SOBRE A EXPLOSÃO ECONÔMICA GLOBAL

PREPARANDO A EMPRESAPARA O CRESCIMENTO GLOBAL

e efetivamente houver uma explosão econômica mundial nos anos 90, o queisso representará para sua empresa? O que deverá ser feito por sua empresa noBrasil? E no exterior? Sua organização tem debatido questões como essas deforma profunda, visando a ações estratégicas?

Sua empresa está levando a sério o atual processo de globalização da economia,independentemente de seu atual porte, estágio de desenvolvimento e nacionalidade(brasileira, multinacional etc.)? Ou pressupõe que, por ser pequena ou filial deorganização internacional não deva preocupar-se com a globalização dos mercados?

Na medida em que o mercado para sua empresa tornar-se algo sem limites – omundo – isso deverá afetar drasticamente a forma de ver o futuro, os objetivos maio-res de longo prazo da organização. Sua empresa tem hoje uma visão do que construirnos próximos 10-20 anos? De que forma essa visão deverá mudar ao se considerar umaatuação mais ampla da empresa no mercado-mundo em emergência?

Até que ponto a empresa está predisposta a assumir riscos na busca de integraçãoà economia mundial e em projetos de crescimento voltados ao mercado globalque transcendam à exportação de produtos? Os riscos têm sido analisados comprofundidade e realismo, ou idéias/projetos têm sido rejeitados sistematicamente,de forma negligente e preconceituosa? Há consenso na cúpula da empresa quantoao nível de risco que a empresa deva assumir ao buscar um posicionamentoestratégico adequado junto ao mercado global?

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A empresa tem explorado cuidadosamente as várias alternativas – principalmenteas menos ortodoxas – de se globalizar? Como está a predisposição a parcerias eacordos operacionais com empresas (tanto do Brasil como do exterior) bemposicionadas no mercado mundial? A empresa possui pessoas preparadas paraimplantar as alternativas escolhidas? Energia e tempo dos talentos existentesestão sendo efetivamente alocados a projetos de globalização? A estrutura daempresa já começou a ser ajustada nesse sentido?

Como integrar-se à economia mundial e participar do crescimento previsto deforma autônoma, sem depender de terceiros, principalmente de ações, decisõesou apoios governamentais? O que é preciso fazer, desde já, para assegurar cres-cente autonomia em todas as áreas-chave do negócio (produção, distribuição,tecnologia, pesquisa, geração de know-how)?

De que modo a provável explosão econômica mundial irá afetar a estrutura huma-na da empresa? Algum risco em termos de evasão de talentos para o exterior?Medidas preventivas nesse sentido? Mudanças significativas serão necessáriasnos planos de recursos humanos de longo prazo? Intercâmbio internacional deexecutivos e técnicos? E quanto a programas de treinamento e desenvolvimento(formação de executivos internacionais, cultura geral, línguas etc.)?

Que fatores definirão a competitividade da empresa no mercado global e a eficáciacom que a organização aproveitará as oportunidades que a explosão econômicaglobal fará surgir? Qualidade? Tecnologia inerente? Custos? Inovação/criatividadeem serviços, conexão com cliente final? Qualidade das pessoas na linha de frente?O que é preciso fazer desde já para assegurar competitividade a nível global?

A empresa está se preparando tecnologicamente (informática/telecomunicações/know-how em geral) visando a conectar-se de forma cada vez mais eficaz aomercado global? Os sistemas de informação da empresa têm contemplado pesqui-sas/prospecções/dados relevantes ao processo de globalização?

Refletindo sobre a Megatendência 1:Preparando a Empresa para o Crescimento Global

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A VOLTA À BASE E AO HUMANO

RENASCIMENTO NAS ARTES

os países em que o desenvolvimento da economia da informação manifesta-secom maior força, tem crescido a necessidade de as pessoas reexaminarem osentido de suas vidas. Na medida em que gera mudanças profundas nas pessoas,essa busca interior provoca inúmeras outras alterações na sociedade.

Os consumidores de hoje, sofisticados e afluentes, estão voltando-se para as artesnesse processo de busca. O hábito de assistir a espetáculos artísticos vem substi-tuindo a procura de espetáculos esportivos como atividade predominante de lazer.

O renascimento nas artes não se dá apenas nos grandes centros: está tambémacontecendo nas cidades de médio porte e áreas rurais, com organizações artísti-cas assumindo novos papéis na sociedade. Esse movimento produz, ao mesmotempo, uma reabertura da discussão sobre como a sociedade deveria dar suporteàs artes.

Empreendedores imobiliários, planejadores urbanos, construtores e especialistasem desenvolvimento econômico concordam quanto a um ponto específico: a exis-tência de uma comunidade artística vibrante é hoje um fator-chave para a decisãodas empresas sobre onde localizar suas instalações. Acesso à arte passa a ser umimportante determinante do potencial da empresa de atrair e reter talentos. Pes-quisas mostram que 92% dos americanos consideram as artes importantes para aqualidade de vida em sua comunidade.

Para as comunidades, os interesses econômicos relacionados a essa tendência sãoaltos. As artes geram empregos, estimulam o desenvolvimento comercial eresidencial e elevam as receitas de restaurantes, hotéis, lojas de varejo e estaciona-mentos. Uma cidade com uma atividade artística efervescente recebe um contínuofluxo de receitas.

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Megatendência 2:Renascimento nas Artes

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Megatendência 2:Liberando-se do papel de re-curso de produção, o ser hu-mano voltará à base e a umacrescente “busca interior”.

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O atual renascimento das artes está estimulando novas oportunidades de negó-cios em nichos relacionados, como: transporte, serviços de colocação profissional,lojas de museus, serviços de reprodução etc.

A explosão artística tem também aberto novas oportunidades de carreira para aspessoas. Atualmente, com mais galerias, orquestras locais e grupos de teatro,aumentam as chances de as pessoas se manterem financeiramente – ainda que deforma modesta – fazendo o que mais gostam.

AS ARTES EM VEZ DE ESPORTES

Na medida em que as artes se tornam mais importantes na sociedade, indivíduos,empresas e cidades tendem a decidir sob a influência das imagens, personalida-des e estilos de vida do ambiente artístico. Essa megatendência irá afetar a formapela qual as pessoas planejam sua educação e carreira, a maneira pela qual asempresas fazem suas campanhas de propaganda e seus projetos de comunicação.

Em menos de uma geração, os americanos reverteram completamente seus hábi-tos de lazer. Ao longo dos anos 90, as artes substituirão os esportes como princi-pal atividade de lazer. Já há sinais de que a audiência das artes está superando ados esportes, mas a sociedade está apenas começando a reconhecer essa revoluci-onária megatendência e suas implicações. Uma coisa é certa: as empresas irãodesempenhar um papel crítico em determinar quão rapidamente as artes assumi-rão a dianteira.

Mesmo com as pessoas gastando mais tempo e dinheiro com arte, as empresascontinuam investindo bilhões nos esportes, pois a maioria delas, assim como amaior parte da sociedade, ainda não se deu conta da existência não apenas de umrenascimento das artes, mas de uma mudança nos padrões de lazer. Mais impor-tante, as empresas em geral ainda não se conscientizaram de que a arte tem maioracesso a um público mais selecionado.

O PAPEL TRANSFORMADOR DAS NOVAS MÍDIAS

Logicamente, não se vê muita ópera nas redes de TV. Afinal de contas, o objetivoda mídia de massa é conseguir a maior audiência possível. As redes de TV são umproduto da sociedade industrial e seu negócio visa a atingir as massas. Isso funcio-nou até o início dos anos 80, quando as redes começaram a perder audiência paraas crescentes opções oferecidas pela TV a cabo.

Os espectadores da TV a cabo constituem um público de renda maior e nívelcultural mais elevado. Tem-se verificado nos EUA um crescimento de cerca de15% ao ano das receitas de propaganda auferidas por essa mídia.

A perda de audiência que as grandes redes de TV vêm experimentando é evidên-cia de uma mudança maior, possibilitada por novas tecnologias. É a passagem debroadcasting (rede ampla de comunicação) para “narrowcasting” (rede focada decomunicação): videocassetes, TV a cabo, CD players etc.

Megatendência 2:Renascimento nas Artes

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Com tão pouca programação de artes na mídia de massa, milhões de aficcionadosestão montando suas próprias discotecas e videotecas, e programando seu pró-prio calendário de artes. A passagem de broadcasting para “narrowcasting” trans-fere para as mãos das pessoas o poder das grandes redes, em sintonia com amegatendência de potencialização do indivíduo.

Todas essas mudanças trazem diversos desafios para as organizações que dese-jam manter-se sintonizadas com o ambiente. Certamente na medida em que seacumularem provas estatísticas de que os consumidores estão prestando maisatenção às artes do que aos esportes, as empresas irão reavaliar suas prioridadesde patrocínio e propaganda. E as artes, sem dúvida, despontarão como umagrande alternativa de investimento.

Megatendência 2:Renascimento nas Artes

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REFLETINDO SOBRE O RENASCIMENTO NAS ARTES

A ARTE NO CONTEXTODAS EMPRESAS

m que sentido seu negócio/produto/mercado poderá vir a ser alterado pelocrescente interesse das pessoas por artes? Algum tipo de diversificação? Novosprodutos? Reorientação estratégica? Criação de novos negócios? Que tipo de opor-tunidades de negócios uma explosão das artes poderá trazer para sua empresa?

Na medida em que a arte venha a estar cada vez mais vinculada à qualidade devida, que ações sua empresa deve desencadear, desde já, junto ao quadro decolaboradores? Trazer arte para dentro da empresa? Promover eventos artísticosnas próprias instalações? Envolver familiares no processo? Incentivar colaborado-res a se expressarem por meio de arte, inclusive como catalisadora do potencialde criatividade/imaginação/intuição dos mesmos? Incentivar a arte como cami-nho para aliviar tensão e stress? Arte como benefício?

Em que direção os programas formais de formação, treinamento e desenvolvi-mento da organização deverão evoluir, na medida em que a arte e a busca deriqueza interior passem a ter cada vez maior significado na vida das pessoas?Atividades específicas para despertar a sensibilidade das pessoas e sua culturageral? Programas desvinculados dos negócios, especialmente voltados ao enrique-cimento interno dos colaboradores?

O renascimento das artes, projetado para os anos 90, aponta para uma necessida-de de se criar novos benefícios e produtos de compensação para os colaboradoresda empresa? O que a área de RH da organização poderá criar em termos deprogramas, produtos e práticas visando à inclusão da arte e valorização de proces-sos de busca interior no dia-a-dia das pessoas?

Refletindo sobre a Megatendência 2:A Arte no Contexto das Empresas

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Coletânea“Cenários”

Quais as possibilidades da arte como referencial de base nos processos de comu-nicação e integração de sua empresa à comunidade? E quanto à integração empre-sa-colaboradores e entre os próprios colaboradores? Até que ponto o própriomarketing de sua empresa deverá ser alterado, em função do interesse maior dedeterminados segmentos da população pela arte? Utilização de imagens e perso-nalidades das artes na comunicação? Patrocínio de eventos culturais?

Seria possível usar as próprias instalações da empresa para criar espaços parapromover eventos artísticos/culturais voltados tanto ao público interno como ex-terno? O planejamento a longo prazo da empresa está contemplando espaço paraprogramas de melhoria da qualidade de vida, inclusive em termos de proximidademaior à arte e cultura geral?

De que forma seria possível potencializar a força da comunidade em que suaempresa atua por meio da arte? Como sua empresa poderá agir/contribuir nessesentido? Aproveitar a arte como impulsionadora da atividade econômica local e daprópria demanda pelos produtos da empresa? Usar a arte para atrair talentos paraa comunidade e para a empresa?

De que formas criativas o “narrowcasting” poderá vir a ser usado por sua empresa,visando a conseguir um melhor foco e maior eficácia em sua comunicação com omercado? Até que ponto a junção “narrowcasting”/arte deverá ajudar a potencializaro processo? Como usar melhor o “narrowcasting” no marketing da empresa den-tro de uma estratégia de busca de nichos de mercado?

O que é preciso fazer desde já para preparar a empresa para lidar com arte comoalternativa de investimento? Investir em arte poderá vir a representar importanteforma de hedging para a empresa? Que tipo de auxílio/expertise a empresa aindaprecisa para usar essa alternativa de forma eficaz?

Refletindo sobre a Megatendência 2:A Arte no Contexto das Empresas

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Megatendência 3:A Emergência do Socialismo de Mercado

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O DECLÍNIO DOS GOVERNOS CENTRALIZADOS

A EMERGÊNCIA DOSOCIALISMO DE MERCADO

o socialismo, o governo é proprietário dos meios de produção e controla adistribuição de bens. Nos últimos anos tem-se assistido, em todo o mundo, amudanças nesse tipo de controle centralizado. Por meio de formas criativas deprivatização, leasing e outros mecanismos, países socialistas estão transferindo apropriedade dos meios de produção para a sociedade.

Cada vez mais ouve-se a expressão “socialismo de livre mercado”. Inúmeras evi-dências indicam que os anos 90 marcarão o fim do socialismo como em geral temsido conhecido e definido.

Com a emergência da economia global, países isolados não conseguirão sustentareconomias fechadas. Os países que não se esforçarem para se tornar participantesimportantes da atividade econômica mundial acabarão sofrendo um inevitávelretrocesso. Seria como se um estado de uma federação resolvesse não mais parti-cipar da economia do país, insistindo em sua auto-suficiência.

Os países socialistas parecem estar, em função de sua compreensão da importân-cia do atual processo de globalização, em busca de maior integração à economiamundial. Contudo, para fazer parte do mercado global, um país precisa ser bastan-te competitivo, e ambientes de proteção/tutela não conseguem gerar acompetitividade necessária. Logo, o afastamento em relação a modelos centraliza-dos parece inevitável.

NMegatendência 3:Verifica-se em todo o mun-do uma transformação daseconomias dirigidas por go-vernos centralizadores paraeconomias dirigidas pormercados, com conseqüên-cias importantes para as pes-soas e organizações.

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Coletânea“Cenários”

O FRACASSO DA CENTRALIZAÇÃO

Gradualmente tem se reconhecido que economias de planejamento central nãovêm obtendo êxito. Está cada vez mais evidente a todos que o modelo descentrali-zado, empreendedor, dirigido pelo mercado, tem sido mais bem sucedido emtodos os lugares do mundo.

Os custos dos serviços de assistência social prestados exclusivamente por gover-nos centrais têm atingido níveis altíssimos em quase todos os países, chegando àinviabilidade em muitos deles. Falência é a expressão utilizada por líderes degoverno de diversos países.

A proporção entre pessoas na ativa e pessoas aposentadas tem se alterado drama-ticamente nos últimos 20 a 30 anos. Nos EUA, por exemplo, a relação passou de32 pessoas ativas para cada aposentado, ao final da 2ª Grande Guerra, para apenastrês trabalhadores ativos para cada aposentado nos últimos anos. Parece que aprópria demografia, que tem sido ignorada por muito tempo, está agora surpreen-dendo a todos.

A resposta de muitos países a essa transformação tem sido tradicionalmente ade expandir os gastos públicos para garantir assistência social. Contudo, osanos 90 trarão um questionamento básico: o que o governo deve fazer poraqueles que não são capazes de ajudar a si próprios sem levar o Tesouro Nacio-nal à falência?

A OBSOLESCÊNCIA DA TEORIA DO VALOR DO TRABALHO

Na medida em que a porcentagem de mão-de-obra empregada na produção debens manufaturados tende a zero, observa-se um declínio mundial na quantidadee no peso da classe de trabalhadores manuais/operários na sociedade. Logo, ateoria do valor do trabalho, uma das bases do socialismo, mostra-se cada vez maisobsoleta na nova sociedade da informação. Uma nova teoria é necessária.

A NOVA IMPORTÂNCIA DO INDIVÍDUO

Adicionalmente, assiste-se em todo o mundo à atribuição de uma nova importân-cia ao indivíduo. A mudança de foco do estado para o indivíduo também tem sidoparte do processo de mudança em direção à economia da informação.

Ao contrário do que se imaginava, os computadores fortalecem o indivíduo eenfraquecem os estados. A informação permite descentralização, tornando os indi-víduos mais poderosos e importantes.

Nesse sentido, é extraordinário testemunhar quão comum tornou-se, nos paísessocialistas, invocar a primazia do indivíduo sobre o estado, sobre o coletivo. Aconfluência de todas essas mudanças é que tem atuado no sentido de provocar odeclínio do socialismo, que se intensifica na medida em que se caminha para opróximo milênio.

Megatendência 3:A Emergência do Socialismo de Mercado

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Os anos 90 despontam como um período de transição, uma época em que aseconomias com planejamento central estarão experimentando uma ampla gamade mecanismos de mercado. Muitos países socialistas em todo o mundo já estãoprivatizando os meios de produção/distribuição, criando mercados de ações, des-centralizando, deixando de interferir em processos de falência, permitindo que omercado fixe os preços dos bens e desregulamentando.

Durante mais de cem anos perdurou na sociedade industrial uma competiçãoideológica entre marxismo e capitalismo. Agora que o período industrial começa aser parte do passado, essa competição perde cada vez mais seu sentido. Mais emais países socialistas tenderão a tomar emprestado conceitos da economia demercado.

Megatendência 3:A Emergência do Socialismo de Mercado

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REFLETINDO SOBRE A EMERGÊNCIA DO SOCIALISMO DE MERCADO

EFICÁCIA NUMA SOCIEDADEMAIS AUTÔNOMA

provável processo de crescente privatização nas próximas décadas envolveque tipo de oportunidades para empresas que atuam no seu ramo de negócios?

Que oportunidades serão geradas pela tendência de descentralização dos serviçoshoje administrados por órgãos governamentais? O que essas oportunidades repre-sentam para sua empresa? Novos produtos e serviços? Crescimento da base declientes? Um mercado completamente inédito?

Que conseqüências a tendência mundial de menos regulamentação e intervençãodo estado poderá trazer para a empresa? A empresa está preparada para enfrentaressas conseqüências? Em que horizonte de tempo isso deverá ocorrer? O fim deprivilégios, proteção e “cartorialismos” pode beneficiar a empresa?

Como as tendências de fortalecimento do mercado, redução da centralização,privatização e outras podem influenciar a própria forma de agir e pensar daspessoas? Os indivíduos se sentirão mais independentes e desejosos de agir? Pode-rão passar a reivindicar maior espaço para realizar e empreender? Que mudançasdeverão ocorrer no management da empresa para melhor aproveitar o potencialempreendedor desses indivíduos?

A célula da economia global tende a ser representada pelo indivíduo-empreende-dor (e não por países) e diminui a ação de governos centralizados, principalmentesobre a atividade econômica. Como isso deverá mudar a forma de atuar de empre-sas como a sua? Como está a iniciativa em sua empresa em termos de atuação nomercado global?

Refletindo sobre a Megatendência 3:A Eficácia Numa Sociedade Mais Autômona

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Sua empresa possui talentos-empreendedores em quantidade suficiente para de-sencadear as ações necessárias e trabalhar eficazmente as oportunidades geradaspela emergente descentralização, privatização e “individualização” da sociedade?O que é preciso fazer, desde já, para potencializar a força empreendedora daempresa e desenvolver intrapreneurs com a velocidade necessária?

Nas economias de mercado o equilíbrio/sucesso do todo depende – em muito –de uma forte disposição das empresas em fazer com que os ativos disponíveispotencializem sua força produtiva em vez de serem utilizados de forma especulativa.De que forma sua empresa deverá trabalhar seus ativos, tanto financeiros comohumanos, visando, numa economia cada vez mais de mercado, a contribuir para otodo e gerar sucesso genuíno para a empresa?

O atual estágio de cidadania da empresa, isto é, seu grau de consciência quanto aseu papel na comunidade, é suficiente para que ela absorva as atividades descen-tralizadas pelo governo? Quanto mais é necessário evoluir?

Se o governo é hoje cliente significativo de sua empresa, que mudanças deverãoser introduzidas em sua estratégia de longo prazo visando a prepará-la para umnovo ambiente bastante privatizado?

Que oportunidades de intercâmbio tecnológico poderão surgir em função do pro-cesso de abertura econômica dos países socialistas? Oportunidades para venda detecnologias e serviços? Oportunidades para aquisição de novas tecnologias? Opor-tunidades de alianças e parcerias? O que a empresa deve buscar nessas alianças?Que qualidades a empresa tem a oferecer para ser uma boa candidata a esse tipode acordo? Como adquirir novas qualidades nesse sentido?

A abertura econômica dos países socialistas pode trazer alguma competição adicio-nal à empresa? A empresa está preparada para fazer frente a um eventual acirramen-to da competição oriunda desses países? Que precauções seria importante tomar?

Como a empresa pode ajudar o país como um todo a integrar-se ao processo defortalecimento do conceito de mercado em todo mundo? Praticando de formamais efetiva esse próprio conceito? Acelerando e intensificando investimentosprodutivos? Zelando para que nos mercados em que atua prevaleça uma condutaética exemplar entre todos os concorrentes, evitando jogos de manipulação domercado?

Refletindo sobre a Megatendência 3:A Eficácia Numa Sociedade Mais Autômona

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Megatendência 4:Globalização do Estilo de Vida

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INTERCÂMBIO ENTRE CULTURAS

GLOBALIZAÇÃODO ESTILO DE VIDA

nacionalismo político-econômico dará lugar, na sociedade global, a um fortenacionalismo cultural.

Atualmente, cerca de três milhões de pessoas voam, a cada dia, de um lugar paraoutro no planeta. Durante a década de 90, esse número irá aumentar consideravel-mente. Estima-se que no ano 2000 a quantidade de passageiros/ano irá atingir amarca de 2 bilhões.

O comércio internacional hoje já é muito mais do que simples trocas entre nações: éuma economia global singular e interdependente. No passado, costumava-setransacionar apenas coisas básicas: aço, matérias-primas, alimentos. Hoje comercializa-se tudo. Há uma explosão na compra e venda de instrumentos financeiros: ações,títulos públicos, moedas. Há também uma explosão na compra e venda de produtospara vestir, comer, ouvir e assistir – itens que definem um estilo de vida.

Graças a mudanças como a intensificação das viagens internacionais e a amplia-ção do leque de trocas entre os países, imagens e valores de diferentes estilos devida estão percorrendo rapidamente o mundo, difundindo seu conteúdo por todaparte. Em áreas como alimentação, vestuário e entretenimento, cujas opções nãodemandam grandes comprometimentos, são superficiais e fáceis de fazer, as pes-soas estão abertas a uma gama ampla de influência estrangeira. No que comem,no que vestem e em como se divertem as pessoas estão misturando estilos eintercambiando produtos. Uma prova disso é a existência de mais de 40 marcas“super-mundiais”, como Coca-Cola, Benetton, McDonald’s, IBM e Sony, um fenô-meno historicamente inédito.

OMegatendência 4:A emergência de um estilode vida global gerará umacontratendência de reafir-mação cultural.

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A globalização de marcas e produtos tem sido acompanhada por alguns fenôme-nos correlacionados. Um deles é o rápido crescimento das vendas internacionaispelo correio. Outro é o merchandising global, que demanda a prática de umpricing global, viabilizado por meio da eletrônica. Um exemplo são os preços decadeias internacionais, regulados eletronicamente para proteger todas as filiaiscontra flutuações de câmbio.

Paralelamente, há projetos para a criação de um sistema global de TV que permiti-rá a todo o mundo assistir as mesmas imagens, transmitidas por uma única redemúltipla.

Outro fator importante de aceleração do desenvolvimento de um estilo de vidaglobal único é a disseminação do idioma inglês. O inglês está se tornando aprimeira língua verdadeiramente universal, com fortes implicações culturais. Alinguagem é um grande agente de homogeneização. É a freqüência na qual umacultura é transmitida. Na medida em que o inglês ganhe espaço como idiomaglobal, a cultura de países de língua inglesa tenderá a exercer forte influênciasobre a de outros países.

REAÇÃO CULTURAL

Embora os estilos de vida efetivamente estejam ficando mais similares, há clarossinais de uma poderosa contratendência. Observa-se uma reação contra a unifor-midade, um desejo de afirmar a exclusividade de cada cultura e língua, um repú-dio à influência estrangeira.

O entretenimento propiciado por filmes e TV atravessa a linha do intercâmbiosuperficial e vai direto ao centro das culturas – o espírito fundamental que dáforma às crenças e práticas do país. Esse tipo de entretenimento – literaturaeletrônica e tecnológica – invade o domínio dos valores por meio de uma lingua-gem própria, muito eficaz e de excepcional alcance.

Do mesmo modo, na medida em que o inglês se torna uma língua universal, háuma reação contrária a essa universalidade. Mais e mais pessoas estão insistindoem manter vivas suas tradições, sua cultura, sua língua.

REFORÇO DA SINGULARIDADE

A crescente globalização do estilo de vida produz um efeito paradoxal. Ao mesmotempo em que gera um maior número de opções, também provoca crescentehomogeneização, que em sua base significa uma redução de alternativas.

Quanto mais homogêneos os estilos de vida se tornam, mais arraigadamente aspessoas se prendem a valores profundos – religião, língua, arte e literatura. Namedida em que seu mundo exterior torna-se mais similar, as pessoas tendem avalorizar as tradições que brotam de dentro.

Essa é uma questão profunda, e de certo modo explosiva: quando as pessoaspercebem uma cultura estranha invadindo a sua, elas se sentem ameaçadas, e

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respondem com nacionalismo cultural: reafirmam vigorosamente seus valorescom a força com a qual conteriam uma invasão militar ou política.

O nacionalismo cultural é um fenômeno profundo. Quando desafiado, ou quando háuma nova oportunidade para sua expressão, o nacionalismo emerge à superfície.

Contudo, quanto mais a humanidade vê a si própria como habitantes de umplaneta único, maior a necessidade de que todas as culturas do globo comparti-lhem uma herança única. Assim, de modo curiosamente contraditório, quantomais as pessoas tornam-se parecidas, mais reforçam sua singularidade.

Megatendência 4:Globalização do Estilo de Vida

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REFLETINDO SOBRE A GLOBALIZAÇÃO DOS ESTILOS DE VIDA

A BUSCA DO GLOBAL E AVALORIZAÇÃO DO INDIVÍDUO

empresa está acompanhando de perto as tendências mundiais em termos degostos e preferências dos consumidores? Isso tem sido feito de forma sistemáticae contínua, ou depende de iniciativas esporádicas e individuais? Os resultadosdesse acompanhamento vêm sendo adequadamente disseminados e aproveitadospor toda a empresa? O que é necessário fazer para aprimorar esse tipo demonitoramento?

Faz sentido designar pessoas exclusivamente para o papel de observadores/“sensores” das tendências de consumo mundiais? Como deve ser a atuação des-sas pessoas?

Deve a empresa buscar a internacionalização de seus produtos e marcas? Estápreparada para isso? Há possibilidades de que a empresa possa representar nopaís (ou até em outros países) produtos e marcas internacionais? O que deve serfeito para tanto?

O que está impedindo a empresa de penetrar mais agressivamente no mercadoglobal? Excesso de cautela/conservadorismo? Medo do desconhecido? Falta deousadia? Falta de talentos com “cabeça internacional”? Falta de hábito?“Provincianismo” da cultura organizacional vigente? “Introspecção” excessiva? Pro-blemas de idioma? 0 que é possível fazer para superar essas barreiras?

Quais riscos podem existir em uma estratégia de concentrar-se exclusivamenteno mercado local? São maiores ou menores do que os riscos da inter-nacionalização?

Refletindo sobre a Megatendência 4:A Busca do Global e a Valorização do Indivíduo

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Que implicações a globalização de produtos, marcas e do estilo de vida podetrazer para a base tecnológica da empresa? Que investimentos precisam ser feitosdesde já para que a empresa mantenha sua base tecnológica atualizada, compatí-vel com a existente em nível mundial?

O processo de globalização do estilo de vida gerará naturalmente consumidoresmais bem informados e exigentes. A empresa está preparada para atender a essenovo tipo de cliente? Em que pontos são necessários aprimoramentos que capaci-tem a empresa a atender a consumidores mais exigentes?

Como a globalização do estilo de vida irá influenciar a comunicação da empresacom os consumidores? Novas mídias devem ser buscadas? Um reforço do caráternacional, da cultura local, pode ser uma boa opção?

De que forma a intensificação do surgimento e do fortalecimento de marcas inter-nacionais poderá afetar a empresa? Possibilidade de competidores internacionaisentrarem nos mercados da empresa? Em que pontos os concorrentes levariamvantagem ou teriam desvantagem? Possibilidade da entrada de competidores in-ternacionais com produtos substitutivos aos produtos atuais da empresa? Seriasensato passar a desenvolver nichos de mercados que sejam mais refratários àconcorrência internacional?

A empresa está desenvolvendo executivos que tenham visão global e capacida-des/habilidades para agir e decidir em ambientes em processo acelerado deglobalização do estilo de vida? Que investimentos devem ser feitos desde já?Cursos de idiomas? Viagens? Exposição prolongada à cultura de outros países?Parcerias com empresas de outros países para ir acumulando experiências?

Que conseqüências a globalização do estilo de vida poderá trazer sobre os pró-prios colaboradores da empresa? Novas atitudes e posturas surgirão? Serão neces-sárias mudanças culturais e em práticas de recursos humanos?

De que forma a empresa poderá dar equilíbrio ao binômio estilo de vida global/nacionalismo cultural por meio de ações que valorizem e preservem a culturalocal? Por meio de projetos especiais (eventos, livros etc.) que resgatem o folclore,tradições, arte e literatura da comunidade? Por meio de projetos internos junto aospróprios colaboradores, que passariam a ser multiplicadores no processo?

Em termos de ambiente, o que a empresa pode fazer para assegurar condições/espaço para que as pessoas (colaboradores, clientes) consigam expressar/valori-zar sua individualidade nas relações com a empresa? Maior flexibilidade? Menosregras burocráticas? Mais consideração positiva e busca de relacionamentos fun-damentados em confiança?

Refletindo sobre a Megatendência 4:A Busca do Global e a Valorização do Indivíduo

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Megatendência 5:Declínio de Welfare State

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PRIVATIZAÇÃO DO PAPEL DO ESTADO

DECLÍNIO DO WELFARE STATE

elfare state é o conceito de se alocar recursos públicos para ajudar a protegeros cidadãos e promover seu bem-estar social. É um termo relativo: o welfare stateamericano é considerado puro laissez faire na Escandinávia. A idéia de cuidar dobem-estar das pessoas remonta às sociedades primitivas e certamente aos gregose romanos na antigüidade. Contudo, a assistência governamental em larga escalatem apenas cerca de 100 anos de idade.

A assistência governamental assumiu no mundo todo tal escala, que passou acausar mais efeitos negativos do que positivos sobre a sociedade. Por isso, obser-va-se atualmente em muitos países uma espécie de reação ao welfare state.

PRIVATIZAÇÃO

Por ter privatizado mais de 40% de seu setor estatal nos últimos oito anos, a Grã-Bretanha pode ser considerada como um modelo dessa reversão do socialismo edo welfare state. A Grã-Bretanha, até 1987, havia transferido 14 grandes empresase muitas outras menores, que empregam um total de 600.000 pessoas, do setorpúblico para mãos privadas. O setor estatal foi cortado em 1/3 e, no processo, oTesouro acumulou mais de US$ 11 bilhões.

Politicamente, a privatização foi além dos mais ambiciosos sonhos de seusidealizadores: hoje, pela primeira vez na história da Grã-Bretanha, mais cidadãossão proprietários de ações do que afiliados a sindicatos.

A tendência de privatização está na ponta da transformação mundial do socialismoe do declínio do welfare state. Alguns países vêm experimentando o “capitalismopopular”, transformando-se em “nações de acionistas.”

Megatendência 5:Passagem do controle decompanhias estatais paraempreendedores privados,venda de ações aos traba-lhadores e transferência deserviços sociais para os indi-víduos são soluções que es-tarão se generalizando mun-dialmente.

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A nova forma de financiar um sistema de welfare está em deixar de ser um“estado que toma conta”, para ser uma “sociedade que toma conta”. Uma socieda-de onde o indivíduo deve assumir mais responsabilidade pela oferta de serviçossociais de modo a aliviar o estado.

Na base dessa mudança está a privatização. A tendência do pós-guerra em direçãoao estado proprietário da atividade econômica está sendo revertida.

DO WELFARE PARA O WORKFARE

Talvez o melhor exemplo de declínio do welfare state esteja nos próprios EUA,que vêm gradualmente, por iniciativa de seus estados, substituindo o welfare pelo“workfare”: fazer as pessoas saírem do welfare para engajarem-se em trabalhos/empregos que as remunerarão melhor que o próprio welfare.

A política de workfare reflete um mix de valores americanos:

(l) a crença de que as pessoas estão melhor trabalhando do que dependendo derecursos do governo;

(2) a tendência de mães de classe média baixa trabalharem fora;

(3) a noção de que pessoas que aceitam os benefícios de welfare devem ao gover-no um esforço de conseguir trabalho – na verdade um novo contrato social.

O workfare é um exemplo clássico da convergência entre os valores em mudança(é aceitável pedir a mulheres que trabalhem) e as necessidades econômicas (equi-librar o orçamento, preencher as muitas vagas criadas pela escassez de mão-de-obra etc.).

NOVO INCENTIVO AO TRABALHO

Mesmo antes do workfare, pessoas responsáveis por diretrizes governamentais jáse faziam perguntas difíceis sobre os impactos do welfare sobre indivíduos, famí-lias e sobre a nação. O welfare destrói o incentivo para trabalhar? Ele promovegravidez de adolescentes? Desencoraja o casamento e uma vida familiar estável?Encoraja um ciclo de dependência da assistência governamental que é transmitidode geração em geração? Por trás dessas questões ainda existem outras, maisbásicas. Quais são as responsabilidades legítimas do governo em relação às pesso-as que não conseguem ajudar a si próprias? Como se pode ajudar as pessoas semtorná-las dependentes do governo?

A resposta está em ajudar tantos beneficiários do welfare quanto possível a encon-trarem empregos no setor privado. O workfare irá tornar-se a mais importantepolítica social da década de 90 nos EUA porque: (l) é consistente com os valoresdo país – o novo contrato social e a emergência das mulheres que trabalham; (2)está sintonizado com a tendência global de privatização; e (3) goza de apoio dasduas alas políticas – conservadores e liberais. Para os conservadores há o aspectoda ética do trabalho e do novo contrato social. Para os liberais há a ênfase na

Megatendência 5:O Declínio de Welfare State

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colocação profissional e no treinamento. Para ambas as correntes políticas há asatisfação criada pelo fato de o próprio trabalho tirar as pessoas da pobreza.

O problema central com o workfare está em seu investimento inicial em creches,treinamento, educação e colocação profissional. Não é algo barato, mas é certa-mente bem menos oneroso que o welfare (US$ 5 bilhões vs. US$ 100 bilhões nosEUA).

Megatendência 5:O Declínio de Welfare State

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Refletindo sobre a Megatendência 5:Gerenciando a Transição Para Uma SociedadeMais Privatizada

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REFLETINDO SOBRE O DECLÍNIO DO WELFARE STATE

GERENCIANDO A TRANSIÇÃOPARA UMA SOCIEDADE MAISPRIVATIZADA

m havendo uma transformação de um ambiente em que “o estado toma con-ta” para outro em que a própria sociedade passe a tomar conta de si mesma, o quedeverá mudar em termos de: (l) postura da empresa junto à comunidade; (2)mudança da cultura organizacional; (3) estratégia global da empresa?

A empresa está preparada para ocupar os espaços que tenderão a ser deixadospelo governo? Há pessoas na empresa atentas à abertura desses espaços? A em-presa está se preparando para preencher esses espaços de forma cada vez maisrápida e eficaz?

Em que áreas o declínio do welfare state tenderá a gerar oportunidades paraempresas como a sua? Em termos de novos produtos? Em termos de aquisição deempresas hoje dirigidas pelo próprio governo? Expansão dos produtos/serviçosexistentes hoje? Verticalização? Diversificação? Sinergia com os produtos de linhada empresa?

Que demandas irão surgir para as empresas na medida em que se enfraquece oconceito de estado provedor de todos os serviços sociais? Será necessário ofere-cer treinamento e educação básicos? Sustentar/apoiar escolas? Instituir fundospara programas de habitação? Manter creches, asilos, campanhas de saúde públi-ca/organizacional?

E

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Coletânea“Cenários”

Que riscos o processo de privatização poderia trazer à empresa? Perda de clientesimportantes? Enfraquecimento do poder de barganha? Acirramento da competi-ção? Mudanças aceleradas que a empresa não conseguirá acompanhar? O que épreciso fazer, desde já, para proteger/controlar essas áreas de risco? Busca denovos clientes/expansão da base negocial? Mudança estrutural? Busca de talentos?Programa inovador de desenvolvimento de pessoal para os novos tempos?

A longo prazo, o declínio da assistência governamental implica em redução deimpostos em geral. Quais serão as implicações disso para o seu negócio? O queseria importante começar a fazer desde já? Aquisição de experiência em termosde serviços/informações? Busca de mais capital por meio de inovações em políti-ca societária?

Uma transição da previdência governamental para a previdência privada abririamais oportunidades de capitalização da empresa via emissão de papéis? A empre-sa está pronta para abrir seu capital e aproveitar essas oportunidades? Que atrati-vos a empresa oferece a administradores de fundos de previdência privada? O quesua empresa pode fazer para fortalecer esse mercado e trazer cada vez maiorcredibilidade às relações entre empresas e investidores?

Como a tendência mundial de declínio do welfare state pode ajudar a empresa emsuas gestões por menor intervenção governamental na economia? Maior poder deargumentação e persuasão da opinião pública? Oportunidade para provar na práti-ca que a descentralização é viável e funciona bem melhor do que os processoshierárquicos?

Como a crescente valorização de uma nova ética de trabalho está influenciando oscolaboradores da empresa? Novas atitudes e posturas irão surgir? Que mudançasnas políticas e práticas de recursos humanos poderão ser necessárias? Novostipos de benefícios? Mudanças nas ênfases dos pacotes de recompensas? Aboliçãode restrições/controles? Formas novas de liderança?

Qual a abertura de sua empresa em termos de criação de empregos e oferta detrabalho para a comunidade? Há preocupação em investir em atividades produti-vas que movimentem a força humana da comunidade, ou o objetivo da organiza-ção se concentra em maximização de lucros (que inclusive leva a desviar recur-sos, capital e ativos para atividades meramente especulativas)?

De que forma sua empresa poderá contribuir para assegurar maior nível de bem-estar social na comunidade como um todo? Há consciência de que preocupaçõesdesse nível fazem parte do conjunto de responsabilidades da empresa? Até queponto os próprios dirigentes estão cientes de que maior bem-estar social significatambém mercado (clientes e colaboradores) de melhor nível e potencial?

Refletindo sobre a Megatendência 5:Gerenciando a Transição Para Uma SociedadeMais Privatizada

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Megatendência 6:A Era da Biologia

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MUDANÇA NOS REFERENCIAIS BÁSICOS

A ERA DA BIOLOGIA

radualmente os modelos e metáforas da física estão sendo transferidos parareferenciais oriundos da biologia. Com isso, os referenciais básicos em todas asáreas, inclusive nas empresas, também deverão passar do modelo da física – quesugere o linear, mecanístico, determinístico, programável/programado, analítico,causa/efeito racional, intensivo em energia – para o da biologia – que sugere oholístico, interconectado, adaptativo, orgânico, sistêmico, intensivo em informação.

Essa mudança está ocorrendo não apenas porque a humanidade está posicionadano início de uma grande era para a biologia. A transformação também está ocor-rendo em função do processo de criação de uma sociedade que cada vez mais seassemelha a uma elaborada cadeia de sistemas de feedback de informações, com-parável aos organismos biológicos. Isso tenderá a mudar a linguagem e a formade ver as coisas.

Do ponto de vista estritamente tecnológico, a biotecnologia já está se tornandouma poderosa presença na vida das pessoas.

Na medida em que se caminha em direção ao próximo milênio, a biotecnologia vaise tornando tão importante quanto a informática. Não será possível ignorá-la e aseus progressos. É indispensável conhecer a biotecnologia e saber para onde elaestá caminhando.

A engenharia genética representa a mais importante técnica da biotecnologia, poisdá acesso ao código da vida. Prevê-se que a engenharia genética conseguiráerradicar doenças agrícolas para as quais ainda não existe cura. Outra perspectivaé de que animais poderão gerar produtos biológicos de valor para os seres huma-nos, quase como se fossem fábricas.

GMegatendência 6:A forma como as pessoaspensam, decidem e agemestá sendo fortemente influ-enciada pela ascensão dabiologia, provocando umaintensa mudança de re-ferenciais, até então guia-dos pela física tradicional.

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Decifrar o código genético para construir, gerenciar e reproduzir organismos,pode ser o maior avanço científico deste século. Eventualmente, será possívelidentificar e selecionar genes para virtualmente cada característica hereditária. Eessa é a parte assustadora, pois relembra as experiências genéticas do passado, astentativas de criação de uma “raça pura.”

Por mais assustadora que seja, uma tecnologia como essa tem seu componentepositivo. Na primeira década do século XXI, adultos e crianças deverão ser rotinei-ramente investigados para detecção dos genes que os tornam suscetíveis a doen-ças como o câncer. Para prevenir e tratar tais doenças, genes defeituosos poderãoser substituídos por genes saudáveis.

Na primeira década do próximo século, a biotecnologia deverá estar no centro deuma nova era em cuidados com saúde. Por meio da engenharia genética serápossível vacinar pessoas contra muitas doenças, com uma única injeção no braço.

Do ponto de vista comercial, já é possível comparar a biotecnologia aos carros ecomputadores. Bilhões de dólares estão sendo investidos por centenas de empre-sas em várias partes do mundo. Mas essa comparação corre o risco de tornartriviais as delicadas conseqüências da biotecnologia.

UMA NOVA ÉTICA

Ao mesmo tempo em que sugere contribuições fantásticas para o desenvolvimen-to da vida, a biotecnologia levanta questões que incomodam às pessoas preocupa-das. As preocupações mais comuns sobre biotecnologia são: (a) como se pode tercerteza de que organismos geneticamente alterados – ainda que potencialmentebons para a humanidade – não trarão conseqüências desastrosas quando libera-dos para o ambiente?; (b) como deve se estabelecer o equilíbrio entre a segurançapública e o progresso científico?

Na falta de respostas, os legisladores podem impor alguns controles sobre aspesquisas na área de biotecnologia. Todavia, será impossível deter o seu avanço.Empresas, governos e pessoas devem estar preparados para uma grande discus-são quanto aos aspectos éticos da biotecnologia.

Na verdade, as considerações éticas da biotecnologia ocorrerão em um campoainda maior: uma nova preocupação com a ética em geral. Informações privilegia-das, subornos, fraudes têm provocado uma busca por novos padrões éticos.

Questões de ética biomédica, incluindo transplantes e eutanásia, que já encontram-se em estágios mais avançados que os problemas éticos da biotecnologia, têmocupado um espaço importante. Prepara-se o terreno sobre o qual irá se considerara ética da biotecnologia dos anos 90. Filósofos e teólogos já estão sendo recrutadospor empresas tão intensamente quanto cientistas de computação.

Até o final do século, a humanidade irá se defrontar com a tarefa de reconsideraras grandes questões éticas. Os problemas éticos da eutanásia, biotecnologia eoutros irão crescer na medida em que o terceiro milênio se aproxime.

Megatendência 6:A Era da Biologia

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Na verdade, todos esses problemas éticos são uma antecipação do grande dilemaespiritual que a humanidade terá que enfrentar. As questões éticas estão relacio-nadas à necessidade de compreender o que verdadeiramente significa ser huma-no, uma questão para a qual dificilmente a ciência e a tecnologia terão todas asrespostas.

Para as empresas o grande desafio trazido pela era da biologia estará em terhumildade suficiente para entrar profundamente nos novos referenciais e implan-tar as mudanças que se farão necessárias em todos os campos.

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REFLETINDO SOBRE A ERA DA BIOLOGIA

IMPLANTANDO NOVOSREFERENCIAIS NAORGANIZAÇÃO

om base em que referenciais se pensa, decide e age na empresa? A cultura, osvalores, padrões de análise e comunicação estão mais para os referenciais da físicaou da biologia? Até que ponto os executivos da empresa estão conscientes quantoà importância de entrar mais profundamente no estudo desses novos referenciais?

Em que sentido os novos referenciais oriundos da biologia, em substituição aosreferenciais da física, (que têm prevalecido na sociedade industrial) deverão mu-dar a cultura de sua empresa, sua forma de planejar, de se estruturar, de comuni-car, de decidir, de se adaptar às mudanças, de perceber e atuar sobre o ambiente?E quanto a mudanças no design, no projeto e no próprio conceito dos produtos?Mudanças na forma de se relacionar com os clientes?

Como utilizar-se dos novos referenciais da biologia para entender melhor o funcio-namento da própria empresa e do relacionamento desta com o ambiente maior,inclusive em termos de economia-mundo? Os executivos e principais colaborado-res estão envolvidos em programas/projetos holísticos que levem a mudanças debase na forma de atuar da empresa como um todo?

Novos referenciais levarão a empresa a mudar seus valores, principalmente emrelação ao binômio cooperação/competição? A consciência cada vez mais fortequanto à interconexão de tudo que ocorre na sociedade levará a empresa a buscar

Refletindo sobre a Megatendência 6:Implantando Novos Referenciais na Organização

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cada vez mais freqüentemente cooperação/parcerias, inclusive entre concorren-tes e até a nível mundial? A empresa tem dedicado tempo/energia em níveisadequados para refletir e agir em relação a estas questões?

O que é preciso fazer, desde já, para assegurar transição adequada para umaabordagem mais “biológica” na forma de dirigir/gerenciar a empresa? Como de-verão ser trabalhadas as resistências que naturalmente deverão surgir no proces-so? Por meio de educação/treinamento? Por meio de uma comunicação maiseficaz/criativa? Por meio de atuação pessoal dos principais líderes da empresa?

Até que ponto será necessária uma completa reeducação em todos os níveis daempresa para ajustar-se aos novos referenciais? Será esse um processo que teráde iniciar praticamente “do zero”? Ou já tem ocorrido uma mudança gradual dosreferenciais em partes da própria empresa, nestes últimos anos (até causandodivergências/conflitos entre pessoas que estão em diferentes estágios de transi-ção)? Os programas de treinamento/desenvolvimento estão sendo ajustados ade-quadamente aos novos referenciais? E a cultura da empresa?

Que oportunidades estratégicas a ascensão da biotecnologia irá trazer à empresa?Oportunidades de diversificação, expansão, entrada em novos negócios? Surgimentode novos clientes? Quem poderiam ser esses novos clientes? Eles já estão sendotrabalhados? Há oportunidades de novos fornecedores?

Que riscos a era da biologia pode trazer à empresa? Novos lançamentos no merca-do competindo com atuais produtos? Outras empresas competindo pelas atuaismatérias-primas da empresa? Novos produtos podem substituir os atuais? Háriscos de obsolescência tecnológica (processos, qualidade, custos)? O que a em-presa tem feito para adquirir/desenvolver tecnologia nesta área? Parcerias comuniversidades, centros de pesquisa, fundações e com fornecedores, clientes e atéconcorrentes que também desejem pesquisar na área?

A empresa está preparada para participar da grande discussão ética que emergirános anos 90 (estimulada também pela ascensão da biotecnologia)? Até que pontoos executivos da empresa estão sensibilizados para questões de ética e moral?Que esforços a empresa pretende envidar para aprimorar o grau de consciênciaética de todos seus colaboradores?

A mudança de referenciais, a ascensão da biologia e a intensificação das preocupa-ções éticas poderá exigir a contratação de profissionais com os quais a empresanão está acostumada a lidar, como cientistas, biólogos, ecologistas, filósofos etc. Aempresa está preparada para atrair e reter esses profissionais? E quanto a estraté-gias para integrar esses profissionais à cultura da organização e evitar choquesinternos?

Refletindo sobre a Megatendência 6:Implantando Novos Referenciais na Organização

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Megatendência 7:Liderança nos Anos 90

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VELOCIDADE DAS MUDANÇAS E O LÍDER EMERGENTE

LIDERANÇA NOS ANOS 90

s anos 90 deverão ser os mais desafiadores da história para as empresas, emfunção do conjunto de transformações em curso no mundo. Aparentemente aúnica maneira de fazer frente aos novos desafios será uma nova forma de lideran-ça, capaz de revitalizar as empresas e elevá-las ao status de efetivos competidoresglobais.

Já é possível notar que o princípio de organização dominante está passando do“management para controlar a empresa” para a “liderança para trazer à tona omelhor das pessoas e responder rapidamente às mudanças.” A nova forma deliderança reconhece que, ainda que capital e tecnologia sejam recursos importan-tes, hoje são as pessoas que fazem diferença em uma empresa. Para viabilizar oaproveitamento do potencial humano, os novos líderes devem inspirar compro-metimento e conceder poder às pessoas, compartilhando autoridade.

A necessidade de modificar a forma de liderança está intrinsecamente ligada àsnovas tarefas e à nova força de trabalho dos anos 90. O trabalho das pessoas emsetores como informações, serviços, finanças, computação, biologia e saúde nãopode ser desempenhado como em uma linha de montagem. Conseqüentemente,não pode ser gerenciado como no passado.

Outro motivo para se criar novas formas de liderança é o resultado de pesquisasque mostram que principalmente os jovens executivos não exibem mais a lealda-de às suas empresas que era a norma dos anos 50. A nova força de trabalho ajudaa empresa a atingir seus objetivos se ela própria puder também atingir seusobjetivos pessoais.

OMegatendência 7:Os anos 90 trarão enormesdesafios para empresas. Paraenfrentá-los, mais do quegerentes, as organizaçõesprecisarão de líderes capa-zes de construir o futurocom pessoas alinhadas à vi-são maior.

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Diversos são os desafios para os líderes nos anos 90: desenvolver uma visão clarado futuro que se deseja para a empresa; trabalhar no sentido de alinhar objetivosda empresa aos objetivos pessoais de seus colaboradores; encorajar os colabora-dores a serem mais empreendedores, auto-gerenciados e orientados para umaaprendizagem ao longo de toda a vida.

Para energizar as pessoas, os líderes deverão descentralizar autoridade ao longoda organização, freqüentemente promovendo reestruturações que transformemhierarquias em redes.

Descentralização significa delegação eficaz, incluindo diretrizes que definam quantode autoridade as pessoas têm e não têm. Significa dizer às pessoas o que se desejaque elas alcancem e oferecer sugestões, sem obrigá-las a fazer de modo específi-co/determinado.

O EXECUTIVO COMO FACILITADOR

Atualmente já se está substituindo o conceito de executivo como fornecedor deordens pelo executivo como professor, facilitador e treinador. O fornecedor deordens tem todas as respostas e diz a todos o que fazer. O facilitador sabe comoextrair respostas das pessoas que efetivamente as possuem – aquelas que fazem otrabalho.

Flexibilidade será essencial para os líderes nos anos 90. A crescente escassez demão-de-obra ajustada às novas demandas obrigará as empresas a rever profunda-mente suas políticas de pessoal. Uma das mais importantes fontes de mão-de-obrapara os empregos que se criarão estará nos milhões de mulheres com filhos peque-nos. As creches se tornarão um benefício comum. Se as empresas e a sociedadeforem capazes de dominar o desafio das creches, também estarão mais próximas delevar a cabo a próxima grande tarefa dos anos 90 – o cuidado com os idosos.

Com os aposentados e mães figurando como grupos em crescimento entre ostrabalhadores da década de 90, tende a haver intensa pressão em favor de ocupa-ções de tempo parcial (part time). Para obter maior produtividade, as empresasterão de empregar essa mão-de-obra de modo criativo e eficiente.

Graças aos computadores, que podem lidar com fórmulas complexas de recom-pensa, a flexibilidade da era da informação irá substituir a tradicional fórmulasindical da era industrial: tratar todos da mesma maneira.

LIDERANÇA DAS MUDANÇAS

Na década de 90, as organizações estarão mudando de controle gerencial paraliderança de mudanças aceleradas. A velocidade acelerada das mudanças temcolocado as empresas face a face com a vantagem competitiva da velocidade –levar os produtos aos consumidores mais rapidamente e elevar a participação nomercado, ao mesmo tempo em que se reduzem os custos de estoques. Líderescomprometidos com velocidade terão de impor cronogramas de desenvolvimento

Megatendência 7:Liderança nos Anos 90

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Coletânea“Cenários”

de produtos “impossíveis”, para forçar as pessoas a reconceituar sua abordagemaos problemas. Apenas fazer as coisas mais rápido não será suficiente. A liderançade mudanças exigirá pessoas que sintam-se confortáveis com ambigüidade, aindaque a maioria delas prefira a ordem.

Em grande parte, essa nova liderança virá das mulheres. Os dias das mulherescomo uma espécie de minoria da força de trabalho fazem parte do passado. Nosnegócios e nas profissões liberais, as mulheres passaram de uma minoria de 10%,20 anos atrás, para uma massa crítica, que varia entre 30 e 80% dependendo dosetor, nos EUA. Nos anos 90 as mulheres atingirão as posições de liderança quelhes têm sido negadas no passado.

Megatendência 7:Liderança nos Anos 90

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REFLETINDO SOBRE A NOVA LIDERANÇA

INTRODUZINDOUMA NOVA FORMA DETRABALHAR COM PESSOAS

empresa tem se preocupado em desenvolver líderes apropriados aos novostempos, em toda sua estrutura? Os ocupantes de cargos gerenciais estão sendopreparados para transformar seu estilo de forma mais compatível com o paradigmade liderança para os anos 90?

Que ações específicas a empresa está desenvolvendo com o objetivo de adequarsua cultura aos novos paradigmas de liderança? Mudanças na forma e nos instru-mentos de controle? Introdução/experimentação de novas alternativas estrutu-rais/organizacionais? Alteração no modo de motivar/recompensar pessoas? Nospadrões de comunicação e diálogo? Na forma de tomar decisões? Por meio dacriação de cargos inéditos/papéis inovadores? Por mudanças nos critérios de pro-moção? Por meio de promoções, mudanças de pessoas específicas? Por meio dedebates amplos/profundos na empresa como um todo?

Que ações específicas de educação/treinamento/desenvolvimento estão sendodesencadeadas visando à formação de líderes para o futuro? Essas ações cobremque áreas de desenvolvimento? Visão global/visão de mundo? Capacidade degerenciar mudanças aceleradas? Criatividade e uso da intuição? Negociação? Co-municação? Habilidades interpessoais? Até que ponto os programas existenteshoje estão obsoletos/fora de sintonia em relação às tendências de mudança?

Os executivos da empresa possuem uma formação/educação básica adequadapara suportar o aprimoramento de suas habilidades de liderança? Que lacunas

Refletindo sobre a Megatendência 7:Introduzindo Uma Nova Formade Trabalhar com Pessoas

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deveriam ser prioritariamente trabalhadas? São necessárias mudanças em atitu-des e posturas, mudanças mais profundas, de caráter interior? Como promoveressas mudanças? A empresa e seus executivos estão suficientemente sensibiliza-dos quanto à importância da liderança na administração dos anos 90?

Até que ponto as pessoas hoje em postos de liderança estão adequadamentecapacitadas para lidar com questões humanas? Trata-se de uma capacitação refina-da, fundamentada em posturas e atitudes autênticas ou de algo superficial/manipulativo/de “verniz”? Esse é um debate considerado importante na empresaou trata-se de um círculo vicioso, ou seja, os que deveriam estar à frente dosdebates carecem das posturas básicas necessárias e, por conseguinte, não estãosensibilizados/propensos a trazer a questão à tona?

A cúpula da empresa tem transmitido exemplos de comportamento ético, íntegro,autêntico, aberto e inspirador, essencial para que a verdadeira liderança floresça?Há consciência de que liderança eficaz só é possível na medida em que a culturada empresa pressuponha uma ética impecável (formas não-éticas de atuar nuncasão internalizadas por colaboradores fundamentalmente íntegros; os não-íntegros,por sua vez, sentem-se – em ambientes não éticos – totalmente à vontade para“criar transações” em proveito próprio, provocando rápida deterioração organiza-cional)?

Dentro da filosofia da empresa, a ênfase em pessoas (como condicionante dosucesso da empresa a longo prazo, como fator-chave de competição, como algoinerente ao próprio conceito de organização/grupo de trabalho) é algo presentenas ações do dia-a-dia, ou é mero discurso, artifício de fachada, um “modismogerencial”? O que é necessário fazer para assegurar uma cultura organizacionalque efetivamente coloque as pessoas no centro de sua estratégia de forma autênti-ca e verdadeira?

Como está a cultura de sua empresa no que se refere à participação das mulheres,principalmente em termos de ausência de preconceitos, igualdade de oportunida-des, abertura a postos de liderança e respeito profissional? O que é necessáriofazer desde já para ajustar a cultura aos novos tempos e tornar a empresa competi-tiva em termos de atração de talentos, tanto homens como mulheres?

A empresa possui hoje uma visão clara do que pretende construir a longo prazo?Trata-se de uma visão compatível, comprometida com o futuro (que incorporainclusive as grandes tendências de mudança/uma noção ampla do mundo), ouuma mera projeção do passado?

Refletindo sobre a Megatendência 7:Introduzindo Uma Nova Formade Trabalhar com Pessoas

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DESLOCAMENTO DO EIXO ECONÔMICO

A ASCENSÃO DO PACÍFICO

região do Pacífico, limitada por Los Angeles, Tóquio e Sidnei está ultrapas-sando a até então dominante região do Atlântico, com sua cultura industrial deNova Iorque, Paris e Londres.

A região do Pacífico está emergindo como uma jovem e dinâmica “América”, masem uma escala muito maior. Como região geográfica, é duas vezes maior que aEuropa e os EUA combinados. Tem 2/3 da população mundial, e em torno do ano2000 seu produto econômico irá equiparar-se ao dos EUA ou Europa de hoje. Dequalquer ângulo que se veja, a região do Pacífico é uma potência global.

Quando se fala no Pacífico, pensa-se logo no Japão e talvez na China. Na realidade,trata-se de uma vasta região, que vai da costa oeste dos EUA até o sudeste asiáticoe Austrália.

Há cinco considerações principais sobre essa ascensão dos países do Pacífico:

(l) O deslocamento em direção ao Pacífico é comandado pela economia, numavelocidade sem precedentes. Essa mudança econômica maciça irá transformarde tal forma o mundo que é impossível prever seus resultados com precisão.

Atualmente, a economia da região está crescendo cinco vezes mais que a taxa decrescimento experimentada na Revolução Industrial do século passado.

(2) Essa é uma mudança não apenas econômica, mas também cultural. Nos paísesda região falam-se mais de mil idiomas e neles residem as mais ricas tradiçõesreligiosas e culturais do mundo.

Prevê-se que nos anos 90 Tóquio estará desempenhando a liderança em moda,design e artes. Atualmente, estima-se que 30% das compras mundiais de arte jásão feitas por japoneses.

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Megatendência 8:A Ascensão do Pacífico

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Megatendência 8:Desenvolvimento do PacificRim representa uma grandetransformação que poderábeneficiar o mundo todocom mais oportunidades denegócios e um edificante in-tercâmbio cultural.

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(3) Ainda que o Japão seja atualmente o líder indiscutível da região, o leste da Ásia– China e os Quatro Tigres Asiáticos – irá eventualmente dominar. Prevê-seque no ano 2010 o produto econômico chinês virá a ser o segundo do mundo,superado apenas pelo dos EUA.

O nome do jogo na região do Pacifico é “evolução econômica”. Os Quatro TigresAsiáticos – Coréia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong-Kong – revolucionaram ateoria do desenvolvimento econômico, mostrando ao mundo que é possível ultra-passar a fase industrial e ir direto à economia da informação. Espera-se que essespaíses continuem crescendo a taxa anuais entre 7 e 10%.

As economias dos Quatro Tigres eram, inicialmente, baseadas em mão-de-obrabarata. Atualmente, porém, estão voltando-se para computadores sofisticados eoutras atividades complexas, tradicionalmente dominadas pelos EUA e Japão. Enão são apenas os Quatro Tigres. Novas áreas de crescimento como Tailândia,Malásia, Indonésia e Filipinas, que têm menores custos de mão-de-obra irão pro-vavelmente apropriar-se das tarefas econômicas menos sofisticadas.

O COMPROMETIMENTO COM A EDUCAÇÃO

(4) A arremetida econômica da região está sendo reforçada por um elevado compro-metimento com a educação. Desde 1985, mais jovens coreanos do que jovensbritânicos freqüentam escolas de educação superior. Na nova ordem econômica,os países que investem mais em educação serão os mais competitivos.

No Pacífico – onde o crescimento econômico é regularmente o triplo daquele daseconomias maduras do ocidente – a necessidade por pessoas bem educadas éextraordinária. Os países da região estão respondendo a essa necessidade pormeio de elevados investimentos em educação. O comprometimento de paísescomo Coréia e Taiwan com educação excede, ou ao menos iguala-se, àquele dequalquer país desenvolvido, exceto EUA e Japão. Hoje, a Coréia tem o maiselevado número de PhDs per capita do mundo.

Por meio de empreendimentos cooperativos na área de educação, os EUA deve-rão ajudar os países do Pacífico a educar pessoas e melhorar a força de trabalho.

OPORTUNIDADES PARA AS ECONOMIAS OCIDENTAIS

(5) Em uma economia global, a ascensão dos países do Pacífico não significanecessariamente o declínio das economias ocidentais se estas reconhecerem asignificância da tendência e agirem sobre a mesma.

O extraordinário crescimento econômico do Pacífico revela grandes oportunida-des para os ocidentais que desejam fazer negócios na região.

É necessário criatividade para analisar as vantagens comerciais que existem parao Ocidente na era do Pacífico e determinar como explorá-las adequadamente. Háalgumas razões pelas quais a ascensão do leste não significa, necessariamente, odeclínio do oeste:

Megatendência 8:A Ascensão do Pacífico

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• o desenvolvimento econômico do Pacífico cria novos mercados para produtos eserviços ocidentais – se seus vendedores estiverem preparados para aprender alidar com as peculiaridades da região;

• a despeito de histórias em contrário, os países asiáticos do Pacífico começaramem 1987/1988 a reduzir as barreiras comerciais e a abrir suas portas paraprodutos ocidentais; e,

• o Japão e os países recém-industrializados da região necessitam de um lugarpara investir sua crescente riqueza.

Megatendência 8:A Ascensão do Pacífico

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REFLETINDO SOBRE A ASCENSÃO DO PACÍFICO

PARTICIPANDO DOCRESCIMENTO DO PACIFIC RIM

que sua empresa precisa fazer para aproveitar as excepcionais oportunidadesque estão se abrindo/irão se desenvolver no Pacífico? Há pessoas em sua organi-zação especialmente alocadas para pesquisar/explorar as possibilidades inerentesa essa verdadeira explosão econômica em processo no Pacífico? Os principaisexecutivos da empresa têm se mantido adequadamente informados sobre o quetem acontecido na área, inclusive quanto a iniciativas bem sucedidas de empresasque atuam no Brasil junto a países do Pacífico?

Quais seriam as principais características da empresa e de seus produtos que aposicionariam favoravelmente na intensa competição que deverá se estabelecer naregião? Algum diferencial em especial? Quais poderiam ser alguns eventuais pon-tos fracos da empresa nessa competição? É possível reduzi-los ou atenuá-los apartir de já? Na somatória de pontos fortes e fracos, qual seria a posição estratégi-ca resultante da empresa para competir no Pacífico? O que deve ser feito a partirde já para fortalecer essa posição?

Como estabelecer contatos nos países do Pacífico visando a possíveis parcerias?Por meio das filiais de organizações financeiras brasileiras já estabelecidas naregião? Por meio de filiais de bancos internacionais que atuem tanto no Brasilcomo nos países do Pacific Rim? Por meio de organizações de serviços/consulto-res internacionais? Por meio de organismos oficiais? Por meio de escritórios mon-tados na região, num sistema de pool integrando várias organizações do Brasil?

Refletindo sobre a Megatendência 8:Participação do Crescimento do Pacific Rim

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A empresa está envidando esforços para atrair/preparar pessoas capazes de reali-zar negócios na região do Pacífico? Que tipo de especialistas a empresa precisapara assegurar maior índice de sucesso na região? Especialistas em comércioexterior junto a países específicos? Profundos entendedores de hábitos e culturasdos países da região? Negociadores extremamente preparados para atuar na área?

Na medida em que a demanda por recursos humanos continue a crescer a taxasexponenciais nos países do Pacific Rim, poderá haver drenagem de talentos (mi-gração maciça) em países como o Brasil? O que a empresa deve fazer para tornar-se cada vez mais competitiva na atração/retenção de talentos, não só em termoslocais como em nível internacional?

A ascensão acelerada dos países que compõem o chamado Pacific Rim encerralições importantes para o Brasil e empresas como a sua? O que podemos apren-der em termos de estratégias de atração de investimentos estrangeiros? E emformação e desenvolvimento de recursos humanos na sociedade como um todo?Em aquisição e aperfeiçoamento de tecnologia? Em termos de parcerias criativascom empresas estrangeiras? E quanto ao senso de equipe que une governo/empresas e a sociedade como um todo? Como desenvolver valores/cultura queintegrem a força de todos os segmentos da sociedade?

Países do Pacífico estão “queimando etapas” e avançando de forma muito rápidaem atividades típicas da sociedade da informação (sem precisar “amadurecer” noestágio industrial tradicional). O que podemos aprender nesse sentido? Comoconseguir um equilíbrio adequado entre a necessidade de alavancar sobre a maisavançada das tecnologias com ajuda externa e a necessidade de criar espaço paraempresas locais?

Que ações desencadear já junto aos países do Pacífico com o objetivo de atrairinvestimentos para o Brasil? Montar escritórios na região, por conta própria oujuntamente com outras empresas? Montar um plano estratégico competitivo (emrelação à atuação altamente sofisticada de muitos outros países, inclusive os ditosricos) que pressuponha alta intensidade de recursos a investir? Alocar os melho-res talentos da empresa à missão de buscar investimentos/parcerias no Pacífico?

O que podemos aprender em termos de estratégia de empresas da região? Qual aestratégia de capitalização/financiamento? Qual a política industrial/de manufatura?O mix de produtos encaminha-se em que direção? Que estratégia de marketinginternacional é usada pelas empresas? Como as empresas da região trabalhamjuntas (mesmo na forma de parcerias entre concorrentes) para obter um máximode produtividade/sinergia?

Refletindo sobre a Megatendência 8:Participação do Crescimento do Pacific Rim

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Megatendência 9:O Renascimento Espiritual

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À BUSCA DE VALORES MAIS PROFUNDOS

O RENASCIMENTO ESPIRITUAL

o aproximar-se o final do milênio, observam-se sinais de um renascimentoespiritual em todo o mundo.

O que atualmente se compartilha com as pessoas que viveram momentos seme-lhantes no passado é o sentimento de se viver hoje um tempo de enormes mudan-ças. Quando as pessoas se sentem “agredidas” pelas mudanças, sua necessidadede busca espiritual parece se intensificar.

Essa necessidade está também levando as pessoas a redescobrir e cultivar seulado mais emocional, não-racional. Os limites da ciência e da racionalidade linearsão cada vez mais patentes. Intuição, lógica não-clássica, criatividade e sensibilida-de passam a freqüentar o vocabulário de campos tradicionalmente “exatos”, emcoerência com a mudança nos referenciais básicos trazida pela era da biologia.

Ao lado da intensificação desse movimento de busca espiritual, pesquisas têmdemonstrado um declínio das religiões organizadas tradicionais. Trata-se de umacontradição apenas aparente: ao mesmo tempo em que ocorre o declínio dasreligiões tradicionais, crescem efetivamente a fé e a espiritualidade. Nos EUA, porexemplo, um amplo conjunto de novas religiões, fora da estrutura judaico-cristãtradicional, vem evoluindo.

NOVOS MOVIMENTOS ESPIRITUAIS

As religiões tradicionais têm historicamente atendido às necessidades das pessoasem períodos de pouca mudança. Em épocas de instabilidade, como a atual, aspessoas tendem a buscar segurança e conforto em novos caminhos, sejam eles

AMegatendência 9:Na sociedade emergente dosanos 90, as pessoas tende-rão, de forma cada vez maisintensa, a buscar a verdadee o significado de suas vidaspor meio da espiritualidade.

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movimentos dirigidos exteriormente (do tipo “esse é o modo como as coisas são”)ou guiados pela interioridade (do tipo “confiança em seu sentimento interno”).

Outra razão pela qual as igrejas tradicionais têm perdido tantos fiéis está no fatode que igrejas menores e mais independentes têm se mostrado capazes de adap-tar seus serviços às necessidades e aspirações dos fiéis, mantendo-se mais próxi-mas dos “consumidores”.

Um dos movimentos para o qual as igrejas tradicionais têm perdido fiéis é ofundamentalismo religioso. O fundamentalismo manifesta-se por meio de facçõesradicais das igrejas tradicionais e volta-se a elementos exteriores à própria experi-ência espiritual (como, por exemplo, valores morais, sociais e até políticos). Aomesmo tempo, adota uma postura mais diretiva e rígida. Dessa forma, ofundamentalismo propicia um retorno a tempos mais simples, onde valores eprincípios eram mais claros e menos questionados.

A principal força do fundamentalismo tem sido sua extrema habilidade em utilizara tecnologia, principalmente a mídia eletrônica. Esse uso retrata um equilíbrioperfeito: a face hard da tecnologia a serviço do contato elevado e soft da religião.

O MOVIMENTO DA NOVA ERA

O movimento de busca espiritual oposto ao fundamentalismo, uma vez que seconcentra em uma busca espiritual interior, tem sido genericamente chamado demovimento da Nova Era.

Sem qualquer lista de membros, ou até mesmo um dogma ou filosofia claramenteexpressos, é difícil definir ou mensurar esse movimento, mas estima-se que ele jáconte com a adesão de cerca de 5 a 10% da população americana.

Os adeptos do movimento da Nova Era têm em comum sua postura de rejeição à“autoridade” externa em termos de experiência espiritual e um “voltar-se paradentro” em busca da verdade.

O movimento da Nova Era busca uma perspectiva diferente da vida, uma visãomais holística, abrangendo um espectro que envolve o corpo, a mente e o espírito.Isso inclui uma preocupação crescente com nutrição, questões ecológicas, mudan-ça nas perspectivas dos negócios e maior ênfase à intuição.

IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS

Fora as questões teológicas e espirituais, tanto fundamentalistas como adeptos daNova Era têm gerado significativas conseqüências econômicas enquanto consumi-dores. Há estimativas de que os fundamentalistas representam cerca de 60 mi-lhões de pessoas nos EUA, enquanto os adeptos da Nova Era somam pelo menos20 milhões de pessoas, entre as mais afluentes e bem educadas. Livros, discos,fitas e video-tapes têm experimentado aumento de vendas expressivo em ambos osgrupos.

Megatendência 9:O Renascimento Espiritual

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A abrangência do pensamento do movimento da Nova Era, por exemplo, gerouum novo fenômeno editorial. Além disso, muitas empresas têm buscado consulto-res/treinadores ligados ao movimento para desenvolver habilidades como intui-ção e criatividade em seus colaboradores.

Implicações econômicas à parte, é evidente que na medida em que a humanidadecaminha em direção ao final do milênio renova-se o desejo de construir um novomundo. Esse desejo somente irá realizar-se por meio de uma reafirmação do ladoespiritual da natureza humana, em equilíbrio com a contínua busca de uma vidamelhor por meio da ciência.

Megatendência 9:O Renascimento Espiritual

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REFLETINDO SOBRE O RENASCIMENTO ESPIRITUAL

EQUILIBRANDO EVOLUÇÃOTECNOLÓGICA COM AHUMANA/ESPIRITUAL

omo a empresa tem buscado equilibrar progresso tecnológico com desenvolvi-mento humano/melhoria do nível das relações entre as pessoas, tanto a nível inter-no como externo? Até que ponto a empresa está consciente de que uma ênfaseexcessiva em tecnologia poderá levá-la a descuidar-se dos aspectos humanos e deseus próprios objetivos maiores? Que ações a empresa pode desencadear paracrescer equilibrando o humano com o tecnológico? Um programa especial de valori-zação do contato humano? Cultura holística, inclusive em termos espirituais?

Como trazer a questão da busca do espiritual e do significado maior da vida àmesa de diretoria? Mesmo para decidir que se trata de algo desvinculado daatividade estritamente profissional, não seria saudável debater/deliberar sobre aquestão (do que simplesmente ignorá-la ou conversar sobre a mesma como algosegregado/estigmatizado)?

Questões relacionadas à espiritualidade/significado da vida/valores básicos ten-dem a não ser debatidas naturalmente por todos dentro da empresa? Resistênciaspara lidar com o assunto? Preconceitos? Ignorância? Ceticismo básico? Medo deser mal interpretado? Medo de se expor abertamente e ser “rotulado”? Medo deser “diferente/não profissional”? Por que a tendência à segregação e a uma postu-ra de ignorar as questões relacionadas ao espiritual?

Como a maior preocupação com o ser humano, que está na base do renascimentoespiritual, poderá afetar a empresa e seus colaboradores? Mudanças em práticas e

Refletindo sobre a Megatendência 9:Equilibrando Evolução Tecnológicacom a Humana/Espiritual

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C

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políticas de recursos humanos? Necessidade de desenvolver uma nova forma degerenciar pessoas? Novos padrões de liderança? Refinamento na comunicaçãointerna?

A busca do holístico que caracteriza os novos tempos leva naturalmente à buscada unidade organizacional e sua inserção na sociedade maior, constituindo, porseu lado, uma outra unidade mais ampla. A unidade no ser humano não deverianecessariamente levar em conta o lado espiritual das pessoas? Não deveria aempresa considerar o espiritual ao preocupar-se com as pessoas de forma profun-da/autêntica? A busca da conciliação entre objetivos pessoais e institucionais nãopressupõe a integração das pessoas no seu todo?

É possível conseguir coesão profunda entre todos os colaboradores da organizaçãoe alcançar um nível de parceria total entre a empresa e sua equipe sem levar emconta as questões mais básicas (relacionadas ao significado da vida das pessoas eaos próprios objetivos maiores da organização)? Como trabalhar essas questões deforma nutriente/positiva, com o máximo de respeito ao estágio do desenvolvimentoespiritual (e caminho escolhido) de cada colaborador? Que recursos/espaço deve aempresa oferecer para facilitar o processo de busca de cada indivíduo?

Não deveria a cultura organizacional da empresa ser estruturada de modo a ajus-tar-se aos valores universais que estão no bojo das religiões? Isso não seria funda-mental à busca de máxima sintonia entre pessoas/empresa de forma profunda?Até que ponto as “formas certas” de se fazer as coisas na empresa violentam essesvalores universais?

Em que sentido os programas de desenvolvimento dos colaboradores da empresadeverão ser ajustados para incluir aspectos mais humanos/não-racionais/espiritu-ais? Até que ponto há consciência de que intuição, criatividade, sensibilidade,qualidade das relações entre pessoas, espírito de cooperação/ajuda mútua, visãoholística podem estar fortemente vinculados a aspectos mais básicos – inclusive anível espiritual – do desenvolvimento humano?

A empresa deve oferecer algum tipo de apoio explícito às pessoas e ao processode busca do espiritual e dos objetivos maiores da vida? Que alternativas deve aempresa criar para assegurar liberdade de escolha em clima de absoluto respeitoaos caminhos escolhidos/preferências religiosas? Até onde deve a empresa irnesse sentido?

De que forma o renascimento espiritual e a busca cada vez mais intensa dosignificado da vida irá afetar o comportamento do mercado? Que mudanças aempresa deverá introduzir em sua estratégia, comunicação, produtos e até objetivosinstitucionais?

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AS PESSOAS NO CENTRO DE TUDO

O TRIUNFO DO INDIVÍDUO

unca as pessoas foram tão poderosas. Elas podem alavancar mais mudançasdo que muitas instituições. São pessoas que criam obras de arte, têm visões denovos negócios, apostam neles, inspiram colegas de trabalho a serem bem sucedi-dos, emigram para um novo país, experimentam uma espiritualidade transcenden-te. Mudanças globais têm suas raízes na integridade, comprometimento e ação deindivíduos.

Esta é a era do triunfo da responsabilidade individual sobre a anonimidade docoletivo. Dentro de estruturas coletivas – religiões organizadas, sindicatos, parti-dos políticos, grandes empresas, governos – as pessoas encontram oportunidadesde fugir de responsabilidade, abrigando-se sob o manto da burocracia. Quando oindivíduo passa a ser a célula detentora do poder, essa possibilidade deixa deexistir.

O individualismo atual não é, contudo, um sinônimo de egoísmo. É muito mais doque a necessidade de satisfazer os próprios desejos. É o reconhecimento de quesomente o indivíduo, na busca da satisfação de suas necessidade pessoais derealização (na arte, nos negócios, na ciência), pode satisfazer às necessidades dacomunidade.

O indivíduo consciente do contexto social amplo em que vive e do papel quedesempenha contribui para a comunidade, especialmente quando é recompensa-do de forma justa por seu esforço.

Indivíduos poderosos não existem isolados. Indivíduos livremente associados pro-duzem uma comunidade. E em comunidades construídas dessa forma, não hálugar para esconder-se; todos tornam-se responsáveis.

Megatendência 10:O Triunfo do Indivíduo

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NNa sociedade da informa-ção as pessoas, como deten-toras de conhecimento, tor-nam-se centro de poder. Osanos 90 serão a era do triun-fo da responsabilidade indi-vidual sobre a anonimidadedo coletivo.

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Num nível mais elevado, cada indivíduo faz parte de uma comunidade última: ahumanidade. Na medida em que se caminha em direção ao terceiro milênio, écada vez mais importante que cada indivíduo seja responsável pela comunidadeglobal, pela humanidade como um todo. É a globalização do interesse pelas pesso-as que promoverá ações em prol do bem-estar de todos e não apenas de pessoasda própria cidade ou país.

A POPULAÇÃO SE DISPERSA

O lançamento das tecnologias celulares, que podem ligar indivíduos diretamente– sem auxílio de sistemas nacionais – inaugura um novo estágio no desenvolvi-mento da era da informação. Dentro de poucos anos, as pessoas, não importaonde estejam, terão acesso instantâneo a qualquer informação no mundo.

A tecnologia está contribuindo, também, para romper o vínculo das pessoas comseu local de trabalho e, em escala maior, com as próprias cidades. Observa-se emquase todos os grandes centros do hemisfério norte uma diminuição da concen-tração populacional. As pessoas estão se movendo das cidades e subúrbios paraáreas rurais, em busca de melhor qualidade de vida. Ao mesmo tempo, aindaprevalece no hemisfério sul a contratendência de concentração da população nosgrandes centros urbanos.

O agravamento dos múltiplos problemas inerentes às megalópoles – aingovernabilidade causada pelo gigantismo, os problemas sociais, a deterioraçãoda qualidade de vida – fará com que a tendência predominante seja a dispersão, aredução da população urbana em todo o mundo. Uma tendência que tambémevidencia a força da busca da individualidade e da qualidade de vida.

O triunfo do indivíduo também traz importantes mudanças ao ambiente de traba-lho. Com o computador para manter os controles, abre-se um enorme campo paraa liberdade individual. Por exemplo, cada membro de uma organização pode terum horário diferente ou um pacote de pagamento e benefícios sob medida, segun-do as necessidades individuais. As diferenças individuais, especialmente aquelasque se refletem nos níveis de contribuição às empresas, podem ser agora devida-mente trabalhadas/recompensadas.

A EXPLOSÃO EMPREENDEDORA

A era do indivíduo é também a era do empreendedor, a pessoa que tem visão dasoportunidades de novos produtos e serviços, um fenômeno que está cada vezmais estendendo-se a campos como arte, medicina e outros. As conseqüências daexplosão empreendedora se fazem sentir na sociedade como um todo, influen-ciando inclusive várias das outras megatendências.

A potencialização do indivíduo tem dado origem a uma significativa mudança naestrutura de poder vigente, até então, na sociedade. O poder está se descentrali-zando, fluindo das instituições para as pessoas. Na medida em que informações e

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conhecimentos passam a ditar as regras, governos e políticos tornam-se cada vezmenos relevantes.

Se no passado o poder estava com reis e governantes, hoje existe uma novapossibilidade: o indivíduo pode influenciar a realidade impulsionado por uma visãodo que se deseja construir. Conhecimento é poder, e pessoas potencializam aindamais esse poder através de insights sobre o futuro mais do que por lutas contra opassado.

Essa é, talvez, a tendência ao mesmo tempo mais importante e impactante: acrescente conscientização de que as pessoas têm força suficiente para moldar ofuturo na medida em que soltem-se dos referenciais antigos e projetem-se emdireção à visão do que desejam construir.

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Refletindo sobre a Megatendência 10:Uma Nova Relação da EmpresaCom Pessoas Mais Autônomas

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REFLETINDO SOBRE O TRIUNFO DO INDIVÍDUO

UMA NOVA RELAÇÃO DAEMPRESA COM PESSOAS MAISAUTÔNOMAS

o entrar de forma cada vez mais rápida na era da iniciativa/do envolvimentopessoal/engajamento à ação (contraposto ao espectador ou crítico), como as em-presas deverão trabalhar a cultura organizacional vigente para ajustá-la aos novostempos? Que mudanças nos conceitos de forma certa de fazer as coisas na empre-sa deverão ser introduzidas? A própria empresa deverá tornar-se uma organizaçãode “proatividade máxima” para poder sobreviver e ter sucesso?

Que mudanças devem ocorrer na cultura organizacional para acomodar o fortale-cimento do indivíduo? A cultura deverá admitir mais variações/ser menos“padronizadora”? A cultura organizacional tenderá a se enfraquecer em função dofortalecimento do indivíduo? Como estabelecer equilíbrio entre formas certas indi-viduais e formas certas grupais?

O triunfo do indivíduo representa também pessoas mais autônomas, independen-tes e conscientes de seus próprios direitos e responsabilidades. Como isso afetaráa conexão entre a empresa e seus colaboradores? A empresa precisará cada vezmais buscar parcerias com seus talentos, em vez de uma relação patrão-emprega-do tradicional? A empresa está preparada para lidar com essa mudança?

Uma vez que o poder dos indivíduos tenda a aumentar, que mudanças precisarãoser consideradas pela empresa em termos de práticas/políticas de recursos huma-nos, liderança/forma de lidar com as pessoas na organização, espaços para oscolaboradores na forma de dialogar/comunicar dentro da organização, no proces-

A

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Coletânea“Cenários”

so de harmonização de interesses/negociação, no próprio processo de desenharos objetivos de longo prazo da empresa?

Na medida em que mais e mais pessoas passem a assumir a responsabilidade portudo que ocorre na sociedade (em vez de esperar que outros façam o que énecessário), que mudanças tenderão a ocorrer na sociedade como um todo? Comoisso afetará o que sua empresa faz hoje? O que é preciso fazer desde já, parapreparar a empresa para as mudanças previstas? Novos produtos? Formas novasde se comunicar e negociar com os clientes? Mudanças estruturais?

Que mecanismo deverá ser desenvolvido na empresa para substituir a burocracia,crescentemente rejeitada pelos indivíduos? Como preparar pessoas para gradual-mente se libertarem da estrutura rígida de controles e assumirem responsabilida-des individuais?

Que desafios o triunfo do indivíduo traz à empresa do ponto de vista de atrair ereter talentos? Como obter lealdade e comprometimento de pessoas maisautônomas e independentes?

O triunfo do indivíduo e dos empreendedores representa também uma nova for-ma de fazer as coisas acontecerem: em vez de projetar o futuro a partir do passa-do, desenvolver algo novo a partir de uma visão inédita do que se pretende cons-truir no futuro. De que forma isso muda os métodos de se fazer as coisas naempresa? A alta administração está consciente da magnitude dessas mudanças edo seu impacto em tudo que se faz na empresa?

Em que sentido o triunfo do indivíduo e a crescente atuação dos empreendedoresirá afetar o perfil da concorrência? O que é preciso fazer, desde já, para preparar-se para o que vai acontecer nesse sentido? Como está a própria força empreende-dora da empresa? A empresa está formando empreendedores internos no nívelnecessário? Há executivos especialmente designados para desenvolver e implan-tar soluções criativas/eficazes ao problema da força empreendedora como fatorchave de competição?

Como evoluirá a preocupação das pessoas com a qualidade de vida no trabalho?As condições de trabalho hoje existentes na empresa são as ideais? O que deveser feito a partir de já, para evitar problemas futuros nessa área? Que investimen-tos são prioritários visando a elevar a qualidade de vida na empresa?

Refletindo sobre a Megatendência 10:Uma Nova Relação da EmpresaCom Pessoas Mais Autônomas

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Megatendências e o Brasil Idéias Amana • Ano III Nº 1 • 1990Copyright Amana-Key Editora 1990

MEGATENDÊNCIAS E O BRASIL

m dos principais pontos de apoio para executivos que precisam atuar emépocas de mudanças profundas e rápidas é o conhecimento das megatendênciasmundiais. É com base em reflexões estratégicas sobre essas grandes tendênciasde mudanças (tendo por foco o que é preciso fazer na empresa em termos de“megacaminhos”) que torna-se possível colocar a organização acima das turbu-lências de curto prazo e assegurar uma evolução segura ao longo do tempo.

BRASIL, MEGATENDÊNCIAS E RACIOCÍNIO ESTRATÉGICO

Em países como o Brasil, raciocinar de forma estratégica parece uma tarefaimpossível, porque tudo muda com incrível rapidez, inclusive as próprias “regrasdo jogo”. Mas, é exatamente em contextos como esse que o conhecimento dasmegatendências mais pode ajudar. A visão do que se deseja atingir a longo prazopossibilita traçar planos amplos, tão macro ou mega quanto as própriasmegatendências: direções que ajudarão a ordenar as ações de curto prazo, pormais turbulento que o dia-a-dia possa ser.

Pode ser que em planos de longo prazo os objetivos pareçam menos reais. Entre-tanto, a disciplina imposta pelo pensar a longo prazo muda o processo de raciocí-nio na medida em que se passa a orientar sistematicamente as ações de curtoprazo com base na visão do objetivo de longo prazo que se pretende atingir.

Nesse sentido, é fundamental que as empresas aprendam a “enxergar” essasgrandes tendências, numa abordagem que privilegia uma visão do todo emcontraposição a formas míopes de “dar voltas em torno de si mesmas” através dediscussões intermináveis sobre cenários provincianos, restritos ao meramenteeconômico/numérico/de curto prazo.

UVeja neste artigo as influên-cias específicas que as me–gatendências estão tendosobre o Brasil. Após a aná–lisa de cada tópico leia asquestões para reflexão ten-do como pano de fundo umaquestão-chave: como a em-presa está se posicionandoem relação a cada tendên-cia?

Coletânea“Cenários”

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Coletânea“Cenários”

Reflexão: A empresa tem investido energia suficiente em evitar o enfoque míope,identificando/monitorando as megatendências mundiais e brasileiras, e promovendouma contínua avaliação/ajustamento de seu posicionamento quanto a essas tendên-cias? Mudanças ambientais que estejam ocorrendo no Brasil estão sendo analisadastendo como pano de fundo uma visão maior que inclua, além daquelas de âmbitosocial, político e econômico, as transformações de valores/paradigmas e a própriaevolução, extremamente significativa, do conhecimento humano? Os líderes da empre-sa têm investido energia em pensar a longo prazo, levando em conta essasmegatendências de mudança? Os líderes têm uma visão de longo prazo para a empre-sa que leve em conta um futuro que poderá ser muito diferente de hoje?

A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E O BRASIL

Uma nova economia está surgindo com força extraordinária. É uma economiabaseada em informação, e não mais em atividades industriais. Essa transformaçãoestá afetando todos os países inexoravelmente, embora esteja ocorrendo de formamais vigorosa nos países mais avançados.

A história dos países mais avançados mostra uma evolução linear e clara quantoao tipo de trabalhador que vem predominando em cada época. Primeiro foram ostrabalhadores rurais, depois os operários e mais tarde os de escritório. Emcontinuação, ao final da década de 90, cerca de 90% dos trabalhadores estarãoprocessando informações.

No Brasil os três tipos de trabalhadores — o rural, o operário e o de escritório —convivem, refletindo a diversidade da atividade econômica no país. Pode-se pres-supor que uma parte do Brasil seja predominantemente agrícola, outra predomi-nantemente industrial, e outra em transformação acelerada rumo à sociedade dainformação, formando assim vários “Brasis”.

Num país como o Brasil, onde se observam diferentes estágios de evolução den-tro de cada uma das fases — agricultura, indústria e informação — existem, naverdade, fantásticas oportunidades de criação de atalhos no processo de supera-ção de cada estágio, como já tem acontecido dentro do próprio “Brasil Industrial”.

Muitas indústrias saíram de estágios primitivos de industrialização para estágiosque usam tecnologia de ponta, gerando produtos altamente competitivos no mer-cado mundial. O mesmo ocorre na agricultura, que em algumas regiões do Brasilainda é muito primitiva e em outras é altamente industrializada e informatizada.

É nesse quadro paradoxal que reside a grande força do Brasil. Se o potencial parao uso de atalhos for bem gerenciado, o Brasil tem condições de diminuir o gap emrelação aos países avançados de forma mais acelerada, tornando bastante factívelo objetivo de entrar no Primeiro Mundo antes da virada do século.

Reflexão: A empresa tem sabido tirar proveito da convivência das três etapas doprocesso de desenvolvimento econômico, não apenas empregando recursos da econo-mia da informação para maximizar o aproveitamento dos recursos da economiaagrícola e industrial, mas buscando equilibrar riscos por meio de uma atividade

Megatendências e o Brasil

No Brasil coexistem os trêsestágios da evolução econô-mica — agrícola, industriale da informação — gerandooportunidades fantásticas.

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diversificada? Como as mudanças em processo geram oportunidades para a criaçãode atalhos que levem a uma diminuição do gap em relação às empresas de paísesmais desenvolvidos? Através de uma participação mais agressiva na economia global?Através de uma conexão mais intensa com o mercado mundial via recursos da socie-dade da informação? A empresa tem avaliado os impactos da sociedade da informa-ção sobre o comportamento de consumidores, fornecedores, competidores e outrosgrupos? A empresa está preparada para fazer frente a esses impactos? A empresa temacompanhado de perto a evolução dos recursos tecnológicos (não só em termos deconhecer, mas em termos de usar)?

O COLAPSO DO FLOAT DAS INFORMAÇÕES

O que se presencia no mundo com o advento das tecnologias avançadas de teleco-municações é a eliminação do float das informações — tempo gasto no trânsitodas informações, durante o qual elas não são utilizadas. Por exemplo, se umacarta aérea do Brasil para os Estados Unidos demora uma semana, o float dainformação é de uma semana. Eletronicamente, porém, pode-se eliminar esse floatou reduzi-lo a quase zero. Pode-se usar um equipamento de fax e fazer a mesmacarta chegar ao destinatário nos Estados Unidos em poucos minutos.

Do colapso do float da informação decorre uma aceleração significativa de mudan-ças na sociedade. A crescente universalização de informações e conhecimentospropiciada pela eliminação de seu tempo de trânsito faz com que as curvas deevolução da participação no mercado dos diversos países mostrem uma tendênciade estreitamento dos gaps existentes, principalmente em países de maiorpotencial, como é o caso do Brasil.

Reflexão: A empresa tem sabido utilizar estrategicamente os recursos tecnológicospara posicionar-se adequadamente no contexto mundial, de maneira a capturaruma participação de mercado cada vez maior? Que mudanças ambientais imedia-tas ocorrendo no próprio Brasil poderiam facilitar, auxiliar ou acelerar o processo deutilização estratégica dos recursos tecnológicos? O que a empresa deve fazer paraaproveitar de forma positiva essas mudanças? A empresa tem praticado uma análisesistemática de como a redução do float de informações impacta áreas estratégicascomo comunicação com o mercado, comunicação com fornecedores, desenvolvimentode produtos etc.? O que essa análise sugere em termos de ações estratégicas imediatas?

INFORMATIZAÇÃO, COMPETITIVIDADE E EDUCAÇÃO

O desenvolvimento social e uma melhor distribuição de renda, necessários emtodos os sentidos, inclusive para o desenvolvimento de um mercado interno cadavez mais forte, significam também custos de mão-de-obra mais elevados. Outrospaíses do Terceiro Mundo poderão se tornar mais competitivos nessa dimensão.

Potencialização da força humana parece ser a palavra-chave neste contexto. Emessência, trata-se de um desafio de cunho gerencial (relativo a eficácia em liderança eotimização de produtividade) e tecnológico (uso inteligente de know-how de ponta).

A redução do tempo de trá-fego das informações a ní-vel global potencializa em-presas brasileiras a fecha-rem o gap em relação a seuscompetidores globais.

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Para alavancar sua com-petitividade as empresasbrasileiras devem investirem educação para elevar aprodutividade na base.

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Reflexão: O que vale para o país como um todo vale também para as empresas que neleatuam: aos poucos o custo de mão-de-obra irá tornar-se um componente cada vez maispesado na formação dos custos totais dos produtos da empresa, e compensações terão queser encontradas para que a lucratividade seja mantida. A empresa tem investido coeren-temente em tecnologia (em todos os sentidos — equipamentos, computadores, técnicas deadministração e produtividade etc.) para que possa contrabalançar os crescentes custosda mão-de-obra? Que mudanças ambientais imediatas no Brasil podem exigir umaaceleração nesse processo de investimento? Como a empresa está respondendo a essasmudanças? Energia suficiente tem sido alocada ao processo estratégico de se buscarformas de contrabalançar a crescente pressão dos custos de mão-de-obra? A empresa temexercido esforços sistemáticos de maximização da produtividade (especialmente atravésde práticas de management de vanguarda), tendo em vista um grau cada vez maior devalor agregado pela mão-de-obra?

A ECONOMIA GLOBAL E O BRASIL

Uma grande transformação em andamento na sociedade é a globalização da eco-nomia. Está-se evoluindo de um processo limitado de comércio entre países “isola-dos” para um mercado global único no qual todos fazem “parte de um só time”.

Atualmente está-se decidindo quem fará o que nesta economia-mundo. Este é ummomento de grandes oportunidades para o Brasil, que ainda participa muito pou-co da economia mundial. A questão básica é o posicionamento estratégico dentrodessa tendência. Empresas relativamente pequenas (em comparação amultinacionais) localizadas em cidades do interior de São Paulo, por exemplo,estarão buscando nichos de mercado no exterior de forma direta, sem interferên-cia ou ajuda do governo ou de qualquer outra organização local ou internacional.Será através do conjunto de milhares de atuações independentes como essas queo Brasil se posicionará dentro da economia-mundo com devida força.

Reflexão: A empresa tem buscado nichos no mercado internacional que possamposicioná-la melhor na economia global? A empresa tem agido com rapidez suficien-te na identificação e penetração nesses nichos? A empresa tem se preparado parafazer frente à concorrência cada vez mais acirrada, típica dos mercados internacio-nais? Mudanças ambientais em curso atualmente no Brasil trazem que tipo deimpacto para a decisão da empresa de procurar mais agressivamente uma partici-pação no mercado global? A empresa está dotada de executivos e profissionais prepa-rados para atuar de forma global? Que esforços de desenvolvimento estão sendo feitosneste sentido?

A IMPORTÂNCIA DOS EMPREENDEDORES

O papel desempenhado pelos empreendedores no desenvolvimento/evolu-ção da economia de um país é de alta relevância. São eles que possibilitam arevitalização da sociedade de baixo para cima, num processo de grande força evigor.

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Megatendências e o Brasil

As empresas brasileiras es-tarão tomando elas mesmasa iniciativa de integrar-se àeconomia global, sem inter-mediários oficiais.

As empresas brasileiras pre-cisarão abrir cada vez mai-or espaço a empreendedo-res internos.

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Megatendências e o Brasil Idéias Amana • Ano III Nº 1 • 1990Copyright Amana-Key Editora 1990

Nas condições criadas pela sociedade da informação, conhecimento/know-how/informações representam os fatores críticos de todo o empreendimento, e nãomais o capital financeiro que, na sociedade industrial, sempre representa o fator-chave do processo de geração de novas empresas.

Numa sociedade em que o capital humano prevalece, o acesso ao sistemaeconômico depende mais da força empreendedora e da força do talento.

Reflexão: A empresa está preparada para enfrentar a competição de empreendedoresdinâmicos que, mesmo de pequeno porte e com pouco capital, representam umaameaça à sua participação de mercado em função de fatores de diferenciação ligadosa inovatividade, qualidade e outros? Que medidas a empresa tem adotado paraestar ativamente à frente do processo de inovação em seu setor, assegurando aconquista e manutenção de clientes? Há espaço para empreendedores internos naempresa? Que papel os novos empreendimentos — externos e internos — podemrepresentar no momento atual vivido pelo Brasil? Como esse momento pode influen-ciar a “decolagem” de novos projetos internos e externos à empresa? Qual seu poderde fazer a “máquina” da economia rodar mais rápido? Há consciência, entre oslíderes da empresa, quanto à importância de fatores estratégicos como criatividade,inovação, “fazer acontecer” e velocidade? A cultura da organização tem sido gerenciadapara estimular esses fatores?

DESCENTRALIZAÇÃO DO PODER DE REALIZAR

Gigantismo parece ser um mal que está sendo combatido mundialmente nas maisdiferentes esferas: grandes empresas tentam dividir a organização em várias unida-des estratégicas independentes, buscando a agilidade e eficácia inerentes às empre-sas menores; governos altamente centralizados buscam descentralizar o poder paraníveis de Estado, cidade e cidadão; organizações em geral procuram transformar-seem redes multifacetadas, em que todos têm acesso às informações, evitando arigidez e a concentração do poder de decidir e realizar no topo da pirâmide.

As próprias pessoas parecem combater inconscientemente o poder centralizadoatravés de uma busca persistente de auto-suficiência e independência. As pessoasnão acreditam mais nos grandes sistemas de saúde, serviços sociais, educaçãopública, previdência e ajuda institucional. Querem de volta a responsabilidade dese auto-ajudar em todas essas áreas, buscando inclusive formas alternativas e nãotradicionais de solução de seus problemas.

Possivelmente muitos dos problemas básicos do Brasil — principalmente nasáreas sociais, como educação e saúde — só serão resolvidos a contento através deformas criativas de auto-ajuda, em termos de grupos de cidadãos do mesmobairro, organizações e instituições locais, colaboração entre empresas e a comuni-dade onde se localizam. Esse é um vigoroso processo das bases para cima, que seimpoe em vez de soluções institucionais, centralizadas, de proporções gigantescase impostas de cima para baixo de forma padronizada.

A diminuição da presença do governo na economia, a privatização de empresasestatais, a descentralização dos serviços públicos e a diminuição da estrutura

Maior democracia e partici-pação em todos os níveis,inclusive dentro das empre-sas, são inevitáveis.

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Coletânea“Cenários”

governamental são tendências mundiais. O próprio processo democrático conduza estruturas mais do tipo “rede”, afastando-se das estruturas piramidais e autoritá-rias, do tipo “de cima para baixo”. As pessoas precisam aprender novas formas deagir, de se relacionar, precisam reaprender habilidades que deixaram de usar hámuito tempo, precisam inclusive aprender a ter muita paciência com as novasdimensões de tempo, principalmente no presente período de ajustamento.

Reflexão: A empresa tem acompanhado a tendência em direção a uma maior descen-tralização das estruturas e do poder? As pessoas da empresa têm sido preparadaspara atuar nesse ambiente mais descentralizado, em que independência e autono-mia são traços essenciais? Que alterações ambientais em curso atualmente no Brasilpodem reforçar essa tendência? A empresa está preparada para aproveitar as opor-tunidades (tanto internas quanto externas) geradas pela concretização dessa tendên-cia? De que forma a empresa planeja a transição de estruturas centralizadas,hierarquizadas e rígidas para estruturas descentralizadas, que enfatizem a autono-mia e a participação? A visão dos líderes para o futuro da empresa contempla essaforma de organizar-se? Há consciência quanto aos riscos de uma eventual dessintoniaem relação a esta tendência?

OPÇÕES MÚLTIPLAS

Outra megatendência que tende a ser global, a partir inclusive dos avanços dacomunicação em nível mundial, é o surgimento de opções múltiplas em pratica-mente tudo à nossa volta, saindo das escolhas dicotômicas do tipo preto ou bran-co, que durante muito tempo prevaleceram em nossa sociedade.

A tendência à criação de opções múltiplas está, por sua vez, relacionada ao concei-to de nichos de mercado. Os próprios recursos inerentes à sociedade da informa-ção possibilitam refinar a segmentação a níveis sofisticadíssimos, fazendo comque se consiga atingir o consumidor com alta precisão.

Num país como o Brasil, o fenômeno das opções tende a assumir contornosbastante complexos em função dos contrastes que existem entre a faixa populacionalmais rica e a menos privilegiada. Certamente, uma maior precisão e os recursospossuídos pelas empresas permitem cada vez mais oferecer uma ampla gama deopções de produtos para cada segmento da população brasileira, em sintonia comos respectivos níveis de renda.

Reflexão: A empresa tem buscado segmentar adequadamente os mercados que aten-de, visando a atingir posições altamente competitivas em nichos de mercado específi-cos? Tem sido considerada a possibilidade de buscar novos mercados (inclusive emsegmentos de menor renda), visando a uma cobertura mais ampla? Como mudan-ças ambientais atualmente em curso no Brasil afetam a segmentação de mercadopraticada pela empresa? Como os diferentes segmentos da sociedade serão afetadospelas mudanças? Como a empresa está posicionada nesses segmentos? Que ajustesdevem ser feitos? A tendência de opções múltiplas tem, também, sido projetada paradentro da empresa em termos de gerenciamento de sua força humana? Os colabora-dores da empresa dispõem de opções múltiplas em termos de alternativas de desenvolvi-

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A prática de uma segmen-tação de mercado refinadaserá uma das bases para osucesso das empresas noBrasil.

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Coletânea“Cenários”

mento profissional e pessoal? Os colaboradores da empresa dispõem de opções mútiplasem termos de alternativas de compensação, reconhecimento e qualidade de vida?

COMPENSANDO A CRESCENTE INFORMATIZAÇÃO

À medida que a alta tecnologia vem interferindo em praticamente todos os aspec-tos das vidas das pessoas, vem ocorrendo um verdadeiro renascimento das artes,música, teatro, numa tendência a desenvolver atividades compensatórias, princi-palmente no campo das humanidades, do cultural e do espiritual.

No Brasil, também, deverá ser especialmente desafiadora a busca de soluçõescompensatórias pelos segmentos menos favorecidos da população para contraba-lançar a crescente presença do computador e da alta tecnologia em suas vidas.

Reflexão: A empresa tem levado adequadamente em consideração os aspectos humanosenvolvidos ao se introduzir novas tecnologias ? De que formas a empresa tem procura-do contrabalançar a introdução de tecnologia (computadores, telecomunicações, robôs,equipamentos de produção informatizados etc.) no trabalho cotidiano das pessoas? Deque maneira as mudanças em curso no Brasil poderão afetar a maneira pela qual aspessoas têm se relacionado com a tecnologia? A tendência de compensação à crescentetecnologia através das artes e da busca de riqueza da vida interior traz oportunidadesde melhoria para a empresa? E que demandas ela pode trazer em áreas como comuni-cação com o mercado e imagem institucional? A empresa está preparada para agir deforma proativa na sociedade de modo amplo, para assegurar um melhor equilíbrioentre tecnologia e contato humano?

O BRASIL NOS ANOS 90

Tomando por base a leitura das megatendências que estão transformando o mun-do e estudando as condições prevalecentes no Brasil, é possível visualizar a evolu-ção do país nos próximos anos como um processo que terá de transpor dezpassagens independentes e interligadas entre si. Para atingir esse objetivo, ocaminho é complexo e desafiador. Será preciso gerenciar todas as variáveis deforma integrada, coordenando de maneira refinada as inter-relações, os efeitos deuma sobre a outra, as sinergias envolvidas, a alocação de energia, o timing decada movimento estratégico e principalmente os aspectos humanos/culturais. Sãopassagens que necessariamente terão de ser transpostas de forma criativa e inova-dora, para realizar a visão de fazer do Brasil um país plenamente desenvolvido(num novo conceito de desenvolvimento em que os valores humanos e a qualida-de de vida transcendem o “vencer economicamente”) na virada para o século XX:

1. Educação compatível com os desafios dos novos tempos para a nação comoum todo (todas as faixas de idade). Compatibilização entre alta qualidade(modernidade) e quantidade/alcance (acesso a todos).

2. Cultura e valores que restaurem o vigor da nação pela força de integridade,ética, respeito humano, predisposição à ajuda mútua e postura de ser produti-vo e contributivo para a sociedade como um todo.

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O avanço rápido da tecno-logia no Brasil irá exigir dasempresas um equilíbrio re-finado entre alta tecnologiae alto contato humano.

As empresas brasileiras po-dem atingir posições de li-derança na economia glo-bal desde que realmente odesejem e planejem umaestratégia coerente parafazê-lo.

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Coletânea“Cenários”

3. Descentralização máxima até o nível de cidadão e a transformação de posturade “um Estado que toma conta da sociedade” para “uma sociedade que tomaconta de si mesma”.

4. Democratização de espaços e recursos básicos que dêem condições para quecada cidadão possa ser produtivo e contributivo para a nação.

5. Assegurar um esforço integrado da sociedade como um todo para garantirqualidade de vida decente a cada um de seus menbros, a curto prazo.

6. Força empreendedora da nação estimulada e devidamente canalizada para asáreas de atividade prioritárias e para o próprio processo de participação comu-nitária.

7. Potencialização inteligente/bem-orquestrada de todas as riquezas/“ativos” ma-teriais, humanos e intangíveis da nação.

8. Programas prioritários de longo prazo — essenciais ao desenvolvimento dopaís — devidamente protegidos (por mecanismos criativos/inovadores) dasflutuações e distorções políticas casuísticas/circunstanciais de curto prazo.

9. Inserção estratégica do país no emergente mercado mundial através de parce-rias e alianças inovadoras/criativas.

10.Abertura inteligente do país ao capital mundial e soluções empreendedoras/não míopes/integradas ao todo dos problemas financeiros internos e externosda nação.

Reflexão: De certa forma, essas dez passagens também podem ser aplicadas emtermos de empresa, com as devidas adaptações. Como a empresa traduziria cadauma delas para aplicá-las à sua realidade? Como a empresa está posicionada e qualtem sido seu desempenho em relação a cada uma dessas dez dimensões? De queforma mudanças ambientais em curso no Brasil podem afetar (positiva ou negativa-mente) essas passagens e o posicionamento da empresa em relação a cadauma delas? As passagens em questão estão sendo contempladas no processo deformulação de uma visão de longo prazo para a empresa? A empresa e seus líderesestão suficientemente dotados de competência em management para gerenciar deforma refinada todas as variáveis envolvidas nesse processo? Que ações são necessá-rias para elevar ainda mais essa competência?

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MEGATENDÊNCIAS E AADMINISTRAÇÃO COMO ARTE

Brasil será os EUA do Século XXI.” Essa afirmação, feita por John Naisbitt em1988, pareceu a muitos, na época, uma referência a algo ainda bastante distante.Tempo demais para o Brasil deixar de ser o quase eterno “país do futuro” e integraro presente como grande potência. Para outros, representou um poderoso estímulo àbusca de uma visão que pudesse direcionar o esforço do país como um todo.

Hoje, já nos anos 90, aquela frase gera outras reflexões. As novas tendênciasapontadas por Naisbitt e Aburdene em seu livro Megatrends 2000, pela ênfasedada à Europa e ao Pacífico, fazem aquela previsão de Naisbitt parecer menosconcretizável. De acordo com Naisbitt e Aburdene, chegaremos ao ano 2000 comtrês quartos da economia mundial nas mãos de três principais players: EstadosUnidos, Pacific Rim e Europa. O restante estará com os outros países fora desseeixo, inclusive o Brasil. Seremos hoje menos viáveis como “potência futura”?

Tudo parece depender de nós mesmos. Se quisermos efetivamente realizar todo onosso potencial, o posicionamento estratégico do país em relação a esse mundoem rápida mutação deve fazer com que o Brasil necessariamente volte sua aten-ção para esses três quartos da economia mundial nos anos 90. Nesse sentido, aprimeira equação-chave em termos de megaestratégia para o país pode ser sinteti-zada em uma questão: como o país poderá inserir-se mais profundamente nocontexto mundial emergente, para estar em condições de posicionar-se no epicentroda explosão econômica global prevista por Naisbitt para os anos 90?

Por tudo que semearam nos últimos anos é que a Ásia e a Europa recebem hojeum fluxo natural de investimentos. Para o Brasil, o primeiro passo é participarativamente desses megamercados como fornecedor e parceiro comercial. Seu

Megatendências e aAdministração como Arte

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“OCenários de futuro podemser o ponto de partida paraa reinvenção de administra-ção de uma empresa. Essenovo management não co-loca-se passivamente nessescenários, mas ousa moldaras tendências e construir ofuturo desejado.

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Megatendências e aAdministração como Arte

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segundo passo é, aprendendo a partir do que tem sido feito naquelas regiões —de seus acertos e erros —, montar uma estratégia para atrair investimentos “derisco”, que lhe possibilitem concorrer nessa dimensão de forma cada vez maiseficaz e competitiva em relação ao resto do mundo.

Uma outra equação estratégica parece ser decorrência natural das anteriores:como conseguir, a partir do ano 2000, vir a ser o Pacific Rim de hoje? Ou seja,como fazer com que o Brasil venha a ser um player ativo na definição das tendên-cias mundiais para as próximas décadas?

OUSANDO MOLDAR TENDÊNCIAS

Tendências são construídas. Não são obra do acaso. Elas são geradas por fatos dopresente. Fatos são criados por ações de estadistas, executivos, cientistas e em-preendedores.

Assim como tendências são criadas pela ação de pessoas, elas obviamente podemser mudadas, revertidas.

Para reverter tendências, porém, não basta apenas agir. É preciso também saberlidar com a informação e os processos de comunicação. Como atrair investidoresestrangeiros, se o que se divulga dentro e fora do país não dá uma idéia precisa doreal potencial do Brasil e da própria realidade existente? Como “ler” o que ocorrena economia informal, ao se avaliar o potencial e o desempenho do país? Quepadrões de “paridade” de análise devem ser usados para produzir comparaçõesválidas em nível internacional, impedindo-se medições pasteurizadas, que ocor-rem a partir do uso de médias e referenciais já distorcidos em sua própria base?Como evitar que os atuais pontos fracos obscureçam o que de positivo e atraenteefetivamente existe no país, gerando um círculo vicioso negativo?

Informação e comunicação têm grande relevância na definição de tendências. O“efeito Pigmalião”, a profecia auto-realizável, se faz presente. Arautos do Apocalipseestão em todas as partes do mundo. Notícias ruins e negativas exercem forteatração também no Brasil. Más notícias são notícias em uma proporção muitomaior do que as boas. O seu resultado é um efeito multiplicador que instila medoe atitudes generalizadas de ceticismo e descrença, gerando tendências negativasde regressão e encolhimento.

Assim como tendências negativas são geradas por pessoas, elas podem ser rever-tidas como resultado da ação de uma massa crítica de indivíduos motivados,dispostos a construir e produzir. Uma motivação que só pode ser gerada atravésde cultura e valores políticos sadios, alinhados à busca de algo maior, a uma visãode um futuro otimista e altamente promissor.

EM BUSCA DE UMA CULTURA VENCEDORA

Da mesma forma que uma organização tem condições de aprimorar sua cultura,um país pode transformar seus valores e reverter comportamentos cartoriais,

Tendências são criadas pe-las ações de pessoas e po-dem, portanto, ser reverti-das pela ação de pessoas.

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Coletânea“Cenários”

individualistas, de queixas passivas, de críticas muitas vezes irresponsáveis edestrutivas, de desculpas, desenvolvendo, inclusive, novos padrões éticos para anação. São processos complexos, que levam tempo, mas perfeitamente viáveis.

Como dizem Naisbitt e Aburdene, “não devemos ser escravos do passado, dahistória, do que já se foi”. É preciso estruturar principalmente nossa postura emface do futuro — posicionando-nos estrategicamente para efetivamente concreti-zar tudo com que sonhamos e realizar nossa visão de um futuro ideal.

Novas tendências são criadas por pessoas de visão: estadistas, executivos e indivídu-os que decidem construir o futuro em vez de serem meramente empurrados pelosacontecimentos. Por trás de cada grande tendência apontada por Naisbitt existemindivíduos que a moldaram a partir de ações visionárias de anos ou décadas atrás.

Vivemos hoje uma época em que países e organizações líderes são desafiados poroutros — bem menos poderosos — e chegam a ser suplantados. Nada impede que oBrasil estabeleça novas tendências para as próximas décadas e venha a desafiar ahegemonia dos EUA, Japão ou de uma Europa unificada. Hoje, o desenvolvimento denovas tecnologias, a evolução explosiva em muitos campos do conhecimento humanoe a possibilidade de formação de alianças mundiais (que fundamentalmente só depen-dem de nossa ousadia e criatividade) tornam visíveis inúmeros atalhos para o progres-so do desenvolvimento de uma nação. Isso significa que posições de países no rankingmundial podem vir a ser alteradas significativamente, em muito pouco tempo.

Muito mais do que intervenções e megas-soluções tecnocráticas, para realizar taisreviravoltas são necessárias liderança visionária e arte em “management de país”.Uma arte que equilibre o técnico com o humano; aspectos objetivos com qualitati-vos; curto prazo com longo prazo. Que gere evolução em diferentes segmentos dasociedade de forma refinadamente equilibrada.

ADMINISTRAÇÃO COMO ARTE

Para produzir tais resultados, a administração precisa ser vista como uma arte.Uma arte capaz de trabalhar os aspectos materiais, psicológicos e espirituais quedeterminam a motivação e a mobilização da força humana da nação. Que podefazer o pouco que temos render exponencialmente e produzir mais do que ospaíses “ricos”. Que se fundamenta em know-how refinado, aprendido dos melho-res do mundo, mas devidamente ajustado, potencializado através de intuição ecriatividade. Uma arte que consegue coesão no país como um todo, desenvolven-do forte identidade cultural em uma população caracterizada por uma diversidadeétnico-racial riquíssima, só comparável, em sua força intrínseca, de acordo comNaisbitt, aos EUA. E que produz negociações refinadas tanto internas quantoexternas, levando à formação de alianças ganha-ganha por todo o globo. Uma arteque pode colocar o país de vez no contexto mundial, com muita dignidade eequilíbrio, conquistando o respeito de todos.

Nessa arte é também fundamental atentar para os aspectos soft envolvidos, especi-almente os de natureza ética. Parcerias duradouras exigem integridade e confian-ça, um grande desafio de natureza cultural para nosso país.

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Para alterar o curso das ten-dências e produzir altera-ções em rankings globais aadministração precisa servista como uma arte.

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Essa arte deve ser exercida não apenas por estadistas, mas também por cidadãosenvolvidos, participativos, não alienados, que, em vez de se queixar e se perderem debates inúteis sobre de quem seria a responsabilidade pelas coisas, se colo-quem à sua frente sempre prontamente, para fazer com que tudo que seja neces-sário realizar efetivamente aconteça.

No management do país, assim como no empresarial, não é preciso seguir “oque tem sido feito tradicionalmente”. Equilibrando de forma sábia o velho e onovo, o incremental e o visionário, é possível criar novas formas, novos méto-dos, novos mecanismos de “orquestração” e de “fazer acontecer” na sociedade:comissões de cidadãos comuns para supervisionar atividades de serviço público;estímulo a empreendedores não só através de impostos menores nos primeirosanos, mas com oferta de projetos prioritários em linha com a estratégia maior dopaís; reunião dos melhores cérebros do país para trabalhar (e não apenas opi-nar) em regime de força-tarefa temporária, em questões-chave e prioritáriaspara a nação; incentivos para que voluntários capacitados se apresentem paracontribuir em projetos relevantes; incentivos à participação dos cidadãos e em-presas na solução de questões de base como saúde, erradicação da pobreza,melhor distribuição de renda.

A arte da administração exige reflexões apuradas, sobretudo quando se idealizamsoluções que se ajustem perfeitamente ao contexto e que conduzam aos objetivosmaiores. Essas reflexões não podem ficar circunscritas ao periférico, ao superfici-al, ao cômodo e ao medíocre. Elas devem nos fazer ver, por exemplo, que educarno sentido amplo é muito mais do que “adestrar”. De que adiantaria ter pessoas“adestradas”/treinadas e até desenvolver uma sociedade eficiente, mas que fossese deteriorando em seu valores essenciais, levando a desequilíbrios que deslo-quem o próprio ser humano do foco principal?

PRIORIDADE À EDUCAÇÃO

No Brasil, os esforços de uma administração inovadora devem privilegiar apotencialização da força humana do país. Nesta era em que o capital humanodefinirá, mais do que nunca, a capacidade competitiva de nações e empresas nocontexto mundial, é preciso canalizar nossa criatividade e imaginação para encon-trar atalhos que impulsionem o nível de qualidade de nossa população. É possívelqueimar etapas utilizando tecnologias avançadas já disponíveis de nossa infra-estrutura de telecomunicações e muita criatividade/engenhosidade.

No “management arte” do país, a equação estratégica a exigir prioridade máximarefere-se à educação. Através de alocação maciça de energia em educação, conse-guiremos refinar a qualidade dos recursos humanos do país, adequando-os àsnovas demandas da sociedade da informação. Isso significará, também, melhoresempregos e melhor remuneração, assim como aumento considerável do “bolo” e,ao mesmo tempo, uma melhor distribuição de renda. Melhor distribuição derenda representa, por outro lado, mercado interno forte, fator essencial paraalavancar a competitividade do país no mercado externo.

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É preciso dar prioridademáxima à potencializaçãoda força humana do país.

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Mas, como viabilizar isso quebrando o círculo vicioso (falta de recursos, baixonível de educação, baixo desempenho econômico) no qual nos sentimos presoshoje? Aparentemente, só um caminho é viável: a participação direta de cada cida-dão,ou seja, a ação proativa dos cidadãos e a ação da própria força humana total dopaís, construindo efetivamente em nossa nação o moderno conceito de democra-cia participativa (“a sociedade que toma conta de si”) seja, por exemplo, por meioda ajuda voluntária em programas de melhoria de educação, seja por meio da“adoção” de escolas por empresas.

UMA VISÃO CLARA PARA O PAÍS

O que, mais do que nunca, parece ser necessário ao Brasil é visão: aonde o paísquer chegar como sociedade e como membro ativo da comunidade mundial? Nãoapenas no que diz respeito a aspectos econômicos, mas principalmente no quetange ao bem-estar das pessoas que aqui vivem e à contribuição para a humanida-de como um todo. Em suma, uma visão em linha com objetivos mais nobres queuma nação possa almejar.

Uma vez que se alcance um consenso nacional em torno dos objetivos maiores dopaís, os fatores de curto prazo começarão a interligar-se e harmonizar-se de formanatural. As pessoas tenderão a contribuir espontaneamente para a realização des-se ideal maior. Mesmo problemas difíceis, como inflação e dívida interna/externa,serão resolvidos com naturalidade e fluência, sem traumas e choques. Estratégiascriativas em todos os setores da sociedade serão idealizadas da base para o topo,com interferência mínima do Estado. Estadistas surgirão e se desenvolverão emtodas as camadas da sociedade, nesse ambiente em que tudo que se faz estásintonizado com algo maior.

Essa visão do que o país quer vir a ser exige, necessariamente, uma leitura amplado mundo, algo fundamental na medida em que o Brasil — queira ou não — fazparte da sociedade global de forma cada vez mais complexa e intrincada. Poroutro lado, nada impede que o Brasil inove, agindo independentemente, dese-nhando uma visão inovadora para o país, e, como decorrência, criando novospadrões, novas tendências mundiais. Um processo de dois sentidos.

VISÃO DE MUNDO E AS MEGATENDÊNCIAS

Em termos de visão de mundo, as megatendências apontadas por Naisbitt e Abur-dene nos levam a reflexões profundas, num verdadeiro desafio à nossa capacidadede abstração: que ações devemos desencadear desde já, como profissionais e,principalmente, como seres humanos, tendo em vista esse futuro que se avizinhaa passos acelerados? Talvez esteja exatamente na força impulsionadora dessareflexão seu mérito maior. Como não poderia deixar de ser, as dez megatendênciasapontadas por Naisbitt e Aburdene estão intrincadamente interconectadas.

A explosão econômica prevista para os anos 90 é uma das conseqüências daglobalização dos mercados e da evolução da tecnologia da informação, dos

É indispensável o consensoem torno de uma visão delongo prazo para lidar deforma definitiva com os obs-táculos de curto prazo

Que ações devem ser de-sencadeadas desde já empreparação para o futuro?

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Coletânea“Cenários”

processadores de conhecimento, das telecomunicações e da biotecnologia, princi-palmente. É preciso não só acompanhar essa evolução, mas assegurar acesso rápidode todos os setores da sociedade a ela. A descoberta dos atalhos ao processo deequiparação com as nações desenvolvidas só será possível com o domínio do estadoda arte das novas tecnologias. Ao mesmo tempo, estratégias de desenvolvimentodeverão ser formuladas com vistas ao futuro, evitando o risco de “preparar-se parao passado”. Os quatro “Tigres Asiáticos”, como apontam Naisbitt e Aburdene, de-monstram que é possível saltar de uma economia primária para uma outra tecnológicasem passar pelo estágio industrial tradicional. Por que não “queimar etapas” tam-bém no Brasil, na busca de novos patamares de desenvolvimento?

A ascensão do Pacific Rim é, em essência, a celebração da importância básica eestratégica da educação, da extraordinária relevância da qualidade dos recursoshumanos de uma nação, inclusive pelo seu impacto econômico, e da visão estraté-gica de longo prazo. Ela é, antes de tudo, também, uma extraordinária lição para oBrasil, em termos de “management de país”, principalmente no que se refere aoprocesso de construção da força de competição em nível mundial, exigida pelosnovos tempos.

Por outro lado, a emergência da nova liderança celebra a queda dos preconceitos,a igualdade do ser humano em todos os sentidos e a importância da força departicipação de cada pessoa na construção de um mundo cada vez melhor. Tam-bém evidencia a extraordinária importância dos recursos humanos e dos talentosnestes tempos que antecedem o terceiro milênio.

A universalização dos estilos de vida e a contratendência do nacionalismo culturalparecem simbolizar a crescente preocupação pelo bem-estar da humanidade comoum todo, aliada à valorização do indivíduo, dois pólos aparentemente opostos quese harmonizam quem sabe pela primeira vez na História.

As conquistas da Biologia — a ciência da vida — talvez venham a produzir mudan-ças de referenciais que nos ajudem a construir a avenida que nos aproxime aindamais de verdades básicas, hoje ainda obscurecidas por distorções criadas pelospróprios homens ao construir a sociedade industrial.

Nesse sentido, a emergência das sociedades de livre-mercado e a decadência dossistemas centralizados parecem representar o triunfo do ser humano sobre aarmadilha das relações de poder e dependência. Um triunfo que força as pessoasa olharem para dentro de si mesmas, em busca de respostas para suas questõesessenciais, e a sentir-se efetivamente co-responsáveis pela construção de um mun-do cada vez melhor.

O retorno à valorização das artes e do espiritual mostra-se, assim, bastante coeren-te com essa busca maior que parece definir nosso fim de século: um verdadeiromergulho para dentro de nossa própria essência. Nas tendências apontadas porNaisbitt e Aburdene em Megatrends 2000, o humano está presente em suas di-mensões mais básicas. E sempre onde é fundamental estar: no centro de tudo.

Megatendências e aAdministração como Arte

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Coletânea“Cenários”

Reinventando a Organização Idéias Amana • Ano I Nº 6 • 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

A CRESCENTE DEMANDA POR MUDANÇAS

REINVENTANDO AORGANIZAÇÃO

iversas empresas já encontram-se engajadas no processo de reinvenção daorganização. São empresas pioneiras, verdadeiros modelos para organizações quebuscam ajustar se aos novos tempos.

Numa época em que empresas estão experimentando círculos de controle dequalidade e políticas de “portas abertas” apenas como acessórios para “incrementar”sua estrutura tradicional, essas empresas-protótipo e seus líderes estão gerandonovas formas de gerenciar a organização. Estão reinventando a organização, crian-do a organização de amanhã.

Muitas delas tiveram início como criações experimentais de pessoas que preten-deram apenas fazer as coisas de uma nova forma. Pessoas que nunca pretende-ram formular novos modelos organizacionais para a década de 90.

Foi pesquisando e analisando estas empresas e suas práticas inovadoras queJohn Naisbitt, o destacado analista de tendências e mudanças econômicas esociais escreveu, juntamente com Patrícia Aburdene, o livro Re-inventing theCorporation. A obra tem por objetivo mostrar as tendências de evolução dasempresas como organismos geradores de lucro e de trabalho inovador, ajustadoaos novos valores.

Por que reinventar a organização? Naisbitt e Aburdene identificaram três podero-sas tendências que estão transformando o ambiente de negócios e compelindo asempresas a reinventarem-se. São tendências que se intensificarão muito duranteos anos 90:

DComo as empresas de visãoestão se recriando para ade-quar-se às mudanças noambiente e antecipar-se àstendências de mudança paraos anos 90.

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Coletânea“Cenários”

(l) mudança no valor estratégico de capital financeiro para capital humano; (2)achatamento das estruturas organizacionais com a eliminação de níveis intermedi-ários de gerência; e (3) a escassez de mão-de-obra especializada e o maior poderde barganha dos profissionais nos anos 90.

DE CAPITAL FINANCEIRO PARA CAPITAL HUMANO

A nova organização difere da antiga em termos de metas e premissas básicas. Naera industrial, quando o recurso estratégico era capital, a meta da empresa sópoderia ser lucro. Na era da informação, porém, o recurso estratégico é informa-ção, conhecimento, criatividade. Há apenas uma maneira de uma empresa teracesso a essas valiosas qualidades: por meio das pessoas nas quais esses recursosresidem.

Assim, uma premissa básica das empresas reinventadas é que pessoas – o capitalhumano – constituem seu mais importante recurso. Na sociedade da informaçãoos recursos humanos representam o diferencial competitivo de maior impacto.

As novas organizações descobriram que sendo pró-pessoas e pró-lucros podemconseguir resultados excepcionais. Não se trata da questão de “ser simpático” àspessoas. É simplesmente o reconhecimento de que seres humanos podem cons-truir ou destruir uma empresa.

MUDANÇAS NA GERÊNCIA MÉDIA

Os gerentes intermediários – pessoas que coletam, processam e transmitem infor-mações para cima e para baixo ao longo da hierarquia – estão perdendo para atecnologia na disputa por produtividade. Os gerentes intermediários têm se benefici-ado da crença de que pessoas trabalham melhor quando são supervisionadas deperto. Mas agora aquelas hierarquias nas quais os gerentes intermediários tinhamposição assegurada, estão sendo alteradas por um vasto conjunto de estruturas deauto-gerenciamento: redes, equipes multidisciplinares e pequenos grupos.

O auto-gerenciamento está substituindo gerenciadores de pessoas; o computadorestá substituindo gerenciadores de sistemas. Computadores estão substituindogerentes a uma taxa mais elevada que aquela em que robôs estão substituindooperários de linha de montagem. Empresas estão se estruturando em pirâmidesachatadas ou outras formas organizacionais, onde as pessoas efetivamentegerenciam a si próprias.

A ESCASSEZ DE TALENTOS

A maioria das organizações está acostumada a operar num mercado com grandeoferta de profissionais, podendo escolher os mais qualificados e competentes paracada cargo. A exceção está, obviamente, nas áreas de informática e alta tecnologiaonde já há – e continuará a haver – considerável escassez de talentos. Mas, a

Idéias Amana • Ano I Nº 6 • 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Reinventando a Organização

As pessoas são a principalfonte de vantagem competi-tiva das empresas

Novas formas de organizare trabalhar estão alterandoa estrutura das empresas.

Práticas de recursos huma-nos estão sendo rapidamentealteradas para permitir às em-presas competir por talentos.

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Coletânea“Cenários”

partir do final dos anos 80 haverá escassez de mão-de-obra em um crescentenúmero de ocupações.

As organizações irão agressivamente competir pelos poucos talentos disponíveis.Os melhores serão atraídos pelas empresas reinventadas: excelentes locais paratrabalhar e onde os indivíduos podem crescer também em termos pessoais.

Muitas das idéias implantadas pelas empresas que estão se recriando em funçãodessas mudanças não são novas, e vêm sendo debatidas e analisadas há algunsanos.

Contudo, o ponto central é que novos valores, novas noções das coisas e boasidéias não produzem mudanças por si mesmos. Transformações só ocorrem quandohá uma confluência entre novos valores e necessidades econômicas.

As turbulências dos anos 90 – a emergência de uma economia global e o declínioda base industrial – têm representado o ímpeto econômico para a mudança. Novasforças como a escassez de mão-de-obra, a redução das gerências intermediárias ea definição dos recursos humanos como diferencial competitivo estão reforçandoesse imperativo econômico. As empresas que desejarem sobreviver, desenvolver-se e vencer não têm tempo a perder. Precisam recriar-se.

ESTRUTURAS ÁGEIS QUEPERMITAM À ORGANIZAÇÃO

REAGIR AOS NOVOSDESAFIOS À FRENTE DOS

CONCORRENTES

LIBERDADE PARA ASPESSOAS ATUAREM AUTO-

MOTIVADAS NA BUSCA DOSOBJETIVOS INSTITUCIONAIS

ATAQUE SISTEMÁTICO APRECONCEITOS, RESTRI-

ÇÕES ARTIFICIAIS E“BARREIRAS PRÉ-CONCEBI-

DAS” QUE INIBAM AINOVAÇÃO

RELAÇÕES NUTRIENTESENTRE A EMPRESA E SEUPESSOAL, QUE ATRAIAM E

RETENHAM TALENTOS

ESPAÇO PARA INTUIÇÃO,JULGAMENTO, “SABEDORIA”GERADA PELA EXPERIÊNCIAPARA EQUILIBRAR ÊNFASE

EXCESSIVA ÀRACIONALIDADE

AMBIENTES QUE FAVORE-ÇAM O DESENVOLVIMENTO

E O EXERCÍCIO DECRIATIVIDADE

PROCESSOS DE PLANEJA-MENTO E EXECUÇÃO QUENÃO DEPENDAM DE UMA

ADMINISTRAÇÃOCENTRALIZADA

PRIORIDADE AO TREINA-MENTO, DESENVOLVIMENTOE EDUCAÇÃO DE PESSOAS

ENQUANTO FATORESTRATÉGICO CHAVE

BUSCA DO HOLÍSTICO, DOGLOBAL E DA OTIMIZAÇÃO

DAS INTERRELAÇÕESDENTRO DO TODO EM TUDO

QUE SE FAZ

Idéias Amana • Ano I Nº 6 • 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Reinventando a Organização

O QUE AS EMPRESAS EM PROCESSODE RECRIAÇÃO ESTÃO BUSCANDOO QUE AS EMPRESAS EM PROCESSODE RECRIAÇÃO ESTÃO BUSCANDO

Page 75: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

Cenários de Futuro Requerem Ações no Presente Flash-Idéias

N

IDÉIAS PARA COMEÇAR A AGIR

CENÁRIOS DE FUTUROREQUEREM AÇÕES NO PRESENTE

ão basta refletir ou debater a respeito das transformações em curso noambiente maior. O desenvolvimento de cenários de futuro tem um objetivomaior: a ação estratégica oportuna. Veja neste artigo algumas ações que já estãosendo adotadas por empresas. Que tal iniciar ações semelhantes em sua empre-sa desde já?

DE ONDE VIRÃO OS CONCORRENTES DO FUTURO?

Acompanhar mudanças em andamento e estudar tendências pode parecer, paramuitos executivos “pragmáticos”, meros exercícios de “futurologia” – poucorelacionados com o dia-a-dia da empresa. A história, porém, revela que muitasempresas foram expelidas do mercado exatamente por ignorarem essas tendên-cias. Quando as mudanças realmente acontecem, provavelmente é tarde demaispara ter sucesso na reação. Quanto mais antecipadamente são detectadas asgrandes tendências de mudanças, melhores são as condições de se assegurarum amanhã saudável e sem problemas. Quanto do sucesso de empresas que sãolíderes de mercado há décadas se deve a esse cuidadoso monitoramento dastendências de mudança? A propósito, de onde virão seus futuros concorrentes?Onde estão as “pistas” que darão essa resposta? Poderão vir de áreas completa-mente diversas (caso dos serviços de correio, contrapostos à expansão do fax;dos bancos, que enfrentam concorrência das lojas de varejo no financiamento apessoas físicas)?

Page 76: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

OPERÁRIOS DA INFORMAÇÃO

A tendência rumo à automação e crescente informatização é irreversível. Isso nãosignifica, porém, o fim dos funcionários de fábrica, mas sim uma mudança emsuas habilidades. As mudanças trazidas pela informática estão transformando ooperário tradicional em um trabalhador da informação, ao mesmo tempo em queestão tornando cinzenta a linha de separação entre operário e supervisor e entresupervisor e gerente. No bojo dessa mudança está uma descentralização do podere da autoridade, pois o trabalhador de linha pode tomar muitas decisões queimpactam o todo, mantendo um maior controle sobre o processo produtivo. Esseé um ponto importante. O retreinamento do pessoal operacional não pode sim-plesmente ater-se a ensinamentos técnicos sobre como operar novos equipamen-tos. É necessário despertar nesses funcionários uma nova consciência quanto aoprocesso como um todo e sua importância/participação no mesmo. Isso podeenvolver desde uma complementação de sua formação escolar até um processode valorização de seu trabalho e de sua pessoa, que produza amadurecimentoprofissional e individual.

CONTATO HUMANO VERSUS INFORMÁTICA

Se de um lado a informática pode ajudar a melhorar consideravelmente o proces-so de prestação de serviços (menor custo, maior racionalização, menos filas, mai-or rapidez etc.), há outros problemas que surgem como conseqüência da diminui-ção do contato humano (excessiva impessoabilidade, frieza, dificuldade em resol-ver problemas não padronizados). Enquanto algumas organizações correm à bus-ca de cada vez maior informatização na prestação de serviços (auto-serviço padro-nizado), outras têm conseguido resultados excepcionais caminhando em sentidocontrário (cada vez maior personalização e excelência do contato humano). Algu-mas dessas empresas de sucesso têm usado alta tecnologia e alto contato humanopara assegurar alta qualidade de atendimento. Por exemplo, um banco de investi-mento tem conseguido excelentes resultados dando ênfase à qualidade mais doque à quantidade de pessoal (poucos super-especialistas muito bem remuneradosdando atendimento personalizado) e usando sofisticadíssimo sistema de computa-ção para suportar o atendimento (atendente tem acesso aos registros do clienteem poucos segundos). Esse é mais um exemplo do valor do equilíbrio (uso dospontos fortes de cada recurso), do entendimento refinado das necessidades docliente e da criatividade para obtenção de vantagem competitiva.

A FORÇA DAS MULHERES

Mais e mais as mulheres têm conquistado respeito e poder nas organizações.Essa condição está fazendo com que as empresas reconheçam as legítimas neces-sidades dessa nova força de trabalho. O impacto das mulheres que trabalham estápor trás de muitas das práticas que reinventam a empresa: do interesse crescenteem jornadas e benefícios flexíveis até a nova respeitabilidade conferida à intuição.As creches, por exemplo, estão finalmente sendo vistas não como um problema

Cenários de Futuro Requerem Ações no Presente Flash-Idéias

Page 77: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

das mulheres, mas como uma questão de trabalho em geral. Como membros defamílias em que marido e mulher trabalham, as mulheres estão fazendo as empre-sas reverem suas políticas de transferência (que fazem a família se mudar e umdos cônjuges ficar desempregado), os critérios de licença maternidade/paternida-de e as regras contra o casal trabalhar na mesma empresa. Mulheres com carrei-ras bem estabelecidas que tornam-se mães estão conseguindo negociar contratospart-time, de modo a manter suas carreiras enquanto cuidam de seus filhos peque-nos. Todavia, a principal questão na relação de trabalho com as mulheres tem sidosua remuneração. É crescente o reconhecimento de que é injusto pagar às mulhe-res desproporcionalmente à sua contribuição para a empresa. Esse é um proble-ma básico, que deve ser resolvido por toda empresa que deseje garantir os melho-res talentos em seus quadros, homens ou mulheres, em tempos de acirrada con-corrência por pessoas capazes.

RECRUTANDO NO EXTERIOR

Empresas reinventadas atentas ao processo de globalização da economia têmbuscado internacionalizar-se de forma criativa/não ortodoxa. Algumas dessas em-presas têm recrutado pessoas em outros países. Por meio da introdução de estran-geiros, essas empresas têm conseguido produzir um saudável “choque cultural”em seus funcionários, fazendo-os compreenderem mais profundamente as sutilezasenvolvidas no processo de internacionalização. Elas têm também extraído vanta-gens de conhecimentos especiais, experiência e relacionamentos desses novoscolaboradores. Além disso, trata-se de excelente forma de importar tecnologia:trazendo os próprios cérebros que a retêm e desenvolvem.

ADOTE UMA ESCOLA

Quando as empresas reinventadas contribuem para a educação nas comunidadesem que estão instaladas, elas estão investindo a longo prazo. Um bom sistemaeducacional local é um dos principais ativos que a empresa pode desenvolver emrelação ao ambiente em que opera. Boas escolas são, em essência, o fator-chavepara o suprimento de pessoas talentosas e criativas para o mercado de trabalho.“Adotar” uma escola pode garantir à empresa o melhor pessoal, hoje e no futuro.

Cenários de Futuro Requerem Ações no Presente Flash-Idéias

Page 78: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

Novos Paradigmas Idéias Amana • Ano II Nº 4/5/6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

NOVOS REFERENCIAIS PARA INOVAÇÕES ESTRATÉGICAS

NOVOS PARADIGMAS

ue mudanças de valores estão afetando o management das organizações?

• Que tipo de estrutura de poder e liderança irá emergir para substituir a atual?

• Qual será a forma de organização da sociedade que irá prevalecer no futuro?

• A sociedade de consumo irá perdurar? Que tipo de sociedade tende a substituí-la?

• A que se atribui esse sentimento de declínio da sociedade, de governos, dasestruturas tradicionais? O que explica a aparente alienação de vasta parte dasociedade?

• O movimento de globalização da economia está ligado, de alguma maneira, àinternacionalização de outras instituições sociais?

• Como podemos nos tornar atores de destaque no processo de transformação,compartilhando responsabilidades e superando a inércia, os interesses mesqui-nhos e nossos próprios hábitos?

Os executivos, mais do que acadêmicos ou profissionais de outras áreas, depen-dem de respostas adequadas a indagações como essas para assegurar êxito emsuas decisões. Isso os obriga a ampliar sua visão na busca de uma perspectivamaior. Nesse tipo de busca, de extraordinária relevância, a pensadora americanaMarilyn Ferguson tem se destacado mundialmente.

QQuais os novos paradigmasdas transformações pesso-ais, organizacionais e soci-ais que caracterizam os diasde hoje? São os valores emer-gentes que exigem das em-presas inovações estratégicas?

Page 79: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

FORÇA GERADORA DE INOVAÇÃO

De acordo com Ferguson, executivos, cientistas, políticos e profissionais dos maisdiversos campos vêm caminhando “juntos” numa mesma direção, sem saber daexistência uns dos outros. São pessoas que, unidas por um estado de espírito euma força fantástica, buscam formas inovadoras de fazer as coisas, produzindotransformações de enorme poder multiplicador.

Trata-se de algo extraordinário. Um processo que se desenvolve com muita rapidezmas ainda não tem nome, e é muito difícil de ser descrito. Um espírito repleto deparadoxos: ao mesmo tempo pragmático e transcendente, ele valoriza tanto as des-cobertas como os mistérios, tanto o poder como a humildade, tanto a interdependênciaentre as pessoas como a individualidade, integrando o mágico à ciência, arte àtecnologia. Algo simultaneamente político e apolítico, unindo pessoas das mais dife-rentes tendências. Um espírito que tem influenciado fortemente a evolução dosmais diversos campos do conhecimento humano e da própria forma de governar eliderar organizações, levando a novos paradigmas. E levando também a uma novaestrutura de pensamento que é mais “descoberta/vista” do que racionalmenteconstruída. Não é apenas mais conhecimento. É um “novo conhecer”.

Ao descrever de forma inédita esta verdadeira “conspiração benigna” em suasobras, Marilyn Ferguson conseguiu identificação instantânea com milhões depessoas no mundo inteiro. Pessoas que perceberam que as inovações que geramno que estão fazendo estão inseridas num processo maior, de excepcional forçatransformadora. Uma força que está desencadeando o que parece ser a maisrápida e significativa mudança cultural da história da humanidade.

A obra de Ferguson é um verdadeiro guia que nos leva a enxergar os novosparadigmas em emergência, a fazer perguntas que levam a reflexões inéditas eentender o que está por trás das imensas transformações em processo, tanto noâmbito pessoal como no organizacional e social.

UMA NOVA PERSPECTIVA PARA AS EMPRESAS

Um número cada vez maior de líderes de negócios parece estar em busca de umanova perspectiva que responda às questões de caráter fundamental. A obra deMarilyn Ferguson fornece aos executivos um quadro de referência que respondea essas inquietações, indo ao cerne, à essência das questões.

Uma vez que se capte a essência das transformações em curso, muitos dos fenô-menos e tendências aparentemente inexplicáveis parecerão encaixar-se no lugarcerto. Ficará mais fácil entender o que está mudando a nível das pessoas, dasorganizações e do ambiente maior. Cada um terá mais confiança em si e, comoconseqüência, nos outros.

O otimismo produzido pela disseminação em rede das iniciativas inovadoras queestão dando certo, deverá gradualmente contrapor-se ao ceticismo, tão em voganos tempos atuais, gerando uma quantidade cada vez maior de açõestransformadoras.

Novos Paradigmas Idéias Amana • Ano II Nº 4/5/6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

Pessoas das mais diferentesáreas, unidas por um estadode espírito comum, vêmproduzindo os novos pa-radigmas.

Entender o que está mudan-do será mais fácil se capta-mos a essência das transfor-mações em curso.

Page 80: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

Como declara Ferguson: “Não podemos ficar esperando que o mundo se transfor-me e nos mude. Nos somos a própria força transformadora do mundo.”

OS NOVOS PARADIGMAS

A mudança de paradigmas afeta as instituições da sociedade em campos tãodiversos como política, economia e negócios, educação, saúde, cidadania, compor-tamento e espiritualidade. Em todas essas áreas, Ferguson identifica as transfor-mações em curso na maneira de compreender e agir sobre a realidade, superandopadrões e modelos há muito estabelecidos.

Nesse processo de transformação, um número incalculável de pessoas das maisdiferentes atividades, incorpora valores e orienta suas ações com base nos novosparadigmas que emergem em substituição a princípios tidos como dogmas.

Nas estruturas de poder e da política esse tipo de mudança se expressa como umquestionamento das formas tradicionais de hierarquia e autoridade. Em lugar degovernos monolíticos e verticalizados, os novos paradigmas apontam para umamaior descentralização e por uma distribuição mais “horizontal” de poder. Acontraposição entre esquerda e direita cede lugar a uma síntese entre idéiasliberais e conservadoras. Há uma ênfase nas propostas de ação pessoal espontâ-nea, em vez da imposição de reformas.

Os sistemas econômicos vigentes também estão sendo confrontados, sob a óticade novos valores. Uma sociedade pluralista onde os indivíduos tenham mais auto-nomia, requer uma nova economia. Entre as mudanças de paradigma nesse cam-po está o declínio do conceito de consumo a qualquer preço – fruto de “necessida-des” criadas e fator de estímulo à obsolescência planejada – em favor de umconsumo apropriado, conservação/reciclagem e atendimento de necessidades au-tênticas. Nesse processo, inserem-se formas inovadoras de organização egerenciamento das empresas, que privilegiam o estímulo ao trabalho, adesburocratização, a administração participativa, a troca das hierarquias por redesde cooperação e um questionamento da divisão trabalho/lazer.

As páginas seguintes ilustram alguns cenários resultantes das tendências de trans-formação nesses paradigmas, identificadas por Marilyn Ferguson.

Novos Paradigmas Idéias Amana • Ano II Nº 4/5/6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

Nenhuma área de atividadehumana deixará de serafetada pela mudança deparadigmas.

Page 81: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

Premissas do novo paradigma:“Sociedade que toma conta”

• Mudança emergem de consensoe/ou inspiradas por liderança

• Encorajamento a auto-ajuda e re-des de ajuda mútua, “voluntarismo”

• Governo como consenso de indiví-duos, descentralizado, atua como co-ordenador

• Governo para estimular cresci-mento, criatividade, cooperação,transformação, sinergia

• Líderes e seguidores afetando unsaos outros num relacionamento di-nâmico

• Respeito pela autonomia dos ou-tros, ética

• Humanidade como parceira da na-tureza, ênfase em conservação/ecologia

• Interesse individual e da comuni-dade se complementam

• Ênfase na transformação individu-al como base das reformas

• Orientação ganha/ganha. Podercom outros

Premissas do antigo paradigma:“Estado que toma conta”

• Mudanças impostas por autorida-de, de cima para baixo

• Serviços de assistência institu-cionalizados e centralizados

• Governo como uma instituiçãomonolítica, central e forte

• Governo para manter as pessoasna linha (papel de disciplinador),ou como um pai benevolente

• Líderes agressivos, seguidorespassivos

• Interesses ocultos, manipulação,tráfico de poder

• Humanidade como conquistadorada natureza, visão exploradora dosrecursos

• Escolha entre interesses do indi-víduo ou da comunidade

• Ênfase em reformas externas e im-postas

• Orientação ganha/perde. Uso depoder a favor ou contra

O Paradigma Emergente: Poder e Política Idéias Amana • Ano II Nº 4-5-6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

O cenário futuro para o po-der e a política é o da socie-dade que toma conta de simesma, liderada por umanova forma de democraciaparticipativa.

O PARADIGMA EMERGENTE:PODER E POLÍTICA

O PARADIGMA EMERGENTE:PODER E POLÍTICA

Page 82: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

“EVOLUÇÃO”

Somos todos responsáveis pelo que acontece nasociedade. Depende de cada um de nós.

Precisamos de um grande diálogo na sociedade como umtodo. É preciso buscar um consenso global.

Precisamos que mais líderes emerjam e hajamaior envolvimento de todos.

Não podemos ficar esperando. Temos que tomar adianteira. O país é nosso. Nós somos o país.

Precisamos de maior iniciativa para resolver nossospróprios problemas e ajudar-nos mutuamente…

O papel do governo é criar espaços para crescimento/desenvolvimento, coordenar o esforço conjunto…

É preciso alta flexibilidade para inovar e levar emconta a enorme quantidade de nuances…

Precisamos, através de negociações profundas, tero compromisso e o envolvimento de todos.

Precisamos descentralizar e distribuir autoridade epoder horizontalmente. Isso tornará viável…

Somente através de programas “ad hoc”, flexíveis e emevolução, é possível o ajustamento à realidade…

Precisamos de novas perspectivas para o futuro eespaço para inovação, ações com flexibilidade…

Temos que ser livres para criar, auto-realizar…

Participação política exige trabalhar paradigmas.

Em que a polarização ajuda o país? Rotulação sóatrapalha a busca de soluções criativas/inovadoras…

O governo deve catalisar o esforço conjunto detodos e a harmonização de interesses.

Governo precisa operar mais holisticamente…

Precisamos de líderes que consigam potencializara força humana presente em todos.

Atingiremos os objetivos legitimamente através deautenticidade, ética e negociações com cartas na

mesa.

Governo é responsável por cuidar do equilíbrionatural e dos direitos das futuras gerações.

Atinge-se o objetivo da nação na medida em queos objetivos de todos sejam atingidos.

É preciso antes de tudo mudar atitudes, valores.Mudanças e evolução serão conseqüências naturais.

É preciso negociar sem defensividade. Manipula-ção sempre gera barreiras e evita acordos

nutrientes.

Devemos nos tornar uma grande equipe. Porcooperação máxima, todos estarão ganhando.

Coletânea“Cenários”

“RETROVISÃO”

O governo é responsável pelo que acontece emnosso país…

Estamos sem direção.Onde está o governo?

Precisamos de um governo forte para mudar oestado das coisas.

Até quando vamos ter que esperar? Quando ogoverno vai resolver?

É responsabilidade do governo oferecer…O governo precisa mudar…

O papel do governo é cuidar do bem-estar detodos os cidadãos…

Se não houver ordem, obediência e ajustamentoàquilo que é estabelecido, o caos…

Temos que ter controles rigorosos e cercearpossíveis excessos desde o início.

É preciso controlar tudo com extremo rigor. Casocontrário, será impossível…

Somente uma máquina governamental bemmontada, bem estruturada…

Precisamos de um programa claro, umaplataforma de governo, objetivos específicos.

Temos que estar livres de certas interferências…

De que partido você é?

É da esquerda ouda direita?

O governo precisa fazer todo mundoentrar na linha.

É preciso mais um ministério especializado em…

Precisamos de líderes fortes, que guiem ospassos…

Chegaremos lá se formos capazes de manobrarbem as coisas, usar a pressão certa, trabalhar o

poder…

Governo é “dono” dos recursos naturais e temdireito de explorá-los como bem lhe aprouver.

Não é possível contentar a gregos e troianos. Aspessoas precisam se sacrificar em prol do todo.

Mudanças efetivas só ocorrem através de açõesfortes. Com um decreto…

Todo mundo buscatirar vantagem do outro.

É preciso proteger…

Estamos todos numa grande selva onde unsganham e outros perdem.

Poder/Política — Contrastando Vozes e Visões Idéias Amana • Ano II Nº 4-5-6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

PODER/POLÍTICAPODER/POLÍTICACONTRASTANDO VOZES E VISÕES

Page 83: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

O Paradigma Emergente:Educação/Aprendizagem

O cenário de futuro para aeducação é, na verdade, oresgate da aprendizagem,em que as pessoas desenvol-vem ao máximo seu poten-cial em vez de serem apenasadestradas em habilidadesultrapassadas da sociedadeindustrial.

Idéias Amana • Ano II Nº 4-5-6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

Premissas do novo paradigma:Aprendizagem

• Ênfase em aprender a aprender, afazer boas perguntas, a estar aber-to. Importância do contexto. Conhe-cimento sujeito a mudanças

• Aprendizagem como processo,como jornada. Prioridade à auto-ima-gem como gerador de desempenho

• Igualdade, discordância permitida,relação entre pessoas e não entrepapéis. Encorajar autonomia

• Experiência interior/pessoal/sen-timentos como contexto importan-te para potencializar aprendizagem

• Busca do todo, racionalidade soma-da à intuição. Teoria complementadapor experiências/vivências/viagens

• Educação como processo paravida toda, relacionada apenastangencialmente à escola

• Estrutura do currículo flexível emconteúdos e metodologia. Encora-jamento a inputs da comunidade,inclusive controle

• Professor também aprende, cami-nho de duas mãos

• Preocupação com ambiente paraaprendizagem: luz, cores, confor-to físico. Ênfase na relação huma-na professor-aluno

• Preocupação com o desempenhodo indivíduo. Busca de novos “li-mites”. Integração de pessoascom idade diferentes

Premissas do antigo paradigma:Educação

• Ênfase no conteúdo, na aquisiçãode conhecimentos “certos” e defi-nidos

• Aprendizagem como produto,como destino final. Prioridade aodesempenho

• Autoritarismo de quem sabe: re-compensa ao conformismo,desestímulo à discordância

• Ênfase no mundo externo; expe-riência interior/pessoal inadequa-da ao ambiente escolar

• Ênfase no raciocínio analítico-line-ar. Baseado em “conhecimento delivros”. Teoria

• Educação como necessidade tem-porária, o mínimo para exercer pa-péis específicos

• Estrutura do currículo rígida eprescritiva. Burocrático. Fechadoa inputs da comunidade

• Professor proporciona conheci-mentos, caminho de mão única

• Salas de aula projetadas para efi-ciência e conveniência. Ênfase àtecnologia. Desumanização

• Preocupação com normas. Com-partimentalização em termos deidade

O PARADIGMA EMERGENTE:EDUCAÇÃO

O PARADIGMA EMERGENTE:EDUCAÇÃO

Page 84: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

Ensino/Aprendizagem —Contrastando Vozes e Visões

Idéias Amana • Ano II Nº 4-5-6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

ENSINO/APRENDIZAGEM

“EVOLUÇÃO”

O professor é um facilitador, um agente daaprendizagem. Ele catalisa a descoberta…

As pessoas crescem por si mesmas namedida em que seu potencial seja estimulado.

Como posso ajudá-lo a melhorar suaeficácia em aprender coisas novas?

Você tem tudo que é necessário para desenvol-ver… Veja pelo que você já realizou que…

O que precisamos aprender para conseguir-mos fazer isso?

No atual estágio, sabemos que…

Como você aprende melhor? Que métodode aprendizagem você gostaria de…

Vamos conversar a respeito… O que vocêacha? Dentro do seu referencial…

Essa é uma das formas de ver a questão. Há outrasque… Vamos pesquisar… Pensemos juntos…

O que você já sabe a respeito?O que falta aprender?

Vamos relacionar isso que você acha/senteàquilo que estamos discutindo…

Nem todo sucesso foi “lógico” desde oinício… Há exemplos que mostram que…

É preciso potencializar a intuição, acriatividade e a sensibilidade das pessoas.

Nem tudo que aprendemos passa pelo nossonível consciente. Somos uma esponja…

A mente humana é capazde saltos inesperados.

A prática com reflexão e envolvimento gerateorias de extremo valor.

Inovação constante pressupõeeducação permanente.

Teoria e prática andam juntas. Boas teoriassão atalhos à prática.

Como tornar o processo de desenvolvimentoauto-sustentado, contínuo, para a vida toda?

Nunca é tarde demais para aprender.Todos têm um enorme potencial para…

Nesse nosso contexto, o que faz sentido emtermos de programa e metodologia hoje?

Hoje dialogaremos juntos sobre…

Interação no grupo acontecerá satisfa-toriamente? Pessoas estão bem para

trabalharem produtivamente?

Que ponto forte da pessoa será preciso usarcomo “gancho” para potencializar seu

desenvolvimento?

“RETROVISÃO”

O papel do professor é o de transmitir conhe-cimentos e controlar a qualidade de retenção.

Produz-se desenvolvimento por transferên-cia de conhecimentos.

O que você querque eu lhe transmita?

Vamos ver se vocêvai conseguir…O teste deverá mostrar…

Não somos qualificadospara fazer isso.

A teoria correta sobre este assunto…

Meu método de ensinoé o seguinte…

Veja bem… Está conseguindo meacompanhar?… Preste muita atenção…

Você precisa aceitar que… Não sejateimoso… É do meu papel… Exijo respeito!

Eis o que vou lhe ensinar/o que vocêprecisa aprender.

Esqueça isso!O que é certo é que…

Não é racional, nem lógico. Portanto, nãopode dar certo…

É preciso desenvolver a base de conhecimentosdas pessoas e aguçar seu raciocínio lógico…

É preciso ensinar umacoisa de cada vez.

Os estágios de desenvolvimento intelectual sãoestruturados, com dinâmica própria, e fixos.

Primeiro a teoria, os fundamentos. Depois,sua aplicação prática.

Minha fase de escola já se foi. O negócioagora é fazer as coisas acontecerem.

A teoria,na prática, é outra.

Você quer ser treinadoem quê e para que?

Cachorro velhonão aprende truque novo.

O programa certo/aprovado, devidamentelegitimado… A metodologia pressupõe…

Hoje estarei ensinando…

Sala arrumada?Equipamentos em ordem?

Tudo funcionando?

Está desajustado em relação ao grupo,Não está acompanhando.

Não é normal…

ENSINO/APRENDIZAGEMCONTRASTANDO VOZES E VISÕES

Page 85: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

O Paradigma Emergente: Management Idéias Amana • Ano II Nº 4-5-6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

O cenário do futuro para aadministração é caracteri-zado pela consolidação,uma forma de liderança emque executivos atuem comoinfluenciadores e catalizado-res do potencial de todos oscolaboradores da empresa

Premissas do antigo paradigma:Administração

• Pessoas ajustam se às ocupações;rigidez, conformismo. Trabalho elazer separados.

• Metas impostas, decisões de cimapara baixo. Operações centraliza-das. Tratamento “alopático”.

• Hierarquia, burocracia. Fragmen-tação de trabalhos e papéis. Espe-cialização. Descrições de cargobem definidas.

• Agressividade, competição: “negó-cio é negócio”. Motivação estrita-mente econômica.

• “Racional”, confiança apenas emdados, principalmente os quanti-tativos.

• Promoção de consumo a qualquerpreço, obsolescência planejada,criação de “necessidades” artifici-ais.

• Polarizações: trabalho x capital,consumidores x produtores.

• Ênfase em soluções de curto pra-zo e em fatores “especiais” maisfocados. “Explorador”.

• Modelo newtoniano/mecanicistada economia. Funcionamento“como um relógio.”

• Busca de estabilidade e seguran-ça. Conservadorismo.

Premissas do novo paradigma:Liderança

• Ocupações ajustam-se às pessoas;flexibilidade, criatividade. Traba-lho e “divertimento” como algopossível.

• Autonomia encorajada, auto-reali-zação. Operações descentraliza-das. Tratamento holístico.

• Participação, democratização, me-tas compartilhadas, consenso. Re-levância da visão de todo.

• Cooperação, valores humanostranscendem o vencer. Processotão importante quanto o produto.

• Racional e intuitivo; dados comple-mentados por feeling, insights, vi-são holística. Quantitativo e quali-tativo.

• Consumo apropriado; conservar,manter, reciclar, agregar qualida-de, inovação para servir necessi-dades autênticas.

• Superação de polarizações, com-partilhamento de metas e valores.

• Reconhecimento da importânciade soluções de longo prazo consi-derando ambiente, cultura, rela-ções com clientes. “Ecológico”.

• Reconhecimento das incertezas daeconomia e da complexidade in-trínseca ao organismo macro.

• Senso de mudança, abertura a ris-cos, atitude empreendedora.

O PARADIGMA EMERGENTEMANAGEMENT

O PARADIGMA EMERGENTEMANAGEMENT

Page 86: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

Idéias Amana • Ano II Nº 4-5-6 • 1989Copyright Amana-Key Editora 1989

“EVOLUÇÃO”

Precisamos criar uma estrutura quepotencialize a força de nossos talentos.

Espaços são para ser ocupados...

As pessoas precisam de espaço paraexplorar caminhos inovadores.

Como posso contribuir? Posso ajudar?

Vamos trabalhar juntos.

É sempre nossa responsabilidade. Preci-samos de envolvimento máximo de todos.

Nossos valores são inegociáveis! Integridadeé o único caminho a longo prazo.

No fundo, somos parceiros.Precisamos harmonizar nossos interesses.

Cooperação máxima é o único caminho

Em termos de feeling,sinto que devemos buscar...

O que o cliente precisa, valoriza, quer?Como podemos melhor servir ao cliente?

Precisamos de soluções definitivas...

Estamos todos no mesmo barco.Responsabilidade e poder

compartilhados...

Criamos hoje as sementes do amanhã.Não podemos sacar contra o futuro.

É essencial protegermos nosso crescimentode longo prazo...

Economia é arte: há dimensões subjetivas,culturais, filosóficas, credibilidade,

liderança...

Quem não arrisca não petisca.Risco e recompensa...

É preciso mudar em preparaçãopara o futuro.

Como podemos melhorar ainda mais?Não podemos nos acomodar...

Temos experiência nisso. Estamospreparados para fazer de novo e melhor!

Como podemos usar isso?

Vamos conseguir. Somos na verdadecapazes de fazer quase tudoque nossa mente visualize.

Quando começamos?

Management: Contrastando Vozes e Visões

MANAGEMENTMANAGEMENTCONTRASTANDO VOZES E VISÕES

“RETROVISÃO”

Precisamos ter pessoas certasnos lugares certos.

Ou entra nos eixos, ou...

As pessoas precisam semprede orientações preto no branco.

Isso não é da minha área.

Não invada!

Não é da nossa conta.Não procure sarna para se coçar...

Em negócios, vale tudo!Os fins justificam os meios.

Precisamos ser durões.Ou eles, ou nós...

Competição sadia é o melhor caminho.

Isso não tem lógica...Os números mostram que...

Como aumentar o consumo? Se exagerar-mos na qualidade, não haverá reposição e...

Vamos dar um jeitinho...

Manda quem pode,obedece quem

tem juízo...

Vamos aproveitar,antes que acabe.

A idéia é extrair o máximoa curto prazo.

Não estamos usando a fórmula certa.Se mudarmos para...

a economia...

Antes o problema que se conhecedo que o problema que não se conhece.

Não se mexe em timeque está ganhando.

Deixe assim que está bom.Tranqüilidade...

Já tentamos uma vez...Foi tão difícil...

Qual a utilidade disto?

Nunca fizemos isso antes.Parece difícil.

Acho que não vai dar certo...

Mais tarde, quando tivermos tudo pronto...

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REFLEXÕES ESTRATÉGICAS QUE LEVAM À INOVAÇÃO

MUDANÇAS: TENDÊNCIAS &REFLEXÕES VISANDO À AÇÃO

novação nos tempos atuais é fator estratégico central em todas as áreas deatividade e representa um dos mais críticos desafios ao management. Inova-se nasempresas para explorar as oportunidades que as mudanças geram e evitar proble-mas que elas podem provocar. As próprias inovações, por sua vez, geram novasmudanças. Inovação e mudanças andam juntas. Mas, afinal, que mudanças estãoem curso? 0 que se deve fazer em relação a elas? Leia, nestas páginas, exemplosde reflexão R sobre algumas possíveis tendências de mudança T , tendo porfoco uma questão básica: o que os executivos de alta administração precisam fazer,desde já, em relação a elas, tendo em vista os objetivos maiores da organização?

EVOLUÇÃO ACELERADA DO CONHECIMENTO HUMANO

O conhecimento humano estará evoluindo a taxas cada vez maiores, geran-do um processo extremamente acelerado de obsolescência cognitiva. O que seaprende hoje, em termos de um novo conhecimento, provavelmente já estaráultrapassado, se comparado com os avanços, muitas vezes provenientes de outrasáreas do conhecimento, que estão sendo obtidos em alguma parte do mundo...Isso ocorrerá a uma velocidade jamais vista na história da humanidade – o quesignifica que os referenciais que se possui hoje (no que se refere a mudança/evolução) não ajudarão muito na compreensão/visualização do que estará aconte-cendo daqui para a frente em todos os campos, inclusive em negócios.

Coletânea“Cenários”

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

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TDesafio 1: Inovar fazendouso criativo/pioneiro dos no-vos conhecimentos que afe-tam a base de nosso negócio.

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Coletânea“Cenários”

Que campos do conhecimento humano estão na base do nosso negócio? Oque está mudando nesses campos? Que conhecimentos poderão vir a representarfator-chave de competição nos próximos anos? Ameaças poderão vir de áreas deconhecimento que hoje nada têm a ver com o que fazemos? De que forma seriapossível monitorar organizada e eficazmente o que está evoluindo nessas áreas-chave? Existem formas de fazê-lo por meio de universidades, associações etc. (nopaís ou no exterior)? É possível algum tipo de parceria com outra empresa? Umaestrutura interna faria sentido? Executivo específico encabeçando o esforço? In-vestir pesadamente em fazer as pessoas “aprenderem a aprender” cada vez maiseficazmente?

MUDANÇAS CADA VEZ MAIS RÁPIDAS

Mudanças estarão acontecendo nos mais variados campos de atividade, cadavez mais rapidamente, em função da própria evolução do conhecimento e do encur-tamento progressivo do tempo entre idéia e implantação – possibilitado pelos pró-prios avanços tecnológicos e exigido pela crescente pressão competitiva. O “encur-tamento” progressivo das distâncias no globo possibilitado pela explosiva evoluçãodas comunicações torna exponenciais as taxas de velocidade de mudanças: essassão geradas no mundo todo e rapidamente disseminadas. Se a velocidade de mu-danças irá continuar alta na área industrial, na economia da informação e serviçosela será muito maior, exigindo redobrado esforço de ajustamento e inovação.

Estamos conscientes, em nossa organização, das mudanças em andamento?O que estamos fazendo para monitorá-las adequadamente? Como está nossa orga-nização em termos de capacidade de responder rápida e eficazmente às mudan-ças? Como podemos melhorar cada vez mais? Por meio de mais descentralização?Outros tipos de pessoas? Estruturas fluidas? Pessoas super-capacitadas na “ponta”e executivos treinando pessoas? Como podemos encurtar o período entre idéia eimplantação? Tecnologia? Será que nosso conceito de “rápido” já está ultrapassa-do? O que você acha de um produto novo no mercado por semana, numa empresade serviços? Mudanças cada vez mais rápidas sugerem a você algum produtonovo em sua empresa?

MUDANÇA NOS REFERENCIAIS BÁSICOS

Os referenciais básicos em todas as áreas, inclusive nas empresas/negócios,passarão da área da física (que sugere o linear, o mecanístico, o determinístico, oprogramável/programado, o analítico, o racional causa-efeito, o intensivo em ener-gia etc.) para a área de biologia (que sugere o holístico, o interconectado, oadaptativo, o orgânico, o intensivo em informação, o sistêmico etc.) na medida emque – com a crescente informatização – nos transformamos num grande sistemade feedback informacional (típico de todos os organismos biológicos). Isso tende-rá a mudar a linguagem e a forma de ver as coisas. As organizações tambémparticiparão desse processo com grandes mudanças em sua forma de operarinterna e externamente.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

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TDesafio 3: Inovar buscandotransformar a empresa numtodo holístico coerente eauto-regulável.

Desafio 2: Inovar em mana-gement e na formação detalentos para antecipar-se àsmudanças.

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Coletânea“Cenários”

Como pensamos, decidimos e agimos em nossa organização? Nossa cultura,valores, padrões de análise e comunicação estão mais para os referenciais da física ou dabiologia? Se estivermos 100% nesses referenciais talvez nem consigamos – na verdade –sentir a importância deste tópico… Até que ponto somos humildes o suficiente para,em princípio, entrar mais profundamente no estudo desses novos referenciais paradepois avaliar se faz sentido ou não? Essa mudança nos referenciais mudará nossosprodutos? E nossa forma de comunicação com os clientes? Quais serão as conseqü-ências dentro da empresa? Mudanças na forma de trabalhar? Na forma de encarar oambiente externo? Nos sistemas de treinar pessoas? Em nosso próprio negócio?

MUDANÇA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS

A evolução acelerada do conhecimento humano, as mudanças cada vez maisrápidas, a crescente informatização, o surgimento de novas profissões e crescentevalorização do capital humano, entre outros fatores, tenderão a forçar mudançasmais radicais (conceituais, estruturais e tecnológicas) nos processos de educação– do básico ao superior especializado – já não mais ajustados às demandas atuais.Educação será um fator estratégico cada vez mais importante para o desenvolvi-mento do país em todos os sentidos: para ser mais competitivo em todos ossetores por meio de um capital humano mais sólido, para atender às demandasemergentes, para melhorar o nível de bem-estar social, para o desenvolvimento deum mercado interno mais forte.

Até que ponto essa tendência afetará nossos negócios? É de nosso interesseque isso ocorra mais rapidamente? Como podemos contribuir para isso de formadireta, em vez de ficar esperando soluções do governo? Por meio de esforçoisolado de nossa empresa? Por meio de associações? Em que direção o processoeducacional deveria evoluir para ajudar-nos em nosso negócio, suprindo profissio-nais mais preparados? Que tipo de qualificação será chave para o sucesso denossa empresa a longo prazo? Temos pensado o suficiente sobre esse assunto?Temos agido o suficiente? O que fazer desde já para assegurar que tenhamos umadequado número de pessoas com essa qualificação no futuro? “Adotar” escolas/professores/pesquisadores?

PREOCUPAÇÃO POR CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Será crescente a preocupação por proteção ambiental, tanto em termos decidades/regiões como em termos de países/continentes e do mundo como umtodo (questão da camada de ozônio, chuvas de ácido, aumento global da tempera-tura da Terra/efeito estufa etc..). Conservação de energia, o problema de supri-mento de água, a questão da energia nuclear, poluição dos rios e lagos, poluiçãoda atmosfera, saneamento básico etc. passarão a despertar interesse cada vezmaior em todas as camadas da população, governos e empresários/organizações.Consideráveis investimentos tenderão a ser canalizados a essas áreas, a nívelgovernamental e pelas empresas. O comportamento dos consumidores será afetadosignificativamente como decorrência.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 4: Inovar por meiode participação ativa natransformação da formaçãobásica de pessoas.

Desafio 5: Inovar introdu-zindo soluções à questão am-biental de forma pioneira.

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Coletânea“Cenários”

Até que ponto essa tendência afetará meus produtos? E o mercado? E ocomportamento de nossos clientes? E dos fornecedores? E nossos sistemas deprodução? O que vamos precisar fazer desde já em função das mudanças quederivarão dessa tendência maior? Estamos pensando nessa tendência somente emtermos de ameaças ou em termos de oportunidades? De que forma nossas açõesem relação a essas questões nos darão vantagem competitiva? Novos produtos/negócios poderão ser gerados por essa maior preocupação com o ambiente e osinvestimentos que serão feitos na área? Como estamos, nessa questão, vendo onosso papel dentro da comunidade? Como somos vistos? Temos investido temposuficiente para refletir sobre isso?

INFORMATIZAÇÃO EXPONENCIAL DA SOCIEDADE

A tecnologia da informação continuará a transformar intensamente as em-presas em todas suas dimensões em ritmos cada vez mais acelerados, gerandomudanças ainda mais significativas do que aquelas que testemunhamos nestesúltimos dez anos. O uso de tecnologia será de natureza mais estratégica (estraté-gias centrais do negócio que usam eficazmente a tecnologia existente e avançostecnológicos que tornam possíveis certas ações antes inviáveis) e menos de “supor-te”. Novos negócios/produtos serão criados rapidamente a partir de inovações tec-nológicas que emergirão de todas as partes do mundo a velocidades cada vezmaiores. A própria tecnologia estará imprimindo maior velocidade a essa mudança.

Estamos encarando esse processo de informatização exponencial de tudoque nos cerca de forma profunda? Estamos conscientes das ameaças representa-das pela informatização dos concorrentes? O que nossos concorrentes têm feitoem termos de uso estratégico de tecnologia da informação? Estamos conscientesdas oportunidades que a tecnologia da informação pode gerar para nosso negó-cio? Estamos acompanhando de forma profunda o que está acontecendo deinformatização no mundo inteiro? A informatização cada vez mais profunda dasociedade abre campo para introdução de novos produtos/serviços ainda aparen-temente inéditos no mercado? Quão informatizados estamos como executivos? Enossos colaboradores?

PREDOMINÂNCIA DE INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

A evolução da sociedade na direção de informação e serviços continuará ataxas aceleradas. As atividades industriais e agrícolas continuarão a serinformatizadas, objetivando melhores taxas de produtividade e melhores relaçõescusto-benefício. O componente “serviços” das atividades agrícolas e industriaiscontinuará a crescer cada vez mais, principalmente em função das exigências dosconsumidores e da competição acirrada. A emergência da sociedade da informa-ção/declínio da sociedade industrial passará a ser melhor entendida e caracteriza-da na medida em que a informação se fizer cada vez mais presente no dia-a-dia detodos. Diferentes países reposicionar-se-ão nessa transição, gerando oportunida-des e problemas para as empresas no Brasil.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 6: Inovar no uso cri-ativo/estratégico da tecnolo-gia da informação e na rapi-dez de resposta às mudanças.

Desafio 7: Inovar posicio-nando-se pioneiramente deforma estratégica na dinâmi-ca da transição agrícola/in–dustrial/informação-serviços.

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Coletânea“Cenários”

Como estamos posicionados no continuum sociedade agrícola–sociedadeindustrial–sociedade da informação? Como desejaríamos estar posicionados? Quaisos riscos de permanecermos concentrados em um ou outro? O que significacrescente informatização da própria agricultura? O que significa a crescenteinformatização dos produtos industrializados? Ate que ponto o componente “servi-ços” está adentrando nosso negócio, exigindo mudanças significativas da organi-zação como um todo? Que tipos de novos serviços estão sendo criados na socieda-de? Como isto afeta – positiva ou negativamente – o que fazemos? Estamos partici-pando de forma natural e construtiva desse processo? Ou estamos resistindo ouevitando lidar com o mesmo?

O HUMANO EQUILIBRANDO A INFORMATIZAÇÃO

Haverá uma natural e poderosa tendência a se equilibrar o acelerado processode informatização geral da sociedade (computadores cada vez mais presentes nasempresas e no dia-a-dia das pessoas) por meio de um crescente interesse pelo huma-no, por aspectos de relacionamento, pelo cultural. A preocupação por qualidade devida em todos os sentidos será cada vez maior. Essa tendência de compensação àexplosão da evolução tecnológica se estenderá também fortemente às relações nasempresas – tanto no que se refere ao relacionamento interno (entre colaboradores),como a nível externo (com clientes, fornecedores e parceiros). Isso afetará os fatoresque definem a competitividade das empresas, tanto por talentos como por clientes.

Até que ponto estamos efetivamente preocupados em equilibrar o processode informatização em nossa empresa por meio de programas na área social, noâmbito das relações interpessoais, em termos de senso de grupo, em termosculturais etc.? Até que ponto a concentração no “tecnológico”, ignorando os aspec-tos humanos da empresa, acabará gerando problemas sérios do tipo stress, falta demotivação, falta de envolvimento etc.? Como essa tendência afeta a tendênciaglobal de nossa empresa, as especificações dos produtos, o tipo de serviço associ-ado aos produtos, a forma de contato com clientes (por meio de terminais decomputador ou de pessoas?)? Essa tendência traz em seu bojo oportunidades ouproblemas para nosso negócio?

SOCIEDADE MAIS PARTICIPATIVA

Em todas as atividades humanas, as tendências se encaminham mais forte-mente na direção de processos “de baixo para cima”, em substituição aos “decima para baixo”: mais envolvimento, mais participação, maior consciência dosdireitos próprios, mais negociações/diálogo e mais proatividade caracterizarãoessa tendência. Isso deverá acontecer em todos os segmentos da sociedade. Umademocracia cada vez mais participativa tenderá a gerar sociedades mais ho-rizontalizadas/menos hierarquizadas, nas quais todos atuam de forma mais autô-noma/independente e auto-regulada (com cada vez menos necessidade de açõesdo governo). Haverá mudanças significativas na forma de as empresas se relacio-narem com a comunidade, mercado, governo etc.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 8: Inovar no equilí-brio da valorização do hu-mano em relação à crescen-te “automação.”

Desafio 9: Inovar na buscade um management que adi-cione valor à crescente par-ticipação das pessoas.

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Coletânea“Cenários”

Estamos mais habituados a mandar ou a dialogar? Nossa cultura é mais “decima para baixo” ou é mais o contrário? Há espaço em nossa organização para aspessoas atuarem mais autonomamente/exercerem iniciativa? Como está a nossacapacidade de atrair pessoas mais independentes à busca de diálogo/participação,integrá-las à equipe de forma eficaz/produtiva e de retê-las atuando com altamotivação? Como está a capacidade de negociar/dialogar de nossos executivos?Até que ponto nossa empresa está preparada para atuar mais proativamente nasociedade/mercado abrindo espaços próprios e buscando o que precisa, semesperar que o governo gere as soluções? De que forma vemos nossa participaçãodentro da comunidade em que atuamos?

DESCENTRALIZAÇÃO E MENOS HIERARQUIAS

0 processo global de descentralização, de menos hierarquias, menos inter-mediários/tudo mais direto continuará a evoluir de forma acelerada em toda asociedade, inclusive nas organizações/empresas em geral. O gigantismo, tantoem termos de administração pública como privada, que faz com que as estruturastornem-se praticamente ingovernáveis e excessivamente lentas, tenderá a sererradicado gradativamente pela descentralização em todos os níveis. O extremoda descentralização será a pessoa independente que sabe sempre o que fazer etrabalha o tempo todo numa postura de auto-ajuda/auto-suficiência. Essa tendên-cia poderá levar a soluções inovadoras na área de comunicação e coordenaçãogerencial, principalmente com uso de tecnologia.

Como estamos posicionados/preparados para competir com organizaçõesaltamente descentralizadas e extremamente ágeis (não só grandes empresas comestruturas modernas, mas pequenas e médias empresas atuando em nichos demercado)? Como está nossa atual estrutura? Ela tende mais para o tradicional/burocratizado, ou para o inovador no estilo unidades autônomas que buscamresultados de forma independente? Como está nosso quadro de talentos em ter-mos de pessoas que consigam atuar bem dentro de estruturas descentralizadas?Como podemos usar formas altamente eficazes de decidir/agir (em estruturasmenos hierarquizadas) como vantagem competitiva? Estamos lidando com des-centralização e comunicação integradamente?

CRESCENTE IMPORTÂNCIA DA FORÇA HUMANA

O sucesso das organizações tenderá – cada vez mais – a ser função direta daforça humana de seus colaboradores/de seus talentos e menos de seu capitalfinanceiro. Criatividade, engenhosidade, força empreendedora, drive/alta energia,competência gerencial, capacidade inovativa etc. serão fatores crescentementecríticos na determinação do potencial de competitividade das empresas. A deman-da por pessoas capacitadas crescerá exponencialmente, e será cada vez maisacirrada a competição por talentos. Os salários tenderão a subir, em termos reais,de forma natural, na medida em que cresça essa valorização do talento humano eem função do desequilíbrio entre demanda e oferta (mercado tendendo a nãoconseguir suprir a demanda).

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 10: Inovar na buscade estruturas que aliem des-centralização e agilidade àalta eficácia e coerência dotodo.

Desafio 11: Inovar emdesenvolvimento de talen-tos e na busca da potencia-lização da força humana daorganização.

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Coletânea“Cenários”

0 que podemos fazer, desde já, para começar a desenvolver talentos interna-mente? 0 que melhorar na forma de recrutar e selecionar pessoas, mesmo paracargos mais simples? Em que sentido deve-se direcionar o esforço de treinamentoe desenvolvimento na empresa? O que devemos fazer para reter os talentos daorganização tornando-os imunes a “pirataria”? Que empresas são nossos concor-rentes no que se refere a talentos? Como inovar para estar à frente nessa dimen-são? De que forma podemos participar do processo de melhoria da educação nopaís? Nossa empresa está conseguindo atrair talentos em todos os segmentos domercado (formandos das melhores universidades etc.)? Temos incentivos/atrati-vos para cada segmento de talentos do mercado?

SURGIMENTO DE NOVAS PROFISSÕES

Novas especializações e profissões estarão surgindo a taxas exponenciais norastro das inovações tecnológicas e da evolução do conhecimento. As própriasorganizações, no processo de reinvenção e ajustamento à realidade em rápida econstante mutação, tenderão a criar novos cargos e carreiras. A velocidade comque isso ocorrerá tenderá a ser muito alta, não permitindo estruturações convenci-onais para administrar esses novos cargos/carreiras. A lentidão com que as esco-las/universidades se ajustarão a essas mudanças levará a migrações profissionaisconstantes, escassez de oferta de mão-de-obra e aumento dos níveis salariais.Jovens tenderão a entrar cada vez mais cedo no mercado de trabalho à busca deformação nessas novas profissões.

Estamos acompanhando de perto a emergência constante de novos tipos detrabalho dentro da empresa e no ambiente externo? A área de recursos humanosda empresa tem conseguido ajustar-se a essas mudanças adequadamente, e nãopor meio de “improvisos burocráticos” nos sistemas existentes? O que estamosfazendo para formar profissionais que vão surgindo? Como está nosso diálogocom escolas e universidades visando a esforços conjuntos para trabalhar as lacu-nas do mercado de trabalho? Como estão nossas diretrizes de recursos humanosquanto a horários flexíveis, empregos de tempo parcial, cursos de formação etc.para acomodar jovens à busca de formação profissional dentro das empresas? Equanto a retreinamento de profissionais do quadro?

GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA

A globalização da economia continuará a evoluir continuamente, e o conceitode mercado-mundo estará cada vez mais fortemente impregnado nas estratégias eações das empresas, tanto transnacionais/multinacionais como nas nacionais, pe-quenas e grandes. O mundo ficará cada vez mais interligado: clientes, concorrentes,fornecedores estarão representando um número crescente de diferentes papéis emdiferentes áreas geográficas e ramos, exigindo habilidades refinadas e altamentecomplexas de todos os participantes do processo. O próprio mundo financeiro tendea se tornar um grande único mercado e novos pólos de empresas com estratégiasglobais surgirão, mexendo constantemente na dinâmica do mercado mundial.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 12: Inovar no de-senvolvimento de profissio-nais para especializações etrabalhos inéditos.

Desafio 13: Inovar posicio-nando-se pioneira e estrate-gicamente dentro do mer-cado/economia-mundo emdesenvolvimento.

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Coletânea“Cenários”

Temos acompanhado de perto o atual processo de globalização da econo-mia? Ou temos ficado à margem, achando que “isso é algo para as multinacionaispensarem...”? O que os executivos de nossa empresa entendem por globalização?Temos consenso quanto ao conceito? Temos dedicado tempo e energia suficien-tes para refletir sobre as implicações da globalização em nossa empresa e emnosso negócio? O que nossos concorrentes estão fazendo a respeito? Um novotipo de concorrência poderá surgir em função da crescente globalização? O queprecisamos fazer para proteger-nos das eventuais ameaças geradas pelaglobalização? O que devemos fazer para buscar a globalização de forma proativanuma postura de ataque e inovação?

NOVOS FOCOS DE ATENÇÃO NO MUNDO

Alterações profundas tendem a acontecer na dinâmica do desenvolvimentode regiões a nível mundial. O tradicional eixo “costa leste dos Estados Unidos-Europa Ocidental” terá uma poderosa contrapartida no eixo “costa oeste dos Esta-dos Unidos-Japão-Austrália” no Pacífico. Esse novo eixo, emergindo economica-mente em alta velocidade, tenderá a gerar inúmeras influências nas relações inter-nacionais globais, principalmente no plano econômico. O Brasil tenderá a estarcada vez mais no foco das atenções mundiais, principalmente em função de seupotencial como “parceiro sinérgico” nas iniciativas de empreendedores dos maisdiferentes países à busca de participação cada vez maior no mercado-mundo.

Estamos acompanhando da forma como deveríamos o que vai pelo mundo?Até que ponto não acompanhar de perto as evoluções e mudanças a nível mundialpode estar nos privando de oportunidades em termos de aberturas de mercado,possibilidades de parcerias, janelas para exportação, novas idéias em produtos,marketing, em comunicações com os clientes, treinamento, estratégia etc.? Atéque ponto nossa visão de países específicos é calcada em preconceitos e/ou refe-renciais desatualizados? Não estamos também agindo em relação ao Brasil combase em visões distorcidas de nossa realidade? Nossa própria visão preconceituosade como outros países nos enxergam não seria barreira a uma postura maisproativa na busca de parceiros globais?

DESENVOLVIMENTO DE “ECONOMIAS-CIDADE”

O conceito de “economia-cidade” (como célula da “economia-mundo” emcontraposição à noção de “economia-país”) emergirá gradativamente em todo omundo. Esse fenômeno tende a intensificar-se na medida em que caminhar-separa sociedades cada vez mais descentralizadas e com menos interferências dogoverno central. O agravamento dos múltiplos problemas inerentes às megalópoles– a própria ingovernabilidade causada pelo gigantismo, os problemas sociais, adeterioração da qualidade de vida etc. – fará com que a tendência predominanteseja o desenvolvimento de cidades “inteligentes” em torno dos grandes centros,ao lado do fortalecimento de cidades específicas do interior que desenvolverãosuas próprias economias.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 14: Inovar anteci-pando-se às tendências demudança em diferentes re-giões do mundo.

Desafio 15: Inovar nareestruturação pioneira dasformas de atuar em relaçãoà economia e aos mercados.

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Coletânea“Cenários”

Não estaríamos hoje tomando decisões com base numa análise excessiva-mente simplificada e pasteurizada da economia-país/Brasil? Estamos conscientesde que os grandes termômetros de avaliação de um país não conseguem captar oque está acontecendo em suas células e no seu respectivo desenvolvimento? Deque forma a consciência de que a emergência das economias-cidade como célulada economia-mundo muda nossa forma de ver nosso negócio, produtos, merca-dos, sistemas de distribuição etc.? Que oportunidades de inovação essa tendênciatraz em seu bojo para empresas em nosso negócio? E em termos de inovaçõesgerenciais e organizacionais? Que conseqüências essa tendência pode trazer emtermos de localização estratégica?

CONSUMIDORES MAIS INFORMADOS/EXIGENTES

Os consumidores em geral, cada vez melhor informados sobre o que ocorre,inclusive a nível mundial (como decorrência da evolução da comunicação/satélitesetc.), tenderão a se tornar cada vez mais exigentes em sua demanda por produtos eserviços. No geral, os consumidores estarão cada vez mais próximos a mais produ-tos. A exposição dos consumidores a cada vez maior número de opções tenderá alevar– de forma natural – a um outro tipo de exigência: diferenciação/produtosespecializados e menos produtos padronizados/de massa. A globalização levará aoutras mudanças como, por exemplo: grupos étnicos tenderão a se desconcentrar(não estarão mais concentrados em um único país) criando nichos dentro de nichos.

Como estaríamos hoje no mercado se todos os consumidores demandas-sem padrões de desempenho e qualidade a nível internacional? Chegar a padrõesinternacionais de qualidade, desempenho e custo é impossibilidade técnica ouuma questão puramente gerencial? Que inovações radicais deveremos introduzirem nosso marketing para chegar aos nichos em formação? De que forma pode-mos aumentar nosso nível de resposta às rápidas mudanças no perfil dos consu-midores? Como aumentar nossa sensibilidade em relação às transformações doconsumidor em aspectos muito sutis? Estamos conseguindo romper com precon-ceitos/“receitas” para entender os consumidores à luz de nossos referenciais (quepor sua vez estão sempre em transformação)?

COMPETIÇÃO CRESCENTE/MAIS ACIRRADA

A competição tornar-se-á cada vez mais acirrada na medida em que nasociedade de informação e serviços a barreira para entrada de novos concorrentesdeixa de ser capital financeiro. Mais pessoas com talentos, idéias e vontade passa-rão a entrar no mercado para competir com as empresas existentes. Neste contex-to, pessoas/talentos é que passam a definir a força da competição das empresas. Atendência à globalização dos mercados quebra as barreiras geográficas e os con-correntes se multiplicam de forma exponencial. A emergência de novos concor-rentes a partir de nichos de mercado tenderá a se acentuar, alimentada pelafantástica explosão do entrepreneurship em inúmeras partes do globo. A própriatecnologia tenderá a acirrar a competição.

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

Desafio 16: Inovar na co-municação com os consu-midores e antecipar-se aosseus desejos e necessidadesem evolução.

Desafio 17: Inovar à buscade competitividade a nívelmundial e na forma de lidarcom a crescente competição.

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Coletânea“Cenários”

Na medida em que a competição cresce, não faria sentido formar parcerias ealianças para evitar competição predatória e alavancar o processo de desenvolvi-mento (pela potencialização de know-how) de todos os envolvidos? Como buscarum número cada vez maior de alianças do tipo “ganha-ganha” para fazer face aosdesafios das mudanças aceleradas da globalização etc.? Sabemos quem são nos-sos concorrentes atuais ou só conhecemos os maiores? Estamos conscientes deque nossos maiores concorrentes no futuro poderão ser empresas que hoje estãodecolando em certos nichos e que não são captadas nas análises tradicionais quefazemos? Estamos conscientes também de que concorrentes poderão surgir decampos desvinculados do nosso?

Mudanças: Tendências & ReflexõesVisando à Ação

Idéias Amana • Ano I Nº 8 • Novembro 1988Copyright Amana-Key Editora 1988

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Coletânea“Cenários”

TEMPO DE RENASCER

evolução da humanidade é pontilhada de inovações extraordinárias, fantásti-cas realizações. Ao refletirmos sobre elas, porém, poucas vezes pensamos sobrecomo foram geradas: Iniciativas de “estalo”? De uma só pessoa? De uma equipe?Como começaram? Em que condições e circunstâncias foram conseguidas?

Cada uma dessas realizações tem uma história. Ou mesmo várias histórias,intrincadamente encadeadas. Histórias de pessoas. Inventores, empresários, téc-nicos, trabalhadores das mais variadas origens e profissões.

Conquistas de seres humanos normais. Seres humanos que inclusive têm seusmomentos de fraqueza, de cansaço, dúvidas, inseguranças. Momentos em que sepergunta se tudo efetivamente vale a pena...Quantos degraus ainda a superar?...Paraque tudo isso afinal?...Momentos de esmorecimento e de desistências...

Conquistas de pessoas que superam esses momentos e não desistem. Buscam reser-vas armazenadas no fundo de suas almas e chegam ao objetivo almejado. São pessoasque renascem nesses momentos. E tornam-se — no processo — pessoas especiais.

Pessoas que acreditam que vão conseguir. Pessoas que acreditam na força infinitado ser humano em superar-se. Pessoas que apostam numa visão e crescem noprocesso de realizá-la.

A própria evolução da humanidade nos mostra que obstáculos são oportunidadespara crescer, ficar mais fortes. Rompendo barreiras e superando processos detransição nos quais tudo parece ficar pior, saltamos de patamar, desaprendendomuito para aprender e crescer ainda mais.

Vivemos hoje um período de transição. Não somente em nosso país, mas nomundo todo. Mudanças parecem acontecer todos os dias em ritmos cada vez mais

Tempo de Renascer Idéias Amana • Ano III Nº 1 • 1990Copyright Amana-Key Editora 1990

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Coletânea“Cenários”

espetaculares. Em velocidade sem precedentes na História. Muros de Berlim caemem poucos dias, países se abrem e quebram estruturas de muitos séculos. Produtosficam obsoletos da noite para o dia. Novas tecnologias tornam possível o impossível.Países saem da obscuridade de uma economia agrícola para o primeiro plano mun-dial em pouquíssimo tempo, alavancados por atividades focadas em alta tecnologia.

Atrás de cada uma dessas transformações... pessoas. Pessoas que encaram arealidade como ela é, de forma autêntica, verdadeira e honesta. Pessoas queagem sobre a realidade. Pessoas que constroem, em vez de desperdiçarenergias criticando e destruindo. Pessoas que, agradecidas, capitalizam criativa-mente o que possuem, em vez de lamentarem o que não têm, cheias deautocomiseração e revolta. Pessoas que não se acomodam e buscam evoluir acada dia, em sintonia com a evolução do próprio mundo.

Mais do que nunca, é tempo de criar. De estar o tempo todo alerta a tudo queocorre à nossa volta e buscar novas soluções, com alto espírito empreendedor. Éhora de iniciativa máxima. Iniciativa para gerar produtos ajustados aos novostempos. Para atender a necessidades autênticas da sociedade. Para criarformas de incrementar qualidade, melhorar produtividade, conservar/econo-mizar dentro dos novos paradigmas. Iniciativa para contribuir ativamente aoprocesso de construção de um mundo cada vez melhor, em linha com osvalores dos novos tempos.

Valores que privilegiam o ousar, o experimentar, o assumir riscos inerentes aonovo. Valores que abominam a rotina burocratizante. Valores que enfatizam aimportância da flexibilidade, da abertura, da ousadia de ser diferente, da valoriza-ção da imaginação, da exploração de possibilidades.

É tempo de enfrentar o ambíguo e o desconhecido sem medos. Sem tentarsupersimplificar buscando driblar o complexo. É tempo de criatividade e desoluções refinadas, até revolucionárias. É tempo de soluções inéditas para desafi-os também inéditos.

Hoje, mais do que nunca, não podemos nos acomodar, dormir sobre oslouros. Mesmo porque mudanças repentinas sempre poderão alterar as condi-ções externas significativamente, mudando toda a base do que foi conquistado... Épreciso fortalecermo-nos o tempo todo, a fim de estarmos sempre prontos para osdesafios que estão por vir. Atualizando-nos constantemente, desenvolvendo habi-lidades essenciais para o amanhã, aperfeiçoando-nos tanto profissionalmentecomo a nível pessoal. E, principalmente, sem esperar estímulos e orientação quevenham de fora. Nunca foi tão importante adotar uma postura de busca eautodesenvolvimento.

É tempo de dar um salto à frente como ser humano, como indivíduo. Mas é tempotambém de trabalho em equipe, ajuda mútua. Tempo de cooperação e alianças.De generosidade no dar, no oferecer ao outro, quebrando círculos viciosos quemantêm as pessoas isoladas. É hora de dar o primeiro passo.

É tempo de somar e multiplicar, de agir harmoniosamente como uma equipeautêntica de amigos e irmãos. Numa união na qual não há espaço para ações

Tempo de Renascer Idéias Amana • Ano III Nº 1 • 1990Copyright Amana-Key Editora 1990

Page 99: Utilizando cenários para alinhar-se ao futuro

Coletânea“Cenários”

subterrâneas, politicagem, cinismo, ceticismo, críticas destrutivas, defensividade,desconfianças, falsidade, falta de ética e espertezas.

É tempo de respeito humano e muito diálogo. Tempo de gerar novas forças,colocando em prática o que de mais nobre e positivo temos dentro de nós. Desermos construtivos e nutrientes. Com humor, otimismo, boa vontade e prazer.Realmente desfrutando e valorizando cada pequena coisa do dia-a-dia.

É preciso estar acima das mesquinharias do dia-a-dia e buscar uma ordem maior.Um desenvolvimento harmonioso e equilibrado de todos, balanceando valoreshumanos e qualidade de vida com realizações econômicas. É preciso rever mis-sões e objetivos. É preciso perguntar-se mais freqüentemente: “Por quê?”, “Paraquê?”; “O que estou fazendo para ajudar a melhorar o que está à nossa volta?”.

Vivemos hoje uma era na qual a força de cada pessoa, de cada ser humano, écrucial para a evolução da sociedade. Temos, cada um de nós — nesse sentido —uma enorme responsabilidade.

É preciso influir no ambiente, em vez de sermos oprimidos por ele. Construir emvez de apenas reagir passivamente àquilo que ocorre à nossa volta. É tempo devisualizar o que se quer construir e buscar sua efetiva concretização.

É tempo de transformar, buscar novas realizações. De caminhar à frente. De agir,realizar, fazer acontecer. É tempo de crescer e criar. De renascer.

De renascer a cada dia.

Tempo de Renascer Idéias Amana • Ano III Nº 1 • 1990Copyright Amana-Key Editora 1990