uni/versos, ano 1, nº 6 - dezembro de 2013

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Uni/Versos publicação da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens As licenciaturas a distância da UFOP Carro Biblioteca da UFOP contos e mais... Ano 1, nº 2, maio de 2013 Uni/Versos publicação da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens Ano 1, nº 6, dezembro de 2013 EDUFOP ISSN 2317-756X E mais... Oficina de paleografia Evento Literatura Campanha

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Uni/Versos, ano 1, nº 6 - dezembro de 2013

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Uni/Versospublicação da Biblioteca Alphonsus de

Guimaraens

As licenciaturas a distância da UFOP

Carro Biblioteca da UFOP

contos e mais...

Ano 1, nº 2, maio de 2013

Uni/Versospublicação da

Biblioteca Alphonsus de Guimaraens

Ano 1, nº 6, dezembro de 2013

EDUFOP

ISSN 2317-756X

E mais...

Oficina de paleografia

Evento

Literatura

Campanha

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expediente

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Universidade Federal de Ouro PretoUFOP

Reitor - Marcone Jamilson Freitas SouzaVice-Reitora - Célia Maria Fernandes Nunes

Sistema de Bibliotecas e Informação SISBIN

Coordenadoria Executiva - Celina Brasil LuizCoordenadoria Técnica - Luciana Matias Fe-licio SoaresChefia do Núcleo Administrativo - Marilene Vasconcelos de Melo

Instituto de Ciências Humanas e SociaisICHS

Diretor - William Augusto MenezesVice-Diretora - Glícia Salviano Gripp

Biblioteca Alphonsus de Guimaraens(Biblioteca do ICHS)

Bibliotecária - Luciana de Oliveira(CRB/6-2630)

Bibliotecária - Michelle Karina Assunção Costa(CRB/6-2164)

Uni/Versos

Coordenação Geral

Michelle Karina Assunção Costa

Editores

Marcos Eduardo de SousaMichelle Karina Assunção Costa

Editora Assistente

Luciana de Oliveira

Projeto gráfico e editoração eletrônica

Marcos Eduardo de Sousa

Colaboradores desse número(em ordem alfabética)

Adriano Soares Rodrigues Ana Eliza Teixeira

Elias Theodoro MateusFlávia Cristina Michel Reis

Gustavo Moreira AlvesJuliana Soares de Resende Santos

Letícia Silva BatistaLucas Samuel Quadros

Michelle Karina Assunção CostaThalles Simplício de Faria

A publicação Uni/Versos recebe textos para publicação, os con-teúdos, opiniões e ideias desses textos (devidademente assinados) não necessariamente refletem a opinião dos Editores da resvista,

sendo responsabilidade de seus respectivos autores.

----------Uni/Versos é uma publicação mensal da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens.

Contatos: Telefones: (31) 3557-9414 / (31) 3557-9415Site: www.sisbin.ufop.br/bibichs/Email: [email protected]@gmail.comMariana - MGEDUFOP

Uni/Versos de Biblioteca Alphonsus de Guimaraens / UFOP é licenciado sob uma Licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em

http://www.sisbin.ufop.br/bibichs/index.php/fale-conosco.

ISSN 2317-756X

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editorial

Marcos Eduardo de Sousa

Chegamos ao fim de mais um ano!

Agradecemos a todos os nossos leitores e colaboradores nesse trabalho que iniciamos no primeiro semestre desse ano! Nessa última edição do ano traze-mos dois textos que abordam o trabalho com documentos, arquivos, um sobre a Oficina de Paleografia (iniciativa de discentes do curso de História) e outro sobre a importância da paleografia nos estudos históricos.

Além disso, temos ainda um balanço da Campanha ‘Estudante Solidário’ em João Monlevade, texto literário, análise da estrutura de uma peça teatral, entre outros textos.

Informamos aos nossos leitores e colaboradores que a periodicidade da Uni/Versos pode não ocorrer como proposto (mensalmente), em virtude dos reces-sos escolares, inventário, entre outros motivos. Além disso, a previsão da pri-meira publicação de 2014 é para o mês de março, assim, aguardamos o envio de textos!

Esperamos que todos apreciem a publicação do nosso último número do ano, boa leitura a tod@s!

Desejamos a tod@s Boas festas de fim de ano, e um ano novo repleto de felicida-des e realizações!

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sumárioOficina de Paleografia da UFOP: os desafios da con-stituição e suas atividades

Letícia Silva BatistaJuliana Soares de Resende SantosLucas Samuel QuadrosAdriano Soares RodriguesElias Theodoro Mateus

Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

O realismo fantástico contemporâ-neo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão

Ana Eliza Teixeira

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Letícia Silva BatistaJuliana Soares de Resende SantosLucas Samuel QuadrosAdriano Soares RodriguesElias Theodoro Mateus

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sumárioCampanha Estudante solidário, realizada nos

dias 12 a 16 de agosto de 2013, na Biblioteca do ICEA

Encontro Regional de Bibliote-cas Universitárias (ERBU)

col@bore conosco!

Flávia Cristina Michel Reis

Michelle Karina Assunção Costa

O Curso PolíticaThalles Simplício de Faria

Lançamento de livro

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M – P&BGustavo Moreira Alves

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Os desafios da constituição

O presente artigo visa abordar e reconhecer os desafios da constituição da Oficina de Paleografia da Universidade Federal de Ouro Preto. A iniciativa discente, atuante desde o início de 2013, tem há muito refletido sobre a carência do estímulo à pesquisa em arquivo e do reconhecimento do do-cumento como fonte de conhecimento e especia-lização profissional. Muitas vezes tal indagação permanece apenas nos grupos de pesquisa que têm na documentação manuscrita sua fonte de traba-lho, o que delimita ainda mais a circulação e alar-gamento das experiências e interesse aos demais discentes.

As discussões sobre arquivísticas, paleografia e problematização do documento enquanto fon-te foram instigadas em larga escala pela a disci-plina de Seminário de Brasil IV, ministrada pelo professor Dr. Francisco Eduardo de Andrade, que se pautava, principalmente, nas discussões sobre arquivos e historiografia. A princípio, a discipli-na atentou-se para as discussões de cunho teóri-co. Estas, por sua vez, resultaram numa interação mais reflexiva e atenta as características estruturais e conjunturais do império luso-brasileiro, quanto dos próprios documentos, como inventários, tes-tamentos, atas e processos crimes. Isto estimulou entre os alunos discussões mais instigante sobre a importância do exercício de leitura paleográfica no

ofício do historiador.

A experiência dos debates ao longo da disci-plina de alguma forma constituíram questionamen-tos mais maduros a cerca da necessidade da troca de experiências e da teorização do trabalho empí-rico no arquivo. No mesmo ano de 2013 ocorreu o Encontro de Pesquisa em História da Universidade Federal de Minas Gerais, o evento que estava em sua segunda edição, proporcionou além de comu-nicações, mesas-redondas, palestras e mini-cursos sobre várias temáticas. Um deles se destacou na escolha do grupo: “Mini-curso 2: Introdução à Paleografia Portuguesa Moderna.”, os encontros consistiram no total de três dias, nos quais foram explorados diversos aspectos metodológicos e teó-ricos do estudo paleográfico.

O contato com os ministrantes do mini-curso possibilitou a troca de experiências no arquivo e o conhecimento do funcionamento da Oficina de Pa-leografia da UFMG. A possibilidade de estabelecer uma Oficina regular também na UFOP tornou-se algo compartilhado entre os integrantes das duas universidades, que contam ainda com a efetivação da mesma Oficina na Universidade Federal de Juiz de Fora. O intuito seria a criação destas para esti-mular e ampliar o desenvolvimento de leitura pa-leográfica, do conhecimento arquivístico e de suas inúmeras possibilidades para a pesquisa histórica. Além de concretizar um constante diálogo entre as universidades, proporcionando aos alunos confe-

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Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e

suas atividades

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Oficina de Paleografia da UFOP:os desafios da constituição e suas atividades

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rências, debates e visitas aos arquivos.

As aproximações foram consolidadas e uma comissão organizadora constituída na UFOP, foi definido que a iniciativa permaneceria integral-mente discente e que o grupo deveria ser heterogê-neo, dois mestrandos e três graduandos, o que co-labora para uma dinâmica maior e corrobora para a continuidade da proposta. A institucionalização deu-se de maneira satisfatória e unânime pelo De-partamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto. A Oficina ainda conta também com o apoio dos grupos de estudos JALS (Justiça, Admi-nistração, Luta Social) e o ILB (Impérios e Luga-res do Brasil).

Atividades da Oficina de Paleografia da UFOP

Após apresentar o intuito da Oficina de Pale-ografia da UFOP, sua origem e institucionalização, cabe abordar, nessa segunda parte do artigo, as ati-vidades que esta já realizou, bem como se realizará ao longo de todo o semestre.

Antes é válido compreender o que entende-mos como oficina, pois caracterizá-la permite-nos justificar a programação que optou pela interdis-ciplinariedade, troca de experiências entre convi-dados, monitores e alunos e, excepcionalmente, a participação dos discentes da Universidade Fede-ral de Ouro Preto.

Aos coordenadores, oficina é um espaço de reunião de pessoas a fim de ensinar e aprender com todos os membros que por ela se interessaram e

fazem parte. Em suma e especificamente ao nosso caso, oficina é um espaço por excelência de troca de experiências, no que tange a leitura paleográ-fica, entre alunos de distintos cursos e níveis da Universidade Federal de Ouro Preto. A proposta enquadra-se em encontros regulares com ativida-des práticas e teóricas de leituras de manuscritos setecentistas e oitocentistas.

Como dito, a programação da Oficina de Pale-ografia da UFOP concentrou-se em atividades que atendesse o público discente da universidade, que se preocupasse com a disciplinariedade (História, Arquivologia, e Paleografia) e que propusesse en-contros a favor do diálogo, troca e compreensão conjunta da prática paleográfica entre os partici-pantes.

Aula de Brasil I

A convite do professor Álvaro de Araújo Antunes, ministrante da disciplina de História do Brasil I no curso de História da UFOP, realizamos um encontro com os seus alunos do primeiro pe-ríodo do curso. Neste priorizamos a apresentação da nossa oficina e uma atividade prática de leitura paleográfica de um Inventário do Século XIX.

Ao longo do encontro evidenciamos a impor-tância de uma oficina de paleografia para a pes-quisa histórica, a região ouropretana e marianense e para a UFOP como instituição universitária de ensino-aprendizado. Praticamos a leitura paleo-gráfica de um inventário datado de 1807, perten-cente ao acervo da Casa Setecentista de Mariana.

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Através do exercício incentivamos aqueles alunos a participar no semestre seguinte das atividades da Oficina de Paleografia.

Inventário Post-mortem:

Documento escolhido para a transcrição conjunta com os alunos do primeiro período de História. (ACSM, 1º. Ofício, 25, 645)

Oficina de Paleografia da UFOP:os desafios da constituição e suas atividades

Ao fim, o encontro foi de grande significação para os coordenadores, alunos e professor Álvaro de A. Antunes, nele pudemos apresentar a Ofici-na, intuitos e estimular a participação dos recém--chegados na universidade nas atividades futuras da Oficina.

Conferência Inaugural

Diferentemente da proposta e intuito do encontro realizado com os alunos matriculados na discipli-na de Brasil I do curso de História, a Conferência Inaugural privilegiou o encontro de profissionais de distintas áreas científicas em um debate sobre a prática paleográfica, pesquisa histórica e arquivís-tica.

A conferência intitulada “A prática paleográ-

Aula de Brasil I:

Atividade de leitura e prática de um inventário oitocentista com os alunos do primeiro período de história.

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fica: entre os arquivos e a história” foi a efetivação da Oficina de Paleografia da UFOP dentre os dis-centes e docentes da instituição. Realizada no Au-ditório Francisco Iglesias no Instituto de Ciência Humanas e Sociais, proporcionou o encontro de três conferencistas que nas suas respectivas áreas apresentaram seus trabalhos sobre a Paleografia, Arquivística e pesquisa histórica.

Oficina de Paleografia da UFOP:os desafios da constituição e suas atividades

Conferência Inaugural: Coordenadores da Oficina de Paleografia da UFOP e confe-

rencistas.

Da esquerda para direita: Adriano Rodrigues, Juliana Soares, Elias Theodoro, Pablo Menezes, Suely Perucci, Fábio Mon-

tanheiro, Letícia Batista e Lucas Quadros.

Conferência Inaugural: Da esquerda para direita: Pablo Menezes, Elias Theodoro,

Fábio Montanheiro e Suely Perucci.

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Oficina de Paleografia da UFOP:os desafios da constituição e suas atividades

O diálogo entre o Prof. Dr. Fábio César Mon-tanheiro (DELET/UFOP), Profª Ms. Suely Maria Perucci (AHMI) e Prof. Dr. Pablo Menezes e Oli-veira (DEHIS/UFOP) comportou as três temáticas principais abordadas pela Oficina e demonstrou o caráter interdisciplinar que esta possui a todos os ouvintes da Conferência Inaugural. Nas suas dis-ciplinas mostraram como estas ciências são hoje complementares umas das outras. Em suma, a in-terdisciplinaridade que a Oficina de Paleografia da UFOP defende estava em voga nessa conferência inaugural.

Encontros em atividades semanais

Após a apresentação e efetivação da Oficina de Paleografia da UFOP no meio discente e docen-te de variados cursos da universidade, começamos no dia 09 de Outubro de 2013 as atividades de fato da oficina. Ao todo mais de 50 alunos interessaram--se e inscreveram-se para os encontros semanais.

Os encontros foram organizados e divididos em quatro módulos que seguirão entre os meses de Outubro a Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014. Em todos os módulos ocorrerão quatro encontros, destes priorizamos para uma sequencia de aulas que abordassem, respectivamente, perspectivas te-óricas, prática da leitura paleográfica e uma confe-rência científica.

Detalhadamente, nos encontros que prioriza-mos uma abordagem mais teórica daremos uma aula expositiva aos inscritos sobre alguma temáti-ca que achamos pertinente a prática paleográfica,

como: noções básicas da Arquivologia, Paleogra-fia, tipos de transcrições e banco de dados. São te-máticas que dialogam entre sim e com as restantes atividades da oficina.

O segundo e o terceiro encontro de cada mó-dulo serão integralmente para o treino e leitura pa-leográfica. Serão dois encontros que priorizarão a prática da leitura de manuscritos setecentistas e oitocentistas. Nele levaremos fragmentos de documentos aos inscritos e realizaremos uma transcrição conjunta, respeitando as dificuldades e as habilidades e, a cima de tudo, defendendo a troca de experiências entre todos os integrantes da Oficina de Paleografia da UFOP.

Ao fim de cada módulo, o último encontro será uma conferência científica com um pós-gra-duando do curso de história da UFOP. Nesta o con-ferencista priorizará uma apresentação a cerca da sua pesquisa e o documento ou o tipo documental que elegeu como fonte da mesma. Inclusive os do-cumentos que transcreveremos nos dois encontros anteriores são parte do acervo utilizado pelo con-ferencista em seu trabalho.

Assim propomos um diálogo, entre o exer-cício de transcrição do documento que o próprio convidado escolheu para apresentar como fonte de pesquisa em seus trabalhos e dissertação de mes-trado. O intuito é apresentar aos inscritos as pos-sibilidades que aquele documento já transcrito por eles possui como fonte de pesquisa científica em distintas e variadas áreas acadêmicas.

Em suma, os encontros comunicam-se e de-fendem a proposta da Oficina de Paleografia da UFOP. Ou seja, na programação da Oficina prio-

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rizamos um espaço troca de conhecimentos e ex-periência, de respeito e de participação integral de alunos da Universidade Federal de Ouro Preto.

Referências Bibliográficas:

ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Bra-sil Colônia: Um guia para leitura de documentos manuscritos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/Massangana, 1994.

MIRANDA, Marcia Eckert Miranda. Os arquivos e o ofício do historiador. Anais eletrônicos do XI Encontro estadual de História, Rio Grande, 2012.

RODRIGUES, Ana Marcia Lutterbach. A Teoria dos arquivos e a gestão de documentos. Perspec-tiva, ciência e informação. Belo Horizonte, vol. 1, n.1, 2006.

Oficina de Paleografia da UFOP:os desafios da constituição e suas atividades

Letícia Silva Batista1

Juliana Soares de Resende Santos2

Lucas Samuel Quadros3

Adriano Soares Rodrigues4

Elias Theodoro Mateus5

1 Licenciada e bacharelanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP.2 Graduanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS), coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP e bolsista PROBIC/FAPEMIG desde maio de 2013.3 Mestrando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Bacharel e licenciado em História pela mesma instituição. Bolsista da CAPES. Membro dos grupos de estudo Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e de Nú-cleo de Estudos sobre o Corpo (NEC). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP.4 Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Viçosa. Mestrando do PPGH da Universidade Fed-eral de Ouro Preto, bolsista PROPP-UFOP e integrante do Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares no Brasil (ILB). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP.5 Graduando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, bolsista de Iniciação Científica CNPq, atualmente desenvolve o projeto “A justiça e a prática do perdão nas Minas setecentistas”, sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Silveira. É também um dos coordenadores da Oficina de Paleografia da UFOP.

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Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

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Introdução

O artigo a seguir tem como objetivo tecer algumas considerações acerca da importância da paleografia na pesquisa histórica tendo como base o estudo de caso de uma escritura de venda lançada em livro de nota do século XIX em Mariana. Entende-se que das ciências auxiliares da História, a Paleografia é uma das mais importantes. No estudo das escritas antigas destaca-se o principal instrumento não apenas da análise estrutural dos documentos, mas reserva um caráter essencial de questionamento dos documentos que fundamentam o fazer da História, analisando, sobretudo, aspectos relacionados à escrita (TONIAZZO, ANDRADE e KRAUSE, 2009).

Realça-se que a escrita não é, de maneira nenhuma, a substituição da palavra falada. Ela é a memória do percurso e desenvolvimento da própria língua e do grupo ou comunidade que a fala. Escrita e oralidade estão dessa forma imbricadas numa espécie de mediação entre a faculdade natural e biológica do falar com o registro e representações dos signos das infinidades de permanências e ausências da fonia, bem como das infinitas formas de relação entre o que está escrito e o que se lê. Ou seja,

ao analisarmos a ortografia (etimologicamente, do grego, quer dizer escrita correta), de uma língua, situamo-nos num terreno que não se restringe, obviamente, à grafia, isto é, ao mero registro dos sons da língua por meio de sinais ou de símbolos gráficos, alcançando-se desse modo a imobilização e a preservação daquelas produções vocais (GONÇALVES, 1992: 11).

Nesse sentido, a paleografia figura como percurso fundamental para o estudo dos usos da linguagem. Por se tratar de uma área de fronteira entre a História, Filologia e Linguística, o estudo paleográfico é capaz de proporcionar um panorama de como os sistemas de escrita se constituem histórico e culturalmente, analisando-os enquanto forma (organização e conjugação de palavras), enquanto recurso (a escrita tem uma finalidade e um pretenso leitor) e enquanto História (os documentos que fundamentam os argumentos historiográficos).

Privilegiou-se para análise que se segue, uma escritura, primeiro, por se tratar de um documento onde a importância do registro de escrita se manifesta no nome da tipologia documental, e segundo, porque as escrituras e os livros de notas são uns dos instrumentos jurídicos mais utilizados na América Portuguesa, logo, de inegável importância ao historiador do Brasil colonial.

Análise do documento

O documento selecionado para análise se trata da cópia de uma escritura de venda de terras lavrada no cartório do Tabelião e Advogado Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca1, de Mariana, em 1806 com o título de “escritura de venda, paga e quitação de terras de cultura”2. Lavrada em 25 de setembro de 1806, o público instrumento de

1 Foi tabelião, era advogado e foi presidente da Câmara de Mariana já no período imperial, primeiro entre 1829-32 e depois entre 1837-40. Sobre a trajetória do Tabelião e advogado Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca. (CHAVES et al., 2008)2 A original se registrou no livro de notas 62, a folhas 34 a 35v, sob a guarda do referido tabelião. O exemplar transcrito e analisado neste artigo é uma cópia feita por outro escrivão, infelizmente não identificado.

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Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

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escritura de venda, pagamento e quitação foi feito pelo Tabelião em casas onde morava o Capitão Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, na cidade de Mariana. Sem estes dados preliminares, tornava-se inválida a escritura de compra e venda. Na primeira parte, o Tabelião apresenta as partes contratadas por seus nomes e moradias, a saber, os outorgantes vendedores Francisco Roberto de Moraes e sua mulher Benta Gomes de Sampaio, moradores na freguesia do Sumidouro, e o outorgante comprador Antônio Gonçalves da Silva, morador na Freguesia de São Caetano.

No Manual do Tabelião, de José Homem Correa Telles, o primeiro capítulo se debruça nas chamadas Escrituras. Em sua “advertência geral das escrituras”, o jurista fala da amplitude e do alcance do termo, que muitas vezes pode aparecer como carta ou instrumento, sendo mais usual encontrarmos escritura. A escritura pública, “a que foi por escrivão, ou tabelião, em que ele, e os mais assinam” (BLUTEAU, 1713: 228), tinha um aparato normativo na legislação específica das Ordenações Filipinas, das quais em muito se apropria o referido Manual do Tabelião.

José Homem Correa Telles enfatiza, também, que para ser verdadeira uma escritura do tabelião “a declaração, se conhecem as partes; ou se são conhecidas das testemunhas do contrato ou de outras, que devem ser dignas de fé” 3. Na escritura analisada, o tabelião declara que as partes outorgantes vendedores e comprador eram conhecidas das testemunhas e estas dele. Novamente, como parâmetro de observação as Ordenações Filipinas, tudo estava de acordo na 3 O autor remete ao primeiro livro das Ordenações Filipinas, T. 78, § 6. (TELLES, 1830: 19)

transação comercial em questão, pois “se os ditos Tabeliães não conhecerem algumas das partes, que os contratos querem firmar, não façam tais escrituras: salvo se as partes trouxerem duas testemunhas dignas de fé, que os ditos Tabeliães conheçam, que digam que as conhecem.” (Ordenações Filipinas. L. 1, t. 78, § 6, 1985: 181)

Esta apresentação corresponde ao modelo proposto pelo Manual do Tabelião em todos os seus quesitos. Especialmente quando dispõe, nas determinações para as escrituras de compra e venda, que ambas as partes outorgantes e contratadas deveriam estar presentes para facção, leitura e assinatura da escritura lavrada no Livro de Notas do Tabelião, como, com efeito, estavam.

A segunda parte, repartida em três subpartes, corresponde às declarações dos outorgantes vendedores. Primeiramente, fornecem a localização das terras que venderam para o dito Antônio Gonçalves da Silva, terras que ficavam para os lados do Ribeirão de Santo Antônio, cabeceiras da Prata, na mesma freguesia onde morava o comprador. Os vendedores apareceram juntos, marido e mulher, na presença do tabelião, como prescrito pelo Manual do Tabelião, para fazer “boa” a escritura. As terras de cultura eram herança da mãe da outorgante vendedora, Inês da Silva e faziam limite com terras do Seminário de Mariana. Essa “porção de terras tinham eles vendedores vendido por papel particular ao comprador em o dia doze de Julho do ano de mil oitocentos e dois”.( AHCSM. Livro de notas 06, 2º Ofício. Papel avulso, fl. 1.)

Ora, depois de colocadas as cláusulas pelas partes outorgantes que reconhecem o tabelião como autoridade e pessoa pública, estipulante e

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aceitante, pedem a ele que, por estas características, reconheça a veracidade do contrato, mediante a presença das testemunhas a diante assinadas (ANDRADE, 2010). Foram testemunhas o Capitão Francisco Manoel Martins, morador no Inficionado, e o Capitão Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, morador na cidade de Mariana e na casa do qual foi requerida a escritura, lavrada e assinada.

Sobre as testemunhas, as Ordenações Filipinas dispõem que uma escritura deveria ser feita mediante a presença de no mínimo duas testemunhas. O que parece ser corrente nos registros notariais que encontramos em Vila do Carmo/Mariana e Vila Rica. Telles sustenta que este é um dos fatores que a torna verídica e digna de fé. As mesmas testemunhas presenciavam a leitura da escritura, para “declararem estar a sua vontade” e em seguida, juntamente com as partes, assinavam-na. No caso de alguma das partes não saber escrever, solicitava-se a alguém que por ele assinasse4, caso da outorgante Benta Gomes de Sampaio, a rogo de quem assinou Bernardo José Vilela.

Como sobredito, a transcrição diz respeito a uma cópia do livro de notas original. Por mais que não tenha sido o Tabelião Fortunato Rafael a fazer cópia da escritura original, ele fez uma criteriosa revisão e a autenticou por meio de uma breve declaração e sua assinatura, passando tudo “na verdade”.

De modo geral, existem duas formas de

4 “E se cada uma das partes não souber assinar, assinará por ela uma pessoa, ou outra testemunha, que seja além das duas, fazendo menção, como assina pela parte, ou partes, porquanto elas não sabem assinar.” Ver: Ordenações Filipinas, L. 1, t. 78, § 4. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, p. 181.

escritura. A mais comum é a de compra e venda que, basicamente, é um registro da transação de bens entre duas partes, onde há uma movimentação financeira em troca de um bem imóvel. Os bens podem ser dos mais variados tipos: casas, casas comerciais, sítios, fazendas ou terras de cultura – que é o caso do documento selecionado. Há também a escritura de doação, onde uma parte doa um bem à outra sem que seja feita uma transação financeira, esta forma geralmente é utilizada para a transmissão de bens entre familiares. Embora esta última não seja tão recorrente quanto a primeira, ela tem um valor muito grande para o pesquisador, principalmente, àquele que busca investigar as redes de sociais, parentesco e compadrio.

A escritura em questão é um registro de terras de cultura, ou seja, uma propriedade rural onde era desenvolvida alguma forma de produção/cultivo. Este tipo documental possibilita, por exemplo, que sejam feitas análises sobre o uso e os ritmos de ocupação territorial. Para o historiador Ângelo Carrara, que faz uso das escrituras em seu trabalho, estes registros devem ser vistos como um mapa, no sentido de tentar entender a estrutura fundiária, ou estrutura de posse, da sociedade em questão (CARRARA, 1999).

O documento selecionado nos fornece, por exemplo, a localidade e extensão da propriedade que está sendo quitada. No caso, ela faria divisas com três outras fazendas, sendo elas a do Seminário de Mariana, do Padre José Inácio de Araújo e a de Francisco Nunes. Já as descrições da fábrica, ou seja, o tipo de atividades desenvolvidas nas propriedades, tais como, lavras de ouro, lavouras ou criação de animais, são recorrentes neste tipo

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Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

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de documentação, mas não seguem um padrão. Por vezes elas aparecem de forma detalhada, mas em muitos casos há apenas citações superficiais - como no caso da escritura seleciona que, apenas, cita se tratar de uma propriedade de “cultivo”. Estes dados podem ser utilizados pelo pesquisador, por exemplo, para tratar da ocupação territorial e das dinâmicas econômicas e de produção.

Como vimos, o documento também informa a quantia paga pela propriedade e a forma de pagamento: trezentos mil réis (300$000 réis), pagos num período de quatro anos. Na escritura consta que o processo de compra e venda teria iniciado em 1802 e que este se conclui em 1806, com a quitação do valor e a feitura da escritura. Estes dados (valor e forma de quitação) podem ser utilizados em pesquisas sobre a economia local e formas de obtenção da terra.

A paga e quitação do valor de trezentos mil réis é o escopo da terceira parte. Mais de quatro anos depois, as partes recorrem às instâncias judiciais para oficializar o acordo particular e declarar por meio do instrumento escrito o acerto de contas. Através desta declaração perante um oficial da justiça de Sua Majestade, concediam todo o direito daquela propriedade ao comprador que acabara de pagar a dívida, já que as terras foram vendidas a crédito. A propósito da transferência de direitos daquela propriedade no Ribeirão de Santo Antônio, freguesia de São Caetano, o outorgante comprador faz sua declaração de que já estava de posse das terras e aceitava a geral quitação de sua dívida.

A forma de quitação, também pode ser base para as análises sobre as relações de poder e justiça. Por exemplo, na escritura selecionada é

possível perceber, que a parte compradora já havia se instalado na propriedade, ou seja, as partes iniciaram o processo de negociação e contrato fora da esfera da justiça formal, o que nos possibilita supor que havia uma espécie de código informal cujas ambas as partes se submeteram. Eles recorrem ao poder formal somente para evitar que o acordo firmado entre eles seja questionado no futuro por outras partes. Ou seja, há uma certa ordem estrita às partes, onde a justiça exerce o papel legitimador na tentativa de evitar o seu questionamento por outrem.

Considerações finais

Em qualquer estudo sobre a ortografia – em que a Paleografia tem muito a contribuir – se torna fundamental determinar as especificidades da língua escrita em face à língua oral, bem como a interação entre ambas. A língua é, sobretudo, um instrumento de comunicação baseado num sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade. Contudo, observando-se a complexidade e variabilidade dos usos da escrita e da fala entre cada comunidade ou grupo, a linguagem – seja escrita ou oral – torna-se um observatório da experiência humana entre os indivíduos e seu meio.

Percebeu-se que na escritura observada a importância e integração da escrita na História de Minas – seja da justiça ou agrária. Além disso, nos permitiu analisar a perpetuação das relações históricas através da escrita, bem como a importância e legitimidade da escrita numa sociedade basicamente tida como iletrada no

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período em questão. Como sobredito, mais do que registrar, as escrituras enquanto ferramentas jurídicas significam a própria representação – representar como “estar em vez de” – do indivíduo frente às questões que perpassam seu cotidiano (HESPANHA, 2008).

Realça-se, que não se pretendeu apenas examinar um documento cujo objetivo elementar é o fechamento de uma negociação, mas, através dele intentou-se estabelecer reflexões concernentes à relação das sociedades – nesse caso, Mariana do século XIX – com as suas ambiências políticas, mercantis, econômicas e contratuais (MATHIAS, 2010), onde a escrita como certidão de um acordo provavelmente firmado na fala, figura como principal fio condutor de compreensão.

Transcrição do documento5

Fl. 1

Escritura de venda, paga e quitação de terras de cultura que fazem Francisco Roberto de Moraes e sua mulher a Antônio Gonçalves da Silva 6

Saibam quantos este público Instrumento de Escritura de venda, paga e quitação, ou como em Direito melhor Lugar haja virem, que sendo no Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo

5 Para a transcrição deste documento manuscrito, adotamos o método de transcrição popular, que consiste em atualização e modernização da ortografia e da pontuação, a fim de viabilizar a compreensão do leitor a partir de seu próprio contexto linguístico e ortográfico.6 AHCSM, Livro de notas 06, 2º Ofício, folha avulsa. Escritura de venda de terras de cultura, 1806. Livro original nº 62, fl. 34 v e 35.

de mil oitocentos e seis aos vinte cinco dias do mês de setembro do dito ano, nesta Leal Cidade de Mariana, em casas de morada do Capitão Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, onde eu Tabelião ao diante nomeado vim, aí apareceram presentes partes outorgantes havidas, e contratadas a saber de uma como outorgantes vendedores Francisco Roberto de Moraes, e sua mulher Benta Gomes de Sampaio, moradores na Freguesia do Sumidouro deste Termo, e da outra, como comprador, Antônio Gonçalves da Silva, morador na Freguesia de São Caetano deste Termo, aqueles e este reconhecidos das testemunhas a diante expressadas, e estas de mim Tabelião pelas próprias, em presença das quais pelos vendedores uniformemente me foi dito que eles eram senhores, e possuidores de uma porção de terras de cultura com seu rancho sitas no Ribeirão de Santo Antônio, cabeceiras da Prata Freguesia de São Caetano, que parte com terras da Fazenda do Seminário desta Cidade, com as do Padre José Inácio de Araújo, e Francisco Nunes, e com quem mais deva e haja de partir, e confrontar por herança que à vendedora coube por falecimento de sua Mãe Inês da Silva, e de que tinham tirado por sesmaria com outros seus Irmãos, cuja porção de terras tinham eles vendedores vendido por papel particular ao comprador em o dia doze de Julho do ano de mil oitocentos e dois pela quantia de trezentos mil réis fiados, e agora novamente lha vendiam por este Instrumento as ditas terras, benfeitorias e rancho e seus pertences pela referida quantia; e como dele a tinham recebido, dela lhe davam plena e geral paga, e quitação, para mais lhe não ser pedida em tempo algum per sis, nem por outrem, seus Procuradores, Testamenteiros

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herdeiros, ascendentes e descendentes, e nele cediam toda a posse, jus, ação, Direito, e Senhorio que nas ditas terras tinham, para que as logre, e possua como suas que ficam sendo, e delas poderá tomar posse, e quer a tome quer não, desde já lha hão por dada, largada, e nele incorporada pela cláusula constituti, e que por suas Fl. 1 vPessoas e bens se obrigam a por ao comprador a paz, e a salvo de qualquer dúvida, ou embaraço que sobre esta venda se mova, fazendo-a a todo o tempo boa, e que igualmente se obrigavam a não contravir o presente Instrumento, nem reclamá-lo por ser feito de suas livres vontades, antes sim a cumpri-lo: E pelo Outorgante comprador me foi dito perante as mesmas testemunhas que por ter conhecimento das terras vendidas, e delas estar já de posse, aceitava a venda e quitação que lhe era feita, e obrigação que se comprometiam, de opor a salvo de qualquer dúvida que se possa mover, e que igualmente se obrigava a não contravir este trato, por ser feito de sua livre vontade antes sim a cumpri-lo: E nesta forma de seus ajustes, pediram a mim Tabelião nesta Nota lhes lançasse estipulasse o presente instrumento, o qual eu como pessoa pública, estipulante, e aceitante, nesta Nota lhes lancei, estipulei, e aceitei o presente Instrumento, em nome deles partes presentes e de quem mais ausente tocar possa o Direito dos mesmos, sendo a tudo presentes as testemunhas os Capitães Francisco Manoel Martins, Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, aquele do Inficionado, este desta Cidade de mim reconhecidos que se assinam com as ditas partes depois deste Instrumento ser lido por mim e declararem estar a sua vontade e de

que dou fé; e a rogo da vendedora por não saber escrever assina o Alferes Bernardo José Vilela desta Cidade de mim reconhecido, e este Instrumento fiz por bem da distribuição, que me foi feita Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca Tabelião que o escrevi // Francisco Roberto de Moraes // A rogo de Benta Gomes de Sampaio Bernardo José Vilela // Antônio Gonçalves da Silva // Francisco Manoel Martins // Francisco Rodrigues de Castro Guimarães. Nada mais continha a Escritura que se acha Lançada em o meu Livro atual de Notas número sessenta e dois a folhas trinta e quatro verso et trinta e cinco ao qual me reporto, e vai na verdade sem coisa que dúvida faça pela ler conferir, e achar em tudo conforme a própria e a subscrevi, e assinei, em o dia, digo e assinei em público, e raso em o dia mês e ano a princípio declarado Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca Tabelião o subscrevi conferi e assinei em público e raso.

Em tudo de verdadeFortunato Rafael Arcanjo da Fonseca

Referências:

Bibliografia:

ANDRADE, Francisco Eduardo de. “Estipulante e aceitante de direitos: o ofício de tabelião nas Minas do ouro (Vila de Nossa Senhora do Carmo)”. In: MOLLO, Helena Miranda; SILVEIRA, Marco Antônio (orgs.). Termo de Mariana: história e documentação. Vol. III. Ouro Preto, MG: UFOP, 2010, p. 53-66.

CARRARA, Angelo Alves . Contribuição para a História Agrária de Minas Gerais. Ouro Preto: Editora da UFOP, 1999.

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Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

CHAVES, Cláudia Maria das Graças et al. Casa de vereança de Mariana: 300 anos de história da Câmara Municipal. Ouro Preto, MG : Editoria UFOP, 2008.

GONÇALVES, Maria Filomena. Madureira Feijó, ortografista do século XVIII: para uma História da Ortografia Portuguesa. Lisboa: Ministério da Educação/Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1992.

HESPANHA, António Manuel. Imbecillitas: as bem-aventuranças da inferioridade nas sociedades de Antigo Regime. Belo Horizonte: UFMG/FAFICH, 2008.

MATHIAS, Carlos Leonardo Kelmer. Escrituras de “procuração bastante”: potencialidade e possibilidades de análise, o caso de Minas Gerais na primeira metade do século XVIII. Anais do III Simpósio do ILB, Mariana, 2010.

TONIAZZO, Carmem Lúcia; ANDRADE, Elias Alves de; KRAUSE, Maria Margareth Costa de Albuquerque. Edição de manuscritos: características paleográficas. Polifonia, Cuiabá, n.19, 2009.Fontes impressas:BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Portuguez e Latino. Coimbra: impresso no Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1713.

Ordenações Filipinas. L. 1, t. 78, § 6. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.

TELLES, José Homem Correa. Manual do Tabelião ou ensaio de jurisprudência eurematica. Lisboa: na impressão régia, 1830.

Fontes manuscritas:AHCSM. Livro de notas 06, 2º Ofício. Papel avulso, fl. 1.

1 Licenciada e bacharelanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP.2 Graduanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS), coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP e bolsista PROBIC/FAPEMIG desde maio de 2013.3 Mestrando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Bacharel e licenciado em História pela mesma instituição. Bolsista da CAPES. Membro dos grupos de estudo Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e de Nú-cleo de Estudos sobre o Corpo (NEC). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP.4 Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Viçosa. Mestrando do PPGH da Universidade Fed-eral de Ouro Preto, bolsista PROPP-UFOP e integrante do Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares no Brasil (ILB). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP.5 Graduando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, bolsista de Iniciação Científica CNPq, atualmente desenvolve o projeto “A justiça e a prática do perdão nas Minas setecentistas”, sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Silveira. É também um dos coordenadores da Oficina de Paleografia da UFOP.

Letícia Silva Batista1

Juliana Soares de Resende Santos2

Lucas Samuel Quadros3

Adriano Soares Rodrigues4

Elias Theodoro Mateus5

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Desde final do mês de outubro, a Biblioteca do ICHS disponibiliza em seu site o link para o ‘Guia para os usuários da Biblioteca do ICHS’. Nesse documento os usuários encontrarão as informações básica sobre os serviços prestados pela Biblioteca, assim como orientações sobre os prazos de empréstimos/renovação, multas, solicitação de carteira.

Clique no link para conhecer o ‘Guia’. http://goo.gl/6906aY

Guia para os usuários daBiblioteca do ICHS

Serviços

Universidade Federal de Ouro PretoInstituto de Ciências Humanas e Sociais

Biblioteca Alphonsus de Guimaraens

Mariana - 2013

Guia para os usuários

da Biblioteca do ICHS

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O realismo fantástico contemporâ-neo presente na obra “Mamãe não

pode saber” de João Falcão

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“Mamãe Não Pode Saber” peça com doze personagens interpretados por cinco atores, utiliza um recurso eficaz para impulsionar ritmo a textos teatrais que é o revezamento de vários personagens para um mesmo ator.

Este recurso visa atingir diferentes objetivos. Muitas vezes é visto como uma simples economia de atores, mas na verdade remonta às origens da arte teatral. No caso das tragédias gregas, esse mé-todo era aplicado diante das questões sociais da época, até porque somente pessoas do sexo mas-culino poderiam trabalhar como atores.

Certamente não foi esta a primeira vez que personagens e atores estiveram des-vinculados. Para sermos mais exatos: as-sim nasceu o teatro. Na tragédia grega, dois e depois três atores alternavam entre si a interpretação de todos os personagens constantes no texto. Para isso, utilizavam máscaras, o que evitava a confusão da platéia. (BOAL, 2005, p. 256)

No teatro brasileiro, temos outro tipo de reve-zamento, agora de atores, que é o “sistema corin-ga” proposto por Augusto Boal, nele estão presen-tes outros objetivos, diante de outra sociedade e cultura, onde diversos atores, entre eles homens e mulheres revezam entre si as mesmas personagens e investindo no teatro épico e crítico:

CORINGA (SISTEMA): Técnica con-cebida pelo dramaturgo teórico e diretor teatral Augusto Boal, análoga ao efeito de distanciamento (ou estranhamento) da teoria brechtiana. [...] Em linhas ge-rais, consistiria na desvinculação ator*/ personagem, ou seja, diferentes atores

revezavam-se nos papéis*, utilizando a ‘máscara*’ (características psicológi-cas e sociais) das personagens para que o espectador pudesse reconhecê-las [...]. (GUINSBURG, 2006, p. 97-98)

Nesta peça, o revezamento tem outro atribu-to, diferente do teatro grego e do Sistema Corin-ga. Tem por objetivo causar estranhamento através de traços semelhantes entre as personagens, a re-ação diante isso é observada tanto no expectador que hesita diante do fato não-naturalista quanto na personagem Armando, que até certo ponto da his-tória não passa por esse revezamento. Com estas particularidades, é possível observar a existência de traços do realismo fantástico neste texto: o es-tranhamento, a hesitação, os fatos extraordinários acontecendo em um ambiente familiar e a ambi-güidade.

Além disso, o expectador pode encarar esses fatos de forma cômica, pois os observa sem partici-par da história e sabe exatamente o motivo de toda esta confusão, mas tendo consciência de que está diante de uma ficção, não se preocupa em encon-trar uma explicação racional para isso, acompanha os acontecimentos e se mantém curioso para como será o desfecho da história.

O evento sobrenatural surge em meio a um cenário familiar, cotidiano e ve-rossímil. Tudo parece reproduzir a vida cotidiana, a normalidade das ex-periências conhecidas, quando algo inexplicável e extraordinário rompe a estabilidade deste mundo natu-ral e defronta as personagens com o

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impasse da razão. (MARÇAL, não data-do, não paginado)

A peça se inicia com um monólogo de Flora, narradora-personagem, o autor sugere que a perso-nagem tenha gestos trágicos e fale como dublagem de filmes, dessa forma, observa-se a fusão da co-micidade e do fantástico, presentes na repetição de falas, como por exemplo: “Apaixonada por um ho-mem que não tem absolutamente nada a ver com ela” e na forma como esta personagem fala e age que são exageradas e nada cotidianas, principal-mente quando se refere a si própria, que é o foco desta cena.

O emprego do discurso figurado é um tra-ço do enunciado; passemos agora a enun-ciação, e mais exatamente ao problema do narrador [...] Nas histórias fantásticas o narrador diz habitualmente “eu”: é um fato empírico que se pode verificar facil-mente. (TODOROV, 2007, p. 90)

Flora tem desejos delirantes que fogem do re-alismo puro, que estão expressos nos diversos mo-mentos. Está atenta para o modo como Armando fala com ela, tentando concertar, segundo suas as-pirações, suas entonações como quem dirige uma cena teatral.

Esta metamorfose terá conseqüências so-bre a técnica do gênero. Se anteriormente o herói com que se identifica o leitor era um ser perfeitamente normal (a fim de que a identificação seja fácil e possamos com ele nos surpreender diante da estra-nheza dos acontecimentos), aqui, é a pró-pria personagem principal que se torna ‘fantástica’. (TODOROV, 2007, p. 182)

Flora deseja ser uma personagem e quer trans-formar os fatos em histórias, segundo seus objeti-vos pessoais, tentando trazer à cena cotidiana, os recursos para que uma história aconteça: “música

de fundo” e direção das falas, entonações e ações. Há também, um jogo com as palavras, como por exemplo, quando Flora diz a Armando “Pensando alto? Você sabe? Me ensina.” (FALCÃO, 1993, p. 21), faz uso da expressão popular “pensar alto” para tentar traduzi-la exatamente ao pé da letra para a cena, o que contribuiria para a encenação dos fatos.

Um dispositivo narracional clássico do texto fantástico – o narrador que se eri-ge em testemunha e conta uma história já sucedida – ocupa-se de registrar realisti-camente o fenômeno insólito, para obter a credibilidade do leitor. [...] Tanto o saber como as evidências sensoriais visam a in-terditar as deformações da subjetividade, mas a realidade neles investida é de uma perspectiva falsamente tética, posto que o efeito de real construído pelo discurso é simultaneamente desconstruído pelo efei-to do fantástico. (CHIAMPI, 1980, p.57 - 58)

Armando, o herói da peça, é a única persona-gem que estranha a semelhança entre as persona-gens, chegando a confundi-las. Diferentemente de Flora, que sabe dessa semelhança entre as perso-nagens, mas isso é um evento cotidiano para ela e convive com isso com a maior naturalidade possí-vel.

Outro aspecto relevante para a ideologia do fantástico é o conteúdo alienante da passividade do herói, que não age, mas que sofre e aprecia o acontecimento insó-lito. A narração desencadeada pela ques-tão “o que me aconteceu?”, coloca-se sob o signo do acontecimento e não da ação – o que sugere, neste ‘estranhamento da atualidade’, que o agir não é pertinente no mundo da alienação. (Bessière, 1974, não paginado)

O estranhamento e a hesitação de Armando diante dos fatos estão presentes em falas como

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“Porque as pessoas fingem ser outras pessoas além do que elas são de verdade?” (FALCÃO, 1993, p. 15) e em momentos de devaneio, de divagação, onde sua voz aparece gravada em conjunto com sua presença em cena, causando a ampliação do real. O fantástico é uma percepção particular dos acontecimentos estranhos, tais acontecimentos não são consistência do fantástico, mas uma condição necessária.

[...] os acontecimentos inexplicáveis se-rem contados por alguém que é ao mes-mo tempo um dos heróis da história e o narrador: trata-se de um homem como os outros, sua palavra é duplamente digna de confiança; em outros termos, os aconte-cimentos são sobrenaturais, o narrador é natural: excelentes condições para que o fantástico apareça. (TODOROV, 2007, p. 92)

Como esse é um fato comum para Flora, ela não demonstra preocupação com isso, mas tem o objetivo de ser como Priscila, que seria uma forma de ela realizar essa “troca” que ela observa nas ou-tras personagens e que para ela parece natural. A ação infrutífera da personagem em se assemelhar a outras pessoas é uma “gag” utilizada para ironizar e agilizar a ação para reforçar o potencial cômico do texto.

Os flash backs que ocorrem em diversos mo-mentos, fazem com que o tempo da peça se modi-fique, voltando a acontecimentos passados como uma forma de narração e explicação para determi-nados fatos que ocorrem em tempo real. Isso fun-ciona como uma ferramenta de redução de tempo para a história que está sendo contada, focando apenas em acontecimentos importantes que tentam ajudar Armando a compreender o que está aconte-

cendo, mas que na verdade, só o deixa mais con-fuso. Com isso consegue-se também a expansão do tempo real, trazendo acontecimentos passados para o presente. O flask back não resolve o estra-nhamento em relação aos acontecimentos, pelo contrário, colabora para que o mistério seja maior e permaneça até o final.

Assim se explica a impressão ambígua que deixa a literatura fantástica: de um lado ela representa a quinta-essência da literatura, na medida em que o questio-namento do limite entre real e irreal, ca-racterístico de toda literatura, é seu centro explícito. Por outro lado, entretanto, não é senão uma propedêutica à literatura: com-batendo à metafísica da linguagem coti-diana, ela lhe dá vida; ela deve partir da linguagem, mesmo que seja para recusá--la. (TODOROV, 2007, p. 176)

A hesitação que é causada no leitor/expec-tador não é motivada pela identificação com uma personagem, porque a hesitação nem sempre está presente no texto e o leitor/expectador não se iden-tifica com qualquer personagem. Sendo assim, a identificação não é uma condição obrigatória do fantástico.

O Fantástico coloca um impasse à razão e não o resolve, retira o indivíduo de sua estabilidade cotidiana e não lhe propor-ciona, ao final, uma saída racional ou me-tafísica. Joga-o na zona do “não sentido” e deixa-o aí, estupefato, paralisado, sem apoio tanto na teologia quanto na ciência. [...] A permanência da ambigüidade signi-fica a permanência do mistério no Fantás-tico. (MARÇAL, não datado, p. 7)

A exaltação da beleza de Priscila, evidência um fato muito comum na sociedade contemporânea que é a padronização da beleza. A apologia à sua perfeita formosura é des-crita através de uma fala que é decorada e

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repetida diversas vezes por Glória e Flora.

Dona Glória acredita que a beleza da filha seja a solução dos problemas financeiros da famí-lia. Além disso, Glória finge ser astróloga, realiza atendimentos por telefone. Sempre que há algum acontecimento que tira esta personagem de sua es-tabilidade ela ou a empregada Flora referem-se à necessidade de um bom banho para resolver seus problemas. Isso é repetido diversas vezes. O autor faz uma metáfora à utilização da função curativa dos populares “banhos de descarrego”.

O marido de Glória, Artur, está sempre tentan-do se candidatar, passando todo o tempo tentando treinar um discurso, inclusive nas conversas mais comuns da família, mas tem problemas de memó-ria e não consegue lembrar palavras simples de seu discurso. Além da comicidade, demonstra de for-ma irônica um problema muito comum em nosso país: o descaso com a saúde e a educação. Em um de seus discursos, ele revela sua despreocupação com a importância e o sentido do que está falando:

“ARTUR – Não. Entrou uma palavrinha nova que eu não me lembro. Eu não sei se foi no lugar de ‘mais saúde’ ou no lugar de ‘mais escolas’. Ou será que foi no lugar de ‘mais empregos’? Não sei. [...]”. (FALCÃO, 1993, p. 08).

O jogo de palavras é uma característica mar-cante neste texto, presente em diversos momentos, como por exemplo, no trecho:

ARTUR – Quer dizer que o partido acha que eu não somo nem multiplico?

MOREIRA – Você só subtrai e divide.

ARTUR - E o que é que você acha?

MOREIRA – Quanto é 353 + 958 vezes 573.224 dólares?

ARTUR – 766 milhões, 973 mil, 709 dólares.

MOREIRA – Errou. Por três dólares. (FALCÃO, 1993, p. 10)

Moreira afirma para Artur que este não sabe calcular, dando um novo sentido para seu argumen-to de que Artur não soma (não acrescenta) para o partido. Esta cena é um recurso para uma comi-cidade garantida e imediata, na qual o expectador rapidamente observa a duplicidade das falas e os exageros presentes nela.

A palavra literal que empregamos aqui poderia ter sido utilizada, em outro senti-do, para designar esta leitura que acredi-tamos própria da poesia. É preciso preca-ver-se de confundir os dois empregos: em um dos casos, literal opõe-se a referen-cial, descritivo, representativo; no outro, o que nos interessa agora, trata-se antes daquilo que se chama também o sentido próprio, por oposição ao sentido figurado, aqui o sentido é alegórico. (TODOROV, 2007, p. 69)

A naturalidade com que as personagens rea-gem ao fato do sequestro de Mamãe durante toda a história, por exemplo, quando o sequestrador te-lefona pedindo uma receita de strogonoff e Glória apenas passa a receita sem perguntar por Mamãe e diversos outros momentos em que o assunto do sequestro é tratado sem preocupação, como um fato cotidiano, contribui para o caráter fantástico da peça, pois se fosse numa representação natu-ralista, provavelmente as personagens demonstra-riam preocupação com ocorrido, teriam como foco o resgate da personagem. Para o leitor/espectador

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essa reação das personagens além de lhe causar es-tranhamento, chega também de forma cômica.

Vê se agora porque a leitura poética cons-titui um obstáculo para o fantástico. Se, lendo um texto, recusamos qualquer re-presentação e consideramos cada fra-se como pura combinação semântica, o fantástico não poderá aparecer; este exi-ge, recordamos uma reação aos aconteci-mentos tais que se produzem no mundo evocado. Por esta razão, o fantástico não pode substituir a não ser na ficção; a po-esia não pode ser fantástica (ainda que haja antologias de “poesia fantástica”...). Resumindo, o fantástico implica ficção. (TODOROV, 2007, p. 68)

O modismo adolescente é apresentado em cena através do comportamento de Juninho e Zepa que são capazes de trocar rapidamente de uma ação para outra, de acordo com o modelo do jovem atu-al.

O momento em que Priscila entra em casa e não responde as perguntas que sua mãe, dona Gló-ria, lhe faz e fica apenas desfilando, é uma forma de ampliação do real, além de causar hesitação no espectador diante da figura masculina que inter-preta uma menina de 15 anos e é vista pelas outras personagens como tal. Dessa forma, o espectador se vê forçado a acreditar que é mesmo uma menina de 15 anos, mas como já observou esse fato (seme-lhança entre as personagens) em outros momentos da peça, aceita a ação, mas continua estranhando.

Armando fica totalmente confuso e começa a divagar, a “pensar alto” e fica inseguro até sobre si mesmo, acreditando não ser mais a mesma pessoa de antes, sai de cena e volta como Detetive Gomes como se estivesse entrando no jogo das outras per-sonagens. Mas Flora não consegue acreditar, tem

dificuldades para tratar esse novo fato como a natu-ralidade de sempre, ela vê Armando como alguém que mudou e está do jeito como ela desejava. Essa mudança de Armando pode ser vista como uma ex-perimentação dele para compreender o que ocorre na casa com as outras personagens. Para o espec-tador não fica claro se é mesmo outra personagem ou se é uma farsa de Armando, permanecendo o mistério até o final.

A chegada de Mamãe é mais um elemento que reforça o mistério da história. Na primeira cena em que esta personagem aparece, uma de suas falas é “Ih, será que raptaram a minha filha” (FALCÃO, 1993, p. 32), demonstrando que esta personagem está sabendo de tudo que ocorre nesta casa, ao mes-mo tempo em que parece assumir a farsa realizada através da duplicidade de personagens, causando inquietação causada no público, uma vez que nada é esclarecido e as situações estão cada vez mais sem solução.

Se o que lemos descreve um acontecimen-to sobrenatural, e que exige, no entanto que as palavras sejam tomadas não no sentido literal, mas em outro sentido que não remeta a nada de sobrenatural, não há mais lugar para o fantástico. Existe, pois uma gama de subgêneros literários, entre o fantástico (que pertence a este tipo de textos que devem ser lidos no sentido li-teral) e a alegoria pura [...]. (TODOROV, 2007, p. 71)

A utilização do black-out possibilita o uso convincente da duplicidade e multiplicação das personagens onde todos os atores podem estar em cena, possibilitando que personagens interpreta-das pelo mesmo ator contracenem. O público tem consciência de que isso não é possível, mas encara os black-outs de forma cômica e aceita a proposta

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como algo que possa solucionar os fatos estranhos.

Flora está atenta às entonações das palavras que fala ou escuta, fica “repassando sentimentos”, como ela mesma diz. Assim ela arquiva e ensaia para transformá-los em cenas.

Priscila é o exemplo de personagem com quem pretende se parecer, esse objetivo é alcança-do em algumas cenas finais da peça em que Prisci-la aparece em cena vestida de Flora e realiza ações do cotidiano do trabalho da empregada. A atmos-fera fantástica de toda a obra, o absurdo, o plano dos sonhos, a extensão do tempo é acompanhado pelo espectador que assisti à encenação.

Em cada caso, o fantástico se acha posto em questão. É preciso insistir no fato de que não se pode falar de alegoria a menos que dela se encontrem indicações explíci-tas no interior do texto. Senão, passa-se à simples interpretação do leitor; por con-seguinte, não existiria mais texto literário que não fosse alegórico, pois é próprio da literatura ser interpretada e reinterpretada infinitamente por seus leitores. (TODO-ROV, 2007, p. 81)

Mamãe é a personagem que assume saber o mistério que prevalece nesta história e age com naturalidade e ironia diante dos fatos e questiona-mentos das personagens. Em suas falas demonstra que é impossível ela e a filha estarem presentes no mesmo local (sem black out), pois são interpreta-das pela mesma atriz. Podemos interpretar a atitu-de de Mamãe de duas formas diferentes: como a de quem está vivenciando um fato sobrenatural (ela e a filha se revezando em um mesmo corpo); a outra forma (mais provável) a ser considerada é o conhe-cimento de Mamãe de que isso é uma peça e se as-sumir como personagem para o público, brincando

com a lógica da impossibilidade de isso ocorrer na realidade. Com isso o mistério permanece, não há solução para os fatos.

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Ana Eliza Teixeira

Universidade Federal de Ouro Preto – Graduanda

em Artes Cênicas – Bacharelado.

REFERÊNCIAS:

BESSIÈRE, Irène. Le récit fantastique. La poéti-que de’l incertan. Paris: Larouse, 1974.

BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. 7. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

CHIAMPI, Irlermar. O realismo maravilhoso: Forma e Ideologia no Romance Hispano-Ameri-cano. São Paulo: Perspectiva, 1980.

FALCÃO, João. Mamãe não pode saber. Recife: [s.n.]. 1993.

GUINSBURG, J.; FARIA, J.R.; LIMA, M. A. de. (orgs.). Dicionário de Teatro Brasileiro: te-mas, formas e conceitos. São Paulo: Perspectiva, 2006.

MARÇAL, Marcia Romero. A tensão entre o re-alismo fantástico e o maravilhoso. (Não datado)

TODOROV, Tzevetan. Introdução à literatura fantástica. 3. ed. Tradução de Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2007. 188 p.

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Campanha Estudante solidário, realizada nos dias 12 a 16 de agos-to de 2013, na Biblioteca do ICEA

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A campanha Estudante Solidário, reali-zada no período de 12 a 16 de agosto de 2013, foi bem sucedida na Biblioteca do ICEA. Ti-vemos elogios de vários usuários. O objetivo da campanha era ajudar os usuários a pagarem suas multas, com valor de até R$100,00 (Cem Reais), por meio de doação de alimentos não perecíveis e leite, e, consequentemente, aju-dar instituições carentes com estas doações. Participaram da campanha 146 usuários desta biblioteca.

Recebemos ao todo: 410 kg de açúcar, 180 kg de arroz, 24 litros de óleo, 144 litros de leite, 20 kg feijão, 5 kg de café, 2,5 kg ma-carrão. Estes alimentos foram doados para as instituições: Colônia Bom Samaritano (recu-peração de dependentes químicos), Asilo Lar São José, Assistência Social de Rio Piracica-ba – Asilo Padre Pinto, nos dias 20 e 21 de agosto.

A experiência da biblioteca do ICEA com esta campanha foi positiva, tendo em vista a

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Bibliotecária Flávia Reis na entrega das doações

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Campanha Estudante solidário,realizada nos dias 12 a 16 de agosto de 2013, na Biblioteca do ICEA

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

boa receptividade da mesma pelos usuários. E a possibilidade de poder ajudar instituições carentes foi muito gratificante.

É importante salientar que o usuário quando faz empréstimos de obras (livros, Cds...) nas bibliotecas, está ciente do prazo de devolução. Trata-se de um compromisso assumido. Quando este usuário não faz a de-volução na data marcada, outro usuário fica-rá sem fazer o empréstimo daquela obra. A multa é uma medida para que o usuário tenha mais responsabilidade e faça a devolução no prazo correto. O usuário que extrapola o pra-zo de devolução não prejudica a biblioteca e sim outro usuário.

As multas são necessárias porque mui-tos usuários se esquecem de entregar o livro na biblioteca ou ficam com ele por mais dias quando não dá para renovar. Em períodos de avaliações, por exemplo, muitos não gostam de devolver o livro. Outros ficam com pregui-ça ir à biblioteca para devolver o mesmo, so-bretudo nos dias que não vão à faculdade. Há usuários que realizam empréstimos de férias e quando voltam não se lembram de devolver o livro. Tempos depois, encontram o livro em seus armários e ao devolverem os mesmos se vêem com uma multa altíssima.

A campanha Estudante Solidário não é para incentivar os usuários a adquirirem mul-

tas, e sim ajudar aqueles que por um descui-do, não intencional, as contraiu. É nesta ótica que a Biblioteca do ICEA apóia outras edi-ções desta campanha.

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Flávia Cristina Michel ReisBibliotecária

Universidade Federal de Ouro Preto

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Encontro Regional de Bibliotecas Universitárias (ERBU)

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Nos dias 3 e 4 de outubro de 2013 foi reali-zado o Encontro Regional de Bibliotecas Univer-sitárias (ERBU), regiões Sudeste 1 (Minas Gerais e Espírito Santo), Centro-Oeste e Distrito Federal na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), or-ganizado pelo Sistema de Bibliotecas (SISBI) da UFU.

O tema foi “A eficácia da avaliação e planeja-mento de bibliotecas universitárias no processo de tomada de decisão”. As palestras que ocorreram no evento trataram sobre O planejamento no Desenvol-vimento de Coleções, Avaliação do MEC: desafios e perspectivas do Sistema de Bibliotecas da UFU; Software de Gerenciamento de Bibliotecas: apli-cabilidade do módulo de aquisição de material in-formacional; Leitores de livro digital: passivos e ativos, uso e aplicação; Produção de material mul-tiplataforma: desenvolvimento e administração de bookstore digital; Modelo de negócios dos edito-res; Eficácia na avaliação de cursos nas institui-ções; O Bibliotecário como gestor de unidade de informação. Um dos destaques neste evento foi a visita guiada à Biblioteca Central Santa Mônica (Implantação de autosserviços), onde foi possível conhecer os terminais de autoempréstimo e auto-devolução disponíveis aos usuários desta bibliote-ca.

Este tipo de evento colabora para a troca de experiência entre os profissionais bibliotecários, para a aquisição de conhecimento sobre metodo-

logias de trabalho das bibliotecas universitárias através de relato de experiências, para atualização profissional, possibilitando também conhecer no-vos recursos tecnológicos que permite modernizar o trabalho nas unidades de informação.

As bibliotecárias da UFOP Jussara Santos Silva (ICEB) e Michelle Karina Assunção Costa (ICHS) estiveram presentes neste evento.

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Art

igo

Michelle Karina Assunção CostaMestranda em Ciência da Informação - UFMG

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Renovação de livros on-line (tutorial)

Serviços

Você sabe como renovar seus livros de casa?

No intuito de facilitar o acesso do usuário a esse recurso, a Biblioteca do ICHS elaborou um vídeo explicando todo o processo de renovação.

Caso mesmo após assistir ao vídeo persista alguma dúvida, procure um dos funcionários da biblioteca e peça que ele lhe auxilie.

http://goo.gl/icFCn

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M – P&B

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A vassoura cabia-lhe nas duas mãos. Varreu a casa inteira, tirou teias de aranha... Nenhuma formiga. Talvez, se varresse o quintal, talvez encontrasse alguma minhoca. Estava cansada, muito cansada. Irritada como uma dona-de-casa que no solavanco deixa cair os ovos.

Resolveu sair para a Av. José Candido da Silveira. Maquiladíssima, lembrou-se da mãe: “Você não está na idade de usar Chanel Nº 5”. Saía daquele jeito, durante o dia, mesmo assim. Pensava em se tatuar para eternizar aquela aparência, o processo diante do espelho todo dia era tedioso demais.

Mal sabia Daniela, mas eu sei, porque mando na história, que o preto-e-branco de pêlos-e-peles, respectivamente, era muito mais bonito. Combinava com os olhos negros. O conjunto todo, enfim, era impecável. Ah, como eu adorava aquela franjinha!

Ela conduzia a bicicleta pelo guidom Casmurro na estradinha de alvenaria, não sabia pedalar. No meio do caminho me encontrou – yupi, apareci na história! – coaxando como naquela poesia muderna, quero desprezar onomatopéias. Não quis me beijar, não queria saber de beijos.

Sem mais delongas porque Danielas são muitas – não quero ofendê-las.

Sozinho, à noite, caminho comigo mesmo pelas ruas. Gorjeio a canção de um filme musical admirado com os pingos iluminados. Primeiro duas gotas, depois a tempestade. Parece que caem mais devagar...

Antigamente um beijo na chuva parecia mais possível.

Hoje há apenas a possibilidade solitária da canção.

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Con

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Gustavo Moreira Alves

Formado em Jornalismo pela PUC-Minas e atualmente é estudante do último período de

Letras na UFOP

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O Portal de Periódicos científicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), reúne e disponibiliza um rico conteúdo científico internacional onli-ne, dentre eles, bases referenciais, bases dedicadas à patente, livros, estatísticas, conteúdo audiovisual, enciclopédias, obras de referência e normas técnicas. Diante do alto custo para atualizar o acervo das Universidades Federais, e a impossibi-lidade de acesso as bibliotecas brasileiras à informação científica internacional, o portal foi criado com intuito de atender ao universitário que tem necessidade de buscar novos conhe-cimentos em diferentes países e diminuir a disparidade regional no acesso a essa informa-ção. O Portal de Periódicos científicos atende questões dos setores acadêmico, produtivo e governamental, além de propagar o conhecimento científico brasileiro no exterior. Com a responsabilidade de desenvolver avigoramento dos programas de pós-graduação no Brasil, ele tem o propósito de democratizar o acesso online ao conteúdo científico internacional de alto nível. O acesso aos materiais disponibilizados pelo Periódicos Capes é realizado através da rede das instituições associadas, ou seja, somente será possível acessar esse serviço uti-lizando um computador dentro da instituição. Algumas instituições, inclusive a UFOP, dis-ponibiliza aos seus usuários mecanismo que possibilitam o acesso de casa; na UFOP esse

Portal de Periódicos Capes

serviço se chama CAPES at Home (http://www.nti.ufop.br/capes-at-ho-me.html). Mediante solicitação, o SISBIN pode agendar treinamentos para a utilização do Portal de Periódicos; fora dessa situação, as bibliotecas possuem pelo uma pessoa capacita-da a orientar os usuários na utiliza-ção do serviço.

Serviços

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O Curso Política

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Um dia desses me deparei com o artigo “Regulamentação da Profissão”, do site sbc.org.br. Veja o trecho que bem define a regula-mentação: “Antes de regulamentar qualquer profissão, é levado em consideração se o exer-cício profissional da área pode causar danos so-ciais ou expor vidas humanas a riscos. Aí sim, para a defesa da sociedade, impõe-se o cumpri-mento de cursos específicos, obtenção de di-plomas de nível superior e submissão dos pro-fissionais às regras de órgãos fiscalizadores.” É nessa perspectiva que médicos, en-genheiros, integrantes do poder judiciário, além de uma gama de profissionais, neces-sitam estar legitimados para exercerem seus cargos, ou seja, estão sujeitos a uma obriga-tória formação profissional. Não fosse as-sim, não seria raro observarmos pontes e prédios no chão e ‘médicos’ receitando As-pirina a pacientes com Anemia. Um caos. O Governo também é um serviço. A di-ferença é que não temos a opção de contra-tá-lo, é um serviço imposto, e sendo assim, existem os impostos. A quantia arrecadada sobre cada cidadão é a força motriz do Go-verno. Deixamos nas mãos dos políticos o dinheiro e a responsabilidade das melhores estratégias para o bem comum. Mas esta-riam eles preparados? Será que estariam ver-dadeiramente engajados ao bem da Nação? A política é uma profissão inteiramen-

te ligada à sociedade. Suas diretrizes e ações inferem diretamente no processo de desen-volvimento ou retrocesso social. É neces-sária uma política de qualidade, sem erros. Vemos que não vence a eleição o me-lhor político, e sim o que faz mais propa-ganda. Muitos entram no poder somente em busca de poder. É um erro deixar a socieda-de no controle dessas pessoas. Assim como demais profissionais, o político deve se ca-pacitar. Deve conhecer sua nação na totali-dade e saber do que e onde ela mais precisa. Para tanto, deve estudar. E por que não um obrigatório Curso Superior ‘Para Po-líticos’? Regulamentamos as profissões que causam impacto na vida das pesso-as. E Política não se enquadra nesse gru-po? Não influencia a qualidade de vida com os desvios de verba? Com o fomen-to à desigualdade não gera a criminalidade? O Curso ‘Para Políticos’ seria chato e difícil para muitos. Afinal teríamos discipli-nas como Ética, Responsabilidade Social e Cidadania. Ética por exemplo, deveria ser estendida a Ética I, Ética II, Ética III; e com os professores mais carrascos. Outras disci-plinas poderiam ser História do Brasil, Bra-sil Atual, Igualdade de Oportunidade, Desa-fios, Patriotismo, Corrupção, Impunidade. As notas dos alunos seriam um ótimo índi-ce no processo decisório dos votos. O cur-

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Opi

nião

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O Curso Política

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

so não seria indicado apenas aos vereado-res, a fim de não elitizar também tal classe. É muito errado o candidato gastar mui-to com folhetos e comícios e se eleger com base nisso. Ele tem que estar apto. Tem que saber cuidar bem da sociedade, as-sim como o médico cuida de seu pacien-te e o engenheiro cuida de sua edificação. Nos meus sonhos está o Curso ‘Para Políti-cos’. Um curso que possua na essência a (re)construção do caráter, secundariamente a in-dução ao amor à pátria e ao povo, e por últi-mo e não menos importante, a formação pro-fissional. A educação e o conhecimento são os pilares do desenvolvimento real, que co-mecemos com os modeladores da sociedade!

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Thalles Simplício de FariaEstudante de Engenharia Ambiental

Servidor lotado no SISBINEscritor

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Lançamento de livro

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O CONCEITO DE HISTÓRIA Autores: Reinhart Koselleck, Chris-tian Meier, Odilo Engels, Horst Günther Prefácio: Sérgio da Mata (UFOP) e Arthur Alfaix Assis (UnB)

A palavra “História”, cujo primeiro registro conhecido remonta a Heródoto, no século V a.C., é um patrimônio de diferentes culturas ocidentais que há quase 2.500 anos é cultivado, expandido e ressignificado. Ao longo de todo esse espaço de tempo, porém, ela passou por inúmeras transfor-mações. A partir do Iluminismo e da Revolução Francesa, este conceito passou a significar algo novo. Por um lado, “História” passa a denotar tanto a disciplina que estuda os eventos passados quan-to o processo histórico em si mesmo. Por outro, difunde-se a ideia de que “História” compreende a totalidade das incontáveis histórias humanas. A “História” torna-se “História Universal”, adquirin-do não apenas uma unidade desconhecida para os antigos gregos, mas acima de tudo uma direção: ela se torna indissociável da noção de “progres-so”. Um complexo processo de reconfiguração semântica sem o qual o surgimento do marxismo, por exemplo, seria inconcebível. A fascinante his-tória do conceito de “História” nos é contada neste clássico estudo escrito por Christian Meier, Odilo Engels, Horst Günther e Reinhart Koselleck. Pu-blicado originalmente no grande léxico Geschi-chtliche Grundbegriffe: Historisches Lexikon zur politisch-sozialen Sprache in Deutschland, obra de referência sobre a história dos conceitos, O con-ceito de História, lançamento da Autêntica Edito-

ra, apresenta pela primeira vez a tradução integral do verbete “Geschichte, Historie”.

A obra analisa em detalhe os usos do termo e as concepções de história vigentes na Antiguidade Clássica, os rearranjos semânticos decorrentes de sua absorção no horizonte cultural cristão, os di-ferentes gêneros historiográficos medievais, bem como a dinâmica do pensamento histórico sob os influxos do Renascimento, da Reforma e das trans-formações que deram origem ao mundo contem-porâneo.

Concebida para atender professores e alunos de história com livros ainda não traduzidos para o Brasil, a coleção História e Historiografia já con-ta com dez títulos. Coordenada pela historiadora e pesquisadora Eliana de Freitas Dutra, as obras da coleção foram escritas por autores que têm se nota-bilizado pela contribuição para a renovação temá-tica, as reflexões de método e os debates teóricos no interior da historiografia contemporânea.

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Boas Festas!!!

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A equipe da Uni/Versos e da Biblioteca do ICHS deseja a todos os usuários, leitores e colaboradores um próspero

ano novo, cheio de felicidades e realizações!!!

Boas Festas!!!

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Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A publicação Uni/Versos convida todos os seus leitores a enviarem seus textos para o nosso próximo número.

Aceitaremos textos nas seguintes temáticas:

• que abordem a inter-relação entre a universidade e a sociedade;• sobre os projetos de Extensão e Pesquisa da UFOP;• resenhas de livros que tenham sido publicados (ou reeditados) nos últimos 5 anos;• textos literários e artísticos nas seguintes modalidades: prosa (como conto, por exemplo), lírica (como poesia, por exemplo) e quadrinhos/charges;• textos que abordem temáticas relevantes da área de humanidades.

Orientações para envio

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col@bore conosco!

* Os trabalhos de divulgação, técnico-científicos, en-saios e contos deverão conter no máximo 08 páginas, incluindo anexos, tabelas e gráficos; não incluir resu-mo e palavras-chave (incentivamos o uso de imagens em todos os textos, com as devidas referências).

* Quadrinhos e charges o limite é de 1 (uma) página em tamanho A4.

* Todos os textos devem ser digitados em papel A/4, fonte Arial ou Times, 12; o espaçamento entre linhas de 1,5 cm; com tabelas e gráficos na mesma versão (fonte Arial ou Times, 11); as margens superior e es-querda de 3 cm; margens inferior e direita de 2 cm.

* Notas (colocadas no rodapé com espaçamento sim-ples, tamanho 10): devem ser evitadas, utilizá-las em casos especiais, não utilizando este espaço para re-ferências bibliográficas.

* As citações longas (mais de três linhas), as legen-das das ilustrações e/ou tabelas devem ser digitadas com espaçamento simples.

* As referências devem ser digitadas com espaço sim-ples e separadas entre si por um espaço em branco simples, alinhadas à esquerda.

Lembramos ainda que os textos serão avaliados e podem ser publicados até mesmo em números futuros (informaremos aos autores se for essa a situação).

Os autores deverão enviar juntamente como texto uma pequena nota biográfica con-tendo: nome completo, instituição de formação e curso e o atual vínculo institucional (se tiver). Deve ser encaminhado ainda, uma foto (preferencialmente em arquivo do tipo *.jpeg ou *.png) que irá acompanhar o texto da publicação.

Os textos deverão ser encaminhados para o e-mail [email protected]

O prazo máximo de envio do texto para a publicação no próximo número é dia 28 de fevereiro de 2014!!!