uni/versos, ano 1, nº 3 - junho de 2013

44
Uni/Versos publicação da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens Ano 1, nº 3, junho de 2013 EDUFOP ISSN 2317-756X Lançamentos de livros Eventos e mais... Acesso aberto

Upload: biblioteca-ichs

Post on 23-Mar-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Uni/Versos, ano 1, nº 3 - junho de 2013

TRANSCRIPT

Uni/Versospublicação da Biblioteca Alphonsus de

GuimaraensAno 1, nº 3, junho de 2013

EDUFOP

ISSN 2317-756X

Lançamentos de livros

Eventos e mais...

Acesso aberto

expediente

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Universidade Federal de Ouro PretoUFOP

Reitor - Marcone Jamilson Freitas SouzaVice-Reitora - Célia Maria Fernandes Nunes

Sistema de Bibliotecas e Informação SISBIN

Coordenadoria Executiva - Celina Brasil LuizCoordenadoria Técnica - Luciana Matias Fe-licio SoaresChefia do Núcleo Administrativo - Sione Galvão Rodrigues

Instituto de Ciências Humanas e SociaisICHS

Diretor - William Augusto MenezesVice-Diretora - Glícia Salviano Gripp

Biblioteca Alphonsus de Guimaraens(Biblioteca do ICHS)

Bibliotecária - Luciana de Oliveira(CRB/6-2630)

Bibliotecária - Michelle Karina Assunção Costa(CRB/6-2164)

Uni/Versos

Coordenação Geral

Michelle Karina Assunção Costa

Editores

Marcos Eduardo de SousaMichelle Karina Assunção Costa

Editora Assistente

Luciana de Oliveira

Projeto gráfico e editoração eletrônica

Marcos Eduardo de Sousa

Colaboradores desse número(em ordem alfabética)

Gracilene Mª de CarvalhoMaurílio Assis Figueiredo

Michelle Karina Assunção CostaNárllen Dayane Advíncula-Miguel

Nívea Carolina GuimarãesPaulo Henrique Franco Cavalheiro

Thalles Simplício de FariaThiago Paschoal Perpétuo

Virginia Buarque

A publicação Uni/Versos recebe textos para publicação, os con-teúdos, opiniões e ideias desses textos (devidademente assinados) não necessariamente refletem a opinião dos Editores da resvista,

sendo responsabilidade de seus respectivos autores.

----------Uni/Versos é uma publicação mensal da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens.

Contatos: Telefones: (31) 3557-9414 / (31) 3557-9415Site: www.sisbin.ufop.br/bibichs/Email: [email protected]@gmail.com

EDUFOP

Uni/Versos de Biblioteca Alphonsus de Guimaraens / UFOP é licenciado sob uma Licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em

http://www.sisbin.ufop.br/bibichs/index.php/fale-conosco.

ISSN 2317-756X

editorial

Luciana de Oliveira

É com grande satisfação que anuncia-mos a terceira edição da revista digital Uni/Versos.

Com a missão de dar continuidade na disseminação da informação, conheci-mento, cultura e entretenimento, apre-sentamos nesta edição diversos textos que abordam desde novidades no lan-çamento de livros, projetos e estudos da UFOP até contos, preâmbulos de livros entre outros.

Ressaltamos que o interesse dos leitores na participação e construção desta publi-cação é muito bem vinda.

A temática da disseminação da informa-ção encontra lugar neste número no arti-go intitulado “Movimento de Acesso Livre a Informação Cientifica: repositório Ins-titucional UFOP” que discute o contexto do surgimento da criação do repositó-rio institucional cuja iniciativa do SISBIN muito tem contribuído para o acesso livre a informação dentro da UFOP.

No texto “Sangrias na Roma antiga” so-mos levados a um mergulho na história antiga para compreensão do desenvolvi-mento e do atual estágio dos tratamentos médicos da nossa sociedade mais espe-cificamente sobre a Sangria.

Ainda nesta edição temos também o tex-to “À minha mãe, em mãos” que nos pro-porciona a oportunidade de ter acesso à intimidade dos pensamentos expressos em carta pessoal por um dos persona-gens da História da política do Brasil cha-mado Visconde de Ouro Preto.

Desejamos a todos uma ótima leitura dos textos aqui escritos pelos nossos parcei-ros.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A estereotipia punk nas mídias de informação

sumário

Paulo Henrique Franco Cavalheiro

“Movimento de Acesso Livre à Informação Cientifica” Repositório Institucional UFOP

Gracilene Mª de Carvalho Maurílio Assis Figueiredo

Sangrias na Roma antigaThiago Paschoal Perpétuo

A “africanização” do estudo da escravidão brasileira: um panorama historiográfico

Nívea Carolina Guimarães

6

20

14

9

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A estereotipia punk nas mídias de informação

sumário

“Movimento de Acesso Livre à Informação Cientifica” Repositório Institucional UFOP

Cobertura do III Seminário de Bibliotecas Setoriais da UFOP

Michelle Karina Assunção Costa

À minha mãe, em mãos!Nárllen Dayane Advíncula-Miguel

O sonho de MiguelThalles Simplício de Faria

42

38

34

Lançamento de livroVirgínia Buarque 32

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Inseridos no Movimento de Acesso Livre (Open Access) comunidades científicas e governos de várias partes do mundo discutem a questão do acesso livre à in-formação científica. De acordo com Per-reira (2007, p.141) o movimento “busca fluxos de comunicação científicas mais eficientes, baratas e transparentes”.

Um dos fatores que motivam o Movimen-to de Acesso Livre é a questão da tradi-cional publicação científica pelas editoras científicas comerciais e os altos custos com a assinatura de seus periódicos. Governos, Bibliotecas e pesquisadores começaram a encontrar dificuldades em manter as assinaturas de periódicos da área de seus interesses. Fato que contri-buiu para que as comunidades científicas e governos repensassem a questão do acesso a informação científica. Kuramoto (2006, p. 92) ressalta que as “pesquisas científicas em sua maioria são financia-das com recursos públicos. Contudo, do ponto de vista ético, os resultados destas pesquisas deveriam ser de livre acesso”. O que leva ao seguinte questionamento. Por que o governo paga para ter acesso às pesquisas que ele mesmo financiou?

O Movimento de Acesso Livre não decla-ra guerra às editoras científicas comer-ciais, mas buscam maneiras de compar-

tilharem a informação cientifica. As novas tecnologias de comunicação e informação deram possibilidade para que o ideal do Movimento de Acesso Li-vre à informação científicas pudesse se desenvolver, possibilitando o surgimen-to do Movimento dos Arquivos Abertos em 1999. De acordo com Perreira (2007, 143) trata-se uma iniciativa para desen-volver e promover padrões e normas de interoperabilidade para facilitar a disse-minação de conteúdo internet. Esta ini-ciativa proporcionou a criação de reposi-tórios de acesso livre em todo mundo.

No Brasil a construção de Repositórios de acesso livre já é realidade em muitas instituições de ensino e centros de pes-quisa, de acordo com o site do IBICT1 são cerca de 66 repositórios. Estas Institui-ções tiveram a iniciativa de construir seus repositórios fundamentadas na importân-cia do acesso livre à informação científi-ca antes mesmo da obrigatoriedade que logo poderá se tornar realidade. Uma vez que o Projeto de Lei do Senado2, n° 387, de 2011 de autoria do Senador Rodrigo Rollemberg, está em trânsito no Senado. Projeto este que obriga as Instituições Pú-blicas de Ensino e Centros de Pesquisas a construírem Repositórios Institucionais de acesso livre, assim como que seja de-

6

“Movimento de Acesso Livre à In-formação Cientifica”

Repositório Institucional UFOP

Des

taqu

e

1 Repositórios brasileiros <http://dspace.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id=28&Itemid=92>.2 PLS, n° 387, de 2011 <http://www.senado.gov.br/atividade/Materia/getPDF.asp?t=93151&tp=1>

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

positado, obrigatoriamente, a produção científica dos pesquisadores financiada com recursos públicos. De acordo o por-tal de notícias do Senado dia 28 de maio deste ano o projeto foi aprovado pela Co-missão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), agora a PLS n° 387 que segue para a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

A Universidade Federal de Ouro Preto, por iniciativa do Sistema de Bibliotecas e Informação/SISBIN implantou seu Repo-sitório Institucional que tem como propó-sito participar do movimento de acesso livre à informação científica reunindo, ar-mazenando, divulgando e preservando a produção cientifica da Universidade em um único espaço virtual. O Repositório Institucional possibilita maior visibilidade das pesquisas, da instituição e do pes-quisador.

O Repositório Institucional está disponí-vel através do site http://www.repositorio.ufop.br, onde documentos: teses, disser-tações, artigos de periódicos, capítulos de livros e trabalhos apresentados em congressos, em texto completo podem ser acessados. O Repositório ainda está em construção, mesmo assim, através das estatísticas já é possível ver os vá-rios acessos que ele já obteve no Brasil e em várias partes do mundo.

Breve, será implementado o autoarquiva-mente dos documentos científicos, onde os próprios professores, pesquisadores,

7

“Movimento de Acesso Livre à Informação Cientifica” Repositório Institucional UFOP

alunos de pós-graduação, servidores da UFOP poderão armazenar cópias digitais de seus trabalhos científicos. Para isso, deverão se cadastrar no repositório e so-licitar autorização ao grupo gestor para submeter o documento científico.

A discussão a cerca do acesso livre a informação científica continua. A comu-nidade cientifica da UFOP e o Sistema de Biblioteca e Informação/SISBIN estão acompanhando o Movimento de Acesso Livre à informação científica no mundo, e principalmente a PLS, n° 387, de 2011 do Senador Rodrigo Rollemberg.

Outro fator importante a discutir é como as agências de fomento e Instituições de Ensino irão lidar com a situação das pu-blicações em acesso livre no que diz res-peito à avaliação de desempenho cientí-fico do pesquisador. Considerando, que os autores ao publicarem seus trabalhos científicos em revistas de grande impac-to gera-lhes notório reconhecimento por parte das agências de fomento na hora de conceder auxílios a pesquisa. Além disso, os processos seletivos para pro-fessores em instituições públicas e ava-liações dos programas de pós-graduação possuem pontos baseados no número de publicações e no Qualis do periódico que a publicação foi realizada.

Ao participar das discussões é importan-te levar em consideração que o acesso informação científica é primordial para o desenvolvimento cientifico e tecnológico

Gracilene Mª de Carvalho Graduada em Biblioteconomia pela UFMGBibliotecária do Repositório Insitucional da UFOPColoboração de Maurílio Assis Figueiredo

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

de um país.

Referências

PERREIRA, Sueli Mara. Fontes de infor-mação em tempos de acesso aberto.In. GI-ANNASI-KAIMEN, Maria Júlia; CARELI, Ana Esmeralda (orgs.). Recursos informacion-ais para compartilhamento da informação: redesenhando acesso, disponibilidade e uso. Rio de Janeiro: E-papers. 2007.

KURAMOTO, Hélio. Informação científica: proposta de um novo modelo para o Brasil. CI. Inf. Brasília, v.35. n. 2 p. 91-102. maio/ago. 2006. Disponível em < http://www.sci-elo.br/pdf/ci/v35n2/a10v35n2.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2013.

SENADO FEDERAL. Comissão aprova dis-seminação de produção científica e tec-nológica pela internet. Portal de notícias do senado. Brasília. 2013. Disponível em < http://www12.senado.gov.br/noticias/mate-rias/2013/05/28/comissao-aprova-dissemin-acao-de-producao-cientifica-e-tecnologica-pela-internet>. Acesso em: 01 jun. 2013.

8

“Movimento de Acesso Livre à Informação Cientifica” Repositório Institucional UFOP

Sangrias naRoma antiga

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Questões referentes à saúde do corpo têm sua própria historicidade, como, por exemplo, os meios pelos quais os indivíduos de determinada sociedade encaram as doença e tentam tratá-las. O papel do historiador, seja nesta ou em qualquer temática de pesquisa, será sempre o de investigar com seriedade os vestígios, que nos chegam, não raro, em forma de migalhas dispersas. Utili-zando-se das fontes escritas ou mate-riais, a narrativa histórica tenta trazer ao presente um passado que não existe mais. Ao invés de tomarmos o passa-do por si mesmo, talvez seja mais pro-fícuo compará-lo às questões que nos incomodam no presente. Foram tais re-flexões que nos levaram a estudar os processos de saúde e doença na Anti-guidade. Será que um hábito contem-porâneo tido como saudável também era assim considerado na Antiguidade ? Quais técnicas cirúrgicas eram utiliza-das pelos médicos greco-romanos? Ad-mitimos que seria necessário uma vasta pesquisa para responder tais questões e, eventualmente, nos depararíamos com a impossibilidade de obter resulta-dos satisfatórios. Em vista disso, resol-vemos tratar neste breve artigo acerca de uma terapêutica interessante e co-mum entre os médicos na Roma antiga: a sangria.

Nosso estudo - desenvolvido na área de história antiga -, orientado pelo pro-fessor Dr. Fábio Duarte Joly, do LEIR--UFOP1, pretende investigar aspectos sociais e específicos da medicina dos romanos, especificamente à época do Imperador Tibério, que reinou de 14 ao 37 da era cristã. Nossa fonte principal é o autor Aulo Cornélio Celso, um erudi-to – se é que podemos chamá-lo assim – que escrevera sobre diversas esferas de interesse da elite letrada em seu tem-po: agricultura, retórica, artes militares e medicina, sendo que, somente os livros desta última disciplina nos chegaram. Há uma dificuldade em definir Celso, mesmo porque não havia diferenciação dos ramos de estudo, tampouco defini-ção clara do que significava ciência mé-dica tal qual se firmou, posteriormente, com a chamada Revolução Científica. Com isso, nosso empenho tem sido o de encarar este autor como praticante de uma arte (ars, em latim) que objetivava devolver a saúde para as pessoas. Cel-so definia, na introdução (proemium) de seu trabalho, a medicina: “Assim como a agricultura promete alimento para os corpos dos indivíduos saudáveis, da mesma forma, a medicina promete saú-de aos doentes” (Celsus, De Med., Pro-êmio, 1)2.

9

Artigo

1 Pesquisa realizada com auxílio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).2 As traduções do De Medicina, grifos e contrações são de nossa responsabilidade.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos10

A tradição médica na Antiguidade foi profundamente influenciada pelo grego Hipócrates de Cós (460 – 370 a. C) – quem nunca ouviu falar do “juramento” de Hipócrates? – cujas obras versam sobre dietas; sinais e sintomas das do-enças; cirurgias; lugares mais propícios a adquirir enfermidades, dentre outros. Embora a historiografia reconheça que muitos dos escritos deste corpus hipo-crático sejam tardios, isto é, foram-lhe sendo atribuídos posteriormente, sua influência encontra eco nos escritos médicos até o início da Idade Moderna. Tornando-se a autoridade (auctoritās) do pensamento médico ocidental, en-contramos muito da forma de analisar as doenças propostas por ele na obra de Celso. Por exemplo, um dos principais meios - embora não fosse o excepcional -, para se deduzir uma enfermidade era através da teoria dos humores. O cor-po humano seria constituído por quatro humores básicos: o sangue; a linfa ou fleuma; a bile negra e a bile amarela. As-sim, cada um deles, se estivessem em desarmonia, eram capazes de provocar variadas doenças e, consequentemen-te, familiarizar-se-iam diretamente com o clima da cidade, a forma do indivíduo se alimentar ou com os elementos bási-cos da natureza: terra, água, fogo ou ar. Em outras palavras, a disparidade ou excesso destes acarretaria o processo de doença. E se, porventura, ocorresse um inchaço ou mesmo uma hemorragia no indivíduo, um médico em Roma, na época de Celso, provavelmente encon-traria a explicação apropriada e pos-

Sangrias na Roma antiga

terior terapêutica com base na teoria humoral hipocrática; pois a saída mais usual nestes casos – encaradas como excesso de sangue circulante ou residu-al -, era a sangria (sanguinis detractio).

Em sua obra, intitulada De Medicina, ou “Sobre a Medicina”, encontramos referências diretas sobre o uso deste procedimento. As sangrias eram úteis em diversos casos e, segundo Celso “não eram novidade” (Celsus, De Med., II,10,1). Sabemos que hoje em dia a sangria é utilizada em procedimentos médicos específicos, porém, com fina-lidade terapêutica diversa daquela de Celso “pois dores de cabeça, acompa-nhadas de perturbações visuais e ver-melhidão dos olhos, seguida de cocei-ra na fronte, podem ser aliviadas por uma hemorragia fortuita ou provocada” (Celsus, De Med., II, 2, 8. 14-18). Na tentativa de expulsar os excessos de sangue ou qualquer outro humor, cortar a pele para dar-lhes vazão parecia, aos olhos dos médicos hipocráticos, a saí-da mais lógica. Conquanto necessária, Celso assegura que deve ser levado em consideração o “vigor físico do pacien-te” (Celsus, De Med., II,10. 2-3), e não sua idade ou sexo. A descrição do pro-cedimento é marcante: “A veia deve ser cortada pelo meio e, enquanto o sangue flui, convém observar sua coloração e suas características” (Celsus, De Med., II,10 16-17). Com isso, esperava-se que o sangue fluísse intermitentemen-te e limpasse o organismo dos exces-sos humorais, “quando o sangue estiver

Sangrias na Roma antiga

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

espesso e negro, está contaminado e, portanto, é vantajoso vazá-lo; se esti-ver vermelho e translúcido, está sadio e a sangria, longe de ser benéfica, se torna prejudicial” […] (Celsus, De Med., II,10 17-18). Após o corte, o médico de-veria ocluir o corte com uma bandagem qualquer e uma esponja embebida em água, pois, segundo Celso, os procedi-mentos devem ser realizados em dois dias e “o sangue deve ser retirado […] somente dos braços, têmporas e próxi-mo aos tornozelos” (Celsus, De Med., II,10 12-13).

Uma das questões que se pode levan-tar é: Quais meios dispunham esses médicos para saber se a doença era proveniente de excessos ou deficiência de humores? Bem, por meio de nossa pesquisa, temos notado que havia – pelo menos no De Medicina -, um tipo de “anamnese” prévia, especulativa, no qual o doente era submetido. Igualmen-te com base nos tratados hipocráticos (Prognósticos), o praticante da arte mé-dica relacionaria os sinais e sintomas específicos de cada enfermidade co-nhecida às possibilidades terapêuticas em voga, sejam elas com purgantes; exercícios físicos; vomitórios ou, como estamos tratando aqui, de sangrias.

Estudar este tratado médico tem se mostrado, por outro lado, de grande im-portância no que se refere ao âmbito social. A terapêutica da sangria só res-salta um pequeno aspecto de toda uma tradição anterior que ganha especifici-

dade se olharmos os costumes romanos mais de perto. Em outras palavras, há um diálogo constante entre as formas de tratamento e diagnósticos médicos com a sociedade na qual ela se insere, ainda que as bases de sustentação teó-ricas sejam gregas. Isto nos permite um exercício comparativo importante, pois, ao tomarmos conta da singularidade do pensamento médico na Antiguida-de, neste caso, o de Celso, poderemos compreender melhor as doenças e os tratamentos, bem como a relação direta com a sociedade que a forjou, desmisti-ficando, assim, opiniões generalizadas: um trabalho típico do historiador.

11

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos12

Sobre a bibliografia

A obra de Aulo Cornélio Celso utilizada está disponível em sua versão bilíngue na bibliote-ca do ICHS e fazem parte da coleção Loeb, da Harvard University Press. Em nossa pesqui-sa, fazemos uso do De Medicina como fonte primária e as obras atribuídas a Hipócrates como suporte. Os textos hipocráticos também estão presentes em nossa biblioteca.

Sobre a utilização da sangria pela medicina atual, há um artigo do professor Ivan L. An-gulo disponível na base de dados da Facul-dade de Medicina de Ribeirão Preto tratando do assunto de forma clara. Conferir em: http://revista.fmrp.usp.br/1999/vol32n3/sangria_te-rapeutica.pdf

Como suporte para tradução das frases em latim, utilizei o dicionário Latino-Português, de Francisco Torrinha e o Oxford Classical Dictionary, em especial o verbete “medicine”. As referências ao corpus hipocrático foram debatidas no livro Ancient Medicine, de Vivian Nutton (2004), especificamente no capítulo quatro, intitulado “Hippocrates, the Hippocra-tic corpus and the defining of medicine”.

Sangrias na Roma antiga

Thiago Paschoal PerpétuoGraduando do 6º período de História na UFOP

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

No intuito de disseminar ainda mais a informação presente na Biblioteca, como também aumentar a velocidade que esta informação chega aos seus usuários, foi criado o Sumário Eletrônico de Periódicos. Todo mês disponibilizamos no site http://goo.gl/knmdR os novos exemplares de periódicos recebidos pela bi-blioteca.

Este serviço foi iniciado em janeiro de 2013, e com ele, a recuperação e o aces-so à informação ficam mais ágeis, se ganha tempo na realização das pesquisas de artigos, onde através do acesso remoto permite ao usuário ter em mãos os dados exatos da revista que ele precisa e ir direto ao acervo de periódicos da biblioteca.

13

Sumário eletrônico de periódicos

Serviços

A “africanização” do estudo da escravidão brasileira:

um panorama historiográfico

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Este artigo tem por objetivo fazer um breve panorama historiográfico sobre os estudos que tratam a herança cultural africana como elemento central de suas análises acerca da escravidão no Brasil. O título deste trabalho foi em parte ex-traído da obra de Stuart Schwartz, Escra-vos, roceiros e rebeldes, especificamen-te, do capítulo 1, “A historiografia recente da escravidão brasileira”. Este mesmo capítulo servirá de base para a primeira parte do balanço historiográfico, na qual alguns trabalhos das últimas décadas do século XX serão expostos. Já a segun-da parte do panorama será dedicada aos trabalhos mais recentes e os debates que eles envolvem a respeito da temática em foco.

O livro Escravos, Roceiros e Rebeldes (1992) engloba textos de Stuart Schwartz produzidos em momentos diferentes, em seu Prefácio o autor expõe que tais tex-tos foram reformulados e ampliados à luz de temas que se tornaram importan-tes nos estudos sobre a escravidão, tais como trabalho e economia, resistência e família. Diante da renovação dos es-tudos sobre a escravidão, especialmente em relação ao foco dado à cultura afri-cana, Schwartz defende que pensar tais aspectos e ignorar a dimensão do traba-lho, induz a equívocos. Para entender a

escravidão é imprescindível estar atento ao status servil dos sujeitos escraviza-dos. De acordo com o autor, os escra-vos não eram agentes independentes de seus senhores, mas os senhores, por ve-zes, se encontravam diante de situações limitadoras de suas ações e impostas pe-los próprios escravos. O tema central de seu trabalho é a relação complexa entre senhores, escravos e outros grupos, na sociedade escravista, sendo esse o ele-mento unificador de seus textos.

O capítulo que inicia o livro de Schwartz se detém em uma análise historiográfica que identifica os principais debates e ten-dências dos estudos sobre a escravidão. O autor elege o centenário da abolição da escravatura como eixo temporal do seu balanço historiográfico. O centenário gerou reações diferentes, especialmente no ambiente político e acadêmico e não somente no Brasil. Houve abrangente cobertura da imprensa e ao mesmo tem-po em que ocorria uma mobilização pela consciência negra em torno das come-morações, alguns líderes não a apoia-vam devido à situação de desvantagem do negro que ainda persiste no Brasil. No ambiente acadêmico, questões como o papel dos descendentes africanos na nação brasileira foram colocadas em dis-cussão. Simpósios, congressos, núme-

14

Art

igo

A “africanização” do estudo da escravidão brasileira: um panorama historiográfico

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

ros especiais de periódicos e diversas publicações acadêmicas se dedicaram à questão da escravidão. Segundo Sch-wartz, houve um surto de publicações e durante pelo menos um ano o tema foi o grande foco de intelectuais brasileiros e também estrangeiros.

A cultura africana e os estudos sobre a escravidão no Brasil: dos anos 1970 aos 1990

Schwartz apresenta algumas publicações das décadas anteriores ao centenário e escreve a respeito do crescimento das publicações sobre a resistência escrava, principalmente nos estudos locais, nesse sentido, cita os trabalhos de Waldemar de Almeida Barbosa sobre Minas: Negros e quilombos em Minas Gerais (1972) e o de Lana Lage Gama Lima: Rebeldia ne-gra e abolicionismo (1980). Tais estudos contribuíram para aprofundar as informa-ções sobre a resistência escrava. O tra-balho de Gama Lima tem uma abordagem econômica e social mais ampla. Contu-do, Schwartz aponta que, de forma geral, os estudos sobre a resistência escrava nesse período não mostram o escravo como um ser consciente das tendências sociais e políticas e capaz de utilizá-las a seu favor. Nesse sentido, uma obser-vação importante do autor é que esses trabalhos não focam situações de longo prazo, específicas da população negra, como as etnias africanas.

Já na década de oitenta do século XX o papel da cultura africana passa a ser um

elemento importante para a compreen-são das rebeliões de escravos. Dentre as obras que caminham nesse sentido, destaca-se a de João José Reis sobre a rebelião Malê de 1835: Rebelião escrava no Brasil. A história do levante dos Malês (1986). Ao utilizar fontes policiais e foren-ses contribui no sentido de demonstrar a existência de uma comunidade e cultura africana e sua influência na resistência. Reis destacou a forte presença africana a influenciar o movimento e não trouxe tal dado como uma característica “exó-tica”, mas como elemento integrante do processo histórico.

Apesar dos avanços nas análises sobre a resistência escrava, o papel da cultura africana como campo de estudo privile-giado não alcançou o mesmo patamar, segundo Schwartz. O tema da cultura africana nas décadas precedentes à co-memoração do centenário da Abolição, em geral não estava inserido nas análi-ses sobre a escravidão no Brasil e era colocado à margem do contexto históri-co, principalmente, entre aqueles dedi-cados a abordagens econômicas. Nesse sentido, tratava-se tal tema como sendo de natureza folclórica. Muitos dos traba-lhos que se dedicaram à cultura africana não tiveram grande repercussão na pes-quisa histórica, mas se constituíram clás-sicos dentro de um ambiente, àquela al-tura, ainda pouco aberto ao tema, dentre eles o autor ressalta a obra de Raymun-do Nina Rodrigues: Os africanos no Bra-sil (1974) e de Artur Ramos: As culturas negras no Novo Mundo (1979).

15

A “africanização” do estudo da escravidão brasileira: um panorama historiográfico

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Na década de oitenta verifica-se uma mu-dança na forma como a cultura africana passa a ser inserida nos debates sobre a escravidão, tendência que posteriormen-te será acentuada. Trata-se de trabalhar tal tema dentro do contexto histórico, como elemento constituinte da aborda-gem. Nesse viés escreveu Luiz Mott em 1986, “Acontundá: raízes setecentistas do sincretismo religioso afro-brasileiro”, ao evidenciar formas religiosas sincréti-cas entre os escravos de Minas Gerais no século XVIII, através de registros da Inquisição em Portugal. Também desse período é o trabalho de Laura de Mello e Souza, O diabo e a terra de Santa Cruz – Feitiçaria e religiosidade popular no Bra-sil colonial (1986). Dentro de seu vasto e cuidadoso trabalho, ressalta-se aqui o tópico a respeito dos Calundus, em que a autora expõe algumas de suas coloca-ções sobre os cultos africanos e o sincre-tismo religioso.

Os avanços na década de oitenta dos trabalhos sobre a cultura africana na es-cravidão se intensificaram nas décadas seguintes. Mesmo com um declínio no número das publicações nos anos ime-diatamente após 1988, o tema da escra-vidão se tornou fortemente presente na historiografia brasileira. Desse modo, a perspectiva a prevalecer nos estudos so-bre a escravidão é a do escravo como agente. O trabalho com as fontes é ou-tro aspecto a ser destacado nessa linha de pesquisa. Os registros judiciais foram utilizados por Sidney Chaloub na obra, Visões da Liberdade. Uma história das

últimas décadas da escravidão na corte (1990), a fim de demonstrar que os es-cravos também podiam levantar proces-sos judiciais contra os abusos de seus senhores.

Outros autores passam a adotar novas perspectivas de análise na tentativa de compreender algumas das instituições formadas por escravos. Robert W. Sle-nes no trabalho, Na senzala, uma flor. Esperanças e recordações na formação da família escrava (1999), analisa a rela-ção dos escravos com a família também através de suas ligações com a cultura centro-africana. Stuart Schwartz, portan-to, observa nos estudos pós 1988 o que ele denominou de uma “africanização” da escravidão brasileira, segundo Schwartz, tais trabalhos: “tratam de maneira mais pormenorizada do tráfico de escravos e fazem da compreensão do relacionamen-to entre Brasil e África característica prin-cipal da análise histórica.” (SCHWARTZ, p.54, 2001).

A cultura africana nos estudos sobre a escravidão no Brasil

Em seu balanço historiográfico Schwartz aponta algumas questões e debates, como o significado do termo nação e se a denominações colocadas nos registros se referem mesmo aos locais de origem dos escravos africanos ou se a referência à nação pertence ao regime escravista. Essas questões foram ampliadas e pro-piciaram novos estudos sobre a identida-de africana e suas reelaborações.

16

A “africanização” do estudo da escravidão brasileira: um panorama historiográfico

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Na apresentação do livro Reis Negros no Brasil Escravista. História da Festa de Coroação de Rei Congo (2001), Ronaldo Vainfas menciona o caráter renovador da obra de Marina de Mello e Souza. Para ele, tratar da diáspora africana e das afri-canidades no contexto da escravidão é algo novo entre os historiadores brasilei-ros. A autora estuda a festa de coroação de reis negros no Brasil dos séculos XVI ao XIX. Entretanto, de acordo com Vain-fas, o trabalho de Marina de Mello e Souza se insere em uma discussão ainda mais ampla e que se refere à reelaboração de identidades no Brasil e das discussões a respeito das fontes que indicam a nação do escravo.

Para abordar a respeito do conceito de etnia e da construção de uma identidade construída pelos escravos africanos, Mel-lo e Souza coloca em evidência as con-tribuições de Mariza de Carvalho Soares, com destaque para o trabalho Devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII (2000). Segundo Soares, o termo nação poderia não corresponder a um mesmo grupo étnico. Pessoas de etnias diferentes poderiam ser embarcadas no mesmo porto sem levar em conta a sua etnia de origem.

Para Soares, mesmo sendo uma iden-tificação atribuída pelo colonizador, os membros do grupo a internalizava e que dessa forma servia como ponto de refe-rência “tanto para o reforço de antigas fronteiras étnicas e territoriais, como para

o estabelecimento de novas configura-ções identitárias, sejam elas étnicas, ou não.” (SOARES, p. 308, 2004). Trata-se, portanto, de um processo de reorganiza-ção cultural e social do africano dentro da sociedade escravista. Nesse sentido, Soares propõe a utilização de “grupo de procedência”, mais condizente com as novas condições sociais e culturais dos escravos africanos.Destaca-se no interior das discussões a respeito das relações entre os grupos ét-nicos e das heranças culturais africanas, o trabalho de Sheila de Castro Faria, “Identidade e comunidade escrava: um ensaio (2006). Neste trabalho, a autora apresenta e analisa o debate em torno da formação ou não de laços de solidarieda-de entre os diferentes grupos africanos e entre esses e os crioulos, na colônia portuguesa da América.

Stuart Schwartz apontou uma “africaniza-ção” dos estudos da escravidão no Brasil ao demarcar os avanços nos trabalhos que se dedicavam a compreender a re-lação entre a África e Brasil e não mais a tratar elementos culturais do escravo afri-cano à margem do estudo, mas sim como parte estruturante da análise histórica. É possível observar a confirmação da cons-tatação de Schwartz através de trabalhos publicados posteriormente a sua análise da historiografia da escravidão. Novas questões foram colocadas em pauta e os debates se aprofundaram. Esse su-cinto panorama historiográfico engloba uma pequena parte das discussões. Os autores aqui destacados demonstram

17

A “africanização” do estudo da escravidão brasileira: um panorama historiográfico

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Referências

FARIA, Sheila de Castro. Identidade e co-munidade escrava: um ensaio. Tempo, UFF, vol. 11, pp.122-148, núm 22, 2006.

SOARES, Mariza de Carvalho. A “nação” que se tem e a “terra” de onde se vem: cat-egorias de inserção social de africanos no Império português, século XVIII. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, v. 2, p. 303-330, 2004.

SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. São Paulo: EDUSC, 2001.

SOUZA, Laura de Mello e Souza. O diabo e a terra de Santa Cruz. São Paulo: Compan-hia das Letras, 2009.

SOUZA, Marina de Mello e Souza. Reis ne-gros no Brasil escravista. História da festa de coroação de Rei Congo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

18

a importância e como é imprescindível pensar a cultura africana para a ampla compreensão da história da escravidão no Brasil.

Nívea Carolina Guimarães é natural de Ouro Preto e estudante do 8º período do curso de História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais – UFOP

José Saramago (1922-2010)

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

No dia 16 de novembro de 1922 nascia José Saramago, na aldeia de Azinhaga, província do Ri-batejo (Portugal), mas consta-se que no registro oficial mencione como data de nascimento o dia 18. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, mas exerceu as profissões de desenha-dor, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Seu primeiro livro publicado foi um romance, chamado Terra do Pecado, em 1947. Trabalhou durante doze anos em uma editora, onde exerceu funções de direção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista Seara Nova, em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado o suplemento cultural daquele vesperti-no.José Saramago faleceu em 18 de junho de 2010. Mais informações sobre a vida e a obra de Sa-ramago no site da Fundação José Saramago http://www.josesaramago.org

19

Fonte: imagem retirada do site http://luzesdacidade.blogspot.com.br

Mem

órias

O sistema de bibliotecas da UFOP possui várias obras desse autor, como:

A jangada de pedra: romance. 1991/1999/2005Ensaio sobre a cegueira: romance. 1995/1999Ensaio sobre a lucidez. 2004História do cerco de Lisboa. 1989.Memorial do convento: romance. 1992/1999O ano de morte de Ricardo Reis. 1989O conto da ilha desconhecida. 2004O evangelho segundo Jesus Cristo: romance. c1991/1992/2008

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A sociedade é composta por comunidades discursivas as quais, segundo Maingue-neau (1993, p. 56), podem ser associa-das a grupos de indivíduos que, reunidos em torno de pontos de vista similares e de um modus vivendi, marcado por regu-laridades comportamentais (indumentá-ria, gosto musical, corte de cabelo etc.), assumem espaços de fala, no intuito de influenciar indivíduos pertencentes a ou-tras comunidades discursivas.

A associação desses indivíduos no inte-rior dos grupos parece contribuir para a estabilização de alguns traços identitários desses indivíduos, pelo menos no que se refere ao modo como eles constroem sua autoimagem e a propagam. Segundo Florêncio (2011, p. 36), “quando um indi-víduo se define como integrante de um grupo específico, os estereótipos des-se grupo tornam-se ‘padrão’ para o seu pensamento, os seus sentimentos e as suas ações”. No entanto, a imagem que esses sujeitos possuem de si mesmos e do movimento ao qual pertencem nem sempre coincide com a imagem construí-da por membros ligados a outros grupos sociais. Isso acontece porque “o estereó-tipo não é algo que exista de modo pré--fixado e, por isso, necessita ser resga-tado. Estereótipos são construídos nas interações sociais sendo passíveis de constantes reconstruções e construções

a cada nova interação” (op. cit, p. 38).

Alguns desses grupos nascem por entra-rem em desacordo com os paradigmas sociais predominantes em uma época, seja por considerá-los paradoxais, exa-gerados ou alienantes. Entre tais indi-víduos, unidos em função de pontos de vista semelhantes, organizam-se “tribos urbanas”, sendo que algumas delas são identificadas por assumirem uma postura “contracultural”. Segundo Pereira (1983, p. 9), a contracultura “É um termo ade-quado porque uma das características básicas do fenômeno é o fato de se opor, de diferentes maneiras, à cultura vigente e oficializada pelas principais instituições das sociedades do Ocidente”.

Os primeiros indícios de movimentos contraculturais organizados, conheci-dos também como undergrounds, ocor-reram com o movimento Beatnik e tem seu momento áureo com o movimento hippie, possuindo ideais libertários e de protesto, divulgados por meio de mídias não oficiais (zines, panfletos, manifestos etc), que divergiam da visão conservado-ra tradicional e se opunham radicalmente aos valores sociais da época, como con-sumismo, otimismo, trabalho, patriotismo e xenofobia.

O punk, como movimento social, surgiu

20

A estereotipia punk nas mídias de informação1

1 Este trabalho é fruto do projeto de iniciação científica “O punk encrenqueiro: uma análise discursiva sobre a este-reotipia punk nas mídias de informação“, sob a orientação dos Profs. Drs. Paulo Henrique Aguiar Mendes (Letras - UFOP) e Simone de Paula dos Santos Mendes (Letras - UFOP).

Art

igo

A estereotipia punk nas mídias de informação

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

no fim dos anos 70, como uma contracul-tura da qual se originou outros “subgêne-ros”, tais como, os anarcopunks, adeptos da visão anarquista, e os peacepunks, adeptos do protesto social pacífico.

O movimento punk é considerado como marco do fim do movimento hippie, dife-renciando-se deste último por seu cará-ter mais “agressivo”, buscando impacto social de maneira mais ostensiva. A ne-gação da não violência gandhiana e a morte de John Lennon foram símbolos da decadência do “sonho hippie”, segundo o movimento punk, o qual objetivou outros paradigmas de comportamento social.

A necessidade de discutir a situação atual da sociedade, na qual o indivíduo punk se insere, por meio de manifesta-ções conflitantes, é considerada ponto comum entre os adeptos, pois acreditam que, somente por meio de uma “ação de choque” (não necessariamente violenta), se gera uma conscientização da socie-dade, assim os punks poderiam divulgar melhor suas ideias de que é necessária uma mobilização política e social.

Essa “ação de choque” busca apenas mostrar o seu caráter simbólico e co-notativo, que ganha força por meio das mídias alternativas mais específicas do movimento, como zines, panfletos, gigs (shows) e encontros, além de sites de in-ternet. Se, por um lado, a mídia alternati-va divulga as ideias do movimento punk, a mídia de referência, por outro lado, pa-rece não ser muito conivente com o pen-

21

samento e as ações do movimento, uma vez que parece publicar, de forma regu-lar, uma imagem depreciativa do indivi-duo pertencente a esse grupo.

Não nos cabe aqui defender o indivíduo punk, mesmo porque o comportamento de alguns indivíduos acaba dando às mí-dias de referência motivos para que elas veiculem uma imagem negativa do punk. Além disso, queremos compreender não só quais os estereótipos do punk são vei-culados pelas mídias de informação, mas também como a descrição e a análise da situação de comunicação midiática po-dem nos dar elementos para compreen-der o funcionamento do mecanismo de geração desses estereótipos.

O discurso midiático, por assumir um pa-pel importante na formação da opinião pública, uma vez que se coloca como responsável por dar visibilidade ao que está oculto na sociedade, defendendo, pelo menos em tese, os interesses dos cidadãos, informando-os dos principais acontecimentos, deve ser constantemen-te objeto de estudo dos analistas do dis-curso. Interessado em entender o funcio-namento discursivo das práticas sociais de linguagem, o analista encontra no discurso midiático um terreno fértil para o mapeamento da circulação de estereó-tipos, associados a posicionamentos ar-gumentativos.

Dessa forma, podemos analisar a im-prensa não somente pelo seu aspecto informativo, mas também como agente,

A estereotipia punk nas mídias de informação

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

cujas práticas de linguagem modificam em parte a sociedade. Segundo Zas-lavsky (2005), a mídia de informação não só intermedia os discursos que veicula, como também os media, interferindo, em maior ou menos grau, no produto final publicado.

Se observarmos, historicamente, essa mesma imprensa sempre participa ativa-mente da sociedade com o intuito de “eli-minar” ou “abafar” as ações e os discursos de alguns desses grupos contraculturais, que punham em risco os preceitos regen-tes “padronizados”, sobretudo, pelos jor-nais nacionalistas na época da Ditadura Militar no Brasil. As ações e os discursos “ameaçadores” da contracultura punk parecem ser propícios à proliferação de traços estereotipados, amplamente utili-zados pelas mídias de informação.

Nosso interesse recai exatamente no enquadramento dado pelo discurso mi-diático de referência à identidade dos in-divíduos punks, por meio de elementos linguísticos que nos ajudam a resgatar um julgamento de valor subjacente, já que, como afirma Amossy (1991, p. 21), “o estereótipo emerge na ação do sujei-to de selecionar os atributos caracterís-ticos de um grupo ou de uma situação e reconstituir um esquema familiar”, a fim de, acrescentaríamos nós, captar o lei-tor, via identificação com esse esquema, levando-o para o interior de um dado jul-

22

gamento de valor (ponto de vista) sobre o referente do estereótipo.

O Mecanismo Midiático de Represen-tação Cidadã e a Criação do Estereóti-po Punk

Uma das funções primárias das instân-cias midiáticas é a articulação do discur-so informativo, buscando aproximar, seja por efeitos de atualidade ou de imparcia-lidade, o evento (acontecimento empíri-co) da informação (a representação do evento). Sua função é gerar um discur-so, cuja visada predominante, com rela-ção ao leitor, é a de “fazer saber”, “crian-do o mundo” pelo discurso, por meio de uma atividade linguística que descreve os acontecimentos, ao mesmo tempo em que os explica, seguindo princípios de vi-sibilidade (facilitar o acesso), legibilidade (ser plausível) e inteligibilidade (se fazer entender) (CHARAUDEAU, 2006).

A utilização de um discurso de informa-ção pelas mídias assume, assim, como nos discursos em geral, um vínculo de representação de determinado grupo ou classe social, por meio da criação de uma identidade (implícita, que se constrói em suas notícias) compatível com seus valo-res vigentes.

Em uma parcela dessas instâncias, há aquelas que se julgam representantes2 a ética cidadã, as chamadas mídias de re-

2 Tal posição social deriva da conceituação de um indivíduo ideal, portador das representações sociais de deter-minado grupo social, que, segundo Jodelet (2001), é uma interface estruturante, que permite representar o objeto pela maneira como o sujeito o percebe, e, assim, criar uma visão do grupo acerca desse objeto. Tais conceitos de representação são configurados por uma cadeia de valores e conhecimentos, dos quais o indivíduo ou grupo social se apropria, de acordo com sua posição social, política, econômica e histórica, construindo uma imagem do objeto empírico representado, criando conceitos e teorias sobre o mesmo. Ou seja, a representação oriunda de um grupo

A estereotipia punk nas mídias de informação

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos 23

ferência, que constroem seu discurso de informação por meio de moldes de uma representação discursiva cidadã, e dos imaginários sociodiscursivos instaurados na sociedade.

As representações discursivas são con-sideradas locais comuns, normas de es-tabilização e de regulação de trocas so-ciais, partilhados entre os membros de um grupo social específico, que operam dentro do discurso, em situações de co-municação específicas, instituindo luga-res sociais de produção e de interpreta-ção, tais como a instituição de posições de leitura e reações afetivas, ligadas ao polo de recepção textual frente a deter-minados discursos (EMEDIATO, 2009).

Tais representações também possuem uma força coesiva e coercitiva dentro do grupo social que as compartilha, ins-taurando, no discurso, os limites entre o aceitável e o inaceitável, formas de julga-mento pré-determinadas, e as maneiras como o outro será construído pela inter-pretação de um grupo social, baseado em seus critérios de julgamento.

Assim, para que o discurso informativo atinja determinado público alvo, as mí-dias se utilizam, implicitamente, por meio de um quadro de questionamento sub-jacente às notícias, das representações discursivas como elementos de pré-vali-dação da instância de produção.

Nesse sentido, as mídias de grande circu-lação utilizam-se de representações dis-cursivas de cidadania, para caracterizar sua identidade social e, assim, engendrar atitudes, julgamentos e posicionamentos específicos do universo de práticas cida-dãs, cujos valores podem ser associados à justiça, igualdade de direitos, democra-cia, solidariedade e humanitarismo, ins-taurando, por sua vez, uma exigência com relação à posição específica de leitura a ser adotada pelo leitor, com a finalidade de que as intenções e efeitos patêmicos visados tornem-se efetivos. Se tal posi-ção de leitura não for adotada, tais senti-dos e efeitos visados ficam ameaçados.

Assim como em qualquer representação, sua lógica discursiva institui efeitos pa-têmicos a serem processados pelo lei-tor, ou seja, são consequências afetivas dos julgamentos, propiciados pela re-presentação social de cidadania, que se manifestam após a validação do discur-so midiático pelo leitor. Assim, se a no-tícia validada exaltar eventos positivos ao julgamento da ética cidadã, o efeito patêmico será favorável, e afetos de con-tentamento, como aprovação e reconhe-cimento, serão expressos pelo leitor, já notícias que exaltam eventos negativos ao ponto de vista da representação dis-cursiva de cidadania, implicam em um julgamento negativo, tendo como con-sequência efeitos de descontentamento, tais como indignação ou medo.

social, possui um aspecto de verdadeiro e legítimo por si, porém, quando confrontado com outras representações do mesmo objeto, advindas de outros paradigmas sociais, repercutem defasagens representativas, gerando distor-ções, suplementações ou subtrações de algumas de suas características, pois são construções do outro com out-ros saberes e valores (em nosso caso, a representação do punk varia entre os grupos punks e cidadão).

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Também é necessário frisar que, ao uti-lizar-se da representação discursiva de cidadania, a instância midiática constrói seu próprio ethos de representante do ci-dadão, o que, segundo Bourdieu (2008), permite que a mídia tome para si o skep-tron de representante social, autorizando seu discurso e confirmando sua legitimi-dade de ação social dentre o grupo.

Semelhante ao conceito de representa-ções discursivas , o conceito de imagi-nários sociodiscursivos (CHARAUDEAU, 2007), estrutura o mesmo como uma imagem do objeto empírico representa-do, por um sistema de pensamento, que independe de julgamentos de verdadeiro ou falso, pois o imaginário, como mecâ-nica de conhecimento real, descreve a visão de um grupo social, que o toma por verdadeiro, justificando assim seus atos, e, ao mesmo tempo, refletindo a nature-za do grupo social que o utiliza3.

O analista ainda instaura a localização do imaginário na organização dos sabe-res e valores compartilhados, sejam eles originados por saberes de crença ou de conhecimento, que servem para a cons-trução de valores dos membros de de-terminada comunidade. Assim, por meio de tal conceito, a representação da ética cidadã pode ser considerada um imagi-nário sociodiscursivo legítimo, pois são formas preconcebidas de valores com-partilhados e motivações sociais, que re-gem formas de troca social e habilitam a construção do outro a partir de uma sua

ótica, postulando-se como verdade acei-ta por todos os que partilham dos mes-mos valores e crenças.

No que tange às relações interpessoais, o conceito de imaginário pressupõe a instauração de forças, sejam positivas, que podem manter a coesão e a união de um grupo e seus membros favoráveis, como agregar novos integrantes (uma força centrípeta), sejam negativas, que excluirão os indivíduos que não entram em acordo e devem, por isso, serem ex-purgados do grupo, mesmo aqueles que ainda almejam à participação no grupo social (uma força centrífuga).

Tais forças são aqui apresentadas para conferir uma melhor definição das repre-sentações discursivas de cidadania, uma vez que, de um lado, a força centrípeta converge para um modelo ideal da repre-sentação, e, por outro lado, a força cen-trífuga afasta a representação do modelo idealizado pelo enunciado.

24

A estereotipia punk nas mídias de informação

3 A relação de semelhança entre tais conceitos pode instaurar uma relação de sinonímia, porém tais conceitos se complementam devido à ênfase aos fenômenos sociais que Emediato (2009) descreve, e as forças sociais instau-radas preconizadas por Charaudeau (2007).

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Por meio de tais teorias, podemos com-preender que, no discurso dos jornais de referência, as instâncias midiáticas con-stroem o seu discurso, descrevendo a visão e os atos de um cidadão ideal que, a princípio, entra em acordo e se com-patibiliza com o ambiente sociopolítico dominante, como um eco do contexto sit-uacional e do consenso social, que gera o modelo a ser seguido (como o modelo de cidadão ideal, comumente veiculado pelas mídias).

No que tange ao mecanismo midiático de produção do discurso, Charaudeau (2010) preconiza que tal mecanismo, as-sim como a produção de quaisquer dis-cursos de informação, se utiliza de fas-es de produção, produto e recepção, e a compreensão dos conceitos de repre-

sentação discursiva e imaginários socio-discursivos tornam mais claro, no nosso entendimento, a criação de uma imagem específica de cidadão, em contraponto com a imagem do indivíduo punk.

A produção é composta tanto por um staff4, que condiciona o mecanismo pelas suas condições externas, suas razões so-cioeconômicas e suas ideologias (a ética cidadã no caso), tanto quanto por uma condição semiológica, em que o mesmo decide como apresentar seu discurso, por meio das representações como elemen-tos de pré-validação, buscando um públi-co-alvo (o leitor cidadão) e sua melhor maneira de validá-la por meio da leitura (como estruturar o mundo por meio da ótica cidadã?).

25

A estereotipia punk nas mídias de informação

Figura: As relações de força dos imaginários sociodiscursivos

4 Staff: Equipe de pessoas responsáveis pela produção das mídias, de acordo com Charaudeau (2010), são o redator, o diretor, o jornalista etc.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos26

Do ponto de vista de sua produção, seu produto é uma forma da estrutura de seus efeitos visados e condições externas, por meio da utilização de estratégias discur-sivas. Nesse ponto toda a ótica das rep-resentações sociais em que o discurso foi alocado se materializa, tal como sua es-truturação composicional e sua seleção lexical, de modo a permite a produção de sua intencionalidade (materializar a voz de um cidadão).

E sua recepção é prevista, segundo sua “aposta” nos efeitos e no público-alvo previstos, por meio da construção de seu discurso pela ótica da representação utili-zada, e se valida (ou não) pela efetivação da leitura do indivíduo, que poderá ou não se reconhecer como alvo do discurso, a partir da confirmação de que as represen-tações veiculadas estão de acordo com as que possuem o leitor. Ou seja, o trata-mento das seguintes questões: “A notícia fala pelos cidadãos?” “Há uma efetivação por meio de uma representação cidadã?” e “Que efeitos o discurso irá gerar efeti-vamente?”.

A máquina midiática funciona, assim, na perspectiva de Charaudeau, como uma “construção da construção” da realidade, pois o mundo é descrito pelo discurso, entre seus variados imaginários. Sendo assim, o que a mídia faz é apropriar-se de um mecanismo social de construção e representação do mundo pelo discurso,

e reproduzi-lo, de forma semelhante em seu discurso.

Portanto, como pertencente a uma rep-resentação, o discurso midiático gerará um embate de valores, quando analisado em contraste com o discurso de outros grupos, gerando defasagens na repre-sentação dessas outras identidades co-letivas, atribuindo características estere-otipadas a esses indivíduos.

A necessidade de defasagem5 de muitas representações discursivas, como a de cidadania, advém de uma norma de ma-nutenção da ordem social, tal como uma doutrina, composta por normas rígidas de efetivação social, que buscam uma estabilidade e longevidade do grupo e sua ótica de representação. Diante de tal estrutura, é previsível que qualquer mov-imento de contestação de um paradigma social seja revogado pela representação ideal de cidadania, pois tais movimentos, além de articularem contra o regime at-ual de regulação de trocas sociais, po-dem ser considerados uma “ameaça” de desarticulação e instauração de um novo regime de representação social domi-nante.

Diante desse quadro de questionamen-to, os acontecimentos que envolvem os punks (fenômeno empírico) são media-dos e elaborados, como representação, por um filtro axiológico (seu mecanismo

A estereotipia punk nas mídias de informação

5 Tal defasagem é oriunda de um embate entre representações diversas, advindas de diferentes camadas sociais, que estabelecem a definição de determinados conceitos, por meio de saberes (de conhecimento e de crença) dis-poníveis e promulgados por seus integrantes, gerando, assim, uma visualização distorcida, quando percebidos por integrantes de um paradigma social diferente, o que nos permite perceber suplementações (inclusão de caracterís-ticas), subtrações (remoção de características) e/ou distorções.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos 27

de produção, produto e recepção), acio-nado pelo staff, criando, através das notícias, uma identidade midiática que projeta e formata o discurso a um “leitor cidadão” idealizado, elaborando, em con-traponto, uma imagem estereotipada do indivíduo punk, através, por exemplo, de descrições de suas ações, que se dá por uma ótica da representação midiática.

representativa, acabam gerando um efeito patêmico de medo (o punk repre-sentado como uma ameaça à ordem e ao bem estar social) e de indignação (o punk é representado como um indivíduo que deve ser “removido” do paradigma social em função do seu comportamento prejudicial à ordem social em voga), en-tre outros, excluindo, por meio de uma força centrífuga, os indivíduos assim es-tereotipados.

Nos fragmentos de discurso que en-volvem particularmente os punks, os va-lores da representação social de cidada-nia são confrontados com os valores e ideais do movimento punk (revolução e libertarismo), o que permite que a instân-cia midiática represente-os de forma de-fasada, de acordo com Jodelet (2001), enfatizando, criando ou distorcendo de-terminadas características do movimento punk.

Portanto, é possível observarmos, a par-tir de um olhar panorâmico sobre o dis-curso midiático, a presença de repre-sentações do punk como “baderneiro”, “nazista”, “encrenqueiro”, entre outras.

Tais características parecem ser apre-sentadas como atributos, considerados elementos inerentes aos seus integran-tes (como uma marca social, um estig-ma), que servem para caracterização do estereótipo, ou seja, uma identificação clara dos indivíduos que são caracteri-zados como integrantes do movimento punk.

Assim, há a retomada de julgamento sobre o estereótipo com a ocorrência de outro evento que envolva quaisquer indivíduos punk, completando seu conhecimento sobre o mesmo, segundo os parâmetros de representação cidadã (uma concep-ção prévia que antecipa os julgamentos e conclusões).

A estereotipia punk nas mídias de informação

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Tais defasagens, que geram estereó-tipos, não são concebidas de forma in-consciente; são, como dito anteriormen-te, supervalorização ou amplificação de atos vinculados ao indivíduo punk ou a sujeitos relacionados, como skinheads. Mesmo que tal ótica desfavoreça o indi-víduo punk, a representação de cidada-

nia é amplamente defendida e legitimada na sociedade de um modo geral.

Conclusão

Conclui-se, então, que a caracterização dos indivíduos punk nas mídias de infor-mação é verificada por um processo de

28

A estereotipia punk nas mídias de informação

1 Este trabalho é fruto do projeto de iniciação científica “O punk encrenqueiro: uma análise discursiva sobre a este-reotipia punk nas mídias de informação“, sob a orientação dos Profs. Drs. Paulo Henrique Aguiar Mendes (Letras - UFOP) e Simone de Paula dos Santos Mendes (Letras - UFOP).

Figura: O mecanismo de estereotipagem do indivíduo punk nas mídias de referência

A estereotipia punk nas mídias de informação

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

estereotipia, que evidencia, por meio da ótica de representação cidadã, expres-sões que citam atributos, considerados únicos aos indivíduos punk, os quais se espalham pelo discurso midiático e seus fragmentos, construindo uma “imagem mental”, a seus leitores, de um grupo por meio de tais características.

Ou seja, há um apontamento, uma fun-ção dêitica (uma corporeidade que re-mete a uma construção sensorial), que nos permite visualizar o outro “sem vê--lo” pelo discurso, gerado pela represen-tação defasada do punk pela ótica cida-dã, remetendo, assim, à criação de um estereótipo (o estereótipo pode ser con-siderado, aqui, uma imagetização repre-sentativa do outro, que retorna ao ser empírico, visualizado pelo leitor cidadão como característica inerente do indivíduo e do grupo).

Trata-se de um fenômeno natural, pois as representações, considerando-se a priorização de valores e conhecimen-tos, são variadas entre todos os grupos identitários, que constroem o mundo e as pessoas através de uma mecânica pré--estabelecida de um paradigma social, que estrutura a percepção do mundo e sua relação com o mesmo.

Tal fenômeno de estereotipia, por sua vez, serve ao propósito midiático, pro-cessando tal representação em seus textos noticiosos como estratégia de cre-dibilidade ou autoridade, onde o reforço de tais estereótipos evidencia a tentativa

29

de criação de uma identidade cidadã por parte da instância midiática.

Utiliza-se igualmente do estereótipo em estratégias de captação, que buscam saciar suas necessidades econômicas, agregando e aproximando mais consu-midores de seu produto, produzindo, em alguns casos, escândalos e intrigas/nar-rativas, utilizando-se do efeito de “já dito” a serviço do reforço negativo da identida-de do outro.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Referências Bibliográficas

AMOSSY, R.; HERSCHBERG PIERROT, A. Stéréo-types et clichés – langue, discours, société. Paris: Éditions Nathan, 1997.

BOURDIEU, P. A economia das trocas linguísti-cas. O que falar quer dizer. São Paulo: EdUSP, 2008. 192p.

CHARAUDEAU, P. O discurso das mídias. São Pau-lo: Editora Contexto, 2010. 288p.

CHARAUDEAU, P. Les stéréotypes, c’est bien. Les imaginaires, c’est mieux. In.: BOYER H. (dir.), Stéréo-typage, stéréotypes: fonctionnements ordinaires et mises en scène. L’Harmattan: Paris, 2007.

DOISE, W. Les représentations sociales. In.: GHIGLI-ONE, C. B.; RICHARD, J. P. (Orgs.). Traité de psy-chologie cognitive. Paris: Dunod, 1990.

EMEDIATO, W. Representações discursivas de ci-dadania na mídia. In: SILVA, D. E. G. S.; LEAL, M. C. D.; PACHECO, M. C. N. Discurso em questão: representação, gênero, identidade discriminação.Goiânia: Cânone Editorial, 2009. p. 49-59.

EMEDIATO, W. Contrato de leitura, parâmetros e figuras de leitor. In: MARI, H.; WALTY, I.; FONSECA, M. N. S.(Orgs.). Ensaios sobre Leitura 2. Belo Hori-zonte: PUCMINAS, 2007, p. 83-98. GOFFMAN, E. Estigma - Notas sobre a Manipu-lação da Identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1980. 160p.

JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: ______. As representações soci-ais: Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2001. p. 17-41.

PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1999. 340p.

PEREIRA, C. A. M. O que é contracultura. São Pau-lo. Brasiliense. 1983. 97p.

30

A estereotipia punk nas mídias de informação

Paulo Henrique Franco CavalheiroAluno de graduação em Letras pela

UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto.

Jean Jacques Rousseau (1712-1778)

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Filósofo franco-suíço nasceu no dia 28/6/1712, Genebra (Suíça), e faleceu em 2/7/1778 em Er-menonville (França).Rousseu começou a escrever em 1749, quando a Academia de Dijon propôs um prêmio para quem respondesse à seguinte questão: “O estabelecimento das ciências e das artes terá contri-buído para aprimorar os costumes?” Jean Jacque Rousseau escreveu o “Discurso Sobre as Ci-ências e as Artes”, tratando já da maioria dos temas importantes em sua filosofia e respondendo negativamente àquela pergunta. No ano seguinte, mais precisamente em julho, ele recebeu seu primeiro prêmio. Com a publicação dessa obra, Rousseau conquistou reconhecimento. Em 1755, publicou-se o “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens”, no ano de 1761, escreveu “A Nova Heloísa”, romance epistolar que obteve grande sucesso. No ano seguinte, saíram duas de suas obras mais importantes, o ensaio “Do Contrato Social” e o tratado pedagógico “Emílio, ou da Educação”.Rousseau foi perseguido em 1762 por conta de suas obras, que eram consideras ofensivas à moral e à religião, sendo obrigado a exilar-se em Neuchâtel (Suíça). Além de escritor e filósofo, Rousseau estudou teoria musical e escreveu duas óperas: “As Musas Galantes” e “O Adivinho da Aldeia” e publicou um “Dicionário de Música”.

31

Fonte: imagem retirada do site http://revistaescola.abril.com.br

Mem

órias

O sistema de bibliotecas da UFOP possui várias obras desse autor, como:

Carta a D’Alembert. 1993Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdades entre os ho-mens.1981Do contrato social: ensaio sobre a origem das línguas. 1973Emilio, ou da Educação. 1995Ensaio sobre a origem das línguas. 1981O pensamento vivo de Rousseau. 1951Os devaneios do caminhante solitário. c1986 , entre outras.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

No dia 2 de junho de 2013,ocorreu o lançamento do livro Memoriais da Fé: as comunidades da Paróquia Sagrado Coração de Jesus de Mariana (séculos XVIII – XXI). Esta obra foi escrita de for-ma colaborativa entre a professora Virgí-nia Buarque, do Departamento de Histó-ria da UFOP, e oito graduandos do curso de História (UFOP), um graduando de Pedagogia (UFOP), dois professores de História no ensino básico e dois mestran-dos em História. Sua proposta é a de re-constituir a trajetória histórico-religiosa de 15 comunidades católicas sediadas nos municípios de Mariana e Ouro Preto, surgidas entre os séculos XVIII e XXI, a partir do depoimento de seus integrantes. O livro vem acompanhado por um DVD, composto por 15 curtas-metragens, que também narrativizam o percurso dessas comunidades.

Com esta dupla produção, visou-se apre-sentar uma alternativa ao processo de diluição das memórias sociais, sofrido pelas sociedades ocidentais contempo-râneas. Afinal, mudanças cada vez mais aceleradas têm esvaziado os sentidos associados às chamadas “grandes nar-rativas históricas”, como o Estado Nacio-nal e a racionalidade científica, até então tidos como propulsores do progresso hu-mano.

Ao mesmo tempo, era preciso que o re-lato acerca das comunidades conferisse protagonismo à vivência e aos discursos de seus integrantes, sem que seus depoi-

mentos fossem reduzidos a meras “fon-tes informativas”, empregados segundo referenciais alheios à suas práticas de fé. Mas como proceder a uma interpretação da trajetória de fé das comunidades in-tegrantes da Paróquia Sagrado Coração de Jesus sem recair em leituras apolo-géticas ou então demasiadamente priva-tizantes e subjetivistas? Como respeitar as vozes dos participantes das comuni-dades, em suas especificidades, e, si-multaneamente, articulá-las em diálogo, a fim de que, dessa pluralidade, viesse a emergir a dinâmica constituidora da Pa-róquia Sagrado Coração de Jesus?

32

Lançamento de Livro

1 FORTIN, Anne. L’impossiblesaisie de la mémoire. In: MEUNIER, Martin et THÉRIAULT, Joseph (org.). Les impasses de la mémoire: historie, filiation, nation et religion. Québec: Fides, 2007. p. 356.

Lanç

amen

to d

e liv

ro

Lançamento do Livro

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A busca de respostas conduziu, em ter-mos teóricos, à concepção de memorial. Segundo a teóloga Anne Fortin, um “me-morial” consiste numa sistematização da experiência vivida, com base em dois elementos cruciais: por um lado, compor-ta dimensões críticas e inventivas, não se reduzindo a uma lembrança pautada em sentidos pré-estabelecidos; de for-ma simultânea, ele entrecruza diversas temporalidades, pois, sem privilegiar so-mente o passado, atenta também à res-sonância do já ocorrido no aqui-e-agora, em função de uma expectativa de futuro1. Na inter-relação desses dois aspectos, o memorial refuta, portanto, quer uma lei-tura proselitista da experiência religio-sa, quer sua demasiada afetação pelos meios de comunicação, postulando que nem aquilo que deixou de existir e nem o que ainda não é podem ser completa-mente transpostos (ou ideologicamente manipulados) no tempo presente.

No caso das comunidades pesquisadas, sugere-se, assim, que a concepção de memorial encontra-se imbricada a uma tríade socioreligiosa: o papel da ativida-de mineradora no surgimento das locali-dades, o protagonismo da liderança femi-nina e a pluralidade cultural-devocional que caracteriza as comunidades, fatores que, imbricados, dotam a Paróquia de um perfil bastante polissêmico, embora também dialógico.

A publicação do livro contou com o finan-ciamento da Paróquia Sagrado Coração de Jesus/Arquidiocese de Mariana, que

33

em 2013 completa 25 anos de fundação. Paralelamente, a FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) concedeu bolsa de apoio técnico para produção do DVD, cuja filmagem e edição ficou a cargo do produtor cultural Julliano Mendes. Já a revisão de texto foi gentilmente promovida por Magda Sal-men, técnica-administrativa da UFOP.

Virginia Buarque

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

O garoto chegou da escola ao meio dia. Foi logo tirando a mochilinha, e a deixou em cima da cama. Em seguida foi corren-do e beijou o pai. Não teve muito tempo. Na mesma euforia foi até a horta e deu e recebeu um forte abraço da mãe. Era hora do almoço. Sentou à mesa e brin-cou com as moscas que lá estavam. Na verdade espantou-as, e achou graça. A mãe voltara da horta. Lavou as mãos já umedecidas e frias. Abriu as panelas e viu que a água do arroz havia secado. Desligou-o. Em seguida, enquanto Mi-guel ainda brincava com as moscas com a ajuda do seu Homem-Aranha, ela fri-tou rapidamente quatros ovos, e os co-locou no centro da mesa retangular de madeira. Miguel seguia distraidamente, às vezes cantava, soltava palavras ao vento. A mãe trouxe as panelas do arroz, feijão, e do tomate picado, e gritou: “Tá na mesa!”. Miguel neste momento estava fazendo seu Homem-Aranha voar. Mas se pôs a postos rapidamente. E ao ver o banquete, arregalou os olhos, passou a língua nos lábios, e os olhos brilharam, ainda mais. O pai chegou e almoçaram os três.

Miguel estava cansado. Não havia dor-mido bem na última noite. Não se lem-brava porquê. Aos poucos sua cama foi o chamando, como se nela houvesse um imã. O garoto ainda resistiu. Mas a força do imã foi maior. Foi se aconchegando. Tinha uns lapsos e falava sozinho. Bone-quinho do Homem-Aranha em mãos. Até que adormeceu. De boca aberta e olhos suavemente abertos. Partiu da realida-

de para o mundo dos sonhos. A princípio sonhos desconexos, como se estivesse num torvelinho e fosse transportado para outra dimensão. O Homem-Aranha pas-sava por ele. A escola. Um grito. Mas um tempo depois o torvelinho se dissipou, e repentinamente se encontrou sentado em sua cama, amarrando apertado o ca-darço de seu tênis. O preferido. Usava camiseta amarela e preta, short também amarelo e preto, e meião amarelo. Termi-nou com o tênis e estava pronto. Deu dois pulinhos para aquecer. E chutou a bola para baixo de sua cama. Gritou “gol!”. E foi alegre para o treino.

Lá, foi recebido por uma moça simpática. Ela lhe falava que ele devia escovar os dentes e ler livros. Miguel não a entendia sempre. Mas adorava sua companhia. Contou aos pais que no time havia uma “psicólga”. Eles a princípio ficaram sus-peitos, mas tranquilizaram-se no dia em que o menino chegou em casa com uma pasta de dente e um livro do Pequeno Príncipe. O treino começou, e Miguel se divertia. Corria bastante. Às vezes ficava nervoso com um colega, e fazia beicinho. Gritava, pulava, e caia. O gol era o gran-de momento. Tinha uma sensação indes-critível, de puro prazer. Neste tempo de atividades seu cérebro era oxigenado e seu corpo era desenvolvido, sob todos os aspectos. Mas disso ele não sabia. Fim de treino.

Contava à sua prima sobre o time, que ha-via chegado um “taanto” de bola, e abria os braços para mostrar quantas eram. A

34

O sonho de MiguelE

m P

rosa

O sonho de Miguel

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

prima estava mais atenta à novela, mas ainda assim ele foi até seu quarto, abriu a gaveta, e voltou correndo e animado para mostrar a ela a foto dele vestido com o novo uniforme. Depois voltou ao quarto e guardou a foto lá, no cantinho da ga-veta. A prima de Miguel o chamou para ver novela. Ele disse que não podia, que tinha de ir no “dintista”. O time dele ofe-recia “dintista”, “dôtor”, “psicólga”. Miguel tinha os dentes brancos, o sorriso claro, e a vida estampada em seus olhos.

Chegou em casa, jantou e tomou banho. Poderia sentar-se ao lado dos adultos, mas não devia. Lembrou-se que trouxe-ra do futebol um exemplar do Pequeno Príncipe. Foi até o quarto, abriu a mo-chila e o retirou. Olhou a capa e sentiu--se boquiaberto, os olhos interessados, e aos poucos imergia ao mundo fantasio-so que o livro lhe proporcionava. Deitou--se na cama e abriu a primeira página. Encantava-se com as gravuras, e dava seus primeiros passos na leitura - gos-tava muito, graças à professora que lia para eles na escola (era a melhor aula), estórias como Barcos de Papel e A Mon-tanha Encantada.

Aprendia muito devido aos livros. Um aprendizado difícil de se mensurar, pau-latino - aprendia. Manuseava o livro, pá-gina a página lia, viajava, sonhava. Mas de repente um barulho começou a lhe im-portunar. Era um “tututu” muito forte, se-guido de silêncio. E depois outro “tututu”. O livro parecia agora sair de suas mãos, à medida que o “tututu” continuava, e

35

aparentava ser mais frequente. O garo-to se desesperou, o livro se desprendia dele, parecia que iria voar num fluido que era mais viscoso que o ar. “Tututu”, “Tutu-tu”. De sobressalto, Miguel se levanta da cama, suado e assustado. Estivera num sonho. “Tututu”.

Levantou-se e foi até onde vinha o baru-lho. Era o seu irmão, que estava de fren-te do quarto da mãe, batendo na porta fortemente. Os olhos dele estavam ver-melhos, inchados, e roxos ao redor. Sua-va, e parecia mais uma vez estar virado, sem dormir. Batia na porta fortemente e gritava, “Anda logo mãe!”. Miguel foi se aproximando, e quando ouviu que sua mãe estava chorando, deu uma de he-rói, e foi puxar o braço do irmão que ba-tia na porta. Tomou uma cotovelada que lhe atingiu a boca, caiu no chão, e ela começou a sangrar. Parecia que a porta era transparente, pois a mãe viu tudo, e logo a abriu. Chorava. Mas o filho mais velho, atormentado, não viu nada disto. Agarrou-a pelo braço fortemente, e falou, “Me dá o dinheiro logo”. Ela, sentindo um aperto no coração, esbaforida, com as mãos tremendo, deu-lhe o que tinha, e foi acudir o garoto.

O filho mais velho fora embora aos tro-peços. A mãe cuidou de Miguel, abraçou--o, e ele se aconchegou em seu colo. Os dois choravam, mas foram juntos, aos poucos, se acalmando. Miguel soluça-va, mas lembrava que estava ao lado da mãe, e a apertava. Então gradativamente o choro dela foi aumentado, aumentando,

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

até que ficou estridente e ininterrupto, até ao ponto de incomoda-lo. Cada vez mais alto, Miguel se inquietava, e se remexia, até que, de repente, acordou mais uma vez. Vivera um sonho dentro de outro, e agora sim voltava à realidade. Não ha-via futebol, não havia livros, nem dentes limpos. Não havia mãe, nem irmão. Este, preso. Aquela, morta.

Esfregou os olhos, e percebeu em que lu-gar estava. O quarto se encontrava mui-to bagunçado, e escuro. Da parede uma lagartixa mirava-o, atônita. Desamarro-tou a roupa com as mãos, e foi até o es-pelho. Olhou-se. Tinha as mãos sobre a mesa. Os olhos tornaram-se profundos e umedeceram-se; foi aí onde o tempo mais passou. Uma picada lhe bateu no estômago, trazendo-o de volta à tona, e pensou: “Arrumar algo para comer”. Ca-minhava ainda dentro de casa, e parou subitamente quando o sonho lhe voltou aos pensamentos. Balançou a cabeça para dissipa-lo, e continuou o caminho para a rua; o conterrâneo Miguel...

36

O sonho de Miguel

Thalles Simplício de FariaEstudante de Engenharia Ambiental – UFOPServidor lotado no SISBIN – UFOP

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Você sabe como renovar seus livros de casa?

Caso tenha alguma dúvida assista o vídeo explicando todo o processo pelo link abaixo!

http://goo.gl/icFCn

Já utilizou o equipamento de autoempréstimo da Biblioteca do ICHS?

Conheças as funcionalidades do equipamento!

http://goo.gl/vmxAr

37

Serviços

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Sem lugar, 8 de maio de 1992

Mãe,Nem lhe saudarei porque sigo meu

coração através de uma dor profunda. A senhora precisa saber que chegou até mim uma poeira da história. Um simula-cro da intimidade dos outros. Um tal de Rui Mourão publicou um discurso singu-lar em uma trama que não domina e cujo todo não percebe. Editou um livrinho aí intitulado Boca de Chafariz, em que a cidade de Ouro Preto está se acaban-do debaixo de um temporal diluviano e dessa desgraça, emergem as vozes de consideráveis personagens que vêm em socorro dela. Pelas águas do chafariz, jor-ram diversos discursos em um plano no qual homens, e somente homens expe-rientes, gritam como sentinelas. Afastado o flagelo, Ouro Preto inicia sua recupera-ção e renasce atingindo sua glorificação ao receber o título de Patrimônio Cultural

da Humanidade.Mãe, isso é patético! Uma história

com uma cena assim escatológica, não poderia ser de outra maneira. Depoimen-tos e narrativas se misturam. Fico confu-so! O fato é que esse Rui Mourão ofere-ceu-lhes a única oportunidade de explicar tudo sobre suas vidas e atuações no ce-nário político e social do Brasil, dando--lhes a chance de vomitar qualquer coisa que emergisse das turvas águas de Ouro Preto. Lendo esse livro e regurgitando o que declararam Aleijadinho, Tiraden-tes, Antônio Dias de Oliveira, Jair Inácio, Bené da Flauta, Luís da Cunha Mene-zes, entre outros, posso deduzir que mui-tas pessoas acreditarão neles, tomarão os testemunhos como verdades absolu-tas. Descubro que meus companheiros e conterrâneos puderam se manifestar! E eu? Percebo a sorte que eu nunca terei.

Mãe, a senhora acredita que esse Rui fingiu não me ouvir quando eu o cha-

38

À minha mãe, em mãos!Preâmbulo

O texto que se apresenta é uma ficção baseada nas obras Boca de Chafariz, de Rui Mourão (1992) e Advento da Dictadura Militar no Brazil, de Visconde de Ouro Preto (1891). Trata-se de uma carta pessoal escrita pelo Visconde de Ouro Preto e endere-çada à sua mãe. O conflito se instala a partir de seu contato com o livro de Rui Mourão Boca de Charafiz, cujo conteúdo é o testemunho de diversas figuras, tais como Aleija-dinho, Tiradentes, Antônio Dias de Oliveira, Jair Inácio, Bené da Flauta, Luís da Cunha Menezes, entre outros, sobre suas histórias. Com o intuito de expressar sua perturba-ção por não ter tido a chance de dizer o que sabe sobre a Proclamação da República no Brasil e a parte que teve na história da política brasileira nesse livro, Visconde, envolto por essa perturbação, confessa à sua mãe seus mais íntimos infortúnios. Para ele, a perda dessa chance de se explicar foi a maior debilidade de sua existência.

***

Em

Pro

sa

À minha mãe, em mãos!

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

mava aos berros, no centro da Praça Ti-radentes de Ouro Preto? Eu só queria pedir a única possibilidade de também me justificar. Por isso, estou tão mal hu-morado. Eu provei a tristeza em minha língua. Minha alma está em recessão, dolorosa para manifestar-se. Toda essa merda que pareço suportar é uma histó-ria das amargas pílulas do destino. Eu arranco com minhas unhas, dentes e pu-nhos. Agora eu sei a qual lugar eu per-tenço: nenhum. Reviravoltas virão e eu poderei cuspir na cara deles. Sei que a senhora me entende, pois me fez um ho-mem íntegro, batizou-me com o nome de Afonso Celso de Assis Figueiredo e me tornei, para seu orgulho, o único Viscon-de de Ouro Preto. E mais, fui o protago-nista daquela grande sedição de 15 de novembro. Aquele dia de 1889 em que a monarquia brasileira foi deposta. Mãe, a senhora mesmo sabe que eu fui um político atuante no parlamento brasilei-ro, fui presidente do gabinete 7 de junho de 1889 a pedido de D. Pedro II, fui mi-nistro da Marinha, tomei decisões impor-tantes para o rumo da nação. De todos esses acontecimentos, o mais marcante foi a Proclamação da República do Bra-sil, em 15 de novembro de 1889. Gosta-ria de ter tido a chance de habilitar meus concidadãos a julgarem com perfeito co-nhecimento de causa o procedimento do governo, naquele dia deposto pela força pública amotinada. Por hora, contento--me em desabafar com a senhora. O que ocorreu foi que no final de fevereiro de 1888, alguns militares foram mandados para o estado de Mato Grosso sob o co-

39

mando do Marechal Deodoro da Fonse-ca. Como uma forma pessoal de se vingar das suas acusações sofridas, Deodoro coagiu o exército a ficar contra a Monar-quia e instaurar um novo regime político. No ano seguinte, no Ministério Ouro Pre-to, o qual eu presidia, aprovei o regresso da força expedicionária cumprindo solici-tação de Floriano Peixoto, no qual eu de-positava extrema confiança. Pensei que Deodoro e o exército só queriam retornar de Mato Grosso. Entretanto, assim que chegaram ao Rio, exatamente em 15 de novembro de 1889, conforme desejo dos chefes republicanos, fez-se a Proclama-ção da República. Juro que eu não sabia dessa trama de Deodoro e Floriano con-tra mim. Eles não me contaram porque sabiam que eu não concordaria com tal fato, sobretudo proclamar uma república de modo tão arbitrário. Fui enganado e ainda culpado pela revolta do exército! A minha ingenuidade, pois, consistiu na convicção de que uma revolução e revo-lução militar, especialmente, não explo-de sem motivos sérios ou graves. Jamais pensei que isso aconteceria tão sub-rep-ticiamente. Quem contemplasse aquela força, suporia que em frente ao quartel ocorria uma simples parada ou acompa-nhamento de procissão. Impressionou--me funda tristeza que se estampava na fisionomia dos oficiais, quer superiores, quer subalternos. Decorrido algum tem-po, dirigiu-se até mim o marechal Deo-doro da Fonseca confessando que se pusera à frente do exército para vingar as gravíssimas injustiças e ofensas por ele recebidas do governo. Declarou que

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

o meu ministério estava deposto e disse que todos os ministros podiam retirar-se para suas casas, exceto eu, Visconde de Ouro Preto, “homem teimosíssimo, mas não tanto como ele” – declarou. Fui preso e exilado por ordem do Marechal Deodo-ro, partindo para a Europa sob a acusa-ção de incitar o exército contra o gover-no. Abominado no Brasil, meu filho e eu tivemos nossas candidaturas recebidas com desprezo; apreciei gratuitos insultos contra mim lançados pelo ministro da fa-zenda Ruy Barboza. Fui contrário a essa ditadura. Ela surgiu com pseudônimo de República como uma demonstração elo-quente das condições a que o país se reduziu. Portanto, os motivos aduzidos para justificar a sedição de 15 de novem-bro, referentes ao exército, são absolu-tamente destituídos de fundamento, por-que não foi um movimento súbito, a obra de um dia; o golpe estava já preparado de muitos anos. Uma nação de homens livres não suportará por muito tempo tão intolerável regime. A república brasileira, qual foi proclamada, é uma obra de ini-quidade, não pode perdurar. A fidelidade aos compromissos e o futuro da pátria correm perigo no Brasil. Mãe, infelizmen-te, nada mais posso fazer para auxiliar os meus concidadãos.

Sinto muito que esse Rui Mourão não tenha me conhecido. Aliás, o que é que ele conhece? Nada, porque pôde me ignorar. Sei que esse escritor era puxa-saco de Tiradentes, por isso deu a esse inconfidente páginas e mais pági-nas. Considerou a Inconfidência Mineira como o único movimento que prestasse.

O que fez Tiradentes? Nada também, era um louco e furioso. Como contribuiu para a política desse país? Quanto a mim, um político atuante, o que ganho é despre-zo. Não só por esse Rui Mourão, como também pelo pérfido Marechal Deodo-ro da Fonseca. É outro demônio. Todos são. Percebo, Mãe, que nasci para tocar só a ponta dos dedos da felicidade, nun-ca para abraçá-la. Há algum sentido em ter existido e nunca ser lembrado? Sin-to inveja de Tiradentes, porque ele pôde até depor diante do juiz. Como Tiraden-tes, também protagonizei um insucesso. Nesse sentido, por que distinguem a nós dois?

Sinto vontade de chorar. Estou de-formado, há dias não como, não me pen-teio, sequer faço a barba, quebrei meus óculos de raiva e mal enxergo. Pareço uma escultura de Aleijadinho com o so-frimento no meu rosto emagrecido e pen-sativo sobre as incongruências de minha vida. Perdoe-me, Mãe, por lhe escrever uma carta tão melancólica. Ultimamente, tenho lido muito as obras de Walter Ben-jamin. Ele parece me entender, somos fi-lhos de Saturno, o planeta dos desvios e dos atrasos. Folheio seus livros à procura daquele quadro de Paul Klee e me incor-poro naquele Angelus Novus com uma paralisia no olhar, um semblante carrega-do de pavor e uma força que me empurra para frente, forçando o meu olhar para o futuro que só consigo ver sangrando, uma catástrofe única. Benjamin me mos-tra que a história é um acúmulo de ruí-nas. Concordo. A propósito, este livro de Rui Mourão vem sobre mim esmagando

40

À minha mãe, em mãos!

À minha mãe, em mãos!

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

minha aura, essa aura que me fazia uma figura singular.

Desculpe-me, minha Mãe, se vou ofendê-la, mas eu me sinto um verme antes de ser um homem. O meu outro eu se foi. Se foi. Logo, logo, minha vida será novamente apagada. A senhora acha que eles irão se lembrar de mim? Iluda--se! Não foi desta fez e não será jamais. A senhora sempre me disse para seguir em frente. Estou seguindo, já me enchar-quei de gasolina. Um estalo para a mor-te: era o que me faltava. Quem virá em meu socorro?

Com sua bênção,

Visconde de Ouro Preto.

41

Nárllen Dayane Advíncula-MiguelMestranda do Programa de Pós-gradu-ação em Letras: Estudos da Linguagem, Instituto de Ciências Humanas e Soci-ais, Universidade Federal de Ouro Pre-to, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

O Instituto de Ciências Humanas e So-ciais (ICHS) recebeu no dia 16 de maio o III Seminário de Bibliotecas Setoriais da UFOP organizado pelo Sistema de Bibliotecas e Informação (SISBIN), este ano com a temática Trabalho em equi-pe novas perspectivas para as biblio-tecas.

Pelo terceiro ano, esta atividade que já faz parte do calendário do SISBIN pode permitir a troca de experiências, apre-sentação de novos serviços e produtos, conhecer os novos servidores da UFOP, a integração, interação e descontração dos funcionários (bolsistas, anistiados, terceirizados) das 13 bibliotecas seto-riais localizadas nos campi das cidades de Ouro Preto, Mariana e João Monleva-de devido a dinâmica realizada, e pensar em novas ações para as bibliotecas.

Atividade como esta é importante, não somente para o produto final a ser apre-sentado no dia do evento, mas deste o seu início, sua preparação, onde mobi-lizam os colegas a expor suas habilida-des, criatividade, definir a temática, pro-por discussões, como também à prática de gestão das bibliotecas. Além de man-ter sua visibilidade,reconhecimento fren-

te à Universidade e poder trazer a parti-cipação de outros profissionais da UFOP para agregar conhecimento e conhecer o trabalho das Bibliotecas da Universidade Federal de Ouro Preto.

A oportunidade de o evento ter sido rea-lizado no campus de Mariana, agradou os funcionários dessa setorial, em po-der receber os colegas no seu ambien-te de trabalho, esta rotatividade de local é importante, e pode ser vista como um ponto positivo na organização do semi-nário. Receber o seminário em Mariana permitiu que os demais funcionários pu-dessem conhecer o novo espaço físico da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens, as novas ideias que serão propostas fu-turamente pela setorial, conhecerem o funcionamento do equipamento de au-toempréstimo.

O evento contou também com a partici-pação de Bibliotecários do IFMG campus Ouro Preto e da Biblioteca Pública tam-bém de Ouro Preto.

42

Cobertura do III Semi-nário de Bibliotecas Setoriais da UFOP

Michelle Karina Assunção Costa

@co

ntec

e

Cobertura do III Seminário de Bibliotecas Setoriais da UFOP

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos 43

Realização da dinâmica

Uni/Versos - ano 1, nº 3, junho de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

A publicação Uni/Versos convida todos os seus leitores a enviarem seus textos para o nosso próximo número.

Aceitaremos textos nas seguintes temáticas:

• que abordem a inter-relação entre a universidade e a sociedade;• sobre os projetos de Extensão e Pesquisa da UFOP;• resenhas de livros que fazem parte do acervo da Biblioteca do ICHS e que tenham sido publicados (ou reeditados) nos últimos 5 anos;• textos literários e artísticos nas seguintes modalidades: prosa (como conto, por exemplo), lírica (como poesia, por exemplo) e quadrinhos/charges;• textos que abordem temáticas relevantes da área de humanidades.

Orientações para envio

44

col@bore conosco!

* Os trabalhos de divulgação, técnico-científicos, en-saios e contos deverão conter no máximo 08 páginas, incluindo anexos, tabelas e gráficos; não incluir resu-mo e palavras-chave (incentivamos o uso de imagens em todos os textos, com as devidas referências).

* Quadrinhos e charges o limite é de 1 (uma) página em tamanho A4.

* Todos os textos devem ser digitados em papel A/4, fonte Arial ou Times, 12; o espaçamento entre linhas de 1,5 cm; com tabelas e gráficos na mesma versão (fonte Arial ou Times, 11); as margens superior e es-querda de 3 cm; margens inferior e direita de 2 cm.

* Notas (colocadas no rodapé com espaçamento sim-ples, tamanho 10): devem ser evitadas, utilizá-las em casos especiais, não utilizando este espaço para re-ferências bibliográficas.

* As citações longas (mais de três linhas), as legen-das das ilustrações e/ou tabelas devem ser digitadas com espaçamento simples.

* As referências devem ser digitadas com espaço sim-ples e separadas entre si por um espaço em branco simples, alinhadas à esquerda.

Lembramos ainda que os textos serão avaliados e podem ser publicados até mesmo em números futuros (informaremos aos autores se for essa a situação).

Os autores deverão enviar juntamente como texto uma pequena nota biográfica con-tendo: nome completo, instituição de formação e curso e o atual vínculo institucional (se tiver). Deve ser encaminhado ainda, uma foto (preferencialmente em arquivo do tipo *.jpeg ou *.png) que irá acompanhar o texto da publicação.

Os textos deverão ser encaminhados para o e-mail [email protected]

O prazo máximo de envio do texto para a publicação no próximo número é dia 30 de junho!!!