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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Rodrigo Manrich dos Santos A REMOÇÃO DO SERVIDOR MILITAR DO ESTADO NO PARANÁ CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Rodrigo Manrich dos Santos

A REMOÇÃO DO SERVIDOR MILITAR DO ESTADO NO PARANÁ

CURITIBA

2010

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A REMOÇÃO DO SERVIDOR MILITAR DO ESTADO NO PARANÁ

CURITIBA

2010

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Rodrigo Manrich dos Santos

A REMOÇÃO DO SERVIDOR MILITAR DO ESTADO NO PARANÁ

Monografia apresentada ao curso de Direito da

Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade

Tuiuti do Paraná como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Thiago Lima Breus

CURITIBA

2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

Rodrigo Manrich dos Santos

A REMOÇÃO DO SERVIDOR MILITAR DO ESTADO NO PARANÁ

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ______ de___________________ de 2010.

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Orientador Prof. Thiago Lima Breus Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

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Ao meu filho, Guilherme, que mesmo sem saber foi quem inspirou e

deu forças para enfrentar a jornada, obrigado pelo carinho transmitido

nesses cinco anos em que lhe faltei.

A primeira e mais talentosa professora, Sra. Clelia Salete Manrich,

muito obrigado Mãe.

Ao excelente corpo docente da Faculdade de Ciências Jurídicas da

Universidade Tuiuti do Paraná e, em especial, ao Professor Orientador

Thiago Lima Breus, obrigado pelos ensinamentos.

Aos colegas pela paciência que demonstraram nesse longo convívio,

que o fim do Curso não signifique o fim da parceria.

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RESUMO

O objeto da pesquisa é a Remoção do Servidor Militar do Estado no Paraná. Em

primeiro plano, identifica qual é a competência que a Constituição atribuiu a Polícia

Militar e apresenta sua estrutura. Em seguida, examina o procedimento de

movimentação de pessoal na seara da Administração Pública Militar, demonstra que a

remoção deve preencher os requisitos legais próprios do ato administrativo para se

conformar com o ordenamento jurídico. Expõe a maneira pela qual o procedimento

ocorre interna corporis. Constata que o Poder Judiciário tem invalidado atos de

remoção quando presentes vícios de finalidade ou carência de motivação. É relevante

o estudo porquanto a remoção do servidor militar é procedimento que reflete nos direitos individuais dos servidores e na segurança pública.

Palavras-chave: Servidor Militar do Estado do Paraná; Ato administrativo; remoção; requisitos legais.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADI .................................................................... Ação Direta de Inconstitucionalidade

ABERGS ......................... Associação dos Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul

BG .......................................................................................................... Boletim Geral

BPAMB ........................................................................ Batalhão de Polícia Ambiental

BPEC ........................................................... Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária

BPGD ............................................................................ Batalhão de Polícia de Guarda

BPM ................................................................................... Batalhão de Polícia Militar

BPTRAN ..................................................................... Batalhão de Polícia de Trânsito

Cap. .................................................................................................................. Capitão

Cb. ........................................................................................................................ Cabo

Cel. .................................................................................................................. Coronel

CIA ............................................................................................................. Companhia

CIA FRONT ....... Companhia Independente de Policiamento e Operações de Fronteira

CIA IND ............................................................................... Companhia Independente

CIA P CHOQ............................................................ Companhia de Polícia de Choque

CIA POL GDA .......................................................... Companhia de Polícia de Guarda

CIA P PORT .......................................... Companhia Independente de Polícia Portuária

CIPM ........................................................ Companhia Independente de Polícia Militar

CPC .................................................................... Comando do Policiamento da Capital

CPI .................................................................... Comando do Policiamento do Interior

EM .......................................................................................................... Estado Maior

LOB.................................................................................... Lei de Organização Básica

Maj. .................................................................................................................... Major

Pel .................................................................................................................... Pelotão

PGE ................................................................................ Procuradoria Geral do Estado

PMAM ............................................................................ Polícia Militar do Amazonas

PMMT ......................................................................... Polícia Militar do Mato Grosso

PMPR .................................................................................... Polícia Militar do Paraná

QPM ......................................................................................... Quadro Policial Militar

RISG ............................................................. Regulamento Interno de Serviços Gerais

RPMON ....................................................................... Regimento de Polícia Montada

Sd. ................................................................................................................... Soldado

Seç.. .....................................................................................................................Seção

Sgt. ................................................................................................................. Sargento

STJ ................................................................................... Superior Tribunal de Justiça

Sub-Ten .................................................................................................... Sub-Tenente

Ten. ................................................................................................................. Tenente

Ten-Cel ...............................................................................................Tenente-Coronel

TJPR ............................................................... Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

2 A DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DA SEGURANÇA PÚBLICA ................ 9 2.1 A COMPETÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR ................................................................ 12

3 A POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ ................................................................. 17 3.1 A ESTRUTURA PMPR ................................................................................................. 17 3.2 A APLICAÇÃO DO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO À PMPR ................... 21

4 A NATUREZA JURÍDICA DA REMOÇÃO ...................................................... 24 4.1 A REMOÇÃO E OS REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO ............................. 28

4.1.1 Competência ............................................................................................................... 28 4.1.2 Finalidade ................................................................................................................... 30

4.1.3 Forma .......................................................................................................................... 32 4.1.4 Objeto ......................................................................................................................... 33

4.1.5 Motivo e Motivação .................................................................................................... 34 4.2 A INVALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO E A REMOÇÃO .............................. 39

4.2.1 Da invalidade do ato de remoção por falta de motivação ............................................. 41 4.2.1 Da invalidade do ato de remoção por desvio de finalidade ........................................... 47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 54

ANEXOS .................................................................................................................. 56 Código da Polícia Militar do Estado - Lei 1943 - 23 de Junho de 1954 ................................. 56

Portaria do Comando-Geral nº 825, de 26 de junho de 2009 ................................................. 69

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1 INTRODUÇÃO

A Polícia Militar, órgão da administração direta do Estado e componente do

sistema da segurança pública, é responsável pela polícia ostensiva e a preservação da

ordem pública. É uma instituição que exerce funções fundamentais para a manutenção

do Estado de Direito, consolidou-se como o principal mecanismo do sistema de

segurança pública.

Sua estrutura básica, para a execução da atividade fim é composta por

unidades militares denominadas de Batalhões ou Regimentos, os quais são distribuídos

proporcionalmente no território por critérios funcionais ou de responsabilidade

territorial.

A fim de preencher seus quadros efetivos, a Polícia Militar utiliza-se do

concurso público para contratar seus servidores. Após a formação técnica, o integrante

da corporação é designado para assumir encargos em uma determinada unidade,

compondo o efetivo.

Ocorre que a atividade de segurança pública é dinâmica e está sempre

influenciada por fatores sociais, como a variação da densidade demográfica, as

transformações econômicas, ambientais e políticas.

Devido à natureza da atividade desempenhada, a necessidade de movimentar o

efetivo militar de uma unidade a outra é constante, ora em substituição das perdas, ora

para modernizar a atividade fim.

Esta pesquisa buscará compreender, sob o ponto de vista jurídico, como ocorre

o procedimento administrativo de remoção do efetivo da Polícia Militar do Paraná e

quais são os requisitos exigidos para a adequação deste ato administrativo ao

ordenamento jurídico.

Para desenvolvimento do tema, preliminarmente, verificar-se-á qual é a

competência que a Constituição Federal de 1988 atribuiu a Polícia Militar, bem como

qual estrutura possui o órgão para o desempenho de seus encargos.

Buscou-se amparo na doutrina administrativista e nos julgados dos Tribunais

Pátrios. Constatou-se que, frequentemente, o Poder Judiciário tem invalidado atos de

remoção de servidores, por entender contrário às prescrições legais.

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Ao eleger o tema “A Remoção do Servidor Militar do Estado no Paraná”

procurou-se conciliar o cumprimento da imposição curricular do Curso de Graduação

em Direito ao interesse relacionado à minha atividade profissional, nos nove anos de

serviços prestados junto a PMPR.

A pesquisa se concentra na instituição paranaense, pois, como se verá, cada

Estado possui competência para organizar administrativamente sua força policial, cada

qual com Leis e Regulamentos próprios e distintos entre si, o que impede que as

considerações tecidas sirvam para todas as instituições policiais militares.

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2 A DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DA SEGURANÇA PÚBLICA

A segurança pública é um tema que sempre esteve inserido nas normas

nacionais, pois está diretamente relacionada ao dever do estado de proteção da

sociedade e a consequente possibilidade de imposição de sanções aos seus cidadãos. O

marco normativo moderno que disciplina a segurança pública é a própria Constituição

de 1988, nela se encontra um capítulo específico sobre a temática.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Toda essa sistemática não tem razão de ser senão para assegurar os direitos e

garantias individuais consagrados no art. 5º, em especial, o direito fundamental a

segurança, previsto em seu caput: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,

nos seguintes termos [...]”.

O art. 144 define a quem compete promover a segurança pública, a quem ela

beneficiará e de que forma será exercida.

O dever de promover a segurança pública volta-se principalmente aos Estados

membros, contudo, a responsabilidade pela segurança pública é de todos, não

prescindindo da participação da sociedade, quer pessoas físicas ou jurídicas.

Para que a Administração Pública cumpra essa função essencial, o

Constituinte dividiu o encargo a uma multiplicidade de órgãos policiais, uns

subordinados a União e outros aos Estados, cada qual com competência distinta,

formando o sistema de segurança pública.

Essa divisão, segundo o Constitucionalista Alexandre de Moraes, “tem dupla

finalidade: o atendimento aos reclamos sociais e a redução da possibilidade de

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intervenção das Forças Armadas na segurança interna” (2007, p. 767). Ou seja, o

Constituinte vislumbrou a necessidade de um conjunto de órgão com funções

específicas para combater a insegurança, cada vez mais presente no cotidiano nacional

e, por razões históricas, afastou as Forças Armadas desse mister.

Ao definir as atribuições, o Constituinte delimitou a competência da União por

meio de um rol taxativo de deveres:

Art. 144 [...] § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado

e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e

empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha

repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,

segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o

contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros

órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido

pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido

pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

Com efeito, ressalvadas as competências federais, aos Estados membros foi

atribuída à responsabilidade central da segurança pública. Sobre o tema, os atuais

ensinamentos de José Afonso da Silva:

Quando a Constituição atribuiu as Polícias Federais a competência na

matéria, logo se vê que são atribuições em campo e questões delimitados e

estritamente enumerados, de maneira que, afastadas essas áreas

especificadas, a segurança pública é de competência da organização policial dos estados, na forma mesma prevista no art. 144, §§ 4º, 5º e 6º. (2009, p.

637).

No Paraná, em linhas gerais, o Constituinte Estadual ratificou a sistemática

nacional. No entanto, no que diz respeito à estrutura, instituiu a Polícia Científica, por

meio de Emenda Constitucional, como órgão da segurança pública autônomo. O art.

46 da Carta Estadual define:

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A segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos é

exercida, para a preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e

do patrimônio, pelos seguintes órgãos: I - Polícia Civil;

II - Polícia Militar;

III - Polícia Científica.

(Incluído pela Emenda Constitucional 10 de 16/10/2001)

Parágrafo único: O Corpo de Bombeiros é integrante da Polícia Militar.

Logo, o Estado dispõe, para a realização da segurança pública, da Polícia

Civil, da Militar, da Científica e do Corpo de Bombeiros. Destaca-se no Paraná, a

instituição da Polícia Científica como órgão independente da Polícia Civil. Formato

que, segundo alguns, é inconstitucional1.

Em contrário, o Corpo de Bombeiros ainda integrado à Polícia Militar tornou-

se exceção no Brasil. Há uma tendência nacional pela independência2 dos bombeiros,

em alguns Estados, como no Paraná e no Rio Grande do Sul, por exemplo, ainda

resiste o modelo de Corpo de Bombeiros vinculado e dependente da Polícia Militar.

Quanto às competências, extrai-se do texto constitucional federal que incumbe

à Polícia Civil, excetuada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a

apuração de infrações penais, exceto as militares.

Cabe a Polícia Militar a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública e,

ao Corpo de Bombeiros Militar, além das atribuições definidas em lei, incumbe à

execução de atividades de defesa civil.

O parágrafo 6º do art. 144 da CF ainda acrescenta que as polícias militares e

os corpos de bombeiros militares são forças auxiliares e reserva do Exército,

outorgando-lhes uma competência especial, pois poderão ser convocados pela União

para compor o efetivo das Forças Armadas, nas hipóteses enumeradas pelo Decreto nº

88.777:

1 Tramitam no STF duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade: a) ADI 2616, proposta pelo

Governador do Estado, sob o argumento de que a instituição da Pol. Científica autônoma padece de vício de constitucionalidade, por contrariar o art. 144 da CF e suprimir competência da Pol. Civil; b) ADI 2574, proposta

pelo Partido Liberal Social, sob os mesmos argumentos.

Ambas estão aguardando julgamento. (consulta no endereço eletrônico do STF em junho de 2010).

2 Ainda no final do século passado, alguns Estados do Brasil começaram a emancipar seus Corpos de

Bombeiros Militares (desvincular das Polícias Militares). Atualmente, no Brasil, são 23 Estados com as

Corporações completamente desvinculadas das Polícias Militares, gozando de grandes avanços no quesito

técnico profissional e reaparelhamento. Em nenhum outro lugar do mundo, o Corpo de Bombeiros está ligado à

atividade Policial. (ABERGS – Associação dos Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul).

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Art. 4º - A Polícia Militar poderá ser convocada, total ou parcialmente, nas seguintes hipóteses:

1) Em caso de guerra externa;

2) Para prevenir ou reprimir grave perturbação da ordem ou ameaça de

sua irrupção, e nos casos de calamidade pública declarada pelo Governo

Federal e no estado de emergência, de acordo com diretrizes especiais baixadas pelo Presidente da República.

A norma é taxativa, são circunstâncias especiais que justificam a convocação,

infere-se que, quando da convocação, o comando das tropas fica a cargo do Chefe do

Poder Executivo Federal.

2.1 A COMPETÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR

A normatização trazida pela Constituição, delimitando a competência da

Polícia Militar, define a atividade a ser desempenhada pelo órgão. Essa prévia

cognição é essencial para a abordagem do tema da remoção do servidor militar.

O art. 144 da Constituição em seu parágrafo 5º fixa a competência das polícias

militares: “cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de

bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de

atividades de defesa civil”.

A Constituição do Estado do Paraná foi mais além:

Art. 48. À Polícia Militar, força estadual, instituição permanente e regular,

organizada com base na hierarquia e disciplina militares, cabe a polícia ostensiva, a preservação da ordem pública, a execução de atividades de

defesa civil, prevenção e combate a incêndio, buscas, salvamentos e socorros

públicos, o policiamento de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de mananciais, além de outras formas e funções definidas em lei.

Prima facie, a Constituição Estadual parece ampliar as competências da

Polícia Militar, impondo-lhe atividades que a Constituição da República não o fez.

Em verdade, o art. 48 da Carta Estadual dispõe sobre a atribuição de polícia

ostensiva juntamente com a competência dos bombeiros, de forma aglutinada em um

só parágrafo, pois em nosso Estado o Corpo de Bombeiros e Polícia Militar

compreendem a mesma instituição.

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O artigo também inclui algumas espécies3 de policiamento ostensivo, como o

policiamento de trânsito e o rodoviário. Enumeração parcial e desnecessária,

porquanto essas atividades decorrem naturalmente da execução da atividade de polícia

ostensiva. Não obstante a impropriedade, o dispositivo em nada altera a competência

nuclear da Polícia Militar, qual seja, a execução do policiamento ostensivo com o

objetivo de manter a ordem pública.

Para melhor compreensão dessas atribuições, faz-se necessário buscar o

sentido dos termos polícia ostensiva e ordem pública.

O vocábulo polícia há tempo se distanciou do seu significado epistemológico4.

Ordinariamente, pode servir para designar a instituição (genérica) encarregada da

manutenção da ordem pública, podendo ser individualizada com os mais diversos

adjetivos: federal, civil, militar e etc. Nesses termos, polícia ostensiva é a instituição

policial qualificada com o adjetivo ostensivo, que por sua vez significa:

1. Que se pode mostrar ou ostentar; ostensível, ostensório. 2. Próprio para se mostrar; ostensível, ostensório.

3. Que se patenteia; aparente, ostensível, ostensório.

4. Que ostenta [v. ostentar (1)]; ostentativo; ostentoso, ostensível, ostensório. (FERREIRA, 2004).

Não é esse o sentido da expressão polícia ostensiva inserida no parágrafo 5º do

art. 144 da CF/1988.

Quando a Constituição menciona que à Polícia Militar caberá a polícia

ostensiva, significa que o desenvolvimento das atividades das Polícias Militares se

dará por meio do exercício do poder de polícia.

Para Alexandre de Morais, “poder de polícia é a atividade do Estado

consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse

público”. (2007, p. 117).

3 São tipos de Policiamento ostensivo: ostensivo geral, urbano e rural; de trânsito; florestal e de

mananciais; rodoviária e ferroviário, nas estradas estaduais; portuário; fluvial e lacustre; de radiopatrulha

terrestre e aérea; de segurança externa dos estabelecimentos penais do Estado; outros, fixados em legislação da

Unidade Federativa, ouvido o Estado-Maior do Exército através da Inspetoria-Geral das Polícias Militares.

(Decreto nº 88.777/1983, art. 2º, item 27).

4 Origina-se do grego politeia, sendo utilizado para designar todas as atividades da cidade-estado (polis),

sem qualquer relação com o sentido atual. (MORAIS, 2007, p. 115).

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Na doutrina administrativista desenvolveram-se os conceitos de polícia

administrativa e polícia judiciária, esta direcionada a obtenção de dados relativos à

ocorrência de condutas tipificadas como infração penal e, aquela, se constitui do

instrumento que possui o Estado para limitar a atuação dos particulares, com o fim de

assegurar o exercício dos direitos fundamentais da coletividade.

O exercício da polícia administrativa não é exclusividade dos órgãos de

segurança pública, a atuação se dá nas mais diversas áreas, como na saúde, educação,

trabalho, previdência e etc. Por isso, diz-se que o poder de polícia administrativa

exercido pelos órgãos da segurança pública é apenas uma das faces da intervenção do

Estado na conduta dos particulares. (MORAIS, 2007).

O legislador Constituinte, ao definir que cabe a Polícia Militar a polícia

ostensiva, constituiu o órgão de competência para o exercício da polícia

administrativa. Competência que deve ser realizada por meio da execução do

policiamento ostensivo.

Policiamento ostensivo, por sua vez, não é termo novo na seara da segurança

pública, o Executivo Federal já o tratava, mesmo antes da Constituição de 1988:

Decreto

5 nº 88.777/1983

Art. 2º, item 27: policiamento ostensivo é ação policial, exclusiva das

Polícias Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados

sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública.

Entretanto, policiamento ostensivo tem significado mais largo. Tecnicamente,

policiamento ostensivo é aquele executado por Policiais identificados de imediato pelo

uniforme ou equipamento que utilizam. Sua função imediata é preventiva, é revelar a

presença física diuturna do aparato policial do Estado nas áreas públicas para que,

assim, as condutas criminosas sejam inibidas.

A atuação repressiva, em primeiro plano, não está contida no conceito de

policiamento ostensivo, a repreensão é atividade secundária, só desempenhada quando

5 O Decreto nº 88.777/1983 aprovou o regulamento para as polícias militares e corpos de bombeiros

militares, denominado R-200, seu art. 2º trás uma série de conceitos relativos à atividade policial militar, como

policiamento ostensivo. (item 27).

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o estado de tranquilidade é rompido, quando infrações penais são praticadas ou estão

na iminência de acontecer.

Entretanto, a possibilidade de uma atuação repressiva instantânea é o fator que

sustenta a eficácia do policiamento ostensivo. Ou seja, a presença ostensiva da Polícia

Militar não inspira condutas criminosas no local em que ela estiver, pois o potencial

infrator teme a repreensão dos policiais, que poderá culminar na privação de sua

liberdade.

Este efeito só é possível devido à característica ostensiva que se atribuiu a

Polícia Militar. O mesmo efeito não é alcançado com o policiamento velado.

Ressalta-se que a execução do policiamento ostensivo - estar presente junto

ao público - é a função principal que a Constituição impôs a Polícia Militar. É verdade

que muitas outras atribuições lhe são delegadas. Em alguns casos, tantas são as

funções imputadas, que a função primordial torna-se segundo plano.

Resta delimitar o significado de ordem pública, porquanto seu conceito soma-

se ao de polícia ostensiva, definindo as atividades do órgão.

O citado R-200, aprovado pelo Decreto nº 88.777/1983, tratou de conceituar

ordem pública:

Art. 2º, item 21: Ordem Pública - Conjunto de regras formais, que emanam

do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações

sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e

constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.

Segundo Álvaro Lazzarini (1998), o conceito aprovado pelo Decreto se mostra

inadequado e confuso. Ordem pública não pode se reduzir a um conjunto de regras

formais, nem tão pouco delimitar a atuação ao exercício da fiscalização.

Também é visível no conceito a confusão entre o ordenamento jurídico e a

própria ordem pública, como se esta fosse o reflexo daquele. Ora, o “conjunto de

regras formais” que visa regular as “relações sociais de todos os níveis” constitui o

próprio ordenamento jurídico e não a ordem pública.

Melhor definição se encontra nas lições de Meirelles, o qual conceituou ordem

pública como “situação de tranquilidade e normalidade que o Estado assegura – ou

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deve assegurar – às instituições e a todos os membros da sociedade, consoante às

normas jurídicas legalmente estabelecidas” (1998, p. 92).

Com efeito, ordem pública é situação fática que transcende a figura jurídica.

Resumidamente, pode-se afirmar que ordem pública é o estado de convivência pacífica

entre os membros da sociedade. Quando há a deflagração de ilícitos penais, há a

ruptura da convivência pacífica e, por consequência, alteração na ordem pública.

O texto constitucional, ao dispor que às “Polícias Militares cabem a polícia

ostensiva e a preservação da ordem pública”, em outras palavras, definiu que a função

do órgão é a manutenção do estado de convivência pacífica entre os membros da

sociedade por meio do policiamento ostensivo.

Essa compreensão é importante, porquanto define o modo de agir do órgão,

restringindo a atuação. Trata-se de delimitar e conter a atividade policial, para evitar a

atuação ampla e irrestrita, que poderia ensejar em violação de direitos fundamentais,

sob o pretexto da manutenção da ordem pública.

Pontuada a competência, indaga-se qual é a forma pela qual o órgão vai

desempenhar seu encargo. Entretanto, esta questão se distancia dos conceitos jurídicos

e adentra na esfera da ciência da Administração Pública.

Cada corporação considerada desenvolve seu próprio processo de

policiamento ostensivo, nos quais é possível se encontrar semelhanças e diferenças.

Não poderia ser de outra forma, pois o vasto território brasileiro com suas diferenças

regionais impõe a variação na forma de execução do policiamento ostensivo, com as

adaptações de cada região.

Em última análise, a função precípua da Polícia Militar, definida pela

Constituição da República, é promover a manutenção da ordem pública por meio do

policiamento ostensivo, este realizado com a presença física de policiais no ambiente

público antes da eclosão dos ilícitos.

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17

3 A POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ

As Polícias Militares do Brasil são originárias das primeiras forças que

constituem hoje o Exército brasileiro. Afirma-se6 que a criação da Polícia Militar do

Paraná deu-se em 10 de agosto de 1854, na forma de uma unidade de caçadores, com a

denominação de Companhia de Força Policial. A história da PMPR mostra sua

participação em vários episódios importantes do País, como a Guerra do Paraguai, a

Revolução Federalista, a Guerra do Contestado e a Revolução de 1924.

Somente com o fim do Estado Novo é que a PMPR passou a voltar-se para a

proteção do cidadão. Desde então, progressivamente o órgão tem evoluído, buscando

adequar-se aos anseios da sociedade paranaense.

3.1 A ESTRUTURA PMPR

A Polícia Militar do Paraná – PMPR – está organizada por um complexo de

leis, cuja grande maioria é anterior a Constituição de 1988 e foram alteradas

paulatinamente, com o propósito formal de se adequarem a evolução da instituição e

da sociedade.

A própria Constituição da República prevê no parágrafo 7º do art. 144 que “a

lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela

segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades”.

Segundo José Afonso da Silva, no plano federal a lei, como o Constituinte

quisera, ainda não se concretizou (2009, p. 638). Portanto, naquilo que não confronta a

Constituição da República, foi recepcionado o Decreto-Lei nº 677 de 02 de julho de

1969, o qual traz regras importantes como as hipóteses de convocação pela União das

Polícias Militares, como deve ser a estrutura dos órgãos, a fiscalização exercida pelo

Exército e etc.

6 Fonte: www.policiamilitar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=3, acesso em 25 abr.

2010.

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Ainda assim, cada unidade da federação possui competência7 para organizar

sua Polícia. Com efeito, cada estado estrutura o órgão de modo à melhor satisfazer as

necessidades locais.

No que é pertinente à estrutura administrativa, a PMPR está basicamente

organizada pela Constituição Estadual; Lei Estadual nº 1.943 de 23 de Junho de 1954,

denominada de Código da PMPR e Lei Estadual nº 6.774 de 08 de Janeiro de 1976,

chamada de Lei de Organização Básica.

A Constituição Estadual, no art. 48, definiu a PMPR como “força estadual,

instituição permanente e regular, organizada com base na hierarquia e disciplina

militares”.

Com exceção do contido na Constituição Estadual, aquelas normas possuem

uma série de dispositivos que foram alterados por leis posteriores à medida que o

órgão evoluiu. Ademais, possuem regras não mais aplicáveis por contrariarem

preceitos constitucionais, mas que não sofreram revogação expressa.

Esse arcaísmo legal impõe ao administrador uma hermenêutica apurada e que

não prescinde do cotejamento com a Constituição da República.

Superada essas preliminares, convém destacar os dispositivos que se

relacionam com o tema remoção do servidor militar do Estado no Paraná.

O primeiro apontamento denota que a PMPR é órgão permanente que compõe

estrutura administrativa do Estado. A Lei Estadual nº 6.774 de 08 de Janeiro de 1976,

a Lei de Organização Básica, ordenou a estrutura administrativa interna da corporação,

subdividindo-a em órgãos de direção, de apoio e execução:

Art. 5º. A Polícia Militar é estruturada em órgãos de direção, órgãos de apoio

e órgãos de execução.

Art. 6º. Os órgãos de direção realizam o comando e a administração da

Corporação, competindo-lhes:

I - Incumbir-se do planejamento em geral, visando à organização da Corporação, às necessidades em pessoal e em material e ao emprego da

Polícia Militar para o cumprimento de suas missões;

II - acionar, por meio de diretrizes e ordens, os órgãos de apoio e os de

execução;

7 Art. 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os

princípios desta Constituição.

§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.

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19

III - coordenar, controlar e fiscalizar a atuação dos órgãos de apoio e dos de

execução.

Art. 7º. Os órgãos de apoio realizam as atividades-meio da Corporação,

atendendo às necessidades de pessoal, de animais e de material de toda a

Polícia Militar. Atuam em cumprimento das diretrizes e ordens dos órgãos

de direção.

Art. 8º. Os órgãos de execução são constituídos pelas unidades

operacionais da Corporação e realizam as atividades-fim da Polícia Militar; cumprem as missões ou a destinação da Corporação. Para isso

executam as diretrizes e ordens emanadas dos órgãos de direção e são

apoiados, em suas necessidades de pessoal, de animais, de material e de serviços, pelos órgãos de apoio.

[grifo nosso]

Como se vê, a estrutura básica para a execução da atividade fim – o próprio

policiamento ostensivo – é composta por unidades operacionais8, denominadas de

Batalhões ou Regimentos, os quais são distribuídos proporcionalmente no território

por critérios funcionais ou de responsabilidade territorial.

A responsabilidade territorial é um dos princípios que orienta a execução do

policiamento ostensivo. Trata-se de conferir a determinado grupo de militares

comandados a responsabilidade pela manutenção da ordem pública em um dado

espaço físico previamente delimitado, ou seja, a circunscrição territorial.

A mencionada Lei de organização básica estruturou o Estado com o seguinte

desdobramento:

Art. 49. O Estado será dividido em áreas, em função das necessidades

decorrentes das missões normais de Polícia Militar e das características regionais; essas áreas serão atribuídas à responsabilidade total dos batalhões

ou companhias independentes de Polícia Militar.

§ 1º. Cada área de batalhão de Polícia Militar será dividida em subáreas atribuídas às companhias de Polícia Militar subordinadas; as subáreas, por

sua vez, serão divididas em setores de responsabilidade de pelotões de

Polícia Militar.

§ 2º. Na Capital e nas grandes cidades do Interior, as áreas de responsabilidade dos batalhões de Polícia Militar poderão deixar de ser

divididas.

§ 3º. Os Comandos de Batalhões, em todo o Estado, e os comandos de companhia e pelotão de Polícia Militar, no interior, deverão ser sediados na

área, subárea ou setor de sua responsabilidade.

8 Unidades Operacionais, Organização Policial Militar (OPM), Unidade Militar, Batalhão de Polícia

Militar ou Regimento de Polícia Militar são todos termos sinônimos.

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Essa característica é um traço importante na abordagem do tema remoção,

porquanto, de plano, impõe a divisão do recurso humano, da tropa militar. A

disposição das unidades no terreno pode ser melhor compreendida através da

visualização das unidades no mapa físico9 do Estado.

Atualmente, essa é a maneira pela qual estão distribuídas as unidades

operacionais da PMPR. Os limites não são perenes, podendo ocorrer o

desmembramento, incorporação, fusão ou criação de unidades, sempre que os critérios

técnicos de aplicação do policiamento ostensivo assim exigirem.

A dinâmica da criminalidade, o aumento populacional de determinada região

ou mesmo uma política de segurança pública diferenciada são fatores que podem

ensejar na criação de novas unidades ou extinção de outras. Procedimento que exige a

edição previa de lei.

9 Nota: Imagem extraída do sítio: www.pm.pr.gov.br. Acesso em 25 abr. 2010.

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As alterações estruturais quando da criação ou extinção de unidades PMPR

fazem com que o administrador tenha de adequar o efetivo à nova realidade estrutural

e importam sempre em remoção do servidor de uma unidade para outra.

3.2 A APLICAÇÃO DO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO À PMPR

A Administração Pública é formada por um complexo de órgãos, os quais são

incumbidos da realização de uma série de atividades, destinadas principalmente a

atender as necessidades da população (MEDAUAR, 2009, p. 106).

Para a condução das atividades, entre as quais se inclui a manutenção da

ordem pública, o Estado, na figura da Administração Pública, relaciona-se com os

particulares pautado na observância à lei.

A relação entre o Estado e seus cidadãos na forma em que ocorre hoje só foi

possível com o advento do estado de direito, termo que, em síntese, significa a

submissão do Estado ao Direito e sua colocação no mesmo nível dos particulares

enquanto sujeitos à lei.

Embora nivelados no que diz respeito à submissão a lei, administração e

administrados não se relacionam como se particulares fossem. A disciplina dessas

relações é pautada por um leque de normas especialmente consideradas, denominado

regime jurídico administrativo.

A expressão regime jurídico é utilizada para indicar um feixe de normas

dentro do conjunto total do ordenamento jurídico, constituindo-se um subsistema

normativo. (JUSTEN FILHO, 2008, p. 42).

Com efeito, o regime jurídico administrativo é o conjunto de traços, de

conotações, que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração

Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa.

Resume-se em prerrogativas e sujeições. (DI PIETRO, 2009, p. 60).

Desse conjunto de traços, têm grande relevância para a Administração Pública

os princípios. Para Odete Medauar,

Os órgãos e entes da Administração direta e indireta, na realização das

atividades que lhes competem, regem-se por normas. Além das normas

específicas para cada matéria ou setor, há preceitos gerais que informam

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amplos campos de atuação. São princípios do direito administrativo. Tendo

em vista que as atividades da Administração pública são disciplinadas

preponderantemente pelo direito administrativo, tais princípios podem ser considerados também princípios jurídicos da Administração pública

brasileira. (2009, p. 124).

Considerando que a Polícia Militar é órgão da administração direta do Estado

e, portanto, está inserida no corpo estatal, compondo o complexo de órgãos, suas ações

ou suas atividades são traduzidas como ações da Administração Pública.

Por desempenhar atividades da Administração Pública, submete-se ao regime

jurídico administrativo, tal qual os órgãos civis, muito embora possam ser observadas

algumas diferenças, em razão da característica militar.

A peculiaridade apontada diz respeito tão somente ao regime administrativo

quando o objeto é o servidor. O regime jurídico dos servidores militares difere dos

civis por afastar daqueles algumas garantias constitucionais e impor deveres

específicos.

Rodrigo Perim de Lima, em monografia sobre o regime jurídico

administrativo dos servidores estaduais destacou: “Os princípios e regras gerais da

administração Pública, norteadores do regime jurídico dos servidores públicos civis,

quando postos frente às peculiaridades do regime jurídico dos militares, apresentam

plena aplicabilidade, apenas com algumas ressalvas estabelecidas pelos artigos 42 e

142 da própria Constituição Federal”. (2007, p. 77).

Não se vislumbra, contudo, a mesma dessemelhança quando o objeto tratado

pelo regime administrativo é a Administração Militar. A Polícia Militar é órgão da

administração direta do Estado, qualificação que determina sua fiel submissão a lei.

Para Medauar, “a submissão do Executivo à lei só se realizou com o

surgimento do Estado de Direito, que tem como um de seus postulados básicos o

princípio da legalidade, aí incluída a idéia de sujeição ao direito. Na idéia básica do

Estado de Direito, a atuação do Estado e de qualquer de seus órgãos há de pautar-se

pelo direito” (2009, p. 137).

Por seu turno, as atividades do órgão devem conduzidas pelos Princípios

constitucionais da Administração Pública, tanto os insertos no art. 37 da Constituição

da República (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência),

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23

quanto os acrescidos pela Carta Estadual10

(razoabilidade, motivação e

economicidade).

10 Art. 27. A administração pública direta, indireta e fundacional, de qualquer dos Poderes do Estado e

dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade,

eficiência, motivação, economicidade e, também, ao seguinte:

[...]

(Redação dada pela Emenda Constitucional 11 de 10/12/2001)

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4 A NATUREZA JURÍDICA DA REMOÇÃO

A estruturação da PMPR na forma de desdobramento em unidades com

responsabilidade territorial implica em remoção constante do pessoal militar, ora em

substituição das perdas, ora para modernizar a atividade fim.

Para compor seu quadro de pessoal, a instituição, atualmente, vale-se da

admissão de brasileiros natos ou naturalizados por meio de concurso público. Há duas

classes distintas de servidores na corporação, a de Oficial Combatente ou Especialista

e a de Praças, sendo que o acesso se dá sempre no cargo inicial da respectiva carreira.

Depois de esgotadas as fases do concurso e do curso de formação, o candidato é

classificado em uma unidade de acordo com as regras preestabelecidas pelo Edital.

A quantidade de servidores que compõem o quadro efetivo da PMPR é

definida por lei. A última alteração foi inserida pela Lei Estadual nº 16.138/2009, a

qual fixou o efetivo da PMPR em 21.880 (vinte e um mil oitocentos e oitenta)

militares estaduais na ativa. Trata-se de norma programática, a fixação em lei é o

marco inicial para a contratação dos servidores, que fica sempre condicionada a outros

fatores, como a possibilidade orçamentária do Estado.

Segundo dados obtidos junto a Diretoria de Pessoal do órgão, em abril de

2010, a PMPR contava com pouco mais de 17.000 (dezessete mil) militares.

Uma vez classificado o militar em uma unidade, a qualquer tempo poderá o

administrador, com competência para tal, promover a movimentação do servidor.

A remoção do servidor militar é o ato que determina a mudança do local onde

ele exerce sua função. Pode significar a simples alteração de ambiente de trabalho ou

função, não gerando transtornos maiores no cotidiano do militar ou, ainda, pode

acarretar no deslocamento a outro município.

Considerando a vasta extensão territorial do Paraná, a remoção do militar para

unidade sediada em município diverso, pode ocasionar na mudança definitiva (ou até

que outra remoção ocorra) do servidor e sua família para uma cidade distante até 500

quilômetros de onde estava.

Não obstante o estado ressarcir as despesas materiais geradas com a remoção,

o servidor movimentado pode vir a ter outros prejuízos, tanto de ordem material,

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quanto de ordem emocional, como por exemplo: a matrícula própria ou de familiares

em nova instituição de ensino, o afastamento de familiares e amigos, a necessidade da

adaptação à nova comunidade, a um novo clima e etc.

Em contrapartida, tem a administração pública o dever de utilizar as melhores

técnicas de gerenciamento de pessoal, distribuindo e movimentando seu efetivo

sempre que necessário, de forma a melhor satisfazer as necessidades da sociedade,

atendendo sempre o interesse público.

Por tudo isso, é que a remoção do servidor militar deve ser avaliada com

cautela e zelo. Assegurando a adequada utilização do recurso humano com a

observância aos princípios da administração pública.

A PMPR conta com um setor responsável pelas movimentações, trata-se da

Diretoria de Pessoal que, segundo a Lei de Organização Básica, é o órgão de direção

setorial do Sistema de Pessoal que se incumbe do planejamento, execução, controle e

fiscalização das atividades relacionadas com pessoal policial-militar e civil,

englobando a classificação e movimentação de pessoal.

É considerado um dos mais importantes setores da corporação, pois a

eficiência da PMPR está diretamente ligada à existência de um corpo de militares

devidamente qualificados e em quantidade adequada a atender as demandas sociais.

O Regulamento Interno de Serviços Gerais – RISG –, aprovado pelo Decreto

Estadual nº 7.339, de 08 de junho de 2010, enumera as atividades da Diretoria de

Pessoal. Estão relacionadas com a movimentação as seguintes atribuições:

Seção VIII

Das atribuições orgânicas da Diretoria de Pessoal (DP) Art. 56. Cabe à DP:

I - elaborar os planos e ordens decorrentes das diretrizes do Comandante-

Geral sobre a política de pessoal da Corporação; II - orientar, coordenar, fiscalizar, controlar e executar as atividades

relacionadas com a vida funcional do pessoal, mantendo registros

individuais; III - controlar o efetivo geral da Corporação, mantendo atualizados os

respectivos registros;

IV - realizar o controle do pessoal que frequenta cursos ou estágios fora da

Corporação, bem como dos militares estaduais à disposição de órgãos ou autoridades;

V - manter o controle do pessoal empregado na atividade-fim e na atividade-

meio, bem como dos agregados ou afastados da Corporação;

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VI - publicar os editais para ingresso na PMPR e coordenar, controlar e

fiscalizar as atividades de recrutamento e de seleção;

VII - regular e processar o ingresso na Corporação; VIII - planejar, coordenar, controlar e fiscalizar as atividades de

identificação funcional da PMPR;

IX - preparar os atos de movimentação de militares estaduais, de acordo com

as ordens do Comandante-Geral e as disposições legais e regulamentares; X - preparar os atos de exclusão, agregação, concessão e cassação de

licenças a serem editados pelo Comandante-Geral, bem como de

transferência para a reserva ou reforma de militares estaduais; [...]

XX - elaborar sumários e relatórios de pessoal;

XXI - cooperar na elaboração dos anteprojetos de legislação referentes a

pessoal; XXII - realizar estudos e inspeções de caráter setorial, propondo ao

Comandante-Geral medidas para aprimorar o Sistema de Pessoal;

XXIII - estabelecer rotinas internas e procedimentos relativos a direitos, deveres e incentivos de pessoal;

XXIV - desenvolver, orientar, coordenar e controlar as atividades setoriais

relativas à pesquisa e desenvolvimento de competências, organização e métodos, além de auditoria de pessoal;

XXV - propor ao EMPM as medidas que visem a aprimorar as diretrizes

gerais e a aperfeiçoar a legislação e a política de pessoal;

[...] XXVIII - executar as atividades relativas ao banco de permutas na

Corporação;

Todas as atribuições da Diretoria de Pessoal nada mais são do que ações,

condutas ou fazeres próprias da administração pública.

A doutrina administrativista cuidou de classificar tais ações desenvolvidas

pela administração pública.

Para Di Pietro, dentre os atos da administração, incluem-se: a) atos de direito

privado; b) atos materiais; c) atos de conhecimento, opinião juízo ou valor; d) atos

políticos; e) contratos e f) os atos administrativos propriamente ditos. Esses últimos

identificados como aqueles que constituem declaração do Estado ou que lhe faça às

vezes, que produzem efeitos jurídicos imediatos, com observância na lei, sob o regime

jurídico de direito público e sujeitos ao controle do Poder Judiciário. (2009, p. 190).

Dentre todos os atos da administração, a remoção do militar de uma unidade a

outra é conduta da administração que se identifica com o ato administrativo, pois:

a) é declaração do Estado, a PMPR é instituição componente do sistema de

órgãos, suas manifestações constituem a própria vontade do Estado;

b) produz efeito imediato;

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c) é ato previsto nas normas da instituição:

Portaria do Comando-Geral nº 825/2009

Art. 1º Para efeito desta portaria são estabelecidos os seguintes conceitos:

[...] VI - movimentação: denominação genérica do ato administrativo realizado

com vistas a assegurar a presença do efetivo necessário à eficiência

operacional e administrativa da Corporação, atribuindo, ao militar estadual,

comissão, encargo, função, unidade ou fração de OPM, compreendendo: a) classificação: modalidade de movimentação que atribui ao militar estadual

uma função, de acordo com seu posto ou graduação, definida no QO;

b) transferência: modalidade de movimentação do militar estadual de uma para outra unidade, ou no âmbito de uma mesma OPM, ou ainda de uma

para outra fração de unidade, destacada ou não, e que se realiza por iniciativa

da autoridade competente, integrando-o ao estado efetivo; c) designação: modalidade de movimentação de um militar estadual para:

1) realizar curso ou estágio em estabelecimento estranho ou não à Polícia

Militar, no país ou no exterior;

2) exercer comissão no país ou no exterior; 3) desempenhar encargo;

d) e é ato sujeito ao controle do Judiciário.

Conceito de ato administrativo que bem se relaciona com a remoção do

servidor é o de Hely Lopes Meireles:

ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da

Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato

adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria. (2009, p. 152).

Ao servidor removido é imposta a obrigação de vir a desempenhar sua função

em nova unidade, não cabendo sua manifestação quanto o mérito do ato, nem tão

pouco a chancela prévia do Judiciário. Como se verá adiante, o ato administrativo é

colocado em execução pela própria administração pública.

Não obstante a vasta produção científica sobre o ato administrativo, não há

conceito gravado em lei, para Weida Zancaner:

No que tange a noção de ato administrativo, necessitamos frisar a inexistência, no Direito pátrio, de um conceito jurídico-positivo dessa

espécie de ato propiciou, como conseqüência, que cada jurista que versasse

sobre o tema elaborasse seu próprio conceito, com o fito de reunir as características que julgava essenciais à tipificação do mesmo. (2001, p. 24).

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Para o enfrentamento da temática remoção buscou-se entre as diversas teorias

formuladas sobre o ato administrativo a que mais se identifica com a movimentação do

servidor. Não se trata de eleger a “melhor” doutrina, e sim a mais adequada à espécie,

a mais útil.

Em virtude disso, é que se emprestam as lições de Hely Lopes Meireles, para o

qual o ato administrativo deve ser estudado levando em consideração os requisitos

necessários a sua formação: competência; finalidade; forma; motivo e objeto. (2009, p.

154).

4.1 A REMOÇÃO E OS REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO

4.1.1 Competência

Como visto, o ato administrativo é declaração unilateral de vontade da

Administração Pública. No entanto, para “declarar sua vontade”, ela necessita de

servidores com poderes delineados em Lei para a materialização dos atos.

“Entende-se por competência administrativa o poder atribuído ao agente da

administração para o desempenho específico de suas funções. A competência resulta

da lei e por ela é delimitada”. (MEIRELES, 2009, p. 154).

A competência não pode ser exercida segundo os critérios pessoais do

administrador. Seu exercício é obrigatório. Também não pode ser transferida ou

permutada por vontade de seu titular, pois é intransferível. Contudo, pode ser avocada

ou delegada, quando houver previsão legal. (GASPARINI, 2005, p. 62).

Em relação ao requisito competência é possível aferir no plano fático uma

série de circunstâncias que podem redundar na invalidação do ato, como, à guisa de

exemplo, a incompetência funcional do agente público que remove servidor militar

que não lhe é subordinado, isto é, não possui o agente administrador competência

hierárquica sobre o agente administrado.

A competência funcional para a realização da remoção de servidor da PMPR

encontra-se disciplinada pela Lei Estadual nº 1.943/1954, Código11

da PMPR:

11 A redação do texto legal encontra-se grafada de acordo com as regras ortográficas da década de

cinquenta, época de edição da Lei.

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CAPÍTULO III

Das Nomeações, Classificações e Ingresso.

SECÇÃO I Das Nomeações Art. 13. A nomeação para o cargo de Comandante Geral dar-se-á,

exclusivamente, por decreto do Chefe do Poder Executivo.

Art. 14. A nomeação de oficial para posto em que se exija profissional diplomado em curso de ensino superior, ou quando depender da conclusão

de curso especializado instituído pela Corporação, dar-se-á mediante

proposta do Comandante Geral, tudo na forma especificada neste Código.

Art. 15. O oficial pode desempenhar, em comissão, cargo de confiança do

Govêrno do Estado ou do Govêrno Federal ou do Govêrno de outro Estado

da Federação, dependendo, para êstes últimos casos, de expressa autorização, por decreto, do Chefe do Executivo.

SECÇÃO II Das Classificações

Art. 16. A classificação dos coronéis e tenentes-coronéis da Polícia Militar

do Paraná, nas diversas funções da Corporação, é feita exclusivamente por decreto do Chefe do Poder Executivo, mediante proposta do Comandante-

Geral.

(Redação dada pela Lei 14806 de 20/07/2005)

Parágrafo único. São Classificados por livre escolha do Chefe do Poder

Executivo os oficiais da Casa Militar do Govêrno e Comandante da Escolta Governamental e sob proposta do Secretário do Interior e Justiça o seu

assistente militar e sob proposta do mesmo Secretário e do Chefe de Polícia,

os seus respectivos ajudantes de ordens.

Art. 17. A classificação dos demais oficiais é feita pelo Comandante Geral.

Art. 18. A classificação das praças se fará na forma do Regulamento Interno e de Serviços Gerais (R.I.S.G.).

O Regulamento Interno de Serviços Gerais também trata da competência:

Art. 4º Ao Comandante-Geral compete a administração, o comando e o emprego da Corporação, cabendo-lhe:

[...]

VI - movimentar oficiais e praças e afastá-los de suas funções, respeitadas disposições legais;

Como se observa, são sujeitos competentes para a movimentação do pessoal,

ora o Comandante Geral da corporação, ora o Governador do Estado. A competência

se define em razão da condição funcional do servidor removido.

A competência exercida pelo chefe do Executivo para a movimentação de

certa categoria de servidores – coronéis, tenentes-coronéis e oficiais da Casa Militar e

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30

Escolta Governamental – decorre da natureza dos cargos exercidos (funções de

gerência e chefia), existindo a necessidade de o Governo exercer controle direto sobre

aqueles servidores.

Historicamente12

, o Comandante Geral tem delegado a competência de

movimentação para o Diretor de Pessoal, sob a justificativa da conveniência em

delegar aos escalões subordinados a resolução de assuntos que prescindem de sua

decisão. É o que ocorre atualmente, a Portaria do Comando Geral, de nº 825, de 26 de

junho de 2009, trata da delegação:

Art. 2º Caberá ao Diretor de Pessoal: I - proceder à movimentação de oficiais subalternos, praças especiais e

praças, obedecidos aos QOs em vigor;

Assim, excluída a competência do Governador, compete ao Comandante Geral

ou ao Diretor de Pessoal a edição de ato administrativo para remoção de servidor. Na

prática, é o Diretor de Pessoal quem detém toda a instrumentalização do ato.

4.1.2 Finalidade

É a consequência que se pretende com a edição do ato, o resultado previsto

pelo ato e, em última análise, o objetivo de interesse público a atingir. Pode ser

expressamente previsto ou deduzido do ordenamento. A edição do ato deve estar

diretamente ligada a sua finalidade, sob pena de invalidade. (MEIRELLES, 2009, p.

155).

A maioria das Polícias Militares do Brasil possuem regulamentos próprios que

disciplinam as movimentações de seus efetivos. O vigente no Estado do Amazonas

trata das finalidades da movimentação:

Decreto Estadual nº 4.541/791 Art. 4º A movimentação de policiais militares tem por fim:

1) preencher os claros previstos nos Quadros de Organização, visando

assegurar a presença nas Organizações Policiais Militares (OPM), do efetivo necessário à sua eficiência operacional e administrativa;

2) permitir a matrícula em escolas, cursos ou estágios;

3) permitir a oportuna aplicação de conhecimentos e experiências adquiridas

em cursos ou cargos desempenhados na Corporação, no País, e no exterior;

12 A delegação já era realizada nas revogadas Portarias do CG - nº 336/1991 e nº 789/2007.

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4) possibilitar o exercício de cargos compatíveis com o grau hierárquico, a

apreciação de seu desempenho e a aquisição de experiência em diferentes

situações; 5) desenvolver potencialidades, tendências e capacidades, de forma a

permitir maior rendimento pessoal e aumento de eficiência da Corporação;

6) atender a necessidade de afastar o policial-militar de OPM ou localidade

em que sua permanência seja julgada inconveniente ou incompatível; 7) atender, respeitados os interesses do serviço, a necessidade de saúde do

policial-militar, ou de seus dependentes;

8) atender a disposições de leis e outros regulamentos; 9) atender à solicitação de órgãos da administração pública, estranhos à

Polícia Militar ou Corpo de Bombeiros Militar, se considerada de alto

interesse nacional;

10) atender, se possível, a interesses pessoais do policial-militar.

Para Di Pietro, a finalidade do ato administrativo possui dois sentidos

diferentes: em sentido amplo corresponde a um resultado de interesse público e em

sentido estrito é o resultado específico que cada ato deve produzir. (2009, p. 209).

No fadigado complexo de leis que disciplina a administração da PMPR não é

encontrada norma que preveja a finalidade da movimentação. No entanto, a Portaria

do Comando Geral, nº 825/2009, a qual regula a remoção de pessoal na PMPR, ao

conceituar movimentação, acabou por indicar sua finalidade:

VI - movimentação: denominação genérica do ato administrativo realizado

com vistas a assegurar a presença do efetivo necessário à eficiência

operacional e administrativa da Corporação, atribuindo, ao militar estadual, comissão, encargo, função, unidade ou fração de OPM,

compreendendo: [grifo nosso].

A finalidade específica da remoção é a adequação do efetivo para satisfazer as

necessidades de pessoal do órgão e, consequentemente, para que este cumpra seus

objetivos constitucionais. A adequação do efetivo é um dos resultados que se espera

atingir a partir da boa administração.

Seguindo o raciocínio de Di Pietro, em sentido amplo a remoção do servidor

tem por finalidade o alcance à satisfação do interesse público. Porém, convém

ponderar o termo. Para Marçal Justem Filho, imputar o interesse público ao ato

administrativo constitui “mero jogo de palavras”. Segundo o Professor,

há inúmeras manifestações de “Bem comum”, porque existem interesses

públicos complexos e entre si contraditórios. O fundamental reside em não afirmar a vinculação da competência a realizar o bem comum, mas em

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determinar, em vista do caso concreto, quais são os interesses a serem

protegidos e em que medida serão. (2008, p. 278).

Na administração pública militar não pode ser diferente, a avaliação no caso

concreto é que vai permitir valorar se a remoção de dado servidor estará em

consonância com sua finalidade ou não.

4.1.3 Forma

É a maneira pela qual se enxerga o ato administrativo, “É o revestimento

exterior do ato; portanto o modo pelo qual este aparece e revela sua existência”.

(MELLO, 2009, p. 389).

Via de regra, a administração pública deve explicitar seus atos na forma

escrita, sendo a forma verbal exceção. Nesse aspecto, o ato jurídico administrativo

difere-se do privado, que é de forma livre, quando a lei não dispõe em contrário. Nas

palavras de Celso Ribeiro de Bastos, no ato administrativo “predomina a forma escrita

que é aquela que mais se presta à transmissão e ao registro do próprio ato”. (2002, p.

149).

Na remoção do militar da PMPR o ato deve se exteriorizar na forma escrita,

por meio da Portaria de Movimentação.

A portaria, no conceito de Celso Antonio Bandeira de Mello,

é fórmula pela qual autoridades de nível inferior ao de chefe do Executivo,

sejam de qualquer escalão de comandos que forem, dirigem-se aos seus subordinados, transmitindo decisões de efeito interno, quer com relação ao

andamento das atividades que lhe são afetas, quer em relação a vida

funcional de servidores, ou até mesmo, por via delas, abrem-se inquéritos,

sindicâncias, processos administrativos. (2009, p. 434). [sem grifo no original]

Por outro lado, na PMPR a Portaria muitas vezes possui função normatizadora

ou regulamentadora, como a citada Portaria do Comando Geral, nº 825/2009, a qual

regula a remoção de pessoal na PMPR. A Portaria de movimentação é distinta e tem

por escopo dar forma ao ato administrativo de remoção.

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Diariamente se observa no Boletim Interno13

da corporação a publicação de

uma série de portarias para a movimentação de pessoal. É o meio pelo qual se

transmite ao subordinado a decisão do administrador, bem como se torna público o ato

administrativo, em atenção ao princípio da publicidade.

4.1.4 Objeto

“Todo ato administrativo tem por objeto a criação, modificação ou

comprovação de situações jurídicas concernentes à pessoa, coisas ou atividades

sujeitas à ação do Poder Público”. (MEIRELLES, 2009, p. 157).

Objeto é o efeito jurídico imediato que o ato administrativo produz. (DI

PIETRO, 2009, p. 206).

Na movimentação do servidor, o objeto do ato é a própria remoção. Podendo

se materializar pela transferência, classificação, adição, designação, disposição,

desligamento ou dispensa. A Portaria do Comando Geral, de nº 825, de 26 de junho de

2009 (regula a movimentação de pessoal na PMPR), cuidou de conceituar os termos:

Art. 1º Para efeito desta portaria são estabelecidos os seguintes conceitos: (...)

VI - movimentação: denominação genérica do ato administrativo realizado

com vistas a assegurar a presença do efetivo necessário à eficiência operacional e administrativa da Corporação, atribuindo, ao militar estadual,

comissão, encargo, função, unidade ou fração de OPM, compreendendo:

a) classificação: modalidade de movimentação que atribui ao militar estadual uma função, de acordo com seu posto ou graduação, definida no QO;

b) transferência: modalidade de movimentação do militar estadual de uma

para outra unidade, ou no âmbito de uma mesma OPM, ou ainda de uma

para outra fração de unidade, destacada ou não, e que se realiza por iniciativa da autoridade competente, integrando-o ao estado efetivo;

13 Boletim Interno constitui-se o meio de publicação dos atos da administração da PMPR, está

regulamentado pela Portaria do Comando-Geral nº 361, de 27 de abril de 2006:

Art. 39. Boletim é o documento pelo qual a autoridade competente divulga suas ordens, as ordens das

autoridades superiores e os fatos que a OPM deva ter conhecimento, sendo dividido em quatro partes:

[...]

§ 4º Na terceira parte do boletim serão publicados atos administrativos de interesse institucional e

individual, a exemplo de concessões de licença especial, licença para tratamento da própria saúde e de pessoa da

família, licença para tratar de interesses particulares, certidões de tempo de serviço, adicionais, contagem de

tempo de serviço, lavratura de atestados de origem, designações de comissões, eliminação de cédulas de

identidade militar e ordens de movimentação. [grifo nosso].

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c) designação: modalidade de movimentação de um militar estadual para:

1) realizar curso ou estágio em estabelecimento estranho ou não à Polícia

Militar, no país ou no exterior; 2) exercer comissão no país ou no exterior;

3) desempenhar encargo.

Parágrafo único. A movimentação implica ainda nos seguintes atos:

I - adição: ato administrativo, emanado da autoridade competente para fins especificados, que vincula o militar estadual a uma unidade sem integrá-lo

ao estado efetivo desta;

II - à disposição: situação, devidamente autorizada pela autoridade competente, em que se encontra o militar estadual a serviço de órgão ou

autoridade a que não esteja diretamente subordinado;

III - desligamento: ato administrativo pelo qual o militar estadual é

desvinculado da OPM em que serve ou da que se encontre adido; IV - dispensa: ato administrativo pelo qual o militar estadual deixa de

exercer comissão, encargo ou função para o qual tenha sido classificado ou

designado conforme o caso, ou ainda quando da conclusão de curso ou estágio.

A remoção do servidor ocasiona, por vezes, a edição de mais de um ato

administrativo. Por exemplo, a movimentação de um militar que concluiu um dado

curso de formação para uma unidade executora de atividade fim. Tal procedimento

consistirá, em primeiro momento, na sua transferência da unidade de ensino para a

unidade executora e, secundariamente, a classificação do militar em uma das funções

prevista no Quadro Orgânico14

de sua nova unidade.

São, pois, atos distintos. Pode o militar ser transferido sem que ocorra sua

imediata classificação, quer por falta de vaga na unidade, quer pelo caráter provisório

da remoção. Nessa hipótese, ocorrerá outro ato, a adição.

A transferência, a classificação, a adição, a designação, a disposição, o

desligamento ou a dispensa é aquilo que o ato determina, o próprio objeto da remoção.

4.1.5 Motivo e Motivação

Para o Direito Administrativo, motivo é a circunstância de fato, associada ou

não aos elementos de direito, que provoca e precede a edição do ato administrativo

(MEDAUAR, 2009, p. 141).

Para Bandeira de Mello,

14 Cada Unidade considerada possui um Quadro Orgânico que se constitui na enumeração fixa de cargos

previstos para a Unidade. A classificação é justamente o ato que define qual a função que o servidor irá

desempenhar na Unidade, visa definir competências e atribuir responsabilidade.

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motivo é o pressuposto de fato que autoriza ou exige a prática do ato. É,

pois, a situação do mundo empírico que deve ser tomada em conta para a prática do ato. Logo, é externo ao ato. Inclusive o antecede. [...]

O motivo pode ser previsto em lei ou não. Quando previsto em lei, o agente

só pode praticar o ato se houver ocorrido a situação prevista. Quando não há previsão legal, o agente tem liberdade de escolha da situação (motivo) em

vista do qual editará o ato. (2009, p. 391).

Havendo liberdade na escolha da situação que ocasiona o ato, este será

discricionário, ao contrário, sendo os motivos enumerados por lei, o ato será

vinculado. (MEIRELLES, 2009, p. 156).

No mesmo sentido, para Di Pietro, o motivo pode ser discricionário ou

vinculado, será discricionário quando a lei não o definir, deixando-o ao inteiro critério

da Administração, como ocorre quando da exoneração de servidor nomeado para cargo

de comissão. Ou ainda quando a lei usa conceitos jurídicos indeterminados, como falta

grave ou procedimento irregular. (2009, p. 215).

Na Polícia Militar, os motivos que podem ocasionar a remoção não são

previstos em lei, portanto, pode-se afirmar que o motivo é discricionário. A ausência

da norma decorre da impossibilidade de o legislador prever todas as circunstâncias

fáticas causadoras de remoção. Uma catástrofe que atinja a Guarnição PM de uma

suposta cidade, por exemplo, pode ser o motivo para se determinar a remoção de

policiais para a unidade do local afetado.

Assim, não seria razoável a fixação em lei de rol de circunstâncias

caracterizáveis como motivo para remoção dos militares da PMPR, porquanto é

improvável a enumeração de todas as situações de fato.

Não há olvidar-se que, ao proceder à remoção, a administração militar está

exercendo atividade discricionária. Entretanto, é devida cautela na abordagem do

tema, para não haver distorção em seu significado.

A discricionariedade, segundo Di Pietro, ocorre quando a lei deixa certa

margem de liberdade de decisão diante do caso concreto, de tal modo que a autoridade

poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, todas válidas perante o direito.

(2009, p. 212). Assim, não significa liberdade de escolha orientada por critérios

pessoais e sim liberdade de escolha segundo as opções oferecidas pela Lei.

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Não basta que a escolha do administrador seja uma dentre as previstas em Lei,

outro aspectos, como a fundamentação, são essenciais na atividade discricionária. Para

Juarez Freitas,

pode-se entender a discricionariedade administrativa legítima como a

competência administrativa (não mera faculdade) de avaliar e de escolher, no

plano concreto, as melhores soluções, mediante justificativas válidas, coerentes e consistentes de conveniência e oportunidade (com razões

juridicamente aceitáveis), respeitados os requisitos formais e substanciais

para a efetividade do direito fundamental a boa administração pública.

(2009, p. 370).

O motivo da remoção é livre, é discricionário, desde que não confronte sua

finalidade. Contudo, deve ser identificado em cada remoção, deve ser explicitado na

exteriorização do ato. A exposição do motivo constitui-se a motivação.

Embora a motivação decorra do motivo, a distinção entre eles deve estar

clareada. Para Marçal Justem Filho, “motivação consiste na exposição por escrito da

representação mental do agente relativamente aos fatos e ao direito, indicando os

fundamentos que o conduziram a agir em determinado sentido”. (2008, p. 176).

A Constituição Estadual reconheceu a motivação como princípio orientador da

Administração Pública, tornando-o obrigatório.

Art. 27. A administração pública direta, indireta e fundacional, de qualquer

dos Poderes do Estado e dos Municípios obedecerá aos princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, eficiência, motivação, economicidade e, também, ao seguinte:

[...]

(Redação dada pela Emenda Constitucional 11 de 10/12/2001)

A exigência da motivação também se fundamenta no princípio do Acesso ao

Judiciário (CF, art. 5º, XXXV) e no princípio da Moralidade Administrativa (CF, art.

37, caput). (MEIRELLES, 2009, p. 156).

Para André Parmo Folloni, “enquanto detentora de função, logo gestora de

interesses alheios, parece inaceitável que a Administração Pública não explicite as

razões da edição do ato administrativo, para possibilitar um maior controle acerca do

reto cumprimento de suas funções. Assim, o dever de motivar torna-se regra geral”.

(2006, p. 80).

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37

Com efeito, o ato administrativo de remoção deve contemplar sempre a

motivação, pois é a forma pela qual se afere a legalidade do ato, como também o

perfeito cumprimento dos princípios da administração pública. Esse entendimento tem

sido adotado pelo TJPR em seus julgados15

.

A motivação deve ser visualizada na exteriorização do ato de remoção.

Constitui-se a própria fundamentação da decisão, deve ser deduzida no texto da

Portaria de movimentação e acompanhar sua publicação.

Hodiernamente16

, a administração da PMPR tem justificado a movimentação

de seus militares fundamentando-a por interesse do serviço ou o interesse próprio do

servidor. Ora, são termos genéricos que não identificam de plano o motivo da

remoção.

Veja-se uma situação hipotética, em que uma unidade militar precise ter em

seu quadro de pessoal um Policial Militar especialista em informática, pois necessita

modernizar seus sistemas constantemente. A necessidade da utilização dos

conhecimentos técnicos específicos de um dado servidor naquela Unidade constitui-se

o motivo de sua remoção.

De igual forma, no exemplo, pode-se afirmar que o motivo da remoção foi o

interesse do serviço. Pois interessa ao serviço policial, enquanto instituição

responsável pela polícia ostensiva e manutenção da ordem publica, a existência de um

servidor com conhecimentos específicos em informática.

15 APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO Nº 619.191-7, Rel. Des. Cunha Ribas, j. em 09

fev. 2010: [...] Pela motivação o administrador público justifica sua ação administrativa, indicando os fatos

(pressupostos do fato) que ensejam o ato e os preceitos jurídicos (pressupostos de direito) que autorizam sua

prática. Claro está que em certos atos administrativos oriundos do poder discricionário a justificação será

dispensável, bastando apenas evidenciar a competência para o exercício desse poder e a conformação do ato com

o interesse público, que é pressuposto de toda atividade administrativa. Em outros atos administrativos, porém,

que afetam o interesse individual do administrado, a motivação é obrigatória, para o exame de sua legalidade, finalidade e moralidade administrativa. A motivação é ainda obrigatória para assegurar a garantia da ampla

defesa e do contraditório prevista no art. 5º, LV, da CF de 1988. Assim, sempre que for indispensável para o

exercício da ampla defesa e do contraditório, a motivação será constitucionalmente obrigatória. [...].

16 Excerto do Boletim Geral nº 104 de 05 Jun. 2008 - Aj. Geral (fls. 18)

[...]

Art. 1º. Transferir por interesse do serviço, o Cb. QPM 1-0 Hélio Ningeliski/4.469.357-0, da 1ª

CIPM/CPI Lapa-PR, para o 17º BPM/CPC-São José dos Pinhais-PR.

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São duas formas de se declarar o motivo, a segunda, genérica, com a utilização

de um termo que cabe para várias circunstâncias e a primeira, específica, na qual o

motivo está individualizado.

Enquanto não se perquira a motivação, parece razoável afirmar que a

expressão interesse do serviço atende ao requisito motivo. Contudo, a exteriorização

do ato não prescinde da devida motivação, nesse momento sim se faz necessária a

tradução do motivo, ou seja, a motivação.

Esse entendimento já foi adotado pelo Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. POLICIAL MILITAR. TRANSFERÊNCIA. DESVIO DE FINALIDADE.

PERSEGUIÇÃO POLÍTICA. NÃO COMPROVAÇÃO. MOTIVAÇÃO.

AUSÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. DECRETO Nº 591/80 DO ESTADO DO MATO GROSSO. NECESSIDADE DO SERVIÇO. EFETIVO

MILITAR. DÉFICIT. DEMONSTRAÇÃO. RECURSO ORDINÁRIO

DESPROVIDO.

[...] Com efeito, de minha parte penso que a locução "necessidade do

serviço público”, utilizada de maneira isolada, não tem, por si só, o condão

de se erigir em justificativa bastante para embasar o deslocamento ex

officio de servidor no âmbito dos quadros da Administração. Isto é, a

validade de uma tal medida dependeria também da externalização de outros

apontamentos pela autoridade competente, sob pena de restar inobservado o princípio da motivação que rege e legitima a atividade administrativa.

[...].

(Recurso em Mandado de Segurança nº 30.987 - MT 2009/0232484-7, Ministro Felix Fischer, j. em 18 mai. 2010).

Igualmente o TJPR tem decidido:

[...] Ainda, vale dizer que, não há ilegalidade ou abuso na transferência do

servidor público/autor, com fito de atender o interesse público. Isso, porque

cabe à Administração Pública dispor sobre a lotação e movimentação de

funcionário público, matéria de mérito administrativo exercido no âmbito de sua competência discricionária. Entretanto, não pode ela, deslocar seus

servidores de maneira abusiva e indiscriminada ou sem fundamentação

alguma. Tal atitude implica em nulidade do ato. [...].

(Reexame Necessário nº 353891-4, Des. Luiz Mateus de Lima, j. em 25 set.

2007).

Quanto à expressão interesse próprio, melhor sorte não lhe atinge, porquanto

pode comportar inúmeras circunstâncias da vida particular do servidor.

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Como visto, os termos interesse próprio e interesse do serviço constituem

meros rótulos que precisam ser traduzidos caso a caso. O momento próprio para esta

tradução é durante a exposição do motivo do ato administrativo, a motivação.

4.2 A INVALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO E A REMOÇÃO

Visto que o ato administrativo é espécie de ato jurídico, é de se apontar que a

disciplina das nulidades do ato jurídico pode ser aplicada ao ato administrativo. Mas,

certas peculiaridades devem ser consideradas, pois o ato administrativo possui

requisitos próprios, decorrentes do regime administrativo que se submete. (DI

PIETRO, 2009, p. 237).

Para Diogenes Gasparini,

O ato administrativo praticado em desarcodo com o ordenamento jurídico é

inválido. Inválido, por conseguinte, é o ato administrativo que, ao nescer,

afrontou as prescrições jurídicas. É ato que carece de legalidade ou, de forma mais abrangente, que se ressente de defeitos jurídicos. Por conter

ditos vícios ou defeitos, deve ser extinto. (2005, p. 109).

Destarte, os atos administrativos que eventualmente não preencham os

requisitos legais devem ser extirpados do mundo jurídico. Quer considerem-se

inválidos, nulos ou ilegais.

Em relação à remoção de pessoal da PMPR, a irregularidade tem se verificado.

Militares, irresignados com ato administrativo que determinaram suas remoções, têm

recorrido ao Judiciário pugnando pela anulação do ato.

Duas causas de pedir são predominantes nessas demandas. A primeira trata-se

da carência de motivação na exteriorização do ato e a outra constitui-se do desvio de

finalidade.

A busca pela tutela do Judiciário ainda é algo novo para os militares. Essa

realidade, impensável no passado recente, foi se consolidando aos poucos a partir da

Constituição de 1988. A nova ordem constitucional, cujo primado é a proteção dos

direitos fundamentais, demorou a adentrar na caserna militar e ainda hoje enfrenta

obstáculos.

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40

De toda sorte, a qualificação dos servidores militares evoluiu, a própria

sociedade evoluiu. Hoje os concursos públicos são muito concorridos, o que contribui

para a composição qualificada do pessoal. Contudo, esse não é o único motivo da luta

pelo direito. Outros fatores têm contribuído para o aumento no número de policiais

removidos que socorrem-se ao Judiciário:

Especulações sobre a possibilidade da extinção ou modificação da

aposentadoria especial dos Policiais Militares paranaenses tem feito com que vários

militares solicitem a transferência para a reserva remunerada tão logo completem o

lapso temporal mínimo (25 anos), defasando o efetivo e criando uma sensação

continua de falta de pessoal, mesmo com a contratação periódica de servidores por

concurso público.

Políticas de segurança pública que sofrem drásticas alterações quando ocorre a

mudança do comando no Executivo Estadual.

Agravação da sensação de insegurança, com o aumento dos índices de

criminalidade, o que leva a necessidade de modernização constante da estrutura da

PMPR, incidindo na criação de novas unidades e extinção de outras.

Todos esses fatores, que não excluem outros, impõem a Administração da

PMPR uma política de pessoal dinâmica. Por critérios técnicos ou políticos, na forma

legal ou ilícita, as remoções têm se realizado em grande número.

De 01 a 30 de junho de 2010

Boletim Geral nº Dia da publicação Número de Policiais transferidos

Praças e Praças Especiais Oficiais

103 01 19 01

104 02 05 05

105 07 17 05

106 08 04 03

107 09 02 01

110 14 29 03

115 21 39 03

117 23 12 02

119 25 08 02

121 29 11 01

total 146 26

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41

Tomando como referência o mês de junho de 2010, foram publicados 20

(vinte) Boletins Gerais, um para cada dia útil, sendo que em 12 (doze) deles existem

atos administrativos de transferência de militares, totalizando 172 (cento e setenta e

dois) policiais transferidos17

.

4.2.1 Da invalidade do ato de remoção por falta de motivação

Em pesquisa realizada nos Boletins Internos da PMPR, constata-se que são

raras às vezes em que o administrador acautela-se com a devida motivação do ato. As

portarias de movimentação são publicadas, na maioria, com a simples indicação dos

termos interesse no serviço ou interesse próprio. Excerto do Boletim Geral nº 104, de

02 de junho de 2010:

O Diretor de Pessoal da PMPR, no uso das atribuições que lhe foram

conferidas pela Portaria nº 825/CG, de 26 jun. 09, de acordo com o § 3º do art. 13, da Portaria nº 919/09-1ª Seç. EM; Decreto nº 4.472, de 19 jul. 01 e,

consoante o contido no Of. nº 289-Sec. do BPGd/CPC, resolve:

[...]

Art. 1º. Transferir por interesse do serviço, o Sd. QPM 1-0 Eleomar Moreira/4.977.207-6, do 4º Pel./1ª Cia./14º BPM/CPI, Santa Terezinha de

Itaipu, PR, para a Sede do 14º BPM/CPI, Foz do Iguaçu, PR, a partir de 27

abr. 10. Art. 2º. Transferir por interesse do serviço, o Sd. QPM 1-0 Esmael Paz de

Paiva/10.862.741-7, do 4º Pel./1ª Cia./14º BPM/CPI, Santa Terezinha de

Itaipu, PR, para a 1ª Cia./14º BPM/CPI, Foz do Iguaçu, PR, a partir de 28

abr. 10. Art. 3º. Transferir por interesse do serviço, o Sd. QPM 1-0 Laci Luiz

Junges/5.755.439-8, do 1º Pel./1ª Cia./14º BPM/CPI, Itaipulândia, PR, para a

2ª Cia./14º BPM/CPI, Medianeira, PR, a partir de 05 maio 10. Art. 4º À Subseção de Implantação DP/1, para as providências legais

referentes à gratificação de Localidade Especial.

(Ref. Port. nº 1154/DP, de 07 jun 10). [sem grifo no original].

A forma pela qual o procedimento ocorre, como já tratado, não traduz o

motivo de fato causador da remoção, tornando o ato inválido por carência de

motivação. Em outro exemplo, o servidor foi transferido nos mesmos moldes:

Boletim Geral nº 104, de 05 de junho de 2008.

a. Movimentação de Praças

17 Dados obtidos a partir da leitura dos Boletins de nº 103 ao nº 122, disponíveis para o público interno no

endereço eletrônico Intranet. Não foram computadas as transferências decorrentes da matrícula ou da conclusão

de cursos e estágios.

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O Diretor de Pessoal da PMPR, no uso das atribuições que lhe foram

delegadas pela Portaria nº 789/CG, de 29 ago. 07, e

[...] Consoante o contido no Ofício nº 142-P/1, do CPI, datado de 05 maio 08,

resolve:

Art. 1º. Transferir por interesse do serviço, o Cb. QPM 1-0 Hélio

Ningeliski/4.469.357-0, da 1ª CIPM/CPI Lapa-PR, para o 17º BPM/CPC-São José dos Pinhais-PR.

(Ref. Port. nº 939/DP/2, de 03 de jun. 08)

A transferência do Cb. Hélio Ningeliski é ato de remoção, porquanto

determinou sua lotação em unidade diversa, inclusive sediada em Município distante

73 quilômetros da origem. Foi ato emanado da autoridade competente (Diretor de

pessoal) e na forma prevista (Portaria). Entretanto, não contém a exposição dos

motivos, a motivação.

Não satisfeito, o servidor impetrou Mandado de Segurança, o qual tramitou

junto à 3ª Vara da Fazenda Pública Falências e Concordatas do Foro Central da

Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, PR, sob o nº 34.526/08. Deferida à

liminar, o Diretor de Pessoal suspendeu a Portaria de movimentação, a fim de aguardar

a solução definitiva da lide.

Boletim Geral nº 171, de 09 de setembro de 2008.

b. Suspensão de Movimentação de Praça

O Diretor de Pessoal da PMPR, no uso das atribuições que lhe foram delegadas pela Portaria nº 789/CG, e Consoante o contido nos autos

Mandado de Segurança nº 34.526/08, da 3ª Quarta Vara da Fazenda Publica,

Falências e Concordatas, e o Despacho nº 418/08-CJ, resolve: Suspender os efeitos do art. 1º , da Portaria de Movimentação de Praças nº

939-DP, de 3 jun. 08, publicada no Boletim Geral nº 104, de 5 jun. 08, que

transferiu por interesse do serviço, o Cb. QPM 1-0 Hélio Ningeliski/4.469.357-0, da 1ª CIPM/CPI-Lapa-PR, para o 17º BPM/CPC-

São José dos Pinhais-PR.

(Ref. Port. nº 1601/DP/2, de 9 set. 08)

Ao final do processo em 1º grau, o Mandado de Segurança foi Julgado

procedente para declarar a anulação do ato administrativo que movimentou o Cb.

Hélio Ningeliski. Remetidos os autos para o reexame necessário, em 09 de fevereiro

de 2010, a Terceira Câmara Cível do TJPR negou provimento ao recurso do Estado,

mantendo a sentença do Juízo a quo:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE

SEGURANÇA - ATO ADMINISTRATIVO DE TRANSFERÊNCIA DE

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POLICIAL MILITAR - MOTIVAÇÃO GENÉRICA - NULIDADE DO

ATO - CARÊNCIA DE MOTIVAÇÃO - SENTENÇA ESCORREITA.

PODER DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO - INTERFERÊNCIA DO JUDICIÁRIO - INOCORRÊNCIA - ESTRITA OBSERVÂNCIA DA

LEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO.

NÃO PROVIMENTO DO RECURSO. SENTENÇA CONFIRMADA EM

GRAU DE REEXAME NECESSÁRIO. (Ap. Cv. e Reex. nº 619.191-7; Terceira Câmara Cível, Cunha Ribas. j. em

09 fev. 2010).

No presente caso, para o Relator, o ponto principal da questão era saber se o

ato era válido, pois justificado com o termo interesse do serviço:

[...] A controvérsia dos autos reside em saber se o ato que determinou a

transferência do impetrante preenche os requisitos necessários à sua

validade.

Pois bem. Extrai-se do Boletim Geral nº 104 de 05 de junho de 2008 (fls. 21 e 62) que "Consoante o contido no Ofício nº 142-P/1, do CPI, datado de 05

maio 08, resolve:

Art. 1º. Transferir por interesse do serviço, o CB. QPM 1-0 Hélio Ningeliski/4.469.357-0, da 1ª CIPM/CPI - Lapa-PR, para o 17º BPM/CPC-

São José dos Pinhais-PR.

Da simples leitura do encimado artigo, nota-se que a justificativa da transferência do impetrante - interesse do serviço, não satisfaz a exigência

legal e não atende ao princípio da motivação necessária do ato

administrativo. Ademais, a jurisprudência já pacificou o entendimento de

que a expressão "interesse do serviço" é vaga, insuficiente para motivar o ato administrativo. [...].

Note-se que, para o Julgador, já é ponto pacífico na jurisprudência18

considerar

a utilização da expressão interesse do serviço como insuficiente para motivar o ato do

Tribunal. Todavia, o STJ já proferiu decisão em sentido contrário:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.

BOMBEIRO MILITAR. TRANSFERÊNCIA. DECRETO Nº 4.541/79 DO

ESTADO DO AMAZONAS. DISCRICIONARIEDADE DA

18

Decisões citadas no Acórdão no mesmo sentido:

1. Ap. Cv. e Reex. Nec. 601762-1; Quinta Câmara Cível, rel. Des. Rosene Arão de Cristo Pereira; j. 13/10/2009; 2. Ap. Cv. e Reex. Nec. 554471-0; Terceira Câmara Cível, rel. Juíza Conv. Vânia Maria Kramer; j.

01/09/2009; 3. Ap. Cv. e Reex. Nec. 568323-8; Terceira Câmara Cível, rel. Des. Paulo Habith; j. 26/05/2009; 4.

Ap. Cv. e Reex. Nec. 543065-5; Segunda Câmara Cível, rel. Juíza Subst. Josély Dittrich Ribas, j. 03/03/2009; 5.

AI 535979-9; Terceira Câmara Cível, rel. Des. Paulo Roberto Vasconcelos; j. 03/02/2009; 6. Ap. Cv. e Reex.

Nec. 354270-9; Quarta Câmara Cível, rel. Desª Anny Mary Kuss; j. 07/11/2006; 7. Ap. Cv. e Reex. Nec.

363447-9, Quinta Câmara Cível, rel. Des. José Marcos de Moura; j. 22/09/2009; 8. RMS 15459/MG; T-6, Sexta

Turma, rel. Min. Paulo Medina; j. 19/04/2005 e 9. Ap. Cv. 406165-8, Quarta Câmara Cível, rel. Des. Marco de

Luca Fanchin; j. 19/02/2008.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. VALIDADE DO ATO. RECURSO

ORDINÁRIO DESPROVIDO.

I - O Decreto nº 4.541/79 do Estado do Amazonas prevê expressamente a hipótese de movimentação de bombeiro militar para o atendimento de

necessidade do serviço.

III - Inexistindo indícios de eventual desvio de finalidade, a movimentação

promovida pela autoridade dita coatora, que tem respaldo na legislação, traduz-se em exercício regular do poder discricionário da Administração

Pública.

Recurso ordinário desprovido. [...]

Verifico, no entanto, que às fls. 67 dos autos, encontra-se a correspondente

fundamentação da conduta que determinara a movimentação do militar,

traduzida, expressamente, na "necessidade de serviço". Tal hipótese, ao meu ver, enquadra-se, a um só tempo, na abertura normativa

contida no art. 11 do Decreto nº 5.451/79, bem como na situação

contemplada no item 6, do art. 4º, do mesmo regulamento, consoante acima destacado.

(RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 30.370 - AM

2009/0176570-6, j. em 02 fev. 2010).

No caso a lume, oriundo do Estado do Amazonas, apesar de a decisão julgar

suficiente a motivação por necessidade do serviço, um detalhe se destaca: o fato da

Polícia Militar do Amazonas possuir um Regulamento de Movimentação19

, no qual há

previsão expressa da movimentação por necessidade do serviço.

A norma amazonense, embora não seja lei em sentido estrito, parece ter sido

determinante na decisão. A mesma regulamentação não existe na PMPR.

Nas decisões do TJPR que resultaram favoráveis a Administração Pública, vê-

se que a autoridade motivou o ato com expressões que ultrapassam o vocábulo

interesse do serviço:

MANDADO DE SEGURANÇA - SERVIDOR PÚBLICO - POLICIAL

MILITAR - PEDIDO LIMINAR VISANDO CESSAR ATO DE

MOVIMENTAÇÃO (TRANSFERÊNCIA DO 3º PELOTÃ0 DA 2º COMPANHIA DA POLÍCIA AMBIENTAL FORÇA VERDE PARA O 8º

BPM), SOB O FUNDAMENTO DE SER O MESMO IRREGULAR, BEM

COMO A POSSIBILIDADE DE LESÃO - IRREGULARIDADE - NÃO VERIFICADA -MOTIVAÇÃO E MOTIVO - CONFIGURADOS -

LIMINAR PRETENDIDA - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DOS

REQUISITOS PARA TANTO (FUMUS BONI IURIS E PRICULUM IN

MORA) - NÃO COMPROVAÇÃO DA LESÃO - PRESUNÇÃO DA VERACIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS - AGRAVO DE

INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO.

19 Aprovado pelo Decreto Estadual nº 4541/1979.

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[...]

In casu, a motivação e o motivo estão devidamente verificados no Boletim Geral nº 132 de 15 de julho de 2009, onde assim consta:

"De acordo com o Decreto nº 4.472, de 19 jul. 01, e consoante o contido no

ofício n 341 - Cmdo DO BP Amb. FV/CPI, datado de 29 de maio de 09, resolve:

Transferir, por interesse do serviço, o 2º SGT. QPM 1-0 Valdeci Pereira da

Silva/3.603.435-1, do BP Amb. FV/CPI, para o 8º BPM/CPI, vindo, assim, a adequar o efetivo policial militar às necessidades administrativas e

operacionais das respectivas Unidades."

(AI n º 620077-9, Des. Roberto Vasconcelos, j. 16 mar. 2010).

Em sua defesa o Estado aduz que compete a autoridade competente a

avaliação subjetiva da escolha do motivo determinante da movimentação:

[...] o termo "interesse público" constante no Boletim geral traduz claramente a motivação do ato de transferência, objetivando atender às

necessidades operacionais.

Ressalta que nem sempre o motivo está previsto em lei, cabendo, nesses casos, à autoridade administrativa competente proceder à escolha dos

motivos que lhe autorizarão exercer a competência. No caso, o motivo legal

para a transferência é a existência de "interesse ao serviço" que exija tal providência. Motivo este, passível de avaliação subjetiva por parte da

autoridade competente ao exercer a competência que lhe foi atribuída pela

lei.

Argumenta que não se pode olvidar que, quando se trata de Segurança Pública, cabe ao Comando Geral avaliar as necessidades de cada Município

de distribuir os militares de acordo com essas necessidades.[...]

(excerto do relatório: AI n º 620077-9, Des. Roberto Vasconcelos, j. 16 mar. 2010).

Sem retirar o mérito da respeitada decisão da 3ª Câmara Cível do TJPR, as

expressões utilizadas in casu ainda são precárias de objetividade e não traduzem o

motivo de fato da movimentação. Pois “adequar o efetivo policial militar às

necessidades administrativas e operacionais das respectivas Unidades” constitui, em

verdade, na finalidade da movimentação, não seu motivo.

No entanto, trata-se de um caso isolado, tanto em relação à decisão proferida,

quanto em relação ao texto utilizado na Portaria de Movimentação.

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Em outros casos o Estado apresenta a motivação somente quando da defesa

em Juízo, traduzindo a expressão interesse do serviço, expondo o motivo. Tal conduta

não torna o ato válido. Para Bandeira de Mello, quando se trata

de ato praticado no exercício de competência discricionária, salvo alguma

hipótese excepcional, há de se entender que o ato não motivado está

irremissivelmente maculado de vício e deve ser fulminado por inválido, já que inventar algum motivo, “fabricar” razões lógicas para justificá-lo e

alegar que as tomou em consideração quando da pratica do ato. (2009, p.

397).

Em singela pesquisa na jurisprudência do TJPR, observa-se que somente no

primeiro semestre de 2010, foram confirmadas pelo Tribunal20

, em sede de Reexame

Necessário, cinco decisões em que o Magistrado de primeiro grau invalidou ato

administrativo de remoção praticado pela Administração PMPR.

Para uma corporação que conta com pouco mais de 17.000 (dezessete mil)

servidores na ativa, o número de atos de remoção invalidados pelo Judiciário desponta.

O tema já foi causa de inconformismo da Procuradora do Estado, Sra. Vera

Grace Paranaguá Cunha, que, em certa ocasião, solicitou permissão para não ingressar

pelo Estado nestes tipos de demanda. O fato resultou no envio de do Oficio nº

902/2005, de 27 abr. 2005, lavrado pelo Procurador-Geral do estado, Sérgio Botto de

Lacerda, e endereçado ao Comandante Geral da PMPR, cujo teor são as próprias

razões da Procuradora:

Senhor Procurador Chefe,

1 – Peço permissão para deixar de ingressar pelo Estado pelos seguintes fatos e justificativas.

2 – Tenho, com certa freqüência, atuado em processos semelhantes a esse, de

remoção de policiais da polícia civil e polícia militar. Salvo raríssimas exceções, o Estado sucumbe e a Administração se vê obrigada, pelo Poder

judiciário, a rever as remoções efetivadas pela única razão de reincidir no

mesmo erro: ausência de motivação do ato administrativo. Nesses casos, a

motivação, condição de validade do ato, se resume em expressões vagas, tais como, “interesse do serviço”, “interesse público, “conveniência e

oportunidade administrativa” sem qualquer vínculo dos jargões a

acontecimentos concretos. 3 – Não obstante nosso empenho em reverter essa situação nas remoções, os

Mandados de Segurança persistem e sempre pelas mesmas razões.

4 – Quer nos parecer que há uma compreensão equivocada do princípio da hierarquia que autoriza escalões superiores a agir sem dar explicações, ou

20 Acórdãos: nº 626.027-3, j. 26 jan. 2010; nº 619.191-7, j. 09 fev. 2010; nº 624.667-9, j. 30 mar. 2010; nº

646.451-5, j. 13 abr. 2010; nº 353.891-4, j. 04 mai. 2010.

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seja, sem motivar seus atos. Daí o uso reiterado dos jargões referidos que

não permitem ao servidor removido conhecer as verdadeiras razões da sua

transferência e, por isso, buscam o poder judiciário. 5 – O presente Mandado de Segurança é retrato fiel dessa situação. Trata-se

da segunda ação judicial proposta por JOACIR SABINO DOS SANTOS em

menos de dois anos. O autor, policial militar rodoviário, foi removido duas

vezes nos mesmos, mesmíssimos, moldes do bem sucedido Mandado de Segurança 23.114, que tramitou perante a 3ª Vara de Fazenda Pública desta

Capital.

6 – A informação nº 20/2003, encaminhada ao Comando-Geral PM, havia solicitado ao Comando-Geral da Polícia Militar o especial cuidado na

remoção de seus servidores, “a fim de evitar a possibilidade de sucesso nos

Mandados de Segurança reiteradamente manejados contra tais

providencias”. 7 – Nesta perspectiva, é de ser concluído, que as mudanças necessárias não

são implementadas porque inviabilizariam uma autonomia desenfreada do

administrador que caracteriza atos arbitrários. Caso contrário, não há como se entender a inércia administrativa na correção do problema que continua a

repetir e obrigar a PGE na defesa de situações pouco claras.

8 – Considerando que a melhoria da qualidade dos atos administrativos emanados do Poder Público trará reflexos positivos tanto para a

Administração quanto para o Poder Judiciário, solicito, que esta

manifestação seja encaminhada ao Gabinete dessa PGE, para conhecimento

e eventuais providências. Caso a chefia não entenda ser esse o caso, solicito seja o feito distribuído para outro colega.

Curitiba, 16 de abril de 2005. [sic].

Como visto, a própria PGE reconhece o problema, a irresignação da

Procuradora é decorrente da (in)justificação do ato com o jargão interesse do serviço.

Suas considerações refletem a dimensão da problemática.

4.2.1 Da invalidade do ato de remoção por desvio de finalidade

O desvio de finalidade, também chamado de desvio de poder, ocorre quando a

autoridade, embora competente, pratica o ato com o propósito de realizar finalidade

diversa da que lhe é própria. (MELLO, 2009, p. 400).

Segundo Bandeira de Mello, o desvio de finalidade se manifesta de dois

modos:

a) quando o agente busca uma finalidade alheia ao interesse público;

b) quando o agente busca uma finalidade – ainda que de interesse público –

alheia à “categoria” do ato que utilizou.

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O autor segue demonstrando exemplos que se encaixam na temática da

remoção.

O exemplo da primeira hipótese tem-se no caso de um superior que remove

funcionário para local afastado sem nenhum fundamento de fato que requeresse o ato, mas apenas para prejudicá-lo em razão da sua inimizade

por ele.

Exemplo da segunda hipótese ocorre quando o agente remove um funcionário – que merecia uma punição – a fim de castigá-lo. Ora remoção

não é ato de categoria punitiva. (2009, p. 401)

A remoção de militar com o propósito de puni-lo foi um procedimento

cotidiano na PMPR. Qualquer servidor que possua poucos anos no exercício da

profissão é capaz de relatar um caso. Pode-se afirmar que a existência de remoções

dessa natureza é notória entre os integrantes da corporação.

No entanto, são irregularidades só comprováveis pelos envolvidos diretos

(administrador e administrado). O rótulo da remoção realizada por interesse público se

sobressai à realidade fática. Pois há dificuldade para o servidor removido constituir

prova do desvio.

Di Pietro assinala, “a grande dificuldade com relação ao desvio de poder é a

sua comprovação, pois o agente não declara a sua verdadeira intenção; ele procura

ocultá-la para produzir a enganosa impressão de que o ato é legal”. (2009, p. 242).

Tal realidade fez desenvolver-se a teoria dos indícios denunciadores, a qual é

tratada por Medauar:

A dificuldade na prova no desvio de poder ou de finalidade levou a doutrina e a jurisprudência pátrias a mencionar os chamados indícios denunciadores

do desvio de poder, que são alguns dados que permitem concluir pela

ocorrência dessa ilegalidade, tais como: contradição entre fatos invocados a título de motivo e o conteúdo do ato; desproporção entre meios e fim;

contradição entre os motivos expostos; ocultação de fatos relativos à

situação etc. (2009, p. 156).

É visível a aplicação dessa teoria nos julgados do TJPR:

APELAÇÃO CÍVEL. REMOÇÃO DE SERVIDORA. DESVIO DE FINALIDADE. ATO PUNITIVO. AUSÊNCIA DE VÁLIDA

MOTIVAÇÃO.

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O ato administrativo, discricionário ou vinculado, deve ter válida motivação,

devendo ser reconhecida a ilegalidade daquele praticado em desvio de

finalidade e sem atendimento do interesse público.

No caso em questão, a servidora foi removida em atendimento à solicitação

de superior, por suposta transgressão disciplinar (sem instauração de

procedimento adequado), não se podendo aproveitar o ato com a justificativa tardia de que havia necessidade de transferência.

Recurso não provido.

[...] observando-se a situação em que foi emanado o ato de remoção, e as

formalidades de constituição do mesmo, nota-se que tal justificativa não foi anteriormente mencionada. Ao contrário, apenas se atendeu a solicitação

pessoal do chefe da servidora, por desavenças e supostas faltas funcionais,

que, frise-se, não foram objeto de procedimento disciplinar punitivo próprio.

Para que seja possível averiguar se houve ou não o desvio de finalidade,

conveniente é o ensinamento de Hely Lopes Meirelles:

"Dentre os elementos indiciários do desvio de finalidade está a falta de motivo ou a discordância dos motivos com o ato praticado. Tudo isto

dificulta a prova do desvio de poder ou de finalidade, mas não a torna

impossível se recorrermos aos antecedentes do ato e á sua destinação presente e futura por quem o praticou".

Portanto, muito embora seja de difícil comprovação o desvio de finalidade,

no caso em análise restou claramente demonstrada a ocorrência deste vício, ou pelo menos, a completa dissociação entre a motivação real e o ato

praticado.

A apelada sustenta que houve uma discussão entre ela e o Sr. Édino Tognon, alegação essa confirmada pela própria apelante à fl. 62. E, após este

contratempo foi emitida a CI n.º 52/2005, em 10.11.2005, em que este

solicita à servidora que evite saídas do setor para tratar de assuntos não relacionados ao trabalho, pois estariam causando sérios prejuízos aos

serviços da Diretoria.

Como a servidora se recusou a receber o documento, foi emitida nova CI, de n.º 53/2005, na mesma data, em que é informado ao Sr. Superintendente que

a servidora se recusou a receber a Comunicação Interna anterior e que as

saídas da mesma do seu setor de trabalho tem causado prejuízos na

qualidade do serviço prestado pela Autarquia.

Após estas ressalvas, o Diretor de Saúde colocou a funcionária a disposição

de outro setor da empresa, o que foi prontamente atendido, conforme a CI n.º 619/2005.

Ora, não são necessárias maiores análises à CI que deu origem ao ato de

remoção (fl. 16) para se concluir que, em razão das supostas saídas da servidora a mesma foi colocada à disposição da autarquia, fato esse que não

condiz com as justificativas de necessidade de remanejamento, apresentadas

somente em juízo (quando deveriam ser anteriores ao ato).

Se realmente existe a necessidade de remanejamento de pessoal (como quer

justificar agora a apelante), deve o administrador formalizar o procedimento

adequado e praticar os atos necessários ao atendimento do interesse público.

O que não se pode admitir, é a aplicação de ato punitivo, sem o devido

processo legal de contraditório e ampla defesa, e até sem a devida

correspondência entre o ato indisciplinar e a punição. [...]

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(Apelação Cível nº. 401.316-5; Segunda Câmara Cível do Tribunal de

Justiça do Paraná, Juiz Relator Péricles Bellusci de Batista Pereira, j. em 28

out. 2008).

Ora, se determinado servidor incorreu em transgressão, deve-se proceder sua

apuração pelo processo disciplinar, o qual concluirá pela existência ou não da infração,

e lhe aplicará a sanção correspondente.

É certo que na PMPR muitas vezes o Administrador possui indícios de que o

servidor está incidindo em transgressão disciplinar ou até em crime, mas tem

dificuldades em comprovar os fatos. Por exemplo, quando há suspeita de

envolvimento de Policiais Militares com o crime organizado.

Nesses casos, dada a falência dos meios investigatórios, prefere a autoridade

remover o servidor “problemático”, deixando-o longe de seu comando. Não se resolve

a situação pela via natural. Agindo assim, acredita o administrador que está atendendo

a finalidade pública, contudo, tudo o que consegue é transferir o “problema” a outro

comandante.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde a Constituição de 1988, a sociedade brasileira vem, pouco a pouco,

amoldando-se a uma nova ordem. A Administração Pública não foge a regra, a

máquina administrativa não foi capaz de imediatamente se adequar aos novos

preceitos constitucionais. Sem deméritos, pois até mesmo as instituições jurídicas, as

quais já eram familiarizadas com o conceito de Estado de Direito, caminharam em

passos lentos.

Nas casernas militares, a evolução na forma de administrar a coisa pública é

ainda mais lenta.

O sistema castrense leva o administrador a enclausurar-se, supostamente

protegido por uma falsa percepção do significado do princípio da hierarquia e

disciplina e da independência dos poderes.

Por manifestar-se perante a sociedade como cultivadora de fortes princípios

éticos associados a uma eficiente organização hierárquica, a administração militar

induz o observador a crer que seria ela a primeira instituição a fazer valer os princípios

constitucionais. Ao contrário, vê-se a ocorrência de violações aos direitos individuais,

sobretudo nas relações com seus servidores, sob o pretexto de atendimento ao

interesse público.

Em relação à remoção dos militares estaduais, o problema se destaca. É

constante a utilização de artifícios como o uso jargões com noções imprecisas para

fundamentar as decisões, expressões que Di Pietro denominou de vocábulos

plurissignificativos. Tal prática, algumas vezes, tem somente o condão de simplificar o

procedimento, mas, em outras, possui o propósito de ocultar os reais motivos do ato.

A carência de motivação é facilmente identificada nas Portarias de

movimentação da PMPR. A leitura sistemática dos Boletins da instituição denuncia

que são raras às vezes em que o administrador explicita o motivo. Normalmente só o

faz quando o ato é contestado. Excerto do BG nº 113, de 17 de junho de 2010:

3. ATOS DO DIRETOR DE PESSOAL

a. Movimentação de Oficial: Sem Efeito/Designação - Motivação

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O Diretor de Pessoal da PMPR, no uso das atribuições que lhe foram

conferidas pela Portaria nº 825/CG, de 26 jun. 09, de acordo com a Portaria

nº 824/CG, de 26 jun. 09 e, em conformidade com o Despacho nº 160/10, da Consultoria Jurídica do Comando-Geral, sobre o Mandado de Segurança nº

10.241/10, da 3ª VFP, resolve:

Art. 1º. Tornar sem efeito o art. 1º da Portaria-CG de Movimentação de Oficiais nº 51, de 25 jan. 10, publicada no Boletim Geral nº 016, de 25 jan.

10, bem como o art. 1º da Portaria-DP de Movimentação de Oficiais nº 788,

de 26 abr. 10, publicada no Boletim Geral nº 077, de 26 abr. 10, através das quais o Cap. QOPM Rubens Garcez da Luz/4.280.980-2, foi transferido do

BPRv./CPI, 3ª Cia., Cascavel, PR, para o 14° BPM/CPI, Foz do Iguaçu, PR

e, do 14° BPM/CPI, Foz do Iguaçu, PR, para o 3º BPM, Pato Branco, PR,

respectivamente.

Art. 2º. Designar, por interesse do serviço, o Cap. QOPM Rubens Garcez da

Luz/4.280.980-2, pertencente ao efetivo do BPRv./CPI, para desempenhar encargo na Sede do 6º BPM/CPI, Cascavel, PR, passando-o à condição de

adido ao BPRv./CPI.

Art. 3º. A designação fixada no artigo anterior, motiva-se pelo fato de o

quadro de Oficiais do Batalhão de Polícia Rodoviária, apresentar o

efetivo “existente” de 09 (nove) Capitães QOPM, para o efetivo

regularmente “previsto” de 07 (sete) – havendo 01 (um) capitão

devidamente classificado na função de Comandante da 3ª Cia./BPRv.,

sediada em Cascavel, PR -, e o 6º BPM/CPI, Cascavel, PR, contar

atualmente com o efetivo “existente” de 04 (quatro) Capitães QOPM,

para o “previsto” de 07 (sete), sendo, portanto, congruente a respectiva

movimentação para o 6º BPM, objetivando adequar a distribuição do

efetivo policial-militar às necessidades da Corporação, em consonância com a liminar deferida. [sem grifo no original].

(Ref. Port. nº 1219/DP, de 14 Jun 10)

Ocorre que somente uma pequena minoria dos servidores, e quando

prejudicados pelo ato, buscam a tutela do Judiciário para invalidar a remoção.

A regulamentação da PMPR no que diz respeito à movimentação do efetivo é

precária quando comparada às instituições de outros Estados. Não há uma política de

remoção paralela à carreira dos servidores.

Regras claras fixadas em Lei, ou seja, um plano de remoção estabelecido com

critérios objetivos poderia reduzir o conflito entre administrador e administrado.

Hodiernamente, clama-se pela modernização das técnicas administrativas em

prol de uma máquina pública mais eficiente. Nesse sentido, a doutrina mais moderna

tem se dedicado ao estudo da previsibilidade técnica, a qual é utilizada como

parâmetro mitigador dos riscos do arbítrio, vinculando a escolha administrativa a

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critérios técnicos científicos, com auxilio, inclusive, das ciências exatas, afastando a

formula da conveniência e oportunidade. (GUERRA, 2009).

Além de minimizar os conflitos internos gerados com as remoções que não

seguem a técnica da boa administração, a modernização da gerência militar refletirá na

qualidade dos serviços prestados a sociedade, os quais, há tempo, carecem de

melhorias.

Entretanto, extirpar o vício da motivação não resolverá todos os problemas

relacionados à remoção no meio militar. Não se pode esquecer que os administradores

públicos são falíveis, como qualquer outro ser humano, passíveis de se corromperem,

especialmente quando estão exercendo poderes sobre uma coletividade de pessoas.

A ingerência externa, balizada pelo poder econômico e político, procura

sempre sobrepujar a norma. O fenômeno ocorre principalmente em pequenos

Municípios, em circunstâncias em que servidores são removidos quando seus atos vão

de encontro aos interesses da classe política local.

O problema se agrava, quando o administrador confunde a competência

administrativa com a disciplinar, aplicando ao servidor sanção não prevista em Lei,

como remoções realizadas com a finalidade de punir o servidor. E o faz, ainda,

protegendo-se sob o manto do interesse público. O uso distorcido de tal conceito pode

ser por demais temeroso, porquanto não impõe limites à atividade do administrador.

Enquanto se espera por soluções internas, cabe ao Judiciário, quando

provocado, avaliar os atos de remoção que lhe são apresentados, pois nenhum ato

administrativo causador, ou potencialmente causador, de lesão ou ameaça de direito

poderá deixar de ser apreciado pelo Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, CF).

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CURITIBA. Universidade Tuiuti do Paraná. Regulamento da Monografia Final do

Curso de Graduação em direito, fevereiro de 2010. Coordenador: Prof. Eduardo de

Oliveira Leite.

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Portuguesa. 3. ed. rev. e atual. Curitiba: Positivo, 2004.

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http://www.direitodoestado.com/revista/REDAE-20-NOVEMBRO-SERGIO-GUERRA.pdf.

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MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 13. ed. rev. e atual. São Paulo:

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MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 35. ed. atualizada por

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MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo:

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MORAIS, Alexandre de. Direito Constitucional. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2007.

NORMAS TÉCNICAS. Elaboração e Apresentação de Trabalho Acadêmico

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ZANCANER, Weida. Da Convalidação e da Invalidação dos Atos Administrativos. 2

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ANEXOS

Código da Polícia Militar do Estado - Lei 1943 - 23 de Junho de 1954

Assembléia Legislativa do Estado do Paraná decretou e eu sanciono a seguinte lei:

TÍTULO I

Das Disposições Preliminares

Art. 1º. A Polícia Militar do Estado, Corporação instítuida pela Lei nr. 7, de 10 de agosto de

1854, para a segurança interna e manutenção da ordem no território estadual, é subordinada à

Secretaria de Estado dos Negócios do Interior e Justiça e considerada, de acôrdo com a

legislação federal, fôrça auxiliar, reserva do Exército Nacional, situação esta que a obriga a

atender à convocação do Govêrno Federal, em caso de guerra externa ou grave comoção

intestina.

§ 1º. A Corporação, formada por alistamento voluntário de brasileiros natos, matrícula no

C.F.O.C. e preenchimento regular dos outros quadros, é constituida de serviços e corpos das

armas de infantaria e cavalaria, além dos mais que lhes são peculiares, todos semelhantes aos

do Exército, e em unidades com organização, equipamento e armamento próprios ao

desempenho das funções policiais.

§ 2º. O efetivo e o armamento de cada Corpo ou Unidade não podem exceder aos previstos

para as unidades das mesmas armas do Exército em tempo de paz.

§ 3º. Os postos têm a mesma denominação e hierarquia dos do Exército, até coronel inclusive.

§ 4º. Os deveres, responsabilidades, direitos, vantagens, recompensas e prerrogativas dos

militares da Corporação são regulados pelo presente Código.

§ 5º. Consideram-se subsidiários dêste Código os regulamentos da Corporação e os R.D.E. e

Regulamentos de Continências, Honras e Sinais de Respeito das Fôrças Armadas.

Art. 2º. São componentes da Corporação os brasileiros que, como militares, combatentes ou

não, integram as suas fileiras, com situação hierárquica definida, bem como os que dela se

tenham afastado para a inatividade remunerada.

Parágrafo único. São combatentes, os militares pertencentes às armas de infantaria e cavalaria

e não combatentes, os dos diferentes quadros de serviços.

Art. 3º. Os postos e graduações constituem carreira para os militares.

Art. 4º. A situação jurídica do oficial é definida pelos deveres e direitos inerentes à patente

que lhe fôr outorgada e da praça pelos deveres e direitos correspondentes ao gráu hierárquico

que lhe fôr conferido.

Art. 5º. São militares de carreira os componentes da Corporação com vitaliciedade assegurada

ou presumida.

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§ 1º. A vitaliciedade é assegurada ao oficial desde o momento do seu compromisso no

primeiro posto.

§ 2º. Vitaliciedade presumida é a da praça com mais de dez anos de serviço.

Art. 6º. Militar da ativa é o que, ingressando na carreira, faz dela profissão, até ser transferido

para a reserva ou reformado.

Art. 7º. Militar da reserva remunerada é o que para esta foi transferido, com proventos

determinados, como prêmio pelos serviços prestados.

Art. 8º. Militar da reserva não remunerada é o que, na forma prevista nêste Código, foi a ela

incorporado.

Art. 9º. Militar reformado é o que está isento, na forma dêste Código, de obrigações militares.

TÍTULO II

Da Estrutura Geral

CAPÍTULO I

Da Organização, Efetivo e Orçamento

Art. 10. A organização da Corporação será estabelecida em lei, com efetivo e orçamento

fixados anualmente.

Parágrafo único. Em casos excepcionais, o efetivo poderá ser alterado, por decreto do

Executivo ou lei que o modifique, segundo a urgência ou natureza da medida.

CAPÍTULO II

Do comandante Geral

Art. 11. O cargo de Comandante Geral é exercido, em comissão, por oficial superior do

Exército ou da Corporação, da livre escolha do Chefe do Poder Executivo.

§ 1º. O comissionamento do Comandante Geral, em qualquer caso, dar-se-á no posto de

Coronel.

§ 2º. Quando fôr atribuido o cargo de Comandante Geral a um oficial da Corporação ou do

Exército que ainda não haja atingido o posto de Coronel, será êle comissionado nêste posto,

enquanto durar a sua comissão.

Art. 12. O Comandante Geral, quando se ausentar para fora do Estado, (...vetado...), licenciar-

se para tratamento de saúde ou entrar em gozo de férias regulamentares será substituido pelo

oficial mais graduado que se encontrar na sede da Corporação.

Parágrafo único. Nas demais faltas, o Chefe do Estado Maior responderá pelo expediente.

CAPÍTULO III

Das Nomeações, Classificações e Ingresso.

SECÇÃO I Das Nomeações

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Art. 13. A nomeação para o cargo de Comandante Geral dar-se-á, exclusivamente, por decreto

do Chefe do Poder Executivo.

Art. 14. A nomeação de oficial para posto em que se exija profissional diplomado em curso de

ensino superior, ou quando depender da conclusão de curso especializado instituido pela

Corporação, dar-se-á mediante proposta do Comandante Geral, tudo na forma especificada

neste Código.

Art. 15. O oficial pode desempenhar, em comissão, cargo de confiança do Govêrno do Estado

ou do Govêrno Federal ou do Govêrno de outro Estado da Federação, dependendo, para êstes

últimos casos, de expressa autorização, por decreto, do Chefe do Executivo.

SECÇÃO II Das Classificações

Art. 16. A classificação dos oficiais superiores, nas diversas funções da Corporação, é feita

por decreto do Chefe do Poder Executivo, mediante proposta do Comandante Geral.

Art. 16. A classificação dos coronéis e tenentes-coronéis da Polícia Militar do Paraná, nas

diversas funções da Corporação, é feita exclusivamente por decreto do Chefe do Poder

Executivo, mediante proposta do Comandante-Geral.

(Redação dada pela Lei 14806 de 20/07/2005)

Parágrafo único. São Classificados por livre escolha do Chefe do Poder Executivo os oficiais

da Casa Militar do Govêrno e Comandante da Escolta Governamental e sob proposta do

Secretário do Interior e Justiça o seu assistente militar e sob proposta do mesmo Secretário e

do Chefe de Polícia, os seus respectivos ajudantes de ordens.

Art. 17. A classificação dos demais oficiais é feita pelo Comandante Geral.

Art. 18. A classificação das praças se fará na forma do Regulamento Interno e de Serviços

Gerais (R.I.S.G.).

SECÇÃO III Do Ingresso

Art. 19. Os diferentes postos da hierarquia na Corporação são accessíveis a todos os seus

componentes, observadas as condições previstas no presente Código e nos regulamentos em

vigôr.

Art. 20. O ingresso na Corporação dar-se-á:

a) Como oficial não combatente;

b) Como soldado; e

c) como aluno do Curso de Formação de Oficiais Combatentes (C.F.O.C.).

Art. 21. São condições para o ingresso:

I - como oficial não combatente:

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aprovação em concurso;

II - como soldado;

a) ser brasileiro nato;

b) Ser reservista do Exército, da Marinha de Guerra ou da Aeronáutica Nacional ou ser

portador de autorização do Comando da Região Militar;

c) ser alfabetizado;

d) ter comprovada moralidade;

e) ter capacidade física comprovada pelo serviço de saúde da Corporação; e

f) ter no máximo 30 anos de idade.

III - Como aluno do C.F.O.C.:

a respectiva matrícula, na forma do Regulamento próprio.

Art. 22. O ingresso nos quadros de oficiais das armas e dos serviços só é permitido nos postos

iniciais das respectivas escalas hierárquicas.

[...]

CAPÍTULO V

Do Corpo de Bombeiros

Art. 28. O Corpo de Bombeiros, como unidade militar integrante da Corporação, tem uma

organização especial e atribuições de carater técnico, cumprindo-lhe defender a propriedade

publica e particular contra o fogo e outras calamidades.

Art. 29. Administrativamente, a unidade é autônoma para aplicar os meios que lhes foram

atribuidos pelos órgãos competentes do poder público.

[...]

CAPÍTULO VIII

Dos concursos

Art. 36. O Concurso para a investidura no posto inicial de oficial não combatente, dentro do

respectivo quadro de serviço, dar-se-á mediante provas e títulos e será prestado perante banca

examinadora, composta de três membros, escolhida pelo Comando Geral, dentre profissionais

militares e civis de alta capacidade profissional, indicando desde logo quem a deva presidir,

obedecida a condição hierárquica, quando fôr o caso.

§ 1º. Para a composição da banca, o Comandante Geral convidará, com a devida antecedência,

os membros escolhidos que forem estranhos à Corporação.

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§ 2º. O prazo da validade do concurso é de dois anos, a partir da publicação da sua

homologação.

SECÇÃO I Da Inscrição

Art. 37. Verificada a vaga e esgotado o número de candidatos habilitados em concurso para a

nomeação, o Comando Geral fará publicar, no "Diário Oficial", editais de inscrições, pelo

prazo de trinta dias, juntamente com a relação dos títulos ou documentos obrigatórios à

inscrição, discriminando os pontos préviamente organizados para cada caso e as instruções

relativas à contagem de pontos para a classificação.

§ 1º. O pedido de inscrição é dirigido ao Comandante Geral, em requerimento acompanhado

de documentos comprobatórios de que o candidato:

a) é brasileiro nato:

b) está quite com o serviço militar;

c) tem idade inferior a 30 anos; salvo se for funcionário público efetivo, oficial ou praça da

Corporação, casos em que poderá inscrever-se até os quarenta anos;

d) está no gozo dos direitos políticos;

e) tem idoneidade moral reconhecida; e

f) tem capacidade física comprovada em inspeção de saúde procedida pela junta médica da

Corporação.

§ 2º. Ao concurso para o qual se exija profissional diplomado em curso superior, a inscrição é

feita na forma do § 1º e mediante prova de que o candidato:

a) é diplomado; e

b) está com o seu diploma devidamente registrado e preenche as demais exigências legais

para o exercício da profissão.

§ 3º. É facultada ao candidato a apresentação de quaisquer documentos ou trabalhos

reveladores de sua capacidade intelectual ou técnica.

Art. 38. O requerimento de inscrição será indeferido, quando dele se verificar que o candidato

não satisfez as exigências legais. Se, todavia, se verificarem faltas sanáveis nos documentos

exibidos, pode o Comandante Geral conceder um prazo até 15 dias, antes da realização das

provas, para o seu suprimento.

Parágrafo único. Do despacho de indeferimento, caberá recurso ao Secretário de Estado dos

Negócios do Interior e Justiça, dentro de 48 horas, a contar da respectiva intimação.

Art. 39. Dentro de 10 dias após o encerramento do prazo da inscrição, o Comandante Geral

deliberará sôbre a Habilitação preliminar dos candidatos e designará, fazendo publicar, no

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"Diário Oficial", a data, hora e local para a realização das provas, que terão lugar dentro de 30

dias após a mesma publicação.

SECÇÃO II Das Provas

Art. 40. As provas podem ser escritas e orais, ou escritas, práticas e orais, e versarão sôbre

programa prèviamente organizado para cada concurso.

§ 1º. A prova escrita consistirá na dissertação sôbre ponto sorteado no momento e terá a

duração máxima de três horas.

§ 2º. A prova oral consitirá na arguição dos candidatos, pelos membros da banca

examinadora, sôbre o ponto sorteado, e não deverá exceder de sessenta minutos.

Art. 41. Findas as provas, a comissão examinadora classificará os candidatos, atendendo às

condições de capacidade de cada um, apurada no concurso, inclusive através dos documentos

exibidos, reveladores de habilitação intelectual.

Parágrafo único. A classificação é feita obedecendo às notas obtidas pelos candidatos,

apuradas de conformidade com as normas estabelecidas nas respectivas instruções.

Art. 42. De tudo lavrará o presidente da banca circunstanciado relatório, o qual, aprovado e

subscrito por todos os membros da banca, será por êle encaminhado à consideração do

Comandante Geral que o homologará, fazendo publicar no "Diário Oficial" a relação dos

candidatos aprovados e sua respectiva classificação.

§ 1º. Nas 48 horas seguintes, poderá ser encaminhado à mesma autoridade qualquer pedido de

retificação ou reclamação, si para tal houver justo fundamento, cabendo ao Comandante Geral

resolver em igual prazo, como lhe parecer acertado e legal.

§ 2º. Nenhuma impugnação havendo, ou resolvidas as que houver, o Comandante Geral

encaminhará ao Chefe do Poder Executivo, por intermédio do Secretário de Estado dos

Negócios do Interior e Justiça, o processo respectivo, com a relação das vagas a serem

preenchidas e dos candidatos habilitados à nomeação.

§ 3º. A nomeação obedecerá a ordem de classificação dos candidatos habilitados em

concurso.

CAPÍTULO IX

Dos Cursos

Art. 43. Os cursos da Corporação são os seguintes:

a) Curso de Formação de Oficiais Combatentes;

b) Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais;

c) Curso de Equitação;

d) Cursos de Graduados Combatentes; e

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e) Cursos de Qualificação do Soldado e Graduados.

§ 1º. A regulamentação dos cursos é da alçada do Comando Geral, dependendo de aprovação,

por decreto executivo, os das letra a) e b).

§ 2º. Os cursos de qualificação de soldado e graduados são os necessários ao preenchimento

das vagas especializadas existentes na Corporação.

§ 3º. As vagas nos cursos são fixadas anualmente pelo Comando Geral.

§ 4º. A juizo do Comando Geral poderão ser instituidos outros cursos, além dos enumerados

neste artigo, desde que aprovados pelo Chefe do Poder Executivo.

CAPÍTULO X

Da Posse

Art. 44. Posse é o ato que investe o militar em cargo ou função de nomeação do Chefe do

Poder Executivo ou do Comandante da Corporação.

Art. 45. Tomarão posse:

I - (... vetado ...).

II - perante o Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Justiça:

a) o seu ajudante de ordens;

b) (... vetado ...).

III - perante o Chefe de Polícia:

o seu ajudante de ordens.

IV - perante o Comandante Geral:

os oficiais nomeados e classificados para cargos ou funções na Corporação.

Art. 46. A posse verificar-se-á mediante a lavratura de um têrmo, que será assinado pela

autoridade que a der e pelo empossado.

CAPÍTULO XI

Do Compromisso

Art. 47. Compromisso é o ato pelo qual o militar presta juramento solene de subordinação às

leis e aos seus deveres.

Art. 48. Perante o Comandante Geral, prestará compromisso o militar que ingressar no

oficialato, jurando desempenhar com honra, lealdade e sacrifício de sua própria vida, as

obrigações do seu posto, na defesa da Pátria, do Estado, da Constituição e das Leis.

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Art. 49. Os elementos que se alistarem na Corporação, prestarão solenemente o seguinte

compromisso:

Alistando-me soldado na Polícia Militar do Estado, prometo regular minha conduta pelos

preceitos da moral, respeitar os meus superiores hierárquicos, tratar com aféto os meus

companheiros de armas e com bondade aos que venham a ser meus subordinados; cumprir

rigorosamente as ordens das autoridades competentes e votar-me inteiramente ao serviço do

Estado e de minha Pátria, cuja honra, integridade e instituições, defenderei com o sacrifício da

própria vida.

[...]

TÍTULO V

Dos Deveres e Responsabilidades

CAPÍTULO I

Dos Deveres

Art. 102. São deveres do militar:

a) garantir, na esféra de suas atribuições, a manutenção da ordem pública e defender o país,

em caso de agressão, especialmente quando convocado na forma estabelecida pelas leis

federais e estaduais em vigôr;

b) exercer, com dignidade e eficiência, as funções que lhes forem atribuidas;

c) cumprir e fazer cumprir as leis, regulamentos, instruções e ordens emanadas de autoridades

competentes;

d) zelar pela honra e reputação de sua classe, observando comportamento irrepreensivel na

vida pública e particular, e cumprir com exatidão seus deveres para com a sociedade;

e) acatar a autoridade civil;

f) satisfazer, com pontualidade, os compromissos pecuniários assumidos e garantir a

assistência moral e material de seu lar;

g) ser discreto em suas atividades e maneiras e abster-se de, em público, fazer comentários ou

referir-se a assunto técnico, de serviço ou disciplinar, seja ou não de caráter sigiloso;

h) ser obediente às ordens de seus superiores hierárquicos, mediante rigorosa observância dos

regulamentos, empregando toda a sua vontade e energia em benefício do serviço;

i) estar preparado física, moral e intelectualmente, para o perfeito desempenho de suas

funções; e

j) ser leal em tôdas as circunstâncias.

k) exercer em comissão, cargos de delegado regional, delegado e sub-delegado de Polícia que

lhe fôr atribuido por decreto do chefe do Poder Executivo.

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(Incluído pela Lei 2527 de 09/12/1955)

Art. 103. O superior é obrigado a tratar os subordinados, em geral, com urbanidade, e os

recrutas com benevolência, interêsse e consideração, sem jamais chegar à familiaridade, que é

nociva à disciplina.

Art. 104. O militar deve conduzir-se, mesmo fora do serviço, de acôrdo com os princípios de

disciplina.

Art. 105. O militar da reserva, quando convocada, terá os mesmos deveres do militar da ativa.

Art. 106. A inobservância ou negligência no cumprimento do dever militar, na sua mais

simples manifestação, constitue transgressão prevista nos regulamentos disciplinares. A

violação dêsse dever é crime militar, consoante os códigos e leis penais.

Parágrafo único. No concurso de crime militar e trasgressão disciplinar é somente aplicada a

pena relativa ao crime.

Art. 107. Ao militar no exercício da profissão é vedado fazer parte ativa de firma comercial,

de emprêsa industrial de qualquer natureza, ou nelas exercer função ou emprego remunerado.

§ 1º. O militar da reserva, quando convocado, fica inibido de tratar nos corpos, repartições

públicas civís ou militares, e em qualquer estabelecimento militar, de interêsse da indústria ou

comércio a que estiver associado.

§ 2º. Ao militar portador de diploma para o exercício de profissão liberal é permitido

desenvolver a prática profissional no meio civil, desde que haja correlação com suas

atividades na Corporação e não prejudique o serviço.

CAPÍTULO II

Das Responsabilidades

Art. 108. Cabe ao militar a responsabilidade integral das decisões que tomar e dos atos que

praticar, inclusive na execução de missões, ordens e serviços por êle taxativamente

determinados.

Parágrafo único. No cumprimento de ordem emanada de autoridade superior, o executante

não fica exonerado de responsabilidade pela prática de qualquer crime.

Art. 109. A inobservância, falta de exação ou negligência no cumprimento dos deveres

especificados em lei e regulamentados, acarreta responsabilidade funcional, pecuniária,

disciplinar ou penal, consoante a legislação em vigor.

Art. 110. A responsabilidade a que se refere o artigo anterior é sempre pessoal, e a absolvição

de crime imputado não exonera o militar da indenização do prejuizo material por êle causado.

Art. 111. O oficial em atividade que contrair matrimônio, comunicará a realização do ato ao

Comando Geral, no prazo de dez dias, exibindo a respectiva certidão.

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Parágrafo único. A praça só poderá assumir tal compromisso mediante prévia autorização do

mesmo Comando.

TÍTULO VI

Dos Direitos, Vantagens, Recompensas e Prerrogativas

CAPÍTULO I

Dos Direitos

SECÇÃO I Das Disposições Gerais

Art. 112. São Direitos do militar:

a) propriedade da patente, garantida em tôda a sua plenitude;

b) uso das designações hierárquicas;

c) exercício da função correspondente ao posto ou graduação;

d) percepção do vencimento devido ao seu gráu hierárquico;

e) transporte com sua família e respectiva bagagem por conta do Estado, quando em objéto de

serviço;

f) transferência para a reserva ou reforma com os proventos na forma estabelecida no presente

Código;

g) uso privativo de uniforme, insignias e distintivos militares correspondentes ao posto,

graduação, quadro, função ou curso;

h) honras e tratamento que lhes forem devidos, além de outros benefícios que lhes sejam

assegurados;

i) julgamento em fôro especial nos delitos militares;

j) promoção;

l) dispensas do serviço;

m) férias e licenças;

n) recompensas;

o) demissão voluntária;

p) porte de armas, quando oficial;

q) constituição da herança militar;

r) requerer, representar, pedir reconsideração e recorrer;

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s) uso de traje civil, quando oficial ou aspirante a oficial; e

t) tratamento de saúde, até o completo restabelecimento, quando acometido de moléstia

adquirida no exercício de suas funções.

Art. 113. A perda do posto e patente só poderá efetivar-se por uma das seguintes causas:

a) perda da qualidade de cidadão brasileiro;

b) condenação à pena de prisão, superior a dois anos, imposta por sentença passada em

julgado; e

c) quando o Tribunal de Justiça do Estado confirmar a sentença do Conselho de Justiça, que

declarar o oficial indigno do oficialato ou com êle incompativel, nos casos previstos na

legislação penal, ou ainda quando o Tribunal de Justiça reconhecer que o mesmo professa

doutrinas nocivas à disciplina e à ordem pública ou, por palavras e atos, auxilie e faça

propaganda de princípios contrários as instituições sociais e políticas dominantes no País.

Art. 114. A praça com vitaliciedade presumida só perde a graduação e o direito à transferência

para a reserva remunerada ou à reforma, quando expulsa da Corporação.

[...]

PARTE II

Da Reserva Remunerada

Art. 157. É transferido para a reserva remunerada:

Art. 157. Serão transferidos compulsòriamente para a reserva remunerada o oficial que conte

ou venha a contar 35 anos de serviço público, o que atingir a idade limite estabelecida nesta

Lei e o que permanecer afastado da atividade militar ou policial por mais de 8 (oito) anos

contínuos ou não.

(Redação dada pela Lei 4543 de 31/01/1962)

§ 1º. Os oficiais alcançados por êste artigo serão transferidos para a reserva remunerada com

as seguintes vantagens:

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

I - Os coronéis, com os respectivos proventos acrescidos de importância correspondente à

diferença entre êste pôsto e o de Tenente Coronel; e

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

II - Os demais oficiais, no pôsto imediatamente superior e com os direitos e vantagens

correspondentes.

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

§ 2º. Os subtenentes e os 1ºs. sargentos alcançados por êste artigo passarão para a reserva

remunerada no pôsto de 2º. Tenente e com os direitos e vantagens correspondentes.

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

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§ 3º. Será ainda transferido compulsòriamente para a reserva o militar que, em consequência

de processo administrativo ou criminal no fôro militar ou civil, fôr reconhecido culpado de

delito em que o Código Militar Penal estabeleça pena que importe na passagem para a

inatividade.

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

§ 4º. Poderá ser transferido, a pedido, para a reserva remunerada, o militar que conte mais de:

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

I - 30 anos de serviço público, na forma do art. 158, da Constituição Estadual,

independentemente de inspeção de saúde e com os proventos integrais;

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962) (vide Lei 6417 de 03/07/1973)

II - 25 anos de serviço efetivo prestados à Corporação, com 10, pelo menos, como Rádio

Telegrafista, Rádio Técnico de Serviço de Telecomunicação, de operação direta com Raios X

ou substâncias rádio-ativas cujos proventos serão integrais; e

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

II - 25 (vinte e cinco) anos de serviço efetivo prestado à Corporação, com 10 (dez) pelo

menos, como músico, corneteiro, rádio telegrafista, rádio técnico de serviço de

telecomunicação, de operação direta com Raios "X" ou substâncias rádio-ativas, cujos

proventos serão integrais.

(Redação dada pela Lei 5384 de 19/08/1966)

III - 25 anos de serviço público, 15, pelo menos, prestados ao Estado do Paraná, com

proventos proporcionais à razão de 1/30 avos ... vetado ... do vencimento do pôsto ou

graduação da atividade e por ano de serviço.

(Incluído pela Lei 4543 de 31/01/1962)

I - FACULTATIVAMENTE, a pedido o militar:

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

a) que completar trinta e cinco anos de serviço, caso em que a transferência se operará no

posto imediatamente superior, com os direitos e vantagens correspondentes; o ocupante do

posto de coronel terá acrescimo nos seus proventos, igual à diferença de vencimento entre este

posto e o de tenente-coronel; os sub-tenentes e 1ºs. sargentos terão o posto de 2º tenente, com

os direitos e vantagens correspondentes;

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

b) que contar mais de trinta anos de serviço, transferencia que se operará com os vencimentos

e vantagens correspondentes ao posto ou graduação que ocupar;

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

c) que contar mais de vinte e cinco anos de serviço, transferencia que se operará com tantas

trigésimas partes do vencimento e vantagens, quantos forem os anos de serviço;

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

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d) que contar mais de vinte e cinco anos de serviço efetivo na Corporação e dez anos pelo

menos de operação diréta com raio X ou substâncias radioativas, transferencia que se dará

com vencimentos integrais e vantagens adquiridas.

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

II - COMPULSORIAMENTE, o militar:

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

a) que atingir o limite de idade fixado neste código;

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

b) que permanecer afastado da atividade militar ou policial por mais de oito anos,

consecutivos ou não; e

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

c) que, em consequência de processo administrativo ou criminal, no foro militar ou civil, for

reconhecido culpado de delito em que o Código Penal Militar estabeleça pena que importe na

passagem para a inatividade.

(Revogado pela Lei 4543 de 31/01/1962)

[...]

Art. 321. Este Código entrará em vigôr na data de sua publicação, revogadas as disposições

em contrário.

PALÁCIO DO GOVÊRNO EM CURITIBA, em 23 de Junho de 1954.

Bento Munhoz da Rocha Neto

Renato G. do Amaral Valente

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Portaria do Comando-Geral nº 825, de 26 de junho de 2009

Regula a movimentação de pessoal na PMPR

O Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado do Paraná, no uso das

atribuições que lhe confere o art. 4º da Lei Estadual nº 6.774, de 8 de janeiro de 1976

(Lei de Organização Básica da PMPR), tendo em vista o disposto nos arts. 17 e 18 da

Lei Estadual nº 1.943, de 23 de junho de 1954 (Código da PMPR), bem como o

contido no Decreto Estadual nº 2.833, de 22 de abril de 2004, e considerando:

- a conveniência em delegar aos escalões subordinados a resolução de assuntos

que prescindam da decisão desta autoridade;

- a necessidade da existência de controle centralizado de pessoal;

- a necessidade de disciplinar as movimentações que impliquem na concessão

de benefícios financeiros não-programados;

- a necessidade de padronização, em forma de conceitos, das diferentes

modalidades em que se processam as movimentações;

- a competência desta autoridade para classificar militar estadual em função

prevista nos Quadros de Organização (QOs), atribuindo vantagem financeira

correspondente à diferença entre o soldo devido ao grau hierárquico atinente à função

a ser exercida e o relativo ao posto ou graduação da função efetivamente

desempenhada, resolve:

Art. 1º Para efeito desta portaria são estabelecidos os seguintes conceitos:

I - efetivo: situação do militar estadual classificado para exercer uma função,

quando satisfaz os requisitos de grau hierárquico ou qualificação;

II - encargo: missão ou atribuição de serviços que, por sua generalidade,

peculiaridade, duração, vulto ou natureza, e por não se encontrar definida em QO ou

outro dispositivo legal, é cometida ao militar estadual mediante designação da

autoridade competente;

III - função: conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades cometidos a

um militar estadual em serviço ativo, sendo definida no QO e provida com pessoal que

satisfaça o grau hierárquico e as habilitações exigidas para o seu desempenho;

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IV - função combinada: compreende atribuições que, embora definidas para

duas ou mais funções, por conveniência da Administração Militar Estadual, são

cometidas no QO a apenas um militar estadual, podendo ser fracionada, a critério da

autoridade competente, como encargos a outros militares estaduais;

V - substituição: ato pelo qual o subordinado exerce função ou comissão, cujo

desempenho seja de posto ou graduação superior, após a devida autorização da

autoridade competente;

VI - movimentação: denominação genérica do ato administrativo realizado

com vistas a assegurar a presença do efetivo necessário à eficiência operacional e

administrativa da Corporação, atribuindo, ao militar estadual, comissão, encargo,

função, unidade ou fração de OPM, compreendendo:

a) classificação: modalidade de movimentação que atribui ao militar estadual

uma função, de acordo com seu posto ou graduação, definida no QO;

b) transferência: modalidade de movimentação do militar estadual de uma para

outra unidade, ou no âmbito de uma mesma OPM, ou ainda de uma para outra fração

de unidade, destacada ou não, e que se realiza por iniciativa da autoridade competente,

integrando-o ao estado efetivo;

c) designação: modalidade de movimentação de um militar estadual para:

1) realizar curso ou estágio em estabelecimento estranho ou não à Polícia

Militar, no país ou no exterior;

2) exercer comissão no país ou no exterior;

3) desempenhar encargo.

Parágrafo único. A movimentação implica ainda nos seguintes atos:

I - adição: ato administrativo, emanado da autoridade competente para fins

especificados, que vincula o militar estadual a uma unidade sem integrá-lo ao estado

efetivo desta;

II - à disposição: situação, devidamente autorizada pela autoridade

competente, em que se encontra o militar estadual a serviço de órgão ou autoridade a

que não esteja diretamente subordinado;

III - desligamento: ato administrativo pelo qual o militar estadual é

desvinculado da OPM em que serve ou da que se encontre adido;

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IV - dispensa: ato administrativo pelo qual o militar estadual deixa de exercer

comissão, encargo ou função para o qual tenha sido classificado ou designado

conforme o caso, ou ainda quando da conclusão de curso ou estágio.

Art. 2º Caberá ao Diretor de Pessoal:

I - proceder à movimentação de oficiais subalternos, praças especiais e praças,

obedecidos aos QOs em vigor;

II - conceder, a todo militar estadual, as respectivas vantagens financeiras em

virtude de movimentação;

III - designar os militares estaduais para os encargos decorrentes do

fracionamento de funções combinadas nos órgãos da Corporação.

§ 1º As indenizações de ajuda de custo e de transporte serão concedidas

mediante requerimento do interessado, consoante modelos definidos nos anexos I e II.

§ 2º As movimentações em suas diferentes modalidades, bem como os

desligamentos e as dispensas operarão efeitos financeiros a partir da data da assunção

ou da passagem da função ou encargo ou, ainda, do dia de início e término do curso,

estágio ou comissão.

Art. 3º Na movimentação de praça no âmbito da mesma unidade que implique

em ônus ao Estado caberá ao respectivo comandante, chefe ou diretor,

preliminarmente à realização do ato, encaminhar ao Diretor de Pessoal pedido

devidamente fundamentado, para as necessárias providências.

Art. 4º Os pedidos de classificação de militar estadual para exercer função de

posto ou graduação superior deverão ser acompanhados de certidão assinada pelo

respectivo comandante, chefe ou diretor, na forma do anexo III, contendo informação

acerca do atendimento pelo classificado do princípio da antiguidade relativa em face

de outro militar de semelhante grau hierárquico do mesmo quadro, bem como expressa

menção da inexistência na unidade de outro militar estadual sem classificação e de

posto ou graduação correspondente à função solicitada.

Art. 5º Caberá ao comandante, chefe ou diretor, em pedido fundamentado,

solicitar ao Diretor de Pessoal o fracionamento de função combinada com a

designação de militares estaduais para exercer os encargos dela decorrentes.

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Parágrafo único. O militar estadual ao ser designado para encargo na forma do

caput exercerá plenamente as atribuições decorrentes, dispondo inclusive de

competência disciplinar.

Art. 6º O militar estadual, ao ser designado para realizar curso em período

integral com duração superior a trinta dias, será movimentado para o órgão de apoio de

ensino e dispensado de sua função ou encargo, permanecendo na condição de adido.

Art. 7º Nos cursos em que a matrícula acarrete o desligamento do militar

estadual da unidade em que serve, encerradas as atividades, será ele movimentado de

acordo com a necessidade e conveniência do serviço.

Art. 8º Fica revogada a Portaria CG nº 789/DP, de 29 de agosto de 2007.

Coronel QOPM Anselmo José de Oliveira,

Comandante-Geral.

Publicada no Boletim Geral nº 119, de 26 de junho de 2009.