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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FERNANDA THAYS LEMOS APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FERNANDA THAYS LEMOS

APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA

PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

CURITIBA

2014

FERNANDA THAYS LEMOS

APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA

PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Andre Peixoto

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

FERNANDA THAYS LEMOS

APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA

PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____de________de 2014.

Prof. Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Doutor Andre Peixoto

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. ____________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof.____________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Dedico este trabalho aos meus pais, pois com

eles aprendi que o conhecimento é uma das

únicas coisas na vida que não perdemos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo que me concedeu.

À minha família, pelo apoio em minhas decisões, especialmente minha mãe, Marcia

Lovizotto Lages e meu pai, Edson Luiz Lemos, por todos os anos de amizade,

companheirismo, amor e por todo o esforço feito e apoio dado para que eu chegasse

ao término do curso.

Ao meu irmão, Gabriel Alves Lages Junior, pelo carinho e amor.

Ao meu marido, Ivan Rodrigues Santos, por toda a paciência e incentivo que foram

fundamentais para conclusão deste curso.

Aos amigos que compartilharam desses cinco anos de dedicação e zelo,

especialmente a Cássia Maria Marques, e nossa amizade maravilhosa durante esse

tempo, aprendendo a conviver com as diferenças uma da outra e a superar

obstáculos, sempre juntas.

Ao meu orientador, Professor Doutor Andre Peixoto, por todo incentivo, a amizade

construída durante o tempo e pela disponibilidade em transmitir seus conhecimentos

de maneira tão prestativa.

Agradeço a todos que fizeram parte dessa longa jornada, professores da

Universidade Tuiuti do Paraná, amigos e colegas que conquistei ao longo desse

período de cinco anos.

A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.

Hannah Arendt

RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade expor de maneira clara e objetiva os

principais problemas com relação à devida Aplicação dos Direitos Humanos no

Sistema Penitenciário Brasileiro. Tratando desde o histórico dos Direitos Humanos a

realização de pactos, os quais foram fundamentais para o surgimento deste, bem

como o lado histórico do sistema prisional, apresentando a devidas tipificações das

penas tais, pena restritiva de direito, pena restritiva de liberdade e pena de multa, o

surgimento do crime organizado dentro dos presídios, bem como do direito dos

presos. Dispondo de conceitos sobre a evolução do Direito, esta redação visa

verificar de qual maneira no Brasil vem sendo executada a garantia Constitucional

dada ao apenado que encontra-se em regime fechado e a maneira pela qual é

aplicada a garantia dos direitos humanos. Após o estudo dado ao tema, foi

observado que o sistema penitenciário hoje apresenta um verdadeiro caos, onde

não existe nenhuma garantia mínima de dignidade da pessoa humana após anos de

lutas para que fosse concedida devidamente tal garantia, até os dias de hoje

podemos observar que sua aplicação é extremamente falha. A sociedade trata o ex-

detento de maneira preconceituosa interferindo assim na sua futura ressocialização

ao buscar oportunidades no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Sistema Penitenciário. Pena. Direitos Humanos. Ressocialização.

Direito. Regime Fechado.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC) ............................ 26

Figura 2 - Rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel(PEC) ............................ 26

Figura 3 - Preso não identificado morto durante a rebelião na Penitenciária Estadual

de Cascavel(PEC). .................................................................................................... 27

Figura 4 - Partes de um detento não identificado queimado durante a rebelião na

Penitenciária Estadual de Cascavel(PEC). ............................................................... 28

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

a.C Antes de Cristo

art. Artigo

CF Constituição Federal

CFRB Constituição Federal da República Federativa do Brasil

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CPP Código de Processo Penal

CVRL Comando Vermelho

LEP Lei de Execução Penal

MIN Ministro

OEA Organização dos Estados Americanos

PEC Penitenciária Estadual de Cascavel

REL Relator

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJ Tribunal de Justiça

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

2 DIREITOS HUMANOS ..................................................................................... 12

2.1 EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ........................................................ 12

2.2 PACTO SAN JOSÉ DA COSTA RICA .............................................................. 13

2.3 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO ....................... 14

2.4 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS .............................. 15

3 DO SISTEMA PRISIONAL ............................................................................... 17

4 DA CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS ................................................................ 19

4.1 PENA RESTRITIVA DE DIREITOS .................................................................. 19

4.2 PENA DE MULTA ............................................................................................. 20

4.3 PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ................................................................. 20

5 DOS DIREITOS DOS APENADOS .................................................................. 22

5.1 DA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

BRASILEIRO ............................................................................................................. 23

6 CRIME ORGANIZADO ..................................................................................... 29

6.1 PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL ............................................................... 29

6.2 COMANDO VERMELHO .................................................................................. 30

7 DA RESSOCIALIZAÇÃO ................................................................................. 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 33

ANEXO A – Processos referentes ao PCC ............................................................... 35

ANEXO B – Processos referentes ao Comando Vermelho ...................................... 37

11

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem o intuito de esclarecer pontos essenciais sobre a

violação dos Direitos Fundamentais dos cidadãos que se encontram no processo de

cumprimento de pena restritiva de liberdade.

Ou seja, o não cumprimento dos Direitos Humanos os quais são devidamente

protegidos pela Constituição Federal e pela Lei de Execuções Penais, bem como a

falta de observância das devidas necessidades dos apenados .

Tal aplicação desses direitos consiste em preparar o apenado para uma volta

à sociedade de uma maneira reabilitada, assim é o que se deve esperar da

pretensão punitiva do Estado.

Discute-se veemente sobre o direito da Dignidade da Pessoa Humana

podendo ser analisado a partir da Constituição Federal, da legislação correlata, da

doutrina e da jurisprudência sobre o tema.

Por fim, o objetivo central é apontar as deficiências do sistema para a

ressocialização do apenado bem como a dificuldade de seu retorno à sociedade.

12

2 DIREITOS HUMANOS

Os Direitos Humanos são as garantias mínimas asseguradas a todos os seres

humanos, sem distinção de raça, etnia, nacionalidade, cultura ou qualquer outra

condição que venha diferenciar de outra classe, ou seja, os Direitos Humanos nada

mais são do que a garantia mínima da condição de ser humano.

Assim dizendo, os Direitos Humanos tem como sua base de origem o

conceito filosófico de direitos naturais os quais seriam concedidos por Deus.

Vejamos o entendimento de Canotilho (2002, p. 387):

É discutida a natureza destes direitos. Critica-se a pré-compreensão que lhes está subjacente, pois ela sugere a perda de relevância e até a substituição dos direitos de primeiras gerações. A ideia de generalidade geracional também não é totalmente correta: os direitos são de todas as gerações. Em terceiro lugar, não se trata apenas de direitos com um suporte coletivo – o direito dos povos, o direito da humanidade. Neste sentido se fala de solidarity rights, de direitos de solidariedade, sendo certo que a solidariedade já era uma dimensão ‘indimensionável’ dos direitos econômicos, sociais e culturais. Precisamente por isso, preferem hoje os autores falar de três dimensões de direitos do homem e não de três gerações.

A partir do momento em que o indivíduo passou a ser visto como um sujeito

de direitos e autonomia surge o fundamento para os direitos do homem. Assim,

como ensina Moraes (2008, p.19),

a noção de direitos fundamentais é mais antiga que o surgimento da ideia de constitucionalismo, que tão-somente consagrou a necessidade de insculpir um rol mínimo de direitos humanos em um documento escrito, derivado diretamente da soberana vontade popular.

Vemos que a Declaração de Direitos Humanos veio para garantir a todos os

cidadãos uma segurança mínima frente à devida aplicação do poder do Estado.

2.1 EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Os Direitos Humanos detém características importantes de (a) respeito pela

dignidade, (b) Universalidade, que tem como preceito a igualdade a todos (c) são

inalienáveis, não podendo um ser abrir mão da mínima condição humana de direito.

Desde a Antiguidade há uma luta constante para tentar garantir a aplicação de tais

13

Direitos. Assim de acordo com João Baptista Herkenho, desde a antiguidade luta-se

pelo reconhecimento de tais direitos, como podem ser assinalados: o Código de

Hammurabi (Babilônia, século XVIII a.C - antes de Cristo), o pensamento de

Amenófis IV (Egito, século XVI a. C.), a filosofia de Mêncio (China, século IV a.C.), a

República de Platão (Grécia, século IV a.C.), o Direito Romano e inúmeras

civilizações ancestrais.

Porém, os Direitos assegurados na Antiguidade não obtinham sua devida

aplicação até mesmo pelo poder conferido ao Estado, o qual não possuía qualquer

tipo de limitação.

Podemos observar que Atenas fora tida como o principal local do surgimento

de pensamentos políticos, pois era muito questionada perante todos, a ideia de

surgir algo como um Estatuto que fosse contra ou limitasse o poder auferido ao

Estado. No entendimento de Flavia Piovesan (2007, p. 113):

Os Estados comprometiam-se a assegurar condições justas e dignas de trabalho para os homens, mulheres e crianças. Estes dispositivos representavam um limite à concepção de soberania estatal absoluta, na medida em que a Convenção da Liga estabelecia sanções econômicas e militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas obrigações.

Até hoje, a conquista feita com relação à aplicação de tais Direitos decorreu

de lutas incessantes, injustiças sofridas por alguns buscando assim conceder a

todos sem qualquer distinção entre classe social, raça ou localidade.

2.2 PACTO SAN JOSÉ DA COSTA RICA

O Pacto de San José da Costa Rica foi assinado na data de 22 de novembro

de 1969 na cidade de San José em Costa Rica. Houve a realização da homologação

no Brasil em Setembro de 1922. Também conhecida como Americana de Direitos

Humanos, era composta por 81 Artigos, os quais buscavam garantir os direitos

fundamentais da pessoa humana independente de sua localização, assim

entendendo que buscou garantir não somente os direitos humanos, mas abranger o

direito como um todo. Vejamos o que consta no referido pacto:

14

[...] o direito a personalidade jurídica, o direito a vida, o direito a não ser submetido a escravidão, o direito a liberdade, o direito a um julgamento justo, o direito a uma compensação em caso de erro do judiciário, o direito a privacidade, o direito à liberdade de consciência e religião, o direito de liberdade de pensamento e expressão, o direito à resposta, o direito à liberdade de associação, o direito ao nome, o direito a nacionalidade, o direito à liberdade de movimento e residência, o direito de participar do governo, o direito à igualdade perante a lei e o direito à proteção judicial.

Tais direitos acima citados são resguardados pela Comissão Interamericana

de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana, os quais constam inseridos no

Pacto de San José da Costa Rica em seu Art. 33, parte II, capítulo VI.

A Corte Americana de Direitos Humanos foi criada para exercer competências

de caráter contencioso e consultivo. Refere-se a um Tribunal cuja composição é de

sete juízes nacionais dos Estados-membros da OEA, eleitos a título pessoal dentre

juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de

direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais

elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais

(art. 52 da Convenção Interamericana). Podemos observar o entendimento de Fábio

Konder Comparato:

Com efeito ela criou além de uma Comissão encarregada de investigar fatos de violação de suas normas, também um Tribunal especial para julgar os litígios daí decorrentes, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja jurisdição, no entanto, só é obrigatória para os Estados - Partes que a aceitem expressamente (art. 62,1º).

Todavia, o que diz respeito às denuncias apresentada a Comissão Interamericana de Direitos Humanos,[...]. Em sentido contrario, seguindo pacto de 1966, e não a Convenção Europeia, a Comissão Americana submete a prévia exigência do conhecimento da competência da Comissão o exame, por esta, de ‘ Comunicações em que um Estado- Parte alegue haver outro Estado – Parte incorrido em violação dos Direitos Humanos estabelecidos nesta Convenção´(art. 45,1º).

Assim, através do Decreto Legislativo 89 foi reconhecida a aplicabilidade da

Corte Interamericana de Direitos Humanos a toda interpretação ou aplicação da

mesma. Não obstante através do Decreto nº. 4.463, foi promulgada a competência

de maneira obrigatória da Corte.

2.3 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

15

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi proclamada em 26 de

Agosto de 1789, com o encerramento da sociedade feudal e a transição para a

Idade Moderna. A Revolução Francesa teve um papel fundamental pra o surgimento

desta Declaração, com o encerramento da Monarquia, que dividia-se em três

categorias: o clero, a nobreza e o povo. Estes eram regidos pelo Rei Luis XVI e o

povo que era tratado miseravelmente - diferente do clero e da nobreza que

possuíam privilégios e isenção de impostos - foi às ruas insatisfeito com as injustiças

decorrentes do sistema monárquico adotado, tendo dessa maneira a ideia de tomar

o poder. Podemos assumir que a Revolução Francesa foi um dos maiores

movimentos sociais que ocasionou o encerramento da era feudal e nos trouxe para

a Idade Moderna.

Segundo Ricardo Castilho (2010), em 1793 foi editado o documento com as

seguintes alterações: estendeu a concepção de liberdade aos negros; pela primeira

vez foram proclamados direitos sociais, os quais incluíram direito a instrução, ao

trabalho e a assistência; o documento também reconhecia o direito à insurreição, em

caso de violação dos direitos do povo.

Podemos dizer que a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão foi um

dos pilares para o desenvolvimento da tão conhecida Declaração Universal dos

Diretos Humanos.

2.4 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos teve sua publicação na data de

10 de dezembro de 1948, com publicação realizada pela ONU (Organização das

Nações Unidas). Após o massacre ocorrido na Segunda Guerra Mundial a

Declaração Universal do Direitos Humanos veio assegurar a aplicação de direitos

até então vistos de maneira longínqua, pois em apenas um documento constava a

garantia da devida aplicação de direitos culturais, civis, sociais, políticos e

econômicos. Vejamos o entendimento de Comparato:

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada unanimemente pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, condensou toda a riqueza dessa longa elaboração teórica, ao proclamar, em seu artigo VI, que todo homem tem direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. (COMPARATO, 2001, p.31).

16

Observando que a devida Declaração foi o primeiro instrumento internacional

que ramificou para todo o mundo. Nesse sentido, Bernardo Pereira nos diz:

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o primeiro documento a estabelecer internacionalmente os direitos inerentes a todos os homens e mulheres, independentemente das situações particulares de cada um, que devem ser observadas em todo o mundo.

Dessa maneira a Declaração procurou atingir amplamente todos os seres

humanos garantindo o conjunto de direitos e a universalidade a ser aplicada a todos,

sem nenhuma distinção.

17

3 DO SISTEMA PRISIONAL

Na antiguidade não existiam estabelecimentos prisionais, a prisão era feita

em calabouços e torres, não sendo seu caráter punitivo, mas sim de exercer o

controle sobre os réus até seu julgamento ou sua execução. Em tal época o direito

que se aplicava era o direito religioso e vingativo tendo como base a Lei de Talião ou

Código de Hamurabi que foi um dos primeiros norteadores do direito. Assim

podemos dizer:

As sanções da Idade Média estavam submetidas ao arbítrio dos governantes, que as impunham em função do "status" social a que pertencia o réu. A amputação dos braços, a forca, a roda e a guilhotina constituem o espetáculo favorito das multidões deste período histórico. Penas em que se promovia o espetáculo e a dor, como por exemplo a que o condenado era arrastado, seu ventre aberto, as entranhas arrancadas às pressas para que tivesse tempo de vê-las sendo lançadas ao fogo. Passaram a uma execução capital, a um novo tipo de mecanismo punitivo (MAGNABOSCO, 1998, p. 1).

Já na Idade Moderna, a pobreza se alastrou de uma maneira alarmante por

toda a Europa, assim contribuindo para o aumento da criminalidade. Devido ao

grande número de delinquentes, a pena de morte passou a ser descartada.

Assim por volta do Século XVI houve uma grande comoção para a construção

de prisões para que houvesse o devido internamento dos apenados, a fim de corrigi-

los através do trabalho e da disciplina devidamente aplicada aos detentos daquela

época.

As maneiras punitivas aplicadas ganharam muito destaque nas teorias sociais

do século XX. Assim dentro de todo esse meio surgiu um grande pensador, Michel

Foucault, que trouxe uma nova maneira de pensar sobre as punições aplicadas.

Vejamos o que diz Foucault:

O afrouxamento da severidade penal no decorrer dos últimos séculos é um fenômeno bem conhecido dos historiadores do direito. Entretanto, foi visto, durante muito tempo, de forma geral, como se fosse fenômeno quantitativo: menos sofrimento, mais suavidade, mais respeito e “humanidade”. Na verdade, tais modificações se fazem concomitantes ao deslocamento do objeto da ação punitiva. Redução de intensidade? Talvez. Mudança de objetivo, certamente. Se não é mais ao corpo que se dirige a punição, em suas formas mais duras, sobre o que, então, se exerce? [...] Pois não é mais o corpo, é a alma. À expiação que tripudia sobre o corpo deve suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade, as disposições (FOUCAULT, 1987, p. 18).

18

Dessa maneira podemos observar que a ideia de Foucault era de que fosse

aplicada uma nova reestruturação, que utilizasse de meios de intimidação do

condenado, mas também a prevenção pratica para que os mesmo não viessem a

ceder a criminalidade reiteradamente.

19

4 DA CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS

Podemos observar que hoje dentro do Direito Penal Brasileiro existem três

modalidades para a execução da pena, as quais são: em regime fechado,

semiaberto e aberto. Mas para podermos tratar da situação vista dentro do sistema

penitenciário, falaremos brevemente sobre cada uma delas.

O nosso objeto de estudo será a pena aplicado do regime fechado a qual nos

retira o condenado do seu convívio social sendo privado de sua locomoção.

4.1 PENA RESTRITIVA DE DIREITOS

A pena restritiva de direitos é uma medida alternativa para a punição mais

grave, ou seja a prisão. Está elencada no Art. 43 e seguintes do Código Penal, o que

o legislador observou com regime é que houvesse a devida condenação porém o

apenado não se restringisse a sair de sua rotina como trabalho, contato com sua

família. Vejamos o posicionamento de Mirabete:

Diante da já comentada falência da pena privativa de liberdade, que não atende aos anseios da ressocialização, a tendência moderna é procurar substitutivos penais para essa sanção, ao menos nos que se relacione com os crimes menos graves e aos criminosos cujo encarceramento não é aconselhável. (MIRABETE, 2003, p. 267)

Em outras palavras a pena restritiva de direitos é uma proibição temporária do

exercício dos mesmos, tais como desenvolver algumas atividades por certo período

ou até mesmo a prestação de serviços comunitários ou o pagamento de maneira

pecuniária. Segundo o autor Nucci (2009, p. 423) “é a proibição de exercício de

atividade pública ou privada, durante determinado tempo, bem como a suspensão

de autorização para dirigir certos veículos ou a proibição de frequentar determinados

lugares”.

20

4.2 PENA DE MULTA

Está prevista no Art. 49 do Código Penal, ao juiz é facultado valorar a

gravidade do delito quanto for realizar a condenação dos valores a serem pagos, a

lei nos diz um limite mínimo e máximo. Vejamos a fundamentação de Prado:

A pena de multa opera diminuição do patrimônio do indivíduo, consistindo na privação de uma parte do patrimônio do delinquente, imposta como pena. A perda de determina importância representa sua consistência material e a imposição retributiva à razão de ser da perda. Ela incide diretamente sobre bens, e nem mesmo de modo indireto poderá atingir a liberdade pessoal.(PRADO, 2005, p. 637)

Bittencourt também se posiciona sobre a referida pena de multa, vejamos:

A pena multa, através do louvável sistema dias-multa, atende de forma mais adequada aos objetivos da pena, sem as nefastas conseqüências da falida pena privativa de liberdade. É um dos institutos que inegavelmente, melhor responde aos postulados de política criminal com grande potencial em termos de resultado em relação à pequena criminalidade e alguma perspectiva em relação à criminalidade media.(BITENCOURT, 2011, p. 660)

Ao fixar a devida sentença, o juiz deverá considerar a situação financeira do

apenado, como também o grau de culpabilidade.

4.3 PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

A pena privativa de liberdade é uma das penas mais importantes de nosso

sistema prisional, pois retira o apenado do convívio social. Está prevista no Art. 33 e

seguintes do Código Penal.

Tal pena se desmembrará em detenção, reclusão e prisão simples. A

detenção deverá ser cumprida em regime semiaberto ou local aberto, já a reclusão

será desempenhada no regime fechado, semiaberto e aberto, já a prisão simples

deverá ser cumprida independente dos demais condenados. Vejamos o

posicionamento de Prado:

A diferenciação entre reclusão e detenção hoje se restringe quase que exclusivamente ao regime de cumprimento da pena, que na primeira hipótese deve ser feito em regime fechado, semi-aberto, enquanto na segunda alternativa – detenção admite-se a execução somente em regime

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semi-aberto ou aberto, segundo dispõe o artigo 33, caput, do código Penal. Contudo, é possível a transferência do condenado a pena de detenção para regime fechado, demonstrada a necessidade da medida. (PRADO, 2005, p. 576)

O autor Nucci em sua obra declara que:

São as penas de reclusão, detenção e prisão simples. As duas primeiras constituem decorrência da pratica de crimes e a terceira é aplicada a contravenções penais. As penas de prisão simples devem ser cumpridas, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.(NUCCI, 2010, p. 316)

Porém, temos que salientar que a pena restritiva de liberdade é a extrema

para a punição do apenado.

22

5 DOS DIREITOS DOS APENADOS

Os direitos concedidos aos apenados estão elencados na Constituição

Federal, na LEP e deverá ser observado à luz do Principio da Dignidade da Pessoa

Humana, de maneira que o apenado continuará a ser possuidor dos mesmos

direitos adquiridos quando cidadão comum, tais direitos não são atingidos pela

reclusão.

A finalidade da pena privativa de liberdade é tão somente a ressocialização

do condenado, para que posteriormente ocorra a reinserção social, processo que

introduz o indivíduo novamente à sociedade, já reabilitado. Ao entendimento de

Sarlet:

[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. (SARLET, 2012, p. 62)

Já no entendimento de Greco :

No entanto, mesmo reconhecendo a sua existência, conceituar dignidade da pessoa humana continua a ser um enorme desafio. Isto porque tal conceito encontra-se no rol daqueles considerados vagos e imprecisos. É um conceito, na verdade, que, desde a sua origem, encontra-se em um processo contínuo de construção. Não podemos, de modo algum, edificar um muro com a finalidade de dar contornos precisos a ele, justamente por ser um conceito aberto. (GRECO, 2011, p.67)

Assim, integram o rol de direitos dos presos os estabelecidos no art.41 da

LEP:

Art. 41 – Constituem direitos do preso:

I – alimentação suficiente e vestuário;

II – atribuição de trabalho e sua remuneração;

III – previdência social;

IV – constituição de pecúlio;

V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, descanso e a

recreação;

23

VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas

anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

VII – assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

VIII – proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX – entrevista pessoal e reservada com advogado;

X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

XI – chamamento nominal;

XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da

pena;

XIII – audiência especial com o diretor do estabelecimento;

XIV – representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

XV – contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da

leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os

bons costumes;

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da

responsabilidade da autoridade judiciária competente. [...].

Porém, para a maioria das pessoas pelo fato de o cidadão encontrar-se sem

sua liberdade, este também não é mais detentor de tais direitos, passando a ignorar

o fato que ser detentor da liberdade é um dos principais direitos do ser humano.

Assim podemos citar que um dos principais direitos feridos do apenado é o

direito a saúde, pois devido a superlotação, a facilidade de proliferação de doenças

é muito mais rápida, carecendo de uma alimentação adequada os apenados se

encontram com baixo índice de imunidade corporal assim ficando mais vulneráveis a

bactérias e viroses.

5.1 DA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

BRASILEIRO

O Sistema Penitenciário Brasileiro encontra-se deficiente em vários aspectos

que afetam diretamente os apenados que se encontram em regime fechado tendo

que cumprir sua pena. Tais problemas podem ser observados na área

administrativa, estrutural e jurisdicional. Os problemas hoje são inúmeros até mesmo

24

para pontuá-los. Já a sociedade torna-se cúmplice de um sistema falho onde o mais

conveniente é o desprezo pelos cidadãos que se encontram em um sistema

prisional. O Estado age com uma total discrepância, não buscando os meios

mínimos para sanar tal problema.

Apesar de o Sistema Prisional ter um alto custo, hoje a realidade dentro dos

sistemas prisionais é alarmante, a falta de higiene, assistência médica, jurídica, a

superlotação, e a facilidade para consumo de drogas dentro dos estabelecimentos

fere qualquer principio de aplicação de Direitos Humanos.

Hoje podemos dizer que tais problemas são crônicos, tal posicionamento

apoia se na leitura de César Barros Leal:

Evidente superlotação, que além de provocar amontoamento de presos, dificulta funções e serviços básicos, como alimentação, saúde, higiene, segurança, trabalho, educação, recreação e assistências em geral; Presos em delegacias ou cadeias públicas à espera de uma vaga nas prisões, eis que a insuficiência de vagas nos cárceres é situação rotineira; Situações estruturais totalmente comprometidas, com instalações inadequadas, celas sem lavatório, cama, colchões ou lençóis, com infiltrações, baratas, pulgas, percevejos e ratos, aonde não penetram raios do sol e onde o odor fétido de urina e excremento, acumulados em pequenas cubas ou sacos de plástico, torna-se insuportável, em completo abandono as mais elementares normas de higiene; Alto índice de doenças e absoluta ausência de tratamento médico; Reclusos sadios com doentes mentais, e estes últimos sem tratamento adequado e acorde com os preceitos médicos e legais; Elevada taxa de suicídios e homicídios realizados das mais aterrorizantes formas: presos decapitados, esquartejados, mutilados, degolados; Violência sexual, muitas vezes cometidas por presos diagnosticados como soropositivos ou aidéticos; Rebeliões, motins, e crime organizado, onde os próprios presos aplicam sanções, decidem quem deve viver ou morrer, comandam a extorsão, o narcotráfico e o mercado do sexo; Abuso de poder e corrupção de agentes penitenciários e autoridades que fazem cobrança ilegal de serviços e pagamentos de cotas por proteção ou para liberação de castigos físicos; Maus-tratos, torturas, castigos físicos, por parte dos agentes penitenciários e policiais; Presos cumprindo condenação superior à fixada na sentença, sem desfrutar de trabalho externo, liberdade condicional ou outros benefícios da lei; Presos sem condenação, ou que tenham sido absolvidos ou condenados a pena inferior ao tempo do encarceramento sem que recebam qualquer indenização; Presos tendo que ceder a própria esposa ou filha donzela, no dia de visita ao líder da cela, da rua ou do pavilhão, sob ameaça de represálias; Prisões onde mulheres e crianças são encarceradas junto com homens, e as autoridades fingem desconhecer estupro diário e sistemático de uma jovem de15 anos, detida numa cela com cerca de trinta presos, durante 24 dias, forçada a manter relações sexuais para não morrer de fome; Prisões onde jogam futebol com a cabeça de presos mortos; Prisões onde o trabalho é um prêmio e os internos ocupam seu tempo ocioso, perdido, tecendo os fios de rebeliões e fugas, que serão mais tarde exploradas por manchetes dos jornais e pelos noticiários da televisão que anunciarão de maneira destacada seu enfrentamento com a polícia e talvez seus óbitos; Prisões onde não há água potável e os alimentos que se servem, sem nenhuma regularidade, contêm resíduos fecais; Prisões onde os encarcerados se suicidam em protesto e dor e se amotinam ante a lentidão de seus processos.

25

Ademais podemos observar que não há previsão de eficácia em tal sistema

falho. Podemos dizer que hoje o sistema prisional nada mais é do que um grande

amontoamento de pessoas, aguardando uma posição de uma justiça falha, e um

grande realimentador de criminalidade.

A LEP em seu art.1º vem nos garantir que será efetiva a punição do apenado

bem como tal sistema deverá reintegrar o apenado na sociedade através da

ressocialização.

Mas o que podemos ver hoje, é que a realidade vivida pelos apenados não é

a que está garantida pela Constituição, pela LEP e demais fontes já citadas.

O grande número de detentos não vem acompanhando as vagas disponíveis

no nosso sistema prisional, assim podemos salientar as inúmeras tentativas de fuga

como as constantes rebeliões, tendo como um dos propósitos melhorias básicas tais

como, melhores condições de espaço, privacidade, higiene e alimentação. Os

objetivos a serem atingidos pela privação da liberdade do apenado não se

concretizam hoje devido a nossa realidade falha, e sim quando o apenado esta

dentro do sistema não perde somente sua liberdade, mas sim todos os seus direitos

como ser humano. A respeito vale destacar o entendimento de Bitencourt (2003,

p.54):

Quando a prisão converteu-se na principal resposta penológica, especialmente a partir do século XIX, acreditou-se que poderia ser um meio adequado para conseguir a reforma do delinqüente. Durante muitos anos imperou um ambiente otimista, predominando a firme convicção de que a prisão poderia ser meio idôneo para realizar todas as finalidades da pena e que, dentro de certas condições, seria possível reabilitar o delinqüente. Esse otimismo inicial desapareceu e atualmente predomina certa atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os resultados que se possam conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise. Essa crise abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade, visto que grande parte das críticas e questionamentos que se faz à prisão refere-se à impossibilidade absoluta ou relativa – de obter algum efeito positivo sobre o apenado.

Hoje podemos dizer que as prisões são fábricas de viciados em drogas,

delinquentes tornando-se um grande deposito de criminosos. Mesmo sendo trágica

a realidade do sistema, onde cada cela mantém de dois a cinco presos a mais que

sua capacidade comportaria, em alguns estabelecimentos a realidade chega a ser

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ainda mais alarmante, sendo detentos amontoados sem ao menos poder se

locomover dentro do recinto onde deverão passar a maior parte de seu tempo, este

por sinal, completamente ocioso.

Figura 1- Rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC)

Figura 2 - Rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel(PEC)

27

Em geral os presos mais novos ou menos perigosos são os que mais são

prejudicados, pois a eles são destinados os locais de maior degradação para a

devida habitação. Salientando também a ocorrência de agressões físicas e abusos

sexuais que ocorrem de maneira cotidiana dentro dos estabelecimentos prisionais,

os apenados em questão se vêem acuados, pois não há como solicitar um devido

pedido de socorro e muitas vezes se o fizerem, poderão pagar com suas próprias

vidas. Segundo Assis (2007, p.04):

A ocorrência de homicídios, abusos sexuais, espancamentos e extorsões são uma prática comum por parte dos presos que já estão mais “criminalizados” dentro da ambiente da prisão e que, em razão disso, exercem um domínio sobre os demais presos, que acabam subordinados a essa hierarquia paralela. Contribui para esse quadro o fato de não serem separados os marginais contumazes e sentenciados a longas penas dos condenados primários.

Figura 3 - Preso não identificado morto durante a rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel(PEC).

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Assim podemos observar claramente a violação dos Direitos Humanos.

Segundo Danielle Magnabosco (1998, p. 16),

a violência não é um desvio da prisão: violenta é a própria prisão. Não é possível eliminar a violência das prisões, senão, eliminando as próprias prisões. Mas a supressão das prisões será somente possível numa sociedade igualitária, na qual o homem não seja opressor do próprio homem e onde um conjunto de medidas e pressuposto anime a convivência sadia e solidária entre as pessoas.

Figura 4 - Partes de um detento não identificado queimado durante a rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel(PEC).

O papel do Estado com relação aos apenados é fazer valer os direitos dos

mesmos como cidadãos que se encontram em um verdadeiro abandono.

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6 CRIME ORGANIZADO

Que o crime organizado atua dentro dos estabelecimentos prisionais é de

conhecimento de todos, assim é pela violência onde se busca o controle dos

prisioneiros como um todo.

As duas maiores facções criminosas presentes hoje dentro dos

estabelecimentos prisionais são o Primeiro Comando da Capital também conhecido

como PCC e o Comando Vermelho Rogério Lemgruber, mais conhecido como

Comando Vermelho, ou pelas siglas CV e CVRL. Dessa maneira veremos a seguir

um breve histórico de cada uma das facções.

6.1 PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL

O Primeiro Comando da Capital vulgarmente como conhecido como PCC

surgiu em meados de agosto de 1993, fundado na casa de Custódia de Taubaté no

Estado de São Paulo. Tem como ideologia “combater a opressão dentro do sistema

prisional paulista e vingar a morte dos cento e onze presos” que se encontravam na

Extinta Casa de Detenção de São Paulo em 02 de outubro de 1992, no evento que

ficou conhecido como o “Massacre do Carandiru”.

O PCC hoje possui seu próprio Estatuto de normas, as quais todos os

associados e demais familiares devem cumprir. Os filiados também realizam o

pagamento de taxas mensais tanto para os que se encontram soltos quanto para os

que se encontram dentro do regime prisional, tal taxa é tabelada, sendo que a única

diferença é que o valor é mais baixo para quem encontra-se apreendido.

A liderança do partido hoje está concentrada no atual presidiário Marco

Willians Herbas Camacho conhecido como “Marcola”. O dinheiro arrecadado pelo

partido é utilizado na compra de armas e drogas as quais são repassadas para todo

o Brasil, além de financiar resgates.

Por oferecer mais segurança dentro dos presídios os apenados acabam se

associando, porém uma vez dentro do partido não é mais possível a retirada.

Vejamos alguns julgamentos referentes a associados ao PCC no Anexo A.

30

6.2 COMANDO VERMELHO

O Comando Vermelho surgiu em 1979, no Rio de Janeiro dentro do Instituto

Penal Cândido Mendes. Os presos associados, a grande maioria presos políticos,

eram conhecidos como integrantes da “Falange Vermelha”, os quais controlavam a

prostituição, cassinos, tráfico de drogas e inclusive tráfico de órgãos.

Entre os integrantes do Comando Vermelho que ficaram devidamente

conhecidos após sua prisão, estão Fernandinho Beira-Mar, Marcinho VP, e Elias

Maluco.

Fora instituído o “caixa comum” o qual era sustentado pelo crime cometido

por aqueles que se encontravam em liberdade, assim os valores arrecadados eram

utilizados para financiar resgates. Hoje o CVRL continua atuando. Vejamos

julgamentos referente a associados do Comando Vermelho ou CRVL no Anexo B.

31

7 DA RESSOCIALIZAÇÃO

Ocorre que ao adentrar no sistema prisional, o apenado não possui as

garantias mínimas para a devida reabilitação ou ressocialização, cujo objetivo é

preparar o mesmo para retornar à sociedade. O que na verdade ocorre é uma

marginalização do mesmo dentro do sistema prisional. Segundo o entendimento de

Roure (1998, p.15), “falar em reabilitação é quase o mesmo que falar em fantasia,

pois hoje é fato comprovado que as penitenciárias em vez de recuperar os presos os

tornam piores e menos propensos a se reintegrarem ao meio social”.

O apenado encontra muito preconceito ao sair do sistema prisional, hoje é

clara a tamanha discriminação por parte da sociedade num todo e até mesmo entre

empresários para realizar uma contratação de um ex-detento pois mesmo tendo

pago o que de fato devia ao Estado este se encontra com um histórico que irá

acompanhá-lo por longos anos. Assim vejamos o posicionamento de Greco:

Nunca devemos esquecer que os presos ainda são seres humanos e, nos países em que não é possível a aplicação das penas de morte e perpétua, em pouco ou em muito tempo, estarão de volta à sociedade. Assim, podemos contribuir para que voltem melhores ou piores. É nosso dever, portanto, minimizar o estigma carcerário, valorizando o ser humano que, embora tenha errado, continua a pertencer ao corpo social.”

Podemos observar a concepção de José Henrique Kaster Franco (2008, p. 1)

ao afirmar que: “[...] parte da doutrina não acredita na recuperação do agente,

apontando que o cárcere é um fator criminógeno, bastando verificar as elevadas

taxas de reincidência, que no Brasil variam entre 70 e 80%”.

No Brasil a taxa de reincidência é extremamente alta, dando se a entender

que a aplicação da pena restritiva de liberdade não preenche sua destinação.

32

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho estudamos os Direitos Humanos desde a sua raiz

passada para que pudéssemos acompanhar a sua evolução histórica, tanto quanto o

Pacto de San José da Costa Rica e a Declaração de Direitos dos Homens ambos de

extrema importância para a evolução dos Direitos Humanos.

Passamos para o estudo do Sistema Prisional Brasileiro, o qual estudamos

desde de sua história ate os tempos de hoje fazendo uma pontuação aos tipo de

penas que são aplicados dentro de nosso sistema, dos direitos dos apenados, bem

como a aplicação dos direitos humanos no sistema penitenciário assim fazendo uma

pontuação que a falta da devida aplicação nos ensejou a tratar sobre as o crime

organizado dentro do sistema prisional e a ressocialização do apenado.

Fazendo este estudo pude observar que por mais garantia legal que haja com

relação aos direitos dos cidadãos que se encontram dentro do sistema prisional, tal

fato não ocorre na pratica onde tais direitos como a dignidade da pessoa humana

deixam de ser lembrados ao conferir a dura realidade que há por traz das paredes

de um presidio.

Hoje dentro do sistema existe superlotação, falta de higiene, de alimentação

adequada, assistência médica, assim a proliferação de doenças é algo muito comum

pois não há condições mínimas para uma sobrevivência digna. Não esquecendo de

salientar a falta de privacidade, a qual expõem o apenado de maneira degradante.

Os detentos são dotados de grande ociosidade em seu tempo.

Hoje a grande maioria que sai do sistema, não demora a retornar fazendo

com que o principal objetivo da pena privativa de liberdade demostre uma

quantidade mínima de eficácia.

Há um claro preconceito da sociedade com relação aos ex detentos, mesmo

estes já estando quites com a lei, a falta de oportunidades contribui

consideravelmente para a reincidência.

33

REFERÊNCIAS

ASSIS, Rafael Damaceno de. A realidade atual do Sistema Penitenciário Brasileiro. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br>. Acesso em: 15 abr. 2010. BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. ______. Tratado de Direito Penal. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, v. 1, 2011. BRASIL. Decreto- Lei Nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Art. 41. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm>. Acesso em: 20 maio 2011. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 5. ed. Coimbra Portugal: Almedina, 2002. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral: (arts. 1º a 120), Volume I. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 388. CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos: Processo histórico – Evolução no mundo, Direitos Fundamentais: constitucionalismo contemporâneo. São Paulo: Saraiva. 2010. COMPARATO, Fábio Konder.. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes.1987. FRANCO, José Henrique Kaster. Execução da pena privativa de liberdade e ressocialização: Utopia?. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2009, 31 dez. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12153>. Acesso em: 20 fev. 2010. GRECO, Rogério. Direito humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo: Saraiva, 2011. GUERRA, Bernardo Pereira de Lucena Rodrigues. Direito Internacional dos Direitos Humanos: Nova Mentalidade Emergente Pós 1945. 22. ed. Curitiba: Jaruá, 2006. LEAL, César Barros. Execução Penal na América Latina à Luz dos Direitos Humanos: viagens pelos caminhos da dor. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 2010. MAGNABOSCO, Danielle. Sistema penitenciário brasileiro: aspectos sociológicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, dez. 1998. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br >. Acesso em: 27 mai. 2010. Manual de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

34

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 19. ed. Atlas: Ex.02, 2003. MORAES Alexandre de. Direito Constitucional. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2008. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. PACTO de San José da Costa Rica sobre direitos humanos completa 40 anos. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=116380> Acesso em 21 maio 2011.. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. ROURE, Denise de. Panorama dos Processos de Reabilitação de presos. Revista CONSULEX. Ano III, nº 20, Ago. 1998. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9. ed. São Paulo: Livraria do Advogado, 2012.

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ANEXO A – Processos referentes ao PCC

STF - HABEAS CORPUS HC 103716 SP (STF)

Data de publicação: 03/11/2011

Ementa: Ementa: PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. HABEAS

CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.

PERICULOSIDADE EVIDENCIADA PELO MODUS OPERANDI. PACIENTE

MEMBRO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

INOCORRÊNCIA. ORDEM INDEFERIDA. 1. A prisão preventiva se justifica quando

demonstrada sua real necessidade mediante a satisfação dos pressupostos a que

se refere o artigo 312 do CPP . 2. A periculosidade do agente concretamente

demonstrada, acrescida da possibilidade de reiteração criminosa e a participação

em organização criminosa são motivos idôneos para a manutenção da custódia

cautelar, a fim de garantir a ordem pública (HC n. 104.699/SP, 1ª Turma, Relatora a

Ministra Cármen Lúcia, DJ de 23.11.10 e HC n. 103.107/MT , 1ª Turma, Relator o

Ministro Dias Toffoli, DJ de 29.11.10). 3. In casu, a prisão preventiva foi

satisfatoriamente fundamentada na garantia da ordem pública, porquanto o paciente

é “portador de vasta e perigosa antecedência infracional, ocupante de elevado status

na hierarquia da facção criminosa que se intitula Primeiro Comando da Capital

(PCC), da qual é ocupante malgrado custodiado em unidade prisional de regime

disciplinar diferenciado”. Ademais, foi constatado que o paciente, mesmo preso,

vinha negociando o tráfico de drogas por meio de telefone celular. 4. Atos que

implicaram a interceptação telefônica não podem ser examinados no presente writ,

sob pena de supressão de instância, uma vez que a matéria não foi conhecida pelo

STJ. Precedentes : HC 100595/SP , Relatora Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma,

julgado em 22/2/2011, DJ de 9/3/2011; HC 100616/SP, Relator Min. JOAQUIM

BARBOSA, Segunda Turma, Julgamento em 08/02/2011, DJ de 14/3/2011; HC

103835/SP Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, Julgamento

em 14/12/2010, DJ de 8/2/2011; HC 98616/SP, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Órgão

Julgador: Primeira Turma, Julgamento em 14/12/2010. 5. Ordem denegada.

36

STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS AgRg no HC 255748

SP 2012/0207135-4 (STJ)

Data de publicação: 26/08/2014

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL

PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. ART. 121, § 2º, INCISOS I E IV, COMBINADO

COM ART. 29, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. DIREITO DE RECORRER EM

LIBERDADE. PRISÃO CAUTELAR. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E

APLICAÇÃO DA LEI PENAL. MODUS OPERANDI E FUGA DO DISTRITO DA

CULPA. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. INSUFICIÊNCIA. MOTIVAÇÃO

IDÔNEA. NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA PRISÃO. I - A prisão cautelar, a

teor do art. 5º, inciso LVII, da Constituição da República, é medida excepcional de

privação de liberdade, cuja adoção somente é possível quando as circunstâncias do

caso concreto, devidamente fundamentadas no art. 312, do Código de Processo

Penal, demonstrarem sua imprescindibilidade. II - A decisão que determinou a

segregação provisória foi devidamente fundamentada para garantia da ordem

pública e para aplicação da lei penal, uma vez que há registro de várias fugas do

distrito da culpa, motivo que deixa claro a intenção do agente em furtar-se da

aplicação da lei penal, bem como ficou evidenciada a periculosidade concreta do

paciente, notadamente pelo modus operandi perpetrado na conduta delitiva - uso de

metralhadora, em que a vítima foi atingida por vários disparos -, além do que há

indícios que o paciente seja membro da organização criminosa conhecida como

Primeiro Comando da Capital - PCC, circunstâncias que evidenciam a real

necessidade na manutenção da custódia cautelar. Precedentes. III - A presença de

condições favoráveis, tais como residência fixa, primariedade e ocupação lícita,

embora devam ser devidamente valoradas, não são suficientes, por si sós, para

obstar a decretação da prisão cautelar, quando, devidamente embasada nos

fundamentos do art. 312 do Código de Processo Penal, esta mostrar-se necessária.

VI - A decisão agravada não merece reparos, porquanto proferida em consonância

com a jurisprudência desta Corte Superior. Precedentes. V - Agravo Regimental

improvido.

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ANEXO B – Processos referentes ao Comando Vermelho

Processo: HC 89761 RJRelator(a): Min. CEZAR PELUSO

Julgamento: 03/04/2007 Órgão Julgador: Segunda Turma

Publicação: DJe-032 DIVULG 06-06-2007 PUBLIC 08-06-2007 DJ 08-06-

2007 PP-00047 EMENT VOL-02279-03 PP-00550 Parte(s):MARCELO DA SILVA

SOARES CELSO SILVA DA CRUZ E OUTRO(A/S) SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA Ementa:

AÇÃO PENAL. Prisão preventiva. Legalidade. Organização criminosa.

"Comando vermelho". Réus presos. Fase final do cumprimento de penas por tráfico

ilícito de entorpecentes e associação para o tráfico. Novos delitos que teriam sido

cometidos dentro da penitenciária, mediante uso de telefone celular. Perigo concreto

de fuga. Garantia da aplicação da lei penal. Constrangimento ilegal não

caracterizado. HC denegado. Aplicação do art. 312 do CPP. È legal a prisão

preventiva de réu que, dentro de penitenciária, em fase final de cumprimento de

pena por tráfico ilícito de entorpecente e associação para o tráfico, teria cometido

novos delitos da espécie, mediante uso de telefone celular. 2. AÇÃO PENAL.

Excesso de prazo. Não caracterização. Multiplicidade de réus. Perícia requerida pela

defesa. Retardamento não imputável a deficiência da máquina judiciária. HC

denegado. Precedentes. Não caracteriza constrangimento ilegal o excesso de prazo

que decorra só de culpa da defesa e da complexidade do processo.

0008770-26.2013.8.19.0000 - HABEAS CORPUS - 2ª Ementa

DES. MARCUS BASÍLIO - Julgamento: 16/04/2013 - PRIMEIRA CÂMARA

CRIMINAL. EMENTA: EXECUÇÃO PENAL. TRANSFERÊNCIA DE PRESO

CONDENADO PARA PRESÍDIO FEDERAL DE SEGURANÇA MÁXIMA.

POSSIBILIDADE. LEI 11671/2008. RENOVAÇÃO. POSSIBILIDADE.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DO STF. Ainda que não se controverta de que em

regra o preso deve cumprir a pena respectiva no local em que o crime foi praticado,

perto de sua família, o que se mostra adequado na busca da finalidade da pena da

ressocialização, a Lei 11671/2008 e a jurisprudência pacífica dos Tribunais

Superiores autorizam a transferência para presídio federal de segurança máxima

38

quando a necessidade da medida excepcional se justifique através de dados

concretos, o que efetivamente ocorreu na hipótese presente, eis que demonstrado o

envolvimento direto e efetivo do apenado na organização criminosa, sendo o mesmo

um dos principais lideres da Facção Comando Vermelho. Decisão fundamentada.

Jurisprudência do STJ e do STF. Recurso desprovido. Íntegra do Acórdão - Data de

Julgamento: 16/04/2013 Decisão Monocrática - Data de Julgamento: 22/02/2013.