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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Cláudia da Silva Rotava O USO DE ALGEMAS EM PLENÁRIO E A SÚMULA VINCULANTE CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Cláudia da Silva Rotava

O USO DE ALGEMAS EM PLENÁRIO E A SÚMULA VINCULANTE

CURITIBA

2010

O USO DE ALGEMAS EM PLENÁRIO E A SÚMULA VINCULANTE

Curitiba

2010

Cláudia da Silva Rotava

O USO DE ALGEMAS EM PLENÁRIO E A SÚMULA VINCULANTE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Ribeiro Surdi de Avelar

Curitiba

2010

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................10

2. OBJETIVO GERAL.....................................................................................................12

2.1 OBJETIVO ESPECÍFICO..........................................................................................12

3. HISTÓRIA DA ALGEMA............................................................................................12

3.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................12

3.2 EVOLUÇÃO E ESPÉCIES..,,,,,,,,,,,,,,,,,,....................................................................13

3.3 ALGEMAS NO SIETEMA JURÍDICO........................................................................15

3.3.1 Histórico Legislativo...............................................................................................15

3.4 PREVISÃO LEGAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO......................17

3.4.1 Código de Processo Penal.....................................................................................17

3.5 DA BUSCA PESSOAL.............................................................................................19

3.5.1 Da Condução coercitiva.........................................................................................19

3.6 LEI Nº. 9.099/95 E A PRISÃO EM FLAGRANTE.....................................................20

3.7 DO CÓDIGO DE PROCESSO MILITAR...................................................................20

3.8 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL..............................................................................23

3.9 DOS PROJETOS DE LEI..........................................................................................24

4.0 DA SÚMULA VINCULANTE Nº. 11 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A

UTILIZAÇÃO DAS ALGEMAS EM PLENÁRIO.............................................................26

4.1 DO ANTEPROJETO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL..................................39

5.0 CONCLUSÃO...........................................................................................................41

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................42

7.0 ANEXOS...................................................................................................................45

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, pois sem ele não estaria aqui hoje, meu amigo fiel, que sempre está comigo me capacitando de maneira sobrenatural, pelo dom da vida, por ser fonte de paz e força para enfrentar os obstáculos da vida acadêmica, e por me manter com saúde e forças ao longo da minha caminhada.

A minha mãe, Ida, uma pessoa que merece

profunda admiração, possuidora de uma força tamanha, que poucos poderão alcançar, é meu alicerce, me dá força, dedicação, carinho e apoio, meu porto seguro que me incentiva a continuar lutando.

Aos Mestres, por não se furtarem momento

algum de compartilhar a gama de conhecimentos que possuem, pela competência e profissionalismo, pelo companheirismo e dedicação e em especial por nos capacitarem para a prática desta nova profissão.

Ao meu orientador, Daniel Ribeiro Surdi de

Avelar, não apenas um orientador de corredores de faculdade, mas sim um profissional admirável por muitos e também ao decorrer dos anos um amigo, que com seu conhecimento, atenção dispensada, dedicação e ensino tornou possível a elaboração deste trabalho.

A todos vocês sou eternamente grata, por

apoiarem e acreditarem em mim.

Dedicatória A minha mãe que me ensinou a acreditar

que os objetivos de uma pessoa são totalmente possíveis de serem alcançados, com o auxílio e a vontade de Deus.

A todos aqueles que me acompanharam ao

longo desta jornada, e me ajudaram direta ou indiretamente, a alcançar essa meta e contribuíram para esse momento.

TERMO DE APROVAÇÃO

Cláudia da Silva Rotava

O USO DE ALGEMAS EM PLENÁRIO E A SÚMULA VINCULANTE

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela seguinte Banca Examinadora do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,_____de____________de 2010.

_________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

_________________________________ Orientador: Prof. Dr. Daniel Ribeiro Surdi de Avelar Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná

RESUMO O objeto deste trabalho é proporcionar um estudo a respeito do uso de algemas, ou seja, a discussão que se fez em torno da Lei 11.689 de 09 de junho de 2008, mais especificadamente e da Súmula Vinculante nº. 11 do Supremo Tribunal Federal. A principal atribuição desse instituto é demonstrar a real necessidade da utilização deste objeto. A discussão entre juristas é polemica a respeito do fato. Como fonte utiliza a pesquisa bibliográfica focada principalmente em artigos e comentários de juristas. Palavras-chave: Algemas; Súmula Vinculante nº 11 STF; Lei 11.689/08.

10

INTRODUÇÃO

No Brasil o sistema jurídico contempla o Código Penal Brasileiro, decreto-lei

nº. 2.848 de 07 de dezembro de 1940, que dispõe de diversos capítulos específicos,

onde há variados artigos aplicáveis a cada situação, sendo que o individuo que é

preso em flagrante ou coloca em risco a sociedade no momento do delito necessita

de algemas.

O presente estudo tem por objetivo demonstrar o uso de algemas em

plenário, com base na Lei nº. 11.689/2008 e na súmula vinculante nº. 11 que

recentemente foi regulamentado pelo Supremo Tribunal Federal.

O assunto a ser tratado sempre teve entendimentos diversos na doutrina.

Segundo o Supremo Tribunal Federal o uso de algemas é inconstitucional, pois

atinge o direito a privacidade que proíbe a violação da dignidade da pessoa humana,

de imagem, tratamento desumano e degradante do indivíduo e o respeito físico e

moral do preso.

Etimologicamente a palavra algema provém do vocábulo árabe “al-djamia” e

seu significado é “a pulseira”; o dicionário eletrônico Houaiss define “instrumento de

ferro, constituído basicamente por duas argolas interligadas, para prender alguém

pelos pulsos ou pelos tornozelos”.

Também consta a palavra grilhões que deriva do espanhol “grillos”.

A partir do século XVI1 esta expressão se torna comum, apesar de que já se

usava grilhões ou simplesmente ferros.

Entende-se por algemas o instrumento de força, em geral metálico,

empregado pela Justiça Penal, "com que se prendem os braços" de alguém, "pelos

1 Conf. Machado, José Pedro, "Dicionário etimológico da língua portuguesa", Lisboa, L. Horizonte,

3ª. ed. 1977, v 1, p. 196.

11

punhos"2, na frente ou atrás do corpo, ao ensejo de sua prisão, custódia, condução,

ou em caso de simples contenção.

Conforme o Dicionário Aurélio, descreve-se “sucessão de anéis ou elos de

metal ligados uns aos outros; corrente grilhão.

Tem-se como expressão inglesa handcuffs, denomina-se do antigo anglo-

saxão hand cop3, que significa prender as mãos, ainda surgiram os termos que

designam policiais, cop nos EUA e copper no Reino Unido.

2 Conf. Moraes Silva, Antonio. "Dicionário da língua portuguesa"

3 Disponível em < http://www.handcuffs.org/strand_1894>. Acessado em 10/02/2010.

12

2. OBJETIVO GERAL

O presente estudo tem por objetivo demonstrar o uso de algemas em

plenário, com base na Lei nº. 11.689/2008 e na súmula vinculante nº. 11 que

recentemente foi regulamentado pelo Supremo Tribunal Federal.

2.1 OBJETIVO ESPECÍFICO

O foco central deste estudo tem por finalidade a demonstração de diversos

entendimentos a respeito do uso de algemas, após a Súmula nº. 11 do STF.

3. HISTÓRIA DA ALGEMA

3.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A mitologia grega nos apresenta o uso de algemas.

Conforme a lenda mitológica Sísifo comentava a respeito da vida das

pessoas; em certo dia disse injúrias em desfavor das pessoas de Zeus, afirmando

que ele havia se apaixonado e fugido com a filha de Asopus. Zeus, no entanto

solicitou a Hades que fosse aplicado uma penitência a Sísifo viu que Hades trazia

consigo um par de algemas Sísifo usando-se de sua esperteza pediu a Hades que

lhe demonstrasse como o objeto funcionava, enquanto Hades ingenuamente

colocava as algemas no punho, Sísifo as fechou e o manteve algemado em sua

própria casa, assim durante o tempo que Hades permanecesse preso ninguém

more ria, pois ele era o deus do inferno. 4

O objeto em estudo na época era de valor acessível e não se tinha

dificuldades de ser encontradas, porém tinha seus problemas.

4 < http://www.omarrare.uerj.br/numero10/pdfs/mirian.pdf>Acessado em 15/02/2010.

13

Uma de suas dificuldades era em relação ao material utilizado, como era

muito fraco ofereciam pouca segurança, pois poderiam facilmente ser rompidas

pelos próprios usuários, em contrapartida se usadas com aperto excessivo poderiam

causar ferimentos.

Consta que os grilhões eram muito mais trabalhosos para se remover, pois

prendiam de modo firme pulsos e tornozelos dos prisioneiros, que em variadas

situações eram usadas barras metálicas ou correntes para serem ligados entre si.

Um problema comum da maioria dos grilhões era o diâmetro fixo de suas

grilhetas, peças que faziam parte para prender pulsos ou tornozelos, ou seja, as

pessoas que tinham pulsos ou mãos mais finos que a média necessitava ter

grilhetas de menor diâmetro, as quais fossem utilizadas para uma pessoas de porte

físico mais avantajado, poderiam causar dor, desconforto e danos de grande

relevância.

A Bíblia traz diversas referências que demonstram como eram usadas as

algemas, confeccionadas em metal com variadas nomenclaturas grilhões, cadeias e

o próprio termo algemas. 5

3.2 EVOLUÇÃO E ESPÉCIES

As algemas foram evoluindo, em sua forma e sendo cada vez mais utilizadas

por diversas sociedades.

5 “Timóteo 2, 1:16,(...) porque muitas vezes me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas

algemas.” “Timóteo 2, 2:9, pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada.” “Lucas 8:29, E embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões (...).”Marcos 5:3, o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo.” “Marcos 5:4, porque, tenho sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram quebradas por Ele e os grilhões despedaçados (...).” “ Atos 12:6, (...) naquela mesma noite Pedro dormia entre dois soldados , acorrentado com duas cadeias, e sentinelas à porta guardavam o cárcere.” “Atos 12:7, (...) Então as cadeias caíram-lhe das mãos.” “ Salmos 149:8 Para prenderem os seus reis com cadeias, e os seus nobres com grilhões de ferro” “(grifos nossos) Disponível em http://www.bibliaonline.com.br/ Acessado em 10/02/2010

14

Além daquele composto de duas grilhetas, corrente ou uma barra, surgiu

também a “figura-de-oito”. 6 Formado por duas peças de metal, cada peça lembrava

o algarismo três e quando fechada parecia o algarismo oito.

Também outro modelo foi chamado de cifrão ou dólar, forma-se por uma

barra de ferro, curvada levemente com outra barra lembrando a letra S, fixa a um

eixo central.

Porém esses modelos provocavam muito desconforto aos imobilizados, pois

não havia distância entre os pulsos.

Em 1880, começaram a surgir algemas realmente ajustáveis, nos Estados

Unidos, onde seu funcionamento firmava-se numa catraca dentro do mecanismo e

em dentes num dos lados do semi-arco móvel, que imobilizava o pulso do detido.

Essa catraca só operava para o mesmo lado, permitindo assim que o semi-arco

fosse colocado no mecanismo e prendendo cada dente sucessivamente, até atingir

um perfeito ajuste. 7

No entanto este modelo carregava consigo um problema, era quanto ao

semi-arco, para que as algemas fossem empregadas, careciam já estar abertas,

assim os policias deveriam carregá-las abertas para usá-las imediatamente, ou

teriam que se valer de chaves para destravá-las.

Somente em 1920 começaram a surgir algemas do tipo mais moderno, onde

o semi-arco fixo é duplo, formado por duas peças metálicas curvada por entre as

quais a parte móvel, dentada pode passar. “Cada uma delas possui uma parte

móvel, dentada, que, ao ser introduzida no corpo da algema, passa por uma catraca

que não permite que se abra, salvo através do uso da chave”.8

6 Disponível em <www. handcuffs.org> Acessado em 15/02/2010

7 Manual Operacional do Policial Civil: doutrina, legislação e modelos. P.195.

8 Ibidem. mesma página.

15

Nessa mesma época surgiram as algemas com travas, onde um dos

objetivos era impedir que uma vez obtido o ajuste , as algemas sejam mais fixadas

do que o necessário nos pulsos do detido.9

Uma variante em algemas é aquela para polegares. 10

Durante a Inquisição, aparelhos desse tipo foram usados como instrumentos

de tortura, cujo nome “esmagador de polegares” 11 com a finalidade de quebrar e

inutilizar dedos de pessoas acusadas de bruxaria e outras supostas práticas

negativas. 12

Atualmente há algemas que são recobertas por camadas de polietileno, para

evitar qualquer lesão na pessoa que está sendo contida, porém não é confeccionado

no Brasil, o que dificulta o seu uso pelas polícias brasileiras.

A polícia norte-americana utiliza algemas descartáveis para a contenção de

pessoas não-violentas.

No Brasil, somente são usadas para casos em que algemas comuns não

sejam suficientes para a contenção de um grande número de pessoas, ou ainda, em

razão da obesidade ou outros problemas físicos, que não permitam o uso das

algemas tradicionais.

3.3 ALGEMAS NO SISTEMA JURÍDICO

3.3.1 HISTÓRICO LEGISLATIVO

O emprego de algemas está regulamentado em nosso ordenamento jurídico,

onde cabe destacar algumas leis referentes ao tema.

9 Disponível em < http://www.rossi.com.br/algemas.php> Acessado em 15/02/2010.

10 Manual Operacional do Policial Civil: doutrina, legislação e modelos. P.195.

11 < http://www.slideshare.net/gbenedet/santa-inquisio> Acessado em 15/02/2010

12 GENTILI, Franco. Tortura: instrumentos medievais. P.24.

16

Na história consta que criminosos, em sua maioria, eram mantidos presos

apenas enquanto aguardavam julgamento ou a execução das sentenças,

geralmente pecuniárias, de trabalhos forçados, castigos físicos ou morte por

suplício. 13

Foi editado por D. Pedro, enquanto príncipe Regente, um Decreto em

23/05/1821, referente às penas e sofrimentos. Esse Decreto ficava longe da

realidade da época e Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, assim o comenta:

“Na Exposição de Motivos verberam alguns governadores, juízes criminais e magistrados, os quais „(...) violando o Sagrado Depósito da Jurisdição, que se lhes confiou, mandam prender por mero arbítrio, e antes da culpa formada, pretextando denúncias em segredo, suspeitas veementes e outros motivos horrorosos à humanidade, para impunemente conservar em masmorras, vergados com o peso de ferros, homens que se congregam convidados pelos bens, que lhes oferecera a Instituição das Sociedades Civis o primeiro dos quais é, sem dúvida, a segurança individual (...)””.

14

Continua o autor, avaliando sobre prisões que não deveriam servir de

objetivo flagelo a quem quer que seja.

No Brasil, “a legislação penal do Império, em certos pontos, dominada ainda

pelos preceitos bárbaros do direito medieval, conheceu a pena de galés”.15

Os aprisionados a essa pena, ficavam sujeitos pelo Código Criminal do

Império de 1830, a andarem com calceta no pé e corrente de ferro, juntos ou

separados, salvo as mulheres e os menores de 21 e maiores de 60 anos.

O Código de Processo Criminal do Império autorizava, ainda, “o executor da

ordem de prisão a empregar o grau de força necessária para efetuar a prisão,

explicando mesmo o uso de armas, para defesa própria, considerando-se justificável

o ferimento ou a morte do réu”. 16

13

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. P. 33 e SS. 14

Emprego de Algemas. P.276 15

LIMA, Herotides da Silva. O Emprego de Algemas. P. 37. 16

VIEIRA, Luis Guilherme. Abuso de autoridade. http://www.nossacasa.net/recomeco/0033.htm Acessado em 16/02/2010

17

Durante a vigência do Código, foi editado um Decreto de nº. 4.824, de 22 de

novembro de 1871, proibindo expressamente o deslocamento de presos com ferros,

algemas ou cordas, salvo o caso extremo de segurança, que deveria ser justificado

pelo condutor sob pena de multa.

3.4 PREVISÃO LEGAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.4.1 Código de Processo Penal

Por volta de 1935, quando foi criado o Código de Processo Penal, descrevia

em seu artigo 32 que é vedado o uso de força ou emprego de algemas, ou de meios

análogos, salvo se o preso resistir ou tentar se evadir-se.

No entanto, esse projeto não seguiu adiante, justificando José Frederico

Marques, que: “A Constituição promulgada com o golpe de Estado de 10 de

novembro de 1937 impediu que a provação e discussão do projeto Vicente Ráo

fossem levados avante”. 17

Neste mesmo caminho, Hélio Tornaghi, autor de um projeto sem sucesso,

exposto no ciclo de conferências sobre o Anteprojeto do código de Processo Penal

Brasileiro, realizado por ele na Faculdade de direito da Universidade de São Paulo.18

Segue:

Artigo 453, in verbis - Não será permitido o emprego da força, salvo a indispensável o caso de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência por parte de terceiros, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para vencê-la e para defender-se. De tudo se lavrará auto. Subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

17

Tratado de direito Processual Penal, § 83. 18

Sala João Mendes Júnior da Faculdade de Direito da Universidade de são Paulo. Realizado de outubro de 1964 a janeiro de 1965. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1966.

18

Salientamos que o nosso Código de Processo Penal, datado de 03/10/1940,

foi aprovado sem trabalhar expressamente o uso das algemas. Apenas no artigo 284

do CPP, não será permitido o emprego de força salvo a indispensável no caso de

resistência ou tentativa de fuga do preso e, ainda, o artigo 292 do mesmo

ordenamento se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em

flagrante ou determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o

auxiliarem poderá usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a

resistência, do que tudo lavrará auto, subscrito também por duas testemunhas.

Herotides da Silva Lima19 nos deixa claro que a palavra força no artigo 284

do CPP acima mencionado não representa apenas capacidade física, no entanto

essa palavra tem sentido geral e amplo para obter o domínio necessário para

combater a possível insubordinação ou tentativa de fuga.

Também Luiz Flávio Gomes destaca três requisitos que devem estar

presentes para a justificação do uso da força, indispensabilidade da medida,

necessidade do meio e justificação teleológica e ainda, quando é utilizadas as

algemas, enfim tudo se resume no princípio da proporcionalidade, que exige

adequação, necessidade e ponderação que estão presentes no direito Processual

Penal em razão do artigo 3º do CPP.20

Com a reforma do procedimento do Júri, no ano de 2008, feita através da Lei

nº. 11.689, de nove de junho de 2008, que o termo “algemas” surgiu no Código de

Processo Penal.

Após 67 anos de diversas discussões polêmicas por meio dos artigos 474

que declara “a seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na forma

estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I deste Código, com alterações

19

O Emprego de Algemas. p. 39 e ss. 20

O uso de algemas em nosso país está devidamente disciplinado? Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2921 Acessado em 18/02/2010

19

introduzidas nesta seção”, ainda, parágrafo 3º ”não se permitirá o uso de algemas

no acusado durante o período em que permanecer no plenário do Júri, salvo se

absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou

á garantia da integridade física dos presentes” e o artigo 478 foi introduzido no

ordenamento jurídico, deste modo, “durante os debates as partes não poderão, sob

pena de nulidade, fazer referências”, continuando em seu inciso primeiro “à decisão

de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à

determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou

prejudiquem o acusado”.

3.5 DA BUSCA PESSOAL

Encontra-se no artigo 244 do Código de Processo Penal “a autorização

para se realizar busca pessoal, independente de mandado judicial, quando houver

fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de documentou ou objetos que

constituam o corpo de delito”.

Em caso de resistência da pessoa, poderá ser algemada, para se evitar

graves transtornos.

3.5.1 Da Condução coercitiva

Condução coercitiva significa levar alguém a algum lugar contra sua

vontade, inclusive fazendo uso, se necessário das algemas.

Através do artigo 218 do Código de Processo Penal se tem a autorização

da condução coercitiva da testemunha que, regularmente intimada, deixa de

comparecer sem motivo justificado.

20

Também, há previsão no Código de Processo Penal, artigo 210, parágrafo

único, para o próprio ofendido que não comparecer, artigo 260 para o acusado, e

para o perito artigo 278, ambos do mesmo codex.

A Lei nº. 9.099/95 prevê em seu artigo 34 § 2º, “não comparecendo a

testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua imediata condução, valendo-se,

se necessário, do concurso da força pública”.

Ocorre, no caso da condução coercitiva, um caso sui generis, de certo modo

a testemunha sofre uma restrição em seu direito ambulatório, sem, contudo, lhe ser

imposta prisão. Não se enquadra nenhum tipo de prisão para a condução coercitiva.

Principalmente por a prisão importar uma privação da liberdade mediante clausura, o

que não ocorre na condução.21

3.6 LEI Nº. 9.099/95 E A PRISÃO EM FLAGRANTE

Há alguns problemas em torno dessa lei abrangendo o uso de algemas.

Um deles é que em atendimento, os policiais na rua são os primeiros

acionados ao pronto atendimento da ocorrência e por falta, algumas vezes de

formação acadêmica não sabem separar se é ou não crime de menor potencial ou

não, portanto acabam algemando o autor para garantir que não haja fuga.

Tem-se que crimes de baixa periculosidade não se devem fazer o uso de

algemas no autor desses crimes.

Parece-nos ser desnecessário o uso de algemas diante de um crime com

pena máxima de até dois anos, ou contravenções penais em que não haja

21

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. p. 320.

21

resistência, ou tentativa de fuga, e o autor prontamente assuma o compromisso de

comparecer em juízo.

3.7 DO CÓDIGO DE PROCESSO MILITAR

O Código de Processo Penal Militar foi instituído através do Decreto-Lei nº.

1.002/1969 e traz em seu artigo 234, que “o emprego da força só é permitido quando

indispensável, no caso de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver

resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para

vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares seus inclusive a prisão do ofensor.

De tudo se lavrará auto subscrito pelo executor e duas testemunhas e no parágrafo

primeiro, o emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de

fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo algum será permitido nos presos

a que se refere o a regulamentação sobre o uso de algemas”, enquanto que no

artigo 242, se tem a “descrição das pessoas que ficarão recolhidos a quartel ou

prisão especial, a disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão,

antes de condenação irrecorrível, são eles: a) os ministros de Estado; b) os

governadores ou interventores de Estados, ou Territórios, o prefeito do Distrito

Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia; c) os membros do

Congresso Nacional, dos Conselhos da União e das Assembléias Legislativas dos

Estados; d) os cidadãos inscritos no Livro de Mérito das ordens militares ou civis

reconhecidas em lei; e) os magistrados; f) os oficiais das Forças Armadas, das

Polícias e dos Corpos de Bombeiros, Militares, inclusive os da reserva, remunerada

ou não, e os reformados; g) os oficiais da Marinha Mercante Nacional; h) os

diplomados por faculdade ou instituto superior de ensino nacional; i) os ministros do

Tribunal de Contas; j ) os ministros de confissão religiosa”.

22

O Código de Processo Penal Militar só deve ser aplicado para procedimentos em

casos de crimes militares, previstos no código Penal militar.

Existe a possibilidade, de um civil praticar um crime essencialmente militar

que ocorrerá “somente contra as Forças Armadas”22 e, nesse caso, tratando-se de

uma das pessoas elencadas no artigo 242 supra, com base no artigo 234 § 1º, do

CPPM, não seria em hipótese alguma algemada.

Torna-se incoerente uma dessas pessoas elencadas não ser algemada

quando cometer um crime militar e sofrer algemamento ao cometer um crime

comum, ainda que aquele seja de maior gravidade.

Como no ordenamento jurídico não prevê qualquer dessas hipóteses,

ainda que seja em legislação essencialmente militar, poderia ser aplicado por

analogia, conforme autoriza a Lei de Introdução ao código Civil em seu artigo 4º, e

estendido esse rol privilegiado para casos de cometimento de crime comum, já que

o espírito de criação desse artigo, e também da prisão especial, o permitiria. Assim,

nesse sentido, cita-se o acórdão do Estado do Rio Grande do Sul:

“existe permissibilidade para o uso das aludidas pulseiras, proibindo-se, contudo, sejam usadas, em qualquer hipótese, em pessoas que gozam do direito à prisão especial, o que, por isso só, demonstra a juridicidade da aplicação do mesmo princípio à lei processual comum, isto não somente em razão da Lei de Introdução ao Código Civil, referente à analogia (artigo 4º), mas também do principio da integração das leis (analogia legis), denominado heterointegração, forma heterogênea de integração de uma norma com outra, ainda que de estatutos diferentes”.

23

22

COSTA, Alexandre Henriques da. Manual Prático de Polícia Judiciária Militar. Suprema Cultura.p.22 23

RT 785/694. Ano 90. Março 2001 apoud Revista do Tribunal de Justiça de Alagoas. V. 12. 1997. P. 381.

23

A mídia nos trouxe casos de algemamento de juízes, por exemplo, João

Carlos da Rocha Mattos e Nicolau dos Santos Neto, que desfilaram pelas câmeras

nacionais utilizando algemas.

O juiz Rocha Mattos impetrou Habeas Corpus no Supremo tribunal de

Justiça, questionando a utilização de algemas em si, porém não foi trazida a

possibilidade dessa aplicação, por analogia da legislação castrense, e o julgamento

do referido HC, assim foi concluído:

“O uso de algemas pelos agentes policiais não pode ser coibido, de forma genérica, porque algemas são utilizadas, para atender diversos fins, inclusive proteção do próprio paciente, quando, em determinado momento, pode pretender autodestruição”.

24

No entanto, como há uma polêmica em torno dessa aplicação, a imprensa

publicou notícia embutida de certa ironia em virtude do não-algemamento do ex-

senador Luiz Estevão:25

“Já há casos de pessoas que não usam algemas ao serem detidas por policiais. Isso aconteceu no ano passado, com o senador cassado Luiz Estevão, que pediu aos delegados da Polícia Federal que o prenderam para não usar algemas e foi atendido prontamente”.

3.8 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

Está descrito no art. 199 da Lei nº. 7.210, de 11/07/1984, que instituiu a Lei

de Execução Penal no ordenamento brasileiro que “o emprego de algemas será

disciplinado por decreto federal”.

A exposição de motivos dessa lei, publicada no diário do Congresso

nacional de 1º de julho de 1983,26 justificativa a necessidade do referido artigo, que

24

HC 35540/SP. Relator José Arnaldo da Fonseca. T5 – Quinta Turma, data do julgamento 05/08/2004. Data da publicação DJ 06/09/2004. p. 285. 25

“O Estado de S. Paulo”: “Governo quer restingir uso de algemas”. Edson Luiz, 18/04/2001 26

Seção I, ano XXXVIII, Suplemento “B” ao nº 80 – Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº. 1.657, de 1983. Mensagem nº 242/1983.

24

por aquele projeto receberia o número de 198 e não o atual 199, dado através de

alterações, quando da votação:

Artigo 176, in verbis – A segurança pública e individual é comprometida quando as fugas ou tentativas de fuga se manifestem, principalmente fora dos limites físicos dos estabelecimentos prisionais, quando a redução do número de guardas e circunstâncias do transporte de presos impedem o melhor policiamento. Daí a necessidade do emprego de algemas como instrumento de constrição física.

Portanto, exige-se uma regulamentação através de um decreto federal,

tornando contida aquela previsão de uso, através de regulamentação complementar.

Declara o doutrinador Paulo Lúcio Nogueira: “Não é de hoje que muitos

estudiosos estão reclamando a regulamentação nacional do uso de algemas”. 27

3.9 DOS PROJETOS DE LEI

Da edição da Lei de Execução Penal até o despontamento de um projeto

de lei passaram-se alguns anos.

Em 1986 surgiu o primeiro projeto de Lei visando regulamentar o artigo

199 da LEP, teve como autor o então senador Jamil Haddad, recebeu o nº. 241/86,

porém restou arquivado. No próximo ano, propôs novamente, através PLS nº.

41/1987, e mais uma vez não chegou a ser apreciado. Em 1991, insistiu em seu

projeto através do PL nº 1.918/1991 onde tramitou por oito anos até ser arquivado

em 1999.

No ano de 2000, surgiu um novo Projeto de Lei nº. 2.753/2000, de autoria

do deputado Alberto Braga, do PMDB/DF, que reproduziu quase na íntegra o

Decreto nº. 19.903, de 30 de outubro de 1950. Enquanto este projeto seguia os

27

Comentários a Lei de Execução Penal: Lei n. 7.210, de 11/07/1984. p. 270

25

trâmites de votação, nasceu outro projeto de nº. 3.287/2000, de autoria do deputado

Velasco, do PSL/SP, a respeito do mesmo assunto.

Acabou por tramitar cinco projetos com a mesma finalidade, sendo o

terceiro registrado sob nº. 4.537/2001 do deputado de Alagoas, João Caldas.

Surgiu em 23/06/2005 o projeto de nº. 5.494 do deputado federal Rubinelli,

de São Paulo, teve como motivação para tal na prisão de um dos proprietários da

Cervejaria Schincariol.

Ainda em 2005, surgiu um novo projeto de lei nº. 5.858, de autoria do

deputado federal de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, que não regulamenta,

nem altera o artigo 199 da LEP, mas sim o revoga.

Enquanto esses vários projetos aguardavam votação, em 2007 o deputado

Carlos Lapa lançou o projeto nº. 04/2007, que trouxe a obrigatoriedade do

algemamento quanto à classificação do crime.

Assim, sempre em prisões em flagrante e por ordem judicial em crimes

hediondos ou de violência contra a pessoa, o uso de algemas se impõe de modo

obrigatório. Também disciplina o uso de algemas no Tribunal do Júri, pois quando de

sua propositura ainda não havia ocorrido à alteração do Código de Processo Penal,

porém no mesmo ano de seu surgimento foi arquivado.

No mesmo ano de 2007, foi proposto o Projeto nº. 2.527, do deputado

Victorio Galli, que foi apensado aos demais e aguarda votação.

Em 2008, possivelmente em virtude do grande número de operações

policiais e também a cerca da polêmica sobre o algemamento e pela edição da

Súmula vinculante 11 pelo STF, há oito projetos intentados, todos iniciados na

Câmara dos Deputados.

26

Por fim, concluindo as proposições que envolvem o uso de algemas, pelo

menos até o momento, o Deputado João Campos, delegado de polícia atuante

corajosamente apresentou o Projeto de Decreto Legislativo – PDC nº. 853/08, com o

objetivo de sustar a aplicação da Súmula Vinculante nº. 11 do STF.

4.0 DA SÚMULA VINCULANTE Nº. 11 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A

UTILIZAÇÃO DAS ALGEMAS EM PLENÁRIO

No HC 91.952 (Plenário – Rel. Min. Marco Aurélio - j. 07.08.08 – votação

unânime), anulou-se por unanimidade, dez a zero, o julgamento efetuado pelo Júri

popular da cidade de Laranjal Paulista em 2005, presidido pela juíza Glaís de Toledo

Piza Peluso, filha do Vice- Presidente do Supremo Tribunal Federal Antonio Cezar

Peluso, porque o réu, Antonio Sérgio da Silva, um pedreiro acusado de homicídio,

no qual foi condenado a 13 anos e meio por homicídio, ficou algemado durante a

sessão de julgamento, a juíza errou ao determinar que Silva permanecesse

algemado durante o júri. O principal fundamento dos ministros, incluindo Peluso,

para a decisão foi a potencial influência da visão do réu algemado sobre os jurados,

que, leigos que são, poderia fazer um pré-julgamento e entender que o réu era

culpado. Afirmou-se ainda, na ocasião, não existirem dados concretos que

pudessem indicar que, pelo perfil do acusado, houvesse risco aos presentes, caso

ele permanecesse em plenário sem algemas, razão pela qual se

Durante o julgamento no STF, ninguém se deu conta de que a juíza sobre a

qual todos falavam e criticavam era filha de Peluso. Nem o próprio vice-presidente

27

do tribunal. Se tivesse notado, provavelmente ele teria se dado por impedido de

participar do julgamento. Mas ele não só participou como também criticou28

Peluso disse que “Se a opinião pública pode, em geral, ficar influenciada

pela figura de alguém que é exposto publicamente e sem necessidade com o uso de

algemas, o que não dizer do júri de uma pacata cidade do interior, de Laranjal

Paulista…”

“…A juíza, decerto por inexperiência ou quem sabe por um receio

exacerbado, como titular do poder de polícia das audiências, podia muito bem

convocar mais um policial civil.”29

Peluso não sabia que a própria filha tinha sido responsável por esse caso na

1ª Instância. Esse desconhecimento ocorre porque quando um recurso chega ao

STF ele contesta a decisão anterior, no caso do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em nenhum momento durante o julgamento foi citado o nome de Glaís.

"Se a opinião pública pode, em geral, ficar influenciada pela figura de

alguém que é exposto publicamente e sem necessidade com o uso de algemas, o

que não dizer do júri de uma pacata cidade do interior, de Laranjal Paulista, cuja

juíza, de certo por inexperiência ou quem sabe por um receio exacerbado, como

titular do poder de polícia das audiências, podia muito bem convocar mais um

policial civil", afirmou Peluso durante o julgamento.

Ele acrescentou que a juíza poderia ter permitido que o réu ficasse sem

algemas durante o julgamento, porque não havia "notícia alguma de periculosidade

em relação à ordem dos trabalhos e a todos os partícipes". Peluso concluiu dizendo

28

Disponível em http://www.jusbrasil.com.br/noticias/92300/sem-saber-ministro-peluso-critica-filha-juiza-em-merito-sobre-algemas. Acessado em 06/03/2010 29

Disponível em http://www.fabiocampana.com.br/2008/08/ministro-peluso-sem-saber-critica-filha-juiza. Acessado em 06/03/2010

28

que "com grande satisfação" aderia ao voto do ministro relator do caso, Marco

Aurélio, favorável à anulação do julgamento.

Em seu voto, Marco Aurélio citou as explicações dadas pela juíza para

manter Silva algemado.

"Entendo que não constitui constrangimento ilegal o réu permanecer

algemado em plenário, sobretudo porque tal circunstância se faz estritamente

necessária para preservação e segurança do bom andamento dos trabalhos, já que

a segurança hoje está sendo realizada por apenas dois policiais civis", disse a juíza

na ocasião.

A partir do julgamento do HC supracitado, reconheceu a necessidade de

se editar uma súmula vinculante a tal respeito.

Por esse motivo, foi elaborada a Súmula Vinculante nº. 11, apenas seis

dias depois do referido julgamento, no seguinte teor:

“Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”.

Ocorre que, o uso de algemas deixou de ser regra e passou a ser

exceção, tendo a preocupação com a imagem do réu algemado em plenário perante

os jurados que são pessoas leigas.

Portanto, a fundamentação é essencial, não bastando mera repetição do que

está escrito na lei ou na súmula para que o acusado permaneça algemado perante o

conselho de sentença.

29

Diante disso, não pode a acusação em nenhuma hipótese se valer do uso de

algemas no acusado para influir na concepção dos jurados sob argumento da

autoridade, a qual fundamentadamente autorizou o seu uso.

Fazer menção ao uso de algemas durante os debates, ou na inquirição das

testemunhas ou no interrogatório, sob nova ótica da excepcionalidade de seu uso

por certo acarretará uma disparidade entre a defesa e a acusação levando os

jurados a um pré-julgamento acerca da condenação, levando em conta que foi o

magistrado que entendeu necessário tal medida ante a periculosidade do agente.

Assim, o novo dispositivo veio impor limites para a acusação e um olhar

apurado por parte da defesa de forma que o uso de algemas em plenário não seja

usado contra o réu, para influir na mente dos jurados que este já é culpado.

Se for feita qualquer referência ao seu uso, a nulidade é a medida que se

impõe, devendo a defesa de imediato por meio de protesto, caso o Juiz Presidente

não o faça de ofício, exigir seja consignado em ata para análise em caso de eventual

recurso.

A súmula apresenta uma previsão, de que se houver emprego indevido

das algemas, o agente ou autoridade responsável responderam nas esferas

disciplinar (conforme disposto na lei n. 8.112/90 e leis orgânicas das carreiras

jurídicas, penal (o crime de abuso de autoridade é tipificado na lei n. 4.898/65) e civil

(a obrigação do Estado de reparar danos está prevista na Constituição da República,

art. 37, § 6°). Ainda previu-se a responsabilização civil do Estado, sem prejuízo da

prisão ou ato processual a que ela se refere.

Segundo Andre Luiz Prietro, restou pacificado que o uso ilegal de algemas

pelas autoridades que compõem o sistema de segurança pública traz sérias

30

repercussões na esfera administrativa, civil e penal, além ainda de provocar a

invalidação do ato, fulminando-o de nulidade.

Gera, portanto, uma tríplice responsabilidade. Administrativamente,

configura uma infração, passível de punição proporcional a gravidade, podendo,

inclusive, implicar em demissão do agente a bem do serviço público, excluindo-o,

desta feita, dos quadros do funcionalismo público.

Civilmente, pode gerar um ilícito, capaz de implicar em responsabilidade

civil, dando ensejo a uma indenização hábil a reparar o dano físico e moral

provocado ao preso. Ao julgar um recurso especial em outubro de 2006 (REsp n.º

571924), a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça isentou a União de

pagar indenização por danos morais a um empresário que foi algemado pela Polícia

Federal e depois foi absolvido das acusações de contrabando e descaminho, por

entender que o caso concreto exigia a sua utilização. Entretanto, por ocasião desse

julgamento, restou assentado também entre os ministros daquela Corte a ilegalidade

do uso indiscriminado de algemas, que só se justifica quando se mostra necessário.

E penalmente, configura abuso de autoridade, regulado pela arcaica Lei n.º

4.898/65, que reclama modificações legislativas a fim de se adequar a nossa

realidade e ao atual momento em que vivemos, dando também uma maior proteção

aos bens jurídicos que visa tutelar30

Entrando na seara do instituto súmula vinculante, ele está previsto no

artigo 103-A da Constituição, com redação dada pela Emenda Constitucional n.

45/04, de 8 de dezembro de 2004, tendo sido regulamentado pela Lei nº. 11.417, de

19 de dezembro de 2006.

30

PRIETO, Andre Luiz. O uso abusivo de algemas e a tríplice responsabilidade . Jus Navigandi,

Teresina, ano 12, n. 1878, 22 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11629>. Acesso em: 28 fev. 2010.

31

Súmula vinculante é a manifestação de um Tribunal Superior

posicionando-se a respeito de sua jurisprudência já sumulada, produzindo efeito

“erga omnes” e impedindo que se decida de forma contrária ao seu texto.

Desde sua introdução no ordenamento jurídico brasileiro, através da já

menciona EC/45, a súmula vinculante tem como meta principal solucionar boa parte

dos problemas encontrados na estrutura funcional do Poder Judiciário.

Na redação do § 1º do artigo 103-A da CF estão prescritos seus objetivos,

conforme exposto a seguir:

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

Portanto, o objetivo a ser alcançado pela súmula vinculante será a

validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, desde que haja

jurisprudência e controvérsia atual sobre o assunto, que deve ser sobre a matéria

constitucional.

Sem dúvida, essa súmula causou grande alvoroço no meio jurídico.

Juristas de renome já defendiam a mesma corrente de pensamento adotada

pelo STF:

“...o emprego de algemas não é regra, é exceção, e só pode ser admitido como forma de garantira segurança social, a aplicação da Lei Penal e integridade física dos que circum a pessoa legalmente presa, ou a dela própria”.

31

Uma semana após a edição da súmula, o acusado por tráfico de

entorpecentes conhecido como Fernandinho Beira-Mar, classificado como de

altíssima periculosidade, quando de mais um julgamento no rio de Janeiro, chegou

31

TUCUNDUVA, Ricardo Cardozo de Mello. Prática Desonerosa – uso de algemas é incompatível com a dignidade humana, Revista Consultor Jurídico, http://www.conjur.com.br/static/text/68806. Acessado em 24/02/2010.

32

ao fórum algemado e, de pronto, seu advogado invocou a necessidade de ser dado

cumprimento à súmula em destaque. Em resposta as algemas foram soltas. 32

O Procurador-Geral da República, convidado a se pronunciar no dia da

edição da súmula, “manifestou a sua preocupação com o efeito prático sobre a

autoridade policial , no ato da prisão, ou seja que a súmula possa vir a servir como

elemento desestabilizador do trabalho de polícia. 33

As críticas não param por aí, os juízes federais mostraram sua

indignação, inclusive apelidaram a referida súmula de “Cacciola-Dantas”.

Relembrando, que Daniel Dantas, banqueiro foi algemado, já Salvatore

Cacciola, também banqueiro ao voltar ao Brasil, extraditado do Princípado de

Mônaco, conseguiu ordem judicial para não ser algemado.

O ministro Cezar Peluso reconheceu que o ato de prender um criminoso e

de conduzir um preso é sempre perigoso. Por isso, segundo ele, "a interpretação

deve ser sempre em favor do agente do Estado ou da autoridade".

O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, disse que a súmula tem

basicamente o objetivo de evitar o uso de algemas para exposição pública do preso.

"A Corte jamais validou esta prática, que viola a presunção da inocência e o princípio

da dignidade humana", afirmou.

O Promotor de Justiça Paulo Rangel discorda plenamente da descrição,

da então já mencionada súmula, “Estão confundindo algemas, grilhões e outros

instrumentos usados para punir no passado com a necessidade de usar

mecanismos para evitar eventuais problemas no tocante à transferência de presos

ou de sua permanência nas audiências.”

32

Disponível em http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid224617,0.htm. Acessado em 24/02/2010. 33

Disponível em http://www.jusbrasil.com.br/noticias/94382/sumula-vinculante-n-11-do-stf-limita-o-uso-de-algemas-a-casos-excepcionais. Acessado em 25/02/2010

33

Segue: “Anular um julgamento de um homicida pelo fato de estar ele com

algemas é desconsiderar que isso ocorre em todos os países do mundo e que em

nada avilta mais o acusado do que o cerceamento ao direito de defesa e ao devido

processo legal que, em muitas vezes a ele é negado.

O respeito aos direitos e garantias fundamentais do preso não colidem

com o uso de algemas em plenário. Se estiver solto, ele entra sem algemas. Se a

própria escolta, por advertência do juiz, entender que é possível retirar as algemas,

assim o fará por determinação do juiz, mas não que isso por si só, ofenda garantias

constitucionais”

Ainda o jurista declara: “quando o preso chega ao fórum trazido do sistema

penitenciário, ele vem com escolta armada. Normalmente de homens altos e fortes

ostentando armas de grosso calibre. Se forem retiradas as algemas, será que os

jurados não ficarão influenciados com aquele aparato humano? Isso também irá

influir no julgamento da causa? Ou será que daqui a pouco vão coibir a escolta de

permanecer presente porque humilha o preso?”

“Se o promotor disser aos jurados: “senhores jurados, o réu está sem

algemas porque é direito dele, mas vejam o aparato humano que permaneceu no

plenário! Seria ele um Santo, um homem que não oferece perigo? Se for, por que a

escolta permaneceu em plenário?”

Ou seja, conforme a indagação feita pelo promotor, não foi sequer

mencionada à palavra algemas, mas escolta, seria possível esse argumento para

ser anulado um julgamento? Afinal “muita água ainda vai rolar nessa algema da

vida”.

Embora a edição da súmula vinculante, dotada de efeito impeditivo de

recursos, aparente constituir um pronunciamento final da mais alta instância do

34

Poder Judiciário, não compreendemos que a questão já se encontre definitivamente

pacificada.

É vedado a acusação fazer referência ao fato de o réu estar algemado em

plenário, fazendo os jurados acreditar que a medida se faz pela periculosidade do

acusado, influenciando-os na condenação do réu.

Sabe-se que a regra do § 3º do artigo 474 do Código de Processo Penal,

veda o uso de algemas – devendo ser utilizada em caso de extrema necessidade –

não pode a acusação fazer referência de forma que venha a influenciar os jurados.

Ainda: “ao promotor é vedado explorar demagogicamente a condição de

algemado do acusado para tentar convencer os jurados que ele seria perigoso”,

além do mais “a proibição visa impedir que a acusação o trate como animal que

precisa ser acorrentado para não acatar a sociedade e os próprios jurados”.

Sobre o tema Gustavo Henrique Righi Ivanhy Badaró, faz alusão a recente

decisão do Supremo Tribunal Federal34:

Com relação ao uso de algemas, é de se destacar a decisão do STF, em que se considerou que a visão de um réu algemado impressiona os presentes a um tribunal e exerce forte influência sobre os jurados, induzindo-os a pensar que a decisão do juiz de mantê-lo assim foi tomada porque ele apresenta periculosidade.

Segundo a Relatora Ministra Carmen Lúcia, sobre o uso de algemas no

referido HC 89429/RO, em 22 de agosto de 2006:

“O uso de algemas não pode ser arbitrário e principalmente que a prisão não é espetáculo, pois a autuação da Polícia federal, principalmente, quando presos temporários são expostos à ação devastadora das câmeras de televisão, deve ser revista com urgência. Possivelmente, se não

34

STF, Pleno, HC 91.952/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j.07.08.2008,v.u Do voto do relator, lê-se:

“Manter o Acusado em audiência, com algema, sem que demonstrada, ante práticas anteriores, a periculosidade, significa colocar a defesa, antecipadamente, em patamar inferior, não bastasse a situação de todo degradante. O julgamento no Júri é procedido por pessoas leigas, que tiram as mais variadas ilações do quadro verificado. A permanência do réu algemado indica, à primeira visão, cuidar-se de um criminoso da mais alta periculosidade, desiquilibrando o julgamento a correr, ficando os jurados sugestionados”.

35

houvesse registro midiático das prisões, sequer haveria provocação do STF sobre o assunto, embora seja de todo recomendável essa manifestação pretoriana”,

Para Nivaldo Weime, chefe de operações especiais da polícia legislativa do

senado Federal:

“Caso obrigatório em que o uso de algemas é necessário e no caso do suspeito estar sob efeito de drogas, e no caso de ter seu histórico caso de doença mental, sob forte emoção e resistência a prisão”

Em concordância com o aludido acima, José Alfredo, chefe da polícia

legislativa federal, que defende o princípio que toda pessoa possui um histórico

criminal, sob efeitos de drogas e resiste à prisão deve ser algemada. Em

contrapartida, no caso do Senador Jader Barbalho, eles não o teriam, algemado,

pois não houve resistência a prisão e não há histórico de violência cometido pelo

Senador.

Em todo caso o que prevalece é a discricionariedade do policial na hora de

efetuar a prisão. O fato de algemar ou não o preso é uma decisão subjetiva do

policial, só que não podemos esquecer mesmo sendo o preso um criminoso ele

não decaiu de seus direitos fundamentais.

Segundo Júnior Alves Braga Barbosa que também se posicionou a favor da

súmula proferida pelo supremo Tribunal Federal, que regulamenta o uso de

algemas:

“O uso indiscriminado enseja procedimento vexatório e incompatível com o principio da dignidade humana, há que se salientar que no Brasil sempre houve regulamentação pelo uso de algemas, seria de forma tácita ou expressa, desde as ordenações Filipinas no século XVII, passando pelo Código Criminal do Império em 1830 e chegando aos dias atuais com o advento do Código de Processo Penal em 1941

35.

35

BARBOSA, Júnior Alves Braga. O uso de algemas. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5217/O-uso-das-algemas-segundo-o-STF Acessado em 27/02/2010

36

Nas palavras de Ronaldo Rebello de Britto Poletti em consonância com

Úelton Santos Silva em entendimento acerca do binômio de algemas e abuso de

autoridade:

“A verdadeira quebra de direito fundamental se dá com a restrição de liberdade. A algema não configura uso abusivo de força, mas, sim, um mecanismo legítimo para a prevenção do uso da força policial, o que pode colocar em risco desnecessário a integridade de terceiros e do preso. Nem todos os direitos fundamentais do preso são preservados, ao menos temporariamente, a começar pela sua liberdade de locomoção. Os direitos incompatíveis com a prisão são restringidos, como, por exemplo, o exercício de sufrágio.

36

A súmula nº 11, data vênia, apenas se preocupou com a salvaguarda do

preso. Porém, aliada à proteção da vida do preso, detido ou conduzido, e das

potenciais vítimas, tem-se que proteger, primeiramente, a equipe policial, o

profissional de segurança.

Segundo Flávio Alvim, seu uso não se restringirá àqueles socialmente

excluídos, até porque a condição sócio-econômica não servirá de justificativa

expressa para sua utilização. É preciso bastante cuidado na interpretação da

Súmula Vinculante 11, uma vez que claudicâncias nas decisões poderão gerar

tragédias sem precedentes neste País.

As reclamações advindas da defesa era de grande quantidade pelo não uso

das algemas durante as audiências e principalmente nos julgamentos do Tribunal do

Júri. As alegações vinham com o fundamento de que poderia se causar um

prejulgamento, em decorrência da pessoa algemada, pois seriam julgadas pelos

jurados, que em geral são pessoas leigas.

36

POLETTI, Ronaldo Rebello Brito. As algemas e inconsciência jurídica. Revista Jurídica Consulex –

Ano X – nº 231 – 31 de agosto de 2006 e SILVA, Uélton Santos Uso de algemas. Revista Consulex – Ano XI – nº 241 – 31 de janeiro de 2007.

37

As decisões se baseavam na extensa jurisprudência em relação a essa

matéria, indicando não haver posição definida. 37

Muitos entendem ser necessário o uso de algemas durante as audiências e

as sessões do Tribunal do Júri. Naquele instante o acusado sente-se constrangido,

aguardando a decisão final, sendo que seu descontrole emocional está em alta e

suas reações tornam-se imprevisíveis.

Recentemente, tomamos conhecimento através da mídia, 38 do caso

acontecido nos Estados Unidos.

Em seu julgamento, Brian Nichols, 34, acusado de estupro, que, sem o uso

de algemas, conseguiu retirar a arma do policial da escolta e atirou contra o juiz

Rowland Barnes, 64 anos, e sua estenógrafa, Julie Brandau, na corte do Condado

de Fulton, Atlanta, EUA. Usou a mesma arma para roubar dois veículos que

possibilitariam a fuga e matou mais um policial fora do Tribunal. O acusado,

recapturado, foi descrito por seu advogado como pessoa "com uma personalidade

tranqüila e muito querido entre seus companheiros de trabalho".

O exemplo se repetiu em 29 de dezembro de 2005, no Mato Grosso do Sul,

perto de Naviraí.

Conforme noticiou o Diário do Mato Grosso do Sul online, um pecuarista de

Itaquiraí (MS), acusado de matar duas pessoas por causa de uma dívida de R$ 50,

quando era conduzido de Itaquiraí para Naviraí, transportado sem algemas na parte

traseira do veículo Blazer da Polícia Civil, porque era pessoa conhecida da região,

sem outros antecedentes, que não o investigado, agarrou o volante e jogou a viatura

37

RT 675/371, RT 694/318, RT 643/285, RT 800/593, RHC 6922/RJ STJ, HC 71195-2 STF, HC 16808-ES STJ. 38

“O Estado de S. Paulo”, de 12 de março de 2005. P. A17.

38

contra uma carreta. O acidente matou o policial Antônio Aparecido Pessin, 47 anos,

e feriu mais quatro pessoas.39

Nos Estados unidos, tem-se por costume policial a cautela e seriedade no

uso de algemas, mas, por lapso momentâneo do policial, várias vidas foram

ceifadas, conforme a ocorrência ora descrita.

Esses exemplos demonstram, para muitos, a importância do uso de algemas

nas dependências do Poder Judiciário.

O entendimento entre os juízos sobre a retirada ou manutenção das

algemas durante os julgamentos nunca foi unânime.

Alguns entendem o caráter periculoso e necessário e obrigam a manutenção

das algemas indeferindo de pronto e qualquer reivindicação feita pela defesa.

Outros, porém, ordenam a retirada das algemas.

O Código de Processo Penal, como já dito, era originalmente omisso em

regular, especificamente, o uso de algemas em audiências e em julgamentos no

plenário do Júri.

Assim, como o poder de polícia, na sessão do tribunal do Júri, pertence ao

Juiz Presidente, conforme atribuição conferida pelo artigo 497, I, do Código de

Processo Penal, pelo qual deverá “regular a polícia das sessões (...)” ficava tão-

somente ao seu poder discricionário a retirada das algemas.

Em tais casos, quando havia qualquer discordância acerca do tema, a

celeuma era dirimida pelo próprio juiz presidente do Tribunal do Júri, ou mesmo da

audiência, “levando-se em consideração, sobretudo, a personalidade do réu, pois se

39

Revista Consultor Jurídico, 11 de fevereiro de 2006.

39

for considerado perigoso deve ser algemado, sem que possa implicar nulidade do

julgamento ou ferir possível direito do réu”.40

4.1 DO ANTEPROJETO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

O anteprojeto acolhe os méritos de recentes reformas da legislação

processual penal, notadamente as trazidas pela Lei nº 11.689, Lei nº 11.690 e Lei nº

11.719, todas do ano de 2008, além da Lei nº 11.900, de 8 de janeiro de 2009, que

alteraram, recente e profundamente, os procedimentos em processo penal.

Disciplina a respeito do uso de algemas, considerado medida excepcional,

restrita a situações de resistência à prisão, fundado receio de fuga ou para preservar

a integridade física do executor, do preso ou de terceiros. Veda, além do mais, o

emprego de algemas como forma de castigo ou sanção disciplinar, por tempo

excessivo ou quando o investigado ou acusado se apresentar, espontaneamente, à

autoridade policial ou judiciária. Tendo encontrado subsídios nos debates

parlamentares em torno do Projeto de Lei do Senado nº 185, de 2004, o anteprojeto,

também é válido registrar, não destoa da Súmula Vinculante nº 11, do Supremo

Tribunal Federal, editada em agosto de 2008.41

No que se refere a algemas no anteprojeto menciona-se alguns artigos

abaixo:

Art. 376. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na forma estabelecida no Capítulo III, do Título IV, do Livro I, com as alterações introduzidas nesta Seção. §1o Os jurados poderão formular perguntas por intermédio do juiz presidente. §2o Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à

40

NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários a Lei de Execução Penal. p. 271-272 41

Disponível em http://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art20090424-01.pdf Acessado em 07/03/2010.

40

ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes. (grifo nosso) Art. 380. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências: I – aos fundamentos da decisão de pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, aos motivos determinantes do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado. (grifo nosso) Art. 525. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. §1º Do mesmo modo, o emprego de algemas constitui medida excepcional justificando-se apenas em situações de resistência à prisão, fundado receio de fuga ou para preservar integridade física do executor, do preso ou de terceiros. (grifo nosso) §2º É expressamente vedado o emprego de algemas: I – como forma de castigo ou sanção disciplinar; II – por tempo excessivo; III– quando o investigado ou acusado se apresentar, espontaneamente, à autoridade policial ou judiciária. (grifo nosso) §3º Se, para execução da prisão, for necessário o emprego de força ou de

algemas, a autoridade fará registro do fato, com indicação de testemunhas. (grifo nosso)

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5. CONCLUSÃO

Podemos considerar o uso de algemas como exceção não apenas no

âmbito do tribunal do júri, como impõe a Lei 11.689/2008, de 9 de junho de 2008,

mas também para a execução de ordens judiciais de prisão cautelar.

Com a edição da Lei 11.689/2008 se inaugurou em nível nacional, uma

legislação que dispõe, literalmente sobre algemas.

No entanto, a Súmula Vinculante 11 é um desrespeito contra a integridade

da Constituição Federal de 1988. A edição da súmula não atendeu vários requisitos

impostos pelo artigo 103-A da Constituição, não houve reiteradas decisões sobre

matéria constitucional envolvendo uso de algemas, mas, somente, um julgamento

isolado de um HC cujo objeto foi uma nulidade no âmbito de tribunal do júri.

Caso fossem retiradas as algemas, mas mantida a típica roupa “laranja”, a

escolta de policiais, será que não se teria mais aquele olhar cabisbaixo do réu, ele

não ficaria apreensivo, ansioso com a decisão final, com a platéia lhe assistindo, ou

seja, a situação do réu mudaria?

Portanto, seria o caso de ser editada uma Súmula Vinculante a respeito da

matéria tratada? Já que, temos a determinação da utilização das algemas nos

Códigos de Processo Penal e Processo Militar.

Por fim, conforme descrito anteriormente no trabalho, a então Súmula

Vinculante 11 do STF foi apelidada de “Cacciola-Dantas”.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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sobre-algemas>. Acessado em 06/03/2010

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7. ANEXOS

Jurisprudências a respeito de algemas:

APELAÇÃO CRIME N° 394798-4 - DE LONDRINA - 1ª VARA CRIMINAL RELATOR: JUIZ CONV. FRANCISCO CARDOZO OLIVEIRA APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA - USO DE ALGEMAS NA SESSÃO DE JULGAMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI - NÃO VICIA DE NULIDADE O PROCESSO CRIMINAL O USO DE ALGEMAS NA SESSÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI JUSTIFICADO PELA NECESSIDADE DE SEGURANÇA E DE CORRETA APLICAÇÃO DA LEI PENAL - ALEGAÇÃO DE DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS - QUANDO O CONSELHO DE SENTENÇA ACATA VERSÃO VEROSSÍMIL DOS FATOS, COM APOIO NO CONJUNTO PROBATÓRIO, NÃO SE CARACTERIZA DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS - CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA - PARA A CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA NA CONDUTA DO INDICIADO BASTA A DEMONSTRAÇÃO NA PROVA DOS AUTOS DA OCORRÊNCIA DE ASSOCIAÇÃO PARA COMETER CRIMES - INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DOS INC. I E II DO ART. 497 E DA ALÍNEA D, INC III, DO ART. 593 AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E DO ART. 288 DO CÓDIGO PENAL - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO, COM A FIXAÇÃO DE OFÍCIO DO REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA INICIALMENTE FECHADO. RECURSO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. NÃO HÁ CONSTRANGIMENTO ILEGAL NO FATO DE TER SIDO O RECORRENTE ALGEMADO DURANTE O JULGAMENTO PERANTE O TRIBUNAL DO JÚRI. ART. 497, I, DO CPP. ALEGAÇÃO DE NÃO OCORRÊNCIA DE CONCURSO MATERIAL, MAS, SIM, DE CONCURSO FORMAL OU CRIME CONTINUADO. IMPOSSIBILIDADE DE REVOLVIMENTO DA MATÉRIA INSTRUTÓRIA NESTA SEDE. Recurso desprovido. (RHC 16808 / ES ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2004/0153868-1, Relator: Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, 5ª T, DJ 07.03.2005 p. 283). HABEAS CORPUS. (...) UTILIZAÇÃO DE ALGEMAS NO JULGAMENTO. MEDIDA JUSTIFICADA. (...) II - O uso de algemas durante o julgamento não constitui constrangimento ilegal se essencial à ordem dos trabalhos e a segurança dos presentes. Habeas corpus indeferido. (HC 71195/SP, 2ª turma do STF, Relator: Min. Francisco Rezek, julgado em 25-10-94)

CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO. NULIDADES. (...) RÉU QUE PERMANECEU ALGEMADO DURANTE A SESSÃO DE JULGAMENTO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. (...)

IV Se o Magistrado reputou necessária a manutenção das algemas para melhor regularidade do julgamento, não há que se falar em violação ao princípio da presunção da inocência, assim como não se pode considerar que tal ato tenha influído no ânimo dos jurados. V O uso de algemas no plenário não caracteriza constrangimento ilegal, pois, nos termos do art. 251 do CPP, ao juiz incumbirá prover a regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar força

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pública. (...) (HC 63779/SP, 5ª Turma do STJ, Relator: Min. Gilson Dipp, julgado em 17-05-2007)

CÓDIGO PENAL. ART. 121, § 2°, INC. II E III DO CP. HOMICÍDIO QUALIFICADO. MOTIVO FÚTIL E MEIO CRUEL. PRELIMINARES DE CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADAS. USO DE ALGEMAS, FALTA DE LEITURA DO LIBELO E INCOMPATIBILIDADE DE QUESITOS. O uso de algemas na sessão de julgamento depende da análise, feita pelo Juiz, da segurança. Não constitui nulidade tal proceder. (...) (Apelação Crime Nº 70016163941, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 11/10/2006)

JÚRI. TENTATIVA DE HOMICÍDIO CRUENTA. USO DE ALGEMAS. CONSTRANGIMENTO NECESSÁRIO PARA MANTER A SEGURANÇA DOS PRESENTES E ASSEGURAR A ORDEM DOS TRABALHOS. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NÃO-DEMONSTRAÇÃO DE QUE O FATO TENHA INFLUÍDO NA DECISÃO DOS JURADOS. (...) APELO IMPROVIDO. (Apelação Crime Nº 70014426605, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ranolfo Vieira, Julgado em 30/08/2006)

HABEAS CORPUS (...) JULGAMENTO PELO JÚRI - INEXISTÊNCIA DE PROVA ILEGAL - USO DE ALGEMAS - PODER DE POLÍCIA - AVALIAÇÃO CRITERIOSA - PRUDÊNCIA - SEGURANÇA DAS PESSOAS ENVOLVIDAS. (...) 3- O uso de algemas não está regulado em lei expressa, ficando a critério e cautela do juiz a decisão de seu uso, norteando-se pela necessidade para a segurança dos trabalhos, mormente das pessoas envolvidas e presentes ao ato judicial. 4- Em princípio, não há constrangimento ilegal, preso preventivamente o réu, o uso de algemas em solenidade judicial, porém à prudente avaliação do juiz sobre as condições presentes e a desnecessidade de qualquer meio de contenção durante a sessão. ORDEM DENEGADA. (Habeas Corpus Nº 70014656516, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elba Aparecida Nicolli Bastos, Julgado em 20/04/2006)

APELAÇÃO-CRIME. HOMICÍDIO QUALIFICADO. ARTIGO 121, §2º, INCISO IV, COMBINADO COMO O ARTIGO 61, INCISO II, LETRA “B”, DO CÓDIGO PENAL. (...) USO DE ALGEMAS DURANTE O JULGAMENTO. Entende-se que o uso de algemas durante a sessão do Tribunal do Júri ou mesmo em audiências, tratando-se, é evidente, de acusado preso, não se erige em constrangimento na proporção em que está a apontar o ora apelante. Defende-se, isto sim, o entendimento de que se retirar as algemas, de acordo com o entendimento pessoal do Magistrado, a partir de conceituação prévia quanto à gravidade ou não do delito perpetrado pelo réu e características do agente, isto sim, materializaria concreta diferenciação entre os acusados. De uns seriam retiradas as algemas sob a presunção de serem pacíficos, ordeiros, tranqüilos. Outros permaneceriam algemados, aí sim traduzindo uma idéia de que estes seriam mais perigosos do que aqueles. Assim, não se vislumbra qualquer eiva de constrangimento de forma a ensejar causa de nulidade, na situação do ora recorrente ter permanecido algemado durante o seu julgamento. (...) (Apelação Crime Nº 70011171386, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Laís Rogéria Alves Barbosa, Julgado em 25/08/2005)

JURI. HOMICIDIO QUALIFICADO. NAO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO ILEGAL O USO DE ALGEMAS DURANTE O JULGAMENTO, SE ESSENCIAL A ORDEM DOS TRABALHOS E A SEGURANCA DOS PRESENTES. DECISAO DOS JURADOS QUE NAO

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SE MOSTRA MANIFESTAMENTE CONTRARIA A PROVA DOS AUTOS. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º DA LEI 8072/90. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DA DEFESA. (12 FLS) (APELAÇÃO CRIME Nº 70004317244, PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: MARCEL ESQUIVEL HOPPE, JULGADO EM 19/06/2002).

APELAÇÃO CRIME Nº 605.699-9, DE LONDRINA, 1ª VARA CRIMINAL. Não se verifica a alegada nulidade do julgamento, a pretexto de que o uso de algemas durante o julgamento em Plenário teria, segundo o réu Jair, contrariado o enunciado nº 11 da Súmula vinculante do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Como se sabe, a restrição ao uso de algemas não traduz vedação absoluta, a se ver, aliás, dos próprios termos da Súmula evocada: "Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado". E, conforme já decidiu esta Câmara, "... a determinabilidade da licitude do uso de algemas depende mais do exame das circunstâncias do caso concreto do que propriamente de uma espécie de incidência de cunho silogístico do texto da Súmula", pois, "conforme assevera Karl Larenz, 'não é o precedente como tal que 'vincula', mas apenas a norma nele correctamente interpretada ou concretizada' ... (Metodologia da Ciência do Direito, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2005, p. 612)" (Habeas corpus nº 533.766-4, 1ª Câmara Criminal, Relator: Juiz Substituto em Segundo Grau FRANCISCO CARDOZO OLIVEIRA, acórdão nº 24.673). No caso, a Dra. Juíza-Presidente motivou a decisão de manter os Réus algemados, justificando com argumentos idôneos a excepcionalidade da medida: "Deixo de dar cumprimento ao artigo 474, parágrafo terceiro, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei nº 11.689/2008, posto que a retirada das algemas dos réus, uma vez que falta contingente de policiais à altura para guarnecer a segurança da sessão do Tribunal do Júri, bem como fato dos réus serem de alta periculosidade, o que poderá levá-los a evadir-se do interior desse recinto. O uso de algemas é para garantir maior segurança e integridade física dos presentes ... " (ata de f. 379/383). E, de fato, mostra-se inconteste, como bem anotado pela douta Procuradoria Geral de Justiça, "que a restrição em causa encontra plena justificativa na vida pregressa do réu, desde que, além de várias condenações, era ele fugitivo do sistema penitenciário, sendo categoricamente necessária a garantia da segurança de todas as pessoas presentes na sessão plenária" (f. 485). Nada há de irregular, pois, na determinação, revelando, ao revés, medida de prudência, a fim de se preservar a ordem dos trabalhos e a integridade física e psicológica dos Jurados, trazendo tranquilidade à sessão plenária (STF: "O uso de algemas durante o julgamento não constitui constrangimento ilegal se essencial a ordem dos trabalhos e a segurança dos presentes" - HC nº 71.195/SP, 2ª Turma, Relator: Min. FRANCISCO RESEK, DJU 04.08.95, p. 22.442). APELAÇÃO CRIMINAL - JÚRI - HOMICÍDIO TENTADO QUALIFICADO (ART. 121, § 2.º, II, C/C ART 14, II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL) - ARGUMENTOS DEFENSIVOS VARIADOS - ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO JULGAMENTO PELO USO DE ALGEMAS NA SESSÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI - NÃO EVIDENCIADO O PROPÓSITO DE EXECRAÇÃO PÚBLICA, ESTANDO JUSTIFICADO O ATO POR MEDIDA DE SEGURANÇA EM RAZÃO DO POUCO EFETTIVO POLICIAL - NÃO SE CONFIGURA NULIDADE DO JULGAMENTO NO ATO DO JUIZ

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PRESIDENTE DE MANTER O ACUSADO ALGEMADO DURANTE A SESSÃO DE JULGAMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI POR QUESTÕES DE SEGURANÇA - ANÁLISE AXIOLÓGICA DO CONTIDO NA SÚMULA VINCULANTE N.º 11 DO STF - ALEGADA DECISÃO CONDENATÓRIA CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS POR FALTA DE COMPROVAÇÃO DA QUALIFICADORA - NÃO ACOLHIMENTO DA TESE - SOBERANIA DOS VEREDICTOS - JURADOS QUE OPTAM PELA VERSÃO QUE LHES PARECE MAIS RAZOÁVEL - APOIO PROBATÓRIO APTO A ENTENDER PELA MANUTENÇÃO DA QUALIFICADORA - MANTIDA A DECISÃO DO TRIBUNAL DO JURI, POIS EXISTENTES ELEMENTOS NO CONJUNTO PROBATÓRIO A INDICAR A PRESENÇA DA QUALIFICADORA - PEDIDO DE MODIFICAÇÃO DA DOSIMETRIA DA PENA-BASE AO MÍNIMO LEGAL - REANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS, EXCLUINDO-SE ALGUMAS, COM REDUÇÃO DA PENA-BASE E MANUTENÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO, COM APLICAÇÃO DA PENA NO SEU MÍNIMO LEGAL, MAS NÃO AQUÉM POR CONTA DO CONTIDO NA SÚMULA N.º 231 DO STJ - MANUTENÇÃO DA DIMINUIÇÃO DE 1/3 DA PENA PELA FORMA TENTADA, DIANTE DO ITER CRIMINIS E DAS GRAVIDADES DAS LESÕES - PENA INICIAL A SER CUMPRIDA EM REGIME FECHADO POR SE TRATAR DE CRIME HEDIONDO - RECURSO NÃO PROVIDO, COM READEQUAÇÃO DA PENA. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC 0609915-4 - Londrina - Rel.: Juiz Subst. 2º G. Luiz Osorio Moraes Panza - Unânime - J. 10.12.2009) APELAÇÃO CRIME. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DEFICIÊNCIA DO ÁUDIO DA AUDIÊNCIA GRAVADA EM MÍDIA DIGITAL. FALTA DE ARGUIÇÃO DO VÍCIO NAS ALEGAÇÕES QUE PRECEDEM A PRONÚNCIA. PRECLUSÃO. DEFEITO GERADO PELA PRÓPRIA DEFESA QUE NÃO OBSERVOU A ADVERTÊNCIA DO MAGISTRADO NO SENTIDO DE FAZER A INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS PRÓXIMO AO MICROFONE. EXEGESE DO ART. 565, CPP. USO DE ALGEMAS NA SESSÃO PLENÁRIA. DECISÃO SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. INDICAÇÃO DO QUANTUM ATRIBUÍDO A CADA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL. DESNECESSIDADE. DISCRICIONARIEDADE DO APLICADOR DA LEI DENTRO DOS LIMITES MÍNIMO E MÁXIMO DA PENA EM ABSTRATO. MOTIVO TORPE. CIÚME ALIADO A VINGANÇA PELO TÉRMINO DO RELACIOMENTO AMOROSO. QUALIFICADORA CONFIGURADA. MEIO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA. OPÇÃO DOS JURADOS POR UMA VERTENTE CONSTANTE NOS AUTOS. INEXISTÊNCIA DE DECISÃO CONTRÁRIA A PROVA DOS AUTOS. PENA. VALORAÇÃO DO ART. 59, CP. REDIMENSIONAMENTO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC 0596262-1 - Londrina - Rel.: Des. Macedo Pacheco - Unânime - J. 03.09.2009) HABEAS CORPUS. AUDIÊNCIA. INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS. USO DE ALGEMAS PELOS RÉUS. MEDIDA DEVIDAMENTE JUSTIFICADA. NULIDADE AFASTADA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO PREJUDICADO. ORDEM DENEGADA. 1. A utilização de algemas pelo paciente restou devidamente e suficientemente justificada por escrito, ante a presença de vários réus, no total de 07 (sete), fora as demais pessoas que ali se encontravam, em uma sala com espaço físico reduzido, circunstâncias que por si só demonstram a necessidade da medida, afim de não colocar em risco a integridade física de todos que estavam no recinto, não havendo, então, que se falar em constrangimento ilegal. 2. Afastada a nulidade, resta prejudicado o pedido de reconhecimento de excesso de prazo ante a desnecessidade de se repetirem os atos processuais realizados. 3. Ordem Denegada.

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(TJPR - 1ª C.Criminal - HCC 0598341-5 - São Miguel do Iguaçu - Rel.: Des. Macedo Pacheco - Unânime - J. 20.08.2009) RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PROCESSO DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. RECURSO DEFENSIVO. DAS PRELIMINARES. Quanto ao uso de algemas pelo réu durante a audiência de instrução, se deveu ao fato de existirem dois réus presentes e apenas dois agentes penitenciários para fazer a custódia. Nada há para ser questionado ou deferido a respeito. Quanto ao artigo 212, do Código de Processo Penal, há proibição expressa no sentido de que o magistrado não possa inquirir as testemunhas. Não há de sonegar-se àquele que na procura da verdade real seja compelido ao silêncio. DO CRIME PREVALENTE Estando presentes as premissas do artigo 413, do Código de Processo Penal, indícios de autoria e prova da materialidade, deve o réu ser submetido ao crivo do tribunal do júri. Toda e qualquer dúvida que possa surgir nesta fase do judicium accusationis, se resolvem em prol da sociedade. Pertinente as qualificadoras, estão elas contidas implicitamente na denúncia, razão pela qual deverão, também, ser perquiridas perante o Tribunal Competente. DOS CRIMES CONEXOS. Estando presentes os pressupostos de autoria e materialidade do delito narrado na exordial acusatória ¿ fato n.º 3, deve o mesmo, pelo princípio da especialidade, ser questionado perante o Tribunal do Povo. Pertinente ao delito de posse ilegal de arma de fogo ¿ fato 2 -, por estar acobertado este crime pela abolitio criminis, é o mesmo expungido da pronúncia. PRELIMINARES REJEITADAS. RECURSO DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70032561599, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Antônio Hirt Preiss, Julgado em 13/01/2010)