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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
ENGENHARIA CIVIL
VICTOR GUSTAVO CHIARI
APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Itatiba SP, Brasil
Dezembro de 2004
VICTOR GUSTAVO CHIARI
APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Monografia apresentada junto à Universidade São
Francisco – USF como parte dos requisitos para a
aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de
Curso.
Área de concentração: Geotecnia
Orientador: Prof. RIBAMAR DE JESUS GOMES
Itatiba SP, Brasil
Dezembro de 2004
ii
Este trabalho é dedicado à razão do meu viver que são meus pais, Sandra Spadaccia Chiari e Natalino Chiari, sempre me apoiando e realizando uma das coisas mais importantes da vida que é amar um filho exatamente como ele deve ser amado.
Em especial este trabalho é dedicado à minha avó Adélia Chiari, uma pessoa que sinto muita falta mas que tenho certeza que está com orgulho do meu crescimento pessoal e profissional e ao meu avô Hélio Spadaccia que apesar de não estar mais conosco deve estar orgulhoso de mim.
À Maria Luiza Oliva de Melo pela sua dedicação e ensino nestes anos de amizade e que com certeza faz muita falta para todos nós
iii
AGRADECIMENTOS
Ao concluir este trabalho, meus agradecimentos são em especial à toda a minha família,
Solange Spadaccia Teixeira, Lourival Teixeira, Cirlei Favrin Spadaccia, Leonardo Felipe
Teixeira, Lenadro Sebastian Teixeira e Lucas Teixeira e um agradecimento especial ao meu
avô Victorio Chiari.
Meus agradecimentos são também à todos os meus grandes e inseparáveis amigos Claudia
Melo, Mathias Texeira, Tatiane Ferreira, Geovana Capovilla, Filippe Iansen, Carlos Eduardo
Valio , Luciana Casacio e Carla Melo.
À todos os meus amigos da Maccaferri do Brasil, sendo em especial à Petrucio José dos
Santos e Alexandre Marcos Texeira.
À todos os meus amigos da do curso de Engenharia Civil da Universidade São Francisco,
Ricardo Ferraz Attencia, Paulo César de Freitas, Rafael Gustavo Marson, Rafael Augusti,
Ângelo dos Santos e Rafael Barbosa.
E também gostaria de agradecer à todos os meus professores da Universidade São Francisco
em especial à Ribamar de Jesus Gomes.
Mas acima de todos, gostaria de agradecer à Deus pela minha existência e de todos àqueles
que me ajudam a ser a pessoa que sou hoje.
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................1 2 OBJETIVO .............................................................................................................................2 3 DEFINIÇÃO...........................................................................................................................3 4 HISTÓRICO...........................................................................................................................4 5 TIPOS .....................................................................................................................................6
5.1 Geotêxteis Tecidos ...........................................................................................................6 5.1.1 Monofilamentos .........................................................................................................6 5.1.2 Multifilamentos..........................................................................................................6 5.1.3 Laminetes...................................................................................................................6 5.1.4 Fibrilas .......................................................................................................................6
5.2 Geotêxteis não-tecidos .....................................................................................................7 5.2.1 Geotêxtil Não-Tecidos Agulhado (GTNa) ................................................................7 5.2.2 Geotêxtil Não-Tecidos Termoligado (GTNt) ............................................................7 5.2.3 Geotêxtil Não-Tecidos Resinado (GTNr)..................................................................8
6 PROPRIEDADES ..................................................................................................................9 6.1 Propriedades Físicas..........................................................................................................9
6.1.1 Espessura nominal ( GTt ) ............................................................................................9
6.1.2 Gramatura ( aM ) ......................................................................................................10
6.1.3 Porosidade ( GTN ) ....................................................................................................10
6.1.4 Ponto de amolecimento............................................................................................10 6.1.5 Retenção de asfalto ..................................................................................................10
6.2 Propriedades Mecânicas.................................................................................................11 6.2.1 Compressibilidade ....................................................................................................11 6.2.2 Resistência à propagação do rasgo ..........................................................................11 6.2.3 Resistência à perfuração ..........................................................................................12 6.2.4 Flexibilidade ............................................................................................................12 6.2.5 Isotropia ...................................................................................................................13 6.2.6 Resistência à tração – Alongamento - Módulo de rigidez ......................................13
6.3 - Propriedades Mecânicas do conjunto solo- geotêxtil....................................................15 6.3.1 Resistência à tração confinada .................................................................................16 6.3.2 Resistência ao cisalhamento direto ...........................................................................16 6.3.3 Resistência ao arrancamento (Pull Out)...................................................................17
6.4 Propriedades de Durabilidade ........................................................................................17 6.4.1 Comportamento em Fluência....................................................................................18 6.4.2 Resistência à abrasão ...............................................................................................18 6.4.3 Resistência à fadiga..................................................................................................18 6.4.4 Comportamento em relaxação .................................................................................18
6.5 Propriedades Hidráulicas................................................................................................19 6.5.1 Permissividade .........................................................................................................19 6.5.2 Transmissividade ......................................................................................................20 6.5.3 Porometria................................................................................................................20
7 FUNÇÕES............................................................................................................................22 7.1 Drenagem Planar ............................................................................................................22 7.2 Filtração..........................................................................................................................23 7.3 Separação .......................................................................................................................24 7.4 Reforço ...........................................................................................................................24 7.5 Proteção..........................................................................................................................25
v
8 CAMPOS DE APLICAÇÃO ...............................................................................................26 8.1 Drenagem ........................................................................................................................26
8.1.1 Drenagem de muros de contenção à gravidade.........................................................26 8.1.2 Drenos verticais em solos compressíveis.................................................................27 8.1.3 Drenos verticais em campos de esporte e jardins .....................................................28
8.2 Filtração..........................................................................................................................28 8.2.1 Drenos longitudinais profundos...............................................................................28 8.2.2 Drenos de pavimentos...............................................................................................30 8.2.3 Canais revestidos com gabiões ................................................................................31 8.2.4 Canais revestidos em concreto.................................................................................33 8.2.5 Proteção de margens em rios, lagos e lagoas...........................................................34 8.2.6 Barragens de terra ....................................................................................................35 8.2.7 Subsolos de edificações ...........................................................................................35 8.2.8 Estruturas de contenção em gabiões caixa................................................................36 8.2.9 Enrocamentos de contenção.....................................................................................37 8.2.10 Campos esportivos e jardins suspensos .................................................................38 8.2.11 Campos esportivos e jardins sobre solos ...............................................................39
8.3 Filtração e Reforço .........................................................................................................40 8.3.1 Diques contínuos de contenção.................................................................................40 8.3.2 Paliçadas de contenção .............................................................................................41
8.4 Separação ........................................................................................................................42 8.4.1 Estradas, arruamentos e pátios..................................................................................42 8.4.2 Lastro ferroviário .....................................................................................................43 8.4.3 Praias artificiais.........................................................................................................44
8.5 Separação e Reforço........................................................................................................45 8.5.1 Estradas de acesso e serviço sobre solos moles .......................................................45
Fonte – Vertematti (2003, pág. 31), Banco de imagens Maccaferri do Brasil ...............46 8.5.2 Aterros sobre solos moles ........................................................................................46 8.5.3 Aterros sobre solo mole focando a estabilização de base .........................................47
8.6 Reforço ...........................................................................................................................48 8.6.1 Estrutura de contenção em solo reforçado ................................................................48
8.7 Proteção..........................................................................................................................49 8.7.1 Recapeamento Asfáltico ..........................................................................................49 8.7.2 Proteção de Impermeabilização ................................................................................50 8.7.3 Proteção de Gramados .............................................................................................51
9 MÉTODOS DE EXECUÇÃO.............................................................................................53 9.1 Limpeza do solo de base .................................................................................................53 9.2 Instalação direta no terreno .............................................................................................53 9.3 Presença de Água ............................................................................................................53 9.4 Proteção superficial .........................................................................................................53 9.5 Sentido de sobreposição ..................................................................................................54 9.6 Lançamento do aterro......................................................................................................54 9.7 Lançamento de Agregados ..............................................................................................54 9.8 Filtro sobre talude............................................................................................................54 9.9 Filtro sobre empedramento..............................................................................................54 9.10 Filtro tracionado ............................................................................................................54 9.11 Filtro em contato com reaterros ....................................................................................55 9.12 Instalação em valas e trincheiras drenantes...................................................................55 9.13 Áreas verdes, jardins e campos suspensos ....................................................................55
10 DIMENSIONAMENTO.....................................................................................................56
vi
10.1 Dimensionamento por cálculo.......................................................................................56 10.1.1 Dimensionamento do geotêxtil - Filtração.............................................................56 10.1.2 Dimensionamento do geotêxtil – Separação..........................................................57
10.1.2.1 Resistência ao estouro .....................................................................................57 10.1.2.2 Resistência ao puncionamento ........................................................................58 10.1.2.3 Resistência à propagação de rasgos.................................................................58
10.2 Dimensionamento por padronização............................................................................59 11 PROJETO E ESPECIFICAÇÕES......................................................................................60
11.1 Funções do geotêxtil na obra........................................................................................60 11.2 Propriedades do geotêxtil requeridas na obra ..............................................................60 11.3 Dimensionamento do geotêxtil......................................................................................60 11.4 Ensaios complementares de desempenho .....................................................................60 11.5 Especificação do geotêxtil............................................................................................61 11.6 Seleção técnica do geotêxtil .........................................................................................61 11.7 Seleção econômica do geotêxtil ...................................................................................61
12 CUSTOS.............................................................................................................................63 CONCLUSÃO..........................................................................................................................64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................65 ANEXOS..................................................................................................................................67
vii
LISTA DE FIGURAS
Fig. 5.1 Geotêxtil tecido ...................................................................................................... 7
Fig. 5.2 Geotêxtil não-tecido ............................................................................................... 8
Fig. 6.1 Esquema do ensaio de espessura ............................................................................. 10
Fig. 6.2 Esquema de ensaio de resistência à propagação do rasgo ...................................... 11
Fig. 6.3 Exemplos de situações de perfuração ..................................................................... 12
Fig. 6.4 Aplicações importantes da flexibilidade ................................................................. 13
Fig. 6.5 Curva esforço / deformação ................................................................................... 14
Fig. 6.6 Esquema dos ensaios de tração ............................................................................... 15
Fig. 6.7 Esquema dos equipamentos para ensaios de interação mecânica solo-geotêxtil .... 15
Fig. 6.8 Resistência ao cisalhamento direto ........................................................................ 16
Fig. 6.9 Situações de comportamento em arrancamento ...................................................... 17
Fig. 6.10 Esquema para a realização do ensaio da permissividade ..................................... 19
Fig. 6.11 Esquema de ensaio para determinação da transmissividade dos geotêxteis ......... 20
Fig. 6.12 Esquema de ensaios de peneiramento hidrodinâmico ......................................... 21
Fig. 7.1 Processo de Fabricação ......................................................................................... 22
Fig. 7.2 Processo de drenagem planar ................................................................................ 22
Fig. 7.3 Processo de filtração .............................................................................................. 23
Fig. 7.4 Processo de separação ........................................................................................... 24
Fig. 7.5 Processo de reforço ................................................................................................ 24
Fig. 7.6 Processo de separação ............................................................................................ 25
Fig. 8.1 Drenagem de muros de contenção à gravidade – Drenagem ................................... 26
viii
Fig. 8.2 Drenos verticais em solos compressíveis – Drenagem .......................................... 27
Fig. 8.3 Seção esquemática de drenos verticais e inclinados construídos com geotêxtil não-
tecido espesso, com função drenante – Drenagem ................................................................. 28
Fig. 8.4 Drenos longitudinais profundos – Filtração ............................................................ 29
Fig. 8.5 Drenos de pavimentos – Filtração ........................................................................... 30
Fig. 8.6 Canais revestidos com gabiões caixa e colchões Reno – Filtração ......................... 31
Fig. 8.7 Canais revestidos em concreto – Filtração .............................................................. 33
Fig. 8.8 Proteção de margem em rios – Filtração ................................................................. 34
Fig. 8.9 Seção esquemática de barragem de terra com dispositivos de proteção construídos
com geotêxtil – Filtração ........................................................................................................ 35
Fig. 8.10 Colchão drenante dotado de geotêxtil como elemento filtrante em subsolo de centro
comercial – Filtração .............................................................................................................. 36
Fig. 8.11 Muro de contenção em gabiões caixa – Filtração ................................................. 36
Fig. 8.12 Enrocamentos de contenção – Filtração ................................................................ 37
Fig. 8.13 Jardins suspensos – Filtração ................................................................................ 38
Fig. 8.14 Campos esportivos e jardins sobre solos – Filtração ............................................. 39
Fig 8.15 Diques contínuos de contenção – Filtração e Reforço ........................................... 40
Fig. 8.16 Paliçadas de contenção - Filtração e Reforço ......................................................... 41
Fig. 8.17 Estradas de pavimentação – Separação ................................................................. 42
Fig. 8.18 Lastro ferroviário – Separação .............................................................................. 43
Fig. 8.19 Praias artificiais – Separação ................................................................................ 44
Fig. 8.20 Estradas de acesso e serviço sobre solos moles – Separação e Reforço ................ 45
Fig. 8.21 Aterro sobre solos moles – Separação e Reforço ................................................... 46
Fig. 8.22 Aterro sobre solo mole (Estabilização de Base) – Separação e Reforço ................ 47
Fig. 8.23 Muro de contenção em solo reforçado – Reforço .................................................. 48
ix
Fig. 8.24 Recapeamento asfáltico – Proteção ........................................................................ 49
Fig. 8.25 Proteção de impermeabilização – Proteção ........................................................... 50
Fig. 8.26 Proteção de gramados – Proteção .......................................................................... 52
x
RESUMO
A busca de soluções para melhorar e facilitar a utilização dos solos, nas diversas aplicações
que beneficiam a vida do homem, tem sido procurada constantemente. Os geossintéticos, em
particular os geotêxteis, têm sido utilizados no Brasil em milhares de obras de engenharia
civil e geotécnicas, com ótimo desempenho e relação custo / benefício muito favorável. Os
geotêxteis podem ser definidos como produtos têxteis bidimensionais permeáveis utilizados
na engenharia geotécnica e suas propriedades os tornam grandes aliados dos geotécnicos na
solução ou na prevenção de problemas ambientais. Apesar da grande diversidade de
geotêxteis, pode-se agrupá-los basicamente em duas grandes classes: geotêxteis tecidos e não-
tecidos, possuindo funções diversificadas no mercado atual sendo que as principais são:
drenagem, filtração, separação, reforço e proteção. Nos dias de hoje, os geotêxteis estão se
difundindo e cada vez mais novos produtos bem como suas variadas técnicas estão sendo
desenvolvidos.
Palavras-Chave: Geossintéticos, Geotêxtil, Estruturas de contenção
1
1 INTRODUÇÃO
A utilização de materiais para melhorar a qualidade dos solos é prática comum desde alguns
milênios antes de Cristo. Nos dias atuais, a busca de soluções para melhorar e facilitar a
utilização dos solos, nas diversas aplicações que beneficiam a vida do homem, tem sido
procurada constantemente. Segundo Koerner (1999), os geossintéticos, em particular os
geotêxteis, têm sido utilizados no Brasil em milhares de obras de engenharia civil e
geotécnicas, com ótimo desempenho e relação custo / benefício muito favorável. Sua grande
versatilidade, associado ao desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, os torna
presentes e indispensáveis em praticamente todas as obras geotécnicas da atualidade. Suas
propriedades os tornam grandes aliados dos engenheiros na solução ou na prevenção de
problemas ambientais.
Apesar da grande diversidade de geotêxteis, pode-se agrupá-los basicamente em duas grandes
classes:geotêxteis tecidos e não-tecidos, possuindo funções diversificadas no mercado atual
sendo que as principais são: drenagem, filtração, separação, reforço e proteção.
Entretanto, muitas vezes sua potencialidade e utilização vêm sendo preteridas pela
comunidade técnica e usuários, especialmente os novos profissionais, acreditando-se assim a
associação deste dado devido à pouca informação e divulgação desse importante produto.
Além disso, o vasto desenvolvimento destes produtos, vêm permitindo adotar novas soluções
e resolver problemas de maior complexidade devido aos custos elevados de uma proposta
convencional ou pela amplitude das solicitações ou das restrições impostas.
2
2 OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo apresentar a tecnologia de utilizações dos geotêxteis,
descrevendo suas definições, tipos, funções, bem como seus respectivos campos de aplicação.
Será apresentado um breve histórico, descrevendo o desenvolvimento dos geotêxteis com o
passar dos anos, mostrando como este material veio sanar as dificuldades encontradas em
obras geotécnicas.
As propriedades dos geotêxteis serão descritas com a finalidade de caracterizar os
ensaios relevantes às suas propriedades, bem como seus métodos de execução e sua forma de
dimensionamento. Será apresentado ainda um comparativo de custos entre dreno de brita
convencional e um dreno de brita com geocomposto drenante.
Enfim, este trabalho tem como objetivo geral, apresentar os fatores mais importantes
que o geotêxtil pode proporcionar às suas diversificadas opções de aplicação bem como suas
funcionalidades e dimensionamentos.
3
3 DEFINIÇÃO
Segundo Dankert (2000), a palavra geossintético pode ser definida através da união do
prefixo grego GEO que pode ser relacionado à terra / solo e a estudos referentes a seu
comportamento e a palavra SINTÉTICO que são produtos obtidos através da síntese química
ou procedimento industrial.
Assim, como definição para geossintéticos de acordo com Vidal (2002) são produtos
industrializados poliméricos, cujas propriedades contribuem para a melhoria de obras
geotécnicas.
Os geotêxteis podem ser definidos como produtos têxteis bidimensionais permeáveis
utilizados na engenharia geotécnica. Estes materiais são constituídos por fibras obtidas através
da fusão de polímeros, podendo desempenhar diversos papéis como parte integrante de um
projeto de engenharia.
Os geotêxteis possuem funções diversificadas no mercado atual sendo as principais:
drenagem, filtração, separação e reforço. Podem ser utilizados ainda como elemento de
proteção, como exemplo, quando colocado entre uma geomembrana e uma camada de solo
com o desígnio de evitar perfurações na mesma. Quando impregnados por betume, os
Geotêxteis podem funcionar também como uma barreira impermeável a líquidos e/ou
vapores. É comum observarmos na prática, os geotêxteis desempenhando funções
diversificadas.
Além disto, o desenvolvimento de produtos de elevada rigidez ou com propriedades
específicas, vem permitindo adotar novas soluções e resolver problemas considerados de
difícil solução face aos custos exagerados de uma proposta convencional ou pela amplitude
das solicitações ou das restrições impostas.
4
4 HISTÓRICO
A busca de soluções para melhorar e facilitar a utilização dos solos nas diversas
aplicações que beneficiam a vida do homem é prática comum desde alguns milênios antes de
Cristo.Em geral, materiais vegetais constituídos de fibras resistentes na Grande Muralha da
China e em várias obras do Império Romano.
De acordo com Vertematti (2003), o século XX trouxe então a revolução e um maior
desenvolvimento na área dos Geossintéticos. Logo após a Segunda Guerra Mundial, o
desenvolvimento da indústria petroquímica mundial e a conseqüente disseminação dos
produtos plásticos a partir da produção de polímeros resultantes do refino do petróleo, tais
como poliéster e polipropileno, sendo utilizados primeiramente como elementos filtrantes nas
obras costeiras nos EUA e nos Países Baixos.
Alguns anos depois, vários produtos similares começaram a ser desenvolvidos e têm
ajudado a Engenharia Civil a se modernizar ano após ano, melhorando assim a qualidade,
bem como o aumento da vida útil, maior rapidez e conseqüentemente menores custos.
Nos anos 50, as aplicações dos geotêxteis foram realizadas em obras hidráulicas como
elementos de filtro para proteção anti-corrosiva.
Na década de 60, um fato muito marcante foi o início da utilização dos geotêxteis não-
tecidos na Europa além de sua aplicação como elemento separador e de reforço entre
materiais com características mecânicas e físicas diferentes, sendo as obras viárias as
principais.
No início dos anos 70, iniciou-se a “Era dos Geossintéticos” no Brasil com a fabricação
do primeiro geotêxtil não-tecido. Com o intuito do desenvolvimento de normas específicas,
vários grupos técnicos de trabalho foram criados na França e Alemanha. Começaram a ser
aplicados em reforços de grandes aterros e barragens, além da utilização em camadas
múltiplas de taludes e muros de contenção, bem como a introdução como elemento
prolongador da vida útil de recapeamentos asfálticos e superestruturas ferroviárias.
O ano de 1977 foi marcante para a história dos Geossintéticos, pois foi a partir da
“International Conference on the use of Fabrics in Geotechnics” realizado na França que o
prof.º Jean Pierre Giroud propôs a utilização dos termos Geotêxtil e Geomembrana.
5
Como marco histórico, esta conferência deu início a muitos outras que viriam acontecer
a partir os anos 80. Nesta década foi desenvolvida a utilização dos geossintéticos na
recuperação de áreas poluídas e na construção de obras de contenção e proteção ambiental.
Os anos 90 foram importantes pelos impulsos gerados pelos estudos teóricos
apresentados, desencadeando o surgimento de uma multiplicidade de produtos e seus variados
usos, gerando assim inúmeras utilizações importantes. Em 1992 foi realizado o primeiro
congresso brasileiro denominado “Seminário sobre aplicações de Geossintéticos em
Geotecnia – Geossintéticos 92” em Brasília e a partir desta data muitos outros congresso
puderam ser realizados no Brasil.
Nos dias de hoje, os geotêxteis estão se difundindo, e cada vez mais novos produtos
bem como suas variadas técnicas de aplicação estão sendo desenvolvidos, tornando-se um
produto muito versátil, proporcionando benefícios devido à sua praticidade.
6
5 TIPOS
Apesar da grande diversidade de geotêxteis, pode-se agrupá-los basicamente em duas
grandes classes: geotêxteis tecidos e não-tecidos. Segundo Koerner (2002), existe ainda uma
terceira classe, constituída por geotêxteis tricotados, que são oriundos do entrelaçamento de
fios por tricotamento utilizados basicamente para reforço, porém com menor utilização.
5.1 Geotêxteis Tecidos
Os geotêxteis tecidos são materiais obtidos através do entrelaçamento de fios,
filamentos ou outros componentes, seguindo assim, direções preferenciais, denominadas
trama e urdume. A trama corresponde aos fios dispostos transversalmente à direção de
fabricação dos geotêxteis, enquanto que o urdume são os fios dispostos longitudinalmente à
essa direção. São utilizados nos geotêxteis tecidos quatro tipos principais de fibras:
5.1.1 Monofilamentos
Constituem fibras individuais fabricadas com seção circular ou oval, podendo atingir
centenas ou milhares de metros.
5.1.2 Multifilamentos
São formados, como o próprio nome sugere, pela associação de diversos filamentos.
5.1.3 Laminetes
Tipo de fibra originada quando o produto extrusado apresenta-se lamelar, podendo
assim ser cortado em fitas estreitas.
5.1.4 Fibrilas
Tipo de fibra originada quando o produto extrusado apresenta-se lamelar, podendo ser
cortado em pequenos elementos para posteriormente serem unidos.
Vale salientar que as fibras descritas anteriormente, constituem tipos básicos, podendo-
se encontrar ainda, algumas variações.
A fig. 5.1(a) apresenta um geotêxtil tecido comumente encontrado no mercado,
enquanto a fig. 5.1(b) é constituída de um geotêxtil tecido tipo multifilamento.
7
(a) Foto esquemática do geotêxtil tecido (b) Geotêxtil tecido tipo multifilamento
Fig. 5.1 – Geotêxtil tecido
Fonte – Banco de imagens Maccaferri do Brasil
5.2 Geotêxteis não-tecidos
Os geotêxteis não-tecidos são materiais compostos por fibras ou filamentos distribuídos
aleatoriamente e interligados por processos mecânicos, térmicos e/ou químicos. Na confecção
dos geotêxteis não-tecidos, dois tipos de fibras podem ser utilizadas, sendo estas as fibras
cortadas que apresentam comprimento reduzido (25 a 100 m), enquanto os filamentos
contínuos possuindo grande extensão. Um detalhe a ser salientado é que ambos apresentam
seção circular, interligados por processos mecânicos, térmicos ou químicos. Com relação ao
tipo de ligação das fibras, podem-se distinguir:
5.2.1 Geotêxtil Não-Tecidos Agulhado (GTNa)
Fibras interligadas mecanicamente, por meio de agulhas dentadas, mediante à
penetração das mesmas, repetidas vezes, em toda profundidade do material, provocando assim
o entreleçamento das fibras.
5.2.2 Geotêxtil Não-Tecidos Termoligado (GTNt)
Fibras interligadas por fusão parcial obtida por aquecimento, como por exemplo, resina
acrílica aplicada por imersão ou pulverização. Materiais compactados e sem fibras ou
filamentos soltos na superfície. Normalmente são pouco espessos e o toque é mais para um
papel.
8
5.2.3 Geotêxtil Não-Tecidos Resinado (GTNr)
Fibras interligadas por meio de produtos químicos, sendo que um destes pode ser resina
acrílica aplicada por imersão ou pulverização.
A fig. 5.2 (a) mostra um geotêxtil não-tecido geralmente encontrado, sendo mostrado
um na fig. 5.2 (b) um detalhamento do entrelaçamento das fibras dos geotêxteis não-tecidos.
(a)Foto esquemática do geotêxtil não - (b) Detalhe do entrelaçamento das fibras
tecido.
Fig. 5.2 – Geotêxtil não-tecido
Fonte – Banco de imagens Maccaferri do Brasil
9
6 PROPRIEDADES
O emprego crescente de têxteis na engenharia geotécnica se deve em grande parte ao
fato de sua associação ao solo ter-se mostrado eficiente nos aspectos nos quais é necessário
examinar o comportamento geotécnico de uma obra. Por esse motivo, o engenheiro precisa,
portanto, conhecer todas as propriedades dos geotêxteis através de ensaios característicos para
que possa utilizá-lo corretamente. Sendo assim, os ensaios com geossintéticos podem ser
agrupados em duas categorias básicas: ensaios de caracterização e ensaios de comportamento.
Segundo Seraphim (1990), os ensaios de caracterização têm como objetivo principal
determinar as características básicas do produto, sem levar em consideração sua iteração com
o meio ambiente, nem o processo de solicitação imposto pela obra. Suas características são
determinadas através de ensaios rápidos sendo úteis ao controle de qualidade. Os ensaios de
comportamento são aqueles que levam em consideração as situações impostas em obra como
as condições ambientais. Estes ensaios são na maioria das vezes inviáveis por serem caros e
muito trabalhosos.
6.1 Propriedades Físicas
As propriedades físicas de um geossintético são em geral pouco utilizadas na prática da
engenharia pois na maioria das vezes não indicam com exatidão os parâmetros de
comportamento, servindo apenas para uma identificação rápida. Sendo assim, as
propriedades físicas do geotêxtil são:
6.1.1 Espessura nominal ( GTt )
É a espessura do geotêxtil submetido à uma pressão confinante de 2 kPa aplicada numa
área de 2500 mm2, por placas rígidas e paralelas. São determinadas também através da norma
brasileira NBR 12569 e é expressa em milímetros (mm). O esquema do ensaio da espessura
poderá ser verificado na fig. 6.1.
10
Fig. 6.1 – Esquema do ensaio de espessura
Fonte – Vidal (1990, p.4)
6.1.2 Gramatura ( aM )
Obtida geralmente a partir de corpos de prova de 100 x 100 mm. É determinada pela
norma brasileira NBR 12568 e é expressa por grama por metro quadrado (g / m2).
6.1.3 Porosidade ( GTN )
Determinada geralmente em função da gramatura e espessura do geotêxtil, da densidade
da fibra / filamento (∫
ρ ) da massa específica da água à 4º C ( aγ ) onde é dada pela expressão
6.1:
).(
1
. aGT
aGT
t
MN
γρ∫
−= (6.1)
A porosidade do geotêxtil pode ser determinada pela norma alemã DIN 53855 é
expressa em porcentagem do volume total do geotêxtil (%).
6.1.4 Ponto de amolecimento
É adotado o ponto de amolecimento da matéria-prima do geotêxtil, onde é expressa em
graus Celcius (ºC) e não existe qualquer norma especializada para a determinação deste
aspecto.
6.1.5 Retenção de asfalto
A retenção de asfalto é usualmente determinada pela especificação TF 25 / método 8 da
AASHTO, onde é expressa em litros por metro quadrado (l / m2)
11
6.2 Propriedades Mecânicas
As propriedades mecânicas possuem várias características de utilização nas quais
podemos citar:
● caracterizar os geotêxteis;
● controlar a qualidade;
● fornecer parâmetros para os projetos;
● conhecer seu comportamento em determinadas condições de solicitação.
De todos os ensaios realizados para determinar essas propriedades, alguns se baseiam
em normas existentes e outros através de normas têxteis. Em ambos os casos, a inexistência
de normalização internacional e a evidente necessidade de estabelecer metodologia em função
de cada tipo de geotêxtil, geram procedimentos que podem levar a resultados
consideravelmente diferentes.
6.2.1 Compressibilidade
É a variação da espessura do geotêxtil quando carregado, onde é geralmente
apresentado pela curva “espessura / pressão aplicada” , e, deve-se ser apresentado vários
níveis de carga, conforme especificado na NBR 12569.
6.2.2 Resistência à propagação do rasgo
Devido à acidentes que possam porventura perfurar o geotêxtil, deve-se realizar um
ensaio de resistência à propagação à danos. É especificada pela norma ASTM D4533. A fig.
6.2 apresenta um esquema do ensaio proposto, sendo este o mais empregado para os
geotêxteis.
Fig. 6.2 – Esquema de ensaio de resistência à propagação do rasgo
Fonte – Vidal (1990, p.7)
12
6.2.3 Resistência à perfuração
Todo geotêxtil estará sujeito a sofrer penetração de um objeto ou penetrar num espaço
vazio, e, podemos separar em três tipo diferentes de penetração:
● Resistência à penetração por impacto;
● Resistência à penetração por puncionamento, especificada pela norma ASTM D4833.
● Resistência à penetração por estouro, especificada pela norma ASTM D3786.
Os tipos de resistência à perfuração serão explicados com mais precisão no capítulo 9.
Na fig. 6.3 está apresentado um esquema com os diferentes tipos de perfuração.
Fig. 6.3 – Exemplos de situações de perfuração
Fonte – Vidal (1990, p.8)
6.2.4 Flexibilidade
É importante avaliarmos a capacidade de acomodação entre o geotêxtil e o solo. A
capacidade de acomodação aumento o atrito do geotêxtil com o material envolvente e melhora
o seu desempenho de acordo com suas funções. Não há normalização específica para a
determinação da flexibilidade do geotêxtil. Na fig. 6.4 são apresentadas as aplicações de
maior importância da flexibilidade:
13
(a) Muros de solo reforçado com geotêxtil (b) Drenos profundos
Fig. 6.4 – Aplicações importantes da flexibilidade
Fonte – Vidal (1990, p.10)
6.2.5 Isotropia
Quando os geotêxteis possuem as mesmas propriedades mecânicas em todas as direções
apresentam isotropia, onde sua verificação pode ser realizada na execução de ensaios de
tração com amostras retiradas de diversas posições da manta e não possui normalização para a
sua determinação.
6.2.6 Resistência à tração – Alongamento - Módulo de rigidez
Com a finalidade de determinar a resistência à tração, os ensaios deverão fornecer ao
menos a força de tração máxima que o geotêxtil resiste e o alongamento do geotêxtil. A
resistência à tração é determinada pela NBR 12824. A curva esforço / deformação é
apresentada na fig. 6.5 e poderá fornecer o módulo de rigidez do geotêxtil.
14
Fig. 6.5 – Curva esforço / deformação
Fonte – Vertematti, 2003, p.21)
Onde:
=iJ Módulo inicial
=εtJ Módulo tangente ao alongamento ε
=otJ Módulo tangente deslocado
=εsecJ Módulo secante ao alongamento ε
Existem dois tipos de ensaios usuais para esta determinação da resistência à tração,
sendo estes representados na fig. 6.6.
● Esforço de tração concentrado;
● Esforço de tração distribuído por toda a largura da amostra.
15
(a) Concentrado (b) Distribuído (faixa estreita) (c) Distribuído (faixa larga)
Fig. 6.6 – Esquema dos ensaios de tração
Fonte Vidal (1990, p.12)
6.3 - Propriedades Mecânicas do conjunto solo- geotêxtil
Os ensaios realizados para estudar o comportamento mecânico do sistema solo-geotêxtil
buscam simular as situações reais em campo e quantificar parâmetros para utilização direto
em projetos. Na fig. 6.7 são exemplificados alguns esquemas destes equipamentos utilizados
com freqüência.
(a) Ensaio de tração em câmera triaxial (b) Tração confinada
16
(c) Cisalhamento direto (d) Arrancamento
Fig. 6.7 – Esquema dos equipamentos para ensaios de interação mecânica solo-geotêxtil
Fonte Vidal (1990, p.17)
6.3.1 Resistência à tração confinada
Este ensaio é de vital importância pois proporciona a obtenção dos parâmetros de
projeto com mais precisão, pois geralmente a resistência à tração confinada é maior que a
não-confinada. Este ensaio permite também detectar problemas como rasgos e é especificada
através da norma NBR 12824.
6.3.2 Resistência ao cisalhamento direto
O ensaio é chamado de resistência ao cisalhamento direto pois ocorre quando o
geotêxtil é imerso numa massa de solo ou separando dois materiais com granulometria
diferentes, como pode ser observado na fig. 6.8 . Para isso, são apresentados dois tipos de
ensaio:
● solo – geotêxtil - solo
● solo - geotêxtil - base rígida
(a) Revestimento de taludes (b) Estradas de acesso
17
(c) Aterro – superfície de ruptura do geotêxtil (d) Aterros – ruptura da fundação
Fig. 6.8 – Resistência ao cisalhamento direto
Fonte Vidal (1990, p.19)
6.3.3 Resistência ao arrancamento (Pull Out)
Geralmente o ensaio de resistência ao arrancamento é realizado para verificar o
comportamento do geotêxtil (rígidos ou reforçados) na seção de ancoragem, sendo que é
utilizado a mesma metodologia que a tração confinada. Na fig.6.9 pode-se observar algumas
situações práticas onde o geotêxil fica submetido ao arrancamento.
(a) Muros de solo reforçado com geotêxtil (b) Aterro sobre solos moles
Fig. 6.9 – Situações de comportamento em arrancamento
Fonte Vidal (1990, p.19)
Segundo Vertematti (2003), os ensaios de desempenho mecânico solo / geotêxtil / solo
são realizados em muitos países, porém ainda não possuem normalização específica.
6.4 Propriedades de Durabilidade
Na engenharia, ale de conhecer o comportamento ou as propriedades de um material
necessário ao dimensionamento da obra, é preciso verificar a manutenção destas propriedades
durante seu período de utilização.
18
Os ensaios de durabilidade podem ser divididos em dois grupos básicos:
• Estudos da variação no tempo sob efeito das condições de carregamento ou fluxo,
como colmatação e fadiga;
• Estudo da variação do tempo face aos ataques de meio ambiente.
Sendo assim, as propriedades de durabilidade têm por objetivo verificar se o geotêxtil
poderá ou não cumprir as funções determinadas durante toda a vida útil da obra.
6.4.1 Comportamento em Fluência
O nível de fluência que um certo material apresenta está diretamente ligado à
porcentagem de carga que ele está submetido. A fluência deve ser considerada sobre os
valores de resistência à tração não-confinados e observados nos ensaios de caracterização
descritos anteriormente. Este tipo de análise tem vital importância no caso dos geossintéticos
utilizados para realizara função de drenagem. Esta propriedade pode ser determinada pela
norma européia ISO 13431 e é expressa em deformação e / ou tempo decorrido até a ruptura
para uma carga constante aplicada.
6.4.2 Resistência à abrasão
Durante a vida útil de uma obra, o geotêxtil está sujeito a um processo abrasivo, sendo
necessários a realização de ensaios, onde deve-se tomar muito cuidado na interpretação dos
resultados e na escolha do ensaio. É determinada pela norma americana ASTM D4886 e pode
ser expressa em perda de massa por tempo decorrido.
6.4.3 Resistência à fadiga
Este tipo de resistência é geralmente estudado através de ensaios de tração em “faixa
larga”, onde a amostra é carregada e descarregada com uma freqüência pré- estabelecida,
medindo assim a variação da deformação com o número de ciclose não são especificadas
normas para a determinação da resistência à fadiga.
6.4.4 Comportamento em relaxação
É o estudo da variação dos esforços de tração em um geotêxtil submetido a uma
determinada deformação constante ao longo do tempo. Por se tratar de um ensaio muito
parecido ao comportamento em fluência, não é muito utilizado, pois apresenta metodologias
de ensaio mais complicadas e não apresenta normalização específica.
19
6.5 Propriedades Hidráulicas
As propriedades hidráulicas referem-se ao comportamento do geotêxtil quando está em
contato com a água. A compressibilidade do geotêxtil faz com que sua permeabilidade seja
função da tensão normal a que eles estão sujeitos.
Para a adequada utilização dos geotêxteis em todas as funções a que eles estão
submetidos, devem-se conhecer suas propriedades hidráulicas, definidas pela:
6.5.1 Permissividade
A consideração deste conceito elimina a dificuldade de medida de espessura durante o
ensaio, e, devido a pequena espessura dos geotêxteis, representa melhor suas condições. A
permissividade é determinada através da norma ASTM D4491
A permissividade hidráulica poderá ser calculada através da expressão 6.2.
HA
LQK
∆=
.
. (6.2)
Onde:
Q = vazão
L = comprimento da amostra na direção do fluxo
A = Área do fluxo
∆H = perda de carga total
A figura 6.10 representa o esquema para a realização do ensaio da permissividade.
Fig. 6.10 – Esquema para a realização do ensaio da permissividade
Fonte Vertematti (2003, p.19-20)
20
6.5.2 Transmissividade
Esta propriedade indica a capacidade que a manta do geotêxtil possui de conduzir a água, e, é
especificada através da norma ASTM D4716. Na expressão 6.3 pode-se calcular a
transmissividade do geotêxtil.
L
AHKQ T ... ∆
= (6.3)
Onde:
Q = vazão
L = comprimento da amostra na direção do fluxo
A = Área do fluxo
∆H = perda de carga total
=TK permeabilidade transversal
Na figura 6.11 pode-se visualizar com clareza o esquema de ensaio para determinação
da permeabilidade transversal dos geotêxteis.
Fig. 6.11 – Esquema de ensaio para determinação da transmissividade dos geotêxteis
Fonte Vertematti (2003, p.20)
6.5.3 Porometria
A propriedade de abertura de filtração é de fundamental importância no estudo da
capacidade de retenção dos geotêxteis quando utilizados como filtros ou separadores, o que
até os dias de hoje gera muita polêmica internacionalmente. A porometria é a medida das
21
dimensões de seus poros. Ela pode ser considerada como sendo a maior abertura do geotêxtil,
mas que ainda não possui uma metodologia de ensaio padrão. Pode ser determinada pela
norma ASTM D4751.
Vários métodos para esse cálculo vêm sendo discutidos na literatura. Dentre eles cita-se:
● peneiramento por vibração a seco
● peneiramento por vibração em água
● medida ótica direta
● análise de imagem
● peneiramento hidrodinâmico
No esquema da figura 6.12 está indicado o ensaio de peneiramento hidrodinâmico.
Fig. 6.12 – Esquema de ensaios de peneiramento hidrodinâmico
Fonte Vidal (1990, p.26)
22
7 FUNÇÕES
De acordo com Vertematti (2003), o processo de fabricação e a matéria-prima conferem
ao geotêxtil todas as suas características e propriedades, que por sua vez, criam determinadas
funções que o produto está apto a exercer, o que pode ser exemplificado pela fig. 7.1.
Fig. 7.1 Processo de Fabricação
Fonte – Vertematti (2003, p.25)
Sendo assim, as principais funções exercidas pelos geotêxteis estão descritas abaixo:
7.1 Drenagem Planar
Através de sua estrutura física, é feita a coleta e condução dos fluidos em seu plano. A
Drenagem Planar é inerente apenas aos geotêxteis Não-Tecidos mais espessos. Um esquema
exemplificando esta função, pode ser visualizado na fig. 7.2.
Fig. 7.2 – Processo de drenagem planar
Fonte – Vertematti (2003, p.26)
23
7.2 Filtração
O geotêxtil retém o solo ou outros materiais com características sólidas, deixando livre a
passagem aos fluidos em movimento. O fenômeno da Filtração para a água percolada, pode
ser visualizado nas fig. 7.3.
(a)
(b)
Fig. 7.3 – Processo de filtração
Fonte – Vertematti (2003, p.26)
24
7.3 Separação
Este processo é realizado através da colocação do geotêxtil entre dois materiais
diferentes, impedindo assim sua mistura e impenetração, sendo preservadas suas
características originais, como exemplificado através da fig. 7.4.
Fig. 7.4 – Processo de separação
Fonte – Vertematti (2003, p.25)
7.4 Reforço
O Reforço é feito pela utilização das propriedades mecânicas de um geotêxtil para a
melhoria do comportamento mecânico de uma estrutura geotécnica. A característica do
reforço pode ser vista na fig. 7.5.
Fig. 7.5 – Processo de reforço
Fonte – Vertematti (2003, p.25)
25
7.5 Proteção
Prevenção de danos mecânicos como a abrasão, puncionamento e rasgo, onde é
colocado adjacente a outro elemento. Esta função é vista na fig. 7.6.
Fig. 7.6 – Processo de separação
Fonte – Vertematti (2003, p.25)
Além de responder às funções estabelecidas em projeto, é preciso que os geotêxteis
garantam a continuidade das mesmas ao tempo de utilização, enfocando a importância da
análise da durabilidade destes produtos.
Nos últimos anos, o estudo da durabilidade tem sido fundamental devido à sua grande
utilização em obras de proteção ambiental, e, portanto, submetidos à solicitações químicas e
ambientais extremamente rigorosas.
As diversas funções que um geotêxtil pode desempenhar numa obra geotécnica o torna
um material muito versátil, permitindo que seja utilizado em várias aplicações.
26
8 CAMPOS DE APLICAÇÃO
Segundo Koerner (1999) e Vertematti (2003), os geotêxteis podem ser utilizados em
diversos campos da engenharia desempenhando suas diversas funções tornando as obras mais
econômicas e com uma geometria mais ousada.
A seguir, serão exemplificados aplicações dos Geotêxteis mais desenvolvidos,
destacando as diversas funções por ele desempenhados.
8.1 Drenagem
8.1.1 Drenagem de muros de contenção à gravidade
Os muros de contenção à gravidade requerem um sistema drenante ao tardoz da
estrutura devido à sobrecarga exercida pela pressão hidrostática e queda da resistência do solo
de aterro. Neste caso o geotêxtil funciona como elemento filtrante quando a drenagem é
solicitada. Na fig. 8.1, pode-se visualizar o esquema descrito.
Fig. 8.1: Drenagem de muros de contenção à gravidade - Drenagem
Fonte – Vertematti (2003. p.48)
27
8.1.2 Drenos verticais em solos compressíveis
Para garantir a continuidade do fluxo durante a consolidação, levando em consideração
o baixo custo, são utilizados geotêxteis devido sua grande flexibilidade. Geralmente são
utilizados geotêxteis não tecidos espessos em tiras com variação entre 10 e 20 cm. Na fig. 8.2
pode ser analisadas uma seção esquemáica e uma foto da aplicação dos drenos verticais em
solos compressíveis.
(a) Seção esquemática de um aterro sob solo mole consolidado
com drenos verticais constituídos de tiras de geotêxtil
(b) Tiras de geotêxtil como drenos verticais cravadas no solo
Fig. 8.2 – Drenos verticais em solos compressíveis – Drenagem
Fonte – Vertematti (2003. p.49)
28
8.1.3 Drenos verticais em campos de esporte e jardins
Quando a camada de solo vegetal sobre o sistema drenante torna-se pouco permeável,
devido ao pisoteamento e a alta compactação, há a necessidade da construção de drenos
verticais constituídos por geotêxtil.
Um buraco pré-escavado com trado é realizado, onde o geotêxtil é enrolado e colocado
até atingir o sistema drenante existente. É apresentada na fig. 8.3 uma seção esquemática.
Fig. 8.3 Seção esquemática de drenos verticais e inclinados construídos com
geotêxtil não- tecido espesso, com função drenante - Drenagem
Fonte – Vertematti (2003. p.47)
8.2 Filtração
8.2.1 Drenos longitudinais profundos
Com a função de rebaixamento do lençol freático em obras viárias, drenos longitudinais
profundos são construídos ao longo da rodovia. Por esse motivo, a prevenção para que não
ocorra a colmatação dos drenos devido ao carreamento dos finos do solo pelo fluxo de água
freqüente, é instalada uma camada de geotêxtil filtrante. Na parte superior da seção drenante,
o geotêxtil é sobreposto para garantir a proteção total contra a penetração dos finos. Na seção
da fig. 8.4 (a) são exemplificados os drenos longitudinais profundos, bem como uma foto da
aplicação em obra na fig. 8.4 (b).
29
(b) Seção esquemática de drenos longitudinais profundos ao longo
de uma rodovia, utilizando geotêxtil como elemento filtrante
Fig. 8.4 – Drenos longitudinais profundos - Filtração
Fonte – Vertematti (2003. p.38)
(a) Seção esquemática de drenos longitudinais profundos ao longo de cortes rodo-ferroviários
30
8.2.2 Drenos de pavimentos
Com o passar do tempo, todos os pavimentos viários tendem a se deteriorar, devido à
penetração da água em sua base, provocando assim o bombeamento das partículas finas do
subleito através da base e revestimento, até emergir no leito da via, diminuindo a resistência
do subleito. A presença de drenos de pavimento, constituído por um geotêxtil filtrante,
previne o desenvolvimento desse bombeamento, retirando a água da base rapidamente antes
da sua penetração, garantindo a manutenção e resistência do subleito. Na fig. 8.5 pode-se
visualizar um exemplo de aplicação de drenos de pavimento.
(b) Dreno de pavimento rodoviário construído em rodovia já implantada
Fig. 8.5 – Drenos de pavimentos - Filtração
Fonte – Vertematti (2003. p.39-40)
(a) Dreno de pavimento rodoviário construído junto com a estrada
31
8.2.3 Canais revestidos com gabiões
Nos canais revestidos com gabiões ou similares, é sempre necessária a interposição do
geotêxtil entre os gabiões e o solo natural ou aterro, permitindo a passagem de fluidos através
de sua estrutura retendo as partículas de solo, podendo substituir com vantagens os
tradicionais filtros de transição granulométrica. Na fig. 8.6 (a) e 8.6 (b) pode-se visualizar
seções esquemáticas de canais trapezoidais revestidos em colchões Reno e canais retangulares
revestidos com gabiões caixa e colchões Reno respectivamente. Na fig. 8.6 (c) e 8.6 (d) estão
exemplificados aplicações destes materiais.
(a) Seção esquemática de canais trapezoidais revestidos com colchões Reno
(b) Seção esquemática de canais retangulares revestidos com gabiões caixa e colchões Reno
32
(c) Revestimento de canal trapezoidal em colchões Reno
(d) Canal retangular revestido com gabiões caixa e colchões Reno
Fig. 8.6 – Canais revestidos com gabiões caixa e colchões Reno – Filtração
Fonte – Banco de imagens Maccaferri do Brasil
33
8.2.4 Canais revestidos em concreto
Nos canais revestidos em concreto, do tipo placa pré-moldada, moldada ou
geocélulas, deve-se tomar todo o cuidado possível para prevenir as subpressões e a erosão do
solo base, pela fuga de suas partículas através das placas ou concreto. Por isso o geotêxtil
funciona como como filtro sob as juntas no caso das placas pré-moldadas ou concreto. No
caso da utilização das geocélulas, o geotêxtil deve ser interposto entre o solo natural e as
geocélulas, e, no caso das placas moldadas, o geotêxtil é interposto entre as pedras e o solo
natural. Na fig. 8.7 são mostradas uma seção esquemática e aplicação em campo.
(a) Seção esquemática de canais revestidos com placas de concreto pré-moldados
Fonte - Vertematti (2003. p.41)
(b) Canalização revestido com concreto placas de pré--moldado
Fig. 8.7 – Canais revestidos em concreto - Filtração
Fonte – Vertematti (2003. p.41), Banco de imagens Maccaferri do Brasil
34
8.2.5 Proteção de margens em rios, lagos e lagoas
Para proteger as margens de rios, lagos e lagoas contra o efeito erosivo das ondas,
chuvas e variações dos níveis d’água, é sempre necessário a execução de um revestimento.
Sendo assim, os geotêxteis eliminam a necessidade de outras camadas de transição,
facilitando a execução. Poderão ser executados para este controle de erosão enrocamentos,
colchões Reno ou pré-moldados me concreto. Na fig. 8.8 pode-se visualizar uma seção
esquemática e foto da aplicação do enrocamento.
(a) Seção esquemática de margens protegidas contra erosão através do enrocamento
(b) Proteção de margem com enrocamentos e geotêxtil atuando com elemento de filtração
Fig. 8.8 – Proteção de margem em rios - Filtração
Fonte – Vertematti (2003, p.42-43)
35
8.2.6 Barragens de terra
As utilizações dos geotêxteis em barragens de terra são muito comuns, sendo que as
mais interessantes são:
● Dreno Vertical (Chaminé);
● Proteção do Talude de Montante;
● Dreno ou Tapete Horizontal.
● Dreno de Pé de Talude.
As características de utilização dos geotêxteis no caso de barragens de terra são muito
similares, sendo que o geotêxtil envolve todo o material drenante, permitindo o acesso da
água e retendo os grãos de solo. No esquema da fig. 8.9, pode-se visualizar uma seção
esquemática de uma barragem de terra.
Fig. 8.9 - Seção esquemática de barragem de terra com dispositivos de proteção construídos com
geotêxtil - Filtração
Fonte – Vertematti (2003, p.43)
8.2.7 Subsolos de edificações
Ao se interceptar um lençol freático, há a necessidade a construção se um sistema
drenante adequado, optando por um sistema em trincheiras drenantes ou até colchões
drenantes, prevenindo assim a erosão do solo base e a colmatação do sistema drenante. Na fig.
36
8.10, pode-se visualizar um colchão drenante com a aplicação geotêxtil como elemento
filtrante.
Fig. 8.10 – Colchão drenante dotado de geotêxtil como elemento filtrante em subsolo de centro
comercial - Filtração
Fonte – Vertematti (2003, p.44)
8.2.8 Estruturas de contenção em gabiões caixa
Nas estruturas de contenção em gabiões caixa, utiliza-se o geotêxtil como elemento
filtrante com a finalidade de evitar o carreamento de finos do solo eliminando assim a
necessidade de outras camadas de transição granulométrica. Nesta aplicação é importante
compactar convenientemente o reaterro junto ao geotêxtil, garantindo a estruturação solo. Na
fig. 8.11 são mostradas uma ilustração desta aplicação e uma foto de sua aplicação em campo.
(a) Seção esquemática de um muro de contenção em gabiões
37
(b) Muro de contenção em gabiões caixa com geotêxtil atuando como filtro
Fig. 8.11 – Muro de contenção em gabiões caixa - Filtração
Fonte – Banco de imagens Maccaferri do Brasil
8.2.9 Enrocamentos de contenção
Se trata de um aterro em contato com a água, em obras fluviais e marítimas. A
utilização geotêxtil é muito importante nesse tipo de estrutura pois previne o desenvolvimento
de erosão interna do aterro, devido à fuga de finos através do enrocamento, como pode ser
visto na fig. 8.12.
(a) Seção esquemática de enrocamento de aterro hidráulico ou mecânico
38
(a) Aterro mecânico argiloso contido por enrocamento lançado ao mar
Fig. 8.12 – Enrocamentos de contenção - Filtração
Fonte – Vertematti (2003, p.45)
8.2.10 Campos esportivos e jardins suspensos
É imprescindível prever um colchão drenante para rápida evacuação do excesso de água
de irrigação e chuva presente nas lajes, evitando assim a saturação do solo vegetal e a
conseqüente morte de vegetação. A seção esquemática é exemplificada na fig. 8.13.
(a) Seção esquemática de um jardim suspenso com colchão drenante, tendo o geotêxtil na função filtrante
39
(b) Jardim suspenso com o geotêxtil atuando como filtro
Fig. 8.13 – Jardins suspensos - Filtração
Fonte – Vertematti (2003, 46), Banco de imagens Maccaferri do Brasil
8.2.11 Campos esportivos e jardins sobre solos
Recomenda-se a utilização de um sistema drenante afim da captação das águas de chuva
e irrigação excedentes, prevenindo assim a morte de vegetação. Uma forma econômica para a
resolução deste problema é a construção de trincheiras drenantes uniformemente espaçadas,
onde o geotêxtil envolve completamente o material drenante das trincheiras, como visto na
fig. 8.14.
(a) Seção esquemática de um campo sobre subsolo com o geotêxtil atuando como colchão drenante
40
(b) Seção drenante em forma de espinha de peixe em campo de futebol
Fig. 8.14 – Campos esportivos e jardins sobre solos - Filtração
Fonte – Vertematti (2003, p.46-47)
8.3 Filtração e Reforço
8.3.1 Diques contínuos de contenção
Conhecidos no mercado nacional como “salsichões”, estes diques são construídos
através da costura longitudinal do geotêxtil, passando-o a ser a parte filtrante do “salsichão”.
Estes diques são preenchidos com areia, onde é sedimentada , enquanto água é expelida pelo
geotêxtil.. Para a proteção contra vandalismos e ação da luz solar, devem ser revestidas
superficialmente, como esquematizado na fig. 8.15.
(a) Seção esquemática de diques contínuos em fiadas escalonados
41
(b) Diques contínuos de contenção de aterro hidráulico
Fig 8.15 – Diques contínuos de contenção – Filtração e Reforço
Fonte – Vertematti (2003, p.37)
8.3.2 Paliçadas de contenção
Onde há farta disposição de madeira e mão-de-obra, a solução ideal para a contenção de
aterros hidráulicos é a utilização do geotêxtil, onde é pregado nos pontaletes de madeira,
constituindo uma cortina vertical que retém os grãos de areia, permitindo a livre passagem
d´água, além de ser uma opção economicamente viável. Na fig. 8.16, pode-se visualizar uma
seção esquemática e um exemplo de aplicação prática.
(a) Seção esquemática de paliçada de contenção
42
(b) Paliçada de contenção com o auxílio do geotêxtil
Fig. 8.16 – Paliçadas de contenção - Filtração e Reforço
Fonte – Vertematti (2003, p.37)
8.4 Separação
8.4.1 Estradas, arruamentos e pátios
Atuando como elemento separador, uma camada de geotêxtil é interposta entre a
base granular e o subleito, impedindo assim a interpenetração das camadas devido às cargas
dinâmicas cíclicas produzidas pelo tráfego, com ou sem a presença de água, como indicado na
fig 8.17.
(a) Seção esquemática de uma base de pavimento ao conjunto de uma camada separadora de geotêxtil
43
(b) O geotêxtil é interposto entre o subleito e a base granular
Fig. 8.17 – Estradas de pavimentação - Separação
Fonte – Vertematti (2003, p.28) – Banco de imagens Maccaferri do Brasil
8.4.2 Lastro ferroviário
As cargas cíclicas aplicadas pelas composições ferroviárias, aliadas à superfície do
subleito enfraquecida pelas águas de chuvas, produzem uma lenta e contínua interpenetração
lastro/subleito. A penetração do solo fino e saturado nos vazios funciona como lubrificante,
diminuindo sua resistência e provocando deformações permanentes acumulativas. Com o
reparo do lastro contaminado, o emprego do geotêxtil entre a camada final da terraplenagem e
o lastro impede a interpenetração dos materiais preservando suas características mecânicas e
aumentando a vida útil da via férrea. Na fig. 8.18, é exemplificado uma seção esquemática e
uma foto de aplicação do geotêxtil em lastros ferroviários.
(a) Seção esquemática de estrutura de via férrea
44
(b) Lançamento do novo lastro sobre o geotêxtil separador
Fig. 8.18 – Lastro ferroviário – Separação
Fonte – Vertematti (2003, pág.29)
8.4.3 Praias artificiais
Uma camada de geotêxtil interposta entre o solo mole e a areia pereniza a praia, pois é
garantida a separação entre os materiais, assim como a livre movimentação da água em todas
as direções. Sendo assim o simples lançamento de uma camada de areais não é suficiente, pois
o pisoteamento dos banhistas provoca a mistura da areia com o solo lodoso local. Na fig. 8.19,
pode-se visualizar a localização do geotêxtil nestas praias, bem como sua execução.
(a) Seção esquemática de praia artificial
45
(b) Local antes da construção da praia artificial (c) Local após a construção da praia artificial
Fig. 8.19 – Praias artificiais – Separação
Fonte – Vertematti (2003, p.29-30)
8.5 Separação e Reforço
8.5.1 Estradas de acesso e serviço sobre solos moles
Visando a prevenção das rupturas devido ao peso próprio do aterro mais as solicitações
dinâmicas construtivas, faz-se necessária a aplicação do geotêxtil, sendo esta realizada na
interface solo mole / aterro, prevenindo a mistura do solo de aterro com o solo mole,
permitindo o livre fluxo d´água, além de reduzir o consumo do material de aterro aumentando
assim a vida útil da obra, como observado na fig. 8.20.
(a) Seção esquemática de uma estrada de acesso / serviço sobre solo mole
46
(b) Estrada de acesso sobre solo turfoso
Fig. 8.20 – Estradas de acesso e serviço sobre solos moles – Separação e Reforço Fonte – Vertematti (2003, pág. 31), Banco de imagens Maccaferri do Brasil
8.5.2 Aterros sobre solos moles
Prevendo a ruptura do talude do aterro devido ao peso próprio do mesmo que
transmite cargas diretamente e predominantemente ao subleito, tornando-o pouco resistente, a
aplicação do geotêxtil é realizada em uma ou múltiplas camadas, dispensando a troca de solo
e conseqüentemente tornando a obra mais econômica. Na fig. 8.21 pode-se visualizar um
esquema de um aterro sobre solo mole, bem como uma aplicação em campo.
(a) Seção esquemática de um aterro reforçado com geotêxtil sobre solo mole
47
(b) Aterro reforçado com geotêxtil
Fig. 8.21 – Aterro sobre solos moles – Separação e Reforço
Fonte - Vertematti (2003, pág. 30), Banco de imagens Maccaferri do Brasil
8.5.3 Aterros sobre solo mole focando a estabilização de base
O geotêxtil é colocado em uma camada única na interface do aterro / solo mole sendo
que sua função principal é a separação, evitando assim a contaminação do material de aterro
em suas primeiras camadas . Quando se faz necessário um colchão drenante entre o aterro e o
solo mole, o geotêxtil é posicionado entre o solo mole a areia, mantendo assim a característica
drenante. Este tipo de aterro pode ser observado na fig. 8.22.
(a) Seção esquemática de um aterro com a utilização de colchão drenante
48
(b ) Aterro sobre solo mole com base única com a utilização de geotêxtil
Fig. 8.22 – Aterro sobre solo mole (Estabilização de Base) – Separação e Reforço
Fonte – Vertematti (2003, p.33)
8.6 Reforço
8.6.1 Estrutura de contenção em solo reforçado
O geotêxtil pode ser empregado como inclusão na massa de solo a fim de possibilitar,
por exemplo, a construção de estruturas de contenção. Os muros de solo reforçado constituem
estruturas compostas por camadas de solo compactadas intercaladas por camadas de
geotêxteis, como observado na fig. 8.23, permitindo, na maioria das vezes, o emprego de
solos locais. Nos dias atuais, o emprego dessa técnica de reforço é bastante atraente devido à
redução de custos em relações às soluções convencionais.
(a) Seção esquemática de um muro de contenção em solo reforçado
49
(b) Aplicação de um muro de contenção em solo reforçado tipo “Terramesh® System”
Fig. 8.23 – Muro de contenção em solo reforçado – Reforço
Fonte – Banco de imagens Maccaferri do Brasil
8.7 Proteção
8.7.1 Recapeamento Asfáltico
Com a finalidade de retardar o aumento de trincas da capa asfáltica antiga para a nova, o
geotêxtil é aplicado na interface destas camadas. Para um correto funcionamento, o geotêxtil
deve estar completamente saturado com asfalto através de imprimações, formando um
conjunto impermeável, impedindo a penetração das águas de chuva através das antigas
trincas, como observado na fig. 8.24.
(a) Seção esquemática de um pavimento recapeado com utilização geotêxtil
50
(b) Aplicação geotêxtil sobre a capa antiga
Fig. 8.24 – Recapeamento asfáltico – Proteção Fonte – Vertematti( 2003, p.34-34)
8.7.2 Proteção de Impermeabilização
Devido aos esforços provenientes a objetos contundentes e que podem danificar as
mantas comprometendo todo o sistema impermeabilizante são colocados apenas na face
superior, um geotêxtil com a função de absorver os esforços dinâmicos do pavimento /
cobertura, protegendo a impermeabilização de lajes com manta asfáltica. São muito utilizados
também em canais e aterros sanitários impermeabilizados com geomembrana, mas protegendo
ambas as faces. Na fig. 8.25, são apresentados seções esquemáticas de aterros e canalizações,
bem como foto de aplicação do geotêxtil com esta finalidade.
(a) Seção esquemática de um aterro com a utilização de colchão drenante
51
(b) Seção esquemática de um aterro com a utilização de colchão drenante
(c) Canal impermeabilizado com geomembrana delgada
Fig. 8.25 – Proteção de impermeabilização – Proteção Fonte – Vertematti (2003, pág.34-35)
8.7.3 Proteção de Gramados
Devido aos concertos musicais, eventos ou qualquer outro tipo de comemoração exige
muito do gramado a ser utilizado, devido ao pisoteamento. Devido à isso, o geotêxtil é muito
utilizado com várias vantagens, desde a proteção contra detritos, além de sua rápida instalação
e as várias reutilizações à que o produto está sujeito.
52
(a) Seção esquemática de proteção de gramados
(b) Gramado de campo de futebol protegido com geotêxtil – Proteção
Fig. 8.26 – Proteção de gramados – Proteção
Fonte – Vertematti (2003, pág. 36)
53
9 MÉTODOS DE EXECUÇÃO
Segundo Vertematti (2003), deve-se seguir algumas recomendações básicas de
instalação, nas situações comumente encontradas em campo, sendo estas:
9.1 Limpeza do solo de base
Inicialmente deve-se realizar a limpeza do solo de base, evitando diversos fatores
prejudiciais como lama, óleo e solventes sob risco de perda de eficiência filtrante ou
resistência mecânica.
9.2 Instalação direta no terreno
Se não for obedecida, as condições acima e o geotêxtil for instalado diretamente sobre o
terreno, sem qualquer preparo prévio, alguns cuidados deverão ser tomados importantes
como a presença de vegetação nativa não prejudiciais no local de instalação, podendo
permanecer na superfície do solo. Caso haja a presença de objetos perfurantes como raízes de
galhos ou até mesmas pedras de grande porte, estes devem ser eliminados com a finalidade de
evitar perfurações e rasgos no produto, inibindo a presença de materiais indesejados.
9.3 Presença de Água
Quando a execução do geotêxtil for feita na presença de água, deve-se fazer um
planejamento prévio, a fim de evitar alguns conflitos e dificuldades na instalação como o
aumento do peso do geotêxtil devido à saturação. O produto poderá boiar e dificultar a sua
instalação, bem como sofrer esforços de arraste.
9.4 Proteção superficial
Como o geotêxtil é um material muito sensível à vários fatores dentre eles a insolação
(raios ultravioletas), sua superfície deverá ser sempre protegida com a finalidade de não
deixá-lo exposto. Esta proteção deverá ser feita através de vegetação ou possivelmente
argamassa.
54
9.5 Sentido de sobreposição
Para a boa escolha do sentido de sobreposição deve-se levar em consideração o
lançamento dos materiais e as ações do vento e do fluxo de água. A disposição das mantas
sobre o solo deve ser feita em função das solicitações construtivas.
9.6 Lançamento do aterro
Seguindo um conceito geral, para o lançamento do aterro os equipamentos de
terraplenagem não devem andar diretamente sobre o geotêxtil, podendo assim danifica-lo.
Dependendo do tipo de solo, estes equipamentos podem circular sobre uma camada mínima
de 30 cm à 50 cm de aterro espalhada sobre o geotêxtil. A largura do geotêxtil deve
ultrapassar no mínimo em 50 cm o pé do aterro para garantir total separação e eventual
drenagem das águas de consolidação.
9.7 Lançamento de Agregados
Para o lançamento dos agregados, o geotêxtil deve-se ser forrado com uma “camada
granular amortecedora” sendo esta composta de grãos menores lançados de menor altura, bem
como em obras de grande magnitude, como as barragens, deve-se ser realizados ensaios
simulados de campo e laboratório, evitando o rasgo ou até mesmo perfurações no geotêxtil.
9.8 Filtro sobre talude
Nas canalizações revestidos com gabiões ou obras com soluções semelhantes, a
superfície do solo base deve ser regularizado e compactado afim de receber o geotêxtil, onde
este deve ser desenrolado de cima para baixo seguindo a inclinação desejada, prevenindo
rugas e permitindo o contato filtro / solo base.
9.9 Filtro sobre empedramento
O geotêxtil deve ficar com uma folga mínima, evitando a perfuração do material,
quando este for instalado sobre pedras grandes sem regularização prévia com agregados
menores.
9.10 Filtro tracionado
Quando o geotêxtil exerce a função de filtro e está instalado entre elementos sujeitos a
recalques diferenciais, esta movimentação relativa pode tracioná-lo e provocar rasgos e furos.
55
Neste caso, é recomendado a criação de sobreposições e dobras que inibam seu
tracionamento.
9.11 Filtro em contato com reaterros
Com a finalidade de prevenir a colmatação do geotêxtil, o material deve ser mantido
dobrado sobre a sua parte superior até instantes antes do lançamento do material do reaterro.
Este cuidado deve ser tomado quando o geotêxtil está instalado em superfícies inclinadas ou
verticais e está sujeita a enxurradas em sua base.
9.12 Instalação em valas e trincheiras drenantes
Geralmente as abas do geotêxtil são rebatidas para fora para fora da vala em sua parte
superior, mas quando esta instalação não pode ser realizada, as bordas devem ser fixadas
provisoriamente nas paredes através de estacas de madeira ou até mesmo grampos metálicos.
Com a finalidade de prevenção do acesso de sujeira e enxurradas e a proteção do tráfego
de equipamentos e veículos, deve haver uma sobreposição mínima de 20 cm nas bordas do
geotêxtil, bem como o encontro entre duas trincheiras drenantes garantindo assim a
continuidade do geotêxtil filtrante, através dessas sobreposições.
A conexão de uma trinchiera drenante deve ser feita às caixas de passagem, de modo à
não permitir a fuga das partículas finas do solo.
9.13 Áreas verdes, jardins e campos suspensos
Nestas aplicações, o geotêxtil funciona como filtro, e deve ser instalado em toda a
interface colchão drenante / solo vegetal, devendo-se dobrar suas bordas em forma de “L”,
prevenindo a fuga dos finos do solo.
A grelha deve ficar em contato direto com o material drenante, não sendo assim
instalado o filtro geotêxtil.
O solo vegetal deve ser moderadamente compactado, antes do plantio, para a
reconstituição de sua estrutura e prevenção à formação de filme impermeável sobre o
geotêxtil.
56
10 DIMENSIONAMENTO
Segundo Vertematti (2003), o dimensionamento do geotêxtil se deve à somatória do
dimensionamento de suas propriedades requeridas, desde sua aplicação até o final da vida útil
da obra. Basicamente são analisados dois métodos de dimensionamento mais empregados,
sendo estes:
10.1 Dimensionamento por cálculo
O dimensionamento por cálculo é realizado através dos parâmetros requeridos, relativos
à suas propriedades são calculados através de fórmulas matemáticas ou empíricas. São
aplicadas netas fórmulas os fatores de segurança determinados até o alcanço dos resultados
desejados. Desta maneira, e através dos resultados obtidos são redigidas as especificação para
cada característica de geotêxtil.
10.1.1 Dimensionamento do geotêxtil - Filtração
Este tipo de dimensionamento será exemplificado primeiramente por ser o que recebeu
mais estudos do meio técnico mundial nas últimas décadas.
Dois parâmetros básicos são necessários para o dimensionamento, tendo como função
principal a filtração sendo eles:
• Critério de permeabildade
Este critério é utilizado para garantir que o geotêxtil seja suficientemente aberto para
permitir a livre passagem da água, expresso em cm / s e é determinado através da expressão
9.1.
KsAKn .≥ (9.1)
Onde:
Kn = coeficiente de permeabilidade do solo base
A = constante do método utilizado
Ks = coeficiente de permeabilidade normal do geotêxtil
57
• Critério de retenção
Este critério é exatamente oposto ao citado anteriormente, pois garante que o geotêxtil
seja suficientemente fechado para reter as partículas de maior magnitude, visando a
manutenção da estrutura, expresso em µm e é determinado através da expressão 9.2.
85.dCO ≤ (9.2)
Onde:
85.d = diâmetro das partículas de solo base tala que 85%, em peso, sejam inferiores a
este diâmetro;
C = constante do método utilizado
O = abertura de filtração do geotêxtil
Existem vários critérios existentes para o dimensionamento e determinação da
permeabilidade e retenção adequadas para o geotêxtil,e dentre eles o CFGG – Comitê Francês
de Geotêxteis e Geomembranas – sendo este mais utilizado para geotêxteis não-tecidos.
10.1.2 Dimensionamento do geotêxtil – Separação
Neste caso, o dimensionamento do geotêxtil atuando como função de separação pode
ser aplicado em diversas ocasiões e de diferentes maneiras, desde um lastro ferroviário à uma
praia artificial. O exemplo a seguir aplica-se a estradas de acesso / serviço com revestimento
primário constituída de brita graduada lançado sobre subleito com CBR (Índice Suporte
Califórnia) ≥ 3. Abaixo podem ser verificadas três propriedades do geotêxtil bem como suas
expressões de cálculo:
10.1.2.1 Resistência ao estouro
A tendência ao estouro do geotêxtil deve-se ao tracionamento, pela reação vertical
ascendente do solo atuando nos vazios das pedras. A resistência mínima ao estouro que o
geotêxtil deverá possuir, expresso em MPa e é dado pela expressão 9.3.
)..10.0.42.15.(50 hCBRDP BB λ+≥ (9.3)
Onde:
BP = resistência do geotêxtil ao estouro (kPa), ensaiado pela norma ASTM D3786.
58
50D = diâmetro da partícula média da brita empregada.
Bλ = densidade da brita utilizada (kN / m3)
63.0
log.19.0
CBR
Nh = = altura necessária de brita para a estrada (m).
FS = 3 – falor de segurança já considerada na expressão
10.1.2.2 Resistência ao puncionamento
O geotêxtil tende a ser perfurado pelas pontas e arestas das pedras, que descarregam no
solo esforços impostos pelo tráfego de veículos. A expressão 9.4 representa a resistência
mínima que o geotêxtil deve possuir e é expressa em N.
).2.1).(.2.1(
..10.8.3 250
7
hbha
PDFp
++≥
−
(9.4)
Onde:
pF = resistência do geotêxtil (kN), ensaiado pela norma ASTM D4833
50D = diâmetro da partícula média da brita empregada (mm)
pc
pa = = comprimento de contato do pneu (m)
41.1
ab = = largura de contato do pneu (m)
p = carga por eixo de rodas duplas (kN).
pc = pressão de inflação dos pneus
FS = 3 – falor de segurança já considerada na expressão
10.1.2.3 Resistência à propagação de rasgos
Caso ocorra um rasgo ou perfuração no geotêxtil, este deve ficar limitado ao local
destes problemas, não se prolongando ao longo de todo o geotêxtil. A resistência mínima à
propagação do rasgo que o geotêxtil deverá possuir é expressa em N é dada pela expressão
9.5.
59
pt FF .19.0≥ (9.5)
Onde:
tF = resistência do geotêxtil (kN), ensaiado pela norma ASTM D4533
pF = resistência mínima do geotêxtil (kN)
FS = 3 – falor de segurança já considerada na expressão
10.2 Dimensionamento por padronização
Os valores obtidos são fruto da experiência, teoria e prática devido ao uso de durante
anos de utilização. Os parâmetros relativos às propriedades requeridas são extraídos de tabelas
padronizadas adotadas de órgãos públicos ou empresas que utilizam com freqüência este
material.
No caso do dimensionamento por padronização os fatores de segurança já são
apresentados na tabela, e, por isso, já estão aplicados, onde também podem ser encontrados
nas especificações de cada tipo de geotêxtil.
60
11 PROJETO E ESPECIFICAÇÕES
Segundo Costa (2004), para que haja uma grande durabilidade dos geotêxteis, são
requeridos certos cuidados desde a elaboração dos projetos, passando-se pela fase de
execução e por fim, de sua utilização. Em razão disso é necessário que o projeto do geotêxtil
esteja organizado, contendo suas devidas especificações e critérios de projeto.
A seguir será apresentado um roteiro de projeto do geotêxtil indicando as variações
possíveis mais recomendadas.
11.1 Funções do geotêxtil na obra
Como apresentado no capítulo 6, o geotêxtil pode exercer uma ou mais funções na obra
acompanhado por funções complementares. Suas funções principais são as que justificam sua
existência na obra. O primeiro trabalho do engenheiro de projetos é definir estas funções e
utilizá-las durante todo o processo de dimensionamento.
11.2 Propriedades do geotêxtil requeridas na obra
As propriedades do geotêxtil se dividem em três categorias, sendo estas:
• propriedades de aplicação;
• propriedades de sobrevivência;
• propriedades de vida útil.
11.3 Dimensionamento do geotêxtil
O dimensionamento do geotêxtil é a somatória do dimensionamento de suas
propriedades requeridas, desde sua aplicação até o final da vida útil da obra. Como
exemplificado no capítulo anterior, basicamente existem dois métodos de dimensionamento
empregados:
• dimensionamento por cálculo;
• dimensionamento por padronização.
11.4 Ensaios complementares de desempenho
Estes ensaios são necessários quando a aplicação, sobrevivência ou vida útil não
tiverem seus parâmetros estudados ou disponíveis em normas ou livros técnicos. Poderão ser
61
realizados em laboratório ou campo, onde procurarão simular, de maneira mais prática as
situações elaboradas.
11.5 Especificação do geotêxtil
Uma especificação correta deve considerar todos os aspectos que envolvem a escolha e
a instalação dos geossintéticos em geral de modo que estes satisfaçam as condições de
projeto. Sendo assim, o projeto deverá indicar os seguintes itens:
• As propriedades do geotêxtil requeridas para a aplicação, sobrevivência e vida útil da
obra;
• Os valores e / ou faixas de valores aceitáveis para os parâmetros que quantificam as
propriedades requeridas, assim como as suas unidades de apresentação e as respectivas
normas. Se o dimensionamento for feito por padronização, deve ser citada a fonte dos valores
apresentados;
• Os critérios de aceitação do produto pela obra, como a freqüência e prazo de
amostragem, bem como o tamanho das amostras e números de corpos de prova por amostra;
• Os critérios de recepção do produto na obra, como largura e comprimento das bobinas
e a embalagem externa intacta;
• Plano de instalação do geotêxtil;
• Acompanhamento técnico de obra – ATO, indicar onde é necessária a realização do
ATO.
11.6 Seleção técnica do geotêxtil
Os geotêxteis disponíveis no mercado poderão ser selecionados, se atenderem
tecnicamente as especificações requeridas, bem como os que atendem aos parâmetros de
projeto e possuam controle sistemático de qualidade de fabricação.
11.7 Seleção econômica do geotêxtil
A partir dos geotêxteis selecionados anteriormente, é realizada uma análise custo /
benefício do material, levando-se em consideração:
• Custo unitário do material;
• Prazos de pagamento e entrega;
62
• Custos de transporte até a obra;
• Custo de instalação;
• Custo e disponibilidade de assistência técnica pré e pós compra.
63
12 CUSTOS
Nas tabelas 12.1 e 12.2, podemos observar uma estimativa de custo entre os drenos de brita
convencionais e drenos de brita com geocomposto drenante.
Tabela 12.1 – Custos de dreno de brita convencional com brita
Quantidade Custo Unitário Custo Total Material
para 1.00 m U$ U$
Brita nº 01 0.36 m³ 10.94 / m³ 3.94 / m³
Geotêxtil não-tecido 300 g/m² 2.30 m² 1.35 / m² 3.11 / m² Tábua de pinho para forma 1" x
12" 0.30 m² 2.91 / m² 0.87 / m²
MO Pedreiro 0.30 h 1.56 / h 0.47 / h
MO ajudante geral 1.00 h 1.41 / h 1.41 / h
Custo Total por m² 9.80 / m² Data: 10/11/2004
Tabela 12.2 – Custos de dreno de brita com geocomposto drenante
Quantidade Custo Unitário Custo Total Material
para 1.00 m U$ U$
Geocomposto drenante 1.00 m² 9.12 / m² 9.12 / m²
MO ajudante geral 0.20 h 1.41 / h 0.28 / h
Custo Total por m² 9.40 / m² Data: 10/11/2004
64
13 CONCLUSÃO
Por se apresentar como percussor da classe dos geossintéticos, o geotêxtil teve sua difusão no
ramo da geotecnia como uma solução polivalente e de fácil aplicação, tornando-o um produto
muitas vezes confundido em sua funcionalidade e utilização.
Com o passar do tempo e com o surgimento de novas soluções em geossintéticos, o geotêxtil
acompanhou este avanço tecnológico e com isso novas aplicabilidades. Vários polímeros
foram empregados e o geotêxtil juntamente com vários outros geossintéticos atingiram,
atualmente, uma gama ilimitada de aplicações, e, com isso fez com que a geotecnia ganhasse
uma fonte aliado no que diz respeito a benefício e versatilidade às obras de terra, e às
empresas que optam por sua utilização correta, um parceiro no avanço de engenharia.
Mesmo com suas variadas aplicabilidades, os geotêxteis apresentam algumas
dificuldades no que se diz respeito aos seus métodos de execução, dependendo muito de sua
boa instalação e de sua aplicação, podendo gerar problemas em relação à danos, não
realizando assim as funções à que ele foi submetido previamente. Sendo o geotêxtil um
produto muito sensível aos raios ultravioletas devido aos seus polímeros, deve-se tomar
alguns cuidados em relação à sua exposição, podendo gerar custos não previstos em relação
ao seu projeto, e, conseqüentemente, a elevação do orçamento da obra.
Enfim, o geotêxtil é um produto de grande utilização, buscando beneficiar a vida do
homem em relação à utilização dos solos, mas que ainda encontra algumas dificuldades por
ser um produto dependente.
65
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, C. A. L. Curso sobre Geotêxteis. São Paulo, 28 e 29 ago. 2004 Palestra sobre as
propriedades, ensaios e aplicações com ênfase a geotêxteis tecidos.
DANKERT, J. Engineering an artificial reef, GFR Magazine – Geotechnical Fabrics Report –
Roseville, may/2000, p.23-26.
KOERNER, R. M. DesIgning with Geosynthetics, 4th ed. New Jersey, 761p,1998
SERAPHIM, L. A. Manual Técnico Geotêxtil Bidim. São Paulo, 6 vol., 1990
VENDRAME, I. A. Pavimentos Portuários. São José dos Campos, ITA, 1996.
VERTEMATTI, J.C. Curso Básico de Geotêxteis. São Paulo, ABINT, 91p, 2003.
VIDAL, D. Geossintéticos na Construção Civil. São Paulo, ITA, 252p, 2002.
NBR 12568 – Geossintéticos – Determinação da massa por unidade de área – Normas
Brasileiras de Normas Técnicas - Julho / 2003.
NBR 12569 – Geotêxteis – Determinação da espessura – Normas Brasileiras de Normas
Técnicas - Abril / 1992.
NBR 12824 – Geotêxteis – Determinação da resistência à tração não-confinada – Ensaio de
tração de faixa-larga – Normas Brasileiras de Normas Técnicas - Abril / 1993.
NBR 14971 – Geotêxteis e produtos correlatos – Determinação da resistência à perfuração
dinâmica (queda do cone) – Método de ensaio – Normas Brasileiras de Normas Técnicas -
Julho / 2003.
ASTM D3786 – Norma americana destinada ao ensaios de resistência ao estouro. American
Society for Tests Methods
ASTM D4491 – Standard test methods for water permaability of geotêxtiles by permittivity –
American Society for Tests Methods - 1999.
ASTM D4533-91 – Standard test method for trapezoid tearing strength of geotextiles –
American Society for Tests Methods - 1996.
ASTM D4716 – Norma americana destinada ao ensaios de transmissividade. American
Society for Tests Methods.
66
ASTM D4751– Standard test method for determining apparent opening size of a geotextile –
American Society for Tests Methods - 1999.
ASTM D4833 – Standard test method for index puncture resistance of geotextiles,
geomembranes and related products – American Society for Tests Methods - 2000 / 2001.
ASTM D4886 – 88 – Standard test method for abrasion resistance of geotextiles (sand paper /
sliding block method) – American Society for Tests Methods - 2002.
DIN 53855 – Norma alemã destinada ao ensaio de porosidade.
ISO 13431 – Geotextiles and geotextile-related products – Determination of tensile creep and
creep rupture behavior – Internanational Organization for Standardization – 2002.
TF25 – método 8 AASHTO – Norma destinada ao ensaio de retenção do asfalto.