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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Thais Tiemi Mizutani
As dificuldades encontradas pelos professores e alunos no processo de ensino e
aprendizagem de Ecologia em uma escola pública da cidade de São Paulo
Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
São Paulo
2010
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Thais Tiemi Mizutani
As dificuldades encontradas pelos professores e alunos no processo de ensino e
aprendizagem de Ecologia em uma escola pública da cidade de São Paulo.
Orientador: Prof. Dr. Maria Helena de Arruda Leme
São Paulo
2010
Monografia apresentada ao Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde, da
Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como parte dos requisitos exigidos para
a conclusão do Curso de Ciências
Biológicas modalidade Licenciatura.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço aos meus familiares por tornar possível o meu acesso à
faculdade.
Agradeço à orientação da Profª Drª Maria Helena de Arruda Leme pelo apoio, paciência e
ensinamentos.
Ao meu grande amigo e amado Pietro Pires Santos que me acompanhou, ajudou e
apoiou durante todo o trabalho, sem você eu não teria conseguido.
A Patricia Pannia Guimarães e Karina Lie Wakassuqui que compartilharam as
angústias, exames, trabalhos, prazos, disciplinas, partidas e estágios de licenciatura. Muito
obrigada!
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RESUMO
A educação que deveria ter a função de formar cidadãos e ensinar cultura foi
desmembrada em disciplinas desconectadas e descontextualizadas, prejudicando e dificultando o
processo de ensino e aprendizagem de ecologia. O objetivo do presente trabalho foi analisar o
processo de ensino e aprendizagem na educação de jovens e adultos (EJA), e analisar as
dificuldades encontradas pelos alunos em aprender e os problemas enfrentados pelos professores
em ensinar ecologia. Para isso aplicou-se questionários com professores e alunos de EJA de uma
escola estadual de São Paulo. Os resultados dos questionários aplicados com os alunos revelaram
que a maioria deles tem dificuldade em compreender a relação do tema estudado com o
cotidiano, já o questionário aplicado com os professores revelou que a maior dificuldade
encontrada é em ajudar o aluno a relacionar os termos científicos aos seus devidos significados.
Portanto, de acordo com os resultados obtidos, tanto professor como aluno apresentam diferentes
dificuldades, porém ambos desconhecem tais problemas por falta de dialogo entre eles.
Dificultando assim a interação entre professor e aluno e o processo de ensino e aprendizagem.
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ABSTRACT
The Education that should have the function of forming citizens and teaching culture
was split into disconnected disciplines and decontextualized subjects, hurting and hindering the
process of teaching and learning of ecology. The objective of this present study was to analyze
the process of teaching and learning in youth and adult education (EJA), and analyze the
difficulties encountered by students in learning and the problems faced by teachers in teaching
ecology. For this we applied questionnaires with teachers and students of adult education in a
state school in São Paulo. The results of the questionnaires applied with the students revealed that
most of them have difficulty in understanding the relationship of the studied theme with daily
life, as the questionnaire applied to the teachers revealed that the major difficulty encountered is
to help the students relate the scientific terms to their proper meanings. Therefore, according to
the results, both teacher and student have different difficulties, but both don’t know these
problems through lack of dialogue between them. Thus hindering the interaction between teacher
and student and the process of teaching and learning.
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SUMÁRIO
Introdução.........................................................................................................................6
Referencial teórico............................................................................................................8
Procedimentos metodológicos.........................................................................................16
Resultados........................................................................................................................19
Análise..............................................................................................................................25
Considerações finais........................................................................................................29
Referencias bibliográficas...............................................................................................30
Apêndice 1........................................................................................................................32
Apêndice 2........................................................................................................................34
Anexo 1.............................................................................................................................36
Anexo 2.............................................................................................................................39
Anexo 3.............................................................................................................................41
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INTRODUÇÃO
A educação há muito tempo é considerada como instituição inicial e principal para a
formação do indivíduo. Por ser de extrema importância e haver muitos problemas envolvidos no
processo de educação, a escola se torna um local interessante de analise e pesquisa.
Segundo Krasilchik (1996) a Biologia contribui para que o indivíduo compreenda a
importância e os conhecimentos que a ciência e a tecnologia propiciam, além de que os
conhecimentos biológicos contribuem para que o indivíduo tome decisões que levam em conta o
papel do homem na biosfera.
De acordo com o PCN+ (Parâmetros Curriculares Nacionais) de 2002 é importante
aprender Biologia, pois isso amplia o entendimento sobre o mundo, o conhecimento a respeito de
assuntos e permite que o aluno se posicione criticamente frente a questões polêmicas, como por
exemplo, a redução da biodiversidade e o desmatamento.
O ensino de ecologia nas escolas chama a atenção, pois pode ser trabalhado
multidisciplinarmente além de também ser uma área interdisciplinar, no entanto percebe-se que o
tema não é estudado junto de outras disciplinas. Esse fato poderia influenciar ou ser causa de
dificuldades encontradas pelos alunos ao se deparar com o tema ecologia, pois este envolve uma
série de relações dificilmente compreendidas sem um estudo em conjunto com outras matérias.
A ecologia apresenta a interação entre os seres vivos, o estudo desse tema permite
que os alunos compreendam o funcionamento do planeta e que a alteração dos componentes de
um sistema gera complicações em outros. Também permite que os alunos reflitam sobre o fato de
que o ser humano é um transformador ativo e passivo da natureza, e que desequilíbrios
ocasionados por ele afetam a vida no planeta (BRASIL, 2002).
De acordo com Fourez (2003) há duas visões sobre a finalidade do ensino de ciências,
de um lado é importante ensinar porque são as melhores representações do mundo que temos, de
outro as ciências são construções de representações ligadas a um contexto e uma finalidade.
Para compreender os conhecimentos científicos faz-se necessário a contextualização e
aplicação do conhecimento em situações simuladas ou reais (BRASIL, 2002). Fato que nem
sempre acontece ao ensinar de biologia, dificultando o processo de ensino e aprendizagem de
ecologia em específico.
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Tendo em vista os problemas encontrados na educação e a importância que a ecologia
apresenta o objetivo geral do presente trabalho foi analisar o processo de ensino e aprendizagem
de jovens e adultos (EJA), e o objetivo específico foi analisar as dificuldades encontradas pelos
alunos em aprender ecologia e os problemas enfrentados pelos professores em ensinar ecologia.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O ensino e aprendizagem
A sociedade tem atribuído à educação a função de selecionar os indivíduos mais
capazes para seguir uma carreira universitária, desta forma justifica-se a valorização de
determinadas disciplinas e matérias, no entanto, a escola deve formar cidadãos e cidadãs que não
estejam parcelados a capacidades isoladas (ZABALA, 1998).
De acordo com Solé e Coll (2006) é difícil discernir claramente o papel do ensino/
aprendizagem na educação, pois a multiplicidade e multicausalidade intervêm como variáveis,
tornando o ensino/ aprendizagem imprevisíveis. A complexidade das variáveis que intervêm na
área educacional, de acordo com alguns teóricos da educação, são difíceis de se controlar, pois na
sala de aula muitas coisas acontecem rapidamente e de forma imprevista tornando-se difícil
encontrar referências ou modelos de práticas educativas a serem seguidas (ZABALA, 1998).
Para os autores Solé e Coll (2006) há quem defenda o acordo entre teoria e prática
como um plano traçado previamente, e também existem aqueles que consideram as teorias como
referenciais para se identificar problemas e vias de soluções para estes mesmos em uma
proporção mais dialética, mas os autores afirmam que se aceitarmos que o ensino é uma atividade
rotineira e estática, a existência das teorias se faz desnecessária, um livro de receitas bastaria para
ensinar.
Mizukami (1986) define esse tipo de ensino “estático” como tradicional, que
basicamente consiste em o professor ser o centro do saber e o aluno ser o aprendiz que absorve as
informações passadas pelo professor. Para Zabala (1998) a perspectiva tradicional de ensino
coloca o professor no papel de detentor do saber e transmissor do conhecimento e o aluno tem
papel de aprendiz se detendo apenas em memorizar e reproduzir o conhecimento que adquiriu,
nesse tipo de ensino a aprendizagem não se altera, consiste-se apenas na reprodução de
informações. Nesta modalidade de ensino “estático” é comum que os alunos copiem informações
(que nem sempre são corretas) no caderno e realizem exercícios objetivos apresentados no livro
didático, os quais pouco contribuem no que se diz respeito à melhora na compreensão do
conhecimento científico, essa condição demonstra uma inutilidade do ensino de ciências (BIZZO,
2007). Carvalho (2006) concorda com Bizzo (2007) ao mencionar que as práticas de ensino-
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aprendizagem tradicionais são centradas no professor e tem pouco ou nula participação do aluno,
são planejadas visando o desejo de acertar, não contribuindo com a aprendizagem. De acordo
com Solé e Coll (2006) não há instruções de como ensinar, as teorias utilizadas pelos professores
têm função de catalisar perguntas reflexivas e análises sobre a prática do mesmo.
Entretanto segundo um relato de caso apresentado por Rosa (2000) a expectativa dos
professores reside em encontrar uma proposta, um “método” milagroso que faça seu aluno
aprender. Isso não é algo diferente do que desejar que a mente dos alunos estivesse
completamente “em branco”, para que os professores pudessem escrever nesse espaço aquilo que
desejassem que seus estudantes aprendessem (MIRAS, 2006).
Tanto a expectativa de um “método milagroso” como o desejo de o aluno ter uma
mente como um quadro em branco tentam de certa forma eliminar o erro, o que é problemático
pois de acordo com Pechliye e Trivelato (2005) o erro dos alunos precisa ser valorizado e
considerado, pois faz parte do processo de construção do conhecimento e por ele permitir
avanços na qualidade do ensino e aprendizagem. Solé e Coll (2006) afirmam que a construção do
conhecimento feita pelo aluno depende da ajuda que recebeu do seu professor e do que lhe foi
dito no processo de aprendizagem.
Compreende-se então, que as práticas do ensino tradicional são focadas no desejo de
acertar, não contribuindo assim para o êxito na aprendizagem e levando ao insucesso escolar que
conseqüentemente leva ao fracasso acadêmico, que de acordo com alguns educadores existe a
tendência de se assumir que é “culpa do aluno”, que não é inteligente, é indisciplinado, defasado,
oriundo de famílias pobres, sem exemplos domésticos a serem seguidos (CARVALHO, 2006).
Para Rosa (2000) essa concepção de ensino super-valoriza o conhecimento teórico e
retira as chances do professor de elaborar suas próprias reflexões. Solé e Coll (2006) afirmam que
o professor precisa contar com a experiência cotidiana, reflexão e referenciais teóricos, que
servem como um guia que fundamentam e justificam suas ações. Pechliye e Trivelato (2005)
mencionam que quanto à reflexão pressupõe-se a união da teoria com a prática e a aplicação de
situações problemas, que podem causar dilemas, dúvidas e incertezas que são importantes para a
construção do conhecimento, a tomando como ponto de partida a interação e o diálogo entre
professor e aluno, compreende-se que refletir é também utilizar as idéias do outro para continuar
a elaborar idéias próprias.
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Retirar a possibilidade de reflexão do professor é um aspecto negativo, pois o
pensamento reflexivo é importante na capacidade de dar significado a objetos e acontecimentos
da vida, de desenvolver esses significados e mudá-los no decorrer do processo de educação, além
de que com a reflexão o professor pode realizar mudanças que mesmo podendo ser individuais
acabam envolvendo a escola (PECHLIYE e TRIVELATO, 2005).
De acordo com Carvalho (2006) novas técnicas de aprendizagem e de
desenvolvimento humano têm demonstrado que podem tornar a escola um espaço agradável de
convivência e construção de conhecimento.
Solé e Coll (2006) apresentam as idéias do ensino construtivista que levam consigo o
fato de que a escola torna acessível aos alunos o contato com aspectos culturais fundamentais no
desenvolvimento pessoal, que intervêm no processo de aprendizagem ao postular que “aprender
não é copiar”, e sim, conseguir elaborar uma representação pessoal sobre um objeto ou conteúdo,
sendo o aluno ativo na aprendizagem construindo assim, seus próprios conhecimentos.
Para Pechliye e Trivelato (2005) sob uma concepção construtivista, ensinar é dar
ferramentas para os alunos construírem e aplicarem novos conceitos à realidade pessoal,
enquanto aprender é utilizar aquilo que se compreendeu em situações cotidianas e relacionar um
conhecimento com outros. Além disso, o aprendizado acontece a partir da aproximação do
conteúdo com as experiências, conhecimentos formados anteriormente e interesses do aluno, essa
aproximação não acontece ao acaso (SOLÉ e COLL, 2006).
Há sugestões que as idéias de Miras (2006) coincidem com a concepção de Solé e
Coll (2006) e Pechliye e Trivelato (2005) sobre o ensino e aprendizagem, e acrescenta que os
conhecimentos formados anteriormente pelos alunos são essenciais para a construção do novo
conteúdo, pois é através da relação entre estes saberes prévios com as informações adquiridas que
se constrói um novo conhecimento.
Segundo Carvalho (2006) os indivíduos são únicos e cada um deles possui
dificuldades e afinidades, portanto a aprendizagem e a participação varia de pessoa para pessoa.
Como a aprendizagem depende das características pessoais, do ritmo e das motivações e
interesses individuais, a forma mais adequada de ensino a ser utilizada tende a variar segundo as
necessidades do aluno (ZABALA, 1998). Isso confirma a idéia de Solé e Coll (2006) sobre não
haver um “livro de receitas” para ensinar, há teorias que são instrumentos de análise e reflexão
sobre como se ensina, como se aprende e enriquecem a aprendizagem e o ensino, mas cabe ao
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professor escolher o melhor material didático disponível para abordar determinado conteúdo
escolar, levando em conta a realidade dos alunos além da sua própria condição (BIZZO, 2007).
No entanto as ações pedagógicas são baseadas em um aluno “padrão” que serve de
modelo para os demais, quando há estudantes com dificuldades de aprendizagem os professores
se sentem ameaçados e resistentes a mudanças (CARVALHO, 2006).
De acordo com Rosa (2000) alterações na educação não dependem apenas de
mudanças individuais, entretanto toda transformação é difícil, pois envolve energia física, mental,
emocional e junto dela vem a insegurança e o medo do desconhecido criando uma resistência. As
mudanças de atitudes frente ao trabalho desenvolvido nas escolas são necessárias, porém é uma
barreira difícil de ser removida, pois se trata de uma ação que é realizada de “dentro para fora” e
não depende apenas de vontades e atitudes individuais, pois é dever de todos romper com as
barreiras na educação (CARVALHO, 2006).
O ensino de Ecologia
Aprender biologia na escola básica permite ao aluno compreender a forma que o ser
humano se relaciona com a natureza além de ampliar seu entendimento sobre o mundo vivo, para
isso, no ensino fundamental os estudantes devem ser estimulados a observar e conhecer os
fenômenos biológicos, os seres vivos, sua saúde e conhecer a utilização dos produtos científicos
(BRASIL, 2002).
Os Parâmetros curriculares nacionais de ciências para o ensino fundamental de 1998
determinam que o ensino de ciências desenvolva nos alunos as capacidades de:
Compreender a natureza como um todo dinâmico e o ser humano como agente
transformador do mundo;
Relacionar os conhecimentos científicos e tecnológicos no mundo atual;
Compreender a tecnologia como meio de suprir as necessidades humanas;
Compreender a saúde pessoal, social e ambiental;
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Diagnosticar, formular questões e soluções para problemas reais, colocando em prática os
conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar;
Saber comparar e utilizar conceitos científicos básicos, combinar observações, leituras,
informações e experimentações.
Valorizar o trabalho em grupo e a cooperação para a construção coletiva do
conhecimento.
Para Krasilchik (1996) o ensino de biologia tem função de analisar o processo de
investigação científica, implicações sociais da ciência e ensinar conceitos básicos a fim de
preparar os jovens para enfrentar e resolver problemas, como por exemplo, preservação do
ambiente e aumento da produtividade agrícola.
De acordo com Fourez (2003) defende-se a idéia de que os cursos de ciências têm
função de tornar os alunos capazes de ler o mundo, mas por outro lado, os estudantes ficam
freqüentemente isolados dentro de sua própria “bolha” em uma sociedade isolada por medo de
conflitos, se deixarmos os alunos confinados em seu próprio mundo eles ficarão a mercê da
ideologia dominante, portanto faz-se necessário a construção de um ensino de ciências que
aproxime e convide o aluno a entrar no universo científico.
As escolas brasileiras tradicionais têm pequena ligação com a comunidade, uma nova
visão do ensino de biologia propiciará uma comunicação entre estes dois setores da sociedade,
envolvendo os alunos em discussões de problemas que fazem parte da sua própria realidade
(KRASILCHIK, 1996). Isso é um aspecto benéfico, segundo Fourez (2003) o aluno tem a
impressão de que querem obrigá-lo a ver o mundo com os olhos de um cientista, sendo que para
ele um ensino de ciências que o ajudasse a entender o mundo ao qual ele faz parte, lhe faria mais
sentido.
De acordo com Brasil (1998) é função da escola valorizar, revisar e enriquecer os
conhecimentos dos alunos, de modo que, os problemas ambientais que são divulgados por meios
de comunicação não asseguram que as informações e conceitos científicos serão mantidos, como
por exemplo, o uso do termo “ecologia” como sinônimo de meio ambiente.
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A Ecologia é uma ciência recente e em expansão, que tem buscado refletir e tentado
resolver os problemas humanos, têm como princípio a responsabilização de reconhecer as
carências de todos os seres vivos, além disso, ensinar ecologia tem um sentido mais amplo
quando a humanidade compreende sua relação com o ambiente e se questiona sobre seu papel de
degradação e de conservação (MOTOKANE, 2000).
Segundo Brasil (1998) os conceitos e informação da Ecologia são extremamente
importantes para a temática ambiental que estuda as relações entre os organismos vivos e os
componentes do espaço em que estes organismos habitam, para o estudo das relações há o
enfoque em temas como produção, consumo e decomposição, cadeias e teias alimentares, ciclo
de materiais, fluxo de energia, meio ambiente entre outros. Ao tratar de meio ambiente se fala
apenas de aspectos biológicos e físicos, no entanto como o ser humano faz parte do meio, outras
relações podem ser estabelecidas como sociais, culturais etc (MOTOKANE, 2000). Com esta
intersecção de várias áreas do conhecimento diz-se que a ecologia é uma área de conhecimento
interdisciplinar (BRASIL, 1998).
Apesar de a Ecologia ser considerada uma área de conhecimento interdisciplinar, a
falta de integração entre ela e as outras áreas do conhecimento é uma grande fonte de
dificuldades no aprendizado de biologia, isso acontece porque o conteúdo é dividido e não há
oportunidade para os alunos relacionarem os mesmos a fim de dar coerência aos fatos e conceitos
aprendidos (KRASILCHIK, 1996). A autora cita a Ecologia como exemplo desta falta de
integração entre os conhecimentos e diz que cabe ao professor mostrar as relações entre os
conceitos de modo que formem um conjunto conexo.
Para Fourez (2003) a questão da interdisciplinaridade é complicada, pois raramente
ensina-se como intervir e resolver situações problemáticas junto de outras áreas do conhecimento,
acarretando em uma prática sem reflexão. Lembrando que a importância do pensamento reflexivo
é a capacidade ilimitada de transmitir significados a acontecimento da vida e objetos que mudam
continuamente no processo de construção do conhecimento (PECHLIYE e TRIVELATO, 2005).
Segundo Motokane (2000) a ecologia tem passado por transformações, discussões e
ampliações no foco de ação, durante longos anos confundiu-se a ciência ecologia como um
movimento voltado para transformação social. De acordo com Krasilchik (1996) há educadores
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que envolvem a ecologia no sentido acadêmico e tradicional, também existem teóricos da
educação que a envolvem em questões econômicas e sócio-políticas e ainda há aqueles que a
classificam como um aspecto artístico. Mas sabe-se que aprender/ ensinar ecologia é uma
preparação para o exercício da cidadania, tomar decisões e resolver problemas ambientais
demandam do aluno que (re) utilizem e (re) elaborem o que aprenderam (MOTOKANE, 2000).
Dependendo do que se ensina e de como é ensinado e das atitudes do grupo social
que freqüenta a aprendizagem de ciências, a mesma tende a ser acompanhada de sentimentos
como ansiedade e medo do fracasso, ao invés de tentar eliminar esses sentimentos os professores
podem trabalhar para assegurar o sucesso na aprendizagem, reforçando a idéia de que sucesso é o
processo de superação das dificuldades (BRASIL, 1998).
Entretanto as dificuldades às vezes ocorrem porque em ecologia há muitos conteúdos
e abordagem que podem ser trabalhadas e os conceitos ecológicos são importantes na
“alfabetização ambiental”, tornando difícil selecionar o que ensinar e muitas vezes isso atrapalha
o professor (MOTOKANE, 2000).
Além disso quando os professores não conseguem transmitir com clareza e de forma
interessante suas idéias sentimentos de apatia e antagonismo são estabelecidos, impedindo a
relação entre o professor e aluno, criando assim uma barreira para o aprendizado (KRASILCHIK,
1996). Uma barreira entre o aluno e o professor é um fator problemático na educação, pois
segundo Pechliye e Trivelato (2005) a partir da interação entre professor e aluno que o
conhecimento é (re) construído. Por isso existe a necessidade que os professores localizem nos
alunos, a origem das dificuldades de aprendizagem que manifestam. (CARVALHO, 2006).
Uma dificuldade que pode ocorrer é a comunicação entre professor e aluno, pois
ocorre por meio de via oral, textos ou imagens, os educadores cada vez mais tem consciência da
dificuldade de comunicação por essas vias, seja porque os professores e os alunos tem diferenças
na compreensão de códigos e valores, ou porque os meios de comunicação de massa limitam os
jovens, enfim, os alunos têm problemas para compreender e comunicar suas idéias, por outro lado
os professores não abrem espaço para ouvirem os alunos então não ficam sabendo como e o que
eles estão pensando (KRASILCHIK, 1996).
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Além disso, a maioria dos professores tem dificuldade de se aproximar da própria
ciência Ecologia, pois não compreendem os avanços que ocorrem nessa área do conhecimento,
não conhecem alguns termos ou não entendem a linguagem utilizada, isso acontece devido à falta
de preparo na formação dos professores e consequentemente leva a dificuldades em ensinar os
conceitos de ecologia (MOTOKANE, 2000).
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A fim de avaliar como o ensino de Ecologia está acontecendo em educação de jovens
e adultos (EJA) e quais são as dificuldades encontradas pelos alunos ao aprender, além de
averiguar quais os principais problemas encontrados pelos professores ao ensinar, foi feito um
levantamento bibliográfico durante os meses de agosto e setembro a respeito do tema ensino de
Ecologia. Um projeto foi escrito e avaliado pela comissão de ética. Após a aprovação foi aplicado
um questionário com alunos (anexo 1) de uma escola estadual e com dois professores (anexo 2)
que lecionavam na mesma escola durante o mês de outubro. A escolha da escola foi por afinidade
ao local e funcionários que já eram conhecidos antes da aplicação dos questionários, pois foi na
mesma que realizaram-se os estágios obrigatórios de licenciatura.
Optou-se pela aplicação de questionários, pois segundo Pádua (1998) o questionário,
por ser constituído de perguntas fechadas, tende a ser o instrumento de pesquisa mais adequado à
quantificação dos resultados, pois são mais fáceis de codificar e tabular, possibilitando
comparações com outros dados relacionados ao tema pesquisado.
Esse questionário primeiramente foi apresentado à direção da escola após ter-se
encaminhado de uma carta de informação à instituição (Apêndice 1), nela constou os objetivos do
trabalho e outras informações importantes para a realização do mesmo. Os mesmos objetivos
estavam presentes no próprio questionário e na carta de informação ao sujeito de pesquisa
(Apêndice 2), estes, que foram apresentados aos alunos. A professora cedeu a aula para a
aplicação do questionário, mas eles foram aplicados durante os intervalos de aula de modo que só
utilizou-se o começo das aulas de biologia quando o tempo do intervalo não foi o suficiente para
que os alunos respondessem o questionário. É importante salientar que o questionário foi
voluntário e anônimo.
O questionário para os alunos foi organizado da seguinte maneira:
A questão 1 e 2 são para caracterizar o aluno, a questão 1 teve a função de verificar
em qual faixa etária ele se encontra, pois as salas onde os questionários foram aplicados eram de
educação de jovens e adultos, deste modo, as idades são muito variadas. Já a questão 2 teve
objetivo de delimitar a série dos alunos analisados de forma que apenas estudantes do primeiro
ano do ensino médio respondessem o questionário, essa seleção foi assim executada pois
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subentende-se que os alunos do 1º ano já estudaram algum tema de ecologia pois já se formaram
no ensino fundamental.
As questões 3 e 4 tiveram função de verificar se realmente o aluno estudou algum
tema de ecologia no ensino fundamental ou em algum momento de sua vida escolar, além disso a
questão 4 pode definir se o aluno se recorda dos temas relacionados à ecologia.
A questão 5 teve objetivo de pontuar as dificuldades encontradas pelos alunos que se
lembram de ter estudado temas ligados a ecologia. Na alternativa “Dificuldades de compreensão
devido à metodologia de ensino utilizada” entende-se que metodologia de ensino utilizada é o uso
exclusivo de aulas expositivas. Esta é uma das questões mais importantes porque o objetivo do
trabalho se pauta exatamente nos problemas que os alunos encontram em aprender ecologia.
Na questão 6 é averiguado se o aluno estudou ou tem conhecimento dos temas de
ecologia, mesmo não se recordando ou associando esses a esta área da biologia.
A questão 7 teve objetivo de pontuar as dificuldades encontradas pelos alunos que
estudaram os temas de ecologia mas não a associam com esta área da biologia.
A questão 8 teve função de definir qual meio de informação o aluno tem mais
facilidade de associar o conteúdo, afim de apontar modos de melhorar o aprendizado do
estudante.
Na questão 9 buscou-se revelar qual o assunto dentro da ecologia que mais interessa
os alunos.
A função da questão 10 foi verificar qual o meio que o estudante utiliza para se
informar sobre ecologia, além de tentar-se também analisar o potencial educacional do ensino
não formal perante o sistema clássico de ensino. Isso serve para apontar onde aquele estudante
que não estudou ecologia, mas a conhecia adquiriu tal conhecimento.
O questionário para o professor está organizado da seguinte forma:
As questões de 1 a 3 tiveram função de caracterizar o professor.
A função das questões 4 e 5 foram respectivamente verificar se os professores
ensinam ecologia em suas aulas de biologia e quais são os temas que costumam ensinar.
A questão 6 teve função de saber se na visão do professor os conhecimentos de
ecologia auxiliariam no cotidiano do aluno.
A questão 7 perguntava, na visão do professor, se os alunos de uma maneira geral se
interessam por temas ligados a ecologia.
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As questões 8 e 9 eram questões abertas, a questão 8 teve função de verificar quais
são as dificuldades encontradas pelo professor ao ensinar ecologia.
Na questão 9 verificou-se quais são as maiores dificuldades encontradas pelos alunos
em aprender ecologia na visão do professor.
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RESULTADOS
O questionário (anexo 1) foi aplicado em um 1° ano do ensino médio de educação de
jovens e adultos (EJA) de uma escola pública de São Paulo com a finalidade de analisar as
dificuldades encontradas pelos alunos em aprender ecologia e as dificuldades encontradas pelos
professores em ensinar a disciplina. Durante os intervalos de aula os alunos foram abordados, no
total, 30 alunos responderam ao questionário. Como já explicado anteriormente as questões 1 e 2
tiveram o objetivo de caracterizar o aluno. Como resultado a idade dos participantes do primeiro
ano do ensino médio variou de 19 a 70 anos, sendo mais frequente entre 21 e 35 anos.
Na questão 3 foi perguntado se o alunos já haviam estudado algum conteúdo, algum
tema de Biologia relacionado à ecologia. 58% dos alunos responderam que não e 42 % que sim.
Perguntou-se então na questão 4 qual o tema estudado, as respostas obtidas foram: Ecossistema,
Biodiversidade, Ecologia ambiental, Aquecimento global e Seres vivos. Sendo Biodiversidade a
mais freqüente seguida de Ecossistema.
Após escreverem quais os temas estudados na questão 5 perguntou-se quais as
dificuldades encontradas pelos alunos ao estudar o tema Ecologia, como pode-se observar na
figura 1 a maior dificuldade encontrada pelos alunos é compreender a relação do tema com o dia-
a-dia.
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Figura 1 - Frequência (em porcentagem) das dificuldades encontradas pelos alunos que já estudaram o
tema Ecologia.
A questão 6 era destinada aos alunos que responderam “não” na questão 3, nele havia
opções de temas que podem ter sido estudados pelos alunos em biologia. Nessa questão como já
anteriormente explicada teve função de verificar se os alunos estavam aprendendo conteúdos que
são ensinados em Ecologia, apesar de não associar os conteúdos a esta área da Biologia. Como
pode ser observado na figura 2 os alunos estão aprendendo os conteúdos ensinados em Ecologia
sem associá-los a mesma, o tema mais estudado pelos alunos foi “relação entre os seres vivos e o
ambiente” e daqueles que responderam o questionário ninguém assinalou que nunca havia
estudado nenhum dos temas listados.
22%
33%17%
11%
17%
Quais dificuldades teve ao estudar o tema
Ecologia?
Dificuldade em entender os
nomes ou termos utilizados
Compreender a relação do tema
com o dia-a-dia
Dificuldade de compreensão
devido á meodologia de ensino
utilizada
Não gosta do assunto
Nenhuma
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Figura 2 - Frequência dos temas estudados pelos alunos em Biologia.
A figura 3 corresponde aos resultados obtidos na questão 7 que perguntava quais as
dificuldades encontradas pelos alunos que não estudaram Ecologia, mas que se lembram ter
estudado os conteúdos da área, como pode ser observado as maiores dificuldades são em entender
os termos ou palavras utilizadas e relacionar o tema com o dia-a-dia.
A questão 8 perguntava qual dentre as formas listadas o aluno melhor compreenderia
o conteúdo de Ecologia, a figura 4 apresenta quais são as formas e as freqüências delas. Durante a
aplicação do questionário alguns alunos afirmaram não saber indicar com qual forma eles
compreenderiam mais facilmente o conteúdo, esses equivalem aos 30% que não responderam a
questão.
As questões 9 e 10 perguntavam respectivamente qual o assunto que mais interessava
o aluno e qual o meio de informação que eles utilizavam para se informar a respeito. Conforme a
figura 5 mostra 0% dos participantes assinalaram que não se interessam por nenhum dos assuntos
pontuados e não se informam, pois não se interessam a respeito.
20%
42%
22%
16%
0%
Em biologia estudou temas como:
Cadeia alimentar
Relação entre os seres vivos e o
ambiente
Relação entre clima, ambiente e seres
vivos
Interação entre os seres vivos
Nenhum
22
Figura 3 - Frequência (em porcentagem) das dificuldades encontradas pelos alunos ao estudar os temas
assinalados na questão 7.
Figura 4 - Frequência (em porcentagem) das melhores formas de aprender segundo os alunos.
30%
30%
20%
0%
20%
Quais foram suas dificuldades ao estudar esses
temas?
Dificuldade em entender os nomes
ou termos utilizados
Compreender a relação do tema
com o dia-a-dia
Desinteresse sobre o tema
Dificuldades de compreensão
devido à metodologia de ensino
utilizada
Nenhum
9%
15%
15%
31%
30%
De que forma você compreenderia melhor o
conteúdo de Ecologia?
Apenas com o quadro
negro
Uso de imagens
Videos
Discussões a respeito do
tema
Não responderam
23
Figura 5 - Frenquência (em porcentagem) dos temas de Ecologia que interessam os alunos
Figura 6 - Frequência (em porcentagem) dos meios de informação utilizados pelos alunos
35%
19%
21%
17%
0% 8%
Por quais temas abaixo você se interessa?
Aquecimento global e mudanças
climáticas
Queimadas das florestas,
desmatamento e extinção de
espéciesPoluição do ar e da água
Relações entre animais e plantas
Nenhuma
Não responderam
18%
18%
11%7%
24%
11%
0%11%
Através de qual meio você se informa a respeito de
Ecologia ou meio ambiente?
Internet
Televisão
Conversando com
pessoas
Livros
Escola
Mídia impressa
(revista, jornal)
Nenhum, não me
interesso a respeito
Não responderam
24
O questionário (anexo 2) foi respondido por dois professores que lecionavam na
escola sendo que um deles era professor dos alunos do 1° ano do ensino médio onde foi aplicado
o questionário com os estudantes.
A resposta dos questionários aplicados com as professoras estão presentes no anexo
3.
Como resposta das questões de 1 a 3 obteve-se que os professores que responderam
ao questionário eram ambos do sexo feminino, graduados em Ciências Biológicas e com tempo
de docência de 12 e 13 anos.
Ambos ensinam ecologia nas aulas de biologia e assinalaram todos os temas
pontuados na questão 5 do questionário, julgam que os conhecimentos de ecologia auxiliam no
cotidiano do aluno e afirmam que os alunos se interessam por temas ligados à disciplina.
Um dos professores respondeu na questão 8 que sua maior dificuldade ao ensinar
ecologia é “Facilitar para os alunos a interpretação científica, eles possuem muita dificuldade
para relacionar ao significado.”, já o outro professor respondeu que não tem nenhuma dificuldade
em ensinar ecologia.
Na questão 9 um dos professores respondeu que a maior dificuldade encontrada pelos
alunos é “relacionar os termos científicos com o significado.”. O outro professor respondeu que
os alunos não teriam nenhuma dificuldade, pois eles dão exemplos referentes aos temas
trabalhados em aula, mas depois responde que os alunos apresentam dificuldades em entender os
termos específicos de ecologia.
25
ANÁLISE
Segundo os resultados obtidos a partir das questões 3 e 4 do questionário para os
estudantes, podemos observar um amplo desentendimento na utilização dos termos científicos
que estão sendo utilizados e aplicados em sala de aula, pois os alunos que afirmaram já ter
estudado conteúdos de ecologia em biologia apenas se lembram de palavras específicas. É de se
questionar a real necessidade destes termos, afinal, ao se prezar pela aprendizagem o que deve-se
buscar definitivamente não é a memorização de terminologias complexas e sim o entendimento
por parte do aluno sobre o conhecimento e onde deste saber que se aplica o termo em questão.
Uma das professoras que respondeu ao questionário para o professor respondeu que
tem dificuldades em “facilitar para os alunos a interpretação científica”, pois segundo ela os
estudantes têm dificuldade em “relacionar os termos científicos com o significado”. Krasilchik
(1996) aponta que quanto à aplicação da terminologia científica, se o professor a utiliza
excessivamente durante as aulas pode fazer com que muitos alunos pensem que Biologia é
apenas um conjunto de nomes de plantas, animais, órgãos e substâncias que devem ser
memorizados ou pode fazer com que o mesmo não consiga acompanhar as aulas, seja porque ele
não entende o que o termo usado significa, ou porque atribuiu um significado diferente do
atribuído pelo professor.
Para a autora o termo utilizado só possui significado quando o aluno tem
oportunidade de usá-lo e tem exemplos de onde o mesmo é utilizado de modo que possa fazer
associações, portanto o uso de palavras complexas que não serão novamente utilizadas devem ser
evitadas, pois podem sobrecarregar o aluno com informações inúteis.
Outro fator muito questionável no ensino e na aprendizagem é a falta de
envolvimento não só por parte dos professores, como dos alunos na ecologia. De acordo com os
resultados de uma das professoras os conhecimentos de ecologia auxiliariam no cotidiano do
aluno, entretanto os resultados das questões 5 e 7 do questionário para os alunos apresentam que,
a grande maioria deles não consegue compreender a aplicação dos conhecimentos adquiridos em
sala de aula, isso porque a contextualização não está sendo considerada, algo que é muito
problemático em ecologia, pois para compreendê-la é necessário traçar um paralelo com a
realidade, além de executar a aplicação deste conhecimento em situações simuladas ou no
mínimo ligadas a casos práticos (BRASIL, 2002). A ecologia também deveria ser considerada
26
uma área interdisciplinar, mas por seus conteúdos estarem fragmentados, por faltar integração
entre os temas da própria área e entre outras áreas do conhecimento que a contextualização da
ecologia, bem como seu aprendizado, se torna deficiente.
Na questão 6 do questionário para os alunos a maioria dos estudantes responderam
que já estudaram em biologia o tema “relação entre os seres vivos e o ambiente”, mas estes
mesmos alunos responderam que nunca estudaram ecologia. Os estudantes estão aprendendo os
conteúdos de ecologia sem saber a que área da biologia este pertence. Isso não é um aspecto
completamente negativo, pois não há total necessidade de o aluno saber em qual área da biologia
cada conteúdo é abordado, afinal como já foi dito ecologia é uma área interdisciplinar e envolve
vários conceitos de várias áreas do conhecimento. Portanto os problemas de aprendizagem não se
encontram no fato dos alunos não relacionarem o nome da área com o conteúdo e sim em não
relacionar o conteúdo com outros ou com a sua própria vida.
Vale ressaltar que os problemas encontrados no ensino de ecologia não são culpa
unicamente do professor, pois ele provavelmente também aprendeu os conteúdos da mesma
forma que está ensinando e não teve devido preparo em sua formação docente (MOTOKANE,
2000). Às vezes o professor tenta atender as necessidades do ensino de biologia, se dispondo a
dar aulas práticas de biologia, porém encontra outras dificuldades como a falta de tempo para a
preparação da aula, falta de equipamentos, materiais para a realização dos experimentos e
experiência para realizar as aulas, além de tudo isso encontra dificuldades para acessar os
resultados de pesquisas feitas no Brasil e atualizar-se (KRASILCHIK, 1996).
Portanto não se fazem necessárias que todas as aulas se tornem lúdicas ou que todo
conceito tenha uma aplicação prática, afinal, algumas concepções são teóricas e nem por isso
perdem seu nível de importância, porém os dados das questões 5 e 7 do questionário para os
alunos revelam a ausência de aplicação prática dos conteúdos trabalhados em aula.
Estes mesmos dados levam a crer que as experiências de vida estão sendo excluídas
da educação ecológica, um fato consideravelmente problemático quando pensamos que o
professor e o aluno possuem experiências pessoais, e que segundo Miras (2006) estas
experiências pessoais assim como os conhecimentos já formados são importantes na construção
de um novo conhecimento.
Um fato importante a ressaltar é que de acordo com os resultados os professores
acreditam que a maior dificuldade encontrada pelos alunos é em relacionar os termos com o
27
significado, porém a maior dificuldade dos estudantes de acordo com os resultados obtidos é em
relacionar o conteúdo com o cotidiano.
As dificuldades que os alunos e professores encontram podem levar a conflitos entre
eles, dificultando ou até impossibilitando o diálogo entre os dois, o que é um aspecto negativo,
pois através da comunicação, reflexão e interação entre professor e aluno que acontece a (re)
construção do conhecimento (PECHLIYE e TRIVELATO, 2005). E também porque se os
professores não ouvem, não ficam sabendo a forma que os alunos pensam e falam, assim os
alunos não tem oportunidade de melhorar sua expressão (KRASILCHIK,2006).
A autora Krasilchik (1996) em seu trabalho apresenta possíveis soluções para as
dificuldades de comunicação entre professor e aluno, para aplicá-las são necessárias mudanças:
As aulas expositivas poderiam ser substituídas por atividades que estimulassem a participação do
aluno como em discussões ou utilizando outros meios de expressão, como por exemplo, a
comunicação visual e para descobrir o que os alunos entendem de uma palavra seria interessante
pedir para que eles escrevam uma lista de termos associados a palavra em questão.
Na questão 8 do questionário para os alunos se perguntou qual seria a forma que eles
compreenderiam melhor os conteúdos de ecologia, sendo que as repostas mais freqüentes foram:
Discussões a respeito do tema, uso de imagens e vídeos. Estas três formas são compatíveis com
as soluções propostas por Krasilchik (1996) já escritas anteriormente.
Outra forma de melhorar a aprendizagem é ter um curso de ciências que aborde os
assuntos que ajudem a explicar o mundo do aluno (FOUREZ, 2003). Entretanto cada indivíduo é
único, portanto cada um tem interesses diferentes (CARVALHO, 2006). Sendo assim é
impossível criar um ensino de ciências com conteúdos que vão interessar a todos os estudantes
sempre, mas também é problemático quando se aborda apenas um único tema e não se leva em
conta o interesse dos alunos. Em ecologia há muitos assuntos que podem ser estudados, cabe
então ao professor escolher baseando-se na realidade dos alunos quais os conteúdos são mais
indicados para a serem estudados.
Obteve-se a partir da questão 7 do questionário do professor que na opinião deles os
alunos de uma maneira geral se interessam por ecologia. Para confirmar se os alunos realmente
possuem tal interesse na questão 9 verificou-se quais são os conteúdos que interessam os alunos,
obteve-se que a maioria se interessava por aquecimento global e mudanças climáticas e em
seguida se interessavam pelo tema poluição do ar e água. Os dois temas são freqüentemente
28
comentados pela mídia, mas no presente trabalho não se verificou a freqüência que os conteúdos
que mais interessam aos alunos são trabalhados em aula. A fim de descobrir quais são os meios
de comunicação mais utilizados pelos alunos para se informarem sobre ecologia foi feita a
questão 10 no questionário. Como mostram os resultados os meios de informação mais usados
são: escola, televisão e internet.
Krasilchik (1996) opina sobre os meios de comunicação em massa, segundo ela estes
meios limitam os jovens. De certo modo faz sentido quando pensamos que as matérias passadas
na televisão são selecionadas por alguém, e esta mesma pessoa escolhe o que, como e quando se
falar sobre algo dependendo do objetivo do programa. A internet por outro lado é um meio que
pode servir como uma consulta, ou como uma forma de procurar respostas para as dúvidas que
aparecem no dia-a-dia ou na escola. Por outro lado como a internet é uma área aberta as respostas
obtidas por ela devem ser analisadas criticamente para confirmar a veracidade das informações.
Mas isso não significa que é um meio que limita os jovens em se expressar.
Algumas formas de ajudar os alunos em aprender, estimular a expressão deles e evitar
o fracasso escolar são: estimular atividades de pesquisa, investir em programas de formação
continuada para os professores, orientação aos pais e atividades/ trabalhos em grupo para
estimular a troca de conhecimentos (CARVALHO, 2006).
Vale ressaltar que para ajudar no ensino e na aprendizagem são necessárias mudanças
na educação, não apenas modificações individuais. Isso significa que não é algo fácil de realizar,
pois segundo Rosa (2000) e Carvalho (2006) para toda mudança há resistências e no caso das
escolas este o processo é ainda mais difícil porque se trata de uma mudança do interior para o
exterior.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se que os alunos estão memorizando termos científicos ao invés de
aprender os conhecimentos de ecologia e entender a aplicação deles, pois não há contextualização
dos conteúdos e há utilização excessiva de termos científicos, podendo fazer com que muitos
alunos não consigam acompanhar as aulas, levando ao fracasso escolar. Além disso, as
dificuldades encontradas pelos professores e alunos podem levar a conflitos ou impossibilitar o
diálogo entre eles, dificultando ainda mais o processo de ensino e aprendizagem. Isso porque é
através da comunicação e interação entre educador e educando que o conhecimento é construído
e o ensino e aprendizagem acontece.
Apesar de no presente trabalho aparecerem vários outros questionamentos como
quais os conteúdos que mais interessam os alunos e a freqüência que esses conteúdos são
trabalhados em aula ou como a mídia interfere no aprendizado dos alunos, nenhum desses temas
foi analisado ou pesquisado devido à falta de tempo e incoerência com o foco do trabalho.
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: orientações
educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002. P.33 a 48.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental.
Ciências naturais. Brasília, 1998.
BIZZO, N. Orientações gerais para a prática do professor. In BIZZO, N. Ciências: Fácil ou
Difícil. Editora Ática. São Paulo. 2007. P. 65 a 89.
CARVALHO, R. E. Removendo barreiras para a aprendizagem e para a participação na educação
inclusiva. In CARVALHO, R. E. Educação inclusiva: com os pingos nos "is". 4. ed. Porto
Alegre: Mediação. 2006. P.
FOUREZ, G. Crise no ensino de ciências? Revista Investigações em Ensino de Ciências. V. 8, n.
2. 2003. p. 109 a 123.
KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. 3° edição. Editora HARBRA. São Paulo. 1996.
MIRAS, M. Um ponto de partida para a aprendizagem de novos conteúdos: os
conhecimentos prévios. In COLL, C., MARTÍN, E., MAURI. T., MIRAS, M., ONRUBIA, J.,
SOLÉ, I. e ZABALA, A. O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Editora Ática. 2006. P.
57 a 77.
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: As abordagens do processo. Temas básicos de Educação Ensino.
São Paulo. EPU. 1986.
MOTOKANE, M. T. Ensino de Ecologia: As diferentes práticas dos professores. Dissertação de
Mestrado. São Paulo. 2000.
PECHLIYE, M, M., TRIVELATO, S, L, F. Sobre o que professores de Ecologia refletem quando
falam de suas práticas. 2005. P. 1 a 15.
ROSA, S, S. Homens, história e cultura: Explicando mudanças e resistências. In ROSA, S, S.
Construtivismo e mudança. São Paulo: Cortez Editora. 2000. P. 21 a 27 e P. 63 a 90.
SOLÉ, I., COLL, C. Os professores e a concepção construtivista. In COLL, C., MARTÍN, E.,
MAURI. T., MIRAS, M., ONRUBIA, J., SOLÉ, I. e ZABALA, A. O construtivismo em sala de
aula. São Paulo: Editora Ática. 2006. P. 10 a 26.
31
VASQUEZ, A. S. O processo de pesquisa. In PÁDUA, E. M. M. Metodologia da pesquisa
abordagem teórico-prática. São Paulo: Papirus. 3 edição. 1998. P.31.
ZABALA, A. A prática Educativa. Como ensinar. Editora ARTMED. Porto alegre. 1998. P.
13 a 25.
32
Apêndice 1
CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO
Esta pesquisa tem como intuito de analisar as dificuldades encontradas pelo professor e pelos
alunos em ensinar e aprender Ecologia. A coleta de dados será feita a partir de questionários. Para
tal solicitamos a autorização desta instituição para a triagem de colaboradores, e para a aplicação
de nossos instrumentos de coleta de dados; o material e o contato interpessoal oferecerão riscos
mínimos aos colaboradores e à instituição. As pessoas não serão obrigadas a participar da
pesquisa, podendo desistir a qualquer momento.
Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a identificação dos colaboradores e instituições
envolvidas. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser
esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. De acordo com estes
termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os
pesquisadores.
Obrigado.
....................................................... ..........................................................
Nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador
Instituição: Universidade Presbiteriana Mackenzie
Telefone para contato: (011) 7332-1563
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a)
____________________________________, representante da instituição, após a leitura da Carta
de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas
a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de
33
concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu
representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho
realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.
São Paulo,....... de ..............................de..................
_________________________________________
Assinatura do representante da instituição
34
Apêndice 2
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA
O presente trabalho se propõe a analisar as dificuldades encontradas pelo professor e pelos alunos
em ensinar e aprender Ecologia. Os dados para o estudo serão coletados a partir da aplicação de
questionários. Este material será posteriormente analisado, garantindo-se sigilo absoluto sobre as
questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes, bem como a identificação do
local da coleta de dados. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando
contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o direito de
retirar-se do estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum.
Os dados coletados serão utilizados no trabalho de conclusão de curso (TCC) da licenciatura do
curso de Ciências Biológicas (CB) do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos colaboradores e à instituição.
Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas,
bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. De acordo com estes termos, favor
assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os
pesquisadores.
......................................................... ..........................................................
Nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador
Telefone para contato: (011) 7332-1563
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a)
_______________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE
INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais
será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu
35
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa
proposta.
Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento,
retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo
da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada
por força do sigilo profissional.
São Paulo,... de ..............................de..................
Assinatura do sujeito ou seu representante legal
36
Anexo1
Questionário para os alunos.
O objetivo deste questionário é verificar o ensino de Ecologia nessa escola e avaliar quais são as
dificuldades encontradas pelos alunos para aprender Ecologia.
Orientações: O preenchimento deste questionário é voluntário.
Leia atentamente as orientações para responder ao questionário corretamente.
Responda as questões da forma mais sincera possível, em questões abertas responda no espaço
determinado ou no verso da folha.
Assinale com um X no quadrado em que representa melhor a sua resposta.
Qualquer dúvida no preenchimento das questões pergunte a pessoa que aplicou o teste.
1. Idade: ____anos
2. Série:_________________
3. Na disciplina de Biologia, já estudou algum tema relacionado à ecologia?
Sim Não
Orientação: Se você assinalou “Sim” na questão 3 responda as questões 4 e 5 abaixo.
Se você assinalou “Não” responda as questões 6 e 7.
4. Qual tema estudou?
5. Quais dificuldades teve ao estudar o tema Ecologia?
Dificuldade em entender os nomes ou termos utilizados
Compreender a relação do tema com o dia-a-dia
Desinteresse sobre o tema
Dificuldades de compreensão devido à metodologia de ensino utilizada
37
Nenhuma
6. Em biologia você estudou temas como:
Cadeia alimentar
Relação entre os seres vivos e o ambiente
Relação entre clima, ambiente e seres vivos
Interação entre os seres vivos
Nenhum
7. Quais foram suas dificuldades ao estudar esses temas?
Dificuldade em entender os nomes ou termos utilizados
Compreender a relação do tema com o dia-a-dia
Desinteresse sobre o tema
Dificuldades de compreensão devido à metodologia de ensino utilizada
Nenhum
Orientação: Responda as questões abaixo com a sua opinião, caso não tenha uma idéia formada
a respeito deixe as questões em branco.
8. De que forma você compreenderia melhor o conteúdo de Ecologia?
Apenas com o quadro negro
Uso de imagens
Videos
Discussões a respeito do tema
9. Por quais temas abaixo você se interessa?
Aquecimento global e mudanças climáticas
Queimadas das florestas, desmatamento e extinção de espécies
Poluição do ar e da água
Relações entre animais e plantas
Nenhuma
38
10. Através de qual meio você se informa a respeito de Ecologia ou meio ambiente?
Internet
Televisão
Conversando com pessoas
Livros
Escola
Mídia impressa (revista, jornal)
Nenhum, não me interesso a respeito
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Anexo 2
O objetivo deste questionário é verificar quais são as dificuldades encontradas pelo professor em
ensinar Ecologia.
Orientações: O preenchimento deste questionário é voluntário.
Responda as questões da forma mais sincera possível, em questões abertas responda no espaço
determinado ou no verso da folha.
1. Sexo: Feminino Masculino
2. Formação acadêmica:
Graduação Área:
Pós graduação
Mestrado
Doutorado
3. Tempo de docência: anos
4. Você costuma ensinar ecologia nas suas aulas de Biologia?
Sim Não
5. Quais temas abaixo você costuma ensinar?
Cadeias e teias alimentares
Ciclos da matéria
Populações
Interações
Sucessão
Poluição
Crescimento populacional
40
6. Julga que o conhecimento sobre Ecologia auxiliaria no cotidiano do aluno?
Sim Não
7. Em sua opinião, os alunos no geral se interessam por temas ligados a Ecologia?
Sim Não
8. Quais são suas maiores dificuldades ao ensinar Ecologia?
9. Na sua opinião quais são as maiores dificuldades encontradas pelos alunos para aprender
Ecologia?