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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Cento de Comunicação e Letras
Curso de Jornalismo
FERNANDA ALMEIDA DE MIRANDA
NOVOS VALORES DO JORNALISMO – A NEUTRALIDADE E A
OBJETIVIDADE NA COBERTURA DOS PROTESTOS DE 2015
São Paulo
2º semestre - 2015
2
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Curso de Jornalismo
FERNANDA ALMEIDA DE MIRANDA
NOVOS VALORES DO JORNALISMO – A NEUTRALIDADE E A
OBJETIVIDADE NA COBERTURA DOS PROTESTOS DE 2015
Relatório Final do TCC II (Trabalho de Conclusão
de Curso) apresentado ao Centro de Comunicação
e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie
para obtenção do Título de Bacharel em
Jornalismo, sob a orientação do Sr. Professor Dr.
Carlos Eduardo Sandano Santos
São Paulo
2º semestre - 2015
3
À minha família, por todo o incentivo e apoio; a
meus amigos e professores por toda a ajuda
emocional e acadêmica que tornou esse trabalho
possível.
4
AGRADECIMENTOS
A meus pais, minha irmã e toda a minha família, por acreditarem em mim
desde o começo e por sempre terem me incentivado a seguir minhas próprias decisões.
Por todo o apoio emocional que me deram ao longo dos quatro anos de faculdade, pelo
amor incondicional e por nunca terem reclamado de encurtar saídas e almoços porque
“a Fernanda precisa fazer TCC”.
Aos meus amigos, tanto da faculdade quanto de outras partes da minha vida
(especialmente Flávia, Liz, Gui, Gabriel, João, Luh, Alicia e Maria), por me emprestarem
suas forças quando eu achava que não possuía mais nenhuma, por terem me
acompanhado e ajudado ao longo desses quatro anos mais até do que imaginam, por
compartilharem os momentos de alegria e desespero, e principalmente por serem os
melhores amigos que alguém pode querer.
Às minhas colegas de trabalho, Jacque e Nathi, e minha chefe, Claudia Rossi,
por terem me ajudado a encontrar a minha vocação dentro do mundo do jornalismo e da
comunicação, por terem me mostrado que sou capaz de coisas que eu nunca teria
imaginado e por todos os ensinamentos que foram uma complementação perfeita ao
meu aprendizado acadêmico.
Ao meu orientador, o Prof. Dr. Carlos Eduardo Sandano Santos, por toda a
ajuda, as indicações, correções e os conselhos dados ao longo desse trabalho, os quais
eu vou levar para a toda a vida. Por ter me ajudado a manter o rumo, o foco e os pés no
chão e por ter cedido sua tese de doutorado, sem a qual a análise realizada nesse
trabalho não teria sido possível.
A todos os outros professores do CCL, pela competência e por todo o carinho
dedicados à nossa formação durante esses quatro anos, e que vai continuar conosco
pelo resto de nossas vidas. Nós não seríamos metade dos profissionais e dos seres
humanos que somos se não fossem por vocês.
5
São duas as tradições em choque aqui: a do Jornalismo imparcial –
que, entendido objetivamente como imparcial, se prende a
procedimentos técnicos e deontológicos – e a do ativismo, que
assume plenamente a subjetividade inerente a todo processo
comunicacional e idealiza a estrutura reticular como uma forma
democrática de distribuição de poder. (Carlos Eduardo Sandano
Santos)
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RESUMO
A proposta desse trabalho é analisar esse novo momento de transição que vivemos na
história do jornalismo, discutindo quais os referenciais para a prática jornalística
tradicional e para os novos canais de comunicação e mídias alternativas que a vêm
colocando em cheque, comparando a forma como os conceitos de neutralidade,
imparcialidade e objetividade se apresentam em ambos e repensando a valorização
normativa do jornalismo. Para isso, serão analisadas as coberturas dos protestos de
março de 2015 feitas pela Mídia NINJA e pela Folha de S. Paulo, usando as coberturas
desses mesmos veículos durante os protestos de junho de 2013 como base para
comparar de que forma essas duas realidades se afetaram durante esses anos de
coexistência. O referencial teórico se baseará nos trabalhos de Traquina (2008),
Sandano (2014), Groth (2011), Lorenzotti (2014) e Keller (2013).
Palavras-chave: Valores do jornalismo. Objetividade no jornalismo. Imparcialidade. Mídia
alternativa. Mídia ativista. Jornalismo tradicional. Folha de S. Paulo. Mídia NINJA.
Protestos de março de 2015. Protestos de junho de 2013
7
ABSTRACT
The purpose of this work is to analyse this new moment of transition we are experiencing
in the history of journalism, discussing what are the references for the practice of
traditional journalism as well as for the new communication channels and groups of
activist media that have been putting it in check, by contrasting the way the concepts of
neutrality, impartiality and objectivity are presented in both and rethinking the normative
valoration of journalism. To achieve that, the coverage of the 2015 protests in Brazil made
by Folha de S. Paulo and Mídia NINJA will be analysed, using the coverage of these
same vehicles for the protests of june 2013 as a basis to compare in which ways these
two realities have affected each other in these years of cohexistence. This analysis will
use, as theoretical references, the works of Traquina (2008), Sandano (2014), Groth
(2011), Lorenzotti (2014) and Keller (2013).
Keywords: Journalism values. Objectivity in journalism. Impartiality. Alternative media.
Activist media. Traditional journalism. Folha de S. Paulo. Mídia NINJA. March 2015
protests. June 2013 protests.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
2. OS VALORES DO JORNALISMO.............................................................................15
2.1. Objetividade, neutralidade e imparcialidade...................................................19
2.2. O que a Folha pensa?.......................................................................................25
3. OS VALORES DA CIBERCULTURA........................................................................31
3.1. O precedente: a “outra forma” de se fazer jornalismo……………...……......31
3.2. Os valores da cibercultura ......……………………………...…………………….34
3.3. Jornalismo Participativo...……………..…………………………………………..38
3.4. Mídia Ninja…………………………………………………………………………….42
4. OS PROTESTOS DE MARÇO DE 2015………………………………………………...48
4.1. A cobertura da Folha.........................................................................................51
4.2. A cobertura da Mídia NINJA.............................................................................64
4.3. A objetividade e a imparcialidade nas coberturas dos protestos de 2015..71
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................77
REFERÊNCIAS…………………………………………………………….……………….79
Bibliografia e webgrafia do referencial teórico.....................................................79
Webgrafia das matérias analisadas................................................................85
APÊNDICE A – Autorização para cessão de direitos............................................95
9
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho possui como tema a forma como os valores da
neutralidade e imparcialidade foram afetados no novo contexto tecnológico-
comunicacional que estamos vivendo com a emergência das redes sociais, da
participação do público e de grupos de jornalismo ativista contrastando com as práticas
do jornalismo tradicional. Assim, a proposta desse trabalho é analisar esse novo
momento de transição que vivemos na história do jornalismo, discutindo quais os
referenciais para a prática jornalística tradicional e para os novos canais de comunicação
e mídias alternativas que a vêm colocando em cheque, comparando a forma como os
conceitos de neutralidade, imparcialidade e objetividade se apresentam em ambos e
repensando a valorização normativa do jornalismo.
O objeto analisado será a cobertura midiática dos protestos contra a
corrupção que ocorreram no dia 15 de março de 2015 e dos protestos a favor do governo
que ocorreram no dia 13 de março de 2015. O foco da análise será as coberturas
realizadas pela Mídia NINJA, grupo declarado de jornalismo ativista que ganhou
notoriedade durante os protestos de junho de 2013, e pelo jornal Folha de S. Paulo em
seu site, em virtude de sua recente campanha “O que a Folha pensa?”, em que as
posições que o jornal toma diante de certos assuntos foram assumidas e veiculadas
sempre com a promessa de que isso não impediria o jornal de trazer os dois lados de
uma questão.
As perguntas centrais desse projeto podem ser definidas como: de que forma
as novas mídias estão afetando os valores da neutralidade e da imparcialidade no
jornalismo impresso? Como a relação entre objetividade e fairness se apresenta tanto
na mídia impressa como nas novas mídias?
Além dos questionamentos fundamentais do trabalho, também os objetos
escolhidos trazem consigo seus próprios problemas, que serão discutidos nos capítulos
de análise dedicados a cada um deles.
10
Por exemplo, a campanha da Folha de S. Paulo cria uma dicotomia (assumir
um lado e ao mesmo tempo prometer ser imparcial) que levanta diversas questões: é
possível que uma matéria seja ao mesmo tempo objetiva e parcial? Os métodos técnicos
usuais do jornalismo são suficientes para garantir objetividade?
Já o outro objeto do estudo, a Mídia NINJA, é reconhecidamente parcial e não
neutra, ao contrário da mídia tradicional, e esse novo modelo pareceu conquistar os
brasileiros durante os protestos de junho de 2013, período em que a desconfiança com
a mídia se acentuou e pôde ser vista, por exemplo, nos inúmeros cartazes e pichações
contra a Rede Globo que apareceram na época. Essa realidade também traz
questionamentos: será que esse modelo é realmente o que traz as informações mais
objetivas? Quais as consequências dessa parcialidade?
Por fim, chegaremos à questão: de que forma essas duas realidades se
manifestaram na cobertura dos protestos de 2015? Os ideais de neutralidade e
imparcialidade foram mantidos ou o que se viu foi o ativismo online sendo transposto
para as páginas dos jornais?
Para realizar essa análise, os objetivos são comparar o jornalismo
institucionalizado com as novas práticas de produção e distribuição de notícias por parte
de grupos alternativos na web, que vêm se solidificando graças à cibercultura e à
facilidade de acesso a tecnologias da informação e comunidades online, e contrastar o
impacto atual das práticas notadamente parciais e ativistas dos grupos online com o da
metodologia fundamentalmente neutra do jornalismo impresso e, assim, analisar que
influências sofreram esses valores apontados acima como bases fundamentais da
prática jornalística.
Mais especificamente, o objetivo é comparar as coberturas que ambos os
objetos (A Mídia NINJA e a Folha de S. Paulo) realizaram de dois eventos: as
manifestações de junho de 2013 e os protestos de março de 2015, tendo em vista que
“manifestações” é um tópico abordado pela série “O que a Folha pensa?” também
11
discutido pelos “ninjas”. O foco principal será nos protestos desse ano e usarei a
cobertura dos protestos de 2013 como apoio.
Para realizar essa comparação, irei recolher as notícias sobre o tema
escolhido que foram publicadas no site da Folha de S. Paulo, no caderno especial sobre
os protestos, e na Mídia NINJA e projetos complementares durante certo período de
tempo (12 de março a 18 de março), utilizando as análises sobre os movimentos de junho
de 2013 que foram publicadas desde então como apoio para contrastar se o que se
percebeu naquelas coberturas se estende para o contexto atual.
Para o referencial teórico, esse trabalho focará principalmente nas definições
de Carlos Sandano (2014) sobre a influência da cibercultura na epistemologia do
jornalismo, usando seu modelo de categorização de diferentes graus de objetividade
para analisar as coberturas dos dois veículos. Também servirão como base a análise de
Elizabeth Lorenzotti (2014) sobre o papel da mídia NINJA no contexto atual, as definições
de Traquina (2008) e Otto Groth (2011) sobre a mídia e o debate sobre o futuro do
jornalismo travado entre Bill Keller e Glenn Greenwald e publicado na coluna de Keller
no New York Times em outubro de 2013.
Esse trabalho propõe uma discussão que é relevante para o momento em que
nos encontramos na história do jornalismo. Há um consenso entre alguns jornalistas e
estudiosos da mídia de que estamos vivendo uma “crise no jornalismo” e que essa crise
foi evidenciada e aumentada pelo “modelo Mídia NINJA”. Pelo outro lado, também há
aqueles que defendem que esse modelo e que o jornalismo ativista não só são formas
tão válidas de jornalismo quanto quaisquer outras, como devem ser a forma que o
jornalismo funcionará no futuro (como evidenciado pelo debate entre Keller e
Greenwald).
São duas as tradições em choque aqui: a do Jornalismo imparcial – que,
entendido objetivamente como imparcial, se prende a procedimentos técnicos e
deontológicos – e a do ativismo, que assume plenamente a subjetividade
inerente a todo processo comunicacional e idealiza a estrutura reticular como
uma forma democrática de distribuição de poder. (SANDANO, 2014, p. 173)
12
Em meio a tanta incerteza, é importante dar um passo atrás para analisar,
depois de mais de um ano do “boom” da Mídia NINJA, qual foi, efetivamente, o impacto
que esse modelo de jornalismo trouxe para a mídia tradicional.
Pessoalmente, o tema vem me atraindo há algum tempo, desde que fui
apresentada ao conceito da cibercultura. Por ser uma pessoa que vem se relacionando
socialmente através das redes da internet desde jovem, me animou saber da grande
força de que fazia parte e das diferentes formas que esse “mundo” virtual estava
influenciando o mundo real, principalmente na área da comunicação e do jornalismo, que
foram as que escolhi como campo de estudo e profissional. Como tenho uma
necessidade de descobrir como as coisas funcionam e essa é uma área de pesquisa
relativamente nova, fui atraída pela ideia de pesquisar eu mesma e chegar às minhas
próprias conclusões.
Ou seja, senti que, agora que ambas as práticas já foram contrastadas
intensamente, é importante parar de discutir que modelo vai prevalecer para se discutir
o que eles podem aprender (e o que eles já aprenderam) um com o outro. Como se trata
de uma análise de mídia e não uma proposta de renovação, a monografia é a forma mais
indicada para realizar esse estudo e não a apresentação de um produto jornalístico.
O foco desse trabalho será nos ideais de imparcialidade, neutralidade e
objetividade porque, não só esses valores são tidos como fundamentais para a prática
jornalística tradicional, como o fato de serem parciais ou não é a maior diferença entre
os dois modelos, por isso esses valores seriam os mais afetados quando essas duas
práticas começam a se influenciar.
Focarei a análise principal nos protestos de 2015, pois se trata de um
acontecimento atual, de grandes proporções e altamente relevante para todo o país, e
porque já existe um amplo estudo sobre o impacto da Mídia NINJA nos protestos de
junho de 2013 que servirá de base para analisar se os conceitos presentes nesses
estudos estão presentes também nessa outra cobertura.
13
A escolha dos objetos se deu por ambos serem grandes representantes de
suas respectivas áreas. A Folha de S. Paulo, segundo uma pesquisa relizada pelo
Instituto Ipsos Marplan em 20121 e republicada pela própria Folha, é o jornal com maior
número de leitores diários na Grande São Paulo, com mais de 1 milhão e meio de
leitores. Já a Mídia NINJA foi escolhida pelo seu despontamento e a grande relevância
que adquiriu durante os protestos de junho de 2013, atingindo picos de 120 mil
espectadores segundo Elizabeth Lorenzotti, em seu livro “Jornalismo do século XXI – o
modelo #MídiaNINJA” (2014, p. 4-5).
No primeiro capítulo, irei abordar o funcionamento do jornalismo tradicional e
os valores e ideais que permeiam essa prática. Primeiramente, usando a teoria de
Nelson Traquina, irei apresentar as bases de como a indústria jornalística funciona e sua
ligação com os ideais da imparcialidade, neutralidade e objetividade. Depois, irei abordar
as diferenças entre esses três conceitos e as formas como os três se aplicam ao
jornalismo, baseando-me na análise realizada por Carlos Sandano sobre o status
epistemológico do jornalismo na contemporaneidade. Por fim, irei analisar de que forma
essa discussão é representada na cobertura da Folha dos protestos de 2013.
No segundo capítulo, irei abordar as formas alternativas de se fazer
jornalismo. Para começar, irei apresentar a teoria de mídia de Otto Groth e seus
contemporâneos, como Webber e Lippman, que definiam o jornalismo como uma prática
social e cultural, que deveria ser baseada na explicação do fenômeno e não no fenômeno
em si. Depois, trarei essas formas alternativas de transmissão de informação para o
contexto tecnológico atual através da apresentação do conceito de cibercultura cunhado
por Pierre Levy e depois aprofundado por Manuel Castells e Henry Jenkins. Então, irei
apresentar o jornalismo que foi o embrião para as práticas alternativas que vemos nos
dias de hoje: o jornalismo participativo, conforme foi definido por Bownman e Willis. Para
encerrar o capítulo, irei apresentar e analisar o “modelo Mídia NINJA”, ou seja, a forma
de cobertura ativista que esse grupo realizou dos protestos de 2013 e as suas
1 FOLHA é o jornal com mais leitores na Grande São Paulo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 02 set. 2012.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/64126-folha-e-o-jornal-com-mais-leitores-na-grande-sao-paulo.shtml. Acesso em 22 mar. 2015.
14
repercussões. Aqui me basearei no livro “Jornalismo século XXI – o modelo Mídia
NINJA”, escrito por Elizabeth Lorenzotti, e análises do fenômeno realizadas em artigos
online, como é o caso dos artigos de Alberto Dines para o Observatório da Imprensa ou
o artigo de Luis Soares para o blog Pragmatismo Político.
No último capítulo, irei enfim chegar à análise da cobertura que o jornal Folha
de S. Paulo e a Mídia NINJA realizaram dos protestos de 2015, sejam eles contra o
governo ou a favor.
Como método de análise, esse trabalho se apoiará no estudo de caso,
definido por Elizabeth Saad (2008, p. 311) como o modelo epistemológico mais
adequado para o estudo da prática jornalismo, pois “neste cenário a Comunicação é uma
disciplina indiciária, ou seja, que o exercício da produção de conhecimento no campo
esteja próximo dos fenômenos de seu interesse, extraindo daí fundamentações
relacionadas”.
Serão recolhidas todas as notícias sobre o tema que foram publicadas nos
dois veículos entre os dias 12 e 18 de março de 2015, fazendo uma análise descritiva e
comparativa para vermos de que forma o jornalismo ativista influenciou a objetividade na
mídia tradicional e de que forma foi influenciada por esta.
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2. OS VALORES DO JORNALISMO
Todas as profissões, para se firmarem como tal, precisam passar por um
processo que delimita seu campo de ação e os procedimentos específicos tanto para
ingressar nesse campo quanto para realizar essas ações (WILENSKY, 1964) e com o
jornalismo isso não foi diferente. Com o passar dos anos, os jornalistas criaram regras
tanto para o “ser jornalista” quanto para o “fazer jornalismo” e se tornaram o que Nelson
Traquina (2008) define como uma “comunidade interpretativa”2 ou uma “tribo”3 como
resultado dessa profissionalização.
Para Greenwood (1957 apud TRAQUINA, 2008, p. 23), a existência de uma
cultura é o atributo mais importante de uma profissão e consiste em seus valores, normas
e símbolos. A esses atributos, Traquina acrescenta as crenças e mitos compartilhados
pela comunidade jornalística e também o fato de ela fornecer a seus profissionais um
modo de agir, um modo de falar e um modo de ver o mundo (2008, p. 121).
Assim, a primeira crença compartilhada pelos profissionais jornalistas diz
respeito ao campo de ação da profissão, que seria focado na captura e divulgação de
informações, como pode ser percebido nas definições de Jorge Claudio Ribeiro (1994
apud HOHLFELDT e VALLES, 2008, p. 59), onde “jornalismo é o conjunto de técnicas,
saber e ética voltado para captação de informações”, ou ainda nas de Kovach e
Rosenstiel, que, depois de conversar com mais de 300 jornalistas americanos,
mostraram que havia um consenso que definia que a finalidade do jornalismo era
“fornecer informação às pessoas para que estas sejam livres e capazes de se
autogovernar" (2003, p. 22 e 23).
Durante todo o seu livro “Teorias do jornalismo: a tribo jornalística – uma
comunidade interpretativa transnacional”, Traquina (2008) define quais são esses
valores e saberes que regem a comunidade jornalística em sua busca de informações:
2 Termo que adota de Hymes (1980) e Zelizer (1993) e que significa que os jornalistas possuem “quadros de referência comuns” para interpretar a realidade. (Traquina, 2008, p. 24) 3 Segundo Traquina: “O termo 'tribo' tem o mesmo significado da expressão 'comunidade interpretativa', mas preferimos o termo por seu uso metafórico” (2008, p. 24)
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os jornalistas são regidos pelo imediatismo (ibid., p. 37), tanto que sua competência
profissional é medida por sua “aptidão de dominar o tempo em vez de ser vítima dele”
(ibid., p. 40), são voltados para a “ação” e não “pensadores”, focando nos
acontecimentos ao invés de nas problemáticas, possuem um modo de falar, o “jornalês”,
simples, compreensível e direto (ibid., p. 41-47), privilegiam uma visão bipolar e
temporalmente limitada dos acontecimentos (com muito foreground e pouco
background), têm tendência a estruturar os acontecimentos em torno dos indivíduos
(ibid., p. 47-50) e empregam critérios de noticiabilidade (valores notícia)4 para reconhecer
o que é notícia, aplicar o passo a passo para recolher os dados para elaborar a notícia,
e montar essa notícia (ibid., p. 42-43).
A cultura jornalística também está relacionada com os valores da verdade
e da liberdade, de forma que os jornalistas devem sempre buscar a verdade e
defender a liberdade. Kovach e Rosenstiel, no livro “Elementos do jornalismo”,
elaboraram 9 elementos fundamentais para a prática jornalística e definiram que “A
primeira obrigação do jornalismo é com a verdade”, pois é ela “que diferencia a
profissão de todas as outras formas de comunicação" (2003, p. 22-23). Esse valor se
liga com os 4 fundamentos seguintes, que pregam a lealdade para com os cidadãos,
a disciplina da verificação e a função jornalística de ser um monitor independente do
poder (ibid., p. 23). Pelo fato de os pesquisadores terem elaborado essa lista de
elementos depois de conversarem com os jornalistas americanos, como já foi
explicado, fica claro o quanto esses valores fazem parte da consciência dos
profissionais jornalistas.
Esses valores deram origem a vários mitos que são associados à
profissão, conforme explica Traquina, como o do jornalista como “detetive que procura
a verdade” (TRAQUINA, 2008, p. 57) ou como “caçador que vai atrás do
4 Foi Mauro Wolf quem, em seu livro “Teorias da comunicação”, identificou os valores-notícia de seleção
e os de construção: “Os valores/notícia utilizam-se de duas maneiras. São critérios de selecção dos elementos dignos de serem incluídos no produto final, desde o material disponível até à redacção. Em segundo lugar, funcionam como linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser realçado, o que deve ser omitido, o que deve ser prioritário na preparação das notícias a apresentar ao público” (Wolf, 1987, p. 196).
17
acontecimento, vai atrás da notícia, fura as aparências, revela a verdade, caça a
presa” (ibid., p. 58). Tais concepções se relacionam com aquele que Traquina define
como o maior mito da comunidade jornalística: o do jornalismo como “Quarto Poder”
que vigia os outros poderes, transformando seus profissionais em servidores públicos
que atuam como “cães de guarda” do sistema democrático (ibid, p.51). Tal concepção
também está presente no livro de Kovach e Rosenstiel, quando eles elencam que um
dos fundamentos do jornalismo é ser um monitor independente do poder (2003, p. 22-
23), ou ainda quando Ciro Marcondes Filho (2000 apud ADGHIRNI 2005, p. 51), ao
diferenciar jornalismo de comunicação, define que “jornalismo é acima de tudo
denúncia e desmascaramento de escândalos, negociatas, imoralidades públicas”.
Bill Keller, em seu debate com Glenn Greenwald publicado em sua coluna no
jornal The New York Times em 2013 reiterou esse papel da mídia tradicional e o seu
compromisso com a verdade:
Jornalistas dessa tradição possuem diversas opiniões, mas ao deixá-las de lado para seguir os fatos – assim como um juiz no tribunal deve deixar de lado seus preconceitos para seguir a lei e as evidências – eles podem frequentemente
produzir resultados que são mais substânciais e críveis. (KELLER, 2013, online,
tradução nossa)
No entanto, a organização de pesquisa e análises americana Gallup publicou
uma pesquisa no dia 17 de setembro de 20145 que determina que apenas 40% dos
americanos acredita que seus meios de comunicação trazem informações corretas,
precisas e verdadeiras. Esse dado fomenta a discussão e a produção científica na área
da comunicação social que se centra em torno da influência das novas tecnologias e da
mudança do papel do consumidor na comunicação e em torno daquilo que se
convencionou chamar de “crise do jornalismo”. Até mesmo editores e colaboradores de
grandes jornais como Ignácio Ramonet, do “Le Monde Diplomatique”6 e Ignácio Escobar,
5 MCCARTHY, Justin. Trust in mass media returns to all time low. Gallup, Washington D.C., 17 set. 2014. Disponível em: <http://www.gallup.com/poll/176042/trust-mass-media-returns-time-low.aspx>. Acesso em 22 mar. 2015. 6 Cf. NASSIF, Luis. O fim do jornalismo impresso, na conversa com Ramonet. Jornal GGN, 11 out. 2013. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/o-fim-do-jornalismo-impresso-na-conversa-com-ramonet>. Acesso em 22 mar. 2015.
18
do El Diario7, são categóricos ao afirmar que estamos em uma crise e caminhando para
o fim do jornalismo, principalmente o impresso.
Sem desmerecer os inúmeros problemas que a indústria jornalística enfrenta,
Fernanda Lima Lopes (2011, p. 2) aponta que, por si só, essa definição é equivocada:
“O estardalhaço feito em torno da crise atual – sobretudo no que diz respeito às
transformações tecnológicas do presente – acaba, muitas vezes, por nublar a
compreensão de que a atividade jornalística está em constante instabilidade”.
Essas percepções “tendem a expressar a crença em um suposto modelo
anterior, tido como estável e seguro, como se o jornalismo sempre fora de um único jeito”
(ibid, p. 2), quando, na verdade, a forma de se fazer jornalismo vem sendo continuamente
modificada desde seu surgimento, seja por inovações tecnológicas, primeiro com a
prensa de Gutenberg, depois com o surgimento do rádio, da televisão, dos computadores
e da internet, ou por mudanças dentro da própria prática, como sua profissionalização, o
surgimento de novas vertentes e a adoção de novos valores. Cada uma dessas
mudanças trouxe, em si, a sensação de crise e as previsões apocalípticas do fim do
jornalismo, pois, conforme define o historiador Nelson Werneck Sodré:
Diz-se de qualquer fenômeno ou processo que atravessa uma crise quando as formas antigas já não satisfazem ou correspondem ao novo conteúdo, e vão sendo quebradas, sem que se tenham definido ainda plenamente as novas formas; as crises são, assim, próprias das fases de transição. (1977 apud LOPES, 2011, p. 5)
Até mesmo o modelo de jornalismo tido como padrão hoje no Brasil (e em
grande parte do mundo) que é analisado por Traquina foi institucionalizado apenas há
pouco mais de 60 anos, na década de 50, e sua implementação, na época, também foi
caracterizada como uma crise: segundo define Lopes (2011, p.5), foi a queda do
jornalismo focado nas relações com a política, o direito e a literatura, para dar espaço à
7 Cf. OLIVERA NORIEGA, Milagros. “Sería ingenuo pensar que el periodismo impreso va a tener una vida eterna”. Clases de Periodismo, Pueblo Libre, 17 set. 2009. Disponível em: <http://www.clasesdeperiodismo.com/2014/ 09/17/seria-ingenuo-pensar-que-el-periodismo-impreso-va-a-tener-una-vida-eterna/>. Acesso em 22 mar. 2015.
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valorização da objetividade. A partir daquele momento no século XIX “com o objetivo de
fornecer informação e não propaganda, os jornais oferecem um novo produto – as
notícias, baseadas nos fatos” (TRAQUINA, 2008, p. 34). Se o grande papel do jornalismo
é buscar a verdade e trazer fatos, então temos que os valores da objetividade e da
imparcialidade passam a ser fundamentais para a cultura jornalística, passando a figurar
nos manuais de redação e se tornando ideais intimamente ligados à ideia de
profissionalismo e da maneira correta de se fazer jornalismo.
2.1. Objetividade, neutralidade e imparcialidade
A objetividade é um dos valores que orientam a prática jornalística que mais
gera discussões. Inúmeros pesquisadores já se propuseram a avaliá-la e esclarecê-la,
como Tuchman (1993), Lippman (1922), Schudson (1978), Gitlin (1979) e Philips
(1976b)8, e cada um apresenta diferentes entendimentos em relação ao valor e à prática.
Isso acontece, primeiramente, porque a objetividade é amplamente confundida com
outros conceitos com os quais se relaciona, como os de neutralidade, imparcialidade,
pluralismo e exatidão. Sendo assim, é necessário primeiro distinguir o que esse trabalho
entende quando se refere a cada um dos termos.
Abramo (2003, p. 8) realizou a distinção ao categorizar que “neutralidade,
imparcialidade, isenção etc, são palavras que se situam no campo da ação. Dizem
respeito aos critérios do fazer, do agir, do ser”, enquanto que a objetividade seria uma
categoria epistemológica, ou seja, ligada à obtenção de conhecimento. A objetividade
não é um apanágio nem do sujeito nem do objeto, mas da relação entre um e outro, do
diálogo entre sujeito e objeto; é uma característica, portanto, da observação, do
conhecimento, do pensamento. (ibid, p. 9)
Em seu trabalho “Objetividade em jornalismo: uma perspectiva da teoria do
conhecimento” (2003, p. 118), Sponholz defende justamente essa ideia de que
“Imparcialidade e pluralismo podem contribuir para se alcançar a realidade, ambos
podem ser instrumentos de ajuda, mas não são suficientes para que se fale em
8 Cf. Traquina, 2004, p. 135-143
20
objetividade”. Para a autora, objetividade é a relação/conexão entre a realidade social e
a realidade midiática, assim como a busca e aproximação da realidade pelo jornalismo
(ibid, p. 111), tendo em vista que não se pode alcançar uma objetividade total, ou um
conhecimento completo e absoluto da realidade, mas é possível falar em “graus” de
objetividade (ibid, p. 113).
Segundo Pena, que traça um panorama das ideias de Schudson, a
multiplicidade de ideias em torno do conceito de objetividade surge porque “a
objetividade é definida em oposição à subjetividade, o que é um grande erro, pois ela
surge não para negá-la, mas sim por reconhecer sua inevitabilidade” (2005, p. 50).
Sponholz (2003) defende que, devido às próprias limitações, não só do
sistema nervoso e sensorial dos seres humanos, mas também de suas bases culturais,
nunca é possível para uma única pessoa captar toda a realidade pertinente a uma
situação, mesmo que ela a esteja presenciando em primeira mão. Além disso, essa parte
da realidade que foi captada passará por toda uma série de valores, percepções,
tradições, crenças e opiniões já inerentes a esse indivíduo e que irão influenciar sua
percepção sobre ela. No entanto, essa percepção ainda tem uma relação direta com a
realidade:
O jornalista vive o mesmo processo quando transforma o que observou em signos: o que os seus textos contêm não é mais a realidade, é uma construção desta. Isto porém não significa que o que ele escreveu não precisa ou não pode ter uma relação com o que observou. (SPONHOLZ, 2003, p. 112)
Como era impossível para os seres humanos serem objetivos, eles deveriam
criar formas de aproximar o seu trabalho o mais possível das ciências. Assim “o método
é que deveria ser objetivo, e não o jornalista” (PENA, 2005, p. 51).
Tuchman (1993 apud TRAQUINA, 2005, p. 139-140) elencou os quatro
métodos que os jornalistas adotaram para poderem dizer que seus textos são objetivos:
a apresentação de possibilidades conflituosas (os “dois lados” da questão), a
apresentação de provas auxiliaries, o uso judicioso das aspas, para mostrar que aquela
opinião não pertence ao jornalista, e a estruturação da informação numa sequência
apropriada através do uso do lead e da pirâmide invertida. Para Tuchman, esse
21
procedimento é o mais problemático, pois a escolha das informações que irão compor o
lide é puramente do jornalista, e, portanto, será subjetiva. Mas a verdade é que esse
questionamento pode ser aplicado a todos os quesitos, pois também cabe ao jornalista
escolher que fontes vai consultar, que peso dará a cada um dos “lados” e que afirmações
do entrevistado irá apresentar. Temos então que:
Ao apresentar diferentes opiniões enquadrando-as na perspectiva materialista descontextualizada, a prática jornalística, em busca de uma narrativa coerente, trabalha no sentido de reduzir e não de articular a complexidade, rejeitando as contradições inerentes às interações de múltiplas perspectivas, fragmentando os sentidos e ignorando o contexto onde eles são produzidos. Com os valores epistêmicos restritos à normatização técnica, decorrente de uma concepção fechada de objetividade e neutralidade, o trabalho jornalístico fica limitado à superficialidade das coisas, àquilo que é imediatamente apreensível. (SANDANO, 2014, p. 94)
Assim se desenvolve aquilo que Abramo (2003, p. 10) chamou de “falsa
objetividade”, aquela objetividade que “se restringe aos aspectos meramente aparentes
e quantificáveis da realidade, aos dados mais flagrantes e numéricos, supondo, com isso,
que assim vê objetivamente a realidade”.
Sandano questiona essa restrição deontológica (que fixa regras) comumente
aplicada à discussão sobre a objetividade jornalística e que figura nos manuais de
redação dos jornais, indicando que uma perspectiva epistemológica (que oferece
referências de valores) traria condições mais apropriadas para se trabalhar a
subjetividade dentro da objetividade.
O que se valoriza então, optando pelo relativismo epistêmico, é a diversidade que não nega a possibilidade de um conhecimento objetivo e de condicionantes sociológicas objetivas, mas ressalta que esta objetividade é parte de um sistema complexo de múltiplas referências e interações. Assim, rejeitar a verdade dogmática não é o mesmo que validar todo e qualquer ponto de vista, mas colocar a necessidade de delinear sistemas de referências (estratégias) que estão em interação quando do relato (explicação) de um fato (fenômeno) da realidade empírica, tornando claras as implicações e consequências humanas dos valores escolhidos como referência para este sistema, sendo que nem todos os valores são equitativamente válidos, tampouco há um único sistema de valores que seja hierarquicamente e universalmente superior a todos os outros. (SANDANO, 2014, p. 69-70, grifo do original)
22
Para se alcançar essa objetividade que leva em consideração as múltiplas
referências e interações, ao invés da neutralidade como ausência de valores, os
jornalistas podem aplicar uma “neutralidade inclusiva”, que combina objetividade com
empatia (no sentido de “estar afeto a”) e faz uma “busca consciente da pluralidade,
organizando a diversidade de vozes e revelando a multiplicidade de sentidos e
possibilidades” (SANDANO, 2014, p. 74). A partir do momento em que os jornalistas se
propõem a entender as diversas realidades de que tratam, a proposta de objetividade
que figura nos jornais passaria gradativamente do dogmatismo para o dialogismo, não
se configurando mais como um simples relato factual ou, quando há a aceitação da
subjetividade, como nas colunas de opinião, de uma mera expressão de juízos de valor.
Da mesma forma que Sponholz define que existem graus de objetividade,
Sandano também elenca quatro tipos de restrição à construção da narrativa jornalística
plural, que seguem um movimento de maior fechamento (i) para maior inclusão possível
de perspectivas (iv). Essas categorias serão usadas por esse trabalho como referência
conceitual para as análises realizadas nos capítulos seguintes. São elas:
(i) Restrição dogmática: incompreensão deliberada e fechamento total a
outras perspectivas – que ocorre quando “uma visão de mundo
fortemente consolidada [...] é considerada a única medida aceitável de
verdade” (FEYERABEND, 2010 apud SANDANO, 2014, p. 119). Essa
restrição não permite a inclusão de nenhuma outra perspectiva.
(ii) Restrição objetiva: submete o entendimento às normas técnicas em
uma abordagem descontextualizada descritiva – é aquela que figura
em grande parte do conteúdo das hard news e que se baseia na ideia
de que é possível criar um espelho da realidade ao usar métodos
técnicos para criar um relato neutro e imparcial. Aqui a descrição dos
sujeitos é mecânica e não há espaço para suas subjetividades.
(iii) Restrição subjetiva: abordagem descontextualizada interpretativa
reduz a complexidade a uma perspectiva unidimensional – é aquela
que aparece nas colunas de opinião, onde há um esforço para se
explicar as causas e razões de um fato e não só relatá-lo. No entanto,
23
essa análise parte de uma perspectiva pré-concebida do autor do texto,
que ignora elementos da realidade para que seja possível encaixá-la
em sua visão de mundo.
(iv) Restrição autoral e tolerante: a abertura dialógica significando uma
visão crítica dos próprios paradigmas – caracterizada pela aceitação
de que o que nós acreditamos ser verdade pode ser mudado a qualquer
momento, conforme aprendemos com o Outro e valorizamos “as
diferentes visões existentes nos conflitos comunicacionais sem reduzir
a sua complexidade a uma única causa determinante”. (SANDANO,
2014, p. 121)
Dessa forma, temos que classificar um texto jornalístico como “objetivo” por
uma aparente abstenção de opinião é completamente equivocado. A objetividade é um
valor que faz parte da teoria do conhecimento e que permite que um leitor conheça ao
máximo uma realidade apresentada, o que só é possível quando se articula a
subjetividade do grupo de que trata a matéria com a subjetividade de seu autor da forma
mais completa possível. O uso de dados empíricos é imprescindível para a construção
dessa realidade, mas eles por si só não constituem um relato objetivo. Conforme definiu
Sponholz (2003, p. 115), “a separação absoluta entre subjetividade e objetividade é não
só impossível, como também indesejável. [...] Subjetividade é uma condição para a
objetividade, uma vez que a busca da realidade sobre um determinado problema
pressupõe interesse”.
Mesmo assim, os jornalistas se prendiam à defesa da objetividade
tradicional, pois ela era um dos fatores mais importantes para a legitimização do
jornalismo.
A própria sociedade, com base na aceitação consensual da teoria democrática, influencia fortemente a definição da postura professional dos membros desta comunidade. A objetividade, ou uma outra designação de uma noção de equilíbrio (balance), está associada pela esmagadora maioria dos cidadãos ao papel do jornalista […] e está no centro de toda uma mitologia que representa os jornalistas em diversas narrativas que ocupam um papel central na cultura professional. (TRAQUINA, 2005, p. 143)
24
Nos dias de hoje, no entanto, a percepção da subjetividade do jornalismo por
parte do publico dá origem a um tipo diferente de discurso: o de que a legitimidade da
mídia se daria justamente ao assumir essa subjetividade.
“Por que a Folha não assume?”: Essa questão foi levantada pela própria
ombudsman do jornal, Vera Guimarães Martins, em sua coluna no site do jornal Folha
de S. Paulo, no dia 31 de agosto de 2014, em resposta, disse ela, à grande quantidade
de mensagens de leitores que recebeu que continham exatamente esse questionamento.
“A pergunta é quase sempre retórica. Quem questiona já partilha da convicção de que, embora se declare apartidário, o jornal defende determinado candidato ou partido e faz uma cobertura parcial dos fatos, destinada a beneficiar seu escolhido. Por isso, “assumir” seria mais honesto ou menos hipócrita”. (MARTINS, 2014, online)
O questionamento surgiu no contexto da cobertura das campanhas à
presidência de 2014, mas pode ser facilmente transferido para outros – para não dizer
todos os – assuntos que figuram nas páginas tanto da Folha de S. Paulo como de outros
jornais. A própria ombudsman assume que o problema não seria resolvido nas seções
dedicadas à veiculação de opiniões, como o editorial do jornal ou as colunas de
convidados, já que “o que costuma incomodar é o conteúdo difundido para além da
página A2”. (ibid, online)
O que acontece é que, na nossa imprensa, “por falta de treino e forte
vocação genética, a noção vigente de imparcialidade não passa de uma alternância de
parcialidades” (DINES, 2014, online).
Como pudemos ver, os conceitos de objetividade, neutralidade e
imparcialidade no jornalismo vêm se tornando cada vez mais problematizados. Sendo
assim, de que forma esses conceitos estão sendo expressos nos jornais nessa nova era
digital, em que todos se inteiram dos acontecimentos no momento em que ocorrem
através das chamadas em redes sociais?
25
2.2. O que a Folha pensa?
No dia 01 de agosto de 2014, a Folha de S. Paulo lançou a campanha
institucional “O que a Folha pensa”. Essa campanha, segundo a divulgação do próprio
jornal na matéria “Campanha mostra visão da Folha sobre temas polêmicos”
(CAMPANHA, 2014, online) “foi inspirada no material divulgado pelo jornal em seu
aniversário, em 19 de fevereiro, que agrupava as ideias da Folha sobre os temas
contemporâneos mais relevantes e controversos, difundidas ao longo dos anos nos
editoriais do jornal.” Nesse material, a Folha se declara a favor das manifestações, a
favor da legalização das drogas, contra a criminalização do aborto e dá sua opinião em
outros 6 temas polêmicos.
Por exemplo, no artigo “Manifestações: o que a Folha pensa?”, o jornal
declara que “se o direito à manifestação deve ser protegido, nem por isso deve ser
exercido fora da lei. A violência deve ser coibida pela polícia em nome da ordem pública
e dos direitos de todos. […] E manifestantes não devem ser confundidos com bandidos”
(MANIFESTAÇÕES, 2014, online). No vídeo que acompanha a matéria, a entrevistada
reitera essa posição, se colocando a favor das manifestações.
Tal campanha apresenta uma ruptura na noção do jornalismo neutro e
imparcial que domina a mentalidade tanto da população quanto dos próprios jornalistas
sobre o seu trabalho e poderia ser a representante máxima daquilo que esse trabalho
pretende analisar, mas essa campanha vai além disso. Ainda no artigo “Campanha
mostra visão da Folha sobre temas polêmicos”, o diretor-executivo de circulação e
marketing do jornal, Murilo Bussab, aponta que o intuito da campanha não é só dar as
opiniões do jornal, mas também “reforçar o pluralismo, que é um dos pilares do nosso
jornalismo” (CAMPANHA, 2014, online). Por isso, no final de cada vídeo, o narrador
decreta: “concordando ou não, siga a Folha, porque ela tem suas posições, mas sempre
publica opiniões divergentes”. Como exemplo, no vídeo que trata sobre a legalização das
drogas (DROGAS, 2014, online) a Folha de S. Paulo se diz a favor, enquanto a
entrevistada se diz contra.
26
O que temos então é a volta do ideal de imparcialidade, ao mesmo tempo em
que se admite a parcialidade. Nesse sentido, a campanha da Folha está em
conformidade com o que Bill Keller defende sobre o papel da mídia tradicional, pois o
jornalista, em seu debate com Greenwald, diz que “imparcialidade é algo a qual vale a
pena o jornalismo aspirar, mesmo que não possa ser perfeitamente atingida. Eu acredito
que, na maioria dos casos, ela te deixa mais perto da verdade porque impõe uma
disciplina de testar todas as suposições, incluindo as suas” (KELLER, 2013, tradução
nossa). Por outro lado, ele também acredita que os jornalistas têm mais probabilidade
de manipular informação para apoiar um ideal declarado, já que seu orgulho está em
jogo.
Analisando a cobertura da Folha realizada nos protestos de 2013, no entanto,
esse não parece ser o caso. Na época, a campanha ainda não existia e, no começo, a
atitude que o jornal tomou ante as manifestações foi justamente a contrária ao que se
afirma em “O que a Folha pensa?”.
Ao se estudarem as manifestações de 2013, foi feita a identificação e
separação do movimento em duas fases: uma que vai do início dos protestos até as
manifestações do dia 13 e outra que começou a formar-se a partir desse ponto e se
tornou plenamente visível na manifestação do dia 17 de junho.
A primeira foi marcada pela selvagem repressão policial, com inúmeros feridos
(inclusive muitos jornalistas) e prisões arbitrárias. A partir daquele dia, quando
as manifestações se espraiaram pelas capitais e grandes cidades, cresceu o
papel da mídia - principalmente da televisão - na divulgação e mesmo na
mobilização para as manifestações. Na primeira fase a grande mídia patronal
condenou os protestos, como de costume. (RUY, Carlos José, 2014, online)
Essa divisão também esteve presente na cobertura da Folha, que foi muito
crítica quanto aos protestos durante suas primeiras semanas. Do dia 1º ao dia 12 de
junho foram realizadas 55 matérias sobre o tema, sendo que 35 (63,6%) delas podem
claramente ser posicionadas contra o protesto.
27
A princípio, 50 (90%) das 55 matérias produzidas pela Folha nesse período
se encaixam no que Sandano define como restrição objetiva. As matérias são relatos
detalhando o que aconteceu, oferecendo números e, quando é o caso, reproduzindo
declarações dadas por figuras de autoridade ou por participantes dos protestos. Assim,
utilizando-se as normas técnicas padrão para a produção de uma hard News, temos uma
cobertura superficialmente objetiva. No entanto, ao analisarmos a forma como essas
matérias foram construídas, é fácil perceber o quão parcial e tendenciosa a cobertura
realmente foi.
Como já foi dito, 35 (63,6%) das 55 matérias estão claramente posicionadas
contra os protestos e apenas 7 (12,7%) podem ser claramente posicionadas a favor. Em
33 das matérias (60% das 55), não há sequer a preocupação em mencionar o “outro
lado” – tal como preconiza mesmo a deontologia tradicional desde o conceito de fairness
– ou seja, o posicionamento dos manifestantes sobre sua motivação para realizar os
protestos ou sobre os acontecimentos que se deram durante suas realizações. O foco
das matérias é nos atos de vandalismo e confusão (29%) e no trânsito (18%) causados
pelos protestos, e não no movimento em si. Por exemplo, na matéria do dia 6 de junho,
data do primeiro protesto, a matéria que encerrou as pautas do dia sobre o assunto foi
“Atos do Movimento Passe Livre costumam terminar em confronto” (ATOS, 2013, online).
A notícia (que não possui autor definido e é apenas creditada à redação de São Paulo)
começa dizendo que o Movimento Passe Livre, organizador dos protestos de 2013, é
“formado pelas alas consideradas como mais radicais do movimento estudantil e de
partidos como PSOL e PSTU” e segue elencando os danos dos protestos realizados pelo
grupo de forma generalizada e definitiva. Em 2011, ainda segundo a matéria, eles
“fizeram mais de uma dezena de atos que pararam o trânsito e terminaram em confronto”
e “um dos protestos terminou com um boneco de Kassab queimado, em frente ao
apartamento do ex-prefeito. Outro acabou com manifestantes, vereadores e policiais
feridos em frente à prefeitura” (ibid). O protesto de 2013 teria “convocado nas últimas
semanas por meio de cartazes com a frase ‘Se a tarifa aumentar, São Paulo vai parar’”
(ibid). Nenhum representante do movimento foi chamado para comentar os ocorridos de
28
2011 ou de 2013 e não foram dados exemplos de protestos que foram realizados
pacificamente.
As demais matérias publicadas no dia 6 de junho de 2013 têm como
manchetes “Manifestantes deixam rastro de vandalismo na região central de SP”
(MANIFESTANTES, 2013, online), “Com confronto, comerciantes fecham as portas na
região da Paulista” (COM CONFRONTO, 2013, online), “Com protesto e confronto,
shopping Pátio Paulista é fechado” (COM PROTESTO, 2013, online), “Protesto contra
aumento do ônibus termina em confronto no centro de SP” (PROTESTO, 2013, online),
“Protesto contra aumento da tarifa de ônibus afeta o trânsito no Rio” (PROTESTO, 2013,
online). A causa para os protestos é mencionada apenas como o aumento do preço do
ônibus, sem as considerações feitas pelo Movimento Passe Livre em seu portal online
de que a medida seria uma “escolha política pela exclusão, que só beneficia os cofres
dos empresários de ônibus” (CONVOCATÓRIA, 2013, online), e é logo desmoralizada
pelo apontamento de que os preços não eram ajustados desde 2011 e que o reajuste de
6,7% ficou “bem abaixo da inflação acumulada no período” (ATOS, 2013, online).
No dia 7 de junho, a situação se repete, com 7 (77,8%) das 9 matérias
publicadas sobre o assunto trazendo apenas a visão negativa dos protestos e sem
apresentar uma oposição a essa visão. Em uma das outras matérias, de manchete “Novo
protesto contra tarifas resulta em vandalismo e confusão em SP” (NOVO, 2013, online),
até há uma fala de um dos integrantes do movimento, Marcelo Hotmimsky, que diz que
“A partir do momento que a polícia reprime, a situação fica incontrolável. Os
manifestantes foram atingidos por bombas e balas de borracha. Eles apenas se
defenderam", no entanto, desde o título da matéria até a descrição dos eventos realizada
por ela (“Tanto ontem quanto hoje, os manifestantes fizeram atos de vandalismo,
pichando ruas e quebrando lixeiras e placas. A polícia respondeu com bombas de gás
lacrimogêneo e tiros de borrachas para tentar conter o grupo”), tornam a declaração de
Marcelo bastante desmoralizada.
Até mesmo em seções criadas para potencializar o debate sobre o assunto,
a predominância de uma visão contra os protestos era clara. Nos dias 08 e 09 de junho,
29
foram publicadas duas matérias na seção “Painel do Leitor” sobre o protesto. A do dia
08 até dá a impressão de promovover um debate com o título “Leitores comentam
protestos na Paulista” (2013, online), no entanto, um dos comentários é uma crítica às
depredações e ao vandalismo dos protestos e o outro um questionamento sobre como
Haddad se sente estando agora “do outro lado da trincheira”, sem nenhum comentário
que apoiasse a manifestação ou os manifestantes. Já o do dia 09 é mais direto, com o
título “Leitora critica protestos em São Paulo”, onde a leitora se manifesta contra a
depredação e a violência dos protestos, perguntando se os manifestantes não podem
“fazer uma pressão mais inteligente sobre os governos?” (LEITORA, 2013, online).
Quando se trata de figuras públicas dando declarações sobre os protestos, a
situação se repete: todas as 9 notícias que têm como base declarações do prefeito
Haddad e do governador Geraldo Alckmin criticam os protestos e os reduzem apenas
aos atos de vandalismo e violência praticados e à falta de abertura dos manifestantes ao
diálogo. Somente no dia 12, quando já começava a se ensaiar a mudança de uma fase
da cobertura dos protestos para a outra, é que a os políticos começam a tratar esses
atos como feitos por grupos isolados dentro das manifestações, e não representantes
das manifestações em sí.
Até o momento em que a matéria “Em Paris, Alckmin, Haddad e Temer
criticam destruição durante protesto” (ROCHA, 2013, online) define que “O prefeito disse
que a manifestação corria pacificamente até o momento em que parte dos manifestantes
começou a provocar o confronto”, as ações de violência estavam sendo tomadas como
representantes fundamentais dos protestos, em que todos os participantes estavam
envolvidos. No dia anterior mesmo, uma matéria sobre a declaração do governador
Geraldo Alckmin tinha como manchete “Em Paris, Alckmin diz que protesto que
interrompe tráfego é caso de polícia” (idem, 2013, online), o que transformava todos os
manifestantes em ilegítimos e vândalos sujeitos a serem atacados pela polícia.
Foi também apenas no dia 11 que houve a primeira referência a uma
separação entre os manifestantes em geral e os grupos responsáveis pelos atos de
30
vandalismo, que começaram a ser chamados de Black Blocs, na matéria intitulada
“Juventude do PT engrossa protesto contra tarifas em SP” (2013, online).
O que se percebe na cobertura da Folha, então, é que o que deveria ser uma
cobertura marcada pela restrição objetiva resvala para uma restrição dogmática. Essa
restrição não ocorre apenas em colunas de opinião, mas sim tem a ver com o valor da
empatia, com ver o mundo como o outro o vê, e o que temos é a Folha inclusive
abandonando práticas deontológicas básicas, como o conceito de fairness, para fazer
valer sua posição diante do tema. A visão de mundo dos jornalistas e editores do veículo,
de que os manifestantes eram vândalos que estavam apenas depredando a cidade e
atrapalhando o trânsito para sua própria satisfação e sem um motivo válido (afinal, o
aumento das passagens estava abaixo da inflação), estava plenamente consolidada e
não poderia ser contestada. Ela era “a única medida aceitável da verdade”, como colocou
Feyerabend (apud SANDANO, 2014, p. 119).
Assim, com base no referencial teórico apresentado e na análise realizada,
chegamos à resposta final do capítulo: é possível, sim, realizar uma cobertura que seja
ao mesmo tempo objetiva e parcial, no entanto, apenas o tecnicismo presente nos
manuais de redação dos jornais não é suficiente para garantir essa objetividade. O que
acontece, pelo menos nessa cobertura da Folha, é que acabamos ficando ainda mais
perto daquilo que Glenn Greenwald defende em seu debate com Bill Keller, de que “se
qualquer coisa, esconder sua própria opinião dá ao jornalista mais espaço para
manipular a reportagem, pois os leitores não têm consciência dessas visões escondidas
e, por isso, não podem levá-las em consideração ao ler a matéria” (KELLER, 2013,
online, tradução nossa).
31
3. OS VALORES DA CIBERCULTURA
3.1. O precedente: a “outra forma” de se fazer jornalismo
Otto Groth, da mesma forma que Max Weber e Walter Lippmann, foi um autor
que trabalhou dentro da realidade do jornalismo industrial e defendeu uma forma de se
fazer jornalismo que se afasta do foco em fatos e da valoração da objetividade, pois
segundo Hanno Hardt, na introdução do livro “A Era Glacial do jornalismo” (BERGER,
Christa (Org) & MAROCCO, Beatriz (Org.), 2006), eles:
Compartilhavam uma abordagem humanística aos estudos em comunicação. Aqui, história, ou tradição, desempenha um papel da maior importância na explicação da comunicação como fenômeno social ou cultural, constituindo, assim, uma alternativa para a perspectiva científico-social emergente (particularmente nos Estados Unidos), identificada com o positivismo, apresentando uma explicação diferente, a-histórica e descontextualizada do processo de comunicação, que se tornou dominante no campo nas décadas seguintes. (HARDT, 2006, p.20)
Murilo Kuschik, em seu texto “Weber e sua relação com a
comunicação” (2006) presente no mesmo livro de Hardt, define qual o papel que
Weber defendia que a imprensa deveria ter. Para o sociólogo alemão:
A função da comunicação era muito clara: além de ser um negócio, a imprensa e a comunicação em geral definiam-se como um âmbito que havia de se colocar a serviço da verdade e da justiça. Ou seja, de um conjunto de valores que, apesar de seu valor absoluto, têm uma interpretação relativa em função de diferentes posições político ideológicas. (KUSCHIK, 2006, p. 31)
Weber entendia que o papel dos meios de comunicação era contextualizar e
interpretar as notícias. Por isso haveria a necessidade de eles definirem qual o ponto de
vista que eles adotariam para essa interpretação e, nesse processo, é de extrema
importância que se leve em consideração o público do jornal.
Sua importância reside não apenas na forma que esses negócios atribuem a uma ideia de público e criam noticias para públicos diferentes, pois as notícias não têm o mesmo nível de interesse para o amante de teatro ou para o militante político. O jornalista debate-se entre que notícias publicar, o que levar ao conhecimento do público e a conquista de clientes, criar leitores, mas, também, divulgar um certo tipo de notícias, de interesse de certo tipo de atores políticos, culturais ou econômicos. O jornalista sempre deve pensar tanto em quem é seu publico e quem são os seus assinantes. (ibid, 2006, p. 32)
32
Também Otto Groth (2011), em seu livro “O poder cultural desconhecido”,
destaca o papel que o público deve ter no conteúdo jornalístico. Ao fazer uma reflexão
sobre o livro de Groth, Karl-Ursus Marthenke (2006) aponta que “a obra cultural 'adquire
a totalidade da sua estrutura por sua determinação para o uso humano, está direcionada
para fora, para o ser humano, a sociedade de cultura elevada e seus membros,
estruturada em suas características segundo um princípio unitário da determinação por
fins e da adequação a fins'” (MARTHENKE, 2006, p. 170). E ainda “as ciências do
espírito, que surgiram a partir de experiências práticas, jamais devem negar essa origem;
precisam colocar seus resultados à disposição da vida” (Ibid, p. 163).
Para Groth, os jornais são obras culturais, que se diferenciam de produtos da
natureza porque não são regidos por estruturas causais, mas sim por uma
interdependência com valores e finalidades. “Isso significa que cada obra cultural é
formada pelos seres humanos de acordo com seus objetivos, é construída por eles com
um sentido de tal maneira que a obra seja de fato ou apenas considerada como
apropriada para satisfazer suas necessidades corporais e mentais”. (GROTH, 2011, p.
34, grifo do original)
Esse sentido e finalidade dos jornais seria realizar “uma “mediação” de bens
intelectuais determinada socioculturalmente e mutante em dimensão e forma” (ibid, p.
41), ou seja, eles devem explicar as situações do cotidiano, mas essa explicação vai ser
sempre determinada pelo contexto sociocultural em que está inserido não apenas o
jornal como aqueles que escrevem nele. O jornal não pode, e nem é sua finalidade,
abordar todos os assuntos existentes nos mínimos detalhes, mas deve oferecer os
panoramas e explicações dos assuntos pertinentes para que seus leitores possam
compreender o mundo a sua volta.
O jornalismo não tem um valor próprio, mas sim um valor “consecutivo”, de efeito. A sua mediação, como a palavra já diz, não é um valor próprio, mas sim recebe seu valor de outros valores, principalmente da interpretação do homem moderno contemporâneo sobre o ser e o acontecer, sobre o pensamento e os efeitos no mundo que ele influencia e pelo qual é influenciado. (GROTH, 2011, p. 51)
33
Apesar de o jornalismo estar imerso na lógica capitalista industrial e, por isso,
precisar obedecer àquilo que Weber (1979) chama de “ação racional com relação a fins”
(realizar uma ação racionalmente para alcançar um objetivo específico, que, no caso,
seria vender jornais e ganhar dinheiro), também faz parte de sua natureza realizar “ações
racionais com relação a valores” (ibid), ou seja, realizar uma ação para defender algo em
que se acredita. Assim “apesar de pertencer a uma empresa capitalista, que sobrevive
apenas se vende jornais, os jornalistas têm a crítica como o seu meio de expressão e
essa pode se dar somente em função de critérios, ideais, utopias e imagens do mundo
aos quais estão associados tanto os articulistas dos jornais como os políticos e o público”
(KUSCHIK, 2006, p. 30)
Partindo desses critérios, ideais, utopias e imagens, a forma como o
jornalismo deve colocar seus resultados de volta à disposição da vida é através da
explicação. Otto Groth explica que há uma diferença metodológica entre “compreender”
e “explicar”. Compreender é buscar o sentido por trás dos pensamentos e ações
humanos, o que, apesar de bastar para racionalizarmos nossa empatia, nossa
experiência e nosso entendimento, não nos protege do “perigo do equívoco.”
(MARTHENKE, 2006, p. 166)
Já o explicar “significa proceder a uma interpretação da realidade e do que
acontece no mundo sob o ponto de vista do fim ou da finalidade. Um fim indica para que,
para que objetivo algo acontece e é, ao mesmo tempo, a causa do acontecimento, para
que o objetivo possa ser alcançado” (Ibid., p. 169). Ou seja, o explicar enfoca as causas
e razões de um acontecimento, onde “coisas inicialmente ainda desconhecidas são
enfocadas a partir de regras já obtidas. As perguntas se dirigem ao nexo causal no qual
se encontra uma obra cultural. Trata-se, porém, de um nexo que seduz para uma
abordagem unilateral” (Ibid., p. 166), afinal, cada um enxerga as causas de um
acontecimento a seu próprio modo, partindo de seus próprios valores e formas de
pensar.
A forma de se fazer jornalismo apontada por todos os autores apresentados
é um jornalismo que se baseia na análise e na interpretação, que vai além do factual
34
disponível nas redes sociais. Eles mesmos apontam que, ao se fazer uso desse formato
de jornalismo, uma abordagem isenta é impossível. Seguindo a ideia de Weber, como
os próprios conceitos de “verdade” e “justiça” nos quais os jornais se apoiam não são
valores fixos, estando abertos para a interpretação tanto de quem escreve a matéria
como de quem a lê, então qualquer texto que saia do simples factual já perde
imediatamente a objetividade.
Disto, surge a necessidade do valor da “empatia”, que nos faz passar da
restrição subjetiva para uma restrição autoral e tolerante, na concepção de Sandano. A
partir do momento em que os jornais estão abertos para reconhecer que dada forma de
ver o mundo estava equivocada, quando são confrontados com novos dados ou
realidades, é que podem oferecer ao público uma explicação o mais completa possível
de um certo acontecimento.
Para que isso aconteça é necessário, primeiramente, que existam meios
para que o público possa veicular suas próprias opiniões e articulá-las com as de outras
pessoas para que isso gere um impacto na mídia tradicional. Somando-se às formas
alternativas de se fazer jornalismo que vêm existindo paralelamente com o modelo
tradicional há anos, nos dias de hoje precisamos levar em conta mais um fenômeno: a
presença massiva de pessoas na internet e nas redes sociais, que deu origem a um novo
tipo de cultura de transmissão de informações que contrasta com a cultura da tribo
jornalística. É a cibercultura.
3.2. Os valores da cibercultura
Segundo relatório publicado no final de 2014 pela ITU (União Internacional
de Telecomunicações, na sigla em inglês)9, existem 3 bilhões de pessoas no mundo,
hoje, conectadas à internet, o que significa que 40% da população mundial possui acesso
à rede. Em 2009, o número era de 2 bilhões, ou seja, em apenas cinco anos, 1 bilhão de
pessoas passaram a estar conectadas, e a tendência é que esse número só aumente,
9 ITU. Measuring the information society report. Genebra, 2014. Disponível em: <http://www.itu.int/en/ITU-D/Statistics/Pages/publications/mis2014.aspx>. Acesso em 16 nov. 2015.
35
pois a ITU lançou a campanha Connect 2020 Agenda, que pretende conectar mais 1,5
bilhão de pessoas até o final dessa década.
Isso significa que, no momento, temos mais de 40% da população mundial
com acesso à internet, ou ao “ciberespaço”: “o novo meio de comunicação que surge da
interconexão mundial dos computadores” (LEVY, 2008, p. 17). Segundo Pierre Levy, o
termo abriga não só o equipamento necessário para a comunicação digital, mas também
a informação contida dentro dela e os seres humanos que interagem nesse universo e o
alimentam.
Mas muito mais importante do que a definição do meio de comunicação é a
definição que caracteriza as formas como as pessoas estruturaram suas relações sociais
dentro desse meio, pois, como aponta Castells (2001, p. 34) “os sistemas tecnológicos
são socialmente produzidos. A produção social é estruturada culturalmente. A internet
não é excessão”.
Foi com base nisso que Levy dedicou seu estudo àquilo que chamou de
“cibercultura”, termo que “especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais),
de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem
juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LEVY, 2008, p. 17).
Castells definiu que “a cultura da internet é a cultura dos criadores da
internet” (2001, p. 34), sendo eles, segundo sua própria classificação: as tecnoelites, os
hackers, as comunidades virtuais e os empresários. As tecnoelites definiram a base
tecnomeritocrática da internet, em que indivíduos tem sua legitimidade definida por uma
comunidade de pares, os hackers especificaram essa meritocracia e incutiram o valor da
liberdade, principalmente a liberdade de ter acesso à tecnologia e usá-la como bem
entender, as comunidades virtuais incorporaram os valores da liberdade e da
comunciação horizontal e os usaram para suas vidas sociais, e os empresários
enxergaram o valor econômico de tudo isso e investiram no setor, tornando a internet “a
espinha dorsal de nossas vidas” (ibid, p. 53).
36
Estamos todos tão conectados à internet nos dias de hoje que, apesar de
ela ter surgido com base na cultura de criadores específicos, agora “não se deve
confundir a cibercultura com uma subcultura particular, a cultura de uma ou algumas
tribos. Ao contrário, a cibercultura é a nova forma de cultura” (LEVY apud LEMOS, 2008,
p. 11)
Tanto para Levy quanto para Castells, a base mais importante da
cibercultura é seu papel como formadora de redes para compartilhamento de
informações, em que todos aqueles que têm acesso à rede podem dar suas opiniões e
difundir informação, sem censores ou intermediários. “As realidades virtuais
compartilhadas, que podem fazer comunicar milhares e até mesmo milhões, devem ser
considerados como dispositivos de comunicação “todos-todos”, típicos da cibercultura.”
(LEVY, 2008, p. 105)
Ao fazer uma análise da influência da cibercultura na vida contemporânea,
atentando para as suas manifestações culturais tais como os crackers, hackers, os
fóruns, blogs e etc, André Lemos coloca que essa formação de redes não só permite o
compartilhamento de informações, mas encarna a presença da própria humanidade.
A internet é um espaço de comunicação propriamente surrealista, onde “nada é excluído”, nem o bem, nem o mal, nem suas múltiplas definições, nem a discussão que tenta separá-los sem jamais conseguir. A internet encarna a presença da humanidade a ela própria, já que todas as culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí se entrelaçam. Já que tudo é possível, ela manifesta a conexão do homem com sua própria essência, que é a aspiração à liberdade. (LEMOS, 2008, p. 12)
Na verdade, esses são os que Levy definiu como os três princípios
orientadores da cibercultura: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a
inteligência coletiva.
A interconexão, para a cibercultura, é um “bem em si”, pois “o horizonte
técnico do movimento da cibercultura é a comunicação universal” (LEMOS, 2008, p.
127). O segundo príncipio se apoia neste. “Uma comunidade virtual é construida sobre
as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo
37
de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas
e das filiações institucionais”. (ibid., p. 127)
Já o último princípio, a inteligência coletiva, é aquele que Levy (2008, p. 131)
entende como a “finalidade última” da cibercultura. Henry Jenkins (2008), ao empregar
esse conceito de Levy para analisar as atividades de spoiling10 que surgem em torno de
determinados programas de televisão, explica que “a inteligência coletiva refere-se a
essa capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus
membros. O que não podemos saber ou fazer sozinhos, agora podemos fazer
coletivamente” (JENKINS, 2008, p. 58). Ou seja, eu sozinho não posso saber tudo sobre
determinado assunto, mas diversas pessoas sabem um pouco de cada coisa pertinente
a esse assunto e dentro das comunidades virtuais todos podem unir seus conhecimentos
para chegar às respostas de que a comunidade precisa.
Sendo mais um espaço de interação humana, a internet passa então a ser
usada para todas as finalidades que usamos redes de interação na vida real: para
negócios, para educação, para relacionamentos e, inclusive, para movimentos sociais.
A internet torma-se um meio essencial de expressão e organização para esses tipos de manifestação, que coincidem numa dada hora e espaço, provocam seu impacto através do mundo da mídia, e atuam sobre instituições e organizações (empresas, por exemplo) por meio das repercussões de seu impacto sobre a opinião pública. (CASTELLS, 2008, p. 117)
Utilizando-se da internet e das redes sociais, comunidades virtuais se
formam em torno de um objetivo comum (apoio a uma causa) e disseminam informação,
divulgam a causa e conseguem mais seguidores. Utilizando-se dessa rede é possível,
mesmo sem um encontro presencial, organizar protestos, passeatas e eventos e
mobilizar milhares de pessoas para comparecer. Foi esse o sistema utilizado tanto nos
protestos de junho de 2013 quanto nos dos dias 13 e 15 de março de 2015 e foi também
10 Jenkins (2008, p. 55) define o spoiling como um processo para descobrir todos os segredos do show antes de os produtores revelarem o que aconteceu. O nome vem do termo em inglês “spoil”, que quer dizer “estragar”, pois quem conta o que vai acontecer em um show “estraga” a surpresa para os outros.
38
através das redes sociais que tanto a mídia tradicional quanto grupos como a Mídia
NINJA puderam compartilhar suas coberturas dos eventos.
Tanto as novas mídias quanto as mídias tradicionais estão imersas na
cibercultura, influenciando uma a outra e seus papéis como meios de comunicação.
Conforme aponta Jenkins (2008, p. 32-33) “se o paradigma da revolução digital presumia
que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência
presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas”.
É a partir da cibercultura e da interação entre mídias que surge o conceito que engloba
as ações da Mídia NINJA e de outros núcleos de jornalismo ativista feitos por quem antes
costumava ser apenas público das grandes mídias: o jornalismo participativo.
3.3. Jornalismo participativo
Explicar os acontecimentos é um ideal que também está no cerne do
jornalismo participativo (também chamado jornalismo cidadão ou jornalismo
colaborativo), termo cunhado em 2003 por Shayne Bowman e Chris Willis. O jornalismo
participativo “seria o ato de um cidadão ou grupo de cidadãos que desempenham um
papel ativo no processo de coletar, reportar, analisar e divulgar notícias. A intenção desta
participação é fornecer informações independentes, confiáveis, precisas, abrangentes e
relevantes que uma democracia exige” (BOWMAN & WILLIS, 2003 p. 9, tradução nossa).
A existência do jornalismo participativo é uma condição intrínseca a esse
trabalho, pois são seu surgimento e crescente relevância na disseminação de
informações no Brasil que põem em cheque os antigos valores do jornalismo tradicional,
uma vez que “o jornalismo ‘tradicional’, ao considerar a própria audiência como parte
importante de produção e não mais apenas de recepção do processo informativo – quiçá
como concorrente – seria obrigado então a rever os valores de sua prática” (SANDANO,
2014, p. 146), pois a “conversação é o mecanismo que vira o jogo dos papéis tradicionais
do jornalismo e cria uma dinâmica ética igualitária de dar e receber”. (BOWMAN &
WILLIS, 2003, p. 9, tradução nossa)
39
A lógica do jornalismo participativo é a de que “o público sabe mais do que
eu e isso não é uma coisa ruim, pois nos dá a chance de criar algo no meio caminho
entre um seminário e uma conversa, educando todos nós” (GILMOR, apud BOWMAN &
WILLIS, 2003, p. 13, tradução nossa).
O jornalismo participativo é diferente do jornalismo colaborativo, que
começou a ser adotado pelos jornais nos anos 90, como uma forma de trazer
participação dos leitores e das comunidades através de focus groups, enquetes e
reações ante as notícias, conforme explicam Bowman e Willis. Hoje, podemos perceber
a presença do jornalismo colaborativo quando os jornais pedem que os leitores ou
espectadores mandem textos, fotos e vídeos sobre certo acontecimento, quando
mensagens de ouvintes são lidas pelos âncoras das rádios ou quando os jornalistas
respondem ao vivo a tweets com perguntas ou sugestões ou a outras mensagens
mandadas pelas redes sociais. Mas, apesar de o jornalismo colaborativo também ter
como base a participação do público e encorajá-la ativamente, “a organização de notícias
mantém um alto nível de controle ao ditar a agenda, escolher os participantes e mediar
o diálogo” (BOWMAN & WILLIS, 2003, p. 9, tradução nossa).
Ambos têm como base o diálogo e a conversa, a diferença é que, no
jornalismo participativo, não tem ninguém controlando o fluxo da conversa ou a troca de
informações além da própria comunidade. Assim, os leitores dos jornais tornam-se
“prosumidores”, híbridos de produtores e consumidores, conforme termo cunhado por
John Seely Brown no livro Elementos do Jornalismo (KOVACH & ROSENSTIEL, 2001,
p. 24).
No entanto, esse modelo não está livre de falhas. O próprio livro de Bowman
e Willis aponta a principal delas: o fato de haver uma conversa não significa,
necessariamente, que as pessoas estão ouvindo todos os lados pertinentes. Apesar de,
no contexto do livro, isso ser tratado como algo positivo, conforme é possível ser visto
na fala do professor Clay Shirky:
40
A ordem das coisas no broadcast é ‘filtrar, depois publicar’. A ordem nas
comunidades é ‘publicar, depois filtrar’. [...] Escritores enviam suas histórias
previamente, para serem editadas ou rejeitadas antes que o público sequer
possa chegar a vê-las. Participantes numa comunidade, pelo contrário, dizem o
que querem dizer e o bom é separado do medíocre depois do fato. (SHIRKY
apud BOWMAN & WILLIS, 2003, p. 12, tradução nossa)
O modelo do jornalismo participativo se apoia na ideia de que todas as
pessoas presentes numa comunidade acompanharão uma mesma discussão até o fim,
pesando todos os argumentos enviados por todos os lados antes de chegar a uma
conclusão comum, que seja a mais próxima da realidade possível e permita que todos
crescam como indivíduos. No entanto, as tendências tanto humanas quanto
tecnológicas, caminham numa direção contrária a isso.
No seu livro “The filter bubble – what the internet is hiding from you”, Eli Pariser
(2011) explica de que forma os algoritmos de filtragem e personalização presentes em
todos os sites, principalmente Google e Facebook, afetam a nossa relação com as
notícias e, consequentemente, com o mundo. Esses algoritmos sabem tudo sobre a
nossa vida, o que gostamos e o que as pessoas com que nos relacionamos gostam e,
assim, alteram o conteúdo a que temos acesso online para mostrar apenas fontes que
espelham nossos gostos e ideologias, ou seja, acabamos vendo apenas conteúdo com
o qual concordamos. Mas isso não é nada novo.
Até certo ponto, nós sempre consumimos mídias que apelavam para nossos
interesses e ocupações e ignoramos praticamente todo o resto. [...] Grande parte
dos espectadores de fontes de notícias conservadoras ou liberais sabem que
eles estão se dirigindo a uma estação curada para oferecer um determinado
ponto de vista político. [...] Quando você sintoniza na Fox News ou lê o jornal
The Nation, você está tomando uma decisão sobre que tipo de filtro você irá usar
para fazer sentido do mundo. É um processo ativo e, assim como colocar um
óculos com lentes pintadas, você pode adivinhar de que forma as inclinações do
editor moldam sua percepção. (PARISER, 2011, p. 9-10, tradução nossa)
Mesmo num local livre como a internet, em que, teoricamente, temos acesso
a todo o conhecimento do mundo e a dezenas de pontos de vista sobre um mesmo
41
assunto, e mesmo com o jornalismo participativo partindo da ideia de que, com diálogo,
o bom será separado do medíocre, o que acontece é que as pessoas só tendem a ler ou
apoiar aquilo com o qual já concordam previamente, seja proveniente dos jornais
tradicionais ou da mídia alternativa. Como aponta o editor chefe do portal Salon.com,
Scott Rosenberg “se os profissionais são criticados por serem cautelosos, impessoais,
corporativistas e pensar como rebanho, os blogueiros são o oposto em quase todos os
aspectos: são imprudentes, altamente pessoais, descolados – e pensam como rebanho”
(BOWMAN & WILLIS, 2003, p. 13, tradução nossa, grifo do original). Se, no jornalismo
participativo, cada um é responsável por filtrar a informação depois de ela ter sido
publicada, então, em qualquer um dos lados, argumentos contrários podem ser
ignorados e, se a discussão não caminha para um desfecho favorável a nossas visões,
ela pode simplesmente ser abandonada.
Uma pesquisa, publicada recentemente na revista Science pelos cientistas
sociais do Facebook, analisou o impacto que o filtro algorítmico realmente tem quando
se trata de mostrar aos usuários notícias ideologicamente opostas ou não. Segundo
Javier Salas, em matéria para o El País Brasil, a pesquisa revelou que “a bolha ideológica
existe, mas é mais culpa dos próprios usuários do que da programação de Mark
Zuckerberg” (2015, online).
A pesquisa analisou os perfis de 10 milhões de americanos que tinham suas
ideologias políticas explicitadas em seu perfil do Facebook. Os resultados da pesquisa
dizem que, com os filtros, 22% dos progressistas e 33% dos conservadores veem
notícias que não condizem com sua ideologia. Sem o filtro, tanto progressistas quanto
conservadores veriam apenas 2% a mais de notícias “incômodas” do que vêem no
momento. Ou seja, são as próprias pessoas, por meio de suas escolhas de amizades e
de que páginas seguirão, que se prendem em uma bolha ideológica, “por exemplo, a
probabilidade de clicar no mural em uma notícia favorável às próprias ideias —um eleitor
do conservador Partido Republicano dos Estados Unidos ler uma notícia da Fox News—
em relação a uma contrária é esmagadora” (SALAS, 2015, online).
42
E isso é um problema, pois “é requerimento de uma democracia que as
pessoas possam ver as coisas pelo ponto de vista de outras, no entanto nós estamos
cada vez mais e mais fechados em nossas próprias bolhas. A democracia depende de
uma base em fatos comuns; no entanto estamos sendo oferecidos universos paralelos,
mas separados” (PARISER, 2011, p. 5, tradução nossa).
Temos então que, apesar do jornalismo participativo, tornado possível pelas
novas tecnologias e pela cibercultura, dispor de todas as ferramentas e condições para
alcançar a restrição autoral e tolerante, ele permanece ideologicamente fechado, pois
sua intenção é atingir um determinado público específico, com ideais já formados e que
não está interessado em ver suas visões de mundo questionadas. O diálogo e a busca
pela verdade ficam comprometidos, pois cada pessoa acredita que já conhece a verdade
absoluta e que qualquer posição em contrário é uma afronta a ser ignorada ou
“combatida”.
Idealmente, esse modelo permitiria que o jornal expusesse sua posição em
suas matérias e recebesse a resposta da população, que está apurando e produzindo
as próprias notícias. Essa resposta serviria de base para que os jornalistas avaliassem
sua própria opinião e pudessem então continuar defendendo-a ou mudá-la, respondendo
e explicando essa posição para os leitores em futuras edições. No entanto, essas
mesmas regras precisam ser aplicadas aos jornalistas “não oficiais”, às mídias
alternativas, aos blogueiros, midiativistas e a qualquer pessoa que se dispor a produzir
conteúdo noticioso, pois, se eles também não se abrirem às opiniões contrárias e
trouxerem essas diferentes noções para seu público, o que se apresentará serão apenas
dois dogmatismos, ainda que em polos opostos.
3.4. Mídia Ninja
A Mídia NINJA (acrônimo para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação)
surgiu em 2012 como um braço do canal Fora do Eixo, que realiza shows culturais fora
dos circuitos das grandes produtoras, mas só se tornou realmente conhecida com sua
cobertura dos protestos em 2013.
43
Elizabeth Lorenzotti, em seu livro “Jornalismo do século XXI – o modelo
#MídiaNINJA” definiu a magnitude que as ações dos ninjas atingiram:
Nas manifestações que tomaram as ruas de várias capitais, ganhou maior visibilidade e chegou a picos de audiência de 120 mil espectadores. O que significa uma marca de 1,2 dos ibopes oficiais – e não é pouco, pois muitos programas da TV aberta não o atingem. E desde junho, em seis meses, chegaram a 5 milhões de visualizações no ranking dos principais canais do Twitcasting, um aplicativo/plataforma ao vivo de transmissões para celular usada pela Mídia NINJA. (LORENZOTTI, 2014, p. 4-5)
Com celulares, eles gravavam vídeos e depoimentos e tiravam fotos
diretamente do meio das manifestações, tomando o partido dos ativistas e
desmascarando as violências policiais, num contexto em que as grandes mídias estavam
sendo repudiadas tanto pela polícia quanto pelos participantes dos protestos. Em
entrevista para a coluna de Luis Soares, no blog Pragmatismo Político, o representante
dos ninjas, Bruno Torturra, declarou que “[O grupo] entrou em evidência porque as
pessoas estavam esperando uma cobertura mais próxima sobre o que estava
acontecendo nas ruas. […] Acho que tinha uma demanda muito grande de uma cobertura
independente, e a gente estava lá” (SOARES, 2013, online).
Segundo Ivana Bento, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, em
depoimento dado numa das reuniões abertas ao público da Mídia NINJA11 e compilado
por Natalia Mazzote no Blog Jornalismo das Américas (2013, online), o sucesso do grupo
se deve justamente ao seu engajamento: “A NINJA trabalha com a comoção, o desejo e
a participação social, é um tipo de narrativa muito mais interessante do que a ideia pobre
e corporativista de jornalismo”. É o que Lorenzotti define como a passagem da “mídia de
massa” para a “massa de mídias”:
Do modelo analógico, ligado à lógica do líder de opinião, o mediador, emitindo do centro para a periferia – a mídia de massa – passa-se ao digital – a massa de mídias, a construção colaborativa de narrativas e conteúdos feitos por muitos autores que resulta em uma pluralidade dos pontos de vista. (LORENZOTTI, 2014, p.5)
11 MAZOTTE, Natalia. Mídia NINJA: um fenômeno de jornalismo alternativo que emergiu dos protestos no Brasil. Jornalismo nas Américas, 25 jul. 2013. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14113-midia-ninja-um-fenomeno-de-jornalismo-alternativo-que-emergiu-dos-protestos-no-rio-de->. Acesso em 23 out. 2015.
44
O que a Mídia NINJA defende e a forma como eles agem não é, na verdade,
algo novo, o que eles seguem é o mesmo conceito do jornalismo participativo que vimos
no último capítulo. Em uma publicação em seu blog no jornal O Globo, intitulada “Mídia
NINJA”, Cora Rónai (2013) defende que não faz sentido dividir o mundo entre “jornalismo
clássico” e “mídia ninja”, pois não foi o jornalismo participativo que desestabilizou o
jornalismo tradicional, este já estava desestabilizado desde o desenvolvimento da web,
que mudou a forma como nos informamos. Em um mundo em que todos podem produzir
notícia, o mérito da Mídia NINJA é “reunir alguns desses cidadãos num projeto comum,
oferecendo-lhes o canal para chegar ao público; é juntar debaixo do mesmo teto virtual
fabricantes de conteúdo que, antes, se espalhavam pelas mídias sociais, dando-lhes, de
quebra, a oportunidade de mostrarem o que veem em tempo real” (RÓNAI, 2013, online).
A base é a ideia do jornalismo participativo, mas, para os representates
desses eixos alternativos, o conceito ganhou um outro nome: midialivrismo, em
referência ao fato de ser uma “mídia livre”, ou conforme definiu Renato Rovai em seu
blog para a Revista Forum, ser um movimento que tinha como príncipio a liberdade como
valor “e que buscava ser não uma instituição, uma associação, mas um espaço livre para
articulações e para o fomento de iniciativas inspiradas na dinâmica do compartilhamento
e na construção da cultura do comum” (2009, online).
O sucesso da cobertura da Mídia NINJA em 2013 veio justamente do fato de
que, apesar de eles terem membros de sua própria equipe cobrindo o protesto,
fundamentalmente qualquer um que tivesse um celular e disposição para acompanhar
as manifestações podia ser um “ninja”. Lorenzotti diz, em seu livro (2014, p. 3), que o
que a inspirou a escrever sobre esse fenômeno da Mídia NINJA foi um tweet, que para
ela sintetizou precisamente as mudanças que estamos enfrentando nessa nova era da
comunicação. O tweet dizia: “Não precisamos de mídia partidarista, temos celulares”, e
foi isso que a cobertura dos ninjas trouxe: vídeos gravados pelo celular, sem cortes, sem
edição, direto do centro de cada um dos protestos, que mostravam de fato o que estava
acontecendo, flagravam violências policiais e de vândalos, assim como mostravam as
reivindicações e desejos dos manifestantes ali presentes.
45
Luis Soares, em seu blog no portal Pragmatismo Político, estimou que a cada
duas horas, a página do Facebook era atualizada com uma nova foto, vídeo ou relato,
enquanto que o canal PósTV transmitia continuamente “vídeos ao vivo e sem cortes de
debates e protestos” (2013, online). Foram eles que transmitiram a repressão desmedida
da polícia militar contra os manifestantes do dia 18 de junho, que depois acabou se
tornando o divisor de águas no apoio da mídia tradicional. No dia 22 de junho, dois
membros do coletivo, Filipe Peçanha e Filipe Gonçalves acabaram até sendo presos
enquanto cobriam as manifestações na frente do palácio do Guanabara. Peçanha
continuou transmitindo até chegar à delegacia, onde conseguiu captar um oficial dizendo
que “quem tivesse usando celular seria preso”. (LORENZOTTI, 2014, p. 17)
E o público da página também podia se envolver nessa cobertura, mandar
vídeos e fotos para os ninjas publicarem ou compartilharem, deixar comentários, dar
sugestões de locais para a cobertura, de pautas a serem abordadas. No dia 23 de junho,
a página da Mídia NINJA inclusive colocou um post pedindo para o público a ajudar na
cobertura dos protestos, que chamava por “fotógrafos, jornalistas cinegrafistas e
cidadãos a fim de entrar em nossas tropas, escrevam para [email protected]
dizendo de onde são e como podem ajudar. [...] Primeiro passo na formação de uma
rede de jornalismo independente antes do nosso site” (apud LORENZOTTI, 2014, p. 14).
Para o representante do grupo, Bruno Torturra, ainda em seu depoimento para o blog
Jornalismo nas Américas, até a checagem dos fatos passaria a ser feita por meio da
rede, pois “o repórter será cobrado em tempo real, porque ele verá as pessoas falando
enquanto transmite” (MAZZOTE, 2013, online).
Em suma, o que o movimento quer é “democratizar a produção de informação
e, com isso, informar melhor as pessoas para que tenhamos uma democracia cada vez
mais sólida, justa, integrada e próxima dos fatos” (ibid, online), ou seja, o que o coletivo
se propôs a fazer, e realizou, foi uma cobertura definida por uma restrição autoral e
tolerante, conforme definida por Sandano. Uma cobertura parcial, mas aberta às
subjetividades do “Outro”, e que, quando confrontada com fatos que desmentem ou
colocam em cheque aquilo em que se acreditava, se dispõe a reavaliar a própria opinião
para realizar uma cobertura que se assemelha o mais fortemente possível da realidade.
46
Além disso, como o “A” no nome NINJA representa, foi uma cobertura pautada pela ação,
porque, segundo Bruno Torturra “a gente não apenas cobre, mas também promove,
ocupa rua, faz aula pública, propõe pautas, a gente não se acanha de precisar ser o
protagonista da coisa” (apud LORENZOTTI, 2014, p. 14).
Para o professor do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura
(Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, Fábio Malini, é isso o que diferencia
a presença do jornalismo tradicional e do jornalismo ativista nas redes: Os perfis de
jornais clássicos até têm autoridade (capacidade de que suas notícias sejam
compartilhadas por muitas pessoas nas redes sociais), mas não têm centralidade.
A centralidade está com os ativistas. Porque a centralidade mensura a capacidade de um ‘nó’ (perfil) ser capaz de atrair conexões, distribuir conexões, ser ponte para outras pessoas, articular mundos. Coordenar uma ação. Não adianta você ser autoridade e estar isolado do mundo. (MALINI apud LORENZOTTI, 2014, p. 45)
O comentário, que surgiu baseado em uma pesquisa feita pela Folha de S.
Paulo em 2013 para provar que a cobertura da mídia tradicional havia sido mais relevante
nos protestos do que a das mídias alternativas, tinha o objetivo de argumentar que a
quantidade de compartilhamentos de uma publicação na rede social não significava que
aquela matéria havia sido a mais impactante, pois o jornal apenas publicava a notícia e
depois ficava olhando de longe, sem interferir, enquanto que eram as mídias ativistas
que articulavam o que fazer a partir dessa notícia, mas isso não quer dizer que a mídia
tradicional não tivesse valor. Conforme disse a professora Sylvia Moretzsohn, em
depoimento para a matéria de Luis Soares no Pragmatismo Político, o principal atributo
dos jornais continuava sendo a mediação.
Há um aumento brutal de fontes que querem se apresentar como informação, e é preciso selecionar tudo isso de forma muito mais criteriosa. Os jornalistas continuam tendo esse papel de mediação. Que credibilidade tem a internet, de forma geral? Posso publicar o que eu quiser e depois apagar, como indivíduo. Mas sempre há uma promessa de credibilidade no jornalismo, seja na forma de grandes empresas ou nas formas alternativas (MORETZSOHN apud SOARES, 2013, online)
47
No entanto, foi possível verificar que o surgimento e a grande relevância
alcançadas pela Mídia NINJA impactaram positivamente as mídias tradicionais durante
a segunda fase dos protestos. A partir do dia 18 “imagens produzidas por esse canal
alternativo eram usadas pela imprensa tradicional para juntar episódios esparsos aos
quais seus repórteres não tinham acesso, e construir novas narrativas sobre as
manifestações em outras cidades brasileiras” (MARTINS apud LORENZOTTI, 2014, p.
36). Os ninjas também se beneficiaram de lições do jornalismo tradicional, dizendo que
trariam “jornalistas experientes para essa conversa para entendermos no que erramos”
(TORTURRA apud MAZOTTE, online, 2013) após terem sido criticados por suas ações
em uma entrevista com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e também que incorporariam
técnicas de edição e contextualização de notícias e vídeos em seu site.
O que tivemos então, é que, durante a segunda metade das coberturas dos
protestos de 2013, se tornou verdade a definição de Cora Rónai de que “mídias que
convivem num mesmo espaço de tempo se complementam, se influenciam e se
transformam a partir desse convívio. Não existem mais — se é que alguma vez existiram
— áreas estanques ou impermeáveis no planeta comunicação” (2013, online).
Foi isso o que acabou tornando a cobertura dos protestos de 2013 realmente
autoral: quando os dois lados da mídia passaram a agir em conjunto, o discurso que se
formou por todos os lados foi um de tolerância e empatia, de investigação aprofundada
dos acontecimentos dos protestos e de disposição para mudar a própria opinião quando
o que ocorria na realidade acabou se mostrando diferente do que se pensava. Essa foi
uma realidade midiática que não seria possível sem a existência da Mídia NINJA, pois,
como vimos no capítulo anterior, a cobertura dos jornais tradicionais até então se apoiava
quase inteiramente no dogmatismo contra os protestos.
48
4. OS PROTESTOS DE MARÇO DE 2015
A insatisfação com o governo da presidente Dilma não é algo que surgiu de
uma hora para a outra. Os resultados da reeleição de 2014, divulgados, entre outros,
pelo portal UOL (DILMA, 2014, online), mostram que a vitória da presidente foi a mais
acirrada em um segundo turno desde a redemocratização. Com 51,64% dos votos para
Dilma e 48,36% para Aécio, a diferença foi apenas de 3,4 milhões de votos, sendo que,
antes disso, a vitória mais apertada havia sido em 1989, quando Collor ganhou de Lula
por uma diferença de 4 milhões de votos.
Desde a reeleição, no entanto, houve uma série de fatores que agravaram a
situação e levaram, finalmente, aos protestos. Em entrevista a Patricia Fachin, o
coordenador do Labic (Laboratório de Estudos de Imagem e Cibercultura), Fábio Malini,
delineou os motivos para ambos os protestos:
O caráter da manifestação do dia 15 é de contestação política em torno das medidas mais duras de ajuste do governo. Uma contestação pela sequência de medidas: aumento da tarifa de energia elétrica, aumento do preço da gasolina, dólar subindo e elevação de impostos (com pequeno surto inflacionário). São medidas que atingem, em cheio, as "classes que pagam imposto de renda". Isso se avoluma em função da confusão política em torno do conflito de Dilma com o Parlamento e as notícias escandalosas da corrupção de empreiteiros no caso Lava Jato. Já a manifestação do dia 13 funciona mais pelo seu oposto: dar sustentação às medidas do governo. Mas é importante destacar: essa conjugação de protestos se mistura aos primeiros levantes sociais associados ao aumento das tarifas urbanas de transporte. (FACHIN, 2015, online)
A organização dos protestos do dia 15 se deu, principalmente, por meio de
três movimentos: o Vem Pra Rua, o Movimento Brasil Livre e o Revoltados OnLine.
Segundo a jornalista Talita Abrantes, que traçou um panorama dos três grupos para a
revista Exame, “Em comum, está o fato de que eles usam as redes sociais para propagar
suas ideias e a oposição ao governo Dilma. Dos três principais, todos negam
envolvimento com qualquer partido político” (ABRANTES, 2015, online). Dentre os três
grupos, apenas o Vem Pra Rua não defende o impeachment da Dilma.
49
O grupo Vem Pra Rua foi um dos responsáveis por organizar os protestos
de junho de 2013. Em manifesto publicado em seu site, eles explicam que o movimento
se uniu à organização dos protestos do dia 15 “para nos juntarmos aos movimentos que
querem libertar o povo brasileiro deste modelo falido de governo. Estaremos sempre ao
lado de quem quer, de forma pacífica, democrática e constitucional, manifestar sua
indignação e mudar o Brasil” (VEM PRA RUA, 2015, online)
O Movimento Brasil Livre foi criado ano passado e esteve por trás dos
primeiros protestos contra a reeleição da presidente que ocorreram em novembro de
2014. Em seu manifesto, declaram “Lutamos e torcemos a favor do Brasil independente
de qual seja o governo. Não importa a cor ou sigla do timoneiro, estamos todos no
mesmo barco. Mas exigimos mudanças. Chega de corrupção, chega de impunidade.
Chega de desrespeito às instituições democráticas e ao império da lei” (MPL, 2014,
online)
Já o grupo Revoltados OnLine foi criado por Marcello Reis em 2010 e,
segundo Abrantes, “Com o discurso mais duro dos três principais movimentos e o
deputado Jair Bolsonaro (PP) como ícone, o Revoltados Online tem o impeachment da
presidente Dilma e do vice, Michel Temer, como sua principal bandeira” (ABRANTES,
2015, online).
Os protestos do dia 13, por outro lado, foram organizados pela CUT (Central
Única dos Trabalhadores), pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). Segundo a divulgação dos protestos
realizada pela revista Carta Capital “Os atos foram inicialmente convocados para
defender a Petrobras e criticar o ajuste fiscal anunciado por Dilma nos últimos meses.
Agora, os movimentos de esquerda também marcham em defesa da democracia – ou
contra o suposto golpe de impeachment – e da reforma política” (COMO FORAM, 2015,
online).
Cada um dos protestos recebeu a sua cota de apoio, apesar de o número
de participantes em cada um ter sido fonte de debates. Para os protestos do dia 13, a
50
PM falava em 12 mil participantes em São Paulo, enquanto os organizadores alegavam
terem sido 100 mil, segundo a Carta Capital (COMO FORAM, 2015, online). Já durante
o dia 15, a PM e os organizadores alegaram terem alcançado 1 milhão de pessoas na
avenida Paulista, enquanto o Data Folha registrou 210 mil participantes (DATA FOLHA,
online, 2015).
No entanto, o que mais gerou debate em torno dos protestos de março de
2015 foi a cobertura realizada por grande parte dos veículos de mídia. Segundo Luiz
Parise, diretor de jornalismo da TVT, em entrevista para Melissa Cirino, do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o que aconteceu foi que “o dia
15 contou com amplo apoio de jornalões, revistas, rádios e emissoras de TV que
perderam completamente a noção da ética jornalística e passaram a utilizar todo o
aparato tecnológico e seus articulistas para convocar a população para ir às ruas no
domingo” (CIRINO, 2015, online) enquanto os protestos do dia 13 teriam sido formados
livremente por movimentos sociais e sindicais.
De fato, os protestos do dia 15 tiveram um grande apoio de diversos
veículos de mídia. Em seu blog no site da Veja, por exemplo, Reinaldo Azevedo publicou
diversos posts com os horários das manifestações em diversas cidades e futuras
correções sempre que um dos grupos atrasava ou adiantava o horário por alguma
questão, publicou uma lista que circulava na internet com “Dicas que circulam na rede
para um domingo feliz” e no dia 15 fez um texto com a imagem “eu vou” e chamando
seus leitores para ir à manifestação também (2015, online). Na TV, se via a mesma
coisa. Segundo texto publicado no site O TV Foco por Fernando Nascimento e intitulado
“Emissoras interrompem programação para cobrir protestos contra Dilma”, a Globo
interrompeu diversas vezes o programa Esporte Espetacular para mostrar os protestos,
a Record o fez durante o Domingo Show, onde Reinaldo Gottino disse que os protestos
teriam “destaque especial na programação”, e o SBT também interrompeu o programa
Domingo Legal para fazer um resumo dos protestos (NASCIMENTO, 2015, online).
Mas parcialidade não exclui em princípio a objetividade, como vimos no
primeiro capítulo, e o que nos interessa para esse trabalho são as coberturas realizadas
51
pela Folha de S. Paulo e pela Mídia NINJA. Quanto a essa primeira, o jornalista Rodrigo
Savazoni, escrevendo para o Jornalistas Livres, declarou o mesmo que já havia sido
falado sobre grandes empresas de comunicação, que a cobertura havia sido parcial e
convocatória para os protestos do dia 15: “Comentava pela manhã com amigos sobre o
papel da mídia na organização do protesto deste domingo. Lendo os jornais tradicionais,
em específico a Folha e o Estado, isso era patente” (SAVAZONI, online, 2015). Uma
análise mais detalhada da cobertura da Folha de S. Paulo mostra se isso aconteceu ou
não.
4.1. A cobertura da Folha
Como já foi visto no primeiro capítulo desse trabalho, segundo a campanha
“O que a Folha pensa?”, o jornal é a favor de qualquer tipo de manifestação, sendo que
se manifestar é um direito que deve ser protegido, mas que “nem por isso pode ser
exercido sem nenhuma regra” (MANIFESTAÇÕES, online, 2015), mas de que forma
essa posição assumida quanto aos protestos de 2013 se revelou nos protestos de 2015?
A princípio, olhando sem muito aprofundamento para a cobertura realizada
pelo jornal em seu portal online, parece que as previsões de Savazoni estão corretas.
Em meio à cobertura, a Folha criou o especial “Protestos no Brasil” (ESPECIAL, 2015,
online), em que já na url conta uma história diferente, pois no endereço consta “protestos
15 de março”, ao invés de “no Brasil”. A página inicial do especial possui 4 links: o
primeiro intitulado “Mapa das manifestações” (ALENCAR, 2015, online) é justo e leva
para um mapa interativo com os locais de todas as manifestações de março, tanto as do
dia 15 quanto as do dia 13, o próximo link, “Veja como foi o ato de 15 de março”, é mais
direto e leva para uma matéria que faz um resumo dos atos que aconteceram em todo
o país nesse dia (PROTESTOS, 2015, online), o terceiro link “Organizadores” explica
quem são os grupos responsáveis por organizar os atos do dia 15, apenas,
redirecionando para a matéria “Grupos contra Dilma esperam levar 100 mil às ruas no
dia 15” (LIMA; MELLO; VETTORAZZO, 2015, online) , e o último link, “Panelaço”,
redireciona para a matéria que relatou os primeiros panelaços em resposta ao discurso
da presidente no dia 8 de março (DILMA, 2015, online). Não há, logo de cara, nenhuma
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referência aos protestos do dia 13, nem a suas motivações e desenrolar em nenhuma
das matérias base do especial.
O especial começa sua cobertura no dia 12 de março, um dia antes dos
primeiros protestos, e se estende até o mês de agosto. Para essa análise, no entanto,
nos focaremos apenas nas matérias publicadas entre os dias 12 e 18 de março, porque
esse período de tempo corresponde ao que as mídias independentes veicularam sobre
o assunto em suas páginas, além de nos permitir ter uma amostra das matérias
publicadas tanto antes e durante quanto depois de ambos os protestos.
Nesse período de uma semana, foram publicadas 134 matérias no especial
da Folha sobre os protestos de 2015. Dessas 134, a maior parte (50,7%) foi publicada
no dia 15, quando saíram 68 matérias (29 [21,6%] sobre os atos em sí, as outras sobre
assuntos relacionados: análises, declarações, desdobramentos dos protestos do dia 13,
etc), em segundo lugar vieram as matérias publicadas no dia 13, que foram 22 (16, 4%).
Depois, temos o dia 16, quando foram publicadas 17 (12,7%) matérias, pois foi nesse
dia que se deram os desdobramentos dos protestos.
Claramente havia uma certa parcialidade presente, mas, como vimos no
primeiro capítulo, parcialidade não necessariamente corresponde a uma falta de
objetividade e de empatia na cobertura. Ao ler as matérias publicadas durante aquela
semana percebemos que, diferentemente do que aconteceu com a cobertura inicial dos
protestos de 2013, onde apesar de 50 de 55 matérias aparentarem ser imparciais, 35
(63,6%) delas puderam ser claramente definidas como contra os protestos (configurando
um caso onde a restrição objetiva resvala para a restrição dogmática), percebemos que
na cobertura de 134 matérias dos protestos de 2015, dos 104 (77%) artigos que usaram
da restrição objetiva em sua construção, apenas 10 (7,4%) deles escondiam uma
declarada preferência por um dos lados, e uma dessas matérias inclusive defendia os
protestos do dia 13.
Essas 104 matérias são o que se espera de uma cobertura usual presente
nas hardnews de qualquer jornal, relatos dos protestos como as matérias do dia 13 “Ato
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da CUT em São Paulo teve 41 mil participantes, segundo Datafolha” (MENDONÇA,
2015, online) e “Atos rejeitam impeachment, mas criticam governo Dilma” (ATOS, 2015,
online) ou as do dia 15 “Milhares se reúnem em Copacabana em protesto contra o
governo Dilma” (BRISOLLA, 2015, online) e “Manifestantes já se reúnem na Paulista,
em São Paulo” (MANIFESTANTES, 2015, online), relatos de falas de membros do
governo, tanto contra ou a favor do que é pedido nos protestos, mas sem realizar um
juízo de valor próprio do jornal, como as matérias do dia 15 “Tamanho dos protestos
surpreende governo, que os considera 'significativos'” (CRUZ; DIAS, 2015, online) e
“Petistas se assustam e ministros de Dilma chamam protesto de '3º turno'” (NERY, 2015,
online), ou contando sobre assuntos relacionados aos protestos, mas que não seja
diretamente sobre eles, como a matéria do dia 15 intitulada “Empresários lucram com
polarização política” (DINIZ, 2015, online), que falou sobre os ganhos dos empresários
que estavam vendendo camisetas, broches e afins para os manifestantes dos dias 13 e
15.
Também foi possível identificar 15 (11,2% das 134) matérias que, sem
disfarce, foram construídas com base em uma restrição dogmática. Dessas, 10 (66,6%)
apoiavam os movimentos do dia 15 e 5 (33,3%) apoiavam os movimentos do dia 13.
Durante os dias 12, 13 e 14, nenhuma das notícias divulgadas no especial
que se encaixam no padrão da restrição dogmática foram em defesa dos atos do dia 15.
Pelo contrário, foi onde estavam presentes as 5 matérias em defesa dos atos do dia 13.
A primeira delas, publicada no dia 12, foi “Em vídeo, Rui Falcão recomenda que petistas
não abaixem a cabeça” (SEABRA, 2015, online), em que o jornal reproduziu e
transcreveu na matéria parte do vídeo em que o presidente do PT efetivamente chama
os apoiadores do partido para o protesto, além de chamar todos os organizadores e
futuros participantes do ato do dia 15 de incitadores “da violência, de ódio, intolerância,
golpismo e antidemocracia”. As próximas matérias “Líder do MST diz que ato não fará
defesa da presidente” (BERTONI), 2015, online) e “Movimentos criticam governo e
aumentam pressão sobre Dilma” (BERTONI; ROLLI; SPERB, 2015, online) foram
novamente construídas em torno da transcrição de um vídeo convocando para os atos
do dia 13, desta vez do líder do MST, João Pedro Stedile, que declarou que os atos do
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dia 13 eram uma defesa da democracia, enquanto que os do dia 15 eram um golpe de
“elites que criam um cenário de instabilidade política para que o governo se sinta acuado
e implante o programa de ajuste neoliberal que é a pauta deles”.
As próximas duas são matérias publicadas um dia depois dos protestos,
uma com um vídeo da manifestação de SP e a outra com relato de um dos protestos e
uma galeria de fotos. Essa última é mais direta e tem o título de “Em atos pró-governo,
grupos chamam opositores de 'golpistas'” (EM ATOS, 2015, online). A matéria em vídeo
faz um giro pelas cidades das manifestações do dia 13, enaltecendo os participantes e
novamente com pessoas se referindo aos manifestantes do dia 15 simplemente como
“golpistas”. Nenhuma das matérias apresenta o lado ou as outras reivindicações dos
manifestantes do dia 15, questiona o rótulo de golpista ou explica o que a lei define ou
não sobre o impeachment.
Nesse período houve, no entanto, duas das matérias dogmáticas se
passando por objetivas em prol dos atos do dia 15. A matéria “Famosos publicam vídeos
chamando para os protestos de março de 2015” (FAMOSOS, 2015, online), apesar do
nome, só menciona os atos do dia 15 e, sob a aparência de só relatar os atos dos
famosos, acaba repassando a convocação para o ato. Da mesma forma a matéria
“Movimento convoca manifestações para o exterior” (LIMA, 2015, online), além de relatar
que o Movimento Passe Livre estava fazendo campanha para brasileiros no exterior
aderirem aos protestos, traz a lista com os horários e locais de cada um.
O jornal também veiculou uma matéria transcrevendo o vídeo que Aécio
Neves fez chamando para os protestos do dia 15 (GUERREIRO, 2015, online). No
entanto, como no texto não havia nenhum ataque aos participantes do dia 13 e focava
na legitimidade das manifestações, além de na opção de líderes do PSDB como Aécio
e Geraldo Alckmin de se manter afastados dos protestos, decidimos considerar essa
matéria como pertencente à restrição objetiva, apenas um relato do que o presidente
havia falado, sem juízos de valor.
55
Quanto às 10 matérias dogmáticas em prol dos protestos do dia 15, duas
eram colocações sobre a demografia das pessoas presentes no protesto. Uma delas, a
“Sou negro, pobre e estou pedindo a saída da Dilma” (2015, online) até tenta um
exercício de dialogismo ao colocar a visão dessas pessoas que destoavam da maioria
dos participantes do protesto sobre porque eles estavam ali. Mas o gesto se torna
dogmático pela falta de contexto para as reivindicações dessas pessoas, por não dizer
que essas pessoas estavam presentes sim, mas em menor quantidade (pois até mesmo
o próprio levantamento do jornal concluiu que a grande maioria dos participantes era de
classe média) e por não apresentar o lado das pessoas dessas classes que eram contra
o protesto. Um dos entrevistados, Fernando Silva, que se tornou símbolo por estar
discursando no carro do MBL, afirma “Existe um sentimento de que só os ricos querem
ela fora. Mas muitos pobres querem. O povo quer” (SOU NEGRO, online, 2015), mas o
jornal não apresenta dados nem que comprovem ou que refutem essa fala. Tudo isso
tenta criar uma imagem irreal e determinista e, portanto, dogmática, da presença dessas
pessoas no protesto. Além disso, a mera colagem de falas dos entrevistados, com um
contexto mínimo de suas histórias e motivações não compõe uma abordagem autoral.
Outras duas matérias, publicadas no dia 15, podem ser consideradas como
dogmáticas pois se enquadram na mesma lógica de ser um depoimento chamando as
pessoas para o protesto que encontramos nos dias 12 e 13. A primeira “Em vídeo, Aécio
comemora protestos e pede para o povo 'não se dispersar'” (GUERREIRO, 2015, online),
como o próprio nome diz, traz um apelo do senador Aécio para manter o povo nas ruas
nesse dia, pois esse seria o dia da democracia, em contrapartida ao dia 13; e a segunda
“Símbolo dos protestos pós-eleição, Lobão reaparece na avenida Paulista” (RABIN
2015, online), faz a mesma coisa, só que com uma fala do cantor, que chama os
protestos de “redenção do povo brasileiro”.
Outras duas matérias, publicadas à noite depois dos protestos, também
enaltecem os eventos do dia sem fazer um contraponto ou sequer mencionar os
protestos do dia 13. Em uma delas “Oposição comemora adesão às manifestações
contra o governo Dilma” (GUERREIRO, 2015, online) é dito que “A avaliação dos
oposicionistas é que os atos enfraquecem o governo federal e a presidente Dilma
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Rousseff e, como consequência, fortalecem as siglas contrárias ao PT e ao Palácio do
Planalto”, e o tom da matéria leva isso como se fosse uma coisa boa, sem explicar o que
isso significa ou não para a política e o futuro do país. Além disso, são mostrados
depoimentos de membros de diversos partidos a favor dos atos, mas nenhum de
representantes do PT, que segundo a matéria “evitaram comentar os protestos deste
domingo, mas o PT mobilizou as redes sociais para rebater os atos”, o que coloca o PT
como vilão, sendo o único partido contra o protesto.
Outras três se encaixam na categoria por mostrar medidas na cobertura
desse protesto que o jornal não tomou com o do dia 13, como divulgar vídeos mandados
pelos internautas (VÍDEOS, 2015, online), mostrar a repercussão internacional através
de matérias em jornais, revistas e sites de jornais estrangeiros (MANIFESTAÇÕES,
2015, online) e dizer que os organizadores desse protesto estavam planejando novas
manifestações para abril (AMORA; MAGALHÃES; VALENTE, 2015, online). É
importante ressaltar, no entanto, que em algumas outras medidas a Folha foi igualitária
com os protestos: nos dois dias foram feitos acompanhamentos ao vivo dos protestos
durante o dia inteiro, nos dois dias foram feitas galerias de fotos e vídeos dos protestos
e nos dois dias foi pedido aos leitores que contribuíssem com o jornal mandando suas
fotos, vídeos e relatos.
A última notícia dogmática era uma matéria sobre os panelaços durante o
discurso dos ministros Miguel Rosetto e José Eduardo Cardozo no dia 15 (GOVERNO,
2015, online), mostrando só o lado de quem é a favor dos panelaços, assim como uma
lista completa de todos os locais em que a manifestação ocorreu.
Das 10 matérias que, apesar de terem uma restrição objetiva, resvalam
para a dogmática, destacamos duas além das que já mencionamos anteriormente, a
publicação “No 3º mês do novo mandato, 62% desaprovam Dilma” (MENDONÇA, 2015,
online) e a publicação “Stedile diz que Levy é 'capitalista infiltrado' no governo Dilma”
(VETTORAZZO, 2015, online). A primeira traz um levantamento da pesquisa que o
Datafolha fez sobre a popularidade da presidente e sua aprovação entre a população,
no entanto, a pesquisa só foi feita com 2842 eleitores no Brasil inteiro e “logo após as
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manifestações de domingo, atos contra Dilma que levaram milhares às ruas”
(MENDONÇA, 2015, online) momento em que claramente os ânimos estavam exaltados
contra a presidente e que, juntamente com a amostragem pequena e não detalhada
(quem foram essas pessoas entrevistadas?), indica uma intenção em mostrar números
negativos contra a presidente por baixo da ideia da pesquisa neutra. Já a segunda
esconde uma defesa do movimento do dia 13 e do PT, ao trazer, sem contexto,
explicação ou refutação, uma fala do líder do MST durante os protestos do dia 13, onde
ele diz que o problema do governo é culpa de capitalistas “infiltrados” como o Ministro
Joaquim Levy, e que os petistas não estão ligados à corrupção da Petrobras, que teria
sido causada por “meia dúzia de pessoas” (VETTORAZZO, 2015, online).
Durante essa semana da cobertura dos protestos foram essas as 25
matérias que, sem usar de um mínimo de empatia ou de mente aberta, foram escritas
com base numa restrição dogmática. Não seria, a princípio, a total perda de noção de
ética para chamar o povo para os protestos do dia 15 que o diretor da TVT, Luiz Parise,
havia visto nos “jornalões” (CIRINO, 2015, online).
Mas o fato de essas matérias dogmáticas serem uma vasta minoria ante as
104 matérias com restrição objetiva, apesar de demonstrar um avanço na forma como a
Folha realiza suas coberturas parciais, se comparada com a cobertura dos protestos de
2013, não qualifica, necessariamente, uma boa cobertura. A restrição objetiva é apenas
o segundo nível na construção de uma narrativa jornalística plural, conforme definida por
Sandano. É a deontologia, a tentativa de submeter a realidade a normas técnicas que
fariam da notícia um “espelho” da realidade.
Grande parte dessas notícias são apenas relatos dos protestos nas
diferentes cidades, relatos das medidas que a presidente Dilma anunciou em resposta a
eles ou transcrições do que diferentes políticos disseram antes ou depois de cada
protesto. Se no dia 13 temos a matéria “Bolsonaro apresenta à câmara pedido de
impeachment de Dilma Roussef” (FALCÃO; GUERREIRO, 2015, online), seguida da
matéria “Impeachment de Dilma é inviável e impensável, diz vice Michel temer”
(PEIXOTO, 2015, online), isso não é uma revisão crítica dos próprios paradigmas, que
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classificaria uma cobertura tolerante, mas apenas a materialização do conceito de
fairness: mostrar um lado e depois o outro. Ou, conforme disse Dines, é simplesmente
uma “alternância de parcialidades” (2014, online).
Não há explicação de contexto, nem real interesse em entender ou explicar
as propostas de nenhum dos lados, avaliar quais as consequências de cada uma delas
para o país ou para a população ou de realmente trazer a subjetividade dos diversos
grupos e personagens abordados nas matérias. Apesar dos comentários dos leitores em
cada uma das matérias serem muitos e da Folha abrir espaço para os leitores mandarem
seus vídeos, fotos e relatos, não há diálogo com o jornal e nem do jornal com as
necessidades do público. É o jornalismo participativo, com o jornal regulando a agenda
e os participantes da conversa.
Temos, é claro, alguns exemplos que fogem à regra. Uma matéria do dia
15 intitulada “Tucanos e petistas agora têm opiniões diferentes ao falar de impeachment”
(LIMA, 2015, online), faz um início de explicação histórica, mostrando que durante a
eleição de FHC, os papeis estavam invertidos, com Lula e o PT comandando o pedido
de impeachment e sendo chamados de golpistas. Mas a matéria para por aí. Não
desenvolve a explicação nem faz uma análise do que isso significa.
A mesma coisa acontece com as matérias do dia 18 “Para 60%, situação
da economia vai piorar” (PARA 60%, 2015, online) e “Multa máxima da Lei Anticorrupção
só será para casos de reincidência” (MOTTA, 2015, online). A primeira traz um
levantamento de que 60% da população brasileira acha que a situação econômica e o
desemprego vão piorar e até traz os motivos que levam a isso, mas não trazem as
propostas econômicas do governo para melhorar a situação e analisam seus méritos ou
não baseados na realidade do país para tentar avaliar se será isso mesmo que irá
acontecer. A segunda traz uma explicação completa da lei anti-corrupção proposta pela
presidente Dilma, mas também é só um relato descritivo. Assim, matérias que tinham o
potencial de ser autorais (IV) acabam ficando somente como objetivas (II).
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Podemos destacar, no entanto, uma matéria, que é a que mais se aproxima
de realizar uma cobertura autoral e tolerante. É um artigo cujo foco principal é a
presidente Dilma, não suas decisões ou seus problemas, mas a sua pessoa, seus
sentimentos e sua subjetividade. A matéria intitulada “Durante a crise, presidente fica
mais solitária e reflexiva” (NERY; SADI, 2015, online), começa dizendo que a presidente
vem sofrendo uma metamorfose nos últimos tempos, que não era mais a “censora das
planilhas eletrônicas, que reclamava até da cor do layout da apresentação”, mas isso
não é uma crítica, pois a matéria continua:
A tentação à disposição do observador distante é a de ver nisso uma capitulação emocional à crise que engolfou o governo. [...] Mas os próximos de Dilma veem na presidente uma fase nova – mais leve, não só pelos 13 quilos que perdeu fazendo dieta, mas também no humor. As proverbiais broncas e os palavrões foram substituídos, recentemente, por relatos de amabilidades (NERY; SADI, 2015, online).
A construção do artigo mostra não só uma extensa pesquisa dentro do
Palácio do Planalto, falando com diversas pessoas chegadas à Dilma, mas também uma
visão muito diferente do que o que se costuma encontrar nas páginas de um jornal diário,
pois baseia-se na subjetividade da presidente para explicar questões de cunho mais
prático: suas discussões com Lula, sua decisão de colocar Levy como ministro da
Fazenda e sua aproximação de Mercadante. A sensibilidade da matéria e o esforço de
apresentar a situação pelos olhos da presidente Dilma a aproximam de uma matéria
tolerante (IV).
Apesar desse potencial desperdiçado, a cobertura da Folha chegou até a
contar com 14 (10, 4%) matérias regidas pela restrição subjetiva (III).
Quatro dos textos feitos com a restrição subjetiva são de Nelson de Sá,
antigo colunista da Folha. Neles, ele aborda criticamente a cobertura que as outras
mídias, principalmente a televisão, realizaram do protesto. Por exemplo, no texto “Com
'gente pra caramba', cobertura de protestos abre guerra de números”, Nelson aponta o
fato de que grande parte das emissoras só repercutiu o número de manifestantes dado
pela polícia militar, 12 mil, que “Era um novo número da PM, que a Band, assim como o
SBT depois, assumiu como fato, sem citar a origem” (SÁ, 2015 online). Já em “Na TV,
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‘Fora Dilma’ ganha ares de Diretas Já e Parada Gay”, critica o ar de festa que a cobertura
da Globo dava ao evento, reproduzindo as estimativas da PM sem checagem, pois,
segundo ele “na Globo, assim, para além de qualquer número, ‘quase toda a Paulista
está tomada, nos dois sentidos’” (idem, 2015, online). Em seu último texto, “Cobertura
‘cobra humildade’ e governadores ‘tentam ganhar tempo’” (idem, 2015, online) mostrou
o quanto a rede Globo havia se envolvido para mobilizar o governo para sua agenda ao
repercutir que durante a programação televisiva, apresentadores como Faustão diziam
que o governo deveria reagir com humildade aos protestos, o que, aparentemente,
segundo a análise da Globo sobre sua própria cobertura, não fizeram, e isso justificou o
panelaço que se seguiu.
Outros 6 textos eram entrevistas extensivas, uma com um historiador
(FERRAZ, 2015, online), outra com uma cientista política (idem, 2015, online), outra com
a líder dos lojistas dos Jardins, que havia se envolvido diretamente na campanha
(BALAGO, 2015, online), e as outras três são entrevistas com membros do governo
aliados à Dilma: o ministro das Comunicações, Ricardo Bezoini (NERY, 2015, online), o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (CARVALHO, 2015, online), e novamente o
Vice Michel Temer (VETTORAZZO, 2015, online). Nessas entrevistas, o jornal dá aos
membros do governo a chance de explicar suas decisões e posições. Por exemplo, na
entrevista com Cardozo (CARVALHO, 2015 online), o repórter pergunta sobre o pacote
anticorrupção, que já havia sido prometido em 2014, e por que ele demorou tanto, dando
assim ao ministro chance de defender e explicar a medida, ao mesmo tempo que cobra
os interesses da população, valorizando, dessa forma, todas as vozes existentes dentro
desse conflito em torno da crise política.
Essas entrevistas buscaram jogar luz não só nos acontecimentos dos
protestos, como no seu histórico e nos seus desdobramentos. O historiador José Murilo
de Carvalho, por exemplo, avaliou que no Brasil é usual um governo distruir o que o
outro fez, pois “tudo gira em torno de consequências imediatas, em geral eleitorais. É o
imediatismo oportunista” (FERRAZ, 2015, online), além de reiterar que o projeto do PT
de inclusão social é inegociável, apesar de achar que o partido já não tem mais condição
de ser seu postador. Já a cientista política Argelina Figueiredo trouxe a inversão de
61
papeis entre o PT e PSDB que ocorreu de 1999 para cá (e que havia sido mencionada
na matéria da Folha, superficialmente), além de oferecer contexto para o impeachment
ao dizer que “A articulação política está malfeita e há radicalização, mas é positivo o
PSDB dizer que não há razão para o impeachment. O impeachment é um recurso
legítimo no presidencialismo, mas não deve ser banalizado. Esse processo não é bom
para ninguém, nem para a oposição” (idem, 2015, online).
Os outros textos, de colunistas e diretores da Folha, trazem luz e explicação
para outros pontos de debate, como se o movimento desfavorável a Dilma é realmente
algo só da elite, ou não, como visto na matéria “Análise: Insatisfação também aumenta
em redutos petistas tradicionais”, (JANONI; PAULINO, 2015, online), ou sobre a validade
dos projetos propostos pelo governo e sua chance de sucesso, além de expor a
complexidade dos problemas dentro do governo, já que, conforme explica o texto de Igor
Gielow, diretor da sucursal da Folha em Brasília, “todos os fatores confluem para uma
única e grande confusão. Economia, ajuste, apoio no Congresso, PMDB rebelde, Lava
Jato, desaprovação recorde e protestos nas ruas – fora o impacto ainda não estimado
de atos como o do MTST desta quarta” (GIELOW, 2015, online) e, isso faz com que o
governo não consiga formular um plano de ataque que dialogue com todas essas
variáveis interligadas.
A análise de Vera Magalhães parabeniza a presidente Dilma por não cair
no mesmo erro do PT de minimizar e ironizar os protestos e cita que desde a tarde de
domingo ministros já vinham dizendo que “não era possível minimizar os protestos, nem
vinha ao caso contestar números, pois eles seriam sempre pelo menos na casa das
centenas de milhares, dois meses depois da posse da presidente” (MAGALHÃES, 2015,
online).
O último texto é um desabafo de um senador petista da Bahia, Walter
Pinheiro, que estava inconformado com a forma como o governo estava lidando com os
protestos e fez uma análise, emocional, mas ainda assim acertada, de qual era o
problema na relação do governo com a população, onde disse que “o conteúdo está
errado, não é só comunicação. Se meu conteúdo estiver errado, não chegará do outro
62
lado. Porque eu não estou falando a língua do povo” e “o governo precisa "auscultar" o
sentimento das ruas e não ficar se perdendo em teses erradas. Só porque votaram no
Aécio? Não é esse negocio de classe média, alta, 10 mil, 10 milhões. Objetivo do
governo não é falar só para os seus” (NERY, 2015, online).
Todos esses textos saem do simples factual e trazem uma análise da
situação, e ainda que essas análises estejam limitadas pela visão de mundo de quem
fala, elas ajudam os leitores a ter uma dimensão melhor de todos os lados da questão e
geram empatia. É importante que leitores contra Dilma se interem de que a situação do
governo e da presidente não é tão fácil de se lidar quanto uma simples troca e
reconhecam que ela está tomando medidas acertadas, assim como é importante que
leitores cuja defesa ferrenha do PT os deixa cegos parem para pensar que os protestos
vão muito além de uma classe média privilegiada e golpista e que o governo não serve
apenas para atender uma classe da sociedade. Esses textos geram empatia e fomentam
tolerância, mas ainda assim é uma visão que atinge apenas aos leitores e não mostra a
empatia no próprio jornal.
Um último ponto que vale destacar sobre a cobertura da Folha se relaciona
com algo que foi a maior crítica da mídia independente contra a cobertura tradicional: a
de que estes últimos haviam omitido os lados ruins do protesto do dia 15, como as
violências e os grupos que pediam por intervenção militar, conforme resumiu a jornalista
Larissa Gould, do coletivo Jornalistas Livres, em entrevista para Daniella Franco, da RFI:
“houve violências, agressões, bandeiras de partidos sendo rasgadas. Mas só o que se
viu, principalmente na televisão, foi a grande festa da democracia e a insatisfação plena
contra o governo" (FRANCO, 2015, online).
No que tange à cobertura da Folha, pelo menos, isso não aconteceu. Em
todas as matérias que relatam os protestos eles contam sobre os grupos minoritários
que pediam pela intervenção militar. Inclusive uma das matérias do dia 15 se chama
“Protestos em 17 estados pedem de impeachment a intervenção militar” (PROTESTOS,
2015, online), e até mesmo na matéria que tratava dos manifestantes em Nova York, a
Folha relatou que havia gente pedindo pela ditadura militar, pois duas pessoas lá
63
seguravam uma faixa que dizia “Intervenção Militar Já!” (VALLONE, 2015, online). Nas
galerias de fotos dos protestos também é claramente mostrado que há algumas pessoas
com faixas pedindo a intervenção militar.
O jornal também não se esquivou de mostrar os casos de violência, com
matérias como “Homem com camiseta de foice e martelo é hostilizado em Copacabana”
(GUTIERREZ, 2015, online), que inclusive traz o vídeo da ocorrência, e “Grupo atira
rojões em manifestantes durante ato na avenida Paulista, em SP” (BERGAMIN JR;
SOUZA, 2015, online). Ou ainda mencionando, na matéria sobre o protesto de Brasília
(AMORA; MAGALHÃES; VALENTE, 2015, online), não só que um homem com cartaz
em apoio a Dilma foi hostilizado e teve que ser escoltado pela PM, mas também que os
PMs entraram em confronto com os manifestantes e atiraram gás de pimenta e bombas
de efeito moral.
Com isso já conseguimos evidenciar a diferença nas coberturas da Folha
entre 2013 e agora. Enquanto que, na cobertura de 2013, tanto as pautas quanto as
matérias eram produzidas de forma a serem fechadas e dogmáticas, enquadrando os
protestos sob um ponto exclusivamente negativo, em 2015, apesar de o jornal ter se
proposto a mostrar “o que pensa” e ainda assim mostrar opiniões divergentes, o que
temos é uma cobertura que, apesar de não ser dogmática, também não é aberta. O
jornal não declarou abertamente a sua posição contra o governo do PT, mas isso fica
claro em suas escolhas editoriais e de pauta, no fato de o “Especial protestos de março”,
ser, na realidade, um “Especial protestos do dia 15”. No entanto, a abordagem, a
cobertura em sí, ainda está presa à deontologia, a uma tentativa de manter uma
cobertura isenta e “imparcial”.
Se antes o tecnicismo nas matérias escondia uma manipulação, agora o
que temos é o tecnicismo puro, mas esse é um resultado que tende a fortalecer as
campanhas contra o governo, pois, apesar da cobertura não se apresentar dogmática,
o veículo em sí adota uma posição restrita, que não dá a si mesmo e aos leitores a
chance de aprender com o outro e rever seus próprios paradigmas.
64
Em uma matéria publicada pela Mídia NINJA em seu site em 2014 chamada
“A Mídia NINJA tem lado”, eles afirmaram que os grandes jornais trabalhavam para
criminalizar a política e afastar a população de seu exercício.
Diferente da mídia corporativa, somos mídiativistas, atuamos de modo colaborativo e em rede. Nunca endossamos o discurso da "imparcialidade" porque sabemos que a hipocrisia é uma forma de corrupção comumente encontrada nos jornais e TVs do Brasil. A mídia que tem dono também tem lado, apesar da imensa maioria não assumir e tentar vender a ideia de um jornalismo neutro, livre de opinião. O que falta no jornalismo da imensa maioria dos veículos é ética. Basta ler suas manchetes para constatar. (A MÍDIA, online, 2014)
Com sua campanha, a Folha parou de endossar o discurso da
imparcialidade e assumiu o compromisso de sempre publicar opiniões divergentes
independente disso. Dessa forma, houve uma tentativa de aproximação do jornalismo
tradicional ao ideal midiativista, de engajamento da população, mas que encontrou uma
resistência no antigo papel do jornal como o mediador e centralizador da produção
noticiosa. Sem saber como incorporar essas opiniões divergentes para seu próprio
crescimento, o que a Folha tentou configurar como uma inovação acabou sendo apenas
um retorno aos ideais básicos do jornalismo, conforme descritos por Traquina.
4.2. A cobertura da Mídia NINJA
Do outro lado, temos a cobertura das mídias alternativas e ativistas. A Mídia
NINJA, de que já falamos no capítulo 2, e o grupo Jornalistas Livres, criado no dia 12 de
março por membros da Mídia NINJA em conjunto com outros jornalistas, justamente para
cobrir os protestos do dia 13 e subsequentes e para, segundo o grupo em sua página do
site de financiamento coletivo Catarse, “enfrentar a escalada da narrativa de ódio,
antidemocrática e de permanente desrespeito aos direitos humanos e sociais, em grande
parte apoiada pela mídia tradicional” (JORNALISTAS LIVRES, 2015, online), realizaram
uma cobertura conjunta do protesto, reaproveitando textos e vídeos de um e outro em
seus sites e redes sociais e, por isso, vamos analisar ambas as coberturas.
No texto “A Mídia NINJA tem lado” já citado anteriormente, os membros da
Mídia NINJA declaram o seu apoio à reeleição da presedente Dilma Roussef, pois seu
projeto seria um “ponto de partida para avançar rumo à democratização dos meios de
65
comunicação, à reforma política, à desmilitarização da PM, à mobilidade urbana plena
[...] e por fim, a uma compreensão renovada das necessidades socioambientais do
século 21” (A MÍDIA, 2014, online) além de criticarem as coberturas das mídias
tradicionais porque “basta ver como essas empresas tentam substituir a justiça, em sua
função de julgar e condenar, para ver que se trata de uma privatização do próprio
interesse público, que é a função social primordial de qualquer comunicação
democrática” (ibid, 2014). Os Jornalistas Livres reiteram essa posição em seu manifesto
ao dizer que “nos opomos aos estratagemas da tradicional indústria jornalística
(multi)nacional, que, antidemocrática por natureza, despreza o espírito jornalístico em
favor de mal-disfarçados interesses empresariais e ideológicos, comerciais e privados,
corporativos e corporativistas” (NÓS SOMOS, 2015, online).
A Mídia NINJA e os Jornalistas Livres, como mídias ativistas, assumem o
seu lado, enquanto se dispõem a defender o “verdadeiro interesse público”. No entanto,
diferentemente da Folha e dos jornais tradicionais, essa tomada de posição não está
acompanhada por nenhuma obrigatoriedade de mostrar quaisquer opiniões divergentes.
No total, a Mídia NINJA fez 37 menções aos protestos, 17 (46%) com posts
em sua página do Facebook, 16 (43,2%) com vídeos ao vivo em seu canal do Twitcasting
e 4 (10,8%) com textos em seu site. Dessas 37 matérias, 19 (51,3%) podem ser
enquadradas como casos de restrição dogmática.
A primeira referência dos ninjas aos protestos é uma charge publicada em
sua página no dia 09/13 intitulada “Sobre coxinhas e panelas” (SOBRE, 2015, online),
que mostra uma coxinha raivosa batendo numa panela, enquanto ao mesmo tempo
estava fritando dentro de uma frigideira gourmet com um solo seco, uma referência à
crise hídrica de São Paulo. A charge é uma crítica aos panelaços e aos opositores do
governo Dilma, que receberam o apelido de “coxinhas” e se configura dogmática primeiro
por usar o termo “coxinha”, que por sí só já é usado para englobar qualquer pessoa com
visões políticas contrárias ao PT e às da esquerda em geral, sem levar em conta suas
individualidades, e segundo por levar à ideia que qualquer pessoa se manifestando
66
contra o governo Dilma é apenas um “coxinha” de elite raivoso, que não deve ser levado
à sério.
Os posts do Facebook no dia 13 foram em sua maioria objetivos, apenas
relatos, vídeos e fotos dos protestos, como um vídeo gravado do alto de um prédio da
Paulista que mostra os manifestantes passando (50 MIL, 2015, online). A exceção é a
última postagem, que era outra charge, dessa vez mostrando o apresentador do Jornal
Nacional, William Bonner, com um uniforme militar e a legenda #GloboGolpista (BOA
NOITE, 2015, online). Nesse dia, tanto a Mídia NINJA de São Paulo (LIVE MÍDIA, 2015,
online) quanto a do Rio (LIVE PÓSTV, 2015, online) fizeram coberturas ao vivo dos
protestos nas respectivas cidades, que foram publicadas em seus canais na Twitcasting,
e foram publicados dois textos no site Ninja Oximity. Os vídeos são objetivos, gravações
sem corte das manifestações. Os textos, no entanto, apresentam uma configuração
dogmática.
O primeiro deles “Sexta-feira 13: dia de terror para os poderosos”,
republicado dos Jornalistas Livres, descreve os protestos do dia 13 como um “ato de
luta” e uma festa de onde, apesar da chuva “ninguém arredou o pé” (SEXTA-FEIRA,
2015, online) para lutar pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores. Os
participantes dos atos do dia 15, pelo contrário, seriam uma elite golpista.O repórter
chega até a escrever que “a hashtag #globogolpista foi a campeã de citações no twitter,
comprovando que até mesmo na guerra virtual, a esquerda retomou a iniciativa” (ibid,
2015) ou seja, dizendo que não só havia uma guerra, como os participantes do dia 13
eram quem estavam com a razão e seriam vitoriosos.
O outro texto “Dia Nacional de Lutas: É aqui que a gente constrói a
democracia” (VIDAL, 2015, online), segue a mesma linha. Começa citando 100 mil
participantes nos protestos “em cada cidade” apesar de o de São Paulo, o maior deles,
ter contado com 41 mil pessoas, segundo o DataFolha, e continua, através de um texto
e de um vídeo, enaltecendo os participantes dos atos do dia 13, enquanto os do dia 15
seriam uma “burguesia golpista”. O texto chega até a dizer que “ grande mídia ganhou
adjetivos de mídia golpista por partes dos manifestantes, que afirmam que o discurso de
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ódio promovido contra a esquerda e pelos movimentos sociais vem produzindo mentiras
e provocando alienação em uma parcela da sociedade” (ibid, 2015, online), o que,
mesmo que fosse verdade (e nós vimos na análise anterior sobre a cobertura da Folha
que não é exatamente assim) deixa de fora a existência do discurso de ódio e alienação
promovido igualmente contra a direita e os manifestantes do dia 15 pelos membros do
movimento do dia 13 e que é, inclusive, reproduzido pelo próprio texto.
Nas produções do dia 15, o dogmatismo fica mais evidente. Não há, no
Facebook, cobertura dos protestos como houve no dia 13, o que há é a reprodução de
vídeos de casos isolados: uma turma expulsando um homem com camiseta do PT do
protesto do Rio (NAS AREIAS, 2015, online), uma única senhorinha que diz que ninguém
trabalha no nordeste por causa do Bolsa Família (PRECONCEITO, 2015, online), e um
vídeo cuja legenda diz que “Manifestantes pedem a volta da ditadura militar no Brasil”,
enquanto o vídeo em sí só mostra uma mulher que diz apenas que nasceu em 64 e que
era criança na época e por isso não sabia o que estava acontecendo (NASCI, 2015,
online), como se eles representassem a totalidade do movimento.
Um outro post, compartilhado dos Jornalistas Livres, diz que, para os
manifestantes, a culpa da Dilma era ser mulher, o que indicaria que os manifestantes do
dia 15 eram, além de golpistas, sexistas (CULPA, 2015, online). No entanto, o vídeo
mostra um único trio de amigos, segurando um cartaz em que dizem que “para namorar
a presidente é preciso estar bêbado”.
No dia seguinte, um vídeo de recapitulação que visava mostrar “quem
eram” os participantes do protesto de Copacabana, além de repetir os mesmos
depoimentos da velhinha, da mulher que nasceu em 64 e da turma que expulsou o
homem de vermelho, mostra apenas depoimentos de outras pessoas a favor da
intervenção militar, caracterizando o que era apenas um grupo pequeno dentro do
protesto como o maior expoente deste (FILHOS, 2015, online).
68
No Twitcasting de São Paulo, temos até 6 vídeos cobrindo a manifestação
do dia 15 (LIVE MÍDIA, 2015, online). No entanto, não há nada na página da Mídia NINJA
do Rio, apesar dos protestos do dia 13 terem rendido 6 vídeos.
Os textos da página Ninja Oximity também são dogmáticos, o primeiro deles
já começa com o título “O 15M do mal” (TARGINO, 2015, online), e passa a descrever
todos os participantes dos protestos do dia 15 (ou “Coxinhaço do dia 15”, como o autor
se refere) como preconceituosos, racistas, machistas, homofóbicos, xenofóbicos e
intolerantes, sem exceção. Para o texto, as manifestações do dia 15 seriam uma
resposta das elites contra as políticas de diminuição da pobreza e de ajuda social de
Lula, sem nenhuma menção aos escândalos de corrupção e à crise na economia do
país. Ele termina reiterando que “Nesta guerra, nós temos lado e não temos nem medo
das ruas nem ódio da democracia” (ibid, 2015, online), o uso da palavra guerra
novamente deixando claro que não há nem intenção de tentar enxergar outros lados da
questão. O segundo texto “Menos ódio, mais democracia: a contradição do Brasil vai às
ruas” (MENOS ÓDIO, 2015, online), compara os dois movimentos, dizendo que no do
dia 13 “movimentos sociais de esquerda uniram-se para defender a legitimidade do
governo do Partido dos Trabalhadores, cobrando mudanças progressistas”, enquanto
que, no dia 15, a direita conservadora pedia o retorno da ditadura militar e o fim das
políticas de distribuição de renda, apesar dessas pautas serem vastamente minoritárias
nos protestos. As fotos reiteram a ideia: as do dia 13 mostram pessoas felizes em um
clima de festa, e as do dia 15 apenas cartazes da intervenção e pedindo a morte de
comunistas.
Na cobertura dos Jornalistas Livres, nota-se a mesma tendência. Das 32
matérias publicadas em seu Facebook e no site entre 12 e 18 de março, 28 (87,5%) são
dogmáticas, uma é dogmática se passando por objetiva (3,13%), duas (6,25%) são
objetivas e temos uma que se encaixa em uma restrição subjetiva (3,13%).
As objetivas são relatos dos protestos do dia 13, enquanto as dogmáticas
seguem o mesmo padrão das notas divulgadas pela Mídia NINJA: depoimentos a favor
do dia 13 que reduzem os manifestantes do dia 15 simplesmente a uma elite golpista
69
pedindo a volta da ditadura militar. Um dos posts chega até a dizer que “aqui tem senso
crítico” ao se referir aos protestos do dia 13, deixando implícito que os manifestantes do
dia 15 não tinham essa capacidade e estavam no ato sem pensar (AQUI TEM, 2015,
online). Outro, o depoimento de um manifestante, diz que é importante protestar no dia
13 para se colocar contra o avanço da direita, que “com certeza vai tirar muito mais
direitos dos trabalhadores” (VEJA, 2015, online) colocando como certeza algo que é
apenas sua opinião.
No dia 15, se repetem diversos vídeos da Mídia NINJA, como a turma
expulsando o homem de vermelho no Rio (NAS AREIAS, 2015, online), a senhora
falando do Bolsa Família (PRECONCEITO, 2015, online), e os três amigos “machistas”
falando da Dilma (CULPA, 2015, online). Num álbum de fotos intitulado “O ódio”, a
descrição é “Numa manifestação sem palavras de ordem claras e sem acordo entre os
organizadores, o ódio encontra espaço. E quando há discurso de ódio, a indignação que
pode até na origem ser justa, transfoma-se em ataques e ofensas de todos os matizes”
(O ÓDIO, 2015, online). No entanto, a “prova” de que os movimentos pregavam um
discurso de ódio contém apenas 10 fotos, sendo que a maior parte delas é inofensiva e
uma inclusive mostra um cartaz que diz “não é ódio, é indignação”. O último post é um
vídeo intitulado “O que queremos?” (2015, online), que se coloca como um apanhado
das reivindicações dos manifestantes do dia 15, mas que, na verdade, se trata de
zombarias (vídeo em câmera lenta, música de fundo satirizando) intercaladas
novamente com pessoas pedindo intervenção militar e outras dizendo que não sabem o
que querem que resulte disso. Uma das falas do vídeo é de uma mulher que diz “não sei
como te responder isso”, no entanto, não é mostrada qual foi a pergunta, que poderia
ser relacionada a qualquer coisa.
O melhor expoente do dogmatismo na cobertura das mídias alternativas
pode ser percebido em dois textos produzidos por Eduardo Nunomura, do blog Farofafá,
para os Jornalistas Livres. O jornalista esteve presente nas duas manifestações de São
Paulo e tinha como objetivo colher depoimentos, mostrar as histórias, das pessoas
participantes dos dois movimentos, ele mesmo escreve “Pessoas viram números na
maioria das reportagens, como se cada uma delas não guardasse histórias de vidas que
70
valessem a pena ser narradas” (NUNOMURA, 2015, online) e se propõe a fazer uma
cobertura que fosse além disso. No entanto, o que poderia ser uma cobertura autoral e
tolerante, se tornou dogmática.
No dia 13, ele publicou o texto “A esquerda sai de alma lavada” (ibid, 2015,
online), onde retratou as histórias de 11 personagens que estavam no protesto.
Realmente, esse texto busca articular as subjetividades dos participantes, criando uma
abertura dialógica e valorizando diferentes visões. No entanto, apenas visões que
condiziam com o que o autor pensava. Ao receber a notícia de que participantes estavam
recebendo 35 reais para participar do ato, ele descarta a informação sob o pretexto de
que nunca ia encontrar o personagem citado. Dois dias depois, no texto do dia 15, ele
começa dizendo que os participantes só estavam lá para xingar a presidente, Lula e o
prefeito, e culpar o PT por tudo e que não vai dar nem os nomes de seus personagens,
porque não sabe o que fazer quando todos mentiram para ele (idem, 2015, online).
Para provar que todos os seus personagens mentiram, ele evoca uma
mulher que disse que gostaria que o Brasil fosse um país sem diferenças sociais, ao
mesmo tempo que chamou os protestantes de sexta-feira de vagabundos. Por uma
simples palavra, todo o discurso da mulher foi tachado de mentira, e ela, indigna de ser
personagem de sua matéria. Outra mulher é riscada por dizer que é médica do SUS,
mas mencionar também uma clínica particular. Um homem, de discurso bem eloquente,
é riscado por dizer que não votou no Aécio e que a camiseta que usava, em apoio a ele,
havia ganhado de alguém que estava passando.
E esses são todos os exemplos que o jornalista dá, já que “as mentiras não
mereceriam mais espaço” (NUNOMURA, 2015, online). Ou seja, ele não só escondeu
grande parte do que disseram seus entrevistados, como fez parecer com que, em um
protesto com 210 mil pessoas, todas eram mentirosas e indignas de serem personagens
da matéria, diferentemente dos participantes dos protestos do dia 13, que eram todos
íntegros e falavam a verdade sem sombra de dúvida.
71
O que vemos é que, apesar das alegações de que a mídia alternativa
defende os interesses da população e que, ao contrário das mídias tradicionais, não
tenta “substituir a justiça ou desprezar o espírito jornalístico em favor de mal-disfarçados
interesses ideológicos” (A MÍDIA, 2014, online), conforme foi colocado no texto da Mídia
Ninja, suas coberturas dos protestos de 2015 se mostraram mais intolerantes e menos
abertas ao diálogo com o Outro do que a cobertura de um jornal tradicional como a Folha.
As mídias alternativas já partem da suposição de que a “grande mídia”, e
aqueles que têm ideais que concordam com os propagados pela mídia, são “inimigos do
povo” nessa guerra de mídias e, portanto, suas reivindicações, seus ideais e seu modo
de pensar não devem ser levados em conta. Ao mesmo tempo que pregam não
desprezar o espírito jornalístico para defender seus interesses ideológicos, é justamente
isso que fazem ao enaltecer os protestos do dia 13 e reduzir todo o movimento do dia
15 de março aos grupos minoritários que pediam a volta da ditadura, ou ao englobar a
todos como “coxinhas”, ou como uma suposta “elite opressora”, como se a classe social
ou a cor da pele dos manifestantes fossem fatores determinantes para desmoralizar o
movimento ou suas indignações.
4.3. A objetividade e a imparcialidade nas coberturas dos protestos de 2015
Apesar da cobertura da Folha demonstrar parcialidade nas escolhas de
pauta, pelo menos na abordagem das matérias há uma tentativa de mostrar outros lados
da questão, não apenas com matérias de restrição objetiva, mas também com algumas
definidas por uma restrição subjetiva, com análises e entrevistas que dão contextos
históricos e atuais. Nas coberturas das mídias alternativas, não há sequer essa tentativa.
Há um furor tão grande na mídia alternativa em se mostrar contra a posição
das “grandes mídias”, que as vozes das pessoas que concordam com os grandes jornais
não são sequer consideradas. Assim, o que surgiu como uma tentativa de humanizar as
coberturas de eventos, tornando-as mais tolerantes, expondo as subjetividades de
grupos excluídos e dando voz ao Outro, torna-se dogmático ao apenas dar voz ao Outro.
As mídias alternativas partem do princípio que esse grupo considerado como “outro” está
72
sempre certo e, assim, nunca consideram uma opinião em contrário ou a possibilidade
de reavaliar as próprias opiniões.
Temos então que os dois tipos de cobertura se manifestaram de forma
distinta quanto aos protestos de 2015 se comparadas ao que fizeram em relação aos
protestos de 2013. A “grande mídia”, que em 2013 se definiu por um apego à
neutralidade enquanto escondia uma visão dogmática e fechada por baixo de seu
tecnicismo, incorporou partes do ativismo da mídia alternativa, passou a defender uma
posição e a mobilizar seus leitores em torno dessa posição através de suas pautas. No
entanto, apesar de a Folha ter tentado se desvencilhar do ideal da neutralidade,
percebemos que ele ainda está amplamente presente em sua cobertura. No fim das
contas, o tecnicismo ainda domina o jornalismo tradicional, apesar de todos os debates
quanto ao fim do jornalismo e às novas formas de se fazer jornalismo.
Apesar de a Folha ter proposto revelar o que pensa, mas trazer opiniões
divergentes, ou seja, ser parcial ao mesmo tempo que objetiva, no final das contas ela
não se configurou nem como um, nem como outro, pois não assume de fato uma posição
(o que a faria parcial), se prendendo à ideologia do fairness, nem se abre para outras
interpretações de uma mesma realidade (o que a faria objetiva).
Já a mídia ativista, que surgiu como uma proposta autoral e tolerante frente
ao dogmatismo da mídia tradicional, levou sua parcialidade ao extremo e se tornou tão
dogmática quanto esta era em 2013, ainda que no polo oposto, e também não conseguiu
realizar o ideal de ser ao mesmo tempo parcial e objetiva.
A mídia ativista, conforme configurada por sua cobertura dos protestos de
2015, é simplesmente parcial, sem qualquer tentativa de ouvir, de fato, representantes
do “Outro lado” (a partir de seu ponto de vista), o que a configura como nem um pouco
objetiva, ou, ainda menos objetiva do que as coberturas tradicionais. Eles se dispõem a
defender “o verdadeiro interesse do público”, mas apenas do público que concorda com
suas visões, o público dos protestos do 13 de março, o público de 51,64% de brasileiros
que votaram na Dilma. A parte de 48,36% do público que votou no Aécio, os que votaram
73
na Dilma, mas mudaram de posição desde então, ou ainda os mais de 7 milhões de
brasileiros que não votaram em nenhum dos dois, não interessa.
Se, em 2013, a presença dos Ninjas serviu para evidenciar que “mesmo
dispondo de tecnologias que permitem detectar os acontecimentos e recriar em torno
deles as correlações que facilitariam sua compreensão, a leitura dos jornais e o
acompanhamento dos noticiários da televisão e do rádio nos mostram que a imprensa
compõe uma realidade fragmentada e submetida a uma opinião centralizada sobre tudo”
(COSTA, 2014, online), em 2015 a cobertura desses mesmos grupos também compôs
uma realidade fragmentada e submetida a uma opinião centralizada sobre tudo.
Isso não quer dizer que a cobertura da mídia tradicional tenha sido superior
quanto a este aspecto. Apesar das promessas de renovação, o que aconteceu foi
simplesmente mais do mesmo, tratando todos os assuntos com a mesma fórmula
apontada por Glenn Greenwald de “aqui está o que os dois lados disseram e eu não vou
resolver o problema” ao invés de questionar as declarações dos entrevistados ao colocar
que “X disse Y e isso é falso” (Keller, 2015, online, tradução nossa).
Greenwald chega a chamar essa fórmula do jornalismo tradicional de
covarde e inútil (ibid, 2015, online, tradução nossa), mas essa afirmação pode ser
facilmente contestada não só com exemplos de grandes reportagens, mas também pelo
fato de esta ter sido (e ainda ser) a vertente dominante no jornalismo nos últimos anos
e ter cumprido seu papel de informar a população. No entanto, nós pudemos ver,
seguindo a classificação de Sandano, que a simples disponibilização dos dois lados de
uma história não é nem de longe suficiente para criar um jornalismo que seja objetivo,
empático, e que traga um retrato da realidade que leve em conta os diversos olhares
sobre uma mesma questão.
Pelo outro lado, a proposição de Greenwald, de que a mídia ativista
resolveria esse problema ao “tratar as afirmações das facções mais poderosas com
ceticismo, não reverência” (KELLER, 2015, online, tradução nossa) também não se
mostrou verdadeira, pois levou a uma polarização em que todas as afirmações de
74
“facções poderosas” são falsas, enquanto que todas as afirmações de outros setores da
sociedade são imediatamente verdadeiras, ao não impor a natureza da checagem
igualmente a todas as declarações (como pudemos ver pelos textos de Eduardo
Nunomura aos Jornalistas Livres).
Em 2009, o professor Renato Rovai já alertava contra isso no texto de seu
blog para a Revista Forum, dizendo que “A mídia livre precisa apostar na horizontalidade.
Num movimento de milhões. E não em grandes projetos de alguns. Em outros grupos
grandões de comunicação que se digam mais pra cá do que pra lá. Que tenham um
discurso mais próximo do que acreditamos” (2009, online). Nas coberturas de 2013, a
Mídia NINJA apostava na horizontalidade, porém, em 2015, se configurou como um
desses “outros grupos grandões que se diziam mais para cá que para lá”, defendendo
seus próprios interesses.
Alguém poderia argumentar, então, que para alcançar a verdade a pessoa
deveria ler ambos os textos do jornalismo tradicional e da mídia ativista, mas vimos no
capítulo 2, que não é assim que a realidade se configura. O que acontece é que “hoje
vivemos num mundo de mídia baseada em afinidade onde os cidadãos podem construir,
e constroem, câmaras de eco das próprias crenças. É fácil demais se sentir “informado”,
sem nunca encontrar uma informação que desafia nossos preconceitos” (KELLER, 2015,
online, tradução nossa). Assim, mesmo que alguém com preferência pela mídia
tradicional encontre um texto da mídia alternativa, ou vice-versa, a tendência é que trate
esse texto contrário com ceticismo, enquanto defende o outro como absoluta verdade.
Por isso, seria importante que os textos de ambas as vertentes trouxessem uma visão
objetiva das questões abordadas.
Keller utiliza esse argumento das câmaras de eco para justificar a
necessidade de um jornalismo imparcial, alegando que a mídia ativista apenas agravaria
esse problema ao trazer apenas a sua visão de um assunto e tentar mostrar às pessoas
a forma como elas devem pensar, e que a confiança dos leitores do New York Times
vinha de eles notarem que o jornal fazia a devida diligência sobre um assunto e não
apenas montava um “caso”.
75
Mas a parcialidade não é, necessariamente, atrelada a um texto dogmático.
Nós vimos no capítulo 1 que um texto pode ser ao mesmo tempo parcial e objetivo,
contanto que esteja aberto a analisar múltiplas visões de uma mesma realidade e a
questionar sua própria crença a todo momento. Ou seja, é possível ser parcial e, ainda
assim, dar a devida diligência a uma questão. Além disso, a análise da cobertura da
Folha mostrou que, mesmo com os textos de tendência tecnicista, o jornal como um
todo, através das escolhas editoriais, de design e de pautas, continuava tentendo para
uma cobertura parcial.
Keller defende que o jornalismo imparcial é necessário para que os
cidadãos cheguem eles mesmos a suas próprias conclusões, mas a que conclusão uma
pessoa pode chegar sobre um assunto que não entende realmente? Se o que um texto
apresenta é simplesmente que X disse Y e A disse B, só o que se pode concluir é que X
disse Y e A disse B. Um texto ao mesmo tempo parcial e objetivo, feito de forma autoral
e tolerante, não só traria as declarações dos entrevistados como as contextualizaria,
investigaria, explicaria (da forma que o termo “explicar” é definido por Groth), apontaria
suas falhas e verdades e realmente ajudaria o leitor a compreender a realidade em que
está imerso, e isso é algo que, como mostra a análise feita neste trabalho, está faltando
tanto no jornalismo tradicional quanto no ativista. Conforme definido por Glenn
Greenwald “a única medida do jornalismo que deveria importar é precisão e confiança.
[...] Nenhuma forma de jornalismo – da mais estilisticamente “objetiva” a mais
ferrenhamente opinativa – tem qualquer valor a não ser que seja baseado em fatos,
evidências e dados verificáveis” (Keller, online, 2015, tradução nossa).
Para isso, nem mesmo o jornalismo ativista, de base participativa, deve
estar isento de qualquer forma de controle, segundo Greenwald. Para ele, ter editores
nas iniciativas de jornalismo ativista é muito importante.
Editores são necessários para garantir o mais alto nível de precisão factual, para verificar afirmações-chave e para ajudar os jornalistas a tomar decisões que evitam danos a inocentes.
Mas eles não são necessários para impor regras estilísticas obsoletas, ou para apagar a voz única e a paixão dos jornalistas, ou para barrar qualquer forma de declaração quando oficiais de alto-escalão ditam, ou para determinar
76
eufemismos escolhidos pelo governo ao invés de termos factualmente corretos ou passar declarações ou demandas oficiais para aprovação de um status superior. Em resumo, editores devem servir para empoderar e garantir um jornalismo adversário agressivo, forte e altamente factual, e não para servir como barreiras para neutralizar ou suprimir jornalistas (KELLER, online, 2015, tradução nossa)
Se o que acontece no jornalismo imparcial, segundo Keller, é que os
jornalistas, apesar de terem opinião, “seguem uma disciplina ocupacional para
suspender essa opinião e deixar as evidências falarem por sí próprias” (2015, online,
tradução nossa), o que seria necessário para o jornalismo objetivo, autoral e tolerante, é
que os jornalistas divulguem sua opinião, mas sigam uma disciplina ocupacional para
trazer diferentes realidades e reconhecer quando a realidade contradiz essa opinião.
Do jeito que as coberturas da Folha e da Mídia NINJA se apresentaram
durante os protestos de 2015, nenhuma delas atingiu esse ideal. Uma, por ser controlada
demais, e a outra, por ser controlada de menos. Uma ficou presa ao tecnicismo, contando
com que o fairness seria suficiente para alcançar a objetividade, a outra ficou entregue
demais a sua própria visão de mundo, à obrigação da parcialidade e, assim, também não
conseguiu realizar uma cobertura objetiva.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos no primeiro capítulo que é possível uma mídia ser ao mesmo tempo
parcial e objetiva e que o tecnicismo dos manuais de redação não é o suficiente para
garantir nem a imparcialidade, nem a objetividade almejada. Vimos, na análise da
cobertura da Folha, que esse tecnicismo pode muitas vezes esconder um dogmatismo
que supera a aplicação de fairness, levando a coberturas que não admitem nenhuma
visão em contrário.
No segundo capítulo, foram apresentadas formas de se fazer jornalismo que
se diferenciam do jornalismo “tradicional”: tipos de jornalismo que se baseavam na
explicação, na contextualização e na investigação e que, conforme as tecnologias foram
avançando, passaram também a se basear na colaboração, na horizontalidade e no
diálogo constante com o público para garantir uma cobertura mais plural dentro da
cibercultura, até chegar às mídias ativistas. Vimos também que essa parcialidade,
ajudada pelas “bolhas” das redes sociais, também pode levar a um dogmatismo, pois as
pessoas tendem a buscar apenas informações com as quais já têm afinidade. Nesse
contexto, a cobertura da Mídia NINJA dos protestos de 2013 surgiu como uma proposta
dialógica. A forma de ativismo exercida pelo grupo na época foi aberta e tolerante,
alcançando o nível mais alto de objetividade segundo a escala definida por Sandano.
Já no terceiro capítulo, vimos que a influência de uma mídia na outra levou-
as a quase inverter posições durante as coberturas dos protestos de 2015: a mídia
tradicional, tentando imitar o modelo de engajamento da mídia ativista, tentou se mostrar
parcial e objetiva e acabou não se tornando nem uma nem outra, se perdendo em uma
crise de identidade ao tentar moldar o ideal do jornalismo ativista às regras deontológicas
do jornalismo tradicional. Já a mídia ativista se prendeu tanto a sua parcialidade que se
fechou em uma “bolha” e se tornou dogmática, ainda que se diga objetiva e tolerante.
No final, os dois lados realizaram um ativismo dogmático de formas diferentes:
enquanto a Mídia NINJA manipulou pelo seu conteúdo, a Folha manipulou pela forma,
pelas pautas, pela relevância que dava a um tema em detrimento de outros, apesar de
as matérias em sí seguirem o conceito de fairness. Essa prática, de forma velada,
fortalece as campanhas contra o governo e a favor dos protestos do dia 15, enquanto
permite que a Folha se defenda ao dizer que mostra os dois lados.
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Assim, respondemos as duas questões centrais do trabalho sobre de que
formas as novas mídias afetaram os valores de neutralidade e objetividade nos jornais
tradicionais e sobre como a relação entre objetividade e fairness vem se apresentando
tanto na mídia impressa quanto na mídia ativista.
É importante analisar essas questões não só para que o público comece a
olhar mais criticamente para a mídia que consome, seja ela tradicional ou ativista, mas
também para conseguirmos nos situar, como jornalistas, em meio às diversas mudanças
que a profissão está sofrendo no momento e usar esse entendimento para buscar novos
caminhos para a prática jornalística.
Não acredito na teoria de que o jornalismo está em crise. O jornalismo segue
mais forte do que nunca, mas não se concentra mais apenas nos jornais tradicionais; se
renovou em iniciativas de jornalismo crossmídia, jornalismo ativista, jornalismo
participativo e outras vertentes. O mundo sempre vai precisar de informação.
Também discordo da máxima de Bruno Torturra de que “a rede vai matar o
jornal para salvar o jornalismo” (LORENZOTTI, 2014, p. 16). Os jornais trazem consigo
práticas essenciais de checagem de informações, relação com fontes e técnicas para
buscar outros lados de uma questão que em muito beneficiariam o jornalismo ativista,
assim como este tem práticas de investigação, de empatia, de envolvimento e mergulho
na realidade que beneficiariam o jornalismo tradicional.
Acredito, assim como Greenwald (KELLER, 2015, online), que divulgar ao
invés de esconder seus valores subjetivos leva a um jornalismo mais honesto e confiável.
Assim como Keller (ibid, 2015, online) e Moretzsohn (SOARES, 2013, online), que os
jornais tradicionais têm uma capacidade de se responsabilizar por suas publicações que
nunca poderá ser encontrada em uma postagem qualquer na internet, que pode ser
apagada a qualquer momento, e que isso lhes confere uma credibilidade e uma força
que não pode ser apagada por mudanças na dinâmica informacional. E assim como
Rónai (2013, online), acredito que temos muito o que ganhar com a complementação
entre dois tipos de mídia que se influenciem e se transformem o tempo todo e que, só ao
criarmos iniciativas que unam o melhor das duas realidades e diminuam ao máximo os
problemas de ambas, poderemos chegar ao potencial máximo do jornalismo.
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ALENCAR, Rubens Fernando. Mapa das Manifestações. Folha de S. Paulo, São Paulo, 08 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/ 2015/03/118881-mapa-das-manifestacoes.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
AMORA, Dimmi; MAGALHÃES, João Carlos; VALENTE, Rubens. Em Brasília, multidão se reúne no gramado em frente ao Congresso. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/ 2015/03/1603177-em-brasilia-multidao-se-reune-no-gramado-em-frente-ao-congresso.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
AMORA, Dimmi; MAGALHÃES, João Carlos; VALENTE, Rubens. Grupos já planejam novas manifestações para abril. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603238-grupos-ja-planejam-novas-manifestacoes-para-abril.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
AQUI TEM senso crítico. Jornalistas Livres, São Paulo, 13 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/jornalistaslivres/photos/a.292153227575228. 1073741829.292074710916413/292331220890762/?type=3>. Acesso em: 16 nov. 2015.
ATOS do Movimento Passe Livre costumam terminar em confronto. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291146-atos-do-movimento-passe-livre-costumam-terminar-em-confronto.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
ATOS rejeitam impeachment, mas criticam governo Dilma. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/ 1602786-atos-rejeitam-impeachment-mas-criticam-governo-dilma.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
BALAGO, Rafael. “Não temos base para impeachment”, diz líder de lojistas nos Jardins. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/03/1602353-rosangela-lyra-diz-que-quer-levar-debate-sobre-politica-para-a-periferia.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
BERGAMIM JR., Giba; SOUZA, Felipe. Grupo atira rojões em manifestantes durante ato na avenida Paulista, em SP. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603232-grupo-usa-bombas-caseiras-e-rojoes-durante-manifestacao-na-paulista.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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BERTONI, Estevão. Líder do MST diz que ato não fará defesa da presidente. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602257-lider-do-mst-diz-que-ato-nao-fara-defesa-da-presidente.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
BERTONI, Estevão; ROLLI, Claudia; SPERB, Paula. Movimentos criticam governo e aumentam pressão sobre Dilma. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602319-movimentos-criticam-governo-e-aumentam-pressao-sobre-dilma.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
BRISOLLA, Fabio. Milhares se reúnem em Copacabana em protesto contra o governo Dilma. Folha de S. Paulo, Rio de Janeiro, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603157-praia-de-copacabana-e-tomada-por-manifestantes-em-protesto-contra-o-governo-dilma.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
CARVALHO, Mario Cesar. Pacote do governo vai punir corruptos mais rapidamente, diz Cardoso. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603461-pacote-do-governo-vai-punir-corruptos-mais-rapidamente-diz-cardozo.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
COM CONFRONTO, comerciantes fecham as portas na região da Paulista. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291111-apos-confronto-comerciantes-fecham-as-portas-na-regiao-da-paulista.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
COM PROTESTO e confronto, shopping Patio Paulista é fechado. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291131-com-protesto-e-confronto-shopping-patio-paulista-e-fechado.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
CONVOCATÓRIA: Grande ato contra o aumento no dia 06/06. Movimento Passe Livre, São Paulo, 12 maio 2013. Disponível em: <http://saopaulo.mpl.org.br/ 2013/05/12/convocatoria-grande-ato-contra-o-aumento/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
CRUZ, Valdo; DIAS, Marina. Tamanho dos protestos surpreende governo, que os considera “significativos”. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603206-tamanho-dos-protestos-surpreende-governo-que-os-considera-significativos.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
CULPA da Dilma: ser mulher. Jornalistas Livres, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/295132863943931/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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DILMA é vaiada nas ruas de ao menos 12 capitais durante pronunciamento. Folha de S. Paulo, São Paulo, 08 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1600050-dilma-e-vaiada-nas-ruas-de-ao-menos-4-capitais-durante-pronunciamento.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
DINIZ, Pedro. Empresários lucram com polarização política. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/ 2015/03/1602979-empresarios-lucram-com-polarizacao-politica.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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FAMOSOS publicam vídeos chamando para protestos de março de 2015. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://f5.folha.uol.com.br/ celebridades/2015/03/1602342-famosos-publicam-videos-chamando-para-protestos-de-marco-de-2015.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
FERRAZ, Lucas. “Dilma está vivendo o mesmo que FHC antes”, afirma cientista política. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602965-dilma-esta-vivendo-o-mesmo-que-fhc-antes-afirma-cientista-politica.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
FERRAZ, Lucas. No Brasil, um governo destrói o que o outro fez, diz historiador. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602966-no-brasil-um-governo-destroi-o-que-o-outro-fez-diz-historiador.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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GIELOW, Igor. Governo luta contra confluência de fatores. Folha de S. Paulo, Brasília, 18 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/ 2015/03/1604542-igor-gielow-governo-luta-contra-confluencia-de-fatores.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
GOVERNO é alvo de novo panelaço durante fala de ministros. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/ 2015/03/1603279-governo-e-alvo-de-novo-panelaco-durante-fala-de-ministros.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
GUERREIRO, Gabriela. Em vídeo, Aécio chama para protesto; “a rua é do povo como o céu é do avião”. Folha de S. Paulo, Brasília, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602468-em-video-aecio-chama-para-protesto-a-rua-e-do-povo-como-o-ceu-e-do-aviao.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
GUERREIRO, Gabriela. Em vídeo, Aécio comemora protestos e pede para povo “não se dispersar”. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603226-em-video-aecio-comemora-protestos-e-pede-para-o-povo-nao-se-dispersar.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
GUERREIRO, Gabriela. Oposição comemora adesão às manifestações contra o governo Dilma. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603285-oposicao-comemora-adesao-as-manifestacoes-contra-o-governo-dilma.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
GUTIERREZ, Felipe. Homem com camiseta de foice e martelo é hostilizado em Copacabana. Folha de S. Paulo, Rio de Janeiro, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603255-homem-com-camiseta-da-foice-e-martelo-e-hostilizado-em-copacabana.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
JANONI, Alessandro; PAULINO, Mauro. Insatisfação também aumenta em redutos petistas tradicionais. Folha de S. Paulo, 18 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1604419-analise-insatisfacao-tambem-aumenta-em-redutos-petistas-tradicionais.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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LEITORA critica protestos em São Paulo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 09 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2013/06/1292109 -leitora-critica-protestos-em-sao-paulo.shtmll>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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LEITORES comentam protestos na Paulista. Folha de S. Paulo, São Paulo, 08 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2013/06/1291975 -leitores-comentam-protestos-na-paulista.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
LIMA, Caio. Movimento convoca manifestações no exterior. Folha de S. Paulo, 14 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603067-movimento-convoca-manifestacoes-no-exterior.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
LIMA, Daniela. Tucanos e petistas agora têm opiniões diferentes ao falar de impeachment. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602964-tucanos-e-petistas-agora-tem-opinioes-diferentes-ao-falar-de-impeachment.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
LIMA, Daniela; MELLO, Patrícia Campos; VETTORAZZO, Lucas. Grupos contra Dilma esperam levar 100 mil às ruas no dia 15. Folha de S. Paulo, São Paulo, 09 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1600036-grupos-contra-dilma-esperam-levar-100-mil-as-ruas-no-dia-15.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
LIVE MÍDIA Ninja. Mídia NINJA, São Paulo. Disponível em: <http://us.twitcasting.tv/ midianinja/show/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
LIVE PÓSTV. Mídia NINJA, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://us.twitcasting.tv/ canalpostv/show/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
MAGALHÃES, Vera. Dilma e seus ministros não incorreram no erro de minimizar protestos. Folha de S. Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603276-dilma-e-seus-ministros-nao-incorreram-no-erro-de-minimizar-protestos.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
MANIFESTAÇÕES pelo país ganham destaque na imprensa nacional. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ poder/2015/03/1603250-manifestacoes-pelo-pais-ganham-destaque-na-imprensa-internacional.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
MANIFESTANTES deixam rastro de vandalismo na região central de SP. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291116-manifestantes-deixam-rastro-de-vandalismo-na-regiao-central-de-sp.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
MANIFESTANTES já se reúnem na av. Paulista, em São Paulo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/ 2015/03/1603172-manifestantes-ja-se-reunem-na-av-paulista-em-sao-paulo.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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MENDONÇA, Ricardo. Ato da CUT em São Paulo teve 41 mil participantes, mostra Datafolha. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602671-ato-da-cut-em-sao-pauto-teve-41-mil-participantes-mostra-datafolha.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
MENDONÇA, Ricardo. No 3° mês do novo mandato, 62% desaprovam Dilma. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1604420-no-3-mes-do-novo-mandato-62-ja-desaprovam-dilma.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
MENOS ÓDIO, mais democracia: a contradição do Brasil vai às ruas. Mídia NINJA, 16 mar. 2015. Disponível em: <https://ninja.oximity.com/article/Menos-%C3%B3dio-mais-democracia-a-cont-2>. Acesso em 16 nov. 2015.
MOTTA, Severino. Multa máxima de Lei Anticorrupção só será para casos de reincidência. Folha de S. Paulo, Brasília, 18 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1604827-multa-maxima-da-lei-anticorrupcao-so-sera-para-casos-de-reincidencia.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NAS AREIAS de Copacabana. Mídia NINJA, Rio de Janeiro, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/midiaNINJA/videos/465776446913839/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NASCI em 64, sou filha da revolução. Mídia NINJA, Rio de Janeiro, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/midiaNINJA/videos/465802603577890/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NERY, Natuza. Falta dialogar com a sociedade, diz ministro. Folha de S. Paulo, Brasília, 14 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/ 2015/03/1602849-falta-dialogar-com-a-sociedade-diz-ministro.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NERY, Natuza. “Meu governo não consegue falar com a sociedade, meu deus”, desabafa petista. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603295-meu-governo-nao-consegue -falar-com-a-sociedade-meu-deus-desabafa-petista.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NERY, Natuza. Petistas se assustam e ministros de Dilma chamam protesto de “3º turno”. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603223-petistas-se-assustam-e-ministros-de-dilma-chamam-protesto-de-3-turno.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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NERY, Natuza; SADI, Andréia. Durante a crise, presidente fica mais solitária e reflexiva. Folha de S. Paulo, Brasília, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602977-em-crise-presidente-adota-postura-solitaria-e-reflexiva.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NOVO protesto contra tarifas resulta em vandalismo e confusão em SP. Folha de S. Paulo, São Paulo, 07 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291785-manifestantes-retornam-ao-largo-da-batata-apos-passeata-em-sp.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NUNOMURA, Eduardo. A esquerda sai de alma lavada. Jornalistas Livres, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://medium.com/jornalistas-livres/a-esquerda-sai-de-alma-lavada-a3af203400f4>. Acesso em: 16 nov. 2015.
NUNOMURA, Eduardo. 15 de março de 2015, dia da mentira. Jornalistas Livres, São Paulo, 17 mar. 2015. Disponível em: < https://medium.com/jornalistas-livres/15-de-mar%C3%A7o-de-2015-dia-da-mentira-bb80e3600a73>. Acesso em: 16 nov. 2015.
O ÓDIO. Jornalistas Livres, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/media/set/?set=a.295122763944941.1073741839.292074710916413&type=3>. Acesso em: 16 nov. 2015.
O QUE queremos. Jornalistas Livres, 16 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/295144303942787/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
PARA 60%, situação da economia vai piorar. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1604421-para-60-situacao-da-economia-vai-piorar.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
PEIXOTO, Paulo. Impeachment de Dilma é “inviável e impensável”, diz vice Michel Temer. Folha de S. Paulo, Belo Horizonte, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602387-impeachment-de-dilma-e-inviavel-e-impensavel-diz-vice-michel-temer.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
PRECONCEITO a gente vê por aqui. Mídia NINJA, Rio de Janeiro, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/midiaNINJA/videos/465860026905481/>. Acesso em: 16 nov. 2015.
PROTESTO contra aumento do ônibus termina em confronto no centro de SP. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291063-grupo-faz-ato-no-centro-de-sp-em-protesto-contra-aumento-do-onibus.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015
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PROTESTO contra aumento da tarifa do ônibus afeta o trânsito no Rio. Folha de S. Paulo, Rio de Janeiro, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/06/1291096-protesto-contra-aumento-da-tarifa-de-onibus-afeta-o-transito-no-rio.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015
PROTESTOS contra o governo reúnem quase 1 milhão pelo país. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ poder/2015/03/1603286-protestos-contra-o-governo-reune-quase-1-milhao-pelo-pais.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
PROTESTOS em pelo menos 17 estados pedem de impeachment a intervenção militar. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603185-protestos-em-17-estados-pedem-de-impeachment-a-intervencao-militar.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
RABIN, Claudio Goldberg. Símbolo dos protestos pós-eleição, Lobão aparece na Paulista. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603241-simbolo-dos-protestos-pos-eleicao-lobao-reaparece-na-avenida-paulista.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
ROCHA, Graciliano. Em Paris, Alckmin diz que protesto que interrompe tráfego é caso de polícia. Folha de S. Paulo, Paris, 12 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1293110-em-paris-alckmin-diz-que-protesto-que-interrompe-trafego-e-caso-de-policia.shtml>. Acesso em: 16. Nov. 2015.
ROCHA, Graciliano. Em Paris, Alckmin, Haddad e Temer criticam destruição durante protesto. Folha de S. Paulo, Paris, 12 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1293748-em-paris-alckmin-haddad-e-temer-criticam-destruicao-durante-protesto.shtml>. Acesso em: 16. Nov. 2015.
SÁ, Nelson de. Com “gente pra caramba”, cobertura de protestos abre guerra de números. Folha de S. Paulo, São Paulo, 14 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602788-com-gente-pra-caramba-cobertura-de-protestos-abre-guerra-de-numeros.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
SÁ, Nelson de. Na TV, 'Fora Dilma' ganha ares de diretas-já e Parada Gay. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603224-nelson-de-sa-na-tv-fora-dilma-ganha-ares-de-diretas-ja-e-parada-gay.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
SÁ, Nelson de. Cobertura cobra 'humildade' e governo tenta 'ganhar tempo'. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603349-analise-cobertura-cobra-humildade-e-governo-tenta-ganhar-tempo.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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SEABRA, Catia. Em vídeo, Rui Falcão recomenda que petistas não baixem a cabeça. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602132-em-video-rui-falcao-recomenda-que-petistas-nao-baixem-a-cabeca.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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TARGINO, Ricardo. O 15M do mal: adeus à cordialidade. Mídia NINJA, 15 mar. 2015. Disponível em: <https://ninja.oximity.com/article/O-15M-do-mal-adeus-%C3%A0-cordialidade-1>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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VETTORAZZO, Lucas Stedile diz que Levy é “capitalista infiltrado” no governo Lula. Folha de S. Paulo, Rio de Janeiro, 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602649-stedile-diz-que-levy-e-capitalista-infiltrado-no-governo-dilma.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
VIDAL, Elídia. Dia nacional de lutas: “É aqui que a gente constrói a democracia”. Mídia NINJA, 14 mar. 2015. Disponível em: <https://ninja.oximity.com/article/Dia-Nacional-de-Lutas-É-aqui-que-1>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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VÍDEOS mostram protestos pelo país; veja. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603203-videos-mostram-protestos-pelo-pais-veja.shtml>. Acesso em: 16 nov. 2015.
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APÊNDICE A
AUTORIZAÇÃO PARA CESSÃO DE DIREITOS
Eu, ________________________________________, portador do RG Nº ________________________
e CPF Nº _________________________________, com endereço na (Avenida, Rua, Travessa)
___________________________________________, Nº ______, (Complemento) _____________, CEP:
_______________, Bairro ___________________, São Paulo-SP, Graduando(a) do 8º Semestre do
Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), autor(a) do Trabalho (Produto)
____________________ intitulado (Título do Trabalho) ______________________________________,
Produto Final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da UPM, apresentado no ____º Semestre de
________, cedo os direitos da referida obra, bem como cedo os seus efeitos patrimoniais, para o Instituto
Presbiteriano Mackenzie e para a Universidade Presbiteriana Mackenzie, sem qualquer custo, por
tempo indeterminado, para utilização – sem fins lucrativos – em arquivos físicos e online, seja para
consultas acadêmicas ou reproduções; em programas da TV Mackenzie; em programas de outras
emissoras; e em demais veículos de comunicação, sejam eles eletrônicos ou impressos, desde que
respeitem a finalidade educacional do trabalho para o qual assino esta autorização.
Para que surta os efeitos legais e estando de pleno acordo com esta autorização, firmo a presente,
juntamente com duas testemunhas.
São Paulo, ___ de _________ de ____ / ____ / ______ .
_________________________________
Cedente
Testemunhas:
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