aulas redação jornalística

232
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principal- mente, aprender a pensar, aprender a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Othon M. Garcia Comunicação em prosa moderna

Upload: julliane-brita

Post on 15-Apr-2017

205 views

Category:

Education


1 download

TRANSCRIPT

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principal-mente, aprender a pensar, aprender a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou.

Othon M. GarciaComunicação em prosa moderna

Há uma maneira certa de dizer e se eu não alcançar essa maneira de dizer isso não existe.

Nélida PiñonEm entrevista ao Roda Viva, da Rede Cultura

Certas palavras não podem ser ditasem qualquer lugar e hora qualquer.Estritamente reservadaspara companheiros de confiança,devem ser sacralmente pronunciadasem tom muito especiallá onde a polícia dos adultosnão adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:definempartes do corpo, movimentos, atosdo viver que só os grandes se permiteme a nós é defendido por sentençados séculos. E tudo é proibido. Então, falamos.

Certas palavras

Carlos Drummond de Andrade

Comunicação e Linguagem

A língua como instituição social

Enquanto você lê estas palavras, está tomando par-te numa das maravilhas do mundo natural. Você e eu pertencemos a uma espécie dotada de uma admirável capacidade, a de formar ideias no cérebro dos demais com esquisita precisão. Eu não me refiro com isso à te-lepatia, o controle mental ou as demais obsessões das ciências ocultas. Aliás, até para os crentes mais convic-tos, estes instrumentos de comunicação são pífios em comparação com uma capacidade que todos possuímos. Esta capacidade é a linguagem.

Steven Pinker, O Instinto da Linguagem

Do verbo latino communicare = pôr em comum

Pôr em comum ideias, sentimentos, pensamentos, compartilhar formas de comportamento, modos de vida, regras de caráter social.

Comunicação é também convivência, vida em co-mum, viver em comunidade.

O que é comunicação?

A linguagem estrutura o mundo interior e o expressa aos demais.

Comunicar implica utilizar linguagem.

A linguagem apareceu e desenvolveu-se para servir à comunicação. Não existe uma sem a outra.

O que é linguagem?

Linguagens mais ou menos articuladas.

Animais: linguagem não verbal. Ex.: a dança das abelhas.

Homem: linguagem não verbal e linguagem verbal, articulada (organizada, elaborada).

O que é linguagem?

Japão - Número 5Alemanha - Número 1.Brasil - Está tudo certo e serve também para pedir carona.Europa e EUA - Pedido de carona.Turquia - Cantada para sair com homossexual.Nigéria e Austrália - Gesto obsceno.

“A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”.

Saussure

A linguagem (caráter universal), então, é a faculda-de natural de usar uma língua (caráter particular).

O que é linguagem?

Para Saussure, a linguagem é a faculdade natural de usar uma língua, “ao passo que a língua consti-tui algo adquirido e convencional”.

A língua está no campo social. É um acordo. E a fala está no campo individual.

O que é língua?

+ Língua como lugar de interação

Defende que os sujeitos (re)produzem o social na medida em que participam ativamente da defini-ção da situação na qual se acham engajados, e que são atores na atualização das imagens e das repre-sentações sem as quais a comunicação não poderia existir.

O que é língua?

(...) é um sujeito social, histórica e ideologi-camente situado, que se constitui na interação com o outro.

Eu sou na medida em que interajo com o outro. É o outro que dá a medida do que sou. A identida-de se constrói nessa relação dinâmica com a al-teridadade (diferença).

Quem é o sujeito?

O texto encena, dramatiza essa relação. Nele, o sujeito divide seu espaço com o outro porque nenhum discurso provém de um sujeito adâmico (primitivo) que, num gesto inaugural, emerge a cada vez que fala/escreve como fonte única do seu dizer.

Tudo passa pelo sujeito (Vion, 1992).

Quem é o sujeito?

Adotando-se a concepção da língua como lu-gar de interação e do sujeito social, históri-co e ideológico, a compreensão torna-se uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos.

Concepção de texto e de sentido

Superfície textual +

Mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) +

Reconstrução no evento comunicativo

Concepção de texto e de sentido

O sentido de um texto é, portanto, construí-do na interação texto-sujeitos (ou texto-co--enunciadores) e não algo que preexista aessa interação.

Concepção de texto e de sentido

Peças do jogo

1. o produtor/planejador: viabiliza seu “pro-jeto de dizer”, recorrendo a uma série de es-tratégias de organização textual e orientan-do o interlocutor, por meio de sinalizações textuais (indícios, marcas, pistas) para a construção dos (possíveis) sentidos;

Peças do jogo

2. o texto: organizado estrategicamente dedada forma, em decorrência das escolhas fei-tas pelo produtor entre as diversas possibili-dades de formulação que a língua lhe oferece,de tal sorte que ele estabelece limites quan-to às leituras possíveis;

Peças do jogo

3. o leitor/ouvinte, que, a partir do modocomo o texto se encontra linguisticamenteconstruído, das sinalizações que lhe ofe-rece, bem como pela mobilização do con-texto relevante à interpretação, vai proce-der à construção dos sentidos.

Contexto: + co-texto (entorno verbal)+ a situação de interação imediata+ o entorno sociopolítico-cultural+ o contexto sociocognitivo dos interlocutores que, na verdade, compreende os demais. Englo-ba todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória e que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio verbal.

Texto e contexto

+ conhecimento linguístico

+ conhecimento enciclopédico

+ conhecimento da situação comunicativa e desuas “regras” (situcionalidade)

+ conhecimento superestrutural (tipos tex-tuais)

Texto e contexto

A mobilização desses conhecimentos no proces-samento textual realiza-se por meio de estra-tégias de diversas ordens:

- cognitivas, como as inferências, a focalização,a busca da relevância;

Texto e contexto

- sociointeracionais: preservação das faces,polidez, atenuação, atribuição de causas a (possíveis) mal-entendidos etc.;

- textuais: conjunto de decisões sobre a tex-tualização, feitas pelo produtor do texto, tendoem vista seu “projeto de dizer” (pistas, marcas,sinalizações).

Texto e contexto

Os mal-entendidos surgem, em grade parte, de pressuposições errôneas sobre o domínio de certos conhecimentos por parte do(s) interlocutor(es).

Texto e contexto

Na língua como instituição social, nos organiza-mos enquanto pacto, sempre levando em conta o estatuto desse pacto/língua que nos precedee sobre o qual não temos escolha.

Língua, instituição social

Antes de pensarmos no que caracteriza o jor-nalismo (periodicidade, universalidade, atuali-dade, difusão, etc.), devemos pensar nele como um fato de língua.

Devemos pensar no papel e na função na insti-tuição social do jornalismo.

Jornalismo, um fato de língua

O papel/função primordial do jornalismo como fato de língua é o mesmo da língua/instituição social: organizar discursivamente, o que é a prá-tica jornalística por excelência.

Jornalismo, um fato de língua

A palavra em uso adquire vida.Não há discurso neutro.Não há palavras inocentes.

Jornalismo, um fato de língua

Modalidades (aspectos, aparência)

+ Falada+ Escrita

Língua(s) portuguesa(s)

Aula de portuguêsCarlos Drummond de Andrade

1) A linguagem2) na ponta da língua,3) tão fácil de falar4) e de entender.

5) A linguagem6) na superfície estrelada de letras,7) sabe lá o que ela quer dizer?

8) Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,9) e vai desmatando10) o Amazonas de minha ignorância.11) Figuras de gramática, esquipáticas,12) atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

13) Já esqueci a língua em que comia,14) em que pedia para ir lá fora,15) em que levava e dava pontapé,16) a língua, breve língua entrecortada17) do namoro com a prima.

18) O português são dois; o outro, mistério.

Verso 8 - Carlos Góis é autor de uma gramática da língua portuguesa.

Verso 11 - “Esquipáticas” - fora do geral, habitual ou comum; extravagante, esquisito, estapafúrdio.

Língua(s) portuguesa(s)

Eles varavam as ruas juntos absorvendo tudo com aquele jeito que tinham no começo, e que mais tarde se tornaria muito muito mais melancólico, perceptivo e vazio. Mas nessa época eles dançavam pe-las ruas como peões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pes-soas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como cons-telações em cujo centro fervilhante - pop! - pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah!”.

On the roadJack Kerouac

A principal característica da língua falada é a espontaneidade, a não preparação do texto.

Quando usamos as marcas da oralidade na escrita, indicamos proximidade do interlocutor.

Língua(s) portuguesa(s)

Variações de tempo: diacrônicaVariações geográficas: diatópica (dialeto)Variações entre camadas sociais: diastráticaVariação entre gerações: diafásicaVariação de um mesmo indivíduo: registro ou idioleto

Variações linguísticas

A língua portuguesa é um conjunto de variantes.

Um mesmo falante pode valer-se de diver-sas variantes linguísticas, dependendo da situação.

Essas variações são denominadas de regis-tro, ou níveis de linguagem.

Trata-se de adequação.

Variações linguísticas

Pode-se dizer que todo ato de fala tem um es-tilo próprio.

Estilo: conjunto de características formais ofere-cidas por um texto como resultado da adequação do instrumento linguístico às finalidades especí-ficas do ato em que foi produzido.

Variações linguísticas

O ponto de vista sociolinguístico considera três divisões:

- Registro formal: nível culto- Registro comum: nível familiar ou coloquial- Registro informal: nível popular

Níveis de lgg

Nível culto (variante padrão)

Elaborada de acordo com as normas gramaticais.Burocrática, artificial e conservadora, precisa im-pessoal, sem espontaneidade e, não raro, sem graça e beleza. Lgg técnica e formal, fora dos hábitos comuns.

Níveis de lgg

Nível culto (variante padrão)

Utilizada por intelectuais, diplomatas e cientis-tas, principalmente na forma escrita. É raramente utilizada em língua oral, mas se aproxima do dis-curso de cerimonial ou de situações formais (tri-bunas, púlpito, júri).

Níveis de lgg

Nível culto (variante padrão)

O vocabulário é diversificado, rico, a sintaxe é complexa e as normas gramaticais são respeitadas.

Níveis de lgg

Sintaxe: parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem.

Nível culto (variante padrão)

- Linguagem literária (plurissignificação)

- Linguagem técnica e científica (alto grau de abstração do pensamento)

Níveis de lgg

- Variante de linguagem burocrática (relações comerciais; “reconhecer FIRMA”)

- Linguagem profissional ( jargão; relatórios administrativos, comunica-dos, processo, petições, editais) Níveis de lgg

Nível familiar- Fuga da formalidade e dos requintes gramaticais- Vocabulário limitado e pouco variado; sintaxe simples; intermediário entre culto e popular- Repetições (espontaneidade)

Jornalistas e publicitários optam por uma variante que se adapta a seu público-alvo.

Níveis de lgg

Linguagem popular- Variante informal de pouco prestígio se comparada à linguagem coloquial e à culta.- Espontânea, descontraída. Expressão subjetiva, concreta e afetiva.- Falada por pessoas que têm baixo grau de escolaridade ou são analfabetas.

Níveis de lgg

Exercício IIEscreva DOIS parágrafos de até 400 caracte-res (com espaços) de dois modos diferentes: um que simule uma situação falada e outro uma situação escrita.

Tema: Olimpíadas no Brasil

Use o seu idioleto.

A comunicação verbal baseia-se na interação dos seguintes fatores:

Emissor - Destinatário - Contexto - Mensagem - Contato - Código

Funções da lgg

Cada um dos fatores dão origem a uma função.

A estrutura verbal de uma mensagem depende primariamente da função que nela é predominante.

Funções da lgg

Fatores relevantes no ato de comunicação:

+ Remetente: emissor, destinador.+ Destinatário: receptor, ouvinte, leitor.+ Canal: meio ( jornal, emissora de rádio ou televi-são, carta, telegrama, faz, telefone, diálogo).+Código: língua portuguesa, língua inglesa.+ Contexto: referente conceitual, ambiente em que se dá a comunicação.+ Mensagem: texto referencial (a mensagem alude a um contexto extralinguístico ou a um referente conceitual).

A mensagem literária, no entanto, se refere a si mesma.

A mensagem não é neutra; ela tem um objetivo, uma finalidade: transmitir conteúdos intelec-tuais, exprimir emoções e desejos, hostitlizar pessoas ou persuadi-las, incentivar ações, esconder ou publicar fatos, evitar o silêncio.

Funções da lgg

+ Comunicar+ Exprimir emoções+ Levar o receptor a uma ação+ Agradar+ Embelezar+ Esclarecer a própria linguagem+ Manter viva a comunicação

Funções da lgg

+ Comunicar: função referencial+ Exprimir emoções: função emotiva+ Levar o receptor a uma ação: função conativa+ Embelezar: função poética+ Esclarecer a própria linguagem: função metalinguística+ Manter viva a comunicação: função fática

Funções da lgg

Função referencial: fundamento da comunicação

+ Estabelece uma relação entre a mensagem e o objeto a que se refere+ Objetividade, verificabilidade, impessoalidade, evita ambiguidades e confusões

Ciência, lgg burocrática e técnica, jornalismo, literatura realista.

Função expressiva ou emotiva: relação entre mensagem e emissor

+ Expõe ideias e emoções, apresenta a atitude do redator em relação ao objeto+ Primeira pessoa

Canções populares, novelas, pintura expressio-nista.

Função conativa: centrada no destinatário

+ Influencia o comportamento, elementos de ordem+ Segunda pessoa verbal, imperativo, vocativo

Mensagens publicitárias, textos impressivos, persuasivos e sedutores.

Função poética ou estética: atualização das potencialidades estruturais da língua

+ A mensagem com ela mesma+ Valorização das características físicas do signo (som e visualização)

Poesia, prosa literária, textos dramáticos.

Função fática: aproxima o receptor e o emissor

+ Prender a atenção do receptor, estabeler ou cortar a comunicação

Alô, bom dia, né, sabe, você está me entendendo?

Função metalinguística: centrada no código

+ O código para explicar o próprio código.

Dicionário, gramática.

Para escrever com mais propriedade, determine que mensagem você quer passar e escolha a fun-ção da linguagem que a enfatiza.

Essa função deve ser a PREDOMINANTE no texto (mesmo que outras também estejam lá).

Funções da lgg

A notícia como salvação do jornalismoCarlos Castilho - Observatório da Imprensa 14/01/2014

Pontos importantes:- Notícia como centro da atividade jornalística

- Notícia como produto a ser trocado por publicidade

- Oferta maior, preço menor

- Notícia não mais como produto comercial atrativo

- A notícia é um dado cuja principal característica é o ineditismo

- Notícia (informação) como motor dos processos de geração de conhecimento

Um poema – um dia, respondi a um repórter que queria sa-ber – é o contrário de uma notícia de jornal. Uma notícia de jornal diz coisas previsíveis e, portanto, possíveis: Irã Sequestra Corpo Diplomático dos Estados Uni-dos, URSS Invade o Afeganistão, Direita Vence Eleições em El Salvador. Recrudesce a Luta no Oriente Médio. Já a poesia fala de coisas que ninguém previa, impossí-veis, nadas:“Tinha uma pedra no meio do caminho” (Drummond)”.

Paulo Leminski“O veneno das revistas de invenção”Folhetim - 16 de maio de 1982

Notícia: relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante. A estrutura da notícia é lógica; o critério de im-portância ou interesse envolvido em sua produção é ideo-lógico: atende a fatores psicológicos, comportamentos de mercado, oportunidade, etc.

Nilson Lage Estrutura da notícia, 2006, 6ª Edição

Matéria-prima do jornalismo, a notícia é a base de tudo quanto é publicado, da caricatura mais alegre ao mais sé-rio editorial (às vezes, a caricatura vale por um editorial). Em busca da notícia é que se desenvolve toda a atividade jornalística, por quem sofrem e vibram os mais humildes repórteres e os mais bem-sucedidos proprietários de em-presas.

Luiz AmaralTécnica de jornal e periódico, 1978

Dois sentidos de notícia

Notícia no sentido amplo: tudo o que um jornal publica. O termo é aplicável às comunicações apresentadas periodicamente sobre aquilo que possa ser novo, atual e interessante para a comunidade humana.

Dois sentidos de notícia

Notícia no sentido estrito ou técnico: formato que designa um texto informativo e centrado nos fatos; caracterizado pela existência de um parágrafo inicial chamado lead em que se responde a seis questões

fundamentais (O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?) das quais as duas últimas podem ser respondidas no parágrafo seguinte; estrutura por um método chamado “pirâmide invertida” que apresenta os fatos por uma ordem decrescente de importância e organizado em blocos, de tal modo que, idealmente, a subtração de qualquer um destes a partir do fim do texto não deverá perturbar a leitura do que resta.

O admirável mundo das notícias - João Carlos Correia

História da notícia

- Na sociedade moderna europeia, as trocas de informação atingiram grande intensidade e amplitude. E a notícia, antes restrita e controlada pelo Estado e pela Igreja, tornou-se bem de consumo essencial.

História da notícia

- Idade Média: decretos, proclamações, exortações e sermões das igrejas. Circuitos paralelos de boatos e testemunhos.

- Século XIII, expansão da atividade comercial. Com as mercadorias, chegaram técnicas e informações.

História da notícia

- A acumulação de capital logo teve consequências: a organização mais ampla e atuante da atividade artesanal e a alfabetização. Os avvisi são colados em muros e não há mais o letrado que vai traduzi-los em voz alta. Quem os produz: banqueiros e comerciantes.

História da notícia

- Gutemberg em 1452 imprimiu a primeira Bíblia.

- Colonização da América, acúmulo de capital. Com tanto dinheiro, era tempo de partir para a conquista do poder.

História da notícia

- Surge a imprensa periódica. Primeiro jornal: Alemanha, 1609. Os interesses são mercantis e, posteriormente, políticos. Índex e censura: Igreja e Estado.

História da notícia

- Revolução Francesa e Revolução Industrial: surge um mercado para os jornais. Automatização do jornalismo. Publicidade financiadora.

História da notícia

- A notícia terminaria sendo a matéria-prima principal, conformando-se a padrões industriais por meio da técnica de produção, de restrições do código linguístico e de uma estrutura relativamente estável.

Noção intuitiva da notícia

- Notícia não é narrativa. A tradição literária possui começo e fim arbitrários, e lógica própria.

- Tradição oral: ordenação dos eventos por ordem decrescente de importância ou interesse é mais comum do que a temporalidade da sequência.

1. abre os olhos;

2. consulta o relógio de cabeceira;

3. levanta-se;

4. vai ao banheiro;

5. escova os dentes;

6. lava o rosto;

7. ouve a campainha da porta;

8. enxuga-se às pressas;

9. sai do banheiro;

10. caminha até a porta;

11. destranca a fechadura;

12. abre a porta;

13. vê um homem caído na soleira;

14. corre o olhar em tomo;

15. constata que não há ninguém mais no corredor;

16. abaixa-se;

17. toca o homem com os dedos;

18. sente que o corpo está frio e rígido;

19. percebe que é um cadáver;

20. corre para o telefone;

21. disca o número da central de polícia.

- Sequência temporal: “Eu ainda há pouco acordei, abri os olhos, consultei o relógio ... “.

- Sequência de importância: “Tem o cadáver de um homem na minha porta. Descobri quando fui atender à campainha. Não tinha mais ninguém do lado de fora. Vi que o corpo está frio. Demorei só um minuto porque estava no banheiro ... “.

A importância de cada evento se dá em função do evento principal da série, a descoberta do cadáver. Essa descoberta é que torna relevante o fato de o corredor estar vazio, ou de o sujeito que começou tão lamentavelmente seu dia ter demorado um minuto para atender à campainha porque estava no banheiro.

Três fases do processo de produção de uma notícia:

1. Seleção dos eventos2. Ordenação dos eventos3. Nomeação: “corpo”, “defunto”, “presunto”.

Gêneros jornalísticos

José Marques de Melo

Hierarquia dos trabalhos da imprensaGêneros jornalísticos são classes que agrupam formas de expressão

jornalística, organizadas conforme determinado propósito (informar,

interpretar, opinar, divertir, ser útil). Os formatos são as mensagens

jornalísticas estruturadas com certos caracteres, sendo estes os responsáveis

por sua identidade (por exemplo, notícia, coluna, roteiro, etc.). Os tipos são

os desdobramentos dessas formas, cujas características são capazes de

diferenciar unidades dentro de um conjunto (grande reportagem, coluna de

miscelânea, etc.).

Gêneros jornalísticos

- Gênero informativo (nota, notícia, reportagem, entrevista)

- Gênero interpretativo (análise, perfil, enquete, cronologia, dossiê)

- Gênero opinativo (editorial, comentário, artigo, resenha ou crítica, coluna, crônica, caricatura, carta)

- Gênero diversional (história de interesse humano, história colorida)

- Gênero utilitário (indicador, cotação, roteiro, obituário, serviço)

Gênero informativo

- Nasce no século XVIII com o editor inglês Samuel Buckley.- Divisão do jornal em news e comments como estratégia de sobrevivência do Daily Courant.

Gênero informativo

- No Brasil, só se estabeleceu depois de uma fase unicamente opinativa.

- Escola americana

Gênero informativo

- A informação passa a ser o alicerce do jornalismo moderno, cuja primeira função passa a ser a informação, o relato puro do que ocorre de significativo em todos os domínios do pensamento e da atividade humana.

Gênero informativo

- Informar é apresentar ao leitor aspectos essenciais de determinadas temáticas, os porquês e tantos ângulos distintos quanto possível.

Gênero informativo

- A palavra informar é completa por si mesma, e exige que o jornalista dê ao leitor notícias tão exatas e profundas como mereça a importância dos fatos (Mário Erbolato, 1991).

Três elementos (Lage)

- Veracidade: um compromisso de que o que é publicado seja verdadeiro.

- Imparcialidade: testemunhar os fatos tal como eles são.

- Objetividade: A objetividade, em jornalismo, é meta que se traduz numa série de técnicas de apuração, redação e edição; na busca de enunciados intimamente adequados à realidade e em sua tradução para diferentes públicos e veículos.

Gênero Informativo

- Apurar os fatos, checá-los, dissecá-los, confrontá-los e contextualizá-los, passando uma versão que seja a mais aproximada da realidade.

Gênero informativo

O jornalismo informativo significa levar informação ao receptor (sociedade) sobre o que ocorre em sua realidade. Um gênero que se estrutura a partir de um referencial exterior à instituição jornalística.

Gênero informativo

- Depende diretamente da evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores profissionais ( jornalistas) estabelecem com os protagonistas (personalidades ou organizações).

Formatos do gênero informativo

- Nota: próxima à notícia; a diferença entre nota, notícia e reportagem está na progressão dos acontecimentos. A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração, de assuntos

inacabados ou de fatos que podem mudar de rumo a qualquer momento, enquanto a notícia é o relato integral de um fato. Maior capacidade de veicular uma informação no momento exato em que acontece. Não possui todos os elementos da notícia: ação-agente-tempo-lugar-modo-motivo.

Formatos do gênero informativo

- Notícia: a narração dos últimos fatos ocorridos ou com possibilidade de ocorrer em qualquer campo de atividade e que no julgamento do jornalista têm importância para o público a que se dirigem.Atributos: imediatismo, veracidade, universalismo e interesse e importância.

Classificação:- Ocorrência que a provoca: previsível e imprevisívelTeatro da ocorrência: local, regional, nacional e estrangeira- Repercussão: extraordinárias, sensacionais, importantes, comuns- Assunto: política, policial, esportiva, econômica, profissional, social, científica, artística, diversa.

Formatos do gênero informativo

- Reportagem: trata de um tema novo ou não. É um relato

ampliado de acontecimentos que produziram impacto

no organismo social (desdobramento, antecedentes ou

ingredientes noticiosos). É um aprofundamento dos fatos de

maior interesse público que exigem descrições sobre o modo, o

lugar e o tempo, além da captação das versões dos agentes.

Formatos do gênero informativo

- Entrevista: pode ser um formato ou uma técnica empregada na apuração dos fatos. Texto que propicia ao público conhecer opiniões, ideias, pensamentos e observações de personagem da notícia ou de pessoa que tem algo relevante a dizer. Pingue-pongue.

Restrições pragmáticas (normativas)

- Limitação do código: redução no número de itens léxicos (palavras e expressões) e de operadores (regras gramaticais) para aumentar a comunicabilidade e facilitar a produção da notícia

Restrições pragmáticas (normativas)

- Redução da amplitude de conteúdos a comunicar. O universo das notícias é o das aparências do mundo.

Por detrás das notícias corre uma trama infinita de relações dialéticas e percursos subjetivos que elas, por definição, não abarcam.

Restrições pragmáticas (normativas)

- Linguagem jornalística: uso de vocabulário e gramática coloquiais - Normas de redação: impedimento do uso estilístico de elementos linguísticos- Impessoalidade: uso da terceira pessoa é obrigatório

Modelo elementar de comunicação

Mensagem CódigoFonte Canal Receptor

Relação com as funções da linguagem segundo Roman Jakobson

Fonte: função emotivaReceptor: função conativaCanal: função fáticaCódigo: função metalinguísticaMensagem: função referencial

Função referencial

Transmite uma informação objetiva sobre a realidade. Dá prioridade aos dados concretos, fatos e circunstâncias. É a linguagem característica das notícias de jornal, do discurso científico e de qualquer exposição de conceitos. Coloca em evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual a mensagem se refere.

Função referencial: marcada pelo uso da terceira pessoa verbal, pela ausência de valoração (portanto, adjetivação cuidadosa) e pela pontuação racional, evitando reticências, aspas, interrogações e exclamações.

Restrições pragmáticas (normativas)

Modo verbal do jornalismo: indicativoModo verbal da publicidade: imperativo

Construção referencial: trata das aparências

Modo IndicativoCerteza, realidade - Eu sempre estudo.

Modo ImperativoOrdem, pedido - Compre Batom.

Modo SubjuntivoDúvida, possibilidade - Talvez eu estude amanhã.

Restrições pragmáticas (normativas)

Subjetividade está excluída: não é notícia o que alguém pensou, imaginou, concebeu, sonhou, mas o que alguém disse, propôs, relatou ou confessou.

Restrições pragmáticas (normativas)

Axiomática: afirma-se como verdadeira, é inquestionável (axioma = provérbio, máxima).

O que não é verdade, numa notícia, é fraude ou erro.

Efeito de realidade: exatidão, comparações, tangibilidade

Condição tripartida do signo

Signo: unidade da língua que exprime ideias.

Significado: conceito ou ideia evocada pelo signoSignificante: materializaçãoReferente: aquilo de que se trata

‘Condição tripartida do signo

1º ângulo: significante x referente2º ângulo: significante x significado (o significado se atualiza: jornal3º ângulo: significado x referente

Efeito de real

Real autossuficiente, não mediatizado: como se a representação fosse ela mesma a pura concretude do que representa

Efeito de real

Recursos aos sinais de marcação que remetem ao real: - Citações- Entrevistas- Fotografia- Tabelas

Efeito de real

Estratégias de verossimilhança, de enraizamento do real, segundo Barthes

- Índices- Informantes- Catálises

Efeito de real

Índices- significantes que delineiam o caráter de uma personagem, sua identidade, atmosfera, estado de espírito.

Testemunhos de familiares e vizinhos; fotografia

Efeito de real

Informantes- significantes que servem para situar no espaço e no tempo. Determinação geográfica e temporal.

Entre o dia anterior e o hoje.

Efeito de real

Catálises- função cronológica pela qual se operam a distensão e a compressão temporal presentes no tempo da narrativa.

Contar a partir do fato mais importante; lead.

Implicações do Efeito de Real

Ilusão referencialSuposição de um real autossuficiente, sem a mediação simbólica

Não há uma medida suficiente.

Implicações do Efeito de Real

Fotografia, entrevista e citação são recortes, escolhas.Algo está de fora. Trata-se sempre de uma descontextualização.

O fragmento valendo por.

Em vez de “verdade”, “verossímil”.Em vez de “verdadeiro”, “credibilidade”.

Verossímil: possívelCredibilidade: crível, acreditável

Lide e documentação

PosiçãoPrimeiro parágrafo da notícia em jornalismo impresso.

ConteúdoÉ o relato do fato principal de uma série, o que é mais importante ou mais interessante.

Lide

Palavra aportuguesada do inglês “lead”, conduzir, liderar. O jornalismo usa o termo para resumir a função do primeiro parágrafo: introduzir o leitor no texto e prender sua atenção.

Lide

O lide conduz quem lê e quem escreve. Se ao produzir um texto você não avança, é muito provável que o problema esteja no lide. Você não consegue escrever. O leitor não conseguirá mais ler.

Lide

Forma clássica de lide para verbos transitivos

a) Sujeito, uma locução constituída de um nome, pronome ou sintagma nominal (LN1).

Lide b) Predicado, o sintagma verbal (LV), verbo ou locução verbal, acompanhado ou não de seu complemento, um objeto direto (LN2) ou indireto (kLN3).

c) Circunstâncias, ou sintagmas circunstanciais (LC) de tempo, lugar, modo/instrumento, causa/consequência.

Documentação

Um, dois ou mais parágrafos que funcionam como o complemento do lide. É responsável por detalhar e acrescentar informações sobre a ação verbal em si, os sintagmas nominais, os sintagmas circunstanciais ou quaisquer de seus componentes.

Modelo de lide de Harold Lasswell

Lide informa quem fez o que, a quem, quando, onde, como, por que e para quê.

6 perguntas do lide

O quê?Quem?Quando?Onde?Como?Por quê?

Pirâmide invertida

1º parágrafo do texto: O quê? Quem? Quando? Por quê?

2º parágrafo (sublide): Como? Onde?

Funcionamento do modelo

Objetivo: dar ao leitor as principais informações no primeiro parágrafo da notícia. Prender a leitura.

Funcionamento do modeloJustificativa: a fórmula permite uma interrupção da leitura sem prejuízo do principal.

Vantagem: facilidade no processo de edição e diagramação.

Implicações do modelo

- Reforço do mito da objetividade. Slogan anglo-saxão: “É livre o comentário, mas os fatos são sagrados”.

- Padronização (rapidez, distanciamento)

- Automação

- Proteção aos jornalistas e empresas

- Divisão do espaço, configurando a sustentação do negócio via publicidade

Lide noticioso na Folha de São Paulo

a) Sintetizar a notícia de modo tão eficaz que o leitor se sinta informado só com a leitura do primeiro parágrafo do texto;

b) Ser tão conciso quanto possível. Procure não ultrapassar cinco linhas de 70 toques (lauda) ou de 80 toques (terminal de computador da Folha);

c) Ser redigido de preferência na ordem direta (sujeito, verbo e complemento).

O que se deve evitar para a Folha de São Paulo:

a) Esconder o fato principal em meio a informações como localização geográfica, horário, ambientação e idade - todas elas recomendadas neste manual, o que não quer dizer que todas devam ser fornecidas de uma só vez;

b) Usar, sem explicar, nome, palavra ou expressão pouco familiar à média dos leitores;

c) Começar com advérbio ou gerúndio;

d) Começar com declaração entre aspas, fórmula desgastada pelo uso indiscriminado. Reserve-a para casos de declarações de impacto: “Não acredito no livre mercado”, disse o empresário.

Bom lide (Folha de S. Paulo)

O presidente eleito Tancredo Neves morreu ontem, dia de Tiradentes, às 22h23, no Instituto do Coração em São Paulo. O comunicado oficial foi feito pelo porta-voz da Presidência, Antônio Britto, às 22h29. A morte de Tancredo ocorreu 38 dias após sua internação no Hospital de Base

de Brasília, na véspera da posse. Nesse período, Tancredo foi submetido a sete intervenções cirúrgicas, as cinco últimas em São Paulo, para onde havia sido transferido no dia 26 de março. Tancredo Neves tinha 75 anos.

Nariz-de-cera

A astronomia já viveu grandes revoluções em sua história. Das esferas de cristal, que sustentavam os astros em seus postos fixos, à revolução de Nicolau Copérnico (1473-1543) e às elipses de Johannes Kepler (1571-1630), muitos séculos de observação foram necessários para mudar a imagem do céu. O século 20 não poderia fugir à regra.

Uma descoberta anunciada na semana passada pela revista britânica “Nature” confirma o padrão. Astrônomos do Observatório Austral Europeu (ESO, na sigla em inglês) detectaram o primeiro planeta fora do Sistema Solar.

Tipos de lide Folha de S. PauloLide Noticioso: responde às questões principais em torno de um fato.

Lide não factual: utiliza outros recursos para chamar a atenção do leitor.

Tipos de lide- Nilson Lage

Lide Clássico

O imperador J. Walter Moitta atropelou um urubu,ontem, em Cabo Keneddy, quando participava de seushabituais exercícios de guerra aérea no fim de semana,pilotando o trenó de Papai Noel.

O jogador José da Silva, meia-esquerda da equipedo Lulalá, da terceira divisão do Acre, quebrou a pernaem um lance violento no jogo contra os So-cial-Democratasdo Alto Purus, realizado no campo da Selva, a 200quilômetros de Nunca Mais.

Elemento mais importante é o sujeito

Quinhentos mil hectares de matas amazônicasforam derrubados e queimados pela Companhia deReflorestamento Belanatureza, que pretende criar gado em sua propriedade no município de Desesperança, na margem esquerda do rio Negro.

Elemento mais importante é o objeto direto

Elemento mais importante é o objeto indireto

A rainha da Brumácia, Vampira 111,rece-beu ontem, das mãos de uma pequena aluna da Escola Municipal Brumácia, no bairro Paraíso, um buquê de flores ofertadopela colônia brumaciana no estado de Tocantins.

Elemento mais importante é uma circunstância

Junto à cerca eletrificada que protege a flo-rescente plantação irrigada de melões da fa-zenda Export Hills, em Quixadá, os fiscais da Secretaria de Agricultura do Cearácontaram, ontem, duzentas carcaças de bois, mortos de fome em conseqüência da esti-agem na região.

Lide sobre declaraçãoDiscurso direto - O monetarismo é doença profissionaldos economistas, disse dr. Levingstone I, da Universidade de Pasárgada, em conferência, ontem à tarde, no auditório da Bolsa de Valores do Piauí.

Discurso indireto - Dr. Livingstone I, da Universidade de Pasárgada, disse ontem, em conferência no auditório da Bolsa de Valores do Piauí, que o monetarismo é doença profissional dos economistas.

Lide sobre declaraçãoDiscurso direto - “Venceremos a guerra sem derramar o sangue de nossos inimigos”, declarou, em pronunciamento, ontem, na Assembleia Geral das Nações Unidas, o embaixador da Transilvânia, R. H. Drákula. E acrescentou: “Seria um desperdício”.

Discurso indireto - O embaixador da Transilvânia na ONU, R. H. DrákuIa, assegurou que seu pais vencerá a guerra sem derramar o sangue de seus inimigos porque isso representaria “um desperdício”.

Lide interpretativoAplicação em noticiários especializados.Contém intepretação sintética e óbvia, aceita pela maioria.

A Lei da Gravitação Universal, um dos mais sólidos princípios da Física, tornou-se uma teoria como outra qualquer, sujeita a ser considerada caso particular de outra teoria mais abrangente. O astrônomo inglês T. Stormsky demonstrou ontem, em São Paulo, ao atento auditório do IV Congresso Mundial de Astronomia, que certas partículas, em regiões remotas do Universo, simplesmente desobedecem à Lei.

Lide narrativoSequência narrativa de poucas linhas com uma surpresa no final. Estrutura semelhante ao conto.

Um vulto infantil que passeava no parapeito do 5º andar do edifício Carminha, na esquina principal de Caiaguatatuba (SP), atraiu multidão, mobilizou os bombeiros e terminou levando à delegacia o dono de um circo: era o anão acrobata, que se exibia para promover o espetáculo.

Identificar o lide

O quê? Quem?Quando? Onde? Como? Por quê?PROCURE NA NOTÍCIA ESTES ELEMENTOS

Como escrever leads melhoresSegundo o manual de redação do Estado de São Paulo

As mulheres se envolvem cada vez mais no tráfico e uso de cocaína e crack em São Paulo. Os dados, divulgados ontem pela polícia paulista, revelam que, das 980 pessoas presas em flagrante no ano passado, 229 eram mulheres. “Elas começam a fumar crack ou a cheirar cocaína em festas com os amigos ou namorados”, revelou o delegado Fernando Vilhena. “Quando o fornecedor desaparece, passam a roubar e a fazer de tudo para conseguir a droga.”

Objetividade (ir direto ao ponto)

A que foi classificada como “a nevasca do século” nos Estados Unidos matou pelo menos 100 pessoas e bloqueou aeroportos, estradas e edifícios com uma camada de até 80 centímetros de neve. A tempestade obrigou as autoridades a fechar seis aeroportos e a declarar estado de emergência em seis Estados. Em Nova York, 18 pessoas ficaram intoxicadas pelo monóxido de carbono: o gelo obstruiu os canos de escapamento dos carros.

Objetividade (ir direto ao ponto)

O ator português Joaquim de Almeida divide a vida entre seus apartamentos em Lisboa e Nova York e os cenários de dezenas de partes diferentes do mundo. Tem carreira feita no cinema europeu e norte-americano e fechou o ano com uma satisfação especial. Adão e Eva, filme 100% português dirigido pelo amigo Joaquim Leitão, rompe com a linguagem do cinema lusitano e, em uma semana, bateu um recorde no país: foi visto por 30 mil pessoas.

Objetividade (ir direto ao ponto)

Policiais de Osasco, na Grande São Paulo, esclareceram ontem o desaparecimento de Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, filha de um empresário da cidade. No começo de março, ela saiu de casa para morar com o namorado Álvaro de Andrade Silva, de 23 anos, viciado em cocaína e maconha, e não deu mais notícias.

Burocráticos

Filha de um empresário de Francisco Morato, na Grande São Paulo, e desaparecida desde março, Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, foi morta pelo namorado, Álvaro de Andrade da Silva, de 23 anos, em Miracatu, no Vale do Ribeira. Silva, preso anteontem por policiais de Osasco, alegou ter cometido o crime porque queria voltar a morar com a mulher e Margarida ameaçava denunciá-lo por causa do envolvimento dele com drogas.

Burocráticos

A denúncia publicada ontem pelo Estado, de que parte do equipamento destinado às obras da Hidrelétrica de Mata Cerrada veio de uma usina desmontada dos Estados Unidos, repercutiu amplamente na sessão do Congresso. O deputado Luciano Machado (PDV-SP) chegou a propor o bloqueio dos bens e a prisão administrativa dos responsáveis pela sua construção.

Repercussões e suítes

O deputado Luciano Machado (PDV-SP) propôs ontem o bloqueio dos bens e a prisão administrativa dos responsáveis pela construção da Hidrelétrica de Mata Cerrada. O parlamentar tomou a decisão como conseqüência das denúncias do Estado, publicadas ontem, de que parte do equipamento veio de uma usina desmontada dos Estados Unidos.

Repercussões e suítes

Durante quase seis horas, oito testemunhas prestaram depoimento ontem no 15.º Distrito Policial, no inquérito que apura o caso do comerciante João dos Santos, acusado de ter matado com um pontapé o vendedor ambulante Carlos Augusto de Morais, na Avenida Cidade Jardim, sábado passado. O delegado Marcos Luís de Almeida, que preside o inquérito, e o promotor José Carlos Figueira, designado especialmente para o caso, ouviram os relatos e fizeram muitas perguntas às testemunhas.

Repercussões e suítes

Das oito testemunhas ouvidas ontem pela polícia, sete apontaram o comerciante João dos Santos como responsável pela morte do vendedor ambulante Carlos Augusto de Morais, sábado, na Avenida Cidade Jardim. Apenas a noiva do acusado, Maria da Conceição, tentou isentá-lo de culpa. Segundo os depoimentos, Morais matou a vítima com um pontapé na cabeça. O delegado Marcos Luís de Almeida, que preside o inquérito, e o promotor José Carlos Figueira, designado especialmente para o caso, ouviram as testemunhas durante seis horas.

Repercussões e suítes

Ontem à noite, depois de uma reunião de quatro horas, a direção do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis de Foz do Iguaçu aceitou uma contraproposta do sindicato dos empresários que poderá evitar a greve da categoria que paralisaria a cidade que, nesta época do ano, recebe milhares de turistas.

Falta de informações

Carlos Ramalho beijou a poça de água em que pisou assim que desceu do ônibus, na plataforma 75 do Terminal Rodoviário do Tietê. “Quer melhor chegada para um baiano que está fugindo da seca?” Ele ficou surpreso na manhã de ontem quando chegou a São Paulo. Chovia e fazia muito frio, “coisa rara na terrinha”. Antes de saber para que lado ia, preferiu andar um pouco descalço, pisando nas poças de água.

Humanos

Aos 35 anos de idade, o jornalista Haroldo de Faria Castro já viajou cerca de 1 milhão de quilômetros, visitou 74 países, rodou as Américas a bordo de uma velha Kombi e acabou batendo o recorde de Júlio Verne: deu a volta ao mundo em 79 dias, carregando a tocha olímpica da paz.

Humanos

A mais significativa vitória de um lobby articulado na atual Constituinte não foi de empresas especializadas e organizadas para esse fim ou os financiados pelas poderosas multinacionais. Foi a do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que conseguiu a inclusão, no projeto da Comissão de Sistematização, de 38 reivindicações de 9 confederações de trabalhadores, 9 federações de funcionários públicos de nível nacional, 3 centrais sindicais e mais de 300 sindicatos.

Interpretados

Quando o ministro-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), tenente-brigadeiro Alberto de Souza, deixou claro na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDE), no Palácio da Alvorada, que os militares não aceitariam nenhuma redução na forma de cálculo de seus vencimentos que não atingisse igualmente os Poderes Legislativo e Judiciário, o setor econômico do governo federal entendeu que tinha pela frente um problema bem mais sério do que imaginava.

Intercalações

Os dois seqüestradores de Vanessa Carla de Oliveira, de 2 anos e meio, que a mantiveram como refém durante 8 horas, na quarta-feira passada, e a esfaquearam quando a polícia iniciava o seu resgate, eram ex-estudantes da Faculdade João Ramalho, de São Paulo, José Carlos Tanganelli, de 26 anos, quartanista de Administração de Empresas, e Vicente Lopes da Silva, aluno do primeiro ano de Engenharia de Sistemas.

Intercalações

Não se sabe a que horas acordam, quantos maços de cigarros fumam, se bebem antes, durante e depois. Mas os romances que produzem cheiram a dinheiro, quase dispensam publicidade e invariavelmente encabeçam as listas dos mais vendidos. Nesta página, três exemplos desses escritores-vendedores e seus novos lances: Georges Simenon, Johanna Kingsley e Sydney Sheldon.

Não noticiosos

Provar a honestidade. Este é o desafio permanente dos homônimos, vítimas da burocracia da Justiça, das listas telefônicas e até dos computadores do Serviço de Proteção ao Crédito. Quando precisam assinar contratos, logo surgem os fantasmas dos xarás, que não pagam suas dívidas e acabam dificultando os negócios.

Não noticiosos

Entregadores domiciliares de pizzas transformaram-se no alvo preferido de grupos organizados de jovens delinqüentes da classe média, cuja ousadia já preocupa os donos das pizzarias. Os jovens cercam os entregadores e levam as pizzas, o dinheiro e, muitas vezes, também a moto ou a bicicleta. Alguns dos comerciantes sabem quem são os ladrões, mas nada podem fazer contra eles.

Não noticiosos (pautas frias)

Se estivesse vivo, o compositor tal estaria completando hoje 90 anos de idade.

Quando embarcou no Hércules C-130 da FAB, o comandante Antônio Soares jamais poderia imaginar que aquela era sua última viagem.

O óbvio ou lugar-comum

O óbvio ou lugar-comum

O movimento das estradas paulistas começou ontem a ficar muito intenso por causa do feriado prolongado da Semana Santa.

O movimento das lojas em São Paulo começa a aumentar com a aproximação do Natal.

Se estivesse vivo, o compositor italiano Bellini ficaria feliz ao saber que empresta seu nome ao restaurante que tem a vista panorâmica mais bonita de São Paulo.

A nova equipe que o São Paulo montou para esta temporada sofreu ontem o primeiro abalo. O epicentro do terremoto foi o campo n.° 1 do Centro de Treinamento.

Criatividade

Criatividade

Se o mosquito Aedes aegypti pensou que ia ter folga nesta primavera, preparando seu exército para atacar no verão, pode tirar os ovinhos da chuva. É que a Sucam iniciará campanha contra o inseto.

O vencedor de Cruzeiro x Palmeiras sai hoje do Mineirão gritando: “Sou líder.” A partida tem início às 19 horas.

Criatividade

Nem a legislação eleitoral escapa de drible na terra de Mané Garrincha . Em Magé (Grande Rio), o prefeito do vizinho município de Guapimirim, Nélson Costa Mello (PL), 48 anos, deu um chápeu na lei que proíbe a reeleição, safou-se de tentativa da Justiça de derrubá-lo na entrada da área e ficou de cara para o gol nas urnas de 3 de outubro.

Manuais de redação e estilo+ Normas editoriais e de estilo do veículo

+ Padronização dos textos de diferentes profissionais de um mesmo veículo

+ Orientações de ordem moral e técnica - explicita a linha editorial do veículo

Manuais de redação e estilo+ Uniformização da linguagem: apresenta as formas próprias de redação, ortografia ou estilo adotadas pelo veículo. Exemplo: os dicionários grafam, em geral, oceano Atlântico, baía de Guanabara, golfo Pérsico, etc. No Estado de SP, a palavra que indica o acidente tem inicial maiúscula: Oceano Atlântico, Baía de Guanabara, Golfo Pérsico, etc.

Manuais de redação e estilo

+ Guia de erros mais comuns na língua portuguesa

+ Fixação de um padrão mínimo e uniforme de qualidade de texto

+ Castração do estilo e da linguagem próprios do jornalista?

Manuais de redação e estilo

+ Relação de palavras vetadas. São termos que a Redação, julga antijornalísticos, grosseiros, ultrabatidos ou, ao contrário, rebuscados demais para uso normal no noticiário.

Manuais de redação e estilo

À exceção dos vocábulos vulgares (avacalhar ou esculhambar, por exemplo) ou chulos, os demais poderão ser admitidos em artigos ou crônicas de colaboradores externos, mas não em trabalhos dos profissionais da empresa.

Manuais de redação e estilo

Exemplos de palavras e expressões consideradas antijornalísticas ou sofisticadas: primeiro mandário da Nação, burgomestre, soldado do fogo, agilização, necrópole, nosocômio, tantalização, programático, emergencial, alavancagem, a nível de, etc.

Manuais de redação e estiloManual do Estado de São Paulohttp://www.estadao.com.br/manualredacao/

Manual da Folha de São Paulohttp://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_redacao.htm

Aprender a escrever é, em grande parte, se não prin-cipalmente, aprender a pensar, aprender a encon-trar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmi-tir o que a mente não criou ou não aprovisionou.

Othon M. GarciaComunicação em prosa moderna

Recursos/mecanismos/procedimentosargumentativos

Linguísticos+ Fonéticos (sons, pronúncia)+ Morfológicos (classes de palavras)+ Sintáticos (elementos da frase)+ Estilísticos (expressividade da lgg)+ Semânticos (sentido, interpretação)

Gráficos+ Parênteses (explicação)+ Travessão (interlocutores, explicação com ênfase)+ Aspas (citação, realce - novo sentido)+ Negrito/grifo/caixa alta (destaque)

Conjunto de características que fazem com que um texto não seja apenas um amontoado de frases.

Textualidade

Quando falta textualidade?

- Começam com um tema e terminam com outro- Períodos ininteligíveis- Sem pé nem cabeça

Fatores de textualidade

+ Coerência (macrotextual: nível cogni-tivo, conhecimento de mundo) articulação de ideias, construção de sentido, evita ruídosBêbados não são coerentes.

+ Coesão (microtextual)Conexão gramatical: conjunções, prono-mes, vocábulosNão pode haver ambiguidade ou regên-cias incorretas.Repetição. Substituição. Costura.

Ulysses era impressionante sob vários as-pectos, o primeiro e mais óbvio dos quais era a própria figura. Contemplado de per-to, cara a cara, ele tinha a oferecer o con-

traste entre as longas pálpebras, que su-biam e desciam pesadas como cortinas de ferro, e os olhos claríssimos de um azul

leve como o ar. As pálpebras anunciavam profundezas insondáveis. Quando ele as abria parecia estar chegando de regiões inacessíveis, a região dentro de si onde guardava sua força.

+ Aceitabilidade (auditório)

O texto deve ser compatível com a expec-tativa do receptor: utilidade, relevância.O receptor assina um contrato e se com-promete a esforçar-se.

+ Intencionalidade

Compatibilidade com as intenções de quem o produz (cumprimento do projeto de dizer)

+ Informatividade

Relacionado à informação. Ideal: nível mediano de novas informações ligadas a dados já conhecidos.

+ Situacionalidade (contexto)

Adequação à situação comunicativa. Falada? Escrita? Níveis de linguagem.

+ Contextualizadores (data, autor, tipo de letra, etc.)

Elementos de tangibilidade e de credibilidade.

+ Intertextualidade Relação entre dois ou mais textos.Temática, estilística (paródia).Dependência para gerar sentido.

TÍTULO: “NUNCA SONHEI COM ISTO”, por Ray Bradbury.

Ray Bradbury, o maior escritor de ficção científica de nossos tempos, jamais tinha visto de perto uma nave espacial, jamais tinha sequer conhecido um astronauta pessoalmente. Então foi visitar Cabo Ken-

nedy. E êle, acostumado a sonhar com um futuro muito além do seu alcance, espan-tou-se com a própria “ignorância”. Ago-ra, ao descrever o lugar que há vinte anos atrás só existe em suas novelas, Bradbury confessa que o lançamento de um foguete ultrapassa infinitamente o que podia ima-ginar e corrige as previsões que fêz num

de seus livros em 1950: chegaremos à Lua não em 1975, mas daqui a dois anos; e a Marte não no finzinho do século, mas da-qui a doze anos.

Olho 1: “É estranho, complicado, amedron-tador”;

Olho 2: “Aqui ensaiam nossa própria His-tória”;

Olho 3: “Aqui a lua nasce e morre dentro duma sala”;

Olho 4: “Aqui se aprende até a pensar com os dedos”;

Olho 5: “Daqui o homem partirá para ou-tros mundos”;

Olho 6: “E a terra, de quem será?”

(REVISTA REALIDADE, ed. 23, fev. de 1968).

Assinalar o argumento mais forte:

Somar argumentos favoráveis:

Introduzir uma conclusão relativamentea argumentos já apresentados: Introduzir argumentos alternativosque levam a conclusões diferentes: Estabelecer relações de comparaçãoentre elementos: Introduzir uma justificativa ou explicação do enunciado anterior: Contrapor argumentos orientadospara conclusões contrárias: Introduzir no enunciado conteúdos pressupostos: Orientar para escalas opostas -afirmação total ou negação total:

Até, mesmo, até mesmo, inclusive, nem mesmo, ao menos, pelo menos, no mínimo. E, também, ainda, nem, não só.... mas também, tanto...como, além de..., além disso..., a par de, aliás, etc. Portanto, logo, por conseguinte,pois, em decorrência, consequentemente, etc. Ou, ou então, quer... quer, seja...seja, etc.

Mais que, menos que, tão...como, etc.

Porque, que, já que, pois, etc.

Mas (porém, contudo, todavia, no entanto, etc.), embora (ainda que, posto que, apesar de (que) etc.) Já, ainda, agora, etc. Um pouco, quase (afirmação da totalidade) Apenas (só, somente), poucos (negação da totalidade)

FUNÇÃO OPERADORES ARGUMENTATIVOS

Operadores argumentativos

Operador‘mesmo’, ‘até’, ‘até mesmo’, ‘inclusive’FunçãoOrganizam a hierarquia dos elementos numa escala, assinalando o argumento mais forte para uma conclusão

Operador‘ao menos’, ‘pelo menos’, ‘no mínimo’FunçãoIntroduzem dado argumento deixando subentendida a presença de uma esca-la com outros argumentos mais fortes;

Operador‘portanto’, ‘logo’, ‘por conseguinte’, ‘pois’, ‘em decorrência’, ‘conseqüentemente’ FunçãoIntroduzem uma conclusão relativa a argumentos apresentados em enun-ciados anteriores;

Operador‘ou’, ‘ou então’, ‘quer...quer’, ‘seja..seja’ FunçãoIntroduzem argumentos alternativos que conduzem a conclusões diferentes ou opostas;

Operador‘mais que’, ‘menos que’, ‘tão...como’ FunçãoEstabelecem relações entre elemen-tos, com vista a uma dada conclusão;

Operador‘porque’, ‘que’, ‘já que’, ‘pois’ FunçãoIntroduzem uma justificativa ou expli-cação relativa ao enunciado anterior;

Operador‘mas’, ‘porém’, ‘contudo’, ‘todavia’, ‘no entanto’, ‘embora’, ‘ainda que’, ‘posto que’, ‘apesar de (que)’ FunçãoContrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias;

Operador‘um pouco’ e ‘pouco’, ‘quase’ e ‘apenas’, ‘só’, ‘somente’ FunçãoDistribuem-se em escalas opostas, isto é, um deles funciona numa escala orientada para a afirmação total e o outro, numa escala orien-tada para a negação total;

Operador‘e’, ‘também’, ‘ainda’, ‘nem’ (= e não), ‘não só...mas também’, ‘tanto...como’, ‘além disso’, ‘além de’, ‘a par de’ FunçãoSão argumentos que fazem parte de uma mes-ma classe argumentativa, isto é, somam argu-mentos a favor de uma mesma conclusão.

Operador‘aliás’ FunçãoIntroduz um argumento decisivo, resu-mindo todos os demais argumentos.