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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ROSEMEIRE KUCHINISKI GOMES SINTOMAS MENTAIS E SUPORTE SOCIAL EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SÃO BERNARDO DO CAMPO 2012

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ROSEMEIRE KUCHINISKI GOMES

SINTOMAS MENTAIS E SUPORTE SOCIAL EM

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2012

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ROSEMEIRE KUCHINISKI GOMES

SINTOMAS MENTAIS E SUPORTE SOCIAL EM

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade

Metodista de São Paulo, como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Saúde.

Área de concentração: Processos Psicossociais

Orientação: Profª Drª Vera Maria Barros de Oliveira

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

G585s

Gomes, Rosemeire Kuchininski

Sintomas mentais e suporte social em profissionais de enfermagem

/ Rosemeire Kuchininski Gomes. 2012.

104 f.

Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) –Faculdade de

Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do

Campo, 2012.

Orientação de: Vera Maria Barros de Oliveira.

1. Depressão 2. Ansiedade 3. Suporte social 4. Profissionais de

enfermagem I. Título

CDD 157.9

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A dissertação de mestrado sob o título “SINTOMAS MENTAIS E SUPORTE SOCIAL

EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM”, elaborada por Rosemeire Kuchiniski

Gomes foi apresentada e aprovada em 28 de fevereiro de 2012, perante banca examinadora

composta por Profa. Dra. Vera Maria Barros de Oliveira (Presidente/UMESP), Prof. Dr.

Manuel Morgado Rezende (Titular/UMESP) e Prof. Dr. Luiz Gonzaga Leite

(Titular/UNISAOPAULO).

__________________________________________

Profa. Dra. Vera Maria Barros de Oliveira

Orientadora e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________

Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Psicologia da Saúde

Área de Concentração: Psicologia da Saúde

Linha de Pesquisa: Processos Psicossociais

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Aos meus filhos, pela compreensão

e respeito a minha profissão.

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AGRADECIMENTOS

À Deus e aos meus pais pela vida.

À minha orientadora: Professora Dra Vera Maria Barros de Oliveira pela

sua dedicação e contribuição ao meu aprimoramento profissional.

À grande amiga e Mestre Maria Aparecida Mello, pelo apoio

incondicional e incentivo.

Ao Professor Dr. Manuel Morgado Rezende, pelas contribuições

acadêmicas e incentivo.

À Professora Mestre Cecilia Aparecida Vaiano Farhat pela contribuição

na execução da análise de dados.

Ao Professor Dr. Luiz Gonzaga Leite, pelas oportunidades oferecidas e

confiança na minha jornada profissional.

A minha filha Carolina, pelo apoio e carinho.

Aos amigos especiais, que estiveram comigo nessa jornada, que

contribuíram e me auxiliaram nos momentos decisivos: Sueli, Marcello Portela,

Nathanael, Yury, Dilma, Paula, Sérgio Luiz, Janete.

Ao eterno amigo Paulo, pela sua presença na minha vida.

À Débora G.N. Mansur, por mais uma vez, possibilitar e contribuir para

minha formação acadêmica.

À bibliotecária Rosangela, pela colaboração e atenção dispensada.

Aos profissionais de enfermagem que participaram desse estudo, o meu

muito obrigada!

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Bola de Meia, Bola de Gude

“Há um menino, há um moleque,

morando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente,

o sol bem quente lá no meu quintal

Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de

existir

Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso, não devo, não quero viver

como toda essa gente insiste em viver

Não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa

normal

Bola de meia, bola de gude, o solidário não quer solidão

Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão

Há um menino, há um moleque morando sempre no meu

coração

toda vez que o adulto fraqueja ele vem pra me dar a mão...”

Milton Nascimento e Fernando Brant

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RESUMO

Esta pesquisa investiga a possível correlação entre os níveis de depressão e ansiedade e a

percepção de suporte social em profissionais de enfermagem em ambiente hospitalar. Utiliza-

se de método descritivo exploratório de caráter quantitativo comparativo. Foram aplicados: A

Escala Beck de Depressão – BDI total e as subescalas S1 cognitivo-afetiva, S2 somática e de

desempenho; o Inventário de Ansiedade – BAI (Beck Anxiety Inventory) ; a Escala de

Percepção de Suporte Social (EPSS) e questionário sócio-demográfico-clínico em 39

profissionais de enfermagem, auxiliares e técnicos de hospital particular de médio porte. Os

dados da BAI revelaram uma freqüência média de 6,10 (DP=5,826) ; a BDI total, média de

7,36 (DP=5,163), com média de 4,31 (DP= 3,764) na subescala cognitivo-afetiva e média de

3,03 (DP= 2,323) na subescala somática e de desempenho. Os dados evidenciam sintomas de

ansiedade em 15% dos participantes e depressão em 18%, na faixa de intensidade leve, sem

comprometimento funcional significativo. O escore médio fatorial da percepção de suporte

social emocional, verificado é de 2,61(DP=0,781), obtendo no suporte prático frequência

média de 2,28 (DP=0,686). . Foi verificada uma relação significante positiva (P=0,004) entre

os escores das escalas BAI e BDI– BDIS1 e BDIS2. Por outro lado, a correlação entre a

Percepção de Suporte Social Emocional e o nível de ansiedade verificado pela Escala BAI

apresenta uma relação negativa e inversa com BAI e significante (P=0,022), ou seja,

enquanto a percepção de suporte emocional aumenta, o escore da escala de ansiedade diminui.

Também uma foi verificada uma correlação negativa inversa significante entre a Percepção

de Suporte Social Emocional e o nível de depressão verificado pela escala BDI total

(P=0,012), e com BDI S1 (P=0,019). A correlação entre a percepção de Suporte Social Prático

e o nível de depressão verificado pela Escala BDI Total (P=0,016) e BDI – S1(P=0,014)

apresenta um relação negativa e inversa, significante , ou seja, enquanto a percepção de

suporte social prático aumenta, o escore da escala de depressão diminui. Esses dados apontam

para que a percepção de suporte social tenha efeitos mediadores na proteção de saúde, agindo

como moderador do impacto negativo de possíveis condições adversas de trabalho do

profissional de enfermagem.

Palavras-chave: Depressão; Ansiedade; Suporte social; Profissionais de enfermagem.

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ABSTRACT

This research investigates the possible correlation between the anxiety and depression levels

and the perception of social support in the nursing staff at the hospital environment. A

descriptive exploratory method of quantitative comparative character is utilized. The entire

Beck Depression Inventory (BDI), together with the S1 cognitive-affective, S2 somatic and

performance subscales; the Beck Anxiety Inventory (BAI); the Perceived Social Support

Scale (EPSS) and a socio-demographic-clinical questionnaire were applied in 39 nursing

professionals, assistants and technicians of a medium-sized private hospital. BAI data

presented an average frequency of 6.10 (DP=5.826); the total BDI, average of 7.36

(DP=5.163), with the average of 4.31 (DP=3.764) in the cognitive-affective subscale and

average of 3.03 (DP=2.323) in the somatic and performance subscale. Data indicated anxiety

symptoms in 15% and depression in 18% of the participants, in a mild intensity range,

without significant functional impairment. The average factorial score presented of the

perception of emotional social support is of 2.61 (DP=0.781), reaching in the practical support

an average frequency of 2.28 (DP=0.686). A significant positive relation was verified

(P=0.004) between the scores BAI and BDI – BDIS1 and BDIS2. On the other hand, the

correlation between the Perception of Emotional Social Support and the anxiety level verified

by the BAI Scale presents a negative and inverse relation with BAI and the significant

(P=0.022), i.e., while the perception of emotional support increases, the anxiety scale score

decreases. A significant inverse negative correlation was also verified between the Perception

of Emotional Social Support and the depression level verified by the total BDI scale

(P=0.012), and with BDI S1 (P=0.019). The correlation between Perception of Practical

Social Support and level depression found by the total BDI scale (P=0.016),and BDI S1

(P=0.014)has a negative and inverse significant, while the perception of practical support

increases, the depression scale score decreases. These data indicate that the perception of

social support has mediating effects in health protection, acting as moderator of the negative

impact of possible adverse working conditions of the nursing professional.

Key-words: Depression; Anxiety; Social support; Nursing professionals.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Níveis de depressão ansiedade e percepção de suporte social .......................... 74

Tabela 2 Dados da Escala BAI ........................................................................................ 75

Tabela 3 Dados da Escala BDI total ................................................................................ 76

Tabela 4 Níveis dos Escores do BDI total ....................................................................... 77

Tabela 5 Correlação entre níveis de ansiedade – BAI, depressão – BDI e percepção de

suporte social - Emocional e Pratico (EPSS) – Média, desvio padrão e índices de

correlação (r de Pearsson)(n=39) .....................................................................................

81

Tabela 6 Estimativa de correlação entre BAI e BDI, em grupos da amostra não

clinica, dos dados utilizados para a validação de constructo ............................................

84

Tabela 7 Estimativa de correlação entre BAI e BDI da amostra pesquisada .................. 85

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Faixa etária ..................................................................................................... 60

Gráfico 2 – Gênero ........................................................................................................... 61

Gráfico 3 - Estado civil ..................................................................................................... 61

Gráfico 4 - Com quem reside ............................................................................................ 62

Gráfico 5 - Número de filhos ............................................................................................ 62

Gráfico 6 - Renda familiar ................................................................................................ 63

Gráfico 7 - Renda individual ............................................................................................ 63

Gráfico 8 - Nível de escolaridade ..................................................................................... 64

Gráfico 9 - Tempo de formação ........................................................................................ 64

Gráfico 10 - Atividade profissional .................................................................................. 65

Gráfico 11 - Clínicas de atuação ....................................................................................... 66

Gráfico 12 - Carga horária ................................................................................................ 66

Gráfico 13 - Período da atividade profissional ................................................................. 67

Gráfico 14 - Quantidade de empregos .............................................................................. 67

Gráfico 15 - Tempo de atuação no hospital ...................................................................... 68

Gráfico 16 - Tempo de atuação profissional na profissão escolhida ................................ 68

Gráfico 17 - Gráfico 19 X Gráfico 20 ............................................................................... 69

Gráfico 18 - Avaliação do estado de saúde ....................................................................... 69

Gráfico 19 - Possuem problemas de saúde ....................................................................... 70

Gráfico 20 - Utilização de medicamentos ......................................................................... 70

Gráfico 21 - Tratamentos de saúde ................................................................................... 71

Gráfico 22 - Procedimentos cirúrgicos ............................................................................. 71

Gráfico 23 - Tratamento psicológico ................................................................................ 72

Gráfico 24 - Tratamento psiquiátrico ................................................................................ 72

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Gráfico 25 – Religião ........................................................................................................ 73

Gráfico 26 - Pratica da religião ......................................................................................... 73

Gráfico 27 - Níveis dos escores do BAI individual .......................................................... 76

Gráfico 28 - Níveis dos escores do BDI total ................................................................... 77

Gráfico 29 - Níveis dos escores do BDI total individual em ordem crescente ................. 78

Gráfico 30 - Níveis dos escores do BDI e do BAI ............................................................ 78

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13

1.1 HOSPITAL E PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ............................................ 15

1.1.1 Profissionais de Enfermagem – Definição, Aspectos Históricos, Regulamentação

e Características ................................................................................................................

19

1.2 SINTOMAS MENTAIS: ANSIEDADE E DEPRESSÃO ......................................... 32

1.3 SUPORTE SOCIAL ................................................................................................... 48

1.4 OBJETIVOS ............................................................................................................... 52

2 MÉTODO ..................................................................................................................... 53

2.1 PARTICIPANTES ...................................................................................................... 53

2.2 LOCAL ....................................................................................................................... 53

2.3 MATERIAL E INSTRUMENTOS ............................................................................ 54

2.3.1 Escalas Beck de Depressão e Ansiedade (Inventário de Depressão – BDI,

Inventário de ansiedade – BAI) – Cunha (2001) e respectivos Formulários ....................

54

2.3.1.1 Inventário de depressão – BDI (Beck Depression Inventory) .............................. 54

2.3.1.2 Inventário de ansiedade – BAI (Beck Anxiety Inventory) ................................... 55

2.3.2. Escala de Percepção de Suporte Social (EPSS) ...................................................... 56

2.3.3 Questionário Complementar .................................................................................... 56

2.4 PROCEDIMENTOS ................................................................................................... 57

2.4.1 Apresentação dos Instrumentos ............................................................................... 57

2.4.2 Seleção ..................................................................................................................... 57

2.5 TRATAMENTO DOS DADOS ................................................................................. 58

2.6 ASPECTOS ÉTICOS: RISCOS E BENEFÍCIOS ...................................................... 58

3 RESULTADO E DISCUSSÃO .................................................................................. 60

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 86

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 88

ANEXOS .......................................................................................................................... 93

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1 INTRODUÇÃO

No hospital, profissionais de saúde atuam em ambiente de alto risco, com

multiplicidade e complexidade de aspectos que caracterizam sua atuação. Apesar de

contarem com moderna tecnologia e desenvolvimento dos recursos científicos da medicina,

esses profissionais da saúde, são cuidadores, e, como seres humanos, lidam com o impacto

deste ambiente em sua complexidade psicológica.

A equipe de enfermagem trabalha freqüentemente em ambiente de trabalho

insalubre, caracterizado por um complexo de exigências de natureza ambiental, fisiológica,

psicológica e social, onde podemos citar as jornadas de trabalhos extensas, turnos

alternados, onde se exige subordinação e hierarquização. Os horários são rígidos, podem ser

observados também fatores comprometedores como, falta de autonomia, alto índice de

rotatividade, desarticulação de defesas coletivas, esforços físicos constantes, exposição do

profissional a agentes biológicos, riscos químicos e físicos, assim como o contato constante

com o sofrimento, a dor e muitas vezes a morte. O trabalho com a doença e a exposição ao

sofrimento humano rotineiramente podem ser causas de estresse físico e psicológico.

Através da minha experiência profissional, como psicóloga hospitalar em hospital

privado de médio porte, em atendimentos clínicos a profissionais de enfermagem em

psicoterapia, foi possível verificar que muitos destes possuem dificuldade em expressar

verbalmente suas emoções e sentimentos e lidar com elas, contribuindo para seu

adoecimento tanto psíquico como físico. Pude também constatar que sua satisfação

profissional esbarrava em sua impotência frente à impossibilidade de cura de pacientes em

estado grave ou frente às dificuldades nos cuidados paliativos do dia-a-dia e à vivencia do

agravamento das condições clínicas dos pacientes, fatos que contribuem para o desgaste

físico e psíquico dos profissionais, o que pode interferir em sua qualidade de vida, em suas

relações interpessoais, em seu seu desempenho profissional, refletindo no atendimento e na

qualidade de vida dos pacientes.

Presenciei também profissionais de saúde sendo afetados, de alguma forma, e em

diversas intensidades, à perda de um paciente, à morte, ‘alta celestial’ (expressão

comumente usada no ambiente hospitalar), com reações diferenciadas. A finitude do outro,

muitas vezes pode-se também refletir no cuidador na forma de questionamentos sobre a

própria finitude, sobre sua qualidade de vida, seus valores pessoais e profissionais, seus

relacionamentos interpessoais. Pude constatar que profissionais em contato com pacientes

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graves e terminais podem sofrer um desgaste físico e psíquico, com prejuízo biopsicossocial,

podendo colocar em risco o equilíbrio de suas emoções e sentimentos, o que pode refletir-

se no atendimento ao paciente, no seu desempenho profissional e na qualidade de vida dos

pacientes envolvidos.

Nesse sentido, pesquisas têm demonstrado vários aspectos comprometedores, como

a ansiedade, o estresse e a síndrome de burnout do enfermeiro, nas diversas áreas de atuação

e o fato de ser subestimada a importância da sua depressão no entendimento da Saúde

Ocupacional Mental (BABA; GALPERIN; LITUCHY, 1999). Fato que demonstra a

necessidade da realização de novos estudos direcionados à população dos profissionais de

enfermagem (FRANCO et al., 2005), sobretudo diante da constatação empírica do aumento

de número de trabalhadores de enfermagem com depressão. Tais pesquisas denotam a

necessidade de aprofundamento na investigação dos aspectos psicológicos dos profissionais

de enfermagem, pois apesar da literatura cientifica apresentar inúmeros trabalhos

relacionados à depressão nesse público, em contrapartida, existem poucos estudos

sistematizados a respeito dessa problemática nessa população.

Os sintomas de depressão e ansiedade muitas vezes coincidem, sendo freqüente a

superposição de sintomas, conforme referido por Cunha (2001) e proposto por Kaplan

(1984) sendo a ansiedade, característica central da maioria das doenças psiquiátricas,

existindo sozinha, como sintoma predominante ou juntamente com outras manifestações de

perturbação emocional.

Considerando-se a visão biopsicosocial apresentada para a definição de saúde, pela

Organização Mundial de Saúde (World Health Organizattion, 1948), e modificada na

Assembléia Mundial de Saúde, de 1983, de que “saúde é um estado dinâmico de completo

bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas a ausência de doença ou

enfermidade”, o individuo é um ser social influenciado pelo contexto complexo em que está

inserido, o que norteia as várias concepções acerca das relações entre saúde, doença e vida

social, no campo da saúde. Assim sendo, o suporte social aparece como um conceito central

no campo da psicologia da saúde, possibilitando e valorizando pesquisas entre eventos

estressores e saúde, assim como entre fatores de proteção e promoção de saúde.

Neste sentido, esta pesquisa se propõe a investigar os níveis de sintomas de depressão,

ansiedade e percepção de suporte social em profissionais de enfermagem de um hospital

privado e suas relações, utilizando-se de abordagem teórica psicanalítica.

A fim de fundamentar o trabalho a ser desenvolvido, inicialmente, no capítulo:

Hospital e Profissionais de Enfermagem, abordam-se aspectos históricos, definições,

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características da equipe de enfermagem e do ambiente hospitalar, as relações de trabalho,

aspectos psicodinâmicos e emocionais dos profissionais de enfermagem, entre eles, o binômio

onipotência versus impotência, o estresse, o sofrimento psíquico e a necessidade do

profissional ser cuidado. Logo após, em Sintomas Mentais: Ansiedade e Depressão, são

elencadas algumas definições, etiologias, aspectos históricos, características dos sintomas da

depressão e ansiedade e estudos que ressaltam dados e evidenciam o risco e a ocorrência de

depressão e ansiedade na equipe de enfermagem. Por último, em Suporte Social, são tratados

definição, características, aspectos históricos e pesquisas sobre o tema.

1.1 HOSPITAL E PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

O hospital tem caráter funcionalista. A instituição prevê que determinadas tarefas têm

de ser cumpridas e registradas e a equipe de enfermagem tem que se adaptar e realizar as

tarefas. O médico toma as decisões e a enfermeira (o) coloca as decisões em prática, mesmo

que tenha opiniões divergentes. A equipe de enfermagem está mais próxima à família, tendo

de lidar com os sentimentos dos parentes, com as duvidas, as angustias, os temores, e, quando

o paciente falece, é quem tem que tomar as primeiras providências. A relação paciente e

enfermeira é fundamental, e, muitas vezes, a enfermeira, ou seus auxiliares, técnicos e

atendentes, são as pessoas mais próximas e são quem cuida das necessidades básicas, quem

melhor conhece o paciente como pessoa, e, nos momentos mais difíceis, é quem o paciente

busca para conversar sobre seus temores, inclusive quando está morrendo (KOVACS, 2002).

Ferreira (2008) define hospital: estabelecimento onde se tratam doentes, internados ou

não. Para Neder Filha e Monteiro (2003), o hospital, segundo o Ministério da Saúde do Brasil,

pode ser definido como parte integrante de uma organização médica e social, cuja função

básica consiste em proporcionar à população a assistência médica integral, curativa e

preventiva, sob qualquer regime de atendimento inclusive o domiciliar. É também centro de

educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de

encaminhamento de pacientes. Segundo estes autores, acompanhando a trajetória hospitalar,

verifica-se que esta possui uma história própria, a qual pode interferir no imaginário do

paciente e, conseqüentemente, em seu processo de hospitalização. A palavra hospital vem do

latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes (hóspede, estrangeiro, viajante, conviva)

significando também o que hospeda e não o que tem por objetivo o tratamento.

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Na Grécia antiga, segundo os autores, templos eram dedicados à assistência da época,

chamados de Esculapia. No mundo ocidental a civilização greco-romana estabeleceu uma

primeira instituição visando a proteção de algumas categorias de cidadãos escravos, os

lutadores e soldados, chamada de valetudinária (cômodos com dimensões limitadas e em volta

de um pátio que comportava um grupo de doentes). Com o aparecimento do cristianismo, a

assistência caritativa prestada pelos religiosos tornou-se obrigatória, sendo construídas junto

aos mosteiros o infirmitorium (salas para doentes ou enfermos).O hospital caracterizou-se

como uma casa sob a proteção de Deus, destinado à salvação da alma, não à cura do corpo,

onde os enfermos suportavam resignadamente seus sofrimentos e os profissionais

demonstravam sua resignação perante este sofrimento.

De acordo com os autores, Neder Filha e Monteiro (2003) com o passar do tempo, as

guerras e epidemia multiplicara-se, aumento o numero de estabelecimentos pela Europa e os

principios da assistência caritativa permaneceram juntamente com a presença ou disciplina

religiosa nessas instituições, o hospital torna-se um estabelecimento próprio a discriminação

social e de onde raramente as pessoas saiam com vida.

Nos séculos XIV e XV, através da divulgação dos textos em latim e o questionamento

de alguns mestres medievais, ocorreu uma transição onde importantes descobertas sobre a

fisiologia humana influenciaram o campo médico segundo a obra de Claudius Galeno.No

século XVII o hospital continuou desempenhando o papel de uma instituição onde a

assistência aos pobres era realizada, promovendo a separação e exclusão social. Entre os

séculos XVII e XVIII, a medicina tem caráter individualista, onde o enfermo é tratado em

casa, sendo que as visitas ao hospital eram poucas e as atividades cotidianas realizadas por

leigos ou religiosos não ocorrendo ainda uma medicina hospitalar. O hospital e a medicina

permanecem independentes até o meado do século XVIII. As enfermarias eram coletivas, as

cirurgias e agonia presenciadas por outros enfermos.

Na era Moderna, acompanhando esta trajetória traçada pelos autores, a partir do século

XVIII, os hospitais foram marcados por avanços em relação às enfermarias medievais,

surgiram as preocupações com privacidade e isolamento e criação de enfermarias menores,

cômodos privados e alguns com caráter prisional. Nesse período, a instituição hospitalar

assimilou a intervenção médica, passando a ter uma função terapêutica, tornando-se um meio

de intervenção sobre os doentes. Surgem soluções modernas e compatíveis com a visão

humanista e cientificista da época , soluções essas que marcam o nascimento do hospital

moderno apresentando uma medicina hospitalar de caráter medicalizador. A organização no

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espaço físico é melhorada, os pavilhões são divididos em enfermarias especificas,

individualizadas e protegidas do contágio.

No ultimo quarto do século XIX, os avanços médico-científicos eletromecânicos

juntamente com a contribuição da enfermeira inglesa Florence Nightingale, os conhecimentos

são ampliados objetivando o alivio da dor e proteção das infecções contraídas no ato

cirúrgico, intensificando a evolução do hospital, o qual se converte em centro de diagnóstico e

tratamento com serviços e espaços físico e organizados, fazendo surgir o Hospital Geral, uma

instituição complexa e multidisciplinar vista como Casa de Curar. O hospital passa então a

exigir a presença constante do médico, de auxiliares e enfermeiras, todos atuando de forma

coordenada, sendo a medicina entendida como a arte de curar. As práticas diversificadas e o

conhecimento médico avançam pelos domínios da ciência, o conceito de assistência a saúde e

suas ações são ampliados para a prevenção da saúde e o avanço tecnológico na área da saúde

continua crescendo.

Os autores consideram que, na historia da hospitalização, as vivencias que se têm no

processo de adoecer, incidem sobre os indivíduos como vetores do contexto do sistema

inserido, podendo interferir no imaginário do paciente e em seu processo de hospitalização, na

sua internalização-hospedagem, na sua convivência com os familiares, com os anônimos

membros da equipe de saúde, causando implicações psicológicas e sociais aos pacientes:

O paciente ao entrar no hospital encontra-se frente a uma instituição repleta de

simbolismos históricos que produz no imaginário do individuo sensações e

sentimentos que se confundem com o próprio processo do adoecer: o medo de entrar

e não sair, a exclusão do seu meio, a imagem da morte, a perda de sua identidade, de

sua função no mundo e fundamentalmente, a perda da sua liberdade (NEDER

FILHA; MONTEIRO, 2003, p. 355).

De acordo com Helman (2003), uma das principais estruturas institucionais da

medicina cientifica é o hospital, e, como o restante do sistema médico, em si também é

influenciado por fatores culturais, sociais e econômicos, tanto em nível local como em nível

nacional.

No hospital, para este autor, a pessoa doente é separada de sua família, de seus amigos

e de sua comunidade num momento de crise pessoal. O paciente é submetido a um ritual de

despersonalização, transformado num caso numerado e colocado numa ala classificado

geralmente por sua idade (adultos, pediátricos, geriátricos), gênero (masculino ou feminino),

condição (clinica, cirúrgica, ou outras), órgão ou sistema envolvido (traumatologia, oncologia,

etc) ou gravidade (unidade de tratamento intensivo, emergência, etc.). Pacientes são afastados

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do constante apoio emocional da família e comunidade ficando aos cuidados de profissionais

desconhecidos, que nunca viram. O hospital pode ser visto segundo diferentes maneiras e

diversos papeis, de acordo co o que ele desempenha dentro da cultura vivida, junto a pais ou a

comunidade, como por exemplo, local de refugio, templo, cidade, universidade, etc.

Ainda de acordo com o autor, os hospitais concentram a tecnologia médica,

fornecendo meios para que se disponha de maneiras mais eficientes de ver e ouvir o corpo

humano e seus processos internos. As tecnologias médicas são produtos culturais que nos

dizem algo sobre os valores sociais, econômicos, históricos em que foram produzidos, no

tempo e no determinado espaço expressando o desejo da medicina ocidental de dominar e

controlar o corpo, seus processos naturais e suas várias doenças influenciando na medicina

exercida.

As tecnologias, para o autor, influenciam o modo como os médicos diagnosticam e

tratam os problemas de saúde como se relacionam com os pacientes, podendo contribuir para

o distanciamento entre pacientes e profissionais da saúde. A biomedicina é a ideologia de

tratamento e de cura dominante obtendo sucesso na prevenção e tratamento de doenças, no

alivio do sofrimento e no aumento da expectativa de vida. Muitas vezes, a tecnologia oferece

uma maior expectativa de quantidade de vida, nem sempre qualidade, especialmente nos

casos em que a ressuscitação do paciente envolve formas de tratamento heróicas, agressivas,

desconfortáveis e dolorosas. A moderna tecnologia médica tem exercido forte influencia

sobre a natureza da morte. Em alguns casos de doenças graves ou velhice avançada, essa

tecnologia permite aos médicos controlar o tempo exato da morte. Os modernos equipamentos

dão suporte a vida, possibilitam estender o momento da morte biológica e adiar a morte

social, muitas vezes, infinitamente.

No entanto a organização hospitalar difere de outras instituições por sua

complexidade, considerando que as demandas e necessidades dos clientes não podem ser

adiadas e não permitem padronizações excessivas, em vista das exigências de tratamento

personalizado e efetivo integração entre os diversos serviços. Sendo que a intensificação do

trabalho organizacional ocorre em todos os ramos de atividades, em particular a empresa

hospitalar que apresenta uma especificidade e complexidade, o qual gera, de acordo com os

estímulos ambientais, aumento da carga de trabalho e condições desfavoráveis de trabalho. As

relações entre trabalho e saúde do trabalhador conformam um mosaico que se caracteriza por

diferentes formas de organização e gestão, relações e formas de contrato de trabalho, que

refletem sobre o viver, o adoecer e o morrer do trabalhador. (ALVES; GODOY; SANTANA,

2006).

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1.1.1 Profissionais de Enfermagem – Definição, Aspectos Históricos, Regulamentação e

Características

A palavra enfermagem deriva da palavra nurse, que significa aquela que nutre, que

cuida de crianças e assiste o enfermo. O termo enfermeira é designado para pessoas que

cuidam dos infirmus, ou seja, daquelas que não estão firmes, como crianças, velhos e doentes

(SILVA, 1986).

Em relação aos aspectos históricos, definição e características dos profissionais e

equipe de enfermagem, é importante ressaltar que enfermagem é a arte de cuidar e também

uma ciencia cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano de forma autônoma e

em equipe realizando atividades de promoção, proteção, prevenção e recuperação da saúde,

sendo definida por Ferreira (2008) como a arte ou função de cuidar dos enfermos.

A equipe de enfermagem enquanto equipe teve sua origem entre 1950 e 1960,

envolvendo a participação de um líder e os membros na equipe para proporcionar vários

aspectos do cuidado de enfermagem a um grupo de pacientes. Na equipe de enfermagem, as

medicações podem ser ministradas por uma enfermeira, enquanto o banho e os cuidados

fisicos por um auxiliar ou técnico de enfermagem sob supervisão da enfermeira que lidera a

equipe. Quanto à definição de enfermagem, desde que Florence Nightingale, em 1858

escreveu que a meta da enfermagem era colocar o paciente na melhor condição para que a

natureza pudesse agir sobre ele, as lideranças de enfermagem têm descrito esse mister como

arte e como ciência (BARE; SMELTZER, 2002).

Segundo Silva (1986), até o inicio do século XIX, o cuidar de enfermos não era

reconhecido como trabalho que exigia treinamento especifico para sua realização. Florence

Nightingale iniciou seu trabalho como voluntária em hospitais militares ingleses em período

de guerra. Após seis anos, houve reconhecimento de seu trabalho , sendo financiada a

primeira escola para formação de trabalhadores de enfermagem, cuja diferenciação foi

estabelecida entre enfermeiras administradoras e prestadoras de cuidados.

Ainda para o autor, no Brasil, somente nas ultimas décadas de XIX é que se inicia a

profissionalização da enfermagem, com o aumento dos doentes e o aumento significativo dos

doentes que necessitavam de internações. A presença feminina constitui a maioria dos

profissionais de enfermagem, tendo como principal característica ä caridade, entretanto,

diferenciam-se as exigências de treinamento e a remuneração no ato de cuidar.

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No Brasil, a regulamentação profissional da enfermagem foi instituída pela lei 5.905,

de 12 de julho de 1973, sendo que o enfermeiro é um profissional de nível superior da área

da saude, responsável inicialmente pela promoção, prevenção e na recuperação da saúde dos

indivíduos, dentro de sua comunidade. O enfermeiro é um profissional preparado para atuar

em todas as áreas da saúde: assistencial, administrativa e gerencial. Dentro da enfermagem,

encontramos o auxiliar de enfermagem (nível fundamental) e o técnico de enfermagem, (nível

médio) ambos confundidos com o enfermeiro, entretanto com funções distintas, possuindo

qualificações específicas. Essa lei dispõe também sobre a criação dos Conselhos Federal e

Regionais de Enfermagem, são órgãos disciplinadores do exercício da profissão de enfermeiro

e das demais profissões compreendidas nos sserviços de enfermagem. A lei 7.498, de 25 de

junho de 1986, regulamenta o exercicio da atividade de Enfermagem e respeita os graus de

habilitação é privativo de Enfermeiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem só

será permitido ao profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva

região. São Enfermeiros o titular do diploma de Enfermeiro, obstetriz ou Enfermeira

obstétrica conferido por instituição de ensino nos termos da lei; ou equivalente, conferido

por escola estrangeira segundo as respectivas leis, registrado em virtude de acordo de

intercâmbio cultural ou validado no Brasil (SILVA, C.; SILVA, R.; VIANA, 2009).

Esclarecem os autores que são técnicos de enfermagem o titular do diploma ou do

certificado de técnico de enfermagem, expedido de acordo com a legislação e registrado no

órgão competente; o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou

curso estrangeiro, registrado em virtude do acordo de intercambio cultural ou revalidado no

Brasil como diploma de técnico de Enfermagem.

São Auxiliares de Enfermagem: o titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem

conferido por instituição de ensino, nos termos da lei e registrado no órgão competente; o

titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do

país, registrado em virtude do acordo de intercambio cultural ou revalidado no Brasil como

certificado de Auxiliar de enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem publicado pelo Conselho

Regional de Enfermagem de São Paulo, COREN-SP, de 2007, define enfermagem e descreve

os princípios fundamentais da enfermagem:

A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimento científicos e

técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e

politicas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistencia, Realiza-se na prestação

de serviços à pessoa, familia, coletividade, no seu contexto e circunstancias de

vida.[...] Os princípios fundamentais: A enfermagem é uma profissão comprometida

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com a saúde e qualidade de vida da pessoa, familia e coletividade. O profissional de

enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde,

com autonomia e em consonãncia com os preceitos éticos e legais. O profissional de

enfermagem participa , como integrante da equipe de saúde, das ações que visem

satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos principios das

politicas publicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso

aos serviços de saúde, integralidade da assitencia, resolutividade, preservação da

autonomia das pessoas, participaçãoo da comunidade, hierarquização e

descentralização politico-administrativa dos serviços de saúde. O profissional de

enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos em todas as suas

dimensões. O profissional de enfermagem exerce suas atividades com competencia

para a promoção da saúde do ser humano na sua integridade, de acordo com os

principios da ética e da bioética. ( SILVA, C.; SILVA, R.; VIANA, 2009, p. 26 -27).

De acordo com o COREN–SP (2007), órgão que fiscaliza e disciplina o exercício

profissional de enfermagem privilegia a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, Lei n.

7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da atividade de Enfermagem é

privativo aos profissionais habilitados e regularizados perante o COREN-SP: Enfermeiro,

Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e Parteiro, sendo que só será permitido ao

profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva região, podendo

exercer as funções especificas da enfermagem resumidamente descritas abaixo:

1. Direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição

de saúde e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem.

2. Organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades

técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços.

3. Planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de

assistência de Enfermagem;

4. Consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem;

5. Consulta de enfermagem;

6. Prescrição da assistência de Enfermagem;

7. Cuidados diretos da Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

8. Cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam

conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões

imediatas.

Segundo o COREN—SP, como integrante de equipe de saúde, o enfermeiro participa

no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde, participação na elaboração,

execução e avaliação dos planos assistenciais, prescrição de medicamentos previamente

estabelecidos em programa de saúde publica e em rotina aprovada pela instituição de saúde,

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prestação de assistência de enfermagem a gestante, parturiente, puerpera e ao recém nascido,

participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação, prevenção e

controle sistemático de danos, de doenças transmissíveis, de infecção hospitalar durante a

assistência de Enfermagem, entre outras tarefas participativas e de assistência de

Enfermagem.

O técnico de enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nível médio técnico,

atribuídas ä equipe de enfermagem cabendo-lhe:

1. Assistir ao enfermeiro, no planejamento, programação orientação e supervisão

das atividades de assistência de Enfermagem; na prestação de cuidados diretos

de Enfermagem a pacientes em estado grave; na prevenção e controle de

doenças transmissíveis em geral em programas de vigilância epidemiológicas;

na prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e de danos físico

que possam ser causadas a pacientes durante a assistência de saúde.

2. Executar atividades de assistência de enfermagem, excetuadas as privativas do

Enfermeiro e as atividades associadas a prestação de assistência à parturiente e

ao parto normal, identificação das distocias obstétricas e tomadas de

providencias até a chegada do médico e a realização de episiotomia e

episiorrafia com aplicação de anestesia quando necessária.

3. Integrar a equipe de saúde.

O auxiliar de Enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível médio atribuída a

equipe de enfermagem cabendo-lhe:

1. Preparar o paciente para consultas, exames e tratamentos;

2. Observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas ao nível de sua

qualificação;

3. Executar tratamentos prescritos ou de rotina (ministrar medicamentos, realizar

controle hídrico, fazer curativos, colher material para exames laboratoriais,

prestar cuidados de enfermagem pré e pós operatório);

4. Prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar por sua segurança

inclusive;

5. Integrar a equipe de saúde;

6. Participar de atividades em educação de saúde;

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7. Executar os trabalhos de rotina vinculadas a alta dos pacientes

8. Participar dos procedimentos pós –morte.

As atividades relacionadas aos técnicos e aos auxiliares somente poderão ser exercidas

sob supervisão, orientação e direção do enfermeiro.

O enfermeiro de cuidados gerais exerce todas as funções inerentes ao seu cargo,

previsto na carreira de enfermagem, não existindo desta forma duvidas quanto à função de

cada elemento da equipe multidisciplinar.Prestam assistência ao paciente ou cliente em

clínicas, hospitais, ambulatórios, empresas de grande porte, transportes aéreos, navios, postos

de saude e em domicílio, realizando atendimento de enfermagem; coordenam e auditam

serviços de enfermagem, implementam ações para a promoção da saúde junto à comunidade.

Para Sebastiani (2002), em relação às características dos profissionais da enfermagem,

pode-se afirmar que o elevado grau de sobrecarga que a maioria das equipes hospitalares

vivem em nosso país, resulta também na imposição a estes profissionais de um grau de

estresse que os coloca muitas vezes em estado de resistência, propiciando, assim, uma

condição de respostas adaptativas mais comprometidas. A equipe de profissionais de saúde

está exposta a situações de crises e ao medo da morte, podendo se destacar o binômio

onipotência versus impotência como um fator ansiógeno, e o profissional de saúde tem sua

dimensão humana, sente, sofre, se identifica, tem uma estória de vida e sabe (mesmo que

negue sucessivamente) que todas aquelas ocorrências que protagoniza no papel de cuidador,

de técnico, poderá acontecer consigo ou com seus familiares a qualquer momento da vida .

Para o autor, o profissional de saúde está exposto ao mesmo sentimento de

descontinuidade que vive o paciente e sugere que ocorra permanente manutenção na fase de

resistência, intermitentes por fases de alarme a cada nova urgência, a cada novo óbito e assim

sucessivamente, além de ser imprescindível preservar a qualidade de vida, o lazer, o

sentimento de produtividade e crescimento, o uso do potencial criativo para busca de

adaptações saudáveis dos profissionais de saúde. Os profissionais de saúde passam pelas

mesmas reações psicobiológicas de enfrentamento e estresse, experenciando os mesmos tipos

de solicitação adaptativa que os pacientes, porém em condições diferentes as do paciente e da

família, com outros tipos de agravantes. Vários profissionais de saúde sofrem um grau notório

de prejuízo biopsicosocial.

Ainda segundo o autor, a formação profissional e os modelos transmitidos pela

formação acadêmica reforçam esses sentimentos e posturas, pois a fragilidade do ser humano

mal administrada acaba por desencadear inúmeros fenômenos patológicos sobre os

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profissionais de saúde e existe uma grande dificuldade de identificação desse problema em

função de posturas onipotentess e relações paradoxais criadas pelo próprio cuidador . O

cuidador cuida dos outros e descuida de si mesmo, acreditando que existe uma esfera superior

que está para além do bem e do mal.

O autor conclui que existem alguns estressores que contribuem para o desgaste

emocional do profissional de saúde, resumidos como os seguintes:

1. limitações técnicas, pessoais e materiais;

2. alto grau de expectativa e cobrança profissional pela equipe, paciente e

familiares na instituição hospitalar e até mesmo dele próprio;

3. atitude (muitas vezes interpretada como agressiva e/ou invasiva) de lidar com a

intimidade corporal e emocional do paciente e jornadas de trabalho extensas e

muitas vezes duplas.

Segundo Bromberg (1998), diante do paciente sem possibilidade de cura, a unidade

família-paciente deve ser considerada, mesmo que as necessidades sejam especificas e

presentes em ambos os grupos, o controle de sintomas proporciona alivio ao paciente e

permite a família estar menos ansiosa sobre suas limitações e expectativas no papel de

cuidador.O paciente ao se deparar com o prognóstico da morte e com a ansiedade promovida

pela situação de encarar as imprevisibilidades, terá reações que influenciaram na relação com

a família e a equipe de profissionais de saúde.

Os profissionais mais suscetíveis aos problemas da saúde mental são aqueles que

interagem, a maior parte do tempo, com indivíduos que necessitam de sua ajuda, como as

enfermeiras, os professores, as assistentes sociais, entre outras profissões. As pressões no

trabalho, como o conflito de interesses e a sobrecarga, contribuem para o desequilíbrio, e o

estresse não resolvido leva à deterioração da saúde mental, manifestada por depressão e pela

síndrome de burnout (BABA; GALPERIN; LITUCHY, 1999).

Os profissionais que atuam nos hospitais recebem formação para curar, morrer é

extremamente ameaçador ao ideal de vida e cura, ameaçando as funções dos profissionais de

saúde, podendo criar sentimentos de impropriedade incompatíveis com suas funções definidas

e associadas a finalidade curativa da doença (CHIATTONE, 2000).

Haddad (2000) postula que a enfermagem é uma das profissões essencialmente

femininas, relacionadas ao ato de cuidar do outro. Segundo Kovacs (2002) a equipe de

enfermagem está mais próxima a família, tendo de lidar com os sentimentos dos parentes, as

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duvidas, as angustias, temores e quando o paciente falece é quem tem que tomar as primeiras

providencias. A relação paciente e enfermeira é fundamental, muitas vezes a enfermeira, ou

seus auxiliares, técnicos e atendentes, são as pessoas mais próximas que cuidam de suas

necessidades básicas e que melhor o conhece como pessoa, nos momentos mais difíceis é

quem o paciente busca para conversar sobre os temores ou quando está morrendo.

De acordo com Bare e Smeltzer (2002) uma das mais importantes funções da

enfermagem na oferta de atenção a saúde é identificar as necessidades imediatas do paciente e

tomar medidas para aliviá-las, pois o paciente busca atenção para um problema ou vários

problemas de saúde, é um indivíduo, um membro de uma família e um cidadão da

comunidade. Dependendo do problema, características associadas e experiências anteriores as

necessidades dos pacientes irão variar, como por exemplo, no paciente sem possibilidade de

cura.

Segundo Kovacs (2002) a função da enfermagem é assistir o doente, promover sua

recuperação, ajudá-lo a fazer o que não tem condições de realizar só. A relação paciente

enfermeira é fundamental na recuperação dos pacientes. Algumas necessidades são básicas

para todos os pacientes e requerem adequada satisfação seguindo uma escala de prioridades

sugerida por Maslow: necessidade fisiológica, segurança e seguridade, pertencer e aflição,

estima e autorrespeito, autorrealização (que inclui auto-satisfação, desejo de conhecer e

entender e necessidades estéticas).

Diante dos pacientes sem possibilidade de cura, os profissionais de saúde têm a difícil

tarefa de lidar com a morte e o morrer:

A diferença básica entre as pessoas em geral e os profissionais da área de saúde,

médicos, enfermeiras e psicólogos, é que na vida destes, a morte faz parte do

cotidiano e pode se tornar sua companheira de trabalho diária. Toda doença é uma

ameaça a vida e, portanto pode aparecer como um aceno à morte (KOVACS, 2002,

p. 235).

Ainda para a autora, a equipe clínica enfrenta sentimentos de impotência, tristeza e

angústia perante a luta entre a vida e a morte dos pacientes atendidos, situações que

necessitam de apoio efetivo a esses profissionais. Nos profissionais de saúde podem surgir

alguns sentimentos: a impotência associada a perda dos pacientes, culpa, raiva. Os

profissionais de saúde podem re-experimentar medos infantis de separação, abandono e o

medo da sua própria mortalidade. Postula que o afastamento do paciente e a delegação de

funções aos outros membros da equipe podem estar relacionados a problemas

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contratransferenciais diante do individuo que está morrendo e a ambivalência entre tentar uma

medida heróica e a raiva do fracasso. Numa unidade de paciente com câncer, onde a morte é

lenta e muitas vezes sofrida, quando ocorre pode ser vista como um alivio. Surge a frustração

de nada poder fazer diante dos imprevisíveis processos biológicos e sentimentos de

impotência, tristeza angustia perante a luta entre a vida e morte dos pacientes.

O sofrimento psíquico é inerente ao trabalho no ambiente hospitalar e é comum a

todos os profissionais de saúde, embora algumas características próprias de cada profissão

sejam preservadas, é compartilhado por todos os profissionais, entre eles, médicos,

enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fisioterapeutas,

fonoaudiólogos. (NOGUEIRA-MARTINS, 2003).

O ambiente hospitalar tem fatores estressantes tanto para os pacientes como para a

equipe de profissionais, podendo ser considerado um ambiente de risco. A própria natureza

dessas instituições, o tipo de atendimento proporcionado, as condições de saúde física e

emocional dos pacientes atendidos provocam por si só a ocorrência de situações estressantes

que afetam os funcionários que prestam serviço nos hospitais. O impacto causado aos

profissionais de saúde pelo contato com pacientes portadores de enfermidades das mais

diversas, muitas vezes graves e sem perspectiva de cura, confrontando com as manifestações

angustiantes de sofrimento, dor, aflição, tristeza, desesperança, perante a doença e a própria

morte pode gerar tensões, o fenômeno do estresse e o burnout (estado de exaustão). Sendo

que as clinicas consideradas mais estressantes são psiquiatria, geriátricas, oncológicas, terapia

intensiva (UTI) e centros cirúrgicos, alguns hospitais possuem a denominada: Terapia da dor

e Cuidados Paliativos para atendimentos a pacientes oncológicos (RAMOS, 2004).

Todos os cuidadores, profissionais de saúde ou familiares, ao acompanhar um

processo de doença evolutiva e a triste realidade da morte próxima, sofrem um grande

desgaste tanto físico como emocional, muitas vezes compartilham um dia-a-dia penoso no

caminho da morte com sofrimentos e despedidas enfrentados pelo pacientes e familiares ou

pessoas próximas e estimadas, podendo chegar a um grave quadro de estresse (CARVALHO,

2004).

Silva (2004) refere que é comum o relato de profissionais que afirmam se sentirem

impotentes diante do paciente incurável: não tenho nada a fazer. Aparecendo muitas vezes a

negação, o distanciamento, como resposta para não lidar com o sentimento de fragilidade,

com a reflexão sobre a própria finitude e relata que:

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Os pacientes à morte são uma ameaça ao poder médico. Portanto a morte é

silenciada também nos hospitais. A linguagem nessa instituição denuncia esse fato.

Não se morre no hospital, vai a óbito, perde-se na mesa, tem-se alta celestial.

(SILVA, 2004, p.146-147).

De acordo com Carvalho (2004), todos os cuidadores, profissionais de saúde ou

familiares, ao acompanhar um processo de doença evolutiva e a triste realidade da morte estar

próxima, sofrem um grande desgaste tanto físico como emocional, muitas vezes compartilham

um dia-a-dia penoso no caminho da morte com sofrimentos e despedidas enfrentados pelo

paciente e familiares ou pessoas próximas e estimadas. O cuidador sofre pela sua impotência

na impossibilidade de reverter o processo, pela sua perda no acompanhar alguém que vai

embora, pelas culpas por alguma omissão ou engano no tratamento e tantas outras

dificuldades presentes nos cuidados paliativos. A medicina moderna possui recursos

científicos e tecnológicos de alta precisão, mas os cuidadores são seres humanos, nas suas

falhas na sua grandeza. Seres humanos com necessidades e limites, medos e frustrações. A

dor e o luto do cuidador não podem ser negligenciados por ele. Nem os familiares, nem os

profissionais de saúde estão isentos de sofrer no compartilhar o sofrimento de um paciente na

fase final de vida.

Segundo Pessini e Bertachini (2005), referindo-se a cuidados paliativos, pacientes e

familiares com muita freqüência vivem sob intenso estresse, o que faz com que não raro

exista pouca comunicação entre as várias partes envolvidas, gerando espaços para

desentendimento e ressentimento. As pessoas sentem que estão carregando injustamente o

peso de cuidar. Velhas rivalidades e ciúmes podem vir à tona, e o processo pode rapidamente

escapar do controle. Pode-se afirmar que os profissionais de saúde têm o dever de cuidar,

identificar essas dinâmicas e responder a essa realidade. Ao menos podem “modelar” o fato

de modo que a informação seja partilhada e que as pessoas manifestem “sinceridade” com

elas próprias e com os outros, a despeito de seus sentimentos e emoções ou seja facilitar a

comunicação entre pacientes e familiares. Diante as tarefas do dia a dia, os profissionais de

enfermagem utilizam seus recursos de enfrentamento, entre eles, seus mecanismos de defesas.

Em relação ao estresse e o trabalho dos profissionais de enfermagem, Áries (1981)

postula que o cotidiano dos profissionais de saúde é árduo e que os mesmos necessitam ter

muita sensibilidade e vários mecanismos de defesas para suportar esse cotidiano árduo e

muitas vezes erroneamente são considerados como “atos de frieza”. Os procedimentos de

enfermagem são para que os vivos não morram.

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Roudinesco e Plon (1988) postulam que Freud utilizou a expressão mecanismos de

defesa em 1894 designando por esse termo o conjunto de manifestações de proteção do eu

contra as agressões internas (de ordem pulsional) e externas, suscetíveis de constituir fontes

de excitação e, por conseguinte, de serem fatores de desprazer.

Fenichel (1981) refere que a função básica do aparelho psíquico consiste em

reestabelecer a estabilidade após transtorno produzido por estímulos externos e que as defesas

do ego compõem os mecanismos de defesas. Compreende que o efeito dos mecanismos de

defesa do ego altere, especificamente a qualidade das experiências afetivas, os afetos podem

sofrer isolamento das suas conexões psíquicas totais mediante gasto de contracatexias; podem

ser projetados, ou seja, percebidos em outra pessoa, a fim de evitar a percepção de si mesmo;

podem ainda sofrerem repressão (bloqueio), postergação(explosões retardadas de afetos) e

deslocamento (afeto contido a um objeto , é colocado contra outro objeto).

Segundo Ballone (1999) estar estressado significa estar sob pressão, estar sob a ação

de estímulo persistente, porém não apenas estar em contato com algum estímulo, mas

sobretudo significa um conjunto de alterações acontecidas num organismo em resposta a um

determinado estímulo capaz de colocá-lo sob tensão. O estresse produz uma vasta série de

modificações na composição química e na estrutura funcional do organismo. Algumas dessas

modificações são necessárias á adaptação do individuo a situação atual, podem resultar em

dano ou lesão contribuindo para desaptação e desequilíbrio do individuo.

De acordo com o mesmo autor, os fatores estressantes variam quanto a natureza,

envolvendo componentes emocionais (como frustração, ansiedade), componentes de origem

ambiental, biológicos e físicos. Quando o cérebro interpreta alguma situação como

ameaçadora (fator estressante), o organismo passa a desenvolver uma série de alterações

denominadas em seu conjunto Síndrome Geral da Adaptação ao Estresse ( reação de alarme,

de resistência e adaptação ) , podendo ocorrer uma fase de esgotamento, ou seja, uma queda

acentuada de nossa capacidade adaptativa ao longo do tempo, sendo que os efeitos da

Síndrome Geral de Adaptação sobre o individuo cronicamente podem compor o substrato

fisiopatológico das doenças psicossomáticas.

Ainda de acordo com o autor, nossa capacidade de conhecer o mundo decorre de nossa

percepção pessoal da realidade, diferente em cada um de nós, de acordo com a sensibilidade

afetiva de cada um, ou seja, a realidade sempre será representada intimamente e de acordo

com os filtros afetivos de cada um. Essa percepção pessoal da realidade engloba toda nossa

maneira de ver e sentir o mundo. A forma como o individuo percebe os fatos depende de seu

psiquismo, de seu ego, do sistema de valores, da percepção pessoal que cada um tem de si e

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até mesmo da sua hereditariedade. Acrescenta que o ego possui recursos, mecanismos de

defesas para garantir a estabilidade adaptativa. O conjunto de estratégias utilizados pelas

pessoas para adaptarem-se a circunstancias adversas ou estressantes pode ser denominado de

coping, e envolve os mecanismos de defesas, o tipo de personalidade e o nível de maturidade

de cada individuo.

Determinadas crenças, valores e praticas culturais podem influenciar na relação dos

indivíduos com o estresse, aumentando ou diminuindo os fatores de estresse aos quais o

individuo se expõe e interferir sobre a saúde do individuo.

As crenças e os comportamentos que contribuem para o estresse e que são

adquiridos pela experiência de crescer em uma determinada sociedade podem ser

considerados como uma forma de estresse culturalmente induzido ou culturogenico.

Esse tipo de estresse também constitui um exemplo do fenômeno nocebo (da raiz

latina noceo,sofro de dor) que é o efeito negativo sobre a saúde produzido por

crenças e expectativas – e portanto, o inverso exato do fenômeno placebo.

(HELMAN, 2003 p.269).

Quanto as relações de trabalho e aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho

envolvendo o prazer e sofrimento é histórico o nexo causal entre trabalho e sofrimento físico,

colocando a ênfase da discussão sobre o corpo como lugar depositário de doenças provocadas

pelas condições de trabalho.

Ramos (2004) adota a concepção interacionista do estresse, por se considerada a mais

atual e por integrar-se melhor ao assunto em pauta, os fatores de estresse que ocorrem no

ambiente hospitalar.Com esse fim, utiliza-se do Paradigma SOR, S(estimulo) , O(organismo)

e R(reação), que compreende a relação entre agentes estressantes que incidem no organismo

humano, extrapolando as reservas adaptativas destes e dando origem a transtornos emocionais

e/ou fisiológicos específicos. O estresse assim concebido é resultante do confronto entre

recursos individuais (equilíbrio emocional, capacidade cognitiva e fatores de proteção, de

resiliência, entre outros) e certas variáveis ambientais identificadas como estressantes, de

estratégias de superação.

Segundo este autor, interpretando o modelo acima citado, considera-se S (estimulo) o

contexto estressante de ambiente hospitalar, tanto para aqueles que ai trabalham, quanto para

os que usufruem de seus serviços. A própria natureza dessas instituições, o tipo de

atendimento que proporcionam e a condição de saúde física e emocional dos clientes

atendidos provocam a ocorrência de situações estressantes que afetam a estes e a qualquer

funcionário que presta os seus serviços nesse contexto. O momento histórico em que o

contexto hospitalar está inserido é também fator condicionante. Considera-se O (organismo)

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os profissionais da equipe de saúde e R (reações), as manifestações emocionais e/ou

fisiológicas resultantes da incidência dos estressores próprios do ambiente hospitalar.

Acrescem-se, como reação, as estratégias defensivas, o coping, que permitem a esses

profissionais alcançarem um razoável equilibro na sua saúde mental. Tais profissionais estão

submetidos a maiores efeitos de impacto, somente pelo fato de manterem contato direto,

regular com pacientes e familiares angustiados, nas dificuldades encontradas, muitas vezes, ao

lidar com diversos profissionais integrando uma equipe multi disciplinar e na inabilidade que

apresentam para a resolução de problemas resultantes da doença e da morte.

Segundo Merlo e Silva (2007) a psicodinâmica do trabalho estuda as representações

dos trabalhadores e suas experiências no cotidiano do trabalho, sendo influenciada fortemente

pela psicanálise e tendo Dejours como autor principal. O objetivo é compreender como os

trabalhadores conseguem manter certo equilíbrio psíquico mesmo estando submetidos a

condições de trabalho desestruturantes.

Dejours (1992) parte do principio que o modo de organização do trabalho pode

interferir no funcionamento psíquico, utiliza o conceito psicanalítico de que cada individuo é

um sujeito único, portador de desejos e projetos enraizados em sua história e que o sofrimento

implica em um estado de luta do sujeito contras as forças que o empurram em direção a

doença. Considerando-se a dimensão organizacional e as relações de trabalho. Todos os

laços humanos criados pela organização do trabalho, relação com hierarquia, com as chefias,

com a supervisão e outros trabalhadores são às vezes desagradáveis e até insuportáveis. Essa

realidade no trabalho pode fortalecer a saúde mental do trabalhador como também favorecer a

constituição de distúrbios, resultando em manifestações psicossomáticas e de condutas, no

que se refere à psicopatologia do trabalhador e o próprio trabalho. Ainda de acordo com

Dejours (1994), o desgaste no trabalho não deveria ser reduzido apenas as pressões físicas,

químicas, biológicas ou mesmo psicossociais e cognitivas do posto de trabalho habitualmente

estudadas. É fundamental considerar a dimensão organizacional, centralizada na divisão de

tarefas e nas relações de produção.

Dejours e Abdoucheli (1994), distinguem dois tipos de sofrimento: criador e

patogênico: onde o criador pode ser transformado em criatividade, beneficiando a identidade,

aumentando a resistência da pessoa ao risco de desestabilização psíquica e somática e

funciona como um mediador para a saúde. E sofrimento patogênico: aparece quando todas as

margens de liberdade na transformação, gestão e aperfeiçoamento da organização já foram

utilizadas, isto é, quando não há nada além de pressões fixas, rígidas, incontornáveis,

inaugurando a repetição, frustração, o aborrecimento, o medo, ou o sentimento de impotência.

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Quando foram explorados todos os recursos defensivos, o sofrimento residual não

compensado, continua seu trabalho de solapar e começa a destruir o aparelho mental e o

equilíbrio psíquico do sujeito, empurrando-o lenta ou brutalmente para a descompensação

(mental ou psicossomática) e para a doença.

Merlo e Silva (2007) postulam que o sofrimento patogênico passa a funcionar como

um mediador da fragilização da saúde , quando não há nada além das pressões fixas e rígidas,

mantendo a repetição, frustração, aborrecimento, o medo ou outros sentimentos ligados a

impotência, conduz o equilíbrio psíquico do sujeito lentamente a uma descompensação

mental.

Ainda de acordo com Dejours e Abdoucheli (1994), o desafio para a psicologia do

trabalho na prática é definir as ações susceptíveis de modificar o destino do sofrimento e

favorecer sua transformação (não apenas sua eliminação). Quando as relações sociais de

trabalho e as escolhas gerenciais empregam o sofrimento no sentido patogênico, o trabalho

poderá funcionar como um mediador de desestabilização e da fragilização da saúde. Dessa

forma, sofrimento e prazer, são provenientes da dinâmica interna das situações e da

organização do trabalho, ou seja, são produtos dessa dinâmica, das relações subjetivas e de

poder, das condutas e ações dos trabalhadores permitidas pela organização do trabalho. O

trabalho é um operador fundamental na própria construção do sujeito, o sujeito produz

interpretação acerca de sua situação e as socializa através de atos intersubjetivos, reage, se

organiza e age sobre o próprio processo de trabalho, contribuindo para a construção e a

evolução das relações sociais no trabalho.

Em relação aos aspectos na formação e treinamento dos profissionais de saúde,

Kovacs (2002) refere que no treinamento do pessoal da área médica ocorre uma

dessensibilização dos elementos que possam evocar a morte. É enfatizada a objetividade

cientifica, o controle sobre a doença, o paciente vira um numero. O medo da morte se torna

uma questão intelectual..Sendo que no curso de enfermagem também são enfatizados os

aspectos técnicos e práticos da função de enfermagem.

Esslinger (2003) postula que os cursos de formação de profissionais de saúde carecem

de disciplinas que abordem os temas da morte, do luto e do morrer. Educar para a morte (que

nada mais é do que educar para a vida) deveria ser um dos objetivos dos cursos de formação

dos profissionais de saúde, sugere uma reavaliação dos currículos desses cursos. Ressalta a

necessidade de os próprios profissionais de saúde poderem ser acolhidos, para acolher, pois

relação paciente-familia-equipe de saúde, no contexto de terminalidade não é algo simples.

Trata-se de uma relação que envolve o conflito vida e morte, decisões que muitas vezes

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precisam ser tomadas em caráter de urgência. Lidar com situações limite entre a vida e a

morte implica em repensar aspectos éticos, sociais, econômicos, políticos, religiosos e

psicológicos.

Silva (2004) refere que as formações acadêmicas na área da saúde privilegiam a

objetividade, o tecnicismo, com o desenvolvimento da ciência e a presença marcante da

racionalidade o não envolvimento emocional é defendido. Um dos aspectos importantes seria

pensar o lugar da morte nas instituições de saúde e como este aspecto pode contribuir para

melhorar a qualidade de vida e de morte presente na pratica médica e de toda a equipe de

saúde. Atualmente, diz-se que a equipe de saúde deve estar atenta aos aspectos emocionais

dos pacientes, mas não existe a mesma ênfase com o emocional da equipe, pouco é dito sobre

o cuidado com o cuidador que é atingido pelo sofrimento do seu paciente.

É imprescindível cuidar do cuidador. Estamos falando em formação acadêmica, em

medidas profiláticas, se quisermos caminhar em direção a um atendimento mais

humanitário, de maior qualidade, se quisermos caminhar para uma racionalidade que

priorize o agir terapêutico, que resgate o papel da relação médico (profissional de

saúde/ paciente); em que o paciente possa ser reconhecido como sujeito em toda sua

subjetividade, que valorize a arte de curar e, principalmente, a tarefa maior da

humanidade que, segundo Kierkergaard, é o cuidado. Uma medicina que promova o

encontro com as pessoas (SILVA, 2004, p. 147).

Pessini e Bertachini (2005) sugerem a importância de notar que os cuidados paliativos

não devem ser vistos hoje como essencialmente diferentes de outras formas ou áreas de

cuidados de saúde. Isso tornaria difícil, se não impossível, a sua integração no curso regular

dos cuidados de saúde. Muitos aspectos cruciais dos cuidados paliativos aplicam-se

perfeitamente à medicina curativa, bem como, por outro lado, o desenvolvimento dos

cuidados paliativos pode influenciar positivamente outras formas de cuidados de saúde, ao

valorizar aspectos que ficaram em segundo plano a partir do domínio da medicina chamada

científico tecnológica, tais como as dimensões humanas e ético-espirituais da pessoa humana.

Sob essa perspectiva conceitual, segue-se abordando a filosofia dos cuidados paliativos, nos

seus princípios fundamentais.

1.2 SINTOMAS MENTAIS: ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Os transtornos mentais são definidos pelo DSM-IV-TR (2008) - Manual diagnóstico e

estatístico de transtornos mentais como:

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[...] síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente

importantes, que ocorrem num individuo e estão associados com sofrimento(p.ex.,

sintoma doloroso) ou incapacitação (p.ex. prejuízo em uma ou mais áreas

importantes do funcionamento) ou com um risco significativamente aumentado de

sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda da liberdade. Além disso, essa síndrome

ou padrão não deve constituir meramente uma resposta previsível e culturalmente

aceita diante de um determinado evento, por exemplo , a morte de um ente

querido.Qualquer que seja a causa original, a síndrome deve ser considerada no

momento como uma manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica

ou biológica no individuo.(DSM-IV-TR, 2008, p. 25 e 26)

De acordo com DSM-IV-TR (2008), um diagnóstico em geral é aplicado ao quadro

atual do indivíduo, não sendo tipicamente usado para denotar diagnósticos anteriores das

quais o indivíduo se recuperou. Os seguintes especificadores de gravidade e curso podem ser

listados após o diagnóstico: leve, moderado, Grave, em Remissão Parcial, em Remisssão

Completa e História Prévia. Sendo que os especificadores Leve, Moderado e Grave devem ser

usados apenas quando todos os critérios requeridos para o transtorno são reunidos no

presente, onde o clinico deverá levar em consideração o número e a intensidade dos sinais e

sintomas do transtorno como quaisquer prejuízos resultantes no funcionamento ocupacional

ou social.

Em relação aos transtornos do Humor, a quarta edição do Manual diagnóstico e

Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) refere que os dois principais transtornos do

humor são o transtorno depressivo maior e o transtorno bipolar I, muitas vezes são chamados

de transtornos afetivos; entretanto a patologia crítica nesses transtornos é o humor, o estado

emocional interno mais constante de uma pessoa, e não de afeto, a expressão externa do

conteúdo emocional atual.

Segundo Kaplan, Sadock J. e Sadock V. (2007), as alterações do humor englobam um

grupo de transtornos em que esta patologia e suas perturbações associadas dominam

dominam o quadro clínico, conhecidos em algumas edições prévias do Manual de

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) como transtornos afetivos, o

transtorno do humor é preferível porque se refere a estados emocionais persistentes, e não

meramente a expressão externa (afetiva) de um estado emocional transitório. Os transtornos

do humor são considerados como síndromes (em vez de doenças distintas), consistindo num

conjunto de sinais e sintomas persistentes por semanas ou meses que representam um desvio

marcante do desempenho habitual do individuo e que tendem a recorrer, por vezes, de forma

cíclica ou periódica. Os sinais são observações e descobertas objetivas, como afetos constritos

ou retardos psicomotores do paciente enquanto que os sintomas são as experiências subjetivas

descritas e expressadas muitas vezes como suas principais queixas, como humor depressivo

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ou falta de energia. Uma síndrome é um grupo de sinais e sintomas que, juntos formam uma

condição reconhecível, que pode ser mais ambígua do que uma doença ou transtorno

específico. Muito dos sinais e sintomas podem ser compreendidos como vários pontos em um

espectro de comportamentos que variam do normal ao anormal (patológico). E para que possa

ser considerado importante no diagnóstico, o fenômeno deve ocorrer repetidamente e ser

característico de algum transtorno conhecido.

Ainda segundo Kaplan, Sadock, J. e Sadock, V. (2007) o estado de humor pode

apresentar-se normal, elevado ou deprimido. Os indivíduos normais experimentam uma ampla

faixa de estados de humor e tem um grande repertório de expressões afetivas, sentem-se no

controle de seus estados de humor e afetos. Nos transtornos de humor, a sensação de controle

é perdida, e há uma experiência subjetiva de grande sofrimento.

De acordo com Kaplan, Sadock J. e Sadock V. (2007) em relação aos transtornos de

ansiedade, afirmam que estão entre as condições psiquiátricas mais prevalentes na maioria da

população estudada, denotando de maneira persistente que eles produzem morbidade

desordenada , uso de serviços de saúde e comprometimento do desempenho incomuns. Entre

seus aspectos podemos destacar a interação entre os fatores genéticos e a experiência,

enquanto há pouca dúvida de que genes anormais predisponham a estados patológicos de

ansiedade a evidencia indica que acontecimentos traumáticos da vida e o estresse também são

etiologias importantes.

Kaplan (1984) afirma que a ansiedade existe sozinha como sintoma predominante ou

juntamente com outras manifestações de perturbação emocional e é a característica central da

maioria das doenças psiquiátricas, ansiedade é o distúrbio principal na neurose de ansiedade,

quando ocorre de forma episódica é conhecida como um distúrbio de pânico; quando ocorre

de forma crônica e persistente, diz-se de um distúrbio de ansiedade generalizada e em relação

a epidemiologia os autores referem que a ansiedade é um componente em quase todas as

perturbações psiquiátricas, aparecendo de ambas as formas, aguda e crônica.

Em relação à história, Kaplan, Sadock, J. e Sadock, V. (2007) relatam que há cerca de

um século, Freud criou o termo neurose de ansiedade, que ele acreditava resultar da libido

contida: um aumento fisiológico da tensão sexual levava a um aumento correspondente na

libido e á representação mental desse evento fisiológico. A saída normal para essas tensões

era, segundo sua visão, a relação sexual, mas práticas sexuais como a abstinência e o coito

interrompido impediam a liberação de tensão e produziam neurose. As condições de aumento

de ansiedade relacionado ao bloqueio da libido incluíam a neurastenia, a hipocondria e as

neuroses de ansiedade, todas as quais Freud considerava como tendo uma base biológica.

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Kaplan, Sadock e Grebb (1997) afirmam que a ansiedade historicamente foi relatada

por Sigmund Freud que criou o termo “neurose de ansiedade” e identificou duas formas de

ansiedade.

Um do tipo de ansiedade resulta da libido frustrada. [...] A segunda forma de

ansiedade é melhor caracterizada como um sentimento difuso de preocupação ou

temor que se origina de um pensamento ou desejo reprimido. Esta forma de

ansiedade responde pelas psiconeuroses – histeria, fobias e neuroses obsessivas.

Freud compreendia essas condições e a ansiedade a elas associadas como estando

relacionadas, primariamente, a fatores psicológicos, ao invés de fatores fisiológicos.

O conflito intrapsíquico é responsável pela ansiedade e psiconeuroses, e Freud

observou que a ansiedade resultante é menos intensa e dramática que a das neuroses

reais.Com a publicação de Inibições, sintoma e Angústia, em 1926, Freud criou uma

nova teoria da ansiedade que explicava tanto a ansiedade externa real quanto a

neurose interna neurótica como respostas a uma situação de perigo.Freud identificou

dois tipos de situações ansiogênicas. Uma delas envolve o excesso de estimulação

institual, cujo protótipo é a experiência do nascimento. [...] A segunda situação, mais

comum, envolve a ansiedade que se desenvolve em antecipação ao perigo, ao invés

de resultar deste. (KAPLAN;SADOCK;GREBB, 1997, p. 545).

Em relação à ansiedade patológica, Kaplan, Sadock e Grebb (1997) afirmam que as

alterações biológicas mensuráveis nos indivíduos com transtorno de ansiedade refletem os

resultados de conflitos psicológicos, ao mesmo tempo os eventos biológicos precedem os

conflitos psicológicos. Ambas as situações podem existir em indivíduos específicos, podendo

haver um espectro de sensibilidades de base biológica entre as pessoas com sintomas de

transtornos de ansiedade. Entre os fatores biológicos podemos citar o sistema nervoso

autônomo, neurotransmissores, e algumas consideraçõs anatômicas, sendo que muitos

pacientes com transtornos de ansiedade, especialmente aqueles com transtorno de pânico, tem

um Sistema Nervoso Autônomo, que exibe uma intensificação do tônus simpático, adapta-se

mais lentamente a estímulos repetidos e responde excessivamente a estímulos moderados. Os

três principais neurotransmissores associados à ansiedade com base em estudos de animais e

respostas a tratamentos medicamentosos são a noradrenalina, serotonina e ácido y-

aminobutírico (GABA). Duas áreas do sistema límbico têm recebido especial atenção na

literatura: a atividade aumentada do tracto septo hipocampal, e o giro do cíngulo têm sido

implicados, particularmente, na fisiopatologia do transtorno obsessivo-compulsivo. O córtex

cerebral frontal está conectado a região para-hipocampal, ao giro do cíngulo e ao hipotálamo,

portanto , talvez esteja envolvido na produção de ansiedade.

Afirmam ainda que os estudos genéticos têm produzido dados sólidos quanto a

existência de, pelo, menos, algum componente genético no desenvolvimento dos transtornos

de ansiedade. Cerca de 50% dos pacientes com transtorno de pânico tem pelo menos um

parente afetado.

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Segundo Kaplan, Sadock, J. e Sadock, V. (2007) a definição de ansiedade consiste em

uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, por vezes acompanhada de sintomas

autonômicos como cefaléia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve mal-estar

epigástrico e inquietação, indicada pela incapacidade de ficar sentado ou de pé quieto por

muito tempo, sendo que todas as pessoas experimentam a ansiedade, podendo variar a gama

de sintomas presentes durante a ansiedade. Acrescentam que a ansiedade é um sinal de alerta,

indicando um perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a ameaça.

O medo é um sinal de alerta semelhante, mas deve ser diferenciado da ansiedade, ele é uma

resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida e sem conflitos; a ansiedade é uma

resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga e conflituosa. Quando considerada apenas

como sinal de alerta, a ansiedade parece ser basicamente a mesma emoção do medo. Como a

advertência de uma ameaça interna ou externa, a ansiedade é adaptativa e tem qualidades

salva-vidas. Em nível mais baixo, adverte sobre lesão corporal, dor, impotência, possível

punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de entes queridos,

ameaça ao êxito ou status individual, e por fim, ameaças à unidade ou á integridade. Impele o

individuo a tomar as medidas necessárias para evitar a ameaça ou reduzir suas consequências.

Os autores relatam que se um acontecimento é percebido ou não como estressante

depende da natureza do acontecimento e dos recursos do individuo, das defesas psicológicas e

dos mecanismos para se lidar com a tensão. Todas essas referencias envolvem o ego, uma

abstração coletiva para o processo pelo qual o individuo percebe, pensa e atua sobre os

acontecimentos externos ou os impulsos internos. Aquele cujo ego está funcionando de

maneira apropriada está em equilíbrio adaptativo tanto com o mundo externo como com o

interno; se o ego não está funcionando adequadamente e o desequilíbrio resultante continua

por tempo suficiente, o individuo experimenta ansiedade crônica. Se o desequilíbrio é externo,

entre as pressões do mundo e o ego da pessoa, ou interno entre os impulsos e a consciência

ocorre um conflito, os conflitos de causas internas costuma ser interpessoais, enquanto que os

de causas internas são intrapsíquicos ou intrapessoais, sendo possível uma combinação dos

dois, os conflitos interpessoais e intrapsíquicos tendem a ser mesclados pelo fato de os

humanos serem sociais, seus principais conflitos envolvem, em geral outras pessoas.

A ansiedade representa um papel central no funcionamento do aparelho psíquico,

como reação do ego a uma ameaça interna, originada de impulsos instintivos proibidos,

motivando o ego a manobras defensivas com o objetivo de controlar os impulsos e enfrentar o

sofrimento mental, não sendo necessariamente patológica, pois é vista como um sinal ou

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indicador para o ego tanto da necessidade de erigir defesas psicológicas como do sucesso do

funcionamento das mesmas.

De acordo com Kaplan, Sadock, J. e Sadock, V. (2007) em relação aos sintomas de

ansiedade relatam que a experiência da ansiedade apresenta dois componentes: a percepção

das sensações fisiológicas (como palpitações e suor) e a percepção do estar nervoso ou

assustado. Além dos efeitos motores e viscerais, a ansiedade afeta o pensamento, a percepção

e o aprendizado tendendo a produzir confusão e distorções da percepção não apenas do tempo

e espaço, mas também das pessoas e dos significados dos acontecimentos, sendo que essas

distorções podem interferir no aprendizado ao diminuir a concentração, reduzir a memória e

perturbar a capacidade de fazer relações.

Kaplan, Sadock e Grebb (1997) esclarece que a sensação de ansiedade é uma vivência

comum de virtualmente qualquer ser humano, caracterizada por um sentimento difuso,

desagradável e vago de apreensão, freqüentemente, acompanhado por sintomas autonômicos

(diarréia, tonturas, hiperidrose, hiper-reflexia, hipertensão, palpitações, midríase pupilar,

inquietação, síncope, taquicardia, formigamentos nas extremidades, tremores, desconforto

abdominal, freqüência, retenção e urgência urinária), como cefaléia, perspiração, palpitações,

aperto no peito e leve desconforto abdominal. Uma pessoa ansiosa também pode sentir

inquietação, indicada por incapacidade para permanecer sentada ou imóvel por muito tempo,

porém a constelação particular de sintomas presentes durante a ansiedade tende a variar entre

as pessoas.

Os autores afirmam que é vantajoso responder com ansiedade a certas situações

ameaçadoras, sendo que se pode falar de uma ansiedade normal, contrastando-a com uma

ansiedade anormal ou patológica. A ansiedade é um sinal de alerta, que serve para avisar

sobre um perigo iminente e possibilita a tomada de medidas para enfrentar a ameaça. A

ansiedade é um acompanhamento normal do crescimento, das mudanças, de experiências

novas e inéditas, do encontro da própria identidade e sentido da vida. A ansiedade patológica,

em comparação, é uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua

intensidade ou duração.

O Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR) relata

as divisões entre os vários transtornos de ansiedade com base em critérios clínicos de validade

e confiabilidade reconhecida, sendo eles: transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de

pânico com e sem agorafobia, agorafobia sem histórias de transtorno de pânico, fobias

específicas e social, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós traumático,

transtorno de estresse agudo, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade

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devido a uma condição médica geral, transtorno de ansiedade induzido por substancia, e

transtorno de ansiedade sem outra especificação, incluindo transtorno misto de ansiedade-

depressão; permite especificar, se o transtorno se caracteriza por sintomas de ansiedade

generalizada, ataques de pânico, ou sintomas obsessivos compulsivos.

Transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral foi listado no DSM III

R, como uma síndrome de ansiedade orgânica, um dos transtornos mentais orgânicos

associados com transtornos ou condições físicas. Assim como outras síndromes importantes,

(como por ex. psicose e sintomas de transtorno de humor, o transtorno de ansiedade devido a

uma condição médica geral foi incluído para encorajar a formulação e consideração de um

diagnóstico diferencial e completo (é necessário o diagnóstico diferencial e completo). A

ocorrência de sintomas de ansiedade relacionados a condições médicas gerais é comum,

embora a incidência do transtorno seja variável para cada condição médica específica.

Kaplan, Sadock e Grebb (1997) classificam os transtornos associados com ansiedade

como: transtornos neurológicos (neoplasmas cerebrais, traumatismo cerebral e síndromes pós-

concussão, doença cérebro-vascular, hemorragia subaracnóide, enxaqueca, encefalite, sífilis

cerebral, esclerose múltipla, doença de Wilson, doença de Huntington, epilepsia); condições

sistêmicas Hipóxica (doença cardiovascular, arritmias cardíacas, insuficiência pulmonar,

anemia); perturbações endócrinas (disfunção da hipófise, disfunção da tireóide, disfunção das

paratireóides, disfunção adrenal, feocromocitoma, transtornos virilizantes em mulheres);

transtornos inflamatórios (lúpus eritematoso, artrite reumatóide, poliarte nodosa, arterite

temporal); estados de deficiência (deficiência de vitamina b12, pelagra); condições diversas

(hipoglicemia, síndrome carcinóide, condições malignas sistêmicas, síndrome pré-menstrual,

doenças febris e infecções crônicas, porfiria, mononucleose infecciosa, síndrome pós-hepatite,

uremia); condições tóxicas (abstinência de álcool e drogas, anfetaminas, agentes

simpatomiméticos, agentes vasopressores, cafeína e abstinência de cafeína, penicilina,

sulfonamidas, cannabis, mercúrio, arsênico, fósforo, organofosfatados, dissulfeto de carbono,

benzeno, intolerância a aspirina) e transtornos psiquiátricos idiopáticos (depressão, mania,

esquizofrenia, transtorno de ansiedade, ansiedade generalizada, ataque de pânico, transtornos

fóbicos, transtorno de estresse pós traumático).

O diagnóstico diferencial é necessário, a ansiedade como sintoma pode estar associada

com muitos transtornos psiquiátricos, além dos transtornos de ansiedade propriamente ditos,

um exame do estado mental é necessário, para determinar a presença de sintomas de humor

ou psicóticos sugestivos de algum outro diagnóstico psiquiátrico.

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Os autores refere-se ainda que algumas pessoas possuem sintomas de transtornos de

ansiedade, mas não satisfazem os critérios para qualquer transtorno de ansiedade específico

do DSM-IV, transtorno de ansiedade sem outra especificação, transtorno de ajustamento com

humor ansioso ou transtorno misto de ansiedade e depressão.

O transtorno depressivo-ansioso misto. O DSM-IV segue os passos da décima

revisão da classificação internacional de doenças (CID-10) incluindo, no apêndice

do DSM-IV, como um exemplo de transtorno de ansiedade SOE, o transtorno misto

de ansiedade e depressão. Este transtorno abrange os pacientes que apresentam

sintomas tanto de ansiedade quanto de depressão, mas não reúnem os critérios

associados para um transtorno de ansiedade ou um transtorno do humor. A

combinação de sintomas de ansiedade e depressão resulta em um comprometimento

funcional significativo para o individuo afetado.[...]a condição se situa nos limites

de normalidade e não indica a classificação como um transtorno mental.”(KAPLAN,

1997, p. 552) .

Quanto à epidemiologia, os autores referem que a coexistência de transtorno

depressivo maior com transtorno de pânico é comum. Até 60% dos pacientes com sintomas

depressivos têm sintomas proeminentes de ansiedade, 30% podem satisfazer os critérios

diagnósticos para transtorno de pânico.

Esses dados sugerem que pode ser comum a coexistência de sintomas depressivos e

ansiosos, sem que satisfação os critérios diagnósticos para outros transtornos

depressivos e de ansiedade. Contudo alguns clínicos e pesquisadores estima que a

prevalência do transtorno na população geral seja de até 10% e, nas clinicas de

atendimento primário, de até 50%, embora estimativas conservadoras sugiram uma

prevalência de cerca de 1% na população em geral. (KAPLAN; SADOCK; GREBB

1997, p. 552) .

Em relação à etiologia, o autor distingue quatro linhas principais de evidências que

sugerem uma ligação causal entre sintomas de ansiedade e sintomas depressivos em alguns

pacientes (pessoas) afetadas: alterações neuroendócrinas similares nos transtornos depressivos

e de ansiedade, incluindo embotamento da resposta do cortisol ao hormônio

adrenocorticotrópico (ACTH), um embotamento das respostas do hormônio estimulador da

tireóide (TSH) e da prolactina ao hormônio liberador de tirotropina (TRH); hiperatividade do

sistema noradrenérgico é, causalmente, relevante em alguns pacientes com transtornos

depressivos e em alguns pacientes com transtorno de pânico a serotonina e o acido y-

aminobutírico (GABA) também podem estar causalmente envolvidos no transtorno misto de

ansiedade e depressão; muitos estudos descobriram que as drogas serotonérgicas, como a

fluoxetina e a clorimipramina, são úteis no tratamento dos transtornos tanto ansiosos quanto

depressivos e diversos estudos de famílias trazem dados indicando que a ansiedade e os

sintomas depressivos estão geneticamente ligados.

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Em relação ao diagnóstico, menciona que os critérios diagnósticos do DSM-IV são

similares aos critérios da CID-10 para transtorno misto de ansiedade e depressão, que exigem

a presença de sintomas subsindrômicos tanto de ansiedade quanto de depressão e a presença

de alguns sintomas autônomos, como tremor, palpitações, boca seca e desconforto abdominal.

Sendo que as características clínicas do transtorno misto de ansiedade e depressão envolvem

uma combinação de alguns sintomas de transtornos de ansiedade e alguns sintomas de

transtornos depressivos. Além disso, os sintomas de hiperatividade do sistema nervoso

autônomo, como queixas gastrintestinais, são comuns e contribuem para a alta freqüência com

a qual os pacientes são vistos em clínicas médicas ambulatoriais.

Diagnóstico diferencial inclui outros transtornos de ansiedade e depressivos e

transtornos de personalidade. Entre os transtornos de ansiedade, o transtorno de

ansiedade generalizada tem a maior probabilidade de sobreposição com o transtorno

misto de ansiedade e depressão. Entre os transtornos do humor, o transtorno

distímico e o transtorno depressivo menor são aqueles mais propensos a

sobreporem-se ao transtorno misto de ansiedade e depressão [...] com base nos

dados clínicos atuais, os pacientes parecem estar, igualmente, propensos a iniciarem

com sintomas proeminentes de ansiedade, sintomas proeminentes de depressão ou

uma mescla igual dos dois tipos de sintomas. (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 1997,

p. 553)

Segundo Cunha, (2001) em pacientes com ansiedade é freqüente a superposição de

sintomas de depressão sendo a depressão sempre uma possibilidade.

A ansiedade define um estado de alerta, que amplia o estado de atenção diante de uma

situação de perigo real ou imaginário. Está presente como uma sensação difusa, desagradável,

de apreensão, acompanhada por várias sensações físicas como mal-estar gástrico,

precordialgia, palpitações, sudorese excessiva e cefaléia. Os sintomas depressivos podem se

manifestar de várias formas. As alterações de humor podem ser tristeza, perda de interesse por

qualquer atividade, falta de prazer, crises de choro ou variação diurna do humor. As alterações

motoras incluem inibição ou retardo dos movimentos e agitação, principalmente em idosos.

As mudanças somáticas aparecem como alterações no sono, tais como insônia ou hipersonia,

variações do apetite e peso, perda de libido, obstipação e fadiga. As sociais incluem apatia,

isolamento e incapacitação para o desempenho das tarefas cotidianas. As alterações cognitivas

relacionam-se com desesperança, desamparo, idéias de culpa e de suicídio, indecisão e perda

de insight, isto é, do reconhecimento de que está doente. Sintomas de ansiedade, tanto

psíquica como somática e fóbica, podem aparecer, bem como sintomas de irritabilidade, que

podem se manifestar na forma de hostilidade, auto e heterodirigida (REZENDE et al., 2005).

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Segundo Ramos (2008) dentro das descrições de ansiedade, sintomas psicológicos e

somáticos aparecem lado a lado sem nenhuma distinção hierárquica ou causal acerca de que

tipo de sintoma teria aparecido em primeiro lugar. A ansiedade é uma experiência complexa,

envolvendo sintomas físicos e psíquicos, tona-se muito difícil estabelecer uma separação

conceitual clara entre sintomas puramente psicológicos e físicos. Dessa forma, como todo

estado emocional, a ansiedade é definida por todo o conjunto de suas manifestações somáticas

e conteúdos mentais, constituindo-se um estado único, intenso e potencialmente desagradável,

para que a ansiedade seja considerada um estado emocional normal, ela deve ocorrer de forma

compreensível em respostas a diferentes estímulos e situações. Quando a intensidade ou

duração de suas manifestações torna-se intensa, a ansiedade pode ser considerada patológica,

sendo que as diferentes apresentações dos sintomas ansiosos refletem-se nos atuais sistemas

de classificação de doenças, cujos diferentes transtornos são descritos e definidos a partir de

um ou outro sintoma mais relevante.

Em relação à prevalência relatada no DSM-IV-TR, o transtorno de ansiedade

generalizada em uma amostra comunitária, em um ano, foi de aproximadamente de 3% e a

taxa de prevalência durante a vida de 5%. Nas clinicas para transtornos de ansiedade, até 25%

dos indivíduos tem transtorno de ansiedade generalizada como diagnóstico principal ou co-

mórbido.

Quanto a depressão, os critérios diagnósticos do DSM-III (American psychiatric

Association, 1974), Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM (Manual

Diagnóstico e Estatístico de Trasntornos Mentais – III) que, essencialmente, também

constituem as características sintomatológicas de um episódio de depressão maior segundo o

DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994), Diagnostic and Statistical Manual of

Mental Disorders – DSM IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Trasntornos Mentais – IV) e

que podem ser assim resumidas: humor deprimido, perda de interesse ou prazer, perda de

ganho de peso, ou diminuição ou aumento do apetite, insônia ou hipersonia, fadiga ou perda

de energia, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva, capacidade diminuída de pensar ou

concentrar-se, indecisão, agitação ou retardo psicomotor, pensamentos de morte recorrentes

(CUNHA, 2001).

A depressão é definida pelo prolongamento de sentimentos negativos e a

incapacidade de concentração ou do funcionamento normal (BABA; GALPERIN; LITUCHY,

1999).

Segundo Kaplan (1984) depressão refere-se a uma emoção humana normal, a um

sintoma clinico e a um grupo de síndromes ou perturbações. O termo depressão tem diferentes

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significados em vários campos científicos, tais como neurofisiologista, farmacologia,

psicologia e psiquiatria. Para o neurofisiologista, depressão se refere a qualquer diminuição na

atividade eletrofisiológica. Para o farmacologista, depressão refere-se ao efeito de drogas que

diminuem a atividade do órgão a ser atingido. Portanto, os depressivos do sistema nervoso

central incluem drogas, tais como os barbitúricos e os anestésicos, que diminuem a

capacidade responsiva a estímulos, através da produção de sono ou coma. Para o psicólogo,

depressão refere-se a qualquer decréscimo no desempenho cognitivo, perceptivo ou motor,

para o psiquiatra clinico, entretanto, depressão cobre uma vasta série de mudanças nos estados

emocionais variando na sua gravidade desde flutuações normais de humor na vida diária, até

episódios psicóticos graves.

Para Kaplan (1984), o uso do termo “depressão”, em uma quantidade de campos

científicos, tem-se inclinado a apoiar a opinião ou, talvez, mais exatamente, o desejo de que

mecanismos comuns estão por baixo dos fenômenos neurofisiológicos, farmacológicos,

psicológicos e clínicos. Como resultado, muitos médicos e pesquisadores têm admitido a

possibilidade de que os sintomas depressivos clínicos sejam o resultado de uma redução de

alguma função do sistema nervos central, generalizada ou especifica, e, portanto, seriam

melhor tratados com uma droga que tenha um contra-efeito – isto, é, uma droga estimulante.

Até que as novas teorias da psicobiologia das perturbações afetivas sejam confirmadas, o

termo depressão fica mais restrito a fenômenos emocionais, sem suposição de qualquer causa

subjacente, seja localizada no sistema nervoso central, seja na psique.

Assim como humor, afeto, estado sensível ou emoção, a depressão é um aspecto

difundido de experiência humana normal. Sentimentos de tristeza, desapontamento,

frustração, desanimo e emoções relacionadas são acompanhamentos freqüentes das

vicissitudes da condição humana.

Ainda de acordo com Kaplan (1984), o termo: perturbações afetivas agrupa várias

condições clinicas, cujo traço comum e essencial é um distúrbio de humor acompanhado por

dificuldades cognitivas, psicomotoras, psicofisiológicas e interpessoais, considerando-se que

o humor geralmente refere-se a estados emocionais experimentados que determinam o aspecto

total da personalidade e da vida psíquica. Afeto, algumas vezes, refere-se ao aspecto subjetivo

da emoção, à parte de seus componentes físicos. Humor refere-se à emoção difundida ou

predominante.

Em relação aos estudos epidemiológicos, afirma que estes indicam que talvez de 15 a

30 por cento dos adultos experimentam episódios depressivos clínicos, frequentemente de

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gravidade moderada, em algum período de suas vidas e que a depressão é o tipo mais comum

de perturbações mentais entre os adultos.

Segundo Kaplan, Sadock e Grebb (1997 p. 267), “o humor é definido como uma

emoção abrangente e constante, que colore a percepção que a pessoa tem do mundo. [...] O

humor pode ser instável significando que flutua ou alterna rapidamente entre extremos”.

Ainda de acordo com os autores acima, o afeto pode ser definido como a expressão

externa da resposta emocional do paciente; é o que o examinador observa como expressão

facial, incluindo a quantidade e amplitude do comportamento expressivo. O afeto pode ser

congruente ou incongruente com o humor. É descrito como estando dentro da faixa normal,

constrito, embotado ou plano. Na faixa normal de afeto, existe uma variação na expressão

facial, tom de voz, uso das mãos e movimentos corporais. Quando o afeto está constrito,

existe uma clara redução na variação e na intensidade de expressões: no afeto embotado a

expressão emocional é ainda mais reduzida. Para o diagnóstico de afeto plano, não deve ser

encontrada virtualmente qualquer expressão afetiva, a voz do paciente deve ser monótona e o

rosto deve apresentar-se imóvel. Embotado, plano, e constrito são termos usados para nos

referirmos à profundidade aparente da emoção; deprimido, orgulhoso, irado, temeroso,

ansioso, culpado, eufórico, e expansivo são termos usados para nos referirmos a determinados

humores. Também é importante notar a dificuldade do paciente para iniciar, manter ou

terminar uma resposta emocional.

De acordo com Kaplan, Sadock J. e Sadock V.(2007), relacionado aos aspectos

históricos da depressão, afirmam que tem sido registrada desde a antiguidade, e descrições do

que agora, chamamos de transtornos do humor podem ser encontradas em muitos textos

antigos. A história do Rei Saul, no Antigo Testamento, descreve uma síndrome depressiva,

assim como a história do suicídio de Ajax, na Ilíada, de Homero. Cerca de 400 a.C.,

Hipócrates usou os termos “mania” e “melancolia” para perturbações mentais. Por volta do

ano 30, Aulus Cornelius Celsus descreveu a melancolia em seu trabalho De re medicina como

uma depressão causada pela bile negra. O termo continuou sendo usado por outros autores

médicos, incluindo Arateus (120-180), Galeno (129-199) e Alexandre de Tralles, no século

VI. O médico judeu, Moses Maimonides, no século XII, considerava a melancolia como uma

entidade patológica distinta. Em 1686, Bonet descreveu uma doença mental à qual chamou de

maníaco-melancholicus.

Seguindo com o autor, essa trajetória histórica da depressão, temos que em 1854, Jules

Flaret descreveu uma condição chamada de folie circulaire, na qual o paciente experiemnta

humores alternados de depressão e mania. Por volta da mesma época, um outro psiquiatra

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francês, Jules Baillarger, descreveu a condição folie à double forme, na qual os pacientes

tornam-se profundamente deprimidos e entram em um estado de estupor do qual recuperam-

se eventualmente. Em 1882, o psiquiatra alemão Karl Kahlbaum, usando o termo

“ciclotimia”, descreveu a mania e a depressão como estágios da mesma doença.

Emil Kraepelin, em 1889, elaborando sobre os conhecimentos de psiquiatras franceses

e alemães anteriores, descreveu uma psicose maníaco depressiva que continha a maioria dos

critérios usados atualmente pelos psiquiatras, para o estabelecimento do diagnóstico de

transtorno bipolar I, para o estabelecimento do diagnóstico de transtorno bipolar I. A ausência

de um curso demenciante e deteriorante na psicose maníaco-depressiva diferenciava-a da

demência precoce (isto é, esquizofrenia). Kraepelin descreveu um tipo de depressão que

começava após a menopausa em mulheres e durante a idade adulta tardia em homens, que

veio a ser conhecida como melancolia involutiva, e, desde então, começou a ser vista como

uma forma de transtorno do humor com inicio tardio.

Em relação à epidemiologia, Kaplan, Sadock, J. e Sadock, V. (2007) referem que o

transtorno depressivo maior é um transtorno comum, com uma prevalência durante a vida de

cerca de 15 %, talvez , até de 25% em mulheres. E em homens de 5 a 12 %.

Quanto ao sexo, os autores referidos afirmam que há uma observação quase universal,

independente de pais ou cultura, é a prevalência duas vezes maior da depressão unipolar no

sexo feminino. Embora as razões para a diferença sejam desconhecidas, isso não decorre de

práticas diagnósticas socialmente tendenciosas. As razões podem incluir variados estresses,

parto, modelos comportamentais de aprendizado da impotência e efeitos hormonais.

Em relação à idade, a média de início para o transtorno depressivo maior (50 %) fica

entre 20 e 50 anos. Alguns dados epidemiológicos mais recentes sugerem que a incidência de

transtorno depressivo maior pode estar aumentando entre pessoas com menos de 20 anos de

idade, o que pode estar relacionado ao aumento do uso de álcool e outras substâncias neste

grupo etário. Quanto à raça, a prevalência dos distúrbios de humor não difere de uma raça

para outra e quanto ao estado civil, em geral, a depressão unipolar ocorre mais

freqüentemente em pessoas que não tem relações interpessoais intimas ou são divorciadas ou

separadas, seguindo os autores.

No que se referem à etiologia, os autores acima citados, apontam que a base causal

para os transtornos do humor é desconhecida. As muitas tentativas de identificarem uma

causa biológica ou psicossocial para os transtornos do humor têm sido obstruídas pela

heterogeneidade da população de pacientes definida por qualquer dos sistemas diagnósticos

disponíveis e fundamentadas na clinica, incluindo o DSM IV. Os fatores causais podem ser

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divididos artificialmente em fatores biológicos, genéticos, e psicossociais. Esta divisão é

arbitrária em razão da probabilidade de os três campos interagirem entre si. Por exemplo, os

fatores psicossociais e genéticos podem afetar os fatores biológicos (por exemplo,

concentrações de determinado neurotransmissor) os fatores biológicos e psicossociais também

podem afetar a expressão dos gens, e os fatores biológicos e genéticos podem afetar a resposta

de uma pessoa aos fatores psicossociais, sendo que os fatores biológicos envolvem: amina

biogênicas, regulagem endócrina, anormalidade do sono, ativação dos lombos temporais,

ritmos circadianos, regulagens auto-imune e considerações anatômicas.

Kaplan, Sadock, J. e Sadock, V. (2007) afirmam que os transtornos de humor estão

associados com desregulagens heterogêneas das aminas biogênicas, sendo a noradrenalina e

serotonina dois neurotransmissores mais envolvidos na fisiopatologia dos transtornos de

humor e a dopamina, teoricamente, também desempenha um papel da depressão. A

desregulagem da acetilcolina nos transtornos de humor tem sido evidenciada, sendo o

hipotálamo essencial para a regulagem dos eixos neuroendócrinos e ele próprio recebe muitas

aferencias neuronais que usam neurotransmissores de amina biogênica, portanto a regulagem

anormal dos eixos neuroendócrinos pode decorrer de um funcionamento anormal dos

neurônios contendo aminas biogênicas.

Embora seja teoricamente possível uma determinada desregulagem de um eixo

neuroendócrino (por ex. eixo da tireóide, eixo adrenal) estar envolvido na causa de um

transtorno de humor, as desregulagens são, mais provavelmente, reflexos de um transtorno

cerebral básico. Os principais eixos neuroendócrinos de interesse nos transtornos de humor

são o adrenal, da tireóide e do hormônio de crescimento. Outras anormalidades

neuroendócrinas descritas em pacientes com transtornos do humor incluem secreção noturna

diminuída de melatonina, liberação diminuída de prolactina à administração de triptofano,

níveis basais diminuídos de hormônio folicuo-estimulante, (FSH) e hormônio luteinizante

(LH) e níveis diminuídos de testosterona em homens.

As anormalidades do sono, problemas relacionados ao sono (insonia inicial e terminal,

despertares múltiplos, hipersonia) são sintomas comuns e clássicos na depressão. Assim como

os problemas relacionados aos ritmos circadianos, onde as anormalidades na arquitetura do

sono na depressão e melhora clinica da depressão associada com a privação do sono

propiciaram teorias de que a depressão refletiria uma regulagem anormal dos ritmos

circadianos. Quanto a regulagem neuroimune, alguns pesquisadores têm descrito

anormalidades imunológicas em pessoas deprimidas e em pessoas enlutadas pela perda de um

parente, cônjuge ou amigo intimo.

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Os autores referem-se à ativação como sendo um processo eletrofisiológico pelo qual

uma estimulação subliminar repetida de um neurônio acaba gerando um potencial de ação. No

nível do órgão, a estimulação subliminar repetida de uma área do cérebro resulta em

convulsão. A observação clinica de que os anticonvulsivantes (por ex. carbamazepina e ácido

valpróico) são úteis no tratamento dos transtornos do humor, deram origem à teoria de que a

fisiopatologia dos transtornos do humor poderia envolver a ativação dos lobos temporais.

Quanto ás considerações neuroanatômicas e os fatores genéticos, pode-se afirmar que

Tanto os sintomas dos transtornos do humor quanto os achados das pesquisas biológicas

confirmam a hipótese de que os transtornos de humor envolvem uma patologia do sistema

límbico, gânglios basais e hipotálamo. Os dados genéticos indicam fortemente que um fator

significativo no desenvolvimento de um transtorno de humor é a genética. Entretanto, o

padrão de herança genética dá-se, evidentemente, através de mecanismos complexos: não

apenas é impossível excluir efeitos psicossociais, mas fatores não genéticos provavelmente

exercem papeis causativos no desenvolvimento dos transtornos do humor, em, pelo menos,

algumas pessoas. (KAPLAN; SADOCK, J.; SADOCK, V., 2007).

Em relação aos fatores psicossociais, que os acontecimentos vitais estressantes

precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de transtornos de humor do que

episódios subseqüentes. Supõe que o estresse que acompanha o primeiro episódio resultaria

em alterações duradouras na biologia do cérebro. Essas alterações duradouras poderiam

provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e

sinalizadores intraneuronais. As mudanças podem incluir até mesmo a perda de neurônios e

uma redução excessiva nos contatos sinápticos. O resultado bruto das alterações consiste em

um maior risco de sofrer de episódios subseqüentes de transtornos do humor, mesmo na

ausência de um estressor externo. Alguns clínicos acreditam que os acontecimentos vitais

exercem um papel primário na depressão; outros são mais conservadores, sugerindo que os

acontecimentos vitais tem um papel apenas limitado no aparecimento e época de surgimento

da depressão, segundo o autor.

Em relação a fatores da personalidade pré-mórbida, nenhum traço ou tipo de

personalidade isolado foi estabelecido como sendo singularmente predisponente à depressão.

Todos os seres humanos, com qualquer padrão de personalidade, podem e tornam-se

deprimidos sob circunstancias apropriadas; entretanto, certos tipos de personalidade

(oral-dependente, obssessivo-compulsiva, histérica) podem ter um maior risco de

depressão do que os tipos de personalidade antisocial, paranóide e outros que usam a

projeção e outros mecanismos de defesa externalizadores. (KAPLAN; SADOCK;

GREBB, 1997, p. 499).

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De acordo com o DSM-IV-TR, relacionada às características especificas de cultura,

afirma que a cultura pode influenciar a experiência e a comunicação dos sintomas

depressivos, sendo que o subdiagnóstico ou diagnóstico incorreto podem ser reduzidos por

uma atenção maior à especificidade étnica e cultural das queixas apresentadas e, um episódio

depressivo maior. Em algumas culturas, a depressão pode ser amplamente vivenciada em

termos somáticos, em vez de tristeza ou culpa. A experiência depressiva pode ser expressa por

meio de queixas de “nervosismo” e dores de cabeça (nas culturas latinas e mediterrâneas), de

fraqueza, cansaço, ou “desequilíbrio” (nas culturas chinesas e asiáticas), de problemas do

“coração” (nas culturas do Oriente Médio) ou de coração “partido” (entre os índios hopi

americanos). Estes quadros combinam características dos transtornos depressivos, de

ansiedade e somatoforme.

Quanto à prevalência, ainda de acordo com o DSM-IV-TR o risco para transtorno

depressivo maior durante a vida em amostras comunitárias tem variado de 10 a 25% para as

mulheres e de 5 a 12 % para os homens. A prevalência-ponto do transtorno depressivo maior

em adultos, nas amostras comunitárias, tem variado de 5 a 9% para as mulheres e de 2 a 3%

para os homens. Os índices de prevalência para transtorno depressivo maior parecem não ter

relação com etnia, educação, rendimentos ou estado civil.

Na literatura, verifica-se a existência de inúmeros estudos relacionados à depressão,

mas, em contrapartida, a prevalência de depressão entre os profissionais de enfermagem tem

sido pouco pesquisada (FRANCO, BARROS, & NOGUEIRA-MARTINS, 2005).

Vários foram os fatores associados à ocorrência de depressão identificada nas

pesquisas analisadas, os quais podem ser subdivididos em fatores desencadeantes internos e

externos ao ambiente de trabalho, conseqüências para o trabalhador e/ ou a instituição

hospitalar e estratégias de prevenção propostas. Fatores desencadeantes da depressão: os

trabalhadores de enfermagem, em sua atividade laboral, encontram-se expostos a

psicopatologias, como a depressão, em decorrência da relação entre o trabalho hospitalar e a

saúde e, mais especificamente, o trabalho hospitalar e a saúde mental do profissional. Esta

relação expõe os trabalhadores fisicamente, por exposição aos riscos químicos, às radiações,

às contaminações biológicas, ao excesso de calor, ao sistema de plantões, à excessiva carga

horária de trabalho, e à organização do trabalho de enfermagem; e psiquicamente, decorrente

da convivência diuturna com o sofrimento, a dor, a doença e a morte, tendo que "digerir" tais

circunstâncias paralelamente aos seus problemas emocionais (CAMAROTTI; TEIXEIRA,

1996).

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Na literatura destacamos um estudo realizado por Manetti e Marziale (2007) de

revisão sistematizada sobre os fatores associados à depressão relacionados ao trabalho de

enfermagem. O estudo identificou a depressão como um problema de saúde que tem

acometido, com freqüência, os trabalhadores de enfermagem. As evidências científicas

mostram que existem diversos fatores desencadeantes associados à depressão, quais sejam

desequilíbrios químicos cerebrais, características de personalidade, vulnerabilidade genética e

eventos situacionais. Entre trabalhadores de enfermagem, a literatura mostra que os fatores

desencadeantes associados podem estar relacionados a fatores internos ao ambiente e processo

de trabalho, como: os setores de atuação profissional, o turno, o relacionamento interpessoal,

a sobrecarga, serviço, os problemas na escala, a autonomia na execução de tarefas, a

assistência a clientes, o desgaste, o suporte social, a insegurança, o conflito de interesses, e as

estratégias de enfrentamento desenvolvidas; e a fatores externos ao trabalho, como: sexo,

idade, carga de trabalho doméstico, suporte e renda familiar, estado de saúde geral do

trabalhador, e as características individuais. Vários foram os fatores associados à ocorrência

de depressão identificada nas pesquisas analisadas, os quais podem ser subdivididos em

fatores desencadeantes internos e externos ao ambiente de trabalho, conseqüências para o

trabalhador e/ ou a instituição hospitalar e estratégias de prevenção propostas.

O estudo relatou também que a depressão no trabalhador de enfermagem traz

conseqüências para o trabalhador e para a instituição empregadora. Os artigos identificados

apontaram o desgaste e a tensão gerada no ambiente de trabalho (30%), a influência na saúde

física e/ ou psíquica dos profissionais (30%), o absenteísmo (10%), a insatisfação no trabalho

(10%), o prejuízo na qualidade da assistência prestada (10%) e a rotatividade (10%) e ainda

verificou-se que os recursos individuais contribuíam mais do que os fatores estressores do

trabalho para a variação dos níveis de depressão, sugerindo que as habilidades de

enfrentamento trazidas para o trabalho são importantes precursores dos sentimentos de

realização profissional, da depressão e da ansiedade.

1.3 SUPORTE SOCIAL

De acordo com Siqueira (2008), o suporte social é apontado por estudiosos de diversas

áreas do conhecimento como um fator capaz de proteger e promover a saúde. Trata-se de um

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conceito multidimensional, que se refere aos recursos materiais e psicológicos aos quais as

pessoas têm acesso através de suas redes sociais.

Cobb (1976) define suporte social como informação pertencente a uma de três

classes: informação que conduz que o sujeito a acreditar que ele é cuidado e amado e que as

pessoas se preocupam com ele; informação que leva o individuo a acreditar que ele é

estimado e valorizado, informação que conduza o sujeito a acreditar que pertence a uma rede

de comunicação e de obrigações mutuas.

Cohen e Syme (1985) afirma que desde 1970 há um interesse crescente no estudo do

conceito de suporte social relacionado com a saúde e bem estar, refletindo num aumento de

investigações, bem como de tratamento, intervenções e assistências terapêuticas em diversos

programas relacionados com diversas áreas antropologia, epidemiologia, gerontologia,

sociologia e psicologia. O conceito de suporte social tem sido implicados na etiologia e

recuperação de ambas as doenças físicas e sofrimento psicológicos, tentando estabelecer os

efeitos benéficos do suporte social na saúde.

Os autores acima citado definem suporte social como os recursos fornecidos por outras

pessoas, entendendo apoio social em termos de recursos de informação potencialmente útil ou

coisas que permitem a possibilidade de que o apoio pode ter efeitos negativos e positivos

sobre a saúde e o bem estar.

Rodriguez e Cohen (1998) afirmam que o suporte social é considerado capaz de gerar

efeitos benéficos para a saúde tanto física como mental, guardando uma estreita relação com o

bem-estar.

Ribeiro (1999), refere que o âmbito vasto do social é importante para a saúde como

para as doenças, sendo considerado como variável social aspectos objetivos do social tais

como numero de amigos, freqüência de contatos, intensidade de contatos, existência ou não

de amigos íntimos, de redes sociais, (contatos sociais mesmo que não seja com amigos), como

a aspectos subjetivos tais como a percepção que o individuo tem da adequação e da satisfação

com a dimensão social da sua vida. Em relação aos componentes, aspectos e dimensões do

suporte social, tende haver um consenso geral que o domínio do suporte social é

multidimensional e que aspectos diferentes do suporte social têm impacto diferente nos

indivíduos ou grupos.

Ribeiro, 1999 relata que foram encontrados alguns estudos que sustentam a crença de

que o suporte social tem efeitos mediadores na proteção da saúde, entre eles: uma revisão de

investigação acerca de evidências epidemiológicas da relação entre suporte social e saúde,

realizada por Broadhead et al. (1983), concluiu-se pela existência de forte correlação entre as

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duas variáveis. Schwarzer, e Leppin (1989, 1991), em revisão de investigações mostram,

numa meta-análise sobre 55 estudos (publicados entre 1976 e 1987) que incluíam uma

amostra total de 32739 indivíduos e 83 correlações baseadas em amostras independentes,

acerca da relação entre suporte social e saúde, valores das correlações entre suporte social e

má saúde ( mortalidade incluída) entre r = 0,60 e r= +0,23. A meta analise confirmou que a

má saúde era mais pronunciada entre os que tinham falta de suporte social, e que este estava

mais associado à saúde nas mulheres que nos homens.

Já nas décadas de 80 e 90, estudos comprovavam sua importância. Pesquisa realizada

por Sarason et al (1985) conclui que a satisfação com o suporte social disponível é uma

dimensão cognitiva com um importante papel na redução do mal estar. Ganster et al (1986),

realizaram uma investigação em que pesquisa o papel do suporte social enquanto moderador

do impacto das condições de trabalho, conclui haver relação entre os componentes do suporte

social e queixas somáticas. Thomason et al (1996) verificaram que o suporte social, embora

mediado por outras variáveis influencia a emergência de sintomas em doentes com SIDA.

Blaney et al (1997) também verificou que o aumento do suporte social tem impacto positivo

nas manifestações psicológicas associadas à SIDA. Em relação aos efeitos do suporte social

na saúde refere que os estudos tem se debruçado sobre a relação entre suporte social e saúde

podem englobar-se em quatro grandes categorias: o suporte social protege contra as

perturbações induzidas pelo estresse impedindo que o estresse afete negativamente o

individuo, sendo mediador ou moderador do estresse; não existência do suporte social é fonte

de estresse; sendo sua perda um estressor , uma vez que ele é benéfico.

Siqueira (2008) faz referências aos aspectos históricos do suporte social, com base em

vários estudos, evidenciando que a ruptura de vínculos sociais aumentava a suscetibilidade a

doenças diversas – como hipertensão arterial, depressão e tuberculose - contribuíram para

reafirmar a estreita relação entre redes sociais e saúde. A partir desta compreensão, diversos

conceitos foram utilizados para desenhar uma vida socialmente saudável, dentre eles, os que

destacam: o suporte social, o bem-estar e a integração social, avaliando seus relacionamentos

sociais e indicadores de saúde, procurando identificar tipos de relacionamento benéficos à

saúde e a analisar como as experiências nas relações sociais produziam impactos na saúde,

identificando índices mais elevados de integração social relacionados a manter o casamento,

manter contatos com amigos, pertencer a organizações sociais e religiosas, etc..Enfatiza o

suporte social como um processo interativo no qual ajudas de ordem emocional, instrumental

ou financeira são obtidas de redes sociais.

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Atualmente, Siqueira e Padovam (2008) consideram que o suporte social aparece

como um conceito central no campo da psicologia da saúde, além de ser considerado um

medidor entre eventos estressores e saúde, ressaltando que pessoas bem integradas em suas

comunidades tendem a viver mais e também desenvolvem uma capacidade de recuperar-se

quando adoecem, indivíduos socialmente saudáveis seriam mais hábeis e teriam mais sucesso

para lidar com os desafios que se lhes apresentam diariamente no convívio social, viveriam

em famílias mais estáveis, integradas e coesas, participariam mais de atividades na

comunidade e conformar-se-iam com mais facilidades as normas sociais. Estudiosos de

diversas áreas do conhecimento apontam o suporte social como um fator de proteger e

promover a saúde, demonstraram evidencias que a ruptura de vínculos sociais aumentava a

suscetibilidade de diversas doenças.Para os autores, as pesquisas sobre saúde social deram

importância às configurações dos agrupamentos, transformando as redes sociais em um

importante fator para compreensão de uma vida saudável. Estudos epidemiológicos

demonstraram correlações positivas entre o convívio em redes e saúde, sendo que essas são as

fontes das quais emanam suporte sociais para seus integrantes transformando as redes sociais

em um importante fator para compreensão de uma vida saudável.

Os autores referem-se ainda a que o conceito de redes foi originalmente criado e

desenvolvido no âmbito da sociologia antropológica. Menciona, com base em varas pesquisas

na área, como sociólogos defendem a noção de que as redes têm algum poder sobre o

comportamento social das pessoas nelas envolvidas. A importância das redes na construção

social reside no pressuposto de que elas preenchem as necessidades individuais, criando para

seus integrantes inúmeras oportunidades de manter sua identidade social, receber apoio, ajuda

material, serviços, informações e novos contatos sociais. Redes são definidas como uma teia

identificada de relações sociais que circunda um indivíduo, bem como as características destas

ligações, compondo-se do conjunto de pessoas com quem alguém mantém contatos sociais.

As redes são as fontes donde emanam suportes sociais para seus integrantes.

Em 2008, Siqueira realizou um estudo que teve como objetivo construir e validar a

Escala de Percepção de Suporte Social (EPSS), não específica para o contexto de trabalho,

mas voltada para as relações sociais amplas, visando a apresentar aos pesquisadores

brasileiros uma medida fatorial válida e precisa. Essa escala será utilizada na pesquisa

juntamente com as Escalas Beck de Depressão e Ansiedade (Inventário de Depressão – BDI,

Inventário de ansiedade – BAI) – Cunha (2001) a fim de realizar os objetivos propostos nesse

estudo.

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O Inventário de Depressão de Beck ("Beck Depression Inventory"; Beck et al., 1961;

BDI) é provavelmente a medida de auto-avaliação de depressão mais amplamente usada tanto

em pesquisa como em clínica, tendo sido traduzido para vários idiomas e validado em

diferentes países (GORESTEIN; ANDRADE, 2005).

Ao se examinar a intensidade da ansiedade em pacientes, é sempre conveniente

considerar que, em pacientes com ansiedade, é extremamente freqüente a superposição de

sintomas. Depressão é sempre uma possibilidade, e, daí, Beck e Steer (1993 a) lembram a

conveniência de utilizar o BAI e o BDI, “o BAI foi construído para medir sintomas de

ansiedade, que são compartilhados de forma mínima com os de depressão” (BECK e STEER,

1993 apud CUNHA, 2001).

Estudo de Manetti e Marziale (2007), o qual realizou uma revisão sistematizada nas

pesquisas publicadas entre 1995-2005 em revistas indexadas nas bases nacionais e

internacionais sobre os fatores associados à depressão relacionada ao trabalho de

enfermagem, constatou que entre os instrumentos padronizados e utilizados, 50% aplicaram

o Inventário de Depressão de Beck revisado - IDB .

1.4 OBJETIVOS

Este estudo tem como objetivo geral investigar a possível correlação entre os níveis

de depressão e ansiedade e a percepção de suporte social em profissionais de enfermagem.

E como objetivos específicos:

Descrever níveis de sintomas de depressão em profissionais de enfermagem.

Descrever níveis de sintomas de ansiedade em profissionais de enfermagem.

Descrever níveis das dimensões de suporte social (emocional e prático) em

profissionais de enfermagem.

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2 MÉTODO

Trata-se de estudo exploratório descritivo de caráter quantitativo comparativo.

2.1 PARTICIPANTES

Os participantes selecionados foram 39 profissionais de enfermagem atuando em

hospital geral privado de porte médio, da cidade de São Paulo, nos turnos da manhã, tarde e

noite de ambos os sexos, faixa etária de 20 a 52 anos de idade, nível de escolaridade acima do

ensino fundamental, sem restrição de tempo de serviço, no período de 26 de Outubro a 07 de

Novembro de 2011. A amostra deste estudo foi do tipo não-probabilística de conveniência,

com disponibilidade imediata, trata-se do aceite do sujeito em participar por sua livre vontade

da pesquisa, respondendo aos questionários auto-aplicáveis, seguindo os seguintes critérios:

Critério de inclusão: profissionais de enfermagem que atuam nas diversas clínicas

exercendo a função de auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem.

Critério de exclusão: profissionais de enfermagem atuando na função de enfermeiro ou

cargo superior.

2.2 LOCAL

Os dados foram coletados no local de trabalho dos profissionais de enfermagem, em

um hospital geral privado de caráter particular no município de São Paulo, onde os

participantes do estudo atuam, nas diversas clínicas selecionadas: clínica médica, pronto

atendimento, unidade de terapia intensiva (UTI) e centro cirúrgico, de forma individual.

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2.3 MATERIAL E INSTRUMENTOS

2.3.1. Escalas Beck de Depressão e Ansiedade (Inventário de Depressão – BDI, Inventário de

ansiedade – BAI) – Cunha (2001) e respectivos Formulários.

2.3.1.1 Inventário de depressão – BDI (Beck Depression Inventory)

O BDI foi desenvolvido por Beck e colaboradores(1961) no Center for Cognitive

Therapy da Universidade de Pensilvania, na Philadelphia, Estados Unidos para avaliar a

intensidade de depressão e revisado por Beck, Rush, Mock e Emery (1979/1982). A versão

em português das Escalas Beck foi traduzida, adaptada e padronizada por Cunha, em 2001. É

um instrumento para diagnóstico de quadros específicos, uma medida escalar com itens

descritivos de atitudes e sintomas que podem ser encontrados em diferentes categorias

nosológicas (Beck, Word ET AL, 1961), inicialmente desenvolvido como uma escala

sintomática de depressão.

É uma escala de auto-relato, de 21 itens, cada um com 4 alternativas, subtendendo

graus crescentes de gravidade da depressão (WILLIANS, BARLOW e AGRAS, 1972), com

escores de 0 a 3.os itens foram relacionados com base em observações e relatos de sintomas e

atitudes mais freqüentes em pacientes psiquiátricos, com transtornos depressivos, e “não

foram escolhidos para refletir qualquer teoria de depressão em particular” ( BECK e STEER,

1993 b, p.1 apud CUNHA,2001). O Escore total é o resultado da soma dos escores individuais

dos itens, que permite a classificação de níveis de intensidade da depressão, sendo mínimo de

0 a 11, leve de 12ª 19, moderado de 20 a 35 e grave de 36 a 63 ( CUNHA, 2001).

De acordo com Oliver e Simmons (1984) apud Cunha 2001, o escore acima do nível

18 no BDI, sugere uma estimativa de possível depressão.

Através da escala BDI, composta de 21 categorias que relatam sintomas e atitudes é

descritas manifestações comportamentais cognitivas, afetivas e somáticas da depressão. São

elas: humor, pessimismo, sentimentos de fracasso, insatisfação, sentimentos de culpa,

sentimentos de punição, autodepreciação, auto-acusação, desejo de autopunição, crises de

choro, irritabilidade, isolamento social, indecisão, inibição no trabalho, distúrbios do sono,

fatigabilidade, perda de apetite, perda de peso, preocupação somática e perda da libido. Esse

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instrumento pode oferecer importantes subsídios do ponto de vista clinico, não só pelo nível

que recai o escore total, mas em relação ao conteúdo específico da configuração assumida

pelos itens assinalados, que revela o padrão sintomático que o examinando descreve.

Apresenta itens cognitivo-afetivos e outros que subentendem queixas somáticas e de

desempenho que constituem subescalas. No protocolo deve-se dar atenção especial à

avaliação feita ao item 2 que pode revelar pessimismo e ao item 9 que pode revelar idéias

suicidas/ existência de potencial suicida,l sendo que a avaliação de risco é relacionado a maior

ou igual a um no escore individual de cada item. (ANEXO B).

2.3.1.2 Inventário de ansiedade – BAI (Beck Anxiety Inventory)

O BAI foi criado por Beck, Epstein, Brown e Steer, no CCT, em 1988, com base em

vários instrumentos de auto-relatos usados no CCT para medir aspectos da ansiedade (Beck e

Steer, 1993ª), dos quais foram selecionados os itens que passaram a compor o Inventário.O

BAI é uma escala de auto-relato, que mede a intensidade de sintomas de ansiedade, composto

por itens que são “afirmações descritivas de sintomas de ansiedade”(BECK e STEER, 1993 a

apud CUNHA,2001), que devem ser avaliados pelo sujeito com referencia a si mesmo, numa

escala de 4 pontos, que, conforme o Manual, refletem níveis de gravidade crescente de cada

sintoma: 1 - absolutamente não,2 - levemente, 3 - moderadamente e 4 - gravemente .

Através da escala BAI, composto de 21 categorias que relatam os sintomas, as

manifestações comportamentais cognitivas, afetivas e somáticas da ansiedade. São elas:

dormência ou formigamento, sensação de calor, tremores nas pernas, tremores nas mãos,

incapacidade de relaxar, medo que aconteça o pior, tontura, palpitação ou aceleração do

coração, nervoso, sensação de sufocação, sensação de perda do equilíbrio, medo de perder o

controle, dificuldade de respirar, medo de morrer, indigestão ou desconforto no abdômen,

sensação de desmaio, rosto afogueado, suor.

O escore total é o resultado da soma dos escores individuais. Permite a classificação

em níveis de ansiedade, mínimo de 0 a 10, leve de 11 a 19, moderado de 20 a 30, grave de 31

a 63. È sempre conveniente considerar que, em pacientes com ansiedade, é extremamente a

superposição de sintomas ( CUNHA, STREB e SERRALTA, 1997 apud CUNHA, 2001).

Fato de que uma inspeção dos sintomas descritos pelo participante fornece um padrão das

queixas auto-relatadas, quer predominem queixas somáticas ( que podem ser consideradas de

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um ponto de vista médico), quer queixas associadas a aspectos de ansiedade subjetiva

associada ao pânico. Portanto examinar grupos específicos de sintomas, conforme os autores

pode favorecer a realização de um diagnóstico (CUNHA, 2001). (ANEXOC).

2.3.2 Escala de Percepção de Suporte Social (EPSS)

Esta escala foi desenvolvida e validada por Siqueira (2008) e tem por objetivo avaliar

a percepção de suporte social. É constituída por 29 itens, respondidos em uma escala de

respostas de quatro pontos (1=nunca, 2=poucas vezes, 3=muitas vezes, 4= sempre), na qual o

indivíduo informa a freqüência com que percebem a possibilidade de contar com o suporte

social de alguém. É considerada uma medida válida e precisa, os seus 29 itens possuem cargas

fatoriais importantes (maiores que 0,35, positivas ou negativas) em apenas um fator, e os itens

formaram dois fatores altamente precisos (alfas superiores a 0,90) e teoricamente consistentes,

o primeiro fator possibilita avaliar suporte prático e o segundo fator permite mensurar suporte

emocional, sendo estas duas dimensões as defendidas por pesquisadores de suporte social

(Cobb;1976; Seeman, 1982 e Thoits, 1982 apud SIQUEIRA, 2008).(ANEXO D).

2.3.3 Questionário Complementar

Questionário complementar com dados sócio demográficos contendo dados cadastrais

relativo ao tempo de formação, outros empregos atuais, carga horária de trabalho exercida no

hospital e no total, idade, características da composição familiar, estado civil, e alguns

aspectos gerais do estado de saúde, como medicamentos utilizados, cirurgias, problemas de

saúde e quais tratamentos psicoterápicos e ou psiquiátricos que já realizou, formulado e

impresso pelo pesquisador responsável. (ANEXO E ), utilizado em seguida aos instrumentos

da pesquisa, servindo para caracterizar o perfil socioeconômico da amostra e como dados

complementares e comparativos.

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2.4 PROCEDIMENTOS

2.4.1 Apresentação dos Instrumentos

Os instrumentos foram acondicionados dentro de um envelope de papel lacrado com

etiqueta adesiva, na seguinte ordem: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE

(ANEXO A), primeira e segunda vias, Inventário de Depressão – BDI (ANEXO B),

Inventário de Ansiedade – BAI (ANEXO C), Escala de Percepção de Suporte Social – EPSS

(ANEXO D) e Questionário Complementar (ANEXO E). O envelope continha informações

impressas na frente, assegurando a participação voluntariada e gratuita, que os dados seriam

mantidos sob total sigilo da pesquisadora responsável; continham também a finalidade da

pesquisa que é um estudo acadêmico e científico, objetivando identificar e aprofundar os

conhecimentos em Psicologia da Saúde sobre sintomas mentais e suporte social em

profissionais de enfermagem e instruções que deveriam ser seguidas: primeiramente ler o

TCLE , aceitar ou não participar da pesquisa, se positivo preencher e assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) sendo que a segunda via deveria permanecer com

o participante da pesquisa, em seguida: responder os questionários propostos (Escalas Beck de

Depressão e Ansiedade – BDI e BAI, Escala de Percepção de Suporte Social – SPSS) e por

ultimo devolver os questionários e a primeira via do TCLE assinado dentro do envelope

fechado e lacrado com a etiqueta sobressalente também enviada.

2.4.2 Seleção

Os envelopes descritos acima no item 4.4.1 foram distribuídos primeiramente pela

Gerencia de Enfermagem aos supervisores e chefes das clínicas de atuação selecionadas:

clínica médica, pronto atendimento, unidade de terapia intensiva (UTI) e centro cirúrgico. Os

supervisores e chefes selecionaram aleatoriamente uma amostra não probabilística por

conveniência em respeito aos diferentes horários e locais de atuação relativos às clínicas de

especialidades os profissionais de enfermagem foram convidados a participar da pesquisa

individualmente, respondendo os questionários propostos no local de trabalho. Após o

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preenchimento e fechamento dos envelopes pelo próprio participante, os protocolos foram

enviados a Gerencia de Enfermagem e retirados pela pesquisadora responsável. Os dados

foram coletados no período de 26 de Outubro de 2011 a 07 de Novembro de 2011.

2.5 TRATAMENTO DOS DADOS

A avaliação dos dados coletados foi feita baseado na metodologia quantitativa e

descritiva de acordo com a proposta dos autores dos instrumentos utilizados na coleta da

amostra e com a consultoria e orientação da professora de Estatística da Universidade

Metodista de São Paulo. Ms. Cecilia Aparecida Vaiano Farhat. Os dados coletados no

questionário complementar foram categorizados por conteúdo, atribuindo-se codificação

específica para facilitar lançamento no programa estatístico informatizado SPSS – Statistical

Package for the Social Sciences, versão 17 para Windows, sendo este muito utilizado na área

da saúde. Esses resultados foram apresentados através de tabelas e gráficos e a discussão foi

realizada de acordo com referencial teórico da psicologia psicanalítica.

2.6 ASPECTOS ÉTICOS: RISCOS E BENEFÍCIOS

A presente investigação visou atender aos requisitos descritos na Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde de 10 de Outubro de 1996 – que trata de pesquisas que

envolvem seres humanos.

Todos profissionais de enfermagem foram orientados sobre a natureza acadêmica

deste estudo.

Foi solicitado ao profissional o preenchimento e assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A), garantindo que as informações prestadas

envolvendo as escalas de Beck, o questionário complementar serão utilizadas para fins

acadêmicos e mantidas sob total sigilo e, que os participantes não sofrerão nenhum

prejuízo de ordem física ou psicológica, além de que a sua privacidade será preservada.

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Foi emitida uma solicitação formal de autorização à instituição onde os

profissionais de enfermagem trabalham para a realização da pesquisa em suas

dependências.

Projeto de Pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP- UMESP,

data: 24/02/2011, Prot.nº 385077-10, CAEE: 0116.214.000-10. (ANEXO E).

Salienta-se que esta pesquisa não ofereceu riscos aos seus participantes, já que se

tratou da aplicação de escalas e questionários, técnicas não evasivas e que não implicam

em intervenções apenas retratam e revelam características pessoais já existentes no sujeito.

Quanto ao compromisso ético do pesquisador é importante ressaltar que a presente

pesquisa assegurou-se o sigilo dos dados, preservação da identidade dos participantes e

como já exposto anteriormente, apenas participaram da pesquisa aqueles sujeitos que

depois de informados e esclarecidos sobre o tema e a finalidade da pesquisa concordaram

em participar conforme o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Ressalta-se ainda que os protocolos de pesquisa - Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (ANEXO A) primeira via, Inventário de Depressão – BDI (ANEXO

B), Inventário de Ansiedade – BAI (ANEXO C), Escala de Percepção de Suporte Social –

EPSS (ANEXO D) e Questionário Complementar (ANEXO E) - foram devolvidos dentro

do envelope lacrado pelo participante, sugerindo a orientação do pesquisador impressa no

lado externo do envelope e entregue aos participantes, a fim de preservar a identidade e o

sigilo dos dados obtidos.

Com relação aos benefícios é importante apontar as contribuições do estudo para

ampliação de conhecimento e promoção da saúde mental na área de saúde do trabalhador

dos profissionais de enfermagem.

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3 RESULTADO E DISCUSSÃO

Com a finalidade de sistematizar a apresentação dos resultados e sua discussão, na

primeira parte, apresenta a caracterização sócio econômica da amostra, descrevendo seus

dados sócio-demográficos e aspectos clínicos gerais do estado de saúde obtidos, através do

questionário adicional aplicado obtendo dados complementares e comparativos.

A segunda parte apresenta os resultados das análises descritivas referentes aos níveis

de sintomas de depressão, ansiedade e de percepção de suporte social dos participantes.

A terceira parte apresenta e discute as correlações entre níveis de sintomas de

depressão, ansiedade e percepção de suporte social nos profissionais de enfermagem da

amostra.

Quanto ao questionário adicional sobre aspectos sócio-demográficos clínicos, foram

obtidos os seguintes dados:

Gráfico 1 - Faixa Etária

No gráfico 1 , podemos verificar que 51% da amostra encontra-se na faixa de 20 a 29

anos de idade ( 20 participantes) , 33% encontram-se na faixa etária de 30 a 39 anos ( 13

participantes) , 13 % encontram-se na faixa de 40 a 49 anos (5 participantes) e apenas 3%

possuem acima de 50 anos (1 participante), sendo a idade mínima de 20 anos e a máxima de

52, a média dos sujeitos estudados é de 30,81.

51%

33%

13%

3% 20 a 29

30 a 39

40 a 50

acima 50

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Gráfico 2 – Gênero

No gráfico 2 podemos observar que 62 % dos participantes são do sexo feminino (24)

e 38% do sexo masculino (15), confirmando que Haddad (2000) postula que a enfermagem é

uma profissão essencialmente feminina relacionada ao ato de cuidar do outro.

Observa-se, portanto, a predominância do gênero feminino e a faixa etária entre 20 e

29 anos.

Gráfico 3 - Estado Civil

O gráfico quanto ao estado civil dos participantes demonstra que 41% dos

participantes são casados (16), 38% são solteiros (15), 13% são divorciados (5) e 8% tem

companheiro (3), o que dá um total de 49% de participantes casados ou vivendo com

companheiro.

62%

38%

Feminino

Masculino

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62

Gráfico 4 – Com quem reside?

No gráfico 4 pode-se observar que 36 % dos participantes (14) residem com esposa,

marido, ou companheiros e ou filhos, 31% dos participantes (12) residem com pai, mãe e ou

irmãos, e 33 % dos participantes (13) residem com não-familiares ou sozinhas. Observa-se,

portanto, que a grande maioria reside com familiares (67%).

Gráfico 5 – Número de Filhos

Pode-se verificar no gráfico 5 que a maioria (54%) dos participantes não possuem

filhos, 31% possuem apenas um filho, 10% possuem dois filhos e 5% possuem 3 ou mais

filhos.

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Gráfico 6 – Renda Familiar

Quanto a renda familiar, pode-se constatar que 13% dos participantes (5) não

declararam o valor, 38% (15 participantes) referem possuir renda de 4 a 8 salários mínimos,

enquanto que 26% (10 participantes) referem possuir renda familiar acima de 8 salários

mínimos e 23% (9 participantes) referem possuir renda familiar de apenas até 4 salários

mínimos.

Gráfico 7– Renda Individual

Observa-se, portanto que o maior índice de renda familiar (38%) fica entre 4 e 8

salários mínimos, dados que sugerem que a contribuição do auxiliar de enfermagem seja

significativa para este montante, uma vez que 72% dos participantes declararam receber entre

3 e 4 salários mínimos, remuneração esta elevada para sua categoria.

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Constata-se também que 10% dos participantes não revelaram o valor recebido, ao

mesmo tempo em que 10% declararam receber acima de 4 salários mínimos e apenas 8%

referiram-se receber até 3 salários mínimos.

Gráfico 8 – Nível de Escolaridade

No gráfico 8 podemos observar que 51% dos participantes (20) referem ter ensino

médio/técnico enquanto 39 % dos participantes (15) referem ter superior incompleto e 10%

(4) superior completo.

Gráfico 9 – Tempo de Formação

No gráfico 9 foi possível constatar que 33% dos participantes (13) possuem de um

até cinco anos de formação, 49% (19) , referem de 6 a 10 anos de formação e 18 % (7)

referem mais de 10 anos no tempo de formação.

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Gráfico 10 – Atividade Profissional

No que se refere à prática da atividade profissional dos participantes da amostra

estudada, a maioria 62% (24) exercem atividade de técnico de enfermagem, enquanto que

38% (15) exercem a atividade de auxiliar de enfermagem. Ambos os níveis atuam sob

supervisão dos enfermeiros, sendo que os auxiliares desempenham funções de higiene e

cuidados básicos, executam tratamentos prescritos ou de rotina (curativos, coleta de material

para exames laboratoriais, preparação para consultas), prestação de cuidados pré e pós

operatório, execução dos trabalhos de rotina vinculadas a alta dos pacientes e procedimentos

pós-morte e os técnicos de enfermagem executam atividades de assistência de enfermagem,

assistem ao enfermeiro no planejamento, programação, orientação e supervisão de assistência

de enfermagem, prestação de cuidados diretos de enfermagem a pacientes em estado grave, ou

seja, atuam em um nível intermediário. Ambos possuem um contato diário com o paciente, o

que supõe a necessidade de um controle emocional maior, uma vez que lidam com o

sofrimento em seu dia-a-dia, inclusive com óbito.

Quanto ao local de autuação, nas diferentes clínicas da instituição, foi observado que

praticamente um quarto dos participantes (9) atuam nas U.T.I.s e, portanto, lidam diariamente

com diversos estressores emocionais; da mesma forma, os que atuam no Pronto Atendimento,

que necessitam de uma prontidão ágil e qualificada para encaminhamento dos pacientes; além

dos que auxiliam no Centro Cirúrgico, onde a morte é sempre uma possibilidade. Nas clínicas

médicas, o auxiliar depara-se muitas vezes com os cuidados paliativos, o que demanda uma

adaptação criativa nas suas funções.

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Gráfico 11 – Clínicas de Atuação

Com relação à distribuição nas clínicas de atuação, 10 participantes atuam na U.T.I.,

10 no Pronto Atendimento, 10 na Clínica Médica, e 9 participantes no Centro Cirúrgico.

Gráfico 12 – Carga Horária

No gráfico referente à carga horária exercida, podemos observar que 44% dos

participantes (17) atuam até 6 horas diárias, 33% dos participantes (13) atuam 12 horas

diárias. 13% dos participantes (5) atuam de 6 a 10 horas, e 10% dos participantes (4) atuam

mais de 12 horas diárias.

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Gráfico 13 – Período da Atividade Profissional

No que se refere ao período da atividade profissional, 64% dos participantes (25)

atuam no período diurno enquanto que 36% dos participantes (14) atuam no noturno.

Gráfico 14 – Quantidade de Empregos

No gráfico 14 podemos observar que 87% dos participantes (34) da amostra estudada

possuem apenas um emprego enquanto que 13 % dos participantes (5) possuem dois

empregos.

Observa-se nos gráficos acima que a maioria (87% dos participantes) possui apenas

um emprego, o que constitui um dado favorecedor ao seu bem estar, além do que 64%

exercem atividade diurna e 44% trabalham até seis horas diárias. Por outro lado, 43% da

amostra atuam 12 horas ou mais, e 13% possuem dois empregos, fatores estes estressantes.

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68

Gráfico 15 – Tempo de Atuação no Hospital

Nesse gráfico, podemos constatar que 69% (27 participantes) referem atuar no hospital

até cinco anos, 28% referem atuar no hospital de 5 a dez anos e 3 % referem (1 participante)

refere atuar no hospital acima de dez anos.

Gráfico 16 – Tempo de Atuação Profissional na Atividade Exercida

Podemos observar que 46% dos participantes exercem suas atividades por até cinco

anos (18 participantes), 36% (14 participantes) de cinco até dez anos e 18% (7 participantes)

acima de dez anos.

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69

Gráfico 17 – Gráfico 19 x Gráfico 20

O gráfico acima demonstra o tempo de atuação no hospital (gráfico 15), juntamente

com o tempo de atuação profissional na atividade exercida (gráfico 16), onde verificamos

uma predominância de tempo na atuação no hospital em relação ao tempo de atuação

profissional na atividade exercida.

Observa-se, portanto, uma estabilidade de permanência na instituição hospitalar, o que

sugere que estes profissionais estejam encontrando apoio em seu ambiente de trabalho.

Quanto aos aspectos gerais de saúde dos participantes, ressalta-se a possibilidade de os

mesmos, apesar de cientes do caráter de resguardo ético e sigiloso de seus dados, haverem

optado por transmitir um quadro mais positivo.

Gráfico 18 – Avaliação do Estado de Saúde

0

5

10

15

20

25

30

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

tempo atuação no hospital

tempo atuação profissional na atividade exercida

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Podemos verificar no gráfico acima que 69% dos participantes (27) referem que o seu

estado de saúde é bom, enquanto que 23% dos participantes (9) referem ao estado de saúde

ser muito bom e 8 % dos participantes (3) referem que é médio.

Gráfico 19 – Possuem problemas de saúde?

No gráfico acima podemos verificar que 69% dos participantes (27) referem não

possuir algum problema de saúde, enquanto 31% (12) referem possuir algum tipo de

problema de saúde.

Gráfico 20 - Utilização de Medicamentos

Podemos observar que em relação à utilização de medicamentos, a maioria dos

participantes da amostra estudada, 72% (28) referem não utilizar medicamentos enquanto que

28% dos participantes (11) referem utilizar medicamentos.

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71

Gráfico 21 – Tratamento de saúde

No gráfico 21 em relação à realização de algum tipo de tratamento de saúde, a maioria

dos participantes da amostra estudada 69% (27) referem não ter realizado tratamento de saúde

enquanto que 31% dos participantes (12) referem já ter realizado algum tratamento de saúde.

Gráfico 22 – Procedimentos Cirúrgicos

No gráfico acima, podemos observar que 41% dos participantes (16) já realizaram

procedimentos cirúrgicos enquanto que 59% dos participantes não realizaram nenhum

procedimento cirúrgico.

Em relação às declarações relativas à problemática psicológica, o resguardo na

divulgação dos dados também foi observado, sendo que os participantes optaram por não

relatá-la, o que é sugerido pelo índice muito baixo de seu histórico de tratamento psicológico

e psiquiátrico, conforme os gráficos abaixo.

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72

Gráfico 23 – Tratamento Psicológico

Em relação à realização de tratamento psicológico, 21 % dos participantes (8) referem

que já realizaram enquanto que a maioria dos participantes 79 %, (31) referem não ter

realizado tratamento psicológico. Quanto ao motivo do tratamento psicológico: três

participantes declaram o mesmo estar relacionados à depressão, e cinco, a problemas de

relacionamento familiar.

Gráfico 24 – Tratamento Psiquiátrico

No gráfico 24 podemos constatar que a maioria dos participantes da amostra estudada.

95% (37) referem não ter realizado tratamento psiquiátrico, sendo que os 5% que afirmaram

haver passado por tratamento psiquiátrico, mencionaram como causa a depressão.

Em relação à religião:

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73

Gráfico 25 - Religião

Gráfico 26 – Pratica da Religião

Verifica-se que 56% dos participantes afirmam serem católicos, 33% evangélicos, 5%

espíritas, 3% protestantes e 3% não têm religião, contudo quanto à prática da religião, 51 %

dizem não praticá-la, e 31% são praticantes.

Os dados obtidos no questionário complementar, apesar de não conclusivos, fornecem

um pálido pano de fundo aos verificados quanto à possível correlação entre os níveis de

ansiedade e de depressão dos participantes e sua percepção do suporte social, uma vez que

nos possibilitam formar uma imagem mais objetiva dos mesmos.

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74

A segunda parte apresenta os resultados das análises descritivas referentes aos níveis

de sintomas de depressão, ansiedade e de percepção de suporte social dos participantes.

Os níveis de sintomas mentais de depressão (cognitivo/afetivo). BDI S1, de depressão

(somática e desempenho), BDI S2, e depressão ao todo, BDI Total; os resultados obtidos

quanto aos níveis de ansiedade, BAI, ansiedade, assim como os de percepção de suporte

social emocional e prático são descritos na tabela 1, abaixo:

Tabela 1 – Níveis de Depressão, Ansiedade e Percepção de Suporte Social

Variáveis Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

BAI -

Ansiedade

0 30 6,10 5,826

BDI S1 -

Depressão

(cognitivo

afetivo)

0 13 4,31 3,764

BDI S2 –

Depressão

(somática e

desempenho)

0 07 3,03 2,323

BDI TOTAL -

Depressão

0 19 7,36 5,163

Percepção de

suporte social -

emocional

1,00 4,00 2,61 0,781

Percepção de

suporte social –

prático

1,00 3,00 2,28 0,686

Conforme esta tabela, podemos observar que a freqüência da Escala Beck de

Ansiedade – BAI teve mínimo de 0 e máximo de 30, com média de 6,10 (DP=5,826)

enquanto que a Escala Beck de Depressão – BDI total apresentou uma freqüência mínima 0 e

a máxima de 19, com média de 7,36 (DP=5,163) sendo que a subescala cognitivo-afetiva

apresentou mínimo de 0 e máximo de 13, com média de 4,31 (DP= 3,764) e a subescala

somática e de desempenho apresentou uma freqüência mínima de 0, máxima de 7, com média

de 3,03 (DP= 2,323).

Os escores médios fatoriais da percepção de suporte social apresentam em seus

níveis: suporte emocional freqüência mínima de 1,00 e a máxima de 4,00, com média de

2,61(DP=0,781) e no suporte prático a freqüência mínima de 1,00 e a máxima de 3,00, com

média de 2,28 (DP=0,686) Conforme os resultados pode-se ver que a média mais elevada

refere-se à percepção de suporte social emocional, o que indica que os profissionais de

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75

enfermagem o têm encontrado, o que pode estar relacionado a poder compartilhar suas

alegrias, realizações e tristezas, a obter atenção, consolo e compreensão de suas dificuldades.

No que concerne ao suporte prático, a média apesar de mais baixa, também indica que os

mesmos têm encontrado ocasionalmente este tipo de suporte, o qual está relacionado a receber

ajuda para resolver problemas práticos, receber sugestões e conselhos, receber ajuda

financeira e apoio para a realização dos afazeres cotidianos.

A tabela 1 ainda mostra que a média da percepção do suporte emocional 2,61 (DP =

0,781) é significativamente maior do que o suporte prático 2,28 (DP=0,686) indicando que as

pessoas pesquisadas percebem que podem contar mais frequentemente com alguém que lhes

apóie compartilhando suas alegrias e realizações, compreendendo-as demonstrando carinho,

consolando-as e fazendo as se sentirem valorizados, do que com o apoio que diz respeito a

receber informações, sugestões, esclarecimentos de dúvidas, bem como ajuda para resolução

de problemas concretos.

Em relação às Escalas Beck de Ansiedade – BAI, os seguintes resultados foram

obtidos, conforme tabela abaixo:

Tabela 2 – Dados da Escala BAI

Níveis de escores Freqüência Porcentagens

0/10 – mínimo 33 85% 11/19 – leve 05 13%

20/30 – moderado 01 2% 31/63 – grave 00 0

Total 39 100%

Como descrito, 85% dos participantes (33) encontram-se no nível mínimo dos escores

do BAI enquanto que 13% dos participantes (05) encontram-se no nível leve e apenas 2% da

amostra, um participante encontra-se no nível moderado.

De acordo com a tabela 2, podemos constatar que apesar de 13% dos participantes

apresentarem intensidade leve dos sintomas de ansiedade e apenas 2% apresentaram nível

moderado dos sintomas de ansiedade, esses dados estão acima do esperado pela literatura,

confirmando que até 25% dos indivíduos podem ter transtorno de ansiedade generalizada

como diagnóstico principal (DSM-IV-TR).

Estimativas conservadoras sugerem uma prevalência de cerca de 1% na população em

geral de acordo com Kaplan, Sadock, Grebb (1997) e que até 5 % da população pode sofrer de

ansiedade aguda ou crônica. De acordo com a prevalência relatada no DSM-IV-TR, o

transtorno de ansiedade generalizada em uma amostra comunitária, em um ano, foi de

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76

aproximadamente de 3% e a taxa de prevalência durante a vida de 5%. Nas clinicas para

transtornos de ansiedade, até 25% dos indivíduos tem transtorno de ansiedade generalizada

como diagnóstico principal ou co-mórbido.

Gráfico 27 – Níveis dos Escores do BAI – Individual

Em relação às Escalas Beck de Depressão – BDI, obtiveram-se os seguintes

resultados:

Tabela 3 – Dados da Escala BDI Total

Níveis de escores Freqüência Porcentagens

0/11 – mínimo 32 82% 12/19 – leve 07 18%

20/35 – moderado 00 0% 36/63 – grave 00 0

Total 39 100%

Conforme a tabela 3 podemos observar que 82% dos participantes (32) da amostra

encontram-se no nível mínimo dos escores do BDI total enquanto que 18% dos participantes

(07) encontram-se no nível leve.

Considerando-se a prevalência-ponto e a variação de 5 a 9% para as mulheres e de 2 a

3% para os homens, os dados da tabela 3 revelam que 18 % dos participantes encontram-se no

nível leve de sintomas de depressão, resultado acima da prevalência sugerida pela literatura

pesquisada (DSM-IV-TR).

0

5

10

15

20

25

30

35

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

Esco

res

Participantes

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77

Esses dados, portanto, evidenciam um nível mais elevado de depressão total, uma vez

que o DSM-IV-TR relata quanto a prevalência, o risco para transtorno depressivo maior

durante a vida em amostras comunitárias tem variado de 10 a 25% para as mulheres e de 5 a

12% para os homens. A prevalência-ponto do transtorno depressivo maior em adultos, nas

amostras comunitárias, tem variado de 5 a 9% para as mulheres e de 2 a 3% para os homens.

Os índices de prevalência para transtorno depressivo maior parecem não ter relação com

etnia, educação, rendimentos ou estado civil.

Tabela 4 – Níveis dos Escores do BDI Total

Níveis de escores Frequência Porcentagens

0/17 36 92%

Acima de 18 03 8%

Total 39 100%

Os dados apresentados na tabela 4, sugerindo 8% de incidência dos sintomas

depressivos encontram-se dentro da faixa de prevalência sugerida pela literatura consultada,

DSM-IV-TR e Kaplan, Sadock J. e Sadock V.(2007) que sugerem de 10 a 25% nas mulheres

e 5ª 12% nos homens.

Gráfico 28 – Níveis dos Escores do BDI Total – Individual

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

Esco

res

Participantes

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Gráfico 29 – Níveis dos Escores do BDI Total – Individual – Em Ordem Crescente

Através do gráfico 27 e da tabela 4 acima podemos constatar os níveis individuais dos

Escores do BDI total, sendo que 8% dos participantes (3) encontram-se acima do nível 18 de

acordo com Oliver e Simmons (1984) apud Cunha 2001, sugerindo uma estimativa de

possível depressão.

Gráfico 30 – Níveis dos Escores do BAI e BDI Total

Os dados dos gráficos 28, 29 e 30 confirmam Cunha, (2001) que em pacientes com

ansiedade é freqüente a superposição de sintomas de depressão sendo a depressão sempre uma

possibilidade e Kaplan (1984) sendo a ansiedade característica central da maioria das doenças

psiquiátricas, existindo sozinha, como sintoma predominante ou juntamente com outras

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

Esco

res

Participantes

0

5

10

15

20

25

30

35

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

Esco

res

Participantes

B A I

BDI TOTAL

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79

manifestações de perturbação emocional. Kaplan, Sadock e Grebb (1997) afirmam que é

comum a coexistência de sintomas depressivos e ansiosos sem que esses sintomas satisfaçam

os critérios diagnósticos para outros transtornos mentais, depressivos ou não.

O DSM –IV segue os passos da décima revisão da classificação internacional de

doenças (CID-10) incluindo o transtorno depressivo-ansioso misto, como um exemplo de

transtorno de ansiedade, transtorno abrange os pacientes que apresentam sintomas tanto de

ansiedade quanto de depressão, mas não reúnem os critérios associados para um transtorno de

ansiedade ou um transtorno do humor. Segundo Kaplan, Sadock e Grebb (1997) a

combinação de sintomas de ansiedade e depressão resulta em um comprometimento funcional

significativo para o individuo afetado sendo que a condição se situa nos limites de

normalidade e não indica a classificação como um transtorno mental.

Os dados revelam que os participantes parecem estar igualmente, propensos a

iniciarem com sintomas proeminentes de ansiedade, sintomas proeminentes de depressão ou

uma mescla igual dos dois tipos de sintomas, sugerindo o que Kaplan, Sadock e Grebb

(1997) afirma que entre os transtornos de ansiedade, o transtorno de ansiedade generalizada

tem a maior probabilidade de sobreposição com o transtorno misto de ansiedade e depressão,

entre os transtornos do humor, o transtorno distímico e o transtorno depressivo menor são

aqueles mais propensos a sobreporem-se ao transtorno misto de ansiedade e depressão.

Kaplan, Sadock e Grebb (1997) refere-se ainda que algumas pessoas possuem

sintomas de transtornos de ansiedade, mas não satisfazem os critérios para qualquer transtorno

de ansiedade específico do DSM-IV, transtorno de ansiedade sem outra especificação,

transtorno de ajustamento com humor ansioso ou transtorno misto de ansiedade e depressão e

que quanto a epidemiologia, a coexistência de transtorno depressivo maior com transtorno de

pânico é comum. Até 60% dos pacientes com sintomas depressivos têm sintomas

proeminentes de ansiedade, 30% podem satisfazer os critérios diagnósticos para transtorno de

pânico. Sendo comum a coexistência de sintomas depressivos e ansiosos, sem que satisfação

os critérios diagnósticos para outros transtornos depressivos e de ansiedade. Contudo alguns

clínicos e pesquisadores estimam que a prevalência do transtorno na população geral seja de

até 10% e, nas clinicas de atendimento primário, de até 50%, embora estimativas

conservadoras sugiram uma prevalência de cerca de 1% na população em geral.

Os níveis de sintomas apresentados, apesar de maioria se encontrarem na faixa de

intensidade leve denotam que os profissionais de saúde estão suscetíveis aos problemas de

saúde mental segundo Baba, Galperin e Lituchy, 1999; onde o sofrimento psíquico é inerente

ao trabalho no ambiente hospitalar conforme afirma Nogueira-Martins, 2003; constatando que

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80

o ambiente hospitalar oferece fatores estressantes tanto para os pacientes como para a equipe

de profissionais, sendo que os profissionais de enfermagem estão expostos continuamente a

situações confrontando com as manifestações angustiantes de sofrimento, dor, aflição,

tristeza, desesperança, presenciando a luta entre a vida e a morte, podendo gerar tensões e

sofrimento ao trabalhor, interagindo a maior parte do tempo com indivíduos que necessitam

de sua ajuda, conforme relatado na literatura por Aries 1981, Sebastiani, 2002; Kovacs,

2002; Carvalho, 2004, Ramos, 2004; Silva, 2004; Pessini e Bertachiniul 2005; Alves, Godoy

e Santana, 2006.

Os dados constatados na tabela 2, relativos a ansiedade dos participantes, e à 3,

relativos a depressão total, evidenciam portanto 15% de sintomas de ansiedade e 18% de

sintomas de depressão, apesar da maioria se encontrarem na faixa de intensidade leve,

encontram-se acima do índice da literatura proposta por Kaplan, Sadock e Grebb (1997) que

refere sobre a coexistência de sintomas depressivos e ansiosos de até 10% na população.

Os resultados da tabela 3 e 4 sugerem que pode ser comum a coexistência de sintomas

depressivos e ansiosos, sem que satisfação os critérios diagnósticos para outros transtornos

depressivos e de ansiedade, conforme relata Kaplan, Sadock e Grebb (1997) referindo que

alguns clínicos e pesquisadores estimam que a prevalência do transtorno na população geral

seja de até 10% e, nas clinicas de atendimento primário, de até 50%, embora estimativas

conservadoras sugiram uma prevalência de cerca de 1% na população em geral. Os dados

relatados também confirmam Cunha, (2001) que em pacientes com ansiedade é freqüente a

superposição de sintomas de depressão sendo a depressão sempre uma possibilidade.

Este estudo levantou as correlações entre as variáveis obtidas, conforme segue:

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81

Tabela 5 – Correlação entre Níveis de Ansiedade - BAI, Depressão – BDI e Percepção de

Suporte Social Emocional e Prático - Média, Desvio Padrão e Índices de Correlação

(r de Pearson) (n=39)

Média Desvio

Padrão

1/ BAI -

Ansiedade

2/ BDI S1

-

Depressão

(cognitivo

afetivo)

3/BDI S2 –

Depressão

(somática e

desempenho)

4/ BDI

TOTAL-

Depressão

5/ Percepção

de suporte

social -

emocional

BAI -

Ansiedade

6,10 5,826

BDI S1 -

Depressão

(cognitivo

afetivo)

4,31 3,764 0,452**

BDI S2 –

Depressão

(somática e

desempenho)

3,03 2,323 0,451** 0,408**

BDI

TOTAL-

Depressão

7,36 5,163 0,532** 0,911** 0,748**

Percepção de

suporte

social -

emocional

2,61 0,781 -0,365* -,375** -0,270 -0,399*

Percepção de

suporte

social –

prático

2,28 0,686 -0,259 -0,392* -0,213 -0,382* 0,861**

P < 0,05 = correlação positiva, forte e significativa.

Foi verificada uma Relação Significante Positiva (P=0,004), relação esta fraca mas

existente entre os escores das escalas BAI (ansiedade) e BDI (depressão) – BDIS1 e BDIS2.

Esses dados confirmam a coexistência de sintomas depressivos e ansiosos, segundo estudos

de Kaplan (1997) e Cunha (2001).

A correlação entre a Percepção de Suporte Social Emocional e o nível de ansiedade

verificado pela Escala BAI apresentou uma relação negativa e inversa com BAI (ansiedade) e

significante (P=0,022), ou seja, enquanto a percepção de suporte emocional aumenta, o escore

da escala de ansiedade diminui.

A correlação entre a Percepção de Suporte Social Emocional e o nível de depressão

verificado pela Escala BDI apresentou uma relação negativa e inversa com BDI total

(depressão total) e significante (P=0,012), ou seja, enquanto a percepção de suporte

emocional aumenta, o escore total da escala de depressão diminui.

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82

A correlação entre a Percepção de Suporte Social Emocional apresentou também uma

relação negativa e inversa com BDI S1 (depressão cognitivo e afetivo) e significante

(P=0,019), ou seja, enquanto a percepção de suporte emocional aumenta, o escore parcial da

escala de depressão referente as características/aspectos cognitivas e afetivas diminui. Da

mesma forma, a correlação entre a Percepção de Suporte Social Prático apresenta relação

negativa e inversa com BDI Total (depressão total) e significante (P=0,016) enquanto a

percepção de suporte emocional prático aumenta, o escore total da escala de depressão

diminui.

A correlação entre a Percepção de Suporte Emocional Prático também apresentou

relação negativa e inversa com BDI S1 (depressão cognitivo e afetivo) e significante

(P=0,014), ou seja, enquanto a percepção de suporte emocional prático aumenta, o escore da

escala de depressão referente aos aspectos cognitivos e afetivos diminui.

Esses dados apontam para que a percepção de suporte social tenha efeitos mediadores

na proteção de saúde como sugerido por Ribeiro (1999), sendo benéfico e protegendo contra

as perturbações induzidas pelo estresse devido a atividade profissional, conforme os estudos

confirmaram que a problemática de saúde era mais pronunciada na ausência do suporte social,

assim como o papel do suporte social como moderador do impacto negativo das condições

adversas de trabalho. Na década de 90, Thomason et al (1996) verificaram que o suporte

social, embora mediado por outras variáveis influencia a emergência de sintomas em doentes

com SIDA; Blaney et al. (1997) também verificaram que o aumento do suporte social tem

impacto positivo nas manifestações psicológicas associadas à SIDA.

A correlação negativa e inversa do suporte social emocional com o escore da escala

de ansiedade (BAI), escore total da escala de depressão (BDI total) e o escore parcial da

escala de depressão referente as características/aspectos cognitivas e afetivas (BDI S1), assim

como a relação negativa e inversa do suporte social prático com os escores total da escala de

depressão (BDI total) e da escala de depressão referente aos aspectos cognitivos e afetivos

(BDI S1), ou seja, enquanto a percepção de suporte social emocional e prático aumentam, os

escores das escala de ansiedade, de depressão e o escore parcial da escala de depressão

referente as características e aspectos cognitivos e afetivos diminuem, concordando com

Siqueira (2008) que o suporte social é um fator capaz de proteger e promover a saúde e

também de encontro com Rodriguez e Cohen (1998) afirmam que o suporte social é

considerado capaz de gerar efeitos benéficos para a saúde tanto física como mental,

guardando uma estreita relação com o bem-estar e ainda de encontro com Ribeiro (1999)

afirma que em relação aos efeitos do suporte social na saúde protege contra as perturbações

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induzidas pelo estresse impedindo que o estresse afete negativamente o individuo, sendo

mediador ou moderador do estresse; que a não existência do suporte social é fonte de estresse;

a perda de suporte social é um estressor e por último, o suporte social é benéfico.

Os resultados acima descritos também constatam o que foi relatado por Cohen e Syme

(1985), os quais defendem que o suporte social, entendido como recursos fornecidos por

outras pessoas e recursos de informações potencialmente úteis pode ter efeito positivo sobre a

saúde, consideração que possui implicação na etiologia e recuperação de ambas as doenças

físicas e sofrimento psicológicos, tentando estabelecer os efeitos benéficos do suporte social

na saúde.

Os dados relatados pela tabela 5 ainda confirmam que o suporte social pode ser

considerado como um medidor entre eventos estressores e saúde,de acordo com Siqueira e

Padovam (2008), ressaltando que pessoas bem integradas em suas comunidades tendem a

viver mais e também desenvolvem uma capacidade de recuperar-se quando adoecem,

indivíduos socialmente saudáveis seriam mais hábeis e teriam mais sucesso para lidar com os

desafios que se lhes apresentam diariamente no convívio social, e conformar-se-iam com mais

facilidades as normas sociais.

Os resultados deste estudo ressaltam a importância da psicodinâmica do

trabalho no cotidiano do ambiente hospitalar do profissional da saúde envolve a dimensão

organizacional, as relações de trabalho (hierarquia, chefia, outros trabalhadores e nesse

contexto o paciente requerendo cuidados e ajuda, muitas vezes o pacientes sem possibilidade

de cura apresenta o contato iminente com a morte, e o profissional tem que lidar com suas

emoções e sentimentos ao lidar com o paciente sem possibilidade de cura, com o medo da

morte), como refere Dejours (1992), para quem os laços humanos criados podem ser às vezes

desagradáveis e até insuportáveis, ou por outro lado, constituírem-se em um apoio

extremamente valioso.

Considerando-se também, determinadas crenças, valores e praticas culturais que

podem influenciar na relação dos individuos com o estresse, aumentando ou diminuindo os

fatores de estresse, os níveis de sintomas depressão e ansiedade, aos quais os indivíduos se

expõe e interfere sobre sua própria saúde, pois segundo Helman 2003, as crenças e os

comportamentos que contribuem para o estresse são adquiridos pela experiência de crescer

em uma determinada sociedade podem ser considerados como uma forma de estresse

culturalmente induzido ou culturogenico.

Considerando a distinção proposta por Dejours e Abdoucheli (1994) entre dois tipos

de sofrimento: o criador e o patogênico, os dados obtidos neste estudo reforçam a questão e

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propiciam a reflexão sobre o quanto será que essa instituição hospitalar poderá favorecer o

sofrimento criativo desses profissionais? Pois ainda de acordo com estes autores, o desafio

para a psicologia do trabalho na prática é definir as ações susceptíveis de modificar o destino

do sofrimento e favorecer sua transformação (não apenas sua eliminação). Quando as relações

sociais de trabalho e as escolhas gerenciais empregam o sofrimento no sentido patogênico, o

trabalho poderá funcionar como um mediador de desestabilização e da fragilização da saúde.

Dessa forma, sofrimento e prazer são provenientes da dinâmica interna das situações e da

organização do trabalho, ou seja, são produtos dessa dinâmica, das relações subjetivas e de

poder, das condutas e ações dos trabalhadores permitidas pela organização do trabalho. O

trabalho é um operador fundamental na própria construção do sujeito; o sujeito produz

interpretação acerca de sua situação e as socializa através de atos intersubjetivos, reage, se

organiza e age sobre o próprio processo de trabalho, contribuindo para a construção e a

evolução das relações sociais no trabalho., ou seja, transformar os desafios que causam o

sofrimento em situações positivas.

Outro ponto a ser considerado é qual a influência da formação profissional dos

participantes? A morte está presente no cotidiano dos profissionais de enfermagem, alguns

autores como Sebastiani, 1998; Bare e Smelter 2002, Kovacs 2002, Esslinger, 2003 e Silva,

2004 enfatizam a necessidade de reflexão e discussão sobre a formação desses profissionais,

sobre a formação recebida e os modelos transmitidos pela formação acadêmica, formação essa

que privilegia a objetividade , o tecnicismo e a racionalidade, esses autores questionam que

esses profissionais carecem de disciplinas que abordem o tema da morte, do luto e do morrer,

disciplinas que forneçam conhecimento e subsídios para lidar com o ser humano, não se

esquecendo do lado emocional.

O estudo verificou também a comparação r de Pearson da amostra X a

validação do constructo, segundo Cunha (2001, p.52), cujos dados são descritos nas tabelas 6

e 7 abaixo:

Tabela 6 - Estimativa de correlação entre o BAI e BDI, em grupos da amostra não clínica,

dados utilizados para a Validação de constructo.

Categoria n r p

Funcionários de

Hospital Geral

73

0,57

<0,01

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Tabela 7 - Estimativa da correlação entre o BAI e BDI, da amostra pesquisada.

Categoria n r p

Funcionários de

Hospital Geral

39

0,53

<0,01(0,000)

Pode-se obervar que, apesar do n ser um total pequeno, os resultados foram

semelhantes aos já encontrados por Cunha (2001) e publicados, não invalidando a

confiabilidade da amostra, r = 0,57 (validação do constructo) e r = 0,53, amostra pesquisada

nesse estudo.

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86

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do presente estudo possibilitaram descrever os níveis de depressão e

ansiedade e percepção de suporte social em profissionais de enfermagem, bem como

investigar a correlação entre eles. Em relação aos níveis de sintomas de depressão, foram

encontrados que 18% dos participantes da amostra encontram-se no nível leve das Escalas

Beck de Depressão – BDI, sendo que 8% encontram-se acima do escore 18, sugerindo uma

estimativa de possível depressão, dados esses que encontram-se acima da prevalência

sugerida pela literatura (5 a 9% para mulheres e 2 a 3% para homens –DSM- IV-TR ).

Quanto aos níveis de sintomas de ansiedade, foi encontrado que 13% dos participantes

encontram-se no nível leve e 2% no nível moderado das Escalas Beck de Ansiedade - BAI,

dados em parte acima do esperado pela literatura, onde a prevalência do transtorno na

população geral seja de até 10% . Em relação aos níveis de percepção de suporte social

emocional e prático, os resultados demonstraram que a média mais elevada refere-se à

percepção de suporte social emocional, o que indica que os profissionais de enfermagem o

têm encontrado, dado que pode estar relacionado a poder compartilhar suas alegrias,

realizações e tristezas, a obter atenção, consolo e compreensão de suas dificuldades, sentirem

valorizados, do que com o apoio que diz respeito a receber informações, sugestões,

esclarecimentos de dúvidas, bem como ajuda para resolução de problemas concretos, no que

concerne ao suporte prático, a média apesar de mais baixa, também indica que os mesmos têm

encontrado ocasionalmente este tipo de suporte, o qual está relacionado a receber ajuda para

resolver problemas práticos, receber sugestões e conselhos, receber ajuda financeira e apoio

para a realização dos afazeres cotidianos.

Foi verificada uma relação significante positiva (P=0,004) entre os escores das escalas

Beck de Ansiedade - BAI e escalas Beck de Depressão - BDI– BDIS1 e BDIS2.

A correlação negativa e inversa entre o suporte social emocional e o escore de

ansiedade (BAI) e de depressão (BDI total; BDS1 e BDS2) revela que enquanto a percepção

de suporte social emocional e prático aumenta, os das escala de ansiedade e depressão,

inclusive os relativos a aspectos cognitivos e afetivos diminuem, o que indica que o suporte

social, entendido como recursos fornecidos por outras pessoas e recursos de informações

potencialmente úteis, pode ter efeito positivo sobre a saúde, com implicação em evitar

comprometimentos físicos e psicológicos, podendo ser considerado como um mediador entre

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87

eventos estressores e saúde, atuando na sua proteção, sendo benéfico contra perturbações

induzidas pelo estresse devido à atividade profissional .

O profissional de saúde tem seu trabalho associado ao ato de cuidar, curar, produzir o

bem-estar, porém a realidade hospitalar, confronta o cuidador com suas limitações, o que

pode vir a fortalecer saúde mental ou a constituição de distúrbios psicossomáticas e/ou de

condutas. Os resultados deste estudo ressaltam a importância da psicodinâmica do trabalho no

cotidiano do ambiente hospitalar do profissional da saúde, a qual envolve a dimensão

organizacional, as relações de trabalho (hierarquia, chefia, outros trabalhadores) as relações

interpessoais e o suporte social, sendo este um fator mediador e de proteção a saúde do

trabalhador hospitalar, considerando-se também a utilização criativa e adequada de recursos

de enfrentamento, de mecanismos saudáveis de defesa.

O estudo levanta a necessidade de reflexão e discussão sobre a formação do

profissional de saúde, formação acadêmica que privilegia a objetividade, o tecnicismo e a

racionalidade, mas que necessita ampliar sua abordagem em relação à temática do sofrimento,

morte e luto, fornecendo conhecimento e subsídios para lidar com o ser humano, não se

esquecendo do lado emocional, uma vez que foi percebido uma necessidade desses

profissionais de saúde em serem ouvidos, o que indica a necessidade de outras pesquisas

envolvendo os aspectos emocionais do profissional de saúde.

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93

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa com a finalidade da

realização de um estudo acadêmico e científico, que objetiva identificar e aprofundar os

conhecimentos em Psicologia da Saúde, sobre sintomas mentais e suporte social em

profissionais de enfermagem, contribuindo com a promoção de saúde desta categoria

profissional.

Para tanto, usamos instrumentos de pesquisas, devidamente avaliados e validados

cientificamente, que não oferecem qualquer tipo de riscos ou danos, sejam físicos, materiais

ou mentais, aos participantes da presente pesquisa.

A participação se resume em responder os questionários propostos pela pesquisadora:

Escalas Beck de Depressão e Ansiedade (Inventário de Depressão – BDI, Inventário de

ansiedade – BAI), Escala de Percepção de Suporte Social e o questionário complementar. A

participação é voluntária, gratuita, assim como, garantimos e nos responsabilizamos pelo total

sigilo dos dados apresentados pelos participantes.

Título da Pesquisa: SINTOMAS MENTAIS E SUPORTE SOCIAL EM

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM.

Pesquisador Responsável: Rosemeire Kuchiniski Gomes – Psicóloga – CRP. 35785-

6, mestranda do programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde.

Orientador: Profª Dra. Vera Maria Barros de Oliveira.

Instituição Acadêmica: UMESP-Universidade Metodista de São Paulo.

Local da Pesquisa: Hospital Santa Paula – Av. Santo Amaro, 2468 – São Paulo – SP.

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Objetivo da Pesquisa: investigar os níveis de sintomas de depressão e ansiedade e

sua relação com percepção de suporte social em profissionais de enfermagem.

Nome do Participante: ___________________________________________

Endereço: ______________________________________________________

RG: ___________________________________________________________

Tendo sido devidamente esclarecido sobre todos os aspectos que envolvem o

trabalho de pesquisa acima descrito, venho pelo presente termo declarar, conforme o que

dispõe a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que concordo em participar,

voluntariamente, como sujeito de pesquisa.

Declaro ainda, estar ciente de que minha participação será gratuita e de que os

resultados serão utilizados e publicados, a critério exclusivo dos pesquisadores, desde que

preservada integralmente a identidade dos sujeitos participantes.

Desde já me reservo o direito de a qualquer momento, durante a realização da

pesquisa, tornar sem efeito o presente consentimento.

Telefone de contato da pesquisadora: (11) 84425325.

O presente termo está sendo assinado em duas vias de igual teor.

São Paulo, _____de_________________de__________.

_____________________________________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa.

RG.:___________________________

Pesquisadora responsável:

Rosemeire Kuchiniski Gomes - CRP.: 35.785-6

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95

ANEXO B – ESCALA BECK DE DEPRESSÃO

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96

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ANEXO C – ESCALA BECK DE ANSIEDADE

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ANEXO D - ESCALA DE PERCEPÇÃO DE SUPORTE SOCIAL

ESCALA DE PERCEPÇÃO DE SUPORTE SOCIAL

Gostaríamos de saber com que FREQÜÊNCIA você recebe apoio de outra pessoa quando

precisa. Dê suas respostas anotando, nos parênteses que antecedem cada frase, o número (de 1 a 4),

que melhor representa sua resposta, de acordo com a escala abaixo:

1= NUNCA

2= POUCAS VEZES

3= MUITAS VEZES

4= SEMPRE

QUANDO PRECISO, POSSO CONTAR COM ALGUÉM QUE...

1. ( ) Ajuda-me com minha medicação se estou doente 2. ( ) Dá sugestões de lugares para eu me divertir 3. ( ) Ajuda-me a resolver um problema prático 4. ( ) Comemora comigo minhas alegrias e realizações 5. ( ) Dá sugestões sobre cuidados com minha saúde 6. ( ) Compreende minhas dificuldades 7. ( ) Consola-me se estou triste 8. ( ) Sugere fontes para eu me atualizar 9. ( ) Conversa comigo sobre meus relacionamentos afetivos 10. ( ) Dá atenção às minhas crises emocionais 11. ( ) Dá sugestões sobre algo que quero comprar 12. ( ) Empresta-me algo de que preciso 13. ( ) Dá sugestões sobre viagens que quero fazer 14. ( ) Demonstra carinho por mim 15. ( ) Empresta-me dinheiro 16. ( ) Esclarece minhas dúvidas 17. ( ) Está ao meu lado em qualquer situação 18. ( ) Dá sugestões sobre meu futuro 19. ( ) Ajuda-me na execução de tarefas 20. ( ) Faz-me sentir valorizado como pessoa 21. ( ) Fornece-me alimentação quando preciso 22. ( ) Leva-me a algum lugar que eu preciso ir 23. ( ) Orienta minhas decisões 24. ( ) Ouve com atenção meus problemas pessoais 25. ( ) Dá sugestões sobre oportunidades de emprego para mim 26. ( ) Preocupa-se comigo 27. ( ) Substitui-me em tarefas que não posso realizar no momento 28. ( ) Dá sugestões sobre profissionais para ajudar-me 29. ( ) Toma conta de minha casa em minha ausência

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ANEXO E – QUESTIONÁRIO COMPLEMENTAR

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

PESQUISA: SINTOMAS MENTAIS E SUPORTE SOCIAL NOS

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

QUESTIONÁRIO COMPLEMENTAR

I - DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS:

1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

2. Idade:................

3. Estado civil: ( ) casado(a) ( ) divorciado(a) ( ) com companheiro(a)

( ) solteiro (a) ( ) viúvo (a)

4. Religião: ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Espírita ( )Budista ( ) Protestante

( ) Outra. Especifique:........................................................................

( ) Praticante ( ) Não Praticante

5. Quantos filhos você possui?

( )01 ( )02 ( )03 ( )04 ( )05 ( )06 ( ) Mais ( ) Sem filhos

6. Com quem você reside?

( )Esposa/Marido ( )Esposa/Marido e filhos

( )Companheiro(a) ( )Companheiro (a) e filhos

( ) Pai ( )Mãe ( ) Pai e Mãe ( ) Pai, Mãe e Irmãos

( ) Pai e filhos ( ) Mãe e filhos ( ) Pai, Mãe e filhos ( ) Pai, Mãe, filhos e irmãos.

( ) Outros. Especifique:........................................................

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7. Qual sua renda familiar?.....................................

8. Qual sua renda individual ?.........:........................

9. Qual sua escolaridade?

( ) ensino médio/técnico

( ) ensino superior incompleto. Curso:............................................

( ) ensino superior completo. Curso:.................................................

10. Há quanto tempo está formado?......................................

11. Qual sua atividade profissional?

( ) auxiliar de enfermagem ( ) técnico de enfermagem

12. Qual a clínica de atuação?

( ) cardiologia ( ) oncologia ( ) UTI ( ) pronto atendimento ( ) geriatria

( ) outras. Específique....................................................................................

13. Carga horária diária?

( ) 6 horas ( ) 8 horas ( ) 10 horas ( )12 horas ( )acima de 12 horas

14. Qual o período da atividade profissional?

( ) diurno ( ) matutino ( ) noturno

15. Quantos empregos?

( ) 01 ( )02 ( ) 03 ( ) outros: especifique...........................................

16. Qual o tempo de atuação profissional no hospital?.......................................

17. Qual o tempo de atuação profissional nessa atividade?..................................

II. ASPECTOS GERAIS DO ESTADO DE SAÚDE:

SINTA-SE Á VONTADE EM RESPONDER AS QUESTÕES.

Esta Pesquisa tem caráter acadêmico e manterá o sigilo das informações.

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1. Como você avalia o seu estado de saúde?

( ) Muito bom ( )Bom ( ) Médio ( ) Insatisfatório ( )Ruim

2. Possui algum problema de saúde ? ( ) sim ( ) não

Quais:...........................................................................................................................

3. Utiliza algum medicamento? ( ) sim ( )não

Quais?..........................................................................................................................

Motivo:........................................................................................................................

4. Já realizou algum tipo de tratamento de saúde? ( ) sim ( ) não

Quais?...................................................................................................................

Há quanto tempo?...................................................................................................

5. Já sofreu procedimentos cirúrgicos? ( ) sim ( ) não

Quais? .................................................................................................................

Há quanto tempo?................................................................................................

6. Já realizou ou realiza algum tipo de tratamento psicológico? ( ) sim ( ) não

Qual?...................................................................

Quando?................................................ Duração?.....................................................

Motivo?......................................................................................................................

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7. Já realizou ou realiza algum tipo de tratamento psiquiátrico? ( ) sim ( ) não

Qual?.........................................................................................................................

Quando?................................................. Duração?......................................................

Motivo?...........................................................................................................................

III – GOSTARIA DE REALIZAR ALGUM COMENTÁRIO?

..........................................................................................................................................

..........................................................................................................................................

..........................................................................................................................................

..........................................................................................................................................

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ANEXO G – ALTERAÇÃO DO TÍTULO –CEP-UMESP

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Comitê de Ética em Pesquisa – CEP - UMESP

Assunto: Substituição do Título do Projeto de Pesquisa.

Título Atual do Projeto de Pesquisa: Avaliação de sintomas de depressão e

ansiedade em profissionais de enfermagem: a arteterapia na promoção de saúde.

Pesquisador Responsável: Rosemeire Kuchiniski Gomes

Curso/Faculdade: Psicologia/Faculdade de Saúde.

Prot. Nº 385077-10

CAEE: 0116.0.214.000-10

Aprovado em 24/02/2011.

Solicito a alteração do atual título junto ao CEP-UMESP para: “ Sintomas

mentais e suporte social nos profissionais de enfermagem.” conforme

sugestão e aprovação da Banca do Exame de Qualificação , do aluno

pesquisador responsável: Rosemeire Kuchiniski Gomes, ocorrida no dia

16/05/2011, sob a orientação e presidente: Prof. Dra. Vera Maria Barros de

Oliveira.

Sem mais, agradeço.

São Bernardo do Campo, 16 de Junho de 2011.

Rosemeire Kuchiniski Gomes.