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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO TEREZINHA DE JESUS MELLO DE ABREU A EVOLUÇÃO DO LIVRO ATRAVÉS DO TEMPO NITERÓI 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

TEREZINHA DE JESUS MELLO DE ABREU

A EVOLUÇÃO DO LIVRO ATRAVÉS DO TEMPO

NITERÓI

2016

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TEREZINHA DE JESUS MELLO DE ABREU

A EVOLUÇÃO DO LIVRO ATRAVÉS DO TEMPO

Orientadora: Profª Lindalva Rosinete Silva Neves

Niterói 2016

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

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Ficha Catalográfica

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TEREZINHA DE JESUS MELLO DE ABREU

A EVOLUÇÃO DO LIVRO ATRAVÉS DO TEMPO

Aprovado em ......./.........2016.

BANCA EXAMINADORA

Profª Lindalva Rosinete Silva Neves – Orientadora Universidade Federal Fluminense – UFF

Profª Dra. Elisabete Gonçalves de Souza Universidade Federal Fluminense – UFF

Profª Marcia Bossy Universidade Federal Fluminense – UFF

Niterói 2016

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

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Dedico a todos que participaram com sua

contribuição e incentivo para que eu chegasse ao

TCC II – Trabalho de Conclusão de Curso.

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AGRADECIMENTOS

Tenho que agradecer e muito por ter conquistado um desejo que ficou

guardado por pelo menos quatro décadas para ser realizado.

Agradecer a Deus e a muitas pessoas que me encorajaram. E desculpem a

não modéstia, a insistência e a persistência de não desistir. Durante estas décadas,

fui forçando o caminho para chegar a este momento, parando de vez em quanto, por

força dos obstáculos que a vida impõe. Entre cursos e supletivos de ensino, cheguei

ao Valonguinho procurando uma oportunidade no Pré-Vestibular. Fiz o último

vestibular que a UFF praticou, antes do Enem chegar de vez para avaliar os

estudantes. Tenho orgulho disso.

Desejo agradecer a umas pessoas em especial: Meu neto Luiz Paulo, neto e

amigo paciente. Minha irmã Sandra, por tudo que participou comigo nesse período.

Meus genros, um pelo apoio moral e o Thiago, por ser um digitador muito paciente e

caprichoso. As minhas filhas e meu esposo porque senti o prazer que tinham em

falar: “Minha mãe passou no vestibular da UFF”.

Aos meus amigos Valbergue e Clécio, pois quando nas apresentações dos

Seminários muito me ajudaram fazendo os slides para as minhas apresentações.

Preciso agradecer e muito aos professores deste Departamento de Ciência da

Informação. São dedicados e mesmo com muitos obstáculos dão conta da sua

missão. E agradeço também a Silvia e Amália por sua atenção na Coordenação.

Agradeço a parceria dos meus jovens colegas companheiros de estudo,

atenciosos e que me aceitaram com muito respeito e consideração. Estudamos com

determinação e com muita vontade de vencer. Agradeço pela compreensão nos

trabalhos acadêmicos, principalmente na disciplina de TI (Tecnologia da

Informação), que aí sim, precisei e tive muito apoio deles. Destaco o empenho dos

amigos Aline Pereira e Wellington Freitas, monitores, e porque não dizer quase

professores de seus colegas.

Agradeço à orientação e a compreensão da Professora Lindalva nesse

Trabalho de Conclusão de Curso.

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“[...] o livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive , e, não tendo ação em si mesmo, move os ânimos, e causa grandes

efeitos.”

(Antônio Vieira apud Hansen)

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RESUMO

Trata da evolução do livro. Aborda os caminhos percorridos pelo homem, para garantir um suporte seguro e prático para gravar seus pensamentos, seus conhecimentos e transmitir a informação. Aponta alguns tipos de matérias- primas usadas pelo homem para gravar a informação e gerar a comunicação escrita. Detalha a origem do manuscrito pelos copistas nos mosteiros e sua transição para o livro impresso. Descreve a importância técnica que teve a invenção de Gutenberg, baseada nos tipos móveis e na prensa, no século XV. Relata o surgimento do livro eletrônico no século XX e o uso do sistema DRM – Digital Right Management. Evidencia o surgimento das primeiras leis do direito autoral em decorrência da Invenção da Imprensa e a questão deste entre o livro impresso e o livro digital. PALAVRAS-CHAVES: Evolução do livro. Livro impresso. Livro eletrônico. Direito autoral.

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ABSTRACT This Project is about the evolution of the book. It recalls the ways men have gone through to guarantee a safe and practical support to record your thoughts, your knowledge and to transmit information. It shows some kinds of natural resources used by men to register data and generate a written communication. It details the origen of manuscripts by copiers in the monastery and your transaction to printed books. It describes the technical importance that the invention of Gutenberg had, based on the furnishing kinds and on the press in the 15th Century. It reports the appearance of electronic books in the 20th Century and the use of the DRM system- Digital Rights Management. It points out the appearance of the first copyright laws as a consequence of the invention of the press and how this effected the printed and the digital books. KEY WORDS: Evolution of Book. Printed Books. Electronic Books. Copyright.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................11

1.1 JUSTIFICATIVA ..........................................................................................12

1.2 OBJETIVOS.................................................................................................13

1.2.1 OBJETIVOS GERAIS................................................................................13

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................13

1.3 METODOLOGIA ..........................................................................................13

1.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................13

2 HISTÓRIA DO LIVRO ....................................................................................16

2.1 TRANSMISSÃO ORAL.................................................................................16

2.2 O SURGIMENTO DA ESCRITA...................................................................17

2.3 SUPORTES DA ESCRITA............................................................................18

2.4 LIVRO IMPRESSO........................................................................................22

2.5 LIVRO DIGITAL.............................................................................................24

3 A QUESTÃO DO DIREITO AUTORAL............................................................28

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................32

5 REFERÊNCIAS................................................................................................34

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1 INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho versa sobre o livro. Seus formatos são os mais

diferentes possíveis. Ele tem a capacidade de armazenar e divulgar informações e

conhecimentos. Sua existência é tão antiga que tem aproximadamente seis mil anos.

Durante muitos séculos seu suporte foi extremamente variado.

Dos primeiros formatos em tabuinhas de barro, passou a tábuas de madeiras

cobertas com cera, casca das árvores e de bambu entrelaçados e unidos por uma

fivela, depois vieram os papiros. Nesta fase, o pretenso ancestral do livro era uma

execução realizada pelos escribas, responsáveis pela escrita no papiro. Cabia a eles

a leitura dos textos oficiais e religiosos. E sua organização se dava através de folhas

de papiro pregadas formando um único rolo.

É somente na segunda metade do século XV que surge o livro impresso -

sendo o mais conhecido - a Bíblia de Gutenberg. A concepção do livro encadernado

já era tentada nessa época. Para tanto, organizavam-se os pergaminhos como se

fossem folhas. A esse procedimento denominaram códex, que permitiam não só o

manuseio como o seu transporte quando necessário de forma mais organizada.

Cabe ressaltar que no final da Antiguidade já se pensava em como

confeccionar um livro. Entretanto foi na Idade Média que o livro tomou forma, sendo

elaborado e ilustrado ricamente através das iluminuras, técnica utilizada

principalmente nos mosteiros, já que os livros eram restritos aos clérigos.

Com o passar do tempo, ele se tornou crucial servindo às mais variadas

finalidades, embora ler e escrever se restringissem aos indivíduos mais ricos até a

Idade Moderna. Somente com a diminuição dos custos na confecção dos livros,

através de materiais mais baratos e técnicas mais eficazes, o livro então pode atingir

uma quantidade maior de pessoas, a partir do século XIX,

Desta forma, o livro se tornou mais do que folhas costuradas ou coladas,

dentro de uma capa de couro, papelão, ilustrada ou não. O indivíduo passou a se

debruçar para sonhar, através de estórias contadas e narradas, além de obter

informações, conhecimentos didáticos, e muito mais.

Neste estudo, pretende-se abordá-lo a partir do surgimento da escrita,

percorrendo brevemente alguns momentos, perpassando pelo livro impresso, assim

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como pelo livro eletrônico e pela questão dos direitos autorais.

1.1 JUSTIFICATIVA

Justifica-se este trabalho pela sua abordagem sobre o livro impresso e sua

trajetória a partir da escrita que precisava de um suporte para registrá-la. Bezerra

(apud Chartier, 2002) menciona que a história da cultura escrita claramente

estabelece uma forte vinculação entre “tipos de objetos” (suportes), “categorias de

texto” (gêneros) e formas de leitura.

Desde seu surgimento, a escrita precisou ser registrada em vários suportes,

sendo a principio utilizada em tabuinhas cuja confecção e impressão de seus

registros possibilitavam um transporte mais fácil do que o do papiro que precisava de

que suas folhas fossem coladas e enroladas em um bastão de madeira, denominada

“volumen”. Esse procedimento dificultava um pouco sua leitura e transporte.

Já o pergaminho tinha suas folhas dobradas e novamente dobradas ao meio

formando, o chamado “códice”. Bezerra (2009, p. 29) afirma que nos códices, essa

dobradura sucessiva formava “pequenos cadernos com folhas pares e ímpares que

eram em seguida costurados juntos, transformando-se em um livro de tamanho

variável.” nas quais se podiam escrever na frente e no verso da folha (escrita

opistográfica), o que reduzia consideravelmente o custo de produção.

Este autor ainda acrescenta que Chartier (2002, p. 30) analisa que o códice,

manuscrito ou impresso, “permitiu gestos inéditos (folhear o livro, citar trechos com

precisão, estabelecer índices) e favoreceu uma leitura fragmentada, mas que

sempre percebia a totalidade da obra, identificada por sua materialidade”.

Estes fatos ocorreram até a invenção da imprensa quando finalmente alguns

problemas diminuíram, mas não acabaram devido aos procedimentos para a

confecção dos livros, tendo em vista que tanto para os copistas que anteriormente

realizavam seu trabalho à mão, quanto para os tipos móveis que ao quebrarem

alteravam letras e palavras, como a necessidade de rapidez para a conclusão dos

livros impressos nas quais funcionários inexperientes acabavam por prejudicar a

impressão.

A partir dessa breve justificativa pretende-se, no decorrer do trabalho enfatizar

a importância do livro impresso até os dias atuais, o surgimento do livro eletrônico e

suas relações com os direitos autorais.

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivos gerais

Objetivo desse trabalho é analisar a história do livro impresso permeando pelo

livro eletrônico e pelos direitos autorais.

1.2.2 Objetivos específicos

• Descrever a evolução do livro;

• Abordar os livros digitais brevemente;

• Verificar as questões dos direitos autorais do livro impresso e digital.

1.3 METODOLOGIA

O presente estudo pretende abordar o assunto através de pesquisa

bibliográfica, utilizando-se de livros, artigos, monografias e dissertações para

enriquecê-lo teoricamente.

1.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O livro tem uma importância fundamental para o enriquecimento intelectual

dos indivíduos, visto que “[...] desde o início da humanidade, o homem tem se

preocupado em registrar todo o conhecimento por ele produzido” (SANTOS, 2012,

p.175).

E, como este estudo aborda o livro perpassando por sua história, torna-se

necessário, utilizar alguns autores que enriquecem o tema em questão, como será

apresentado a seguir:

Para Santos (2012, p.71)

Em relação ao suporte de escrita, houve uma evolução em pequena escala. Inicialmente, monges anacoretas do Egito, por volta do ano 600, utilizavam cacos de cerâmicas, ou óstracas, para o registro de suas cópias de clássicos antigos por não ter outro tipo de material. Pouco tempo depois, a

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maior parte dos escritos foi gravada em tabuinhas cobertas de cera; o problema é que bastava um esfregão para apagar o que tivesse escrito ali.

Diante disto, é correto afirmar que o homem continuou buscando formas de

continuar registrando suas idéais e percebeu que:

Não bastava a memória para armazenar e passar sua cultura para seus descendentes, pois na oralidade fatos podem ser alterados. Desde a pré-história, o homem de Neanderthal aprendeu a pintar nas paredes das grutas, passou pelas artes e a escrita foi se aperfeiçoando até o nosso alfabeto contemporâneo. Das pinturas rupestres até o hipertexto, vemos a necessidade humana para armazenar o que aprende. (NASCIMENTO; PINTO; VALE, 2013, p.15)

Os mesmos autores supracitados, ainda abordam que a produção de livros

exigiu procedimentos para salvaguardar os autores, pois:

Ao pensar na produção intelectual humana, pode-se verificar que, apenas no século XVI, com a invenção da imprensa por Gutenberg, observa-se o surgimento da necessidade de construção de algum tipo de proteção para os investimentos a serem feitos na produção de livros. A proteção autoral, no princípio, foi concebida como “privilégios” concedidos pelos monarcas aos editores. Foi na entrada do século XVIII, na Inglaterra – que ocupava naquele momento posição privilegiada na Europa e era o país mais avançado nos aspectos político, econômico e social –, que foi adotada a primeira lei com as características do que conhecemos hoje como direito autoral, isto é, o direito dos autores sobre suas criações artísticas, literárias e científicas. (NASCIMENTO; PINTO; VALE, 2013, p.17)

As autoras, a seguir, completam com propriedade sobre a importância do

livro, a ser abordada neste trabalho:

O livro, independente da sua forma de apresentação, foi e continuará sendo, por muito tempo, fonte de conhecimentos e transmissão de informações, o que permite, aos indivíduos, com a sua assimilação, assumir novos papéis, novas formas de pensar, que poderá transformá-los, influenciando na sua qualidade de vida provocando mudanças nos aspectos: social, intelectual, ou até mesmo, financeiro. Antes, o acesso aos livros e, consequentemente, ao conhecimento, era monopolizado por alguns, o que lhes garantia a detenção do poder, em detrimento de muitos, caracterizando uma relação de submissão. Com a invenção da imprensa e os avanços tecnológicos a facilidade de acesso a essas informações foi garantida a todos, pois o barateamento do livro e a sua disseminação em outros tipos de suportes, puderam chegar a todo o tipo de leitor, permitindo uma maior distribuição do conhecimento neles contido e, com isso, uma melhor avaliação dos acontecimentos ocorridos em seus contextos – o que antes lhes era negado – aumentando o seu poder de entendimento do seu papel na sociedade. (NASCIMENTO; PINTO; VALE, 2013, p.17)

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A partir destas considerações fundamentadas de alguns autores, o trabalho

começa a ser delineado, possibilitando a abordagem do livro, propriamente dito,

através de sua história.

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2 HISTÓRIA DO LIVRO

Contando com aproximadamente seis mil anos de história, o livro evoluiu pelo

desejo de comunicar-se e de preservar o conhecimento da humanidade. Também

contribuiu para essa evolução sua criatividade pela qual utilizou os mais diferentes

tipos de materiais e meios para registrar e difundir seus conhecimentos. Sua história

propriamente dita começa com a invenção do alfabeto, passando pela Antiguidade,

Idade Média, Idade Moderna com a invenção da imprensa, até chegar a Idade

contemporânea, continuando sua trajetória, com o surgimento do livro eletrônico.

Durante séculos, vários povos usaram vários materiais, como por exemplo,

pedras e tábuas de argila, entre outros, como suportes para gravar o conhecimento.

Para chegar ao livro de nossa era, o caminho percorrido através do tempo foi

precedido de muitas tecnologias. Essas técnicas aprimoradas permitiram sua

evolução/transformação de acordo com material, dentre os quais, alguns permitiram

mudanças significativas nos seus formatos: o papiro permitiu o aparecimento do rolo

(volumen), que foi substituído pelo pergaminho do qual surgiu o códex, mais fácil de

manusear. No momento atual, através dos avanços na área da informática e da

Internet surge o livro eletrônico, o que mais uma vez traz transformações

importantes na sua trajetória.

Portanto, o Homem sempre pretendeu se comunicar, mas os meios que

utilizou foram os mais variados, a começar pela transmissão mais fácil, que ora

apresentamos:

2.1 TRANSMISSÂO ORAL

Para guardar o conhecimento e garantir sua transmissão, o Homem procurou

de vários modos a forma ideal de repassar à sua comunidade a informação, a

princípio oralmente, porém esse procedimento não era o ideal, pois perdia o

conteúdo da informação na sua transmissão.

Anterior à invenção da escrita - e hoje ainda convivendo com ela – a narrativa

oral é a forma mais antiga de comunicação. Como o livro não chegava à maioria da

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população, a oralidade era uma forma de transmitir e conservar as culturas.

O homem, no seu desejo de dialogar de comunicar-se, mal começou a falar, criou o livro É verdade que inadvertidamente, sem a menor intenção. Não o livro propriamente dito, mas o que surgiu através das estórias, que contava de fatos, verdadeiros ou imaginários. Eram as lendas ou narrações simples. Assim começou seu itinerário, sua história. E nesse maravilhoso instante, nasceu a comunicação, base da convivência humana indispensável á tranquilidade dos povos e paz mundial. (MELLO, 1972, p.19).

Nesse mesmo pensamento, Paulino (2009) citando Machado (1994) “afirma

que Platão define o livro, em sua obra Fedro, como logos gegrammenos (palavras

escritas), entretanto o mesmo inseria-se numa sociedade oral”. Nessa sociedade, a

história da comunidade é guardada e repassada pelos mais velhos.

Por isso, cabe neste momento, abordar alguns itens referentes à escrita

desde seu surgimento, como será visto à seguir.

2.2 ESCRITA

Durante os séculos, em função da necessidade do Homem em se comunicar

para difundir e preservar seus conhecimentos, entre riscos e rabiscos pictográficos

chegou á escrita, aperfeiçoando-a na direção do alfabeto.

A escrita, para ser mais precisa riscos (signos), surgiu na Antiguidade. Nessa

época eram usadas placas de argila para gravar o conhecimento. As placas de

argila, primeiro suporte da invenção da escrita, na Suméria, eram gravadas com

estiletes de vários materiais (metal, marfim ou madeira).

Em relação ao e o surgimento das primeiras formas de escritas Mello (1972)

relata que:

O passo inicial na direção de uma escrita sistemática, no que se refere à forma, foi a simplificação e a fixação de traços figurativos, oriundos de sinais sumerianos, da imagem à cunha [...] Esta, se caminhando, depois do cuneiforme, na direção do alfabeto, cuja origem vamos encontrar nos hieróglifos egípcios, em que os fenícios foram inspirar-se para a criação do seu alfabeto, o qual, posteriormente assimilado pelos gregos, serviu de base para a formação do latino. (MELLO, 1972, p. 31-33).

A escrita, inventada para aprimorar a comunicação entre os homens, vai ser o

elemento que, permitirá a evolução livro, suporte ideal para a divulgação do

conhecimento, necessário para a evolução humana.

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Não resta dúvida de que a invenção da escrita revolucionou a história das

sociedades humanas, interferindo na forma como a informação era

distribuída, despertando o surgimento de novos atores e instituições

responsáveis pela produção, distribuição e armazenamento informacional.

(SANTA ANNA, 2015, p.144).

2.3 SUPORTES PARA A ESCRITA

O livro é um objeto de grande complexidade. Não é fácil buscar sua definição,

pois os dicionários geralmente trazem várias possibilidades para a escolha correta,

conforme o ponto de vista que se queira definir o livro.

Bezerra (2006) a esse respeito sugere que “Em parte, a complexidade das

acepções do termo livro poderia ser simplificada através de sua divisão em duas

categorias bastante gerais: [...] livro como 1) suporte [...] mas também como 2) obra

ou criação intelectual [...]”

Também para Paulino (2009) é um equívoco observar-se o livro pelo seu

formato, pois na sua visão o correto é percebê-lo como veículo, como suporte para o

texto. Para a autora, “Geralmente desconsidera-se a essência da ideia de livro, o

fato de ser um veículo para o armazenamento e a divulgação de um conjunto

específico de dados, informações e conhecimentos, sua mais importante função”.

Ainda sobre a questão do suporte (Marcushi apud Bezerra, 2006, p. 382 )

Relaciona a noção de suporte com a ideia de um “portador de textos”, entendido como” um locus físico ou virtual com formato específico que seve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto.” O suporte se apresenta como uma coisa, uma superfície ou objeto, físico ou virtual, que permite a manifestação concreta e visível do texto.[...] É evidente que essa definição de suporte aplica-se, preferencialmente ou talvez exclusivamente aos suportes de gênero escritos, tornando-se questionável no caso de gênero como os da web ou da oralidade.

Vários tipos de suporte foram usados e aperfeiçoados para garantir a

necessidade do Homem em se comunicar, preservar e difundir seu conhecimento,

bem como sua evolução.

Dessa forma destacam-se principalmente: a pedra, tabuinhas de barro e

madeira, papiro, pergaminho e o papel. Vários povos utilizaram os mais diferentes

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tipos de materiais para registrar sua existência no mundo. Os sumérios guardavam

as informações em tijolos de barro. Os romanos escreviam em tábuas de madeiras

cobertas com cera. Os maias e os astecas faziam livros de um material macio entre

a casca das árvores e a madeira. No Oriente o livro era de tabulas de madeira ou de

bambu entrelaçados e unidos por uma fivela. Os egípcios desenvolveram o papiro.

Planta do rio Nilo, suas fibras unidas serviam de suporte para escrita

hieróglifa. Nesse processo de evolução surgiu o pergaminho feito de pele de

carneiro, que tornava os manuscritos enormes.

Neste momento o livro era considerado uma obra de arte, era manuscrito

página por página, trabalhado com figuras e ornamentações que valorizavam a obra.

(PAULINO, 2009)

Sobre os principais materiais, Mello (1972) complementa com mais alguns

detalhes, a saber:

Tabuinhas:

O primeiro livro animal era, por assim dizer, híbrido. Nasceu das tabuinhas enceradas, alguns séculos a.C.(...). Constituía-se de tábua, vegetal, e cera, animal. Como a cera era à base da escrita (a madeira, apenas seu suporte), não temos dúvida em classificar esse tipo de livro como animal, não obstante a presença vegetal da tabuinha. Esse livro criado pelos romanos permaneceu até o século XVIII, até o papel se produzido em grande escala. Durou, portanto, quase dois milênios. (MELLO, 1972, p. 69)

Papiro: O papiro ( do grego papyros, e do latim papyrus) é planta formosíssima do

Egito, desde há 35 ou 40 séculos a.C. [...]. O diâmetro das raízes chegava a seis (...) de onde seria feito o papel. (MELLO, 1972, p. 69)

Pergaminho: O aparecimento do pergaminho (...) determinou uma completa transformação do livro, que passou do rolo para o códex, folha dobrada ao meio, o que possibilitou o livro no feitio atual, e que passaria, posteriormente, de in-folio ao formato in-8, democratizando a divulgação da cultura, primeiro na Europa e depois no mundo inteiro. (MELLO,1972, p. 69)

Papel:

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“A etimologia latina de papel é papyrus (ciperus papyrus). E a do grego

pàpirus. O processo de fabricação com pasta de madeira foi descoberto pelos chineses” [...]. O papel chinês só chegou ao Ocidente, quase cinco séculos depois de os países do Médio e Extremo Oriente terem dominado a sua fabricação. (...). A Humanidade é devedora de uma das maiores descobertas científicas, e que contribuiu, decisivamente, para a invenção da Imprensa. (MELLO, 1972, p. 70)

Em relação à Xilografia, essa tecnologia foi inventada na China no ano 594

a.C. Consistia numa placa de madeira onde eram gravadas as letras com as figuras.

A placa coberta de tinta, sobre ela era colocado o suporte (papel), que recebia a

pressão de uma prensa plana.

O primeiro livro xilográfico europeu tinha o título de Bíblia Pauperum (Bíblia

dos Pobres) e foi impresso em 1430.

A imprensa de caracteres móveis em madeira foi usada pela primeira vez na

China no século X.

Dentre os suportes utilizados, o papiro e o pergaminho tiveram grande

importância, na Antiguidade. Permitiram que textos mais extensos pudessem ser

escritos através de um formato que permitiria o desenvolvimento do livro e da leitura,

denominado Rolo (volumen).

O papiro por sua consistência podia ser enrolado com mais facilidade que ao

pergaminho, que por ser mais duro, dificultava as emendas necessárias para ampliar

o comprimento das folhas.

O pergaminho é feito pele de uns animais, preparada para nele se escrever.

O seu nome deriva-se da cidade grega de Pérgamo, na Ásia Menor. Ganha

preferência para a escrita em relação ao papiro, pois, além de ser era mais

resistente a pressão, necessária para inscrever a escrita permitia escrever dos dois

lados.

No entanto, o papiro oferecia dificuldades no momento de se fazer a emenda

para a ampliação das folhas. Para resolver a questão, usando da sua criatividade, o

homem daquela época dobrou e cortou, passando a usá-las como páginas. Esta

solução viria a permitir novos avanços no aspecto físico e estrutural do livro.

O rolo era etiquetado com uma pequena tabuinha de madeira ou pedaço de

pergaminho, que ficam pendurados, sendo o rolo guardado numa caixa e colocado

ao lado ou na horizontal. Escrevia-se e lia-se, sobretudo, da direita para a esquerda.

As buscas de um melhor suporte para a escrita levou a uma nova mudança

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importante no formato do livro que passou do rolo ao Códex. Já no quarto século,

as obras de mosteiros, como o de Chenoboskion, consistiam em maço de folhas de

papiro dobradas e frouxamente costurados em uma capa de ouro (BATTLES, 2003

apud SANTOS, 2012).

É preciso atentar-se para o fato de que, que tanto o rolo como o códice foram

formas que tomaram o livro com as possibilidades que as matérias primas

ofereciam.

O Códice pode ser em pergaminho ou papiro e destina-se inicialmente a

edições mais baratas ou menos prestigiantes. Ganha popularidade por ser de

consulta, transporte e manuseio mais fácil e mais cômodo, tem mais capacidade de

escritura e graças a sua encadernação com tábuas de madeira (por vezes revestida

de couro) ser mais durável que o rolo.

O título do códice, à semelhança dos rolos era colocado no final (apenas no

século V começou a coloca-los no inicio do livro).

O Códice na Idade Média era produzido no Scriptorium dos mosteiros, por

monges copistas.

Ainda sobre o códice (FISCHER, 2006, p. 77) relata que:

Com o tempo, os códices de pergaminhos encadernados tornaram-se cada vez mais populares, revelando-se uma fonte de ganhos comerciais consideráveis. O pergaminho não tardou a concorrer com o rolo de papiro por oferecer custo relativamente baixo, facilidade de produção, maior retorno sobre o investimento, concisão e facilitação da leitura. O pergaminho começou a ameaçar seriamente papiro durante o século 1 d.C. e, por volta do século IV, já o havia substituído por completo. (A substituição total do papiro ocorreu, enfim, no início da Idade Média, quando as rotas comerciais para o Egito foram interrompidas pela expansão mulçumana, de modo que sua exportação cessou).

Segundo Hansen (2003, p. 31-32):

Entre o século II e o século IV da Era Cristã, aconteceu algo decisivo na História do livro: a substituição do rolo pelo códex, ou códice, que deu ao livro a aparência que conhecemos hoje (...), o códex era feito de folhas de papiro ou de pergaminho. (...) O livro existiu como objeto escrito antes de ter a forma de códice ou caderno de folhas costuradas ou coladas e encadernadas, com capa, lombada, orelhas e contracapa que conhecemos hoje [...].

E, acrescenta que no Ocidente as primeiras formas escritas apareceram em

Antenas na metade do século VI A.C., complementando que:

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a passagem deste para o códice permitida pelo pergaminho pela resistência que oferecia para receber a escrita, foi acrescida de novos aprimoramentos como a determinação dos tamanhos das folhas, que poderiam ser amarradas ou coladas na forma do livro como conhecemos hoje. A partir daí os monges copistas teriam melhores condições para fazerem suas

reproduções. A substituição do rolo pelo códex pode ser considerada uma evolução

considerável do livro, pois o códex permitiu-lhe evoluir em vários outros aspectos,

como por exemplo, na sua estruturação textual, o que vai se refletir em novas

técnicas em vários aspectos que fazem parte da enorme complexidade que envolve

este artefato.

Para Bezerra (2006)

A adoção do códice e o consequente abandono do rolo se fariam acompanhar de métodos inovadores de estruturação e organização textual. Muitos manuscritos do Novo Testamento apresentam certos recursos para a melhor compreensão do leitor, originados em diferentes épocas e lugares e que ilustram bem como se passou a organizar os livros nos séculos que antecederam a invenção da imprensa.

O manuscrito, no seu formato de (códex) foi à última fase, na evolução da

escrita, que precedeu à invenção da Imprensa.

Devido ao número crescente de novas universidades, de estudantes e também de textos prescritos para estudo, criou-se uma demanda de livros sem precedentes. Isso podia ser resolvido simplificando e barateando os custos de produção dos livros, porém, mesmo assim estes ainda demandavam muitos recursos. (SANTOS, 2012, p. 185)

2.4 LIVRO IMPRESSO

Antes da chegada da tipografia, a produção do livro se fazia através de cópia

manual. O manuscrito, no seu formato de (códex) foi à última fase, na evolução da

escrita, que precedeu à invenção da Imprensa.

Antes desta descoberta a escrita era rara, reproduzida custosamente por

copistas e acessível somente aos intelectuais da época.

Devido ao número crescente de novas universidades, de estudantes e

também de textos prescritos para estudo, criou-se uma demanda de livros sem

precedentes. “Isso podia ser resolvido simplificando e barateando os custos de

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produção dos livros, porém, mesmo assim estes ainda demandavam muitos

recursos” (SANTOS, 2012, p.185).

Sobre o aparecimento da tipografia, Fischer, (2006, p.189) no capítulo 5

intitulado “A página impressa” do seu livro História da leitura afirma que:

A impressão fez com que a palavra escrita se tornasse onipresente. Com essa afirmação quis dizer que a tipografia com caracteres móveis, uma visão de Gutenberg, na cidade de Mainz na Alemanha em 1450, facilitou que a impressão dos textos e também de suas cópias se multiplicassem rapidamente facilitando e ampliando a oportunidade de mais textos nas mãos de leitores elitizados e dando oportunidade de se formar mais leitores.

Este advento trouxe mudanças radicais. Podemos afirmar que este anunciou

uma das maiores rupturas intelectuais e sociais da história. A partir disto, houve um

barateamento real dos livros e consequente democratização e maior acesso à

leitura.

Os leitores se multiplicaram em milhares, emanciparam-se e tornaram-se

ativos. Não imperava mais a oralidade e a leitura passiva, de modo que os leitores

passaram a ler de maneira silenciosa, individual e interpretativa. Essa

independência, além de contribuir para o crescimento de uma comunidade

intelectual, também gerou questionamentos. Já que não se lia somente obras

religiosas (o que era de costume na época).

O primeiro livro impresso foi a Bíblia de 42 linhas, finalizada em 1456. Esta

marcante obra

[...] possuía 42 linhas em cada uma de suas colunas, na maior parte das páginas, que são 1282, impressas em letra gótica. É conhecida por Bíblia Mazarina, porque foi na biblioteca do cardeal Mazarino, em Paris, que foi descoberta no século XVIII. Com a prensa, o livro começou a ser difundido e se popularizou. (NASCIMENTO; PINTO; VALE, 2013, p. 72)

Quando a padronização da impressão das páginas dos livros no século Xv,

Fischer (2006, p.193) descreve que:

A maioria dos editores no século XV já estava produzindo livros de acordo com um ou três formatos de tamanho de páginas: in-fólio (do latim folium ou “folha”), dobrada uma vez; in-quarto (por causa dos quatros quadrados que esta produzia), dobrada duas vezes; e in-oitavo (oito quadrados), dobrada três vezes). A impressão agora oficializava essa padronização. (FISCHER, 2006, p.193).

A evolução do livro vai abrir várias possibilidades para seu uso e,

consequentemente, para o desenvolvimento da leitura. A invenção da imprensa e a

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facilidade da produção do papel foram determinantes no aumento da produção de

livros no século XV.

Esta crescente produtividade de livros impresso, como já mencionado

anteriormente, mudou totalmente o cenário da época e a forma na qual a leitura era

vista. Os leitores passaram a tê-los como fontes de informação e ao conhecimento,

formação e lazer. Os livros passaram a ser difundidos e não mais restritos à

pequena classe leitora constituída por aristocratas, bispos e patrícios.

Sendo assim, em um breve resumo, pode-se afirmar que:

Quando se estuda a história do livro e da leitura é fácil notar que o homem progrediu sempre, contudo, sem perder os laços com o passado. Primeiro foi a leitura oral, em praça, depois a leitura silenciosa, realizada quase sempre em particular. Conforme os autores pesquisados, a leitura passou por três grandes revoluções através dos séculos: a primeira entre os séculos XII e XIII, quando ela era instrumento de trabalho intelectual dos clérigos e professores; a segunda no século XVIII, com o leitor intensivo, aquele que lê e relê o mesmo texto ou livro várias vezes, e o leitor extensivo, aquele que lê a maior quantidade possível de livros, mas com olhar crítico; e a terceira no século XX com a transmissão eletrônica e a propagação das novas mídias e formatos de textos. (GASPARINO et al, s/d).

Passaremos agora para esta última invenção e na qual mais uma vez

abrange as potencialidades do uso dos livros.

2.5 LIVRO DIGITAL Para chegar à facilidade oferecida pelos e-books, o caminho percorrido para a

evolução do livro através do tempo foi precedida de muitas tecnologias. Essas

técnicas aprimoradas permitiram a conservação do livro, melhorando o acesso à

informação e facilidade em manusear o produto.

Os livros digitais surgiram a partir da revolução tecnológica, Santa Anna

(2015) complementa que:

Com a expansão dos registros de informação, inúmeros suportes foram criados objetivando registrar a informação, tendo em vista seu armazenamento e preservação produzidos por diferentes civilizações e culturas. O registro da informação em suportes constitui uma das maiores conquistas humanas, pois é através desse feito que o conhecimento pôde ser transmitido de geração para geração, sendo possível seu armazenamento, acondicionamento e tratamento através das técnicas e metodologias biblioteconômicas (SANTA ANNA, 2015, p. 139).

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Completando essa ideia ainda tem-se a seguinte argumentação:

Nesse contexto de evolução tecnológica é provável que a informação impressa, assim como o livro tenha de se adaptar e satisfazer as decorrentes necessidades dessa nova sociedade. A princípio parece assustadora, e até mesmo absurda, a ideia de que o livro, tal qual o conhecemos, seja extinto, principalmente porque ele faz parte da nossa cultura e do nosso cotidiano, sendo impensável a sua total substituição pela informação digital e, portanto, pelo livro digital. Esta possibilidade é traumática porque o livro impresso não pode jamais ser visto apenas como material inerte ou simples objeto de consumo, mas como um objeto simbólico ao qual a cultura pós-Gutenberg confiou a tarefa de armazenar e fazer circular o conhecimento considerado relevante. (BENICIO; SILVA, 2005)

Para Benício (2003), a Sociedade da Informação e o Campo da Informática,

estão em constante evolução, e é nesse contexto de transformação da chamada

“era da informação automática”, que surge o novo paradigma quanto à forma de

registrar e disseminar a informação: o livro eletrônico (e-book), juntamente com a

polêmica sobre o fim do livro.

A tecnologia que envolve o livro impresso manteve-se inalterada durante

vários séculos, vindo a alterar-se no final do séc. XX com o surgimento dos

computadores e a Internet, o que possibilitou o aparecimento do livro digital

chamado também de livro eletrônico ou e-book.

Entre a leitura oral para transmitir o conhecimento, para a grande população

iletrada nos primeiros séculos, o livro impresso para quem domina a escrita no

século XV, surge no século XX, um novo tipo de leitura virtual, onde o leitor ler e

também interage com o texto:

convida o leitor a interagir e a explorar símbolos e palavras que mudam de cor ou que oferecem a facilidade de manuseio com o simples toque. Convite para uma imagem, ouvir um som, são oportunidades permitidas por meio do e-book. Essa riqueza de possibilidades chama-se hipertexto, recurso possível ao texto eletrônico que, no momento da escrita, enfoca e estende o sentido e o significado da visão do escritor, permitindo ao leitor, se quiser, siga os passos para uma (talvez) interpretação em novas leituras. (DZIKANIAK et al,( 2010,p.85).

Para Benício e Silva (2005, p. 71):

A informação digital surge como consequência do avanço das Novas Tecnologias de Informação que têm exercido um papel transformador na sociedade moderna, contribuindo de forma significativa para a evolução dos suportes de informação, originando uma das mais revolucionárias invenções

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de nossa época: a Internet. Esta vem permitindo o rompimento de barreiras geográficas, a livre circulação da informação e o surgimento do suporte digital, das bibliotecas “sem paredes” e dos livros eletrônicos.

Até mesmo por ser recente, o livro digital ainda não se consolidou totalmente,

pois:

O livro digital é um objeto com texto ou outro conteúdo, que é o resultado da integração do conceito tradicional de livro com características que podem ser proporcionadas pelo âmbito digital. Além disso, os livros digitais apresentam funções de pesquisa e referência cruzada, hiperlinks. Marcadores, anotações, destaque e acesso a ferramentas interativas. A partir dessas premissas, podemos definir os livros digitais com recursos que contém textos, porém não são limitados e estes, não se reduzindo a ser uma versão digital de textos impressos. (VASSILION; ROWEY apud SERRA, 2014, p. 85).

O termo e-book tem sido usado tanto para se referir ao conteúdo/livro. Quanto

aos leitores digitais, cuja tradução em inglês é e-reader. Sobre os readers Rodrigues

e Crespo (2003) afirma que:

O termo e-book tem sido usado tanto para se referir ao conteúdo/livro, quanto aos leitores digitais, cuja tradução em inglês é e-reader. Sobre os readers Rodrigues e Crespo (2003) afirmam que O leitor de livros digitais, também chamado de leitor de leitor eletrônico, permite que inúmeros títulos sejam “baixados” no aparelho na íntegra, inclusive com acesso sem fio, através de compra ou download gratuito. A disponibilidade e distribuição dos títulos dependem da empresa que comercializa o aparelho, entretanto, a praticidade não pode ser contestada. O grande atrativo está na possibilidade de conexão on-line com as livrarias.

Além disso, os livros digitais podem ser amplamente utilizados, como citam

Reis e Rozados (2013):

O e-book pode ser lido em diversos equipamentos eletrônicos, como computadores, PDAs, tablets, e-readers, smartphones e celulares. Seu surgimento vem forçando o desenvolvimento e a evolução dos aspectos legais relacionados a esse tipo de documento. O direito autoral, que surgiu como solução para a proteção da criação intelectual e a regularização da transmissão de conhecimentos por meio da publicação impressa passa a ter sua função ampliada com a introdução da escrita e da leitura digital.

Em relação à funcionalidade, Sehn (2014, p. 210) compara as possibilidades

do livro digital com as do livro impresso:

Entre as possibilidades trazidas pelos meios digitais está a leitura multilinear, que é simplificada para o leitor ao ser acionada por hipertexto. Esse recurso de criar novos caminhos de leitura pode ser iniciativa do leitor, sendo utilizados dentro do mesmo livro ou conduzindo a outros textos que, inclusive, podem ter- ou estar sendo- desenvolvidos por outros leitores {...} o livro impresso em função de sua constituição física, deixa subentendida a linearidade sugerida pela paginação.

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Conforme verificado nas pesquisas, diante de tanta inovação, e porque

envolve tantos conhecimentos paralelos, de acordo com os trabalhos pesquisados,

observa-se que o uso do livro eletrônico oferece a necessidade de buscar maior

aprofundamento no conhecimento sobre livros digitais por toda a sociedade, a fim de

poder-se buscar formas de harmonizar todos os interesses.

Serra (2014) cita a opinião de vários autores, de que os bibliotecários, devem

buscar atualizar seus conhecimentos sobre livros digitais para poderem responder

aos desafios impostos pelas novas tecnologias, independente da área de atuação.

Os dispositivos de leitura estão em constante atualização, o que representa desafios às bibliotecas. A necessidade de capacitação da equipe da biblioteca em relação aos dispositivos é essencial, pois, caso não estejam familiarizados com os equipamentos, não terão condições de auxiliar os usuários em suas demandas (KELSE; Y, KNAPP; RICHARDS, 2012, p.43 apud SERRA, 2014, p. 154).

Além do exposto torna-se imprescindível comentar sobre os direitos

autorais, discutido no próximo capítulo, por entender-se que os autores muitas vezes

acabam não tendo seus direitos garantidos, devido à falta de uma eficácia legislativa

que contemple àqueles que se esforçam para expor seus pensamentos através dos

livros.

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3 A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS

A Invenção da Imprensa trouxe também a questão dos direitos autorais. Sob

esse aspecto, coloca-se, a afirmação de Santos (2008, p.28 apud GONTIJO):

Ao desenvolver a técnica de reproduzir textos utilizando tipos móveis metálicos, através da prensa, o alemão Joannes Gutenberg criou um dos mais relevantes fenômenos de comunicação de nossa história: a reprodução, e consequentemente, a difusão ilimitada e fiel de uma mesma mensagem.

Na sua tese “A arte nas armadilhas dos direitos autorais”, CONRADO (2013,

p.35) comenta que:

Foram as técnicas de reprodução que originaram a criação dos privilégios no século XV, e no século XVIII, o aparecimento da primeira Lei dos Direitos Autorais. O que sempre interessou, quer nos privilégios, quer-nos próprios estatutos de proteção dos direitos autorais, foi o controle sobre a circulação das reproduções. Ainda é assim, a ponto de se pensar se o interesse dos direitos autorais é proteger o autor ou impedir a circulação da cópia desautorizada.

Nesta época, “A popularização dos livros, provocou o receio da classe

dominante, representada neste período pela Igreja e pela Monarquia, de perder o

controle sobre as informações que, estavam sendo propagadas.” (PARANAGUÁ,

2009, p. 15).

Surgiram práticas de concorrência desleal, as obras eram copiadas, sem

tomar os cuidados necessários e sem arcar com os custos da edição original.

Com este mesmo ponto de vista, Paranaguá (2009, p.16) analisa que:

“Claramente o alvorecer do direito autoral nada mais foi que a composição de

interesses econômicos e políticos. Não se queria proteger prioritariamente a “obra”

em si, mas os lucros que dela poderiam advir”.

Toda obra intelectual (original) tem seu direito autoral garantido quando

registrada em algum suporte.

As autoras, Duarte e Pereira (2009, p.4) definem Propriedade Intelectual

como: “a parte do Direito que aborda a proteção conferida a todas as criações do

espírito humano de caráter: científico, literário, artístico ou industrial” Esta

propriedade divide-se em três grandes áreas:

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a) Propriedade Industrial: que trata de patentes de invenção, (modelos de utilidade, desenhos industriais, indicações geográficas, registros de marcas e proteções de cultivares);

b) Direito Autoral: que trata de obras literárias, artísticas e científicas; c) Proteção sui generis: concerne o Programa de Computador, topografias de

circuito integrado, domínios na Internet e cultura imaterial.

Segundo alguns autores analisados para essa pesquisa bibliográfica, há uma

diferença entre o direito autoral e direito editorial: direito autoral reconhece o direito

individual do autor pela obra publicada e o direito editorial protege em princípio os

direitos dos editores.

O direito do autor teve diferentes concepções nos países de origem –

Inglaterra e França – de onde surgiram dois regimes distintos: o copyright e o droit

d’auteur.

O Copyright ou “Statute of Anne” foi publicado na Inglaterra em 14 de abril de

1710, sendo considerada a primeira lei de direito autoral no mundo. Santos (2008, p.

45-46) afirma que:

O copyright, cuja tradução é “direito de cópia”, é o sistema anglo-americano. Nesse regime o principal direito a ser protegido é a reprodução de cópias. Isso significa que, em sua origem, o copyright enfatizava mais a proteção do editor do que do autor. Sua história começa em 1557, quando Felipe e Maria Tudor outorgaram à Stationer’s Company o direito de exclusividade para a publicação de livros.

[Por outro lado], o droit d’auteur, cuja tradução é “direito de autor”, é o sistema francês ou continental. Esse regime preocupa-se com a criatividade da obra a ser copiada e os direitos do criador da obra, ou seja, é o inverso do copyright. Sua origem remonta à Revolução Francesa que, abolindo o privilégio dos editores, resultou em duas normas aprovadas pela Assembleia Constituinte: a 1791 e a de 1793.

Comparando-se a questão dos direitos autorais entre o livro impresso e o livro

digital, nota-se a necessidade de adaptações nas leis. Na visão de Reis, (2013, p.2):

“Em meio digital a produção intelectual precisa de mais segurança, de certificação

digital e de proteção contra seu uso ilegal e plágio. Neste sentido, o direito autoral

visa proteger, além dos autores, o seu público”.

O progresso que a tecnologia digital vem proporcionando na geração disseminação de informações é incomparável a qualquer outro momento vivido pela humanidade. A informação veiculada em meio eletrônico é mais flexível e permite cópia, alteração e compartilhamento que não são viáveis na forma impressa. Não obstante, no que diz respeito ao direito autoral essa evolução pode não ser benéfica, uma vez que pode levar a perda do documento original, pela possibilidade de realizar alterações no mesmo e pelo incentivo à ilegalidade, através do uso e difusão sem consentimento de material protegido por lei. Por isso, é preciso que a Lei de Direitos Autorais

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seja revista e ampliada para que não haja dúvidas acerca de sua vigência e amplitude no mundo digital. (REIS; ROZADOS, 2013)

Os autores supracitados, ainda afirmam que “atualmente convivem na Rede

diferentes formas de permissão ao acesso e uso de documentos digitais, que vão

desde a permissão de usufruírem livremente da obra até formas diversas de controle

estipuladas pela legislação hoje consolidada.” (REIS; ROZADOS, 2013, p.8).

Entre, essas formas mencionadas são destacados, abaixo, o Creative

Commons, conforme (BRITTES; PEREIRA, 2004, p.172):

Criada oficialmente em 2001 pelo advogado Lawrence Lessig, a Creative Commons tem como objetivo dar poder e autonomia às redes criativas globais fundadas na generosidade intelectual, atribuindo a elas um estatuto jurídico para que os conteúdos produzidos possam gerar modelos de negócios abertos, democráticos e includentes.

Enquanto que o DRM- Digital Rights Management- na visão de (REIS, 2013, p.73):

é uma proteção contra cópias ilegais, abrangendo música, filmes e livros em formato digital. É uma tecnologia usada, no caso dos e-books, por lojas e livrarias online, para controlar a forma com que os livros digitais, adquiridos pelos usuários, são usados e distribuídos e para coibir a criação de cópias não autorizadas. Esse sistema visa garantir o repasse de direitos autorais entre editores e autores e, principalmente, a proteção das obras em meio digital.

Segundo Menezes e Rozados (2013, p.67):

No Brasil, os direitos autorais são previstos pela Constituição Federal de 1988, no art. 5º, parágrafos XXVII e XXVIII, e na Lei 9.610/98, que rege os direitos de autor garantindo a proteção dos direitos de autor e o aproveitamento econômico da obra criada. Os artigos 24, 25, 41 e 42 da Lei 9.610/98 diferenciam os direitos morais do autor dos direitos patrimoniais. (BRASIL. Constituição Federal, 1988, documento eletrônico não paginado). A Lei de Direito Autoral – LDA não trata das questões do direito autoral na internet, sendo necessária uma revisão urgente.

Reis e Rozados (2013) ressaltam que o direito autoral se divide em direito

patrimonial e direito moral. E, citam Lisboa (2012, p. 493) que pondera: “Do ponto de

vista patrimonial, o autor tem o direito de obter os proventos correspondentes à

circulação econômica da sua criação, para que possa usufruir pecuniariamente da

mesma”.

E, ainda completam (op. cit. 2013) que:

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Assim sendo, o autor permite a exploração econômica e comercialização de sua obra - incluindo reprodução, adaptações e novas versões – e goza financeiramente dos frutos desse negócio. O autor possui o domínio sobre sua obra, que é seu patrimônio. Exclusivamente ele pode autorizar publicações ou modificações e também decidir por manter a obra inédita.O direito moral, diz respeito aos direitos de criação da obra, ao reconhecimento de que a obra foi criada pelo autor e as garantias de que o autor receberá os créditos por sua criação. A comprovação de criação original da obra se dá por meio de sua caracterização e distinção. As criações intelectuais contêm traços, marcas e formas de expressão do seu autor e mostram sua originalidade.

Apresentado assim a questão dos diretos autorais, seus conceitos e

importância, passaremos agora para as considerações finais.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao decorrer deste trabalho pude me aprofundar no universo da história e

evolução do livro, e perceber seu valor imensurável na preservação da memória e

dos feitos da humanidade. Sem dúvidas, produzir este documento me propiciou um

grande aprendizado, que ampliou e contribuiu com novos conhecimentos, que serão

utilizados em toda minha vida profissional.

Em suma, este trabalho abordou brevemente a história do livro, desde a

história oral, da invenção da escrita, suas formas de registro, o surgimento dos livros

impressos, chegando aos digitais, conhecidos como e-books. Em seu último

capítulo, tratou sobre os direitos autorais, já que existe uma preocupação em

valorizar os autores, que lutam para terem o reconhecimento de seu trabalho.

A partir do que foi exposto, percebe-se que o livro tem um valor incondicional

na vida do indivíduo, da sociedade. Ele é responsável pelo crescimento intelectual e

cultural das pessoas e conseguiu sobreviver através dos séculos, através dos mais

diferentes suportes devido a necessidade do homem de transmitir suas idéias e seus

conhecimentos adquiridos.

As decorrentes modificações físicas ao longo da história do livro fizeram com

que a leitura seguisse novas direções e perspectivas: barateamento do preço dos

livros, crescimento de leitores, mudanças no modo de ler, novos modos de

intepretações de um mesmo texto, controle da produção por instituições religiosas

ou pelo Estado, entre vários outros fatores. Nota-se assim, que o livro é um

instrumento transformador numa sociedade e que representa significações muito

maiores que sua existência material.

Além disso, percebeu-se ao longo do trabalho que a escrita armazenada nos

livros também supera os limites da oralidade, já que o conhecimento transmitido

através desta se limita no ato da fala e da audição.

Além disso, o livro não deve ser visto apenas como um produto

mercadológico. Ou seja, esse suporte da memória da humanidade e difusor do

conhecimento, só passa a ter significado, ou seja, só causa grandes efeitos, quando

é lido. Caso contrário se torna um objeto qualquer.

Ressalta-se que os livros digitais também possuem fundamental importância,

já que se apresentam como um novo suporte de propagação da leitura. O

surgimento de novos modos de suporte de leitura é comum como vimos ao decorrer

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deste trabalho, e decerto, esse novo suporte de livro não extinguirá o uso do livro

impresso. Ele só abriu novas possibilidades de transmissão de informação,

permitindo o acesso ao conhecimento para o crescimento intelectual do indivíduo.

Desta forma, não se apresenta como uma ameaça aos livros impressos, mas sim,

como mais uma alternativa de modo de leitura.

Quanto ao tema de diretos autorais, podemos concluir que neste trabalho este

se define como o direito de propriedade dos autores, garantindo assim sua fidelidade

à obra original. Estes direitos são de extrema importância para a proteção da

expressão de idéias e da valorização da obra dos autores. Além disso, reservam aos

autores o direito exclusivo de reproduzir seus trabalhos e constitui-se numa

ferramenta eficaz ao combate à circulação da cópia desautorizada.

Assim, entende-se que este trabalho contribuiu com uma pequena parcela

para que outros possam utilizá-lo com a finalidade de darem continuidade ao tema

abordado. Encerro deixando a seguinte frase para a reflexão e que tanto me motivou

a realizar esta pesquisa:

“O livro é a grande memória dos séculos... se os livros desaparecessem,

desapareceria a história e, seguramente, o homem.” (Jorge Luis Borges).

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REFERÊNCIAS

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